Livro 3 - Populacoes Mineiras - Parte 2

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    V - PASSAGEM DE MARIANA

    Neste distrito, colocado estrategicamente entre Mariana e Vila Rica, a lide mineratriaestabeleceu-se desde os primrdios da ocupao de Minas. Em Passagem, comoveremos, o urbano impunha-se mais claramente do que nos ncleos at agora

    analisados neste captulo.

    1 - ESTRUTURA POPULACIONAL

    Em 1804 ali residiam 1.163 pessoas. Pouco menos de dois teros (63,3%) tratava-se delivres, os restantes 36,7% correspondiam a cativos. Os agregados constituam menos deum dcimo dos livres (exatamente 7,2%). (9) Para estes ltimos, homens e mulheres,equilibravam-se numericamente: 50,8% relativos a estas e 49,2% concernentes queles.J para os mancpios encontramos participaes muito discrepantes: 64,9% deelementos do sexo masculino em face de 35,1% de mulheres. V-se, pois, que opredomnio dos homens (54,9%) na populao total decorria da maior freqncia deles

    na massa escrava (Cf. tabela 65 do A.E.). Destas propores resultaram razes demasculinidade diferentes para escravos e livres: 184,67 e 96,79, respectivamente. Para apopulao total este indicador evidencia a preponderncia masculina (121,95 homenspara cada grupo de 100 mulheres) devida, como explicitado acima, ao maior peso dosexo masculino na massa cativa.

    Conforme se depreende do grfico e da tabela abaixo colocados, manifestava-se, noestrato dos livres, supremacia numrica feminina nas faixas etrias intermedirias--grosso modo dos 20 aos 60 anos.

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    GRFICO 13RAZO DE MASCULINIDADE POR GRUPOS DE IDADES

    (Passagem - 1804)

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    TABELA 29RAZO DE MASCULINIDADE ENTRE SOLTEIROS LIVRES

    (Passagem - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    0-4 131,585-9 137,93

    10-19 106,7420-29 95,1230-39 120,6940-49 72,0050-59 33,3360-69 61,5470-79 40,0080 e mais anos 66,67-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    O departimento dos habitantes de Passagem, segundo grandes faixas atarias, revela aexistncia de uma populao relativamente "jovem", pois, na faixa 0-19 anosencontramos 35,3% do total de pessoas; para os livres, como esperado, o peso relativorespeitante ao mesmo intervalo etrio mostrava-se maior -- 40,8% -- do que oconcernente aos escravos -- 26,0%. As crianas (0-14 anos) constituam 31,9% dos livrese 19,4% dos escravos; na faixa correspondente idade ativa (15-64 anos) colocavam-se79,0% dos cativos e 62,9% dos livres; os ancios (65 e mais anos) representavam 5,2%dos livres e 1,6% dos escravos. Definiam-se, destarte, dois segmentos populacionaisdistintos (Cf. tabelas 69 e 70 do A.E.).

    As consideraes ora expendidas, vem-se ilustradas pelas pirmides de idadesrelativas populao total e aos dois grupos aqui discriminados.

    GRFICO 14PIRMIDE DE IDADES - POPULAO TOTAL

    (Passagem - 1804)

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    GRFICO 15PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE

    (Passagem - 1804)

    GRFICO 16PIRMIDE DE IDADES - POPULAO ESCRAVA

    (Passagem - 1804)

    SOBRE A FILIAO DOS MENORES DE 14 ANOS

    Conforme j salientado no correr deste estudo, a condio de legitimidade condicionava-se pelo status econmico e situao social. Assim, para os escravos s encontramosfilhos naturais, entre os livres predominavam os legtimos (62,8%); para este ltimoestrato social determinavam-se dois grupos diversos: agregados -- com 50,0% de filhoslegtimos -- e "independentes", para os quais a legitimidade mostrava-se maisacentuada: 63,8% (Cf. tabela 30).

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    TABELA 30FILIAO (EM PORCENTAGEM) DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS DE IDADE

    (Passagem - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------LIVRES .

    FILIAO ESCRAVOS AGREGADOS "INDEPENDENTES" TOTAL TOTAL GERAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos --- 50,0 63,8 62,8 46,4Naturais 100,0 50,0 36,2 37,2 53,6TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    ESTRUTURA SEGUNDO O ESTADO CONJUGAL

    Entre os escravos s havia solteiros, nossas observaes, portanto, restringir-se-o aoslivres. Entre estes prevaleciam os solteiros (73,1%), os casa dos consistiam em 22,3% e

    aos vivos cabia a cifra de 4,6%. Discrepncias modestas distinguiam homens emulheres; assim, 74,6% deles eram solteiros em face de 71,7% de solteiras, os casadosrepresentavam 22,9% dos homens e 21,6% das mulheres, entre os vivos predominava osexo feminino: 6,7% versus 2,5%.

    Na faixa dos 20 aos 29 anos encontramos 15,2% de homens casados e 41,5% demulheres na mesma condio, disparidade esta a indicar que aqueles tendiam a contrairmatrimnio em idade mais avanada vis--vis estas ltimas.

    Por outro lado, as propores de solteiros entre homens e mulheres, segundo faixasetrias, corroboraram plenamente o acima posto (Cf. tabela 31).

    TABELA 31PORCENTAGEM DE SOLTEIROS LIVRES SEGUNDO SEXO E FAIXA ETRIA

    (Passagem - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------10-19 100,00 97,8020-29 84,78 70,6930-39 58,33 51,7940-49 48,65 45,4550-59 20,00 51,72

    60-69 36,36 50,0070-79 25,00 71,4380 e mais anos 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    II - ESTRUTURA DAS FAMLIAS E DOMICLIOS

    Das famlias existentes em Passagem, 87,5% correspondiam categoria"independentes": 83,5% relativos s dos chefes de domiclio, 2,3% s de seus filhos e1,7% s famlias de parentes desses chefes. As famlias de agregados alcanavam, to-somente, 4,0% do total, as de escravos 0,5% e as "pseudo famlias" 8,0% (Cf. tabela 73

    do A.E.).

    Em Passagem contamos, para os escravos, apenas um filho com menos de 20 anos aviver junto ao chefe da famlia; atenhamo-nos, pois, somente aos livras. Conforme atabela abaixo, os valores mdios -- segundo a faixa etria do chefe da famlia --aproximam-se dos referentes a Vila Rica e, com uma nica exceo, obedecem oordenamento imperante naquela urbe.

    TABELA 32NMERO MDIO DE FILHOS COM 20 OU MENOS ANOS,

    SEGUNDO A FAIXA ETRIA DO CHEFE DE FAMLIA LIVRES

    (Passagem - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXA ETRIA DO CHEFE DE FAMLIA NMERO MDIO DE FILHOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Menos de 25 anos 1,2525-34 1,6735-44 2,6145-54 2,1355-64 0,9365 e mais anos 0,40-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS. : Considerados, to-somente, filhos a viver com os pais.

    Para os domiclios predominava a estrutura simples: 31,4% relativos aos "singulares",3,8% queles "sem estrutura familiar" e 59,7% aos domiclios simples. As demaiscategorias -- complexas representavam, pois, apenas 5,1% dos domiclios de Passagem.Resulta, do acima posto, a preponderncia das famlias nucleares estabelecidas emdomiclios prprios.

    Mesmo considerada a presena de escravos e/ou agregados, mostrar-se-iammajoritrios os domiclios com estrutura simpies. Os grupos assinalados compareciamem 41,1% do nmero total de domiclios: em 30,5% contavam-se s escravos, em 3,4%apenas agregados a em 7,2% ambos segmentos.

    Em mdia, computaram-se 4,9 pessoas por domiclio. O nmero mdio de agregados eescravos, por domiclio -- considerados somente aquelas nos quais os encontrvamos --atingia, respectivamente, os valores 2,3 e 4,5.

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    III - ESTRUTURA SEGUNDO PROFISSES E ATIVIDADES PRODUTIVAS

    As caractersticas urbanas de Passagem refletiam-se nas profisses e atividadeseconmicas das pessoas para as quais especificaram-se ocupaes. Destarte, 70,4%vinculavam-se ao secundrio, 24,4% ao tercirio e apenas 5,2% ao primrio. Quanto aosecundrio, deve-se ressaltar a presena dominante dos mineradores: 67 sobre 150. Nos

    servios, a maioria repartia-se entre negociantes e tropeiros.

    Quanto ao sexo, mais de quatro quintos (85,9%) referiam-se ao masculino.

    Homens e mulheres concentravam-se no secundrio, devido, basicamente, fartarepresentao dos mineradores. Por outro lado, no primrio firmava-se a presenafeminina, contrariamente ao que ocorria entre os homens (Cf. tabela 33).

    TABELA 33DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES,

    SEGUNDO SETORES

    (Passagem - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 2,73 20,00Secundrio 72,13 60,00Tercirio 25,14 20,00

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Repartidos, conjuntamente, ambos os sexos, segundo setores, marcava-se asuperioridade feminina no primrio (roceiros, hortelos etc.); quanto aos outros setoresverificava-se ntida supremacia dos homens, devida ao maior nmero, no todo, deelementos do sexo masculino e distinta distribuio de homens e mulheres pelos trssetores (Cf. tabela 34).

    TABELA 34DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (Passagem - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 45,45 54,55 100,00Secundrio 88,00 12,00 100,00Tercirio 88,46 11,54 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Os poucos escravos para os quais se indicou atividade econmica vinculavam-se aosecundrio ou ao tercirio.

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    Na atividade agrcola, qual restringia-se o primrio, encontravam-se homens emulheres.

    No secundrio no compareceu atividade desenvolvida exclusivamente por mulheres, asquais desempenhavam apenas uma, das quinze ocupaes a arroladas: a demineradoras. Como as mulheres, os escravos exerciam reduzido nmero de atividades,

    as quais partilhavam com os livres: carvoeiros, ferreiros e sapateiros. Como dissemos,dominavam absolutamente, neste setor, os mineradores, seguidos por sapateiros,ferreiros e carvoeiros.

    Contamos, no tercirio, quinze diferentes ocupaes, das quais duas exercidasexclusivamente por mulheres livres (parteiras e quitandeiras), uma por escrava(jornaleira) e uma por cativo do sexo masculino (cozinheiro). A trabalhar no comrcio degneros alimentcios encontramos um escravo, trs mulheres livres e treze homens damesma condio social. Como afirmamos acima, os comerciantes e tropeirosrepresentavam a maioria dos elementos enquadrados no tercirio (Cf. tabela 77 do A.E.).

    Considerados todos os indivduos para os quais anotou-se alguma atividade econmica,

    verifica-se a alta concentrao (88,1%) na faixa etria concernente idade ativa (15 a64 anos). Os velhos e crianas compareciam segundo a relao de 2 para 1.

    Dos pobres -- 2,75 da populao total --, trs quartos correspondiam s mulheres. Pretose pardos constituam mais de nove dcimos deles (93,8%). As pessoas com mais decinqenta anos compunham 37,5% deles. Ademais, entre os despossudospredominavam os solteiros (75,0%); os casados, por sua vez, superavam os vivos:15,6% em face de 9,4%.

    VI - MARIANA

    Mariana apresentava corte caracteristicamente urbano. No censo utilizado neste trabalho

    os fogos vm arrolados por ruas, a indicar que a prpria organizao espacial do ncleoobedecia a padres tpicos de centros citadinos.

    Infelizmente, no nos foi dado contemplar todo o permetro urbano de Mariana, poislocalizamos, to-somente, o levantamento censitrio referente a um dos distritos entoexistentes na cidade. Os dados ora reportados representam, portanto, apenas umaaproximao da verdadeira estrutura populacional vigente na urbe em 1804.

    1 - ESTRUTURA POPULACIONAL

    No distrito em tala computamos 980 indivduos, a maioria dos quais (71,5%) livres ou

    forros, o peso relativo dos escravos atingia, portanto, pouco mais de um quarto (28,5%).Os agregados, por seu turno, compreendiam 16,3% dos livres. (10)

    As mulheres (54,2%) sobrepujavam numericamente os homens (45,8%); ou seja,contaram-se 84,63 homens para cada grupo de 100 mulheres. Para os livres opredomnio feminino revelava-se ainda mais marcante: 61,3% em face de 38,7%; donderesultava a razo de masculinidade de 63,02. Entre os escravos, reversamente, dominavao sexo masculino (64,3%); da decorria a razo de masculinidade de 180,41 (Cf. tabela 79do A.E.).

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    A preponderncia feminina entre os livres, vlida para quase todas as faixas etrias,dava-se mais fortemente no intervalo dos 15 aos 34 anos (Cf. tabela 82 do A.E.). Estefato visualiza-se no grfico abaixo.

    GRFICO 17

    RAZO DE MASCULINIDADE POR GRUPOS DE IDADES(Mariana - 1804)

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    Por outro lado, da tabela 35, na qual anotamos a razo de masculinidade para solteiroslivres, infere-se a intensa tendncia migratria dos homens colocados na faixa dos 20aos 60 anos.

    TABELA 35RAZO DE MASCULINIDADE ENTRE SOLTEIROS LIVRES

    (Mariana - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------2-4 100,005-9 129,41

    10-19 73,8420-29 41,3830-39 25,00

    40-49 38,1050-59 40,7460-69 52,9470-79 60,0080 e mais anos 50,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    A populao, departida segundo grandes faixas atarias, revelava-se relativamente jovem:aos velhos (60 e mais anos) correspondia o peso relativo de 9,5%, aos adultos (20-59anos) 55,7% a aos jovens (19 e menos anos) 34,8%. No intervalo dos 15 aos 64 anos,colocavam-se 66,0% dos moradores do distrito. As discrepncias entre livres e escravos

    mostravam-se altamente significativas (Cf. tabelas 83 e 84 do A.E).

    Os perfis das pirmides de idades, elaboradas para todos os habitantes do distrito epara os estratos respeitantes a livres a escravos, ilustram claramente as afirmativasacima postas; alm disto, os recortes das pirmides parecem sugerir, por um lado, que omovimento emigratrio teria atingido intensidade bastante para abatersignificativamente tanto a parcela masculina como a feminina do segmentocorrespondente aos livres e, por outro, quanto aos cativos -- dadas as quebrasobservadas nos degraus relativos a faixas etrias intermedirias, para mulheres, esuperiores, para homens --, o eventual processo de manumisso de escravos comidades relativamente avanadas.

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    GRFICO 18PIRMIDE DE IDADES - POPULAO TOTAL

    (Mariana - 1804)

    GRFICO 19PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE(Mariana - 1804)

    GRFICO 20PIRMIDE DE IDADES - POPULAO ESCRAVA

    (Mariana - 1804)

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    Os cativos, como sabido, distinguiam-se em coloniais e africanos. Estes ltimossobrepujavam (48,4%), por pequena margem, os primeiros (45,9%); note-se que para osrestantes 5,7% foi impossvel determinar a origem. Os africanos, como esperado,manifestavam composio etria "envelhecida" em face da concernente aos coloniais(Cf. tabela 36).

    TABELA 36REPARTIO PORCENTUAL DE CATIVOS AFRICANOS E COLONIAIS,

    SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS(Mariana - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS AFRICANOS COLONIAIS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0-19 8,15 46,88

    20-59 78,52 50,0060 e mais anos 13,33 3,12

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    ORIGEM DOS ESCRAVOS AFRICANOS

    Os 135 escravos africanos bipartiam-se em Sudaneses (11,1%) e Bantos (88,9%). Comopatenteia a tabela 37, a massa de Sudaneses apresentava-se mais "velha" do que a deBantos.

    TABELA 37

    DISTRIBUIO PORCENTUAL DE BANTOS E SUDANESES,SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS(Mariana - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS SUDANESES BANTOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    0-15 --- 9,2

    20-59 80,0 78,360 e mais anos 20,0 12,5

    TOTAL 100,0 100,0

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    SOBRE A FILIAO DOS MENORES DE 14 ANOS

    Pouco mais da metade (53,9%) das crianas livres consistia de filhos naturais. Talcondio mostrou-se absoluta para os escravos. A freqncia dos legtimos revelava-semaior para os livres "independentes" (47,9%) em face da concernente aos agregados

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    (32,0%) a indicar, portanto, o relacionamento entre a situao de legitimidade e o grau dedependncia socioeconmica dos pais.

    TABELA 38FILIAO (EM PORCENTAGEM) DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS DE IDADE

    (Mariana - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    LIVRES .FILIAO ESCRAVOS AGREGADOS "INDEPENDENTES" TOTAL TOTAL GERAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos --- 32,0 47,9 46,1 38,0Naturais 100,0 68,0 52,1 53,9 62,0

    TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    ESTRUTURA SEGUNDO O ESTADO CONJUGAL

    No distrito em apreo predominavam os solteiros: 82,6%. Os vivos correspondiam a3,3% e os casados a 14,1% da populao. Entre os escravos, para os quais nocontamos vivo algum, o domnio dos solteiros marcava-se mais fortemente: 98,9%.Entre os livras encontramos 76,3% solteiros, 19,1% casados e 4,6% vivos.

    Quanto ao sexo, evidenciaram-se pequenas discrepncias. Atenhamo-nos aos livres;relativamente s mulheres observamos a seguinte repartio: 76,3% para solteiras,17,4% referentemente a casadas e 6,3% para vivas. Os homens solteiros atingiam amesma proporo que as mulheres de igual estado conjugal (76,4%); os casadosrepresentavam 21,8% do total de homens e os vivos 1,8%. Caso exclussemos a faixa

    etria 0-9 anos, as divergncias tornar-se-iam mais claras (Cf. tabela 39).

    TABELA 39REPARTIO DE HOMENS E MULHERES, COM 10 OU MAIS ANOS DE IDADE,

    SEGUNDO O ESTADO CONJUGAL(Mariana - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ESTADO CONJUGAL HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Solteiros 66,5 71,7Casados 30,9 20,8

    Vivos 2,6 7,5

    TOTAL 100,0 100,0-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Alis, a maior presena de homens casados patenteada no grfico 21 decorria donmero mais avultado de emigrantes solteiros do sexo masculino. Tal tendncia podeser verificada, alternativamente, caso consideremos os diferenciais entre as

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    porcentagens de solteiros livres de ambos os sexos; assim, como explicitado na tabela40, a participao das solteiras -- em quase todas as faixas etrias -- mostrou-se maiorque a dos solteiros.

    TABELA 40

    PORCENTAGEM DE SOLTEIROS LIVRES, SEGUNDO SEXO E FAIXA ETRIA(Mariana - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------10-19 97,96 98,4820-29 77,42 69,0530-39 37,50 65,4540-49 47,06 61,7650-59 42,31 61,3660-69 64,29 73,9170-79 60,00 55,56

    80 e mais anos 80,00 72,73-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    GRFICO 21PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE

    (Mariana - 1804)

    II - ESTRUTURA DAS FAMLIAS E DOMICLIOS

    Trs quartos (75,3%) das famlias existentes no distrito em tela pertenciam a chefes dedomiclios; na mesma categoria -- "famlias independentes" -- encontravam-se asrelativas a filhos de chefes de domiclios (3,9%) e as de parentes de tais chefes (1,3%).As famlias de agregados atingiam o peso relativo de 7,8% e as de escravos a acanhada

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    cifra de 1,3%. As "pseudo famlias" compreendiam pouco mais de um dcimo (10,4%). Oelevado peso relativo de famlias de chefes de domiclios e a presena poucosignificativa de famlias de filhos ou parentes dos chefes evidencia a tendncia dasfamlias nucleares estabelecerem-se em domiclios prprios (Cf. tabela 89 do A.E.).

    O pequeno nmero de famlias de escravos e a inexpressiva quantidade de filhos de

    cativos a viver junto com seus pais, desaconselham qualquer ilao a respeito donmero mdio de filhos da cativos. Quanto aos livres, conforme anotado na tabela 41,verificava-se a mesma ordenao de valores mdios -- segundo a faixa etria do chefe defamlia -- vigente em Vila Rica.

    TABELA 41NMERO MDIO DE FILHOS COM 20 OU MENOS ANOS, SEGUNDO A FAIXA ETRIA DO

    CHEFE DE FAMLIA - LIVRES(Mariana - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Faixa Etria do Chefe de Famlia Nmero Mdio de Filhos

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Menos de 25 anos 1 ,3325-34 1,8235-44 1,9445-54 1,9555-64 0,4565 a mais anos --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Obs. : Computados, apenas, os filhos a viver com os pais.

    Os domiclios, por seu turno, distinguiam-se pela estrutura simples -- 93,7%. Tal

    participao relativa distribua-se entre "domiclios simples" (47,1%), "singulares"(43,0%) e "sem estrutura familiar" (3,6%). Reversamente, a complexidade domiciliarmostra-se fortemente vincada, caso a identifiquemos com a presena de escravos e/ouagregados; assim, contamo-los em 41,3% dos domiclios: em 17,9% apareciam escravos,em 12,6% to-somente agregados e em 10,8% os dois segmentos sociais.

    Cada domiclio, em mdia, abrigava 4,4 pessoas. Contadas apenas as unidades nasquais faziam-se representados encontramos, em mdia, 4,2 cativos e 2,1 agregados pordomiclio.

    III - ESTRUTURA SEGUNDO PROFISSES E ATIVIDADES PRODUTIVAS

    vista das informaes contidas no censo de 1804 e dadas as categorias adotadasneste trabalho, o setor primrio praticamente inexistia no distrito em foco. Destarte,contamos uma nica mulher a ele adstrita, a qual representava 0,7% do total de pessoaspara as quais indicou-se alguma atividade econmica. O secundrio absorvia a grandemaioria: 68,9%. No tercirio, significativamente representado, colocava-se pouco menosde um tero do total (30,4%). O carter urbano deste distrito de Mariana marcava-se nos pelo peso relativo dos setores mas, tambm, pela variedade de profisses e pelofato de encontrarmos, em cada um deles, vrias atividades a englobar expressiva

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    quantidade de pessoas; no se caracterizava portanto, o "monoplio" de apenas uma ouduas ocupaes (Cf. tabela 93 do A.E.).

    Os homens dominavam francamente: 86,5% em face de 13,5% de elementos do sexofeminino.

    As distribuies de homens e mulheres, segundo setores, indicam, por um lado, apresena majoritria, para as mulheres, daquelas vinculadas ao tercirio -- evento devidoao nmero relativamente alto de quitandeiras e vendeiras --, por outro, o grande pesorelativo do secundrio no respeitante ao sexo masculino -- fato decorrente da existnciade significativa quantidade de artesos (Cf. tabela 42).

    TABELA 42DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (Mariana - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio --- 5,00SEcundrio 75,00 30,00Tercirio 25,00 65,00

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Justamente destes elementos explicativos, aliados preponderncia dos homens, derivaa repartio, por setores, de ambos os sexos computados juntamente (Cf. tabela 43).

    TABELA 43DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (Mariana - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio --- 100,00 100,00Secundrio 94,12 5,88 100,00Tercirio 71,11 28,89 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Os escravos, em pequeno nmero, vinculavam-se exclusivamente ao secundrio e,majoritariamente, exerciam a tarefa de faiscadores.

    No secundrio enquadravam-se dezesseis distintas fainas. Os escravos, presentes emapenas trs delas, no monopolizavam lida alguma. As mulheres, igualmente adstritas atrs ofcios (costureiras, fiandeiras e tecedeiras), desempenhavam-nos excludentemente.

    Como avanado, neste setor, alm de observarmos variada gama de ocupaes, no

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    ocorria predomnio absoluto de reduzido nmero de atividades. Assim, a ttuloilustrativo, 17,6% das pessoas voltavam-se para a faiscao, 16,7% eram sapateiros,14,7% alfaiates, 11,8% carpinteiros, 8,8% ferreiros, 6,9% mineiros e 3,9% costureiras.Evidencia-se, pois, a par da relativa diversidade de profisses, o significativo peso doartesanato -- caracterstico de ncleos nos quais ocorria diviso de trabalho maisacentuada.

    No setor dos servios no se computou escravo algum; as mulheres, por seu turno,representadas em trs das treze ocupaes do tercirio, absorviam plenamente apenasuma delas -- quitandeiras --, as demais ("venda de molhados" e "negociantes em geral")partilhavam-nas com os homens.

    Quanto partio segundo grandes faixas etrias, verificava-se forte concentrao(88,7%) na correspondente idade ativa (15-64 anos) e limitada presena de crianas(7,8%) e velhos (3,5%).

    Dos habitantes do distrito em tela, 2,8% viram-se discriminados como "pobres" ou "aviver de esmolas"; 81,5% dos quais pertenciam ao sexo feminino. Quanto cor,

    dominavam os pretos ou pardos (88,9%) sobre os brancos (7,4%) e aqueles para osquais no foi possvel determin-la (3,7%). Mais da metade dos despossudos(exatamente 59,2%) contava mais de cinqenta anos de idade e as crianas (0-14 anos)representavam, to-somente, 14,8%. A grande maioria tratava-se de solteiros (88,9%) eos vivos e casados -- todos do sexo feminino -- alcanavam, respectivamente, os pesos7,4% e 3,7%.

    VII - SO CAETANO

    So Caetano, dos mais antigos centros mineratrios, integra hoje o municpio deMariana. Ao abrir-se o sculo XIX, conforme testemunho de viajantes estrangeiros, So

    Caetano mostrava-se decadente e com populao apoucada.

    O cdice relativo ao distrito em foco, possivelmente de 1804, no apresenta a riquezade dados propiciada pelos demais levantamentos censitrios considerados nestetrabalho (Cf. Apndice Metodolgico). Deste fato decorreu, irrecorrivelmente, a relativapobreza da anlise ora expendida.Contamos, no distrito em tela, 684 escravos: 457 homens (66,8%) e 227 mulheres(33,2%), vale dizer, a razo de masculinidade correspondia a 201,32.

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    TABELA 44RAZO DE MASCULINIDADE PARA ESCRAVOS, SEGUNDO FAIXAS ETRIAS

    (So Caetano - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0-9 145,4510-19 169,7020-29 129,1730-39 241,6740-49 292,5950-59 292,8660-69 262,5070-79 200,0080 e mais anos -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Ao repartirmos os cativos segundo grandes faixas etrias verificamos a dilatadaconcentrao no intervalo correspondente idade ativa (dos 15 aos 64 anos), pois, nelacolocavam-se 86,1% dos mancpios. Por outro lado, a existncia de uma populaoescrava "envelhecida" decorria, principalmente, da presena do elemento africano.Assim, a freqncia dos jovens (0-19 anos) revelava-se marcadamente distinta quandoconsiderados os segmentos referentes a "coloniais" e "africanos": 26,9% entre osprimeiros e apenas 4,8% entre os ltimos (Cf. tabelas 99 e 100 do A.E.).

    O conjunto originrio da colnia prevalecia sobre o dos escravos oriundos da frica:56,0% e 39,2%, respectivamente. (11)

    Estes ltimos distribuam-se entre Sudaneses (9,0%) e Bantos (91,0%). Tais gruposdistinguiam-se, ademais, pela composio etria, pois os Sudaneses mostravam-serelativamente "velhos" em face dos Bantos (Cf. tabela 45).

    TABELA 45DISTRIBUIO DE BANTOS E SUDANESES, SEGUNDO GRANDES FAIXAS ETRIAS

    (So Caetano - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS SUDANESES BANTOS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0-19 --- 5,33

    20-59 62,50 79,1060 e mais anos 37,50 15,57

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Os domiclios sem escravos ou agregados correspondiam a 53,31% do total. Os cativosfaziam-se presentes em 44,05% e em 2,64% computaram-se cativos a agregados.Observamos, em mdia, por domiclio -- tomados apenas aqueles nos quais apareciam

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    escravos ou agregados -- 6,5 cativos e 1,8 agregados.

    As ocupaes e atividades econmicas anotadas referem-se, em sua maioriaesmagadora, aos chefes de domiclios, pois, como anotado no Apndice Metodolgico,no censo em apreo no consta, via de regra, indicao relativa aos familiares dosaludidos chefes de domiclios. Na anlise ora empreendida exclumos, vista do

    exposto, os poucos dados concernentes aos escravos; consideramos, portanto, asatividades econmicas e/ou ocupaes relativas grande maioria dos chefes dedomiclios e a alguns dos seus agregados ou empregados (Cf. tabela 101 do A.E.).

    Ressaltam, desde logo, os expressivos pesos relativos do secundrio (54,9%) e dotercirio (26,0%). O primrio (19,1%) constitua, pois, o menos representativo dos trssetores econmicos bsicos. Estes porcentuais, assim como a variada gama de fainasdo secundrio e do setor de servios, decorriam do carter urbano do ncleo em apreo.

    Com respeito ao sexo, observava-se a larga predominncia do masculino: 80,9% em facede 19,1%. As distribuies de homens e mulheres, segundo setores indicam, para estas,macia convergncia no primrio e secundrio e, para aqueles, a significativa presena

    do secundrio e no setor de servios (Cf. tabela 46).

    TABELA 46DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (So Caetano - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 15,71 33,33Secundrio 52,86 63,64Tercirio 31,43 3,03

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    A repartio conjunta de ambos sexos, por setores, reflete a predominncia numricados homens, o domnio deles no secundrio e o "monoplio" que exerciam quanto aosservios (Cf. tabela 47).

    TABELA 47DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (So Caetano - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 66,67 33,33 100,00Secundrio 77,89 22,11 100,00Tercirio 97,78 2,22 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    No primrio, setor compartilhado por homens e mulheres segundo a relao de doispara um, dominavam os agricultores e roceiros.

    No secundrio contamos treze atividades, duas das quais as mulheres exerciamexcludentemente -- tecedeiras e fiandeiras --, outras duas, partilhavam-nas com os

    homens -- minerao e faiscao.

