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possvel melhoraro mundo e ganharbem trabalhandoem ONGs?
ilona becskehzy
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162 captulo 7
J perdi a conta das vezes que respondi a essa pergunta de maneira
informal, interpelada por pessoas em incio de carreira ou em transi-
o profissional que gostariam de dar uma contribuio relevante para
o mundo, ao mesmo tempo em que conseguem pagar as contas.
RESUMO
O presente captulo organiza informaes disponveis de forma a dar ao leitor uma ideia
geral do que determinam as oportunidades e a remunerao no mercado de trabalho no
Brasil, e algumas das opes de atuao no que se convencionou chamar Terceiro Setor.
Vamos comear a resposta pela parte mais genrica da pergunta, que
se refere remunerao, ou seja, receber alguma recompensa material
em troca de uma tarefa ou servio prestado. Para ser remunerada, a pes-
soa precisa estar "ocupada", trabalhando de alguma forma, ou seja, tra-
balhar (ou estar ocupado) no necessariamente bater ponto todos os
dias e ter carteira assinada.
O mercado de trabalho no BrasilPara entender melhor o perfil das pessoas ocupadas, vamos dar um
passo para trs e conhecer o mercado de trabalho no Brasil a partir
de pesquisa recente feita pelo IBGE (PNAD Pesquisa Nacional por
Amostra de Domiclios, 2014).
Segundo a pesquisa, existem mais de 160 milhes de pessoas "em
idade de trabalhar". Dessas, quase 98 milhes so consideradas como
"nafora de trabalho", ou seja, as pessoas que esto trabalhando ou
que, mesmo no estando, buscam emprego. Para resumir, a distribui-
o das pessoas em idade de trabalhar por faixa etria a seguinte:
PNAD contnua(4 trimestre 2013)Por grupo de idade
Nmeros absolutos(1.000 pessoas)
Na fora detrabalho
Ocupadas
Brasil 160.408 61,1% 57,3%
14 a 17 anos 14.085 20,9% 17,0%
18 a 24 anos 22.432 67,7% 58,8%
25 a 39 anos 47.205 80,8% 76,0%
7 possvel melhorar o mundo eganhar bem trabalhando em ONGs?COMENTRIO
Trabalhando de alguma formaSegundo o IBGE, rgo do Governo
Federal que coleta e analisa boa parte
das informaes de populao, trabalho
e renda no nosso pas, a atividade pro-
fissional, registrada ou no, em tempo
parcial ou integral, de forma regular ou
espordica, caracteriza a remunerao.
COMENTRIO
Fora de trabalho
As pessoas que no estavam ocupadas
e que tambm no procuraram emprego
poca da pesquisa no so conside-
radas como fazendo parte da fora de
trabalho.
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COMENTRIO
Faixas etrias
possvel supor que as pessoas mais
novas, de 14 a 17 anos, ainda estejam
estudando, uma vez que nessa idade
obrigatrio que estejam matriculados
na Educao Bsica, embora no seja
esse o caso para todos. Tambm pode-
mos imaginar que as pessoas com mais
de 60 anos j estejam se aposentando.
40 a 59 anos 49.567 71,8% 69,5%
60 anos ou mais 27.120 22,5% 22,1%
Fonte: PNAD Continua. IBGE, 2014.
Com a tabela anterior, j podemos perceber uma coisa sobre o mer-
cado de trabalho no Brasil: as pessoas com idade entre 25 e 59 anos tm
mais chance de estar empregadas que as das demaisfaixas etrias. Re-
sumidamente, o foco de comparao para o mercado de trabalho para
essa anlise a faixa de 25 e 59 anos.
REFLEXO
Um outro aspecto do perfil da populao quanto ao mercado de trabalho o nvel
de instruo. Ser que verdade que quanto mais uma pessoa estuda, maior sua
chance de estar empregada? A tabela a seguir mostra que sim.
Nveis de instruo4 trimestre de 2013
Nmeros absolutos(1.000 pessoas)
Distribuiopercentualpor nvel de
estudo
Taxa deocupao
Brasil 160.408 100,0% 57,3%
Sem instruo e menos
de 1 ano14.899 9,3% 33,6%
Ensino fundamental
incompleto ou equiva-
lente
51.026 31,8% 47,5%
Ensino fundamental
completo ou equiva-
lente
18.136 11,3% 55,6%
Ensino mdio incom-
pleto ou equivalente11.842 7,4% 49,2%
Ensino mdio completo
ou equivalente 40 431 25,2% 70,0%
Superior incompleto ou
equivalente6 856 4,3% 68,0%
Superior completo 17 219 10,7% 79,8%
Fonte: PNAD Continua. IBGE, 2014.
Repare que apenas 25% das pessoas com 14 ou mais anos de idade
tm nvel mdio completo e 70% delas esto ocupadas. Entre os 10,7%
das que tm ensino superior completo, quase 80% esto ocupadas.
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RESUMO
Agora que j sabemos que as pessoas com ensino superior completo tm maior chan-
ce de estar empregadas, vamos ver qual o tipo carreira universitria remunera melhor.
Um outro rgo do Governo Federal, o IPEA, fez um levantamento
para descobrir exatamente isso, produzindo um ranking com quatro
componentes: salrio mensal, durao da jornada semanal, taxa de ocu-
pao (percentual de pessoas ocupadas em relao ao total com a mes-
ma formao), e cobertura previdenciria.
O ranking multivariado de carreiras universitrias e mercado de tra-
balho apresentado no levantamento do IPEA est parcialmente reprodu-
zido na tabela a seguir, com os 10 primeiros colocados e os 10 ltimos.
