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PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 03, novembro 2005 1 LABIRINTOS Silvia M. R. Valentini Artista Plástica Trabalho apresentado à disciplina AUP 5810-Paisagismo, ministrada sob responsabilidade dos professores Euler Sandeville e Hugo Segawa, no Programa de Pós-Graduação da FAU.USP, Área de Concentração Paisagem e Ambiente “Não haverá nunca uma porta. Estás dentro E o alcácer abarca o universo E não tem nem anverso nem reverso Nem externo muro nem secreto centro. Não esperes que o rigor de teu caminho Que teimosamente se bifurca em outro, Que obstinadamente se bifurca em outro, Tenha fim. É de ferro teu destino Como teu juiz. Não aguardes a investida Do touro que é um homem e cuja estranha Forma plural dá horror à maranha De interminável pedra entretecida. Não existe. Nada esperes. Nem sequer No negro crepúsculo a fera”. Jorge Luis Borges, Elogio da Sombra

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PAISAGENS EM DEBATE revista eletrônica da área Paisagem e Ambiente, FAU.USP - n. 03, novembro 2005 1

LABIRINTOS

Silvia M. R. Valentini Artista Plástica

Trabalho apresentado à disciplina AUP 5810-Paisagismo, ministrada sob responsabilidade dos professores Euler Sandeville e Hugo Segawa, no Programa de Pós-Graduação da FAU.USP, Área de Concentração Paisagem e Ambiente

“Não haverá nunca uma porta. Estás dentro

E o alcácer abarca o universo

E não tem nem anverso nem reverso

Nem externo muro nem secreto centro.

Não esperes que o rigor de teu caminho

Que teimosamente se bifurca em outro,

Que obstinadamente se bifurca em outro,

Tenha fim. É de ferro teu destino

Como teu juiz. Não aguardes a investida

Do touro que é um homem e cuja estranha

Forma plural dá horror à maranha

De interminável pedra entretecida.

Não existe. Nada esperes. Nem sequer

No negro crepúsculo a fera”.

Jorge Luis Borges, Elogio da Sombra

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A ilustração mostra o centro de um mosaico italiano com as figuras de Theseus e o Minotauro Disponível em http://www.mazemaker.com/history_mazes.htm

Introdução

O fascinante tema dos labirintos de imediato despertou-me o interesse, logo no início da disciplina AUP5810 – Paisagismo. Pesquisando sobre os jardins do século XVII, em leituras complementares para o curso, deparei-me com a informação de que um labirinto havia sido construído nos Jardins de Versailles, a pedido de Louis XIV, e por ter sido considerado fora de moda, destruído no século XVIII.

A idéia de que um labirinto daquela importância pudesse ter sido destruído, imediatamente instigou-me a aprofundar as minhas pesquisas. De início os dados revelaram-se escassos – poucos livros disponíveis nas bibliotecas continham informações sobre labirintos. No entanto, estendendo a pesquisa para os sítios virtuais foi possível encontrar uma profusão de dados sobre publicações, empresas, organizações, livros, revistas, artigos, seminários, encontros internacionais, estudiosos e sobretudo pessoas interessadas no assunto.

Em um período de três meses foi possível compilar vasta quantidade de informações e uma extensa bibliografia em inglês sobre labirintos e mazes.

As publicações informam que o traçado dos labirintos teria surgido há aproximadamente 3500 anos, em diferentes culturas, diferentes épocas e em lugares distintos.

Arcera, Espanha Padugula, Índia Nazca Plain, Peru Oraibi, Arizona Kom Ombo, Egito

Disponível em http://www.whisperinggrove.com/about/labyrinths.htm

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O desenho dos labirintos aparece gravado em rochas e moedas, tecido em cestos, pintado em cavernas, em potes e placas de cerâmica, composto por mosaicos, marcado com pedras diretamente na terra, impresso em manuscritos, como símbolo de proteção, ou referência mitológica.

As pesquisas acusam a presença dos labirintos possivelmente desde o século XVIII a.C. na Inglaterra, e posteriormente na Grécia e Síria. O desenho aparece também em uma jarra encontrada em Tagliatella, Itália, datada do século VII a.C. e gravado em moedas gregas do século III a.C..

Desenho de jarra etrusca - Tagliatella

Disponível em: http://www.labyrinthos.net/f_homepage.htm

Moedas de Creta . disponível em www.labyrinthos.net

Outros labirintos foram encontrados em diversos países como Escandinávia, Suécia, Índia, Peru, México, Sumatra, assim como também em artesanato indígena do Arizona – USA.

Freqüentemente usado pelos romanos, que pareciam conhecer a lenda do Minotauro, os labirintos aparecem também em Pompéia, no século I a.C..

Na Europa medieval o labirinto surge como símbolo cristão, gravado em pisos de igrejas, como o caminho da salvação. O mais conhecido deles seria o de 11 voltas da Catedral de Chartres, do século XIII, embora existam labirintos também em Amiens, Lucca, Rheims, St. Omer, St. Quentin e muitas outras catedrais.

Catedral de Rheims Saint Quentin Catedral de Amiens Catedral de Bayeux. Imagens disponíveis no site www.sacred-texts.com/etc/ml/

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Nos jardins franceses o traçado do labirinto é composto por cercas vivas, com um ou mais caminhos, diferença apontada nos mazes e labirintos. Usado para os jogos do amor, ele adquire um sentido de prazer e excitação.

André Mollet, 1651 Labirinto de Chantilly (Blondel) Choisy-le-Roi (Blondel). Imagens disponíveis no site www.sacred-texts.com/etc/ml/

Finalmente, nas últimas décadas, com a retomada do interesse pelos labirintos, o assunto surge na literatura, poesia, cinema, esportes, saúde, psicologia, práticas terapêuticas, assim como também nos jardins públicos e privados, em parques, escolas e até em prisões de vários países.

Labirinto no Castelo de Leeds - UK Labirinto de água, em Jersey "Herb Garden" – UK

Castelo de Leeds Hampton Court – UK Gun Wharf Quays Maze Festival - 2003

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Labirinto de três pontas – Países Baixos Zoológico de Newquay – UK Edinburgh – UK

Disponível no site http://www.mazemaker.com/photo_hedge.htm

O tema continua fascinando pessoas de diversas culturas, que parecem não apenas renovar o seu interesse pelos labirintos mas também encontrar novos significados para ele.

Esta monografia, como uma primeira abordagem, contempla os tópicos da peregrinação, dos jardins franceses e o uso dos labirintos nos nossos dias, deixando aberta a possibilidade, para o futuro, de outros capítulos complementares.

Os caminhos da peregrinação

"Um templo é uma paisagem da alma. Ao entrar numa catedral, penetra-se num mundo de imagens espirituais."1

Sneinton, England – Disponível no site. http://www.labyrinthos.net/graphics03.htm

O século XIII pode ser considerado como o século das grandes catedrais. O estilo gótico, como nos ensina GOMBRICH2, desenvolvia-se desde meados do século XII, quando a Europa era ainda um continente pouco povoado de camponeses. Segundo o autor, os

1 CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito: Palas Athena, 1990 2 GOMBRICH. História da Arte, 13ª edição, 1977

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grandes bispados ambicionavam poderosas catedrais, o que, sem dúvida, seria uma maneira de demonstrar poder.

