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DURKHEIM, Émile. O Suícidio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. PREFÁCIO Por Carlos Henrique Cardim. (Professor do Instituto de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Brasilia-Unb) [-] Trata-se de um prefácio que contém elementos centrais da obra de Durkheim. Nesse sentido, o professor resume algumas das características dos quais ele considera como centrais para a obra “O suicídio”. [-] Entre os detalhes, que servem para os estudantes de Ciências Sociais mais desfamiliarizados com a obra de Durkheim, o autor nasceu em Epinal (França) em 1858. Entre os picos, por assim dizer, de fatos notáveis de Durkheim e sua trajetória acadêmica, destaca-se a criação da revista L’Année Sociologique e seu envolvimento no polêmico caso Dreyfus. [-] A relação entre aquilo que é individual e o que é social é muito caro a obra de Durkheim. Dessa forma “Foi justamente isso que Durkheim fez ao estudar um dos fatos mais íntimos do comportamento humano – o suicídio – e demonstrar, cientificamente com dados, que sobre ele pode haver uma determinação social, externa ao individuo.” (XXII). [-] Segundo o Prof. Cardim, Durkheim dedicou-se ao estudo do suicídio como forma de aplicar os fundamentos desenvolvidos na sua obra “As regras do método sociológico”. As explicações expostas em Le suicide seriam “’forças reais que vivem e que operam e que pelo modo que determinam o individuo testemunham suficientemente que não dependem dele’, ainda que este esteja presente como ‘elemento na combinação que dessas forças resulta’, essas ‘acabam por se imporem à medida que vão se desenvolvendo’” (XXIII). [-] Trecho metodológico interessante - “Nesse sentido, o estudo do tema suicídio – manifestação evidente de ruptura de laços sociais – alinhava-se diretamente com a pergunta fundamental das indagações sociológicas de Durkheim: quais são os laços sociais que unem os individuais entre si? Para melhor compreender a solidariedade há que se estudar o seu oposto: a quebra total de vínculos.” (XXIV) [-] Seu principal “inimigo” por assim dizer, era refutar as teorias que explicavam o suicídio baseado em fatores psicológicos, biológicos ou mesmo “raciais”, e, com base em uma explicação empírica, trazer uma argumentação sociológica. [-] “A principal hipótese que Durkheim demonstra em Le suicide é a de que a soma total de suicídios em uma dada sociedade deve ser tratada como um fato que somente pode ser 1

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DURKHEIM, Émile. O Suícidio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

PREFÁCIO

Por Carlos Henrique Cardim. (Professor do Instituto de Ciência Política e Relações

Internacionais da Universidade de Brasilia-Unb)

[-] Trata-se de um prefácio que contém elementos centrais da obra de Durkheim. Nesse

sentido, o professor resume algumas das características dos quais ele considera como centrais

para a obra “O suicídio”.

[-] Entre os detalhes, que servem para os estudantes de Ciências Sociais mais desfamiliarizados

com a obra de Durkheim, o autor nasceu em Epinal (França) em 1858. Entre os picos, por assim

dizer, de fatos notáveis de Durkheim e sua trajetória acadêmica, destaca-se a criação da

revista L’Année Sociologique e seu envolvimento no polêmico caso Dreyfus.

[-] A relação entre aquilo que é individual e o que é social é muito caro a obra de Durkheim.

Dessa forma “Foi justamente isso que Durkheim fez ao estudar um dos fatos mais íntimos do

comportamento humano – o suicídio – e demonstrar, cientificamente com dados, que sobre

ele pode haver uma determinação social, externa ao individuo.” (XXII).

[-] Segundo o Prof. Cardim, Durkheim dedicou-se ao estudo do suicídio como forma de aplicar

os fundamentos desenvolvidos na sua obra “As regras do método sociológico”. As explicações

expostas em Le suicide seriam “’forças reais que vivem e que operam e que pelo modo que

determinam o individuo testemunham suficientemente que não dependem dele’, ainda que

este esteja presente como ‘elemento na combinação que dessas forças resulta’, essas ‘acabam

por se imporem à medida que vão se desenvolvendo’” (XXIII).

[-] Trecho metodológico interessante - “Nesse sentido, o estudo do tema suicídio –

manifestação evidente de ruptura de laços sociais – alinhava-se diretamente com a pergunta

fundamental das indagações sociológicas de Durkheim: quais são os laços sociais que unem os

individuais entre si? Para melhor compreender a solidariedade há que se estudar o seu oposto:

a quebra total de vínculos.” (XXIV)

[-] Seu principal “inimigo” por assim dizer, era refutar as teorias que explicavam o suicídio

baseado em fatores psicológicos, biológicos ou mesmo “raciais”, e, com base em uma

explicação empírica, trazer uma argumentação sociológica.

[-] “A principal hipótese que Durkheim demonstra em Le suicide é a de que a soma total de

suicídios em uma dada sociedade deve ser tratada como um fato que somente pode ser

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explicado plenamente em termos sociológicos, e não por motivações pessoais dos atos de

autodestruição; a unidade de análise é a sociedade e não o individuo.” (XXV).