Rank
Cobertura pre-
videnciria (%)Rank
Taxa de
ocupao (%)Rank
Horas
semanaisRank
Salrio
mensalCarreira Universitria
1. Medicina 8.459,45 1 1 541,94 41 97,07 93,38
2. Odontologia 5.367,31 7 2 4338,24 14 96,22 83,23
3. Servios de transportes 6.052,56 3 14 638,90 17 93,56 93,25
4. Engenharia civil 5.768,19 5 3 2842,12 44 95,72 90,68
5. Setor militar e de defesa 7.695,84 2 44 141,91 39 90,63 97,13
6. Eng. mecnica e metalrgica 5.500,30 6 6 842,89 48 94,36 92,93
7. Engenharia (outros) 5.242,91 8 19 1440,74 29 93,11 92,11
8. Engenharia qumica 5.815,28 4 31 1041,91 40 92,58 92,57
9. Matemtica 2.811,40 40 5 738,00 12 94,39 93,15
10. Estatstica 4.780,29 10 21 1140,43 26 93,08 92,57
38. Artes 3.055,59 35 33 4536,82 5 92,52 81,56
39. Veterinria 4.314,48 14 24 4441,44 34 92,86 81,70
40. Eng., produo e processamento 3.950,60 19 34 2642,51 46 92,22 90,95
41. Sociologia e Cincia poltica 3.638,39 24 42 3138,93 18 91,21 88,93
42. Agronomia, pecuria e pesca 3.933,85 20 39 4041,95 43 91,92 85,20
43. Outras Cincias Sociais 3.099,39 32 45 3237,68 10 90,35 88,66
44. Outros servios pessoais 2.786,87 41 25 4840,00 23 92,85 71,59
45. Turismo, viagens e lazer 3.043,14 36 43 3441,25 32 90,70 87,18
46. Educao fsica e esportes 2.786,31 42 47 3738,75 15 89,74 86,24
47. Filosofia e tica 2.340,35 47 48 3537,33 7 89,17 86,97
48. Religio 2.175,79 48 46 4639,43 21 89,94 78,89
Fonte: IPEA. Radar n27, julho de 2013
Pelo ranking, vemos que as carreiras mais "vantajosas", segundo os
quatro critrios adotados, so Medicina, Odontologia, Engenharias,
Matemtica e Estatstica.
REFLEXO
Note que so carreiras para as quais o preparo comea ainda na Educao Bsica,pois no s as provas de admisso para a universidade exigem notas mais altas e
COMENTRIO
IPEA
Instituto de Pesquisa Econmica Apli-
cada, fundao pblica vinculada Se-
cretaria de Assuntos Estratgicos da
Presidncia da Repblica. O IPEA for-
nece suporte tcnico e institucional s
aes governamentais possibilitando
a formulao de inmeras polticas p-
blicas e programas de desenvolvimento
brasileiro e disponibiliza, para a socie-
dade, pesquisas e estudos realizados
por seus tcnicos. Recomendo a voc
a leitura do relatrio completo onde se
obtm mais detalhes para compreender
a evoluo das carreiras no Brasil nos
anos recentes.
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at exames especficos, mas tambm porque, para conseguir ter um bom aproveita-
mento no curso universitrio, o aluno precisa dominar muito bem os conhecimentos
das reas das Cincias e da Matemtica.
O outro lado da moeda (no nosso caso, da tabela) que profissesque exigem conhecimentos prvios mais concentrados nas reas de
Lnguas e Cincias Humanas so menos valorizados pelo mercado,
pagando menos, empregando menos e com menos garantias de pro-
teo previdenciria.
O problema que h mais gente escolhendo justamente esse grupo
de carreiras que o anterior, por vrias razes, entre elas a oferta de va-
gas, como no caso da Medicina, que, dos 5,9 milhes de matrculasem
cursos de graduao presencial, participa com 111.530, ou 1,9% delas.
Por outro lado, as Engenharias, no seu conjunto, ocupam 15% das
matrculas (865.301 delas). Ainda, a Religio, lanterninha do mercado
de trabalho brasileiro, conta com mais de 11 mil pessoas interessadas
na rea, mesmo que a remunerao no seja "l essas coisas". Nesse
caso, a vocao conta mais que tudo na hora de escolher a profisso.
REFLEXO
razovel supor que, mesmo que haja diferena de atratividade para os profis-
sionais entre os trs setores da economia (Primeiro, Segundo e Terceiro), essa
no pode ser muito diferente, pois a competio por profissionais escassos no
mercado no respeita essas fronteiras conceituais: um hospital privado, se quiser,
pode "roubar" um profissional do setor pblico oferecendo condies de trabalho
e remunerao mais vantajosas, por exemplo.
Ento, o primeiro argumento deste captulo que a escolha da car-
reira universitria deve ser a primeira que se faz quando se pensa no fu-
turo profissional, depois pensamos em que setor da economia vamos
poder nos desenvolver mais (o que oferece mais e melhores oportunida-
des) e, finalmente, em que instituio.
Uma vez informados sobre algumas estatsticas bsicas sobre o mer-
cado de trabalho em geral no Brasil, vamos entender o que o Terceiro
Setor e que tipo de profissionais esse tipo de mercado emprega.
Conhecendo o Terceiro Setor
Terceiro Setor um tipo de atividade que se diferencia do Estado (Pri-
meiro Setor) e da iniciativa privada com fins de lucro (Segundo Setor),
pois , ao mesmo tempo, de origem privada, mas sem fins de lucro.
COMENTRIO
Matrculas
Os dados de matrcula no ensino su-
perior so da Sinopse Estatstica do
Ensino Superior, do Ministrio da Edu-
cao, 2012.
