João Luiz Guillaumon Lopes

73
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO MESTRADO PROFISSIONAL EM FINANÇAS E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO JOÃO LUIZ GUILLAUMON LOPES GESTÃO DE RISCO E ESPECULAÇÃO COM DERIVATIVOS CAMBIAIS SÃO PAULO 2010

description

João Luiz Guillaumon LopesJoão Luiz Guillaumon LopesJoão Luiz Guillaumon LopesJoão Luiz Guillaumon LopesJoão Luiz Guillaumon Lopesv

Transcript of João Luiz Guillaumon Lopes

  • FUNDAO GETLIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SO PAULO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM FINANAS E ECONOMIA DISSERTAO DE MESTRADO

    JOO LUIZ GUILLAUMON LOPES

    GESTO DE RISCO E ESPECULAO COM DERIVATIVOS CAMBIAIS

    SO PAULO 2010

  • JOO LUIZ GUILLAUMON LOPES

    GESTO DE RISCO E ESPECULAO COM DERIVATIVOS CAMBIAIS

    Dissertao apresentada Escola de Economia de So Paulo da Fundao Getlio Vargas, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Finanas e Economia de Empresas

    Campo de conhecimento: Finanas

    Orientador Prof. Dr. Rafael F. Schiozer

    SO PAULO 2010

  • Lopes, Joo Luiz Guillaumon. Gesto de Risco e Especulao com Derivativos Cambiais / Joo Luiz Guillaumon Lopes. - 2010. 72 f. Orientador: Rafael Felipe Schiozer Dissertao (mestrado profissional) - Escola de Economia de So Paulo. 1. Derivativos (Finanas). 2. Hedging (Finanas). 3. Administrao de risco. 4. Especulao. I. Schiozer, Rafael Felipe. II. Dissertao (mestrado profissional) - Escola de Economia de So Paulo. III. Ttulo.

    CDU 336.763

  • JOO LUIZ GUILLAUMON LOPES

    GESTO DE RISCO E ESPECULAO COM DERIVATIVOS CAMBIAIS

    Dissertao apresentada Escola de Economia de So Paulo da Fundao Getlio Vargas como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Finanas e Economia de Empresas Campo de conhecimento: Finanas Orientador Prof. Dr. Rafael F. Schiozer

    Data de aprovao: ___/___/_____ Banca examinadora: _____________________________________ Prof. Dr. Rafael F. Schiozer (Orientador) FGV-EAESP _____________________________________ Prof. Dr. Afonso de Campos Pinto FGV-EESP

    _____________________________________ Prof. Dr. Francisco Henrique F. de Castro Jr FECAP

  • Aos meus pais, Rose Marie e Odair,

    e Ana Brbara.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo aos meus pais, que me proporcionaram tudo, Ana Brbara, pelo

    incentivo e pacincia, e s minhas irms, pelo carinho que sempre demonstraram;

    Ao Banco Santander, pelo apoio e disponibilizao dos dados para este trabalho;

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Rafael Felipe Schiozer, pela dedicao presente em

    todos os momentos;

    Aos colegas da turma de 2007, especialmente ao Arizoly, Angela, Fernando e

    Rafael, que tornaram estes anos mais fceis e mais divertidos.

  • "We view them as time bombs both for the parties that deal in

    them and the economic system ... In our view ... derivatives are

    financial weapons of mass destruction, carrying dangers that,

    while now latent, are potentially lethal."

    Warren Buffett, na carta do Chairman do relatrio anual de

    2002 do Berkshire Hathaway.

  • RESUMO

    O objetivo deste trabalho investigar as motivaes e a dinmica no uso de

    derivativos de moedas por parte de empresas no-financeiras brasileiras, em

    contratos de balco, a partir de um banco de dados nico, que contm operaes

    efetivamente contratadas por estas empresas junto a um grande banco internacional

    de 2003 a 2008. Embora pesquisas em outros pases apontem para a influncia de

    um componente especulativo (resultado de uma tentativa de previso de mercado)

    nas decises dos gestores, o efetivo impacto disto nas decises da empresa ainda

    pouco conhecido, bem como suas implicaes para a gesto financeira de riscos e

    governana corporativa. Os resultados do presente estudo revelam que existem

    fortes indcios de que as decises de tomada e desmonte de posies em

    derivativos sejam bastante influenciadas por uma viso especulativa. Mais ainda,

    tais situaes so difceis de serem identificadas a priori por confundirem-se com as

    operaes destinadas reduo de risco da companhia.

    Palavras Chave: Derivativos; Hedging; Administrao de Risco; Especulao.

  • ABSTRACT

    The main objective of this study is to investigate the motivations and the dynamics on

    the use of currency derivatives by non-financial Brazilian firms, on over-the-counter

    contracts, using a unique database of operations actually contracted by these

    companies with a large international bank from 2003 to 2008. Although some studies

    point to the influence of a speculative component in managers decisions (resulting

    from an attempt of predicting market changes), the effective impact of this behavior

    on the companies operations is still little known, as are its implications for the

    financial management of risks and corporate governance. I find strong evidence that

    the decisions to commit to and unwind derivatives positions are influenced by a

    speculative view at some level. Moreover, such situations are hard to be identified a

    priori as they are easily confused with operations designed to reduce companies

    risk.

    Keywords: Derivatives; Hedging; Risk Management; Speculation.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Evoluo do Estoque de derivativos, segundo dados fornecidos

    trimestralmente pelo BIS .................................................................................... 15

    Figura 2 Evoluo do Estoque de derivativos no Brasil, segundo dados da Cetip . 16

    Figura 3 Quantidade mensal de operaes de Termo de Moedas contratadas entre

    empresas e o banco, e retorno do USD. ............................................................ 41

    Figura 4 Quantidade mensal de operaes de Termo de Moedas liquidadas, com

    distino entre liquidaes antecipadas e liquidaes na data pr-determinada e

    retorno do USD. ................................................................................................. 42

    Figura 5 Proporo entre operaes liquidadas no dia predeterminado e

    antecipadamente ................................................................................................ 43

    Figura 6 Momento em que ocorre a reverso da operao, em relao ao prazo

    total contratado. ................................................................................................. 43

    Figura 7 Distribuio de resultados das operaes liquidadas na data

    predeterminada. ................................................................................................. 48

    Figura 8 Distribuio de resultados das operaes liquidadas antecipadamente. A

    linha tracejada indica o valor zero. ..................................................................... 49

    Figura 9 Percentual acumulado de operaes liquidadas com lucro para a

    companhia, por tipo de liquidao e faixa de lucro. ........................................... 50

    Figura 10 Percentual acumulado de operaes liquidadas em funo do resultado

    da operao, separados por tipo de liquidao (antecipada ou no) e posio

    adotada pela companhia (compra/venda). ......................................................... 51

  • Figura 11 Distribuio de resultados das operaes liquidadas antecipadamente e

    distribuio hipottica caso as mesmas operaes fossem liquidadas apenas na

    data de vencimento original (no fosse realizada a reverso da operao). ..... 60

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Caractersticas das operaes liquidadas, separadas por perfil das

    empresas ........................................................................................................... 44

    Tabela 2: Total de empresas que contratatam operaes de Termo de Moedas com

    registro de importao ou exportao no perodo analisado.............................. 44

    Tabela 3: Quantidade e percentual das operaes LDP e LA, de acordo com a

    posio assumida pela empresa (compra ou venda de moeda estrangeira) ..... 45

    Tabela 4: Estatsticas descritivas do valor nominal das operaes liquidadas no

    perodo, separadas por posio assumida pela empresa e tipo de liquidao (LA

    ou LDP) .............................................................................................................. 46

    Tabela 5: Estatsticas descritivas do prazo original das operaes liquidadas no

    perodo, separadas por posio assumida pela empresa e tipo de liquidao (LA

    ou LDP) .............................................................................................................. 47

    Tabela 6: Estatsticas descritivas do resultado das operaes liquidadas, separados

    entre os tipos de liquidao (LA e LDP). ............................................................ 50

    Tabela 7: Resultados dos testes de propores entre LA e LDP aplicados para

    diferentes parmetros de resultado. ................................................................... 54

    Tabela 8: Resultados dos testes aplicados para diferentes cortes de lucro, por

    grupos de empresas........................................................................................... 61

    Tabela 9: Identificao de resultados dos testes aplicados para diferentes

    parmetros de lucro, por tipos de empresas ...................................................... 63

  • 13

    SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................... 14

    1.1. OBJETIVOS ................................................................................................... 21

    2. REVISO BIBLIOGRFICA .............................................................................. 25

    2.1. OS DERIVATIVOS AGREGAM VALOR POR CAUSA DE IMPERFEIES DE MERCADO .. 25

    I. Benefcios Fiscais ....................................................................................... 26

    II. Reduo de custos de Financial Distress ................................................. 26

    III. Assimetria de informao, custo de acesso ao capital externo e

    oportunidades de investimento .......................................................................... 27

    IV. Assimetrias de informao entre administradores e acionistas .................. 28

    V. Reduo de Custos de Agncia .................................................................. 29

    2.2. FATOS ESTILIZADOS E A INFLUNCIA DE VISES DE MERCADO DOS TOMADORES

    DE DECISO ............................................................................................................. 30

    2.3. AS NOVAS TEORIAS ........................................................................................ 32

    3. ANLISE DOS DADOS ..................................................................................... 38

    3.1. DESCRIO DA BASE DE DADOS ..................................................................... 40

    3.2. ESTATSTICAS DESCRITIVAS ........................................................................... 45

    3.3. RESULTADOS DO CONTRATO PARA A EMPRESA ................................................. 47

    3.4. POSSVEIS EXPLICAES E ANLISES ADICIONAIS ............................................ 54

    3.5. COMPORTAMENTO ESPECULATIVO E O PERFIL DAS EMPRESAS ......................... 60

    4. CONCLUSO .................................................................................................... 65

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................... 70

  • 14

    1. INTRODUO

    provvel que o relativo recente interesse acadmico pelo uso de derivativos por

    empresas no-financeiras deva-se ao crescente desenvolvimento e disseminao

    dos derivativos, e tambm ao consequente impacto de tal disseminao em

    aspectos relacionados governana corporativa - em especial dificuldade em se

    identificar (1) a existncia de ativos ou obrigaes assumidos atravs de derivativos

    e (2) o real objetivo dos administradores das empresas ao executar tais operaes.

    Um bom indicador da disseminao do uso de derivativos so os dados publicados

    pelo BIS (Bank for International Settlements). Desde 1998 o BIS colhe

    semestralmente dados de diversas fontes sobre o volume de operaes em aberto

    nos mercados de balco, compreendendo os maiores bancos e instituies no grupo

    de pases conhecido como G10.

