Leões do Sertão por Ton Freitas - Recanto das...
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INT. CASA DE PABLO - NOITE
LETREIRO: 1887, algum lugar do Paraguai.
Pequeno casebre, quarto, CHORO de bebê. O bebê é revelado,
está enrolado à uma manta em um pequeno berço de madeira.
MÃOS DE MULHER pegam o bebê. A MULHER, morena, 30, segura o
bebê olhando para PABLO, 40, alto, está em pé, segurando uma
bolsa. Os dois conversam em espanhol.
PABLO
Não posso deixar essa oportunidade
passar.
A Mulher olha para Pablo expressando tristeza.
MULHER
Tudo isso por uma caça a um
tesouro.
A Mulher se vira e começa a chorar tentando conter o choro
do filho. Pablo olha para baixo e balança a cabeça
negativamente.
MULHER (cont.)
Tesouro que você nem sabe se
existe.
Pablo se aproxima da Mulher e beija o bebê olhando para
ela.
PABLO
Adeus.
Pablo se vira e SAI.
A Mulher chora enquanto vê Pablo sair.
EXT. ESTRADA EM FRENTE À CASA DE PABLO - NOITE
A estrada é deserta e, em frente à casa de Pablo está seu
cavalo, amarrado a um palanque. Pablo se aproxima de seu
cavalo, desata o nó do palanque, joga sua bolsa sobre o
lombo do animal e o monta.
Pablo olha para sua casa expressando tristeza. SOM de
criança e mulher chorando.
Pablo coloca seu chapéu e sai a galope.
LETREIRO: PABLO
2.
EXT. ESTRADA DO SERTÃO NORDESTINO - DIA
LETREIRO: 10 ANOS DEPOIS.
LETREIRO: Nordeste brasileiro.
Pablo está montado em seu cavalo e observa um grupo de
saqueadores em frente a uma casa, matando e saqueando uma
família.
Pablo se aproxima e vê uma discussão entre dois dos
saqueadores.
Próximos a casa estão JASON, branco, 30, ruivo, e BENÍCIO,
20. Benício se recusa a executar uma ordem de Jason.
Próximos a eles está parte da família, uma mulher e duas
crianças.
JASON
(nervoso)
Eu já te falei seu moleque, mata
logo esses filhos da puta.
LETREIRO: JASON
Benício se ajoelha e começa a chorar.
BENÍCIO
Por favor chefe, eu te peço, pelo
amor de nossa santíssima virgem
Maria. Não me obrigue a fazer isso.
Jason dá um tapa na cara de Benício.
Benício começa a conter o choro e se levanta expressando
raiva. Benício retira seu revolver de seu coldre e aponta
para a família.
Pablo observa tudo de longe e coça sua barba.
Benício treme segurando o revolver e escolhe um alvo. Ele
aponta para a criança menor.
JASON
Anda homi, faz o que tô te
mandando.
Todos em volta estão parados observando a cena.
Benício aponta o revolver na direção de Jason e vira o rosto
para o outro lado. SOM de disparo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 3.
JASON (cont.)
Filho da puta! Peguem esse filho
duma rapariga!
Todos os saqueadores em volta da cena cercam Benicio. Ao
fundo Jason cai, sua perna está sangrando.
Benício, cercado, aponta sua arma para um dos saqueadores.
JASON (cont.)
Andem! Peguem ele, já falei!
Benício dispara ao lado de um dos saqueadores. Os
saqueadores se assustam com o disparo. O cerco se abre e
Benício foge.
Pablo se aproxima da cena vagarosamente. Pablo retira sua
pistola e atira em todos da família. Jason e seus comandados
se assustam com tal execução.
Pablo retira um cigarro do bolso de sua camisa, um isqueiro
do bolso de sua calça. Acende o cigarro na boca, e em
seguida oferece ao bando de Jason que, ainda estão
paralisados com o que veem.
PABLO
Não querem?
Pablo olha para todos novamente.
PABLO (cont.)
Pois bem.
Pablo salta de seu cavalo e o puxa pelo cabresto.
PABLO (cont.)
Eu sei como encontrá-lo.
Jason tenta se levantar, mas não consegue e sinaliza pedindo
ajuda a dois saqueadores. Os saqueadores o ajudam enquanto
ele se dirige a Pablo.
JASON
Do que vosmecê tá falando?
Pablo retira seu chapéu e olha nos olhos de Jason.
PABLO
Tu sabe do que tô falando.
Jason parece estar assustado.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 4.
JASON
(sussurrando)
Pablo.
PABLO
Achou que eu nunca ia te encontrar?
Jason sorri sem graça.
JASON
É bom te ver novamente.
PABLO
Veremos se vai ser bom mesmo.
Pablo se aproxima e pega Jason no colo, o carregando em
direção a casa.
EXT. LONGO DA ESTRADA DO SERTÃO NORDESTINO - DIA
Benício está suado e continua correndo. Aos poucos Benício
vai parando de correr olhando para trás.
Benício para e se deita no mato ao lado da estrada.
Benício retira seu cantil, toma água e fica observando o céu
que começa a escurecer.
SOM de cavalo se aproximando.
Benício rola mato adentro e fica paralisado. O SOM do cavalo
passa e some ao poucos.
Benício se levanta devagar, suspira e se deita novamente.
INT. CASA DA ESTRADA - NOITE
Jason está sentado em uma cadeira sob os cuidados de um
enfermeiro de seu bando, Pablo está a sua frente sentado em
um banco, segurando sua perna e auxiliando o enfermeiro.
PABLO
Foram dez anos Jason, dez malditos
anos te procurando. E quando acho
que te encontrei, seu pai me diz
com aquele maldito sotaque
americano que tu veio para o
nordeste. Aí foram mais alguns
meses a sua procura até te
encontrar aqui no meio do sertão.
Jason olha sem graça para o enfermeiro. Pablo o olha também.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 5.
PABLO (cont.)
Some daqui.
O enfermeiro sai rapidamente.
Pablo pega seu cigarro sobre a mesa e o leva a boca.
PABLO (cont.)
Agora estamos sós.
Jason está com expressão de assustado.
JASON
Sim.
PABLO
E qual vai ser sua desculpa agora?
Jason olha para seu coldre que está no chão.
Pablo atira no coldre olhando para o Jason. O coldre se
arrasta por toda a sala até encontrar a parede.
PABLO (cont.)
Tava pensando besteira homí?
Jason começa a tremer.
JASON
Não, não... Que isso...
Pablo dá uma longa tragada em seu cigarro.
PABLO
Acho bom mesmo. Sabe, eu devia ter
ouvido minha mulher, ela sim tinha
razão.
JASON
Mas eu te falei que não tinha
certeza de nada.
Pablo parece irritado com a declaração de Jason. Pablo
empurra a perna de Jason para trás. Jason dá um salto para
trás da cadeira e cai no chão gemendo.
Pablo se levanta e fica de costas para o Jason.
PABLO
Eu larguei minha mulher, meu filho,
tudo para seguir um maldito plano
com aquele que eu acreditava ser
meu melhor amigo. E olha só no que
deu.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 6.
Pablo se vira para Jason que continua gemendo de dor no
chão.
PABLO (cont.)
(gritando)
E tu ainda diz que não tinha
certeza de nada? É só isso que tu
tem a dizer?
Pablo se aproxima e chuta o rosto de Jason.
Pablo se ajoelha e fica bem perto de Jason.
PABLO (cont.)
(sussurrando)
Tu poderia até não ter certeza, mas
tinha prometido que a gente ia tá
junto o tempo todo.
Jason está chorando de dor com o rosto sangrando.
JASON
Perdão compadre.
PABLO
Compadre? Não sei onde tava com a
cabeça quando botei tu pra batizar
meu filho.
Pablo fica de pé.
JASON
Eu sei como resolver isso.
PABLO
Ah sabe? Agora tu sabe como
resolver?
JASON
Conheço um cabra que pode te
ajudar.
PABLO
Me ajudar?
JASON
Sim.
Jason se apoia na cadeira e se levanta.
JASON (cont.)
Imagino que tu tá sem dinheiro e
precisa voltar pra casa.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 7.
PABLO
Imagina é? Dez anos no meio do nada
e imagina que tô sem grana e
precisando voltar pra casa?
Jason se senta na cadeira gemendo de dor.
JASON
Vai aceitar a ajuda ou não?
PABLO
Acha que tá em condição de fazer as
perguntas aqui?
JASON
Sei que fiz errado, mas posso te
ajudar. E a essa altura aquele
desgraçado vai se juntar a outro
bando e vai voltar pra me matar.
PABLO
Tá com medo?
JASON
Posso até sair vivo dessa, mas vou
perder força na região.
PABLO
Tá, e como encontro esse cabra?
JASON
Nós vamos encontrá-lo.
PABLO
Eu só quero saber onde encontro
esse cabra, não quero sua ajuda.
JASON
E quem disse que vou te ajudar? Não
vou ficar aqui para ver o que vai
acontecer. Já faz tempo que quero
deixar essa terra.
PABLO
Tá, então me diz, onde encontro o
homí?
JASON
Ele vive no interior. Fazia parte
do meu bando, mas agora age
sozinho. Acho que ele pode nos
ajudar.
8.
EXT. RUA DA CASA DE ARIEL - DIA
ARIEL, 30, moreno, alto, está montado em seu cavalo
acertando tiros de espingarda em latinhas espalhadas pelo
chão ao lado de sua casa.
Pablo e Jason chegam montados em seus cavalos e ficam
observando ainda de longe, a boa pontaria de Ariel.
PABLO
Esse é o homi?
JASON
Ele mesmo.
PABLO
Nada mal.
Pablo pega sua espingarda que estava a tira colo.
JASON
O que tá fazendo?
PABLO
Vou mostrar pra ele quem é melhor.
Jason balança a cabeça negativamente.
Pablo segura a espingarda com uma das mãos e usa o outro
braço para apoiá-la.
Pablo mira lentamente e em seguida acerta todas as latinhas
rapidamente.
Ariel olha para trás com expressão de assustado.
ARIEL
Quem é vosmecê que se atreve a
adentrar minhas terras desse modo?
LETREIRO: ARIEL
Pablo desce de seu cavalo e vai em direção a Ariel. Jason
desce de seu cavalo e o contém.
JASON
Calma homí.
Ariel esfrega os olhos como se não acreditasse no que vê.
ARIEL
Capitão?
Pablo olha para Jason expressando surpresa.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 9.
PABLO
Capitão? Pensei que a relação entre
vocês não era tão cordial.
Ariel desce de seu cavalo e caminha em direção a dupla.
JASON
Não era pra ser mesmo, mas Ariel
foi um bom saqueador e nunca perdeu
sua disciplina. Serviu ao exército,
e por me ver como seu líder, sempre
me chamou de capitão.
Ariel se aproxima de Jason e o abraça sorrindo.
ARIEL
Capitão que saudade! Quanto tempo!
JASON
Como está meu amigo?
ARIEL
Tô bem e o senhor? O que faz por
aqui?
JASON
Essa é uma longa história.
Ariel fecha aos poucos seu sorriso e fica olhando para
Pablo.
ARIEL
E ele quem é?
JASON
Esse é o começo da longa história.
Ele é Pablo, um grande amigo.
Ariel sorri. Pablo continua o encarando.
JASON (cont.)
Eu tenho uma dívida com ele.
Prometi algo que não pude cumprir.
ARIEL
E onde entro nisso?
JASON
Ele precisa de dinheiro. Pra voltar
pra casa e me deixar em paz.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 10.
ARIEL
Entendi. Essa explicação é pra eu
acreditar que vou ajudar o senhor e
não ele?
JASON
Mais ou menos, mas me ajudaria não
ajudaria?
ARIEL
Sim senhor.
Ariel volta olhares a Jason.
PABLO
E quando começamos?
Ariel estranha a pergunta.
ARIEL
Começamos o quê?
JASON
Eu contei a ele sobre o que faz.
Ariel balança a cabeça negativamente.
ARIEL
Quer que o ajude desse jeito?
JASON
Exatamente.
Ariel se volta para Pablo e o olha de cima abaixo.
ARIEL
Capitão, é o seguinte. Não posso
colocar minha fama em jogo. Tenho
muito a perder se esse aí não
conseguir fazer exatamente o que eu
mandar.
PABLO
Fama? Então o que importa pra tu é
ser famoso?
ARIEL
Não, mas tu já deve ter ouvido
falar de Ariel, o príncipe do
deserto.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 11.
PABLO
Príncipe do deserto?
Pablo solta uma longa gargalhada.
Ariel cerra os punhos e anda em direção a Pablo. Jason
rapidamente o segura.
JASON
Sossega homi. Não faz besteira.
Ariel olha para o Jason e se contém.
JASON (cont.)
O Pablo é um bom homem. Ele vai
seguir suas regras.
PABLO
Regras? Eu?
Pablo sorri.
JASON
Se tu quer voltar pra casa acho
melhor seguir as regras Pablo.
Pablo fica sério.
ARIEL
Bom, é o seguinte. Amanhã partirei
as seis da manhã. Tem uma vila aqui
perto que saqueei há uns três
meses. Sempre faço isso, espero a
vila se recuperar por um tempo para
colher frutos novamente.
JASON
Entendo.
PABLO
Inteligente.
ARIEL
Te espero aqui amanhã. O senhor
pode ficar na minha casa Capitão.
Agora esse aí eu não sei não.
PABLO
Não se preocupe comigo. Amanhã
estarei aqui no horário.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (5) 12.
JASON
Tem certeza Pablo?
Pablo monta seu cavalo.
PABLO
Até amanhã.
Pablo sai cavalgando.
Ariel abraça Jason e os dois saem andando em direção a casa
de Ariel.
ARIEL
Vem Capitão. Vou te mostrar tudo
que conquistei nesses anos.
EXT. ENTRADA DA CIDADE DE SAVANA - DIA
Benício entra em Savana, cidade do interior nordestino.
Benício está mais magro, com sua roupa suja e rasgada,
caminha com dificuldade.
LETREIRO: Savana
LETREIRO: BENÍCIO
BENÍCIO (V.O.)
Caminhei durante muito tempo pelo
interior do sertão nordestino.
Sempre tentando me esconder. Noites
e noites, dias e dias fugindo até
mesmo do desconhecido. Enfim,
cheguei a uma pequena cidade
chamada Savana. Talvez tenha esse
nome pela seca que lembra mesmo uma
savana africana. E aqui ocorreu
algo incrível que mudou minha vida
para sempre.
Benício continua caminhando com dificuldade e começa a
entrar na cidade.
As pessoas estranham a entrada de alguém tão incomum a
região.
Benício está muito cansado e, esfregando os olhos, parece
quase não enxergar o que está a sua frente. Com dificuldades
em andar e enxergar, Benício cai.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 13.
Um homem vê a queda de Benício e sai correndo para ajudá-lo.
Ele se aproxima e começa a levantar Benício. O homem tem
dificuldade em levantá-lo. Ele começa a erguer Benício sobre
seus ombros, mas é atingido por um tiro e cai sobre o mesmo.
Todas as pessoas em volta da cena saem correndo.
Três cavalos passam rapidamente pelos dois que, continuam
caídos na rua.
Nos dois cavalos da frente estão dois bandidos que saqueavam
a cidade, atrás em disparada está o atual delegado da
cidade, PEDRO, 50, barbudo. Todos estão com suas pistolas no
coldre e suas espingardas em punho.
Benício ainda caído observa a cena.
Os três cavalos param, os dois bandidos ficam de frente para
Pedro.
Benício continua observando de longe o duelo, e desabotoa
seu coldre.
Pedro continua encarando os dois bandidos. A tensão aumenta.
Benício puxa seu revólver.
Pedro olha para os dois bandidos lentamente. Pedro carrega e
atira com sua espingarda usando apenas uma das mãos. Os
bandidos atiram ao mesmo tempo.
BENÍCIO (V.O.)
Ele sempre fez aquilo com maestria
e agilidade, mas agora estava velho
pra isso.
Os bandidos foram mais rápidos e atingiram Pedro sem serem
atingidos.
Pedro deita sobre o lombo de seu cavalo e geme de dor.
Um dos bandidos ainda a cavalo se aproxima de Pedro.
Benício de longe ainda observa a cena.
BENÍCIO (V.O.) (cont.)
Era uma oportunidade única de se
fazer justiça.
Benício mira e atira com seu revolver.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 14.
O bandido que está a frente é acertado e cai de seu cavalo.
O bandido que está atrás se surpreende com tal cena e
observa sangue saindo de seu peito, em seguida, o mesmo
também cai.
Pedro tenta se reerguer com muita dificuldade.
Benício vê os dois bandidos caírem e observa o retorno de
Pedro em seu cavalo.
Pedro para ao lado de Benício. Sua camisa está
ensanguentada. Ele guia o cavalo com uma só mão, tentando
estancar o sangramento com a outra.
Pedro estica sua espingarda para Benício.
PEDRO
Venha meu jovem.
LETREIRO: PEDRO
Benício segura a espingarda e é erguido pelo delegado. Com
dificuldades Benício monta na garupa do cavalo de Pedro.
Benício e Pedro saem cavalgando.
EXT. FUNDOS DA DELEGACIA - DIA
LETREIRO: 10 ANOS DEPOIS.
Benício está selando um cavalo com a ajuda de PETIÇO, jovem,
baixa estatura, policial.
BENÍCIO
E foi assim que me tornei o xerife
da cidade.
Petiço sorri.
Benício aperta bem a sela e monta o cavalo.
BENÍCIO (cont.)
Vem comigo?
PETIÇO
Sim senhor.
Petiço sai correndo e volta rapidamente montado em seu
cavalo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 15.
PETIÇO
Vamos chefe.
Os dois saem cavalgando.
EXT. RUAS DA CIDADE DE SAVANA - DIA
Benício e Petiço cavalgam um ao lado do outro. Benício passa
cumprimentando todos da cidade. Os dois continuam
conversando.
BENÍCIO
Quando entrei na cidade todos já
sabiam o que havia ocorrido.
PETIÇO
E o senhor foi aclamado por todos?
BENÍCIO
Exatamente. E rapidamente, o povo
que queria um novo xerife, me
escolheu como seu novo líder em
termos de segurança.
PETIÇO
Entendi.
BENÍCIO
Mas desde que assumi o cargo de
delegado, nossos problemas só
aumentaram.
PETIÇO
Trio da maldade?
BENÍCIO
Isso. Esses três vem me
infernizando a vida há muito tempo.
PETIÇO
Mas já esteve cara a cara com eles?
BENÍCIO
Com Ariel não. Com os outros dois
sim, mas em circunstâncias
diferentes. E essa é outra
história.
Benício começa a diminuir a velocidade de seu cavalo e
Petiço o acompanha.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 16.
BENÍCIO (cont.)
Outro dia te conto tudo. Até por
que, já chegamos.
PETIÇO
É aqui?
BENÍCIO
Sim, bem ali.
Benício aponta para uma pequena casa.
Os dois saltam de seus cavalos e os amarram em um palanque.
Um homem sai de dentro do casebre e vai em direção a dupla.
É JOÃO, jovem, alto.
BENÍCIO (cont.)
Então, aí está ele!
Benício abre um largo sorriso. Petiço fecha a cara
rapidamente.
JOÃO
Como está xerife?
Benício e João se abraçam e dão gargalhadas juntos.
Os dois desfazem o abraço e João observa Petiço ao fundo.
JOÃO (cont.)
E quem é o baixinho?
Benício olha para Petiço e acena para o mesmo vir até ele.
BENÍCIO
Esse é Petiço. O meu atual
tratador.
João estende a mão para Petiço que, a aperta sem vontade.
JOÃO
Como vai?
Petiço responde ainda de cabeça baixa.
PETIÇO
Bem.
João desfaz o aperto e olha para Benício exibindo um leve
sorriso.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 17.
JOÃO
O homi não gosta muito de falar.
BENÍCIO
Petiço é mais quieto que tu João,
mas tenho certeza que os dois
formarão uma bela dupla.
Benício junta e abraça os dois ao mesmo tempo, um de cada
lado.
BENÍCIO (cont.)
E juntos me ajudarão a conter o
crime em Savana.
Petiço continua olhando para baixo.
LETREIRO: PETIÇO
João sorri e coloca um cigarro na boca.
LETREIRO: JOÃO
INT. BAR - DIA
Alguns homens estão sentados em várias mesas espalhadas pelo
bar e bebem enquanto conversam. Entre eles está Pedro que
ainda usa uma estrela costurada em sua camiseta.
Do outro lado do balcão, servindo cerveja a todos, está
CABELO, magro, cabelos encaracolados, dono do bar.
Cabelo serve um homem que se aproxima e continua conversando
com outro que também está no balcão.
CABELO
Aí foi assim. Tu sabe né? Eu não
tenho muita dó não. Já chego e
passo logo, e depois tenho que me
divertir também.
LETREIRO: CABELO
O Homem do balcão sorri e balança a cabeça negativamente.
Pedro se aproxima do balcão.
PEDRO
Me vê mais uma.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 18.
CABELO
É pra já chefe.
A porta do bar se abre.
ENTRAM Benício, Petiço e João.
Cabelo sorri e alerta a todos da presença do xerife.
CABELO (cont.)
Atenção pessoal, xerife no recinto!
Todos fazem silêncio. Benício abre um largo sorriso e se
dirige a todos em voz alta.
BENÍCIO
Hoje é por minha conta Cabelo! Pode
servir uma nova rodada pra todo
mundo!
Todos do bar dão gargalhadas e alguns aplaudem a atitude do
delegado da cidade.
Benício se aproxima do balcão e pega sua cerveja, em seguida
aponta para que Petiço e João também peguem as suas. Os dois
pegam e começam a tomar. João termina rapidamente.
JOÃO
Me vê mais uma.
Pedro se aproxima de Benício, olhando desconfiadamente para
João.
PEDRO
Quem é esse aí chefe?
Benício olha sorridente para João que vira mais um copo de
cerveja.
BENÍCIO
Esse aí faz parte do meu novo plano
para acabar com a violência aqui da
cidade.
PEDRO
E que plano é esse?
Benício olha para Cabelo e acena para chegar mais perto.
Cabelo se aproxima.
BENÍCIO
Toca o sino por favor.
Cabelo se vira e bate um sino próximo ao barril de cerveja.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 19.
SOM de batidas de sino.
Todos do bar fazem silêncio novamente.
Benício vai até o centro do bar carregando seu copo de
cerveja.
BENÍCIO (cont.)
Pessoal, tenho algo muito
importante a dizer. Como todos
sabem, o famoso trio da maldade vem
assolando nossa região com saques e
tiroteios, e estão cada vez mais
próximos de nós. Há quem diz que
Savana está no plano deles para ser
sua próxima conquista.
Benício abre um largo um sorriso e bate seu copo em uma mesa
próxima.
BENÍCIO
(gritando)
Mas não será!
Todos riem e aplaudem. Benício também sorri, mas aos poucos
começa a acenar pedindo silêncio.
BENÍCIO
Silêncio por favor pessoal.
Todos fazem silêncio.
BENÍCIO (cont.)
Pra isso, precisarei da ajuda de
todos. Todos vocês estão incluídos
no meu plano.
Benício pega o copo de volta, bebe um pouco e fala em tom
baixo olhando para todos.
BENÍCIO (cont.)
Precisarei muito de cada um de
vocês.
EXT. CIDADE PRÓXIMA A SAVANA - DIA
Jason, Ariel e Pablo, parecem cansados e estão sentados
próximos a uma casa, ao lado deles está um cavalo.
JASON
Não dá pra gente continuar assim.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 20.
PABLO
Também acho difícil.
Ariel se levanta.
ARIEL
Vocês têm outros objetivos na vida,
eu não. Tudo que sei fazer é isso.
Ariel se aproxima do cavalo.
ARIEL (cont.)
Virão comigo ou não?
JASON
Mas só temos esse cavalo agora.
ARIEL
Próximo daqui existe uma cidade com
bons cavalos. Podemos usar ela para
repor tudo que precisamos e
continuar nossa jornada.
PABLO
Nem tem mais jornada. Na verdade já
tenho o suficiente pra voltar pra
casa.
JASON
E por que não voltou ainda?
PABLO
Gosto da companhia de vocês.
Todos riem. E Ariel monta o cavalo.
ARIEL
Vão continuar aí sentados?
Jason se levanta e estende a mão para Pablo.
JASON
Não sabemos fazer outra coisa
mesmo.
Pablo segura a mão de Jason e se levanta.
PABLO
É verdade.
Todos riem. Pablo e Jason acompanham Ariel em seu cavalo.
21.
INT. AGÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIAS - DIA
Benício está encostado em um balcão, do outro lado do balcão
está CARLOS, branco, meia-idade, de pé, próximos dele estão
seus dois auxiliares, CORREDOR, jovem, sentado a uma mesa e
PRIMEIRO, jovem, corcunda, de pé ao lado de Corredor.
Corredor escreve algo em alguns papéis e carimba outros.
Primeiro confere os papéis carimbados por Corredor e joga-os
ao lado.
BENÍCIO
Então é isso. Eles mandam antes uma
carta para o hotel da cidade, com a
desculpa de que pretendem fazer uma
reserva e perguntando sobre a
cidade. O hotel manda de volta uma
resposta com todas as informações
da cidade. A partir daí eles
elaboram seus planos de saques.
Carlos se aproxima do balcão com um papel em mãos.
LETREIRO: CARLOS
CARLOS
Realmente eu não sabia disso. E pra
falar a verdade, acho que ninguém
do serviço postal da região sabe.
Primeiro para seu serviço e se aproxima do balcão.
BENÍCIO
Essa é uma informação secreta
mesmo. Foram anos de estudos pra
chegarmos nesse ponto.
CARLOS
Interessante, mas onde entro nessa
história?
BENÍCIO
Pois é. Eles não usam os próprios
nomes nas correspondências. Aliás,
tem um deles que até agora não sei
o nome, mas vamos lá. Esses são os
nomes que eles utilizam.
Benício pega o papel das mãos de Carlos, retira uma caneta
do bolso e escreve algo.
Primeiro tenta ler, ainda de longe, o que está escrito no
papel.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 22.
Carlos pega de volta o papel e lê.
CARLOS
Bruno, Thiago e Bartolomeu?
BENÍCIO
Isso mesmo.
Benício guarda a caneta no bolso, vira-se de costas e coloca
seu chapéu.
BENÍCIO (cont.)
Então já sabe. Se vier alguma
correspondência para o hotel da
cidade tu tá autorizado a abrir. E
se vier com algum desses nomes...
Benício se vira para Carlos.
Primeiro está olhando para Benício, que o olha de volta.
Primeiro disfarça e volta para seu serviço.
BENÍCIO (cont.)
Me avise o mais rápido possível.
CARLOS
Pode deixar chefe.
Benício anda em direção a porta, leva a mão a maçaneta, se
contém e volta-se para Carlos.
BENÍCIO
Engraçado. Vosmecê não me
apresentou seus auxiliares.
CARLOS
Ah, claro chefe.
Carlos sinaliza para que Corredor fique de pé.
Corredor rapidamente se levanta e permanece olhando
fixamente para Benício, Primeiro fica de cabeça baixa.
CARLOS (cont.)
Estes são meus auxiliares, Xerife.
Corredor, meu mais antigo ajudante.
Está comigo há... Há... Há quanto
tempo mesmo?
Corredor responde prontamente ainda olhando fixamente para
Benício.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 23.
CORREDOR
Há sete anos senhor.
CARLOS
Isso. Isso mesmo, sete anos.
BENÍCIO
Hum. Bom tempo não? Acredito que
deva ter começado a trabalhar bem
cedo.
CORREDOR
Trabalho desde os quatorze anos,
senhor.
Benício sinaliza positivamente com a cabeça enquanto acende
um cigarro.
BENÍCIO
E quem é o outro?
CARLOS
Esse é meu filho.
BENÍCIO
Filho? Não sabia que tinhas filho.
CARLOS
Na verdade não é meu filho de
sangue. Achei o Primeiro na porta
de minha casa em uma bela manhã de
um dia primeiro qualquer. Por isso
o nome dele é Primeiro.
Primeiro vai levantando a cabeça devagar expressando
desconfiança.
BENÍCIO
Ah então é isso? O nome dele é
Primeiro por que tu o achou em um
dia primeiro qualquer?
Carlos sorri para Primeiro.
CARLOS
Isso mesmo. Não me lembro
exatamente, mas sei que foi num dia
primeiro.
BENÍCIO
Muito bem. E o outro é corredor
porque é bom de corrida?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 24.
CARLOS
Não. Na verdade é corredor porque
faz todo serviço correndo. Bem
rápido, entende?
BENÍCIO
Ah sim, entendi.
Benício dá um longa tragada e solta a fumaça pro alto.
BENÍCIO (cont.)
Espero contar com vocês também
garotos.
CORREDOR
Sim senhor.
PRIMEIRO
Sim senhor.
Carlos sorri, expressando orgulho para Benício.
CARLOS
Pode ficar tranquilo xerife. Todos
ajudaremos o senhor.
Benício apaga seu cigarro na sola de seu sapato e olha para
Primeiro que o olha de volta ainda de cabeça baixa.
BENÍCIO
Que bom poder contar com vocês.
Benício se vira para a porta e a abre.
BENÍCIO (cont.)
Deixa eu ir que ainda tenho muito
trabalho pela frente.
CARLOS
Vai com Deus Xerife.
BENÍCIO
Amém. Fiquem com ele também.
CARLOS
Amém.
CORREDOR
Amém.
PRIMEIRO
(sussurrando)
Amém.
25.
Benício SAI. A porta se fecha.
EXT. FUNDOS DA DELEGACIA - DIA
João e Petiço estão selando seus cavalos.
João fica observando Petiço que faz o mesmo sem ser notado.
JOÃO
Sabe de uma coisa homí?
PETIÇO
Hum?
JOÃO
Te achei muito do estranho quando
te conheci.
PETIÇO
Ah é? E por que vosmecê me
dissestes isso?
JOÃO
Tu mal falou comigo. Sua reação a
minha presença foi estranha. Acho
que não gosta de mim.
PETIÇO
Não. Não é bem assim.
João para de selar seu cavalo e caminha em direção a Petiço.
JOÃO
Então gosta de mim?
Petiço para de selar seu cavalo e encara João.
PETIÇO
Porque não gostaria?
João se aproxima ainda mais de Petiço.
JOÃO
Por que tem medo.
PETIÇO
Medo? De quê?
JOÃO
De que eu roube seu lugar?
Petiço sorri e volta a selar seu cavalo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 26.
PETIÇO
Só pode estar de brincadeira homí.
Jamais temeria vosmecê. Até porque
nossas funções são diferentes.
João se vira e caminha em direção a seu cavalo.
JOÃO
É, tem razão. E minha função é
muito mais importante que a sua.
PETIÇO
Como é que é?
João volta a selar seu cavalo olhando para Petiço.
JOÃO
É isso mesmo que vosmecê ouviu.
Domar um cavalo é muito mais
difícil que dar de comer ao
bichinho.
Petiço para de selar seu cavalo e olha para João expressando
raiva.
PETIÇO
Então tu se acha mais importante do
que eu?
JOÃO
Eu não, mas minha função é.
Petiço esboça um leve sorriso ainda olhando para João.
PETIÇO
Então tá bom. Então tá bom.
Petiço volta a selar seu cavalo olhando para João e continua
sorrindo.
João estranha a reação de Petiço, mas continua selando seu
cavalo.
EXT. RUAS DE SAVANA - DIA
Benício está em seu cavalo e anda pelas ruas da cidade
cumprimentando a todos que vê.
Atrás do cavalo de Benício surge um garoto correndo e
gritando. É GURIZINHO, 9, baixo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 27.
GURIZINHO
Xerife! Xerife!
Benício escuta os gritos e para seu cavalo.
Gurizinho se aproxima.
BENÍCIO
O quê que é menino?
GURIZINHO
Tenho uma coisa pra falar com o
senhor.
BENÍCIO
Comigo?
GURIZINHO
Sim, com o senhor.
Gurizinho está quase sem fôlego e fala ofegantemente.
GURIZINHO (cont.)
(ofegantemente)
Eles... Falaram... Estão vindo...
BENÍCIO
Calma, calma menino. Monta aqui que
te levo pra delegacia e lá tu me
explica tudo.
Gurizinho sobe na garupa do cavalo e segue com Benício.
INT. DELEGACIA - DIA
Benício está sentado a sua mesa e a sua frente está
Gurizinho.
BENÍCIO
Mas quem foi que te disse isso?
GURIZINHO
Eu ouvi falar, senhor.
BENÍCIO
Então é só invenção do povo?
GURIZINHO
Eu acho que não, senhor.
Benício se estica sobre a mesa e se aproxima de Gurizinho.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 28.
BENÍCIO
Então me diz. O que tu realmente
sabe?
GURIZINHO
Eu ouvi falar...
Petiço ENTRA.
PETIÇO
Oi Gurizinho. O que tu tá fazendo
aqui menino?
Gurizinho olha para Petiço abrindo um largo sorriso.
LETREIRO: GURIZINHO
GURIZINHO
Eu tô ajudando o xerife.
PETIÇO
Ah é rapaz? Que bom ué.
Benício estranha a conversa entre os dois.
BENÍCIO
Conhece ele Petiço?
Petiço serve duas xícaras de café e entrega uma para
Benício.
PETIÇO
Conheço sim xerife. Esse aí é o
Gurizinho, menino esperto, vive lá
na praça da cidade.
BENÍCIO
Gurizinho? Que diabos de nome é
isso?
Petiço sorri e toma do seu café.
PETIÇO
É como chamam as crianças no sul,
xerife. Quer dizer, na verdade
chamam de guri, gurizinho é um... É
um... Bom o senhor sabe né?
BENÍCIO
Sim. Diminuição.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 29.
PETIÇO
É! Isso aí.
Benício toma do seu café e se levanta olhando para
Gurizinho.
BENÍCIO
Então tu é esperto Gurizinho?
Petiço olha para Benício, coloca sua xícara na mesa e SAI.
GURIZINHO
Sou bem esperto chefe. Posso ajudar
no que precisar.
BENÍCIO
E tu é do sul?
GURIZINHO
Não, mas meu pai era.
BENÍCIO
E veio fazer o que aqui?
GURIZINHO
Exército.
BENÍCIO
Ainda é vivo.
Gurizinho suspira.
GURIZINHO
Morreu em batalha.
BENÍCIO
Sinto muito.
GURIZINHO
Tudo bem, já tô acostumado. Minha
mãe também morreu quando eu era
pequeno. Nem me lembro dela. Só
tenho minha vó agora.
BENÍCIO
Hum, mas então estás disposto a me
ajudar?
Gurizinho se levanta de sua cadeira e olha para Benício.
GURIZINHO
Sempre pronto chefe.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 30.
BENÍCIO
Muito bem, acho que tu me serás
muito útil.
EXT. ESTRADA PRÓXIMA A SAVANA - NOITE
Ariel cavalga em seu cavalo, ao seu lado estão Jason e
Pablo, estes dois muito cansados.
JASON
Ariel, acho que já tá na hora da
gente trocar de posição.
ARIEL
Como assim trocar de posição homi?
PABLO
Ele quer dizer que tá na hora de tu
sair do cavalo.
ARIEL
Ah, mas não vou sair mesmo. Quem
perdeu seus cavalos foram vocês
mesmos.
PABLO
Sai logo daí fí duma rapariga.
Pablo aponta sua pistola para as costas de Ariel.
PABLO (cont.)
Desce daí.
Ariel olha para trás, finge não ser com ele e continua
cavalgando.
SOM de disparo. Ariel cai.
Jason se assusta.
JASON
Quê isso homi? Tá ficano doido?
PABLO
Sobe.
JASON
O quê?
PABLO
Sobe disgraça!
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 31.
Jason corre em direção ao cavalo e o monta rapidamente,
olhando assustado para Pablo.
Ariel continua caído no chão e gemendo de dor.
Pablo continua andando normalmente.
INT. DELEGACIA - NOITE
Benício está sentado a sua mesa, a sua frente está
Gurizinho.
BENÍCIO
Então isso é tudo que tu sabe?
GURIZINHO
Sim senhor.
BENÍCIO
Tem certeza disso?
GURIZINHO
Tenho sim senhor.
BENÍCIO
Pois bem, já tá tarde. Sua vó deve
tá preocupada.
Benício se levanta, Gurizinho também. Benício vai até a
porta e a abre.
BENÍCIO (cont.)
Vai lá. Volta pra tua casa.
Gurizinho anda em direção à porta. Benício passa a mão na
cabeça de Gurizinho.
BENÍCIO (cont.)
E lembre-se. Não conta pra ninguém
do que falamos aqui.
GURIZINHO
Sim senhor.
Gurizinho SAI.
32.
EXT. FUNDOS DA DELEGACIA - DIA
Petiço está selando alguns cavalos. Surge João.
JOÃO
Dormiu bem, Petiço?
Petiço olha para João e sorri.
PETIÇO
Dormi sim, e vosmecê?
JOÃO
Dormi bem também.
João caminha em direção as baias.
João olha uma das baias e estranha o que vê. João caminha
até outra baia e novamente estranha o que vê. João olha para
Petiço desconfiadamente. Petiço sorri de volta.
JOÃO (cont.)
O que foi que tu fez aqui?
PETIÇO
Ôxi, acho que devia saber. Sua
função não é melhor que a minha?
JOÃO
O que foi que tu fez aqui?
PETIÇO
Nada demais.
Petiço caminha em direção a João e se encosta em uma das
baias.
PETIÇO (cont.)
Só estou te mostrando que não tem
função melhor que a outra. Ou acha
que pode domar seus cavalos com
fome?
