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    Padre Huberto Bruening

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    Padre Huberto Bruening

    Abelha Janda-ra 2a Edio

    FUNDAO GUIMARES DUQUEFUNDAO VINGT-UN ROSADO

    COLEO MOSSOROENSESrie C Volume 1189 Abril de 2001

    Professor Antonio Gonzaga Chimbinho

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    Prefeitura Municipal de Mossor

    Fundao Municipal de CulturaGrfica do Deputado Frederico Rosado

    Abelha Jandara

    Ficha Tcnica:

    Digitao e diagramao:Caio Csar Muniz

    Reviso:Jos Romero Arajo Cardoso

    Capa:Rogrio Dias

    Impresso:Chaguinha

    Acabamento:Josaf das Chagas Pinheiro

    FVR/CM, Srie C Volume 1188 Maro de 2001

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    E-mail:[email protected]

    Visite nossa home-page e assine o livro de visitas:www.colecaomossoroense.org

    Hino do Apicultor Brasileiro

    Letra: Agenor N. MarquesMsica: Jos Accio Santana

    Abelha e flores so associadasE Deus Abenoou tal unio

    Pra dar perenidade naturezaE ao homem dar semente, mel e po.

    Refro

    Zum-zum de abelha palma de platia,Nas matas e jardins em florao.Zum-zum de abelha onomatopia,Trabalho ordeiro feito em mutiro:

    O nctar que ela suga de mil floresE os plens coloridos que semeia,So beijos que retornam como frutosE em doce mel nos favos da colmeia.

    Prolfera rainha soberana

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    De unida, ordeira e alada multido.O aroma que ela exala como im,Fator e sintonia de unio.A humilde abelha e a fausta naturezaCelebram seu consrcio com amor.Mil beijos de uma abelha em tantas floresSo frutos mil nas mos do apicultor.

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    Itinerrio da Apicultura

    Apicultura no s cincia, parte da zootecnia, tambm a arte de criar ou cultivar abelhas para auferirlucros. Situa-se entre as mais lucrativas atividades pe-curias. Economiza tempo e espao e at rao. A ex-

    plorao apcola pelo homem se perde nas origens dahumanidade. Comeou como meleiro, ladro e comi-lo, explorando as abelhas, sem fornecer-lhe nem tratonem casa. Assim foi na sia e na frica e no resto domundo, no fazia colmeias nem quadros, nem adotavaapicultura mobilista.

    O Brasil recebeu abelhas da Europa, primeiro a ale-m, escura, trazida pelos colonos alemes l pelo anode 1839. Depois foi trazida a Apis mellifera ligustica

    L., a italiana, da Ligria, pela dcada de 1870. Meuamigo gacho Bruno Schirmer me presenteou comuma fotografia duma centrfuga em que se l: A pri-meira centrfuga para apicultura da Amrica do Sul,(e) talvez a primeira do mundo, feita em 1858. Pelo Sr.

    Frederico Augusto Hennemann em Rio Pardo, Rio

    Grande do Sul.

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    Dizem alguns que a carnica A mellifera carnica P,da ustria, chegou juntamente com a alem. De fato,antes da importao ou introduo da Adansonii api-cultores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina conhe-ciam tais abelhas pelos matos, entre eles Nicolau, meuirmo.

    Africana Apis mellifera adansonii Latreille. No32o Congresso Internacional da Apimondia, outubro de1989, Rio de Janeiro, foi oficialmente rebatizada como

    Apis mellifera scutellata por sugesto deRuttner, Frie-drich, austraco (15 de abril de 1914). Quem sabe latimno gostou, pois apis no usa potes nem tigelas... Foitrazida da frica pelo paulista o prof. Warwick Este-vo Kerr, em 1956, cruzada com a italiana em So Pau-lo, donde se espalhou pelo Brasil, chegando ao RioGrande do Norte em 1966, alguns anos depois da itali-ana.

    Esta entrou em Mossor atravs de apicultores de

    Aracati, os irmos Maristas. Deu-se ento uma verda-deira confuso de abelhas e gente... a pior das pororo-cas... a apicultura de Mossor morreu logo depois denascer. A 26 de agosto de 1968 foi fundado o PrimeiroClube Apcola, com 17 scios, mas teve vida curta. Oimpacto foi violento demais. No s pereceram as abe-lhas italianas, seno tambm muitas indgenas, sobre-

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    tudo nossas jandarasM subnitida Ducke. Morreu abe-lha muita, muita galinha, filhotes de papagaios, cria-o, ces, ovinos, eqinos e at gente. S quem presen-ciou faz idia. Foi a destruio total da apicultura emeia-destruio da meliponicultura. S aps 30 anosressurgiu das cinzas a doce alada Fnix.

    Estamos em 1990, a alguns passos do terceiro mil-nio. Pergunto: qual a situao da apicultura e da meli-ponicultura da regio de Mossor e do Nordeste? Aprimeira cresce lentamente e a segunda decresce rapi-

    damente: infelizmente para as duas, pois sem pasto a-pcola no haver mel. O desmatamento selvagem, aagricultura irracional, gerando a desertificao, o em-prego de agrotxicos exagerado e descontrolado, reflo-restamento no se faz... ora, onde s se tira e no sebota, se acaba. Daqui a uns anos, nem mesmo a apicul-tura mobilista ou itinerante, de caminho, ser maisvlida. Teremos saturao de abelhas em deserto...Quando entrou no Brasil, comeou pelo Rio Grande do

    Sul e Santa Catarina, subiu para o Paran, So Paulo,Rio, Bahia e j vai imperando no Piau, o Eldorado demuita gente... Desde eras multisseculares se sabe queNatura horret saltus A natureza detesta saltos...no queima etapas. Dias e noites, estaes e fases dalua se alternam regularmente. Quem o homem paramexer naquilo de que no entende? Nossa gerao pas-

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    sar Histria como demolidora da natureza, destrui-dora da vida, fabricante de inseticidas, herbicidas, des-folhantes, poluintes, ou poluentes, porque o prpriohomem homicida, sobretudo o homem ocidental, ouseja, do lado em que o sol cai... perece, morre... Pareceque se mudou do lado orgnico para o inorgnico. Fazo que o macaco deixou de fazer: quebrar o que est aoseu alcance... destruir com dentes e munhecas. Temrazo, j ir(+)racional, que no tem razo. E o osten-ta na cara: sem fronte... com cabelo at os sobrolhos.

    Alis moderno esconder a fronte com melenas e ma-deixas espessas e gordurosas e brilhosas. Pode calharao smio, ao homem no. Relevem-me a digresso.

    Podemos afirmar que nunca se praticou meliponicul-tura no Nordeste, pelo menos a racional ou metdica.Sempre houve mais jandaras que nordestinos, maiscasas de abelhas indgenas que casas de aborgenes.Hoje a situao exatamente oposta. E pior ainda: omeleiro est destruindo as derradeiras casas umbura-

    nas e catingueiras que ainda restam pelo serto. Nadaescapa sanha de carvoeiros, caadores de mel, caa-dores de madeira, etc. At o rarssimo cumaru cor-tado e serrado em fatias sem cerne ainda para fabri-car caixas de empacotar melo. E a umburana desfia-da para cepilho... Nossas abelhas esto fadadas extin-o, mais cedo que se pensa. Sem casa para morar,

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    quem que trabalha? Se ao menos cuidassem os ho-mens de repor, de replantar e reflorestar... ou ainda: separassem de destruir... A terra mesma se reveste, recu-pera e recobre. Sempre pergunto aos meleiros: por quevocs, quando tiram o mel nos matos, destroem a rvo-re e a abelha? Ningum mata a vaca para tirar o leite...nem mata a galinha para colher o ovo... Tenho a im-presso que o homem ao abandonar o campo, perde asensibilidade. Vira mquina... ferro... asfalto... eletro-domstico... defunto!

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    Minha Experincia Com Jandara de 1960 a 1990

    A 9 de agosto de 1959 o 3o bispo de Mossor, D. E-liseu Simes Mendes, benzia a pedra fundamental daprimeira Casa Paroquial S. Cura dArs da Parquia deSanta Luzia. Um ano depois Monsenhor Luiz Mottabenzia a casa pronta. No dia 14 de agosto de 1960 o

    cura da catedral P. Huberto Bruening fixava nela resi-dncia. Seu primeiro visitante e hspede foi uma pe-quena e mansa famlia que se alojou no centenrio ta-marindeiro, famlia de insetos himenpteros, melipon-dios, muito amigos do homem, nossas conhecidas jan-darasMellipona Favosa SubnitidaDucke. Foi este umaviso do cu, j que veio pelos ares.

    Depois deste, vem outro sinal: o casal Pedro F. Ri-beiro e D. Maria Consulo se mudou da Rua Coronel

    Gurgel para a Meira e S e pediram que eu guardasseum cortio de jandaras at terminarem a mudana. Enunca mais reclamaram os bichinhos. O pedreiro SeuN (Clidenor), do Alto dos Macacos, andou apalpandoa caixinha e disse: to gorda. E se ofereceu paradespescar o mel. Ao presenciar eu aquela maneirarstica e sebosa de extrair mel por essas bandas, acen-

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    deu-se em mim o desejo de eu mesmo presidir ou fa-zer. Como no temos manual sobre o assunto, fui inter-rogando a um e outro, observando, e fabriquei um cor-tio de umburana, o pau de abeia. Juntei teoria comprtica, que o mtodo da Legio de Maria. S no meconformava com o sistema de bater pregos em cortiopovoado, nem o com o tal do batoque ou torno na parteinferior, em vez de posterior. Tambm no admitia aumburana como madeira exclusiva. Adotei pois dobra-dias em lugar de pregos, verdade que eram de couro

    e ganchinhos de arame em lugar de aldravas de metal.Tudo primitivo, mas funcional e prtico. Acrescenteitaliscas na tampa, a fim de escurecer o interior e pou-par mo-de-obra s operrias. Por ltimo introduzi umasegunda tampa, de vidro, sob a de madeira. Num corti-o de 80 centmetro cabiam 5 vidros.

    No serto do Nordeste as jandaras so s despesca-das, no tratadas. As caixas, ou ficam baloiando emdois cabrestos de arame ou ficam amontoadas desorde-

    nadamente em cima de um taipal ou parede. Resolvilevantar um ranchinho ou cavalete com telhado paraabrigar as fazedoras de mel, to apreciado. Bem quemerecem. O ranchinho ou abrigo, chamado melipon-rio quando coletivo, no deve ter mais de dois andaresou prateleiras, pois as abelhas preferem trabalhar nahorizontal e no na vertical. O meu tinha trs camadas

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    de caixas, cinco por metro linear, o que apertado. Emoutubro de 1963 eu j possua 60 cortios. E como mecomprazia em contemplar aquele povinho alado a tra-balhar de sol a sol, sem malandro, sem vagabundo, semgreve, sem dcimo terceiro ms, sem feriado, nem en-colhido nem esticado!

    Em maio de 1967 eu possua um total de 120 corti-os, sendo 60 deles de pinho de primeira: araucriabrasileira. Obra do mestre Otvio Luiz de Lima. Atin-giram a idade de Cristo, 33 anos, em perfeito estado de

    conservao. Em fins de 1966 o meliponrio SantoHuberto foi transferido para a Fazenda So Joo, pro-priedade do amigo Dr. Tarcsio de Vasconcelos Maia.Ano fatdico, que assinala a chegada ao Nordeste da

    Apis mellifera adansonii, posteriormente rebatizada descutellata, por Ruttner. Essa cascavel de asas desde1804 era conhecida por Latreille, mas diz um tal J. R.Bichos que em 1759 o francs Michel Adanson j aconhecia, da chamar-se adansonii. Tem pois trs pais,

    coisa esdrxula. No 32o

    Congresso Internacional deApimondia, no Rio, 1989, ficou definitivamente acer-tado o nome de Apis mellifera scutellata fixado porRuttner em 1975. Quem a introduziu no Brasil foi oprofessor Dr. Warwick E. Kerr, renomado geneticista,em 1956. Pormenores se encontram pgina 26 da Re-vista Apicultura e Polinizao, ano VI, n 34.

