Jubileu e Quaresma

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    Peregrinao quaresmal

    A peregrinao manifesta um ardente desejo de mudana inerente espcie humana e revela asua condio peregrina de ser que se encontra sempre a caminho (homo viator). Peregrinar

    passar para a outra margem, para outra cidade; procurar outra condio de vida; deixar opassado e projectar-se para a frente; mudar de vida.

    A peregrinao tem, por isso, como primeira condio, deixar para trs todos os impecilhos quedificultam a caminhada. Para os cristos, o maior impecilho o pecado, ou a condio de homemvelho adormecido em situaes que o afastaram de Deus. A meta da peregrinao crist acelebrao da festa da Pscoa, em que o homo viator se encontra recriado e configurado comCristo ressuscitado. Esta celebrao tem um tempo de preparao: a peregrinao quaresmal, outempo de converso.A peregrinao " exerccio de ascese activa, de arrependimento pelas faltas humanas, devigilncia constante sobre a prpria fragilidade, de preparao interior para a converso docorao" (Incarnationis Mysterium n. 4).O arrependimento/converso leva o cristo a cobrir-se simbolicamente de cinzas no comeo daQuaresma. Reconhece assim a sua origem: o p da terra, que recebeu o sopro vital de Deus

    Criador. Cobrir-se de cinzas significa renunciar ao pecado de soberba de Ado, que quis serautosuficiente e rejeitou Deus, para ser senhor de si prprio.Humilhando-se a si mesmo e obedecendo at morte, Jesus oferece-se humanidade, pecadora erebelde, qual fruto de vida pendente de rvore nobre plantada no cho do Calvrio, emcontraposio rvore do paraso onde, na desobedincia, Ado quis usurpar a cincia do bem edo mal (Gn 3,5).

    No processo de converso, o cristo aceita a lgica de Jesus Cristo enunciada aps quarenta diasde jejum: cobia de poder, reage com a obedincia e a orao; ao desejo desenfreado de ter,responde com um estilo sbrio de vida, com a solidariedade e a esmola; ao prazer cego edesumanizante, contrape o jejum. "Atravs da vigilncia, do jejum, da orao, o peregrinoavana pela estrada da perfeio, esforando-se por chegar, com a ajuda da graa de Deus, 'aoestado de homem perfeito, medida da estatura completa de Cristo' " (Ef 4,13). (IM, n.7).

    Na peregrinao quaresmal, o cristo encontra-se com a misericrdia e santidade de Deus. Onosso Deus antes de mais um Deus de misericrdia que espera longamente porta de casa pelofilho transviado. Ele deseja ardentemente o nosso regresso, est sempre pronto a perdoar, a fazerde ns homens novos, recriando em ns a Sua imagem e semelhana apagadas pelo pecado. Asua ternura mais forte que a de uma me pelo filho (Is 49, 15), os seus desvelos so to intensoscomo os do bom pastor que carrega aos ombros a ovelha perdida (Lc 15,1-7), o seu corao tomagnnimo como o do pai que acolhe em festa o regresso do filho que andava perdido (Lc

    15,11-32).Ao decidir empreender a peregrinao de regresso a casa, o filho prdigo no se deixa dominarpelo medo do pai. "O caminho da converso supe vencer o medo de Deus" (D. Jos Policapo in"Subamos a Jerusalm", p.25, Paulus editora). "No h pecados sem perdo, no h abandonoque no possa ter regresso, no h fraqueza que no possa ser transformada em fora, pela graado Esprito de Deus" (idem). O encontro do amor misericordioso revela ao pecador outro atributode Deus: a Sua santidade infinita. Por isso, o pecador arrependido sente vibrar no seu corao oconvite de Jesus: "Sede perfeitos como perfeito o vosso Pai que est nos cus".

    A peregrinao quaresmal tempo de purificao da memria. Esta consiste em perdoar ereceber perdo. O cristo, que experimentou o perdo de Deus, no pode privar os seus irmos

    desse mesmo dom. Quem experimenta no seu corao a paz e a alegria da misericrdia de Deus,abre por sua vez o corao e os olhos caridade para os que vivem pobres e marginalizados.

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    Quem no perdoa, no pode dormir; e se dormir, s ter pesadelos. S o perdo pode curar aschagas da mente e do corao.Todos os cristos precisam de purificar a memria. "Isto requer de todos um acto de coragem ede humildade para reconhecerem as faltas cometidas" (IM 11). O pecado tanto pode ser pessoalcomo colectivo. Peca a pessoa e peca a Igreja enquanto comunidade de crentes, santos e

    pecadores. Por isso os cristos (a Igreja), por causa daquele vnculo que os une uns aos outrosdentro do Corpo mstico, continuam a carregar "o peso dos erros e culpas dos antepassados". OSanto Padre, na qualidade de Sucessor de Pedro, pede que "neste ano de misericrdia a Igreja,fortalecida pela santidade que recebe do seu Senhor, se ajoelhe diante de Deus e implore o

    perdo para os pecados passados e presentes dos seus filhos" (IM 11).

    Uma atitude feliz e corajosa para celebrar pela duo milsima vez a Pscoa de Jesus, que sehumilhou at morte de cruz, para oferecer humanidade o dom do perdo e do amor de Deus,Pai de misericrdia.