[-] Estrutura básica do livro O suicídio: Dividido em três livros, no Livro I Durkheim discute o

tema sob o ângulo de diferentes teses que não as sociológicas. No Livro II, Durkheim nos

apresenta a tipologia de suicídios: Suicídio egoísta – ausência de laços sociais; Suicídio

altruísta – o individuo está ligado excessivamente a sociedade; Suicídio anômico – ausência de

normas, não sabe aceitar os limites morais da sociedade. (XXVI)

[-] Apesar da distinção tipológica de Durkheim, compreende-se que os três tipos de suicídios

tratam-se de fenômenos indivíduos que respondem a causas sociais (XXVI) “Assim sendo, esse

ato extremo, exasperado, de aparente individualismo que é o suicídio pode ser tema da

sociologia” (XXVI).

[-] Sobre o impacto da obra, o prof. Cardim encerra com alguns relatos de Durkheim, do qual o

próprio autor acreditava que sua obra seria o equivalente a dar um golpe de espada na água,

ou seja, não teria grandes reflexos permanentes na sociologia enquanto disciplina.

[-] O prof. Cardim refuta essa tese de Durkheim, haja vista que o contributo do autor é ainda

bem atual.

NOTA À EDIÇÃO BRASILEIRA

[-] “Le suicide Fo publicado pela primeira vez em 1897 e esta edição se baseia na de 1930,

publicada por Presses Universitaires de France.” (XXXI).

PREFÁCIO

[-] Durkheim reconhece que há 10 anos atrás, a sociologia era um termo desconhecido do

grande público. Durkheim coloca que embora tenhamos avanços, ainda tem-se muito a

caminhar para a sociologia se constituir enquanto disciplina.

[-] Método da obra “O suicídio” – “O método sociológico tal como o empregamos, baseia-se

inteiramente no principio fundamental de que os fatos sociais devem ser estudados como

coisas...” (5).

[-] Concepção de sociedade – “Não se percebe que não pode haver sociologia se não há

sociedades, e que não há sociedade se só existem indivíduos.” (6).

[-] Durkheim ainda agradece seu sobrinho Mauss por ajudar no levantamento de dossiês de

cerca de 26.000 suicidas. (7 [GRANDEEE MAUSS \O\]). (O Tarde também ajudou com

documentos que foram liberados pelo tribunal de justiça). (7).

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INTRODUÇÃO

[-] Primeiro objetivo de Durkheim – Delimitar: o que é “suicídio”?

[-] A primeira formulação de Durkheim é a de que “chama-se suicídio toda morte que resulta

mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima”.

(11).

[-] Contudo, essa definição não basta, segundo Durkheim. É necessário criar uma tipologia de

suicídios. “Quando, portanto, o empenho leva ao sacrifício certo da vida, é cientificamente um

suicídio; veremos mais tarde de que tipo” (13).

[-] “Dizemos, pois, definitivamente: Chama-se suicídio todo caso de morte que resulta direta

ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela sabia

que produziria esse resultado” (14).

[-] O suícidio, portanto, é analisado conjuntamente, no coletivo. E esse dado é sui generis, uma

natureza social própria. (17).

[-] Correntes suicidógenas – “A evolução do suicídio compõe-se assim de ondas de

movimento, distintas e sucessivas, que ocorrem por ímpetos, desenvolvendo-se durante um

tempo, depois se detendo, para em seguida começar”. (19). Cada sociedade, portanto, tem um

momento histórico em que terá uma determinada taxa de suicídios.

[-] FRASE DA CAPA – “Cada sociedade se predispõe a fornecer um contingente determinado

de mortes voluntárias. Essa predisposição pode, portanto, ser objeto de um estudo especial,

que pertence ao domínio da sociologia. É esse estudo que iremos compreender” (24).

[-] O objeto da sociologia não é compreender porque o individuo se suicidou, mas entender o

fenômeno enquanto coletividade, ou seja, sobre o grupo. (25).

[-] A metodologia de Durkheim nessa obra é: verificar as outras teses que explicam o suicídio

(Fatores extra-sociais), determinar as causas sociais do fenômeno e compreender os efeitos

sociais nos indivíduos.

LIVRO I - OS FATORES EXTRA-SOCIAIS

CAPÍTULO I O SUÍCIDIO E OS ESTADOS PSICOPÁTICOS

[-] Segundo Durkheim “Há dois tipos de causas extra-sociais às quais se pode atribuir a priori

uma influência sobre a taxa de suicídios: as disposições orgânico-psíquicas e a natureza do

meio físico” (32). E são essas teses do qual Durkheim se preocupa em refutar.

[-] Durkheim então mergulha nos argumentos de que a causa do suicídio seria a loucura e a

qualificação de “monomania”. “O monomaníaco é um doente cuja consciência é

perfeitamente sã... [..] ele apresenta apenas uma tara, e nitidamente localizada” (34).