    Neste setor, em termos relativos, cabia maior peso a faiscadores e mineradores (48,4%).Note-se que os primeiros sobrepujavam largamente estes ltimos -- 38 vis--vis 8 -- fatoa denunciar, como sabido, a decadncia da lida exploratria no distrito. A estas duasseguiam-se outras atividades com participaes modestas, mas relativamenteequilibradas -- carpinteiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros etc. -- a indicar, pois, que osetor, conquanto marcado pela especializao, comportava diversos ofcios artesanais.

    No tercirio, no qual encontrava-se uma nica mulher (negociante), distinguiam-se oscomerciantes (46,7%), eclesisticos (11,1%), feitores (11,1%) a tropeiros (8,9%).

    Os pobres distribuam-se, entre os sexos, segundo a relao de 4 para 1: 79,6% relativoss mulheres e 20,4% concernentes aos homens. Os brancos correspondiam a apenas4,1% enquanto os pretos e pardos respondiam pela maioria (95,9%). As pessoas com 50ou mais anos representavam a grande maioria dos despossudos: 75,5%. Esteporcentual deve-se, em parte, ao fato de no terem sido arrolados os dependentes doschefes de domiclios identificados como pobres.

    VIII - NOSSA SENHORA DOS REMDIOS

    Nossa Senhora dos Remdios estabeleceu-se na segunda metade do sculo XVIII nasterras da antiga Fazenda doCapote. Em 1804 sua populao -- majoritariamente a "viver

    de roa" --, dedicava-se, sobretudo, agricultura de subsistncia. Embora houvessealguns poucos engenhos de cana com nmero aprecivel de escravos, predominavamas famlias nucleares -- com residncia em domiclios prprios e com quantidaderelativamente apoucada de escravos ou mesmo sem eles -- ocupadas, precipuamente, nacultura de gneros indispensveis prpria manuteno.

    Parece-nos, pois, que a produo agrcola voltava-se, principalmente, para oautoconsumo. De resto, algumas caractersticas populacionais, adiante especificadas,refletiriam os traos definidores acima colocados; a ttulo de exemplo, lembramos oequilbrio numrico dos sexos observado entre os livres, a baixa proporo de cativosno total de habitantes e o dilatado porcentual de filhos legtimos.

    1 - ESTRUTURA POPULACIONAL

    Neste distrito, em 1804, os livres superavam largamente os escravos: 73,8% e 26,2%,respectivamente. Os agregados, por seu turno, representavam 9,8% dos livres. (12)

    Quanto ao sexo, preponderavam os homens: 52,9% em face de 47,1%. Evento devido desproporo verificada entre os escravos: 62,9% de homens em face de 37,1% deindivduos do sexo oposto.

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    Relativamente aos livres, manifestava-se ligeiro domnio das mulheres: 50,6% contra49,4%. Destes porcentuais resultavam as distintas razes de masculinidade para livres eescravos: 97,53 e 169,15, respectivamente. Devia-se, pois, ao desequilbrio entre osescravos, a razo de masculinidade da populao total: 112,23 homens para cada grupode 100 mulheres.

    O exame da tabela abaixo na qual se observa o predomnio do sexo feminino nas faixasetrias inferiores e a dominncia dos homens nas faixas a englobar pessoas com idademais avanada pode sugerir, admitida a preexistncia de uma populao na qual fossemajoritrio o elemento masculino, a tendncia migratria dos homens menos idosos(Cf. tabela 48). (13)

    TABELA 48RAZO DE MASCULINIDADE SEGUNDO FAIXAS ETRIAS, POPULAO LIVRE

    (N. Sa. dos Remdios - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    FAIXAS ETRIAS RAZO DE MASCULINIDADE-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------0-9 97,22

    10-19 98,7820-29 73,0230-39 74,4740-49 103,0350-59 145,0060-69 162,5070-79 300,0080 e mais anos -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    A repartio dos habitantes de N. Sa. dos Remdios, segundo grandes grupos etrios,leva-nos a identificar uma populao relativamente jovem: os adultos (20-59 anos)constituam 45,7%, os velhos (60 e mais anos) apenas 5,3% e os jovens (0-19 anos)49,0%. Na faixa concernente idade ativa (15-64 anos) colocavam-se 58,0% doshabitantes. Como se depreende imediatamente das tabelas 107 e 108 do A.E.,distinguiam-se claramente os segmentos respeitantes a livres e a cativos.

    Os perfis das pirmides etrias para livres, escravos e para a populao como um todoilustram as assertivas acima colocadas. Para os livres, evidencia-se a supremaciamasculina nas faixas correspondentes a idades mais avanadas, ademais ainda com

    respeito ao sexo masculino, nota-se a larga "quebra" entre os degraus referentes sfaixas 10-19 e 20-29 anos, bem como a configurao "desarmoniosa" da parte dapirmide relativa a este sexo; observe-se, ainda, que o mesmo no ocorre com respeitos mulheres. Tais discrepncias, podemo-las atribuir aos processos migratriospretritos ou queles em desenvolvimento ao tempo do recenseamento em foco. Quanto pirmide etria atinente aos escravos cabe realar, como um dos possveis fatoresexplicativos da sua base relativamente ampla, a mui provvel modesta presena doscativos oriundos da frica. O carter condicional desta inferncia prende-se ao fato de,para parcela substancial da escravaria, haver-se mostrado impossvel o deslindamento

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    da origem (Cf. tabela 109 do A.E.).

    A lacuna acima apontada impede, ademais, ilaes definitivas sobre a origem dosescravos africanos moradores no distrito em foco; no entanto, deve-se notar, noconjunto de mancpios para os quais indicou-se a procedncia, a inexistncia doelemento sudans.

    GRFICO 22PIRMIDE DE IDADES - POPULAO TOTAL

    (N. Sa. dos Remdios)

    GRFICO 23PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE

    (N. Sa. dos Remdios)

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    GRFICO 24PIRMIDE DE IDADES - POPULAO ESCRAVA

    (N. Sa. dos Remdios)

    SOBRE A FILIAO DOS MENORES DE 14 ANOS

    Como j afirmamos na abertura deste tpico, a freqncia dos filhos legtimos revelava-se, no distrito em tela, altamente significativa, pois superava largamente a observadanos demais ncleos considerados neste trabalho.

    Assim, para os livres, o peso relativo dos filhos legtimos alava-se a 81,2%; comrespeito aos escravos a predominncia dos filhos naturais mostrava-se absoluta: 98,7%.

    TABELA 49

    FILIAO (EM PORCENTAGEM) DAS CRIANAS COM 14 OU MENOS ANOS DE IDADE(N. Sa. dos Remdios -1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    LIVRES .FILIAO ESCRAVOS AGREGADOS "INDEPENDENTES" TOTAL TOTAL GERAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Legtimos 1,3 37,9 85,8 81,2 65,2Naturais 98,7 62,1 14,2 18,8 34,8

    TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    O porcentual de legtimos alcanava valor ainda maior quando considerados os livres"no agregados" ou "independentes": 85,8%. Os agregados, por seu lado, comportavammaior contingente de filhos naturais: 62,1% (Cf. tabela 49).

    No devemos descartar o possvel vnculo entre o direcionamento da atividadeeconmica bsica desta comunidade -- economia de autoconsumo -- e o alto ndice defilhos legtimos nela imperante.

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    ESTRUTURA SEGUNDO O ESTADO CONJUGAL

    Os solteiros constituam 77,8% dos habitantes de N. Sa. dos Remdios, os casados20,6% e os vivos 1,6%. Para os escravos computavam-se, apenas, solteiros.Considerados exclusivamente os livres chega-se aos seguintes pesos relativos: 70,0%

    de solteiros, 27,8% para casados e 2,2% referentemente aos vivos. As discrepnciasentre os sexos, relativamente ao estado conjugal, revelaram-se desprezveis. Assim,para os homens, os solteiros representavam 70,7%, quanto s mulheres o porcentualatingia 69,2%. Os casados do sexo masculino correspondiam a 28,2% em face de 27,5%de mulheres de mesmo estado conjugal. Quanto aos vivos a divergncia mostrava-semais significativa: 3,3% das mulheres e 1,1% de elementos do sexo oposto.

    GRFICO 25PIRMIDE DE IDADES - POPULAO LIVRE

    (N. Sa. dos Remdios - 1805)

    A pirmide de idades acima posta e na qual se indica o estado conjugal, assim como atabela 50 evidenciam a tendncia dos homens se casarem com idades mais avanadasdo que as mulheres.

    TABELA 50PORCENTAGEM DE SOLTEIROS LIVRES, SEGUNDO SEXO E FAIXA ETRIA

    (N. Sa. dos Remdios - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXAS ETRIAS HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    10-19 100,00 96,3420-29 63,04 55,5630-39 45,71 29,7940-49 23,53 27,2750-59 20,69 15,0060-69 23,08 25,0070-79 33,33 66,6780 e mais anos --- ---

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    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------II - ESTRUTURA DAS FAMLIAS E DOMICLIOS

    Pouco mais de quatro quintos das famlias existentes no distrito enquadravam-se nacategoria "famlias independentes": 81,1% o eram de chefes de domiclios e 0,7% deseus parentes. As famlias de agregados compreendiam 9,1% do total, as de escravos

    2,1% e as "pseudo famlias" 7,0%. Observa-se, pois, tambm nesta unidade distrital, atendncia de as famlias nucleares se estabelecerem em domiclios prprios.

    Em termos gerais pode-se afirmar que o nmero mdio de filhos com 20 ou menos anosde idade, a viver com o pai e/ou a me, segundo a faixa etria do chefe de famlia,mostrou-se neste distrito mais elevado do que nos demais ncleos contemplados nesteestudo. Tal evento explicar-se-ia pela existncia de famlias com maior nmero decomponentes e/ou uma permanncia mais longa dos filhos junto aos pais. Estacaracterstica, aliada a outras j enunciadas, reafirma a especificidade da localidade emfoco.

    TABELA 51NMERO MDIO DE FILHOS COM 20 OU MENOS ANOS,

    SEGUNDO A FAIXA ETRIA DO CHEFE DE FAMLIA(N. Sa. dos Remdios - 1804)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------FAIXA ETRIA DO CHEFE DE FAMLIA NMERO MDIO DE FILHOS (a)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Menos de 25 anos 0,9225-34 1,8535-44 3,7445-54 3,6155-64 3,08

    65 e es a anos 1,73-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) considerados, to-somente, os livres.

