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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA CAMPUS SOROCABA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA JOSIANE PEDROSO DORNELES A CRISE GREGA E OS SEUS DESDOBRAMENTOS: UMA ABORDAGEM DE JOGO DINÂMICO COM INFORMAÇÃO INCOMPLETA ENTRE A GRÉCIA E A TROIKA Sorocaba 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

CAMPUS SOROCABA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

JOSIANE PEDROSO DORNELES

A CRISE GREGA E OS SEUS DESDOBRAMENTOS: UMA ABORDAGEM DE

JOGO DINÂMICO COM INFORMAÇÃO INCOMPLETA ENTRE A GRÉCIA E A

TROIKA

Sorocaba

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

CAMPUS SOROCABA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

JOSIANE PEDROSO DORNELES

A CRISE GREGA E OS SEUS DESDOBRAMENTOS: UMA ABORDAGEM DE

JOGO DINÂMICO COM INFORMAÇÃO INCOMPLETA ENTRE A GRÉCIA E A

TROIKA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Economia, para obtenção do

título de mestre em Economia.

Orientação: Prof. Dr. Geraldo Edmundo Silva

Jr.

Sorocaba

2016

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DEDICATÓRIA

A meus pais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a meus pais, Valmir e Marisa, a quem dedico este trabalho.

Agradeço a vocês pelo exemplo de amor e força com o qual conduzem com maestria toda e

qualquer situação, agradeço pelo apoio, amizade e por acreditarem sempre em mim.

Agradeço a meu irmão Rodrigo e minha cunhada Priscila, pelo carinho e incentivo, além de

terem nos dado o maior presente, que preencheu nossas vidas com ainda mais amor, minha

sobrinha Valentina. Agradeço minha avó Nelci, por entender meus momentos de ausência e

ainda assim sempre me receber com mimos e o coração terno. Agradeço a meus primos

Guilherme, Leandro, Eduardo e João pela alegria em que transformam cada momento. Amo

muito vocês!

Agradeço ao meu amado Bernardo pela paciência, companheirismo e amor. Agradeço

por tua compreensão e suporte durante meus estresses e medos ao longo desse ano. Obrigada

por me ouvir e se fazer presente em todo momento.

Agradeço aos companheiros de longa data, Ethiane, Thayná, Vanessa, Samantha,

Gregório e Tiago que ainda que distantes e em meio a seus compromissos, sempre estiveram

ao meu lado, me dando força e compartilhando alegrias.

Agradeço aos meus colegas de mestrado da UFSCar, principalmente aos amigos

Mariana, Andressa, Camila, Guilherme e Augusto. Agradeço os momentos que

compartilhamos, desde os anseios da vida acadêmica às melhores histórias. Sem dúvida

vocês foram grandes presentes que a vida me trouxe, uma amizade para além do mestrado

com ensinamentos que levarei sempre comigo.

Agradeço à Universidade Federal de São Carlos e a todos os professores que tive ao

longo do mestrado. Agradeço por todo o conhecimento compartilhado. Em especial, gostaria

de agradecer a meu orientador Prof. Dr. Geraldo Edmundo Silva Júnior pelo exemplo de

profissionalismo, pelo incentivo e dedicação que, mesmo com a distância deste último ano,

não mediu esforços para garantir a execução deste trabalho.

Agradeço aos professores Cassiano Bragagnolo e Jorge Paulo Araújo pela

disponibilidade em compor minha banca.

Por fim, agradeço a CAPES pela concessão da Bolsa de Estudos.

Muito obrigada!

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RESUMO

DORNELES, Josiane, P. A crise grega e os seus desdobramentos: uma abordagem de jogo

dinâmico com informação incompleta entre a Grécia e a Troika. 2016. 78 f. Dissertação

(Mestrado em Economia) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, 2016.

O presente trabalho partiu da análise quanto a problemática vivida pela Grécia em que, desde

o estabelecimento da crise financeira de 2008 viu sua situação econômica, que já era

fragilizada por uma administração pública ineficiente, entrar em colapso. Com vista em conter

o deficit público e retomar o crescimento econômico, o governo grego passou a assumir

relações contratuais com os credores a partir da tomada de empréstimos que contribuíram para

o aumento da dívida característica da crise enfrentada pelo país a partir de 2010. Fazendo uso

da metodologia de Jogos de Sinalização, fez-se a representação da relação contratual existente

na tomada de empréstimos entre a Grécia e a Troika. Considerando as diferentes posturas que

os jogadores podem assumir, através do estabelecimento de um vetor de tipos e um conjunto

de ações que representam seu comportamento adotado na dinâmica de negociações

considerada. A ocorrência de cada tipo assumido pelos jogadores é determinada pela

Natureza, sendo representada através de uma probabilidade de ocorrência para cada tipo. Da

mesma forma, foram atribuídas probabilidades de ocorrência à cada ação. A determinação da

estratégia dos jogadores parte da regra de probabilidades condicionais de Bayes em que, para

cada ação leva-se em conta a probabilidade de seu oponente assumir uma ação e um tipo

determinado. Após a construção da estrutura do jogo, estimou-se através da análise de

sobrevivência a probabilidade de ocorrência das ações da Grécia, sendo seu conjunto de ações

composto pelas possibilidades de cumprir ou não cumprir os acordos e imposições estipulados

por seus credores. Como resultado, a ação não cumpre apresentou probabilidade de ocorrência

de aproximadamente 0,99, enquanto que, cumpre teve probabilidade de 0,01. As estruturas do

jogo para a verificação de ocorrência de equilíbrio levaram em conta os payoffs obtidos a

partir das combinações de ocorrência possíveis além dos valores das probabilidades de ações

da Grécia obtidos na análise de sobrevivência. A análise de equilíbrio revelou que em tendo a

Grécia uma maior probabilidade a ação de não cumprir, a Troika terá por estratégias

resultantes as associadas a ação não empresta, criando condições para a Grécia não fazer mais

parte das negociações. Desta forma chega-se a configuração de uma situação em que a Troika

decide por não emprestar, com as imposições e medidas de austeridade como condições no

estabelecimento de contratos, o governo grego tem por alternativa resultante a declaração de

default.

Palavras-chave: Crise na Grécia. Troika. Jogo de Sinalização. Análise de Sobrevivência.

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ABSTRACT

This paper was based on the analysis of the problem experienced by Greece in which, since

the establishment of the financial crisis of 2008 saw its economic situation, which was already

weakened by an inefficient public administration, collapsed. With a view to containing the

public deficit and resuming economic growth, the Greek government began to enter into

contractual relations with creditors from borrowing that contributed to the increase in the debt

characteristic of the crisis faced by the country as of 2010. Making use of the Signing Games

methodology, the contractual relationship in the borrowing between Greece and the Troika

was represented. Considering the different postures that players can assume, by establishing a

vector of types and a set of actions that represent their behavior adopted in the considered

trading dynamics. The occurrence of each type assumed by the players is determined by the

Nature, being represented by a probability of occurrence for each type. Likewise, each action

was assigned probability of occurrence. The determination of the players 'strategy starts from

Bayes' conditional probabilities rule in which, for each action, the probability of his opponent

assuming an action and a determined type is taken into account. After the construction of the

game structure, it was estimated through the survival analysis the probability of occurrence of

the actions of Greece, being its set of actions composed of the possibilities of complying or

not complying with the agreements and impositions stipulated by its creditors. As a result, the

action did not comply with a probability of occurrence of approximately 0.99%, whereas, it is

expected to have a probability of 0.01%. The game structures for the equilibrium occurrence

check took into account the payoffs obtained from the possible occurrence combinations in

addition to the values of the probabilities of Greece shares obtained in the survival analysis.

The balance analysis showed that in Greece having a greater probability of not complying, the

Troika will have strategies resulting from those associated with the action does not lend,

creating conditions for Greece not to be part of the negotiations. In this way, we arrive at the

configuration of a situation in which the Troika decides not to lend, with the impositions and

measures of austerity as conditions in the establishment of contracts, the Greek government

has as alternative resulting the declaration of default.

Keywords: Crisis in Greece. Troika. Signal Game. Survival Analysis.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Cenário macroeconômico da Grécia de 2010 a 2015. .......................................................... 29

Tabela 2 - Dinâmica das exportações de 2010 a 2015 para Grécia, Portugal e Alemanha. .................. 33

Tabela 3 - Resultado da aplicação do estimador de Kaplan-Meir e Nelson-Aalen. .............................. 54

Tabela 4 - Análise comparativa do resultado dos estimadores. ............................................................. 55

Tabela 5 - Resultado para o teste de Log-Rank entre as curvas de sobrevivência para os diferentes

valores de x. .......................................................................................................................................... 56

Tabela 6 - Resultados para a aplicação do estimador de Cox. .............................................................. 57

Tabela 7 - Resultado para a estimativa de hazard. ................................................................................ 57

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Representação do equilíbrio agrupador e equilíbrio separador. .......................................... 40

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Diagrama de uma relação contratual. ................................................................................... 21

Figura 2 – Projeções do PIB (dados trimestrais) e desemprego (dados mensais) para a Grécia, Zona do

Euro e Reino Unido no período de 2007 a 2015. .................................................................................. 30

Figura 3 - Taxa de desemprego do total da população ativa de até 25 anos para a Grécia, Zona do Euro

e Alemanha. ........................................................................................................................................... 31

Figura 4 - Dinâmica da dívida na Grécia em milhões de euros de 2000 a 2015. .................................. 32

Figura 5 - Grade com os tipos de cada jogador e suas probabilidades de ocorrência. .......................... 44

Figura 6 - Árvore do jogo considerando os diferentes tipos da Grécia. ................................................ 45

Figura 7 - Árvore do jogo considerando os diferentes tipos da Troika. ................................................ 45

Figura 8 - Grade com as diferentes combinações de jogo. .................................................................... 46

Figura 9 - Curva de sobrevivência pelo estimador de Kaplan-Meier e Nelson-Aalen. ......................... 54

Figura 10 – Probabilidade de ações para 𝜃1x 𝜑1. ................................................................................ 59

Figura 11 - Probabilidade de ações para 𝜃1x 𝜑2. ................................................................................. 59

Figura 12 - Probabilidade de ações para 𝜃2x 𝜑1. ................................................................................. 59

Figura 13 - Probabilidade de ações para 𝜃2x 𝜑2. ................................................................................. 59

Figura 14 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia submissa e a Troika flexível: 𝜃1x 𝜑1.

............................................................................................................................................................... 60

Figura 15 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia agressiva (insubmissa) e a Troika

flexível: 𝜃2x 𝜑1. ................................................................................................................................... 61

Figura 16 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia submissa e a Troika inflexível: 𝜃1x

𝜑2. ......................................................................................................................................................... 62

Figura 17 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia agressiva (insubmissa) e a Troika

inflexível: 𝜃2x 𝜑2. ................................................................................................................................ 62

Figura 18 - Estrutura do jogo para equilíbrio Agrupador contendo as probabilidades de ações e suas

respectivas recompensas. ...................................................................................................................... 65

Figura 19 - Estrutura do jogo para equilíbrio Agrupador contendo as probabilidades de ações e suas

respectivas recompensas quando ∝ 𝟏 ≅ 0. ........................................................................................... 66

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11

1.1 Objetivos ......................................................................................................................... 14

1.2 Hipótese .......................................................................................................................... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 16

2.1 Dívida e Negociação ....................................................................................................... 16

2.1.1 Abordagem analítica da Teoria dos Jogos ................................................................... 17

2.2 O caso da Grécia ............................................................................................................. 22

2.2.1 Trajetória da economia grega ...................................................................................... 22

2.2.2 A crise grega em números ........................................................................................... 29

2.2.3 Troika e os pacotes de resgate ..................................................................................... 34

3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 38

3.1 Base de dados .................................................................................................................. 53

3.2 Jogos de Sinalização ....................................................................................................... 38

3.3 Análise de Sobrevivência ................................................................................................ 47

4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 53

4.1 Estimativas para o modelo de Sobrevivência ................................................................. 54

4.2 Inclusão das probabilidades obtidas no jogo e determinação de equilíbrio .................... 58

4.3 Análise e Discussão dos Resultados ............................................................................... 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 74

APÊNDICE .............................................................................................................................. 77

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1 INTRODUÇÃO

A crise econômica da Grécia tem influenciado a determinação de estratégias e tomadas

de decisões do governo grego no ambiente de negociações com os credores, que tem por

objetivo o restabelecimento do equilíbrio econômico. Marcada por uma recessão desde 2008,

decorrente da crise financeira internacional, a situação da economia grega tem representado o

início da crise na zona do euro.

Dentre as características que marcaram o período, destacam-se a contração da economia

em torno de 25% e, para atender as orientações do Banco Central Europeu1, BCE deste ponto

em diante. As medidas sugeridas de austeridade fiscal e monetária causaram uma incerteza

nas estratégias adotadas pelo governo grego, diante de uma taxa de desemprego em torno de

25%, maior no estrato mais jovem da população, além de queda nos salários, caracterizada

pela redução da renda média em torno de 40%. A consequência fundamental, gestada no

período de crise, tem sido o risco de exclusão social de grande parte da população2, face aos

cortes feitos na área da saúde e demais serviços, essenciais à qualidade de vida da sociedade,

com vistas ao atendimento das exigências dos credores.

Bem e Jubran (2005) acreditam como possíveis soluções para a Grécia a sua saída da

zona do euro ou, então, com a ocorrência de um default3. Para Barbosa (2010), a questão da

dívida estaria associada a uma série de problemas estruturais com necessidades de ajustes

econômicos e mudanças na política fiscal do país. Já Arestis (2010) associa a crise da dívida

grega com a amplitude do mercado da União Europeia e, desta forma, caberia ao Banco

Central Europeu auxiliar a estabilização econômica daquele país ao possibilitar a elaboração

de medidas direcionadas aos países membros da zona do euro.

De acordo com Ozturk e Sozdemir (2015), no decorrer dos anos na Grécia, políticas

inconsistentes geraram o desequilíbrio entre receita e despesa governamentais. Como exemplo

cita-se o aumento dos salários dos funcionários públicos sem o acompanhamento da elevação

da receita tributária, isso ocorrendo antes do ingresso da Grécia para a zona do euro.

Consequentemente, houve a necessidade do país contrair empréstimos elevando tanto o deficit

1 Banco Central Europeu (2015). 2 EUROSTAT (2015). 3 Default é um termo dado para o descumprimento, por uma das partes, de uma cláusula importante de um

contrato firmado entre credor e devedor.

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nas contas públicas quanto o estoque de dívida. Além disso, com o advento da crise foram

ampliados o custo de contração de empréstimos e os encargos sobre os mesmos (OZTURK;

SOZDEMIR, 2015). Ao final de 2014, o valor registrado da dívida grega estava em torno de

320 bilhões de euros, o equivalente a 185% do PIB do país (EUROSTAT, 2014),

ultrapassando o triplo dos 60% permitidos pelo Tratado de Maastricht4. Diniz e Jayme Jr

(2012) destacaram outros critérios estabelecidos pelo Tratado de Maastricht, a saber: regras

para inflação, estabilidade cambial e convergência de taxa de juros.

A respeito da atual situação da dívida vivida na Grécia, Ozturk e Sozdemir (2015)

consideram as principais fragilidades existentes. “… When the problem is considered in terms

of Greece another dimension with regard to instability, insufficiency and unreliability of

political institutions can be seen besides weak public financial policy and ineffective financial

policies5” (OZTURK; SOZDEMIR, p. 569, 2015). Os autores destacaram que a parcela da

dívida associada à dívida pública, devido à inadimplência de alguns contribuintes,

representaria aproximadamente 80% do total existente na Grécia, caracterizando-se como o

maior deficit fiscal da União Europeia. O aumento da dívida externa da Grécia, que era de

4,1% do PIB em 1999, em 2010 registrou uma taxa equivalente a 10,2% (OZTURK;

SOZDEMIR, 2015).

Da mesma forma, conforme colocado por Carfi e Schiliro (2014), as medidas de

austeridade impostas pelos credores aprofundaram a crise grega. Tais medidas representaram

a condição existente na relação de negociação entre a Grécia e os seus credores. Assim, o

estabelecimento do vínculo contratual, associado às exigências decorrentes deste, gerou

impactos profundos nos resultados econômicos da Grécia. Ao principal grupo de credores

gregos deu-se o nome de Troika, formada pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e

FMI, instituições de grande influência econômica na Europa.

A União Europeia, através da Comissão Europeia, representa hoje um dos principais

credores da Grécia. Caracterizada por sua cooperação econômica e política, a União Europeia,

teve início em 1945, tendo a Grécia como membro desde 1981 (FMI, 2015). A Comissão

Europeia estabelece planos e programas de ajuda entre os seus países membros, no caso da

Grécia, o seu principal credor tem sido a Alemanha. Dentre os demais credores destacam-se

4 O tratado delimita percentual de dívida em relação ao PIB e os preceitos para a coordenação das políticas fiscal

e monetária na Europa, especificamente na União Monetária Européia, ver Diniz e Jayme Jr. (2012). 5 “... Quando o problema é considerado nos termos da Grécia outra dimensão que se refere à instabilidade,

insuficiência e falta de confiabilidade das instituições políticas pode ser vista além da política de finanças

públicas fracas e políticas financeiras ineficazes” (tradução nossa).

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os membros da Troika, a saber: o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário

Internacional (FMI).

O BCE é uma instituição independente e tem como prioridade o controle de preços que,

segundo Diniz e Jayme Jr (2012), caracteriza-se por uma postura conservadora, por vezes

prejudicial às perspectivas de crescimento econômico decorrentes de medidas não

convencionais. Além do controle de preços, o BCE é o responsável por conduzir políticas

cambiais, assim como o controle de bancos e demais instituições financeiras.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) consiste em outro credor de grande

importância para a Grécia, que junto com a União Europeia, repassaram em torno de 240

bilhões de euros para o país desde 2010 (EUROSTAT, 2015).

No início de 2012, o governo grego assumiu um acordo com seus principais credores,

União Europeia, FMI e o BCE, no qual o país receberia um empréstimo de 110 bilhões de

euros por um período de três anos. Tal financiamento veio acompanhado por um pacote de

concessões que previam cortes fiscais e reforma econômica (CLINE, 2013). O não

cumprimento das exigências e a necessidade de outros pacotes de resgate levaram a Grécia a

assinar outros acordos, estes também sujeitos a medidas de austeridade, que culminaram da

crise social já outrora instalada naquele país. Enquanto isso, o governo grego se viu

pressionado quanto à necessidade de financiamentos seguidos por medidas austeras que

seriam incompatíveis com a busca pelo bem-estar social, bem como o seu posicionamento na

zona do euro (CLINE, 2013).

O papel dos credores na determinação da dinâmica da dívida grega e da caracterização

dos principais fatos estilizados daquela economia tem sido notável no período recente (FMI,

2015). As pressões impostas pelos credores, principalmente pelos membros da zona do euro e

nações com poderio econômico e influência na União Europeia, se deram em razão do risco

de contaminação dos demais países membros, além do consequente enfraquecimento das

relações econômicas com a possível saída da Grécia da união monetária. Os credores, além de

representarem principais agentes financiadores responsáveis por pacotes de resgates

utilizados, se constituem nos principais agentes de influência política, economia e social na

Grécia, na Europa e no cenário internacional (CARFI; SCHILIRO, 2014). Assim, a Troika,

ainda que composta por órgãos individuais e distintos pode ser analisada como um grupo

devido a sua influência, principalmente no cenário econômico.

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O ponto focal do presente trabalho está associado ao processo de negociação existente

entre os agentes em um cenário de crise da dívida. Desta forma, a proposta do trabalho

consiste em construir um jogo dinâmico com informação incompleta entre a Grécia e a

Troika. O jogo seria caracterizado pela incerteza entre os jogadores envolvidos e os possíveis

desdobramentos da interação entre eles na busca em obter um melhor resultado.

Considerando-se uma conjuntura na qual a inferência sobre os possíveis resultados seria

difícil por envolver, não somente, questões econômicas, mas também, questões sociais e

políticas, torna a modelagem de um jogo dinâmico com informação incompleta entre esses

jogadores um importante instrumento analítico.

Desta forma, com a atual conjuntura e os acontecimentos recentes, eleições e os

referendos sobre as medidas da Troika, tem-se um importante ambiente de incerteza na qual o

jogo é formulado. As questões importantes a serem estabelecidas são: qual seria a solução

estratégica para um jogo envolvendo a Grécia e a Troika? Quais seriam as estratégias ideais

com base nos interesses associados a cada agente e de que forma tais interesses se

interrelacionam? A análise de um fato recorrente, que é a crise econômica grega, seria capaz

de evidenciar um melhor resultado com base em estratégias estabelecidas pelos agentes, bem

como, identificar fragilidades existentes no sistema econômico e político no qual a Grécia está

inserida? Para a Troika, a melhor estratégia seria postergar o processo de saída da Grécia da

Zona do Euro? Ainda, haveria a possibilidade de concessão de um waiver6 para a Grécia,

alongando-se os prazos de pagamentos de encargos da dívida externa?

