Jornal Valor local Edição de Julho 2014

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Valor Local Jornal Regional Valor Local • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 15 • 18 Julho 2014 • Preço 1 cêntimo ACISMA Distracção ao volante é a principal causa Págs. 7, 8 e 9 Págs. 12, 13, 14 e 15 Freguesia em destaque: Vale do Paraíso Especial Fogos: O dia 10 de Julho em Azambuja Págs. 10 e 11

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Jornal Regional de Valor Acrescentado, dos municípios de Azambuja, Alenquer, Cartaxo, Salvaterra de Magos, Benavente e Vila Franca de Xira

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Valor LocalJornal Regional Valor Local • Periodicidade Mensal • Director: Miguel António Rodrigues • Edição nº 15 • 18 Julho 2014 • Preço 1 cêntimo

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ISM

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Distracção ao volanteé a principal causa

Págs. 7, 8 e 9

Págs. 12, 13, 14 e 15

Freguesiaem destaque:Vale do Paraíso

Especial Fogos:O dia 10 de Julhoem Azambuja

Págs. 10 e 11

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Omercado de Alenquer jáatravessou melhores dias.

Quando se entra no local, o artriste dos que fazem da venda debens, ali, a sua actividade é in-disfarçável. Clientes são muitopoucos, sendo notório que o es-paço suplica desesperadamentepor obras.Com custo conseguimos tirar al-gumas parcas palavras de umacomerciante que não se quisidentificar; e que ao mesmo tem-po que se queixava das condi-ções desta praça ia encolhendoos ombros. “Está tudo mal, a pra-ça não tem condições nenhu-mas. Chove cá dentro, isto deviaser completamente modificado”,disse, referindo que este estadode coisas já está entranhado hámuitos anos na vida do mercado.Clientes são poucos mas “aindavai dando”.“Tenho poucos clientes, não seiaté que ponto se justifica, ainda,vender aqui”, deu conta o comer-ciante Alfredo Inês. “Tenho boafruta a bons preços que cultivo,mas as pessoas preferem os su-permercados da zona. Vendoameixas a 80 cêntimos e pêsse-gos a 70 cêntimos, ou seja mais

barato do que noutros lados. Otomate, as nabiças, os grelos e ofeijão sou eu mesmo que culti-vo”. Alfredo Inês tem mais detrês mil árvores mas só conse-gue escoar nos mercados daCastanheira e de Torres Vedras,“onde pedem boa qualidade etem-se de corresponder a isso”. A nossa reportagem foi depoissurpreendida por Odete Vitorino,de Alenquer, de espírito jovial ecom a resposta na ponta da lín-gua. Esta cliente do mercado, há20 anos, não é de meias tintas:“Gosto de cá vir, é melhor do queo Pingo Doce pois deixam-nosescolher à vontade. A fruta émais fresca e prefiro este conví-vio e esta maneira de ser dosvendedores”. “Só tenho pena domercado estar sem jeito ne-nhum”, sentencia numa alusãoàs possibilidades de beneficia-ção do espaço, já com 64 anos.“Adoro o talho daqui, porque nãosabemos o que nos vendem nossupermercados, e digo mais –este é um óptimo local para sefazer um pouco de fisioterapia àlíngua”.Uma das figuras incontornáveisno mercado é Francisco Cabido,

o homem do bacalhau, e um dosque não se queixa com falta declientes já que aposta no bompescado da Islândia. Ideias paramelhorar o espaço não lhe fal-tam sendo também bastante crí-tico relativamente ao estado domercado. “Deviam arranjar o es-paço e colocar em evidência osprodutos de Alenquer. Por outrolado é tempo de se substituir otecto. Já percorri muitos merca-dos no país e só este é que ain-da é de madeira, penso que atéé proibido. Mas o pior mesmosão os esgotos que estão numamiséria, o que dá origem a mauscheiros. O chão também deviasofrer obras”.“O cheiro que vem da casa debanho é horrível, não é por cau-sa da higiene mas devido aoscanos”, diz Maria da Felicidade,também vendedora no mercado,há 13 anos. Quando se lhe falano diálogo com a autarquia paramelhoria das condições, esboçauma pequena gargalhada, sinó-nimo de quem já não acreditaque boas notícias possam vir acaminho. “No Inverno é um friohorrível, no Verão quase que po-díamos abrir um chapéu-de-sol

aqui dentro! Fartamo-nos detranspirar, porque o telhado nãoestá revestido devidamente. Asverduras estragam-se todas.” O Valor Local contactou a Câma-ra Municipal de Alenquer quenos transmitiu “que o mercadomunicipal de Alenquer está iden-tificado como obra prioritária,sendo objectivo candidatar aobra de requalificação do edifíciodurante o próximo quadro comu-

nitário de apoio 2014-2020, de-nominado CRER 2020”. O muni-cípio refere que “para além darequalificação do edifício é ob-jectivo da Câmara dotar este es-paço de novas valências, quepossam servir os munícipes emdomínios que não se restringemapenas ao mercado abastecedorde produtos alimentares, envol-vendo de forma directa os co-merciantes que actualmente aí

se encontram, no processo quedelineará o futuro do novo mer-cado municipal”.Por isso a autarquia diz estar aaguardar que “todo o processoque envolve o novo quadro co-munitário seja operacionalizadoo quanto antes” de modo a quese “possa saber quais as linhasde apoio e enquadramento dis-poníveis para este tipo de inves-timento/requalificação”.

Mercado de Alenquer mais triste e degradado

Alfredo Inês tem fruta boa e barata Francisco Cabido é o homem do bacalhau

Odete Vitorino vem à praça há muitos anos

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Desde o início do ano que avila de Benavente se viu

transformado num autêntico es-taleiro devido às obras daÁguas do Ribatejo que consisti-ram na remodelação das redesde águas e esgotos da zona an-tiga da localidade. De acordocom o presidente da Câmara de

Benavente, Carlos Coutinho asobras já entraram na recta finalno que diz respeito a aberturade valas, colocação das tuba-gens, sendo que neste momen-to está em curso a reposição depavimentos nas valas. Devido às festas de SamoraCorreia, a Câmara adiou a inter-

venção naquela cidade projec-tada para a Avenida “O Século”que compreende a distância en-tre a junta de freguesia e o cru-zamento da Rua dos OperáriosAgrícolas, no troço urbano daNacional 118.As obras que têm vindo a decor-rer desde Janeiro têm causado

alguns transtornos à população,“algo normal tendo em contaque estamos a falar de mais de50 quilómetros de abertura devalas, substituição e ampliaçãodas redes de saneamento eabastecimento”, diz Coutinho.“Por outro lado, assistimos a umconjunto de vicissitudes pró-

prias desta época de crise, ten-do em conta que a obra deveriater começado em 2013 mas de-vido à entrada em processo defalência do empreiteiro, só emOutubro do ano passado conse-guimos concluir o processo denova adjudicação”, a que se so-maram os condicionalismos doQREN. “Houve muitos incómo-dos, chegámos a ter seis fren-tes activas nesta intervenção,algo muito complicado de gerir”,volta a salientar, focando quedevido à urgência nas obras “al-guns cuidados por parte da em-presa não foram observadoscomo a limpeza das vias queestavam a ser intervencionadas,mas não foi fácil gerir tudo. Po-dia ter corrido melhor”. Ao mesmo tempo, o concelhode Benavente será alvo de umprojecto-piloto da OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS) a de-correr no âmbito da “Águas doRibatejo” no sistema de sanea-mento de águas residuais davila e que visa desenvolver um

Plano Segurança de Sanea-mento (PPS), que se propõe“avaliar o risco e adiantar solu-ções para minimizar impactosambientais, e impactos na saú-de dos trabalhadores e das po-pulações, e assim validar a me-todologia de implementaçãoproposta pela OMS e contribuircom sugestões de melhoria aincorporar no manual”.De acordo com Carlos Couti-nho, é a primeira vez que esteprojecto tem lugar em Portugal.“Vamos agora passar à práticae a nossa intenção é que essePPS também seja levado aosrestantes concelhos da Águasdo Ribatejo, e eventualmente aopaís, pois insere-se numa novamentalidade para com estasquestões do saneamento, quan-do ainda há poucos anos aságuas residuais domésticaseram descarregadas nas linhasde água, sendo que depois evo-luímos para o tratamento dosefluentes e esse PPS trata-sede mais um passo em frente”.

Seis meses de obras em Benavente

“Podia ter corrido melhor!”

Omunícipe de Vila Nova deSão Pedro, Azambuja, Hél-

der Correia fez chegar ao ValorLocal a queixa de que “ilegalmen-te” um vizinho seu tem vindo aconstruir um muro entre os nºs49 e 51 da Rua Pedro Alves Jale-co e a Rua do Depósito da Água,“onde sempre existiu uma ser-ventia pública centenária alca-troada pela Câmara de Azambu-ja” e que “permitia a ligação pe-donal entre as duas ruas assimcomo o acesso a propriedadesuma vez que para a mesma exis-tem duas portas”.O caso remonta a Junho do anopassado quando o proprietáriocomeçou a construir o muro, sen-do que na altura o anterior presi-dente da junta de freguesia de

Vila Nova de São Pedro, LúcioCosta, alertou os serviços da Câ-mara que embargaram a obra.Na altura, e segundo documenta-ção a que o Valor Local teveacesso outro munícipe ManuelTeófilo expressou, igualmente, asreservas e os constrangimentoscausados pela obra à população.Os dois munícipes consideramque houve favorecimentos políti-cos à mistura porque o visado foimembro da lista da CDU à Uniãodas Freguesias de Manique doIntendente, Maçussa e Vila Novade São Pedro “e agora faz partedo executivo municipal um ele-mento que também fez parte daslistas da CDU”. Observação quea Câmara de Azambuja preferedesconsiderar e não atribuir cré-

dito neste caso.Agora, o munícipe Hélder Correiarefere que no passado dia setede Junho de 2014 e no feriado dedia 10, “o visado executou a obraà pressa de modo a não poderser fiscalizado pela Câmara,dado que nesses dias os servi-ços da mesma estavam fecha-dos”. Contactada a Câmara Municipalde Azambuja, foi-nos respondidopor parte dos serviços “que aoperação que o visado pretendialevar entre estremas, era de es-cassa relevância urbanística,isenta por isso de controlo prévio,bastando apenas uma comunica-ção à Câmara dos trabalhos queiam ser realizados, comunicaçãoque tinha sido apresentada em

13 de Maio do ano passado eque deu origem ao processo. Emrelação ao outro troço do muroconfinante com a via pública,

uma vez que o licenciamento jáhavia caducado, foi participadocontra-ordenacionalmente e ela-borado respectivo auto de em-

bargo que se mantém”. O Valor Local tentou contatar ovisado António Manuel Luís massem sucesso.

O muro da discórdia

AlcoentreBanco pode mudar-separa os antigos correiosObalcão da Caixa de Crédito Agrícola de Azambuja em Alcoentre poderá em breve mudar-se para

as instalações dos antigos CTT, agora desocupados. A informação foi avançada pele presidenteda Câmara Municipal de Azambuja, Luís de Sousa, durante uma assembleia municipal realizada na-quela localidade. Ao que o Valor Local apurou, os CTT que têm o edifício vazio há mais de um ano,terão oferecido o mesmo à Caixa de Crédito, que pondera aceitar esta aquisição.Ao Valor Local, fonte do crédito agrícola não quis confirmar nem desmentir a informação, contudoapurámos que tal poderá significar uma mais-valia para a instituição bancária que luta com algumafalta de espaço nas instalações actuais.Segundo conseguimos saber, o valor do imóvel ronda os 150 mil euros, mas este montante não éconfirmado, nem pelos CTT nem pela própria instituição que prefere não se alongar em comentá-rios.O que é certo que desde há um ano que as instalações dos CTT estão encerradas em Alcoentre, eo facto de o edifício poder vir a apresentar alguns sinais de abandono, motiva preocupação juntodos autarcas da freguesia que já questionaram diversas vezes o executivo municipal.

Novos vinhos Vale FornosAQuinta de Vale Fornos apresentou no passado dia 27 de Junho dois novos

vinhos. Os novos néctares foram desvendados numa prova de vinhos naCasa Canavarro em Santarém perante cerca de meia centena de convidados.Esta iniciativa que teve lugar nos jardins da Casa Museu da Fundação PassosCanavarro, junto aos Jardins das Portas do Sol deu a conhecer as novas es-trelas daquela quinta do concelho de Azambuja. Assim, a colheita de 2013 deuorigem aos vinhos “Vinha do General Branco” e “Vale Fornos Rosé”.Segundo uma nota da Quinta de Vale Fornos, um dos pontos altos foi mesmoo lançamento do Vinho do Tejo Rosé “com uma nova imagem e um novo perfilcom a certeza que tal néctar agradará aos clientes e consumidores em geral.”Trata-se de um vinho de cor carmim, “perfume floral e de excepcional frescura”ideal para acompanhar as tardes de calor e noites de festa e romance que aépoca quente irá proporcionar”.Esta apresentação contou ainda com queijos produzidos na Escola SuperiorAgrária de Santarém e com o mel já produzido na Quinta de Vale Fornos. Atarde fechou com música. Cantou-se o fado na voz de Maria Teresa Azoia,acompanhada por Nuno Martins, na guitarra portuguesa e Alexandre Silva, naviola.

No local já houve um caminho de passagem

Obras enquanto estavam a decorrer

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5Valor Local Sociedade

Justina Graça vai completar100 anos no próximo dia 4 de

Setembro. Residente no Carre-gado, viveu toda a vida no conce-lho de Alenquer, e recentementeum grupo de vizinhos e amigosprestaram-lhe homenagem. OValor Local foi conhecer esta an-ciã que ainda é do tempo em quenão havia aviões e as revoluçõesda 1ª República estavam noauge em Portugal. Justina Graçatem já uma trisneta e a filha tam-bém viva tem 79 anos. A sua vida foi quase igual à detantas outras mulheres que nas-ceram na ruralidade, trabalhouem quase todo o tipo de traba-lhos no campo, com algumas in-cursões em fábricas, nomeada-mente, na central termo-eléctricado Carregado e também “a diasem casa de patroas”. Com umdiscurso fluído, diz que “foi na fá-brica que conseguiu a sua refor-ma”. Ainda se lembra que se re-formou num dia 12 de Abril, aos59 anos.Na fábrica, o seu serviço consis-tia na limpeza e lembra-se de um

grande susto que apanhou. “Aágua fervia a elevadas tempera-turas e corríamos grandes riscoscom espumas e fumos, tive muitasorte de nunca ter apanhado ne-nhum azar!”. No campo, fez detudo um pouco desde cavar, cei-far, apanhar fruta “do nascer aopôr-do-sol”. Mas o “trabalho maisrigoroso” que desempenhou, nassuas palavras, foi na apanha dearroz. “Tínhamos de andar todo odia dentro de água, com muitosbichos pretos que nos mordiam”.Lembra-se de ganhar 20 escu-dos nesse trabalho, em Azambu-ja.O marido já faleceu há mais de35 anos, mas não consegue pre-cisar com grande exactidão se há38 ou 36. Tem saudades, particu-larmente, do “tempo em que a fi-lha e os netos eram pequeninos”.“Tenho muitas saudades de sernova e quando podia trabalhar.Ainda esta noite sonhei que apa-nhava feno”. Sobre o facto deque não vai viver para sempre,diz simplesmente: “Deus está apreparar-me para isso”.

Justina Graça começou a traba-lhar com sete anos ao lado damãe a apanhar “cardos, cardi-chas, pitelhas”, “tudo coisas ás-peras”. Depois nas operações deenxofre e de sulfate. “Toda a vidatrabalhei, agora é que estou pa-rada, mas mesmo assim aindafaço muita coisa”. O elixir da lon-gevidade não se lhe conhece,mas recorda-se bem dos temposem que ainda criança foi mamarnas tetas de uma cabra. A anciãnunca entrou numa escola, mastem muita pena de não saber lere escrever. Mas fazer contas écom ela.Tendo em conta que já acompa-nhou várias fases da História,lembra-se dos tempos das “revo-luções” e de quando “havia maisbarcos do que aviões”. “Quandoos barcos chegavam, ouvíamosgrandes estrondos”. Nas suas vi-vências, ainda se lembra de terfugido de um touro, e muito pre-sentes na sua memória estãotambém as cheias de 1967,quando o marido chegou a casaesbaforido a falar sobre as gra-

ves inundações, “e onde muitagente morreu”.“O mundo está muito mudado

desde a minha época, comoquando se tira a pele do coelho ese a vira do avesso. O mundo é

bonito mas há muita falta de res-peito. Mata-se demasiada gentetodos os dias. O dinheiro influen-cia demasiado as pessoas”. Justina Graça cozinha todos osdias para a família. “Gosto de fa-

zer tudo e ainda me lembro bemde todos os ingredientes que te-nho de por na comida”. Doençasnão tem, apenas dores nas per-nas. “Tomo vários comprimidos,mas nada de especial”.

Idosa do Carregado faz 100 anos em Setembro“O mundo é bonito mas há muita falta de respeito!”