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    Aps essa digresso recuemos ao ano de 1961, derigoroso inverno com grandes cheias. O inverno prin-cipiou em novembro de 1960, com chuvas tropicaisintermitentes e as jandaras comearam a enxamearincentivadas pelas revoadas das tanajuras e dos cupins.Muitas famlias aproveitam a situao to convidativae abandonam sua casa para habitar outra. Geralmentese trata de famlias decrpitas, fracas, quase extintas.Todo mundo cai na folia e procura acasalar-se quempode. a vez dos zanges, arranjam emprego tambm:

    aliciar, trazer e fecundar princezinhas. Nessa entre-safra de fato muitas largam, isto , abandonam a ca-sa, mas para fundar outra. Espetculo digno de se ob-servar e admirar. um fervet opus divertido. Essa a oportunidade para multiplicar as famlias, na entradado inverno, no do meio para o fim. A razo bvia: seo inverno dura apenas 3 meses e o ciclo evolutivo da

    jandara dura 45 dias, no vale a pena principiar umncleo quando a florada vai para o fim. Elas contam

    com a seguinte seqncia cronolgica: intensificar apostura 45 dias antes da primeira chuva, aproveitar otempo integral, dia e noite, armazenar mel e sambor(plen), ao mximo, at romper os potes e derramar omel em que se afogam. Sabemos que s as abelhas ro-bustas fazem mel. Se no h chuva, no haver flores,sem flores no haver nem mel, nem plen. bom no

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    ignorar que as jandaras submetem a procriao ao ali-mento, ou seja, nunca mais prole que po, para nin-gum morrer de fome. E o nmero de filhos determi-nado pelas operrias, no pela me-viva, viva antesde ser me. Ela s pe o ovo no prato, em cima do ali-mento, e o prato tambm bero e casa, em que nasce,se metamorfoseia; a cela ou clula. A enxameaomais agitada e forte que j vi comeou em novembrode 1960 e se prolongou at maio de 1961. O solo ficoucoberto de abelhas, a maioria morta, outras estrebu-

    chando em estertores de agonia, que quer dizer comba-te.

    Estamos em 1961, poca em que atravs dos Maris-tas de Aracati a abelha italianaApis mellifera ligusticaaparece por essas bandas, ao passo que a africana schega em 1966. H muito mel, tanto de apis como demelipona. O caboclo se anima. Foi um ano de bastantemel de jandara aqui na cidade; em 1977 foi na Fazen-da So Joo. Nas horas vagas me extasio a contemplar

    o rebolio das abelhas para eleger rainhas. Ningumfica parado. Cresce rapidamente a multido pela che-gada de sempre mais abelhas da vizinhana. Noivas sso mortas dentro do cortio onde travado o concursoreal. Trucidam at meia dzia por hora. Na ColniaAgrcola durante 2 meses todas as pretendentes ao tro-no foram eliminadas sumariamente: no fizeram fam-

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    lia nem mel, s carnaval e forrobod; e eram 26 n-cleos fortes. bom lembrar que em 30 anos nenhumacandidata minha foi aceita, nem em famlia rf duran-te 5 messes. Caprichos de insetos alados e danados.Eles sabem porque fazem.

    Durante seis anos foi assim que mantive meu meli-ponrio dentro do quintal da casa paroquial, sem pro-blema de africanas, nem poluio, apenas de fome nofinal dos anos. Depois resolvi aliment-las. Uma vezhouve problema com irapu, Trigona crucipes. Das

    lagartixas me defendia com a surdinha Winchester de16 tiros. Bem depressa descobri como livrar-me de im-portunos gatos, urubus, lagartixas e ces.

    1967

    O meliponrio j se encontra na fazenda So Joo, a6 km da cidade, regio bem prpria para coleta de nc-

    tar. Entretanto desde meados de 1966 as terrveis afri-canas j haviam chegado ao Nordeste. A primeira a-mostra me foi trazida da serra de So Miguel pelo ami-go Manuel Gurgel. Conduzi-a comigo at o sul e foiconstatado que era a tal. Acabou-se sossego no povodas abelhas indgenas do Nordeste. Foi aquela confu-so, que todos sentimos todos, bichos e homens.

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    Nem filhote de papagaio em oco de toco de aroeira es-capou, ningum foi poupado, nem boi, nem galinha.

    Levaram-se 10 anos para deslocar-se de So Pauloao Rio Grande do Norte, mas vieram, e brabas. Paraextrair mel arriscava-se a vida. Fiz uma barraca debramante, mas passavam por baixo. Ainda no se usavaportas e janelas teladas. O recurso era despescar os cor-tios de jandaras durante a noite, pois pelas 4:30 asafricanas j comeavam a roncar por entre flores dealgaroba. Como alimentar as indgenas? Depois eu

    conto. A 24 de janeiro de 1967 desabou a primeirachuva e em fevereiro o inverno est pegado. Em julho

    j se podia tirar muito mel das 120 caixas. Em 1966colhi 100 litros, em 1967 s 56 e em 1968, nada demel. Em novembro comeo a corresponder-me com oprofessor W. E. Kerr.

    (...)

    Entra em cena as africanas, j com 6 meses deNordeste. Fazem das suas, e ns das nossas. Tomamconta do serto. Desaparecem as amarelas italianas.Em dezembro as jandaras se tornam muito agressivase nervosas: so capazes de enxotar o importuno at 50metros de distncia. Dia 26 sobem os bordos dos potesvelhos, ajeitam e envernizam enquanto a rainha intensi-

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    fica a postura dia e noite, porquanto no h tempo aperder: a chuva se avizinha. A 29 desaba chuva e a 3de maro de 1968 o inverno est pegado.

    1968

    Entrei em 1968 com 120 ncleos, sendo 4 parteno-gnicos. H 3 modos de fundar ncleos:

    a) O natural, nico adotado pelas jandaras, a saber,introduo de princesa ou noiva volante;

    b) Pela cria, como o sertanejo faz;

    c) Pela introduo de rainha poedeira ou adulta. Es-se ltimo elas no apreciam, pois quem casarcom viva se tem tanta donzela para escolher? Eneste ano no querem rainha velha; no matam,

    apenas respeitam, sem aproveitar. Depois a subs-tituem misteriosamente.

    At 20 de janeiro continuam valentes e brabas.Tempo de entrevero, namoro, carnaval e passeata. Aschuvas vo amiudando, alegrando tudo que vivo. s19h de 3 de maro o inverno est assegurado, consoan-

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    te as previses delas com 45 dias de antecipao. Des-de 27 de fevereiro arribaram por aqui as tesouras dafamlia dos tirandeos,Muscivora tyrannus L para avi-sar que aqui est bom. Fogem do frio do sul, onde nidi-ficam no vero. O mandacaru se esbalda e exaureem enormes flores alvas, que s abrem de noite e fene-cem no dia seguinte. Nascem pssaros, sempre menosnumerosos. Os cupins do cho e dos cumpinzeiros, a-bocanhados pelos sapos e passarinhos. De dia as bor-boletas cruzam os ares, pela manh rumo as nascente,

    tarde em direo ao poente, sempre em direo ao sol.J mariposas e morcegos tomam direo oposta. Chovetodo ms de maro, tanto que a 12 j sangra a cisternada casa paroquial. Dia 20 aparece um dos melhoressinais de boa safra de mel: mofo nos potes. Outro i-gualmente bom: piolhinhos menores que cafifas, pas-seando em cima dos favos novos. Chegam as mutucasna ltima semana de maro: ningum, nem o boi, con-segue permanecer na capoeira do mermeleiro, cuja flor

    disputam abelhas, moscas, vespas, alguns pssaros,jandaras, muriocas etc.E as jandaras ficam mais valentes; preciso intro-

    duzir a mscara ou vu de tule preto, ou fil. No hquem agente mordida de milhares de insetos dumavez s, da cabea aos ps. O pior nos cantos dos o-lhos, narinas, e at na lngua, se houver chance. Algu-

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    mas fotos batidas pelo franciscano alemo Raul Selba-ch provam isto. Antes de terminar maro, o pluvime-tro assinala 330 mm. Rareiam as chuvas em abril (cho-veu a 1, 5, 13, 14, 22, 24, 25, 26, 28, 29). Em maio ti-vemos chuvas a 5, 7, 8, 9, 16, 17, 28, 30. Em meadosde abril 10 cortios esto pesados ou gordos. No fim demaio fiz uma experincia que abortou: exterminei 30rainhas para lucrar melhores. De fato aps 30 dias es-tavam 30 novas, porm no houve mel. Devia ter feitono comeo do inverno, a tal da substituio. Em junho

    as abelhas esto valentes e diligentes; trabalham nervo-samente das 14 s 17 horas para aproveitar determina-da espcie de flores que secretam nctar nessas horas.A cor do mel mbar, lindo e saboroso. A 24 j no hmel, as chuvas rareiam, as africanas ou mestias impor-tunam demais, esfaimadas seque esto. preciso es-conder-se debaixo de empanada de bramante para me-xer com as jandaras.

    Vou testando novo modelo de cortio: vertical, tipo

    lanterna. Cedi 10 a Jos Duarte dos 140 que estavamativos. Em agosto as abelhinhas so poucas e magras,sinal de bom inverno para o ano seguinte, assim diz ocaboclo.

    A 26 de agosto fundamos o Clube Apcola de Mos-sor com 17 scios-fundadores. Evolou-se depois dealguns anos, pois a africanizada supe tcnica nova,

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    bem mais sofisticada. Em setembro aroeira, juazeiro,angico, cumaru e outras rvores florescem. Em outubroo cumaru j est bageado. A 18 a to esperada barrafalhou... mas os serradores ou serra-paus cortam mui-tos galhos de algaroba para depositar seus ovos. No dia28 aparecem sinais de inverno para 1969. Envio amos-tras de flores regionais melferas para Celle, Alemanha.Em novembro funcionam 132 ncleos horizontais e 15verticais, novo modelo. Passei demo de tinta em todasas caixas. Depois foram fotografadas, 21 de novembro

    de 1968 Destru um gigantesco ninho de irapu,transportado por dois homens em calo. Em dezembrocoaxam sapos, raspam pererecas, zunem ventos, o cuse cobre de nuvens escuras, chove na segunda quinze-na. Dos 120 ncleos, 30 largaram, bom sinal de reno-vao de rainhas.

    1969

    A regio de Patu est mais chovida. Aproveitei ja-neiro para visitar a Cachoeira de Paulo Afonso com P.Henrique Spitz e P. Jos Kruza MSF, quais reis-magos,sem coroa nem camelos, bebendo exclusivamente guade coco e cervaja, para evitar contaminao.

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    Durante todo ms de janeiro houve chuviscos e chu-vas mais fortes. a 25 saem dos ninhos filhotes de galode campina, aude toma gua, savas fazem vo nup-cial, 200 flores enfeitam o mandacar, contra 130 doano passado. Transcrevo ipsis litteris algumas linhasredigidas em 1969:

    Fevereiro: a postura prossegue boa. s 18h do dia 6muito relmpago no serto. Dia 7, bombas s 23h pelacassao do Lobo Mau (A. Alves). Dia 8, desde s 9h,

    sopra vento nordeste, atmosfera de cinza ou poeira.Ontem, calor! Hoje, mais calor! Dia 9, domingo, densovu pardo-cinzento cobre o anil. Calor intenso, semvento. Dia 10, continua o cu encoberto. Trovejou s12h, e choveu no serto. Jandaras em grande ativida-de, prometendo mel em 30 dias. Aparecem as tesouri-nhas, prenncio de inverno pegado, alis sinal. Noano passado apareceram a 27 de fevereiro, e o invernopegou mesmo a 3 de maro. J destru 6 ninhos de ira-

    pu. Muita formiga preta, sob a tampa das caixas. Asjandaras esto preguiosas.