    Jubileu e Quaresma primeira vista, h uma ligao imediata entre estas duas realidades - a quaresma e ano jubileu:so tempo de converso efectiva, tempo de mudana, tempo de prtica de obras de misericrdia a

    preparar um tempo novo, uma vida nova, um mundo novo. So tempos de 'morte', melhor, demorrer para muita coisa, em vista de um nascer de novo, de uma verdadeira ressurreio.Mas a relao entre a quaresma e o ano jubileu capaz de ser algo mais profundo, mais global eenvolvente da espiritualidade e do quotidiano dos cristos...Hoje, na Igreja, o ano jubileu uma comemorao - a comemorao da vinda de Jesus Cristo aomundo. o aniversrio dum mistrio, o mistrio da Incarnao, o qual, em si mesmo, se anunciacomo uma ddiva de amor e de bem para com todos os homens e mulheres que vivem estaexistncia finita, limitada, marcada por dores, angstias e nsias de libertao. Ora, o mistrio

    pascal justamente o da celebrao desse Jesus que se deixa aniquilar, que se deixa matar, fiel aum projecto de salvao de tudo e todos. Quaresma e ano jubileu so, assim, tempo de re-centrara nossa vida em Jesus Cristo e no seu Evangelho. Constituem tempo privilegiado para umaleitura mais assdua e meditada dos evangelhos, para uma maior configurao com a vida e

    projecto de Jesus, para uma relao mais intensa e pessoal com Deus pela orao. Tempo paradescobrir, em Jesus, a humanidade divinizada e a divindade humanizada. So tempo de busca daluz, a luz que nos guia na viglia pascal e nos h-de guiar em toda a vida: Jesus a nossa luz, sEle caminho, verdade e vida. Tempo, pois, de recusa e abandono de todos os dolos que sequeiram converter em absoluto nas nossas vidas.

    Outro aspecto de profunda conexo entre jubileu e quaresma o que nos desvenda o ideal e a prtica da peregrinao. Quaresma aponta necessariamente para os quarenta anos deperegrinao do povo bblico no deserto, para os quarenta dias de errncia de Jesus tambm nodeserto. A peregrinao a Roma, a Jerusalm, ou a qualquer outro lugar, tambm uma notafundamental do jubileu. Assim como Jesus veio do Pai e para ele regressou, atravs da suaIncarnao e Ressurreio, assim tambm a vida do cristo h-de ser uma peregrinao contnua,uma converso contnua. Tomamos mais conscincia de que deus o nico e verdadeiro Senhordo tempo e da histria, que tudo vem d'Ele e se encaminha para ele. Isso motivo de celebrao,de festa, de paragem interior e louvor... mas tambm compromisso de caminhar em busca deaperfeioamento, em busca do limar de todas as arestas que ainda nos impedem de ser santoscomo Deus Santo, de ser perfeitos como o Pai perfeito.

    Finalmente, parece-me importante destacar um outro nexo entre jubileu e quaresma: a libertaode todas as cadeias de morte que sempre afectam pessoas e sociedades, hoje como ontem. O ano jubileu, que a Bblia diz celebrar-se todos os cinquenta anos, era uma instituio que, no

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    seguimento do que se vivia no dia de sbado e no ano sabtico (de 7 em 7 anos), servia paraprticas autenticamente revolucionrias (mesmo se no temos a certeza de que tudo se faziacomo estava prescrito na Bblia...), tais como libertao dos escravos, possibilidade de regressoao seu cl/famlia, perdo de todas as dvidas, recuperao do patrimnio pela devoluo dos

    bens aos antigos proprietrios, repouso da terra onde os pobres podiam ir recolher do que

    necessitassem, etc. etc. Todas estas medidas tinham uma inteno: dar a oportunidade a todos deum recomear a partir do zero, comear uma vida nova. E bem uma perspectiva quaresmal: apreparao da ressurreio, a preparao dos 'novos cus e nova terra' pede uma converso dementalidades e de atitudes e de estruturas e de leis e de instituies e de costumes que, muitasvezes, matam a vida plena que Jesus quer que vivamos. Reavivar, actualizando, as leis sociais do

    jubileu bblico, eis um desafio autntico para a quaresma: amnistias de vria ordem? Restituioa trabalhadores? Resgate de escravos (como o fez h pouco o Vaticano em relao a jovens daSerra Leoa)? Perdo de dvidas dos pases pobres? Mais abertura face a casais cristos quetiveram que refazer a sua vida?

    Jesus fez a sua quaresma, os seus quarenta dias no deserto, "cheio do Esprito Santo", acabado de

    receber o baptismo do Jordo (Luc. 4). Foi esse mesmo Esprito que guiou toda a vida de Jesuspara proclamar, viver e estabelecer, de facto, o Reino, o Ano da graa! esse mesmo EspritoSanto que nos ser dado como indulgncia maior e nos capacitar para viver todo o ano jubilarem esprito quaresmal, em esprito de renovao das nossas vidas. Com Ele teremos foras nonosso caminhar peregrino, com Ele ousaremos o desprendimento das cargas que nos matam edestroem, com ele ganharemos a coragem para os combates da construo de um mundo mais aogosto de Deus e do Homem.