Fig 1 - Warrior 91 – Knight Templar – 1120 -1312. Disponível no site http://www.ospreypublishing.com/content2.php/cid=275

Na metade desse século era comum encontrar-se, por toda a Europa, sobreviventes das Cruzadas (Fig 1). Havia, na época, possibilidade de deslocar-se em longas viagens de navio com intuitos mercantilistas, em busca de produtos de fácil comercialização, mas a maneira mais característica de viagem era a da peregrinação. BROOKE (1984)3 elucida que assim como hoje vamos para o mar ou a montanha, os nossos ancestrais medievais iam para um santuário.

Segundo o autor, muito embora a peregrinação parecesse um grande divertimento, um acontecimento social que reunia homens e mulheres, era também dotada de forte conotação religiosa. Esses grupos deslocavam-se por várias rotas, por províncias, rios, santuários, vencendo com a ajuda de guias as péssimas condições da jornada, onde faltava alimentação, água potável, higiêne e conforto para o descanso. Vários autores citam as longas jornadas à Jerusalém como penitências e mortificações impostas aos peregrinos: "Jerusalém é, na terra, a imagem dos céus. Aqueles que morrerem a caminho dela irão direto ao Paraíso"4.

A peregrinação nos labirintos

Muitas vezes indicados pelos padres aos fiéis, para pagamentos de penitências, os labirintos das igrejas serviam de opção para os penitentes impossibilitados de cumprir longas jornadas fora da igreja (Fig2). O fato de serem chamados de “Caminhos de Jerusalém” confirma que eram um substituto para as peregrinações à Terra Santa: durante a Idade Média, as Cruzadas tornaram perigosa a viagem para Jerusalém e assim, como penitência, os fiéis percorriam o labirinto das igrejas de joelhos5.

3 BROOKE, Christopher. Popular Religions in the Middle Ages:Thames and Hudson, p. 22, 56,120 4 IDEM 5 FREITAS, Lima de. "Labyrinth," The Encyclopedia of Religion. ed. Mircea Eliade. 16 vols. New York: Macmillan. 1987

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Fig 2 – Catedral de St. Quentin, França.http://www.labyrinthos.net/f_photos.htm

Os labirintos eram gravados no piso das igrejas, de acordo com CLIFFORD6, para serem percorridos pelos fiéis, de joelhos. Embora o labirinto fosse essencialmente um símbolo pagão a Igreja não teve dificuldade em associá-lo à iconografia cristã: o seu caminho unidirecional ao centro seria uma ilustração perfeita do caminho único para a salvação. Como o próprio autor define, o centro do labirinto poderia ser denominado como Jerusalém, e isso reduzia a penitência do peregrino à proporções práticas.As igrejas góticas, segundo K. CLARK7 inspiravam nos religiosos a esperança da salvação, o que se contrapunha ao medo do julgamento e da morte. CAMPBELL (1990) comenta também que nas religiões "o labirinto que bloqueia é, ao mesmo tempo, o caminho para a vida eterna".

Muitos desses labirintos já eram incluídos no projeto das igrejas do século XII na Itália e na França. No século IX, na Catedral de Santa Lucca, na Itália, um labirinto na parede, convidava ao traçado com os dedos (Fig 3). Antes de entrar, os fiéis deviam dedicar-se à atividade de percorrer o labirinto com os dedos, para aquietar a mente. Muitos outros exemplos ainda se encontram presentes e ainda podem ser vistos atualmente nas igrejas da Europa.

6 CLIFFORD, Derek, A History of garden design, p.66 7 CLARK, Kenneth, Civilization. British Broadcasting Corporation, 1969 . 1ª edição, p.238

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Fig 4 - Catedral de Amiens, França. http://www.labyrinthos.net/f_photos.htm

Catedral de Amiens

Tomando-se por referência BROOKE, no início do século XII a economia de Amiens baseava-se no comércio de vinhos e da tintura azul (woad) derivada de uma planta cultivada na região e muito valorizada pelas indústrias têxteis. Ao longo do século XIII a catedral, destruída por um incêndio no ano de 1218, é inteiramente reconstruída, graças à generosidade da comunidade, do bispo e do prefeito que doou uma das janelas de rosácea. Também um dos mais ricos comerciantes de tintura doou metade das janelas altas (lancet window) de mosaicos de vidro. O envolvimento com a construção da catedral, segundo o autor, constituía a expressão de um envolvimento religioso da comunidade.

A Catedral de Amiens (Fig 4) está situada em Somme, ao norte de Paris é a mais alta catedral francesa 8 (sua abóbada atinge 43m de altura) e representa o apogeu da engenharia gótica. O labirinto da catedral tem formato octogonal (Fig 5) e mede 12,14 X 12,14 metros. Foi construído em mármore preto e branco, em 1288, para dar boas vindas aos peregrinos que visitavam a cabeça de São João Baptista. Desfeito entre 1827 e 1829 para reforma do piso, foi reconstruído entre 1894 e 1897, incluindo o centro de bronze com as imagens dos anjos9.

8 Disponível em http://www.beloit.edu/~arthist/historyofart/gothic/gothic.htm (Beloit College, Wisconsin, USA, fundado em 1846) 9 Disponível no site da Universidade de Quebec, Canadá: www.alambix.uquebec.ca

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Fig 6 Catedral de Chartres e detalhe do labirinto – http://www.lessons4living.com/chartres_labyrinth.htm

Fig 7 – Labirinto com o detalhe das seis absides - http://www.mymaze.de/foto_frset_e.htm

Catedral de Chartres

Fig 5 - Catedral de Amiens

http://www.mtholyoke.edu/acad/intdept/

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SAWARD10 nos informa que na Catedral de Chartres (Fig 6) está o mais famoso dos labirintos gravado em pisos de igrejas. Os labirintos de pedras coloridas eram comuns nas grandes igrejas medievais da Europa, e o de Chartres é uma réplica do labirinto medieval no qual se pode perceber o desenho de uma cruz no centro.

De acordo com VALENTTE11, em artigo sobre o labirinto da catedral, a construção de Chartres, ao sul de Paris, teria sido iniciada em 1194. No local existiria, nos tempos pagãos, uma gruta com a estátua de uma Virgem Negra, esculpida em madeira pelos druidas e adorada pelos peregrinos franceses.

Toda a cidade participava dos trabalhos de construção da catedral. As pedras vinham de uma pedreira que ficava distante da igreja e o transporte do material era feito em carros puxados pelos pescadores da região. Antes do início do trabalho, todos comungavam para não contaminar a obra.

A catedral só ficaria pronta em 1260, no reinado de Felipe Augusto.

Em torno de 1197 um labirinto foi gravado no piso, supostamente pelos monges beneditinos, próximo ao pórtico oeste. Este labirinto é sem dúvida o mais famoso dos pisos de igrejas e é conhecido por quatro nomes diferentes:

● Le dedale - ou Daedalus: o mesmo nome do famoso arquiteto que construiu o labirinto de Creta. No entanto, o labirinto de Chartres é uma réplica do clássico labirinto medieval, com um único caminho e não um intricado quebra- cabeça com becos sem saída.

● La lieue –a ligação. Embora o comprimento do caminho seja de aproximadamente 260m na Idade Media alguns peregrinos costumavam cumprir a distância de joelhos. O exercício demoraria três horas ou o mesmo tempo levado para se caminhar a distância de três milhas.

● Le chemin de Jerusalem – O caminho de Jerusalém: Caminhando pelo labirinto o cristão substituía a peregrinação à Terra Sagrada. Quando a viagem até Jerusalém tornou-se muito perigosa, durante a Idade Media, os labirintos nos pisos das catedrais tornaram-se uma alternativa para a peregrinação.