    Em N. Sa. dos Remdios predominavam largamente os domiclios com estruturasimples: 94,4%. Deve-se notar, ademais, o grande peso relativo dos "domiclios simples"(correspondentes s famlias nucleares): 66,5%. Neste distrito a participao destacategoria de domiclio revelou-se mais elevada do que nos demais centros aquianalisados. Aos domiclios singulares e queles sem estrutura familiar tocaram,respectivamente, os seguintes pesos: 23,6% e 4,3%. Conseqentemente, coube aosdomiclios de estrutura complexa peso muito modesto: 5,6%.

    A presena de escravos e/ou agregados -- maneira opcional de se identificar acomplexidade da estrutura domiciliar -- mostrava-se significativa. Destarte, computamo-los em 46,0% dos domiclios: em 36,1% encontravam-se apenas escravos, em 5,6% to-somente agregados e nos restantes 4,3% ambos os estratos.

    Em mdia, residiam em cada domiclio, 6,0 pessoas. O mesmo indicador para escravos eagregados -- considerados apenas os domiclios nos quais estes grupos se faziampresentes -- alcanou, respectivamente, os valores: 3,9 e 4,2 indivduos.

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    III - ESTRUTURA SEGUNDO PROFISSES E ATIVIDADES PRODUTIVAS

    Com base nas indicaes sobre a atividade econmica de parte dos moradores dodistrito em tela conclui-se que predominavam as fainas ligadas ao primrio, pois, 62,9%

    das pessoas enquadravam-se neste setor. No secundrio encontrvamos 20,3% e notercirio apenas 16,8%.

    O sexo masculino dominava amplamente: 83,8% em face de 16,2% de elementos do sexooposto. As distribuies, segundo setores econmicos, para homens e mulheresrevelam, para ambos sexos, a preponderncia do primrio (Cf. tabela 52). Ademais,quanto aos dois outros setores, verifica-se o relativo equilbrio observado para oshomens e a presena de parcela substancial das mulheres no secundrio. Este ltimoevento prende-se ao fato de muitas delas dedicarem-se fiao, atividade derivada dasculturas de algodo existentes no distrito. Patenteia-se, neste caso, o ntimorelacionamento entre faina agrcola e lida artesanal; interao que, a nosso ver, deviarepetir-se em larga escala, tanto em Minas como em outras reas da colnia.

    TABELA 52DISTRIBUIO PORCENTUAL DE HOMENS E MULHERES, SEGUNDO SETORES

    (N. Sa. dos Remdios - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------SETORES HOMENS MULHERES-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 65,00 51,85Secundrio 16,43 40,74Tercirio 18,57 7,41

    TOTAL 100,00 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Estes argumentos, aliados ao maior nmero de elementos do sexo masculino, explicama distribuio conjunta de homens e mulheres, segundo setores; observe-se, ainda, o"aambarcamento", pelos homens, do setor de servios (Cf. tabela 53).

    TABELA 53DISTRIBUIO PORCENTUAL, POR SETORES, DE HOMENS E MULHERES

    (N. Sa. dos Remdios - 1804)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    SETORES HOMENS MULHERES TOTAL-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Primrio 86,67 13,33 100,00Secundrio 67,65 32,35 100,00Tercirio 92,86 7,14 100,00-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Os escravos faziam-se representar, apenas, no primrio; ocupados, todos, no amanho

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    da terra. Neste setor, dominado pelos homens livres, comparecia, tambm, o elementofeminino do mesmo estrato social. Caracterizava-o, ao que nos parece, a cultura degneros alimentcios destinados, sobretudo, ao autoconsumo. Contavam-se, ademais,uns poucos engenhos de cana e algumas propriedades nas quais plantavam-sealgodoeiros.

    No secundrio contamos nove atividades distintas, as mulheres desempenhavam duasdelas com exclusividade (tecedeiras e fiandeiras) e as demais cabiam, excludentemente,ao sexo masculino. Trs ofcios englobavam pouco menos de dois teros das pessoasvinculadas ao setor: fiandeiras (29,4%), sapateiros (17,6%) e carpinteiros (14,7%). Os"mineradores" -- 8,8% do total de pessoas enquadradas no secundrio -- deviam ser, naverdade, faiscadores ocupados pessoalmente na lida extrativa, pois tratava-se de pretosforros e apenas um deles possua escravos: uma cativa com trinta e nove anos e seufilho, com apenas dois anos de idade.

    No setor de servios encontramos apenas duas mulheres -- uma negociante, outraquitandeira --, esta ltima a desempenhar a nica atividade deste setor desenvolvidaexclusivamente pelo sexo feminino. Quanto s demais ocupaes deste setor cabe

    realce a apenas duas -- funcionrios e jornaleiros -- as quais congregavam metade daspessoas a ele vinculadas.

    A maioria esmagadora (90,4%) daqueles para os quais indicou-se atividade econmicacolocava-se na faixa correspondente idade ativa (15-64 anos); 9,0% referia-se a ancios(65 e mais anos) e apenas 0,6% correspondia a crianas.

    Neste distrito anotou-se apenas um caso de pobreza: tratava-se de um homem livre,pardo, casado e com mais de 65 anos de idade.

    IX - SANTA LUZIA

    Santa Luzia, situada s margens do rio das Velhas e a pouca distncia de Sabar,apresenta-se como dos mais antigos centros mineratrios. Em 1751 suas lavras de ouro

    j se mostravam decadentes, porm, seus habitantes devem ter continuado a usufruir osbenefcios decorrentes da posio geogrfica privilegiada do arraial (Cf. ApndiceHistrico) e das atividades agrcola e artesanais voltadas ao abastecimento de outrosncleos mineiros.

    O manuscrito de que nos servimos -- relao dos confessados da freguesia de SantaLuzia de Sabar, de 1790 -- revelou-se dos mais pobres em termos de informaes (Cf.Apndice Metodolgico). Dele infere-se que a parquia, certamente muito extensa,comportava modestos arraiais -- com edificaes distribudas ao longo de ruas --

    residncias ou fazendas congregadas em torno de capelas e grande nmero depequenas propriedades, stios e fazendas estabelecidas em "bairros" rurais ou ao longode cursos d'gua.

    Em Santa Luzia, ao que nos parece, o "rural" sobrepunha-se ao "urbano". O avultadonmero de pequenas propriedades sugere, ademais, a existncia de culturas desubsistncia voltadas para a produo destinada ao autoconsumo. Por outro lado, asignificativa quantidade de fazendas relativamente "grandes" parece indicar odesenvolvimento de atividades agrcolas cujo produto comercializava-se.

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    As atividades artesanais, bem como as vinculadas ao setor de servios, certamentepresentes na freguesia, apenas eventual e escassamente viram-se nomeadas nomanuscrito de que nos servimos, fato perfeitamente compreensvel dado o prpriocarter do documento.

    Em 1790, contaram-se 11.178 pessoas. A proporo de escravos e livres praticamenteigualava-se: 50,6% de cativos versus 49,4% de livres. Os agregados, por seu turno,abrangiam pouco mais de um dcimo (13,7%) da populao livre. (14)

    As "famlias independentes" representavam maioria esmagadora. Destarte, as doschefes de domiclios correspondiam a 83,8% do total, as de seus filhos a 1,5% e as deseus parentes a 2,9%; ainda no rol das "famlias independentes" colocavam-se as deempregados dos chefes de domiclios, compunham elas 0,8% do nmero global defamlias da parquia. As famlias de agregados alcanavam 7,9%, as de escravos 0,1% eas "pseudo famlias" 3,0% (Cf. tabela 119 do A.E.).

    Estes porcentuais evidenciam que as famlias nucleares residiam em domiclios

    prprios; comportamento, alis, observado em todos os ncleos analisados nestetrabalho.

    A estrutura domiciliar simples, correlatamente, mostrava-se dominante. Assim, osdomiclios simples compreendiam mais da metade (exatamente 52,5%) do total; ossingulares pouco mais de um tero (34,0%) e aqueles "sem estrutura familiar" poucomenos de um vigsimo (4,9%). Restava, pois, para os domiclios de estrutura complexa amoderada participao de 8,6%.

    Por outro lado, se referirmos o grau de complexidade da estrutura domiciliar presenaou ausncia de escravos e/ou agregados, impe-se a inferncia de que os domiclios"complexos" constituam parcela substancial dos computados em Santa Luzia. Destarte,

    49,6% deles comportavam escravos e/ou agregados: 33,8% apenas escravos, 10,6%ambos os grupos e 5,2% to-somente agregados.

    Por domiclio, em mdia, contamos 6,4 indivduos. O nmero mdio de escravos pordomiclio -- tomados apenas aqueles nos quais anotaram-se cativos -- alcanava o valor7,2. Quanto aos agregados -- considerados to-somente os domiclios nos quais sefaziam presentes -- registrou-se, em mdia, por domiclio, 2,8deles.

    * * *

    Neste captulo, assim como no anterior, apresentamos -- em termos dos vrios centros

    mineiros contemplados neste trabalho -- a base emprica a partir da qual elaboramos aanlise comparativa exposta a seguir e com a qual visamos a encontrar resposta para osproblemas que inspiraram a realizao desta pesquisa.

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    CAPTULO VVILA RICA E DEMAIS NCLEOS - ANLISE COMPARATIVA

    Sobre o tempo, sobre a taipa,

    a chuva escorre. As paredesque viram morrer os homens,

    que viram fugir o ouro,que viram finar-se o reino,que viram, reviram, viram,

    J no vem. Tambm morrem. (1)

    Carlos Drummond de Andrade

    A histria das povoaes que tiveram origem na presena do ouro sempre amesma. Florescem enquanto as minas foram ricas ou fceis de explorar; quando se

    esgotam, os habitantes retiram-se para outra parte. (2)

    Auguste de Saint-Hilaire

    Conforme nos parece, as evidencias empricas e os resultados reportados nos captulosprecedentes sugerem a impossibilidade de se dar suporte hiptese da existncia deuma estrutura populacional comum aos vrios ncleos analisados. Malgrado possamosidentificar similitudes genricas essenciais entre as populaes dos aludidos centros,impem-se algumas discrepncias significativas.