    Maro: Foi ms aziago, pelo menos no final. De-cresce visivelmente o nmero de africanas como de

    jandaras, no obstante chuvas freqentes e regulares.

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    Incrvel a anotao que segue: s 23h temos chuva detanajuras. A 31 chove 30 mm.

    Em Abril: tentei dispor os cortios em direo alter-nadas; no prestou. Durante o ano todo s colhi 15 li-tros de mel. Chuvas no faltaram, nem flores. Mistriode abelhas.

    At 25 de Maio no h enxameao, nem rainhasnovas.

    Em Junho as jandaras devoraram o pouco mel arre-

    cadado.De 8 a 11 de junho esteve entre ns o tio Hugo, i. ,

    Hugo Muxfeldt, o apicultor gacho. Fez palestras naEscola Superior de Agricultura. Colgio DiocesanoSanta Luzia, e Ginsio Sagrado Corao de Maria. Vi-sitou apirios da regio e meu meliponrio Santo Hu-berto. No fim do ms aparecem as importunas mosqui-nhas dos fordios, imbatveis, a no ser por famlia for-tssima. Surgem leves indcios de enxameao; por si-

    nal no quintal da casa paroquial foram fundados 2 n-cleos moda silvestre, a melhor. Em Julho tivemoschuvas esparsas.

    De 1o a 8 de Agosto participei em Munique RFA do22o Congresso Internacional da Apimondia, s minhascustas. Parti a 10 de julho e regressei a 25 de agosto.Gastei 3 contos na VARIG (vrios alemes reunidos e

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    1 gacho, ou iludiram 1 gacho). Levei amostras deabelhas e mel. Como os alemes se interessam por abe-lhas!

    Visitei a Fazenda Nova Olinda, de Enas Negreiros CE a 6 de setembro, onde vi um papagaio cego, com47 anos. Trouxe uma jandara da Fazenda Veneza, dePedro Fernandes; abelha bem maior e mais valente. Emoutubro e novembro nada digno de nota ocorreu. Voulidando com jatis, tubibas, remelas T plebeia plebeia,moa-branca. Em Dezembro, dia 3, ribomba o 1o tro-

    vo. Dia 15 comeam timidamente a enxamear. Jqueimei 12 ninhos de irapu, perigosos concorrentes.S depois de muitos sacrifcios consegui situar mosqui-to-remela, a menor das abelhinhas. Na Fazenda Venezaterrveis formigas pretas, de bunda volumosa, destru-ram meus 3 cortios suspensos duma oiticica.

    1970

    Abri um ninho de irapu com uma rainha e quatrorealeiras e 18 capas ou camadas de cria. A 20 aparecemcupins e formigas de asa. Da Fazenda Morada Nova eutrouxe duas famlias de amarela ou moa-branca T fri-seomellita Friese. O ninho ficava a dois metros da bo-ca. Que trabalheira para conseguir esse bichinho, da-

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    quela quixabeira. A 27 aparecem rainhas novas e umaKombi de padres gachos que me visitam e trazem umabrao de Tio Hugo. Que ventania esquisita a 31 de

    janeiro.Em fevereiro a postura boa, talvez devido s boas

    chuvas de janeiro. No obstante a enxameao fraca jfazem mel.

    Preparo 4 ncleos para remeter ao Professor W. Kerrdia 2; mais 5 ncleos no dia 5. No dia 7 segue o 1o paraRibeiro Preto. Dia 20 estavam conservados em lcool

    amostras de uruu, jandara, irapu, amarela, jati, reme-la; em junho seguiro para exposio na Alemanha.Em fevereiro enviei para Ribeiro Preto a primeira cai-xinha com jandaras. Depois de 8 dias voavam libertasnos cus paulistas, todas faceiras. E o vitico daria paramais 20 dias. Pagaram adiantado 600 cruzeiros para 10ncleos. Em maro fao vistoria nos meus 120 corti-os. Relmpagos, troves, calor e chuvas intermitentesanimam as abelhas. No Cariri j avana o inverno: 500

    mm. Dia 16 remeto mais 4 caixas para W. E. Kerr, emRibeiro Preto. Situei uma famlia para Raimundo Pau-lino em Alagoinha. A 30 levei 2 cortios situados e 2vazios para Miguel Penha, em Veneza. Maro foi dechuva, e farta. Em Abril as jandaras resolveram coletarbastante mel.

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    Dia 4 remeto as ltimas 5 caixas para Rio Preto. Evou registrar um fato tipicamente brasileiro. Ei-lo. De-pois de ter pago religiosamente cada remessa de abe-lhas recebo uma notificao para nova tarifa, igual primeira, da VASP. Sabem por qu? Porque abelha animal, como cavalo, elefante, porco, cachorro, e pagaem dobro. Que desclassificao para as doces fazedo-ras de mel, rebaixadas a reles quadrpedes. Esses, sim,com seus dejetos emporcalham a aeronave, mas os bi-chinhos alados, dentro duma caixinha pintada a tinta-

    leo. S mesmo no Brasil! Como eu fui o nico no Pa-s que fiz essa remessa, deveria receber no s isenotarifria, seno at prmio. Fique o registro ad perpe-tuam facti memoriam. s vezes o animal racional menos racional que o irracional. Inseto virou quadr-pede.

    A 6 de Abril situei 9 ncleos e tirei 5 litros de mel.Dia 2 no Parque de Exposies. Dia 10 situei para Dr.Lavoisier Maia, um jati T tetragonisca jaty e preparei

    uma para remeter Alemanha. J havia situado 9 nodia 6. Dia 14 So Pedro fez uma demonstrao paraJan Pacheco como se faz nucleao de nuvens. A 17recebi m notcia: minhas abelhas foram tratadas pelaVASP como gato em saco, tomaram banho de mel,parte pereceu. Alguns lem: Viao Area Sem Pon-tualidade. A 20 consegui furtar abelhas dum tronco de

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    juazeiro, no curral. Era s bater, e elas se precipitavamporta afora; tapava a entrada e as forava a habitar umacaixa com cria madura. Essas duas caixas levava para acidade. No ano de 1970 consegui colher 34 litros demel. Depois de 8 dias furtei mais 2 famlias do mesmotronco de juazeiro onde moram duas famlias muitofortes. De 20 famlias fundadas no perdi uma s. Em30 dias tirei 6 ncleos do dito juazeiro. Maio seco,chove s a 31. As abelhas carregam estames e plen,mas no nctar; 15 dias nesse carnaval. Calor inco-

    mum. Aparece o man-magro ou bicho-pau.Junho traz notcia alvissareira: as jandaras chega-

    ram ss e salvas a Waldbrl, conforme carta de P. Hen-rique Spitz. Embarcaram no trem em Mossor s 12hde 15 de maio, at Patu. Portador: P. Jos Kruza, Ma-ter Dolorosa. Na madrugada de 16 o P. Henrique asleva a Recife. Na manh de 18 voam a Lisboa, Frank-furt, Duisburg, onde pousam s 15h de 19. Dia 22 che-gam ao destino e comeam a esvoaar. Dia 6 de Junho

    trago 2 famlias de Morada Nova, uma, duma umarizei-ra, outra de cortio. Reparei ento um fato singular:para calafetar rapidamente a caixa-me, as jandarascarregavam coc de galinha que era o material maisprximo e mais barato. O barro ficava distante, e elastinham pressa. Eis mais uma razo por que a tampa docortio deve ser bem vedada sem precisar de acaba-

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    mento de reboco. A 15 tiro o 8o ncleo do referido jua-zeiro do curral. Ao ver uma operria de bundinha parao ar vibrando as asas durante 5 minutos, tentei captar aaltura do som ou zumbido: exatamente a nota D n 3oespao do pentagrama; clave de Sol. Dia 15 destru o15o ninho de irapu. Interessante: as jandaras usamflores de mangueira para vedar frestas. Depois de tirara 10a famlia do tal juazeiro, encerro as experincias.

    Em Julho o Dr. Harald Esch, amigo de W. E. Kerrpede que lhe mande jandaras, Guaruj. No houve

    tempo. Escasseiam as chuvas, j floresce a aroeira. A17 queimei o 16o e 17o ninho de irapu. So grandesapreciadores da flor da malva-branca. (Sida carpinifo-lia). Essa malvcea muito til como alimento de ma-nuteno durante a estiagem. A 24 destru no Quatro-centos o 18o e 19o ninhos de irapu em carnaubeiras,Copernicia cerifera, e trouxe dois enormes camalees.Depois de amuados, ficam mais de 24h sem mudar deposio, por mais incmoda que seja. A 31 estou for-

    necendo xarope s abelhas: gua e acar em partesiguais; melhor cru que fervido. No aceitam copo dealumnio. E o americano desistiu de telas excluidorasfeitas de alumnio. Tio Hugo deve possuir uma de lem-brana. e matei mais 4 ninhos de irapu. O total soma23.

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    Em Setembro embarquei num caminho uma caixade jandaras, bem forte a famlia, com 7 capas de cria.Foi para Paulo Nogueira Neto. O juazeiro comea aflorescer. Como um tanto raro, no basta para coleta-rem mel: apenas de sustentao. Resolveram cobriras canequinhas de xarope, certamente para s entrar ap, e no se afogar. Sabem porque fazem. Os potes noso assim, com entrada bem apertada?

    Outubro, dia 1o ficou na lembrana por causa dumafaanha. Toquei fogo no vetusto ninho de irapu da

    carnaba junto ao Clube Ypiranga. Tinha mais de 20anos e media mais de metro. Ardeu das 7:30h at s15h. Era uma grande tocha. Esse foi o 24o, sem alusoao jogo do bicho. Foi preciso emendar duas varas. Acarnaba secou tempos depois. Situei 5 ncleos, que sedesenvolveram.

    Novembro entra normal, seguraram os 4 que situeilogo nos primeiros dias. No final de outubro instaleidois cortios dentro da casa do professor Jos Santiago

    Lima-Verde, doutor em cobras. As abelhas tinham deatravessar um conduto de plstico. Em Fevereiro des-se ano o engenheiro alemo Albert Reithler, da SU-DENE deu instrues sobre o segredo de pesquisar -gua at atravs de fotos da Cruzeiro do Sul. Isto foidigresso saudosista. Projetou o santurio do Lima.Estamos em dezembro e o mel no aparece, nem as

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    mosquinhas dos fordios. Verifico que no compensasituar abelhas com rainhas velhas, pois todos preferemnoiva nova. Para burro velho, capim novo. No stio deEnas Negreiros, um bbado derrubou uma caixa verti-cal, mas salvei as abelhas. Tambm a no fizeram mel,em parte devido mudana de local, que no se devefazer em tempo de coleta.

    1971

    O ano passado no registrou ou eu no anotei sa-fra de mel, ao passo que 1971 acusou 50 litros. bomlembrar que as africanas devoram 80% do que elas co-lhem, e quanto no roubaro das outras na florada nocampo? Cai chuva a 19 de Janeiro. Trabalham bem,nascem rainhas. Temos partenognese em 5 ncleos.H muito alvoroo, zigue-zague muito. A 23 chove 60mm., depois de procisses de penitncia. A 4 e 5 estive

    na Serra do Lima. Em Fevereiro as abelhas pem muitoovo. Por que ser que os ncleos partenogenticos nin-gum v o momento em que uma das bestas metidas arainhas faz postura? S porque contraveno?

