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MANUAL DO PROFESSOR L&PM EDITORES – Edital PNLD 2018-LITERÁRIO Ana Mariza Filipouski e Diana Marchi

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manual do professorl&pm edITores – edital pnld 2018-lITerÁrIo

ana mariza filipouski e diana marchi

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1 Autor, obra, ilustrador e tradutor

Philippe Chanoinat (dijon/frança, 1958), respon-sável pela adaptação e pelo roteiro, é muito conhecido na frança, onde tem uma legião de fãs. Considerado um dos grandes roteiristas da atualidade, colaborou em vários jogos para pC e outros meios de comunica-ção, publicou uma novela e se dedica a escrever para cinema, televisão e quadrinhos. ama literatura, cinema e música e vibra ao ler proust e stephen King. possui uma vasta produção que envolve, roteiros, quadrinhos, jogos etc.

Jean-Blaise Mitildjian (Courbevoie/frança, 1953), ou djian, é roteirista, escritor de desenho animado e quadrinhos. apaixonado por HQ, começou a escrever/desenhar no final dos anos 80. desde então, tornou--se reconhecido por jovens e adultos que admiram o gênero ao criar mundos de sonho e fantasia não tão inocentes como podem parecer à primeira vista. em reconhecimento pelo seu trabalho, recebeu em 2011, no festival francês “des planches et des Vaches”, dedi-cado aos amantes de HQ, um prêmio especial pelo conjunto da obra.

David Pellet (Île de la réunion/frança, 1973), responsável pelos desenhos e cores, é apaixonado por mundos fantásticos e criaturas lendárias. pellet é um artista conceitual, diretor de arte com uma vasta produção à frente de equipes criativas multiculturais. Cerca de 20 anos de experiência nas artes gráficas fazem dele uma referência internacional nos setores de

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videogames, desenho animado, séries de TV, ilustração e quadrinhos.

a história em quadrinhos de philippe Chanoinat, Jean-Blaise mitildjian e david pellet é baseada na obra de miguel de Cervantes, um clássico da literatura uni-versal. apaixonado pela leitura de romances de cava-laria, o fidalgo dom Quixote acredita ser um cavaleiro andante. Vestindo armadura, capacete e lança, parte pelas estradas espanholas em busca de sua amada dulcineia. ele é acompanhado por sancho pança, seu fiel escudeiro, e pelo cavalo rocinante.

Alexandre Boide (são paulo, 1979) atua como tradutor e revisor freelance, principalmente de álbuns de quadrinhos (de autores como r. Crumb, Joe sacco, Charles schulz, Bill Watterson e scott adams). É autor de Dinâmica da evaporação de corpos sólidos (e-galáxia, 2014), romance finalista do prêmio sesc de literatura em 2015. É tradutor e responsável pela preparação de vários clássicos em mangás (da east press) que estão sendo publicados no Brasil.

2 Para motivar a leitura

Diversificar o tipo de apresentação – expositiva, dialogada e inte-rativa –, de maneira a demandar diferentes tipos de participação. Mobilizar recursos didáticos em diferentes linguagens (textuais, imagéticas etc.).

Traga para a sala de aula algumas gravuras ou imagens de dom Quixote. Convide a professora de

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arte para realizar a leitura das imagens, especialmente se a seleção envolver obras significativas do patrimônio artístico, como as ilustrações feitas por Gustave doré (1868), salvador dalí (1946), pablo picasso (1955) ou as gravuras de Candido portinari (1956-1961).

projete as imagens, peça que os alunos obser-vem e então os questione: o que essas obras têm em comum? Qual a temática? E as diferenças? Chame a atenção para as características do dom Quixote. dê tempo para que apreciem cada uma das imagens, explorando cores, traços e estilos. Incentive-os a darem sua impressão em relação a dom Quixote, semelhanças, diferenças, anseios... Por que a figura e a história de Dom Quixote permanecem no imaginário de todos até os dias de hoje? Que outras obras, textos, referências conhecem que tenham Dom Quixote como inspiração? pergunte: vocês se lembram do carnaval carioca de 2016? a mocidade Independente de padre miguel levou dom Quixote para a avenida!1. Conhecem a banda gaú-cha chamada Engenheiros do Hawaii? Sabiam que esse grupo gravou, em 2005, uma música cha-mada Dom Quixote?2 Convide-os, então, a conhecer um pouco mais esse personagem tão famoso.

