Lona 961 (30/10/14)

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lona.redeteia.com Adolescentes utilizam internet como principal meio de comunicação, mas há uma desigualdade nos números apontados “Recentemente, foram divulgadas notícias apontando irregularidade no PRONAF de algumas cidades.” “No fim, estamos todos juntos e reu- nidos nesse universo, dependendo da aleatoriedade dos cosmos.” Maria Gadu traz MPB para o fim de semana curitibano, enquanto Israel Novaes agita o Shed Bar. “A gente não pode esperar muito dos outros. Não acredito que começarei por um clichê tão batido, pisado, sofri- do – mais que o bom senso em época de eleição. “ ‘A reeleição de Dilma Rousseff reper- cutiu amplamente nas redes sociais, daquele jeitinho insuportável.Da mesma forma que o fanatismo político contaminou essa eleição, as rea- ções à vitória não foram diferentes.” Pesquisa mostra uso da internet por adolescentes brasileiros Madrugada Sangrenta homenageia Roger Corman Evento que promove palestas, oficinas e exibição de filmes aconte- ce exclusivamente em Curitiba e contou com a presença do próprio homenageado, o diretor norte-americano Roger Corman Ano XV > Edição 961 > Curitiba, 30 de outubro de 2014 Priscilla Fontes Luis Izalberti COLUNISTAS OPINIÃO EDITORIAL #PARTIU p. 2 p. 5 p. 5 p. 2 p. 6 p. 3 p.3 O único jornal-laboratório diário do Brasil Foto: Marina Geronazzo Foto: Ministério TIC Colômbia

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lona.redeteia.com

Adolescentes utilizam internet como principal meio de comunicação, mas há uma desigualdade nos números apontados

“Recentemente, foram divulgadas notícias apontando irregularidade no PRONAF de algumas cidades.”

“No fim, estamos todos juntos e reu-nidos nesse universo, dependendo da aleatoriedade dos cosmos.”

Maria Gadu traz MPB para o fim de semana curitibano, enquanto Israel Novaes agita o Shed Bar.

“A gente não pode esperar muito dos outros. Não acredito que começarei por um clichê tão batido, pisado, sofri-do – mais que o bom senso em época de eleição. “

‘A reeleição de Dilma Rousseff reper-cutiu amplamente nas redes sociais, daquele jeitinho insuportável.Da mesma forma que o fanatismo político contaminou essa eleição, as rea-ções à vitória não foram diferentes.”

Pesquisa mostra uso da internet por adolescentes brasileiros

Madrugada Sangrenta homenageia Roger CormanEvento que promove palestas, oficinas e exibição de filmes aconte-ce exclusivamente em Curitiba e contou com a presença do próprio homenageado, o diretor norte-americano Roger Corman

Ano XV > Edição 961 > Curitiba, 30 de outubro de 2014

Priscilla Fontes

Luis Izalberti

COLUNISTAS

OPINIÃO

EDITORIAL

#PARTIU

p. 2

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p. 6p. 3

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O único jornal-laboratório diário do Brasil

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LONA > Edição 961 > Curitiba, 30 de outubro de 2014

EDITORIAL OPINIÃO

Tive minha infância em uma famí-lia católica, não daquelas com uma devoção fervorosa, mas sim, de ir à missa todos os domingos. Estudei em colégio franciscano, onde tive minhas primeiras aulas de religião. Tinha fé na igreja católica, acreditava que dentro desse círculo eu estaria protegido de todo o mal, e nada poderia me afetar. Tinha tudo para ser um bom católico.

Porém, os anos passaram, e as coisas mudaram. E muito. Depois de tan-tos acontecimentos em minha vida, comecei a contestar minha religião e a existência de Deus. Deixei de ir à igreja, considerava burro quem acre-ditava em Deus e comecei a conside-rar as religiões como as culpadas por todas as desgraças que acontecem no mundo. Sim, tolice de minha par-te. Época de rebeldia, ser do contra e malvado era bacana, Passei o início da minha adolescência assim, sendo um

ateu ignorante sem respeito pelos outros. Achei que continuaria desse jeito pelo resto da minha vida, porém, do mesmo jeito que é possível perder a fé, é possível reconquistá-la.