1.1 Objetivos

A partir do problema exposto, o objetivo geral do presente trabalho é construir um jogo

entre a Grécia e a Troika e verificar, considerando os desdobramentos da dinâmica entre os

agentes e a influência do ambiente, o resultado mais eficiente através do estabelecimento do

equilíbrio. Dentre os objetivos específicos estão a estruturação e análise do jogo, partindo das

etapas seguintes: a) explorar, através de uma análise descritiva e variações nos dados

coletados7, os cenários de dívida no qual a Grécia se encontra (ambiente do jogo), bem como

6 Termo econômico que refere-se a renúncia das exigências ao cumprimento dos acordos estabelecidos nas

relações contratuais. 7 Ver: Apêndice A.

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a relação de negociação e tomada de decisão; b) seguindo a dinâmica dos jogos de

sinalização, estabelecer um vetor de tipos com diferentes características para cada jogador; c)

estimar as probabilidades das ações associadas aos tipos assumidos pela Grécia a partir da

análise de sobrevivência; d) incorporar as probabilidades obtidas no jogo dinâmico construído

e identificar o melhor resultado para esse, considerando os possíveis desdobramentos; e)

verificar se a hipótese estabelecida ocorre;

1.2 Hipótese

A hipótese crucial do presente trabalho é a de que a formulação de um jogo dinâmico

com informação incompleta entre os agentes, a partir do estabelecimento de perfis, terá como

melhor resultado do ponto de vista da Troika, a exclusão da Grécia da zona do euro. Ou seja,

a Troika assumirá papel de vencedor do jogo quando seus objetivos forem atingidos e esta

obter retorno máximo, o que se dará quando ao estabelecer suas ações estratégicas, crie

situações que levem ao não cumprimento das relações contratuais por parte da Grécia, ou seja,

o país declara estado de default, provocando sua saída da zona do euro.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Dívida e Negociação

Quando se analisa o processo inicial de desenvolvimento econômico de alguns países

periféricos da União Europeia, nota-se uma política macroeconômica direcionada ao aumento

salarial. Com elevação da demanda interna como consequência, sem ter por contrapartida o

aumento da produtividade, gerando, com isso, inflação e perda de competitividade dos países.

O modelo de desenvolvimento econômico voltado para a demanda interna, sem a adoção de

mecanismos e políticas que garantissem a elevação da produtividade, tem sido uma das

principais justificativas ao estabelecimento de deficit público e a situação de crise da dívida

desencadeada em alguns países da zona do euro (AMARAL, 2010).

Além do processo de formação econômica dos países como fator gerador do deficit

público através da adoção de políticas que prejudicam a competitividade dos mesmos, o

desenvolvimento do deficit pode estar associado a ocorrência de outros acontecimentos,

alguns partindo de movimentos cíclicos, em que geram impactos no sistema econômico

estabelecido e que nem sempre possui dinâmica e estrutura corretas para responder aos

impactos de tais fenômenos, como a ocorrência de crises, guerras, fenômenos climáticos que

afetam a produção, dentre outros (NUNES, 2013).

Amaral (2010) destaca que a dívida tem sido um dos principais meios de financiamento

público adotado por economias em desenvolvimento da zona do euro que, associadas a gastos

mal executados e à escassez de outras fontes de recursos financeiros, gestaram crises fiscais

em diversos países. De uma maneira geral, o financiamento do deficit dá-se através da

obtenção de recursos internos, provenientes de instituições financeiras, e externos, com o

auxílio de aliados políticos e econômicos ou instituições financeiras internacionais, tendo

como contraparte o pagamento de juros e amortizações.

Nunes (2013) argumenta que embora o deficit fiscal seja pré-requisito para o

estabelecimento de uma dívida, estes não podem ser confundidos, dado que a dívida é uma

das possíveis alternativas existentes para o financiamento das economias em deficit. Para

Simonsen e Werlang (1990), a dinâmica da dívida se daria a partir do hiato existente entre o

endividamento externo e os recursos oriundos do país e suas reservas. A busca por

financiamentos tem sido base para a determinação das negociações existentes nos mercados

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de crédito em que os agentes visam estabelecer relações contratuais em defesa de seus

interesses. Tais relações tornam-se comuns quando há o estabelecimento de crise da dívida

entre os países.

Djankov et al. (2008) colocam que, além da possibilidade de financiamento do deficit

público, a dívida quando estabelecida pode ter por justificativa a promoção de investimentos e

suavização do consumo privado. Também destacam a importância das relações envolvidas no

processo de geração da dívida que, quando não acompanhadas de forma eficiente, acabam

gerando custos administrativos significativos. Considerando que, as relações existentes no

chamado mercado da dívida envolvem uma série de agentes expostos em determinações

contratuais, sob influência do sistema econômico e um padrão normativo pré-estabelecido,

para que haja o cumprimento das determinações impostas. Além disso, os credores devem

levar em conta, as características existentes no comportamento do devedor com o qual está

prestes a negociar.

2.1.1 Abordagem analítica da Teoria dos Jogos

Em uma estrutura analítica de Teoria dos Jogos, Simonsen e Werlang (1990)

estabeleceram que, em meados dos anos 60 e 70, havia um incentivo para a contratação de

dívidas por parte dos países em desenvolvimento, na suposição de que as exportações

apresentariam crescimento superior ao das taxas de juros praticadas no mercado e, com isso,

reduziriam o endividamento ao longo do tempo. Entretanto, tal fato não se comprovou, e por

volta dos anos 80, os países em desenvolvimento enfrentaram a crise da dívida, evidenciando

o cenário em que a elevação dos juros ocorreu concomitantemente a uma significativa queda

nas exportações. Portanto, o cenário alterou, não somente a dinâmica da dívida externa mas

também, a forma com que os contratos foram firmados, as imposições e o conflito de

interesses presentes na relação entre credores e devedores.

As relações contratuais existentes, quando há a contratação de empréstimos, seriam

determinadas com base em negociações por parte dos agentes envolvidos nas transações. Ao

credor, agente responsável pela concessão de crédito, caberia a defesa de seus interesses com

vista em manter sua reputação e combater a inadimplência por parte dos devedores. Simonsen

e Werlang (1990) destacaram que, ainda que apresentem características distintas, os credores

apresentariam interesses comuns, baseando suas escolhas naquelas que resultassem maiores

benefícios das relações contratuais. Aos agentes que contraíssem a dívida o objetivo se

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basearia na obtenção de créditos e financiamento de suas despesas, otimizando seus resultados

econômicos e atendendo às exigências dos credores.

Bolow e Rogoff (1988) trataram do conflito de interesses presente na relação contratual,

que determinaria os trâmites da dívida, em uma estrutura de barganha bilateral entre

instituições credoras e países devedores, tendo por exógena as características do governo dos

países cujas instituições firmariam os contratos. Bulow e Rogoff (1989) destacaram as

possibilidades existentes, a partir do acesso a empréstimos internacionais, em relação à

manutenção do nível de consumo, investimentos no mercado interno, e acesso ao mercado de

capitais internacionais. Os autores consideraram a possibilidade do descumprimento das

cláusulas contratuais impostas sugerindo contratos baseados na reputação ou na indexação dos

valores transacionados. O contrato de reputação imporia restrições para o caso de o país

devedor se tornar inadimplente. Outra forma contratual sugerida seria a forma Cash-in-

Advance8 que permitiria ao país o pagamento de determinado valor em um período t, em troca

de um contrato com um valor maior em período subsequente.

Assim, dentre as diferenças existentes na obtenção de crédito externo e doméstico

estaria a constante negociação. Em mercados externos os contratos seriam renegociados como

reescalonamento baseados em pagamentos atuais e futuros, considerando-se sanções impostas

como forma de controle ao cumprimento contratual.

Fernandez e Rosenthal (1988)9 defenderam que, na análise quanto às ramificações

estratégicas existentes em processos de negociação de empréstimos, a tomada de decisão do

agente devedor quanto ao cumprimento ou não de suas obrigações se basearia na

possibilidade de ganhos futuros visando acesso ao mercado de capitais e evitando penalidades

contratuais. Segundo os autores, as sanções obtidas a partir do não cumprimento das

obrigações contratuais (default) pode excluir o devedor da possibilidade de obtenção de

empréstimos, gerando impactos em sua reputação no mercado, tendo por consequência a

necessidade de optar por medidas alternativas para o reestabelecimento da competitividade

econômica.

Ainda, investigam as alternativas na renegociação de dívidas em relação às diversas

possibilidades para os agentes e, também, os incentivos ao cumprimento dos contratos em

forma de bônus e acesso facilitado aos capitais internacionais. No que tange ao papel dos

8 Para maiores informações das diferentes formas contratuais, ver Bulow e Rogoff (1989). 9 Os autores analisam a relação de renegociação da dívida entre credores e devedores a partir do estabelecimento

de um jogo, levando em conta um modelo de barganha para estabelecer equilíbrios perfeitos de subjogos.

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credores, destacaram que as consequências sofridas por estes, em situações de default, estaria

associada à influência nos resultados econômicos nos setores financeiros e em seus governos.

Após a crise de 2008, diversos países apresentaram uma piora em suas dívidas, dado

que os bancos passaram a exigir maior rentabilidade como condição para a concessão de

crédito, em razão da redução da liquidez incorrida pelo sistema havendo, portanto, a

necessidade de estabelecer diferentes meios para o financiamento de seus deficits fiscais. Tal

fato fez com que países como Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha que, segundo Correa

(2010), têm como agravante a ausência de controles cambiais, acabassem se sujeitando aos

movimentos especulativos que impactam seu crescimento econômico. Assim, como presente

na abordagem de Fernandez e Rosenthal (1988), a relação contratual existente na contratação

de empréstimos entre credores e devedores, quando estabelecida em um cenário de crise

econômica, ou seja, quando a dívida já é contratada com o objetivo de financiar deficits

públicos ou de refinanciar dívidas antigas, tendem a apresentar como resultado ao final da

relação contratual um risco de default.

A impossibilidade de pagamento por parte do devedor que, ao não poder cumprir os

acordos contratuais estabelecidos, e sem condições de contratar um refinanciamento da

dívida, ou outras medidas de negociação, optaria por declarar o não pagamento de suas

obrigações, incorrendo em um default. Default também poderia ser entendido como a

negligência por parte de um agente na relação contratual ao não cumprir suas obrigações

estipuladas na negociação, caracterizando assim o calote (WAHYUDI, 2014). As

consequências sofridas com a inadimplência fariam com que o devedor perdesse a sua

credibilidade no mercado, dificultando a obtenção de créditos futuros em diversas instituições.

Mesmo que considerada situação extrema nas negociações contratuais, o default seria

uma possibilidade em contextos de crise. A América Latina, por exemplo, foi um dos maiores

casos de endividamento que carrega, até hoje as consequências oriundas da crise da dívida.

Salama (2005) destacou que a dívida na América Latina poderia ser analisada em dois

períodos distintos, a saber: nos anos 80, que marcou a dificuldade em financiar os créditos

obtidos por empréstimos externos, a partir de recursos próprios; e, os anos 90, marcados por

severas restrições ao capital externo. As limitações impostas aos países da América Latina,

principalmente após a crise que assolou o México, resultaram na declaração de moratória

daquele país.

Da mesma forma, a Alemanha, hoje uma das principais economias pertencentes à União

Europeia, experimentou um período de grave crise econômica, marcado por hiperinflação e

desemprego no período pós-Primeira Guerra Mundial. Osório (2010) considerou que a

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recuperação alemã foi estimulada através do gasto público e investimento na indústria pesada.

A reinserção da Alemanha na economia mundial, pós-Segunda Guerra Mundial, foi marcada

pela reestruturação de uma democracia, abertura comercial e investimentos de capitais

internacionais. Segundo Osorio (2010, p.12):

[...] Suas altas taxas de crescimento internas estiveram vinculadas a um modelo

pautado fundamentalmente no comércio exterior e estratégia de inserção externa

geopolítica subalternizada à vontade do poder hegemônico...

A crise vivida na Grécia e demais países europeus, não foge das abordagens na análise

da dívida expostas em Simonsen e Werlang (1990), que configuraram dinâmica igualmente

presente na composição da dívida de outros países, assim como o conflito existente na relação

contratual entre credores e devedores, cada um defendendo seus interesses. A partir dessa

dinâmica e relações existentes, associadas aos acontecimentos políticos e sociais que norteiam

as decisões econômicas, busca-se um caminho eficiente para uma possível solução do

problema da dívida que vem devastando economicamente diversos países. Além do risco de

default existente, como resultado para uma relação de dívida, há uma proposta de ação

favorável aos devedores com base em uma negociação com os credores, o chamado perdão da

dívida ou a reestruturação desta.

O perdão da dívida se dá quando o credor, devido à impossibilidade de pagamento do

devedor, resolve aliviar a dívida para que o agente devedor possa retomar seu equilíbrio

econômico de forma eficiente. Geralmente, o perdão da dívida se daria quando o credor tem

interesses em manter relações contratuais com o devedor, ou, quando o agente devedor exerce

influência sobre a situação econômica do credor, podendo ser parte de seu sistema econômico,

como a Grécia e seus credores, ambos pertencentes à União Europeia. Bresser (2010) defende

a ideia de uma reestruturação da dívida em que, não haverá o calote, tampouco o perdão da

dívida, o que o autor considera como medida favorável, tanto para o devedor quanto para o

credor, em períodos de crises da dívida é para que estas passem por um processo de

reestruturação. A reestruturação da dívida é quando esta é amenizada por parte do credor, que

estabelece um contrato mais fácil de ser cumprido, dadas as condições econômicas do agente

devedor, podendo caracterizar-se pela negociação quanto ao aumento dos prazos ou redução

aos juros estabelecidos no contrato (BRESSER, 2010).

As negociações existentes em uma relação contratual se baseiam a partir dos objetivos e

princípios adotados pelos agentes que dela fazem parte, assim como toda relação envolvendo

diferentes indivíduos. O que se deve notar é que, tais relações irão variar a partir do cenário

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econômico com o qual os agentes se encontram, assim como os propósitos que pretendem

alcançar e as limitações que estão submetidos (FERNANDEZ; ROSENTHAL, 1988). Em

uma relação de dívida pública, marcada por empréstimos para promoção de financiamentos

do deficit fiscal, como na crise vivida por países na zona do euro, é comum a relação de

dependência aos empréstimos obtidos com os credores, para que se possa garantir o

funcionamento da economia, ou como em alguns casos, para o refinanciamento de dívidas

antigas.

Como consequência a tomada de empréstimos acompanhados da inadimplência ou, pelo

simples objetivo de garantir a reestruturação econômica, são estipuladas cláusulas ou

exigências por parte dos credores, como restrições econômicas ou medidas de austeridade

fiscal, como no caso de alguns países com dívida pública. A Figura 1 representa um diagrama

resumido da relação existente entre credores e devedores, no qual leva-se em conta os

objetivos de cada agente, as condições impostas e os possíveis resultados considerando uma

situação extrema de dívida.

Figura 1 - Diagrama de uma relação contratual.

Empréstimos

Credores Devedores

Objetivos: Condições impostas:

Objetivos:

- Lucro;

- Aumento da influência no

mercado;

- Interesses políticos na relação

com o devedor.

- Juros;

- Amortizações;

- Renegociações;

-Medidas de austeridade.

- Financiamento do déficit

público;

- Promover o desenvolvimento;

- Renegociação de dívida

anterior.

Possibilidades de resultados:

Default Renegociação da dívida Perdão da dívida

Não cumprimento de cláusulas

contratuais (calote).

Um novo empréstimo é tomado

para saldar a dívida além da

garantia de estabelecimento de

novos prazos.

Os credores perdoam a dívida

dado que o devedor não tem

condições de honrá-la.

Fonte: Elaboração própria.

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2.2 O caso da Grécia

2.2.1 Trajetória da economia grega

A trajetória econômica da Grécia, no período que antecede os anos 1970, foi marcada

pela influência de acontecimentos que definiram o desempenho das políticas

macroeconômicas adotadas na época. Além dos efeitos da crise de 1929, na qual o governo

grego precisou mudar sua estratégia econômica, voltando-se para o mercado interno como

uma forma de se recuperar da grande falência, houve conflitos com impactos significativos na

economia do país, tais como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Civil10 que se estendeu até

1949. A ditadura militar, 1967 até 1974, marcou as restrições na liberdade civil e política.

Alogoskoufis (2012) afirma que o crescimento econômico nos anos anteriores a 1974, foi de

7% ao ano, dois pontos percentuais acima da taxa da OCDE – Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Econômico11.

Para Alogoskoufis (1995) o período pós-guerra vivido pela Grécia é caracterizado por

dois regimes institucionais distintos no qual, tendo o país antes de 1974, um Estado com

postura autocrática, tanto político como economicamente, detentor do controle financeiro que

era restrito pelo determinado pelas instituições de Bretton Woods, e após 1974, com o sistema

político grego liberalizado. Em Alogoskoufis (1995), com o fim da ditadura militar, houve um

crescimento no poder dos sindicatos, além de uma maior equidade em relação aos agentes

econômicos e um crescimento do papel do Estado na economia, havendo tributação para as

grandes empresas.

Com a democracia restaurada e um Estado mais atuante, o sistema político da Grécia

passou por uma polarização, tendo como principais candidatos ao poder os partidos da Nova

Democracia (ND) e o Movimento Socialista Pan-helênico (PASOK) (ALOGOSKOUFIS,

2012). Houve, segundo Alogoskoufis (1995), uma mudança no ambiente institucional da

política econômica, tendo impulso para que Andreas Papandreou e seu partido socialista

(PASOK) tivessem força ao final de 1977.

10 Conflito que teve início em 1946 entre o governo monárquico grego, com apoio do Reino Unido e EUA,

contra o Partido Comunista da Grécia, ver Alogoskoufis (1995). 11 Organização internacional com o objetivo de ajudar os governos com questões econômicas e sociais, assim

como resolver problemas comuns de políticas domésticas e internacionais.

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O desempenho econômico da Grécia, no final dos anos 1970 até meados de 1990, não

foi considerado satisfatório devido, principalmente, aos efeitos oriundos do Segundo Choque

do Petróleo, no qual a queda da produção iraniana elevou o preço do barril de petróleo

chegando a US$ 80, equivalente ao valor da moeda para o ano de 2001 (PAPADEMOS,

2001). Papademos (2001) destaca que entre 1979 e 1993, a inflação média da Grécia chegou a

18,9%, valor bem acima da média observada nos demais países da União Europeia. Além

disso, houve uma queda no crescimento, de 7,2% em 1978 para 0,7% em 1980, desemprego

dobrou, de 1,9% em 1978 para 4% em 1981, além de um crescimento do deficit público e o

dracma que já era considerado fraco no mercado teve uma desvalorização de 83% de seu

valor (ALOGOSKOUFIS, 2012). Para Alogoskoufis (1995), os programas oriundos da nova

polarização política ajudaram no aumento do deficit público, levando o governo a recorrer a

empréstimos, devido, principalmente, ao aumento nos gastos com infraestrutura e custos no

trabalho.

A entrada da Grécia para a União Europeia, em 1981, representou uma mudança no

cenário político e econômico do país, pois, ao mesmo tempo em que integrava o bloco, o

partido socialista assumiu o governo grego sob o comando do então primeiro ministro

Andréas Papandréu, porém, conforme Alogoskoufis (2012), a economia encontrava-se em um

período de estagflação e uma acumulação da dívida pública que marcou os anos 80 como um

período de recessão econômica. A década do populismo, iniciada em 1981, segundo

Alogoskoufis (2012), foi um período marcado pelas políticas adotadas pelo governo recém-

eleito do partido PASOK, onde o deficit fiscal aumentou de 2,6% do PIB em 1980 para 9%

em 1981, além do aumento no desemprego. Segundo o autor: “This decade of macroeconomic

populism bequeathed Greece with two of the most significant problems that have since

burdened its economy: high public debt and low international

competitiveness12”(ALOGOSKOUFIS, 2012, p.17).

Aos anos 1990 atribui-se um período de ajuste fiscal e reformas estruturais, com o

crescimento econômico sendo recuperado de forma gradual, inflação controlada e dívida

pública estabilizada, consequências do interesse da Grécia em cumprir as medidas exigidas

12 “Esta década do populismo macroeconômico deixou a Grécia com dois dos mais significativos problemas que

desde então têm sobrecarregado sua economia: dívida pública elevada e a baixa competitividade internacional”

(tradução nossa).

