Jornal Circulando

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JORNAL LABORATÓRIO OUTUBRO 2014 ANO 15 EDIÇÃO 520 CURSO DE JORNALISMO 10 6 3 5 10 9 9 4 Circulando DISTRIBUIÇÃO GRATUITA FOTO: Deividson Rodrigues O ex-detento da antiga Cadeia Pública de Governador Valadares – que já foi conhecida como “Cadeião da Afonso Pena”, Valdemar Sil- va, de 57 anos, se emocionou ao voltar, recen- temente, ao mesmo prédio, hoje reformado e sede da Academia Valadarense de Letras (AVL) e do Centro Cultural Nelson Mandela, que abri- ga a Biblioteca Pública Municipal Paulo Zappi. Pouco mais de 15 anos depois de ter entrado no prédio na condição de preso para cumprir pena por envolvimento com drogas, ele encon- trou um cenário bem diferente, onde, no lugar de celas sujas e apertadas, e um “aglomerado” de detentos, havia amplos espaços de leitura, uma infinidade de livros e muitas pessoas con- vivendo num agradável e moderno ambiente.A visita, que aconteceu em agosto deste ano, foi acompanhada de perto pelo Circulando. A falta de ações mais eficazes, enérgicas e ágeis contra os crim- inosos por parte das autoridades levou a população a assumir o papel de agentes de segurança públi- ca. Com isso, o que se tem visto é uma onda de cidadãos – muitos deles gente de bem – que estão saindo da posição de oprimido pela crimi- nalidade e assumin- do papel de opres- sor. Recentemente, em várias cidades brasileiras foram reg- istrados casos em que criminosos foram detidos e agredidos fisicamente por pop- ulares. Em Valadares e Ipatinga foram reg- istrados casos sem- elhantes. Há três anos, Go- vernador Valadares entrou em definitivo no circuito dos festi- vais de animes e se- dia pelo menos um evento do gênero to- dos os anos. Nesse tipo de evento, os fãs dos personagens de animação se vestem como seus heróis. Para os organizadores dos festivais animes em Valadares, esse tipo de evento vem crescendo na cidade, pois, a cada ano, o público tem se mos- trado mais curioso por encontros desse tipo, com variedade cultu- ral. Em setembro, a ci- dade sediou o 5ª Fes- tival Valadares Power, evento que deu início à difusão das culturas alternativas. Andando pelo cen- tro da cidade não é difícil notar estabe- lecimentos comerci- ais gerenciados por chineses. É possível encontrar de tudo: lanchonetes, bijute- rias, restaurantes, lo- jas de motos, roupas e acessórios. Pro- prietária de uma loja de artigos orientais em Valadares, onde mora há 35 anos, a taiwanesa naturaliza- da brasileira Chang Chai, ou Tereza, como gosta de ser chamada, diz que o fato de a cidade ter forte apelo comercial favorece a vinda de empreendimentos orientais. Ao Circu- lando, a comerciante conta como e quan- do chegou ao Brasil. ESPECIAL Homem visita prédio onde cumpriu pena Estudantes visitam quilombolas Pataxós e as novas tecnologias Cada vez mais cedo na internet Transporte público: reclamações Fazendo justiça com as próprias mãos Valadares entra no circuito dos animes Comércio atraente para os chineses Página Página Página FOTO: Wagner Barcelar FOTO: Arquivo pessoal FOTO: Aline Júlia

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE

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JORNAL LABORATÓRIO OuTuBRO 2014 ANO 15 EDIÇÃO 520CuRSO DE JORNALISMO

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CirculandoDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FOTO: Deividson Rodrigues

O ex-detento da antiga Cadeia Pública de Governador Valadares – que já foi conhecida como “Cadeião da Afonso Pena”, Valdemar Sil-va, de 57 anos, se emocionou ao voltar, recen-temente, ao mesmo prédio, hoje reformado e sede da Academia Valadarense de Letras (AVL) e do Centro Cultural Nelson Mandela, que abri-ga a Biblioteca Pública Municipal Paulo Zappi. Pouco mais de 15 anos depois de ter entrado no prédio na condição de preso para cumprir pena por envolvimento com drogas, ele encon-trou um cenário bem diferente, onde, no lugar de celas sujas e apertadas, e um “aglomerado” de detentos, havia amplos espaços de leitura, uma infinidade de livros e muitas pessoas con-vivendo num agradável e moderno ambiente.A visita, que aconteceu em agosto deste ano, foi acompanhada de perto pelo Circulando.

A falta de ações mais eficazes, enérgicas e ágeis contra os crim-inosos por parte das autoridades levou a população a assumir o papel de agentes de segurança públi-ca. Com isso, o que se tem visto é uma onda de cidadãos – muitos deles gente de bem – que estão saindo da posição de

oprimido pela crimi-nalidade e assumin-do papel de opres-sor. Recentemente, em várias cidades brasileiras foram reg-istrados casos em que criminosos foram detidos e agredidos fisicamente por pop-ulares. Em Valadares e Ipatinga foram reg-istrados casos sem-elhantes.

Há três anos, Go-vernador Valadares entrou em definitivo no circuito dos festi-vais de animes e se-dia pelo menos um evento do gênero to-dos os anos. Nesse tipo de evento, os fãs dos personagens de animação se vestem como seus heróis. Para os organizadores dos festivais animes

em Valadares, esse tipo de evento vem crescendo na cidade, pois, a cada ano, o público tem se mos-trado mais curioso por encontros desse tipo, com variedade cultu-ral. Em setembro, a ci-dade sediou o 5ª Fes-tival Valadares Power, evento que deu início à difusão das culturas alternativas.

Andando pelo cen-tro da cidade não é difícil notar estabe-lecimentos comerci-ais gerenciados por chineses. É possível encontrar de tudo: lanchonetes, bijute-rias, restaurantes, lo-jas de motos, roupas e acessórios. Pro-prietária de uma loja de artigos orientais em Valadares, onde

mora há 35 anos, a taiwanesa naturaliza-da brasileira Chang Chai, ou Tereza, como gosta de ser chamada, diz que o fato de a cidade ter forte apelo comercial favorece a vinda de empreendimentos orientais. Ao Circu-lando, a comerciante conta como e quan-do chegou ao Brasil.

ESPECIAL

Homem visita prédio onde cumpriu pena

Estudantesvisitamquilombolas

Pataxós e as novas tecnologias

Cada vez mais cedo na internet

Transporte público:reclamações

Fazendo justiça com as próprias mãos

Valadares entra no circuito dos animes

Comércio atraente para os chineses

Pági

na

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FOTO: Wagner Barcelar FOTO: Arquivo pessoal FOTO: Aline Júlia

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OUTUBRO 2014

Samuel Martins 4° período

Criado em 1999, o jornal-laboratório Circulando chega aos seus 15 anos de existência como um produto do curso de Comunicação Social da universidade Vale do Rio Doce (univale). Tendo como uma de suas principais características a

qualidade da informação, sua história foi construída pela liberdade editorial, com foco em notícias regionais, de alcance amplo e de cunho acadêmico.

Como jornal-laboratório, o Circulando nos ajuda, na condição de estudantes da área da comunicação, a com-preender a importância da prática de um jornalismo vol-tado ao interesse público, pautado no respeito a todos os cidadãos. Como veículo de comunicação, procura ser um instrumento por meio do qual temos a oportunidade de apresentar aos valadarenses tudo aquilo que temos aprendido em sala de aula, entre as quais, o comprometi-mento com o local e o social.

Quando falamos de respeito para com a comunida-de, vale reiterar que ao longo desses 15 anos foram as mais diversas histórias e personagens que estamparam as nossas capas. Como fruto desse compromisso com a população, o Circulando conquistou em 2003 o prêmio de melhor jornal-laboratório do Brasil, na 10ª Expocom/Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplina-res da Comunicação), em que concorreu com mais de 40 periódicos produzidos por cursos de Comunicação Social de diversas instituições renomadas do país.

Por meio da relação efetiva da univale com a comuni-dade, nosso jornal-laboratório tem a função de fomentar o sentimento de pertencimento dos moradores em torno da nossa cidade, com fins de preservação da nossa me-mória cultural e visando a mudanças de comportamentos. Referenciando Maria Alice Faria e Juvenal Zanchetta Jr., autores de “Para ler e fazer o Jornal na sala de aula” (Edi-tora Contexto, 2007), o compromisso deste jornal é liberar a palavra do aluno, capacitando-o a intervir na realidade, “ao aprender a ler criticamente o jornal, pois, para produzi-lo, é preciso aprender a diferença entre opinião e notícia; cria o hábito da pesquisa e da comparação de diferentes fontes para apresentá-las no texto, reforçando, assim, o espírito crítico”.