As provas do vestibular haviam aca-bado, e o que eu queria era descan-sar de toda essa correria. Comecei a passar meus dias fora de casa, cami-nhar no parque, sair com os amigos. Então, passei a prestar mais atenção nos detalhes das coisas, e percebi que tudo tem um sentido. Energia é o que move o mundo, é o que faz uma árvo-re nascer, e é o que atraímos com nos-sas ações e pensamentos. Fazendo o bem, nos sentimos bem, e fazendo o mal, nos sentimos mal. Pouco a pou-co, sem saber, fui recriando minha fé, sem a influência de nenhuma religião, mas apenas com o que eu sentia. Foi então que percebi que acreditava no universo, e que ele é o responsável

por toda a vida. Algum tempo depois, me dei conta de que o que eu acredi-to é tecnicamente o que os católicos acreditam, e me identifico com mui-tos ensinamentos da Bíblia.

Depois de ter passado por todas essas transformações, me dei conta de que um homem não pode viver sem fé Fé é o que faz o mundo ir para fren-te, e mesmo aqueles que dizem não ter, no fundo eles sentem que existe alguma coisa. Também percebi que as religiões não são responsáveis pe-las guerras e mortes, mas sim, o ser humano. Todas as religiões têm seus pontos negativos, e também, têm um objetivo em comum: o bem. Ensina-mentos de amor, humildade, perdão e muitos outros, pertencem à verda-deira natureza do homem. No fim, es-tamos todos juntos e reunidos nesse universo, dependendo da aleatorie-dade dos cosmos.

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf, foi criado no ano de 1996, para promover o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar com finan-ciamentos e custeios para que o agricultor pos-sa aprimorar e expandir a sua produção.

Recentemente, foram divulgadas notícias apon-tando irregularidade no programa de benefício aos agricultores nas cidades de Santa Cruz do Sul e Sinimbu, no Rio Grande do Sul. As denún-cias foram feitas para a Associação Santa-Cru-zense dos Agricultores Camponeses, a Aspac, encarregada de auxiliar os agricultores durante a solicitação do Pronaf. A principal denúncia é a de um agricultor que deixou de plantar pelo en-dividamento excessivo com o programa.

O esquema do Pronaf funcionou durante os anos de 2006 a 2012. Os agricultores assinavam todos os documentos que a Aspac fornecia para a autorização do benefício. Esses papéis eram encaminhados ao banco, porém entre todas as documentações havia também uma procuração outorgando poderes para que a as-sociação recebesse todo o dinheiro de custeio.

Assim a solicitação era aceita e a verba era libe-rada pelo governo Federal, mas os valores não chegavam aos agricultores que eram informa-dos que o benefício tinha sido negado e que era preciso solicitar novamente. Então a nova solicitação era aceita e os agricultores eram “contemplados” com a verba pública.

Ao longo da investigação, dois vereadores e um deputado federal do PT, foram apontados como suspeitos de envolvimento e organização da fraude contra os agricultores, juntamente com al-guns funcionários do banco o qual não foi citado nomes. Segundo a Polícia Federal, mais de 6 mil agricultores foram prejudicados pelos desvios, e cerca de R$ 79 milhões do dinheiro destinado ao benefício foram sustados pelos suspeitos.

Se comprovada a desumanidade cometida pe-las autoridades, as quais deveriam ter o maior respeito com os agricultores, é inadmissível que os infratores não sejam punidos, porém a forma como a justiça caminha não surpreende, em nada, se as denúncias forem jogadas ao léu.

Pronaf para os não necessitados

Monte CasteloFrancisco Matheus

ExpedienteReitorJosé Pio Martins Vice-Reitor e Pró-Reitor de AdministraçãoArno GnoattoDiretor da Escola de Comunicação e NegóciosRogério Mainardes

Pró-Reitora AcadêmicaMarcia SebastianiCoordenadora do Curso de JornalismoMaria Zaclis Veiga Ferreira Professora-orientadoraAna Paula Mira

Coordenação de Projeto GráficoGabrielle Hartmann GrimmEditoresAna Justi, Alessandra Becker e Bruna KarasEditorialDa Redação

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Imagem: Arquivo Pixabay

Curitiba, 30 de outubro de 2014 > Edição 961 > LONA

NOTÍCIAS DO DIA

A terceira edição do evento Madruga-da Sangrenta se deu início na manhã de ontem, com a ilustre presença do diretor, produtor e roteirista Roger Corman e sua esposa Julie Corman. A programação conta com diversas ofi-cinas, palestras, exibição de filmes do gênero de horror e estreias de curtas-metragens nacionais. O evento acon-tece entre os dias 29 de outubro e 1º de novembro.