COMENTRIO
Instituio
Claro que voc pode sonhar em trabalhar
em uma instituio que admire e direcio-
nar todos os seus esforos acadmicos
para chegar at ela, mas isso pode trazer
mais frustraes que alegrias, porque a
instituio, vista de perto, pode no ser
bem aquilo que voc esperava.
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REFLEXO
Para alm dessa definio mais genrica, no Brasil, os rgos oficiais de pesquisa
estatstica j citados adotam uma definio internacional, mais detalhada, do que
seja uma organizao da sociedade civil, que o que normalmente reconhecemos
como Terceiro Setor. Para algumas pessoas, o Terceiro Setor tem mais charme e
apelo que os outros dois.
Na definio conhecida como Fasfil (Fundaes Privadas e Associa-
es sem Fins Lucrativos), so organizaes que, no Brasil, correspon-
dem a associaes, fundaes e organizaes religiosas. No entram,
por exemplo, os condomnios residenciais.
So os seguintes critrios que devem estar presentes de forma conco-
mitante para que sejam assim definidas:
APrivadas, no integrantes, portanto, do aparelho de Es-
tado (fcil de entender, se fossem estatais estariam no
Primeiro Setor);
B
Sem fins lucrativos, isto , organizaes que no distri-
buem eventuais excedentes entre os proprietrios ou
diretores e que no possuem como razo primeira de
existncia a gerao de lucros podendo at ger-los,
desde que aplicados nas atividades fins: essa uma ca-racterstica jurdica e fiscal importante de ser respeitada.
Muitas pessoas caem na tentao de criar empresas
que vendem bens e servios no enquadramento de uma
associao ou instituto, mas as autoridades competen-
tes fiscalizam para garantir que no h apropriao dos
resultados, mesmo que na forma de altos salrios ou de
benefcios extras como carros, passagens e similares.
Portanto, bom ter essa informao em mente na hora
de escolher uma instituio para trabalhar;
C
Institucionalizadas, isto , legalmente constitudas
criar um grupo para atuar para o bem da sua comuni-
dade, mas no cumprir com as formalidades jurdicas e
fiscais gera uma srie de impedimentos, como os re-
gistros necessrios para fazer pagamentos e contratar
pessoas, por exemplo;
COMENTRIO
Condomnios residenciais
Os condomnios (e tambm sindicatos,
partidos polticos, cartrios) so enti-
dades sem fins lucrativos de natureza
privada, mas no atendem aos demais
critrios utilizados para identificar as
organizaes da sociedade civil esta-
belecidos no Handbook on Non-Profit
Institutions in The System of National
Accounts, preparado pela Diviso de
Estatstica das Naes Unidas e pelo
Centro de Estudos da Sociedade Civil
da Universidade Johns Hopkins.
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D
Autoadministradas ou capazes de gerenciar suas pr-
prias atividades, o que um pouco difcil de definir, por-
que, s vezes, um Conselho pode ser mais operacional
e ajudar no gerenciamento, mesmo que no seja remu-nerado para tal; e
E
Voluntrias, na medida em que podem ser constitudas
livremente por qualquer grupo de pessoas, isto , a ati-
vidade fim da associao, fundao ou entidade livre-
mente decidida pelos scios ou fundadores, desde que
no seja ilegal.
As ONGs (Organizaes No Governamentais) esto mais identifica-
das com as associaes e fundaes com carter de desenvolvimento so-
cial, comunitrio, defesa de direitos ou de princpios e afins. Por exem-
plo, um hospital sem fins lucrativos uma Fasfil, mas no uma ONG.
REFLEXO
As ONGs, por seu carter combativo contra as injustias pelo mundo so ainda mais
"charmosas" aos olhos da sociedade que as instituies formalmente classificadas
como do Terceiro Setor.
Agora vamos fazer o mesmo caminho que fizemos para entender o
mercado de trabalho de maneira geral. A tabela a seguir mostra, por rea
de atuao, quantas instituies do tipo Fasfil existiam no Brasil em 2010,
quantas pessoas trabalhavam nelas, quanto ganhavam em mdia (por faixa
de salrio mnimo) e que proporo dos trabalhadores tinha nvel superior.
COMENTRIO
Salrio mnimo
Segundo o relatrio do IBGE, o valor
mdio mensal do salrio mnimo foi de
R$ 510,00 em 2010.
Classificao das entidades sem finslucrativos - rea de atuao
Unidadeslocais
Pessoal ocupadoassalariado
(2010)
Salrio mdiomensal em salrios
mnimos
Pessoal comnvel superior
% Pessoalcom nvelsuperior
Total 290.692 2.128.007 3,3 701.904 33,0%Habitao 292 578 3,1 85 14,7%
Sade 6.029 574.474 3,3 132.242 23,0%
Cultura e recreao 36.921 157.641 3,5 36.385 23,1%
Educao e pesquisa 17.664 562.684 4,0 316.704 56,3%
Assistncia social 30.414 310.730 2,4 87.778 28,2%
Religio 82.853 150.552 2,2 27.449 18,2%
Associaes patronais, profissio-
nais e de produtores rurais44.939 113.897 3,3 22.795 20,0%
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RESUMO
Veja que a remunerao, grosso modo,acompanha o que o relatrio do IPEA mos-
trou: a rea da Sade est entre as que melhor remunera (lembrando que a rea
engloba bem mais profissionais que apenas os de Medicina) e a carreira de Religio
a que menor remunerao oferece.
