Mariana Denise Lourenço da Graça Antunes · monitorização destas grávidas. ... O Eco-Doppler a...

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2013/2014 Mariana Denise Lourenço da Graça Antunes Gravidez em cicatriz de cesariana março, 2014

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2013/2014

Mariana Denise Lourenço da Graça Antunes

Gravidez em cicatriz de cesariana

março, 2014

Mestrado Integrado em Medicina

Área: Ginecologia e Obstetrícia

Trabalho efetuado sob a Orientação de:

Doutora Teresa Margarida Fonseca Alves Loureiro

Trabalho organizado de acordo com as normas da revista:

Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa

Mariana Denise Lourenço da Graça Antunes

Gravidez em cicatriz de cesariana

Março, 2014

Aos meus pais, irmã e amigos pelo apoio incondicional.

1

Caesarean scar pregnancy

Gravidez em cicatriz de cesariana

Autores: Mariana Antunes1, Teresa Loureiro

1,2

1 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

2 Assistente Hospitalar de Ginecologia e Obstetrícia, Serviço de Ginecologia e Obstetrícia,

Centro Hospitalar S. João Porto

Autor correspondente:

Mariana Antunes

Rua Dr. Plácido da Costa, s/n

4200-319 Porto

Email: [email protected]

2

Resumo

A gravidez em cicatriz de cesariana (GCC) é um tipo raro de gravidez ectópica mas está

associada a um risco elevado de hemorragia maciça e rotura uterina. A sua incidência é

desconhecida, mas os casos descritos aumentaram substancialmente ao longo dos últimos anos,

o que pode resultar tanto de um incremento no número de cesarianas realizadas, como de uma

melhor deteção, através do uso da ecografia transvaginal.

Estas doentes podem apresentar-se com hemorragia vaginal indolor, com ou sem dor abdominal

associada mas, em cerca de um terço, podem ser assintomáticas, o que exige um grande índice

de suspeição. A ferramenta diagnóstica de primeira linha é a ecografia transvaginal e a

ressonância magnética nuclear pode útil nos casos inconclusivos.

O tratamento deve ser individualizado, com base na gravidade dos sintomas, idade gestacional,

viabilidade da gravidez, tipo de GCC, opções da mulher e experiência da equipa clínica. Não

existe um consenso quanto ao tratamento mais eficaz, mas é recomendado terminar esta

gestação no primeiro trimestre. Para assegurar a preservação do útero e a fertilidade da mulher

têm sido aplicados diversos métodos médicos ou cirúrgicos ou uma combinação de ambos. A

maioria dos autores defendem que o tratamento expectante não deve ser realizado pois associa-

-se a elevada morbimortalidade materna.

Esta revisão tem como objetivo atualizar os conhecimentos sobre o diagnóstico, tratamento e

monitorização destas grávidas.

Palavras-chave: Gravidez em cicatriz de cesariana; diagnóstico; ecografia transvaginal;

tratamento.

3

Abstract

A cesarean scar pregnancy (CSP) is a rare form of ectopic pregnancy. However, when present

increases the risk of massive hemorrhage and uterine rupture. Its incidence is unknown but, over

the last few years, the number of reported cases has increased significantly. This may reflect the

caesarean section rate rise or could be a result of improved detection levels of CSP by

transvaginal ultrasound scan.

Painless vaginal bleeding can be the presenting symptom in women afflicted by CSP, and in

some cases it can be accompanied by abdominal pain. Nevertheless, at least one third of patients

are asymptomatic, being CSP an incidental finding in those cases. Transvaginal ultrasound scan

is the primary diagnostic test used for CSP, being the magnetic resonance imaging reserved for

inconclusive or equivocal cases.

Treatment should be individually customized and based on clinical symptoms, gestational age

and viability, type of CSP, patient’s choice and clinician's experience. There is no consensus on

which treatment is the most effective, although termination of pregnancy in the first trimester is

strongly recommended. Many medical and surgical approaches, or combination of both, have

been used for preserving the uterus and woman's fertility. Most authors indicate that expectant

treatment should not be considered due to the significant risk of maternal mortality and

morbidity.

This review aims to examine the current knowledge about the diagnosis, treatment and follow-

up of this condition.

Key-words: Caesarean scar pregnancy; diagnosis; transvaginal sonography; management.

4

Índice

Lista de abreviaturas……………………………………………………………………………...5

Introdução…………………………………………………………….…………………………..6

Materiais e métodos……………….……………………………………………………………...7

Diagnóstico……….………………………………………………………………………………7

Tratamento….…………………………………………………………………………………….9

Tratamento médico………...……………………………………………………………..10

Tratamento cirúrgico…………………………………………..…………………………12

Embolização……………………………………………………..……………………….15

Aspiração com agulha fina……………………………………………………...………..16

High intensity focused ultrasound………………………………………………………..17

Monitorização………………….………………………………………………………………..17

Discussão……………………………………………………………………………………….18

Referências……………………………………………………………………………….…….22

Apêndice...……………………………………………………………………………..…..........26

Agradecimentos…………………………………………………………………………………27

Anexo…………………………………………………………………………………………...28

5

Lista de Abreviaturas

EAU – Embolização das artérias uterinas

GCG – Gravidez em cicatriz de cesariana

HIFU - High intensity focused ultrasound

IM –Intramuscular

Metotrexato – MTX

PVA – Àcido polivinílico

QEAU – Quimioembolização das artérias uterinas

RMN – Ressonância magnética nuclear

VOCAL – Virtual organ computer-aided analysis

6

Introdução

A gravidez em cicatriz de cesariana (GCC) é um tipo de gravidez ectópica, em que o saco

