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2016 METODOLOGIA DO ENSINO DE LUTAS Prof. Amadeo Félix Salvador

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2016

Metodologia do ensino de lutas

Prof. Amadeo Félix Salvador

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Copyright © UNIASSELVI 2016

Elaboração:

Prof. Amadeo Félix Salvador

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

796S182m

Salvador; Amadeo Félix

Metodologia do ensino de lutas / Amadeo Féliz Salvador: UNIASSELVI, 2016.

186 p. : il. ISBN 978-85-515-0045-3 1.Educação Física – Jogos Esportivos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

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apresentação

Bem-vindos acadêmicos, este caderno é destinado ao ensino das Lutas.

Na primeira unidade teremos a satisfação de aprender sobre o fantástico mundo das lutas. Trataremos da influência sobre os conhecimentos de lutas e artes marciais de vários conceitos em nossa formação. Nesse momento, estar em uma universidade permite a você ser parte integrante do processo de aprendizagem.

Na Unidade 1, especificamente, estaremos abordando as origens e histórias de cada luta e de cada arte marcial, são várias as versões históricas de cada luta. Traremos o contexto histórico de cada luta no Brasil, desde a sua chegada até os dias atuais. Além disso, entenderemos o significado e o estudo do nome luta e do nome arte marcial. Iremos abordar, também, as principais regras das mais variadas artes marciais, além de os seus principais movimentos e golpes. Complementando cada luta, teremos as principais associações e federações e muitas curiosidades das mais diversas lutas e culturas marciais.

Na Unidade 2, convido você a ser mensageiro das artes marciais para o mundo escolar, levar o conhecimento descoberto nas lutas como ensinamento para os alunos. Nessa unidade, trataremos, primeiramente, dos direitos e deveres como licenciados em Educação Física perante o ensino das artes marciais através do estudo das legislações e PCN que falam sobre o assunto. Depois disso, trataremos sobre os possíveis aspectos pedagógicos das lutas, desde como ensinar, princípios relevantes e, por fim, os aspectos universais das lutas.

No segundo tópico da unidade, estudaremos a classificação das lutas, que nos permite separar e fracionar o ensino e a aprendizagem. Ainda nos modelos de classificação, estudaremos as ações realizadas, assim como as ações esperadas no ensino das lutas, tanto de forma individual como coletivamente.

Como conclusão dessa unidade traremos, no terceiro tópico, uma série de exemplos de atividades que podem ser utilizados no ensino das lutas, seja em sala de aula ou no tatame.

Na nossa última unidade temos muito ainda para aprender sobre o fantástico mundo das lutas e como transmitir esse conhecimento aos nossos alunos.

O esporte é sim uma ferramenta educativa, assim como o ensino das lutas e artes marciais, ou ainda, o esporte de lutas pode ser um conteúdo educacional, pois é muito mais do que simples gestos repetidos em ordem (DARIDO; RANGEL, 2005). Assim, na Unidade 3, iremos trabalhar as atividades de ações inesperadas que devem ter extremo foco devido à necessidade de um

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controle do professor ainda maior que as atividades de ação esperada. Ainda na Unidade 3, abordaremos a arte da Capoeira, aspectos históricos, conceito de Capoeira, principais movimentos e letras de música. Por fim, abordaremos o ensino das lutas para pessoas com deficiência, como por exemplo, a luta para deficientes intelectuais, auditivos, visuais, físicos, entre outras deficiências. Durante o estudo dessa unidade, como nas demais, coloque-se no ambiente de ensino e tome notas para que quando for a hora de ensinar esteja mais preparado. Vamos lá!

Bons Estudos!

Prof. Amadeo Félix Salvador

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UNI

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suMário

UNIDADE 1 – CONHECENDO AS LUTAS ...................................................................................... 1

TÓPICO 1 – CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS .................................................................................. 31 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 32 CONCEITOS ......................................................................................................................................... 3RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 7AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 8

TÓPICO 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS .................................................................... 111 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 112 HISTÓRIA GERAL DAS LUTAS ..................................................................................................... 113 HISTÓRIA DAS LUTAS COMO PRÁTICA ESPORTIVA .......................................................... 16

3.1 JUDÔ ................................................................................................................................................ 183.1.1 Breve história do judô no Brasil ........................................................................................... 193.1.2 Breve resumo do judô e algumas regras ............................................................................ 19

3.2 JIU-JÍTSU .......................................................................................................................................... 223.2.1 História do jiu-jítsu no Brasil ............................................................................................... 243.2.2 Breve resumo das regras do jiu-jítsu ................................................................................... 263.2.3 Principais movimentos do jiu-jítsu ..................................................................................... 27

3.3 CARATÊ ........................................................................................................................................... 283.3.1 Breve história do caratê no Brasil ........................................................................................ 313.3.2 Breve resumo das regras do caratê ...................................................................................... 32

3.4 KUNG FU ......................................................................................................................................... 343.4.1 História do kung fu ................................................................................................................. 343.4.2 A história do kung fu no Brasil ............................................................................................. 373.4.3 Breve resumo das regras do kung fu .................................................................................... 38

3.5 SUMÔ ............................................................................................................................................... 393.5.1 História do Sumô ................................................................................................................... 393.5.2 História do Sumô no Brasil .................................................................................................. 413.5.3 Resumo breve das regras do Sumô ..................................................................................... 41

3.6 BOXE ................................................................................................................................................ 433.6.1 Breve resumo das regras do boxe ........................................................................................ 45

3.7 LUTA GRECO-ROMANA E LUTA LIVRE ................................................................................ 473.7.1 História da luta greco-romana ............................................................................................. 483.7.2 História da luta greco-romana no Brasil ............................................................................ 493.7.3 Breve resumo das regras das lutas ...................................................................................... 50

3.8 ESGRIMA ........................................................................................................................................ 513.8.1 História da esgrima no Brasil ............................................................................................... 523.8.3 Breve resumo das regras da esgrima .................................................................................. 53

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 56RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 60AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 62

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UNIDADE 2 – LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR ......................................................................... 65

TÓPICO 1 – PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA ........................................................................... 671 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 672 LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS ESCOLARES SOBRE LUTAS ............................................... 673 RESPONSABILIDADES E DIFICULDADES DOS PROFESSORES AO ENSINAR LUTAS NA ESCOLA ......................................................................................................................................... 68

3.1 PROPOSTAS PARA O ENSINO DE LUTAS .............................................................................. 743.2 COMO ENSINAR AS LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR? .................................................... 75

3.2.1 Dimensão conceitual ............................................................................................................. 763.2.2 Dimensão procedimental ...................................................................................................... 773.2.3 Dimensão atitudinal .............................................................................................................. 78

4 PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS RELEVANTES PARA O ENSINO DE LUTAS NA ESCOLA ................................................................................................................................................. 79

4.1 AVALIAÇÃO ESCOLAR PARA AS LUTAS ............................................................................... 794.1.1 A abordagem dos conteúdos ................................................................................................ 804.1.2 Critério de inclusão ............................................................................................................... 804.1.3 A questão do gênero .............................................................................................................. 824.1.4 Respeito e preconceito nas práticas de lutas ...................................................................... 83

4.2 ASPECTOS UNIVERSAIS DAS LUTAS ...................................................................................... 844.2.1 Imprevisibilidade ................................................................................................................... 844.2.2 Oposição .................................................................................................................................. 854.2.3 Regras ...................................................................................................................................... 854.2.4 Nível de contato ..................................................................................................................... 864.2.5 Ataque e defesa simultâneos ................................................................................................ 864.2.6 Oponente móvel ..................................................................................................................... 874.2.7 Enfrentamento físico ............................................................................................................. 88

RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 90AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 92

TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS ................................................................ 951 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 952 CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS ....................................................................................................... 95

2.1 AS AÇÕES DE AGARRE ............................................................................................................... 962.2 AS AÇÕES DE TOQUE .................................................................................................................. 972.3 AS AÇÕES MISTAS: AGARRE + TOQUE ................................................................................... 98

3 INTENÇÃO DA AÇÃO ...................................................................................................................... 994 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO LOCAL DE SURGIMENTO ................................................ 1005 AÇÕES ESPERADAS PARA O ENSINO DE LUTAS ................................................................... 100RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 102AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 103

TÓPICO 3 – ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS ........................................... 1051 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1052 ATIVIDADES DE CUNHO ATITUDINAL .................................................................................... 105

2.1 ATIVIDADE COM FILMES .......................................................................................................... 1053 MOSTRA DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA .......................................................................... 109

3.1 ATIVIDADES TEÓRICAS DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA ........................................... 1093.2 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE MODO INDIVIDUAL ....... 1103.3 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE FORMA COLETIVA .......... 113

RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 116AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 117

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IX

UNIDADE 3 – ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE .......................... 119

TÓPICO 1 – ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS .......................................................... 1211 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1212 DESENVOLVIMENTO ESCOLAR .................................................................................................. 1213 VISÃO DO PROFESSOR ................................................................................................................... 135RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 138AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 140

TÓPICO 2 – CAPOEIRA ........................................................................................................................ 1411 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1412 O QUE É CAPOEIRA? DANÇA? LUTA? TEATRO? ..................................................................... 1413 ORIGEM DA CAPOEIRA .................................................................................................................. 142

3.1 O NOME CAPOEIRA .................................................................................................................... 1463.2 OS MESTRES E A SUA INFLUÊNCIA DA CAPOEIRA .......................................................... 1463.3 SISTEMA OFICIAL DE GRADUAÇÃO ..................................................................................... 1483.4 O JOGO DA CAPOEIRA, COMO FUNCIONA? ....................................................................... 1493.5 TOQUES DA CAPOEIRA ............................................................................................................. 1503.6 PRINCIPAIS MOVIMENTOS DA CAPOEIRA .......................................................................... 150

3.6.1 Ginga ....................................................................................................................................... 1513.6.2 Cocorinha ................................................................................................................................ 1513.6.3 Aú ............................................................................................................................................. 1523.6.4 Bênção ...................................................................................................................................... 1523.6.5 Negativa .................................................................................................................................. 1523.6.6 Armada .................................................................................................................................... 1533.6.7 Cabeçada ................................................................................................................................. 1533.6.8 Queixada ................................................................................................................................. 1543.6.9 Meia lua de frente .................................................................................................................. 1543.6.10 Rasteira .................................................................................................................................. 1553.6.11 Macaco ................................................................................................................................... 1553.6.12 Martelo .................................................................................................................................. 1563.6.13 Floreios ou flick flack ............................................................................................................ 156

3.7 INSTRUMENTOS ........................................................................................................................... 1563.7.1 Berimbau ................................................................................................................................. 1573.7.2 Pandeiro .................................................................................................................................. 1573.7.3 Caxixi ....................................................................................................................................... 1583.7.4 Atabaque ................................................................................................................................. 1583.7.5 Ganzá ou Reco-Reco .............................................................................................................. 1593.7.6 Agogô ...................................................................................................................................... 159

3.8 LETRAS E CANTOS DE MÚSICAS DA CAPOEIRA ............................................................... 1604 ATIVIDADES DA CAPOEIRA ......................................................................................................... 1615 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A CAPOEIRA .......................................................................... 162RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 165AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 166

TÓPICO 3 – LUTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................................................ 1671 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1672 CONHECENDO O MUNDO DAS NECESSIDADES ESPECIAIS ........................................... 1673 TERMINOLOGIA ................................................................................................................................ 1684 TIPOS DE DEFICIÊNCIAS ................................................................................................................ 170

4.1 DEFICIÊNCIA VISUAL ................................................................................................................. 1704.2 DEFICIÊNCIA AUDITIVA ............................................................................................................ 171

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4.3 DEFICIÊNCIA FÍSICA ................................................................................................................... 1724.4 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................................................................... 1734.5 DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA ........................................................................................................... 1744.6 SURDOCEGO ................................................................................................................................. 174

5 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A LUTA E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............... 175RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 178AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 180REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 181

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UNIDADE 1

CONHECENDO AS LUTAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• conhecer o contexto das lutas e suas aplicações no mundo profissional;

• conhecer as várias modalidades de lutas, suas histórias e origens;

• aprender as principais regras e normas de cada luta;

• conhecer os espaços, equipamentos e vestimentas de cada luta;

• reconhecer os principais golpes de cada luta e como estes são aplicados de acordo com a regra.

Esta unidade está dividida em dois tópicos. Em cada um deles você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.

TÓPICO 1 – CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS

TÓPICO 2 – ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS

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TÓPICO 1UNIDADE 1

CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS

1 INTRODUÇÃO

2 CONCEITOS

Neste primeiro tópico da Unidade 1, convido você, acadêmico, a viajar no mundo milenar das lutas e vir, junto com dezenas de mestres, aprender como o ensino das lutas é essencial. A intenção deste caderno de estudos é desmistificar essa ideia e demonstrar de que modo as artes marciais e as lutas se constituíram como uma prática de atividade física interessante para a escola. Você sabia que, apesar de as lutas serem um conteúdo oficial da disciplina de Educação Física, apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, este ainda é muito negligenciado? (RUFINO, 2015). Para mudarmos este entendimento errôneo de como o mundo das lutas está ausente do mundo escolar, temos que entender, primeiramente, a conceituação de lutas.

De acordo com Duarte (2004), apresentamos uma lista de conceitos. Caro acadêmico, leia criticamente e absorva o melhor que estes conceitos podem fornecer.

1. Antigamente, a terminologia “artes marciais” referia-se às lutas de origem militar. Entendendo-se como o sistema de combate somado ao conjunto de regras, regulamentos e preceitos filosóficos.

2. É um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas. Deve usar meios de ataque e defesa, derrotar o oponente. Precisa, necessariamente, do oponente e tudo acontece simultaneamente.

3. O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”.

4. A expressão artes marciais é uma composição do latim arte, e martiale (“referente à guerra; bélico”).

Outra definição bem notável é a demonstrada por Pucinelli (2004, p. 11), em que o autor descreve as lutas como:

[…] uma prática de oposição geralmente entre duas pessoas, na qual realize-se uma ação (toque ou agarre) com o objetivo de dominar a outra, dentro das regras específicas. Duas condições são essenciais para considerarmos atividade como luta: o alvo da ação ser própria pessoa e a possibilidade de finalização do ataque ser mútua, a qualquer momento, inclusive, simultânea.

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UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS

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Com grande semelhança, por partir de origem conceitual parecida, Gomes (2008, p. 49) propõe a luta como:

Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfrentarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre o alvo móvel personificado no oponente.

Acadêmico, perceba como os autores utilizam as nomenclaturas contato, regras, objetivo e ações. Estas são, sem dúvida, terminações que serão muito utilizadas no decorrer do nosso caderno de estudos, porque toda luta necessita de REGRAS para controlar o nível de CONTATO e declarar quais AÇÕES são permitidas para o alcance do OBJETIVO (PUCINELI, 2004; GOMES, 2008; RUFINO, 2015).

Para maior entendimento e criação de uma mente ainda mais crítica, você pode ler o artigo: Lutas, artes marciais e modalidades esportivas, neste link: <http://www.efdeportes.com/efd158/lutas-artes-marciais-uma-questao-de-terminologia.htm>.

As lutas e as artes marciais apresentam origens diversas, tanto quanto ao local de surgimento, quanto aos objetivos de criação e surgimento das mesmas. Dentre os objetivos de criação, o mais comum de ouvirmos são os motivos militares (kung fu), porém também existem os motivos de sobrevivência, que deram início às primeiras artes marciais e tipos de defesa pessoal, por exemplo, a capoeira brasileira, e também as criações por motivos de atividade física, além das implicações das tradições culturais, religiosas e filosóficas.

Alguns aspectos podem ser utilizados para diferenciar os termos luta e artes marciais. As artes marciais são práticas corporais de ataque e defesa, podendo ser também caracterizadas como lutas. A principal diferença entre as duas é que os praticantes de artes marciais, principalmente as de origem oriental, consideram que os conteúdos da cultura de origem da atividade teriam uma orientação filosófica que determinaria a sua diferença para com as lutas (FERREIRA, 2006).

As lutas fizeram e fazem parte da cultura corporal do ser humano, ou seja, são práticas historicamente importantes e que acompanham os seres humanos ao longo de sua vida e também ao longo de décadas e – por que não? – milênios (RUFINO, 2015).

DICAS

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TÓPICO 1 | CONCEITUAÇÃO DAS LUTAS

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FIGURA 1 - KUNG FU – UMA ARTE MILENAR QUE É MANTIDA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.pinterest.com/guscorreia/paisagens-e-templos-japoneses/>. Acesso em: 1º ago. 2016.

Assim como outros tipos de atividades, como danças, atividades rítmicas, esportes, jogos, brincadeiras, atividades de circo, entre outras, as lutas também são manifestações inseridas pela população em uma esfera cultural. O implementar das lutas na sociedade altera a maneira como os cidadãos interagem entre si, mudando o jeito com que pensamos e agimos (RUFINO, 2015). Os grandes mestres (como são denominados os treinadores nas artes marciais do Oriente) ressaltam que a luta é muito mais que uma simples repetição de gestos físicos, é o total controle mental (GOMES, 2008).

Caro acadêmico, com o conhecimento dos vários motivos supracitados, o entender das lutas torna-se fundamental no âmbito escolar, ainda mais quando nos deparamos com os conteúdos pertencentes à esfera da cultura corporal da educação. Mesmo com a importância das lutas e o seu aprendizado tão elucidado por vários motivos, este conhecimento apresenta muita resistência, impulsionada pelos argumentos de falta de capacitação, falta de espaço, falta de materiais de treinamento e de materiais de segurança, falta de uniforme ou vestimenta adequada da modalidade e, sobretudo, com o preconceito nas questões de violência (DARIDO; RANGEL, 2005).

Ficou nítido que necessidades mínimas são necessárias para a prática, porém, conforme elucidado por Eduardo Carreiro (2005, p. 244): [...] o professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão.

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UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS

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FIGURA 2 – ALUNOS SE CUMPRIMENTAM DIANTE DA PROFESSORA

FONTE: Disponível em: <http://novaescola.org.br/educacao-fisica/pratica-pedagogica/luta-sinonimo-paz-424330.shtml>. Acesso em: 2 ago. 2016.

Por fim, a intenção desta unidade é trazer a você, acadêmico, o entendimento de como as artes marciais e as lutas tomaram a forma e importância que têm hoje, desde os tempos de sua origem no país-sede até a sua chegada ao Brasil. Venha, junto conosco, desfrutar deste mais novo conhecimento, e tenho certeza de que no final deste estudo você será um entendedor das principais lutas praticadas no mundo.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Apesar de as lutas serem um conteúdo oficial da disciplina de Educação Física, apresentado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, este ainda é muito negligenciado.

• É um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas. Deve usar meios de ataque e defesa, derrotar o oponente. Precisa, necessariamente, do oponente e tudo acontece simultaneamente.

• O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”.

• A expressão artes marciais é uma composição do latim arte, e martiale (“referente à guerra; bélico”).

• Toda arte marcial necessita de REGRAS para controlar o nível de CONTATO e declarar quais AÇÕES são permitidas para o alcance do OBJETIVO.

• As lutas e as artes marciais apresentam origens diversas, tanto em relação ao local de surgimento quanto aos objetivos de criação das mesmas. Dentre os objetivos de criação das lutas podemos constatar: motivos militares, de sobrevivência, de defesa pessoal, além das implicações das tradições culturais, religiosas e filosóficas.

• Assim como outros tipos de atividades, as lutas também são manifestações inseridas pela população em uma esfera cultural. O implementar das lutas na sociedade altera a maneira como os cidadãos interagem entre si.

• O professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 De acordo com a citação encontrada no Tópico 1, a qual se refere ao contexto de lutas: “o professor deve saber esclarecer que este conteúdo não significa necessariamente violência e, assim, deve ter argumentos para esta discussão” (CARREIRO, 2005, p. 244), se você estivesse em uma situação de professor, quais argumentos usaria para defender tal testamento?

2 De acordo com os estudos de conceituação de lutas e artes marciais vistos neste tópico, preencha as lacunas com V para alternativas verdadeiras e F para alternativas falsas.

( ) O termo luta pode ser definido como um jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas, e são permitidas somente ações de defesa, sendo o ataque não permitido por uma questão moral.

( ) O substantivo luta, do latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”.

( ) A expressão artes marciais é uma composição do latim artes, e martiale (“referente à guerra; bélico”). Assim, podemos dizer que as lutas têm relação direta com os confrontos bélicos que aconteceram.

( ) Os termos luta ou artes marciais remetem a algo bagunçado e até mesmo violento, e por estes motivos não podem ser abordados em ambiente escolar.

Selecione a alternativa que preenche de forma correta as lacunas acima:

a) ( ) V – V – V – V.b) ( ) V – F – V – F.c) ( ) V – F – F – F.d) ( ) F – V – V – F.

3 Escolha a alternativa que preenche corretamente as lacunas encontradas na frase estudada:

Toda arte marcial necessita de ________ para controlar o nível de ________ e declarar quais ________ são permitidas para o alcance do _________.

I - REGRAS II - CONTATO III - EQUIPAMENTOS IV - OBJETIVO V - AÇÕES

a) ( ) I – II – III - IV.b) ( ) I – III – IV - V.c) ( ) II – IV – III - I.d) ( ) I – II – V - IV.

AUTOATIVIDADE

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4 Durante o estudo do Tópico 1 na Unidade 1, listamos e estudamos quatro motivos para a criação das artes marciais. Por favor, liste três deles e explique cada um que for mencionado.

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TÓPICO 2

ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

2 HISTÓRIA GERAL DAS LUTAS

Neste tópico, abordaremos a origem das mais variadas lutas, o caminho histórico percorrido por estas no mundo e no Brasil, um breve resumo de cada luta, atletas, técnicos ou mestres marcantes da modalidade e os atuais nomes do esporte, e, claro, muitas curiosidades sobre o fantástico mundo das lutas.

Serão abordadas as seguintes lutas: judô, jiu-jítsu, boxe, caratê, kung fu, sumô, luta greco-romana e esgrima. Antes de você se perguntar sobre a capoeira, consideramos esta uma arte marcial diferenciada para os brasileiros, por diversos motivos, e por isso, especificamente, a capoeira será enfatizada na Unidade 3, com evoluções históricas, regras, atividades e metodologia do ensino. Sabemos que não foram listadas todas as lutas, e infelizmente não teríamos tempo e nem espaço para contemplarmos todas elas. Porém, isso não quer dizer que, caso houver uma luta de seu interesse que não foi abordada, você não possa estudá-la.

Que tal conferir a grande quantidade de lutas e seus variados estilos e modelos? 100 estilos de luta? 150? Mais? Clique no link para ver a grande maioria dos estilos de luta existentes no mundo, você vai se surpreender: <http://www.blackbeltwiki.com/martial-arts-styles>.

Sabemos que a origem da luta é algo muito amplo para podermos dizer que começou aqui ou começou nesta cidade, isto é, há um fator dependente para cada luta, e é preciso investigar o quanto o fator proteção ou ataque foi determinante para cada luta, conforme mencionado no tópico anterior, sobre conceitos e terminologias.

DICAS

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UNIDADE 1 | CONHECENDO AS LUTAS

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Confira no vídeo a História das Lutas <https://www.youtube.com/watch?v=pjSxJWv3-Is>- um vídeo muito interessante que rapidamente vai preparar sua mente para o conteúdo a seguir.

Entretanto, sabemos que o ser humano se utiliza do corpo para conseguir sua sobrevivência, ou para conseguir seu alimento através da caça e colhendo vegetais ou travando combates com outros seres humanos ou animais em defesa de seu território, ou mesmo, se defendendo de moléstias (PINTO et al., 2009).

Estes atos de defesa ou ataque gerando combate humano têm vários momentos e lugares épicos, por exemplo, nas Américas, povos como os incas, os maias e astecas realizavam danças para as divindades, bem como lutas que deveriam terminar na morte de um sacrificado e ofertado aos deuses.

Já os chineses, em grandes parques que simulam áreas de treinamento atuais, realizavam exercícios de corpo livre, evoluções de ordem unida com coreografias de danças militares. As evoluções de ordem unida, executadas como se devessem enfrentar um inimigo, foram primordiais para a notável superioridade do povo chinês sobre os demais, a qual se manteve por séculos (DUARTE, 2004).

FIGURA 3 – RITUAIS MISTURAM DANÇAS E ARTES MARCIAIS EM TREINAMENTOS NO EXÉRCITO CHINÊS

FONTE: Disponível em: <http://port.pravda.ru/photo/album/3638/>. Acesso em: 25 jul. 2016.

DICAS

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TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS

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FIGURA 4 - TREINAMENTO MILITAR EM ESPARTA: A EDUCAÇÃO DA ÉPOCA

FONTE: Disponível em: <https://mundodesalienado.wordpress.com/tag/historia-da-educacao/>. Acesso em: 23 jul. 2016.

Do ponto de vista militar, e assim objetivando as lutas, os japoneses tinham como líderes na educação física e no ensino das lutas os famosos samurais. As principais artes marciais eram a esgrima com o sabre, a esgrima com a lança, caratê, sumô e o judô. Tanto o caratê quanto o judô miravam o desenvolvimento corporal aliado ao espiritual, além da autodisciplina e autodefesa. Tais conhecimentos e ensinamentos são procurados ainda hoje por pessoas que querem conseguir o controle espiritual através da luta. Já o sumô era a forma mais antiga de luta, com valorização ao peso dos atletas (DUARTE, 2004).

Quando olhamos atentamente a história dos egípcios, no Oriente Médio, é clara a relação fundamental que existia entre a eficiência física e o rito religioso; de fato, em ocasiões das mais importantes festas religiosas, executavam-se diversas demonstrações, dentre elas a antiquíssima luta com bastões (CRAMER; CAMPOS, 2007). Os indianos também utilizavam muito as demonstrações de esgrima com sabre e até mesmo o pugilato.

Sobre o pugilato, existem tendências que indicam seu surgimento entre os espartanos. Ah! Esparta. Como falar da história da luta e não falarmos do forte e rigoroso sistema de treinamento militar espartano? A extraordinária importância que teve a ginástica na educação do cidadão espartano permitiu a invenção do pugilato e do pancrácio. Pancrácio era uma espécie de combate ou prova atlética dos gregos e romanos antigos, envolvendo elementos de luta livre e pugilato (DUARTE, 2004).

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Na Grécia antiga, a luta era considerada não somente uma das disciplinas gímnicas mais apaixonantes, mas também um exercício indispensável para o reforço do físico e do caráter dos jovens. As formas de luta que se praticavam na Grécia eram, substancialmente, quatro, e todas razoavelmente distantes, esteja bem claro, da luta que hoje, diríamos arbitrariamente, chamamos de “greco-romana”. Por muito tempo acreditou-se – de maneira um pouco superficial – que o termo “greco-romana” indicasse naturalmente um tipo de combate de origem grega, oportunamente modificado pelos romanos. E baseando-se no fato de que a posição do lutador com as palmas das mãos e os joelhos pousados sobre a terra e o corpo levantado, como para caminhar com quatro pés, é até hoje denominada como de origem grega. Considerou-se que a luta grega fosse aquela da posição deitada e que a romana fosse aquela em pé (perpendicularmente). Assim teria surgido o termo “greco-romana” para designar a nossa luta, que se desenvolve tanto em pé quanto deitada (DUARTE, 2004).

FIGURA 5 - DETALHE EM OBRA DA GRÉCIA ANTIGA DEMONSTRANDO A LUTA GRECO-ROMANA

FONTE: Disponível em: <http://lalaruiz.com.br/2016/03/ha-poesia-nos-jogos-olimpicos-e-um-simposio-em-sao-paulo-vai-mostrar/>. Acesso em: 28 jul. 2016.

Cabe ressaltar também a luta determinada Pancrácio, que divergia do próprio e verdadeiro pugilato pela ausência de “luvas”, porque os lutadores combatiam com o punho nu e era muito mais perigoso que o pugilato, já que os competidores podiam bater no adversário mesmo este estando caído em terra, sem limitações de socos. Era de fato consentido dar cabeçadas, morder e até mesmo atacar com os dedos os olhos do rival. O mais celebrado de todos os lutadores, talvez de todos os atletas gregos, foi Milon de Crotona, homem de força sobre-humana. Conseguiu seis vitórias consecutivas na modalidade de luta em Olímpia.

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TÓPICO 2 | ASPECTOS HISTÓRICOS DAS LUTAS

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FIGURA 6 - MILON DE CROTONA, SEIS VEZES CAMPEÃO DE OLÍMPIA

FONTE: Disponível em: <http://tistimavo.blogspot.com.br/2012/08/milone-di-crotone.html>. Acesso em: 3 ago. 2016.

A instituição de combates físicos entre seres humanos (exaustivos e muitas vezes até à morte) foi, ao longo da história, assumindo significados distintos, como podemos ver nos parágrafos anteriores, isso de cultura para cultura, povo para povo e período a período. Com a evolução das sociedades, foram surgindo formas sistematizadas e diferenciadas de combates corporais, a ponto de estas formas assumirem caráter de estilos baseados em filosofias que agregavam valores e atrelavam um número significativo de pessoas a fim de organizar grupos militares para proteção das nações (PINTO et al., 2009).

Com o avanço da indústria bélica, novas formas de combate foram criadas, e as armas de fogo tomaram o lugar do combate corpo a corpo. Todos os acontecimentos históricos projetaram uma troca no entendimento do combate corporal, resumindo-se assim o objetivo e a eficácia da habilidade física organizada em modalidade de luta apenas à prática esportiva ou de simples lazer (DUARTE, 2004; CRAMER; CAMPOS, 2007).

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PRINCÍPIO DA SOBRECARGA

Caro estudante, no futuro, nas disciplinas de Treinamento e/ou Fisiologia do Exercício, você ouvirá sobre o princípio da sobrecarga. Este princípio baseia-se no entendimento de que após a aplicação de uma carga de trabalho existe uma recuperação do organismo visando restabelecer a homeostase (DANTAS, 2003). O interessante é que você, estudante, deve estar se perguntando: “Por que ele está discutindo sobre este assunto específico agora?” Pois então, lembra do Milon de Crotona, que estudamos agora há pouco? Segundo as lendas, ele é a forma histórica deste princípio. Mílon, da época de 500 a 580 a.C., na Itália, foi atleta olímpico de luta, além de discípulo do matemático Pitágoras. Tudo indica que através dele o método de treinamento mais antigo da humanidade, utilizado até hoje, a evolução progressiva da carga, foi criado. Este atleta corria com um bezerro nas costas, para aumentar as forças dos membros inferiores, e quanto mais pesado o bezerro ficava, proporcionalmente sua força aumentava. Nos jogos antigos teria ganho 12 competições: seis vezes nos Jogos Olímpicos e seis vezes nos Jogos Píticos. O nome da cidade de Milão foi dado em sua homenagem.

Agora, quando você for questionado sobre treinamento, já saberá tudo sobre o quanto essencial a sobrecarga é no dia a dia do treinamento, e como tudo surgiu.

MÍLON DE CROTONA E A EXPLICAÇÃO ILUSTRATIVA DO PRINCÍPIO DE SOBRECARGA

Disponível em: <http://revistasuaacademia.com.br/materia/um-pouco-mais-sobre-a-historia-da-musculacao/363>. Acesso em: 25 ago. 2016.

3 HISTÓRIA DAS LUTAS COMO PRÁTICA ESPORTIVAConforme mencionado anteriormente, as lutas passaram aos poucos de um

ato de defesa e ordem militar para a prática esportiva, que pode ser evidenciada até os dias de hoje. Alguns autores acreditam que as transformações das lutas acarretaram uma perda do ideal e valores delas, pois, no mundo do alto desempenho, o que mais importa para os grandes lutadores tem sido pura e simplesmente a vitória. Independentemente das mudanças, as lutas ainda continuam sendo praticadas

IMPORTANTE

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pelo mundo inteiro e, além das competições com instâncias mundiais, nacionais, estaduais e regionais, o marco mais histórico para estas modalidades tem sido os grandiosos Jogos Olímpicos. Infelizmente, não são todas as modalidades de lutas e artes marciais que estão nos Jogos Olímpicos, pois o Comitê Olímpico leva em consideração uma série de fatores para a introdução de determinada modalidade ao quadro de práticas olímpicas (COI, 2016).

Podemos dizer que a busca por modalidades de artes marciais tem aumentado, devido ao grande incentivo da mídia ao Mixed Martial Arts (que significa artes marciais mistas) e porque há um grande mercado consumidor de entretenimento através do UFC (Ultimate Fighting Champioship). As lutas olímpicas, por fim, acabam conseguindo assim também maior visibilidade, já que determinados elementos seus podem ser utilizados nestas lutas (MMA) de poucas regras, podendo também atingir um público maior e exibir suas qualidades e curiosidades (VASQUES; BELTRÃO, 2013).

Atualmente, as lutas disputadas em nível olímpico são o boxe, o judô, a luta greco-romana, esgrima, luta livre e o tae kwon do (COI, 2016) (mais adiante iremos explicar cada uma destas lutas de forma mais detalhada, com exceção do tae kwon do). Para conhecimento e visibilidade da população, consequentemente serão as modalidades em média mais conhecidas pelos estudantes em nível escolar.

O judô e a esgrima são as lutas mais procuradas e assistidas pela sociedade, apresentando uma preferência maior. Além destas, o pugilismo também apresenta determinado grau de interesse, e ainda maior quando a aposta brasileira é de confiança, quando o atleta indicado à competição já se apresenta vitorioso em diferentes situações ao longo dos anos. Por exemplo, como podemos esquecer o impulso dado ao boxe pelo atleta Acelino Popó Freitas? Assim, podendo também despertar o interesse durante as Olimpíadas, se fazendo então uma das lutas principais (AIBA, 2016; CBB, 2016).

FIGURA 7 - CONFIRMAÇÃO DA PRIMEIRA MEDALHA DE OURO NOS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO 2016, COM A TORCIDA APOIANDO A CAMPEÃ

FONTE: Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/lutas/album/2013/08/28/terceiro-dia-de-disputas-do-mundial-de-judo-no-rio-de-janeiro.htm>. Acesso em: 25 ago. 2016.

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3.1 JUDÔ

Uma arte marcial esportiva e que pode, sim, ser letal. Foi criada no Japão, em 1882, de uma adaptação do jiu-jítsu, pelo professor de Educação Física Jigoro Kano (JANICOT; POUILLART, 1999). Pessoa de alta cultura geral, ele era um esforçado cultor de ju-jítsu. Procurando encontrar explicações científicas aos golpes, baseados em leis de dinâmica, ação e reação, selecionou e classificou as melhores técnicas dos vários sistemas de ju-jítsu, dando ênfase principalmente no ataque aos pontos vitais e nas lutas de solo do estilo Tenshin-Shinyo-Ryu e nos golpes de projeção do estilo Kito-Ryu. Inseriu princípios básicos como o do equilíbrio, gravidade e sistema de alavancas nas execuções dos movimentos lógicos. Na criação desta arte marcial, Kano tinha como objetivo criar uma técnica de defesa pessoal, além de desenvolver o físico, espírito e mente. O judô teve uma grande aceitação no Japão, espalhando-se, posteriormente, para o mundo todo, pois possui a vantagem de unir técnicas do jiu-jítsu (arte marcial japonesa) com outras artes marciais orientais. Esta arte marcial chegou ao Brasil no ano de 1922, em pleno período da imigração japonesa (KANO, 1994).

FIGURA 8 - JIGORO KANO E SUA VESTIMENTA

FONTE: Disponível em: <http://www.burnabyjudoclub.ca/about-judo/jigoro-kano-founder-of-kodokan-judo/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

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3.1.1 Breve história do judô no Brasil

3.1.2 Breve resumo do judô e algumas regras

Esta arte milenar chegou ao Brasil por meio do Conde Koma, cujo nome seria Mitsuyo Maeda. Apesar de ter aparecido anos após a entrada dos primeiros imigrantes japoneses, o Conde Koma, primeiramente, foi aos Estados Unidos como enviado especial da Kodocan para divulgar o judô, juntamente com quatro lutadores importantes, Tomita, Sakate, Ono e Ito. Percorreram desde os Estados Unidos, América Central até a América do Sul e, por fim, chegaram ao Brasil. As histórias dizem que a primeira demonstração de judô aconteceu no Brasil (KANO, 1994; JANICOT; POUILLART, 1999).

Você sabia que o judô é o esporte individual que mais deu medalhas olímpicas para o Brasil? Interessante, não é? São 19, sendo três ouros, três pratas e 13 bronzes. O primeiro ouro olímpico do judô brasileiro veio com o também meio pesado Aurélio Miguel, nos Jogos de Seul, em 1988. E o segundo veio na edição seguinte das Olimpíadas, em 1992, com Rogério Sampaio no meio leve (CBJ, 2016). Ketleyn Quadros virou história do judô feminino brasileiro, sendo a primeira judoca mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica, com a importantíssima e muito suada medalha de bronze, nos Jogos Olímpicos de Pequim (FJERJ, 2016).