Chegamos aos 15 anos apresentando um novo for-mato, uma nova proposta visual, uma nova linha editorial, mas com a mesma gana e o mesmo comprometimento de fazer muito mais que um jornal acadêmico. Nosso ob-jetivo é fazer deste canal de comunicação uma forma de relacionar o conhecimento universitário com a realidade social, tornando prática a premissa teórica de uma impor-tante universidade como a nossa, que é a indissociabilida-de entre ensino, pesquisa e extensão.

EDITORIAL

OPINIÃO

POR ILDO AMARO6º PERíODO

Ilustração:: Salomão Renato

Como tenho saudade da Copa! Mas, a sauda-de não é pela seleção, e sim do Brasil daqueles dias. Eu nunca vi a Na-ção Verde e Amarela tão entusiasmada. Festas, jogos, alegria, boa recep-ção aos turistas... O nos-so futebol é uma cultura tão maravilhosa e essa Copa com esses novos campos verdes das no-vas arenas foram palcos de guerras simbólicas fantásticas. Acompanha-mos os Estados unidos contra o Japão, a Rússia contra a Croácia, a Ingla-terra contra a Argentina.

Vimos a Espanha ser derrotada pelo Chile e pudemos acompanhar a ironia dos torcedo-res chilenos quando le-vantaram faixas com os dizeres “Nos coloniza ahora, España!”, que no bom português signifi-ca “Nos coloniza agora, Espanha!”. Para o nosso maior desprazer futebo-lístico da história das Co-pas, assistimos a Alema-nha despachar o Brasil sem fazer muito esforço e dias depois ver essa mesma seleção europeia ser campeã do mundo com seu futebol eficiente

As guerras da Copa e das eleições

CHARGE

O JORNAL LABORATÓRIO CIRCULANDO é uma publicação bimestral do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação (FAC)

Fundação Percival FarquharPresidente: Sr. Francisco Sérgio Silvestre

universidade Vale do Rio DoceReitor: Prof. José Geraldo Lemos Prata

Coordenador do Curso de Jornalismo e Produção Publicitária:Prof. Dileymárcio de Carvalho Gomes

Projeto Gráfico e Design:Prof. Mayer Moraes Lana Sírio

Editor e Jornalista Responsável:Prof. Franco Dani - MTb MG 03.319 JP

Editoração Eletrônica: Prof.Elton BindaAruaKe Frois

Impressão / Tiragem:Gráfica e Editora Leste / 1000 exemplares

Laboratório de Jornalismo e

Publicidade Carlos Olavo da

Cunha Pereira

Rua Israel Pinheiro, 2000, Bairro

universitário - Campus Antônio

Rodrigues Coelho - Edifício Pionei-

ros, Bloco C - Sala 6 - Governa-

dor Valadares / Minas Gerais

CEP: 35.020.220

Contato: (33) 3279-5548

[email protected]

Expe

dien

te

Reda

ção

e bonito. Foram guerras sim-

bólicas nos gramados, onde cada país tinha os seus homens-bombas (artilheiros) com seus chutes mortíferos, ca-pazes de arruinar a feli-

cidade de uma nação. E nós, brasileiros? Não tivemos a nossa guerra simbólica particular, pois o Paraguai, que em 1950 tomou a taça de nós dentro de casa, não par-ticipou deste Mundial.

Recentemente, es-

tamos travando outra guerra: a das eleições. Comparo a uma guerra porque é sempre a mes-ma coisa: de um lado, o “exército” dos que que-rem dar continuidade no poder. De outro, o dos que propõem novas ideias e projetos. uma coisa é certa: essa guer-ra termina no segundo turno, em 26 de outu-bro, nas urnas, e até lá seremos bombardeados por santinhos, adesivos, jingles, sorrisos amare-los, abraços e apertos de mão. E nós, eleitores, estamos no meio desse fogo cruzado. Ah, meu Deus, que saudade da Copa!

“Foram guer-ras simbólicas nos gramados, onde cada país tinha os seus homens-bom-bas (artilheiros)

com seus chutes mortíferos, ca-

pazes de arruinar a felicidade de uma nação.”

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OUTUBRO 2014

Direitos HumanosA respeito desse polêmico assunto, a equipe de re-

portagem do Circulando procurou a Comissão de Di-reitos Humanos da Câmara Municipal de Governador Valadares, atualmente presidida pelo vereador Leonar-do Glória (PSD), que se posicionou contra tais ações justiceiras por parte da população, apesar de entender as motivações que a leva a praticar esses atos.

“A Comissão de Direitos Humanos reza em seu ar-tigo universal que todo ser humano nasce livre, dotado de direitos e deveres. Infelizmente, a sociedade em que nós vivemos está passando por uma fase de im-punidade muito grande. E isso, a gente percebe nos altos e baixos escalões da sociedade. Corruptos que deveriam estar presos, mas não estão, e pessoas que não deveriam estar, mas estão. Não só isso, mas o descontrole na gestão pública, a falta da educação, escolas inapropriadas, falta de saúde etc. Todas es-sas questões básicas refletem e mágoa do cidadão de bem e que acaba desacreditando na política, na segurança pública. E com isso, os valores vão se per-dendo, o respeito acaba, as pessoas não se confor-mam e passam dos limites. Não justifica, somos con-tra esse tipo de comportamento, pois as leis estão aí para serem seguidas. Mas, todos esses problemas entristecem a sociedade e a levam a agir dessa for-ma”, ressaltou o vereador, que também é advogado.

COTIDIANO

Tem se tornado cada vez mais comum assistir, ouvir ou ler nos noticiá-rios casos de moradores que resolvem fazer justi-ça com as próprias mãos. “Justiceiros” que, diante da alegação de que estão cansados da morosidade de ações mais eficazes, enérgicas e ágeis contra os criminosos por parte das nossas autoridades, resolvem assumir o papel dos agentes de segurança pública. Com isso, o que se tem visto é uma onda avassaladora de cidadãos – muitos deles gente de bem – que estão saindo da posição de oprimido pela criminalidade e assumindo papel de opressor.

Desde que o fato mais popular ocorreu no início de fevereiro deste ano, no Rio de Janeiro (RJ), onde um jovem foi agredido e preso a um poste após ten-tar assaltar turistas estran-geiros, histórias como esta têm se repetido em outros cantos do Brasil. No início de maio, um caso chocou o país: a dona de casa Fa-biane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu dois dias após ter sido espancada por dezenas de morado-res de Guarujá, no litoral de São Paulo. Ela foi agre-dida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afir-mava que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.

Casos na região

Mas, está enganado quem pensa que essas ações populares estão restritas apenas às gran-des cidades. Em Governa-dor Valadares, ocorreu um fato parecido no mês de março. Por descuido, um rapaz deixou sua bicicleta destrancada em frente a uma loja em que ele fazia compras. Enquanto isso, sua bicicleta estava sendo furtada. A vítima só se deu conta do crime porque o dono do estabelecimento o avisou. Ao perceber a fuga do ladrão, a vítima se deu conta de que não conse-guiria alcançá-lo. uma pes-soa que passava de moto pela avenida ofereceu ca-rona à vítima para tentar alcançar o ladrão, o que aconteceu pouco tempo depois. O rapaz que furtou a bicicleta foi imobilizando e amarrado pelos pés e mãos, enquanto a popula-ção, revoltada, batia nele.

A história só não teve

Justiça com as próprias mãosPor WAgnEr BArCElAr, FrAnCiSlAinE riBEiro, lAriSSA BArroS, MAuro lúCio,OtacíliO ROdRigues e Wesley MOuRa - 4º período

Voz das ruasO Circulando também foi às ruas de Valadares ou-

vir a população a respeito desse assunto e o que en-controu foram opiniões distintas. “Eu sou contra, pois existe a justiça para lidar com esses casos”, disse João Paulo Almeida, 23. “Sou contra esse tipo de ato, pois acredito que só Deus pode julgar as pessoas. E se elas fizeram justiça com as próprias mãos, deveri-am fazer o mesmo com elas também”, opinou Marilia Freitas, 26. “Sou a favor, porque quem tem que fazer justiça não faz, que são as autoridades. Isso não é correto, eu sei, mas já que eles não querem fazer, em alguns casos nos vemos abrigados a fazer justiça com as próprias mãos”, desabafou Alan Pereira, 30.

FOTOS: Wagner Barcelar

um final trágico porque um policial à paisana interviu e chamou a Polícia Militar. Quando as viaturas che-garam, os militares perce-beram que o ladrão esta-va muito machucado e foi preciso chamar o Serviço de Atendimento Serviço de Atendimento Móvel de ur-gência (SAMu). O rapaz foi levado para o Hospital Mu-nicipal e de lá para a Dele-gacia Regional.

No mês seguinte, na ci-dade de Ipatinga, no Vale do Aço, um jovem de 18 anos, acusado de come-ter furtos em uma região da cidade, foi amarrado a um poste com pedaços de lençol. Vestido apenas com uma cueca, foi mal-tratado por pessoas que passavam pelo local, que usaram fios de cobre para agredi-lo. Enquanto apa-nhava e pedia para não ser mais agredido, ele era obri-gado a gritar que não rou-baria mais. O jovem sofreu ferimentos nas costas, per-nas e braços e foi levado para um hospital.

Foto-divulgação: TV Alterosa

EM VALADARES, rapaz que furtou uma bicicleta foi imobilizando e amarrado por populares, e em seguida, espancado

NA CIDADE de Ipatinga, jovem de 18 anos, acusado de cometer furtos, foi amarrado a um poste com pedaços de lençol

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OUTUBRO 2014

Quem depende do transporte público em Va-ladares sabe como é difí-cil encarar os horários de pico. Os alunos do cam-pus II da universidade Vale do Rio Doce (univa-le) conhecem bem essa realidade. Todos os dias, principalmente ao final das aulas da manhã e da noite, estudantes se aglomeram no ponto de ônibus, espe-rando a hora de voltar para casa. Depois de algum tempo de espera, quan-do o ônibus chega é hora de correr para garantir um lugar. Nessa hora, vale de tudo: empurra-empur-ra, pisão... um verdadeiro aborrecimento, ainda mais no período noturno, quan-do muitos alunos já enfren-taram um dia inteiro de tra-balho, seguido das aulas.

A equipe de reporta-gem do Circulando resol-veu registrar um desses dias, percorrendo o trajeto do bairro Grã-Duquesa ao campus II da univale, no fi-nal de tarde, considerado horário de pico, no ônibus que faz a linha Morada do Vale/Capim. A viagem co-meçou na avenida Itália, no bairro Grã-Duquesa, às 18h15. Inicialmente, havia ainda alguns lugares vazios no ônibus, que ha-via saído do ponto final do bairro Morada do Vale. À medida que o veículo pa-rava nos pontos, o panora-ma ia mudando, e aquele cenário de aparente tran-quilidade ficava para trás.

Antes mesmo de che-gar no Mergulhão, na ave-nida Minas Gerais, o ôni-bus já estava cheio, com algumas pessoas em pé. Às 18h30, o ônibus para no ponto da rua Bárba-ra Heliodora, na altura do cruzamento com a rua Pe-çanha, onde muitos pas-sageiros – boa parte deles recém-saída do serviço e indo direto para a univer-

sidade – começam a tra-var uma verdadeira batalha para entrarem e depois se acomodarem no ônibus. A situação começa a ficar realmente crítica. E, até então, é só a metade do caminho até o campus II da univale.

reclamaçõesQuando o ônibus pas-

sava pela rua Israel Pinhei-ro, na altura do bairro São Pedro, muitos passagei-ros começaram a recla-mar da lotação. O veículo só começou a esvaziar ao chegar no campus II da univale, por volta das 18h54, ou seja, depois de praticamente 40 minutos de percurso. Desceram do veículo, de uma só vez, 34 estudantes, incluindo a equipe de reportagem do Circulando. Ao acom-panhar a reportagem até este ponto, possivelmen-te alguns leitores já este-jam impressionados com o que vivenciaram os es-tudantes desde ônibus. Imagine, então, passar por isso todos os dias?

“Além de ter que fazer a viagem em pé, tem muito falatório na cabeça, falta de espaço e músicas alta. Isso incomoda muito quem trabalha o dia inteiro”, de-sabafou Janilzete Ribeiro de Souza, que é usuária da linha Penha/Santos Dummont. Ao ser entre-vistada pela equipe de re-portagem, a universitária Pollyana Teixeira sugeriu mudanças que, na opinião dela, poderiam resolver esses problemas. “Pode-riam aumentar as linhas, colocar mais assentos de área restrita para idosos, gestantes e pessoas com criança de colo, melhorar a estrutura dos ônibus, pois muitas vezes estão sujos, as cadeiras são descon-fortáveis, muito quente”.

Estudantes reclamam de problemas no transporte público em horários de pico

Valadarense alega que não foram constatadas ‘lotações superiores’

Aprobem completa dois anos em Valadares

Procurada pela equi-pe de reportagem do Jornal Circulando, a Em-presa Valadarense se pronunciou através de uma nota emitida por sua assessoria de imprensa: “A Empresa Valadarense de Transporte Coletivo in-forma que após acompa-nhamento realizado junto ao Semov das linhas que atendem à univale, não foram constatadas lota-ções superiores ao espe-rado durante os horários de pico”.

A advogada Kaline Santos esclarece alguns pontos importantes so-bre o direito do consumi-dor em situações como esta, presenciada pelo Circulando: ‘‘Se a lota-ção dos ônibus extrapola o limite máximo e ofere-ce risco à segurança, é direito do consumidor buscar a reparação de tal situação. A reclama-ção, à princípio, deve ser feita com a própria em-presa responsável pelo transporte público. Não surtindo efeito, deve-se procurar os órgãos de

regulamentação e fiscali-zação (no caso do trans-porte municipal, o órgão fiscalizador municipal) e, em casos mais extremos, as instituições de defesa e apoio ao consumidor (Procon de forma indivi-dual e Ministério Público de forma coletiva) ou o próprio Poder Judiciário a depender da situação de violação do direito à segurança ou exposição a situações que sejam capazes de gerar dano material ou moral’’, escla-receu a advogada.

Os usuários de ôni-bus da Valadarense que se sentirem violados em seus direitos, têm alguns canais de comunicação com a empresa, confor-me verificado pela equipe de reportagem. No site www.empresavalada-rense.com.br há opções de deixar mensagens via e-mail para a gerência, através do endereço [email protected], ou fazer contato via telefone. O número é (33) 3212-9200.

Cuidar de cães e ga-tos, dar amor sem es-perar recebê-lo de volta, acolher os animais que com ou sem motivo são abandonados nas ruas por seus donos. Essa é a missão dos integrantes da Associação de Prote-ção e Bem-Estar Animal de Governador Valada-res (Aprobem). Muitas pessoas não sabem, mas essa associação existe em Valadares há pouco mais de dois anos e praticamente sobrevi-ve de doações e ajuda de voluntários. um deles é a jornalista Lucy Mat-tos, que conta que tudo começou em março de 2012, quando aconte-ceu a primeira assem-bleia geral.

“Atualmente, cerca de 17 pessoas, além de voluntários, nos aju-dam tanto com doações quanto com lares tem-porários”. O trabalho da Aprobem, segundo ela, começa com o recolhi-mento dos animais nas ruas de Valadares. A ins-tituição, sem fins lucrati-vos, não tem sede pró-pria e conta com a ajuda de lares voluntários para abrigar esses animais até que eles sejam levados para um lar permanen-te. “Somos voluntários, então fazemos mobiliza-ções, feiras e resgates proporcionais a nossa estrutura, dependendo, várias vezes, da ajuda de outras pessoas para aquisição de remédios e outras coisas”, explica Lucy.

AdoçãoEm pouco mais de

dois anos de funciona-mento em Valadares, a Aprobem reúne números significantes. A associa-ção recolhe, em média, 10 animais por mês, en-tre cães e gatos, e atra-vés das redes sociais incentiva a adoção de animais. Adotar um cão ou gato requere alguns procedimentos, como explica Lucy. “Antes da adoção, é verificado se a pessoa interessada tem condições de cuidar do animal que quer levar para casa. “O adotante passa por uma entrevis-ta com uma associada para que possamos ter certeza de que o animal está indo para um bom lar, além das visitas que fazemos para verificar se o trato está sendo cum-prido”.

Quem tiver interesse em ajudar a Aprobem, ou adotar um animal, além das feiras de adoção a associação tem uma página no Facebook (https://www.facebook.com/aprobemgv) onde podem ser encontradas informações sobre ani-mais desaparecidos, re-lação e fotos de cães e gatos que estão na fila de adoção, e produtos personalizados a ven-da. Também é possível acompanhar a agenda da associação, onde são divulgados os even-tos dos quais a Aprobem participa e os que ela mesma promove, como por exemplo, as feiras de adoção de cães e gatos.

COTIDIANO

4Evanilson Correia, Fábio Velame, leandro Silva, Mariana Pereira, reinaldo lopes e Julia Denadai - 4º período

PERIODICAMENTE, A Aprobem realiza em Valadares feiras de adoção

TODOS OS dias, principalmente ao final das aulas da manhã e da noite, alunos da univale se aglomeram no ponto de ônibus, esperando a hora de voltar para casa

Por Tássia Palmeiraegressa do curso de Comunicação Social da Univale

Por Tássia Palmeiraegressa do curso de Comunicação Social da Univale

FOTOS: Julia Denadai

Foto-divulgação: Aprobem

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OUTUBRO 2014

Imagine se vestir como um dos seus heróis dos quadrinhos? Pode até ser que a timidez não te permi-ta fazê-lo, mas nesse caso, imagine então poder andar em meio a alguns desses ícones. Isso é possível nos festivais de animes, que como o próprio nome su-gere, são eventos onde os personagens de animação ganham vida através dos fãs. Há três anos, Gover-nador Valadares entrou no circuito dos festivais animes e promove pelo menos um evento do gênero todos os anos.