    De junho/1998 a dezembro/2008 o volume total (amount outstanding) de

    derivativos incluindo moeda, juros, commodities e crdito passou de 72 para

    quase 592 trilhes de dlares, um aumento de 721% no perodo. O valor de

    mercado de tais instrumentos, uma medida mais adequada para avaliar o risco

    negociado em tais transaes, passou de 2,8 para 33,9 trilhes de dlares.

    Especificamente para os derivativos ligados a moedas este valor foi de 799 bilhes

    para 3,9 trilhes de dlares, 390% de aumento.

    Observando-se apenas as operaes envolvendo moedas e tendo como uma das

    contrapartes empresas no-financeiras, o volume total atingiu USD 9,1 trilhes ao

    final de 2008 um aumento de 115% com em comparao a 10 anos antes, e o valor

    de mercado chegou a USD 737 bilhes. importante notar que em dezembro/2008

    atingia-se o pico da crise mundial, com conseqente retrao severa dos mercados

    de derivativos. Entre junho e dezembro de 2008 o mercado diminuiu por volta de

    25%.

  • 15

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    Jun.9

    8

    Dec.9

    8

    Jun.9

    9

    Dec.9

    9

    Jun.0

    0

    Dec.0

    0

    Jun.0

    1

    Dec.0

    1

    Jun.0

    2

    Dec.0

    2

    Jun.0

    3

    Dec.0

    3

    Jun.0

    4

    Dec.0

    4

    Jun.0

    5

    Dec.0

    5

    Jun.0

    6

    Dec.0

    6

    Jun.0

    7

    Dec.0

    7

    Jun.0

    8

    Dec.0

    8

    US

    D T

    rilh

    es

    Volume Total Derivativos (USD)

    Figura 1 Evoluo do Estoque de derivativos, segundo dados fornecidos trimestralmente pelo BIS

    Fonte: Elaborao prpria

    O mesmo ocorre no Brasil, onde temos os dados fornecidos pela CETIP, cmara de

    compensao e liquidao que recebe o registro das operaes de balco

    realizadas no mercado local. Embora as informaes fornecidas no ato do registro

    sejam insuficientes para se identificar exatamente as condies da operao, o valor

    total somando-se swaps (comuns e de fluxo de caixa), contratos a termo de moedas

    e opes passou de R$ 236 bilhes no incio de 2002 para 520 bilhes no final de

    2008.

  • 16

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    jan/0

    2

    jul/02

    jan/0

    3

    jul/03

    jan/0

    4

    jul/04

    jan/0

    5

    jul/05

    jan/0

    6

    jul/06

    jan/0

    7

    jul/07

    jan/0

    8

    jul/08

    Vo

    lum

    e T

    ota

    l -

    R$ B

    ilh

    es

    Volume Derivativos - CETIP

    Figura 2 Evoluo do Estoque de derivativos no Brasil, segundo dados da Cetip

    Fonte: Elaborao prpria

    Para os swaps (sem nenhuma caracterstica extica registrada), o volume passou de

    235 Bilhes, de maio/2006, para 340 Bilhes em outubro/2008, declinando ento

    para R$ 190 Bilhes em outubro de 2009, aps a fase aguda da crise.

    J no que diz respeito transparncia de informaes com relao s prticas e

    objetivos com o uso de derivativos, conhecida a dificuldade em se obter

    informaes sobre as operaes realizadas por um agente individualmente, em

    especial no mercado de balco (sem intermdio de uma bolsa) 12. Gczy, Minton, e

    1 J foram realizadas pelo FASB (Financial Accounting Standards Board) diversas tentativas de

    aprimorar o disclosure das informaes contbeis divulgadas pelas empresas nos EUA sob o

    USGAAP, no tocante a instrumentos derivativos. Exemplos disto so o FAS 119, FAS 133 e, mais

    recentemente, FAS 161, divulgado em maro de 2008; o FAS 161 requer divulgaes aprimoradas do

    objetivo e estratgias no uso de derivativos, dados quantitativos sobre o valor dos ganhos ou perdas

    com contratos derivativos e detalhes relacionados ao risco de crdito das posies de hedge.

  • 17

    Schrand (1997) verificam a dificuldade de compreender os riscos potencialmente

    assumidos pelas firmas atravs do uso de derivativos, ao identificar a

    impossibilidade de descobrir atravs das demonstraes contbeis das empresas

    aquelas que admitem basear-se em vises de mercado na tomada de decises de

    hedge. E ocasionalmente surgem casos de insucesso de grande repercusso na

    mdia, que trazem a discusso do mundo acadmico para as capas dos jornais.

    No Brasil este tema ganhou ateno no final de 2008, quando a crise mundial tolheu

    muito da capacidade das empresas em gerar caixa ou se financiarem no curto prazo

    e, somado a esta situao econmica adversa, os mercados passaram por extrema

    volatilidade: entre julho e dezembro de 2008 o Real desvalorizou-se 58% frente ao

    dlar americano e 43% frente ao Euro. Esta conjuno de fatores provocou alguns

    dos maiores prejuzos com derivativos j registrados.

    Sadia

    Em 25 de setembro de 2008 a Sadia, empresa lder de mercado em produo de

    carne de frango e suna, surpreendeu o mercado ao anunciar que havia incorrido em

    perdas financeiras da ordem de R$ 760 milhes com instrumentos derivativos para

    efeito de comparao, este valor representa aproximadamente 110% do lucro da

    empresa no ano anterior. Na conferncia com analistas de mercado a companhia

    informou que havia em seu portflio operaes com derivativos exticos, inclusive

    baseadas com risco de crdito do banco Lehman Brothers. A exposio da empresa

    ao dlar era de aproximadamente USD 6,4 Bilhes, enquanto o volume de

    exportaes anuais da companhia somava cerca de USD 3,5 Bilhes. A perda

    divulgada no balano fechado em setembro de 2008 foi da ordem de R$ 1,2 Bilhes.

    2 No Brasil a CVM (Comisso de Valores Mobilirios) aprovou, com vigncia a partir de 2010, o

    pronunciamento CPC 38, que visa aumentar a transparncia das informaes contbeis sobre

    instrumentos derivativos, aproximando o padro contbil brasileiro s normas dos EUA e Europa.

  • 18

    O efeito imediato foi a sada do diretor financeiro da companhia. Nas semanas

    subsequentes a empresa buscou se capitalizar e colocou venda ativos no-

    operacionais, em um ano que programava os maiores investimentos de sua histria

    para consolidar a presena internacional da empresa. Alm disso, passou por uma

    investigao da CVM e teve impetradas ao menos trs aes em juzo nos EUA por

    parte de investidores estrangeiros. Nos meses seguintes a empresa reduziu

    paulatinamente sua exposio cambial, para USD 1,5 Bilhes em novembro e

    menos de USD 1 Bilho no incio de dezembro. Aps meses de espera pelo

    mercado por uma soluo para o futuro da empresa, foi anunciada em maio de 2009

    a compra da Sadia por seu maior concorrente, a Perdigo.

    No entanto, talvez o que mais chame a ateno nesta histria sejam os fatos

    divulgados pelo ex-diretor financeiro em nota imprensa3 pouco mais de seis meses

    aps sua demisso, da qual foram extrados os dois trechos abaixo:

    3. Ressalto que a Sadia, alm da vocao agroindustrial, possui tambm

    uma vocao financeira com atividades equivalentes e at mesmo

    superiores, as quais so conduzidas na prpria Sadia, na Concrdia

    Corretora de Valores, h 21 anos em operao, e, mais recentemente em

    2007, na criao da holding financeira e do banco mltiplo, com

    rentabilidades de extrema relevncia nos lucros da organizao.

    4. Os instrumentos financeiros de derivativos sempre fizeram parte e

    tiveram papel essencial nas prticas comerciais e financeiras da Sadia e

    nos ltimos seis anos, foram responsveis por aproximadamente 60% do

    lucro da companhia.

    5. A deciso comum a dezenas de outras companhias brasileiras de

    trabalhar com o " produto 2 por 1 " , como foram apelidados, deu-se pelo

    3 VALENTI, Graziella. Ex-diretor Diz que Sadia Tem Vocao Financeira; Veja ntegra de Nota. Valor

    Econmico, So Paulo, 08 abr. 2009. Disponvel em Acesso em 07 outubro 2009

  • 19

    fato deste ser, poca, mais vantajoso, ou seja a empresa sempre esteve

    familiarizada com operaes de derivativos.

    6. Os mesmos derivativos 2x1 renderam companhia no primeiro

    semestre de 2008 o correspondente a 80% dos resultados, ou seja, dos

    lucros da Sadia. Ressalte-se ainda que estas mesmas operaes foram

    realizadas tambm em 2007, ano em que a Sadia apurou um resultado

    excepcional e que todas estas operaes constavam do seus

    demonstrativos financeiros.(...)

    (...)12. Quanto minha atuao na companhia, cumpri com rigor a

    prestao de contas com a Sadia, me reportando diretamente ao

    presidente do Conselho de Administrao, apresentando relatrios

    mensais e praticando todos os atos que me eram atribudos.

    13. Todas as operaes financeiras coordenadas por mim sempre foram

    registradas, contabilizadas e auditadas por mais de uma vez, conforme

    era de praxe na Sadia.

    14. Diante da crise financeira mundial e da tomada de conhecimento das

    possveis perdas que a Sadia poderia sofrer, tomei as providncias

    corretas e cabveis, avisando imediatamente o Conselho e trabalhando

    rpida e eficazmente para zerar as operaes em questo.

    15. Quanto poltica de governana corporativa da Sadia, a qual sempre

    respeitei, parece-me que realmente h problemas de controle interno, j

    que, meses aps minha sada, a companhia decidiu modificar as

    estruturas de reporte.

    Mais do que caracterizar o uso de derivativos como instrumentos para trading,

    inclusive em operaes com grande alavancagem, chama a ateno a falta de

    distino entre as atividades operacionais e financeiras da companhia, chegando

  • 20

    estas a gerar a maior proporo dos lucros; e a afirmao de que isto foi feito com

    consentimento do conselho da empresa.

    Aracruz

    Apenas um dia aps a Sadia, a Aracruz tambm veio a mercado para informar que

    havia detectado uma exposio acima do limite estabelecido em derivativos de

    taxa cmbio, e que a perda decorrente de tais operaes pode ter excedido os

    limites financeiros previstos na poltica financeira aprovada pelo conselho de

    administrao. Embora no tenha anunciado a perda estimada, no mesmo dia o

    mercado reagiu fortemente, com as aes da empresa de celulose caindo mais de

    10% nas primeiras horas aps o anncio. A apreenso dos investidores durou uma

    semana, at que a empresa divulgasse o valor estimado das perdas: R$ 1,95

    Bilhes, quase o dobro do lucro lquido do ano anterior, o que levou a mais uma

    queda de quase 20% nas aes da empresa.

    As semanas seguintes foram duras para a empresa. A companhia apontou

    dificuldades em obter financiamento, problema agravado pela reduo de liquidez

    mundial, e suspendeu investimentos programados. A empresa teve de iniciar uma

    desgastante negociao com os bancos credores, para poder reduzir a exposio

    cambial que chegou a USD 10 Bilhes, sendo at 80% disso atravs de derivativos.

    Quando finalmente chegou a um acordo, em janeiro de 2009, a empresa liquidou as

    posies por USD 2,13 Bilhes, conseguindo um financiamento dos bancos que

    tinha como contraparte para quitar a dvida em 9 anos. No dia seguinte foi anunciada

    a compra da Aracruz pela VCP (que j era um dos 3 controladores da empresa e

    que, alis, tambm teve prejuzos de cerca de R$ 210 milhes em derivativos). Entre

    15 de setembro de 2008 (portanto uma semana antes do anncio das perdas) e o

    dia anterior ao anncio do acordo com os credores, o valor de mercado da empresa

    havia cado 53%; no pior momento a queda superou 70%. Tambm de forma

    anloga Sadia, o conselho administrativo decidiu abrir processo contra o ex-diretor

    financeiro, culpando-o pelas perdas. Quando saiu em sua defesa, o ex-diretor

    argumentou que o conselho era informado diariamente sobre as operaes e a

    exposio da empresa.

  • 21

    Embora tais casos tenham sido os mais emblemticos, tais situaes podem ser

    mais comuns do que o imaginado. Em agosto de 2009 o jornal Valor Econmico

    estimou que as perdas com derivativos no Brasil, apenas no setor sucroalcooleiro,

    somaram aproximadamente R$ 4 Bilhes grande parte das perdas permanecendo

    encerradas em empresas de capital fechado. O desmonte de operaes no ltimo

    trimestre de 2008, segundo estimativas do mercado, teria chegado casa de USD

    27 Bilhes.4 No h exatido sobre o volume das perdas assumidas pelas

    companhias, porm as estimativas variam entre USD 10 Bilhes (conforme

    estimativa divulgada pelo ento diretor de poltica monetria do Banco Central, Mario

    Tors) e USD 25 Bilhes (segundo estimativas do BIS Banco para Compensaes

    internacionais)5.

    Tais casos entram para o rol j conhecido de empresas que sofreram perdas

    semelhantes: Metallgeselschaft (perdas superiores a USD 1 Bilho em 1993,

    advindas de posies curtas no mercado de futuros de petrleo para hedge de um

    contrato de longo prazo fechado pela empresa), Procter & Gamble (perdas

    superiores a USD 100 milhes em 1994, em posies em com derivativos de juros),

    Orange County, Baring Brothers e BancOne.

    1.1. Objetivos

    Procuramos verificar indcios de comportamento especulativo nas operaes

    comuns (no-exticas) de derivativos realizadas por empresas no-financeiras e

    testar algumas das hipteses levantadas em diversos artigos sobre o uso de

    derivativos: as empresas utilizam derivativos para mitigar o risco de resultados

    negativos gerados por eventos extremos, como prope Stulz (1996)? Existem

    4 SCARAMUZZO, Mnica; LUCCHESI, Cristiane P. Perdas Com Derivativos Nas Usinas Atingem At

    R$ 4 Bi. Valor Econmico, So Paulo, 28 ago. 2009. Caderno Agronegcios.

    5 Novos Instrumentos para controlar velhas prticas. Valor Econmico, So Paulo,19 nov. 2009. Editorial. p. A16

  • 22

    indcios de que as empresas utilizam derivativos para hedge ou para especulao

    (ou, de outra forma, as empresas utilizam derivativos para assumir ou mitigar riscos),

    conforme discutido por Allayannis e Ofek (1997), e Hentschel e Kothari (2001)? A

    especulao uma atividade que gera VPLs positivos, conforme abordado por

    Brown, Crabb e Haushalter (2006)? E, finalmente, encontramos suporte para o

    cenrio proposto por Gczy, Minton e Schrand (1997)?

    Para tanto utilizamos um banco de dados nico, com transaes realizadas por

    empresas no financeiras junto a um grande banco internacional, e que constitui o

    principal diferencial deste trabalho.

    Uma primeira definio fundamental a dos conceitos de hedge e especulao

    utilizados. Aqui, ser considerado hedge a ao tomada pela empresa que, ao

    produzir resultados negativamente correlacionados com o fluxo de caixa, valor de

    mercado ou ainda com o valor contbil de seus ativos, tenha como resultado uma

    reduo da volatilidade da varivel que se est protegendo, em relao situao

    anterior (sem hedge). Especulao ou trading seria o caso oposto, em que a

    empresa se engaja em operaes que trazem risco financeiro, por acreditar que

    tenham um retorno esperado positivo. Importante notar que, sob esta definio, a

    empresa pode estar fazendo hedge ou trading no s com derivativos; tais fatores

    estariam presentes em praticamente qualquer deciso financeira da empresa. No

    entanto, pelo prprio objeto de estudo desta dissertao, discutiremos hedge ou

    especulao atravs do uso de derivativos cambiais, exceto meno explcita em

    contrrio.

    Como veremos abaixo, os primeiros estudos sobre o assunto buscaram explicaes

    econmicas para o gerenciamento de risco, descrevendo situaes em que o hedge

    atravs de derivativos poderia aumentar o valor da empresa.

    No entanto, rapidamente constatou-se que tais motivos eram insuficientes para

    explicar o uso de derivativos pelas empresas na prtica. Em especial, chamava a

    ateno a grande diferena de comportamento apresentado por diferentes empresas

    no mesmo setor, ou por uma mesma empresa ao longo do tempo. Somando-se a

  • 23

    isso, informaes coletadas em surveys apontavam para algum tipo de

    comportamento especulativo (s vezes referido como a incorporao de uma viso

    de mercado) nas decises dos administradores. A partir disto surgiram diversos

    trabalhos procurando explorar: i) se as empresas especulam atravs de derivativos e

    at que ponto isso ocorre; ii) se e em que situaes isto seria uma atividade

    lucrativa, e de que forma as prticas de governana corporativa podem incentivar ou

    limitar tais prticas.

    Mas mesmo com tantos trabalhos explorando o assunto (discutiremos esta literatura

    com mais profundidade na prxima seo deste trabalho), muitas questes

    continuam no respondidas. Em especial, a literatura ainda no foi capaz de

    identificar claramente se as empresas no-financeiras utilizam sistematicamente os

    derivativos para especulao ou apenas para gesto de risco. Provavelmente a

    maior limitao para qualquer avano nesta discusso seja a dificuldade na

    obteno de dados precisos sobre as operaes realizadas pelas empresas, uma

    vez que o uso de derivativos pouco detalhado nos relatrios contbeis (embora,

    conforme mencionado acima, muito tenha sido feito para melhorar o disclosure

    dessas operaes). A exceo mais conhecida o setor de minerao de ouro nos

    EUA e Canad, cujas empresas divulgam dados trimestrais detalhados (coletados

    por analistas de mercado que buscam mensurar a exposio de cada empresa)

    acerca das atividades com derivativos e seu papel no gerenciamento de risco da

    firma, que motivaram o trabalho de Tufano (1996) sobre as prticas adotadas pelas

    empresas do setor. A quase totalidade dos trabalhos posteriores (Bodnar et al.,

    (1995, 1996 e 1998); Haushalter (2000); Hentschel e Kothari (2001); Guay e Kothari

    (2003); Adam e Fernando (2003) so exemplos disso) se valem de informaes

    divulgadas pelas prprias empresas (e no observados de forma autnoma) de um

    mesmo setor e sobre derivativos de commodities (menos utilizados no mercado de

    forma geral, quando comparados com derivativos de juros e moedas), o que poderia

    limitar severamente a extenso de suas concluses a empresas de outros setores

    da economia.

    A principal diferena do presente estudo em relao aos anteriores a utilizao de

    uma base de dados nica, com operaes efetivamente contratadas pelas empresas

  • 24

    no-financeiras no mercado de balco. Para tanto utilizo os dados histricos das

    operaes fechadas no mercado local do Brasil com o Banco Santander, no perodo

    que compreende os anos de 2003 a 2008. Neste perodo o Santander experimentou

    um grande crescimento no pas, passando de 5 para o 3 maior banco privado em

    volume de ativos. Mais importante, o banco sempre teve uma participao relevante

    na Cetip (Central de Custdia e Liquidao de Ttulos, clearing que registra e liquida

    essas operaes). Segundo dados divulgados em dezembro de 2006, o Santander

    detinha a 3 posio no ranking de market share relativo ao volume de operaes de

    Termo de Moedas registradas na Cetip entre todos os bancos (representando

    aproximadamente 12,2% do volume total de operaes, pelo valor em Reais).

    Assim, o banco de dados utilizado torna possvel observar decises efetivamente

    tomadas pelas empresas, diferentemente de estudos que utilizam questionrios

    submetidos aos gestores ou informaes de notas explicativas s demonstraes

    financeiras, de difcil interpretao. Outro aspecto que diferencia este trabalho dos

    demais a possibilidade de analisar o comportamento de todo um grupo de

    empresas, sem restrio de setores ou qualquer outra caracterstica especfica a

    nica restrio imposta pela prpria natureza dos dados o tipo de operao.

    Na prxima seo resumo a bibliografia relevante para esta discusso. A seguir

    apresento a base de dados que ser utilizada, e, em seguida, descrevo a

    metodologia e os resultados encontrados. Por fim so apresentadas as concluses

    do trabalho, e busco resumir um cenrio de como todos os fatos apresentados

    podem se reunir para formar um melhor entendimento do uso de derivativos pelas

    empresas.

  • 25

    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    possvel fazer uma clara distino entre dois momentos ao longo da evoluo dos

    estudos que procuram explicar o uso de derivativos dentre as empresas no-

    financeiras. Os primeiros autores a explorar o assunto adotaram um enfoque voltado

    a justificar a existncia de instrumentos derivativos para a gesto financeira da

    empresa, buscando ao mesmo tempo explicar e prescrever o uso em determinadas

    situaes onde os derivativos poderiam agregar valor empresa e/ou aos agentes.