    Livres porque perdoados das dvidasO Jubileu um tempo de alegria porque tempo de libertao. Assim foi quando se anunciavaque "no quinquagsimo ano ser proclamada na vossa terra a liberdade de todos os que ahabitam". Era a libertao dos que deixaram de ser livres por no terem meios para viver ousimplesmente porque foram submetidos a essa condio por abuso dos outros. A misso de Jesusenquadra-se nessa linha como Ele o proclamou na sinagoga de Nazar e, assumida pelos seusseguidores, continua a realizar-se em cada gesto de quem se deixa mover pelo mesmo Esprito.

    Iniciando a Quaresma, um "tempo favorvel e de salvao", pode-se dizer que o seu esprito maisgenuno a vivncia jubilar da libertao, que parte da sua primeira fonte e modelo que o amorde Deus: inteiramente gratuito, unicamente dom. Apenas uma condio imposta pelosrecebedores: serem perdoados "como perdoamos aos nossos devedores". Isto se passa ao nvelinterpessoal, mas tambm ao nvel da prpria famlia humana na sua globalidade.

    Por isso o Papa, na Tertio Millenio Adveniente, indica com clareza que uma das formas de vivero Jubileu passa pelo empenhamento dos cristos em proporem que ele seja "um momentofavorvel, entre outras coisas, a uma reduo importante ou at ao perdo total da dvidainternacional".Verificou-se esse envolvimento, que teve momentos altos nas manifestaes por altura daCimeira do G8, primeiramente em Birmingham e, no passado ms de Junho, em Colnia. O maisimportante dos seus resultados no foi a reduo conseguida, "migalhas de consolao", massim, como diz a Directora da Coligao Jubileu 2000, constatar que "a criao de um novo

    paradigma econmico est surgindo pela crise financeira, por milhes de pessoas que estofazendo campanha em todo o mundo, por influncia dos media e por estrelas do pop e pessoas

    famosas que reflectem a mudana da forma de pensar do povo."

    Tambm entre ns se deram alguns passos: o grupo dinamizador da Campanha pelo Perdo da

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    Dvida apresentou mais de 100.000 assinaturas, sinal da interpelao que foi para muitos e doenvolvimento para alguns. H agora que continuar a desenvolver uma atitude crtica perante onosso mundo que se tornou numa aldeia, onde tudo o que importante tambm nos diz respeito.Em relao Dvida Externa h que enquadr-la na dramaticidade da situao, expressa nosnmeros, contemplada nas imagens dos media, e sentida no corpo e no esprito de tanta gente

    com quem a nossa vida se cruza no dia a dia: os homens e as mulheres que deixaram as suasterras para aqui tentarem sobreviver. E esses so apenas uma amostra deste mundo cada vez maisperto e ao mesmo tempo cada vez mais contrastante, como nos mostrado pelo Relatrio doDesenvolvimento Humano, segundo o qual os activos das 200 pessoas mais ricas so maiores doque o rendimento conjunto de 41 % da populao mundial; onde uma contribuio de 1% dessas200 pessoas podia prover o acesso de todos educao primria; onde a distncia entre os pasesmais ricos e os mais pobres, sendo de 3 para 1 em 1820, passou de 72 para 1 em 1992.O apelo converso significa dar uma orientao nova s atitudes que no esto em sintonia como Reino de Deus. Falar do perdo da dvida implicar ultrapassar a atitude simplista de quem diz:"se deves, paga" e passar para uma atitude mais crtica que permite perguntar: "perdoar para

    qu ?" E nesta fase convm, em primeiro lugar, saber que, ao advogar o perdo, ningum querbeneficiar os ladres e os corruptos, mas apenas aqueles que suportam os efeitos negativos dedvidas que no contraram; em segundo lugar, convencer-se de que o perdo no corresponde auma esponja passada por sobre os problemas, mas um processo estruturado de forma a no

    permitir a repetio do mal cometido; depois importa saber que as disponibilidades liberadaspelo perdo devem ser devidamente monitorizadas por entidades independentes. E, acima detudo, preciso acreditar que o perdo dignifica, eleva e liberta a quem o concede. No temsentido falar de Jubileu sem a referncia libertao dos cativos de qualquer tipo; fazer umJubileu para Deus tarefa completamente intil, uma vez que foi Ele que o estabeleceu por causados seus filhos que quer ver livres e felizes.Diante do mundo desequilibrado e desumanizado e, ao mesmo tempo to prximo de cada um dens, uma pessoa no poder falar de jubileu se alguma coisa no fizer para que este seja um "anoda graa" para aqueles que mais dela precisam. Quase sempre no passaro de coisas pequeninase insignificantes; mas sero as que esto ao nosso alcance. E desprezar estas possibilidadesconstitui uma rejeio daquilo que Deus nos oferece como dom. Dizer que estas questes notm nada a ver com a nossa f, corresponder a dizer que Deus no tem nada a ver connosco;deix-las s para os polticos, significar prova de menoridade e de irresponsabilidade; pensarque devem ser resolvidas s por quem as criou l bem longe, ser pr-se fora do esprito"catlico", isto universal; lan-las para fora do nosso mundo religioso ser entrar num templodentro do qual Deus no se encontra.

    cultura da marginalizao gerada pelo egosmo e por um sistema que deixa ao mercadoestabelecer as regras e hierarquizar valores h que contrapor uma cultura da solidariedade e daresponsabilidade. E esta cultiva-se dentro de cada um, mas tambm na famlia aberta aos outros,na comunidade feita povo a caminhar com o povo, nas escolas identificadas com o projecto deum mundo novo e fugindo ao risco de se tornarem incubadoras de futuros gestores de um mundoevangelicamente caduco, nos grupos nascidos para ajudarem os outros a serem mais felizes, nastertlias daqueles que esto em posse de muito saber e que tm a obrigao de o pr ao serviodos outros.