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[-] “Mas, se as taras não são suscetíveis de ser localizadas, não pode haver monomanias

propriamente ditas. Os distúrbios, aparentemente locais, a que se deu esse nome resultam

sempre de uma perturbação mais extensa; não são doenças, mas acidentes particulares e

secundários de doenças mais gerais. Portanto, se não há monomanias, não pode haver uma

monomania-suicidio e, por conseguinte; o suicídio não é uma loucura distinta.” (38).

[-] Durkheim então classifica os tipos de suicídios proporcionados pela loucura. São eles:

[-] I Suicídio maníaco – “Deve-se quer a alucinações, quer a idéias delirantes”. (40). II Suicídio

melancólico – Está ligado a um estado geral de extrema depressão, de tristeza exagerada“

(41). III. Suicídio obsessivo – “Nesse caso, o suicídio não é causado por nenhum motivo, nem

real nem imaginário, mas apenas pela idéia fixa da morte, que, sem razão representável, se

apoderou imperiosamente, do espírito do doente” (42). IV Suicídio impulsivo ou automático –

“Não é mais motivado do que o anterior; não tem nenhuma razão de ser, nem na realidade,

nem na imaginação do doente” (43). (Resulta de um impulso brusco).

[-] Sobre essa tipologia, Durkheim coloca que “Em resumo, todos os suicídios vesânicos ou são

desprovidos de qualquer motivo, ou são determinados por motivos puramente imaginários”

(44).

[-] A conclusão apresentada é a de que se existe uma grande gama de suicídios que não se

explicam pela loucura, então a loucura não dá conta de explicar a totalidade do fenômeno.

[-] Durkheim observa, pelos dados empíricos, que a freqüência de suicídios é mais alta nas

cidades. Entre os sexos, a predisposição é muito maior entre homens do que em mulheres (50-

52). E nos grupos tidos mais religiosos, é no qual ele tem menos força. Os católicos tendem a

se matar menos que o grupo de protestantes, numa análise comparativa com diversas

religiões.

[-] Em relação a idade, o auge para o suicídio é manifestado a partir dos 30 [depois só piora,

principalmente entre os 60-80 anos].

[-] Nesse sentido, Durkheim diz que não encontra relações diretas entre a loucura e o suicídio

(nos números e nas cidades comparadas).

[-] “Assim, os países em que há menos loucos são aqueles em que há mais suicídios; o caso da

Saxônia chama particularmente a atenção” (56).

[-] “A taxa social de suicídio não mantém, portanto, nenhuma relação definida com a

tendência à loucura, nem, por indução com a tendência às diferentes formas de neurastenia”

(59).

[-] Outra relação que Durkheim estuda é se o suicídio derivado do alcoolismo. “A priori, a

hipótese parece pouco provável. Pois é nas classes mais cultas e mais abastadas que o suicídio

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faz mais vitimas, e não é nessas classes que o alcoolismo tem sua clientela mais numerosa.”

(61). [pessoal de humanas se suicidando horrores... 8)]

[-] Contudo, quando Durkheim analisa o número de suicídios por região e o quanto é ingerido

de álcool em litros por individuo (média), ele constata que a relação é quase inversa, nas

regiões que tem mais suicídios, as pessoas quase não bebem, e não há um padrão que

relacione ambos os fenômenos.

CAPÍTULO II – O SUICIDIO E OS ESTADOS PSICOLÓGICOS NORMAIS.

A RAÇA. A HEREDITARIEDADE.

[-] Durkheim abre o capítulo debatendo a definição de “raça” que é empregada com inúmeros

sentidos diferentes pelos antropólogos, mas não traz uma definição conclusa. Para o autor “a

palavra é tomada numa acepção tão ampla que acaba por se tornar indeterminada” (72).

[-] “Admitamos, no entanto, que há na Europa alguns grandes tipos de que se percebem,

grosso modo, as características mais gerais e entre os quais se distribuem os povos, e

convenhamos dar-lhes o nome de raças.” (74).

[-] Além da tentativa de traçar um paralelo com “raças”, Durkheim analisa esses mesmos

dados relacionando homens com estaturas distintas (físicas).

[-] “A teoria que considera a raça um fator importante da propensão ao suicídio admite

implicitamente, aliás, que ele é hereditário, pois só sob essa condição pode constituir uma

característica étnica. Mas estará demonstrada a hereditariedade do suicídio? A questão

merece ser examinada tanto mais que, além de estar relacionada à anterior, por si mesma ela

tem interesse. Se, com efeito, estivesse estabelecido que a tendência ao suicídio se transmite

geneticamente, seria preciso reconhecer que ela depende estreitamente de um estado

orgânico determinado” (85).

[-] Síntese – “Vimos, com efeito, como a constituição individual que mais favorece sua eclosão,

ou seja, a neurastenia sob suas diferentes formas, não explica de modo algum as variações

apresentadas pela taxa de suicídios” (86).

[-] Embora haja famílias em que ocorrem mais de um suicídio, ter um parente que se suicidou

não indica que outros suicídios irão ocorrer naquela família.

[-] Soma-se a esse fato que nem sempre os alienados e loucos cometem suicídio. Dessa forma

“Veremos, num próximo capítulo, com efeito, que o suicídio é eminentemente contagioso.

