LIVRO GOIANA REVISITADA - 1ºEDIÇÃO

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  • Silencio Interrompido, 2012

    Movimento Silncio Interrompido Goiana Revisitada Projeto n 0703/11 FUNCULTURA

    Coordenao Geral: Philippe Wollney correia dos santos

    Produo Geral: Thiago Pedro Gomes dos Santos

    Projeto grfico, Design e Diagramao: Vidal de Sousa / Bicho coisa design

    Movimento Silncio Interrompidowww.silenciointerrompido.com

    Indexador:

  • Na ltima dcada, a regio da mata norte pernam-bucana foi sede de importantes aes de formao e divulgao de novos autores. Estas aes foram re-alizadas por coletivos culturais, na maior parte deles formada por provocadores e agitadores da cultura, fa-zendo uma verdadeira ao de guerrilha, utilizando a arte, sem o dualismo entre o pop e o regional, con-tra o marasmo das polticas de lazer, entretenimento, educao e cultura nas pequenas cidades da regio.

    Esses fazedores de atritos culturais existem em prati-camente todas as cidades, se aglutinando nas praas, em pequenos shows de rock, em festivais como o Ti-pia, nos terreiros dos maracatus e cavalos marinhos, nas casas de Jurema, nas casas de coco, etc. Como o rizoma de Deleuze que conecta um ponto qualquer com outro ponto qualquer, e cada um de seus traos no remete necessariamente a traos de mesma na-tureza, ele pe em jogo regimes de signos muito dife-rentes e isso que estamos fazendo, e isso que se olharem, iro encontrar.

    A publicao, Goiana Revisitada, rene uma srie de autores que colaboraram ou colaboram ativamente com coletivo Silncio Interrompido. Autores de ci-dades como Timbaba, Itamb, Condado e Goiana. O nome Goiana metfora para o mesmo sentimento vivido no poema Lisbon Revisited de Fernando Pessoa Cidade da minha infncia pavorosamente perdida... / Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui....

    Este livro uma ponte, uma passagem, um catalisa-dor de futuras aes. E como diz o poeta Marcelo Ar-ruda em seu poema Goiana Revisitada A voz de um anjo gouche / Faz toda a diferena!.

    Philippe Wollney

  • Goiana Revisitada 13

    Com a velha faca

    Com a velha facaMe afago em teus braosE me mato por am-la.

    Farei

    Farei Qualquer coisaPor voc.Mas tudo, no.

    Efeito da caninha

    Entra pingaE gira o espaoOnde eu ficoMe embarao.

  • 14 Ademauro Coutinho

    O cigarro

    Fumo um cigarroTrago, me estragoDez minutos de vidaSe passa.

    Vale-menosCompanheiro!

    Estou no desesperoMe acabo com o cigarro.

    Dobrado dos ordinrios poetas

    Trrrrarra, T, TummTrrrrarra, T, TummVamos, ordinrios poetasCom a bandeira da poesiaVamos luta agoraAos nossos gloriosos diasNossas armas so os nossos coraesQue disparam sentimentosE assim venceremos a lutaCom a poesia.

  • Goiana Revisitada 15

    A valsa Saboeira

    1, 2, 3, 1, 2, 3, 1, 2, 3 A valsa chega at trs1, 2, 3, 1, 2, 3, 1, 2, 3 O verso chega at trs1, 2, 3, 1, 2, 3, 1, 2, 3 A valsa e o verso Terminam em trs.

    Sino

    O sino diz assim:Blem bom blem bomBlem bom.

    Vogais

    oiiieiiiuiii...ai

  • 16 Ademauro Coutinho

    A noite

    A noite se entregouA lua. A minha amadaSe entregou a mimCompletamente nua.

    Nu natural

    Luz No QuintalVindo Da Lua TalNuNatural

    Vivncia pessoal

    S quem me faz Sentir o prazer do viver ainda a poesiaEla desarma-me a almaE zela-me para a eternidade.

  • Goiana Revisitada 17

    Ser louco

    Em uma esquinaH um posteSer louco s quem pode.

    Frao

    Um sexto de absurdoDois sextos de loucura,A vida fracionria, Mltipla e divisiva e obscura.

  • 18 Ademauro Coutinho

    Malote

    MsicaMusaUsa MaconhaO malTe acompanhaA mosca dentre A entranhaA malditaMe acompanhaMotriz de maloteMarginal Dando golpe.

    A fila

    Passa tempoE horas.Entre um e cemOu at mais de milEstou na fila.Fazer o qu? Brasil.

  • Goiana Revisitada 19

    Sensibilidade

    O cachorro mostra-meAo levantar as patinhasO sentir da fomeA lagartixa mostra-meAo balanar a cabecinhaO sentir do medoJ a lavandeiraMostra ao me olhar de ladoE bater as asinhasO sentir da liberdade Que jamais tive.

    Andorinha

    AndoE adoroAndorinhaA voar.

    VejoNo veroTodas alegresA cantar.

    TristeFicaroQuando invernoChegar.

  • 20 Ademauro Coutinho

    Poeme-se

  • Goiana Revisitada 21

    Horizonte

  • O fim

    Eu estava a fimDe ter um bom fim.Todos tm seus fins,Sejam bons ou ruins.Enfim, o fim.

    22 Ademauro Coutinho

  • [ O POETA DISPENSOU A SUA APRESENTAO ]

  • Goiana Revisitada 25

    Antes do mesmo

    Cada passo de uma vezNo se pode ir, mas ireiIrei em busca do que no seiCaminharei por lugaresOnde o desconhecido habitaE faz jus ao seu nome.Cenrio da contradioTraz consigo uma vasta ilusoCriada para despertarTudo aquilo que est arquivadoEm minha memria.Lembranas, fleches, alucinaes,Labirinto estreito repleto de apariesOnde revejo tudoAt o passar do presente e do futuroAt o teatro que, em outra hora, tive que atuar,O mesmo que tinha uma passarelaQue caminhei h umas dcadas atrs,A mesma em que presencioO horror da vida, ausente distorcidaPor ressentimentos e mgoas abismais.Submerso e em trazerDesperto e perceboQue tudo isso no passouDe um confuso sonho que sonheiAntes de dormir.Estagnado, perturbado e cansadoTento refletir,Mas no consigo, e, novamente,Comeo a divergir para um mundoOnde no vejo nada,S marcas registradasDe que aqui ningum passou.E desencontro tudoComo uma profecia escritaPor um velho senhor no seu leito de morte.Retorno ao ponto de sada

  • 26 Aluzio Fidelis

    Dragar

    Dragarei a vida como um sopro morto que sai da [minha boca j lacradaPor outras guerras travadas e sem o alcance de [qualquer sucesso.Reunirei todas as foras do universo em prol da [minha prpria seita.Focarei, obstinarei o possvel e o impossvel para [concluir minha misso na terra.Recrutarei soldados com fome de almas, de almas [encarnadas, de crianasRessuscitadas pelo dio de quem as ressuscitou.Destruirei o mal, os maus pensamentos que aqui [ainda persistem em existir.Devastarei as crias malditas que esto por vir, devas [tarei a mim mesmo.

    E relembro que no houve partida.No estresse ps-traumticoEsqueo e durmoMas os problemas apenas comearam.Vm pesadelos para enlouquecerAtormentar, levar minha alma para outro lugarDistante, onde sou o mais fracoDos seres.

  • Goiana Revisitada 27

    Abstrato

    Sou o grito que ningum gritouO soar das doze trombetasA ressurreio daqueles que no foram e vivem a vagarSou ele, aquele de que ningum ouviu falarO que enviou f atravs da dor e sofrimento alheioSou o vento frio que traz calafrio e revive pensamentosQue nunca foram esquecidos Sou Judas, sou Joo, sou aquele que o renegou trs vezes,O desconhecido, o inconfundvel,A sombra de um feto em formao, a escurido,O que vaga a procura de sangue novoO que no deixa suas vtimas escapar,O impiedoso, o abstrato,Aquele cujo nome no pode ser pronunciado.

  • 28 Aluzio Fidelis

    Tudo por nada

    No h vida, nem estratgias e caminhos a serem [seguidos.O que se desfez no o mesmo que foi concedido.No auge das armadilhas pronunciadas os fatos [expresso falhaDe bruos e de mos atadas, o conformismo e o corte [e a navalha,O impulso, a hora marcada, a rua sem entrada, os [trincosQuebrados, a iluso disfarada.Bem longe, sem alcance do tudo e do nada,Sem justificativas ou histrias a serem contadas.

  • Goiana Revisitada 29

    A sensao de estar vivo

    Se um dia fui pensamento, hoje j no seiSe a algo extraordinrio nisso, desconheoSe tudo que foi dito fossem palavras de amorO que nesse momento eu vivo seria repletoE envolto de esplendorSe no houvesse justificativas e relatos de quemSe impe como vtima, os monstros desta histriaNo tinham criado vida.

  • 30 Aluzio Fidelis

    Morto o homem, morto o veneno

    No forneceram nenhuma palavra, ficou-se o silncio.Tudo eram olhares voltados para o cho e expresses [no expressasO debruar do suicdio em palanques repletos de [alguma coisa,Que, por mais que tentasse se formar, sempre acabava [numaAbstrao diferente da outra.Absurdos e negaes a cada passo, o confrontar.Reunies de coisas sem sentido para tentar entenderTudo aquilo que no foi ditoCerimnias em relevos de securaAmordaamento alheio, penumbra.

  • Goiana Revisitada 31

    Homem de pouca f

    Morri, no sonho exttico de mil orqudeas carnvoras [p sobre mimA ascenso e queda do meu mundo de arrogncia e [orgulhoNo caiu por terra, se desfez em mundo de quimerasOnde impera o dio acima de tudo.

  • 32 Aluzio Fidelis

    Molde

    De onde eu vim, os monstros escondem a caraSe disfaram em seus mundos de promiscuidade e [ilusoSuas faces de gesso pr-moldadas usurpam e encaram [toda encenaoTeatro de marionete esclarece, confere o cardpio de [novas imposiesO conjuro conjunto Vil e fdida posioDiante das mos de um escroto, ordinrias insinuaes,Alheio a tudo e ao outro, a fixao doentia de quem [no se contm,De sonhos impedidos, loucuras e frustraes, se [apunhala, se julga sem nenhum pudorSe vive do outro para si.

  • Goiana Revisitada 33

    Reino

    Memria extensa ao alcance de tudo que se perturba [e deploraAntro de discrdia, cubculo de cho escavucado e [imundoRestos em retalhos, faces do passado, expresso os [tormentosVividos entre labirintos e intimidades.Enclausuramento, abstraes da mente, mundo [desconhecidoInvisvel aos olhos e pensamentos.Cria prprio ninho e refgio.

  • Introduzir-se

    Vieste a mim como um filho bastardoChegaste igual a um mendigoRecolhendo os trapos de um outro algum que aqui [passouContaste histrias mirabolantes e cabulosasQue no convenceram aqum a tu contouMistificaste rvores, seres, pensamentos e saberesDestes o lado avesso do entenderCriaste mundos paralelos repletos de utopiasRebateste teoriasUsurpaste o direito de todos compreenderemFalaste pelos cotovelos em som de sinfoniaAo mesmo tempo em que perguntava respondia.Qual o teu objetivo no meio destas pessoas friasCujo propsito ver teu desespero e agonia?

    34 Aluzio Fidelis

  • Goiana Revisitada 37

    Naturalpoesia

    No preciso de formao para formar meus poemas, s preciso que, em formao, as informaes me dirijam.No preciso de literatura, pois o literal que tenho j est altura.O que me rege o que penso portanto, o resto eu dispenso. Dispenso regras, rguas, bom senso.Dispenso at a gramtica e toda essa grama miditi-ca que nutre com estrumo seus expectadores. Seus: espectros atados de dores.S preciso do meu mundo em branco, encadernado, encarcerado, escancarado como a fossa do senado!Para saber roubar preciso saber onde Braslia fica? preciso de aula de anatomia para saber onde colocar uma pica?Ento no me imponha essa mscara burocrtica que aprisiona o teu monstro.A minha cabea um bosque de ideias onde habita uma fera faminta e para que eu escreva basta apenas que eu pare, sente e sinta.

  • 38 Andr Philipe

    Produto dos Meios

    No meio do fim que est o comeo,No meio da caminhada aparece o tropeo. no meio da fruta que est o caroo,No meio de ns? Esqueleto ou osso.No meio da vida acontece a morte,No meio da carne onde se faz o corte.No meio do dio tambm h amor,No meio do peito sentimos mais dor.O despertar est no meio do sono,No meio da rua est o abandono.No meio da fome vem o alimento,No meio da calma que chega o tormento.No meio do ventre nos fazemos presentes,No meio das pernas nos sentimos potentesNo meio da noite um poema me veio, multiplicou minhas ideias me trazendo receio.O resultado eu no sei se bom ou ruim: O produto dos meios estar perto do fim.

  • Goiana Revisitada 39

    medida que o tempo passa

    No sei o que se passa, por onde passo tudo se des-compassa medida que o tempo passa.Porm, caminho passo a passo, sentindo no peito o peso do descompasso. E passo...Pois pensando no passado e percebendo seu compas-so, sei que o descompassado se compassa, medida que o tempo passa.

    Poeta cheia

    A chuva cai, enche o rio e acorda a cheia.Numa varanda, sobre o poeta, cai uma chuva de fantasias que encharca-lhe a alma, uma hemorragia internaexterna inunda o seu existir e o seu sanguetin-ta esborra, borra e jorra em sua avenida em branco no exato momento em que o vento sopra-lhe a nuca.Um sorriso, como um nctar, escapa-lhe pelo canto da boca. E o poeta, com o olhar esttico, observando o tudo no nada, percebe que meio rio, meio chuva e todo cheia.

  • 40 Andr Philipe

    Toc toc

    mais um poema em minha porta.So palavras amontoadas, em uma orgia generaliza-da, que s se escrevem por linhas tortas.Os dgrafos se divorciam. As slabas em adultrio enterram a norma culta num cemitrioE os hiatos, antes s, agora procriam.E eu, com muita cautela, no meio daquela orgia lite-ral, sem me deixar levar pelo carnaval,Apenas sentei e escutei todas elas.

  • Goiana Revisitada 41

    Ortografia Oficial

    Num pas de problemas entre aspas e frustraes com reticncias, preciso munir-se com hfens e ideias agudas,Se proteger com vrgulas nos ps e circunflexo na cabea,Para ver se conseguimos adiar um pouco o nosso pontual final.

    Brasil Letrado

    Enquanto troca de interesses mover a economia na-cional e polticos malabaristas for atrao no jornal.Enquanto nossos gritos de fome estiverem enter-rados no quintal e o bem comum servir apenas de lavagem para os porcos habitantes deste chiqueiro nacional..Haver ordem!!!Haver a mesma ordem digerindo nossos pensamen-tos e nossa fome ser saciada com mgicas, elabora-das em um plano alto.Um show de ilusionismo para distrair o irrespeitvel pblico e nossas casas sero o eterno bero de um Brasil ldico.Enquanto a embriaguez da cachaa apagar o sangue derramado das nossas memrias e letrados, com canetadas, democratizar nossas histrias,No passaremos de letras a enfeitar o livro nacional das mutretas.

  • 42 Andr Philipe

    Verdade em 7

    Se 7 vidas eu tivesse,7 caras no teria.Tudo de 7 eu comprava, Tudo em 7 eu teria:7 mul arrumada,7 x 7 crias.Se 7 inimigos eu tivesse,7 males no plantaria,Pois por mais que em 7 eu tivesse7 palmos me esperaria.Ainda que o 7 me atentasse,Jamais eu mentiria. Se 7 milhes eu ganhasse,7 milhes comeria,7 dias eu cantava, Por 7 dias eu beberia,E se 7 mil anos eu vivesse,Por 7 mil anos escreveria.

  • Goiana Revisitada 43

    ssi-fonia

    Sempre sabendo saber, subir e sofrer, sigo sentindo, sem sombra, som e sentido, sorrindo, sambando, sangrando e sumindo.Sentado sozinho em suma sina, sujo, sbrio e sobera-no, sirvo sonmbulo a sonhos sutis, seguro segredos santos a cingir sintonias ssmicas de sinos suburba-nos.Simtricos sons simultneos, sintetizam sigilos sub-terrneos, saboreiam sais subcutneos secando os sabores so das senzalas.Srdida sacarose sacramentada, suor simboliza sua semelhana,silncio simplifica suas sinistras substn-cias: semestres selvagens e senhores sem semblan-tes.Sculos e sculos se somaram, socorros soaram em salas sem sanar e simplesmente sigo surdo a solfejar, esta sistemtica sinfonia de Ss (ssis).

  • 44 Andr Philipe

    Um ser pedra

    Expor-se s pancadas do vento, tornar-se alma pura ao relento, travar caminhos como a angustia de um corao ou servir de escravo ascenso.Gritar palavras de dor e afago como o olhar do silen-cio que h aps um estalo, ser forte e segura gruta quando no bela ou da paisagem ser forma bruta e assim singela.So mutaes que exponho abertas, roubadas dos cofres do tempo, quando nele buscava acalento, na experincia de tambm ser pedra.

    Ao menos um poema triste

    Oh, minha linda fada dos cabelos de neve, ainda sinto teu afagar como a bruma caminhando devagar sussurrando no ouvido da noite.Sinto teu olhar atento, teu corao apertado, desper-diados nesse poo de nada que sou.Entristece-me ter que imaginar-te morta para arran-car to pobres palavras despidas de alegria.Mas tambm alegro-me por poder te dar, ainda em vida, ao menos um poema triste.

  • Goiana Revisitada 45

    Retorna

    Os prazeres da vida agora te gritam, te querem como um faminto a procura do po, agora no h mais sim, apenas no e acalento tu encontras at naqueles que te irritam. Nos teus olhos, toda luz que chega pouca, eles agora fazem papel de boca, gritando as verdades que ests a sentir, sabendo que a ltima coisa que pensas em mentir.Neste cho sujo que te lambe, tua intimidade com o podre se emana, teu prprio corpo sem d te engana, pois a saliva que agora engoles sangue.O cheiro, o vento, a cor, o gosto, o sol, o cu, a gua, o mar, nada disto poders carregar, apenas a dor e o desgosto estampados no rosto.A vida, mais que tudo, agora s te pesa, do prximo, esperais apenas reza, ou nada, que agora tem valor de tudo.Entrega-te, repousa teu corpo em tu me terra, aqui j fizestes o que tinha de fazer, no ventre em que nascestes tu h de jazer e no mundo em que vivestes agora te enterras.

  • [...]

    Sob carcias matinais, desperto esperto, ereto. Beijo a boca do dia, com prazeres mato minha fome, quando um orgasmo me consome e um sopro na nuca me arrepia.Hoje, as orgias sero meu prato principal!Vou comer o c do mundo!Romperei o hmen da noite!E nela, fumarei os cus, beberei os mares, cheirarei todos os ares...E a noite prenha, a sentir as dores do parto, da gesta-o em que me encaixo, dar a luz a um novo dia.

    Refeio Dominical

    Pela manh, logo aps acordar, desjejuo um cigarro de pensamentos para que eu possa me exercitar, apenas: caminhar pensando.E na feira, caminhando em pensamentos, esqui-vando-me entre pechinchas, encho meus bolsos de preos, compro tudo aquilo que eu no posso,tomo uma dose de olhares sugestivosE volto para casa, digestivo,com meu prato de papel vazio, mas batendo na barriga e arrotando poesia.

    46 Andr Philipe

  • Goiana Revisitada 49

    Revisitada

    Que Goiana torne-se Ainda mais revisitadaCom todos esses poemasQue tentam de alguma formaExpressar o que est preso dentroDe cada poetaDe cada lugarDe cada sentimentoDe cada objetoDe cada desejo.

  • 50 David Borges

    Passo da tarde

    E passa.Vai passandoTransformando passa.Ela veio at aqui:Mas no me viuNo me ouviuNem escutou qualquer que fosseDizeres adormecidos.Tudo isso porque no lhe convinhaSaber de mim naquele momentoCom aquelas pessoas que l estavamSentadas, sorrindo,Lembrando momentos.Mas tudo passa,Vai passandoVai sendo,Transformando passa.

  • Goiana Revisitada 51

    Dentro do nibus.

    A lua tem seu sorrisoSorrindo encanta a mimO nome dela:Lua novaOu nova lua!Ela sorrindo est bom assim.

    A lua tambm choraE chorando faz choverLgrimas que em si imploramO amor do anoitecerA lua Sempre No cu E o cu Sempre

    Com a lua.

  • 52 David Borges

    Cotidiano mpar

    Na mesa:Comidinhas, besteirinhas, amorzinhos e panquecas.Nas cadeiras:Olhos famintos, dentes estragados e muitas pimentas.No quarto:Dois amantes obesos deitados E acordados.No banheiro:Uma palidez interessanteCom seios delirantesE uma boca cuja cor vermelha.No corredor:Uma bblia e velas acesas.Vrias fotos e pensares,Algumas moedas,Talvez uns tantos tostes.Na varanda:A luaE a escada repleta de degraus e segredosQue por sinal no revelam por nenhum motivo.No por que so segredosE sim porque no sabem falarO legado humano!Na mesa:Comidinhas, besteirinhas, amorzinhos e panquecas.

  • Goiana Revisitada 53

    Outubro/Novembro

    J vejo os carrosTransbordando versos rimados.Ao ponto de ficarem na cabea dos homens Angustiados, empobrecidos, alienados...O nmero do candidato opressorQue no far mais nada depois de eleitoA no ser gastar em hotisO dinheiro o seu dinheiro?

  • 54 David Borges

    Exploso de sentimentos

    Estava andando depois,Corri e ca sobre a poa.Levantei-me, olhei-me,Nada tinha acontecido.

    Voltei a andar.Corri e percebi a esquina - pareiVivenciei e senti.

    No voltei a andarFiquei parado a olharLembrando o dia que l nos despedimos.

    De repente volto a andar Pensei, sorri e corri.Gritei:Eu amei, amei.

    Logo na frente, L estava ela,Sempre mulherOlhar de sol!

    Acenando com as mos E esbanjando sorrisos.Fingindo que nada tinha acontecidoEm tempos de outrora.Pediu-me um beijo E abraou-me dizendo:Acorda... E acordei!

  • Goiana Revisitada 55

    Chuvas de outono

    A dor vai descendo do cuFeito gotas de chuva.Caindo devagarzinho,Serpenteando no ar.

    Faz-me lembrar do universo,Da sua imensido em expanso.Do tempo em questo.

    A dor vai descendo do cuFeito gotas de chuva.Vai me molhandoE vou querendo me protegerEmbaixo do nada.

  • 56 David Borges

    Rua da saudade 27/05/12

    O meu corao vem andando cansado.Querendo livrar-se das lembranasQue so lgrimas caindo do cu.Cada gota um pequeno detalhe Que me afunda no abismo da solido.Logo vm as minhas lgrimasQue me afogam no tempoDas insensatas palavras cansadas.Amarrotadas das lembranas incansveis. Guardo no meu coraoTudo que poderia ter sido e no foiDesde o dia em que chorasPor minhas foradas mentirasAprisionadas no calabouo do tempo.Restou-me o tempo das horasEm que fomos amor eterno.Agora meu corao est cansadoDe procurar tua presena em cada esquinaPreso na teia do sonho aladoViver de recordaes minha sina.