Éconhecido em Azambujacomo “O Rei do Caracol”. Ma-

nuel Canha não é monarca, longedisso, mas assume que o segre-do que usa na confecção dosseus pratos de caracóis conquistamuitos amantes deste petisco.“Tenho clientes de muitas terrasaqui à volta. Ainda há pouco este-ve aqui um senhor do Carregadoque veio a Azambuja de propósitodepois de ter ouvido falar de mimatravés de um amigo”, refere Ma-nuel Canha que confessa já terperdido a conta “às toneladas decaracóis” que lhe passaram pelasmãos.Em média, o empresário que ébastante conhecido em Azambuja

confecciona dois a três quilos pordia, ao ponto de ter sempre umaclientela fixa, mesmo depois deter mudado a localização do seuestabelecimento como aconteceuhá um ano. O caracol anda sem-pre com a casa às costas e nestecaso Manuel Canha teve de fazero mesmo.Para os clientes de Manuel Ca-nha, a preferência relaciona-secom a forma como são cozinha-dos os caracóis. “São muito bons”revela um cliente sentado numfim de tarde na esplanada do pa-vilhão municipal, onde ManuelCanha explora o café.Há de resto um segredo para aconfecção do caracol, mas a sua

revelação “custa 100 euros”, gra-ceja o empresário, que garanteque nem assim contaria tudo. To-davia, o grande segredo é mesmoa qualidade da matéria-prima. Ac-tualmente, Manuel Canha compraos caracóis a um produtor de Be-navente. Os caracóis não sãoportugueses, mas de origem mar-roquina. Todavia isso parece nãoimportar aos clientes que chegama fazer fila por um prato bem avia-do.Canha explica que os caracóisportugueses são muito pequenos,e que não rendem no prato. Porisso opta por adquirir ao produtorem causa porque possuem outrotamanho, “mais normalizado”, sa-

tisfazendo assim mais clientes.Actualmente, não há, segundoManuel Canha, pessoas a apa-nhar caracol de forma profissio-nal, se assim se pode dizer. “An-tes as pessoas mais velhas apa-nhavam caracol no sequeiro, deforma selecionada, e regra gerala matéria-prima apresentava umbom calibre. Hoje o produto éapanhado de qualquer maneira,numa mistura de caracol pequenoe grande”. Manuel Canha salienta que o ca-racol nacional tem alguma quali-dade, mas adverte que a grandemaioria das curas dos campos éfeita por avionetas “que acabampor destruir o caracol todo”.

Canha, o Rei do Caracol

Plantação de Olival em AlcoentreUm investidor espanhol está a levar a

cabo uma acção de plantação de oli-veiras em terrenos que já pertenceramao estabelecimento prisional de Alcoen-tre. De acordo com o presidente da Câ-mara de Azambuja, Luís de Sousa, o oli-val com cerca de 400 hectares com regaautomática servirá para produção deazeite a canalizar para o mercado espa-nhol. Também o presidente da junta defreguesia de Alcoentre, António Loureiro,confirma a informação de que se trataráde “uma produção com um elevado nú-mero de oliveiras”. Não são conhecidosmais pormenores do negócio. Luís deSousa sabe que a cerâmica da cadeiaao que tudo indica será transformadanum lagar de azeite tendo em conta ofim comercial do negócio em causa.

Estrada cortadaem Refugidos Aestrada nacional 115-3 que liga Cadafais, no concelho de

Alenquer a Sobral de Monte Agraço, encontra-se interditadana localidade de Refugidos devido a um desmoronamento deuma das faixas. Foi proibida a circulação de trânsito pela Estra-das de Portugal em finais de Abril. Este é um assunto que estáa impacientar a população que se vê privada daquela via O Valor Local contactou a Estradas de Portugal que responde“que já foram executados trabalhos de sondagens para o cor-recto desenvolvimento do projeto, estando o procedimento con-cursal para execução da obra na fase final. O projeto prevê a re-construção do aterro e da plataforma, incluindo estrutura de su-porte”.“A EP prevê iniciar os trabalhos no início do mês de Agosto econclui-los durante o mês de Setembro. Contudo durante a exe-cução da obra, será estudada a possibilidade de abrir a via aotráfego, embora de forma alternada.”

Os caracóis do Canha

Justina gosta de se arranjar e até pintou o cabelo recentemente

Plantação ao fundo

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6 Valor LocalAmbiente

Limpeza urbana pelas ruas da amargura

Salvaterra de MagosCâmara diz que, agora, lava os contentores mais vezes

As ruas da vila de Azambuja“imploraram” durante as últi-

mas semanas por uma limpezaurgente. O Valor Local pôde regis-tar isso mesmo em mais do queum ponto da vila, conforme atestaa fotografia que ilustra esta repor-tagem. Nos últimos tempos, a fal-ta de higiene e limpeza das ruasé um facto que também tem sidonotado pelos cidadãos. A situaçãonão é pior porque os bombeirosprocederam, entretanto, à lava-gem das ruas.No dia 15 de Julho, a falta de pes-soal para a limpeza das ruas dafreguesia foi colmatada proviso-riamente por uma empresa con-tractada pela Junta de Azambuja.A informação foi avançada pelapresidente do executivo, InêsLouro, ao Valor Local, a qual re-conheceu o problema. A empresaque começou os seus trabalhosestará, segundo a página do face-book da junta, ao serviço, até quecheguem as pessoas requisitadaspela autarquia ao Centro de Em-prego. Com efeito, no mesmo diaem que a presidente da Junta

respondeu ao Valor Local, a em-presa começou a trabalhar, e foicolocada uma explicação na pa-gina da junta no facebook. É certo que os problemas com alimpeza têm sido uma dor de ca-beça do executivo. Ao Valor Localtêm chegado queixas, que tam-bém estão bem presentes nas re-des sociais.Inês louro que reconhece a situa-ção, lamenta que a falta de pes-soal esteja a condicionar a higie-ne na freguesia. Segundo a presi-dente, os funcionários que esta-vam ligados à junta através dosprogramas ocupacionais (POC’s)“terminaram o contracto a 7 deJulho”. “Temos a candidaturaaprovada para 15 homens desdeo início de Junho” refere. Para tor-nar ainda mais caricato o estadode coisas, a autarca foi informadapela Segurança Social que os no-vos funcionários só chegarão aseis de Agosto, isto tudo porque aresponsável do organismo “vai deférias”. A presidente da Junta acrescentaainda que houve “excesso de tra-

balho” nos últimos tempos, devidoà última edição da Feira de Maio,que segundo a autarca “deixoumuita areia, mais do que o costu-me”. Entretanto, deu-se a saídado pessoal dos POC’s, o queagudizou o problema. O estado de coisas nas ruas dafreguesia poderá não estar livrede acontecer novamente, dadoque a junta tem para já como re-curso a requisição destes traba-lhadores temporários ao centrode emprego, e entre essa mesmarequisição de novos funcionários,a aprovação dos mesmos pelocentro de emprego, com as buro-cracias inerentes a este tipo deprocessos, passam demasiadosdias, situação não compaginávelcom a necessidade de limpezadas ruas da vila.Nas ruas a visível falta de limpezajunta-se a falta de algum civismo.Há papeleiras cheias, mas hátambém caixotes do lixo a abarro-tar, sendo que neste caso a res-ponsabilidade é da ECO-Ambien-te, empresa que tem a concessãoda recolha do lixo.

Aquestão da higiene e limpezano concelho de Salvaterra de

Magos não é recente. A popula-ção criticou fortemente, nos últi-mos anos, a política da autarquia,acusando-a de “lavar poucas ve-zes os contentores” com o conse-quente aparecimento dos mauscheiros e foco de insalubridade. Oactual presidente da Câmara, Hél-der Esménio, refere que é rele-vante o facto de ter “aumentadoem 50 por cento o número de la-vagens anuais a que eram sujei-tos os contentores de recolha deresíduos sólidos urbanos (RSU)”,em relação ao que se passava nomandato da anterior presidente deCâmara, Ana Cristina Ribeiro.Diz a autarquia que “a situação da

recolha de RSU, monos e resí-duos verdes só pode ter evoluídopositivamente, pois reforçámos arecolha com mais um circuito re-lativamente ao praticado no man-dato anterior, alargamos o traba-lho extraordinário a mais fins-de-semana e apoiamos três juntas defreguesia na aquisição de viatu-ras, que recolhem domiciliaria-mente muito dos lixos que eramabandonados junto aos contento-res, bastando para tal, que o mu-nícipe ligue para a sua junta defreguesia a solicitar esse serviço.Também no que respeita à higie-ne e limpeza urbana, consegui-mos envolver mais pessoal, emface da adesão municipal aos pro-gramas do IEFP e da Segurança

Social.”, Ouvimos alguns munícipes doconcelho sobre o estado de coi-sas nesta matéria. António Peste,de Salvaterra de Magos, sur-preendido pela nossa reportagema despejar o lixo numa das ilhasecológicas da sede de concelho,considera “há muito para melho-rar, porque muitas pessoas dei-xam o lixo ao lado destes depósi-tos ao invés de o colocarem nocontentor, atraindo ao local cães egatos. Trata-se de uma grandefalta de civismo”. Também Adelai-de Santos testemunhou o mesmo– “Passei aqui há pouco, e estavano passeio uma enorme quantida-de de sacos pretos, fiquei parvacom isto. A lavagem dos conten-

tores não é má.” Opinião diferentetem a munícipe Manuela Carvalhoque considera que “alguns con-tentores em alguns locais cheiramum bocado mal”.Porque a responsabilidade de ze-lar pelo espaço público é tambémdos cidadãos, e a falta de civismocontinua a ser apanágio de muitosportugueses, a Câmara diz que“só é possível ultrapassar definiti-vamente este problema se cadaum dos cidadãos ajudar e contri-buir”. “Há que condenar social-mente comportamentos enraiza-dos que estão na origem do cons-purcar das nossas ruas e das po-voações onde vivemos.”Por outro lado, Maria Oliveira, deMarinhais considera “que a limpe-

za dos contentores está melhor,parece que têm sido mais lava-dos”. Crítica da falta de civismodos seus vizinhos, Carmina, tam-bém residente naquela localidade,fica “incomodada” com o facto de“tanta gente deixar os sacos ao pédo contentor” “Parece que nãotêm força nos braços”. “Sei que ajunta de freguesia andou a distri-buir panfletos a sensibilizar os ci-dadãos para esta questão, a pedirpara que as pessoas não ponhamos lixos dos quintais nos caixotes,alegando que depois recolhe es-ses lixos, mas parece que está ademorar a fazê-lo”, descreve.Esta experência da junta de Mari-nhais é inédita e segundo a Câ-mara consiste na distribuição de

um flyer onde se apela “à deposi-ção dos lixos nos locais próprios ese informam os munícipes do nú-mero de telefone de contacto,para a recolha de monos e de re-síduos verdes” pela junta de fre-guesia directamente a casa domunícipe.”O município acrescenta, ainda,que nesta componente da higienee limpeza lançou acções de sen-sibilização junto da comunidadelocal, envolvendo-a em dois sába-dos, na limpeza das margens daAlbufeira de Magos. A CâmaraMunicipal tem ainda em curso alimpeza da Praia Doce e “vai es-tender esses esforços ao valadoda Vala Real em Salvaterra deMagos”.

Na zona do Rossio, em Azambuja

Lixo depositado junto a ilha ecológicaem SalvaterraAntónio Peste lamenta falta de civismo

Adelaide Santos lamenta comportamentosdos cidadãos

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7Valor Local Freguesia em Destaque

Vale do Paraíso: Freguesia com História

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Vítor Patrício

Neste país fecham tudo,por isso considero que fazmuita falta o centro desaúde, uma necessidadeurgente. A nossa popula-ção é das mais descura-das. Na minha opinião hámuita coisa que precisavade mudar, mas para nãoestar a dizer mal de tudofico por aqui.

José Teotónio

Sei que a Câmara Munici-pal ou a Junta de Fregue-sia pouco ou nada podemfazer, porque não há di-nheiro, mas o posto médi-co faz muita falta, tendoem conta que foi encerra-do. Felizmente a junta temali o posto de correios quedá muito jeito para rece-ber a reforma e enviar car-tas. Por outro lado, consi-dero que não se justificauma farmácia pois há pou-ca gente na freguesia paratal.

Beatriz Pereira

Faz muita falta a existênciade uma farmácia. Tambémtemos uma rede de auto-carros deficitária o que setorna complicado para osmais velhos e sem mobili-dade. Estamos muito malde transportes, porquequem não tem carro pos-sui mais dificuldades parair a Azambuja ou a Aveirasde Cima, dado que os ho-rários são pouco compen-sadores. Por outro lado, háoutras coisas positivascomo o mercado, o centrode dia, cafés e padaria.Isso já é muito bom.

Esmeralda de Sousa

A falta do posto médico éuma das preocupações.Sobretudo quando perde-mos uma coisa que já tive-mos ainda se torna maiscomplicado. Não senti tan-to a falta da farmácia, ten-do em conta que já houveaqui uma parafarmácia.Sou é bastante crítica doTDT (Televisão Digital Ter-restre) cujo sinal é horrível.

Cristóvão Colombo

Vale do Paraíso no centrodo xadrez diplomático mundialA primeira Casa Co-lombo da PenínsulaIbérica surgiu emVale do Paraíso, em2009, concebida numtempo recorde de“sete dias e seis direc-tas”, conforme grace-ja o seu mentor, o his-toriador e museólogoJosé Machado Perei-ra. A funcionar no lar-go principal da aldeia,o centro de Interpre-tação que ali está pa-tente foi concebidosob o slogan «O Mun-do Moderno tambémcomeçou aqui no Sé-culo XV», e está reco-nhecido como o demaior qualidade pe-dagógico-didática ecredibilidade científi-ca, dos centros de in-terpretação histórica.Desde 2009, que por aquele espaço já passaram milhares de visitantes, várias pales-tras e conferências e teve a honra de receber Joaquim Veríssimo Serrão e ManuelaMendonça, anterior e actual presidente da Academia Portuguesa da História, a Asso-ciação Cristóvão Colón, os investigadores Manuel Rosa, os irmãos Matos e Silva, os ca-valeiros da Ordem de Malta, o director da Casa Colón de Tordesilhas e tantos outros,que deixaram assinalada a sua visita, individual ou em grupo, no respetivo livro dehonra. Ainda recentemente a figura de Colombo foi alvo de uma acalorada troca deideias num debate promovido pela junta de freguesia, em que estiveram presentesJosé Machado Pereira e dois reconhecidos académicos da Universidade de Valladolid,porquanto este comerciante/navegador Colombo é das figuras históricas que maispaixões desperta. Segundo o mentor do centro de interpretação, José Machado Pereira a aposta no“planeamento e gestão de conteúdos que fez em 2009 para o Centro de Interpreta-ção veio a revelar-se assertiva”, tendo em conta a componente da cartografia históri-ca, numa altura em que os vários ramos do saber histórico estão cada vez mais a “re-forçar a ideia de que as consequências da audiência de D. João II a Cristóvão Colom-bo (Colón) em Vale do Paraíso, tiveram como consequência imediata o Tratado deTordesilhas de 1494, e as suas negociações entre Portugal e Espanha tiveram comocerne a cartografia”. É com a frase lapidar «pela primeira vez a cartografia esteve aoserviço da política e da diplomacia», que José Machado Pereira refere a pertinência eimportância de Vale do Paraíso na História nacional e universal, nas visitas-guiadas àCasa Colombo.Em jeito de graça, confidenciou-nos, que o azar está no facto de que este universalacontecimento aconteceu no século XV. Se tivesse acontecido hoje, D. João II e Cris-tóvão Colombo em Vale do Paraíso, seria a notícia de abertura nos noticiários de todoo mundo.

O Valor Local esteve desta vez na freguesia deVale do Paraíso. Uma das mais emblemáticashistoricamente do concelho de Azambuja, poisnesta terra esteve a mítica figura de CristóvãoColombo depois da descoberta da América.Volvidos vários séculos, esta é uma terra paca-ta, com algumas necessidades. A população la-menta sobretudo o facto de já não ter ali oposto médico e de a rede de transportes nãoser a melhor.

8 Freguesia em Destaque: Vale do Paraíso Valor Local

Casa Colombo existe desde 2009

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A freguesia de Vale do Pa-raíso tem tentado destacar-se através da sua História. Alocalidade tem apostado nofacto de ser sido o palcopara um encontro entre orei D. João II e Cristóvão Co-lombo, e isso tem trazidonotoriedade e reconheci-mento à freguesia.Famosa por se chamar“Vale” mas desembocarnum “Cabeço”, Vale do Pa-raíso tem como grande su-porte a agricultura, nomea-damente, a vinha, de ondesão provenientes vinhos deboa qualidade.Armando Calixto, presiden-te da junta de Freguesia dalocalidade, aponta ao ValorLocal algumas questões queimpedem a seu ver “o bomdesenvolvimento da fregue-sia”. Uma delas está relacio-nada com os limites de Valedo Paraíso que há váriosanos luta para que a área dafreguesia seja alargada. Ar-mando Calixto salienta queeste é um assunto importan-te, mas que não “anda” por-que “está entregue a depu-tados que não conhecem oconcelho”.O presidente da junta sa-lienta que nova limitação doterritório da freguesia fariatoda a diferença, pois permi-tiria aumentar o número deeleitores, trazendo mais-va-lias para a terra. ArmandoCalixto, refere que a fregue-sia “tem perdido eleitores to-dos os meses. Pois ao faze-rem o novo cartão de cida-dão, passam para a fregue-sia de Azambuja”, e acres-centa: “Só nestas últimaseleições perdemos dez pes-soas”. Pelo lado da freguesiade Azambuja não haveriaproblemas, não sendo estauma questão entre as duasautarquias, mas tudo estádependente de um decreto-lei há anos.Ao todo deviam ser transfe-ridos cerca de 228 hectaresde Azambuja para Vale doParaíso. Esta é aliás uma rei-vindicação com mais de trêsdécadas e que vai ao encon-tro da vontade do povo. Odiploma devia ter sido assi-nado por José Sócrates em2009, mas a demora nas bu-rocracias e a queda do Go-verno de então adiou o as-sunto.Com a perda de eleitores,Vale do Paraíso perde tam-bém dinheiro, que poderiaser usado em algumas obrasna localidade. Com efeito,

nas últimas contas feitaspelo município apenas éatribuído o montante de149 euros. Ainda assim, Ar-mando Calixto refere que oexecutivo vai tentar encon-trar formas de compensa-ção.Todavia a esta quebra junta-se uma outra. Trata-se darenda do edifício até aquiocupado pelo médico e quepara além de prestar apoioaos fregueses, representavauma soma importante paraa junta.Ao todo esta renda repre-sentava para a junta pertode 5 mil euros por ano. Paraalém desta receita que erafixa, Armando Calixto refereoutras de menor montantecomo as licenças e atesta-dos, ou os pagamentos fei-tos pelos vendedores domercado, “que apenas co-brem as despesas”.À quebra de receitas, jun-tam-se outras preocupa-ções. A área das escolas quepassou agora para as juntas,é um assunto importantepara as contas daquela au-tarquia. Armando Calixto sa-lienta que essas competên-cias vêm trazer mais respon-sabilidade, sobretudo noque toca à manutenção dosespaços. Para o presidenteda junta, é “mais importantecuidar do que comprarnovo, e isso faz toda a dife-rença nas contas finais”, vin-cando que a gestão finan-ceira está a correr conformeplaneado – “E veja, não re-cebemos duodécimos hádois meses e ninguém nosbateu à porta a pedir orde-nados, isto ou aquilo!”, res-salva.Vale do Paraíso é tambémuma localidade onde a Cul-tura ligada à história de Co-lombo, mas também a po-pular têm uma raiz viva noseio da população, assimcomo, o Desporto. Recente-mente a localidade ganhouum pavilhão, “local ondesão praticados preços aces-síveis para que toda a popu-lação possa usufruir dele”.Armando Calixto vinca queo pavilhão está bem rentabi-lizado e que tem muita pro-cura.O Paraisabor é o certamegastronómico, por excelên-cia, da localidade que seráeste ano de três a cinco deOutubro, o qual começouno centro histórico e quenos últimos anos passoupara fora da aldeia junto ao

pavilhão, sendo por isso“uma mais-valia. O espaço émaior, tem outras condiçõespara as colectividades epara os visitantes bem comomelhor estacionamento”.Aliás, Armando Calixto falamesmo em novidades naParaisabor. O presidente daJunta quer rentabilizar ain-da mais o certame, e porisso este ano pela primeiravez, vai ter lugar “uma mos-tra de artesanato em parale-lo com a iniciativa”.E mesmo com 4,44 km² deárea e 880 habitantes a fre-guesia dispõe de algum co-mércio. “O suficiente para asprimeiras necessidades doslocais. Para além de várioscafés, há supermercados eserviços.” Segundo o presi-dente da junta, “o comérciovai prosperando, à excep-ção do talho que fechou eda parafarmácia, que só fun-cionou durante dois anos.”