Atualmente, temos que destacar que a primeira medalha de ouro dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro veio com Rafaela Silva. A atleta judoca derrotou Dorjsürengiin Sumiya, da Mongólia, na final na categoria até 57 quilos feminino (CBJ, 2016). Também com muita importância, o judô brasileiro ganhou mais duas medalhas olímpicas neste evento: Mayara Aguiar (peso meio-pesado) ficou com o bronze e Rafael Silva também conquistou bronze (na categoria acima de 100 quilos).

O local de prática das lutas de judô é um tatame com formato quadrado (14 a 16 metros de lado). O tatame deve ser capaz de manter uma pisada firme de modo que não prejudique os movimentos da prática e, claro, deve absorver os impactos das quedas e golpes. Para maior praticidade e menor custo, nas academias são usados tatames sintéticos de EVA (REAY, 1985).

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FIGURA 9 - ÁREA DE COMPETIÇÃO DE JUDÔ

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuPYAF/regulamento-competicoes-judo#>. Acesso em: 25 ago. 2016.

O tempo de duração de cada luta é de aproximadamente cinco minutos. Vence quem conquistar o gesto ou movimento denominado ippon primeiro. Se no terminar da luta nenhum judoca conseguir o tal ippon, vence aquele que tiver mais vantagens. Agora você deve estar se perguntando o que é ippon. Pois então, ippon nada mais é que o maior objetivo do judô (um ponto completo). O ippon é conquistado quando um judoca consegue derrubar o adversário, imobilizando-o, com as costas ou ombros no chão durante 30 segundos. Quando o ippon é concretizado, o combate se encerra (REAY, 1985; KANO, 1994; JANICOT; POUILLART, 1999).

Outra forma de pontuação no judô é o wazari, que vale meio ponto (vantagem). O wazari nada mais é que um ippon que foi aplicado de forma incompleta, ou seja, o adversário cai sem ficar com os dois ombros no tatame. Existe também o yuko, que é quando o adversário vai ao solo de lado, sendo que cada yuko vale um terço de ponto. Por fim, o koka é considerado a menor pontuação do judô, valendo um quarto de ponto. Este golpe é classificado pela queda sentada do adversário no tatame. Uma exceção é que quatro kokas não geram o final da luta automaticamente, embora ele seja cumulativo (REAY, 1985).

O traje usado para praticar o judô é muito respeitado dentro do mundo dos judocas, sendo que deve ser construído de forma que proteja e não venha a lesionar o adversário; este, chama-se "JUDOGUI". Consiste numa vestimenta ampla, geralmente branca, composta de duas peças principais: O blusão, conhecido também como wagui, e a calça, conhecida também como zubon. Em torno da cintura o judoca usa a faixa obi amarrada com um nó direto, a faixa define as graduações (próximo subtópico) e, segundo as histórias, a faixa não deveria ser lavada, pois o quão “desgastada” ou “usada” a faixa está, mais treinos e lutas determinado judoca tem (FJERJ, 2016).

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FIGURA 10 - JUDOGUI E SEUS PADRÕES

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAuPYAF/regulamento-competicoes-judo#>. Acesso em: 25 ago. 2016.

Conforme mencionado anteriormente, as graduações no judô são feitas através de faixas e suas diferenciações. Existem vários padrões de graduação no mundo inteiro, o Brasil adota um sistema com diferenciação de acordo com a idade do praticante (JANICOT; POUILLART, 1999).

O judô utiliza federações e confederações para organizar as competições e regularizar a sua prática, sendo as questões internacionais organizadas pela IJF - International Judo Federation (Federação Internacional de Judô). Já as questões nacionais são organizadas pela CBJ (Confederação Brasileira de Judô).

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FIGURA 11 - GRADUAÇÃO NO JUDÔ

FONTE: Disponível em: <http://www.judorecife.com.br/#!As-Faixas-do-Jud%C3%B4-Gradua%C3%A7%C3%B5es/csso/5706a61e0cf2efb3747ecb97>. Acesso em: 25 ago. 2016.

A Federação Internacional de Judô mantém um ranking atualizado em seu site e é interessante você conferir os lugares em que o Brasil se encontra. Você pode acessar através deste link:<http://www.intjudo.eu/fo-Rankingir>.

3.2 JIU-JÍTSU

As crenças de como determinada arte se tornou o grande jiu-jítsu são das mais variadas origens, porém, a crença com mais força é de que tudo teve início na Índia, por isso mesmo a índia é conhecida como “berço das artes marciais”, onde o jiu-jítsu era praticado por monges. Os contos diziam que, por questões religiosas, os monges eram proibidos de usar armas para se defender. Porém, em suas longas jornadas, tais monges eram constantemente atacados por ladrões e

DICAS

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assassinos de tribos mongóis do norte da Ásia. Assim, a ideia dos monges era simples e consiste no jiu-jítsu até os dias de hoje, ou seja, era transformar o corpo em uma verdadeira arma. Os monges forjaram técnicas de luta e defesa pessoal baseadas nos princípios do equilíbrio, do sistema de articulação do corpo e das alavancas, evitando o uso da força e de armas. A grande eficiência desta luta nasceu, obviamente, da necessidade, visto que sem o uso de armas a habilidade do corpo e de seu controle era essencial para afastar o assaltante ou até mesmo aproximar para desarmá-lo (JJGF, 2016).

O jiu-jítsu ultrapassou as barreiras da China, e o interessante é que inicialmente, nesta região, além de ser proibida a referência escrita ou falada (numa forma de defensa, para evitar que esta arte caísse em mãos inimigas), também era proibido o ensinamento desta técnica para pessoas ditas normais, comuns. Este tipo de técnica de luta somente era permitido para os monges, e ministrado para os seus discípulos.

FIGURA 12 - MONGES USAVAM O JIU-JÍTSU COMO TÉCNICA DE DEFESA SEM O USO DE ARMAS

FONTE: Disponível em: <http://www.milfont.org/gladiatorium/2008/a-verdadeira-historia-do-jiujitsu/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

Entretanto, apesar da grande influência dos países pioneiros, foi no Japão que o jiu-jítsu tomou um grande impulso, sendo a entrada deste no Japão anterior até mesmo ao nascimento de Cristo. Caro acadêmico, acreditamos que agora você compreende o quão antiga esta luta é e quanto de estudo já recebeu para o seu aprimoramento. No Japão, a forma de chamar essa arte poderia ser ju-jítsu ou jiu-jítsu. O significado das duas palavras é o mesmo, bem como o ideograma usado em japonês para escrevê-las (ju significa suave e jítsu, arte ou técnica). Os samurais do antigo Japão feudal, ao travar um combate corpo a corpo sem armas, estavam pondo em prática o jiu-jítsu.

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Apenas temos que ressaltar que existem alguns autores que não acreditam que a origem do jiu-jítsu seja do país indiano. Esses autores acreditam que não se tenha um único e específico lugar e que este surgimento se deu por uma mistura de artes e conhecimento, pois desde os tempos mais remotos o homem conhecia estilos de luta baseados em grappling (lutas de pegada), conforme relatos na Bíblia, de filósofos gregos, do Egito dos faraós ou em cavernas da França no tempo dos mamutes e tigres-de-dente-de-sabre por volta de dez mil anos antes de Cristo. Hércules era conhecido como um exímio wrestler na mitologia grega antiga (IBJJF, 2016; JJGF, 2016).

Incontáveis outras artes marciais surgiram do jiu-jítsu. Iremos falar especificamente de cada uma no seu próprio espaço durante a escrita do caderno, porém algumas delas seriam: sumô, judô, caratê, kempo, aikido.

3.2.1 História do jiu-jítsu no Brasil

A partir do final do século XIX, alguns mestres de jiu-jítsu migraram do Japão para outros continentes, vivendo do ensino da arte marcial e das lutas que realizavam. Esai Maeda Koma, conhecido como Conde Koma, o mesmo sujeito que comentamos acima na formação do judô do Brasil discutida neste caderno, foi um deles (CORREA et al., 2010). Chegou ao Brasil em 1914 e conheceu Gastão Gracie. Gastão tornou-se um divulgador e incentivador da prática no Brasil. Levou o que se tornaria famoso depois, seu filho mais velho, Carlos Gracie, para aprender a luta com os japoneses. Sim! Gracie é um nome que você vai ouvir muito na história do jiu-jítsu.

Muito magrinho por destino da genética, nos seus 15 anos de idade, Carlos Gracie fez do jiu-jítsu o seu meio de realização pessoal. Aos 19 anos, já no Rio de Janeiro com a família, adotou a profissão de lutador profissional e professor dessa arte marcial. Por todo o Brasil, Carlos começou a ministrar aulas de jiu-jítsu e a vencer até com certa facilidade adversários bem mais fortes fisicamente e mais pesados. No Rio de Janeiro, em 1925, abriu a primeira Academia Gracie de Jiu-jítsu, com a ajuda e assessoria de seus irmãos Oswaldo Gracie e Gastão Gracie. Além disso, auxiliou na criação e educação de seus pequenos irmãos George Gracie, com 14 anos de idade, e Hélio Gracie, com apenas 12 anos de idade.

A adaptação do jiu-jítsu para a genética da família Gracie, franzina fisicamente, tornou-se muito famosa para o mundo competitivo. Além disso, a família Gracie transformou o jiu-jítsu em uma filosofia de vida, influenciando até na alimentação, com uma dieta especializada para atletas, a Dieta Gracie. Anos depois, a arte marcial japonesa passou a ser denominada de jiu-jítsu brasileiro (brazilian jiu-jítsu), sendo exportada para o mundo todo, inclusive para o Japão.

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FIGURA 13 - A MAIS FAMOSA FAMÍLIA DAS ARTES MARCIAIS: OS GRACIE

FONTE: Disponível em: <http://jiujitsuportugal.com/2014/02/21/a-familia-gracie-a-historia-do-jiu-jítsu-video/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

Depois de Carlos Gracie, Hélio Gracie deu início a um novo período do jiu-jítsu brasileiro, com um tipo de jiu-jítsu mais agressivo e letal. Porém, o mais fantástico era a capacidade de Hélio de não se cansar durante a luta, pois seu estilo de luta suplantava a forma física do oponente. Posteriormente, foi a vez de seu sobrinho, Carlson Gracie, ser o sucessor da linha Gracie de jiu-jítsu. E, finalmente, Rickson Gracie, que foi um ótimo e sucessor lutador, apontado até como o melhor lutador de jiu-jítsu do mundo, pois nunca perdeu nenhuma das 400 lutas de que participou.

Uma entrevista que ensina muito sobre o próprio jiu-jítsu e sobre a vida, com Rorion Gracie. Confira no link que segue: <https://www.youtube.com/watch?v=P6t8AfzUD18>

Apesar de não ser uma modalidade olímpica, o jiu-jítsu brasileiro continua ganhando espaço e está sendo muito incentivado pela utilização do mesmo nas lutas de octógono do Ultimate Fighting Championship, campeonato mundial de lutas de artes marciais mistas.

DICAS

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3.2.2 Breve resumo das regras do jiu-jítsu

Lembrando que o jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, como acontece com o judô, quando olhamos para esta arte como modalidade esportiva, temos como propósito principal a derrubada de seu oponente, isso para cada um dos lutadores, e também a sua imobilização. Com exceção de vestimentas, para atingir este objetivo o corpo é a única arma que pode ser usada. A vestimenta é muito semelhante à utilizada no judô, nas cores azul, preta ou branca.

O espaço para realização do jiu-jítsu é muito semelhante ao do judô, porém com algumas pequenas alterações. É muito importante para você, futuro professor, lembrar que a prática desta modalidade diz respeito a área de segurança.

O método MENKYO de classificação de atletas é adotado pelos estilos mais tradicionais do ensino do jiu-jítsu. Este método realiza a divisão dos praticantes aprendizes levando em consideração seu desempenho e com determinada sequência de cores. O sistema de graduação por faixas no jiu-jítsu foi criado com a proposta inicial de uniformizar e facilitar o ensino e prática do jiu-jítsu brasileiro para todas as idades e gêneros, como você pode observar na figura a seguir, separando tipos de classificação diferentes para diferentes faixas etárias. O sistema de graduação também é muito útil nas competições.

FIGURA 14 - SISTEMA DE GRADUAÇÃO POR FAIXAS COM DIFERENTES CORES UTILIZADO NO JIU-JÍTSU

FONTE: Disponível em: <http://jiujitsuportugal.com/2014/02/21/a-familia-gracie-a-historia-do-jiu-jítsu-video/>. Acesso em: 25 ago. 2016.

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3.2.3 Principais movimentos do jiu-jítsu

QUADRO 1 - PRINCIPAIS MOVIMENTOS DO JIU-JÍTSU E SUAS DESCRIÇÕES

FONTE: Adaptado de IBJJF (2014)

As lutas são fiscalizadas sempre por pelo menos um árbitro que fica circulando ao redor dos lutadores, sempre tentando buscar uma visão que permita identificação melhor dos golpes e perigos. As lutas têm duração dependente de uma gama de variedades, dentre elas, faixa etária, peso corporal e faixa de graduação em que o atleta se encontra. Os movimentos que serão destacados em seguida podem marcar ou retardar pontos ao praticante. As punições de movimentos podem acarretar a perda de um, dois, três ou quatro pontos, de acordo com a sua gravidade, e os ganhos de pontos são igualmente pontuados acima. Por fim, quanto aos movimentos: a queda, raspagem e joelho na barriga podem acarretar dois pontos ganhos, três pontos por uma passagem de guarda, e quatro pontos por montada e pegada pelas costas. Obviamente o lutador que tiver a maior pontuação no final da luta será o vencedor.

Caro acadêmico, confira os principais movimentos utilizados no jiu-jítsu no quadro a seguir.

Movimento Descrição

Queda ou projeção

Qualquer falta de equilíbrio causada ao adversário que o leve ao chão.

Passagem de guarda

Quando o atleta lutador se encontra em cima do adversário, estando entre suas pernas, e passa para o lado do adversário, ficando em posição

transversal e mantendo-o dominado.

Joelho na barrigaQuando o atleta lutador está por cima de seu adversário e põe o joelho

sobre a sua barriga e assim levando-o à imobilização.

MontadaÉ quando o lutador monta em seu adversário tendo os seus joelhos e seus

pés no solo.

Pegada pelas costas

Movimento em que o lutador pega seu adversário pelas costas utilizando os pés.

RaspagemMovimento em que o lutador está por baixo, com o adversário entre suas

pernas, e consegue inverter as posições.

Por uma questão de tempo e foco, não poderemos mostrar ilustrações para todos os movimentos do jiu-jítsu, pois acreditamos que o enfoque não seja ensinar os movimentos, mas sim como eles podem trazer consciência corporal aos alunos do nível escolar. Porém, existe um movimento denominado rolamento (frente, costas e lateral) que é ensinado em várias lutas, e este movimento, classificado como quedas, nas próximas unidades será melhor abordado. O rolamento nada mais é que movimento de queda do ser humano com segurança. Deveria ser

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ensinado nas primeiras aulas de Educação Física escolar, pois permitirá que no futuro, quando adolescente e/ou adulto, já com mais massa corporal, saiba cair adequadamente (RUFINO, 2015).

FIGURA 15 - ROLAMENTO: MOVIMENTO DE QUEDA ENSINADO EM AULA DE JIU-JÍTSU E OUTRAS ARTES MARCIAIS

FONTE: Disponível em: <http://portalhapkido.blogspot.com.br/p/dicas-de-treino.html>. Acesso em: 25 ago. 2016.

As principais instituições que organizam o Jiu-jítsu no mundo e no Brasil são a JJGF – Jiu Jitsu Global Federation (http://jjgf.com/) e a IBJJF – International Brazilian Jiu-jítsu Federation (http://ibjjf.org/). Vale a pena conferir os sites para se aproximar desta fascinante prática.

3.3 CARATÊ

A terminologia caraté ou karaté (provinda do português europeu), caratê ou karatê (português brasileiro) ou até mesmo karate-dô tem o igual significado, porém os mais usados no Brasil são caratê e karatê. Esta palavra tem origem japonesa e o significado de “mãos vazias”, que pode ser entendido como o ato de lutar sem armas, usando somente o corpo e a mente, pernas e braços e o resto do corpo como um elemento de defesa pessoal. As crenças antigas do caratê acreditam que, além de luta, o significado pode ser levado para vida, onde você não precisa viver e vencer os problemas diários visando a riqueza material, assim, mãos vazias significaria que você é tudo que precisa para viver. Você consegue perceber a semelhança entre o caratê, judô e jiu-jítsu? Claro, todas têm origens semelhantes e por isso é importante estudar as histórias das lutas.

Já sabemos que a origem do caratê deve ser creditada a variações das artes marciais vindas do berço das artes, a Índia. Passou pela China até chegar ao Japão e desenvolver-se especificamente na pequena ilha de Okinawa.

DICAS

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FIGURA 16 - ILHA DE OKINAWA E PRATICANTES DO ANTIGO CARATÊ

FONTE: Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4b/Karate_ShuriCastle.jpg>. Acesso em: 25 ago. 2016.

Okinawa situa-se a aproximadamente 1.600 quilômetros de Tóquio, é uma ilha pequena que está a 480 quilômetros ao sul da extremidade continental do Japão. Durante a dinastia Sho, do imperador Sho Hashi, foi lançado um decreto que proibia a propriedade privada de armas, e ainda é estudado como este povo conseguia viver em harmonia sem a utilização de armas, porém isso não era sinônimo de fraqueza ou fragilidade. Foi nesta cidade considerada a base do caratê que, no começo, as artes marciais eram praticadas em segredo, para evitar que os senhores de Satsuma ficassem observando. Por motivo de disfarce, muitos movimentos do caratê foram colocados nas danças folclóricas. O caratê era praticado à noite, atrás dos muros de jardim, no interior das florestas ou ao longo das praias desertas. Além disso, era proibido transformar os estudos das artes em papel ou informação falada, e por isso há bem poucos registros a respeito do caratê na ilha de Okinawa (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016).

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FIGURA 17 - GICHIN FUNAKOSHI (1868-1957), CONSIDERADO POR MUITOS O PAI DO CARATÊ

FONTE: Disponível em: <http://www.budokan.com.br/historia/funakoshi.htm>. Acesso em: 27 ago. 2016.

A transformação do caratê antigo ao caratê moderno deve-se ao grande mestre Gichin Funakoshi. Nascido em Shuri, a capital de Okinawa, no ano de 1968, Funakoshi atualizou a arte de luta da ilha. Diferentemente de Jigoro Kano (o mestre do judô), a infância deste mestre foi repleta de intelectualidade, pois seu avô era tutor da família real. Com suas brilhantes demonstrações, conseguiu levar a arte do caratê para além das barreiras sociais da ilha, e assim divulgando para o mundo através dos seus alunos. O marco de grande importância foi a demonstração realizada numa exposição de Educação Física promovida pelo governo japonês em Tóquio. Mestre Gichin Funakoshi foi escolhido como representante da ilha para fazer a primeira demonstração pública da arte. Deste momento em diante o caratê começou a se espalhar para o mundo (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016).

Lembramos que o caratê é dividido entre estilos, que serão melhor discutidos à frente, porém, por uma questão de respeito e representatividade histórica, fizemos uma pequena lista dos estilos mais conhecidos e presentes no Brasil, seguidos de seus criadores e fundadores.

Shotokan - O fundador do estilo foi o Mestre Gichin Funakoshi (1868-1957).

Gojuryu - O fundador do estilo foi o Mestre Chojun Miyagi (1888-1953).

Wadoryu - O fundador do estilo foi o Mestre Hironori Otsuka (1892/1982).

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Shorin-Ryu - O fundador do estilo foi o Mestre Choshin Chibana (1892/1969).

Kenyuryu - O fundador do estilo foi o Mestre Ryusho Tomoyori (1905/1977).

3.3.1 Breve história do caratê no Brasil

Esta magnífica arte veio ao Brasil através dos imigrantes japoneses no ano aproximado de 1908, com a colônia que se instalou no interior de São Paulo e na capital. Durante os anos seguintes, o professor e mestre Akanime repassou os conhecimentos da mão vazia aos jovens nipônicos e a alguns brasileiros que se mostravam interessados pela nova arte que acabava de chegar ao Brasil (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016).

Cada estilo de caratê tem uma história diferente no Brasil. Vários fundadores que vieram ao Brasil estudar e/ou trabalhar acabavam por trazer o seu estilo. Como a maioria dos colonizadores japoneses veio para São Paulo, grande parte da história brasileira do caratê surge de lá, porém, Rio de Janeiro e Belo Horizonte também são polos berços desta modalidade de arte marcial (FROSI; MAZO, 2011; CBK, 2016).

A primeira academia de caratê foi criada em 1956 pelo professor Mitsuke Harada, no centro da capital paulista. Posteriormente ao surgimento desta academia foi fundada a Associação Brasileira de Caratê, no ano de 1960, também em São Paulo, pelo professor Shikan Akamine. As principais instituições que organizam o caratê no mundo e no Brasil são a WKF - World Caratê Federation (http://www.wkf.net/) e CBK – Confederação Brasileira de Caratê (http://www.karatedobrasil.com/).

Recentemente, o caratê foi adicionado ao grupo de esportes considerados olímpicos. Isso mesmo, em Tóquio, no ano de 2020, teremos a modalidade de caratê. Tudo bem que estamos bem representados no Brasil com o caratê, mas os japoneses conseguiram levar uma boa competição para sua casa.

O principal nome do caratê brasileiro é o atleta Douglas Brose, considerado por muitos do meio do esporte como o maior carateca brasileiro de todos os tempos (CBK, 2016). Em suas participações nos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, e nos Jogos de Guadalajara em 2011, foi medalha de bronze nas duas competições. Em 2015, sagrou-se campeão dos Jogos Pan-Americanos em Toronto, no Canadá.

Que tal ver uma luta sensacional de Douglas? Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=iNPUI6UKmwk>.

DICAS

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Para você, futuro professor escolar, é importante conhecer o que existe no cinema sobre a modalidade de luta caratê. Um dos maiores sucessos do cinema de luta para o público infantil é o filme Karatê Kid - A Hora da Verdade, do diretor John G. Avildsen. Vale a pena conferir.

FIGURA 18 - DOUGLAS BROSE, CONSIDERADO O MELHOR CARATECA BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS

FIGURA 19 - ESPAÇO DE COMPETIÇÃO COM ÁRBITRO DETERMINANDO PONTO A UMA ATLETA

FONTE: Disponível em: <http://www.karate-live.com/interview-with-douglas-brose>. Acesso em: 27 ago. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://blogdasachikokarate.blogspot.com.br/2015/07/diferenca-entre-karate-oficial-olimpico.html>. Acesso em: 24 ago. 2016.

3.3.2 Breve resumo das regras do caratê

A área de competição do caratê é constituída por uma área de combate e uma área de segurança, conforme as outras lutas estudadas até então. No caratê existem duas marcações para posicionar os lutadores no início, final ou a cada pontuação realizada. Para o controle da luta existem arbitrador, árbitro e, por fim, os juízes que estão na área de segurança (CBK, 2016; WKF, 2016).

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FIGURA 20 - GRADUAÇÕES NO CARATÊ E O SEU TEMPO MÍNIMO DE DURAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.karate-live.com/interview-with-douglas-brose>. Acesso em: 27 ago. 2016.

Os equipamentos utilizados no caratê podem variar de acordo com a competição ou mostra, porém, o padrão é um caratê gi (um tipo de quimono) branco sem marcas, riscas ou canelados. Sendo que um dos lutadores deverá usar um cinto vermelho e um lutador deverá usar um cinto azul. Por questões de segurança, o uso de protetor bucal é obrigatório e cabe lembrar que em grande parte das competições é usado protetor de pé e luvas de proteção, diminuindo os danos causados com os golpes (COI, 2016).

Quanto à duração das lutas para seniores do sexo masculino, o combate terá uma duração de três minutos e para seniores do sexo feminino, assim como juniores e cadetes de ambos os sexos, o combate tem a duração de dois minutos (CBB, 2016).

Quanto às pontuações do caratê, elas são distribuídas em: IPPON que vale três pontos, WAZA-ARI que vale dois pontos e YUKO que vale um ponto. Porém, para a marcação ser considerada válida ela deve atender aos seguintes critérios: boa forma, atitude esportiva, aplicação vigorosa, alerta (ZANSHIN), tempo apropriado e distância correta (WKF, 2016).

Sendo o IPPON atribuído para chutes Jodan (nível alto do pescoço para cima) e qualquer técnica que pontue realizada sobre um oponente derrubado ou caído. Já o WAZA-ARI é atribuído para chutes Chudan (nível médio altura do peito) e, por fim, o YUKO é atribuído para golpes Chudan ou Jodan Tsuki (golpes com o punho) e/ou Chudan ou Jodan Uchi (golpes com membros superiores exceto com punhos). Os ataques na arte marcial do caratê estão limitados às áreas da cabeça, rosto, pescoço, abdômen, peito, costas e laterais (WKF, 2016).

As graduações no caratê também são realizadas através de faixas, assim como no judô e jiu-jítsu. A progressão acontece por uma série de fatores, entre eles estão: atitude, amadurecimento, responsabilidade, além de conhecimentos técnicos e qualidades gestuais dos movimentos de luta.

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3.4 KUNG FU

Kung fu e wushu têm o mesmo significado?

Primeiramente, antes de começarmos a falar do kung fu propriamente dito, iremos desmistificar a diferença entre wushu e kung fu. Wushu é um termo de origem chinesa que significa realmente a arte da guerra, sendo que se designa a todas as artes guerreiras, militares e marciais (TZU, 1995). Já o kung fu é um estilo de luta também desenvolvido na China, porém este é somente um estilo que vem se adaptando. Curiosamente, este estilo foi criado através dos estudos dos animais, observando os movimentos de cada animal.

3.4.1 História do kung fu

Por motivo da longa jornada que o kung fu já passou em território chinês e posteriormente em território internacional, não se pode datar com exatidão quando foi o seu surgimento, porém existem relatos de mais de dois mil anos. Outro fator limitante do estudo da história desta arte marcial é a grande quantidade de lendas e histórias místicas que tornam muito complicada qualquer chance de uma história baseada em fatos reais. No entanto, este caderno reuni somente os fatos mais contundentes e reais.

FIGURA 21 - DEZ MIL ESTUDANTES DEMONSTRAM GRANDE ACURÁCIA EM DEMONSTRAÇÃO DE KUNG FU NA CHINA

FONTE: Disponível em: <http://www.dailymail.co.uk/news/article-2158133/China-10-000-students-perform-incredible-display-kung-fu-choreography-celebrate-countrys-rich-history.html>. Acesso em: 26 ago. 2016.

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Caro acadêmico, para você ter ideia do quanto é antigo o kung fu, os primeiros registros desta arte foram encontrados em cascos de tartarugas da Dinastia Shang (1766-1122 a.C.). Ch’uan fa, ou estilo do punho, como era chamado o kung fu no início, ganhou popularidade quando os guerreiros de Chou venceram a Dinastia Shang e a arte começou a florescer. Durante as dinastias Ch’in (221-206 a.C.) e Han (206 a.C. – 220 d.C.) foram desenvolvidas e especializadas novas artes marciais, como o shoubo (variável da luta romana) e o jiaodi, confronto onde nada mais nada menos que chifres de bois na cabeça eram usados para a luta. O seguinte grande desenvolvimento da história do kung fu também veio durante as dinastias do Norte e do Sul: a chegada de Bodhidharma (CBKW, 2016).

Existem histórias segundo as quais o criador do kung fu foi um monge budista Bodhidharma membro do monastério Shaolin. Acredita-se que por ser um monastério, Shaolin abrigasse muitos fugitivos, estes também guerreiros hábeis, tornavam-se monges (TZU, 1995). Assim, por necessidade dos moradores do monastério Shaolin, acredita-se que Bodhidharma tenha fundado uma série de exercícios que ajudavam a unir a mente e o corpo – exercícios que os monges guerreiros achavam benéficos a seu treinamento. Conforme mencionado, a história do kung fu é muito mística, e depois do conhecimento desta parte inicial, esta arte marcial começou a se dividir em vários estilos e a se espalhar pelo mundo, e infelizmente não podemos comentar a história de todos os estilos (CBKW, 2016). Segue a explicação de alguns dos vários estilos do kung fu:

• Estilo Águia – utiliza as bases do movimento da águia e é caracterizado pelo treinamento visando o fortalecimento dos dedos: polegar, indicador, médio e anelar. Este estilo torna o praticante um especialista em torções.

• Estilo Dragão – baseado nos poderes e movimentos “incríveis” do dragão, este estilo remete a movimentos muito longos, coerentes e que acontecem de forma contínua, sendo os ataques mais comuns com o cotovelo, joelho, juntas e tornozelo, alguns lutadores confundem este estilo de kung fu com a arte marcial denominada Muay Thai.

• Estilo Chin’Na – estilo que utiliza mais de imobilização, prender o adversário, porém existem técnicas muito avançadas de até deslocamento de ossos.

• Estilo Bêbado – utilizando chutes, voadoras e rolamentos, este estilo necessita de muita acurácia, além de flexibilidade, uma vez que o lutador simula o segurar de copos nas mãos.

• Estilo Garça Branca – neste estilo são combinados torções em movimentos extremamente ágeis e chutes em ataques perigosos.

• Estilo Macaco – utilizando muitos saltos e muito as forças das pernas, este estilo tem como característica os movimentos que imitam os macacos.

• Estilo Shaolin do Norte – caracterizado por ataques agressivos com chutes altos de muita velocidade.

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• Estilo Leopardo – O estilo em questão simula o ataque sorrateiro de um leopardo com movimentos rápidos e poderosos e ataque em pontos vitais utilizando o punho, semelhante a uma machadada.

Uma ideia, caro acadêmico: já imaginou você, como professor de uma escola de ensino regular? É importante que faça a todo momento isso que está lendo neste caderno. Por exemplo, consegue imaginar uma aula para crianças ensinando os estilos do kung fu através de brincadeiras de mímicas com animais? Vamos lá: agora o estilo do Leopardo, agora o estilo do Dragão, agora o estilo do Louva-a-Deus. Com certeza, ia ser muito divertido e educativo ao mesmo tempo.

FIGURA 22 - OPÇÃO PARA ATIVIDADES É O FILME KUNG FU PANDA, ANIMAÇÃO DE CLARE DE CHENU

FONTE: Disponível em: <http://www.supercineonline.tv/kung-fu-panda/>. Acesso em: 26 ago. 2016.

Outro ponto, ou nome muito importante para o kung fu, assim como para as lutas em geral, é Bruce Lee (1940-1973). Nascido na Califórnia e criado em Hong Kong, foi um artista e instrutor de artes marciais, filósofo, ator e cineasta norte-americano. Bruce Lee aprendeu kung fu, assim como outras lutas, através de seu pai, algo normal na China. Lee é a imagem das lutas marciais que foi trazido para Ocidente, era conhecido pela velocidade, treinamento e estilo de vida saudável. Além disso, Lee foi, através da mídia hollywoodiana, um grande divulgador do kung fu e patriota do povo chinês.

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FIGURA 23 - BRUCE LEE SÍMBOLO DE ARTES MARCIAIS NO MUNDO

FONTE: Disponível em: <http://upanema.net/el-nino-bruce-lee-deve-ser-um-dos-mais-fortes-da-historia/>. Acesso em: 26 ago. 2016.

3.4.2 A história do kung fu no Brasil

Por diversos motivos, sejam políticos, ideológicos ou pessoais, acredita-se que em virtude da Revolução Cultural na década de 1960 houve demanda de chineses que fugiram da China em busca de oportunidades na tão sonhada América, e acabaram por utilizar países emergentes como meio para chegar aos Estados Unidos (CBKW, 2016).

Assim, relatos contam que chega ao Brasil, por volta de 1966, o Sr. Peng, como era conhecido, um imigrante chinês da província de Chongqing (centro da China). No Brasil, Peng conheceu Ronaldo Candido Ferreira durante uma luta de caratê, e o convidou para uma troca de técnicas. Este momento marcaria a história do kung fu brasileiro. Mais tarde, Ronaldo, juntamente com seus irmãos Rodolfo e Rogério, viria a implementar a arte do kung fu com conhecimentos de técnicas avançadas de respiração e concentração, elaborando métodos de ensinamento e preservação deste estilo de luta. Posteriormente ele iria fundar a 1ª Escola de Kung fu Mao Quan, em 10 de outubro 1977, na cidade de Osasco (CBKW, 2016).

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FIGURA 24 - AULA DE KUNG FU PARA CRIANÇAS, ONDE OS PROFESSORES TROCARAM AS ESPADAS POR ESPAGUETES (BOIAS DE PISCINA), UMA INICIATIVA BARATA E DIVERTIDA

FONTE: Disponível em: <http://www.academiawushu.com/#!sobre-1/cf1d>. Acesso em: 27 ago. 2016.

A organização que regulamenta e organiza a prática de kung fu no Brasil é a CBKW – Confederação Brasileira de Kung fu/Wushu.

3.4.3 Breve resumo das regras do kung fu

Devido à grande mortalidade e agressividade dos movimentos de kung fu, são mais comuns mostras desta arte marcial, que também possuem regras de apresentação, tanto para o uniforme utilizado, saudações, pontuação, tempo, premiação e estilos, com presença ou não de arma (são utilizados vários tipos de arma). Existem regras de apresentação de combate para cada estilo de kung fu, por exemplo, na mostra com armas, a espada precisa ser de aço Loong Quan, ou mais pesado. Sendo que obrigatoriamente as lâminas precisam ser capazes de sustentar o seu próprio peso quando colocadas perpendicularmente apoiadas pela ponta da arma (CBKW, 2016). Na figura a seguir, observe como a primeira espada não pode ser usada na mostra, pois não suporta o próprio peso.

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FIGURA 25 - DUAS ESPADAS DE KUNG FU

FONTE: Disponível em: <http://www.kungfuchampionship.com/brazil/regulamento.html>. Acesso em: 27 ago. 2016.

3.5.1 História do Sumô

3.5 SUMÔ

Claro que não há somente apresentações de kung fu no mundo. Existem também modalidades de luta de kung fu, por exemplo, a Light Contact Sanda ou San Shou. Porém, o contato é limitado, como na Light Sport San (outra modalidade), que permite apenas contato leve do lado da cabeça. Não é permitido contato na área da face. Qualquer outro contato pesado na cabeça ou na face poderá ocasionar em desclassificação. As regras vão depender de cada modalidade de kung fu escolhida.

Antes mesmo de começarmos a conversar sobre esta modalidade, convido vocês, acadêmicos, a quebrarem os preconceitos sobre o tamanho nas lutas, vendo este excepcional lutador de sumô. Confira no link: <https://www.youtube.com/watch?v=2Gp_mhW6yLk>.

Existem referências que datam do século II antes de Cristo, ou seja, há mais de dois mil anos. Esta arte marcial era definida inicialmente por rituais de xintoísmo (tipo de manifestação ou crença religiosa da época no Japão), sendo que as lutas faziam reverência a esta fé. Existem duas principais histórias contadas

DICAS

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sobre a origem deste esporte, a primeira delas é que a luta é espelhada na luta dos ursos e os movimentos destes durante um confronto. A segunda hipótese é que eram lutas entre dois deuses que lutavam para ter controle sobre as ilhas da costa de Izumo, no Japão (PACIEVITCH, 2016).

Independentemente de sua origem, a sua prática é muito forte no Japão e até hoje os lutadores são considerados deuses da sociedade. Torneios conservadores e regulares acontecem desde o século VIII, porém, o ringue circular que você está acostumado a ver em uma luta somente surgiu no século XVI. Sim, nos primórdios o ritual somente finalizava no momento em que um dos participantes caía ao chão morto. Obviamente que as regras sofreram grandes alterações, uma das maiores mudanças foi a proibição de ataques que pudessem vir a matar o adversário, como chutar, sufocar, atacar os olhos, golpear com os nós dos dedos ou punhos etc. Até o século XVII, mais roupa era permitida, e pouco a pouco a vestimenta foi evoluindo até as atuais (FPS, 2016).

No início as províncias mandavam seus representantes para lutarem em nome de seus deuses em um ritual importante para a corte imperial, o curioso é que os responsáveis pelas viagens eram os próprios lutadores. O evento era conhecido como “festa sumai”. Além disso, os imperadores tiveram papel fundamental para difundir o esporte. Conta a história que o imperador Kanmu oficializou o esporte como evento anual e foi no reinado do grande imperador Saga que as regras e as principais técnicas começaram a ser estabelecidas. Então, o que antes era apenas um ritual começou a se transformar em uma amada arte marcial pelos japoneses, se mantendo por muito tempo como o esporte predileto pelo povo do Japão (IFS, 2016).