  • Goiana Revisitada 57

    O goianense

    Desculpe-me.Ouvi falar que em 2025Ano do distinguir,Existir um evento global.

    Aldeias inteiras criando culturaCom o propsito de mostrar ao mundoSuas formas de sobrevivncia.

    No importar qualquer discurso.O lema aproveitar o porvirEm um mundo onde o medo no existe.

    Um tempo em que a gravidade,Regente no espao,No ser mais capaz de nos acorrentar Na terra.

    Habitaremos outros universos E nos transportaremos para outras matriasDesde que deixemos a imaginao fluir.

    Nas noites:Flautas psicodlicasTocadas por caboclinhos Desencadearo sucessivas migraes.

    O mundo dos agraciados j comeou!

  • Tomates, cebolas e carnes podres.Em meio ao sol,As moscas do mercado,E aos sonhos sobrepostosAo que chamamos de dor.

    Entre a carnificina constanteA vontade de sair gritandoChorando, pedindo aos senhores Donos da matria escrupulosa,Que morram e desapareamPor onde adentraroNo mundo dos odoresInerentes dor do homemAo saber que iro apodrecerJunto terra de bactriasAnsiosas para alimentar-se.

    58 David Borges

  • Goiana Revisitada 61

    Erupo de min

    Meu pensamentoum vulco.Distante ou prximoameaador.Equilbrio dos naturaisracional dos mpiosretrica do orador.Pensamento o vulcoda minha loucuradas atitudes de dourada estrutura dos meus erros.indecisosou capazde provocarmaliciarou me iludir,mas nunca fugir.Portanto, a superao de mimo ritmo ideal dos vermesque saem do subconscientecomo asas do amor que crio,que passeiam por meus olhos,como noturno dos desejos meus.So meu prprio namoradoesses pensamentos meus...

  • 62 Francisco Neto

    Obscuro

    Sinto sombra glidae sentimentos apavoram-me.Percebo no canto do pssaroa celebrao da escolhalcida e estpida.Arrependimento se apossaentristecee no me esquece!Cada pena que caime fortalece daqui. to difcil como tudo que passeie to ardente como tudo que vivi.Prximo te vejo sombra,dentro te vejo frio.Porque descansar em mim,inimiga maldita sem calor?E ainda que me liberte de ti,me trazes a lua e o pavor.

  • Goiana Revisitada 63

    Saudaes!

    Sim claro, podes entrar!(...)De incio, aqui meu jardimNele soa bastante fogo e algumas lgrimas sbrio e tenebroso!Com mais dois passos, a parede da saudade.Agreguei bastantes imagens, fiz perceber bastantes cenas.O teto, de onde os eclipses so melhores percebidos, quando estouna escurido em pleno meio dia.De sada, perceba uma atmosfera pesada.Odores que penetram em ti, petrificando!Oh... acorde!No... nossa!!! voc ser mais um humano que terei que ocultar!Oh... acorde! Por favor!Isso so apenas coloridos do meu ser!Desencante!... mais uma alma aprisionada!

  • 64 Francisco Neto

    retorno

    me d teu sorriso que eu retorno pacinciame d tua esperana...para que eu voe com ela me d o brilho de tua face....para eu te conduzir bons tempos me d o teu medo....para eu te retornar coragem... me d teu corao para eu te dar amor

  • Goiana Revisitada 65

    O louco que sou

    cantaa bandame encanta(...)a msica que sou

    soao ventoque penso(...)me transformo em p

    levoao lamentoo que sofro(...)jamais me trairei por d

    tremoo que sintome conveno(...)do louco que sou!

  • 66 Francisco Neto

    Minhas cores

    eu sou arco-ris e sou borboletaposso voar quando quero...pintando o cu belamente

    minhas cores te chamam atenoenquanto me assistes do choenvolvendo-te apaixonadamente

  • Goiana Revisitada 67

    Morte que se aproxima

    Oh, doce morte que se aproximaencantas meu pensamentocausando ilusesMe sinto confessionrio da luaou depsito de ltimos carinhos.Oh, doce morte, se aposse de mim, sei que sou seu alvoe quando acabares de vez com este horrendo pdominaremos juntos coraes inquietos.

    Minha respirao profunda, porm silenciosaminha lgrima impede que eu veja o testamentomeu corpo j no obedece maisescravo da lua que vem guiando a morte

    agora ficarei quieto at ser quebrado o encantoestou aqui, entregue, possua-me

    essa sensao maravilhosa!

  • 68 Francisco Neto

    Coraes decadentes

    Corao frio e fervorosoagitado e estratgicoflutuante e compassado... exclamtico e duvidoso

    estruturado pela pureza,desdobrado realidade

    Vale mais um nico corao potico,apaixonado...que dois em um, porm decadentes.

  • Goiana Revisitada 69

    ... e na fila de mais uma refeio diria,Vendo no semblante de cada faminto a expresso tensaA hora indicava o caminho do refeitrio aos outros distantes daliE num quase momento de desespero, uma voz foi ouvida:Senhor, multiplica!

  • 70 Francisco Neto

  • Goiana Revisitada 73

    Cactos

    Espao territorial demarcadoObeliscos de espinhosArranham Lembram-me que estou na labuta sozinho.Entram no paladar e no tatoPalmo a palmoDe mo em mo.

  • 74 Geisiara Lima

    Caldo de cana com po doce

    O sol refletindo na palha da canaO gado migrou pra outros pastosO doce no mais de bananaNo h espao.Meu velho cortava rpidoS tinha um denteBebia o caldoNunca chupou cana.

  • Goiana Revisitada 75

    Estrada 3,22

    Arbusto, susto;Cobra crida.Norte, corte;Toda vez que mudo a saga.

    Vento, lento;Carregou o leno.Bosque, sorte;Desta vez dou as cartas.

    Dinheiro, desespero;Roubaram-me o cabelo.Medo, cedo;Ainda tenho um dedo.Desejo, queijo;Um amante que no me diz nada.

    Ingls, caipirs;Eu mal falo portugus.Saudades ou estupidez;Vejo que aprendi pouco por essas estradas.

  • 76 Geisiara Lima

    Garimpo

    O suor, o sol, o cu.A desgraa de no ter um vuConfiar nas bordas do chapu.

    O sol, o cu, o suor.Chorar para desidratar ainda maisCom a certeza de que as lgrimas vo virar p.

    O cu, o suor, o sol.Suportar.Quem sabe na vida faz bem desmaiar.

  • Goiana Revisitada 77

    Silncio Interrompido

    No silncio do desprazer A desgraa que procurar e no achar.Sinto-me num quarto fechadoDe cortinas incrivelmente brancas, Ps quentes pra qualquer morto puxar, Tenho a bvia ideiaDe bagunar os quadros, Quebrar os vasos,Abrir as portas do armrio.O que eu quero:No normalidadeTo certo, nos leva loucuraO protesto nos deixa mais perto da razo.

  • 78 Geisiara Lima

    Chove

    No consigo gostarDesses dias de chuva.As paredes midas,Nascem ervas no telhado,Prximo cruz da igreja.O obelisco preto e brancoPerde a ponta afiada.Quando o guarda-chuva estava quebrado,Molhei a ponta dos ps,Desapontei-me,Voltei para casa.

  • Goiana Revisitada 79

    Banho

    Derramo o caos nas mosEspalho entre os dedosAqueo as falangesEsfrego no queixoDescendo pelo pescooEntre os seiosCintura abaixo...Como se no bastassePreciso que suje as pernasE se complete nos ps;Eu sou atrozMeu banho tambmEstou ferozLouco para me encostar em algum.

  • 80 Geisiara Lima

    Desejo

    Coo, coo, coo! Que dio!?Arranco os pedaos, Lano o maldito esprito da perverso.Conduz a mo a um prazeroso machucado.Corto-me, mordo-me, Sangra-me!Que eu possa reagir?Que eu possa desistir?Sair desse Estado Expulsa de mim As gargalhadas do diabo.

  • Goiana Revisitada 81

    Feliz demais

    A saudade tem segredosQue j no sei mais,Meu amor tem mistriosDe outros carnavais.

    Meu bloco sai cedo,No deixa ningum para trs.Foi l que encontrei teu calor,Minha falta de paz.

  • Falsa Arcdia

    Embora tenha dormido no instante da batalhaTraste tua ptria!No lutaste por Atena nem por Esparta.A vitria... Seja o que Deus quiser,Mas por favor, esquea-me, mulher!Agora acusa-me, insulta-me, por antigas heresiasPodias?Justo tu, aquela que foi minha um dia.

    Segue o homicdio, fere-me com minha prpria espadaNo adianta, espanca!Desta boca insensata no ouvirs mais nada!Vida vaziaAinda assim, vida minha!No menos fria que esta tua gargalhada cheia de mgoa.Leva teu horror para longe de mim,Pois j afoguei minha dorCom outro amorEm transas verdicas Fora orgia dissimulada!Deusa desajeitadaEnche tua casa de flores, Mas de amores no entendes nada!

    82 Geisiara Lima

  • Goiana Revisitada 85

    A reboqueEm parceria com Valfrido Santiago

    Vem da mistura de sal e manguena boquinha do marbem sabes que te sei assimcomo a vazante de um riosargao que aquece o friotempestade ao navegar

    essa ciranda me vemda Barra de Catuamamenina diz que me amavejo isso em teu olhargestos s teus sei guardarcheiros que trago comigouniversos em teu umbigoaprendi a atravessar

    saudade vem a reboquemarejando o meu olharcom lgrimas faz meu caminhomarinho cavalo a girarbalana tua saia morenalevanta a poeira do marciranda s sou cirandeironada tenho para te dar.

  • 86 Jos Torres

    AzouguePara o mestre ceramista Gercino Santo

    Do Curtume a soltar seus cachorrosespoletado com a ignorncia do mundoGercino de santo tem o sobrenomee o dom de modelar no barroimagens de mulher e homem

    forjado por lajedos e espinhosde um Serto cravejado no dorsotraz calejados alma e ossosa revirar os destroosque a vida impe sem carinho

    a dar saltos-soltos no terreiroao som do banco de um Cavalo Marinhocomo um Mateus azougadobrilha o mestre iluminadoa exorcizar as agruras do caminho

    sua palavra foice afiadaqual ponta aguda de uma guiadado fundo do corao arrancada tiro certeiro de baleadeiraestampido de espingarda

    ah, esse caboclo arretadoque no se curva e no se calatraz guardado no fundo da malaverdades nuas e cruascrendices e cabalas.

  • Goiana Revisitada 87

    Goiana

    Do alto de Maravilhascontemplativo o olhar plainasobre tapete verde de canaa deparar-se com alvas torrescampanrios de seculares igrejasfrondosas copas das fruteirasque ornam stios e quintais

    no sentido opostoSanta Tereza observao outro lado do rostoonde a cana tambm esparrama-sealtos antigos telhadosdos sobrados avarandadospalmeiras e coqueirais

    no corao do verde valeentrecortada por rios e manguesexpande-se prspera a vidana pacata velha vilaa espreitar ao longeo fumegar dos altos bueirosde Santa Tereza e Maravilhas.

  • 88 Jos Torres

    InterfernciasAo Silncio Interrompido

    Ao clarear de versosretoma o sobrado a luzque iluminara a ruaem noites nuas de luas

    da varanda, outros atoresrasteiam cnticos do passadoque ainda cortam silnciosem que se atenuem as chagasdispersas sob sombrasde amontoados de sobrasintentos de textosque reclamam desfechosensaios de uma nica obra

    perante eles, vozes mudasde inslitos mortos instigamlevam-lhes a revelarem-sea revel-las em um tempoque no mais as pertence

    sob luz tnue abrigam-seos instrumentistas em transea traduzir senhas de versosque segredam muitas almasa reacender palavrasdot-las de suas asase atir-las da varandasobre a cidade incrdula.