1. disponível em: http://www.lpm-blog.com.br/?p=27057. acesso em: 21/04/2018.2. disponível em: https://www.youtube.com/watch?v= ka9Jbf Toppc. acesso em: 21/04/2018.

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3 Categoria, tema e gênero

Categoria 6: 1o ao 3o ano do ensino médioGênero: livros de imagens e livros de histórias em

quadrinhos Temas: ficção, mistério e fantasia

a história em quadrinhos de philippe Chanoinat, Jean-Blaise mitildjian e david pellet é baseada na obra Dom Quixote de la Mancha, que o espanhol miguel de Cervantes saavedra (1547-1616) lançou em duas partes: a primeira em 1605 e a segunda em 1615. esse livro, que alia a tradição dos clássicos à linguagem ori-ginal dos quadrinhos e recebeu o apoio da unesCo, foi elaborado especialmente para atrair e despertar o gosto da leitura no leitor jovem. fiel ao clássico da lite-ratura universal, o personagem dom Quixote, influen-ciado pela leitura dos romances de cavalaria, acredita ser um cavaleiro andante, veste armadura, capacete e lança e parte, montado no cavalo rocinante, pelas estradas espanholas em busca de aventura, comba-tendo o mal e as injustiças, sempre pensando na sua amada dulcineia. ele é acompanhado por sancho pança, um escudeiro fiel cuja principal preocupação é a comida. outros detalhes da obra, autor e contexto histórico são encontrados no final do livro, em um apêndice que permite ampliar o conhecimento a res-peito da obra-fonte.

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4 Propostas de atividades

o objetivo desse material de apoio é levar os estu-dantes a ampliar sua base de leituras, proporcionar o contato com uma linguagem que amplia o repertório linguístico dos jovens e oportunizar novas potenciali-dades e experimentações de uso da língua, no contato com as ambiguidades da linguagem e seus múltiplos arranjos. as atividades propostas permitem também estabelecer relações com o que veio antes e o que virá depois e habilitar os alunos a constituírem-se como lei-tores, selecionando textos que sejam significativos para eles. as orientações também possibilitam a apreensão do imaginário e das formas de sensibilidade de uma determinada época, dos modos de organização social e cultural, ainda hoje capazes de tocar os leitores nas emoções e nos valores.

4.1 Pré-leitura

Relacionar o texto, tanto na produção como na recepção, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação. Observar o fenômeno da variação linguística, na dimensão histórica, de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua.

leia para os alunos o trecho que segue, do livro O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, escrito por miguel de Cervantes (1605). escreva no quadro o título da obra, o nome do autor e a data.

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Primeira Parte

Livro Primeiro

Capítulo I

Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo D. Quixote de La Mancha.

Num lugar de La Mancha3, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor. Passadio, olha seu tanto mais de vaca do que de carneiro4, as mais das ceias restos da carne picados com sua cebola e vinagre, aos sábados outros sobejos ainda somenos, lentilhas às sextas-feiras, algum pom-bito de crescença aos domingos, consumiam três quar-tos do seu haver. O remanescente, levavam-no saio de velarte5, calças de veludo para as festas, com seus pan-tufos do mesmo; e para os dias de semana o seu vellorí6 do mais fino. Tinha em casa uma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que não chegava aos vinte, e um moço da poisada e de porta afora, tanto para o trato

3. a alusão de Cervantes pode referir-se a um dos sete po-voados: miguel esteban, Villaverde, esquivias, Tisteafuera, Quintanar de la orden, argamasilla de Calatrava, argama-silha de alba; alguns com forte tradição cervantina.4. a carne de carneiro era mais apreciada que a de vaca. em toda esta passagem pinta Cervantes a vida pacífica e medíocre do fidalgo.5. pano negro e lustroso, usado como agasalho.6. pano de espessura média, da cor da lã, embora inferior ao velarte.

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do rocim como para o da fazenda. Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de com-pleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador e amigo da caça. Querem dizer que tinha o sobrenome de Quijada ou Quesada, que nisto discrepam algum tanto os autores que tratam na matéria; ainda que por con-jeturas verossímeis se deixa entender que se chamava Quijana. Isto, porém, pouco faz para a nossa história; basta que, no que tivermos de contar, não nos desvie-mos da verdade nem um til.