    Muito sambur amarelo, de umari e juazeiro. NaMASA chove 60 mm. Em uma das caixas de parteno-gnese aparece rainha nova; veio de fora ou de dentro?

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    No dia 15 queimado o 25o ninho de irapu; a 21, o26o e 27o. Depois de 3 messes de tolerncia desfiz aspseudo-famlias originadas de falsas rainhas, as oper-rias. Boa chuva no fim do ms. Em Ribeiro Preto foibem aceito o favo de cria que enviei. Quem soldou ofavo dentro da caixinha foram elas mesmas, pois o de-positei por alguns minutos dentro de famlia forte.

    A 2 de Maro mandei 4 favos de cria para a profa.Euclia Primo Contel, e a 14 mais 4. No dia 15 tireimais uma do conhecido juazeiro, alm de 2 no dia 7. A

    18 houve 60 mm. de chuva, o inverno est seguro, atesourinha chegou, a Muscivora tyrannus. Dia 30 re-conduzi 10 caixas verticais de Enas Negreiros paraSo Joo. Enorme chuva de 30 para 31. Como traba-lham as abelhas, grande e pequenas. Azfama linda.Abril entra bem chuvoso. Remeti no dia 12 favos decria (n 56, 62, 83 e 120) para Euclia Primo Contel.Mando 2 cortios para o Cear. Chegam as malditasmosquinhas, aos milhes. Pela segunda vez se vai a

    parede do aude: s 23h de 30 de abril. O man-magropelou todas as algarobas. Fim de Maio: troveja, relam-peia, chove, mas no fazem mel. O aude foi conserta-do e sangra a 31 de maio. Os fordios conseguiram ex-terminar a famlia n 102, devoraram tudo.

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    Junho, 7: restam poucas mosquinhas. Na cidade elasno apareceram. Em Junho as campeiras se animamcom a ajuda do xarope a disparar para a florada.

    Novamente a VASP fez uma das suas: a jandarachegou a Porto Alegre toda melada, aos trambolhes.Vo fazendo mais mel. Observao digna de nota: nu-ma famlia forte, com 4 capas de cria boa, no nasceuabelha boa, s tipos lustrosos, nem operrias, nem zan-ges. Apticos, lerdos, bastardos, esprios e indefini-dos. Foram castrados no alimento e degeneraram... por

    qu? Por causa das mosquinhas que devoraram toda aproviso. Apesar da boa qualidade da me, os filhosno prestaram. pois o processo inverso da evoluoduma rainha cuja qualidade depende da gelia real. A29 os troves ainda ribombam. Dia-a-dia as jandarasmelhoram. Agosto, ms em que se pode estar a gosto,reparo africanas presas pelas patas, estrebuchando naboca dos cortios: o vigia que faz tal proeza. Durantea bebida de xarope algumas africanas aproveitam o al-

    voroo e penetram nos cortios junto com jandaras;coitadas, so trucidadas l dentro e esquartejadas. De20 a 30 segundos leva uma jandara para se abastecerno bebedouro.

    Em Setembro prossegue a rotina de agosto. Em Ou-tubro despacho mais favos de cria para Euclia PrimoContel: n 62, 83, 110, 120, dia 20. No dia 23 mais os

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    nmeros 121, 129, 131, 163. A 1o de Novembro segui-ram 99, 100, 105, 108, 112, 113. Tudo para pesquisas.Chove a 9 de novembro, e 40 mm. a 29. Tenho deregistrar uma sujeira de cientistas, ou foi bomia? que Antonio Both, gacho, me pediu reservasse hospe-dagem para 5 em hotel.

    No apareceram, nem se desculparam. Isto devia sera 4 de dezembro. A safra de mel foi de 50 litros em1971.

    1972

    Antes que me omita: colhi 63 litros em 1972, 59 li-tros em 1973, 35 litros em 1974.

    A 2 de Janeiro segui a Santa Catarina por terra e vol-tei a 7 de Fevereiro. A 11 chove copiosamente, a 11chegou a tesourinha, sinal timo. Dia 21 seguem maisfavos para pesquisas: n 39, 42, 51, 54 e 58. A 6 de

    Maro queimo o 31o

    e 32o

    ninhos de irapu. Dia de SoJos, 19, ele manda chuva pra valer. No dia 23 demaro embarcam favos para Ribeiro Preto, n 5, 31,43, 50, 53, 59. Alojei em caixinha a 4a famlia deRemela T plebeja plebeja, depois que a rainha agen-tou 18 horas soterrada debaixo de ovos amontoados.Ah! bichinho resistente, ovos e mel. Para evitar inva-

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    so de intrusos, as jandaras diminuem ou at obstruema porta com barro, ou ento 3 se comprimem dentrodela, cabea com cabea, e ningum passa, nem comlubrificante. Durou duas horas, e no cansam.

    Em Abril rompem potes com o calor e o peso domel. E o vexame? Levantei um 3o meliponrio paradesafogar os dois primeiros. Levei 4 cortios para den-tro duma capoeira de marmeleiro, a 10 km, rumo Ti-bau. Realmente gostaram, pois em 15 dias estavamquase cheios. A 17 levei mais 12: no prestou. Em

    Maio introduzi rainhas poedeiras, velhas, em famliaspartenogenticas e deu timo resultado. Foram muitobem acolhidas e comearam logo o servio. A 8 tivemuito trabalho para destruir o 33o ninho de irapu. Bi-chinho ativo, valente e teimoso. A 14 chove 78 mm.Em maio no fizeram mel, nem os 16 entre o marme-leiro da estrada de Tibau; apenas perfilharam. Em Ju-nho temos chuvas regulares, enxameao e mel. A 13ainda troveja. Em Julho chove bastante a 7. Vboras

    pequenas devoram as mosquinhas importunas, mas nojandaras, grandes demais. Retomo a alimentaocom xarope, em Agosto. Destru o 34o ninho de irapue um deles me penetrou na fossa nasal. Desalojei-ocom jato de ar e, meleca.

    No dia 16 recebi atravs do Careca, irmo de Char-cenai, uma colnia de Tiba,M compressipes Fabrici-

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    us, do Maranho. Muito soberba, alguns chamam-na dejandara preta da Amaznia.

    Setembro teve chuva dia 8. Introduzi cria de janda-ra no ninho de tiba. Foi a conta: matavam propor-o que eclodiam. Nota: enviei em julho cria para R.Preto, n 9, 21, 61, 123, e a 18 de setembro os n: 20,71, 81, 82, 89.

    Outubro me traz um presente: uma famlia de ama-rela, T friseomellita, se situa espontaneamente. A 18 dia da barra troveja bastante e chove grosso. Recebi

    10 caixas com jandaras, de amigos. Tirei uma dumcajueiro em Alagoinha.

    Em Novembro enxameiam. Dia 20 de Dezembrochove pouco, dia 21 torrencialmente: 40 mm. Tuba cavilosa, j rejeitaram 6 princezinhas. No flor que secheire, ao menos por aqui e por enquanto, nem em SC.

    1973

    Calor insuportvel o ms de Janeiro entrante. A 9 ocardeiro de Bernardo ostentava umas 500 flores bran-quinhas. Dia 10 levo 10 de casa fazenda, e de l, tra-go um que andava promovendo forrobod ou carnavalfazia 15 dias. Quando se viram aqui desambientadas,sem ter a quem furtar, construram 15 potes em 3 dias.

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    A 19 ouve-se uma sarabanda de troves. Lindo de mor-rer. A 10 de Fevereiro recomea a chuva, e no fim au-mentam as famlias. Maro j assinala 220 mm. eum caloro terrvel a 19, 20 e 21. Termina o ms com400 mm e 30 litros de mel. Em 1972 tirei 63 litros e em1973 59 litros. Abril e Maio primaram pela cria, efalharam no mel. Chuva no faltou. Depois de 9 mesesa tiba se dignou de fazer famlia... Em Junho choveregularmente, e a 23 de Julho 33 mm., mas dia 12 fo-ram 50 mm. Agosto abre com troves e 120 mm. de

    chuva em 2 dias. Comeam a fazer mel.Setembro ms importante porque a 19 sigo de ca-

    minho a Santa Catarina e conduzo 12 toneladas de sal,12 sacos de feijo, 60 caixas com jandaras, 1 de tiba,3 de remela, 5 de amarela e 6 de jati. Ficaram 8 diasfechadas sem nada de dano, e debaixo de lona, ao sol.

    Ao abrir as portas em S. Ludgero, era de ver a az-fama da turma para fazer a faxina.

    Em poucos minutos estava tudo em ordem dentro de

    casa, no obstante o termmetro assinalar 15o

    . Foramembarcadas ao meio dia em Mossor, viajaram 3 mil equinhentos km. No comem quase nada em viagem, jque ficam quietinhas. Que diferena para o homemquando vai de avio, de instante em instante quer co-mer, beber, fumar, urinar, s falta matar as aeromoas

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    de canseira. Bicho complicado esse tal animal, sermesmo to racional assim? No apelido, n?

    Estou no torro natal, Santa Catarina, em plena pri-mavera. Outubro esquenta um pouco, as jandaras tra-balham das 8 s 17h. Ficaram bastante desfalcadas.Durante 4 dias se ocupam em despejar defuntos. Te-mos 10 no dia 15. Abelhas enregeladas revivem depoisde expostas ao sol durante 3 minutos. Geou em BomRetiro. Na redondeza s existe uma famlia de manda-aia, no Jac. Uma tentou copular com rainha poedeira

    ou adulta de jandara, tambm com princezinhas. A 22esquenta o tempo: 29 graus. Bem depressa cresce apostura e aumenta substituio de rainhas. Novembroapresenta 14 graus, em casa. Mandei uma famlia paraCelso Vicente Mitchell, Rio.

    Em Dezembro apanhei dois ninhos de jati na serrariade Warmeling e Krten. Rainhas novas abundam. A-pud meu mano Nicolau vi um ninho de trigona, cabeae abdome alaranjados trax preto, tamanho da amarela,

    40 sentinelas na boca. Uma mandaaia passou um diainteirinho dentro de famlia de jandaras, sem ser per-turbada. Depois de 30 dias a tiba tem rainha nova. EmAdolfo Buss destru o 36o ninho de irapu. Aparecemas mosquinhas em quantidade. Parece que as jandarasnascem mais incorporadas que no Nordeste. Tiro jatisde mamoeiros, fortssimos.

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    So mais grados que em Mossor. Em 3 meses en-contrei 10 de jati, 1 de sanhar, T amalthea. A tal poli-croma do Nicolau sumiu, sem deixar rastro. As mos-quinhas molestas se embebedam com xarope misturadocom vinho ou cachaa. Na seco superior duma caixade remelas encontrei 30 jatis secos, mortos fome tal-vez, pois a sada fora lacrada. Artes de gente mida, etraquina. Em 1973 tirei 68 litros, sendo 59 em Mossore 9 em So Ludgero.

    Em Janeiro extra duma tora de canela em Huberto

    Hobold umaM marginata obscurior, menor que a jan-dara, preta, testa de jati, cor parda. Em 8 dias foi dizi-mada por formigas sar-sar. Que pena. Na fundaode ncleos de jandaras aparecem espies indesejveis:zanges de mandaaias.

    Fevereiro: com mangueira de 12m desinstalo ou ma-to africanas. Somem as tibas com rainhas nova e tudo,aps 50 dias. Flores melferas muito apreciadas: gru-mixama, tajuj, gurupi. Levei 3 caixas de jandara pa-

    ra o Nicolau. Maro traz mel de vassourinha, maric,assapeixe, tajuj. As abelhas chupam uma secreo dacasca da vassoura. A grande cheia, de 19 a 26. Ines-quecvel. Em Abril as jandaras investem vidas na flordo eucalipto Robusta.