    A campanha pelo perdo da dvida vai continuar, o problema do comrcio internacional est apreocupar mais a sociedade civil (lembre-se o que se passou em Seattle nos ltimos dias do

    milnio), a xenofobia provocar os nossos conceitos e atitudes (veja-se o caso de El Ejido, aquiao lado), a defesa da vida humana como valor fundamental tambm nos poder interpelar(recorde-se a campanha promovida pela Comunidade de Santo Egdio contra a pena de morte), o

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    relacionamento entre os pases do Norte e os do Sul poder despertar a nossa imaginao ecriatividade (no se esquea que em Portugal funciona, durante este semestre, a Presidncia daComunidade), o problema da guerra e da paz e especialmente o caso de Angola constitui umsrio apelo (esteja-se atento, pois vai ser levada a cabo uma campanha de recolha de assinaturasentre as crianas em favor dessa causa).

    Converter-se ao Senhor quer dizer virar-se para Ele, para o mundo novo que nos proposto.Virar-se tambm para o perdo da dvida, a qual constitui um dos ingredientes da confuso nacasa dos filhos de Deus.

    Purificao da Memria em Tempo Quaresmal1. A purificao da memria na bula "Incarnationis Mysterium"

    O tema da "purificao da memria" ocorre, na Bula de proclamao do Grande Jubileudo ano 2000 - "Incarnationis Mysterium" - no interior do conjunto dos sinais dacelebrao jubilar, j anunciados na carta apostlica "Tertio millenio adveniente", e que o

    Santo Padre de novo recorda. Estes sinais ou sugestes so sobretudo de natureza"penitencial", ou seja, daquela evanglica necessidade de mudana de mentalidade (e que

    poderamos designar como a vertente interior, notico-cordial da converso) e daigualmente evanglica necessidade de mudana de rumo ou mesmo de inverso demarcha, segundo uma metfora espacial (e que poderamos considerar como a vertenteexterior, visvel da converso e da penitncia), como forma de inverter a marcha dahistria, a muitos ttulos um processo de afastamentos e de distanciamentos, a respeito deDeus, do homem e do mundo, fragmentando-se ao infinito. Este processo csmico ehistrico de um universo que se expande e se afasta ao infinito nos dramas (e mesmotragdias) dos humanos desentendimentos, contradiz a saudade de uma unidade primordial

    pressentida na memria espiritual da humanidade agora como que esquecida de si, econtradiz sobretudo a lgica da Incarnao que simblica da comunho, j sofrida naagonia do Senhor e na Sua orao pela unidade ("para que todos sejam um s; como Tu, Pai, ests em Mim e Eu em Ti, que tambm eles estejam em Ns, para que o mundo creiaque Tu Me enviaste": Jo 17, 21), e contradiz igualmente a lgica pentecostal do EspritoSanto que congrega a Igreja na unidade e na comunho -"como se tivessem uma salma"(Act 2,46) - invertendo e escatologicamente demolindo a lgica bablica doafastamento, onde se pressente o diabolismo que se inscreve na histria do "pecado" dahumanidade - "mysterium iniquitatis" -, qual mcula original que a acompanha no seudevir.

    2. A dinmica penitencial/quaresmal estruturante do ano jubilar As sugestes do Santo Padre na Bula de proclamao do ano santo evocam as principais aces penitenciais (converso interior e mudana de rumo existencial), porque o ano jubilar sobretudo um ano penitencial, de converso e de mudana, como condio de possibilidade deaceder alegria da festa da reconciliao, da paz e da unidade. Estas aces penitenciais sotodas elas importantes, porque consubstanciam esta dupla dimenso da penitncia, comoconverso e como mudana, mas sobretudo como reconciliao, e neste ponto que se d um

    perfeita convergncia entre espiritualidade jubilar e espiritualidade quaresmal, como facilmentese pode ver.