(trad. de Viscondes de Castilho e Azevedo. Porto Alegre: L&PM Editores, 2013, p. 29)

ao término do trecho, verifique a compreensão dos alunos sobre a experiência da leitura e a forma parti-cular de expressão do narrador: o uso de uma lingua-gem que causa estranhamento nos dias atuais:

Onde imaginam que se passa a história? Como imaginam o cavaleiro Dom Quixote? Encontraram difi culdade para compreender o texto lido? Nota-ram algo de diferente na linguagem? O quê?

explique que a dificuldade encontrada por eles para ler a tradução da obra original não é exclusiva dos jovens. ler esta obra é um desafio para quase todos os leitores, pois é um livro enorme (dois volumes!), escrito nos fins da Idade média, com muitos capítulos e uma linguagem adequada à época, mas estranha ao leitor contemporâneo.

se possível, traga para a sala de aula um exem-plar do livro original, de modo que consigam visualizar

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as dimensões da obra. aproveite e disponibilize-a para que possam folheá-la. explique então que Dom Qui-xote de la Mancha é a obra mais traduzida no mundo depois da Bíblia e que a história foi eleita como a melhor obra de ficção de todos os tempos, porque além da linguagem e da estrutura inovadora que inau-guram o romance moderno, os valores que o persona-gem defende, como a paz e a justiça, são temas atuais e urgentes.

apresente então o livro Dom Quixote, de 2017, adaptado para o universo dos quadrinhos por uma equipe de renomados roteiristas e ilustradores. folheie o livro, mostre capa e contracapa, o texto de apoio que contextualiza a obra, o autor e sua época. Convide-os a lerem essa adaptação, pedindo que, ao longo da leitura, marquem todas as palavras e expressões que necessitem ser esclarecidas.

4.2 Compreensão global e estudo do texto

Compartilhar sentidos construídos na leitura de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

após a leitura, recupere, com a colaboração dos alunos, um pouco da história de Dom Quixote: quem ele era? Quais foram suas aventuras? Incentive-os a relatar suas impressões, pois nesse momento importa confrontar suas previsões de leitura com o que encon-traram no livro, realizar destaques e apresentar o que foi apreendido.

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dê destaque às palavras que seguem. Incentive-os a expressar sua compreensão, tendo como base o texto lido.

“cavaleiro” – pessoa a quem é concedido um título nobiliárquico por um soberano ou outro líder político, pelos relevantes serviços prestados ao país. o cavaleiro feudal tinha quase sempre origem na nobreza. depois de servir ao rei ou a outro grande senhor feudal, como pajem ou escudeiro, era elevado à categoria de cava-leiro. durante a cerimônia de investidura, o candidato a cavaleiro prestava juramento, comprometendo-se a ser sempre corajoso, leal, cortês e proteger os indefesos.

“cavaleiro andante” – se deslocava a cavalo em pro-veito próprio, a serviço do rei ou de outro senhor feu-dal. o objetivo era a defesa dos territórios. por sua atividade, recebia um soldo, ou terras.

peça então que caracterizem o personagem dom Quixote: Como é o cavaleiro? O que o levou a se trans formar num cavaleiro? Que valores são defen-didos pelo cavaleiro andante? Que livros ele gos-tava de ler?

De tanto ler antigos livros de cavalaria, o pacato Alonso Quijano, um nobre empobrecido, resolve levar a vida de um cavaleiro andante. Veste a velha armadura herdada dos bisavós e transforma-se no mui afamado Dom Quixote de La Mancha: “Percorrerei o mundo com meu cavalo e minhas armas, buscarei as aventuras e corrigirei as injustiças, como os cavaleiros andantes de meus livros” (p. 6).

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só então apresente o autor, miguel de Cervantes, e o contexto de criação da obra, com apoio no texto de agrippine Virgoulon (p. 55-59).

Atividade 1

Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferen-tes gêneros literários para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

antes de iniciar o estudo da obra, ressalte que, como em todas as adaptações, esta faz uma seleção, realiza recortes para transpor o texto da obra-fonte para outro suporte, outro gênero, outra linguagem.

Com auxílio dos jovens, destaque os inúmeros recursos que a linguagem da HQ apresenta para cons-truir o sentido de seu texto. observe os conhecimentos prévios trazidos pelos alunos e valorize a participação colaborativa dos mesmos no grande grupo. mostre que a HQ não é uma mera transposição da obra-fonte; é arte e possui seus próprios recursos. ao quadrinizar, os autores/adaptadores/desenhistas fazem uma releitura da obra-fonte.

nessa obra, os autores interpretam a linguagem literária, focando estrategicamente nas ações das per-sonagens. peça que retornem ao livro e destaquem passagens que comprovem isso. observem que não há muito espaço para digressões ou descrições longas, como na obra original. os quadrinhos, assim, seduzem pela dinamicidade, pela preponderância da ação, com

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desenhos e cores alegres e chamativas. mesmo man-tendo uma linguagem arcaizante, os textos nos balões em letras bastão facilitam a leitura.

sugira que façam um exercício: leiam apenas o texto escrito do livro, suprimindo as imagens. Ques-tione: é possível efetuar a leitura? Fica difícil? Por quê? observe que os quadrinhos constituem uma forma híbrida, na qual o texto verbal e o visual têm importância, são vinculados, e dessa soma decorre o sentido.

Atividade 2

Analisar obras fundamentais do cânone ocidental, para perce-ber a historicidade de matrizes e procedimentos estéticos.

proponha então que, em pequenos grupos, res-pondam às questões que seguem. recomende que, se necessário, recorram à internet, à biblioteca e ao texto que se encontra na parte final do livro.

depois, em uma roda de conversa, peça que apresentem os resultados de suas pesquisas. nesse momento é possível verificar o ritmo de aprendizagem de cada aluno e as competências desenvolvidas em relação à leitura literária.

1) Onde ocorrem as aventuras do engenhoso fidalgo Dom Quixote?Com um mapa (ou no computador) e o auxílio dos alunos, localize as regiões da Espanha que

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fizeram parte do percurso empreendido pelo cavaleiro Dom Quixote ao longo de suas aven-turas. Observe que a ação gira em torno das três incursões da dupla por terras da Mancha, de Ara-gão e da Catalunha.

2) A história de Dom Quixote acontece em que época? Como foi a Idade Média? É possível identificar a força da nobreza e da Igreja na história?Ouça as observações dos alunos e mostre que o contexto histórico é de extrema relevância na cria-ção literária. A história traz marcas de uma época de mudanças, com o mundo medieval findando e iniciando o mundo moderno. A Espanha, como outras sociedades europeias desse tempo, tam-bém apresentava uma divisão social profunda, com uma pequena elite (nobreza e a Igreja cató-lica) concentrando grande parte das terras, rique-zas e poder político em suas mãos.

3) Que personagens o acompanham nas aven-turas? Com quem ele vive?À medida que forem nomeadas, escreva seus nomes na lousa e auxilie-os a perceber as pecu-liaridades de cada um: como são vistos por Dom Quixote e como são descritos pelo narra-dor. Observe que Dom Quixote é acompanhado pelo seu fiel escudeiro, Sancho Pança, que nada mais é que seu vizinho, um camponês simples;

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o valente cavalo Rocinante é um cavalo fraco, pequeno e desengonçado. Também Dulcineia del Toboso, a dama para quem Dom Quixote dedica suas façanhas, é uma camponesa simples. Acres-cente outros personagens à lista.

4) Como se comportam os personagens que interagem com Dom Quixote? sancho pança, seu fiel escudeiro, sabe o tempo todo o que é real e o que não é. Por que aceita a loucura de seu patrão? O escudeiro parece ser uma figura passiva, sub-missa e dependente, mas é um colaborador ativo, de apoio e solidariedade. Representa o bom senso e é para o mundo real aquilo que Dom Quixote é para o mundo ideal. Em algumas passagens, deixa transparecer sua admiração pela “loucura” do amo.

5) em várias situações, dom Quixote parece maluco. Em que momentos é possível identificar con-fusão entre realidade e fantasia? Qual o episódio mais famoso dessa história? O que acontece?Incentive os alunos a retomarem a leitura, iden-tificando as passagens. Caso seja necessário, cite como exemplo o amor incondicional de Dom Quixote por Dulcineia, a quem imagina ser uma grande dama. Leia para eles a fala de Sancho Pança, quando encontra Dulcineia e

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“suas damas de companhia”. Um dos episódios mais famosos e mais retratados em todos os tem-pos é o enfrentamento dos moinhos de vento, confundidos com gigantes por Dom Quixote. Peça aos alunos que retomem o trecho.