Essa contagiosidade se faz sobretudo nos indivíduos cuja constituição os torna mais facilmente

acessíveis a todas as sugestões em geral e às idéias de suicídio em particular; pois, além de

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serem levados a reproduzir tudo o que os impressiona, eles tendem, principalmente, a repetir

um ato ao qual já tem certa propensão.” (90).

[-] Outra questão interessante levantada por Durkheim é que muitos indivíduos tem a

impressão de que ao imitar seus pais ao suicidarem, estariam “dando o exemplo”.

[-] Quais os problemas na tese da “hereditariedade” como fonte dos suicídios? Segundo

Durkheim, o primeiro problema seria que se o suicídio tivesse origem hereditária, ela deveria

incidir sobre ambos os sexos igualmente, fato que não ocorre (homens se suicidam muito

mais). O segundo problema com essa tese, segundo o autor, é a de que se a propensão ao

suicídio é hereditária, então, ela deveria se manifestar desde a infância. Com base em dados

empíricos Durkheim verifica que as taxas de suicídio na infância são as menores possíveis,

crescendo durante a fase adulta e seguindo progressão na velhice. Ele chega ao seu ápice nos

últimos anos da vida humana.

CAPÍTULO III – O SUÍCIDIO

E OS FATORES CÓSMICOS

[-] “Entre os fatores dessa espécie, há apenas dois aos quais se atribuiu uma influência

suicidógena: o clima e a temperatura” (102).

[-] A julgar pela literatura mais clássica, seria provável indicar que o inverno é o período que

haveria o maior número de suicídios. Segundo os dados coletados, contudo, a indicação é que

o maior número de suicídios é no verão. Mas por quê? (105).

[-] Para explicar esse aumento de suicídios na época do verão, alguns teóricos indicam que é o

estado de superexcitação pelas temperaturas e pela estação, que levaria as pessoas a se

matarem.

[-] O problema dessa teses é que “Se a temperatura fosse a causa fundamental das oscilações

que constatamos, o suicídio deveria variar regularmente com ela. Ora, isso não acontece. As

pessoas se matam muito mais na primavera do que no outono, embora então faça um pouco

mais frio:” (111).

[-] Nesse sentido, os dados estatísticos não acompanham a variação de calor, o que faz

Durkheim refutar a teoria.

[-] Obcecado (sim!) com essa teoria da temperatura, Durkheim ainda procura comparar o

numero de suicídios com as horas do dia. Descobre-se que os picos de suicídios tendem a

ocorrer entre a primeira manha e a tarde. “Vemos que há dois momentos em que o suicídio

chega ao auge: são aqueles em que o movimento dos negócios é mais rápido, de manhã e à

tarde”. (121).

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[-] “Por outro lado, Guerry, determinando para 6587 casos o dia da semana em que foram

cometidos, obteve a escala que reproduzimos no quadro XV (ver abaixo). Dele se conclui que o

suicídio diminui no fim da semana a partir da sexta-feira” (122). [sexta-feira = dia da

cervejinha, negócio é se matar na segunda... 8)]

[-] Social e individuo – “Tudo converge, pois, para provar que, se o dia claro é o momento que

mais favorece o suicídio, é por ser também aquele em que a vida social está em plena

efervescência. Estamos então diante de uma razão que nos explica por que o número de

suicídios se eleva à medida que o sol permanece mais tempo acima do horizonte. É que o

simples prolongamento dos dias abre, de certo modo, um tempo mais amplo para a vida

coletiva.” (123) [as pessoas finalmente tem tempo pra trabalhar, dormi, e se matar... daora]

[-] “Uma última experiência irá confirmar essa interpretação dos fatos. Se, pelas razões que

acabam de ser indicadas, a vida urbana deve ser mais intensa no verão e na primavera do que

no resto do ano, no entanto a diferença entre as várias estações é menos marcada do que no

campo, pois os negócios comerciais e industriais, os trabalhos artísticos e científicos, as

relações mundanas não são suspensas no inverno no mesmo grau que a exploração agrícola”

(125).

[-] Nesse sentido, se há mais suicídios de janeiro a julho (hemisfério norte) não é devido a um

fator orgânico-biológico, mas a efervescência da vida social.

CAPÍTULO IV – A IMITAÇÃO

[-] “Mas antes de pesquisar as causas sociais do suicídio, há um fator psicológico cuja

influência devemos determinar, devido à extrema importância que lhe foi atribuída na gênese

dos fatos sociais em geral e do suicídio em particular. É a imitação” (127).

[-] Segundo Durkheim, há três grupos de fenômenos distintos que são intitulados como

“imitação” pelos teóricos: 1º O nivelamento de diferentes consciências, em que indivíduos

distintos pensam em uníssono. 2º O individuo que segue tendências, modas, costumes. 3º A

representação que fazemos quando alguém age de determinada forma na nossa frente

(bocejar, rir, se portar, etc).