FIGURA 26 - SUMÔ – NO JAPÃO A IDADE NÃO É PROBLEMA

FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL82788-5602,00-CAMPEONATO+DE+SUMO+REUNE+MAIS+DE+CRIANCAS+NO+JAPAO.html>. Acesso em: 28 ago. 2016.

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FIGURA 27 - ÁREA DE COMBATE DO SUMÔ

FONTE: Disponível em: <http://esporte.hsw.uol.com.br/sumo3.htm>. Acesso em: 28 ago. 2016.

3.5.2 História do Sumô no Brasil

A modalidade de luta Sumô imigrou ao Brasil no iniciar do século XX, sendo que o primeiro campeonato registrado foi em 1914, em Guatapará – São Paulo. A Confederação Brasileira de Sumô foi fundada em 1998. Porém, a Federação Paulista é ainda mais antiga em data de criação, tendo sido fundada em 1962. Para você, caro acadêmico, entender quão grande o Brasil é neste esporte, o primeiro mundial sediado fora do Japão foi realizado e organizado no ano de 2000, no Brasil (PACIEVITCH, 2016).

Torna-se importante ressaltar que, ao lado de Rússia, Japão, Ucrânia e Polônia, o Brasil é um dos maiores destaques no esporte de sumô amador. O Brasil foi importantíssimo na criação e organização da International Sumo Federation (em inglês), instituição que organiza e regulamenta o esporte em âmbito internacional (IFS, 2016).

3.5.3 Resumo breve das regras do Sumô

A arte marcial do sumô, nos dias de hoje, é muito competitiva, rápida e de contato controlado, onde um lutador (chamado de rikishi no Japão) tenta arremessar e/ou empurrar o outro rikishi para fora de um ringue circular (chamado de dohyō no Japão) e/ou encostar o chão com qualquer parte de seu corpo, com exceção das solas dos pés. Sendo considerado um Gendai Budô (arte moderna), este esporte somente é profissional no Japão, onde os atletas recebem salários que variam de 31 até 11 mil dólares (IFS, 2016).

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O interessante da luta sumô é a velocidade com que esta acaba. As lutas tendem a durar cerca de 15 segundos, sendo considerada a luta mais rápida entre todas as marciais, entretanto, os rituais que a antecedem chegam a durar cinco minutos ou até mais. Diferentemente de outras lutas, como o boxe, o judô ou a luta livre, o sumô não separa seus lutadores por peso. Deste modo, podem acontecer combates em que o lutador enfrenta um adversário que tenha o dobro de seu peso. Outra regra importante que foi implementada é a proibição de segurar a parte ou área do mawashi (tanga/vestimenta) que cobre as partes genitais (IFS, 2016).

Para vencer as lutas, os lutadores podem usar uma gama de golpes, que são tantos que não podemos listá-los todos aqui. Porém, os principais são: HATAKIKOMI (sair da frente para deixar o adversário cair), TSURIDASHI (carregar o oponente pela tanga até atirá-lo fora do círculo) e o UWATENAGE (jogar o adversário por cima do ombro). O empate na luta de sumô é quase impossível, sendo que o último, registrado em uma primeira divisão, foi no ano de 1974 (PACIEVITCH, 2016).

FIGURA 28 - GOLPE DE SUMÔ E ÁRBITRO COM VESTIMENTA JAPONESA

FONTE: Disponível em: <http://esporte.hsw.uol.com.br/sumo3.htm>. Acesso em: 28 ago. 2016.

A vida como um lutador profissional de sumô é muito regrada e cheia de restrições e ordens. Devido à vestimenta, sapato e cortes de cabelos exclusivos e obrigatórios, os lutadores de sumô são facilmente reconhecidos em público. Os lutadores devem se mudar para um centro de treinamento e seguirem padrões de treinamento e alimentação exclusivos. Por exemplo, não são realizados cafés da manhã e, no lugar deste, um grande almoço com bebidas, seguido de horas de sono (PACIEVITCH, 2016).

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3.6 BOXE

Estima-se que a primeira atividade que possa ser considerada como boxe ou pugilismo aconteceu no Egito por volta de 3000 a.C. Dizem as histórias que os lutadores estavam completamente nus no momento da luta e a atividade fez parte de uma festividade do rei (CBB, 2016). Deste período até a sua primeira participação nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, em 688 a.C., o boxe evoluiu muito, surpreendendo e levando o povo de Olímpia – Grécia à loucura com os socos e movimentos rápidos. O primeiro conquistador do cinturão olímpico foi um homem chamado Onosmastos de Esmirna, e esta arte marcial permanece há mais de 2.600 anos como esporte de luta (DUARTE, 2005).

FIGURA 29 - JOVENS LUTAM BOXE. AFRESCO DA CIVILIZAÇÃO MINOICA, EM ACROTIRI, SANTORINI, CERCA DE 1500 A.C.

FONTE: Disponível em: <http://desvendandooriginal.blogspot.com.br/2011/10/desvendando-o-original-boxe.html>. Acesso em: 25 ago. 2016.

As instituições de regras vieram no século XVII. As luvas e o número de assaltos determinados vieram em 1867, no Reino Unido. Em 1904 aconteceram os primeiros Jogos Olímpicos com a modalidade de boxe, nos Estados Unidos, na cidade de Saint-Louis, com sete categorias de peso. Fato interessante é que não houve disputa de boxe nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, em função e respeito a uma lei local que não permitia a prática de tal modalidade no país (CBB, 2016).

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Ainda sem instituições organizadas que regulamentassem a prática em 1920, a Federação Internacional de Boxe Amador foi criada. Com este fato, as competições começaram a ser mais frequentes e mais organizadas. Em 1946 foi criada a Associação Internacional de Boxe Amador – AIBA. Atualmente, as principais instituições organizadoras do pugilismo e boxe são: a Associação Mundial de Boxe (AMB), Conselho Mundial de Boxe (CMB), Federação Internacional de Boxe (FIB) e a Organização Mundial de Boxe (OMB). Incrivelmente, foi apenas em 2010 que o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) aceitou a introdução do boxe feminino nos Jogos Olímpicos, em três categorias de peso. Sendo em Londres, em 2012, a estreia do boxe feminino em Jogos Olímpicos (AIBA, 2016).

Caro acadêmico, o boxe é um esporte ou uma arte marcial? Podemos dizer que ambas as respostas estão corretas. Existem vários lutadores e mestres que até hoje servem de espelho para jovens lutadores. Inúmeros lutadores podem ser citados, dentre eles os internacionais se destacam: Muhammad Ali (considerado o desportista do século), Larry Holmes (foi o único lutador na história a nocautear Muhammad Ali), Lennox Lewis (campeão superpesados dos Jogos Olímpicos de Seul), Teófilo Stevenson (cubano três vezes campeão olímpico), Mike Tyson (considerado por muitos o melhor boxeador de todos os tempos), entre outros (DUARTE, 2005).

Recomendamos o filme “I am Ali” ou “Eu sou Ali”, sob direção de Clare Lewis. Um documentário que vai mudar sua maneira de pensar.

DICAS

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Entre os pugilistas do Brasil podemos destacar alguns, sendo os principais: Éder Jofre (considerado por especialistas como maior peso-galo do boxe na era moderna), Adilson "Maguila" Rodrigues (primeiro brasileiro campeão mundial dos pesos-pesados) e Acelino Popó Freitas. Além dos nomes citados, temos que reverenciar o boxeador brasileiro Robson Conceição, que venceu o boxeador francês Sofiane Oumiha, na categoria peso ligeiro masculino nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e ficou com a medalha de ouro.

FIGURA 30 - ROBSON, OURO BRASILEIRO

TABELA 1 – CATEGORIAS NO BOXE

FONTE: Disponível em: <http://jovempan.uol.com.br/esportes/mais-esportes/rio-2016/robson-conceicao-se-eu-nao-praticasse-boxe-eu-nao-sei-o-que-seria-de-mim.html>. Acesso em: 28 ago. 2016.

3.6.1 Breve resumo das regras do boxe

Com o objetivo principal de nivelar e aumentar a competitividade das lutas, foram definidas categorias pelo peso corporal de cada atleta. Montamos uma tabela para que você possa entender esta divisão.

Categoria PesoMosca Ligeiro 48 KgMosca 51 KgGalo 54 KgPena 57 KgLeve 60 KgMeio-Médio Ligeiro 64 KgMeio-Médio 69 KgMédio 75 KgMeio-Pesado 81 KgPesado 91 KgSuperpesado Mais de 91 Kg

FONTE: O autor

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Quando falamos de lutas de boxe profissional, contamos com no máximo 12 assaltos com três minutos cada. Porém, existem alterações entre as diversas competições. Ao término de cada assalto, pontos são destinados aos lutadores, tais pontos são determinados por cinco juízes e classificados de acordo com os golpes e as defesas realizadas. Se, por acaso, o lutador vir a nocaute e permanecer por mais de 10 segundos ao solo, ou não apresentar condições de continuidade da luta, esta é encerrada. Lembrando que não são permitidos golpes abaixo da cintura, podendo o lutador ser punido por esta atitude (VIEIRA; FREITAS, 2007). As ilustrações a seguir representam os principais movimentos utilizados no boxe nos momentos de:

FIGURA 31a – ATAQUE NO BOXE

FIGURA 31b – DEFESA NO BOXE

FIGURA 31c – FALTAS NO BOXE

FONTE: Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/olimpiadas/2016/robson-conceicao-vence-no-boxe-e-fica-a-uma-luta-da-medalha-e3zx5o5gq4mu9pcwx33g4ynel>. Acesso em: 28 ago. 2016.

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FIGURA 32 - ÁREA DE COMBATE NO BOXE

FONTE: Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/olimpiadas/2016/robson-conceicao-vence-no-boxe-e-fica-a-uma-luta-da-medalha-e3zx5o5gq4mu9pcwx33g4ynel>. Acesso em: 28 ago. 2016.

Os combates devem acontecer na presença de oficiais de luta, árbitros, cronometristas e médicos, em ringue conforme determinado na figura a seguir, com solo macio e que permita a mobilidade dos movimentos de perna (não escorregadio) e quatro postes rígidos que interligam cordas elásticas.

As principais proteções utilizadas no boxe são protetores de cabeça e camiseta (somente no boxe feminino), protetor bucal, cinto, calção, protetor genital e botas. Para a diferenciação, luvas e uniformes de luta geralmente são diferenciados por cor. Nos Jogos Olímpicos são utilizadas as cores azul e vermelha (VIEIRA; FREITAS, 2007).

3.7 LUTA GRECO-ROMANA E LUTA LIVRE

As lutas são divididas em duas modalidades, sendo uma delas a luta greco-romana e outra luta de estilo livre.

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3.7.1 História da luta greco-romana

Estamos discutindo sobre uma luta que inspirou variadas formas de combate tanto no Ocidente como no Oriente, principalmente nas regiões dominadas ou influenciadas culturalmente pelos gregos. A origem da arte marcial denominada greco-romana tem semelhanças com as demais lutas, onde o homem precisava batalhar por sua vida, e utilizada na preparação de guerreiros e reivindicar extrema proteção contra os inimigos. Os primeiros vestígios de presença desta luta em Jogos Olímpicos datam de 776 a.C. (DUARTE, 2004).

Entretanto, temos que ressaltar que os grandes responsáveis pela disseminação desta grande arte marcial pelo mundo são os gregos. Conforme já mencionado, na antiga Grécia, a luta era considerada um exercício indispensável para o reforço do físico e do caráter dos jovens, sendo que começou a ser disputada nos Jogos da Grécia antiga no século VII a.C. Por longos períodos acreditou-se que o termo “greco-romana” indicasse naturalmente um tipo de combate de origem grega, oportunamente modificado pelos romanos. E baseando-se no fato de que a posição do lutador com as palmas das mãos e os joelhos pousados sobre a terra e o corpo levantado, como para caminhar com quatro pés, vem até hoje sendo denominada grega. Assim, considerou-se que a luta grega fosse aquela da posição deitada e que a romana fosse aquela em pé (perpendicularmente). Assim, teria surgido a denominação do termo “greco-romana” para a nossa luta, que se desenvolve com os contendores tanto em pé quanto deitados (DUARTE, 2004).

Na era moderna, já no final do século XIX, ressurgiu a luta greco-romana, mas com alterações que resultaram na proibição de golpes baixos e violentos. E assim, em Atenas, em 1896, a luta fez parte da lista de esporte olímpicos. Cabe ressaltar que a modalidade feminina estreou somente em 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas (COI, 2016).

De sua primeira aparição até os dias de hoje, muitas alterações nas regras aconteceram, além de muito aumento no conhecimento técnico e tático da luta. Falando em técnica, um dos maiores nomes das histórias das lutas greco-romanas não é grego, muito menos romano, é o russo Alexander Karelin. Este grande lutador tinha apelidos que já colocavam medo em seus adversários antes mesmo da luta começar. Karelin era conhecido como Alexandre, o Grande, o Urso da Sibéria e, por último, o Experimento.

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3.7.2 História da luta greco-romana no Brasil

FIGURA 33 - O “URSO DA SIBÉRIA” ALEXANDER KARELIN

FONTE: Disponível em: <http://www.mixedmartialarts.com/forums/OtherGround/Where-can-I-buy-Karelin-reverse-body-lift-poster:2240044>. Acesso em: 28 ago. 2016.

Caro acadêmico, para você entender como este lutador foi marcante para o mundo desta luta, de 1987 até o ano de 2000, o Urso não perdeu uma única luta, e se isso não bastasse, ainda faturou títulos mundiais e europeus, além de três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul, Barcelona e Atlanta. A invencibilidade de Karelin chegou ao fim na final dos Jogos Olímpicos de Sydney, no ano de 2000, quando o estadunidense Rulon Gardner levou a melhor.

Infelizmente, a modalidade ainda passa por dificuldades no Brasil, porém o espaço dela está aumentando. Sabemos que a primeira participação brasileira nos Jogos Olímpicos foi em Seul -1988. Já a primeira medalha brasileira na luta olímpica, em um mundial, foi conquistada pela lutadora Aline Silva, prata em Uzbequistão. O Brasil nunca ganhou medalha neste esporte durante toda a história dos Jogos Olímpicos. A instituição que organiza a luta no Brasil é a Confederação Brasileira de Lutas Associadas.

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3.7.3 Breve resumo das regras das lutas

Conforme supracitado, existem dois tipos de lutas que são disputados em olimpíadas, sendo o objetivo, nos dois estilos, forçar o toque do adversário e manter as costas deste (dois ombros) no tapete de luta (solo de combate), isso determina a vitória. A principal diferença que pode ser percebida entre os dois estilos se refere às partes do corpo que são utilizadas para atribuição do movimento. No estilo livre ao lutador é permitido utilizar qualquer parte do corpo para atacar e defender; já na luta greco-romana, o lutador pode utilizar somente os braços e o tronco para realizar os movimentos de ataque e defesa (CBW, 2016).

O vencedor também pode ser determinado pelo quesito de “superioridade técnica”, este fator é acionado quando um adversário consegue atingir uma vantagem de 10 pontos em relação ao seu adversário e por um quesito óbvio: se por acaso a luta não acabar por superioridade técnica ou encostamento, ganhará o lutador que tiver somado mais pontos (CBLA, 2016; COB, 2016).

Conforme mostra a figura a seguir, a luta deve acontecer somente dentro de um círculo azul escuro do tapete. O anel laranja é considerado uma área de "passividade e segurança", em que não deve acontecer a luta. Se os lutadores saírem do círculo azul ou estiverem na área laranja, serão reposicionados (COB, 2016).

FIGURA 34 - QUADRA DE LUTA LIVRE E LUTA GRECO-ROMANA

FONTE: Disponível em: <https://www.rio2016.com/luta-olimpica>. Acesso em: 28 ago. 2016.

Durante a luta e sua evolução foram proibidos: joelhadas, cotoveladas, puxar o cabelo, atingir os olhos, estrangulamentos, entre outros de caráter violento ou desleal (CBW, 2016).

Em torneios oficiais a luta tende a durar dois tempos de três minutos com intervalo curto de 30 segundos entre os tempos. Os pontos são concedidos de acordo com os golpes e movimentos. São exemplos deles:

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3.8 ESGRIMA

FIGURA 35 - MOVIMENTOS DE LUTA

FONTE: Disponível em: <http://arte.folha.uol.com.br/esporte/2016/que-esporte-e-esse/lutas-livre-e-greco-romana.html>. Acesso em: 28 ago. 2016.

Antigamente, o entendimento da arte denominada esgrima era bem diferente do atual, uma vez que a modalidade de esgrima era atribuída a qualquer modalidade com a presença de armas brancas. Entende-se que esta nobre arte surgiu através da caça de animais, assim que o homem levantou o primeiro pedaço de madeira ou graveto para ataque ou defesa de animas e, posteriormente, com a criação de armas de combate a esgrima continuava sua formação (CRAMER; CAMPOS, 2007).

Costuma-se dividir a história da esgrima em períodos principais, iremos apresentar uma forma de pontuações para cada época determinada, da pré-história ao século XVI (CBE, 2016):

• Informações de esgrima em documentos egípcios, sendo apresentada uma esgrima com armas de pancada.

• Gregos utilizando metal para armas de pancadas.• Romanos apresentavam armas influenciadas pelos gregos, com características

de armas mais curtas, porém largas. Gladiadores seriam um tipo de esgrima esportiva mostrada para entretenimento do povo.

• Árabes importaram novos tipos de forja e temperamento de lâmina, agora com lâminas ainda mais leves, e o estilo de luta evoluiu.

• Idade Média trouxe lâminas mais fortes e ainda mais finas. O golpe principal ainda era através de pancadas, mas o modo de combate começava a sofrer modificações.

• Rei Saladino trouxe leveza e sutileza à esgrima.

Século XVI até meados do século XVIII:• Com o aumento na força dos combatentes, os armamentos também ganharam

mais peso e força e, como consequência, os golpes mais contundentes.

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• Lutas e torneios chegaram ao fim por decreto do papa após a morte de Henrique II, da França, perante sua própria corte.

• Devido ao surgimento de armas de fogo, as armas diminuíram de tamanho.• São escritos e divulgados os primeiros tratados de esgrima falando sobre a

posição de guarda, a esquiva, o golpe à face e demais movimentos.• Primeiras escolas de esgrima na França.• A esgrima ganha uma cara mais parecida com a atual, luvas, máscaras, punhais,

coletes e floretes. Convenções começam a criar as regras de sabre e florete da atualidade, assim como ordem de ataque e de defesa.

Final do século XVIII: • Introdução da troca sucessiva de golpes com velocidade, agora sem o risco de

ferimento nos olhos, devido ao uso da máscara.• Característica bélica da esgrima foi sufocada pelas novas armas tecnológicas,

tornando-se majoritariamente com caráter esportivo.• Introdução nos Jogos Olímpicos de Atenas em 1896. • Regras internacionais são lançadas em 1913.• Na década de 30 começam a ser usados os aparelhos elétricos, facilitando

bastante a vida dos árbitros.

3.8.1 História da esgrima no Brasil

Em solo brasileiro, a considerada arte marcial esgrima teve seu começo somente na época imperial. Vamos pensar um pouco: anterior a isso não era nem um pouco interessante aos colonizadores ensinar como manusear armas aos nativos e/ou escravos. Outro forte motivo é que havia poucos mestres de armas (conhecidos como os professores de esgrima) no Brasil (CRAMER; CAMPOS, 2007; CBE, 2016).

Incentivada por Dom Pedro II, a esgrima começou a surgir com os famosos sabres das tropas imperiais. Assim, em 1858, os cursos de Infantaria e Cavalaria ganham o curso obrigatório de esgrima. Sessenta anos depois é criado o curso de formação em Ginástica e Esgrima em São Paulo. Posteriormente, com o objetivo de ministrar esgrima aos militares no Brasil, é contratado Mestre Gauthier, instrutor de esgrima francês (CRAMER; CAMPOS, 2007; CBE, 2016).

Depois de sua criação, a União Brasileira de Esgrima se filia à Federação Internacional de Esgrima, e então o Brasil participa pela primeira vez dos Jogos Olímpicos de Berlim, no ano de 1937, mantendo-se com excelência até os dias de hoje. Também foi desenvolvido o Curso de Mestre d’Armas (CBE, 2016).

As principais instituições que organizam a prática de esgrima no Brasil e no mundo são a Confederação Brasileira de Esgrima (www.brasilesgrima.com.br) e a Federação Internacional de Esgrima (www.fie.ch), respectivamente (FIE, 2016).

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3.8.2 Breve resumo das regras da esgrima

A esgrima tem regras diferentes de acordo com a arma que está sendo usada, por exemplo, na espada e no florete, o toque só pode ser de ponta e, no sabre, com a ponta, o corte e o contracorte. Podemos ver que as especificidades e regras são muitas na esgrima, porém tentaremos resumir em sua base de prática, e que você possa levar esta modalidade para sua escola ou instituição de ensino.

Começaremos pelo objetivo: Acertar o seu oponente com a arma sem ser tocado. O vencedor será o que na primeira fase da competição tocar o oponente 5 vezes e 15 vezes na segunda fase. Conforme mencionado, as armas utilizadas na prática de esgrima podem ser florete, espada ou sabre. Geralmente são feitas de materiais flexíveis e com anéis eletrônicos. A duração depende dos toques ou de nove minutos de intervalo de três em três minutos (CBE, 2016; FIE, 2016).

As principais infrações são cobrir a zona de ataque válida com o seu braço que estiver em posse da arma, ou até mesmo usá-lo para agarrar ou desviar a arma do adversário. Lembrando que é vetado o contato corporal entre participantes, assim como o ataque a um adversário desarmado e virar as costas ao oponente. Quando os toques de espada acontecem exatamente ao mesmo tempo, estes não são contabilizados (CBE, 2016; FIE, 2016).

O local de luta ou pista, como é chamado pelos praticantes da esgrima, tem medidas oficiais de 14 metros de comprimento e uma largura aproximada de dois metros, podendo variar abaixo por 50 centímetros (CBE, 2016; FIE, 2016).

FIGURA 36 - LOCAL DE LUTA NA ESGRIMA

FONTE: Disponível em: <http://fcgols.blogspot.com.br/2016/07/esportes-da-olimpiada-esgrima.html>. Acesso em: 29 ago. 2016.

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Já os equipamentos que você utiliza na esgrima têm a principal função de proteção do praticante, assim como sua uniformização. São eles:

• Uniforme (padronizado e identificado)• Máscara (feita com fios entrelaçados de aço)• Luvas (somente usada na mão armada)• Meias (até a linha superior do joelho)

Os três tipos de armas:

O florete tem validade no toque somente com a ponta da arma, sendo uma das mais utilizadas para a iniciação de crianças. A lâmina pode medir até 90 centímetros no máximo (CBE, 2016; FIE, 2016).

FIGURA 37 - CRIANÇAS VIVENCIAM A ESGRIMA

FONTE: Disponível em: <http://radiowtcv.net/arranco-en-carabobo-el-campeonato-nacional-de-esgrima-infantil-con-mas-de-500-atletas/>. Acesso em: 29 ago. 2016.

A espada tem validade de toque de ataque em todo o corpo do oponente dado com a ponta. Esta tem o mesmo comprimento que o florete, porém com cerca de 770 gramas.

O sabre tem validade de corte e contracorte para o ponto. Além de ser permitido utilizar a ponta, tem comprimento máximo de 88 centímetros.

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FIGURA 38 - AS TRÊS ARMAS DA ESGRIMA

FONTE: Disponível em: <http://tudodealice.blogspot.com.br/2011/10/esgrima.html>. Acesso em: 29 ago. 2016.

ATIVIDADE PRÁTICA

TEMA: LUTA ESCOLAR

Com o objetivo de ensino dos golpes e regras das lutas, serão abordados movimentos e regras de determinadas modalidades de lutas.

Atividade Duração

Conversa sobre o Ensino de Lutas na Escola 5 minutos

Atividade Mapa Múndi 10 minutos

Aquecimento – Kung fu Animal 15 minutos

Golpes do Boxe – Bolas de Fogo 15 minutos

Competição de Sumô 20 minutos

Irmãos Gêmeos – Judô 15 minutos

Conversa Final 5 minutos

Esta prática deve acontecer na quadra com uso de tatame ou placas de EVA, duração de 1h30min, com objetivo de ensinar aos alunos durante as aulas de Educação Física.

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Mapa Múndi Nesta atividade, o professor irá dizer o nome da luta e o aluno terá que

colar ou apontar algo na região do Mapa Múndi onde a luta teve sua origem.

Descrição Atividade Kung fu Animal Aquecimento Nesta atividade, será realizado um aquecimento com movimentos de

golpes imitando os animais. Relacionar com os tipos de kung fu animal.

Golpes do Boxe – Bola de FogoO professor irá jogar as bolas e os alunos terão de rebatê-las com os

movimentos estudados do boxe.

Competição Sumô Em dois times, o professor irá demarcar um círculo grande onde todos

da sala caibam dentro, depois todos deverão entrar no círculo. O professor irá dizer a cor de determinada equipe e esta terá que retirar a outra equipe de dentro do grande círculo. A outra equipe não deve revidar, deve somente ficar parada e permitir que a outra equipe retire a mesma.

Irmãos Gêmeos Com pegada de judô, os alunos irão se deslocar pela sala e obedecer às

ordens de movimento do mestre (professor).

Conversa FinalExplicar a escolha de cada atividade e vincular com os aprendizados. Os

acadêmicos devem responder o porquê de cada atividade.

LEITURA COMPLEMENTAR

O PROCESSO CIVILIZADOR DAS LUTAS

Em seu trabalho sobre a gênese do esporte moderno, Norbert Elias discorre sobre diversas influências da sociedade na relação da mesma com o fenômeno esportivo, cabe a nós salientarmos como estas relações se dão com as lutas, como as artes marciais, sejam coreanas, chineses ou japoneses se tornaram esporte de cunho olímpico e como o processo civilizador influenciou tal transformação. Durante muito tempo o termo esporte, ou desporto, foi usado para designar uma variedade de passatempos, divertimentos e atividades lúdicas. No transcorrer do tempo, o signo desporto passou a ser utilizado como um termo para formas específicas de recreação na qual o desempenho físico desempenhava papel fundamental com a instituição de regras específicas, mas nem sempre claras para manter as disputas sob controle (ELIAS; DUNNING, 1985).

No momento da revolução industrial na Inglaterra as pessoas pareciam associar a forma como usufruíam seu tempo livre ligadas ao que se classificava como desporto, é salutar que as pessoas trabalhavam de maneira mais organizada, ou

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melhor, mais civilizadamente e assim, por consequência, organizavam de maneira diferenciada o seu tempo livre, em geral, a sociedade estava se modificando e se tornando mais voltada a formas organizadas e regimentadas de vida individual e coletiva sobre tal observação. Starepravo e Nunes (2005, p. 2) comentam:

A difusão, a partir da Inglaterra de modelos de produção industrial, de organização, de trabalho e das formas de ocupação do tempo livre do tipo conhecido como desporto foi notável. Parece razoável imaginar que as formas segundo a qual as pessoas utilizavam seu tempo livre seguiram de mãos dadas com a transformação da maneira segundo a qual trabalhavam.

Diante disso é possível e até mesmo pertinente dizer que a industrialização e o fenômeno ou movimento sociocultural da esportivização foram coincidentes de uma transformação das sociedades europeias e por derivação de outras sociedades. A historicidade deste processo nos leva a refletir que esse momento da evolução social da humanidade fez emergir diante do caos social vigente naquela época a necessidade de todos ou a maior parte dos indivíduos serem mais regulares e dotados de comportamentos mais estáveis e retidos quanto ao trabalho e comportamento hostil/bélico, retornando à obra de Starepravo e Nunes (2005, p. 2), reforçamos tal reflexão:

É possível que, tanto a industrialização como a desportivização, tenham sido sintomáticas de uma transformação mais profunda das sociedades europeias, que exigia de seus membros uma maior regularidade e diferenciação de comportamento. [...] considerando o esporte como consequência/produto do processo de civilização que a sociedade europeia começou a sofrer a partir do século XV.

Os modelos de comportamento social de conduta e de sensibilidade foram, segundo Elias e Dunning (1985), tornando-se mais rígidos, em particular nas classes sociais mais favorecidas banindo excessos de punição e de complacência. Ainda o autor Erasmo de Roterdão lança mão de um termo novo, o termo civilidade, que mais adiante deu origem ao verbo civilizar, explicativo de todo o processo do qual as sociedades passaram após o surgimento da nova ordem de produção, as sociedades foram sendo modificadas e dessa forma o comportamento dos indivíduos também, dando origem, por conseguinte, ao termo “processo civilizador”.

Conforme supracitado, as formas de conduta e de sensibilidade dos indivíduos foram sendo lapidadas e os direcionamentos desta nova forma de comportamento primaram pela sensibilidade em relação à violência, esta foi sendo aos poucos banida ou pelo menos de maneira regulamentar das práticas desportivas da época, é aqui que chegamos ao ponto em que as lutas passam a ganhar novas formas de regulamentação, ganham aqui a sua civilidade, o seu caráter esportivo, seu fundo normativo, começando pelo pugilato que ganha regras e proteções para as mãos e punhos, os golpes com as pernas e nas partes baixas são excluídos da prática.

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[...] A mesma mudança de orientação pode ser verificada no boxe. As formas mais antigas de pugilismo não eram totalmente desprovidas de regras. Porém, os punhos eram desprotegidos e muitas vezes as pernas eram utilizadas nas lutas. A luta assumiu as características de desporto pela primeira vez na Inglaterra com a introdução de regras que limitavam os danos físicos aos adversários, eliminando o uso das pernas nos combates. Além disso, o aumento da sensibilidade foi verificado com a introdução das luvas e, com o tempo, pelo acolchoamento destas, para amenizar os danos físicos aos adversários (STAREPRAVO; NUNES, 2005, p. 3).

As regras que foram sendo criadas se caracterizavam basicamente por dar ao desporto moderno “regras escritas; sanções intrajogo bem definidas; presença de árbitros para conduzir as disputas; órgão centralizador de elaboração e fiscalização das regras” (STAREPRAVO; NUNES, 2005, p. 3). O regulamento de regras, inclusive as orientadas pelos sensos de justiça, de equilíbrio, de oportunidades de vitória para todos os praticantes, tornou-se devidamente mais severo. As regras passaram a ser mais rigorosas mais explícitas e mais diferenciadas.

Além disso, o desenvolvimento de um lado espiritual pela arte marcial torna-se uma busca secular de apropriação de títulos e bens objetivos e simbólicos, encontrando no esporte o meio funcional para tal, deixando seus praticantes e admiradores confusos quanto à transmissão dos valores religiosos filosóficos orientais associados aos treinamentos físicos, metódicos e racionais exigidos pelo esporte de alto nível (STAREPRAVO; NUNES, 2005, p. 11).

A ciência de um campo esportivo, associada à ideia das teias de interdependência, traz a noção de movimento aos campos sociais, desta forma, tem-se os agenciadores de capitais que, além de encontrarem-se constantemente em conflitos por ganhos de lucros, permanecem na dependência das atitudes de outros agentes, pois dada a complexidade da estrutura de seus campos sociais, cada movimento em seu interior acarreta uma consequência, negativa ou positiva, a partir do ponto de vista social em que se encontra determinado agente.

A interdependência entre os sujeitos dá formato ao que Elias apud Pimenta; Marchi Junior (2005) defende como teia de interdependência onde todos, mesmo que não estejam cientes de sua existência, são dependentes das ações de cada um. Como em um tabuleiro de xadrez, onde cada ação representará uma consequência específica, as ações individuais representam reações peculiares, dadas as complexidades da divisão do trabalho e a interdependência entre os indivíduos:

[...] como em um jogo de xadrez, cada ação decidida de maneira relativamente independente por um indivíduo representa um movimento no tabuleiro social, jogada, por sua vez acarreta um movimento de outro indivíduo – ou na realidade, de muitos outros indivíduos [...] (STAREPRAVO; NUNES, 2005, p. 11).

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A análise de Elias fornece o alicerce sociológico para a compreensão de processos responsáveis pela sistematização de controles que suscitaram a formação dos Estados caracterizados pela uniformização das atitudes dada à constante interdependência entre os seres sociais e nos remete a reflexão de que todo o sentido que se dá a um determinado fenômeno deve ser pensado e atribuído a devida importância, pois as ações individuais prejudicam ou valorizam a coletividade diante das causas e das razões.

FONTE: Disponível em: <http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais12/artigos/pdfs/comunicacoes/C_Pinto.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2016.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Quando conversamos sobre criação de artes marciais, os povos pioneiros e suas lutas foram os incas, maias e astecas, com lutas ofertadas; os chineses, com as evoluções de ordem unida; japoneses com os mestres samurais, egípcios com a antiga luta dos bastões, indianos com esgrima e pugilato, Esparta com o pancrácio, gregos e romanos com a luta livre.

• Considerou-se que a luta grega fosse aquela da posição deitada e que a romana fosse aquela em pé. Assim teria surgido a denominação do termo “greco-romana” para a nossa luta que se desenvolve tanto em pé quanto deitada.

• O mais celebrado de todos os lutadores foi Milon de Crotona, que conseguiu seis vitórias consecutivas na modalidade de luta em Olímpia.

• Atualmente, as lutas que são disputadas em nível olímpico são o boxe, o judô, a luta greco-romana, esgrima, luta livre e o tae kwon do, sendo que o caratê acabou de se tornar um esporte olímpico.

• Origem e regras de cada luta:

o Judô – criado por Jigoro Kano com o objetivo maior de defesa pessoal. É o esporte individual que mais deu medalhas olímpicas para o Brasil. No ano de 2016, Rafaela Silva destacou-se com a primeira medalha de ouro dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Praticado em tatame com formato quadrado (14 a 16 metros de lado). Tempo de duração de aproximadamente cinco minutos. Vence quem conquistar o gesto ou movimento denominado ippon primeiro ou maior pontuação ao final.

o Jiu-jítsu – criado por monges para proteção contra ladrões e assassinos de tribos mongóis. Outras artes surgiram do jiu-jítsu, como SUMÔ, JUDÔ, CARATÊ, KEMPO, AIKIDO. A adaptação do jiu-jítsu para a genética da família Gracie, franzina fisicamente, tornou-se muito famosa para o mundo competitivo. Além disso, a família Gracie transformou o jiu-jítsu em uma filosofia de vida, exportando o jiu-jítsu brasileiro para o mundo todo, inclusive para o Japão. Lembrando que o jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, assim como constatado pelo judô. Quando olhamos para esta arte como modalidade esportiva, temos como propósito principal a derrubada ou imobilização.

o Caratê – Esta palavra tem origem japonesa e tem o significado de “mãos vazias”, que pode ser entendido como o ato de lutar sem armas. Okinawa é considerada a cidade base do caratê, e no começo as artes marciais eram praticadas em segredo, para evitar que os senhores ficassem observando. A

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transformação do caratê antigo ao caratê moderno deve-se ao grande mestre Gichin Funakoshi. O principal nome do caratê brasileiro é o atleta Douglas Brose, considerado por muitos do meio esportivo como o maior carateca brasileiro de todos os tempos. Quanto às pontuações do caratê, elas são distribuídas em: IPPON que vale três pontos, WAZA-ARI que vale dois pontos e YUKO que vale um ponto.

o Kung fu – Existem relatos de mais de dois mil anos do surgimento. Existem histórias que dizem que o criador do kung fu foi um monge budista Bodhidharma membro do monastério Shaolin. O kung fu foi dividido e estudado baseando-se em movimentos de animais ou elementos do dia a dia. Um nome muito importante para o kung fu, bem como para as lutas em geral é Bruce Lee (1940 - 1973). Devido à grande mortalidade e agressividade dos movimentos de kung fu, são mais comuns as mostras desta arte marcial, que também possuem regras de apresentação, tanto para o uniforme utilizado, saudações, pontuação, tempo, premiação e estilos, com presença ou não de arma (são utilizados vários tipos de arma).

o Sumô – Existem referências que datam do século II antes de Cristo, ou seja, há mais de dois mil anos. Entre as origens, dizem que é espelhada na luta dos ursos, e a segunda hipótese é que eram lutas entre dois deuses. Arte em que o lutador tenta arremessar e/ou empurrar o outro para fora de um ringue circular e/ou encostar o chão com qualquer parte de seu corpo com exceção das solas dos pés. As lutas tendem a durar cerca de 15 segundos, sendo considerada a luta mais rápida entre todas as marciais.

o Boxe – a primeira atividade que possa ser considerada como boxe ou pugilismo aconteceu no Egito, por volta de 3000 a.C. Quando falamos de lutas de boxe profissional, contamos com no máximo 12 assaltos com três minutos cada. Se, por acaso, o lutador adversário vir a nocaute e permanecer por mais de 10 segundos ao solo, ou não apresentar condições de continuidade da luta, vence o oponente. Um grande nome do boxe foi Mohammed Ali.

o Luta greco-romana – Nos primeiros Jogos Olímpicos podemos encontrar os primeiros vestígios de presença desta luta, a partir de 776 a.C. No final do século XIX ressurgiu a luta greco-romana, entretanto, com alterações que resultaram na proibição de golpes baixos e violentos. Cabe ressaltar que a modalidade feminina estreou somente em 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas. Um nome importante da luta olímpica é o russo Alexander Karelin. Existem dois tipos de lutas que são disputados em olimpíadas, sendo o objetivo, nos dois estilos, forçar o toque do adversário e manter as costas deste no tapete de luta.

o Esgrima – entende-se que esta nobre arte surgiu através da caça de animais, assim que o homem levantou o primeiro pedaço de madeira ou graveto para ataque ou defesa contra animais e, posteriormente, com a criação de armas de combate para esgrima. A esgrima tem regras diferentes de acordo com a arma que está sendo usada. Por exemplo, na espada e no florete, o toque só pode ser de ponta, e no sabre, com a ponta, o corte e o contracorte.