    No entanto, tal enfoque mostrou-se insuficiente para explicar algumas situaes e

    fatos estilizados revelados por estudos posteriores. Dessa forma, surge uma nova

    srie de trabalhos interessados em explorar mais a fundo as atitudes dos

    administradores, alm do racional econmico, e qual o papel da especulao na

    tomada de deciso dentro das empresas.

    Exploraremos estes dois caminhos, descrevendo as primeiras teorias, suas

    limitaes e as tentativas mais recentes de explicar os resultados encontrados.

    2.1. Os derivativos agregam valor por causa de imperfeies de mercado

    As primeiras tentativas de compreender o uso de derivativos por empresas- no-

    financeiras baseavam-se nas premissas de averso ao risco dos agentes. No

    entanto tais explicaes encontram pouco respaldo quando confrontadas com as

    proposies de Markowitz sobre a possibilidade de diversificao de riscos: na

    ausncia de custos de transao e outras imperfeies de mercado, os agentes

    podem montar portflios diversificados de forma a adequar o risco de seus

    investimentos ao patamar desejado; em consequncia, a empresa no teria

    qualquer incentivo em reduzir qualquer risco diversificvel, medida que tal prtica

    no seria remunerada pelo mercado.

    Dessa forma, as primeiras teorias abrangentes que buscavam explicar o uso de

    derivativos basearam-se nas imperfeies de mercado (impostos, custos de

  • 26

    transao, assimetria de informao e custos de agncia) que explicassem a criao

    de valor atravs do uso de derivativos para reduzir a variabilidade dos resultados

    operacionais.

    I. Benefcios Fiscais

    Na maior parte dos sistemas tributrios no mundo adotam-se alquotas de imposto

    progressivas, de acordo com o resultado bruto da empresa (em outras palavras, a

    curva dos valores de impostos a pagar convexa). O efeito direto disto que o valor

    da empresa lquido de impostos uma funo cncava do valor presente de seus

    lucros antes de impostos.

    Myers e Smith (1982) e Smith e Stulz (1985) demonstram que, nesta situao, a

    reduo da variabilidade do resultado bruto da empresa conseguida atravs do

    hedge poderia aumentar o valor da companhia, uma vez que reduziria o valor

    esperado da tributao ao evitar o maior custo tributrio de resultados

    extraordinrios que no seria compensado em exerccios subseqentes.

    Importante notar que, conforme discutido por Nance, Clifford e Smithson (1993) e

    Graham e Smith (1999), a possibilidade de carregar crditos tributrios para

    compensao em exerccios posteriores, bem como a existncia de outros crditos

    tributrios, podem alterar a convexidade da funo tributao e consequentemente

    alteram o valor do hedge nestes casos.

    II. Reduo de custos de Financial Distress

    Empresas em situao de dificuldades financeiras podem incorrer em custos

    extraordinrios ligados falncia. Isto se aplica tambm a restries (covenants) de

    dvida que poderiam limitar a ao dos administradores em caso de financial

  • 27

    distress, eventualmente forando a empresa a no aproveitar oportunidades de

    investimento. A situao de dificuldades financeiras pode trazer tambm diversos

    problemas operacionais empresa, como perda de clientes, fornecedores e

    funcionrios importantes que, em ltima instncia destroem a capacidade da firma

    gerar valor.

    Smith e Stulz (1985) apontam que ao reduzir a variabilidade dos resultados futuros

    da firma, seria possvel reduzir a probabilidade de incorrer em tais custos,

    aumentando o valor da empresa. Alm disto, ao exercer sua poltica de hedge de

    maneira recorrente, a empresa poderia criar uma reputao no mercado de capitais

    que ex ante traria uma reduo no custo da dvida.

    Neste caso, o valor do hedge dependeria de (1) a probabilidade de que a companhia

    atinja um cenrio de financial distress, (2) a magnitude dos custos de transao

    gerados por tal situao, e (3) o endividamento da empresa. Duas implicaes disto

    so que empresas maiores teriam menores incentivos para o hedge pelo fato de que

    custos de financial distress so mais que proporcionais ao tamanho da empresa; e

    empresas menos dependentes de financiamento externo ou com baixa probabilidade

    de falncia tambm teriam menos incentivos para fazer hedge de suas exposies.

    III. Assimetria de informao, custo de acesso ao capital externo e

    oportunidades de investimento

    O argumento de Froot, Scharfstein e Stein (1993) baseia-se nas premissas de que

    os investimentos apresentam retornos decrescentes e a oferta de capital externo

    apresenta custos marginais crescentes. Em especial, quanto mais opaca for a

    natureza das atividades da firma (ou seja, quando os gestores possuem nvel de

    informao significativamente maior que o mercado sobre as atividades e

    oportunidades de investimento da empresa), maior a assimetria de informao e

    maior ser o prmio cobrado por credores para financiar a empresa. Esse o caso

    tpico de empresas de tecnologia, ou que atuam em mercados altamente

  • 28

    competitivos, em que a divulgao excessiva de informao pode ser utilizada por

    concorrentes de maneira que afete os resultados da firma. Assim, na presena

    desse tipo de imperfeio de mercado, o fluxo de caixa gerado internamente passa a

    ser mais barato que o financiamento externo.

    Neste cenrio, qualquer decrscimo no fluxo de caixa gerado teria de ser

    compensado por (1) reduo dos investimentos ou (2) tomada de recursos de

    terceiros a custos que incluem um prmio por assimetria de informao. Nas

    condies acima, ambas alternativas reduzem o valor da empresa medida que

    afastam o investimento ou o custo de capital da firma de seus pontos timos. O

    hedge agregaria valor ao reduzir a variabilidade do retorno dos ativos, possibilitando

    firma aproveitar as oportunidades de crescimento sem incorrer em maiores custos

    de financiamento. , portanto, um pouco diferente do argumento anterior medida

    que a volatilidade dos retornos seria algo indesejvel sempre que houver

    oportunidades de investimento que possam ser financiadas pelo fluxo de caixa

    gerado pelas atividades operacionais da empresa, mesmo que o risco de que a

    empresa tenha dificuldades financeiras para honrar seus compromissos seja

    inexistente.

    O valor do hedge depende, neste caso, da correlao entre a gerao de fluxo de

    caixa pela firma e a existncia de oportunidades de investimento. Isto poderia levar

    ao hedge parcial ou utilizao de instrumentos de hedge no lineares.

    IV. Assimetrias de informao entre administradores e acionistas

    A existncia de assimetria de informaes pode interferir no comportamento dos

    gerentes da empresa em relao s prticas de hedge. DeMarzo e Duffie (1995)

    demonstram que, caso os gerentes tenham informaes mais precisas sobre a

    natureza e valor das exposies da empresa do que os acionistas, gerentes avessos

    ao risco iro procurar o hedge total (minimizao da variabilidade dos resultados da

    empresa) medida que isto ir minimizar tambm a variabilidade de sua

  • 29

    compensao, desde que o resultado do hedge e das atividades operacionais da

    empresa no tenham de ser reportados em separado. A diferena deste argumento

    para o apresentado por Smith e Stulz (1985) que com informao assimtrica os

    acionistas se beneficiariam diretamente desta prtica, por no terem todas as

    informaes que possibilitem gerenciar os riscos por conta prpria de maneira

    igualmente eficiente.

    Alm disto, ao estimular a minimizao de variabilidade de resultados e

    consequentemente reduzir os rudos nos resultados apurados da companhia, tal

    comportamento proporcionaria uma melhor transmisso de informaes para os

    acionistas, que poderiam escolher melhor entre continuar ou abandonar o

    investimento. Tais benefcios relativos divulgao de informaes ganham mais

    relevncia em um ambiente onde as prticas com relao a derivativos no podem

    ser totalmente verificadas atravs das demonstraes contbeis, o que traz um novo

    fato de ateno para as maneiras como os demonstrativos contbeis da empresa

    refletem o uso de derivativos.

    V. Reduo de Custos de Agncia

    Os primeiros modelos procuravam explicar a existncia de operaes de hedge

    baseando-se em uma situao em que proprietrios de empresas com capital pouco

    pulverizado poderiam no ter a capacidade de diversificar perfeitamente seus

    investimentos, ou para tanto incorrer em custos mais elevados do que teria a

    empresa para reduzir a variabilidade de seus resultados atravs de derivativos.

    Stulz (1984) estende este argumento aos gerentes da empresa. Neste caso, mesmo

    que os acionistas tenham capacidade de eliminar o risco diversificvel atravs de um

    portflio de investimentos, gerentes avessos ao risco podero evitar projetos de

    valor presente positivo, mas com alto risco. Stulz (1996) prossegue ao abordar sob

    esta tica todos os stakeholders da companhia, argumentando que todos que

    tenham qualquer contrato com a empresa iro exigir um retorno maior quanto maior

  • 30

    for o risco de insolvncia da empresa (por exemplo, empregados exigiro salrios

    maiores, fornecedores podem no fechar contratos de longo prazo e consumidores

    podem relutar em comprar um produto que corra risco de ser descontinuado ou

    carecer de assistncia tcnica no futuro).

    Em todos estes casos, tais problemas podem ser mitigados medida que seja

    facultado aos gerentes a gesto de risco atravs de derivativos; agrega-se valor ao

    acionista no pela reduo de risco per se, mas de forma indireta ao mitigar os

    conflitos de agncia decorrentes da impossibilidade da diversificao de risco por

    todos os agentes. A diferena sutil em relao ao argumento de Smith e Stulz

    (1985).

    Nance, Smith e Smithson (1993) ressaltam tambm a relevncia do hedge como

    forma de mitigar os efeitos do underinvestment problem (situao em que

    acionistas podem querer postergar investimentos, em detrimento dos detentores de

    dvida da empresa).

    2.2. Fatos estilizados e a influncia de vises de mercado dos

    tomadores de deciso

    As teorias vistas at aqui procuram explicitar situaes que justifiquem o uso de

    derivativos, seja por diretamente agregar valor ao acionista em situaes de

    imperfeies de mercado, ou como conseqncia dos interesses divergentes dos

    agentes. Uma caracterstica comum que, a fim de maximizar o valor da empresa

    segundo tais modelos, prev-se que as empresas determinaro a cobertura tima de

    seus riscos (parcial igualando o benefcio marginal e o custo marginal do hedge) e

    manter esta poltica de forma esttica. As alteraes seriam causadas por mudanas

    na estrutura de capital, modelo tributrio ou outros fatores que exigissem

    rebalanceamento na poltica de hedge. S haveria alteraes bruscas quando da

    ocorrncia de choques exgenos.

  • 31

    A busca de evidncias empricas que suportem estes argumentos trouxe muitas

    vezes observaes que no podem ser explicados pelas teorias citadas.