● Le chemin du paradis – o caminho do paraíso – o abençoado Jerusalém: Caminhando pelo labirinto o peregrino traçava o seu próprio caminho de vida, do nascimento à morte, o centro. A saída significava o purgatório e a ressurreição.

O labirinto de Chartres é feito em mármore azul e pedra calcárea, sendo uma adaptação do desenho do labirinto medieval, com a repetição de idênticos quadrantes, e tem o centro ocupado por seis absides (fig 7). FERRÉ12 especifica que o labirinto tem um diâmetro de 13,95 mt e foi construído dentro dos princípios da geometria usada na construção das catedrais da época. A distância da porta de entrada da catedral até o

10 Disponível em http://www.labyrinthos.net/ Outras publicações de autor e de Kimberly Lowelle Saward, PhD, (Sonoma State University, CA, Dept of Psicology): Caerdroia – Journal of Mazes and Labyrinths Magical Paths – Labyrinths and Mazes in the 21th Century Labyrinth and Mazes – The Definitive Guide 11 VALENTTE, Rebecca. The labyrinth of Cathedral of Chartres, Boston College, disponível em www.bc.edu 12 FERRÉ, Robert. Fundador da página virtual Labyrinth Enterprises, autor dos livros Church Labyrinth, The Labyrinth revival, Origin, Symbolism and Design of Chartres Labyrinth, co-autor com Jeff Saward de Through the Labyrinth.Disponível em www.labyrinthenterprizes.com

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labirinto e da porta até o vitral de roseta (Figs 8 e 9) é a mesma, assim como o diâmetro da roseta e do labirinto também é o mesmo. (Fig 10)

Os versos do Miserere (Salmo 51) estão gravados no caminho de pedra branca.

Fig 8 – Roseta da fachada oeste – disponível em http://www.mymaze.de/home_e.htm

Fig 9 – Porta de entrada e vista do labirinto disponível em http://www.paxworks.com/Chartres/

Fig 10 – Vista do labirinto http://www.paxworks.com/Chartres

Como cita GOMBRICH, os pintores do século XV observavam a natureza para, em pinturas, contar a história da religião. No século seguinte passam a fazer esboços fiéis de plantas e animais, para só então depois pintá-los: é o final da arte medieval e o início da Renascença.

Segundo BERRAL13, na Idade Média o homem preocupava-se com Deus e a partir da Renascença volta as suas atenções para o mundo. Pode-se notar então um período de pujança cultural, de descobertas científicas e crescimento do comércio. Ainda segundo a autora, vê-se o homem tomando consciência dos seus talentos e capacidades, uma das características do verdadeiro sentido do renascimento.

Um bom exemplo dessa época é Lorenzo de Médici, homem que expressava os seus muitos talentos por meio da música, política, finanças e poesia. Para ser possível a compreensão da época, é necessário que se perceba que no século XV a aceitação social era baseada no homem versátil e assim, muitos artistas como Vassari e Alberti eram também arquitetos, escultores, pintores, poetas.

Segundo BERRAL, eram esses artistas que freqüentemente planejavam os jardins dos castelos e villas, que projetavam como arquitetos (Fig 11).

13 BERRAL, Julia. The Garden, p109

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Fig 11 - Villa Medici em Fiesole. Disponível em http://www.lih.gre.ac.uk/histhe/alberti.htm

Os labirintos nos jardins

Com relação ao surgimento dos labirintos nos jardins do renascimento, encontramos referências em TEYSSOT14, que nos mostra a importância teórica que o tema tinha naquela época. Como cita o autor, ALBERTI 15 não menciona os labirintos, mas já contribui para um planejamento paisagístico mais idealista e humanista, que permitia variações e alterações nos projetos. O autor relata também que FILARETE16 foi o primeiro a apresentar um projeto para labirinto, planejado para o parque real do rei Zogalia.

Fig 12 Labirinto de Serlio – Século XVI – Disponível em http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml17.htm

Desenhos de labirintos aparecem também em projetos para jardins executados por Sebastiano Serlio (Fig 12) em 1537, em Veneza, mas segundo MOORE17, já se tinha conhecimento de labirintos cortados em relvados do lado de fora das igrejas, desde a

14 TEYSSOT, Georges and MOSSER, Monique - Editors. The History of Garden Design – Thames and Hudson, p84 15 ALBERTI, Leon Battista. De Re Aedificatoria, citado em TEYSSOT, p84 16 FILARETE, Antonio. Trattato di architettura – Book 15, p 121, citado em TEYSSOT, p84 17 MOORE, Charles W.. The Poetics of Garden, 1988 - p 46

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Idade Media. Há alusões de Shakespeare (1564-1616) aos labirintos no relvado e como nele se podia caminhar, ou perder-se:

" Thou mayst not wander in that labyrinth; there Minotaurs and ugly treasons lurk" - Suffolk in Henry VI, Parte I, Ato 5, Cena 3

" What, lost in the labyrinth of thy fury!" - Thersites in Troilus and Cressida, Ato 2, Cena 33

" The quaint mazes in the wanton green, for lack of tread are undistinguishable." - Titania in Midsummer Night's Dream, Ato 2, Cena 1

"Here's a maze trod indeed, through forth-rights and meanders!"

Gonzalo in The Tempest, Ato 3, Cena 3

O mesmo autor comenta que, embora referências fossem feitas aos labirintos, representativos exemplos aparecem só mais tarde, mais precisamente na terceira década do século XV.

Os labirintos nos jardins franceses começam então a aparecer com mais freqüência e assim o seu significado religioso, do caminho único que conduzia à purificação os peregrinos pecaminosos, transforma-se numa invenção secular que oferece entretenimento e diversão (Fig 13)

A compreensão da diferença entre labirinto, maze ou irrgarten é permitida nos estudos de H. KERN18:

Maze ou Irrgarten: traçado onde alguém pode perder-se com facilidade, já que possui traçado intricado, com becos sem saída. Irracional, inspira medo, enquanto o labirinto ilumina o espírito e transmite paz (Fig 14)

Labirinto: consiste em um único caminho, com voltas que serpenteiam em sentido não necessariamente circular, que leva a um ponto central (Fig 15)

18 KERN, H.. Labirinti – Forme e interpretazioni. 5000 anni di presenza di um archetipo. Manuale e filo conduttore – Milão, 1981 (citado em Teyssot)

Fig 13 - Projetos de Du Cerceau's para mazes em Charleval e no jardim

do Palacio do Arcebispo de Rouen at Gaillon – Disponível em

http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml17.htm

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Fig 14 - Maze - Castle Hill, Ipswich, MA Fig 15 Labirinto Clássico

Disponível em http://www.labyrinthos.net/f_intro.htm

BERRAL também cita a confusão causada pelos termos, que freqüentemente são usados como sinônimos, e complementa que há escritores ingleses que afirmam que o labirinto libera os caminhos que o maze bloqueia e que ainda outros escritores consideram que o labirinto seria sempre alto e o maze de cercas vivas baixas.

Nesse sentido, a Enciclopédia Britânica (p 561) não faz diferença entre as palavras, quando explica que um labirinto ou maze significa uma intricada rede de caminhos de cercas vivas, na qual se tem dificuldade de encontrar o centro ou a saída.

Finalmente, a respeito da confusão criada pelos termos, citamos novamente TEYSSOT, que comenta que tal confusão surge a partir do século XVI, quando os labirintos tornam-se frequentes nos jardins e que o problema da escolha do caminho certo constitui um jogo de chances "calculado para atrair o espírito da época". A excitante confusão criada pelo desafio da escolha certa, dentre as muitas alternativas, era um jogo atraente que, naquele tempo, fascinava os cortesãos frívolos e hedonistas.

O mesmo autor comenta que em torno de 1540 um Irrgarten foi plantado em Alcazar, Sevilha, por Charles V e também um outro, em comemoração à festividades da época, nos arredores do Palazzo del Te (Fig 16), próximo à Mantua, que possivelmente foi parte de um projeto de Giulio Romano, morto em 1546.

Fig 16 Palazzo del Te – Mantua Disponível em: http://www.bluffton.edu/~sullivanm/delte/delte.html

Fig 16 - Detalhe - Palazzo del Te - Irrgarten Desenho de M. van Heemskerck The History of Garden Design – T. & Hudson

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Autores fazem referência à esses jardins como cenários de jogos de amor. BERRAL, por exemplo, cita os jardins de Villandry, no Vale d'Loire. De inspiração gótica, o jardim era composto de quatro grandes compartimentos em formato de coração com labaredas, representando o "l'amour tendre". Uma segunda área, formada por canteiros de rosas vermelhas que invocavam lâminas cortantes, retratava o "amor trágico". O terceiro espaço era a reservado ao "amor volúvel", com borboletas, crisálidas e representações de cartas dobradas. Finalmente o quarto e último, na descrição da autora, era o compartimento das "folias do amor". Composto de topiária e flores coloridas representando corações, uma das suas extremidades continha um labirinto, cuja cópia pode ser vista em gravuras de Androuet Du Cerceau.

A compreensão da dinâmica do labirinto de jardim é realizada quando TEYSSOT menciona a tradição de música e poesia que existia na corte de Mantua, onde a imagem de Labirinto do Amor freqüentemente se repetia. Nesse sentido, percebemos que o Palazzo del Te era o cenário perfeito para a exaltação do amor de Federico II Gonzaga e Izabella Boschetti.

Os labirintos se constituem então a moldura adequada para os jogos do amor, e simboliza também o dualismo de sorte e azar, prazer e sofrimento, que podemos entender como parte da realização do amor.

Ainda sobre os labirintos ou mazes de Mantua, o mesmo autor apresenta outro projeto, de maior escala, instalado por Gabriele Bertazzolo ao sul do Palazzo del Te, em 1607. Os planos para esse labirinto estão descritos pelo próprio Bertazzolo no Urbis Mantuae Descriptio (1628):

"...é de um tamanho tão grande que, para se chegar ao centro, deve-se percorrer um caminho de mais de 2 milhas, e no caso de se tomar um caminho errado essa distância pode aumentar. Este caminho é suficientemente largo para nele transitarem cavalos e carruagens..."(citado em TEYSSOT, p84)

A análise de TEYSSOT sobre os labirintos menciona vários outros jardins, como os de Villa d'Este, com quatro projetos de Pirro Ligorino desenhados em 1560, dos quais apenas dois foram executados. O autor comenta que os explêndidos desenhos desses labirintos são retratados por Dupérac (1573).

Também em Villa Lante, em Bagnaia, próximo a Viterbo, um labirinto foi construído, como ilustram gravuras de Tarquinio Ligustri (1596) e Giacomo Lauro (1612). Também descritos por TEYSSOT estão os labirintos do Château de Charleval em Normandy, desenhados em torno de 1560 para Charles IX da França.

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Fig 17 - Labirintos florais, de Vries – Imagens disponíveis em http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml16.htm

Sobre projetos de jardins, Johan Vredeman de Vries (Fig 17) comenta em seu Hortorum Formae (1583)19, que desenhos de jardins não eram novidade naquela época. E explica o que na Inglaterra, o autor de Profitable Art of Gardening (1568) Thomas Hill20, publica em 1577 The Gardener's Labyrinth, com diversos projetos para jardins (Fig 18 e 19).

Segundo TEYSSOT (p84), além de Vredeman de Vries, outros autores da época discutiam o conceito teórico do labirinto: Thomas Hill20, Hans Puec21, além de Lelio Pittoni22 (Fig 20 e 21)

Fig 18 - Villa d'Este – Tivoli, Italia

Fig 19 - Villa Altieri, Roma, Itali

19 Citado por Ulbe Martin Mehrtens, p103 20 HILL, Thomas. The Profitable Art of Gardening – 1568 21 PUEC, Hans. Tratado sobre jardins em formato de manuscrito, hoje no Museu Dumbarton Oaks, em Washington D.C. 22 PITTONI, Lelio. Gli artifitiosi, varii, et intricati quatro libri di laberinti, manuscrito de 1611, hoje em Florença, na Biblioteca Nazionale Centrale.

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Fig 20 Projeto para maze – Puec

Fig 21 Projeto para maze – de Vries

Fig 22 - Argenville, France

Fig 23 - Choisy, France

Disponível no site http://www.labyrinthos.net/graphics05.htm

Figs 24 e 25 - Labirintos herbáceos – Thomas Hill – 1579. Disponível no site http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml16.htm

Ainda como exemplos de jardins com labirintos no século XVI, Berral cita o Château de Vernevil, com um jardim dos prazeres com flores, canais de água, e jardins gastronômicos. Nele, um labirinto de plantas de pequeno porte, como lavanda, manjericão, menta e tomilho. A autora comenta sobre os elementos decorativos para jardins, compostos por vasos sobre colunas, estátuas, além dos jardins de nós plantados com ervas, encontrados em diversos outros jardins da época (Figs 22,23,24,25) .

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A água era presença importante nos jardins do século XVI, comenta TEYSSOT. Um esquema proposto por Agostino del Riccio 23 para um jardim real, continha quatro labirintos, com grutas, jogos de água e estátuas. Os labirintos eram desenhados em forma de mazes e del Riccio faz referência a eles e ao seu significado simbólico, numa clara alusão ao mito de Theseus e Ariadne, e ao amor que aparece implícito:

"para não se perder, faça como a amante donzela, que amarrou a ponta de um novelo de linha na entrada do labirinto, de maneira que se pudesse retraçar o caminho de volta do centro e escapar da morte; fazendo isso você sempre encontrará a saída de todos os labirintos".

Em sua reflexão, TEYSSOT comenta a importância dos labirintos nos jardins da Renascença, cujo significado está demonstrado num grande número de ilustrações que podem ser reconhecidas em KERN (p 328)24, sendo a mais marcante delas a pintura do estúdio de Tintoretto, de c.1550, agora em Hampton Court25.

A família de Jacques Mollet (Fig 26) foi responsável, em 1651, pela publicação do livro Jardin de Plaisir. Jacques e seu filho Claude eram mestres jardineiros e admiradores de parterres, bosques e gramados, assim como também as alamedas de árvores que formavam as valorizadas "patas de ganso". Berral nos facilita uma compreensão da época, em que membros da corte francesa malgastavam o tempo passeando nos jardins e fazendo intrigas.

Figs 26 – Projetos de Mollet - 1651

http://www.das-labyrinth.de/irrgarten/ http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml17.htm

Os jardins franceses já mostravam a influência italiana, com fontes, terraços, grutas. Mollet, em seu tratado sobre jardins, já orienta:

23 RICCIO, Agostino del. Del Giardino de um re, ed. por D. Heikamp, em Il giardino storico Italiano. Problemi di Indagine. Fonti Leterarie e storiche (Florença 1981), citado em TEYSSOT, p86 24 KERN, H.. Labirinti – Milão, 1981. Idem, p332 25 SHEARMAN, J.. The Early Italian Pictures in the Collection of Her Majesty The Queen Cambridge 1963 p. 248.

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"Entre as coisas que requerem a formação de um jardim, a primeira consiste em plantar uma grande alameda com duas fileiras de árvores perpendiculares à fachada anterior da casa; no seu início deve-se traçar um grande semicírculo ou um quadrado. Defronte a fachada posterior plantar-se-ão maciços, relvados, bosques, passeios, procurando fazer com que os passeios tenham como fundo alguma estátua ou fonte."26

Os jardins de Versailles

Para uma melhor compreensão da época, ROGERS27 nos aponta que na França do século XVII a natureza da monarquia adquiria uma atitude mais funcional. Se antes os nobres apreciavam os passeios, as temporadas de caça nas florestas reais, no tempo de Louis XIV a situação se modifica quando o rei decide fazer do antigo alojamento de caça do pai, um símbolo do crescimento do seu reinado.

Fig 27 O antigo Chateau - 1668 – Pierre Patel

Fig 28 O novo Chateau - 1675

Disponível no site oficial - http://www.chateauversailles.fr/en/110_Construction.php

As mudanças ocorrem entre 1660 e 1685, transformando completamente o chateau e dando ao local uma visibilidade espetacular. Os projetos de Louis LeVau, Jules Hardovin-Mansart, André LeNôtre (jardins) e Charles LeBrum (decoração), combinados à astúcia do rei, fazem da história de Versailles, a história da civilização.

26 MOLLET, André. 1651. Citado por NAVARRO, A. M. em El jardin de Versalles p11 27 ROGERS, Elizabeth Barlow. Landscape Design . Harry N. Abrams, 2001

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Fig 29 A Corte de Versailles

Fig 30 A Corte de Versailles

Disponível em http://www.chateauversailles.fr/en/311_A_Day_with_the_Sun_King.php

PAYNE28 comenta que em Versailles podia-se ver, na época, o movimento dos costumes, da diplomacia, das artes e de toda a cultura que fazia a Europa fervilhar (Fig 29 e 30).

A dança, o teatro e a música adquirem status mais alto com a fundação das academias reais de música e dança. Molière e seu grupo de atores são os precursores da Comédia Francesa e a cultura floresce, graças ao seu patrono Louis XIV, que regulava a corte como um relógio, de maneira que os empregados do monarca sabiam exatamente como, quando e como fazer. À esse respeito, o Duque de Saint-Simon comenta sobre o rei:

"Com um calendário e um relógio, mesmo à distância de 300 léguas, pode-se dizer exatamente o que ele está fazendo."29

Segundo DURANT30, em 1664 a corte seria formada por aproximadamente 600 pessoas, sendo a família real, a alta nobreza, os diplomatas estrangeiros, e a criadagem. Ser convidado para a corte, por um dia que fosse, nos conta o autor, seria um momento de êxtase.

O esplendor da corte devia-se não só ao mobiliário dos apartamentos, mas também aos trajes das cortesãs, ao poder dos homens e beleza das mulheres, que atraiam para lá o dinheiro e poder. A corte era cenário de adultério, apostas, intrigas apaixonadas por prestígio e poder, extravagância no vestir, sendo que tudo estava impregnado de refinamento e maneiras elegantes, e um divertimento quase que compulsório.

Para manter a corte livre do tédio era necessário planejar caçadas, jogos, jantares, danças, balés, banhos e passeios de toda sorte, além de peças de teatro e óperas.

28 PAYNE, Francis Loring, The Story of Versailles, NY, disponível no site www.gutemberg.org – collection of free eletronic books – fundado em 1971. 29 www.chateauversailles.fr – site oficial do palácio, visitado em 07/2005 30 DURANT, Will and Ariel. The story of civilization, Part III: The Age of Louis XIV. Simon and Schuster – 1963, p31

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O autor nos chama a atenção para a imagem de paraíso que Versailles adquiria quando o rei liderava a sua corte em passeios de barco pelo canal, ao som de canto e instrumentos musicais, em um cenário mágico iluminado por tochas e à luz de um céu estrelado. A água era bombeada do Rio Loire, 200 Km distante (Figs 31 e 32).

Fig 31 - O Grande Canal

Fig 32 - O sistema de bombeamento de água

Disponível em http://www.chateauversailles.fr/en/132_The_Grand_Park.php

O pai do rei tinha construído o seu modesto alojamento em 1624 e os primeiros jardins de Versailles, feitos previamente para o local, eram compostos de dois pomares e algumas parterres de flores e arbustos podados. LeNôtre aceita o desafio de melhorar o projeto desenhado anteriormente por Jacques Boyceau (PAYNE). Amplia estão os jardins em uma escala monumental e, com genialidade, constrói uma releitura dos antigos jardins franceses do Renascimento com clareza, simplicidade e refinamento, criando um novo estilo de arquitetura paisagística (Fig 33 e 34).

Fig 33 - O Palacio e jardins

Fig 34 - O Trianon

http://www.chateauversailles.fr/en/132_The_Grand_Park.php

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O paisagista, comenta DURANT (1963), percebe no terreno levemente acidentado e na rica vegetação, a grande possibilidade de uma jardinagem artística. Usando a experiência anteriormente adquirida na construção dos jardins do Trianon, Saint-Cloud, Merly, Clagny, Chantilly e das Tuleries, além da parterre do Tiber em Fontainebleau, que já haviam lhe dado alta reputação, projeta jardins de subdivisões geométricas, numa genial demonstração de criatividade, capaz de promover uma organização racional em local de condições desfavoráveis.

Como nos mostra ROGERS (2001), LeNôtre cria parterres, fontes, canais, estrelas, jogos de água, bosques contendo esculturas, cascatas, pirâmide, tapetes verdes, que irão servir de inspiração para milhares de outras criações para outros jardins no mundo todo. Em 1662 ele apresenta a Louis XIV um plano geral dos jardins que, além de uma obra prima, era um convite para a vida do lado de fora do palácio.

Segundo DURANT (1963), é injusto pensar que Louis XIV fez de Versailles sua residência e playground, já que ele próprio ocupava uma moderada fração de toda essa estrutura. A maior parte era ocupada pela esposa, filhos e netos, além da sua amante, das delegações estrangeiras e da corte, sem contar a administração e todos os empregados que a vida no local exigia.

Uma das atrações dos jardins era o labirinto, como nos descreve um guia ilustrado (Fig 35), impresso em Amsterdan em 1682 (PAYNE, 1919):

Fig 35

"Leitor cortês, é bem conhecido como a notável França e especialmente a corte real distingue-se de todos os outros lugares pelos seus costumes e encantos. A admirável feira "Edifícios e Jardins", com os mais possíveis e imagináveis ornamentos, além dos seus deliciosos espetáculos, representam aos olhos do observador uma quantidade abundante de ricos objetos que arrebatam o espectador. Dentre todos esses trabalhos, nada é mais prazeiroso do que os jardins reais de Versailles e, nele, o Labirinto.

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Outras representações são comumente consideradas por darem prazer aos olhos, mas esta, não só por encantarem os ouvidos e os olhos, mas também por instruir e edificar.

Esse labirinto está situado em um bosque tão agradável que o próprio Dédalo teria parado, surpreso, para observá-lo.

As curvas e espiralados, delimitados em ambas as extremidades com sebes podadas, não são de maneira alguma entediosos, pela razão de que, a cada momento, há figuras e movimento d'água, representando as misteriosas e instrutivas fábulas de Esopo (Figs 36), com uma explicação de que fábula cada fonte representa, gravado na base de mármore negro. Dentre todos os bosques do parque de Versailles, o do labirinto é o mais recomendado, tanto pela inovação do desenho, como também pela quantidade e diversidade de fontes que, com ingenuidade, expressa a filosofia do sábio Esopo. Os animais de metal colorido são tão reais que parecem estar verdadeiramente em ação. E os jatos de água que saem de suas bocas nos fazem imaginar que carregam as palavras das fábulas que eles representam. Há um grande número de fontes, 40 ao todo, cada uma de um tópico diferente e de um estilo de decoração que se confunde com o entorno verde. Na entrada do lago há uma estátua de bronze de Esopo, o famoso mitólogo de Frigia".

Figs 36 - conjunto

A lebre e a tartaruga A raposa e o galo A cobra e o porco-espinho

Imagens disponíveis no site http://www.sacred-texts.com/etc/ml/ml17.htm

O próprio Louis XIV, em seu roteiro de visita aos jardins, refere-se ao labirinto (Fig 37):

"5 - Descerá por uma rampa à direita e passará pelo jardim das laranjas, indo direto à fonte de onde se observará a Orangerie; se passará pelas avenidas de grandes laranjeiras e

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logo à Orangerie coberta, e sairá pelo vestíbulo de trás do labirinto.

6 – Se entrará no labirinto e logo se terá chegado aos patos e cachorro, e se voltará para sair por detrás do Baco".

Fig 37 – Detalhe do labirinto - http://www.smithsonianmag.si.edu/journeys/01/jul01/destinations.html

SYKES 31 comenta sobre o guia, encontrado por ela no acervo da biblioteca do Smithsonian's Cooper-Hewitt. Trata-se de uma edição anterior, de 1679, do mesmo Labyrinthe de Versailles. Eis o seu comentário:

"Inesperadamente, os meus olhos foram atraídos para um livro encadernado em couro (Fig 38), de um vermelho brilhante, com gravações em ouro. Meu coração pulou – a palavra "labirinto" me emocionava desde criança, pela magia que um maze de proporções míticas encerra, dentro do qual alguém pode perder-se. E aqui estava em minhas mãos o livro-guia do labirinto de Versailles, há tanto tempo construído por Louis XIV, um homem que nunca fez nada pela metade".32

31 SYKES, Amanda Crider. Decorative Arts Consultant and Decorative Arts Instructor – New School University, NY – Parsons Scholl of Design - http://www.parsons.edu/about/index.aspx (consultado em 05/2005) 32 Citado na Revista do Instituto Smithsonian (julho de 2001), no site: http://www.smithsonianmag.si.edu/journeys/01/jul01/destinations.html, visitado em 07/2005. Visite o tour virtual do Labirinto de Versailles, no mesmo site.

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Fig 38 Livro-guia do Labirinto de Versailles

Imagens disponíveis no site http://www.smithsonianmag.si.edu/journeys/01/jul01/destinations.html

SYKES conta que folheou as páginas de fibra de algodão do pequeno volume, que seria uma das 18 cópias existentes nos Estados Unidos. Ela comenta da emoção causada pelo próprio labirinto, criado por Louis XIV para o seu filho, o futuro rei da França, como uma espécie de ferramenta didática, considerando-se que cada fonte representava uma fábula de Esopo. As fábulas serviriam de lições de moral para o jovem príncipe aprender, entre outras coisas, ciúme, ignorância e decepção, comenta SYKES. O editor do guia, Charles Perrault que publicava também panfletos de contos de fadas33 como Cinderela e A Bela e a Fera, teria tido participação direta na construção do labirinto.

A edição trazia impressa também as instruções de como sair do labirinto.

SYKES comenta ainda que o labirinto, posteriormente considerado fora de moda no reinado de Louis XVI, fora destruído em 1774, para dar lugar ao Bosque da Rainha.

Buscando-se uma razão para esse fato, pode-se encontrar textos de vários autores que descrevem as mudanças ocorridas na época e que afetaram o formato dos jardins, liderando uma busca pela natureza em detrimento dos padrões estéticos que privilegiavam os ambientes externos artificialmente construídos.

Thomas34 cita que na Inglaterra do século XVII, cultivar árvores nas propriedades poderia significar elevação do valor da terra. Segundo o autor, no século XVIII, de acordo com registros de propriedades, o lucro com a extração de madeira já podia ser comparado ao rendimento de um campo de trigo ou mesmo o de uma pastagem.

33 Relação das fábulas editadas por Perrault, encontrada no site: http://www.canadiancontent.net/en/jd/go?Url=http://www.angelfire.com/nb/classillus/images/perrault/perra.html (observe no site que as edições contém lindas ilustrações de Gustave Doré) 34 THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural – Companhia das Letras, p238

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Também LACEY35 nos mostra que no século XVIII teria havido um movimento de retorno à natureza e negação à idéia dos jardins com excesso de decoração artificial, como a topiaria. A autora observa ainda que os excessos da arte da topiária e a proliferação dos adornos teria levado o século XVIII a um movimento contra esse tipo de recurso, o que teria causado, ao longo de 50 anos, entre 1740 e 1790, uma mudança radical nos jardins da Inglaterra.

CLARK 36 cita o poeta Alexander Pope como um dos personagens daquele cenário, defendendo enfaticamente o retorno à natureza e encorajando o conceito do "gênio do lugar", o que parece ser a quinta-essência da paisagem inglesa que surge então na metade do século XVIII. São de Pope os poemas que se seguem.

First follow Nature, and your judgment frame By her just standard, which is still the same; Unerring Nature, still divinely bright, One clear, unchanged, and universal light, Life, force, and beauty must to all impart, At once the source, and end, and test of art. An Essay on Criticism

Consult the genius of the place in all; That tells the waters or to rise, or fall, Or helps th’ ambitious hill the heavens to scale, Or scoops in circling theatres the vale; Calls in the country, catches opening glades, Joins willing woods, and varies shades from shades; Now breaks, or now directs, th’ intending lines, Paints as you plant, and as you work, designs“

Epistle to Burlington, ll. 57-64

"Something there is, more needful than expense, And something previous ev’n to taste ‘tis sense: Good sense, which only is the gift of heaven, And though no science, fairly worth the seven: A light, which in yourself you must perceive; Jones and Le Nôtre have it not to give. Idem, ll. 41-6)

35 LACEY, Geraldine. Creating Topiary – Garden Art Press, p11 36 CLARK, Robert. University of East Anglia e HOLMES, Caroline. Institute of Continuing Education, University of Cambridge. Primeira publicação em 04 November 2004. Do site http://www.litencyc.com/php/stopics.php?rec=true&UID=1509 ©The Literary Encyclopedia

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Também a esse respeito, CLARK cita a influência italiana que, ao contrário da francesa, preferia a combinação do natural com o artificial, do ornamento com o prático, do jardim cultivado com a vegetação espontânea.