  • Goiana Revisitada 89

    O Corte

    Lagarta caule palhacana verde arroxeadarasteira rastreia o cho

    lagarta fogo pelonos limites do aceiroincendeia noite claro

    lagarta lavoura secaamanhece ao cortedo gume do faco

    lagarta resto de morteossada que se retalhagolpe de mo mo.

  • 90 Jos Torres

    Prosa na casa de Luiz Para Luiz Gomes Correia

    luminosidade de uma noite que j se fazia tardenos Martrios de uma Goyanna sem idadeem larga mesa servia-se boa prosadas que o tempo no tem pressa de acabar

    Cenas ldicas imaginrias projetavam-seao emaranharem-se pensamentosenredos esparramados por canaviaisengenhos de acar e seus coroniscasas grandes e senzalaslembranas em tragos esfumaadasem aguardente de cana embebidas

    Cristalizava-se, assim, toda uma vidaao sabor do mel da rapaduratendo como protagonista uma Goianacujo presente no faz mensura

    Ao clamor de uma poesia latenteartistas da pelcula, da palheta e da palavrada calada da noite alta emergiama revirar bas do imaginrioimagens barrocas dos santuriosas dispensas e os armriosdas fartas cozinhas das sinhazinhas

    Goiana, sem reservas, a fervilharao fogo da caldeira de lembranasregozijava-se bela e brilhanteromanceada pelas lentes vidasdos recriadores dos seus sonhos

  • Goiana Revisitada 91

    De seus manuscritosLuiz a pinar prolasa revelar relquiasEmmanuel fumegantequal bueiro de usinacom emoo declinaimagens esfuziantesdo-se as mos a rodar na cirandabatem com fora os ps no choa marcar a cadncia do ccoaplaudem mestres artistas brincantesfeito meninos poetas loucosqual quando criam os deusesou ns humanos mergulhamosem nossos sonhos mais doces

    Taas viradas garrafas vaziasquando da Matriz repicam os sinosa despertar a Goiana presenteuma cidade indiferenteao seu passado de poesia.

  • 92 Jos Torres

    Quem tem medo de caboclo?Em parceria com Valfrido Santiago

    Na batida do meu ternoo clamor da anunciaoprenncio da alquimiao profano e a devooo torpor da fantasiaproclamando a iluso

    sou caboclo sou lanceiropersonagem de um enredotrago aqui neste brinquedoo mito e a tradio

    dano contra o esquecimentopreconceito e ignornciade quem no sabe a importnciada batida de um surroda sambada no terreiroe da guiada em minha mo

    sou peo de todo diada palha da cana e da feiraNova Goiana e Flexeiraso mito e a tradio

    gola adornada de estrelaspapel de seda o chapuazougue a saltar os olhosnum girar de carrosseltiram loas grandes mestresdo esfuziante tropel

  • Goiana Revisitada 93

    sou Z daqui o Z que criaemblemado por trs diasembebido na magiao mito e a tradio

    guerreiro de f e foliaestrondoso batalhono estandarte a estampade um garboso leoda rua se apropriarodopia o folgazo

    segue o meu baque soltomaracatu eleganteminha alma de brincanteo mito e a tradio.

  • Quimera

    Quero plantar palavras floresnos canteiros da tua cidademas tua cidade no s jardimsua arquitetura concreta atirapalavras pedras sobre mim.

    94 Jos Torres

  • Goiana Revisitada 97

    (Anti?) Auto Retrato

    Sou sensvel.Assim como todos so.No h medida para isso.Que seja igual para as pessoas.Dentro disso, gosto de escrever.Assim como de comer, beber, dormir,Trepar... tudo isso vital pra mim.Sou um poeta bundo.Um poeta funcionrio pblico.Escritor de domingos e feriados.Sou amigo da ordem e da temperana,Da proviso e da abastana.Nada mais importante pra mimQue o bom juzo dos outros eGarantir a feira e o leite das crianas.No h nisso nenhuma filosofiaQue no o meu prazer pessoal.E foi to fcil confessar-me o burgusQue sempre fui. No doeu nada.Hoje transo sem culpaOs meus baratos burgueses sem buscarNenhuma explicao exotrica para isso.Gostaria de ter nascido na idade mdia.Mas, como no nasci, no acredito emMenestris (nem mesmo menestris Acreditam em menestris. Mas como viveriam,Se no fingissem acreditar em si mesmos?).Acredito em bobos da corteQue amargam uma existncia somenteTentando provar que no queremSentar no trono. Isso lMotivo bastante para se viver?E no captulo das contradiesNo sou melhor do que os outros:Tudo o que chamo ridculoNo fundo quero imitar.Achando as minhas fraquezas,Quero mais forte ficar.

  • 98 Marcelo Arruda

    cio a idade dos poetas mortos

    Gostar de futebol e ser maridoInspira mais cuidados que um poemaBarroco, porque se quer penaCom que se compense o proibido

    Embriagar-se noite, sob estrelasFaz-se mister, porque romantikitschE, sobra inevitvel do fator humano,Celebraremos o que no existe.

    De sorte que iluso e morteSob a gide da vida coexistemE, fosse eu o mago do universo,

    Faria apenas uns poemas tristesCom o dom de reviver o mar vividoCom a alegria de quem sobrevive.

  • Goiana Revisitada 99

    Da inspirao

    Da vida, este mar noiteE a certeza do sol

    Do amor, as estaes constantesComo as voltas de um farol

    Da poesia, o frenesi, o choqueSucedido da palavra urgente

    De ti, um monte, um perfumeUm feito que te faz diferente.

    Leitura

    O poeta, o som, a noiteUma estrela, um verso, uma notaE um mar por navegar

    O horizonte, o crculo, o tempoO signo, a palavra, o universoTodos por desvendar.

  • 100 Marcelo Arruda

    O meu canto noite e diatenso eterna e o que falona estrada da poesiasou cavaleiro e cavalo.

    A um tempo blsamo e feridameu canto luta rendidaentre o real e o ilusriofilme nunca vistoquanto mais a mim conquistomais corro sem territrio.

  • Goiana Revisitada 101

    Rua Direita

    O nome oficial de marechalCondiz com a igreja matrizE com o desfile na data nacional

    O clube social, tradicionalCasa com a missa das seisE com a fachada da cmara municipal

    Senhores gordos, falando de vida duraBalanam-se molemente Em frente ao prdio da prefeitura.

  • 102 Marcelo Arruda

    Passeio pelas cercanias de Goiana

    Nas sadas choasPrenhes de pobrezaJazem aos ps da camaComo nos ps da mesa

    De ricos senhoresSe pastassem ces.Um garoto sujoMastiga a 3x;

    Chupa satisfeito o pobre infelizO alimento deTodas as manhs;

    A fome o persegueIndigesta e amaraNo a mata a cana,Mas a aucara.

    E o gigante verdeSegue ao longo a pistaSe estendendo atOnde alcana a vista.

    No corpo do momentongreme atalho:Onde est a batata,A cebola, o alho,

    O tomate, o aipim? cana, cana e cana,Paredes sem fimDe alta haste e palha.

  • Goiana Revisitada 103

    Na caminho: capim,Bosta de cavaloE, homem, muita cana,Cana a abastard-lo!

    E eis que chega ao rio:Peixe morto e lama corre encurraladoNo meio da cana;

    Vinheto o persegueNo curso at o mar s sossega quandoO asfixiar.

  • 104 Marcelo Arruda

    Cidado Z

    Estou aquiH quatrocentos anosCortando a canaQue nunca foi minhaFaz quatro sculosQue rezo um credoQue no entendoE no acredito

    A vida inteiraFui filho da putaMeu pai navegaEm mares mais amenosMinha me tem tetasFartas e distantesQue no alcanamSeus filhos pequenos.

    Cena

    O rio se espreguia no invernoTranscende as vs fronteiras do seu leitoos meninos o entendem e vo com elemergulhando da ponte no seu peito

    o homem se agarra a sua velha casaouve calado o gargalhar de gozoo homem pensa mais do que o meninoo homem j tem medo do que novo.

  • Goiana Revisitada 105

    Senhores donos da terraJuntai vossa rica tralha Vosso cristal, vossa prataLuzindo em vossa toalhaJuntai vossos ricos traposSenhores donos da terraQue os nossos pobres farraposNossa juta e nossa palhaVm vindo pelo caminhoPara manchar vosso linhoCom o barro de nossa guerraNossa batalha sangrentaComo diria RosildoEm Quixote e um Sancho PanaOu um Sancho Pana e um QuixotePois no vale muito a morteMas a glosa que se entranaO verso mais que o poetaO canto mais que a violaMais que a ida e que a voltaA viagem a descoberta

  • O arteso

    Com os olhos v o que vem todosE filtra a imagem no corao.Depois, um deus, d forma ao pCom o instrumento da emoo.

    H que usar gua da fonteDe quanto o homem tem sido.Nunca esquecer que barroVendo-se assim refletido.

    Bate, amassa, afaga, e eis a peaA que empresta o sopro da vida.Uns chamam dom, outros ofcio

    Ao seu trabalho de criao.E ele, como que parindo,Vai construindo mundo com as mos.

    106 Marcelo Arruda

  • Goiana Revisitada 109

    Eroso e Restauro

    Espiritualidade se manifesta na impossibilidade da ima-nncia de sustentar um sentido para a vida, na coerncia no pensar, falar e agir, e se revela por processos intuitivos, linguagem indireta, potica e simblica.

    Ferdinand Bohr

    Os profetas so encarnaes de estados da conscincia.

    Roberto Crema

    Devemos colocar o pensamento contra o pensamento (fi-losofia o trabalho crtico sobre o prprio pensamento) dever ser uma prtica comum, para qualquer um, e no exclusivamente dos filsofos, a prtica o levar tica como esttica da existncia (no h como negar, negli-genciar a poltica). Inventar a si mesmo como arte, a vida como obra de arte.

    Foucault

    Hoje, a morte habita a justia.

    Passetti

  • 110 Philippe Wollney

    Eroso:

    ndios do Xingu, Pedros, Joss e Joos de serra pelada, monge Lungten em seu protesto de fogo, Yan-Tsen da pra-a celestial, quantos, quantos mais?

    P.W

    Transformaes econmicas vo desarticulando as comu-nidades tanto no nvel rural como no nvel urbano o que pode ser considerado como eroso cultural. Perde-se as prticas culturais, os dados culturais acumulados histri-ca e tradicionalmente por certos grupos sociais.

    Whitaker

    No possvel atualmente o neoliberalismo gerar riqueza sem provocar violncia, guerra. Tornaram-se antagnicos valores como progresso e paz, direitos humanos e desen-volvimentos.

    Frei Aluizio

    Que esperar de mim? / No sou ningum / No me puxe pelo brao / Sou revel / A minha conscincia o verme / E eu sou o cria corvos.