Rentabilizar o centrode interpretaçãoda Casa Colombo

O presidente da Junta deFreguesia de Vale do Paraí-so, Armando Calixto queraproveitar a Casa Colomboe tudo o que a rodeia paradar a conhecer a freguesiapara lá das fronteiras nacio-nais. Isso é de resto o quevai acontecendo aos pou-cos, pois já são muitas asconferências que citam oencontro de D. João II comColombo naquela localida-de depois do seu regressoda América.Este é um assunto que apai-xona os fregueses, mas apai-xona também os investiga-dores nacionais e interna-cionais que desejam apro-fundar sempre que possívelas ligações de “Colon” aVale do Paraíso e a D. JoãoII.O presidente da junta acre-dita que todos os produtosligados a esta figura incon-tornável da História Mun-dial, têm venda garantida e,por isso, na forja está já umfolheto para chegar à Enti-dade Regional de Turismodo Alentejo “algo que jádespertou o interesse dopresidente daquela estrutu-ra no âmbito das visitas quetem feito ao município”. Oautarca quer reforçar essaintenção através do pelouroda Cultura da Câmara Muni-cipal de Azambuja.Armando Calixto considera

que o fomento de visitas àCasa Colombo pode trazermais-valias para o comércio.Salienta o autarca a título deexemplo que há pouco tem-po, um grupo de pessoasque participou numa confe-rência na localidade estevetodo o dia em Vale do Paraí-so. Foi benéfico, segundo oautarca para o comércio lo-cal, tendo em conta que foiali que confraternizaram nasadegas, cafés e restaurantes.

O PresidenteResponde

Armando Calixto, no quetoca às questões recolhidaspelo Valor Local junto dosfregueses, e no que se refereà questão da escassez de li-gações de autocarros, dizque a freguesia “não é dasque tem mais razões dequeixa no concelho”, sobre-tudo quando se usa comotermo de comparação Ma-çussa ou Vila Nova de SãoPedro. Ainda assim reco-nhece que em determina-dos períodos, fora do tempoescolar, os autocarros an-dam quase vazios. Diz a jun-ta que tem feito algumas in-sistências para que se dê al-gum reforço nas ligações aAzambuja ou a Aveiras deCima. Já o fez através de umofício, através do qual pediuà Rodoviária, que percorres-se todas as paragens da fre-guesia, “algo que não acon-

tecia e que deixava os uten-tes insatisfeitos, nomeada-mente os mais idosos e compouca capacidade de loco-moção”.Quanto à farmácia, o presi-dente da junta reconheceque era uma mais-valia, masa freguesia teve uma para-farmácia durante dois anos,e as coisas não correrambem. “O proprietário nãoconseguiu suportar as des-pesas. Portanto é impossívelque alguém invista ondenão tem rentabilidade”. Ar-mando Calixto vinca entre-tanto que a população deVale do Paraíso é servidaatravés duma das farmáciasde Aveiras de Cima, “quetem um transporte apropria-do para vir trazer os medica-mentos aqui à freguesia.Basta o freguês telefonar etem o serviço de imediato”.No que toca ao posto médi-co, o presidente da junta dizter a noção de que este nãoregressa tão cedo. “Esta foiuma das preocupaçõesemergentes”, mal tomouposse como presidente.Uma preocupação de todoo executivo que encontrouno centro de dia local, a so-lução para minimizar os pro-blemas. Com efeito, o autar-ca diz que toda a populaçãotem acesso a médico parti-cular naquela instituição. Ar-mando Calixto lembra queembora não seja o ideal, é opossível. O presidente da

junta garante, no entanto,que todos os fregueses têmmédico uma a duas vezespor semana. Quando aospreços, este é um projectofora do Serviço Nacional deSaúde, mas que garante aossócios do centro de dia umaconsulta por 25 euros; e aosnão sócios, a mesma consul-ta mas por 35 euros. Umpreço que não é muito bara-to mas que ainda assim “ga-rante um médico particularpor menos de metade dovalor dos preços de referên-cia praticados no mercado”.Armando Calixto reconheceque a situação não é a ideal,mas por enquanto foi a solu-ção encontrada para que osfregueses não ficassem des-providos destes cuidados.Já quanto à TDT, o presiden-te da Junta reconhece queo serviço não é dos melho-res, mas até ao momentogarante nunca ter recebidoqualquer reclamação. O au-tarca lembra, no entanto,que uma das prioridadesquando o executivo tomouposse, foi a criação de umprotocolo com a DECO (As-sociação Defesa do Consu-midor). Nesse sentido salien-ta que existe um impressopróprio na junta para as re-clamações relacionadascom a Televisão Digital Ter-restre, que tem muitas falhasem Vale do Paraíso, que poracaso fica…num cabeço.

Vale do Paraíso comoponto de encontro da História

Freguesia em Destaque: Vale do ParaísoValor Local 9

Armando Calixto quer apostar na divulgação de Colombo

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10 Valor LocalEspecial Fogos

¢ Miguel A. [email protected]

Depois de um Inverno bastantechuvoso, o risco de incêndio

nas nossas florestas aumentoubastante. Segundo os peritos emProtecção Civil, tal deu azo à pro-liferação de demasiado mato fino,mais conhecido em termos técni-cos como combustível contínuo,um detonador, por excelência, degrandes fogos florestais.A juntar a este problema motivadopela chuva, junta-se alguma incú-ria dos proprietários de terrenosflorestais que teimam em não lim-par os acessos, ao mesmo tempo,que os particulares que possuemcasas no meio da floresta não fa-zem a respectiva limpeza nos 50metros em redor das habitações,como manda a lei.Pedro Cardoso, Comandante Mu-nicipal Operacional do Municípiode Azambuja, considera que esseé um dos problemas contra o qualtem lutado. Já o fazia quando eracomandante dos bombeiros deAzambuja, e continua, agora, aalertar os proprietários, muitas ve-zes sem resultados.Ainda assim, o operacional salien-ta que as campanhas de sensibili-zação feitas junto de alguns aglo-

merados têm trazido alguns resul-tados, lembrando que muitos dosfogos também começam com ori-gem em queimadas ilegais e forado tempo previsto para as mes-mas.Segundo Pedro Cardoso, tendoem conta os dados do Gabinetede Protecção Civil Municipal, já fo-ram dadas perto de meio milhar deautorizações para queimadas,sendo que nesse campo “o muni-cípio de Azambuja é dos poucosdo país que tem esse regulamen-to, sendo mais ou menos cumpri-do”. Pedro Cardoso que acrescen-ta que já vai existindo algumapreocupação em legalizar certotipo de queimadas.Todavia, no município de Azambu-ja há locais que estão “debaixo deolho” das várias entidades. São oscasos dos terrenos na “Queijeirade Cima e de Baixo”, onde a vege-tação cresceu bastante, mas tam-bém na zona da Ameixoeira pertoda CLC – Companhia Logística deCombustíveis em Aveiras deCima, bem como na grande man-cha florestal na zona norte do mu-nicípio de Azambuja, nomeada-mente, junto à localidade de Que-bradas.Outra das preocupações prende-se com os sapadores florestais.

Nesta altura, a brigada está extin-ta. Os homens foram dispensadosporque acabou o contrato, e umnovo contrato só será possívelatravés de um protocolo com osbombeiros de Alcoentre.Aliás esta é uma matéria quepreocupa o vice-presidente da Câ-mara de Azambuja, Silvino Lúcio,que vinca a necessidade de darcontinuidade a um “trabalho quetem vindo a ser colocado em prá-tica nos últimos anos”.

“Penas pesadíssimaspara quem não cumpre”

O vice-presidente defende entre-tanto que a chave para tudo é aprevenção, como tal “esta tem ummomento para ser feita. “O Estadotem de dar ferramentas aos muni-cípios para obrigar as pessoas acumprir a lei”, por isso defende“penas pesadíssimas para os pre-varicadores” para que o patrimónioambiental e florestal seja preser-vado.Silvino Lúcio salienta que o muni-cípio tem pugnado por “boas prá-ticas para fomentar a prevençãodos fogos florestais”, congratulan-do-se com a nova legislação quepermite que “várias entidades po-liciais já possam actuar no terre-no”.O vice-presidente salienta, entre-tanto, que o município azambujen-se já está a limpar os acessos a al-guns terrenos para facilitar o traba-lho dos bombeiros. Uma limpezaque este ano começou ligeiramen-te mais tarde, mas que ainda as-sim é importante para que os sol-dados da paz cheguem ao terre-no.

Município de Alenquer atento à Serra de Montejunto

O município de Alenquer tem umagrande área verde, em que a Ser-ra de Montejunto, o ex-libris natu-ral concelhio, é uma das grandespreocupações.Em declarações ao Valor Local, opresidente da Câmara e respon-sável pela Protecção Civil, PedroFolgado, destaca que a responsa-bilidade da gestão da Serra é doInstituto da Conservação da Natu-reza. Todavia e no âmbito do ser-viço público efetuado pelas equi-pas de sapadores florestais, “fo-ram executados trabalhos de silvi-cultura preventiva por duas equi-pas durante duas semanas”.De acordo com o autarca, o muni-cípio também participou nos traba-lhos, “nomeadamente com a ce-dência de um tractor com corta-

mato para a execução das faixasde gestão de combustível em re-dor das casas florestais, na coor-denação dos trabalhos dos servi-ços florestais na manutenção decaminhos”.Pedro Folgado vinca que têm sidoefectuadas várias campanhas desensibilização, não só utilizando arádio, mas também através da dis-tribuição de folhetos, e de sessõesde esclarecimento nas freguesiasrurais de Ribafria e Carnota.Pedro Folgado lamenta que aocontrário do que é difundido pelacomunicação social, “não existaqualquer legislação que obrigue osproprietários florestais a limpar osterrenos, excepto se estiverem nointerior das faixas de gestão decombustível em torno do edifica-do”. Quanto a gestão desses terrenoscom vegetação em redor do edifi-cado, salienta que cabe à Câmarae à GNR proceder ao levantamen-to dos autos em situações de in-fracção. “Neste âmbito têm sidonotificados vários proprietários portodo o concelho, existindo tambémum contacto direto com os mes-mos no sentido de os sensibilizarpara esta problemática”. Pedro Folgado salienta tambémque tem sido “efetuado ao longodos últimos anos um esforço con-siderável na limpeza dos terrenosmunicipais inseridos nas referidasfaixas de gestão de combustível”,e vinca “uma articulação positivacom as juntas de freguesia pois asua relação de proximidade permi-te a resolução de muitas situa-ções”, a que se junta “a facilitaçãodo processo administrativo, atra-vés da identificação de alguns pro-

prietários”.

Benavente: “Incêndios com pouca expressão”

Carlos Coutinho, presidente daCâmara Municipal de Benavente,começa por salientar “a importân-cia das diversas campanhas desensibilização da protecção da flo-resta.”Esta é uma matéria que tem vindoa ser colocada em prática naquelemunicípio há vários anos e queCarlos Coutinho classifica comopositiva tendo em conta a boa re-lação que existe entre a autarquia,os proprietários da Companhiadas Lezírias, e do Campo de Tiroque levam a cabo uma “série depráticas positivas no domínio daprotecção da floresta”.Aliás, o autarca salienta que essainterligação acaba por sensibilizaroutros proprietários mais peque-nos para a limpeza das matas. Opresidente da Câmara fala em boacolaboração também com a GNRe com os Bombeiros do concelhode Benavente, lembrando a pre-venção permanente levada a cabopelo serviço de Protecção CivilMunicipal que segundo o autarca“permite resultados bastante bonsquando os comparamos com oque acontece na generalidade dopaís”, concluindo: “Os incêndiostêm pouca expressão no nossomunicípio”.Carlos Coutinho fala nas boas prá-ticas que incluem a limpeza de ter-renos, algo que aliado à geografiado município, pouco acidentada,acaba por produzir bons resulta-dos.

Câmara de Salvaterrae Águas do Ribatejo apelam

à limpeza da floresta

A Câmara Municipal de Salvaterrae a empresa Águas do Ribatejoaliaram-se para promover boaspráticas na prevenção de fogosflorestais. Segundo João Bena-vente, vereador com o pelouro daProtecção Civil Municipal, esta éuma iniciativa incluída no plano deacção do município e que consta-rá numa primeira fase na distribui-ção de publicidade junto com afactura da empresa Águas do Ri-batejo, onde o município e a em-presa apelam à necessidade dalimpeza e de protecção da flores-ta.A juntar a isto, o município destacaa informação disponibilizada nosite oficial, sendo que no terrenoestão os técnicos camarários, des-de o dia 1 de Julho, com a missãode sensibilizar as populações.João Benavente vinca que umadas preocupações está relaciona-da com a falta de limpeza em re-dor das habitações, e esse é porisso um dos principais alertas aosproprietários. O vereador assumeque não tem sido fácil sensibilizaros mesmos, ainda assim afirma-seconvicto de que as campanhas emcurso vão produzir resultados.O vereador espera que a nova le-gislação produza “novas atitudes enovos comportamentos dos pro-prietários dos terrenos”, destacan-do que a mesma legislação comcoimas mais pesadas acabaria porsensibilizar os proprietários e obri-gá-los “a pensar que as situaçõesde falta de limpeza também afec-tam os vizinhos”.

Incêndios

Desleixo dos proprietários é o rastilhoQuando em Portugal está a decorrer a “Fase Charlie” – altura crítica durante a qual os incêndios podemtornar-se graves, o Valor Local foi para o terreno ouvir os responsáveis municipais da Protecção Civilsobre as medidas em curso tendo em conta a prevenção e o combate aos fogos florestais.

Limpeza das matas é vital

Atraso na entregade equipamentosaos bombeirosAs comunidades intermunicipais ainda não entregaram na sua maio-

ria os fardamentos e equipamentos de protecção aos corpos debombeiros. No caso da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo(CIMLT) à qual pertencem os concelhos de Azambuja, Cartaxo, Salva-terra e Benavente (no âmbito deste trabalho, que estamos a fazer),essa é também uma realidadeA CIMLT refere que em Maio de 2013 foi entregue uma candidaturacom um investimento elegível de 219 mil 924 euros –com compartici-pação em 85 por cento do FEDER, 7,5 por cento da Autoridade Nacio-nal de Protecção Civil e 7,5 por parte da CIMLT para a aquisição deequipamentos de protecção indidividual –para combate a incêndios emespaço natural. Mais tarde foram adjudicados os lotes referentes a ca-pacetes florestais já disponibilizados, mas não se adjudicaram luvas,botas e cogulas, por um lado, nem calças e dolmens, por outro, porquenão foram entregues amostras no primeiro caso, e no segundo porquenão preenchiam as características técnicas exigidas. Para os lotes não adjudicados avançou-se para a opção de ajuste di-recto em 25 de Março deste ano, mas mais uma vez as coisas não cor-reram bem para as cogulas, botas e luvas, novamente por falta deamostras, mas foram finalmente adjudicadas as fardas (calças e dól-men) com assinatura do contrato a 30 de Junho.A CIMLT solicitou à Associação Nacional de Protecção Civil novo pa-recer para conseguir adquirir os materiais em falta, possivelmente, jáum pouco tarde para as nossas corporações, mas de acordo com a co-munidade intermunicipal há novas regras ainda mais específicas paraas botas, cogulas, e luvas que pelos vistos estão a embaraçar a dota-ção por completo dos bombeiros.

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11Valor Local Especial Fogos

Atarde do passado dia 10 deJulho foi um “tormento” para a

população e para os bombeirosem Azambuja. Com efeito, o fogoque deflagrou para os lados daQuinta da Formiga e que colocouem perigo algumas arrecadaçõese habitações, terá sido um avisopara o Verão de 2014.O combustível contínuo, compostopor vegetação seca, aliado à geo-grafia do terreno, e somada a faltade limpeza de algumas matas, fo-ram o “rastilho” para o primeirogrande fogo da época e mesmo àsportas de Azambuja no qual arde-ram perto de 22 hectares.A somar ao terreno irregular e àfalta de limpeza, juntou-se, ainda,o vento que se fazia sentir. Todaviao vento existente na altura não erasó por si suficiente para levar aque o fogo galopasse de forma tãorápida. Outro fenómeno poderá terestado na origem do fogo se teragigantado de tal maneira, ficandocompletamente descontrolado.Tratam-se das denominadas “cor-rentes de convecção” que na prá-tica levam a que o ar quente juntocom o ar frio criem, ainda maisvento, e por esse motivo há queter sempre em conta uma margemde erro.Cerca de 170 homens combate-ram este fogo, cujas causas estãoa ser investigadas, apoiados pordois helicópteros pesados e pormais de três dezenas de viaturasoriundas da região operacionaldistrital de Lisboa, aliás as propor-ções que o incêndio tomou leva-ram mesmo à activação no máxi-mo da protecção civil distrital.