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1 De maneira geral, sabemos que a origem das lutas é algo muito amplo; desse modo, o momento correto, seus criadores e locais pode ser algo complicado de se definir. Porém, durante a construção deste tópico trabalhamos com algumas ideias. Selecione a única alternativa correta sobre os fatos mostrados neste tópico:

a) ( ) Os povos hebreus realizavam danças para os deuses, assim como lutas que deveriam terminar na morte de um sacrificado e ofertado aos deuses.

b) ( ) Os chineses, apesar do grande aprimoramento em artes marciais, não tiveram influência sobre as lutas do período anterior e posterior a Cristo.

c) ( ) Tanto o caratê quanto o judô tinham significados de mãos sempre armadas para o combate.

d) ( ) Egípcios demonstraram ao mundo a antiquíssima luta com sabres e espadas.

e) ( ) A história de Esparta demonstrou indícios de influência tanto ao pugilato quanto ao pancrácio.

2 Explique, conforme o estudo do caderno, o motivo do termo luta greco-romana. Uma dica: esta resposta está repetida no caderno.

3 Infelizmente, não são todas as modalidades de lutas e artes marciais que estão nos Jogos Olímpicos, pois o comitê olímpico leva em consideração uma série de fatores para a introdução de determinada modalidade ao quadro de práticas olímpicas. Correlacione as alternativas abaixo, colocando JO para modalidades que estão nos Jogos Olímpicos e FO para modalidades que estão fora das competições:

JO – Modalidade pertencente ao quadro de práticas dos Jogos olímpicos.FO – Modalidade FORA do quadro de práticas dos Jogos Olímpicos.

( ) Boxe ( ) Kung fu ( ) Sumô ( ) Jiu-jítsu

Escolha a alternativa que correlaciona corretamente as sentenças acima:

a) ( ) JO –FO –FO –FO b) ( ) JO – JO – JO – FO c) ( ) JO – JO – FO –FO d) ( ) JO – FO – FO – JO

AUTOATIVIDADE

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4 Sobre o judô, qual dos nomes a seguir melhor se relaciona com a modalidade e que melhor representa a arte desta luta? Lembrando que somente uma alternativa está correta.

a) ( ) Carlos Gracieb) ( ) Milon de Crotonac) ( ) Mohammed Alid) ( ) Jigoro Kano

5 De acordo com os nossos estudos, peculiaridades são encontradas nas origens de cada arte marcial, local, criador e período da história, e estes fatores é que tornaram elas diferentes. Para entender onde elas estão agora, precisamos saber a correta origem de cada uma. Correlacione corretamente as colunas.

I - Na criação desta arte marcial, Kano tinha como objetivo criar uma técnica de defesa pessoal, além de desenvolver o físico, o espírito e a mente.

II - O significado de duas palavras é o mesmo, bem como o ideograma usado em japonês para escrevê-las, arte suave.

III - A luta é espelhada na luta dos ursos e os movimentos destes durante um confronto.

IV - Esta nobre arte surgiu através da caça de animais, assim que o homem levantou o primeiro pedaço de madeira ou graveto para ataque ou defesa de animas, e, posteriormente, com a criação de armas de combate.

( ) JIU-JÍTSU ( ) JUDÔ ( ) ESGRIMA ( ) SUMÔ

Agora, selecione a alternativa que correlaciona corretamente ambas as colunas.

a) ( ) II – I – IV – IIIb) ( ) II – II – III – Ic) ( ) II – I – III – IVd) ( ) III – IV – I – II.

6 Preencha o quadro de forma resumida, com as informações de cada arte marcial, conforme o exemplo. Isso irá lhe ajudar muito no entendimento global das lutas, para necessidades futuras deste conhecimento.

Nome Objetivo Pontuação Equipamentos

Judô Ippon, Wazari, Yuko, Koka. Judogui e Faixa

Jiu-jítsuImobilização ou

movimento

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Caratê

Kung fuVestimenta e armas

específicas

SumôAdversário fora do

ringue e/ou toque no chão com parte corporal.

BoxeSocos e movimentos

corretos.

Greco-romana

Esgrima

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UNIDADE 2

LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem como principais objetivos:

• conectar os conhecimentos aprendidos de história e regras das lutas com procedimentos de ensino no ambiente escolar;

• capacitar o professor sobre a legislação conectada ao ensino de lutas;

• desenvolver o conhecimento crítico sobre os princípios pedagógicos e a sua maneira correta de uso;

• elaborar ferramentas, com o conhecimento dos aspectos universais, a pon-to de permitir ao professor classificar melhor cada tipo de luta;

• demonstrar exemplos de atividades que podem ser aplicadas no dia a dia do professor.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles você encon-trará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS

TÓPICO 3 – ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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TÓPICO 1

PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

2 LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS ESCOLARES SOBRE LUTAS

Neste primeiro tópico, abordaremos temas como a legislação e os princípios pedagógicos das lutas, assim como os aspectos universais das lutas. Para toda prática profissional cabe ao próprio profissional pesquisar, estudar e conhecer sobre as leis que fazem parte do seu dia a dia de trabalho e ensino, desta maneira, além de ser mais um conhecimento agregado, o profissional estará seguro para atuar, pois sabe os limites que pode trabalhar e lecionar.

Outro pré-requisito para o ensino de qualquer temática são os princípios pedagógicos que o professor pode utilizar, de maneira muito simplista, os princípios pedagógicos são as ferramentas de trabalho do profissional de educação física, com essas ferramentas podem ser elaborados planos e aulas baseados em diretrizes de aprendizagem e não simplesmente partir de algo incerto.

Por último, mais não menos importante, abordaremos neste tópico o que chamados de aspectos universais, percebemos que de maneira específica cada luta possui uma característica diferenciada, assim como peculiaridades em seus aspectos universais, porém certos padrões nos ensinos das lutas podem ser percebidos. Olhos atentos acadêmicos, pois continuaremos o seu preparo para o futuro professor.

Abordaremos algumas leis que determinamos como importantes para sua continuação no estudo das lutas. Com o estudo destas leis e normas, ao se formar, você terá uma boa base de conhecimento para ministrar aulas escolares de lutas e artes marciais.

A Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Ainda nesta lei consta o incentivo à prática da luta capoeira (BRASIL, 2008).

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil (BRASIL, 2008, grifos nossos).

Assim, esta lei incentiva o estudo da cultura afro-brasileira, portanto, da luta capoeira.

O Projeto de Lei 2.889/08, do deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), determina que o mestre, instrutor ou professor de artes marciais, de acordo com o substitutivo, deve, além das qualificações requeridas dos atletas, ter concluído curso superior em Educação Física. O professor deverá ainda passar por avaliação da organização estadual ou federal antes de começar a dar aulas. Esta lei em questão determina que para o ensino de determinada arte marcial o mestre ou professor e/ou treinadores devem, sim, ter o grau de Educação Física, além de suas formações como atleta que a mesma lei regulamenta (BRASIL, 2008).

Ainda que não seja uma lei regulamentada, no site do Conselho Federal de Educação Física CONFEF (2016) podemos encontrar a seguinte afirmação:

[...] é fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física Escolar e os objetivos do esporte, da dança, da luta e da ginástica profissional. Embora sejam uma fonte de informações, não podem transformar-se em meta a ser almejada pela escola, como se fossem fins em si mesmos (CONFEF, 2016, grifo nosso).

Por fim, o governo de São Paulo (2008) indica cinco eixos elementares para o Ensino Médio, sendo eles: jogo, esporte, ginástica, luta e atividade rítmica, que de modo distinto se interligam com os eixos temáticos denominados Corpo, Saúde e Beleza; Contemporaneidade; Mídias; Lazer e Trabalho.

Para o maior entendimento das legislações e normativas da Educação Física, ou seja, da sua futura profissão, sugerimos a leitura do artigo Educação Física escolar, Ensino Médio: entre a legislação e a ação, do professor Fábio Lemos, que está disponível no link: <http://www.efdeportes.com/efd130/educacao-fisica-escolar-entre-a-legislacao-e-a-acao.htm>.

3 RESPONSABILIDADES E DIFICULDADES DOS PROFESSORES AO ENSINAR LUTAS NA ESCOLA

As artes marciais, como o próprio nome já exemplifica, foram criadas para a guerra e não para o âmbito escolar. Poderíamos entender, deste modo, que da mesma forma que as lutas não foram criadas para o ambiente escolar,

DICAS

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TÓPICO 1 | PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

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outras modalidades, como o hip hop, basquete, xadrez, por exemplo, também não foram criadas visando o ensino escolar. Assim, para que as práticas de lutas sejam ensinadas nas aulas de Educação Física escolar, deve haver modificações ou transformações didático-pedagógicas.

Sobre as responsabilidades do professor na escola, Darido e Souza (2007) apontam que a área da Educação Física deve passar os limites no único ensinamento do gesto motor. Os autores consideram que cabe ao professor de Educação Física problematizar, adaptar e ter a percepção da cultura corporal possível de seus alunos e de como estes alunos compreendem o significado da prática corporal que você, profissional, ensina a eles. Assim, o professor tem mais responsabilidades do que a maioria vem desempenhando.

A escola é conhecida como o ambiente propício para aprendizagem, por isso é dever do professor também aprender, e, conforme mencionado no tópico de legislação, os conteúdos clássicos (jogo, ginástica, lutas, danças e esportes) são mantidos e transformados ao longo do tempo e também são conhecidos como forma de expressão corporal e principalmente cultural (SOARES, 1996).

Na formação de professores temos o costume de negligenciar o termo cultural, porém, temos que lembrar que a cultura corporal, muito presente nas aulas de Educação Física, tende a desenvolver o homem e como este é visto pela sociedade. O conteúdo clássico denominado luta é uma forma de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (SOARES, 1992).

Como disciplina, a luta deve ter a finalidade, segundo o autor Betti (2009), de criar senso crítico à cultura corporal do movimento, visando formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar e produzir, além de transformar as formas culturais do exercício da motricidade humana: jogo, esporte, ginásticas, práticas de aptidão física, dança e atividades rítmicas; e também expressivas, lutas e/ou artes marciais, práticas alternativas.

Dentre os fatores para a não inserção do tema luta e/ou arte marcial na escola podemos frisar vários, porém de modo muito focado, o autor Melo e seus colaboradores (2016) trouxeram uma abordagem justamente deste tema para a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que é interessante abordarmos:

[...] em nossas conclusões, constatamos que diversos são os motivos que os professores de Educação Física costumam apresentar para a não inserção do tema lutas em suas aulas, entre eles, a associação com a violência, a falta de materiais, roupas e espaços adequados. Entretanto, acreditamos que a maior dificuldade está na insegurança em relação ao tratamento deste tema, por achar que para desenvolvê-lo em suas aulas é necessário ser ou ter sido um praticante de alguma luta ou arte marcial (MELO et al., 2016, p. 4, grifo nosso).

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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FIGURA 39 - CAPOEIRA NO ÂMBITO ESCOLAR

FONTE: Disponível em: <http://ensa.org.br/blog/?cat=1&paged=111>. Acesso em: 19 set. 2016.

Podemos frisar também a opinião que foi reportada pelos Parâmetros Curriculares Brasileiros. Para este documento, o tema de ensino e aprendizagem do curso de Educação Física é CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO e abrange o jogo, a ginástica, o esporte, as LUTAS, a dança, a CAPOEIRA e demais temáticas (BRASIL, 2002). O documento em questão ainda traz mais sobre o assunto de artes marciais, classificando-os de forma interessante, como disputas em que o oponente deve ser subjugado com técnicas e estratégias de ação ofensiva e defensiva, como:

• Desequilíbrio• Contusão• Imobilização• Exclusão de determinado espaço.

Deste modo, sabemos que as lutas são importantes, porém, faltam ainda proposições e indicações de possibilidades de abordar estas manifestações na escola, indicando quando ensiná-las, como ensiná-las e, o mais importante, o que ensinar das lutas no longo processo de escolarização (RUFINO, 2015).

Com similaridades próprias, as atividades das artes marciais que fazem parte da história e cultura de diversos povos têm regras e movimentos específicos. Elas podem ser efetuadas livremente por todos os acadêmicos, de vários níveis escolares, independentemente da força ou resistência que estes acadêmicos possuam, assim como de sua altura e/ou peso corporal, ainda que de sexo e gêneros diferentes, ou seja, a luta é de todos e deve ser ensinada para todos.

Um dos problemas que é muito presente no âmbito escolar é a falta de uma constância no ensino das lutas. O que queremos dizer com isso é que muitas vezes não podemos acompanhar uma sequência no ensino das lutas, falta de planejamento

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TÓPICO 1 | PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

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propriamente dito, o ensino acontece de forma espaçada em séries sim e em séries não. Ora, não conseguiremos atingir uma excelência do ensino das lutas se não pudermos dividir o ensino em diferentes ciclos de aprendizagem. O autor Rufino (2015, p. 24, grifos nossos) traz uma exemplificação interessante sobre o tema:

[...] quais as principais diferenças entre ensinar as lutas no 1º ano do Ensino Fundamental e na última série do Ensino Médio? Perguntas como esta requerem ainda ampla análise da área da Educação Física, e a clareza nesse processo de sistematização poderá auxiliar a prática pedagógica a partir de saltos qualitativos ainda necessários.

Dentre outras dificuldades do ensino de lutas e artes marciais na escola, está a falta de conhecimento, pois muitos mestres professores admitem a extrema dificuldade no ensino das lutas. Dentre os argumentos físicos de dificuldade no ensino das lutas, Carreiro (2005) cita:

• Falta de espaço adequado, de qualidade e com segurança para a prática.• Falta de material e equipamentos que possam auxiliar no ensino.• Falta de vestimentas adequadas que permitam a prática com segurança.

Existe um empecilho que talvez seja mais forte que os listados acima, a associação com o tema violência, o professor deve buscar maneiras de abordar esse tema, tentando extinguir o preconceito e a associação das lutas à violência. Utiliza-se dos recursos que a internet nos oferece para estudar maneiras de abordar o tema tratado.

A falta de recursos não pode servir de desculpas para não transmitir o conhecimento, a figura a seguir demonstra uma adaptação de materiais para o ensino de esgrima.

FIGURA 40 - ESGRIMA COM PAPELÃO

FONTE: Disponível em: <http://acervo.novaescola.org.br/educacao-fisica/fundamentos/vamos-luta-466873.shtml>. Acesso em: 19 set. 2016.

Os profissionais que trabalham diretamente com artes marciais e até mesmo professores de Educação Física que, com frequência, abordam as artes marciais em suas aulas, relatam que a violência nas aulas de lutas é praticamente nula e que para

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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os alunos sempre esteve muito claro que aquele era um momento mais de um jogo de força, habilidades motoras e inteligência, em que cabiam até estratégias complexas para vencer, e que o lado violência com brigas e xingamentos nunca se fez presente.

Temos que lembrar que a violência se encontra também no modo verbal ou até mesmo em um olhar de desprezo ou superioridade, assim a mente e não o corpo seria a arma, por isso a importância do ensino das lutas. Caro acadêmico, temos que discorrer em nossa formação que a violência é mais uma intenção, um estado de espírito que pode ou não se apresentar por gestos corporais relacionados com a motricidade grossa, como um soco ou pontapé. Delvecchio e Franchini (2006), o importante é mostrar que os professores devem “abrir espaço” para que os alunos troquem suas experiências e percebam que podem contribuir para a construção do conhecimento do outro.

De acordo com Pucineli (2004 apud MELO et al., 2016), o profissional de Educação Física que trabalha com atividades físicas escolares deve valorizar a todo momento o conhecimento cultural, a bagagem cultural que os alunos trazem de suas vidas extraescolares. Mas deve ser um conhecedor amplo do processo, a ponto de poder interferir e zelar pela saúde e melhorar a prática da atividade de lutas, por exemplo, na forma de escolher equipes e combatentes a fim de manter em alta a motivação intrínseca dos alunos.

Surpreenda-se com esta professora e com o projeto de lutas que ela desenvolveu. Aprenda e aprenda muito com este vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=ES5Ie9XI9kM>

Ainda sobre os problemas e dificuldades encontradas pelos professores, Barros e Gabriel (2011), de maneira semelhante ao apresentado até o momento, admitem que há diversos motivos e explicações para que os docentes de Educação Física não insiram a temática de desenvolvimento de lutas. Os autores acreditam que a maior dificuldade está na insegurança em relação ao tratamento desse tema, pelo grande fato de os professores considerarem erroneamente que é necessário ser ou ter sido atleta ou mestre de determinada luta ou arte marcial. Pense conosco, acadêmico: você precisa ser um jogador de futebol para dar aula de futebol na escola? Não? Certo, o mesmo se aplica para a prática da arte marcial.

Algumas propostas curriculares afirmam que não é possível esperar que os professores de Educação Física entendam todas as lutas e todos os seus tipos, assim como não dominem todas as formas de manifestação cultural. Isto quer dizer que o professor de Educação Física não deve trabalhar somente com o que tem familiaridade, e o mesmo deve ser levado para as lutas. Reconhecemos que muitas vezes os cursos de graduação não compreendem o ensino de várias lutas, e assim constrói-se um problema para o repasse deste conhecimento.

DICAS

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Alguns autores acreditam que parte da limitação do ensino de lutas na escola se deve também à falta de conteúdos ministrados nos cursos de graduação, tanto no bacharelato quanto na licenciatura em Educação Física ou Esportes. As propostas curriculares são limitadas ao ensino de capoeira, caratê e judô, isso ainda quando estas disciplinas não são abordadas em uma única disciplina. Seria possível você aprender tudo o que todas as lutas compreendem em uma única matéria? Fica a pergunta (DELVECCHIO; FRANCHINI, 2006). Especula-se que os professores que mantêm a prática de lutas na escola são aqueles que possuíram o ensinamento como praticantes e não devido ao ensino nas aulas de graduação. O autor Ferreira (2006, p. 3) faz uma afirmação importantíssima sobre o quão completa a abordagem das lutas no ambiente escolar deve ser: “[...] as lutas devem fazer parte dos conteúdos a serem ministrados nas aulas de Educação Física, seja na Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio, ressaltando-se que as lutas não são somente as técnicas sistematizadas como caratê e judô”.

Baseado no que foi comentado até o momento, o professor de nível universitário tem sim uma responsabilidade muito grande na disseminação do conhecimento de lutas no ambiente escolar, uma vez que é responsável pelo professor de nível escolar ou fundamental. Estes devem estar preparados para o ensino das mais populares lutas a ponto de passar o básico de cada luta ao aluno, utilizando-se de técnicas de ensino para demonstrar culturalmente a importância das lutas. Lembrando que o professor deve ser conhecedor de determinada matéria para ministrá-la e ensinar o básico ao seu aluno ou acadêmico.

Sobre as dificuldades físicas encontradas, como espaço de prática, material de segurança e também material e equipamentos de ataque e/ou defesa de combate, recomendamos fortemente que o acadêmico, no momento de sua aprendizagem e ensino, utilize de sua criatividade e iniciativa para criar materiais de proteção e/ou ataque para a prática de lutas, sendo estes preferencialmente de forma reciclável.

FIGURA 41 - CRIATIVIDADE E RECICLAGEM PARA CRIAR EQUIPAMENTOS DE LUTA

FONTE: Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/estadinho/files/2012/10/assim1.jpg>. Acesso em: 19 set. 2016.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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3.1 PROPOSTAS PARA O ENSINO DE LUTAS

Além de salientar que não se faz necessário ser um praticante de luta para ensinar, os autores Darido e Souza (2007) e Barros e Gabriel (2011) demonstraram algumas sugestões de propostas para o ensino escolar, e estas, além dos jogos e brincadeiras que serão abordados no final desta segunda unidade, são reportadas a seguir:

• Conceituação de algumas modalidades de lutas.• A história de determinadas lutas e artes marciais.• Lutas e briga: diferenças.• Regras gerais de lutas que serão praticadas.• Curiosidade sobre as lutas.• Leituras e discussões.

Recomendamos o livro Das Brigas aos Jogos com Regra: Enfrentando a indisciplina na escola, de Jean-Claude Olivier, Editora Penso, 2000.

No livro recomendado acima, Olivier (2000) divide a prática de lutas e artes marciais em seis principais categorias de acordo com o nível motor de desenvolvimento e solicitação, nível socioafetivo, que prática solicita e nível cognitivo. Caro acadêmico, a primeira classificação, que veremos na sequência, permitirá que elabore uma sequência de ensino das lutas na sua escola. As

DICAS

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TÓPICO 1 | PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

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3.2 COMO ENSINAR AS LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR?

Antes mesmo de abordar, especificamente, a teoria do ensino das lutas propriamente dita, teremos que relembrar as teorias de aprendizagem e ensino de modo geral. Coll; Pozo e Sarabia (2000) propõem três dimensões dos conteúdos, sendo estas uma forma de facilitar o entendimento de determinado conteúdo e com grande potencialidade explicativa para os fenômenos educativos. Estes conteúdos devem ser compreendidos como tudo quanto se tem de aprender para alcançar determinados objetivos que não apenas abranjam as capacidades cognitivas, mas também incluam as demais, como as capacidades de cunho motor, capacidades afetivas de relação interpessoal e, por fim, as capacidades com objetivo de inserção social (ZABALA, 1998). No quadro a seguir são apresentadas as três dimensões e as suas respectivas perguntas e explicações a serem feitas de acordo com o aprendizado:

categorias destacadas pelo autor são:

• Jogos de rapidez e de atenção.• Jogos de conquista de objetos.• Jogos de conquista de território.• Jogos para desequilibrar.• Jogos para reter, imobilizar e livrar-se.• Jogos para combater.

QUADRO 2 - DIMENSÕES DOS CONTEÚDOS DAS LUTAS

Dimensão Pergunta a ser feita:

Conceitual

• O que se deve saber?

• Conhecer as transformações por que passou a sociedade em

relação aos hábitos de vida e relacioná-las com as necessidades

atuais de atividade física.

• Conhecer as mudanças pelas quais passaram os esportes.

• Conhecer os modos corretos da execução de vários exercícios e

práticas corporais cotidianas.

Procedimental

• O que se deve fazer?

• Vivenciar e adquirir alguns fundamentos básicos dos esportes,

danças, ginásticas, lutas, capoeira. Por exemplo, praticar a ginga

e a roda da capoeira.

• Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados às danças,

como as danças de salão, regional e outras.

• Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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Atitudinal

• Como se deve ser?

• Valorizar o patrimônio de jogos e brincadeiras do seu contexto.

• Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas com

atitudes de diálogo e não violência.

• Predispor a participar de atividades em grupos, cooperando e

interagindo.

• Reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas quanto aos níveis

de habilidade, sexo, religião e outras.

FONTE: O autor

Sobre as três dimensões e sua importância, Darido (2012, p. 3) faz uma boa abordagem, afirmando que para “garantir um ensino de qualidade, além de diversificar os conteúdos na escola, é preciso aprofundar os conhecimentos, ou seja, tratá-los nas três dimensões, abordando os diferentes aspectos que compõem as suas significações”.

Além disso, Darido (2012) exemplifica que quando for tratar o futebol, o ensino deve ir além do fazer (técnicas e táticas), a fim de abordar a cultura; suas evoluções e transformações ao longo da história; dificuldades e tropeços da expansão do futebol feminino (causas e efeitos); mitificação dos atletas de futebol; grandes nomes do passado; violência nos campos de futebol etc., ou seja, é preciso ir além do costumeiro jogar. E nós, no âmbito da luta, podemos pensar o mesmo sobre as lutas, ou seja, quando formos tratar de luta e artes marciais, devemos ir muito além de simplesmente o soco ou o chute, devemos abordar a manifestação que aquela luta representa, como a luta chegou até aquele formato seguro e controlado, dificuldades e mistificação da violência das lutas, nomes do passado, por exemplo, Acelino Popó Freitas, entre outros. Isso é a verdadeira arte marcial.

3.2.1 Dimensão conceitual

Os conteúdos conceituais são termos abstratos e muito difíceis, podem ser restringidos a uma única definição encaixotada ou fechada, pois necessitam certas estratégias didáticas que promovam uma ampla atividade cognoscitiva do aluno, fornecendo-lhe experiências ou situações que induzam ou potencializam a aprendizagem. A dimensão conceitual deve ensinar aos alunos os elementos históricos e evolutivos, além dos aspectos conceituais e principais normas de determinada luta.

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3.2.2 Dimensão procedimental

De modo resumido, a dimensão procedimental é entendida como o conjunto de ações ordenadas, destinadas à consecução de um fim, estado configurado por ações e podendo ser considerado dinâmico em relação ao caráter estático dos conteúdos conceituais. Assim, a aprendizagem de procedimentos implica, então, aprendizagem de ações, e isso comporta atividades que se fundamentam em sua realização.

Somente para constar, acadêmico, cognoscitivo significa a pessoa que tem a faculdade de conhecer, hábil no aprendizado, capacitado para aprender.

Breda et al. (2010) destacam a grande importância do aprendizado histórico para o ensino das lutas. Os autores consideram este tipo de aprendizagem essencial para conhecer sua origem e sua evolução a ponto do correto entendimento cultural. Este é um dos motivos de termos abordado pontos históricos na primeira unidade.

Existe uma gama de significados simbólicos, e se não abordarmos os mesmos em nossas aulas, estaríamos permitindo que outros significados, que podem não ser os corretos, sejam adotados. Desse modo, a dimensão conceitual é muito importante para combater o principal paradigma das lutas, ou seja, a sua mistura errônea com violência (RUFINO, 2015).

Exemplos da dimensão conceitual:

• Diversos tipos de modalidades.• Formas de classificação das modalidades.• Deferentes origens históricas para as diferentes práticas.• Regras de determinadas modalidades.• Análise das modalidades consideradas olímpicas.• Pesquisas de lutas desconhecidas.• Conceitos biomecânicos das lutas.• Conceitos fisiológicos das lutas.• Melhores formas de aplicação de determinados golpes.• Melhores formas de treinar para determinadas lutas.• Curiosidades das lutas.

Perceba que grande parte dos exemplos acima você já está pronto para responder somente com o estudo e compreensão da Unidade 1.

DICAS

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Segundo Rufino (2015), esta dimensão do ensino das lutas no ambiente escolar tem relação com o saber fazer, ou seja, os procedimentos, os movimentos e os gestos motores técnicos realizados nas modalidades, tanto individuais quanto coletivas (duplas ou mais), correspondendo a tudo o que se relaciona ao saber fazer.

São exemplos de elementos da dimensão procedimental:

• Vivências relativas à questão de oposição.• Ganho ou perda de espaço.• Quedas com ou sem oponente.• Atividades individuais.• Simulação de técnicas de chutes e/ou socos.• Atividades coletivas (como o caso do cabo de guerra).• Brincadeiras.

3.2.3 Dimensão atitudinal

Acadêmico, lembre-se de que a pergunta desta dimensão é: “Como se deve ser?” Portanto, a dimensão atitudinal faz ligação com os elementos de valor, normas e atitudes subjacentes à prática educativa. As etapas do ensino e aprendizagem devem abranger, ao mesmo tempo, os campos cognoscitivos, afetivos e comportamentais, em que o componente de cunho afetivo adquire uma importância fundamental, uma vez que o que as pessoas pensam, sentem e como estas se comportam não depende apenas do que está socialmente estabelecido, mas, sobretudo, de suas relações interpessoais que cada indivíduo estabelece com o objeto da atitude e do seu valor (ZABALA, 2001).

Esta pode ser a dimensão mais difícil de se ensinar, pois os processos de aprendizagem e ensino podem se basear em vários campos, com enfoque ao componente afetivo, que enfatiza as relações interpessoais com o seu determinado objeto de valor. É normal haver dúvidas do tipo: devo eu ensinar os critérios de caráter ao aluno ou até mesmo componentes afetivos interpessoais? Sim, você deve enfatizar e recomendar que com o ensino das lutas terá uma arma surpreendente para tal tarefa.

Conforme já mencionado sobre a dificuldade desta dimensão, seu entendimento é algo muito amplo e certamente complexo, tanto que esta deve ser uma prerrogativa básica do Projeto Político-Pedagógico da escola não somente para a Educação Física, mas sim para todas as ações de ensinamento pertencentes ao nível escolar.

Poderíamos exemplificar a dimensão atitudinal como:

• Respeito ao companheiro e ao adversário.• Diferenciação de uma luta para uma briga.

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4.1 AVALIAÇÃO ESCOLAR PARA AS LUTAS

• Discussão de termos pejorativos.• Hierarquia.• Respeito ao limite de seu próprio corpo.• Entender o perder na luta.• Entendimento de que os conhecimentos de golpes devem ficar no ambiente de

luta e não fora dele.• Relação entre gêneros e sexos.

Esta dimensão tem um papel muito importante na abordagem da diferença entre LUTA e BRIGA; VIOLÊNCIA e CONTATO; FORÇA e EXCESSO DE FORÇA; entre outras temáticas. Terminamos esta temática de dimensões com a frase de Ingrid Fahning: “O verdadeiro guerreiro, humilde e respeitoso, que segue os preceitos da arte que pratica, sabe que 'Quem luta não briga'... Quem luta educa!”.

4 PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS RELEVANTES PARA O ENSINO DE LUTAS NA ESCOLA

Pretendemos, com este subtópico, facilitar a sua prática como professor, porém, lembre-se de que a forma como iremos abordar o estudo das lutas e os seus princípios pedagógicos não deve ser tomada como única. Lembre-se de usar seu senso crítico e criatividade na hora de montar o seu plano de aula. Os próprios professores, em associação com os alunos e sua equipe de diretoria, podem estimular o ensino das artes marciais de outra maneira.

Como mencionado anteriormente, algumas variáveis estão presentes nos estudos das lutas através das três dimensões de estudo. Dentre elas iremos destacar algumas principais, como a avaliação escolar, gênero, o preconceito para com a luta, o propósito de inclusão e, por fim, as abordagens dos conteúdos.

Antes de começarmos o conceito de busca do como avaliar nas lutas, devemos debater o termo avaliação. O termo avaliar tem sido associado simplesmente a fazer prova, executar um exame, atribuição de notas, repetir ou passar de ano. Temos que repensar que a avaliação, além do objetivo de avaliar, deve ter o cunho de aprendizagem, ou seja, o aluno deve aprender com a avaliação. Com este tipo de abordagem o educando é um ser participativo no sistema de avaliação e não simplesmente um executor, e a avaliação é orientada e cooperativa. Veja como o termo é abordado por Caldeira (2000, p. 122):

A avaliação escolar é um meio e não um fim em si mesma; está delimitada por uma determinada teoria e por uma determinada prática pedagógica. Ela não ocorre num vazio conceitual, mas está

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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dimensionada por um modelo teórico de sociedade, de homem, de educação e, consequentemente, de ensino e de aprendizagem, expresso na teoria e na prática pedagógica.

Quanto à avaliação escolar em relação ao estudo de lutas, os professores podem ter várias maneiras de avaliar, dentre elas destacam-se:

• A construção de questionários e aplicação dos mesmos. Tais questionários devem compreender as três dimensões e principalmente a atitudinal.

• Avaliação individual através de um checklist de observação, assim é possível dividir as atividades de cunho motor ou simplesmente técnico ou tático.

• Construção de diários de aula com o registro do que aconteceu durante a prática pedagógica também é uma opção interessante.

• Pesquisas e entrevistas em academias de lutas.• Formas mais tradicionais, como a aplicação de provas, trabalhos e apresentação

de pesquisas que podem ser realizadas.

4.1.1 A abordagem dos conteúdos

4.1.2 Critério de inclusão

Alguns autores defendem que o ensino das lutas na escola deve ser de modo geral somente, ou seja, sem especificar uma luta, sem nomear golpes ou técnicas, uma vez que com o estudo de todas as lutas fica complicado abordá-las todas de modo único e detalhado. Porém, acreditamos que depois de uma pesquisa de interesse com os alunos, pode-se, sim, detalhar as lutas e artes marciais mais específicas. Conforme mencionado por Rufino (2015, p. 59, grifo nosso), depende do momento de ensino:

[...] os professores, caso sintam a necessidade e tenham conhecimentos disponíveis em uma ou mais modalidades, devem aprofundar o ensino de algumas características próprias dessas práticas, sem que se especifique demais no processo de ensino ou aprendizagem, de modo a ‘fechar’ a prática pedagógica das lutas em apenas uma ou outra modalidade.

Concluindo sobre o tema, temos que compreender que não queremos formar um atleta ou um mestre de determinada luta, mas sim que o aluno obtenha o conhecimento básico de cada luta.

Como nos demais temas, antes de abordarmos inclusão nas lutas e artes marciais temos que entender o conceito de inclusão quando aplicado ao ambiente escolar. Para isso entendemos o que foi redigido por Paulon (2005, p. 21, grifo nosso) sobre o critério e responsabilidade do professor na inclusão escolar:

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A formação do professor deve ser um processo contínuo, que perpassa sua prática com os alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. É fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educação no processo de inclusão. Não se trata apenas de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de educação estes profissionais têm se dedicado.

Dentre as várias discussões que poderíamos ter da citação acima, podemos destacar a parte grifada “trabalho transdisciplinar”, que faz menção ao trabalho que deve ser realizado para que a inclusão de lutas seja completa. Por exemplo, por que não trabalharmos o estudo da capoeira na Educação Física no mesmo momento em que está sendo trabalhado o período histórico na disciplina de História e/ou com o estudo da temática “Racismo” nas aulas de Filosofia, visto que esta era uma expressão de defesa dos povos afrodescendente do Brasil?

A inclusão quanto ao ensino das lutas deve, acima de tudo, defender a prática de todos os alunos na realização das atividades, este deve ser um dos maiores propósitos dos professores. Isto quer dizer que, independentemente de gênero, sexo, estágio maturacional, estatura ou idade, deve atingir a todos. Um papel perfeito de inclusão não acontece da noite para o dia, tende a demorar um período para que todos os alunos possam estar aptos para todas as atividades motoras.

Professor, quer dizer que todos devem praticar a luta com todos, independentemente dos fatores acima citados? Não, não é isso, caro acadêmico. Temos sim que respeitar as diferenças, dependendo do estágio maturacional de cada aluno. Temos que os dividir em gênero, sim, com o objetivo de não termos acidentes devido à diferença de força. A inclusão que estamos discutindo significa que tanto a menina quanto o menino devem praticar, e seu papel, professor, é tornar isso uma atividade possível.

Além disso, temos que redobrar a atenção para as pessoas com deficiência ou necessidades especiais, estas não devem se sentir impossibilitadas ou limitadas de realizar e participar em igualdade, ao invés disso, devem se sentir motivadas para com a prática. Assim, devemos estimular os portadores de necessidades especiais a praticarem os desafios e duelos das artes marciais. Se pararmos para pensar um pouco, podemos tirar proveito destas situações para ensinar muito mais que os movimentos básicos de luta, podemos tornar possível uma atividade em que todos os alunos, inclusive os com deficiência visual (todos iguais), usem faixas/vendas nos olhos, impossibilitando a visão. E, com cuidado e determinação, praticar combates ou jogos de luta.

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FIGURA 42 - INCLUSÃO NA PRÁTICA DAS ARTES MARCIAIS

FONTE: Disponível em: <https://turismoadaptado.wordpress.com/2015/04/09/cadeirante-encontra-no-muay-thai-equilibrio-e-forca-interior/>. Disponível em: 26 set. 2016.

O tema inclusão para portadores de necessidades especiais, assim como as atividades que eles podem praticar, será melhor abordado na próxima unidade.

4.1.3 A questão do gênero

A possibilidade de trabalhos mistos nas lutas, conforme comentado no tema inclusão, é algo muito dependente do estágio maturacional do aluno. Toda prática de luta pode ser feita tanto por alunos quanto por alunas, com determinados cuidados e alterações. Entretanto, cabe ao professor decidir a presença ou ausência de aulas mistas em sua classe. Ressaltamos que a curva de crescimento é algo que deve ser considerado na hora de fazermos associações de gênero em uma aula de lutas, com o objetivo de um duelo misto. Temos um exemplo de curva de crescimento a seguir.