Além disso, haverá um concurso de roteiros conhecido como “Horror Scre-enplay and TV Series Contest”. Durante o concurso, com mais de 30 projetos inscritos e aprovados, uma comissão formada por um banca de peso (New Horizons Productions, Canal Space e Projetos Multiplataforma da Rede Glo-bo) irá avaliar a qualidade dos mate-riais enviados. Os roteiros premiados serão produzidos com o auxílio do di-retor curitibano Paulo Biscaia, e a dis-tribuição será por conta da produtora Moro Filmes.

As oficinas serão mi-nistradas por Roger Corman, Julie Cor-man e Rodrigo Ara-gão (maquiador de produções de horror no Brasil). Para quem deseja participar das atividades ofereci-das pelo evento, é necessário entrar no site do evento para verificar a dis-ponibilidade de vagas e as formas de pagamento possíveis. Estudantes uni-versitários têm desconto na hora de comprar o pacote. Os filmes exibidos durante o evento estão abertos ao pú-blico, e a entrada é franca.

Entrevista coletivaO diretor Roger Corman falou sobre sua carreira e respondeu perguntas de jornalistas durante uma coletiva de imprensa, na manhã de ontem, no Ra-disson Hotel.

Madrugada Sangrenta recebe nomes do cinema norte-americanoCom o intuito de reunir apreciadores do gênero de horror, o evento volta com novidades em sua terceira edição

Roger comentou sobre a influência de suas produções na indústria cinema-tográfica e, de forma bem humorada, explicou como consegue administrar seus projetos, que em sua grande maioria são realizados com orçamen-

tos de baixo custo.

A edição do evento este ano é um es-pecial em homena-gem ao trabalho de Roger. O americano nascido em Detroit em 1926 chegou a cursar engenharia,

profissão pela qual perdeu o interesse ainda na faculdade.

No entanto, a ideia de fazer filmes ia crescendo para o universitário que co-meçou a estudar literatura moderna na Inglaterra. Ao retornar aos Estados Unidos a intenção de Roger era tor-nar-se um roteirista e produtor. Seu primeiro escrito foi vendido em 1953, e filmado como Consciência Culpada, um ano depois.

Horrorizado com os resultados desse primeiro trabalho, Roger juntou capital

para tornar-se um produtor por conta. Em poucos anos, seu trabalho foi atre-lado a grandes nomes das produções norte-americanas.

Seu primeiro filme como diretor, no entanto, foi em Cinco Revólveres Mer-canários, em 1955, depois do qual já dirigiu mais de 50 longas. A Loja dos Horrores, de 1960 é uma de suas obras mais cohecidas, já que foi gravada em tempo recorde: dois dias e uma noite.

Programação:30/10 (quinta-feira)09h – Oficina de efeitos especiais com Rodrigo Ara-gão, no Centro Cul-tural Sesi15h – Master Class com Roger Cor-man, no Auditório Caio Amaral19h30 – sessão de autógrafos do livro “Cemitério Perdido dos Filmes B – Re-dux” com o autor César Almeida, no Centro Cultural Sesi

20h - Exibição do filme “A Mulher Ves-pa”, contando com a presença de Ro-ger e Julie Corman durante a exibição, no Centro Cultural Sesi

31/10 (sexta-feira)09h00 – Oficina de efeitos especiais com Rodrigo Aragão, no Centro Cultural Sesi15h00 – Keynote com Julie Corman, no Auditório Caio Amaral20h00 - Exibição do filme “O Solar Mal-dito”, com as presenças de Roger e Julie Corman, no Centro Cultural Sesi 01/11 (sábado)09h – Oficina de efeitos especiais com Rodrigo Aragão, no Centro Cultural Sesi13h – concurso de roteiros Horror Scre-enplay and TV Series Contest, no Audi-tório Caio Amaral20h – Sessão de estreia nacional de “Monstrólogo”, de Rodrigo Aragão, no Centro Cultural Sesi21h – Exibição de “Frankeinstein – O Mons-tro das Trevas”, no Centro Cultural Sesi

Endereços:- Auditório Caio Amaral (Campus in-dústria – FIEP): Av. Comendador Fran-co, 1341, Jardim Botânico

- Centro Cultural SESI (Casa Heitor Sto-cker de França): Av. Mal. Floriano Peixo-to, 458, Centro – Curitiba – PR

Marina Geronazzo

Evento promove oficinas, palestras e exibições.