    A chamado do bispo diocesano D. Gentil atravs domensageiro P. Hamlcar retorno para Mossor: embar-

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    co a 20 de Maio e chego a 3 de Junho. Como nunca sedeve carregar suprfluo, deixei as saudades em SoLudgero com minhas abelhinhas. Uma cheia quase ar-rebatou os 30 cortios apud Enas Negreiros. As 30 deSo Joo vo bem. Em Julho reconduzi para a fazendaSo Joo os 30 de Enas.

    Em Agosto inventei um bebedouro de ripas, de 40 x40 cm, para facultar a 20 mil se dessedentar por minu-to, j que em mdia cada qual gasta 20 segundos paraabastecer o pandulho. Em Setembro nada de notvel

    sucedeu. Em Outubro mandei fazer 25 caixas de umbu-rana e no dia 14 povoei todinhas das 10 s 14 hs. Saiua 25 cruzeiros a unidade. Ficaram como doao Co-lnia Penal Agrcola. Em meados do ms prenuncia-vam chuva dentro de 45 dias. Inventei prover de palitosde gaiola as caixas verticais; no compensa. Chove a30 de Novembro. Acertaram mesmo!

    No dia 8 de Novembro o professor Zucchi, de Ribei-ro Preto recebia meu presente: uma famlia de janda-

    ra in natura, ou seja, em tronco de umburana cortadoem Veneza. Interessante: seguiu de caminho para aGuararapes em So Paulo; no momento do desembar-que vinha chegando de Ribeiro Preto o professor. EmDezembro chove a 5 e 21.

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    1975

    Janeiro: vo definhando as de So Ludgero e a 27 defevereiro s restam 9 famlias. Aqui chove no fim doms. Fevereiro registra chuva a 3, 10, 26 e 27. No hmosquinha. Pela 5a vez consertado o aude. Em 1974tirei 35 litros de mel. Fazem mel em Maro e Abril.Tirei 18 litros. Pouco a pouco aumentam jandaras nosmatos, talvez porque se destacam das minhas. EmMaio temos muita cria, nenhum mel. Arromba de novo

    o aude. Mandei fazer 22 cortios de andiroba, razode 20 cruzeiros a unidade. Junho rico em rainhas no-vas. Um zango arrebatou uma noivinha da soleira daporta, alou vo rumo copa duma castanhola e dentrode um minuto ela voltou e penetrou no cortio. Tersido vo nupcial? A 22 terminava de situar os 22 corti-os de andiroba.

    Recebo a visita da cientista inglesa Vera Jane Gil-bert, dia 28. Conversou durante 5 hs. Sede ardente de

    saber. Pesquisa os animais do zodaco. Devo ter no ar-quivo alguma coisa sobre o assunto. Julho de coriscoe troves e alguma chuva.

    De 8 a 25 de Agosto estive em So Ludgero ondeassisti morte da derradeira famlia que levei em 19 desetembro de 1973. Muita flor de jurema (Pithecolobi-um tortum) em Setembro.

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    Em Outubro anunciavam alguma chuva para fins deNovembro, o que ocorreu de fato; e 5 de Dezembro.

    1976

    Com a aproximao de alimento natural no campo,as jandaras agradecem a garapa artificial fornecidapelo homem. Em Janeiro a cria est forte e no final te-mos chuva. A 9 de Fevereiro desaba a primeira chuva

    boa mesmo: 45 minutos. At as rainhas velhas resolve-ram intensificar a postura de 2 a 9.

    Afinal, chuva de 37 mm no dia. Comeo a extermi-nar as africanas com xarope misturado com Tugon.

    Maro prima por rainhas novas. A 8 fui buscar umaamarela em Morada Nova. A 22 j colho mel.

    Abril: esto enxameando, brigando, matando e mor-rendo, mas no aparecem principalmente, apenasmenteuma.

    Maio surge seco, seca? Ser? Na cidade alimento 40ncleos para desdobramento. Crescem visivelmente, eas lagartixas, dos lacertlios, famlia dos gecondios praga perigosa no Nordeste, maior inimigo de janda-ras. Apanhei 20 num dia em fojo de lata. Os serra-paus,colepteros, pelejam para cortar galhos de algaroba,leguminosa prosopis.

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    Junho me traz de volta a So Ludgero as 60 caixasvazias de jandara mais 20 vassouras de sorgo.

    J estamos em regime de trato com xarope. Das 30famlias fundadas, 15 possuem ranhas novinha na 2asemana.

    Em Julho agradecem o xarope. Prossigo no envene-namento de africanas, das 7 s 12 hs. S morrem nacolmeia, alis, nos buracos, cupinzeiros, troncos, etc.,no no bebedouro nem a caminho, j que a morte deveser em srie.

    Tiro 4 litros de mel em Agosto. Decrescem as afri-canas, desde 1989 rebatizadas de scutellatas. Caprichode Ruttner. As 30 rainhas novas pem bem.

    Em Setembro persigo as africanas indesejveis comveneno e fogo.

    Outubro sempre ruim para as abelhas. Bebem 3 at5 litros por hora. muita boquinha. Rareiam as africa-nas. Choveu no oeste, o rio vem com gua.

    Aprendi a situar remelas com simples sopro nos pe-

    dacinhos de catingueira de 30 cm. As jandaras estoirritadias, at atacam durante a bebida. Intratveis.Novembro segue a rotina de outubro. Com dois en-

    saios aprendem local, horrio etc. Vo recepcionar-meno porto. Para despejar o xarope preciso usar truque,do contrrio invadem vasilha e bandeja.

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    Dezembro no traz novidade, a no ser vaticnio dechuva para fim de janeiro. Ser? No h anotao sobresafra.

    1977

    Dias 4, 5, 6 e 7 estou na Serra do Lima, onde cho-veu. Em Mossor, a 9 e 10. Cresce rpida a postura, a14 choveu 74 mm. Acertaram a profecia?

    Em Fevereiro o trabalho febril. Tiro 3 litros de 6caixas. Constroem potes grandes, matam noivinhas.

    Produzem bem por todo ms de Maro.Viajo ao sul no dia 11 de Abril e voltei a 10 de Mai-

    o. A 16 tirei 5 litros, mas haviam devorado um bocadona minha ausncia, devido ao excesso de chuvas.

    Em Junho transporto 30 caixas para a fazenda do Dr.Clovis Miranda, a 10 km daqui. Foi insucesso total. Nofim do ms se acalmam e comeam a fabricar mel.

    Julho me traz um amigo apicultor e autor do livroApicultura, o Sr. Manuel Bernardo de Barros, carioca.

    Visitou e inspecionou a fazenda Maisa onde esto ins-talando um projeto apcola. No ocaso de julho iniciamcoleta de nctar de maneira nervosa. Chove a 24.

    Entram em Agosto como saram de julho e labutamincansavelmente, mesmo na hora da mais braba cancu-la. No h tempo a perder. O movimento quase comose bebessem xarope. Mel delicioso, alvinho. Certas

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    famlias mais fortes faziam mais de garrafa por sema-na. Dia 22 tirei 10 litros. Rompem potes com o calor eo vexame da coleta. Abelhas morrem afogadas. Perdiuma famlia, outras salvei com sacrifcio. Os fordiosdevoraram uma.

    Em Setembro prossegue a coleta de nctar, coisabem extempornea. Proliferam as danadas das africa-nas, famintas e agressivas. S veneno. Dias 10 e 13ainda aparecem noivinhas, apesar de ser Outubro. Re-conduzo para So Joo os 25 cortios que estavam em

    So Jernimo de Dr. Clvis Miranda. Em 2 meses nempingo de mel; detestam mudana de domiclio. Come-am a devorar o mel e aceitam garapa. Anum, ave cu-culiforme, comea a postura, e chega a formiga mole,alada. A 17 ainda noivinhas aparecem, tiro 5 litros. EmMossor preparo 5 caixas para o mineiro Enio AntonioDutra, de Belo Horizonte, mas pereceram no comeode Dezembro em luta com jandaras invasoras da vizi-nhana. As africanas esto visivelmente desfalcadas

    com perseguio sistemtica Minhas jandaras sorve-ram 5 litros, em 30 minutos: fome e tcnica. S larga-ram 3. Este foi o melhor ano de mel. Deve-se a doisfatores: alimentao de jandaras e destruio das afri-canas. At 17 de outubro havia colhido 103 litros. De-pois, mais uns 6 ou 7.

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    1978

    A primeira chuva nos alegra a 13 de Janeiro, a 2a, egrande, s a 10 de fevereiro e 13. S a 30 mandei os 5cortios do mineiro.

    Em Fevereiro agradecem o xarope. Carregam muitoplen, enxameiam, etc. Agora uma errata: para Belo

    Horizonte remeti 1 caixa a 30 de janeiro e 4 a 2 de fe-vereiro. Possuir famlias sem me no tem futuro; ocaso de partenognese.

    Sinais para descobrir:

    a) Nvel desigual dos oprculos;b) Septos ou suturas mais escuros e mal-acabados,

    grossos;

    c) Alvolos sempre ocupados por operrias malan-dras, de bunda para cima.

    Apesar disso nunca flagrei uma um momento depostura. Em famlia constituda a rainha devora taisovos falsos. a ovofagia. Uma curruira de rouxinoltem seu ninho no meio dos cortios. s vezes d vo

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    resante na minha cabea, chegando a tocar no cabelo,para me admoestar que estou muito perto dos filhoti-nhos. Pssaro anjo de Deus.

    Maro como Abril: pouca chuva, s amiudaram a22 de abril.

    Em Maio chove diariamente de 1o a 22; a parou, erecomeou a 8 de junho. Mel ainda no. Muita flor,pssaros nidificam depressa. Em Julho se colhe algummel, mbar, delicioso. Dia 17 tirei 10 litros, de 12 cai-xas. Em Agosto mais 13 litros. Foi um total de 40 litros

    em 1978. Em 1979 tambm 40.Setembro foi ms de visita a meus familiares em

    Santa Catarina.A 8 de Outubro reiniciei a alimentao. Novembro

    entra sem graa: 12 caixas despovoadas. Pela primeiravez pude observar in loco o efeito do veneno Baygonna mortandade das africanas. Tratava-se duma caixagrande, de 80 x 20 x 20 cm, cheia de indivduos, talvezuns 50 mil. Apliquei a bebida envenenada. S havia

    sada minscula, onde cabia dedo anular. Por esse furi-nho saiam como balas de calibre 22. Durou 15 minu-tos, a tudo serenou. Dentro havia uma camada de 10cm de abelhas mortas. Funcionia e funcioneia. Novem-bro entregou chuva fina a Dezembro, e voam princezi-nhas.

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    1979

    Durante todo ms de Janeiro as africanas desapare-ceram. Verifico que a bia ou bebedouro flutuante deripas muito melhor que de furos. Pela primeira vezvejo vespas capuxus, V. myschecyttarus ater, na bebi-da.

    Fevereiro tem cheiro de inverno, pois chove torren-cialmente a 21 e 23; a 26 sangra o aude. Total 60 mm.Na primeira quinzena de Maro fazem mel. Cessam aschuvas. Abril entra seco e terminou seco. Em Maio te-mos chuvas finas. Transita por aqui o paulista Amricoque transporta africanas de So Paulo ao Nordeste,com quebra de 10% na viagem. Marca do mel: Sereno.

