Laboratório de escrita escrita poética: poesia do século XXI

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Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Letras Teoria e Prática de Leitura Turma A – 2017 Profa. Solange Mittmann Afonso Antunes, Geanine Giacomin e Rafael Prudencio Laboratório de escrita escrita poética: poesia do século XXI

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Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Instituto de Letras

Teoria e Prática de Leitura Turma A – 2017

Profa. Solange Mittmann Afonso Antunes, Geanine Giacomin e Rafael Prudencio

Laboratório de escrita escrita poética: poesia do século XXI

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Público-alvo: alunos de ensino médio de escola pública (turno inverso); Objetivos e justificativa: a oficina visa a formação de leitores de poesia que

queiram dar os primeiros passos na escrita de seus próprios poemas; Número de alunos: 15 alunos; Número de horas/aula: 2 aulas (2h cada); Recursos necessários: computadores (para professor e alunos) e caderno de

anotações;

Resultados esperados: espera-se formar sujeitos autores capazes de agir e reagir ao texto poético por meio de tarefas de leitura e escrita que instiguem a criatividade de cada um;

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Unidade temática: a poesia na modernidade;

Forma de avaliação: os critérios de avaliação para a oficina veem o

aprendizado como um processo, e por isso os alunos serão avaliados pela

presença, pelos exercícios de criação, pelos debates feitos sobre as

leituras, pelas respostas aos textos e pelas produções finais.

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Poemas trabalhados

Geração bug do milênio - Gregório Duvivier A mulher quer - Angélica Freitas Espelho - Ana Martins Marques Seu nome - Fabricio Corsaletti Lígia e os idiotas – Fabrício Corsaletti

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Aula 1 – 2 h/aula

Tarefa 1 – Aquecendo a mão

1)  Pense em uma letra do alfabeto e escreva todas as palavras que lhe venha à

cabeça começando pela letra pensada.

2)  Agora escolha uma palavra do exercício anterior para escrever um verso ou frase

a partir dela.

Tarefa 2 – Praticando a leitura

3) Leia os poemas “Geração bug do milênio”, de Gregório Duvivier e “A mulher quer”,

de Angélica Freitas e responda as questões.

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a) Você já ouviu falar da expressão “bug do milênio”? Se sim, defina-a.

Se não, a partir do poema, tente chegar a uma definição.

b) De acordo com o poema, qual é a relação entre a internet e a imagem

da mulher a partir da visão do eu-lírico?

c) Você conhece as expressões “icequê”, “atavista” e “bug”? Caso não

conheçam, busquem as definições na internet e exponham para os

colegas.

d) Qual é o sentimento do eu-lírico que prevalece no poema? Angústia?

Medo? Tristeza? Euforia? Por quê? E para você, qual é o seu maior

medo?

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e) O eu-lírico de Angélica Freitas propõe a escrita de um poema a

partir de uma pesquisa do Google. Com a escolha “a mulher quer”,

qual é o resultado encontrado?

f) Os resultados demonstrados podem ser considerados a visão do

eu-lírico em relação a mulher ou outra visão?

g) No poema de Gregório, o eu-lírico ua o Atavista para encontrar

imagens de mulheres. No poema de Angélica Freitas, ela evidencia

o resultado dessas buscas no Google. O que podemos concluir a

partir do contraste dessas duas visões?

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Produção final: Agora é com você! Leia as duas propostas de escrita, escolha uma e :

1) Inspirado em “A mulher quer”, escreva um poema a partir da construção “o homem quer”.

2) Escreva um poema com a temática da “internet” utilizando elementos da rede.

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Aula 2 – 2h/aula

Atividade 1 – Pescando palavras

´ 1 - Com as palavras e recortadas do poema “Espelho”, de Ana

Martins Marques, mais algumas outras palavras selecionadas, faça

uma releitura do poema.

´ 2 – Leia para os colegas e o professor o resultado da atividade.

Depois, faça um comentário breve sobre a experiência de escrever

com o número limitado de palavras.

´ 3- Agora vamos ler o poema original para compará-lo à produção de

todos. Você percebeu muitas diferenças? O que essas diferenças

entre as produções indicam?

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Atividade 2 – Praticando a leitura 1 – Leia os poemas “Seu nome” e “Lígia e os idiotas”, de Fabrício Corsaletti, e responda as questões: a) Em “Seu nome”, o eu-lírico de Fabrício Corsaletti escreve um poema destinado a alguém sem nomear a pessoa. Qual o efeito disso no texto? Procure no poema os motivos que o eu-lírico dá para tal efeito. b) Em sua opinião, qual é a relação entre o eu-lírico e a pessoa não nomeada? Por quê? c) Selecione dois versos que você mais gostou e justifique sua escolha. d) A expressão “seu nome” é repetida diversas vezes no texto. Qual efeito isso causa na leitura?