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GRÁFICO 1 - COMPARAÇÃO DOS PERCENTUAIS DE PESO CORPORAL DOS ESCOLARES DO SEXO MASCULINO E FEMININO DE SANTA CATARINA

FONTE: Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd83/sc.htm>. Acesso em: 26 set. 2016.

4.1.4 Respeito e preconceito nas práticas de lutas

Será comum, no ambiente escolar, haver um certo preconceito quanto às práticas de lutas e a crença falsa de que as lutas podem levar os alunos ao comportamento violento e brigas. Isso se deve, principalmente, à falta de conhecimento das potencialidades educativas das artes marciais no ambiente escolar (RUFINO, 2015). Por este motivo, em reuniões escolares deve-se conversar com os demais professores e mostrar como é o verdadeiro mundo das lutas.

É de extrema necessidade que o professor tenha argumentos e conhecimento das práticas corporais para uma perspectiva escolar, pois o preconceito dos próprios alunos, dos próprios professores e até mesmo dos próprios pais será um desafio e vários questionamentos aparecerão durante a abordagem desse assunto. Não esqueça de sempre deixar claro que a luta possui regras, princípios pedagógicos e padrões sistematizados.

Para entender ainda mais sobre os gêneros nas lutas, segue uma entrevista que foi feita com muito sucesso, reportando diferenciação de gêneros nas lutas marciais mistas. Clique no link que segue para ver: https://www.youtube.com/watch?v=dnyHIA6ojrw

DICAS

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4.2 ASPECTOS UNIVERSAIS DAS LUTAS

4.2.1 Imprevisibilidade

Por uma questão temporal, alguns autores acreditam que seja melhor ensinar as lutas em forma de jogos de luta e não em forma de luta propriamente dita. Martins (2011) acredita que não existe tempo suficiente para tal prática na grade escolar. Nakamoto et al. (2004) consideram as lutas como uma categoria de jogo, exatamente regida pela oposição entre combatentes, possuindo ações de ataque, de defesa, assim como contra-ataque.

Os jogos nada mais são que uma maneira eficiente de ensinar as lutas corporais, que deve seguir ordens com determinados limites espaciais e também temporários (HUIZINGA, 1971). Além disso, os jogos podem ser compreendidos como uma pequena representação da realidade, em que o aluno pode chegar perto de uma prática da luta (FREIRE, 2005). Ainda sobre a utilização do jogo como maneira de ensino, temos que ressaltar uma importante nota:

[...] em todo momento em que uma prática pedagógica estiver promovendo o desenvolvimento esportivo, que contemple a generosidade e o respeito às regras e adversários, além da tomada de consciência sobre a prática do esporte e sua ideologia, o esporte mostra-se ser educativo (SCAGLIA; SOUZA, 2004, p. 4).

Dentro do que chamamos de jogo de luta, podemos encontrar algumas características que serão comtempladas a seguir.

No mundo das lutas marciais costumamos falar que cada luta é uma luta diferente, não existe um padrão perfeito, sempre haverá um fator imprevisível na luta, que a torna diferente de outra luta. É por este fator que a luta é tão interessante de estudar. Porém, quando falamos de ambiente escolar, a imprevisibilidade pode ser um fator de insegurança e, às vezes, cabe ao professor tornar a atividade mais previsível e, assim, mais segura. Sobre imprevisibilidade nas lutas, vejamos o que dizem Gomes; Morato e Almeida (2010, p. 227, grifos nossos):

[...] condição devido à relação de interdependência entre os lutadores e principalmente à possibilidade de as ações ofensivas e defensivas serem simultâneas. Não existem estratégias sequenciais completamente previsíveis numa luta, pois as ações de um lutador podem ou não ser respostas às ações do adversário, já que as estratégias de ação, anteriores à realização técnica, também podem ser simultâneas.

Ao pensarmos na imprevisibilidade ou previsibilidade como um aspecto universal de ensino para as lutas, teremos como exemplo a queda sozinho no tatame mais direcionada para a previsibilidade, já a queda ocasionada pelo combatente ou outro aluno, mais direcionada para a imprevisibilidade.

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4.2.2 Oposição

4.2.3 Regras

Este aspecto é talvez o mais visível de todas as características. Temos que entender que existe oposição em todo e qualquer tipo de luta, é inerente a sua prática, sendo que às vezes os jogos de luta podem ser chamados de jogos de oposição.

Entretanto, devemos relembrar que algumas práticas, como o jiu-jítsu e o judô, utilizam a ausência de oposição para realizar determinado golpe ou finalização e/ou queda, assim a oposição pode ser uma arma até mesmo quando a omitimos (IBJJF, 2014). A figura a seguir demonstra a técnica raspagem no jiu-jítsu sem a utilização da oposição, mostrando que às vezes devemos ceder para vencer.

A grande diferença entre as brigas e lutas é que nas lutas existem regras e normas pré-estipuladas que tornam as artes marciais controladas e permitem o treinamento e estudo das mesmas. Sem as regras o critério de imprevisibilidade seria total, não poderia o professor controlar o ensino e aprendizagem das lutas. Cabe ao professor ensinar e garantir o correto entendimento das regras para que assim a taxa de previsibilidade aumente e fique mais confortável. O professor também tem a responsabilidade e poder de alterar as regras se assim achar pertinente para o benefício das aulas. Em qualquer jogo, assim como no jogo de luta, a presença de regras é inevitável (HUIZINGA, 1971). A regra torna-se uma maneira tática e técnica de vantagem. Sobre tal afirmação, Gomes; Morato e Almeida (2010, p. 215, grifos nossos) comentam que: “O que é permitido ou proibido tende a determinar as técnicas e táticas usadas pelos lutadores. É esse princípio condicional que define se, para atingir o alvo, devem-se usar as mãos, as pernas; se o contato deve ser direto; se haverá o uso do implemento etc.”

FIGURA 43 - RASPAGEM NO JIU-JÍTSU

FONTE: IBJJF (2014)

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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4.2.4 Nível de contato

4.2.5 Ataque e defesa simultâneos

O contato entre combatentes é algo inevitável em uma luta, por este motivo o nível de contato se torna um aspecto universal inevitável de ser estudado e aplicado. Dentro deste assunto, quando abordarmos contato, temos que lembrar da dimensão atitudinal, pois um esporte de contato é algo bem diferente de um “esporte violento”, se um esporte pudesse ser violento ele não seria verdadeiramente um esporte. Contato igual a controle, violência igual a descontrole.

As atividades estudadas na primeira unidade destacam vários tipos de contato, podendo estes serem Elevado, Moderado e Baixo, observe os níveis para as lutas.

Luta é diferente de um jogo de esporte coletivo, em que podemos ver nitidamente a presença do ataque de um time e defesa de outro somente com a posse da bola. Por exemplo, no basquete, todo time que está na posse da bola está no ataque e obrigatoriamente o outro está na defesa. Como isso acontece nas lutas se não existe bola para dizer quem está atacando e quem está defendendo? Nas artes marciais temos o que chamamos de simultaneidade de ataque e defesa. Quando assistimos à luta de jiu-jítsu podemos perceber que se o atacante não estiver defendendo poderá automaticamente sofrer um contra-ataque, que resulte em sua perda. Você pode lembrar também de vídeos em que o professor de boxe instrui o lutador a levantar a sua guarda para atacar, o que ele quer dizer com este argumento é que o atacante deve estar sempre na defensiva e protegido (VIEIRA; FREITAS, 2007).

QUADRO 3 – NÍVEIS DE CONTATO PARA AS ARTES MARCIAIS

FONTE: O autor* A capoeira foi classificada como nível de contato baixo, pois na sua prática o contato é praticamente nulo. Porém, entendemos que no conteúdo de sua história como luta, e até em alguns momentos de prática, o contato pode ser moderado e com golpes contundentes.

Arte Marcial Nível de Contato

Judô Elevado

Jiu-Jítsu Elevado

Boxe Moderado

Caratê Moderado

Kung Fu Moderado

Sumô Elevado

Luta Greco-romana Elevado

Esgrima Baixo

Capoeira Baixo*

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4.2.6 Oponente móvel

Se pararmos para pensar no alvo dos esportes coletivos, iremos perceber que este é fixo. Por exemplo, no futebol e handebol a trave não sai andando por aí, e no basquete a cesta não fica mexendo. Pois então, na luta o que seria o alvo? Seria o oponente ou o combatente, e esse sim, a não ser que queira ter como resultado a derrota, terá que se tornar um alvo móvel. Assim, a presença de um alvo móvel é outro importante aspecto universal do ensino das lutas.

Tanto o objetivo de acertar o alvo móvel como o objetivo de se tornar um alvo mais móvel possível deve ser ensinado para o seu aluno, pois uma vez que você se movimenta mais, obrigatoriamente torna-se um alvo mais difícil de ser acertado e, por fim, desenvolve uma luta melhor. Por exemplo, na esgrima a agilidade de evasiva do quadril e corpo para trás é uma qualidade ótima para a prática da mesma. Novamente, este aspecto altera de modalidade de arte marcial para outra, por exemplo, no jiu-jítsu manter o seu alvo perto e parado perto de você pode ser uma ótima técnica (IBJJF, 2016).

Quanto ao professor, cabe o papel de decidir quando o alvo será móvel e quando será imóvel, para facilitar a aprendizagem e diminuir a imprevisibilidade. Ferramentas como aparadores de chute e de soco, sacos de box e/ou dummies podem ser usadas para a criação de um alvo fixo.

Obviamente, este é um elemento que interfere diretamente no aspecto universal da imprevisibilidade e tem como variável intensificada o nível de contato. Quanto maior o nível de contato, maior a dificuldade de encontrar o ataque e a defesa separadamente. Entretanto, o professor pode nomear os atacantes e os defensores a ponto de aumentar o controle da aula e também facilitar a aprendizagem de determinados gestos motores. Por exemplo, um aluno irá realizar somente o “jab” (ato de soco do boxe) e outro aluno irá realizar somente a defesa deste golpe.

FIGURA 44 - EXEMPLO DE ALVO FIXO E ALVO MÓVEL

FONTE: Disponível em: <http://www.videofight.com.br/?product=muay-thai-master-sken>. Acesso em: 26 set. 2016.

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4.2.7 Enfrentamento físico

Outra característica presente nos jogos competitivos é o enfrentamento, seja ele de equipes ou individual, os jogos possuem o enfrentamento como outro aspecto universal (FREIRE, 2005).

No ensino das artes marciais não é diferente, o enfrentamento também acontece, sendo mais visto na forma individual, você contra outro combatente, porém, existem mostras de lutas em dupla ou até mesmo grupos (CBKW, 2016). De modo geral, podemos classificar o enfrentamento de duas maneiras distintas:

• Forma direta: acontece com a utilização do corpo na forma de contato, sem a utilização de implementos, é o exemplo do jiu-jítsu, do judô, boxe, entre outros.

• Forma indireta: acontece com a utilização de implementos como espadas, facas, lanças, como é o exemplo do kung fu e da esgrima.

FIGURA 45 - EXEMPLOS DE ENFRENTAMENTO DIRETO NO BOXE E INDIRETO NA ESGRIMA

FONTE: Disponível em: <http://www.culturamix.com/saude/esporte/individual/tudo-sobre-a-esgrima/> e <http://radardabola.com/2016/08/rio-2016-como-funciona-o-boxe/>. Acesso em: 26 set. 2016.

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TÓPICO 1 | PEDAGOGIA ESCOLAR DA LUTA

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FIGURA 46 - ASPECTOS UNIVERSAIS

FONTE: Adaptado de Rufino (2015)

Como forma de conclusão e resumo dos aspectos universais trouxemos uma figura que interliga todos os aspectos através das lutas. Pense e exemplifique em sua mente exemplos de cada aspecto em uma futura prática.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem várias leis que permitem e asseguram as práticas das lutas na escola, além disso, os PCN permitem uma prática com regulamentação previamente estruturada.

• Dentre as responsabilidades do professor destacam-se a discussão constante sobre o preconceito e a violência, programação de planos de aula bem estruturados, preparação do espaço e, principalmente, buscar o conhecimento da luta que será ensinada.

• Dentre outras dificuldades do ensino de lutas destacam-se: Falta de um espaço adequado, de qualidade e com segurança para a prática; Falta de material e equipamentos que possam auxiliar no ensino; Falta de vestimentas adequadas que permitam a prática com segurança; Falta de conhecimento; Preconceito e associação do tema lutas com violência.

• Objetivos da Dimensão Conceitual: Conhecer as transformações por que passou a sociedade em relação aos hábitos de vida e relacioná-las com as necessidades atuais de atividade física; Conhecer as mudanças pelas quais passaram os esportes; Conhecer os modos corretos da execução de vários exercícios e práticas corporais cotidianas.

• Objetivos da Dimensão Procedimental: Vivenciar e adquirir alguns fundamentos básicos dos esportes, danças, ginásticas, lutas, capoeira. Por exemplo, praticar a ginga e a roda da capoeira. Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados às danças, como as danças de salão, regional e outras. Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.

• Objetivos da Dimensão Atitudinal: Valorizar o patrimônio de jogos e brincadeiras do seu contexto. Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas com atitudes de diálogo e não violência. Predispor a participar de atividades em grupos, cooperando e interagindo. Reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas quanto aos níveis de habilidade, sexo, religião e outras.

• São os aspectos universais: Imprevisibilidade, Oposição, Regras, Nível de Contato, Ataque e Defesa Simultâneos, Oponente Móvel, Enfrentamento Físico.

• É de responsabilidade do professor controlar os aspectos universais a ponto de deixar a aula mais segura.

• Regras são as principais diferenças entre a briga e a luta.

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• Existem duas formas principais de enfrentamento: Forma direta e forma indireta.

• Diferente de outros esportes, os jogos de luta possuem ataque e defesa simultâneos.

• A ausência de oposição e a capacidade de ser um alvo móvel, e difícil de acertar, também são ensinados nos jogos de luta.

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre a legislação e normativas escolares sobre lutas, selecione a única alternativa correta:

a) ( ) Lei nº 11.645, de 10 março de 2008, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, esta torna o ensino da capoeira no Brasil obrigatório.

b) ( ) Não existem leis que regulamentem o ensino escolar de lutas no Brasil.c) ( ) Projeto de Lei 2.889/08, do deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ),

determina que o mestre, instrutor ou professor de artes marciais não precisa ter concluído curso superior em Educação Física para lecionar aulas de lutas.

d) ( ) O governo de São Paulo indica cinco eixos elementares para o Ensino Médio, sendo eles: jogo, esporte, ginástica, luta e atividade rítmica.

2 Sobre as responsabilidades do professor na escola, Darido e Souza (2007) apontam que a área da Educação Física deve passar os limites no único ensinamento do gesto motor. Selecione a alternativa que possui uma das dificuldades encontradas pelos professores no momento de ensinar lutas no ambiente escolar:

a) ( ) Alunos pouco motivados pelo tema.b) ( ) Lutas levam a muitas brigas e violência na escola, por isso não devem

ser ensinadas.c) ( ) Falta de um espaço adequado, de qualidade e segurança para a prática.d) ( ) Pouco tempo em uma única aula para a prática de lutas.

3 Sobre as propostas para o ensino de lutas estudadas no caderno de estudos, preencha com V (Verdadeiro) e F (Falso) para aquelas que compreendem atividades que podem ser feitas:

( ) Conceituação de algumas modalidades de lutas.( ) A história de determinadas lutas e artes marciais e suas origens.( ) Lutas e briga: diferenças e conceituações.( ) Regras específicas de todas as lutas que serão praticadas.( ) Liberdade de ensino, sem a implementação de regras específicas, uma vez

que o ensino de lutas não transparece riscos aos praticantes.

Selecione a alterativa que corretamente relaciona as expressões acima:

a) ( ) V-F-V-V-Fb) ( ) V-V-V-V-Vc) ( ) V-F-V-F-Fd) ( ) V-V-V-V-Fe) ( ) F-V-F-V-F

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4 Preencha a tabela abaixo com as corretas dimensões:

Dimensão Pergunta a ser feita:

• Como deve ser?

• O que se deve fazer?

• O que se deve saber?

5 Cite e explique os princípios pedagógicos relevantes para o ensino de lutas na escola.

6 Preencha os espaços das setas com os aspectos universais corretos.

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TÓPICO 2

CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

2 CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS

Neste tópico, iremos estudar as classificações das lutas e, com base em suas características, podemos montar grupos de estudos para as lutas. Neste momento você deve estar se perguntando: por que estudar as classificações de cada luta? Pois bem, vamos explicar o porquê: Imagine você querer ensinar todas as lutas, isto seria praticamente impossível, certo? Porém, se classificar as lutas gerais ou mais usuais por tipo ou algum aspecto predominante ou padrão, você poderá distribuir variados tipos de luta durante o ano letivo.

A classificação das lutas, por determinada caraterística, também permite ao professor maior facilidade no momento de estudo e também maior facilidade para o aluno no momento de aprendizagem e fixação do conteúdo.

Além disso, neste tópico iremos abordar as principais ações das lutas e dos jogos de lutas, tanto individual quanto coletivamente, assim como os grandes conjuntos de ações esperadas e as ações inesperadas.

Conforme mencionado, as lutas podem ser classificadas por diversos padrões e características, por exemplo, a distância mantida na luta entre os combatentes ou praticantes.

A distância é um dos fatores centrais para as lutas, no qual os próprios aspectos universais, já estudados neste caderno de estudos, estão altamente relacionados.

• Maior a distância, permite maior previsibilidade pelo praticante.• Maior a distância, permite maior definição de ataque e defesa.• Maior a distância, permite que o alvo seja mais móvel.• Maior a distância, menor o nível de contato.

O que queremos dizer com estas afirmações, caros acadêmicos, é que a distância que necessitamos entre o nosso combatente e nós, em uma luta, será um fator dependente das nossas ações durante a luta, lembrando que já existem evidências de que a distância altera como a luta será realizada. Por exemplo, você

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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não verá uma luta de jiu-jítsu acontecer a longa distância e, ao mesmo tempo, não verá uma luta de esgrima a curta distância, pois em ambas o juiz irá se aproximar ou se afastar.

FIGURA 47 – CLASSIFICAÇÃO DAS DISTÂNCIAS ENTRE COMBATENTES

FONTE: O autor

Existem também as lutas com características de distância mista, ou seja, momentos da luta possuem curta distância e outros momentos da luta com média e longa distância.

Agora que classificamos as lutas, iremos estudar suas respectivas ações. Alguns autores acreditam que a utilização da classificação somente pela distância não seja suficiente, por isso a necessidade de classificações por ação também, que podem ser de toque e de agarre.

2.1 AS AÇÕES DE AGARRE

As ações de agarre são relacionadas às práticas de curta distância e envolvem o AGARRAMENTO do combatente, tanto defensivamente como ofensivamente. As regras de ação de agarre mudam de arte marcial para arte marcial, podendo ser permitida tal ação ou não, dependendo exclusivamente das regras.

As práticas com vestimenta permitem a utilização de um agarre na própria vestimenta e estas são usadas como arma ou como escudo durante a luta. Curiosamente, para se defender, os praticantes mais experientes podem até usar a vestimenta em seu próprio kimono ou judogui. As ações de agarre estão relacionadas

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TÓPICO 2 | CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS

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2.2 AS AÇÕES DE TOQUE

As ações de toque, por sua vez, relacionam-se com as práticas de média e longa distância. Neste tipo de luta acontece um determinado toque do combatente no oponente e ambos voltam a não ter contato. Existem diferentes maneira de toque: soco, joelhada, cotovelada, chute etc.

Em atividades de toque, a distância vai depender de quanto os seus membros podem alongar para tocar (acertar) o adversário. A distância é extremamente importante até mesmo para a geração de força do golpe, por exemplo, um soco em pouca distância tem a tendência de ser um soco fraco. Ainda sobre a distância, já imaginou realizar uma luta de esgrima em um ambiente extremamente pequeno? Não é possível, pois tanto as ações defensivas como ações ofensivas necessitam de espaço entre combatentes para serem realizadas.

O toque pode ser realizado ainda de duas maneiras distintas:

Toque Direto no Oponente: técnicas de média distância que objetivam o toque no adversário de modo direto, ou seja, sem a implementação de equipamentos. Algumas práticas que podem ser citadas são o boxe, muay thai, kick boxing, caratê, entre outras.

a práticas de curta distância, uma vez que não é possível realizar as técnicas de agarre sem estar próximo do combatente. Portanto, lutas de curta distância igual a lutas de agarre.

FIGURA 48 - A LUTA GRECO-ROMANA, UM EXEMPLO DE LUTA DE CURTA DISTÂNCIA E DE AGARRE

FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/galeria-fotos/os-brasileiros-na-rio-2016-17-de-agosto/>. Acesso em: 28 set. 2016.

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Toque Indireto no Oponente: técnicas de média e longa distância que objetivam o toque no adversário de modo indireto, ou seja, com a implementação de equipamentos. Este implemento geralmente permite uma maior distância entre combatentes. Alguns exemplos de práticas que podem ser citadas são a esgrima e o próprio kung fu.

FIGURA 49 - CARATÊ, ARTE MARCIAL COM PREDOMINÂNCIA DE AÇÕES DE TOQUE

FONTE: Disponível em: <http://cyberdojo.franzkarate.com/images/people/>. Acesso em: 28 set. 2016.

2.3 AS AÇÕES MISTAS: AGARRE + TOQUE

Assim como existem jogos de luta de distância mista, existem também as ações mistas, estas ações são denominadas mistas, pois em suas lutas acontecem as duas técnicas de agarre e de toque também.

Saber usar ações mistas de forma coerente é extremamente importante para ser um diferencial nas lutas, por exemplo, no MMA, em que ser um lutador tanto de jiu-jítsu, boxe ou muay thay lhe ajuda a ser um lutador imprevisível.

As regras de cada luta vão limitar quando podemos usar destas ações mistas. Outro ponto importante que geralmente temos que entender é que depende do grau de desenvolvimento motor de nosso aluno para limitarmos estas ações, pois geralmente são mais complexas, por exemplo, um agarre por trás do pescoço somado a uma joelhada com extensão de quadril.

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TÓPICO 2 | CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES DAS LUTAS

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FIGURA 50 - JOELHADA E AGARRE POR TRÁS DO PESCOÇO, UM EXEMPLO DE AÇÃO MISTA DO MUAY THAI

FONTE: Disponível em: <http://meumuaythai.blogspot.com.br/2015/08/golpes-do-muay-thai-khao-joelhadas.html>. Acesso em: 28 set. 2016.

3 INTENÇÃO DA AÇÃOAlém das classificações das ações e de distância, existe também uma

classificação de acordo com a intenção da ação. Esta intenção pode ser classificada como direta (oponente fase final) ou indiretamente (oponente intermédio).

A intenção direta acontece quando o oponente é a fase final, ou seja, o golpe resulta em ponto no oponente, ou seja, ele é o propósito final da ação motora. Combatente é a finalidade independente da ação, seja um soco, chute ou agarre. Exemplos:

• Curta distância: jiu-jítsu e o estrangulamento, em que o golpe termina no oponente e, por isso, intenção direta.

• Média distância: caratê, chute na cabeça, em que o objetivo final é o oponente com o resultado de um ponto positivo.

• Longa distância: esgrima, através da utilização do implemento, você golpeia o peito do oponente a ponto de ele se tornar o objetivo final e a maneira de pontuar positivamente.

A intenção indireta é quando utilizamos o oponente, ou o corpo do oponente ou até mesmo uma parte do corpo do oponente para alcançar o objetivo final. Assim, existe a característica de contato entre os combatentes normalmente, como na maioria dos jogos de lutas, porém, como um meio para o alcance de um objetivo final. Desta vez, chutes, socos e agarres são as maneiras e não os fins. Exemplos:

• Curta distância: No sumô, modalidade estudada na unidade anterior, como existe a habilidade de projeção do oponente, o corpo do oponente é utilizado para alcançar o objetivo de jogar o mesmo para fora ou fazê-lo tocar no chão.

• Média distância: Quando em algumas lutas o objetivo do golpe é o nocaute e não simplesmente acertar o adversário, assim, por exemplo, no boxe o soco seria a

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

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ferramenta para levar à pontuação máxima, que é o nocaute.• Longa distância: kung fu, quando utilizamos o implemento para a raspagem

(derrubar, calçar etc.) do adversário levando o mesmo a uma queda que ocasione no término da luta.

Neste tema, resumidamente vimos a classificação por distância: Curta, Média, Longa e Mista. Vimos também o agarre, o toque e o agarre mais toque (ações), sendo eles diretos ou indiretos por intenção.

4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO LOCAL DE SURGIMENTO

5 AÇÕES ESPERADAS PARA O ENSINO DE LUTAS

Como já estudamos bastante sobre história na primeira unidade, e somente para não deixarmos passar em branco, temos que lembrar que existe também a classificação quanto ao local de surgimento histórico. Podendo ser de cunho ocidental, tem seu início na Grécia e Roma e geralmente provém do pancrácio e do pugilato. Além desta, existe a origem oriental, que, conforme estudado, surge na Índia antiga, inicia e vai evoluir em técnicas de respiração e combate. Suas lutas possuem formas bem organizadas e disciplinadas.

Depois de estudar várias classificações de lutas, podemos também classificar as ações realizadas. Podemos classificar entre esperadas e inesperadas. Pensando no caso da previsibilidade e imprevisibilidade, saber qual é mais previsível e por esse motivo é algo óbvio.

Se chegarmos em uma sala e um aluno estiver realizando jab (tipo de soco no box) em um saco de box, teremos a sensação de controle, porque a atividade é esperada e previsível, pois o saco não pode se mexer. Porém, agora imagine um outro aluno (combatente) com luvas e capacete de proteção, o que você sente, imprevisibilidade e/ou dúvida, o que será que o combatente irá fazer? Irá esquivar? Levará o soco? Contra-atacará? Acredito que agora você entende uma ação esperada e inesperada.

No ensino a utilização de ações esperadas e inesperadas deve acontecer com cuidado, uma vez que se pensarmos em séries e graus iniciais, a abrangência de ações inesperadas e controles das mesmas é muito grande, portanto, difícil de controlar. Agora, depois de explicar as ações possíveis esperadas para determinado aluno, você, professor, pode sim ensinar e situar o aluno a uma aula de ações inesperadas, por exemplo, um combate com outro combatente.

Inesperadas/Imprevisíveis • Enfrentamento direto entre combatentes.• Alvo móvel.• Ações motoras: agarre, toque e agarre mais toque.• Com ou sem imediação de implementos.

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Esperadas/Previsíveis • Elementos coreografados e repetitivos.• Caráter de demonstração.• Elementos e técnicas arranjados em sequência preestabelecida.• Não apresentam oposição direta.• Exemplos: katas do caratê.• Exemplos: mostra de armas do kung fu.• Mais presentes em treinamentos de refinamento técnico.

Lembramos que atividades de demonstração e de ações esperadas podem ser divididas em individuais e coletivas. Individuais seriam mostras de lutas individuais, por exemplo, a mostra de uma arma no kung fu. Já uma ação esperada coletiva seria uma mostra coreográfica de dois combatentes, ou seja, uma oposição controlada e treinada. Outro tipo de ação esperada é uma mostra de kung fu ou caratê em grupo, juntos realizando todos os tipos de golpes ao mesmo tempo.

Com o objetivo de entender o que seria um mostra de ações esperadas em grupo (coletivamente) e uma mostra de ações esperadas individuais, segue um vídeo de várias demonstrações de kung fu. Vale a pena conferir esta arte milenar em ação. <https://www.youtube.com/watch?v=1fTvjhjfQ0U>

FIGURA 51 - RESUMO ESQUEMÁTICO DE CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS NA ESCOLA

FONTE: Adaptado de Rufino (2015)

DICAS

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• A distância é um dos fatores centrais para as lutas, assim, um modelo de classificação. Podendo ser Curta, Média, Longa e de distância Mista.

• Existem classificações de ação que podem ser de toque e de agarre.

• As ações de agarre são relacionadas às práticas de curta distância e envolvem o AGARRAMENTO do combatente tanto defensivamente como ofensivamente.

• As ações de toque, por sua vez, relacionam-se com as práticas de média e longa distância. Neste tipo de luta, o que acontece é um determinado toque do combatente no oponente e ambos voltam a não ter contato.

• Toque pode ser realizado ainda por duas maneiras distintas:

o Toque Direto no Oponente: técnicas de média distância que objetivam o toque no adversário de modo direto, ou seja, sem a implementação de equipamentos; e

o Toque Indireto no Oponente: técnicas de média e longa distância que objetivam o toque no adversário de modo indireto, ou seja, com a implementação de equipamentos.

• Assim como existem jogos de luta de distância mista, existem também as ações mistas; estas ações são denominadas mistas, pois em suas lutas acontecem as duas técnicas de agarre e de toque também.

• Além das classificações das ações e de distância, existe também uma classificação de acordo com a intenção da ação. Esta intenção pode ser classificada como direta (oponente fase final) ou indiretamente (oponente intermédio).

• Ações Inesperadas/Imprevisíveis: Enfrentamento direto entre combatentes; Alvo móvel; Ações motoras: agarre, toque e agarre mais toque; Com ou sem imediação de implementos.

• Ações Esperadas/Previsíveis: Elementos coreografados e repetitivos; Caráter de demonstração; Elementos e técnicas arranjados em sequência preestabelecida; Não apresentam oposição direta.

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AUTOATIVIDADE

1 Preencha corretamente o quadro abaixo com as classificações dos jogos de luta.

2 Conceitue os tipos de ações e exemplifique quais são predominantes.

3 Sobre a classificação das lutas, faça a correta relação entre as colunas abaixo:

I – Curta distância ( ) Jiu-JítsuII – Média distância ( ) MMAIII – Longa distância ( ) EsgrimaIV – Mista ( ) Boxe ( ) Kick Boxing

Selecione a alternativa que relaciona corretamente as classificações e as lutas respectivas:

a) ( ) I – IV – III – II – II.b) ( ) I – II – III – II – II.c) ( ) I – I – IV – II – II.d) ( ) I – I – IV – I – IV.

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4 Explique e exemplifique as classificações de lutas por intenção da ação.

5 Como as classificações podem auxiliar o ensino e aprendizagem no ambiente escolar?

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TÓPICO 3

ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

2 ATIVIDADES DE CUNHO ATITUDINAL

2.1 ATIVIDADE COM FILMES

Neste momento de leitura já podemos estabelecer que você, acadêmico, agora tem o conhecimento do contexto histórico das lutas, de suas principais regras e de aspectos universais do ensino das lutas, assim como das três dimensões de ensino e as classificações das artes marciais.

Assim, neste último tópico da segunda unidade iremos abordar algumas atividades que podem ser realizadas durante os ensinos, sempre tentando vincular aos processos aprendidos até o momento.

O objetivo deste tópico é oferecer uma mente privilegiada de conhecimento de atividades e ainda exemplos que possam ser aplicados no seu futuro, quando estiver lecionando.

Estas atividades são geralmente atividades com características teóricas que objetivam a busca por um caráter ideal sobre o ensino das lutas. Para relembrarmos, a dimensão atitudinal tem como objetivo o respeito das lutas de modo geral, a diminuição de preconceito quanto à violência, entender o perder da luta, e a diferença entre luta e briga.

Várias são as obras cinematográficas que podem ser usadas exclusivamente no ensino das lutas ou até de modo interdisciplinar. Elaboramos uma lista com os filmes e seus princípios educativos. Dependendo da situação social e de conhecimento em que sua classe estiver, você pode utilizar esta ferramenta como elemento de ensino. Porém, lembre-se de que arte cinematográfica é uma alternativa que deve ser usada com cuidado, pois pode se tornar maçante.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

Série de filmes Rocky Balboa

Esta série de filmes ensina o princípio de superação, o saber perder, a importância do treinamento e o saber que nunca devemos desistir. Aspectos como preparação para determinado evento podem ser trabalhados.

Série de filmes de Bruce Lee

Já conversamos sobre o artista e lutador Bruce Lee, este criou e dirigiu vários filmes que foram importantíssimos para a divulgação das artes marciais do Oriente. Bruce Lee trouxe também princípios da alimentação saudável e da vida saudável.

Série de filmes Karatê Kid

Esta série de filmes ensina, indiretamente, o princípio de bullying, apesar de alguns educadores não recomendarem devido ao efeito de revidar uma briga. Este filme é ideal, pois no final das cenas entendemos o porquê do respeito à prática das artes marciais, assim como o respeito ao mestre.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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Série de filmes Kung Fu Panda

Nesta animação, temos uma situação muito boa para o ensino, pois todos os alunos (demais animais) desprezam o aluno menos favorecido fisicamente (O panda), e o filme ensina que devemos permitir o ensino a todos, sem preconceitos. Está sendo usada para o apoio contra o bullying para com a obesidade infantil.

O lutador

Este f i lme pode ser apl icado para adolescentes, pois a história principal se passa com um lutador novo, que não soube usar seus dons e tenta voltar atrás do tempo passado. O autor Rufino (2015) recomenda o mesmo como uma opção de conhecimento de outras lutas.

Último Samurai

Um forasteiro se torna um samurai, com este filme todas as idades podem aprender, porém, com cuidados para os menores. Aos adolescentes este filme pode ser mostrado de modo interdisciplinar, a disciplina de História pode tratar o contexto histórico e a cultura oriental.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

Menina de Ouro

Uma menina se torna uma campeã da vida através da prática do boxe. Neste filme, a situação gênero pode ser fortemente trabalhada, mostrar ao sexo e gênero feminino que lutas são para todos. Além disso, neste filme, o respeito para fora do mundo da luta também pode ser ensinado.

Mais forte que o mundo

Filme brasileiro mostra a história do atleta do Mixed Martial Arts, José Aldo, não recomendado para menores de 18 anos. O filme pode ser estudado para o Ensino Superior, pois mostra as dificuldades que os lutadores profissionais devem passar para se tornarem campeões.

Outra opção para o ensino das lutas é o estudo através de biografias, por exemplo, dos atletas Mohammed Ali, Mike Tyson, Anderson Silva e a atleta MMA feminina Ronda Rousey.

FONTE: Todas as fotos de capa dos filmes utilizadas nos destaques acima foram retiradas do site <http://www.imdb.com/>. Acessos em: 29 set. 2016.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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3 MOSTRA DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA

3.1 ATIVIDADES TEÓRICAS DE ARTES MARCIAIS NA ESCOLA

Uma atividade muito recomendada é a mostra de lutas na frente de toda escola, seja ela de alunos demonstrando a disciplina das técnicas de lutas, ou até mesmo um convite para algum grupo de lutadores ou praticantes para mostrarem como a luta é organizada, ou até mesmo organizarem palestras sobre a prática de determinada luta.

Outra opção do professor é a utilização de atividades teóricas para o ensino dos alunos de conceitos históricos, assim como propostas de classificação e entendimento geral das artes marciais. Alguns exemplos que podem ser utilizados durante as aulas são:

• Jogo de imagens e pedir aos alunos relacionar as lutas com as devidas classificações.

• Mapa-múndi e pedir para os alunos escreverem os nomes dos possíveis lugares onde os vários tipos de lutas surgiram.

• Caça-palavras com significados interessantes.• Visitas técnicas em centros de treinamento.

FIGURA 52 - AULAS DE KUNG FU PARA JOVENS COM A INTENÇÃO DE TIRÁ-LOS DAS RUAS

FONTE: Disponível em: <https://jornaldevargem.wordpress.com/2014/01/11/tradicoes-e-cultura-chinesa-no-kung-fu/>. Acesso em: 29 set. 2016.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

3.2 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE MODO INDIVIDUAL

Reflexo Lutador

Muitos conhecem este exercício como sombra, esta atividade é muito executada por lutadores, principalmente de boxe, para melhorar e ver seus movimentos técnicos. O professor pode usar uma sala de dança ou somente alguns espelhos para a execução deste exercício.

O professor prepara uma lista de golpes e apresenta aos alunos, depois disso todos os alunos se posicionam na frente do espelho, o professor irá dizer um gesto e o aluno irá executá-lo, fazendo o determinado movimento. Depois de passados todos os movimentos, os professores podem começar a adicionar sequência de golpes. Por exemplo, no começo da atividade o professor orienta somente dizendo: - Chute! E depois que os alunos entenderam a atividade, o professor começa a colocar sequências como: Chute, Soco, Soco!

Os movimentos que podem ser usados para a prática de boxe já foram mostrados na Unidade 1. Outro ponto importante para professores que lecionam em escolas que não têm espelhos é a realização da atividade em duplas, um aluno corrige e ajuda o próximo, não é obrigatória a realização de sombra à frente de um espelho.