JOÃO
Fí duma rapariga.
Petiço sai rindo.
33.
INT. DELEGACIA - DIA
Benício está sentado a sua mesa. Petiço ENTRA.
Petiço está rindo muito. Benício acha engraçado como Petiço
ri.
BENÍCIO
Tá rindo do quê homi?
PETIÇO
Xerife, aconteceu uma coisa muita
engraçada.
BENÍCIO
E o que foi?
PETIÇO
O João... O João... Ele... Ele...
Caiu direitinho...
Petiço ri ainda mais.
BENÍCIO
Tá, tá, já vi que não vai conseguir
me explicar nada.
Petiço começa a se conter e se senta em frente a Benício.
BENÍCIO (cont.)
Tenho uma missão pra tu hoje.
Petiço ainda tenta controlar seu fôlego.
PETIÇO
Pode dizer chefe.
BENÍCIO
Bom, preciso que tu vá a
prefeitura. O que o Gurizinho me
falou ontem é muito sério. O trio
da maldade está a menos de
cinquenta quilômetros daqui.
PETIÇO
Virgem santíssima! Isso é muito
perto chefe.
BENÍCIO
É, eu sei. Por isso preciso que tu
vá até lá e diga ao prefeito que
estou solicitando alerta máximo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 34.
PETIÇO
Sim senhor.
Petiço se levanta.
PETIÇO
Mais alguma coisa por hoje?
BENÍCIO
Acho que depois do alerta, vamos
ter mais trabalho que em toda nossa
vida.
INT. BAR - DIA
Benício ENTRA. O bar está vazio. SOM de gemidos. Benício
estranha o som e caminha até o balcão. Benício se estica por
cima do balcão para ver o que acontece atrás do mesmo.
Atrás do balcão está Cabelo, com a calça abaixada, por cima
de Ariel, que está de costas para Cabelo e de frente para o
chão, também com a calça abaixada.
BENÍCIO
(gritando)
Que diabos é isso Cabelo?
Cabelo se levanta rapidamente e levanta sua calça. Ariel
ainda geme de dor, está ensanguentado.
CABELO
(surpreso)
Ô chefe, esse aqui eu não sei quem
é não...
BENÍCIO
Não sabe quem é, mas sabe bem o que
fazer com ele né?
Cabelo passa a mão na camisa e na calça se ajeitando e
expressando nervosismo.
CABELO
É, isso eu sei né chefe?
BENÍCIO
E por que tava fazendo isso homi?
CABELO
Ah chefe, pensei que o senhor
soubesse da minha fama.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 35.
BENÍCIO
Saber eu sabia, só não queria ter
visto isso na minha frente.
Ariel começa a se levantar se segurando no balcão.
Cabelo continua sem reação diante de Benício.
BENÍCIO (cont.)
E onde tu achou ele?
CABELO
Parece ser um fugitivo, chefe.
Apareceu aqui hoje mais cedo,
amarrado a um cavalo.
Ariel se levanta e fica debruçado sobre o balcão.
BENÍCIO
Se tava amarrado a um cavalo então
não deve ser fugitivo.
Benício se vira para Ariel.
BENÍCIO (cont.)
Ei, de onde tu veio?
Ariel olha para Benício e o ignora.
BENÍCIO (cont.)
Quem é tu? O que faz na minha
terra?
Ariel continua olhando para Benício sem expressar reação.
CABELO
Eu sei um jeito bom dele falar
chefe.
BENÍCIO
Calma Cabelo, se esse jeito aí
desse certo já saberíamos tudo
dele.
Beníico encara Ariel bem de perto.
BENÍCIO (cont.)
Eu sei do quê ele precisa.
Benício abre um leve sorriso.
36.
EXT. LINHA FÉRREA - DIA
Um trem está parado na via férrea. Fora do Trem próximos a
linha estão, HUGO, magro, alto, maquinista do trem, Jason e
Pablo.
Jason e Pablo reclamam com Hugo sobre a parada.
JASON
É que temos compromisso, entendeu
homi?
PABLO
E é bom dar um jeito de tirar a
gente desse fim de mundo.
Pablo retira um punhal de sua bota.
Hugo olha o punhal e expressa medo.
LETREIRO: HUGO
HUGO
Eu não sei o que aconteceu. Já
olhei tudo e não encontrei nada de
diferente.
Pablo se agacha e passa o punhal na linha férrea como se
estivesse o afiando.
PABLO
É melhor olhar direito.
Hugo entra rapidamente no trem, volta com várias ferramentas
e começa a mexer na parte de baixo do trem.
Jason se aproxima de Pablo.
JASON
(sussurrando)
Tá vendo seu plano perfeito?
PABLO
Cala sua boca antes que eu faça com
tu o que fiz com aquele infeliz.
JASON
Ah faz é? E vai fazer como? Nem
cavalo aqui tem pra tu me amarrar.
E tem mais, o que vai conseguir
fazer por aqui sozinho? Tu nem
conhece a região.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 37.
PABLO
Isso não me interessa. Eu me viro.
Vim sozinho pro nordeste, consigo
me virar aqui muito bem sozinho
também.
JASON
Duvido.
Pablo ignora Jason e caminha em direção a Hugo.
PABLO
E aí homi? Já conseguiu achar o
problema?
HUGO
(nervoso)
Tá quase, tá quase.
PABLO
Anda logo com isso hem.
HUGO
Sim, sim. O senhor pode ficar
tranquilo que tá quase pronto.
Pablo olha para Jason expressando raiva e Jason o olha de
volta expressando conformismo.
INT. PREFEITURA/SALÃO PRINCIPAL - DIA
MARCIELLO, negro, velho, prefeito de Savana, está sentado a
sua mesa e Petiço, sentado a sua frente.
MARCIELLO
Alerta máximo?
PETIÇO
Foi isso que o xerife pediu.
MARCIELLO
Esse filho da puta...
PETIÇO
O que digo a ele prefeito?
Marciello se levanta com dificuldade.
PETIÇO
Precisa de ajuda?
Marciello para e olha sério para Petiço.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 38.
MARCIELLO
Ajuda? Sou o único prefeito que
saiu da senzala, em toda região, e
acha que preciso de ajuda de
alguém? Ah moleque, tu não era nem
nascido quando eu já comia todas
rapariga dessa cidade. Acha mesmo
que preciso de sua ajuda?
Petiço fica sem graça.
Marciello se encosta em sua mesa encarando Petiço.
PETIÇO
Desculpa, só queria ajudar.
MARCIELLO
Ajudar... É isso que pensa ao me
ver não é? Um velho, que não
aguenta nem mais andar.
PETIÇO
Não, não penso isso não.
MARCIELLO
Não? Só não?
PETIÇO
Sim.
MARCIELLO
E agora sim? Só sim?
Petiço parece não entender a conversa.
PETIÇO
Sim. Só sim!
Marciello pega sua bengala e bate com ela na mesa.
MARCIELLO
(gritando)
Ah, eu sabia! É só isso que tem pra
um velho como eu não é?
PETIÇO
(assustado)
Mas do quê o senhor tá falando?
Marciello começa a dar a volta em sua mesa se segurando na
mesma.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 39.
MARCIELLO
Ah, agora sim. Agora veio a
palavrinha mágica.
Marciello pega sua bengala e bate com ela de leve no rosto
de Petiço.
MARCIELLO (cont.)
Qual é a palavrinha? Qual é a
palavrinha? Fala pra mim fala. Qual
é a palavrinha?
Petiço estranha o linguajar de Marciello.
PETIÇO
Senhor?
MARCIELLO
Isso! Isso mesmo! Agora sim.
Petiço olha para Marciello como se não estivesse entendendo
nada.
Marciello volta para sua cadeira e se senta.
MARCIELLO (cont.)
Olha homi, por um minuto cheguei a
pensar que tu era mais um dos que
me acham um pobre e velho prefeito.
PETIÇO
Não, não senhor.
MARCIELLO
Pois bem. Percebi que não é isso
que pensa de mim. Portanto vou
declarar alerta máximo em Savana e
além disso, vou te dar três dos
meus melhores seguranças.
LETREIRO: MARCIELLO
EXT. ÁREA EXTERNA A PREFEITURA - DIA
Do lado de fora da prefeitura estão três homens perfilados e
armados de pistolas e espingardas. TUNINHO, baixo, forte,
MAIQUE, nativo americano, VITOR, jovem. Todos de frente para
Marciello e Petiço.
MARCIELLO
À esquerda temos Tuninho. O melhor
em planejamentos.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 40.
LETREIRO: TUNINHO
MARCIELLO
Do seu lado direito está nosso
melhor atirador, Maique, um bom
índio americano.
Maique interrompe Marciello ainda olhando fixamente para
frente.
LETREIRO: MAIQUE
MAIQUE
Sou filho de nativos, senhor!
MARCIELLO
Ah, tanto faz. É índio do mesmo
jeito. E por último, mas não menos
importante, Vitor, o mais
operacional dos três. Esse tu pode
colocar em qualquer missão.
LETREIRO: VITOR
Petiço fica balançando a cabeça positivamente por diversas
vezes.
PETIÇO
Impressionante.
MARCIELLO
Gostou? Pois bem, são todos seus
agora.
Marciello aperta a mão de Petiço.
PETIÇO
O delegado agradece prefeito.
Os dois ficam balançando suas mãos juntas e sorriem um para
o outro.
INT. DELEGACIA - NOITE
Benício parece estar cansado e está de frente para Ariel,
que está amarrado a uma cadeira, molhado e ensanguentado. Ao
lado de Benício está Pedro que, também expressa cansaço.
BENÍCIO
Esse filho da puta não quer falar
mesmo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 41.
PEDRO
Acho que já chega.
Benício se encosta em sua mesa.
BENÍCIO
Vou colocar ele na cela e amanhã a
gente continua.
PEDRO
Acho melhor mesmo.
Ariel adormece.
Gurizinho ENTRA. Gurizinho está afobado e ofegante.
GURIZINHO
Xerife! Xerife!
BENÍCIO
Ôxi, fala homi! Por que não veio
mais cedo?
GURIZINHO
Tava fazendo uma coisa mais
importante xerife. O senhor não vai
acreditar no que descobri.
BENÍCIO
Desembucha menino!
GURIZINHO
Eu aproveitei a tarde para espionar
a região e descobri que...
Gurizinho olha para Ariel na cadeira.
GURIZINHO (cont.)
O que ele tá fazendo aqui?
Benício aponta para Ariel.
BENÍCIO
Ele?
GURIZINHO
É, ele.
BENÍCIO
Tu conhece ele?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 42.
GURIZINHO
É Ariel, é um dos homi do trio da
maldade.
Benício olha surpreso para Pedro.
BENÍCIO
Tu tem certeza?
GURIZINHO
Absoluta, eu vi ele uma vez quando
meu pai ainda tava no exército.
Benício sinaliza para Pedro acordar Ariel. Pedro se aproxima
de Ariel e o desfere vários tapas na cara.
PEDRO
Acorda filho da puta!
Ariel acorda ainda atordoado.
Beníico puxa Gurizinho pelo braço.
BENÍCIO
Acho melhor tu ir.
GURIZINHO
Mas nem acabei de falar o que
descobri.
BENÍCIO
Amanhã tu me fala.
GURIZINHO
Sim senhor.
Gurizinho SAI.
Benício olha a saída de Gurizinho, em seguida se aproxima de
Ariel e se agacha ao seu lado.
BENÍCIO
Então tu é o senhor Ariel?
Ariel olha assustado para Benício e Pedro.
EXT. FUNDOS DA DELEGACIA - NOITE
Chegando a cavalo estão Petiço, Tuninho, Maique, e Vitor.
Saindo da delegacia está Gurizinho. SOM de gemidos de dor.
Petiço aborda Gurizinho.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 43.
PETIÇO
O que tá acontecendo lá dentro
Gurizinho?
GURIZINHO
Não sei não. Só sei que o chefe não
deixou eu ver.
PETIÇO
Mas quem tá com ele lá dentro?
GURIZINHO
Ariel, um dos três da maldade.
Petiço se assusta com a notícia e salta rapidamente de seu
cavalo indo em direção a porta da delegacia.
INT. DELEGACIA - NOITE
Petiço ENTRA. No chão está Ariel mais ensanguentado que
antes, Pedro e Benício estão de pé com a roupa suja de
sangue.
PETIÇO
O que é isso xerife? O que o senhor
tá fazendo?
Benício estranha a entrada repentina de Petiço e o responde
com um sorriso malicioso.
BENÍCIO
Como assim o que tô fazendo? Isso é
justiça!
Benício chuta o rosto de Ariel e se prepara para dar mais
um. Petiço se joga e cai na frente de Benício interrompendo
a ação.
Benício estranha a atitude de Petiço.
BENÍCIO (cont.)
O que é isso Petiço? Tá ficando
maluco?
PETIÇO
Não senhor xerife, mas o senhor não
tá fazendo a coisa certa.
João ENTRA. João está com cara de sono, todos olham para
ele.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 44.
JOÃO
Que gritaria é essa pessoal? Lá do
alojamento tá dando pra ouvir?
João olha para Ariel.
JOÃO (cont.)
Não dá pra matar esse cara lá fora
não?
BENÍCIO
Cala a boca João.
JOÃO
Tá, tá bom... Só vim pegar água
mesmo...
João SAI. Benício volta a olhar para Petiço
BENÍCIO
Que história é essa Petiço? Demoro
anos planejando e dando o melhor de
mim para capturar esse desgraçado e
é isso que tu me diz? Que não tô
fazendo a coisa certa?
Petiço abaixa a cabeça acatando o sermão.
PETIÇO
Eu sei xerife. Não é bem isso.
Petiço se levanta e encara Benício.
PETIÇO
O que quero dizer é que há outras
formas de se resolver isso.
Pedro ao fundo estala os dedos das mãos olhando para Ariel
que continua gemendo no chão. Pedro abre um malicioso
sorriso.
PEDRO
Tem outra forma mesmo. Podemos
cortar a cabeça dele e expor em
praça pública.
EXT. PRAÇA DA CIDADE - DIA
A praça está lotada de pessoas. Todos fazem festa, o SOM da
música está alto e todos dançam.
No centro da praça há uma estaca com a cabeça de Ariel na
ponta.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 45.
Benício se diverte pulando e dançando com Pedro ao lado de
Marciello.
Do outro lado da rua está Petiço, Tuninho, Maique e Vitor.
PETIÇO
O xerife não devia ter feito isso.
João passa a galope em seu cavalo na frente de Petiço.
JOÃO
Vamo comemorar Petiço!
Petiço balança a cabeça negativamente.
PETIÇO
Idiota.
João cai do cavalo.
EXT. LINHA FÉRREA - DIA
O trem continua parado. Do lado de fora está Hugo, dormindo,
com suas ferramentas em mãos, próximo dele está Pablo,
também dormindo, segurando sua pistola, e Jason acordando.
Jason se levanta e caminha em direção a Pablo. Jason chuta
de leve Pablo.
JASON
Ô homi, acorde. Homi, acorde homi.
Pablo se levanta assustado empunhando sua pistola.
PABLO
Cadê? Cadê? Cadê ele?
JASON
Ôxi, tá doido é homi?
Pablo aos poucos volta a si e disfarça.
PABLO
Tava tendo um pesadelo.
JASON
Hum sei.
Jason aponta para Hugo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 46.
JASON (cont.)
Olha aí o vagabundo. Continua
dormindo.
PABLO
Vou dar um susto nele.
Pablo carrega sua pistola. Jason sorri.
JASON
(rindo)
Não faz isso não.
Pablo dispara ao lado de Hugo diversas vezes. Hugo se
levanta rapidamente deixando cair várias ferramentas. Todos
que estão no trem acordam e olham para fora pelas janelas.
Jason dá várias gargalhadas.
HUGO
Quê isso? Quê isso? Precisava disso
não!
Pablo caminha em direção a Hugo com sua pistola em riste.
PABLO
Quem diz o que precisa aqui ou não
sou eu. E vou te dizer agora do que
preciso.
Hugo fica paralisado e abaixa a cabeça. Pablo encara Hugo
bem de perto.
PABLO
(sussurrando)
Eu preciso que tu arrume logo essa
joça. Por que já me atrasei demais
pro meu compromisso.
HUGO
Sim senhor, sim senhor.
PABLO
(gritando)
Arruma logo isso!
EXT. PRAÇA DA CIDADE - DIA
Benício agora está junto de Petiço, Tuninho, Maique e Vitor.
Benício parece estar embriagado.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 47.
BENÍCIO
Vamo lá pessoal. Hoje é dia de
festa. Os três aí ó, tem que se
divertir pessoal. Vamo lá.
Benício puxa Tuninho pelo braço. Tuninho reage.
TUNINHO
Não, eu não bebo chefe.
BENÍCIO
Não precisa beber não, vem, vem.
Tuninho se solta de Benício.
TUNINHO
Não, melhor não chefe.
Benício cambaleia e quase cai, Petiço o segura.
PETIÇO
Vamos embora chefe. Isso aqui já tá
demais pro senhor.
BENÍCIO
Não! Não vou embora agora.
Benício olha para Maique e Vitor.
BENÍCIO (cont.)
E vocês? E vocês? Não vão dançar
também? Também não bebem?
Benício se aproxima de Maique.
BENÍCIO (cont.)
Não são homens?
Petiço olha para Maique como se pedisse desculpas e puxa
Benício.
PETIÇO
Vem chefe.
Benício é puxado por Petiço e continua sorrindo, sendo
encarado por Maique, Vitor e Tuninho.
48.
INT. CASA DE BENÍCIO/QUARTO - DIA
Petiço e Pedro carregam Benício, os dois o jogam na cama.
PETIÇO
Obrigado Pedro. Se dependesse
daquele domador maluco nem sei o
que seria.
Pedro sorri.
PEDRO
João? Deve tá tão ruim quanto.
PETIÇO
Verdade.
SOM de porta batendo. Pedro e Petiço se assustam. Gurizinho
ENTRA. Gurizinho está sem fôlego e expressa cansaço.
PETIÇO
Ôxi menino, só chega nos
assustando!
GURIZINHO
Onde tá o xerife?
Pedro aponta para Benício jogado na cama.
GURIZINHO (cont.)
O que ele tem?
PETIÇO
Isso não é coisa pra menino da sua
idade, mas me diz o que quer com
ele?
GURIZINHO
Ontem a noite não terminei de falar
com ele. Eu já sabia que Ariel
estava a caminho. De acordo com o
que ouvi, um deles o mandou pra cá
por que não queria mais ele no
grupo. Ele ia servir como isca.
PETIÇO
Isca?
GURIZINHO
Isso. A ideia do trio era deixar
ele aqui para ser capturado mesmo.
E quando todos achassem que estava
tudo bem...
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 49.
PETIÇO
Quando todos estivessem
festejando...
GURIZINHO
Essa pequena vitória...
PETIÇO
A maior derrota poderia estar se
aproximando.
