KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS,...

77
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL KAMILA CHALMY ZATTI A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO RIOGRANDENSE CAXIAS DO SUL 2014

Transcript of KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS,...

Page 1: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

KAMILA CHALMY ZATTI

A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO

RIOGRANDENSE

CAXIAS DO SUL

2014

Page 2: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

2

KAMILA CHALMY ZATTI

A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO

RIOGRANDENSE

Monografia de conclusão do curso de

Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da

Universidade de Caxias do Sul, apresentada como

requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel.

Orientadora: Prof. Ma. Ana Laura Paraginski

CAXIAS DO SUL

2014

Page 3: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

3

KAMILA CHALMY ZATTI

A IDENTIDADE REGIONAL CONTADA NAS PÁGINAS DO CORREIO

RIOGRANDENSE

Monografia de conclusão do curso de

Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da

Universidade de Caxias do Sul, apresentada como

requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel.

Aprovada em ___ /07/2014

Banca Examinadora

_______________________________________

Profa. Ma. Ana Laura Paraginski

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Ms. Jacob Raul Hoffmann

Universidade de Caxias do Sul – UCS

_______________________________________

Prof. Ms. Luís Marcelo Miranda

Universidade de Caxias do Sul – UCS

CAXIAS DO SUL

2014

Page 4: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

4

Dedico este trabalho de pesquisa aos

pioneiros do jornalismo em Caxias do

Sul/RS.

Page 5: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Julio César Zatti e Elsa Pol Zatti, por estarem sempre ao meu

lado. Aos professores Dinarte de Borba e Albuquerque, Marliva Vanti Gonçalves e Eulália Isabel

Coelho (Biba), pelo carinho e estímulo durante toda a graduação. Aos amigos Daiane Luza, Jair

Dresch, Odanir Antonio Tomazzo (in memoriam), Pedro Ubirajara da Rosa e Valdecir de Oliveira

Anselmo.

Aos freis Aldo Colombo, João Carlos Romanini, Moacir Molon e Rovílio Costa (in

memoriam). À equipe de redação do jornal Correio Riograndense, especialmente Marcelino

Carlos Carlos Dezen. Aos funcionários do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, da

Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul, da Biblioteca da Universidade de Caxias do Sul

(UCS) e do Museu dos Capuchinhos (MusCap), que me auxiliaram durante o levantamento da

documentação histórica importante para realização desta pesquisa.

Agradeço, em especial, à professora Maria Luiza Cardinale Baptista, por ter iniciado o

projeto, e à professora Ana Laura Paraginski, por ter aceitado dar continuidade ao trabalho, por

sua competência, profissionalismo e sensibilidade.

Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão

Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente nesta caminhada,

parceiros de trabalho da Associação Criança Feliz e amigos.

Page 6: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

6

“Começava uma aventura

impossível... E, contra todas as

possibilidades, deu certo.”

Frei Aldo Colombo

Page 7: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

7

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a origem do jornalismo impresso em Caxias do

Sul/RS, por meio do jornal Correio Riograndense (CR). Busca-se evidenciar a evolução deste

semanário, identificando o seu discurso, com raízes na cultura da Região Colonial Italiana da

Serra Gaúcha. A análise foi elaborada com base em exemplares que marcam a trajetória do CR. O

referencial teórico engloba gêneros e formatos jornalísticos, além de conceitos de identidade,

identidade regional, língua, cultura, etnia e religião. Foram realizadas pesquisas nos arquivos do

Museu dos Capuchinhos (MusCap). De modo que a seleção final resultou em três edições

comemorativas: 75, 100 e 105 anos. A metodologia escolhida parte da pesquisa qualitativa e o

método elegido foi a análise de conteúdo. Neste contexto, foram feitas algumas inferências que

demonstram como a cultura da região está sendo representada nas páginas deste veículo que

distribui 10 mil exemplares todas as semanas e possui aproximadamente 9 mil assinantes.

Palavras-chaves: Jornalismo; Identidade; Cultura Italiana; Língua; Religião.

Page 8: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

8

ABSTRACT

The purpose of this work is to study, by the Correio Riograndense (CR) newspaper, the principle

of the printed journalism in Caxias do Sul/RS. Identifying the speech of this journal, it presents

the evolution of this newspaper that have its origins based on the culture of the Italian colonial

region of Serra Gaucha. The analysis was performed based on copies that have determined the

history of CR. The theoretical framework encompasses journalistic genres and formats, and

concepts of identity, regional identity, language, culture, ethnicity and religion. Surveys were

conducted in the archives of the Museum of the Capuchins (MusCap). So the final selection

resulted in three commemorative editions: 75, 100 and 105. The chosen methodology of

qualitative research and the chosen method was content analysis. In this context, some inferences

were made that demonstrate how the path of the CR. region's culture is being represented in the

pages of this vehicle which distributes 10,000 copies every week and has approximately 9000

subscribers.

Keywords: Culture, Italian Immigration, Journalism, Language, Religion.

Page 9: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AHCM Arquivo Histórico da Câmara Municipal

AHMJSA Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

ANJ Associação Nacional de Jornais

CR Correio Riograndense

FNJ Federação Nacional dos Jornais

IR Identidade Regional

MusCap Museu dos Capuchinhos de Caxias do Sul

N. trad. Nota de tradução, do tradutor

RS Rio Grande do Sul

UCS Universidade de Caxias do Sul

Vol. Volume

Page 10: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................12

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS...............................................................................14

2.1 PESQUISA QUALITATIVA........................................................ ...............................14

2.2 O MÉTODO................................................................................................................15

3 O QUE É JORNALISMO........................................................................................... 17

3.1 HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL..........................................19

3.1.1 A imprensa escrita em Caxias do Sul......................................................................21

3.1.1.1 A Imprensa Católica............................................................................................24

3.1.1.1 O Jornal Correio Riograndense...........................................................................26

3.2 CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS........................................28

3.2.1 NOTÍCIA..................................................................................................................29

3.2.2 REPORTAGEM........................................................................................................30

3.2.3 FOLHETIM...............................................................................................................31

3.2.4 EDITORIAL..............................................................................................................32

4 CONCEITOS DE IDENTIDADE....................................................................................34

4.1 IDENTIDADE REGIONAL.........................................................................................37

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE................39

5.1. O CAMINHO PERCORRIDO A CADA MUDANÇA GRÁFICA-EDITORIAL.........39

5.2 EDIÇÕES COMEMORATIVAS DO CR: 75, 100 E 105 ANOS..................................41

5.3 ANÁLISE DAS EDIÇÕES...........................................................................................41

5.2.1 Língua.....................................................................................................................41

5.2.2 Cultura....................................................................................................................50

Page 11: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

11

5.2.3 Público Leitor (público-alvo do CR)........................................................................53

5.2.4 Religiosidade...........................................................................................................55

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................58

REFERÊNCIAS...............................................................................................................60

APÊNDICE.......................................................................................................................66

ANEXOS...........................................................................................................................72

Page 12: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

12

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por tema a identidade regional da Serra Gaúcha e, em

especial, de Caxias do Sul contada nas páginas do jornal Correio Riograndense (CR).

O assunto escolhido se deve ao fascínio da autora pela história caxiense, com início na

sua infância, quando teve o primeiro contato com o CR. A italianidade presente no conteúdo das

edições manifestadas pelas “aventuras” do personagem Nanetto Pippeta1 (personagem de autoria

do frei Aquiles Bernardi) suscitaram a curiosidade em torno da origem deste semanário.

Caxias do Sul, “a pérola das colônias” ou a “metrópole do vinho”, como se chamou um

dia, foi construída graças ao trabalho de seu povo, por homens e mulheres que ergueram

parreiras, criaram indústrias, lutaram contra inúmeras adversidades. Neste contexto, a imprensa

caxiense também se desenvolveu, segundo o jornalista Duminiense Paranhos Antunes (6/7/1909-

19/1/1984), embora de vida efêmera alguns, outros de mais duração, muitos foram os jornais

editados na cidade.

O jornal CR está presente na região que compreende a Serra Gaúcha. De acordo com as

historiadoras Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2004), o CR sempre

esteve sob a direção dos padres capuchinhos.

A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos está diretamente ligada à origem da

imprensa local. Os religiosos trabalharam com diversos meios de comunicação: rádio, televisão e

especialmente o jornal impresso. Ao longo dos anos, o CR ajudou a contar a história da cidade,

influenciando para sempre o jornalismo praticado na terra dos índios, tropeiros e imigrantes. Para

tanto, será considerada uma questão norteadora, a fim de identificar como o jornal Correio

Riograndense retrata a identidade regional de Caxias do Sul e de seus moradores em suas páginas

ao longo de uma história de mais de um século.

A questão norteadora procura saber: Que tipo de identidade regional permeia o

1 A publicação das histórias de Nanetto Pipetta foi feita através do jornal Stafetta Riograndense, no período de

23.01.1924 a 18.02.1925. Seu autor foi Bernardi, na vida religiosa o Frei Paulino de Caxias, que passou sua

infância na colônia da família, num tempo em que a mata virgem ainda havia sido totalmente dominada e

cultivada. Ao ser publicada, sob a forma de folhetim, a Vita e Stòria de Nanetto Pipetta passou a ser uma

indiscutível fonte de entretenimento, ao lado das funções específicas desempenhadas pela imprensa na época. Foi o

folhetim que levou aos poucos e poucos exigentes leitores as peripécias romanescas de Nanetto Pipetta. A técnica

utilizada foi a de interessar o leitor, de prendê-lo, graças à estrutura episódica, ao desenrolar da história (RIBEIRO,

2005, p.24).

Page 13: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

13

jornal CR?

Desta forma, a presente monografia percorrerá o seguinte caminho: o capítulo dois

apresenta a metodologia utilizada no trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por

meio da análise de conteúdo das edições selecionadas. A partir de então, buscam-se dados, que

serão, posteriormente, analisados, realizando inferências, processo esse importante para que se

possa chegar às conclusões. No capítulo três, aspectos da história da comunicação no Brasil, a

origem da imprensa escrita em Caxias do Sul, a imprensa católica e um breve histórico do jornal

CR. Abordaremos também as principais características dos gêneros jornalísticos, com os

conceitos de notícia, crônica, folhetim e editorial.

O quarto capítulo apresenta o conceito de identidade, com enfoque na significação da

identidade regional. No quinto capítulo, é feita uma descrição e a análise do Jornal Correio

Riograndense. Para tanto, buscou-se como critério selecionar as edições comemorativas dos 75,

100 e 105 anos, respectivamente. Para a conclusão desta pesquisa, será necessário realizar

inferências a partir da análise das edições do jornal CR, a partir da questão norteadora levantada

incialmente. Essas inferências poderão estar ligadas às características do texto, da linguagem e de

elementos particulares da escrita das edições selecionadas. Com base nas edições, busca-se uma

configuração da identidade regional, com aspectos da língua, cultura, público, leitor e da

religiosidade expressa no conteúdo presente nas edições estudadas. A segunda parte da análise se

propõe, finalmente, ao aprofundamento das relações, indicando a sua ligação com os capítulos

estudados anteriormente.

Por fim, pretende-se resgatar e, desta maneira, valorizar a trajetória do jornal Correio

Riograndense, evidenciando um veículo centenário, que objetiva retratar o desenvolvimento da

região da Serra Gaúcha.

Page 14: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

14

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

A realização da pesquisa parte de uma metodologia qualitativa e exploratória. Segundo a

autora Mirian Goldenberg, a pesquisa qualitativa não se volta para a representatividade numérica

do grupo pesquisado, mas sim, com o aprofundamento da compreensão social, de uma

organização, de uma trajetória etc. Segundo ela:

Os pesquisadores qualitativistas recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da

vida social. O fundador do positivismo, Auguste Comte (1798-1857), defendia a

unidade de todas as ciências e a aplicação da abordagem científica na realidade social

humana. Com base em critérios de abstração, complexidade e relevância prática,

Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências, em que a matemática ocupava o

primeiro lugar, e a sociologia ou "física social", o último, precedida, em ordem

decrescente, da astronomia, física, química e biologia (GOLDENBERG, 2012, p. 17).

Goldenberg também destaca a oposição ao pressuposto defendido de um modelo único

de pesquisa para todas as ciências, considerando que as ciências sociais possuem suas

especificidades. A autora também destaca:

Nesta perspectiva, na qual o objeto das ciências sociais deve ser estudado tal qual o das

ciências físicas, a pesquisa é uma atividade neutra e objetiva, que busca descobrir

regularidades ou leis, em que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir

que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 2012, p.

17).

Do ponto de vista teórico, esta pesquisa fundamenta-se em levantamento bibliográfico

sobre o jornalismo no Brasil e aspectos históricos e sociais da imprensa, apoiado em autores

como Kenia Maria Menegotto Pozenato, Loraine Slomp Giron, Mário Erbolato, Luiz Amaral,

Juarez Bahia e Nelson Sodré. O levantamento ou pesquisa bibliográfica é estruturado a partir de

livros, jornais, internet, etc. Conforme define a professora Vera Regina Casari Boccato (2006,

p.266):

Esse tipo de pesquisa trará subsídios para o conhecimento sobre o que foi pesquisado,

como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na

literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o pesquisador realize um

planejamento sistemático do processo de pesquisa, compreendendo desde a definição

temática, passando pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de

comunicação e divulgação. (BOCCATO, 2006, p.266).

Os procedimentos operacionais, ou seja, a parte prática desta pesquisa, envolvem a

Page 15: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

15

seleção e Análise de Conteúdo (AC) de três edições comemorativas do CR, de 1984, 2009 e

2014. As edições selecionadas retomam os quatro2 principais períodos do periódico: La Libertà,

Il Colono Italiano, La Staffetta Riograndense, por fim, Correio Riograndense.

Com o objetivo de enfatizar alguns aspectos que se consideram mais importantes para

esta pesquisa, optou-se por realizar a análise do conteúdo dos jornais sob os critérios que

associam a questão da identidade regional à história do Jornal Correio Riograndense.

Roque Moraes (1999) destaca que o método de Análise de Conteúdo tem a sua origem

no final do século XIX. Suas características e abordagens, porém, foram desenvolvidas, ao longo

dos últimos cinquenta anos. Neste sentido, constitui uma metodologia usada para descrever e

interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Segundo Moraes (1999), essa

análise, conduzirá a descrição de forma sistemática, e ajudará a reinterpretar as mensagens,

colaborando assim na compreensão de seus significados num nível que vai além de uma simples

leitura comum.

Laurence Bardin (2004) trata as diferentes possibilidades de aplicação da Análise de

Conteúdo adequada, segundo a autora, a qualquer discurso que direcione informações de um

emissor para um receptor.

A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às

condições de produção (ou, eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a

indicativos (quantitativos ou não) (BARDIN, 2004, p.34).

Bardin também esclarece que o principal objetivo da AC é deduzir logicamente

informações sobre as condições do objeto analisado. “[...] O analista tira partido do tratamento

das mensagens que manipula para inferir (...) conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou

sobre o seu meio, por exemplo” (BARDIN, 2004, p. 34).

- o que conduziu determinado enunciado? Este aspecto diz respeito às causas ou

antecedentes da mensagem;

- quais as consequências que determinado enunciado vai provavelmente provocar? Isso

refere-se aos possíveis efeitos das mensagens [...] (BARDIN, 2004, p.34).

2 Os períodos do jornal CR compreendem a seguinte cronologia e mudanças de nome: Là Liberta (1909); Il Colono

Italiano (1910-1917); Staffetta Rio-Grandense (1917-1921); Staffetta Riograndense (1921-1927); La Staffetta

Riograndense (1927-1940); Estafeta Riograndense (1940-1941); Staffetta Riograndense (1941) e Correio

Riograndense (1941-2014). Fonte: Acervo do MusCap.

Page 16: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

16

Para a realização desta pesquisa, será preciso identificar inferências3 nos editoriais do

jornal Correio Riograndense, a partir das questões norteadoras levantadas inicialmente. Essas

inferências estão ligadas às características do texto, da linguagem e de elementos particulares da

escrita das edições selecionadas.

Como complemento do estudo foram realizadas quatro breves entrevistas com

profissionais ligados à trajetória do CR, especialmente aos períodos analisados. Marcelino Carlos

Dezen (Apêndice D) e com os freis Aldo Colombo (Apêndice A), João Carlos Romanini

(Apêndice B) e Moacir Pedro Molon (Apêndice C), que responderam às perguntas: “De que

forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?” e “Como você define a identidade

do leitor do CR?”.

Para o foco da análise, buscou-se como critério selecionar três edições do jornal Correio

Riograndense, Edição Comemorativa dos 75, 100 e 105 anos. Com enfoque nos conceitos que

envolvem a identidade regional e em aspectos como língua, cultura, público e a religiosidade.

3 Significado de inferência: operação lógica, pela qual se admite uma proposição em virtude de sua ligação com

outras proposições já aceitas como verdadeiras. Inferir: extrair uma consequência. Bardin cita Petit Robert,

Dictionnaire de la langue Française, S.N.L. 1972.

Page 17: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

17

3 O QUE É JORNALISMO

Este capítulo pretende conceituar de maneira objetiva o Jornalismo, assim como suas

principais funções. O jornal é a mais antiga das mídias voltada para o grande público. Com

experiências de comunicação por meio da escrita desde a Roma Antiga. Mas, ao definir o jornal

como o que se conhece atualmente, distribuição em massa de forma regular, o marco inicial é o

processo de impressão por tipos móveis, a tipografia, criada pelo alemão Johannes Gutenberg em

1447. Judith Brito e Ricardo Pedreira (2009) destacam a finalidade inicial da invenção da prensa

inventada por Gutenberg:

Os primeiros jornais impressos a partir da invenção de Gutenberg surgiram no começo

do século XVII, inicialmente na Europa, depois nas Américas, e em seguida se

espalharam por todo o mundo. As inovações tecnológicas acontecidas ao longo dos

séculos – sobretudo na produção gráfica, na fotografia, na transmissão de informações

e na distribuição física de impressos – transformaram os jornais em meios de

comunicação de massa (BRITO; PEDREIRA, 2009, p.25).

