Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

48
269e4c10-67af-4367-b303-ec0e11cae31e Receitas das multas e taxas sobem 21% e já superam 690 milhões A receita das multas por infracção ao Código de Estrada continua a subir. E com as coimas das infracções tributárias, o encaixe para os cofres da administração central disparou 80% até Setembro último Economia , 14 “A ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites”, diz o diário em mais um violento editorial p22 Em entrevista, o responsável pelos assuntos regulatórios da Uber na Europa diz que a empresa está a fazer o trabalho difícil de mudar as regras p18/19 A Vespa velutina já chegou ao distrito de Coimbra. Mas o seu avanço para sul decorre a uma velocidade mais lenta do que aconteceu em França p2 a 4 Com grandes empresários presos sob a acusação de suborno, o juiz Sergio Moro é o rosto de uma justiça renovada. Revolução ou cruzada anti-PT? p20/21 Candidata a bastonária dos Enfermeiros e membro do Conselho Nacional do PSD é acusada de falsificação e diz- -se perseguida por ter sido suspensa de funções p6/7 Jornal de Angola condena visita de embaixador a Luaty Mark MacGann: “Podem pôr a Uber a pagar licenças” Portugal incapaz de travar avanço da vespa-asiática Um magistrado anticorrupção é o novo herói do Brasil Dirigente do PSD pede indemnização ao Ministério da Saúde LIGA DE FUTEBOL SPORTING ARRASA BENFICA E ISOLA-SE NA LIDERANÇA Desporto, 37 RAFAEL MARCHANTE/REUTERS A história do instituto público que se viciou no negócio p24/25 SEG 26 OUT 2015 EDIÇÃO LISBOA Ano XXVI | n.º 9325 | 1,15€ | Directora: Bárbara Reis | Adjuntos: Nuno Pacheco, Pedro Sousa Carvalho, Áurea Sampaio | Directora Internacional e de Parcerias: Simone Duarte | Directora Criativa: Sónia Matos ISNN:0872-1548 PRÉMIOS 2014 JORNAL EUROPEU DO ANO JORNAL MAIS BEM DESENHADO ESPANHA&PORTUGAL Slimani celebra segundo golo do Sporting no Estádio da Luz LIVRO O DESASTRE ESQUECIDO DA GRANDE GUERRA EM ÁFRICA Cultura, 28/29 EM ÁFRICA Cultura, 28/29

description

Publicação periódica - Jornal noticioso diário "Público" de 27 de Outubro de 2015.

Transcript of Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

Page 1: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

269e4c10-67af-4367-b303-ec0e11cae31e

Receitas das multas e taxas sobem 21% e jásuperam 690 milhões A receita das multas por infracção ao Código de Estrada continua a subir. E com as coimas das infracções tributárias, o encaixe para os cofres da administração central disparou 80% até Setembro último Economia , 14

“A ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites”, diz o diário em mais um violento editorial p22

Em entrevista, o responsável pelos assuntos regulatórios da Uber na Europa diz quea empresa está a fazero trabalho difícil de mudar as regras p18/19

A Vespa velutina já chegou ao distrito de Coimbra. Mas o seu avanço para sul decorre a uma velocidade mais lenta do que aconteceu em França p2 a 4

Com grandes empresários presos sob a acusação de suborno, o juiz Sergio Moro é o rosto de uma justiça renovada. Revolução ou cruzada anti-PT? p20/21

Candidata a bastonária dos Enfermeiros e membro do Conselho Nacional do PSD é acusada de falsifi cação e diz--se perseguida por ter sido suspensa de funções p6/7

Jornal de Angola condena visita de embaixador a Luaty

Mark MacGann: “Podem pôr a Uber a pagar licenças”

Portugal incapaz de travar avanço da vespa-asiática

Um magistradoanticorrupção é o novo herói do Brasil

Dirigente do PSD pedeindemnização aoMinistério da Saúde

LIGA DE FUTEBOLSPORTING ARRASA BENFICA E ISOLA-SE NA LIDERANÇA Desporto, 37

RAFAEL MARCHANTE/REUTERS

A história do instituto público que se viciou no negócio p24/25SEG 26 OUT 2015EDIÇÃO LISBOA

Ano XXVI | n.º 9325 | 1,15€ | Directora: Bárbara Reis | Adjuntos: Nuno Pacheco, Pedro Sousa Carvalho, Áurea Sampaio | Directora Internacional e de Parcerias: Simone Duarte | Directora Criativa: Sónia Matos

ISNN:0872-1548

PRÉMIOS 2014JORNAL EUROPEU DO ANOJORNAL MAIS BEM DESENHADO ESPANHA&PORTUGAL

Slimani celebra segundo golo do Sporting no Estádio da Luz

LIVROO DESASTRE ESQUECIDO DA GRANDE GUERRAEM ÁFRICACultura,28/29

EM ÁFRICACultura,28/29

Page 2: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

2 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Um insecto exótico que veio para ficar

Fotografia da Vespa velutina nigrithorax: Didier Descouens (https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vespa_velutina_nigrithorax_MHNT_dos.jpg)Fontes: Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal, Jan. 2015; ICNF; sosvespa.pt; Aliens: The Invasive Species Bulletin, IUCN/SSC Infografia: Célia Rodrigues

Vespa-europeiaVespa crabro

Vespa-orientalVespa orientalis

Vespa-mediana Dolichovespula media

Vespa-germânicaVespula germanica

Vespa-de-papelPolistes biglumis

Exemplos de outras vespas

Durante a Primavera, o ninho cresce em número de obreiras. O ninho primário é abandonado pela construção de outro, definitivo, bastante maior.

Morrem a rainha inicial, os machos e as obreiras da colónia. O ninho secundário fica vazio.

As futuras rainhas fundadoras hibernam.

As vespas fundadoras que sobreviveram ao Inverno abandonam o local de hibernação para fundar nova colónia.

Fev./Mar.

Este contém a rainha e dezenas de vespas (fêmeas) obreiras. A rainha fundadora começa a construir um ninho primário, parecido com uma pequena esfera, com 5 a 10 cm de diâmetro.

Abr./Mai. Verão Set. /Out.

Inverno

5 a 10 cmPode atingir um metro de altura e cerca de 50-80 cm de diâmetro

Ciclo de vida

Geralmente construídos em árvores com alturas superiores a 5 metros, cada ninho pode albergar cercade 2000 vespas e 150 potenciais rainhas, que no ano seguinte poderão vir a criar seis novos ninhos.

Nascem os machos e fêmeas sexuados. O n.º de indivíduos na colónia pode variar entre 1200 e 1800 vespas.As futuras rainhas abandonamo ninho.

Ninhoprimário

Ninhosecundário

Espécie originária da China, Afeganistão, Indochina e Indonésia

Foi trazida para a Europa em 2004 numa importação de produtos hortícolas, provenientes da China, desembarcados noporto francês de Bordéus

clo de vida

Espécie originária da China, Afeganistão, Indochina e Indonésia

trazida para aopa em 2004

ma importação de dutos hortícolas,venientes da China, embarcados noto francês de Bordéus

Vespa-asiáticaVespa velutina nigrithorax

Obreiras

Rainhas

1,7 a3 cm

3,2 a3,5 cm*

Faixa amarela no primeiro segmento

Faixa laranja no abdómen

Cabeça alaranjada(vista de frente)

As patas são negras eamarelas nas pontas

Ferrão com 6 mm

Asas fumadas

*Um pouco menor do que a autóctone Vespa crabro

Vespavelutina

Neste momento já foram encontrados e destruídos ninhos de Vespa velutina em quase todos os concelhos dos distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto. A espécie, que entrou em Portugal através de uma carga de madeira no porto de Viana, está também disseminada por algumas zonas do distrito de Aveiro e já foi detectada no Norte do distrito de Coimbra. No interior, o clima mais frio é-lhe desfavorável, mas já chegou ao distrito de Vila Real. Só no concelho onde primeiro apareceu, mais de 1300 ninhos foram queimados desde 2012. Pelo resto do país, são centenas as ocorrências registadas.

Portugal não consegue travar avanço da vespa-asiáticaEspécie invasora já chegou ao distrito de Coimbra, embora o seu avanço, de norte para sul, decorra a uma velocidade mais lenta do que aconteceu em França

Portugal vai ter de aprender

a conviver com a vespa-

asiática, insecto predador

de abelhas que, além de ser

responsável por uma quebra

na produção de mel, está

também a preocupar as autoridades,

pelo à-vontade com que instala os

seus enormes e populosos vespeiros

em zonas urbanas.

Estas duas características levaram

as autoridades nacionais a defi ni-

rem um plano de acção para con-

trolo desta espécie invasora, que

constitui também uma ameaça à

biodiversidade e à saúde pública.

Mas, no terreno, as organizações de

apicultores e os bombeiros, que as-

sumem o trabalho de identifi cação

e destruição de ninhos, queixam-se

de falta de apoio, e pedem mais ver-

bas nacionais para um tarefa que se

multiplica de dia-para-dia.

Só neste ano já foram destruí-

das muitas centenas de ninhos de

vespa-asiática nos distritos de Viana

do Castelo, Braga e Porto, os mais

VESPA VELUTINA

Abel Coentrãoafectados pela presença desta Ves-

pa velutina nigrithorax. Não há um

número exacto, só os que cada con-

celho vai revelando. Portugal tem

uma plataforma online, a SOS Vespa,

para mapear todas as ocorrências,

mas esse instrumento está refém da

colaboração de cidadãos e institui-

ções na notifi cação, electrónica, dos

casos. Por isso, a informação que ali

surge não está actualizada, garanti-

ram ao PÚBLICO várias entidades

que, no terreno, se têm envolvido

no combate a esta espécie,

A Vespa velutina é uma espécie

exótica, mas não está ainda sequer

classifi cada como tal, no nosso pa-

ís. Essa prerrogativa de classifi cação

cabe ao Instituto de Conservação da

Natureza e Florestas, que gere tam-

bém o sistema de informação SOS

Vespa, mas sobre este tema não foi

possível, no fi nal da semana passada,

obter explicações deste organismo,

dado o facto de estar “fora do país”

quem as poderia dar, explicou ao PÚ-

BLICO o gabinete de comunicação do

ICNF. Esta entidade tem um papel de

coordenação, no Plano Nacional de

Acção para a Vigilância e Controlo da

Page 3: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | DESTAQUE | 3

a, dada a proximidade ao homem,

um problema de saúde pública.

O seu ciclo de vida é diferente do

que é descrito, por exemplo, em

França, nota o biólogo, que em Ja-

neiro de 2012 escreveu o primeiro

artigo sobre a presença da vespa-

asiática em Portugal para a revista

galega Arquivos de Entomoloxia. Lá,

normalmente, as fundadoras aban-

donam em Novembro os grandes

vespeiros em que nascem e crescem,

para hibernarem durante o Inverno,

e nessa altura, na colónia, a rainha,

os machos e as obreiras morrem.

Mas, muito atentos, os apicultores

têm detectado casos, em zonas mais

próximas do mar, em que há vespas

activas em Janeiro.

Tal deve-se, muito provavelmen-

te, não apenas ao clima mais ame-

no, mas também à disponibilidade

do seu alimento favorito: as abelhas.

Segundo o presidente da Associação

Apícola de Entre Minho e Lima (Api-

mil), Alberto Dias, muitos produtores

fazem a transumância de colmeias

das zonas altas para a faixa litoral,

onde, protegidas das temperaturas

negativas, as abelhas ainda continu-

am a produzir mel, graças à fl oração

mais tardia dos eucaliptos, por exem-

plo. As vespas-asiáticas agradecem e,

como habitualmente, colocam-se à

entrada das colmeias, esperando as

obreiras que chegam com o pólen,

para as capturar.

A praga veio juntar-se a outros pro-

blemas da apicultura, como a mor-

te de abelhas provocada pelo uso

de pesticidas, pela varroa e outras

doenças e, em anos como este, pela

seca, que lhes roubou também muito

alimento. “Cercadas” pelas vespas,

as abelhas deixam de sair, produzem

menos mel, enfraquecem e morrem.

“É um problema económico grave”,

alerta o presidente da Federação Na-

cional do Sector, Manuel Gonçalves.

Para além de terem de repor as col-

meias, comprando abelhas, os pro-

dutores, nota Alberto Dias, estão a

gastar mais em alimentação das que,

a custo, vão sobrevivendo.

Segundo Alberto Dias, as 14 mil

colmeias existentes no distrito de

Viana, exploradas por cerca de 340

apicultores, registaram este ano uma

quebra na produção “da ordem dos

50%”. “Num ano normal, a produção

de mel pode ser superior às 200 mil

toneladas. Este ano, foi muito fraco,

com uma produção de cerca de 100 a

120 mil toneladas”, explicou. Segun-

do o dirigente associativo, na Galiza,

os apicultores também “sofreram

perdas signifi cativas”, com cerca de

“60% a 70% na produção de mel”.

A Vespa velutina terá entrado no

espaço europeu através do Porto

de Bordéus, em 2004, e em 2010

era já detectada no País Basco, em

Espanha, país onde está também a

disseminar-se, por todo o Noroeste,

e na Catalunha, tendo chegado até

às ilhas Baleares. A Viana, o coman-

dante António Cruz, dos sapadores

locais, acredita que ela chegou num

carregamento de madeira de Bor-

déus para a Portucel, dado o facto

Vespa velutina em Portugal, tal como

o Instituto Nacional de Investigação

Agrária e Veterinária (INIAV), ao qual

foi atribuída a coordenação das ac-

ções de formação e de divulgação.

No plano que data já de 2014, todo

o trabalho de vigilância passiva e ac-

tiva, controlo e destruição fi cou nas

mãos dos produtores e das entidades

municipais, bem como o grosso da

despesa com equipamentos e outros

recursos necessários para eliminar

esta ameaça que não gosta das zonas

frias do interior, mas na faixa atlân-

tica avança para sul ao ritmo de 30

quilómetros por ano. Portugal “per-

deu uma oportunidade de controlar

com maior efi cácia” a expansão da

Vespa velutina no território continen-

tal, lamenta António Cruz, coman-

dante dos Bombeiros Municipais de

Viana do Castelo e um dos homens

que, desde 2012, foram obrigados a

aprender o mais que pudessem sobre

ela, para melhor a combater.

Este insecto foi detectado no fi nal

de 2011, precisamente em Viana,

numa altura, nota Cruz, em que a

sua ecologia na Europa “era já bem

conhecida”, por via da atenção que

em França lhe era prestada há anos.

“Tínhamos muita informação dispo-

nível. Faltou um ataque mais inten-

so, coordenado, e com alocação de

meios nacionais, para evitar a sua

propagação. Mas como isto estava

confi nado ao Alto Minho, as entida-

des nacionais demoraram a reagir…”,

lamenta, numa crítica repetida pelos

apicultores da região que desde cedo

puseram pés ao caminho e começa-

ram a contactar as associações e uni-

versidades de Espanha e de França,

país onde numa década a vespa co-

lonizou 70% do território.

Na verdade, e dada a excelente ca-

pacidade de adaptação às condições

no terreno e o ritmo de reprodução

da espécie, António Cruz não sabe se

teria sido possível travar totalmen-

te a evolução que o fenómeno teve.

“Mas pelo menos saberíamos que tí-

nhamos tentado”, insiste. Neste mo-

mento, o investigador José Manuel

Grosso-Silva, entomólogo do Cibio,

centro de investigação da Universida-

de do Porto, não tem dúvidas de que

a parente asiática das vespas que já

existem em Portugal veio para fi car,

e que neste momento o país vai ter

de melhorar os mecanismos de de-

tecção e controlo preventivo.

O PÚBLICO tentou, sem sucesso,

perceber junto do INIAV em que pé

está o fi nanciamento, por parte do

Proseur — Programa operacional Sus-

tentabilidade e Efi ciência no Uso de

Recursos, de acções direccionadas

FOTOS: PAULO PIMENTA

José Manuel Grosso-Silva com um dos vespeiros da velutina onde podem viver cerca de 2000 insectos

para o estudo desta espécie, para as

quais foi aberto concurso. Segundo

o entomólogo do Cibio, é necessário

perceber vários aspectos do compor-

tamento desta vespa, para melhor

medir o seu impacto nas abelhas,

noutros insectos que também matam

e na biodiversidade, dada a impor-

tância das suas presas na polinização.

Apesar de estar há pouco tempo

em Portugal, a Vespa velutina tem

comportamentos adaptativos muito

rápidos, o que explica, pelo menos

em parte, o seu sucesso. A bibliogra-

fi a explica que costuma fazer vespei-

ros em pontos altos — normalmente

árvores —, mas já têm sido detectados

ninhos em zonas arbustivas, dentro

de casas e em árvores de fruto perto

de habitações. O à-vontade com que

se instala em cidades, onde o número

de abelhas é menor, indica que a sua

dieta se reconfi gura às disponibilida-

des de determinada zona. E tornou-

30quilómetros por ano. É a esta velocidade que a vespa-asiática avança, de norte para sul, na faixa atlântica do país

70%do território da França foi colonizado, ao longo de apenas uma década, pela Vespa velutina nigrithorax

c

Page 4: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

4 | DESTAQUE | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

de os primeiros ninhos terem apare-

cido na envolvente à fábrica.

No Inverno, as fundadoras desta

espécie hibernam sob a casca de al-

gumas árvores, por exemplo, sendo

difíceis de detectar. Na nova localiza-

ção, acordam no início da Primavera

e criam, individualmente, o primeiro

ninho. Este é pequeno, pode surgir

nos mais variados locais, e é nele que

nascem as obreiras, que, depois, du-

rante o Verão, têm a tarefa de cons-

truir o enorme vespeiro — para 2000

vespas —, onde haverá umas 150 no-

vas fundadoras. Destas, diz a biblio-

grafi a, pelo menos meia dúzia deverá

conseguir criar uma nova colónia.

Desde 2012 que os vespeiros vêm

sendo destruídos com recurso a fogo,

a um ritmo diário, por todo o Norte,

a oeste das zonas mais montanhosas.

Em Viana foram mais de 1300, em

quase três anos, mas todos os dias

os bombeiros locais fazem em mé-

dia seis operações de despistagem.

O trabalho repete-se por todos os

concelhos da região e, pouco a pou-

co, a Vespa velutina vai aparecendo

noutras regiões mais a sul, como o

distrito de Aveiro e, num caso, já no

distrito de Coimbra.

A comunidade científi ca portugue-

sa interessou-se rapidamente e tem

apoiado os produtores, “graciosa-

mente”, elogia Alberto Dias, que, co-

mo José Manuel Grosso-Silva, consi-

dera essencial que se fi nanciem estu-

dos comparativos sobre métodos de

detecção e controlo da vespa-asiática

antes da fundação das colónias, for-

ma mais efectiva, acreditam, de tra-

var o avanço da espécie. Até aqui têm

sido os próprios produtores que têm

estudado armadilhas que atraiam as

fundadoras no momento em que elas

terminam a hibernação.

“Na investigação, falta fazer quase

tudo”, alerta João Valente, dirigen-

te da Associação de Apicultores do

Norte que tem vindo a desenvolver

as suas armadilhas para a velutina,

e considera que, neste campo, a ex-

periência francesa não ajudou quase

nada. Em Portugal, as receitas já tes-

tadas incluem substâncias açucara-

das que elas procuram, como o mel

e a groselha, e cerveja ou vinho, pois

as abelhas não gostam de álcool e,

assim, não são atraídas para estas

armadilhas. Este antigo dirigente da

Quercus, que tem ajudado os sapa-

dores do Porto no combate a esta in-

vasora, avisa que o combate preven-

tivo tem de ser selectivo, sob pena de

atingir outros insectos, aumentando

ainda mais o já pernicioso efeito da

vespa-asiática na polinização e, por

via disso, na biodiversidade.

VESPA VELUTINA

Nem gigante nem assassina

Há várias percepções exa-

geradas sobre as vespas-

asiáticas, já designadas,

em notícias, “vespas as-

sassinas”, e descritas co-

mo sendo enormes, como

se o tamanho acima do “normal”

fosse algo comum apenas em espé-

cies estranhas ao nosso meio am-

biente e indiciasse, desde logo, um

comportamento mais violento. O

entomólogo José Manuel Grosso-

Silva assinala que a Vespa crabro,

também comum na Europa, é maior

do que a sua “prima” do Sudoeste

Asiático. E nota que estas não são

mais agressivas do que os parentes

que temos por cá. Mesmo quando

comparadas com abelhas.

Quase todos os anos há inciden-

tes, alguns resultando em morte,

com abelhas ou vespas-comuns,

no nosso país. Se uma colmeia é

atacada, estas defendem-se. Numa

das suas pesquisas sobre a vespa-

asiática, no apiário de um amigo, o

biólogo da Universidade do Porto

capturou uma predadora que já le-

vava uma abelha de uma colmeia,

salvou-a, mas o que é facto é que

esta se sentiu atacada por um preda-

dor ainda maior e acabou por picá-

lo na testa.

Este ano, em Junho, um homem

de Vila Verde morreu na sequência

de picadas, porque, inadvertida-

mente, quando jardinava, incomo-

dou uma colónia de Vespa velutina

instalada num ninho que não estava

no topo de uma árvore, como habi-

tualmente, mas numa sebe. O pro-

blema, explica o biólogo da Univer-

sidade do Porto, é que aquela que

é também conhecida como “vespa

das patas amarelas” é mais social

do que outras espécies de vespas,

e defende como pode o seu ninho,

perseguindo o atacante.

O risco depende mais da reacção

habitual da pessoa às picadas do que

desta, propriamente dita. É certo

que a vespa é grande, e que o fer-

rão tem mais veneno, mas João Va-

lente, da Associação de Apicultores

do Norte, já foi picado na mão, em

simultâneo, por três espécimes da

velutina, e o máximo que lhe acon-

teceu foi uma dor algo mais intensa

e um inchaço também maior. Mas

num “ataque” de uma colónia in-

teira, as consequências serão, ob-

viamente, mais graves.

No Plano de Acção para a Vigilân-

cia e Controlo da Vespa velutina em

Portugal, este é considerado tam-

bém um problema de saúde pública.

O presidente da Federação Nacional

de Apicultores de Portugal concorda

com esta preocupação e o coman-

dante dos Bombeiros Sapadores de

Viana também, embora, como o en-

tomólogo José Manuel Grosso-Silva,

acredite que a questão do perigo pa-

ra os humanos se coloque mais nas

operações de destruição de ninhos,

que requerem muitos cuidados e

que, se forem mal preparadas e re-

alizadas podem gerar problemas a

quem esteja por perto.

Aliás, António Cruz explica que,

com o passar do tempo, e o disse-

minar da espécie para locais me-

nos habituais, o contacto com o

Abel Coentrão

DIOGO BAPTISTA

Não há razão para chamar “vespa assassina” à velutina, embora a destruição dos ninhos seja perigosa

homem aumenta e o potencial de

“confl itos” também. Na sexta-feira,

os sapadores do Porto estavam a es-

tudar a melhor forma de destruir

um vespeiro numa árvore por cima

de uma paragem de autocarro junto

ao Hospital de São João, uma das

zonas com maior circulação de pes-

soas ao longo do dia, e João Valente

garante que, no ambiente urbano

do Porto, elas se instalam em qual-

quer lado.

“O melhor que as pessoas têm a

fazer é notifi car o SOS Vespa ou, se

não tiverem Internet, falarem com

os bombeiros”, nota o apicultor

do Porto. Em Viana, António Cruz

já relata casos de pessoas insatis-

feitas com a falta de prontidão de

resposta, à percepção da presença

de asiáticas. “Os nossos telefonis-

tas passam por situações de muito

stress. Um dia, uma pessoa ameaçou

ir ao quartel de caçadeira, se não

fôssemos imediatamente destruir o

ninho que tinha no quintal”, relata.

Um pânico compreensível em quem

se depara com uma vespa gigante e

“assassina”, que afi nal não é tão gi-

gante e, muito menos, tão mortífera

como se diz.

Uma pessoa ameaçou ir de caçadeira ao quartel dos bombeiros de Viana se estes não fossem logo destruir o ninho no quintal

Quase todos os anos há incidentes, alguns mortais, com picadas de abelhas ou vespas-comuns em Portugal. O risco depende mais da reacção da pessoa do que da picada propriamente dita. A vespa-asiática é maior, o seu ferrão tem mais veneno. O ataque de todo um enxame será mais grave

Page 5: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015
Page 6: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

6 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Dirigente do PSD pede indemnização de 20 mil euros ao Ministério da Saúde

Um membro do Conselho Nacional

do PSD, a enfermeira Ana Rita Cava-

co, actual candidata a bastonária da

Ordem dos Enfermeiros, apresentou

no ano passado uma queixa-crime

contra o presidente da Administra-

ção Regional de Saúde (ARS) de Lis-

boa e Vale do Tejo, o médico Luís

Cunha Ribeiro. A queixa surgiu na se-

quência de um processo disciplinar

instaurado à enfermeira pela ARS,

o qual levou à sua condenação a um

mês de suspensão por alegada falsi-

fi cação da folha de ponto do centro

de saúde em que trabalhava.

A acção em que são investigadas as

acusações de denegação de justiça,

prevaricação e abuso de poder, está

a correr no Departamento de Inves-

tigação e Acção Penal (DIAP) de Lis-

boa. Duas das testemunhas indicadas

pela dirigente do PSD e já ouvidas

nos autos não confi rmam, todavia, a

actuação imputada ao denunciado.

Por outro lado, o recurso hierárqui-

co da pena disciplinar aplicada pela

ARS, dirigido ao ministro da Saúde,

foi entretanto indeferido, tendo a

enfermeira, de 39 anos, recorrido

em Abril deste ano para tribunal e

pedido uma indemnização de 20 mil

euros ao Ministério da Saúde.

Para fundamentar a sua queixa

contra o presidente da ARS, subscrita

pelo advogado Ricardo Sá Fernandes,

Ana Rita Cavaco alega que o médico

fez saber a vários amigos comuns,

em Outubro de 2013, que estava dis-

posto a arquivar o processo discipli-

nar que contra ela corria, desde que

ela deixasse de o criticar nas reuni-

ões do Conselho Nacional do PSD.

Ana Rita Cavaco foi adjunta de Car-

los Martins, secretário de Estado da

Saúde entre 2002 e 2004, no Gover-

no de Durão Barroso, e apresentou

na semana passada a sua candidatura

a bastonária da Ordem dos Enfermei-

ros, nas eleições que se realizam em

Dezembro.

Na origem do processo disciplinar

que lhe foi instaurado no Verão de

2013 encontra-se uma participação

Candidata a bastonária dos Enfermeiros e membro do Conselho Nacional do PSD é acusada de falsifi cação. Diz-se perseguida por ter sido suspensa de funções. Caso está nos tribunais

de uma colega, que justifi cou a sua

denúncia com “princípios éticos e

deontológicos”. De acordo com a

participação, Ana Rita, então colo-

cada no Centro de Saúde da Graça,

esteve ausente do serviço durante

três semanas, em Junho desse ano,

“tendo assinado a respectiva folha de

ponto” quando regressou, tal como

se tivesse estado a trabalhar.

Notifi cada em Setembro da ins-

tauração do processo, nomeou ad-

vogado, foi ouvida, contestou por

escrito e apresentou testemunhas.

Rejeitando por completo a acusação,

justifi cou parte das suas ausências,

alegadamente sem autorização, com

aquilo que seria uma prática corrente

no centro de saúde: o pessoal tinha

direito, embora isso não estivesse

previsto nos regulamentos, a não

comparecer certos dias, como for-

ma de compensação das horas de

serviço que prestava a mais e que

não eram pagas. Nos outros dias em

que não se apresentou teria estado

a trabalhar num inquérito, devida-

mente autorizado, sobre “o valor das

vacinas”, no âmbito de um curso de

mestrado em que estava inscrita.

No fi nal do processo, a respectiva

instrutora rejeitou todas justifi ca-

ções da arguida, considerou prova-

da a acusação e propôs uma suspen-

são de 30 dias. Além disso, propôs a

participação ao Ministério Público

(MP) do alegado crime de falsifi ca-

ção, correspondente à assinatura da

folha de ponto nos dias em que a en-

fermeira faltou. A coordenadora do

gabinete jurídico da ARS concordou

com a proposta e o conselho directi-

vo deste organismo determinou, em

Julho de 2014, a aplicação da pena

proposta e a efectivação da partici-

pação ao MP.

Em resposta, a arguida recorreu pa-

ra o ministro da Saúde. Ao abrigo da

delegação de competências ministe-

rial, a secretária-geral do ministério,

já em Janeiro deste ano, negou provi-

mento ao recurso e confi rmou a pena.

Inconformada, a enfermeira avan-

çou com uma “acção administrativa

especial” em que requere a anulação

da decisão do Ministério da Saúde,

ao qual pede uma indemnização de

Justiça José António Cerejo

20 mil euros por danos não patrimo-

niais. Na petição entregue em Abril

deste ano no Tribunal Administrativo

do Círculo de Lisboa, a autora alega

que se encontra de baixa desde Julho

de 2014 — situação em que se man-

teve até Junho deste ano —, uma vez

que “adoeceu gravemente”, em con-

sequência do “incompreensível pro-

cesso disciplinar” que lhe foi movido.

O articulado remete para uma

queixa-crime contra Cunha Ribeiro,

que Ana Rita entregara no DIAP de

Lisboa um ano antes, em Março de

2014, na qual fi ca claro o seu entendi-

mento quanto à natureza do proces-

so e da sanção que lhe foi aplicada.

Subscrita pelo advogado Ricardo Sá

Fernandes, a participação sustenta

que a queixosa está a ser vítima de

uma perseguição pessoal e política

por parte do denunciado.

No essencial, defende que o pro-

cesso disciplinar, ou pelo menos o

seu desfecho, tem a mão do presi-

dente da ARS e se deve exclusiva-

mente ao facto de este querer assim

convencê-la a parar as acusações que

lhe dirigia havia meses no Conselho

Nacional do PSD. Na primeira dessas

intervenções, em Abril de 2013, pe-

rante Pedro Passos Coelho e os seus

pares, acusou Cunha Ribeiro de es-

banjar dinheiros públicos em almo-

ços semanais, com três dezenas de

dirigentes dos seus serviços, que cus-

tariam perto de 90 euros por cabeça.

Outra das queixas prendia-se

com alegadas relações perigosas

entre o seu superior hierárquico e

o patrão da empresa farmacêutica

Octapharma, a favor de quem teria

decidido grandes concursos públicos

de aquisição de plasma sanguíneo

ao longo dos anos. Conforme se lê

na participação, Ana Rita afi rmou

também nessa reunião, que, segun-

do constava, Cunha Ribeiro residia

num apartamento do mesmo empre-

sário — que é arguido no processo

Operação Marquês e contratou José

Sócrates como consultor em 2013 —

sem contrato de arrendamento re-

gistado nas Finanças.

Passos e os assessoresNa sua intervenção fi nal nesta reu-

nião partidária, o primeiro-ministro

afi rmou, diz a queixa, referindo-se à

questão dos almoços, que a situação

“era inadmissível, devendo acabar”.

Terminado o encontro, lê-se no docu-

mento, o adjunto económico de Pas-

sos Coelho, Rudolfo Rebelo, pediu à

enfermeira “detalhes sobre o assun-

to”, contactando-a posteriormente

para obter mais pormenores.

Semanas depois, João Montene-

gro, também adjunto do primeiro-

ministro, telefonou-lhe dizendo que

Passos Coelho “pedia com urgência

cópia da [sua] intervenção no Con-

selho Nacional e um ‘memo’ sobre a

situação descrita”.

Nos termos da participação, em

Outubro desse ano, depois de uma

nova reunião da direcção do PSD em

que Ana Rita retomou o caso, Cunha

Page 7: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | PORTUGAL | 7

Enfermeira e candidata a bastonária foi condenada pela alegada falsificação da folha de ponto do centro de saúde em que trabalhava

PAULO PIMENTA

O memorando sobre Cunha Ribeiro,

que, segundo a queixa entregue no

DIAP, Passos Coelho pediu a Ana Ca-

vaco no fi nal da primeira reunião do

Conselho Nacional do PSD, em que

a enfermeira falou sobre o presiden-

te da ARS, foi-lhe enviado ainda em

Abril de 2013 através de João Monte-

negro, adjunto do primeiro-ministro.

O documento nota logo nas pri-

meiras linhas, a propósito do apar-

tamento em que Cunha Ribeiro então

residia, propriedade do patrão da Oc-

tapharma, que a informação por ela

referida de que não havia qualquer

contrato de arrendamento do mesmo

depositado nas Finanças “foi confi r-

mada pelo Rudolfo Rebelo, adjunto

do primeiro-ministro actual”.

Ana Rita alarga-se nas quatro pági-

nas do texto, que ela própria facultou

ao PÚBLICO, sobre as alegadas liga-

ções de Cunha Ribeiro aos negócios

da Octapharma e termina escreven-

do: “Fonte directa do PM garantiu-me

que era Miguel Macedo quem contava

a Cunha Ribeiro as minhas interven-

ções no Conselho Nacional do PSD.”

Na reunião seguinte daquele ór-

gão partidário, em Outubro de 2013,

a conselheira leu uma intervenção,

que também facultou ao PÚBLICO,

na qual volta a falar do presidente

da ARS, afi rmando que ele cessara

durante algum tempo os almoços

“servidos por um dos caterings mais

caros de Lisboa”. No entanto, acusou-

o de os ter retomado naquele mesmo

dia, “em clara violação às orientações

do sr. primeiro-ministro”. E acrescen-

tou: “Os almoços acabaram na altura,

mas a minha denúncia valeu-me um

processo disciplinar. Esse processo,

poderei demonstrá-lo, é um processo

de perseguição política, de retaliação

pelo que aqui denunciei.”

O PÚBLICO pediu à assessoria

de imprensa de Passos Coelho um

comentário sobre este assunto. “O

gabinete do primeiro-ministro não

comenta o que possa ou não ter-se

passado numa reunião partidária”,

foi a resposta obtida. Rudolfo Rebelo,

por seu lado, disse que não quer fazer

qualquer comentário sobre o assunto

e João Montenegro não respondeu ao

email que lhe foi enviado na sexta-

feira. José António Cerejo

Memorando para Passos Coelho

disponibilidade para sarar algum mal

entendido”.

Presidente da ARS negaO presidente da ARS, por seu lado,

nega em absoluto que alguma vez

se tenha disponibilizado a arquivar

o processo em troca do silêncio da

queixosa. “É totalmente falso que

alguma vez tenha proferido tal afi r-

mação, a qual, aliás, seria de insus-

ceptível execução, porquanto toda e

qualquer queixa apresentada é ana-

lisada directamente pelo Gabinete

Jurídico, que envia uma proposta de

actuação largamente fundamentada

ao conselho directivo e que este se-

gue”, afi rmou em resposta enviada

ao PÚBLICO. “É inimaginável que se

possa neste âmbito ordenar seja o

que for, porque as decisões discipli-

nares são propostas pelo instrutor

[do processo] depois de muitas dili-

gências efectuadas, apreciadas e con-

fi rmadas pelo coordenador do Gabi-

nete Jurídico e só depois submetidas

a deliberação do conselho directivo

(...), um órgão colegial com quatro

membros”, acrescentou.

Sobre os almoços com os responsá-

veis pelos centros de saúde, Cunha Ri-

beiro limitou-se a enviar ao PÚBLICO

nove cópias de facturas emitidas pela

empresa de catering Maria Papoila e

relativas a outras tantas refeições vo-

lantes servidas a cerca de 30 pessoas

cada uma, entre 26 de Março e 16

de Abril, e entre 1 de Outubro e 5 de

Novembro. O custo facturado à ARS

foi sempre de dez euros por cabeça.

Cunha Ribeiro rejeita também as

acusações de ligação aos negócios

da Octapharma e diz nunca ter sido

confrontado pelo ministro da Saúde

com as acusações de Ana Rita Cava-

co, cujo motivo garante não compre-

ender. As datas das facturas, confi r-

mam, no entanto, que os almoços

foram interrompidos logo a seguir à

primeira queixa por ela apresentada

diante de Passos Coelho no PSD.

Quanto ao apartamento em que re-

sidiu durante vários anos no mesmo

prédio em que morava José Sócrates,

na Rua Castilho, em Lisboa, Cunha

Ribeiro diz que já esclareceu o assun-

to. O caso foi revelado pelo Correio da

Manhã em Março de 2013 e suscitou

numerosas críticas ao responsável

pela ARS, na medida em que este

confi rmava residir numa casa do

patrão da Octapharma em Portugal,

Paulo Lalanda de Castro — um empre-

sário que já este ano foi constituído

arguido no processo que envolve José

Sócrates. A Octapharma era a prin-

cipal fornecedora de derivados de

sangue ao Serviço Nacional de Saúde.

Cunha Ribeiro, que tinha presi-

dido ao INEM entre 2003 e 2008 e

que, de 2008 a 2011, foi consultor do

Ministério da Saúde, afi rmou então

que tinha arrendado o apartamento

do Heron Castilho a uma empresa

que tinha como gestor uma pessoa

de quem era amigo havia 30 anos e

que se tratava de facto de Lalanda de

Castro. O médico sustentou que não

via qualquer confl ito de interesses

no caso, mas não revelou o valor da

renda que pagava.

Ana Rita Cavaco esteve de baixa

quase um ano, até 8 de Junho pas-

sado, altura em que deixou a ARS.

Depois disso cumpriu os 30 dias de

suspensão e foi colocada na Autori-

dade Antidopagem de Portugal, no

regime de mobilidade. Ao PÚBLICO

reafi rmou sempre a veracidade do

que consta da queixa-crime e repetiu

todas as justifi cações que apresentou

no decurso do processo disciplinar,

facultando cópias das principais pe-

ças do processo.

Ribeiro ter-lhe-á feito saber, através

de dois amigos comuns, que “arqui-

varia o processo disciplinar na sema-

na seguinte”, em troca de ela deixar

de falar dele no partido. Tal facto

constituiria um indício da prática do

crime de denegação de justiça e pre-

varicação, havendo também indícios

do crime de abuso de poder.

Uma das pessoas de quem Cunha

Ribeiro se terá servido para propor a

Ana Rita a compra do seu silêncio ga-

rantiu porém ao PÚBLICO, pedindo

para não ser identifi cada, que a ver-

são da sua amiga não corresponde à

verdade. Isso mesmo, adiantou, foi

por si declarado nos autos da inquéri-

to agora a cargo da Polícia Judiciária.

A outra, um dirigente local do PSD

no Algarve, José Damásio, respondeu

por escrito que foi ele quem sugeriu

“intermediar um encontro” entre a

amiga e o médico. Questionado sobre

se “poderia haver bases para arqui-

var” o processo disciplinar, este res-

pondeu-lhe, diz Damásio, que “havia

Ana Rita Cavaco alega que “adoeceu gravemente”, em consequência do “incompreensível processo disciplinar” que lhe foi movido

Luís Cunha Ribeiro nega em absoluto que alguma vez se tenha disponibilizado a arquivar o processo em troca do silêncio da queixosa

Page 8: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

8 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Um governo de gestão temos poderes que conseguir justifi car

Um governo de gestão não está li-

mitado por uma lista de poderes

plasmados na lei, mas antes pela

necessidade que tem de tomar de-

terminadas decisões num momento

exacto e pela forma como as conse-

guir justifi car. A conclusão é de um

acórdão do Tribunal Constitucional

(TC) de 2002, em que os juízes consi-

deram que um governo demitido não

tem “nenhuma limitação” nos actos

legislativos que pratica, frisando que

o “critério decisivo” é o da “estrita

necessidade da sua prática” — ou se-

ja, se é “inadiável” e “necessário”.

A Constituição defi ne que, “antes

da apreciação do seu programa pela

Assembleia da República, ou após a

sua demissão, o Governo limitar-se-á

à prática dos actos estritamente ne-

cessários para assegurar a gestão dos

negócios públicos”. Que actos são

esses e quem defi ne os seus limites?

O próprio Governo, diz o constitucio-

nalista Tiago Duarte, da Universidade

Nova de Lisboa. “O primeiro juiz do

que é inadiável é o próprio Governo,

que faz essa apreciação. Fará os actos

que achar inadiáveis. Se o Presidente

tiver dúvidas sobre leis ou decretos-

leis, pode enviar para o TC aferir da

constitucionalidade. E essa avaliação

é feita em torno do que é adiável ou

Acórdão do Tribunal Constitucional diz que seria “altamente inconveniente” limitar o governo aos actos de gestão corrente e defende que decisões devem ser justifi cadas por serem inadiáveis e necessárias

Nova legislatura Maria Lopes e Sérgio Aníbal

Pequeno calendário para uma crise política

Fonte: PÚBLICO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

NOVEMBRO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

DEZEMBRO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

JANEIRO

20162015

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29

FEVEREIRO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

MARÇO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

ABRIL

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

MAIO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

JUNHO

O novo Governo deve tomar posse dia 2ou 3 e a discussãodo programa deverá acontecer entreos dias 11 e 13.Se chumbar, o Presidente ouve novamente os partidos.

O Presidente pode manter em gestão o Governo derrubado ou indigitar um novo primeiro-ministro, que tem de submeter novo programa ao Parlamento.

O Governo, de gestão ou não, deve apresentar proposta de Orçamento do Estado. As eleições presidenciais devem acontecer a 17 ou 24 de Janeiro. Em 2011 foram a 23.

Se houver segunda volta, deverá ocorrer a 14 ou 21. Em 1986 (único caso em democracia), a primeira volta foi a 26 de Janeiro e a segunda a 16 de Fevereiro.

Tradicionalmente, a tomada de posse do Presidente da República tem ocorrido a 9 de Março. Foi assim mesmo em 1986, quando houve segunda volta.

O Parlamento não pode ser dissolvido nos primeiros seis meses após ser eleito. Logo,o decreto presidencial de dissolução tem de acontecer depois de 4 de Abril e, nele, o Presidente deve marcar a data das novas eleições para os 55 dias seguintes. A primeira data possível para as eleições antecipadas é 29 de Maio.

Se a dissolução acontecer após 5 de Abril, a primeira data possível é 5 de Junho. Em 2011, as legislativas ocorreram nesse dia e o Governo tomou posse a 21.

inadiável”, diz ao PÚBLICO. É ao exe-

cutivo que cabe, por isso, justifi car,

na própria legislação, as decisões que

toma. E isso pode estender-se a uma

tentativa de orçamento.

“O interesse público pode recla-

mar a prática inadiável, por exem-

plo, de actos legislativos; limitar a

competência do governo demitido

à prática de actos de gestão corren-

te — sabendo-se, além do mais, que

a existência de governos com com-

petência diminuída se pode arrastar

no tempo –—seria, pois, altamente in-

conveniente”, diz o acórdão do TC.

Ora, o arrastar de um governo

demitido é um dos cenários temi-

dos, já que o Presidente da Repú-

blica (PR) deixou no ar a ideia que

pode não nomear um executivo

de esquerda depois da rejeição do

programa da coligação de direita.

Se não o fi zer, o Governo poderá

manter-se em gestão até que possa

haver novas legislativas em Junho?

O constitucionalista Pedro Bacelar

de Vasconcelos prefere não pensar

nisso. Um governo de gestão é uma

“solução transitória, um acidente e

não uma solução governativa”. Num

quadro de “confl ito aberto entre o

Presidente e o Parlamento, seria

grave para o país entrarem numa

guerra e o PR usurpar os poderes da

Assembleia e optar por um governo

de gestão da coligação” em vez de

permitir uma solução de esquerda.

O jurista antevê “consequências

gravíssimas para a economia e as

fi nanças” e considera que seria um

“crime de responsabilidade política

do Presidente”.