A rea de Educao e Pesquisa a que apresenta a melhor remunerao do Ter-
ceiro Setor no Brasil, sendo que suas instituies mais tpicas so as de ensino
superior. A de Cultura (incluindo Artes) a segunda, mas interessante notar que
esta emprega uma proporo menor de pessoas com ensino superior, que, como j
sabemos, ajuda a puxar a remunerao mdia para cima.
Estivemos falando bastante de remunerao, mas o mercado de
trabalho tambm valoriza experincias voluntrias, no remuneradas.
Do ponto de vista do recrutador, uma forma inteligente de verificar se
a pessoa capaz de automotivar-se e de fazer alguma coisa bem feita,
mesmo que no receba nada em troca (a no ser a satisfao, claro).
REFLEXO
Muitas palavras bonitas so usadas para justificar a valorizao do voluntariado no cur-
rculo de candidatos a emprego, mas o que est na cabea de quem contrata isso: o
quanto a pessoa capaz de dar de si, sem que tenha a obrigao para tal. Uma forma
de identificar pessoas que trabalham bem, mesmo sem superviso direta e ininterrupta.
Mas h um lado pessoal e humano que costuma vir com o trabalho vo-
luntrio para o bem de uma causa ou grupo social, que a realizao oriun-
da de se sentir til, de fazer o bem ao prximo, ou de conquistar um objetivo
difcil junto de um grupo de pessoas com as quais voc se identifica. O bom
que possvel ser voluntrioem paralelo com sua vida profissional.
RESUMO
Resumindo, nesta primeira parte sobre mercado de trabalho vimos que:
mais altos;
Meio ambiente e proteo animal 2.242 10.337 3,1 2.898 28,0%
Desenvolvimento e defesa de
direitos42.463 120.410 3,0 34.803 28,9%
Outras instituies privadas sem
fins lucrativos 26.875 126.704 3,2 40.765 32,2%
Fonte: IBGE, Fasfil 2010.
COMENTRIO
Ser voluntrioH pessoas que s conseguem fazer
isso antes de comear uma carreira ou
depois que se aposentam, mas sempre
vale a pena pensar em atividades volun-
trias como parte integrante da vida de
um cidado.
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e de prestao de servios e contratam profissionais de carreiras variadas;
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cado brasileiro porque elas selecionam profissionais com nveis de educao mais
alto, em geral, de carreiras especializadas;
sentir contribuindo com a comunidade e turbinar seu currculo.
O caso Greenpeace
Agora vamos segunda parte da perguntasobre trabalhar em algo que
contribua diretamente para melhorar o mundo e ser remunerado por
isso. A melhor maneira de entender as diferentes lgicas do Terceiro
Setor conhecer algumas instituies mais de perto, suas motivaes
e forma de atuar. Vamos comear com o Greenpeace, que uma insti-
tuio com grande apelo ao pblico jovem por atuar no combate a situa-
es de risco ambiental no mundo todo.
As atividades do Greenpeaceincluem o combate s emisses de car-
bono que levam a mudanas climticas, a promoo da proteo de flo-
restas mares e oceanos e de sua explorao sustentvel, da conduo do
agronegcio ecologicamente responsvel, a conscientizao sobre o uso
de substncias txicas em larga escala (como substncias para tingir te-
cidos e baterias de aparelhos eletrnicos) e seu banimento para uso in-
dustrial e, por ltimo, a luta pelo banimento da energia nuclear, tanto
para fins pacficos (pelo risco que representam se carem em mos erra-
das), quanto para fins de guerra (por razes bvias).
RESUMO
Uma parte de seu trabalho executada com a ajuda de trs embarcaes especia-
lizadas (um minissubmarino, um navio e um veleiro) que monitoram problemas am-
bientais em ecossistemas hdricos, como a Bacia Amaznica, a Costa Africana ou o
Oceano rtico. Essas embarcaes se tornaram famosas em muitas das arriscadas
aes de "ataque pacfico" promovidas pelo Greenpeace.
Quem hoje v a instituio to grande, organizada e poderosa talvez
no saiba que ela comeou com uma corajosa viagemde barco a vela, no
final vero de 1971, para o Oceano rtico, a Ilha de Amchitka, parte do
estado do Alasca, Estados Unidos, com o objetivo de impedir testes de
bombas atmicas do Governo americano.
importante lembrar que quela poca no havia os sistemas de co-
municao e transporte que temos hoje, e que a poltica mundial tinha
o seu foco principal na Guerra Fria (a disputa armamentista e cientficaentre o eixo dos Estados Unidos e seus aliados capitalistas e o Bloco Rus-
COMENTRIO
Greenpeace
O Greenpeacehoje tem sede em Ams-
terd, na Holanda, e representaes em
mais de 40 pases por todos os continen-
tes do planeta Terra, incluindo o Brasil.
Em 2012, seu oramento mundial foi da
ordem de 265 milhes de Euros, quase
exclusivamente formado por doaes
originadas em mais de 20 pases. Conta
com 2.497 empregados e 14.200 volun-
trios espalhados pelo mundo.
COMENTRIO
Corajosa viagem
Eles nem conseguiram chegar perto, fo-
ram barrados pela Marinha Americana,
mas chamaram tanta ateno na impren-
sa que ficaram animados para continuar
suas aes e, de fato, conseguiram que
o programa de testes nucleares na Ilha
fosse cancelado.
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so, comunista). Diferentemente de hoje em dia, quando o desenvolvi-
mento econmico sustentvel e o respeito aos direitos humanos ganha-
ram muito mais espao. Eles foram realmente corajosos!