gestacional está completamente rodeado por miométrio e pelo tecido fibroso da cicatriz, no

segmento uterino antero-inferior.1

A sua verdadeira incidência é desconhecida mas alguns autores reportaram uma

incidência entre 1:1,800 a 1:2,226, atingindo 1,5 por cada 1000 mulheres submetidas a

cesariana. Representa 6,1% do total de todas as gravidezes ectópicas, nas mulheres com pelo

menos uma cesariana prévia.1-7

Ao longo da última década, verificou-se um aumento do número

de casos descritos. Esta tendência pode refletir o acréscimo da incidência das cesarianas a nível

mundial e o uso generalizado da ecografia transvaginal, permitindo assim um diagnóstico

precoce.4,5,8-10

A causa e o mecanismo exato desta condição permanecem desconhecidos. Contudo,

pensa-se que o blastocisto invade o miométrio através de um canal microtubular ou de um

defeito no miométrio, secundário à vascularização deficitária do segmento uterino inferior com

fibrose e cicatrização incompleta. Este defeito desenvolve-se geralmente após uma cesariana,

mas há casos descritos depois de outras cirurgias uterinas, como curetagem, miomectomia,

metroplastia, cirurgia histeroscópica e remoção manual da placenta.9,11-13

Questões ainda controversas são o impacto do intervalo de tempo entre a cesariana e a

implantação da gestação subsequente, assim como se o risco de GCC aumenta com o número de

cesarianas prévias.3,7,13,14

Alguns autores descreveram ainda uma associação entre a apresentação pélvica e a

GCC.1,4,15,16

Muitas das gestações com apresentação pélvica têm indicação para cesariana

eletiva, verificando-se um desenvolvimento incompleto do segmento uterino inferior, com

cicatrização deficitária e por isso maior probabilidade de ocorrência de uma GCC.1

O propósito deste trabalho de revisão é resumir os principais critérios de diagnóstico de

GCC e proporcionar informação mais detalhada sobre as várias abordagens terapêuticas

médicas e cirúrgicas.

7

Materiais e métodos

O objetivo deste trabalho é rever os principais estudos e descrever os critérios de

diagnóstico de GCC e formas de tratamento. Para isso foi realizada uma pesquisa na Pubmed

com a seguinte equação: “caesarean scar pregnancy” AND “treatment” e “caesarean scar

pregnancy” AND “diagnosis”.

A pesquisa foi limitada a artigos de revisão, casos clínicos e séries de casos publicados na

língua inglesa com limite de publicação de 10 anos. Foram obtidos 365 e foram selecionados 87

artigos, após leitura do título e resumo, que correspondiam ao objetivo desta monografia bem

como outros artigos a partir das referências bibliográficas dos artigos selecionados.

Diagnóstico

Vial et al16

descreveram dois tipos diferentes de GCC. O primeiro resulta da implantação

na cicatriz e progressão para o espaço cervico-ístmico e cavidade uterina (Figura 1). Este tipo

pode originar uma gestação viável embora haja um risco significativo de hemorragia. O segundo

tipo tem implantação profunda na cicatriz e cresce em direção à bexiga e à cavidade abdominal,

acarretando um risco aumentado de rotura uterina.

A apresentação da GCC pode ser tão precoce quanto 5-6 semanas6 ou mais tardia,

havendo pelo menos um caso cujo diagnóstico foi descrito às 16 semanas.17

No entanto, a

maioria dos diagnósticos são feitos durante o primeiro trimestre.

Em 39% destas mulheres, o sintoma inicial mais comum é a hemorragia vaginal indolor,

16% queixam-se de hemorragia associada a dor nos quadrantes inferiores do abdómen e 9%

apresentam apenas dor abdominal moderada.1 Contudo, até um terço são assintomáticas e a

GCC é um achado acidental.1 Devemos suspeitar de rotura uterina iminente perante uma mulher

com dor aguda intensa e hemorragia maciça. Em caso de choque ou instabilidade hemodinâmica

deve pensar-se em rotura da GCC.7,16

O diagnóstico de GCC requer um elevado índice de suspeição e a ecografia transvaginal é

a ferramenta diagnóstica de primeira linha7, com uma sensibilidade de 86,4% (95% IC 0,763 –

0,9050).1 Alguns autores

4,11,18 defendem uma avaliação inicial combinando a ecografia

8

transabdominal e transvaginal, o que reduziria o número de falsos negativos. A ecografia

transabdominal permite observar as estruturas pélvicas e fazer a medição exata da distância

entre o saco gestacional e a parede vesical.18

Por sua vez, a ecografia transvaginal permite obter

um corte sagital, ao longo do maior eixo do útero, localizando com maior precisão a GCC.7