    Observei 5 ou 6 zanges roendo o casulo duma prin-cesa que emergia, para trucid-la a fim de no disputar

    o trono com uma outra j emersa e j fecundada, embo-ra ainda no pusesse ovos.Em Junho me visita o conterrneo Rafael Warme-

    ling; diz que tem uma mandaaia. Do Rio Angico eutrouxe 3 remelas e 3 canudos, bichinhos complicados.No sei como explicar a presena da tesourinha em Ju-

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    lho. E a aroeira j comea a florescer. As algarobas secobrem de flores.

    A 12 de Agosto o pluvimetro assinala 30 mm.Chove a 5 e 6 de Setembro. Cedi duas caixas ao amigoDr. Tertuliano Aires. Coleta do ano 1979: 40 litros.

    1980

    Janeiro: apesar da estiagem prolongada, no larga-

    ram. Canta o sabi ele ou ela? A perereca tambm.S chove a 7 de Fevereiro. A 15 o inverno arrocha, osmaribondos caboclos ou cabas abandonam suas casasdas rvores e procuram as cobertas do homem. Parasurpresa minha, muitos cortios largados, mas o vigiacontinua na porta. Muito boa chuva desaba a 20, vindado interior, bom sintoma. Os largados j somam umtero. Tero desabado para o serto?

    A 13 de Maro recomea a chuva.

    Dia 8 de Abril me mudei da casa paroquial para aminha, na Prudente de Morais. Temos algum mel.Maio imitou abril na estiagem. Em Junho muita flor,

    pouca gua. Mesmo assim situei 15 ncleos. A safra demel foi apenas em maio: 5 litros. E as mangas de chuvase foram.

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    Em Julho comeo a alimentar meu povinho. Em Se-tembro enxameiam, e se consegue rainha nova, e a 17nevou no Rio Grande do Sul. Dia 15 de novembro pre-nunciam chuva para fins de Dezembro, de fato foi a 19.

    1981

    Na entrada de Janeiro fcil situar, noivinhas mui-tas, postura boa, chove a 6 e na ltima semana. Nova-

    mente a 6 de fevereiro, 25 mm. Prosperam as famliasnovas. A 9 parti a So Ludgero, via Fortaleza, volto a 9de Maro trazendo um ncleo de mandaaias M qua-drifasciata Lep e uma T angustula, o jata do paulista.Muita chuva a 12 e 13, at 18. Dizem que s chuva,no inverno. As 20 famlias fundadas seguraram. Echove pra molhar, a 22. Situei as 25 famlias para a Co-lnia Penal Agrcola. A 13 foram levadas. Bem molha-do Abril. Diariamente despacham noivas. S a manda-

    aia freqenta pouco o campo. Movimentam-se as abe-lhinhas de ouro T angustula. Mel tirado na cidade temcor amarelo-escura e gosto de amndoa de pssego,que c no h, portanto, deve ser de castanha.

    Maio decorreu seco at 15. A 13 falece Joana Go-mes e baleado Joo Paulo II. Maribondo caboclo emprofuso, peste mesmo. S a 20 chove 45 mm.

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    Depois de 90 dias se apagaram as catarinetas fini-nhas de ouro. Suspeito que a rainha era bastarda: essacamarada falsa. Diria monsenhor Jlio Bezerra.

    Junho me deu uns 12 litros de mel. Sempre aumen-tando a invaso de cabas. Regulares as chuvas juninas.As jandaras trabalham aodadamente, at na hora demaior quentura.

    Tirei uma garrafa de mel das mandaaias e as trans-feri para a caixa definitiva.

    No chove em Julho. Trago para a cidade algumas

    caixas de So Joo. Em Agosto nada de novo, em Se-tembro tambm no. Outubro: boa postura, agradecemo xarope, rainhas novas comeam a por, bons progns-ticos, pode chover dentro de 40 dias. Aps 4 meses deorfandade desaparecem as derradeiras mandaaias.

    Novembro acusa chuvas no Piau e no Maranho, a8 caem 80 mm em So Miguel do Jucurutu, e no oesteat 100 mm.

    A 23 um rodamoinho derrubou o meliponrio da Co-

    lnia s 12 h., sem leso para as abelhas. Em Dezem-bro as chuvas voltam. Em 1980 s tirei 5 litros, em 81uns 20 litros.

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    1982

    Em Janeiro observo uma invaso de canudos, T les-trimellita limao, de Da. Filomena nas flores simpatia(antigonium) do meu quintal. Preteja de abelhas. Nofim do ms temos troves e alguma chuva.

    Mudando de assunto: o Sr. Aristides de Freitas medisse que o antigo prdio do atual seminrio de Sta.Terezinha foi construdo pelo italiano Campinelli, achamado de Miguel Faustino. No dia 8 de Fevereiro

    chove 40 mm. Visita-me o tcnico Murilo Rego, daSUDENE. No fim do ms aparece uma frente fria, semaviso prvio, nem dos tcnicos.

    Em Maro colhem nctar mais que em fevereiro.Mando um ncleo para Braslia. A 15 o inverno estfirme. Ainda falta o mofo bem como o piolhinho nacria nova, sinais inconfundveis. Mesmo assim a coletado ano foi de 60 litros. Parece 1977, pois rompem-sepotes, perde-se mel e alguma abelha.

    Abril me traz logo no comeo o japons Seiichi Ko-bayashi, curioso, radicado no Esprito Santo. Fala commmica. Carrega tudo consigo, at a casa. Muita chuva,carros atolados. De 20 a 25 no se consegue chegar aSo Joo. Ainda mel derramado em caixas.

    Maio vai na mesma pisada. Troves, chuvas. Muitacria, muito plen. No h tempo a perder.

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    Em Junho as jandaras trabalham o dia todo, e denoite tambm, em casa, fazendo potes. Tome chuva a16. Africanas roncam em enxames ciganos. Dia 2 de

    julho fico atolado a 400 m da Penitenciria. S o tratordeu jeito. Jandaras ultra-brabas. Chuva regular. Dia 12tirei 12 litros de mel, do melhor. Boa a chuva de 25 deAgosto.

    Setembro no registra coisa digna de registro.Mandei fazer um bluso de mescla, com viseira cir-

    cular completa. Sem ele no agentava mais o ataque

    de milhares de insetos irados. E vo se acalmando. Ojuazeiro brotou em Outubro, veja s: com mais de msde atraso. At luvas foi preciso usar, mas resolvi comsimples sacos de plstico. A 18 no apareceu a tal bar-ra, mas troveja a 25 e chove a 29.

    Novembro traz gua a 2, a 3 tirei 7 remelas. Nascemprincezinhas, chove a 27.

    Dia 15 de Dezembro recebo visita mui honrosa: ocasal Warwick E. Kerr e Da. Lygia e me encomenda 10

    ncleos para T Fernando de Noronha. O mel somouneste ano 60 litros contra 20 em 1981.

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    1983

    Em Janeiro estou alimentando as abelhas de So Jo-o e da Colnia Agrcola. Em Fevereiro visitei SoLudgero, voltei a 25.

    Maro traz chuva a 5, 7, 27, 28, sendo a melhor a 28,segunda-feira da Semana Santa.

    Abril bastante chuvoso, e as abelhas embrabecem.Situei 3 para Dr. Jnior Fernandes. Como as amarelasapreciam o pinho, flores e visco!

    Em Maio mal e mal fazem mel. Continuam as ama-relas a lamber os pelos que cobrem pednculos, peco-los e caules do pinho. Acabou-se chuva. Junho, Julho,Agosto, Setembro, Outubro meses secos. Em Novem-bro aparecem princesas e comeam a por. Todas quesituei pegaram. Canta ou coaxa forte o cururu. No dia15 de dezembro um avio da FAB veio apanhar os 10cortios para Fernando de Noronha. A 19 despachei 10para Fortaleza. Nada de mel neste bem ou mal dito

    ano?

    1984

    Mais um ano seco? S mangas de chuva? Janeironada trouxe, Fevereiro marcou 60 mm no dia 4; na Fa-

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    zenda So Joo 125 mm, o aude sangrou. Maro foide muito trovo, e a 22 marcou 120 mm, e Abril entroutrovejando, e chovendo at o dia 25. Muita abelha,pouqussimo mel.

    Maio todo de chuvas. Eliminam princesas. Em Ju-nho chove duas vezes por semana. J 4 meses de chu-va. A estiagem de Julho traz melhores perspectivas.Mel pouco, mas excelente. Ainda troveja, chove pou-quinho.

    Desde 14 de maro deste ano, com a renncia de D.

    Gentil Diniz Barreto eu comecei a preparar meu re-gresso para So Ludgero, a fim de resolver como am-parar P. Clemente, celebrar meu jubileu sacerdotal edar aos meus 11 ou 18 irmos algumas migalhas demeu sacerdcio. Vendi tudo o que tinha, larguei barcoe rede, e segui o Mestre, busquei outros mares e outrosares. Parti a 1o de Agosto e aportei a 3. Foram 48 anose 3 meses de Nordeste. Para comemorar tal feito, o a-migo bartono Blsio Warmeling me deu um boizinho

    para comer com meus amigos. Residi em So Ludgero,Santa Catarina de 3 de agosto de 84 a 13 de maro de1988.

    Agosto foi de chuvas, nebuloso, caliginoso, ventoso.O termmetro caiu at zero. Abelhas e maribondos,todo mundo enregelado. Em Setembro o sol esquenta ecomeam a trabalhar. Tenho 1 de mandaaias e 4 de

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    jatis. A 22 situei a 1a mandaaia e a 24 a noivinha jsaracoteia, com 3 semanas a postura boa. Dia 2 deOutubro. Soube que meus amigo Peter Merten, oImkerknig de Waldbrl, morreu atropelado a 15 de

    julho de 1984. Requiescat.Participo em Florianpolis do VI Congresso Nacio-

    nal de Apicultura. Compareceram uns 1500, entre elesW. E. Kerr, Lionel, Stork, Ramirez de C. Rica, MuriloRego, Raimundo Rocha, Mons. Marques, etc. J tenho3 mandaaias e 8 jatis. Muito difcil situar mandaaias,

    porque depois de minutos os desmembrados se intri-gam com os da caixa-me. Lacram at a porta por 24hs.

    Em Novembro as mosquinhas dos fordios haviamdevorado toda uma famlia de mandaaias. Comearamcomendo a cria nova, e acabaram devorando tambm avelha e tudo mais.

    A 3 de Dezembro fui a Curitiba buscar duas famliasde mandaaias, presente do amigo Dr. Paulo Sommer,

    um sbio. Como ajudou os alemes no 32o

    CongressoInternacional, no Rio, em outubro de 1989! Dizem quena regio de Curitiba h mais de 300 espcies de abe-lhas, e os agrotxicos vo matando tudo. Dia 17 mudeio habitat delas para junto da casa das irms, beira doriacho-cloaca. Os jatis comeam a criar rixa com man-daaia, sem haver de que. A 31 passei a 1a mandaaia

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    para caixa com vidro, com uma novidade: deixar pas-sagem para passearem entre tampa e vidro.

    1985

    Janeiro entra esquecido do calor; onde deixou? S a24 aparece princezinha. S a 29 recebi as duas caixasde Curitiba. Novela de transporte. Caixas de fibra combarro e outro material, refratrio ao frio.

    A 20 de Fevereiro j tenho 8 mandaaias. muitoquando me lembro que s havia uma em So Ludgero.

    Maro conta 9 mandaaias, apesar das mosquinhas,voracssimas. O remdio higiene escrupulosa e fam-lia forte. Nada de matria ptrida ou em decomposio.

    Em Abril tivemos calor de janeiro, tudo s avessas,como os homens.

    Resolvi construir um quartinho de alvenaria, de 10 x2,5 m imitando estufa. Nas caixas se adapta um tubi-

    nho de plstico transparente que encaixa em um outroembutido na parede, por onde entram e saem as abe-lhas. Nem estranharam. Naturalmente mais difcillocalizar a prpria casa devido a parede montona, i-gual. Mitigaram esse inconveniente com perdigotos oupartculas de flores, ou repelentes indicadores, j que arainha com seu feromnio est l dentro, muito longe.

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    Pelo dia 15 estourou uma guerra intestina. Entre feri-dos e mortos, perdi 3 famlias. Maio no ostenta seutradicional verozinho, assinalou 3 graus centgrados.Geou e nevou no final. Conto com 17 ncleos de jatis,em caixas de grevlea fabricadas pelo caprichoso e ha-bilidoso Bernardo Schlickmann.

    Junho me recorda apenas a invaso de irapus quemoravam num p de tarom prximo. Depois o quei-mei.

    Em Julho consegui 3 jatis do Germano Wernke, sen-

    do um bem escuro, e maior. Uni duas famlias fracas demandaaia.

    O frio tanto que algumas abelhas caem ao largar daboca do cortio. Instalei bebedouro em cima das cai-xas, para no precisarem sair, e no atrair mosquinhascomo acontece dentro.

    Se julho foi melhor que maio, Agosto imitou.Os pssaros comeam seus ninhos, florescem as la-

    ranjeiras. Em pleno inverno a mandaaia tira noivinha.

    Setembro tem cara de primavera. Suspendi o trato.Cada qual se vira... para que tem asas? Fundei 3 fam-lias de mandaaias; s uma pegou. Pereceu uma apudminha mana Lcia, tambm em batalha. So mansas,mais que as jandaras, porm mais valentes e mais vin-gativas. Brigam mais entre si que com o homem. Como

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    penei na encosta do morro do Tranqilo Dutra para ti-rar uma dum tronco de guar-mirim. Tinha largado.

    De Armazm trouxe mandaaia-escura e menor, docosto da serra. No se une com ningum. Desconfiadaque s. Tempos depois abandonou a casa cheia de pro-viso. Foi lebre por gato ou vice-versa? Ela no tem ostergitos amarelos.

    Em Outubro fundei 3 ncleos de mandaaia. S nopresta a cera, dura, fedorenta, sem liga. Recebi um doRio da Vaca, trazido por Tranqilo. Prometeu mais 3,

    que at hoje (12 de dezembro de 1990) no recebi!A famlia fundada a 16 de outubro est em franca

    postura.Novembro sem novidade. Em Dezembro eu trouxe

    da Serra do Corvo Branco uma trigona que nidifica nocho. antes vespa. Ser a Geotrigona mumbuca? De26 de dezembro a 7 de janeiro estive em Braslia commeu amigo Pedro Luz, no Pouso do Uirau. To dife-rente a vegetao do cerrado, rvores baixas, retorci-

    das. Savana.

    1986

    Em Janeiro todas as abelhas foram internadas nomeliponrio de tijolos. No aprovaram as rainhas nas-

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    cidas no inverno. Pela primeira vez vejo abelhinhas-de-ouro por essas bandas.

    Em Fevereiro foi preciso cobrir o meliponrio por-que o calor na placa de concreto era demais. Recebiuma mandaaia num tronco, apud Bertinus Schlick-mann e entreguei uma ao P. Valentim nning.

    Em Maro encontro larvas de fordios mortas em po-tes de plen: no descobri a causa. Mandaaia trabalhamuito molhado, e drena a casa gurgitando 3 gotas emcada viagem. Tirei uma angustula do paredo beira

    do rio. Num toco vindo de Santa Rosa havia mandaaiademais. Saem duas carregando uma defunta: belo e-xemplo de solidariedade e colaborao.

    Em Abril progrediram. Maio sem novidade. Em Ju-nho as colnias continuam fortes. Em Julho no consi-go salvar a angustula. Floresce o pessegueiro.

    Reaparecem aquelas vespas marrons, muito amoro-sas, que carregam sempre consigo a mulher inalada(no in + halada), semelhante a uma formiga. Ele a

    mantm entre suas patas, em apertado amplexo, ligadosos dois pelas cloacas, e assim ela sorve avidamente dagarapa no meio das abelhas, ao passo que ele maissbrio e menos edaz, sempre supervisionando o ambi-ente. s vezes separei os dois para ver em que dava.Apesar de jog-la no cho, ele a encontrava e imedia-tamente arrebatava em aconchegado abrao. Parece

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    que ela dispe de radar, pois depois de poucos minutos encontrada. Curioso. Por vezes surgem 3 ou 4 dumavez, e assim descobri que aceitam qualquer consorte.Permuta no problema. Polgamos? !

    A 1o e 5 de Agosto fundei mais duas famlias demandaaias. A 8 tirei a mais trabalhosa T angustuladum toco de jacar Piptadenia gonoacantha em AndrWeber. Foi das 13 s 18 hs. Transferi 10 caixas demandaaias para Vendelino Heidemann.

    Dia 29 de Setembro fui ao norte e participei do 7o

    Congresso de Apicultura, em SalvadorBA e estiquei aviagem at Mossor e regressei a 6 de Novembro. Ocongresso durou de 7 a 11 de Outubro. Das 12 famliasem Heidemann, 3 pereceram em guerra entre famlias.Neste ponto so muito piores que as jandaras. At a-gora s tirei 1 garrafa de mel. digno de nota o se-guinte fato: as abelhinhas de ouro, do Weber, depois debem fortes, desapareceram deixando bastante manti-mento em casa. Aps 40 dias voltaram, as mesmas, e

    se apossaram da caixa de mandaaias pretas (menores)que tambm haviam largado. A 1a morada era isolada,debaixo dum telhado, a 2a fica dentro do meliponriode tijolos, mais quentinha.

    At 1989 l estavam elas, bem fortes com famlia ata tampa. So Ludgero deve estar com seu ar cheio de

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    agrotxicos, e no h lugar para abelhas delicadas fazermel, nem as pequeneninhas to resistentes: os jatis.

    1987

    Janeiro traz chuva at o dia 25. Reconduzi 6 famliasdo Heidemann para o Jac. Tirei o jati da gruta de N.Sra. atrs da matriz.

    Fevereiro tambm de chuvas. Perto do crepsculo os

    insetos disputam as flores do tajuj, ou taiui Cayapo-nia tayuya. Maro, Abril, Maios Junho e Julho todomundo em recesso. Certos dias de sol menos fraco voudando xarope.

    S no fim de Agosto se v cria nova.No comeo de Setembro situei 4 mandaaias. A 21

    trouxe um toco do Bom Retiro, do Eloi Schlickmann,perto da igreja. Soprou um vento meio frio e fez comque uns 70 minutos ainda chegassem das matas abelhas

    campeiras, bem diferente dos 10 ou 15 minutos noNordeste.

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    Outubro esquenta e deixo que as prprias abelhas sesituem. Numa flor de moranga (cucurbitcea) vejo 8abelhas disputar o nctar, africanas e mandaaias mis-turadas.

    Novembro no registrou movimentao.Passei o ms de Dezembro em Mossor e trouxe du-

    as famlias de jandaras, j que a SUCAM as est dizi-mando. Foram envoltas em caixas de isopor.

    1988

    Desde Janeiro o ano adverso para abelhas.Celebro meu jubileu ureo sacerdotal a 30 e volto

    para Mossor a 13 de maro, domingo; cheguei a 21, eme instalei Av. Dix-sept Rosado 212, na casa de Ivo-ne Monte, casa que financiei para ela, sem saber queera para mim, porquanto ela faleceu a 1o de julho e eufiquei na casa. Em Maio j tenho 10 caixas de 40 x 15

    x 20, feitas dos 2 caixotes de pinho liotis em que vie-ram os livros e terns. O ano bom de mel, parecidocom 77. Uma lanterninha deu mais de litro. Junto lagoa do Bispo iniciei um meliponrio para salvar as

    jandaras em extino. projeto da Diocese (CECAP).

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    1989

    Um total de 1500 mm de chuva muito para as abe-lhas. No compensa carregar mais gua do que nctar.Nenhum mel. Em Outubro participo do 32o CongressoInternacional da Apimondia, no Rio, de 21 a 28. Com-pareceram uns 52 pases. Participantes houve 1500; aexposio foi fraca. Veja a revista Apicultura e Poli-nizao. As jandaras dizem que chover pelo dia 15de Novembro, choveu a 7, mais de 130 mm. Chove

    bem a 21.

    1990

    Muito calor em Janeiro e Fevereiro. Dia 9 de feve-reiro choveu 12 hs., grosso e fino. Bem depressa as a-belhas aumentam a postura.

    Maro no d amostras de inverno. Chove fraco no

    comeo e no fim de Abril. Maio nem pinta.Est instalada a seca verde. De 15 a 22 de Junho asjandaras promovem guerra de vizinhos: saques, assal-tos, incurses, brigas, mortes. Enfeitam frestas e solei-ras com partculas de estames, flores, pistilos, etc.

    Atracam-se aos pares e morrem agarradas. O rem-dio foi cadeia! Apenas duas horas de liberdade por dia:

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    pela manh e tarde. Em Julho promoveram uma se-gunda guerra, de 4 dias. Para completar o azar, aparecea SUCAM com seu carro zoadento e sua fumaa fedo-renta e envenenada para matar insetos, lacerdinhas, osfedorentos cascudos, as muriocas e principalmente asinocentes jandaras. Salvei as minhas porque fecheitodas as caixas por 24 horas. O que bom hoje no es-capa mais. No campo o agrotxico, na cidade opolitxico. difcil salvar a jandara. Existe uma so-luo, sim, mas muito penosa: substituir o homem, ou

    pela educao ou por simples eliminao, mas ultra-passa nossas foras e contraria nossa vontade. Deixe-mos como est e veremos como ficar.

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    A Jandara: Sua Casa, Sua Atividade,Seu Comportamento

    O Cortio

    Cortio a casa das abelhas, especialmente das ind-genas. Colmeia ou colmeia para apis ou abelha deferro. inveno do homem, pois se alojam em rvo-res, tocos, paredes, muros, moures, etc. Quando setrata de tronco ou galho de rvores, s escolhem verdes

    porque so mais refratrios s oscilaes de temperatu-ra e clima. Alis as jandaras tm mais casas: a clula,o casulo (casa pequena), o encerado ou lamela de ceraque cobre o ninho, a caixa e o meliponrio. Que luxo!O favo representa um conjunto habitacional formadode casinhas circulares, no hexgonas, j que para elasespao no problema. As jandaras s moram no con-tinente sul-americano, no Brasil, no polgono das se-cas, no Nordeste, no serto ou caatinga, menos nas ser-

    ras e no agreste. seu habitat, que combina com a ca-sa.Como material de cortio preferem a madeira, e en-

    tre as madeiras, a umburana ou imburana, das Burser-ceas, porque oferece moradia franca, barata e fcil. mesmo pau-de-abelha. Depois vem a catingueira. Mas

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    vamos ao cortio feito pelo homem o primitivo troncoest superado, mesmo o da timbaba.

    O sertanejo usa cortio horizontal o menos usadopelas abelhas, a saber quando se trata de galhos hori-zontais em vez de troncos de rvores. O caboclo olhamais seu prprio comodismo que a convivncia dosbichinhos. Qualquer madeira aceita pelas abelhas,desde que no exale nem cheiro nem catinga demais.Claro que o carpinteiro escolhe madeira tratvel, e norebelde. Tenho cortios de umburana, pinho, andiroba,

    pinho liotis, carvalho europeu, baguau catarinense,louro, etc.

    Trinta anos atrs a gente podia colher at 3 litros demel por ano, duma caixinha, porque havia muitas florese no havia africanas. Hoje, tudo mudou. Basta um cor-tio com capacidade de 5 litros, espao suficiente paraninho e potes. Eu mesmo serrei ao meio minhas caixasde pinho de 80 x 15 x 15 cm.