GURIZINHO
Isso mesmo. Se meus cálculos
estiverem corretos. Eles devem
estar chegando agora no trem.
PETIÇO
Agora? Mas agora não é horário do
trem.
GURIZINHO
Eu sei disso. Quando soube que eles
tavam vindo eu avisei o Hugo.
PEDRO
Hugo? Quem é Hugo?
GURIZINHO
O maquinista. Avisei ele e pedi pra
que desse um jeito de atrasar a
viagem dos outros dois.
PETIÇO
Arre égua, tu é bom mesmo menino!
GURIZINHO
Pelo jeito deu certo.
PETIÇO
Sim. Deu sim, mas pelo jeito temos
que agir rápido agora. E pior, sem
o xerife.
Pedro ao fundo reage.
PEDRO
Acho que tô velho pra tá na ativa,
mas acho que ainda dou pro gasto.
Petiço olha para Pedro e sorri.
50.
INT. ESTAÇÃO FERROVIÁRIA - DIA
O trem chega e para. Descem do trem Jason e Pablo, os dois
de chapéu e cabeça baixa. Pablo olha para trás e encara
Hugo. Jason puxa Pablo pelo braço.
JASON
Vamo homi.
Os dois andam rapidamente pela estação no meio da multidão.
INT. BAR - DIA
O bar está lotado, dentre os presentes está Pedro, Tuninho,
Carlos, Primeiro, Corredor, Maique, Vitor, Petiço, Cabelo e
João.
Petiço sobe no balcão e Cabelo toca o sino. Todos fazem
silêncio.
JOÃO
Petiço! Subiu no balcão por que
ninguém ia te ver atrás dele?
Todos riem.
PETIÇO
Silêncio! Silêncio pessoal.
Todos fazem silêncio novamente.
PETIÇO (cont.)
As notícias não são boas. Sei que
todos estão felizes. Conseguimos
capturar um dos maiores bandidos da
região, mas os outros dois do trio
estão em um trem vindo pra Savana.
Todos começam a conversar.
PETIÇO (cont.)
Silêncio, silêncio pessoal!
Todos param de conversar.
PETIÇO
Além disso estamos sem nosso xerife
nesse momento. Então temos que nos
organizar para que tudo dê certo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 51.
PETIÇO (cont.)
Carlos, quero que se organize e
rastreie todas as correspondências
para o nosso hotel. Sempre visando
àqueles nomes que o xerife já te
passou. Sei que já deve ter feito
isso, mas é sempre bom reforçar.
CARLOS
Sim senhor.
PETIÇO
Pedro. Tu me ajudará a liderar os
grupos, provavelmente iremos nos
dividir e tu comandará um dos
grupos.
PEDRO
Sim senhor.
PETIÇO
João. Preciso que tu prepare todos
nossos cavalos. O trio agora é só
uma dupla, mas temos que estar
preparados pra tudo.
JOÃO
Sim senhor.
PETIÇO
Cabelo. Quero que fique de olho em
todos que entrarem no bar a partir
de agora. Qualquer situação
diferente me avise.
CABELO
Sim senhor.
PETIÇO
Maique e Vitor. Quero vocês comigo.
Vão me ajudar em nossa ação
principal.
PETIÇO (cont.)
Tuninho. Quero tu com o Pedro.
Quero que planeje tudo que
precisamos executar e repasse a
ele.
TUNINHO
Sim senhor.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 52.
PETIÇO
Bom, acho que não esqueci de
ninguém.
Gurizinho ENTRA. Todos se assustam.
GURIZINHO
Eles já chegaram!
PETIÇO
Vamos lá pessoal! Mãos a obra!
EXT. CENTRO DA CIDADE - DIA
Pablo e Jason andam entre várias pessoas sem serem notados.
PABLO
Temos que achar onde é o banco.
JASON
Tu acha mesmo que a gente vai
conseguir roubar alguma coisa sem
cavalo?
PABLO
Calma. Eu tenho um plano.
JASON
Tu e seus planos...
Jason balança a cabeça negativamente e continua caminhando
ao lado de Pablo.
PABLO
Tem muita gente aqui. A gente tem
que ir pra um lugar mais isolado.
JASON
E o que tu sugere?
Pablo começa a andar mais rápido e vira uma esquina. Jason
tenta acompanhá-lo.
JASON (cont.)
Vai pra onde homi?
PABLO
Vem comigo.
Pablo cessa rapidamente o movimento, para e fica estático.
Jason estranha a parada inesperada.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 53.
JASON
Ôxi, o que foi?
PABLO
Olha ali.
Em outra esquina, a frente dos dois está GUARÁ, jovem, mal
vestido e rodeado de lobos. Guará está sentado e segura uma
garrafa de ervas.
JASON
Que diabos é isso?
Pablo começa a se aproximar vagarosamente, Jason o
acompanha.
JASON (cont.)
Cuidado homi, tu num sabe o que é
isso aí.
Os lobos começam a uivar e ranger seus dentes para a dupla
que se aproxima.
Guará se levanta.
GUARÁ
Podem se aproximar. Os lobinhos não
vão fazê mal pro cêis não.
Pablo e Jason expressam um leve sorriso sem graça e
continuam andando em direção a Guará.
PABLO
É que a gente precisa saber de uma
coisa.
GUARÁ
Pode falar. No que posso ajudar
vosmecê?
JASON
A gente precisa saber onde fica
o...
Pablo puxa o braço de Jason e o interrompe.
PABLO
É que não somos daqui.
Guará repara na ação de Pablo e estranha o feito.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 54.
PABLO (cont.)
E precisamos saber onde é o banco.
GUARÁ
Onde é o banco, é?
PABLO
É. Gastamos tudo na viagem,
entende?
GUARÁ
Entendo, entendo.
JASON
Isso, viagem.
GUARÁ
Sei.
Os dois ficam olhando para Guará esperando sua resposta.
Guará olha para o lado e vê a placa do banco ao fundo, mas
aponta em outra direção.
GUARÁ
É pra lá.
Jason aponta na mesma direção.
JASON
Pra lá?
GUARÁ
Isso, bem ali. Vocês vão caminhar
um pouquinho, mas já já chegam lá.
Guará sorri maliciosamente. Jason sorri de volta e sinaliza
positivamente com a cabeça. Pablo vira as costas e começa a
caminhar.
JASON
Nós já vamos então. Agradecido,
senhor?
Jason aponta com o dedo para Guará esperando a resposta de
seu nome.
GUARÁ
Guará. Senhor Guará, pra vocês.
Guará sorri.
LETREIRO: GUARÁ
55.
INT. AGÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIAS - DIA
Carlos, Primeiro e Corredor estão procurando cartas
endereçadas ao hotel da cidade. Os três estão em pé de
frente para uma mesa com várias cartas espalhadas. Carlos
expressa aborrecimento por ter que procurar novamente pelas
cartas. Primeiro e Corredor trabalham rápido e Carlos
continua balançando a cabeça negativamente.
CARLOS
Não acredito que estamos fazendo
isso outra vez.
CORREDOR
Calma chefe. Não achamos nada
daquela vez e não vamos achar de
novo. É só conferir todas as
cartas.
CARLOS
Queria ter a sua disposição
moleque.
Primeiro e Corredor sorriem.
CARLOS
Sabe de uma coisa. Já tô cansado de
ficar procurando isso aqui. Vou
passar um café pra gente. Vocês
querem?
CORREDOR
Sim senhor.
PRIMEIRO
Também aceito.
Carlos se vira e caminha em direção a pia.
CARLOS
Forte como sempre Primeiro?
PRIMEIRO
Sim senhor.
CARLOS
Não sei onde tirou essa mania. A
mim que não puxou. Odeio café muito
forte.
Carlos sorri. Ao fundo, Primeiro continua procurando as
cartas, ele olha para Carlos e sorri também.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 56.
Corredor procura mais rápido que Primeiro e se vira para o
mesmo.
CORREDOR
Achou alguma coisa?
PRIMEIRO
Ainda não.
CORREDOR
Também, nessa velocidade. Assim não
vai achar nada mesmo.
Primeiro fecha a cara e volta a procurar. Ele passa a mão
pelas cartas e começa a verificar mais rapidamente.
PRIMEIRO
Pode deixar que vou acelerar.
Primeiro acha um envelope azul. E verifica o endereço.
O correspondente é Bartolomeu, e o destino do envelope é o
hotel da cidade.
Primeiro olha para o lado e vê Corredor trabalhando
rapidamente como sempre, olha para o outro lado e vê Carlos
finalizando o café. Primeiro guarda rapidamente o envelope
em seu bolso e volta a procurar entre as correspondências.
Ao fundo Carlos finaliza o café.
CARLOS
Prontinho pessoal.
Carlos serve o café em três xícaras, as coloca em uma
bandeja e caminha em direção aos dois que ainda verificam as
cartas.
CARLOS (cont.)
Acharam alguma coisa?
Carlos deixa a bandeja em cima da mesa.
CORREDOR
Nada chefe.
Corredor caminha até a bandeja e pega uma xícara.
Primeiro permanece de cabeça baixa procurando entre os
envelopes.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 57.
PRIMEIRO
Nada.
CARLOS
Vem pegar seu café moleque, larga
isso aí.
Primeiro larga os envelopes na mesa e caminha para pegar seu
café.
CARLOS (cont.)
Deve tá cansado já, né?
Primeiro ainda de cabeça baixa se aproxima de Carlos e o
responde.
PRIMEIRO
Um pouco chefe.
Corredor fica olhando para Primeiro.
Carlos dá um tapinha nas costa de Primeiro e aponta para a
xícara de café.
CARLOS
Então toma seu café meu filho.
Carlos sorri e toma de seu café, olhando orgulhoso pra
Primeiro.
EXT. ESTRADA DE SAVANA - DIA
Tuninho e Pedro estão no meio da estrada, a frente deles há
vários tambores fechando a estrada.
Maique e Vitor estão ao lado da estrada, próximos deles
estão todos seus cavalos.
PEDRO
Acho que não vamos conseguir nada
aqui.
TUNINHO
Não queria pensar assim, mas tenho
que concordar com o senhor.
Petiço chega a cavalo e se aproxima de Tuninho e Pedro.
PETIÇO
Nada?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 58.
TUNINHO
Nada chefe.
Petiço balança a cabeça negativamente e vira seu cavalo de
volta.
PETIÇO
Vamos embora.
EXT. ESTRADA DE SAVANA - DIA
Jason e Pablo expressam cansaço e continuam a caminhar.
JASON
Aquele fí duma rapariga enganou a
gente.
PABLO
Desgraçado.
JASON
Tem banco nenhum por aqui.
PABLO
Vamo parar um pouco.
Os dois param e sentam a beira da estrada.
PABLO (cont.)
E aquele moleque, ele falou mesmo
que ia vim?
JASON
Não, mas eu sei que ele pegou a
carta.
PABLO
Como sabe?
JASON
Ele é esperto.
Pablo retira um cigarro, acende, traga e passa para Jason.
PABLO
Ele é nossa única esperança agora.
Jason se encosta em uma árvore e começa a adormecer. Pablo
dá um tapa na cara de Jason e o arranca o cigarro da boca.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 59.
PABLO (cont.)
Acorda homi. Não vai dormir agora
não.
JASON
Tô cansado homi.
PABLO
É, eu sei. Também tô cansado, mas
agora é só eu e tu. Dependemos um
do outro.
JASON
Tá certo. E o Ariel será que ainda
tá preso?
PABLO
Pra não ter dado notícia até agora
só pode tá preso. Ele sabia bem do
nosso plano. Seu amiguinho tinha
que tirar ele da cadeia e vir ao
nosso encontro.
Jason faz cara de entediado.
JASON
E com todos atrás de nós... Seria
fácil matá-los... Grande plano...
PABLO
Ah, cala sua boca. Tu não pensou em
nada melhor.
JASON
É, era o único jeito mesmo.
PABLO
É, era.
Pablo suspira.
PABLO
Por que não largamos tudo isso?
Pablo fica olhando o anoitecer e traga o cigarro.
PABLO
Sabe homi? Ás vezes tenho saudades
de casa.
Jason estranha a declaração de Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 60.
PABLO
Saudades da minha muié, do meu fí,
da minha casa. Tenho saudade até
das minha galinha.
JASON
Sei como é. Também tô fora de casa
faz tempo já. Só nessa brincadeira
nossa aqui já se foram dez anos.
PABLO
Verdade. E será que vai dar certo?
Pablo olha para Jason, que o olha de volta.
JASON
Vai sim. Vai sim.
Jason vai aos poucos virando o rosto pra frente e começa a
ver Primeiro saindo de dentro do matagal.
JASON (cont.)
Não tô falando que vai? Olha ele
ali.
PABLO
Quem?
Jason se levanta.
JASON
Vem ver. É ele.
Pablo se levanta. Primeiro se aproxima dos dois e os
cumprimentam.
PRIMEIRO
Tarde.
JASON
Tarde homi. Vem cá dá um abraço no
seu padrinho.
Jason abraça Primeiro, que permanece sério.
Pablo cumprimenta Primeiro.
PABLO
Como vai?
O abraço é desfeito e Primeiro responde Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 61.
PRIMEIRO
Tô bem.
JASON
Como foi que nos achou?
PRIMEIRO
Na carta vocês disseram que iriam
na direção do banco.
PABLO
Então estamos perto?
PRIMEIRO
Não. Estão exatamente na direção
contrária. O banco fica do outro
lado da cidade.
JASON
Não entendi.
PRIMEIRO
Todos da cidade foram orientados a
dar informações erradas a qualquer
estranho que chegasse aqui.
PABLO
É o tal do xerife?
PRIMEIRO
Isso. E esse não é o único plano
deles. Todos da cidade estão juntos
contra vocês. E já sabem que vocês
estão aqui.
JASON
Que filho duma puta.
PRIMEIRO
A situação não tá fácil.
JASON
Alguém desconfia de você?
PRIMEIRO
Acho que dessa vez sim.
JASON
O que houve?
PRIMEIRO
O xerife descobriu as cartas pro
hotel. Mandou o Carlos rastrear
tudo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (5) 62.
JASON
Mas como sempre foi você que achou?
PRIMEIRO
Sim, mas dessa vez tive que
esconder a carta. E o Carlos tem
controle de tudo. Ele sabia quantas
cartas tinham lá. Eu tinha visto
ela na primeira vez que procuramos.
Percebi que o Carlos não tinha
notado nada de diferente e deixei a
carta lá, mas o braço direito do
xerife mandou a gente procurar de
novo. Dessa vez não dava pra
arriscar.
JASON
Puta que pariu.
PABLO
Braço direito do xerife?
PRIMEIRO
Isso. O xerife matou ontem o Ariel.
Jason se espanta com a notícia.
PABLO
Isso eu já imaginava. Aquele lá,
nem pra servir de isca.
PRIMEIRO
Ele arrancou a cabeça dele e expôs
na praça da cidade.
JASON
Desgraçado.
PRIMEIRO
Como disse. Não tá fácil.
JASON
E as outras cartas? Você queimava
todas como te pedia?
PRIMEIRO
Sim. Se não, já teriam descoberto
nossa farsa há muito tempo. Já se
foram vinte anos.
JASON
Você sabe que não é culpa minha.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (6) 63.
PRIMEIRO
O pior de tudo é imaginar que você
é meu pai.
Pablo estranha a conversa entre os dois.
PABLO
Pai? Tu é pai dele Jason?
Jason fica sem graça olhando para Primeiro.
PRIMEIRO
Responde. Fala a verdade agora.
JASON
Não.
FLASHBACK
EXT. ESTRADA DO SERTÃO NORDESTINO - DIA
Jason, mais jovem, e mais dois homens armados estão trocando
tiros com policiais. Eles se escodem atrás de uma casa e
ajudam várias pessoas de uma família a sair de dentro da
casa e fugir.
Uma mãe se aproxima de Jason em meio aos tiros carregando
três filhos. Dois maiores e um em seu colo.
JASON (V.O.)
Os pais dele o abandonaram. Em uma
de nossas investidas, uma família
se aproximou do meu bando. A mãe
disse que não tinha condições de
cuidar do filho. E o deixou comigo.
A mulher parece implorar para que Jason fique com seu filho.
Jason a olha com uma expressão séria, e sinaliza para que
deixe o bebê próximo a parede da casa.
A mulher encosta o bebê e fica olhando para Jason.
FIM DO FLASHBACK
64.
EXT. ESTRADA DE SAVANA - DIA
Pablo e Primeiro olham com atenção para Jason.
Primeiro sorri sarcasticamente.
PRIMEIRO
Sempre a mesma historinha.
JASON
Mas é a verdade.
PRIMEIRO
(gritando)
Não é a verdade! Você mente pra
mim! E só me usa, desde criança!
Pablo não se conforma com a história contada por Jason e se
vira a ele.
PABLO
Você o deixou na frente da casa do
Carlos de propósito? Só para
continuar se comunicando com ele e
o usando para executar seus planos?
Como tu pôde?
Jason vira-se de costas para os dois. E tenta conter seu
choro.
JASON
Eu não poderia ficar com ele.
Depois de um tempo as coisas foram
ficando difíceis. Eu precisava de
alguém pra me ajudar fora do bando.
Alexandre era o único que podia me
ajudar.
PABLO
Alexandre? Então esse é o
verdadeiro nome dele?
JASON
Isso.
Jason se vira para Primeiro.
JASON (cont.)
Esse é seu nome de batismo. Foi o
que sua mãe me disse antes de te
entregar a mim.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 65.
PRIMEIRO
Então eu não sou mesmo seu filho?
JASON
Não.
PRIMEIRO
Que pena. Apesar de você ser quem
é. e ter me transformado em algo
próximo a você. Eu gostaria de ter
um pai. Por pior que fosse.
Jason expressa tristeza e abaixa a cabeça.
PRIMEIRO (cont.)
Acho que cumpri minha missão do
dia.
JASON
Sim. Cumpriu sim.
PRIMEIRO
Então vamos fazer como sempre. Eu
vou embora e espero por mais uma
carta para o hotel da cidade.
Primeiro sai andando e se afasta dos dois.
Jason se senta e começa a chorar.
Pablo vê Primeiro indo embora e o chama.
PABLO
(gritando)
Ei! Primeiro!
Primeiro para e olha para trás com cara de choro.
PABLO
Se cuida!
Primeiro abaixa a cabeça e volta a andar.
Pablo olha para o lado e vê Jason sentado e chorando.
PABLO (cont.)
Calma homi. Ele é uma boa pessoa.
Deveria ter orgulho de ter um filho
assim.
JASON
Ele não é meu filho.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 66.
PABLO
Se não fosse você não estaria
chorando assim. Quer enganar quem?
Jason olha para Pablo.
Pablo se abaixa e abraça Jason.
PABLO (cont.)
Você tem sorte, eu queria estar
peto do meu filho agora.
O abraço é desfeito e Jason fica olhando para Pablo.