[-] A constatação de Durkheim é que as três condições são distintas entre si. “E, em primeiro

lugar, a primeira não pode ser confundida com as seguintes, pois ela não implica nenhum fato

de reprodução propriamente dita, mas sínteses sui generis de estados diferentes, ou, pelo

menos, de origens diferentes.” (132).

[-] “Uma coisa é sentir em comum, outra coisa inclinar-se diante da autoridade da opinião,

outra coisa, enfim, repetir automaticamente o que outros fizeram. Da primeira ordem de fatos

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está ausente toda reprodução; na segunda, ela é apenas a conseqüência de operações lógicas,

de julgamentos e de raciocínios, implícitos ou formais, que são o elemento essencial do

fenômeno; portanto, não serve para defini-lo. A reprodução só é plena no terceiro caso. [...]

Há imitação quando um ato tem como antecedente imediato a representação de um ato

semelhante, anteriormente realizado por outros, sem que entre essa representação e a

execução se intercale nenhuma operação intelectual, explicita ou implícita, sobre as

características intrínsecas do ato reproduzido” (138).

[-] Analisando os dados de 160 províncias da Alemanha, a conclusão de Durkheim é que não há

indícios de epicentros que sugiram a “imitação”.

[-] “Em resumo, embora seja certo que o suicídio é contagioso de individuo para individuo,

nunca se vê a imitação propagá-lo de tal maneira que afete a taxa social de suicídios.” (158).

[-] Atribuindo que talvez houvesse correntes suicidógenas de imitação, há localidades que

proibiram as noticias de suicídios nos jornais, segundo Durkheim. Contudo, segundo ele, é

quase impossível que isso afete as taxas sociais de suicídios. “A intensidade da propensão

coletiva permaneceria a mesma, pois o estado moral dos grupos nem por isso se modificaria.”

(160).

[-] Resumo (tese central) – “Mas este capítulo mostra principalmente o quanto é pouco

fundada a teoria que considera a imitação a fonte eminente de toda vida coletiva. Não há fato

tão facilmente transmissível por contágio quanto o suicídio, e no entanto acabamos de ver que

essa contagiosidade não produz efeitos sociais.” (160).

[-] Dessa forma, ao refutar a imitação, Durkheim indica que a sociologia deve se pautar por

fatos cabíveis de provas e que somente por essa via ela poderá se constituir como ciência.

(162).

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LIVRO II – CAUSAS SOCIAIS E TIPOS SOCIAIS

CAPÍTULO I – MÉTODO PARA DETERMINÁ-LOS

[-] O livro anterior serviu para demonstrar que o suicídio não provém nem de causas orgânico-

psíquicas do indivíduo, nem pela natureza do meio físico, e sim, de causas sociais. (165).

[-] Metodologia – dos efeitos para entender as causas.

[-] Durkheim ainda relata que em todos os países, ao se registrar o óbito, há uma indicação de

que o mesmo tratar-se-ia de um suicídio. Com base nesses dados, o mesmo consegue levantar

o maior número de detalhes possíveis.

[-] A conclusão apresentada por Durkheim é que a explicação que o suicida dá ao ato de

suicidar se trata apenas de um efeito, de uma causa aparente. (174).

[-] Método – “Só depois, voltando aos indivíduos, examinaremos como essas causas gerais se

individualizam para produzir os efeitos homicidas que elas implicam”. (175).

CAPÍTULO II – O SUÍCIDIO EGOISTA

[-] “Examinando o mapa dos suicídios europeus, reconhecemos à primeira vista que nos países

puramente católicos, como Espanha, Portugal, Itália, o suicídio é muito pouco desenvolvido, ao

passo que atinge seu máximo nos países protestantes, como Prússia, Saxônia, Dinamarca.”

(177).

[-] Países puramente católicos: poucos suicídios x Países protestantes: mais suicídios.

[-] Comparando regiões variadas, Durkheim conclui que “Assim, por toda parte, sem nenhuma

exceção, os protestantes fornecem muito mais suicídios do que os fiéis de outros cultos.”

(180).

[-] Liberdade de interpretação da bíblia – “Ora, a única diferença essencial entre o catolicismo

e o protestantismo é que o segundo admite o livre exame em proporção bem mais ampla do

que o primeiro.”

[-] “Também é verdade que o católico recebe sua fé pronta, sem exame. Nem mesmo pode

submetê-la a um controle histórico, pois os textos originais em que ela se apóia lhe são

proibidos.” (185).

[-] Baixo índice de suicídio no Judaismo - “O judaísmo, com efeito, como todas as religiões

inferiores, consiste essencialmente num corpo de práticas que regulamentam minuciosamente

todos os detalhes da existência e deixam muito pouco espaço para o julgamento individual.”

(189).

[-] Dados de países com predominância protestante comprovam a tese, segundo Durkheim. “O

gosto pelo livre exame não pode advir sem estar acompanhado do gosto pela instrução. A

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ciência, com efeito, é o único meio de que a livre reflexão dispõe para alcançar seus fins.”

(191).

[-] Outra questão relevante é o alto índice de instrução dos protestantes. A instrução

fortalece o estado de individualismo. O homem então se suicida porque a instrução desfaz o

estado de coesão religioso. (201).

[-] “Deste capítulo extraem-se duas conclusões importantes. Em primeiro lugar, vemos por

que, em geral, o suicídio progride com a ciência. Não é ela que determina esse progresso.”

(201).

[-] “Em segundo lugar, vemos por que, de maneira geral, a religião exerce uma ação profilática

sobre o suicídio.” (202).

CAPÍTULO III – O SUÍCIDIO EGOÍSTA (continuação)

[-] Segundo Durkheim “Quando consultamos apenas os números absolutos, os solteiros

parecem matar-se menos do que as pessoas casadas. Assim, na França, durante o período

1873-78, houve 16.264 suicídios de casados, ao passo que entre os solteiros houve 11.709.”

(207). Contudo, boa parte desses números estão colocadas pessoas com faixa etária abaixo

de 16 anos. Se fizermos a subtração dessas pessoas, verá que o número de solteiros suicidando

apresenta uma média superior ao de casados, que tem uma idade mais avançada.

[-] “Esse método é suficiente, sem dúvida, para mostrar que o celibato agrava a tendência ao

suicídio, mas dá uma idéia pouco exata da importância desse agravamento.” (209).

[-] PRINCIPAIS TESES - Sobre os casamentos de homens mais jovens, o suicídio se agrava para

esses indivíduos. “Tudo tende a provar, portanto, que os casamentos prematuros determinam

um estado moral cuja ação é nociva, sobretudo para os homens.” (216).

[-] Outra proposição notada por Durkheim é a de que "2) A partir de 20 anos, os casados dos

dois sexos se beneficiam de um coeficiente de preservação com relação aos solteiros." (216).

[-] "3) O coeficiente de preservação dos casados com relação aos solteiros varia de acordo com

os sexos." (217).

[-] "4) A viuvez diminui o coeficiente dos casados dos dois sexos, porém, no mais das vezes,

não o suprime completamente." (217).

[-] "Podemos dizer nos mesmos termos, portanto, que o sexo mais favorecido no estado de

viuvez varia conforme as sociedades e que o tamanho da diferença entre a taxa dos dois sexos

varia, por sua vez, conforme a natureza do sexo mais favorecido." (218).

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[-] A imunidade que as pessoas casadas desfrutam pode ter uma dupla origem: ou da

influência do meio doméstico, ou de uma triagem daqueles que possuem as características

para se casar, tais como renda, status, segurança, etc. (218).

[-] “Assim, em cada idade a participação das mulheres casadas nos suicídios dos casados é

muito superior à das mulheres solteiras nos suicídios dos solteiros.” (223). Isso deve-se,

segundo Durkheim, que o casamento afeta os dois sexos de diferentes formas. Nesse sentido,

a vida conjugal afeta a mulher negativamente. Ela só recupera em números nos casamentos

que tem filhos.

HOMENS MULHERES

Solteiros Casadas

Viúvos Viúvas

Casados Solteiras

[-] A medida que a família adensa, os suícidios diminuem gradualmente.

[-] Durkheim já aponta naquela época uma tendência a famílias cada vez mais pequenas e

reduzidas.

[-] Nas famílias pequenas não há laços duradouros e nem coesão. Os laços são efêmeros e

fracos. (248).

[-] Durkheim demonstra ainda que em momentos de crises ou grandes revoluções, o número

de suicídios tende a cair. Esse efeito só é observado em crises que afetam as paixões. (255).

[-] Há três proposições que são extraídas e que são importantes: I. “O suicídio varia em razão

inversa ao grau de integração da sociedade religiosa, doméstica, política” (257).

[-] "Podemos dizer nos mesmos termos, portanto, que o sexo mais favorecido no estado de

viuvez varia conforme as sociedades e que o tamanho da diferença entre a taxa dos dois sexos

varia, por sua vez, conforme a natureza do sexo mais favorecido." (218).

[-] O suicídio que deriva, portanto de uma individuação descomedida é intitulado de “suicídio

egoísta”. (259)

[-] "Esse tipo de suicídio, portanto, bem merece o nome que lhe demos. O egoísmo não é

apenas um fator auxiliar dele é sua causa geradora. Se, nesse caso, o vínculo que liga o

homem à vida se solta, é porque o próprio vínculo que o liga à sociedade se afrouxou. Quanto

aos incidentes da vida privada, que parecem inspirar imediatamente o suicídio e que passam

por suas condições determinantes, na realidade são apenas causas ocasionais." (266)

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[-] Segundo Durkheim, a mulher estaria menos envolta de sociabilidade, enquanto o homem

seria um ser social mais complexo. [MACHISTA! :P]

CAPÍTULO IV – O SUÍCIDIO ALTRUISTA

[-] Enquanto uma individuação excessiva leva ao suicídio egoísta, a ausência de individuação

leva ao suicídio altruísta, ou seja, excesso de integração. (269).

[-] Muitas sociedades fazem esse tipo de suicídio por costumes, por honra e bravura.