Este foi um incêndio atípico quenão ficou imune às críticas da po-pulação, que ficou com os nervosem franja por causa da “alegadademora” dos bombeiros a chegarao local, mas a “incúria” dos pro-prietários que limparam as bermasdos terrenos, mas que deixaram olixo amontoado à espera de me-lhores dias, numa atitude de des-leixo que podia ter custado muitocaro foi o também alvo de ceverascríticas. Disso mesmo foi testemu-nha a reportagem do Valor Local. A nossa reportagem também tes-temunhou o pânico vivido pelosmoradores da Rua da GNR, queviram o fogo, em menos de meiahora, chegar a escassos metrosdas suas casas “sem que nenhumbombeiro aqui estivesse”, desaba-fou Maria Assunção, que ainda as-sim ressalvou “o trabalho impor-tante” dos soldados da paz.Aliás os moradores desta rua, al-guns evacuados à ordem da GNR,queixaram-se sobretudo da faltade limpeza do terreno às suas por-ta. Tal foi o principal motivo paraque todo vale, que fica igualmentea poucos metros da GNR, ardessepor completo.Segundo constatamos, em muitosdos casos, valeu o desempenhodos helicópteros, que ao fazeremalgumas descargas, conseguiramque uma vivenda recentementerecuperada e um barracão comanimais não ardessem por com-pleto. Os estragos do fogo acaba-ram por se verificar numa casa de-voluta.Na verdade, segundo afiançou, ànossa reportagem, o presidente

da Câmara Municipal de Azambu-ja, Luís de Sousa, as populaçõesnunca estiveram em perigo, e osbombeiros actuaram como pude-ram, reconhecendo que os opera-cionais não poderiam estar emtoda a parte.Este foi aliás uma ocorrência atípi-ca, como já salientámos. Na vilade Azambuja, não há memória dealguma vez se ter procedido aoevacuar dos utentes do lar daSanta Casa da Misericórdia. Umaoperação que correu dentro doprevisto, e que contou com a cola-boração dos bombeiros e do Cen-tro Social e Paroquial de Azambu-ja, local para onde foram retiradosos idosos e as crianças, mas ape-nas como medida de precaução.

Os Bombeiros Voluntários deAzambuja apostam este ano

num local alternativo para o abas-tecimento das viaturas. O local es-colhido é o antigo viveiro de Avei-ras de Baixo, propriedade da Di-recção Geral das Florestas, e quereúne as mínimas condições ope-racionais para ali se instalar umaespécie de posto avançado dosvoluntários azambujenses.Segundo o comandante dos bom-beiros, Armando Batista, este localestá devidamente autorizado e emfuncionamento pelas respectivasestâncias, nomeadamente, o Co-mandante Operacional de Agrupa-mento Distrital do AgrupamentoSul; Comando Nacional de Opera-ções de Socorro e Instituto daConservação da Natureza e Flo-resta. Armando Batista vinca, entretanto,que não se pode confundir esteposto avançado com o “DispositivoEspecial de Combate a IncêndiosFlorestais do Corpo de Bombeirosde Azambuja”, destacando que

“aliás se não existisse autorizaçãonão se encontrava incluído na“Rede Distrital de AbastecimentoAéreo e Terrestre”. Trata-se de um local importantepara o abastecimento misto, aéreoe terrestre, o que só é possívelgraças aos inúmeros pontos deágua existentes no terreno.Este é também o local onde osbombeiros de Azambuja têm-seabastecido para as lavagens dasruas da freguesia, conforme acor-dado com a Junta de Azambuja.Contudo, não terá sido utilizado noincêndio de 10 de Julho, apesar daproximidade.Segundo apurámos este postoavançado será para utilização dosbombeiros durante o Verão, mas anossa reportagem chegou a pas-sar no local e nem sempre o por-tão de acesso estava aberto. Opresidente da Câmara, Luís deSousa, também confirmou esta in-formção ao nosso jornal, até por-que passa todos os dias naquelaestrada, tendo referido a sua estra-

nheza dado que foi a autarquiaque facilitou e protocolou as insta-lações entre os bombeiros e a Ins-tituto de Conservação da Nature-za. O presidente dos bombeiros,André Salema, refere que “a per-manência de equipas no local éfeita tendo em conta a meteorolo-gia, com as condicionantes devento forte e temperaturas eleva-das, e nessas alturas os bombei-ros permanecem no local dadoque aumentam significativamenteas possibilidades de incêncio, tra-ta-se, pois, de uma questão degestão de comando, não havendouma obrigatoriedade permanente”.Referindo ainda que os bombeirosprocederam “à limpeza do local”que será novamente entregue a 30de Setembro. No facebook da as-sociação, página gerida por umgrupo de bombeiros, é reconheci-do o interesse do local não só para“acções de formação”, mas estãotambém interessados no mesmocomo local de “momentos de con-vívio, voluntarismo e socialização

entre recrutas e bombeiros, tor-nando o espaço mais limpo eagradável.”Todavia este local escolhido nãoreúne consensos. Em reunião deCâmara, o executivo socialista foiconfrontado com a segurança, ten-do em conta que a Nacional 3 na-quela zona é particularmente peri-gosa.Em resposta ao Valor Local, ovice-presidente Silvino Lúcio reco-nhece que a “saída do local tempouca visibilidade”, o que pode sig-nificar “perigo para os outros auto-mobilistas que circulam a algumavelocidade na Nacional 365 e quenão esperam que daquele localsaia um carro de combate a incên-dios em marcha de urgência”, sa-lientando que seria boa ideia “a co-locação de semáforos temporá-rios”. Mas mesmo assim confessaque tal “poderia não ser suficiente”.Com a fase “Charlie” a decorrer, osvoluntários azambujenses têm le-vado a cabo um conjunto de práti-cas que lhes tem permitido recru-

tar novos elementos, uma acçãodecisiva para o rejuvenescimentoda associação.De acordo com o comandante Ar-mando Batista, há no entanto algu-mas limitações. O responsável sa-lienta que legalmente “os bombei-ros estagiários somente poderãoefectuar serviço operacional após6 meses de regime probatório”,isto depois da respectiva formaçãoe aprovação no exame distrital. Armando Batista salienta que dos18 elementos mais novos “apenasoito, e a partir do dia 20 deste mês,reúnem os pressupostos para en-grossar o corpo activo desta unida-de no que concerne aos fogos flo-restais, urbanos ou no socorro emgeral, mantendo-se os outros 10em formação contínua”. Todavia oresponsável diz esperar “podercontar com os mesmos em Janei-ro de 2015”.Quanto aos equipamentos, o co-mandante observa que a actual di-recção já investiu perto de 200 mileuros, tendo com essa verba ad-

quirido diverso material “o que per-mite afirmar que o corpo de bom-beiros de Azambuja está bemequipado”, reflecte.No que toca aos equipamentos deprotecção individual, ressalva-seaqui a oferta de alguns capacetespor algumas juntas de freguesia daárea de intervenção dos bombei-ros no seu último aniversário. Maso comandante salienta que aguar-da a chegada de mais 14 capace-tes no âmbito das candidaturas doQREN, luvas e cogulas. Com es-tas aquisições o operacional vincaque assim “todos os elementos docorpo activo deste corpo de bom-beiros serão possuidores de pro-tecção individual conforme legisla-ção em vigor”. Já no que toca aosveículos, Armando Batista salientaestar preocupado com a antiguida-de dos carros de combate florestal,“que pese embora se encontraremoperacionais, já deixam a desejarno que toca à idade, sendo que oveículo mais antigo tem cerca de30 anos de serviço”.

Incêndio de 10 de Julho

Casas salvas por uma unha negra

Radiografia ao dispositivo dos Bombeiros de Azambuja

População tentou salvar os bens como pôde

Limpeza das Matas é fundamentalÀ revelia de muitos proprietários, o Serviço Municipal de Protecção Civil de Azambuja, tem vindo a proceder à limpeza de acessos a alguns terrenos.Trata-se de uma medida de extrema importância, já que o Inverno chuvoso fez com que germinasse muita da vegetação, levando a que esta cres-cesse e tapasse caminhos e acessos.Coincidentemente, no mesmo dia em que deflagrou o incêndio, o Valor Local acompanhou uma dessas operações. No terreno e a bordo do carroda protecção civil, conseguimos constatar a irregularidade da floresta de Azambuja quase ao pormenor. Da zona da Guarita a Aveiras de Baixo,foi possível percorrer caminhos pelo meio da densa floresta, que passam despercebidos à maioria das pessoas.Só com um conhecimento muito profundo do terreno, tem sido possível chegar a locais quase impossíveis de detectar a olho nu, já que não estãoreferenciados em cartas, e nem existem no GPS.Em conversa com o Comandante Municipal Operacional, Pedro Cardoso, conseguimos perceber as preocupações das autoridades locais. Vege-tação densa, mato rasteiro, lixo, e falta de estradas no interior das matas são alguns dos problemas. Todavia, a autarquia tem estado no terrenocom uma motoniveladora a abrir caminhos. Uns que já existiam e outros que são agora abertos pela primeira vez.São locais que para quem desconheça a geografia do terreno, ou num combate a um incêndio à noite, poderiam ser fatais, tal é a perigosidadedos caminhos inexistentes, ou danificados neste Inverno por veículos de todo o terreno.Aliás, o conhecimento destes caminhos é tão importante como a sua existência. Não é por acaso, que as autoridades municipais “teimam” emfazer campanhas de limpeza das matas e que “gastam agora muitas horas no desbravar das mesmas e na abertura de caminhos.” Outro dos pontos importantes são os locais de abastecimento. Existem alguns no concelho de Azambuja, como lagos, lagoas e algumas represasnaturais, que estão identificados, e que em caso de necessidade podem ser usados, como aliás aconteceu, no dia 10 de Junho, pelos helicópterosque se abasteceram no rio Tejo e numa lagoa nas imediações dos Casais do Regedor.Na memória, estão outros fogos, noutros pontos do país, onde a falta de alguma sorte e os acessos mal sinalizados, levaram à “queda” de soldadosda paz. São memórias tristes, mas que alertam consciências, o que faz toda a diferença.

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12 Valor LocalDestaque

¢ Sílvia Agostinho¢ Miguel A. Rodrigues

AEstrada Nacional 3 entre VilaNova da Rainha e o Cartaxo é

a via mais perigosa do concelhode Azambuja. O perigo aumentoudepois do crescimento da zona in-dustrial entre Vila Nova da Rainhae Azambuja.Com efeito segundo Pedro Cardo-so, Comandante Municipal Opera-cional do Município de Azambuja,há locais já referenciados como“pontos negros” e que merecempor parte das autoridades (bom-beiros e protecção civil municipal)uma atenção especial.O troço entre Vila Nova da Rainhae Azambuja já merecia “um traçocontinuo entre as duas freguesias.As viragens à esquerda por partedos pesados que ali circulam têmmotivado muitos acidentes de via-ção”. Alguns desses sinistros po-deriam mesmo ser evitados, sepor parte dos condutores houves-se “mais civismo” e se todas as re-gras da estrada fossem cumpri-das. Ainda assim, Cardoso desta-ca que a construção das rotundas,

veio diminuir o número acidentes.O nosso jornal perguntou à Estra-das de Portugal (EP) sobre a im-portância do traço contínuo e doseparador, naquele troço, a qualrespondeu: “Está prevista uma ins-peção de segurança rodoviária aeste troço da Nacional 3 durante oterceiro trimestre deste ano. Nessainspeção serão analisadas as con-dições de segurança e de circula-ção deste troço e identificadas po-tenciais medidas de melhoria”.Na estrada Nacional 3, ainda nomesmo troço, há outras localiza-ções a ter em conta. Pedro Cardo-so vinca que muitos “pontos ne-gros” não são reconhecidos pelaEstradas de Portugal. (A designa-ção oficial refere-se a um lanço deestrada com o máximo de 200 me-tros de extensão, no qual se regis-tou, pelo menos 5 acidentes comvítimas, no ano em análise, e cujasoma de indicadores de gravidadeé superior a 20). Esta é uma defi-nição vista como muito redutorapor muitos dos intervenientes nes-tas coisas da sinistralidade rodo-viária. A curva em frente à fábricaJular, dado o seu grau de inclina-

ção e falta de visibilidade; a entra-da para a estrada de campo emVila Nova da Rainha, e a travessiade Azambuja junto à estação daCP são vistas como perigosas, ePedro Cardoso aconselha que,nesta altura, há que ter em conta acampanha do tomate que vai tra-zer mais trafego à Sugal, e que acirculação de tractores, costuma,invariavelmente, sujar a via, o queleva a que esta se torne, especial-mente, perigosa.Outro via problemática é o IC2.Este é o local onde há mais registode ocorrências relacionado comferidos graves e mortos. O itinerá-rio complementar que liga Alcoen-tre a Rio Maior, está agora sob oolhar atento dos Bombeiros Volun-tários de Alcoentre. Segundo infor-mações recolhidas pelo Valor Lo-cal, tem havido mais acidentes en-tre pesados, dos quais resultarammortos. Neste caso a configuraçãoda via, sem separador central, alia-da às velocidades ali praticadas,poderão estar na origem de muitosdos acidentes.Eifel Garcia, comandante dosbombeiros de Alcoentre, fala ainda

da autoestrada do norte em Avei-ras de Cima, entre os quilómetros40 e 41. Segundo o responsável,as câmaras da Brisa, entidade queexplora a auto-estrada, “não con-segue apanhar aquele ponto, quefica numa curva, e por isso é umlocal onde acontecem alguns aci-dentes.”O responsável salienta que estelocal que fica perto da área de ser-viço de Aveiras de Cima, apresen-ta um grau de perigosidade quevai até ao quilómetro 48 mas “ascâmaras não o captam de nenhumdos lados”. “A estrada faz uma es-pécie de ‘S’ e as dificuldades emcaptar as imagens em tempo realsão mais evidentes, por isso, é queas carrinhas da Brisa, andam sem-pre a fazer percursos naquela ex-tensão em causa”.Também a Estrada Nacional 366 éuma preocupação para os bombei-ros. O troço entre Aveiras e Al-coentre que foi intervencionado re-centemente acaba, ainda assim,por representar muito perigo. Ooperacional destaca que algunsacidentes aconteceram e que po-deriam ter sido evitados se a Es-tradas de Portugal tivesse coloca-do um traço contínuo entre Aveirase o acesso à Companhia Logísticade Combustíveis. Eifel Garcia des-taca que na zona industrial, no-meadamente, nos acessos a “ValeTábuas” ou a algumas empresascomo a Jodel, em que as viaturastêm de virar à esquerda, deram-seacidentes, alguns até com alguma

gravidade.Para o vice-presidente da CâmaraMunicipal de Azambuja, Silvino Lú-cio a falta de um organismo quepossa servir de interligação entreos municípios e as diversas entida-des que gerem as estradas dopaís tem sido um dos problemas.O responsável pelo pelouro daProtecção Civil vinca que antiga-mente “as coisas não corriam malde todo, pois a articulação era feitaatravés de uma comissão no extin-

to Governo Civil.”Agora, a situação é mais difícil. Ovice-presidente destaca que a au-tarquia espera agora “eternidades”por respostas dirigidas à Estradasde Portugal seja por causa de umapintura na via ou a colocação deuma simples lâmpada. A EP diz,no entanto, ao Valor Local, que as-sume todas as suas responsabili-dades relativamente aos troçossob sua jurisdição.No dia-a-dia, “vale à autarquia a in-

Distracções e álcool ceifam vidas nas estrA Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) divulga por estes dias os números da sinistralidaesses dados nas estradas da região, com quadros fornecidos pela ANSR à nossa redacção (página 15) e ouvrodoviária. Há menos mortos mas a realidade dos feridos graves e leves é quase desconhecida. Os municípique no entender dos autarcas continua a marcar passo. Leia também o artigo de opinião da ACA-M na pág

A força de vontadevence tudo!Paulo Pedro era até há sete anos atrás um desportista de mão

cheia. Residente no Carregado, freguesia de Alenquer, conta quea sua vida mudou no dia em que caiu de uma ribanceira na sua bici-cleta. O acidente que o levou a estar em coma durante mês e meio,deu-se numa curva mal sinalizada a que se seguiu uma ribanceiraacentuada. Foi traçado a Paulo Pedro um prognóstico bastante reservado. Ficouem coma “em estado vegetativo”. “À minha família, os médicos nãodavam esperanças nenhumas”. Aliás segundo Paulo Pedro os médi-cos duvidavam mesmo que sobrevivesse. Primeiro comecei a andarde muletas que, para os médicos de cá, eram para o resto da vida”.Mas Paulo Pedro conseguiu superar todas as barreiras e receios comum internamento intensivo em Cuba.Paulo Pedro treinou todos os dias. Fez vários exercícios físicos, cerca de sete horas diárias, que aliados àsua força de vontade, permitiram que recuperasse a mobilidade. Hoje, já não usa muletas e a sua vida é qua-se normal. Ficou afectado contudo de uma vista, e não consegue ter o máximo de concentração possível aonível de raciocínio e tarefas mentais, como tal acabou por se reformar por invalidez. Os dias passa-os na in-ternet e sempre que pode anda de bicicleta em estradas com pouco movimento, “porque o bichinho conti-nua”.Para trás, este verdadeiro sobrevivente deixou uma empresa bem sucedida, que caiu com a sua ausência,e ganhou uma reforma “forçada”. Tudo o que ambicionava era uma vida o mais normal possível, algo que,agora, está muito mais longe de acontecer, tendo em conta as mazelas que este acidente lhe deixou, e queimpossibilitam que tenha um emprego onde o esforço físico e intelectual seja necessário.