    Empresas cobrem atravs de derivativos apenas parte de sua exposio,

    segundo indicado por Tufano (1996) e confirmado por Brown, Crabb,

    Haushalter (2006) e Bodnar e Marston (1998);

    A proporo coberta varia bastante entre empresas do mesmo setor, segundo

    Brown, Crabb, Haushalter (2006), o que parece fazer pouco sentido dado que

    empresas do mesmo setor tendem a ter operaes e forma de financiamento

    semelhantes;

    O objeto de hedge em geral a exposio de curto prazo, conforme

    resultados de Bodnar e Marston (1998), em pesquisa com empresas no

    financeiras dos EUA;

    As empresas norte-americanas protegem apenas uma frao pouco

    significante de suas exposies. Guay e Kothari (2003) mostram que, em

    casos de choques de 3 desvios-padro no retorno dos ativos subjacentes, os

    derivativos detidos pelas empresas so capazes de gerar fluxo de caixa da

    ordem de menos de 2% do valor da empresa em mdia;

    Podem existir outras maneiras de se atingir os mesmos objetivos sem o uso

    de derivativos. Nance, Smith e Smithson (1993) indica substitutos para

    hedging. Gczy, Minton e Schrand (1997) e Allayannis e Ofek (1997) mostram

    que o uso de derivativos e o endividamento em outras moedas podem ser

    substitutos to ou mais eficientes do que o uso de derivativos.

    Como resultado geral, fica evidente que o uso de derivativos no segue um padro

    estvel. E, enquanto alguns trabalhos encontrem indcios de que as teorias de

    maximizao de valor do acionista possam explicar ao menos em parte o uso de

  • 32

    derivativos (Nance, Smith e Smithson (1993); Gczy, Minton e Schrand (1997);

    Bartram, Brown e Fehle (2003); Allayannis e Ofek (1997) nos EUA, Schiozer e Saito

    (2009) na Amrica latina - para citar apenas alguns), certamente isto no esgota a

    questo.

    Neste quebra-cabeas, um ponto chama a ateno: a grande quantidade de surveys

    e fatos anedticos que apontam de forma subjetiva para um forte componente de

    especulao (ou viso de mercado, como muitos artigos se referem) quando da

    deciso de valor e momento para as operaes de hedge. Bodnar e Marston (1998)

    revelam que 32% das empresas que responderam a um survey sobre utilizao de

    derivativos declaram que frequentemente ou s vezes assumem ativamente

    posies no mercado atravs de derivativos, e 60% alteram o valor e/ou o momento

    da operao com base em vises de mercado. Resultados semelhantes foram

    encontrados por Bailly et al. (2003) em survey realizado com empresas do Reino

    Unido: 53% e 60% das empresas alteram momento e valor do hedge,

    respectivamente, baseadas em vises de mercado, e 17% admitem tomar posies

    ativamente no mercado.

    Igualmente surpreendente, Bodnar e Marston (1998) verificam que 40% das

    empresas norte-americanas que responderam pesquisa avaliam o desempenho do

    gerenciamento de risco atravs do Lucro/Prejuzo (absoluto ou relativo a um

    benchmark) conseguido atravs das operaes realizadas. Este percentual o

    mesmo de empresas que reportam avaliar a reduo de volatilidade atingida.

    No Brasil, Saito e Schiozer (2007) realizaram pesquisa semelhante. De 40% a 60%

    dos respondentes tambm indicaram serem avaliados por lucro ou perda absolutos,

    porm menos de 20% dos respondentes admitem assumir posies ativamente no

    mercado (embora mais de 60% admitam alterar valor ou prazo do hedge).

    2.3. As novas teorias

  • 33

    De fato, muitos autores passaram a buscar explicaes para estes comportamentos

    no previstos pelas teorias que explicam o hedge atravs de imperfeies de

    mercado.

    Stulz (1996) prope que as empresas no pretendem minimizar a volatilidade de

    seus retornos atravs de derivativos; distintamente, o uso de derivativos teria como

    objetivo principal evitar perdas resultantes de situaes desfavorveis de mercado, o

    extremo negativo das distribuies de probabilidades (low-tail outcomes). Dessa

    forma os administradores fariam hedge seletivo, selecionando os riscos mais

    relevantes a serem mitigados, porm sem necessariamente almejar sua eliminao -

    mas apenas mant-los sob controle medida que isto j seria suficiente para evitar

    os custos de financial distress e os problemas de agncia decorrentes disto. Em

    outras palavras, gerencia-se o downside risk. Como consequncia, empresas que

    so percebidas como detentoras de baixo risco de crdito teriam menores benefcios

    ao fazer hedge. O autor tambm diferencia as empresas com relao estrutura de

    capital e ambiente tributrio, razes que poderiam explicar as diferenas no

    comportamento adotado por cada empresa.

    Com relao ao comportamento especulativo, Stulz ressalta que faria sentido nas

    empresas que simultaneamente (1) que no corram risco de financial distress, ou

    seja, que no teriam outros benefcios na reduo da volatilidade dos retornos, e (2)

    possuam informaes privilegiadas sobre determinados mercados ou ativos

    financeiros, fruto de sua atuao em mercados especficos.

    Este racional, embora possa explicar alguns dos fatos estilizados vistos

    anteriormente, no seria suficiente para explicar a influncia das (pre)vises de

    mercado nas decises quando tratamos de derivativos de moedas ou juros. Seria

    difcil supor que existisse assimetria de informaes que gerasse benefcios a

    qualquer participante, tratando-se de mercados to lquidos e arbitrados.

    Outros se debruaram especificamente sobre a aparente contradio hedge X

    especulao. Adam e Fernando (2003), tambm analisando participantes da

    indstria de minerao de ouro nos EUA, propem a existncia de um prmio pelo

  • 34

    risco que as empresas poderiam capturar sistematicamente atravs do uso de

    derivativos, gerando fluxos de caixa positivos ao longo do tempo. Embora este fator

    possa existir no mercado analisado, improvvel que possa explicar retornos

    anormais quando tratamos de derivativos que tem ativos muito lquidos (cmbio,

    juros) como subjacente. Os autores tambm encontra evidncias de comportamento

    especulativo, porm sem indicaes de que isto no agregue valor empresa.

    Allayannis e Ofek (1997) examinam uma amostra de empresas pertencentes ao

    ndice S&P 500 para determinar se as firmas fazem hedge ou especulam, buscando

    correlaes entre a exposio das aes taxa de cmbio o uso de derivativos,

    entre outros fatores. Encontrou-se uma correlao negativa entre uso de derivativos

    e exposio da ao a variaes na taxa de cmbio, coerente com uma busca de

    reduo da variabilidade dos retornos.

    Hentschel e Kothari (2001) abordam a questo de forma parecida: buscam identificar

    se as empresas esto tomando riscos ou mitigando riscos atravs do uso de

    derivativos, analisando o retorno das aes das empresas. De forma ambgua, neste

    caso no se encontrou qualquer impacto do uso de derivativos na volatilidade dos

    retornos das aes para as empresas analisadas. A concluso do autor que isto

    seria coerente com o fato de que empresas utilizam derivativos apenas para cobrir

    parte das exposies de curto prazo, consequentemente com baixo impacto no valor

    da empresa. Uma interpretao alternativa a de que o mercado incapaz de

    incorporar o efeito dos derivativos ao valor da empresa, de forma que seja pouco

    possvel distinguir entre empresas que faam bom ou mau uso (em termos de adio

    de valor para a empresa) desses instrumentos.

    Brown, Crabb e Haushalter (2006) no discutem se as empresas fazem hedge ou

    no. Ao contrrio, partem da preposio de que as empresas fazem hedge

    seletivo, conforme proposto por Stulz (1996), embasado pelo fato verificado de que

    as empresas de minerao de ouro reduzem as operaes de hedge em momentos

    em que os preos caminham contra suas atividades em uma aparente tentativa de

    identificar movimentos futuros de mercado. Assim, buscam verificar se tal prtica

  • 35

    leva a desempenhos financeiro ou operacional superiores, concluindo que tais

    benefcios, se existem, so irrelevantes.

    O estudo de Brown e Khokher (2007) retorna aos modelos de poltica tima de

    hedge em um ambiente com imperfeies de mercado, gerentes avessos ao risco e

    firmas que buscam maximizar seu valor, e introduz a existncia de prticas

    especulativas por parte dos administradores (baseada em uma estimativa privada

    dos movimentos futuros dos preos), verificando que isto pode gerar desvios do

    ponto timo (e esttico) encontrado anteriormente. Em especial, o modelo sugere

    que o comportamento especulativo pode levar as empresas a reduzir o hedge

    medida que os preos se movem contra sua atividade, fazerem hedge apenas de

    parte de sua exposio e alterar suas prticas consideravelmente ao longo do

    tempo. Isto dependeria da volatilidade dos preos de mercado e da confiana que o

    gerente tem em sua viso de mercado. No entanto, isto s iria aumentar o valor da

    empresa caso os administradores detenham de fato informaes superiores.

    Um novo ponto de vista apresentado por Gczy, Minton e Schrand (2007).

    Novamente partindo do resultado da pesquisa de Wharton School/CIBC Wood

    Gundy (Bodnar et al., 1998), procuram identificar os especuladores a partir dos

    respondentes que ativamente tomam posies em derivativos. Uma caracterstica

    comum percebida que os gestores que admitem tomar posies baseados em

    vises de mercado, tendem a faz-lo em mercados relacionados atividade

    operacional da empresa, o que permite supor que esses gestores acreditem ter

    informao superior e, possivelmente, uma vantagem para o trading nesses

    mercados. As firmas que frequentemente especulam em moedas estrangeiras, por

    exemplo, tem maior percentual de suas receitas operacionais e custos denominados

    em moedas estrangeiras, porm isto no explica a especulao com instrumentos

    de taxa de juros, por exemplo. No h uma sobreposio significante entre as

    empresas que especulam com cmbio e com juros.

    A concluso de Gczy, Minton e Schrand (2007) para estas caractersticas

    fundamentalmente diferente das explicaes at ento, ao estabelecer hedging e

  • 36

    trading no como atividades concorrentes, mas sim determinando uma relao

    estreita entre elas:

    Taken together, these characteristics of speculators are consistent

    with the following scenario. Firms are motivated to use derivative

    instruments to hedge. Once the fixed costs of a derivatives operation are

    in place, however, some firms extend their derivatives program to include

    speculation. The firms that start speculating have (or believe they have) a

    comparative information advantage relative to the market such that they

    view speculation as a positive NPV activity. (Gczy, Minton e Schrand,

    2007)

    Outras observaes importantes so que as empresa que especulam tm baixa

    alavancagem, no diferem de no-especuladores com relao aos incentivos para

    tomar risco, e no se engajam mais do que os no-especuladores em outras

    atividades que trazem risco empresa.