[-] “Portanto, o suicídio decerto é muito freqüente entre os povos primitivos. Mas apresenta

então características muito particulares. Todos os fatos que acabam de ser relatados incluem-

se, com efeito, numa das três categorias seguintes:

I) Suicídios de homens que chegam ao limiar da velhice ou são afetados por doenças.

2) Suicídios de mulheres por ocasião da morte do marido.

3) Suicídios de clientes ou servidores por ocasião da morte de seus chefes.

Ora, em todos esses casos, se o homem se mata, não é porque se arroga o direito, mas, o que

é bem diferente, porque tem o dever. Quando falta a essa obrigação, é punido com a desonra

e também, na maioria das vezes, por castigos religiosos.” (272).

[-] A personalidade individual, nesse tipo de suicídio, tem muita pouca importância. Ele é,

basicamente, absorvido pelo grupo.

[-] O suicídio altruísta se divide em dois: o obrigatório e o facultativo. Contudo, essas duas

variedades são bem próximas, quase impossibilitando sua distinção. (278).

[-] "Está assim constituído um segundo tipo de suicídio, que inclui, por sua vez, três

variedades: o suicídio altruísta obrigatório, o suicídio altruísta facultativo, o suicídio altruísta

agudo, cujo modelo perfeito é o suicídio místico. Sob essas diferentes formas, ele se

contrapõe de maneira nítida ao suicídio egoísta. Um está ligado à moral brutal que não dá

valor a nada que interesse apenas ao indivíduo; o outro é solidário da ética refinada que tanto

exalta a personalidade humana, que ela não pode mais se subordinar a nada." (283).

[-] Um dos exemplos clássicos de suicídio é o exército.

[-] Para Durkheim, isso estaria relacionado ao grau de impessoalidade da vida do soldado, em

que ele é treinado a dar sua vida pela sociedade a qualquer instante.

CAPÍTULO IV – O SUÍCIDIO ANÔMICO

[-] Suicídio relacionado as crises econômicas.

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[-] ..."o terceiro tipo de suicídio, cuja existência acabamos de constatar, tem como causa o fato

de sua atividade se desregrar e eles sofrerem com isso. Por sua origem, daremos a essa última

espécie o nome de suicídio anômico." – Ausência de laços e desarranjo.

[-] Esse desarranjo não precisa ser necessariamente econômico, pode ser conjugal. No caso, o

divórcio - "Ora o divórcio implica um enfraquecimento da regulamentação matrimonial. Onde

ele é estabelecido, sobretudo onde o direito e os costumes facilitam excessivamente sua

prática, o casamento é apenas uma forma enfraquecida dele mesmo é um casamento menor."

(347).

[-] Segundo Durkheim, o divórcio protege a mulher pois ela não tem grandes aspirações, e não

necessitaria do casamento para levar uma vida monogâmica. Já o homem estaria sacrificando

sua tendência natural a poligâmica. (HAHAHAHAHA OK!)

[-] A anomia sexual dos solteiros, em sentido similar, os afetaria mais também. (350)

[-] Poderia ser ainda definido um quarto tipo de suicídio, que é aquele que se opõe ao

anômico, o excesso de freios e regras, o suicídio do escravo. Contudo, Durkheim não irá se

deter nessa quarta onda tipológica.

CAPÍTULO VI – FORMAS INDIVIDUAIS DOS DIFERENTES TIPOS DE SUICÍDIOS

[-] Nesse capítulo, Durkheim ilustra algumas problematizações sobre a tipologia de suicidios

apresentada. Esclarece que uma mesma morte pode ser classificada em dois ou mais tipos de

suicídios. "A razão disso é que diferentes causas sociais do suicídio podem agir

simultaneamente sobre um mesmo indivíduo e nele misturar seus efeitos." (369). O egoísmo e

a anomia tem uma relação especial entre si. São comumente encontrados juntos.

[-] A natureza do suicídio, portanto, não diz nada sobre sua tipologia. Podemos ter dois

suicídios por estrangulamento, mas ambos serem classificados de formas diferentes.

[-] No total, daria pra dizer que são 6 tipos principais:

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Fonte: pg. 377.

[-] "Estas são as características gerais do suicídio, ou seja, as que resultam imediatamente de

causas sociais. Individualizando-se nos casos particulares, elas adquirem nuances variadas,

conforme o temperamento pessoal da vítima e as circunstâncias especiais em que se encontra.

Mas, sob a diversidade das combinações que se produzem assim, podemos sempre identificar

estas formas fundamentais." (378).

LIVRO III – DO SUICÍDIO COMO FENÔMENO SOCIAL EM GERAL

CAPÍTULO I – O ELEMENTO SOCIAL DO SUICÍDIO

[-] Há duas condições sociais do suicídio – A primeira delas é a condição externa que se

encontra o individuo. A mulher, por exemplo, se mata bem menos que o homem, pois ela é

bem menos engajada na vida coletiva.