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pelo Tratado de Maastricht13 e integrar a zona do euro (ALOGOSKOUFIS, 2012). Com

Kostas Simits no papel de primeiro ministro na época, a Grécia passou a manifestar seu

interesse por fazer parte da união monetária. O então primeiro ministro tinha por objetivo

garantir a estabilidade da economia grega, gerando resultados positivos que levassem a

entrada do país no sistema de moeda única.

O projeto de estabilização econômica da Grécia contou com ações estabelecidas de

forma estratégica, Papademos (2001) destaca o papel do Banco da Grécia com políticas

macroeconômicas que contribuíram para o processo de desinflação, além da estabilização das

taxas de câmbio para garantir os critérios de aceitação determinados no Tratado de

Maastricht. Conforme Papademos (2001), no primeiro semestre de 2000 com a avaliação da

entrada da Grécia para a zona do euro, a inflação caiu em torno de 2%, assim como o deficit

que teve uma queda para 1,6% do PIB ao final de 1999. Papademos (2001) destaca que o

momento de estabilização da Grécia foi garantido através de um projeto que contou com

melhorias nas expectativas e confiança do consumidor, levando a maiores investimentos que

garantiram o crescimento econômico. A entrada para a zona do euro representava para a

Grécia, segundo Papademos (2001), a eliminação da barreira comercial que impedia o

desenvolvimento da região, além da existência de um sistema bancário regulado, o que

possibilitaria uma melhor distribuição de renda.

Em janeiro de 2001 a Grécia passa a fazer parte da União Econômica e Monetária da

Europa, adotando o euro como sua moeda corrente, após cumprir os critérios de estabilidade

exigidos pelo Tratado de Maastricht. Para Papademos (2001) a adoção de uma nova moeda

representou uma evolução econômica, com perspectivas de estabilidade nos preços e

incentivos ao mercado. Papademos (2001) destaca que, além da prosperidade econômica, que

caracterizava a expectativa favorável da população, a adoção do sistema de moeda única

levaria a mudanças políticas no país. Após a entrada na zona do euro, o Banco da Grécia

perde sua autonomia, pois esta passa a integrar um sistema de política monetária único,

comandadas pelo BCE, onde segundo Papademos (2001) a taxa de câmbio passa a ser

ajustada de acordo com a nova moeda, o euro, além de uma desregulamentação do mercado e

uma queda na intervenção estatal, onde o papel do Estado passa a ser garantir a melhoria na

13 “Os países-membros da nascente união monetária comprometiam-se com o ‘Pacto de Crescimento e

Estabilização’, que estipulava limites para o déficit público em -3% do Produto Interno Bruto (PIB) e da dívida

pública/PIB em 60%” (BEM, JUBRAN, 2016, p.28).

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infraestrutura econômica, em busca da promoção do desenvolvimento empresarial e

investimentos estrangeiros.

As expectativas em relação à entrada da Grécia na zona do euro eram tão positivas que

fez com que os indicadores econômicos apresentassem resultados favoráveis, havendo um

aumento considerável nas ações da bolsa de valores e os créditos eram facilitados nos bancos

(ALOGOSKOUFIS, 2012). A consequência gerada por este momento otimista resultou em

bolhas no sistema bancário, aumentando a inflação, o que levou o governo a adotar medidas

de austeridade econômica. Para Alogoskoufis (2012), o período em que a Grécia passou a

integrar a zona do euro, entre 2000 e 2008, fora conhecido como os anos de ouro, pois o país

contava com uma economia com resultados favoráveis, porém com um sistema fiscal não tão

eficiente.

Após um período de ajuste econômico, tendo o deficit do governo reduzido de 7,5% do

PIB em 2004 para 3,6% em 2006, os anos que se sucederam foram de deterioração econômica

para a Grécia (ALOGOSKOUFIS, 2012). Em 2008 a economia mundial sofrera as

consequências de uma crise econômica, tendo inicialmente um impacto real na economia dos

Estados Unidos da América (EUA), através do mercado imobiliário, havendo o colapso do

Lehman Brothers14, logo chegou aos países da União Europeia, afetando todos os setores da

economia. Para Alogoskoufis (2012), as consequências geradas pelo colapso da crise dos

EUA afetaram a dinâmica do mercado, tornando os agentes avessos ao risco, queda nos ativos

voluntários e ameaças a estabilidade do setor bancário. Os efeitos da crise de 2008 foram

percebidos pela Comissão Europeia, no qual, o crescimento dos países da zona do euro

apresentou uma queda, no período inicial de 1,7 em 2008 para 1,5 em 2009, dos 2,6 em 2007,

levando os países a uma recessão em 2009, com agravamento das finanças públicas

(ALOGOSKOUFIS, 2012). Além disso, em Alogoskoufis (2012) consta que, a dívida pública

aumentou significativamente nos países da zona do euro, passando de 66,2% do PIB em 2007,

para uma projeção de 88,5% do PIB em 2012. Com os efeitos da recessão de 2009 a situação

fiscal piorou, estendendo seus efeitos na economia da Grécia nos anos seguintes.

Os anos que se seguiram desenharam o colapso econômico o qual a Grécia se encontra,

sendo marcado por recessão econômica e uma dívida sem precedentes. Com o novo governo

sob comando de George Papandreou, filho de Andreas, em 2010, a Grécia já não tinha

14 Símbolo da crise de 2008, a quebra do quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos - Lehman

Brothers, por ter perdas bilionárias nos anos da crise.

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credibilidade para atuar no mercado financeiro, onde o plano do governo não conseguiu

convencer o mercado ou seus aliados. Sem apoio para a execução dos planos de governo e

com uma dívida crescendo cada vez mais, líderes da União Europeia se reuniam para

determinar um plano de ação que pudesse vir a proteger a Grécia e garantir ajuda para que

esta saia da dificuldade financeira no qual se encontrara. Mais tarde em 2010, a Grécia

enfrentaria dificuldades em refinanciar suas dívidas, tendo que recorrer a pacotes de ajuda

através de seus parceiros da União Europeia associados ao FMI. Com a ajuda do Mecanismo

de Suporte Europeu15, criado em maio de 2010, a Grécia passou a ser excluída do mercado

financeiro internacional (ALOGOSKOUFIS, 2012).

Com a situação de crise econômica persistente, foram criados programas de auxílio

financeiro, no qual países da União Europeia prestavam assistência através da Comissão

Europeia e BCE, juntamente com auxílios financeiros garantidos pelo FMI, membros que

compõe a chamada Troika. Alogoskoufis (2012) destaca que, ao mesmo tempo foi criada a

European Financial Stability Facility (EFSF) que era um sistema que promovia instrumentos

de mercado com o objetivo de auxiliar os países com dificuldades financeiras a aumentarem

seus fundos e rendimentos através da obtenção de títulos e empréstimos para países membros

da zona do euro.

Os pacotes de ajuda recebidos pela Grécia através dos membros da Troika estavam

associados, segundo Grigoriadis (2013), ao comprometimento em manter cortes fiscais e uma

reforma econômica. Os objetivos de controle econômico não foram atingidos, tendo o

governo a necessidade de estabelecer novos acordos e obter outros pacotes de resgate,

acompanhados de medidas de austeridade fiscal. Em 2011, o então Primeiro Ministro George

Papandreou propôs um referendo, que segundo Grigoriadis (2013), tinha por objetivo uma

consulta em relação ao último pacote de resgate e suas exigências, o que gerou revolta por

parte de membros da zona do euro, sendo proposto que Lucas Papademos assumisse o cargo

de Primeiro Ministro. A tensão política e econômica, que marcava o período por incertezas

em relação a permanência da Grécia na zona do euro, levou a novas eleições parlamentares

em 2012. A respeito do período, Grigoriadis (2013) aponta: “Seria errado reduzir a crise grega

às suas dimensões econômicas. O que a crise econômica expôs não foi só o desregramento

fiscal de consecutivos governos gregos, mas o fracasso de um modelo sociopolítico que está

presente na Grécia desde o início dos anos 1980” (GRIGORIADIS, 2013, p.74).

15 Organização criada, a partir das consequências da crise de 2008, com o objetivo de garantir suporte as

economias europeias nos momentos de dificuldade para promover estabilidade financeira.

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As medidas de austeridade que se seguiram ao período de crise, consequências das

exigências de equilíbrio econômico estabelecidas nos pacotes de resgate, oriundos

principalmente de negociações com a Troika, levaram a transtornos sociais devido a cortes

nos salários do setor público e pensões. Grigoriadis (2013) destaca que, enquanto a economia

encontrava-se em um período de intensa recessão e desemprego, as revoltas sociais se faziam

cada vez mais presentes, levando a um extremismo político, segundo o autor. Com uma

posição contrária as medidas adotadas pelo governo de austeridade e reforma estrutural, o

partido de Coalizão da Esquerda Radical (SYRIZA) teve um aumento em sua popularidade

conforme Grigoriadis (2013). Ainda assim, as eleições de 2012 levaram a Nova Democracia

ao poder, que formou um governo de coalizão, com Antonis Samaras no poder, sob o apoio

do PASOK e DIMAR (Dimokratiki Aristera) (GRIGORIADIS, 2013).

Sobre o governo de Antonis Samaras, Grigoriadis (2013) coloca que, o governo pode

ser avaliado sob dois lados, no qual, por um lado, há o descontentamento popular com as

medidas de austeridade fiscal presentes e cortes de salários, porém tais cortes representaram

uma melhoria nas finanças públicas. Assim, o período de recessão representou um

crescimento do desemprego, pois, apesar das melhorias nas finanças públicas, o setor privado

encontrava-se em situação precária. No contexto de crise econômica, em 2013, o líder do

partido SYRIZA16, Alexis Tsipras, com um partido mais moderado, tendo por foco em seu

plano de governo a recuperação de valores sociais ganha notoriedade e apoio da população

grega, assumindo o cargo de Primeiro Ministro no início de 2015, com as novas eleições após

a renúncia de Antonis Samaras.

Alexis Tsipras tinha por principal plano de governo por fim as medidas de austeridade,

garantir a melhoria das questões fiscais, com a diminuição do desemprego, redução do déficit

público e uma manutenção do equilíbrio econômico (HARARI, 2015). Além disso, Harari

(2015) aponta que, em seu discurso político, Tsipras se comprometia a romper as negociações

com a Troika, além de renegociar os termos de acordos anteriores e propor um alívio da

dívida, para garantir a permanência da Grécia na zona do euro. Porém, o que se viu em seu

governo, até 2015, é uma quebra parcial com o plano de governo e ideias moldados pelo

SYRIZA, no qual o Primeiro Ministro tem feito acordo com os credores para garantir

melhorias na crise econômica, onde, apesar de relutantes, tem aceitado algumas imposições

em prol do financiamento (HARARI, 2015). Conforme Harari (2015), em junho de 2015,

com o fim do prazo de pagamento do último de seus programas de resgate, os credores

16 Coalizão de Esquerda Radical (SYRIZA), formado a partir da aliança de partidos de esquerda radical, contra

as medidas de austeridade impostas pelos credores ao governo grego através das negociações.

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28

propuseram um acordo que, além de estender o prazo do programa de resgate para cinco

meses, garantiriam um financiamento de 15,5 bilhões de euros, em troca, propunham um

plano de reforma econômica e ajustes ao governo da Grécia. Assim, o Primeiro Ministro

Alexis Tsipras anunciou a realização de um referendo na Grécia, em julho de 2015, no qual a

população votaria a respeito do aceite ou não das medidas de austeridade e reformas

econômicas impostas com os pacotes de negociação.

Com o resultado do ‘não’ para o referendo, com 61,31% dos votos, o que se seguiu

foram intensas propostas e contrapropostas em busca do estabelecimento de um acordo em

2015. Harari (2015) comenta que, após a recusa em aceitar as medidas de austeridade

impostas na concessão de empréstimos, os credores recusaram a oferta feita pelo governo

grego em adiar o prazo para cumprimento de pagamento aos empréstimos, tendo assim um

empecilho nas negociações. Logo após o referendo, no dia 6 de julho, o Ministro das Finanças

da Grécia Yanis Varoufakis renunciou ao cargo, aumentando a tensão nas negociações. Sendo

substituído por Euclid Tsakalotos, logo percebeu-se na Grécia a necessidade em se estabelecer

um terceiro programa de resgate, dada a dificuldade nos financiamentos, além do

agravamento nas condições no sistema bancário, agora totalmente dependente do Banco

Central Europeu, tendo forte controle de capital e agências fechadas (HARARI, 2015).

As dificuldades em negociações para garantir financiamentos fizeram com que, segundo

Harari (2015), na semana seguinte ao referendo, o governo grego recorresse ao Mecanismo

Europeu de Estabilidade em busca de empréstimos, propondo reformas econômicas em troca,

sendo este o terceiro grande pacote de ajuda da Grécia.

Apesar da mudança de governo, a crise econômica e o acúmulo da dívida continuaram

por caracterizar os indicadores da Grécia. Tsipras com o intuito de recuperar os resultados

favoráveis da economia grega, assina novos pacotes de resgate com os credores com o qual

estabelecem novas medidas de austeridade. As medidas restritivas adotadas pelo governo

refletem no descontentamento popular, levando a população grega às ruas para protestar

contra as medidas de políticas fiscais adotadas.

Mesmo que com o descontentamento popular, o governo grego comandado por Alexis

Tsipras, manteve os acordos com os credores, aceitando algumas medidas restritivas impostas

para a obtenção de ajuda financeira. Tsipras pretende através dos pacotes de ajuda equilibrar

os indicadores econômicos, garantindo uma redução na dívida pública e melhores condições

de suas políticas fiscais. Para tanto, os pagamentos e exigências acordados nos pacotes de

negociações que vem sendo assinados desde início de 2010 com seus credores tem exigido

medidas econômicas cada vez mais precisas do governo grego, além da pressão da sociedade

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29

que, descontente com a situação econômica, se vê com seus direitos cada vez mais

suprimidos.

2.2.2 A crise grega em números

O desenvolvimento econômico da Grécia revelou que, uma série de medidas

macroeconômicas mal elaboradas, associadas a períodos de transformações em sua estrutura

política e econômica, levaram ao que, no início de 2010, seria considerada uma das maiores

crises econômicas na zona do euro. Segundo Harari (2015), ao período que se seguiu, a partir

de 2010 com o primeiro pacote de ajuda, fora marcado por medidas austeras adotadas pelo

governo que levaram a uma recessão econômica e descontentamento da população. A Tabela

1 mostra uma projeção do cenário macroeconômico vivido pela Grécia nos últimos anos,

através dela é possível notar a variação nos principais indicadores que representam a

economia em seu período de recessão e dívida constante.

Tabela 1 - Cenário macroeconômico da Grécia de 2010 a 2015.

2010

2011

2012

2013

2014

2015

PIB – preços correntes (milhões de

euros).

226 031,4

207 029

191 204

180 389

177 559,4

176 022,7

Dívida do governo geral (milhões de

euros)

265 482

255 457

121 691

82 398,5

72 696,25

65 301

Superávit do governo (milhões de

euros)

-25,333

-21,205

-16,870

-23,503

-6,476

-12,757

Superávit do governo (% do PIB)

-11,2

-10,2

-8,8

-13,0

-3,6

-7,2

Emprego (20 a 64 anos)*

63,8

59,6

55,0

52,9

53,3

54,9

Taxa de desemprego**

12,7

17,9

24,5

27,5

26,5

24,9

Produtividade de trabalho por pessoa

(2010=100)

100

97,6

96,6

97

97,5

95,4

*Percentual do total da população;

**Percentual do total da população ativa;

Fonte: Dados Eurostat, elaboração própria.

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30

Os indicadores do PIB apresentaram uma queda, sendo o ano de 2013 marcado por uma

taxa de crescimento negativa com uma contração de aproximadamente 3,9% (Comissão

Europeia, 2014). Os dados apresentados na Tabela 1 que contemplam o período de 2010 a

2015 tornam evidentes os decréscimos do produto do país no período de crise. Queda essa

também ilustrada na Figura 2, em que o PIB da Grécia chegou a uma redução de 27%,

mantendo contrações constantes até 2014, quando apresenta alguns sinais de estabilidade

(HARARI, 2015). Conforme Harari (2015), as medidas de austeridade impostas pelos

credores no estabelecimento de acordos em 2015 fizeram com que a economia continuasse

operando com contração de seu produto, no qual um corte nos gastos do governo

acompanhado do aumento nos impostos seria o meio adotado na busca do equilíbrio

econômico.

Figura 2 – Projeções do PIB (dados trimestrais) e desemprego (dados mensais) para a Grécia,

Zona do Euro e Reino Unido no período de 2007 a 2015.

Fonte: Harari, 2015.

A Figura 2 mostra o comportamento do PIB para o período de 2007 a 2015, sendo

2007=100, através de uma análise comparativa entre o desempenho do produto presente na

Grécia, nos países da zona do euro como um todo e no Reino Unido. A figura revela uma

queda significativa do PIB grego a partir de 2010, enquanto que, os países da zona do euro se

mantiveram na média. Da mesma forma, o comportamento em relação ao desemprego na

Grécia, que, quando em comparação aos demais países se manteve superior, com taxas acima

dos 25% em 2013. O período de recessão gerou impactos diretos nos indicadores sociais,

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31

segundo Harari (2015), a taxa de desemprego teve um crescimento de 8% em 2008 para

aproximadamente 28% em 2013, passando a 23% mais tarde, em 2015.

A taxa de desemprego na camada da população mais jovem foi de 60% em 2013, e 53%

em 2015, conforme ilustra a Figura 3. Além disso, a taxa de desemprego entre os jovens

existente na Grécia é superior quando comparada a estimativas dos indicadores referentes a

zona do euro como um todo e as existentes na Alemanha, que permanecem baixas ao longo do

período. Da mesma forma que o aumento no desemprego, a crise econômica foi marcada por

uma queda nos salários e aumento na pobreza, que gera como consequência, menos

contribuições para o fundo de pensões que já vem sofrendo cortes a partir das medias de

austeridade. Segundo dados do governo (Comissão Europeia, 2014), aproximadamente 45%

dos pensionistas receberam pagamentos abaixo de 665 euros, o que contribui para que a

maioria da população chegue ao estado de pobreza. Além disso, outro agravante à qualidade

de vida da população está associado ao corte nos gastos referentes à saúde (OZTURK e

SOZDEMIR, 2014).

Figura 3 - Taxa de desemprego do total da população ativa de até 25 anos para a Grécia, Zona

do Euro e Alemanha.

Fonte: Dados: Eurostat, elaboração própria.

Orturk e Sozdemir (2014) ressaltam que a partir de 2000, principalmente após a crise de

2008, a dívida da Grécia ultrapassou os 160%, indo muito além do estabelecido no critério de

Maastricht (60%), além de uma perda da competitividade existente no país. O crescimento

dos valores da dívida a partir dos impactos da crise de 2008 é ilustrado na Tabela 1

(anteriormente exposta) em bilhões de euros, apresentando os maiores valores nos primeiros

0

10

20

30

40

50

60

70

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

Grécia Zona do Euro Alemanha

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32

anos logo após o período de crise, assim como seus indicadores de deficit público chegando a

13% do PIB em 2013. A dívida da Grécia representa cerca de 175% da produção total de sua

economia, com grande parte oriunda de órgão oficiais, como a Troika e demais países

membros da zona do euro, tendo os credores do setor privado em torno de 100 bilhões de

euros em títulos da dívida em 2012 (HARARI, 2015).

Figura 4 - Dinâmica da dívida na Grécia em milhões de euros de 2000 a 2015.

Orturk e Sozdemir (2014) associam o problema com os contribuintes como um dos

grandes causadores do aumento do deficit na Grécia, fazendo com que os deficits fiscais em

relação ao PIB estivessem acima da média europeia desde a entrada do país na zona do euro.

Ainda, Orturk e Sozdemir (2014) destacam o crescimento da taxa de empréstimo com dívida

externa presente no país, de 4,1% do PIB na década de 1990 para 10,2% em 2000, utilizada

em grande parte em importações para abastecer o consumo. Ainda conforme os autores,

quando se analisa a estrutura da dívida pública grega, nota-se que grande parte é composta

pela dívida externa que gera impactos negativos ao setor bancário, agravando a situação

econômica da Grécia, dado que houve rebaixamento nos ratings17 de créditos, desestimulando

os investidores e fazendo com que o país perdesse sua credibilidade no mercado.