    3. A "purificao da memria" no conjunto dos sinais penitenciais jubilaresO Santo Padre evoca, na bula "Incarnationis Mysterium", os principais sinais penitenciais do anojubilar, nos quais a "purificao da memria" ocupa, na nossa leitura, o lugar central, ou at, para

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    usarmos uma metfora musical, constituem uma variao sobre o mesmo tema. Para o mostrar,consideremos analiticamente cada um dos sinais.a) A peregrinao (IM 7) mostra a condio do homem como o ser que se encontra sempre a

    caminho, 'homo viator', orientado para um fim que tambm e ao mesmo tempo o seuprincpio e a sua origem fundamental. A peregrinao reconduz o peregrino memria de si,

    no caminhar da alma para o reencontro pacificado consigo mesma, ao mesmo tempo queconvida teraputica do desenraizamento, a fixar-se no que seja essencial na nossa vida, que uma passagem para a outra margem, um permanente estar em trnsito. E o que essencial?

    b) O essencial o caminho, ou a direco do caminho, ou a via de acesso ou a porta santa (IM8) da entrada na meta para onde a peregrinao existencial se orienta. Mas que memriatambm de que h caminhos e de que h portas que no conduzem a lugar nenhum e que nodo entrada em parte nenhuma. A "porta santa" o sinal de passagem tambm, massobretudo de entrada, na cidade de Deus, na terra da promessa... Porta que estreita e que alargada... Porta que Cristo mesmo, de acesso ao mistrio de Deus e ao mistrio do homemenquanto tal.

    c) A indulgncia/penitncia (IM 9-10) tomada de conscincia, a memria interiorizada ecelebrada do mistrio do pecado na vida dos cristos, o pecado cuja gravidade consiste noafastamento (revolta, desobedincia, indiferena, esquecimento...) de Deus, dos outros, de ns

    prprios e do mundo. Neste sentido poder perceber-se melhor, do ponto de vista cristo, a criseecolgica, porquanto, no mundo dos diabolismos e dos afastamentos, a terra deixou de serhabitvel... A penitncia como mudana necessria de vida, como necessria reparao do malque cada um de ns na sua vida praticou. A "indulgncia" o perdo da pena temporal merecida

    pelo pecado e que deve ser cumprida, quer seja no "tempo histrico", quer seja no "tempointermdio"(purgatrio). Trata-se do tempo necessrio reparao do mal causado ao prximo e,

    por conseguinte, a Deus, porque com o prximo (sobretudo na sua pobreza e indigncia) que oSenhor se identifica. Ento a indulgncia surge como a sublime manifestao da solidariedadeespiritual que caracteriza o mistrio da Igreja, a qual, na comunho dos santos, se oferece parareparar as consequncias nefastas do pecado que os cristos, cada um individualmente, no poderealizar. Neste sentido, mais do que "ganhar" indulgncias, dever falar-se em "pedir"indulgncia Igreja, para que ela por ns repare o mal que ns, pobres pecadores, cometemos.

    Na indulgncia o cristo coloca-se em sintonia com o mistrio da comunho eclesial pedindo Igreja que se oferea por ele, e ele mesmo oferecendo-se pelos outros, na celebrao destemistrio da humana solidariedade no bem e no mal. Na indulgncia que se pede e que se d, na

    pobreza de quem sofre e faz sofrer, os cristos participam no mistrio da Igreja que se oferece

    por cada um de ns, que participamos na graa e no mistrio de outros, os Santos, mas sobretudono mistrio da redeno, no qual o Senhor continua a oferecer-Se por aqueles que por si mesmosnada podem.

    d) aqui que o Santo Padre insere a "purificao da memria" (IM 11), que a celebraopropriamente dita do perdo, do perdo que se pede, do perdo que se oferece, porque a palavrado perdo s pode ser ouvida, escutada, acolhida. A palavra do perdo ningum pode diz-la a simesmo. O perdo s pode ser dito aos outros e para os outros, ou escutado dos outros e pelosoutros. A purificao da memria o sinal da presena do Esprito Santo, que cura as mculas docorao sem deixar feridas; a memria purificada condio da reconciliao e da alegria

    jubilar, porque liberta o homem, liberta o cristo do ressentimento. E aqui tem de novo sentido a

    indulgncia, porque na indulgncia, como perdo, implora-se que a Igreja purifique (colocando-se em lugar deles) a memria dos que no podem, ou no sabem ou no querem; que elainterceda por aqueles que desejariam ouvir ou dizer a palavra do perdo, que purifica e pacifica o

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    corao, mas no podem. Ela faz por ns o que ns no podemos fazer. Mas porque a memria a faculdade da identidade, purificar a memria redescobrir a identidade, pessoal, social,cultural, e mesmo eclesial, nesta poca de esquecimentos e de desencontros. Mesmo se feitaquase de passagem, como um entre tantos sinais, a purificao da Memria aparece como oncleo essencial do processo de converso e de mudana, de uma urgncia epocal nesta fase de

    transio e de decadncia cultural que nos dado viver. Mas de uma purificao que no apenas das sombras (porque purificar no o mesmo que apagar), mas sobretudo daquelaagostiniana confisso da experincia do perdo e da mudana, que s possvel no toque dagraa, no toque do Esprito Santo, o nico que tem acesso ao interior inefvel e misterioso docorao humano. Como confisso, a purificao da memria tornar-se- um cntico do louvoragradecido, para o recomeo de uma nova etapa da histria pessoal e comunitria, porque o quefica para trs passou, o que importa o que se aguarda, porque o Senhor faz novas (e as renova)todas as coisas (2Cor 5,17-18: '...quem est em Cristo uma nova criatura...'; Fil 3,12-14: '...esquecendo-me do que est para trs e avanando para o que est adiante...')