Os jornais passaram a ser um veículo de disseminação da informação. Desde o seu início

desempenham um papel de profunda importância na vida política de seus países e na conquista da

cidadania. Mas isso não impediu que os governantes utilizassem esse meio como forma de

manipulação da informação pública e de censura aos veículos independentes.

As definições a cerca do Jornalismo são inúmeras e se adaptam ao enfoque de cada um.

“Ao assumir, porém, a condição de ciência, toma contornos acentuados e bem visíveis, e pode ser

definido como “o estudo do processo de transmissão, de informação, através de veículos de

difusão coletiva, com características específicas de atualidade, periodicidade e recepção

coletiva”. (AMARAL, 1982, p.16 grifo do autor).

Beltrão (1960) explica que o que importa é o agora. “O jornalismo vive do cotidiano, do

presente, do efêmero, procurando nele penetrar e dele extrair o que há de básico, fundamental e

perene, mesmo que essa perenidade valha, apenas, por alguns dias ou por algumas horas.”

(BELTRÃO, 1960, p. 66).

Para Amaral (1982), a “periodicidade” é uma característica “menos subjetiva, a mais

formal, pois diz respeito aos intervalos em que se registram suas manifestações.” (AMARAL,

1982, p.16).

Page 18: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

18

José Marques de Melo (1971) afirma que, a “recepção coletiva”, “é um elemento novo e

que define bem a função do jornalismo, como instrumento público, ao alcance de todos. Isso se

processa através de seus veículos [...] que poderão ser utilizados por quaisquer pessoas [...]”.

(MELO, 1971, p.63).

Quanto às funções inerentes do jornalismo, Amaral (1982) conceitua:

“Função Política – Por função política, entende-se os meios de informação, em sua ação

crescente, como instrumento de direção dos negócios públicos, e com órgãos de expressão e de

controle da opinião pública.” (AMARAL, 1982, p. 17).

Função Econômica e Social – Com o noticiário e interpretação dos fatos econômico-

financeiros, o Jornalismo oferece ao homem de negócios um panorama diário do

mercado que lhe facilita a ação para o empresariado de suas empresas e proporciona

bases para um melhor relacionamento com a clientela. (AMARAL, 1982, p.19).

“Função Educativa – É esta função a que desfruta de maior prestígio, nos dias atuais,

seja nos países desenvolvidos, seja nos que se acham em via de desenvolvimento.” (AMARAL,

1982, p. 19). O autor considera fundamental que seja trabalhada sempre uma imagem real de

mundo, “por isso, o critério principal para julgar um órgão de imprensa deveria ser não seu êxito

em número de exemplares vendidos, mas sua preocupação com a verdade.” (AMARAL, 1982,

p.20).

Por fim, a Função de Entretimento do Jornalismo, pois terá sempre que acompanhar

as transformações da sociedade. De acordo com o autor:

A imprensa opera, também, a liberação de nossas próprias tendências, permitindo

projetar nossas culpabilidades sobre os outros. Legitima nossos impulsos agressivos.

Denunciando os escândalos, designando os culpados, dá uma satisfação, pelo menos

imaginativa e verbal, à nossa violência, às nossas reivindicações, à nossa necessidade

de protestar.

Evidentemente que na civilização pós-industrial, sendo maiores os momentos de

ociosidade, maiores serão, também, os problemas. Os meios de comunicação coletiva

terão de acompanhar as mutações, sem o que estarão longe de satisfazer as exigências

do novo homem. (AMARAL, 1982, p. 20-21).

Na visão do pesquisador Mário Erbolato (1979), “os jornais se destinam à massa e, ao

serem preparados, ignora-se a quem chegarão os seus exemplares, que tanto poderão ser lidos

pelo Presidente da República [...], quanto por pessoas humildes, das classes populares [...]”.

(ERBOLATO, 1979, p.81). Logo, a linguagem deve ser coerente, correta e acessível a todos.

Page 19: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

19

Entretanto o autor assume a dificuldade da neutralidade: “é difícil escrever com imparcialidade,

porque o jornalista ao narrar um acontecimento, pode encará-lo do ponto de vista favorável aos

seus interesses e sujeito às suas emoções momentâneas.” (ibid., p.81).

3.1. HISTÓRIA DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL

Conforme Brito e Pedreira (2009), a imprensa surgiu tarde no Brasil. Do descobrimento

até 1808, era proibido o uso da tipografia, para evitar a divulgação na colônia de ideias e

informações julgadas inconvenientes pela metrópole. “Diante da proibição portuguesa, Hipólito

José da Costa, a partir de 1º de junho de 1808, iniciou fora do Brasil, em Londres, a edição do

Correio Braziliense, que aqui chegava contrabandeado.” (BRITO E PEDREIRA, 2009, p.26)

Para Nelson Sodré (1977):

(...) na verdade, o período de 1830 a 1850 foi o grande momento da imprensa

brasileira. Fraca em técnica, artesanal na produção, com distribuição restrita e

emprestada, praticamente inexistente uma vez que inespecífica, encontrou, entretanto,

na realidade política a fonte de que se valeu para exercer sobre essa realidade, por sua

vez, influência extraordinária, consideradas as condições da época. Foi, praticamente,

a infância da imprensa brasileira; talvez a sua turbulenta adolescência, quando muito,

se considerarmos infância a curta fase em que batalhou pela liberdade conjugada à

independência do país (SODRÉ, p. 206).

Em 1808, também começou a ser distribuído no Brasil, o Jornal Gazeta do Rio de

Janeiro, o qual fazia parte da Imprensa Régia. Era uma publicação que continha de quatro a seis

páginas, distribuída semanalmente e, posteriormente, a cada duas semanas e, por meio dela, só se

sabia do estado de saúde dos príncipes da Europa e era ilustrada com alguns documentos de

ofícios. (AZEVEDO, 2009).

Uma segunda fase do jornalismo brasileiro foi chamada pelo autor Juarez Bahia de

“consolidação da imprensa nacional”.

Não só o processo de feitura, com a introdução da nova maquinaria e a equação do

jornal como empresa gráfica autônoma, independente da tipografia, que tomou o

caráter comercial, para servir as chamadas casas de obras, mas igualmente a

qualificação do jornalismo como profissão, a necessidade de expansão e criação de

mercados consumidores internos e externos […] (BAHIA, p. 53).

No início do século XX surgem os primeiros folhetins e também personalidades como

Page 20: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

20

Assis Chateaubriand e Irineu Marinho. “Chatô, o Rei do Brasil” (Chateaubriand), como ficou

amplamente conhecido, foi o idealizador dos Diários Associados. Já Irineu Marinho cria O

Globo, posteriormente seu filho Roberto Marinho, construiria o mais famoso conglomerado de

mídia do país. Especialmente no Rio Grande do Sul, é fundado o Correio do Povo (1895), por

Caldas Jr e Diário de Notícias (1925), em Porto Alegre.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em Umbuzeiro, na

Paraíba, em 4 de outubro de 1892. Em Recife (PE), cursou direito e iniciou a carreira

jornalística, escrevendo para o Jornal Pequeno e o Diário de Pernambuco. Em

seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro e colaborou com o Correio da Manhã. Com a

aquisição de O Jornal em 1924, Assis Chateaubriand iniciou a realização de um sonho:

integrar o Brasil por meio de uma rede de veículos de comunicação, os Diários

Associados. […] focou em áreas como mineração, pecuária, agricultura, café, aviação,

política, comunicação, educação e cultura. Progressista, promoveu a Campanha

Nacional de Aviação, com o slogan “Dêem asas ao Brasil” em 1941 e fundou mais de

400 centros de puericultura. Criou também o Museu de Arte de São Paulo (Masp) […].

Chateaubriand foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira

deixada por Getúlio Vargas. Em 1960, o Velho Capitão foi vítima de uma doença que

o deixou tetraplégico, mas lhe preservou a consciência. Ele continuou a escrever seus

artigos diários graças a mecanismo próprio na máquina de datilografia. Morreu em

1968, na capital paulista.4

Em 1921, circula pela primeira vez a Folha da Noite. Em 1925, surge a primeira edição

da Folha da Manhã, e, anos depois, o mesmo grupo criaria a Folha da Tarde. As três empresas

jornalísticas dão origem a Folha de São Paulo, em 1960.

A partir da década de 1930, acontece a fase intitulada como moderna, por Juarez Bahia.

Desde a revolução de 30, com a chegada do Estado Novo, em 1937, com a censura, e o retorno

da liberdade da imprensa , em 1945, até os “anos de chumbo”, com o golpe militar em 1964.

Conforme o site da Associação Nacional de Jornais (ANJ, 2003), o governo liderado

pelo então presidente da república Getúlio Vargas (1937-1945), promoveu a forte censura à

grande imprensa, contrária aos seus ideais de governo. Com o objetivo de regularizar e fiscalizar

toda e qualquer informação de massa veiculada, o governo cria o Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP).

Em 1939, começa a Segunda Guerra Mundial. Para as autoras Kenia Maria Menegotto

Pozenato e Loraine Slomp Giron, o conflito é gerado entre a Inglaterra e a França, que lutaram

contra a Alemanha e a Itália. Em 1941, o cenário piora com a guerra entre os Estados Unidos e o

4 Ver em: http://fac.correioweb.com.br. Acessado em: 27 mai. 2013.

Page 21: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

21

Japão que com a Alemanha e a Itália, formavam o Eixo. Em 1942, o Brasil entra em combate, ao

lado dos Estados Unidos (POZENATO; GIRON, 2004). Sobre a influência da guerra nas

publicações jornalísticas regionais, as autoras comentam que:

O rompimento das relações políticas do Brasil com o Eixo teve reflexos e implicações

diretos na região. Os jornais em língua estrangeira forma obrigados a alterar seu nome

e a publicar apenas em língua portuguesa. Na região, foram afetados diretamente o

Staffetta Riograndense e o Giornale Del'Agricultore, que circulavam em Caxias e

eram publicados em língua italiana. (p.94).

Para o escritor Ciro Marcondes Filho5 as principais fases históricas do jornalismo no

Brasil, estão divididas em três partes. Na primeira, de 1789 até a metade do século XIX, o

controle do saber e da informação funcionava como forma de dominação, de manutenção da

autoridade e do poder por parte da coroa portuguesa. Na segunda, o jornalismo surge a partir da

segunda metade do século XIX, com as inovações tecnológicas que exigirão da empresa

jornalística a capacidade financeira de autossustentação. A terceira surge no século XX, com o

desenvolvimento e o crescimento das empresas jornalísticas, cuja sobrevivência só será ameaçada

pelas guerras e pelos governos totalitários do período.

3.1.1 A IMPRENSA ESCRITA EM CAXIAS DO SUL

Caxias do Sul, antes da colonização, desenvolvia-se lentamente. O jornalista Duminiense

Paranhos Antunes (1950), relata que o território era habitado por índios. “[...] Aborígenes esses

que foram os primitivos donos destas terras, e que, com a chegada do homem civilizado, foram se

internando cada vez mais na mata ainda inexplorada” (ANTUNES, 1950, p.27).

Nos primórdios, Caxias do Sul nasce como “Campo dos Bugres”. A primeira experiência

de imigração italiana no Paese di Cuccagna6 deu-se em 1875. A vila de Caxias, segundo Kenia

5 MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo: A saga dos cães perdidos. São Paulo, Hacker

Editores, 2000.

6 O mito da Cocagna é referenciado como sinônimo de fartura, conforme descreve a autora Cleodes Piazza Ribeiro:

Quando chove, nesse país, chovem pérolas e diamantes, mas podem chover raviolis. Em direção ao porto,

denominado de Porto dos Ociosos, navegam embarcações carregadas de especiarias, mortadelas, toda a sorte de

embutidos e presuntos. Rios de vinho grego são atravessados por pontes de fatias de melão, e lagos de molho

soberbos estão coalhados de polpette e fegatelli. Fornadas permanentes de pão de farinha de trigo abastecem os

habitantes do lugar. Aves assadas despencam do céu, direto sobre a mesa, enquanto árvores cobrem-se de frutos

Page 22: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

22

Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2004), era composta pela igreja da Vila, cuja

padroeira era Santa Tereza, sendo uma atração para os colonos. Local de casamentos, batizados e

festas. São relatos que falam dos imigrantes, portanto estrangeiros, sem direito ao voto, por não

serem reconhecidos como brasileiros vivenciavam os problemas políticos de uma pátria distante.

O primeiro jornal que surge na então “Caxias Colônia” é um periódico regional chamado

O Caxiense, impresso em 1897. O diretor era Júlio Campos e tinha como proprietário o Doutor

Augusto Diana Terra, que mantinha ligações com o Partido Republicano. Posteriormente, nasceu

outro jornal que seria então comandado por religiosos:

O surgimento do Il Colono Italiano foi a resposta católica ao jornal O Caxiense,

considerado maçônico pelos colonos. O primeiro número traz a data de 1º de janeiro de

1898. A escolha daquela data é significativa, pois representava o nascimento de uma

nova era para a cidade, a partir da qual os católicos imigrantes teriam vez e voz

(POZENATO; GIRON, 2004, p. 37-38).

Outro fator interessante na contextualização da origem do município é a influência direta

dos jornais editados na Itália, que de alguma maneira, estavam presentes e circulavam no período

de fundação da Caxias Colônia. Até onde esses veículos tinham influência na sociedade da época?

O historiador e jornalista Mário Gardelin afirma: “Na cidade, sim. Na colônia, não. Ali era o

padre [...]. Aqui você tinha uma colônia rural tremendamente enraizada em si mesmo, você tinha

uma cidade que falava em português, dentro de casa que era provincial, mas provincial da Itália

[...].” (HENRICHS, 1998, p. 26).

Em 13 de fevereiro de 1909, circula a primeira edição do Correio Riograndense – com o

nome de Lá Libertá, e um ano depois uma nova era se abre. “Por Decreto nº 1607, de 1º de

Junho de 1910 era Caxias elevada à categoria de cidade, sendo no mesmo ano inaugurado o ramal

da estrada de ferro, ligando o município à Capital do Estado.” (ANTUNES, 1950, p.27).

A região colonial do RS foi cenário para uma luta cultural, não apenas no campo

político, partidário, mas também na formação de leitores. Entre 1890 e 1914, surgiram jornais

críticos, políticos, literários. Essa “nacionalização” do leitor imigrante o ajudou na adaptação à

nos doze meses do ano. As vacas parem um vitelo ao mês e os arreios dos cavalos são de ouro, mas as rédeas são

linguiças... A topagrafia se completa com uma colina na qual está a prisão destinada aos infratores da única lei que

vigora no país: não trabalhar e gozar da vida (POZENATO, Cleodes Piazza. In: POZENATO, José Clemente. A

Cocanha. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000. p.7).

Page 23: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

23

pátria escolhida. Possivelmente, esse processo de transição não deve ter sido automático, pois os

homens e mulheres conseguiram manter “a ferro e fogo” sua identidade cultural.

E os jornais, principalmente os mantidos pelos padres católicos, tiveram uma função

fundamental de união entre os integrantes do mesmo grupo. É emocionante entender

como os padres capuchinhos, que passaram a acompanhar os imigrantes, a partir de

1897 criaram o Staffetta Riograndense, mais tarde rebatizado de Correio

Riograndense, até hoje em atividade, em que os colonos encontram conforto espiritual,

conselhos pra agricultura, informações em português e italiano sobre fatos locais e

internacionais e até mesmo romances de folhetim em dialeto vêneto, como Nanetto

Pipetta (POZENATO; GIRON, 2004, p. 11-12).

A partir de 1895, os embates entre católicos e maçons7 continuaram, conforme

documentação do Arquivo Histórico Municipal de Caxias, os jornais surgidos nesse período estão

diretamente ligados aos interesses dos dois grupos estabelecidos: os republicanos e os católicos.

Para Pozenato e Giron (2004, p. 57), “tal situação continuou pelo menos até 1912, quando a Loja

Maçônica8 foi reformulada, proibindo ataques a católicos [...].” As autoras ainda comentaram

sobre o papel da Igreja na época:

Desde o início, a Igreja Católica teve um papel importante no controle dos colonos e na

condução da política regional. A ação da Igreja, inicialmente limitada aos púlpitos e às

visitas aos colonos, afirmou-se e expandiu-se com a criação dos periódicos católicos

(POZENATO; GIRON, 2004, p. 57).

Inúmeros foram os jornais que surgiram nos primórdios da imprensa caxiense. Tendo

espaço também para os periódicos humorísticos.“O Tagarela, O Rosiclér, O Estímulo, A

Encrenca, o Olha-o-Poste, A Pérola, O Assombro, e o Pissilone, além de diversas revistas, como

“A Odisseia”. (ANTUNES, 1950, p. 59). Antunes enfatiza os nomes importantes da imprensa

caxiense:

7 A fundação da Maçonaria Moderna acontece no ano de 1717, com a formação da Grande Loja de Londres: “[...]

que, entre seus estatutos, colocava como condição a ser maçom a crença no Grande Arquiteto do Universo, o

juramento sobre o Livro da Lei Sagrada e a proibições de discussões religiosas e políticas no interior das lojas. No

entanto, no ano de 1877, a Grande Oriente da França riscou da redação de seus estatutos as cláusulas que

envolviam a crença em Deus, dando-lhe novo formato em um sentido mais racional, filosófico e progressista. A

partir daí, formaram-se duas correntes de pensamento: a francesa, defensora de liberdade de consciência e

republicana; a inglesa mais conservadora e religiosa. De forma geral, a primeira corrente foi a que prevaleceu nos

países latinos onde a Maçonaria assumiu uma posição mais identificada com a luta pela liberdade de pensamento e

contra o absolutismo monárquico, geralmente aliado à Igreja.” (BARATA, 1999, p. 29,31,41).