    Tais concluses corroboram a idia de que o principal motivador para a especulao

    seria a perspectiva da empresa de conseguir retornos positivos, ao tomar posies

    em mercados com maior familiaridade; e/ou de que as empresas passam a tomar

    posies porque tem uma vantagem de custos de transao, gerada pelo uso de

    derivativos para hedge.

    Outra descoberta importante de Gczy, Minton e Schrand (2007) que os

    especuladores tm mais instrumentos internos para controle e gerenciamento de

    risco. Isto um indicativo que, se o gerente toma uma posio especulativa baseada

    em uma crena de que tem maior habilidade ou vantagens informacionais que o

    possibilitem conseguir resultados positivos, isto no necessariamente possibilitado

    no por uma falha de governana corporativa. possvel que a alta administrao

    da empresa tome deliberadamente a deciso de deixar que isto acontea

    eventualmente at incentivando tal comportamento ao fixar mtricas de desempenho

    baseadas no lucro/prejuzo em detrimento da reduo das medidas de risco.

  • 37

    Neste trabalho esta questo ser abordada sob a mesma tica. Ao utilizarmos os

    dados das operaes realizadas pelas empresas, tentaremos ir alm de um

    aparente conflito para buscar at que ponto as empresa que fazem hedge tambm

    especulam, e de que forma.

  • 38

    3. ANLISE DOS DADOS

    O objetivo central da anlise de dados verificar, a partir das decises tomadas pela

    empresa, indcios que apontem ou refutem a existncia de um comportamento

    especulativo. Para tanto, utilizaremos uma base de dados com operaes de Termo

    de Moedas fechadas por diversas companhias.

    As operaes de Termo de Moedas ou NDF, non deliverable forward, segundo a

    denominao em ingls pela qual tambm so conhecidas so instrumentos

    derivativos fechados no mercado de balco atravs do qual se reproduz o efeito

    financeiro da compra ou venda de determinada quantidade de moeda estrangeira,

    porm sem que ocorra sua entrega real: na data de vencimento, existe apenas o

    ajuste financeiro representado pela diferena entre a taxa de cmbio pactuada e a

    taxa vlida como referncia de mercado naquele dia. portanto um instrumento de

    resultado linear em funo da cotao da moeda no vencimento.

    Este tipo de operao permite a qualquer pessoa fsica ou jurdica assumir uma

    posio no mercado de cmbio, com relativa facilidade e baixo custo. Por ser um

    contrato de balco (sem a intermediao de uma bolsa de valores) no envolve

    ajuste de margens, corretagem ou contas de compensao, sendo os parmetros

    (valor nominal, prazo, e taxa de referncia para liquidao) pactuados livremente

    entre as partes.

    Aparentemente, analisar se a operao foi contratada com fins de proteo ou

    especulao seria uma tarefa simples. Apenas seria necessrio verificar-se se, ao

    contratar o instrumento derivativo, a empresa est realmente buscando reduzir

    riscos ao compensar uma exposio financeira ou contbil j existente, ou se o

    objetivo agregar valor por considerar que tal posio naquele momento tenha um

    valor esperado positivo. No entanto, tal anlise virtualmente impossvel de ser

    conduzida: no possvel identificar a cada momento se a empresa realmente

    possui a exposio que justifique o hedge (alis, em muitas situaes tal exposio

    pode ser real e mesmo assim ainda no constar das demonstraes contbeis da

    empresa: por exemplo, uma obrigao certa porm ainda no formalizada atravs de

  • 39

    um contrato, ou at mesmo uma obrigao provvel porm no certa da qual a

    empresa faz o hedge, justificariam a contratao de uma operao de hedge

    naquele momento mas no seriam detectadas em uma anlise posterior).

    Dada a impossibilidade de se extrair informaes sobre as operaes da empresa

    no momento de contratao da operao, voltamo-nos para o seu vencimento.

    Encontramos ento duas situaes: operaes cuja liquidao ocorreu no dia

    determinado inicialmente (no ato da contratao), e operaes liquidadas

    antecipadamente (por iniciativa da companhia, antes do prazo pr-determinado).

    Podemos esperar que o resultado de todas as operaes contratadas cujo

    vencimento ocorreu de acordo com os parmetros iniciais (doravante chamadas de

    operaes com liquidao na data prevista ou LDP), apresente ex-ante uma

    distribuio de retornos simtrica e normal se assumirmos que os retornos do ativo

    subjacente (taxa de cmbio) sigam um movimento browniano. A existncia de custos

    de transao no caso em questo, um dos custos relevantes o spread bancrio

    (diferena entre a taxa contratada entre a empresa e o banco, e a taxa negociada no

    mercado interbancrio no mesmo instante) justificaria um retorno esperado

    negativo para os resultados auferidos pela empresa. A existncia de especulao

    que agregue valor (isto , fundamentada em informaes privilegiadas possudas

    pela companhia) poderia levar o valor esperado a zero ou at a valores positivos,

    dependendo do resultado mdio destas operaes e da proporo que as operaes

    com fim especulativo tm dentro da carteira.

    Mas isto no necessariamente verdade tambm para as operaes que foram

    liquidadas antecipadamente (LA ou reverses). importante notar que existem

    duas diferenas fundamentais entre as operaes liquidadas no vencimento original

    e as reverses. Em primeiro lugar, enquanto a LDP apenas consequncia do que

    foi pactuado no momento da contratao, a reverso pressupe uma nova ao ou

    deciso da empresa. Em segundo lugar, ao decidir pela reverso a empresa conta

    com uma informao a mais: o resultado (valor financeiro a mercado) da operao

    original.

  • 40

    Dessa forma possvel verificarmos se o resultado do derivativo de alguma forma

    relevante para a deciso da empresa de encerrar uma posio. No entanto, antes de

    entender os motivos que levariam a empresa a tomar uma deciso baseada no

    resultado apurado at o momento, convm analisarmos a base de dados. A simples

    comparao das duas distribuies (operaes com liquidao na data de

    vencimento predeterminada LDP, e operaes com liquidao antecipada LA)

    pode evidenciar diferenas importantes.

    3.1. Descrio da Base de Dados

    A base de dados completa que foi utilizada contm os dados de todas as

    contrataes e liquidaes (vencimentos) de operaes de Termo de Moedas entre

    os bancos Santander, Banespa (Banco do Estado de So Paulo) e Meridional (os

    dois ltimos tendo sido adquiridos e incorporados pelo Santander) e seus clientes,

    ocorridas entre janeiro de 2003 e dezembro de 2008. Contm todas as informaes

    das partes, e da operao fechada ou da liquidao em questo.

    A base de contrataes contm 16.528 observaes, sendo que aps a excluso de

    operaes com pessoas fsicas, instituies financeiras e operaes com empresas

    ligadas do Grupo Santander, e operaes onde a moeda de referncia no era o

    Real, restam 16.510 observaes. Compreende as informaes das partes (razo

    social, CNPJ, endereo) e da operao em si (valor nas moedas base e cotada, taxa

    acordada, data de contratao, prazo / data de vencimento, taxa de referncia para

    liquidao e momento de sua apurao, e dados para controle interno pelo banco).

    No perodo analisado tivemos uma mdia de 229 operaes por ms, sendo que o

    nmero de operaes cresceu consideravelmente a partir do ano de 2006.

  • 41

    -15%

    -10%

    -5%

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    1.000

    Var

    ia

    o U

    SD

    Qu

    anti

    dad

    e d

    e L

    iqu

    ida

    e

    s

    Evoluo mensal das Contrataes

    N Contrataes Retorno USD

    Figura 3 Quantidade mensal de operaes de Termo de Moedas contratadas entre empresas e o

    banco, e retorno mensal do USD (linha - variao em relao mdia do ms anterior).

    Fonte: Elaborao prpria

    A base de liquidaes contm 14.438 observaes, sendo que aps a excluso de

    operaes com pessoas fsicas, instituies financeiras e operaes com empresas

    ligadas do Grupo Santander, e operaes onde a moeda de referncia no era o

    Real, restamos com 14.344 observaes e 684 contrapartes distintas. Destas, 2.983

    (20,7%) foram reverses operaes cuja contraparte solicitou a liquidao antes

    da data de vencimento originalmente pactuada. As informaes compreendidas

    nesse caso incluem, alm dos campos descritos na outra base, as informaes

    sobre a liquidao da operao: data, taxa da reverso, valor de ajuste bruto,

    imposto devido, se foi parcial ou total, etc. Notamos uma diferena entre o nmero

    de contrataes e o nmero de liquidaes, que deve-se ao fato de que algumas

    das operaes contratadas no perodo ainda estavam em aberto, ou seja, sua

    liquidao ocorreu aps dezembro de 2008.

  • 42

    -15%

    -10%

    -5%

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    Var

    ia

    o U

    SD

    Qu

    anti

    dad

    e d

    e L

    iqu

    ida

    e

    s

    Evoluo mensal das Liquidaes

    N LDP N LA Retorno USD

    Figura 4 Quantidade mensal de operaes de Termo de Moedas liquidadas, com distino entre

    liquidaes antecipadas e liquidaes na data pr-determinada (barras) e retorno mensal do USD

    (linha - variao em relao mdia do ms anterior). Nota-se que a partir de 2006 temos uma maior

    relao entre variaes extremas do USD e o nmero de operaes liquidadas antecipadamente.

    Fonte: Elaborao prpria

    Liquidaes Comuns

    79%

    LiquidaesAntecipadas

    21%

    Operaes Vencidas

  • 43

    Figura 5 Proporo entre operaes liquidadas no dia predeterminado e antecipadamente

    Fonte: Elaborao prpria

    Podemos ainda verificar na figura 6, que mostra a relao entre o momento da

    reverso (dias decorridos) e o prazo original acordado para a operao, que no h

    nenhuma concentrao acentuada para o momento em que ocorrem as reverses,

    embora a distribuio apresente uma ligeira concentrao prxima do incio e do

    final do contrato.