    c) A purificao da memria ter como consequncia a caridade (IM 12), sobretudo na sua

    forma de caridade social (e pastoral e fraterna, e tantas outras formas). A caridade, emboraesteja na sua origem, tambm consequncia do perdo e da reconciliao, da mudana devida, que reconverte o corao do homem para o prximo, para o irmo que se encontra aolado. Este talvez seja o maior desafio para as comunidades crists, chamadas a ser fermento,osis de frescura neste deserto histrico das indiferenas, da massificao, do anonimato.

    d) A purificao da memria passar tambm pela memria dos mrtires (IM 13), que nosremete para a histria da santidade, para a histria da Igreja que tem nos mrtires de todos ostempos, do passado como do presente, os melhores dos seus filhos, que se identificaram como Senhor no derramamento do seu sangue. A purificao da memria pela evocao dotestemunho dos mrtires permitir a redescoberta da unidade reconciliada da vida, nacoerncia interna da palavra e da aco, da verdade, da liberdade e do amor.

    g) A Virgem Maria (IM14), aquela que interiorizava no seu corao o que escutava, escuta que acolhimento do mistrio da Incarnao do Verbo de Deus, aquela que a me de Deus, da Igrejae nossa me, o modelo perfeito da vivncia do ano jubilar, porque a figura excelsa da Igreja,dcil acolhimento do Verbo Incarnado e misso de O manifestar, de O dar luz como redentordo homem.

    4. Purificao da memria, espiritualidade jubilar e vivncia quaresmalA espiritualidade jubilar, de reencontro e de purificao da memria, adensa-se na espiritualidade

    quaresmal, pelo que, este ano, a vivncia crist da quaresma assume uma dimenso particular. Sevirmos bem, podemos estabelecer sugestivas relaes que afinal nos permitem descobrir que portrs de tudo est precisamente o cuidado divino e o cuidado pastoral em restituir, em restaurar(Sto. Atansio) a imagem de Deus no homem, estragada pelo pecado, tambm como afastamentoe esquecimento de si. A redeno, neste ano jubilar especial e intensamente celebrada, aparecesobretudo como restituio do homem sua dignidade, entretanto esquecida, no respeitada,destruda. Podemos ilustrar isto com o seguinte quadro, no qual se colocam em relao os temasestruturais da espiritualidade quaresmal e da espiritualidade crist, fundada trinitariamente, eassim perceber a pertinncia e oportunidade de todo o programa de preparao e de vivncia doano jubilar proposto pelo Santo Padre a toda a Igreja:As relaes que se estabelecem so as seguintes.

    Tomando como referncia a tentao satnica de Jesus Cristo no deserto, podemos ver nessastentaes a seduo pelo 'carpe diem', em torno do prazer, da honra e do poder, por exemplo, na

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    tentao e seduo de aparecer permanente sob as luzes da ribalta, de protagonismo, etc., e pelaseduo do ter, da riqueza, do uso dos bens, da fruio de si. Aqui est a insinuao diablica deum modelo de homem conseguido, de homem plenamente realizado...

    Mas esse no o caminho que Cristo segue, no o caminho cristo. Pelo contrrio, Jesus

    contrape outro modelo de homem, no do admico ou do trgico, mas sim o caminho do servo(Is 52-53), caminho paradoxal do escondimento, da pequenez e da insignificncia, representadopelas trs respostas de Jesus Cristo a Satans, aqui sintetizadas em torno da orao, do jejum e daesmola, como caminho outro ou como modelo de um outro tipo de humano que se colhe naatitude de f (obedincia), ou seja, de confiante entrega ao mistrio de Deus, que se vive naatitude de esperana (pobreza), segundo a lgica do Esprito Santo, que abre o homem para a

    perfeio do amor (caridade) do Pai (castidade).Pode ver-se neste quadro o cruzamento da espiritualidade quaresmal, com os conselhosevanglicos, com as virtudes teologais, com os dons do Esprito Santo e, finalmente, como raizltima, com as pessoas da Santssima Trindade.

    Por trs, por conseguinte, da espiritualidade crist (comum, alis, como nico caminho, mas quepode ser percorrido de muitos modos) est o projecto divino do humano, as bases ou alicerces,como que os princpios arquitectnicos de uma antropologia segundo o caminho e o ideal dasantidade, que seguimento e participao no mistrio da Santssima Trindade, o tema porexcelncia de contemplao e de adorao neste ano jubilar.Das comunidades crists em ano jubilar - e, neste ponto espera-se muito sobretudo dascomunidades religiosas propriamente ditas, que, segundo a grande teologia da tradiomonstica, podem e devem ser consideradas como autnticos laboratrios da existncia cristcomprometida na radicalidade do seguimento de Cristo no caminho da caridade solidria,daquele paulino "j no sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim"(Gal 2,20), - espera-seuma profunda transformao, uma profunda renovao espiritual e apostlica, no sentido dereencontrar-se, se que se perdeu, aquela atmosfera de acolhimento, de recolhimento, desilncio, e de alegria crist que decorrem de uma existncia austera e pacificada.