8 Os locais onde os maçons se reúnem e realizam suas sessões são chamados de Templos. A expressão Loja

também pode ser utilizada para se referir a estes locais, porém, na Maçonaria o termo Loja deve ser entendido

como um grupamento particular de maçons, uma entidade coletiva definida (BOUCHER, 1997).

Page 24: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

24

Poetas de ontem, de hoje, filhos da terra ou simples agregados, como Antonio

Casagrande, Bento de Lavra Pinto, Olmiro Azevedo, Henrique Saldanha Filho, Cyro

de Lavra Pinto, Jeronimo Neves, Natércio Cunha Velloso, Palmira Saldanha Rache,

João Spadari Adami, Mário Gardelin e muitos outros, representam o início da

imprensa caxiense, através do tempo. (ibid., p.59)

Segundo Pozenato e Giron (2004), naquele período de 1897 a 1913 circulavam na região

26 jornais. Um número considerado expressivo, tendo-se em vista as precárias condições do

homem do interior. Ainda conforme as autoras, “isso talvez explique a curta duração desses

periódicos, cuja grande maioria circulou durante um ou dois anos apenas; alguns não conseguiram

completar um ano de existência” (POZENATO; GIRON, 2004, p. 59).

3.1.1 A IMPRENSA CATÓLICA

O século XIX é um marco para o início da imprensa católica brasileira. Conforme o

artigo “Os bispos do Brasil e a imprensa”, do pesquisador frei Oscar de Figueiredo Lustosa, a

primeira fase dos periódicos de evangelização (1830-1870), só foi possível por meio do esforço

de católicos leigos isolados, que produziram jornais em sua maioria de vida curta, com circulação

reduzida e de abrangência paroquial. Semanários, quinzenários, voltados às temáticas doutrinárias

de culto, tendo como objetivo eclesiástico “defender a fé e os costumes, para reivindicar direitos,

para lutar contra os adversários e em uma palavra, para informar e formar". (LUSTOSA, 1983, p.

8).

Nos primeiros anos de imigração no Rio Grande do Sul, dentre as ordens religiosas, os

palotinos alemães foram os primeiros a atender os imigrantes italianos em 1886. Estando à frente

da paróquia de Caxias de 1888 a 1893. A partir de 1896, chegaram os capuchinhos franceses,

instalando-se inicialmente em Garibaldi, Veranópolis, Flores da Cunha e Marau. “Introdutores do

estilo gótico na construção de igrejas, estes frades tiveram atuação relevante na colônia italiana

graças ao seminário La Libertà, depois Il Colono Italiano, Stafetta Riograndense e

posteriormente Correio Riograndense” (DE BONI; COSTA, 1984, p. 116).

No dia 18 de janeiro de 1896 chegava a Conde D'Eu, atual Garibaldi, o primeiro

contingente: os freis Bruno de Gillonnay e Leão de Montsapey, acompanhados do

provincial de Sabóia, frei Rafael de la Roche. Eram franceses, vinham ao Brasil

atender pastoralmente imigrantes italianos. Este encontro de nacionalidades, etnias,

Page 25: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

25

culturas, idiomas e costumes contribuiu para a rápida enculturação capuchinha.

Deixaram de lado os esquemas europeus e converteram-se à realidade local.9

Durante o final da década de 1890, a população regional superava o número de 80 mil

habitantes. Entre 1897 e 1945, circulavam nas antigas colônias 75 jornais. Pozenato e Giron

(2004) identificam que neste período existiu em Caxias 50 periódicos, ganhando destaque a

veiculação político-partidária. Passada a Revolução de 30, continuavam sendo criados jornais

políticos, sendo a maioria associados ao Partido Republicano Riograndense (PRR).

Segundo as autoras, outra linha editorial que ganhava força era a associada à Igreja

Católica, tendo exposto em seu editorial o combate à Maçonaria e o positivismo presente no

Estado. Nesse período, as tipografias10

, mesmo que primitivas e manuais, eram as principais

responsáveis pela profusão de periódicos:

A composição era realizada com o auxílio de um instrumento chamado “componedor”,

uma espécie de régua que formava os tipos enquanto o tipógrafo realizava a montagem

do texto. Tornava-se lenta e difícil, portanto, uma composição muito extensa; já que os

tipos tinham que ser colocados um a um no “componedor”, as palavras eram montadas

letra por letra, separadas entre si por um tipo vazio (sem letra), e o texto devia ser

organizado linha por linha, até construir uma folha completa. (POZENATO; GIRON,

2004, p. 30).

De acordo com o informativo “Cem nos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio

Grande do Sul” (1996), o jornal CR foi além de informação, alfabeto, Bíblia e formação para

várias gerações de leitores. De uma simples tipografia, deu-se a origem da Editora São Miguel,

Gráfica e jornal, transferidos de Garibaldi para Caxias em 1952. “Na comunicação capuchinha

assinala-se também o calendário da Associação Antoniana, com mais de 350 mil exemplares e a

EST11

que, em 25 anos, publicou cerca de 1.600 obras, algumas de grande expressão”, ainda:

Com o advento da rádio, os sucessores do frei Bruno viram a possibilidade de “pregar

sobre os telhados” a Boa Nova do Reino. Assim foram surgindo pequenas emissoras,

9 Informativo “Um século”, 1896-1996, Cem anos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul, Quem

somos, onde estamos e o que fazemos,1996, p.3.

10 Nos primórdios da imprensa, em Caxias, a empresa tipógrafica mais conhecida foi a tipografia Mendes (1908),

localizada na Av. Júlio de Castilhos, idealizada por Américo Ribeiro Mendes. Outra figura emblemática neste

ramo foi Júlio Lorenzoni, de Bento Gonçalves. (POZENATO; GIRON, 2004, p. 31) 11 Rádios Redesul AM: Alvorada AM de Marau, Cacique AM de Lagoa Vermelha , Cristal AM de Soledade,

Fátima AM de Vacaria, Garibaldi AM de Garibaldi, São Francisco de Caxias do Sul, Veranense de Veranópolis,

Maristela AM de Torres, Rede Scalabriniana, Aurora AM de Guaporé, Cultura AM de Campos Novos , Rosário

AM de Serafina Corrêa, Sarandi AM de Sarandi e Web Rádio Migrantes (Diponível em:

http://www.redesul.am.br/. Acesso em: 18 mai. 2014).

Page 26: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

26

comerciais e comunitárias, mas de acentuada programação religiosa e suportes de

trabalho paroquial. Hoje são 12 emissoras: Rádio Veranense, Rádio Difusora de

Garibaldi, Rádio Alvorada de Marau, Rádio Cristal de Soledade, Rádio Fátima de

Vacaria e Rádio São Francisco de Caxias do Sul. As cinco últimas atuam também em

Frequência Modulada.12

3.1.1 O JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE

Logo que criado, o jornal La Libertà sofre a sua primeira grande transformação com a

troca de proprietário e editor. Registros da época indicam intrigas clericais. O jornal, fundado por

Dom Carmine Fasulo, agora sob a direção de Baldassarre (Fratelli Baldassarre) é alvo de críticas,

“tornou-se inútil e escandaloso, insultando sacerdotes, fabriqueiros e fiéis”. (BRANDALISE,

1985, p. 35).

Pe. Francisco Baldassarre assume o La Libertà (ver Anexo I) na edição de número 15.

Em nota de capa diz:

Notifica-se que todos os escritos relativos ao nosso jornal La Libertà correspondências,

relatórios, declarações, carta com ou sem a assinatura do jornal, tudo deve ser

direcionado para essa redação na pessoa do Rev. D. Francis Balbasarre, editor do

jornal e pároco atual de Caxias. D. Carmine Fasulo não tem interferência direta, mas é

sempre o firme defensor do jornal La Libertà13 (La Libertà, Caxias do Sul, capa, 22

maio 1909, tradução nossa).

Nesta edição, o novo editor retoma os planos de uma “legítima imprensa católica”,

Baldassarre transcreve um longo texto da “Civilização Católica”, onde fala da decadência do

jornalismo moderno:

Quem não vê que o jornalismo não pode ser nem um mero passatempo nem um

simples divulgador de notícias? [...] Da pretensão de substituir a enciclopédia, o jornal

desceu à exclusão de todo assunto sério... Não mais artigos de fundo, que, como se diz,

enfastiam; mas breves entrelinhados (...). Dizem que o público assim o quer e,

portanto, faça-se o jornal ao sabor do público (...). Fala ainda de “provocação da

curiosidade doentia”, da “fome insaciável do fato imoral, da intriga pútrida, do

processo escandaloso”, da tendência do jornalismo “a recolher e estender em suas

colunas o lodo da vida, mais do que a honra […]. (La Libertà, Caxias do Sul, p.3, 22

12 Informativo “Um século”, 1896-1996, Cem anos de presença dos Freis Capuchinhos no Rio Grande do Sul,

Quem somos, onde estamos e o que fazemos, 1996, p.9). 13 Original em língua italiana: Si notifica che tutti gli scritti relativi al nostro giornale "La Libertà"

corrispondenze, relazioni, reclami, lettera con o senza valore importo d'abbonamento al giornale, il tutto deve

essere diretto a questa redazione nella persona del Rev. D. Francesco Balbasarre, direttore del giornale e attuale

Parroco di Caxias. D. Carmine Fasulo non ha più ingerenza diretta, ma è sempre lo strenuo propugnatore del

giornale "La Libertà". (La Libertà, Caxias do Sul, capa, 22 maio 1909).

Page 27: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

27

maio 1909).

O CR nasce de um “projeto de imprensa católica”, como descreve frei Bruno de

Gillonnay, das Missões Capuchinhos Franceses no Rio Grande do Sul, em relatório a Dom José

Batista Scalabrini, fundador da Congregação dos Padres Carlistas, em ocasião de sua visita às

colônias italianas no RS, em 1904.

Não a imprensa como é entendida na Europa, isto é, imprensa política, de novidades,

de lutas apaixonadas. Não é este tipo de imprensa que queremos aqui. Trabalhamos

para estabelecer com simplicidade, no centro da colônia italiana, uma pequena

impressora, que levará, periodicamente, no seio das famílias, em sua língua materna,

uma página do santo Evangelho, explicada e comentada, uma história edificante,

alguns conselhos de agricultura, a indicação de algumas brochuras adaptadas às

necessidades dos colonos (DAL BÓ; IOTTI; MACHADO, 1999, p. 492).

Ao assumirem a direção do Il Colono Italiano (ver Anexo II), em 1917, os capuchinhos

trocam o nome por La Staffetta Riograndense (ver Anexo III), nome que só vai ser mudado com

a obrigação de publicá-lo em Português, em 10-9-1941, quando passou a circular em português

como Correio Riograndense, nome que conserva até os presentes dias. Anteriormente, era

publicado em italiano, com alguns textos em português e, esporadicamente, em vêneto, lombardo,

trentino ou friulano.

O jornal era impresso em Garibaldi até 1952, período em que foi transferido com a

tipografia para Caxias do Sul. Desde 1970, é impresso em duas cores, formato tabloide.

[...] Em sua inspiração original, foi pensado para ser visita semanal às famílias

evangelizadas pelos missionários capuchinhos e também um jornal aberto às

informações gerais. Nesta condição continuou visitando as famílias, sobretudo no Sul

do Brasil, firmando uma invejável credibilidade. Suas páginas anunciaram o começo e

o fim de duas Guerras Mundiais, a bomba atômica, as grandes descobertas, as crises

internacionais e nacionais, a eleição de nove Papas. Não faltaram as notícias do

cotidiano. Ele foi Cartilha e Bíblia. Mudou sem perder a identidade... É o velho

Staffetta com roupagem nova [...].14

Editado no mesmo prédio em que funciona a Gráfica e Editora São Miguel, em Caxias

do Sul, o CR 15

circula às quartas-feiras. Além das editorias tradicionais como Saúde, Agricultura,

Imigração, as páginas do semanário contam com a colaboração de colunistas de renome nacional

como frei Betto, Wilson João, Leonardo Boff, Aldo Colombo e Padre Zezinho. Um Suplemento

14 Ver em: <http://www.correioriograndense.com.br>. Acesso em: 04 abr. 2013. 15

Ver em: <http://www.correioriograndense.com.br>. Acesso em: 03 abr. 2014.

Page 28: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

28

Litúrgico fornece subsídios para a celebração dominical. Também é destaque o Curso de Teologia

a Distância, realizado em parceria com a Escola Superior de Teologia e Espiritualidade

Franciscana – Estef de Porto Alegre/RS.

3.2 CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS JORNALÍSTICOS

A maioria dos jornais brasileiros divide os gêneros jornalísticos em quatro grandes

grupos: informativo, com a preocupação de relatar os fatos de uma forma mais objetiva possível;

interpretativo, que, além de informar, procura interpretar os fatos; opinativo, expressa um ponto

de vista a respeito de um fato; entretenimento, que são informações que visam à distração dos

leitores 16

.

Segundo o professor Luiz Beltrão, o primeiro deles, o informativo, é a forma mais direta

e funcional de informação, ordem direta ao lead: Quem?, O quê?, Quando?, Onde?, Como?, e

Por quê? Seguindo a teoria da pirâmide invertida, onde o essencial é o lead, o restante é

complemento.

A interpretação jornalística consiste no ato de submeter os dados recolhidos no

universo das ocorrências atuais e ideias atuantes a uma seleção crítica, a fim de

proporcionar ao público os que são realmente significativos (BELTRÃO, 1976, p.12).

Para Beltrão, o gênero interpretativo compromete-se com a informação, sem a pretensão

de opinar, expondo apenas a realidade diante da sociedade, “a informação que, sem opinar, coloca

diante da massa o quadro completo da situação da realidade” (1976, p. 50). É recorrente em

reportagens em que determinado assunto é tratado por diferentes fontes, independentemente do

ponto de vista.

Já no opinativo, o jornalista tem a possibilidade de veicular três categorias de opinião: a

do editor, a do próprio jornalista e a do leitor.

A opinião do editor, definida como o julgamento que faz sobre determinado problema

ou questão [...]. Fundamenta-se em diversos elementos como: a) as convicções

filosóficas do grupo; b) as informações e relações que envolvem o tema proposto; c) as

sondagens e pesquisas realizadas na área de circulação e influência do veículo; d) a

experiência jornalística dos chefes de redação, algumas vezes mesmo reunidos em

conselhos editoriais; e, finalmente e) os interesses econômicos da empresa

(BELTRÃO, 1980, p.19).

16

Ver em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/3196/3196.PDF> Acesso em: 03 abr. 2014.

Page 29: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

29

São diversos os gêneros existentes dentro do campo do jornalismo, sendo cada um

priorizado conforme o formato de cada veículo.

3.2.1. Notícia

A base do jornalismo é a notícia. Seu significado é muito mais amplo do que o conteúdo

simples e puramente publicado num determinado jornal. Antes da invenção da imprensa, para

Bahia (1990), a notícia se restringia a uma ação oral na população, após Gutenberg ficou a tarefa

a cargo dos jornais. “Ela também quer dizer transmissão da mensagem – ou a mensagem em si

mesma – e de novidade que pode ser verdadeira ou falsa, a um interlocutor que a recebe, aceita,

rejeita deforma ou fica inteiramente indiferente” (BAHIA, 1990, p. 36).

Em sua maioria, as notícias, seja em qualquer veículo (rádio, televisão, jornais, internet

etc.), traça um objetivo único, atingir o público. No âmbito das fontes noticiosas, Bahia define:

As fontes de informação – essenciais à apuração das notícias – dão de modo geral: 1)

diretas; 2) indiretas; 3) complementares. Informantes de um acontecimento – seus

autores, suas vítimas, suas testemunhas, comunicados oficiais, quem fala em nome do

quê – são fontes diretas. Terceiras pessoas, informantes envolvidos circunstancialmente

nos fatos, papéis e documentos, de consulta, relatos parciais – são fontes indiretas.

Todas as informações adicionais que contribuem para esclarecer ou enriquecer a

história, acrescentar ou reduzir a visão que parecia definitiva, concorrendo com um

pormenor a mais, como depoimentos, referências (de livros, de pesquisa, referências

etc.) que auxiliam a apuração para determinar com mais precisão a notícia – são fontes

complementares. (ibid., 1990, p. 37).

Assim, deve-se levar em consideração o controle editorial de cada veículo voltado para a

comunicação de massa. Cada setor da imprensa exerce os seus próprios critérios de produção,

seleção e ordem das notícias geradas. Porém, “a organização da notícia deve ser compreendida

como uma decorrência da qualificação da informação que presta um veículo e não como método

de restrição da sua própria liberdade” (ibid., 1990, p.43).

Luiz Amaral (1982) acredita que a matéria-prima do jornalismo, a notícia, é dotada de

atributos fundamentais: atualidade, veracidade, carga de interesse humano e amplo raio de

interesse. Além do tripé: proximidade, raridade e curiosidade. De acordo com Amaral (1982):

Atualidade: Se os acontecimentos narrados são velhos, mesmos desconhecidos até

Page 30: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

30

então, têm menos atrativo. A emulação entre jornalistas é situada no plano da rapidez

da informação, mais do quem em qualquer outro.

Veracidade: Evidentemente que não sendo verdadeira a notícia deixa de ser notícia

para ser boato. E nada pior para um veículo de comunicação que divulgar boato,

informação falsa.

Interesse humano: É preciso que essa notícia fale ao leitor, que prenda sua atenção. É

lógica a conclusão de que um acontecimento nos retém tanto quanto, de uma forma ou

de outra, tivermos a impressão de que dele estamos participando, e isso se chama

identificação.