O caso Mdicos Sem Fronteiras
Outra entidade internacional nasceu em 1971 por causa da coragem e
da indignao de um grupo de voluntrios formado por 300 mdicos,
enfermeiros e outros profissionais, entre eles os seus 13 fundadores: tra-
ta-se do Mdicos Sem Fronteiras (MSF).
RESUMO
A motivao inicial do grupo foi a participao deles no socorro s vtimas da guerra
de secesso de Biafra, no Sudeste da Nigria. No meio da disputa entre os separa-
tistas e o Governo Federal estima-se que mais de trs milhes de pessoas tenham
morrido, principalmente de fome e doenas. As imagens das crianas de Biafra mor-
rendo de inanio e o fato de as equipes de socorro e aes humanitrias terem sido
atacadas, como se fossem parte da guerra, chocaram o mundo poca.
Atualmente, a MSF uma organizao mundial que atua em mais
de 40 pases, com um oramentode 937 milhes de Euros (2012), 90%
deles de doaes privadas de mais de 4,5 milhes de pessoas e institui-
es do mundo todo. Emprega mais de 34 mil pessoas, sendo 3,3 mil
deles mdicos, enfermeiros e paramdicos. Em 1999, a MSF recebeu o
Prmio Nobel da Paz.
PRINCPIOS DE ATUAO DO MSF
tica mdica as aes respeitam os princpios mdicos de tratar os
pacientes sem causar danos a terceiros, levando em conta sua autono-
mia e privacidade e seu direito de consentir no tratamento de maneira
informada, tratando-os com dignidade e respeito por suas crenas cul-
turais e religiosas, ao proporcionar tratamento mdico de alta qualidade;
Independncia, imparcialidade e neutralidade as decises sobre
a assistncia da MSF so controladas diretamente pelas equipes e so
independentes de raa, religio, gnero ou afiliao poltica, sem tomar
partido de governos ou de lados de uma disputa;
Testemunho a independncia no se traduz em silncio. A MSF de-
nuncia casos de sofrimento extremo, limitao da disponibilidade de
ajuda ou ameaas s instalaes mdicas.
COMENTRIO
Oramento
Contar com essa proporo de doaes
privadas, e no de governos, por exem-
plo, garante MSF a independncia pol-
tica com a qual sempre se comprometeu.
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Responsabilidade os efeitos de suas atividades so regularmente
avaliados e reportados aos seus pacientes e apoiadores.
Caso do Movimento Internacional daCruz Vermelhae do Crescente Vermelho
Outra rede de ajuda humanitria internacional, a maior do mundo,
com mais de 12 mil funcionrios e atuao em 80 pases, o Movimen-
to Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, tambm
presente no Brasil.
RESUMOA Cruz Vermelha existe h mais de 150 anos e nasceu da indignao; mas, nesse
caso, de uma pessoa, o empresrio suo Henry Dunant, que em 1859 presenciou
o sofrimento dos soldados feridos na Batalha de Solferino, na Itlia, e sobre a qual
escreveu um relato que deu origem a um comit internacional de socorro a feridos,
que mais tarde se tornou o Comit Internacional da Cruz Vermelha.
Apesar de viver na misria depois de seus negcios falirem, Henry
Dunant continuou a dar assistncia a feridos de guerra e sugeriu a placa
de identificao obrigatria a ser usada pelos soldados para sua identifi-
cao no em caso de morte em combate.
O trabalho do Comit Internacional da Cruz Vermelha est baseado
em sete princpios fundamentais:
Humanidade:socorre, sem discriminao, os feridos no campo de batalha e
procura evitar e aliviar os sofrimentos dos homens, em todas as circunstncias;
Imparcialidade:no faz qualquer distino de nacionalidade, raa, reli-
gio, condio social e filiao poltica;
Neutralidade:para obter e manter a confiana de todos, abstm-se de
participar das hostilidades e nunca intervm nas controvrsias de ordem
poltica, racial, religiosa e ideolgica;
Independncia: as sociedades nacionais devem conservar sua auto-
nomia, para poder agir sempre conforme os princpios do Movimento
Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho;
AUTOR
Henry Dunant
Jean-Henri Dunant (1828-1910) orga-
nizou na Inglaterra, em 1875, um con-
gresso internacional para abolir todo o
trfico e comrcio de escravos. Em 1901
recebeu o primeiro Prmio Nobel da Paz.
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Voluntariado:instituio de socorro voluntrio e desinteressado;
Unidade:s pode haver uma nica sociedade nacional em um pas;
Universalidade:instituio universal, no seio da qual todas as socie-
dades nacionais tm direitos iguais e o dever de ajudar umas s outras.
Caso do Teto
Uma outra iniciativa, mais recente e mais perto do Brasil, tambm tem
uma trajetria interessante e tambm atua no Pas: o Teto, que comeou
no Chile em 1997 com o nome Um teto para meu pas.
O relatrio anual de 2011 do captulo brasileiro do Teto traz o
relato de seu incio
Depois de concluir uma atividade social construindo uma capela, um
grupo de jovens universitrios, apoiados pelo sacerdote jesuta Felipe
Berros, sentiu a necessidade de denunciar a situao de pobreza extre-
ma em que vivem milhares de pessoas, a partir da construo de casas
emergenciais e da realizao de planos de habilitao social. Surgiu assim
a necessidade de convocar toda a sociedade para se unir causa, ao
mostrar que a falta de oportunidades e as condies em que vivem mais
de 200 milhes de latino-americanos representam uma grande injustia.
[...] Em 2001, comeou a expanso da iniciativa pela Amrica Latina. [...]
Em 2006, as atividades no Brasil (Um teto para meu pas,2011, p. 10).