    Um 70 vezes 7 na Quaresma do JubileuNo percurso do ano 2000, o Jubileu uma revitalizao interior do dia a dia e no Jubileu daQuaresma, que tem incio na quarta-feira de cinzas, a 8 de Maro, uma purificao dosobstculos que pomos a este "ano de Graa" (Lc. 4,19). E o maior obstculo o pecado contraDeus e contra o nosso semelhante, que pode tomar o nome de mxima injustia que sendo contra

    Deus se repercute nos outros (Mt. 6,9) e que sendo contra os outros se repercute em Deus.O tempo humano est carregado de um dinamismo interior que vem da criao e temcontinuidade ascendente at ao fim dos tempos e neste movimento ascensional, o nascimento deJesus Cristo marca a plenitude do tempo (Gal. 4,4). Neste contexto, o Jubileu uma actualizaoda fora de plenitude que Jesus Cristo incutiu no tempo, levando-o sua mais alta perfeio. pois Jesus Cristo que o motivo do Jubileu, enquanto lembrana e enquanto celebrao.Estas duas faces do Jubileu devem exprimir-se em sinais, gestos e aces concretas e operativas,que essencialmente so estas: a converso, a penitncia, a remisso dos pecados e a reconciliaoentre os desavindos. (Cf. TMA, 14).

    A Quaresma que se aproxima um tempo propcio de perdo e reconciliao que, este ano,

    participa da grande Graa do ano jubilar. A Quaresma constituda por duas linhas de fora: amemria do baptismo e a prtica da penitncia a partir da certeza que o prprio justo peca setevezes ao dia por isso todos precisamos de perdo: receber perdo e conceder perdo.

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    Nesta situao de vivncia quaresmal e jubilar, torna-se ento mais urgente o apelo forte que nosvem daquela norma evanglica que constitui, sem dvida, um ideal elevado que nos imposto

    pelo seguimento de Jesus Cristo: "No te digo que (perdoes) at sete vezes sete, mas at setentavezes sete" (Mt. 18,22).

    Esta mesma norma, de esprito novo, necessria para o cristo ser sal da terra e luz do mundo(Mt. 5,13-14), participando de forma eficaz para transformar a sociedade dos homens.Quem est atento aos sentidos que o mundo toma e sensvel aos valores humanos e dignidadeda pessoa, reconhece que necessrio arrepiar caminho para criar um "mundo novo", com umacultura de humanismo e de paz e no de materialismo e de violncia., como lucidamente seexprime, no mbito da UNESCO, Frederico Mayor, no seu livro recente "Un Monde Noveau".H pedras fundamentais na construo de um mundo diferente, mas entre as principais est, semdvida, o reconhecer o mal que toma o nome de injustia, de violncia, de agresso e deencantonamento dos mais fracos nas zonas da indignidade. O mal tem sempre uma dimensosocial: afecta quem o pratica e a quem o suporta. E precisamente nessa juntura social que

    indispensvel o perdo: pedir perdo e conceder perdo, no esprito do ideal das 70 vezes sete,que sintoniza com o objectivo do Jubileu original que era o restabelecimento da igualdade entretodos os filhos de Israel e a sada de si mesmo e da sua instalao para ir em socorro dos mais

    pobres.No situao do passado, nem do sculo XIX, nem do princpio deste sculo XX, a fracturaentre ricos e pobres. Hoje, essa fractura s tende a aumentar. Num mundo de mais riqueza, hcada vez mais pobreza. E a riqueza existe nos ricos e a pobreza nos pobres. No so entidadesabstractas. Na segunda metade do sculo XX, o rendimento mundial cresceu sete vezes mais,enquanto o rendimento mdio por pessoa s cresceu trs vezes mais. Entre 1960 e 1995, os maisricos tiveram um aumento de rendimento de 70% para 86%, enquanto os mais pobres perderamrendimento de 2,3% para 1,3%.Estes nmeros so o indicativo de que as desigualdades agravaram-se nos ltimos anos e elas socausadas pelos pecados dos homens.

    Ser que esta situao ainda desperta, por si mesmo e por foras envolventes, ondas de diocontra os que possuem bens volumosos?

    Temos que criar condies para que o dio e a violncia no triunfem nos coraes, mas cresaem todos o esprito da paz e do perdo (cf. CA, 27). Isso deve levar a mobilizar os recursos emordem ao crescimento econmico dos fracos e ao desenvolvimento das capacidades dos pobres(cf. CA, 28).

    O Jubileu um tempo de esprito e de converso do corao e de mudana de vida que tmnecessariamente origem no perdo que imploramos a Deus e que estamos dispostos a dar, nadimenso do ideal evanglico dos 70 vezes 7. Na verdade o perdo a grande manifestao doesprito de Deus e a condio essencial para a construo do mundo novo que indispensvelno s para a felicidade, mas mesmo para a sobrevivncia da vida humana.

    A medida da civilizao, da felicidade e da realizao plena da pessoa e da sociedade a medidado perdo.

    Quaresma: tempo jubilarPreparamo-nos para a celebrao do Tempo Santo da Quaresma. O Santo Padre, na sua

    mensagem para a Quaresma 2 000 - Eu estarei convosco at ao fim do mundo - recorda-nos quea Quaresma do Ano Santo se configura com caractersticas especficas: "A celebrao daQuaresma, tempo de converso e de reconciliao, reveste-se dum carcter muito particular neste

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    ano, porque decorre no Grande Jubileu do ano 2000". E sustenta esta convico na constataode que, "o tempo quaresmal constitui o ponto culminante daquele caminho de converso ereconciliao que o Jubileu - ano da graa do Senhor - prope a todos os crentes, para renovarema sua adeso a Cristo e anunciarem com maior ardor o seu mistrio de salvao no novomilnio".