Com o aumento no índice de preços e uma dívida crescente, a Grécia que em 2010 era

considerada 83° no Índice de Competitividade Global, passou a 96° em 2013, fator que é visto

17 Também chamado classificação de risco, representa o mecanismo de classificação da qualidade de crédito do

país ou empresa.

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

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33

com a queda no desempenho das exportações quando comparado com demais países da União

Europeia (Comissão Europeia, 2014). A Tabela 2 mostra o desenvolvimento das exportações

e importações da Grécia, Portugal e Alemanha - também membros da zona do euro, no

período pós-crise de 2008, no qual pode-se observar o comportamento da balança comercial

dos países nos últimos anos. Para Orturk e Sozdemir (2014), a Grécia importa mais do que

exporta, segundo os autores, em 2001 o saldo em conta corrente do país foi de cerca de -29,3

bilhões de dólares, ou -9,8% do PIB, enquanto que na Irlanda a taxa apresentada foi de 1,1%,

-3,2% na Itália e -6,4% em Portugal.

Tabela 2 - Dinâmica das exportações, em milhões de euros, para Grécia, Portugal e Alemanha

de 2010 a 2015.

Exportações

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Grécia 49 957,9 52 865,7 54 844,9 55 178,6 58 038,1 53 009,2

Portugal 53 750,9 60 409,9 63 503,8 67 283,9 69 360,3 72 812,4

Alemanha 1 090 085,0 1 211 489,0 1 268 318,0 1 284 744,0 1 334 833,0 1 418 789,0

Importações

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Grécia 69 452,4 66 889,4 63 353,1 60 235,7 62 578,6 53 309,1

Portugal 67 350,6 67 951,9 64 359,0 65 572,7 69 033,2 71 502,7

Alemanha 955 982,0 1 079 344,0 1 100 331,0 1 116 353,0 1 144 106,0 1 189 250

Fonte: Dados Eurostat, elaboração própria.

Os dados apresentados ilustram uma pequena parte da instabilidade econômica vivida

pela Grécia nos últimos anos e que caracteriza o ambiente em que seu governo estabelece sua

tomada de decisão. A inadequação das políticas macroeconômicas que resultaram em uma

dívida que contempla aproximadamente 177% do PIB, acompanhadas de pacotes de resgate

caracterizados por exigências de medidas austeras e que, segundo vários autores inclusive

Diniz e Jayme Jr (2012), foram responsáveis pela perda na qualidade de vida. A queda nos

indicadores sociais, com desemprego de aproximadamente 25,6%, além da queda nos gastos

de pensões, tem colocado pressões para que o governo grego adote postura contrária as

exigências dos credores que, por outro lado, só concedem ajuda a partir de financiamentos se

o governo grego cumprir as medidas impostas.

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2.2.3 Troika e os pacotes de resgate

Com o período de crise econômica vivida pelos países pertencentes a zona do euro,

instituições europeias e estados membros estabeleceram seus planos políticos para atender a

chamada “gestão da crise” visando a recuperação e o controle econômico dos países

(SOARES, 2015). Os programas de ações, que garantem assistência através de

financiamentos na Europa, são, no geral, impulsionados pelo Mecanismo Europeu de

Estabilidade (MEE)18 em conjunto com três principais instituições19, sendo Comissão

Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacional – FMI, onde cada qual com sua estrutura e

princípios, formam o que é conhecido como grupo responsável pela execução de programas

financeiros com o apoio dos credores internacionais, denominado Troika20 (BCE, 2012).

Dentre as funções que competem à Troika estão a assistência através de empréstimos para se

chegar a reforma econômica e garantir, através desta, a estabilidade das finanças públicas, a

retomada da competitividade e um crescimento sustentável, além disso, compete à Troika, a

avaliação periódica do cumprimento das condições acordadas com os credores internacionais

(BCE, 2012).

A Comissão Europeia21, órgão executivo da União Europeia com sede em Bruxelas

(BE), criada com o propósito de ser uma instituição independente com o objetivo de defender

o interesse geral da União. Em seu objetivo de criação, sem prezar por alguns estados

membros em particular, é considerada aliada de empresas de países economicamente mais

fracos, visando promover o desenvolvimento das atividades econômicas por todo o bloco

(SOARES, 2015). Conforme Soares (2015), a Comissão Europeia fora criada em

conformidade com o estabelecido pelos tratados da União Europeia, regulamentos formais

que delimitavam as funções e regras de funcionamento do bloco. Em Soares (2015), dentre as

cláusulas estipuladas pelos tratados de formação da UE, estavam a impossibilidade de

18 Em inglês European Stability Mechanism, é um programa criado, a partir de 2012, com o objetivo de

recuperar as economias do euro da instabilidade econômica. 19 Além das instituições que compõe a Troika, os países da Europa contam com fundos de auxilio, para garantia

do desenvolvimento econômico e social. Dentre eles: Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER),

Fundo Social Europeu (FSE), Fundo de Coesão (FC), Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural

(FEADER) e Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP). 20 O grupo formado pelas três principais instituições da Europa surgiu em 2010 a partir de iniciativa dos países

membros da Europa devido ao período de crise econômica, especialmente na Grécia. A possibilidade de

implementação da Troika, se deu por uma lacuna existente no Tratado de Maastricht que impedia auxílio a

países membros da zona do euro com dificuldades a partir de instituições interessadas pertencentes a união

monetária, como no caso do BCE e CE. Ver em: Soares, 2015. 21 Instituição responsável pela parte burocrática da União Europeia, dotada de conhecimento técnico e um dos

responsáveis pelo cumprimento do estabelecido pelos tratados de formação da EU, dentre eles Tratado de Roma.

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instituições que compunham o bloco atuarem em favorecimento de um estado membro em

especial, devendo assim, atuar em prol do bloco como um todo.

Quando se torna parte do quadro de assistência financeira como membro da Troika, a

Comissão Europeia passa a atuar em nome dos credores, ou seja, dos estados membros

responsáveis pela concessão de crédito para os países membros com dificuldades econômicas

(SOARES, 2015). Porém, ao promover a relação de financiamento entre países credores,

nações com poderio econômico como no caso da Alemanha, com países devedores, como no

caso da Grécia, a Comissão Europeia se desliga de sua característica política soberana e

independente estipulada nos tratados que configuram o processo de criação da União

Europeia. Além disso, dentro do âmbito da Troika, a Comissão Europeia é tida como

responsável pela análise técnica das possibilidades de obtenção ou não de assistência

financeira por parte dos países.

Soares (2015) explica que, o processo de criação da Troika, e consequentemente o papel

chave nas negociações financeiras por parte da Comissão Europeia, ainda que fora do

estipulado pelos tratados da UE, fora tida como uma reação dado o período de turbulência

econômica vivida nos países da zona do euro, tal reação dos estados membros da união

monetária em vista a uma crise internacional, temendo uma possível desvalorização do euro,

sua moeda corrente.

O Banco Central Europeu é a principal instituição financeira da União Europeia, com

sede em Frankfurt, na Alemanha, é responsável pela política monetária do bloco, com

princípios que se baseiam principalmente no controle de preços, utilizando da manipulação da

taxa de juros e câmbio para o alcance deste. Diniz e Jayme Jr (2010) destacam a postura

conservadora adotada pelo BCE, no qual volta suas estratégias macroeconômicas para sua

meta central de controle da inflação, sem dar espaço para medidas de desenvolvimento

econômico, como combate ao desemprego.

Na Troika, o papel do BCE consiste em colaborar com a Comissão Europeia, como

órgãos membros da UE, avaliando de forma regular, as políticas associadas aos acordos de

assistência financeira para que os Ministros das Finanças dos estados membros decidam a

respeito da concessão ou não do auxílio a partir do cumprimento das exigências (BCE, 2012).

Além disso, o BCE mantém um serviço de controle de contas de desembolso para os

programas de ajustes, tendo além do papel de credor a partir da garantia de empréstimos aos

bancos dos países com instabilidade econômica o papel de supervisor destes. As demais

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questões relacionadas a concessão ou não de assistência financeira assim como as condições

estipuladas por estas, são estabelecidas em conformidade com o estabelecido pelo Conselho

ECOFIN22 sob regulamentos estipulados aos estados membros, no qual tendo em conta o

aumento nos deficits e dívidas públicas, optou-se por cortes nos gastos do governo como

solução para a política fiscal. Para Chopra (2015), o papel desempenhado pelo BCE dentro da

Troika vai além do que lhe foi estabelecido em seu processo de criação, no qual a instituição

não fica restrita a políticas monetárias, atuando também na fiscalização do cumprimento dos

acordos e possibilidade na contratação de novos pacotes de resgate.

Como terceiro membro da Troika, sendo principal fonte de financiamento e assistência

técnica, o FMI com sede em Washington, teve uma maior participação na Europa a partir de

2010 com a crise da dívida que contagiou os países da zona do euro. Trata-se de uma

instituição independente aos países da União Europeia, diferente dos demais membros da

Troika, CE e BCE (FMI, 2016). Dentre as principais funções atribuídas ao FMI no âmbito da

União Europeia, pode-se destacar o processo de acompanhamento econômico e assessoria em

políticas desenvolvida nos países, estabelecendo perspectivas a partir da análise em relação as

dinâmicas financeiras e estabilidade. Tais análises compõem relatórios com a avaliação

quanto ao comportamento da competitividade e estabilidade econômica dos países em

questão, além das políticas fiscais e monetárias adotadas. As perspectivas e resultados na

análise desenvolvida pelo FMI são debatidas com o BCE e a CE, além de demais instituições

regionais relevantes para o desenvolvimento dos países23 (FMI, 2016).

O papel do FMI na Troika, está associado a tomada de decisão quanto aos empréstimos

e estabelecimento de políticas a fim de, junto com o BCE e

CE, garantir a estabilidade econômica e a promoção do desenvolvimento dos países em crise.

De acordo com o boletim divulgado pelo FMI (2016), grande parte dos recursos da instituição

destinados a promoção de financiamentos dos países da Europa provém do pagamento de

quotas oriundas do próprio continente. “Na Europa, o acesso aos recursos do FMI tem sido

obtido nas modalidades de Acordo Stand-by (SBA), Linha de Crédito Flexível (FCL), Linha

22 Conselho dos Assuntos Econômicos e Financeiros que reúne ministros do tesouro dos estados membros da

União Europeia. 23 “As perspectivas, recomendações de políticas e riscos, bem como as repercussões em cada país europeu

avançado e emergente e para o conjunto da área do euro, são avaliadas em um contexto global no World

Economic Outlook, Global Financial Stability Report, Fiscal Monitor e External Sector Report – as mais

importantes publicações semestrais do FMI” (FMI, 2016, p.1).

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37

de Precaução e Liquidez (PLL) e Programa de Financiamento Ampliado (EFF)24” (FMI,

2016, p.2).

Conforme Soares (2015), a assistência financeira concedida aos países membros da

zona do euro foi dada a partir de empréstimos por certo período de tempo, com o objetivo de

recuperar sua participação no mercado financeiro e garantir o reequilíbrio econômico. À

Troika cabia a análise do progresso a partir dos resultados obtidos pelos pacotes de resgate, se

estes se enquadravam com as metas estabelecidas, para então determinar a autorização do

pagamento da parcela destes.

Hence, Troika negotiators were endowed with strong powers to oblige the

implementation of the conditions set out in the initial agreements, insofar as they

could recommend the suspension of the financial loans at any moment, resulting in a

consequent freezing of various public commitments in the country in question25

(SOARES, 2015, p. 113).

Conforme Soares (2015), a avaliação trimestral da Troika aos programas de assistência

financeira era tão rígida que os países se viam obrigados a cumprir as medidas estipuladas nos

acordos iniciais, já que a avaliação do grupo é considerada pré-requisito para a obtenção de

empréstimos futuros. Sendo assim, a Troika representa grande influente na tomada de decisão

dos países membros da União europeia quando na posição de devedores, além de exercer forte

poder de negociação ao decidir se vai liberar ou não o auxílio financeiro.

Para Harari (2015), pode-se considerar que o problema da dívida pública na Grécia foi

agravado, principalmente, no início de 2010 com os impactos da crise de 2008, onde o país

adquiriu o primeiro do que viria a se tornar, uma série de pacotes de ajuda obtidos através dos

principais órgãos de financiamento europeus, a Troika. Os pacotes de resgate26 obtidos em

diferentes momentos são acordados em meio a negociações por parte do governo grego e os

credores, no qual estes impõem cláusulas e medidas para concessão de seus financiamentos.

No geral, as exigências estabelecidas pelos credores se baseiam na adoção de medidas de

austeridade fiscal para que, através da retração nos gastos, o país possa retomar o seu

equilíbrio econômico.

24 Para maiores detalhes quanto as modalidades de financiamentos obtidos através do FMI, consultar FMI

(Boletim Factsheet), 2016. 25 “Assim, os negociadores da Troika foram dotados de fortes poderes para obrigar o cumprimento das condições

estabelecidas nos acordos iniciais, na medida em que poderiam recomendar a suspensão de empréstimos a

qualquer momento, o que resultava no congelamento de obrigações públicas do país em questão” (tradução

nossa). 26 A Tabela 1, no apêndice, exibe um resumo dos pacotes de resgate adotados pela Grécia e suas características.

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38

3 METODOLOGIA

3.1 Jogos de Sinalização

Na definição de Kreps e Sobel (1994), Jogo de Sinalização é um tipo de jogo dinâmico

com informação incompleta em que um jogador estabelece seu conjunto de estratégias a partir

de sinais emitidos por outro jogador em relação as suas ações. Assim, como em outros

modelos presentes em Teoria dos Jogos, a metodologia dos Jogos de Sinalização conta com

uma forma de representar e analisar a tomada de decisão com base na interação estratégica

dos agentes, em que a ação de um influencia na ação do outro, além da influência exercida

pelo ambiente do jogo (COBB e CHOUDHARY, 2009). A modelagem principal referente aos

Jogos de Sinalização fora desenvolvida em 1973 por Michale Spence, no qual o autor utilizou

do modelo para avaliar o papel da educação na determinação das habilidades de um

profissional no mercado de trabalho27 (TADELIS, 2013).

Para Tadelis (2013), o conjunto de ações estabelecido por um jogador é determinado a

partir de inferências que este faz considerando os sinais a partir do comportamento de seu

oponente. O autor revelou que ao operar com informação incompleta no Jogo de Sinalização,

um agente não terá informações a respeito do tipo de jogador que será seu oponente, ou seja, a

postura adotada por esse em sua tomada de decisão, para então estabelecer suas estratégias, a

não ser que seu oponente decida revelar seu tipo como forma estratégica para obter um

melhor resultado no jogo.

Conforme Kreps e Sobel (1994), a estruturação do modelo básico segue a existência de

dois jogadores, sendo um emissor do sinal, E, e outro o recebedor, R. Considerando t os

diferentes tipos que E possa vir a assumir, este sabe da importância em emitir sinais em

relação a seus tipos contidos no conjunto de tipos T. O início do jogo se dá a partir do

movimento da Natureza28 que estabelece o tipo que o jogador E irá assumir, sendo associado

a cada tipo uma probabilidade de ocorrência. Cobb e Choudhary (2009) consideram como

fator determinante da ação quanto ao processo de tomada de decisão dos agentes, o

estabelecimento de crenças ou expectativas representadas por probabilidades em relação a

27 O artigo desenvolvido por Spence é intitulado Job Market Signaling. 28 Considerada elemento do jogo responsável pela determinação de acontecimentos, ações ou características no

qual os demais jogadores não possuem controle e não podem prever, motivo pelo qual a sua ocorrência costuma

ser associada a uma probabilidade. Por exemplo, a ocorrência de fenômenos climáticos.

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ação do seu oponente29. Desta forma, o agente E terá sua ação condicionada a partir da

probabilidade do que acredita ser a escolha de ação do jogador R.

Conforme Tadelis (2013), quando em equilíbrio, os diferentes tipos associados ao

jogador E poderão ser revelados a partir dos sinais emitidos, quando cada tipo estabelecer sua

própria ação. Assim, mesmo que o jogador R não tenha conhecimento a respeito do tipo

assumido por seu oponente, este terá aprendido a identifica-los a partir dos sinais e será capaz

de estabelecer probabilidades em relação as ações. Porém, há situações em que os diferentes

tipos assumidos pelo jogador E estabelecem a mesma ação, desta forma, não é possível que o

jogador identifique, a partir dos sinais, o tipo com o qual opera o seu oponente. Neste caso, as

probabilidades determinadas pelo jogador R são distribuídas às diferentes possibilidades. Tais

situações revelam duas situações possíveis de equilíbrios perfeitos em Jogos de Sinalização:

equilíbrio separador e equilíbrio agrupador.

Conforme consta em Kreps e Sobel (1994), no equilíbrio separador cada tipo de jogador

E assume uma ação, permitindo ao jogador R formular probabilidades precisas e distintas em

relação a estes, que serão condicionantes ao estabelecimento das estratégias do jogador

recebedor dos sinais. Já no equilíbrio agrupado, ou Poolling equilíbrio, quando os dois tipos

possíveis ao jogador E emitem o mesmo sinal, dificultam a precisão no estabelecimento da

probabilidade na jogada de R. Neste caso, o jogador R irá distribuir a probabilidade nas

diferentes possibilidades a partir de suas crenças. O Quadro 1 apresenta de forma resumida a

dinâmica existente nos equilíbrios agrupador e separador presentes em Jogos de Sinalização.

29 Ordoñez (2007) associa ao estabelecimento da probabilidade condicional à regra de Bayes, seguindo a

fórmula, Pr(𝐼|𝑅) =Pr(𝑅|𝐼)Pr(𝐼)

Pr(𝑅|𝐼) Pr(𝐼)+Pr(𝑅|𝐼𝐼)Pr(𝐼𝐼), porém o autor destaca que a regra de Bayes não considera as

probabilidades negativas.

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Quadro 1 - Representação do equilíbrio agrupador e equilíbrio separador.

Equilíbrio Separador

Ações do jogador E Prob. assumida por R Ação do jogador R Verificação do equilíbrio

𝐸: 𝑡1 → 𝑠1

𝐸: 𝑡2 → 𝑠2

𝜋1 = 1

𝜋2 = 0

𝑠1 → 𝑎1

𝑠2 → 𝑎1

Há possibilidade de equilíbrio.

𝐸: 𝑡1 → 𝑠2

𝐸: 𝑡2 → 𝑠1

𝜋1 = 0

𝜋2 = 1

𝑠1 → 𝑎2

𝑠2 → 𝑎2

Há possibilidade de equilíbrio.

Equilíbrio Agrupador ou Poolling

Ações do jogador E Prob. assumida por R Ação do jogador R Verificação do equilíbrio

𝑡1 → 𝑠1

𝑡2 → 𝑠1

𝜋1 =12⁄

𝜋2 = [0,1]

𝑠1 → 𝑎2; 𝑠2 → 𝑎1

𝑠1 → 𝑎2; 𝑠2 → 𝑎2

Há possibilidade de equilíbrio;

Não há equilíbrio quando 𝑡1 → 𝑠2

𝑡1 → 𝑠2

𝑡2 → 𝑠2

𝜋1 = [0,1]

𝜋2 =12⁄

𝑠1 → 𝑎2; 𝑠2 → 𝑎2

𝑠1 → 𝑎1; 𝑠2 → 𝑎2

Não há equilíbrio quando 𝑡2 → 𝑠1

Há possibilidade de equilíbrio.

Fonte: Elaboração própria, com base em Ordoñez (2007).

Sendo 𝑡1 e 𝑡2 os diferentes tipos assumidos pelo jogador E; 𝑠1e 𝑠2 os sinais emitidos

que configuram diferentes ações; 𝜋1e 𝜋2 são as probabilidades assumidas pelo jogador R em

relação aos tipos do jogador E, em que: 𝜋1(𝑡1|𝑠1), considerando 𝑠1 a ação tomada para o tipo

𝑡1, e 𝜋2(𝑡2|𝑠1) com 𝑠1 para o tipo 𝑡2; e, 𝑎1 e 𝑎2 as ações do jogador R com base em suas

crenças em resposta aos sinais emitidos por E.

Com base em Kreps e Sobel (1994) e Kim (2012), em relação a interpretação do

equilíbrio no jogo proposto, tem-se como equilíbrio separador, em que cada tipo assumido

pelo jogador E emita um sinal diferente, permitindo que o jogador R estabeleça sua estratégia

com base em cada tipo. Neste caso, considerando que R recebe um sinal de que E tem um

comportamento compatível com o tipo 𝑡1, ele estabelece probabilidade 1 ao tipo 𝑡1 e zero ao

tipo 𝑡2 para a definição de suas estratégias. Seguindo a regra de probabilidade condicional de

Bayes, a determinação das estratégias de R toma a forma:

𝜋(𝑡1|𝑠1) =𝑃(𝑠1|𝑡1)𝑃(𝑡1)

𝑃(𝑠1|𝑡1)𝑃(𝑡1)+𝑃(𝑠1|𝑡2)𝑃(𝑡2) (1)

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Assim, considerando que: 𝑃(𝑡1) = 1; 𝑃(𝑠1|𝑡1) = 1 que é a probabilidade do tipo 𝑡1

assumir a ação 𝑠1 e 𝑃(𝑠1|𝑡2) = 0 que é a probabilidade do tipo 𝑡2 assumir a ação 𝑠1; as

probabilidades condicionais serão 𝜋(𝑡1|𝑠1) = 1 e 𝜋(𝑡2|𝑠1) = 0.

O procedimento irá se repetir para o caso em que a R considere 𝑠2 como ação do

jogador E e estabeleça suas ações com base nesta como estratégia dominante. Seguindo o

processo de construção das estratégias, o equilíbrio será determinado a partir da confirmação

das crenças estabelecidas pelos jogadores, neste caso a crença do jogador R de que 𝑡1 joga 𝑠1

e 𝑡2 joga 𝑠230.

Para a verificação das estratégias quando a ocorrência de equilíbrio agregador, tem-se

como fator diferencial o fato do jogador E, assumir para os diferentes tipos o mesmo sinal, ou

seja, os sinais recebidos por R não são o suficiente para diferenciar o tipo de seu oponente.

Em resposta, as estratégias inicias estabelecidas por R seguirão a regra de Bayes, divergindo

nos seus resultados, em que: 𝑃(𝑠1|𝑡1) = 1 e 𝑃(𝑠1|𝑡2) = 1; 𝜋(𝑡1|𝑠1) = 𝜋(𝑡2|𝑠1) = 0,5. Neste

caso, não se pode definir a probabilidade de ocorrência de ação para um tipo como 1 ou 0,

tendo a probabilidade de ação predominante distribuída aos dois tipos e a probabilidade de

ocorrência da ação oposta determinada a partir de um parâmetro 𝜆 . Ou seja, 𝜋(𝑡1|𝑠2) = 𝜆 ∈

[0,1].

As funções de utilidade esperadas pelo jogador R tomarão a mesma forma do modelo

separador, considerando a existência do parâmetro 𝜆 como distribuidor da probabilidade

quando considerada a ação 𝑠2. Em equilíbrio, considera-se que 𝜋(𝑡1|𝑠2) = 𝜆, para 0 ≤ 𝜆 ≤

0,5, dado que 𝜋(𝑡1|𝑠1) = 0,5. A diferença da dinâmica estabelecida no equilíbrio agregador

mostra que, a distribuição variante da probabilidade de ocorrência das ações no

estabelecimento das crenças do jogador R, faz com que aumente a possibilidade deste variar

suas ações, o que impacta na determinação das crenças estabelecidas por E quanto as ações de

seu oponente (KIM, 2012).

A respeito do equilíbrio agregador ou Poolling equilíbrio, Cobb e Choudhary (2009)

colocam que se trata de uma situação em que a mudança nas estratégias dos agentes gera um

custo baixo. Assim, um jogador pode assumir determinado perfil, porém indicar outro para

seu oponente, logo, quando o oponente recebe tal informação, terá dentre seu conjunto de

estratégias a probabilidade de não ocorrência desta. O sinal não crível de um jogador

30 O modelo exemplifica o primeiro caso apresentado no Quadro 1, porém a dinâmica se faz a mesma para a

análise de equilíbrio separador com diferentes ações e estratégias.

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associado a probabilidade assumida por seu oponente de que este não atuará a partir deste

perfil, determinarão o equilíbrio Bayesiano-Nash, em que as crenças estabelecidas são

verificadas.

Quando em equilíbrios separados, o custo para mudança no estabelecimento de

estratégias a partir da obtenção de sinais não críveis é muito alto, dessa forma, quando o

agente dá indícios de que adotará tal comportamento, seu oponente estabelece suas estratégias

com base em seu conhecimento. Da mesma forma, Cobb e Choudhary (2009), colocam a

existência de um terceiro tipo de equilíbrio, sendo o equilíbrio semi-separador ou equilíbrio

híbrido. Em relação ao equilíbrio híbrido, Kreps e Sobel (1994) consideram uma situação em

que a determinação de ação assumida por um dos tipos do jogador segue uma comportamento

certeiro e padrão, enquanto que, o outro tipo determina sua ação de forma aleatória, variando

suas possibilidades de ação. Como exemplo:

𝑡1 → 𝑎1 (2)

𝑡2 → 𝜋𝑎1 + (1 − 𝜋)𝑎2 (3)

Neste caso, Ordoñez (2007) considera que, em situações no qual o jogador (R) só tem

acesso a possibilidade de ação concreta por parte de um tipo, de seu oponente (E), este, parte

o estabelecimento de suas ações a partir de probabilidades exatas em relação ao tipo que lhe

gerou informação, neste caso 𝑡1. Nos outros casos, a resposta do jogador R trata-se de uma

reposta composta por diferentes possibilidades com probabilidades associadas a cada possível

ação.

Ao adotar a metodologia dos Jogos de Sinalização para ilustrar o processo interativo

entre a Grécia, ou governo grego sendo assim chamado por ser o tomador de decisão, e a

Troika, tem-se um modelo de jogo dinâmico em que cada jogador busca maximizar sua

utilidade estabelecendo suas estratégias através de inferências em relação ao comportamento

de seu oponente. Neste caso considera-se que o ambiente em que o jogo ocorre é marcado por

uma crise financeira e instabilidade econômica, com precariedade nas questões sociais a partir

das medidas de austeridade impostas, gerando descontentamento da população.

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A relação existente entre os jogadores pode ser determinada com base na relação credor

e devedor que caracteriza o período vivido pelos agentes em questão. Tendo a Grécia de

operar em um período de crise econômica, dependente de empréstimos e pacotes de ajuda de

seus credores - Troika. Os fenômenos que compõe o ambiente, associados a acontecimentos

suscetíveis de variação, como políticas fiscais e monetárias adotadas, costumam ser fatores

que geram influências na determinação do resultado do jogo.

A estruturação do jogo parte-se da determinação de seus elementos, de acordo com

Tadelis (2013), onde se tem a natureza, os jogadores com seu conjunto de tipos possíveis e

suas estratégias. A natureza é responsável pela determinação dos tipos assumidos pelos

agentes, sem controle ou determinação prévia por parte desses. A Grécia possui um conjunto

de tipos S, sendo S: {𝜃1,𝜃2}, sendo o tipo 𝜃1, quando o agente possui um comportamento

mais submisso em relação aos seus credores. Este tipo fora assim considerado com base na

situação econômica com o qual o país opera, no qual o acesso à obtenção de empréstimos,

essenciais na busca do estabelecimento do equilíbrio econômico, se dá a partir do

cumprimento de medidas de austeridade e contração econômica imposta pela Troika.

De forma oposta, o tipo 𝜃2, é caracterizado por um governo grego mais insubordinado,

em que não se faz disposto a aceitar as imposições dos credores, já que essas sacrificam a

qualidade de vida da população. A postura adotada pelo tipo 𝜃2 faz com que a Grécia tenha

autonomia no papel de negociador na relação com seus credores, sem aceitar facilmente as

imposições, mesmo que estas representem condições básicas para a obtenção do empréstimo.

Cada tipo assumido pelos agentes possui uma probabilidade de ocorrência. Assim,

𝑆 = {𝜃1, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑝

𝜃2, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒(1 − 𝑝)

Em relação aos elementos que compõe o conjunto T de tipos assumidos pela Troika,

tem-se T:{𝜑1,𝜑2}, sendo 𝜑1 caracterizado por uma postura mais leve do jogador em relação

ao cumprimento das medidas restritivas estipuladas a seus devedores. Desta forma, quando

em um jogo a Troika assume, por determinação da natureza, o tipo 𝜑1, está mais disposta a

negociações, sendo mais compreensível com a Grécia quanto ao cumprimento dos acordos. Já

ao tipo 𝜑2 associa-se uma figura mais firme, no qual faz-se cumprir suas exigências, com uma

postura mais autoritária nas negociações.

𝑇 = {𝜑1, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑞

𝜑2, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒(1 − 𝑞)

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A Figura 5 a seguir representa a possibilidade de ocorrência dos tipos, assim como a

probabilidade associada a cada um.

Figura 5 - Grade com os tipos de cada jogador e suas probabilidades de ocorrência.

Troika

Grécia

𝜑1 𝜑2

𝑃𝑟𝑜𝑏 = 𝑞 𝑃𝑟𝑜𝑏 = (1 − 𝑞)

𝜃1 𝑃𝑟𝑜𝑏 = 𝑝 𝑝𝑞

𝑝(1 − 𝑞)

𝜃2 𝑃𝑟𝑜𝑏= (1 − 𝑝)

(1 − 𝑝)𝑞

(1 − 𝑝)(1 − 𝑞)

Fonte: Elaboração própria.

A partir do estabelecimento dos tipos são determinados os conjuntos de ações

disponíveis a cada agente na problemática explorada pelo jogo. Considerando que se trata da

tomada de decisão em um mercado de negociação para obtenção de empréstimos, tem-se

como possibilidades para ação da Grécia o cumprimento os não das cláusulas contratuais e

obrigações oriundas do acesso aos pacotes de ajuda, enquanto que, a Troika tem por ações a

possibilidade de emprestar ou não para a Grécia, considerando sua postura e o cenário

econômico com o qual essa opera. A cada ação é estabelecida uma probabilidade de

ocorrência. Logo,

𝐺𝑟é𝑐𝑖𝑎 {𝑐𝑢𝑚𝑝𝑟𝑒,𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 ∝1

𝑛ã𝑜𝑐𝑢𝑚𝑝𝑟𝑒, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒(1 −∝1)

𝑇𝑟𝑜𝑖𝑘𝑎 {𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝛽1

𝑛ã𝑜𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎, 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒(1 − 𝛽1)

A tabela no Apêndice B apresenta os parâmetros utilizados na composição do jogo e as

Figuras 6 e 7, representam as árvores que representam a estrutura do jogo em um modelo de

sinalização.

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Figura 6 - Árvore do jogo considerando os diferentes tipos da Grécia.

𝑁𝐶(1 −∝1) 𝐺𝑟é𝑐𝑖𝑎(𝜃1) 𝐶(∝1) Troika

p

Natureza

. (1-p)

𝑁𝐶(1 −∝1) 𝐶(∝1)

Fonte: Elaboração própria.

Figura 7 - Árvore do jogo considerando os diferentes tipos da Troika.

𝑁𝐸(1 − 𝛽1) 𝑇𝑟𝑜𝑖𝑘𝑎(𝜑1) 𝐸(𝛽1) Grécia

q

Natureza

. (1-q)

𝑁𝐸(1 − 𝛽1) 𝐸(𝛽1)

Fonte: Elaboração própria.

Levando em conta o conjunto de tipos S da Grécia, em que: S: {𝜃1= mais

submisso,𝜃2= mais insubordinado} e seu conjunto de ações, sendo C = cumpre e NC = não

cumpre. Da mesma forma, para a Troika, com seu conjunto de ações T: {𝜑1 = leve nas

negociações,𝜑2=firme nas negociações}, com suas possibilidades de ações: E = empresta e

𝐺𝑟é𝑐𝑖𝑎(𝜃2)

𝐸(𝛽1)

𝑁𝐸(1 − 𝛽1)

Troika

𝐸(𝛽1)

𝑁𝐸(1 − 𝛽1)

𝐸(𝛽1)

𝑁𝐸(1 − 𝛽1)

Troika Troika

𝐸(𝛽1)

𝑁𝐸(1 − 𝛽1)

𝑇𝑟𝑜𝑖𝑘𝑎(𝜑2)

𝐶(𝛼1)

𝑁𝐶(1 − 𝛼1)

Grécia

𝐶(𝛼1)

𝑁𝐶(1 − 𝛼1)

𝐶(𝛼1)

𝑁𝐶(1 − 𝛼1)

Grécia Grécia

𝐶(𝛼1)

𝑁𝐶(1 − 𝛼1)

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NE = não empresta. As linhas pontilhadas presentes na figura representam os conjuntos de

informações, em que, demonstram o não conhecimento das ações do jogador por parte de seu

oponente.

Considerando que a cada jogador está associado um conjunto de tipos que este possa vir

a assumir, sendo {𝜃1, 𝜃2} para a Grécia e {𝜑1, 𝜑2} para a Troika, e a cada tipo uma

probabilidade de ocorrência, além de diferentes possibilidades de ações. Para tanto, considera-

se, como eficiente, analisar em estruturas separadas as possíveis combinações dos tipos

apresentados pelos agentes para estabelecer suas ações e a verificação da ocorrência de

equilíbrio em cada caso, conforme mostra a Figura 8.

Figura 8 - Grade com as diferentes combinações de jogo.

Troika

Tipo 𝜑1 Tipo 𝜑2

Grécia

𝑞 (1 − 𝑞)

Tipo 𝜃1 𝑝 JOGO 1: 𝑝𝑞 JOGO 3: 𝑝(1 − 𝑞)

Tipo 𝜃2 (1 − 𝑝) JOGO 2:(1 − 𝑝)𝑞 JOGO 4: (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)

Fonte: Elaboração própria.

Desta forma, a cada combinação de probabilidade associada ao tipo que o agente possa

vir a assumir é estabelecido um jogo para que, a partir destas combinações sejam

estabelecidas crenças e estratégias que compõe o conjunto de informações dos jogadores, para

que as ações possam ser selecionadas. A determinação da solução de cada jogo dar-se-á a

partir do estabelecimento do equilíbrio com base nas possibilidades existentes em jogos de

sinalização comentados anteriormente. A verificação do equilíbrio existente em cada caso

permite a constatação dos melhores resultados pelos agentes.

A determinação do payoff, ou seja, da função de recompensa associada a cada processo

decisório, é formulado através de parâmetros estabelecidos pela função de estratégias de cada

agente, com base em Kim (2012). Assim, para a Troika, o estabelecimento de seus payoffs

levará em conta as diferenças de resultados obtidos através das ações da Grécia considerando

seu tipo, além dos custos relacionados a sinais falsos emitidos pela Grécia, quando influentes

na determinação da ação de seu oponente.

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De forma semelhante, a determinação dos payoffs para a Grécia tem por base a suas

expectativas em relação ao jogo e os ganhos que podem se originar destas. A tomada de

decisão da Grécia leva em conta a ação adotada pela Troika.

Cabe destacar que, a determinação dos payoffs segue o estabelecimento da função de

utilidade que maximiza a recompensa do agente, sendo esta composta pelos elementos que

compõe suas estratégias, como o tipo de seu oponente e as ações associadas a estes, assim

como sua ação resposta, tomando a forma: 𝑈(𝑇𝑥𝐴𝑥𝑆).

3.2 Análise de Sobrevivência

A análise de sobrevivência31, ou análise de sobrevida, corresponde a um método

estatístico que possibilita a construção de modelos que investiguem a ocorrência de

determinado fenômeno em um período de tempo. Conforme Louzada-Neto e Pereira (2000),

os dados de sobrevivência estão associados ao tempo que transcorre até a ocorrência do

evento em análise, ou seja, partindo de um ponto inicial no período, geralmente marcado ao

final do recrutamento de indivíduos para o experimento, até o período final, pré-definido,

caracterizado pela observação ou modificação do evento. Segundo Botelho, Silva e Cruz

(2009), na análise estatística clássica a variável dependente costuma ser a ocorrência ou não

de um evento, enquanto que na análise de sobrevivência, a variável dependente assumida é o

período que transcorre até a ocorrência de determinado evento, sendo a variável representada

por um intervalo de tempo.

A análise de sobrevivência, conforme Teixeira et al. (2002), permite a verificação de

influências na trajetória do indivíduo até a verificação do evento com a possibilidade de obter

estimativas em relação aos fatores de risco ou das probabilidades de ocorrência em diferentes

intervalos de tempo.

Louzada-Neto e Pereira (2000) assim como Rocha (1994), destacam as peculiaridades

existentes na análise de sobrevivência que tornam o modelo eficiente para o diagnóstico dos

dados. Como elemento que compõe o modelo e influencia em sua característica inerente, tem-

se a existência do item censura ou variável indicadora de censura, que nada mais é, do que o

fator que indica a não ocorrência da análise completa do tempo de sobrevivência para o

31 Tendo maior desenvolvimento por volta da década de oitenta, principalmente na área da saúde.

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indivíduo, considerando que este fora interrompido. Em outras palavras, é comum que quando

se utiliza de um modelo de sobrevivência, aconteça algum imprevisto ou fator determinante

que interrompa o período de análise considerado até a ocorrência do evento (tempo de

sobrevivência), neste caso, o elemento de censura capta essa quebra no período.

Teixeira et al. (2002) argumentam que ainda que haja a existência de censura nos dados

correspondentes à análise, estes não devem ser descartados na determinação do tempo de

sobrevida pois geram influência para o estabelecimento de conclusões estatísticas.

Considerando o indivíduo i (i= 1, ..., n), os dados de sobrevivência dos agentes a serem

considerados são representados por 𝑇(𝑡𝑖, 𝐶𝑖), sendo T o tempo de sobrevivência para o

indivíduo i e C a variável que indica censura.

Outro elemento essencial quando se utiliza na análise de sobrevivência é a presença de

variáveis independentes, ou covariáveis, que, segundo Teixeira et al. (2002), geram influência

na determinação da trajetória do indivíduo em estudo, sendo o tempo de sobrevivência

considerado função das variáveis explicativas. A análise proposta no presente trabalho centra-

se no estabelecimento de um modelo de sobrevivência, considerando a trajetória

macroeconômica da Grécia, a partir de intervalos trimestrais dentro do período de 2000 a

2015, tendo por evento considerado a obtenção de empréstimos por parte da Grécia que se dá

através do estabelecimento de pacotes de resgate concedidos pela Troika. As variáveis

independentes32, apêndice A, selecionadas partem da composição dos principais indicadores

econômicos da Grécia, no qual se supõe que tenha em seus resultados motivos principais para

o estabelecimento da tomada de decisão do governo do país quanto a tomada de empréstimos.

Seguindo a abordagem de Teixeira et al. (2002) em que, a análise de sobrevida permite

a obtenção da probabilidade de sobrevivência no intervalo de tempo considerado, a partir da

função que tem como estrutura principal:

𝑆(𝑡) = 𝑃(𝑇 > 𝑡) = 1 − 𝑃[𝑇 ≤ 𝑡], ∀𝑡 ≥ 0 (4)

32 A tabela presente no Apêndice A, apresenta as variáveis independentes consideradas na estimativa do modelo,

assim como, suas descrições.

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Sendo 𝑆(𝑡) a função de sobrevivência em que a probabilidade de que o tempo total de

análise considerado T seja maior do que um período selecionado dentro da trajetória,

representado por t. No caso da Grécia, a sobrevivência seria associada ao período em que o

evento associado a tomada de empréstimo não é constatado.

Para Louzada Neto e Pereira (2000), a função de sobrevivência consiste na

determinação da probabilidade da não ocorrência de falhas para que haja a observação do

evento considerado, ou seja, a probabilidade de que o período até a ocorrência do evento se dá

de forma eficiente, sem que haja a ocorrência de censuras ou falhas em sua trajetória,

tratando-se de uma função monótona.

Ainda conforme os autores, outra importante possibilidade de estimação do período de

sobrevivência existente na análise está associada a taxa de falha existente. Conhecida por

função de risco (hazard function), a estimativa que permite a divisão do período analisado em

intervalos para que se verifique a ocorrência do evento de interesse em intervalo, sem que

necessariamente tenha ocorrido em períodos anteriores, ou seja, o modelo analisa a ocorrência

de censura no período em análise. A função de risco permite a verificação da variação da taxa

de falha no decorrer do tempo, no qual a função pode assumir a forma, crescente, decrescente,

constante ou não monótona (LOUZADA NETO, PEREIRA, 2000). A função de risco,

representada pela Equação 5 mede a densidade instantânea de incidência de falha em um

intervalo, 𝑡 < 𝑇 < (𝑡 + ∆𝑡).