Raio de influência: notícia que só interessa à família, ao círculo dos amigos e à

vizinhança não pode ser considerada notícia jornalística.

Raridade: O fato que se repete, monotonamente, vai perdendo interesse até cansar,

como informação, o leitor, o ouvinte, o telespectador. Na verdade, os fatos se repetem,

há um ciclo repetitivo cada ano e, nem por isso, os jornais deixam de vender suas

informações.

Curiosidade: O conceito de curiosidade está expresso na própria definição de notícia

dada por Amus Cummings, quando afirmou que “se um cachorro morde um homem

não é notícia, mas quando um homem morde um cachorro, aí é notícia”.

Proximidade: Quanto à proximidade, é natural que o leitor, qualquer pessoa, em

qualquer tempo ou lugar tenha seu interesse despertado mais para as coisas que

ocorrem mais perto que longe dele. (p.60-63).

3.2.2 Reportagem

Presente em praticamente todos os veículos da imprensa, a reportagem se estabelece

como um dos principais formatos jornalísticos. Entendida como uma “grande notícia”, no jornal,

no rádio, na televisão, no cinema (documentário), na internet, a reportagem sempre ganha

destaque.

É a grande notícia – a reportagem – que estabelece o padrão da maior parte do

jornalismo moderno. Seu grau de referência nos Estados Unidos é The New York

Times; na França, Le Monde; na Inglaterra, The Times; e no Brasil, o Jornal do Brasil.

Colunistas, editorialistas, parlamentares, administradores, revistas de notícias,

analistas de televisão e de rádio dependem desses jornais. (BAHIA, 1990, p.51).

Inúmeros são os tipos de organização da reportagem. De acordo com Bahia (1990), a

reportagem se divide em: “a) título; b) primeiro parágrafo, cabeça ou lead; c) desenvolvimento da

história, narrativa ou texto” (BAHIA, 1990, p. 52).

Este gênero é bastante diverso, repleto de peculiaridades, formatos, temáticas e

aprofundamentos. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), uma das principais

diferenças entre notícia e reportagem é a atualidade. Conforme os autores:

Embora a reportagem não prescinda de atualidade, esta não terá o mesmo caráter

imediato que determina a notícia, na medida em que a função do texto é diversa: a

reportagem oferece detalhamento e contextualização àquilo que já foi anunciado,

Page 31: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

31

mesmo que seu teor seja predominantemente informativo (SODRÉ; FERRARI, 1986,

p.18).

Sodré e Ferrari (1986) também atribuem à reportagem a cobertura dos fatos que

abalaram o mundo e exemplificam: “Uma reportagem – a entrevista de José Américo a Carlos

Lacerda – precipitou a queda do regime ditatorial de Vargas em 45 [...]” (SODRÉ; FERRARI,

1986, p.9). Para os autores, este gênero traz “vitalidade” e uma espécie de “poder denunciante”.

É preciso acentuar, no entanto, que a conquista do jornalismo moderno é usar essa sua

força de maneira sedutora: nenhum rebuscamento estéril, nenhuma forma monótona,

deve colocar-se entre o olhar do leitor e o fato restituído de sua veracidade. É na

reportagem – mais do que na notícia, no editorial ou no artigo – que se cumpre esse

mandamento (ibid., p.9).

Este gênero é dotado de aprofundamento sobre determinado tema, uma verdadeira soma

de notícias. Em sua narrativa é possível identificar a consistência nas informações, muitas vezes

até a exaustão de um determinado acontecimento.

3.2.3 Folhetim

No início do século XIX, surge um dos gêneros mais populares da história da imprensa,

o folhetim. Pesquisadores apontam que este gênero é o primeiro tipo de texto escrito ao molde

popular de massa. Para Martín-Barbero (1997), mais do que literário, o gênero pode ser

compreendido como um “novo modo” de comunicação entre as classes.

Propor o folhetim como jàto cultural significa de saída romper com o mito da escritura

para abrir a história à pluralidade e à heterogeneidade das experiências literárias. E,

em segundo lugar, deslocar a leitura do campo ideológico para ler não só a dominante,

mas também as diferentes (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 170).

Ainda segundo o autor, inicialmente o folhetim se restringia ao rodapé da primeira

página do jornal, o que hoje chamamos de “variedades” (receitas culinárias, anúncios, críticas

teatrais e literárias etc.). O conteúdo que não coubesse no corpo do periódico, podia ser

localizado no folhetim. Para Martín-Barbero, existem conexões que ultrapassam questões de

narrativa, evidencia o autor:

Page 32: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

32

Os dispositivos que permitem ao folhetim incorporar elementos da memória narrativa

popular ao imaginário urbano-massivo não podem ser compreendidos nem como meros

mecanismos literários nem como desprezíveis artimanhas comerciais. Estamos diante

de um novo modo de comunicação que é a narrativa de gênero. Não me refiro aqui a

um gênero de narrativa, mas sim à narrativa de gênero por oposição à narrativa de

autor, que é pensável não através da categoria literária de gênero, mas sim a partir de

um conceito situado no âmbito da antropologia e da sociologia da cultura, com o qual é

designado um certo funcionamento social das narrativas, um funcionamento

diferencial e diferenciador, cultural e socialmente discriminatório, que atravessa tanto

as condições de produção quanto as de consumo [...] (MARTÍN-BARBERO,1997, p.

183).

Assim, acredita-se que o folhetim alcançou a popularidade também pela identificação do

leitor com os personagens descritos. Um misto de conto e romance. “Como nos contos, o

desenrolar da narrativa acompanha basicamente o percurso das aventuras do herói, mas, como no

romance, a ação se dispersa, complexifica e enreda na malha das relações que sustentam e

atravessam a ação” (MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 184).

3.2.4 Editorial

Historicamente, o editorial seja no jornal, na televisão ou no rádio, é a palavra do

“dono”. Nos primórdios da imprensa, o editorial ou o artigo de fundo – em sua origem, era

redigido pelo próprio proprietário do veículo.

Bahia (1990) afirma que o editorial é uma notícia qualificada, engajada exclusiva, porque

emite uma opinião própria. O autor destaca, “o seu estilo é o da persuasão e a sua linguagem a

mais direta possível” (BAHIA, 1990, p.99).

Este gênero segue o padrão opinativo e serve para intermediar as relações entre o poder

e a sociedade. Bahia também esclarece, “a notícia dá uma visão diária do que está acontecendo; o

editorial interpreta (e quase sempre julga) o sentido do que está acontecendo, se seus efeitos e das

suas possibilidades de gerar novos acontecimentos” (ibid., p.101).

Bahia (1990) atribui a opinião expressa ao veículo, reforça que no passado a autoria das

opiniões nem sempre era clara: “[...] tanto seu destinatário como a lei tinham dificuldades em

identificar autorias para possível definição de responsabilidade” (ibid., p. 107-108).

Para o professor Mário L. Erbolato (1979), o editorial pode ilustrar, formar opiniões e

inclusive entreter, mas será sempre institucional. “É o pensamento oficial do jornal como

instituição (ou órgão) [...]. O editorial é anônimo, isto é, sem assinatura, embora possa ser

Page 33: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

33

atribuído ao diretor ou ao redator-chefe” (ERBOLATO, 1979, p.39-40).

Page 34: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

34

4 CONCEITOS DE IDENTIDADE

Manuel Castells explica que a identidade passa por um processo de construção baseado

em um atributo cultural que envolve atores sociais, “[...] ou ainda um conjunto de atributos

culturais inter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. Para

um determinado indivíduo ou ainda um ator coletivo, podem haver identidades múltiplas”

(CASTELLS, 1999, p. 22). Outra abordagem importante é relacionada a importância da temática

na contemporaneidade.

Por um lado, devido ao processo de globalização e a uma possível dinâmica de

homogeneidade cultural que é propiciada pelo mercado global. Por outro, a evidência

alcançada pelas identidades regionais e até mesmo nacionais, num movimento de

fortalecimento do local. A abordagem das identidades (nacional, regional, juvenil, de

gênero etc.) como objeto de estudo da Comunicação prioriza uma compreensão mais

recortada e específica, pois sua análise localiza-se em determinadas atividades sociais –

em especial relacionadas à mídia, num meio social particular.17

Segundo Castells (1999), a construção social da identidade acontece em um contexto

que envolve relações de poder, o autor propõe três tipos de identidades que se distinguem em

forma e origem, são elas:

- Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominantes da sociedade no

intuito de expandir e racionalizar sua dominação em relação aos atores sociais, tema

este que está no cerne da teoria de autoridade e dominação de Senett18, e se aplica a

diversas teorias do nacionalismo19.

- Identidade de resistência: criada por atores que se encontram em posições/condições

desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo, assim,

trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que

permeiam as instituições da sociedade, ou mesmo opostos a estes últimos, conforme

propõe Calhoun ao explicar o surgimento da política de identidade20.

- Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de qualquer tipo de

material cultural ao seu alcance, constroem uma nova identidade capaz de redefinir sua

posição na sociedade e, ao fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social.

Esse é o caso, por exemplo, do feminismo que abandona as trincheiras de resistência

da identidade e dos direitos da mulher para fazer frente ao patriarcalismo, à família

patriarcal e, assim, a toda a estrutura de produção, reprodução, sexualidade e

personalidade sobre a qual as sociedades historicamente se estabelecem (CASTELLS,

1999, p. 24).

17 FELIPPI, Ângela.; NECCHI, Vitor. Mídia e identidade gaúcha. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2009. Resenha de:

ESCOSTEGUY, Ana Carolina e JACKS, Nilda. Brazilian Journalism Research, volume 6, número 1, 2010. 18 CASTELLS apud SENNET, 1986. 19

CASTELLS apud ANDERSON, 1983; GELLNER, 1983.

Page 35: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

35

No entanto, essa evolução identitária não exclui a sociedade do capitalismo. Mas, pela

primeira vez, a forma capitalista de produção volta-se para às relações sociais em todo o mundo.

A partir disso o capital é investido por todo o planeta e em todos os setores de atividade:

tecnologia, saúde, transporte, educação, religião etc. Algumas áreas são mais lucrativas que

outras, passando por ciclos, altos e baixos no mercado e concorrência global e segmentada.

Em relação à mão-de-obra e às relações globais de produção, os trabalhadores não

“desaparecem”. Pelo contrário, a difusão das tecnologias da informação, mesmo dispensando e

eliminando postos de trabalho, acaba por não aumentando o número de desemprego. Na essência,

o capital é global. No geral, o trabalho é local. Os trabalhadores tendem a perder a sua identidade

coletiva, tornando-se cada vez mais individualizados quanto a suas capacidades. Diferenciar quem

são os proprietários, os produtores, os administradores e os empregados está cada vez mais

complicado em um sistema produtivo de geometria variável, trabalho em equipe, atuação em

redes, terceirização e subcontratação. Conforme:

[...] após milênios de uma batalha pré-histórica com a Natureza, primeiro para

sobreviver, depois para conquistá-la, nossa espécie tenha alcançado o nível de

conhecimento e organização social que nos permitirá viver em um mundo

predominantemente social. É o começo de uma nova existência e, sem dúvida, o início

de uma nova era, a era da informação, marcada pela autonomia da cultura vis-à-vis as

bases materiais de nossa existência (CASTELLS, 2005, p.574).

Outro aspecto interessante são os “atores sociais” que compõem a sociedade em rede,

que se organizam em torno de uma identidade primária que serve de base para as demais, de

modo autossustentável no tempo e espaço. “Do ponto de vista sociológico, toda a identidade é

construída, a principal questão, na verdade, diz respeito a como, a partir de quê, por quem e para

quê isso acontece.” (CASTELLS, 1999, p.23).

Outra questão importante na identidade é o seu “sentimento de pertença”. Segundo o

jornalista Zygmunt Bauman (2005, p. 17): “Em outras palavras, a ideia de “ter uma identidade”

não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento” continuar sendo o seu destino, uma

condição alternativa.”.

O autor entende que “a ideia de “identidade” nasceu da crise do pertencimento e do

esforço que esta desencadeou no sentido de transpor a brecha entre o “deve” e o “é” [...]”.

20

CASTELLS apud CALHOUN, 1994: 17.

Page 36: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

36

(BAUMAN, 2005, p.26). O mesmo se aplica a noção de “identidade nacional”:

O Estado buscava a obediência de seus indivíduos representando-os como a

concretização do futuro da nação e a garantia de sua continuidade. Por outro lado, uma

nação sem Estado estaria destinada a ser insegura sobre o seu passado, incerta sobre o

seu presente e duvidosa de seu futuro, e assim fadada a uma existência precária. Não

fosse o poder do Estado de definir, classificar, segregar, separar e selecionar, o

agregado de tradições, dialetos, leis constitucionárias e modos de vidas locais,

dificilmente seria remodelado em algo como os requisitos de unidade e coesão da

comunidade nacional (ibid., p. 27).

Outro ponto importante identitário, é o hibridismo, a mistura entre diferentes etnias, por

exemplo, a origem de determinados grupos. “A identidade que se forma por meio do hibridismo

não é mais integralmente nenhuma das identidades originais, embora guarde traços delas” (SILVA

et al., 2000, p.87). Segundo Tomaz Tadeu da Silva, a mistura, o intercurso, a conjunção entre as

identidades, está relacionada aos movimentos demográficos que proporcionam os contatos:

Na perspectiva da teoria cultural contemporânea, esses movimentos podem ser literais,

como na diáspora dos povos africanos por meio da escravização, por exemplo, ou

podem ser simplesmente metafóricos. “Cruzar fronteiras”, por exemplo, pode significar

simplesmente mover-se livremente entre os territórios simbólicos de diferentes

identidades. “Cruzar fronteiras” significa não respeitar os sinais que demarcam -

“artificialmente” - os limites entre os territórios das diferentes identidades (ibid., p.87-

88).

Desse modo, o cruzamento entre fronteiras, proporciona mudanças, deslocamentos na

identidade original. Sendo ela multipluralizada, ambígua, tanto é influenciada como facilmente

influencia o “outro”.

Primeiramente, a identidade não é uma essência; não é um dado ou um fato – seja da

natureza, seja da cultura. A identidade não é fixa, estável, coerente, unificada,

permanente. A identidade tampouco é homogênea, definitiva, acabada, idêntica,

transcendental. Por outro lado, podemos dizer que a identidade é uma construção, um

efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo. A identidade é

instável, contraditória fragmentada, inconstante, inacabada. A identidade está ligada a

estruturas discursivas e narrativas. A identidade está ligada a sistemas de

representação. A identidade tem estreitas conexões com relação do poder (SILVA et

al., 2000, p.96-97).

Para Stuart Hall (1990), a identidade cultural acontece da interação dentre o “eu” e a

sociedade, “eu coletivo ou verdadeiro que se esconde dentro de muitos “eus” – mais superficiais

ou mais artificialmente impostos – que um povo, com uma história e uma ancestralidade

Page 37: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

37

partilhadas, mantém em comum” (HALL apud HALL, 1990). Sendo o coletivo, o múltiplo

sempre presente, em constante transformação, como explica:

As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado histórico

com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência. Elas têm a ver,

entretanto, com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da

cultura para a produção não daquilo que nós somos, mas daquilo do qual nos tornamos.

Têm a ver não tanto com as questões “quem nós somos” ou “de onde nós viemos”, mas

muito mais com as questões “quem nós podemos nos tornar”, “como nós temos sido

representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos

representar a nós próprios”. Elas têm tanto a ver com a invenção da tradição quanto

com a própria tradição [...] (HALL, 2000, p. 108-109).

Silva (2000) simplifica a definição de identidade. Para o pesquisador, “ela é aquilo que

é”, sendo ela própria sua referência, “autocontida e autossuficiente.” (SILVA, 2000, p. 74).

4.1 IDENTIDADE REGIONAL

A significação de identidade regional inicia na análise do termo “região”. Segundo José

Clemente Pozenato, ao citar o linguista estruturalista francês Émile Benveniste, a palavra região

(regio) deriva de “rei” (rex). Portanto, o termo surge atrelado a figura do autoritarismo.

A Geografia Humana define os espaços também com critérios objetivos, fornecidos

pela História, pela Etnografia, pela Linguística, pela Economia, pela Sociologia. Como

nem sempre esses critérios coincidem, é possível falar de região histórica, região

cultural, região econômica e assim por diante, com fronteiras distintas no mesmo

território físico (POZENATO, 2003, p.150).

Pozenato (2003) afirma que a identidade não deve ser compreendida como um processo

natural trata-se, portanto, de "uma rede de relações, em última instância, estabelecida por um ator

(auctor), seja ele cientista, um governo, uma coletividade, uma instituição ou um líder separatista”

(POZENATO, 2003, p.151). Assim como, "o que é entendido como uma região, é realmente,

uma regionalidade" (POZENATO, 2003, p.152).

Segundo Castells (1999, p.23), “na maioria dos atores sociais da sociedade em rede, o

significado organiza-se em torno de uma identidade primária (uma identidade que estrutura as

demais) autossustentável ao longo do tempo e do espaço.”. Sob o aspecto sociológico, as razões

de sua construção são mais profundas, a partir da “[...] matéria-prima fornecida pela história,

Page 38: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

38

geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias

pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso”. (CASTELLS, 1999, p.23).

Outra particularidade é a questão territorial, conforme descreve o geógrafo Rogério

Haesbaert:

Toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente através

do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo

das ideias quanto no da realidade concreta, o espaço geográfico, constituindo assim

parte fundamental dos processos de identificação social [...] De uma forma muito

genérica podemos afirmar que não há território sem algum tipo de identificação e

valorização simbólica (positiva e negativa) do espaço pelos seus habitantes

(HAESBAERT, 1999, p.172).