Cartaz do evento > Imagem: Divulgação

Parte do evento acontecerá no Auditório Caio Amaral > Foto: Arquivo PRPPG

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LONA > Edição 961 > Curitiba, 30 de outubro de 2014

Uma pesquisa feita pela a Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a In-fância, em inglês “United Nations Chil-dren’s Fund”, no ano de 2013, entrevis-tou adolescentes entre os 12 e 17 anos de idade para saber como é a relação desses com a internet. Foram ouvidos 2002 adolescentes em todo o país.

De acordo com os dados levantados pela pesquisa, 70% dos entrevistado estão incluídos na era digital, e cos-tumam utilizar a internet com frequ-ência. Já os considerados excluídos, somam 30% do total de 2002 e são os que não utilizaram a rede em até 3 me-ses que antecederam as pesquisas, e não desfrutam da internet como meio de comunicação.

Segundo essa mesma pesquisa, o Cen-so 2010, realizado pelo IBGE, apurou que há pelo menos 21 milhões de ado-lescentes no Brasil, enquanto os con-siderados excluídos somariam apro-ximadamente 6 milhões desse total, apenas nas idades entre 12 e 17 anos.

A porcentagem de 30% dos excluídos demonstra a desi-gualdade envolven-do o processo de acesso à internet no país. A pesqui-sa mostra que as regiões com menos acesso, são as áreas rurais (que consti-tuem 17%), as regiões norte e nordes-te (ambas empatadas com parcelas de 11%), os adolescentes pertencentes às famílias com até 1 salário mínimo (que somam 18%) e as classes consideradas baixas (que ficam com 25% da fatia).

A pesquisa da Unicef também consi-dera que 64% dos adolescentes usa a internet diariamente e concluindo seu estudo afirmando que a maioria dos brasileiros nesta faixa etária utiliza a rede como meio de comunicação.

Cerca de 30% dos adolescentes não têm internet no BrasilPesquisa feita com adolescentes brasileiros apontou uma desigualdade na era digital, 6 milhões não tem acesso à internet

A psicóloga Marina Machado comenta sobre a influência da internet nos rela-cionamentos pessoais, especialmente para a faixa etária analisada: “Com a in-ternet as relações são mais superficiais, é mais fácil romper vínculos. O que é

complicado para um adolescente, que está em uma fase de firmar a identidade.”

Além disso, Marina explica que existem dois tipos de adoles-centes: um deles está no grupo dos que

têm dificuldades em entender o mun-do real, só conseguindo se relacionar virtualmente e permanecendo conec-tados há rede. Esss indivíduos têm di-ficuldade nas relações pessoais com o mundo externo. O outro grupo usa as redes a seu favor, tem noção de realida-de e convivência com as pessoas.

Sobre o assunto, a psicóloga diz, ain-da, que na internet há a facilidade de expor a opinião sem necessariamente mostrar o rosto: “As pessoas são agres-sivas e acreditam que não precisam arcar com as consequências imediatas

de seus atos, o que também prejudica para a formação pessoal do adolescen-te”, acrescenta Marina.

A psicóloga também é responsável por cuidar da terapia de grupos de adoles-centes, ela conta que a educação e a formação dos valores tem importân-cia para o desenvolvimento da criança para que esta chegue à essa fase mais amadurecida que é a adolescência. “Por ser um momento de mudanças e descobertas, a transição é complexa, a construção da identidade se inicia e isso pode se tornar uma fase conturba-da”, conta.

Ela ainda afirma que durante a adoles-cência são muitos os acontecimentos ao mesmo tempo, mo-mento em que o jo-vem se auto descobre na evolução. Por isso os valores são cons-truídos na base dos exemplos dos pais, e vem da educação ad-quirida em casa.