Hoje so 19 pases participando da rede na Amrica Latina e Caribe e
mais de 600 mil voluntrios mobilizados na regio. Eles identificam fa-
mlias que vivem em condies extremamente precrias e/ou de risco e
trabalham com elas para seu engajamento na soluo de seus problemas
e de suas comunidades.
REFLEXO
Veja como, s vezes, uma ou poucas pessoas podem fazer enorme diferena no
mundo por conseguir comunicar seus valores e vises de futuro e arregimentar re-
cursos humanos e materiais para concretiz-las.
Voc pode ser uma delas, ou trabalhar para uma delas, mas fundamen-
tal ter conhecimento sobre aquilo que se defende, porque as propostas de
soluo, para ganharem credibilidade e apoio (e tambm se expandirem, sefor o caso), devem ser bem desenhadas, planejadas e executadas.
COMENTRIO
Soluo de seus problemas
Inicialmente com a construo de mo-
radias de emergncia, "por ser uma so-
luo concreta, tangvel e realizvel em
curto prazo", e depois continuam com
atividades de desenvolvimento comuni-
trio e dos indivduos daquelas comuni-
dades, como educao, preparao para
o trabalho e atividades empreendedoras
e, posteriormente, a regularizao da
propriedade, instalao/regularizao
de servios gua, esgoto e eletricidade
e o fortalecimento social do grupo para
reivindicar seus direitos.
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Das Fasfil para as empresassem fins lucrativos
Uma das maiores diferenas entre uma empresa e uma entidade semfins lucrativos a sua misso ou o propsito: para que fim vai se juntar
pessoas e recursos?
REFLEXO
Para montar uma empresa, o empreendedor percebe uma oportunidade de ganhar
dinheiro ao vender bens e servios para uma clientela que ele tambm j identificou.
O empreendedor social, que no est preocupado em ganhar dinheiro, percebe um
problema e tem o impulso moral de resolv-lo.
Como vimos at aqui, os problemas podem ser de natureza diferen-
te: preocupao com o meio ambiente, com feridos de guerra ou com a
extrema pobreza. Mas todos so um compromisso moral com a humani-
dade, com ideias e causas que mantm a motivao das pessoas que se
engajam para resolv-los juntamente com a empatia de quem, mesmo
de fora, participa de sua soluo, doando recursos, por exemplo.
Agora vamos ver dois exemplos de entidades sem fins lucrativos brasi-
leiras e que, diferentemente das que vimos at agora, no funcionam como
uma rede de unidades locais, mas como empresas. S que sem fins de lucro.
O caso Fundao Bradesco
A primeira a maior fundao privada do Brasil, aFundao Bradesco,
foi criada em 1956 pelo empresrio Amador Aguiar, que tambm fun-
dou o Banco Bradesco.
Desde seu incio, a Fundao foi configurada como uma opo de
educao de qualidade para pessoas de baixa renda e hoje a maior rede
privada de educao gratuita do Pas, atendendo mais de 100 mil pes-
soas em programas de Educao Bsica, formao profissional e outras
modalidades educacionais.
RESUMO
Est instalada em 40 unidades espalhadas pelo Brasil, com pelo menos uma escola
em cada estado, sempre localizadas em reas de nvel socioeconmico baixo. Conta
com 2,8 mil funcionrios, 1,3 mil deles so docentes.
COMENTRIO
Fundao Bradesco
Ao contrrio de muitas instituies de
responsabilidade social empresarial que
so "filhotes" de suas empresas, a Fun-
dao uma das donas do Banco. Em
2013 seu oramento chegou a 450 mi-
lhes de Reais, pois recebe dividendos
de seu investimento.
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O caso GRAACC
A segunda o GRAACC Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cncer , criada
a partir da iniciativa de trs profissionais que adequaram as instalaes de uma casa para
receber o setor de oncologia peditrica do Hospital So Paulo, onde as crianas pudessemreceber tratamento adequado, dentro dos mais altos padres de atendimento.
RESUMO
A "casinha", estabelecida em 1991, hoje um hospital oncolgico infantil, que faz diagnstico e tratamen-
to, alm de atividades de pesquisa e ensino de alto nvel.
Embora o GRAACC seja mantido com doaes de vrias empresas e pessoas, administra-
do como uma empresa, se submetendo a padres de gesto e qualidade das entidades privadas.
Cultura e estruturao do Terceiro Setor
Os Estados Unidos da Amrica so o pas com o Terceiro Setor mais dinmico, pode-
roso e rico do mundo. Isso resultado da taxao de heranas, que faz com que uma
pessoa prefira doar seus bens para uma fundao com o nome de sua famlia, ou que
promova uma causa, ou que resolva um problema que lhe caro, a deixar uma boa parte
de seu patrimnio para o Estado.
REFLEXO
Alm disso, l se criou uma cultura de empreendedorismo diferente da nossa, que leva aos pais, mesmo
que sejam ricos, a no quererem "estragar" seus filhos ao dar-lhes um futuro de bandeja.
Esse tipo de filantropia massiva raro no Brasil, sendo a Fundao Bradesco a exceo mais
famosa. Alguns nomes da filantropia americana (e o volume de suas doaes) so to expressi-
vos que, mesmo quase um sculo depois de suas mortes, seus nomes ainda esto presentes em
muitas universidades, hospitais e bibliotecas pelo mundo todo. Vejamos trs exemplos:
Andrew Carnegie:escreveu um livro sobre as doaes que os ricos deveriam fazer para me-
lhorar a sociedade e a vida dos mais esforados. Segundo ele, as doaes deveriam ser feitas
ainda em vida porque "o homem que morre rico, morre em desgraa".