    A degradao da natureza e do meio ambiente vi-

    svel, desastrosa, e sem freio. Nunca dar marteladas emcasa de abelhas, portanto dobradia, no prego. Natampa se usa moldura de taliscas para escurecer as fres-tas e diminuir o trabalho das abelhas em calafetar bre-chas. No h necessidade de repartir o cortio. Reco-mendvel deitar 2 litros de pauzinhos junto da entradaa fim de receberem os favos de cria ao fundar-se uma

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    famlia. O batoque ou torno fica na traseira, no nofundo da caixa, para sentar melhor. Jamais usar alvadocomo para apis, pois dificulta tanto a largada com achegada. Caso se usar vidro entre tampa e ninho deixar passagem para circulao em cima do vidro;evitar alojamento de formigas. Paredes grossas somelhores que finas.

    O modelo vertical lanterna testei por alguns anose aprovou. Basta caixa de 40 x 15 x 15 cm. com cober-ta fixa de zinco ou alumnio, com compartimento de 15

    x 15 cm. para ninho, em cima, e diviso vertical da par-te debaixo, mas esta no deve chegar at a porta. Am-bas devem permitir que as abelhas circulem. A portadeve ficar na parte dianteira, batoque na traseira; a por-ta abre para a direita, o furo fica esquerda, logo acimado suporte do ninho.

    Cortio nome europeu, porque a casca do sobreiro,a cortia, era aproveitada em tempos recuados paraservir de moradia de abelhas. Tambm colmeia ou

    colmia do Velho Mundo, assim se chamava porqueera feita de colmos, varas parecidas com taquaras. Ocortio uma ampliao da clula operculada, do ni-nho envolto em encerado, ou seja, uma encubadeira ouchocadeira ou estufa. Quanto menos alteraes bruscasde temperatura, melhor para a cria e os ovos. Por isso a

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    caixa vertical leva vantagem, pois o ninho fica bemaconchegado, em cima, e o calor sobe, n?

    Tudo o que sabemos em matria de abelhas apren-demos com elas. No foram elas que aprenderam denossos livros.

    Pois bem, elas querem moradia cmoda, funcional,nem espaosa demais, nem apertada demais, prtica,segura.

    E o barro? Usa-se ou no? Se necessrio, isto , se acada for mal-acabada. Nos matos elas s usam como

    batente ou degraus de apoio diante da porta, pois ostroncos verdes no tm frinchas. Como medida de e-mergncia por exemplo se quando mexeu numa caixa, bom usar o barro para ajudar as abelhas que perderi-am tempo precioso para remendar o que o homemdesmantelou. Todo cortio deve ser to bem vedadoque dispense s jandaras o trabalho de pedreiro ou re-bocador, pois elas so artistas de outro quilate. Os cor-tios no devem ficar expostos a sol direto, entre 10 e

    15 hs.

    O Meliponrio

    Apirio para colmias de apis, meliponrio paracortios de meliponas. Nem sempre os nomes so exa-

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    tos. Mel mel, ponos trabalho, pena, dor. Ora, todasas abelhas, at as vespas, trabalham com mel. Por quereservar esse nome s para os meliponios? Sob o tetodo meliponrio se aglomeram os cortios, para como-didade do meliponicultor e dificuldades das meliponas. prefervel que seja mvel ou transportvel, no fixo,para 30 cortios, no mximo, em duas prateleiras oucamadas superpostas, distantes uma da outra uns 25cm. De caixa para caixa, de 10 para 12 cm. Convmfix-lo num palanque por causa de ventanias ou tem-

    pestades.No h necessidades de isoladores para evitar a es-

    calada de insetos, j que a maioria possui asas, e descede helicptero.

    Em famlias fortes eles no entram. Jamais usar la-gos de leo no p do meliponrio, nem mesmo gua,antes golas ou colarinhos de alumnio bem ajustadosaos postes. Cuidado com a orientao, direo de ven-tos, incidncia dos raios solares, fios, galhos, carros,

    etc., etc.A coberta pode ser de zinco ou brasilite, telhas no.Dever ficar 50 cm acima devido ao calor. No h

    necessidade de parafusar as chapas; caibro ou longari-na de madeira qualquer resolve isso. Lembro que meli-ponrio no depsito, nem quarto de despejo, scasa para abelhas, nada mais.

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    Se possvel a frente ficar para o nascente, para a-pressar a sada ao alvorecer e evitar que o calor da tar-de torre a cria que costuma estar na frente, junto bo-ca.

    Todas as caixas desocupadas devem ficar fechadas,prefervel com barro, que elas amolecem e removemquando precisam ocup-las. Matar vboras e lagartixas servio obrigatrio e permanente de todo abelheiro,dentro e fora do ranchinho.

    As abelhas s querem de ns a defesa, no a intro-

    misso.Muito ajuda numerar as caixas, usar sinais conven-

    cionais sobre situao de cada famlia.No obstante tantos tetos, aqui no Nordeste precisa-

    mos mais um: sombra de rvore. A cu aberto perde-separte da prole nascitura com a cancula equatorial.Nunca demais aprender com as abelhas, como elasfazem no mato, como moram, trabalham, etc.

    O Bebedouro

    Bebedouro aqui no o local, porm o aparelho ouutenslio. Trata-se duma pequena jangada flutuante, deripas finas, justapostas, separadas por frestas estreiti-nhas que permitam a passagem folgada da lngua, no

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    porm da cabea das jandaras. Devem ser de madeiraleve, que bia bem, sem impregnar-se de gua. Impor-tante que essas ripas sejam chanfradas, sem arestasou quinas vivas, formando rampa para o xarope. umflutuador de madeira, ou seja uma grande, mais ou me-nos de 40 x 40 cm.

    A largura das ripas de 3 cm, assim haver espaopara as duas abelhas que esto bebendo de costas umapara a outra, mais as que vo pousando ou levantandovo (no decolando, que elas no tm cola!).

    A bandeja ou bacia mede 40 x 40 cm, com 5 cm debordo, no mais, porque dificultaria o acesso e a sada.Mesmo assim cabem uns 5 litros de xarope, justamenteo mximo que 200 famlias sedentas sorvem em umahora. Com dois ensaios elas aprendem a tcnica e gra-vam at o horrio com exatido de minutos, caso otreinador for pontual. Repito o que foi dito alhures:uma jandara gasta 20 segundos para desalterar-se, ouantes para encher o papo. Portanto, d 3 viagens por

    minuto, e mais uma vez portanto: cabem 3 abelhas nomesmo lugar em um minuto. Lindo, impressionante asofreguido com que trabalham, a ponto de no pode-rem passar to depressa pela porta, e fazerem borboto.

    Para tudo h sempre um segredozinho. A melhor ho-ra para a bebida a vespertina, que em geral no decoleta, mas de visitas de cortesia. Cuidar para que as

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    abelhas voem a favor do vento ao regressarem do be-bedouro, distanciado do meliponrio entre 10 e 15m.Sempre dever ficar no mesmo local, embora com va-riao de um ou dois metros. Sempre dever ficar umvigia para evitar surpresas desagrveis. Em caso delambuzeira ou meleira s cobrir tudo com folhas se-cas e as abelhas bem depressa ficaro no enxuto. Omaior problema sem dvida a intromisso das famin-tas africanas. H duas sadas para resolver o caso: ali-mentar as jandaras ao entardecer, depois de 15 horas, e

    envenenar as africanas pela manh, como eu fiz duran-te mais de 6 meses, todas as segundas-feiras, das 7 s12 hs.

    Outra: ficar de olho pregado no bebedouro e matarcada africana medida que chegam. Para isto se usaum bastonete que se aplica no dorso da intrujona. Ogolpe deve ser controlado, coisa que logo se aprende.Ouve-se um estalozinho, e pronto, essa est morta. I-mediatamente se remove do meio das jandaras e mer-

    gulha-se a varinha ngua para desinfetar e no irritaroutras africanas que j se aproximam. Se for o caso,duas pessoas se ajudam nisto, pois se o nmero de afri-canas passar de meia dzia, o controle est perdido,comeam a distribuir ferroadas a torto e a direito. En-to s resta uma sada: correr, recolher tudo e voltaroutro dia. J me aconteceu de matar mais de 500 em

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    uma hora e meia sem precisar interromper o servio.Pode-se aproveitar a revoada na hora da bebida parafazer permuta de famlias fracas com fortes, pois elasaceitam tudo. Tambm hora propcia para observarnoivinhas alegres correndo por entre ou antes por cimadas que esto bebendo. Uma das vantagens desse m-todo para alimentar abelhas que em uma hora estfeito o servio para 200 ou mais famlias, sem desper-dcio, sem nada azedar, cada qual responsvel por suacasa. S leva o que precisa e, para quanto tem espao,

    embora algumas faam transbordar potes.Esta garapa no vira mel, mas gera indiretamente

    porque refora a disposio de sair para o campo. Paraa gente se divertir mais ainda, e aumentar em muito aatividade s acrescentar umas colheres de mel ao xa-rope, a sim, elas ficam espertas e rpidas. Ningumfica parado: ou entra e sai, ou est em casa aumentadoos potes.

    Basta fazer isto uma vez por semana. Logo que hou-

    ver comida natural no campo, acabou-se o interessepelo xarope. No bebem.Lembro de novo que deve ser servido cru, em partes

    iguais de acar e gua. Acar refinado demais noapreciam.

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    Envenenamento de africanas

    Em meados de 1966 penetrou a abelha africanaApismellifera adansonii no Nordeste, vinda de So Paulo.Gastou 10 anos para chegar at aqui. E chegou a todovapor, muito agressiva. Coisa nunca vista. Dizimouno s aA mellifera ligustica recm-introduzida, senotambm grande parte de nossas abelhas indgenas semferro, matou muito filhote de papagaios, galinhas,porcos, ces, at muares e eqinos. Foi um desmantelo.

    O sertanejo se viu doido. Os caadores corriam doidos,rompendo espinhos, cercas, varando qualquer mata pormais fechada que fosse. Eu resolvi defender minhas

    jandaras pelo mtodo empregado pelas cascavis deasas: agredindo, atacando e matando, antes que me ma-tassem a mim ou as minhas abelhas.

    Usei primeiro o veneno em p, o Tugon, depois ou-tro melhor ainda, o Baygon, ambos da Bayer. Se Bayer bom. Preparei uns pratos com o mesmo xaro-

    pe acar e gua em partes iguais uns com veneno,outros sem veneno. Por qu? Porque desconfiam logoquando s encontram xarope com veneno. O motivo o seguinte: aquelas abelhas que se abasteceram comgarapa inocente, levam mensagem alvissareira, e con-vidam outras. As envenenadas, no, porquanto estoocupadas com suas clicas, e no retornam, mas mor-

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    rem em casa. Importante a dosagem do veneno. Elafaz com que no morram antes de atingir o ninho, po-rm dentro dele. Para alcanar isto se faz o teste comalgumas depois de envenenadas. s captur-las de-baixo dum copo de vidro e observar. A morte s deveocorrer depois de decorridos de 5 a 7 minutos, tempobastante para chegar em casa, e nela morrer. Desta ma-neira se mantm o movimento de ponte area ininter-rupto, horas a fio.

    Se por acaso se intrometer uma jandara, s afu-

    gent-la ou mesmo mat-la.No cheguei a matar 10 em 6 meses. nada. Uma

    observao: acontece que pousou um enorme enxamede africanas na vizinhana e caiu todinho em cima dobebedouro. Eu me vi louco, vendo a hora de entrar emguerra com as jandaras. Rapidamente subtra a garapainocente, e deixei s a envenenada. Como isto aindano bastava, pois era nu