FIGURA 53 - DESENHO ESQUEMÁTICO DE COMO É FEITO O TREINO SOMBRA

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikihow.com/Fazer-Treino-Sombra-como-Exerc%C3%ADcio-ou-Divers%C3%A3o>. Acesso em: 29 set. 2016.

Kung fu animal

Conforme comentado na história do kung fu, existem vertentes do kung fu que se baseiam em estudar os movimentos dos animais, e baseado nisso esta atividade foi criada para que a criança utilize as técnicas aprendidas de movimentos controlados com associações de animais.

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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O professor, primeiramente, irá organizar uma lista de animais e uma lista de movimentos e colocar estas listas em sacos separados. Feito isso, e com a sala organizada em um grande círculo, o professor chamará um aluno para retirar o movimento motor de um “saquinho de sorteio” e um animal de outro “saquinho de sorteio”. O aluno deverá imitar o animal e executar o movimento ainda utilizando os gestos corporais do animal. Por exemplo, o estudante pode retirar o gesto motor: soco; e o animal: Cobra, assim terá que dar um soco como uma cobra.

Esta atividade desenvolve a motricidade da criança, entre outras variáveis físicas, mas, principalmente, de modo divertido incentiva a criatividade das crianças perante a escolha de como imitar um determinado animal realizando um gesto de luta.

FIGURA 54 - VARIAÇÕES DE POSIÇÃO DE COMBATE DO KUNG FU

FONTE: Disponível em: <http://lucaspopov.webnode.com/variedades/>. Acesso em: 29 set. 2016.

Soldado de Pedra

Caro acadêmico, você deve conhecer esta prática como a brincadeira “ESTÁTUA!”, e esta atividade realmente é muito semelhante à atividade original, a diferença maior é que, ao ouvir a palavra “Pedra”, o aluno (soldado em questão) irá ficar em posição de defesa, de alguma luta que já foi trabalhada.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

O espaço de prática deve ser amplo e é muito dependente do número de realizadores da atividade, quanto mais participantes, mais espaço. Os praticantes estarão correndo livremente pela sala ou ginásio e quando o professor terminar a palavra “Soldado deeeeeeee.................. PEDRA!!!”, todos devem parar imediatamente e imitar uma posição de defesa.

Com o objetivo de tornar a aula ainda mais divertida indicamos a adição de músicas, e ao invés de estarem correndo, os alunos estariam em uma dança divertida e, quando a música cessar, todos devem assumir a posição. Indicamos a música de Carl Douglas denominada “Kung fu Fighting”, muito divertida, e a música “Eye Of The Tiger”, do grupo Survivor.

Você pode conferir as músicas sugeridas nos links que seguem, respectivamente: <https://www.youtube.com/watch?v=jhUkGIsKvn0> e <https://www.youtube.com/watch?v=btPJPFnesV4>.

Golpe no Balão

Os materiais necessários são apenas balões e um espaço grande. Nessas aulas, o objetivo será manter os balões no ar, desferindo golpes nos mesmos. No início da aula o professor orienta quais são os golpes permitidos e, depois de passar os principais golpes, pode fazer alterações com o objetivo de ensinar a lateralidade, por exemplo, ordem de chute e soco com perna e braço esquerdos, respectivamente.

Esta será uma atividade de precisão de golpe autocontrole. Precisão, pois os balões estarão em movimento, e autocontrole, pois os golpes não poderão ser tão fortes a ponto de estourar os balões, deverão ser delicados para somente mantê-los no ar; é diferente de um saco de box, que é imóvel e muito resistente. Lembrando que nessa atividade é proibido o contato entre os alunos.

Bolas de Fogo

Os materiais que serão utilizados nesta atividade são bolas de tênis, espumas leves e/ou balões de água. Nesta atividade, temos o objetivo de desviar de alvos lançados utilizando esquivas ou os golpes que já foram aprendidos anteriormente.

De forma individual, os alunos ficarão em um posto e terão que aplicar um golpe ou até mesmo desviar de uma bola LEVEMENTE lançada pelo professor; desta maneira, os alunos estarão utilizando os golpes com precisão e acurácia para acertar a bola ou outro objeto. No começo, o professor pode delimitar os golpes

DICAS

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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que podem ser utilizados e depois ir variando e aumentando a gama de golpes permitidos.

Esta atividade desenvolve agilidade para desviar e desferir golpes, aumenta a precisão dos golpes e ensina que às vezes uma boa defesa é o melhor ataque.

Esta atividade pode ser adaptada para os dias de verão, podem ser utilizados balões de água, assim a brincadeira fica ainda mais divertida e mais refrescante.

3.3 ATIVIDADES COM AÇÕES ESPERADAS REALIZADAS DE FORMA COLETIVA

Conforme estudado, ações esperadas têm como caraterísticas a previsibilidade, assim, quando colocamos um segundo elemento, que é o trabalho em equipe, temos um fator que diminui esta previsibilidade, e por isso deve ser muito treinada com os participantes do grupo. Lembrando que quanto maior o número de participantes, mais a taxa de imprevisibilidade aumenta.

Encenação de luta em dupla

Nesta atividade, o professor dividirá os integrantes da sala em duplas, de acordo com determinada característica que o professor encontrar (gênero, tamanho, aptidão física etc.) e/ou por preferência de escolha dos próprios alunos.

Um exemplo muito simples seria um dos alunos realizar somente os ataques de determinada luta e o outro integrante fazer somente as defesas da mesma ou outra luta. Por este motivo, necessita do conhecimento dos golpes básicos de determinada luta.

Devemos lembrá-lo que o contato pode acontecer, desde que controlado e que o professor entenda que não levará a nenhum tipo de risco. Porém, é possível também que não tenha contato e até que seja mantida uma distância de metros, visto que o objetivo é somente demonstrar o conhecimento dos golpes.

Esta atividade permitirá entender o trabalho em equipe, assim como entender os limites de seu companheiro, distinguir o momento de fazer cada movimento de acordo com o ataque ou defesa do companheiro.

Cabe ao professor utilizar a criatividade para ensinar os alunos sobre as ações a serem realizadas, porém, recomendamos uma mostra de filmes como Matrix ou até os filmes de Jackie Chan, muito famosos, que possuem encenação de lutas e podem ser usadas como exemplo.

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UNIDADE 2 | LUTAS NO AMBIENTE ESCOLAR

A mostra de lutas é algo muito sério, há, inclusive, campeonatos que não possuem o contato excessivo somente para que os golpes se tornem o mais real possível. Segue o link de uma demonstração de caratê: <https://www.youtube.com/watch?v=6J_YgeoAmnM>

Acadêmico, você sabe o que o WWE? Como estamos falando de encenação de lutas, podemos falar sobre o WWE, terminologia e abreviação mais comum para World Wrestling Entertainment, Inc. A WWE produz os programas de televisão chamados Raw, SmackDown, NXT e WWE Superstars, além disso, é uma empresa americana de entretenimento com capital aberto controlado privadamente que lida, principalmente, com luta profissional como principal fonte de receita. Esta gigante empresa das lutas de entretenimento, alguns a nomeiam maior até que o próprio UFC, era inicialmente apenas uma empresa de wrestling.Temos que lembrar que estes eventos não são uma mera exclusividade dos norte-americanos, existe esta mesma modalidade em todo o mundo e com grande força no México, com os lutadores mascarados.Apesar de ser encarada como uma encenação de luta, os lutadores têm treinamentos sérios e chegam a ter lesões sérias devido às lutas que acontecem. Alguns autores acreditam que esta não é uma luta, é somente uma brincadeira ou um mero entretenimento. Pedimos a você, caro acadêmico, que desenvolva sua própria opinião sobre tal evento e a sua relação com o mundo da luta.

FIGURA - WWE – ARTE OU BRINCADEIRA

FONTE: Disponível em: <http://www.hdnicewallpapers.com/WWE- Wallpapers/2>. Acesso em: 29 set. 2016.

O professor dá a ordem

Nesta atividade não é necessário material, somente um ambiente amplo e com acústica boa para ouvir as ordens do professor.

ATENCAO

DICAS

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TÓPICO 3 | ATIVIDADES POSSÍVEIS NO ENSINO DAS LUTAS

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FIGURA 55 - AULA DE BODY COMBAT COM ORIENTAÇÃO DO PROFESSOR

FONTE: Disponível em: <http://www.chfgym.co.uk/fitness-class/body-combat/>. Acesso em: 28 set. 2016.

O professor utilizará uma sequência previamente acordada com os alunos ou um efeito áudio e faça. Para séries iniciais recomendamos que o professor dê a ordem, uma segunda ordem de prepara e vai! Assim, o entendimento se torna mais completo.

Um exemplo seria o professor dizer: CHUTE FRONTAL COM PERNA ESQUERDA, prepara, vai. Outro exemplo seria: JAB – DIRETO – JAB – DIRETO. A criatividade do professor e a capacidade de golpes dos alunos determinarão o ritmo da aula.

O objetivo pode variar desde a busca por uma sincronia entre o grupo ou a melhor técnica do movimento, ou ambos. Visualmente, o mesmo golpe ou sequência realizado de forma sincronizada por todo o grupo pode, na frente do público escolar, demonstrar a disciplina que se aprende com as lutas.

Não se deve fazer limitações ou separações de gênero, tamanho ou aptidão física para uma mostra, por exemplo, não é somente meninos que fazem parte do mundo das lutas.

Uma prática muito semelhante a esta brincadeira ou atividade é o Body Combat, em que o professor se situa na frente da sala e com a voz e os movimentos corporais direciona os movimentos a serem executados. O body combat é uma aula que tem o objetivo de gasto de calorias e busca de saúde através de movimentos semelhantes aos utilizados em várias lutas, como boxe, MMA, muay thai e caratê.

Acadêmico, abordamos neste tópico dois tipos de atividade que permitirão abordar a dimensão atitudinal, assim como atividades mais controladas e com pouca imprevisibilidade, que são as ações esperadas em busca de forma e gesto motor e demonstrações, tanto individual quanto coletivamente. Lembrando que as coletivas podem ser do tipo Sincronia de movimentação em uma mostra para a escola, como uma oposição organizada, ou seja, uma encenação de luta.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• As atividades com cunho na dimensão atitudinal podem ser realizadas de várias maneiras, algumas delas são atividades de mostra de dança, dos próprios alunos, palestras de várias modalidades de artes marciais, discussões sobre a violência e o respeito pelo próximo, entre outros.

• São exemplos de atividades teóricas que podem ser realizadas na escola: Jogo de imagens e pedir aos alunos que relacionem as lutas com as devidas classificações; Mapa-múndi e pedir aos alunos que escrevam os nomes dos possíveis lugares onde os vários tipos de lutas surgiram; caça-palavras com significados interessantes e visitas técnicas em centros de treinamento.

• Atividades de kung fu com animais desenvolve a motricidade, entre outras variáveis físicas, mas principalmente a criatividade das crianças.

• Visualmente, o mesmo golpe ou sequência realizado de forma sincronizada por todo o grupo pode, na frente do público escolar, demonstrar a disciplina que se aprende com as lutas.

• WWE é considerada uma encenação de ações esperadas através de uma oposição organizada e dirigida, porém, alguns autores acreditam que esta não é uma luta, é somente uma brincadeira ou um mero entretenimento.

• O Body Combat é uma aula que tem o objetivo de gasto de calorias e busca de saúde através de movimentos semelhantes aos utilizados em várias lutas, como boxe, MMA, muay thai e caratê.

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1 Qual das artes cinematográficas abaixo relata atividades de superação e está sendo usada para o apoio contra o bullying da obesidade infantil?

a) ( ) Era do Gelob) ( ) Rocky Balboac) ( ) O Lutadord) ( ) Kung Fu Pandae) ( ) Mike Tyson - Biografia

2 Quais são os objetivos da dimensão atitudinal? Marque V para verdadeiro e F para falso.

( ) Respeito às lutas de modo geral.( ) Diminuição de preconceito quanto à violência.( ) Entender o perder da luta.( ) Diferença entre luta e briga.

Selecione a alternativa que faz a correta associação entre as alternativas:

a) ( ) V-V-V-Fb) ( ) V-V-V-Vc) ( ) V-F-V-Vd) ( ) F-V-F-V

3 Explique como devem ser feitas as atividades de ações esperadas e quais são suas características.

4 Defina o WWE e o Body Combat.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• conhecer e compreender as atividades de ações inesperadas que podem ser usadas no ensino das lutas;

• aprender os aspectos históricos da arte capoeira;

• aprender principais regras, normas e movimentos da capoeira;

• entender como o ensino das lutas pode ser utilizado para o ensino de pes-soas com deficiência;

• conhecer a visão profissional do ensino no mundo das lutas.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles você encontra-rá atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

TÓPICO 2 – CAPOEIRA

TÓPICO 3 – LUTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

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TÓPICO 1

ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

2 DESENVOLVIMENTO ESCOLAR

Neste tópico, abordaremos exemplos de atividades com ações inesperadas. Conforme mencionado anteriormente, este caderno de estudos foi criado para lhe acompanhar mesmo depois de formado. No momento de sua prática profissional em ambiente escolar, seja ela de cunho infantil, infantojuvenil ou até mesmo adulto, você poderá utilizar este caderno de estudos em todo momento na construção de planos de aula.

Na unidade anterior, estudamos as ações inesperadas e esperadas e suas classificações; neste momento, utilizaremos das ações inesperadas para exemplificar possíveis atividades que possam ser realizadas pelos estudantes com o objetivo de ensinar o mundo das lutas.

Em um primeiro nível as ações são classificadas em distância, podendo ser de distância curta, média, longa ou até mesmo mista. Em segundo nível, os tipos de ações podem ser agarre, toque ou agarre mais toque (mista) e, por último, mas não menos importante, podem ser de intenção direta ou indireta (RUFINO, 2015).

A intenção direta acontece quando o oponente é a fase final, ou seja, o golpe resulta em ponto no oponente, ele é o propósito final da ação motora. A intenção indireta é quando utilizamos o oponente, o corpo do oponente ou até mesmo uma parte do corpo do oponente para alcançar o objetivo final (RUFINO, 2015).

Dentre as ações inesperadas, ou seja, sem ou pouca previsão, podemos encontrar como exemplo: enfrentamento direto entre combatentes; alvo móvel e com imprevisibilidade; atividades com ações motoras de agarre, de toque ou ambos. Além disso, com ou sem imediação de implementos. Agora, caros acadêmicos, iremos a alguns exemplos de atividades que podem ser utilizadas no ambiente escolar (RUFINO, 2015).

Mãe cola e/ou Pega congela com Movimentos de Luta

Descrição: Atividade que pode ser usada como aquecimento para demais práticas. A atividade Mãe Cola ou Pega Congela tradicional geralmente utiliza um

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

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grupo de estudantes em que um é o pegador, ou seja, a mãe, o resto está livre. A mãe ou pegador que tocar os participantes livres fará com que os mesmos fiquem colados ou congelados e a única maneira de descongelar na atividade tradicional é passando por debaixo das pernas do congelado ou colado. O objetivo do pegador é pegar todos os participantes, já o objetivo dos demais é manter todos os companheiros livres e descongelados.

A diferença para a atividade com movimentos de luta é que, ao invés de

utilizar a ação de passar por debaixo da perna, utilizaremos ações de lutas, por exemplo, para cada prática que estudamos:

• Boxe: Jab do participante livre e esquiva do participante congelado.• Sumô e/ou Judô: Carregada ou levantada do chão.• Caratê: Mostra de soco na frente do amigo congelado.• Kung fu: Imitar golpe de animal baseado no Kung Fu animal.

Classificamos esta atividade como inesperada e com imprevisibilidade, pois, dependendo do exercício que foi escolhido, pode se tornar de maneira global, com muitas atividades (chutes, socos, agarres, corrida e deslocamentos) acontecendo ao mesmo tempo. E por este motivo a escolha do movimento do ato de libertar o companheiro pego deve ser feita com cautela e muito estudo.

Quanto ao local da prática, irá depender da quantidade de estudantes envolvidos, pois quanto mais estudantes em sua classe, maior terá que ser o espaço de prática. Em práticas com uma classe muito grande pode ser utilizado mais de uma “mãe” ou pegador, para facilitar a brincadeira. Além disso, se o objetivo do professor é facilitar a identificação do pegador, pode-se utilizar coletes ou algum implemento da própria prática, por exemplo, no boxe o pegador iria utilizar luvas; no jiu-jítsu, caratê e judô iria utilizar a vestimenta de prática, virando assim o Samurai Cola.

Sumozinho Descrição: Nesta brincadeira e jogo de luta os participantes irão se situar

em espaço predeterminado em dupla, podendo ser um bambolê ou até mesmo um pequeno quadrado de EVA. Estarão separados em duplas e, ao sinal sonoro do professor, um terá que conseguir fazer com que o adversário se desloque para fora do espaço predeterminado. Neste jogo de luta podem acontecer variações de acordo com a leitura da atividade do próprio professor, por exemplo, permitir que apenas um único pé toque fora do espaço e/ou tentativa de fazer com que o companheiro toque as costas no solo.

Material: Quadrado de EVA ou Bambolê para determinação do espaço.

Local: O local deve ser espumado ou protegido de quedas para que não aconteça imprevisto de quedas.

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FIGURA 56 - SUMOZINHO REALIZADO EM UM QUADRO DE EVA E COM A VARIAÇÃO DE PERMITIR QUE UM DOS PÉS FIQUE FORA DO QUADRADO

FONTE: Disponível em: <http://domlutasdombosco.blogspot.com.br/2012_08_01_archive.html>. Acesso em: 25 ago. 2016.

Esta atividade é considerada de curta distância, pois os combatentes estão muito próximos um do outro, e de agarre, pois estas são as ações permitidas (não são permitidos socos e chutes) e de intenção indireta, pois o ganhar é utilizar o corpo do adversário para pontuar. Devido à grande imprevisibilidade de técnicas que podem ser usadas para alcançar o objetivo, classificamos a ação desta brincadeira como inesperada.

Estoura Balão

Descrição: Nesta atividade o movimento de chute é para baixo, deve ser frisado que o chute deve estar direcionado ao solo, serão usados para estourar os balões que estão amarrados nos tornozelos dos demais competidores. O objetivo da atividade é estourar os balões dos adversários e evitar que o seu seja estourado (JUNIOR, 2013).

Local: A atividade depende da quantidade de alunos que a classe tem; quanto maior o número de estudantes, maior deve ser o espaço para a atividade.

Material: Dois a quatro balões por aluno participante da atividade, depende da quantidade de rodadas que o professor deseja realizar. Além disso, o professor deve ter barbantes para que o balão seja amarado no tornozelo do participante.

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FIGURA 57 - BRINCADEIRA ESTOURA BALÃO

FONTE: Disponível em: <http://www.e-solidario.com.br/blog/2014/05/pascoa-solidaria-na-creche-tio-beto/>. Acesso em: 15 out. 2016.

Algumas variações podem ser feitas a ponto de controlar a atividade, por exemplo, os atletas somente podem se movimentar com música ou ao som de apito breve, alterar para somente um balão, alterar para uma atividade de combate de um contra um, facilitando assim o controle da atividade. Além disso, podem ser montados times em que somente os de coletes de determinada cor estejam no ataque e os de colete de outra cor estejam em momento de defesa (JUNIOR, 2013).

Esta atividade é considerada de ação inesperada, pois não podemos controlar como será o chute e/ou pisada escolhido para estourar o balão, e nem qual será o combatente escolhido.

Prende e Desprende

Descrição: Nesta atividade um estudante terá que retirar um grampo de roupa que estará preso no seu adversário e este deverá fazer o mesmo contra o adversário também. É importante lembrar que não se pode proteger ou tampar o grampo de roupa (RUFINO, 2015).

Local: O espaço da prática deve ser basicamente de 1,5 metros quadrados, para que os jogadores não possam correr longe para fugir.

Material: O material é somente um par de grampos de roupa por participante.

Algumas variações podem ser feitas, como o local onde o grampo de roupa é colocado, por exemplo, comece colocando na cintura, depois no ombro e depois em um dos membros de braços ou perna. Outra variação que pode ser feita é pelo número de grampos de roupa colocados no participante. Além disso, pode-se

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FIGURA 58 – PRENDE/DESPRENDE COM PRENDEDORES PERTO DA REGIÃO DA CINTURA DAS CRIANÇAS

FONTE: Disponível em: <http://www.educamococa.com.br/not2011/educa%E7%E3ofisica/atividade1.htm>. Acesso em: 15 out. 2016.

trabalhar com mais de uma pessoa para retirar o grampo de roupa, aumentando assim a dificuldade. Por último, para simular golpes mais explosivos, pode-se controlar o momento do golpe com música e/ou com sinais sonoros feitos com um apito simples.

Esta atividade é considerada de ação inesperada, pois não se sabe como e qual técnica as crianças vão utilizar para retirar o grampo do adversário. Além disso, não podemos prever as ações de esquiva que serão utilizadas para evitar a retirada do grampo de roupa.

Círculo proibido

Descrição: Neste jogo de luta o objetivo principal é evitar que o seu adversário entre no círculo determinado, pois é muito importante que os combatentes não utilizem os membros de forma direta, ou seja, os combatentes ficarão com seis pontos no chão, os dois pés, os dois joelhos e as mãos, sendo assim, utilizarão força aplicada ao quadril e ao tronco. Os professores devem tomar cuidado com a cabeça dos combatentes.

Local: o círculo proibido deve ser de aproximadamente dois metros de diâmetro, podem ser feitos vários círculos proibidos objetivando que os demais estudantes não fiquem entediados com o tempo de demora entre um jogo de luta e outro.

Material: Podem ser usados canetas ou giz para fazer a marcação do círculo proibido ou até mesmo mangueira de jardim formando um grande bambolê.

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As possíveis variações que podem acontecer são quanto ao tamanho do círculo proibido e ao número de membros dentro de cada círculo. Para uma abordagem com crianças, pode-se usar termos como lago e crocodilo, onde o crocodilo deve cuidar do seu lado e não deixar que nenhum outro crocodilo entre em seu lago. Além disso, tempo limite para entrar e tempo que consegue ficar dentro do círculo também podem ser usados para a pontuação.

Esta atividade em questão é de ações inesperadas, pois não sabemos como o estudante e/ou combatente irá invadir e/ou defender o círculo proibido. Novamente temos que tomar cuidado com possíveis golpes e ações inesperadas com a cabeça para evitar lesões ou machucados (OLIVER, 2000).

Briga de galo

Descrição: Nesta atividade, o aluno deverá derrubar o adversário de costas no chão, os combatentes serão distribuídos em duplas dentro de um círculo e estes utilizarão somente o tronco para derrubar o adversário, ou seja, os alunos estarão na posição de cócoras e com as mãos entrelaçadas atrás das costas. Sendo assim, deverão, com pequenos saltos ou apenas pequenos passos, deslocar o adversário para fora do círculo (REAY, 1985; AGUAR; TURNES; CRUZ, 2011; FUNAI, 2016).

Local: o círculo deve ser de aproximadamente dois metros de diâmetro, e novamente, como na atividade anterior, podem ser feitos vários círculos a fim de aumentar o número de praticantes em um mesmo momento.

Material: Podem ser usados giz e/ou caneta para marcar o círculo no chão, e se necessário, um pedaço de pano para o estudante/praticante amarrar as mãos atrás das costas (OLIVER, 2000).

Existem muitas variações, como mais de um galo no círculo ou a troca de círculo por uma linha. Além disso, existem brigas de galo em que o combatente pode ficar em pé, porém, esta variação deve ser analisada com cuidado e geralmente deve ser realizada por adolescentes e/ou adultos. O motivo para a posição de cócoras é muito simples, pois quanto menor a altura do combate, menor a altura da queda e, consequentemente, mais controlada e segura a queda. Outra variação possível, que foge um pouco da brincadeira, mas que alguns autores colocam como atividade de briga de galo, também é a liberação do uso das mãos. Observe a figura a seguir, nela podemos ver a briga de galo realizada de duas maneiras diferentes: na primeira foto, realizada em pé e com as mãos para trás, e na segunda foto realizada na posição de cócoras e com utilização das mãos.

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FIGURA 59 – BRIGA DE GALO

FONTE: Disponível em: <http://niltonzumba.blogspot.com.br/2008/04/sejam-todos-bem-vindos_07.html>; <http://turma41edvinobervian2015.blogspot.com.br/>. Acesso em: 15 out. 2016.

Esta atividade é classificada como inesperada, principalmente devido às ações livres que são escolhidas pelos estudantes. É impressionante como os alunos ganham noção corporal para realizar golpes avançados a ponto de desequilibrar o adversário.

Uma curiosidade sobre a atividade em questão é que existem estudos que conectam esta atividade a uma atividade indígena, como vocês podem ver na figura a seguir. Veja, acadêmico, mais um grande momento para incentivarmos o estudo desta temática de lutas com multidisciplinaridade ao estudo de História e outras disciplinas.

FIGURA 60 - BRIGA DE GALO, UMA ATIVIDADE DE LUTA DOS ÍNDIOS MANCHINERI DA ALDEIA EXTREMA – ACRE

FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22413>. Acesso em: 7 dez. 2016.

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Huka-Huka

Descrição: Como estamos falando de lutas indígenas, trouxemos também a luta denominada Huka-Huka, que demanda grande energia e é praticada pelos índios Kamayurás, provenientes do Alto Xingu–MT. Esta luta pode ser muito educativa, pois apesar de demandar muita força, não envolve ferimentos. A luta inicia-se com os praticantes ajoelhados e agarrados entre si (AGUAR; TURNES; CRUZ, 2011; FUNAI, 2016).

O objetivo desta luta é tentar derrubar o adversário com as costas no chão ou agarrar as suas pernas, vale lembrar também que durante o combate os estudantes podem levantar ou permanecer ajoelhados. Esta luta é classificada como agarre e por este motivo não são permitidos socos, chutes, joelhadas etc.

Local: No momento de ensino e aprendizagem do Huka-Huka o professor deve usar locais e materiais apropriados (ex.: tatames, tapetes emborrachados, grama) para evitar que as crianças machuquem os joelhos ou demais articulações no momento de queda. Outra grande ideia é utilizar a quadra de areia, visto que a areia absorve muito o impacto. Por final, se não for possível, pode-se utilizar joelheiras de proteção.

Material: Piso emborrachado ou tatame.

Visto que esta atividade é um jogo de luta indígena, propriamente dito, não precisamos de muito para explicar que esta é constituída de ações inesperadas, o combatente pode usar vários movimentos bruscos e rápidos ainda que somente com o tronco. Atenção, praticantes que tenham problemas articulares nos joelhos devem tomar cuidado com a hiperflexão do joelho.

FIGURA 61 - ÍNDIOS KAMAYURÁS PRATICANDO HUKA-HUKA

FONTE: Disponível em: <http://www.amazonz.info/xingu/10-xingu-huka-huka.html>. Acesso em: 18 out. 2016.

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FIGURA 62 - DERRUBA TOCO, ATIVIDADE COM DOIS OBJETIVOS, AUMENTANDO IMPREVISIBILIDADE

FONTE: Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22413>. Acesso em: 18 out. 2016.

Derruba Toco

Descrição: Ainda sobre os jogos de lutas indígenas, uma atividade que pode ser realizada no ambiente escolar é o Derruba toco, esta luta é conhecida como luta do Maracá e é praticada pelos índios Pataxós de Minas Gerais e da Bahia. O objetivo do combate é um dos combatentes derrubar um toco que fica posicionado no meio de um grande círculo, utilizando uma parte do corpo do adversário. A outra forma de vencer este combate é empurrar ou colocar seu adversário para fora do círculo (AGUAR; TURNES; CRUZ, 2011; FUNAI, 2016).

Local: Os lutadores entram em um círculo de aproximadamente oito metros de diâmetro com um toco de árvore ao centro. Este tipo de prática geralmente é feito na areia, porém, o professor pode realizar a atividade Derruba toco em solo emborrachado ou até mesmo em tatame. Como é um círculo muito grande, dependendo do estado do campo pode-se usar o campo de futebol de grama natural. Devemos tomar cuidado, antes da prática, para retirar e fazermos uma varredura de qualquer objeto que possa machucar os estudantes de perto da área de prática. Para fazer o toco, alguns autores acreditam que se pode utilizar garrafas PET cheias de areia e o círculo desenhado no chão com giz de quadro, porém, acreditamos que a garrafa PET pode machucar se alguém cair em cima desta. Sugerimos que seja feita com cone chinês, chapéu ou até mesmo com algo mais macio, no caso de uma queda.

Esta atividade é classificada como de ação inesperada, uma vez que nem mesmo podemos saber qual dos dois objetivos possíveis o combatente vai escolher. Além disso, são permitidas várias ações de agarre, o que torna a prática muito imprevisível.

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Para o maior entendimento dos jogos indígenas recomendamos o artigo do autor Aguiar e companheiros, denominado Jogos tradicionais indígenas, disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd159/jogos-tradicionais-indigenas.htm>. Neste artigo, o autor faz uma abordagem sobre as lutas indígenas.

Imobilização do Abração

Descrição: esta atividade, como o próprio nome já diz, tem como objetivo imobilizar o companheiro com uma ação de abraço. Em duplas, um dos estudantes terá que imobilizar o estudante número dois com um abraço. Inicialmente, o estudante número dois irá ficar parado e, ao sinal sonoro ou verbal do professor, tentará se soltar, e cabe ao estudante número um fazer com que este permaneça parado.

Local: esta atividade pode ser realizada em quadras e ginásios normalmente.

Material: Nenhum material específico, somente para relembrar: os praticantes devem tomar cuidados, assim como em qualquer prática de Educação Física, com brincos, pulseiras e piercings.

O professor deve tomar o cuidado de selecionar duplas de acordo com peso, altura, força e gênero também. Esta atividade, no momento de iniciação, é ótima para que as crianças percam o medo de contato com o companheiro, que em lutas como judô e jiu-jítsu acontece muito.

As variações podem alterar as posições iniciais da pessoa que está sendo imobilizada de costas, deitada, sentada, porém, sempre com muito cuidado com as articulações expostas. Pode-se colocar tempo como objetivo tanto para se soltar do combatente como para manter o combatente imobilizado.

Esta atividade é constituída com ações de agarre de curta distância e inesperadas, visto que não podemos prever o que o estudante irá fazer para se soltar da imobilização do grande abraço (IBJJF, 2014).

DICAS

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TÓPICO 1 | ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

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FIGURA 63 - POSIÇÃO DO JIU-JÍTSU QUE PARCIALMENTE FUNCIONA COMO UM ABRAÇO PARA O CORPO TODO

FIGURA 64 - IRMÃOS GÊMEOS, NESTA ATIVIDADE A DUPLA NÃO PODE SE SOLTAR

FONTE: Disponível em: <http://nobloodjuststruggles.blogspot.com.br/2012_12_01_archive.html>. Acesso em: 15 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://wwwarteslutasecombates.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html>. Acesso em: 16 out. 2016.

Irmãos Gêmeos

Descrição: Uma das atividades utilizadas no ensino do judô se chama irmãos gêmeos. Esta atividade, apesar de muito simples, pode se tornar muito complexa, de acordo com as ordens do mestre e/ou professor. O objetivo é realizar determinada pegada no companheiro da dupla, por exemplo, bainha, gola interna, gola externa, manga etc. Depois de feita a pegada, o professor mandará os estudantes caminharem na sala e estes não poderão soltar a pegada feita anteriormente. Depois de realizada a pegada, os estudantes terão que obedecer às ordens do professor sem soltar a pegada, por exemplo, Senta, Deita, Ajoelha, Rola, Em pé, Gira, Pula.

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Local: Por se tratar de uma atividade de judô e possuir determinadas quedas, deve ser realizada em tatame ou em piso emborrachado (PINTO et al., 2009).

Material: Apesar de poder usar as próprias roupas para realizar algumas pegadas, preferencialmente esta atividade deve ser realizada de quimono.

Esta atividade é considerada como constituída de ações de agarre inesperadas, pois apesar de o professor dar a ordem da ação, a maneira como os alunos vão executar é de forma única.

Pé-de-Jacaré

Descrição: Nesta atividade, em duplas, os estudantes estarão em quatro apoios (duas mãos e dois pés) e o objetivo da brincadeira é fazer com que um dos jacarés se desequilibre, batendo em um dos braços do jacaré.

FIGURA 65 - ATIVIDADE PÉ-DE-JACARÉ

FONTE: Disponível em: <http://lutasedf.blogspot.com.br/2013_03_01_archive.html>. Acesso em: 17 out. 2016.

Local: Devido à queda que acontece, necessita-se de piso emborrachado, grama natural e/ou areia. Além disso, precisamos demarcar o local de combate com bambolê, quadrado de EVA e/ou círculo de giz, pois caso não seja demarcado, um dos jacarés pode ficar fugindo e assim tornando a brincadeira demorada.

Material: bambolês ou outra maneira de marcação de limite.

Algumas variações podem ser feitas, como a implementação de determinado tempo de luta ou mais combatentes de uma única vez. Temos que tomar cuidado com altura, peso e força dos estudantes no momento de escolha das duplas. Além disso, é interessante pensarmos que esta atividade tem uma noção de contra-ataque muito importante, pois o melhor momento para atacar é no momento em que você está sendo atacado.

Esta atividade é considerada de ação inesperada, pois não sabemos se o estudante irá escolher a mão esquerda ou mão direita para atacar ou se atacará com as duas em um único movimento, ou seja, se as ações acontecem sem previsão.

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TÓPICO 1 | ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

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FIGURA 66 - ATIVIDADE PEGA RABO SENDO LECIONADA EM AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

FONTE: Disponível em: <http://lutasedf.blogspot.com.br/2013_03_01_archive.html>. Acesso em: 25 out. 2016.

Pega Rabo

Descrição: Popularmente, esta atividade é conhecida de pega-pega, porém podemos fazer alterações nesta atividade, em que o estudante, ao invés de correr, terá que defender seu rabo (pedaço de pano colocado na cintura do praticante) utilizando técnicas de luta olímpica, em que não são permitidos socos, chutes, joelhadas etc. neste jogo de luta.

Local: Por se partir de uma luta de chão, devemos usar ambientes emborrachados, além disso, podemos delimitar um círculo de 1,5 metro para que os combatentes não fiquem fugindo.

Material: Pedaço de pano de aproximadamente 40 cm, com marcações nos 10 centímetros iniciais. Estes 10 centímetros iniciais serão colocados para dentro da calça do companheiro.

As variações que podem ser feitas são, se assim o professor permitir e considerar seguro, a luta em pé, com o número de combatentes, e a posição do pano, atrás ou na frente.

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Combate de pés

Descrição: Nesta atividade, os alunos têm como objetivo tocar as costas do adversário no chão, não é permitido tocar os adversários sem que seja com as solas dos pés, como a figura a seguir demonstra.

FIGURA 67 - ATIVIDADE QUE NECESSITA DE FORÇA DE MEMBROS INFERIORES E CONTROLE DA MUSCULATURA ABDOMINAL

FONTE: Disponível em: <http://passaorodo2012.blogspot.com.br/2012_03_01_archive.html>. Acesso em: 23 out. 2016.

Local: Devido à queda e contato das costas no chão, necessita-se de um solo que absorva o impacto evitando lesões e machucados, por exemplo, areia, grama ou solo emborrachado.

Material: Não existem materiais específicos para a prática.

Quanto às variações possíveis, é o número de combatentes que torna a prática um pouco mais complicada e difícil de realizar. Além disso, outro tipo de variação possível é a própria permissão ou não de utilizar as mãos, com a permissão é muito mais fácil de ter o controle.

Apesar de controlada, esta atividade possui fins e meios muito inesperados, pois não sabemos a ordem de aplicação de força que o estudante vai utilizar. Depois de aplicar a brincadeira uma primeira vez, você verá que os alunos começam a aprender e aplicar força diferente entre as pernas a ponto de desequilibrar o adversário. Lembrando que o professor deve ter um apito ou sinal sonoro para iniciar a força, esta é uma parte difícil de controlar, pois ninguém quer perder.

Combate Direto por Modalidade

Descrição: Esta atividade é considerada nada mais nada menos que o estágio final da modalidade, ou seja, um jogo de luta que se assemelha muito com a luta propriamente dita. Alguns autores falam que não é possível aplicar isto no

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TÓPICO 1 | ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

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ambiente escolar (CARREIRO, 2005; DARIDO; RANGEL, 2005; RUFINO, 2015), porém, outros veem a possibilidade em ambiente onde as aulas são ministradas de forma diferenciada (REAY, 1985; SOARES, 1996; OLIVER, 2000).

É muito importante que o professor esteja muito bem preparado para assegurar que nenhum dos praticantes saia lesionado fisicamente e mentalmente, uma vez que o contato direto é o grau máximo de imprevisibilidade física e, ao mesmo tempo, mental. Temos que ter ciência também do impacto que a prática desta maneira pode causar à sociedade, conforme discutido nas unidades anteriores.

