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MAPEAMENTO FITOFISIONÔMICO: O ÍNDICE DE VEGETAÇÃO EVI2
APLICADO À BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO E MÉDIO RIO PALHA,
FLORIANÓPOLIS-SC.
Helber Savio de Paula
Jairo Valdati²
Resumo
O presente estudo tem como finalidade realizar o mapeamento fitofisionômico da Bacia
Hidrográfica do Alto e Médio Rio Palha situado no município de Florianópolis-SC,
utilizando-se para tanto de técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, bem
como de pesquisa bibliográfica acerca da composição florística dos diferentes estágios
de sucessão vegetal da mata atlântica que compõem a área mapeada. Foi utilizado o
índice de vegetação EVI2 como complementar ao processo de fotointerpretação no
mapeamento das diferentes fitofisionomias, procurando assim fazer uma breve
contribuição sobre como as geotecnologias disponíveis são capazes de auxiliar no
mapeamento da vegetação e quais as principais limitações que as mesmas apresentam
em suas diferentes aplicações.
Palavras chave: Mapeamento fitofisionômico. Índice de vegetação. Sucessão Vegetal.
Graduando do curso de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC – [email protected] Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC – [email protected].
1- Introdução
Tendo em vista a necessidade de estudos ambientais que subsidiem a tomada de
decisões por parte do poder público e da sociedade de forma geral, a aplicação de
geotecnologias voltadas ao mapeamento, análise e planejamento territorial tem se
mostrado cada vez mais uma solução precisa e viável no suprimento de tais demandas,
atuando junto às instituições públicas e à iniciativa privada como um importante
instrumento para a gestão territorial e como ferramenta essencial no que diz respeito às
análises espaciais. Desta forma, propõe-se que as mesmas sejam utilizadas no
mapeamento e monitoramento da cobertura vegetal nativa ou sob ação antrópica,
atuando como método complementar à visita de campo ou mesmo como substituto desta
em casos de áreas extensas que, por algum motivo, não possam ser avaliadas in loco.
O presente estudo tem como finalidade mapear e analisar a fitofisionomia da
bacia hidrográfica do Rio Palha, localizada ao norte da Ilha de Santa Catarina no
município de Florianópolis-SC entre os paralelos 27°29'48,85"S e 27°27'11,227"S e os
meridianos 48°27'25,759"W e 48°25'31,462"W, com área aproximada de 9,61 km². Para
este estudo foram considerados os estágios de sucessão vegetal e as principais espécies
da composição florística da área estudada. Buscou-se, a partir do mapeamento, uma
melhor compreensão dos aspectos temporais e qualitativos da sucessão vegetal da
Floresta Ombrófila Densa e suas respectivas formações que compõem a área de estudo,
bem como de que forma o emprego das geotecnologias disponíveis podem auxiliar na
análise fitogeográfica.
A metodologia de trabalho adotada para a realização deste estudo consiste em
identificação e avaliação da fisionomia vegetal via fotointerpretação e análise do EVI 2
- Enhanced Vegetation Index 2 (Índice de Vegetação Aprimorado 2) da área de interesse
utilizando para tanto imagens de satélite e pesquisa bibliográfica. Buscou-se ainda
correlacionar brevemente este índice de vegetação com o Normalized Difference
Vegetation Index (NDVI) ou Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, a fim de
elucidar o motivo da escolha do EVI2 para a análise fitogeográfica aqui proposta e
mostrar suas possíveis potencialidades e limitações no mapeamento dos estágios de
sucessão da mata atlântica. Além da utilização deste produto que tem como objetivo
auxiliar na interpretação da fitofisionomia com base na informação espectral dos alvos,
na manipulação dos dados e confecção do mapa temático, foram utilizados também os
softwares ESRI - ArcMap 10.1 e Microsoft – Windows 8.1.
Em relação às classificações pertinentes ao Sistema Fitogeográfico, as
classificações adotadas ao longo dos anos pelos diversos autores, órgãos nacionais e
internacionais são muitas e, relacionar aqui todas ainda que brevemente, seria um
esforço exaustivo e pouco relevante para este estudo. Portanto, nos atentaremos a seguir
às principais contribuições que levaram ao estabelecimento da atual Classificação
Fitogeográfica da Vegetação Brasileira utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a qual será utilizada como parâmetro ao longo do mesmo.