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e) O poema “Lígia e os idiotas” fala de dois grupos distintos de pessoas. Defina quais são eles.

f) Em qual desses grupos o eu-lírico se insere? Por quê? g) O eu-lírico usa “idiotas” para definir um grupo de pessoas. Qual adjetivo

você utilizaria para definir Lígia? h) Por que o eu-lírico decide nomear Lígia ? i) No primeiro poema, o eu-lírico omite o nome da pessoa, já, no segundo, ele

a nomeia. Qual o efeito dos dois procedimentos?

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Produção final:

Leia as duas propostas de escrita abaixo e escolha uma. Depois, leia em voz alta para todos o resultado de sua escrita. Lembre-se: você é o/a artista! 1 – Escreva um poema sobre o nome de alguém.

2 – Crie o significado para um nome.

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Anexos Poemas trabalhados no Laboratório de Escrita Poética: poesia do século XXI

Geração bug do milênio - Gregório Duvivier mil novecentos e noventa e oito anos depois de cristo e cinco e meia nove custava só sessenta e cinco centavos e às seis passava Doug no canal dois beakman no jantar eram seis nuggets para cada um de sobremesa horas no icequê e cento e dez resultados para “mulheres gostosas” no atavista depois sempre sonhar com labirintos o fluminense os beatles as mulheres do altavista cair do quinto andar e acordar com medo que o mundo acabe antes de eu conseguir beijar alguém

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A mulher quer - Angélica Freitas a mulher quer ser amada a mulher quer um cara rico a mulher quer conquistar um homem a mulher quer um homem a mulher quer sexo a mulher quer tanto sexo quanto homem a mulher quer a preparação para o sexo aconteça

[lentamente a mulher quer ser possuída a mulher quer um macho que a lidere a mulher quer casar a mulher quer que o marido seja seu companheiro a mulher quer um cavalheiro que cuide dela a mulher quer amar os filhos, o homem e o lar a mulher quer conversar pra discutir a relação a mulher quer conversa e o botafogo quer ganhar

[ do flamengo a mulher quer apenas que você escute a mulher quer algo mais do que isso, quer amor, carinho a mulher quer segurança a mulher quer mexer no seu e-mail

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Espelho - Ana Martins Marques Dentro do armário do seu quarto de dormir deve haver um espelho. Se você sai e deixa o armário aberto durante todo o dia o espelho reflete um pedaço da sua cama desfeita. Se você sai e deixa a porta fechada durante todo o dia o espelho reflete o escuro do seu armário de roupas, a luz contida dos vidros de perfume. Do outro lado do poema não há nada.

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Lígia e os idiotas - Fabrício Corsaletti naquela época eu vivia cercado de idiotas para onde olhasse enxergava idiotas no espelho flagrava um perfeito idiota a multidão do colégio era um desfile de idiotas lígia não era idiota nunca fui seu amigo porque acabei me aproximando de

[idiotas e fiquei mais idiota e Lígia não gostava de idiotas hoje sei que existem muitas Lígias no mundo mas sei também que existem idiotas e por mais que eu tente me dizer que essas coisas andam

[juntas que dentro de cada um existe uma Lígia e um idiota aprendi que é preciso ficar perto de Lígia e longe dos idiotas

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Seu nome - Fabrício Corsaletti se eu tivesse um bar ele teria o seu nome se eu tivesse um barco ele teria o seu nome se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome minha cadela imaginária tem o seu nome se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu nome se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome a primeira garota que beijei tinha o seu nome na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome antes de você tive três namoradas com o seu nome na rua há mulheres que parecem ter o seu nome na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome às vezes as nuvens quase formam o seu nome olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito bem ser o seu nome Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome não entendo por que Chico Buarque não compôs uma música para o seu nome se eu fosse um travesti usaria o seu nome

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se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome se eu tiver uma filha ela terá o seu nome minha senha do e-mail já foi o seu nome minha senha do banco é uma variação do seu nome tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” em vez do seu nome tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em vez do seu nome tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela primeira vez o seu nome quando fico bêbado falo muito o seu nome quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome é difícil falar de você sem mencionar o seu nome uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome se eu tiver uma filha ela terá o seu nome minha senha do e-mail já foi o seu nome minha senha do banco é uma variação do seu nome

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não posso ser niilista enquanto existir o seu nome não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do seu nome não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu nome não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu nome não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu nome quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome morei três anos num bairro que tinha o seu nome espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu nome a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome quando a poesia é boa é como o seu nome quando a poesia é ruim tem algo do seu nome estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o seu nome estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu nome talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome