Justa retribuição

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Em meio a uma invasão zumbi um homem encontra coragem para ajudar um grupo de inocentes crianças, mas há algo muito terrível e sujo se escondendo sob suas "boas intenções".

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- Meu Deus... Meu Deus... Meus Deus... O que eu faço?

Alan se mantinha sentado no sofá, abraçado às pernas de modo que seus pés tocavam o estofamento, deixando o mesmo com profundos sulcos devido ao tempo em que se encontrava daquele jeito.

Quando finalmente criou coragem, se ergueu lentamente, estalou os ossos doloridos e caminhou ainda mais devagar até a janela da sala, afastando com muito cuidado a sua cortina.

Na rua logo abaixo o inferno imperava.

Ele morava num sobrado que ficava no melhor lugar da cidade, tendo tudo o que precisava a poucos metros de distância.

Uma padaria, um açougue, um minimercado, uma farmácia e o mais importante: uma escola primária.

Agora ele via a Kombi branca, com os dizeres “Escolar” num adesivo na lateral. O veículo ainda estava imóvel, onde tinha estado após bater num poste.

Aquilo quase o acalmou, mas logo a paz foi substituída pelo terror.

O andar lento era pura enganação, como Alan já havia descoberto in loco algumas vezes. A roupa estava toda esfarrapada, com um imenso rasgo no flanco direito, de onde pendiam imensos nacos de carne. A cabeça ia meio inclinada para a direita com olhos leitosos que nada viam.

Depois de puxar violentamente a cortina, acreditando que o monstro talvez o tivesse visto e sentindo seus nervos se abalarem ainda mais, o pobre coitado praticamente se arrastou até a cozinha.

Ele precisava de um chá.

Ao passar diante de uma porta que apresentava várias trancas e cadeados ele estacou. Alan sentia gotículas de suor brotando em seu rosto, algumas escorrendo lentamente pelo seu pescoço.

Ele abaixou as mãos e as pressionou contra a bermuda, sentindo um latejar conhecido subindo e se espalhando pelo restante de seu corpo. Era como uma febre que lhe consumia e que precisava ser saciada imediatamente.

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- Não! – sua mão se dirigiu de forma automática até a primeira tranca, mas ele se controlou, seguindo em frente. – Agora não!

Mesmo sentindo tremores pelo corpo ele conseguiu preparar uma xícara de chá, voltando em seguida para o sofá.

“Preciso me acalmar...” o primeiro gole queimou de leve seus lábios e ele abaixou a xícara, esperando o líquido esfriar “Se eu perder o controle posso colocar tudo a perder...”

Conforme o chá foi ficando com a temperatura ideal Alan relaxou até terminar sua bebida e pegar algumas almofadas, deitando em seguida.

“Só preciso descansar um pouco...”

E então ele finalmente dormiu, mas não foi um sono tranquilo.

As lembranças de quando o mundo acabou não o abandonavam nem em seus sonhos.

XXX

O dia começou como qualquer outro, com Alan despertando ao som de uma das músicas dos palhaços Patati e Patatá, salva em seu celular.

Ele levantou sentindo as já familiares dores nas costas e com o gosto amargo em sua boca que o faziam enjoar todas as manhãs.

Assim que sentiu a água fria nas mãos seu corpo começava a se acalmar o suficiente até ele lavar o rosto e finalmente despertar de verdade, seguindo o restante do ritual matutino, indo preparar seu café enquanto via as mais recentes novidades na internet.

- Hum... Dez novos vídeos pra baixar? - ele já estava acostumado a deixar o computador ligado por dias seguidos, mas justo naquela manhã queria excluir alguns arquivos mais antigos. - Ah, quer saber? Dane-se... Sempre posso limpar isso amanhã...

Poucos minutos depois ele saía correndo do seu sobrado, atrasado como sempre, o que não o impedia de sorrir e cumprimentar os motoristas dos veículos escolares, bem como as crianças que eles traziam.

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- Ah merda... - Alan olhava desconsolado para o horário no relógio de ponto de seu trabalho. - Não é oito e cinco ainda merda... Droga...

Seguiu arrastando os pés até chegar à sua mesa e começar a analisar os pedidos serviços de sua empresa.

- Ê Alan... - para completar o inferno da manhã, Josué, seu supervisor, surgia de repente, com a mesma piada de todos os dias. - Atrasado de novo... Desse jeito vai acabar pagando prá trabalhar aqui... - Piada seguida da “frase motivacional” de sempre também. - Precisa ter foco Alan... Precisa ter foco.

Assim que se viu sozinho e após adiantar um pouco seu serviço ele olhou bem ao redor para ter certeza de que ninguém se aproximava e moveu o mouse até abrir uma pasta que sempre mantinha oculta.

Com os fones no ouvido Alan olhava atentamente para um dos vídeos que ele havia trazido de casa e antes que percebesse sua mão livre deixou o teclado e começou a ir lentamente na direção da calça, forçando-o a se levantar após alguns minutos.

- Oi Alan... - Era Jéssica, uma bela quarentona, que jurava mal ter passado dos trinta, que encontrou Alan saindo do banheiro. - Tudo bem? Parece meio cansado...

- Hã... Não... - como sempre a mulher se aproximava dele ao máximo, se insinuando de força quase explícita, causando um grande desconforto. - Digo, sim... Tá tudo bem... Eu... Acho que foi algo que eu comi ontem...

- Ah, tadinho... - Agora era quase possível ver os bicos dos seios dela, que ficaram à mostra por conta do generoso decote. - Se precisar eu posso ir na sua casa depois do expediente prá te fazer uma sopinha gostosa.

- Não precisa! Eu... Quer dizer... Já tenho compromisso...

Jéssica então se afastou deixando clara sua decepção com um longo suspiro e Alan aproveitou para ir quase correndo de volta para sua mesa, não saindo de lá até a hora do almoço.

O trânsito estava um pouco mais complicado do que o normal numa segunda feira, mas a ansiedade de chegar em casa e conferir os vídeos que ele havia deixado baixando, praticamente o cegou para o que estava acontecendo ao redor.

Nem mesmo a cacofonia de sons das sirenes da polícia, bombeiros e ambulâncias foi capaz de fazer Alan sequer olhar para os lados.

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- Finalmente... - ele saiu do carro, subiu o lance de escada pulando dois degraus de cada vez, pegou uma salada na geladeira, deixou o almoço esquentando no microondas e então sentou diante do seu micro. - Vamos lá...

Na tela os vídeos que ele recebera começavam a aparecer, deixando-o extremamente excitado. Alan quase derrubou o prato de seu colo ao pegar os fones de ouvidos, ficando realmente à parte do mundo.

“Vou me atrasar de novo, mas dane-se...”

Os minutos passaram e quando ele finalmente estava colocando as calças de volta, o som característico de uma batida de carro lhe chamou finalmente a atenção.

Foi quando ele retirou os fones que os sons do inferno lhe alcançaram.

Sirenes, gritos, até mesmo tiros.

- Mas que merda tá acontecendo?

Ele foi até a janela puxando lentamente a cortina e seus olhos se arregalaram.

A Kombi escolar da Tia Nana estava com a frente enterrada num poste, lá dentro quatro crianças choravam e gritavam, enquanto a dona do veículo, terrivelmente ferida, estava batendo nos vidros, num tom claro de ameaça.

- Cacete... – Ele olhou para o fim da rua e viu horrorizado um grupo de pessoas atacando um homem que ele reconheceu como o senhor Ozório, dono da farmácia. – Eles tão... Comendo ele?

O medo o fez fechar as cortinas e sentar abraçando as próprias pernas, não conseguindo acreditar no que estava acontecendo. Ele se lembrou dos vários filmes de zumbis que já vira na vida, mas nunca cogitou de verdade que aquilo poderia acontecer.

Só que ali estavam os monstros, andando pelas ruas e atacando até mesmo crianças.

Crianças. Os gritos de terror dos pequeninos ainda chegavam aos ouvidos de Alan e então ele tomou uma decisão.

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Alguns poderiam chamá-lo de herói, como ele começava a se sentir, mas talvez fosse melhor esperar um pouco mais antes de começar a distribuir rótulos.

Mesmo assim ele se preparou, a despeito do calor, vestindo as roupas mais pesadas que possuía, como seu sobretudo de couro, as calças jeans, e uma botina. Para completar pegou o bastão de baseball que havia comprado pela internet.

Assim que ele chegou à porta que dava para a rua, sua coragem quase sumiu, mas ao ouvir os gritos das crianças, respirou fundo e saiu, tentando ser o mais silencioso possível.

O grupo que atacava o senhor Ozório ignorou o possível novo “lanche”, o que deixou Alan mais confiante para se aproximar da mulher que continuava a se jogar contra as janelas da kombi.

O som de um pedaço de vidro sendo pisado foi o suficiente para que a ela se voltasse para Alan, que quase vomitou ao ver o rosto extremamente lacerado.

Os olhos apresentavam uma cor leitosa, quase como se ela estivesse cega, a pele era algo entre o cinza e o amarelo, a mandíbula estalou de forma estranha quando ela arreganhou os dentes na direção daquele que ousava interferir na sua tentativa de chegar às crianças.

Com um urro gutural ela se lançou na direção de Alan, os braços estendidos ameaçadoramente, deixando à mostra o fato de que, pelo menos, dois dos seus dedos estavam quebrados.

Seu andar era claudicante, parecia que seus joelhos não dobravam direito e foi num relance que Alan percebeu que uma das pernas da mulher estava praticamente virada ao contrário.

- Cacete...

Quando ela voltou a soltar aquele som infernal, Alan foi despertado do torpor em que se encontrava e só então ele se lembrou do bastão.

- Não olhem crianças!! - Ele deu um passo para trás, firmando os pés e usou toda sua força num ataque à cabeça do monstro, que tombou inerte, com apenas uma massa disforme sobre o pescoço. - É isso aí!

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A comemoração foi breve, pois os demais que permaneceram alheios à presença de Alan até ali agora começavam a olha na direção dele, alguns já se erguendo.

- Venham... - Sem perder tempo ele abriu o veículo, percebendo que haviam três meninas e um menino lá, todos extremamente assustados. - Temos que ir embora já!!

A urgência na voz do adulto fez com que os pequenos saltassem para a rua, duas meninas abraçaram seu salvador pela cintura, mas o momento de gratidão teria que esperar, pois os outros monstros começavam a se aproximar perigosamente.

- Vamos!

O grupo então correu para a casa de Alan, que conseguiu fechar a porta da garagem com certa folga de tempo, agradecendo ao fato de seus perseguidores serem tão lerdos.

Assim que chegaram ao andar de cima relaxaram, mal podiam ouvir as pancadas dadas contra a porta lá de baixo, por isso ele conduziu as crianças até seu sofá, uma delas chorava.

- Calma... Calma... Agora vocês estão bem... Os monstros estão lá fora e aqui eles não vão conseguir entrar... Isso... Sem choro... Como são seus nomes?

Cauê, Karina, Tamara e Luciana se apresentaram, as idades variando entre sete e nove anos e logo em seguida começaram a pedir comida.

- Certo... Venham até a cozinha...

As crianças, em sua inocência, logo estavam comendo tudo o que o anfitrião lhes oferecia.

- Tiô... - Era Tamara, a mais velha deles, quem falou após se sentir totalmente satisfeita e coçando os olhos. - Onde eu posso dormir?

- Hum... – Alan acabava de guardar um frasco com comprimidos quando se virou para as crianças. - Venham comigo.

Ele abriu a porta de um dos quartos da casa e os olhinhos de seus pequenos convidados se arregalaram.

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Nas paredes estavam espalhadas imagens dos personagens principais de vários desenhos animados, camas com motivos infantis e uma quantidade e variedade enorme de brinquedos.

No alto de um dos armários, longe o suficiente das pequenas mãos, jazia uma câmera digital cuidadosamente escondida.

Os quatro pequeninos entraram correndo, procurando brincar com tudo que podiam, até mesmo Tamara havia se esquecido do sono que sentira a pouco.

Alan se afastou lentamente, trancando a porta do quarto o mais silencioso que conseguiu, sentindo sua respiração falhar conforme o som das crianças ia ficando mais e mais baixo, deixando claro que o sonífero fazia efeito.

- Eu sabia que isso iria acontecer um dia... Eu sabia...

Quando conseguiu controlar as emoções que o invadiam naquele momento, ele se colocou a verificar toda a casa, procurando deixá-la o mais inexpugnável possível.

Ele não queria que nada, nada mesmo, o interrompesse.

O mundo estava realmente caminhando para o fim, pelo que ele viu na televisão, mas nem isso podia abalar a ansiedade que Alan sentia. A tarde literalmente voou enquanto ele se preparava, e assim que a noite finalmente chegou, não conseguiu mais resistir.

Tamara e Karina ressoavam alto, enquanto Cauê e Luciana ainda brincavam com blocos de montar, ignorando quando o dono da casa entrara no quarto e trancava a porta.

Silenciosamente Alan foi até a câmera, montou um tripé e voltou para onde estavam seus pequenos convidados.

- Crianças... - conforme começava a se aproximar, seus passos eram lentos, lembrando o monstro cuja cabeça ele havia destroçado. - Posso brincar?

Foram horas agonizantes para as quatro crianças, que mal entendiam o que estava acontecendo.

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Já para Alan foram os melhores momentos de sua vida, quando finalmente sentiu-se livre para realizar suas fantasias pedófilas.

Cinco dias se passaram, em que ele se sentiu no paraíso tão sonhado, mas logo até isso se tornaria um pesadelo quando a pequena Karina acordou um dia ardendo em febre e nenhum dos remédios que dele tinha em casa havia se mostrado eficiente.

Era necessário sair da sua fortaleza e ir até a farmácia.

Algo que antes seria tão rotineiro agora se mostrava como uma armadilha, mas o fato de poder fazer uma das “suas crianças” melhorar valia a pena.

Se ele soubesse o que ia acontecer muito provavelmente teria permanecido no sofá.

XXX

Assim que acordou, com o corpo todo suado e a respiração ofegante, Alan havia tomado sua decisão, começando imediatamente a se preparar.

Mais uma vez ele vestia a roupa que usou quando salvou as crianças, segurando com força no cabo do bastão, que ainda apresentava manchas do sangue coagulado da zumbi que ele matara.

“Incrível...” um jorro de adrenalina invadia seu corpo naquele momento “Aposto que vai ser tudo tranquilo... ”

- Eu já volto... - enquanto tentava se convencer, Alan passava diante da porta do quarto onde as crianças permaneciam trancadas. - Não se preocupem...

Recebendo apenas silêncio como resposta, ele fechou a cara, conferiu uma última vez pela janela, para ter certeza de que a rua estava deserta e seguiu em frente com passos decididos.

Isso até chegar à porta da garagem.

Ele encostou a testa no metal, que ia esfriando conforme o dia ia chegando ao fim, tentou controlar ao máximo seu medo e então, antes que pudesse desistir, saiu para a rua.

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Após trancar a porta ele começou a andar com todo cuidado que podia, cada som um pouco mais alto ecoava como um trovão na rua.

Quando finalmente entrou na farmácia seus nervos já estavam em frangalhos, por isso, enquanto pegava alguns medicamentos, ele quase teve um enfarte quando uma prateleira caiu estrondosamente atrás dele.

- Quem tá aí?! – O bastão foi erguido sobre sua cabeça, pronto para ser usado. – Pode vir!

Primeiro foi o som de um choro infantil que chegou aos seus ouvidos e logo uma menininha de cabelos avermelhados, pele alva e um vestidinho rosa todo rasgado entrou no seu campo de visão.

- Me ajuda titio... – Ela falava, o que já deixava claro que não era uma zumbi. – Minha mamãe mandou eu entrar aqui e foi embora... Ela levou os monstros prá longe... Chuif...

- Ei... Vem cá... – Ele a tomou nos braços, evitando assim que ela chorasse, o que iria atrair atenção demais. – Tá tudo bem... Calma...

A imagem daquela menina trouxe imediatamente à mente de Alan lembranças da Menininha Ruiva do desenho do Charlie Brown e sentindo que aquilo não poderia ser apenas uma coincidência, resolveu levá-la para casa.

- Tio... Minha perna tá dodói...

- Não se preocupa docinho... O Titio vai cuidar de você...

O caminho de volta foi feito em poucos minutos, ainda mais que Alan percebeu pelo som que alguns zumbis se aproximavam e temendo que a mãe da garotinha fosse um deles, achou melhor evitar que ela acabasse gritando, denunciando que ainda existiam pessoas vivas na área.

Assim que finalmente estava de volta à sala de sua casa, ele voltou a respirar normalmente, indo para o que ele estava chamando de “quarto dos sonhos”, levando a menininha ruiva bem firme em seus braços.

Ele só a colocou no chão após trancar a porta atrás de si, indo na direção da cama, que ainda tinha os lençóis sujos e desarrumados, onde jazia a adoecida Karina.

- Titio... Minha perna...

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- Lindinha eu já venho ver isso tá? – Alan sentia-se furioso pelo modo como as demais crianças estavam olhando-o, era como se estivessem com medo dele. – O que foi? Vocês queriam ter ficado lá fora é?

Ele saiu do quarto com passos firmes, a porta foi batida com mais força do que ele pretendia, mas serviu para extravasar a raiva, afinal de contas, na sua mente deturpada, ele tinha salvado aquelas crianças, por isso era seu direito cuidar deles como lhe conviesse.

Desse modo ele se jogou no sofá, sentindo aos poucos a adrenalina deixar seu corpo e conforme a noite finalmente tomava a cidade, ele fechou os olhos adormecendo por várias horas.

- Mas heim?!! O que... – quando finalmente acordou, Alan estava totalmente desnorteado, ouvindo um estranho som que vinha do seu “quarto dos sonhos”. – O que é isso?

Parecia que algo estava raspando a madeira da porta e de tempos em tempos algo dava um baque surdo contra a mesma.

- Crianças? – Silêncio. – Crianças? Vocês estão acordadas?

De repente era como se mais nada fizesse qualquer barulho pela casa, apenas as palavras de Alan ainda ecoavam pelas paredes.

Mais do que depressa, com as mãos trêmulas, ele abriu as trancas da porta, a abriu e rapidamente levou as mãos ao nariz.

Um ar quente o envolveu, trazendo um terrível fedor de putrefação.

- Crianças? – de repente ele reconheceu o vestidinho rosa da menininha ruiva, que se aproximava lentamente, o rosto escondido pelas sombras do quarto. – Oi lindinha... Vem comigo vem? Você falou que estava dodói né?

Esquecendo-se de acender a luz, ele se ajoelhou e enquanto olhava para o fundo do quarto, tentando vencer a escuridão e ver as demais crianças, tomou a garota nos braços, sem reparar na pele fria da mesma.

Os olhos dela se abriram de repente, apresentando uma cor branca leitosa, a pele também já estava mais pálida, mas isso não impediu que uma forte dentada fosse dada entre a base do pescoço e o começo do ombro de Alan.

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- AAAARRRRGGGHHH! – ele a empurrou para longe, caiu sentado, levando uma das mãos rapidamente ao ferimento, o que o deixou ainda mais horrorizado ao constatar que um grande pedaço de carne estava faltando. – Mas que merda é essa?!

A menina zumbi soltou um assustador urro, correndo contra Alan e saltando contra seu peito, impedindo assim que ele se erguesse, o que deu tempo para que o assustado pedófilo pudesse ver quem mais se aproximava.

Cauê, Karina, Tamara e Luciana caminhavam lentamente na direção dele, que em desespero não conseguia se desvencilhar da menininha ruiva, cujos dentes podres procuravam mordê-lo.

Os olhinhos agora não expressavam medo, na verdade não havia nada ali, eles apenas pareciam fixos naquele que abusara tanto deles, vendo nada mais que comida.

Os quatro abriram as bocas quase ao mesmo tempo, soltando urros iguais aos da menina que se mantinha sobre o pedófilo, todos se lançando na direção do homem caído, aproveitando que suas mãos estavam ocupadas.

- AAAIIII! – Uma fisgada na coxa direita e então ele viu Tamara erguer a cabeça com um imenso naco de carne sangrenta na boca. - NNNÃÃÃÃÃÃOOOOO!

Ele tentou levar umas das mãos na direção da garota, mas isso só ajudou a menininha ruiva a morder seu antebraço, ao mesmo tempo em que Cauê e Karina agarravam a outra perna dele.

Sem conseguir mais se defender, ele só conseguiu derramar lágrimas de remorso, enquanto Luciana aparecia no seu campo de visão, descendo rapidamente e mordendo sua boca, arrancando os lábios e parte da língua.

Já sem forças para se defender, Alan apenas se entregou, sentindo toda a dor enquanto seu corpo era consumido pelos pequenos zumbis e quando sentiu sua genitália ser destroçada, só pode soltar grunhidos desesperados.

Pouco antes de ter seu coração arrancado do peito Alan ainda se perguntou o que teria feito de errado para merecer tal castigo, mas logo tudo escureceu.

Mesmo num mundo dominado por zumbis ainda havia lugar para uma justa retribuição aos atos degenerados de um homem.

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