    Neste sentido, o Secretariado Arquidiocesano de Pastoral Litrgica, sensvel ao convite do SantoPadre, procurar promover tudo quanto possa concorrer para a celebrao deste "tempo precioso

    para experimentar a fora renovadora do amor de Deus que perdoa e reconcilia".Tendo presentes as propostas sinodais e, na fidelidade s suas funes de "sugerir e promovertodas as iniciativas prticas que possam contribuir para os progressos da Liturgia, especialmente

    para acorrer em auxlio dos sacerdotes que j trabalham na vinha do Senhor" (Instruo InterOecumenici, 47; Carta Apostlica Vicesimus Quintus Annus, 21; Carta sobre a Preparao e aCelebrao das Festas Pascais, 86), e para que as prximas celebraes quaresmais "se faamcom dignidade e devoo" (I.O. 39), o Secretariado est a preparar e disponibiliza a partir doincio da prxima semana, policopiados, subsdios para a celebrao da Quaresma jubilar.

    Os ditos subsdios constam de elementos para as celebraes a partir da Quarta-feira de Cinzas eneles consta tambm um esquema possvel de Celebrao Penitencial; podem ser procurados naSecretaria Arquiepiscopal ou na "Livraria Dirio do Minho".

    O Secretariado procurar ter sempre presente a nova sensibilidade do nosso tempo, quanto Quaresma, a partir da sua restaurao litrgica com o Conclio Ecumnico Vaticano II.Relativamente actual celebrao litrgica da Quaresma, o Vaticano II, na ConstituioSacrosanctum Concilium, no artigo 109, recomenda o seguinte: "Ponham-se em maior realce,tanto na liturgia como na catequese litrgica, os dois aspectos caractersticos do tempoquaresmal, que pretende, sobretudo atravs da recordao ou preparao do Baptismo e pelaPenitncia, preparar os fiis, que devem ouvir com mais frequncia a Palavra de Deus e dar-se orao com mais insistncia, para a celebrao do mistrio pascal. Por isso:a) Utilizem-se com maior abundncia os elementos baptismais prprios da liturgia quaresmal e

    retomem-se, se parecer oportuno, elementos da antiga tradio;b) O mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto catequese, inculque-se nos espritos,

    de par com as consequncias sociais do pecado, a natureza prpria da Penitncia, que adetestao por ser ofensa de Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prtica

    penitencial, nem deixar de recomendar a orao pelos pecadores".

    Linhas de fora da Quaresma

    Palavra de Deus, actualizada nos ritos sacramentais descobre-nos os objectivos da Quaresma.Objectivo final: Realizar em ns o ritmo de morte/vida da Pscoa de Cristo; dar a morte ao homemvelho, para realizar o homem novo segundo o modelo, que Cristo, o Homem novo segundo odesgnio de Deus.

    Objectivos imediatos:

    Tomada de conscincia da nossa situao de pecado (pecado pessoal, colectivo, estrutural) -endurecimento, incredulidade, insensibilidade -, para chegar convico da nossa pobreza, danossa incapacidade ou dificuldade para "ler" ou '"traduzir" o Evangelho na nossa vida. Como"pecados" especficos anotaramos: o formalismo, o minimalismo, o legalismo, o literalismo, o

    dogmatismo, a intransigncia, a agressividade, atitudes, comportamentos, que tm as suas razes, psicolgicas, educacionais, sinais de imaturidade, de infantilismo; sinais tambm deculpabilidade.

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    - A identidade crist; o especfico cristo. Diferenciao do crente. Motivaes, atitudes,comportamentos cristos.- A iniciao aos grandes sinais bblico-sacramentais. Problema inquietante, delicado, dada adificuldade dos nossos contemporneos "tecnologizados" para perceber, intuir os sinais naturais,

    base da significao histrico-salvfica.

    - Conhecimento-f-adeso a Jesus Cristo, "Servo de Deus", "nico Salvador", constitudo"Senhor", que realiza na sua pessoa, na sua existncia o Mistrio da Pscoa (morte-vida).- Conhecimento-f-adeso a Cristo, Mestre, caminho, Verdade e Vida, que com as suas obras eseu ensino nos revela e nos d a razo do Mistrio Pascal realizado n'Ele.- Descoberta do Deus revelado em Jesus Cristo, o Deus amor, misericordioso, Deus "Pai","esposo", "amigo", com entranhas maternais, que toma a srio o homem, valoriza-o, respeita-o,

    perdoa-lhe, que se "identifica" com o pobre, com o dbil...

    Aspectos a ter em conta

    No permitido o toque a solo de instrumentos musicais; s em acompanhamento do canto.

    Podem usar-se as Oraes Eucarsticas da Reconciliao.O altar no deve ter flores; discrio no adorno em geral.Deve haver uma celebrao penitencial.Em vez do Aleluia canta-se outro cntico.

    Nas frias da Quaresma as memrias obrigatrias tomam-se facultativas.A homilia recomendada.

    Secretariado de Pastoral Litrgica de Braga