    Sebastio Uchoa Leite

  • Goiana Revisitada 111

    afasto a fuligem dos meus olhos com um sopro frio anunciando chuvas de vero : limpo o ms de dezem-bro : o ar menos denso deixando sedimentar todo o carbono cuspido pelo canavial sobre vlvulas & cal-deiras & destilados & cristo branco cristalizado : esse demnio sacralizado cnone econmico dos tropicais em desenvolvimento : ruas mudas o medo uma musa diablica que vicia pela publicidade de sonhos parcelados : o autoexlio no garante a eminncia de parricdios & suicdios & jogar a criana junto com a gua suja : passada a era da eletrodomesticao a selvageria do sexo virtual em hiper-sub-mundo de bits & clicks & erguem-se babilnias de simulacros da vida no-privada em faces-flickrs-blogs-kuts - o c or butt & da minha janela virtual ou no (mas isso j no importa) assisto incinerar (por mais uma noite) lixo domstico : sof restos de almoo papel de banheiro rato morto defunto avirio panos de feridas : crianas entre as chamas & esgoto em minha sub-estao--reptiniana goianagonia em pernambucanalha : uma histria de contradio-sobreposio-no-linear de sculos & sacaroses & celuloses & celulites & sanat-rios : um escritor louco & sem bom-gosto & bom--senso entre a crise do econmico & do ecolgico : entre os microestados do narcotrfico & os micro-processadores da microsoft & marisqueiras entre impostos & importados & china & chique & chico & chopp & champignon & charque : o rural urbanizado deteriorado homogeneizado em plantations & agro-txicos & vinhoto sobre o solo : controles artificiais de comportamentos sociais que j no conduzem mais ao idlico hectare da lavoura familiar : b-boys & boias frias & bumba-meu-bois & black birds escoam em magahertz banda larga via satlite de tradio : pop--pobre-puta mpbunda num muro moralista

  • 112 Philippe Wollney

    classe-mdiocentrista quem aparece mais num trio midioeltrico? : a zona da mata pernambucana mata mesmo : mulheres pretas de floresta infantisem seus esforos de mes-vivas-videntes & sobrevi-ventes de holandesas batalhas a ferro & fogo & pau & pica & pus & pesca & palha : marisco-muqueca frutos da mar que salga a carne como se se preocupasse em conservar mesmo que a seco o couro de um cu crespo em mamas murchas magras : crianas sem calo imaginam nuvens na espuma de bar na ira da boca no infecto rio na fenda ferida na fria forquilha na fome falange avante nas ruas tortas & lamacentas & iluminadas por postes de mercrio que no cica-trizam & nem envenenam apenas nos iludem com um suposto tom de dor & fim de tarde : homens que cortam & cantam & comem & cospem & danam & doem & dormem & adoecem & adocicam & domes-ticam a fome & a sede & o medo & a morte & depois--da-morte voltam & matam & bebem & fumam & falam & calam sentados velhos-pretos de pelos bran-cos tragam fumo & sonhos em tamborete & canto de parede & balco de bar

  • Goiana Revisitada 113

    Restauro:

    A existncia brotou do silncio atravs de um berro criati-vo na enorme espiral trilhando a potncia guia surgiu da minha anarquia.

    P.W

    No universo existem inmeros compassos, ds/compas-sos, ritmos simultneos, sem contradio, direes dis-tintas ao mesmo tempo do mesmo corpo, sem anulao e tudo mantido pelo tempo. O tempo passa por ns, e senti-mos seus efeitos, do passado e do futuro.

    Jorge Mautner.

    Ao dizer a palavra, expressamos tambm a existncia. Se edificarmos um viver mais amplo e integrado, tambm assim expressaremos a nossa palavra.

    Roberto Crema.

    O mundo real no se manifesta atravs da lgebra, geo-metria ou fsica, mas mostra-se no seu todo. Do mesmo modo o homem e sua ao no se manifestam indepen-dente de seu entorno natural, social, cultural e emocional.

    Ubiratam Ambrsio.

  • 114 Philippe Wollney

    pendes floriram no verde silncio : pssaros meus filhos legtimos com a ave vni virgem : degustam a brisa & o pr-do-sol & vrzeas & vertigens & cogume-los & lrios & chs & chs : ao longe ps de ips flocam os restos da mata com o seu prprio sol : irmos de fluxo & flido o capibaribe-mirim & o tracunham na simbiose das guas : jovens fugitivos do concreto cortam bambus & jangadeiam no aude imitando jacars de papo amianto num dia de sol & de nuvens tambm sobre seixos & segredos & sexos & schito-somas : miragens de monstros guaiamus arrasando sob as patas oito igrejas de calcrio sinistros calv-rios de negros sisudos mas o perdo por essas terras unem os desejos de viver : verdes vergis de angico & vajuc & jurema preta & branca assombraes do Jaragu : oxum exu ax xang xam : pretos antiqus-simos deuses ainda mais caboclo de urorub els & ebs : astro-nautas baixam num ponto-ponte canto--iluminado num tor-profano-colrico-esperanto : a tecno-umbanda soa nas periferias nos seus terreiros--terraos de pouso & donwloads de mistrios :simultaneidades antropofgicas da ciberntica num presente tempo lquido onde um otimismo embutido chora & delira em nosso carnaval shivastadionis-aco brasileirificando o mundo : um buraco negro no centro do caminho de leite brinca de bab das super-novas & pesadas senhoras ans vermelhas imaginam nebulosas sedentas & brilhantes & brincantes & sen-suais produtoras de sis que inutilmente iluminam a matria escura mas o essencial invisvel aos olhos porque a alma no tem cor : o novo modo de olhar & buscar & decifrar atravs das fissuras & rasuras & brechas & fendas do pensamento em ns em mosai-cos & re/plugados atravs do umbigo de gaia &

  • Goiana Revisitada 115

    na mente de maia & no samba de shiva & no po de cristo & yin-yang-jung-engenho cumbe & harebol--beleza-de boa-a toda-cantando loa & ax-odara & kaos com k & quilombo de catuc negro malungo nas bandas de c & negro zumbi de palmares nas bandasde l & todos os anjos & demnios & deuses & eu tocando & cantando & danando numa espiral de luz & poesia vida seja falada ou escrita & escrever um ato sagrado & recitar imitar deus e estar aqui ser o diabo & krishna dana maracatu e vi a calunga nas mos de zeus & exu declama no megafone o poema que virou prece & a jurema sagrada abre os braos e sacia minha sede com a seiva dos astros & o yorub tatua no peito o smbolo do tao caa um mantra na mata no silncio do sol & uma procisso em confe-tes e serpentinas reza danando para cristo-tup & alfaias despertam brahma e este passeia num bum-ba-meu-boi & um xam traga um arco-ris e dilata a pupila de osris & na dana circular da pachamama e iemanj tocam rabeca e pandeiro al e jah.

    AUM-OM-UM

  • 116 Philippe Wollney

    goiana revisitada I

    goianaocto calvrios que no santificamem pedrao cruzeiro no passa de smbolo de terror e mortepodem os evanglicos invadir as ruaspodem os tambores acordar a madrugadagua benta para expulsar mau santoe mesmo assimgritos das prises permanecem sendo ouvidosas engrenagens a vapor amaldioando homens do campo a urbepraa do enforcadobeco da merda, foice, assaltorua do arame, dos martrios, matadouropelas trs bocas, a cidade gritafinas lminas nessas esquinas com suspeitas intenes.

  • Goiana Revisitada 117

    goiana revisitada II

    goianaputa virulenta por quem me apaixoneientre bocetas pestilentas e beijosbatizas, redimes os pecadosdas pulgas que chamamos homensaqui onde o sol apenas fina lminaque nunca se sobressai do horizonteonde a noite um grande quartocom segredos de smen e sanguedou-te tudo que tenhoroubarei tudo pra te dar

    goiana babilnia de outrora e de hojefaz-me esquecer minhas dores mostra-me que eu pagando entre tuas pernas podes me amar.

  • caosnavial

    ouro branco

    canacaianacaiadade sangue

    mascavo

    nestes canaviaisseis milhes de negros foram sorvidos impossvelesse caf no descer amargo.

    moenda

    caldo de homemo que sobra osso.

    rapadura

    o caldo endureceo homem tambm.

    verde sangue

    braadaenxadarevoltao cho que brota.

    118 Philippe Wollney

  • [ O POETA DISPENSOU A SUA APRESENTAO ]

  • Goiana Revisitada 121

    Silncio

    Alguns minutos de silncio, Aquele mundo que no momento e s meuO ato que me satisfazUm lugar sem regras, sem linha,Sem pontos, sem margens, sem aplausos,Mais com satisfaoDo que me resta de alegriaE todos aqueles vestem fantasias MirabolantesQue ningum vVer e viver, tudo aquilo que nos aflige E que me esvaziaRegurgito todo o mal, que afaga o mundoNo me escondo da realidade Mas ela me obriga e aflora Toda a minha fantasiaDe ver noite e o dia Na mesma harmonia, Na mesma agonia.

  • 122 Rodrigo Rodrigues

    Ilustre iluso

    H muitos joelhos no cho para uma s verdadeAs dvidas divinas da vida a ser preenchidaNo mais com mentirasSinais smbolos e frases para nos amedrontarCantos cantigas e encantos para nos libertarDa ilustre iluso que nos fantasia da real ilusoQue a vida.

  • Goiana Revisitada 123

    Por si s

    O poema e sua fora por si s Se desprende e encontra outra realidadeToda sua fantasia Seu encanto, Sua dor Alvio sentimento e lgrimas Encontra outro auto que lhe roubaQue lhe acolheQue lhe deseja mesmo sabendoQue no seu, mas passa a ser Porque todo poema Declamado para sempre se propagaE se desfaz em pensamento Com sua gramtica retorcidaDe sentimento alheioRumos diversos, multicores daltnicas Crepsculo ao meio dia O poema por si sGritou s.

  • 124 Rodrigo Rodrigues

    Fardas armadas

    A nsia de um suicida e a visoDa sociedade que nos Batem cassetetes borrachada e choquesQue nos transpassa medo e no respeitoEstamos financiando a nossaPrpria violnciaA covardia de quem usa fardaEstamos vivendo uma ditadura armadaGanham propina com a maior cara lavadaForjam a situao e tira nossa liberdadeSo vermes que conseguem passarNas brechas das leis no lidasNo cumpridas Eles tm as suas prprias leis Baseadas no falso moralismoQue nos impede de crescer.

  • Goiana Revisitada 125

    Em mim mesmo

    O que eu vejo no ilumina nada,Nem os meus prprios passos,As minhas loucuras nem sempre me satisfazem,O meu medo talvez no tenha um discurso por trs,A minha beleza talvez no seja interior nem exterior,A minha face no demonstra o que sinto,A minha ignorncia nem sempre eu ignoro,s vezes eu me separo do meu apego Para enfrentar o meu prprio EU.

  • 126 Rodrigo Rodrigues

    Sociedade torta

    Se a dignidade do homemSe faz com o trabalhoSe o trabalho no d para viverSem sua chance ao solQue j l e cega os olhosSe seus braos j no tm mais foraE correCorre com medo da forca Que lhe sufoca diariamentecom cotidiano que desfaa a suaPrpria mente Vou rasgar com faca quenteO buchu da sociedade torta.

  • Goiana Revisitada 127

    No tem mais volta

    Quando se v beira da morteAflora a juventude,O colo da me,Da saudade do pai,Das bolas de gude, das canas, e dos quintais,Sabendo que no mais vai voltar.J no mais d vontade de olhar,Para os cantos da casa,Com a certeza de que saudades vai deixarPara aqueles que lhe abraamE deixam escapar lgrimas de conforto, medo e dor.

  • 128 Rodrigo Rodrigues

    Te desejo quente

    Eu posso descobrir a mesma coisa de jeito diferente,Meu corpo frio mergulha em gua quente,Eu vejo teu corpo nu em minha frente,Teus tesouros de prazer e gozo diferente,Que me faz deslizar em teu ventre ardente de amor.

  • Goiana Revisitada 129

    Me levea Marcelo Arruda

    Em meio a essa quadra quente e ofeganteRetire-me essa vida que no nem minha e nem sua Me oculte a escreverPoemas de dorPara essa cidade angustiada.Deixe-me fumar este cigarro E podem chamar todos para verem meu corpo Estirado no choEm meio aos homens e ao caos.