4.3 Pós-leitura

Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâ-neo à disposição, de modo a constituir um acervo pessoal.

para finalizar, promova uma conversa sobre o sen-tido do adjetivo “quixotesco” em nossos dias. diz-se que quixotesco é alguém que defende os seus ideais acima de tudo e que se esforça por cumprir objetivos de improvável consecução. a ideia é que percebam que dom Quixote passou por um momento de loucura e outro de lucidez.

alguns elementos constituem o que se entende por quixotesco hoje: a mescla do cômico com a dramati-cidade, a relação problemática entre idealismo e reali-dade, a proximidade com a loucura, a visão distorcida do real, o engrandecimento heroico, a luta por justiça e o combate às injustiças, além da defesa dos opri-midos. destaque como curiosidade o uso popular do termo, inclusive por quem nunca leu Dom Quixote e talvez nem suspeite da origem da palavra.

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Questione-os: que personagens conhecem ou ouviram falar, especialmente da literatura brasileira, que poderia ser classificado como “quixotescos”?

aceite as indicações, relacionando-as no quadro (filmes, novelas etc.). para apresentar textos que pos-sam despertar o interesse de leitura na turma, acres-cente as sugestões de autores, críticos e estudiosos que também foram confrontados com a pergunta:

autran dourado, escritor – indicou como “Quixote bra-sileiro” Policarpo Quaresma e Quincas Borba.

silviano santiago, escritor e crítico literário – citou o conto A terceira margem do rio, de Guimarães rosa. Indicou, também, Riobaldo como cavaleiro andante às voltas com jagunços e Zé Bebelo, que cai na cilada da diferença que é diadorim (Grande Sertão, Veredas).

Walnice nogueira Galvão, professora da usp – apon-tou Capitão Vitorino (Fogo morto, de José lins do rego) como o mais quixotesco personagem da litera-tura brasileira, seguido de Policarpo Quaresma, mas alertou que “nossa literatura tem mais malandros do que personagens quixotescos”.

5 Potencial interdisciplinar

além das ilustrações de Gustave doré, a imagem do cavaleiro andante serviu de inspiração para artistas de todas as épocas e de todas as linguagens (dança, artes visuais, música), permitindo um trabalho interdis-ciplinar com a Arte.

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um cavaleiro medieval em plena Idade moderna possibilita ao componente curricular de História trabalhar a transformação das sociedades naquele momento. além disso, a partir da leitura do livro, pode ser estudada a Inquisição: “prometo que o dia de ama-nhã não se passará sem que façamos com eles um auto de fé” (p. 17).

o percurso realizado por dom Quixote, a relação da população local com seu lugar de origem (la man-cha, espanha), os trabalhadores e suas ocupações, são conhecimentos a serem construídos em Geografia.

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Sobre as autoras do Manual

Diana Marchi – Professora, doutora em Teoria Literária pela PUCRS. Dedicou-se à formação de professores no Núcleo de Integração Universidade & Escola, da UFRGS. Em 2001, recebeu o Prêmio Açorianos de Ensaio Literário pelo livro Literatura infantil gaúcha: uma história possível. Em 2009, integrou a coordenação dos Referenciais curricu-lares do Estado do Rio Grande do Sul e dos Cadernos de Professor e de Aluno que os instrumentalizam; em 2012, coor-denou a Coleção Entre Nós, da Editora Edelbra. É uma das autoras do livro A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura (2009). Atualmente é uma das diretoras da GIPE – Gestão e Inovação em Projetos Educativos, empresa de assessoria voltada para a educação.

Ana Mariza Filipouski – Professora universitária(UFRGS), doutora em Teoria Literária (PUCRS) e formado ra de professores. Criou e foi uma das coor dena do ras do Núcleo de Integração Universidade & Escola, da UFRGS. Integrou a coordenação da coleção Lições do Rio Grande, que reúne os Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul e os Cadernos de Professor e de Aluno que os instrumentalizam (2009); a Coleção Entre Nós (2012) e a Coleção Valores (no prelo), adequada à BNCC. É coautora de A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura (2009); Juventudes: diálogos e práticas (2012) e Trajetórias cooperativas: guia do associado mirim (2018). É uma das diretoras da GIPE – Gestão e Inovação em Projetos Educa-tivos.