O último aconteceu no mês de abril. A Praça de Esportes, no centro da cida-de, recebeu a 3ª edição do Festival Anime GV. O evento foi criado por fãs das cultu-ras Nerd, Oriental, Geek, Gamer e por fãs de qua-drinhos do leste de Minas, sendo Valadares a sede escolhida para os encon-tros deste público. Neste ano, 17 atrações animaram os mais de 400 jovens pre-sentes da Praça, e o evento ainda contou com estandes de vários comerciantes e apoiadores do movimento.

Para os organizadores, o evento vem crescendo na cidade, pois, a cada ano, o público tem se mostrado mais curioso por encontros deste tipo, com variedade cultural. “O crescimento do

Quando o assunto é culi-nária, o Brasil não fica deven-do nada a nenhum país de Primeiro Mundo. Todos os anos, milhões de turistas que por aqui passam experimen-tam os mais variados pratos e se encantam com a varie-dade de sabores. De certa forma, isso resultou na aber-tura de restaurantes voltados para a culinária estrangeira, segmento que tem crescido nos últimos anos em todo o país. A culinária estrangeira também entrou para a roti-na alimentar do valadarense. Japonesa, tailandesa, por-tuguesa, mexicana, italiana, chinesa... Enfim, é possível encontrar todos os tipos de comida em esquinas ou ba-res da cidade, que agradam os mais variados paladares.

A ideia de investir no próprio negócio é quase sempre visto como um desa-fio. Imagine, então, abrir um restaurante especializado na culinária de outro país numa cidade do interior do Brasil,

com perspectiva de lucro se-melhante à de uma metrópo-le? A missão aparentemente impossível vem se tornando cada vez mais real na vida da empresária Patrícia Car-valho. Há nove meses, o que parecia ser algo distante se transformou num sucesso de mercado.

Impulsionado pelo “boom” do promissor setor de franquia, Patrícia investiu no serviço de pronta-entre-ga de comida chinesa. “Eu vejo com muito bons olhos a culinária estrangeira em Valadares, principalmente a chinesa. Os pratos que mais vendemos são também os mais conhecidos na culinária chinesa, como o frango xa-drez; o yakissoba, que é o macarrão chinês com carnes, legumes e molho shoyo; e também o rolinho primavera, que é uma massa leve e cro-cante recheada com repolho, carne de porco e cenoura, acompanhado de um molho agridoce. Mas, todos os pra-tos do nosso cardápio são muito bem aceitos”, conta a proprietária do restaurante.

Valadares entra em definitivo no circuito dos festivais de animes

lettícia gabriella, Myllene nobelle, Marcela Ferreira, natália Carvalho, natália Costa e Davidson Fortunato - 4º período

gastronomia que encanta os mais variados paladares

Cidade é referência na regiãoNo mês de setembro foi

realizado o 5ª Festival Vala-dares Power, evento que deu início à difusão das culturas alternativas em Governador Valadares. De acordo com os organizadores, foi o Vala-dares Power que deu origem ao Anime GV e ao Animix, festival itinerante realizado nas cidades de Caratinga (MG) e Timóteo (MG), e que ainda este ano pode ganhar uma edição em Valadares.

A estudante universitária Tracey Bonilla, de 21 anos,

participou do evento. Para este ano, ela escolheu se vestir do personagem das histórias em quadrinhos “Loki”, mais famoso pela sua aparição nos filmes “Thor”, de quem é irmão, e “Os Vingadores”. “Trabalhei nes-te cosplay desde abril. Foi muito difícil, pois como tudo é artesanal, requer muita pa-ciência, mas acredito a rou-pa passou a imagem forte e misteriosa do personagem”. Tracey conta que é ela mes-ma quem confecciona as

suas roupas, desde os teci-dos aos acessórios, cuidan-do para que cada detalhe valorize a personalidade do personagem.

O Valadares Power acon-teceu no dia 13 de setem-bro, na Praça de Esportes de Governador Valadares. A agenda de eventos, fotos, concursos, gincanas, jogos relacionados ao mundo dos animes podem ser encontra-dos na página do Anime GV. O endereço é: http://www.animegv.com.

público do festival veio com o desenvolvimento de novi-dades e melhor organização do que já existia”, conta Cris-tofer Rodrigues de Morais, idealizador do projeto. Para agradar os amantes das chamadas culturas alternati-vas, o evento teve diversas atrações, como campeona-tos de card games e vídeo games, shows de bandas de rock, apresentações de grupos de dança, concur-sos de cosplay e lolita, gin-canas e palestras.

De acordo com Wilmer Lemos, proprietário da loja de quadrinhos Gibimania, o evento contribui para a difu-são das culturas alternativas

na cidade, pois, segundo ele, “traz um público diferen-te, que não conhecia esse mundo e passa a conhe-cer”. Ainda de acordo com ele, “o Anime GV é uma oportunidade única em Va-ladares, pois confere maior visibilidade e ajuda no cres-cimento dos negócios volta-dos para estas culturas”.

Esther Hellene, de 9 anos, participou pela primei-ra vez do evento, caracteri-zada como a personagem Videl, da série de animação “Dragon Ball Z”. Segundo ela, foi por influência do ir-mão, Arthur Figueiredo, de 16 anos, que se interessou pelo mundo dos animes.

outros sabores

Os restaurantes espe-cializados na venda de co-mida japonesa também têm conquistado o seu espaço em Valadares. Para tanto, é necessário “jogo de cin-tura” para atrair o consumi-dor. Vista como uma comida exótica, o empresário Adél-son criou a estratégia de oferecer ao cliente opções além do tradicional peixe cru. “Notamos que muitos valadarenses degustam as maravilhas da culinária japo-

nesa. O que impede que a maioria possa provar nos-sas delícias é o mito de que sushi é somente peixe cru, o que não agrada o paladar, já que remete a peixe cru e no cheiro forte de peixe. Isso cai por terra quando se pro-va os sushis grelhados com frutas e até mesmo os sashi-mis (peixe cru) com molhos especiais”, diz o empresário.

E não pense que a opção é um simples detalhe para os clientes. Foi ela que atraiu a amante de comida japone-sa, a assessora pública Mi-

chelle Figueiredo. “Fui apre-sentada à comida japonesa na época por uma colega de trabalho. Após experi-mentar, achei leve, saboro-sa, sem pesar no estômago, gostei de cara”, conta ela. A culinária italiana não fica de fora, principalmente por ser conhecida pela sua diver-sidade em nível regional. A convivência social e a leitura foi um dos pontos determi-nantes na escolha do radia-lista Santos Silvestre pelo um gosto de um bom prato italiano. O radialista costuma

ir a um restaurante especia-lizado nessa culinária pelo menos uma vez na semana e o pedido quase sempre é o tradicional macarrão. “A gastronomia estrangeira é indiscutivelmente bem diver-sificada, até porque existem muitos restaurantes na cida-de que facilitam o acesso a esse tipo de comida. Meu preferido é o macarrão, por-que é um prato que permi-te as mais variadas combi-nações na sua montagem. Posso colocar vários ingre-dientes”.

COTIDIANO

EM VALADARES, personagens de animação ganham vida através dos fãs

A MODA Lolita surgiu no Japão em meados dos anos 1980 TRACEY SE fantasiou de Loki, vilão dos quadrinhos

ENTRE OS restaurantes especializados na venda de comida estrangeira em Valadares, a culinária japonesa é uma das que têm conquistado muitos adeptos

FOTO: Davidson Fortunato

Fotos-divulgação: Arquivo pessoal

Por André neres, Eduardo Ferreira, Eugênio Saraiva e Farley Vasconcellos 6º período

FOTOS: Eugênio Saraiva

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OUTUBRO 2014

Do cárcere à liberdadeESPECIALPor Aline Júlia, Deividson rodrigues, gabriella Mariano, guinther Carvalho, Kessy

Almeida, laisla Andrade – 4º período

m reencontro emo-cionante. Assim

podemos resumir o que foi a visi-ta de Valdemar Silva, de 57 anos, ex-de-tento da antiga Cadeia Pública de Governa-dor Valadares, na rua Afonso

Pena, ao mes-mo prédio, hoje

reformado e sede do Centro Cultural

Nelson Mandela, que abriga a Biblioteca Públi-

ca Municipal Paulo Zappi, e da Academia Valada-rense de Letras (AVL). A visita aconteceu em agos-to deste ano a convite da equipe de reportagem do Circulando. Durante a vi-sita, Valdemar encontrou não mais um lugar de so-frimento ou de solidão no qual conviveu alguns anos. Tudo isso deu lugar à cul-tura e à literatura. O cárce-re deu lugar à liberdade.