Do ponto de vista social, Pierre Félix Bourdieu (2001) defende a ideia que a identidade

regional é baseada em elementos de representações mentais: atos de percepção e análise, de

conhecimento e reconhecimento e de representações em objetos ou ainda por meio de

manipulação simbólica e de imposição. Portanto, segundo Bourdieu21

(2001), o regionalismo

pode ser entendido com um exemplo de “lutas simbólicas”, em que os envolvidos estão ligados

individualmente ou coletivamente.

Entretanto, a autora Margarita Barreto, define a identidade como fator fundamental de

“direção” para sociedade, deste modo:

[...] manter algum tipo de identidade – étnica, local ou regional – parece ser essencial

para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus

antepassados, a um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhe dão segurança, que

lhes informam quem são e se de onde vêem, enfim, para que não se percam no

turbilhão de informações, mudanças repentinas e quantidade de estímulos que o mundo

atual oferece (BARRETO, 2000, p.46).

21 As lutas a respeito da identidade étnica ou regional, quer dizer, a respeito de propriedades (estigmas ou

emblemas) ligadas à origem através do lugar de origem e dos sinais duradouros que lhes são correlativos, como o

sotaque, são um caso particular das lutas das classificações, lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a

conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo social e, por este meio, de

fazer e de desfazer os grupos. (BOURDIEU, 2001, p. 113).

Page 39: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

39

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE

O jornal Correio Riograndense (CR) completou 105 anos de trajetória no dia 13 de

fevereiro de 2014. Trajetória conquistada por meio da construção da história da cidade de Caxias

de Sul. Desde o seu surgimento, no alvorecer de 1909, muda de formato, nome, mas o seu

conteúdo permanece o mesmo. Preocupando-se não apenas em informar, tarefa essencial, mas de

educar os seus leitores.

Os capuchinhos merecem destaque, pois desde os primórdios da imprensa caxiense veem

participando do cotidiano da sociedade, sempre atento às mudanças dos tempos.

POZENATO e GIRON (2004, p.176) destacam o trabalho capuchinho: “o Correio

Riograndense, vem acompanhando a evolução técnica e econômica do jornalismo regional e

nacional.”.

5.1 O CAMINHO PERCORRIDO A CADA MUDANÇA GRÁFICA-EDITORIAL

Nome Lá Libertá Il Colono Italiano La Staffetta

Riograndense

Correio

Riograndense

Início de

Circulação

13/02/09 09/03/10 05/07/17 10/09/41

Local de edição Caxias do Sul Garibaldi Garibaldi Garibaldi até

07/05/1952 ,

quando se transfere

para Caxias do Sul

Formato e

edição

- Editado pelo

sacerdote

diocesano Pe.

Carmine Fasulo;

- Formato

standard.

- É adquirido pelo Pe.

Giovanni Fronchetti;

- Formato standard.

- Freis Capuchinhos

assumem a direção do

jornal;

- Formato standard.

- A partir de 1952 a

tipografia do CR é

transferida de

Garibaldi para

Caxias do Sul –

Tipografia e Livraria

São Miguel (bairro

Rio Branco);

- Surge a Editora

Page 40: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

40

São Miguel;

- A partir de 1970 é

impresso em duas

cores e em formato

tabloide. Também

introduzem o

sistema offset;

- No final dos anos

1990 a impressão

passa a ser

terceirizada.

Período

histórico

- “Nova Pátria”

dos imigrantes

italianos: Brasil;

- Discurso

evangelizador da

Igreja Católica;

- O jornal CR

acompanhou a

epopéia da

imigração,

especialmente a

italiana;

- Fortes embates

entre a Igreja

Católica e a

Maçonaria;

- Republicanos X

Católicos (até

1912);

- Surgem os

primeiros jornais

críticos, políticos,

literários e

humorísticos.

- Propósito de divulgar

ideias reformistas;

- Primeira Guerra Mundial

(1914-1918);

- Caxias do Sul é elevada à

categoria de cidade em 1º

de junho de 1910 e no

mesmo ano é inaugurada a

Estação Férrea;

- Foco no agricultor de

pequena propriedade, no

cooperativismo e

sindicalismo.

- Combativo:

Comunismo Russo;

- Sofre influências da

Revolução de 1923

(atritos políticos);

- Influência do fascismo

italiano /Mussolini;

- Nacionalização da

Imprensa;

- “Proibido falar

italiano”

(principalmente depois

de 1929);

- Segunda Guerra

Mundial (1939- 1945).

- Era de Vargas

(Getulismo);

- Mudança da

Política Editorial

- Defesa do Estado

Novo (1942)/Estado

Forte.

- Na década de 1980

chegou a ter 40 mil

assinantes.

Page 41: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

41

Língua - Italiano e

algumas editorias

em português.

- Italiano e algumas

editorias em português.

- Italiano com transição

para os textos em

português

(nacionalismo);

- Frei Paulino (Aquiles

Bernardi), cria o

personagem Nanetto

Pipetta(1924) –

folhetim em dialeto

vêneto.

- Jornal escrito

basicamente em

língua portuguesa

com poucas editorias

em italiano (Nanetto

Pipetta).

Quadro 1 - Principais períodos do CR

Fonte: elaborada pela própria autora

5.2 EDIÇÕES COMEMORATIVAS DO CR: 75, 100 E 105 ANOS

Neste capítulo, são analisadas três edições do jornal Correio Riograndense (CR). Para a

realização deste estudo, foram selecionadas em momentos comemorativos: 75 anos (1984), 100

anos (2009) e 105 anos (2014).

A análise de conteúdo será realizada com base no material selecionado, busca-se uma

configuração da identidade regional, com aspectos da língua, cultura, público leitor e a

religiosidade expressa no conteúdo presente nas edições estudadas.

5.2.1 Língua

Primeiramente, é necessário diferenciar os termos língua e linguagem, que são

igualmente necessários para essa etapa do trabalho. Segundo o autor João Bosco Medeiros

(1988), “as características diferenciadoras entre a língua e a fala são: a língua é sistemática, tem

certa regularidade, é potencial, coletiva; a fala é assistemática, nela se observa certa variedade, é

concreta, real, individual” (MEDEIROS, 1988, p. 19). Medeiros (1988) também explica que a

língua é um conjunto de convenções utilizadas pela sociedade para viabilizar a prática da

linguagem. Trata-se a língua, portanto, de um código, um produto e instrumento da fala, um

sistema de signos. Segundo o autor:

Page 42: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

42

Em seu relacionamento social, dispõem o homem de um instrumento que lhe

caracteriza a condição humana: a linguagem, seja traduzida por gestos, por

modalidades artísticas, seja por símbolos diversos, que também são meios efetivos de

comunicação.

A partir do sistema coletivo, o indivíduo procura fazer uma adaptação individual. A

norma social considera o que é comum a uma nação (idioma) e o que é comum a uma

região (dialeto). (MEDEIROS, 1988, p. 17-18).

Sobre a interferência dialetal tão frequente entre as comunidades, foi descrita por Frosi e

Mioranza (1975) da seguinte forma:

Nas comunidades coloniais a problemática linguística assume outro aspecto:

permanece o dialeto italiano ou soma de dialetos, com pouca ou nenhuma penetração

da língua portuguesa. Um “status quo” linguístico inicial pode seguir duas linhas de

comportamento. Se a comunidade colonial se define como ilha linguística (o mesmo

dialeto é falado por todos os habitantes), o meio de comunicação linguística comum

será o dialeto vigente nessa comunidade. Este, por sua vez, terá uma tendência de

permanecer idêntico até o momento em que não terá, neste caso, penetração imediata,

uma vez que o dialeto usado pelos falantes da comunidade lhes é um satisfatório

instrumento de comunicação. Se, porém, a comunidade define como pluridialetal

(diversos dialetos são falados por causas da diversidade de origem de habitantes), o fato

linguístico apresentará tendência de evolução ou mudança imediata, o eu permitirá a

penetração da língua portuguesa ou a escolha de uma forma linguística dialetal que

possa servir à comunicação do grupo social. (FROSI; MIORANZA, 1975, p. 60-61).

Edição: Nº 3.860 – 25/04/1984

A edição número 3.860 do jornal Correio Riograndense, do dia 25 de abril de 1984 (ver

Anexo IV), teve como principal temática o aniversário dos 75 anos do semanário e, como

destaque, a coluna Vida Agrícola: “uma coluna editada há 31 anos orientando o homem no

campo”. Com 120 páginas no total, o jornal em formato tabloide era impresso em duas cores,

pelo sistema offset22

.

Esta edição estampava na capa uma única foto em preto e branco, na imagem há um

homem idoso e uma criança e o contexto pode ser compreendido como a passagem das gerações

22 No sistema offset, a forma é gravada a partir de filmes positivos ou negativos do original a ser reproduzido. Para

cada cor, é necessária uma forma (chapa) específica. Na preparação da forma para offset, a arte-final é fotografada

e transformada em filme a traço ou reticulado (meio-tom), de acordo com as características do original. O filme é

sobreposto à forma flexível planográfica (chapa), própria do sistema. Essa forma, feita de metal, material plástico

ou mesmo papelão, é coberta com uma emulsão ou camada fotossensível [...]. Por meio de tratamentos químicos,

revela-se a forma, obtendo-se as zonas impressoras lipófilas e não-impressoras hidrófilas. Além dos métodos

fotoquímicos, são utilizados sistemas especiais de gravação direta. Com eles, o original é transferido para a forma

sem passagens intermediárias (sem antes convertê-lo em filme positivo ou negativo). (BAER, 2002, p. 190).

Page 43: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

43

de leitores do veículo em questão. Conforme enfatiza a chamada:

Correio Riograndense foi uma fonte de informação, de formação e de divertimento

para várias gerações. Para muitos foi até a cartilha de alfabetização. Em 75 anos foram

3.860 edições. Todas portadoras de profunda identificação com as aspirações dos

leitores. Esta edição é uma homenagem a todos os que, desde 1909, depositaram

confiança no jornal e acreditaram no seu futuro. A credibilidade é o maior patrimônio

do Correio Riograndense que vem fazendo história há 75 anos. (Jornal Correio

Riograndense, 25/04/1984, capa).

Figura 1 - Capa do CR edição nº 3.860.

Na página 3, ocupada pela editoria Geral, havia um anúncio comercial do Fedrizzi

Magazine parabenizando o veículo pelo seu aniversário. Nele, a mensagem: “Settanta cinque

anni com la parola” (Setenta e cinco anos com a palavra),

desde 1909, como “La Libetà”, a palavra chegava na casa do imigrante italiano. A

partir de então, o homem da terra passou a saber dos fatos do mundo que o cercava. E

ele sempre confiou a palavra. Como confia hoje, na palavra do Correio Riograndense.

Um jornal que prima pela seriedade e profissionalismo. Nesta data, a organização

Fedrizzi transmite seu aplauso com uma palavra: parabéns. Uma homenagem da

Organização Fedrizzi pelos 75 anos de boas palavras para toda a região de

descendência italiana. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.3).

Na página 8, ainda em Geral, foi publicada a matéria intitulada “Universidade lança

dialetos italianos”. O texto trazia o lançamento do livro de autoria dos professores Vitalina Frosi

Page 44: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

44

e Ciro Mioranza. “O livro, que é um perfil linguístico dos ítalo-brasileiros do nordeste do Rio

Grande do Sul, foi impresso sob os auspícios da Editora da Universidade caxiense e contém 525

páginas”.

Nossos imigrantes descendiam, em sua maioria, do vêneto. Mas havia gente de outras

Províncias, como a Lombardia, o Piemonte, Trento... Aliás, naquele tempo, não apenas

as Províncias, mas as próprias cidades tinham os seus dialetos típicos. Chegando ao

Brasil utilizavam diariamente os seus dialetos, misturando-os, formando um linguajar

comum, entendido por todos, coisa que, aliás, também existe no Itália, e que os

pesquisadores denominaram de coiné.

É um dialeto que estacionou no tempo, ao passo que, na Itália, a língua evolui. Nosso

dialeto, para eles, se tornou arcaico. Usa muitas palavras que eles já não usam e

incorporou outras diretamente do português. Tudo isso hoje está assimilado e

dificilmente é percebido. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.8).

O jornal exibia em suas páginas seguintes, em retrospectiva, as épocas que antecederam

a história do veículo, partindo do ano de sua criação: “Assim era o mundo em 1909”. Em

reportagem assinada pelo frei Aldo Colombo, o material também apresentava fotos históricas de

Caxias e da região colonial. Na página 9, um anúncio de mais de meia página, da agência de

viagens aéreas Varig visava uma categoria específica de leitor. “Este anúncio, informando as

frequências Varig para Roma e Milão, é dirigido à comunidade italiana do Brasil que sempre nos

prestigiou com sua preferência.” Na página 40, a matéria “É proibido falar italiano” discorreu

sobre o período da década de 1940, quando foi proibido falar em italiano ou alemão, em

consequência da guerra.

Falar o idioma italiano era crime, punido com prisão. E isto criou dificuldades para

muitos agricultores que entendiam o português, mas falavam apenas o dialeto italiano.

Antecipando-se às medidas qu e já podiam adivinhar, o Staffetta Riograndense mudou

o nome para Correio Riograndense, suspendendo completamente a divulgação de

notícias e editoriais em língua italiana. O primeiro número, totalmente em português,

foi a 1º de janeiro de 1941. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p. 40).

Na página 74, em crônica assinada por Dom Benedito Zorzi, segundo bispo diocesano de

Caxias do Sul, o religioso recorda a época de represália estendida ao jornal CR:

Hoje, usa a língua nacional e nem pensa em voltar à língua italiana. Apenas, como

folclore, usa para estampar algum artigo em língua vêneta e até em alemão. Preciso

lembrar que felizmente passou o tempo em que era proibido falar italiano, alemão e

japonês, durante a última guerra.

Hoje também não teria sentido publicar um jornal, em língua italiana, que se destina

Page 45: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

45

principalmente aos agricultores, homens simples, profundos conhecedores e

apreciadores da natureza, como era São Francisco de Assis... A língua italiana nunca

foi estudada pela maior parte dos descendentes dos imigrantes; seria menos

compreendida que o português, embora muitos entendam e falem a “língua vêneta” que

absorveu de alguma maneira os diversos dialetos do Norte da Itália donde procederam

os imigrantes italianos do Rio Grande do Sul, em quase sua totalidade. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 1988 p.74).

Na edição comemorativa dos 75 anos, frei Rovílio Costa, assinou a coluna “Correio

Riograndense é literatura”. Costa, ressalta que um bom jornal não pode se preocupar apenas com

o ato de “informar”, “mas também na qualidade de vida, na comunicação da cultura, na análise

dos fatos, constituindo-se em agente de formação.”(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.75).

Neste texto, é também resgatada a importância do personagem Nanetto Pipetta, criado por

Arquiles Bernardi (frei Paulino de Caxias), e que foi publicado pela primeira vez nas páginas do

CR em forma de “seriado”, nos anos 1924 e 1925 e transformado em livro em 1937 23

.

Edição: Nº 5.147 – 24/06/2009

A edição número 5.147 do jornal Correio Riograndense, do dia 24 de junho de 2009 (ver

Anexo V), apresentava uma capa colorida e trazia a foto de uma criança usando um chápeu de

palha, em meio a girassóis. A edição especial comemorativa aos 100 anos do semanário, continha

100 páginas e anunciava na capa estar “Em busca do modelo ideal”. “São inegáveis os avanços

ocorridos em um século, mas falta romper barreiras na agricultura, na economia em geral, na

política, nas relações humanas, na dimensão eclesial... na sociedade”. (JORNAL CORREIO

RIOGRANDENSE, 2009, capa).

A página 3 reproduziu o primeiro editorial, linha do jornal CR, de 12 de fevereiro de

1909. “O nosso programa” dizia:

O nosso jornal será semanal e de índole clara e essencialmente católica[...]. Que se

quebre a pena entre os dedos e se seque a nossa mão direita se uma dia nos afastarmos

uma linha deste nobre e santo ideal. La Libertà também será rico de notícias mundiais,

especialmente da Itália e deste Estado do Rio Grande do Sul. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 2009, p.3).

23 As dificuldades com o uso da língua portuguesa que persistiam entre a população adulta, especialmente a do

meio rural, nos anos 30, foram dando lugar ao bilinguismo dos anos 50 e, em 1975 […]. (RIBEIRO, 2002, p.194).

Page 46: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

46

Figura 2 – Capa, edição nº 5.147.

Nesta edição, diversos colunistas como frei Clemente Dotti e frei Aldo Colombo

enalteceram a longevidade do seminário. Dotti ressaltou, em sua coluna, “Um sonho que deu

certo”: “O Correio Riograndense faz parte da Associação Literária Boaventura, uma entidade

filantrópica. O jornal, tendo seu foco na educação, cultura, religião, saúde, agricultura, ecologia,

está ajudando enormemente na consecução dos objetivos desta associação”. (JORNAL

CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p. 4).

Na página, 10, frei Moacir Pedro Molon resgatou o episódio em que o frei Ambrósio

Tondello defendeu o futuro do CR nos tribunais. De acordo com pesquisa realizada por Molon,

as crises já se anunciavam em 10 de setembro de 1941, no auge do nacionalismo e do Estado

Novo de Getúlio Vargas, por ato que “tornou obrigatória a nacionalização da imprensa no país”.

Depois, com crises de caráter econômico e ideológico, na Segunda Guerra Mundial.

Em 1951, a coluna “Correspondência Caipira”, assinada com o pseudônimo “Zé

Fernandes”, rebateu de forma sarcástica e contundente declarações de um

desenbargador, que na imprensa da capital atacou instituições religiosas e,

especificamente, a nascente Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).