Foram propostos, por Vial et al16

, e adaptados por outros autores3,10,19

, os seguintes

critérios para o diagnóstico de uma GCC: 1.cavidade uterina e canal cervical vazios, sem

contacto com o saco gestacional; 2.presença de um saco gestacional com ou sem embrião, com

ou sem atividade cardíaca, dependendo da idade gestacional, na parte anterior do istmo;

3.defeito ou ausência de miométrio entre o saco gestacional e a bexiga. Habitualmente não há

massas anexiais ou fluido livre no fundo de saco de Douglas a não ser que haja rotura uterina.7

Jurkovic et al3 descreveram ainda um “sinal de deslizamento do órgão” negativo (negtive

sliding organ sign), definido como a imobilidade do saco gestacional ao nível do orifício

cervical interno, ao aplicar uma ligeira pressão com a sonda ecográfica transvaginal, para

diferenciar de abortamento iminente, em que o saco gestacional é móvel. O Eco-Doppler a cores

pode fornecer informação adicional, através da avaliação da presença de circulação, índice de

resistência e de pulsatidade.6,16,19

Foi demonstrado nos casos da GCC viável uma perfusão

peritrofoblástica circular a rodear o saco gestacional, ondas de fluxo com alta velocidade

(velocidade máxima > 20 cm/s), baixa impedância (índice de pulsatilidade <1) e uma relação

pico sistólico/diastólico <3.3,4

A ressonância magnética nuclear (RMN) tem sido usada como complemento da

ecografia4,19-22

, permitindo uma melhor avaliação das estruturas pélvicas graças à maior

diferenciação entre os diversos tecidos moles, resolução espacial, imagem multiplanar e uma

avaliação exata da espessura do miométrio entre o saco gestacional e a bexiga. Contudo um

aspeto negativo é o seu tempo de realização longo, o que exige que a grávida esteja

hemodinamicamente estável.21

Alguns autores4,7

defendem que a ecografia transvaginal e o

Doppler fornecem um diagnóstico seguro e a RMN deve ficar reservada para os casos

inconclusivos ou equívocos ou quando é necessária informação adicional para preparar a

abordagem cirúrgica.

9

O Virtual organ computer-aided analysis (VOCAL) é um novo sistema de imagem

Doppler a cores tridimensional, que pode quantificar a neovascularização uterina que circunda

uma GCC.1 A sua utilidade pode ser importante na monitorização da resposta ao tratamento

com embolização das artérias uterinas (EAU).23

Outras abordagens têm sido utilizadas para diagnóstico e terapêutica, como por exemplo a

histeroscopia24 e a laparoscopia.

25,26 A cistoscopia pode ser importante para excluir o

envolvimento vesical.1,4

A GCC pode ser confundida com gravidez cervical, retenção de ovo desvitalizado e

trabalho de abortamento/abortamento iminente.7,11

Ao contrário da GCC, na gravidez cervical a

hemorragia é mais abundante7 e pode haver uma camada visível de miométrio entre a bexiga e o

saco gestacional.3 No caso do trabalho de abortamento espontâneo, na ecografia transvaginal o

saco gestacional visualiza-se a nível do canal cervical e é avascular, ao contrário da GCC em

que é muito vascularizado.15

Podemos também verificar, no caso de um abortamento, uma

queda exponencial dos níveis séricos de β-hCG, um saco gestacional irregular ou colapsado e,

em algumas pacientes, algias hipogástricas tipo cólica associadas a dilatação do colo.1,20,27

Tratamento

Quanto mais precoce for o diagnóstico, melhor será o prognóstico, uma vez que o

tratamento pode ser instituído de imediato. No entanto, nas gestações mais avançadas o

diagnóstico é ainda mais difícil.3,5,27

Por ser uma condição rara, não há um consenso quanto ao tratamento estandardizado.1,7,11

Contudo, a maioria da literatura recomenda terminar esta gravidez durante o primeiro

trimestre7,11

, por apresentar riscos elevados de morbilidade materna, como risco de hemorragia

maciça, rotura uterina, placenta acreta ou coagulação intravascular disseminada.3,4,6,9,11,28

Com o

crescimento da placenta, existe ainda o risco de invasão vesical.7 Assim, os objetivos do

tratamento devem ser os de inviabilizar a gravidez, antes que ocorra rotura uterina, remover o

saco gestacional e preservar a fertilidade destas mulheres.7

10

A escolha da modalidade terapêutica deve ser considerada individualmente com base na

gravidade dos sintomas, idade gestacional e viabilidade da gravidez, níveis séricos de β-hCG,

tipo de GCC, integridade do miométrio, opções da mulher e experiência a equipa clínica.1,7,11,14

Inicialmente, a laparotomia era o único tratamento para evitar a morbilidade e

mortalidade maternas.3,10

Ao longo dos últimos anos foram surgindo várias outras opções

terapêuticas médicas ou cirúrgicas mas apesar disso nenhuma parece ser completamente segura

e capaz de assegurar a integridade uterina.3 Segundo Timor et al

2, 44,1% dos tratamentos

terminaram com complicações (hemorragia grave, choque, ou necessidade de reintervenção).

As grávidas assintomáticas ou com sintomas ligeiros, sem saco gestacional ou embrião

visível, com declínio rápido dos níveis de β-hCG ou evidência ecográfica de crescimento

gestacional em direção à cavidade uterina podem ser candidatas a tratamento expetante.7,16,29

Pelo risco elevado de hemorragia e rotura uterinas4,6

, estas grávidas devem ter uma

monitorização regular com exame físico, doseamentos de β-hCG e ecografia.7,29

Embora haja

descrição de nascimentos bem sucedidos após tratamento expetante, é pouco provável que seja

uma gravidez sem intercorrências.3,4,11,25

Deve ser programada uma cesariana eletiva assim que

haja evidência de maturidade pulmonar ou após ciclo de corticoterapia.6,7

Foi descrita uma taxa

de histerectomias de 71% nas pacientes que receberam tratamento expetante e alguns dos casos

sem complicações tinham sacos gestacionais não viáveis.30

Apesar de não ter sido demonstrado,

se a gestação progredir é muito provável que se desenvolva uma placenta prévia e acreta.3

Tratamento médico

O tratamento médico com Metotrexato (MTX) parece indicado em grávidas

hemodinamicamente estáveis, sem sintomatologia exuberante, com uma GCC com menos de 8

semanas de idade gestacional e uma espessura do miométrio, entre o saco gestacional e a

bexiga, inferior a 2 mm.4,7

Os pacientes com níveis séricos de β-hCG <5000 mUI/mL parecem

responder melhor.1,6,7

O MTX é um fármaco antimetabólico que inibe o metabolismo do ácido

fólico e tem uma semivida curta (10 horas), o que pode explicar a necessidade de administrar

doses múltiplas.7 Uma das dificuldades no seu uso no tratamento da GCC, por via sistémica, é

11

que o tecido fibroso cicatricial é pouco vascularizado o que pode retardar a sua absorção pelo

saco gestacional.6,7,11

Na revisão de Timor et al2, 62,1% dos casos que receberam apenas MTX sistémico

tiveram complicações. Alguns autores descreveram ainda que o tratamento com MTX tem um

risco aumentado de histerectomia, um período de hospitalização maior, a redução dos níveis

séricos de β-hCG demora várias semanas e a reabsorção completa da massa gestacional pode

levar meses até 1 ano.3,6,18,27,28

Foram também descritas reações adversas após a administração sistémica do MTX, como

náuseas, vómitos, estomatite, alopecia, pneumonite, depressão da medula óssea, alterações

hepáticas.1,27

Como alternativa, o MTX pode ser administrado localmente sob controlo

ecográfico, permitindo uma maior concentração local do fármaco, evitando assim os seus efeitos

sistémicos e interrompendo a gestação com maior brevidade.4,6,7,10

Para o efeito têm sido usadas,

com sucesso, agulhas de calibre 16 ou 22, de duplo lúmen, assegurando a aspiração do tecido

trofoblástico por um lúmen e a injeção de MTX pelo outro.6,7,24

A injeção local pode ser por via

transabdominal ou transvaginal, preferindo-se a última pois o saco gestacional encontra-se a

uma distância menor e a agulha visualiza-se mais facilmente o que permite evitar danos,

nomeadamente vesicais.7,31

Contudo, a administração de MTX no saco gestacional e no

miométrio circundante pode causar rotura e hemorragia uterinas ou um aumento do risco de

rotura nas gravidezes subsequentes.3,18,32

As doses descritas pelos autores para injeção a nível do

saco gestacional são 50 mg/m2 33

ou 1mg/Kg34

ou 20-50 mg31,35,36

.

Há casos igualmente bem sucedidos com a aplicação local de cloreto de potássio5,19

,

glicose hipertónica e tricosantina cristalina seguida de mifepristona.4,6,7

Outras pacientes

receberam tratamento combinado: MTX sistémico com injeção local de MTX2,18,32

, cloreto de

potássio com MTX (intra-gestacional ou sistémico)15,37

ou MTX sistémico seguido de

mifepristona.27

Considera-se que o tratamento médico falhou se a atividade cardíaca persistir ou se o saco

gestacional continuar a crescer com aumento simultâneo dos níveis de β-hCG.7 Após o

tratamento médico há ainda risco de rotura uterina ou hemorragia maciça. Assim, o tratamento

12

médico tem sido combinado com opções cirúrgicas. São exemplos disso: MTX sistémico +

esvaziamento por aspiração; MTX sistémico + esvaziamento por aspiração + MTX local24

;

KCL+ esvaziamento por aspiração + MTX IM15

; MTX local ou sistémico+ curetagem27,34,35

ou

esvaziamento por aspiração + MTX local.6

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico é o único que oferece a oportunidade de remover a massa

gestacional e a cicatriz uterina reparando simultaneamente o defeito uterino, o que favorece um

declínio rápido dos níveis séricos de β-hCG.4,38-40

Se a mulher não deseja ter mais filhos a

histerectomia pode ser considerada como primeira opção terapêutica.41

Arslan et al12

descreveram uma GCC submetida a curetagem e sem necessidade de

tratamento secundário. Apesar disso, a curetagem quando aplicada como tratamento primário

tem uma elevada percentagem de complicações.4,12,26

Wang et al26

relataram uma taxa de

insucesso de 70% e Timor-Tritsch e Monteagudo8 concluíram que o esvaziamento uterino

instrumental é um dos tratamentos com maior taxa de complicações (61,9%). O tecido ovular,

salvo algumas exceções, está localizado fora da cavidade uterina e assim é inalcançável pela

cureta. A curetagem pode ainda causar rotura uterina com hemorragia maciça ou lesão

vesical4,11,13

, resultando nalguns casos em histerectomia6 ou outro tratamento adicional.

42 O uso

da curetagem como terapêutica inicial deve ser desencorajado, especialmente nas GCC tipo 2

(implantação profunda).4 Contudo alguns autores concordam com a sua aplicação quando a

idade gestacional é ≤ 7 semanas e a espessura do miométrio localizado anteriormente à GCC é ≥

3,5 mm.9,12,25

Têm sido utilizadas medidas hemostáticas simultaneamente ao esvaziamento

uterino, para prevenção e controlo de uma hemorragia maciça, como a injeção local de

vasopressina, tamponamento com balão intrauterino por cateter de Foley3,36

, sutura de

Shirodkar43

e EAU.44-46

Bignardi e Condous14

foram os primeiros a descrever a curetagem sob controlo ecográfico

transretal. Os autores defendem o uso da ecografia como parte da evacuação cirúrgica,

diminuindo o risco de perfuração uterina e de retenção de material gestacional. A ecografia

13

transretal tem a vantagem de permitir uma visualização completa da cavidade uterina e da GCC

e deixa mais espaço para os movimentos dos instrumentos utilizados na curetagem. Contudo,

não há dados para comparar que forma de curetagem ecoguiada é superior.14

O controlo

ecográfico transretal é um método útil mas é necessária experiência com este tipo de

modalidade, o que pode limitar o seu uso generalizado.

A laparotomia seguida de excisão da lesão (histerotomia) é considerada por alguns como

o tratamento primário preferencial pois tem um menor tempo de seguimento e reduz o risco de

recorrência de GCC.10,16,18

Outros defendem que a laparotomia deve ser reservada para os casos

em que os tratamentos conservadores ou cirúrgicos falham, se a doente se apresenta muito

tardiamente ou se não existirem condições técnicas ou experiência clínica suficientes para fazer

tratamento endoscópico.7,47

A laparotomia está indicada quando há evidência ou suspeita de

rotura uterina.7,28,47

Contudo, esta modalidade tem tempos de hospitalização e recuperação

prolongados, provoca feridas cirúrgicas maiores com maior risco de adesões pós-cirúrgicas, o

que pode afetar a fertilidade destas pacientes, e aumenta o risco de placenta acreta no futuro.16

Uma alternativa minimamente invasiva é a cirurgia endoscópica. A escolha entre

histeroscopia ou laparoscopia pode ser feita com base no tipo de implantação da GCC. A

primeira é mais indicada para os casos em que o saco gestacional cresce em direção à cavidade

uterina e a espessura do miométrio é ≥2 mm.48

A laparoscopia aplica-se nos casos de

implantação profunda.1,25,26,28

A histeroscopia permite a identificação do saco gestacional e a eletrocoagulação dos

vasos sanguíneos no sítio de implantação, prevenindo a hemorragia maciça.1,7,28

Contudo, exige

equipamento específico e requer bom controlo histeroscópico e orientação na cavidade

uterina.25,49

Um estudo8 concluiu que a histeroscopia é um dos tratamentos com menor taxa de

complicações, cerca de 18,4%. É necessário alertar para o risco de lesão vesical ou perfuração

uterina quando se aplica energia térmica na cicatriz.48,50

A laparoscopia exige que as doentes estejam hemodinamicamente estáveis e que o clínico

tenha prática neste tipo de cirurgia.28,41

É um método seguro, rápido, com hemorragia limitada e

com tempo de hospitalização reduzido.25,26

A injeção local de vasopressina26,51

bem como a

14

oclusão temporária das artérias uterinas25,38,48,52

pode minimizar as perdas sanguíneas. No

entanto, o procedimento deve ser convertido em laparotomia se houver hemorragia maciça ou se

a hemóstase for difícil de obter.7,28

Robinson et al50

descreveram o primeiro caso de ressetoscopia sob controlo

laparoscópico. A histeroscopia confirma o diagnóstico e remove a totalidade do tecido

gestacional enquanto a laparoscopia permite bloquear o fluxo sanguíneo, mobilizar a bexiga,

detetar a perfuração uterina ou vesical e um controlo rápido e eficaz se ocorrer uma hemorragia

intraoperatória.

Outro método descrito ainda menos invasivo é a histerotomia por via vaginal.40,53

O

procedimento é semelhante à histerectomia vaginal.40

Apresenta no entanto algumas

desvantagens como a possibilidade de lesão vesical devido a adesões da cesariana prévia, o

campo visual é limitado, o que pode dificultar a hemóstase e a necessidade de um especialista

com experiência neste tipo de cirurgia.38,53

Se houver muitas adesões entre o corpo uterino e a

bexiga, que dificultem a sua separação, a cirurgia vaginal sob controlo laparoscópico pode ser

uma alternativa superior.38

A GCC é identificada como uma protuberância púrpura no segmento

uterino inferior. De acordo com a experiência de Le et al41

, aconselha-se uma injeção

intracervical de duas unidades de ocitocina, para reduzir a hemorragia. É importante garantir a

remoção da totalidade dos restos ovulares e evitar lesão das estruturas adjacentes, o que pode ser

feito através da curetagem sob controlo ecográfico ou da aspiração da cavidade uterina.39

Se

depois do procedimento ainda houver vestígios de tecido gestacional alguns autores defendem

que deve ser feita uma injeção de 50 mg MTX intramuscular (IM).39,41

De acordo com a pesquisa efetuada nesta revisão, estão descritos na literatura 36 casos de

GCC que foram tratados com histerotomia vaginal.38-41,53

Nestes doentes o tempo de

hospitalização foi menor, assim como os custos inerentes ao procedimento, a dor pós-operatória,

o tempo cirúrgico e a perda hemática.41

15

Embolização

A embolização é um procedimento radiológico invasivo que permite bloquear o fluxo

sanguíneo nas artérias uterinas e assim diminuir a vascularização na área de implantação da

gravidez ectópica.23,42,54

Pode ser uma boa opção terapêutica nas grávidas que se apresentam

com hemorragia vaginal maciça e que desejam preservar a fertilidade.55

Também é proposto

como tratamento adjuvante do tratamento médico com MTX.47

O MTX tem um efeito

citotóxico direto nas vilosidades coriónicas e inibe a proliferação do trofoblasto, enquanto a

embolização provoca isquemia regional do tecido alvo.45,56

A infusão intra-arterial de MTX

permite que uma concentração mais elevada atinja o saco gestacional por um período de tempo

mais longo, produzindo assim um efeito embriocida mais eficaz com muito menos efeitos

adversos que o MTX sistémico.46,57

A quimioembolização das artérias uterinas (QEAU), ou

seja, a infusão intra-arterial de MTX na artéria uterina combinado com a embolização destes

vasos, pode ser um tratamento alternativo nos casos de GCC complicada com hemorragia,

evitando a histerectomia.56

Contudo, este tratamento nem sempre é eficaz.8,58

An et al58

num

estudo com 23 pacientes, descreveram que 12 delas necessitaram de tratamento adicional com

curetagem, laparotomia com excisão uterina ou injeções IM de MTX e 4 delas foram mesmo

submetidas a histerectomia. Neste estudo a taxa de preservação uterina foi 82,6%.

Como referido anteriormente, a curetagem isolada como tratamento primário tem um

risco elevado de hemorragia. A embolização, ao condicionar uma oclusão temporária dos vasos

uterinos durante 2-6 semanas, permite que a curetagem realizada posteriormente seja segura.59

Assim, Lan et al59

aplicaram em 79 pacientes a QEAU (infusão bilateral de 50 mg/m2

de MTX

e embolização com partículas de gelatina) seguida de curetagem (24-48h depois) sob controlo

ecográfico ou histeroscópico. Durante a curetagem estas pacientes tiveram um hemorragia

reduzida (média 30 mL), com um risco reduzido de complicações e 100% de sucesso com

preservação uterina em todas as pacientes. Shen et al57

também concluem que a curetagem pode

ser considerado um tratamento secundário eficaz depois da QEAU, ao publicarem os resultados

de 36 pacientes submetidas a este tratamento e que tiveram 100% de preservação uterina. Outro

estudo56

concluiu que a infusão intra-arterial de MTX combinada com a EAU parece ser mais

16

vantajosa do que o MTX sistémico combinado com a curetagem uterina, sendo segura e eficaz

para o tratamento da GCC.

Quando se faz a QEAU, para além de se administrar uma dose adequada de fármaco há

outros aspetos importantes a considerar. O primeiro é a escolha do material embólico.58

As

partículas de gelatina são um agente embólico temporário, provocando uma oclusão durante 2-6

semanas.45,55,58

Por este motivo, a hemorragia vaginal pode reaparecer mesmo depois do seu

controlo transitório.44,57

O ácido polivinílico (PVA), as microesferas para embolização e outros

materiais embólicos permanentes são talvez mais eficazes do que as partículas de gelatina.45,55

No entanto, estas partículas podem causar necrose uterina ou outras complicações mais graves.58

Zhang et al55

concluíram que das 239 pacientes submetidas a EAU, em 84,6% dos casos foram

utilizadas partículas de gelatina, o que indica que este continua a ser o agente embólico

preferido.

Outro aspeto crítico a ter em conta para que a EAU seja bem sucedida, é a identificação

exata das artérias alvo. Na maioria dos casos, isso é possível através de uma angiografia

bilateral das artérias uterinas. É essencial estar atento às variantes anatómicas, que podem ser

responsáveis por parte da vascularização do saco gestacional.58,59

O fluxo sanguíneo pode não

ser bloqueado na totalidade, graças à recanalização dos vasos ou à circulação colateral que se

estabelece.23,60

Yang et al42

descreveram, que os principais sintomas adversos depois do tratamento com

EAU combinado com MTX local, nas 38 mulheres, foram: febre pós-operatória (13,2%), dor

nos quadrantes inferiores do abdómen (26,3%), náuseas e vómitos (15,8%) e infeção do trato

urinário (2,6%). Foram descritas outras complicações após a EAU: necrose uterina, atrofia do

endométrio (que pode causar amenorreia permanente) e falência ovárica precoce.1,52,54,60

Aspiração com agulha fina

A aspiração com agulha fina sob controlo ecográfico é inadequada e por vezes aumenta a

taxa de hemorragia10

, sendo habitualmente aplicada em combinação com injeção local de

MTX31,35,47

e/ou EAU.46

Seow et al31

relataram 11 casos de GCC tratados com aspiração

17

transvaginal combinada com MTX local. 54.5% destas pacientes tinham inicialmente níveis

séricos de β-hCG maiores que 20 000 mUI/mL, necessitando de tratamento adicional com MTX

sistémico. Outro estudo46

concluiu que a QEAU combinada com aspiração é um procedimento

minimamente invasivo, com menor morbilidade e tempo de recuperação, que pode garantir a

preservação uterina.

High intensity focused ultrasound

O High intensity focused ultrasoun (HIFU) combinado com curetagem é um método de

tratamento descrito recentemente.61

O HIFU foi inicialmente desenvolvimento para tratar

miomas uterinos, adenomiose e tumores malignos ou recorrentes. As suas propriedades

baseiam-se no fato de emitir ultrassons de alta frequência, que atingem uma área focal,

provocando aquecimento local e destruição destes tecidos. A posição do saco gestacional é

exatamente definida com recurso à RMN. Nos 4 casos submetidos a este tratamento, o HIFU foi

eficaz provocando um declínio dos níveis séricos do β-hCG, desvitalizando o embrião e

reduzindo o risco de hemorragia durante a curetagem. Assim, parece ser um método adequado

em grávidas com doseamentos elevados de β-hCG, vascularização peri-trofoblástica elevada

com risco aumentado de hemorragia e que desejam preservar a fertilidade. No entanto, num

caso foi necessária laparotomia, para controlo da hemorragia vaginal maciça, remoção dos

restos trofoblásticos e reparação da cicatriz uterina. Contudo, são necessários estudos adicionais,

com um número de doentes alargado, para poder comprovar a eficácia deste tratamento.61

Monitorização

Depois do tratamento da GCC recomenda-se doseamentos semanais de β-hCG até os seus

níveis séricos serem indetetáveis e uma ecografia transvaginal mensal para avaliar se persiste o

produto ovular.3,4

Os períodos de seguimento são muito variáveis nos diferentes artigos. No

entanto, as doentes que recebem tratamento conservador têm um período de seguimento longo

até a GCC deixar de ser visualizada na ecografia, o que pode levar meses até 1 ano.

18

Posteriormente, pode ser útil a realização de uma histerossonografia, verificando a

integridade da parede uterina e o tamanho da cicatriz, fatores estes que podem estar

relacionados com a possibilidade de ocorrerem complicações numa nova gestação.4,6,7

Não há nenhum consenso sobre o intervalo de tempo que estas mulheres devem esperar

até nova gravidez ou sobre o risco de recorrência nas gestações subsequentes.7,11

Alguns autores

recomendam aguardar mais de 3 meses e, provavelmente, 12-24 meses até nova gravidez.6

Numa gravidez subsequente é recomendado realizar precocemente uma ecografia

transvaginal para determinar o sítio de implantação do saco gestacional e averiguar se há

recorrência da GCC.27

Na ausência de outras indicações obstétricas para fazer uma cesariana, o

parto pode ser por via vaginal.7 Nas mulheres com história de rotura de uma GCC ou se a

espessura do miométrio, entre o saco gestacional e a bexiga, for muito fina ou ausente é

prudente programar uma cesariana eletiva para evitar uma rotura uterina espontânea.6

Discussão

Apesar da ocorrência da GCC ser rara, com o aumento do número de cesarianas,

verificou-se um aumento da sua incidência ao longo dos últimos anos.4,5,8

Este é um dos

motivos que deve incentivar à uniformização da terapêutica.

A sua causa exata e o mecanismo são desconhecidos. Parece lógico assumir que múltiplas

cesarianas, ao aumentarem a área de superfície cicatricial, contribuem para o risco aumentado

de GCC. Contudo, ainda não se provou uma associação entre o número de cesarianas prévias e o

risco de GCC.14

Permanece igualmente incerto o impacto do intervalo de tempo entre o trauma uterino e a

implantação na cicatriz da cesariana.3,7,13,14

Alguns casos de GCC ocorreram poucos meses após

a cesariana sugerindo que a cicatrização incompleta pode afetar a implantação.

Até um terço destas pacientes são assintomáticas e muitas apresentam-se apenas com

hemorragia vaginal indolor, por isso o diagnóstico da GCC requer um índice elevado de

suspeição.1 A ecografia transvaginal, quando efetuada nas primeiras semanas da gravidez, tem

19

uma sensibilidade de 86,4 %, o que permite um diagnóstico precoce e contribui para o sucesso

do tratamento conservador.1,7

Os critérios estabelecidos para o diagnóstico da GCC são3,10,16,19

: 1. cavidade uterina e

canal cervical vazios, sem contacto com o saco gestacional; 2.presença de um saco gestacional

com ou sem embrião, com ou sem atividade cardíaca, dependendo da idade gestacional, na parte

anterior do istmo; 3.defeito ou ausência de miométrio entre o saco gestacional e a bexiga.