ℎ(𝑡) = lim∆𝑡→0

𝑃[𝑡<𝑇<(𝑡+∆𝑡)|𝑇>1

∆𝑡 (5)

Os estimadores presentes na análise de sobrevivência podem variar de acordo com a

abordagem, no qual pode assumir a forma paramétrica ou não paramétrica. Segundo Teixeira

et al. (2002), o principal método não paramétrico, ou seja, que independe da distribuição de

probabilidade assumida, utilizado na análise de sobrevida consiste no método de Kaplan-

Meier ou estimador produto-limite, em que o cálculo dos estimadores é eficiente para análise

de funções de sobrevivência de uma amostra com poucas observações. Com base no objetivo

deste trabalho e associado ao método de estimação de Kaplan-Meier, o estimador da função

toma a forma:

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�̂�(𝑡) = ∏𝑙𝑗−𝑖

𝑙𝑗

𝑗𝑡=0 (6)

Sendo 𝑙𝑗 o número das variáveis em exposição ao risco dentro do intervalo considerado

e 𝑖 as variáveis que de fato falharam dentro do mesmo intervalo. Segundo Teixeira et al.

(2002), o método de Kaplan-Meier permite a consideração de falhas e censuras nos pontos

estabelecidos no decorrer do tempo observado. Desta forma, trata-se de um estimador

consistente que, associado ao método de Nelson-Aalen33, permite a verificação da função de

sobrevivência quando na presença de censuras em que, a sobrevivência em cada intervalo de

tempo é independente da sobrevivência aos outros intervalos.

A partir dos estimadores não-paramétricos é possível obter um valor bem próximo ao

verdadeiro valor da função de sobrevivência, e através deste, obter o intervalo de confiança da

função de sobrevivência. Porém, a estimativa do intervalo de confiança obtido por tais

estimadores possui característica simétrica, alterando as estimativas de limite inferior e

superior, limitando a análise. Para tal, faz-se necessária uma transformação log [−𝑙𝑜𝑔�̂�(𝑡0)]

no intervalo em comparação a estimativa de 𝑙𝑜𝑔(𝑡0) . Desta forma se obtém os estimadores

que dizem respeito a tempos específicos. Para a composição da análise, considerou-se a

ponderação estabelecida por Fleming e Harrington, ou estimativa fh, que, através de

estatísticas de Log-Rank podem detectar diferenças entre funções.

Em relação ao teste de Log-Rank aplicado no modelo, Louzada Neto e Pereira (2000),

colocam como uma forma utilizada para comparar diferentes curvas de sobrevivência, no qual

a 𝐻0 testada considera que as curvas analisadas são iguais. A estimativa do teste parte da

análise das curvas determinadas pelos diferentes valores associados a x, ou seja, para x=valor

e x=nulo. Desta forma, determina-se a diferença entre taxa de falha esperada e taxa de falha

observada. A estatística do teste assume a forma:

(𝑂2−𝐸2)

2

𝑣𝑎𝑟(𝑂2−𝐸2)~𝜒(𝐺−1)

2 (7)

Onde:

33 Estimador não-paramétrico que, da mesma forma que o estimador de Kaplan-Meier considera a censura em

sua estimação. O estimador de Nelson-Aalen toma a forma: �̂�(𝑡) = ∑𝑑𝑖

𝑛𝑖𝑖𝑡𝑖<𝑡

.

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51

𝐻0: hipótese nula de que as curvas de risco analisadas são iguais;

𝐻1: hipótese alternativa de que as curvas de risco não são iguais;

O: taxas de falha observadas;

E: taxas de falha esperadas;

G: número de grupos diferentes.

Com relação aos modelos paramétricos, ou seja, que levam em consideração a

distribuição de probabilidade considerada, no presente trabalho, fez-se uso da análise e

obtenção de estimativas a partir do modelo de Cox. Desenvolvido em 1972, o modelo de Cox,

ou modelo de riscos proporcionais de Cox, é, segundo Teixeira et al. (2002) um modelo semi-

paramétrico34 de regressão múltipla que considera os efeitos das variáveis explanatórias na

determinação da análise de sobrevivência incluindo as variáveis censuradas. Ainda conforme

os autores, este modelo tem a função de risco (hazard function) como variável dependente,

sendo determinado a partir do produto entre uma função não determinada no tempo, comum a

todos os indivíduos, é uma função dada a partir das variáveis independentes consideradas no

modelo. Assim, conforme o caso analisado no presente trabalho, tem-se:

ℎ(𝑡) = ℎ0(𝑡). exp(𝛽1𝑋1 + 𝛽2𝑋2 +⋯+ 𝛽𝑘𝑋𝑘) (8)

No qual, ℎ(𝑡) representa a variável dependente de risco, qual seja, a tomada de

empréstimos pela Grécia nos intervalos considerados entre 2000 e 2015. A variável ℎ0(𝑡) é

não paramétrica, independente, onde seu valor é considerado como dado, sendo uma variável

comum a todos os intervalos analisados. Ainda compõe a equação, as variáveis explanatórias

ou independentes, 𝑋𝑖, que geram influência na determinação do resultado para ℎ(𝑡). No

modelo formulado para o presente trabalho são considerados como variáveis explanatórias

alguns indicadores da Grécia apresentados no apêndice A. Tendo suposto que os

determinantes macroeconômicos influenciam na decisão quanto à tomada de empréstimos

pelo governo grego, esses foram considerados pontos de partida para a estimativa de

probabilidades do modelo construído.

34 Considerado modelo semi-paramétrico, pois o efeito das covariáveis se dá por abordagem paramétrica, mas a

abordagem da função de risco utilizada não. Ver Teixeira et al. (2002).

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Quanto as principais possibilidades de modelos de distribuição, necessárias quando

utilizadas as abordagens paramétricas, Louzada-Neto e Pereira (2000) consideram a

distribuição de Weibull e distribuição exponencial. Sendo a distribuição exponencial eficaz

para a representação de modelos com taxas de falhas constantes, considerado modelo simples

por conter somente um parâmetro, 𝜆, que indica o grau do risco e o nível de sobrevivência

abordados no modelo. No qual, valores altos de 𝜆 representam alto risco e baixa

sobrevivência, enquanto que, 𝜆 baixo represente baixo risco e alta sobrevivência.

A função de distribuição de Weibull é considerada, conforme Teixeira et al. (2002),

uma forma generalizada da função de distribuição exponencial, porém esta não assume a

função de risco como constante e aborda casos em que considera a presença de funções

crescentes, constantes e decrescentes.

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4 RESULTADOS

4.1 Base de dados

A fim de obter estimativas em relação aos principais condicionantes da tomada de

decisão do governo grego, a coleta de dados explorou variáveis que configuram o cenário

econômico com o qual os agentes operam. Os dados referentes às variáveis macroeconômicas

(anuais), presentes no apêndice A, foram obtidos a partir do acesso a base de dados online do

Gabinete Estatístico da União Europeia (Eurostat), para o período de 2000 a 2015. Também

se utilizou de informações referentes à ocorrência de eventos relacionados a tomada de

empréstimos por parte da Grécia, para o mesmo período, de 2000 a 2015, com informações

obtidas através de boletins informativos dos pacotes de resgate divulgados pela Comissão

Europeia. As variáveis selecionadas foram utilizadas na composição de variáveis explicativas

para o modelo, no qual serviram para estimar a determinação do comportamento da Grécia. A

análise dos dados fora realizada com a utilização do software estatístico R.

Foram estabelecidas variáveis, que junto com as variáveis macroeconômicas e

estruturais selecionadas, apêndice A, serviram para a composição do conjunto de dados com a

intenção de adequá-los para a estimação do modelo. Dentre elas, a variável status, uma

binária para a verificação da ocorrência de censura no período considerado, sendo

estabelecido valor 1 para quando for constatada existência de censura – tomada de

empréstimo, e 0 para os períodos em que esta não for verificada, ou seja, em que não há a

tomada de empréstimo. Associada a esta, a variável estabelecida x, que seleciona dentre a

censura verificada na variável status, aquela que representa a ocorrência do evento

considerado no modelo. Considerada como “nulo” quanto a não ocorrência do evento em

análise e “valor” para quando a censura constatada representar a tomada de empréstimos por

parte da Grécia. A variável tempo representa a duração do intervalo de tempo até a ocorrência

de um evento, ou seja, a quantificação de um intervalo em que se obteve sobrevivência.

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4.2 Estimativas para o modelo de Sobrevivência

A análise dos dados, a partir do modelo de Sobrevivência, partiu da aplicação do

método não paramétrico de Kaplan-Meier, que associado ao estimador de Nelson-Aalen

permite a estimativa da curva de sobrevivência e sua respectiva distribuição no intervalo de

confiança de 95%. A Tabela 3 ilustra os valores obtidos do tempo de sobrevivência para a

variável x em suas diferentes determinações, x=valor e x=nulo. A curva de sobrevivência que

ilustra os resultados obtidos pode ser visualizada através da Figura 9.

Tabela 3 - Resultado da aplicação do estimador de Kaplan-Meir e Nelson-Aalen.

Tempo n°risco n°eventos sobrevivência erro padão inferior 95% superior 95%

x=nulo

1

10

2

0,800

0,126

0,587

1

3

3

1

0,533

0,233

0,226

1

x=valor

1

17

17

0

-

-

-

Fonte: Elaboração própria.

Figura 9 - Curva de sobrevivência pelo estimador de Kaplan-Meier e Nelson-Aalen.

Fonte: Elaboração própria.

x=nulo, tempo=3

x=nulo, tempo=1

x=valor, tempo=1

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Através da Figura 9, verifica-se o comportamento da série de sobrevivência em que

torna visível a diferença entre as estimações presentes para os diferentes valores de x. Quando

x=valor, não há a verificação de sobrevivência, dado que esta variável é estabelecida quando

se verifica a ocorrência do evento. Quando a variável x assume a denominação nulo para

time=1, o valor de sobrevivência estimado foi de 0,800, com estimativa de 2 eventos

constatados para os 10 períodos em risco. Da mesma forma, x nulo quando time=3, obteve

sobrevivência de 0,533, com a ocorrência de um evento de censura. Os resultados

representados na Figura 9 demonstram que o tempo de sobrevivência antes da ocorrência da

tomada de empréstimos é observado apenas nos períodos em que a variável x assumir a forma

estabelecida “nulo”, já que quando x=valor, há ocorrência de evento nas 17 observações em

risco. Além disso, evidencia-se a ocorrência de sobrevivência apenas nos primeiros períodos

da série analisada, em que, após um certo período houve a predominância do evento.

Com a estimativa de sobrevivência obtida com os estimadores de Kaplan-Meier e

Nelson-Aalen é possível estabelecer uma análise comparativa, Tabela 4, para os diferentes

valores de x associadas ao estimador de Flemming Harrington, o “fh”.

Tabela 4 - Análise comparativa do resultado dos estimadores.

Estimador Kaplan-Meir e Nelson-

Aalen

Flemming Harrington

“fh”

x=nulo, time=1

0,800

0,615020

x=nulo, time=3

0,533

0,285467

x=valor, time=1

0,000

0,000363

Fonte: Elaboração própria.

Através da análise comparativa observa-se que, quando verificada a ocorrência de um

novo empréstimo em período anterior, a probabilidade da Grécia solicitar outro no período

seguinte é de quase 99%, seguindo as estimativas obtidas no modelo em que a sobrevivência

para x=valor é nula. O estimador de Flemming Harrington resulta em uma ponderação para os

valores obtidos, elevando o grau de confiança dos resultados.

Desta forma, chega-se a conclusão de que ao contratar empréstimos em períodos

consecutivos, a Grécia não está obedecendo o estipulado pelos acordos contratuais, em que há

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geralmente medidas de austeridade fiscais na busca pelo equilíbrio econômico. Conclui-se

através das estimativas de que a Grécia tem aproximadamente 99% de chances de configurar

ações de não cumprimento das metas estabelecidas.

O teste de Log-Rank aplicado para a verificação do diferencial existente entre as curvas

de sobrevivência quando x assume diferentes valores, sendo “nulo” ou “valor”, teve por

resultado o representado na Tabela 5.

Tabela 5 - Resultado para o teste de Log-Rank entre as curvas de sobrevivência para os

diferentes valores de x.

N Observado esperado (𝑂 − 𝐸)2/𝐸 (𝑂 − 𝐸)2/𝑉

x = nulo

10

3

8,04

3,16

18,6

x = valor 17 17 11,96 2,12 18,6

Qui-quadrado= 18.6 com 1 g. de liberdade. p= 1.6e-05

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados obtidos através do teste de Log-Rank foram significativos, o que rejeita a

𝐻0, demonstrando que as curvas de sobrevivência estimadas para os diferentes valores de x

apresentam diferenças. A diferença se dá principalmente pelo fato anteriormente constatado

de que, quando assumido x=valor, a tomada de empréstimo é constatada, ou seja, há a

ocorrência do evento em análise e o tempo de sobrevivência é interrompido, diferente de

x=nulo.

Através do método semi-paramétrico de Cox em que se considera a influência gerada

pelas variáveis explanatórias na determinação da função de risco, obteve como resultado o

exposto na Tabela 6.

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Tabela 6 - Resultados para a aplicação do estimador de Cox.

n=27 nº de eventos = 20

Coef.

Coef.

exponencial

erro padrão

Z

p

x = valor

2,6065

13,5519

0,7803

3,34

0,000837

Teste da razão de verossimilhança = 18,58 com 1 gl; p=1.628e-05

Teste de Wald = 11,16 com 1 gl, p=0,0008371

Teste de Log-Rank = 16,55 com 1 gl, p=4,735e-05

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados apresentados na Tabela 6 mostram que a ocorrência do evento se deu em

grande parte dos dados submetidos a análise de risco, ou seja, dentro do período analisado, a

ocorrência de empréstimos por parte da Grécia corresponde a quase o total das observações

no período. Os dados evidenciaram resultados significativos através do Teste de Wald, com

p=0.0008371, e o teste de verossimilhança com p<0,001, fatores que comprovam a influência

exercida pelas variáveis explanatórias utilizadas na composição do resultado de

sobrevivência. Sendo assim, a tomada de decisão por parte do governo grego quanto a tomada

de empréstimos, ou seja, para que haja a determinação do evento em análise, tem dentre seus

fatores determinantes os resultados econômicos obtidos e que retratam o cenário com o qual o

agente opera. O valor do coeficiente exponencial de 13,5519 garante a determinação dos

indicadores da distribuição exponencial assumida no modelo.

A Tabela 7 apresenta os resultados da função hazard para os diferentes intervalos de

tempo e a dinâmica do risco com que as variáveis estão expostas.

Tabela 7 - Resultado para a estimativa de hazard.

Risco (hazard) Tempo

1,195058 1

1,195058 2

2,915416 3

2,915416 11

2,915416 25

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados expostos na Tabela 7 demonstram a taxa de risco existente para cada

intervalo de tempo, no qual observa-se a partir do intervalo 2 estabelecido um aumento

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significativo na ocorrência de risco, ou seja, a partir do segundo intervalo, as variáveis estão

mais expostas ao risco tendo uma ocorrência mais frequente. O que permite a conclusão de

que ao decorrer do período analisado houve um aumento quanto a frequência com que os

acordos e tomadas de empréstimos por parte da Grécia foram firmados. A maior frequência ao

estabelecimento de empréstimos se dá na medida em que ao decorrer do período analisado,

2000 a 2015, a instabilidade econômica presente na Grécia foi se agravando, exigindo

medidas de ajuste a partir de novos pacotes de resgate.

4.3 Inclusão das probabilidades obtidas no jogo e determinação de equilíbrio

Como anteriormente determinado, a análise do jogo partirá da segmentação do modelo

em estruturas a depender da combinação dos tipos assumidos para os diferentes agentes, em

que, cada qual com sua probabilidade de ocorrência e possibilidades de ações, compõem as

dinâmicas de resultados para o problema em análise.

Considerando o resultado obtido na análise de sobrevivência, tem-se por valores

associados às probabilidades:

𝑁𝐶 = (1 − 𝛼1) = 0,99; 𝐶 = 𝛼1 = 0,01; 𝐸 = 𝛽1; 𝑁𝐸 = (1 − 𝛽1)

As probabilidades associadas às ações da Troika não foram estimadas em razão da falta

de dados sobre outros países com características idênticas às da Grécia e que passaram pelo

mesmo tratamento para que a probabilidade de ação dos credores pudesse ser inferida ao

longo do período através da análise de sobrevivência.

Considerando a determinação da ação mais provável pela Grécia, cabe analisar os

possíveis desdobramentos das dinâmicas dos jogos com base nas reações e crenças

estabelecidas pela Troika para composição das estruturas de equilíbrio. As estruturas para a

determinação de equilíbrio seguirão o formato para equilíbrio agrupador e equilíbrio

separador, considerando as probabilidades assumidas pelas ações e as recompensas resultantes

de cada caso. As Figuras a seguir representam as diferentes estruturas possíveis de jogo com

base na combinação de partir dos diferentes tipos da Grécia versus diferentes tipos da Troika.

Para tal, as quatro primeiras Figuras (10, 11, 12 e 13) representam as probabilidades de ações

representadas pelos parâmetros (apêndice B).

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Figura 10 – Probabilidade de ações para 𝜽𝟏x 𝝋𝟏.

Jogo: 𝜃1x 𝜑1 E NE

C

𝑝𝑞 ∝1 𝛽1

𝑝𝑞 ∝1 (1 − 𝛽1)

NC

𝑝𝑞(1−∝1)𝛽1

𝑝𝑞(1 −∝1)(1 − 𝛽1)

Elaborado pelo autor.

Figura 11 - Probabilidade de ações para 𝜽𝟏x 𝝋𝟐.

Jogo: 𝜃1x 𝜑2

E NE

C

𝑝(1 − 𝑞) ∝1 𝛽1

𝑝(1 − 𝑞) ∝1 (1 − 𝛽1)

NC

𝑝(1 − 𝑞)(1 −∝1)𝛽1

𝑝(1 − 𝑞)(1 −∝1)(1 − 𝛽1) Elaborado pelo autor.

Figura 12 - Probabilidade de ações para 𝜽𝟐x 𝝋𝟏.

Jogo: 𝜃2x 𝜑1

E NE

C

(1 − 𝑝)𝑞 ∝1 𝛽1

(1 − 𝑝)𝑞 ∝1 (1 − 𝛽1)

NC

(1 − 𝑝)𝑞(1 −∝1)𝛽1

(1 − 𝑝)𝑞(1 −∝1)(1 − 𝛽1) Elaborado pelo autor.

Figura 13 - Probabilidade de ações para 𝜽𝟐x 𝝋𝟐.

Jogo: 𝜃2x 𝜑2

E NE

C

(1 − 𝑝)(1 − 𝑞) ∝1 𝛽1

(1 − 𝑝)(1 − 𝑞) ∝1 (1 − 𝛽1)

NC

(1 − 𝑝)(1 − 𝑞)(1 −∝1)𝛽1

(1 − 𝑝)(1 − 𝑞)(1 −∝1)(1 − 𝛽1) Elaborado pelo autor.

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60

Apesar da análise do jogo de forma separada para as diferentes possibilidades, os

jogadores ao formularem suas estratégias, não tem conhecimento a respeito do tipo assumido

por seu oponente, valendo-se da dinâmica existente no Jogo de Sinalização em que esses

estabelecem crenças com base nos sinais que recebem para determinação de sua melhor

estratégia. Neste caso, as estratégias formuladas são estabelecidas com base na recompensa

(payoff) que os jogadores esperam obter seguindo as diferentes posturas assumidas. A seguir,

nas Figuras 14, 15, 16 e 17, são apresentadas as determinações dos pagamentos quando em

diferentes situações. As quatro figuras a seguir correspondem aos pagamentos para as

diferentes combinações anteriormente expostas quando em diferentes situações.

Figura 14 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia submissa e a Troika flexível:

𝜽𝟏x 𝝋𝟏.

Troika

E NE

Grécia

C (G1, T1) (G1, T3)

NC (G2, T2) (G3, T4) Fonte: Elaboração própria.

Sendo:

G1: a Grécia estabelece uma reputação externa de curto prazo ao cumprir os seus

compromissos;

G2: viola os compromissos, perdendo reputação externa35 no curto prazo; e,

G3: estabelece uma reputação externa próxima de zero;

T1: Empresta na expectativa de que a Grécia cumprirá o acordo não incorrendo em risco

moral;

T2: Empresta e a Grécia não cumpre causando risco moral;

T3: Adota uma postura rígida contra a Grécia invalidando o seu papel de emprestador; e,

T4: Não empresta quando a Grécia não cumpre aguardando a saída da Grécia do acordo.

Considerando que a Grécia assume o tipo 𝜃1 e que o país tem por objetivo a obtenção

de empréstimos por parte dos credores, sendo submissa a estes, se faz necessário uma

35 Por reputação externa considera-se a reputação do país frente a seus credores, constituídos pelos membros da

Troika. De forma oposta, reputação interna refere-se à reputação sustentada pela Grécia com a sociedade no

geral e demais membros internos ao país que sofrem os impactos a partir da tomada de decisão do governo.