Diante do texto escrito, na verdade, por frei Dionísio Veronese, a Procuradoria do

Estado solicitou ao promotor de Bento Gonçalves, Plauto de Abreu, que processasse o

jornal por crime de imprensa. O diretor-responsável, frei Ambrósio Tondello,

respondeu pelo jornal, defendido pelos advogados Angelito e Jemil Aiquel. Após a fase

de instrução, o Tribunal do Júri foi montado no salão da União de Moços Católicos de

Page 47: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

47

Garibaldi, em 04/01/1951.

Um padre no banco de réus fez com que a sala do júri lotasse […]. A absolvição do frei

Ambrósio foi por 5 votos a 0. “Nossa orientação é falar a verdade e não recear as iras

de ninguém, dizia o jornal em sua primeira página ao reportar o julgamento, em

24/01/1951.(CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.10).

A edição centenária reservou a página 18 para contar a história da assinante Amélia

Diomira Lain, que se descobriu escritora aos 86 anos de idade, na época com 92, rascunhava as

páginas de um novo livro. “Trata-se de uma obra escrita em talian por uma pessoa que aprendeu

a ler no Staffetta Riograndense, atual Correio Riograndense. Por várias ocasiões, contribuiu com

a coluna CR “Vita, Stòria e Fròtole”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.18).

Na página 23, da edição especial, a Prefeitura de Caxias Sul parabenizou o jornal por

seu aniversário: “A forma mudou. Mas o conteúdo permanece. Cem anos produzindo informação

de qualidade.”.

Muitos leitores, assinantes, dão o seu testemunho nas páginas que seguem, atribuem

ao CR o aprendizado da leitura e da fala do talian.

Na página 40, a repórter Andressa Boeira resgatou o que ela chamou do “retrato da

colonização italiana”, Nanetto Pipetta. Para Andressa, as histórias de Nanetto reproduziam a

adaptação dos colonos à nova terra. “Foi assim até que, em 18 de fevereiro de 1925, Nanetto se

afoga no Rio das Antas. Frei Bernardo de Puigros, então diretor do jornal, desejava publicar, em

italiano, as aventuras de Robinson Crusoé, em lugar de Nanetto”. No entanto, o ator Pedro

Parenti (1951-2000), que o personificou nos palcos do teatro, “ressuscitou” o personagem,

produzindo novas histórias e o lançando novamente à imprensa.

Em 19 de fevereiro de 1999, 74 anos depois de sua “morte aparente”, Nanetto volta

definitivamente às páginas do Correio Riograndense, pelas mãos de Parenti. […] com o mesmo

formato inicial: em capítulos em talian”. (JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.44).

Para o escritor José Clemente Pozenato, o CR desde o seu surgimento definiu um território de

atuação mais amplo que as próprias colônias italianas da Serra. “Se era ambição do jornal falar

pelos imigrantes italianos do Rio Grande do Sul inteiro, ou se o intuito era apenas o de

caracterizar aquela parcela de italianos que veio para este Estado e dar-lhe uma voz, é difícil hoje

definir”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.48).

Segundo Pozenato, por ser escrito em língua italiana, o semanário foi algumas vezes

tido como defensor da italianidade, portanto, da “manutenção do espírito de pertença à Itália

Page 48: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

48

entre os imigrantes aqui instalados. Um jornal não brasileiro portanto”. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 2009, p.48).

O título de Riograndense, no entanto, parece sinalizar outra direção, ou seja, a de

inserção na nova terra. Se foi escrito em língua italiana talvez tenha tido apenas uma

razão pragmática: seus possíveis leitores mal dominavam o português. E, entre

escolher um dos dialetos trazidos da Itália – dos vênetos, dos lombardos, dos trentinos

– preferiu adotar a língua comum a todos, o italiano oficial, sem outro objetivo que o

de ampliar a comunicação.

No momento em que uma nova língua já se havia construindo na região – 15 ou 20

anos depois de criado o jornal – será o Stafetta o primeiro veículo de imprensa a

abrigar essa nova língua. Chamada simplesmente de “dialeto”, ou apelidada de

“talian” (quem sabe se para diferenciá-la do “brasilian”) é nessa língua local que as

colunas do jornal abrigam e difundem as aventuras de Nanetto Pipetta, hoje um

documento insofismável do aprendizado de Brasil feito pelo imigrante italiano.

(CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.48).

Edição: Nº 5.382 – 12/02/2014

A edição número 5.382 do jornal Correio Riograndense, do dia 12 de fevereiro de 2014

(ver Anexo VI), com 24 páginas, estampou em sua capa, no cabeçalho o selo comemorativo dos

105 anos, com a chamada: “Jornal participa da vida dos leitores”. No centro da capa, uma foto

aberta de um agricultor, usando chapéu de palha, colhendo uva e a manchete “Safra 2014 é

menor, mas qualidade anima produtor”, com subtítulo: “RS deve colher 610 milhões de quilos.

Apesar das altas temperaturas e da baixa umidade, chuvas esparsas e irregulares beneficiam a uva.

Incidência de pragas também foi menor”. Na legenda da imagem: “Vindima: Alfonso Pasa,

viticultor da comunidade de Caravaggio, em Farroupilha (RS), analisa um cacho de variedade

pinot noir na sua propriedade”. Outras chamadas também ganharam destaque, no rodapé: “Clima:

Onda de calor castiga os Estados do Sul” e “Volta às aulas: Lanche saudável impacta no

aprendizado”.

Page 49: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

49

Figura 3 - Capa, edição nº 5.382.

Na página 2 do CR, havia um editorial de cinco parágrafos e três colunas sobre os

“novos caminhos” do semanário. O editorial trazia como título “O tempo é de transição, mas a

missão continua”.

Os editores do Correio Riograndense abrem espaço para a Província dos Capuchinhos

no editorial desta edição que assinala os 105 anos do jornal. Em nome de todos os freis

capuchinhos, cumprimentos à equipe e aos leitores.

Os capuchinhos estão no Rio Grande do Sul há 118 anos […]. O jornal certamente

saberá conciliar produtivamente formatos convencionais da mídia impressa com a

busca de audiência digital em diferentes plataformas, sempre de forma competente e

inovadora. O jornal saberá empreender caminhos para renovar e consolidar nichos

específicos de destinatários para seus conteúdos. O jornal saberá, também, preservar

seu histórico de credibilidade e sua capacidade de gerar e aglutinar conteúdos

diferenciados, binômio que interessa sobremaneira a nós, freis capuchinhos, como

instituição mantenedora. A missão exigirá talento, suor e perseverança, mas contem

com nosso apoio. (JORNAL CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.2).

Na página 8 do CR, editoria Especial, foi reproduzida uma série de entrevistas - “Correio

Riograndense coleciona histórias”. Os depoimentos foram resultado de uma promoção do

aniversário dos 105 anos do jornal e envolveu mais de 10 assinantes de diferentes idades e

moradores de cidades dos estados do RS, do Paraná e de Santa Catarina, demonstrando assim, a

Page 50: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

50

abrangência territorial de seus assinantes. “Há os que têm o jornal como uma "herança de

família", cuja leitura passa de uma geração para outra, e também os que aprenderam a ler pelas

páginas do jornal”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.8). A grande maioria dos

entrevistados, tiveram o primeiro contato com o CR ainda quando criança, leitores que exercitam

a mente com as cruzadinhas, estudantes que utilizam o jornal para trabalhos escolares, como

ferramenta de alfabetização ou donas de casa que reproduzem as receitas culinárias publicadas.

"Meu pai, Gustavo Araldi, de 78 anos, assinante e leitor fiel há mais de 40 anos, conta

que meu avô, Eneas Araldi, ainda jovem, era, além de assinante, também responsável por buscar

exemplares, em Caxias do Sul". Relatou Simone Araldi de Nova Pádua (RS) ao CR. "Escrito em

dialeto vêneto, o então Staffeta [...], por ser transportado a cavalo, chegava à pequena Nova

Pádua, hoje pujante município da Serra gaúcha, através das mãos de meu avô". (CORREIO

RIOGRANDENSE, 2014, p.8).

5.2.2 Cultura

Loraine Slomp Giron (2007) afirma que a cultura regional está edificada pelo conjunto

de padrões de comportamento, de valores materiais e imateriais. “Se a cultura é produzida pelo

trabalho do homem, o mito se baseia no princípio fundador, quando o trabalho dos primeiros

imigrantes derrubou as matas e plantou as cidades e dessas brotaram as cidades” (GIRON, 2007,

p. 54).

O jornal pode ser compreendido como produto cultural de um ou mais determinados

grupos.

[...] ele se constitui em produto de uma determinada cultura na medida em que

representa o modo de viver e de pensar de uma coletividade, porque o sujeito falante

que assume a sua "fala" reproduz realidades culturais existentes na sociedade e, ao

mesmo tempo, introduz valores e modos de pensar através do que fala e do modo de

como fala". (RECH, 2004, p.13).

Na capa da edição comemorativa aos 75 anos do CR, havia uma chamada “Entre duas

aproximações do Halley, os 75 anos do jornal”, com referência ao Cometa Halley que “ameaçou a

extinção do Planeta Terra” em 1910 e a notícia de sua reaparição em 1985-1986.

Page 51: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

51

Da página 12 a 70, com textos assinados pelo frei Aldo Colombo e fotos do Arquivo do

CR e do Arquivo Histórico de Caxias do Sul, uma síntese do século XX, entre 1909 e 1985.

Nesta edição, também havia um anúncio do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares

de Caxias do Sul, parabenizando o aniversário do seminário: “Ao completar 75 anos, identificado

com a causa de uma cultura, o jornal continua escrevendo e participando da história da região”.

Na página de número 76, o arquiteto Júlio Posenato também deixou a sua contribuição

na edição comemorativa. “Os descendentes dos imigrantes desenvolveram um sentimento de

inferioridade e auto-segregação. Sotaque, costumes próprios e uma concepção muito modesta da

própria etnia, fazem o descendente dos imigrantes desvalorizar o que é lhe peculiar” (CORREIO

RIOGRANDENSE, 1984, p.76). O arquiteto foi responsável por um espaço dedicado à

publicação de fotos dos leitores retratando as paisagens da Serra Gaúcha. Foi possível, segundo

ele, criar um roteiro inspirado na “arquitetura da região”.

Já a coluna “Vita Stória...,” dos freis Rovílio Costa e Arlindo Battistel, produzia efeitos

quase mágicos de identificação cultural Assim, a reafirmação da língua e das tradições

italianas agora não mais se encara com vergonha ou como o símbolo de uma época que

seve ser esquecida, mas como a permanência de valores que são cada dia mais

significativos para a nossa vida. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.76).

O aspecto cultural do jornal CR também é abordado pelo religioso Dom Cláudio Collin,

em sua coluna, com o título “Útil instrumento de comunicação”:

A língua comum, os costumes trazidos da Itália e a determinação para o trabalho

construtivo, a fé inabalável no destino na Nova Pátria, que os acolheu, foram elementos

positivos emanados de uma cultura milenar, herdada da Pátria-mãe e que, aqui agora

começam a viver dentro de uma realidade social, cultural, econômica diferente.

Desta cultura até hoje conservem estes imigrantes o sabor da língua, as canções, o

amor ao trabalho, a fidelidade à fé cristã, as tradições dos antepassados, com marcos

orientadores a guiar os passos de filhos e netos. (JORNAL CORREIO

RIOGRANDENSE, 1984, p.77).

Na edição comemorativa ao centenário do CR, o jornal de 2009, destacam-se no

editorial transformações da própria humanidade no último século:

Nestes 100 anos aconteceram coisas inimagináveis. Duas guerras mundiais e centenas

de guerras localizadas atormentaram a humanidade e os tratados de paz sempre se

mostraram frágeis. A “guerra fria” continuou a assustar o homem e, num passe de

mágica, o império russo desmoronou.

Page 52: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

52

Um sul-africano, Cristian Barnard, foi o autor do primeiro transplante do coração.

Logo depois, um norte-americano desembarcou em solo lunar. Uma civilização cada

vez mais veloz assistiu o nascimento do bebê de proveta, do raio laser e o computador e

a Internet vieram para ficar. Ao lado deste espantoso progresso, a fome, a poluição, a

Aids e o terrorismo forçam uma interrogação em relação ao futuro. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 2009, p.3).

Um novo tempo se anunciava principalmente para a continuidade do jornal:

Nesta travessia de 5.200 semanas navegou o jornal. Mesmo assim, jamais perdeu o

sentido da caminhada, traçada em seu primeiro editorial. Para gerações inteiras foi

cartilha e evangelho, concretizando o sonho de frei Bruno de Gillonnay. É uma

legenda que admiramos e que estamos todos - direção, funcionários, agentes e

assinantes - teimosamente dispostos a continuar. (CORREIO RIOGRANDENSE,

2009, p.3)

No ano em que é criado o CR, em 1909, a cidade de Caxias do Sul está em plena

atividade cultural, principalmente motivada pelo crescimento econômico. Atividades reproduzidas

na edição comemorativa ao centenário:

O crescimento econômico de Caxias do Sul deu origem a uma elite, ansiosa por

atividades diferenciadas de lazer e cultura. Então, surgem os primeiros clubes

recreativos, como o Clube Juvenil, em 1905, e o Recreio da Juventude em 1912.

É também nessa época que aparece o primeiro clube esportivo amador da cidade, o

Esporte Clube Juventude, em 1913. Antes disso, os gaúchos já podiam torcer pelo

Grêmio, fundado em 1903, e pelo Esporte Clube Internacional, fundado em 1909 e,

portanto, também celebrando seu centenário, assim como o Correio Riograndense.

A primeira biblioteca pública de Caxias do Sul viria em 1917. O Banco da Província, o

primeiro da cidade, abre sua agência em 1918. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009,

p.13).

Outro ponto importante de transformação é evidenciado na página 11 da edição. O

jornal, na década de 1970, com a adoção do sistema em offset e formato tabloide, possibilitou

uma abertura comercial. “Chegou a editar o encarte chamado Jornal de Caxias do Correio

Riograndense. Em 03/03/1973 o encarte ganhou vida própria e transformou-se no Jornal de

Caxias, também editado pela então Sociedade Literária São Boaventura.”. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 2009, p.11). Conforme relata a matéria, o Jornal de Caxias do CR tinha

adquirido prestígio e estudava a possibilidade de ser diário. Até 1977, o jornalista responsável

pela sua direção era o também radialista Jimmy Rodrigues, sendo posteriormente substituído por

Moacir Pedro Molon. Porém, os capuchinhos administraram o jornal até 1979, quando a marca

foi comprada pela Empresa Jornalística Pioneiro.

Page 53: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

53

Nos relatos de leitores reproduzidos na edição especial dos 105 anos, Margarida Ieda de

Marco Marson de Veranópolis (RS), sintetiza a relação de tantas gerações com o semanário e da

identificação com o personagem Nanetto24

:

A minha história com o Correio Riograndense remonta ao meu falecido pai, Martinho

de Marco, que assinava o jornal nas décadas 40, 50 e 60, até o seu falecimento. Em

2010, tive a oportunidade de fazer a assinatura do Correio Riograndense,

reestabelecendo este vínculo. Gosto muito de tudo o que o jornal trás, especialmente

dos artigos dos freis Jaime Bettega e Aldo Colombo e das histórias do Nanetto Pipetta.

É muito bom ler esse jornal! (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.9).

5.2.3 Público leitor (público-alvo do CR)

O público das edições comemorativas analisadas, 75, 100 e 105 anos, mantiveram o

mesmo padrão de leitores estabelecido no ano de criação do jornal, em 1909. Desde o perfil de

seus anunciantes, empresas que atrelaram a sua marca ao CR, como: Festa da Uva Turismo e

Empreendimentos S.A., Tramontina, Agrimar, Móveis Florense, Gazola, Eberle, Randon e

Agrale. Além de bancos, vinícolas, sindicatos de trabalhadores rurais, prefeituras, cooperativas,

entre outros.

Conforme destacou o Editorial da edição dos 75 anos:

O objetivo do CR foi e continua sendo a defesa dos interesses do pequeno produtor

rural. Os 75 anos de sua existência são uma história de identificação com o homem do

interior, com a defesa de seus valores culturais e com a promoção da sua fé.

(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.11).

A “imagem inconfundível de jornal da colônia” é retratada pela coluna do frei Dionísio:

“Houve tempos em que ser da colônia, ser colono era tido, considerado tipo de segunda classe.

Contudo, o jornal nunca se vexou. Nunca se perturbou”. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984,

p. 74). Pe. Antônio Galioto foi incisivo: “Creio não errar se afirmo que a imensa maioria dos

leitores, são os agricultores do Sul do país! Um jornal que desça à mentalidade do agricultor, aos

24 Tanto na cultura da imigração italiana quanto na cultura clerical, o autor de Nanetto realiza um processo

seletivo, e é a partir dele que se torna capaz de construir sentidos reconhecidos nesses dois eixos culturais. Essa

seleção cultual não só se efetiva a partir do momento em que se conhecem os muitos significados de uma cultura,

como também se dá de maneira particular em cada indivíduo. Porque cada um é parte de um contexto, de um

tempo específico e é capaz de ver as insercções culturais de maneira única. (PEROTTI, 2007, p.121).

Page 54: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

54

seus problemas e lutas, às suas alegrias […].” (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.81).

Galioto ainda destacou a importância de colunas como “Vida Agrícola” do Engenheiro

Agrônomo José Zugno. Na edição, Zugno reintera:

Nesta edição especial comemorativa do 75º aniversário do CR, Vida Agrícola também

está aniversariando, pois completa 31 anos de existência. O jornal de fato, sempre

esteve ao lado dos agricultores que constituíam, como hoje, a maioria dos seus leitores,

orientado-os, defendendo os seus produtos e seus interesses, estimulando-os a unirem-

se e a formarem cooperativas. Vida Agrícola veio para dar continuidade a esse

programa que o jornal já vinha cumprindo com fidelidade desde a sua fundação.

(CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.114).

Para Dom Cláudio Colling, a influência do CR junto ao meio rural está na raiz da própria

origem do jornal e em sua circulação. “O meio rural merece a atenção do jornalismo do interior,

no qual e do que vive, como razão de ser de sua existência. Pelo fato de hoje o homem do interior

possuir TV, nem por isso precisa menos de presença de um jornal […].”. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 1984, p. 77).

Na edição de seu centenário, em 2009, a longevidade do CR foi direcionada na

capacidade em construir e manter a fidelidade de seus leitores e na dinâmica de distribuição dos

exemplares.

O jornal sempre valorizou a figura do agente, fator que lhe garante uma penetração

inigualável e diferenciada. O agente foi valorizado desde os primeiros anos de

circulação. Por questões de logística, o diretor frei Sílvio Armiliato obtém, em

12/12/1950, autorização para a transferência do jornal para Caxias do Sul. Graças a

um empréstimo […], em pouco mais de um ano as instalações junto ao convento dos

capuchinhos, no bairro Rio Branco, já permitiam receber a máquina impressora e toda

a tipografia vindas de Garibaldi. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.11).

A sede do jornal permaneceu no bairro “dos Capuchinhos” até 1998, a partir de então,

passou a funcionar no bairro Desvio Rizzo, junto à Editora São Miguel25

.

Nas páginas 8 e 9, do caderno Especial, dos 105 anos, há um compilado de relatos

enviados dos leitores ao jornal que ajudam a traçar o perfil dos assinantes, leitores. “Enquanto

25 Falaram mais alto as dificuldades com a distribuição do jornal e as facilidades de um polo regional como Caxias.

Mas não só. Para facilitar a importação de papel, já que a intenção era editar livros e revistas, em 23/04/1952, a

tipografia do Correio Riograndense foi registrada com a denominação de Editora São Miguel, propriedade da então

Sociedade Literária São Boaventura. Atender à demanda dos serviços gráficos e estabelecer-se como uma editora

católica, foram estratégias de autosustentação. (CORREIO RIOGRANDESE, 2009, p. 11).

Page 55: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

55

alguns guardam todos os exemplares, outros recortam e colecionam artigos, matérias, receitas e

fotos publicadas pelo jornal” (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.8-9). Desta forma, o jornal

também buscou valorizar e tornar pública a experiência dos responsáveis pela longevidade do

veículo.

A leitora Sirlei Aparecida Vieira, moradora de Caxias, fez questão de compartilhar as

edições do CR com a irmã Aldira, que mora em Santa Catarina. “Aldira gosta principalmente dos

textos sobre saúde; dos artigos dos freis […] e da página de Caxias, que lê como forma de se

sentir mais próxima da cidade onde morou” (COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.8).

O CR também vem contribuindo para a formação escolar de seus leitores. “Todos fomos

alfabetizados pela mãe, mas como não tínhamos caderno, escrevíamos nas margens do jornal”,

contou a leitora Ana Isabel. (COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.8).

A ligação de Loreno Luiz Zambonin, de Canoas (RS), iniciou no final da década de

1940. Segundo relato de Zambonin ao semanário, ele era acólito (coroinha), na igreja matriz da

então Vila de Sananduva,

Aos domingos, depois da missa das 10 horas, era encarregado pelo padre Gregório de

distribuir os jornais aos assinantes. “A entrega era feita em uma peça nos fundos da

igreja”, lembra. “Por uma janela, situada em um plano superior, eu anunciava o nome

do assinante e, então, ele ou alguém encarregado levantava o braço, aproximava-se e

levava o jornal”, conta Zambonin. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2014, p.9).

Além da figura do homem do campo, do agricultor, do colono, a religiosidade é outra

marca, tanto de do jornal quanto dos seus leitores. Hardi José Petry de Caxias do Sul narra: “Eu

coleciono terços e páginas do Correio Riograndense desde que tenho a assinatura. Mais

recentemente, estou colecionando todas as reportagens e fotos do Papa Francisco e outros”

(COOREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.9).

5.2.4 Religiosidade

Na ocasião dos 75 anos, o Correio Riograndense recebeu por meio da Secretaria de

Estado do Vaticano, uma carta do então Papa João Paulo II, através da qual a maior autoridade

da Igreja Católica Apostólica Romana ressaltava a importância do semanário e o definia: “Como

fator de comunhão, que deve tornar possível a participação coletiva das pessoas que vivem fora

dos centros urbanos” (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p.11).

Page 56: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

56

Conforme reforçado ao longo da pesquisa, a religião está impressa no “DNA” do CR.

Um legítimo veículo evangelizador da missão católica.

A passagem dos 75 anos também é tida como um “fato eclesial”, por ser motivo de

alegria para toda a Igreja do Rio Grande do Sul.

O Correio Riograndense sempre teve características próprias. Já em seu primeiro

número professava que nascia católico, viveria católico e, se um dia devesse

desaparecer, sua última palavra seria de fidelidade à Igreja. Em seus 75 anos, por vezes

em meio a situações nem sempre claras, teve a preocupação de difundir valores

evangélicos e cristãos de vida. Suas páginas registraram os grandes acontecimentos

significativos das igrejas particulares e também da vida das pequenas comunidades,

capelas, perdidas no interior. A religiosidade, a família, o trabalho, o espírito

associativo sempre estiveram presentes em suas páginas. (CORREIO

RIOGRANDENSE, 1984, p.80).

O historiador Mário Gardelin também dá o seu testemunho, enaltecendo a missão

religiosa do CR, especialmente a Ordem dos Capuchinhos, trazidos segundo Gardelin pela

“providência divina” para proteger aos colonizadores.

O Correio Riograndense não lançou nenhuma edição, sem que nela houvesse a parte

religiosa, dentro da mais correta ortodoxia. É correr as páginas e deparar o sentimento

de lealdade para com a Igreja, o Papa e a Hierarquia. É a divulgação da sã doutrina,

dos dogmas, sem enfeites ou subterfúgios. Ao lado disso, a lealdade a alguns valores do

mais alto sentido: o nosso colono. (CORREIO RIOGRANDENSE, 1984, p. 76).

Na edição comemorativa ao centenário, em 2009, foi reproduzido o primeiro editorial do

CR (1909). Nele, a vocação cristã é pontuada, bem como a obediência às autoridades eclesiais.

[…] o La Libertà fará seus não apenas os comandos, mas os próprios desejos do

Romano Pontífice, e naquilo que poderá perceber, assumirá o dever de preveni-los. Nós

não entendemos, nem queremos iludir ninguém. La Libertà nasce católico e viverá

católico: e se um dia devesse morrer, o último suspiro será consagrado ao augusto

vigilante do Vaticano, lugar-tenente de Jesus Cristo na Terra. La Libertà poderá

morrer, mas Deus não morre. Com o amor à religião, entendemos consolidar no

coração dos nossos leitores o amor à pátria de origem e a esta de adoção, convictos que

somos que um bom católico será sempre um ótimo cidadão. […] Saudamos

cordialmente nossos irmãos da imprensa. Fiéis às nossas convicções, a eles nos unimos

com firme propósito de fazer um pouco de bem, único motivo que nos impele no

escabroso caminho do jornalismo. [...] ora podemos assegurar apenas que ao nosso

modesto Libertà é reservada a glória de um lisonjeiro porvir; glória que redundará em

honra daqueles que tiverem se esforçado na defesa do presente programa, inspirado

naquele do atual pontífice [Pio X]: Instaurare omnia in Christo (Restaurar tudo em

Cristo). (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, p.3).

Page 57: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

57

Na editoria Igreja, página 32, da edição de 2009, foi retomada a “missão centenária”

dada aos freis capuchinhos que chegaram ao Estado em 1896 para atender especialmente os

imigrantes italianos. Conforme frei Aldo Colombo, os primeiros religiosos estabeleceram-se

primeiramente na região de Nova Milano. Mas, a verdadeira aventura se daria a partir do dia 5 de

dezembro de 1895 quando, segundo Colombo, os pioneiros freis Bruno de Gillonnay e Leão de

Montsapey, acompanhados do frei Rafael de La Roche, embarcavam em Bordeaux (França), com

destino ao Brasil.

Na véspera do Natal de 1895 chegaram ao porto do Rio Grande do Sul e dali seguiram

para Porto Alegre. Dom Claudio ofereceu para residência dos freis a igreja das Dores

em Porto Alegre, além de outras opções: Torres e Alegrete. Providencialmente, na hora

das negociações, chegou o padre Bartolomeu Tiecher, que ofereceu uma casa de sua

propriedade em sua paróquia, Conde D'Eu, atual Garibaldi, no centro da colonização

italiana.

No dia 18 de janeiro de 1896, com uma carona oferecida por um carroceiro, os freis

chegavam ao seu destino, alojando-se no prédio de dois andares do pároco. Era o

começo de uma aventura imprevisível: frades franceses, vindos ao Novo Mundo para

atender religiosamente imigrantes italianos. E, contra todas as possibilidades, deu

certo. (CORREIO RIOGRANDENSE, 2009, 32).

Nesta mesma edição, o Pároco da Catedral de Caxias, Leomar Brustolin escreveu um

amplo artigo sobre o papel da “Igreja Midiática”. “[...] Há sinais e linguagem novas, experiências

e meios antes desconhecidos […]. As mudanças rápidas e profundas interpelam novos caminhos

para o anúncio e a vivência da fé cristã”.

A fé passou a ser transmitida e experimentada através das multimídias. Destacando-se,

ultimamente, o uso da televisão e da internet como lugares privilegiados para atingir

pessoas em busca da experiência religiosa. No Brasil, é possível acessar diferentes

canais de televisão com tais ofertas. Católicos, protestantes, pentecostais, kardecistas,

umbandistas e até grupos orientais apresentam-se na “telinha”, nos diferentes horários

da programação. Se conectarmos a internet, então nos depararemos com um oceano de

possibilidades para acessar experiências com o sagrado. Para os cristãos, entretanto,

interessa sobremaneira o fenômeno da Igreja eletrônica, isto é, a vivência da fé

mediante as mídias. Chega-se a dizer Igreja Midiática. (CORREIO RIOGRANDENSE,

2009, p.40).

Portanto, a partir dos novos desafios e possibilidades de evangelização de massa, a Igreja

também tem buscado novas formas de interação com seus fiéis. O Correio Riograndense mudou

graficamente ao longo das décadas, modernizando-se de forma evidente. Manteve a sua tradição

religiosa, mas se abriu para o mundo atual.

Page 58: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

58

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar aspectos do jornalismo regional requer bastante esforço, pois são necessárias

contextualizações, aprofundamentos de conceitos interdisciplinares e pesquisas em diferentes

áreas, como na história, sociologia e antropologia.

Autoras como Kenia Maria Menegotto Pozenato e Loraine Slomp Giron (2007) e

pesquisadores como Rovílio Costa e Luís De Boni (1979) nos serviram como arcabouço para

compreendemos o cenário que a temática se propunha a desvendar. Vimos com o jornalista Mário

Erbolato (1979) que uma comunicação eficiente, independentemente do veículo, terá que ser

coerente, correta e acessível ao grande público. Luiz Amaral (1982) reforçou que a imprensa,

sempre deverá estar aberta às transformações da sociedade. Juarez Bahia (1990) frisou a

importância da qualificação da informação e resgatou as principais épocas trilhadas pelo

jornalismo brasileiro, até a qualificação do jornalismo como profissão.

O presente trabalho também se debruçou sobre a história do jornal Correio Riograndense,

objeto principal de estudo. O semanário, com 105 anos de trajetória, surgiu e se desenvolveu com

bases alicerçadas na região, por consequência, suas raízes confundem-se com a dos próprios

moradores da Serra Gaúcha. Com circulação semanal, nos tempos áureos atingiu o número de 60

mil assinantes, sendo até hoje distribuído em territórios além do Rio Grande do Sul.

O trabalho também abordou a origem do jornalismo impresso na cidade, o jornal CR como

contador de histórias, resgastes e registros dos habitantes da colônia e da cidade. Embora de

vocação “católica”, a movimentação política, social e cultural do cotidiano, também ganhou o

foco nas páginas do periódico.

Após a realização da análise de conteúdo, baseada nas teorias fundamentadas por

Laurence Bardin (2004), pode-se levantar informações a respeito do objeto analisado. Logo, o

Correio Riograndense traz impresso em suas páginas a identidade de uma região. Identidade essa,

que autores como Manuel Castells (2008), Pierre Bourdieu (2001) e Zygmut Bauman (2005),

ajudaram a conceituar. Atrelado ao seu significado está o “sentimento de pertença” tão presente

na sociedade regional. Temática essa, estudada também pelo escritor José Clemente Pozenato

(2003) e pelo geógrafo Rogério Haesbaert (1999), que traçaram a identidade regional como uma

relação de “apropriação” que acontece tanto no campo das ideias como na realidade concreta

inserida nos tantos processos de identificação social.

Page 59: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

59

Este estudo se propôs a analisar três edições comemorativas do jornal Correio

Riograndense, dos 75, 100 e 105 anos. Para a conclusão desta pesquisa, foi crucial realizar

inferências a partir da análise do texto, da linguagem e de elementos particulares da escrita das

edições selecionadas, seguida pela questão norteadora “Que tipo de identidade regional permeia o

CR?”. A configuração da identidade regional se deu a partir dos aspectos da língua, cultura,

público leitor e da religiosidade presentes nas páginas do CR estudadas.

Este trabalho justifica-se pela contribuição do semanário na história da imprensa regional.

Um veículo que “lutou” ao longo de sua trajetória, pela preservação da memória coletiva, desde a

colonização até a atualidade.

A contribuição da Ordem dos Capuchinhos no Rio Grande do Sul à imprensa local é

notória. Os frades trabalharam com diversos meios de comunicação: rádio, televisão e

especialmente o jornal impresso.

Giron (2007) afirma que a cultura regional está edificada pelo conjunto de padrões de

comportamento, de valores materiais e imateriais. Podemos definir então que o perfil de leitores

do CR como sendo de grande predominância de descendentes de imigrantes europeus, religiosos

e agricultores. No entanto, a passagem de gerações somada aos avanços tecnológicos, indica

também mudança de valores e de transformações significativas neste contexto. Mudanças estas

que não extirpam a noção de identificação dos leitores do jornal, mas que é um fator preocupante.

Um indicativo disso é o declínio do número de assinantes.

A partir da retrospectiva histórica das fases que marcaram a evolução do CR, dos

depoimentos de profissionais que pelo jornal passaram, e, de seus leitores e assinantes, foi

possível visualizar os fatores que determinaram a longevidade de um jornal que mudou de

formato tantas vezes, mas que tem na frequência e credibilidade de seu conteúdo, uma das razões

de sua longevidade. O veículo mudou graficamente ao longo das décadas, modernizando-se de

forma evidente. Manteve sua tradição religiosa, mas se abriu para o mundo atual. A

modernização, porém, não modificou suas principais características, ou seja, não alterou

drasticamente o conteúdo publicado em suas edições.

Portanto, podemos afirmar que o Correio Riograndense é, sim, produto e representação

da identidade de seu público leitor. Logo, a sua própria identidade como jornal é híbrida, étnica e

regional.

Page 60: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

60

REFERÊNCIAS

ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul: 1864-1962. t. 1. Caxias do Sul: São Miguel,

1971.

ANTUNES, Duminiense Paranhos. Documentário histórico de Caxias do Sul. São Leopoldo:

Arte Gráfica, 1950.

AMARAL, Luiz. Técnica de jornal e periódico. 3.ed. Fortaleza: Tempo Brasileiro, 1982. 259 p.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005.

110 p.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2001.

BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e sombras: a ação dos pedreiros-livres brasileiros (1870-

1910). Campinas: Editora da Unicamp, 1999.

BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. 4º ed. São Paulo: Pensamento, 1997. 400 p.

BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000.

BRANDALISE, Ernesto A. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884 - 1984).

Caxias do Sul: Editora da UCS (EDUCS), 1985.

BECKER, Howard. Métodos e técnicas de pesquisa em Ciências Sociais. 4. Ed. São Paulo:

Hucitec, 1999.

BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. 6 ed. São Paulo: Senac, 2002.

BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. 4.ed. rev. e aumen. São Paulo: Ática, 1990. 2 v.

BARROS, Antonio e DUARTE, Jorge; Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São

Paulo: Atlas, 2005. xxiv,

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2000. 225 p.

BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um

manual prático. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

BELTRÃO, Luiz. Jornalismo interpretativo: filosofia e técnica. 2.ed. Porto Alegre: Sulina,

1980. 121 p.

BELTRÃO, L. Iniciação à filosofia do jornalismo. Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1960.

BRITO, Judith; PEDREIRA, Ricardo. A força dos jornais: os 30 anos da Associação Nacional

de Jornais no processo de democratização brasileiro. Brasília, DF: ANJ, 2009. 156 p.

Page 61: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

61

BOCCATO, Vera Regina Casari. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica

e o artigo científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ. Cidade São Paulo, São

Paulo, v. 18, n. 3, 2006.

Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande Del Sud: 1875-1925. v. 1, 2. 2

ed. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 2000.

CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 8.ed. rev. e ampl.

São Paulo: Paz e Terra, 2005. 3 v.

CASTELLS, M. O poder da Identidade. Volume 2. São Paulo. Paz e Terra. 8ª Edição. 2008.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Volume 2. São Paulo: Paz e terra, 1999.

CLEMENTE, Elvo; UNGARETTI, Maura. História de Garibaldi. Porto Alegre: EDIPUCRS,

1993. P.36.

COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica na mídia impressa. São Paulo:

Pearson Prentice Hall, 2007 (ebook UCS).

DE BONI, Luis Alberto; COSTA, Rovílio Frei. Os italianos do Rio Grande do Sul. Caxias do

Sul, RS: EST/UCS, 1979.

DUARTE, Jorge. Assessoria de imprensa no Brasil. In: (org.). Assessoria de imprensa e

relacionamento com a mídia: teoria e técnica. São Paulo: Atlas, 2011.

ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação e edição no

jornal diário. Petrópolis, RJ: Vozes, 1979. 213 p.

FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

Apostila.

FROSI, Vitalina Maria; MIORANZA, Ciro. Dialetos italianos. Caxias do Sul: Educs, 1983.

FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências

sociais. 3.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

GARDELIN, Mário; STAWINSKI, Alberto Victor. Capuchinhos italianos e franceses no

Brasil. Porto Alegre: EST; Caxias do Sul:UCS, 1986.

GIRON, Loraine Slomp; RADÜNZ, Roberto. Imigração e cultura. Caxias do Sul, RS: EDUCS,

2007.

Page 62: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

62

GIRON, Loraine Slomp, O Imigrante italiano: agente de modernização. In: Imigração

italiana: Estudos. Caxias do Sul, 1977.

GUIBERNAU, Montserrat (1997), Nacionalismos: o Estado Nacional e o Nacionalismo no

Século XX, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor.

HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn.

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturias. Petrópolis: Vozes, 2000.

HAUCK, João Fagundes. A Igreja na Emancipação (1808-1840). In: BEOZZO, José Oscar

(org.). História da Igreja no Brasil., t. 2. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 13-139.

HAESBAERT, Rogério. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no nordeste.

Niterói: Eduff, 1997

HENRICHS, Liliana Alberti (Org.). Histórias da Imprensa em Caxias do Sul. Museu

Municipal/Arquivo Histórico de Caxias do Sul/Pioneiro, 1998.

HERÉDIA, Vania Beatriz Merlotti; PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Língua, cultura e

valores: um estudo da presença do humanismo latino na produção científica sobre imigração

italiana no sul do Brasil. Porto Alegre: EST, 2003.

JACKS, Nilda. Cultura Regional como mediação simbólica: um estudo de recepção. Porto

Alegre:UFRGS, 1999.

LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. 6.ed. rev. e atual. São Paulo: Ática, 2006.

LOPES, Maria Immacolata Vassalo. Pesquisa em comunicação: formulação de um modelo

metodológico. São Paulo, Loyola, 1990.

LUSTOSA, Oscar de Figueiredo. Os bispos do Brasil e a imprensa. São Paulo:

Loyola/CEPEHIB, 1983.

MANFROI, Olívio. A colonização italiana no Rio Grande do Sul, implicações econômicas,

políticas e culturais. Porto Alegre: Grafosul, 1975.

MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. 2.ed. rev. Ijuí, RS:

UNIJUÍ, 2011. 223 p.

MELO, José Marques de. Estudos de jornalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1971.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios à mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 2.ed.

Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 1997.

MARCONDES FILHO, Ciro. Comunicação e jornalismo: A saga dos cães perdidos. São

Paulo, Hacker Editores, 2000.

Page 63: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

63

MEDEIROS, João Bosco. Comunicação escrita: a moderna prática da redação. São Paulo:

Atlas, 1988.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas.

4. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.

NETO, Mario Carramillo. Produção gráfica II: papel, tinta, impressão e acabamento. São Paulo:

Global, 1997.

PAGANI, Marcos Fernando. O Nacionalismo na Região Colonial Italiana. Caxias do Sul:

Maneco Livraria. & Editora, 2005.

PINZETTA, Álvaro Luiz. Criação da Diocese de Caxias do Sul (8.9.1934). In: DE BONI, Luis

A. (org.). A presença italiana no Brasil. v. 3. Porto Alegre: EST; Torino: Fondazione Giovanni

Agnelli, 1996, p 534 - 554.

POSSAMAI, Paulo. Imprensa e italianidade: RS (1875-1937). In: DREHER, Martin Norberto

(org.). Imigração & imprensa. Porto Alegre: EST, 2004. p. 561 - 584.

POZENATO, Kenia Maria Menegotto; GIRON, Loraine Slomp.100 anos de imprensa

regional:1897-1997. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2004.

POZENATO, José Clemente. Processo Culturais: reflexos sobre a dinâmica cultural. Caxias do

Sul: EDUCS, 2003.

POZENATO, José Clemente. Algumas considerações sobre região e regionalidade. In:

Processos Culturais: reflexões sobre a dinâmica cultural. Caxias do Sul: Educs, 2003.

POZENATO, José Clemente. A Cocanha. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000.

PEROTTI, Tânia; RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Nanetto Pipetta: modos de

representação. Caxias do Sul, RS, 2007. 126 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de

Caxias do Sul, Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura Regional, 2007.

RODRIGUES, DUARTE, Adriano. Comunicação e Cultura: a experiência cultural na era da

informação. Lisboa: Presença, 1999.

RODRIGUES, Jimmy. A voz e a palavra: o fluir da vida sob o olhar do cronista. Caxias do

Sul, RS: Belas-Letras, 2008.

RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Anotações de literatura e de cultura regional. Caxias

do Sul, EDUCS, 2005.

RIBEIRO, Cleodes Maria Piazza Júlio. Festa & Identidade: como se fez a Festa da Uva. Caxias

do Sul: Educs, 2002.

Page 64: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

64

RECH, Maria Helena Bortolon. As representações do trabalho no artigo opinativo do jornal

Correio Riograndense 1950-2004. Dissertação (Mestrado: Programa de Pós-Graduação em

Letras e Cultura Regional) - Universidade de Caxias do Sul (UCS), 2004.

SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a

perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. 133 p

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1977.

SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa

jornalística. 2.ed. São Paulo: Summus, 1986.

SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE IMIGRAÇÃO ITALIANA, 1996 abr. 24-27, Caxias do

Sul, RS; DAL BÓ, Juventino; IOTTI, Luiza Horn; MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro; Fórum

de Estudos Ítalo-brasileiros :(9. 199. Anais … Caxias do Sul, RS: EDUCS, 1999.

SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco: introdução à cultura de massa brasileira.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1973. Vozes do mundo moderno.

SILVA, Thomaz Tadeu da. “A produção social da identidade e da diferença.” In: SILVA, Tomaz

Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 4. ed. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2000.

TRAQUINA, Nelson. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: UNISINOS, 2001.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo. Florianópolis: Insular, 2004-2005. 2 v.

ULLMANN, Reinholdo Aloysio. Antropologia cultural. Porto Alegre: Esc. Sup. de Teologia S.

Lour. de Brinde, 1980. 340 p.

VALDUGA, Gustavo. "Paz, Itália Jesus" Uma identidade para imigrantes italianos e seus

descendentes: o papel do Jornal Correio Riograndense (1930-1945). Dissertação de Pós-

graduação em História apresentada na PUCRS em 2007.

Revista do Livro da Fundação Biblioteca Nacional, nº 48, ano 15, março de 2007.

Page 65: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

65

Arquivos e Museus:

Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, Caxias do Sul

Museu Municipal de Caxias do Sul, Caxias do Sul

Museu da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial, Caxias do Sul

Monumento Nacional ao Imigrante, Caxias do Sul

Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre

Museu Histórico dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul – Muscap, Caxias do Sul

Acervo da Gráfica e Editora São Miguel, Caxias do Sul

Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi, Garibaldi

Exposição CORREIO RIOGRANDENSE, UM SÉCULO DE INFORMAÇÃO, Museu dos

Capuchinhos, 2009, fotos da seleção “Olhar e Olhares”, captadas por Moacir Pedro Molon

Jornais Consultados:

JORNAL LA LIBERTÀ, n.2, ano I, Caxias, 13 de fevereiro de 1909.

IL COLONO ITALIANO, Garibadi, 12 de de março de 1910.

STAFFETTA RIO-GRANDENSE, Garibaldi, 05 de julho de 1917.

STAFFETTA RIOGRANDENSE, 07 de abril de 1921.

LA STAFFETTA RIOGRANDENSE, 07 de setembro de 1927.

STAFETA RIOGRANDENSE, 06 de março de 1940.

STAFFETTA RIOGRANDENSE, 15 de janeiro de 1941.

CORREIO RIOGRANDENSE, 10 de setembro de 1941.

CORREIO RIOGRANDENSE, 30 de maio de 1970.

CORREIO RIOGRANDENSE, 06 de junho de 1970.

Vídeos

PROIBIDO FALAR ITALIANO, 2012, Caxias do Sul, RS. [Documentário]. 1 DV (24 min.)

CAXIAS DO SUL – TRADIÇÃO E INOVAÇÃO DE UM POVO, 2010, Caxias do Sul, RS.

[Documentário]. 1 DVD (74 min.)

Page 66: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

66

APÊNDICE A – ENTREVISTA FREI ALDO COLOMBO

Entrevista – Frei Aldo Colombo, 77 anos, formado em Filosofia, Teologia e Comunicação -

na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), com estágio na Rádio e

Televisão Francesa (ORTF). É colunista do Correio Riograndense e completou em 2014, 50 anos

de vida sacerdotal.

1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?

Na história do CR com seus quatro nomes, temos dois momentos em sua fase inicial: antes e

depois da aquisição pelos freis capuchinhos. Antes – La Libertá – tinha dois objetivos polêmicos:

defender o Papa e a Igreja Católica contra o anticlericalismo e a oposição maçônica.

No segundo momento – a partir de 1917 – frei Bruno de Gillonnay traçou uma estratégia para

o jornal, com três objetivos:

1. Levar uma página do Evangelho às famílias onde os freis haviam pregado as “Santas

Missões”. Estas Missões aconteciam em três, quatro ou mais anos.

2. Levar algumas noções de higiene, agricultura e afins.

3. Algumas notícias da “velha” Europa dizimada pela Primeira Guerra Mundial. O alvo maior

era a Itália, que os imigrantes conheciam tão bem.

Somente mais tarde começaram a aparecer “notícias locais”: festa do padroeiro, visitas de

autoridades, entre outras. A área do CR foi desenhada pelas Missões. Esta área cresceu com as

migrações: inicialmente para as colônias novas, no norte do Estado. Depois em Santa Catarina e

Paraná. Cada casamento era, potencialmente, uma nova assinatura do jornal.

Podemos, a partir daí traçar o perfil do assinante nos primeiros tempos: católicos,

agricultores e descendentes de italianos. As divisões geográficas pouco interessavam, mesmo

porque os imigrantes dificilmente tinham a ver com o Poder Público. O espaço, portanto,

funcionava na base da região: identidade de culturas, etnias e interesses.

Page 67: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

67

2. Como você define a identidade do leitor do CR?

O CR era, praticamente, o único meio de comunicação no interior do RS. Ele ajudou na

integração regional e acompanhou os migrantes na busca de novas terras. O jornal contribuiu com

a divulgação de novas culturas agrícolas, sobretudo, a viticultura. Apoiou fortemente os

sindicatos rurais e o cooperativismo.

É interessante contemplar a importância da coluna I Nostri Morti (Os nossos mortos), breve

notícia sobre falecimentos, contando inclusive com fotografia. Ali se informava onde morou, onde

foi morar, com quem casou, número e nome de filhos, integração do “homem do campo” na

comunidade.

Page 68: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

68

APÊNDICE B – ENTREVISTA FREI JOÃO CARLOS ROMANINI

Entrevista – Frei João Carlos Romanini, 52 anos, diretor de redação do Correio

Riograndense, responsável pela supervisão de conteúdos da Redesul de Rádio e Rede Mais Nova

FM. Presidente da Rede Católica de Rádio (RCR). Supervisor de comunicação digital da Redesul

e Mais Nova FM e capuchinhos. Integrante da Associação Católica de Comunicação para a

América Latina e Caribe (Signis/ALC).

1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?

A linguagem da narrativa do CR é linear, e ela se traduz nas pautas de interesse das pessoas

que tem a região da serra como local de referência.

2. Como você define a identidade do leitor do CR?

Alguém comprometido com as transformações, responsável, o leitor do CR sempre está

integrado a um grupo grande de outros leitores. Escolas, sindicatos, associações, igrejas, e

pessoas que cultivam de alguma forma a tradição local, mas que querem informações selecionadas

e confiáveis para modificar o seu cotidiano. Portanto, o CR é confiável pelos seus “donos”. Que

também estão próximos dos seus leitores.

Page 69: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

69

APÊNDICE C – ENTREVISTA FREI MOACIR PEDRO MOLON

Entrevista – Frei Moacir Pedro Molon, 66 anos. Desempenhou a função de diretor de redação

do jornal Correio Riograndense por 25 anos ininterruptos. Com formação em Filosofia, Teologia

e Comunicação pela Unijuí e PUC/RS, foi professor na área de comunicação social, na PUC/RS,

Unisinos e UCS. É Secretário Provincial da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul,

entidade editora do CR, através da Associação Literária São Boaventura.

1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?

A identidade regional é um conceito que foi se esfacelando nos últimos 30 ou 40 anos. Foi

possível o CR manter a IR até o momento em que não aconteceu a proliferação dos jornais locais.

Ficava fácil ao CR noticiar diferentes áreas do RS ao MT, desde que atendesse o perfil do leitor-

descendente da primeira emigração sulista. Falo em identidade macrorregional. A IR no sentido

restrito foi o “brete” em que foi lançado o CR nas últimas décadas. Aí, entende-se “regional”

como o conjunto de microrregiões que circundar a Encosta Superior do Nordeste. Como estou há

10 anos fora do CR, observo-o como leitor. E vejo que o jornal não consegue mais cobrir uma

área e/ou um determinado público que possa ser caracterizado como um conjunto que dê razão

ao qualificativo “identidade regional”.

O CR certamente está passando por uma redefinição de seu público e mesmo de sua

plataforma convencional (impresso). O seu leitor tradicional até existe, mas chegar a ele demanda

um investimento não compensador. Assim, o CR terá que redefinir seu conteúdo e ir em busca, de

forma gradual mas não muito lenta, de um novo leitor. Penso que o CR esteja redefinindo seu

conteúdo direcionando-o para um novo quadro-leitor, através de novas plataformas. Sem isso,

com futuro será duvidoso.

2. Como você define a identidade do leitor do CR?

Sim, penso que o leitor do CR seja um buscador de conteúdos ecléticos, mais ou menos

moldados pelos ângulos da qualidade de vida, dos valores da família, do respeito ao meio

ambiente, dos valores do cristianismo (não mais da religião católica), calcados sempre em bons

geradores de conteúdos. Mas, não estou mais falando do leitor “tradicional” do CR. Estou

falando de um nicho a ser identificado, dimensionado e buscado a pequenos passos, cuja única

Page 70: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

70

razão convincente será um bom e surpreendente conteúdo, uma plataforma mobile leve, eficaz e

pouco onerosa. Mas, permanece uma verdade histórica: o CR terá leitores (e futuro) se conseguir

percorrer o caminho da produção e da distribuição de bons e surpreendentes conteúdos.

Page 71: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

71

APÊNDICE D – ENTREVISTA MARCELINO CARLOS DEZEN

Entrevista – Marcelino Carlos Dezen, 60 anos é jornalista formado pela UCS e trabalha há 31

anos no CR, atualmente é editor-assistente do veículo.

1. De que forma é percebida a identidade regional nas páginas do CR?

O CR, por seu legado e sua longa história, se identifica, ainda, como um jornal da família, dos

católicos, mas também de assinantes de outras religiões, como os evangélicos e luteranos; do

agricultor, pois sempre teve uma ligação muito estreita com o homem do campo e do meio rural.

Por sua seriedade e trajetória, sempre foi considerado um jornal sério e confiável. "Deu no

Correio Riograndense, pode acreditar, pode confiar". Forte é também sua identidade como um

jornal que, mais que informar, forma, orienta, educa. "Aprendi a ler no CR", dizem ainda hoje,

muitos assinantes e leitores. Também é considerado um jornal que defende os valores morais e

cristãos, preserva as tradições italianas, a cultura... Valoriza a pequena agricultura familiar.

2. Como você define a identidade do leitor do CR?

Quanto à identidade do leitor do CR, hoje o perfil está mudando bastante, até porque os

tempos mudam. Mas dá para dizer que os leitores do CR são pessoas que valorizam a boa leitura,

apreciam os valores culturais e religiosos, buscam boa informação e orientação.

Geralmente os assinantes são ligados à famílias bem estruturadas, muitos ainda residindo no

interior (no meio rural). O jornal é valorizado pelas congregações religiosas, pois há padres,

religiosos e religiosas que assinam o CR. Outro detalhe: a maioria dos assinantes que o jornal

possui fora do Rio Grande do Sul, mantém a assinatura como uma forma de ligação com suas

origens, pois geralmente são pessoas que migraram para outras regiões e Estados e, como

tradição, levaram junto o CR.

Page 72: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

72

ANEXOS

ANEXO A – 1º EDIÇÃO DO LA LIBERTÀ – 13 DE FEV. DE 1909

Page 73: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

73

ANEXO B – 25ª EDIÇÃO DO IL COLONO ITALIANO – 27 DE AGO. DE 1910

Page 74: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

74

ANEXO C – 25ª LA STAFFETTA RIOGRANDENSE – 2 DE NOV. DE 1927

Page 75: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

75

ANEXO D – Nº 3.860 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 25 DE ABR. DE 1984

Page 76: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

76

ANEXO E – Nº 5.147 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 24 DE JUN. 2009

Page 77: KAMILA CHALMY ZATTI - frispit.com.br · Aos colegas dos cursos de Comunicação da UCS, funcionários do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) e a todos aqueles que contribuíram

77

ANEXO F – Nº 5.382 DO CORREIO RIOGRANDENSE – 12 DE FEV. DE 2014