2 - Classificação das formações vegetais
Em 1908, os estudos realizados pelo dinamarquês Eugenius Warmimg foram
importantes na modernização do conceito de formas dos vegetais, pois permitiram o
início da reflexão sobre a adaptação das plantas ao ambiente com a estrutura fisiológica
que seria determinante às suas formas. Inspirado em Warming, o botânico Christen
Raunkier elaborou um sistema simples e funcional sobre as formas de vida que, em
suma, diferenciava as espécies vegetais de acordo com a posição e proteção dos órgãos
de crescimento em relação aos períodos e fatores climáticos (IBGE, 2012).
A classificação de Raunkier serviu como base para diversas outras posteriores,
como a Classificação Fitogeográfica feita por Küchler em 1949 e, finalmente, a
classificação fisionômico-ecológica da vegetação mundial elaborada em 1967 por
Ellenberg e Muller-Dombois, que reuniu e universalizou as diversas classificações
anteriores em um sistema hierárquico de formações, distribuídas pela ordem de classe
até as formações propriamente ditas e suas respectivas subformações; a maioria das
nomenclaturas fitogeográficas adotadas pelo IBGE, pelo Projeto Radambrasil e pela
UNESCO têm sua gênese, excetuando alguns adendos, na classificação de Ellenberg e
Muller-Dombois (IBGE, 2012).
Segundo o Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012), determinada
formação vegetal segue um padrão hierárquico que pode subdividir-se em até quatro
fases, sendo elas: Classe de Formação, Subclasse de Formação, Grupo de Formação e
Formação propriamente dita. No entanto, levando em consideração a finalidade do
presente trabalho, nos atentaremos somente ao conceito de Formação Vegetal:
Termo criado por Grisebach em 1872, para designar um tipo vegetacional
definido. Foi reformulado por Gustaf Einar Du Rietz em 1954, como um
conjunto de formas de vida vegetal de ordem superior, que compõe uma
fisionomia homogênea, apesar de sua estrutura complexa. (IBGE, 2012; p.
48)
2.1 - Floresta Ombrófila Densa Primária e Secundária na Ilha de Santa Catarina
O termo Floresta Ombrófila Densa é a nomenclatura atual adotada pelo IBGE
para a popularmente conhecida Mata Atlântica. Este termo segue o sistema fisionômico-
ecológico estabelecido por Ellenberg e Mueller-Dombois, que substitui a terminologia
mais antiga Floresta Tropical Pluvial, ainda encontrada em diversos trabalhos, por
Floresta Ombrófila Densa.
As principais características que distinguem tal formação, estão ligadas a fatores
climáticos tropicais de temperaturas elevadas (médias de 25°C) com altos níveis de
precipitação, sendo os mesmos bem distribuídos ao longo do ano (no máximo 60 dias
secos), o que significa uma condição bioecológica praticamente sem período seco
(IBGE, 2012). Esta formação é caracterizada por fanerófitos e mesofanerófitos, além de
lianas lenhosas e epífitas em abundância, que a diferencia das outras classes de
formações.
Segundo o IBGE (2012), existem cinco formações que são subdivisões do tipo
Floresta Ombrófila Densa, ordenadas hierarquicamente de acordo com a topografia, são
elas:
Formação Aluvial: é a formação ribeirinha ou “floresta ciliar” que ocorre ao
longo dos cursos de água, ocupando os terraços antigos das planícies
quaternárias.
Formação das Terras Baixas: É uma formação que em geral ocupa as planícies
costeiras e ocorre desde a Amazônia, estendendo-se por toda a Região Nordeste
até proximidades do Rio São João, no Estado do Rio de Janeiro. Ocorre também
nos terrenos quaternários situados pouco acima do nível do mar.
Formação Submontana: Esta formação é caracterizada por espécies que variam
de acordo com a latitude, ressaltando-se também a importância do fator temporal
nesta variação ambiental; é composta principalmente por fanerófitos de alto
porte, alguns ultrapassando 50 m na Amazônia e raramente 30 m nas outras
partes do país.
Formação Montana: Esta formação é correspondente, na Região Sul do País, às
que se situam de 400 a 1.000 m, onde a estrutura é mantida até próximo ao cume
dos relevos dissecados, quando os solos delgados ou litólicos influenciam o
tamanho dos fanerófitos, que se apresentam geralmente menores.