Tiago Duarte diz que Passos Coe-

lho não pode recusar fi car em gestão

se essa for a decisão de Cavaco. Mas o

politólogo António Costa Pinto consi-

dera “muito difícil forçar um governo

a aguentar tanto tempo”. Por isso,

diz, a alternativa é um governo de ini-

ciativa presidencial. O problema será

a “bipolarização” no Parlamento e

na sociedade, antevendo-se meses

de contestação. A possibilidade de

um governo de iniciativa presidencial

já não consta na Constituição desde

1982, mas essa ideia anda na cabeça

de alguns analistas. Porém, teria sem-

pre de conseguir passar o seu progra-

ma no Parlamento, o que faria com

que uma decisão da primeira fi gura

do Estado fosse colocada à votação

dos deputados.

Para Bacelar de Vasconcelos, esta

“não é uma hipótese séria a consi-

derar” e diz mesmo que seria “um

golpe de Estado”. “A experiência

portuguesa diz-nos que esses são go-

vernos falhados; acabaram todos em

eleições antecipadas.” O politólogo

André Freire também rejeita tal solu-

ção, argumentando “não ser demo-

crática” e ser um “quadro contrário

ao interesse nacional” por manter o

país “congelado” quase um ano em

“medos e incertezas” nos sectores

político, económico e fi nanceiro.

OE em duodécimosO acórdão de 2002 foi uma respos-

ta ao pedido de fi scalização de Jorge

Sampaio ao decreto do Governo de

António Guterres sobre um novo re-

gime de organização hospitalar. O TC

acabou por concordar que era uma

medida “estritamente necessária” na

altura, já que estava inscrita no Pro-

grama de Estabilidade e Crescimento

apresentado no ano anterior.

Não havendo um Orçamento do Es-

tado (OE) aprovado para arrancar a 1

de Janeiro de 2016, isso signifi ca que

o actual orçamento, feito para 2015,

se mantém em vigor no próximo ano

e que o país, como já aconteceu em

diversas ocasiões, passa a ter uma

execução orçamental em regime de

duodécimos. Na prática, a despesa

realizada por cada organismo duran-

te um mês não pode ultrapassar um

duodécimo da despesa total prevista

no OE para todo o ano. Ao nível da

receita, mantêm-se as taxas de im-

postos previstas no OE 2015.

No entanto, nem todas as medi-

das continuam em vigor. A Lei de

Enquadramento Orçamental prevê

três excepções. A primeira tem que

ver com as autorizações legislativas

que, de acordo com a Constituição,

caducam no fi nal do ano económico

a que respeita a lei. Depois, não se

continua a aplicar “a autorização pa-

ra a cobrança das receitas cujos regi-

mes se destinavam a vigorar apenas

até ao fi nal do ano económico a que

respeitava aquela lei”. Nesta excep-

ção podem ser incluídas a sobretaxa

de IRS e a CES. A última excepção

tem a ver com despesas relativas a

programas anuais. No actual cená-

rio, há ainda a considerar a despesa

com salários que, por lei aprovada

fora do OE e que vigora até fi nal de

2015, foi sujeita a cortes este ano.

Esses cortes deixariam de vigorar

em 2016.

Os poderes dos governos de gestão são fiscalizáveis pelo TC

Page 9: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | PORTUGAL | 9

Começou como um assunto sério,

continuou como uma brincadeira

e está a entrar na fase do delírio,

o movimento que se gerou a partir

da hashtag #PortugalCoup (golpe

de Estado em Portugal), no Twitter,

que na manhã de ontem aparecia

indicada naquela rede social como

um dos três primeiros “assuntos do

momento” para quem está em Por-

tugal. Entre a imagem de tanques

(de lavar a roupa) e do povo (benfi -

quista) que saiu às ruas, ainda po-

de haver quem se pergunte se afi nal

está em curso, ou não, um golpe de

Estado no país.

Aparentemente, a hashtag #Portu-

galCoup foi criada por uma pessoa

que comentava um artigo de opi-

nião do editor do Daily Telegraph,

Ambrose Evans-Pritchard, que, na

sequência da intervenção de Cavaco

Silva, esta semana, considerou que

“Portugal entrou em águas políticas

perigosas”, ao frisar que “pela pri-

meira vez, desde a criação da união

monetária europeia, um Estado-

membro tomou a iniciativa explícita

de proibir os partidos eurocépticos”

de formarem governo.

Às 10h48 de sexta-feira, um ita-

liano, Francesco Lari, fez um twe-

et com um link para aquele artigo,

ironizando que a União Europeia

declarara a suspensão da demo-

cracia em Portugal e que eles, os

portugueses, teriam de continuar

a votar até que o resultado fosse

o pretendido. No seu comentário,

a palavra Portugal aparece como

#PortugalCoup — golpe de Estado

em Portugal. Foi aqui que tudo co-

meçou. Os tweets seguintes com a

mesma hashtag parecem referir-se

ao “Coup” no mesmo sentido fi gu-

rativo, mas rapidamente se instala

a confusão.

“Gente boa de Portugal, que a

força esteja convosco”, incentiva

um cidadão grego, enquanto ou-

tros, de várias partes do mundo,

protestam por os órgãos de comu-

nicação social se recusarem a divul-

gar o que se está a passar no país.

“Nada na BBC nem nos jornais de

domingo sobre o golpe de Estado

em Portugal. Eles são os nossos

Parece que no Twitter há um #golpedeEstado em Portugal

Crise política Graça Barbosa Ribeiro

Começou com um comentário e está a acabar em delírio, o movimento gerado em torno da hashtag #PortugalCoup

mais antigos aliados, por amor de

Deus”, zanga-se Daniel Hannan.

Somando aqueles que acreditaram

que, de facto, houvera um golpe de

Estado em Portugal, aos portugue-

ses que aproveitaram para debater a

política nacional e aos que não per-

deram a oportunidade para brincar

com a situação, o tema foi ganhando

força. Principalmente, nas últimas

horas, graças aos que acordaram

bem-humorados ontem. Imagens

de manifestações em frente à As-

sembleia da República e até de uma

multidão de benfi quistas a festejar o

título mostram como o povo saiu à

rua e uma fotografi a da congestiona-

da saída de Lisboa ilustra a alegada

fuga das pessoas de direita depois da

tomada da capital pelos comunistas.

1 O primeiro jantar de José Sócrates em liberdade foi transformado no Twitter num “encontro dos conspiradores”. 2 Uma foto dos adeptos do Benfica surgiu com a legenda: “Polícia enviada pelo governo fascista tenta conter os protestos da esquerda.” 3 Pacheco Pereira é identificado como líder de um grupo de insurgentes. 4 Diz-se que o ministro dos Negócios Estrangeiros fugiu com uma mala de dinheiro. 5 Cavaco Silva é identificado como um zombie. 6 Os protestos de 2012 são apresentados como uma tentativa actual de incendiar o Parlamento

Um dos principais promotores da

brincadeira, Pedro Prola (@pedro-

prola), disse ao PÚBLICO que esta

visou apenas “divertir a timeline”

e que não teve fi ns políticos, ape-

sar de reconhecer que “as pessoas

mais à direita” usaram a hashtag

para criticar a reacção da esquerda

à comunicação de quinta-feira do

Presidente da República. Prola diz

ter sido contactado por pessoas que

acreditavam que estava realmente

em curso um golpe de Estado em

Portugal e por outras que o acusa-

ram de “fazer propaganda”. “Mas a

maioria só se riu”, conta, lembrando

que a sátira tanto incluía individua-

lidades conservadoras como perso-

nalidades da esquerda. com Pedro Guerreiro

1 2

3 4

5 6

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

JULHO

D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

AGOSTO

O novo Governo terá de apresentar um Orçamento do Estado em contra-relógio, podendo recorrer ao processo de urgência na aprovação de leis e obrigando o Parlamento a trabalhar nos meses em que costuma tirar férias. Mas seria quase impossível que o novo OE entrasse em vigor antes de Setembro.

O porta-voz do PSD, Marco António Costa, admitiu ontem a possibilidade de a Coligação Portugal

à Frente retomar o diálogo com o PS, sublinhando que o programa socialista tem “muitos pontos de contacto” com o do PSD-CDS. “Acreditamos que o PS tem sempre a oportunidade para corrigir a trajectória errada que está a fazer relativamente à história, porque a sua história não é no sentido desta trajectória. Estamos a um mês do 25 de Novembro e recordamos a importância que o PS teve para ajudar a cimentar valores de democracia que nós perfilhamos”, afirmou.

Aos jornalistas, disse que a coligação nunca fechou as portas ao diálogo. “Toda a gente já percebeu que o simulacro que tivemos até aqui com o PS é porque há uma ambição pessoal de alguém que quer sobrepor a sua ambição aos interesses nacionais”, sustentou.

“É preocupante ver que se criou uma coligação de bloqueio em Portugal”, considerou. Lusa

PSD admite retomar o diálogo com PS

Page 10: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

10 | PORTUGAL | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Homens ainda só representam 1% dos educadores de infância

Rafael e Martim, ambos com cinco

anos acabados de fazer, terão mais

hipóteses de um dia optar por uma

carreira que implique cuidar de

pessoas do que outros meninos da

sua idade. É essa a convicção de

investigadores em igualdade de gé-

nero no mercado de trabalho, que

consideram que a única maneira de

combater os estereótipos é quebrá-

los, como fez Luís Ribeiro, educador

de infância, quando abriu as portas

àqueles dois rapazinhos e a outras

crianças, num jardim-de-infância

de uma aldeia alentejana. Um passo

muito pequeno, ainda assim, já que

dos 16.143 docentes do pré-escolar

do país, apenas 1% são homens.

Nisto, Portugal não foge à regra,

como frisa Sara Falcão Casaca, so-

cióloga no Instituto Superior de

Economia e Gestão da Universida-

de de Lisboa, que recentemente

participou num evento organizado

pela Comissão Europeia sobre este

assunto. Com 99% de mulheres na

profi ssão, Portugal está apenas 3,9

pontos percentuais acima da mé-

dia Europeia. Uma situação que, na

perspectiva de Sara Falcão Casaca e

de outra investigadora sobre igual-

dade de género, Cristina Vieira, da

Faculdade de Psicologia da Univer-

sidade de Coimbra, tem origem “na

ideia, muito enraizada, de que ser

educador de infância é cuidar e de

que cuidar é coisa de mulheres”.

“Dizemos que estamos perante

um caso de serial carers: as mulheres

é que cuidam dos fi lhos, dos com-

panheiros, dos pais, dos sogros, dos

avós”, diz Cristina Vieira. E o mode-

lo reproduz-se no sistema de ensino,

completa Sara Falcão Casaca.

“A percentagem de homens na

classe docente vai crescendo, de

ciclo para ciclo, à medida que a ta-

refa se afasta do ‘cuidar’ e as fun-

ções adquirem características mais

intelectuais científi cas”, sublinha.

Em linha, uma vez mais, com o que

acontece na União Europeia. Só no

ensino superior é que as posições se

invertem, com as professoras (44%)

a fi carem em minoria.

A questão, consideram ambas

as investigadoras, é relevante, pe-

lo que a actual situação contribui

para o perpetuar dos estereótipos

de género. Nos Guiões de Género e

Cidadania, que constam de orien-

tações curriculares validadas pelo

Ministério da Educação e Ciência, o

tema é abordado na perspectiva da

orientação vocacional e em tom de

preocupação. “Muitos rapazes e fu-

turos homens evitam domínios para

os quais se sentem efectivamente

motivados e para os quais possuem

competências apenas pelo facto de

‘serem coisas de mulheres’.” O géne-

ro acaba por afectar “aspirações, ex-

pectativas e escolhas vocacionais”,

pode ler-se no guião para o 3.º ciclo

do ensino básico, de que Cristina

Vieira é uma das autoras.

No Guião de Género e Cidadania

para a Educação Pré-Escolar o pon-

to de vista é outro. Nele, defende-

se, precisamente, a importância

“O jardim-de-infância pode e deve proporcionar às crianças uma das suas

Muitos rapazes “evitam domínios para os quais se sentem efectivamente motivados e para os quais possuem competências apenas pelo facto de ‘serem coisas de mulheres’”. A actual situação no pré-escolar contribui para perpetuar estereótipos de género, dizem investigadoras

EducaçãoGraça Barbosa Ribeiro

de “existirem mais educadores de

infância do sexo masculino”.

“Enquanto organização social

participada, o jardim-de-infância

pode e deve proporcionar às crian-

ças, de modo sistemático, uma das

suas primeiras experiências de vida

democrática” e, “para um trabalho

que de facto promova uma maior

igualdade de género, é fundamental

que o cuidar das crianças pequenas

deixe de ser considerado como uma

tarefa predominantemente femini-

na”, pode ler-se no documento.

Desconfi ança dos pais?Terão, os homens, de enfrentar re-

sistências para aceder à profi ssão

de educador de infância? Cristina

Vieira acredita que sim e diz ter re-

latos de educadores que tiveram de

lidar com a desconfi ança de pais das

crianças. Luís Ribeiro e Nuno Frei-

tas, dois dos educadores de infância

contactados pelo PÚBLICO, assegu-

ram que nunca tiveram qualquer di-

fi culdade em ser aceites.

Com experiências muito diferen-

tes — o primeiro trabalhou em zonas

rurais do Alentejo e o segundo sem-

pre na cidade de Coimbra — dizem

ter sido recebidos com toda a natu-

ralidade pelos pais e pelas crianças,

quando iniciaram a carreira. E, antes

disso, nas escolas superiores de edu-

cação em que estudaram, quer pelas

colegas (Nuno Freitas era o único

homem no curso e Luís Ribeiro fazia

parte de um grupo de dois), quer pe-

los professores. Ambos contam que

os amigos se metiam com eles, sim,

mas em tom de inveja brincalhona,

por terem escolhido cursos quase

exclusivamente de mulheres.

As experiências de um e de ou-

tro parecem confi rmar, também, a

apreciação de Sara Falcão Casaca,

que no âmbito da investigação que

fez sobre questões de género con-

cluiu que, “ao contrário das mulhe-

res, que num ambiente de trabalho

masculino encontram um tecto de

vidro que as impede de subir na car-

reira”, os homens são muitas vezes

brindados, “pelas próprias colegas,

com uma escada rolante para as fun-

ções de topo”.

Apesar de manter contacto com

crianças, nomeadamente quando

é necessário substituir uma educa-

dora, Nuno Freitas, de 37 anos, é

agora director do Jardim de Infância

dos Serviços Sociais da Universida-

de de Coimbra; Luís Ribeiro, de 52

anos, esteve muito tempo a exer-

cer funções na Direcção Regional

de Educação do Alentejo e, depois,

na direcção do agrupamento escolar

de que faz parte. Nenhum conside-

ra, no entanto, ter tido acesso aos

cargos por ser homem. “Não seria

justo pensar que assim é. Basta ter

Luís Ribeiro, 52 anos, educador de infância no Alentejo, tem “paixão” pelo que faz. Quando se formou, só tinha mais um colega homem na turma

em conta que será, no mínimo, in-

vulgar, que um educador de infância

seja escolhido para director, através

de eleições, pelos seus pares, num

agrupamento em que há docentes

de todos os níveis de ensino”, co-

menta Luís Ribeiro.

Nem melhores, nem pioresNum aspecto todos parecem estar

de acordo — as investigadoras e os

próprios. Não é por pertencerem ao

sexo masculino que os educadores

de infância oferecem mais, menos

ou algo de diferente daquilo que

Page 11: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | PORTUGAL | 11

s primeiras experiências de vida democrática”, lê-se nas orientações para a Educação Pré-Escolar

OXANA IANIN

Amadora e Porto estão entre os mu-

nicípios com piores valores globais

de saúde, segundo um projecto de

investigação da Universidade de

Coimbra que analisou a saúde da

população portuguesa entre 1991

e 2011.

As duas cidades estão no lote

dos 10% de municípios com piores

valores globais de saúde em 2011.

Um grupo que é constituído maio-

ritariamente por concelhos rurais e

com baixa densidade populacional,

conclui a equipa do projecto Geo-

HealthS, coordenado pelo Centro

de Estudos em Geografi a e Ordena-

mento do Território da Universida-

de de Coimbra e a cujos resultados a

agência Lusa teve acesso. Alcoutim,

Alvaiázere, Baião, Cinfães, Idanha-a-

Nova, Moura, Odemira, Pampilhosa

da Serra ou Carrazeda de Ansiães

são alguns exemplos dos que apre-

sentam piores resultados.

Já na lista dos municípios com me-

lhores valores globais predominam

os de densidade média e de tipolo-

gia “mediamente urbana e predomi-

nantemente urbana”, na faixa litoral

do país, como Coimbra, Caldas da

Rainha, Felgueiras, Maia, Entronca-

mento ou Guimarães.

Para que Amadora e Porto inte-

grem o conjunto de municípios com

piores valores globais de saúde con-

tribuem, segundo os investigadores,

“determinantes socioeconómicos”

como: o desemprego, o elevado

número de benefi ciários do Rendi-

mento Social de Inserção e a elevada

proporção de famílias monoparen-

tais. Mas não só: estes dois municí-

pios partilham também “condições

do ambiente físico que são desfavo-

ráveis à saúde e bem-estar da po-

pulação, tais como elevadas taxas

de criminalidade e má qualidade do

ar”, e “elevados valores de mortes

associadas a condições de pobreza

e mais altas taxas de incidência de

doenças infecciosas, como a tuber-

culose e VIH/sida”.

Já no caso dos municípios rurais,

os resultados devem-se a maus de-

sempenhos nas dimensões socioe-

conómicas, como a taxa de desem-

prego e a dependência de idosos,

a menor proporção de população

Quais os menos saudáveis? Amadora e Porto saem-se mal

coberta por sistema público de abas-

tecimento de água e saneamento,

valores “altos de mortalidade pre-

matura associada ao consumo de

tabaco, às condições de pobreza e

sensível ao acesso tempestivo aos

cuidados de saúde” e pior desem-

penho na acessibilidade a hospitais

de referência.

Para a equipa de investigação, os

municípios rurais devem ter como

prioridade acções em áreas como

o emprego, o apoio à população

idosa, a melhoria do sistema de

abastecimento de água e ainda a

prevenção da doença e promoção

da saúde.

Já nos casos de Amadora e Porto,

“as acções devem ser direcciona-

das” às questões do emprego, da

pobreza e às famílias monoparen-

tais”, sendo importante também a

promoção de ambientes saudáveis

e seguros.

O Índice de Saúde da População,

desenvolvido no âmbito do projec-

to GeoHealthS, é uma medida que

agrega resultados em saúde e deter-

minantes em saúde, contando com

43 critérios de avaliação de saúde da

população. Disponível para consulta

em saudemunicipio.uc.pt, foi aplica-

do aos 278 municípios de Portugal

continental, avaliando o valor global

de saúde entre 1991 e 2011. E conclui

que a saúde da população evoluiu

positivamente entre estes 20 anos,

na quase totalidade dos concelhos.

Identifi ca, contudo, como “sinais

de alerta”, o aumento para o dobro

de famílias monoparentais (de 6,1%

para 12,6%, entre 1991 e 2011), bem

como um incremento de nados-vi-

vos com baixo peso — com peso in-

ferior a 2500 gramas para um tempo

de gestação superior a 37 semanas,

passando de uma média 2,9% entre

1989 e 1993, para 3,4% entre 2007

e 2011.

O projecto foi fi nanciado pela

Fundação para a Ciência e Tecno-

logia e contou com a participação

de 16 entidades da administração

central, regional e do ensino supe-

rior. Lusa

Saúde

Municípios de Coimbra e Caldas da Rainha entre os que se destacam pela positiva no Índice de Saúde da População

Eunice Charrua, mãe de Martim,

considera que o que distingue Luís

Ribeiro de outras educadoras que

conhece não é o facto de ser ho-

mem, mas “a paixão pelo que faz”.

“Quando uma criança de cinco anos

aparece a querer ouvir O comboio

descendente, de Zeca Afonso, e sabe

explicar que a letra é de Fernando

Pessoa, é porque o educador é es-

pecial, sim, mas pela capacidade de

cativar os miúdos, que o adoram, e

de os ensinar.” Isso, nota também,

“não tem nada que ver com ser ho-

mem ou mulher”.

uma mulher, educadora, pode dar.

As mães de dois dos meninos a

quem Luís Ribeiro abre todas as ma-

nhãs as portas do jardim-de-infância

de Portel, no Alentejo, também não

associam a qualidade do educador

ao facto de ser homem.

“Ele é um belíssimo educador, na

forma como espicaça a curiosidade

das crianças e aproveita qualquer

pretexto para os ensinar. Mas essa

é uma coisa que uma mulher, se

for boa educadora, também pode

fazer”, comenta Carla Gonçalves,

mãe de Rafael.

Investigadora Cristina Vieira diz ter relatos de educadores, homens, que tiveram de lidar com a desconfi ança de pais das crianças

Os municípios rurais devem ter como prioridade acções em áreas como o emprego e o apoio à população idosa

Page 12: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

AINDA TEM MUITO PARA DESCOBRIR

O MUNDO DE D. AFONSO V E D. JOÃO II

2.º Volume - O progresso dos Descobrimentosno tempo de D. Afonso V e D. João II

Descubra os avanços e recuos dos Descobrimentos durante o reinado de D. Afonso Ve de D. João II e todas as histórias que os envolveram, desde a morte do InfanteD. Henrique em 1460 à passagem pelo Cabo da Boa Esperança em 1488 já no reinadode D. João II. Mais uma colecção inédita e exclusiva do Público, com 9 volumesorganizados cronologicamente, da autoria de José Manuel Garcia, um dos maioreshistoriados e investigadores da área e que integrou a Comissão Nacional para asComemorações dos Descobrimentos Portugueses. Documentada com mapas e imagensda época, reúne o essencial da epopeia portuguesa além-mar. Parta à descoberta destemundo, todas as terças num quiosque perto de si.

Col

ecçã

o de

9 L

ivro

s. P

VP

unit

ário

: 6,9

0€. P

reço

tot

al d

a co

lecç

ão: 6

2,10

€. P

erio

dici

dade

sem

anal

, à t

erça

-fei

ra. D

e 20

de

Out

ubro

a 1

5 de

Dez

embr

o de

201

5. L

imit

ado

ao s

tock

exi

sten

te. A

com

pra

do p

rodu

to im

plic

a a

aqui

siçã

o do

jorn

al.

imentos

. Afonso Vanteno reinadomesaioresa ase imagenserta deste

TERÇA, 27 OUT.COM O PÚBLICO

+6,9€INCLUI

1 ASSINATURASEMANAL DIGITAL

PÚBLICOEM CADA VOLUME

(ver códigono livro)*

*Cód

igo

válid

o at

é 31

de

Jane

iro

de 2

016.

COLECÇÃO EXCLUSIVA PÚBLICODESCOBRIMENTOS600 Anos do início da Expansão Portuguesa

Page 13: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | LOCAL | 13

CDS propõe alternativa que rouba menos estacionamento ao eixo central

FILIPE ARRUDA

CDS quer evitar que a zona funcione como um estrangulamento viário e que fique sem estacionamento

O vereador do CDS-PP na Câmara

de Lisboa, João Gonçalves Pereira,

apresenta hoje um projecto para o

chamado “eixo central”, alternativo

ao da maioria presidida por Fernan-

do Medina (PS). A proposta dos cen-

tristas prevê a construção de apenas

uma ciclovia para os dois sentidos,

passeios não tão largos e lugares de

estacionamento em espinha, bem co-

mo a construção de um desnivela-

mento na zona do Saldanha, em vez

de um túnel em Entrecampos.

Esta solução procura responder

à questão que mais tem infl amado

a discussão em torno do projecto

para a “regeneração” do eixo entre

o Marquês de Pombal e Entrecam-

pos: a perda de lugares de estacio-

namento. O projecto que o CDS diz

ser “mais equilibrado” será apresen-

tado no debate público “Eixo central

de Lisboa” marcado para esta tarde,

às 18h, na Assembleia Municipal de

Lisboa (AML).

O vereador, que garante ter con-

tado “um a um” os lugares disponí-

veis ao longo de 2,5 quilómetros, diz

que o projecto de Medina vai fazer

desaparecer mais de 600 lugares de

estacionamento na via pública, dei-

xando apenas 204 — e não 319, como

tem afi rmado o vereador do Urbanis-

mo, Manuel Salgado. A eliminação

de lugares resulta essencialmente

do alargamento do espaço público

pedonal, com a supressão de uma

via em cada faixa lateral da Av. da

República e a reconfi guração do Sal-

danha. Salgado já disse que o projec-

to “não é irreversível” e que está “a

negociar com os proprietários” dos

parques de estacionamento público

da zona a criação de “avenças que

sejam compatíveis”, mas o CDS não

acredita numa solução viável.

“Não pode haver uma redução tão

signifi cativa, sob pena de prejudicar

os moradores e de levar as empre-

sas sediadas na zona a sair”, defende

Gonçalves Pereira, propondo uma

intervenção que responda tanto às

necessidades dos peões e ciclistas co-

mo à dos automobilistas. Com a sua

proposta, o vereador do CDS quer

manter 460 lugares: 50 na Av. Fontes

Pereira de Melo e no Saldanha, 370

na Av. da República e 40 em Entre-

campos. Como? Por um lado, optan-

ciclável) e de seis metros. Gonçalves

Pereira mantém as árvores no sepa-

rador central (mais estreito do que o

proposto pela maioria), para poder

dar um pouco mais de espaço aos

carros: propõe vias com três metros

de largura, em vez de 2,75 metros.

“Os carros têm de poder circular nas

faixas centrais, para que o fl uxo que

entra em Lisboa a partir de vias como

a A5 ou a Segunda Circular não fi que

estrangulado”, explica o vereador.

A obra do “eixo central” — para a

qual a câmara já aprovou, com o voto

contra do CDS, o lançamento do con-

curso da empreitada no valor de 9,4

milhões de euros (mais IVA), mesmo

antes de divulgar os estudos urbano

e de tráfego para a zona — está in-

serida no programa “Uma Praça em

Cada Bairro” e deverá estar pronta

em 2017. A ideia é dar à Praça do Sal-

danha mais espaço verde e pedonal,

sem estacionamento; redesenhar a

zona de Picoas; e reordenar a Av. Fon-

tes Pereira de Melo e a Av. da Repúbli-

ca até ao cruzamento com a Av. Elias

Garcia. No troço entre Campo Peque-

no e Entrecampos, para o qual está

prevista a construção de um túnel,

a obra não avança para já, até por-

que se cruza com os projectos para

o terreno da Feira Popular, que a au-

tarquia ainda não conseguiu vender.

Gonçalves Pereira considera que,

mais do que um túnel em Entrecam-

pos, faz falta um desnivelamento

desde Picoas até à frente do restau-

rante Galeto, na Av. da República. O

vereador entende que as alterações

previstas para o Saldanha vão “con-

gestionar” o tráfego e que aquele

desnivelamento é a única forma de

o evitar. O CDS não tem um valor

defi nido para as intervenções mas

acredita que será “idêntico” ao que

custa o projecto da maioria.

No debate desta tarde na sede da

AML, na Av. de Roma, vão estar pre-

sentes o vereador do Urbanismo e

o presidente da câmara, bem como

membros das associações de mora-

dores das Avenidas Novas e de En-

trecampos. No Facebook foi criado

o evento “Vamos apoiar a requalifi -

cação das avenidas lisboetas”, a fa-

vor do projecto da maioria, que no

sábado tinha mais de 170 aderentes.

O executivo tem 15 minutos para

apresentar a sua proposta, seguin-

do-se as intervenções do público e

das forças políticas representadas na

assembleia, incluindo o CDS.

Assembleia Municipal de Lisboa abre as portas para novo debate sobre a requalifi cação do eixo entre o Marquês e Entrecampos. Ao projecto da maioria na câmara junta-se agora o de um vereador da oposição

LisboaMarisa Soares

Uma só ciclovia e estacionamento em espinha

Fonte: Gabinete do CDS-PP na Câmara de Lisboa PÚBLICO

PasseioPasseio

CicloviaFaixa de rodagemFaixa de rodagemEstacionamento

EstacionamentoSeparadorcentral

BUS BUS

CDS defende uma intervenção que responda tanto às necessidades dos peões e ciclistas, como à dos automobilistas. Projecto deixa 460 lugares para parar o carro, mais do que o proposto pela maioria

do pelo estacionamento em espinha,

em vez do longitudinal. Por outro la-

do, construindo apenas uma ciclo-

via com dois sentidos, num dos la-

dos das avenidas, em vez de duas no

mesmo sentido dos carros. “É um ex-

cesso ter uma ciclovia de cada lado.”

Também os passeios são mais cur-

tos na proposta centrista: em vez dos

dez metros propostos por Medina, o

CDS entende que é sufi ciente ter pas-

seios de 8,5 metros (no lado sem pista

Page 14: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

14 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Receitas das multas e taxas sobem 21% e já superam 690 milhões

FERNANDO VELUDO/NFACTOS

Máquina fiscal tem garantido um aumento de receitas com coimas e penalidades

As receitas arrecadas pelo Estado

com taxas, multas e outras penalida-

des estão a registar um crescimento

galopante este ano, muito superior

ao do conjunto das receitas. Até Se-

tembro, o encaixe chegou aos 693,7

milhões de euros, um crescimento

de 21,4% em relação ao valor arre-

cadado nos nove primeiros meses

do ano passado.

As multas do Código da Estrada

estão a crescer a um ritmo de 42%,

garantindo aos cofres do Estado 70,3

milhões de euros, um valor que com-

para com 49,4 milhões conseguidos

no mesmo período do ano passado.

Mas a principal subida está a acon-

tecer na rubrica “outras multas e

penalidades diversas”. Embora va-

lendo menos de um terço do bolo

global das receitas com taxas e mul-

tas, aqui a cobrança apresenta um

crescimento de 69%, com o valor

arrecadado a passar para os 191,6

milhões de euros. Em queda estão,

no entanto, as receitas provenientes

dos juros de mora e compensatórios.

A descida é de 3%, com o valor a cair

para 57,9 milhões de euros, contra

59,7 milhões apurados até Setembro

do ano passado.

No universo da administração cen-

tral — onde se inclui o subsector Esta-

do, serviços e fundos autónomos —,

as coimas e as penalidades aplicadas

aos contribuintes por contra-ordena-

ções tributárias, incluindo as de exe-

cuções fi scais, dispararam 80,2%.

Os números da execução orçamen-

tal divulgados na sexta-feira incluem

já os valores de Setembro, o que apa-

nha o período do perdão fi scal para

os contribuintes pagarem dívidas das

portagens anteriores a 30 de Abril.

Ao regime excepcional lançado pelo

Governo, que começou a 1 de Agosto

e só terminaria a 15 de Outubro, ade-

riram mais de 300 mil contribuin-

tes, regularizando dívidas no valor

de 12,3 milhões de euros.

A automatização dos procedimen-

tos de cobrança coerciva do fi sco tem

suportado o crescimento continuado

das receitas com coimas e penalida-

des. No caso das portagens, queixas

de contribuintes que viram pequenas

multas transformarem-se em dívidas

elevadas levaram a uma vaga de im-

pugnações na justiça.

ao regime sancionatório anterior.

Em 2014, o fi sco cobrou, de forma

coerciva, 26,5 milhões de euros em

dívidas pelo não pagamento das ta-

xas das portagens. Esta receita rever-

te para as concessionárias das auto-

estradas. A este montante juntam-se

as receitas das coimas e das custas

administrativas associadas aos pro-

cessos de contra-ordenação desen-

cadeados pelo fi sco, onde se inclui

uma parte que vai para os cofres do

Estado.

Leonardo Marques dos Santos, ad-

vogado da PLMJ na área do direito

fi scal, frisa que a máquina está “mui-

to mais oleada” porque o sistema do

controlo “é muito mais efectivo, al-

tamente agressivo do ponto de vista

da cobrança”. No entanto, lembra,

o crescimento das receitas globais

das taxas, multas e penalidades não

se deve apenas às coimas.

O fi scalista — ex-adjunto do minis-

tro da Presidência e dos Assuntos

Parlamentares Luís Marques Guedes

— lembra que “houve uma tendência

de descida das taxas de IRC, pelo que

essa receita tem de ser compensada

de alguma forma, o que tem acon-

tecido com a tributação bilateral,

com uma série de contribuições —

fi nanceira, energética, novas taxas

da fi scalidade verde”.

Para o fi scalista da PLMJ, é expectá-

vel que nos próximos anos se assista

a um “apogeu da fi scalidade bilateral

que passa pela criação de taxas, quer

ao nível da administração central,

quer da administração local e regio-

nal”. Não só as taxas “não são tão

perceptíveis” aos olhos dos contri-

buintes como os impostos directos,

porque o seu “valor individualizável

não é tão visível”, mas também por-

que “é muito mais fl exível dos ponto

de vista da sua aprovação”, diz Mar-

ques dos Santos.

Multas do Código da Estrada continuam a subir. E com as coimas das infracções tributárias,o encaixe para os cofres da administração central disparou 80% até Setembro.

Finanças públicasPedro Crisóstomo

Perante a contestação pública à

desproporcionalidade das coimas

aplicadas e sob a pressão dos parti-

dos da oposição, o PSD e o CDS-PP

acabaram por aprovar uma alteração

à lei pelo não pagamento das por-

tagens. O novo regime sancionató-

rio veio reduzir o valor das multas

e permitir que seja aplicada apenas

uma coima quando a infracção ocor-

re no mesmo dia. Antes, cada taxa de

portagem em falta dava origem a um

processo autónomo, ainda que a in-

fracção tivesse acontecido na mesma

auto-estrada, no mesmo dia ou com

diferença de poucas horas.

Se até aqui as contra-ordenações

eram punidas com uma coima míni-

ma dez vezes superior à portagem

(pessoa singular) ou 20 vezes (em-

presas), agora, passa a ser 7,5 vezes

o valor da portagem. No entanto, há

um limite mínimo de 25 euros, valor

que não sofreu alterações em relação

A automatização dos procedimen-tos de cobrança coerciva na administração fi scal tem suportado o crescimento continuado das receitas com coimas e penalidades durante os últimos anos

Page 15: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | ECONOMIA | 15

PUBLICIDADE

No plano macroeconómico,

esta última semana de Outubro

será marcada pela divulgação

de abundante informação, tanto

para a economia norte-americana

como para a europeia, para além

da publicação dos resultados

referentes ao terceiro trimestre

por numerosas empresas.

Assim, nos Estados Unidos,

destaca-se, por um lado, a reunião

de política monetária da Reserva

Federal, cujas conclusões serão

conhecidas na tarde de quarta-

feira. Não sendo esperada

qualquer alteração da política

monetária para já — não haverá

nesta reunião conferência de

imprensa nem novas previsões

macroeconómicas —, será

relevante acompanhar a avaliação

que a autoridade monetária

americana faz da evolução

recente da actividade nos Estados

Unidos e, em particular, dos

riscos negativos decorrentes

da envolvente externa. Na

quinta-feira, por seu turno, será

conhecida a primeira estimativa

para o crescimento da economia

americana no terceiro trimestre.

Em função de um desempenho

desfavorável da procura externa,

num contexto de desaceleração

das economias emergentes, e

de um contributo negativo da

componente de variação de

existências (depois de um forte

crescimento nos trimestres

anteriores), deverá ter-se assistido

a um crescimento anualizado da

economia americana em torno de

1,5%, após uma expansão de 2,5%

entre Abril e Junho.

Destacam-se também, esta

semana, os dados para as

vendas de novas habitações e

para as encomendas de bens

duradouros em Setembro (hoje

e amanhã, respectivamente).

Uma vez que a desaceleração

da economia americana se

terá devido essencialmente a

uma correcção das existências

em stock e a um contributo

negativo da componente externa,

tratar-se-á de um fenómeno de

natureza temporária, mantendo-

se relativamente dinâmico

o desempenho do consumo

privado e do investimento em

equipamento.

Neste contexto, a Reserva

Federal deverá reiterar a intenção

de vir a iniciar muito em breve

um movimento de subida dos

juros de referência. Até à reunião

de Dezembro, a Reserva Federal

terá na sua posse os dados

relativos à evolução do mercado

de trabalho em Outubro e em

Novembro, que serão de extrema

importância para a clarifi cação

da actuação futura da política

monetária.

Na zona euro destaca-se, já

hoje, o importante índice IFO

de confi ança empresarial na

Alemanha. Após ter vindo a exibir

uma melhoria gradual nos três

meses anteriores, este índice

Semana com diversos indicadores relevantes para as decisões da Fed e do BCE

Pré-abertura Tiago Lavrador

Novo Banco Research Económico

poderá revelar uma deterioração

do sentimento dos empresários

alemães em Outubro, traduzindo

um primeiro impacto negativo do

caso Volkswagen, cujos impactos

desfavoráveis totais, em termos

de actividade, são difíceis de

quantifi car. Destaca-se também

a divulgação, na quinta-feira,

dos indicadores de confi ança

apurados pela Comissão

Europeia e, na sexta, da primeira

estimativa do Eurostat para a

infl ação homóloga em Outubro.

Depois de ter regressado a

terreno negativo em Setembro

(-0,1%), importará avaliar se os

preços permanecem em queda

na economia dos Dezanove.

Neste contexto de persistência

de pressões desinfl acionistas,

sublinhe-se que o Banco Central

Europeu, na passada semana,

sinalizou estar pronto para a

introdução de novas medidas

de política monetária, o que

ocorrerá, provavelmente, na

reunião de 3 de Dezembro.

Nessa ocasião, o BCE poderá vir

a anunciar um reforço do actual

programa de aquisição de dívida.

Uma outra medida possível, que

Mario Draghi deixou em aberto

na conferência de imprensa, seria

uma nova redução da taxa de

depósito dos bancos junto do BCE

(actualmente em -0,20%).

Merecem ainda destaque as

estimativas de crescimento do

PIB de Espanha (sexta-feira) e do

Reino Unido (amanhã) no terceiro

trimestre. Embora podendo

revelar uma ligeira desaceleração,

deve sublinhar-se a continuação

do desempenho relativamente

robusto destas duas economias,

ambas relevantes parceiros da

economia portuguesa.

Faça o seu negócio subir ao próximo nível.

Popular Empresas

Encontre no banco Popular um conjunto de soluções pensadas por gestores

para gestores. Informe-se sobre a oferta Popular Empresas e descubra

como conseguimos levar o seu negócio para o próximo nível.

Informe-se numa agência do Popular

bancopopular.pt

Dias úteis das 9h às 21h

808 20 16 16

Page 16: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

16 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

A Benetton

Marca italiana vai pagar dois milhões de euros para melhorar a vida das mulheres que trabalham na indústria têxtil. O objectivo é que tenham “empregos decentes, devidamente remunerados e em locais de trabalho dignos”

Onde está a Benetton

das campanhas po-

lémicas de Oliviero

Toscani, o fotógra-

fo italiano sem pu-

dor que, nas déca-

das de 1980 e 1990,

mostrou como se

morria de sida, os

barcos de refugia-

dos ou que os corações das dife-

rentes etnias são iguais? Cresceu

e amadureceu, responde John

Mollanger, director de Produto e

de Marketing da United Colors of

Benetton (UCB).

Em Treviso, Itália, a marca

junta cerca de uma centena de

jornalistas e bloggers de moda —

oriundos de todo o mundo, do

México ao Japão, passando pela

China e desaguando no conti-

nente europeu — para revelar a

sua nova colecção, mas, sobretu-

do para mostrar que mudou ou,

pelo menos, que quer mudar, mas

sem nunca esquecer a responsa-

bilidade social, diz o responsável.

E essa mudança faz-se através

de uma intervenção mais activa no

mundo, mais concretamente na

defesa dos direitos das mulheres. A

UCB lançou na quinta-feira o Progra-

ma de Emancipação das Mulheres,

para promover e defender os direi-

tos das mulheres em todo o mundo.

E isso faz-se com a campanha publi-

citária da venda do produto ( já lá

vamos), mas sobretudo através de

um projecto para cinco anos com

um custo de dois milhões de euros.

Objectivo: ajudar as mulheres que

trabalham na indústria têxtil, por

exemplo, nos países asiáticos, a te-

rem melhores condições de vida.

O projecto vai ser posto em prá-

tica através de parcerias público-

privadas promovidas com o apoio

da Organização das Nações Unidas

(ONU), no âmbito dos Objectivos

do Desenvolvimento Sustentável

de apoio aos direitos humanos e ao

desenvolvimento, anuncia Gianluca

Pastore, director global de comuni-

cação da marca. “Queremos contri-

buir para a mudança da sociedade”,

declara.

A ideia não é de agora — Mollanger

faz questão de sublinhar que a “res-

ponsabilidade social está no ADN da

Benetton” —, mas vem sendo cons-

truída desde que a marca começou

a colaborar com a agência da ONU

para as mulheres (a UNWomen,

na sigla inglesa), conta Mariarosa

Cutillo, que quer que estas mulhe-

res tenham melhores condições de

trabalho para que vivam com digni-

dade, que não sejam discriminadas

e tenham igualdade de oportunida-

des, que tenham acesso a saúde e

educação e que não sofram de vio-

lência doméstica.

Basicamente, estes são os cinco

objectivos do programa da ONU,

reconhece Mariarosa Cutillo, mas

que podem ser concretizados, numa

primeira fase através da realização

de actividades que melhorem a vi-

da das mulheres. A responsável tra-

ça o cenário actual: no mundo, há

250 milhões de raparigas que foram

obrigadas a casar antes dos 15 anos;

segundo números da Organização

Internacional do Trabalho, 30% das

mulheres trabalham sem contrato

ou não são remuneradas; 31 milhões

de raparigas em idade escolar não

vão à escola; e a cada dois minutos

morre uma mulher por complica-

ções no parto.

Programas monitorizadosEntão onde vão ser aplicados os dois

milhões? Em acções de formação

para as mulheres e famílias sobre

questões como os direitos básicos

e a igualdade, ou como aceder ao

microcrédito e a outros apoios fi nan-

ceiros. Através de acções de sensibi-

lização para a saúde delas e dos fi -

lhos. Mais: com programas específi -

cos para as fábricas onde trabalham,

por exemplo, apoiando a criação de

um centro de dia ou um infantário

para os fi lhos das trabalhadoras, tal

como a própria Benetton tem, diz

Gianluca Pastore.

A proposta é que as mulheres

que trabalham na indústria têxtil

tenham “empregos decentes, devi-

damente remunerados e em locais

de trabalho dignos”, resume Maria-

rosa Cutillo, acrescentando que a

marca pretende intervir nos países

com os quais trabalha, mas também

noutros. Afi nal, as mulheres são a

Bárbara Wong, em TrevisoEm termos práticos, a Benetton

não pode chegar a uma fábrica no

Sudoeste Asiático ou da Turquia, co-

mo faz questão de lembrar uma jor-

nalista daquele país que assinala que

aí não existem sindicatos que defen-

dam os direitos dos trabalhadores,

e dizer que só trabalha com aquela

unidade se as condições de trabalho

melhorarem. “Somos pequenos pe-

rante os gigantes desta indústria”,

reconhece Gianluca Pastore. No en-

tanto, a marca tem um acordo com

essas empresas onde estão previstas

auditorias externas para monitori-

zar se os direitos dos trabalhadores

são respeitados, salienta Mariarosa

Cutillo, directora do departamento

de responsabilidade social do grupo

Benetton.

Mas, em vez de enfrentar os pa-

trões ou os governos daqueles paí-

ses, a UCB vai colaborar com quem

já está próximo dos trabalhadores

e, espera, que outras marcas lhe si-

gam os passos e, num futuro próxi-

mo, também contribuam para que

as trabalhadoras tenham uma vida

melhor e, por consequência, os seus

fi lhos.

já não é adolescente e quer ser um adulto responsável

Page 17: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | ECONOMIA | 17

principal força de trabalho na indús-

tria têxtil, reforça Chiara Mio, pro-

fessora da Universidade Ca’Foscari

de Veneza, especialista em respon-

sabilidade social das empresas e

escolhida pela marca para presi-

dir ao Comité de Sustentabilidade,

que vai pôr o projecto no terreno.

Os dois milhões são para os pro-

gramas que a UNWomen já leva a

cabo, mas também para parcerias

com agentes locais, organizações

não governamentais e governos.

“Pôr o sector privado a puxar pelo

público que, muitas vezes, é surdo

a estes assuntos”, critica Mariarosa

Cutillo. Todos os programas serão

monitorizados, assegura Chiara Mo,

para garantir que as mulheres es-

tão, de facto, a alcançar uma melhor

qualidade de vida.

“Queremos um modelo que seja

replicável. Nesta indústria há gigan-

tes 20 a 30 vezes maiores do que a

Benetton. Imaginem o que podem

fazer?”, lança Gianluca Pastore aos

jornalistas. “Queremos usar a [nos-

sa] marca, que é admirada histori-

camente, e pôr todos a debater, pôr

toda a indústria a pensar e a envol-

ver-se”, acrescenta.

Nova colecção, nova marca?Além do Programa de Emancipa-

ção das Mulheres, a Benetton apre-

sentou a nova colecção de malhas.

Chama-se “A collection of us”, é um

do ao longo dos anos, colocadas em

estantes de alumínio.

É na porta ao lado, nos estúdios

fotográfi cos, que a nova colecção de

malhas está exposta. Os criadores

inspiraram-se nos modelos antigos

e é possível, apenas olhando para

as camisolas, imaginar as avós e as

mães envergando aquelas malhas. É

uma viagem da década de 1960 até

aos dias de hoje, numa colecção que

está à venda a partir deste mês. O

tema, claro, é o “arquivo”.

Segue-se, noutro estúdio, outra

colecção cápsula inspirada no bai-

lado Quebra-Nozes para lançar em

Dezembro, com malhas suaves e so-

fi sticadas, adequadas à época festi-

va. Noutra sala, entramos no Car-

naval, a ser lançada em Fevereiro,

com malhas alegres inspiradas no

Carnaval de Veneza e, em Abril, é a

vez de ser conhecida uma colecção

vocacionada para usar no ginásio e

na rua, por quem pratica despor-

to — é a aposta da Benetton para

entrar numa área dominada pelas

grandes marcas de desporto, infor-

ma Mollanger que antes da Benetton

esteve na Asics.

No corredor entre os estúdios,

de contra a parede, estão expostos

os cartazes que marcarão presença

nas ruas e nas montras. Em fundo

branco — uma espécie de marca

regista das campanhas da UCB —

estão mulheres bonitas, quatro

caucasianas e uma asiática, de di-

ferentes idades, vestidas com as

malhas. A mais velha lutou pela

emancipação sexual das mulhe-

res; a mais nova, a adolescente,

sofreu de bullying na escola; a de

40 anos luta por manter uma car-

reira e uma vida pessoal; a asiática

por conquistar um lugar no mun-

do dos homens; a que anda na casa

dos 30 fala das relações falhadas.

Cada uma tem uma história para

contar, uma mensagem para trans-

mitir. É a emancipação feminina

a cinco vozes. A marca está a re-

defi nir a sua estratégia? Mollanger

começa por dizer que a génese da

marca, o seu ADN, são as malhas.

“A Benetton foi construída porque

aqui existem pessoas que sabem

fazer coisas especiais com as agu-

lhas. Tricotar continua a ser uma

paixão.” E que a campanha publi-

citária surge na continuidade do

trabalho feito, mas é inovadora

porque “não é uma campanha cen-

trada na responsabilidade social

[como eram as de Toscani], nem

de produto, mas é tudo junto”. “E

isso é uma importante mudança”,

declara.

Mas a pergunta é repetida de ou-

tra maneira. Como é que se muda

de campanhas incómodas, que

falam de temas polémicos como

a sida, a homossexualidade ou o

confl ito israelo-palestiniano, para

uma campanha sobre mulheres?

Por que não os refugiados? Gian-

luca Pastore vem em socorro de

Mollanger para dizer que a mar-

ca tem trabalhado de perto com a

ONU essa questão. E concorda: “A

Benetton foi a primeira a procurar

uma reacção, não nos consumido-

res mas nas pessoas em geral, a

pedir às pessoas que se compro-

metessem, em campanhas onde

o produto não era mencionado.”

Agora, a marca cresceu, deixou

de ser um adolescente que apon-

ta o dedo ao que está mal, mas

um adulto que quer intervir, diz

Mollanger. “Não queremos só mos-

trar o problema mas ajudar a solu-

cioná-lo”, acrescenta, e isso passa

por destacar as mulheres.

A campanha e a colecção cha-

ma-se “A collection of us”, porque

quer envolver todos e contribuir

para a mudança, não só das mu-

lheres exploradas pela indústria

têxtil mas das mulheres em geral,

chamando a atenção para os pro-

blemas com que se confrontam e

querendo fazer parte da solução.

“Amadurecemos e o mundo ama-

dureceu”, conclui Mollanger.

O PÚBLICO viajou a convite da United Colors of Benetton

MORTEZA NIKOUBAZL/REUTERS

regresso ao passado e à génese da

empresa que nasceu perto da mítica

cidade de Veneza, em Treviso, de

onde saíram as suas primeiras pe-

ças: camisolas e casacos de malha.

Na antiga fábrica, entretanto de-

sactivada, encontra-se o arquivo da

UCB, onde está a “alma” da empre-

sa, reforça Mollanger. É ali que estão

as velhas glórias como os carros de

Fórmula 1, os troféus e as fotografi as

de Michael Schumacher a festejar

as vitórias; os cartazes das campa-

nhas desde 1965, a marca celebra

50 anos, passando pelas fotografi as

polémicas e incómodas de Toscani,

e evoluindo para a simples apresen-

tação do produto, com cartazes pre-

enchidos por modelos felizes e com

roupa colorida.

É ali que estão os produtos icóni-

cos lançados pela marca, que “são

a inspiração para o nosso futuro”,

insiste o director de Produto e de

Marketing, junto a uma instalação

com dezenas de camisolas de malha

de antigas colecções. Por detrás dele

existem centenas de pastas de arqui-

vo, coloridas, com as campanhas e

promoções que a empresa foi fazen-

“A Benetton foi a primeira a procurar uma reacção, a pedir às pessoas que se comprometessem, em campanhas onde o produto não era mencionado. Agora, não queremos só mostrar o problema, mas ajudar a solucioná-lo”

A Benetton ficou conhecida pelas suas campanhas polémicas, agora a estratégia é diferente

Page 18: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

18 | ECONOMIA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

A Uber, a aplicação que permite

chamar um carro com motorista,

está a colocar desafi os legais e

a levantar a ira dos taxistas em

várias cidades do mundo. Em

Portugal, houve já vários protestos,

encabeçados pela ANTRAL,

uma associação do sector. Mark

MacGann, que trabalha há um ano

na empresa como responsável

pelas questões de políticas

públicas para a Europa, garante

que a mudança das regras “está

a chegar” e que, se os governos

nacionais não se apressarem a

fazer mudanças na regulação,

acabarão por ser forçados a isso

por Bruxelas.

Numa conversa com o PÚBLICO,

em Lisboa, após uma conferência

organizada pela Autoridade da

Concorrência, MacGann traçou

uma meta ambiciosa para uma

empresa de alcance global, mas

que ainda se considera uma

startup: o objectivo último da

Uber, que já se desdobra em

serviços que incluem o transporte

de encomendas e a entrega de

comida, não é concorrer com

os táxis. “Em última instância, é

competir com a necessidade de

as pessoas terem o seu próprio

carro.”

É uma questão fundamental e

que tem sido colocada muitas

vezes: que tipo de empresa é a

Uber?

A Comissão Europeia fez uma

consulta sobre a regulação de

plataformas online, e nessa

consulta refere-se à Uber como

uma plataforma online. Nós

descrevemo-nos como uma

plataforma digital. Somos uma

aplicação e a nossa tecnologia é

um intermediário entre pessoas

que querem circular pelas cidades

e as pessoas que querem usar os

seus carros para fazer dinheiro.

A defi nição legal vai chegar daqui

a um ano, porque o sindicato

dos taxistas em Barcelona, que

é muito violento, levou a Uber a

tribunal e o juiz decidiu que esta

é uma questão europeia. Por isso,

foi para o Tribunal Europeu de

Justiça. E o tribunal vai decidir se o

Uber Pop é uma plataforma digital

de intermediação ou se é uma

empresa de transporte [o Uber Pop

não existe em Portugal; permite

a proprietários partilharem o

seu carro particular através da

aplicação].

Mas vocês têm serviços para lá

do Uber Pop e até do transporte

de pessoas.

Sim. Em São Francisco, temos o

Uber Pool, em que uma pessoa

pode partilhar o carro com

várias outras ao mesmo tempo.

Em Barcelona temos o Uber

Rush [um serviço de entrega de

encomendas, também existente

noutras cidades]. A Uber não é

a única aplicação de telemóvel

para se apanhar um carro. Não é a

única empresa na história a entrar

num mercado monopolizado e

fortemente protegido. Somos

provavelmente a primeira a ter este

tipo de apetite pelo risco.

Mesmo em relação aos serviços

UberX ou Uber Black, onde há

pessoas a trabalhar a tempo

inteiro, não se vêem como uma

empresa de transportes?

Nós não damos emprego a

motoristas em lado nenhum do

mundo. Um exemplo. O nosso

negócio em Portugal é pequeno,

mas tem um enorme potencial.

É por isso que estamos desejosos

de trabalhar com o novo Governo

para modernizar a legislação.

Aqui em Portugal, cerca de 70%

dos carros na plataforma são de

companhias que empregam os

motoristas. O resto são motoristas

independentes, que ganham a vida

a conduzir carros. Têm licenças,

pagam impostos, cobram IVA.

Parece uma empresa de

franchise: dá a marca, as

ferramentas e deixa as pessoas

fazerem o seu negócio. É uma

boa descrição?

Não lhe chamaria um franchise.

Nós temos todo o controlo sobre

a tecnologia. O que acontece é

que licenciamos essa tecnologia.

Os motoristas aqui em Portugal

assinam um contrato com a Uber

BV, em Amesterdão, que é a

empresa através da qual operamos

na Europa, e usam a nossa

tecnologia para fazer negócio. São

eles que fazem o contrato com o

cliente. Se fazem um serviço de

dez euros, oito euros fi cam com

eles e dão-nos dois euros pelo

uso da tecnologia. Mas não lhes

dizemos qual a cor do carro, nem o

que têm de vestir. Temos algumas

exigências ao nível do serviço ao

cliente. Em Portugal, é fácil obter

um táxi em qualquer ponto da

cidade, mas a qualidade do serviço

é bastante baixa. Há espaço para

modernizar isso.

Modernizar o sector dos táxis

não vos retira vantagens?

O estado do sector cria uma

oportunidade: os consumidores

não estão contentes. Mas desde

que a Uber chegou ao mercado

em muitos países, vemos que as

empresas de táxis começam a

subir a parada. Começam a ter

aplicações, a abrir a porta ao

cliente, a oferecer uma garrafa de

água. A quantidade de queixas

relativas aos táxis desceu. Há esta

expressão em inglês: uma maré

que sobe levanta todos os barcos.

Incluindo o vosso barco?

Essa pergunta pressupõe que

estamos a querer ir atrás do

mercado dos táxis. Não estamos.

Desde que começámos em São

Francisco, o valor do mercado do

transporte de táxis e limusines na

cidade multiplicou-se. A fatia dos

táxis caiu? Não. As pessoas de 20

ou 25 anos em São Francisco não

querem ter um carro. É caro, é

difícil de estacionar. Se puderem

premir um botão no telemóvel e

ter um carro em menos de cinco

minutos, é a escolha óbvia. Se

tivermos um modelo regulatório

que nos permita aumentar a

oferta, os tempos de espera caem.

Se não for mais difícil chamar um

carro do que pegar nas chaves e

ligar a ignição, então começaremos

a competir com os automóveis

particulares.

Vêem-se a médio prazo como

um substituto dos automóveis

particulares?

Esse é o objectivo fi nal. A Uber e

outros serviços. Aqui na Europa é

diferente, é claro que temos uma

grande quota de mercado, mas

nos EUA há imensos concorrentes.

Na China, na Índia, não somos a

maior empresa. Aqui, sinto que

estamos a fazer o trabalho difícil

de alterar as regras. Mas posso

garantir que, quando o modelo

regulatório for moderno, vai haver

mais concorrentes no mercado.

E quantos mais, melhor. Gosto

de dizer isto sobretudo quanto

há pessoas das autoridades de

concorrência a passear aqui pelos

jardins [a entrevista decorreu no

hotel Pestana Palace]. Mas, em

última instância, é competir com

a necessidade de as pessoas terem

o seu próprio carro. E, seja como

for, daqui a 15 ou 20 anos teremos

Mark MacGann, o responsável pelos assuntos regulatórios da Uber na Europa, diz que a empresa está a fazer o trabalho difícil de mudar as regras. Depois disso, mais empresas vão querer entrar no mercado

“Podem pôr a Uber a pagar licenças”

“Desde que a Uber chegou ao mercado, em muitos países vemos que as empresas de táxis começam a subir a parada. Começam a ter aplicações, a abrir a porta ao cliente, a oferecer garrafas de água”

EntrevistaJoão Pedro Pereira

Page 19: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | ECONOMIA | 19

dos táxis pode manter alguns

direitos e privilégios. Ninguém

está a contestar o facto de os táxis

serem os únicos que podem ser

chamados com a mão na rua,

nem de serem os únicos a usar as

faixas de bus ou as praças de táxis,

que são propriedade pública. É

preciso um modelo regulatório

que permita apanhar um carro de

forma barata, rápida, em qualquer

ponto das cidades. Podem pôr

restrições regulatórias a empresas

como a Uber. Podem pôr a Uber

a pagar licenças. O acordo com

a Cidade do México é que uma

percentagem das nossas receitas

vai para um fundo de mobilidade,

que é administrado pelo município

e que ajuda sobretudo os taxistas

mais velhos que não querem

trabalhar neste novo mundo

da tecnologia. Não cabe à Uber

resolver isto. Cabe ao regulador

fazer propostas.

Em que fase estão as vossas

conversas com as autoridades

portuguesas?

Começámos a ter esta discussão

perto do fi nal da legislatura.

Temos tido a sorte de, quando

pedimos reuniões com o Governo,

eles terem aceitado. O Governo

não vai tomar decisões até ter

ouvido todos os lados. Sem dúvida

que nos vamos sentar com o

novo secretário de Estado dos

Transportes, quem quer que seja.

Isto tem de ser uma combinação de

conversas com o Governo e com os

municípios, para se tentar chegar

a um consenso. Os presidentes de

câmara podem ajudar a trazer as

associações de táxis para a mesa

de negociações. Tivemos uma

conversa muito construtiva com o

presidente da Câmara de Lisboa.

Está mais confi ante numa

abordagem regulatória ao nível

das cidades do que ao nível

europeu.

Gostaria muito de uma regra

única. Pode acontecer daqui a dois

ou três anos. Mas aconselharia

os Governos a não esperarem.

Porque aí vão ter de implementar

um modelo que foi desenhado

em Bruxelas e pode não ser o

mais adequado a cada cidade. A

mudança está a chegar. Vai ser

feita aqui, domesticamente, ou, se

isso não acontecer, será forçada.

Porque não há justifi cação para

manter um mercado fechado.

Por que é que não estão noutras

cidades para além do Porto e

Lisboa? Não é essencialmente

disponibilizar a aplicação a

carros autónomos.

Ainda não existe modelo

regulatório na Europa para um

cenário desses?

Na Europa, há vários modelos

regulatórios. Era suposto ser um só

mercado, mas há regras diferentes.

As pessoas esquecem-se de que

fomos tão controversos em Nova

Iorque ou Seattle há dois anos

como somos hoje em Bruxelas,

Barcelona ou Berlim. Temos

dois modelos: o das pessoas que

são motoristas a tempo inteiro e

aquelas que querem partilhar o

carro para ganhar dinheiro. As

regras mudaram, esta partilha é

agora regulada e legal, não apenas

na América do Norte, também

motoristas? Os custos não são

os mesmos estando em duas

cidades ou em muitas mais?

Estamos a considerar o Algarve

no próximo ano, durante dois ou

três meses. Bom, se calhar mais,

porque o Verão aqui em Portugal.

É uma questão física, temos de ter

pessoas nas cidades, de recrutar.

Quando a empresa veio para a

Europa, estava à espera de ter

diferentes tipos de problemas

legais nos diferentes países?

Eu sou europeu, por isso teria sido

capaz de antecipar isto. Quando

se começa em Silicon Valley,

acredita-se no que está a ser dito:

uma União Europeia, um mercado,

um conjunto de regras. Quando se

chega cá, as vezes é assim, às vezes

não é.

Também está encarregado dos

temas de regulação em África e

no Médio Oriente. Quais são os

planos para essas regiões?

Temos um grande negócio na

África do Sul e nos Emirados

Árabes Unidos. Começámos há

quatro meses no Cairo. Há uma

enorme procura, por razões

económicas e de mobilidade. Em

muitas daquelas cidades, não há

uma infra-estrutura de transportes

públicos. Na Arábia Saudita, 80%

das pessoas que apanham um

Uber são mulheres, porque não

podem conduzir. Mas podem

ser conduzidas pelo marido,

pelo irmão, pelo pai ou por um

motorista privado. Isto está a

dar a oportunidade às mulheres

de se deslocarem, seja para as

universidades ou para o trabalho.

Estamos também a expandir-nos

para o Quénia e para Marrocos.

Ainda se vêem como uma

startup?

Eu sei que vistos de fora parecemos

uma empresa enorme, do tamanho

da IBM. Mas a nossa valorização

estimada de mercado não é aquilo

que valemos. Não temos 50 mil

milhões de dólares. É dinheiro

fi ctício. Ainda não damos lucro. O

dinheiro que fazemos investimos

em expansão. Por dentro, somos

uma startup. É certo que há quatro

anos éramos sete pessoas, agora

somos quatro mil. Mas a maioria

das pessoas têm entre 25 e 30

anos. Há muito poucas pessoas

mais velhas, como eu. Eu trabalhei

para empresas mais estabelecidas,

como a Alcatel e a Euronext, onde

há um departamento diferente

para tudo. Se uma pessoa precisa

de fazer alguma coisa na Uber, tem

de o fazer ela própria.

“Isto tem de ser uma combinação de conversas com o Governo e com os municípios. Os presidentes de câmara podem ajudar a trazer as associações de táxis para a mesa de negociações”

“Em última instância, a meta é competir com a necessidade de as pessoas terem o seu próprio carro”

no México. Quando se tira a

violência da equação — e isto é

uma mensagem para a ANTRAL —,

quando se pára de gritar, quando

se deixa de processar pessoas,

pode-se ir para uma reunião

com o secretário de Estado do

Transportes, ou o presidente da

Câmara de Lisboa, e encontrar

uma solução. Consigo ver que há

boa vontade no Governo cessante

e na Câmara de Lisboa, espero que

também na do Porto, para olhar

para soluções.

E que soluções são? O que é que

estão dispostos a pôr em cima

da mesa?

Primeiro, é preciso regular no

interesse do consumidor. O sector

MIGUEL SCHINCARIOL

Page 20: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

20 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Um juiz anticorrupçãoé o novo herói do Brasil

“Sergio Moro? Ele representa a fi gura

do herói nacional para mim.” Senta-

da no sofá do seu apartamento em

Ipanema, a engenheira Ana Paula

de Lacerda Paiva, 43 anos, faz uma

pausa, como se pensasse no que aca-

bou de dizer. “A gente só conhece o

homem público, não é? Espero que

ele não bata na mulher!”, diz, refe-

rindo-se ao juiz que no último ano e

meio tem exposto a intrincada teia

de corrupção política e empresarial

na operação Lava Jato. O riso mais

sonoro na sala não é brasileiro, tal-

vez porque os brasileiros se tenham

habituado a esperar o pior de quem

ocupa cargos públicos.

“O Congresso é um antro de ban-

didos. O presidente da Câmara [de

Deputados] é corrupto. O presidente

do Senado é corrupto”, diagnostica

o marido de Ana Paula, Raimundo

Sampaio Neto, 63, professor na Pon-

tifícia Universidade Católica do Rio

de Janeiro.

“Infelizmente, o Brasil não tem

partidos políticos — apesar de serem

32. Tem uns grupos de pessoas que

se juntam para defender os próprios

interesses. Cada um vota de acordo

com o que receber. A não ser os parti-

dos radicais, onde você identifi ca um

pensamento partidário, os outros são

uma massa cinzenta”, diz Raimun-

do. “Não tenho partido. Sou contra

a corrupção.”

No Brasil é comum a ideia de que

a corrupção é endémica — isto é,

depois de ter desembarcado no Rio

de Janeiro juntamente com a Coroa

portuguesa —, permeando todos os

poderes e sectores da sociedade. Co-

mo pensar de outro jeito, quando os

escândalos se repetem, quando as

manchetes sérias dos jornais pare-

cem rivalizar com noticiários humo-

rísticos (Estado de São Paulo: “Edu-

ardo Cunha tem Porsche em nome

de Jesus.com”), quando é habitual

políticos serem investigados pela

polícia por clientelismo, lavagem de

dinheiro, peculato, enriquecimento

ilícito, fuga ao fi sco?

“Não adianta sequer o cara se

confessar culpado porque vão sol-

tar ele”, nota Raimundo.

“Um cara no Mensalão [escânda-

lo da compra de votos no Congresso

pelo partido no Governo, o PT] foi

fotografado com dólares na cueca!

O Collor foi retirado da presidência

e hoje é um político de prestígio e,

mais uma vez, envolvido em falca-

truas.” O ex-Presidente Fernando

Collor de Mello, que se viu forçado

a renunciar ao seu mandato em 1992

por corrupção política e que hoje é

senador, faz parte da meia centena

de políticos investigados no âmbito

da operação Lava Jato, que expôs

uma rede criminosa de subornos,

falsos concursos públicos e lavagem

de dinheiro envolvendo as maiores

empresas do país, incluindo a pe-

trolífera estatal Petrobras, que teve

o seu boom durante os governos de

Lula da Silva.

“É outro problema da nossa demo-

cracia. É muito pouco resistente a su-

bornos”, sentencia Raimundo.

O Mensalão foi considerado o

maior caso de corrupção da histó-

ria do Brasil — até surgir a Lava Jato.

Mas a Lava Jato surge como a última

esperança de que “as coisas realmen-

te mudem”. Desde logo, trouxe uma

novidade: pela primeira vez, altos

executivos de multinacionais como

as construtoras Odebrecht e a Andra-

de Gutierrez foram detidos.

Marcelo Odebrecht, presidente do

grupo com o mesmo nome e um dos

homens mais ricos do Brasil, encon-

tra-se em prisão preventiva desde

Junho e na última semana viu o seu

pedido de libertação ser recusado

pelo Supremo Tribunal Federal.

“Isso é uma revolução. Há dez

anos, se você falasse que Marcelo

Odebrecht poderia ir para a cadeia,

eu diria: você está tendo delírios. Isso

nunca vai acontecer”, diz uma jorna-

lista de São Paulo. O recurso a subor-

nos para fazer negócios nunca antes

tinha corrido mal. A Lava Jato tem

um forte potencial moralizador, ao

desafi ar esse modelo de corrupção.

Dezena e meia de empresas estão

a ser investigadas e o seu desempe-

nho económico está a ser afectado.

Talvez seja irrealista esperar que a

Lava Jato acabe de vez com a cor-

rupção, mas pode, pelo menos, mos-

A operação Lava Jato revelou o maior escândalo de corrupção da história do Brasil. Pela primeira vez, grandes empresários estão na prisão pela prática de suborno. Vários políticos estão na mira das investigações. Revolução ou cruzada anti-PT?

JustiçaKathleen Gomes, no Rio de Janeiro

trar que a impunidade não é total.

“A Lava Jato é a possibilidade de

uma justiça mais actuante. É um

exemplo que pode ou não virar uma

tendência. Não sabemos ainda”, diz

Joaquim Falcão, professor de Direi-

to Constitucional e director da FGV

Direito Rio. Tudo depende de como

o processo termine, o que ainda pa-

rece longe. “O país está apreensivo

e optimista.”

Uma justiça brandaCom o Mensalão, pela primeira vez

os brasileiros viram políticos a serem

condenados e presos por corrupção

— o que aconteceu tão recentemente

quanto 2010. “Mas como o sistema

penal e judicial no Brasil é muito

frouxo, se você for bem-comporta-

do pode sair depois de cumprir um

sexto da pena. Se for sentenciado a

12 anos, pode sair em dois anos por

bom comportamento”, nota David

Fleischer, cientista político e pro-

fessor da Universidade de Brasília,

um norte-americano naturalizado

brasileiro.

Alguns políticos condenados no

escândalo do Mensalão passaram a

cumprir pena em regime semiaber-

to: podem trabalhar fora durante o

dia, voltando à prisão apenas para

dormir. José Dirceu, ex-chefe da Ca-

sa Civil no primeiro Governo de Lu-

la, identifi cado como o mentor do

Mensalão, recebeu uma sentença de

prisão de quase 11 anos, mas ainda

nem cumprira um ano quando pas-

sou para prisão domiciliária. Foi de

novo detido em Setembro deste ano,

pelo seu alegado envolvimento no

escândalo da Lava Jato.

Uma das singularidades do siste-

ma brasileiro — “que norte-ameri-

canos e europeus não entendem”,

frisa Fleischer— é que acusações

criminais envolvendo deputados e

senadores, ministros, Presidência

da República e outras autoridades

nacionais só podem ser julgadas pelo

Supremo Tribunal, contrariando o

princípio democrático de que todos

são iguais perante a lei. “Surpreen-

de-me os directores de grandes em-

presas ainda estarem presos”, diz

Raimundo sobre a Lava Jato. “Isso

já mostra que a classe política é mais

forte do que a classe empresarial.

Page 21: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | MUNDO | 21

O juiz Sergio Moro é o rosto de uma justiça renovada e parte da pequena burguesia, com forte sentimento moralizante que quer afastar o PT do poder

UESLEI MARCELINO/REUTERS

tem para se eleger em 2018”, diz Pa-

tricia Froes, documentarista, 31 anos.

“O caso da Lava Jato visa criminalizar

o PT, não tenho dúvidas sobre isso.

Ele está sendo usado por quem não

aceita o resultado das últimas elei-

ções para desestabilizar a democra-

cia no Brasil”, acusa.

“Estamos vivendo um momento

muito nebuloso e de muito ódio. As

pessoas têm muita raiva. No ano pas-

sado, durante a campanha eleitoral,

eu era a única, entre os meus amigos,

que saiu à rua com uma T-shirt do

PT porque estava grávida e sabia que

não me iam bater.” Segundo ela, o

processo da Lava Jato e a forma co-

mo é tratado na imprensa brasileira

contribuem para o clima de ódio e

pessimismo que o país atravessa.

“A imprensa é muito responsável

por esse sentimento de que o Brasil

está muito mal. A cobertura que dá

à Lava Jato é diferente se for um po-

lítico do PT ou de outro partido. Não

dão um vigésimo do espaço que dão

quando o suspeito é um político do

PT. Se o Moro estivesse prendendo

um monte de políticos que não fos-

sem do PT, não acho que ele teria a

projecção que tem.”

Patricia Froes votou em Dilma e

é “superpetista”. “O brasileiro é o

único povo que, se estivesse todo o

mundo dentro do mesmo avião, iria

torcer para que caísse porque odeia

o piloto. Existe uma torcida muito

grande para que tudo dê errado.”

Nas manifestações de protesto contra o Governo nos últimos meses, entre gritos de “Fora Dilma!” e um boneco insufl ável de Lula vestido como um recluso, tornou-se habitual verem-se cartazes de apoio a Moro (“Je suis Moro”, “Moro, não nos abandone”)

Oposição e frente anti-PT parecem frustrados por a Lava Jato ainda não ter atingido mais directamente Dilma e Lula

Não tem quase políticos presos.”

A investigação que diz respeito

aos empresários e intermediários

no esquema de corrupção da Lava

Jato tem sido mais veloz do que a que

tem seguido as ramifi cações políticas

do escândalo.

O exemplo Mãos LimpasA primeira tem a sua base em Curi-

tiba, capital do estado do Paraná,

no Sudeste brasileiro, abaixo de

São Paulo — e, sobretudo, longe da

infl uência política de Brasília —, e é

levada a cabo por uma task force de

procuradores do Ministério Público

e polícias federais comandados pelo

juiz Sergio Moro, especializado em

crimes fi nanceiros e lavagem de di-

nheiro e um estudioso da operação

Mãos Limpas em Itália, cujas estraté-

gias tem procurado aplicar na con-

dução da Lava Jato.

Uma delas é a fuga de depoimentos

e provas para a imprensa e a ampla

exposição mediática do processo

— reforçada pela disseminação nas

redes sociais —, garantindo o apoio

da opinião pública e impedindo as

fi guras investigadas de travar o tra-

balho judicial.

“Os brasileiros estavam indigna-

dos com a evidência da corrupção e

a impunidade. Evidentemente que

aderiram a esses juízes pela coragem

e pela inovação”, diz Joaquim Falcão.

“Nunca se aplicou a delação premia-

da — comum noutros países, nomea-

damente nos Estados Unidos — como

se está aplicando no Brasil hoje.”

A delação premiada, que consiste

na atribuição de condições penais

mais vantajosas a um réu que aceite

colaborar com a investigação e de-

nunciar terceiros, passou a ter um

novo enquadramento legal em 2013,

onde se confi gura como um impor-

tante instrumento no combate aos

crimes de colarinho branco. Algumas

das medidas são polémicas no meio

jurídico, o que revela até que ponto

Moro e a sua equipa introduziram no-

vidades neste tipo de investigações.

“O que está acontecendo é que, de

há uns tempos para cá, a Justiça foi

renovada por pessoas jovens”, diz

Ana Paula Paiva. “São pessoas prepa-

radas, com uma certa sede de justiça

e de mudança do statu quo.” Sergio

Moro tem 43 anos. Os procuradores

do Ministério Público que trabalham

com ele têm idades entre os 28 e os

50. Ana Paula refere-se ao coorde-

nador, Deltan Dallagnol, 34, como

“um menino do Ministério Público”.

“Você olha para a cara dele e ele não

parece ter mais de 30 anos.”

A origem social desta nova gera-

ção de investigadores, incluindo

os delegados da Polícia Federal,

é de ter em conta: fazem parte da

“pequena burguesia que chega ao

poder, com forte sentimento mora-

lizante e conservador”, disse o advo-

gado Lenio Streck ao El País Brasil.

Cruzada anti-PT?Sergio Moro, em particular, é um he-

rói dos brasileiros que se dizem indig-

nados com o statu quo político e eco-

nómico do Brasil e que clamam pelo

impeachment da Presidente, Dilma

Rousseff , a todo o custo. “Sentimo-

nos representados por ele”, diz Rai-

mundo Sampaio Neto. Nas manifes-

tações de protesto contra o Governo

nas principais cidades brasileiras dos

últimos meses, entre gritos de “Fora

Dilma!” e um boneco insufl ável de

Lula vestido como um recluso, tor-

nou-se habitual verem-se cartazes de

apoio a Moro (“Je suis Moro”, “Moro,

não nos abandone”). Uma sondagem

de Setembro do Instituto Paraná de

Pesquisas revelou que 71,5% dos bra-

sileiros consideram a investigação da

Lava Jato positiva para o país; 21,4%

acham o contrário.

Os apoiantes do partido no Gover-

no desconfi am das intenções políti-

cas por trás da operação. Oposição

e frente anti-PT parecem frustrados

por a Lava Jato ainda não ter atingido

mais directamente Dilma e Lula. “A

oposição está de saco cheio do PT no

poder e sabe do potencial que Lula

MIGUEL SCHINCARIOL

Page 22: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

22 | MUNDO | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

PAULO PIMENTA

Em Portugal e noutros países europeus têm-se realizado vigílias e manifestações de apoio aos detidos

A breve visita que o embaixador

português em Luanda fez na quin-

ta-feira ao activista angolano Lua-

ty Beirão, em greve de fome há 35

dias, abre “um precedente grave”,

escreveu no seu editorial de ontem

o Jornal de Angola.

“O diplomata português acaba de

legitimar toda a ingerência personi-

fi cada nas manifestações em Portu-

gal. O Governo português, depois de

tanto tempo, volta a cair na asneira

de se pôr do lado errado”, lê-se no

editorial intitulado “De Portugal na-

da se espera”.

“A ingerência desabrida que Por-

tugal faz nos assuntos da soberania

de Angola está a ultrapassar todos

os limites”, diz o texto do jornal

ofi cial, assinado pelo director, José

Ribeiro.

O embaixador João da Câmara

não fez qualquer declaração públi-

ca após a visita que fez a Luaty Bei-

rão, activista político e rapper de 33

anos, também com nacionalidade

portuguesa, em greve de fome para

Jornal de Angola diz que visita de embaixador português a Luaty é “precedente grave”

poder aguardar em liberdade — ele

e outros 14 activistas detidos — o jul-

gamento já marcado para dia 16 de

Novembro.

O Ministério dos Negócios Estran-

geiros de Portugal emitiu no mes-

mo dia um comunicado em que o

Governo de Lisboa declarava que

continuaria a acompanhar a situa-

ção do activista em greve de fome

e dos outros detidos desde Junho,

acusados de rebelião e de tentati-

va de assassinar o Presidente José

Eduardo dos Santos, quer através

de contactos junto das autoridades

angolanas quer em coordenação

com os parceiros da União Euro-

peia (UE).

Um diplomata da embaixada de

Portugal em Angola tinha já visita-

do Luaty Beirão numa deslocação à

clínica onde se encontra uma dele-

gação integrada por diplomatas do

Reino Unido, Espanha, Suécia e o

representante da delegação da UE

na capital angolana. Houve também

um encontro de diplomatas euro-

peus com os outros 14 detidos, no

Hospital-Prisão de São Paulo.

Num texto em que não refere uma

única vez a expressão “greve de fo-

me”, o jornal estatal escreve que so-

bre o activista pendem “acusações

gravíssimas” de “envolvimento em

actos de perturbação de ordem pú-

blica em Angola, no quadro de uma

acção mais vasta de transformar o

país numa nova Líbia em África”.

O diário entende que “a cruzada

antiangolana já não pode ser igno-

rada” e diz que aquilo que vê como

“ingerência portuguesa nos assuntos

estritamente angolanos só encontra

paralelo em duas ocasiões: quando

Angola proclamou a sua indepen-

dência em 1975 e quando se aproxi-

mava a derrota da UNITA de Jonas

Savimbi, antes de 4 Abril de 2002”.

“Os ataques diários e injustos des-

feridos a partir de Portugal surgem

agora revestidos da fi na película da

luta pelos direitos humanos”, escre-

ve também o director, que fala em

“guerra feroz, lenta mais sistemáti-

ca, que vem diariamente de Portugal

contra o Estado angolano e que se

aproveita agora do caso judicial que

envolve o angolano Luaty Beirão”.

Em Portugal, e noutros países eu-

ropeus, têm-se realizado vigílias e

manifestações de apoio Luaty Bei-

rão e aos outros detidos.

“Esperar pela compreensão dos

portugueses para se trilhar um ca-

minho comum de cooperação mu-

tuamente vantajosa é pura perda

de tempo e prova que foi correcta

a decisão tomada pelo Governo de

Angola de suspender a construção

dessa parceria estratégica com Por-

tugal”, diz também o editorial.

São ainda feitas críticas ao grupo

de comunicação Impresa e a polí-

ticos, principalmente do Bloco de

Esquerda, que têm contestado a

detenção dos activistas.

Direitos humanosJoão Manuel Rocha

“A ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites”, escreveu o diário

A candidata a primeira-ministra pelo Lei e Justiça, Beata Szydlo

Os polacos foram ontem às urnas e

deram uma vitória esmagadora ao

partido nacionalista Lei e Justiça,

comparado ao Fidesz do primeiro-

ministro da Hungria, Viktor Orbán.

A grande derrotada foi a Platafor-

ma Cívica, de centro-direita, que li-

derou o país durante oito anos de

crescimento económico, mas que

acabou por ser penalizada devido

a um escândalo que provocou de-

missões no Governo e à percepção

de que o sucesso económico do país

não chegou ao bolso dos cidadãos.

De acordo com os números avan-

çados após o encerramento das

urnas, o Lei e Justiça obteve 39,1%

contra 23,4% da Plataforma Cívica

— nenhum partido de esquerda te-

ve votos sufi cientes para entrar no

Parlamento. Com estes resultados,

os nacionalistas poderão governar

sozinhos, com 242 deputados num

Parlamento com 460 lugares.

A vitória dos nacionalistas do Lei

e Justiça signifi ca também o regresso

do seu líder, Jaroslaw Kaczynski, que

foi primeiro-ministro entre 2006 e

2007, antes de a Plataforma Cívica

ter iniciado um ciclo de duas vitó-

rias.

Jaroslaw — irmão gémeo do ex-Pre-

sidente Lech Kaczynski, que morreu

num acidente aéreo, em 2010 — não

é o candidato a primeiro-ministro

Partido nacionalista e eurocéptico ganha eleições legislativas na Polónia

pelo Lei e Justiça, mas é o seu líder, e

os analistas acreditam que será ele a

puxar os cordelinhos da governação,

atrás de Beata Szydlo.

Se não surgirem complicações, a

chegada ao governo do Lei e Justi-

ça é mais um capítulo da viragem

nacionalista em vários países euro-

peus, com políticas anti-imigração

e eurocépticas.

Durante a campanha, o líder do

partido que venceu as eleições dis-

se que os migrantes e refugiados “já

trouxeram doenças como a cólera e

a disenteria para a Europa e todo o

tipo de parasitas e protozoários”.

Para além das posições duras em

relação à chegada de milhares de

pessoas de países da África Subsa-

riana, do Médio Oriente ou da Ásia,

o Lei e Justiça defende uma pressão

maior sobre a Rússia, o que pode ori-

ginar ainda mais divisões no seio da

União Europeia e pôr em risco a re-

lação privilegiada do país na última

década com a Alemanha.

Em particular, o partido promete

ser infl exível na exigência de ter uma

base permanente da NATO, uma me-

dida a que a chanceler Angela Merkel

se opõe. “As relações entre a Polónia

e a Alemanha iriam sem dúvida pio-

rar com o Lei e Justiça. A única ques-

tão é saber se iriam piorar muito ou

pouco”, disse à revista americana

Politico o analista Lukasz Lipinski,

do think tank Polityka Insight.

A economia cresceu acima dos 3%

ao ano na última década — e o facto

de não estar na zona euro permitiu-

lhe passar ao lado da recessão. Ape-

sar do sucesso dos números, muitos

polacos continuam sem sentir me-

lhorias, devido à precariedade do

trabalho e aos baixos salários, algo

aproveitado pelo Lei e Justiça.

Marcadamente católico, o partido

propõe a redução da idade da refor-

ma de 67 para 65 anos entre os ho-

mens e para 60 anos entre as mulhe-

res (para que possam passar mais

tempo com a família); o aumento do

salário mínimo; e o aumento das ta-

xas de impostos para os bancos.

O descontentamento entre grande

parte da população foi resumido ao

jornal britânico Guardian por Grze-

gorz Piotrowska, um canalizador de

38 anos: “Na Polónia continuamos a

ser pobres. Dois milhões de polacos

saíram do país para trabalhar nou-

tros países da União Europeia. Se fi -

carmos aqui, limitamo-nos a lutar.

Abrem restaurantes fi nos por todo

o lado, mas eu nem consigo pagar

um café no Starbucks. O Lei e Justiça

quer tornar este país mais parecido

com a Alemanha.”

EuropaAlexandre Martins

Lei e Justiça põe fim a oito anos de poder da Plataforma Cívica. Resultados permitem-lhe governar sozinho

Page 23: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 23

Uma das crianças afogadas ontem em Lesbos é levada da praia

A Comissão Europeia quer enviar já

a partir de hoje 400 guardas de fron-

teira para os países dos Balcãs para

ajudar a controlar o enorme afl uxo

de refugiados e criar uma espécie de

telefone vermelho para as situações

de emergência. Mas pretende que os

líderes europeus se comprometam a

deixar de facilitar o movimento dos

refugiados até à fronteira do país

seguinte, sem ter o consentimento

dessa nação, transportando simples-

mente a crise ao longo da Europa.

Estes eram temas da minicimeira

convocada para ontem à noite em

Bruxelas pelo presidente da Comis-

são Europeia, Jean-Claude Juncker,

juntando países da Europa Central e

dos Balcãs, alguns deles exteriores à

União Europeia, para discutir a crise

dos refugiados nos Balcãs.

O projecto de declaração fi nal le-

vado para a reunião, e que circulou

nos últimos dias, falava também em

agilizar os repatriamentos de afe-

gãos, iraquianos e outros cidadãos

asiáticos, se forem rejeitados os seus

pedidos de asilo. Seguindo o exem-

plo da Alemanha, que ao mesmo

tempo que abre as portas aos refu-

giados da guerra na Síria endurece

as condições para conceder asilo

(com uma nova lei que entrou em

vigor no sábado), a UE quer facilitar

os processos para mandar para trás

aqueles a quem não der abrigo.

Por outro lado, pretende alargar

a operação Poséidon na Grécia, au-

mentando a presença da agência eu-

ropeia de controlo das fronteiras, a

Frontex, nas ilhas gregas. Sobretudo

para pôr a funcionar os hotspots —

centros de registo e triagem de mi-

grantes, onde logo à chegada seriam

distinguidos os que têm condições

de pedir asilo daqueles que serão

considerados como imigrantes eco-

nómicos e mandados para trás.

É à Grécia que continuam a chegar

milhares de refugiados, apesar de as

condições meteorológicas se agrava-

rem e tornarem perigosa a viagem

curta por mar. Ainda ontem, uma

mulher e duas crianças afogaram-se

quando o barco insufl ável com 63

pessoas em que viajavam foi empur-

rado contra as rochas ao chegar à

ilha de Lesbos. Sete outras pessoas

estão desaparecidas, diz a Reuters.

A UE pretende ainda montar uma

operação da Frontex na Albânia e

na Macedónia, que não fazem par-

te da União, para começar logo aí a

registar os migrantes. A Frontex faz

ainda uma proposta polémica, diz o

El País: para evitar que os migrantes

procurem outras rotas, recomenda

que os requerentes de asilo sejam co-

locados em centros de detenção no

primeiro país em que entram. Hoje,

80% dos pedidos de asilo feitos na

Grécia, na Bulgária ou na Hungria

são inconclusivos, porque as pessoas

querem é alcançar os países do Nor-

te da Europa, ou a Alemanha.

Nada disto é pacífi co, e a discus-

são, noite dentro, antevia-se polémi-

ca. “Se não tomarmos acções imedia-

tas e concretas no terreno nos pró-

ximos tempos, acho que toda a UE

vai começar a afundar-se”, afi rmou

o primeiro-ministro esloveno, Miro

Cerar, ao entrar para a reunião.

AFP

Crise na EuropaClara Barata

Ajudar os países que não conseguem gerir a grande vaga de refugiados era o objectivo da minicimeira de urgência em Bruxelas

Os refugiados não podem ser só passados para o país seguinte, diz a UE

Parceiro Inspiração

2015

Page 24: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

24 | CIÊNCIA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

O institutopúblicoque se viciouno negócio

O INESC Tec comemora 30 anos com muitos balanços sobre a ciência, a tecnologia e, principalmente, o apoio que deu à modernização da economia. Desde fi bras ópticas até às smart grids e ao calçado, o INESC Tec tornou-se um caso de estudo em Portugal sobre a ligação entre a ciência e as empresas

Na sede do INESC

Tec no Porto há

dezenas de corre-

dores onde fi cam os

gabinetes assinala-

dos com o nome de

investigadores, há

salas abertas onde

centenas de jovens

se dedicam à pro-

gramação em frente de compu-

tadores, há espaços para lazer e

para refeições e, não fosse a falta

de salas de aulas, não era difícil

confundi-la com uma universidade.

Só quando se quer descer ao andar

abaixo do piso térreo para visitar

o laboratório de energia é que se

percebe que há ali algo de diferen-

te. Para se chegar à sala onde Luís

Seco e uma equipa de dez investi-

gadores trabalham é preciso um

código de acesso para introduzir

no elevador. O que ali se faz, entre

computadores com imagens em

permanente animação, contadores

electrónicos e máquinas com redes

intrincadas de fi os não está disponí-

vel ao olhar de todos. Ali estudam-se

soluções de futuro para as “redes

inteligentes” (smart grids) de elec-

tricidade e uma descoberta, uma

patente ou um protótipo pode valer

muito dinheiro.

O Instituto de Engenharia de Sis-

temas e Computadores — Tecnolo-

gia e Ciência, que comemora por

estes dias 30 anos de existência,

é muitas vezes considerado como

um dos melhores exemplos da boa

articulação que se faz em Portugal

entre a produção de ciência e a sua

transferência para as empresas.

Essa articulação esteve na base da

sua fundação, em 1985, através da

instalação no Porto de uma sucur-

sal do INESC nacional (em Lisboa),

no qual as universidades repartiam

com os CTT e os TLP as estratégias

e os encargos de promover a qua-

lifi cação da ciência e da economia

nacional.

Mas se há 30 anos o instituto do

Porto valia uns 20% da rede nacional

do INESC (que se instalou também

físicos, mas também designers ou

músicos e de ter capacidade de se

articular com outras instituições —

hoje haverá um concerto na Casa da

Música organizado pelo instituto no

qual os smartphones do público vão

ser usados como instrumentos.

Os números são expressivos. En-

tre 2011 e 2014, os artigos publicados

pelos investigadores do INESC cres-

ceram mais de 50% — foram quase

350 nesse ano. Há mais de 30 pa-

tentes registadas em nome do ins-

tituto. No ano passado, mais de 150

quadros altamente qualifi cados, dos

quais 21 doutorados, saíram das suas

instalações para o tecido económi-

co: “Os nossos investigadores não

têm problemas com o desemprego”,

diz Pedro Guedes de Oliveira.

Nos últimos 13 anos nasceram nos

seus laboratórios 12 empresas que

depois vieram a autonomizar-se (o

chamado spin-off ), entre as quais a

FiberSensing, que acabaria por ser

comprada pela multinacional ale-

mã HBM. Mas talvez ainda mais im-

portante do que as estatísticas pode

ser o impacte que o conhecimento

Manuel Carvalhoem Braga, Aveiro e Coimbra), “hoje

deve representar talvez uns 60%”,

nota Pedro Guedes de Oliveira, um

académico que presidiu ao instituto

do Porto entre 1995 e 2005.

Explicar esse percurso que trans-

formou uma pequena unidade de

investigação no potencial da fi bra

óptica para o futuro das telecomu-

nicações num gigante que factura

14 milhões de euros e que mobiliza

650 investigadores, dos quais 250

doutorados, implica uma pergunta:

o que tem o INESC do Porto, agora

INESC Tec, de especial? José Manuel

Mendonça, o actual presidente,

considera três razões: a primeira é

o foco do trabalho, “que obriga a

que toda a investigação esteja orien-

tada para ter impacte económico

e social”; o segundo relaciona-se

na forma como o INESC Tec gere

o fl uxo do conhecimento, desde a

investigação até à sua aplicação em

soluções capazes de ter interesse

para as empresas ou para a socieda-

de; fi nalmente, a capacidade de pôr

a trabalhar em áreas industriais de

ponta não apenas engenheiros ou

produzido e transferido do INESC

teve em empresas como a Efacec

ou em indústrias como o calçado,

cuja logística industrial é geralmen-

te considerada como uma das mais

avançadas do mundo.

Para se chegar aqui há, no entan-

to, de notar uma vantagem acumu-

Page 25: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | CIÊNCIA | 25

dente da Galp. “Somos todos ‘fi lhos’

dele”, reconhece Pedro Guedes de

Oliveira.

O caminho das empresasInicialmente, a tarefa dessa gera-

ção dirigiu-se para o conhecimen-

to do potencial da fi bra óptica para

levar voz, dados e imagem a casa

de todos. O projecto SIFO avançou,

“mas estava muito à frente do seu

tempo”, lembra Pimenta Alves, que

integrou a primeira das três direc-

ções do INESC nestes 30 anos. Não

chegaria à fase do protótipo (as em-

presas foram privatizadas, as fron-

teiras abriram-se e novas tecnolo-

gias impuseram-se), mas a equipa de

investigação que o realizou fi cou a

par do estado da arte em electrónica

que se fazia no Laboratório Europeu

de Física de partículas (CERN, em

Genebra) e em algumas universi-

dades europeias. Nomes como José

António Salcedo, Manuel Barros ou

António Pereira Leite fazem parte

dessa primeira vaga de investigado-

res que depois deixariam marca em

empresas ou na academia.

Como as empresas que fi nancia-

vam o projecto não exigiam exclusi-

vidade, a equipa começou a apostar

noutras áreas. Uma delas, nas quais

Pimenta Alves se destacou, foi o ví-

deo digital. Em 1999, o INESC foi

escolhido pela BBC para montar o

seu novo estúdio digital na sede, em

Londres. O software utilizado para a

sua gestão, o Orbit, foi integralmen-

te produzido no Porto. A aventura

“aconteceu antes do tempo”, nota

Pimenta Alves. “Na altura, não pros-

seguiu, mas a ideia do estúdio digi-

tal está de volta”, nota. Entretanto,

as sementes do projecto fi caram.

Hoje “há umas 60 ou 70 pessoas a

trabalhar no Porto para o mercado

internacional do broadcasting atra-

vés de redes de computadores”, diz

Pimenta Alves. Fazem-no através de

empresas como a MOG, a Glookast

ou a Mediagaps.

Borges Gouveia, um engenheiro

de sistemas de computadores que

ajudou a fundar o INESC Porto e se

tornou presidente do INESC nacio-

nal entre 1985 e 1991, queria mais.

“Queria que entrássemos noutras

áreas”, lembra Pimenta Alves. Como

a energia. Ou as indústrias tradicio-

nais. Mas tanta ambição não batia

certo com as permanentes queixas

de falta de autonomia do Porto em

relação a Lisboa. O mal-estar torna-

se um problema que seria resolvido

em 1995, quando o INESC nacional

reduz a sua participação no instituto

do Porto para uma posição minori-

tária. É nessa altura que Pedro Gue-

des de Oliveira sai da Universidade

de Aveiro para se tornar presidente

do novo instituto.

É sob a sua égide que “começa a

estudar o que se podia fazer com

a indústria tradicional” do Norte,

que, na época, sob os auspícios

dos fundos europeus, estava a re-

ceber vultuosos investimentos na

modernização. José Carlos Caldei-

ra, actual presidente da Agência

de Inovação, será o motor desta

aproximação. E o calçado, onde

o INESC encontrou um espírito de

abertura maior, tornou-se o maior

foco dessa estratégia.

No prazo de uma década, a cum-

plicidade entre o INESC e o sector

criou condições não apenas para

a criação de uma nova tecnologia

para corte de peles com jactos de

água (tecnologia que é exportada

através da empresa CEI), como

levou à produção de sistemas de

gestão avançados da cadeia indus-

trial que são hoje um dos princi-

pais trunfos do sector. Empresas

como a Kyaia, que tem um contra-

to de longa duração com o INESC,

podem hoje introduzir na linha de

produção um único par de sapa-

tos diferente sem que tenham de

parar as máquinas — um ganho de

fl exibilidade enorme.

Entre a criação de programas

de gestão inteligente das redes

eléctricas ou a construção de um

submarino-robô para a exploração

do mar em grandes profundidades

(em parceria com o Instituto Su-

perior de Engenharia do Porto),

entre investigação para a EDP ou o

desenvolvimento de uma tecnolo-

gia que capta imagens em tanques

de aquacultura para determinar

o número e o estado de desenvol-

vimento dos peixes, o INESC foi

crescendo, mas sofreu os apertos

da crise entre 2010 e 2013. Ago-

ra, pensa novamente num novo

salto. Um terço das suas receitas

depende do Orçamento do Estado

(e dos fundos estruturais); outro

terço vem de programas europeus

e a parte que falta resulta de con-

tratos com empresas. O caminho

passa por aqui.

Uma das suas maiores fontes de

confi ança está na mudança que os

seus responsáveis e mentores di-

zem estar a acontecer nas empre-

sas portuguesas, que começam

a deixar de olhar com suspeição

para os “doutores” das universida-

des. “Há uns anos éramos génios

num país de ‘grunhos’. Isso desa-

pareceu”, diz, com um sorriso,

Pedro Guedes de Oliveira.

Sem deixar de ser um centro de

saber e de investigação, o INESC

Tec (agora com esta designação

porque agrega unidades das uni-

versidades do Minho e de Trás-os-

Montes) segue uma preocupação:

“Trabalhar com mais empresas”,

diz José Manuel Mendonça, que

após dez anos começa a pensar

na sua sucessão no instituto que

no seu mandato conheceu um

enorme desenvolvimento. Ou se-

ja, cumprir a sua missão. Porque

para Mendonça, que trabalhou na

indústria em vários países euro-

peus, para Guedes de Oliveira ou

para Pimenta Alves, os engenhei-

ros são gente que gosta de pôr as

máquinas a andar.

FOTOS: FERNANDO VELUDO/NFACTOS

“Os nossos investigadores não têm problemas com o desemprego”, diz Pedro Guedes de Oliveira (à direita), que presidiu ao INESC no Porto entre 1995 e 2005, ao lado de Pimenta Alves (à esquerda), que integrou a primeira direcção, e José Manuel Mendonça (ao centro), o actual presidente

lada logo nos primórdios do INESC

no Porto. Após a sua criação, foi

possível construir e equipar uma

base de investigação que na altura

estava muito à frente da que exis-

tia no mundo académico nacional.

Pimenta Alves tinha acabado de se

doutorar em Manchester (em 1982)

e, até que as empresas públicas de

telecomunicações investissem 250

mil contos no projecto, recorda-se

de “não haver computadores nas

universidades” e de sentir um clima

de “penúria total” que impedia os

recém-doutorados de prosseguir as

suas investigações. O INESC do Por-

to, que pertencia metade à univer-

sidade e metade às duas empresas

públicas CTT e TLP, foi a abertura

de uma porta para essa geração de

jovens doutorados no estrangeiro

que se acolhia sob a égide de um

guru: Manuel Ferreira de Oliveira,

que até Abril deste ano foi presi-

Page 26: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

26 | CULTURA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Ricardo Araújo Pereira participou numa sessão apoteótica com o escritor brasileiro Luis Fernando Veríssimo e, no final, foi muito solicitado para autógrafos

MUNICÍPIO DE ÓBIDOS

Folio, um festival que teve sabor brasileiro

Tocam os sinos na igreja, cheira a

pão quente, acabado de cozer em

forno de lenha. A meio da manhã

deste domingo já choveu, mas há em

Óbidos pessoas em movimento con-

tínuo, a fotografar de telemóvel na

mão, pelas ruas estreitas. Há quem

beba ginjinha em copos de choco-

late e esteja só a descobrir o castelo

e quem saiba que está a decorrer a

primeira edição do Folio — Festival

Literário Internacional de Óbidos,

embora a sinalética do festival na vila

seja inefi caz.

A Fanfarra dos Bombeiros, indi-

ferente ao repique, percorre as ruas

da vila. Na Tenda Editores, o escri-

tor David Machado dá autógrafos e,

mais à frente, na Tenda Autores, os

portugueses Valério Romão e Bru-

no Vieira Amaral conversam com

o brasileiro João Paulo Cuenca so-

bre ser-se jovem escritor. A tenda

está mais para o vazio, são 11h, na

primeira edição do Folio — Festival

Literário Internacional de Óbidos,

onde se pagam cinco euros para as-

sistir às conversas com escritores e

12 euros para entrar nos concertos

ou se compra um passe para todo o

festival que começou a 15 de Outubro

e terminou ontem.

Paixão por livrosA brasileira Ana Carolina Camargos

tem uma paixão por livros. Tinha

cinco dias de férias, não queria via-

jar para um sítio que não conhecia

para fazer um turismo tradicional,

por isso quando viu numa livraria

online portuguesa propaganda ao

Folio decidiu: “É lá que quero ir.

Óbidos é o lugar certo.” Correu tu-

do bem. “Foi mais acessível e muito

mais fácil fazer as reservas e chegar

aqui do que em Paraty”, diz Ana Ca-

rolina, 47 anos, natural de Brasília

mas a viver na Alemanha ligada à

área vinícola.

“Sempre quis ir à FLIP — Festa Li-

terária Internacional de Paraty, mas

sempre achei difi cílimo porque nun-

ca conseguia hotel, não conseguia

comprar ingressos.” Já visitou muitos

festivais — nomeadamente o Fipside

de Francisco José Viegas, para uma

dezena de pessoas (incluindo as da

editora, da organização e jornalistas

convidados).

À mesma hora, um pouco mais

abaixo, decorria no Museu Munici-

pal, gratuita, uma aula sobre o es-

critor clássico brasileiro Machado

de Assis, dada pelo professor uni-

versitário Abel Barros Baptista. Em-

bora o espaço fosse mais pequeno

do que o da Tenda Autores, estava

cheio. “Competir às 11h da manhã

com Machado de Assis e ainda por

cima grátis, é difícil!”, lamentava o

brasileiro. O que o escritor ainda não

sabia é que a sessão de lançamento

do seu livro, à hora do jantar, iria ser

cancelada por falta de público. Dias

antes também o brasileiro Francisco

Bosco vira ser cancelado, pela mes-

ma razão, o lançamento do seu livro.

Houve vários casos que revelaram

algum amadorismo e megalomania

em termos de programa.

O escritor José Eduardo Agualu-

sa, curador do Folio Autores, área

responsável pelas conversas entre

escritores na tenda principal, tem

ido a festivais em todo o mundo

nos últimos 15 anos e é peremptó-

rio: “Nunca estive numa primeira

edição de um festival que corresse

tão bem quanto este. As primeiras

edições em que estive, o que as ca-

racteriza é que normalmente têm

pouco público. As segundas edições

têm mais público mas ele não está

bem preparado. Só a partir da tercei-

ra edição é que há público e público

que realmente lê”, defende.

“O que aconteceu neste festival é

que conseguimos ter público rela-

tivamente sofi sticado para muitos

eventos, alguns deles acontecendo

ao mesmo tempo.” Faz o contrapon-

to com o Flipside, que vai na terceira

edição e onde participou como con-

vidado. “A minha mesa com o Cris-

tóvão Tezza e Juan Pablo Villalobos

A primeira edição do Festival Literário Internacional de Óbidos, apesar de alguns percalços, quadruplicou o que ganham na vila com outros eventos

FestivalIsabel Coutinho

em Inglaterra (festival literário orga-

nizado em Inglaterra pela criadora

da FLIP, Liz Calder) e vai sempre à

Feira do Livro de Frankfurt, cidade

onde vive. “Achei o Folio fantástico,

principalmente as escolhas dos es-

critores de uma diversidade enorme.

Ao mesmo tempo que você vê uma

palestra de um historiador portu-

guês, daqui a pouco é o Ruy Castro

falando.” Gostou muito da sessão de

Mia Couto, escritor e biólogo, com

o neurocientista Sidarta Ribeiro

sobre neurociência, e da de Javier

Cercas, porque já conhecia a obra

dele. “Estava pouca gente na sala, o

que é uma pena”, disse. Agradou-lhe

a ideia de poder comprar na Tenda

Editores os livros dos participantes

e fi cou maravilhada com a livraria

na Igreja Santiago.

“Gostei muito da cubana Karla Su-

arez e o livro dela esgotou, mas nas

livrarias mandaram vir para mim.”

Está pela primeira vez em Óbidos e

só lamenta estar quase a ir embora

sem ter visto Óbidos direito. “Eu ia

de uma palestra para outra.”

Daniel Santana, 74 anos, reforma-

do, vive em Itália desde 1961, onde

teve uma empresa de venda de pei-

xe, e veio ao Folio porque uma amiga

o alertou. Não podia estar em Por-

tugal, de visita, e perder uma confe-

rência com Eduardo Lourenço, “o

último dinossauro europeu”, conta.

Valeu a pena ter comprado bilhete,

deu o dinheiro por bem empregue.

Mas se a sessão que juntou o profes-

sor com a Prémio Camões Hélia Cor-

reia correu muito bem em termos

de público, e a que se seguiu de Pa-

checo Pereira e Ferreira Fernandes

sobre crónica também, a apoteose

do Folio aconteceu com 400 pessoas

(números da organização) a assisti-

rem à conversa entre Ricardo Araújo

Pereira e o escritor brasileiro Luis

Fernando Veríssimo, moderados por

Nuno Artur Silva, que partilha com

Anabela Mota Ribeiro a curadoria da

parte do Folio — a Folia — que inclui

espectáculos no festival.

Palmas, palmas e de péA sessão de stand-up poetry do hu-

morista brasileiro Gregorio Duvi-

vier foi aplaudida de pé, bem como

o concerto do Mário Laginha Trio,

com Cristina Branco a cantar Chico

Buarque num palco com o castelo

de Óbidos por trás. Outro momento

mágico foi o do concerto de Moreno

Veloso acompanhado pelos músicos

Doménico Lancelloti, Pedro Sá e To-

más Cunha Ferreira. Ao som de uma

bossa meio triste, Moreno emocio-

nado disse que se estava a sentir ali,

no palco do Folio, tal como se sentia

na sua infância, no quintal da sua

avó — Dona Canô, mãe de Caetano

Veloso e Maria Bethânia. Aplausos

de pé, palmas e mais palmas.

Mas se estes músicos levam para o

outro lado do Atlântico uma memó-

ria de uma noite mágica do Folio, o

escritor brasileiro Sérgio Rodrigues,

autor do romance O Drible, vencedor

do último Grande Prémio Portugal

Telecom de Literatura, não sentirá

o mesmo. Com uma sessão marcada

para as 11h da manhã de sexta-feira,

na Tenda Autores, viu-se a falar so-

bre “Literatura e Futebol”, ao lado

Page 27: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | CULTURA | 27

tinha 13 pessoas a assistir. A sessão

com a Fernanda Torres tinha três. O

público ou a falta dele não tem que

ver com a entrada ser paga ou não

ser paga. O que conta é a visibilidade

das pessoas”, afi rma. “A grande arte

de organizar festivais é juntar uma

pessoa muito conhecida, que traz

público, com alguém desconheci-

do e muito interessante. Tal como

aconteceu na mesa em que vieram

ver o Mia Couto e saíram encantados

com Sidarta Ribeiro. Nem sempre

é possível fazê-lo, mas isto é o ideal

em termos de projecto.”

Também um dos outros organiza-

dores do festival, José Pinho, cura-

dor do “Folio Paralelo” — programa-

ção relacionada com autores, edi-

tores e livreiros —, “manteria tudo

igual neste festival”, que foi apoiado

em 500 mil euros pelo Turismo do

Centro e pela Comissão de Coorde-

nação e Desenvolvimento Regional

do Centro. “Mudaria só as mesas de

autores marcadas para a parte da

manhã e as actividades que tivemos

de marcar para a hora do jantar, que

não resultaram”, diz.

O administrador da Ler Devagar

e impulsionador de Óbidos como

vila literária com várias livrarias

acrescentaria ainda mais activida-

des, embora as organizasse de ou-

tra maneira. “Conseguimos quadru-

plicar as vendas, se compararmos

o valor obtido neste festival com

o obtido quando há outro festival

não-literário, como o do chocolate,

a vila natal ou mercado medieval”,

afi rma José Pinho, que defende um

projecto de 11 livrarias e de cinco

festivais literários para que Óbidos

seja uma cidade do livro e o projecto

tenha sentido.

Durante a semana e contando

com o primeiro o fi m-de-semana

do Folio, José Pinho vendeu nas su-

as livrarias em Óbidos o sufi ciente

para sobreviver até ao Natal. “Este

festival não pode demorar um dia,

tem de estar integrado na susten-

tabilidade fi nanceira das livrarias.

Senão será parecido com o festival

de Paraty para pior, porque nunca

terá a dimensão da FLIP”, defen-

de. As pessoas têm de ter apetên-

cia para vir a Óbidos e permane-

cer, não fi carem as duas horas da

praxe a tirar fotografi as e partir.

No entanto, o Folio irá mudar de

datas, pois este ano coincidiu com

a Feira do Livro de Frankfurt, o fes-

tival Escritaria, em Penafi el, a Ama-

dora BD e o DocLisboa.

O PÚBLICO está em Óbidos a convite do Folio

GUILHERME MARQUES

Naeem Mohaiemen apresenta três filmes no Doc

“Onde é que uma pessoa vai bus-

car motivação para se juntar a um

movimento? Onde é que se encon-

tra essa motivação quando a pos-

sibilidade de êxito é muito fraca?

O que é que motivava as pessoas

a juntarem-se a estes movimentos

nos anos 1970?”

Foi a estas perguntas, entre ou-

tras, que Naeem Mohaiemen quis

responder quando, faz agora dez

anos, encetou o projecto a que cha-

mou The Young Man Was. Artista

multidisciplinar natural do Ban-

gladesh mas trabalhando a partir

de Nova Iorque, vencedor de uma

bolsa Guggenheim em 2014, Mo-

haiemen tem explorado a dimen-

são humana, pessoal, das utopias

revolucionárias radicais da década

de 1970; o projecto tem vindo a ga-

nhar forma ao longo de uma série

de instalações, exposições, textos

e fi lmes mostrados um pouco por

todo o mundo, incluindo passagens

pelo Kunsthalle de Basileia ou pela

Bienal de Veneza. “O meu trabalho

é mais reconhecido no contexto das

galerias,” explica Mohaiemen ao

PÚBLICO, ainda sob os efeitos do

jet-lag, num dos foyers da Cultur-

gest. “E a minha presença nos festi-

vais de cinema acontece porque eu

vou atrás deles, mas é outro mundo

com mecanismos próprios...”

É no âmbito desse “outro” mun-

do que o artista está entre nós. Os

três fi lmes já realizados no âmbito

de The Young Man Was fazem parte

da selecção do DocLisboa — os dois

primeiros, United Red Army (2012)

e Afsan’s Long Day (2014) na retros-

pectiva Terrorismo, Representação;

o terceiro, Last Man in Dhaka Cen-

tral, em estreia mundial a concurso

na selecção ofi cial. Trata-se, para

Mohaiemen, de explorar “os erros

e as esperanças utópicas que leva-

vam as pessoas a juntar-se a estes

movimentos”, criar paralelos entre

as próprias convulsões da história

do Bangladesh na década de 1970 e

os radicalismos violentos que leva-

ram à criação do Exército Vermelho

Unido japonês, das Brigadas Verme-

lhas italianas ou do grupo Baader-

Meinhof na Alemanha.

“Sentia que um projecto de esquerda está condenado à partida a falhar”

Custers, acusado de conspirar para

derrubar o regime bangladeshi; é

também o único dos fi lmes onde

há uma entrevista fi lmada de raiz

com o sujeito (rodada ainda antes

da morte de Custers, em Setembro

último, aos 66 anos).

Os três fi lmes são claramente

obra do mesmo autor, embora se-

jam formalmente diferentes entre

si. “Estou muito investido em con-

tar as histórias de maneiras dife-

rentes”, explica Mohaiemen. “Em

United Red Army tirei a imagem e

usei apenas a pista sonora, para

deixar os espectadores às escuras

e ir construindo a história aos pou-

cos. Gosto disso, porque quando as

pessoas se sentem um pouco per-

didas isso abre novas possibilida-

des de leitura do fi lme. Mas uma

vez isso feito, não quis repetir o

dispositivo. Em Afsan’s Long Day

uso uma narração em capítulos

que funciona em circuito fechado.

“Sinto que a minha geração cres-

ceu num momento em que as pos-

sibilidades do activismo se iam pro-

gressivamente reduzindo”, explica

o realizador. “Ainda nos investimos

em algumas acções, como os pro-

testos contra as duas guerras do

Golfo, a Primavera Árabe, ou o mo-

vimento Occupy Wall Street. Mas

sentia já então que a minha geração

habitava um tempo onde um pro-

jecto de esquerda, ou mesmo um

projecto utópico, está condenado

à partida a falhar. E os anos 1970

foram um dos últimos períodos em

que os jovens ainda acreditavam

num certo tipo de causas.”

The Young Man Was desenvolve-

se como um percurso por momen-

tos-chave da década; cada fi lme é

independente dos restantes, mas

ganha em ser visto conjuntamen-

te. United Red Army acompanha o

sequestro de um avião de passagei-

ros japonês pelo Exército Vermelho

Unido em 1977, e a sua escala no

Bangladesh para negociar com as

autoridades as exigências dos se-

questradores, recorrendo às gra-

vações áudio das conversas entre

o avião e o negociador militar ban-

gladeshi. Afsan’s Long Day utiliza

o diário do jornalista e historiador

bangladeshi Afsan Chowdhury e a

sua prisão em 1971 para meditar so-

bre o modo como muitos dos inter-

venientes nestes movimentos, de

ambos os lados, foram reduzidos

a caricaturas e arquétipos. Final-

mente, Last Man in Dhaka Central

relata a prisão e tortura em 1975 do

jornalista e activista holandês Peter

CinemaJorge Mourinha

DocLisboa apresenta os filmes do projecto The Young Man Was, em que Naeem Mohaiemen explora as utopias revolucionárias

E em Last Man in Dhaka Central há

duas narrativas em direcções dife-

rentes — as imagens de arquivo de

época e a entrevista que fi z com o

Peter, montada de modo a que o

fi nal esteja no princípio do fi lme e

vá andando para trás até terminar

no início da conversa.”

Há, segundo o artista, uma razão

especial para estes formatos dife-

rentes. “A estrutura formal torna-

se um modo de assinalar o modo

como olhamos hoje para este perí-

odo,” afi rma Mohaiemen. “Vivemos

num tempo em que existe uma di-

minuição das possibilidades revo-

lucionárias, utópicas, transforma-

tivas, e estamos a olhar para uma

altura em que essas possibilidades

ainda existiam. Mas já não temos a

possibilidade de habitar hoje esse

momento. Estamos sempre a olhar

para este período a partir de um

tempo mais cínico e com o conheci-

mento do modo como a história se

desenrolou. Mas, em 1973, as coisas

podiam ter acontecido de outra ma-

neira, e não me parece correcto jul-

gar estas pessoas por não saberem

o que o futuro lhes ia trazer.”

Daí que Mohaiemen crie uma his-

tória dos “vencidos” da história ou,

nas suas palavras, uma “história de

perda”: “Há uma sensação de perda

que atravessa toda a história da es-

querda global. Aqueles que morre-

ram jovens nesses tempos terríveis

fi caram parados no tempo, enquan-

to alguém como o Joschka Fischer

[veterano político alemão do parti-

do Os Verdes] se torna no exemplo

do que acontece quando um radical

vive o tempo sufi ciente para ter de

entrar na política e assumir a neces-

sidade do compromisso.”

Certo é que Naeem Mohaiemen

ainda não “fechou” The Young Man

Was, que já foi mais longe do que

originalmente pensara. “No início

achei que só iria fazer dois fi lmes

mas já estou a pesquisar a parte 4,

há mais possíveis instalações e pelo

menos mais três histórias que quero

contar. Mas até posso acabar antes

de chegar lá, se chegar a um ponto

em que sinta que o caminho já foi

sufi cientemente aberto para outros

poderem pegar no testemunho.”

As partes 1 e 2 de The Young

Man Was, United Red Army e

Afsan’s Long Day, são exibidas

conjuntamente, hoje, às 22h15,

no cinema Ideal; e quinta, 29,

às 19h30, na Culturgest. A parte

3, Last Man in Dhaka Central, é

exibida em estreia mundial ama-

nhã, às 21h45, na Culturgest; e

sexta, 30, às 22h15, no Ideal

“Sinto que a minha geração cresceu num momento em que as possibilidades do activismo se iam progressivamente reduzindo”, explica o realizador

Page 28: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

28 | CULTURA | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

ingleses, que tinham partido do

Quénia e, após três anos de pres-

são, tinham empurrado os alemães

do Tanganica, a sua África Oriental,

para a região do Niassa. Os homens

que restavam das últimas expedi-

ções nacionais arrastavam-se na ro-

tina em postos remotos, lutavam

contra a malária e a dureza do cli-

ma ou, como a coluna do alferes

Jacinto, procuravam apenas um re-

fúgio onde pudessem recuperar as

forças após semanas de ansiedade,

privação e medo.

Para eles, a guerra deixara de

existir. Sem inimigos para defron-

tar, a vitória mais desejada era a

da sobrevivência e, principalmen-

te, a de um lugar num vapor que

os levasse para casa. A profética

declaração de vergonha proferida

pelo tenente Manuel de Oliveira,

que num raro acto de solidariedade

se voluntariara para salvar a colu-

na com uns mil homens cercados

no forte de Nevala um ano antes,

ÁO desastre esquecido da Grande Guerra em Em 2014, dois jornalistas do PÚBLICO foram à procura da guerra contra os alemães em Moçambique, que permanece desconhecida. E, na sequência da série de reportagens que venceu o Prémio Gazeta, nasceu um livro, assinado por Manuel Carvalho. Esta é uma parte do primeiro capítulo

Por volta das quatro

e meia da tarde de

19 de Dezembro

de 1917, o grupo

avançado de uma

coluna de 350 ho-

mens arrastava-se

para o interior do

forte de Unango,

nos confins da

província do Niassa, no Norte de

Moçambique. Tinha começado a

sua fuga dos montes Macolos há

mais de 40 horas. Pelo caminho,

fi zera duas breves paragens em

pontos elevados para evitar um

ataque-surpresa dos alemães. Ao

longe, num cume dos Macolos on-

de tinham passado as três últimas

semanas, uma nuvem de fumo

erguia-se no ar, dando conta de

que a destruição do equipamento

que não conseguiram transportar

fora bem-sucedida. Durante a fuga

em marcha forçada, os soldados

tinham consumido as rações de

combate que sobraram, refres-

caram-se com frutos da selva que

os soldados indígenas sabiam dis-

tinguir e deliciaram-se com duas

galinhas e umas espigas de milho

furtadas numa das aldeias algures

no trajecto. Os doentes, incapazes

de acompanhar o passo, tinham

fi cado para trás. Os que resistiram

agarravam-se em paus, gemiam,

vergados pela dureza do caminho,

pelo cansaço, pelo medo e pelo

sentimento da derrota.

Quando, fi nalmente, passou

pela porta da entrada do forte de

Unango, o alferes José Teixeira Ja-

cinto, 37 anos, retirou a bandeira

de Portugal que trouxera enrolada

no corpo e içou-a no mastro no

centro do forte. Depois, os corne-

teiros deram o toque de armas e

os soldados em formatura fi zeram

uma prolongada continência. Um

tenente inglês, que chegara pouco

antes a Unango, não queria acre-

ditar no que estava a ver. Os rostos

esquálidos, a pele tisnada, “o cabe-

lo e a barba de mais de dois meses

por cortar”, a sujidade, “os fatos e o

calçado dos europeus a cair aos pe-

daços e os soldados indígenas qua-

se todos seminus, sendo os casacos

tristes farrapos em cima do dorso”,

levaram os presentes a chamar à

infeliz tropa de José Teixeira Jacinto

a “Companhia Pirata”.

A sua aparência e condição eram

uma boa imagem do que restava do

Exército português enviado a Mo-

çambique para combater os ale-

mães na Primeira Guerra Mundial.

No fi nal de 1917, era um Exército

derrotado, acossado pela fome e

pela sede, sem comando nem des-

tino. Os alemães haviam sido ex-

pulsos pelos ingleses do seu terri-

tório, a actual Tanzânia, e levaram

a Primeira Grande Guerra em Áfri-

ca para o solo do império colonial

português. No seu avanço, desba-

rataram a frágil linha de resistência

na Batalha de Negomano, em 25 de

Novembro de 1917, e acabaram de

vez com os últimos sonhos de con-

quista e de glória que a República

projectara para África. “Fui daque-

les que entraram nesta guerra com

os olhos mais cheios de belas uto-

pias e o coração largo abrasado de

fé e lusismo, esperançado de que a

minha raça, como todas as raças, se

salvaria sob a cinza deste braseiro”,

escreveria anos mais tarde António

de Cértima. Naqueles dias de De-

zembro de 1917, as “belas utopias”

estavam destroçadas. Portugal so-

frera a maior derrota militar em

África desde Alcácer Quibir.

Poucos dias depois de José Teixei-

ra Jacinto ter hasteado a bandeira

nacional no Unango, a condução

das operações militares em terri-

tório português seria entregue aos

cumprira-se: “Adeus Portugal! Já

não há portugueses.”

Um século passado, esse desastre

militar em Moçambique não passa

de um vestígio remoto na memória

da Primeira Guerra Mundial. No dia

26 de Junho de 2014, o primeiro-

ministro de Portugal, Pedro Passos

Coelho, foi ao cemitério militar de

Richebourg, no Norte da França,

“prestar a nossa homenagem colec-

tiva” aos soldados que morreram

na guerra, mas se em vez de ter es-

colhido para a cerimónia o teatro

europeu optasse pelos cemitérios

militares portugueses que persis-

tem no Norte de Moçambique,

difi cilmente teria condições para

manifestar o “respeito e sentimen-

to de enorme orgulho” que o país

supostamente “tem por todos aque-

les que se sacrifi caram ao serviço

da nação”. Porque nesses lugares

remotos não encontraria cemité-

rios com cruzes brancas, alinhadas

e conservadas, a recortar o verde

da paisagem. Descobriria sim lápi-

des a emergirem entre o lixo que

alimenta galinhas e cabras, tumbas

engolidas pelo avanço da selva, tú-

mulos profanados, campas onde

só com esforço se consegue ler o

nome dos que morreram nas praias

do Índico, na selva do planalto dos

Macondes ou nas margens do rio

Rovuma.

Dulce et decorum est Patria mo-

ri. O verso de Horácio que atesta

a beleza e a nobreza da morte ao

serviço da pátria soa assim vazio e

mentiroso na porta de entrada no

mausoléu em ruínas no cemitério

de Mocímboa da Praia, erigido pe-

lo Estado Novo para perpetuar a

memória dos soldados que morre-

ram em Moçambique entre 1914 e

1918. O mausoléu conserva ainda a

estátua imponente de uma fi gura

feminina que segura a espada com

a mão direita e ampara um escu-

do com as armas nacionais com a

Pré-publicação Os rostos esquálidos, “o cabelo e a barba de mais de dois meses”, “os fatos e o calçado a cair aos pedaços”, levaram os presentes a chamar à infeliz tropa de José Teixeira Jacinto a “Companhia Pirata”

esquerda. Mas no seu interior de-

vastado pelo tempo, pelo saque e

pelo vigor da natureza tropical, as

tumbas onde se encontram deposi-

tadas as ossadas dos soldados são a

prova de que nada, nem a paz eter-

na, fez sentido naquela guerra. As

pesadas pedras de mármore que ta-

pavam as sepulturas no interior do

mausoléu foram arrastadas depois

da independência de Moçambique

Page 29: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | CULTURA | 29

Áfricacio, e silenciosamente morrendo

pela Pátria, é desconhecida”, no-

tava, em 1924, o capitão António

J. Pires. Nada justifi ca esse desco-

nhecimento. Em África combateu-

se, de acordo com a ideologia e o

direito da era colonial, pela defesa

do território nacional. No Norte

de Moçambique, morreram mais

soldados portugueses do que nas

trincheiras da Flandres. Em África,

os soldados tombaram não tanto

pelo poder de fogo dos alemães,

mas principalmente por causa da

impreparação e falta de treino dos

soldados, da incúria com a alimen-

tação e o vestuário, da insensibili-

dade dos comandantes, da sede, do

paludismo e da disenteria.

Foi por isso uma derrota em

parte auto-infl igida, cheia de en-

sinamentos e signifi cados que não

justifi ca a omissão da História nem

o apagamento que o Estado Novo

lhe impôs. Como escreveria mais

tarde o higienista Ricardo Jorge,

foi uma guerra na qual “o inimigo

foi o próprio português, com a sua

leviandade, irrefl exão, desmazelo

e birras, a sua vara na mão, o seu

cego quero posso e mando. Velar

pela alimentação, pela saúde e pela

assistência das tropas, prevenir e

atacar os fl agelos que sobre elas in-

cidem letalmente, ouvir e respeitar

as vozes da higiene e da medicina,

não são predicados da simples ca-

serna”. Nos anos conturbados da

“renovação nacional” do Estado

Novo, falar das falhas do Exército

só fazia sentido para recriminar o

republicanismo jacobino. Era preci-

so esquecer essa nódoa na bandeira

das glórias ultramarinas. Quando

o 25 de Abril abriu uma nova pági-

na, essa guerra estava já distante

de mais para merecer curiosidade

e estudo. Afi nal, o império colonial

era coisa do passado.

(...) Em condições normais, não

seria difícil a Portugal bater-se de

igual para igual contra os alemães.

Os portugueses frequentavam as

costas do Índico há 400 anos, en-

quanto os alemães tinham chegado

à actual Tanzânia apenas em 1885.

O conhecimento acumulado pelos

portugueses da fl ora, da fauna, das

exigências sanitárias e dos hábitos

indígenas era claramente superior.

Mesmo que a ocupação se tivesse

limitado, durante séculos, às zonas

costeiras, os portugueses manti-

nham operações militares contra

indígenas sublevados em África

desde a década de 1880. Quando

a Grande Guerra defl agrou, deze-

nas de ofi ciais portugueses tinham

passado pela experiência das cam-

panhas africanas. Pedro Massano

de Amorim, Pereira d’Eça, Gomes

da Costa ou Alves Roçadas faziam

parte dessa longa estirpe de africa-

nistas que em algum momento das

suas carreiras enfrentaram o mato,

o calor, a malária e a difi culdade

em manter uma cadeia de abasteci-

mentos capaz de sustentar colunas

de tropas a longas distâncias do

seu ponto de partida. Muito pou-

co dessa experiência, porém, foi

aproveitada.

(...) Quando a primeira expe-

dição comandada pelo coronel

Pedro Francisco Massano de

Amorim, director militar das Co-

lónias, chega a Porto Amélia e de-

sembarca do Durham Castle, no

dia 1 de Novembro de 1914, é já

possível perceber a dimensão do

improviso, da negligência ou do

amadorismo. Não se tinham defi -

nido objectivos militares concre-

tos, a instrução dos soldados fora

esquecida, a criação de reservas,

bens de primeira necessidade, ne-

gligenciada. Cedo se perceberam

os custos dessas falhas — a expe-

dição foi dizimada pelas doenças

e fi cou confi nada a Porto Amélia.

Mas nada mudou na preparação

das expedições seguintes, que de-

pois de Março de 1916 tiveram de

viver em estado de guerra decla-

rada com os alemães. Numa das

sessões secretas da Câmara de

Deputados e do Senado da Repú-

blica destinadas a discutir a situ-

ação da guerra, que decorreram

entre 11 e 31 de Julho de 1917, o

líder do Partido Unionista, Brito

Camacho, daria conta da lassidão

e negligência com que essas ex-

pedições eram preparadas: “Não

é segredo para ninguém que se

têm mandado tropas para a África

como se não mandam reses para

o matadouro.”

Mais de dois mil soldados euro-

peus mortos, uma derrota copiosa

em todas as frentes, a cedência

aos ingleses do comando opera-

cional após o desastre do verão

austral de 1917: a linha de frontei-

ra traçada pelo curso do Rovuma

tornou-se “o mais fantástico ato-

leiro da história militar portugue-

sa moderna”, na opinião do histo-

riador francês René Pélissier, um

especialista no estudo do passado

das ex-colónias portuguesas em

África. No fi nal da guerra, Portu-

gal estava do lado dos vencedores

apesar de ter perdido as princi-

pais batalhas em que se envolveu.

África tornou-se, neste paradoxo,

uma memória incómoda. Quan-

do, seis anos depois do fi nal da

guerra, a República sucumbiu a

um golpe militar que criaria os es-

teios do Estado Novo, começou a

construir-se uma cortina de silên-

cio sobre esse passado traumático

e aviltante para uma nação que se

projectava à sombra da grande-

za do seu império colonial. Era

preciso esquecer essa nódoa na

bandeira das glórias ultramarinas,

até porque em breve Portugal vol-

taria ao Niassa para combater a

Frelimo.

A Guerra Que Portugal Quis Esquecer é apresentado em Lisboa, hoje, às 19h, no El Corte Inglés (piso 7).

MANUEL ROBERTO

“O soldado desconhecido de África é bem mais desconhecido que o da Flandres”, nota Marco Arrifes

e restos de fémures, de caveiras,

de cúbitos assim fi caram ao ar. Em

2014, o projecto Conservação das

Memórias da Liga dos Combatentes

exumou 24 restos mortais em Mo-

címboa da Praia e previa recuperar

um ano depois o ossário.

O historiador Marco Arrifes escre-

veu que “o soldado desconhecido

de África é bem mais desconhecido

que o da Flandres”, e não faltam

argumentos para comprovar a sua

tese. Já no tempo da guerra essa

discriminação era sentida. “Para

a França foram os políticos, os es-

critores, os literatos e os militares

conhecidos; para Moçambique fo-

ram os que apenas eram militares

ou soldados, e por isso a campa-

nha, lá longe, lutando contra todos

os inconvenientes possíveis ou ima-

ginários, combatendo-se em silên-

Page 30: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

SE OS SUPER-HERÓIS TE CORREM NAS VEIAS, CORRE ATÉ ÀS BANCAS.

VOLUME 15 MARVELS: ATRAVÉS DA OBJECTIVA KURT BUSIEK E JAY ANACLETO

5*Exce

pto

o ca

pítu

lo “

Hulk

: The

End

” do

vol

ume

14 “

Hulk

: Fut

uro

Impe

rfei

to”.

15

livro

s. P

VP u

nitá

rio:

8,9

0€. P

reço

tot

al P

ortu

gal C

onti

nent

al: 1

33,5

0€. D

ata

iníc

io: 2

3 de

Jul

ho a

29

de O

utub

ro. D

ia d

a se

man

a: Q

uint

a-fe

ira. A

aqu

isiç

ão d

o pr

odut

o im

plic

a a

com

pra

do jo

rnal

. Lim

itad

o ao

sto

ck e

xist

ente

.

I n é d i to e m p o r t u g u ê s

QUINTA, 29 OUTCOM O PÚBLICO

+8,9€

VOLUME 15 MARVELS: ATRAVÉS DA OBJECTIVA KURT BUSIEK E JAY ANACLETO

I n é d i to e m p o r t u g u êsO

I n é d i to e m p ortu g uês

Page 31: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

JÓIASOURO

PRATASANTIGAS E MODERNAS

MOEDAS•NOTAS•RELÓGIOS DE BOLSORelógios de pulso antigosRelógios de pulso antigos

ou modernos de boas marcasou modernos de boas marcas

COMPRAMOS/VENDEMOSCOMPRAMOS/VENDEMOS

Rua de S. Nicolau, 113 loja - 1100-548 LisboaTel. 21 346 99 50 - Fax 21 343 00 65 - Tm: 925 005 709

Email: [email protected] Baixa Chiado. Saída pela Rua do Crucifi xo.

www.dobrao.pt

✧✧ANTIGUIDADESANTIGUIDADES✧✧

www dobrao pt

AVALIADOR OFICIAL CREDENCIADOAVALIADOR OFICIAL CREDENCIADOPELA CASA DA MOEDA (INCM)PELA CASA DA MOEDA (INCM)

Mensagens

CONVOCATÓRIAASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

Nos termos do Artigo 47.º do Código Cooperativo, con-voco a Assembleia Geral da Cooperativa de Serviços dos Pilotos da Aviação Civil, a reunir-se em Sessão Ordinária, no dia 09 de Novembro de 2015, pelas 15.00 horas, na sede da COOPAC, sita na Rua Frei Tomé de Jesus, n.º 8, em Lisboa, com a seguinte ordem de trabalhos:Ponto Único - Apreciação e votação do Orçamento e Programa de Acção para 2016.NOTA: A Assembleia Geral terá início á hora marcada, desde que se encontrem presentes mais de metade dos cooperadores, ou uma hora depois, com qualquer núme-ro de cooperadores (Artigo 48.º).O voto pode ser efectuado por representação nos termos dos artigos 48.º e 53.º do Código CooperativoLisboa, 19 de Outubro de 2015

O PRESIDENTE DA MESA DAASSEMBLEIA GERAL

Fernando Vitorino Sousa Cristina Lopes

E-mail: [email protected]

BIA MASSAGISTAPORTUGUESA -Mamalhuda, meiga,gira, relax total,marquesa. Nível. Lx.Telm: 96 943 80 03

PARA DESVENDARO MISTÉRIO DOTANTRA...www.tantricmoments.ptTelfs: 924 425 094 213 545 249

PILAR, 40A - Prove ocalor do meu corpo c/requinte e sedução.Apt. Luxo. Cp. Peq.Telm.: 961 621 034

TÂNIA RUSSINHA -Benf. Meiga e carente.Louca por oral, completa,nas calminhas.Telm: 929 309 449

TRINTONAPORTUGUESA, LX - Peitão XXXXL bom,espanholada. Bumbumgrande. O. kente.Telm.: 968 261 717

CONVOCATÓRIA

ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA

Nos termos da alínea d), do Artigo 27.º dos Estatutos, convoco a Assembleia- Geral da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a reunir em Sessão Ordinária, em Fá-tima, no Hotel Cinquentenário, no próximo dia 14 de Novem-bro, pelas 9h45, com a seguinte

ORDEM DE TRABALHOS1 - Apreciação do orçamento e programa de ação para 2016;2 - Apreciação do relatório emitido pelo Conselho Fiscal sobre

o programa de ação e orçamento para 2016;3 - Votação do orçamento e programa de ação para 2016.

Se à hora atrás referida não estiver a maioria das associadas, a Assembleia-Geral terá início quinze minutos depois, pelas 10h00 (dez horas), em segunda convocatória, com qualquer número de presenças, conforme o ponto 2, do Artigo 31.º.

A Presidente da Mesa da Assembleia-GeralProf.ª Doutora Manuela Mendonça

Porto, 26 de Outubro de 2015

Rua da Reboleira, 47 | 4050-492 PORTO 226 068 614 | 226 065 932 226 001 774

E-mail: [email protected] | www.cnis.pt

ANA JOVEMMASSGTA - Dipl.,bonita, simpática,elegante. Terap.Orientais & Sensuais.Telm.: 912 788 312

CENTRO10 MASSAGISTAS -Prof. e sensuais.Av. Berna, C. Peq.www.relax-corpo.comTelm.: 964 842 005

ANNE THERAPY -Consultório de massa-gens de relaxamento."The fire of thepleasure"a 4 mãos.Tel.:918 047 446

Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE

RECRUTAMENTO / RETIFICAÇÃO

O Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro, E.P.E., no anúncio publicado em 21/10/2015, por lapso publicitou Ref. E - Técnico de Diagnóstico e Terapêu-tica - Análises Clínicas e Saúde Pública (2), indicando que estaria em recrutamento dois lugares neste Grupo Profi ssional.Deste modo, vem agora retifi car para Ref. E - Técnico de Diagnóstico e Terapêutica - Análises Clínicas e Saú-de Pública (1), na medida em que, este recrutamento apenas visa a contratação de um profi ssional.

O Presidente do Conselho de AdministraçãoDr. Carlos Cadavez

PROPOSTA EM CARTA FECHADA

Processo n.º 428/13.6TBCLD - Comarca de LeiriaAlcobaça - Instância Central - 2.ª Seção de Comércio - J1

Insolvência de: Miguel Rodrigues & Isidro Silva, Lda.

Abertura de Propostas09 de Novembro de 2015 - 10h30(Local: Escritório Dr. Ricardo Passagem)

Bens Imóveis:Lote N.º 1: Prédio Urbano, na proporção de 12/21, da fração A correspondente a cave ampla sob dois blocos destinada a parqueamento

automóvel com 21 espaços, demarcados de 1 a 21. Têm acesso direto à Rua 15 de Agosto, através de rampa e com duas escadas interiores que fazem a ligação aos blocos respetivos, descrito sob o n.º 243/19870521-A, inscrita na matriz predial sob o Art.º 2247-A da União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo n.º 6395-A, da extinta freguesia de Nossa Senhora do Populo - Caldas da Rainha, e do artigo n.º 1569-A, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha. Valor-Base: 14.125,00 €urosLote N.º 2: Fração Autónoma, identifi cada pela letra “D” composta de Divisão na Cave, descrito na Conservatória sob o n.º 577/19891219-D,

inscrita na matriz predial sob o Art.º 1738-D nas Caldas da Rainha, Santo Onofre. Valor-Base: 590,00 €uros.Lote N.º 3: Fração Autónoma, identifi cada pela letra “M”, composta de Divisão na Cave descrito na Conservatória sob o n.º 577/19891219-M,

inscrita na matriz predial sob o Art.º 1738 - M, nas Caldas da Rainha - Santo Onofre. Valor-Base: 590,00 €uros.Lote N.º 4: 4/22 da fração A correspondente a espaço amplo na cave destinado a estacionamento de 22 automóveis descrito na Conservatória

sob o n.º 764/199111007-A, inscrita na matriz predial sob o Art.º 2076 -A, União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo 1380-A, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha. Valor-Base: 4.710,00 €uros.Lote N.º 5: Prédio em Construção em Regime de Propriedade Horizontal, composto de cave, rés do chão, 1.º, 2.º, 3.º e 4.º Andares, composto

pelas frações autónomas A, B, C, D, E, F, G, H, I, descrito na Conservatória sob o n.º 1254/19950831-A; B; C; D; E; F; G; H, I, inscrito na matriz sob o n.º 113 da União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo 59, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha.

Edifício habitacional situado em Caldas da Rainha, composto por cave, rés do chão, 1.º, 2.º, 3.º e 4.º andar.Características e áreas de construção:

- Cave tem uma área bruta de construção de 402.04 m2 e é composta por uma garagem fechada e oito lugares de estacionamento, sendo a área útil de 363,90 m2.- Rés do chão com uma área bruta de construção de 285,88m2 e é composto por um apartamento tipo T3 com uma área útil de 187,90m2, com um logradouro de 94,5m2.- Primeiro piso com área bruta de construção de 290,32m2, composto por um apartamento tipo T2 com área útil de 108,10m2 e um apartamento tipo T3 com área útil de 120,25m2.

- Segundo piso com área bruta de construção de 290,32m2, composto por um apartamento tipo T2 com área útil de 108,10m2 e um apartamento tipo T3 com área útil de 120,25m2.- Terceiro piso com área bruta de construção de 290,32m2, composto por um apartamento tipo T2 com área útil de 108,10m2 e um apartamento tipo T3 com área útil de 120,25m2. - Quarto piso com área bruta de construção de 290,32m2, composto por um apartamento tipo T2 com área útil de 108,10m2 e um apartamento tipo T3 com área útil de 120,25m

Todos os apartamentos têm varandas nas duas frentes.Alguns pormenores dos acabamentos- Alguns apartamentos têm madeiras aplicadas. - Mosaico colocado em algumas cozinhas. Valor-Base: 352.125,00€

Lote N.º 6 Prédio urbano, Fração C, correspondente ao estacionamento na cave n.º 6 do prédio em regime de propriedade horizontal, situado

em Rua José Fuller, n.ºs 20 e 20-A descrito na Conservatória sob o n.º 1980/20020809-C e inscrita na matriz predial sob o art.º 2897 - C, União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo 2324-C, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha. Valor-Base: 1.185,00 €uros.Lote N.º 7: Prédio urbano, Fração D, correspondente ao estacionamento na cave n.º 8 do prédio em regime de propriedade horizontal, situado

em Rua José Fuller, nºs. 20 e 20-A descrito na Conservatória sob o n.º 1980/20020809-D e inscrita na matriz predial sob o art.º 2897 - D, União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo 2324-D, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha. Valor-Base: 1.185,00 €uros.Lote N.º 8 Prédio Urbano, Fração E, correspondente ao estacionamento na cave n.º 10 do prédio em regime de propriedade horizontal, situado

em Rua José Fuller, n.ºs 20 e 20-A descrito na Conservatória sob o n.º 1980/20020809-E, e inscrita na matriz predial sob o art.º 2897 - E, União de freguesias de Caldas de Rainha - Santo Onofre e Serra do Bouro, que proveio do artigo 2324-E, da extinta freguesia de Santo Onofre - Caldas da Rainha. Valor-Base: 1.185,00 €uros.Bens Móveis:Lote N.º 9 3 Secretárias com gavetas, 2 secretárias de apoio, 3 Sofás individuais em ferro de tecido alaranjado, 1 Cadeira de rodízios preta, 1

Cadeira de rodízios vermelha, 1 Cadeira em armação de ferro, 1 Mesa de apoio com tampo em vidro, 1 Máq. Escrever de Marca Regis (Avariada) e 1 Armário de 2 portas com 3 prateleiras. Valor-Base: 590,00€Visitas: Estão sujeitas a marcação, e realizar-se-ão nos dias 30 e 31 de Outubro de 2015 e dia 02 de Novembro de 2015 - Mar-cações através do Telm.: 917 585 693Local da Abertura de Propostas: Escritório do Administrador de Insolvência, sito na Rua Dr. Luís Torres, Edif. Galerias do Marquês, N.º 23, Bloco C, 2.º Andar, Sala B, 3100-464 PombalAdministrador de Insolvência: Dr. Ricardo Joel Passagem Rodrigues

Regulamento e Condições Gerais para VendaVenda de Bens Imóveis através de Proposta por Carta Fechada

1 - Todos os interessados podem participar na venda, desde que cumpram com as regras do regulamento e condições gerais para venda.2 - Os Bens pertencentes à Massa Insolvente serão vendidos Lote a Lote.3 - Os Bens da presente venda são vendidos conforme o estado físico e jurídico em que se encontram, sem qualquer tipo de garantia de eventuais vícios que existam ou venham a surgir, sendo da responsabilidade do proponente, além desses, os encargos da com-pra, remoção, limpeza e obrigações fi scais.4 - A venda dos Bens será efetuada nos seguintes termos e condições:a) A venda de cada Lote será efetuada pelo mínimo do Valor-Base, ou seja 85% do Valor-Base ou acima deste;b) As propostas terão de ser rececionadas no escritório do Administrador de Insolvência, através de carta fechada, dentro de um envelope, até às 18h do dia 06 de Novembro de 2015;c) Na carta fechada onde contém a Proposta, deve constar a indicação no exterior, de que a mesma se refere a “Proposta para aquisição da Verba n.º xx” pertencente à “Massa Insolvente de Miguel Rodrigues & Isidro Silva Lda.”;Na Proposta deve constar:- O n.º do Processo de Insolvência, o nome, morada e contribuinte do Proponente;- O valor da proposta para cada Lote, não podendo ser inferior a 85% do Valor-Base do respetivo Lote;d) As propostas deverão ser remetidas ao cuidado do Administrador de Insolvência, Ricardo Joel Passagem Rodrigues, para o seu escritório sito em, Rua Dr. Luís Torres, Edif. Galerias do Marquês, N.º 23, Bloco C, 2.º Andar, Sala B, 3100-464 Pombal;e) A abertura das propostas será efetuada no dia 09 de Novembro de 2015, pelas 10h30, no escritório do Sr Administrador de Insolvência, Dr. Ricardo Passagem;5 - O proponente deverá remeter cheque visado ou bancário de montante igual a 5%, ref. a caução, do valor total dos Lotes que se propõe a adquirir, à ordem da “Massa Insolvente de Miguel Rodrigues & Isidro Silva Lda.”6 - As propostas não serão aceites caso o valor da oferta seja inferior a 85% do Valor-Base das Verbas, caso não remetam cheque visado ou bancário descrito no ponto 5 e caso sejam rececionadas com data posterior à indicada na alínea b) do ponto 4.7 - O adquirente terá ainda que pagar sobre o valor de venda dos Lotes, uma comissão de 5%, acrescida de IVA à taxa normal, sobre o valor dos bens imóveis e comissão de 10%, acrescida de IVA à taxa normal, sobre o valor dos Bens Móveis, através de cheque com boa cobrança, emitido a favor de “Lusoleilões, Leilões e Avaliações, Lda.”, sendo que só após esse bom pagamento é que se passará o título de transmissão/Auto de Adjudicação dos respetivos Bens Imóveis e Móveis.8 - Qualquer situação de incumprimento imputável ao(s) Proponente(s), determinará a perda dos montantes já pagos seja a que título for.9 - Todos os que participarem na presente venda, desde já aceitam as condições gerais do presente regulamento.

A Encarregada da Venda, Leiloeira Lusoleilões, Lda.

Agente de Execução, Alexandra Gomes CPN 4009, com endereço profi ssional em Rua Dom Sancho I, n.º 17 A/B , 2800-712 Almada.Nos termos do disposto no artigo 817.º do Código de Processo Civil, anuncia-se a venda dos bens adiante designados:Bens em VendaTIPO DE BEM: ImóvelVERBA 1 - ARTIGO MATRICIAL: 6272 da Fre-guesia de Sesimbra (Castelo) – Serviço de Finanças de Sesimbra.DESCRIÇÃO: Prédio Urbano sito em Alto das Vinhas, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 6272 da Freguesia de Sesimbra e descri-to na Conservatória dos Registos Civl, Predial, Comercial e Automóveis de Sesimbra sob o n.º 11305 da Freguesia de Sesimbra (Castelo), correspondendo ao R/c, arrecadação, terra-ço, garagem, piscina e sotão para arrumos e 2 anexos um com arrecadação e alpendre e outro com 2 assoalhadas. PENHORADO EM: 19/12/2013INTERVENIENTES ASSOCIADOS AO BEM:EXECUTADOS: João Fonseca de Almeida, com NIF: 121.185.060 e BI: 568896 e Maria He-lena da Conceição Urbano de Almeida, com o NIF: 121.185.079, casados entre si sob o regi-me de comunhão geral com residência na Av.ª

Elias Garcia, n.º 20, 3.º Esq.º Em Lisboa.MODALIDADE DA VENDA: Venda mediante propostas em carta fechada, a serem entre-gues na Secretaria do supra-mencionado Tri-bunal, pelos interessados na compra, fi cando como data para abertura das propostas o dia 09 de Novembro de 2015, pelas 10:45 Horas.VALOR-BASE DA VENDA: Verba 1 - 278.580,00 euros, sendo que serão aceites propostas iguais ou superiores a 236.793,00 euros, correspondente a 85% do valor de base atribuído, nos termos do art.º 816.º, n.º 2 do C.P.C.Será aceite a proposta de melhor preço, acima dos valores acima identifi cados, correspon-dente a 85% do valor-base de cada verba.A sentença que se executa está pendente de recurso ordinário: NãoEstá pendente oposição à execução: NãoEstá pendente oposição à penhora: NãoEstá pendente de sentença de reclamação de créditos: Não

A Agente de Execução Alexandra Gomes

Rua Dom Sancho I, n.º 17 A/B , 2800-712 AlmadaE-mail: [email protected]

Telf.: 212 743 259 - Fax: 217 743 259

Público, 26/10/2015 - 2.ª Pub.

COMARCA DE SETÚBAL Setúbal - Inst. Central - Secção de Execução - J1

EDITAL DE VENDA

Processo 174/13.0TBSSB - Execução ComumRef. Interna: PE/67/2013

Exequente: Administração Conjunta da Augi 54– Alto das Vinhas

Executados: João Fonseca de Almeida e outra.ALEXANDRA GOMES

Agente de ExecuçãoCPN 4009

Agente de Execução, Alexandra Gomes CPN 4009, com endereço profi ssional em Rua Dom Sancho I, n.º 17 A/B , 2800-712 Almada.Nos termos do disposto no artigo 817.º do Có-digo de Processo Civil, anuncia-se a venda dos bens adiante designados:Bens em VendaTIPO DE BEM: ImóvelVERBA 1 - ARTIGO MATRICIAL: 4834 da União de Freguesias de Moncarapacho e Fuseta - Serviço de Finanças de Olhão - 1104DESCRIÇÃO: Prédio urbano, sito em Murtais, Moncarapacho, Freguesia de Moncarapacho, em Olhão, Faro, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 4834 da União de Freguesias de Monca-rapacho e Fuseta e descrito na Conservatória do Registo Predial de Olhão sob o número 841 da freguesia de Moncarapacho, correspondendo a um prédio em propriedade total sem andares nem divisões susceptíveis de utilização indepen-dente, constituído por dois pisos, constituindo um só fogo destinado à habitação composto de rés-do-chão com duas divisões assoalhadas, cozinha, vestiário, hall, arrumo, pátio, piscina, sauna, casa de máquinas, garagem, casa de banho, logradouro, e primeiro andar com três divisões assoalhadas, casa de banho e dois terra-ços. Área total: 650m2, área coberta: 261m2, área descoberta: 389m2.PENHORADO EM: 22/10/2012INTERVENIENTES ASSOCIADOS AO BEM:EXECUTADOS: Célia Maria Silva Reis Brito Xavier, viúva, NIF: 130258644, BI: 1114671, Miguel Ânge-

lo Reis Brito Xavier, divorciado, NIF: 205605400, BI: 10082166, Pedro Manuel Reis Brito Xavier, solteiro, NIF: 205605397, BI: 10495731, Luís Filipe Reis Brito Xavier, solteiro, NIF: 205605419, BI: 11068123, todos residentes em Rua Manuel Vas-concelos, n.º 120 - 3.º Esq.º, Carcavelos.MODALIDADE DA VENDA: Venda mediante pro-postas em carta fechada, a serem entregues na Secretaria do supra-mencionado Tribunal, pelos interessados na compra, fi cando como data para abertura das propostas o dia 06 de Novembro de 2015, pelas 10.00 Horas.VALOR-BASE DA VENDA: 250.000,00 euros, sendo que serão aceites propostas iguais ou superiores a 212.500,00 euros, que corresponde a 85% do valor-base, por força de aplicação do disposto no artigo 6.º n.º 1 e artigo 816.º n.º 2 ambos do C.P. Civil.Será aceite a proposta de melhor preço, acima dos valores acima identifi cados, correspondente a 85% do valor-base de cada verba.A sentença que se executa está pendente de re-curso ordinário: NãoEstá pendente oposição à execução: NãoEstá pendente oposição à penhora: NãoEstá pendente de sentença de reclamação de créditos: Não

A Agente de Execução - Alexandra GomesRua Dom Sancho I, n.º 17 A/B , 2800-712 Almada

E-mail: [email protected].: 210 833 058 - Fax: 212 743 259

Público, 26/10/2015 - 2.ª Pub.

COMARCA DE FAROLoulé - Inst. Central - 1.ª Secção de Execução - J1

EDITAL DE VENDA

Processo 35/12.0TBOLH - Execução ComumRef. Interna: PE/42/2012

Exequente: Parvalorem, SAExecutado(s): Continental Relógios - Fábrica de

Relojoaria, Lda. e outros

ALEXANDRA GOMESAgente de Execução

CPN 4009

31EG 26 OUT 2015 CLASSIFICADOS

Edif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte,1350-352 [email protected]

Tel. 21 011 10 10/20 Fax 21 011 10 30De seg a sex das 09H às 19HSábado 11H às 17H

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

31EG 26 OUT 2015 CLASSIFICADOS

Page 32: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

32 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

SAIR

CINEMALisboa@CinemaAv. Fontes Pereira de Melo - Edifício Saldanha Residence. T. 210995752Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 16h15, 18h40, 21h30; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 14h (V.Port.) Cinema City AlvaladeAv. de Roma, nº 100. T. 218413040Homem Irracional M12. 11h25, 13h25, 15h20, 17h15, 20h; As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado M12. 17h30; A Hora do Lobo M12. 13h30, 16h, 18h30, 21h20; Um Momento de Perdição 13h20, 15h25, 21h55; Perdido em Marte M12. 21h35; Praia do Futuro M12. 19h45; O Prodígio M12. 13h, 15h15, 17h30, 21h50; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h25 (V.Port.); As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado M12. 19h10; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h20 (V.Port.) Cinema IdealRua do Loreto, 15/17. T. 210998295Johnny Guitar M12. 16h; Doclisboa 2015 18h, 22h15; As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto M12. 13h45; As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado M12. 20h CinemaCity Campo PequenoCentro de Lazer do Campo Pequeno.T. 217981420Divertida-mente 11h40 (V.Port.); Mínimos M6. 11h10 (V.Port.); Upsss! Lá Se Foi a Arca... M6. 11h35 (V.Port.); Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h25, 3h25, 15h25, 17h25 (V.Port.); Black Mass - Jogo Sujo M16. 15h30, 17h50, 21h45, 00h20; Sicario - Infiltrado M12. 13h10, 19h40, 22h, 00h30; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h40, 16h10, 18h50, 21h20, 23h50; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h20, 13h35, 15h10, 17h30 (V.Port.), 19h25, 00h15 (V.Orig.); Um Momento de Perdição 13h10, 20h10, 22h10; Perdido em Marte M12. 15h45, 21h25, 00h15 (2D), 18h35 (3D); A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h20, 15h35, 17h30 (V.Port.); Evereste M12. 13h15, 21h50; À Procura de Uma Estrela M12. 13h50, 15h50, 17h50, 19h50, 21h55, 00h05; The Walk - O Desafio M12. 19h30, 00h10 Cinemas Nos Alvaláxia Estádio José Alvalade, Campo Grande.T. 16996O Estagiário M12. 12h50, 15h30, 18h20, 21h10; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h15, 16h, 18h45, 21h30; Evereste M12. 13h20, 16h05, 18h45, 21h25; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h10, 15h50, 18h30, 21h20; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 13h30, 16h20 (V.Port./2D), 18h55 (V.Port./3D), 21h40 (V.Orig./2D); Sicario - Infiltrado M12. 13h10, 15h55, 18h35, 21h15; Perdido em Marte M12. 13h40, 16h50, 21h; À Procura de Uma Estrela M12. 13h35, 16h30, 19h10, 21h45; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h, 13h25, 15h40, 18h (V.Port.); The Walk - O Desafio M12. 20h50; Sem Compromissos M16. 13h50, 16h40, 19h, 21h50; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h15, 13h45, 16h10 (V.Port.); A Visita M16. 18h25, 22h; Maze Runner: Provas de Fogo 14h, 17h, 21h35 Cinemas Nos AmoreirasAv. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996À Procura de Uma Estrela M12. 13h, 15h40, 18h20, 21h20, 24h; Sicario - Infiltrado M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h40, 00h20; O

Estagiário M12. 12h40, 15h20, 18h, 21h, 23h40; Um Momento de Perdição 16h30, 19h, 21h50; Adama M12. 13h50; Homem Irracional M12. Sala VIP3 ? 18h30; A Hora do Lobo M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 00h15; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h50, 12h50, 15h30, 18h10 (V.Port.), 20h50, 23h50 (V.Orig.); O Prodígio M12. 13h10, 15h50, 21h10, 24h Cinemas Nos ColomboAv. Lusíada. T. 16996A Hora do Lobo M12. 12h50, 15h25, 18h10, 21h15, 00h05; O Prodígio M12. 13h, 15h35, 18h20, 21h10, 23h55; Perdido em Marte M12. 12h40, 15h45, 21h25, 00h30; Um Momento de Perdição 18h50; Sicario - Infiltrado M12. 12h55, 15h40, 18h25, 21h30, 00h15; O Estagiário M12. 21h, 23h45; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h25, 16h10, 21h35, 00h20; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. Sala IMAX ? 13h15, 16h, 18h45 21h40, 00h25; Sem Compromissos M16. 18h55; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h50, 13h20, 15h55, 18h30 (V.Port.); À Procura de Uma Estrela M12. 13h10, 15h50, 18h35, 21h20, 24h Cinemas Nos Vasco da GamaParque das Nações. T. 16996Sicario - Infiltrado M12. 12h50, 15h20, 18h10, 21h, 23h50; O Estagiário M12. 21h20, 00h10; Perdido em Marte M12. 12h40, 15h30, 18h30, 21h30, 00h40; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h, 13h30, 16h10, 18h50 (V.Port.); À Procura de Uma Estrela M12. 13h, 15h40, 18h20, 21h10, 24h; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h10, 15h50, 19h, 21h50, 00h30; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h40, 00h20 Medeia MonumentalAv. Praia da Vitória, 72. T. 213142223Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 12h40, 14h55, 17h10, 19h25, 21h40; Hiroshima, Meu Amor M12. 13h; A Uma Hora Incerta + Coro dos Amantes 15h, 17h, 19h, 21h30; Sicario - Infiltrado M12. 12h10, 14h30, 16h50, 21h50; Perdido em Marte M12. 19h10; Johnny Guitar M12. 17h35; João Bénard da Costa: Outros Amarão as Coisas Que Eu Amei M12. 16h05; Homem Irracional M12. 12h15, 14h10; Black Mass - Jogo Sujo M16. 19h40, 22h NimasAv. 5 Outubro, 42B. T. 213574362As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto M12. 16h30; As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado M12. 19h; As Mil e Uma Noites: Volume 3, O Encantado M12. 14h, 21h30 UCI Cinemas - El Corte InglésAv. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 707232221A Família Bélier M12. 18h50; A Uma Hora Incerta + Coro dos Amantes 11h30, 14h05; Sem Compromissos M16. 16h35, 21h35, 23h55; ‘71 M12. 19h15; Por Aqui e Por Ali M12. 11h30, 14h20, 16h50, 21h35, 24h; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h30, 14h, 16h40 (V.Port.), 19h15, 21h45 (V.Orig.), 00h15 (V.Orig./3D); As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto M12. 13h50; As Mil e Uma Noites: Volume 2, O Desolado M12. 16h25; Evereste M12. 21h45; The Walk - O Desafio M12. 19h15; Perdido em Marte M12. 11h30, 15h, 21h20 (3D), 18h, 00h20 (2D); O Estagiário M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h50, 00h30; Um Momento de Perdição 11h30, 14h10, 16h50, 19h20, 21h40, 24h; Homem Irracional M12. 11h30, 14h10, 16h40, 18h55, 21h30; As Mil e Uma Noites: Volume 3, O Encantado M12. 23h45; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h50, 16h35, 19h10, 21h50, 00h25; A Hora do

Lobo M12. 13h45, 16h20, 18h55, 21h30, 00h05; O Prodígio M12. 11h30, 13h55, 16h25, 19h, 21h35, 00h10; À Procura de Uma Estrela M12. 13h40, 16h20, 19h, 21h40, 00h15; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h45, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; Sicario - Infiltrado M12. 13h40, 16h25, 19h15, 21h50, 00h30

Almada Cinemas Nos Almada FórumEstr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de Mourelos. T. 16996Perdido em Marte M12. 13h25, 17h, 20h55, 24h; À Procura de Uma Estrela M12. 12h55, 15h30, 18h10, 21h05, 00h15; Sicario - Infiltrado M12. 13h, 15h45, 18h30, 21h20, 00h10; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 12h50, 15h35, 18h20, 21h40, 00h25; O Estagiário M12. 13h10, 16h, 18h45, 21h30, 00h15; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h, 13h25, 16h, 18h10 (V.Port.); Evereste M12. 12h45, 15h30, 18h15, 21h05, 23h55; The Walk - O Desafio M12. 21h, 23h50; Black Mass - Jogo Sujo M16. 12h40, 15h25, 18h15, 21h05, 23h55; Sem Compromissos M16. 13h05, 15h35, 21h, 23h30; Um Momento de Perdição 18h15; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h, 13h15, 15h40, 17h55 (V.Port.); Por Aqui e Por Ali M12. 21h45, 00h15; A Hora do Lobo M12. 12h55, 15h45, 18h30, 21h20, 00h10; Maze Runner: Provas de Fogo 12h45, 15h40, 21h05, 00h10; A Uma Hora Incerta + Coro dos Amantes 18h45; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h, 13h40, 16h20, 19h (V.Port.), 21h40, 00h20 (V.Orig.); O Prodígio M12. 13h, 15h50, 18h35, 21h15, 24h

Amadora CinemaCity Alegro AlfragideC.C. Alegro Alfragide. T. 214221030Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h30, 16h, 18h30, 21h20, 23h50; À Procura de Uma Estrela M12. 11h35, 3h35, 15h40, 17h50, 19h50, 21h50 24h; Mínimos M6. 11h20, 15h55 (V.Port.); O Estagiário M12. 13h50, 16h20, 19h10, 21h40, 00h10; Evereste M12. 13h20, 18h50, 23h55; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h40, 19h, 21h35, 00h10; The Walk - O Desafio M12. 19h20, 21h25; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h30, 13h30, 15h20, 17h20 (V.Port.); Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h20, 13h40, 15h15, 17h35 (V.Port.), 13h05, 16h10, 19h45, 21h55, 00h15 (V.Orig.); A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h15, 17h40 (V.Port.); Maze Runner: Provas de Fogo 21h45, 00h25; O Prodígio M12. 13h10, 15h25, 19h35, 21h55, 00h20; Perdido em Marte M12. 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; Divertida-mente 11h40 (V.Port.); Mínimos M6. 11h20 (V.Port.); Sininho e a Lenda do Monstro da Terra do Nunca M6. 11h25, 17h50 (V.Port.); Upsss! Lá Se Foi a Arca... M6. 11h10 (V.Port.); Sicario - Infiltrado M12. 13h10, 15h30, 19h40, 22h, 00h30 UCI Dolce Vita TejoC.C. da Amadora, Estrada Nacional 249/1, Venteira. T. 707232221Missão Impossível: Nação Secreta M12. 19h05; Maze Runner: Provas de Fogo 13h35, 16h20, 21h45; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h30, 14h, 16h35, 19h (V.Port./2D), 21h35 (V.Orig./2D), 00h05 (V.Orig./3D); Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 14h05, 16h35, 19h10, 21h55; O Pátio das Cantigas M12. 18h45; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h30, 13h50, 16h10 (V.Port.); Evereste M12. 21h25; ‘71 M12.

A Hora do LoboDe Jean-Jacques Annaud. Com Shaofeng Feng, Shawn Dou, Ankhnyam Ragchaa. FRA/China. 2015. 121m. Aventura. M12. Ano de 1967. Chen Zhen é um

jovem estudante de Pequim

(China) que é enviado para uma

zona rural da Mongólia para

educar uma tribo de pastores

nómadas. Ali vai descobrir uma

ligação antiga entre os pastores,

o seu gado e os lobos selvagens

que vagueiam pelas estepes.

Para os mongóis, o lobo é uma

criatura quase mítica que é parte

integrante da sua comunidade

e os liga à natureza. Quando o

Governo cria uma nova lei que

obriga a população a eliminar

os lobos da região, o equilíbrio

entre todos é ameaçado...

À Procura de Uma EstrelaDe John Wells. Com Bradley Cooper, Sienna Miller, Omar Sy. EUA. 2015. 100m. Comédia Dramática. M12. O “chef“ Adam Jones

conheceu a fama, a fortuna e o

reconhecimento internacional.

Mas a sua carreira colapsou

quando, por fraqueza e excesso

de vaidade, se deixou levar pelo

consumo de drogas. Agora,

para refazer a sua vida pessoal

e profi ssional, decide começar

do zero em Londres (Inglaterra),

na esperança de abrir um

restaurante que arrebate os

clientes e o faça ser merecedor

de mais uma estrela Michelin.

Mas, para que isso se torne

realidade, precisa de uma equipa

de sonho...

AdamaDe Simon Rouby. Com Pascal N’Zonzi (Voz), Oxmo Puccino (Voz), Azize Diabaté (Voz). FRA. 2015. 95m. Drama, Animação. M12. Adama, de 12 anos, vive

numa aldeia remota na África

Ocidental. Quando o seu irmão

mais velho desaparece sem

deixar rasto, ele decide partir

em sua busca. Movido pelo

amor, enceta assim uma corajosa

viagem de iniciação à idade

adulta, enquanto percorre um

longo caminho que o levará até

Verdun (França), cenário da

batalha mais longa - e uma das

mais devastadoras - da I Guerra

Mundial.

Crimson Peak: A Colina VermelhaDe Guillermo del Toro. Com Charlie Hunnam, Jessica Chastain, Tom Hiddleston. EUA. 2015. 119m. Drama, Terror, Fantasia. M12.

Inglaterra, séc. XIX. A jovem

Edith Cushing apaixona-se por

Sir Thomas Sharpe, um homem

misterioso que, tal como ela,

se interessa pelo sobrenatural.

Apesar dos avisos de alguns

amigos próximos, que temem

aquela união, Edith e Thomas

casam-se. Ela muda-se para a

casa de família do marido, uma

mansão em ruínas numa região

montanhosa no Norte do país.

E depressa descobre que a sua

nova família guarda segredos

aterradores...

O ProdígioDe Edward Zwick. Com Tobey Maguire, Liev Schreiber, Peter Sarsgaard. EUA. 2014. 114m. Drama, Biografia. M12. Bobby Fischer nasceu em

Chicago (EUA) a 9 de Março

de 1943 e atraiu a atenção do

público norte-americano para

o xadrez quando, com apenas

15 anos de idade, se tornou

o mais jovem Grande Mestre

internacional da história da

modalidade. Considerado

um dos melhores jogadores

de sempre, Fischer ganhou

fama mundial quando, em

1972, derrotou o russo Boris

Spassky, na altura campeão

mundial, num confronto

memorável em Reiquejavique

(Islândia), em plena Guerra

Fria. Com realização de

Edward Zwick, esta é a sua

história.

Em [email protected]@publico.pt

Page 33: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 33

A temporada lírica do Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, programada pelo britânico Patrick Dickie, abre com uma das maiores obras do repertório italiano: Madama Butterfly, de Giacomo Puccini. Tim Albery, compatriota de Dickie, assina a encenação da ópera que conta a comovente e trágica história de Cio-Cio-san, uma bela e jovem gueixa que arrisca

tudo, até a própria vida, por amor a um oficial norte--americano. O papel principal está entregue à soprano sul-coreana Hye-Youn Lee, numa produção que conta com o Coro do São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa. A ópera está em cena até 1 de Novembro, com récitas hoje e quarta, às 20h; e domingo, às 16h. O preço dos bilhetes varia entre 10€ e 50€.

Tragédia de amorDANIEL ROCHA

A s AS ESTRELAS DO PÚBLICO

JorgeMourinha

Luís M. Oliveira

Vasco Câmara

a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

A Hora do Lobo mmmmm – –Johnny Guitar mmmmm mmmmm mmmmm

Crimson Peak mmmmm – –Praia do Futuro mmmmm – mmmmm

Perdido em Marte mmmmm – mmmmm

O Prodígio mmmmm mmmmm –Sicario- Infiltrado mmmmm mmmmm –‘71 mmmmm mmmmm –A Uma Hora Incerta A – –The Walk-O Desafio mmmmm mmmmm mmmmm

18h55; Sem Compromissos M16. 13h55, 16h15, 21h30; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h30, 14h, 16h20 (V.Port.); Sicario - Infiltrado M12. 13h50, 16h25, 19h10, 21h45; The Walk - O Desafio M12. 18h30, 21h25 (2D); O Estagiário M12. 13h45, 16h30, 19h05, 21h45; Perdido em Marte M12. 14h15, 21h15 (2D), 17h35 (3D); À Procura de Uma Estrela M12. 13h55, 16h30, 19h, 21h40; Black Mass - Jogo Sujo M16. 14h05, 16h40, 19h15, 21h55

Cascais Cinemas Nos CascaiShoppingCascaiShopping-EN 9, Alcabideche. T. 16996Sicario - Infiltrado M12. 13h, 15h40, 20h50, 23h30; Sem Compromissos M16. 18h30; Perdido em Marte M12. 12h25, 15h25, 18h25, 21h20, 00h20; A Hora do Lobo M12. 12h50, 15h30, 18h10, 21h10, 23h50; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h, 13h (V.Port.); O Estagiário M12. 15h05, 17h50, 21h15, 23h55; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 12h30, 15h20, 18h, 21h, 24h; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h50, 13h20, 15h50, 18h20 (V.Port.), 21h05, 23h40 (V.Orig.); À Procura de Uma Estrela M12. 12h40, 15h10, 17h40, 21h30, 00h10 O Cinema da Villa - CascaisAvenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla Shopping Center). T. 215887311Sicario - Infiltrado M12. 14h, 16h20, 18h45, 21h30; Black Mass - Jogo Sujo M16. 19h10, 21h30; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 14h, 16h15 (V.Port.); O Prodígio M12. 15h, 17h20, 19h45, 22h

Sintra Cinema City BelouraBeloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9, Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643Sininho e a Lenda do Monstro da Terra do Nunca M6. 11h45, 13h45 (V.Port.); A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h30, 15h25, 17h30 (V.Port.); Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h20, 13h10, 15h20, 17h45 (V.Port.), 11h10, 13h20, 15h30, 19h45, 21h55 (V.Orig.); Evereste M12. 22h; Por Aqui e Por Ali M12. 19h55; Homem Irracional M12. 19h40; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h40, 13h40, 15h40, 17h40 (V.Port.); O Prodígio M12. 13h40, 15h55, 18h40, 21h30; O Estagiário M12. 15h45, 21h35; A Hora do Lobo M12. 13h25, 16h, 18h50, 21h40; Um Momento de Perdição 13h20, 21h55; A Família Bélier M12. 17h40; Perdido em Marte M12. 18h30, 21h20; The Walk - O Desafio M12. 19h35; Mínimos M6. 11h35 (V.Port.); À Procura de Uma Estrela M12. 13h35, 15h35, 17h50, 19h50, 21h50 Castello Lopes - Fórum SintraLoja 2.21 - Alto do Forte. T. 760789789Sicario - Infiltrado M12. 18h50, 21h40; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 13h, 15h, 17h (V.Port.); Perdido em Marte M12. 15h40, 21h10 (2D), 12h55, 18h30 (3D); Maze Runner: Provas de Fogo 12h50, 15h30, 18h10, 21h15; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h10, 16h, 18h40, 21h30; A Ovelha Choné - O Filme M6. 13h15 (V.Port.); Black Mass - Jogo Sujo M16. 15h45, 21h20; The Walk - O Desafio M12. 18h15; O Estagiário M12. 18h20; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 13h20, 15h50 (V.Port.), 21h20 (V.Orig.); À Procura de Uma Estrela M12. 13h, 15h15, 17h20, 19h30, 21h40

Leiria

Cineplace - Leiria ShoppingCC Leiria Shopping, IC2. Perdido em Marte M12. 12h50, 18h30, 21h20; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 14h, 16h30, 19h, 21h30; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 13h50, 16h20, 18h40, 21h; Sicario - Infiltrado M12. 16h50, 21h50; Black Mass - Jogo Sujo M16. 14h20, 19h20; O Estagiário M12. 16h10, 21h20; The Walk - O Desafio M12. 13h40, 18h50; Maze Runner: Provas de Fogo 15h; À Procura de Uma Estrela M12. 12h50, 17h40, 19h50, 22h; O Prodígio M12. 16h40, 19h10, 21h40; Mínimos M6. 16h (V.Port.); Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 14h40 (V.Port.)

Odivelas Cinemas Nos Odivelas ParqueC. C. Odivelasparque. T. 16996Perdido em Marte M12. 15h, 18h, 20h50; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 12h50, 15h30, 18h10, 21h30; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h, 13h10, 15h10, 17h50 (V.Port.); Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h45, 13h20, 15h50, 18h30 (V.Port.), 21h10 (V.Orig.); Evereste M12. 21h20; Black Mass - Jogo Sujo M16. 13h, 15h40, 18h20, 21h

Oeiras Cinemas Nos Oeiras ParqueC. C. Oeirashopping. T. 16996Sicario - Infiltrado M12. 13h, 15h50, 21h20, 00h10; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 12h50, 15h40, 18h30, 21h30, 00h20; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h30, 12h35, 15h10, 18h (V.Port.); Um Momento de Perdição 18h35; Um Momento de Perdição 21h10, 23h50; À Procura de Uma Estrela M12. 12h40, 15h20, 18h10, 21h15, 24h; O Prodígio M12. 12h30, 15h15, 18h05, 21h05, 23h55; O Estagiário M12. 12h45, 15h30, 21h25; Perdido em Marte M12. 18h15, 00h15; A Hora do Lobo M12. 13h10, 15h55, 18h40, 21h40, 00h25

Torres Novas Castello Lopes - TorreShoppingBairro Nicho - Ponte Nova. T. 707220220Crimson Peak: A Colina Vermelha M12.

13h20, 15h50, 18h30, 21h40; O Estagiário M12. 13h, 15h30, 18h20, 21h30; Black Mass - Jogo Sujo M16. 21h20; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 13h10, 15h40 (V.Port.), 18h40 (V.Orig.)

Torres Vedras Cinemas Nos Torres VedrasC.C. Arena Shopping. T. 16996Perdido em Marte M12. 14h, 17h40, 21h; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h, 16h, 18h45, 21h30; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h, 13h40, 16h15, 19h (V.Port.); Evereste M12. 21h45; Black Mass - Jogo Sujo M16. 21h40; A Ovelha Choné - O Filme M6. 13h20, 15h20, 17h25, 19h30 (V.Port.); À Procura de Uma Estrela M12. 13h10, 15h45, 18h30, 21h15

Setúbal Auditório CharlotAv. Dr. Ant. Manuel Gamito, 11. T. 265522446O Prodígio M12. 16h, 21h30 Cinema City Alegro SetúbalC. Comercial Alegro Setúbal. T. 265239853Maze Runner: Provas de Fogo 11h25, 16h30; Evereste M12. 13h55, 19h10, 23h50; Black Mass - Jogo Sujo M16. 11h20, 13h20, 19h40, 22h, 00h30; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 11h10, 13h, 15h10, 17h30, 19h45, 00h15 (V.Port.), 17h35, 21h55 (V.Orig.), ; Um Momento de Perdição 13h30, 17h30, 19h35, 21h45; À Procura de Uma Estrela M12. 13h30, 15h30, 17h40, 19h40, 21h50, 24h; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h35, 15h35 (V.Port.); Sicario - Infiltrado M12. 11h20, 13h40, 16h10, 18h50, 21h35, 00h20; O Estagiário M12. 15h45, 18h20, 21h25, 23h55; The Walk - O Desafio M12. 21h40, 00h15; Sininho e a Lenda do Monstro da Terra do Nunca M6. 11h45, 13h45 (V.Port.) ; Lendas de Oz: O Regresso de Dorothy M6. 11h30, 13h30, 15h30 (V.Port.); Perdido em Marte M12. 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h25, 16h, 18h40, 21h30, 00h05

Faro Cinemas Nos Fórum AlgarveC. C. Fórum Algarve. T. 289887212Black Mass - Jogo Sujo M16. 21h, 23h40; Pan: Viagem à Terra do Nunca M12. 10h40, 13h20, 15h50, 18h20

(V.Port.); Sicario - Infiltrado M12. 12h40, 15h30, 21h10, 23h50; Um Momento de Perdição 18h10; Perdido em Marte M12. 12h25, 15h25, 18h25, 21h20, 00h15; À Procura de Uma Estrela M12. 13h10, 15h55, 18h40, 21h35, 24h; A Ovelha Choné - O Filme M6. 11h (V.Port.); Crimson Peak: A Colina Vermelha M12. 13h, 15h40, 18h30, 21h25, 00h05

EXPOSIÇÕESLisboaA MontraCalçada da Estrela, 132. T. 213954401 Cabelo e Mãos De Pedro Barateiro. De 24/10 a 29/11. Todos os dias 24h. Performance, Outros. Arquivo FotográficoRua da Palma, 246. T. 218844060 (Ante) Câmara – Cibachrome De 5/10 a 27/11. 2ª a Sáb das 10h às 19h. Fotografia, Objectos. Mi.nús.cu.lo De Eduardo Portugal. De 25/9 a 23/1. 2ª a Sáb das 10h às 19h. Fotografia. Arquivo Nacional da Torre do TomboAlameda da Universidade. T. 217811500 Anões às Costas dos Grandes Gigantes do Passado. Poder, Mitos, Memórias na Sociedade Medieval: Contributos de Luís Krus De 1/10 a 31/10. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 12h30. Documental. Biblioteca Nacional de PortugalCampo Grande, 83. T. 217982000 Aldo Manuzio (ca 1450-1515): o inventor do itálico De 22/9 a 31/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 17h30. Documental, Outros. Arte de ser português De 1/10 a 31/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 17h30. Documental, Objectos. Da Inquietude à Transgressão: eis Bocage... De 17/9 a 31/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 17h30. Documental, Objectos. Imprensa Empresarial em Portugal: 145 Anos de Jornais de Empresa (1869-2014) De 6/10 a 31/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 17h30. Documental, Objectos. Ramalho Ortigão. Um publicista em fim de século De 25/9 a 31/12. 2ª a 6ª das 09h30 às 19h30. Sáb das 09h30 às 17h30. Documental, Objectos. Casa dos BicosRua dos Bacalhoeiros. T. 218802040 Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos A partir de 14/7. 2ª a Sáb das 10h às 18h. Objectos, Documental. Centro de Arte ModernaR. Doutor Nicolau Bettencourt. T. 217823474 Tensão e Liberdade De Bruce Nauman, Antoni Muntadas, Martin Kippenberger, Asier Mendizabal, Roni Horn, Ana Hatherly, Ângela Ferreira, entre outros. De 19/6 a 26/10. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 17h45. Escultura, Fotografia, Vídeo. X de Charrua De António Charrua. De 19/6 a 26/10. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 17h45. Pintura. ChiadoLargo do Chiado. Coming Out De vários autores. De 29/9 a 1/1. Todos os dias 24h. Outros. Chiado 8 - Arte ContemporâneaLargo do Chiado, 8. T. 213237335 Ângela Ferreira e Fernanda Fragateiro De 24/7 a 30/10. 2ª a 6ª das 12h às 20h. Escultura. Fundação e Museu Calouste GulbenkianAvenida de Berna, 45A. T. 217823000 Lourdes Castro. Todos os Livros De 9/7 a

26/10. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 17h45. Objectos, Documental. Meeting Point: Fantin-Latour/Manuel Botelho De 25/6 a 26/10. 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 17h45. Fotografia, Pintura. Fundação José SaramagoRua dos Bacalhoeiros. T. 218802040 José Saramago: a Semente e os Frutos A partir de 13/6. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb das 10h às 14h. Documental, Biográfico, Outros. Galeria João Esteves de OliveiraRua Ivens, 38. T. 213259940 Caderno de Alhambra De Manuel Aires Mateus. De 17/9 a 7/12. 2ª das 15h às 19h30. 3ª a 6ª das 11h às 19h30. Sáb das 11h às 13h30 e das 15h às 19h30. Desenho, Arquitectura. Galeria MillenniumRua Augusta, nº84. Within Light. Inside Glass De vários autores. De 16/9 a 9/1. 2ª a Sáb das 10h às 18h. Objectos, Instalação. Galeria Quadrado AzulR. Reinaldo Ferreira, 20-A. T. 213476280 Make do De Paulo Nozolino. De 2/10 a 24/12. 2ª a Sáb das 15h às 19h30. Fotografia. Galeria RattonR. da Academia das Ciências. T. 213460948 O Azulejo e a Palavra De Andreas Stöcklein, Pedro Proença. De 17/9 a 15/11. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 15h às 19h30. Cerâmica.

PUBLICIDADE

S E S S Ã O R E C O M E N D A D A A FA M Í L I A S

Page 34: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

34 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Tirée par... a Rainha D. Amélia e a Fotografia no Palácio Nacional da Ajuda

DR

SAIRGaleria São MamedeRua da Escola Politécnica, 167. T. 213973255 Friso das Consequências da Noite De Fala Miriam. De 15/10 a 10/11. 2ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb das 11h às 19h. Pintura. Pintura Recente De Manuel Salinas. De 15/10 a 10/11. 2ª a 6ª das 11h às 20h. Sáb das 11h às 19h. Pintura. GiefarteRua Arrábida, 54B. T. 213880381 Caminhando pelos céus De Maria Pia Oliveira. De 6/10 a 5/11. 2ª a 6ª das 11h às 14h e das 15h às 20h. Desenho. Jardim Botânico de LisboaRua da Escola Politécnica, 58. T. 213921800 As Plantas do Tempo dos Dinossáurios A partir de 23/11. Todos os dias das 09h às 20h (Horário de Verão), das 09h às 18h (Horário de Inverno). Botânica. Jardim Botânico Tropical Largo dos Jerónimos - Belém . T. 213637023 Pato Mudo A partir de 25/10. Todos os dias 24h. Instalação, Azulejo. Largo do IntendenteLargo do Intendente. Kit Garden De Joana Vasconcelos. A partir de 5/10. Todos os dias. Escultura, Instalação. Lisboa Story CentreTorreão Nascente. T. 916440827 Memórias da Cidade A partir de 11/9. Todos os dias das 10h às 20h (última admissão às 19h). Documental, Interactivo, Outros. Museu da CervejaTerreiro do Paço. T. 210987656 Contos Murais De Júlio Pomar. A partir de 3/4. Todos os dias das 12h às 23h. Azulejo. Museu da FarmáciaRua Marechal Saldanha, 1. T. 213400680 Arte e Ciência em Luís Dourdil De 21/3 a 14/11. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Pintura. Museu das ComunicaçõesRua do Instituto Industrial, 16. T. 213935000 Casa do Futuro A partir de 1/3. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb às 16h. Design, Outros. Exposição Permanente. Elogio do Selo De 10/10 a 30/11. 2ª a 6ª das 10h às 18h (Última 5ª do mês até às 22h). Sáb das 14h às 18h. Objectos, Documental. Ida e Volta - Arte Postal De Carlos Barroco, Paul St-Jean. De 10/10 a 31/12. 2ª a 6ª das 10h às 18h (Última 5ª do mês até às 22h). Sáb das 14h às 18h. Objectos, Outros. Mala Posta A partir

Leiria

Mimo - Museu da Imagem em MovimentoLg de S. Pedro - Cerca Castelo. T. 244839675 O Fascínio do Olhar A partir de 12/3. 2ª a 6ª das 14h às 18h. Objectos, Outros. Exposição Permanente. Território Comum. Imagens do Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, 1955-1957 De 1/6 a 31/12. 2ª a 6ª das 10h às 13h e das 14h às 17h30. Sáb das 14h às 17h30. Fotografia.

MoraFluviário de MoraParque Ecológico do Gameiro. T. 266448130 Biodiversidade dos Rios Portugueses A partir de 22/3. Todos os dias das 10h às 17h. Ciência, Outros. Biotério A partir de 11/9. Todos os dias das 10h às 17h. Biologia.

SetúbalBela VistaO Museu está na Rua De João Limpinho, entre outros. A partir de 15/9. Todos os dias 24h. Escultura.

SintraPalácio Nacional da PenaEstrada da Pena. T. 219237300 Vitrais e Vidros: Um Gosto de D. Fernando II A partir de 21/9. Todos os dias das 10h às 18h. Pintura, Outros.

TomarConvento de CristoConvento de Cristo. T. 249313481 Caixa - Considerações Sobre o Lugar De 17/10 a 27/12. Todos os dias das 09h às 17h30. Desenho, Outros. Erosão De 27/6 a 22/11. Todos os dias das 09h às 17h30.

Vila Nova da BarquinhaVila Nova da Barquinha Parque de Escultura Contemporânea Almourol A partir de 6/7. Todos os dias. Escultura.

MÚSICALisboaPalácio FozPç. dos Restauradores. T. 213221200 Dryads Duo Com Carla Manuel Santos (violino), Saul Batista Picado (piano). Dia 26/10 às 18h. Sabotage ClubRua de São Paulo, 16. T. 213470235 Bell Witch + Monarch + Vaee Solis Hoje às 22h. Teatro Nacional de São CarlosLargo de São Carlos, 17. T. 213253045 Madama Butterfly Com Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Com Hye-Youn Lee, Cátia Moreso, Carolina Figueiredo, Antonio Gandia, Luís Rodrigues, Mário João Alves, Marco Alves dos Santos, Mário Redondo, João Oliveira, Costa Campos, Nuno Cardoso, Ana Serôdio, Ana Luísa Cardoso, Maria do Anjo Albuquerque. Orq.: Orquestra Sinfónica Portuguesa. Enc. Tim Albery. Mús. Giacomo Puccini. De 20/10 a 1/11. Todos os dias às 20h (dias 20, 22, 24, 26 e 28 Outubro). Dom às 16h (dia 1 Novembro). Tragédia japonesa em 2 actos.

FESTIVAISLisboaMaria Matos Teatro MunicipalAvenida Frei Miguel Contreiras, 52. T. 218438801 Nenhuma Entrada Entrem Comp.: Projecto Teatral. De 22/10 a 27/10. 2ª, 3ª, 5ª, Sáb e Dom às 21h30 (apresentação da peça “Ditado”, na Sala Principal). 6ª às 19h. De 24/10 a 27/10. 2ª, 3ª, Sáb e Dom às 19h (apresentação da peça “Teatro”, na Sala Principal). De 19/11 a 21/11. 5ª a Sáb às 21h30 (apresentação da peça “Coro”, na Sala Principal). De 17/12 a 19/12. 5ª a Sáb às 21h30 (apresentação da peça “Transiberiano”, na Sala Principal).

SAIRde 1/12. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb das 14h às 18h. Objectos, Outros. Exposição Permanente. Vencer a Distância - Cinco Séculos de Comunicações em Portugal A partir de 2/5. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb das 14h às 18h. Exposição permanente. Museu do Combatente no Forte do Bom SucessoForte do Bom Sucesso. T. 213017225 A História da Aviação Militar A partir de 16/10. Todos os dias das 10h às 17h. Documental. Exposição permanente. Guerra do Ultramar - 50 anos depois A partir de 11/2. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb, Dom e feriados das 10h às 17h. Documental, Objectos, Outros. Permanente. O Combatente Português do Século XX A partir de 10/12. Todos os dias das 10h às 17h. Documental, Objectos, Outros. Permanente. Oceanário de LisboaEsplanada Dom Carlos I . T. 218917000 Florestas Submersas De Takashi Amano. A partir de 22/4. Todos os dias das 10h às 20h (Verão); das 10h às 19h (Inverno). Dia 25 de Dezembro das 13h às 18h, dia 1 de Janeiro das 12h às 18h. Palácio Nacional da AjudaLargo da Ajuda. T. 213637095 Ricordo di Venezia. Vidros de Murano da Casa Real Portuguesa De vários autores. De 21/7 a 29/11. 2ª, 3ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 18h. Objectos. Tirée par... a Rainha D. Amélia e a Fotografia De 30/9 a 20/1. 2ª, 3ª, 5ª, 6ª, Sáb e Dom das 10h às 18h (última entrada às 17h30). Fotografia, Documental. São Roque TooRua de São Bento, 269. T. 213970197 Costa Pinheiro, O Pintor Ele-Mesmo De 24/9 a 31/12. 2ª a Sáb das 10h30 às 19h30. Sociedade Nacional de Belas ArtesR. Barata Salgueiro, 36. T. 213138510 Índios e Outras Gentes De Ema Berta. De 6/10 a 27/10. 2ª a 6ª das 12h às 19h. Pintura.

AlmadaMuseu NavalOlho de Boi - Ginjal. T. 212724982 Na Rota do Progresso: a Indústria Naval em Almada A partir de 26/5. 2ª a Sáb das 09h30 às 13h e das 14h às 17h30.

Amadora

Academia Militar - Aquartelamento da AmadoraAv. Conde Castro Guimarães. T. 214985660 Portugal e a Grande Guerra De 5/10 a 11/11. 2ª a 6ª das 09h às 13h e das 14h às 18h. Sáb e Dom das 14h às 19h. Documental, Objectos. Biblioteca Municipal Fernando Piteira SantosAv. Conde Castro Guimarães. T. 214369054 As Viagens Portuguesas e o Encontro de Civilizações De 16/3 a 29/1. 3ª a 6ª das 10h às 19h e das 20h às 00h. 2ª e Sáb das 10h às 18h e das 20h às 00h. Documental.

BarcarenaFábrica da Pólvora de BarcarenaEstrada das Fontaínhas. T. 214387460 Exposição Permanente de Arqueologia do Concelho de Oeiras A partir de 16/6. 2ª a 6ª das 14h às 17h. Arqueologia. Na Casa do Salitre.

DafundoAquário Vasco da GamaRua Direita do Dafundo, 1. T. 214196337 Selvas da América Central – Diário Gráfico de Luísa Ferreira Nunes De 24/1 a 31/12. Todos os dias das 10h às 18h Bilheteira. Desenho, Ciência, Crianças.

EstorilGaleria de Arte do Casino do EstorilPç José Teodoro dos Santos. T. 214667700 Terra Separada II De Fernando Gaspar. De 17/10 a 18/11. Todos os dias das 15h às 00h Maiores de 18. Pintura.

FARMÁCIASLisboaServiço PermanenteDa Luz (Luz - Metros Laranjeiras) - Estrada da Luz, 124 - A / Rua Ginestal Machado, 14 - Tel. 217210990 Esperança - Rua Carlos Mardel, 101-B - Tel. 218482868 Marbel (Alvalade - Avª. do Brasil) - Avª. de Roma, 131 - A - Tel. 217993770 Sousa Martins - Rua Sousa Martins, 21-A - Tel. 213162468 Principe Real (São Mamede) - Rua da Escola Politécnica, 16-18 - Tel. 213425455 Exposul (Santa Maria dos Olivais) - Alameda dos Oceanos, Lote 2.06.05, Loja H - Tel. 218967033

Outras LocalidadesServiço PermanenteAbrantes - Silva Tavares (Alferrarede) Alandroal - Santiago Maior , Alandroalense Albufeira - Piedade Alcácer do Sal - Alcacerense Alcanena - Correia Pinto Alcobaça - Epifânio Alcochete - Cavaquinha , Póvoas (Samouco) Alenquer - Higiene (Carregado) Aljustrel - Pereira Almada - Moderna (Laranjeiro) , Pepo (Vila Nova da Caparica) Almeirim - Central Almodôvar - Ramos Alpiarça - Leitão

Alter do Chão - Alter , Portugal (Chança) Alvaiázere - Ferreira da Gama , Castro Machado (Alvorge), Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - Casal do Mira , São Jorge Ansião - Teixeira Botelho , Medeiros (Avelar), Rego (Chão de Couce), Pires (Santiago da Guarda) Arraiolos - Misericórdia Arronches - Batista , Esperança (Esperança/Arronches) Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja - Dias da Silva , Nova, Peralta (Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do Intendente) Barrancos - Barranquense Barreiro - Palhais (Charneca de Caparica) Batalha - Ferraz , Silva Fernandes (Golpilheira) Beja - Palma Belmonte - Costa , Central (Caria) Benavente - Miguens , Mendes (Porto Alto) Bombarral - Miguel Borba - Carvalho Cortes Cadaval - Central , Luso (Fev,Abr,Jun) (Vilar Cadaval (Fev,Abr,Jun)) Caldas da Rainha - Caldense Campo Maior - Campo Maior Cartaxo - Pereira Suc. Cascais - Carvalho (Alcabideche) , Santos Ferreira (Carcavelos), Guimarães

(São Domingos de Rana) Castanheira de Pera - Dinis Carvalho (Castanheira) Castelo Branco - Leal Mendes Castelo de Vide - Roque Castro Verde - Alentejana Chamusca - Joaquim Maria Cabeça , Pinto Rodrigues (Parreira) Constância - Baptista , Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Misericórdia Covilhã - da Alameda Crato - Misericórdia Cuba - Da Misericórdia Elvas - Europa Entroncamento - Almeida Gonçalves Estremoz - Costa Évora - Paços Faro - Caniné Ferreira do Alentejo - Singa Ferreira do Zêzere - Graciosa , Soeiro, Moderna (Frazoeira/Ferreira do Zezere) Figueiró dos Vinhos - Campos (Aguda) , Serra Fronteira - Vaz (Cabeço de Vide) Fundão - Avenida Gavião - Gavião , Pimentel Golegã - Salgado Grândola - Costa Idanha-a-Nova - Andrade (Idanha A Nova) , Serrasqueiro Cabral (Ladoeiro), Monsantina (Monsanto/Beira Baixa), Freitas (Zebreira) Lagoa - Lagoa Lagos - Ribeiro Lopes Leiria - Vida Loulé - Miguel Calçada , Martins, Maria Paula (Quarteira), Paula (Salir) Loures - Alto da Eira , Faria (Santo António dos Cavaleiros) Lourinhã -

Quintans (Foz do Sousa) , Liberal (Reguengo Grande) Mação - Catarino Mafra - Marques (Azueira) , Coral Marinha Grande - Roldão Marvão - Roque Pinto Mértola - Pancada Moita - Cristina Monchique - Higya Monforte - Jardim Montemor-o-Novo - Central Montijo - São Pedro Mora - Canelas Pais (Cabeção) , Falcão, Central (Pavia) Moura - Nova de Moura Mourão - Central Nazaré - Sousa , Maria Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa - Ferreira Pinto Óbidos - Vital (Amoreira/Óbidos) , Senhora da Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odemira - Confiança Odivelas - Gonçalves , Universo (Caneças) Oeiras - Marta (Linda-a-Velha) , Dias (Paço de Arcos) Oleiros - Martins Gonçalves (Estreito - Oleiros) , Garcia Guerra, Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão - Rocha Ourém - Beato Nuno , Leitão Ourique - Nova (Garvão) , Ouriquense Palmela - Tavares de Matos (Pinhal Novo) Pedrógão Grande - Baeta Rebelo Penamacor - Melo Peniche - Central Pombal - Barros Ponte de Sor - Cruz Bucho Portel - Fialho Portimão - Carvalho Porto de Mós - Lopes Proença-a-Nova - Roda , Daniel de Matos (Sobreira Formosa)

Reguengos de Monsaraz - Paulitos Rio Maior - Candido Barbosa Salvaterra de Magos - Martins Santarém - Verissimo Santiago do Cacém - Jerónimo Sardoal - Passarinho Seixal - Duarte Ramos (Amora) Serpa - Oliveira Carrasco Sertã - Lima da Silva , Farinha (Cernache do Bonjardim), Confiança (Pedrogão Pequeno) Sesimbra - da Cotovia Setúbal - Brasil , Higiene Silves - Dias Neves , Guerreiro Sines - Atlântico , Monteiro Telhada (Porto Covo) Sintra - Campos , Almargem (Algueirão - Mem Martins), Domus Massamá (Massamá) Sobral Monte Agraço - Costa Sousel - Mendes Dordio (Cano) , Andrade Tavira - Sousa Tomar - Torres Pinheiro Torres Novas - Lima Torres Vedras - Torreense Vendas Novas - Ribeiro Viana do Alentejo - Nova Vidigueira - Pulido Suc. Vila de Rei - Silva Domingos Vila Franca de Xira - Mercado (Alverca) , Romeiras (Forte da Casa), Roldão Vila Nova da Barquinha - Tente (Atalaia) , Carvalho (Praia do Ribatejo), Oliveira Vila Real de Santo António - Carmo Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa - Monte Alvito - Baronia

Page 35: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 35

RTP16.30 Bom Dia Portugal 10.00 A Praça - Directo 13.00 Jornal da Tarde 14.30 Os Nossos Dias 15.45 Agora Nós - Directo 18.00 Portugal em Directo 19.00 O Preço Certo 20.00 Telejornal 21.15 Bem-vindos a Beirais 22.00 Prós e Contras 00.15 5 Para a Meia-Noite 1.15 O Direito e o Avesso 2.15 Os Nossos Dias 3.00 Agora Nós

RTP 27.00 Zig Zag 11.00 Desalinhado 12.58 Plauteau 14.00 Sociedade Civil 15.00 A Fé dos Homens 15.30 Euronews 16.00 Zig Zag 20.30 Pais Desesperados 21.00 Jornal 2 21.40 Página 2 - Directo 21.55 Hora da Sorte - Lotaria 2015 22.00 Mad Men 22.50 Visita Guiada 23.36 Tadao Ando 00.10 Portugal 3.0 1.10 Esec-TV 1.40 Sociedade Civil 2.40 Euronews

SIC6.15 Violetta 7.00 Edição da Manhã 8.30 A Vida nas Cartas - O Dilema 10.15 Queridas Manhãs 13.00 Primeiro Jornal 14.40 Dancin Days 15.20 Duas Caras 15.45 Grande Tarde 18.40 Babilónia 20.00 Jornal da Noite 21.30 Coração d´Ouro 22.30 Poderosas 23.55 A Regra do Jogo 00.55 Investigação Criminal 1.30 Investigação Criminal Los Angeles 2.30 Podia Acabar o Mundo

TVI6.30 Diário da Manhã 10.10 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma 14.45 Mundo Meu 16.00 A Tarde é Sua 19.15 A Quinta 20.00 Jornal das 8 21.45 A Única Mulher 22.45 Santa Bárbara 23.45 A Quinta 1.00 Os Irmãos Donnelly 2.00 Ora Acerta 3.15 Fascínios 4.00 Dr. House

TVC110.20 Quando Tudo Está Perdido 12.10 Duas Vidas 13.50 Janela Aberta 15.30 De Qualquer Lugar 17.00 Bem Vindo à Selva 18.35 Nightcrawler - Repórter na Noite 20.35 Paixões Unidas 22.30 John Wick 00.15 Quando Tudo Está Perdido 2.05 Nightcrawler - Repórter na Noite 4.05 Paixões Unidas 5.55 Pudsey: Este Cão é Um Herói

FOX MOVIES9.41 21 Gramas 11.38 Um Golpe em Itália 13.26 O Pacificador 15.32 Jogos de Poder 17.06 Os Miseráveis 19.16

Ágora 21.15 Icarus, Máquina de Guerra 22.45 D-Tox 00.16 Academia de Polícia 3 - De Volta aos Treinos 1.38 Fanaticamente Apaixonados 3.19 A Águia da Nona Legião

HOLLYWOOD9.10 Um Polícia no Jardim-Escola 11.00 A Terra do Sol 13.15 George - O Rei da Selva 14.45 Red Eye 16.15 John Carter 18.30 A Máquina 20.15 O Candidato da Verdade 22.30 Tombstone 00.45 A Janela Secreta 2.25 A Última Caminhada 4.30 Silverado

AXN13.33 Inesquecível 15.13 Castle 16.57 Mentes Criminosas 18.39 Inesquecível 20.19 Castle 22.15 Quantico 23.13 Castle 00.10 Mentes Criminosas 1.50 Perception 3.16 Inesquecível 4.41 Quantico

AXN BLACK13.35 22 Balas 15.26 Círculo de Confiança 17.01 Os Crimes dos Rios de Púrpura 18.46 Reino Animal 20.38 Crank - Veneno no Sangue 22.00 Gangster Americano 00.37 Resistentes 2.42 Reino Animal 4.32 Crank - Veneno no Sangue

AXN WHITE12.08 Filme: Mulheres Giras 13.59 Filme: Zack e Miri Fazem um Porno 15.39 Filme: Mulheres Giras 17.30 A Teoria do Big Bang 19.04 Era Uma Vez 20.40 Trocadas à Nascença 21.30 Filme: Zack e Miri Fazem um Porno 23.11 Filme: Boas Vibrações 00.47 Trocadas à Nascença 1.34 Traição 2.21 Pequenas Mentirosas 3.53 Trocadas à Nascença 4.39 Pequenas Mentirosas

FOX13.00 Os Simpsons 13.42 Hawai Força Especial 15.20 Investigação Criminal: Los Angeles 16.56 Sob Suspeita 18.39 Hawai Força Especial 20.27 Investigação Criminal: Los Angeles 22.15 The Walking Dead 23.10 Sleepy Hollow 00.06 Investigação Criminal: Los Angeles 00.58 Hawai Força Especial 1.52 Sob Suspeita 3.26 Spartacus, Sangue e Arena

FOX LIFE12.25 A Patologista 14.00 Filme: In the Dark 15.33 A Patologista 17.08 Filme: The Good Mother 18.42 Rizzoli & Isles

19.34 A Patologista 21.24 Rizzoli & Isles 22.20 Filme: Alfie e as Mulheres 00.08 Filme: The Perfect Boyfriend 1.53 Masterchef USA 2.38 Em Contacto 4.19 Ossos

DISNEY15.10 Lab Rats 15.35 O Meu Cão Tem um Blog 16.00 Aladdin 16.50 Galáxia Wander 17.05 Gravity Falls 17.30 Phineas e Ferb 17.55 Os 7A 18.25 K.C. Agente Secreta 18.47 Tsum Tsum 19.00 Violetta 19.55 O Meu Cão Tem um Blog 20.45 Crash e Bernstein 21.06 The Next Step 21.30 Violetta 22.25 Riley e o Mundo 22.50 A Minha Babysitter é Um Vampiro 23.13 Sabrina: Segredos de uma Bruxa 23.35 Randy Cunningham: Ninja 23.57 Rekkit Rabbit 00.20 Casper - O Fantasminha 00.45 Randy Cunningham: Ninja Total 1.10 Sabrina: Segredos de uma Bruxa 1.33 Casper - O Fantasminha 1.57 Rekkit Rabbit 2.45 Randy Cunningham: Ninja Total 3.30 Casper - O Fantasminha 4.20 W.I.T.C.H. 5.04 Casper - O Fantasminha 5.53 Rekkit Rabbit

DISCOVERY17.25 Pesca Radical: Os Novatos 18.20 Pesca Radical 20.10 A Febre do Ouro - América do Sul 21.05 A Febre do Ouro 22.00 NASA, Ficheiros Secretos 3.20 Alasca, Batalha no Mar 4.50 Os Caçadores de Mitos 5.35 Caçadores de Leilões

HISTÓRIA17.08 Os Segredos da Bíblia 18.36 Alienígenas 19.20 Em Busca de Extraterrestres 20.03 Caça Tesouros 22.17 O Preço da História 23.00 Treblinka 23.47 Os Libertadores 00.42 Loucos por Carros 2.46 O Preço da História 3.29 Perdidos no Alasca 4.58 Mistérios Enterrados

ODISSEIA17.28 Plantas Carnívoras 18.22 Natureza Letal 360 19.20 Invasores Letais 20.11 Medicina do Mundo 21.04 A CIA a Nu 21.54 A Origem das Coisas 22.38 Rude Tube 23.30 Negócios do Lado Obscuro 00.14 Fantasias! Sexo, Ficção e Tentação 1.07 A Origem das Coisas 1.52 Rude Tube 2.44 Negócios do Lado Obscuro 3.29 Fantasias! Sexo, Ficção e Tentação 4.24 Natureza Letal 360 5.26 Freakshow

[email protected]

FICAR

CINEMAReino Animal [Animal Kingdom]AXN Black, 18h46Primeira longa-metragem de

fi cção de David Michod, que

ganhou o Prémio de Melhor

Filme no Festival de Sundance,

em 2010. No submundo do

crime de Melbourne (Austrália),

os delinquentes e uma polícia

igualmente perigosa travam

uma batalha sem fi m. Neste

contexto, conhecemos o dia-

a-dia da família Cody: Janine

“Smurf”, a matriarca da

família; Pope e o seu parceiro,

Barry Brown, criminosos

constantemente perseguidos

por polícias que os querem

ver mortos; Craig, amante

de velocidade e trafi cante de

drogas; e, fi nalmente, Joshua

“J”, o mais jovem da família, que

ingenuamente se vai iniciando

naquele modo de vida. Entre

eles intromete-se Nathan Leckie,

um perseverante detective.

Difícil Renúncia [Loves Labours Lost]Cinemundo, 21h00Kenneth Branagh transpôs a peça

de Shakespeare Loves Labours

Lost para o século XX, num

registo de comédia musical, cuja

banda sonora inclui temas de

Cole Porter e Irving Berlin, entre

outros. Difícil Renúncia passa-se

no fi nal dos anos 1930, quando

a ameaça nazi paira sobre a

Europa. Completamente alheios

à realidade, o rei de Navarra e

três dos seus melhores amigos

fazem um juramento de honra:

durante um largo período de

tempo terão uma vida monástica,

dedicada ao estudo da fi losofi a,

estando proibida qualquer relação

amorosa ou mesmo a presença de

mulheres…

Bekas e o Sonho Americano [Bekas]TVC2, 23h30Comédia dramática escrita e

dirigida pelo jovem realizador

curdo Karzan Kader, que usa o

humor para fazer uma refl exão

sobre a guerra sob o ponto de

vista de duas crianças. Zana e

Dana são dois irmãos, de sete e

nove anos, a viver no Curdistão

iraquiano, em 1990. Sobrevivem

nas ruas, órfãos de pai e mãe

mortos na guerra de Saddam

Hussein. Um dia, quando se

introduzem em segredo num

cinema, descobrem a existência

de uma personagem que julgam

ser a solução para todos os seus

problemas: o Super-Homem.

Desejosos de conhecer de perto

o homem mais forte e justo de

que alguma vez ouviram falar

— e sem nada que os prenda

àquele lugar devastado —,

decidem pegar na sua velha

mula chamada Michael Jackson e

seguir viagem rumo à América.

Quando Tudo Está Perdido [All is Lost]TVC1, 00h15Com realização e argumento

de J.C. Chandor, um fi lme

dramático quase sem diálogos,

que conta com Robert Redford

como único protagonista.

SÉRIE

Madam SecretaryTVSéries, 22h00Estreia. O drama político criado

por Barbara Hall e produzido

por Lori McCreary e Morgan

Freeman torna a seguir os passos

de uma ex-agente da CIA que vê

a sua vida mudar por completo

depois de aceitar um cargo como

secretária de Estado. A segunda

temporada da série apresenta-

se com uma particularidade

interessante: Madeleine Albright,

que foi secretária de Estado dos

Estados Unidos no mandato do

presidente Bill Clinton, faz parte

do elenco e interpreta o papel

de… Madeleine Albright. É ela

quem vai aconselhar Elizabeth

Adams McCord (Téa Leoni)

numa situação complicada com

um conselheiro da Segurança

Nacional.

DOCUMENTÁRIO

PlateauRTP2, 12h58Filmado maioritariamente no

Teatro Municipal São Luiz, em

Lisboa, Plateau afi rma-se como

uma “versão desglamourizada

do universo do espectáculo e dos

seus intervenientes”. Ruy Otero e

Steve Stoer fi zeram uma viagem

aos bastidores da peça Durações

de Um Minuto, da coreógrafa Clara

Andermatt e do realizador Marco

Martins, escrita por Gonçalo M.

Tavares, apresentada naquela sala

em 2010.

Tadao Ando, RTP2, 23.36TaRT

Page 36: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

36 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

JOGOSCRUZADAS 9325

BRIDGE SUDOKU

TEMPO PARA HOJE

A M A N H Ã

Açores

Madeira

Lua

NascentePoente

Marés

Preia-mar

Leixões Cascais Faro

Baixa-mar

Fonte: www.AccuWeather.com

PontaDelgada

Funchal

Sol

20º

Viana do Castelo

Braga14º 21º

Porto15º 20º

Vila Real12º 17º

14º 21º

Bragança9º 15º

Guarda11º 13º

Penhas Douradas9º 12º

Viseu13º 15º

Aveiro17º 20º

Coimbra16º 19º

Leiria16º 20º

Santarém16º 21º

Portalegre13º 16º

Lisboa16º 21º

Setúbal16º 21º Évora

15º 20º

Beja16º 20º

Castelo Branco14º 18º

Sines17º 19º

Sagres18º 21º

Faro18º 21º

Corvo

Graciosa

FaialPico

S. Jorge

S. Miguel

Porto Santo

Sta Maria

15º 18º

16º 21º

Flores

Terceira14º 18º

17º 23º

17º 23º

15º 18º

20º

20º

06h57

Cheia

17h44

12h0527 Out.

1m

4-6m

21º

4-6m

23º0,5-1m

23º 2m

13h43 3,702h08* 3,6

07h30 0,419h55 0,2

13h18 3,701h43* 3,6

07h04 0,519h29 0,4

13h25 3,601h50* 3,5

07h02 0,419h27 0,3

2-2,5m

1-2m

4-6m

18º

19º

*de amanhã

Horizontais: 1. Elogio. Limpar o nariz de mucosidades. 2. Grande vegetal le-nhoso, cujos ramos saem a certa altu-ra do tronco. Tombam. 3. Abençoado. Redução das formas linguísticas “de” e “a” numa só. 4. Grupo de cem unidades. Cloreto de sódio. 5. Multiplicativo de unidades de medida, com o símbolo T, a significar 1 bilião de vezes. Vento brando e aprazível. 6. Peixe muito consumido, essencialmente, em conserva. Africano. 7. Opinião política (fig.). Interjeição que designa repulsa ou raiva. Variante do pronome “o”. 8. Charrua. Mamífero carnívoro da família dos Ursídeos. 9. Publica. Nosso Senhor (abrev.). 10. Partícula de negação. Espaço de 12 me-ses. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de eu. 11. Regular por dose. Que é de pedra ou da nature-za dela.

Verticais: 1. Sexta nota musical. Molusco que vive nos rochedos ou no costado dos navios. Neodímio (s.q.). 2. Globo. Pedaço de terra endurecido. 3. Peripécia. Eles. 4. Dia anterior ao de hoje. Preposição que designa posse. 5. Sensação de calor intenso. Misturar com iodo. 6. Estou informado. Rio suí-ço. Prefixo (negação). 7. A tua pessoa. Carpo (pl.). 8. Vazio. Ave da família dos psitacídeos, de plumagem rica e cau-da longa. 8. Autores (abrev.). Transpiro. Prefixo (separação). 10. Lançar a rede. Distante. 11. Carneiro de meia idade ou de um ano (regional). Produzo som. Depois do problema resolvido encon-tre o provérbio nele inscrito (7 pala-vras).

Solução do problema anterior:Horizontais: 1. Anafar. Agir. 2. Balir. Drama. 3. Ataviar. 4. Es. IGREJA. 5. UM. Cena. 6. Amarelo. Sic. 7. Girafa. Coze. 8. Irene. Pra. 9. Acudia. Mu. 10. Todo. Lavrar. 11. Amora. Ronda.Verticais: 1. Abre. Agiota. 2. NA. Sumir. Om. 3. Ala. Mareado. 4. Fita. Rancor. 5. Ara. Cefeu. 6. Viela. Dl. 7. Digno. Piar. 8. Arara. CRAVO. 9. Gare. Soa. Rn. 10. Im. Juiz. Mad. 11. Rapa. Cesura.Título da Obra: Um Cravo na Igreja.

Oeste Norte Este Sul 2STpasso 3♣ passo 3♦

passo 3ST Todos passam

Leilão: Equipas ou partida livre.

Carteio: Saída: 5♥. O adversário em Este apresenta a Dama de copas e o seu Rei faz a vaza. Como continuaria?

Solução: Depois de indagar sobre os ricos, Norte fechou em 3ST sobre a res-posta negativa de Sul.Se as copas estiverem divididas 5-2, jo-gar pelos paus poderá oferecer à defe-sa cinco vazas: três copas e Ás e Rei de paus. Um resultado semelhante poderá suceder mesmo se a Dama de ouros for apresentada à segunda vaza e devida-mente respeitada pelos adversários.Uma ideia melhor é planear apurar o nai-pe de ouros. Depois de fazer o Rei de co-pas, encaixe Ás e Rei de espadas. Se to-dos assistirem, jogue Ás e Dama de ou-ros. Vamos assumir que a defesa deixa fazer (ou o problema ficaria resolvido), tire mais duas voltas de espadas e balde o 10 de copas da mão, e continue com o Valete de ouros, onde balda o Valete

Dador: SulVul: Todos

Problema 6424 Dificuldade: fácil

Problema 6425 Dificuldade: médio

Solução do problema 6422

Solução do problema 6423

NORTE♠ QJ83♥ 983♦ J10985♣ 2

SUL♠ AK6♥ KJ10♦ AQ♣ QJ1095

OESTE♠ 104♥ A7652♦ K64♣ A87

ESTE♠ 9752♥ Q4♦ 732♣ K643

João Fanha/Luís A.Teixeira ([email protected]) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com

de copas! Dado que necessita apenas de duas vazas a paus (ou a ouros) para cumprir o contrato, a defesa ficará sem recursos.Se as espadas se apresentarem 5-1 (ou 6-0) continuar com uma terceira volta de espadas seria perigoso. Nessa altu-ra seria mais sensato mudar de plano. Jogue a Dama de ouros. Se for captura-da, pode mais tarde baldar o Ás de ouros na quarta volta de espadas e apresentar os ouros firmes do morto. Se a Dama de ouros fizer a vaza, mude para paus na es-perança de que os adversários não con-seguirá fazer mais do que duas vazas a copas (copas 6-1 ou 4-3).

Considere o seguinte leilão:Oeste Norte Este Sul 1♦ 1♠ ?

O que marca em Sul, com cada uma das seguintes mãos?1. ♠7 ♥A83 ♦QJ943 ♣Q972 2. ♠102 ♥Q107 ♦K109543 ♣8623.♠83 ♥AJ84 ♦AJ5 ♣A1092 4. ♠2 ♥10932 ♦KJ1094 ♣AQJ

Respostas: 1. 2♠ – Dado que o salto para 3 ouros está reservado para mãos mais fracas, o cue-bid pode servir também para po-der mãos que tem fit a ouros e alguma esperança de partida. Na volta seguinte irá marcar 3 ouros para completar a des-crição da sua mão.2. 3♦ – Eis uma mão indicada para apoiar em salto, depois de uma intervenção.3. X – Para começar, indique as suas quatro cartas de copas, depois o cue-bid para mostrar a força.4. X – Um cue-bid negaria quatro cartas de copas. È primordial explorar primei-ro o fit num rico antes de apoiar o menor de abertura do parceiro.

MeteorologiaVer mais emwww.publico.pt/tempo

Page 37: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | DESPORTO | 37

“Leões” apresentaram-se na Luz como conjunto coeso, solidário e pressionante

RAFAEL MARCHANTE/REUTERS

Jesus assombrou a Luz com a maior vitória do Sporting desde 1948

Vencer o Benfi ca no Estádio da Luz

por três golos de diferença é uma si-

tuação anómala, pelo menos para o

Sporting, que não o fazia há 68 tem-

poradas, mas ontem estava sentado

no banco “leonino” Jorge Jesus e isso

fez toda a diferença. O regresso do

técnico a uma casa onde ganhou 11

títulos em seis temporadas foi demo-

lidor, assim como a exibição da sua

equipa, que interrompeu um jejum

de 10 anos sem triunfos no recinto

“encarnado”. O “mestre da táctica”

bateu por KO Rui Vitória, aumentou

para oito pontos a diferença para os

bicampeões nacionais e aproveitou o

empate do FC Porto para se isolar no

comando da tabela classifi cativa.

Da panela de pressão em que se

transformou o derby lisboeta, foram

Jesus e o Sporting que emergiram co-

mo vitoriosos, numa partida em que

o Benfi ca até chegou a prometer, mas

em que sucumbiu a três golpes fatais

dos “leões” na primeira metade. Mui-

tas culpas para a defesa da casa, que

tremeu a cada ataque do adversário,

acumulando erros que lhe foram fa-

tais. Depois, na segunda parte, valeu

a maior frescura física da equipa de

Alvalade (que mudou dez jogadores

em relação à partida com o Skender-

beu, para a Liga Europa) para gerir a

vantagem e causar ainda um ou ou-

tro calafrio a Júlio César.

Na antevisão do clássico, Rui Vi-

tória tinha sugerido que este encon-

tro iria colocar frente a frente uma

equipa, a sua, contra 11 jogadores

do Sporting, que não sabia se for-

mariam uma equipa. A frase, pro-

vocatória ou não, teve o condão de

espicaçar os “leões”, que realizaram

a sua melhor exibição na presente

temporada. Apresentaram-se na Luz

como um conjunto coeso, solidário

e pressionante, que soube aprovei-

tar com mestria os momentos cru-

ciais do jogo para golpear a equipa

da casa.

Apostando no mesmo “onze” que

perdera na Turquia, na última quar-

ta-feira, frente ao Galatasaray para

a Liga dos Campeões, Rui Vitória

procurou explorar alguma eventu-

al intranquilidade do Sporting nos

momentos iniciais. Mas o adversário

trazia a lição bem estudada e não se

deixou intimidar pela dinâmica ata-

cante do Benfi ca, procurando sem-

pre precipitar o erro do adversário e

pressionar logo na primeira fase de

construção “encarnada”. Foi assim

que surgiu o primeiro golo, aos 9’,

quando um passe errado de André

Almeida à saída da sua área foi in-

terceptado por Adrien, com o mé-

dio sportinguista a desmarcar rapi-

damente Teo Gutiérrez. Júlio César

antecipou-se, mas afastou a bola

contra as pernas do colombiano,

que inaugurou o marcador.

Foi o primeiro balde de água gela-

da nas bancadas da Luz, enfeitadas

com 63 mil adeptos. A desvantagem

não trouxe uma reacção determi-

nada do Benfi ca. Pelo contrário, a

equipa até baixou o ritmo de jogo e

os “leões” agradeceram. E, aos 21’,

deram mais uma alfi netada no en-

contro. Com espaço, Jeff erson cru-

zou na esquerda directamente para

a cabeça de Slimani que, à vonta-

de entre os centrais, atirou para o

fundo das redes, concluindo com

uma efi cácia desarmante o tercei-

ro lance de ataque da sua equipa.

O melhor que o Benfi ca conseguiu

produzir em toda a primeira meta-

de foi um remate de Jonas, servido

por André Almeida, que saiu ligeira-

mente por cima, à passagem da meia-

uma defesa incompleta de Júlio Cé-

sar, sobrando a bola para a recarga

efi caz de Bryan Ruiz. Contido nos

dois primeiros golos, Jorge Jesus não

reprimiu o festejo do terceiro.

Os “leões” não baixaram o ritmo

no segundo tempo. A equipa até su-

biu as suas linhas, impedindo o Benfi -

ca de pensar o seu jogo ofensivo e foi

controlando efi cazmente os aconteci-

mentos até fi nal. Sem soluções, nem

arte, o Benfi ca apenas obrigou Rui

Patrício a aplicar-se aos 69’, quan-

do Naldo perdeu uma bola na linha

para Raul Jiménez, com o avançado

a permitir a defesa do guarda-redes.

A impotência e desnorte do conjunto

de Rui Vitória fi cou expressa aos 80’,

quando um atraso mal medido de

Luisão para Júlio César só não aca-

bou em autogolo porque o dono da

baliza, em esforço, desviou a bola

quase em cima da linha.

Depois de oito tentativas que aca-

baram em derrotas, Jorge Jesus con-

seguiu a primeira vitória da sua car-

reira no Estádio da Luz, na condição

de treinador visitante. Já Rui Vitória

somou o segundo desaire da tem-

porada frente ao Sporting, mas no

horizonte surge já um novo embate

entre os dois técnicos, agora para a

Taça de Portugal, em Alvalade.

REACÇÕES

“Foi um jogo atípico, em que começámos bem, a equipa estava segura. Depois é um ressalto a dar golo, que acaba por mexer com as cabeças”

“Foi uma vitória brilhante. O Sporting fez um jogo extraordinário, de grande qualidade. A vitória vai para os jogadores e para os adeptos”

Rui Vitória Benfica

Jorge Jesus Sporting

Crónica de jogoPaulo Curado

Três golos dos “leões” na primeira parte sentenciaram o derby. Rui Vitória somou a segunda derrota frente ao seu antecessor no banco do Benfi ca e fi cou a oito pontos do primeiro lugar

Benfica 0

Sporting 3Teo Gutiérrez 9’, Slimani 21’, Bryan Ruiz 36’

Positivo/Negativo

Estádio da Luz, em Lisboa.Espectadores 63.054

Benfica Júlio César, Sílvio, Luisão, Jardel, Eliseu (Fejsa, 45’ a47’, Pizzi, 67’), Samaris a40’, André Almeida, Gonçalo Guedes (Mitroglou, 77’ a83’), Gaitán a43’, Jonas a50’, Jiménez. Treinador Rui Vitória

Sporting Rui Patrício, João Pereira, Paulo Oliveira, Naldo, Jeff erson, William Carvalho a50’, Adrien Silva a58’ (Aquilani, 77’), João Mário, Bryan Ruiz a44’, Teo Gutiérrez, Slimani a43’ (Gelson Martins, 85’). Treinador Jorge Jesus

Árbitro Carlos Xistra (AF Cast. Branco)

Jorge JesusAvisara que tinha preparado muito bem o derby e demonstrou-o em campo. Nunca tinha vencido na Luz como treinador adversário, mas levou o Sporting ao maior triunfo em casa do rival desde o 4-1 de 1947-48.

SlimaniUm grande jogo do argelino, que somou o sexto golo na Liga e o quarto de cabeça. Foi uma fonte de problemas para a defesa do Benfica e solidário sempre que o Sporting perdia a bola.

Ataque do SportingSoma 17 golos nos últimos quatro jogos. Uma média impressionante que não se ressentiu com as mudanças drásticas na equipa titular.

BenficaPrevisível no ataque, constrangedor a defender. Rui Vitória perdeu o seu terceiro clássico da época e está a oito pontos do primeiro lugar.

hora. Mas, seis minutos depois, uma

nova perda de bola dos “encarnados”

precipitou o terceiro do Sporting,

que sentenciou o encontro. Slimani

conduziu o contra-ataque com total

liberdade, rematou forte para mais

Page 38: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

38 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

MIGUEL RIOPA/AFP

Tello e Djavan lutam pela posse da bola

Paulo Fonseca deu um nó cego no FC Porto de Julen Lopetegui

Duas dezenas de jogos depois, o FC

Porto escorregou no Dragão. Os por-

tistas somavam até ontem 20 vitórias

consecutivas em todas as competi-

ções como anfi triões, mas um orga-

nizado Sp. Braga de Paulo Fonseca

anulou a equipa “azul e branca” e

somou um precioso ponto. Com este

empate sem golos, a equipa de Julen

Lopetegui deixa fugir o Sporting, que

passa a ser o líder isolado do cam-

peonato.

Principalmente nos últimos 15 mi-

nutos, quando o FC Porto arriscou

tudo jogando com três defesas e o Sp.

Braga acusou o desgaste da partida

contra o Marselha três dias antes, os

“dragões” provocaram muitas difi -

culdades aos minhotos e estiveram

perto do golo, mas, durante mais de

dois terços da partida, a estratégia de

Paulo Fonseca resultou em pleno.

Com um “onze” que incluía qua-

tro jogadores de características ofen-

sivas (Rui Fonte e Stojiljkovic, Alan

e Rafa), o Sp. Braga entrou melhor

e, na primeira metade dos primei-

ros 40 minutos, com uma pressão

alta, retirou iniciativa ofensiva ao

FC Porto. Com algumas alterações

na equipa inicial (Ruben Neves e

Corona começaram no banco), os

portistas demoraram a acertar a es-

tratégia, mas acabariam por criar

relativo perigo para Kritciuk por

Aboubakar (9’), Tello (39’) e André

André (40’).

O intervalo serviu para o Sp. Braga

recarregar baterias e seriam os mi-

nhotos a entrar novamente bem em

jogo, embora sem provocar calafrios

a Casillas. Com a equipa a revelar di-

fi culdades, Lopetegui fez o que não

se viu noutros jogos. Começou por

arriscar trocando Imbula por Bueno,

passando a jogar em 4x4x2, e a 15

minutos do fi m jogou no risco total,

retirando um defesa (Cissokho) e lan-

çando um médio (Rúben Neves).

A partir desse momento, o jogo

mudou e, com alguns jogadores bra-

carenses em difi culdades físicas, o FC

Porto empurrou o rival para dentro

da sua área e benefi ciou de uma mão-

cheia de oportunidades. A reacção,

no entanto, pecou por tardia e o Sp.

Braga soube resistir, retirando os

“azuis e brancos” da liderança do

campeonato.

Com este resultado, o FC Porto

permite que o Sporting passe a ser

o líder isolado, com 20 pontos, mais

dois do que os “dragões”.

REACÇÕES

“Estamos no bom caminho e no final vamos ser campeões, sem dúvida”

“Nunca chutámos para a frente, tentámos ter critério. É um bom ponto”

Julen Lopetegui FC Porto

Paulo Fonseca Sp. Braga

FC Porto 0

Sp. Braga 0

Positivo/Negativo

Estádio do Dragão, no Porto.Espectadores 40.809

FC Porto Casillas, Layún, Marcano a44’, Indi, Cissokho a68’ (Rúben Neves, 76’), André André, Danilo, Imbula (Bueno, 62’), Tello, Aboubakar, Brahimi (Corona, 58’). Treinador Julen Lopetegui

Sp. Braga Kritciuk, Baiano, Ricardo Ferreira a73’, Boly, Djavan (Goiano, 17’), Alan (Wilson, 84)’, Vukcevic a13’ (Luiz Carlos, 67’), Mauro, Rafa, Stojiljkovic, Rui Fonte. Treinador Paulo Fonseca

Árbitro Artur Soares Dias (AF Porto)

Willy BolyO defesa central francês, de 23 anos, não começou a época como titular, mas tem aproveitado bem as lesões no plantel do Sp. Braga para consolidar a sua posição. Travou uma luta interessante com Aboubakar e mostrou sempre frieza e segurança.

Paulo FonsecaOfensivamente, o Sp. Braga não conseguiu ter a acutilância que o seu treinador esperava, mas a estratégia de Paulo Fonseca revelou-se acertada. Apenas na parte final viu a sua equipa passar por dificuldades.

TelloJulen Lopetegui deu mais uma oportunidade ao seu conterrâneo, mas Cristian Tello voltou a mostrar muito pouco. O extremo espanhol raramente conseguiu criar perigo, não dando a largura de que o ataque portista necessitava.

ImbulaJogou sempre para o lado ou para trás. O francês nunca conseguiu encontrar soluções ofensivas para ajudar a sua equipa.

Crónica de jogoDavid Andrade

Outros jogos

Rui Bento estreou-se ao comando do Tondela com uma igualdade, que valeu o quinto ponto à equipa que nesta época chegou à I Liga. O Arouca é agora o rei dos empates na competição (cinco), pecúlio que o mantém no meio da classificação.

O bom início de época do V. Setúbal foi confirmado no Minho, com o terceiro triunfo na Liga e a subida ao primeiro terço da tabela. O Moreirense é cada vez mais último, já que os adversários directos na classificação pontuaram.

Arouca 1Ivo Rodrigues 60’

Tondela 1Romário Baldé 48’

Estádio Municipal de Arouca.Espectadores cerca de 700

Arouca Bracalli, Dabó a14’ (Leandro, 60’), Gegé (Adilson, 68’), Hugo Basto a83’, Lucas Lima, Nuno Coelho a30’, Nuno Valente, David Simão (Artur, 54’), Ivo Rodrigues, Zéquinha, Maurides. Treinador Lito Vidigal

Tondela Matt Jones, Edu Machado, Bruno Nascimento a59’, Markus Berger, Dolly Menga a79’aa90+3’, Lucas Souza, Bruno Monteiro, Luís Alberto, Hélder Tavares, Wagner (Jhon Murillo, 78’) Romário Baldé (Nathan Júnior, 63’). Treinador Rui Bento

Árbitro Manuel Mota (AF Braga)

Moreirense 0

V. Setúbal 2André Claro 43’, Fábio Pacheco 85’

Estádio Com. J. Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos Espectadores 1078

Moreirense Stefanovic, Coronas, André Micael, Marcelo Oliveira a76’, Evaldo, Battaglia a86’, Filipe Gonçalves (André Fontes, 46’), Palhinha (Luís Carlos, 80’), Vítor Gomes (Boateng, 61’), Iuri Medeiros. Rafael Martins. Treinador Miguel Leal

V. Setúbal Ricardo, William Alves, Frederico Venâncio, Rúben Semedo, Nuno Pinto, Dani, Fábio Pacheco, Arnold (André Horta, 69’), Costinha, André Claro (Hassan, 89’), Suk (Ruca, 79’). Treinador Quim Machado

Árbitro João Pinheiro (AF Braga)

CLASSIFICAÇÃOI LIGAJornada 8Nacional-Boavista 0-0Marítimo-Paços de Ferreira 0-2Estoril-Rio Ave 2-2V. Guimarães-Académica 1-1Arouca-Tondela 1-1Moreirense-V. Setúbal 0-2Benfica-Sporting 0-3FC Porto-Sp. Braga 0-0Belenenses-U. Madeira 20h, SP-TV

J V E D M-S P1. Sporting 8 6 2 0 17-5 202. FC Porto 8 5 3 0 16-4 183. Rio Ave 8 4 3 1 14-9 154. Sp. Braga 8 4 2 2 12-4 145. Paços de Ferreira 8 4 2 2 9-9 146. Estoril 8 4 1 3 8-10 137. V. Setúbal 8 3 4 1 16-12 138. Benfica 7 4 0 3 16-7 129. Arouca 8 2 5 1 8-7 1110. Boavista 8 2 3 3 5-8 911. Marítimo 8 2 2 4 10-14 812. Nacional 8 2 2 4 6-8 813. Belenenses 7 1 4 2 9-17 714. V. Guimarães 8 1 4 3 6-13 715. União da Madeira 6 1 3 2 3-4 616. Tondela 8 1 2 5 4-8 517. Académica 8 1 1 6 3-14 418. Moreirense 8 0 3 5 5-14 3

Próxima jornada Tondela-Benfica, Sp. Braga-Belenenses, União Madeira-FC Porto, Sporting-Estoril, Académica-Moreirense, V. Setúbal-Arouca, Rio Ave-Nacional, Boavista-Marítimo, P. Ferreira-V. Guimarães

II LIGAJornada 12Leixões-Sp. Braga B 2-3Atlético -Desp. Aves 0-1Olhanense-Ac. Viseu 2-2Oriental-Portimonense 1-2Santa Clara-Sporting B 2-3FC Porto B-Oliveirense 2-2Famalicão-Farense 2-1Freamunde-Mafra 1-0Varzim-Desp. Chaves 3-0Penafiel-Sp. Covilhã 2-2V. Guimarães B-Gil Vicente 1-0Benfica B-Feirense 18h, BTV

J V E D M-S P1. FC Porto B 12 8 2 2 25-14 262. Portimonense 12 6 5 1 20-14 233. Sporting B 12 6 3 3 17-12 214. Atlético 12 6 2 4 14-11 205. Desp. Chaves 12 5 4 3 14-10 196. Sp. Braga B 12 5 4 3 15-13 197. Desp. Aves 12 5 4 3 13-11 198. Ac. Viseu 12 5 4 3 12-11 199. Benfica B 11 5 2 4 15-12 1710. Olhanense 12 4 4 4 12-12 1611. Famalicão 12 3 7 2 15-15 1612. Varzim 12 5 1 6 15-18 1613. Penafiel 12 4 4 4 13-14 1614. Gil Vicente 12 4 3 5 13-12 1515. Freamunde 12 4 3 5 11-10 1516. Farense 12 4 2 6 14-15 1417. Santa Clara 12 4 2 6 13-14 1418. Feirense 11 2 8 1 14-14 1419. V. Guimarães B 12 3 5 4 13-16 1420. Sp. Covilhã 12 3 5 4 11-16 1421. Mafra 12 3 4 5 10-11 1322. Oriental 12 2 3 7 15-22 923. Leixões 12 2 3 7 10-17 924. Oliveirense 12 1 4 7 8-18 7

Próxima jornada Sp. Braga B-Penafiel. Desp. Chaves-FC Porto B, Desp. Aves-V. Guimarães B, Sp. Covilhã-Freamunde, Feirense-Santa Clara, Gil Vicente-Olhanense, Mafra-Oriental, Sporting B-Varzim, Oliveirense-Atlético, Ac. Viseu-Leixões, Farense-Benfica B, Portimonense-Famalicão

MELHORES MARCADORESI Liga7 golos Jonas (Benfica), Slimani (Sporting), 6 golos Suk (V. Setúbal)5 golos André Claro (V. Setúbal)

II Liga9 golos André Silva (FC Porto B)6 golos Stanley (Varzim), Pires (Portimonense) 5 golos Denis (V. Guimarães B), Platiny (Feirense)

Os “dragões” não conseguiram vencer os minhotos, permitindo que o Sporting assuma a liderança do campeonato

Page 39: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | DESPORTO | 39

A 31.ª edição do Campeonato da

Europa de clubes, que se disputou

na capital da Macedónia, Skopje, foi

conquistada pela equipa russa Sibé-

ria, que assim sucede ao anterior

campeão do Azerbaijão, o Socar, que

teve de se contentar com a prata.

O momento decisivo da prova

ocorreu à 5.ª jornada, quando os

dois líderes, até aí 100% vitoriosos,

Sibéria e Socar, se encontraram, com

a equipa russa a levar a melhor. No

primeiro e terceiro tabuleiros, Vladi-

mir Kramnik e Alexander Grischuk

Sibéria é a nova campeã da Europa de clubes

superiorizaram-se, respectivamente,

a Veselin Topalov e Fabiano Carua-

na, com Michael Adams, no quarto, a

atenuar a derrota ao vencer Li Chao,

tendo-se registado empates nas ou-

tras três partidas do encontro.

Na 6.ª ronda, Kramnik voltava a

estar em destaque, ao vencer Ivan-

chuk, no difícil triunfo perante os

representantes locais do Alkaloid,

para na sétima gerir a vantagem, em-

patando frente à formação italiana

do Objettivo Risarcimento.

A representação portuguesa, a car-

go do Grupo Desportivo Dias Ferrei-

ra, esteve em bom plano, terminan-

do com 50% dos pontos possíveis, na

25.ª posição entre 50 participantes.

Xadrez Jorge Guimarães

PUBLICIDADE

CLASSIFICAÇÕESINGLATERRA ESPANHAJornada 10Aston Villa-Swansea 1-2Leicester City-Crystal Palace 1-0Norwich-West Bromwich 0-1Stoke City-Watford 0-2West Ham-Chelsea 2-1Arsenal-Everton 2-1Sunderland-Newcastle 3-0Bournemouth-Tottenham 1-5Manchester United-Manchester City 0-0Liverpool-Southampton 1-1

Jornada 9Rayo Vallecano-Espanyol 3-0Celta de Vigo-Real Madrid 1-3Granada-Betis 1-1Sevilha-Getafe 5-0Málaga-Dep. Corunha 2-0Levante-Real Sociedad 0-4Las Palmas-Villarreal 0-0Barcelona-Eibar 3-1Atlético Madrid-Valência 2-1Athletic Bilbau-Sporting Gijón 20h30

J V E D M-S P J V E D M-S P1. Manchester City 10 7 1 2 24-8 222. Arsenal 10 7 1 2 18-8 223. West Ham 10 6 2 2 22-13 204. Manchester United 10 6 2 2 15-8 205. Leicester City 10 5 4 1 20-17 196. Tottenham 10 4 5 1 16-8 177. Crystal Palace 10 5 0 5 12-11 158. Southampton 10 3 5 2 16-13 149. Liverpool 10 3 5 2 9-11 1410. West Bromwich 10 4 2 4 8-11 1411. Everton 10 3 4 3 13-13 1312. Swansea City 10 3 4 3 12-12 1313. Watford 10 3 4 3 8-10 1314. Stoke City 10 3 3 4 9-12 1215. Chelsea 10 3 2 5 15-19 1116. Norwich City 10 2 3 5 14-21 917. Bournemouth 10 2 2 6 12-22 818. Newcastle 10 1 3 6 12-22 619. Sunderland 10 1 3 6 11-19 620. Aston Villa 10 1 1 8 9-17 4

1. Real Madrid 9 6 3 0 21-3 212. Barcelona 9 7 0 2 20-12 213. Atlético Madrid 9 6 1 2 14-5 194. Celta Vigo 9 5 3 1 18-11 185. Villarreal 9 5 2 2 13-7 176. Deportivo Corunha 9 3 4 2 14-11 137. Eibar 9 3 4 2 12-10 138. Sevilha 9 3 3 3 13-12 129. Valência 9 3 3 3 8-7 1210. Betis 9 3 3 3 9-13 1211. Espanyol 9 4 0 5 10-20 1212. Getafe 9 3 1 5 10-13 1013. Rayo Vallecano 9 3 1 5 11-17 1014. Real Sociedad 9 2 3 4 10-9 915. Sporting Gijón 8 2 3 3 10-11 916. Málaga 9 2 3 4 5-7 917. Athletic Bilbau 8 2 2 4 10-12 818. Granada 9 1 3 5 9-17 619. Levante 9 1 3 5 6-19 620. Las Palmas 9 1 3 5 6-13 6

Mohamed Salah fez o primeiro golo da tarde, em Florença

Foi seguramente difícil de digerir, pa-

ra os adeptos da Fiorentina, a derrota

de ontem frente à Roma (1-2). Não

só porque a equipa orientada por

Paulo Sousa perdeu a liderança da

Liga italiana mas também porque um

dos carrascos foi Mohamed Salah,

um jogador que deixou saudades no

Estádio Artemio Franchi, onde ac-

tuou, por empréstimo, no primeiro

semestre deste ano. E, para piorar o

cenário, o Nápoles assaltou o segun-

do lugar da Serie A.

O arranque auspicioso de época da

nova Fiorentina, versão Paulo Sousa,

adoçou a boca aos adeptos, mas três

desaires consecutivos (dois para o

campeonato) já fi zeram os mais op-

timistas descer à terra. Num jogo que

decidia a liderança da prova, Salah

inaugurou o marcador para a Roma

aos 6’ — festejou um pouco e depois

pediu desculpa na direcção da ban-

cadas —, Gervinho ampliou aos 34’,

e o golo de honra dos viola só chegou

aos 90’, depois da expulsão de... Sa-

lah. O autor foi Babacar.

Com este desaire, e com o triunfo

do Nápoles graças a um golo solitário

de Higuaín no terreno do Chievo, a

Fiorentina não só deixa fugir o co-

mando da Serie A, como perde a se-

gunda posição, ocupada agora pelos

napolitanos. De resto, são quatro as

equipas com 18 pontos: Fiorentina,

Nápoles, Inter Milão e Lazio.

Igualmente pressionado, mas pelo

triunfo da véspera do Real Madrid,

estava o Barcelona, que superou sem

difi culdades acrescidas um desafi o

chamado Eibar na Liga espanhola.

E tudo graças a Luis Suárez. O avan-

çado uruguaio assinou um hat-trick

(21’, 48’ e 85’) no triunfo em Camp

Nou por 3-1, dando a volta à vanta-

gem surpreendente que os visitantes

tinham alcançado logo aos 10’, com

um golo de Borja Baston.

Estes três pontos permitem à for-

mação orientada por Luis Enrique

manter-se colada no topo da tabela

ao Real Madrid, com mais três pon-

tos que o outro gigante da capital,

o Atlético, que derrotou o Valência

por 2-1. Jackson Martínez inaugurou

o marcador aos 32’, oito minutos vol-

vidos Ferreira-Carrasco ampliou e

Espiral descendente da Fiorentina custou-lhe a liderança em Itália

a baliza e já dentro dos 10 minutos

fi nais. Resultado? Os “citizens” parti-

lham agora o comando da prova com

o Arsenal.

Na Turquia, o Fenerbahçe e o Gala-

tasaray também dividiram os pontos,

na 9.ª ronda do campeonato, e deixa-

ram o caminho livre para o Besiktas

(caso ganhe hoje ao Antalyaspor)

descolar para quatro pontos de van-

tagem no primeiro lugar. Em Istam-

bul, a equipa de Vítor Pereira marcou

por Diego, aos 37’, mas o Galatasaray,

adversário do Benfi ca na Champions,

empatou a seis minutos do fi m, com

um golo do suplente Olcan Adin.

Paco Alcácer, no segundo tempo,

de penálti, reduziu para o 2-1 fi nal.

Nuno Espírito Santo soma agora três

vitórias, três empates e outras tantas

derrotas no campeonato.

Derby amorfo em ManchesterPara além do Benfi ca-Sporting, on-

tem foi dia de mais dois derbies de pe-

so. Em Inglaterra, porém, as expec-

tativas saíram defraudadas. Os dois

vizinhos de Manchester, o United e o

City, empataram na 10.ª jornada da

Premier League (0-0), num jogo em

que as duas equipas só conseguiram

fazer dois remates enquadrados com

Futebol internacionalNuno Sousa

Salah foi uma das figuras da Roma no encontro frente à antiga equipa. Barcelona colou-se ao Real e em Manchester houve empate

ALBERTO PIZZOLI/AFP

PROCESSO DE CANDIDATURAS AO PROGRAMA ESCOLHAS

No seguimento do Despacho normativo n.º 19-A/2015, publicado em D.R., 2.ª Série - n.º 199, de 12 de Outubro de 2015, serve o presente para informar que se encontra aberto o processo de candidaturas ao Programa Escolhas. O Regulamento, bem como toda a documentação necessária para o processo de candidatura, encontra-se disponível no sítio https://candidatura.programaescolhas.pt/

O Programa Escolhas é um programa de âmbito nacional, que visa promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, tendo em vista a igualdade de oportunidades e o reforço da coe-são social.

As candidaturas deverão ser entregues até ao dia 30 de Novembro de 2015.

As entidades interessadas poderão ainda recorrer ao Serviço de Apoio às Can-didaturas, que dará resposta a dúvidas que surjam durante o período de apresenta-ção das mesmas. Este serviço encontra-se disponível através dos números de tele-fone (00351) 21 810 30 60/ (00351) 22 207 64 50 ou através do e-mail [email protected]

Mais informações em: www.programaescolhas.pt

Prémio Artístico para Atores de Cinema 2014

em longas-metragens de ficção, faladas em português,

seleccionadas por júri.

Os atores ou produtores interessados podem contactar a

Fundação GDA até 10 de novembro de 2015

Fundação GDA

Rua Joaquim Agostinho 14-B, 1750-126 Lisboa | Telf. 218 411 6 50

VIII Prémio de Atores de Cinema Fundação GDA

Page 40: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

40 | DESPORTO | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

CLASSIFICAÇÕES

GP de Austin

Próxima prova: GP do México, dia 1 de Novembro

Mundial de construtores

Mundial de pilotos

1. Lewis Hamilton (Mercedes) 1h50m52.703s

2. Nico Rosberg (Mercedes) a 2.850s

3. Sebastian Vettel (Ferrari) a 3.381s

4. Max Verstappen (Toro Rosso) a 22.359s

5. Sergio Perez (Force India) a 24.413s

6. Jenson Button (McLaren) a 28.058s

7. Carlos Sainz Jr (Toro Rosso) a 30.619s

8. Pastor Maldonado (Lotus) a 32.273s

9. Felipe Nasr (Sauber) a 40.257s

10. Daniel Ricciardo (RedBull) a 53.371s

11. Fernando Alonso (McLaren) a 54.816s

12. Alexander Rossi (Marussia ) a 1m15.277s

1. Lewis Hamilton 327 pts2. Sebastian Vettel 2513. Nico Rosberg 2474. Kimi Räikkönen 1235. Valtteri Bottas 1116. Felipe Massa 1097. Daniil Kvyat 768. Daniel Ricciardo 74

1. Mercedes 574 pts2. Ferrari 3743. Williams 2204. RedBull 1505. Force India 102

MARK RALSTON/AFP

Lewis Hamilton e o salto para o título, em Austin

“Este é o melhor momento da mi-

nha vida”. Foi uma das primeiras

frases dirigidas por Lewis Hamilton

à equipa, através do rádio, enquanto

sacudia as mãos no ar ao passar pe-

los milhares de fãs que assistiram ao

Grande Prémio de Austin, nos Esta-

dos Unidos. Hamilton é tricampeão

do mundo de Fórmula 1, tendo con-

cluído as 56 voltas ao Circuito das

Américas em 1h50m52,703s.

No circuito de Austin, o britânico

conquistou a 10.ª vitória da tempo-

rada — e a 43.ª da carreira —, em 15

corridas disputadas, o que lhe valeu

o título de campeão do mundo quan-

do faltam três corridas para o fi nal do

campeonato, confi rmando assim o

domínio absoluto da Mercedes (que

já tinha assegurado o título de cons-

trutores) na modalidade. Hamilton

é matematicamente campeão com

uns inalcançáveis 327 pontos, mais

76 do que Sebastian Vettel.

Hamilton partiu do segundo lu-

gar da grelha, com o companheiro

de equipa, Nico Rosberg, a agarrar a

pole position na sessão de qualifi ca-

ção que decorreu cinco horas antes

da partida. Mas foram precisos ape-

nas alguns segundos para o britânico

superar o alemão, encostando-o logo

na largada, com um ligeiro toque na

curva 1. Na anterior corrida de Hamil-

ton em Austin, em 2014, também par-

tira do segundo lugar, com Rosberg

na pole, e acabou por sair vencedor.

Ontem, a história repetiu-se.

A vitória e a conquista do título

ainda fi zeram suar o britânico. Nas

primeiras voltas, o primeiro lugar foi

bastante disputado pelos dois carros

da Mercedes e os dois monolugares

da Red Bull, com Daniil Kyvat e Da-

niel Ricciardo. Nessa altura, Rosberg

alcançou novamente o primeiro lugar

e Hamilton chegou a ser quarto.

Com a entrada do safety car por

duas vezes na corrida, a ordem dos

carros baralhou-se. Da primeira

vez, Rosberg aguentou a primeira

posição, com Hamilton a seguir em

segundo. No entanto, Kvyat e Ric-

ciardo, prejudicados pelo safety car

e pelas paragens nas boxes, perde-

ram na luta contra Vettel (Ferrari).

Se tudo se mantivesse, Hamilton não

Hamilton repetiu o guiãodo ano passado em Austin e já é tricampeão mundial

seria campeão do mundo. O britâni-

co precisava de ganhar a corrida e

esperar que Vettel não chegasse ao

segundo lugar.

Numa corrida em que aconteceu

de tudo — muitos falam mesmo na

corrida da temporada —, apenas 12

carros continuaram em pista, após

vários acidentes e retiradas.

Na 49.ª volta, surgiu o momento

decisivo. Rosberg cometeu um erro

na aceleração numa parte molhada

da pista e foi ultrapassado por Hamil-

ton. Faltavam sete voltas para o bri-

tânico se sagrar tricampeão e, com

quatro segundos de vantagem sobre

o colega de equipa, era só esperar

que o alemão da Mercedes aguentas-

se a pressão do compatriota da Ferra-

ri até à última curva. E assim foi.

Max Verstappen (Toro Rosso) es-

teve também no centro das atenções

durante a corrida, em grande medida

pela grande performance em Austin,

terminando em quarto lugar. Sergio

Perez (Force India) foi quinto, Jenson

Button (McLaren) conseguiu um sex-

to lugar e Carlos Sainz (Toro Rosso)

acabou em sétimo.

A completar o top 10 seguiram-se

Pastor Maldonado (Lotus), Felipe

Nars (Sauber) e Ricciardo, piloto da

Red Bull que a dada altura liderou a

corrida mas que terminou em 10º.

Kvyat saiu na 44.ª volta depois de

um despiste que culminou com um

choque contra as barreiras.

Fórmula 1Adriana Reis

Britânico da Mercedes venceu nos EUA e, a três corridas do final da época, entrou para o clube dos pilotos com três títulos

Fernando Alonso (McLaren) foi

penúltimo, terminando sem pontu-

ação. No último lugar está Alexander

Rossi, piloto da Manor.

Se esta que foi uma das melhores

corridas dos últimos tempos para

alguns fãs, foi também uma corrida

desastrosa para a Williams, que ter-

minou com o abandono dos dois car-

ros — Felipe Massa e Valtteri Bottas.

Mas tudo isso se revelou secundá-

rio. Os holofotes estavam apontados

para Lewis Hamilton (2008, 2014 e

2015), o primeiro britânico a ganhar

dois títulos consecutivos, igualando o

compatriota Jackie Stewart com três

campeonatos. O piloto da Mercedes

faz agora parte do restrito grupo de

dez pilotos a conquistar, pelo menos,

três títulos mundiais — Michael Schu-

macher (sete), Juan Manuel Fangio

(cinco), Alain Prost e Sebastian Vettel

(quatro), Ayrton Senna, Niki Lauda,

Nelson Piquet, Jack Brabham, Jackie

Stewart e Hamilton (três).

O britânico festejou efusivamente,

abraçando vários elementos da Mer-

cedes no fi nal. Quando teve tempo

para tirar o capacete, ajoelhou-se

numa das mesas da zona de acesso

ao pódio. “Não tenho palavras para

descrever isto. Não conseguiria fazê-

lo sem a minha equipa. Muito obri-

gado por tudo o que fi zeram”, disse

um emocionado Hamilton já no pó-

dio, entrevistado por Sir Elthon John.

Texto editado por Nuno Sousa

A imagem no fi nal do jogo de Da-

niel Hourcade, seleccionador da

Argentina que trabalhou em Portu-

gal entre 2004 e 2008, emocionado

e de lágrimas nos olhos, refl ecte a

enorme decepção que o râguebi ar-

gentino viveu ontem, em Londres.

Após um excelente Mundial 2015,

os Pumas depararam-se nas meias-

fi nais com uma pragmática Austrá-

lia, que soube aproveitar os erros

dos sul-americanos para vencer (29-

15) e marcar encontro, no próximo

sábado, com os All Blacks, na fi nal

da competição.

A garra e o enorme coração que a

Argentina colocou sempre em cam-

po neste Mundial voltou a ser visto

em Twickenham, mas, perante uma

experiente Austrália, os Pumas ce-

deram e a estratégia de Hourcade

começou a ruir aos 68 segundos:

um passe denunciado de Sanchez

foi interceptado por Rob Simmons

e o segunda-linha, do alto dos seus

200 centímetros, fez um sprint de

30 metros que só terminou depois

da linha de ensaio.

Com menos quilómetros nas per-

nas do que o rival em jogos desta

responsabilidade, os argentinos

mostravam-se nervosos e acabaram

por sofrer o segundo ensaio, aos 10’:

excelente passe de Foley para Ash-

ley-Cooper que, na ponta, fez o seu

primeiro toque de meta no jogo.

Com Hooper e Pocock em desta-

que na luta dos packs avançados, os

Wallabies começaram a gerir o jogo

com inteligência e a reacção dos Pu-

mas fi cou comprometida, aos 26’,

após Lavanini ver um cartão ama-

relo. E a vantagem numérica não

foi desperdiçada pelos australianos:

seis minutos depois, Ashley-Cooper

voltou a marcar na ponta.

Apesar dos 10 pontos de desvanta-

gem (19-9), o regresso dos balneários

mostrou uma Argentina decidida a

não deitar a toalha ao chão e após

um pingue-pongue de penalidade

entre Sanchez e Foley, chegou-se aos

últimos 10 minutos com tudo por

decidir e apenas sete pontos de van-

tagem para a Austrália (22-15).

A necessitarem de um ensaio

convertido para empatar, os Pumas

acreditavam que era ainda possível

fazerem história e chegaram pe-

la primeira vez a uma fi nal de um

Mundial, mas, a oito minutos do

fi m, Ashley-Cooper completou o seu

hat-trick e acabou com a resistência

argentina.

Wallabies quebraram o coração argentino

RâguebiDavid Andrade

Page 41: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | DESPORTO | 41

PUBLICIDADE

Miguel Oliveira era o único que podia

impedir o título do britânico Danny

Kent e foi isso que conseguiu ao ter-

minar no primeiro lugar no Grande

Prémio da Malásia de Moto 3 pela

quinta vez esta época. Esta é tam-

bém a quinta vitória da carreira do

piloto e o quinto pódio consecutivo,

sempre entre os dois primeiros. O

português está agora a 24 pontos de

Kent na corrida pelo título, que se vai

decidir no Grande Prémio de Valên-

cia, dentro de duas semanas.

Quinta vitória do ano para Miguel Oliveira no Grande Prémio da Malásia

O piloto português, que partiu da

terceira posição da grelha em Sepang,

terminou a corrida em 40m33,277s,

à frente de Brad Binder e Jorge Na-

varro. Danny Kent, actual líder do

campeonato, terminou em sétimo.

“Corri pela vitória e como tinha pla-

neado. Estou muito contente com es-

ta vitória e por ainda estar vivo no

campeonato. É difícil, mas vou lutar

até ao fi m”, referiu Oliveira.

A vitória de Miguel Oliveira na 17.ª

e penúltima prova do Mundial de ve-

locidade deixou Kent sem a oportu-

nidade, para já, de conquistar o títu-

lo. O britânico, com 253 pontos, tem

Oliveira logo atrás, com 229. Para ser

campeão, o português terá que ven-

cer em Valência e esperar que Kent

não vá além do 15.º lugar.

Em MotoGP, Dani Pedrosa venceu

a corrida, com Jorge Lorenzo e Valen-

tino Rossi a completarem o pódio,

em segundo e terceiro lugar.

MotociclismoAdriana Reis

Com o primeiro lugar do pódio em Sepang, o português encurta a distância que o separa de Danny Kent para 24 pontos

Protagonista fora da pista nos úl-

timos dias como autor de vários ata-

ques ao espanhol Marc Márquez, o

italiano Rossi foi também a grande

personagem do dia ao pontapear

Márquez numa altura em que am-

bos disputavam o terceiro lugar com

sucessivas ultrapassagens. O espa-

nhol acabou por cair e abandonar

a corrida na 14.ª volta, terminando

sem pontos. Como consequência, o

italiano da Yamaha sofreu uma pe-

nalização de três pontos na luta pelo

título e parte do último lugar no pró-

ximo Grande Prémio, em Valência, a

última corrida do Mundial. Na troca

de palavras que antecedeu a corrida,

Rossi acusou Márquez de correr para

lhe criar problemas e ajudar Lorenzo

a conquistar o título.

Já após ter conhecimento da puni-

ção, o italiano deixou no ar a hipóte-

se de não correr em Valência. Texto editado por Nuno Sousa

Miguel Oliveira está a fazer uma grande temporada

CLASSIFICAÇÕES

GP da MalásiaMotoGP1. Dani Pedrosa (Honda) 40m37.691s 2. Jorge Lorenzo (Yamaha) 40m41.303s Mundial de pilotos1. Valentino Rossi (Yamaha) 312 pts2. Jorge Lorenzo (Yamaha) 305 Moto21. Johann Zarco (Kalex) 40m37.772s 2. Thomas Luethi (Kalex) 40m38.370sMundial de pilotos1. Johann Zarco (Kalex) 343 pts2. Alex Rins (Kalex) 214 Moto31. Miguel Oliveira (KTM 40m33.277s 2. Brad Binder (KTM) 40m33.366s Mundial de pilotos1. Danny Kent (Honda) 253 pts2. Miguel Oliveira KTM) 229

Page 42: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

42 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Os surfi stas portugueses Frederico

Morais e Vasco Ribeiro fi zeram on-

tem história em Peniche, ao elimina-

rem, respectivamente, o australiano

Mick Fanning e o brasileiro Adriano

de Souza, números um e dois do

ranking mundial, no Moche Rip Curl

Pro Portugal, a etapa portuguesa do

circuito mundial de surf.

Depois de, em 2013, ter deixado

uma marca signifi cativa em Peni-

che, ao vencer o 11 vezes campeão

do mundo Kelly Slater, Frederico

Morais voltou ontem a surpreender

tudo e todos ao eliminar o principal

candidato ao título deste ano. “Ki-

kas” apurou-se para a quarta ronda

da prova — algo nunca conseguido

por um português, ao alcançar 16,03

pontos (9,13 e 6,90), melhor do que

os 14,40 pontos do australiano Mick

Fanning (8,40 e 6,00).

Com as centenas de pessoas pre-

sentes na praia de Supertubos a

aplaudirem a vitória do português,

Mick Fanning abraçou “Kikas” ainda

na água, a felicitá-lo pela vitória. “É

um dia inesquecível e memorável,

sem dúvida. O que me deixa ainda

mais feliz são os bons scores, os he-

ats sólidos e o bom surf. É um dia

muito feliz para mim”, afi rmou o

português.

Mick Fanning, que era o único sur-

fi sta que tinha hipótese de se sagrar

campeão mundial já em Peniche, vê,

assim, cair por terra essa possibili-

dade, remetendo a decisão do título

para a última etapa do circuito, em

Pipeline.

Também Vasco Ribeiro conseguiu

superiorizar-se ao número dois do

circuito mundial de surf, o brasileiro

Adriano de Souza, para gáudio do

muito público que acorreu às areias

de Peniche. O português campeão do

mundo de juniores — que, tal como

Frederico Morais, está em Peniche

a competir por convite (wild card) —

conseguiu 14,36 pontos (5,93 e 8,43)

e venceu o “mineirinho”, que fez

apenas 11,80 pontos (5,77 e 6,03).

Vasco Ribeiro afastou assim o bra-

sileiro, um dos principais candidatos

ao título mundial de surf, e juntou-

se a Frederico Morais na história do

evento como primeiros portugueses

na quarta ronda. PÚBLICO/Lusa

Dia histórico para o surf português em Peniche

Moche Rip Curl Pro

Frederico Morais e Vasco Ribeiro eliminaram Mick Fanning e Adriano de Souza, os números um e dois do mundo

Breves

Ténis

Automobilismo

Marin Cilic vence em Moscovo, Berdych impõe-se na Suécia

Mikkelsen vence Rali da Catalunha, após acidente de Ogier

O croata Marin Cilic, primeiro cabeça de série, conquistou ontem, pelo segundo ano consecutivo, o torneio de Moscovo, ao derrotar o espanhol Roberto Bautista Agut, por 6-4, 6-4. Numa reedição da final do ano passado, Cilic precisou de 1h28m para bater o espanhol pelo mesmo resultado que tinha conseguido em 2014.O croata, de 27 anos e 14.º do mundo, conquistou o primeiro título da temporada e o 14.º da carreira. Já o checo Tomas Berdych venceu pela terceira vez o torneio de Estocolmo, na Suécia, ao derrotar na final o norte-americano Jack Sock, por 7-6 (7-1) e 6-2. Frente ao 32.º do ranking, o número cinco mundial precisou de 1h24m para revalidar a conquista de 2014 e alcançar o 12.º título da carreira.

O norueguês Andreas Mikkelsen (Volkswagen) venceu ontem o Rali da Catalunha, naquele que foi o seu primeiro triunfo no Mundial de ralis, beneficiando da desistência do francês Sébastien Ogier (Volkswagen) no último sector. Já coroado campeão do mundo, Ogier entrou para o 23.º e derradeiro troço da penúltima etapa do Mundial, a power stage de Dosaigues, de 12,1km, com 54 segundos de vantagem sobre Mikkelsen, mas acabou por bater numa barreira de segurança e perder uma roda. Com esta desistência, Mikkelsen somou o primeiro triunfo, na sua 64.ª prova, terminando com 3,1 segundos de avanço sobre o finlandês Jari-Matti Latvala (Volkswagen) e 21,2 sobre o espanhol Dani Sordo (Hyundai).

Page 43: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 43

ESPAÇOPÚBLICO

EDITORIAL

CARTAS À DIRECTORA

A incerteza de Passos e a obrigação de Costa

Afi nal, que poderá fazer Passos Coelho

se o seu programa de governo vier a

ser rejeitado no Parlamento, como já

prometeram os partidos da oposição?

O quadro ainda está muito confuso e há

informações contraditórias sobre a vontade

real do primeiro-ministro indigitado. Uns

dizem que sim, que a sua intenção é fi car à

frente de um governo de combate; outros

garantem que não, que tudo o que Passos

não quer é “fi car a assar [no Governo] para

depois vir limpar o que os outros fi zeram”,

uma frase que, segundo o jornal i, proferiu na

Comissão Política do PSD de quinta-feira, já

depois de ter ouvido o controverso discurso

de Cavaco Silva. Ora, nessa altura, Cavaco foi

claríssimo: em seu entendimento, um governo

PS apoiado pelo BE e pelo PCP é mais gravoso

para o país do que um executivo em gestão

por tempo indeterminado. Mas, entretanto, há

A releitura do discurso de Cavaco tem um objectivo

quem proponha uma exegese menos radical

e taxativa do discurso presidencial. Talvez

em Belém não tivessem sido sufi cientemente

medidos os efeitos perversos da intervenção

do Presidente, não só como elemento

agregador das indecisões que ainda subsistem

nas negociações à esquerda, mas também

pelo incómodo provocado em sectores

da própria órbita presidencial. O discurso

proferido, no sábado, por Marcelo Rebelo

de Sousa, na Voz do Operário, foi talvez o

mais claro, quer ao nível dos princípios e à

leitura dos poderes constitucionais do chefe

de Estado, quer quanto às críticas políticas

— implícitas e explícitas — à alocução feita

por Cavaco. Mas outros se distanciaram.

O presidente da CIP não apreciou o “tom

crispado”, porque percebeu logo os custos da

instabilidade; Fernando Negrão, o candidato

derrotado na eleição para a presidência da

Assembleia da República, optou por dar

uma lição de maturidade democrática ao

sublinhar, em entrevista ao DN, que se o

Governo minoritário de Passos for chumbado,

o Presidente “deve chamar o líder do segundo

maior partido e exigir-lhe, obviamente, que

apresente uma coligação consistente”; e

até Manuela Ferreira Leite surgiu no seu

comentário semanal, na TVI24, sem teses

sobre golpes de Estado e a descortinar

“sinais” de mudança no PCP.

Por tudo isto, o mais natural é mesmo a

incomodidade de Passos face a um cenário

que o amarra a um governo de gestão por

tempo incerto, de mãos atadas e com grande

espaço de manobra por parte da oposição,

que naturalmente tenderá a unir-se perante

uma solução que considera errada do

ponto de vista institucional e político. Daí

a releitura do discurso de Cavaco, abrindo

portas à indigitação de António Costa para

chefi ar um governo à esquerda. Mas para

isso é obrigatório que o secretário-geral

do PS tenha um acordo para mostrar. Por

várias razões. Em primeiro lugar, para não

dar ao Presidente da República um (justo)

pretexto contra a sua nomeação; depois,

porque qualquer acordo desta natureza

deve ser absolutamente transparente, e

nunca houve entendimentos deste tipo à

esquerda; fi nalmente, para salvaguardar

surpresas futuras. Após as novidades sobre

o reembolso da sobretaxa, não se sabe o que

mais pode estar debaixo do tapete.

A decisão “inábil”

A “inabilidade” ou a má-fé

continuada de Cavaco Silva,

Presidente da República (PR)

de uma larga faixa dos eleitores

portugueses, e de uma franja

de elite, acompanhada de uma

pretensiosa camada de sonhadores

que nela quer entrar ou pertencer,

veio toda à tona na noite mais

noite em que anunciou ao país e

ao mundo da euro-especulação

que nomeava o actual primeiro-

ministro para formar o próximo

governo e assim mantê-lo primeiro-

ministro por mais outra legislatura.

Nomeação “votada” ao fracasso,

como todos sabem. Cavaco Silva não

surpreendeu. Apenas confi rmou

aquilo que todos suspeitavam que

iria acontecer, já que ele veste o

agoiro desde há muito, embora se

lhe apresentasse uma alternativa

com menos fato e gravata, que

ele hoje como ontem demonstrou

As cartas destinadas a esta secção

devem indicar o nome e a morada

do autor, bem como um número

telefónico de contacto. O PÚBLICO

reserva-se o direito de seleccionar

e eventualmente reduzir os textos

não solicitados e não prestará

informação postal sobre eles.

Email: [email protected]

Contactos do provedor do Leitor

Email: [email protected]

Telefone: 210 111 000

não ser adepto, e no seu jeito

de boca seca provou que até lhe

custa ter de mastigar e engolir

os resultados desta democracia.

O ainda inquilino de Belém e PR

no Palácio do Povo, morada e

cargo que ele deve à Revolução

dos Cravos, também anterior ex-

primeiro-ministro, e ainda mais

ex-do-antigamente, tem vindo, ao

longo do seu reinado, a impor a sua

retrógrada vontade ao povo que o

sustenta e a satisfazer políticas dos

sectores revanchistas da sociedade

portuguesa e interesses externos,

com medidas que denunciam a sua

nostalgia. A decisão agora tomada

de nomear Passos Coelho contra

o sentido da maioria dos eleitores

lusos, e as consequências que dela

advirão no imediato e nos obscuros

dias seguintes, a ele, e só a ele,

deverão ser atribuídas e ele delas

vir a ser responsabilizado, com

consequências, e não com discursos

de “o que está feito feito está, não há

mais nada a fazer”. O mal é que esta

prática, como se fosse boa regra de

conduta, é que tem feito caminho

no pobre e tomado Portugal de

Abril, e por isso estamos como não

devíamos estar — reféns presos nas

calças remendadas!

Joaquim A. Moura, Penafi el

“Ganda” comício

Apoteótico, no mínimo, o

comício abrilhantado pelo

superstar Cavaco. Era apanágio

dos presidentes da República

arvorarem-se presidentes de

todos os portugueses. Este não:

borrifou-se em três dúzias de

deputados e em mais de um

milhão de eleitores. Não por ter

indigitado Passos Coelho, mas por

diabolizar PCP e BE, apondo-lhes o

ferrete de banidos da governação.

Passos Coelho foi, a meu ver,

bem indigitado, constitucional e

legitimamente. Mas era preciso o

Os artigos publicados nesta secção respeitam a norma ortográfica escolhida pelos autores

resto do discurso? Não lhe bastava

optar pela PaF: era preciso fazer

campanha para denegrir aqueles

de quem não gosta, só que o

tiro pode sair-lhe pela culatra. A

incontinência verbal que tantas

vezes o trai, como a que o levou

a dizer que não daria posse a

um governo minoritário, vai cair

mal pelo descarado convite ao

divisionismo entre as hostes do PS

que, provavelmente, só precisam

de um elemento catalisador para

a sua própria coesão. Além disso,

a “historinha” dos papões e dos

infortúnios futuros com que nos

acenou já começa a não dar efeito.

Viremos a perder as “invejáveis”

posições conquistadas pelo

Governo cessante nos rankings

da União Europeia, segundo o

recentíssimo relatório do Eurostat?

Isto é, “só” o segundo pior défi ce

e “só” a terceira maior dívida

pública. Que desgraça!

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Page 44: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

44 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

Sedução falhada

Duvido que o Doutor Cavaco

Silva tivesse antecipado todos

os efeitos do seu gesto de

hostilidade aos partidos da

esquerda. Não se entende o

porquê de tamanha agressão.

Na verdade, anunciar que

não conta com os partidos

à esquerda do PS para as

funções normais da vida

política, nomeadamente para a constituição

de governos, afastando-os da mesa

constitucional, parece longe do senso

comum. Mas o Presidente não se fi cou por

aqui. Lançou uma tentativa de sedução-

sedição aos deputados socialistas que

estivessem dispostos a rebelarem-se contra

a liderança. Pior ainda, açulou os mercados

a ladrarem e morderem o pequeno e frágil

país a cuja República preside. A resposta

do sistema político foi a incredulidade,

a rejeição liminar da atitude, e um coro

enfraquecido e pouco convicto dos tenores

do PSD e do CDS. A resposta dos partidos

da nova maioria foi demolidora: se tinham

dúvidas sobre a coligação, esqueceram-

nas; se estavam titubeantes na parceria,

tornaram-se lázaros que dispensam

muletas; se estavam mudos passaram

a audaciosos opositores ao Presidente;

se tinham receios passaram a afoitos; se

temiam cisões fratricidas, esqueceram o

risco e suturaram feridas. Poucas vezes se

viu o imediato impacto de uma peça política

tão contrário ao que pretendia o emissor.

Se não passámos a reconhecer o Doutor

Cavaco como socialista militante, passámos

a ver nele, ao menos, o grande aglutinador

e o principal ator do processo político de

união das esquerdas. O PS, relutante em

moção própria de rejeição, passou a propô-

la. Se receava no Parlamento uma derrota

anónima para Ferro Rodrigues presidir, ou

pelo menos uma arrastada negociação em

várias votações inconclusivas, reconheceu

na vitória à primeira um poder que quase

ignorava. De nada valeram os remoques:

que a proposta ia contra a tradição, que

Ferro deveria ter engolido em silêncio

a injúria presidencial, que doravante o

Parlamento passava a estar de risco ao

meio, apesar de ter mais cabelo do lado

esquerdo. Dos argumentos de vitória

eleitoral da coligação já pouco mais resta

que a retórica pomposa de Portas a roçar o

ridículo. Até os media, fi nalmente, parecem

ter caído em si e dado conta de que tudo

mudou. Habituar-se-ão a nova distribuição

de poder. E como se alimentam de notícias,

depressa reconhecerão que agora elas

nascem à esquerda. São as regras da

fi siologia do poder.

Há quem diga que a decisão que Cavaco

teria já tomado de nunca dar posse a Costa

apoiado à esquerda teria efeitos para

memória futura. Se assim for, tentou ler

um jornal com binóculos. O futuro não se

constrói com ressentimento e vingança,

mas com grandeza, o que aqui parece

faltar. O que mais surpreende em Cavaco,

não é a mercearia de cartucho. O que mais

nos intriga é a falta de visão de futuro, de

perspetiva do país na Europa e no mundo.

Cavaco tratou este assunto como uma dona

de casa alimenta galinhas: dá milho às que

considera poedeiras e farelo às restantes.

Assim nunca terá ovos das segundas.

E agora? Cavaco insinua, sem ser

explícito, que recusará o governo de Costa

e entronará Passos em governo de gestão.

O que signifi caria meses de espera, de

instabilidade, de protesto, de não-resposta

à Europa, de álibis decisórios em temas

que não esperam. Recorre-se ao Tribunal

Constitucional a cada lei canhestra e

arrogante? Retomam-se os cortes ou

abatem-se desde já, por omissão? Mantém-

se o sistema fi scal

intocado ou afi na-

se? Financiam-se

os hospitais por

duodécimos ou

modelam-se os

recursos segundo

o desempenho?

Sancionam-se

os dirigentes

que violam no

quotidiano a regra

dos compromissos,

ou muda-se a

lei? Mantém-se o

sistema de pensões

tal como está, ou

tenta-se algum

aperfeiçoamento?

Corta-se a gasolina

aos aviões da Força

Aérea, ou aceitamos

as obrigações

internacionais

de cooperação militar? Saímos com os

submarinos, ou deixamo-los acostados

no Alfeite? Nomeiam-se os altos cargos da

República por consenso, ou atrasa-se tal

nomeação? Preferimos gastar os recursos

de Bruxelas na agricultura ou no terminal

do Barreiro? Usamos os fundos para

crescimento e emprego ou continuamos

a desperdiçá-los no alindamento das

estatísticas? Em cada setor as alternativas

confrontar-nos-ão.

Um governo de gestão não governa,

fl utua. Sem rumo, o país deixa de ter

comando interno, de ter voz externa, de

pensar, de prever o futuro. Instabilidade

governativa gera incerteza económica,

fuga do investimento, menos emprego. Em

breve faltará o pão, culpa exclusiva dos que

não respeitam as regras do jogo. Goste-se

ou não de quem ganha, a democracia é o

governo das maiorias.

Mas a alternativa tem de ser sólida. Os

O futuro não se constrói com ressentimento e vingança, mas com grandeza, o que aqui parece faltar

Professor catedrático reformado.Escreve à segunda-feira

acordos têm de ser passados a escrito.

Nada está acordado até tudo ser acordado,

como se aprende em qualquer manual de

negociação. O programa económico do PS,

tão apreciado ele foi, pode ser certamente

negociado, mas não desfi gurado. Os limites

são para cumprir. Se a relutância de muitos

portugueses assenta nos compromissos

internacionais, pois então o acordo tem

de ser explícito nessa matéria, não pode

tomar a omissão por consentimento.

Quanto ao compromisso temporal,

claro que não são exigíveis cheques em

branco, nem anos de fi delização como

nos contratos de telecomunicações.

Mas o tempo é elemento essencial da

estabilidade. Tempo e vinculação, sem

duplicidades. Entre gente séria não pode

haver ambiguidades.

Sinais prudentes

Em Malta, Draghi anuncia novos es-

tímulos ao sistema fi nanceiro face à

travagem da economia pela defl ação

e à enorme fadiga reformista que sub-

merge os países do Sul, com austeri-

dade. Em dezembro, novas projeções ma-

croeconómicas e novas medidas de política

monetária do BCE acomodarão tensões per-

sistentes na zona euro, entre outras a queda

do comércio mundial, as complicações nas

economias da China e dos países emergen-

tes, a crise dos refugiados. Assim, os 60 mil

milhões de euros de compras mensais de

ativos (quantitative easing) previstos até se-

tembro de 2016 poderão ser reforçados, o

programa prolongado no tempo, o tipo de

obrigações elegíveis alargado ou até, adicio-

nalmente, baixarem os juros de depósitos.

Draghi não defrauda. Atua. As bolsas rea-

giram em alta, o euro desvalorizou face ao

dólar, os juros da dívida soberana caíram.

Não bastam medidas não convencionais, as

políticas fi scais são também necessárias à

recuperação. Recados dados às capitais, em

particular, Berlim. Numa semana, em que a

Comissão Europeia condenou a Fiat Finance

& Trade e a Starbucks Manufacturing ao

pagamento de 20 a 30 milhões de euros

por vantagens tributárias indevidas propor-

cionadas por acordos fi scais antecipados

(tax rulings) concedidos no Luxemburgo

e na Holanda. A Europa dá sinais de que-

rer inverter o declínio que alguns julgam

irreversível. Os novos estímulos afastam

incertezas quanto à dívida e uma agenda

de coordenação e gradual harmonização

fi scal europeia permitirá outra previsibili-

dade nos investimentos. Sinais prudentes de

que benefi ciarão todos, se a Europa souber

salvar-se de si própria.

João Ferreira da Cruz, economista

PEDRO NUNES

António Correia de CamposTerra e Lua

Page 45: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 45

BARTOON LUÍS AFONSO

O povo é sereno... é só fumaça

Receio que o nosso debate

político esteja a sofrer uma

radicalização desnecessária

e indesejável. E que essa

radicalização assente,

pelo menos em parte, em

asserções emotivas que não

estão a ser tranquilamente

confrontadas com a

experiência acumulada ao

longo dos 40 anos da nossa democracia.

Uma dessas asserções consiste em

apresentar a chamada “maioria de

esquerda” no actual Parlamento como

se se tratasse de um facto novo na nossa

história parlamentar. Negar essa maioria

seria, por isso, “excluir um milhão de

eleitores [do BE e do PCP] do sistema

democrático”. Seria, fi nalmente, um

“atentado contra a Constituição” e contra a

“soberania da Assembleia da República”.

Deve ser recordado que a maioria

numérica da esquerda existiu em 22 dos

40 anos de vida do nosso Parlamento. No

entanto, nunca houve governos de maioria

de esquerda. Porquê?

A resposta é dada pelos factos: em 22

anos de maioria numérica de esquerda,

nunca houve governos de maioria de

esquerda porque o Partido Socialista

nunca deixou. Porque o Partido Socialista

nunca aceitou coligar-se com o Partido

Comunista.

Já recordei aqui que, logo a seguir ao

25 de Abril, Manuel Serra liderava no

PS a defesa de uma aliança com o PCP.

Mário Soares derrotou-o com clássica

compostura.

Em 1980/81, Mário Soares recusou

apoiar a recandidatura presidencial do

General Eanes, apesar de este concorrer

contra um candidato comum da chamada

“direita”, o General Soares Carneiro. Mário

Soares inventou então uma nova fi gura

estatutária: “auto-suspendeu-se” do cargo

de secretário-geral do PS, para poder não

apoiar Ramalho Eanes — que era apoiado

pelo Secretariado do PS e apresentado

como candidato da “esquerda unida”. Foi

uma decisão gravíssima, que podia ter

marcado o fi m da sua carreira política.

Ramalho Eanes ganhou as presidenciais

de 1980/81. Mário Soares foi dado como

“acabado” pelos membros do “ex-

secretariado” — que preconizavam uma

“maioria de esquerda”. Mas Soares

reconquistou a liderança do PS e... ganhou

as eleições de 1983, sem maioria absoluta.

De novo contra a ala esquerda do PS,

recusou qualquer entendimento com os

comunistas e... promoveu o Bloco Central

com o PSD de Mota Pinto e depois Rui

Machete.

Em 1985/86, como também já recordei

aqui, Mário Soares lançou quase sozinho

a sua candidatura presidencial contra

dois candidatos à sua esquerda: Salgado

Zenha e Lourdes Pintasilgo. Foi nessa

altura que o Clube da Esquerda Liberal e

a revista RISCO, que eu na altura dirigia, o

apoiámos: ele tinha 8% nas sondagens, mas

acabou eleito Presidente.

Finalmente, em 1987, o Presidente

Mário Soares recusou as propostas de

maioria de esquerda que o PS e o PRD lhe

apresentaram. A “maioria de esquerda”

PS, PRD e PCP tinha votado uma moção de

censura e derrubado o Governo minoritário

do PSD de Cavaco Silva. Foram a Belém

dizer que havia uma maioria de esquerda

no Parlamento e que o Presidente Soares

tinha de lhes dar o Governo. Mário Soares

recusou e convocou eleições antecipadas

— que deram a primeira de duas maiorias

absolutas a Cavaco Silva e ao PSD.

Por outras palavras, a recusa da “maioria

de esquerda” foi um traço constitutivo

do Partido Socialista de Mário Soares. Ele

pensava que o que separa o PS do PCP

não são meras divergências políticas de

circunstância, mas sim dois conceitos de

sociedade. Não estão no mesmo campo no

que diz respeito à democracia e à liberdade.

Os actuais líderes socialistas não estão

obviamente impedidos de romper com esse

legado do PS. Mas manda a decência que

digam publicamente que estão a fazê-lo. E

mandam as boas práticas democráticas que

os eleitores possam a curto prazo dar o seu

parecer sobre o tema.

Quando anunciou as eleições antecipadas

de 1987, disse o Presidente Mário Soares:

“Como sabem, a regra de ouro nas

democracias é, em caso de dúvida — ou

de bloqueamento —, restituir a palavra ao

povo soberano, que é, como se diz, ‘quem

mais ordena’. Porque, como ensinou

Alexis de Tocqueville, se é indiscutível

que os deputados

são os legítimos

representantes do

povo soberano, não

é menos verdade

que eles não

são, nem podem

considerar-se, os

representantes

soberanos do

povo.”

E, como disse o

Almirante Pinheiro

de Azevedo em

pleno PREC: “O

povo é sereno... é

só fumaça.”

Mais vale tarde...

Jeremy Corbyn,

o novo líder

esquerdista do

Partido Trabalhista

britânico, teve

de se vestir a rigor e cumprimentar a

Rainha num banquete em Londres, na

semana passada. Há cerca de um mês,

impropriamente vestido, recusara cantar

o hino nacional, God Save the Queen, na

Catedral de São Paulo, numa homenagem

aos aviadores e civis caídos na Batalha de

Inglaterra, em 1940.

Professor universitário, IEP-UCP Escreve à segunda-feira

A recusa da “maioria de esquerda” foi um traço constitutivo do Partido Socialista de Mário Soares

João Carlos EspadaCartas do Atlântico

Sigamos o UTC

Ainda bem que Cláudia

Carvalho Silva entrevistou

o claríssimo Rui Agostinho,

director do Observatório

Astronómico de Lisboa, para

o PÚBLICO.

Afi nal, o GMT (tempo médio

de Greenwich) já não existe. É

uma snobice anglófi la ter em

Tavira a mesma hora do que na

terra mais nortenha, fria e escura da Escócia.

Hoje, o fuso horário de referência,

apesar de continuar a ser descaradamente

eurocêntrico, é o UTC. Que quer dizer UTC?

Diplomacia. Os francófonos queriam que

fosse, como as bolachinhas, TUC (temps

universel coordonné) e os anglófonos

queriam que fosse CUT (coordinated

universal time). Ficou UTC, que a nada

corresponde, como compromisso.

No domingo atrasámos os relógios para

voltar ao UTC. O UTC não é um devaneio ou

uma panca: “corresponde à hora atómica,

isto é, à média dos relógios atómicos”. Sim,

é afl itivo que nem os relógios atómicos

concordem. Mas a média já não é má. O UTC

não muda. É científi ca e leal e admirável

segundo todos os pontos de vista possíveis.

Durante metade do ano (a parte mais

soalheira) Portugal submete-se com

snobismo ao British Summer Time, dizendo

que está apenas a cumprir o Daylight Saving

Time, que todos os países europeus seguem,

excepto a Arménia, a Bielorússia, a Geórgia e

a Rússia, que tem mais fusos horários do que

Portugal tem maneiras de fazer caldeirada.

Tem graça que ambas as nomenclaturas

sejam intransigentemente inglesas.

Voltámos ao juízo. Ainda bem. Daqui a

seis meses aguentemo-nos, fi rmes.

Miguel Esteves CardosoAinda ontem

Page 46: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

46 | PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015

A hora negra do regime

A crise política que vivemos já

causou danos profundos no

nosso sistema político. Abalou,

com consequências nesta altura

imprevisíveis, a sã convivência

entre instituições e partidos. E

pode mesmo provocar a mais

séria transformação do regime

tal como tem sido entendido

entre nós ao longo de 40 anos.

O Presidente da República fez bem em

recordar alguns desses aspectos. Quero aqui

acrescentar outros.

a) A escolha para primeiro-ministro do líder

da força política mais votada em eleições é

uma regra. É uma convenção constitucional.

É impreciso falar-se apenas de “tradição”

ou “precedente”. Um regime político e um

sistema de governo dependem, e muito, de

convenções constitucionais, no nosso caso

reconhecidas e seguidas pelos partidos há 40

anos. Modifi car abruptamente a convenção

contra a vontade de dois dos partidos

com representação parlamentar, um dos

quais o partido maioritário, só iria ferir os

equilíbrios da nossa democracia e corromper

as expectativas do eleitorado que, quando

vota em eleições legislativas, vota também

para defi nir quem governa, escolhendo ou

rejeitando candidatos a primeiros-ministros.

São tantos, na universidade ou nos jornais, os

que têm defendido que assim é, e mais, que

deve continuar a sê-lo. Veja-se, por exemplo,

o constitucionalista Jorge Reis Novais: “as

eleições parlamentares são cada vez mais,

nos nossos dias e para a maioria dos eleitores,

uma escolha do novo Governo, especialmente

do novo Primeiro-Ministro”, pelo que

“desde que o anterior Primeiro-Ministro —

ou o partido que o apoia — se reapresente a

eleições, o voto individual é determinado,

para a maioria do eleitorado, por uma

intenção de premiar ou sancionar a actuação

desse Governo, renovando-lhe o mandato ou

votando pelas alternativas das oposições”.

Estamos de acordo.

b) Por isso, na nossa democracia que,

como veremos, não é nem uma democracia

de parlamentarismo puro e muito menos

de governo de assembleia, os mandatos

não podem ser tratados apenas como

números. O que está em confronto não

são (não podem ser) 107 mandatos vs. 122

mandatos. Subjacente a estes números está

uma vontade, democraticamente expressa

através do voto, de escolher uma maioria

(PSD-CDS) e, por essa via, de a legitimar a

formar governo. É uma espécie de lógica

fi nalista que falha na construção mirabolante

daquilo a que se tem chamado “maioria de

esquerda”. Respeitar a vontade do povo não

é juntar os perdedores e, com isso, criar uma

nova maioria; é obrigar a maioria vencedora

a ceder, a negociar, a transigir. A democracia

não é uma conta de matemática.

c) Portugal é uma democracia

representativa, mas não é um sistema de

cariz puramente parlamentar. O Presidente,

dotado de legitimidade democrática directa,

tem poderes autónomos de intervenção

política — e por isso tantos caracterizam o

nosso sistema como semipresidencial. Como

escreveu Vital Moreira, “o Presidente da

República funciona como um ‘quarto poder’

ou como poder moderador, com funções

de fi scalização, supervisão e regulação do

sistema de governo”. Surpreende-me que seja

necessário recordar este princípio consensual

àqueles que sempre o defenderam com mais

afi nco. A nomeação do primeiro-ministro

e do Governo constitui uma competência

própria do Presidente da República. Não

cabe à Sra. Deputada Catarina Martins, à

saída de reuniões secretas, decretar o fi m

de um governo ou a designação de outro

primeiro-ministro, qualquer que ele seja,

apresentando-o como um facto consumado.

Não compete ao Sr. Deputado António Costa,

rejeitado em eleições para primeiro-ministro,

autoproclamar-se líder de uma suposta

solução de governo, independentemente do

juízo de apreciação política do Presidente

sobre a consistência ou viabilidade dessa

solução. Essas competências pertencem,

repito, ao Presidente. O condicionamento,

senão mesmo a desconsideração, do espaço

de decisão do

Presidente da

República atingiu

níveis impensáveis

nestas duas

últimas semanas.

Como também

escreveu Vital

Moreira aquando

da substituição de

Durão Barroso por

Santana Lopes em

2004, “só falta que

o autodesignado

‘governo’ se

apresente por sua

iniciativa perante a

AR para apresentar

o programa do

governo”. Os teóricos

da liberdade de

decisão presidencial

mostram-se afi nal

pouco convictos

dessa liberdade

quando o Presidente

não provém da sua

área política.

d) De igual

modo, as funções

do Presidente da

República não

passam apenas,

no nosso sistema,

por velar pela

estabilidade política

Ao ser mudada a regra de que quem ganha com maioria (relativa) afinal não governa, são os equilíbrios políticos entre a esquerda e a direita que sairão destroçados. Com isto regredimos anos e anos

RUI GAUDÊNCIO

Debate Nova legislaturaPedro Lomba

e pela regular formação dos governos. O

regime não corresponde só a um instrumento

de governo. O regime assenta em opções,

valores, obrigações, consensos. A margem

de actuação presidencial passa também

por defender os fundamentos de um

regime comprometido com a participação

europeia, cumpridor das suas alianças

externas e respeitador das suas obrigações

internacionais. Não se pode esperar outra

coisa do Presidente, qualquer que ele seja,

senão ser o guardião destas fundações

(também elas constitucionais) do regime.

E, nota à parte, outra coisa não se poderia

esperar deste Presidente para quem a nossa

pertença europeia foi sempre um elemento

defi nidor da sua acção política.

e) O espírito de condicionamento — dizendo

aqui melhor: de autêntica obstrução —

chegou ainda, desastrosamente, à posição

sobre o papel da Assembleia da República

no processo de formação de um governo.

Quando se vai ao limite de considerar

dispensável — e uma “perda de tempo” — a

nomeação de um governo formado pela força

política vencedora das eleições por causa

do risco antecipado e redobrado que esse

governo teria, ou terá, de ver rejeitado o seu

programa, fi ca claro aquilo que se pensa e

não se pensa sobre a soberania democrática

do Parlamento, a legitimidade democrática

dos governos minoritários, a publicidade dos

debates parlamentares e o mandato individual

dos deputados que, sendo responsáveis

perante os seus partidos, são também

responsáveis perante os eleitores e o país. É,

com efeito, grave e inédito.

e) É inédito ainda por outra razão. Portugal

não tem um sistema parlamentar puro, não

só porque o Presidente da República detém

poderes políticos ampliados, mas porque

a nossa democracia integra a “família” das

chamadas democracias parlamentares

racionalizadas. Por parlamentarismo

racionalizado entende-se, nas palavras

de quem há muito criou o conceito, “um

conjunto de mecanismos constitucionais

destinados a assegurar a estabilidade do

executivo”. Permitir a formação e viabilização

de governos minoritários foi sempre um meio

de racionalização e estabilidade da nossa

democracia, considerando em particular que

o nosso sistema eleitoral proporcional não

facilita a criação de maiorias absolutas. Daí

que os governos tivessem sido dispensados

pela Constituição de obter uma aprovação

formal do seu programa no Parlamento,

bastando que esse mesmo programa não

seja rejeitado. Por isso, a prática política,

desde 1976, conheceu numerosos governos

minoritários, o último dos quais em 2009

com José Sócrates. A mesma prática conduziu

a que, de 1976 a 2009, e em todas as situações

em que o PS ganhou as eleições sem maioria

absoluta, PSD e CDS não se opusessem à

viabilização de governos minoritários. Como

escreveu Jorge Reis Novais, “um governo

minoritário não é uma anormalidade

constitucional nem suscita quaisquer

problemas de legitimidade democrática, de

título ou de exercício. É expressão da vontade

do eleitorado manifestada no quadro do

sistema eleitoral e nele se podem descobrir

virtudes”. Estamos novamente de acordo.

f ) Ora, ao abandonar-se agora a convenção de

quem ganha as eleições, governa, a apreciação

do programa de governo ameaça converter-

se estrepitosamente no seu contrário: de um

mecanismo que na democracia portuguesa

sempre facilitou a viabilização de governos

minoritários para uma forma de imposição de

governos maioritários e, consequentemente, de

oposição à formação de governos minoritários

de centro-direita. Daqui para a frente, e se tal se

consumar, o centro-direita só poderá governar

Portugal se dispuser de uma maioria absoluta,

condição que, como sabemos, o sistema

eleitoral propicia com especial difi culdade. É

bom sublinhar que não há qualquer novidade

nos resultados das eleições de 2015. Foram

muito semelhantes a 1985 em que o PSD obteve

29,87% e o CDS 9,96%, ou a 2009 em que o PS

alcançou uma maioria relativa com 36,56%

dos votos e PSD e CDS respectivamente com

29,11 e 10,43. A verdadeira novidade é esta: a

alteração das condições de legitimidade em

Portugal para formar governo. Os governos

minoritários (do PS ou PSD) foram sempre

uma opção tida como viável e legítima não

podendo o Presidente obrigar o partido

ou partidos vencedores a uma maioria que

estes não pudessem construir. A mudança

abrupta das regras de legitimidade signifi ca

que os governos minoritários do centro-

direita passarão a ser uma opção impossível

podendo um grupo de partidos derrotados

unir-se para impor ao Presidente uma

maioria, mesmo que este a considere

inconsistente. Os equilíbrios do nosso

sistema político serão assim rompidos.

g) Aliás, outro ponto quase em forma de

parêntesis: é precisamente porque somos

uma democracia parlamentar racionalizada

que foi criada outra convenção constitucional,

segundo a qual sempre coube ao partido ou

coligação de partidos mais votada assumir

o cargo de Presidente da Assembleia da

República. Esta convenção não era nenhum

“prémio” ao vencedor. Ela tinha por objectivo

conferir maior estabilidade e racionalidade

ao funcionamento do trabalho parlamentar,

em particular na sua relação com o Governo,

evitando que o Parlamento se transformasse

numa câmara meramente negativa e instável,

mas servindo também para moderar, através

Page 47: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

PÚBLICO, SEG 26 OUT 2015 | 47

O preço das Artes

Há um par de meses, quando

se preparava o ano lectivo,

António Araújo, no seu

blogue Malomil, dava-nos a

conhecer a sua indignação

perante o custo de alguns

manuais escolares envolvidos

em “blocos pedagógicos” que

as editoras apresentam aos

alunos e respectivas famílias

como material indispensável para o

sucesso, quantas vezes com a conivências,

por omissão, de escolas e professores,

acrescento eu. No caso era um bloco

pedagógico para o 11.º ano de Biologia e

Geologia, daqueles que incluem cadernos

de actividades e mais alguma coisa que

sirva para somar parcelas na factura. Com

a extensão da escolaridade para 12 anos

e a generalização do Ensino Secundário,

esta prática dos blocos pedagógicos — já

muito comum nos 2.º e 3.º ciclos do Ensino

Básico — tem-se estendido ao Secundário,

benefi ciando as editoras com as mudanças

de metas de aprendizagens e de conteúdos

programáticos que, ano a ano, vão

inutilizando os manuais comprados

anteriormente.

Mas se o negócio dos manuais e demais

“materiais auxiliares”, com destaque para

os livrinhos com as provas fi nais de ciclo

e exames que estão online gratuitamente

no site do Iave, tem andado de vento em

popa em tempos de redução do número de

alunos, o que dizer dos encargos que implica

a frequência, mesmo no Ensino Básico, de

disciplinas como Educação Visual?

Há umas semanas, com uma folha

A4 pautada com as linhas quase todas

preenchidas com todo o tipo de materiais

imagináveis, lá fomos nós, petiza, mãe e

pai, fazer uma visita a uma grande cadeia

de materiais escolares e de escritório,

acabando a expedição com uma conta

acima dos 50 euros, apesar de em casa já

existirem alguns dos materiais solicitados e

de em vários casos a opção ter sido mesmo

pela marca branca e, caso se parta ou

extravie, que é o mais certo ao longo do

ano, logo se compra outro.

E estamos a falar de Ensino Básico, de

uma disciplina de frequência obrigatória,

numa escola pública, num sistema de ensino

obrigatório, universal e alegadamente

gratuito. Tudo para além da aquisição do

próprio manual ou bloco pedagógico.

Entendamo-nos sobre um ponto: eu

até concordo que alguns materiais, para

trabalhos específi cos, mais onerosos,

possam fi car a cargo dos orçamentos

familiares com essa capacidade. Agora,

pedir que se comprem borrachas e lápis

específi cos, folhas de papel de três ou

quatro variedades, incluindo as brancas

mais comuns, faz-me lembrar o pedido feito

há alguns anos — talvez ainda seja — por

algumas escolas do 1.º ciclo para que os

alunos levassem rolos de papel higiénico de

casa, porque o fornecimento lhes chegava

tarde e em quantidades insufi cientes.

Estamos a falar do Ensino Básico, do ensino

público obrigatório e a mim quer parecer,

como professor

(em escola onde

tal não acontece)

e encarregado de

educação, que

começamos a entrar

num território

muito complicado

quando é necessário

solicitar aos alunos

a aquisição de

todo este material

para uma área

curricular já de si tão

maltratada quanto

é a das Artes. Eu sei

que para Educação

Física é necessário

comprar sapatilhas,

fatos de treino e

camisolas. E sei que

em algumas escolas,

à maneira das

privadas, se exige

que sejam camisolas

compradas na

própria escola,

ajudando a “gerar

receitas”.

Sei de tudo isso,

mas acho que no

caso das Artes — e

nem imagino como

será no Ensino

Secundário — isto

gera uma dupla

NUNO FERREIRA SANTOS

Debate Educação e Artes VisuaisPaulo Guinote

situação de injustiça relativa, não apenas em

relação a alunos com menos recursos, como

quanto à forma como estas disciplinas são

encaradas, quando são feitas tais exigências.

Porque, mesmo que queiramos o contrário,

estes são factores repulsivos, que sacrifi cam

uma área de estudos que parece cada vez

mais desprezada.

E considero isto ainda mais grave porque,

em matéria de desporto ou mesmo do

chamado “ensino artístico”, existe uma

oferta de actividades dentro e fora das

escolas públicas (há, por exemplo, subsídios

e ensino articulado para alunos que sigam

estudos na área da Música) que não se

encontra em relação às Artes Visuais, em

que os alunos que sintam especial apetência

por esse tipo de expressão fi cam restringidos

a uma aula semanal e a uma quase total

ausência de ofertas para aperfeiçoar as suas

competências, sem ser à custa de um forte

investimento familiar e, mesmo assim, só em

grandes centros urbanos.

Se as Humanidades estão a ser trucidadas,

em especial no Ensino Secundário, pela

ideologia redutora das STEM, as Artes

Visuais (desenho, pintura, ilustração, seja

no sentido tradicional ou em variantes

mais actuais, como os suportes digitais ou a

chamada arte urbana) são completamente

ignoradas e sobrevivem num espartilho

curricular que só se compreende num

contexto de miopia intelectual.

E quando no meu país há escolas públicas

que não têm condições — ou optam por fazer

essa poupança — para colocar umas folhas

de papel, lápis, borrachas, réguas e algum

material básico de pintura nas mesas dos

alunos, há algo que está profundamente

errado nas prioridades estabelecidas para

uma Educação a que se exige que entre em

competição com as melhores do mundo.

Professor do 2.º ciclo do ensino básico

de um espírito de equidistância, a maioria

que sustenta o Governo. A regra impôs-se,

inclusive, diante de governos minoritários,

como sucedeu em 2009 com a eleição

de Jaime Gama. Ontem [sexta-feira], pela

primeira vez, foi quebrada. Viu-se no que

deu: um discurso sectário de Ferro Rodrigues

que entendeu agir como presidente de

metade da Assembleia contra a outra metade,

exactamente o oposto da razão que justifi cou

a criação dessa convenção parlamentar.

h) Mas: e lá fora? Por estes dias têm sido

apresentados cinco exemplos de países

europeus cujos governos assentam em

coligações pós-eleitorais compostas por

partidos que não venceram as eleições. Esses

exemplos seriam, nomeadamente, Bélgica,

Dinamarca, Luxemburgo, Letónia e Noruega.

Pergunto se houve tempo para perceber

como funcionam os sistemas políticos

nestes países. Quatro dos cinco citados são

monarquias constitucionais parlamentares,

em que o Chefe de Estado assume um

papel muito reduzido. Os respectivos

sistemas eleitorais produzem uma elevada

proliferação de partidos, vários deles com

votação semelhante na casa dos 20%. Os

sistemas partidários assentam em coligações

entre partidos centristas, que oscilam

entre centro-esquerda e centro-direita. Os

partidos radicais, como aconteceu com os

comunistas, passaram por percursos longos

de convergência e modernização, tanto nos

seus programas, prática política e organização

interna. A formação de coligações nunca é

vista como inesperada pelo eleitorado. Como

acontece na Dinamarca ou na Suécia, os

eleitores sabem à partida com o que contam.

Em suma, o comparativismo apressado pode

não ser o método mais feliz.

i) Por tudo isto, e sem que saibamos todos

os desenvolvimentos deste processo, há desde

já um facto a que possivelmente já não iremos

conseguir escapar: a ruptura das regras de

confi ança política na nossa democracia.

Uma ruptura que afectará as relações entre

PSD, CDS e PS, mas também entre todos os

restantes partidos. Uma ruptura nas regras

de legitimidade na formação dos governos

e nas fronteiras e equilíbrios que sempre

nos habituámos a respeitar. Uma ruptura

que impedirá a construção de consensos ao

centro, ora mais para a esquerda, ora mais

para a direita, o que atendendo às decisões

parlamentares que carecem de maiorias de

dois terços só irá agravar o bloqueio e a erosão

do nosso sistema político. Ao ser mudada

a regra de que quem ganha com maioria

(relativa) afi nal não governa, são os equilíbrios

políticos entre a esquerda e a direita que

sairão destroçados. Com isto regredimos anos

e anos; e podemos regredir ainda mais. E

não sei quantos mais levaremos depois para

recuperar. A estabilidade de Portugal é o bem

mais valioso. Boa sorte para todos nós.

Secretário de Estado adjunto do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional

Se as Humanidades estão a ser trucidadas, as Artes Visuais são completamente ignoradas e sobrevivem num espartilho curricular que só se compreende num contexto de miopia intelectualintelectual

Page 48: Jornal "Público" de 27 de Outubro de 2015

269e4c10-67af-4367-b303-ec0e11cae31e

PUBLICIDADE

ESCRITO NA PEDRA

“Os homens, quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição”Nicolau Maquiavel (1469-1527), historiador, poeta e diplomata italiano

SEG 26 OUT 2015

Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: António Lobo Xavier, Cláudia Azevedo, Cristina Soares E-mail [email protected] Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Praça do Coronel Pacheco, nº 2, 4050-453 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade, Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 934250100; Fax: 707100049 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €50.000,00. Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA, Estrada Consiglieri Pedroso, 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Telf.: 214345400 Distribuição Urbanos Press – Rua 1.º de Maio, Centro Empresarial da Granja, Junqueira, 2625-717 Vialonga, Telef.: 211544200 Assinaturas 808200095 Tiragem média total de Setembro 33.895 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa do Controlo de Tiragem

Coimbra e Caldas da Rainha, destacaram-se pela positiva no período 1991-2011 p11

Situação no pré-escolar faz com que os estereótipos de género se eternizem p10

Festival literário fez quadruplicar as vendas nas livrarias de Óbidos p26

Porto e Amadora são dos municípios menos saudáveis

Só 1% dos nossos educadores de infância são homens

Primeira edição do Folio soube a Brasil e já se fala da próxima

Joker

5 4 4 2 2 7 1

1.600.000€1.º Prémio

CONSOANTE MUDA

Evitar a armadilha

A situação que Portugal

está a viver não tem

particular mistério numa

democracia parlamentar.

Só a falta de sentido de

responsabilidade dos

principais agentes políticos pode

tornar complicado e até perigoso

aquilo que é simples.

A esquerda tem a maioria

absoluta no parlamento e — coisa

inédita — diz-se disposta a usar essa

maioria para apoiar um governo

liderado pelo PS (que, segundo

este, respeitará as condições

apresentadas pelo Presidente

da República: estabilidade,

durabilidade, maioria parlamentar

e continuidade dos compromissos

internacionais pelo país).

Face a isto, há três coisas

preocupantes.

A primeira, o conteúdo de

parte do discurso de Cavaco

Silva na semana passada. Não

a decisão de indigitar Pedro

Passos Coelho primeiro-ministro

e convidá-lo a formar governo —

legítima, constitucional e como tal

entendida por todos. Mas a forma

como se referiu a dois partidos

que são parte do nosso arco

constitucional — BE e PCP — e deu

a entender que nunca empossaria

Rui Tavares

um governo apoiado por eles.

Esta sugestão é tão grave que

me limitarei a dizer que, se fosse

levada a sério, equivaleria a passar

um atestado de incapacidade à

nossa democracia. E em termos

práticos, seria pior ainda: Cavaco

Silva forçaria o país a viver com um

governo de gestão durante vários

meses, o que seria neste contexto

catastrófi co para o país.

A segunda — o facto de o governo

estar voluntariamente a violar as

regras do “semestre europeu”.

Não tem merecido muita atenção

o facto de Passos Coelho se

recusar a enviar o cenário-base

orçamental à Comissão Europeia,

levando Portugal a ser o primeiro

país do euro a violar esta regra.

Independentemente da nossa

opinião sobre esta regra (eu

votei contra ela no Parlamento

Europeu), não deixa de ser

perturbante que um governo que

a apoiou entusiasticamente queira

deixar esta pedra no caminho

de quem vier a seguir. O governo

conhecia este calendário — todos

sabíamos que assim seria quando

Cavaco Silva decidiu manter as

eleições para esta data — e dá assim

motivos de suspeita a quem teme

que haja surpresas desagradáveis

nas contas do Estado.

Ora, por falar nisso, voltemos

a Cavaco Silva e às menções que

fez às reações dos mercados

internacionais em relação a

Portugal. Seria o pior sinal de

imaturidade do nosso sistema

político que, ao mesmo tempo em

que se alerta contra as reações

dos mercados, se deixe Portugal

vulnerável perante os mesmo

mercados. Os responsáveis

políticos em funções — Presidente

e primeiro-ministro — não podem

deixar ao país essa armadilha.

Nestes dias, o ambiente político

e social em Portugal anda muito

polarizado. Mas nota-se também

que os argumentos contra uma

governação ancorada à esquerda

começam a escassear. Com a

eleição de Ferro Rodrigues,

a direita entendeu que não

tem maioria no parlamento.

Contemplando as difi culdades

insuperáveis — práticas e legais

mas sobretudo de legitimidade

— de um governo de gestão por

vários meses, espera-se que o

Presidente da República entenda

fi nalmente que não pode excluir

dois partidos da governação.

Resta à esquerda completar

as suas negociações e contribuir

para que a democracia portuguesa

funcione plenamente.

Historiador, dirigente do Livre

O designer gráfi co Ricardo Mealha

morreu ontem de manhã, aos 47

anos, na sequência de um cancro

no cérebro. Mealha foi responsável

pela imagem gráfi ca de várias mar-

cas nas últimas décadas, cruzando

desde instituições mais tradicionais,

como o Ministério da Cultura (MC) ou

o Banco Espírito Santo, com outras

mais vanguardistas como a discoteca

Lux e o restaurante Bica do Sapato,

em Lisboa.

Bárbara Coutinho, directora do

MUDE — Museu do Design e da Mo-

da, em Lisboa, diz que a sua morte “é

uma perda para o design português”.

“Era um dos grandes designers grá-

fi cos portugueses das últimas déca-

das.” Para Bárbara Coutinho, Mea-

lha destacava-se porque “conseguia

imprimir uma marca de reinvenção

gráfi ca com um sentido muito cos-

mopolita”. “Era um homem muito

atento ao seu tempo. É conhecida

a sua ligação com a vida cultural,

urbana, nocturna, que ele ajudou

a criar.”

Nascido em Lisboa a 22 de Outubro

de 1968, fundou o atelier RMAC-Ri-

cardo Mealha/Ana Cunha, que depois

vendeu ao grupo BBDO Portugal.

Desde 2014 era director criativo da

Brand Gallery.

O designer gráfi co Jorge Silva, que

esteve mais próximo de Mealha na

época da RMAC, sublinha o trabalho

produzido pela dupla que fez com

Ana Cunha: “Fui jurado em alguns

concursos de design e publicidade

e era quase embaraçoso porque eles

ganhavam quase todas as categorias.

Era um trabalho extraordinário, foi

pioneiro e veio criar uma leitura mui-

to hedonista do design.” Silva desta-

ca a qualidade do trabalho de Mealha

pela “gramática gráfi ca fresca, nova,

alinhada por tendências contemporâ-

neas, estrangeiras, e grande requinte

e cuidado com materiais, com méto-

dos de impressão que eram muito

diferentes e sofi sticados”.

Na página da Brand Gallery, Ma-

nuel Reis, dono da Lux, testemunha:

“Foi com ele que trabalhei a identida-

de gráfi ca de quase todos os projectos

em que me envolvi. Entre as muitas

qualidades que lhe reconheço talvez

a mais importante seja a sua capaci-

dade de arriscar, de experimentar e

de fazer diferente.” Na década de 90,

Ricardo Mealha trabalhou na agência

de publicidade Young&Rubicam e na

Novodesign. O designer trabalhou

ainda para a ModaLisboa, a loja de

decoração Área, A Vida Portuguesa,

Vista Alegre, Casa das Histórias Paula

Rego, grupo Jerónimo Martins, hotéis

Tivoli, azeite Gallo, entre outros. Foi

distinguido com mais de 80 prémios

em concursos portugueses e interna-

cionais. Editado por Isabel Salema

ÓbitoBeatriz Dias Coelho

Morreu o designerRicardo Mealha

Ricardo Mealha era “um dos grandes designers gráficos portugueses das últimas décadas”

O ambiente anda muito polarizado, mas nota-se que os argumentos contra uma governação à esquerda começam a escassear

Ponha à prova os seus sentidos.

269E4C10-67AF-4367-B303-EC0E11CAE31E