  • ltimo poema.

    Quando um poeta fecha os olhos, Nasce uma estrela brilhanteNo cu azul do horizonteQue se apagar com o claro do dia E retornar no prximo poema de despedidaNa prxima noite despidaNa prxima histria reescritaDo prximo poeta da vida.

    130 Rodrigo Rodrigues

  • [ O POETA DISPENSOU A SUA APRESENTAO ]

  • Goiana Revisitada 133

    Ama-sensual

    A vida trama o drama.Rama de dois galhos.A dama clama na camapelo amor nascente.A enchente sente,entre dor e prazer,molhar a flor do ser.Insana inflama com ganameu corpo que cansa, descansae alcana confins de chama.

  • 134 Sandro Gonzaga

    Manh de um pssaro

    Canto forte fizeste ecoar.Pranto morte quiseste destoar.Surgiu na janela, colorida...Perfil amarela vida.Foi numa manh cinzenta.Fugaz irm inventa...E traz de volta num segundo...Refaz e solta o mundo.Te vejo bela espreita.Ensejo anela enfeita.Evoca origens perdidas.Provoca vertigens desconhecidas.Canta amvel pra mim.Espanta inevitvel fim.Quero ouvir teu grito de guerra.Sentir mel que a boca encerra.Vislumbrar teu retorno inesperado.Relembrar teu contorno ilustrado.E poder morrer sabendo que viestes,Mais uma vez, minha janela.

  • Goiana Revisitada 135

    Estilhaos

    No sonho de que nunca acordeiAndo entorpecido pensando sozinhoPelo desconhecido caminhoQue tantas vezes passei.

    Dos erros cotidianos estou cansadoRelembrando labirintos secretos do passadoCom o corao descompassado na moPulsando em delrios de solido.

    A noite densa arrasa e tudo me tomaAt o ltimo e pequeno passo dissonanteDeixando muito cedo vir tonaO medo da perda alucinante.

    No silncio ensurdecedor da madrugada saioDe andada pelas ruas da cidade antigaTropeo numa enorme pedra e caioNo est passando a mo amiga.

    Ningum me v despedaado no choPreso na teia passageira de embaraosDesfrutando o veneno doce da paixoSozinho juntarei meus inmeros estilhaos.

  • 136 Sandro Gonzaga

    Infarto farto

    Lrios e delriosSomam-se aos sonhos e sombrasCiscos e rabiscos do viverFartem-se todos com mos e manchasQueimem os pergaminhosEscondidos pelos caminhos da almaLibertem logo essa fera que lhes acalmaE agridam com um belo murroA cara do ancio e da crianaDesfaam toda distncia entre O amor e o dioO sol e a chuvaA noite e o dia...Ningum muda fatos e farsasFartem-se com a fome, a foda,O fumo, a fama e o furto.Misturem toda purezaCom essa lama mortaCom esse pus da ferida abertaE depois de tanta degradaoComemorem com fogos de artifcioO caos social em pleno martrioFartem-se com tudo isso que no vale nadaBrindem com o clice da morteA maldita sorte da maioriaQue sobrevive na pele de terceirosPodem rir estrondosamenteDaqueles que no pensam por si mesmosDaqueles que obedecem sem questionarPois o perigo est nos incompreendidosNos marginalizadosNos que gritam e secam de dorFartem-se e infartem.

  • Goiana Revisitada 137

    Meu dia

    No sei quem sou,Pra onde vou,Quando esta ferida sarou...Meu ntimo fecundo aflorou,cresceu, ousou e novamente voou.

    A mgoa me dissolveuna gua que lavou, secou e solveu.Minha alma se envolveuno manto brando da aurorae preparou-se para partir agora.Hesitou, mas resolveu sairdepois que morreuo que me prendeupor tanto temponaquele canto de ventodesabando em pranto.

    Foi encanto do alm,s sendo intento de algumque faz o mundo cantar e chorar.Passei da capa.Rachei a crosta.Furei a casca.Tirei a cpsula.Arranquei a mscara que cobriatua face a danar.E pude ver o dia(no fim de tudo que restou do universo)amanhecer para me ver passar.

  • 138 Sandro Gonzaga

    Passa e fica (pacifica)

    Muitas pessoas passamPoucas ficamOutras pacificam.

  • Goiana Revisitada 139

    Poema-mundo-raiz

    Meu poema voaGema da essncia que ecoaNos infinitos cantos do verso

    Pelas fluidas frestas escoaO lquido do ventre que soaNos campos azuis do universo

    Meu poema nasce da lamaE chora de alegria pelo diaQue brilha em eterna chama

    Meu poema quer o que no passaVibra e rema contra marAlgo ou algum que satisfaa

    Meu poema uma oraoAlma no altar da auraPerfume entorpecente cano

    Meu poema vaiCai do abismo mais profundoE explode no sonho do mundo

    Meu poema esquema temaEmblema da cena amena

    Meu poema no mais meuSeu, teu, rei do breuBruma, brasa, brio

    Rio dos navios de sedaFolhas de nuvem na alameda

  • 140 Sandro Gonzaga

    Meu poema se dissolveu na serraEscorreu para o centro da terra

    Mar de fogo a danarAfogou, afagou, afastouToda e qualquerForma de prisoDesejo que no sabe o que querSentimento no destino da imensido

    Meu poema sempre almNem sei ao certo quemSegue rumo aberto tambm

    Meu poema acaba agoraNa hora da auroraTempo que nunca vai embora.

  • Goiana Revisitada 141

    Semente somente

    Uma sementeSomente menteQuando no nasce.

    Uma sementeSomente senteQuando nasce.

    Uma sementeMente e senteQuando somente.

  • Voltar...

    Rosa de luz.Poeira estelar.Ao cu me conduzperfume solar.

    Pomar do deserto.Eterno cantar. Distante estou pertoquerendo voltar...

    142 Sandro Gonzaga

  • Goiana Revisitada 145

    Poetas

    Poetas de hoje, poetas de outroraAqueles na noite, estes na aurora

    Mensagem escondida bailando na menteComo planta brotando plantada a semente

    E rompe em palavras em certo momentoSe assim no for se reverte em tormento

    Idosos e jovens transmitem o que pensamSem recompensa at, eles j se compensam

    Inesquecveis nomes da literaturaDo passado e de agora linguagem maduraDeixam marcas indelveis na alma sedentaDo saber, conhecer; a cultura aumenta.

  • 146 Sebastiana de Lourdes

    Pensamentos incontidos

    Que se rompa o silncio de pessoas temerosasAceitando os espinhos, colheremos as rosas

    Budistas, cristos, judeus, maometanos...Onde que ns estamos?

    Despedacem os grilhes contidos em religiesQue estas sejam amenas, estimulando amor nos coraes

    Irmos somos, com ideias... ideais diversos o verso, o reverso, o disperso

    Existem barrancos, barracos, barcaasAnimais e pessoas mostrando as carcaasArranha-cus poderosos que transformam as cidadesE efeitos doentes das comodidades.

  • Goiana Revisitada 147

    1As palavras em negrito no texto correspondem a nomes prprios de ilustres homenageados.

    Nomes populares de algumas ruas, praas, bairros, etc. de Goiana1

    Bom Tempo haver se acompanhado de seu Lin-do Amor que muito Nova passeie pela Estrada de Cima e chegue at a Estrada Nova. Cansados, sentem-se debaixo de um p de Fruta-po. Levan-tem-se e passem no Meio da Ponte e, se preferirem, mergulhem no Rio. Andem um pouco mais e colham os frutos da Macaibeira, do Limoeiro e misturem Jil com Gravat, colocando tudo no Fundo da Mala, deliciando-se com a mistura.

    Convidem as jovens Baixinha, que muito Direita, e Augusta tambm. Peam Misericrdia ao Bom Jesus e Sta. Teresa. Curtume curtir o amor e o lazer sem cair no Tanquinho, podendo ir, ento, Praia. Procurem conhecer as garotas Soledade, Do Carmo e Conceio que gostam muito de orao, sem esquecer de Zezita que amiga das Trs Vivas senhoras bem comportadinhas.

    Conheam ainda a grande extenso das Quintas, onde os moradores se deleitam com longas reas de rvores frondosas e frutferas. Cuidado com a cer-ca de Arame quando se dirigir a certa distncia na direo das Laranjeiras. Depois faam um Mutiro percorrendo toda a cidade sem esquecer de beber gua do Poo do Rei.

  • 148 Sebastiana de Lourdes

    Ver (desmatas)

    Madeira verde, cortada, secaqueimada.Toras grossas, finas, roliasempilhadas.Razes novas, antigas, em cima da terralanadas.Covas, buracos, crateras das rvoresescorraadas.

    O verde das matas esmaece.Desbota o sentimento do homem.De amor pela terra carece.Ingratas as emoes se somem.Desnecessrias queimadas se acendem.O cu da Terra escurece.O cu da vida empobrece.

    Almas verdejam em mar de esperana.Dias viro, de vero. Veroo homem plantar no solosementes de novas rvores,plantar rvore no choe amor no corao.

  • Goiana Revisitada 149

    Na cruz da vida

    Todos os dias eu morro na cruz.Morro assim no sendo Jesus.

    A cruz pesada, afoita e cruel.Na vida cansada com gosto de fel.

    Subindo o calvrio. Cumprido destino.Tombando, arquejando em total desatino.

    Feridas sangrando no peito inquieto.A vida valendo o que vale um inseto.

    Mereo o castigo porque sou impura.Espero do Cristo a promessa da cura.

  • 150 Sebastiana de Lourdes

    Insatisfao

    Procuro as estrelas no cu do meu ego.Procuro a poesia nos versos que fao.Procuro a viso nos olhos de um cego.Procuro a granada, a bala, o estilhao.

    Encontro no ar o odor poluente.Encontro no mar a onda assassina.Encontro no fogo o ardor inclemente.Encontro na terra a mo que elimina.

    Sinto na pele o rigor do inverno.Sinto na mente nascer vil pensamento.Sinto na alma a agonia do inferno.Sinto no corpo o cio ciumento.

    Sou o egosmo, amigos prejudicando.Sou o homicida, da vtima a vida tirando.Sou o suicida para o inferno caminhando.

    Sou o guerrilheiro violentando a paz.Sou ave de rapina com apetite voraz.Eternamente inquieto, nada me satisfaz.

  • Goiana Revisitada 151

    Passos da Infncia

    Aquele sapatinho de lQue usou quando nasceuSua me como lembranaFoi a mim que ofereceu.Sua boneca de panoBranqueando os louros cachosTomou banho no riachoE nas guas se perdeu.

    Sempre juntinhos na filaNa escolinha da vilaO b-a-b da cartilhaAprendemos voc e euLi indiferena em seus olhosVoc leu paixo nos meus.

    Aos domingos na capelaEu via to belas tranas Hoje no sai da lembranaCriana to santa e bonitaContrita voc rezavaEnquanto eu lhe adorava.

    Com pouco mais que sua idadeA proteo na verdadeLhe dava nas brincadeiras,Sempre acendia as fogueirasNas festas de So JooNo peito acesa a paixoSoltava balo com seu nomeEm forma de corao.

    Voc mudou, percebiMudou seu caminho, o viver

  • 152 Sebastiana de Lourdes

    Aos poucos deixou de serMinha flor de primaveraQue hoje o vero soterraVou vagueando sem rumoPio girando sem prumoPra mim o mundo morreuVoc meu grande amorMas seu amor no sou eu.

    Espera (em tempos de violncia)

    Soou meia-noite, sem dormir permaneo.Dos filhos rapazes aguardo a chegada.E do sono inquieto, assim desvaneo.

    A criana embalava nos braos de outrora. hora tardia, me despreocupada.Total diferena desta aflio de agora.

    Silncio opressor cobre a rua, a cidade.Ouvidos atentos a passos na escada.Incerteza da volta meu peito invade.

  • Goiana Revisitada 153

    Amor Natureza

    Amo as flores e o marSou amiga da gaivotaCom ela voo ao espaoPerseguindo a sua rota

    Estrela-guia no souMas isto bem que eu queriaVenero a lua e o sertoQuero o sol, o rei do dia

    O verde das nossas rvoresAlegra o meu coraoQuando decepam seus troncosChoro com toda emoo

    Amigo receba estes versosCom rimas atrofiadasA inspirao me abandonaNos declives das estradas.

  • Desconforto

    Quero desabar em prantoEscondida em algum lugar

    Quero andar pelas trilhasSem ningum me acompanhar

    Quero o topo da montanhaCom perigo pra escalar

    Quero esconder meus lamentosPara os outros no perturbar

    Quero amenizar meus defeitosQue me ajudem a melhorar!

    Quero ser compreendidaPara o meu ego acalmar

    Quero procurar o caminhoPara o amor encontrar.

    Quero perder os sapatosMeus ps iro calejar

    Quero envelhecer sorrindoDifcil acreditar

    Quero esquecer a saudadeQue traz amargura sem par.

    154 Sebastiana de Lourdes

  • Goiana Revisitada 157

    Versos e cnticos

    De longe, ouo o sino que me chamaComo o pai cujo filho prdigo sente a volta.A princpio, s verde, s cana,Gana de ter aquilo que um dia fui e at hoje invento.No cu, uma cruz se confunde no horizonteCom a estrela Dalva a iluminar-me,Marcando a vida e morte de meu ser.Quase nunca te vejo, mas em qualquer era sei quem s.Suja, degradada, entregue a vermes institucionalizadosQue exibem as suas famlias tal qual a leitoa gorda que tm orgulho de seus [leitezinhos.Mesmo com todos os parasitas que consomem este teu velho corpo,estas tuas velhas fachadas,estas tuas cruzes de pedra que brotam de tua pele,Ainda sim te amo com a mais terna baixeza.Tu, ama de desejos impurosQue me gera a nsia nostlgica de antigos gozosQue, em teu ventre, em teu centro,Fui concebido pelo incesto de seus filhos:Negros, caets, galegos, quilombolas, marisqueiros, pescadores e antigos marinheirosQue gozavam no rio de teu serQue apesar de fluir, continua reto e negro em seu antigo rumo.Goyanna, esta que me atrai como um im,Me traga embriaguez das noites insones,Onde me banhavas com vinho de tuas veias abertas,Me fazias beber do suor de teu rosto, Aguardente de cheiro da negra verde cor de teus [cabelos.Estes teus fios de quando em quando tu cortas com a labuta de tua prole, aps provar do ardor do fogo do [inferno,Apenas para satisfazer o fetiche do cliente mais rico que tem seu orgasmo ao te ver no cume de sua

  • 158 Thiago Albert

    [degradao.Tu, prostituta sifiltica, cadela com calazar terminal, [noiada com o mais humilhante vcio, Me mostres o que me prende barra de tua saia,Tal qual menino indefeso com a vida l fora.Me tragas a ddiva de provar teu gosto s uma vez maisA este filho que teu escravo.E, tal como os que tens em todo sempre, Nunca cansa de te cantar em versos e cnticos.

    Foz

    Vida,Vi-a na via compassantePassageira sem passos,Esttica, Sem referencial.

    Tal como uma foz,Turbulenta, mas to igualAo segundo que se perdeuNo oceano do trivial.

  • Goiana Revisitada 159

    Malunguinho

    Sou filho do canavial,Sou malungo e malunguinho.Tenho nas veias a vinhaa que gera vida,Mas que tem nos ombros o lamento dos rios infecundosSou carrasco e aquele a quem o aoite dilacera.A fumaa de meus pulmes tem a cor do horizonte [em chamas,Vermelho, com as lgrimas misturadas, com o suor [de minhas razes negras.Engenhos genocidas me relembram o que os dias [tentam apagar.Sou lenda de criaturas incineradas vivas que, ainda [vivas, se refugiam em runas de minha terra.Tenho a misria de quem sabe eu um dia,A misria que reforo sem perceber.Tenho a miragem de guas em lamria, Cortadas pelo maquinrio de tempos atrs.Tenho a infinita viso do mesmoDo mesmo verde, Das mesmas plancies,De tantos outros lugares.Lugares estes onde estive,Como o vento ou como malunguinho,Como gua ou como quem bebe, Como o doce ou como amargo artificial,Sou tudo aquilo que tudo nunca escolhi viver,Mas (mais) tudo aquilo que escolho a cada vida.

  • 160 Thiago Albert

    Tardes de domingo

    Sinto o pulsar de minhas razes negras Que compasseiam pelo delrio de tantos.Sou o que numa ilha deliraEntre passos que, de to simples, parecem sair como [vindos da alma a alma oculta do danar de uma crianaEm euforia pela chuva de So Pedro l de cima.Sou o que pro cu olha e, entoando cantigas de [amores distantes,Relembra tempos em que santos protegiam da vida [selvagemQue sem saber construamos com nosso suor.Sou o que vive l no cume, Em montes afogados pela terraE que, rindo quando se deve chorar, Vive quando fcil desistir,Canta quando se deve calar.Sou o que carrega o peso dos fardos que prprio [atamosE faz brinquedo o que seriam grilhes,Torna multicor o que a paisagem monocromtica dos [verdes canaviais encobria outrora.Sou o pisar forte deste crculo de comunho Onde, de mos dadas, seguimos embebecidos por [este mar que, apesar de to grande,Ainda no sacia nossa gana de nossa vida girar.Sou estes tamboresQue, apesar dos aoites,Nunca teimam em tornar silncio o que de mais belo [existe em ns;Tornando a vida assimEste eterno cantar que sai do peito de nossa alma aflitaEm tardes de domingo.

  • Goiana Revisitada 161

    Espera

    Teu filho ainda no voltouDo passeio por recantos que tu mesmo ensinasteTu, inquieto pai, sozinho, sem um nico amigo,Perde-se em abismos, insiste em resgates.

    Gasta dias e noitesNum desespero escondido pelo corpoNingum imagina o quanto sofre, pobre criatura;Estar tua espera, acabada por um filho morto?

    Ainda sempre, tu ficas em viglia,Guardando o sono e teus tormentos constantes,Velas como espera de um nico murmrio,De uma nica palavra dilacerante.

    Espera a voz que parta de dentro,Que abra as portas e o filho teu traga.O filho, estas palavras que confortamO pai, poeta mudo de alma opaca.

  • 162 Thiago Albert

    Gigante universo

    To pequenosAlimentamos sonhos to imensosQue se desfalecem pelo drago do tempo.E pouco a poucoPerdemos a noo do belo,Nos afastamos do sentimento novoQue, de repente, deixamos de cultivar.Sobra simplesmente o tudoQue cega o pensamento nicoDe nenhuma vida nos caber.nfimo desejo retradoQue s nestas palavras, como grito,Ousam fugir deste fechado lar.Pois a vida se torna to grandeMisturada aos passos, que antes,Insistia sempre em no trilhar.No sei se caminho sNeste deserto de solido que nsTeimamos em achar to imenso.So as miragens que os passosTrilhados a duros fardosNos deliram do sentir maior.De amar sem algum sentidoSem se importar se em frente h perigo,Com a conscincia do nosso gigante universoQue cabe na palma de nossas mos.

  • Goiana Revisitada 163

    Libertao

    Arranquem toda a pele humana de minha almaPois quero voar sem o peso de minha matria.Ceguem meus olhos, cortem minhas plpebras e [clios;Quero mostrar meu olhar aos cus e mares perdidos.Cortem meus braos e pernas to frgeis,Quero ser fera, ser bicho e p.Arranquem minhas vsceras e joguem aos urubus,Destruam todos os vestgios de meu corpo em vida.Desloquem meus ombros, faam pedaos e joguem [ao mar;Quero ser peixe, entre ondas planar.Atirem meus cabelos, nariz e crnioEm uma travessa servida com vinhos;Faam banquete e brindem ao vento,Brindem aos mais fugazes momentos.Entreguem apenas a meu esprito,Uma parte de meu eu perdido.Entreguem minha inocncia,Meus momentos de amor e paz,De gozo e delrio;Quero ser o que, apesar de ferido,Nunca cansa de lutar.Quero ser o que, apesar de esquecido,Nunca deixa seu esprito findar!

  • 164 Thiago Albert

    Jornada

    Sigo por caminhos marcados,Imutados por barreiras entre o ser o pensar.Sigo a correnteza de um rioQue desgua sobre o turbilho de medos camuflados [dentro de mim mesmo.Transito entre mundos opostos, vidas opostas,Em busca de uma nica estrela no meio desta poeiraQue queima meus olhos e atordoa meus sentidos.Sigo com esta lana cravada em meu peito,Que atravessa o esprito j morto e nunca revivido.Sigo repleto de chagas, feridas pelo tempo que no cansa de revirar os segredos que deveriam ser esquecidos.Sigo por uma estrada de pedras que nunca se bifurca [e sempre acaba.Sigo dentre o vazio,Onde encontro a imensido de universos micromtricos.Sigo por todos os pases.Sigo por todos os solos deletrios que chamam meu [nome como um igual.Sigo por entre raios de luz que se confundem com a [escurido que me rodeia.Sigo apenas cambaleando pelos tortuosos segundos [que ainda restam nesta interminvel cano.Apenas cantando,Apenas sorrindo,Pois sei que, quando a noite acabar,Todos caminhos sero um sE poderei dizer que um dia algum se lembrou de mim.

  • Goiana Revisitada 165

    [...]

    Maraca,Maracs rurais,Nao de aratus coloridosNo meio do mato.Na zona,Na mata,Norte das lanas.Nas canas,Nos cantos,Em cnticos de mestres,Menestris do improviso.

    Em guerraCaboclos azougam o tempo.Em festa Os olhos espalham as coresNas dores das guiadasFitadas no bucho do cuDe estrelas cadentes,Que ardentes despencamNa ch de brincantesBrilhantes,Maracatuzando o canavial de tristezas.

  • [...]

    Ando sobre pedras polidasDe outras eras,De outros tempos.Caminho por dores de universos Que se refugiam no ntimo de fachadas secularesComo a espreitar meus passos, com guias da noite.Noite, criatura que desperta os seres antes calados,Que amanhece o vazio das vozes que recusam o [silncio. quem pulsa meu sangue antes passado,Fundido em montanhas de calcrio colonial.Minha nica companheira, Quem na memria me mantm em vida!A deusa que vem com amante,Saciando meus desejos,Rasgando minha carne,Chamando-me pela loucura.Gritando como fera;Nascendo passo a passo,E perecendo rumo eternidade de cada novo [amanh.

    OBS: Sandro Gonzaga/Thiago Albert

    166 Thiago Albert

  • [ O POETA DISPENSOU A SUA APRESENTAO ]

  • Goiana Revisitada 169

  • 170 Vidal de Sousa

  • Goiana Revisitada 171

  • 172 Vidal de Sousa

  • Goiana Revisitada 173

  • 174 Vidal de Sousa

  • Goiana Revisitada 175

    ***

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  • 176 Vidal de Sousa

    ***

    Adentro a escurido mal iluminada.Compreendo a dor do esquecimento.A cor sem sentimento que simula a vida.

    A fsica di vi so...

    ...sempre

    s-u-b-d-i-v-i-d-i-d-a. H H H H H H H H H H H H H HI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Agora adentro a muralha. O concreto armado, erguido, retalhado.

    Escorro pelo buraco permitido.