Victor Jamberci tem 17 anos e conta que aprendeu dentro de casa a base de um bom comportamento. O jovem afirma que faz uso dos ensinamentos da mãe quando está fora de casa, nos locais em que frequenta. Victor ainda diz que teve facilidade para fazer ami-zades desde criança, e que convive com os amigos da melhor maneira.

Segundo o adolescente, ele utiliza bas-tante a internet, mas ainda prefere as relações pessoalmente, encontrar os amigos e conversar olhando no olho. Victor ainda conta que utiliza mais o aplicativo para celular Whatsapp para se comunicar, já que não pode encon-trar os amigos todos os dias.

Assim como ele, Gabriel Coraiola, tam-bém de 17 anos, diz acreditar que a educação de cada um é importante para o desenvolvimento e para a boa convivcência em sociedade com as de-mais pessoas. Ele classifica sua relação com os amigos como sendo boa, ape-sar de se considerar um rapaz tímido. O jovem diz que se sente mais à vontade na internet: por ser tímido, esse con-tato é facilitado. Porém, ressalta que é fundamental a comunicação pessoal-mente. “Passo mais tempo na internet do que gostaria, considero o mundo virtual um vício”, afirma.

Karla Kachuba

GERAL

“As relações são mais superficiais, é mais fácil romper vínculos.”

Pesquisa estima que 6 milhões de jovens brasileiros não tenham acesso à internet > Foto: Arquivo Ministério TIC Colômbia

Para especilistas, o mundo virual pode se tornar um vício > Foto: Montecruz Foto

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COLUNISTAS

Inquieta Explícita

Facepalm

Priscilla Fontes

Luis Izalberti

Curitiba, 30 de outubro de 2014 > Edição 961 > LONA

Derrubem esse muro já!

Indignação exaltada

A gente não pode esperar muito dos ou-tros. Não acredito que começarei por um clichê tão batido, pisado, sofrido – mais que o bom senso em época de eleição. Tenho uma filosofia de vida (daquelas que ninguém nunca mais vai lembrar) pra compartilhar: a maioria dos clichês, por mais piegas que sejam, trazem uma verdade quase que incontestável.

Vamos lá, eu explico. Não estou sofren-do uma desilusão amorosa, não pisaram no meu calo e nem zombaram da minha cara. Na verdade, o que aconteceu foi

uma constatação – a de que as pessoas são muito mesquinhas de vez em quando (ou de vez em sempre?). Quando eu acho que o povo está um pouquinho mais in-formado, menos preconceituoso e com a mente mais aberta para novas discussões, aparece gente dizendo que nordestino é burro, que “o Nordeste não me represen-ta!”, que “o sul é meu país”. Não quero dar uma de Lobão, mas se o Sul é o seu país eu quero mesmo é morar no exterior. A gen-te tá ali, passando os olhos pela timeline, quando de repende aparece piscando fei-to vagalume aquela crítica sem informa-

Assim como no país, a reeleição de Dilma Rousseff repercutiu amplamen-te nas redes sociais – ou seja, daquele jeitinho insuportável. Da mesma forma que o fanatismo político contaminou toda essa eleição, as reações à vitória da petista não podiam ser diferentes. Afinal, quando são criados dezenas de eventos no facebook pedindo o impe-achment da presidente, não há como negar que os descontentes estão dis-postos a exagerar em sua indignação. O escândalo é tamanho nos leva a in-dagar: como essas pessoas consegui-ram viver nos últimos 12 anos de PT?

Grande parte das pessoas deve ter tido o desprazer de presenciar a reação dos eleitores fanáticos nas redes sociais. De-clarações de luto, citações de celebrida-des revoltadas, ameaças de ir embora do país, e muito, mas muito preconcei-to, intolerância e falta de informação marcaram os últimos dias. A ignorância foi –e é- característica marcante entre grande parte dos inconformados. Como

já ocorreu no primeiro turno, a internet foi infestada de ataques preconceitu-osos aos nordestinos. Na maioria delas o responsável categorizava esse povo como ‘’muito burro para colocar o PT no poder novamente’’.