    Tais dessemelhanas, a nosso ver, referir-se-iam, em ltima instncia, aos

    condicionamentos derivados de distintos substratos econmicos. Destarte, o maior oumenor peso de atividades vinculadas lida exploratria e/ou produo agrcola, osdestinos alternativos dados ao produto gerado pelo amanho da terra, o grau relativo dedesenvolvimento de ocupaes artesanais ou englobadas no setor de servios, assimcomo o correlato nvel de urbanizao comporiam o elenco de caractersticasdefinidoras dos vrios embasamentos infra-estruturais nos quais enraizar-se-iam asdiferentes estruturas populacionais detectadas neste estudo.

    Evidentemente, no estamos a propor uma total distino entre as referidas estruturas.Como patenteiam as evidencias empricas reveladas no corpo deste trabalho,encontramos, por um lado, fainas agrcolas a desenvolverem-se nos ncleos maiscaracteristicamente citadinos e, por outro, nos centros voltados precipuamente ao

    maneio da terra, contamos inmeros artesos, alm de identificarmos ocupaes tpicasdo setor de servios.

    A caracterizao explicitada a seguir repousa, portanto, em divergncias que, conquantorelevantes, no tomamos em termos absolutos. Reputamos simplista e errnea todaperspectiva conducente a contraposies dicotmicas, a elas antepomos viso menosrgida, alicerada no reconhecimento da substancialidade das diversidades relativas. Talpostura, embora terica e metodologicamente justificvel, entendemo-la prenhe deriscos, pois sempre restar a possibilidade de estarmos a propor multiplicidade calcada

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    no episdico. vista disto torna-se foroso reconhecer o carter provisrio de nossasassertivas, passveis, portanto, de futuras revises e a necessitar, irrecorrivelmente, decorroborao resultante de levantamento quantitativo mais avultado e tratamentoqualitativo mais profundo.

    Como ser patenteado no correr deste captulo, alguns elementos (variveis)

    imediatamente relacionados composio populacional dos vrios ncleos estudadosrevelaram-se decisivos para a determinao das distintas estruturas populacionaispropostas neste trabalho. Tais componentes bsicos consubstanciam-se nosporcentuais de livres e escravos, no peso relativo de agregados e escravos napopulao total, nos nmeros mdios de escravos, agregados, pessoas livres eindivduos em geral por domiclio; levamos, em conta, ademais, as relaes entre estesvalores e o seu ordenamento, assim como o grau relativo de urbanizao daslocalidades estudadas. (3) A partir destes indicadores e relaes distribumos os centrosanalisados em quatro grupos. (4)

    Posteriormente, passamos a considerar, especificamente, o substrato econmico decada ncleo; tal modus faciendi mostrou-se altamente gratificante, pois, alm de

    verificarmos o forte liame entre as tessituras econmicas dos centros arrolados nummesmo grupamento, encontramos os elementos indispensveis para especificar cadagrupo. A conjugao destes dois passos analticos permitiu-nos, pois, estabelecer ecaracterizar as estruturas populacionais abaixo anotadas.

    Presentes as qualificaes acima postas e delineadas as caractersticas definidoras docritrio classificatrio por ns assumido, passemos discriminao das estruturaspopulacionais tpicas depreendidas dos dados e cmputos referidos na abertura destecaptulo, os quais, como avanado, dizem respeito disposio e ao inter-relacionamento das variveis demogrfico-econmicas com as quais trabalhamos nesteestudo.

    Identificamos quatro tipos bsicos de estruturas populacionais: urbana, rural-mineradora, intermdia e rural de autoconsumo. (5)

    Vila Rica (6), Passagem e Mariana (7)enquadravam-se na primeira categoria. Conformese infere da tabela 55, estes ncleos caracterizavam-se por apresentarem, em termosgerais, os maiores porcentuais de livres (8) e os menores valores para o nmero mdiode escravos, agregados e pessoas livres por domiclio. Ademais, a mdia de escravosrevelava-se maior do que a de agregados; a de livres colocava-se entre os valoresreferentes a cativos e agregados.

    Quanto aos setores classicamente definidos pelos economistas, observava-se modestaparticipao do primrio, domnio do secundrio e presena marcante dos servios. (9)

    Na segunda categoria -- rural-mineradora -- englobavam-se os distritos de Abre Campo,Gama e Capela do Barreto. Tais ncleos distinguiam-se pela agricultura voltada para acomercializao (Capela do Barreto) ou pela dominncia da atividade exploratriabaseada, provavelmente, na existncia de lavras relativamente ricas. Neste ltimo caso,ao que parece, os habitantes "especializavam-se" na minerao. No Abre Campo, comovisto no tpico pertinente, lida aurfera conjugava-se a agricultura de subsistnciadestinada manuteno do pessoal empenhado na faina extrativa. No Gama, emboraresidissem alguns mineradores com avultado nmero de escravos, havia grande

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    quantidade de faiscadores e desenvolvia-se a agricultura de subsistncia; observava-se,portanto, a decadncia da faina mineradora e o processo de diversificao de atividadesprodutivas do qual teria decorrido a estrutura populacional aqui denominada"intermdia". No obstante, resolvemos inclu-lo na categoria "rural-mineradora" dadasas semelhanas observadas entre o Gama e os dois outro distritos nomeados acima.

    A estrutura populacional rural-mineradora fundava-se no predomnio quantitativo doscativos. Os ncleos que a apresentavam marcavam-se por revelarem, vis--vis osdemais centros, as menores taxas de pessoas livres e os maiores valores mdios deescravos, agregados e livres por domiclio. Note-se, ainda, a supremacia dos valoresmdios de agregados sobre os relativos aos escravos e a inferioridade, em face dosoutros grupos, das cifras concernentes aos livres.

    Referentemente aos setores produtivos patenteava-se a inexpressividade do tercirio (agirar em torno de 10%) e a preponderncia absoluta do primrio ou do secundrio,evento este a depender do primado da agricultura ou da minerao.

    Os ncleos nos quais definia-se a estrutura populacional intermdia -- Furquim, So

    Caetano e Santa Luzia -- diferenavam-se pela notria decadncia da atividade aurfera --neles os faiscadores predominavam decisiva e claramente sobre os mineradores --, pelodesenvolvimento da agricultura de subsistncia voltada para a comercializao e pelaocorrncia da faina agrcola destinada ao autoconsumo.

    Da tabela 55 infere-se, imediatamente, a posio intermediria do peso relativo dos livrese das mdias de livres, agregados e cativos por domiclio. Note-se, ainda, que estesltimos indicadores aproximavam-se dos vigentes em Mariana, Passagem e Vila Rica ediscrepavam mais largamente dos imperantes no Abre Campo, Gama e Capela doBarreto. Ademais, como se observava naqueles ncleos, os valores mdios referentesaos escravos superavam os concernentes aos agregados e os relativos aos livresentremeavam as aludidas mdias de cativos e agregados.

    Os trs setores econmicos viam-se expressivamente representados na categoriapopulacional em foco. Com excluso de Santa Luzia -- distrito para o qual faltaraminformaes --, o peso relativo do primrio girava em torno de 21%, o do secundrio de49% e o do tercirio colocava-se por volta de 30%. Deve-se notar -- com respeito sestruturas "urbana" e 'intermdia" -- a participao praticamente igual do setor deservios e a larga divergncia relativa observada no primrio.

    Resta-nos caracterizar a categoria "rural de autoconsumo". Definimo-la com base nasevidncias empricas propiciadas pelo estudo de apenas um dos centros contempladosneste trabalho: o distrito de N. Sa. dos Remdios. Nele encontramos grandeparticipao relativa do elemento livre, o menor nmero mdio de escravos por domiclio

    (igual ao verificado em Vila Rica) e valores intermedirios para as mdias de agregados elivres por domiclio -- superiores aos vigentes nas estruturas "urbana" e "intermdia" einferiores aos imperantes na categoria "rural-mineradora". Ademais, o nmero mdio delivres por domiclio superava o de agregados o qual, por sua vez, sobrepujava a mdiade escravos por unidade domiciliar.

    No distrito em tela, como avanado, praticava-se, a nosso ver, a agricultura desubsistncia votada ao autoconsumo.Tal fato, alm de refletir-se nas relaes entre asvariveis supracitadas, assinalava-se claramente nos pesos relativos concernentes aos

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    setores econmicos.

    Destarte, ao primrio correspondia 63%, ao secundrio 20% e aos servios to-somente17%. Entre as atividades artesanais, como j tivemos oportunidade de realar, cabiapapel dos mais significativos s fiandeiras, as quais, certamente, utilizavam o algodocultivado no prprio distrito.

    Antes de passarmos adiante, cabem alguns comentrios referentes s variveis"porcentagem de escravos e agregados na populao total" e "nmero mdio depessoas por domicilio". Como decorrncia das distintas participaes dos escravos napopulao total e da presena marcante dos agregados nos ncleos que apresentaramestrutura populacional rural-mineradora, revelou-se distribuio coerente dos pesosrelativos de agregados e escravos nas populaes das vrias localidades aquianalisadas. Assim, a participao dos mesmos deu-se em maior escala nos ncleosenglobados na categoria "rural-mineradora" (cerca de 84%), a menor freqncia ocorreuem N. Sa. dos Remdios (33,5%); os pesos vigentes em Mariana, Passagem e Vila Ricapouco diferiram de 41% e os relativos estrutura "intermdia" giraram em torno de 55%.

    Evento similar, derivado de fatores anlogos aos enunciados acima, observou-se comrespeito ao nmero mdio de pessoas por domicilio: maiores valores nos ncleos comestrutura rural-mineradora, menores nos centros colocados na categoria "urbana" eintermedirios nas demais localidades.