Paulo Pedro

IC 2 tem sido palco de acidentes com pesados e v

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13Valor Local Destaque

formação prestada pelos corposde bombeiros de Azambuja e Al-coentre, e núcleo da Cruz Verme-lha de Aveiras de Cima”. “Esse co-nhecimento tem sido uma mais-valia”, mas ainda assim, Silvino Lú-cio destaca que muitas das situa-ções reportadas têm sido resolvi-das com atraso. “Escreve-se eaguarda-se” salienta o autarca aosintetizar a relação entre as duasentidades. Também questionámosa EP sobre a falta de diálogo de

que se queixa esta e outras autar-quias, mas a Estradas de Portugalnão respondeu à pergunta, ale-gando, informalmente, que não serevia na exposição das Câmaras.

Dádivas de sangue precisam-se

Quando os acidentes acontecem,as dádivas de sangue são o oxigé-nio que segura muitos dos aciden-tados à vida. Os stocks de sangueestão a descer no país. O hospital

de Vila Franca de Xira tem em cur-so uma campanha, e no caso deAzambuja, o grupo de dadores be-névolos do concelho, viu diminuí-rem, nos últimos anos, as dádivas,de 267, 75 litros, em 2010, para204,30 litros em 2013. SegundoAugusto Moita, presidente da as-sociação, “está enraizada na so-ciedade a ideia de que os aciden-tes só acontecem aos outros masas instituições e os hospitais têm aobrigação de reverter esse quadro”

radas da região ade em Portugal no ano de 2013. O Valor Local antecipave os diversos agentes ligados à segurança e prevençãoios reclamam mais intervenção da Estradas de Portugalgina 17.

ANSR

Intransigência épalavra de ordemA“utopia” a prosseguir é um dia “chegarmos a 0 mortos e

a 0 feridos”, é desta forma que Fernando Pedro Mouti-nho, vice-presidente da Autoridade Nacional de SegurançaRodoviária (ANSR), se refere aos objectivos daquela enti-dade para prevenir mais acidentes na estrada. Portugal fezalguns progressos nos últimos anos, mas esta é uma estra-da ainda com muitos quilómetros. Em síntese, o nosso país,neste campo, e em comparação com outros países daUnião Europeia saiu da cauda da Europa e agora está sen-sivelmente colado aos dez primeiros, mas não chega. Em2013, morreram 517 pessoas nas estradas portuguesas, da-dos em que o óbito se registou no local, sendo de esperarque suba para 640 tendo em conta a média dos últimosanos. Já em 2014, até 22 de Junho contavam-se 197 mor-tos. Segundo o responsável, ao Valor Local, muitos factores, no entanto, têm contribuído para que o número demortos nas estradas tenha diminuído de 1500 em 2001, para pouco mais de meio milhar no ano passado,“desde mais sensibilização, melhoria das infra-estruturas, aperto da fiscalização, veículos mais seguros”. Noentanto, Moutinho está consciente de que houve menos viagens, e menor consumo de combustível devidoà crise. “Nesse aspecto, de saudar esse comportamento mais económico e por consequência mais seguro,mas a interpretação dos números é mais lata e consistente”.As mortes devido ao álcool entre os jovens é um dos dados gritantes. “Portugal é dos países que mais álcoolconsome, e agora com a nova moda dos cocktails com substâncias psicotrópicas temos de estar ainda maisfocados neste combate, e repreender fortemente”; e deu a conhecer quadros onde as estatísticas são espe-cialmente negras ao fim de semana. As mortes na estrada são a principal causa de óbito na faixa etária dos16 aos 24 anos, superando de longe factores como doenças. “Temos de lutar contra a adrenalina que fazparte da idade, e fomentar campanhas de sensibilização”. Já quanto à descida da taxa de alcoolémia, Mou-tinho acredita que não é possível ir ainda mais longe, já que 0,2 g/litro de sangue é um valor já bastante exi-gente, e “significa quase zero”.A ANSR diz estar também atenta a um outro comportamento de risco, talvez mais escondido quando se falaem acidentes na estrada, como o dos peões e ciclistas que circulam à noite em zonas de completo breu semcolete reflector. “Isto acontece sobretudo em sítios rurais, e temos em preparação uma campanha para a im-portância não só dos coletes, mas também obrigar à venda de um kit de iluminação obrigatória pelas lojasde bicicletas, que ainda é opcional. A lei obriga a que as bicicletas devam ter este material”. O responsávelrefere, ainda, que os ciclistas devem gozar dos direitos que lhes foram dados pelo novo Código da Estrada,mas “comportamentos como os que vemos em que são os primeiros a passar os semáforos vermelhos, comauriculares nos ouvidos têm de acabar. Vão ser mandados parar e terão de pagar multa”. Fernando Pedro Moutinho, foi convidado da concelhia do PSD para uma apresentação, decorrida em Alverca,dos mais recentes dados sobre sinistralidade rodoviária, e deu a conhecer os pontos negros no concelho deVila Franca de Xira – EN 10, km 127 em Alverca; bem como o 128 no centro da cidade. A A1 na ligação entreAlverca e Vila Franca também há dados preocupantes (ver quadro). Só no ano de 2012, morreram nas es-tradas deste concelho oito pessoas, registaram-se 16 feridos graves e 383 leves, num total de 407 vítimas.

Menos inspecçõesAinspecção automóvel é parte fundamental da segurança rodoviária,

mas nos últimos anos muitos condutores têm tentado driblar essanecessidade. Nuno Barroso, gerente do centro de inspecções Numil,em Azambuja, refere que “desde 2009 que as inspecções têm vindoa cair à média de seis por cento ao ano e em 2014 começa a sentir-seuma ligeira recuperação de dois por cento face ao período de Janeiroa Junho de 2013”. “Para termos uma ideia realista e em números doque é hoje a nossa realidade, em 2014 fazemos na Numil em médiamenos 600 inspecções por mês do que em 2009.”O empresário não tem dúvidas: a crise está na origem destes factos.“As famílias que tinham dois veículos fizeram parar pelo menos um, demodo a embaratecer custos”. “Da mesma forma se extrapola esta con-clusão para os carros pesados de empresas que ao reduzirem a suaactividade não têm necessidade de manter e custear as suas frotas natotalidade”. A maioria dos chumbos verificados neste centro de inspecção automó-vel relaciona-se em primeiro lugar com as luzes; seguem-se os chum-bos quanto a órgãos de direcção (desalinhamento/folgas), seguindo-se as folgas nos órgãos de suspensão, e em quarto lugar anomaliasnas emissões de gases. O empresário tenta afastar o bicho papão das inspecções e sublinha:“Acreditamos que a nossa actividade tem um expressão fundamentalna prevenção e segurança rodoviária. Essa é a razão da nossa exis-tência pelo conjunto de itens por nós analisados e verificados que tornaa circulação de veículos e pessoas mais seguro no contexto rodoviá-rio”.

Fernando Pedro Moutinho

vítimas mortais

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14 Valor LocalDestaque

No caso de Alenquer a sinuosi-dade das vias que atraves-

sam o concelho é quase um em-blema do mesmo, tornando algunspontos especialmente graves edignos das cautelas do mais expe-riente condutor. De acordo com aCâmara Municipal, os casos maisalarmantes encontram-se em es-tradas nacionais (IC2, EN115-3,EN115-4, N9), locais cuja interven-ção é da competência da EP. Nes-ses casos, responde o executivo,“tem vindo a promover reuniõescom a referida entidade, pugnan-do pela sua rápida resolução eapresentando ideias e soluçõespara os mesmos”No entanto, e à semelhança deAzambuja, Alenquer também en-frenta uma auto-estrada de dificul-dades no diálogo com a entidadee na necessidade de correcçõesno terreno – “Em alguns casos aEP tem alegado constrangimentosfinanceiros como justificação nademora da resolução de muitas si-tuações”, nomeadamente repintu-ra de estradas. Também FernandoPedro Moutinho, da ANSR, estáconsciente desta questão que nãoé nova – “A Estradas de Portugalfoge a marcar passadeiras em es-tradas nacionais. A autarquia dizque mesmo que quisesse fazer al-guma coisa nas estradas nacio-nais, teria de esperar por “parece-res prévios dessa entidade”. Segundo Fernando Pedro Mouti-nho, a generalidade dos municí-pios, deveria pugnar também pelamelhoria da iluminação pública.Neste aspecto Alenquer refereque “a situação não é a ideal masé a possível. O município estásempre disponível a proceder aajustes. Sublinhe-se no entanto,que os locais onde a visibilidadenocturna é mais fraca correspon-dem, na sua generalidade, a zo-nas fora dos aglomerados urba-nos e como se compreende é fi-nanceiramente insustentável man-ter todas as vias e troços ilumina-

dos. Para além da iluminação, es-tão a ser estudadas opções adi-cionais como a colocação de sina-lética.”Troço particularmente difícil emAlenquer é o da Nacional 1/IC 2nas denominadas curvas do Pi-nheirão (KM40) e da Chipita(KM44) na ligação Cheganças-Marés, e onde morreram seis pes-soas nos últimos seis anos (verquadro). Este trajecto não é consi-derado ponto negro pela EP. HugoBastos, residente em Abrigada,que passa, habitualmente, nestavia quer de automóvel quer demota diz tratar-se de “uma estradacomplicada, em que basta umadistracção ou excesso de veloci-dade para ocorrerem acidentes,apesar do piso ser bom”. “Na mi-nha opinião, a estrada entre Alen-quer e Olhalvo é mais difícil paraos automobilistas devido ao trân-sito e qualidade do asfalto”. No concelho do Cartaxo, o presi-dente da Câmara também con-centra as suas atenções na Nacio-nal 3 que liga aquela cidade aAzambuja, especialmente na zonade Cruz do Campo. Pedro Ribeirofalou disso mesmo à Estradas dePortugal numa reunião recente,pedindo uma vistoria técnica emedidas correctivas no piso e si-nalização, de modo a que se pos-sa combater a sinistralidade nestetrajecto. Conforme se pode verifi-car no quadro alusivo a esta via,no concelho do Cartaxo, são mui-tos os acidentes verificados comvítimas anualmente, fazendo des-ta uma das vias mais preocupan-tes da região.Este presidente não aponta defei-tos à Estradas de Portugal, aocontrário de outros autarcas. “Jáme reuni várias vezes com a enti-dade que sempre mostrou muitareceptividade. Por vezes, as coi-sas não correm como desejaría-mos, porque a EP também se de-bate com problemas financeiros etem de existir alguma margem de

tolerância, mas sabemos que nãosão indiferentes aos problemas”.Sinistralidade em Salvaterra deMagos rima com rotunda de Mari-nhais, onde os acidentes no quiló-metro 54 a 55 da Nacional 118acontecem com muita regularida-de e onde todos os anos alguémperde a vida neste troço. HélderEsménio, presidente da Câmarade Salvaterra, já contactou a EPno âmbito de um projecto de en-genharia em curso da entidadepara requalificação da Nacional118 entre Samora Correia e Almei-rim. “Na reunião que tivemos, pe-dimos para que dessem tratamen-to à bifurcação da Nacional 114-3com a 118, em Salvaterra, bemcomo à Rua dos Ramalhais/Ruado Furo na intersecção com a 118em Marinhais, ao cruzamento deMarinhais, e à Rua do Cartaxeirotambém na 118, onde acontecemacidentes rodoviários. Apelamostambém à questão da Ponte DonaAmélia. Apenas mostraram dispo-nibilidade para já no cruzamentode Marinhais, sendo que nas res-

tantes localizações os númerosnão eram justificativos”. A EP diz que o cruzamento de Ma-rinhais não é “ponto negro”. O en-troncamento em causa actual-mente regulado por semáforos,tem “uma rotunda prevista cujoprojeto de execução está em cur-so estimando-se a sua conclusãono início de 2015.”Esménio sugeriu, ainda, rotundasna Estrada do Furo e na do Carta-xeiro, a expensas do município.“Estamos a aguardar resposta, fi-caremos tristes se a nossa inten-ção não figurar no estudo de en-genharia que estão a delinear, so-bretudo quando queremos pagaressas obras”. O autarca lamenta,por outro lado, que ao pedir a re-pintura de passadeiras na Nacio-nal 367 em Marinhais, considera-da urgente, a EP tenha dito quenão o faria para já. “A pequenez ea incapacidade daquele organis-mo é de tal ordem que, há seisanos, que as placas situadas nocruzamento de Salvaterra, na in-tersecção com a Nacional 114-3,

estão pintadas de preto, e nin-guém sabe se há-de virar à es-querda ou para a direita quandochega à nossa sede de concelho.Vamos pedir mais uma vez paraque substituam as placas, ou quepelo menos nos possam dar auto-rização para o fazermos”.Já no caso do concelho de Bena-vente, a Nacional 118 é também aprincipal preocupação. Neste mo-mento, entre Samora e Benaventeestá a ser construída uma rotundana zona industrial de Vale Tripeiro,ponto crítico no concelho. O presi-dente do município, Carlos Couti-nho, também aguarda pelo estudode engenharia da Estradas dePortugal que prevê mais quatro ro-tundas, no âmbito da prevençãorodoviária, no troço que com-preende a zona chamada de“Triângulo das Palmeiras” na en-trada da sede de concelho, até àrotunda em curso em Vale Tripei-ro. “São intervenções fundamen-tais mas não temos indicaçãoquanto a prazos, apenas nos pe-diram a nossa opinião por parte da

EP, também não conhecemos oscustos”. O município de Benavente ficoucom os custos da iluminação queseriam da EP no caso da nova ro-tunda, “mas não vamos permitircondescender muito além dissoporque são responsabilidades da-quele organismo”.A EP acrescenta que “o projectode execução da beneficiação daEN118 entre Alcochete e SamoraCorreia encontra-se em curso. Noentanto, face à sensibilidade dazona em termos de segurança ro-doviária, leva a que estejam a serestudados vários cenários de in-tervenção, os quais encontram-secondicionados pelas restrições or-çamentais impostas à EP”. “Poresse facto, encontra-se em análi-se a possibilidade de efectuar nodecurso do presente ano e duran-te o início de 2015, uma interven-ção ao nível da segurança rodo-viária com a implementação demedidas de baixo custo, ficando aintervenção mais abrangente para2016/2017.”

Municípios da região pedem maisintervenção à Estradas de Portugal

Curva do Pinheirão em Alenquer significa perigo

Excesso de confiança, e falta de civismo ainda contam muito noque toca a acidentes. Esta é a opinião de António José Matos,

instrutor de condução e proprietário do grupo de Escolas de Condu-ção Matos, um dos mais representativos da região nesta área.O empresário é contundente ao referir-se à típica mentalidade doscondutores portugueses, pautada “pela cobardia e pela falta de civis-mo, que no interior de um carro se sentem reis e senhores”. Modo deestar que só pode resultar em acontecimentos pouco positivos, comoos acidentes. António José Matos diz que 90 por cento dos acidentesse deve a falha humana, e que “a renovação da carta aos 50 anosresulta de um acto totalmente administrativo para que o Estado arre-cade mais umas receitas”. Na sua opinião, a insistência nas inspec-ções obrigatórias é também mais uma forma de negócio, apesar dasua importância. Neste sentido lamenta que a componente técnica ecívica que deveria ser a mais importante, fique totalmente esquecida,

“porque conduzir é um acto social e não individual”.Muitos acidentes com carros em bom estado, sucedem-se porque “àfalta de civismo soma-se o álcool, porque até uma pequena quanti-dade de álcool afecta imenso a visão estereoscópica, dando a sen-sação de que os outros veículos estão mais longe e que circulammais devagar, quando não é essa a realidade”.Na opinião de António José Matos, a construção de rotundas tem sidobenéfica porque acabam por “diminuir bastante os níveis de sinistra-lidade, tendo em conta que grande parte dos acidentes dá-se em zo-nas de conflito como os entroncamentos ou cruzamentos”. Todavia e sobre o novo código da estrada que obriga a circular nasrotundas a começar pela faixa mais à esquerda, o técnico refere queessa regra “é um perfeito disparate”, “Só se pode concluir que quemtem o poder não tem o saber, e nesta situação da circulação rodoviá-ria essa solução é o caminho mais curto para potenciar a sinistralida-de”. “Esta nova lei das rotundas foi publicada simultaneamente com

a das novas regras para os velocípedes, mas até hoje, já houve o do-bro dos acidentes com bicicletas”, conclui. Quanto à formação de novos condutores, Matos lembra que no seugrupo tentam “fazer o melhor, mas é muito complicado, tendo em con-ta as exigências e os custos”. O facto existir muita concorrência entreescolas de condução, “torna difícil dar uma boa formação quando im-peram, quase e somente, as regras de mercado”.“Os alunos quando passam no exame fazem tudo como deve ser,mas à medida que se vão embrenhando na selva da condução dodia-a-dia, ficam iguais aos outros”, desabafa Matos. Todavia, há sempre reprovações, que estão ligadas a várias factores,desde logo a pressão que o exame em si acarreta, mas há outrosexemplos, “como não parar no stop, não ceder passagem a outrosveículos ou pessoas, não sinalizar as manobras correctamente, nãocircular devidamente nas rotundas, deixar o veiculo ir abaixo por ina-bilidade mais de três vezes seguidas”.