Além de todos os cuidados, temos que relembrar de cuidados com o local da prática, devemos manter o local limpo, seguro e higienizado, visto que em momentos de queda qualquer grão de areia pode machucar a pele sensível das crianças e, além disso, a pele, bola e olhos são possíveis condutores de doenças através de sangue e suor. Devem ser utilizados protetores de ponta, pois não sabemos quando acontecerá uma queda inesperada para fora do tatame ou algo do tipo. Caro acadêmico, se refletirmos, a higiene é segurança.

O mesmo cuidado deve ser tomado na construção e escolha de materiais, estes devem levar em consideração possíveis quedas que podem acontecer e o objeto causar possíveis lacerações que podem acontecer na pele do estudante (OLIVER, 2000).

3 VISÃO DO PROFESSOR

Entrevistamos uma professora que optou por não se identificar, com mais de 30 anos de experiência em Ensino de Educação Física Infantil. A professora em questão possui mestrado na área e é formada em universidade brasileira de renome.

1- Você acredita que o ensino de lutas pode auxiliar no ensino de variáveis sociais para alunos na escola, podendo diminuir incidentes violentos na escola?

Sim. Acredito que todos os conteúdos desenvolvidos na escola sejam um tipo de variável social dependente do enfoque dado ao conteúdo pelo professor, profissional da Educação que ministra o conteúdo.

O conteúdo da luta ou qualquer outro conteúdo precisa de planejamento indiscutivelmente, deve-se ter claro quais os objetivos e estratégias metodológicas se vai utilizar para construir esse conhecimento com o aluno. Partindo disto, busca-se construir um conhecimento eficaz com o intuito de que o aluno construa suas vivências sociais, exercendo seu papel de cidadão com dignidade.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

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Portanto, se partirmos deste planejamento claro e objetivo, o aluno vai aprender de forma clara e objetiva, não havendo motivos nem tempo para haver incidentes de violência na escola. Sou profissional da Educação Física e acredito que tudo depende do bom planejamento, da vontade de construir conhecimento, do empenho de ensinar e aprender, como fala Paulo Freire (1996, p. 74): “O profissional que realmente desenvolva seu fazer pedagógico com prazer, sem medo de fazer e ser feliz o ser que está à sua frente”.

2- Professora, conte com qual frequência e como eram as aulas de lutas que você utilizava na escola para o nível de Educação Infantil.

A frequência depende do enfoque do professor. Deve-se entender aqui que na Educação Infantil, após a reestruturação do ensino em nove anos, o principal conteúdo é o brincar. Quando falamos em brincar, estamos nos referindo a um momento em que a criança entra em um mundo de faz de conta, pois é nele que se sente livre para criar, e travar suas batalhas interpessoais, deixar a imaginação voar, de formas lúdicas mais diversas, expressando-se para o mundo. No brincar a criança desenvolve as habilidades motoras espontaneamente, desenvolve suas relações sociais, afetivas e interpessoais, faz amigos e é solidária. Possui a magia de transformar o faz de conta em realidade, portanto, é no brincar que a criança fica livre para expressar suas vivências.

É nesse brincar citado que desenvolve-se todo o conteúdo de luta. Fica claro que o professor deve ser conhecedor, ter capacidades de diagnosticar qual desses fazeres da criança pertencem ao conteúdo de luta, e posso certificar que são muitos. A mediação do professor em trazer esse conteúdo com coerência para asala de aula, ou no caso da Educação Física, para a quadra, é de pura competência profissional. É desta forma que desenvolvo o conteúdo de luta com os alunos com quem trabalho, é frutífero e gratificante, prazeroso para o aluno.

3- Quais os cuidados que devemos ter com o ensino de lutas no ambiente escolar?

Ser competente e ter regras bem definidas e esclarecidas aos alunos em cada aula. Nunca esquecer que é um aprendizado mútuo. Ser humilde no ensinar, assim o aluno será humilde no aprender. Ensinar é uma via de mão dupla. Todos aprendem e ensinam.

4- Em toda a sua carreira tem acompanhado o trabalho com vários professores. Como a professora acredita que estão os recém-formados, estão prontos para lecionar sobre lutas na escola?

Depende de cada profissional e da instituição de ensino fornecer os meios para sua formação, preparando-se para exercer sua função de forma eficiente.

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TÓPICO 1 | ATIVIDADES COM AÇÕES INESPERADAS

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5- Finalizando, gostaria que demonstrasse sua opinião sobre como a população, em geral, visualiza o ensino de lutas nas escolas, abordando o preconceito sobre violência.

A falta de esclarecimento e de formação adequada traz para a sociedade atual um preconceito grande quanto ao conteúdo “luta”. A palavra assusta a professores, diretores, pais e alunos, por este motivo é tão importante a formação profissional competente que desconstrua, primeiramente, esse preconceito através de ações pedagógicas estruturadas e planejadas.

Partindo desse desconstruir-se, construa um planejamento com base em conhecimentos que leve os alunos a contribuir em seu meio social com o que aprenderam. Denota-se com isso que o ensino da luta, em qualquer grau de ensino, depende do profissional que está ensinando, a mediação deste é que vai diagnosticar e exprimir um resultado positivo ou negativo na sociedade.

DICAS

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Foram discutidas 13 atividades possíveis, todas classificadas como de ações inesperadas, e por isso há necessidade de muita atenção por parte do professor na hora de selecionar.

o Mãe que Cola: Adaptações com gestos e pode ser aplicado para várias modalidades.

o Sumozinho: Atividade de muita força e controle corporal, cabe ao praticante retirar o adversário do círculo determinado.

o Estoura Balão: Ótimo para trabalhar o conceito ataque/defesa, pois o aluno terá que defender seu balão e atacar o balão do próximo, com movimentos de membros inferiores.

o Prende e Desprende: Jogo de luta de agilidade e precisão, necessitando de golpe preciso para retirar o grampo.

o Briga de Galo, Huka-Huka e Derruba Toco: Jogos de luta com origem indígena brasileira, fazem parte da cultura brasileira e têm capacidade de ensinar, estão aliados à iniciação ao contato, visto que em todas não são permitidas ações que fujam do agarre.

o Imobilização do Abração: Atividade que utiliza ação bem conhecida de “ato de abraçar” com o objetivo de iniciar o conceito de imobilização aos alunos.

o Irmãos Gêmeos: Trabalha movimentos básicos aliados a uma pegada firme, assim como deslocamentos pela sala.

o Pé-de-Jacaré: Trabalha o equilíbrio e o conceito de contra-ataque em posição de quatro apoios, necessitando de velocidade e força de membros inferiores.

o Pega Rabo: Adaptação da brincadeira de correr, porém, nesta devemos usar técnicas de luta olímpica para defender cada um seu rabo (pedaço de pano colocado na cintura).

o Combates de Pé: Com grande requisição dos membros inferiores, os alunos devem fazer com que os demais toquem as costas no chão, é visível a adaptação que acontece depois de algumas práticas.

RESUMO DO TÓPICO 1

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o Combate direto por modalidade: Entendemos, com muito cuidado, como sendo a atividade de combate real de uma determinada modalidade, deve ser muito estudada e utilizada com estudantes prontos mental e fisicamente.

• A higienização da sala é importantíssima, visto que áreas sensíveis do corpo estarão em contato com o solo e, além disso, a pele é um condutor de doenças em caso de suor e sangue.

• O local de prática deve ser muito bem escolhido e construído, principalmente pensando nos movimentos de queda. Podemos utilizar solos de grama natural, solo emborrachado e até mesmo solo de areia fofa para a prática.

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1 Baseado nas atividades estudadas e nos cuidados discutidos até então, monte uma atividade de aquecimento para uma aula de lutas na escola.

2 Qual das alternativas abaixo não deve ser levada em conta no momento de escolher as duplas para atividades com ações de agarre e inesperadas?

a) ( ) Velocidade e força dos estudantes.b) ( ) Altura e peso corporal dos estudantes.c) ( ) Lesões precedentes dos estudantes.d) ( ) Beleza e vestimenta dos estudantes.

3 Cite e descreva dois motivos principais para higienização da sala de aula.

4 As atividades estudadas neste tópico têm várias origens históricas, porém de origem ou influência indígena somente algumas atividades foram listadas. Escolha a alternativa que possui somente atividades de origem ou influência indígena brasileira:

a) ( ) Derruba Toco, Galo de Briga e Huka-Huka.b) ( ) Combate Direto, Pega Rabo e Pique-esconde.c) ( ) Irmãos Gêmeos, Galo de Briga, Huka-Huka.d) ( ) Derruba Toco, Pé-de-Jacaré, Pega Rabo.

5 Liste todas as atividades discutidas neste tópico e classifique as mesmas de acordo com a intenção, distância e tipo de ação (agarre, toque ou mista). Depois comente sobre o achado, o porquê deste tipo de frequência no resultado.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

CAPOEIRA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

2 O QUE É CAPOEIRA? DANÇA? LUTA? TEATRO?

Neste tópico, iremos discutir a arte da capoeira. Você pode ter se questionado sobre esta prática e o porquê de ela não estar presente na primeira unidade. Pois bem, acreditamos que foi pelo fato de se tratar de uma luta essencialmente brasileira e muito didática, que pode ser aplicada até mesmo no ambiente escolar com facilidade. Além disso, ela permite o estudo de ritmos, pois geralmente vem acompanhada de músicas divertidas. Enfim, acreditamos que a capoeira tenha um potencial gigantesco de combater vários tipos de preconceitos, dentre eles o preconceito entre luta e violência.

Antes de começarmos a falar sobre as características, temos que fazer uma pergunta: O que é a capoeira? Em sua formação você já deve ter se perguntado o que realmente é a capoeira. Se pensarmos que não existe o toque em sua maioria, poderíamos classifica-la como uma dança. Se pensarmos que os golpes podem até mesmo ser mortais, a capoeira se transforma em arma de defesa corporal, poderíamos classificar como uma arte marcial ou luta. Enfim, temos muitas classificações corretas, mas, principalmente, para a nossa temática, temos que pensar como um jogo de luta. Caro acadêmico, veremos algumas citações de autores importantes da área quando estes tentam responder a esta pergunta.

Em uma junção do conceito dado por vários mestres, Hélio Campos (2001, p. 35, grifo nosso) traz uma interessante conceituação: “Normalmente, falam de capoeira como uma arte, poesia, luta, folclore, expressão corporal, harmonia, equilíbrio, espiritualidade, emoção, jogo de cintura, liberdade, enfim, muitos predicados que repercutem no modo de vida de cada um desses mestres”.

Já nas palavras de Castro Junior (2004, p. 144) podemos ver uma visão totalmente aberta do que a capoeira pode representar: “A capoeira é uma célula cultural presente num contexto histórico e social e no “jogo de dentro e de fora” são visualizados os elementos da historicidade, culminando em uma visão de totalidade e os elementos da ancestralidade, culminando em cosmovisão”.

Ainda temos o conceito de quão abrangente esta arte é e como pode ser estudada por várias ciências, mais uma vez reforçando a ideia de trabalhar a capoeira de modo multidisciplinar: “A capoeira é sem dúvida uma atividade física, um esporte e uma luta, mas é também uma reza, um lamento, uma brincadeira, uma vadiação, uma dança, um canto, uma comunhão” (IPHAN, 2014, p. 80).

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

3 ORIGEM DA CAPOEIRA

Todos aprendemos e é bem sabido do tráfico de escravos. Este era um dos mercados mais influentes na época, fácil e rendoso, porém humilhante e desumano. Os escravos estavam por toda parte no Brasil, no setor urbano, no setor rural, viviam como mendigos em ruas, em mercados, portos, palácios, engenhos e senzalas. Estes eram usados como plantadores, roceiros, semeadores, moedores de cana, oleiros, ferreiros e até mesmo carrasco de outros negros (REGO, 1968).

Mesmo com toda dificuldade que não podemos nem imaginar e talvez pela existência destas dificuldades é que a capoeira foi desenvolvida. Sobre a origem da capoeira ainda existem várias discussões, assim como várias hipóteses. Entretanto, existem duas fortes tendências históricas:

• A capoeira teria origem africana e veio para o Brasil através dos escravos. • A capoeira teria origem brasileira e é uma invenção dos escravos que já se

situavam no Brasil.

A grande dificuldade de se encontrar uma data certa para a origem da capoeira se dá, principalmente, pela ordem atestada de Ruy Barbosa, que mandou queimar toda a documentação sobre a escravidão no país, assim dificultando o entender da cultura afro-brasileira (REGO, 1968; CAMPOS, 2001). Rego (1968) acredita que a capoeira foi criada pelos escravos já presentes no Brasil, e esta afirmação é reforçada com características de escravidão urbanísticas na capoeira. Entretanto, necessita-se de evidências e devemos solicitar um rigor mais científico sobre a questão.

FIGURA 68 - JOGO DE LUTA CAPOEIRA – A ARTE DOS ESCRAVOS

FONTE: Disponível em: <https://historiadesaopaulo.wordpress.com/escravidao-negra-em-sao-paulo-e-no-brasil/>. Acesso em: 19 out. 2016.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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Ainda sobre a evolução da capoeira, Rego (1968) afirma o seguinte:

Não tenho documentação precisa para afirmar, com segurança, terem sido os negros de Angola os que inventaram a capoeira ou mais especificamente capoeira Angola, não obstante terem sido eles os primeiros negros a aqui chegarem e em maior número dentre os escravos importados, e também as cantigas, golpes e toques falarem sempre em Angola, Luanda, Benguela, quando não intercalados com termos em língua bunda (REGO, 1968, p. 14, grifo nosso).

Podemos entender, segundo a citação acima, que foram os escravos do País de Angola que tiveram mais influência sobre a origem da capoeira. Rego comenta sobre a Capoeira Angola (um tipo de capoeira). Rego também comenta que os escravos vindos de Angola, o centro africano mais importante da época, tinham grandes tendências às festividades e danças, não eram caracterizados como grandes habilidosos e trabalhadores.

Antes de começarmos o estudo do nome desta arte, temos que colocar um ponto de partida histórico sobre a capoeira. Os autores tomam como ponto de partida dois nomes específicos, como a Capoeira Angola e a Capoeira Regional, o objetivo destas terminações é para dividir a Capoeira vinda da Angola, com os escravos (perceba que apesar da falta de fundamentação, muitos autores trazem esta afirmação como verdadeira), e a capoeira regional. Somente para início de discussão, temos que conhecer Mestre Bimba, este repassava o conhecimento da capoeira dita como regional, e diferente da Capoeira Angola (REGO, 1968).

Sobre a diferenciação da capoeira, Rego (1968, p. 14, grifo nosso) felizmente cita a grande quantidade de semelhanças e as poucas alterações que aconteceram:

A capoeira é uma só, com ginga e determinado número de toques e golpes, que servem de padrão a todas capoeiras, enriquecidos com criações novas e variações sutis sobre os elementos matrizes, mas que não os descaracterizam e interferem na sua integridade.

Basicamente, acredita-se que Mestre Bimba fez alterações de adição de golpes ligados ou cinturados, provavelmente provenientes da influência de lutas estrangeiras. Estes não são presentes nos golpes de cunho tradicional, pois não existe o toque ou ligação entre capoeiras. O número e tipos de capoeira é algo bem discutido e iremos ver mais sobre os tipos de capoeira e suas variações à frente.

A arte da capoeira foi inventada com a finalidade de divertimento e dança, porém, este divertimento não deixava de transformar os escravos da época em verdadeiras armas de combate corporal que pudessem ser usadas em momento oportuno. Nos períodos antigos não existiam as academias de capoeira e a arte era praticada em quitandas ou em uma venda de cachaça com um espaço largo, propício para a prática deste jogo de luta.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

Um dos lugares de grande concentração de praticantes foi o Cais Dourado, esse lugar também chamou atenção pelo número de crimes e desordens, em geral. Essas desordens podiam ser responsáveis pela junção de várias classes que aí se encontravam, como capoeiristas, delinquentes, marinheiros e soldados da polícia.

Devido à capoeira estar, muitas vezes, associada a crimes e desordem, além do fato de ser praticada por negros ex-escravos, o crescimento da capoeira teve uma desaceleração brusca com a proibição de sua prática através da lei.

Lei de Proibição da Capoeira

Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil

(Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890)

Capítulo XIII - Dos vadios e capoeiras

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal.

Pena de prisão celular de dois a seis meses.

A penalidade é a do art. 96.

Parágrafo único. É considerado circunstância agravante pertencer a capoeira a alguma banda ou malta. Aos chefes ou cabeças se imporá a pena em dobro.

Art. 403. No caso de reincidência será aplicada ao capoeira, no grau máximo, a pena do art. 400. Com a pena de um a três anos.

Parágrafo único. Se for estrangeiro, será deportado depois de cumprida a pena.

Art. 404. Se nesses exercícios de capoeiragem perpetrar homicídio, praticar alguma lesão corporal, ultrajar o pudor público e particular, perturbar a ordem, a tranquilidade ou segurança pública ou for encontrado com armas, incorrerá cumulativamente nas penas cominadas para tais crimes.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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FIGURA 69 - NOTÍCIA DA ÉPOCA RELATA A PRISÃO DE DOIS CAPOEIRAS PELO SIMPLES FATO DE JOGAR CAPOEIRA EM FRENTE AO 1º BATALHÃO

FONTE: Disponível em: <https://tokdehistoria.com.br/2012/07/30/a-primeira-lei-especifica-contra-a-capoeira/>. Acesso em: 23 out. 2016.

Outras datas muito importantes da história da capoeira que devemos mencionar são:

• 1935 - A capoeira deixou de constar como arte proibida com a queda do Decreto de 11 de outubro de 1890.

• 1937 - Registro oficial que qualificava seu curso de capoeira como Curso de Educação Física.

• 1972 - A capoeira foi homologada pelo Ministério da Educação e Cultura como modalidade desportiva.

• 1987 – Primeiro Seminário de Capoeira da Universidade Federal da Bahia.• 1992 – Fundação da Confederação Brasileira de Capoeira.• 2000 – Fundada a Associação Brasileira de Capoeira Especial e Adaptada –

ABCEA.

Nos dias de hoje a capoeira está muito bem organizada, com líderes denominados de mestres, estes organizam e cuidam da prática e têm por função serem os multiplicadores da filosofia criada. Existem também os contramestres, que são alunos formados pelos mestres, assim como outros menos graduados. Apesar de muito divulgada a capoeira, verdadeiros mestres ainda são escassos em certas localizações do país.

Atualmente, existem várias organizações, confederações e associações que auxiliam na organização da capoeira como esporte e arte cultural, são algumas delas:

• FICA – Federação Internacional de Capoeira – WCF (World Capoeira Federation).

Confederação Brasileira de Capoeira – Entidade nacional de administração desportiva reconhecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro - COB. Existem as federações estaduais que estão filiadas a esta e têm como objetivo principal promover a arte (COB, 2016; COI, 2016).

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

ABCEA – Associação Brasileira de Capoeira Especial e Adaptada, responsável por dar amparo aos portadores de deficiências e facilitar a prática da capoeira.

ABPC – Associação Brasileira de Professores de Capoeira, que tem como principal objetivo estudar, discutir e melhorar a categoria academicamente.

3.1 O NOME CAPOEIRA

3.2 OS MESTRES E A SUA INFLUÊNCIA DA CAPOEIRA

São várias as proposições em que o nome é utilizado, data-se que a primeira vez foi por José de Alencar, em 1865, em sua primeira edição de Iracema. Acompanhe o quadro com os principais significados encontrados para o nome capoeira e a sua evolução.

Obviamente, muitos mestres foram formados até o momento, porém existem alguns que merecem destaque:

MESTRE BIMBA – Criador da chamada Capoeira Regional, Manoel dos Reis Machado, de apelido Bimba, utilizou dos seus conhecimentos da Capoeira Angola e do Batuque (arte marcial que visa derrubar o adversário com golpes de perna) para criá-la. Dizia ter criado a capoeira regional, pois via na capoeira dos

QUADRO 4 – SIGNIFICADOS PARA O NOME CAPOEIRA

Nome Autor Significado

Caa-Apuamera José de Alencar “ilha de mato já cortado”

Co-puera Henrique Rohan “roça velha”

Caápuêra Soares “mato que foi”

Caapoêra J Rodriguez

Capoêra Visconde de Porto Seguro

Capoeira Ave semelhante à perdiz

Capoeyra Cesto para guardar capões

FONTE: Adaptado de Campos (2001)

Depois de vários significados estudados, podemos encontrar o seguinte conceito em dicionários atualmente: Capoeira s.f. – Espécie de jogo atlético e/ou capoeira s.m – O que pertence ao jogo capoeira.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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“outros” muita fraqueza, e esta evolução da capoeira era boa para o físico e para a mente. Em 1953, mestre Bimba se apresentou para o presidente Getúlio Vargas, e este declarou ser a capoeira o único esporte verdadeiramente nacional (FALCÃO, 2004; IPHAN, 2014).

FIGURA 70 - MESTRE BIMBA CUMPRIMENTANDO GETÚLIO VARGAS

FONTE: Disponível em: <http://www.historyoffighting.com/mestre-bimba.php>. Acesso em: 25 out. 2016.

Somente por sua destreza e história já podemos admirar este mestre. Que tal ver o mesmo em ação no vídeo de 1954 em Roda Histórica? Para ver o vídeo, basta acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=behw5eiYrwc>.

MESTRE PASTINHA - Foi um dos primeiros de sua arte, a capoeira Angola. Diziam ser de extrema agilidade e de muita coragem. Aperfeiçoou, e muito, a capoeira Angola, escreveu o primeiro livro do gênero, criou escola e metodologia de ensino, além de expor sua concepção filosófica. Instituiu as cores preto e amarelo nos uniformes, além da constituição da bateria de três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um reco-reco e um agogô (REGO, 1968; FALCÃO, 2004).

DICAS

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

FIGURA 71 - MESTRE PASTINHA JOGANDO

QUADRO 5 – GRADUAÇÃO NA CAPOEIRA

FONTE: Disponível em: <http://grupocalunga.blogspot.com.br/p/mestre-pastinha.html>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Confederação Brasileira de Capoeira (2016)

Os autores relatam que as rodas amarelas e pretas de Pastinha eram memoráveis, curta um pouco desta memória de 1950 com o vídeo desse grande capoeirista jogando em roda. Para ver o vídeo acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=FCtq7C2_7fU>.

3.3 SISTEMA OFICIAL DE GRADUAÇÃO

Acompanhe o sistema de graduação que acontece com cordas ou cordões e geralmente ocorre com um tipo de celebração e evento para poder realizar a troca. Segue também a graduação oficial acima de 18 anos.

Graduação infantil: 3 a 14 anos Graduação padrão: acima de 15 anos

1o Iniciante S/ corda ou cordão 1o Iniciante S/ corda ou cordão

2o Batizado Verde/cinza claro 2o Batizado Verde

3o Graduado Amarelo/cinza claro 3o Graduado Amarelo

4o Adaptado Azul/cinza claro 4o Adaptado Azul

5o Intermediário Verde/amarelo/cinza claro 5o Intermediário Verde/Amarelo

6o Avançado Verde/azul/cinza claro 6o Avançado Verde/Azul

7o Estagiário Amarelo/azul/cinza claro 7o Estagiário Amarelo/Azul

DICAS

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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3.4 O JOGO DA CAPOEIRA, COMO FUNCIONA?

Não podemos dizer que a capoeira possui um padrão, porém certa maneira sequencial quase toda roda possui. Sentados ou em pé, tocadores tocam cada um seu instrumento e completam a roda, em coro, os demais capoeiras. Dois capoeiras escutam e prestam atenção ao hino de capoeira, depois começam o canto de entrada; terminado o canto de entrada, os capoeiras começam o jogo de luta, porém ainda com ritmo do coro. Os cânticos é que ritmam a velocidade da luta, e somente quem já presenciou uma luta tem a possibilidade de entender a energia positiva que possuem em uma luta.

O jogo da capoeira é algo difícil, complicado e requer uma atenção extraordinária, senão poderá ser fatal para um dos jogadores. O capoeira tem que ser o mais possível leve, ter grande flexibilidade no corpo e gingar o tempo todo durante o jogo. A ginga é elemento fundamental. Da ginga é que saem os golpes de defesa e de ataque, não só golpes comuns a todos os capoeiras, como os pessoais e os improvisados na hora (REGO, 1968, p. 33, grifo nosso).

A citação de Rego (1968) deixa clara a situação de imprevisibilidade em que a luta acontece. Apesar da imprevisibilidade, na capoeira Angola não existe a ligação entre os capoeiras, somente na capoeira regional de Bimba existe a ligação, através dos golpes cinturados ou ligados, provenientes da evolução acompanhada de outras lutas.

QUADRO 6 – GRADUAÇÃO OFICIAL NA CAPOEIRA

FONTE: Confederação Brasileira de Capoeira (2016)

Graduação oficial Estágio Corda/Cordão Idade mínima Tempo de capoeira

Formado 8º Verde/amarelo/azul 18 anos 5 anos

Monitor 9º Branco e Verde 20 anos 7 anos

Instrutor 10º Branco e Amarelo 25 anos 12 anos

Contramestre 11º Branco e Azul 30 anos 17 anos

Mestre 12º Branco 35 anos 22 anos

Ainda sobre a formação e graduação, entende-se a importância da formatura através da seguinte citação:

Após todo percurso de desenvolvimento das habilidades básicas do jogo da Capoeira Regional, realizando com eficiência e plasticidade os repertórios de golpes, toques dos instrumentos e cantos, o aluno pode se formar. A formatura é um dia especial para o mestre e seus alunos (IPHAN, 2014, p. 77, grifo nosso).

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

3.5 TOQUES DA CAPOEIRA

3.6 PRINCIPAIS MOVIMENTOS DA CAPOEIRA

Os diferentes ritmos utilizados na capoeira, como tocados no berimbau, são conhecidos como toques. Existe um certo padrão, os mais utilizados são:

• Angola• São Bento Grande de Bimba• São Bento Grande de Angola• São Bento Grande• São Bento Pequeno• Iúna• Cavalaria• Samango• Santa Maria• Benguela• Amazonas• Idalina• Regional de Bimba

Interessantemente, este toque que irá ditar o tipo de luta, por exemplo, o toque Angola, é a origem da capoeira, e o capoeira terá que mostrar força e equilíbrio. Iúna é um toque usado somente para os mestres jogarem, e nesse não há canto. Cavalaria é usado para avisar do perigo no jogo e discórdia na roda. Benguela é usado para acalmar os ânimos da luta e Amazonas é usado somente de modo festivo para saudação de mestres. Ainda sobre os toques, para que não haja dúvida:

Um toque é um conjunto padrão de notas emitidas pelo berimbau. O instrumentista usa o dobrão (moeda) para alterar o comprimento da corda e produzir três diferentes tonalidades sonoras: um tom baixo, com a corda solta; um tom alto, com o dobrão pressionando a corda; e um tom estridente, em que o dobrão é usado para abafar a vibração da corda (IPHAN, 2014, p. 101).

Uma vez que já aprendemos que a capoeira é uma arte livre e parte muito da improvisação, não podemos engessar movimentos na capoeira a ponto de tornar os jogadores verdadeiros robôs. Rego (1968) afirma que cada capoeira tem sua maneira de jogar e esta deve ser respeitada, não se tratando de capoeiras diferentes e, sim, variações de uma única capoeira. Além disso, Falcão (2004) aborda que cada roda tem sua peculiaridade, sua própria energia e essência, e mesmo que os mesmos capoeiras lutem novamente ao som do mesmo toque de berimbau, a luta será uma luta diferente.

Conforme estudamos no primeiro tópico, sobre as lutas e jogos de luta com ações classificadas inesperadas, podemos assim dizer, conforme supracitado, que a capoeira também é composta por ações inesperadas. “O quesito imprevisibilidade,

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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3.6.1 Ginga

3.6.2 Cocorinha

Todos os golpes partem da ginga, esta é responsável por impedir o enfrentamento direto dos capoeiras. Consiste, basicamente, em colocar a mão direita para frente e a perna direita para trás, e em seguida fazer o mesmo com o lado esquerdo do corpo, sincronizando o movimento com o ritmo do berimbau.

Esquiva em que o capoeira se abaixa de frente para o adversário, com os braços protegendo o rosto. Sendo um dos movimentos de defesa frontal da capoeira.

além de causar apreensão, geralmente provoca dissabores aos menos precavidos” (FALCÃO, 2004, p. 170). Assim, todos os movimentos da capoeira possuem o que podemos chamar de padrão, porém a circunstância da roda é que vai fazer com que seja executado e a maneira de ser executado.

FIGURA 72 - SEQUÊNCIA DE GINGA

FIGURA 73 – COCORINHA

FONTE: Disponível em: <http://danceipaca.blogspot.com.br/p/example-diary-post-capoeira.html>. Acesso em: 25 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <https://kishintaibrasil.wordpress.com/2014/08/29/iniciacao-a-capoeira/>. Acesso em: 25 out. 2016.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

3.6.3 Aú

3.6.4 Bênção

3.6.5 Negativa

Movimento de deslocamento que serve para esquivar-se de contragolpes de rasteira, pode ser conhecido também como estrela. Usado como uma maneira rápida de fugir ou enganar o adversário.

Chute de característica frontal que tem o objetivo de acertar o adversário com a sola do pé. O capoeira levanta o joelho, deixando o adversário sem a certeza se este irá fazer a Bênção, o Martelo ou qualquer outro pontapé frontal com o mesmo tipo de movimento. Novamente, acadêmico, movimento de imprevisibilidade.

Movimento de esquiva no qual o capoeira se abaixa até ficar rente ao solo com uma das pernas flexionada e a outra perna estendida.

FIGURA 74 - MOVIMENTO AÚ

FIGURA 75 - BÊNÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://abadacapoeira.com.au/how-to-execute-an-au-cartwheel/>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.axedecapoeira.narod.ru/schemes2.htm>. Acesso em: 25 out. 2016.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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3.6.6 Armada

3.6.7 Cabeçada

Chute com o lado externo do pé e com giro do corpo de 360 graus por trás. Pontapé giratório.

Golpe aplicado com a cabeça, sendo o objetivo principal desequilibrar o adversário. Possui variações entre as capoeiras regional e a capoeira Angola.

FIGURA 77 - ARMADA, UM CHUTE DA CAPOEIRA

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

FIGURA 76 - DEFESA ATRAVÉS DA NEGATIVA

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

FIGURA 78 - VARIAÇÕES DA CABEÇADA ENTRE CAPOEIRA REGIONAL E CAPOEIRA ANGOLA, RESPECTIVAMENTE

FIGURA 79 - QUEIXADA

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm#martelo>. Acesso em: 25 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.6.8 Queixada

3.6.9 Meia lua de frente

Golpe circular com a parte externa do pé. Apesar da parte final do movimento ser com membros inferiores, necessita-se de muita força de todo o corpo para realizar o movimento, que deve acontecer com fluidez.

Muito semelhante à queixada, porém o golpe circular agora acontece com a parte interna do pé.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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FIGURA 80 - MEIA LUA DE FRENTE

FIGURA 81 - MOVIMENTO COMPLETO DE RASTEIRA

FIGURA 82 - MACACO

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.6.10 Rasteira

3.6.11 Macaco

Golpe perigoso que consiste no apoio das mãos ao solo e uma rotação da perna, em um ângulo de 360 graus, encaixando atrás do pé ou apoio do adversário e arrastando, com o objetivo de derrubá-lo.

Neste movimento engraçado e peculiar, o capoeira, agachado e com os pés completamente apoiados ao solo, irá realizar um salto para trás que inicia com a colocação da mão imediatamente atrás e, depois de um forte impulso no corpo, executa-se um giro completo.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

FIGURA 83 - MARTELO

FIGURA 84 - FLOREIOS

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.evora.net/altoastraljunior/capoeira%20basica.htm>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.6.12 Martelo

3.7 INSTRUMENTOS

3.6.13 Floreios ou flick flack

Neste movimento sofisticado, devemos erguer o joelho como na bênção e, com muita abertura de perna, faremos um giro de 90-180 graus. Vale lembrar que a coxa da perna que ataca deve apontar diretamente para o alvo que quer atingir.

Os instrumentos musicais utilizados na capoeira são, em sua essência, uma característica cultural e são parte importante da roda e do jogo de luta da capoeira. Falcão (2004) exemplifica que nem sempre teremos todos os instrumentos na roda de capoeira, porém, percebe-se um padrão mínimo de presença. Desde os primórdios são utilizados os instrumentos berimbau, pandeiro, adufe, atabaque, ganzá ou reco reco, caxixi e agogô (REGO, 1968; CAMPOS, 2001; CASTRO, 2004; FALCÃO, 2004; IPHAN, 2014).

Muito conhecido no mundo da ginástica, o flick flack é também chamado na capoeira de salto de mãos à retaguarda. Com impulsão de membros inferiores, realiza-se movimento sem rotação lateral de tronco, apoia-se as mãos e termina-se com corpo estendido e peitoral alongado. Pode ser uma bela maneira de entrar na roda.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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FIGURA 85 - BERIMBAU E SEUS ACOMPANHAMENTOS

FIGURA 86 - PANDEIRO TAMBÉM USADO NA CAPOEIRA

FONTE: Disponível em: <http://www.todosinstrumentosmusicais.com.br/imagens-do-instrumento-berimbau.html>. Acesso em: 25 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://insanos-insanoss.blogspot.com.br/2010/08/instrumentos-utilizados-na-capoeira_26.html>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.7.1 Berimbau

3.7.2 Pandeiro

Atualmente considerado o principal instrumento da capoeira, este é composto por uma verga de biriba, uma corda de aço, cabeça raspada, courão e caro. Este era tocado antigamente por uma moeda, atualmente é tocado por baqueta e dobrão com acompanhamento do caxixi.

Na roda de capoeira, a batida no pandeiro, com floreios, acompanha o som do caxixi. No Brasil, o pandeiro entrou por via portuguesa. Existe também um pandeiro menor, o adufe, que com origem árabe é um pequeno pandeiro de formato quadrado e de proveniência mourisca.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

FIGURA 87 - CAXIXI

FIGURA 88 - ATABAQUE

FONTE: Disponível em: <https://capoeiraaltoastral.wordpress.com/sobre-capoeira/caixixi-reco-reco-e-agogo/>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <http://www.rabodearraia.com/capoeira/atabaque-de-corda-para-capoeira-e-percussao.html>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.7.3 Caxixi

3.7.4 Atabaque

É um pequeno cesto com sementes, feito de palha trançada, possuindo forma quase circular, produz som característico.

É um instrumento musical muito antigo utilizado entre os persas e árabes, deve ser tocado com as mãos e acompanha o berimbau. Segundo Rego (1968), pouco utilizado na capoeira atual.

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FIGURA 89 – RECO-RECO

FIGURA 90 – AGOGÔ

FONTE: Disponível em: <https://dlsucapoeira.wordpress.com/instruments/>. Acesso em: 26 out. 2016.

FONTE: Disponível em: <https://capoeiraaltoastral.wordpress.com/sobre-capoeira/caixixi-reco-reco-e-agogo/>. Acesso em: 26 out. 2016.

3.7.5 Ganzá ou Reco-Reco

3.7.6 Agogô

Também conhecido como reco-reco, é feito com gomo de bambu com sulcos transversais sobre o qual se passa uma haste de metal. O reco-reco parece ter origem africana, pois é encontrado em várias manifestações culturais afro-brasileiras.

De origem africana, tem a função de ser um contraponto rítmico aos berimbaus e ao atabaque. O termo agogô pertence à língua nagô e vem do vocábulo agogô, que quer dizer sino.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

3.8 LETRAS E CANTOS DE MÚSICAS DA CAPOEIRA

Por se tratar de um grande acervo, não poderemos colocar neste caderno de estudos todas as canções utilizadas na roda de capoeira, porém, acreditamos que, conforme mencionado, a capoeira é um jogo de luta muito dependente do ritmo do canto e de suas letras. Dizem que existiam mestres que cantavam tão bem que capoeiras chegavam a chorar devido ao canto estar representando a sua batalha do dia a dia. Baseado nisso, tentamos trazer a letra “Cem anos de Mestre Bimba”, de Abadá Capoeira. Esta letra foi escolhida por contar a história de Mestre Bimba. Caro acadêmico, fique à vontade para se aventurar no mundo das letras, além de belas canções, são aulas musicais de história. Antes de irmos à letra, se possível, acesse o link <https://www.ouvirmusica.com.br/abada-capoeira/966803/> para acompanhar a música ao mesmo tempo que lê a letra.