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    De

    0%

    a 5

    %

    De

    5%

    a 1

    0%

    De

    10

    % a

    15

    %

    De

    15

    % a

    20

    %

    De

    20

    % a

    25

    %

    De

    25

    % a

    30

    %

    De

    30

    % a

    35

    %

    De

    35

    % a

    40

    %

    De

    40

    % a

    45

    %

    De

    45

    % a

    50

    %

    De

    50

    % a

    55

    %

    De

    55

    % a

    60

    %

    De

    60

    % a

    65

    %

    De

    65

    % a

    70

    %

    De

    70

    % a

    75

    %

    De

    75

    % a

    80

    %

    De

    80

    % a

    85

    %

    De

    85

    % a

    90

    %

    De

    90

    % a

    95

    %

    De

    95

    % a

    10

    0%

    Qu

    anti

    dad

    e d

    e O

    pe

    ra

    es

    Liq

    uid

    adas

    Prazo da Reverso em relao ao Prazo Total (original)

    Momento da Reverso em Relao ao Prazo Total

    No. Obs

    Figura 6 Momento em que ocorre a reverso da operao, em relao ao prazo total contratado. No

    eixo horizontal 0% representa a data de contratao, e 100% representa a data de vencimento

    original. Notamos uma maior concentrao de reverses ocorrendo nos primeiros ou ltimos dias do

    prazo total. O eixo das ordenadas mostra o nmero de contratos liquidados antecipadamente.

    Fonte: Elaborao prpria

    Para uma melhor compreenso do perfil das empresas analisadas, optamos por

    dividir as companhias em quatro grupos, seguindo dois critrios: (1) se as aes da

    empresa (ou do controlador direto) so negociadas em bolsa de valores ou no, e

    (2) se a empresa tem controlador local (brasileiro) ou se a empresa uma

    multinacional com matriz em outro pas.

  • 44

    O maior grupo o de empresas locais de capital fechado: das 684 companhias da

    base utilizada, 69,2% se enquadram neste grupo. A seguir encontram-se as

    multinacionais de capital aberto em outros pases (14,6%), empresas locais com

    aes negociadas em bolsa no Brasil (9,8%) e por ltimo empresas multinacionais

    de capital fechado (6,4%, ou 44 empresas).

    Perfil da Companhia A B C D

    Controlador LOCAL LOCAL ESTRANGEIRO ESTRANGEIRO

    Aes Negociadas em Bolsa? NO SIM NO SIM

    Quantidade de empresas 473 67 44 100

    No. de operaes liquidadas 7611 1582 1070 4081

    Mdia por empresa 16,1 23,6 24,3 40,8

    Valor Medio de cada operacao (Reais) 2.372.082 17.009.990 2.469.036 4.734.606

    Proporo de Operaes de Compra 32,1% 37,4% 36,0% 42,5%

    Proporo de Operaes de Venda 67,9% 62,6% 64,0% 57,5%

    CARACTERSTICAS DAS OPERAES, POR PERFIL DAS COMPANHIAS

    Tabela 1: Caractersticas das operaes liquidadas, separadas por perfil das empresas. O maior

    grupo de empresas (e consequentemente, maior nmero de operaes) so as companhias de

    controlador local e sem capital negociado em bolsa. Destaca-se o valor mdio significativamente

    maior das operaes fechadas pelas empresas locais negociadas na Bovespa.

    Finalmente, utilizamos os dados disponibilizados pela Secretaria de Comrcio

    Exterior (Secex) para identificar se as companhias que contrataram as operaes de

    Termo de Moedas so efetivamente importadoras ou exportadoras.

    Total de Empresas: 684

    Empresas com registro de importao realizada no perodo: 340 50%

    Empresas com registro de exportao realizada no perodo: 507 74%

    Total de Empresas com registro de importao ou exportao: 561 82%

    COMPANHIAS COM REGISTRO DE COMRCIO EXTERIOR

    Tabela 2: Total de empresas que contrataram operaes de Termo de Moedas com registro de

    importao ou exportao no perodo analisado. As informaes sobre comrcio exterior so

    divulgadas pela Secretaria de Comrcio Exterior do Governo Federal (Secex).

  • 45

    Como podemos ver, a maior parte dos clientes tiveram operaes de comrcio

    exterior no perodo analisado, sendo que os exportadores tem maior presena

    dentre as empresas que operaram no perodo (isto at certo ponto surpreendente,

    uma vez que pelos prprios dados da Secex os importadores so maioria,

    respondendo por 55,9% a 69% das companhias com comrcio exterior no perodo).

    Embora o comrcio exterior no seja o nico fator a gerar uma exposio cambial

    (emprstimos ou ativos denominados em moeda estrangeira, por exemplo, tambm

    podem justificam o hedge), estes resultados so importantes medida que

    assumimos que as companhias em geral contratam a operao de Termo de

    Moedas como hedge de uma exposio cambial previamente existente.

    3.2. Estatsticas Descritivas

    Na comparao entre as caractersticas relativas s LDP e s LA podemos encontrar

    algumas diferenas relevantes:

    Posio Assumida pela Empresa

    N Observaes Venda Compra

    LDP 11.361 6.800 59,9% 4.561 40,1%

    LA 2.983 2.394 80,3% 589 19,7%

    Tabela 3: Quantidade e percentual das operaes com liquidao na data predeterminada (LDP) e

    liquidaes antecipadas (LA), de acordo com a posio assumida pela empresa (compra ou venda de

    moeda estrangeira)

    Verificamos que as operaes liquidadas antecipadamente referiam-se mais a

    operaes de venda de moeda; enquanto as operaes de venda de moeda

    estrangeira representam 64,1% das operaes contratadas, mais de 80% das

    reverses referiam-se a posies vendidas das empresas. Pensando de outra

  • 46

    maneira, 26,0% das operaes de venda foram revertidas, contra 11,4% das

    operaes de compra (diferena estatisticamente significativa a menos de 1%). Isto

    pode estar relacionado a uma diferena na atuao da empresa de acordo com seu

    perfil (exportador ou importador), mas bastante razovel imaginar que o cenrio de

    mercado tambm possa ter alguma influncia nisto: o perodo analisado

    caracterizou-se por contnua valorizao do Real, com exceo do ltimo trimestre

    (do incio de 2003 a agosto de 2008, cerca de 55% de valorizao);

    consequentemente, as posies vendidas apresentaram maiores retornos para as

    empresas.

    LDP LA LDP LA

    N Observaes 6.800 2.394 4.561 589

    Mdia 3.003.385 7.128.352 4.069.581 18.444.819

    Mediana 909.822 1.614.350 869.700 1.598.100

    Mnimo 5.183 3.792 2.438 8.804

    Mximo 445.545.000 467.350.000 266.625.000 862.040.000

    Desvio-Padro 10.821.073 25.832.096 12.797.966 68.825.272

    Estatstica Z

    Valores Crticos 95%: 1,65 99%: 2,33 95%: 1,65 99%: 2,33

    Teste Mann-Whitney

    Valores Crticos 95%: 1,65 99%: 2,33 95%: 1,65 99%: 2,33

    5,851

    5,069

    VALOR NOMINAL (Valores em Reais)

    15,611

    7,813

    Posio empresa: Venda Posio empresa: Compra

    Tabela 4: Estatsticas descritivas do valor nominal das operaes liquidadas no perodo, separadas

    por posio assumida pela empresa e tipo de liquidao (LA ou LDP). Testamos se a diferena entre

    o valor mdio das operaes LA e LDP significante, assumindo distribuio normal dos valores.

    Para verificar se o resultado no est sendo influenciado por poucos valores extremos, testamos

    tambm para a diferena de medianas utilizando o teste de Mann-Whitney (tambm conhecido como

    Teste de Soma de Postos de Wilcoxon).

    As operaes liquidadas antecipadamente tambm tem valores nominais maiores do

    que as operaes LDP. Pelo teste Z para comparao das mdias rejeitamos a

    hiptese de que as mdias so iguais para todos os intervalos de confiana testados

    (o teste apresentou estatstica 0 at a dcima - segunda casa decimal).

  • 47

    LDP LA LDP LA

    Mdia 112,2 184,0 87,9 93,4

    Mediana 62 141 50 59

    Mnimo 1 5 1 7

    Mximo 1572 1361 1434 700

    Desvio-Padro 139,9 171,7 105,9 92,4

    Estatstica Z

    Valores Crticos 95%: 1,65 99%: 2,33 95%: 1,65 99%: 2,33

    Teste Mann-Whitney

    Valores Crticos 95%: 1,65 99%: 2,33 95%: 1,65 99%: 2,33

    28,705

    20,475

    Posio empresa: Compra

    4,090

    1,438

    Posio empresa: Venda

    PRAZO ORIGINAL (em dias corridos)

    Tabela 5: Estatsticas descritivas do prazo original das operaes liquidadas no perodo, separadas

    por posio assumida pela empresa e tipo de liquidao (LA ou LDP). Testamos se a diferena entre

    o prazo entre as operaes LA e LDP significante, assumindo distribuio normal dos valores. Para

    verificar se o resultado no est sendo influenciado por poucos valores extremos, testamos tambm

    para a diferena de medianas utilizando o teste de Mann-Whitney (tambm conhecido como Teste de

    Soma de Postos de Wilcoxon).

    Por fim, as operaes LA tambm apresentam prazo mais longo. Utilizando o teste Z

    a mdia entre as duas no igual considerando-se at 99% de significncia. O

    resultado se mantm se considerarmos as medianas das distribuies.

    3.3. Resultados do contrato para a empresa

    Queremos saber se a deciso das empresas que liquidam suas operaes

    antecipadamente influenciada pelo resultado que tal operao proporcionar. Para

    tanto, estamos interessados em comparar a proporo de operaes que geram

    resultado positivo, entre a amostra das operaes antecipadas e a todas as

    operaes. Para possibilitar a comparao de operaes que tem valores bastante

    distintos, optamos por considerar o resultado da operao no em seu valor

    absoluto, mas sim em relao ao valor nominal contratado.

  • 48

    Os resultados para o cliente variam de +118% a -110% do valor da operao. A

    inspeo visual mostra uma diferena relevante entre as distribuies das operaes

    liquidadas na data prevista ou antecipadamente (% do total de operaes X

    resultado na liquidao):

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    De -54%

    a -

    53%

    De -51%

    a -

    50%

    De -48%

    a -

    47%

    De -45%

    a -

    44%

    De -42%

    a -

    41%

    De -39%

    a -

    38%

    De -36%

    a -

    35%

    De -33%

    a -

    32%

    De -30%

    a -

    29%

    De -27%

    a -

    26%

    De -24%

    a -

    23%

    De -21%

    a -

    20%

    De -18%

    a -

    17%

    De -15%

    a -

    14%

    De -12%

    a -

    11%

    De -9%

    a -

    8%

    De -6%

    a -

    5%

    De -3%

    a -

    2%

    De 0

    % a

    1%

    De 3

    % a

    4%

    De 6

    % a

    7%

    De 9

    % a

    10%

    De 1

    2%

    a 1

    3%

    De 1

    5%

    a 1

    6%

    De 1

    8%

    a 1

    9%

    De 2

    1%

    a 2

    2%

    De 2

    4%

    a 2

    5%

    De 2

    7%

    a 2

    8%

    De 3

    0%

    a 3

    1%

    De 3

    3%

    a 3

    4%

    De 3

    6%

    a 3

    7%

    De 3

    9%

    a 4

    0%

    De 4

    2%

    a 4

    3%

    De 4

    5%

    a 4

    6%

    De 4

    8%

    a 4

    9%

    De 5

    1%

    a 5

    2%

    De 5

    4%

    a 5

    5%

    N

    mero

    de O

    pera

    es

    Resultado (Ajuste / Valor da operao)

    Operaes Liquidadas na Data Prevista Inicialmente

    Figura 7 Distribuio de resultados das operaes liquidadas na data predeterminada. A linha

    tracejada indica o valor zero.