De fato, ele separou um pouco de dinheiro para viver modestamente e doou toda sua imensa
fortuna em vida deixou 2,8 mil bibliotecas espalhadas pelo mundo, inmeras fundaes para
o progresso das artes e educao, uma universidade e, entre outros enormes investimentos,
um fundo de penso para os ex-presidentes americanos e suas vivas.
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John D. Rockefeller:criou o Instituto Rockefeller de Pesquisa Mdica
que, entre outras coisas, criou vacinas para a meningite e febre amarela
e , ainda hoje, um dos principais centros de pesquisa mdica no mundo.
Henry Ford: criou a Fundao Ford, a mais rica dos Estados Unidos,
com atuao em vrios pases, inclusive no Brasil, j tendo distribudo
mais de 16 bilhes de dlares para atividades de reduo de pobreza,
fortalecimento da democracia e educao.
Com esses exemplos, parece que o Terceiro Setor uma ilha de se-
riedade e compromisso, cercada por dois outros setores nos quais no
h nem um, nem outro. No bem assim, claro.
Nem tudo so flores...
No Primeiro Setor, das atividades dos governos em seus vrios nveis, h
uma srie de regulaes que, se no impossibilitam, pelo menos inibem
e dificultam o mau uso do dinheiro do contribuinte. Com o monitora-
mento das atividadesde todos os setores, no to fcil como parece
roubar do governo. Embora seja infinitamente mais fcil fazer uma ges-
to incompetente e uma operao catica...
No setor das empresas, mesmo com a busca incessante pelo lucro,
a maior parte dos empreendimentos so srios e cumprem seu papel
social vendendo bens e servios demandados pela populao, principal-
mente se forem bem regulados e acompanhados pelos governos e por
suas agncias de controle.
REFLEXO
No Terceiro Setor tambm pode haver pessoas mal-intencionadas, que usam as ins-
tituies sem fins lucrativos como fachada para vantagens pessoais ou mesmo para
aproveitar-se de pessoas incautas e generosas. Porm, esse tipo de artifcio desvia
recursos, principalmente, do governo.
O relatrio de uma Comisso Parlamentar de inqurito (CPI) que in-
vestigou a relao entre ONGs e o Governo Federal diz o seguinte:
[Sendo] Instituies humanas, logo se descobriu que as ONGs no incor-
poraram somente as virtudes, mas tambm os defeitos do homem. A busca
do retorno individual comeou a fazer parte do cotidiano de algumas insti-
tuies. A dependncia e o uso da mquina burocrtica como um fim em
si mesmo no tardou a se fazer presente (Congresso Nacional, 2010, p. 3).
COMENTRIO
Monitoramento das atividades
Acompanhar o uso de recursos est
sendo cada vez mais fcil por causa
dos mecanismos eletrnicos. No caso
recente do Brasil, isso se tornou mais
evidente a partir da criao da nova Lei
da Transparncia(Lei n 12.527, de 18
de novembro de 2011).
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A lista de irregularidades identificadas pela CPI vasta. As principais
concluses do relatrio que no se sabia direito como classificar as en-
tidades chamadas ONGs, a fiscalizao de suas atividades e finanas era
frgil, as parcerias com os governos eram, na verdade, a terceirizao
de servios do Estado, seu statusfiscal com benefcios tributrios noparecia se justificar e muitos dos repasses em si acabavam sendo apro-
priados por seus dirigentes.
Mas interessante apresentar, para quem est comeando uma
carreira, uma lista de situaes e comportamentos que facilitam ir-
regularidades em qualquer setor e que foram citadas no relatrio da
CPI como sendo tpicas. interessante refletir sobre elas, pois so
menos raras do que gostaramos:
I negligncia, descaso;
II presso do superior hierrquico; temor reverencial;
III dolo; corrupo; conscincia da impunibilidade;
IV desejo de agradar ao superior;
Vpresso psicolgica para emitir o parecer pela aprovao, presta-
o de contas e liberar o processo para deciso final do gestor;
VI receio de perder cargo comissionado ou a funo de confiana;
VII desdia;
VIIIconvico subjetiva de que o convnio foi bem executado, sem
fundamento em dados;
IX pura e simples omisso em proceder de acordo com a legislao.
(Congresso Nacional, 2010, p. 3)
Veja que os ideais humanitrios e filantrpicos que vimos anterior-
mente so caractersticas das lideranas das ONGs e, em alguma medi-
da, de suas equipes executoras. No caso das ONGs citadas na CPI, as ca-
ractersticas das pessoas que delas fazem parte esto voltadas para um
polo moral oposto.
As ONGs de celebridades
Outra modalidade de ONGs que no necessariamente segue o com-promisso moral com o bem comum mesmo que no cheguem s
COMENTRIO
Concluses do relatrio
O relatrio da CPI props um projeto de
lei com dispositivos para mitigar os pro-
blemas identificados e tornar mais efe-
tivos os controles sobre as atividades
e finanas das entidades que recebem
recursos do governo.
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prticas deletrias identificadas na CPI , so as das celebridades e
mulheres de homens muito poderosos.
Uma revista de fofocas publica o seguinte a respeito de sua motiva-
o para "ter" uma ONG:
A mulher do poderoso s no corre de fotgrafo de coluna social quando
para divulgar seu envolvimento em obras assistenciais porque, isso,
todas fazem. Alis, o mundo de hoje dos ricos no aceita quem no se
envolva com o Terceiro Setor. Noblesse oblige(A nobreza os obriga). Ela
tambm costuma pilotar jantares beneficentes frequentados por todo o
PIB nacional. A renda dos ingressos, que podem custar R$ 3 mil cada um,
revertida para a ONG que fundou em uma comunidade para recupe-
rar adolescentes ou fomentar a educao. Assistncia e sade tambm
so assuntos fundamentais. Ela costuma reservar algumas tardes do ms
para visitas e procura acompanhar o trabalho de seus assessores que a
ajudam a administrar a ONG (Poder, 2014, p. 40).