História

Para compreendermos melhor os detalhes dessa visita, é importante conhe-cermos a história do prédio. Construída em 1940 para no máximo 40 prisioneiros, na esquina das ruas Afonso

Pena e Marechal Deodo-ro, a antiga Cadeia Públi-ca chegou a abrigar entre 180 e 200 presos perto do ano 2000, quando es-tava perto de ser desativa-da – nessa época estavam sendo concluídas as obras do atual presídio no bairro Santos Dumont. “Eram uns [presos] sobre as cabeças dos outros. uma confusão tremenda e mortes todos os dias nas celas aperta-díssimas, imundas, ver-dadeiros calabouços dos tempos modernos”, relem-bra o jornalista e membro da AVL, Antor Santana.

“Quem como tantos va-ladarenses e eu mesmo viveu aquela época aqui em Valadares é que sabe a situação daqueles que caíam na desgraça de se-rem presos e terem de cumprir pena no famoso Cadeião da Afonso Pena, ou ‘Barril de Pólvora’, ou ‘Inferno Humano’ e outros nomes nada sociais. So-friam também os parentes daqueles que ali ‘habita-vam’, sofriam os policiais que, de semana em sema-na, tinham de enfrentar re-beliões e mais rebeliões no referido presídio e, todos os dias, ‘enfiar’ mais três, quatro presos onde já so-bravam bem mais de uma centena. E sofria também

o Judiciário, a Justiça, que conhecia bem de perto a situação carcerária precá-ria da cidade”, completou.

o cenário

Para completar a pro-blemática situação de falta de espaço e instalações, a delegacia de Polícia Ci-vil funcionava no mesmo prédio. É nesse cenário que Valdemar Silva cum-priu parte de sua pena de 2 anos e 8 meses na an-tiga Cadeia, por tráfico de drogas, no final dos anos 1990. Era um cenário com-pletamente diferente do que encontrou na visita em agosto. “Eu, particularmen-te, nunca sofri nenhuma agressão, graças a Deus. Mesmo porque eu era um preso que tinha uma boa conduta. Então, era sem-pre bem tratado”, conta. Valdemar disse ter presen-ciado várias mortes, maus-tratos e rebeliões dentro do antigo presídio. “Pela minha boa conduta dentro e por ser amigo de todos, alguns carcereiros vinham conver-sar comigo para saber de alguma agitação estranha nas celas ou tentativa de rebelião para eu tentar con-vencer os outros presos a não se revoltarem”, lembra.

UFachada do Centro Cultural Nelson Mandela, que abriga a Biblioteca Pública Municipal Paulo Zappi. A Academia Valadarense de Letras faz parte do mesmo prédio

DE DENTRO da Biblioteca Municipal Valdemar olha atento para o local onde ficava o pátio do banho-de-sol da antiga Cadeia Pública. Fachada foi tombada por lei municipal

À ESQuERDA, foto da área interna da antiga Cadeia antes da reforma; à direita, transferência de presos no final dos anos 1990. Pouco depois, presídio seria desativado

FOTOS: Deividson Rodrigues e Diário do Rio Doce (Divulgação)

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Do cárcere à liberdadeESPECIAL

Depois que saiu do presídio, Valdemar de-cidiu que não volta-ria para lá novamente. Aquele lugar só lhe tra-zia lembranças amar-gas e dolorosas. Com a reinauguração do pré-dio no início deste ano, agora como um grande centro cultural, o ex-de-tento sentiu-se desafia-do em voltar ao local. Afinal, apesar da refor-ma, o antigo Cadeião da rua Afonso Pena marcou tanto a história de Valadares, ao ponto de a sua fachada, de estrutura antiga, ter sido tombada por lei mu-nicipal e, consequen-temente, preservada. O que de certa forma, manteve algumas ca-racterísticas do antigo presídio. Acompanhado pela equipe de repor-tagem do Circulando, ele entrou no prédio e não se conteve. “Estou impressionado! Mudou muito. É a primeira vez que venho aqui depois que desativaram a ca-deira”, comentou, giran-do a cabeça e olhando os detalhes em volta. Ainda emocionado, ele fez questão de apon-tar para os locais onde antes ficavam as celas, o pátio, a Direção e a guarita onde os carce-reiros vigiavam toda movimentação dos pre-sos.

um fato que chamou a atenção da equipe de reportagem é que du-rante boa parte da visita ao Centro Cultural, en-quanto caminhava pe-los corredores cheios de livro e obras de arte, Valdemar repetia que não acreditava que

aquele local já foi sinôni-mo de “inferno” e que ele não acreditava que já havia vivido “naque-le inferno”. Amparado por uma bengala – que já usava antes mesmo de sua prisão, há cerca de 15 anos – Valdemar chegou a dizer que fa-zia questão de ser foto-grafado com ela duran-te sua visita ao Centro Cultural, para lembrar da primeira vez que en-trou naquele prédio, na condição de preso. “Eu

não vou tirar foto sem a bengala, porque na época eu entrei aqui de bengala e os policiais me tiraram ela. Mas, eu sempre fazia outra com um pedaço de vassou-ra. Mesmo que eles quebrassem, eu fazia”, lembra.

Ao final da visita, o ex-detento descreveu como foi estar de vol-ta àquele prédio anos depois de um dos mo-mentos mais difíceis de sua vida. “Gostei muito de como ficou o pré-dio. É um local cheio de histórias, onde os

jovens de hoje, que não chegaram a conhe-cer o presídio, possam usufruir dele com outro propósito. Para mim, foi uma iniciativa muito im-portante. Eu passei por aqui, fiquei preso aqui e hoje a gente vê uma repartição de cultura. Tenho lembranças mui-to tristes daqui, mas o que vejo hoje é comple-tamente diferente. A ju-ventude, que até então não tinha conhecimento de que esse prédio já

foi um presídio, hoje en-tra aqui para conhecer a biblioteca. Naquela época, ninguém pen-sava ou imaginava que pudesse virar isso um dia”.

Guardadas as devi-das proporções, Val-demar chegou a com-parar as histórias do antigo Cadeião com a do Carandiru, nome de uma antiga casa de de-tenção em São Paulo, onde, em outubro de 1992, 111 detentos fo-ram mortos por policiais militares, que invadiram um dos pavilhões para

conter uma rebelião. “Você vê em São Pau-lo o Carandiru, a casa de detenção. Foi pro chão, não aproveitaram em nada. Aproveitaram só o terreno. Mas aqui [no prédio do antigo Cadeião] já foi aprovei-tado. E bem aprovei-tado. uma coisa muito boa! Dessa nova gera-ção, quem entra aqui e vê todos esses livros e obras de arte, não sabe o que isso aqui já repre-sentou”, concluiu.

O Centro Cultu-ral Nelson Mandela foi inaugurado em fevereiro deste ano. No primeiro piso, o pátio onde os presos tomavam banho de sol foi transformado em área de eventos e convivência, com ban-cos e jardins. No se-gundo pavimento há um auditório. A Bibliote-ca Municipal abriga um dos maiores acervos de Minas Gerais, com 90 mil livros. De acordo com a Prefeitura, foram aplicados na constru-ção do Centro Cultural mais de R$ 1,7 milhão.

no presente, o reecontro com o passado

DE DENTRO da Biblioteca Municipal Valdemar olha atento para o local onde ficava o pátio do banho-de-sol da antiga Cadeia Pública. Fachada foi tombada por lei municipal

NO NOVO prédio, o ex-detento encontrou um ambiente completamente diferente daquele que conheceu há 15 anos

À ESQuERDA, foto da área interna da antiga Cadeia antes da reforma; à direita, transferência de presos no final dos anos 1990. Pouco depois, presídio seria desativado

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poste olhando para a lâm-pada, como se fosse algo sobrenatural, mágico, que despertava a curiosidade não só das crianças, mas dos demais moradores. “Foi uma das maiores conquis-tas do bairro até então. um clima de euforia contagiante tomou conta dos morado-res”, lembra.

nomes engraçados

Ele conta que outro mo-mento também marcante na história do bairro Planalto foi a chegada da água canali-zada. “Era uma alegria só. Meninos e meninas brin-cavam e corriam em torno da água, tomavam banho no espaço público. Era um tempo marcado pela simpli-cidade e inocência”. Por não haver ainda calçamento no bairro, as dificuldades eram inúmeras. uma delas era a ausência de linha de ôni-bus. No período de chuvas, a situação se complicava para todos os moradores, pois quem morava na par-te baixa sofria com a lama que descia dos morros. Já os moradores da parte alta sofriam com os morros es-corregadios e muitos deles se machucaram em função disso.

Alguns moradores, se-gundo o Sr. Valdecy, che-gavam a dar nomes bem sugestivos e engraçados aos morros que caracteri-zavam a parte alta do bairro. um deles foi apelidado de “Morro do Quiabo”, pois, de acordo com o líder comuni-tário, ninguém passava por ele sem tomar um escor-regão. Tinha outro que era chamado “Morro do Escor-rega e Lá Vai um”. Bom, há quem diga que feliz é aquele que consegue rir de si mes-mo. Neste caso, os morado-res aprenderam a driblar as dificuldades com um pouco de humor e perseverança.

um bairro não é me-ramente a região de uma cidade, que serve de ferra-menta de controle urbano e administrativo. É muito mais do que isso. É um fragmen-to em meio a um todo. uma unidade com característi-cas próprias, com identida-de própria, onde relações são construídas e inúmeras histórias são vividas. Nesta edição, a equipe de repor-tagem do Circulando visitou o Planalto, tradicional bairro de Governador Valadares. Lugar que como qualquer outro tem seus problemas, mas cujos moradores os su-peram com muita simpatia, bum-humor e trabalho.

A história do bairro Pla-nalto, hoje com cerca de 4,5 mil habitantes, se con-funde com a de tantos ou-tros bairros de Valadares, pois no passado era ape-nas uma fazenda, cujo pro-prietário era Gil Pacheco de Magalhães, que nos anos 70 resolveu lotear a área. A princípio, os primeiros com-pradores se interessaram pela parte baixa da fazenda. A chamada parte alta, com morros bem acidentados e de difícil acesso, não des-pertou muito interesse. Mas com o passar do tempo a parte alta também foi lotea-da.

O começo foi difícil para os pioneiros do bairro, por-que o bairro não tinha ener-gia elétrica, água, calça-mento e nem saneamento. As condições eram muito precárias. Para se ter uma ideia, durante cinco anos os primeiros moradores vive-ram no bairro sem energia elétrica. um dos mais anti-gos residentes do Planalto e atual líder comunitário do bairro, o Sr. Valdecy, conta que quando a luz elétrica chegou ao bairro, foi moti-vo de muita festa e alegria. À época, quando ainda era criança, ele ficava perto do

Bairro Planalto: importante traço da identidade de governador Valadares

Por Francislaine ribeiro, larissa Barros, Mauro lúcio, otacílio rodrigues, Wesley Moura e Wagner Barcelar - 4º período

Projetos sociaisDesenvolvimento

NOSSO BAIRRO

O bairro Planalto conta com vários projetos so-ciais, como o Fica Vivo, escolinha de futebol mas-culino e feminino, projeto Arte Capoeira, projeto Arte Planalto, Programa Edu-cacional de Resistências às Drogas e à Violência (Proerd), entre outros. O projeto Arte Planalto, por exemplo, cuida de crian-ças cujos pais passam boa parte do tempo tra-balhando, e sobrevive de doações da comunidade.

Na área da segurança pública, a Polícia Militar promove reuniões perió-dicas com os moradores e comerciantes. Até o fe-chamento desta matéria, segundo o que foi apurado pela equipe de reportagem do Circulando, não havia ocorrido nenhum homi-cídio no bairro em 2014. Quanto ao transporte pú-

blico, são duas linhas de ônibus disponíveis no bair-ro.

um grande atrativo da comunidade são as festi-vidades do mês de junho, com as tradicionais bar-raquinhas. Há no bairro muitas empresas, algu-mas de grande porte. Os moradores são pessoas guerreiras, acostumadas com os desafios e dificul-dades, que não perdem a coragem e nem a força de lutar por dias melhores. Perguntado sobre a carac-terística mais marcante da comunidade, o Sr. Valdecy respondeu: “A humanida-de é a maior característica da comunidade. Aqui, as pessoas são amigas, se ajudam mutuamente, não ficam isoladas nas suas casas, são receptivas. Te-nho orgulho de pertencer à esta comunidade”.

Por volta dos anos 90, chegou ao bairro o calça-mento parcial, pois não foram todas as ruas que o receberam de imediato, o que só ocorreu com o pas-sar do tempo pelas várias administrações municipais. Hoje, praticamente todas as ruas contam com calçamen-to - algumas com asfalto, mas nada que lembre mais aqueles tempos tão difíceis.

A história do Planalto sempre foi marcada pelas dificuldades e desafios en-frentados pelos moradores desde o início. Mas, o bair-ro cresceu. Tornou-se um território com sua própria história, escrita por muitos personagens. O gado e o pasto da antiga fazenda deram lugar a casas, ruas, prédios, estabelecimentos comerciais e outras impor-

tantes construções, como a Escola Municipal Adélia Ri-bas. A instituição de ensino atualmente é ponto de en-contro de vários moradores do bairro, pois é onde acon-tecem festas comunitárias, reunião dos times de futebol de salão masculino e femini-no, das feiras de artesana-tos, de projetos sociais.

Como acontece em qualquer comunidade, as igrejas são um importante fator na vida dos mora-dores do Planalto. O bairro conta também com dois belíssimos templos da Igre-ja Católica, sendo uma na parte alta do bairro e outro na parte baixa. E a atuação da Igreja Católica no bairro é muito presente, pois possi-bilita o desenvolvimento de alguns projetos sociais em suas dependências.

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FOTOS: Mauro Lúcio e Diário do Rio Doce (Divulgação)

O BAIRRO Planalto tem cerca de 4,5 mil habitantes e, segundo contam alguns moradores que lá residem a mais tempo, no passado ele era apenas uma fazenda

ALGuNS DOS projetos sociais abrangem a prática de esportes

O PLANALTO tem um comércio diversificado, com supermercado, padarias e lojas de roupas; à direita, a Escola Adélia Ribas, ponto de encontro da comunidade

Page 9: Jornal Circulando

OUTUBRO 2014

Há cerca de quatro anos, foi destaque na imprensa nacional e es-trangeira a história de ín-dios suruís que vivem na reserva indígena Sete de Setembro, na divisa entre os Estados de Rondônia e Acre, fazendo uso das novas tecnologias para defender a terra na qual eles vivem do desmata-mento. Com a ajuda de GPS, eles passaram a monitorar a posição de madeireiros ilegais. Os dados são enviados para autoridades competen-tes, como Polícia Federal e Fundação Nacional do índio (Funai), para que as providências cabíveis se-jam tomadas. Foi quando os arcos e flechas deixa-ram de ser as únicas fer-ramentas de defesa do território, e as novas tec-nologias passaram a fa-zer parte do dia a dia de muitas tribos indígenas.

Recentemente, a

Ainda estamos na se-gunda década do século XXI, mas, se comparado com o fim do século pas-s¬ado, podemos notar que as mudanças ocorridas no cotidiano das crianças bra-sileiras são muitas. Há 20 anos, não era comum que crianças de 5 anos trocas-sem uma brincadeira na rua com os amigos por um jogo online. Ou que aos 10 anos já tivessem perfis em várias redes sociais.

Segundo uma pesqui-sa publicada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Es-tatística (Ibope), em maio de 2012, naquela época as crianças brasileiras já passavam mais tempo na internet do que crianças de qualquer outro país. Outra pesquisa, essa feita pela empresa de segurança on-line Trend Micro, em 2011, apontou que os brasileiros são os que entram mais jovens na rede. Dados di-vulgados no início de 2014 pela empresa de cyberse-gurança AVG revela que 97% das crianças entre 6 e 9 anos, filhas de pai ou mãe que acessam a internet, já estão conectadas à rede.

Além disso, mais da meta-de dessas crianças já estão no Facebook.

Com crianças cada vez mais conectadas, a aten-ção dos pais deve ser redo-brada, segundo a psicóloga Vânia do Nascimento Sam-paio. De acordo com ela, com a correria do dia a dia muitos pais acabam usando a TV e o computador para distrair as crianças. “Permitir que a criança passe muito tempo jogando, vendo ví-deos ou nas redes sociais, pode desestimulá-la a bus-car outras formas de diver-são e acaba levando-a ao sedentarismo. Além disso, é de fundamental impor-tância acompanhar o que a criança acessa, não só monitorando, mas fazendo o possível para participar, ensinado, aconselhando e também estimulando a criança a desenvolver ou-tras atividades”.

Exemplos Fernanda, de 18 anos,

garante que acompanha de perto o que os irmãos Francisco, de 4 anos, e Francielly, de 6, fazem no computador e no celular. Ela acredita que os jogos, de maneira equilibrada com

Por Talita ramalho, Samuel Martins, Viviane Ferreira, leandro de Aquino e rafael rocha – 4º período

índios 2.0: a influência das novas tecnologias em uma tribo pataxó

Crianças passam cada vez mais tempo na internet. Psicóloga faz alerta

COMPORTAMENTO

equipe de reportagem do Jornal Circulando visitou uma dessas tri-bos. Situada no Parque Estadual Rio Corrente, em Felicina, distrito de Açucena (MG), encon-tra-se uma aldeia pataxó composta por 69 índios

divididos em 23 famílias. Lá, o trabalho braçal é mantido pelos homens, ficando para as mulheres as responsabilidades do-mésticas e o artesanato, principal fonte de renda aliado à lavoura - so-mente no ano passado,

foram comercializadas mais de 40 toneladas de mandioca. Nos dias de hoje, nadar nos rios, car-regar toras de madeira e atirar flechas são tarefas que dividem espaço com as novas tecnologias na aldeia Gerú Tucunã Pata-

xós. Pelo menos, é o que revela uma integrante da tribo, a índia Sekwaí. Se-gundo ela, com a chega-da dos telefones celula-res, internet e televisão, a rotina da tribo passou por significativas alterações.

Hoje, os Gerús Tu-cunã Pataxó estão se adaptando ao meio so-cial e às normas estabe-lecidas pela nossa socie-dade, se enquadrando a uma realidade bem di-ferente da cultura nativa deles. Por lá, as crianças já brincam com caixas de sons no formato de carros em meio aos ba-rulhos da natureza.

A índia Sekwaí conta que a chegada da tec-nologia teve seus “prós” e “contras”. Ela lembra que na antiga aldeia em que habitava, já teve mo-mentos em que na hora dos rituais típicos de sua gente, muitos índios pre-feriam ficar assistindo te-

levisão. Por outro lado, ela conta que o uso de redes sociais, como o Facebook tem sido um grande difusor da cultura tribal na tentativa de dimi-nuir o preconceito acerca da comunidade e expor alguns dos problemas pelos quais eles passam.

O cacique Baiara vê nessa aculturação a necessidade de uma aproximação dos veícu-los midiáticos para mos-trar o índio como ele é: com a preocupação em manter a própria língua, rituais, mostrar o índio que trabalha para a so-brevivência familiar, além de expor a grande luta da tribo pela demarca-ção de suas terras. “Se o governo brasileiro de-marcar nossas terras, vai ser um trabalho excelen-te. A internet tem sido uma grande ferramenta em prol dos nossos di-reitos”.

Segundo a pedagoga Lílian Marques, qualquer mídia pode, sim, ajudar no desenvolvimento da criança quando é utilizada com consciência e surtir o efeito contrário quando usada com irresponsab-ilidade ou imprudência. Além disso, segundo ela, a confiança é fundamen-tal para uma boa relação entre os pais e os filhos, já que funciona de forma recíproca: o pai que confia no filho aumenta a possibil-idade de que este também confie nele, tendo mais facilidade em participar da vida da criança. Porém, confiar demais pode ser um problema. A pedagoga ressalta ainda que a inter-net oferece um mundo de opções para as quais as

crianças ainda não estão preparadas.

Outro ponto que pode gerar grandes transtornos, segundo ela, é o chamado cyberbullying. As brincadei-ras maldosas feitas na rede muitas vezes não chegam ao conhecimento dos pais, ou chegam tardiamente, e aí, as consequências já podem ser irremediáveis. “As crianças estão em um contínuo processo de for-mação físico, psicológico e social. Nesses três pontos, o equilíbrio é fundamental para um desenvolvimento saudável. É preciso equil-ibrar o virtual com o real de maneira saudável, de forma que não prejudique ou influencie de maneira negativa as vidas dessas crianças”, concluiu.

outras atividades, são uma boa maneira de ajudar no desenvolvimento intelectual das crianças. Quanto ao acesso à internet, Fernanda diz que os irmãos ainda são muito novos e portanto ain-da é desnecessário aces-sar a rede.

Adriana, de 35 anos, diz que monitora tudo o que a filha Sarah, de 3, faz no computador. A pequena também ainda não usa a internet sozinha, mas des-de os 2 anos adora assis-tir desenhos e novelas no computador, e já sabe ligar sozinha. A mãe se preocu-

pa em controlar o tempo que a filha passa na frente do computador e disse que não permite que ela o faça sempre que quer.

Pedro Henrique, de 12 anos, tem acesso à inter-net desde os 10 e faz uso das redes sociais. Recen-temente, Pedro criou um perfil no Facebook para a irmã Letícia, de 5 anos. A mãe, Neuzi, que tem 33 anos, também usa as redes sociais para se comunicar com os dois filhos que mo-ram em outra cidade e não vê a tecnologia como algo ruim.

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Ilustração: Ildo Amaro

Salomão renato, Camila Fernandes, Kesia Cristina, Daniela Franco, e Mariana oliveira 4º período

FOTOS: Camila Fernandes

CRIANÇAS PASSAM cada vez mais tempo no computador e celular

lados bom e ruim

Page 10: Jornal Circulando

OUTUBRO 2014

Desde os tempos da colonização, o Brasil re-cebe muitos estrangeiros. Esse fato tornou o país uma nação multicultural. Dentre as diversas etnias presen-tes na realidade atual do Brasil estão os orientais. Hoje, a maioria se concen-tra no estado de São Pau-lo, mas é possível vê-los em muitas outras cidades, algumas delas interioranas, como Governador Valada-res. Nesses locais eles se estabelecem, constituem família, montam seu próprio negócio, aprendem nossa língua e até participam das decisões políticas da cida-de onde vivem. um desses exemplos é Chang Chai, uma taiwanesa que mora em Valadares há 35 anos. Hoje, ela é cidadã brasilei-ra.

No Brasil, o grande flu-xo da imigração oriental se deu a partir da década de

1950, quando chineses, taiwaneses, japoneses e coreanos saíram de seus países de origem acreditan-do encontrar no Brasil me-lhores oportunidades. Os principais motivos dessa migração foram as guerras que assolavam suas cida-des-natais, consequente escassez de alimentos e o sistema político comunis-ta. Foi na década de 1970 que Chang Chai, que hoje atende pelo nome de Tere-za, saiu de Taiwan com sua família e desembarcou em São Paulo (SP).

“Eu vim para o Brasil com quatro anos, não sa-bia falar nada de português, mas aprendi com facilida-de, afinal era criança. Na escola, a professora não sabia pronunciar o meu nome e por isso me cha-mou de Tereza”. De acordo com ela, o choque cultu-ral entre um país e outro é

grande e no início os pais tentaram aproximar ao má-ximo os costumes orientais com o do atual lar. Além da diferença na alimentação, não era possível praticar a religião. Hoje, o Brasil conta com alguns templos budis-tas nas grandes capitais, mas na época ainda não existiam.

Vindo morar em Gover-nador Valadares, anos mais tarde, foi na cidade do in-terior mineiro que Tereza formou-se em Odontologia pela univale e casou-se com um brasileiro. Hoje, ela já fala o português fluente, tem dois filhos naturalizados na cidade e tenta preservar alguns costumes. Segundo ela, essa é uma tarefa difí-cil, já que seu marido e fi-lhos nunca tiveram contato direto com os costumes da mãe. “Meus filhos tiveram um choque por parte da minha família porque meus

pais queriam falar em chi-nês com eles, assim como falam com meus sobrinhos, mas eles não conseguem aprender o idioma”, contou.

Tereza tem seu próprio negócio. Ela abriu uma loja de artigos orientais no cen-tro de Valadares, onde é co-mum encontrar pastelarias, lojas de roupa, comércio de bicicletas motorizadas, e todo tipo de comércio chinês. “Valadares é uma cidade que atrai os imi-grantes, apesar de ser pe-quena. O comércio aqui é muito bom, por isso vemos a presença de tantos es-trangeiros”, conta Tereza, que se naturalizou brasileira e que inclusive votará nas próximas eleições. “Eu voto porque moro aqui, pois as decisões que são tomadas pela Administração da ci-dade influenciam em minha vida. Acho importante fazer parte disto”, concluiu.

uma fita elástica, dois pontos fixos e muito equi-líbrio. Estes são alguns requisitos básicos para a prática do slackline (em português, “linha folga-da”), um esporte que vem ganhando adeptos em todo o mundo. Em Governador Valadares, já se pode sentir os efeitos desta nova febre mundial. Em algumas praças da cidade é possível encon-trar praticantes do espor-te que tem na harmonia entre o corpo e a mente um de seus principais be-nefícios, além, é claro, de fortalecer os músculos, principalmente os mem-bros inferiores e região abdominal.

O slackline normal-mente é praticado ao ar livre e trabalha o equilíbrio e a concentração. O es-tudante de Engenharia Igor Ferreira pratica o es-porte há quatro anos. Ele conheceu a modalidade na Bahia e por curiosida-de começou a praticar. Já ganhou campeonatos regionais e não quer parar mais. “O slack é o esporte com o qual mais me iden-tifico. Acredito que é um esporte bem completo e que exige principalmente

muito treino”, explica. A prática do slackline

produz vários benefícios para o corpo e a mente. É o que afirma o educa-dor físico João Carlos. Segundo ele, o slakliene exige esforços principal-mente no abdômen, per-nas e braços. “Algumas academias estão incluin-do o esporte em treinos por trazer bons resulta-dos. Além de tonificar e fortalecer os músculos, a concentração é trabalha-da o tempo todo. Ainda está um pouco tímido, mas tem tudo para ‘bom-bar’”, entusiasma-se.

O slackline surgiu en-tre escaladores america-nos na década de 1980, nos campos de escalada do Vale de Yosemite, nos Estados unidos. Mas o esporte somente se po-pularizou no Brasil na dé-cada de 2000. O princi-pal reduto de divulgação do slackline no Brasil fo-ram as praias cariocas. Não existem estatísticas oficiais quanto ao núme-ro de praticantes do es-porte no Brasil. Mas pela praticidade, benefícios e baixo custo em relação a outras modalidades, a ex-pectativa dos amantes do esporte é que o número de adeptos só aumente.

Comércio de governador Valadaresé atrativo para imigrantes orientais

Harmonia na corda-bamba

COMPORTAMENTO

O slackline é um esporte de equilíbrio so-bre uma fita de nylon, es-treita e flexível, praticado geralmente a uma altu-ra de 30 centímetros do chão. Sua origem vem da escalada, popularizou-se como treino de equilíbrio, e agora, vem sendo de-senvolvido e difundido em todo o mundo. É indica-do para todas as idades, podendo ser praticado

por crianças a partir de 5 anos. Divide-se em qua-tro modalidades: Trickline, geralmente praticado a partir de 60 centímetros de altura; a Longline, que é a pratica do slackline em fitas com comprimen-to a partir de 20 metros; o Highline, que é praticado em alturas superiores a 5 metros; e o Waterline, que é a pratica do slackli-ne sobre a água.

Entendendo o esporte

Por Aline Júlia, Deividson rodrigues, gabriella Mariano, guinther Carvalho, Kessy Almeida, laisla Andrade – 4º período

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CASADA COM um brasileiro, Chang Chai - ou Tereza, como gosta de ser chamada - é taiwanesa e mora em Valadares há aproximadamente 35 anos

RELATIVAMENTE NOVO em GV, o slackline já reúne muitos adeptos

FOTO: Kamila Oriol

Beatriz Cantarino, Kamila oriol e Agnaldo Mariano - 6º período

FOTOS: Aline Júlia, Guinther Carvalho e Kessy Almeida

Page 11: Jornal Circulando

OUTUBRO 2014

Alunos do curso de Jor-nalismo da universidade Vale do Rio Doce (univale) visitaram a Comunidade Quilombola de São Felix, na zona rural de Cantaga-lo (MG), cidade que fica a cerca de 120 quilômetros de Governador Valadares (sentido São João Evange-lista/MG), para conhecer a vida e a cultura dos rema-nescentes do quilombo. A comunidade é devidamente registrada nas comunida-des quilombolas de Minas Gerais desde 2007 e atual-mente é composta por 37 famílias, muitas interligadas por algum grau de paren-tesco. Vivem do trabalho do campo e de apoio assisten-cial das lideranças políticas locais.

Os alunos visitaram vá-rias casas do lugarejo com o objetivo de identificar as características do povoado e de seus moradores. Al-gumas famílias se reuniram na escola da comunidade onde aconteceu um ba-te-papo e entrevistas. Os estudantes participaram de brincadeiras e saborearam alguns pratos típicos. Os moradores apresentaram

Estudantes de Jornalismo visitamComunidade Quilombola

Por Evanilson Correia, Fábio Velame, leandro Silva, Mariana Pereira, reinaldo lopes e Julia Denadai - 4º período

No dia 18 de agosto comemorou-se o Dia do Estagiário. Mas, qual a im-portância dessa figura para o mercado de trabalho? Bom, falando em mercado de trabalho, este está cada vez mais exigente. Por con-ta disso, há uma preocu-pação crescente por parte das instituições de ensino superior em preparar seus alunos para a futura pro-fissão. E o estágio é o pri-meiro passo, uma espécie de “treinamento”, um ponto de partida. Ele possibilita o primeiro contato com toda a prática vista em sala de aula e o comportamento do estudante neste período é fundamental para traçar o tipo de profissional que será no futuro.

O primeiro estágio é sempre o mais importante, é a primeira relação com a prática, muitas vezes nem vista ainda em sala de aula. Acir Filho, técnico e supervisor em Eletromecâ-nica, formou-se em 2011. Ele já foi estagiário e hoje é supervisor de estágios de um setor de indústria em Governador Valadares.

Ele contou sobre a sua pri-meira experiência com o estágio quando universitá-rio. “Primeiro contato com o estágio, o estudante se sente inseguro. É muito difícil. Os obstáculos e os desafios aparecem para testar a sua capacidade e suas habilidades”.

Acir falou sobre a im-portância do estágio para a vida acadêmica de um aluno: “Vai além do que está em sala de aula. O estudante obtém uma vi-são mais ampla e pode observar se é esse o ca-minho certo a percorrer”. O estagiário sente o gosto de trabalhar naquilo que estu-da e cria uma relação inter-pessoal com os profissio-nais que já estão na área. O aluno sai um pouco do que está escrito no livro”.

Pontos de vista

Quem habitualmen-te contrata estagiários diz que é sempre um desafio e uma grande responsabi-lidade. uma delas é Célia Marques, assessora do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) da Câma-ra de Dirigentes Lojistas de Governador Valadares

(CDL-GV), para quem toda empresa deveria aderir a um plano de estágio em que o estagiário alinha-se ao objetivo da empresa: “Primeiramente, apresenta-se ao estagiário a missão, visão e os objetivos da em-presa, juntamente com as regras e normas estabele-cidas. É necessário que as empresas se preocupem em organizar seus progra-mas de estágio, desde os processos seletivos até a efetivação de seus parti-cipantes. É preciso que o gestor tenha bem definido o perfil do estagiário, le-vando em consideração as funções designadas. O estagiário precisa ter cons-ciência da oportunidade do estágio”.

Fabrício Greco é aluno do 3º período de Produção Publicitária da universidade Vale do Rio Doce. Ele esta-giou em uma empresa de comunicação e falou sobre a importância do estágio na sua formação profissio-nal: “Desde os anos iniciais da universidade, é preciso ter esse contato e saber relacionar a teoria com a prática do estágio. Ensina mais do que a própria sala de aula, é um contato com

Da Academia para o mercado de trabalho

ENFOCA

a realidade. O estágio nos mostra o que o mercado vai exigir de um futuro pro-fissional. No estágio, sabe-se o que deve ser melho-rado no decorrer do curso e ainda nos proporciona a oportunidade de ajustar os tais erros. No fim, sem dú-vida torna-se um profissio-nal mais completo”.

Na visão do professor

Dileymarcio de Carvalho, coordenador dos cursos de Jornalismo e Produção Publicitária da univale, ter um estagiário na redação de um jornal é um gran-de benefício, não só para o aluno mas para toda a equipe. Para ele, o estagiá-rio serve de “ponte” entre o ambiente acadêmico e o mercado de trabalho. “A

experiência com o estágio tende a acrescentar um amadurecimento profissio-nal. um estudante que faz estágio em seu período acadêmico é muito mais valorizado no mercado de trabalho. As diferenças são percebidas não só no cur-rículo, mas em toda a car-reira profissional”, ressaltou o professor.

Você sabia?

FOTOS: Julia Denadai

O GRuPO visitado está registrado nas comunidades quilombolas de Minas Gerais e é formado por quase 40 famílias

Ilustração: Salomão RenatoPor Talita ramalho, Samuel Martins, Viviane Ferreira, leandro de Aquino e rafael rocha – 4º período

• Quilombo é uma pala-vra africana originada do quimbundo (ki lombo), ou do umbundo (ochilombo), línguas faladas em Ango-la, e designava lugar de pouso ou acampamento. Os escravos iam para os quilombos para não serem encontrados, pois onde eles viviam eram sempre

explorados e sofriam maus tratos.• Existem comunidades quilombolas em pelo menos 24 estados do Bra-sil, entre eles, Minas Gerais. Atualmente, existem aprox-imadamente 400 comuni-dades quilombolas no es-tado distribuídas por mais de 155 municípios.

• As regiões de Minas com maior concentração de comunidades quilombo-las são a região norte e a nordeste, com destaque nesta última para o Vale do Jequitinhonha. Estima-se que existem mais de três mil comunidades quilombo-las no país.

FONTES: Projeto Ancestralidade Africana e Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva

cantigas, dançaram e fize-ram suas orações. Ficaram muito felizes com a visita e se desculparam pela ausên-cia de alguns de seus líde-res naquele dia.

A visita proporcionou ao grupo de alunos um conta-to direto com a cultura e as

tradições com os quilombo-las, reconhecendo, assim, sua identidade e valores. O grupo que participou da visita concorda que traba-lhos como esse enriquecem o currículo dos alunos por conta do contato com a di-versidade cultural brasileira.

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