Formação Alto-Montana: É uma formação arbórea em que predominam
mesofanerófitos com aproximadamente 20 m de altura, que se localiza no cume
das altas montanhas sobre solos Neossolos Litólicos, apresentando acumulações
turfosas nas depressões onde se localiza a floresta.
Na Ilha de Santa Catarina a Floresta Ombrófila Densa estende-se em dois
habitats: a Formação das Terras Baixas e a Formação Submontana. A primeira refere-se
às terras de baixas altitudes formadas pela acumulação de sedimentos arenosos e areno-
argilosos, depositados em ambientes marinhos, fluviais, lagunares, eólicos e colúvio-
aluvionares de idade quaternária (HERRMANN & ROSA, 1990 apud VEADO, 2004).
O solo formado é de baixa fertilidade, ácido, com excesso de alumínio; apresenta boa
drenagem em alguns pontos e ruim em outros, resultando em acúmulos de água na
superfície ou muito próximo da mesma. CARUSO (1983, p.70 apud VEADO, 2004)
define tal formação segundo a sua estrutura, apontando que no estrato superior, com
cerca de 15 metros de altura, encontra-se Calophyllum brasiliense (Guarandi) como a
espécie dominante, acompanhada de Tapirira guianensis (cupiúva), Ficus organensis
(figueira-da-folha-miúda), Coussapoa schotti (figueira-do-brejo) e Tabebuia umbellata
(ipê-da-várzea). No estrato médio vêem-se principalmente Myrcia dichrophylla
(guamirimi-de-facho) e M. multiflora (cambuí). Entre os arbustos estão às palmeiras
Geonoma schottiana (guaricana) e Bactris lindmaniana (tucum). No estrato das ervas,
as Bromeliáceas compõem as espécies mais frequentes, com destaque para Nidularium
innocentii, N. procerum e Canistrum lindeni.
Na Formação Submontana da Ilha de Santa Catarina predominam enorme
diversidade de epífitas das famílias das Bromeliáceas, Orquidáceas, Aráceas,
Piperáceas, Pteridófitas (samambaias) e lianas (cipós) das famílias das Bignoniáceas e
Sapindáceas (KLEIN; 1978 p.3 apud VEADO, 2004). Segundo o mesmo, a quantidade
de espécies nesta formação não é tão vasta quanto o número de indivíduos,
predominando as famílias Laurácea e Mirtácea.
No estrato superior predominam as espécies Ocotea catharinensis (canela preta),
Aspidosperma pyricollum (peroba), Ginnamomum glaziovii (garuva), Schizolobium
parahybum (guarapuvu), Chrysophyllum viride (caxeta amarela ou aguaí) e Talauma
ovata (baguaçu); destas, dez espécies podem atingir mais de 30 metros de altura e
sessenta e cinco espécies atingem de 21 a 30 metros (CARUSO, 1983 apud VEADO,
2004).
No estrato médio as mais comuns são Euterpe edulis (palmiteiro ou juçara),
Rheedia guardneriana (bacopari), Eugenia kleinii (guamirim), Guatteria australis
(cortiça), Ocotea teleiandra (canela pimenta) e Tabebuia umbellata (ipê amarelo)
(CARUSO, 1983 apud VEADO, 2004). Já no estrato arbustivo, com alturas entre dois e
três metros, o fator intra-espécies de competição é marcante e determina um estrato não
tão rico quanto os demais; destacam-se Mollinedia floribunda, M. uleana, M.schottiana
e M. triflora, todas pimenteiras. No estrato herbáceo, a diversidade também é menor
pela mesma razão, aonde se encontram pteridófitas, marantáceas e gramíneas
(CARUSO; 1983 apud VEADO, 2004.)
A ocupação do solo na Ilha de Santa Catarina deu-se em função da agricultura
de subsistência e comercial, que ao longo de três séculos desde a colonização foi
responsável por esgotar os nutrientes do solo, bem como por descaracterizar
grandemente a paisagem fitogeográfica e os processos de sucessão ecológica, relegando
hoje a cobertura vegetal a uma imagem reduzida do que fora no passado.
Os solos que constituem a área são naturalmente ácidos e escassos em elementos
químicos, com alto teor de alumínio; isto, somado às más práticas agrícolas
sucessivamente realizadas ao longo do período mencionado, contribuiu para que as
condições edáficas se tornassem muito adversas e praticamente impossibilitando o
estabelecimento de espécies mais exigentes (VEADO, 2004). A duas Formações citadas
são florestas primárias, praticamente inexistentes hoje na ilha, salvo pouquíssimas
exceções em meio às formações arbóreas secundárias (capoeirões) e principalmente nas
margens e morros que cercam a Lagoa do Peri (VEADO, 2004).
2.2 - Vegetação Secundária
Conforme observado por VEADO (2004), por mais incoerente que possa soar à
primeira vista, foi a expansão do processo de ocupação urbana juntamente com a
diversificação de atividades econômicas na Ilha que permitiu a regeneração da
vegetação secundária nos solos tão degradados anteriormente; a vinda da Universidade
Federal, a expansão do terceiro setor e o crescimento do serviço público foi
determinante para que, paulatinamente, a população que se ocupava exclusivamente da
agricultura viesse a mudar de atividade. Iniciou-se então o lento processo de
regeneração da cobertura vegetal.
Necessariamente, entende-se como sistema secundário ou vegetação secundária
as áreas sob influência de ações antrópicas que tiveram suas atividades suprimidas, ou
seja, terras que após o uso para agricultura, pecuária ou reflorestamento foram
abandonadas. Nestas áreas, a velocidade do processo de sucessão vegetal é relativa ao
nível de degradação do solo e dependente das condições ecológicas do ambiente no
decorrer do processo. A primeira ocupação vegetal que ocorre nestes solos é feita por
plantas rudimentares e pouco exigentes em fertilidade, denominadas plantas pioneiras;
essas abarcam geófitos, terrófitos, hemicriptófitos e caméfitos, entre eles podemos
destacar Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Maxon – espécie cosmopolita e Imperata
brasiliensis Trin., da família Poaceae (IBGE, 2012).
A segunda fase de sucessão natural é a popularmente conhecida como
“capoeirinha”, ou fase arbustiva da vegetação, nela são encontrados hemicriptófitos,
gramíneas, caméfitos e nanofanerófitos de baixo porte, como destaque para gêneros
como Paspalum também da família Poaceae, Solanum da família Solanaceae, Mikaniae
vernonia da família Asteraceae (IBGE, 2012).
Em seguida, a “capoeira” ou fase arbustivo-arbórea da vegetação é mais
complexa que as anteriores por apresentar diversas espécies dos gêneros e famílias já
citados, outras tantas espécies lenhosas e ainda microfanerófitos com até cinco metros
de altura. Estas ultimas são encontradas em grandes áreas das Regiões Sul e Sudeste do
país, destacando-se nas Formações das Terras Baixas e Submontana em Santa Catarina;
algumas espécies-guias desta fase de sucessão no estado são a Tibouchina pulchrae e
Tibouchina urvilleana, que constituem associações diversas com outras espécies de
acordo com o tipo de solo e condições geográficas de cada habitat (VEADO, 2004.)
A quarta fase da sucessão natural é a fase arbórea ou “capoeirão”, ainda mais
complexa e uniforme em relação à altura dos principais mesofanerófitos que dominam
este estágio, em sua maioria lenhosa e já sem plantas novas em fase de “broto”; em seu
estágio mais avançado, começam a se reproduzir espécies como Ocotea catharinensis e
Aspidosperma pyricollum, bem como Miconia cinnamomifolia, Hieronyma
alchorneoides, Xylopia brasiliensis, Nectandra lanceolata e grande número de Euterpe
edulis (IBGE, 2012). Em Santa Catarina aparecem ainda neste estágio Miconia
cabussu(pixiricão), Cecropia adenopus (embaúba), Tapirira guianensis (cupiúva),
Myrcia richardiana (ingabaú), Psychotria kleinii (grandiúva d’anta) dentre outras
(CARUSO, 1983 apud VEADO 2004).
“Depois do capoeirão, por volta de 50 a 80 anos mais tarde, aparece
o último estágio arbóreo da sucessão: a mata secundária. Na Ilha de Santa
Catarina, o capoeirão, contudo, é o último estágio, pois ainda não houve
tempo para o reestabelecimento da mata secundária plena, embora muitas
espécies típicas dela apareçam no interior do capoeirão, indicando uma
transição para a floresta secundária.”(VEADO, 2004; p.41).
KLEIN (1980) ressalta ainda que o corte constante de espécies úteis, em que
pese uma fiscalização mais intensa, impede que a floresta secundária se estabeleça
plenamente, mas a presença de lianas e epífitas, raras nos estágios anteriores, mostra
que a mata secundária está se constituindo. Segundo o mesmo autor, a mesma levaria
mais de 100 anos para se estabelecer completamente e por volta de 120 a 150 anos para
adquirir uma fisionomia parecida com a mata primária, levando à conclusão que as
matas secundárias na Ilha estão no momento em seu estágio inicial, quando espécies
mais exigentes ainda se encontram no seu estágio jovem e misturadas às espécies do
capoeirão.
3 - A aplicação das técnicas de sensoriamento remoto no estudo da vegetação
A fim de compreender as flutuações no crescimento ou retrocesso da vegetação
e como estas afetam o meio físico, biótico e socioeconômico, a cerca de vinte anos
estudiosos das áreas de sensoriamento remoto e geotecnologias de maneira geral vêm
utilizando imagens de satélites e sensores específicos capazes de medir a densidade da
cobertura vegetal. Estas medidas podem auxiliar na caracterização dos estados
biofísicos e bioquímicos das superfícies cobertas por vegetação bem como, os processos
que nestas ocorrem (National Aeronautics and Space Administration - NASA, 2015).
Através das informações espectrais, espaciais e temporais destes sensores é
possível gerar diferentes composições de imagens que irão resultar em diversos
produtos finais: imagens georreferenciadas geradas basicamente pela reflectância obtida
por bandas posicionadas nas regiões do azul, vermelho, infravermelho próximo e
infravermelho de ondas curtas (FILHO, 2004).
Um destes sensores, o escolhido para este trabalho é o Moderate Resolution
Imaging Spectroradiometer (MODIS), a bordo dos satélites Terra e Aqua em órbita
respectivamente desde 1999 e 2004. Ambos adquirem dados por meio de trinta e seis
bandas espectrais em comprimentos de onda que variam de 0.4µm a 14.4 µm, provendo
imagens com resolução espacial de 250m para composição de duas bandas, 500m para
composição de cinco bandas e 1 km para as vinte e nove bandas restantes.
Dentre as principais aplicações do MODIS (Terra) podemos destacar o
monitoramento do uso e cobertura da terra, tendo a possibilidade de quantificar
características da superfície terrestre, tais como, tipo e extensão da cobertura terrestre,
extensão da cobertura por neve, temperatura da superfície, ocorrência de queimadas,
índice de área foliar, estimativa de biomassa florestal, entre outras (NASA, 2015).
As aplicações do sensor MODIS no que tange à cobertura vegetal são distintas e
suas possibilidades oferecem recursos de planejamento, monitoramento e mitigação de
processos de degradação para diversas finalidades. Dentre as principais podemos citar a
aplicação do produto utilizado para esta análise, o MOD13Q1 (composto pelas bandas
do vermelho e infravermelho próximo com resolução espacial de 250m e resolução
temporal de 16 dias), que vêm auxiliando na detecção de mudanças em biomas
ameaçados, como é o caso do monitoramento do desmatamento da Bacia Amazônica no
âmbito do Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento em desenvolvimento pelo
Sistema de Proteção da Amazônia (SIAD – SIPAM) (FILHO, 2004).
Através do mencionado produto é calculado o EVI2, que em suma, corrige
insuficiências encontradas em outros índices de vegetação no que diz respeito à
saturação da resposta espectral em regiões de alta densidade de cobertura vegetal e
também condicionantes naturais que interferem na aquisição de informações, tais como
as interferências atmosféricas causadas por nuvens e aerossóis e distorções e pela
cobertura encontrada abaixo dos dosséis (ANDERSON, et al 2003). Segundo os
mesmos autores, a principal diferença do EVI2 e o EVI, é basicamente a supressão da
banda espectral na região do azul, responsável por algumas misturas na resposta
espectral do pixel, e a substituição desta pelos fatores de ganho (2,5 e 2,4) que
desempenham a mesma função no algoritmo; ambos os índices também são corrigidos
atmosfericamente nas bandas do vermelho e do infravermelho próximo.
Conforme aponta JIANG et al. (2008), o EVI2 é calculado da seguinte forma:
2 = 2,5 ∗ ______NIR – Red_______
(NIR + 2,4 ∗ Red + 1)
“Onde NIR é a refletância na banda do infravermelho próximo (banda 2 do
MODIS) e Red (banda 1 do MODIS) a refletância na banda do vermelho.
Este índice apresenta comportamento similar ao tradicional índice EVI que
possui melhor sensibilidade em área com alta biomassa como a região da
floresta amazônica.” (Jiang et al, 2003; p.3)
É importante ressaltar que, a nível global, estes dois índices se complementam
em estudos sobre a vegetação no que diz respeito aos parâmetros biofísicos dos dosséis
e nas mudanças sobre a cobertura vegetal (ANDERSON, et al 2003). Segundo o
mesmo, o NDVI é calculado pela seguinte equação:
NDVI = (r IVP - rV) / (rIVP + rV)
“O índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI) é uma relação entre
medidas espectrais (reflectância - ) de duas bandas, a do infravermelho
próximo (800-1100 nm) e a do vermelho (600-700 nm), e visa eliminar
diferenças sazonais do ângulo do Sol e minimiza os efeitos da atenuação
atmosférica, observados para dados multitemporais.”
Foi adotado o EVI2 em detrimento do NDVI em razão da melhor sensibilidade e
menor saturação da resposta espectral em áreas de cobertura vegetal densa durante o
período de máximo Índice de Área Foliar (IAF) como aponta WANG et al. (2005).
Segundo LOPES (2010), o NDVI apresenta maiores saturações nestas áreas e,
consequentemente, valores pouco adequados para este tipo de análise. Este fato pode ser
visualizado na figura a seguir que representa os índices EVI2 e NDVI obtidos em uma
região de vegetação arbórea densa da bacia hidrográfica do Rio Palha (figura 1)
Figura 1: Comparação entre EVI2 e NDVI em uma área de vegetação arbórea densa na Bacia
Hidrográfica do Rio Palha, Florianópolis-SC. Fonte: tsvis.agrosatelite.com.br
A seguir, na figura 2, observamos a obtenção dos mesmos índices em uma
região de vegetação herbácea da área de estudo:
Figura 2: Comparação entre EVI2 e NDVI em uma área de vegetação herbácea na Bacia
Hidrográfica do Rio Palha, Florianópolis-SC. Fonte: tsvis.agrosatelite.com.br
Os índices foram extraídos da composição mencionada anteriormente sobre o
período de 2001 a 2008. A primeira vista, os dados acima parecem ser desatualizados,
mas através da análise de imagens de satélite com séries temporais de 2008 até os dias
atuais, nota-se que não houve significativa mudança no uso e cobertura da terra na área
de estudo, ou seja, a cobertura vegetal neste período não sofreu alterações antrópicas
significativas. Portanto, avalia-se que a obtenção dos índices de vegetação com base
neste período não influencia qualitativamente a análise fitofisionômica aqui proposta.
No entanto, salienta-se que para estudos que visem à quantificação de características
específicas da cobertura vegetal, a aquisição de dados recentes é imprescindível na
obtenção de resultados satisfatórios.
Ao observarmos a relação entre EVI2 e NDVI na figura 1, nota-se a mencionada
saturação em relação ao segundo índice, onde os valores máximos e mínimos são pouco
distinguíveis, tendo o menor valor (menor índice de fitomassa) em 0.66 em 29/08/2007
e o maior em 1.0 em 05/05/2003, representados pelo símbolo .
Os valores obtidos pelo NDVI variam entre -1.0 (solo exposto e superfície
rochosa) e +1.0 (grande possibilidade de alta densidade de cobertura vegetal) (NASA,
2015). As quedas abruptas no gráfico representam ruídos do sensor na aquisição de
informação; é importante ressaltar ainda que medidas obtidas por índices de vegetação
são adimensionais. Por sua vez, o EVI2 na área de vegetação arbórea densa apresenta
melhor distinção entre os valores máximos e mínimos, como nota-se no gráfico
representado pela figura 1, tendo como valor mínimo 0.33 em 26/06/2007 e máximo
0.75 em 01/01/2004, representados pelo símbolo . Os valores do EVI2 variam entre 0
(sem cobertura vegetal) e 0.7 (alta densidade de cobertura vegetal) (NASA, 2015).
Na figura 2 podemos observar a relação entre EVI2 e NDVI em uma área de
vegetação herbácea, onde a distinção de valores máximo e mínimo e do NDVI é mais
evidente, o que sugere maior eficácia deste índice em áreas de baixa biomassa,
conforme aponta WANG et al. (2005). O valor mínimo do NDVI nesta situação foi de
0.37 em 12/08/2000 e o máximo de 1.0 em 30/09/2007, representados pelo mesmo
símbolo da figura 1. Em relação ao EVI2 nesta situação, observa-se que o maior valor
foi de 0.52, obtido em 18/02/2004, enquanto o menor valor foi de 0.11 obtido em
03/12/2003, ambos também representados pelo mesmo símbolo da figura 1.
4 - Mapeamento Fitofisionômico da Bacia Hidrográfica do Alto e Médio Rio Palha
Através do mapeamento realizado na escala de 1:6.000 utilizando os métodos
anteriormente mencionados, verifica-se que a fitofisionomia da mata atlântica na Bacia
Hidrográfica do alto e médio Rio Palha está atualmente constituída da seguinte forma
Figura 3):
- Vegetação Arbórea Densa: Áreas que compreendem os estágios de capoeirão
bem desenvolvido e floresta secundária em fase de maturação, presentes principalmente
em altitudes mais elevadas da Formação Submontana. A diferenciação entre tais
estágios por meio da fotointerpretação e análise dos índices de vegetação é praticamente
inviável. Na realidade, segundo KLEIN (1991) a distinção entre a floresta primária e a
vegetação secundária mais evoluída apenas é viável quando se conhece a composição
florística regional e a vegetação característica da floresta secundária; torna-se, portanto
é imprescindível a visita a campo e conhecimento prévio das espécies vegetais da região
para o mapeamento destes estágios de sucessão. Entretanto, o EVI2 mostrou-se eficaz
na diferenciação desta classe do mapeamento e da capoeira, principalmente em razão
das curvas no gráfico que indicam maior atividade vegetativa (observadas na figura 1).
- Capoeira: Áreas distribuídas principalmente ao longo das encostas dos morros
cobertos por vegetação arbórea densa, constituindo áreas de encraves com as mesmas. A
transição das áreas de capoeira para o estágio posterior (capoeirão) pode ser visualizada
principalmente pela heterogeneidade parcial dos dosséis, quando espécies mais altas de
fanerófitos se destacam em meio à vegetação arbustiva/arbórea. As análises dos valores
obtidos pelo EVI2 foram pouco úteis na diferenciação deste estágio e do estágio anterior
(capoeirinha), embora em alguns pontos estes tenham mostrado sutilmente maior
concentração de fitomassa.
- Capoeirinha: Espécies arbustivas predominam neste estágio de sucessão e há
pontuais regiões onde as “manchas” formadas pelas associações de espécies indicam
evolução para o estágio seguinte. Uma chave de interpretação se mostrou muito útil para
o mapeamento deste estágio: observa-se que espécies um pouco mais altas apresentam-
se cada vez mais distantes umas das outras, sendo mais facilmente distinguíveis em
meio à cobertura arbustiva predominante.
- Vegetação Herbácea: Com base na escala de mapeamento (1:6.000) e nas
análises obtidas pelo referido índice de vegetação, tornou-se possível identificar e
mapear com relativa precisão a etapa herbácea da sucessão vegetal, onde poucas
espécies se distinguem significativamente em altura do padrão geral. Para este estágio,
de fato o EVI2 mostrou-se útil enquanto auxiliar na identificação do tipo de ocupação
vegetal, pois os valores obtidos, como nota-se na figura 2, mantém pouca
homogeneidade temporal. De fato as pastagens e ocupações herbáceas iniciais da mata
atlântica, por se tratarem de espécies especializadas e não tão exigentes em relação à
quantidade de água que necessitam, tendem a não apresentar tanto crescimento quanto
os outros estágios na época de alta precipitação, bem como tendem a não regredir tanto
em termos de fitomassa no período de menor concentração de chuvas.