A intolerância chegou a tal proporção que as geniais propostas de separar o sul (que majoritariamente elegeu Aé-cio) do restante do país voltaram a ser profanadas. Para isso, não há outra ex-plicação que não o desconhecimento das pessoas de que tentar desmembrar parte do território nacional para cons-tituir país independente é crime com pena de 4 a 12 anos de acordo com o artigo 11 da Lei de Segurança Nacio-nal. Ao falar de Impeachment, por sua vez, parecem desconhecer também que a presidente precisa estar sendo investigado por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e que esta deve ser tornada pública para que o processo possa ser exigido. E não é o que ocorre com Dilma.

ção, baseada no senso comum (que qua-se sempre é burro), dizendo que quem recebe Bolsa Família é “tudo vagabundo” e que precisamos “separar o Brasil”. Olha, eu sei que é muito difícil e custa muito tempo, mas uma busca básica no Google pode impedir que você ganhe unfollows indesejáveis. Sem contar as imagens pre-tas nos perfis, explicadas pelo luto que se instaurou depois do resultado da eleição para presidente. Quem está de luto é o bom senso, morreu do coração, o coitado – e nem foi porque a Dilma se reelegeu.

Quando a gente menos espera, apa-rece um povo espalhando discurso de ódio à democracia, ódio à presidenta, ódio ao sei lá o que – o importante é odiar alguma coisa. Seria menos pior se tal atitude de restringisse apenas ao Facebook, mas o problema é que a si-tuação se expande, cresce, cria asas, sai por aí, começa a pesar e, ploft! Explode e cai no nosso ombro. Uns defendem que a meleca faz parte, afinal, a gente precisa ver a sujeira de perto pra saber que vivemos num mundo assim, onde não podemos esperar muito dos ou-

tros mesmo. Outros acham que não, simplesmente não somos obrigados. Porque defender a pluralidade, a liber-dade de expressão e o pensamento oposto é bem diferente de ter que atu-rar opiniões xenofóbicas e separatistas.

O difícil é quando vem de alguém que a gente achava bacana, politizado, co-erente. É complicado quando vem de um amigo (que podia até ser coxinha, mais ainda era amigo). É deprimente quando vem da mãe, do pai, do tio. Nem dessas pessoas a gente pode es-perar alguma coisa que preste? Não. O que a gente tem que esperar é que a nossa paciência brote do chão a cada comentário torturante, porque aí, quem sabe, possamos colocar em prá-tica a sugestão do Álvaro Borba: “ter mais paciência e um pouquinho de es-forço na tarefa de esclarecer quem pre-cisa de esclarecimento”. Queriam divi-dir o país, mas acabaram misturando a discussão saudável e que acrescenta conhecimento com a briga ofensiva e repleta de desrespeito. Cuidado: são tempos difíceis para os esperançosos.

O desespero chega a ofuscar a ignorân-cia. A página oficial do Exército Brasilei-ro chegou a receber centenas de men-sagens pedindo por uma intervenção militar. A incoerência é tanta que certas mensagens alegam que o Brasil está se tornando uma ditadura como Cuba, para logo em seguida apelar para que os militares voltem a ocupar o poder.

Aqueles que votaram em Dilma e se exaltaram nas comemorações estão er-rados do mesmo jeito. É claro que pode sim comemorar (assim como manifestar desagrado ao resultado), mas muitos vão além, esfregando a vitória na cara e ofendendo os eleitores do adversário.

Além da racionalidade, da informação e da tolerância, o respeito também pa-rece ter morrido para muita gente. E quando a estupidez é mútua, ninguém pode exigir nada de ninguém.

Isso tudo só mostra a qual ponto o fe-nômeno de expor opinião sobre tudo chegou. Com as pessoas contando vitó-ria, ofendendo os adversários e defen-dendo suas posições a qualquer custo, política está quase parecendo futebol – e talvez esteja até em vias de ficar mais chato. As pessoas que expressam suas opiniões livremente para logo em se-guida exigir medidas radicais parecem ter esquecido que o que é democracia.

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LONA > Edição 961 > Curitiba, 30 de outubro de 2014

E Se Fosse...Local: Espaço Excêntrico Mauro ZanattaData: de 31 de outubro a 9 de novembroHorário: 20hIngresso: “pague o quanto vale”

Peppa Pig - A Caça ao TesouroLocal: Teatro Positivo Data: 1º de novembroHorário: às 15h e às 18h30Ingressos: varia entre R$30 e R$140

Israel NovaesLocal: Shed Western BarData: 30 de outubroHorário: 23h59Ingressos: R$40 (inteira) e R$20 (meia)

Maria Gadú e Ingo PohlmannLocal: Teatro Fernanda MontenegroData: 30 de outubroHorário: 21hIngressos: variam entre R$80 e R$100

Playing For Change em CuritibaLocal: Ópera de ArameData: 30 de outubroHorário: 21hIngressos: varia entre R$90 e R$210

Flamenco e Poesia com Manuel LorenteLocal: Capela Santa MariaData: 30 de outubroHorário: 19h30Ingresso: gratuito

O festival “FEM Live Sessions”, em seu primeiro ano no Brasil, traz para Curitiba a cantora brasileira Maria Gadú e o ale-mão Ingo Pohlmann nesta quinta-feira. A dupla se apresenta no Teatro Fernan-da Montenegro. O objetivo do evento é mesclar dois estilos musicais diferen-tes e obter um resultado harmonioso e inovador. O FEM já passou por Colônia, Berlim, Hamburgo e Rio de Janeiro e é realizado desde 2009.

O cantor sertanejo Israel Novaes também se apresenta na quinta-feira em Curitiba, na Shed Western Bar. Depois do sucesso da música “Vem nimim Dogde Ram”, o cantor, que está no cenário musical desde 2011, passou a ser conhecido no país. Na sexta-feira, o cantor se apresenta na Shed Western Bar de Balneário Camboriú (SC).

O movimento cultural “Playing For Change Day” de 2014 acontece neste sábado em vá-rias cidades do mundo. O projeto traz artistas que se apresentam de forma voluntária como o objetivo de promover mudanças sociais. A capital paranaense recebe músicos, dançari-nos, palhaços, DJs e outros artistas em diversos locais da cidade como Boca Maldita, Bondinho da Rua XV, Catedral, Jardim Botânico, Largo da Ordem, Mercado Municipal, Relógio das Flores, entre outros. Entre os artistas participantes, es-

tão João Triska, Alvaro e Daniel, Dabliu Junior, Murilo da Rós, Rogêria Holtz, Luciano Madalo-zzo, Trio Quintina, Edu Kardeal, Namastê, Ma-torrales, Whisky – Led Zeppelin Cover e muito mais. A programação completa pode ser con-ferida no site da Fundação Cultural de Curitiba. A renda arrecadada com o evento vai apoiar os projetos da Fundação Playing For Change de educação musical gratuita que ganhará uma sede em Curitiba. Os ingressos podem ser ad-quiridos pelo Disk Ingressos.

Evento mundial acontece em Curitiba neste sábado

“A Guerra dos Mundos” causa pânico Em 30 de outubro de 1938, Orson Welles escolheu o romance de ficção científica “A Guerra doa Mundos”, de H.G. Wells, para dramatizar em forma-to jornalístico, no seu programa se-manal da rádio CBS. O tema da obra era a invasão da Terra por marcianos.

Contudo, a maioria dos ouvintes acre-ditou se tratar de um fato verídico e, assim, o caos se instalou na popula-ção. Cerca de seis milhões de pesso-as sintonizaram no programa, sendo

que a metade delas fez isso depois da introdução, parte na qual se explica-va que era apenas uma peça de fic-ção, como alega a própria CBS. Após pessoas saírem da cidade, inúmeros acidentes e tentativas de suicídio, a mídia nunca mais foi a mesma, e até hoje isso é considerado um dos mo-mentos mais extraordinários da his-tória da comunicação de massa. Ape-sar disso, o programa foi um sucesso de audiência, fazendo a CBS bater a emissora concorrente NBC.

Maria Gadú e Israel Novaes se apresentam hoje

ACONTECEU NESTE DIA

#PARTIU

O escritor H. G. Wells, autor de “A Guerra dos Mundos” > Foto: Arquivo Wikimedia Commons

Teatro

Shows

Música

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A cantora Maria Gadu > Foto: Divulgação