INT. BAR - NOITE
Todos estão reunidos novamente. Próximos ao balcão estão,
Cabelo por dentro, Petiço, Tuninho e Pedro encostados por
fora. Sentados nas mesas estão Maique e Vitor. Todos bebem e
estão com semblantes tristes.
PETIÇO
Talvez se estivéssemos com o
xerife...
CABELO
Não, não ia fazer diferença.
TUNINHO
De qualquer forma temos que pensar
em algo novo.
PEDRO
Acho que temos que dar um tempo.
MAIQUE
Não acho que um tempo agora seria
uma boa opção.
VITOR
Verdade. Eles estão na cidade, acho
que a gente tem que aproveitar a
chance.
ENTRA Carlos. Carlos está assustado e fala ofegantemente.
CARLOS
Vocês não vão acreditar no que
descobri.
Petiço se desencosta do balcão, os outros ficam em alerta
surpresos com a chegada repentina de Carlos.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 67.
PETIÇO
O que houve Carlos?
CABELO
Achou a carta pro hotel?
CARLOS
Pior que isso.
Carlos se aproxima dos demais.
CARLOS (cont.)
Primeiro está junto deles.
Todos se olham ainda sem entender do que se trata.
CARLOS (cont.)
Ele está ajudando o trio da
maldade.
Petiço se aproxima de Carlos e puxa uma cadeira para ele se
sentar. Carlos se senta olhando para Petiço.
CARLOS (cont.)
O senhor pediu para eu verificar
novamente as cartas. Eu olhei todas
junto do Primeiro e do Corredor.
Preparei um café pra eles e olhamos
todas as cartas.
Os demais se aproximam e rodeiam Carlos escutando seu
depoimento.
FLASHBACK
INT. AGÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIAS - DIA
Primeiro está de frente para a porta, ele olha para trás e
SAI. Carlos olha para Corredor que, expressa desconfiança.
CARLOS (V.O.)
Primeiro saiu logo que acabou. Me
pediu permissão para sair a rua.
Estranhei porque ele nunca faz isso
à noite. Corredor me alertou para o
comportamento estranho do Primeiro
nos últimos dias. Então eu resolvi
contar as cartas. Sabia que tinha
quarenta e três e não podia ter
menos que isso.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 68.
Carlos vai até a mesa, junta e começa a contar novamente
todas as cartas.
Carlos termina de contar as cartas, e joga todas na mesa
expressando surpresa e medo.
FIM DO FLASHBACK
INT. BAR - NOITE
Todos estão de olhos arregalados ainda ouvindo Carlos.
CARLOS
Não tinha quarenta e três, faltava
uma.
CABELO
Filho da puta.
PETIÇO
Que desgraçado.
MAIQUE
Mas como tem tanta certeza de que
Primeiro está do lado deles? Acho
que só uma carta roubada não prova
nada.
VITOR
Também acho.
Carlos olha para todos.
CARLOS
Primeiro foi deixado na frente da
minha casa.
FLASHBACK
EXT. FRENTE DA CASA DE CARLOS - DIA
Carlos, mais jovem, abre a porta e se depara com Primeiro,
ainda bebê, em frente a sua porta.
Carlos olha para um lado e para o outro expressando
desconfiança.
O bebê chora e Carlos o pega, tentando conter o choro da
criança.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 69.
CARLOS (V.O.)
Foi aí que eu vi ele.
Carlos parece enxergar algo. Esfrega os olhos e continua
tentando forçar a visão. Ao longo da estrada está Jason,
caminhando e olhando para trás.
FIM DO FLASHBACK
INT. BAR - NOITE
Todos continuam em volta de Carlos o olhando. Carlos fica
com o olhar perdido expressando tristeza.
CARLOS
Me lembro como se fosse hoje do
rosto daquele cabra. Jamais
esqueceria.
TUNINHO
Tá e daí?
Carlos se recompõe.
CARLOS
E daí que hoje quando desconfiei de
Primeiro, me lembrei deste dia.
FLASHBACK
INT. AGÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIAS - DIA
Carlos está desolado recontando as cartas. Ao fundo Corredor
observa tudo expressando dó.
Corredor se aproxima de Carlos.
CORREDOR
Para de contar isso.
Corredor retira as cartas das mãos de Carlos.
Carlos se debruça sobre a mesa e começa a chorar.
CARLOS
(soluçando)
Não posso acreditar nisso. Não
acredito que ele fez isso comigo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 70.
Corredor tenta reerguer Carlos, que reluta e cai sentado no
chão.
CARLOS (cont.)
Para, para. Não preciso disso. É
demais pra mim.
Corredor fica observando Carlos.
CARLOS (cont.)
Será que mereço isso? O que fiz de
ruim a vocês? O que fiz de mal a
ele?
CORREDOR
O senhor não fez nada. A culpa é
toda dele.
Carlos começa a conter o choro, enxuga as lágrimas e se
levanta.
CARLOS
Talvez eu esteja desconfiando dele
à toa também. Talvez não seja nada
do que estou imaginando.
Corredor se afasta de Carlos, abre uma gaveta em uma mesa
próxima dele e retira um cartaz, enrolado.
CORREDOR
Talvez o senhor se lembre do rosto
do homem que deixou Primeiro aqui.
CARLOS (V.O.)
É óbvio que me lembrava. Não
conseguiria esquecer nunca um homem
que fez uma crueldade daquelas.
Abandonar o próprio filho! E além
do mais, eu morria de ciúmes do
Primeiro, tinha medo dele procurar
os pais verdadeiros e preferir
ficar com eles do que comigo.
Carlos estranha a pergunta de Corredor.
CARLOS
Sim. Me lembro sim.
CORREDOR
Então agora acho que vamos
conseguir esclarecer de vez as
coisas.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 71.
Corredor abre o cartaz e mostra para Carlos. É a foto de
Jason no cartaz com o aviso de procurado.
Carlos arregala os olhos e fica estático.
CARLOS (V.O.)
Quando Corredor me mostrou, eu
fiquei sem reação. Era a prova que
faltava. O rosto daquele homem...
Era o mesmo que havia deixado
Primeiro em frente a minha casa.
Primeiro não teria outro motivo
para roubar uma carta da nossa
agência se não fosse para
defendê-lo.
FIM DO FLASHBACK
INT. BAR - DIA
Todos expressam desânimo.
Carlos está de cabeça baixa.
CARLOS
Foi tudo uma armação. Desde o
início. Ele só queria alguém
infiltrado entre nós. Só isso que
ele queria...
Carlos começa a chorar. Maique e Vitor o abraçam. Os outros
ficam se olhando e parecem já saber o que os espera.
Pedro se aproxima de Petiço.
PEDRO
E agora chefe?
PETIÇO
Estamos perdidos.
PEDRO
Com um de nós do lado deles fica
muito mais difícil.
PETIÇO
Não é só um ao lado deles.
Petiço coça a cabeça, olha para baixo e olha novamente para
Pedro.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 72.
PETIÇO
O Primeiro tá do lado deles desde
que nasceu.
Benício ENTRA, cambaleando, tropeça e quase cai.
Todos se surpreendem, alguns sorriem.
BENÍCIO
O que tá acontecendo aqui?
EXT. ESTRADA DE SAVANA - NOITE
Pablo e Jason continuam caminhando e parecem estar cansados.
PABLO
Será que já tamo perto?
JASON
Não sei homi. Andamos desde cedo
pra fazer todo esse caminho, não
sei se vamo conseguir refazer tudo
isso tão rápido.
PABLO
Tem razão. Acho que tá na hora da
gente descansar.
Pablo e Jason caminham em direção a uma árvore. Os dois se
sentam e se encostam à árvore.
INT. BORDEL - NOITE
No bordel da cidade está Carlos, Petiço, Pedro, João e
Benício. Todos sentados em um grande sofá, cada um com uma
mulher no colo. Um vitrola toca uma música ao fundo, o SOM
ESTÁ ALTO.
Benício sorri e olha para Carlos que, sorri de volta.
BENÍCIO
Falei que seria bom pra você!
CARLOS
(sorrindo)
Sim senhor!
Todos beijam e se divertem com suas mulheres. Aproxima-se
ALEMÃO, alto, branco, olhos claros, dono do bordel.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 73.
ALEMÃO
Estão se divertindo?
BENÍCIO
Melhor que isso só o céu.
Todos riem. João intervém.
JOÃO
Acho que já estamos no céu chefe.
ALEMÃO
Qualquer problema é só nos chamar.
CARLOS
Acho que não teremos problemas tão
cedo.
Todos riem novamente.
EXT. ESTRADA DE SAVANA - NOITE
Jason e Pablo estão dormindo encostados na árvore.
Na copa da árvore algo se movimenta. Por entre os galhos
surge ROCHA, magro, 30. Rocha está sem camisa e com o corpo
todo coberto de barro.
Rocha observa os dois que dormem abaixo de seus pés. Rocha
retira um estilingue de seu bolso e começa a atirar pedras
na dupla.
LETREIRO: ROCHA
Jason é acertado e acorda, em seguida Pablo também é
alvejado e começa a acordar.
JASON
Que diabos é isso?
PABLO
De onde tá vindo isso?
Jason olha para cima e vê Rocha.
JASON
Dali de cima.
Pablo olha para cima e se assusta.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 74.
PABLO
O quê que é isso?
Jason se levanta empunhando sua pistola.
JASON
Não é nada, é só um maluco. Mas já
vou dar um jeito nele.
Jason mira com sua pistola na direção de Rocha.
PABLO
Assombração...
Jason escuta e estranha a fala de Pablo.
JASON
O quê?
PABLO
Isso não é gente não.
JASON
Tá doido homi?
Pablo vai se levantando se segurando na árvore.
PABLO
Vamo embora Jason. Isso não é gente
não.
JASON
Que ir embora o que homi. Vou é
matar esse cabra.
Rocha salta rapidamente da árvore e correndo desaparece
rapidamente mato adentro.
PABLO
Tá vendo só? Acha que gente faria
isso?
JASON
Ah homi, tu tá é doido mesmo.
Jason coloca sua pistola no coldre e se encosta novamente na
árvore.
JASON (cont.)
Vamo dormí.
Pablo ainda está estático olhando para onde se foi Rocha.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 75.
JASON (cont.)
Anda homi, vem dormí.
PABLO
Que dormir o quê. Eu vou é procurar
uma igreja.
JASON
O que? Procurar igreja? Agora tu
endoidou mesmo.
PABLO
Preciso me confessar. Isso foi um
sinal de Deus.
Jason fica olhando para Pablo expressando surpresa.
INT. BORDEL - NOITE
Carlos sai de um quarto com uma mulher.
Benício, Petiço, João e Pedro estão sentados no sofá bebendo
e desacompanhados.
Carlos se despede da mulher e se aproxima dos demais.
CARLOS
Essa é das boas chefe.
BENÍCIO
Que bom que gostou meu camarada.
PEDRO
Pois é, nos divertimos mas, acho
que já está na nossa hora.
PETIÇO
Verdade, amanhã o dia será longo. a
essa altura Tuninho ainda deve tá
acordado planejando o que vamos
fazer.
JOÃO
Não duvido nada. Mas como não sou o
homem dos planejamentos, vou
continuar por aqui mesmo.
BENÍCIO
Também vou ficar. Consigo pensar
melhor nesse ambiente agradável.
Todos riem. Petiço e Pedro se levantam. Petiço, Pedro e
Carlos se despedem de João e Benício e SAEM.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 76.
Benício pega um copo de cerveja e brinda com João. Os dois
bebem.
Alemão se aproxima com duas belas mulheres, Antônia, branca,
magra e Josefina, morena, cintura fina e quadris largos.
ALEMÃO
Sei que os clientes já aproveitaram
muito bem a noite. Mas faço questão
de lhes apresentarem duas de nossas
melhores meninas.
Alemão puxa Antônia pela mão e faz dar uma voltinha para que
os dois a observem.
ALEMÃO (cont.)
Está é Antônia. Uma linda guria de
mãos delicadas e seios fartos,
conhecida como princesinha do
agreste.
Alemão se aproxima de Benício e fala em tom baixo.
ALEMÃO
(sussurrando)
Faz ótimos trabalhos com a boca.
Alemão sorri. Benício faz cara de tesão para Antônia que,
sorri para o mesmo.
Alemão pega Josefina pela mão e a faz dar uma voltinha.
ALEMÃO
Esta é Josefina. Uma de nossas mais
gostosas, adora por trás.
Josefina empina a bunda se exibindo e sorrindo para João.
ALEMÃO (cont.)
Façam bom proveito senhores.
Alemão se retira. Josefina se senta ao lado de João, Antônia
se senta ao lado de Benício.
Josefina se aproxima de João pegando em sua perna.
JOSEFINA
Então você é um dos Leões do
Sertão?
JOÃO
Leões do Sertão?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 77.
JOSEFINA
Isso. Você é mesmo um deles?
João puxa Benício pela camisa, que já está aos beijos com
Antônia.
JOÃO
Ouviu isso xerife? Já temos até
apelido.
João sorri. Josefina fica olhando Benício beijando Antônia.
JOSEFINA
Nossa, ele é o xerife?
JOÃO
Sim, por quê?
Josefina morde os lábios.
JOSEFINA
Nossa, que tesão.
Josefina começa a apertar os próprios seios. João fica
olhando encantado com o que presencia.
JOÃO
Tá, mas acho que ele já tá ocupado
demais.
Josefina continua olhando Benício.
JOSEFINA
Verdade, que pena.
João se aproxima de Josefina e começa a beijá-la no pescoço.
JOÃO
(sussurrando)
Mas eu não.
Josefina começa a gemer, puxa João pelos cabelos e o olha
nos olhos.
JOSEFINA
Então me mostra o leão que tem
dentro de você.
Os dois se levantam e entram no quarto ao fundo.
Benício e Antônia param de se beijar.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 78.
ANTÔNIA
Então o senhor que é o xerife da
cidade?
BENÍCIO
Isso. Mas sem o senhor, por favor.
E na verdade não é xerife, gosto do
apelido, mas sou o atual delegado
de Savana.
ANTÔNIA
Hum, uma pessoa importante então.
BENÍCIO
Para alguns sim, para outros nem
tanto.
ANTÔNIA
Como assim?
BENÍCIO
Para as pessoas de bem talvez eu
seja importante, afinal eu luto por
dias melhores em Savana. Mas há
muitos que estão tentando nos
enfrentar a algum tempo, sem nos
dar a menor importância.
ANTÔNIA
Entendi. Me desculpe não te
reconhecer de imediato. É que
viajamos muito.
BENÍCIO
Eu sei como é.
ANTÔNIA
Então é um alto frequentador de
bordéis da região.
BENÍCIO
Digamos que, talvez.
ANTÔNIA
Então não se trata de um homem
sério.
BENÍCIO
Eu procuro uma mulher por noite e
pago por ela. Você se deita com
vários e recebe por isso. Quem é
sério por aqui?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (5) 79.
ANTÔNIA
Tá dizendo que não sou o tipo de
mulher que se vale a pena?
BENÍCIO
Tô dizendo que o que parece na
verdade pode não ser o que
realmente é.
ANTÔNIA
Sei...
BENÍCIO
Gostei de você.
ANTÔNIA
A que ponto?
BENÍCIO
Como assim?
ANTÔNIA
Casaria comigo?
BENÍCIO
É isso que você quer?
ANTÔNIA
Talvez.
Benício acende um cigarro e o traga.
BENÍCIO
Quantos anos têm?
ANTÔNIA
Sua mãe não te ensinou que é falta
de educação perguntar a idade de
uma dama?
BENÍCIO
Nem me lembro da minha mãe.
ANTÔNIA
Falecida?
BENÍCIO
Sim, mas essa noite não merece
assuntos tristes.
ANTÔNIA
Não quer aproveitar o resto dela da
melhor forma então?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (6) 80.
BENÍCIO
Assim é fácil levar um homem pra
cama, mas não pro altar.
ANTÔNIA
Você só tem a perder com isso.
Daqui a pouco vão vir outros
clientes e vão comer a mulherzinha
que vai se casar com você.
BENÍCIO
Não me importo com isso.
ANTÔNIA
No seu lugar me importaria.
Antônia pega o cigarro das mãos de Benício e dá uma longa
tragada.
ANTÔNIA (cont.)
Seria bom que você aproveitasse
também.
BENÍCIO
Isso me faria igual a eles. Se
quero me casar com você, tenho que
ser diferente e melhor que todos
que já conheceu.
Antônia sorri e devolve o cigarro.
ANTÔNIA
Gostei de você.
BENÍCIO
Casaria comigo?
ANTÔNIA
Talvez.
Os dois riem.
Surge João e Josefina. Os dois rindo muito.
Benício percebe a chegada dos dois.
BENÍCIO
Olha quem tá aí!
ANTÔNIA
Mas já?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (7) 81.
JOSEFINA
Pode acreditar muié, essa foi bem
dada.
Todos riem.
ANTÔNIA
Mas pensei que um leão era mais
resistente.
BENÍCIO
Espere até experimentar o seu.
Benício se levanta. Pega a mão de Antônia e a beija, olhando
nos olhos dela.
BENÍCIO (cont.)
Mas não será hoje.
Benício sinaliza para que João também se despeça de
Josefina.
João abraça Josefina e depois Antônia. Em seguida, caminha
até porta de saída acompanhado de Benício. As duas ficam
olhando a saída expressando um leve sorriso, os dois SAEM.
EXT. RUA DA IGREJA - DIA
Jason e Pablo se aproximam de uma pequena igreja, se parece
uma capela, mas tem uma grande torre com um sino em sua
parte superior. Jason anda sonolento, Pablo anda mais rápido
e tenta acelerar Jason.
PABLO
Ande homi, tu sabe muito bem o
quanto isso é importante pra mim.
JASON
Tu mal me deixou dormir hoje, e
ainda quer que te acompanhe. Não
acha demais querer que eu vá
correndo?
PABLO
Não precisa correr, mas você tá
quase dormindo em pé.
JASON
Você teve pesadelo a noite toda.
Não seria estranho se eu
adormecesse em pé mesmo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 82.
PABLO
Se quer ter bons sonhos daqui em
diante é bom me acompanhar então.
JASON
Tá, tá bom.
Os dois se param em frente à igreja.
JASON
É essa aí?
PABLO
Acho que é a única da cidade.
JASON
Sei lá tá todo mundo passando
informação errada pra gente.
PABLO
Aquela velhinha não seria capaz de
mentir. E tem mais, velha andando
uma hora dessa na rua só podia
estar vindo da igreja, e ela veio
dessa direção.
JASON
Sei não...
PABLO
Tu que é desconfiado demais cabra.
Acha o quê? Que vai ter um bando de
puliça dentro da igreja pra matar a
gente?
JASON
Tá vendo como é possível? Até tu já
pensou nisso.
PABLO
Tá me chamando de burro homi?
JASON
Eu acho é que já tá na hora da
gente sair dessa.
PABLO
Também acho, mas agora a gente tá
cercado, sem saída. Se a gente sair
vivo daqui já tá bom.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 83.
JASON
É. Vá logo se confessar então homi,
Deus vai ajudar a gente.
PABLO
Amém.
Pablo caminha até a porta da igreja, se ajoelha e faz o
sinal da cruz, se levanta e adentra a mesma.
Jason fica de costas para a igreja, saca sua pistola e, com
ela em riste, caminha até a porta da mesma.
INT. IGREJA - DIA
Pablo caminha por entre os bancos da igreja e ao fundo vê o
confessionário. Ao chegar próximo ao altar, Pablo novamente
se ajoelha e faz o sinal da cruz. Pablo se ergue e fica
parado olhando uma imagem de Jesus Cristo a sua frente.
De dentro do confessionário o padre RAFAEL, jovem, alto,
observa a chegada de Pablo.
RAFAEL (O.S.)
Não tenha medo homem. Pode se
aproximar.
Pablo se assusta com a voz. E imediatamente ameaça sair da
igreja.
RAFAEL (O.S.)
Calma homem. Diga a Deus o que te
traz aqui.
Pablo se recompõe olhando para os lados como se estivesse
verifcando se alguém percebeu sua ação. Ainda desconfiado
Pablo tenta descobrir de onde vem tal voz.
PABLO
Quem está falando?
RAFAEL (O.S.)
Se aproxime do confessionário filho
de Deus.
Pablo fica um tempo parado e olhando para o confessionário.
Aos poucos começa a caminhar lentamente em direção ao mesmo.
PABLO
É o senhor padre?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 84.
RAFAEL (O.S.)
Ôxi, pensastes que fosse quem?
PABLO
Ninguém não senhor.
RAFAEL (O.S.)
Aproxime-se filho.
Pablo para em frente ao confessionário e se ajoelha, ficando
de cabeça baixa.
RAFAEL (O.S.) (cont.)
O que te traz aqui, homem?
Pablo olha para um lado e para o outro, tentando resistir à
confissão. Em seguida para e olha para dentro do
confessionário.
PABLO
Sabe padre, tenho cometido muitos
pecados em minha vida.
RAFAEL (O.S.)
Todos nós cometemos. Por onde
deseja começar?
PABLO
Não sei, isso é muito difícil.
Pablo sorri sem graça.
PABLO (cont.)
Tem muito tempo que não venho à
igreja.
De dentro do confessionário Rafael olha para Pablo.
RAFAEL (O.S.)
O que acha de começar abaixando sua
cabeça e fechando os olhos?
Pablo imediatamente acata o conselho de Rafael, abaixando
sua cabeça e fechando seus olhos.
PABLO
Sim senhor padre.
RAFAEL (O.S.)
Já ouvi falar que isso ajuda muito.
Rafael solta um breve riso, sendo acompanhado por Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 85.
PABLO
Pois bem Padre. Minha vida não tem
sido fácil...
EXT. RUA DA IGREJA - DIA
Jason ainda está de guarda e permanece atento.
SOM de carruagem se aproximando. Jason olha para o lado e
percebe a chegada de algo.
Uma carruagem se aproxima. Jason engatilha sua pistola e
permanece atento.
A carruagem chega e para em frente a igreja. De dentro da
carruagem descem Alemão, Josefina e Antônia. As duas
mulheres olham para Jason e sua pistola, estranhando a
atitude do mesmo. Alemão cumprimenta Jason retirando seu
chapéu.
ALEMÃO
Tarde homi.
Jason responde com olhar de desconfiado sobre Alemão e as
duas mulheres que o acompanham.
JASON
Tarde.
Alemão recoloca seu chapéu e acena para as duas mulheres
passarem a sua frente. Os três caminham em direção à porta
da igreja.
Jason intervém.
JASON (cont.)
Ei, homi. Vosmecê não vai poder
entrar aí não.
Alemão para e olha para trás.
ALEMÃO
E por causa de quê?
Jason coloca uma mão na cintura e com a outra gira sua
pistola, finalizando o giro com a mesma apontada para
Alemão.
JASON
Não vai poder entrar e pronto.
86.
INT. DELEGACIA - DIA
Benício está sentado a sua mesa e a sua frente está Alemão
sentado em uma cadeira.
ALEMÃO
E foi isso que aconteceu. Eu não
entendi nada. Sempre levo elas pra
se confessar, pelo menos uma vez na
semana. O padre Rafael não ia me
impedir de entrar lá, ele não ia
fazer isso comigo.
BENÍCIO
Estranho. Mas me diga, como era
esse homem.
ALEMÃO
Olha chefe, é um tipo bem estranho
aqui pra nossa região.
BENÍCIO
Olha quem tá falando.
Os dois sorriem.
ALEMÃO
Eu sei chefe, também não sou um
tipo comum. Mas homem com cabelo
verméi eu nunca vi por aqui.
Benício muda sua expressão e fica sério imediatamente.
BENÍCIO
Cabelo vermelho?
ALEMÃO
Isso, branco, tipão de estrangeiro,
e tinha o cabelo bem estranho.
BENÍCIO
Com uma pistola em mãos...
ALEMÃO
Isso mesmo.
Benício respira fundo, se encosta e inclina sua cadeira para
trás.
BENÍCIO
Jason...
Alemão estranha a fala de Benício que está com o olhar
perdido.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 87.
ALEMÃO
Como chefe?
Benício volta a si.
BENÍCIO
Faz um favor pra mim. Chega ali no
alojamento e chama pra mim o Maique
e o Vitor.
ALEMÃO
Sim senhor.
Alemão se levanta e vai até a porta do alojamento.
Benício volta a ter o olhar perdido e fica pensativo.
FLASHBACK
EXT. ESTRADA DO SERTÃO NORDESTINO - DIA
Em uma estrada deserta está Benício, com dez anos de idade
sendo abraçado por seu pai, Benedito. a frente dos dois está
Jason, jovem, e mais dois homens armados.
Benício e seu pai começam a chorar e o abraço é desfeito.
BENEDITO
Vai ser melhor pra tu meu filho.
Benício se vira de costas para seu pai e fica de frente para
Jason, permanecendo de cabeça baixa.
JASON
Vai ser melhor para ele sim, homi.
Jason sorri olhando para Benício.
Benício olha para Jason como se estivesse com medo daquele
sorriso.
FIM DO FLASHBACK
INT. DELEGACIA - DIA
Benício ainda está sentado em sua cadeira e com o olhar
perdido, a sua frente estão Alemão, Maique e Vitor. Os três
últimos estranham a postura de Benício. Alemão se aproxima
do xerife.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 88.
ALEMÃO
Xerife, xerife.
Benício continua desacordado de olhos abertos.
MAIQUE
(gritando)
Chefe!
Benício volta a si.
BENÍCIO
Ôxi, nem vi vocês chegando.
VITOR
Percebemos.
Todos sorriem.
BENÍCIO
Tá, vamos lá.
Benício aponta para Maique e depois para Vitor.
BENÍCIO (cont.)
Preciso de vocês dois. O Alemão já
adiantou a vocês o assunto?
MAIQUE
Sim, enquanto o senhor tava
dormindo ele nos falou.
Todos riem novamente.
VITOR
E o que o senhor que que a gente
faça?
EXT. IGREJA - DIA
Vitor está atrás da igreja e observa Jason que está a frente
da mesma. Vitor lança uma corda até o topo da torre do sino
da igreja. A corda tem um gancho na ponta que se encaixa em
uma entrada da torre. Vitor testa a corda, puxando-a e
verificando se está bem presa. Vitor dá uma ultima olhada
para Jason e sobe a torre utilizando a corda.
89.
EXT. CENTRO DA CIDADE - DIA
Maique está disfarçado com um grande chapéu e um poncho
colorido enrolado por todo o corpo. Ele anda pelas ruas do
centro da cidade sem ser notado por ninguém. Entre uma
esquina e outra ele para e observa a frente.
INT. IGREJA - DIA
Rafael está dentro do confessionário e continua a ouvir
Pablo.
PABLO (O.S.)
E foi isso padre.
RAFAEL
Então você abandonou sua mulher e
filho para ir atrás de um tesouro
que nem mesmo sabia se existia?
Fora do confessionário Pablo está ajoelhado e de cabeça
baixa.
PABLO
Isso mesmo seu padre.
Rafael abre a porta do confessionário e sai. Rafael caminha
até Pablo e o observa ainda de cabeça baixa. Rafael o olha
desconfiadamente.
RAFAEL
Onde você morava?
Pablo estranha a presença de Rafael.
PABLO
Senhor?
RAFAEL
Onde você morava?
PABLO
Paraguai, fronteira com o Brasil.
Rafael passa por Pablo e fica parado olhando para uma imagem
de Jesus crucificado.
Pablo estranha a ação e se levanta olhando para Rafael.
PABLO (cont.)
Falei algo de errado padre?
Os olhos de Rafael lacrimejam. Rafael se vira para Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 90.
RAFAEL
Sabe de onde vim?
PABLO
Não. Mas pelo jeito o senhor não
parece ser daqui da região.
Rafael começa a caminhar em direção a Pablo, o encarando.
RAFAEL
(em espanhol)
Eu vim da fronteira entre o Brasil
e o Paraguai. Meu pai abandonou
minha mãe quando eu ainda era um
bebê. Quando eu tinha nove anos
minha mãe faleceu e então fui
criado pela minha vó. Ela cuidou de
mim até eu completar dezessete
anos. Foi quando descobri minha
verdadeira vocação, apesar dos
abusos e estupros sofridos quando
era auxiliar daqueles padres, eu
tinha certeza que poderia fazer
diferente deles. Tinha a opção de
seguir minha peregrinação pelo
Paraguai, mas decidi vim pro
Brasil, na esperança de um dia quem
sabe ouvir alguém falar algo do meu
pai, pra eu saber quem foi esse
homem e realizar minha maior
façanha em vida, perdoá-lo.
Pablo está novamente ajoelhado e chorando muito. Rafael
ainda tenta conter o choro, mas as lágrimas escorrem por seu
rosto.
RAFAEL (cont.)
A minha vida inteira esperei por
este momento. O momento de te
perdoar. Mas vendo no que você se
transformou, isso fica muito
difícil.
Pablo caminha ainda ajoelhado até os pés de Rafael.
PABLO
Perdão meu filho. Perdão.
Rafael observa Pablo aos seus pés sem esboçar nenhuma
reação.
SOM de batidas de sino. Rafael se assusta e olha para cima.
Pablo também se assusta e rapidamente se levanta.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 91.
Vitor sai de dentro da parte baixa da torre apontando sua
pistola para Pablo. Pablo e Rafael não expressam reação e
levantam suas mãos a altura da cabeça. Rafael se dirige a
Vitor.
RAFAEL
Não meu filho. Na casa de Deus não!
VITOR
O senhor que me desculpe seu padre,
mas nem padim Ciço pra me impedir
de pegar esse cabra agora.
A porta da igreja se abre. Jason está na porta apontando sua
pistola para Vitor.
RAFAEL
Pensa bem meu filho. Você está em
desvantagem agora.
VITOR
Desvantagem? Tá tentando ajudar ele
só porque é seu pai.
JASON
(gritando)
Pai? Ele é seu filho Pablo? Um
filho padre? Que merda hem!
Pablo olha para Jason expressando raiva.
PABLO
(gritando)
Cala sua boca homi!
Jason sorri e vai caminhando entre os bancos da igreja na
direção de Vitor.
JASON
É melhor você abaixar essa arma aí
moleque.
Vitor olha para Jason e parece estar pensativo, por vezes
olha para baixo e volta olhares para Jason.
JASON (cont.)
Se você abaixar. Te deixo sair
vivo. Se não, vai morrer. Pode até
não ser o único, mas será um.
Vitor aos poucos vai abaixando a arma devagar.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 92.
JASON (cont.)
Essa é uma decisão inteligente.
Rafael e Pablo abaixam devagar suas mãos revezando olhares
entre Jason e Vitor.
JASON (cont.)
Você sabe que logo logo seu bando
terá um novo plano para nos pegar.
Essa guerra não termina aqui.
Vitor encara Jason, e sinaliza positivamente com a cabeça.
Jason muda sua expressão e olha para Pablo.
JASON (cont.)
Vem Pablo. Se despede de seu filho
e vamos embora.
Pablo anda em direção a Jason olhando para Rafael. Jason
olha para Pablo expressando raiva.
JASON (cont.)
Acorda homi, saca sua pistola e
aponte para esse cabra.
Pablo obedece a Jason, retira sua pistola do coldre e aponta
para Vitor. Os dois caminham até à porta da igreja andando
de costas e ainda apontando suas armas para Vitor. Pablo
oscila seu olhar entre raiva para Vitor, e clemência para
Rafael. Os dois SAEM.
Vitor relaxa e suspira olhando para Rafael.
VITOR
Tu é mesmo filho dele?
RAFAEL
a que tudo parece, sim.
Rafael caminha até o confessionário.
Vitor caminha até a base da torre e começa a recolher sua
corda. SOM de choro vindo do confessionário. Vitor olha para
o confessionário e expressa desapontamento.
EXT. CENTRO DA CIDADE - DIA
Maique continua caminhando pelo centro da cidade, mas agora
parece ter visto algo e aumenta sua velocidade.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 93.
Maique vira uma esquina e começa a correr. Várias pessoas a
sua frente o atrapalham, ele empurra algumas e desvia de
outras até que vira ainda correndo uma ultima esquina e dá
em uma rua deserta. É revelado atrás de quem Maique corre, a
sua frente também correndo está Primeiro. Primeiro tropeça e
cai, Maique aumenta ainda mais sua velocidade. Primeiro se
levanta e volta a correr. Atrás de Maique surgem dois
policiais a cavalo, POLICIAL 1 e POLICIAL 2. Maique olha
sorridente para os dois que o olham de volta, sérios, e o
mandam parar. Maique para e os dois policiais saltam de seus
cavalos.
Os dois policiais caminham na direção de Maique.
POLICIAL 1
Tá com pressa homi?
MAIQUE
(ofegante)
Sim... Tenho que pegar... Aquele
cabra...
Maique aponta para Primeiro que vira uma esquina ainda
correndo.
MAIQUE
Agora não vou conseguir mais... Já
se foi...
POLICIAL 1
Não vai conseguir? E empurrar
velhinha tu consegue?
MAIQUE
O quê?
POLICIAL 1
Não foi isso que tu fez ali atrás?
POLICIAL 2
Acho que a gente precisa refrescar
a memória dele chefe.
MAIQUE
Eu trabalho pro prefeito e agora tô
ajudando o xerife a pegar o trio da
maldade.
Os dois policiais começam a rir.
POLICIAL 1
Trio da maldade? Tu que vai pegar
eles?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 94.
Os policiais voltam a rir ainda mais alto.
POLICIAL 2
Com essa cara, esse chapéu e esse
poncho?
Os policiais começam a gargalhar muito alto. Maique olha
para eles esboçando muita raiva.
MAIQUE
Me dá logo esse cavalo de vocês que
tenho uma missão a cumprir.
POLICIAL 1
Missão? Olha só, ele tem uma missão
a cumprir.
POLICIAL 2
Adianta nosso trabalho vai, diz
logo de que manicômio tu saiu.
Os policiais voltam a rir.
POLICIAL 1
Nós também temos uma missão a
cumprir. E vamos te emprestar nosso
cavalo sim.
Maique estica a mão como se fosse pegar as rédeas do cavalo.
POLICIAL 1 (cont.)
Nossa missão é te prender por
agressão e vamos te emprestar nosso
cavalo sim, mas vai ser pra você ir
em cima dele, amarradinho, até a
delegacia.
Policial 1 olha para Policial 2 e sinaliza para amarrá-lo.
Maique faz cara de entediado.
INT. DELEGACIA - NOITE
Benício está sentado a sua mesa e a sua frente está Maique,
Policial 1 e Policial 2.
BENÍCIO
Porra, agressão à velhinha? Nós
estamos quase em guerra e vocês o
prendem por conta disso?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 95.
POLICIAL 1
Perdão xerife.
POLICIAL 2
É, a gente não...
Benício interrompe.
BENÍCIO
Tá, tá, não tem problema. Podem ir.
Os dois policiais saem. Benício os olha saindo e volta-se
para Maique.
BENÍCIO (cont.)
Porra, poncho colorido? Sombreiro?
Você queria chamar atenção da
cidade toda?
Maique abaixa a cabeça, mas sua expressão é de que não
concorda com o sermão. Benício começa a balançar a cabeça
negativamente e aos poucos começa a rir de Maique. Maique
percebe que está sendo debochado e olha para Benício
entediado.
INT. CASEBRE - NOITE
Jason e Pablo estão em um pequeno casebre. Dentro do casebre
a escuridão é quase total, algumas janelas ajudam a iluminar
o local com a forte luz do luar. Jason e Pablo caminham
lentamente dentro do casebre com certo cuidado.
SOM de gemido.
JASON
O quê foi isso Pablo?
PABLO
Acho que pisei em algo.
JASON
(imitando sarcasticamente)
Acho que pisei em algo... Porra,
depois que falou com seu filho, tá
todo afrescalhado. Olha aí o que é.
Pablo olha nervoso para Jason. Se abaixa e vê uma perna
embaixo de uma mesa. Pablo puxa a perna e vê Primeiro.
PABLO
Primeiro? O que tu tá fazendo aqui?
Jason se surpreende e olha para Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 96.
JASON
Primeiro?
Primeiro se levanta tentando se limpar.
PRIMEIRO
É, sou eu mesmo.
Jason se aproxima sorridente.
JASON
O quê que houve?
Primeiro responde de cabeça baixa.
PRIMEIRO
Um dos, do bando de Savana quase me
pegou.
JASON
Quase pegaram a gente também. Quer
dizer, quase pegaram o Pablo. Eu
salvei ele.
Jason abre um largo sorriso, Primeiro o encara com expressão
séria. Jason fica sem graça.
JASON
É... Tu pretende ficar aqui também?
PRIMEIRO
E eu lá tenho lugar pra ficar?
JASON
Sei...
Pablo sai de perto dos dois.
JASON (cont.)
É... Essa casa parece ter vários
quartos. Vamo procurar um pra gente
ficar.
PRIMEIRO
Não preciso de sua ajuda.
JASON
Mas a gente...
Primeiro interrompe.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 97.
PRIMEIRO
E não quero sua companhia. Só vou
ficar aqui porque não tenho outro
lugar mesmo.
Jason olha para o chão e suspira.
JASON
Tá bem então.
Pablo ao fundo observa a cena e chama Jason.
PABLO
Vem Jason, tem um quarto aqui.
Jason olha para Primeiro que continua o encarando e responde
a Pablo.
JASON
Tô indo.
Jason se vira para Pablo e começa a caminhar lentamente de
cabeça baixa.
PRIMEIRO
Sabe o que me deixa mais nervoso
nessa história toda?
Jason para e devagar se vira para Primeiro.
PRIMEIRO
É saber que perdi um grande pai.
Primeiro começa a chorar contidamente.