O autor faz referência à afirmações surgidas na metade do século XVIII, como a de John Evelyn, em Elysium Britannicum, que orienta o jardineiro a cuidar para que o seu projeto "combine com a natureza do lugar", e também a de Joseph Addison que publicou no The Spectator que "nós devemos honrar a natureza ao invés de nos desviarmos dela".

O estilo do paisagismo inglês da época mostrava-se de muito mais fácil manutenção, sem mencionar o seu baixo custo: o relvado podia ser usado como pasto, as árvores como um investimento de longo prazo, o lago usado para pesca de subsistência e todo esse cenário poderia ser usado como criadouro de faisões, que seriam posteriormente caçados, e serviriam de caça para os seus predadores, como a raposa, alvo também dos tiros das novas gerações de rifles recém-desenvolvidos (CLARK).

Uma área assim poderia fazer parte de propriedades mais modestas, ao contrário dos jardins formais, cenários das grandes e ricas residências. Além disso, a retomada do plantio das árvores, mesmo as coníferas de rápido crescimento, era essencial para a preservação da caça.

TOBEY explica essa passagem citando que a Idade Média foi um período de reorganização social, em que as formas retilíneas e geométricas foram substituídas por uma composição mais sofisticada, baseada nas necessidades pessoais. Durante e logo depois da Renascença, continua o autor, a riqueza e o poder exigem uma geometria sofisticada e, com a chegada do século XVIII e a revolução industrial, uma nova consciência social surge na sociedade.

K. CLARK37 também registra a mudança de mentalidade da época, citando que a elite francesa de então não era composta por um grupo de good-timers que estavam na moda, mas sim de filósofos e cientistas da maior importância que queriam mudar a sociedade.

Uma das mentes mais originais e notáveis da época, citado por K. CLARK, é Rousseau38, um gênio incompreendido. Amante da vida ao ar livre e observador da natureza, ele teria comentado, ouvindo o fluxo e refluxo das ondas do mar, que aquela experiência tinha feito com que ele se sentisse tomado pela natureza, perdido a consciência, esquecido todas as memórias do passado e a ansiedade do futuro. Tudo, menos o sentido de ser. "Eu percebo", teria dito ele, "que a nossa existência é nada além da sucessão de momentos percebidos pelos sentidos".

Segundo K. CLARK, acreditava-se que o homem natural seria então superior ao sofisticado.

ROGERS (2001) também contribui para o entendimento das mudanças ocorridas na época, citando a obra de Thomas Whately, Observations on Modern Gardening, de 1770. Conceituado conhecedor da arte do paisagismo, escreve sobre as mudanças da paisagem que, livre da repressão da regularidade, permite o surgimento de importantes jardins desenhados no século XVIII e o entendimento da transformação da estética da paisagem ao longo do século. A abordagem naturalista que Whately recomendava, valorizando o

37 CLARK, Kenneth, Civilization. British Broadcasting Corporation, 1969 38 ROUSSEAU, Jean Jacques (1712-78) Filósofo franco-suíço, escritor, compositor.

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uso de elementos naturais como terra, madeira, água e pedras, encontra receptividade na França.

. "Water . . . which, though not absolutely necessary to a beautiful composition, yet occurs so often, and is so capital a feature, that is is always regretted when wanting; and no large place can be supposed, a little spot can hardly be imagined in which it may not be agreeable; it accommodates itself to every situation; is the most interesting object in a landscape, and the happiest circumstance in a retired recess; captivates the eye at a distance; invites approach, and is delightful when near; it refreshes an open exposure; it animates a shade; cheers the dreariness of a waste, and enriches the most crowded view; in form, in style, and in extent, may be made equal to the greatest compositions, or adapted to the least; it may spread in a calm expanse to sooth the tranquillity of a peaceful scene; or hurrying along a devious course, add splendor to a gay, and extravagance to a romantic situation."

Thomas Whately Observations on Modern Gardening, 1770

Disponível em http://zaadz.com/quotes/authors/thomas_whately/

As idéias que Whately defende são baseadas nas teorias de Edmund Burke (1729-1797), autor de A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful, onde ele explica a relação de certas emoções humanas com as impressões sensoriais. O autor refere-se às cenas que, por serem muito grandes, de cores penetrantes, e irregularidade abrupta, causam sensações próximas ao medo e à ansiedade. A beleza não seria encontrada nas proporções matemáticas de LeNôtre, mas sim nas qualidades da delicadeza de uma topografia levemente ondulada, na música melodiosa, nas linhas curvas e nas pequenas proporções.

Os labirintos no século XXI

Segundo SAWARD39, estudioso inglês considerado uma das autoridades no tema dos labirintos, atualmente há um renascimento do labirinto como uma ferramenta espiritual. Em diversas partes do mundo, comunidades, igrejas, escolas, parques, clubes, spas, retiros espirituais e até prisões trabalham o tema labirinto como recreação e como um recurso anti-stress para a realidade atribulada dos grandes centros.

Hospitais desenvolvem experiências com os labirintos (Fig 39) como ferramenta de apoio ao tratamento de doenças como o câncer40. O ato de se caminhar dentro de um labirinto,

39 SAWARD, Jeff. Disponível no site http://www.labyrinthos.net/ 40 Disponível no site da Oncology Nursing Society. http://www.ons.org/publications/journals/CJON/Volume6/Issue5/0605295.asp

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segundo informação da Sociedade de Enfermagem para Oncologia , nos desperta para a contemplação, reflexão e transformação. Meditar nos caminhos antigos da espiritualidade ajuda a promover relaxamento, cura espiritual e pessoal, restabelece o corpo e a alma, além de trazer de volta a serenidade perdida nos meandros da vida moderna.

Segundo informação disponível no site, caminhar por um labirinto é uma forma de "psiconeuroimunologia" e pode ser um componente de uma abordagem integrada nos cuidados com os pacientes. Os labirintos são uma ferramenta disponível para as enfermeiras no tratamento oncológico, para ajudar pacientes a alcançar uma estado contemplativo e alterado de consciência.

O site da American Cancer Society 41 informa, com cautela, que não há evidência científica de que a atividade de caminhar pelo labirinto possa ser usada para tratar câncer ou qualquer outra doença. No entanto, continua o texto, muitos profissionais da área da saúde consideram a atividade capaz de promover relaxamento e, por ser desestressante, capaz de beneficiar a saúde como um todo.

Os pacientes que caminham pelo labirinto, ou são capazes de segui-los com os dedos, informa ainda o site da sociedade, alcançam metas como paz interior, elevação da espiritualidade, relaxamento, alívio do estresse, sabedoria interior.

Os labirintos estão ressurgindo com grande interesse também para arqueólogos e historiadores que estão pesquisando e publicando informações sobre a sua origem, usos e modos de construção.

Fig 39 - St. Luke's Hospital in St. Louis, Missouri - Disponível em: http://www.labyrinth-enterprises.com/stlukes.html

Há inúmeros livros publicados, além de artigos em jornais e revistas. O periódico Caerdroia - the Journal of Mazes and Labyrinths publica artigos sobre a história e o desenvolvimento dos labirintos e mazes. Segundo SAWARD, seu editor, os labirintos nunca antes foram tão populares. Sua imagem é usada em publicidade, jogos, filmes, títulos de artigos e uma enorme quantidade de sítios aparecem disponíveis na Internet.

41 www.cancer.org/docroot/ETO/content/ETO_5_3X_Labyrinth_Walking.asp

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É possível encontrar também na Internet empresas oferecendo serviços de instalação de labirintos dos mais variados tipos, como os portáteis, impressos em lonas plásticas e outros materiais (Fig 40).

Labirinto de espelhos Labirinto feitos de cercas Labirintos em escolas

Labirintos no relvado do campo Campos de milho Labirintos em centros comerciais

Feito de colcha de retalhos Labirintos para se seguir com os dedos Em quebra cabeças

Figs 40 - Labirintos fabricados por Arian Fisher Disponível em http://www.mazemaker.com/photo_library.htm

Uma dessas empresas, a Adrian Fisher Maze Ltda42, é reconhecida em todo o mundo como uma das principais no design de labirintos e, segundo informa FISHER, já possui

42 Disponível no site www.mazermaker.com - visitado em 06/2005

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mais de 300 labirintos instalados em 17 países. Conforme dados da empresa, esses labirintos estão em jardins de palácios, castelos, zoológicos, parques, centros científicos, museus, escolas, praças e até em fazendas, feitos de diferentes materiais e com vários temas. Um dos mais surpreendentes seria o que foi instalado em 1993 numa fazenda da Pennsylvania – USA, premiado quadro vezes pelo Guinness como o maior labirinto do mundo. FISHER é também autor do livro Secrets of the maze.

Uma das experiências com labirintos mostradas no site de FISHER é o que o autor denomina de "O primeiro maze multi-sensorial do mundo para cegos"43. Este maze foi construído dutante o ano de 1993 na escola secundária inglesa do Royal National Institute for the Blind (Fig 41). O local propicia a prática de acessibilidade para estudantes cegos e com baixa-visão – esses exercícios podem ter até três anos de duração.

Figs 41 – Royal National Institute for the Blind

43 Disponível em www.mazemaker.com/Projects_RNIBCollege.htm - idem

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Situações comumente encontradas nas cidades são simuladas ali: sinais verticais nas calçadas, pequenos postes de concreto, barreiras, muros. O local estimula a percepção de texturas, expondo os estudantes a 14 diferentes superfícies, algumas vezes instaladas uma junto à outra, como num mostruário de texturas.

O treinamento inclui a percepção de espaços ocupados e vazios, que devem ser detectados sem o recurso do toque, mas sim pela percepção do som e do movimento do ar. Cercas vivas oferecem maior dificuldade neste aspecto, pois absorvem o som e não canalizam o vento.Esse espaço simula também outras situações comumente encontradas nas cidades, e expõe os estudantes ao uso dos telefones públicos, e dos sinais luminosos acionados pelos pedestres.

Como os espaços tridimensionais sempre oferecem dificuldades para os cegos, há mudança de níveis, uma torre central, duas pontes, e uma simulação de plataforma de estação de trem. As pontes naturalmente têm corrimãos, explica o texto do site, para a prática segura da subida e descida. A torre central, com sua escada em caracol, proporciona uma experiência de espaço interno pouco comum.

FISHER comenta que o som pode ser usado para entender o que nos cerca. Sua reflexão nos mostra quão bem as crianças da cidade usufruem das experiências em passeios no campo, onde os sons são diferentes dos da cidade. O maze procura então repetir essas situações: um longo túnel de metal com cascalho (ou outro tipo de material que provoque ruído ao seu pisado) produz um incrível eco, quando as crianças por lá passeiam.

A água também se apresenta como elemento didático no local, na figura de fontes que expõe os estudantes aos respingos, ao excesso de umidade, ao ruído dos jatos e da queda d'água da cascata.

O projeto contempla também os estudantes com baixa-visão – apenas 2% dos portadores de deficiência visual são totalmente cegos. Um maze de plástico de cores vivas propõe a solução de um quebra-cabeças.

O maze oferece também estímulo às emoções, como o medo de se sentir trancado em um espaço, ou grades de escoamento de água que prendem a ponta das bengalas. Mas apresenta igualmente situações de relaxamento, como a encontrada em um jardim de fragrâncias. É possível também jogar xadrez em um tabuleiro gigante texturizado, ou caminhar por um maze tentando alcançar a torre central.

O espaço foi criado, segundo FISHER, para ser construído em 48 horas, para o programa Challenge Anneka, da BBC 1 de Londres, e que foi ao ar em setembro de 1993. Mais de 100 funcionários trabalharam noite e dia, com material doado por empresas.

Conclusão

Como esta pesquisa procurou mostrar, os labirintos continuam fascinando as pessoas até os dias de hoje. Na antiguidade, esse fascínio encerrava um componente mágico e mitológico. Posteriormente, nas igrejas, a religião concedia a busca do perdão e, nos caminhos da peregrinação, a conquista da salvação. Mais tarde, nos jardins, surge o labirinto como a busca do prazer e o fascínio dos encantos do amor.

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Hoje encontramos os labirintos em um aparente resgate do seu significado, menos no sentido religioso, mais numa busca interior, com um forte componente de cura. Os labirintos do nosso século prestam-se, com o seu sentido espiritual, tanto à percepção da sensibilidade quanto à cura do estresse pela meditação.

Eles se fazem também presentes na publicidade, em metáforas descritas em textos de livros e jornais, nas artes, nos jogos infantis, na literatura. Podemos perceber assim que de maneira alguma ele deixou de exercer o antigo fascínio que ao longo de quase 5 mil anos encanta a humanidade.

A Europa vive um revival, um renascimento do interesse pelos labirintos, desde meados dos anos 70. Uma quantidade de títulos tem sido publicada, desde então, sobre o assunto. O ano de 1991 foi designado "The year of the Maze", pelo English Tourist Board, como o tema turístico daquele ano, o que incentivou a instalação de inúmeros novos labirintos, a publicação de novos títulos, diversas matérias publicitárias, além de eventos que culminaram com uma conferência internacional, a Labyrinth'91, realizada em julho de 1991, em Saffron Walden. Naquela ocasião foi comemorada a recuperação de um importante labirinto do século XIX, feito com cerca viva, em Bridge End Gardens.

Nos Estados Unidos essa retomada de interesse deu-se nos anos 80 e estaria ligada à Igreja Episcopal , na figura da Reverenda Dra Lauren Artress, autora do livro Walking a Sacred Path e responsável pela instalação de dois labirintos no interior e exterior da Grace Cathedral, em São Francisco, visitado por aproximadamente 1 milhão de pessoas em cinco anos.

Além dos labirintos em igrejas, na metade dos anos 80 SAWARD ocupa-se com a edição de publicações, além da instalação de labirintos em centros de convenções, parques e escolas. Nos anos de 1995 e 1996 são organizadas duas conferências nacionais, o que aumenta o interesse pelo tema.

Cada vez mais procurados nos Estados Unidos, os labirintos são motivos de pesquisa em centros educacionais e de lazer. Surge a demanda para os labirintos portáteis, impressos ou pintados em lonas plásticas e transportados para locais de eventos. Extremamente populares, labirintos são encontrados hoje em escolas, igrejas, hospitais, prisões, jardins particulares e parques públicos.

No Brasil não há conhecimento de labirintos feitos com cerca viva ou instalados em pisos ou ainda usados na prática de acessibilidade para portadores de deficiências. As bibliotecas reúnem pouquíssimos títulos, nas seções de literatura, poesia, arquitetura, paisagismo, psicologia, em sua maior parte publicações importadas. Nota-se, porém, acentuado interesse das pessoas, quando o assunto é mencionado.

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Nota dos Editores

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