Essa lgica que acabamos de ver funciona mais ou menos assim:
pega mal uma pessoa ser rica e no dividir suas preocupaes com os
menos afortunados. Mas no para dividir muito, como fez Amador
Aguiar, que doou parte considervel de seupatrimniopara a fundao
que criou. No precisa exagerar! um projeto, em um lugar pobre, mas
no muito perigoso, onde a pessoa pode ir para se sentir bem e lembrar-
se de como tem sorte de ser rica.
De qualquer forma, como um tem que pegar dinheiro do outro, pois
todos tm suas ONGs, o jeito dar muitas festas beneficentes, pois os
amigos vo, se divertem, gastam hoje, mas amanh a vez deles pedi-
rem a sua contribuio... e todos se sentem bem.
Trabalhar em ONGs desse tipo divertido, mas em geral as "donas"
delas preferem contratar os filhos dos amigos como assessores, assim
resolvem o problema de ter de conviver com gente muito diferente e aju-
dam os amigos a economizarem nas mesadas de seus rebentos.
ltimas consideraesVoc pode melhorar o mundo (ou o Brasil, ou sua comunidade) sem tra-
balhar no Terceiro Setor, mas em uma instituio focada em ajudar a
melhorar o mundo e aliviar o sofrimento das pessoas mais vulnerveis:
seu tempo e energia sero mais bem aproveitados.
REFLEXO
As ONGs realmente independentes podem ter dificuldades de contratar pessoas,pois no podem aceitar recursos nem de governos, nem de empresas;
COMENTRIO
Patrimnio
Mas nem as celebridades, nem os mari-
dos poderosos querem gastar muito em
sua prpria ONG, porque chique mes-
mo ter uma que se sustente sozinha,
muitas vezes com o dinheiro dos seus
amigos ricos. Mais chique ainda, por que
s para quem realmente poderoso,
ter uma ONG com um projeto to ba-
cana, mas to bacana, que alm de ser
sustentvel, vira poltica pblica e a o
governo paga as contas.
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As ONGs ligadas a empresas costumam pagar melhor e ter bons pacotes de bene-
fcios, mas trabalham com foco principal na melhoria da marca de sua mantenedora.
Escolha muito bem, pesquise sobre as lideranas, descubra suas
motivaes para participar da entidade, procure saber sobre seus resul-tados e prticas ningum est a salvo de uma decepo ao fazer isso,
mas um bom comeo.
Para finalizar este captulo, vale um lembrete importante de uma
pessoa que, alm de trabalhar no Terceiro Setor por mais de 15 anos,
recrutava e gerenciava equipes degente jovem.
O lembrete o seguinte: o ambiente de trabalho no a sua casa,
sua escola, sua balada de final de semana ou seu jogo de futebol com os
amigos. Portanto, como j foi descrito nos captulos anteriores deste li-
vro, os seguintes critrios so essenciais para o desenvolvimento de sua
carreira, em qualquer dos setores da economia:
Assiduidade: no basta estar de corpo presente no ambiente de trabalho.
Voc est l para cumprir algumas tarefas, estabelecidas por voc ou em con-
junto com seu superior ou equipe de trabalho. Assim, sua mente tambm deve
vir trabalhar com voc e as questes de sua vida pessoal devem ficar restritas
ao seu ambiente privado. A no ser que sejam situaes de fora maior, para
as quais voc deve providenciar a documentao adequada, como um atesta-
do, por exemplo, e no ir trabalhar;
Pontualidade: horrio de trabalho no uma ideia vaga. Mesmo que a
jornada seja flexvel, o combinado deve ser cumpridos e seus superiores
e colegas devem saber quando podem contar com sua presena fsi-
ca no local de trabalho ao qual voc deve comparecer preparado para
comear a trabalhar. Isso no o mesmo que chegar esbaforido com
desculpas sobre o trnsito e sair para tomar um longo e relaxado caf
da manh em seguida;
Cordialidade: tratar todas as pessoas com a ateno devida, com
demonstraes explcitas de respeito ao prximo (que no devem estarrestritas aos superiores) olhos nos olhos, tom de voz afvel e lingua-
gem condizente com o ambiente de trabalho (que pode ser formal, ou
informal, mas no chula);
Apresentao pessoal: cada ambiente tem um cdigo de apresenta-
o pessoal: siga-o. Asseio pessoal demonstrao de considerao
e apreo por colegas, superiores e clientes; portanto, no negocivel.
Resumindo e voltando pergunta que motivou este captulo: pos-svel melhorar o mundo e ganhar bem trabalhando em ONGs?. Sim,
COMENTRIO
Gente jovem
Pessoas maravilhosas e divertidas,
umas mais, outras menos comprome-
tidas com a misso da entidade e com
o dia a dia de trabalho. Mas algumas
delas, "sem noo".
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mas seu salrio, como nos demais setores, depende da sua formao bsica e da carreira
universitria que voc escolher, a evoluo de sua carreira depende do seu empenho e dos
seus resultados. Alm disso, mudar o mundo para melhor exige mais dos profissionais que
mant-lo como est. Portanto, trabalha-se mais. Boa sorte!
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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art. 5, no inciso II do 3 do art. 37 e no 2 do art. 216 da Constituio Federal; altera a Lei n 8.112, de 11 de
dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de
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