PRIMEIRO (cont.)
Menti e traí um grande pai que
tive.
Jason começa a chorar contidamente olhando para Primeiro.
PRIMEIRO (cont.)
E agora não tenho nem coragem de
olhar nos olhos dele.
JASON
Seu pai sou eu.
PRIMEIRO
Não. Não é não. Tu me negou várias
vezes. Me negou quando me
abandonou, me negou quando te
perguntei.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 98.
Primeiro enxuga as lágrimas e sorri.
PRIMEIRO
Me negou ontem a noite. Me negou ao
ponto de colocar minha vida em
risco. Eu poderia ter morrido agora
a pouco, como em vários outros
momentos em que cumpria missão pra
vosmecê.
Jason abaixa a cabeça como se estivesse acatando o sermão de
Primeiro.
PRIMEIRO (cont.)
Tu não é, nem nunca será meu pai.
JASON
Tu tá certo.
Jason levanta a cabeça encarando Primeiro.
JASON (cont.)
Mas acho que todos nessa vida
merecemos uma segunda chance.
Jason começa a chorar de vez.
JASON (cont.)
Me dê essa segunda chance.
PRIMEIRO
Não sei se tu merece. E não seria
sua segunda chance, seria a
milésima.
Pablo ao fundo intervém.
PABLO
Ei Primeiro. Dá a chance, a
garantia é minha.
Primeiro olha para Pablo com expressão séria por um tempo e
em seguida volta a olhar para Jason.
PRIMEIRO
Será a última.
Jason sorri e se aproxima rapidamente de Primeiro de braços
abertos.
PRIMEIRO (cont.)
Sai, não quero seu abraço.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (5) 99.
JASON
Como assim filho?
PRIMEIRO
Você vai ter que merecer.
Jason olha para Pablo.
PABLO
Ele tá certo. Quem tem que correr
atrás agora é você. Agora vem
dormir.
Jason olha para Primeiro expressando um leve sorriso.
JASON
Tu não vai se arrepender.
PRIMEIRO
Assim espero.
PABLO
Anda homi!
JASON
Tô indo, tô indo.
Jason se vira e caminha até Pablo. Primeiro fica o olhando.
INT. DELEGACIA/ALOJAMENTO - NOITE
Há várias camas no alojamento. Boa parte do bando de Savana
está dormindo ali. Benício está dormindo em uma das camas.
Tuninho se aproxima dele e tenta acordá-lo.
TUNINHO
Acorda chefe, acorda.
Tuninho empurra Benício.
Benício começa a acordar. Benício olha para Tuninho ainda
sonolento.
BENÍCIO
Quê que foi homi?
TUNINHO
Tive uma ideia.
BENÍCIO
Arre égua, essa hora da madrugada?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 100.
TUNINHO
Sim e tenho que te falar agora.
BENÍCIO
Ah não, fala amanhã de manhã.
TUNINHO
Tem que ser agora chefe. Até amanhã
eu já esqueci.
Benício se levanta e senta-se na cama.
BENÍCIO
Fala cabra.
INT. CASEBRE - DIA
O dia amanhece. Pablo está abraçado a Jason. Jason acorda e
se assusta com o braço de Pablo o envolvendo.
JASON
Puta que pariu homi, sai de cima de
mim.
Pablo acorda assustado mas, logo percebe a cena e começa a
sorrir para Jason.
PABLO
Ah Jason, já faz tanto tempo que
estamos juntos que pensei que a
gente era mais íntimo.
Jason se levanta rapidamente.
JASON
Tá é doido homi?
Pablo ri ainda mais alto. Primeiro está em pé atrás de uma
mesa passando um café e também ri da cena.
Jason percebe o riso de Primeiro, olha para ele e ri também.
PABLO
O que tu fez pra gente Primeiro?
PRIMEIRO
Achei um bule e um resto de pó de
café. Tô tentando fazer alguma
coisa aqui.
Jason se aproxima de Primeiro, pega um xícara na mesa e
aponta para o bule.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 101.
JASON
Posso?
Primeiro o olha não gostando da atitude.
PRIMEIRO
Pode.
Jason serve o café na xícara e toma.
JASON
Está bom. Forte do jeito que eu
gosto.
Primeiro alivia um pouco sua expressão.
PRIMEIRO
Também gosto assim.
Os dois ficam se olhando em um clima ameno.
PRIMEIRO (cont.)
Bom. Tenho que ir.
Primeiro pega uma bolsa embaixo da mesa e coloca nas costas.
Jason olha para Pablo como se estivesse pedindo algo a ele.
Pablo se levanta.
PABLO
É, Primeiro! Eu e seu pai...
Primeiro olha seriamente para Pablo.
PABLO (cont.)
Bom, eu e o Jason. A gente
conversou ontem à noite, e vimos
que a melhor forma de tu perceber
essa mudança nele, é estando perto
dele.
PRIMEIRO
E o quê que isso significa?
PABLO
Significa que a gente quer que tu
continue com a gente.
PRIMEIRO
Continuar com vocês? Eu já quase
morri várias vezes por vocês. Quero
viver minha vida, vou sair dessa
cidade e ir pra bem longe daqui, e
tem mais, como tu mesmo falou
(MAIS)
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 102.
PRIMEIRO (cont.)
ontem, ele se quiser que corra
atrás.
Primeiro se vira, abre a porta e SAI.
PABLO
É que a gente...
Pablo olha para Jason.
PABLO (cont.)
O moleque tá irredutível.
JASON
Irrê o quê?
PABLO
Ah esquece.
JASON
Eu que sou americano e tu que fala
difícil?
Pablo se aproxima de Jason.
PABLO
Vai continuar brincando ou vai
atrás do seu filho?
JASON
Calma. Eu sei de um jeito de ajudar
ele e que vai ajudar a gente
também.
INT. BAR - DIA
O bar está praticamente vazio. Rocha está bebendo sozinho em
um banco isolado. Pedro está encostado no balcão e conversa
com Cabelo.
PEDRO
Esse cabra aí não fala nada né?
CABELO
Quem?
PEDRO
Aquele lá atrás?
Pedro aponta para Rocha.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 103.
CABELO
Nunca vi ele falar nada.
PEDRO
E Rocha é o sobrenome dele?
CABELO
Nem sei, provavelmente é por causa
de que ele não fala nada. Parece
uma rocha.
Os dois sorriem.
Rocha sinaliza para Cabelo, pedindo mais uma cerveja.
CABELO (cont.)
Ah lá, pediu mais uma.
Cabelo vai até o barril enche um copo e caminha até Rocha.
Cabelo deixa a cerveja em cima da mesa e sai. Rocha
permanece olhando para frente.
Cabelo se aproxima de Pedro e vai para trás do balcão.
CABELO (cont.)
Esquisito...
Pedro sorri.
EXT. RUA DO BAR - DIA
Jason e Pablo estão cavalgando tranquilamente e olhando
várias pessoas nas ruas, que reagem normalmente a presença
dos mesmos.
PABLO
Estranho né?
JASON
A cidade inteira atrás da gente e
ninguém nem tenta nos parar.
PABLO
Isso não tá me cheirando bem. Tem
certeza que ninguém viu o Primeiro
roubando os cavalos?
JASON
Tenho.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 104.
PABLO
E será que ele fugiu mesmo?
JASON
Foi o que eu falei pra ele. Pega
três, fica com um pra tu e some.
Ele tava doido pra fugir mesmo.
PABLO
Não tá arrependido de deixar seu
filho ir embora assim?
JASON
Jamais seria um bom pai pra ele.
PABLO
E nem se esforçaria pra isso?
JASON
Não sei, só sei que agora não é
hora de falar sobre isso.
INT. DELEGACIA - DIA
Benício está sentado a sua mesa, e expressa preocupação, a
sua frente estão Petiço, Vitor, Maique, e João, todos também
parecem estar preocupados.
Tuninho ENTRA apressadamente.
Todos se alertam.
BENÍCIO
Então Tuninho, tudo certo?
TUNINHO
Sim senhor, tudo ok.
Todos parecem estar aliviados com exceção de João que começa
a andar de um lado para o outro.
JOÃO
Só espero que dê certo esse plano.
Aqueles cavalos foram duros para se
adestrar.
Benício sorri e olha para João.
BENÍCIO
Vai dar tudo certo João, confia. E
vamos trazer de volta seus cavalos.
Tudo isso faz parte do plano.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 105.
JOÃO
Mas tinha que ser logo os melhores?
BENÍCIO
Ele tinha que roubar cavalos
obedientes, se fossem ariscos o
plano iria por água abaixo.
Benício se levanta e abraça um por um de seus companheiros.
Em seguida se encosta em sua mesa olhando para cada um
deles.
BENÍCIO (cont.)
Leõs, esse é o nosso momento.
Estamos perto de acabar de vez com
os maiores criminosos da nossa
região. Portanto, façam tudo como
combinamos, nosso Padim Ciço e
nossa Virgem Maria vai nos abençoar
e nossa missão será cumprida.
Sucesso a todos.
Todos aplaudem as palavras do xerife.
INT. BAR - DIA
Rocha continua bebendo solitariamente. Pedro e Cabelo
continuam encostados no balcão conversando.
Rocha se levanta e faz sinal para Cabelo fechar a conta.
CABELO
Anotar?
Rocha sinaliza positivamente com a cabeça e SAI.
Cabelo anota e volta-se para Pedro.
CABELO
Não falei? Ele não diz uma só
palavra.
EXT. RUA DO BAR - DIA
Rocha está em frente ao bar e acende um cigarro.
Aproximam-se de Rocha, ainda cavalgando, Jason e Pablo.
Rocha encara os dois.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 106.
JASON
Olha aí homi. Não foi esse cabra
que te assombrou naquela noite?
PABLO
Ôxi, foi esse daí mesmo. Vamo
passar direto antes que nos assuste
de novo.
Os dois começam a galopar.
A dupla passa galopando por toda a rua do bar até ser
surpreendida por uma árvore caída no fim da rua. Os dois
continuam a galopar. Pablo consegue saltar a árvore, mas é
alvejado por um tiro dado por Maique, escondido no mato ao
lado da rua. Pablo cai.
Jason também salta em meio a vários disparos em sua direção,
mas consegue se livrar da emboscada e aumenta distância do
obstáculo.
Rocha vê tudo de longe e prepara seu estilingue.
Pablo se levanta e começa a atirar em direção ao bando de
Savana que está escondido no matagal em volta da rua. Pablo
corre em direção a seu cavalo, parece sentir dor, o alcança
e o monta.
Rocha dispara seu estilingue em direção a Jason.
Jason é alvejado na cabeça, cai de de cara no chão e não
esboça reação. Pablo passa a galope por Jason, o olha e faz
o sinal da cruz.
Ao fundo está Guará rodeado de lobos. Guará está sentado
tomando tereré, bebida típica do Mato Grosso do Sul. Guará
sinaliza para os lobos avançarem. Os lobos cercam o corpo de
Jason, começam a uivar e a mordê-lo arrancando pedaços.
INT. BORDEL - NOITE
Benício está sentado em um grande sofá rodeado de mulheres.
Alemão se aproxima acompanhado de Antônia. Antônia se senta
no colo de Benício. As outras mulheres olham para Antônia
com olhar de desfeita e saem. Benício as olham indo embora e
sorri. Antônia puxa o rosto de Benício para sua direção e o
beija.
ANTÔNIA
Está feliz hoje?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 107.
BENÍCIO
Sim. Vencemos um grande inimigo.
ANTÔNIA
Acabou a guerra então?
BENÍCIO
Ainda não. Foi só mais uma batalha.
Mas uma importante batalha.
ANTÔNIA
Hum, que bom. Vamos comemorar?
Benício sorri para Antônia.
BENÍCIO
Claro.
Benício pega Antônia no colo e a carrega em direção a um
quarto.
Do outro lado, em outro sofá, está João. João também está
rodeado de mulheres. Em seu colo está Josefina, os dois se
beijam muito, mas João expressa preocupação.
JOSEFINA
O que houve? Ainda tá preocupado
com seus cavalos.
JOÃO
Tô.
JOSEFINA
Acho que você precisa se divertir
pra esquecer isso. Até seu chefinho
já foi pro quarto. Que tal irmos
também?
João abaixa a cabeça, ainda preocupado.
JOÃO
É, boa ideia.
Josefina levanta o rosto de João o olhando nos olhos.
JOSEFINA
Vamos, você vai se divertir.
Aproveito que nosso relacionamento
é aberto e convido minhas amigas
também.
João olha todas as mulheres ao seu redor e começa a abrir um
largo sorriso. Josefina puxa novamente o rosto de João para
sua direção.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 108.
JOSEFINA (cont.)
Vamos?
João sinaliza positivamente com a cabeça sorrindo.
INT. BAR - NOITE
No bar está grande parte do bando de Savana. Do lado de
dentro do balcão estão Cabelo e Pedro servindo a todos, nas
mesas próximas ao balcão estão Rocha, Petiço, Maique e
Vitor.
Petiço se aproxima do balcão e pede mais uma a Pedro.
PETIÇO
Então depois de xerife se é
promovido a Chopeiro?
Pedro sorri.
PEDRO
Nunca vi esse bar tão cheio, e numa
ocasião especial como essa é uma
honra ajudar meu amigo aqui.
Pedro dá uns tapinhas nas costas de Cabelo, que
apressadamente serve vários clientes. Petiço sorri.
PETIÇO
Tá certo, tá certo. Me vê mais uma
rodada.
PEDRO
Pra todos?
PETIÇO
Isso. A saideira.
Pedro pega quatro copos e os enche, colocando todos no
balcão a disposição de Petiço. Petiço sorri e sinaliza
positivamente com a cabeça para Pedro, pega os copos e se
dirige a mesa em que se encontram seus companheiros.
Petiço coloca todos os copos na mesa. Todos pegam seus copos
e os erguem.
MAIQUE
Que nossos fuzis e pistolas
continuem a assegurar nossa
integridade.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 109.
VITOR
Que nossos planejamentos continuem
sendo bem elaborados e bem
executados.
PETIÇO
Que nossos cavalos continuem a nos
obedecer e nos levem a vitória.
ROCHA
Que nossas mentes pensantes nunca
parem de trabalhar.
Todos do bar fazem silêncio e imediatamente olham para
Rocha.
Ao fundo Cabelo comenta com Pedro.
CABELO
(sussurrando)
Ele falou?
PEDRO
(sussurrando)
Sim.
Rocha sorri e toma toda sua cerveja, em seguida bate seu
copo na mesa e SAI. Todos permanecem em silêncio,
espantados.
EXT. RUA DO BAR - NOITE
Em frente ao bar Rocha sorri e olha para o céu. SOM de
galope de cavalo. Pablo passa rapidamente por Rocha e
dispara em sua direção. Rocha cai, seu peito sangra e o
mesmo agoniza no chão.
Ao fim da rua Pablo se encontra com Primeiro também a
cavalo.
PABLO
Queria te agradecer por tudo que
fez por nós.
PRIMEIRO
Meu pai se foi?
PABLO
Sim, já não tá mais entre nós.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 110.
PRIMEIRO
O senhor vai pra onde agora?
PABLO
Não sei. Só sei que não devemos ir
ao mesmo lugar.
PRIMEIRO
Eu vou por aqui.
Primeiro aponta para uma estrada a sua direita.
PRIMEIRO (cont.)
Espero não ter que voltar mais a
esta cidade.
PABLO
Tu tá certo. Também não quero
voltar mais aqui.
Os dois se olham e partem, para lados diferentes. Ao fundo
Gurizinho vê tudo.
INT. BAR - NOITE
Todos bebem e conversam, Gurizinho ENTRA, afobado.
GURIZINHO
Pessoal! Pessoal!
Aos poucos o silêncio toma conta do bar.
GURIZINHO
Tenho duas más notícias pra vocês.
Primeiro realmente ajudou o trio da
maldade, ele partiu com um de
nossos cavalos.
PETIÇO
Sei de alguém que vai ficar muito
bravo com isso.
GURIZINHO
Pablo ainda está vivo e também
fugiu. Parece que está na cidade,
pela direção que tomou.
MAIQUE
Temos que ir atrás dele.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 111.
GURIZINHO
Mas o pior vem agora. Rocha foi
morto por Pablo quando saía daqui.
Todos se assustam e começam a comentar o fato.
EXT. CEMITÉRIO - DIA
Benício, Petiço, João, Pedro, Carlos, Tuninho, Cabelo,
Vitor, Maique, Guará, Alemão, Josefina e Antônia acompanham
o cortejo fúnebre. O corpo de Rocha é levado em um caixão,
dentro de uma charrete, puxada pelos lobos de Guará.
Rocha é enterrado. Todos SAEM, somente Guará permanece.
Guará deixa um estilingue sobre a lápide de Rocha. Guará
começa a chorar. Ao fundo o COVEIRO, careca, bigodudo, se
aproxima.
COVEIRO
Sei que é triste, mas o xerife
pediu pra eu escrever umas coisas
na lápide desse homi.
Guará olha para o Coveiro, ainda chorando, se levanta e se
afasta da lápide.
O Coveiro joga cimento fresco em volta da lápide e Guará
chora ao fundo. O Coveiro com um martelo e uma pedra escreve
na lápide.
Guará tenta conter o choro, se vira, chama seus lobos que
estavam escondidos atrás de árvores, e começa a deixar o
cemitério.
O coveiro se levanta e se dirige a Guará.
COVEIRO (cont.)
Meu salário não é muito aqui. Acho
que posso fazer mais se estiver com
vocês.
Guará olha para trás, e sinaliza positivamente com a cabeça.
O Coveiro sorri.
112.
INT. DELEGACIA - DIA
ENTRAM Benício, Petiço, João, Pedro, Carlos, Tuninho,
Cabelo, Vitor, Maique, Alemão, Josefina e Antônia. Todos
estão de cabeça baixa e lamentam a morte de Rocha.
BENÍCIO
Não acredito que ele pegou logo o
Rocha.
PETIÇO
Não esperava coisa muito diferente.
Foi o Rocha que matou o amigo dele.
JOÃO
É, mas o cabra tinha acabado de
entrar na guerra.
PEDRO
Bandido não perdoa ninguém. Se tá
do outro lado, é inimigo.
CARLOS
O Primeiro acho que não volta nunca
mais.
JOÃO
E ainda ficou com meu cavalo.
CARLOS
Me desculpe.
Carlos começa a chorar. João olha para Carlos, se aproxima e
o abraça.
JOÃO
Calma homi, a culpa não é sua.
Gurizinho ENTRA.
MAIQUE
Alguma novidade Gurizinho?
GURIZINHO
Nada.
PETIÇO
É, a coisa tá feia pessoal.
TUNINHO
Não tá não.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 113.
Todos que estão de cabeça baixa erguem seus olhares para
Tuninho. O abraço entre Carlos e João é desfeito e Carlos
contém o choro.