“Condutores acham-se reis e senhores na estrada”

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15Valor Local Destaque

Foi há 10 anos que bastou, ape-nas, uma distracção de um ca-

mionista para mudar para semprea vida de Manuela Ralha, que setornou numa das mais conhecidasactivistas dos direitos das pessoasem cadeiras de rodas, entre outrasfrentes ligadas à deficiência. Em plena recta da Central de Cer-vejas, num dia de Euro 2004, faziamais um percurso de rotina, e en-quanto aguardava pela luz verdedo semáforo na fila, foi surpreendi-da pelo embate de um camião emexcesso de velocidade, cerca de70 quilómetros/hora. “Só conseguipuxar o travão de mão para não fi-car entalada entre o camião e ocarro da frente, onde seguia umacriança, se embatesse o meninopodia ter ficado em mau estado”.“Bati várias vezes com a cabeçano volante, estive meia hora à es-pera dos bombeiros e polícia”. Naaltura, achou que não tinha sidograve, teve tempo de ligar ao ma-rido, mas como os bombeiros aca-baram por não chegar tão cedoquanto o desejável, entrou em pa-ragem cárdio-respiratória.Uma vez nas urgências não lheconseguiram fazer o diagnósticocerto, mandaram-na para casacom um ben-u-ron, mas não falaem negligência. “Foi-me dito anosmais tarde por um neurocirurgiãoque se tratou de um tipo de lesãorara, talvez pudesse ter outro tipode evolução se tratada de outraforma, mas nunca sabemos se po-dia ou não ser diferente”. Inicial-mente, a paralisia afectou-a ape-nas até aos joelhos, mas desde o

primeiro dia que o acidente tam-bém afectou as normais necessi-dades fisiológicas a nível do es-fíncter, sendo que a fase da cadei-ra de rodas veio posteriormente.No entanto, as sequelas do aci-dente não ficaram por aqui, e jácomeçou a sentir alguma incapa-cidade nos membros superiores eteme ficar tetraplégica, “mas é umdia de cada vez”. Já ouviu muitasopiniões médicas e sabe que nadahá a fazer.Hoje com 47 anos, a sua maneirade ver as questões da sinistralida-de rodoviária também mudou na-turalmente. “Vim a conhecer mui-tos amigos em cadeiras de rodas,alguns que seguiam em motos e ti-veram acidentes por culpa própria;e outros devido a comportamentosde terceiros”. Manuela Ralha nãoolha com optimismo para os nú-meros da sinistralidade, porque seé verdade que o número de mor-tos diminuiu, “em boa parte porquese conseguem milagres nos hospi-tais”, “ainda não se olha de frentepara os feridos”. “Na altura fui re-gistada como ferido leve, porquenão tinha sangue, e como eu hámuita gente a atravessar situaçõesde vida complicadíssimas devido aacidentes na estrada, e não há es-tudos sobre as lesões com que fi-camos”. Manuela Ralha não temdúvidas – “Morre-se menos mashá mais gente em cadeira de ro-das”. “Não se fala das pessoasque ficaram com a vida amputada”por causa de acidentes em quenão tiveram culpa.“Há cada vez mais desnorte por

parte dos condutores, há muitoegoísmo, conduzem como se ti-vessem uma arma nas mãos.Nada aconteceu a quem me pôsnuma cadeira; nunca mais me per-guntou se eu estava bem ou não!”Manuela Ralha travou tambémuma luta na justiça por uma indem-nização condizente com o estadoem que ficou, as despesas relacio-nadas com a falta de mobilidade,bem como o facto de se ter vistoimpossibilitada de desempenhar asua profissão de professora. O se-guro queria dar-lhe, inicialmente,100 mil euros. “Tendo em conta oordenado 1000 e tal euros por mêsna minha profissão, que deixei deauferir, mais carro adaptado, adap-tação da minha casa, medicamen-tos e toda uma parafernália de ma-terial para o meu estado, maisacompanhamento permanente deuma pessoa, consultas médicas,bem como cadeira de rodas eléc-trica que custa a quantia de 12 mileuros não chegava tudo somandopara o resto dos anos da minhavida”. Prolongou o processo, econseguiu com a indemnizaçãouma quantia mais condizente como seu caso. “Nos outros países, oGoverno dá primeiro a indemniza-ção ao acidentado e depois resol-ve o caso com a seguradora”,acrescenta.“Muitas vezes oferecem valoressequer perto do que é justo, semter em conta a dignidade da pes-soa. Com a indemnização do se-guro consegui encontrar um auto-móvel adaptado à minha incapaci-dade, bem como, uma cadeiraeléctrica. Vou conseguir ter maisindependência, porque antes doacidente tinha uma vida bastanteactiva. Estudei todos estes anosas questões da deficiência, foi tam-bém assim que consegui algumasanidade”. Manuela Ralha gostava de encon-trar uma ocupação profissionalmas reconhece que será muito di-fícil obter uma oportunidade. Épresidente da Associação Mithós,ligada à deficiência, e pertencetambém a outros grupos do géne-ro. Faz um trabalho de voluntaria-do e, na última reunião de Câmarade Vila Franca de Xira, viu o seutrabalho reconhecido em prol da-queles cidadãos. A autarquia con-cedeu à Mithós uma sede em VilaFranca, onde Manuela Ralha e ou-tros sócios poderão desempenharde outra forma o seu trabalho nadefesa das pessoas com deficiên-cia.

“Morre-se menosmas há maisgente em cadeirade rodas”

Manuela Ralha prefere enfrentar a vidacom um sorriso

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16 Valor LocalEducação

Aescola primária de Casaisda Amendoeira, a par da de

Casais Lagartos, é uma das quejá não vai abrir portas no anolectivo de 2014/2015 no conce-lho do Cartaxo por ordem do mi-nistério da Educação. O ValorLocal esteve na aldeia de Ca-sais da Amendoeira e ouviu en-carregados de educação e po-pulação em geral para os quaisa escola é mais do que isso, étambém um elemento agrega-dor na comunidade sem a qualtodos ficarão mais pobres.Teresa Lobato é mãe de umacriança que vai agora para o 3ºano de escolaridade e conside-ra que o estabelecimento temum percurso “notável” no querespeita às notas dos alunos,apesar de frequentarem a mes-ma turma crianças dos váriosanos de escolaridade. “O apro-veitamento tem sido bom e mui-to bom”. “Para além de que fre-quentam a escola duas criançascom necessidades educativasespeciais, também com bomaproveitamento”, refere. A história da localidade perten-cente a freguesia de Pontévelestá intimamente ligada à suaescola, construída pela popula-ção, sendo já um edifício cente-nário. Teresa Lobato acrescentaque “o estudo é bem acompa-nhado pela professora ao con-trário do que aconteceria numaescola de maiores dimensões. Aprópria professora tem dado for-mação aos pais para que estesprestem o melhor apoio escolaraos filhos, porque o ensino,hoje, é diferente. No segundoano já aprendem a fazer frac-ções, quando antes era apenasno 5º ou 6º anos”. Estes 16 alunos deverão inte-grar – no caso de a escola nãoobter autorização especial parafuncionar mais um ano – o esta-belecimento de Casais Pene-dos, situado a apenas dois qui-lómetros, ou o de Pontével. Re-corde-se que esta autorizaçãojá foi concedida nos últimosanos lectivos, mas o ministérioda Educação afirma-se irredutí-vel quanto a condescender mais

uma vez. Nesta altura, já deviaestar pronto o Centro Escolarde Pontével que deveria acolheras crianças desta e de outrasescolas daquela zona do conce-lho, mas o projecto ficou aaguardar por melhores dias,tendo em conta a situação fi-nanceira municipal.“Oitenta por cento da populaçãode Casais da Amendoeira é ca-renciada, sendo que a comuni-dade costuma apoiar muitas dacrianças que frequentam a es-cola”, refere Teresa Lobato paraenfatizar as solidariedades quese desenvolvem em torno da vi-vência das pessoas da aldeiacom a escola em questão. “Cer-tas crianças não teriam lápispara escrever se não fossem aspessoas daqui, que se têm em-penhado bastante em acçõesde recolha de fundos. Recente-mente houve uma visita de es-tudo, e a comunidade contri-buiu, porque muitas das crian-ças que nunca tinham andadosequer de autocarro, são filhasde famílias desfavorecidas quenem Rendimento Social de In-serção recebem.” No caso de ter de optar por Ca-sais Penedos ou Pontével, refe-re que será complicado passara conciliar as rotinas, sobretudoporque é a sogra que tem a in-cumbência de levar e trazer aeducanda, e não possui cartade condução para viagens maislongas. Para além de que, Tere-sa Lobato e o marido não têmhorários compatíveis com essafunção.Outra residente na localidade éMarlene Ramos, tem uma filhano jardim-de infância de Ponté-vel, que só passará a frequentaro 1º ciclo no ano lectivo de2015-2016, mas mesmo assimestá apreensiva quanto ao de-senlace desta questão até Se-tembro. “No meu caso tenhotransporte próprio mas outrospais não”.Idalina Durões, por seu lado,ainda se lembra bem dos tem-pos em que frequentou a escolaprimária, quando “uma pequenamultidão de crianças se avista-

va estrada fora”. “Depois vierampara a escola os meus filhos esobrinhos, e hoje tenho lá umaneta. Tenho muitas recordaçõesda escola”.Élia Figueiredo, também resi-dente na localidade, opina que“a única despesa do Estado écom a luz e a água, porque acomunidade ajuda no resto, atécom um canalizador se for pre-ciso”. “O papel social que de-sempenhamos junto da escola émuito forte, porque há criançascarenciadas que não tomam opequeno-almoço e somos nósque lhes damos essa refeição.O Estado não tem noção do quese passa aqui”. Élia Figueiredoacrescenta que a escola de Ca-sais Penedos tem uma cobertu-ra de amianto, ao contrário dada Amendoeira, mas diz nãoquerer entrar em lutas, “pois abatalha é pela manutenção das3 escolas em funcionamento”.O presidente da Câmara doCartaxo, Pedro Ribeiro, tem-seencontrado sucessivamentecom os vários agentes do pro-cesso, nomeadamente, com odirector geral da Educação paraque as duas escolas possamfuncionar mais um ano lectivo.Entretanto, está a circular umapetição sobre a questão paraentregar na Assembleia da Re-pública. Sendo que tambémestá na forja a entrega de umaprovidência cautelar. “Estamosa organizar o transporte no casode termos de promover umamanifestação em frente ao mi-nistério da Educação. Não po-demos baixar os braços”, refereo autarca. O ministério da Educação jáadiantou que está na disponibi-lidade de subsidiar o transportepara as crianças que tenham demudar de estabelecimento deensino no país, uma circunstân-cia que não satisfaz Pedro Ri-beiro, “tendo em conta, nomea-damente, a dimensão humanada escola de Casais de Amen-doeira, que tem duas criançasdo ensino especial, e com mui-tas famílias carenciadas”. “Paraalém de que o Governo como já

tivemos oportunidade de ver emoutras ocasiões subsidia otransporte no ano de transicção,mas nos seguintes deixa cairessa possibilidade, ficando oónus do lado das autarquias lo-cais”.Jorge Pisca, presidente da juntade freguesia de Pontével, terri-

tório onde estão em causa osdois estabelecimentos de ensi-no, afirma-se esperançado napossibilidade de “a pressão jun-to do Governo poder vir a terfrutos”. “No balcão da junta enos estabelecimentos comer-ciais encontra-se a petição paraser assinada”, aproveita para in-

fomar. O autarca reconhece osesforços de Casais da Amen-doeira, mas salienta que emCasais Lagartos a questão nãoestá a ter o mesmo grau de in-tensidade junto da população.Esta localidade conta com 13crianças, enquanto Casais Pe-nedos possui 12.

Casais da Amendoeira cerra fileirasem defesa da escola primária

Élia Figueiredo refere que a escola é património da aldeia

Habitantes mais velhas da localidade não se conformam

Teresa Lobato em conversa com o presidente da Câmara

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17Valor Local Opinião

Augusto MoitaLic. Recursos Humanos

Mário AlvesPresidente da Mesa da Assembleia Geral

da ACA-M

Devo confessar, caros leitores,que não sendo um comenta-

dor desportivo, não me sinto, ob-viamente, capacitado para enve-redar por análises técnico-táticasque justifiquem a medíocre pres-tação da nossa seleção. Pessoalmente importa sobretudo,analisar situações colaterais que,segundo o meu ponto de vista, fo-ram também, manifestamentepaupérrimas, nomeadamente noque concerne à cobertura infor-mativa deste mundial.Estranho porém, que em tantosprogramas desportivos existen-tes, cujos comentadores, são es-pecialistas na matéria, não se te-nha abordado, o fato de, os prin-cipais clubes nacionais a disputara primeira liga, apresentarem nassuas formações iniciais, oito a dezjogadores estrangeiros. Como po-dem os jogadores nacionais pro-gredirem nas suas carreiras e al-

mejarem ser selecionados pararepresentar a seleção nacional.Será que, a evoluírem nas equi-pas “B”, os tornarão mais expe-rientes e competitivos? E já ago-ra, quantos jogadores, deu à se-leção o campeão nacional e queforam titulares no decorrer daépoca? Ficam as questões paraos “experts”!Vamos agora ao que verdadeira-mente nos trouxe a escrever estacrónica. Lamentavelmente, este mundial,também serviu para expor, de for-ma reiterada, os exageros e osdesvarios de determinada infor-mação que, acaba por não cum-prir o seu papel. Diariamente, era-mos confrontados com um verda-deiro “massacre”, sobretudo natelevisão, com minudências infor-mativas atrozes, sem qualquer in-teresse jornalístico/informativo oumesmo eivada de simples curiosi-

dade, tornando-se por vezes, ridí-culas ou abjetas, senão vejamos:perguntas, tais como, por exem-plo; qual será o resultado final equem serão os marcadores dosgolos, fazendo apelo aos dotespremonitórios do entrevistado, en-tre outras perguntas verdadeira-mente inócuas e sem qualquer in-teresse jornalístico/informativo.Confrangedores, também, foramos diretos televisivos do percursodo autocarro do centro de estágiopara o aeroporto e deste para oestádio, sem que nada houvessede significativo para reportar, atéàs inúmeras entrevistas a pes-soas presentes nesses locais,que nada tinham para dizer, a nãoser expressar o seu histerismopelo melhor do mundo. Igualmen-te, as entrevistas aos jogadores,nada respeitadoras da sua indivi-dualidade, dado que, invariavel-mente perguntavam por Cristiano

Ronaldo, obrigando-os a verbali-zar banalidades sobre o mesmo.Foi também, frequente assistir-mos no período pré-mundial, a re-portagens e algumas entrevistassem objetividade nem isenção nasua forma e conteúdo, que leva-ram à criação de falsas ideias eexpetativas sem fundamento quegeraram deceções inesperadas eexcessivas. Por outro lado, é triste verificarque as principais estações de te-levisão, apresentem em um dosseus canais de informação, pro-gramas iguais, no mesmo dia e àmesma hora, sobre futebol, comentrevistados que vêm defenderas suas cores clubísticas e não afalar de questões pertinentes donosso futebol, programas esses,na sua maioria, revestidos nor-malmente por uma tremenda faltade imaginação. Contudo, ressalvoque, existem excelentes profissio-

nais nesta área, mas condiciona-dos profissionalmente pelos múl-tiplos interesses e negócios pou-co claros que a indústria do fute-bol gera.Para epílogo, confesso a minha“revolta” pelo fato de, as televi-sões se preocuparem tanto com omundial e o futebol em particular,e não tenham dado especial en-fâse às comemorações dos “Oito-centos anos de Língua Portugue-sa” no dia 27 de junho passado. Adata de 27 de junho de 1214, diaem que, em Coimbra, o terceiroRei de Portugal, D. Afonso II,subscreveu o seu testamento emlíngua portuguesa. Segundo JoséRibeiro e Castro, “trata-se domais antigo documento régio emPortuguês, o primeiro texto nanossa língua a mais alto nível deum Estado, o primeiro texto delíngua portuguesa em uso oficial”.Como se compreende, esta data,

é meramente referencial, dadoque a língua portuguesa seria nomínimo, falada há centenas deanos, antes de aparecerem osprimeiros documentos escritosem português. Respeitemos pois,a terceira língua europeia mais fa-lada no mundo! Sem revivalismo, espero, que nãonos estejam a impingir a iniquida-de de vida, de há quarenta e mui-tos anos atrás, dos 3 F’s (Fátima,fado e futebol), com o devido res-peito pela fé eclesiástica (tambémsou católico) e, pelo patrimóniooral e imaterial da humanidade,(que muito nos deve orgulhar)tentando-nos distrair daquilo queé essencial, ou seja, a nossa dig-nidade enquanto cidadãos destepaís. Esta crónica foi escrita antes dotérminus do mundial de futebol.Até à próxima crónica e boas lei-turas!

O Mundial do nossodescontentamentoe a desinformação

Apesar da Associação de Ci-dadãos Auto-Mobilizados

(ACA-M) saudar algumas dasalterações no novo Código daEstrada (CE), considera que seperdeu uma oportunidade de re-ver a filosofia de base do CE,que desde a sua criação codifi-ca sobretudo a condução auto-móvel, descurando direitos, anecessidade de defesa e a im-portância da dignificação dospeões. Apesar de tudo a revisãodas regras relativamente à cir-culação em bicicleta, foram umesforço meritório de tentar colo-car o CE português a par comoutros códigos da estrada euro-peus. No entanto, o nosso CEcontinua a ter subjacente a ên-fase na regulação do tráfego in-terurbano descurando aspectosfundamentais na protecção dosmais vulneráveis em ambientesrodoviários onde é impossível,ou mesmo desaconselhável, asegregação física dos diferentesmodos de transporte.Urgia pois, até pela evidênciade que a maior parte da circula-ção viária se faz em meio urba-no e não em meio interurbano,alterar a filosofia do CE, incor-porando nele um “Código daRua” que conceba a circulaçãoautomóvel de forma paritáriacom a de outros modos detransporte. É inevitável conside-rar, para esta alteração, a eleva-da sinistralidade que peões, ci-

clistas e motociclistas sofremdevido à velocidade e densida-de de automóveis em circulaçãonos meios urbanos portugue-ses. É também relevante evocaro acelerado envelhecimento dapopulação portuguesa e a con-sequente necessidade de re-criar ambientes viários mais se-guros para esta faixa populacio-nal.O CE deve acompanhar e su-portar as mudanças paradigmá-ticas respeitantes à mobilidadeviária no sentido de uma maiorintegração e coexistência demodos de mobilidade, da pro-moção e dignificação daquelesque têm menos impactos nega-tivos sobre a saúde pública, asustentabilidade ambiental e ur-bana, e sobre a economia na-cional - atendendo à forte de-pendência energética do paísem relação às energias fósseisimportadas.Justifica-se por isso a alteraçãodo paradigma legislativo, não sópara a grandes zonas urbanas,mas também no interior do país,onde o tráfego está a aumentarsubstancialmente dentro de vi-las e aldeias atravessadas porestradas nacionais e com velo-cidades praticadas que colocamem perigo os utentes mais frá-geis que têm que usar quotidia-namente estas vias.A ACA-M propôs, e continuará adefender, assim que (entre ou-

tras medidas): 1. Depois de introduzido no CEo conceito de Zona 30, se intro-duzam normativas regulamenta-res sobre medidas de acalmiade tráfego e respectiva sinaliza-ção em meio urbano, conside-rando que o Parlamento Euro-peu aprovou recentemente umamoção que recomenda a intro-dução, em todos os países daUE, de zonas 30km/h em áreasresidenciais e outras zonas oupercursos que coloquem utiliza-dores mais vulneráveis em peri-go;2. O CE esclareça que o concei-to de “rua partilhada” pode edeve ser aplicado para além dasruas residenciais, assim comoestabeleça a necessária legisla-ção para a introdução em Portu-gal da sinalização respectiva, jáem uso nos restantes países daUE. Note-se que o conceito de“rua partilhada” requer que sejaaprovada legislação comple-mentar que estabeleça váriasregras básicas de protecção dosmodos mais vulneráveis, no-meadamente o Princípio da Pru-dência (prioridade hierárquicados utentes mais vulneráveisem relação aos outros utentesdo espaço) e o Princípio daResponsabilidade Objectiva (Leide Badinter/Strict Liability), istoé, que respeite a cadeia de res-ponsabilidade civil em função dafragilidade vs potência do meio

de transporte usado.3. Se faça uma profunda revisãodos artigos do CE que regula-mentam o trânsito dos peõescom base nos princípios jáenunciados, e tendo em contaque os peões deverão ter maisdireitos perante o Estado e a so-ciedade em relação aos demaisutentes do meio rodoviário emfunção do seu estatuto de:

a) Universalidade – todos os ci-dadãos o são (ao contrário deum condutor, a condição decego, de deficiente motor oumental, de criança ou idoso, dealcoólico, não é impedimento le-gal ou ético do direito a serpeão)b) Fragilidade – ser fisicamentedesprotegido no meio potencial-mente hostil, que é o sistemarodoviário.É por isso inaceitável que a hie-

rarquia social no actual CE sejaestabelecida explicitamente ob-rigando o peão a não prejudicarou perturbar o trânsito de veícu-los, mesmo quando está a utili-zar o espaço que lhe é dedicado(o passeio, e esta revisão acres-centou a berma!). No atravessa-mento da faixa de rodagem,mesmo quando da existência depassagens de peões, o CE pa-

rece mais preocupado com afluidez do tráfego que com aprotecção dos mais vulneráveis:refere que o atravessamentodeverá ser feito o “mais rapida-mente possível” e a cedência depassagem é formulada de formaa que o condutor só deve “pararpara deixar passar os peõesque já tenham iniciado a traves-sia da faixa de rodagem.”. Estaúltima formulação poderá cons-tituir mesmo uma violação da

Convenção de Viena que esti-pula que a cedência de passa-gem por parte do condutor deveacontecer antes do peão iniciaro acto de atravessamento.Em relação aos ciclistas, aACAM subscreve as alteraçõesde Janeiro último. Esta revisãojá dá resposta a algumas daspropostas que a ACA-M e a so-ciedade civil se bateram na últi-ma década:1. Paridade no tratamento daprioridade nos cruzamentos emrelação aos outros veículos.2. Eliminação da regra de posi-cionamento na faixa de roda-gem específica à bicicleta.3. Eliminação da obrigatorieda-de do uso de pistas especiais.4. Possibilidade de circular apar.A ACA-M nota que introduzir es-tas alterações no Código da Es-trada (CE) é um meio de confe-rir maior segurança aos utiliza-dores mais vulneráveis - peõese ciclistas - e aproximar o paísdos restantes regulamentos eu-ropeus e da própria Convençãode Viena de 1968. Ao encorajarestes modos mais sustentáveis,Portugal estaria também a daros passos necessários para al-terar o actual paradigma de mo-bilidade que tanto contribui paraa falta de qualidade de vida nasnossas cidades, assim comopara o agravar da crise econó-mica e financeira do país.

O novo Código da Estradavisto pela Associaçãode Cidadãos Auto-Mobilizados

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18 Pesquisa

Quando em 1916 se tornou fre-guesia cível autónoma, Vale

do Paraíso foi a 7.ª freguesia noconcelho de Azambuja. Trazia, noentanto, uma secular e singular he-rança histórica que até aquela datacompartilhou com Aveiras deCima.Já fixando uma realidade político-administrativa anterior, Vale do Pa-raíso aparece referenciado no car-tório do mosteiro de Santos da Or-dem de Santiago desde 1272, temforal novo em 1513 e a partir da re-forma de 1834, passa a lugar daparóquia de Nossa Senhora daPurificação de Aveiras de Cima.Se tivéssemos que eleger os seusprincipais marcos históricos paraalém da sua individualização auto-nómica de 1916, haveria que refe-rir no século XV o universalmenteconhecido encontro de D. João II eCristóvão Colombo (Colón) emMarço de 1493, a edificação daigreja de Nossa Senhora do Paraí-

so em 1555, obra que se deve àcomendadeira do mosteiro de San-tos D. Helena de Lencastre, netade D. João II e de D. Ana de Men-donça e, deve-se também, à mes-ma comendadeira, a instituição daConfraria de Nossa Senhora doParaíso em 1562 e, no século XVII,ficou como marco inquestionável,a instituição do morgadio de Valedo Paraíso.O valor de toda a identidade, histó-ria, cultura e património de Vale doParaíso, é conhecido desde 2006,quando a Junta de Freguesia edi-tou a monografia histórica «Vale doParaíso – História e História», in-vestigação da autoria do historia-dor José Machado Pereira. Esta in-vestigação respondeu pela primei-ra vez a uma questão para a quala História ainda não tivera resposta– os motivos pelos quais o rei D.João II tantas vezes se aposentavaem Vale do Paraíso – em detri-mento de outros lugares com mais

condições de aposentadoria. O«Pai do Estado Moderno» estanciaem Vale do Paraíso não por ques-tões de «Estado», mas por razõesdo seu “estado” de alma, por ra-zões do coração; Vale do Paraísoé hoje a resposta para todos osque querem ver um D. João II, reie homem. Reforçou esta ideia, naconvicção de que o que historica-mente interpretou no capítulo «OSéculo de Ouro de Vale do Paraí-so» estava certo, pois acaba deser confirmada no livro «As Som-bras de D. João II», romance his-tórico editado no passado mês deJunho. Este monumental capítulodo livro «Vale do Paraíso – Históriae História» constituiu a matriz dosconteúdos da «Casa Colombo», aprimeira «Casa Colombo» na Pe-nínsula Ibérica. O Centro de Inter-pretação que ali está patente fazjus a isso mesmo, intitulado «OMundo Moderno também come-çou aqui no Século XV».

As origensde Vale do Paraíso

Valor Local

MOÇÃOEm 05/02/2013, a Câmara de Azambuja remeteu à Entidade Reguladora dosServiços de Águas e Resíduos – ERSAR - a minuta de aditamento ao contrato deconcessão da Águas de Azambuja. Esta alteração ao contrato de concessão resulta de acordo expresso entre aCâmara de Azambuja e a concessionária Águas de Azambuja e tem em vista,exclusivamente, o reequilíbrio económico-financeiro da concessão. Por agora, a ERSAR emitiu parecer desfavorável à alteração do contrato acor-dada entre a Câmara e a concessionária.

No seu parecer de 04/04/2014, a ERSAR refere nomeadamente o seguinte: Ø “As demonstrações financeiras (apresentadas pela Águas de Azambuja) não

foram acompanhadas de um relatório de detalhe, que indicasse os pressupostosutilizados, de forma, nomeadamente a permitir identificar se estão a reflectirapenas os eventos motivadores de reequilíbrio (…) ou também desvios com origemnoutros eventos que devem ser assumidos pela concessionária (…) (págs. 3 e 4); Ø “(…) da análise efectuada aos referidos elementos, parece que (…) as de-

monstrações financeiras integram outros ajustamentos para além dos identifica-dos como motivadores do reequilíbrio da concessão” (pág. 4); Ø “(…) A alteração das tarifas consubstancia-se, assim, no mecanismo pro-

posto para efectuar o reequilíbrio da concessão (…) não sendo referida a utiliza-ção de qualquer outro dos mecanismos previstos” (pág. 5); Ø “(…) é imprescindível a avaliação do impacto dos eventos em termos dos

fluxos financeiros relevantes face ao cenário reflectido no contrato de concessãoinicial. Só assim é possível determinar se está devidamente fundamentado o re-curso à alteração das tarifas (…)” (pág. 5); Ø “É entendimento da ERSAR que a redução de 9% considerada para o pri-

meiro ano de projecções dos volumes de abastecimento não é adequada por tra-duzir um cenário não coerente com os últimos dados conhecidos. Ao considerar-se no modelo económico-financeiro volumes de actividade baixos está-se a so-brecarregar indevidamente as tarifas (…)” (pág. 7); Ø “(…) o novo tarifário representa para os utilizadores domésticos um acrés-

cimo significativo dos encargos com os serviços de águas, principalmente com oserviço de saneamento em que se verifica aproximadamente uma duplicação dosencargos (…)” (pág. 9); Ø “No caso dos utilizadores não domésticos (…) o acréscimo do encargo anual

é ainda mais acentuado do que para os utilizadores domésticos (…) (pág. 9).

Relativamente ao aumento das tarifas de saneamento, a ERSAR explicita aindanas Tabelas 3 e 4 que: Ø O encargo anual dos utilizadores domésticos com saneamento aumenta

entre 95% e 110% (pág. 9) Ø O encargo anual dos utilizadores não domésticos com saneamento au-

menta 134% (pág. 9)Estes aumentos tiveram o acordo da Câmara de Azambuja!Como resulta do Parecer da ERSAR, o “negócio das águas” apenas é um bom ne-gócio para a concessionária e prejudica as famílias e empresas do Concelhode Azambuja.

E este bom negócio tem o acordo cúmplice da actual maioria que dirige a Câmarade Azambuja.Assim, importa travar rapidamente este processo de alteração ao contrato deconcessão que foi acordado entre a Câmara de Azambuja e a concessionária, per-mitindo ao Município mudar a sua estratégia negocial perante as Águas deAzambuja e defender efectivamente as famílias e empresas do Concelho deAzambuja.

Nestes termos e ao abrigo do artigo 25.º/2/a) da Lei n.º 75.º/2013, de 12 deSetembro, a Assembleia Municipal de Azambuja delibera o seguinte:1) Manifestar a sua total discordância com os aumentos das tarifas que estão pre-vistas na minuta de aditamento ao contrato de concessão da Águas de Azambujae que são explicitadas no Parecer da ERSAR datado de 04/04/2014;2) Exigir à Câmara Municipal de Azambuja que suspenda imediatamente o processonegocial que mantém com a Águas de Azambuja para alteração do contrato deconcessão, tendo em vista o reequilíbrio económico-financeiro da concessão.3) Enviar a presente Moção à Câmara Municipal, às Juntas de Freguesia, à con-cessionária Águas de Azambuja, à Entidade Reguladora dos Serviços de Águas eResíduos, bem como aos jornais “Correio de Azambuja” e “Valor Local” para pu-blicação.

Azambuja, 29 de Fevereiro de 2014Os Deputados Municipais

da Coligação PELO FUTURO DA NOSSA TERRA

António Godinho – Manuel Couceiro – Luisa António Sérgio Ezequiel – Luis Fonseca – Carlos Valada

José Machado PereiraHistoriador/Museólogo

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19Valor Local Política

Opresidente da Câmara doCartaxo, Pedro Ribeiro, en-

controu-se com a procuradorageral da República. O objectivosegundo Pedro Ribeiro, ao ValorLocal, “foi dar a conhecer os gra-ves problemas do município”,bem como “o processo de audito-ria interna em curso”, tendo emconta “situações por esclarecer,de anteriores mandatos, quanto àdefesa do interesse público”.O presidente do município querfazer chegar ao Ministério Públi-co um conjunto de processos quemerecem investigação profunda.Entre os mesmos deverão estaros badalados casos que transi-tam dos mandatos de Paulo Cal-das e Paulo Varanda referentes àCartágua, Rumo 2020 e Cami-nhos do Campo. O autarca deuconta disso mesmo em conversacom a procuradora geral. “Quissaber até que ponto aquele órgãonos pode ajudar nesses proces-sos”, refere.Perante a pergunta do Valor Lo-cal acerca da possibilidade denuma fase à posteriori a investi-gação do Ministério Público levarà barra dos tribunais anterioresgovernantes do município, dadosos dossieres escaldantes que aCâmara levou a Joana MarquesVidal, Pedro Ribeiro diz não que-rer “alimentar polémicas”. “Vamossolicitar essa investigação, mas oprocesso está nas mãos da PGR

que conduzirá ou não a tribunalas anteriores gestões”.Devido à situação gravosa das fi-nanças municipais, Pedro Ribeirodesabafou perante Joana Mar-ques Vidal que não conseguecumprir a Lei dos Compromissos,caso contrário “seria impossívelgerir a autarquia”. “A senhora Procuradora Geral daRepública é conhecedora destesdossiers que perpassam algumasautarquias e outros órgãos daAdministração Pública em resul-tado do carácter vinculativo da lei

dos compromissos”.

Dossier Cartágua em stand-by

Entretanto, a actualização de ta-rifário negociada entre a Cartá-gua e o anterior presidente deCâmara, Paulo Varanda, vai ficarem stand-by. O aumento para jávai ter apenas em conta a taxa deinflacção, quando até há diasatrás vigorava a possibilidade deaumento na ordem dos cinco porcento. “Vamos averiguar da ne-cessidade ou não desse aumen-

to”. “A Cartágua mostrou essaabertura para que o aumento pre-visto possa ser melhor estudado,a empresa vai facultar documen-tação, tendo em conta que o Tri-bunal de Contas também estácom este processo de revisão aocontracto em mãos, e que fará oseu trabalho. Vamos aguardar”.O autarca não concorda que aCartágua apenas recuou por cau-sa da auditoria do Tribunal deContas, até porque “sempre semostrou disponível para o diálo-go”.

Pedro Ribeiro pedeà PGR para investigarantecessores

Pedro Ribeiro quer por a nu gestão de alguns dossiers

Centro de Saúde de Alvercaa rebentar pelas costuras

ACDU na Câmara de Vila Franca de Xira está preocupada com adegradação das condições no posto de saúde de Alverca. Nuno

Libório daquela força política evidenciou que há 12 médicos para umtotal de 118 mil utentes. “Entretanto, houve uma evolução dramáticacom a saída de três clínicos e dois que meteram férias e já não voltamao serviço”, deu conta, enfatizando – “Por volta das cinco da manhã,há pessoas à espera de consulta à porta do centro de saúde, sendoque tomámos conhecimento de que alguns médicos chegam a dar 100consultas por dia”. O presidente do município, Alberto Mesquita, referiu que já tomou ini-ciativa para reunião com responsável da saúde daquela unidade, Car-los Agostinho, bem como contactos com a ARS-LVT. “Há questões deincumprimento, mas não quero para já entrar nessa matéria. “O minis-tério da Educação também deve tomar medidas para que não se con-tinue eternamente a ir buscar médicos à Colômbia e a Cuba com difi-culdades de comunicação naturais com a população, e encontrar so-luções para a ausência de médicos de família”, referiu.Entretanto o PCP que promoveu uma acção de protesto no dia doisde Julho junto às instalações do centro de saúde, lançou um abaixo-assinado pela melhoria das condições do local.

Falta de limpeza

Overeador da Coligação Novo Rumo, Rui Rei, fez um ataque cer-rado à falta de limpeza dos espaços verdes no concelho de Vila

Franca de Xira. O mesmo diz ser “uma falta de vergonha” o estado aque chegou a falta de manutenção dos espaços verdes, e deu comoexemplo o Forte da Casa, “onde há locais cheios de mato seco”. “NaNacional 10, no polígono das actividades económicas, a relva já pa-rece palha, há que avaliar esta questão no domínio das transferênciaspara as juntas”. O presidente da Câmara, Alberto Mesquita, prometeuuma intervenção

Revisão do PDMde Salvaterra

Opresidente da Câmara de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio,avançou numa das últimas reuniões de Câmara que até final do

ano a revisão do PDM será presente a assembleia municipal. Desde2005, ainda no mandato de Ana Cristina Ribeiro, que a Câmara decidiumexer no processo, “que tem evoluído lentamente por vicissitudes vá-rias”, disse Esménio. No entanto, o processo ainda está numa fase inicial, e o autarca deua imagem de que neste momento se encontra “numa espécie de se-gunda fase de um conjunto de sete”, ou seja na fase da elaboraçãodo plano que terá em conta as margens do Tejo e as cartas de revisãoecológica e a delimitação da reserva agrícola. Para tal, o municípiotem-se reunido com os técnicos da CCDR-LVT, organismo ligado aoministério do Ambiente. “Acreditamos que podemos ser mais céleresdo que até aqui”. O autarca acredita que o plano posso estar concluídoaté 2017, ou inícios de 2018.

Robotário de Alverca

Aoposição na Câmara de Vila Franca de Xira queixa-se de novo da falta de condições do robotário instalado na cidade de Alverca, que mesmoapós a transferência de local apresenta sinais de falta de manutenção. Nuno Libório, CDU, deu conta de que há mato a crescer no interior da

estrutura localizada no jardim do parque urbano e pediu responsabilidades. Também Rui Rei da Coligação Novo Rumo referiu não apenas a questão“das ervas mas também o problemas de que a estrutura está ou pode vir a sofrer infiltrações, de difícil limpeza, sendo por isso de chamar à res-ponsabilidade quem está encarregue do robotário”.

Salvaterra desvaloriza Loja do Cidadão

Opresidente da Câmara de Salvaterra, Helder Esménio, desvalorizou a possível instalação de uma “Loja do Cidadão” no concelho, pois poderiasignificar automaticamente o fecho de outros serviços no concelho. “Eu não ficaria muito eufórico com a possibilidade de uma Loja do Cidadão”,

referiu o autarca em reunião de Câmara. Segundo o mesmo, e de acordo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, a abertura deuma loja daquele tipo pode significar o fecho das instalações da segurança social, instituto de emprego, finanças, com a agravante de ser ainda aCâmara a custear as despesas relacionadas com o funcionamento do edifício, ou até o transporte porta-a-porta do cidadão. “Até porque existe umaintenção do Governo em criar balcões de atendimento transferindo os custos dos espaços e dos transportes para as autarquias, posso estar a serinjusto, mas para já não vamos ser pioneiros, até porque preciso de mais elementos”.

Iluminação pública criticada

Adeficiente iluminação das ruas e caminhos do concelho de Azambuja, à noite, foi novamente falada em contexto autárquico, na última reuniãode Câmara de Azambuja. Desta vez com António Jorge Lopes da coligação de centro-direita a manifestar a sua preocupação com a circunstância

de algumas freguesias estarem a acusar particularmente esse défice, e elencou Vila Nova da Rainha, certas zonas de Azambuja e Aveiras de Baixo.“Penso que houve um corte cego em alguns locais. Seria de avaliar a política de iluminação pública à noite, porque a solução intercalada postesim/poste não não me parece ajustada, até porque houve sítios que não sofreram com isto. Casais da Lagoa é das localidades onde mais se notaa falta de luz à noite”, referiu e depois apontou baterias a Inês Louro, presidente da junta de Azambuja, que intervira antes a propósito do tema: “Osautarcas do PS na junta chumbaram a moção da CPFNT para melhoria da iluminação na zona dos casais, e agora vem aqui manifestar essa preo-cupação”. O presidente do município, Luís de Sousa, informou que a freguesia mais afectada é a de Alcoentre, e que a divisão da Câmara encarreguedaquele assunto “está a fazer um levantamento com o intuito de o fazer chegar junto da EDP para que se opte antes por zonas totalmente iluminadase outras, onde não seja preciso, fiquem às escuras, porque já vimos que a solução actual não é a melhor”

Manifestação ocorrida no início do mês

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20 Economia

Operíodo pré-assembleia temsido pródigo quanto a movi-

mentações políticas em tornodesta matéria. A Coligação PeloFuturo da Nossa Terra emitiu umcomunicado junto da populaçãoem que fala de aumentos supe-riores a 2500% no novo tarifário,somadas as parcelas e os itensprevistos.Em declarações, em primeiramão, ao site do Valor Local,www.valorlocal.pt a concessio-nária rebateu os alegados “au-mentos brutais de 2500 por cen-to” A CPFNT dá a conhecer váriositens nos quais os “aumentosprevêem-se brutais”, nomeada-mente, os de ordem técnicacomo as vistorias em edifíciosde habitação a subirem dos 3,23euros para 150 euros, e nos es-tabelecimentos comerciais de10,78 para 300 euros. A adminis-tração da Águas da Azambujaesclarece neste ponto que “o va-lor no tarifário actual é aplicado

por dispositivo de utilização darede predial, logo não pode sercomparada com a nova tarifa.Este serviço é apenas executa-do a pedido do cliente para aná-lise da sua rede interna e emcinco anos de concessão nuncafoi solicitado pelos clientes, por-que o técnico responsável pelaobra assegura, nos termos da le-gislação, essa vistoria e o res-pectivo termo de responsabilida-de”.Já no que se refere ao igualmen-te problemático item: aferição decontadores em que a CPFNT fezas contas e o preço aumentados actuais 26,95 para cem eu-ros, a empresa responde que “otarifário actual não cobre os cus-tos associados à retirada docontador, mais a expedição paralaboratório, aferição em labora-tório acreditado, expedição paraa concessionária, e recoloca-ção”. Diz ainda a Águas daAzambuja - “Este serviço é exe-cutado apenas quando requeri-

do e não representa qualquerencargo para o utilizador se ocontador apresentar uma ano-malia em seu prejuízo”. “Acres-ce ainda que estes serviços sãoraros e pontuais sem impacte nafactura mensal”.Diz ainda a empresa que os au-mentos previstos no tarifário“têm sido alvo de desinformaçãoe que respeitam a recomenda-ção tarifária da ERSAR e osprincípios de recuperação doscustos, defesa dos interessesdos utilizadores, utilização racio-nal dos recursos hídricos, e nãosubsidiação cruzada de servi-ços”. Isto quando a ERSAR noseu relatório a que tivemosacessos apresenta sérias reser-vas em relação ao contrato deaditamento entre a empresa e aCâmara.A empresa refere que algunsserviços vão deixar de ser subsi-diados como até à data pela es-trutura tarifária, na senda do “uti-lizador-pagador”. “A água vai

descer e o saneamento aumen-tar”. No que concerne ao propa-lado aumento da tarifa de dispo-nibilidade da água (item que ésempre pago em todas as factu-ras independentemente dos con-sumos) a CPFNT diz que vai de3,45 euros por mês para 4,2 eu-ros, mas a empresa diz que “aanálise efectuada é incompleta epara os utilizadores domésticosa tarifa passa a ser única. Paraum contador DN15, os utilizado-res têm um aumento de 49 cên-timos, para os que possuem umcontador DN20, a larga maioriados utilizadores, o novo tarifárioreduz a tarifa fixa em 28% pas-sando de 5,85 para 4,20”.Segundo a concessionária, osimpactos serão maiores no quediz respeito à tarifa de sanea-mento “porque a actual estruturade custo não cobra o encargocom o saneamento devido a umaumento acumulado de 30 porcento em cinco anos por parteda Águas do Oeste”. A CPFNTvolta à carga e diz-se “agradada”com a explicação da concessio-nária “por não desmentir o co-municado”.Quisemos ouvir a Águas doOeste que rejeita responsabili-dades nesta oneração. Dizaquela empresa que “os caudaisde abastecimento de água e desaneamento de águas residuaisque têm sido faturados aos mu-nicípios, assim como os que es-tão previstos até ao final da con-cessão, são significativamente

inferiores aos estabelecidos noscontratos de fornecimento e derecolha celebrados com os mu-nicípios, o que significa que osproveitos têm sido inferiores aosnecessários para garantir o equi-líbrio económico e financeiro daconcessão.” No fecho desta edição falámoscom Luís de Sousa, presidentedo município, que acabara dereunir-se com os vereadores daoposição para acertar agulhastendo em conta os tempos maispróximos e a assembleia munici-pal. CDU e CPFNT ouvirammais uma vez as explicações daCâmara e da empresa mas man-

tém-se irredutíveis no funda-mental das questões. Está tam-bém a ser ultimada a reformula-ção do aditamento ao contrato aenviar para a ERSAR pela Câ-mara, concessionária, e futuropresidente da comissão deacompanhamento que tambémpresta assessoria no que se re-fere a este documento, factorque tem causado uma onda deperturbação e indignação por-quanto é acusado pela oposiçãode “conciliar papéis inconciliá-veis nesta matéria, pondo emcausa a imparcialidade desejá-vel nos tempos que se avizi-nham”.

“Águas da Azambuja” vai finalmente falar

Cada vez mais perto do dia DAzambuja está a poucos dias do “Dia D”, quando finalmente a “Águas da Azambuja” aparecer em assem-bleia municipal extraordinária para dar a conhecer os contornos dos “propalados” aumentos do tarifá-rio que sairão da renegociação do contracto. No dia 22 de Julho, pelas 19 horas, no Páteo do Valverde, apopulação está convidada a marcar presença e a fazer as perguntas que entender e pelas quais anseiarespostas há muito tempo.

Valor Local

Os aumentos no custo da água são tema forte na próxima AM

Cunha Marques não pára de ser falado emAzambuja

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21Valor Local Economia

Em Junho de 2013, o Valor Lo-cal abordou as dívidas das

concessionárias Águas da Azam-buja e Águas de Alenquer àÁguas do Oeste. De lá para cá, oquadro não se alterou significati-vamente no concelho de Alen-quer. Sobre a dívida deste conce-lho, a concessionária local, a 30de junho de 2014, tinha uma dívi-da à Águas do Oeste 5 milhões254.327 euros, dos quais 3 mi-lhões 797.780 euros estão emprocesso de injunção, ou seja aaguardar por decisão do tribunal.O restante um milhão 456 milcorrespondem a atrasos no pa-

gamento de facturas de serviçosprestados. O sistema intermunicipal diz queestá “disponível para a celebra-ção de um acordo de pagamento,mas a Águas de Alenquer nãotem demonstrado interesse emassinar qualquer acordo, peloque estão a ser aplicados os cor-respondentes juros de mora, nostermos dos contratos em vigor”.A “Águas de Alenquer” refere quea faturação está a ser paga regu-larmente e diz que os juros demora fazem parte da situação de“atraso no pagamento como emqualquer outra relação comercial

normal”. Ou seja parece que osjuros não fazem mossa na con-cessionária, que acha ainda queesses juros “não oneram” o utili-zador final”. Diz a empresa que aÁguas do Oeste vem buscaranualmente três milhões 800 mileuros por ano a Alenquer, e quedesde 2009 que a tarifa da mes-ma subiu 18 por cento no abaste-cimento de água e 31 por centonos efluentes.Do lado da concessionária deAzambuja, o clima entre as duasempresas não é melhor. Segun-do a AO, a dívida vencida daÁguas de Azambuja, em Julho de

2014, era de 2 milhões 453.608euros, dos quais um milhão330.612 euros estão em proces-so de injunção relativa aos valo-res mínimos garantidos de abas-tecimento de água, referentesaos anos de 2010 e 2011, maté-ria que está em processo de aná-lise no sentido de se tentar en-contrar uma solução. O restantevalor, 1 milhão 122.996, euroscorresponde a atrasos no paga-mento das faturas. “A Águas deAzambuja não tem demonstradointeresse em assinar qualqueracordo de pagamento para essadívida, estando a ser aplicados

os correspondentes juros demora, nos termos dos contratosem vigor” acrescenta a AO”. Tam-bém neste caso, a empresa deAzambuja expressa que “os míni-mos foram contestados “num cla-ro interesse da defesa dos con-sumidores”. (Recorde-se queesta questão dos mínimos dizrespeito consumos de água nãoverificados mas previamentecombinados entre a AO e os mu-nicípios, com injunções penden-tes em outros concelhos da zonaOeste). A “Águas da Azambuja”quanto aos pagamentos em atra-so também diz que “as facturas e

os juros de mora estão a ser pa-gos como noutra relação comer-cial qualquer”. Há um ano atrás adívida da empresa era bem me-nor: 400 mil já vencida e outra de730 mil em processo de injunção. Ambas as concessionárias, comparticipação da Aquapor, respon-dem em uníssono quanto a umacordo de pagamento, alegandoque “o mesmo sempre foi apre-sentado de forma condicionada”,e portanto a questão continua aarrastar-se com o avolumar dadívida e com um braço de ferroque não tem dia anunciado parachegar ao fim.

Presença muito esperada nodia 22 seria a de Cunha Mar-

ques, o novo presidente da comis-são de acompanhamento do con-trato de revisão da Águas daAzambuja, mas segundo Luís deSousa o mesmo não estará pre-sente. Numa entrevista em exclu-sivo ao nosso jornal, o professorno Instituto Superior Técnico e es-pecialista em concessões deáguas, acusado pela oposição denão ser de todo a figura ideal porter estado presente nas várias fa-ses do processo da privatizaçãodas águas em Azambuja, contra-diz esta ideia e diz não ter medo.“Quem não deve não teme, e não

tenho problemas em especificaras decisões tomadas e as forçasda oposição em Azambuja deve-riam instruir-se primeiro, embora aconcessão não seja perfeita, ocusto da água, hoje, está mais ba-rato do que em 2009”. Na base doque correu menos bem “está tam-bém a política da Águas do Oesteque não cumpriu com o calendáriode obras”, diz.Cunha Marques rejeita, por outrolado, que a Entidade Reguladorados Serviços de Águas e Resí-duos (ERSAR) tenha “arrasado” oaditamento ao contracto, confor-me o que tem vindo a ser noticia-do pelo Valor Local desde Maio,

documento ao qual também tive-mos acesso. “Isso é um equívocotremendo, trata-se de uma análi-se-tipo dessa entidade, que serátrabalhada, e tudo será esclareci-do junto da ERSAR e da popula-ção!”, refugia-se nesta explicação.O presidente da comissão escla-rece que os consumidores do tari-fário social, ao contrário do que diza ERSAR, estão protegidos –“Não vão pagar tarifa fixa e o pri-meiro escalão ao invés de ir atéaos 5m3 passa para 15m3”. CunhaMarques alerta – “A lei é bastantedeterminante e se a revisão docontracto for para tribunal será adoer para o concelho de Azambu-

ja”.O professor que ainda não estevefrente a frente com os seus críti-cos em Azambuja não tem dúvi-das de que toda esta matéria estáa servir de “arma de arremessopolítico”. “Sou a favor da discus-são política, mas quando se discu-tem questões técnicas, as pes-soas têm de usar fundamentos.Azambuja não é perfeita, mas ou-tras concessões correram pior nopaís”.O jogo político em torno deste de-bate já levou ao surgimento de no-vas expressões pela CPFNT aoqualificar o novo presidente da co-missão e restantes elementos

como “raposas no meio de um ga-linheiro”. “Questões que atinjam aminha honorabilidade têm de serprovadas do ponto de vista jurídi-co”, não deixa margem para dúvi-das.Vincando estar na comissão numapostura de poder ajudar, reforçaque não precisa do cargo emAzambuja “para reforçar o seucurrículo académico ou por ques-tões financeiras”.Cunha Marques é acusado pelaoposição de ter lesado os interes-ses do concelho por ter estadonas várias fases do processo eagora em mais uma, mas este diz-se de consciência tranquila. “Ten-

tei ser o mais transparente possí-vel, dei o meu melhor, mas souhumano e sou o primeiro a dizerque errei e a emendar a mão”.As concessões no país a privadosnão têm corrido bem e muitas jáacabaram na barra dos tribunais,mas para o académico tudo se re-sume a uma baixa de consumospor parte dos portugueses devidoà crise. Por outro lado, diz que nãoé correcto comparar-se o sistemade Azambuja com o da Águas doRibatejo, visto como um exemplo,mas “que não compra água emalta, com um encargo à cabeça doserviço por volta dos 50 por cen-to”.

Presidente da Comissão das Águas ausente da assembleia municipal

Dívida de milhões das concessionárias à Águas do Oeste

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22 Economia Valor Local

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23Valor Local Retratos da Nossa Terra

Ficha técnica: Valor Local, Jornal de informação regional, sedede redacção e administração: Quinta da Mina 2050-273 Azambuja; telefones: 263047 625, 96 197 13 23 correio electrónico: [email protected]; Site: www.valor-local.pt • Propriedade e Editor: Associação Comércio e Indústria do Município deAzambuja (ACISMA); Quinta da Mina 2050-273 Azambuja. NIPC 502 648 724 • cor-reio electrónico: [email protected] • Director: Miguel António RodriguesCP 3351 [email protected] • Colaboradores: Sílvia Agostinho [email protected], Vera Galamba CP 6781, José Machado Pereira, Da-niel Claro, Rui Alves Veloso, Miguel Ouro, Nuno Vicente, Cátia Carmo, Dina Patrício;• Paginação, Grafismo e Montagem: Milton Almeida: [email protected] •Fotografia: José Júlio Cachado • Serviços Administrativos e Departamento Co-mercial: Ana Reis, Rui Ramos telefones: 263 047 625, 96 049 10 83 correio elec-trónico: [email protected] • N.º de Registo ERC: 126362, Depósito le-gal: 359672/13 Impressão: Gráfica do Minho, Rua Cidade do Porto –Complexo In-dustrial Grunding, bloco 5, fracção D, 4710-306 Braga • Tiragem: 4000 exemplares

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Retratos da Nossa TerraBelmiro de Azevedo regateia em Salvaterra de Magos

AOptimus através de uma em-presa intermediária quer pa-

gar cada vez menos pela rendaanual da torre existente na Glóriado Ribatejo. A empresa que che-gou a pagar 2600 euros ano em1999 e conseguiu a benesse deum decréscimo para 2000 eurosem 2010; voltou à carga em 2013exigindo 1000 euros/ ano. Agoraem 2014 já se diz na disposiçãode pagar 1200 mas só este ano.A proposta foi mais uma vezchumbada pela Câmara. O ve-reador do Bloco de Esquerda,Luís Gomes, em reunião de Câ-mara disse que isto mais pareceum negócio de marroquinos, ex-pressão bem vista pelas restan-tes bancadas. O presidente daCâmara, Hélder Esménio não sabe se é aflição ou não da empresa que gere milhões de euros. Talvez sejam as novas regras da novapatroa angolana… lança o Retratos da Nossa Terra.

Banco de suplentes de luxo

Em todas as sessões de Câmara de Azambuja algumas das pessoas desta foto, na sua maioria, pertencentes a partidos políticos e al-gumas sendo mesmo deputados municipais participam activamente no debate das questões, até fora do tempo de audiência do público,

com a benevolência e até paciência do presidente da Câmara. Este é uma espécie de banco de suplentes de luxo dos partidos com e semassento na vereação, infelizmente no dia em que tirámos esta foto não estava presente o inefável Daniel Claro, uma espécie de CristianoRonaldo da coisa!

Gazeta de Lisboa, 1826

Anúncio publicado na “Gazeta de Lisboa” em 1826 e pode ser a descoberta da história das vias de comunicação terrestre no concelhode Azambuja, que ainda está por fazer. Por José Machado Pereira.

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