Já faz cem anos Que Mestre Bimba nasceu, Mas a herança, que ele pra nós deixou Nem mesmo o tempo que passou Pode apagar a sua história, Nas terras em que pisou Foi batuqueiro, e jogou capoeira Angola E foi mais tarde criador da Regional Menino pobre, Mas com seu destino traçado Acreditando no valor de tua arte Muita peleja, firmeza e dedicação Salve "Seu Bimba", Manoel dos Reis Machado Da capoeira fez sua filosofia Não só nas rodas, Mas também no dia a dia Nos ensinou coisas que ninguém sabia Pra nos livrar da maldade e covardia Lá foi-se o tempo, Tempo de uma vida inteira Roça do lobo, é lembrança que ficou Pra seu alunos, Você nunca foi-se embora E o som do gunga, Na regional hoje chora Se a capoeira pudesse falar Ela ia dizer, obrigado ao Mestre Bimba Iê, viva meu Deus Iê, viva meu Mestre/iê, da capoeira Iê, viva "Seu Bimba"/iê, estivador Iê da beira do cais Criador da Regional

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Viva Bahia/Viva o Rio de Janeiro Viva meu Mestre No dia a dia Que me ensinou A malandragem

4 ATIVIDADES DA CAPOEIRA

Já comentamos, anteriormente, várias brincadeiras que podem ser feitas com vários tipos de lutas, inclusive a capoeira. Alguns exemplos que o professor pode trabalhar são:

Mãe-Cola e Pega-Congela com abordagem de Capataz

Primeiramente, o professor, junto com o responsável pela disciplina de História, irá ensinar como aconteciam as perseguições quando os escravos fugiam. Um ou dois dos estudantes serão os capatazes, os demais serão escravos fugitivos, e a barra (local de descanso) será o chamado Quilombo. Sendo que os escravos não podem ficar mais de cinco segundos no Quilombo. A questão é que a única maneira de libertar os demais companheiros congelados ou pegos é um movimento de capoeira, mostrando que a capoeira na época era a maneira de se libertarem.

Dança da Cadeira de Capoeira

Deve-se colocar cadeiras em círculo, com o assento para o lado de dentro da roda. Nesta atividade, tudo começa com o professor tocando berimbau e os alunos a bater palma e cantar (hinos de roda). Ao parar o som do berimbau, todos devem sentar. Depois de entendido, para evoluir a prática, troca-se o simples caminhar dos alunos pelos movimentos de capoeira, ou seja, os estudantes começam a fazer golpes nas cadeiras e gingas em frente a elas, e novamente, quando a música do berimbau parar, todos devem sentar.

Esta atividade pode ser feita de modo que os estudantes vão saindo até sobrar uma única cadeira, ou podemos fazer o mesmo somente retirando e colocando um capoeira para dentro da roda e o que saiu irá ficar com o toque do pandeiro.

Jogo do Caxixi

Dividir em dois grupos, igualmente distribuídos, em cada lado da quadra; esta atividade funciona baseada na atividade pique-bandeira, no lugar das bandeiras pode-se colocar um caxixi, na área em que está o caxixi (grande área do futebol) os estudantes não podem ser pegos. O grupo que primeiro recuperar o caxixi para sua área ganha a brincadeira.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

Conforme comentamos, são muitas as adaptações que podem ser feitas, por isso é muito importante que, antes das aulas, seja feita uma abordagem teórica sobre a capoeira com os alunos e, além disso, a presença da música sendo tocada é muito importante.

5 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A CAPOEIRA

Entrevistamos o professor responsável pela Disciplina de Capoeira da Universidade Federal de Santa Catarina, ele possui Doutorado em Educação Física e é um capoeira. O professor optou por não se identificar. Solicitamos que o professor manifestasse suas opiniões para que o acadêmico, ao ler, tenha um relato autêntico de como a capoeira e as demais lutas são vistas no mundo acadêmico.

Acadêmico, neste momento estamos fazendo uma crítica ao sistema de ensino em que estamos inseridos, na qual abordamos, principalmente, a transferência do ensino e aprendizagem dos cursos de graduação em Educação Física até o ambiente escolar. Leia com muita atenção, é uma ótima oportunidade de aprender com a opinião de um professor já experiente.

1 - Qual a importância do ensino da disciplina de Metodologia de Lutas e/ou Capoeira no ensino dos cursos de Educação Física?

A Educação Física escolar deveria englobar conteúdos como esportes, jogos, danças, brincadeiras e lutas. Os profissionais da Educação Física, responsáveis pela disciplina, dessa forma deveriam ser preparados para lecionar todos esses conteúdos. Portanto, o ensino de Metodologia de Lutas se dá de maneira importante no curso de Educação Física, tendo em vista a obrigatoriedade de ensino nas escolas brasileiras. No caso específico da capoeira, além do seu aspecto luta, a capoeira é de uma riqueza cultural ímpar, além de breves definições. Desde 2003, após sanção da Lei 10.639, que alterou a LDB - Lei 9.394/96, torna-se obrigatório o ensino sobre história e cultura afro-brasileira, no qual as diretrizes incluem o ensino do 'estudo da cultura negra brasileira e luta dos negros no Brasil', bem como a valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro. Apesar disso, a lei estabelece que fica a critério da equipe pedagógica a sua implementação. Assim, uma vez que sua inserção na escola é obrigatória, já que a capoeira é intimamente ligada a estes conteúdos, a preparação dos profissionais de Educação Física quanto ao seu ensino na escola se faz importante. Ainda, não apenas a capoeira, mas as lutas em geral, priorizam a construção do caráter, que por mais que possuam vertentes competitivas, buscam o desenvolvimento integral dos praticantes, o que vai ao encontro das principais diretrizes do ensino brasileiro, que supostamente deve promover um ensino integral do aluno. Quanto ao curso de Educação Física, seu ensino na universidade se faz tão importante quanto, devido à grande importância das lutas no desenvolvimento de inúmeras valências físicas, além do aumento de praticantes pelo mundo, bem como seu acentuado aspecto esportivo e competitivo.

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TÓPICO 2 | CAPOEIRA

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2 - Qual a sua posição sobre a divisão de disciplinas como judô e capoeira da disciplina de Metodologia de Lutas na grande maioria dos cursos superiores?

Na minha visão, a divisão de disciplinas específicas nos cursos se faz de maneira aleatória. No caso da capoeira, sua introdução na universidade se fez preponderantemente pela iniciativa de professores e mestres de capoeira que se inserem nesses espaços por outros motivos e terminam vislumbrando a possibilidade de trabalhar com essa manifestação cultural. Fato este que se relaciona à maioria das disciplinas adentrarem na universidade por meio de projetos de extensão, como foi o caso da capoeira na UFBA, no ano de 1971, e na Universidade Estadual Guanabara (atualmente UERJ), no Rio de Janeiro no ano seguinte, duas cidades que foram o berço da capoeira no Brasil. Esse fato pode desencadear alguns problemas, que seria o ensino de um estilo de preferência do professor, optando apenas por aquela em que possui mais experiência, como o ensino exclusivo de Capoeira Regional ou Angola, quando na realidade as duas constituem a capoeira, devendo ser ensinadas na sua totalidade. No judô, acredito que seja similar. Assim, profissionais que possuem identificação com o tema, mas que por alguma outra razão estão inseridos no meio acadêmico, consolidam a possibilidade de lecionar essas aulas na universidade. Associado a isso, o aspecto regional, do local em que a universidade está inserida, contribui fortemente para a divisão de disciplinas específicas de lutas, nas quais a maior aceitação regional incita a sua oferta na universidade.

3 - Você acredita ser importante uma abordagem multidisciplinar das disciplinas de Educação Física e História no ensino da capoeira em ambiente escolar?

Sim, é extremamente importante. Por mais que a capoeira denote uma atividade com práticas e técnicas corporais bem definidas, sua prática está inundada de conceitos históricos e culturais. Dessa forma, por mais que na minha opinião não deva ser condenado seu ensino livre de conotações históricas, pois introduz o aluno ao mundo da capoeira e permite uma busca mais profunda deste, seu ensino não pode ser dissociado da história, mesmo que dentro da aula de Educação Física. Além disso, seu desenvolvimento está associado à história do Brasil e ao desenvolvimento do mundo. É sabido que a capoeira incorporou elementos de diferentes culturas, não apenas afro-brasileiras, mas também dos portugueses, bem como imigrantes europeus e sul-americanos que chegaram ao Brasil e encontraram no ambiente dos capoeiras um refúgio à margem da sociedade. Além disso, possui ampla conceituação, arte, dança, musicalidade. Ainda, a capoeira incorpora diferentes manifestações da cultura africana e brasileira, como o maculelê, puxada de rede, samba de roda, roda de coco, maracatu, deu origem ao 'passo' do frevo. Em outra abordagem, as músicas e cantigas da capoeira muito remetem à história que não foi escrita, mas sim contada de boca a boca. Suas letras possuem uma forte característica da linguagem na época e as mudanças que nossa língua sofreu com o passar do tempo. A capoeira também foi muito retratada em livros de grandes artistas conceituados no Brasil, evidenciando sua relação com a literatura. Assim, a capoeira possui um componente multidisciplinar, que fomenta seu ensino por

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

diferentes disciplinas, não apenas Educação Física e História, mas também geografia, artes, língua portuguesa, literatura, entre outros.

4- Qual a sua posição sobre a obrigatoriedade do ensino de capoeira no ambiente escolar?

De acordo com a lei citada anteriormente, é obrigatório o ensino de manifestações afro-brasileiras no currículo escolar brasileiro. Por mais que a capoeira se encaixe nesse perfil e seja fomentada pelas diretrizes de ensino, o seu ensino na escola não é obrigatório. Além disso, fica a cargo da direção pedagógica ou do profissional responsável a sua introdução na escola. Esta medida faz com que, na prática, exceto aqueles professores com anos de prática de capoeira, a modalidade seja trabalhada de maneira superficial em datas especiais, como a Semana da Consciência Negra, por exemplo.

5- Como docente de universidade, você acredita que o recém-formado está pronto para lecionar aulas escolares de capoeira?

Sim. Aulas escolares, sim. Porém, faço outra pergunta. O estudante de Educação Física recém-formado está capacitado a dar aulas escolares de futebol, futsal, vôlei, handebol, basquetebol, atletismo, entre outras modalidades, apenas com a experiência na universidade? Acredito que a resposta seja a mesma em todas as disciplinas. Cabe ao profissional buscar maiores recursos para desenvolver seu trabalho. Isto irá determinar o sucesso no ensino da capoeira ou de qualquer outra modalidade na escola. Além disso, seu ensino pode ser ministrado de diferentes formas ao longo do ano letivo, possibilitando inúmeras maneiras de progressão de conteúdo ao longo do ensino escolar, bem como, propiciando ao aluno a busca por uma modalidade extraescolar. Ainda, a capoeira necessita de quase nenhum recurso para o seu ensino, podendo ser ensinada até mesmo dentro de sala de aula. Porém, o maior obstáculo de inserção da capoeira nas aulas de Educação Física por profissionais da área que não são praticantes da modalidade vem da visão da dificuldade enfrentada para o seu ensino. Acreditam que um semestre na universidade não o capacita para o ensino. Na minha visão, a maior dificuldade está em abrir os olhos e buscar o aprimoramento, fator determinante para o sucesso do ensino.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A capoeira é, sem dúvida, uma atividade física, um esporte e uma luta, mas é também uma reza, um lamento, uma brincadeira, uma vadiação, uma dança, um canto, uma comunhão.

• Existem duas fortes tendências históricas sobre a criação da capoeira, uma delas é que teria origem africana e veio para o Brasil através dos escravos. A outra é que a capoeira teria origem brasileira e é uma invenção dos escravos que já se situavam no Brasil.

• O crescimento da capoeira teve uma desaceleração brusca com a proibição da prática por meio de lei.

• Criador da chamada Capoeira Regional, Manoel dos Reis Machado, de apelido Bimba, utilizou dos seus conhecimentos da capoeira Angola e do batuque para criá-la.

• Mestre Pastinha foi um dos primeiros de sua arte, a capoeira Angola. Aperfeiçoou e muito a capoeira Angola e expôs sua concepção filosófica.

• Nos dias de hoje, a capoeira está muito bem organizada, com líderes denominados de mestres, estes organizam e cuidam da prática, além de serem criadores ou multiplicadores da filosofia criada.

• Os diferentes ritmos utilizados na capoeira, como tocados no berimbau, são conhecidos como toques.

• Os principais movimentos da capoeira são: Ginga, Cocorinha, Aú, Bênção, Armada, Negativa, Cabeçada, Queixada, Rasteira, Meia Lua de Frente, Macaco, Floreio e Martelo.

• Os principais instrumentos utilizados na capoeira são: Berimbau, Coxixi, Pandeiro, Atabaque, Reco-Reco, Agogô.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre a conceituação da capoeira, escolha a alternativa que corretamente preenche as lacunas das expressões, com “V” para verdadeiro e “F” para falso.

( ) A capoeira é uma célula cultural presente num contexto histórico e social e no “jogo de dentro e de fora” são visualizados os elementos da historicidade.

( ) Os mestres entendem a capoeira como sendo arte, poesia, luta, folclore, expressão corporal, harmonia, equilíbrio, espiritualidade, emoção, jogo de cintura, liberdade.

( ) A capoeira poderia ser tomada, antigamente, como uma maneira de escravizar dos donos de senzalas, obrigando-os a dançar a capoeira, ou sofreriam as consequências.

( ) Existem dois tipos de capoeira: Capoeira Brasil e a Capoeira Regional.

Selecione a alternativa que correlaciona esta alternativa corretamente:

a) ( ) V – V – F – F. b) ( ) V – V – F – V.c) ( ) V – F – F – F.d) ( ) F – F – V – V.

2 Não se sabe ao certo quantos mestres de capoeira possuem titulação no país, porém, alguns são mais notáveis que outros. Selecione a alternativa que apresenta o mestre criador ou modificador da Capoeira Regional.

a) ( ) Mestre Regional.b) ( ) Mestre Pastinha.c) ( ) Mestre Bimba.d) ( ) Mestre Pé Grande.

3 Liste os principais movimentos da capoeira.

4 Liste os principais instrumentos da capoeira.

5 Crie uma atividade que tenha o envolvimento do tema capoeira para aplicação em uma futura aula escolar.

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TÓPICO 3

LUTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

2 CONHECENDO O MUNDO DAS NECESSIDADES ESPECIAIS

Neste tópico, iremos abordar exemplos de como podemos abordar as lutas com pessoas com deficiência. Para isso, certos cuidados devem ser tomados na hora tanto do ensino quanto da prática. Esses cuidados tornam a prática segura, são somente adaptações para o público, uma individualização para uma característica diferente que o praticante possa ter.

Era muito comum e infelizmente ainda acontece às vezes, por diversos motivos, o professor escolar deixar o estudante com deficiência escolher ficar sentado observando a aula. Isso acontecia por medo do próprio professor, falta de conhecimento, falta de estrutura, medo dos pais do estudante, preconceito de demais autoridades escolares. O foco principal agora é não permitir que isso aconteça novamente.

Antes de estudarmos como a luta aplica mudanças na vida de pessoas com deficiência, primeiro temos que conhecer, e muito bem, esta população.

Através de análise rápida de fases históricas da humanidade, podemos destacar várias civilizações que possuíam extrema repulsão aos ditos “não normais”. Em certas comunidades, ser uma pessoa com deficiência era motivo para se tornar uma vítima, podendo acarretar na perda da vida, extermínio ou até mesmo isolamento. Certas crenças sustentavam que era uma punição aos pais por terem pecado na vida. Por muito tempo acreditou-se que pessoas com deficiência eram pessoas fragilizadas ou até mesmo doentes (ZOBOLLI; BARRETO, 2006).

Ainda que com problemas de acessibilidade e principalmente de conhecimento destas necessidades, o cenário nacional vem mostrando melhora significativa. Atualmente, no Brasil, já existem profissionais de destaque na área de Educação Física que pesquisam e incentivam o esporte paraolímpico. Historicamente, a Educação Física brasileira, influenciada pelo modelo esportivo, tem maior ênfase nas décadas de 60 e 70. Até então, o acesso era exclusivo a instituições de ensino e atendimento especializado.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

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GRÁFICO 2 - PERCENTUAL DE DEFICIÊNCIA NO BRASIL

FONTE: Disponível em: <https://efeitosdeencontros.wordpress.com/2012/09/19/censo-2010-pessoas-com-deficiencia-no-brasil/>. Acesso em: 25 out. 2016.

O esporte paraolímpico chega ao Brasil em 1958, baseado no estilo americano de treinamento. Este grande passo tem muito a ver com a utilização de aulas físicas para estas pessoas com deficiência, pois uma vez que se torna visível para a sociedade que as pessoas com deficiência são capazes de tarefas motoras que muitos ditos “normais” não são capazes, o preconceito perante esta população começa a diminuir. Assim, permite-se ao profissional de esporte e Educação Física interessado em atuar com esta população possibilidades de encontrar subsídios científicos para aplicar conceitos de forma adaptada e que proporcionem um programa inclusivo (MELLO; WINCLER, 2012).

Infelizmente, quando especificamos e focamos para o ensino de lutas para pessoas com deficiência, temos uma diminuição ainda maior da prática, pois nas unidades anteriores vimos falando do limitante tempo na questão de ensino na Educação Física. Imagine a quantidade de tempo que é destinado para esta população no ensino das lutas, é no mínimo esperado que o professor formado tenha que estudar muito mais fora da sala e do conteúdo acadêmico para se aperfeiçoar no ensino de lutas para profissionais de Educação Física. Desse modo, normalmente, os profissionais que conseguem elaborar programas envolvendo esta temática já são praticantes de alguma arte marcial previamente ao curso de graduação, ou realizam sua prática fora da universidade (MARTINS, 2011).

3 TERMINOLOGIA

Como continuação de nossa formação, é muito importante fazermos o uso correto da terminologia, pois a falta de conhecimento do assunto pode fazer com que enfatizemos a segregação e exclusão. Devemos esclarecer, primeiramente, para as pessoas que utilizam a expressão "portadoras de deficiência" ou "portadoras de necessidades especiais", lembrem-se: o verbo portar remete a algo que tem

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TÓPICO 3 | LUTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

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possibilidade de se desvencilhar ou que tem fim determinado, pode acabar, ou seja, devemos tomar cuidado, pois portar é o mesmo que ter temporariamente e pode ser associado ao termo “portar uma doença ou portar algo”. Porém, a deficiência, em sua grande maioria, é algo permanente, e assim não cabe o termo portadores ou portar.

Ainda neste contexto, até a década de oitenta era comum o uso de termos como inválido, incapacitado, defeituoso, aleijado ou retardado. O termo deficiente começou a ser utilizado em resposta e influência do Ano Internacional, estabelecido pela ONU, apenas a partir de 1981. Ainda em meados dos anos 1980 estavam em uso os termos "pessoa portadora de deficiência" e "portadores de deficiência". Finalmente, por volta da metade da década de 1990, a terminologia utilizada passou a ser "pessoas com deficiência", que permanece até hoje e por muitos autores é considerada a que melhor representa a classe.

Outro termo que também é utilizado é “necessidades especiais”, que é considerado mais abrangente que somente deficiência, ou seja, pessoas com necessidades especiais. Este termo veio acompanhando as tendências de necessidades educacionais especiais de algumas crianças com deficiências, esta também é usada em todas as circunstâncias, até mesmo fora do ambiente escolar.

O mais importante, caro acadêmico, é que nos lembremos de que as pessoas com deficiência e com necessidades especiais são, acima de tudo, pessoas, que têm o mesmo direito que as demais, assim como deveres e responsabilidades.

FIGURA 91 - LEI DE INCLUSÃO

FONTE: Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS-HUMANOS/482895-CAMARA-APROVA-CRIACAO-DA-LEI-DE-INCLUSAO-DA-PESSOA-COM-DEFICIENCIA.html>. Acesso em: 30 out. 2016.

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UNIDADE 3 | ATIVIDADES, CAPOEIRA E LUTAS NA ACESSIBILIDADE

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4 TIPOS DE DEFICIÊNCIAS

4.1 DEFICIÊNCIA VISUAL

Existem vários tipos de deficiências, desde as mais amplas até as mais específicas. A deficiência sempre foi classificada como uma condição mental, física ou psicológica que limita a atividade do indivíduo, sendo relacionada com uma condição médica. Com o objetivo de auxiliar, a International Classification of Functioning Disability and Health (ICF) apresenta conceituações e terminologias internacionais recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. Não poderemos citar todos os tipos de deficiência, todavia focaremos nas mais presentes e mais globais.

Existem no país cerca de 148 mil pessoas cegas e 2,4 milhões com grande dificuldade de enxergar. Sendo, segundo a Organização Mundial de Saúde, a principal causa da cegueira a catarata, seguida de alterações do segmento posterior do olho e retinopatia diabética (MELLO; WINCLER, 2012).

O deficiente visual é aquele que apresenta redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho após a melhor correção óptica (BRASIL, 2002). Podendo ser classificada em:

• Cegueira: é perda total ou o resíduo mínimo de visão que leva a pessoa à necessidade do sistema braile para leitura e escrita.

• Baixa visão: é o comprometimento do funcionamento visual de ambos os olhos, mesmo após tratamento de correção.

Dentre os principais cuidados que devemos ter com as pessoas com deficiência visual estão o cuidado e higiene da sala, uma vez que possíveis riscos não poderão ser vistos por ele. Além disso, podemos destacar a importância de não utilizar efeitos visuais para pontuação ou marcação de limitação de espaço. Por exemplo, em uma luta de judô não podemos ter uma simples divisão de cor para demonstrar fuga de espaço de luta, são utilizados efeitos sonoros e efeitos sensíveis ao toque. Vale destacar que devido à ausência do efeito visual, temos que tomar mais cuidado com os demais sentidos, por exemplo, o silêncio em uma luta. Temos que pensar que, apesar de todas as lutas poderem ser utilizadas, desde que adaptadas, algumas lutas são mais propícias e igualitárias, principalmente as de ações de curta distância e de agarre, uma vez que estas permitem aos praticantes mais ferramentas, ou seja, não são tão dependentes do sistema visual.

Quanto às atividades que podem ser realizadas, não iremos diferenciar uma única para este público, pois acreditamos que, desde que seguras e adaptadas, pessoas com deficiência podem fazer todas as atividades. Alguns exemplos rápidos são: Atividade irmão gêmeo pode ser feita, pois o aluno deficiente pode usar o sentido de toque; atividade de desviar ou bater em bola pode ser feita, basta colocar guizos na bola e permitir ao aluno utilizar o sentido auditivo.

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Uma atividade muito utilizada para deficientes visuais é o judô, trata-se de uma ótima luta, pois a proximidade aumenta a igualdade entre combatentes. As regras do judô adaptado são praticamente as mesmas do judô convencional, apenas com a mudança do início da luta, uma vez que no judô paraolímpico o combate inicia quando ambos os atletas estiverem segurando no quimono do adversário. A luta também é interrompida quando os atletas perdem o contato (CBJ, 2016).

FIGURA 92 - ANTÔNIO TENÓRIO, DEFICIENTE VISUAL E MEDALHISTA OLÍMPICO NO JUDÔ PARAOLÍMPICO

FONTE: Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/paralimpiadas/noticia/2016/07/brasil-define-selecao-de-judo-antonio-tenorio-vai-para-sua-6-paralimpiada.html>. Acesso em: 25 out. 2016.

4.2 DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Existem cerca de 166.400 pessoas que se declaram incapazes de ouvir, e no Brasil, quase 900 mil pessoas se declaram com dificuldade permanente para ouvir. Uma pesquisa realizada no interior de São Paulo verificou que a principal causa deste tipo de deficiência está ligada a problemas neurossensoriais (MELLO; WINCLER, 2012).

O deficiente auditivo é aquele que apresenta perda parcial ou total, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala através do ouvido. A mensuração é feita através de avaliações que comprovem:

• Perda bilateral de 25 decibéis ou mais.• Leve ou moderada perda auditiva de 25 a 70 decibéis.• Severa/Profunda perda auditiva acima de 71 decibéis.

O cuidado principal que deve ser tomado pelo professor é evitar a ordem de comandos via som. Por exemplo, atividades musicais como dança da cadeira ou algo que necessita de som não serão possíveis de realizar. Entretanto, as demais atividades são facilmente realizadas, existem vários exemplos de lutadores surdos

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ou com problemas auditivos. Um exemplo notável de superação é Matt Hamill, surdo de nascença, ele superou o preconceito ao longo da carreira no wrestling e atingiu o sucesso no UFC.

FIGURA 93 - HAMILL DIZ QUE A DEFICIÊNCIA O FORTALECEU

FONTE: Disponível em: <http://esporte.ig.com.br/lutas/hamill-diz-que-deficiencia-o-fortaleceu-e-promete-vencer-ufc-130/n1596977977906.html>. Acesso em: 25 out. 2016.

4.3 DEFICIÊNCIA FÍSICA

No censo populacional de 2000, a deficiência física representou 5,76% das pessoas com deficiência no país e foi avaliada em dois grupos, sendo o primeiro de pessoas com tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente, e o segundo com amputações (MELLO; WINCLER, 2012).

Deficiente físico é toda pessoa que apresenta alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (BRASIL, 2002).

Os cuidados e atividades que poderão ser utilizadas são bem específicos em cada tipo de deficiência, e por isso o maior cuidado que o professor deve ter é estudar e entender a deficiência de seu estudante e - em momento algum - privá-lo da prática por este motivo.

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4.4 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Acredita-se que de 1% a 3% da população apresentem algum nível de deficiência intelectual, sendo que cerca de 85% são caracterizados com deficiência intelectual leve. No Brasil, a porcentagem de pessoas com deficiência intelectual é de 11,5% (MELLO; WINCLER, 2012).

Deficiente intelectual é aquele que apresenta incapacidade caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo e está expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos 18 anos de idade (BRASIL, 2002). Conforme Paulon, Freitas e Pinho (2005, p. 48), a deficiência intelectual pode ser de nível:

• LEVE: As pessoas com esse nível de deficiência podem desenvolver habilidades escolares e profissionais. Chegando, inclusive, a prover a sua manutenção, muito embora necessitem, algumas vezes, de ajuda e orientação em situações sociais diferentes daquelas a que estão acostumadas. • MODERADO: O indivíduo com deficiência mental moderada tem capacidade insuficiente de desenvolvimento social, mas poderá manter-se economicamente através de programas supervisionados de trabalho. • SEVERO: As pessoas portadoras de deficiência mental de nível severo apresentam pouco desenvolvimento motor e mínimo desenvolvimento de linguagem. Poderão contribuir apenas parcialmente para sua subsistência e em ambientes controlados. • PROFUNDO: As pessoas com a deficiência nesse nível têm um retardo intenso e a capacidade sensorial-motora mínima. Mesmo com suas dificuldades, há possibilidades de adquirirem hábitos de cuidados pessoais, através de programas de "condicionamento operante".

FIGURA 94 - ESGRIMA DE CADEIRANTES

FONTE: Disponível em: <http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/paraolimpiadas/modalidades/esgrima-em-cadeira-de-rodas>. Acesso em: 25 out. 2016.

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Os cuidados e atividades que poderão ser utilizados são específicos de cada tipo de deficiência intelectual e, por isso, o maior cuidado deve ser o ensino por parte do professor ou profissional.

4.5 DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

4.6 SURDOCEGO

A pessoa com deficiência múltipla é aquela que apresenta duas ou mais deficiências primárias associadas (intelectual, visual, auditiva, física). Esta associação pode acarretar diferenças no desenvolvimento global da pessoa, não se tratando de somatório de deficiências (BRASIL, 2002).

A pessoa com surdocegueira apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus, necessitando desenvolver diferentes formas de comunicação para que a pessoa surdocega possa interagir com a sociedade (BRASIL, 2002).

FIGURA 95 - CARATÊ PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

FONTE: Disponível em: <http://www.saofrancisco.com.br/site/portal/noticias_show.php?noticia=175>. Acesso em: 26 out. 2016.

Concluindo, sabemos que o fator mais importante para a prática de lutas para pessoas com deficiências é entender e estudar a pessoa como ela realmente é. Não devemos excluir qualquer pessoa da prática de lutas, pois neste caderno de estudos pudemos, com muitas ferramentas, provar que o ensino das lutas é, sim, essencial e muito importante para a criança e para a pessoa, criando, mais do que lutadores de modalidades, lutadores de vida.

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5 VISÃO DO PROFESSOR SOBRE A LUTA E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Entrevistamos a professora, que preferiu não ser identificada, responsável pela disciplina de Educação Física da APAE – Blumenau (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). A professora é formada em Educação Física, especialista com monografia em treinamento de atletas paraolímpicos e especialista em Educação Especial. Abordamos, principalmente, os cuidados e experiências que esta professora teve que ter em toda a sua prática. Caro acadêmico, leia com muita atenção, é uma ótima oportunidade de aprender com a opinião de um professor já experiente.

1 - Professora, você acredita que o ensino de lutas pode auxiliar no ensino de variáveis sociais para os portadores de necessidades especiais?

Diante de experiências anteriores, tenho convicção de que sim, pois através das lutas, além do ensino da corporeidade, conseguimos abranger aspectos sociais, como respeito a si e ao próximo, o espírito de lutar com e não contra, no qual desenvolvemos que, independentemente do resultado, precisamos do outro para alcançar o objetivo (competitividade saudável), conseguimos formular o caráter ético e humano do aluno. Além de, é claro, trabalharmos a integração, socialização com diversas culturas. Pois, ao tratarmos de lutas, entramos num contexto histórico e cultural abrangente que nos permite viajar e conhecer várias culturas. Portanto, conseguimos desenvolver com o aluno um olhar sócio-histórico-cultural muito interessante sobre as lutas, o que tornará a prática mais prazerosa e o contexto pedagógico muito mais completo e palpável, já que aliamos a prática à teoria, o que é de suma importância quando trabalhamos com portadores de necessidades especiais, pois muito necessitam de fato perceber como "aquilo" poderá me ser útil. Por isso precisamos ensinar sempre com algo palpável, visível a eles.

2 - Quais são os principais pontos que podem ser tomados de modo positivo do ensino de lutas para esta população?

Além dos aspectos sociais já mencionados na questão anterior, enfatizo a questão da corporeidade, onde proporcionamos aos educandos as possibilidades de uso de seu corpo, mesmo os com necessidades especiais, principalmente os deficientes físicos. Com a corporeidade mostramos aos alunos o conhecimento sobre seu corpo, como utilizá-lo, como podemos ser criativos com ele e quão longe podemos chegar se conhecermos e proporcionarmos ao nosso corpo o maior leque de experiências corporais (movimentos, gestos, expressões etc.), pois através do nosso corpo geramos comunicação e conhecimento, assim, precisamos estimular ele ao máximo para nos tornarmos mais abrangentes como seres humanos. Meios para essa apropriação não faltam, basta que nós, professores, nos pautemos nos blocos da EDF: Bloco 1: esportes, lutas, jogos e ginástica; Bloco 2: atividades rítmicas e expressivas; e Bloco 3: conhecimento sobre o corpo, preconizados nos Planos Curriculares Nacionais (PCN).

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3 - Quais os cuidados que devemos ter com o ensino de lutas para portadores de necessidades especiais?

De modo geral, devemos nos atentar com os limites de cada educando, tanto nos aspectos físicos, padrões motores, limitações estruturais (ósseas, musculares) com o fim de não lesionar ou expor o educando a uma situação desnecessária; aspectos psicológicos: medos, angústias, traumas e indícios de agressividade e competitividade excessiva; e, por fim, aos aspectos sociais: traumas físicos, contexto de violência familiar, abuso sexual, dificuldade de socialização e integração, fatores esses que podem vir a desencadear uma crise durante o contexto da aula. No caso específico dos portadores de Down, além dos aspectos acima, devemos ter o cuidado em relação à instabilidade atlantoaxial e hiperflexibilidade articular.

4 - Quais os avisos que você poderia dar aos alunos que estão se formando em Educação Física e pretendem trabalhar na área com pessoas deficientes?

Aos futuros profissionais quero deixar dois pontos que devem servir de base para seu trabalho: 1º Pedagogicamente, o ensino para com estas pessoas não difere em modo nenhum nos conteúdos, mas sim na maneira como se vai lecionar esses conteúdos; então, o desafio nessa área é ser criativo sempre, ver o obstáculo como uma possibilidade e não uma pedra. Enxergar o aluno na sua forma mais ampla, sujeito com possibilidade e não "aquele aluno não sabe isso, não consegue aquilo", é preciso oportunizar a eles as mais amplas e divertidas experiências corporais nas aulas de EDF. 2º Reciclem-se, o professor de hoje não pode ser o mesmo cinco anos depois, devemos buscar novos conhecimentos, novas práticas sempre, pois quem ganha com isso é você, nossa área, mas principalmente nosso aluno, pois estes também vão nos trazendo novos desafios, novos desejos e afins, por isso precisamos enriquecer-nos de novos conhecimentos e práticas educacionais de fato eficientes e condizentes com a realidade do aluno e sociedade.

5 - Finalizando, gostaria que demonstrasse sua opinião sobre como a população em geral visualiza o ensino de lutas nas escolas, abordando o preconceito sobre violência.

Essa visão é dada devido à maneira como, por muitos anos, foi lecionada a disciplina de Educação Física nas escolas: por meio da esportividade, competição, selecionismo, melhor padrão, perfil atlético, enfim, no qual muitas vezes os ditos "selecionados" se beneficiavam disso para serem os "mandões da escola", o que por muitas vezes vinha acompanhado de violência. O que deve ser buscado nesta última década é a nova concepção de Educação Física Escolar, voltada para a Cultura Corporal do Movimento, que visa oportunizar aos alunos a maior vivência de movimentos e práticas corporais, incluindo as lutas, em que o foco é a corporeidade, a expressão corporal, o contexto histórico-cultural. Assim, precisamos trazer a comunidade para dentro da escola, para que

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vivencie esta nova concepção, para que paradigmas como estes, de preconceito, violência perante o ensino de lutas e demais práticas, sejam desmistificados. Atividades como: o Dia da Família na escola, gincanas cooperativas na comunidade, apresentações pedagógicas das práticas educacionais da escola para a comunidade, enfim, eventos que visem mostrar qual o atual papel da escola, e da EDF em específico, para a comunidade.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Várias civilizações possuíam extrema repulsão aos ditos “não normais”. Em certas comunidades, ser uma pessoa com deficiência era motivo para se tornar uma vítima.

• Normalmente, os profissionais que conseguem elaborar programas envolvendo a temática de luta já são praticantes de alguma arte marcial previamente ao curso de graduação, ou realizam sua prática fora da universidade.

• Por volta da metade da década de 1990 passou a ser utilizada a expressão "pessoas com deficiência", que permanece até hoje e por muitos autores é considerada a que melhor representa a classe.

• Outro termo que também é utilizado é “necessidades especiais”, que é considerado mais abrangente que somente deficiência, ou seja, pessoas com necessidades especiais.

• O deficiente visual é aquele que apresenta redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho após a melhor correção óptica.

• O deficiente auditivo é aquele que apresenta perda parcial ou total, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala, através do ouvido.

• Deficiente físico é toda pessoa que apresenta alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física.

• Deficiente intelectual é aquele que apresenta incapacidade caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo e está expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos 18 anos de idade.

• A pessoa com deficiência múltipla é aquela que apresenta duas ou mais deficiências primárias associadas (intelectual, visual, auditiva, física).

• A pessoa com surdocegueira apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus.

• No caso específico do portador de Down, devemos ter o cuidado em relação à instabilidade atlantoaxial e hiperflexibilidade articular.

RESUMO DO TÓPICO 3

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• Os cuidados e atividades que poderão ser utilizados são muito específicos de cada tipo de deficiência e, por isso, o maior cuidado deve ser o ensino ministrado por parte do professor ou profissional.

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AUTOATIVIDADE

1 Estudamos vários tipos de deficiências e percebemos a grande especificidade de cada uma. Classifique as alternativas, preenchendo com V para verdadeiro e F para falso.

( ) Síndrome de Down é um tipo de deficiência física motora que afeta principalmente o controle motor da pessoa.

( ) A pessoa com deficiência múltipla é aquela que apresenta em seu grau máximo duas deficiências primárias, não necessariamente associadas.

( ) A pessoa com surdocegueira apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus.

( ) O deficiente visual é aquele que apresenta redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho após a melhor correção óptica.

Selecione a alternativa que corretamente relaciona as alternativas:

a) ( ) F-F-V-V.b) ( ) F-F-F-F.c) ( ) F-V-F-V.d) ( ) F-F-V-F.

2 Assinale a alternativa que utiliza a nomenclatura válida utilizada para se referir a pessoas que apresentam algum tipo de deficiência.

a) ( ) Portadores excepcionais.b) ( ) Portadores de necessidades especiais.c) ( ) Pessoas com deficiência.d) ( ) Invalidez por deficiência.

3 Conceitue cada uma das deficiências abordadas.

4 Estruture uma atividade com a temática lutas para uma turma de 20 alunos, sendo que destes alunos um deles é deficiente visual.

5 Faça uma tabela com a Quantidade em Percentual em território brasileiro de cada deficiência estudada.

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ANOTAÇÕES

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