[-] Em resumo, compreende-se que - "Mas queremos dizer: 1) que o grupo formado pelos

indivíduos associados é uma realidade de tipo diferente de cada indivíduo tomado

isoladamente; 2) que os estados coletivos existem no grupo de cuja natureza eles derivam,

antes de afetar o indivíduo como tal e de se organizar nele, sob nova forma, uma existência

puramente interior." (413).

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[-] Durkheim pressupõe que a própria corrente de suicídios forma seus sacrificados pouco a

pouco. Talvez leve um ano ou mais pra fazer o ciclo completo.

CAPÍTULO II – RELAÇÕES DO SUICIDIO COM OS OUTROS FENÔMENOS SOCIAIS

[-] Nesse capítulo, Durkheim tenta traçar o paralelo entre o suicídio e outros tipos de

fenômenos sociais. A primeira questão é pensá-la em relação a moral. Traçando a história do

suicídio, Durkheim demonstra como o suicídio foi considerado um crime e execrado em

inúmeras religiões como pecado. A exceção está na Grécia, onde o suicídio era praticado por

todos aqueles que tinham vontade sem julgo da população. Contudo, será que o suicídio seria

um homicídio da consciência pública?

[-] A partir dessa problematização, Durkheim passa a investigar a relação entre as regiões que

se pratica homicídios violentos e suicídios. Descobre que as regiões que mais praticam

homicídios é a que tem menores taxas de suicídios e vice-versa.

[-] Nas sociedades inferiores, onde há pouco valor a vida, os suicídios são mais praticados

(452).

[-] O suicídio é um fenômeno muito mais urbano do que rural (o contrário ocorre com o caso

do homicídio). (459).

[-] Os homicídios são mais freqüentes nos países católicos do que nos protestantes. (459).

[-] Enquanto a vida familiar tem ação benéfica que atenua as taxas de suicídio, os índices de

homicídio aumentam. (461).

[-] O suicídio anômico é o típico suicídio das sociedades modernas.

[-] "Quanto à anomia, como ela produz tanto o homicídio como o suicídio, tudo o que pode

refreá-la refreia a ambos. Até mesmo não há que temer que, uma vez impedida de se

manifestar sob forma de suicídio, ela se traduza em homicídios mais numerosos, pois o

homem bastante sensível à disciplina moral para renunciar a se matar por respeito à

consciência pública e suas proibições será muito mais refratário ainda ao homicídio, que é

estigmatizado e reprimido com maior severidade." (467)

[-] Assim com o suicídio, o crime é um fato social NORMAL :D

[-] Há uma preocupação ainda de Durkheim em relação ao relativo aumento constante dos

números de suicídios, fato que talvez não pudesse ser considerado como normal. Esse

agravamento não seria condicionado pelo “progresso”. (481).

[-] "Estão reunidas todas as provas, portanto, para nos fazer considerar o enorme crescimento

do número de mortes voluntárias produzido no último século como um fenômeno patológico

que se torna a cada dia mais ameaçador." (484). E como evitar isso? Segundo Durkheim, não

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teria como ser com a educação e nem pela família ou pela política. A possibilidade de

revitalização está no trabalho e nas corporações de ofício, que traz possibilidade de

reintregração. Contudo, ela não consegue resolver a anomia conjugal, por exemplo.

[-] O suicídio anômico e egoísta seriam os que apresentam as facetas mais mórbidas, segundo

Durkheim. (488).

[-] "Seja como for, é o único meio de atenuar o triste conflito moral que atualmente divide os

sexos e do qual a estatística dos suicídios nos fornece uma prova definitiva. Só quando

diminuir a distância entre os dois cônjuges o casamento não será mais obrigado, por assim

dizer, a favorecer necessariamente um em detrimento do outro. Quanto aos que reivindicam

para a mulher, já hoje, direitos iguais aos do homem, eles se esquecem de que a obra de

séculos não pode ser abolida em um instante; de que, além do mais, essa igualdade jurídica

não poderá ser legítima enquanto a desigualdade psicológica for tão flagrante. Portanto,

nossos esforços devem se aplicar em diminuir esta última. Para que o homem e a mulher

possam ser igualmente protegidos pela mesma instituição, é preciso, antes de tudo, que eles

sejam seres de igual natureza. Só então a indissolubilidade do laço conjugal já não poderá ser

acusada de servir apenas a uma das duas partes em questão." (505).

[-] Inicio da sociedade (int. formas elementares) - "Originalmente, a sociedade é organizada

com base na família; ela é formada pela reunião de um certo número de sociedades menores,

os clãs, cujos membros são ou se consideram todos parentes. Essa organização não parece ter

permanecido durante muito tempo em estado puro. Muito cedo a família deixa de ser uma

divisão política para se tornar o centro da vida privada. O antigo grupo doméstico é substituído

então pelo grupo territorial." (508).

[-] "Quanto a determinar com maior exatidão sob que formas particulares esses germes são

chamados a se desenvolver no futuro, ou seja, o que deverá ser, detalhadamente, a

organização profissional de que necessitamos, não poderíamos tentá-lo ao longo desta obra.

Só depois de um estudo especial sobre o regime corporativo e as leis de sua evolução é que

seria possível definir melhor as conclusões acima." (513).

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