TUNINHO
Arre égua, tem pouco tempo que a
gente tava comemorando uma de
nossas maiores vitórias. Agora só
porque algo não deu certo vamos
desistir de tudo? O Rocha foi um
grande companheiro, um membro
essencial do nosso grupo. Sua morte
foi uma perda muito forte e
surpreendente. Todos estamos
abalados, mas não é por isso que
devemos desistir. A guerra
continua. E se ele estivesse aqui,
também iria querer isso.
BENÍCIO
Tuninho está certo. A guerra tem
que continuar, e a vitória será
nossa.
MAIQUE
É isso aí pessoal. Vamos nos
reerguer porque ainda temos uma
grande batalha pela frente.
VITOR
E eu sei onde Pablo pode estar.
EXT. RUA DA IGREJA - NOITE
Em frente a igreja estão Benício, Petiço, João, Pedro,
Tuninho, Vitor e Maique, todos em seus cavalos.
BENÍCIO
Será que ele ainda está aí?
VITOR
Com certeza chefe. Ele não tem pra
onde ir. Sua razão de viver está
aqui.
MAIQUE
Vitor tem razão chefe. E acho que a
gente tem que invadir.
TUNINHO
Não acho certo invadir uma igreja.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 114.
JOÃO
Mas é por uma boa causa.
Todos riem.
NÍCOLAS (O.S.)
Também não acho certo invadirem a
igreja.
Todos se assustam e olham para trás.
NÍCOLAS, gordo, dentuço, se aproxima em meio a escuridão.
BENÍCIO
Nícolas? O que você tá fazendo aqui
homi?
NÍCOLAS
Não é certo invadir a igreja, até
porque ele não está aí.
JOÃO
Ôxi, quem é esse?
PETIÇO
Nícolas já trabalhou conosco. Era
um dos nossos espiões.
Benício olha para todos a sua volta.
BENÍCIO
Se Nícolas está falando ele deve
ter razão pessoal.
MAIQUE
Não acho isso certo. Confiar em
alguém que não é do grupo.
VITOR
Também não concordo. Acho que a
gente devia pelo menos invadir para
ter certeza.
BENÍCIO
Mas não vai ser assim. Tuninho, se
aproxime da igreja e bata na porta.
Tuninho começa a se aproximar com seu cavalo.
BENÍCIO (cont.)
Tuninho.
Tuninho para e olha para Benício.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 115.
BENÍCIO (cont.)
Sem o cavalo.
Tuninho desce do cavalo e se aproxima da igreja.
Tuninho bate duas vezes na porta.
BENÍCIO (cont.)
Ouve alguma coisa?
TUNINHO
Não senhor.
BENÍCIO
Pois bem. Já é o suficiente.
Vitor e Maique se olham e balançam a cabeça negativamente.
NÍCOLAS
Ele não voltaria para o mesmo
lugar. É um bandido experiente,
sabe que estão atrás dele.
JOÃO
E como tu soube de tudo isso?
NÍCOLAS
Eu sempre quis ajudá-los. Quando
fiquei sabendo da operação comecei
a pesquisar e investigar o
paradeiro de Pablo e sei onde ele
está.
BENÍCIO
Tá certo Nícolas. Sobe na minha
garupa e leva a gente lá.
Tuninho volta e monta seu cavalo.
Benício sai a galope e o restante do bando de Savana o
segue. Atrás ficam João, Maique e Vitor.
JOÃO
(sussurrando)
Isso não vai dar certo.
INT. CASEBRE - NOITE
Pablo e Rafael conversam, sentados a uma mesa a luz de
velas.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 116.
PABLO
Foi isso meu filho. Acho que já te
expliquei tudo.
RAFAEL
Eu entendi.
Rafael se levanta.
RAFAEL (cont.)
Como cristão é minha obrigação te
perdoar. Mas tudo seria muito mais
fácil se o senhor tivesse desistido
dessa ideia.
PABLO
Eu sei meu filho, eu sei...
BENÍCIO(O.S.)
Saia daí Pablo! Sabemos que tu tá
aí!
Rafael se assusta e arregala os olhos para Pablo.
RAFAEL
E agora?
PABLO
Não sei o que fazer.
RAFAEL
Acho melhor você se render.
BENÍCIO(O.S.)
Se não sair, iremos invadir!
Rafael se aproxima da porta e leva sua mão a maçaneta.
Pablo sinaliza negativamente com a cabeça para Rafael.
Rafael abre a porta.
EXT. FRENTE DO CASEBRE - NOITE
Benício, Petiço, João, Pedro, Tuninho, Vitor e Maique estão
em seus cavalos a postos.
JOÃO
Ainda bem que aquele louco estava
certo. Falando nisso cadê ele?
João olha ao seu redor como se procurasse algo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 117.
PETIÇO
Ele foi embora seu burro. Ele é um
espião, não pode ficar dando as
caras por aí.
Pablo sai pela porta com as mãos erguidas.
PABLO
Então tiveram a ajuda de um espião
para me achar? Não sabia que era
tão bom de esconde-esconde.
BENÍCIO
Pois bem Pablo. Pode abaixar as
mãos. Como sei que é um bandido que
se honra, não vai querer resolver
isso de outra maneira, senão em um
duelo.
Benício salta de seu cavalo, retira seu cinto e seu coldre,
os joga no chão e fica apenas com sua pistola em mãos.
BENÍCIO (cont.)
Vamos homi. Vamos resolver isso de
uma vez.
Pablo retira seu chapéu, e o joga no chão, retira seu cinto
e seu coldre, ficando apenas com a pistola em mãos.
Todos do bando de Savana engatilham suas pistolas. Benício
levanta uma das mãos enquanto caminha em direção a Pablo.
BENÍCIO (cont.)
Não! Esse é um duelo entre dois
homens. Não quero covardia.
Todos do bando guardam suas pistolas. Benício para a uma
pequena distância de Pablo.
Pablo retira todas as munições de sua pistola, deixando
apenas uma, e a engatilha. Rafael sai pela porta fazendo o
sinal da cruz e olhando para Pablo.
Petiço sinaliza para que Rafael se aproxime dele.
Rafael passa apressadamente por Pablo e Benício e se junta
ao bando de Savana.
BENÍCIO (cont.)
Quer que seja aqui mesmo?
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 118.
PABLO
Por mim tanto faz. Já estou velho
para ficar de enrolação.
Benício se vira de costas para Pablo e caminha até seu
bando. Pablo, sorrindo, começa a erguer sua pistola, olhando
para as costas de Benício. Petiço e Tuninho apontam
rapidamente suas espingardas para Pablo.
PETIÇO
Tu não seria maluco de fazer isso.
PABLO
Claro que não. Perderia toda a
graça.
Pablo dá uma leve gargalhada enquanto abaixa sua pistola.
BENÍCIO
Maluco estão vocês, guardem estas
espingardas.
Petiço e Tuninho guardam suas espingardas e o bando se
dispersa.
Benício para e se vira para Pablo.
Os dois se encaram de longe. Benício engatilha sua pistola.
Pablo ainda sorri enquanto passa o dedo sobre o gatilho de
sua pistola.
Benício ergue vagarosamente sua pistola, apontando-a para
Pablo. Pablo faz o mesmo.
PABLO
Sabe homi? Tenho duas boas notícias
pra você e todo seu bando.
Benício se mantém concentrado.
BENÍCIO
Fale.
PABLO
A primeira é que vocês realmente me
pegaram. Não quero duelar. Eu me
rendo.
Pablo abaixa sua pistola.
Benício e todos do bando estranham a atitude de Pablo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (4) 119.
BENÍCIO
Se rende?
Pablo para de sorrir e volta olhares para Rafael.
PABLO
Sim. E a segunda notícia boa, é que
vocês não irão me ver nunca mais.
Pablo ergue sua pistola rapidamente até sua cabeça e
dispara. Pablo cai.
Rafael corre até o corpo de Pablo.
RAFAEL
(chorando)
Pai!
Rafael abraça o corpo de Pablo e chora muito.
Benício olha para trás espantando com o que acabou de ver.
BENÍCIO
O quê? O que é que ele fez?
Todos do bando estão estarrecidos com a cena que acabaram de
presenciar.
EXT. CEMITÉRIO - DIA
Guará segura e olha para uma lápide enquanto conversa com
Coveiro ao lado de um grande buraco.
GUARÁ
Tu fez um grande trabalho. Ele foi
um dos piores bandidos da região,
mas o padre Rafael não merecia
passar por isto.
O Coveiro sorri.
COVEIRO
Eu disse senhor. Que poderia ser
útil ao lado de vocês.
O coveiro olha para trás e percebe a chegada do cortejo
fúnebre.
COVEIRO (cont.)
Agora o senhor me dá licença, que
as famílias não gostam que eu fique
perto na hora do funeral.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 120.
Guará também vê o cortejo e deixa a lápide no chão.
GUARÁ
Também estou indo.
O Coveiro segue por um lado e Guará por outro.
Ao fundo está Primeiro ajoelhado e rezando sobre o túmulo de
Jason.
PRIMEIRO
E livrai-nos do mal, Amém.
Primeiro faz o sinal da cruz, retira uma rosa de trás da
camisa e deixa sobre a lápide de Jason.
Primeiro percebe a aproximação do cortejo fúnebre e se
levanta despedindo-se de seu pai.
PRIMEIRO (cont.)
Agora tenho que ir. Adeus pai, te
amo.
Guará continua caminhando e vê Primeiro passar por ele a
cavalo. Ao fundo Rafael e alguns ajudantes carregam o caixão
de Pablo. Rafael chora muito.
EXT. FUNDOS DA DELEGACIA - DIA
Petiço está selando seu cavalo e de seu rosto escorre uma
lágrima. Benício se aproxima.
BENÍCIO
Tem certeza que quer fazer isso
homi?
Petiço termina de selar seu cavalo e olha para Benício.
PETIÇO
É chefe, o senhor sabe que esse
sempre foi meu sonho. Antes mesmo
de ser policial eu já sonhava em
ter minha própria criação de
cavalos. E trabalhar na maior
coudelaria da região, pra mim é uma
proposta irrecusável.
BENÍCIO
Eu sei como é. Tem que ser assim
mesmo cabra. Sempre correr atrás de
seus sonhos.
Benício e Petiço se abraçam e o último começa a chorar.
121.
INT. BAR - DIA
O bar está vazio, somente Cabelo atrás do balcão e Pedro a
sua frente.
CABELO
Pelo jeito só a gente vai ficar na
mesma.
PEDRO
Como assim?
CABELO
Ué como assim... Todo mundo ta
mudando de vida.
Cabelo ri, em seguida, Pedro também.
PEDRO
Tá certo, tá certo. Só a gente
mesmo...
Carlos ENTRA.
CARLOS
Só tu o que?
Pedro e Cabelo olham para Carlos, os dois sorrindo.
PEDRO
Que fazes aqui cabra?
CABELO
Aqui não é lugar pra tu Carlos.
Aqui só tem vagabundo.
Pedro e Cabelo riem ainda mais.
Carlos se aproxima, também sorrindo.
CARLOS
Então acho que está na hora de eu
entrar pra esse grupo.
Pedro e Cabelo ficam sérios olhando um para o outro e em
seguida olham de volta para Carlos.
PEDRO
Como assim homi?
CARLOS
Me aposentei senhores.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 122.
CABELO
Aposentou?
CARLOS
Na verdade vendi tudo para o
Corredor. Ele sempre foi muito
esperto, economizou a vida toda e
teve grana o suficiente para pagar
o que pedi.
CABELO
Ele que vai ficar com a agência
agora?
CARLOS
Isso mesmo.
PEDRO
É verdade, aquele moleque realmente
é muito esperto. Pode transformar
sua agência em algo muito grande.
CARLOS
Tenho certeza disso, mas não é mais
minha agência.
Carlos encosta-se no balcão e sinaliza para Cabelo.
CARLOS (cont.)
Falando nisso. Me vê duas aí
Cabelo. Uma pra mim e outra pro meu
mais novo companheiro de bar.
INT. AGÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIAS - DIA
Corredor está do lado de dentro do balcão carimbando alguns
papéis e atendendo várias pessoas ao mesmo tempo. Ao fundo
há um ajudante, JORGE, jovem, também carimbando vários
papéis.
CORREDOR
Jorge! Já te falei pra ir rápido
com isso!
BENÍCIO (V.O.)
Pedro estava certo. Corredor criou
a maior agência de correspondências
do país e deu a ela um nome em sua
própria homenagem.
123.
INT. PREFEITURA/SALÃO PRINCIPAL - DIA
À mesa, estão sentados Marciello e MÁRCIO, jovem, seu filho.
a frente dos dois estão Maique, Vitor e Tuninho.
MARCIELLO
Pois bem senhores. Como já sabem,
meu filho foi eleito esse ano.
Marciello olha para Márcio e lhe aperta as bochechas.
MARCIELLO
(voz de criança)
Orgulho do papai.
Márcio dá um tapa na mão de Marciello e se recompõe em sua
cadeira, mantendo uma expressão séria.
MÁRCIO
Para com isso pai.
Marciello volta olhares para os três a sua frente e fica
sério.
MARCIELLO
Voltando. No início do ano passarei
o comando dessa cidade a essa
coisinha fofa do meu lado.
Márcio olha para Marciello.
MÁRCIO
Pai...
MARCIELLO
Desculpa filho. Então, quero que
vocês mantenham com ele, o mesmo
que fizeram por mim.
Marciello se levanta.
MARCIELLO
E lembrem-se, não sou mais o
prefeito, mas ainda tenho muito
poder nessa cidade. Portanto, me
assegurem que meu filho estará bem
em suas mãos.
TUNINHO
O senhor pode ficar tranquilo
prefeito.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 124.
MARCIELLO
Pois bem, estão dispensados.
Os três sinalizam com a cabeça positivamente e caminham até
a porta.
Marciello se volta para Márcio.
MARCIELLO (cont.)
(voz de criança)
Quem é o prefeitinho do papai? Quem
é? Quem é?
Márcio se levanta e sai andando.
MÁRCIO
Ah pai, para com isso.
INT. PREFEITURA/CORREDOR - DIA
Tuninho, Maique e Vitor caminham pelo corredor vazio da
prefeitura. Os três estão rindo.
TUNINHO
Eu sempre me segurei pra não rir
desse cara.
MAIQUE
Ainda bem que não teremos que
trabalhar diretamente com ele
agora.
VITOR
Mas vai ser praticamente com ele.
Não duvido nada que ele deu um
jeitinho do filho dele se tornar
prefeito.
MAIQUE
Pior que é verdade.
TUNINHO
Nesse país não duvido de nada
também.
EXT. FEIRA DA CIDADE - DIA
Entre várias barracas se encontra Guará. Guará está dentro
de uma barraca com vários sacos de ervas, do lado de fora,
presos a barraca, estão seus lobos.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 125.
GUARÁ
Vem, vem comprar, a erva do Guará!
Hugo se aproxima.
HUGO
Tudo bem homi?
GUARÁ
Tudo, do que vosmecê precisa?
HUGO
É o seguinte. Tô tendo uns
probleminhas de estômago.
Guará pega um saquinho de erva.
GUARÁ
Ah, sim. Temos o capim-santo. Ótimo
para problemas digestivos.
HUGO
É, acho que é esse mesmo que vou
levar. Quanto tá?
Guará começa a encarar Hugo.
GUARÁ
Espera aí. Tu não é o maquinista do
trem.
HUGO
Eu era sim. Por quê?
GUARÁ
Não foi tu que ajudou a gente a
pegar o trio da maldade?
HUGO
Tu também tava nessa?
Guará sorri e oferece a erva para Hugo.
GUARÁ
Ôxi homi. Tu é do mesmo bando que
eu. Pra tu a erva é cortesia da
casa.
Hugo sorri de volta para Guará e pega a erva das mãos do
mesmo.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (3) 126.
HUGO
Agradecido.
Hugo se vira e sai andando.
GUARÁ
Qual o próximo horário do trem pra
capital?
HUGO
Sete e meia.
GUARÁ
Eu saio daqui as sete, se eu me
atrasar o senhor me espera?
Hugo para e se vira para Guará.
HUGO
Não será possível. Não sou mais
maquinista.
Hugo caminha até Guará que, mantém uma expressão triste.
HUGO (cont.)
Mas por que precisa ir pra capital?
GUARÁ
É de lá que trago a maioria das
minhas ervas.
HUGO
Toma isso.
Hugo entrega um cartão para Guará.
GUARÁ
O que é isso?
HUGO
Um passe livre.
GUARÁ
Passe livre?
HUGO
Isso. Eu sou o novo secretário de
transportes de Savana. Com esse
cartão tu podes transitar em todos
os trens da região.
Guará sorri.
127.
INT. IGREJA - DIA
A igreja está lotada. No altar está Benício vestido de noivo
ao lado do padre Rafael. Nas duas primeiras fileiras de
bancos estão os padrinhos, João e Josefina, ao lado dos
mesmos, todo o bando de Savana.
SOM de música de casamento. Antônia e Alemão ENTRAM. Antônia
está em um vestido branco de noiva e Alemão a leva até o
altar.
Antônia está chorando e ao se aproximar do altar começa a
sorrir. Alemão entrega Antônia a Benício. Benício
cumprimenta Alemão, retira o véu de Antônia e a beija na
testa. Os dois se dão as mãos e se ajoelham em frente ao
padre Rafael.
BENÍCIO (V.O.)
Pois é, como todos merecem um final
feliz. Esse foi o meu.
EXT. IGREJA - DIA
Benício sai acompanhado de Antônia. Ao redor dos dois, do
lado de fora, várias pessoas jogam arroz nos mesmos. Benício
e Antônia sorriem.
João se aproxima de Alemão.
JOÃO
(sussurrando)
E aquele nosso negócio ainda está
de pé?
ALEMÃO
Só depende de tu. E tu sabe muito
bem que nenhum negócio vai pra
frente se o comerciante comer toda
mercadoria.
JOÃO
Que isso cabra, eu sou fiel.
Alemão olha para Josefina que está abraçada a Antônia.
ALEMÃO
Tomara que seja mesmo ou, vai
acabar com meu bordel.
João sorri e estica a mão para Alemão que, permanece sério,
mas aperta a mão de João. Ao fundo Benício se aproxima de
Rafael.
(CONTINUA)
CONTINUANDO: (2) 128.
BENÍCIO
Então, quando o senhor parte?
RAFAEL
Vou depois de amanhã. A nomeação
ocorrerá na capital.
BENÍCIO
Frei Rafael.
Rafael sorri olhando para Benício.
RAFAEL
Isso mesmo, secretário de
segurança.
Benício sorri e abraça Rafael.
BENÍCIO (V.O.)
E assim a vida continuou tranquila
em Savana por muito tempo...
EXT. ESTRADA DE SAVANA - DIA
LETREIRO: DEZ ANOS DEPOIS.
Primeiro, mais velho, passa a galope em um cavalo, sendo
perseguido por Gurizinho, também mais velho e a cavalo, com
um estrela de xerife na camisa.
FIM.