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reputação positiva para a ocorrência do evento, logo: G1 > G2 > G3. Para a Troika, neste caso,

a possibilidade de maior recompensa se dará quando ao emprestar, suas expectativas em

relação ao cumprimento por parte da Grécia são confirmadas, tendo por resultado: T1 > T2 >

T4 > T3.

Figura 15 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia agressiva (insubmissa) e a

Troika flexível: 𝜽𝟐x 𝝋𝟏.

Troika

E NE

Grécia

C (G5, T1) (G7, T3)

NC (G6, T2) (G8, T4)

Fonte: Elaboração própria.

Onde:

G5: a Grécia estabelece uma reputação externa de curto prazo ao cumprir os seus

compromissos. Todavia, perde reputação interna por mostrar-se contrária aos interesses

nacionais;

G6: viola os compromissos, perdendo reputação externa no curto prazo, mas ganha reputação

interna;

G7: estabelece uma reputação interna próxima de zero, mas ganha alguma reputação externa;

G8: estabelece uma reputação externa próxima de zero, mas mantém os interesses nacionais.

Logo, por resultado, tem-se: G6 > G5 > G8 > G7. Considerando que a Grécia assume o

tipo 𝜃2, a maior recompensa estará associada à ação que garanta a defesa dos direitos da

sociedade, ainda que, por consequência, leve a uma perda na reputação externa.

Para a Troika, utiliza-se a mesma dinâmica. Agregando os resultados obtidos para os

dois tipos: G6 > G5 > G1 > G8 > G2 > G7 > G3 e T1 > T2 > T4 > T3.

Observa-se que, considerando os diferentes tipos que possam ser adotados pela Grécia,

sem ter conhecimento do tipo assumido por seu oponente, o país terá por pior resultado

quando estabelecer uma reputação externa próxima a zero, G3. Ao manter uma reputação

baixa com seus credores, o país não terá acesso a empréstimos e pacotes de ajuda, necessários

ao estabelecimento do equilíbrio econômico e qualidade de vida à população. A baixa

reputação da Grécia, tendo assumido o tipo 𝜃1, emitirá sinais aos credores, que adotarão

posturas rígidas para o estabelecimento de negociações.

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62

Ao melhor resultado dentre os analisados, considera-se G6, pois ainda que este perca

reputação externa no curto prazo pelo não cumprimento de algumas imposições, ganha

reputação interna devido à defesa dos interesses à sociedade, característico de seu tipo

assumido 𝜃2.

Figura 16 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia submissa e a Troika

inflexível: 𝜽𝟏x 𝝋𝟐.

Troika

E NE

Grécia

C (G9, T5) (G11, T7)

NC (G10, T6) (G12, T8) Fonte: Elaboração própria.

Em que:

G9: a Grécia estabelece uma reputação externa de curto prazo ao cumprir os seus

compromissos. Todavia, perde reputação interna por mostrar-se contrária aos interesses

nacionais;

G10: viola os compromissos, perdendo alguma reputação externa no curto prazo;

G11: estabelece uma reputação interna e externa próximas de zero;

G12: mantém os interesses nacionais;

T5: Empresta na expectativa de que a Grécia cumprirá o acordo não incorrendo em risco

moral;

T6: Empresta e a Grécia não cumpre causando risco moral;

T7: Adota uma postura rígida contra a Grécia contrária ao seu perfil; e,

T8: Não empresta quando a Grécia não cumpre aguardando a saída da Grécia do acordo.

Como resultado em relação às melhores possibilidades: G6 > G5 > G9 > G10 > G1 > G11

>G8 > G12 >G2 > G7 > G3 e T1 > T2 > T5 > T4 > T3 > T8 > T7 > T6.

Figura 17 - Estrutura de Pagamentos para o jogo entre a Grécia agressiva (insubmissa) e a

Troika inflexível: 𝜽𝟐x 𝝋𝟐.

Troika

E NE

Grécia

C (G13, T9)

(G15, T11)

NC (G14, T10) (G16, T12) Fonte: Elaboração própria.

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63

No qual:

G13: a Grécia mantém-se sujeita às regras da Troika;

G14: viola os compromissos, perdendo alguma reputação externa no curto prazo;

G15: estabelece uma reputação interna e externa próximas de zero;

G16: mantém os interesses nacionais gerando ganho de reputação interna;

T9: Empresta na expectativa de que a Grécia cumprirá o acordo não incorrendo em risco

moral;

T10: Empresta e a Grécia não cumpre causando risco moral para a Troika (rígida nas

negociações);

T11: Adota uma postura rígida contra a Grécia, mesmo quando esta cumpre as metas; e,

T12: Não empresta quando a Grécia não cumpre forçando uma saída da Grécia do acordo.

Como resultado geral na análise para as diferentes recompensas obtidas pelos jogadores

tem como:

Grécia: G6 > G5 > G9 > G10 > G1 > G11 > G8 > G12 > G14 > G2 > G7 > G13 > G3 > G16 > G15

Troika: T1 > T2 > T5 > T4 > T3 > T8 > T7 > T11 > T12 > T9 > T6 > T10.

Para a Grécia, de uma forma geral e na situação considerada, haverá uma maior

recompensa quando apresentar G6 em que o não cumprimento das obrigações ainda que lhe

garanta perda de reputação externa, mantém a reputação interna sob a defesa dos interesses da

sociedade, considerando seu tipo 𝜃2. A menor recompensa, G15, é associada à situação em

que, ao operar com a Troika adotando uma postura rígida, estabelece reputação próxima a

zero tanto interna quanto externa, no qual, além de não obter empréstimos, não há o apoio da

sociedade em suas decisões.

Para a Troika, o resultado que garante maior recompensa, a partir da análise exposta, é

T1 em que o jogador decida por emprestar, correndo o risco. Vale notar que, só se verifica T1

quando a Grécia cumpre o acordo. Pois quando a Troika decide por emprestar e a Grécia não

cumpre, há perdas na recompensa para a Troika, como no caso em que essa assume o tipo 𝜑2,

garantindo o pior resultado T10. Em T10 a Troika acaba por sofrer um risco moral a partir do

não cumprimento dos acordos por parte da Grécia quando aquela decide por emprestar. O

risco moral faz com que demais países, na mesma situação que a Grécia, sejam influenciados

a também não cumprir os acordos estabelecidos frente aos empréstimos.

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64

A Figura 18 apresenta a estrutura do equilíbrio agrupador, considerando a combinação

das probabilidades associadas a cada situação e a recompensa obtida através das ações dos

agentes. Da mesma forma, a Figura 19 considera o equilíbrio agrupador com a diferença de

que, essa passa a considerar a probabilidade de ação da Grécia estimada através da análise de

sobrevivência, no qual ∝1≅ 0.

.

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65

Figura 18 - Estrutura do jogo para equilíbrio agrupador contendo as probabilidades de ações e suas respectivas recompensas.

E, E 𝜑1, 𝜑2

E, NE 𝜑1, 𝜑2

NE, E 𝜑1, 𝜑2

NE, NE 𝜑1, 𝜑2

C, 𝜃1

C, 𝜃2

𝛼1𝛽1 {[𝑝𝑞(𝐺1 − 𝐺9 − 𝐺5 + 𝐺13) +

+𝑝(𝐺9 − 𝐺13) + 𝑞(𝐺5 − 𝐺13) + 𝐺13]},

𝛼1𝛽1 {[𝑝𝑞(𝑇9 − 𝑇5) + 𝑝(𝑇5 − 𝑇9) +

+𝑞(𝑇1 − 𝑇9) + 𝑇9]}

𝛼1𝛽1 [𝑝𝑞(𝐺1 + 𝐺11 − 𝐺5 − 𝐺15) +

𝑝(𝐺15 − 𝐺11) + 𝑞(𝐺5 + 𝐺15) − 𝐺15] +

𝛼1[(1 − 𝑞)𝑝𝐺11 + (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)𝐺15],

𝛼1𝛽1 [𝑝𝑞(𝑇7 − 𝑇11) + 𝑝(𝑇11 − 𝑇7)+

+𝑞(𝑇1 + 𝑇11) − 𝑇11] +

+𝛼1[(1 − 𝑞)𝑇11 + 𝑝(𝑇7 − 𝑇11) + 𝑝𝑞(𝑇11 − 𝑇7)]

𝛼1𝛽1{𝑝𝑞[𝐺13 − 𝐺9 − 𝐺7 − 𝐺1] + 𝑝[𝐺9 − 𝐺13] −𝑞[𝐺7 + 𝐺13]} + 𝑞𝛼1{𝑝[𝐺1 − 𝐺7] + 𝐺7} + 𝛼1𝛽1𝐺13,

𝛼1𝛽1{−2𝑝𝑞𝑇3 + 𝑝(1 − 𝑞)𝑇5 + (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)𝑇9}+ 𝑞𝛼1𝑇3

𝛼1(1 − 𝛽1) {𝑝𝑞(𝐺1 + 𝐺15 − 𝐺7 − 𝐺11)

+(1 − 𝑝 − 𝑞)𝐺15 + 𝑝𝐺11 − 𝑞𝐺7},

𝛼1(1 − 𝛽1){𝑞𝑇3 + 𝑝(1 − 𝑞)𝑇7 + (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)𝑇11}

C, 𝜃1

NC, 𝜃2

𝛼1𝛽1𝑞[𝐺9 + 𝑞(𝐺1 − 𝐺9)] + +(1 − 𝛼1)𝛽1(1 − 𝑝)[𝐺14 + 𝑞(𝐺6 − 𝐺14)],

𝛼1𝛽1𝑞[𝑇5 + 𝑞(𝑇1 − 𝑇5)] +

+(1 − 𝛼1)𝛽1(1 − 𝑝)[𝑇10 + 𝑞(𝑇2 − 𝑇10)]

𝛼1𝑝[𝛽1𝑞(𝐺1 + 𝐺11) + (1 − 𝑞 − 𝛽1)𝐺11] +(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)[𝛽1𝑞𝐺6 + 𝛽1𝑞𝐺16 +(1 − 𝑞 −𝛽1)𝐺16],

𝛼1𝑝[𝛽1𝑞(𝑇1 + 𝑇7) + (1 − 𝑞 − 𝛽1)𝑇7]

+ (1 − 𝑝)(1 − 𝛼1) [𝛽1𝑞𝑇2 + 𝛽1𝑞𝑇12

+(1 − 𝑞 − 𝛽1)𝑇12]

𝛼1𝑝[𝐺1 + 𝛽1𝐺9 − 𝛽1𝑞(𝐺1 + 𝐺9)] + +(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)[𝑞𝐺8 + 𝛽1𝐺14 − 𝛽1𝑞(𝐺8 + 𝐺14)],

𝛼1𝑝[𝑇3 + 𝛽1𝑇5 − 𝛽1𝑞(𝑇3 + 𝑇5)] +

+(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)[𝑞𝑇4 + 𝛽1𝑇10 − 𝛽1𝑞(𝑇4 + 𝑇10)]

𝛼1(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺11 + 𝑝𝑞(𝐺1 − 𝐺11)] + (1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑝)[𝐺16 + 𝑞(𝐺8 − 𝐺16)],

𝛼1(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇7 + 𝑝𝑞(𝑇3 − 𝑇7)] +

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑝)[𝑇12 + 𝑞(𝑇4 − 𝑇12)]

NC, 𝜃1

C, 𝜃2

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑝[𝐺10 + 𝑞(𝐺2 − 𝐺10)] + 𝛼1𝛽1(1 − 𝑝)[𝐺13 + 𝑞(𝐺5 − 𝐺13)],

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑝[𝑇6 + 𝑞(𝑇2 − 𝑇6)] + 𝛼1𝛽1(1 − 𝑝)[𝑇9 + 𝑞(𝑇1 − 𝑇9)]

𝛽1𝑞[𝑝𝐺2 + 𝛼1𝐺5 − 𝑝𝛼1(𝐺2 + 𝐺5)] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺12 + 𝛼1𝐺15 − 𝑝𝛼1(𝐺12 + 𝐺15)],

𝛽1𝑞[𝑝𝑇2 + 𝛼1𝑇1 − 𝑝𝛼1(𝑇2 + 𝑇1)] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇8 + 𝛼1𝑇12 − 𝑝𝛼1(𝑇8 + 𝑇12)]

(1 − 𝛽)𝑞[𝑝𝐺3 + 𝛼1𝐺7 − 𝑝𝛼1(𝐺3 + 𝐺7)] + (1 − 𝑞)𝛽1[𝑝𝐺10 + 𝛼1𝐺3 − 𝑝𝛼1(𝐺3 + 𝐺10)],

(1 − 𝛽)𝑞[𝑝𝑇4 + 𝛼1𝑇3 − 𝑝𝛼1(𝑇4 + 𝑇3)] + (1 − 𝑞)𝛽1[𝑝𝑇6 + 𝛼1𝑇9 − 𝑝𝛼1(𝑇9 + 𝑇6)],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑝[𝑞𝐺3 + (1 − 𝑞)𝐺12] + (1 − 𝑝)(1 − 𝛽1)𝛼1[𝑞𝐺7 + (1 − 𝑞)𝐺15],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑝[𝑞𝑇4 + (1 − 𝑞)𝑇5] + (1 − 𝑝)(1 − 𝛽1)𝛼1[𝑞𝑇3 + (1 − 𝑞)𝑇11]

NC, 𝜃1

NC, 𝜃2

𝑝𝛼1𝛽1[𝑞𝐺1 + (1 − 𝑞)𝐺9] + (1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑞𝐺6 + (1 − 𝑞)𝐺14],

𝑝𝛼1𝛽1[𝑞𝑇1 + (1 − 𝑞)𝑇5] +

(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑞𝑇2 + (1 − 𝑞)𝑇10]

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑞[𝑝𝐺2 + (1 − 𝑝)𝐺6] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺12 + (1 − 𝑝)𝐺16],

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑞𝑇2 +

(1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇8 + (1 − 𝑝)𝑇12]

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞[𝑝𝐺3 + (1 − 𝑝)𝐺8] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑝𝐺10 + (1 − 𝑝)𝐺14],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞𝑇4 +

(1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑝𝐺10 + (1 − 𝑝)𝐺14]

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞[𝑝𝐺3 + (1 − 𝑝)𝐺8] + (1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑞)[𝑝𝐺12 + (1 − 𝑝)𝐺16],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞𝑇4 +

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑞)[𝑝𝑇8 + (1 − 𝑝)𝑇12]

Fonte: Elaboração própria.

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66

Figura 19 - Estrutura do jogo para equilíbrio agrupador contendo as probabilidades de ações e suas respectivas recompensas quando ∝𝟏≅ 𝟎.

E, E 𝜑1, 𝜑2

E, NE 𝜑1, 𝜑2

NE, E 𝜑1, 𝜑2

NE, NE 𝜑1, 𝜑2

C, 𝜃1

C, 𝜃2

0, 0

𝛼1𝛽1 [𝑝𝑞(𝐺1 + 𝐺11 − 𝐺5 − 𝐺15) +

𝑝(𝐺15 − 𝐺11) + 𝑞(𝐺5 + 𝐺15) − 𝐺15] +

𝛼1[(1 − 𝑞)𝑝𝐺11 + (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)𝐺15],

𝛼1𝛽1 [𝑝𝑞(𝑇7 − 𝑇11) + 𝑝(𝑇11 − 𝑇7)+

+𝑞(𝑇1 + 𝑇11) − 𝑇11] +

+𝛼1[(1 − 𝑞)𝑇11 + 𝑝(𝑇7 − 𝑇11) + 𝑝𝑞(𝑇11 − 𝑇7)]

𝛼1𝛽1{𝑝𝑞[𝐺13 − 𝐺9 − 𝐺7 − 𝐺1] + 𝑝[𝐺9 − 𝐺13] −𝑞[𝐺7 + 𝐺13]} + 𝑞𝛼1{𝑝[𝐺1 − 𝐺7] + 𝐺7} + 𝛼1𝛽1𝐺13,

𝛼1𝛽1{−2𝑝𝑞𝑇3 + 𝑝(1 − 𝑞)𝑇5 + (1 − 𝑝)(1 − 𝑞)𝑇9}+ 𝑞𝛼1𝑇3

0, 0

C, 𝜃1

NC, 𝜃2

𝛼1𝛽1𝑞[𝐺9 + 𝑞(𝐺1 − 𝐺9)] + +(1 − 𝛼1)𝛽1(1 − 𝑝)[𝐺14 + 𝑞(𝐺6 − 𝐺14)],

𝛼1𝛽1𝑞[𝑇5 + 𝑞(𝑇1 − 𝑇5)] +

+(1 − 𝛼1)𝛽1(1 − 𝑝)[𝑇10 + 𝑞(𝑇2 − 𝑇10)]

(1 − 𝑝)[𝛽1𝑞𝐺6 + 𝛽1𝑞𝐺16 +(1 − 𝑞 − 𝛽1)𝐺16],

+(1 − 𝑝) [𝛽1𝑞𝑇2 + 𝛽1𝑞𝑇12

+(1 − 𝑞 − 𝛽1)𝑇12]

𝛼1𝑝[𝐺1 + 𝛽1𝐺9 − 𝛽1𝑞(𝐺1 + 𝐺9)] + +(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)[𝑞𝐺8 + 𝛽1𝐺14 − 𝛽1𝑞(𝐺8 + 𝐺14)],

𝛼1𝑝[𝑇3 + 𝛽1𝑇5 − 𝛽1𝑞(𝑇3 + 𝑇5)] +

+(1 − 𝑝)(1 − 𝛼1)[𝑞𝑇4 + 𝛽1𝑇10 − 𝛽1𝑞(𝑇4 + 𝑇10)]

𝛼1(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺11 + 𝑝𝑞(𝐺1 − 𝐺11)] + (1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑝)[𝐺16 + 𝑞(𝐺8 − 𝐺16)],

𝛼1(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇7 + 𝑝𝑞(𝑇3 − 𝑇7)] +

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)(1 − 𝑝)[𝑇12 + 𝑞(𝑇4 − 𝑇12)]

NC, 𝜃1

C, 𝜃2

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑝[𝐺10 + 𝑞(𝐺2 − 𝐺10)] + 𝛼1𝛽1(1 − 𝑝)[𝐺13 + 𝑞(𝐺5 − 𝐺13)],

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑝[𝑇6 + 𝑞(𝑇2 − 𝑇6)] + 𝛼1𝛽1(1 − 𝑝)[𝑇9 + 𝑞(𝑇1 − 𝑇9)]

𝛽1𝑞[𝑝𝐺2 + 𝛼1𝐺5 − 𝑝𝛼1(𝐺2 + 𝐺5)] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺12 + 𝛼1𝐺15 − 𝑝𝛼1(𝐺12 + 𝐺15)],

𝛽1𝑞[𝑝𝑇2 + 𝛼1𝑇1 − 𝑝𝛼1(𝑇2 + 𝑇1)] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇8 + 𝛼1𝑇12 − 𝑝𝛼1(𝑇8 + 𝑇12)]

(1 − 𝛽)𝑞[𝑝𝐺3 + 𝛼1𝐺7 − 𝑝𝛼1(𝐺3 + 𝐺7)] + (1 − 𝑞)𝛽1[𝑝𝐺10 + 𝛼1𝐺3 − 𝑝𝛼1(𝐺3 + 𝐺10)],

(1 − 𝛽)𝑞[𝑝𝑇4 + 𝛼1𝑇3 − 𝑝𝛼1(𝑇4 + 𝑇3)] + (1 − 𝑞)𝛽1[𝑝𝑇6 + 𝛼1𝑇9 − 𝑝𝛼1(𝑇9 + 𝑇6)],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑝[𝑞𝐺3 + (1 − 𝑞)𝐺12] + (1 − 𝑝)(1 − 𝛽1)𝛼1[𝑞𝐺7 + (1 − 𝑞)𝐺15],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑝[𝑞𝑇4 + (1 − 𝑞)𝑇5] + (1 − 𝑝)(1 − 𝛽1)𝛼1[𝑞𝑇3 + (1 − 𝑞)𝑇11]

NC, 𝜃1

NC, 𝜃2

(1 − 𝑝)𝛽1[𝑞𝐺6 + (1 − 𝑞)𝐺14],

(1 − 𝑝)𝛽1[𝑞𝑇2 + (1 − 𝑞)𝑇10]

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑞[𝑝𝐺2 + (1 − 𝑝)𝐺6] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)[𝑝𝐺12 + (1 − 𝑝)𝐺16],

(1 − 𝛼1)𝛽1𝑞𝑇2 +

(1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)[𝑝𝑇8 + (1 − 𝑝)𝑇12]

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞[𝑝𝐺3 + (1 − 𝑝)𝐺8] + (1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑝𝐺10 + (1 − 𝑝)𝐺14],

(1 − 𝛼1)(1 − 𝛽1)𝑞𝑇4 +

(1 − 𝑞)(1 − 𝛼1)𝛽1[𝑝𝐺10 + (1 − 𝑝)𝐺14]

(1 − 𝛽1)𝑞[𝑝𝐺3 + (1 − 𝑝)𝐺8] + (1 − 𝛽1)(1 − 𝑞)[𝑝𝐺12 + (1 − 𝑝)𝐺16],

(1 − 𝛽1)𝑞𝑇4 +

(1 − 𝛽1)(1 − 𝑞)[𝑝𝑇8 + (1 − 𝑝)𝑇12]

Fonte: Elaboração própria.