    TABELA 55-aINDICADORES POPULACIONAIS DOS CENTROS ANALISADOS

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estruturas % de livres na Mdia de Escravos Mdia de AgregadosNcleos populao por domiclio(a) por proprietrio(*) por domiclio (b)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    UrbanaMariana 71,53 4,2 3,5 2,1Passagem 63,28 4,5 4,3 2,3Vila Rica 68,61 3,9 3,7 1,9

    IntermdiaFurquim 54,96 7,7 7,2 3,1So Caetano --- 6,5 6,4 1,8Santa Luzia 49,36 7,2 6,0 2,8

    Rural AutoconsumoN.Sa. Remdios 73,82 3,9 3,6 4,2Rural-mineradoraCapela Barreto 46,96 32,0 10,7 32,5Abre Campo 34,09 19,3 9,7 24,0Gama 43,83 13,1 11,1 14,5-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) s consideramos os domiclios em que havia escravos; (b) s computados osdomiclios em que havia agregados; (*) a mdia de escravos por proprietrio, clculo de F. V.Luna, no constou da verso original deste trabalho.

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    TABELA 55-bINDICADORES POPULACIONAIS DOS CENTROS ANALISADOS

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estruturas Mdia de Pessoas Mdia de Pessoas % de Escravos e AgregadosNcleos livres por domiclio por domiclio na populao

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------UrbanaMariana 3,1 4,4 40,1Passagem 3,1 4,9 41,3Vila Rica 3,5 5,1 42,5

    IntermdiaFurquim 4,0 7,3 52,4So Caetano --- --- ---Santa Luzia 3,1 6,4 57,4

    Rural AutoconsumoN.Sa. Remdios 4,5 6,0 33,5

    Rural-mineradoraCapela Barreto 28,3 60,3 88.9Abre Campo 10,0 29,3 93,2Gama 5,4 12,4 69,5-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Configuradas as peculiaridades da estruturas populacionais que inferimos da anlisecomparativa de alguns elementos constitutivos das populaes dos centros aquiestudados, passemos a comentos referentes a algumas variveis mencionadas naterceira nota deste capitulo (Cf. tabela 56).

    i. - a presena relativa das mulheres entre os livres mostrou-se sempre majoritria; noentanto no ocorreu distino marcante entre os ncleos estudados. (10)

    ii- entre os escravos, em todas localidades, predominaram os homens. Discrepncia amerecer realce refere-se ao peso do sexo masculino nos centros especializados naminerao, (77,6% e 83,4%) em face dos vigorantes nos demais ncleos, nos quais aparticipao mxima atingida pelos homens chegou a apenas 67,3%.

    iii. -o peso dos agregados entre a populao livre variou de 7,2% a 80,0%. A divergnciamais significativa deu-se entre os ncleos enquadrados na categoria rural-mineradora eos demais. Nos primeiros a freqncia mnima alcanou 30,4% enquanto, nestes ltimos,o peso mximo restringiu-se a 16,3%.

    iv. -osporcentuais concernentes aos solteiros do estrato dos livres pouco discreparame, ademais, comportaram-se de maneira a impedir qualquer ilao referente ao seuordenamento.

    v. - a considerao do grau de complexidade dos domiclios, entendida em termos dapresena de escravos e/ou agregados, no possibilitou o estabelecimento de resultadosconclusivos.

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    vi. - para os livres, os porcentuais de filhos legtimos (menores de 14 anos a residir comos pais) discreparam largamente e no demonstraram comportamento regular. Casoexcluamos o distrito do Abre Campo -- no qual computamos apenas uma famlia -- ganharealce a distino entre o ncleo "rural de autoconsumo" (com 81,2% de crianaslegtimas) e os demais centros -- para os quais a maior participao de filhos legtimos

    limitou-se a 66,7%.

    TABELA 56ALGUNS INDICADORES POPULACIONAIS DOS NCLEOS ESTUDADOS

    -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Estruturas % M % H % Agr. % S % D com % filhos % Fam. N. mdioNcleos Liv. Esc. Liv. Liv. Esc./Agr. leg. Liv. indep. filhos-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    UrbanaMariana 61,34 64,34 16,26 76,3 41,3 46,1 80,5 1,56Passagem 50,82 64,87 7,20 73,1 41,1 62,8 87,5 1,72Vila Rica 55,31 57,99 16,14 81,9 54,4 47,8 85,8 1,84

    IntermdiaFurquim 51,97 67,31 13,40 74,3 49,6 59,2 78,7 1,81So Caetano --- 66,81 --- --- 46,7 --- --- ---Santa Luzia --- --- 12,98 --- 49,6 --- 89,0 ---

    Rural AutoconsumoN.Sa. Remdios 50,63 62,85 9,87 70,0 46,0 81,2 81,8 2,86

    Rural-mineradoraCapela Barreto 57,06 57,29 76,47 --- 100,0 41,4 11,4 1,41Abre Campo 56,67 77,59 80,00 --- 100,0 (a) (a) 2,00

    Gama 53,45 83,41 30,46 --- 53,1 66,7 65,5 1,93-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: (a) apenas uma observao, aqui desprezada. % M Liv.=% de mulheres entre os livres; % HEsc.=% de homens entre os escravos; % Agr. Liv.=% de agregados na populao livre; % S Liv. = =% de solteiros entre os livres; % D com Esc./Agr.=% de domiclios com cativos e/ou agregados; %filhos leg. Liv.=% de filhos legtimos entre os livres; % Fam. indep.=% de famlias "independentes"sobre o total de famlias; N. mdio filhos=nmero mdio de filhos com 20 ou menos anos a vivercom os pais.

    vii. - os pesos relativos das famlias independentes nas vrias localidades aquiestudadas, no permitem inferncias referentes s estruturas populacionais propostasneste trabalho.

    viii. - com respeito ao nmero mdio de filhos com 20 ou menos anos a viverem com ospais, nota-se vincada divergncia entre N. Sa. dos Remdios e os demais ncleos.Naquele distrito o valor do indicador supracitado superava expressivamente as cifrasrespeitantes s outras localidades. (11)

    ix. - quanto s pirmides de idades e grandes faixas etrias -- tanto para a populaototal como para os segmentos concernentes a livres e escravos -- observou-se

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    possvel e pertinente, introduzimos o peso relativo dos cativos ou distinguimos livres emancpios, pois, como sabido, nos quadros da sociedade escravista brasileira asignificncia e especificidade destes dois estratos revelavam-se tamanhas que se impet-las sempre presentes.

    Passemos, pois, ao exame acima desenhado.

    DOMICLIOS

    Em Mariana, Passagem e Vila Rica as variveis concernentes estrutura domiciliar (15) eao peso relativo dos livres sobre a populao total manifestaram, segundo a ordemcrescente de seus valores (16), a disposio indicada na tabela 57. Deve-se notar que emnenhuma das demais localidades observou-se o mesmo ordenamento.

    TABELA 57DISPOSIO DAS VARIVEIS RELATIVAS A DOMICLIOS

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos % de Livres Por Domiclio: Nmero Mdio de .

    Escravos Agregados Pessoas Livres Pessoas-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana 5 1 2 4 3Passagem 5 1 2 4 3Vila Rica 5 1 2 4 3-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Nos trs ncleos os dados correspondentes s informaes indicadas na tabela acimaconservaram, portanto, a mesma relao. Ademais, para cada varivel, as cifras

    referentes a Mariana e Passagem aproximaram-se das verificadas em Vila Rica.Conforme explicitado na tabela 58, as discrepncias relativas em torno dos valoresvigentes nesta ltima urbe, situaram-se, majoritariamente, abaixo de 15,0%. Comrespeito a Mariana a divergncia maior restringiu-se a 13,7%; quanto a Passagem trsvariveis indicaram variaes abaixo de 12,0%, uma colocou-se pouco acima de 15,0% eoutra alou-se a 21,0%. (17)

    TABELA 58DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO AOS VALORES

    OBSERVADOS EM VILA RICA(Domiclios)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos % de Livres Por Domiclio: Nmero Mdio de .Escravos Agregados Pessoas Livres Pessoas

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana 4,26 7,69 10,53 -11,43 -13,73Passagem -7,77 15,38 21,05 -11,43 -3,92-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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    No parece descabido propor-se, em funo dos argumentos arrolados acima, aexistncia de estruturas domiciliares smiles nos trs centros em estudo.

    FAMLIAS

    Reunimos as informaes referentes s famlias em dois grupos. Um deles compreendevariveis para as quais, em face de suas naturezas dspares (18), no nos pareceapropriado o exame respeitante a seu ordenamento; quanto a elas cabem, apenas,consideraes sobre os afastamentos registrados em Mariana e Passagem em torno dascifras imperantes em Vila Rica. No outro conjunto englobamos dados passveis dos doisprocedimentos analticos propostos.

    Atenhamo-nos, inicialmente, s primeiras. Como se patenteia na tabela 59, os valoresapresentaram-se, com apenas uma exceo, significativamente concentrados. ParaMariana a disparidade maior pouco excedeu a 15,0%; quanto a Passagem anotamosapenas uma divergncia superior a 11,0%.

    TABELA 59DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO AOS VALORES

    OBSERVADOS EM VILA RICA(Famlias)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos % Entre os Livres de: . % de Famlias "in- Nmero Mdio de

    Mulheres Solteiros Filhos Legtimos dependentes" (a) filhos (b)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana 10,90 -6,84 -3,56 -6,18 -15,22Passagem -8,12 -10,74 31,38 1,98 -6,52-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    OBS.: (a) % de famlias independentes sobre o nmero total de famlias da urbe; (b) nmero mdiode filhos com 20 ou menos anos a viver com os pais.

    Do segundo rol constam os nmeros mdios de filhos com 20 ou menos anos, segundoa faixa etria dos chefes de famlia, a residir com o(s) progenitor(es). O relacionamentoentre estes dados manifestou-se idntico em Vila Rica e Mariana; quanto a Passagemdeu-se, to-somente, um descompasso, a nosso ver, de somenos importncia (Cf. tabela125 do A.E.). (19)

    Por outro lado, as disparidades porcentuais observadas para Mariana e Passagem comrespeito s cifras vigorantes em Vila Rica atingiram, nomeadamente para a primeiralocalidade, nveis sensivelmente elevados. Destarte, para Mariana, duas variveisdiscreparam mais de 56,0%, duas outras pouco menos de 20,0% e as duas restantesmenos de 1,5%. Quanto a Passagem, as duas divergncias mais largas sobrepujaram25,0%, no entanto, as outras quatro no superaram a marca de 12,0% (Cf. tabela 60).