    Fonte: Elaborao prpria

  • 49

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    De -54%

    a -

    53%

    De -51%

    a -

    50%

    De -48%

    a -

    47%

    De -45%

    a -

    44%

    De -42%

    a -

    41%

    De -39%

    a -

    38%

    De -36%

    a -

    35%

    De -33%

    a -

    32%

    De -30%

    a -

    29%

    De -27%

    a -

    26%

    De -24%

    a -

    23%

    De -21%

    a -

    20%

    De -18%

    a -

    17%

    De -15%

    a -

    14%

    De -12%

    a -

    11%

    De -9%

    a -

    8%

    De -6%

    a -

    5%

    De -3%

    a -

    2%

    De 0

    % a

    1%

    De 3

    % a

    4%

    De 6

    % a

    7%

    De 9

    % a

    10%

    De 1

    2%

    a 1

    3%

    De 1

    5%

    a 1

    6%

    De 1

    8%

    a 1

    9%

    De 2

    1%

    a 2

    2%

    De 2

    4%

    a 2

    5%

    De 2

    7%

    a 2

    8%

    De 3

    0%

    a 3

    1%

    De 3

    3%

    a 3

    4%

    De 3

    6%

    a 3

    7%

    De 3

    9%

    a 4

    0%

    De 4

    2%

    a 4

    3%

    De 4

    5%

    a 4

    6%

    De 4

    8%

    a 4

    9%

    De 5

    1%

    a 5

    2%

    De 5

    4%

    a 5

    5%

    N

    mero

    d

    e O

    pera

    es

    Resultado (Valor Ajuste / Valor da Operao)

    Operaes Liquidadas Antecipadamente

    Figura 8 Distribuio de resultados das operaes liquidadas antecipadamente. A linha tracejada

    indica o valor zero.

    Fonte: Elaborao prpria

    notvel a concentrao de operaes antecipadas com resultado positivo. De fato,

    enquanto 52,6% das LDP tem resultado positivo, 79,8% das operaes LA geraram

    lucro para a empresa. Enquanto 48,5% das LAs apresentaram lucro superior a 2%

    do valor nominal, apenas 40% das LDPs obtiveram tal resultado.

    Isto fica mais claro se observamos as distribuies lado a lado:

  • 50

    0,0%

    10,0%

    20,0%

    30,0%

    40,0%

    50,0%

    60,0%

    70,0%

    80,0%

    90,0%

    >0

    >2%

    >4%

    >6%

    >8%

    >10%

    >12%

    >14%

    >16%

    >18%

    >20%

    >22%

    >24%

    >26%

    >28%

    >30%

    >32%

    >34%

    Percentual de Liquidaes com Lucro

    Normal Antecipada

    Figura 9 Percentual acumulado de operaes liquidadas com lucro para a companhia, por tipo de

    liquidao e faixa de lucro.

    Fonte: Elaborao prpria

    O mesmo ocorre quando verificamos o resultado mdio das operaes liquidadas:

    N Operaes 11.361 79% 2.983 21%

    Mdia

    Mdia Ponderada

    Mediana

    0,33%

    1,86%

    1,40%

    2,77%

    LALDP

    DESCRIO DO RESULTADO DAS OPERAES

    0,39%

    0,21%

    Tabela 6: Estatsticas descritivas do resultado das operaes liquidadas, separados entre os tipos de

    liquidao (LA e LDP).

  • 51

    Esta diferena existe independente da posio tomada pela empresa ser comprada

    ou vendida, como podemos visualizar no grfico do estoque (percentual em relao

    ao total) em funo do resultado financeiro na liquidao:

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    0,0

    %

    1,3

    %

    2,5

    %

    3,8

    %

    5,0

    %

    6,3

    %

    7,5

    %

    8,8

    %

    10

    ,0%

    11

    ,3%

    12

    ,5%

    13

    ,8%

    15

    ,0%

    % a

    cum

    ula

    do

    de

    op

    era

    e

    s e

    m a

    be

    rto

    Resultado da operao (Ajuste / Valor contratado)

    Estoque de operaes em aberto

    Cliente vende: LDP Cliente compra: LDP Cliente vende: LA Cliente compra: LA

    Figura 10 Percentual acumulado de operaes liquidadas em funo do resultado da operao,

    separados por tipo de liquidao (antecipada ou no) e posio adotada pela companhia

    (compra/venda). Para cada patamar de resultado (eixo horizontal) podemos verificar a quantidade

    acumulada de operaes ainda em aberto; o decaimento da curva representa a liquidao das

    operaes. As operaes LA tem maior proporo de resultados positivos, porm seu estoque cai

    mais rapidamente para resultados pouco positivos.

    Fonte: Elaborao prpria

    notvel a maior porcentagem de operaes LA com resultado positivo. Tambm

    fica claro que a quantidade de operaes LA diminui mais rapidamente (isto , as

    operaes so revertidas nos patamares mais baixos de lucro), tanto para as

    operaes de compra quando de vende de moeda..

  • 52

    Para comprovar a significncia estatstica destas distines necessitamos um teste

    que possa ser utilizado. Neste caso adequado o teste de propores.

    Teste 1: Comparao da proporo de operaes com resultado positivo

    (Ajuste > 0)

    Proporo de operaes LDP com resultado positivo: 52,58%%

    Proporo de operaes LA com resultado positivo: 79,82%

    H0: Proporo de operaes com resultado positivo (>0%) igual nos dois grupos

    H1: Proporo de resultados positivos maior em operaes com liquidao

    antecipada do que em operaes liquidadas no dia predeterminado

    79,2201195,0

    2724,0Z

    Rejeitamos H0 para o intervalo de confiana de 99%.

    Pode-se argumentar que resultados de baixo valor financeiro sejam considerados

    pela empresa como aproximadamente iguais a zero. impossvel determinar

    objetivamente o que um resultado de baixo valor financeiro, de forma que convm

    repetirmos o teste para diferentes resultados positivos.

    Teste 2: Comparao da proporo de operaes com resultado positivo

    acima de faixas de valor especificadas

  • 53

    Uma vez que a escolha do corte de retorno para comparao das operaes LDPs e

    LAs bastante arbitrrio, testamos se a proporo de LAs com retorno acima de

    determinado valor percentual diferente da proporo de LDPs com retorno que

    superam este mesmo valor para vrios cortes distintos alm de zero: 1%, 3% e 5%,

    formulando as hipteses:

    H0: Propores de operaes com resultado positivo acima do valor percentual

    de corte so iguais

    H1: Proporo de operaes com resultado positivo maior em operaes com

    liquidao antecipada do que em operaes liquidadas no dia predeterminado

    Levando a cabo o mesmo teste, encontramos os seguintes resultados:

    ESTATISTICAS PARA DIFERENTES CORTES DE RESULTADO, POR POSIO DA EMPRESA

    LDP LA No. Total Operaes

    Todas as Observaes 11.361 2.983 14.344

    "Corte" de Resultados: No. LDP

    (% Total LDP) No. LA

    (% Total LA) Estatstica - Teste de Propores

    (p-valor)

    >0% 5.974 2.381 22,79

    52,58% 79,82% (0,000%)

    >1% 5.161 1.857 12,44

    45,43% 62,25% (0,000%)

    >2% 4.429 1.446 6,37

    38,98% 48,47% (0,000%)

    >3% 3.861 1.142 2,68

    33,98% 38,28% (0,370%)

    >4% 3.374 922 0,71

    29,70% 30,91% (24,851%)

    >5% 2.924 755 -0,24

    25,74% 25,31% (59,467%)

  • 54

    Tabela 7: Resultados dos testes de propores unicaudal entre LA e LDP aplicados para diferentes

    parmetros de resultado. Testamos se a diferena na proporo entre as operaes LA e LDP

    com resultado acima do parmetro indicado estatisticamente significante.

    As diferenas entre as propores de operaes LDP e LA, para resultados positivos

    de at 3% do valor do contrato, so significantes at o intervalo de confiana de

    99%.

    3.4. Possveis Explicaes e Anlises Adicionais

    Nas sees anteriores, mostramos que os gestores, na grande maioria dos casos,

    encerram os contratos antecipadamente quando estes apresentam valor positivo.

    Adicionalmente, mostramos que a proporo de contratos LA com retorno positivo

    estatisticamente maior que a proporo de LDPs para diversos nveis de retorno

    estabelecidos como corte.

    Mas o que causa esta situao? Para entender esta diferena, necessitamos

    aventar os motivos que podem justificar com que a empresa decida encerrar o

    derivativo antes da data inicialmente pactuada. Podemos imaginar algumas

    possibilidades:

    1. Obrigao ou fluxo financeiro que ensejou ao hedge deixou de existir

    ou ocorreu em data anterior inicialmente prevista

    2. Mudanas no valor ou durao das exposies financeiras da empresa

    podem gerar a necessidade de adequar a operao de hedge ao longo

    do tempo (eventualmente liquidando a operao anterior)

    3. Empresas em situao de default podem ser obrigadas a liquidar seus

    diversos contratos financeiros, antes de poder renegociar sua dvida

    junto aos credores

  • 55

    4. A empresa deseja antecipar o valor positivo a mercado de sua

    operao de hedge (fazer caixa com o valor positivo do contrato). Para

    tanto, fecha a operao original e abre uma nova, mantendo as

    condies (vencimento, valor) da operao original

    5. Posies especulativas que atingem o resultado positivo esperado

    podem ser encerradas para realizao do lucro

    Os dois primeiros motivos, que se devem a mudanas imprevistas na exposio alvo

    da operao de hedge, no explicam a maior proporo de resultados positivos em

    LA: de se supor que, sendo este motivo no-correlacionado com a variao

    recente dos preos dos ativos, o valor a mercad