    No escolho.

    Nem sou escolhido.

  • Goiana Revisitada 177

    ***

    Amanheceu sendo enforcada por Deus.Levou o dia com o silncio nas costas.Levou um dia para perceber que estava morta.E aconteceu do corpo no ser o seu.

  • ***

    Mergulho aberto no instante do sentir.Nas possibilidades das ruinas da razo romper.Nas dolorosas descontinuidades do trivial existir.Nas urbanas sobreposies do simples acontecer.

    178 Vidal de Sousa

  • Goiana Revisitada 181

    Dito

    Antes de doar seu rimrime algo de bom,bombardeie o cucom estrelas medocres,ocres,conformadas em viverna grade podredo ser sem nadaa oferecer.

  • 182 Wander Shirukaya

    Dormir

    Dos clios que enfim se beijam,dos seios que bebem sonoem sonho acordado lembro; terno e melfluo idlio.

    Clios se costuramseios que fenecembreve desabrocham

    acendem a tochadaquele que despeteu sono em segredo.

  • Goiana Revisitada 183

    Dama do lixo

    Buceta de palimpsestoto perto da decadnciacarncia me faz gastar,deixar vintns de gorjeta.

    Rodando a bolsinhaorqudea tristezasolfeja a desgraa;

    dois filhos tal traas deglutem fraquezas,gemidos insossos.

  • 184 Wander Shirukaya

    Ferro

    Senti tremer sua corolana hora em que te toqueicom feixes de ferroadasem cada plen que vi...

    Feixes-dedos rijosviolam a violeta:mel que desabrocha

    numa colcha grossacobre essa gavetaque minha volpia!

  • Goiana Revisitada 185

    Epitfio de Tquio 3

    De meu sangue jorramtuas caladas sujas,mudas que coagulamtuas misrias duras.

    Deixa carmim os prdios,radiar gangrena...faz torres de tdiosupurando medo;

    Deus est no cu: tudo em paz no mundo!Sangue filho dele, no mais me arrependo!

  • 186 Wander Shirukaya

    Rabiscos

    As unhas em seus quadrisvis rasgam, abrem cortinasto finas quanto suspirosou riscos-gozos que punha

    sempre nas suas pernasdeclarando amora sua carne quente...

    Tais unhas frementesque as guarde entre a florfervendo em suas coxas.

  • Goiana Revisitada 187

    Ode aos GniosA Joedson Adriano

    presente genial genitlia to parideiracarrego pelas pginas-ppricas desta lmpadaque sigo a esfregar sempre sfrego para acharverdades verossmeis que versem sobre a belezaso versos meu regalo os carrego sobre o regaoem livres livros lvidos palco do nume nicona esperana cega por ventos-vicissitudesque criem nestes homens a crena em algo til

  • 188 Wander Shirukaya

    Oriente-se

    Flor de papel, romajitransliterado na corDorso: origami difano Terno haikai feito flor

    Teu cu se amainando visita sem dorkatana que em riste

    traduz nosso amor,lembrando que existeprazer, cerejeiras.

  • Goiana Revisitada 189

    Quimera

    Por que tanta felicidade?Idade chegando,levando vaidade,verdade morrendo,temendo paisagem ainda assim, felicidade?

    Ainda vivo a morte de tantos;prantos molham os ditos que crivo.Eterno retorno,eterno refluxoentrava garganta,entala linguagem;ainda assim, poeta, felicidade?

    Sim, pois vagueio curioso na praa mesmo em desgraa atrs de desgraa.Amanh chegar,me trar a made um rosto covarde;Ainda assim, felicidade!

    Posto que no sinto pernase j nem detenho ar,os bicos-de-penadesenham to ricoso que h do presentee clareiam-me os dentes;eis, para mim, felicidade!

  • Meu porre

    Embriaguei-me com a sobriedadetriste desvario portar uma pedratal qual Ssifo ou Zaratustraladeira acima at a verdade.

    Voc ri, aponta, xinga e contaquantas vezes bebo meu fracassosem notar que o descompasso minha fora motriz.

    Infeliz daquele que deste porre no toma,pois ele quem vive em estado de coma;contente-se em rir,pois me sinto muito bemna alegria do devir.

    190 Wander Shirukaya

  • Goiana Revisitada 193

    se o sol que eu te dei

    Se o sol que eu te dei no nasceresse ser o ultimo beijoque te darei, depois que eu gozara saudade de mim em cima de voc.Se o sol que eu te dei no iluminarmeu quarto essa noite, no sers mais meu [astro- rei,eu no irei mais masturbar a sorte pensando [em voc. melhor voc tingir essa vontade de me prenderem tuas pernas porque eu vou resistir Se o sol que eu te dei no iluminar os meus diasno te darei mais abrigo dentro de mim;no sers mais o que eu sempre tivemedo de no ter se o sol que eu te dei no nascer.

  • 194 Wendell Nascimento

    Desabafo do meu eu pecado

    A tinta da caneta que outrora escrevia as verdades [de minha vida na minha vida acabou,Agora s me sobrou a tinta negra, a da mentira.O meu sorriso dissimulado E meu olhar traioeiro so apenas consequncias [das dores que no eram pra mim,Mas, que com amor, as recebi no meu primeiro [aniversrio.Ento nada de lembranas bonitas ou dolorosas,Tenho s feridas que no me doem,Que no saram E que poeticamente nem vivem e nem morremMas, talvez exista algo de bom em mimSeno... No estaria aqui sorrindo ou chorandoPara os miserveis que me rodeiam, e vos digo: Apunhalarei todos os que porventura [acreditarem que tenho compaixo.Hoje acordei de um sono que em vida nunca dormi.Nasci sem corao.

  • Goiana Revisitada 195

    Mereo

    Fim o fim que esperoNo pelo cansao ou pelo medoMas pelo comeo.Fim o fim que me levaToda vez que no posso partirOu at mesmo chegar.FimFim de tardeFim do jogoFim o que quero.No tomo cafMas pelo caf comeo pelo fimFim da guerra,Da plida paz invisvelFim da comodidade da falsidade de promiscuidadequero o fim das verdadespelo comeo.Fim s o que mereo.

  • 196 Wendell Nascimento

    Daqui a pouco

    Sinto que a morte Me olha.Me olha com sedeMe olha diferente.Preciso ser menos inconsequente.Seno ela vai me levar.Esse calafrioEsses dias passando devagarPode ser meu fimOu o momento, o instanteQue tenho, que precisoPara me eternizar, para ser feliz.Sinto que a morteMe olhaMe olha com carinhoMe olha com destrezaEsperando qualquer deslizeQualquer vacilo que seja.Preciso ser menos inconsequente, seno ela me leva.

    Me leva!Me leva!

    Ela ama o meu cheiro eEu sei que ela me querMeus passosMeus plos Ela me segueEla me provocaEla me instigaE me sufocaMe prende eMe soltaParece poesiaMas todo diaSinto que a morte

    Me olha!Me leva!

  • Goiana Revisitada 197

    Poeta

    Caminhos, rumos diferentesPoeta por acaso?Os traos que rabiscamos no papel no so traosSo versos, forma de expressarmos o que somos [at quando no somos.Arte se no soubesse eu do que se trata, morreria.Pois sou poeta sem data e sem hora e a qualquer [momento me vouPorque tambm sou o vento quando no estou [a poetizarE se por ventura estiver, sou o que no [preciso explicar.

  • 198 Wendell Nascimento

    Indissolveis e indistintos donos de mim

    Esses versos assexuados,Voluptuosos, pstumos,Porventura so meus indmitos versos incgnitos,Inatos.Ora volteis,Ora incessantes,Ora efmeros,Ora perenes.

    Esses versos desatinados,Despretensiosos e sucintosQue gorjeiam fulminantes,Extasiando outros versos,Indubitavelmente,So meus irrevogveis, lacnicos e latentesVersos lbricos.

    Esses versos plausveis,Rutilantes e taciturnosQue me ladeiam, Exalam mistrios inimitveis,Dogmas inolvidveisE pecados incuos.

    Todos estes versos so donos de mim.

  • Goiana Revisitada 199

    $audade$ do Amor

    Entregue a casajogue as coisas foraponha os mveis venda.Esnobe tudo que vivemosencontre algum lugar fora de voconde eu no possa ir e v na esperanade se tornar uma pessoa melhor sem mim.Esquea esse amor crnico, financeiramente felicidade no tem nada a ver com issopois sabemos o que pode nos matar; dinheiro tem muito haver com isso.Queime as fotografiasno oua as canes que cantamos juntos,por que financeiramente isso uma grande [bobagem.Entregue a casae eu farei outras canes e nelas o dinheiro no ter nada a ver com issopois o amor jamais ficar em segundo plano.Est bem!Jogue tudo foraarranque de dentro de voc a alma e a jogue forase porventura ela se sentir vazia sem mim.Afinal de contas as contas ainda no foram pagas,ento esnobe tudo que vivemos e privatize [nossa histria.

  • 200 Wendell Nascimento

    Eu tenho um sol

    Eu tenho o sol queimando em mimEnquanto aos poucos a vida se esvai por entre os [dedos do tempo.E se a doura desses momentos sbitosQue o acaso nos proporciona no tivesse um [propsito perfeito,Esse sol que queima em mim j teria desaparecido.Porm vejo a vida com bons olhos,Apesar dela insistir Em querer dormir mais cedo.

  • Goiana Revisitada 201

    Por que voc deixou a televiso ligada?

    Deixei a televiso ligada para que o vazio se [distrasse um pouco e, por um instante, eu no me visse entediado, mas a mulher e o menino ainda no tinham [acordado e as paredes com os seus azulejos marrons no me [diziam nada.As panelas no fogo, as facas e os interruptores, todos eram personagens responsveis por essa [atmosfera. Pois todos eles continuaram, propositalmente, [inertes.Porm, longe daqui, em algum universo paralelo [ao meu, todo resto do mundo j estava olhando para os [dois ladosantes de atravessar a avenida.

  • 202 Wendell Nascimento

    Incontestvel

    Ningum me viu partir.Ningum me julgou bom ou ruim.Eu simplesmente fui como quem deita para dormir.E cheguei despreocupado,Pois no vi trevas nem pecados.Nem anjos rebeldes,Nem demnios transfigurados,Era apenas eu No inferno apenas meu,Onde o indulto era ser condenado.Fogo, lamria, noite, dia,Nada disso existia. Estava tudoDo jeito que a incompreenso queria,Tudo em formato de poesia.

  • Goiana Revisitada 203

  • 204 Goiana Revisitada

    ADEMAURO COUTINHO

    Com a velha faca [pag 13] / Farei [pag 13] / Efeito da caninha [pag 13] / Dobrado dos ordinrios poetas [pag 14] / O cigarro [pag 14] / A valsa [pag 15] / Sino [pag 15] / Vogais [pag 15] / A noite [pag 16]Nu natural [pag 16] / Vivncia pessoal [pag 16]Ser louco [pag 17] / Frao [pag 17] / Malote [pag 18]A fila [pag 18] / Poeme-se [pag 20] / Horizonte [pag 21]Sensibilidade [pag 19] / Andorinha [pag 19] / O fim [pag 22]

    ALUIZIO FIDELIS

    Antes do mesmo [pag 25] / Dragar [pag 26]Abstrato [pag 27] / Tudo por nada [pag 28]Sem ttulo [pag 29] / Morto o homem, morto o vene-no [pag 30] / Homem de pouca f [pag 31]Molde [pag 32] / Reino [pag 33]/Introduzir-se [pag 34]

    ANDR PHILIPE

    Naturalpoesia [pag 37] / Produto dos Meios [pag 38] medida que o tempo passa [pag 39]Poeta cheia [pag 39] / Toc toc