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    TABELA 60DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO S CIFRAS

    IMPERANTES EM VILA RICA(Famlias)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos Nmero mdio de filhos com 20 ou menos anos, segundo a faixa etria do C,F.

    menos de 25 anos 25-34 35-44 45-54 55-64 65 e mais anos-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana -1,48 -0,55 -18,83 -18,75 -66,42 -100,00Passagem -7,41 -8,74 9,21 -11,25 -30,60 -25,93-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------OBS.: C.F.=Chefe de Famlia.

    Os resultados aqui expostos bastam, a nosso juzo, para firmar a semelhana entre asestruturas familiares dos ncleos em foco.

    FAIXAS ETRIAS

    Para cada localidade, tomado o nmero total de seus habitantes, consideramos as duasclassificaes, segundo grandes faixas etrias, adotadas neste trabalho (Cf. tabela 127do A.E.).

    Repartimos, alm disso, livres e escravos de acordo com os intervalos etrioscorrespondentes a crianas, indivduos em idade ativa e ancios (Cf. tabela 128 do A.E.).Resultaram, por tanto, quatro conjuntos de dados respeitantes a grandes grupos etrios.

    Como se depreende das tabelas 127 e 128 do A.E., para as trs localidades em telaobservaram-se -- contemplados, isoladamente, os supracitados conjuntos --ordenamentos idnticos.

    Manifestou-se, ainda, para a maioria das variveis em foco, grande proximidade entre osvalores vigentes em Mariana, Passagem e Vila Rica. Destarte, mais de nove dcimos dosdados concernentes a Mariana apresentaram, vis--vis os de Vila Rica, discrepnciainferior a 12,0%. Quanto a Passagem, trs quartos das cifras mostraram divergnciainferior a 14,0% em face das vigorantes na aludida vila (Cf. tabela 61).

    TABELA 61

    DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO AOS VALORESOBSERVADOS EM VILA RICA(Grandes Faixas Etrias)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos Populao Total . Livres Escravos .

    0-14 15-64 65 e+ 0-19 20-59 60 e+ 0-14 15-64 65 e + 0-14 15-64 65 e +-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana -4,41 1,23 9,43 -6,95 4,50 2,15 -3,98 3,10 -10,00 -12,00 -0,41 81,08Passagem -7,46 5,52 -26,42 -5,61 7,69 -21,51 -2,45 2,61 -13,33 -13,78 7,05 -56,76

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    A conformidade, quanto a grandes faixas etrias, entre as trs localidades em anliseimpe-se meridianamente, quer pelo ordenamento, seja pela concentrao dos valores.

    ATIVIDADES PRODUTIVAS

    Sob esta epgrafe enquadramos dois grupos de informaes: um referente aos trssetores econmicos classicamente distinguidos pelos economistas. Outro respeitante atrs variveis as quais analisaremos isoladamente, pois antolha-se-nos imprprio oexame das relaes existentes entre as mesmas.

    Comecemos por estas ltimas. A porcentagem de agregados e escravos sobre apopulao total, assim como o porcentual de homens entre os cativos indicaram, tantopara Mariana como para Passagem, estreita proximidade em face dos pesos correlatosimperantes em Vila Rica. Quanto participao relativa dos agregados entre os livres,

    notamos, para Mariana, valor infimamente superior ao de Vila Rica; para Passagem, poroutro lado, registrou-se disparidade de grande monta (Cf. tabela 62).

    TABELA 62DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO AOS VALORES

    OBSERVADOS EM VILA RICA(Variveis vinculadas produo)

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ncleos % de Agregados e Escravos % dos Homens entre % dos Agregados sobre

    sobre a populao total os escravos a populao livre-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Mariana - 5,65 10,95 0,74Passagem - 2,82 11,86 - 55,39-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Com respeito aos setores produtivos -- embora a disposio resultasse igual para astrs localidades e os valores absolutos atinentes a cada um deles girassem em torno decifras que no se verificaram, concomitantemente, em nenhum dos outros ncleoscontemplados neste estudo (Cf. tabela 125 do A.E.) -- manifestaram-se divergncias degrande amplitude entre Mariana, Passagem e Vila Rica (Cf. tabela 63).

    TABELA 63DISCREPNCIAS, EM TERMOS PORCENTUAIS, COM RESPEITO AOS VALORESOBSERVADOS EM VILA RICA

    (Setores Produtivos)-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------NCLEOS PRIMRIO SECUNDRIO TERCIRIO-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Mariana - 90,00 28,54 - 22,84Passagem - 25,71 31,34 - 38,07

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    Malgrado tais reparos, vista da variada gama de atividades econmicas e ocupaesdesenvolvidas nestas trs comunidades e em face da coerente ordenao apresentadapelos aludidos setores -- primado do secundrio, expressivo peso do tercirio epresena acanhada do primrio --, abalanamo-nos a afirmar que as estruturas

    produtivas das trs urbes representavam variaes de um modelo tpico.

    A conjugao das evidncias empricas e cmputos acima relatados parece-nosbastante para abonar a identidade entre as estruturas populacionais dos trs ncleos emapreo. Para os conjuntos de valores correspondentes aos domiclios, famlias, faixasetrias e atividades produtivas, demonstrou-se tanto ordenamento como concentraosuficientes para dar suporte aludida similitude.

    * * *

    A anlise comparativa ora empreendida possibilita-nos assentar duas concluses geraisbsicas, as quais substanciam a essncia deste estudo.

    A primeira prende-se ao estabelecimento das quatro estruturas populacionais nomeadase especificadas na parte inicial do captulo vertente. Conquanto lhes tenhamosemprestado carter provisrio, segundo se nos afigura, exprimem elas, fidedignamente,as condies efetivamente reinantes, em 1804, nas localidades consideradas nestetrabalho. (20)A outra inferncia permite-nos asseverar a existncia de estrutura populacionalsemelhante de Vila Rica, tanto em Mariana como em Passagem. Os argumentos ainformar tal ilao vem-se capitulados no segmento final deste tpico.

    CAPTULO VICONSIDERAES FINAIS

    Ao longo deste trabalho procuramos revelar, analisar e integrar as evidencias empricasproporcionadas por fontes primrias concernentes a dez localidades mineiras.Preocupou-nos, especificamente, o estabelecimento das estruturas populacionaisvigentes, nas primcias do sculo XIX, em ncleos cuja formao e evolver efetuaram-senos quadros da economia mineradora.

    Procuramos, ademais, apreender os liames e correlaes entre elementos do fenmeno

    demogrfico e do fato econmico, componentes dos mais significativos da vida emsociedade.

    Visamos, pois a lanar luz sobre algumas particularidades de uma quadra da histria dasGerais na qual ocorreram profundas mudanas, tanto econmicas como demogrficas.Para tanto, colocamo-nos duas questes centrais, ambas relativas estruturapopulacional imperante em Vila Rica no incio do sculo passado. Perguntamos, emprimeiro, se a referida estrutura verificou-se em outras localidades e, por ltimo, se assimilitudes e dessemelhanas reveladas a partir do exame das fontes documentais nas

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    quais fundamentou-se esta investigao poder-se-iam referir a fatores e/ou eventosdeterminveis.

    Evidentemente, ao procurarmos resposta para os quesitos acima enunciados, vimo-noscompelidos a perquirir as bases enformadoras da economia mineira, os condicionantesda ocupao e povoamento daquela rea e algumas das estruturas populacionais ali

    vigentes. Os resultados inferidos, assim como as peculiaridades de cada localidadeacham-se explicitados pormenorizadamente no corpo desta pesquisa. No pretendemos,portanto, arrolar exaustivamente, neste tpico final, os eventuais achados e asconcluses deste estudo; cingimo-nos, to-somente, a sumari-los, de forma a realaros elementos mais relevantes propiciados por este trabalho.

    Com respeito ocupao e povoamento de Minas, cumpre notar o carter substancial,para a compreenso dos sucessos supracitados e do prprio evolver da sociedademineira, dos conceitos despojadamente propostos no inicio deste trabalho:direcionamento, estruturao e dimensionamento. Neles consubstancia-se, a nosso ver,instrumental analtico frutfero do qual nos servimos para compormos a matrizeconmica e social em cujo mbito constituram-se os centros mineratrios. Considere-

    se, ademais, o realce que emprestamos coerncia das prticas mercantilistasdesenvolvidas pelo poder e interesses metropolitanos -- fundamento axial da raizformativa comum aos referidos ncleos mineiros.

    A validade e veracidade das ponderaes aliceradas nos marcos referenciais acimadiscriminados viram-se prodigamente corroboradas nos trs captulos subsecutivos aoprimeiro. Na rea mineratria das Gerais, como demonstramos, decadncia econmicageneralizada aliavam-se, ao abrir-se o sculo XIX, elementos demogrficos igualmentegenricos; denunciava-se, assim, a gnese particular e a histria solidria dascomunidades ali assentadas. Como testemunhos eloqentes desta assertiva lembramos,a ttulo ilustrativo, por um lado, as crnicas dos viajantes europeus -- de cujos relatosressaltam as precrias condies econmicas com as quais defrontaram-se na rea em

    apreo -- e, por outro, o sistemtico predomnio numrico das mulheres no estratopopulacional concernente aos livres, derivado -- como pretendemos haver provado -- daemigrao do elemento masculino, nomeadamente dos homens solteiros da faixa etriacorrespondente ao pleno vigor fsico. Outros elementos econmico-demogrficos, comoos citados, encontram-se fartamente documentados nos captulos trs e quatro.

    Nossa pretenso maior, no entanto, sobrelevava o panorama analtico cujos lineamentosdescrevemos acima, pois, alm de procurarmos fundar as linhas mestras bsicas deestruturas populacionais decorrentes de u'a mesma formao histrica, perseguamos oespecfico e, se possvel, o singular. Vale dizer, colimvamos -- a partir das evidnciasempricas levantadas -- definir estrutur