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67

Sendo o valor anterior a vírgula referente ao pagamento para a Grécia associado a sua

probabilidade, ou seja, seu payoff considerando as estratégias estabelecidas, da mesma forma,

os valores depois da vírgula representam os payoffs e as probabilidades assumidas pela

Troika.

Levando em conta que quando em equilíbrio agrupador, deve-se considerar as diferentes

possibilidades assumidas pelos jogadores, conforme as probabilidades de ocorrência dos

diferentes tipos, assim como as probabilidades de ocorrência de cada ação. Neste caso,

considera-se para a Grécia as ações C e NC, para quando esta assumir o tipo 𝜃1, assim como

quanto quando for do tipo 𝜃2. Da mesma forma para a Troika, no qual ao não estar

especificado uma ação a cada tipo, deve-se considerar as diferentes possibilidades e ações E e

NE.

Assim, no equilíbrio agrupador, representado na Figura 18, poderão ocorrer os quatro

equilíbrios nas situações seguintes:

(i) A Grécia apresenta os dois tipos como cumpridores das metas estabelecidas pela

Troika e, no jogo, associa-se com os dois tipos alternativos da Troika; e,

(ii) A Grécia apresenta os dois tipos como não-cumpridores das metas estabelecidas e

associa-os com os dois tipos alternativos de Troika.

Nas soluções os resultados serão:

(a) {𝐶(𝜃1), 𝐶(𝜃2)}×{𝐸(𝜑1), 𝐸(𝜑2)};

(b) {𝑁𝐶(𝜃1), 𝑁𝐶(𝜃2)}×{𝐸(𝜑1), 𝐸(𝜑2)};

(c) {𝐶(𝜃1), 𝐶(𝜃2)}×{𝑁𝐸(𝜑1),𝑁𝐸(𝜑2)}; e,

(d) {𝑁𝐶(𝜃1), 𝑁𝐶(𝜃2)}×{𝑁𝐸(𝜑1),𝑁𝐸(𝜑2)}.

Considerando-se 𝛼1 ≅ 0, conforme demonstrado na Figura 19, os resultados (a) e (c)

deixarão de ser solução ao apresentarem pagamentos nulos. Conclui-se, então, que o

comportamento da Grécia como não-cumpridora das metas estabelecidas constitui-se na

estratégia ideal para a Grécia.

Analisando-se o equilíbrio (b) {𝑁𝐶(𝜃1),𝑁𝐶(𝜃2)}×{𝐸(𝜑1), 𝐸(𝜑2)} observa-se que os

pagamentos serão positivos se:

(i) para a Grécia: [𝑞𝐺6 + (1 − 𝑞)𝐺14] > 0, ∀𝑞 ∈ (0,1); e

(ii) para a Troika: [𝑞𝑇2 + (1 − 𝑞)𝑇10] > 0, ∀𝑞 ∈ (0,1).

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68

Analogamente, o equilíbrio (d) {𝑁𝐶(𝜃1), 𝑁𝐶(𝜃2)}×{𝑁𝐸(𝜑1),𝑁𝐸(𝜑2)} apresentará

pagamentos positivos se:

(i) para a Grécia: 𝑞

1−𝑞{𝑝𝐺3+(1−𝑝)𝐺8

𝑝𝐺12+(1−𝑝)𝐺16} > 0, ∀𝑝, 𝑞 ∈ (0,1); e,

(ii) para a Troika: 𝑞

1−𝑞𝑇4 + [𝑝𝑇8 + (1 − 𝑝)𝑇12] > 0, ∀𝑝, 𝑞 ∈ (0,1).

Considerando-se a comparação entre os dois equilíbrios se conclui que a condição para

que um comportamento flexível da Troika domine o comportamento inflexível é que a Grécia

apresente um perfil com tendência ao cumprimento das metas estabelecidas. O endurecimento

da Troika, por sua vez, é condicionado a predomínio de um perfil não cumpridor da Grécia.

Para o domínio do equilíbrio agrupador sobre o separador, representado por

{𝐶(𝜃1), 𝑁𝐶(𝜃2)}×{𝐸(𝜑1),𝑁𝐸(𝜑2)}, condiciona-se a relação abaixo:

𝐺14

𝐺16>

1−𝛽1

𝛽1 (9)

Considerando como G14 a recompensa quando a Grécia viola os compromissos,

perdendo alguma reputação externa no curto prazo e G16 a recompensa quando mantém os

interesses nacionais gerando ganho de reputação interna; Sendo 1 − 𝛽1 a probabilidade da

Troika assumir a ação de não emprestar e 𝛽1 a probabilidade de assumir a ação empresta.

Assim, quanto maior a probabilidade de a Troika emprestar, maior o estímulo para que

a Grécia apresente uma postura não cumpridora das metas. Em verdade, há um estímulo para

que, uma vez recebidos os recursos, o comportamento seja contrário ao estabelecido em um

contrato anterior. Logo, compreende-se o porquê de muitos empréstimos parcelados e

atrelados ao conjunto de metas.

4.4 Análise e Discussão dos Resultados

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69

A análise do modelo a partir da segmentação do jogo, em combinações dos diferentes

tipos, experimentou uma representação das posturas assumidas pelos jogadores em sua

relação conflituosa. No qual ao decorrer do período em análise, considerando as influências

do ambiente, pautado por questões políticas e sociais, transitaram entre diferentes posturas,

tornando possíveis as possibilidades de ocorrência consideradas.

A Grécia por tomador de decisão quanto ao estabelecimento de acordos frente às

imposições estipuladas por seus credores, assumiu desde o primeiro pacote de resgate em

2010 diferentes comportamentos. Ora assumia postura submissa devido à necessidade em

obter novos acordos para manutenção da dívida e reestruturação econômica, ora assumia um

tipo com maior autonomia, em defesa dos interesses da sociedade. Normalmente, a postura

mais imponente se dava quando o governo, em época de eleições, buscou reconhecimento por

parte da sociedade. De forma semelhante, a Troika ao longo dos anos desde que estabelecida

sua relação contratual com a Grécia, assumiu postura rígida para imposição das condições

estipuladas, com o objetivo de que a Grécia retomasse seu equilíbrio econômico sem risco de

contaminação aos demais países da zona do euro. Mesmo motivo fez com que por vezes os

credores optassem por uma postura mais leve, dispostos ao estabelecimento de novas

negociações, com vista na proteção ao domínio estabelecido pela união monetária.

A análise das diferentes combinações estratégicas com base nos diferentes tipos

assumidos tornou possível a visualização quanto a influência do cenário na tomada de decisão

dos agentes em cada caso. A estimativa das probabilidades de ocorrência de ações assumidas

pela Grécia valeu-se de variáveis explicativas os indicadores econômicos e estruturais,

característicos do período, em que seus resultados definiam o estabelecimento de novos

pacotes de resgate. O que se visualiza quando analisadas as dinâmicas dos pacotes de

resgate36 para os períodos que se seguiram a partir de 2010, é que novos acordos eram

firmados independente do governo assumir a risca as condições estipuladas em contratos

anteriores. Verificou-se assim, a garantia de empréstimos obtidos através da Troika,

independente do cumprimento dos acordos e condições previamente estabelecidos. Tal fato

fez com que a estimativa com relação às ações da Grécia assumisse uma probabilidade de

aproximadamente 99% para o não cumprimento das medidas estabelecidas nas negociações,

restando aproximadamente 1% para a probabilidade de o país cumprir.

36 Ver: Comissão Europeia (2014).

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Quanto às possibilidades de retorno, associadas a cada tipo e ações estabelecidas,

verifica-se que, em um cenário com uma probabilidade alta de que a Grécia não irá cumprir os

acordos estabelecidos, a Troika tem por ações dominantes às associadas a não garantia de

empréstimos com uma postura mais rígida. Desta forma, a Troika acaba restringindo a

participação da Grécia em novos acordos estabelecidos. Como os valores em relação às

probabilidades de ação da Troika, 𝛽1 e (1 − 𝛽1) não foram estimados, faz-se suposições com

vista nas possibilidades de ações que lhe garantam um melhor resultado. De forma geral, as

ações que garantem um maior payoff à Troika, estão associadas ao não estabelecimento de

relações contratuais com a Grécia ou a imposição de dificuldades a esta, devido ao não

cumprimento de cláusulas e condições impostas em acordos anteriores. Uma vez que, ao

emprestar, a Troika dará incentivos para o aumento da probabilidade da Grécia assumir

postura não cumpridora.

As ações estabelecidas pela Troika desde o início dos pacotes de resgate tem sido a de

garantia de novos empréstimos desde que estes acompanhados por medidas de austeridade

fiscal e imposições com o objetivo de reduzir o deficit fiscal da Grécia para retomar o

equilíbrio econômico. A postura adotada pelos credores é justificada principalmente,

conforme condições garantidas pelo último pacote de resgate em que reduzem a tensão em

torno da possibilidade de uma crise econômica na zona do euro. A Troika ao adotar a

estratégia de não emprestar levaria a um aumento na instabilidade econômica da Grécia,

elevando o deficit público e o agravamento dos indicadores sociais, com o aumento do

desemprego e queda na qualidade de vida. Tão logo, a Grécia, com a crise da dívida

experimentando um aumento de proporções e sem meios de obter novos financiamentos por

parte da Troika, acabaria por alternativa a declaração de default.

O default por parte da Grécia é considerado, em medida, favorável à Troika quando

através deste há uma contenção em relação aos impactos negativos que a crise vivida pelo

país pode surtir aos demais países da zona do euro. Tão logo, a postura inflexível dos credores

não permitiria que fossem assumidas novas relações contratuais ainda que haja o não

cumprimento por parte da Grécia. Além disso, o risco moral sofrido pelos credores a partir do

não cumprimento dos acordos estabelecidos faz com que estes percam a credibilidade frente

aos demais países da zona do euro e ao sistema no qual operam. Outro fator a ser considerado

por parte da Troika é a possível influência, por parte da Grécia, quanto à decisão de deixar de

fazer parte da união monetária aos demais países membros, que tem experimentado nos

últimos anos uma crise econômica, principalmente no que tange aos países periféricos.

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71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estabelecimento de um jogo dinâmico para a verificação do processo de tomada de

decisão em uma relação contratual serviu para a verificação da influência do ambiente na

determinação dos resultados associados ao processo decisório. Ainda que, a tomada de

decisão no estabelecimento de negociações se baseia na defesa de interesses buscando retorno

máximo por cada agente, como visto no caso da Grécia e seu grupo de credores – Troika

deve-se levar por conta a influência exercida pelo cenário econômico o qual operam os

agentes. O cenário de crise da dívida vivido pela Grécia, a partir de 2008, fez com que o país

ao longo de sua trajetória econômica, adotasse medidas que, na busca em solucionar

problemas econômicos acabaram por gerar impactos negativos nas questões sociais, levando

ao descontentamento da população.

A Troika, enquanto credor, em seu processo de tomada de decisão, tem em seus

interesses a manutenção das questões econômicas que pairam o sistema do qual fazem parte

os países membros da zona do euro. Suas decisões visam manter a credibilidade da estrutura

monetária, além de sua autonomia enquanto credor e influente no processo de tomada de

decisão econômica dos países membros. Para tal, cabe a influência no cenário de crise da

dívida no qual operam os países da zona do euro, principalmente os países periféricos, desde

2010.

Desta forma, a configuração dos indicadores econômicos e sociais da Grécia

considerando os efeitos da crise, a partir de 2010, fora fundamental para o estabelecimento

dos pacotes de resgate e adoção da postura assumida pelo país em meio a relação contratual,

no qual se via na necessidade em conciliar as demandas sociais na busca pelo equilíbrio

econômico. Da mesma forma, influenciada pelo cenário no qual se encontra, a Troika assume

sua postura como credora e estabelece suas estratégias, imponto medidas condicionais de

austeridade fiscal com vista a garantir um equilíbrio econômico.

O resultado obtido no jogo permitiu a verificação da hipótese de que, mesmo que não

haja a exclusão da Grécia da união monetária por parte da Troika, as condições criadas por

essa farão com que o país considere sua saída da zona do euro, condições essas ideais a

garantia de um maior payoff para o grupo de credores. Desta forma, ainda que não estimadas

de forma precisa, as ações da Troika, sabe-se que essas, dentro de um possível conjunto de

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possibilidades, terão por base estratégias que lhe garantam um melhor resultado,

maximizando sua utilidade frente às decisões de seu oponente. Considerando que a Grécia,

vem assumindo um comportamento de não cumprir os acordos e imposições estabelecidas, a

Troika, através de suas ações, criará situações que irão dificultar o estabelecimento de novas

negociações com o país, através de imposições e cláusulas contratuais para a obtenção de

empréstimos, assim como, uma maior propensão por assumir a ação de não emprestar. Já que,

fora verificado que ao assumir a ação empresta, gera incentivos para que a Grécia assuma

comportamento não cumpridor.

A possível saída da Grécia da zona do euro é favorável à Troika na medida em que, ao

não contar com um país em situação de crise, há a redução do risco de contágio aos demais

países, em relação às instabilidades econômicas e sociais, além da possível influência em

relação ao não cumprimento das cláusulas contratuais estabelecidas. A possibilidade de uma

crise nos países da zona do euro já se faz real, principalmente nos países periféricos, tendo

estes, desencadeado uma dívida sem precedentes a partir do acúmulo do deficit público. A

tensão em torno de tal fato se dá pelo risco de que os países em crise, ou até mesmo aqueles

temerosos, decidam por deixar a zona do euro com vista em uma maior autonomia quanto ao

estabelecimento de políticas monetárias, o que levaria a extinção da união monetária. Com

base na defesa aos interesses da união monetária, a Troika desenvolve suas estratégias, motivo

pelo qual essa tem estabelecido acordos com os países em crise e imposto medidas de

austeridade e controles fiscais.

Em relação à saída da zona do euro, muitos autores, como Bresser (2010), Diniz e

Jayme Jr (2012), consideram como medida arriscada. Ainda que, deixar de fazer parte do

sistema garanta autonomia no desenvolvimento de políticas monetárias, e estratégias frente à

tomada de decisão de cunho econômico, sair da zona do euro pode dificultar ainda mais a

situação econômica do país. O que pesa quanto ao processo de saída da zona do euro, com

foco principalmente em relação à Grécia, seria a necessidade de recomeçar sua estrutura

econômica, dado que fora modificada para se enquadrar aos padrões de aceitação da zona do

euro, tendo que operar com uma desvalorização significativa de sua moeda frente ao euro.

Além disso, há questões como a proteção garantida pelo sistema monetário que conta com

estados membros e instituições de grande influência no mercado internacional. Porém, o que

se tem notado com o desencadeamento da crise na zona do euro, são as fragilidades existentes

no sistema de moeda única estabelecido. Torna-se cada vez mais evidente as disparidades

econômicas e estruturais existentes entre cada país membro e que, por vezes não são

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73

consideradas ao processo de estabelecimento de políticas monetárias pelo Banco Central

Europeu, o que beneficia superpotências, como Alemanha e prejudica países periféricos como

Grécia e Portugal.

A análise de um fato corrente através do estabelecimento de um jogo dinâmico permitiu

a consideração de diferentes dinâmicas possíveis através de suposições quanto ao

comportamento dos agentes em uma relação conflituosa, além das alterações no cenário com

base em impactos econômicos e sociais. Logo, o presente trabalho não teve por intenção

estabelecer um resultado concreto, considerando que as suposições feitas se basearam em

tipos definidos pelos agentes e ações previamente estabelecidas, restringindo os fatores que

compõe a relação. A configuração da relação contratual por parte da Grécia e da Troika na

realidade leva em conta uma quantidade ampla de fatores, alguns subjetivos em que os

agentes não detêm controle ou conhecimento, compostos pela influência sempre presente do

ambiente no qual se encontram. Como consequência, os resultados obtidos nas relações

contratuais pelos agentes podem configuram em uma dinâmica diferente das consideradas no

jogo formulado.

Por fim, a estrutura de jogos dinâmicos utilizada para a representação da relação

contratual cabe a qualquer processo de tomada de decisão que leve em conta o conflito de

interesses existente no estabelecimento de estratégias entre credores e devedores. Além disso,

permite explorar a importância do entorno sobre o processo decisório dos agentes, cobrindo

uma ampla possibilidade de estudos a serem desenvolvidos. Assim, uma possibilidade a ser

considerada, levando em conta o cenário de crise na zona do euro desenvolvido no presente

trabalho, é o processo decisório nas negociações existentes para demais países periféricos

membros da união monetária com a Troika, da mesma forma, como o estabelecido para a

Grécia no presente trabalho.

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APÊNDICE

APÊNDICE A - Variáveis explicativas para determinação do comportamento da Grécia.

Variáveis Descrição

Produto Interno Bruto – PIB Preços correntes - milhões de euros

Exportações Exp; por países da União Europeia, milh. de euros

Importações Imp; por países da União Europeia, milh. de euros

Índice de preço - IPC Índice de preços domésticos (2010=100)

Desemprego De 15 a 74 anos, média trimestral – 1000 pessoas

Dívida Dívida do governo em milhões de euros

Superávit Milhões de euros

Superávit em relação ao PIB - SSP Superávit/PIB

Fonte: Elaboração própria.

APÊNDICE B - Parâmetros utilizados no jogo e suas descrições.

Parâmetros do jogo Descrição

𝜃1 Grécia tipo mais submisso

𝜃2 Grécia do tipo insubordinado

𝑝 probabilidade da Grécia assumir o tipo 𝜃1

(1 − 𝑝) probabilidade da Grécia assumir o tipo 𝜃2

𝜑1 Troika com perfil mais leve nas negociações

𝜑2 Troika com um perfil mais rígido

𝑞 probabilidade da Troika assumir tipo 𝜑1

(1 − 𝑞) probabilidade da Troika assumir tipo 𝜑2

𝐶 ação da Grécia referente a opção “cumpre”

𝑁𝐶 ação da Grécia referente a opção “não cumpre”

∝1 probabilidade da Grécia em adotar a ação 𝐶

(1−∝1) probabilidade da Grécia em adotar a ação 𝑁𝐶

𝐸 ação da Troika referente a opção “empresta”

𝑁𝐸 ação da Troika referente a opção “não empresta”

𝛽1 probabilidade da Troika em adotar a ação 𝐸

(1 − 𝛽1) probabilidade da Troika em adotar a ação 𝑁𝐸

Fonte: Elaboração própria.

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APÊNDICE C - Características dos três principais pacotes de resgate obtidos pela Grécia a

partir de 2010.

Valor obtido

Organizações

Envolvidas

Prazos

Termos estabelecidos

1° Pacote

de resgate

(Início

abril de

2010)

€110 bilhões.

Estabelecimento da

Troika (BCE, CE e

FMI).

2013 – fim do

programa.

- Cortes nos gastos fiscais.

- Congelamento dos salários dos

servidores públicos com corte de

10% nos bônus de hora extra;

- Aumento nas taxas do IVA para

23%, 11% e 5,5%;

- Aumento no imposto da gasolina

para 15%;

- Retorno de impostos sob

pensões;

2° Pacote

de resgate

(Início

março de

2012)

€130 bilhões

Troika, MEE

2014 – fim do

programa.

- Cortes nos gastos fiscais;

- Redução em 20% do salário

mínimo;

- Diminuição no quadro de

funcionários públicos;

- Políticas de privatização.

3° Pacote

de resgate

(Início

julho de

2015)

Pode chegar até

€86 bilhões –

em curso.

Troika (dúvida em

relação ao FMI), MEE

Início de 2016

– fim do

programa.

- Cortes nos gastos fiscais;

- Diversas reformas incluindo

questões referentes à

aposentadoria e no sistema

trabalhista;

- Aumentar o programa de

privatizações incluindo o setor

elétrico;

- Regulamentar o sistema bancário

havendo redução no crédito;

- Consultar a Troika na tomada de

decisão quanto a reformas e planos

econômicos.

Fonte: Dados: boletim Comissão Europeia, 2010 e 2015. Elaborado pelo autor.