- Pastagens Implantadas: buscou-se nesta classe identificar as áreas
possivelmente ocupadas por agricultura ou atividade pecuária em pequena escala.
Através de chaves de interpretação de feições no terreno como subdivisão de piquetes
(porções rotativas de pastagem para gado), presença de estruturas que remetem à
abrigos para animais (“mangueiras” ou barracões) e principalmente da proximidade
destas áreas com ocupações humanas foi possível discriminar estas áreas da classe
mapeada como vegetação herbácea; outro fator importante nesta distinção é a baixa
ocupação por fanerófitos com altura significativa, o que indica o uso destas áreas como
pastagens propriamente ditas.
É importante ressaltar que a distinção das classes de pastagens e vegetação
herbácea foi possível apenas via fotointerpretação e trabalho de campo. Não foi viável
através do EVI2 nesta etapa do mapeamento, pois o mesmo apresenta valores muito
similares de fitomassa irrelevantes. Outro fator importante a ser destacado é a
proximidade da ocupação urbana com alguns pontos onde é observada ocupação vegetal
em estágio de capoeirão, principalmente nas extremidades norte e sul da área de estudo;
a eventual supressão de certas espécies pode retardar a sucessão para os estágios
posteriores, tendo em vista as relações interespecíficas que ocorrem no processo de
sucessão vegetal. Um exemplo desta relação é o caso da Miconia cinnamomifolia ou
jacatirão, cuja densidade auxilia na manutenção da umidade, preparando o ambiente
para as espécies ciófitas (que vivem na sombra).
Figura 3: Mapa Fitofisionômico doa Bacia do Alto e Médio Rio Palha, Florianópolis, SC.
5 - Considerações finais
A realização do mapeamento da vegetação, independentemente da extensão da
área mapeada não é tarefa simples, se levadas em consideração as diversas variáveis
intrínsecas às formações ou ainda entre diferentes estágios de sucessão de uma mesma
formação florestal, pois os limites entre os mesmos nunca são homogêneos ou lineares e
podem levar a diversos equívocos. No caso da Floresta Ombrofila Densa, esta tarefa
torna-se ainda mais difícil devido à grande diversidade de espécies e à densidade da
vegetação em alguns estágios; portanto, não se espera através desta abordagem
introdutória substituir os trabalhos fitofisionômicos e botânicos realizados em Santa
Catarina através de décadas de levantamentos precisos por exímios estudiosos da área
como Roberto Miguel Klein e Raulino Reitz.
Entretanto, a proposta de mapear as fitofisionomias de determinada área com
base em geotecnologias disponíveis, fornecem resultados auxiliares aos mapeamentos
tradicionais. Um deles é a limitação das técnicas de sensoriamento remoto na distinção
das etapas mais avançadas da sucessão vegetal; a complexidade de mapear a flora em
seu processo de regeneração foi observada por diversos autores, portanto seria um
equívoco supor que modelos algorítmicos de análise baseados em dados obtidos por
sensores trouxessem os mesmos resultados de levantamentos florísticos e inventários
florestais executados em campo, em escala real. Todavia, a utilização destes modelos
mostrou-se eficaz na diferenciação dos estágios iniciais da sucessão da vegetação na
área de estudo, principalmente na distinção entre a fase herbácea e arbustivo/arbórea da
mesma.
Os índices de vegetação, assim como outras técnicas de sensoriamento remoto
têm sido empregados com êxito, como apontam diversos trabalhos acadêmicos e
profissionais, no mapeamento de biomas inteiros, mudanças de uso e cobertura da terra
em áreas extensas, análises quantitativas e qualitativas da agricultura comercial,
estimativa de safras e biomassa florestal entre tantas outras aplicações, resultando em
produtos cartográficos de alta qualidade que por sua vez são essenciais no
planejamento, gestão e monitoramento ambiental. Deve haver uma análise criteriosa da
área de estudo por parte do pesquisador ao se trabalhar com mapeamento da vegetação,
levando em consideração princípios geográficos básicos como a extensão da área a ser
mapeada, a escala do produto final e o nível de detalhamento que se espera com base no
objetivo do estudo. Desta forma, é possível assegurar qual a melhor técnica a ser
empregada no trabalho, ou ainda quais técnicas se complementam para obter o melhor
resultado possível no mesmo.
6 - Referências Bibliográficas
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