Habitualmente não há massas anexiais ou fluido livre no fundo de saco de Douglas a não ser

que haja rotura uterina.7 Foi ainda descrito um “sinal de deslizamento do órgão” negativo

3

(negative ‘sliding organ sign’), definido como a imobilidade do saco gestacional ao nível do

orifício cervical interno, ao aplicar uma ligeira pressão com a sonda ecográfica transvaginal,

para diferenciar de abortamento iminente. O Eco-Doppler a cores pode demonstrar nos casos de

GCC viável uma perfusão peritrofoblástica circular a rodear o saco gestacional, ondas de fluxo

com alta velocidade (velocidade máxima > 20 cm/s), baixa impedância (índice de pulsatilidade

<1) e uma relação pico sistólico/diastólico <3.3,4,6,16,19

Estes critérios permitem aumentar a acuidade diagnóstica e fazer o diagnóstico diferencial

diferencial com gravidez cervical, retenção de ovo desvitalizado ou trabalho de

abortamento/abortamento iminente.7,11

A RMN pode ser utilizada nos casos em que os critérios

de diagnóstico são inconclusivos, contudo, esta modalidade diagnóstica exige que as pacientes

estejam hemodinamicamente estáveis.4,20-22

Os erros de diagnóstico ou o atraso na instituição da terapêutica podem conduzir a

complicações catastróficas, como hemorragia maciça ou rotura uterina, com risco de

histerectomia e perda da fertilidade.1,7

Na sua revisão, Timor-Tritsch e Monteagudo8 concluiram

que pelo menos 13,6% dos diagnósticos foram errados e que o prognóstico melhora quando o

diagnóstico é correto.

O tratamento deve ser individualizado com base na gravidade dos sintomas, idade

gestacional e viabilidade da gravidez, níveis séricos de β-hCG, tipo de GCC, integridade do

miométrio, opções da mulher e experiência da equipa clínica. Várias intervenções têm sido

aplicadas para preservar a integridade uterina contudo nenhuma é aceite universalmente ou é

20

considerada completamente segura. O único consenso que une os vários autores é que a

gestação deve ser terminada idealmente no primeiro trimestre. Outras conclusões gerais a reter

são que o tratamento expectante deve ser evitado e que a curetagem isolada está contraindicada

pela sua elevada taxa de complicações. Se a mulher não quiser preservar a fertilidade, a

histerectomia deve ser efetuada o mais precocemente possível.

O tratamento com MTX sistémico pode ser uma opção eficaz nos pacientes com níveis

séricos de β-hCG <5000 mUI/ml.1,6,7

A semi-vida curta do MTX e o tecido fibroso que rodeia o

tecido cicatricial, normalmente menos vascularizado que o endométrio normal, podem limitar a

absorção sistémica deste fármaco e justificar a necessidade de doses múltiplas. Assim, a injeção

local de MTX pode ser uma alternativa com efeito mais rápido e com menos efeitos

adversos.4,6,7,10,11

Contudo, apesar da diferente via de administração, o tratamento médico com

MTX tem desvantagens como o tempo de seguimento prolongado, até a massa gestacional

desaparecer ou os níveis séricos de β-hCG serem indetetáveis, e o risco de hemorragia e rotura

uterina persistem ao longo desse tempo.3,18,27,28

A cirurgia endoscópica é uma alternativa minimamente invasiva. A ressetoscopia é mais

adequada nos tipos de GCC com crescimento para a cavidade uterina enquanto a histeroscopia

se aplica nos casos de implantação profunda, quando há crescimento em direção à cavidade

abdominal.1,25,26,28

Foram também descritos casos bem sucedidos em que se combinaram ambos

os métodos.50

A histerotomia por via transvaginal é outro procedimento ainda menos invasivo que

permite uma perda hemática e um tempo cirúrgico reduzidos.38,40,41,53

A EAU ao condicionar uma oclusão temporária destes vasos permite reduzir o risco de

hemorragia e evitar a histerectomia. Esta particularidade justifica a sua frequente combinação

com outros métodos, nomeadamente cirúrgicos.47,55-57,59

A QEAU seguida de curetagem sob

controlo ecográfico ou histeroscópico parece um tratamento alternativo seguro com hemorragia

escassa e com 100% de sucesso de preservação uterina.57

Quando há suspeita ou confirmação de rotura uterina ou se os restantes tratamentos se

mostraram ineficazes a laparotomia é a opção indicada.7,28,47

21

O HIFU é um método de tratamento recentemente descrito para o tratamento da GCC

sendo necessário estudos adicionais que demonstrem a sua eficácia no tratamento deste tipo de

gravidez ectópica.61

22

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26

Apêndice

Legenda:

Figura 1 - Ecografia transvaginal demontrando saco gestacional às 7 semanas implantado a

nível da cicatriz da cesariana anterior, com progressão para a cavidade uterina (tipo1)

27

Agradecimentos

À Doutora Teresa Loureiro, orientadora desta monografia, pela disponibilidade, apoio,

contribuição e rigor científico com que conduziu a elaboração da mesma.

A todos aqueles que, de forma direta ou indireta, permitiram e me ajudaram a alcançar o meu

objetivo.

28

Anexo – Normas da Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa