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MICROFINANÇAS Ç $ Lei Geral estimula formalidade e demanda por serviços financeiros Parcerias entre bancos e operadores ampliam oferta de produtos Atuação em rede reduz custos e fortalece carteiras de clientes O empreendedor do ramo de serviços, Olímpio Magalhães Melo, é associado da Sicoob-Credbrasil. Samambaia-DF

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Lei Geral estimula formalidade e

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Parcerias entre bancos e operadores

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Atuação em rede reduz custos e

fortalece carteiras de clientes ampliam oferta de produtos

Atuação em rede reduz custos e

fortalece carteiras de clientes

O empreendedor do ramo de serviços, Olímpio Magalhães Melo, é associado da Sicoob-Credbrasil.Samambaia-DF

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Olimpio Magalhães é um dos muitos empreendedores, atendidos pela atuação do cooperativismo de crédito em microfi nanças.

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O diretor do Sebrae Carlos Alberto dos Santos destaca o papel das microfi -nanças no processo de inclusão social e produtiva.

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Empreendedores autônomos e informais já se benefi ciam dos cartões de débito e crédito, fundamentais para a expansão das vendas.

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O Sebrae em Minas Gerais faz a diferença no segmento das microfi nanças, prestando consultorias aos operadores.

M I C R O F I N A N Ç A S Entrevista: Carlos Alberto dos Santos 07 Conjuntura econômica favorece avanços no sistema fi nanceiro

Artigo: Alexandre Guerra de Araújo SERVIÇOS FINANCEIROS 12 Inovar para expandir fronteiras

Artigo: Eli Moreno CAPITALIZAÇÃO DAS IMF 16 Estratégias independentes de fi nanciamento

MARCO LEGAL 18 Flexibilizações garantem avanços 21 Modelo das SCM em discussão

PNMPO 22 Aposta em trabalho integrado

Artigo: Christiano Martins Sales ATUAÇÃO EM REDES 28 Fator de competitividade para as IMF

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ANDE 30 Efi ciência na prestação de serviços

CEAPE 32 Planejamento estratégico para crescer

NICHO PROMISSOR 34 Informais no foco dos agentes fi nanceiros 36 Cooperativismo de crédito, crescimento constante

BENCHMARKING 38 Sistema facilita avaliação e controle

41 DIRETRIZES DO SEBRAE

SALTO DE QUALIDADE 42 Banco do Povo de Minas Gerais 44 Banco Popular do Vale do Aço 45 Credmalhas – Monte Sião

42127

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Nós do Sebrae, ao lado de nossos parceiros, trabalhamos com afi n-co para fazer parte da história das microfi nanças no Brasil. Houve quem, antes de nós, escreveu os primeiros capítulos dessa saga,

mas estamos convictos da importância do momento que vivemos. Na esteira dos progressos trazidos pela estabilidade econômica, da

aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, estamos dando um grande salto de qualidade. Estamos saindo de uma visão restrita de micro-fi nanças, baseada em um único produto, o microcrédito, para uma visão moderna e efi caz, que contempla ampla gama de produtos e serviços, fundamental para estimular o desenvolvimento dos pequenos negócios e a inclusão social.

Esta publicação comemora a entrada em vigor, a partir de 1˚ de julho, de um dispositivo importante da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o Simples Federal, que vai reduzir a carga tributária e a burocracia para o segmento. Estima-se que nos próximos dois anos, pelo menos um milhão de empreendedores serão estimulados a deixar a informalidade por conta desse e de outros avanços previstos na Lei, entre eles o maior acesso a

compras governamentais. O estímulo será ainda maior se amparado por produtos e serviços fi nanceiros

adequados às necessidades e às possibilidades de nossos empreendedores. Precisamos – o Se-brae e nossos parceiros do sistema fi nanceiro – estar preparados para infl uir positivamente nesse amplo processo de formalização, inclu-sivo, fator de integração do Brasil ao rol dos países desenvolvidos.

Paulo Okamotto Presidente do Sebrae

e x p e d i e n t e

Presidente do Conselho Deliberativo NacionalSenador Adelmir Santana

Diretor-PresidentePaulo Tarciso Okamotto

Diretor de Administração e Finanças

Carlos Alberto dos Santos

Diretor TécnicoLuiz Carlos Barboza

Gerente da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros

Alexandre Guerra de Araújo

Gerente interina da Unidade de Marketing e Comunicação

Beatriz Rossetto

Coordenadora da Agência Sebrae de NotíciasCândida Bittencourt

Edição Clara Favilla

Consultoria TécnicaEli Moreno

TextosNira Foster, Larissa Bortoni

e Clara Favilla

RevisãoDaniele Costa e Joíra Furquim

Projeto gráfi co e diagramaçãoErika Yoda

CapaFotos: Márcia Gouthier

Montagem: Erika Yoda e Clara Favilla

TiragemDez mil exemplares

ImpressãoCorgraf

Produção Editorial

Junho de 2007

c a r t a a o l e i t o r

compras governamentais. O estímulo será ainda maior se amparado por produtos e serviços fi nanceiros

adequados às necessidades e às possibilidades de nossos empreendedores. Precisamos – o Se-brae e nossos parceiros do sistema fi nanceiro – estar preparados para infl uir positivamente nesse amplo processo de formalização, inclu-sivo, fator de integração do Brasil ao rol dos países desenvolvidos.

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SALTO DE QUALIDADE

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Fique ligado nos avanços e desafi os das microfi nanças.

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Para o economista Carlos Alberto do Santos, especialista em sistema fi nanceiro e desenvolvimento local, pensar o Brasil é um desafi o fascinante. “Temos enormes problemas

– a perversa concentração de renda é certamente um deles –, mas também enormes possibilidades”, costuma dizer em suas palestras pelo Brasil afora e no exterior. A dialética está incor-porada ao seu discurso, não como efeito de retórica, mas como forma de desatar nós que levariam o debate a becos sem saídas. Ao analisar um problema, costuma usar analogias como a do copo meio vazio ou meio cheio. É assim que ele vê o segmento das microfi nanças no Brasil: há muito o que ser feito para que se produzam resultados socioeconômicos de impacto. Mas já existe o que se comemorar. A seguir trechos da entrevista que concedeu à Revista Microfi nanças.

e n t r e v i s t a : C A R L O S A L B E RTO D O S S A N TO S

O diretor de Administração e Finanças do Sebrae Nacional fala sobre a importância do atual quadro macroeconô-mico, facilitador do plane-jamento de médio e longo prazos dos operadores de microfi nanças e de seus clien-tes. Ressalta que o segmento só prosperará, de fato, se funcionar cada vez mais inte-grado ao sistema fi nanceiro.

Clara Favilla

Conjuntura econômica favorece avanços no sistema fi nanceiro

O que deve ser considerado, de saída, ao se analisar o Brasil?Carlos Alberto – Dois aspectos funda-mentais: o das desigualdades sociais e regionais e o da mobilidade social. Temos grande concentração de ren-da ao lado de muita pobreza. Nossa classe média cresce, mas ainda não é a maioria da população para nos ca-racterizar como país desenvolvido.

Mas esse quadro está em muta-ção. É um processo consistente? Carlos Alberto – Sim. Observamos, nos últimos anos, mudanças extre-mamente positivas a partir de polí-ticas sociais como o Programa Bolsa Família, além da elevação do salário

Márcia G

outhier/ASN

“Vivemos mudanças

promissoras”

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pessoal, da melhoria das condições de vida, a partir do talento, do esfor-ço próprio, da dedicação. O exemplo mais emblemático disso é a biografi a do presidente da República. Isso pre-cisa ser considerado porque, quando falamos de desigualdades sociais e regionais, podemos também falar de mobilidade social, de um país de oportunidades.

Podemos afi rmar que hoje no Brasil essa mobilidade é mais abrangente? Carlos Alberto – Sim, consideran-do-se as modifi cações estruturais ocorridas e que vêm ocorrendo na economia, a partir da década de 90 e que têm alcançado o Brasil em seu todo. São bens já incorporados ao dia-a-dia dos cidadãos como a estabilidade monetária, a moder-nização da prestação dos serviços públicos e privados, como os ban-cários, além da generalização de tecnologias como a internet. Tudo isso tem contribuído para a cida-dania e melhorias signifi cativas na distribuição de renda.

Pode-se nesse contexto também se discutir microfi nanças? Carlos Alberto – A partir dessa abor-dagem podemos rapidamente che-gar a esse tema que deve ser visto da perspectiva do cliente. Microfi -nanças é uma segmentação do sis-tema fi nanceiro, uma estratégia de seus agentes para ofertar produtos e serviços com foco nos empreende-dores informais sem acesso ao sis-tema fi nanceiro tradicional. Dessa perspectiva, temos, então, um país que oferece grandes possibilidades de auto-realização, de afi rmação, de desenvolvimento de estratégias de negócio e de geração de emprego e de renda a partir de iniciativas in-dividuais baseadas em identifi cação de oportunidades ou mesmo por necessidade. Levando em conta que são milhões de brasileiros enfren-tando o desafi o de ganhar a vida por conta própria, pode-se ter idéia do relevante papel das microfi nanças.

O que mais favorece a consolida-ção desse segmento no Brasil? Carlos Alberto – O quadro macroeco-nômico atual extremamente favorá-vel. Trata-se de um alinhamento de fundamentos sem precedentes nos últimos 50 anos. Temos estabilidade de preços e balanço de pagamento saudável. O superávit do comércio exterior é grande. O Brasil passou a ser credor líquido no mercado in-ternacional, nossas divisas superam a dívida externa, o que explica em parte a grande valorização do Real. A dívida pública ainda é preocupan-te, mas a tendência é de redução. Os investimentos diretos estrangeiros também têm crescido enormemen-te. A estabilidade monetária permi-te aos operadores de microfi nanças – bancos, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), as Sociedades de Crédito ao Micro-

mínimo acima da infl ação, o que impacta positivamente a economia, principalmente dos pequenos mu-nicípios. Deve-se ressaltar também o crescimento do Produto Interno Bruto do Norte e Nordeste acima da média nacional. São mudanças que devem ser vistas em um contex-to maior, o da mobilidade social, que vem ocorrendo fortemente desde a segunda metade do século passado.

O que mais caracteriza a mobi-lidade social brasileira?Carlos Alberto – A mobilidade geo-gráfi ca. O deslocamento de milhões de brasileiros do campo para a ci-dade, das regiões periféricas para as metrópoles, por conta das oportu-nidades de emprego criadas pela in-dustrialização, a partir dos anos 50. Essa mobilidade provocou mudan-ças radicais em nossa sociedade. Acelerou a urbanização com impac-tos os mais diversos, desde econômi-cos, culturais e até religiosos. Além disso, no Brasil, como em poucos países do mundo, temos mobilida-de social em função do crescimento

Levando-se em conta que são

milhões de brasileiros

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a vida por conta própria, tem-se

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empreendedorr (SCM), cooperativas de crédito – planejamento, visão de futuro, o que facilita enormemente a expansão das operações, em especial do microcrédito. Também permite o planejamento fi nanceiro por parte de seus clientes, o que viabiliza a contra-tação de operações com prazos mais longos e redução de custos. Não é irrelevante, não é indiferente se esta-mos atuando em um contexto de es-tabilidade ou de grande volatilidade, de grande turbulência econômica.

Quais os principais impactos desses bons fundamentos? Carlos Alberto – Essa constelação favorável materializa-se no chama-do risco Brasil cada vez menor, o que coloca o país às vésperas, às portas do chamado grau de investi-mento e vai implementar enorme-mente o fl uxo de recursos externos para o país. Isso também se refl ete no dia-a-dia; na exuberância da Bolsa de Valores; na valorização dos nossos ativos; na internacio-nalização de empresas brasileiras, na expansão de seus investimen-tos no exterior. A insistência na consolidação desses fundamentos é estratégia necessária para fazer frente aos desafi os da globalização, à concorrência imposta por novos atores internacionais, países forte-mente orientados para a exporta-ção como China e Índia.

O sistema fi nanceiro está fazen-do a parte que lhe cabe? Carlos Alberto – Podemos observar transformações substanciais como a consolidação dos grandes ban-cos, inclusive de alguns estrangei-ros, depois de um período inicial de difi culdades, e na exuberância dos resultados apresentados pelos federais de varejo, CAIXA e Banco do Brasil. É preciso destacar tam-

bém o papel relevante do BNDES como fi nanciador de segundo piso, por meio da intermediação de re-cursos do Fundo de Amparo ao Tra-balhador, o FAT. Essa consolidação do sistema fi nanceiro e o afasta-mento de difi culdades até recentes, a agilidade demonstrada por alguns bancos para focar clientes de me-nor renda são resultados principal-mente da estabilidade econômica e do processo consistente de queda da taxa básica de juros.

Quais os obstáculos ainda a ser superados? Carlos Alberto – A concorrência en-tre bancos é bastante acirrada em certos segmentos, o dos assalaria-dos, o de pessoas jurídicas de porte médio e grande. Uma concorrência que tem suas limitações por se dar, fundamentalmente, mais pela atra-ção dos produtos oferecidos do que pelos preços cobrados da clientela. As taxas de juros para o tomador fi nal continuam muito elevadas. O consumidor, o tomador fi nal de crédito não está sendo benefi ciado como deveria pelo menor custo de captação dos bancos. Trata-se de tema controverso, polêmico, ques-tão central do nosso sistema fi nan-ceiro. Em especial o custo do capi-tal para investimento das pequenas empresas continua muito elevado e de difícil acesso.

Quais avanços podem ser des-tacados? Carlos Alberto – Os da bancarização e o da ampliação do acesso ao crédito por parte da população de baixa ren-da. Por meio de instrumentos sim-ples e criativos, os correspondentes bancários, foi possível estender o atendimento aos mais longínquos rincões do país. Os corresponden-tes estão presentes também nas

médias e grandes cidades, tornando possível o acesso a serviços fi nan-ceiros na padaria da esquina, na lotérica. Pagamento de contas e a própria movimentação de recursos podem ser feitos sem grandes deslo-camentos e, o melhor, em horários ampliados. A conta simplifi cada, sem comprovação de renda, possi-bilitou a bancarização de milhões de pessoas. É uma ferramenta de baixo custo que está na direção correta, o de se estimular a utilização de meios eletrônicos de pagamento, princi-palmente o de cartões de débito, que facilitam as transações em geral, desde o pagamento da conta de luz até a transferência de recursos de uma região para outra.

O maior endividamento da po-pulação já é preocupante? Carlos Alberto – Situações de abu-so, principalmente em prejuízo dos rendimentos dos aposentados, de-vem ser fi scalizadas e combatidas, por ser inadmissíveis. Temos de levar em conta que o crescimento da economia e do emprego com

Não é irrelevante, não é indiferente se estamos atuando em um contexto de estabilidade ou de grande volatilidade, de grande turbulência econômica„

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carteira assinada está se dando não apenas pelo lado das exportações, mas também pelo consumo fami-liar, amparado pelo crédito consig-nado e do crédito direto ao consu-midor. São as classes C, D e E que hoje compram porque a estabilida-de econômica possibilita o alonga-mento do fi nanciamento. É melhor combater problemas decorrentes de certa abundância de crédito e fazer campanhas de educação fi nan-ceira para evitar o endividamento excessivo do que não tê-lo como possibilidade de fi nanciamento do consumo e da produção.

O cooperativismo de crédito vem dando bons resultados?Carlos Alberto – A fl exibilização da legislação, iniciada no fi m de 2002 e acelerada a partir de julho de 2003, resultou na possibilidade de criação de cooperativas de micro e peque-nas empresas e de livre adesão. O segmento apresenta, hoje, grande vitalidade e consistência e discute temas relevantes como a criação de

um instituto independente de au-ditoria e de fundos garantidores de depósitos. A expansão, na Região Centro-Sul é acompanhada, ainda que de forma tímida, pelas Regi-ões Norte e Nordeste. Destaca-se, nos últimos anos, o cooperativismo de crédito da agricultura familiar e de economia solidária também no Centro-Sul do país com propagação segura e paulatina para o Nordeste.

O que a Lei Geral acrescenta ao quadro econômico favorável? Carlos Alberto – A Lei é um divisor de águas no processo de fortaleci-mento dos pequenos negócios e dos empreendedores, clientes típicos de microfi nanças. É um conjunto de medidas aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2006. Em fase de implementa-ção, prevê uma série de melhorias, entre elas a redução da carga tribu-tária e simplifi cação do processo de arrecadação, por meio do Simples Federal. Impostos e contribuições devidos à União, estados e municí-pios podem ser pagos por micro e pequenas empresas, a partir de ju-lho deste ano, por meio de apenas uma guia de recolhimento. A Lei Geral possibilitará a implementação do Cadastro Único pela Rede Na-cional de Simplifi cação do Registro, a chamada Rede SIM, que reduzirá o prazo para abertura de empresas, dos atuais 152 para 15 dias. Outro avanço é a abertura de possibilida-des para os pequenos negócios, na casa de bilhões de reais, na área de compras governamentais.

Qual o impacto da Lei Geral sobre as microfi nanças? Carlos Alberto – Ao induzir, incenti-var a formalização, a Lei tem como subproduto importante também

o fortalecimento do segmento. A formalização facilita a implanta-ção de mecanismos e processos inovadores de análise de risco do crédito. Hoje, o cliente típico de microcrédito é a pessoa física que desenvolve uma atividade autôno-ma. Esse cliente vai ter estímulos para se formalizar e só não fará isso se desenvolver uma atividade empreendedora de caráter apenas temporário, enquanto não arruma outro emprego, ou se tiver um fatu-ramento baixíssimo, apenas como subsistência. No segundo caso, o microcrédito é também ferramenta de produtividade desse empreen-dedor, o que pode incentivá-lo aos poucos à formalização, importante para o acesso a uma gama impor-tante de serviços fi nanceiros.

O assistencialismo nas microfi -nanças continuará tendo espaço? Carlos Alberto – No Brasil, há até bem pouco tempo, ao se falar de microfi nanças, reduzia-se o tema a um só produto, a uma operação de crédito de pequena monta, o cha-mado microcrédito, muitas vezes com forte viés de política social. A Lei Geral, que torna obrigatório os bancos informarem quanto aplicam no segmento de micro e pequenos negócios, além de incentivar a for-malização e a entrada dos grandes bancos no segmento de microfi nan-ças, seja como operadores diretos ou em parcerias com OSCIP e SCM, vai consolidar uma visão de mercado para oferta desses produtos e servi-ços, aumentando-lhes a abrangência e o impacto socioeconômico.

Essa nova visão pode direcio-nar a atuação das OSCIP?Carlos Alberto – Podemos dizer que prevalece hoje a visão de mi-crofi nanças como um conjunto de

A Lei Geral da Micro e Pequena

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produtos e serviços com foco em empreendimento de pequeno por-te, quase sempre informais, uma segmentação da atividade de in-termediação fi nanceira, um bom negócio para operadores e clientes. Um conjunto de serviços que deve ter uma oferta massifi cada para in-duzir rápidos efeitos econômicos e sociais. Essa percepção não tira a importância daquela mais focada em determinados territórios, na população de baixíssima ou nenhu-ma renda, que tem o microcrédito como carro-chefe e ferramenta de combate à pobreza absoluta. Qual o papel das instituições com forte viés social? Carlos Alberto – A entrada de gran-des bancos, inclusive estrangeiros, no segmento, além da criação de bancos especializados, em que pe-sem algumas iniciativas que podem ser enquadradas no conceito de res-

ponsabilidade social, demonstra que as microfi nanças comerciais ten-dem, no Brasil, a apresentar grande crescimento nos próximos anos. Já as iniciativas mais antigas, por meio de organizações não-governamen-tais, ainda cumprem o papel funda-mental de mostrar a viabilidade da concessão de crédito para segmentos que não despertam ou não desperta-vam interesse da banca tradicional.

Então, continuam com a função de apontar caminhos?Carlos Alberto – Sim. Os bancos têm difi culdades de perceber, que a expansão da oferta de produtos, em especial do crédito no Brasil, em função do quadro maior de diminuição da dívida pública, vai se dar em torno da pessoa jurídi-ca de pequeno porte, das micro e pequenas empresas e na base da pirâmide empresarial, a dos em-preendedores informais.

O universo das microfi nanças comporta as duas visões? Carlos Alberto – O importante é que as OSCIP, as SCM, os bancos e as cooperativas de crédito estão em processo de aprendizado mú-tuo extremamente positivo que aponta perspectivas de um sal-to de qualidade no atendimento desse enorme público de menor renda. Os bancos têm estrutura e capilaridade para uma ampliação rápida da oferta. Já os operadores tradicionais de microcrédito têm a expertise da demanda, atuam próximos dos empreendedores. Juntos podem fazer muito mais. O impacto socioeconômico do pro-duto é o mesmo, seja o operador um banco, uma OSCIP, uma SCM ou cooperativa de crédito. Um cliente de microcrédito a mais é um candidato a menos ao cadastro de programas governamentais de transferência de renda.

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As dimensões continentais e as fortes desigualdades da pirâmide em-presarial do nosso país requerem soluções de acesso a serviços fi - nanceiros que transcendam a mera disponibilidade de recursos ou

mesmo a vontade política de transformar a realidade. Avanços consistentes dependem de tecnologias adequadas, acessíveis e menos onerosas.

Remuneração declinante dos títulos públicos, margens cada vez mais reduzidas do segmento corporate e naturais limitações de endividamento das pessoas físicas assalariadas induzem as instituições fi nanceiras a buscar nichos ainda pouco explorados, não como políticas públicas, mas como alternativas de mercado. A expansão da fronteira segue na direção dos empreendedores de baixa renda, pequenos e micronegócios.

Um dos mais surpreendentes saltos nesse sentido foi o forte pro-cesso de bancarização ocorrido nos últimos anos, inclusive e principal-mente, instrumentalizado por meios eletrônicos de acesso a consultas, crédito, saques e depósitos. Destaca-se, nesse processo, a popularização do cartão magnético, que hoje conta, nas modalidades crédito, débito e private juntos, movimento superior a R$ 250 bilhões (2006). Cartões de crédito emitidos com bandeira (Visa, MasterCard, Diners e American Express) são 78 milhões, com faturamento aproximado de R$ 157 bi-lhões, no acumulado de 2006. Cartões de débito na ordem de 180 milhões de unidades com movimento de R$ 69 bilhões. (Fonte: Bacen)

Crescimento continuadoDesde meados de 2004, os cartões superam os cheques em número

de transações e há muito mais tempo vêm se consolidando como ins-trumento de transação financeira. Trata-se, sem dúvida, de importante forma de fortalecer e expandir os pequenos negócios, tanto pela possi-bilidade de acessar, de forma simplificada, mercados de fornecedores, de clientes e de crédito, como instrumento de melhora na gestão ad-ministrativa e financeira.

Pesquisa FGV/EBAPE/SMALL 2006, com base nos dados da Pes-quisa da Economia Informal (ECINF), do IBGE, revela que os por conta própria e pequenos empregadores que usam cartão têm con-troles contábeis e fluxo de receitas melhores do que aqueles que não

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INOVAR PARA EXPANDIR FRONTEIRAS

usam, bem como acessam fornecedores com mais facilidade. Eliminam os intermediários por meio de compras diretas aos atacadistas, reduzem custos com boletos bancários e viabilizam a concentração de da-tas de seus vencimentos.

No entanto, essa solução ainda está longe da reali-dade dos pequenos negócios e empreendedores infor-mais. Segundo a pesquisa, apenas 27% usam cartão de crédito e menos que 5% dos seus gastos são por meio de cartão de crédito empresarial.

Diferencial competitivoOs pequenos negócios clientes do cartão empre-

sarial desconhecem a oportunidade que representa o instrumento. Utilizam o cartão da pessoa física do em-presário, que apresenta limite de crédito superior ao da pessoa jurídica, a custos geralmente mais elevados.

Na condição de base operacional, ou seja, creden-ciado a aceitar operações de crédito/débito em seu estabelecimento, as difi culdades perpassam os altos custos de transação (taxa de cobrança por movimento,

“Fiz de tudo para trabalhar com cartão e poder vender mais. Compensou muito!”

Gilsete BezerraArtesã – pintura em porcelana, Brasília-DF

Davi Zocoli

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custo da ligação telefônica e aluguel de equipamentos) para uma empresa que possui baixa escala e valor de tíquete médio. Isso, somado aos dilatados prazos de recebimento, gera descasamentos em seus fl uxos. Os benefícios são inegáveis sob a perspectiva de elevação do faturamento, de redução da inadimplência vis-à-vis cheques e até de possibilidade de antecipação de cré-ditos a receber. O diferencial competitivo do segmento empresarial reside no fato de que hoje temos mais de 1 milhão de pequenos estabelecimentos credenciados (Visanet e Redecard), que unidos poderiam certamente melhorar essas condições de acesso e custo.

Traduzindo, o que temos é um enorme potencial de crescimento e especialização da indústria para o segmento microempresarial. Como resposta a essa fa-lha de mercado, surgem os cartões empresariais “mar-ca própria”, fechados ou abertos ao atendimento do tecido empresarial de determinada região. As solu-ções de rede compartilhadas com captura multiplata-formas e multisserviços também se fortalecem como estratégia das bandeiras regionais de menor porte e encontram identidade em adensamentos produtivos com foco no varejo. Reduzem os custos de transação e trazem mais conveniência e fi delização dos clientes, internalizando na região os fl uxos de receitas.

Massifi cação do usoVem então a pergunta: Como alcançar os territórios

mais deprimidos e massifi car soluções para segmentos de menor acesso? Segundo dados do Bacen (2005), a concentração de point of sales (POS), máquinas que capturam as transações com nossos cartões, é de 60% na Região Sudeste, 14% na Região Sul, 15% na Cen-tro-Oeste, 7% na Nordeste e apenas 4% na Norte.

O estado de São Paulo desbanca em quase 2,5 vezes o segundo lugar, Rio de Janeiro, com praticamente 34% dos POS. Vale aqui a ressalva que esses POS podem ser soluções eletrônicas com várias possibilidades de serviços em um só terminal (débito, crédito, consul-ta Serasa e SPC, recarga de celulares e pagamento de contas), porém com plataformas tecnológicas distin-tas, podendo a captura ser por meio telefônico, sem fi o, via celular e onda de rádio, extremamente úteis para naturezas de comércio e serviços autônomos e ambulantes, e independentes das distâncias.

O ponto é que as transformações serão ditadas principalmente pela velocidade dos avanços tecnoló-gicos, tão bem estudadas pelos mais importantes eco-nomistas mundiais, sem eximir, de maneira alguma, a responsabilidade dos incentivos de política pública. Assim como a telefonia celular acabou cumprindo importante papel de massifi cação dos serviços de te-lecomunicações, o sistema fi nanceiro percebe nesse canal um instrumento sustentável para prestação de seus serviços, principalmente em regiões mais distan-tes e para a base da pirâmide empresarial no país. Tra-zem a vantagem do baixo custo, relativa segurança e inúmeros benefícios operacionais, em uma platafor-ma massifi cada de mais de 102 milhões de telefones habilitados pré e pós-pagos (Anatel – março 2007). Ao cliente, facilidade e mobilidade a baixos custos, se a solução for focada na agilidade e simplicidade dos menus de serviços. Provavelmente o celular conviverá algum tempo e substituirá os meios plásticos também pela possibilidade de realizar outras operações que o cartão hoje é incapaz, tais como informar saldos, rea-lizar pagamentos e transferências, migrando do mobile banking para o mobile payment.

Enquanto caminhamos na direção desse futuro que se avizinha, fi cam algumas sugestões ao mercado para a satisfação dos clientes de pequenos negócios de cartões empresariais: • Redução dos custos via soluções mais básicas e sem benefícios.• Cobrança de tarifa pelo não,uso, em vez da anuidade. • Limite do cartão empresarial superior ao da pessoa física do empresário.• Plataforma mais adequada de serviços acessórios para a empresa como assessoria contábil e seguro isen-ção responsabilidade, por exemplo.• Múltiplas datas de pagamento.

As transformações serão ditadas principalmente pela

velocidade dos avanços tecnológicos„

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Facilidades para empreendedor e cliente

Nicanor de Faria Asenjo, “Faria”, como é co-nhecido pelos feirantes, comemora aumento de 50% nas vendas desde que começou a trabalhar com os cartões Visa, há quatro anos, e Mastercard, há 3 anos. Faria é pioneiro na feira – desde 1973 – e foi também um dos primeiros a “lutar” pelo uso do cartão de crédito num momento que, se-gundo ele, “os bancos só aceitavam empresa”. Para cortar caminho foi direto ao representante do Visa em Brasília. Não satisfeito, pediu aos clientes que o ajudassem na campanha para levar a maquininha à Torre, ligando para a administração do cartão de crédito. Faria produz e vende artigos religiosos em gipsita, minério usado na produção de cimento e de gesso. São principalmente imagens de santos. Os preços variam de um a trinta reais. Ele explica que no começo do mês faz mais vendas à vista, mas o forte são as vendas a crédito.

Compartilhamento A “maquininha”, que está no nome do Faria,

serve também a outros setenta feirantes. O com-partilhamento foi feito com o conhecimento dos cartões de crédito e da própria associação dos ar-tesãos. Ele admite que cobra um adicional dos de-

mais feirantes. Mas apenas o “sufi ciente para pagar a CPMF e o Imposto de Renda”. Ele faz a conta-bilidade separada de cada um dos feirantes. Para receber o equipamento, as únicas exigências, tanto do Visa como do Mastercard, foram a carteira de artesão atualizada, CPF, carteira de identidade e um comprovante de residência.

As mesmas exigências foram feitas a Antônio Conceição Martins, que fabrica e vende bijuterias confeccionadas com plantas do cerrado. As bolsas feitas com o capim dourado, que cresce na região do Jalapão, em Tocantins, são muito procuradas pelos turistas. Custam por volta de R$ 150, dependendo do tamanho. As pulseiras do mesmo material são os itens mais baratos: um real a unidade.

Antônio também é veterano entre os artesãos. Tra-balha na Torre há 15 anos. Mas a história dele é um pouquinho diferente. Ele não precisou correr atrás da maquininha, que lhe foi oferecida pelo Banco de Brasília (BRB), do qual é cliente. Desde que começou a usá-la, há dois anos, o faturamento cresceu 100%. “O cliente que traz pouco dinheiro, com medo de ser roubado, acaba levando mais coisas quando descobre que pode pagar no cartão”, afi rma.

Com o uso da “maquininha” de cartão de débito e crédito, o faturamento dos artesãos da feira da Torre de Televisão de Brasília cresceu, e bastante. Também livrou muitos feirantes do fantasma do cheque sem fundos.

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SERVIÇOS FINANCEIROS

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Na maioria dos países da América Latina as microfi nanças cami-nham em direção à maturidade plena, sobretudo do ponto de vista institucional e econômico. No Brasil, o grande avanço nos

dois últimos anos foi a entrada de bancos no chamado microcrédito mas-sifi cado. Entretanto, as condições normativas e operacionais das OSCIP e SCM deixaram a desejar, o que se refl ete nos baixos níveis de inovação e de penetração de mercado apresentados por elas.

As Instituições Microfi nanceiras (IMF) latino-americanas já alcançam ní-veis elevados de efi ciência e interação com o mercado. Mas as brasileiras, de modo geral, ainda estão absorvidas com questões operacionais, sobretudo com preocupações como conceder e recuperar empréstimos e alcançar a sustentabilidade. Trata-se de condições fundamentais para a manutenção e o funcionamento das IMF que devem ser superadas em favor do planejamento e da defi nição de estratégias de maior interação com o mercado fi nanceiro e obtenção de recursos para ampliar cada vez mais suas operações.

No Brasil, além das restrições normativas à captação de recursos fi nan-ceiros do público, a evolução das IMF para instituições plenas de mercado tem esbarrado na supremacia da cultura assistencialista, o que pode ser traduzido por uma visão estreita sobre as necessidades dos clientes e as potencialidades de negócio.

A captação de depósitos não tem sido evidenciada pelas IMF como necessidade premente para o fi nanciamento de suas carteiras e melhor atendimento dos clientes. Não se produziram ainda mudanças culturais e normativas que permitam aos operadores modelos jurídicos que os indu-zam a cumprir funções básicas de intermediação fi nanceira.

Esse é um tema que deve ser agenda permanente dos dirigentes de IMF e dos formuladores de políticas públicas que visem ao fomento das atividades de fi nanciamento dos micro e pequenos negócios. A pergunta que se coloca é: Como as IMF poderiam obter funding a partir de seus próprios esforços e não mais depender exclusivamente dos fi nanciamentos das agências e programas governamentais?

O êxito das IMF na América Latina decorre do entendimento de que:• devem cumprir o papel de intermediação no mercado das microfi nan- ças para poder alcançar cada vez mais os seus clientes potenciais;• por defi nição de negócio, não podem depender apenas de capital próprio;• devem conciliar suas estratégias de suprimento de funding com o princípio de que os clientes demandam não só crédito, mas também outros serviços.

CAPITALIZAÇÃO DAS IMF

ESTRATÉGIAS INDEPENDENTES DE FINANCIAMENTO

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culturais e normativas que permitam aos

operadores modelos jurídicos que os induzam a cumprir funções básicas

de intermediação fi nanceira

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Eli Moreno é consultor da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros – Sebrae Nacional

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ESTRATÉGIAS INDEPENDENTES DE FINANCIAMENTO

No caso das IMF brasileiras, o primeiro desafi o é uma ampla reformulação dos conceitos sobre a realidade e as necessidades dos pequenos negócios e, conseqüente-mente, do posicionamento das IMF em relação aos seus clientes. Diante do rigoroso quadro de exclusão, a opor-tunidade de acesso a créditos e a demais serviços micro-fi nanceiros é a grande prioridade do segmento. Somente ganhos de escala e efi ciência operacional podem justifi car a cobrança de encargos inferiores aos do mercado.

O segundo desafi o, também por defi nição de negó-cio, a despeito das restrições legais e difi culdades tecno-lógicas, é colocar na pauta das IMF, de forma defi nitiva, a oferta de serviços microfi nanceiros plenos aos micro e pequenos negócios, a exemplo serviços de depósito (in-clusive poupança), seguros, cartão de crédito e outros.

Integrar para crescerEsses desafi os motivam a construção de parcerias en-

tre IMF e instituições bancárias para a oferta de serviços complementares às necessidades dos micro e pequenos negócios. Nesse particular, além da superação das restri-ções legais e tecnológicas, a vocação e a proximidade das IMF com os clientes são os elementos determinantes. As operações de crédito que transitam pela estrutura tecno-lógica do banco, mediante um simples termo de cessão de crédito, podem viabilizar crédito rotativo e crescente pela entidade bancária à IMF operadora.

Além do acesso a funding, a parceria traz outras van-tagens, como a redução de custos operacionais das IMF e as comodidades das tecnologias bancárias. Nesses ca-sos, com ganhos de escala e geração de superávits, a exemplo do que já acontece na América Latina, as rein-versões devem ser a principal forma de capitalização das IMF, a longo prazo.

Principais fontes de fi nanciamento Estudo realizado pelo BID1 entre as IMF de nove

países latino-americanos com importantes mercados mi-crofi nanceiros (Bolívia, Colômbia, Equador, El Salvador, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai e Peru) aponta e analisa quatro fontes principais de fi nanciamento: de-pósitos, linhas de crédito (apoiadores, governo, bancos e outras fontes), emissão de bônus e emissão de ações.

No fi nal de 2003, as 61 IMF pesquisadas detinham passivos num total de US$ 1,9 bilhão, sendo:• US$ 1,243 bilhão em depósitos, 65% do passivo.• US$ 517 milhões (27%) em empréstimos de fundos de governo, apoiadores, bancos, investidores sociais e outros.• US$ 33 milhões (1,7%) em emissão de bônus.

Embora o estudo seja de 2003, os dados forne-cem referências importantes para as IMF brasileiras que buscam na integração com o mercado fi nanceiro as condições de capitalização. Nesse particular, os de-pósitos de clientes se destacam como a principal fonte de fi nanciamento.

Tendências Na fase inicial, muitas IMF na América Latina (AL)

dependem ainda de subsídios, doações e empréstimos especiais de agências de governo. No entanto, essas alternativas têm se demonstrado insufi cientes no su-primento de suas necessidades operacionais. Na atua-lidade, os depósitos constituem a principal fonte de fi -nanciamento das IMF, o que já sinaliza uma tendência.

Além disso, o patrimônio líquido das IMF pesquisadas alcançava USS$ 376 milhões, equivalentes a 20% do total do passivo, o que vale dizer que as captações permitiram alavancar recursos numa relação de 5 por 1.

1. Felipe Portocarrero, Álvaro Tarazona Y Glenn D. Westley, Como deberían fi nanciarse las instituciones de microfi nanzas?www.iadb.org/sds/mic/index_mic_e.htm, publicações.

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A intensa interlocução entre go-verno, organizações não-go-vernamentais e entidades de

apoio ao empreendedorismo, bancos públicos e privados, além de sistemas cooperativos de crédito, têm produ-zido melhorias no marco legal. Avan-ços que favorecem a maior integra-ção dos operadores de microfi nanças ao sistema fi nanceiro e a superação dos principais obstáculos a essa apro-ximação, como as operacionais e de obtenção de funding.

A resolução 3442 do Conse-lho Monetário Nacional (CMN), de março deste ano, por exemplo, permitiu a contratação de audito-ria independente nos balanços das cooperativas fi liadas às cooperativas centrais, ou por empresa constituída pelas centrais. A maior simetria de informações, gerada por auditorias independentes, abre caminho para a constituição de um fundo único garantidor das cooperativas de cré-dito, possibilitando-lhes ampliar a interação com o mercado.

O consultor do Departamento de Organização do Sistema Finan-ceiro do Banco Central, Marden Marques Soares, aponta também a Lei Geral da Micro e Pequena Em-

Flexibilizações garantem avanços presa, aprovada em 2006, como marco importante para a consoli-dação das microfi nanças no Brasil. “A Lei estimula o crescimento da base de empresas formais, a orga-nização dessas empresas e, conse-qüentemente, estimula também o fortalecimento do ambiente do mi-crocrédito e de acesso ao sistema fi nanceiro”, avalia.

Outra decisão fundamental re-ferente à questão de funding para o segmento foi a criação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO). “Embora o programa ainda não tenha massa crítica para uma avaliação mais pro-funda, as informações que chegam do Ministério do Trabalho e Empre-go indicam que começa a deslan-char”, ressalta.

Fatores inibidoresOrganismos como Banco Mun-

dial (BIRD) têm informado ao Banco Central a difi culdade de justifi car grandes investimentos para a superação da pobreza em um país como o Brasil cujo PIB per capita está entre o dos trinta países mais ricos do mundo, bem acima de países de extrema miséria como

OBRIGAÇÕES DOS BANCOS PREVISTAS NA LEI GERAL

√ Publicar, nos balanços, relatórios dos recursos alocados às linhas de crédito, com justifi ca-tivas para o desempenho alcançado.√ Atender às medidas do Poder Executivo Federal para melhorar o acesso das micro e peque-nas empresas aos mercados de crédito (redução do custo de transação, elevação da efi ciência alocativa, incentivo ao ambiente concorrencial e à qualidade das informações, em especial sobre o acesso e portabilidade das informações cadastrais relativas ao crédito).√ Manter linhas de crédito específi cas para micro e pequenas empresas.√ Divulgar nos orçamentos o montante disponível para o segmento e suas condições de acesso.

Marden Soares – Banco Central

Mar

celo

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Tanzânia, na África, e Haiti, na América Central.

“É como se eles nos dissessem que nosso problema não é de pobreza, é de desarrumação”, afi rma Soares. Isso – explica – pode não ser determinan-te, mas é inibidor do crescimento do apoio internacional. Outro fator é a fa-cilidade com que banqueiros do Brasil, México ou Argentina, países que têm sistemas fi nanceiros bem desenvolvi-dos, conseguem, com um simples te-lefonema, sem custo quase nenhum, ganhar milhões de dólares, na bolsa de Nova York. “Os banqueiros brasilei-ros ainda estão sondando as vantagens de trabalhar com microfi nanças”.

Há os exemplos da Bolívia e do Paraguai, onde o microcrédito já apresentam bons indicadores. Mas,

M A R C O L E G A L

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segundo Soares, trata-se de mer-cados fi nanceiros não tão maduros como o do Brasil. E os banqueiros locais já estavam, desde as crises da década de 90, em um nicho de mer-cado muito próximo do microcré-dito. “Eles só baixaram um pouqui-nho os valores ofertados e entraram com a tecnologia do microcrédito.”

ExpectativaSoluções para os entraves à disse-minação do microcrédito são de

médio e longo prazos, e envolvem apoio às entidades especializadas. O Banco Central acompanha formas de atuação que deram certo e que, de acordo com Soares, precisam ser replicadas pelos demais bancos pú-blicos e outros agentes que atuam nesse mercado.

Uma das experiências bem su-cedidas é a do Crediamigo do Banco do Nordeste, entidade responsável por 50% das operações de micro-crédito do país. Espera-se a volta do

BNDES ao mercado, ainda este ano, inclusive fi nanciando cooperativas de crédito. Deve-se também – diz Soares – estimular o maior envol-vimento dos apoiadores históricos como a Accion Internacional, enti-dade sem fi ns lucrativos que utiliza as microfi nanças como instrumen-to de combate à pobreza e fornece serviços fi nanceiros a microempre-endedores por meio de uma rede de instituições presentes em vários países da América Latina.

Márcia G

outhier/ASN

Compensações da formalidade A partir de 1˚ de julho entra em

vigor o Simples Federal, o sistema unifi cado de recolhimento de im-postos e contribuições federais, es-taduais e municipais, previsto na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. O pagamento feito por meio de uma única via representa uma simplifi ca-ção muito grande e mesmo redução de custos para o segmento.

O Sebrae, governos e outras instituições próximas dos empre-endedores de pequeno porte, como os conselhos regionais de contabi-lidade e as associações comerciais, estão empenhados, desde a aprova-ção da Lei Geral, em dezembro do ano passado, na mobilização nacio-nal por sua regulamentação e pela divulgação de seus benefícios.

Quem já estiver enquadrado como micro ou pequena empresa, ou passar a se enquadrar como tal a partir da formalização, ganha maior visibilidade para o sistema fi nanceiro, além de maiores facilidades para ex-portar, vender bens ou prestar servi-ços à administração pública. Só para enumerar alguns dos benefícios.

As ações de divulgação da Lei Geral têm como foco os 9 milhões

de empreendimentos urbanos que vivem à margem do processo pro-dutivo e comercial ofi cial. Isso por-que expressiva parcela desse total apresenta já faturamento passível de enquadramento como micro ou pe-quena empresa.

Quem tem faturamento e não optar pelo Simples Federal, passa, a partir de 1˚ de julho deste ano, a ser alvo dos órgãos de fi scalização não só em nível federal, como estadual e municipal.

Segundo o secretário da Receita Federal do Brasil, Jorge Rachid, não é papel de um órgão que representa a sociedade ter leniência ou com-preensão com quem pode produzir ou comercilizar dentro da formali-dade e não o faz.

“Nossa atuação está vinculada à lei. Sinceramente, não há razão para uma empresa que fature valores su-jeitos a uma alíquota de 4%, como custo de toda a sua transação, optar por fi car à margem da lei”, afi rma.

E continua: “Não podemos mais considerar, a partir da vigência do Simples Federal, que a questão de ser formal ou não esteja ligada ao ônus tributário. Até porque os con-

tribuintes, além da redução da carga tributária, candidatam-se a outros benefícios que só se concretizarão no âmbito da formalidade.”

Rachid enfatiza que o Simples Federal é um mecanismo, uma fer-ramenta construída para que o con-tribuinte possa bem cumprir sua obrigação tributária. Por isso, para quem insistir em fi car à margem da lei, o risco aumenta.

– Hoje temos a Receita Federal do Brasil, resultado da integração de duas importantes instituições:

Jorge Rachid – Receita Federal

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2 0 M I C R O F I N A N Ç A S2 0 M I C R O F I N A N Ç A S

a Receita Federal e a Receita Previ-denciária. Isso, além de propiciar, de um lado, a racionalização, a re-dução dos custos da administração pública, por outro lado faz aumen-tar o risco para quem não cumprir a obrigação tributária.

“Cada um tem o seu papel: o Estado deve oferecer mecanismos mais simplicados de pagamento de impostos e contribuições; os empre-sários devem cumprir a lei vigente e o consumidor, exigir a nota fi scal,” enfatiza Rachid.

A partir da entrada em vigor do Simples Federal, a fi scalização das micro e pequenas empresas fi cará a cargo da União, dos estados e muni-cípios. Apertar o cerco a quem sonega – segundo Rachid – é o pressuposto da Lei Geral, que ampliou a alterna-tiva para o pagamento simplifi cado de impostos e contribuições. “O pressu-posto é que essa alternativa induza a um grau maior de formalização”.

Razões da informalidade Para o diretor de Administração

e Finanças do Sebrae Nacional, Car-los Alberto dos Santos, a informa-lidade, característica de economias menos desenvolvidas, vai além das questões relacionadas à carga tribu-tária e à burocracia.

É fato – explica – que uma parte dos informais pode e deve se forma-lizar a partir da vigência do Simples Federal. Mas é fato também que a informalidade expressa a baixa pro-dutividade apresentada por impor-tantes setores; a falta ou insufi ciên-cia de políticas sociais, em especial dos seguros desemprego e sistemas de qualifi cação e recolocação de mão-de-obra.

Segundo Carlos Alberto, a in-formalidade não pode ser vista como mal necessário e nem como algo a ser reprimido por ser ilegal. Isso porque pode ser uma questão

social resultado de estratégias de sobrevivência. Pode ser uma ques-tão econômica, levando-se em con-ta a carga tributária e os normativos que difi cultam a formalização ou, ainda, um caso de polícia, quando a atividade exercida é ilegal. Então, a forma de combatê-la precisa aten-tar para essas diferenças.

Com a vigência da Lei Geral – continua – é de se esperar que, à medida que se consolidam os ins-trumentos de facilitação dos regis-tros dos negócios, a forte redução da carga tributária e a simplifi cação do processo de arrecadação, os fi s-cos municipal, estadual e federal passem a ter uma relação mais exi-gente com a informalidade.

A regulamentação e a implemen-tação da Lei Geral vão naturalmente fazer que o Estado brasileiro passe a abordar e olhar os empreendimentos informais com mais atenção. Haverá argumentos para não mais justifi car quem se mantém na informalidade, num contexto em que formalização é possível. Apenas serão tolerados como informais os empreendimen-tos com baixíssimos níveis de pro-dutividade, de faturamento e lucro, estratégicos do ponto de vista da so-brevivência do empreendedor e sua família. “Esses pequenos negócios informais certamente continuarão a existir porque não serão atendidos pelas modifi cações no ambiente pro-dutivo, introduzidas pela Lei Geral”, avalia Carlos Alberto.

O diretor também ressalta que clientes do sistema fi nanceiro, mes-mo de operadores de microcrédito, que se mantêm informais num con-texto não justifi cado, passam a ser caracterizados como concorrentes desleais. E se o negócio tem proble-ma com a fi scalização, passará a ter problema também quem lhe conce-de crédito. O risco da operação con-terá um elemento adicional, que é a

possibilidade de o negócio ser colo-cado em questão, em função do novo quadro, do novo panorama.

– A partir da melhoria do marco regulatório para o empreendedo-rismo, muito das coisas que temos hoje tendencialmente não serão mais aceitas, a sociedade vai pressio-nar: “Se eu pago imposto, por que o meu concorrente não paga?”

Com a Lei Geral, a necessidade de se formalizar passa ser uma ques-tão também posta para os cliente de microfi nanças. Isso – explica Carlos Alberto – para operadores também é bom porque passam a ter uma clien-tela mais organizada. Junto com a formalização surgem diversas outras possibilidades de melhoria da compe-titividade do próprio negócio, como a de fazer parte do elenco de fornece-dores de órgãos governamentais.

Parcela expressiva de informais vai se formalizar e continuar cliente das instituições de microfi nanças, que passarão a contar com mecanismos mais efi cazes, mais efi cientes, mais baratos de análise. Será possível a análise da capacidade de pagamento do cliente a partir da própria tributação

Carlos Alberto dos Santos,diretor do Sebrae Nacional.

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Modelo das SCM em discussão

Apossibilidade de atuação como Sociedades de Crédi-to ao Microempreendedor

(SCM), a partir de 2001, permitiu a ONG ou a OSCIP, operadoras de microcrédito, a adoção de estru-tura formal regulamentada pelo Banco Central. Passados seis anos, são 56 as SCM registradas, 40 de-las operando no Sudeste. A discus-são agora é se o modelo precisa de ajustes para que possam aproveitar as oportunidades oferecidas pelo contexto econômico favorável.

O presidente da Socialcred, SCM que atende a região metropolitana do Rio de Janeiro, e da Associação Brasileira de Sociedades de Crédito ao Microempreendedor (ABSCM), Rubens Andrade, avalia que o mo-delo em vigor precisa ser ajustado. Pesquisa apontou como principal difi culdade, até mais que a de aces-so a funding, o limite de R$ 10 mil para os empréstimos.

Andrade propõe que esse limi-te passe a ser vinculado em até 5% ou 10% ao patrimônio líquido das instituições, se lastreado em linhas comerciais ou em recursos das

próprias SCM. No caso de ope-rações com recursos do BNDES ou captados, segundo o PNMPO, as regras seriam as dos provedores do funding.

As SCM também não podem operar empréstimos para pequenas empresas com receita bruta anual acima de R$ 120 mil. A combinação das duas limitações impede a dilui-ção adequada dos seus custos ope-racionais. “Temos de ter uma gama enorme de clientes e, por outro lado, clientes com potencial de nos dar um retorno maior não podem ser atendi-dos. Precisamos de medidas que nos possibilitem crescer,” diz Andrade.

Para Carlos Ximenez, presidente do Conselho de Administração da Microinvest, criada em 2003, uma parceria do Unibanco com o Inter-national Finance Corporation (IFC), as mudanças devem ir além dos li-mites dos empréstimos. A estrutura de contabilização e de demonstra-ção exigidas pelo Banco Central – afi rma – ainda é muito onerosa.

Demonstrativo simplifi cado“Há um aparato numérico e de

estrutura contábil que deveria ser respondido pelas SCM conforme fossem evoluindo suas metas de atendimento”. Isso porque os ban-cos precisam de projeções consis-tentes de rentabilidade.

Segundo Ximenez, é possível um sistema mais simplifi cado e mais ba-rato de demonstrações porque as SCM oferecem a segurança da es-trutura formal, supervisionada pelo Banco Central. Além disso, pro-põem-se de saída, a operar em rede, a atender um público maior.

Normas ainda atrativasA Finsol, grupo de origem mexi-

cana, que começou a operar no Bra-sil em abril deste ano como OSCIP, pretende se transformar em SCM, informa seu diretor de Relações Institucionais, Valdi Dantas.

“Como temos um projeto am-plo, de atuação com cobertura na-cional, e como se trata de um grupo de investidores, precisamos ter uma fi gura jurídica bem defi nida, sobre-tudo do ponto de vista patrimonial e de governança, sob supervisão do Banco Central,” esclarece.

Outro ponto importante: as SCM têm capacidade maior de mo-bilização de recursos para emprés-timos, via investidores e mercado fi nanceiro. Como SCM, a Finsol planeja atuar em várias linhas de microfi nanças.

Pretende dar ênfase ao crédito solidário por meio dos bancos co-munitários e dos grupos de empre-endedores. A proposta é alcançar os pequenos negócios, a maioria na in-formalidade, com uma atuação mais forte nas cidades do interior, inclu-sive nas comunidades rurais.

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Rubens Andrade – Socialcred/ABSCM

Marcelo Barbosa

Valdi Dantas – Finsol

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2 2 M I C R O F I N A N Ç A S

Por menor que seja o negócio,em algum momento, vai precisar de recursos de terceiros.

Davi

Zoc

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“O PNMPO está cum-prin-do a função de contri-buir para o aumento da

confi ança do sistema fi nanceiro nesta ferramenta de ampliação de recursos para os empreendedores, principal-mente os que labutam na informalida-de”, avalia o coordenador do programa, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, Almir Pereira. “O programa aposta no microcrédito como fator de promoção do faturamento dos empre-endedores, indutor de formalização de seus negócios”, acrescenta.

Aposta em trabalho integrado

O estabelecimento de relações de confi ança é fundamental para a construção de um fl uxo perma-nente de recursos das instituições fi nanceiras tradicionais, públicas ou privadas, para operadores de microcrédito (OSCIP, SCM ou co-operativas de crédito). São alter-nativas de funding para operações de microcrédito tanto os repasses feitos pelo BNDES, no âmbito do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), quanto os das chamadas exigibilidades bancárias (dois por-

cento dos depósitos à vista capita-do pelas instituições fi nanceiras).

Os bancos podem trabalhar com microcrédito orientado de forma direta ou repassando recursos para OSCIP e SCM já com carteiras ro-bustas de clientes. O PNMPO faci-lita a integração desses operadores ao sistema fi nanceiro porque lhes garante não apenas funding, mas também apoio técnico. O objeti-vo é o fortalecimento institucional dos prestadores de serviços micro-fi nanceiros aos empreendedores.

Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado aproxima instituições fi nanceiras e operadores de microcrédito por meio de estratégias de provimento de funding e de qualifi cação

P N M P O

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M I C R O F I N A N Ç A S 2 3 M I C R O F I N A N Ç A S 2 3

Almir PereiraCoordenador do PNMPO

Mais transparência O grau de relacionamento entre

banco e OSCIP depende da trans-parência que estas imprimem a suas operações fi nanceiras e admi-nistrativas. Por isso a importância da padronização do plano de con-tas aprovado em 2006 por 58 ins-tituições vinculadas ao programa. Foram mais de seis meses de pes-quisa de um modelo de aplicação simples, mas que lhes conservasse a cultura contábil.

Com a padronização, a contabi-lidade das OSCIP de microcrédito poderá resultar em indicadores que permitirão a análise do segmento e de seu potencial. A partir deles, in-vestidores públicos e privados pode-rão avaliar os impactos dos repasses feitos e constituir ou ampliar parce-rias com essas organizações.

Das 234 instituições de micro-fi nanças habilitadas pelo PNMPO até 30 de abril deste ano, 95 são OSCIP. As cooperativas de crédito chegaram ao programa em 2006. Hoje são 112 habilitadas. As ins-tituições de microcrédito, inclusi-ve as SCM, operam 4.039 postos de atendimento.

Para ampliar a abrangência do PNMPO, também foram feitas al-

terações em resoluções do Conse-lho Deliberativo do FAT (Codefat) e do Conselho Monetário Nacional (CMN). Entre elas, a que impunha taxas diferenciadas de 1% a 3% para abertura de crédito. Foi fi xada taxa única de 3%. Também mudou a nor-ma que limitava em 20% das aplica-ções os empréstimos entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. As instituições de micro-fi nanças podem trabalhar com os mais variados valores. Esse controle não fazia sentido, a partir da consta-tação de que grande volume de ope-rações está na faixa de R$ 2 mil.

PDI sai do papelPara Almir Pereira, ainda há

espaço para aperfeiçoamentos no marco regulatório. Em 2007, avalia, o Plano de Desenvolvimento Ins-titucional (PDI) sai do papel para promover mudanças que contribu-am para sustentabilidade das IMF, cujo raio de ação, na grande maioria dos casos, ainda está limitado à in-termediação dos empréstimos. Há uma gama de serviços que as ins-tituições de microcrédito do Brasil ainda não oferecem, diferentemente de países como Bolívia, Colômbia, Equador, onde fazem captação de poupança, oferecem microsseguros e outros produtos.

Flexibilizar as regras do micro-crédito produtivo é apenas uma das realizações previstas no PDI, que só está sendo ativado agora, depois de 10 anos de criação. Isso está sendo possível porque o PNMPO passou a responder pela adminis-

tração do convênio BNDES e o Ministério do Trabalho e Emprego, derivado do que havia sido assina-do entre o BNDES e o Banco In-teramericano de Desenvolvimento (BID). Foi concluído no início de maio, o processo de licitação das cinco empresas que vão, no âmbito do programa, realizar um diagnós-tico do segmento e a formação de 1,1 mil agentes de crédito e núme-ro igual de gestores.

Parcerias estratégicas O Banco Popular do Brasil é

um dos exemplos da aposta que algumas instituições fi nanceiras de grande porte estão fazendo em uma atuação mais intensiva em mi-crocrédito produtivo, por meio de parcerias com os operadores tra-dicionais do produto, as OSCIP e SCM, e agora também com as cooperativas de crédito. As parcerias se dão por meio de convênios que permitem aos bancos disponibili-zar aos operadores, além de funding, estrutura tecnológica necessária à oferta dos mais variados produtos e serviços fi nanceiros essenciais:

Assessoria MTE

M I C R O F I N A N Ç A S 2 3

A padronização poderá resultar

em indicadores que permitirão a análise

do segmento e de seu potencial „

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2 4 M I C R O F I N A N Ç A S

conta simplifi cada, cartões de débi-to/crédito, seguros populares, paga-mentos de contas, entre outros.

Bom negócioO Banco Popular entrou fi r-

me no microcrédito de uso livre (não necessariamente em atividades empreendedoras) desde o início de suas operações, em 2004, por considerá-lo “um bom negócio”. E já começou, inclusive, colocan-do à disposição da sua clientela a tecnologia de ponta do sistema fi -nanceiro – transações on line, por exemplo –, adquirida do próprio Banco do Brasil. Buscou, para isso, formar uma rede abrangente e efi -ciente de 2,7 mil correspondentes bancários: farmácias, mercadinhos, padarias, entre outros tipos de co-mércio varejista.

Segundo o presidente da institui-ção, Robson Rocha, “foi uma opção estratégica do conglomerado Banco do Brasil em operar com o público de menor renda, sabendo que esse público estará consumindo cada vez mais produtos e serviços bancários”. Ele está convicto que a economia vai continuar crescendo e que o banco precisa estar cada vez mais preparado para atrair esse segmento.

A partir da implementação do PNMPO, a aposta em parcerias com cooperativas de crédito e ins-tituições microfi nanceiras tem de-monstrado resultados compensa-dores, visto que permite ao banco,

mesmo de forma indireta, alcançar o maior número possível de mi-cro e pequenos empreendimentos. Isso só é possível pelas vantagens advindas da cooperação: recursos, capilaridade e tecnologia bancária aliados à expertise e ao relaciona-mento das instituições microfi nan-ceiras com seus clientes.

Estratégias consistenteA expectativa é que o Banco Po-

pular comece a “trabalhar no azul”, a partir deste ano. Embora tenha apresentado resultado negativo em 2006, ele foi 35% menor que o de 2005. O grande trabalho, no ano

Divu

lgaç

ão

Parcerias com bancos públicos e privados permitem aos operadores de microcrédito, além de acesso permanente a funding, simplifi cação de procedimentos; redução dos custos operacionais; ampliação da

carteira de clientes e maior oferta de produtos e serviços.

passado, foi o de dar maior con-sistência às estratégias do banco a partir da qualifi cação de uma rede de atendimento; revisão do porti-fólio de serviços, deslocando-se o olhar para o microcrédito produ-tivo orientado e alterando a forma de concessão do crédito de uso li-vre, com a aplicação da metodologia do “credit score” comportamental, com atenção individual aos clientes. “Em 2007 será consolidada a visão do Banco Popular como um inves-timento do Banco do Brasil, da so-ciedade e também do governo para a popularização das microfi nanças”, enfatiza Robson Rocha.

Robson Rocha, presidente do Banco Popular do Brasil, ao lado de cliente do posto de atendimento da Região Administrativa Estrutural - DF

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M I C R O F I N A N Ç A S 2 5

Produto de prateleira A Caixa Econômica Federal

(CAIXA) estrutura-se para traba-lhar com microcrédito produtivo, por meio de sua rede nacional de agências e correspondentes bancá-rios. Para isso constrói parcerias com operadores tradicionais de produ-tos, OSCIP, SCM e cooperativas de crédito e com instituições públicas e privadas apoiadoras do segmento de pequenos negócios para identifi cação e qualifi cação da demanda.

A meta é estar, até o fi nal de 2007, com o microcrédito produ-tivo em todas as cidades brasileiras. Para isso, cada uma das 78 superin-tendências regionais da CAIXA terá de ter estabelecido convênio ope-racional com pelo menos um ope-rador tradicional de microcrédito. Além disso, será disponibilizada a linha de microcrédito de balcão, produto que está sendo formata-do em parceria com o Sebrae, que

terá o papel de também certifi car os operadores que contarão com repasses do FAT.

Sérgio Amandio, gerente na-cional de Microfi nanças e Penhor, informa que atualmente a CAIXA trabalha no microcrédito produtivo com 11 conveniadas, todas OSCIP. O número ainda é pequeno, mas uma série de medidas vem sendo tomada desde o segundo semestre do ano passado, para dinamizar e ampliar as parcerias. A instituição, que vinha operando somente com a modalidade de mandato, abriu a possibilidade de contratações via repasse. E projeta para este ano mais de R$ 700 milhões em opera-ções de microfi nanças. São R$ 687 milhões para as operações sem des-tinação específi ca. Em 2006 foram R$ 526,8 milhões.

Para o microcrédito produtivo orientado são R$ 13 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador

(FAT), quantia signifi cativamente maior que os R$ 3,09 milhões dis-ponibilizados aos empreendedores no ano passado.

A carteira de microfi nanças sem destinação específi ca tem na sua base 537 mil clientes e um sal-do de R$ 123 milhões. Os princi-pais produtos são o micropenhor e o Crédito Fácil Caixa Parcelado,

QUALIFICAÇÃO E SEGURANÇA PARA CRESCER Convênio de cooperação técnica entre o Banco Popular e o Sebrae prevê o desenvol-

vimento de estratégias que contribuam para o fortalecimento do empreendedorismo em todo o país, por meio da ampliação da oferta e da identificação da demanda por produtos e serviços financeiros.

O Sebrae entra nessa parceria, no âmbito do PNMPO, com a missão de formar e qualifi car uma rede nacional de instituições fi nanceiras que opere o microcrédito com o Banco Popular. Essa qualifi cação favorecerá a integração operacional fi nanceira e tec-nológica entre o banco e seus parceiros que certamente ampliará de forma consistente e considerável as respectivas bases de clientes.

Banco Popular e Sebrae discutem, no momento, a construção de um fundo garanti-dor dos repasses do banco para os operadores de microcrédito. Estima-se que R$ 850 milhões de recursos destinados ao microcrédito (de uso livre ou produtivo) estejam atualmente ociosos por falta de mecanismos dinâmicos e seguros que estimulem os repasses dos recursos dos bancos – advindos das exigibilidades bancárias (2% dos depósitos captados à vista) – para operadores tradicionais do produto.

Segundo o consultor do Sebrae Nacional, Eli Moreno, o novo fundo, devidamente regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), poderá dar uma nova dinâmica ao mercado, visto que, ao lado de uma maior qualifi cação dos operadores, permitirá maior conforto ao banco para trabalhar inclusive com recursos de outras instituições fi nanceiras.

Assessria CAIXA

Sérgio Armandio – CAIXA

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2 6 M I C R O F I N A N Ç A S2 6

Os empreendedores Ana de Freitas, Inácio Divino, Maria Alves e Francisco Carneiro, clientes

do Crediamigo, fi rmam contrato durante a Feira do Empreendedor do DF

Maio/07

Márcia G

outhier/ASN

2 6 M I C R O F I N A N Ç A S

CREDIAMIGO CHEGA AO DFCom atuação nos nove estados do Nordeste, no norte de Minas Gerais, no Espírito Santo e recentemente

também no DF, o Crediamigo, o programa de microcrédito do Banco do Nordeste, oferece empréstimos iniciais entre R$ 100 e R$ 2 mil. Nos moldes do PNMPO, os fi nanciamentos também podem ser renovados e evoluir até R$ 8 mil, dependendo da capacidade de pagamento e estrutura do negócio.

Para conseguir o empréstimo, o cliente deve ter uma atividade estabelecida de pelo menos um ano e apre-sentar carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. O atendimento ao cliente pode ser feito no próprio local do empreendimento e o empréstimo é liberado de uma só vez em, no máximo, sete dias úteis após a sua solicitação.

O Crediamigo facilita o acesso ao crédito a empreendedores que desenvolvem atividades relacionadas à produção, à comercialização de produtos e à prestação de serviços. Associado ao crédito, o programa oferece aos empreendedores acompanhamento e orientação para aplicação dos recursos e para integrá-los de forma competitiva ao mercado.

Uma das vantagens do Crediamigo é a metodologia de aval solidário, que dispensa a presença do avalista convencional e resolve um problema crucial para o acesso ao crédito: o da falta de garantias. O grupo de empreendedores benefi ciados assume a responsabilidade conjunta no pagamento das prestações. Um é avalista do outro.

com empréstimos limitados em mil reais. Com a parceria do Se-brae e as melhorias no marco le-gal, a tendência é de ampliação da oferta do microcrédito produtivo, nas suas duas modalidades. Pelo sis-tema de mandato, a Caixa contrata as instituições para emprestar em seu nome. As IMF são remuneradas

pela prestação do serviço com parte da taxa de juros cobrada do cliente. Pelo sistema de repasse, a metodo-logia e os critérios de avaliação do empreendimento e de concessão de empréstimos são os da IMF.

Entre as melhorias no ambiente das microfi nanças nos últimos anos, Sérgio Amandio aponta o plano de

contas único para as OSCIP que fa-cilita a análise das instituições por parte dos repassadores de recursos, resultado da implementação do PNMPO. “O programa com certe-za veio para fomentar o microcré-dito. Trata-se de um importante instrumento de política pública para a geração de emprego e de

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M I C R O F I N A N Ç A S 2 7

combate à pobreza”, avalia. Mas ainda são grandes, segundo ele, os desafi os que devem ser superados para que haja engajamento efetivo das instituições fi nanceiras, princi-palmente dos bancos privados, nas operações de microcrédito. Um deles é a inadimplência, ainda alta. Outro é o de se operar com insti-tuições que usam metodologias di-ferentes de governança, de gestão, o que pulveriza, aumenta o risco. “São desafi os que podem ser en-frentados com maior capacitação das instituições fi nanceiras, opera-dores de microcrédito e dos em-preendedores. Também é preciso disseminar alternativas criativas de avais nas operações com os empre-endedores, como o aval solidário.”

Nova onda de esforçosPara Carlos Ximenes, da Mi-

croinvest, braço microfi nanceiro do Unibanco, é visível o esforço conjun-to do governo e dos agentes econô-

micos para a criação e a implantação do PNMPO. O programa, avalia, re-almente abre novos caminhos para a disseminação do microcrédito pro-dutivo. Pondera, entretanto, que será preciso uma nova onda de esforços para fazer o grande encontro entre provedores e tomadores.

Todos os programas, quando são lançados, explica, têm pontos que precisam ser aprimorados. Por isso ele não tem dúvida de que aperfei-çoamentos acontecerão ao longo do tempo. Os esforços empreen-didos até o momento pelos diver-sos atores, se ainda não mostram resultados importantes, devem en-corajar-nos a potencializá-los, para que o segmento ganhe a muscula-tura necessária. Só assim a base da pirâmide empresarial, formada por micronegócios e empreendedores, poderá perceber que o microcrédi-to tem virtudes que devem ser in-corporadas como práticas usuais no fortalecimento de suas atividades.

Simplifi cação tributáriaSegundo Ximenez, a informali-

dade é um entrave à atuação mais forte dos bancos no segmento. Por isso, a importância da implemen-tação da Lei Geral da Micro e Pe-quena Empresa. “Seja na parte legal, na parte tributária ou trabalhista, se não tivermos procedimentos muito mais simplifi cados, o empreendedor não será atraído para a formalização seu negócio. E a não-formalização signifi ca estar à margem de pro-cessos ofi ciais importantes como o pagamento dos impostos devidos”, afi rma Ximenez.

O PNMPO, ao incentivar a atu-ação conjunta entre bancos e insti-tuições microfi nanceiras, é um re-forço a mais ao ambiente favorável aos pequenos negócios. “A simplifi -

Os esforços empreendidos até o momento pelos

diversos atores, se ainda não

mostram resultados importantes, devem

encorajar-nos a potencializá-los,

para que o segmento ganhe a musculatura

necessária„

Carlos Ximenes – Microinvest/Unibanco

Marcelo Barbosa

cação tributária, embutida na lei é, sem dúvida, um grande passo para a formalização, importante não só porque o empreendedor vai pagar menos impostos, mas principal-mente porque vai se sentir prote-gido, vai se sentir atendido com maior clareza pelos fornecedores de crédito.” – enfatiza Ximenez.

“A informalidade dos negócios é uma das razões, aqui no Uniban-co, das dificuldades de avaliarmos a concessão de crédito. O empre-endedor não tem registros que possam nos permitir acompanhar seus movimentos de vendas, de compras, de seu passivo efetivo”, acrescenta. Ainda de acordo com Ximenes, para a formalização da economia ganhar impulso é pre-ciso também enfrentar a questão trabalhista. “Sabemos que o mi-croempresário não tem condições de arcar com os todos os custos inerentes, hoje, a um contrato de trabalho.”

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2 8 M I C R O F I N A N Ç A S

Már

cia G

outh

ier/A

SN

Podemos dizer que rede é uma forma organizacional, identifi cada em diversos segmentos, com vistas a realizar atividades de interesse co-mum ao grupo de associados e permitindo que eles se concentrem

em suas atividades-fi ns, ou seja, no seu core business empresarial, tornando-os, assim, mais competitivos.

Entre as principais vantagens de trabalhar em rede podemos citar: melhoria da produtividade; redução de custos; poupança de recursos; acesso a novos mercados; acesso a novas tecnologias; ampliação do aces-so à mão-de-obra e a fornecedores; aumento do poder de barganha nas compras e comercialização; troca de experiências; maior acesso e padro-nização das informações; melhoria da reputação do setor; maior acesso a instituições e programas governamentais; além de uma maior articulação junto aos órgãos normativos.

Existem diversos conceitos estruturados de Redes de Empresas, no entanto, dois modelos merecem ser especialmente registrados: o topdown e o consórcio. No primeiro, as empresas fi liadas acabam se tornando fornecedoras da empresa-mãe e, de alguma forma, possuem pouca fl exi-bilidade e alto grau de dependência. No segundo modelo há uma maior fl exibilidade das fi liadas, que se unem para administrar e planejar estra-tégias de negócios. Dizer qual é o mais adequado para as microfi nanças no Brasil ainda é bastante precipitado, já que este conceito está em fase de consolidação e implementação.

Se por um lado o modelo topdown tem maior agilidade e facilidade deci-sória, pode enfrentar o problema da regionalização relacionados aos aspec-tos culturais e metodológicos da gestão creditícia. Já o segundo enfrenta, como um de seus maiores desafi os, a governança e o compartilhamento metodológico customizado para o atendimento massifi cado.

Entre os modelos existentes no Brasil podemos citar a Rede CEAPE e a ANDE como os mais avançados. Também podem ser ressaltadas experiên-cias ainda carentes de estruturação mais adequada e sistêmica nos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nos países da América Latina e do Caribe, esse conceito já é uma prática habitual e o modelo mais utilizado é a forma de consórcio. Entretanto, o modelo topdown também apresenta casos de sucesso.

ATUAÇÃO EM REDES

FATOR DE COMPETITIVIDADE PARA AS IMF

“Entre as principais vantagens de

trabalhar em rede estão: melhoria da

produtividade; redução de custos; poupança de recursos; acesso a novos mercados e a novas tecnologias

C H R I S T I A N O M A RT I N S S A L E S

Christiano Martins Sales é consultor externo do Sebrae Nacional

a r t i g o :

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M I C R O F I N A N Ç A S 2 9

FATOR DE COMPETITIVIDADE PARA AS IMF

Para se estabelecer os conceitos estruturados de Re-des de Instituições de Microfi nanças deve-se, primei-ramente, diagnosticar a atuação dos participantes para compreender, de forma sistêmica, as principais fortalezas e fraquezas individuais e só assim estabelecer os objetivos comuns e estratégicos a ser alcançados. Outro aspecto de suma relevância é inserir a cultura cooperativista na ges-tão organizacional tanto em nível de conselho quanto de executivo, como forma de estímulo à integração, tendo em vista que cooperar é a base da operação da rede.

Em pesquisa realizada pelo Sebrae em março de 2006, verifi cou-se que nas 15 redes pesquisadas na América Latina e no Caribe os objetivos estratégicos mais comuns são os de representação política institu-cional e de fortalecimento e integração das associadas. Fato é que a lógica de trabalho em rede aprimora de for-ma decisiva os resultados globais, tendo em vista todas as vantagens já citadas anteriormente, levando também a uma atuação mais consciente e efi caz de potenciais parceiros e fornecedores.

Outro fator a ser observado é que nem sempre as associadas possuem padrões semelhantes de tamanho, comportamento e efi cácia e o que pode, caso o concei-to de cooperação não esteja totalmente internalizado, difi cultar o estabelecimento de um conceito unifi cado e de utilidade sistêmica.

Outro ponto-chave da existência de uma rede é a sua sustentabilidade. Também nas redes pesquisadas pelo Sebrae notou-se que as remunerações apresentam quatro conceitos básicos: a taxa de ingresso de associa-dos, a remuneração sobre o valor da carteira ativa de cada associado e a prestação de serviço de forma mais ampla. Mas devemos levar também em consideração que a melhor estratégia a ser utilizada é a prestação de serviços, que deve se tornar gradativamente mais sistê-mica e competente a fi m de melhorar a competitividade de todo o segmento e sua perenização consciente.

Abaixo, os principais serviços oferecidos e utilizados pelas fi liadas à REDECAMIF (rede das redes de institui-ções de microfi nanças).

DESCRIÇÃO % QUE DISPONIBILIZA

Capacitação para dirigentes, executivos, administradores e técnicos 100%

Encontros regionais e nacionais 100%

Interação e comunicação interna entre todos os associados 100%

Seminários 100%

Assistência técnica e fi nanceira 60%

Desenvolvimento de página na WEB, integrando todas as associadas 20%

Fortalecimento dos sistemas de informações contábeis 20%

Criação e interferência no marco regulatório 20%

PRODUTOS E SERVIÇOS

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3 0 M I C R O F I N A N Ç A S

Um dos desafi os enfren-tados pelas instituições microfi nanceiras é o de

ganhar escala para reduzir seus cus-tos operacionais. Para isso, além de convênios com os bancos tradicio-nais para obtenção de funding e de novas tecnologias de atendimento, precisam também se estruturar em rede, operar de forma associativa para maior penetração de mercado.

Um exemplo bem-sucedido no Brasil de rede de microfi nanças é o da Agência Nacional de Desenvolvimen-to Microempresarial (ANDE), vin-culada à Visão Mundial, que atua em mais de 100 países, principalmente na África e na América Latina. Criada em 2004 e qualifi cada como OSCIP, a ANDE trabalha em parceria com as-sociações comunitárias, cooperativas de produtores, pequenas organiza-ções não-governamentais fi nanceiras, igrejas, agências de fomento e desen-volvimento, bancos privados, órgãos governamentais e empresas privadas.

A instituição está presente em seis estados nordestinos e em três regiões de Minas Gerais (norte, Vale do Jequitinhonha e centro) e, a cada ano, atende em torno de 25 mil novos clientes.

A diretora executiva da ANDE, Elza Fagundes Feitosa, avalia que o modelo de rede pressupõe trabalho coordenado e integrado, obedecen-do a indicadores de desempenho, levando-se em conta uma estratégia global. “Hoje a ANDE integra dife-rentes atores, diferentes interlocu-ções com o mesmo fi m: o enfrenta-mento da pobreza”, explica.

Efi ciência na prestação de serviços As redes podem nascer de ini-

ciativas de uma única organização, como foi o caso da ANDE, ou então do propósito de diferentes atores ou organizações. Devem ter direciona-mento estratégico e ordenar suas ações de forma que possam prestar com efi ciência e efi cácia serviços microfi nanceiros.

Consolidação Criada a rede, vem o desafi o da

consolidação. O êxito depende de diversos fatores. Entre eles, uma governança forte e presente no di-recionamento estratégico da orga-nização; recursos humanos adequa-dos e comprometidos com a missão organizacional e a transparência nos processos operacionais.

“Em redes, as organizações de microfi nanças têm a possibilidade de potencializar seus recursos sob diferentes perspectivas”, como a re-dução dos custos, diz Elza Fagundes. Ela destaca o uso do conceito de “base de serviços”, muito comum nas cooperativas. “Fazendo uso de tecnologias já existentes, como sis-temas de informação, serviços ban-cários e serviços de comunicação à distância, a organização consegue imprimir efi ciência, segurança e re-duzir os altos custos naturais de uma operação de microcrédito”.

Vantagens A atuação em redes – avalia a

diretora executiva da ANDE – traz vantagens não só para as institui-ções microfi nanceiras, mas princi-palmente para sua clientela: aten-dimento mais ágil, ampliação da oferta de serviços e produtos. Os benefícios são consideráveis, prin-cipalmente em casos de redes pen-sadas para as populações de baixís-sima renda.

A ANDE busca o fomento da economia popular solidária, o re-forço dos processos de produção, comercialização e o incremento dos pequenos negócios dentro das comunidades. “Buscamos estimu-lar a justiça social, contribuindo para o acesso dos mais pobres a serviços microfi nanceiros. Temos responsabilidade com o meio am-biente e com as gerações futuras destes empreendedores, os jovens, adolescentes e crianças”.

A instituição está presente em seis estados nordestinos e em três regiões de Minas Gerais (norte, Vale do Jequitinhonha e centro) e, a cada ano, atende em torno de 25 mil

A diretora executiva da ANDE, Elza Fagundes Feitosa, avalia que o modelo de rede pressupõe trabalho

do a indicadores de desempenho, levando-se em conta uma estratégia

Ela destaca o uso do conceito de “base de serviços”, muito comum nas cooperativas. “Fazendo uso de tecnologias já existentes, como sis-temas de informação, serviços ban-cários e serviços de comunicação à distância, a organização consegue imprimir efi ciência, segurança e re-duzir os altos custos naturais de uma operação de microcrédito”.

Assessoria ANDE

“O modelo de rede pressupõe trabalho coordenado e integrado, obedecendo a indicadores de desempenho, no contexto de uma estratégia global.”Elza Fagundes – ANDE

A N D E

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MICROCRÉDITO + CELULAR + INTERNET = SOU LIGADO

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A parceria entre a Visão Mundial e a operadora de telefonia TIM Nordeste, mostra o potencial de uma atuação abrangente na área de microfi nanças. Mostra também como a tecnologia pode estar a serviço da inclusão social e produtiva, com impactos rápidos nas vidas de famílias e da comunidade em geral. Permitiu que o mirocrédito, um instrumento tradicional de apoio a empreendedores informais, ganhasse aliados de peso: o celular e a internet.

O Projeto SOU LIGADO pode ser sintetizado como um centro de oportunidades ao empreendedor e também como espaço comunitário que permite acesso ao microcrédito produtivo, a serviços de comunicação e informa-ção; à qualifi cação profi ssional e à educação para a cidadania, possibilitando geração e/ou complementação de renda, incremento de negócios e protagonismo comunitário sob a perspectiva da economia solidária.

O Projeto Piloto, com duração de dois anos, benefi cia empreendedores dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, da Região Metropolitana do Recife/Caruaru e do Agreste Pernambucano. As informações compartilha-das possibilitam o incremento dos seus negócios, demonstrado por meio da ampliação do mercado consumidor, do volume de vendas, da competitividade, da redução de custos e melhoria dos serviços e produtos ofertados.

Para a empreendedora Maria do Monte, que lida em um salão de beleza, o celular permitiu agendamento da clientela e compra de produtos.

Com o celular e a internet, Manoel Antônio das Neves, o Neco, pesquisa o melhor preço entre fornecedores e ainda espalha novidades para a clientela.

A internet deixou o mundo maior para Amaro de Lucena, dono de mercearia, sempre atento as informações que possam melhorar seu negócio.

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O encontro para o plane-jamento estratégico do Centro Nacional de Apoio

aos Pequenos Empreendimentos (CEAPE), realizado no fi nal de maio em Brasília, juntamente com o Sebrae, é um marco do ponto de vista da reestruturação da rede e de seu ordenamento, propósitos, conceitos de trabalho e, principal-mente, da identifi cação, formula-ção e posicionamento de metas. O CEAPE está presente em oito esta-dos, entre eles Maranhão, Pernam-buco, Paraíba e Goiás.

“A partir desse planejamento, o CEAPE sai de uma perspectiva de microcrédito para a de microfi -nanças, o que lhe dará mobilidade operacional para trabalhar também com outros serviços importantes

Planejamento estratégico para crescer

REDE

NEGÓCIO

MISSÃO

VALORES

ANÁLISE AMBIENTAL

Interna (F/F) Externa (A/O)

VISÃO

OBJETIVOS

ESTRATÉGIAS

GESTORA DA COOPERAÇÃOGRUPO (UFs)

NEGÓCIO

MISSÃO

VALORES

ANÁLISE AMBIENTAL

Interna (F/F) Externa (A/O)

VISÃO

OBJETIVOS

ESTRATÉGIAS

para uma clientela que cada vez mais se organiza, como cartão de crédito, conta poupança e seguro”, avalia o presidente da rede, Sando-val da Mata.

O reposicionamento estratégico da rede resultará, certamente, em vantagens para todos: instituição, clientes e população em geral. “À medida que tem um maior número de clientes, maior capital fi nancei-ro e patrimônio, aumenta o poder de barganha da rede com parceiros, fornecedores, entidades provedoras de funding”, explica.

O fortalecimento de atuação do sistema CEAPE como rede é o grande objetivo do convênio de cooperação geral assinado com o Sebrae Nacional. O encontro reali-zado em Brasília, na última semana

de maio, encerra uma das fases do processo de planejamento estraté-gico que começou nos estados com o diagnóstico em cada uma das oito unidades do CEAPE.

O diagnóstico foi feito para co-nhecer as características de cada CEAPE, a forma de funcionamento, os indicadores de desempenho e as características do ponto de vista or-ganizacional, o que fundamentou a proposta de planejamento estratégi-co da rede como um todo.

Para o planejamento estratégi-co da rede, uma equipe de con-sultores externos fez o core business – defi nição do negócio, missão, va-lores, análise ambiental interna e externa, buscando entender as for-ças, as fraquezas , oportunidades e ameaças referentes a cada um dos CEAPE. Somente após a conclusão dessas duas etapas é que foi ini-ciado o processo de planejamento estratégico da rede como um todo – pelo grupo de representantes da rede e pela gestora do convênio de cooperação, o CEAPE Nacional. Foram traçados, então, três gran-des objetivos, baseados em fatores como potencialidade de cresci-mento e capilaridade.

Para a conquista dessas metas, consideradas ousadas, o sistema conta com perspectiva de pleno funcionamento, impulsionado pelo planejamento estratégico e pela ampliação da rede de parceiros que está sendo construída no bojo do reposicionamento estratégico.

O CEAPE, por se tratar de uma OSCIP, não pode operar com ou-tros serviços fi nanceiros. Mas pode

ESQUEMA DOS CONTEÚDOS ESTRATÉGICOS DA REDE CEAPE

C E A P E

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M I C R O F I N A N Ç A S 3 3

Márcia G

outhier/ASN

fazer parcerias com instituições fi -nanceiras tradicionais que apóiam o segmento, dando amplitude de resultado, de atendimento ao cliente que precisa não só de em-préstimo, mas também de outros serviços fi nanceiros que estão no escopo da atividade do micro e pe-queno empresário. A forma como essa parceria vai se dar, a constitui-ção jurídica dessas parcerias estão em fase de estudo.

O planejamento estratégico para a rede CEAPE prevê nova eta-pa com foco, novamente em cada uma de suas unidades. Primeiro, para análise de conformidade com o planejamento estratégico da rede e de interatividade com a Gestora da Cooperação para traçar objeti-vos específicos de cada unidade, que seguirá o modelo nacional. Segundo, para traçar estratégias localizadas importantes para ade-quar as ações à realidade local e

OBJETIVOS DA REDE CEAPE• Ampliar a carteira de clientes ativos de 40 mil atuais (dados de abril de 2007) para 150 mil em 2012, assim distribuídos:

CEAPE Sergipe – 5.110 para 15 mil CEAPE Paraíba – 3.240 para 13 milCEAPE Pernambuco – 3.666 para 10 milCEAPE Bahia – 2.967 para 7 milCEAPE Piauí – 5.653 para 22 milCEAPE Goiás – 1.632 para 5 milCEAPE Rio Grande do Norte – 1.917 para 4 milCEAPE Maranhão – 15.507 para 74 mil

• Obter esultado líquido de 5% sobre a receita a partir de 2011. Trata-se de um objetivo uniforme. Não defi ne meta específi ca diferenciada para cada CEAPE.

• Obter um índice de 80 % de satisfação de clientes in-ternos e externos, a partir de junho de 2008. Esse obje-tivo traz conceitos fundamentais para microfi nanças, o da orientação adequada e o do acompanhamento do cliente.

OBJETIVOS DA GESTORA • Promover e participar na formu-lação de propostas nacionais so-bre políticas para o segmento de microfi nanças.

• Disponibilizar produtos e meto-dologias que visem à melhoria do atendimento dos clientes, redução de custos e riscos.

• Promover e gerir recursos de coo-peração técnica e fi nanceira perante instituições públicas e privadas na-cionais e internacionais.

• Buscar parcerias nacionais e internacionais visando ao acesso à capitalização para a rede.

• Promover a interação e a coope-ração dos associados.

às características diferenciadas de cada mercado.

O Workshop Estratégico da Rede CEAPE contou com a participa-ção dos três níveis organizacionais – presidência, diretoria executiva e representantes das gerências. Abor-daram-se tanto a parte estratégica

quanto a executiva e operacional, dando grande amplitude ao proces-so. Na primeira etapa, nos estados, houve participação de 200 pessoas. Um grupo de representantes de cada estado esteve em Brasília para a formulação conjunta do planeja-mento estratégico.

Encontro de planejamento estratégico da rede CEAPE. Brasília, maio/2007

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3 4 M I C R O F I N A N Ç A S

Arquivo pessoal

„“Onde o microem-

preendedor ancorar sua solução de crédito,

fará sua “feira” de serviços e produtos

Dos 10 milhões de micro-empreendedores por con-ta própria apenas 5% têm

acesso ao crédito formal. Trata-se, portanto, de um grande mercado para as instituições fi nanceiras em geral, in-cluindo operadores de microcrédito e cooperativas de crédito – na avaliação do consultor Ricardo Coelho.

Esse baixo grau de acesso de-monstra – segundo ele – que os empreendedores não dispõem de soluções compatíveis com suas ne-cessidades e possibilidades. Entre-tanto, há indicações, de que já se inicia um consistente e orquestrado esforço para entender e atender esse distinto e rentável público. Para isso, deve-se levar em conta que o mo-delo de negócio desse segmento tem dinamismo e formato distintos.

“São pessoas físicas em peque-nos arranjos produtivos e comer-ciais que atuam no mercado como uma pequena empresa, mesmo na informalidade. Essa fl exível estru-tura operacional e comercial faz

N I C H O P R O M I S S O R

Operadores de microcrédito e cooperativas de crédito devem apostar em parcerias com bancos para construção de soluções fl exíveis de crédito que atendam ao segmento.

dos microempreendedores clientes dinâmicos e maleáveis, que preci-sam, portanto, de parceiros com as mesmas características. Sem dúvida é um novo e promissor nicho para o sistema fi nanceiro,” diz o consultor.

A massa de soluções hoje oferta-das – explica – já atende com maes-tria parcela importante de população, os assalariados e as empresas formais. Por falta de opção, microempreende-dores utilizam-se de produtos e ser-viços fi nanceiros, que lhes acarretam estresses de gestão.

O relevante, no momento, é que algumas instituições fi nanceiras já fazem piloto de atendimento com foco nos negócios informais, sina-lizando que apenas a efetiva prática neste mercado lhes transfere segu-rança e rentabilidade. Percebem também parcerias rentáveis e dura-douras precisam de um exercício de proximidade, de convivência.

Parcerias operacionais Muitas dessas experiências se

dão integradas com entidades do terceiro setor de fomento ao em-preendedorismo ou cooperativas de crédito, por meio de repasses de recursos e rateamento de receitas e possíveis prejuízos. “São entida-des familiarizadas com a realidade dos seus clientes e que se propõem a apoiá-los de forma pró-ativa. Nor-malmente, utilizam em seu proces-so a pessoa do agenciador de crédito para uma microrregião que funcio-na, na prática, como uma “micro-agência”: capta, “analisa”, libera

cobra, expande, entre outros pro-cedimentos. Em alguns modelos, a entidade passa a ser um correspon-dente bancário, fazendo 100% dos procedimentos atrelados ao repasse do crédito, e eventualmente ofer-tando outras soluções fi nanceiras”, ressalta Ricardo Coelho.

Soluções fl exíveis A prática aponta que o crédito

será o alicerce do relacionamento comercial do microempreendedor com sua instituição fi nanceira. E deve permitir suporte ao empreen-dedor sem se ater à tradicional for-malística e a processos. O consultor reforça que o segmento não dispõe de tempo para operacionalizações bancárias e de estrutura para con-cessão de garantias formais. Os ris-cos nas operações existem como em

Ricardo Coelho – Especialista em microfi nanças

Informais no foco dos agentes fi nanceiros

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M I C R O F I N A N Ç A S 3 5

qualquer outro segmento produtivo e tem relação direta com a precifi ca-ção das taxas de juros.

Para Ricardo Coelho, as bases atuais de tomadores das institui-ções fi nanceiras já apresentam si-nais críticos de saturação. Portanto – avalia – o risco representado por microempreendedores é coerente e necessário para uma consistente massifi cação da oferta.

“Se conceder-lhes crédito é ren-tável, espera-se que as instituições fi nanceiras estejam dispostas a aten-dê-los, desde que estes reconheçam que essa parceria comercial terá uma paga justa por um tempo justo, e que pode ser, até, aparentemente cara”.

Ganhos cobrem encargos É indiscutível, explica o con-

sultor, que microempreendedores possuem sapiência para perceber

que suas atividades lhes permitem ganhos muito acima dos juros que lhes são cobrados. As atividades que implementam têm dinâmica, giro, margem e risco impensáveis por qualquer estudante de doutorado em administração. A realidade mi-croempreendedora brasileira apre-senta singularidades que a diferencia do resto do mundo. Assim, é pre-ciso que as instituições fi nanceiras revisem seus paradigmas.

Para que possam empreender e crescer, terão obrigatoriamente que acessar o crédito massifi cado. Contu-do, sinalizam abertamente que há ou-tros tópicos tão ou mais relevantes do que a taxa de juros quando do acesso ao crédito: agilidade, prazo, limite, fácil processo, fl exibilidade na forma de pagamento, automação, discrição, repactuação e “inadimplência” pré-contratadas, agilidade na renovação.

Feira de produtos A taxa de juros – afi rma Ricar-

do Coelho – é um dos vários fatores para a tomada do crédito, não o mais importante. Para uma taxa ser con-siderada cara ou barata pelo empre-endedor, depende da sua percepção pessoal sobre soluções de crédito “genéricas” a sua disposição; de sua urgência, de seu custo de oportuni-dade, da margem de lucro.

Há vantagens competitivas para os que ofertarem aos microempre-endedores soluções de crédito fl e-xíveis. O segmento é reconhecido pelo dinamismo e praticidade com que buscam soluções. Difi cilmente cota tarifas e taxas, pois o negócio o absorve quase que totalmente. Onde o microempreendedor anco-rar sua solução de crédito, gradati-vamente fará sua “feira” de serviços e produtos bancários.

ESFORÇOS MERCADOLÓGICOS “As cooperativas de crédito por ser, em conceito, instituições fi nanceiras

criadas para fi ns sociais, distribuição de renda e desenvolvimento regional, con-cessão de crédito mais barato, devem concentrar esforços mercadológicos com foco em microempreendedores. Apesar de já atuarem fortemente com micro, pequenos e médios dos segmentos rural, de saúde e comercial, ainda não fazem a possível diferença em favor da massifi cação do atendimento.

Seria oportuno que as cooperativas repensassem as inúmeras oportunidades comerciais dos microempreendedores. Sem dúvida um excelente nicho comer-cial a ser focado, mas que requer muito esforço e aprendizado. Os microem-preendedores estão, ainda, pouco assediados. São rentáveis e podem facilmente compartilhar da plataforma comercial e tecnológica atual das cooperativas, per-mitindo-lhes o necessário ganho de escala, fomentando seus baluartes sociais.

Fica então a sugestão para que cooperativas de crédito sejam mais agressi-vas e rápidas neste nicho, buscando elevar sua base de associados por meio da Livre Admissão, absorvendo aqueles dispostos a pagar um preço para desfrutar dos serviços que lhes são prestados. Após a confecção de pilotos para analisar a melhor forma massifi cada de atuar com esse público, devem automatizar o atendimento e o procedimento creditícios, estes com riscos bem mensurados. Esses microempreendedores ainda “esquecidos” pelos bancos, permitirão uma cativa e crescente carteira de crédito regional, além de expertise para crescer de forma sustentada em um nicho que é a cara do Brasil e que difi cilmente é docu-mentado em tratados acadêmicos”.

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3 6 M I C R O F I N A N Ç A S

Confederação

Centrais

Crédito Rural

Atividade Profi ssional

Empregados

Vínculo Patronal

Empreend. – Micro e Pequenos

Livre Admiss. – Pequenos Municípios

Livre Admiss. – Médios Municípios

Livre Admiss. – Grandes Municípios

Mista

Luzzatti

1

37

416

262

57727

23

63

28

14

2

10

Cooperativismo de crédito, crescimento constante

O cooperativismo de crédito tem crescido desde a última déca-da, independentemente de planos econômicos e infl ação alta. A res-posta a esse desempenho, segun-do o consultor do Banco Central, Marden Soares, está na atuação regional dessas instituições, cuja característica é aplicar no próprio local os recursos captados.

“Há um grande espaço a ser ocupado pelo cooperativismo de crédito dentro do Sistema Financei-ro Nacional”, afi rma.

Embora apresente tendência de crescimento, a participação percentual ainda é pequena: pa-trimônio líquido, 3%; ativos totais e depósitos, 1,6% e operações de crédito,2,5%. Até 31 de março deste ano, havia 1.460 cooperati-

vas de crédito registradas, sendo em maior número as de crédito mútuo/empregados (577) e as de crédito rural (416).

Nova fase de expansão está prevista com a participação delas no rateio de recursos do PNMPO, aliviando um problema comum às instituições que operam com mi-crofi nanças, a questão do funding. Embora incluídas no programa so-mente no ano passado, as coope-rativas de crédito já são maioria. Estão qualifi cadas 112 com expres-siva presença de cooperativas da Região Sul do país – um total de 80. O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), no âmbito do PNMPO, também benefi ciará as cooperativas com formação de ges-tores e agentes de crédito.

O cooperativismo tem outros desafi os, como a ampliação das operações e ganhos de escala para reduzir custos. Embora organiza-das em sólidos sistemas, as coo-perativas precisam estar mais bem preparadas para atuar num cenário de juros cada vez mais baixos e de aumento da concorrência pe-los recursos do sistema fi nanceiro e dos programas governamentais de acesso ao microcrédito. “Um centro único de capacitação vol-tado não só à profi ssionalização, mas também à busca de efi ciência no atendimento ao seu público específi co e a oferta de produtos mais adequados a diversos tipos de público, benefi ciaria o sistema e a população como um todo” – avalia estudo do Banco Central.

Quantidade de cooperativas por tipo e ramo de atividade

NICHO PROMISSOR

Empreend. – Micro e Pequenos

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M I C R O F I N A N Ç A S 3 7 M I C R O F I N A N Ç A S 3 7

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“O melhor crédito é aquele que está disponível quando neces-sário e no tempo certo, de preferência mais barato. Qualquer dife-rencial, por menor que seja, favorece nosso ganho, principalmente se somos pequenos. Na cooperativa posso descontar cheques pré-datados que recebo, inclusive os de 90 e 120 dias. Assim facilito também a vida do meu cliente, que poderá pagar parcelado. O des-conto é feito com custo menor que nos bancos. E, se um cheque volta, tenho prazo pra resolver isso com descontos diretos na mi-nha conta corrente. Para mim, o melhor da Sicoob Credibrasil é que ela trata igual quem é empresa e quem é autônomo. A coope-rativa atende desde donos de escolas, donos de ofi cinas até o vendedor de pão de queijo”.

Olímpio Magalhães Melo, associado da Credibrasil de Samambaia (DF)

Os efeitos fi nanceiros para os associados são tão evidentes na forma de crédito mais barato e facilitado, além do incentivo à poupança, que o diretor-presidente da Cooperativa Sicoob-Metropolitano, Luiz Ajita, gosta mesmo é de propagar conquistas nas áreas socioam-bientais. A menina dos olhos de Ajita é o Instituto Sicoob-PR, que tem como missão con-tribuir para a consolidação de projetos de impacto para toda a população de Maringá (PR) e municípios vizinhos. Um exemplo é o que apóia a coleta de lixo reciclável e a reciclagem feita por empreendedores. Outro é o projeto de inclusão digital.

INCLUSÃO SOCIAL E PRODUTIVA

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Projetos de impacto

M I C R O F I N A N Ç A S 3 7

Luiz Ajita (esq.), presidente da Sicoob-Metropolitano Biblioteca digital apoiada pelo Instituto Sicoob

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3 8 M I C R O F I N A N Ç A S

Há consenso entre especia-listas, fornecedores e to-madores de funding sobre

a necessidade de transparência e pa-dronização de informações, por par-te das instituições microfi nanceiras. Requisitos indispensáveis à constru-ção de indicadores fi nanceiros e não fi nanceiros que permitam avaliar e comparar a performance das insti-tuições que atuam no segmento.

A especialista em microfi nanças da Acción International, Bettina Wittlinger, enumera uma série de vantagens da estruturação de um sistema de benchmarking, de trans-parência de informações e de de-sempenho para as instituições de microfi nanças.

No caso dos fornecedores de recursos, dos investidores, afi r-ma, o sistema é fundamental para que saibam com quais instituições trabalhar e onde (município ou

Sistema facilita avaliação e controle

região). Permite-lhes comparar a capacidade de gerenciamento e o desempenho da instituição com suas similares e competidoras. Aos sócios fornece, de forma mais ob-jetiva, elementos de análise da evo-lução da própria instituição, aju-dando a defi nir metas e objetivos.

O sistema também facilita a supervisão e o controle por par-te dos órgãos governamentais. Wittlinger explica que um sistema de benchmarking para as microfi -nanças deveria conter indicadores quanto a tipo de instituição, to-tal de ativos, rentabilidade, assim como de produtividade e de cres-cimento da carteira de crédito e índices da estrutura de capital.

O mais conhecido sistema na área de microfi nanças, segundo a espe-cialista, é o do MicroBanking&Mix Market. Ele se baseia na metodolo-gia que agrupa instituições por dife-

rentes indicadores, os chamados peer groups, e em ajustes de informações fi nanceiras – infl ação, por exemplo, com o objetivo de assegurar alto nível de comparação. Nessa metolodogia, os critérios para a classifi cação das IMF são tamanho da operação, re-gião geográfi ca e mercado meta.

A Acción International, da qual Bettina é vice-presidente de ope-rações, é uma organização sem fi ns lucrativos que utiliza as microfi nan-ças como instrumento de combate à pobreza. Opera uma rede de ins-tituições que já atendeu 1,8 milhão de microempreendedores em vários países da América Latina e Áfri-ca. No Brasil, é parceira de um dos maiores programas de microcrédito do mundo, o Crediamigo do Banco do Nordeste, um modelo que a Acción ajudou a desenhar.

“Os benchmarks defi nem, essen-cialmente, o que é uma instituição

B E N C H M A R K I N GDivulgação

“O sistema permite aos fornecedores

comparar a capacidade de gerenciamento

e o desempenho da instituição com

suas similares e competidoras. E, aos sócios, formas mais

objetivas de análise

Bettina Wittlinger – Acción International

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fi nanceiramente saudável, com ex-celência na atuação, escala, pene-tração de mercado, entre outros pontos”, acrescenta o consultor Frederico Celentano. O segmento de microfi nanças brasileiro – se-gundo ele – ainda não se organizou, não fez um esforço estruturado para a troca de informações e experiên-cias em âmbito nacional. Há apenas experiências pontuais.

Os fóruns locais e regionais – explica – têm fomentado a troca de experiências e a comparação entre as instituições de microcrédito, mas ainda de maneira informal. O Cen-tro de Apoio a Pequenos Empreen-dimentos (CEAPE), que atua em rede, realiza intercâmbio relevante. A Agência Nacional de Desenvolvi-

AS 100 MAIORES IMF DA AMÉRICA LATINA E CARIBE (FONTE: MICROMIX-BID)COLOCAÇÃO NOME DA IMF PAÍS CARTEIRA DE

CLIENTESVOLUME DE

EMPRÉSTIMOS 2005 2004

1 1 Caja Popular Mexicana * México 554.244 781.428.638

2 2 Compartamos México 481.389 178.200.464

3 4 Banco del Trbajo * Peru 450.182 314.232.070

4 3 Banco Caja Social * ** Colômbia 386.679 1.226.183.478

5 n/d Caja Libertad * ** México 246.602 342.220.902

6 5 Crediamigo Brasil 235.802 60.392.060

7 12 BancoEstado * Chile 181.638 397.594.368

8 6 Banco Solidario * Equador 176.401 207.033.940

9 7 MiBanco * Peru 154.541 206.729.446

10 13 BanRural ** Guatemala 143.900 134.789.116

...

80 64 EDPYME Proempresa Peru 14.536 11.648.147

81 n/d FINCA – Guatemala Guatemala 14.129 2.062.281

82 68 CEAPE Maranhão Brasil 14.018 3.853.800

83 66 Fundación Espoir Equador 13.886 4.921.468

84 63 ODEF Honduras 13.826 7.890.047

M I C R O F I N A N Ç A S 3 9

mento Microempresarial (ANDE), outra instituição que atua em rede, também já disponibiliza indicadores que são utilizados internamente ou por operadores independentes que queiram aperfeiçoar práticas de atendimento e de gestão.

Segundo Celentano, os fi nancia-dores precisam ter papel relevante na construção de um sistema uni-fi cado de avaliação de instituições

de microfi nanças. Só assim, afi rma, “disseminaríamos uma verdadeira cultura de transparência”. Passo im-portante – segundo ele – foi a estru-turação de um plano único de contas

* Das 100 primeiras instituições, somente algumas indicaram o volume de créditos ativos e sobre sua carteira a cobrar.** Das 100 primeiras IMF, algumas oferecem não somente empréstimos para microempresas, mas também crédito de consumo de pequenos valores.É possível que os valores acima registrados incluam as duas modalidades.

“Os benchmarks defi nem, essencialmente o que é uma instituição saudável, com excelência na atuação, escala e penetração de mercado“.Frederico Celentano, consultor

Marcelo Barbosa

FINCA – Guatemala

Fundación Espoir Equador

FINCA – Guatemala Guatemala

Caja Libertad

Crediamigo

BancoEstado * Chile

Caja Libertad * ** México

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4 0 M I C R O F I N A N Ç A S

NOME DA IMF PAÍS SALDO MÉDIO DE CRÉDITO AJUSTADO/INB PER CÁPITA

SALDO MÉDIO DE CRÉDITO AJUSTADO (US$)

FINCA – México México 3.5% 239

Pro Mujer – Peru Peru 4.1% 97

ASEI El Salvador 5.4% 127

Compartamos México 5.5% 370

ADMIC México 5.6% 376

FINCA – Peru Peru 6.3% 148

Friendship Bridge – Guatemala Guatemala 6.3% 134

FINCA – Guatemala Guatemala 6.9% 146

EDAPROSPO Peru 7.1% 168

Movimiento Manuela Ramos Peru 7.4% 175

ADRA – Peru Peru 7.5% 176

Enlace El Salvador 8.0% 189

Crediamigo Brasil 8.3% 256

CEAPE Maranhão Brasil 8.9% 275

FinComún México 9.1% 616

EDPYMEEfectiva Peru 10.1% 239

PRISMA Peru 11.6% 273

Cáritas Peru 12.1% 285

ADOPEM República Dominicana 13.1% 272

Fundación Mario Santo Domingo Colômbia 16.2% 323

AS 20 IMF COM MAIOR PENETRAÇÃO DE MERCADO (FONTE: MICROMIX-BID)

para as OSCIP, coordenada pelo Mi-nistério do Trabalho e Emprego.

Além da construção de indica-dores padronizados, é igualmente importante trazer especialistas ao Brasil e promover intercâmbios de técnicos para avaliar as melhores ex-periências que, no caso, estão acon-tecendo no Chile, Peru, Colômbia e México, sugere Celentano.

Na avaliação do consultor do Sebrae, Eli Moreno, também é de fundamental importância o aprovei-tamento das experiências brasileiras de sucesso. Para isso, é preciso um processo permanente de intercâm-bio de informações e de técnicos entre instituições. “ A organização de missões, de visitas técnicas são formas importantes de compar-tilhamento de experiências, pois

permitem avanços nos processos de aprendizado e construção de parâ-metros de referência,” explica.

Experiência mundialHá iniciativas internacionais que

já consolidaram indicadores e práti-cas de transparência que poderiam ser adaptadas no Brasil. Iniciativa im-portante é a do CGAP, sigla em inglês para Grupo Consultivo de Assistência aos Pobres, uma subsidiária do Banco Mundial. Trata-se de um consórcio de 29 agências de cooperação mul-tilaterais e bilaterais cujo principal objetivo é melhorar a capacidade das instituições de fornecer serviços mi-crofi nanceiros fl exíveis e de alta qua-lidade, em bases sustentáveis, para a efetiva inclusão das populações mais pobres no sistema fi nanceiro.

O CGAP concede, há três anos, o Prêmio de Transparência Financeira para instituições microfi nanceiras que adotem as normas contábeis in-ternacionais – International Financial Reporting Standards – e as diretrizes setoriais do CGAP.

O Consorcio de Organizaciones Privadas de Promoción al Desarrollo de la Pequeña y Microempresa (Copeme) é exemplo de um processo bem-su-cedido de benchmarking. Em parceria com organizações dos Estados Uni-dos, como a Fundação Ford, e da Europa, como a Agencia Española de Cooperación Internacional (AECI), tem prestado um conjunto de serviços especializados para o fortalecimen-to e consolidação das instituições microfi nanceiras peruanas, informa Frederico Celentano.

Crediamigo Brasil

FinComún México

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MICROFINANÇASDIRETRIZES DO SISTEMA SEBRAE*

A atuação do Sistema Sebrae visa a contribuir para a construção de um amplo e sólido seg-mento de microfi nanças auto-sustentável e integrado ao sistema fi nanceiro nacional. Para tanto, as ações desenvolvidas levam em conta as seguintes premissas:

O desenvolvimento do segmento depende ainda de políticas públicas e privadas de fomento e de uma atuação articulada e integrada de seus diferentes atores com vistas à superação dos seus principais desafi os, em especial quanto às restrições dos modelos institucionais, reduzida capa-cidade de gestão, baixa penetração no mercado e escala, além das difi culdades de obtenção de funding por parte de seus operadores.

Investidores qualifi cados podem contribuir signifi cativamente na construção de fontes ade-quadas e estáveis de fi nanciamento ao segmento, especialmente diante da escassez da oferta no mercado fi nanceiro tradicional.

Operadores de microcrédito, cooperativas de crédito, instituições bancárias tradicionais, bancos de desenvolvimento, instituições multilaterais e agências de fomento têm papéis impor-tantes e complementares na ampliação da oferta de crédito. A integração fi nanceira e tecnológica dessas instituições pode melhorar signifi cativamente as condições de atendimento ao público.

Produtos e serviços especializados, sistemas de gestão e tecnologia de informação, que pressupõem amplo conhecimento das necessidades e possibilidades da clientela, são essenciais ao desenvolvimento e à consolidação das organizações operadoras de microcrédito e devem ser supridos por soluções de mercado.

A construção e o desenvolvimento de redes de instituições de microfi nanças facilitam a criação de padrões de gestão, o compartilhamento de metodologias e outras formas de coopera-ção, fundamentais à ampliação da escala e redução dos custos de operação e do crédito.

Missões, visitas técnicas e outras formas de compartilhamento de experiências permitem avanços nos processos de aprendizado e construção de parâmetros de referência (benchmarking).

Instituições microfi nanceiras com atuação em comunidades de menor atendimento ban-cário e de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), bem como em arranjos produti-vos locais, exercem importante papel no desenvolvimento econômico e social desses territórios. Podem também se benefi ciar desses mercados, tanto em termos de demanda como de redução dos riscos e custos de concessão. A construção de parcerias com atores locais potencializa o sucesso dessas iniciativas.

* Extraído de Termo de Referência, aprovado pela Diretoria Executiva (Direx) do Sebrae Nacional

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4 2 M I C R O F I N A N Ç A S

S A L T O D E Q U A L I D A D E

O convênio em implementa-ção, entre o Sebrae/MG e o Fundo de Apoio ao Empre-

endimento Popular (Faep), conhe-cido como Banco do Povo de Minas Gerais, com sede em Juiz de Fora, já possibilita atendimento mais amplo e de melhor qualidade a milhares de empreendedores dos municípios da Zona da Mata e do sul do estado.

Segundo o presidente do Ban-co do Povo, Eduardo Villani, com a consultoria prestada pelo Sebrae/MG, a partir de 2003, “foi possível perceber onde e como precisaría-mos mudar para chegar onde que-ríamos. Passamos a entender com mais clareza o nicho de mercado disponível”. Foi possível também re-ver a política de recursos humanos e aprimorar o funcionamento da equi-pe. Passou-se ainda a fazer um pla-nejamento estratégico para reestru-turação de políticas de concessão de crédito e de cobrança.

Os resultados vieram rápidos. Até 2003, pouco mais da metade da carteira de clientes, ou 52%, esta-

Planejamento e reestruturaçãova na classifi cação AA (excelente). Atualmente essa classifi cação abran-ge 88% dos clientes, mesmo com a carteira apresentando crescimento de 70%. São 2,5 mil clientes e um volume de crédito concedido de R$ 3,4 milhões. Outro indica-dor bastante favorável: o índice de inadimplência despencou de 12,73% para 2,98%. No período, duas novas agências foram abertas – em Ponte Nova e Bicas, totalizan-do 25 agências. A expectativa é se chegar a 30 muito brevemente.

O perfi l dos empréstimos tam-bém mudou. Antes da consultoria, apresentavam uma média de R$ 3,9 mil por cliente, hoje é de R$ 1.538. Empréstimos menores – avalia o su-perintendente – diluem os riscos de inadimplência, além de permitir a ampliação do acesso ao crédito. Cer-ca de 80% estão na informalidade.

A consultoria do Sebrae/MG apontou possibilidades para o Banco do Povo, sempre com o objetivo de ampliar o atendimento com redução de custos: a fusão com instituições semelhantes e a diversifi cação dos serviços. Antes o único produto na prateleira era o microcrédito, agora são vários. “Passamos a ser um ban-co de microfi nanças”, afi rma Villani. A oferta já abrange 17 produtos, entre operações de crédito consig-nado, de empréstimo pessoal, conta corrente, cheque especial e cartão de crédito.

As mudanças possibilitaram aos administradores da instituição um entendimento mais profundo do

processo de bancarização como fator de inclusão socioeconômica. “Esta-mos atendendo pessoas que simples-mente não iam a bancos por timidez e até medo de passar pelas portas ele-trônicas”, ressalta.

Com parte dos recursos rece-bidos do Programa de Desenvol-vimento Institucional (PDI), foi comprado um veículo utilitário, fer-ramenta de inovação: um banco mó-vel para atingir pequenos lugarejos, a zona rural, os bairros mais afasta-dos, onde as oportunidades de cré-dito são quase nenhuma. Segundo o superintendente, a idéia inspirou-se nos furgões usados pelo Sebrae para atendimento móvel.

Outro convênio importante foi com a Caixa Econômica Federal, parceira há mais de dez anos. Cer-ca de R$ 2 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) es-tão sendo repassados no âmbito do PNMPO. Cerca de 400 novos em-preendimentos de pequeno porte já foram contemplados.

Divulgação

Eduardo Villani – Banco do Povo

Microfinanças: Sebrae em Minas Gerais contribui para qualificação e ampliação da oferta e da demanda. Os resultados já são visíveis e se multiplicam.

„“ A partir da

consultoria do Sebrae/MG, passamos a

entender com mais clareza o nicho de

mercado disponível

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S A L T O D E Q U A L I D A D ES A L T O D E Q U A L I D A D EArquivo pessoal“Vou te contar uma coisa, os

bancos populares são verdadei-ros parceiros”, diz Eulália Farati Jaeggi, segunda colocada no Prê-mio Citibank – Empreendedor So-cial–2006. Ela atesta a melhoria de atendimento do Banco Popular de Minas Gerais, que, nos últimos me-ses, está ainda mais ágil e prestativo.

De produtora de fl ores de fundo de quintal – no máximo quarenta dúzias por semana – ela ampliou, há quatro anos, com em-préstimos obtidos da instituição, a área plantada e diversifi cou a

produção. Antes colhia apenas copos de leite e antúrios, hoje também trabalha com fl ores tropicais. A helicônia é uma delas. A produção está em torno de 300 dúzias por semana.

Dona Eulália, 52 anos, informa que o crescimento é con-se-qüência de muito trabalho, muitas horas de mão re-volvendo a terra, mas também do apoio que recebeu do banco. “Sem-

pre que eu recorri, fui atendida. E não só com o dinheiro, mas com motivação.”

Demitido do emprego, Paulo Henrique Xavier, morador de Juiz de Fora, ao ver, por várias vezes, na televisão, a propaganda de uma máquina de transfer, para a apli-cação de estampas em camisetas, percebeu que estava diante de uma alternativa para obtenção de renda. Pegou o dinheiro da res-

cisão, e inves-tiu no equipa-mento, que foi instalado num dos quartos da casa. Camisetas e blusas estam-padas eram, no início, ven-didas apenas

para vizinhos, amigos, parentes. O negócio tinha tudo para dar certo, mas faltava dinheiro.

“Foi aí que eu descobri o Banco do Povo de Minas Gerais. Eu queria uma parceria e percebi que o banco podia ser meu sócio”, conta Paulo. Além do crédito pretendido, rece-beu uma série de informações que o ajudaram no negócio.

Máquinas mais sofi sticadas pu-deram ser compradas. Uma loja mais bem localizada foi alugada. Além das camisetas, a Stampcor passou a vender estampas para outras malharias em Juiz de Fora. “Hoje, comercializamos as folhas de estampas para quem tem má-quinas de transfer e prestamos serviço para quem não as tem”.

Nas últimas vezes em que foi ao banco do povo, Paulo per-cebeu boas mudanças na insti-tuição. Uma delas foi mais rigor na concessão do empréstimo, medida que considera positiva, pois avalia que, se o banco redu-zir a inadimplência, terá condi-ções de emprestar dinheiro para mais gente.

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Microfinanças: Sebrae em Minas Gerais contribui para qualificação e ampliação da oferta e da demanda. Os resultados já são visíveis e se multiplicam.

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uando Moisés do Nasci-mento assumiu, em 2004, a presidência da Associa-

ção Comunitária de Crédito do Vale do Aço, que administra o Banco Po-pular, com sede em Ipatinga (MG), a instituição apresentava estrutu-ra inchada, baixa produtividade e operações no vermelho. A situação mudou a partir de uma consultoria prestada pelo Sebrae/MG, que pas-sou as orientações necessárias para o banco voltar a emergir.

As ações visaram à reestruturação do Banco Popular de Minas Gerais. Houve enxugamento e capacitação do quadro de pessoal. Foram redefi nidos processos operacionais e abertas novas linhas de crédito. Foi ainda desenhado um plano estratégico até 2010.

Todo o planejamento leva em função o bom cumprimento da mis-são do banco: “conceder microcré-

Capacitação e reestruturação

dito produtivo popular empreende-dores formais e informais”.

O Banco Popular, que atendia a dez municípios mineiros, está hoje presente em 71, abrangendo as regi-ões leste e nordeste do estado. São dez agências e três postos de atendi-mento. A meta é uma carteira de 10 mil clientes, dentro de três anos.

A consultoria do Sebrae previu projetos para acesso a novos fundings e as conversas com o Banco de Desen-volvimento de Minas Gerais (BDMG) com este objetivo encontram-se já bastante avançadas. “O BDMG é um grande parceiro, já tradicional. Mas comemoramos agora novas parcerias: com a Caixa Econômica Federal e o Banco Popular do Brasil. Fontes di-versifi cadas de funding vão nos ajudar a crescer”, afi rma Moisés.

A carteira de clientes aumentou em 14,12%, no ano passado, em relação a 2005. A inadimplência foi reduzida em 8,38%. Isso foi possível devido ao acompanhamento diário da carteira, à implantação das políticas de crédito, de risco e de cobrança.

BDMG amplia aposta Mais duas entidades do Sul de

Minas estão recebendo recursos do Programa Estadual de Crédito Popular (Credpop): o Banco Soli-dário de Varginha e o Nosso Banco, de São Sebastião do Paraíso. Ago-ra, são 16 as associações parceiras do BDMG.

O Banco Solidário de Varginha foi criado há pouco mais de um ano, por iniciativa da Associação Sul-Mineira de Empreendedores e da prefeitura da cidade. O contrato fi rmado com o BDMG prevê a aplicação de R$ 300 mil no fi naciamento de pequenos em-preendedores do município.

Em São Sebastião do Paraíso, o Nosso Banco, criado com o apoio da prefeitura e de empresários locais, obteve fi nanciamento de R$ 530 mil, está presente em treze municípios da região, atendendo os clientes nos Postos de Atendimen-to ao Microcrédito. O Credpop, há sete anos em operação, já benefi -ciou mais de 46 mil empreendedo-res em 280 municípios mineiros.

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Q BOA NOTÍCIA A Caixa Econômica Federal e o Banco Popular de Ipatinga assinaram,

em 23 de maio último, convênio, no âmbito do PNMPO, que garante R$ 1,5 milhão para empreendedores formais e informais dos municípios do Vale do Aço. O banco receberá recursos para sustentar suas próprias operações (funding) e também intermediará operações entre a CAIXA e os empreededores. O fl uxo da CAIXA para a instituição tem caráter contínuo e se renova a partir da quitação dos empréstimos concedidos.

Moisés do Nascimento – Presidente

S A L T O D E Q U A L I D A D EConsultorias prestadas pelo Sebrae em Minais Gerais permitiram aos operadores mudanças operacionais e qualificação de pessoal em benefício da clientela

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Há quem se lembre da pri-meira máquina de tricô trazida por dona Irace-

ma Andretta Francisco para Monte Sião, cidade do sul de Minas Ge-rais, bem na divisa com São Paulo. O equipamento chegou para incre-mentar a produção de malhas até então totalmente artesanal. Hoje, o município é considerado a capi-tal brasileira de malhas, com cerca de dois mil estabelecimentos, entre fábricas e lojas. Uma enorme par-te deles é de microempresas sem-pre enfrentando desafi os na área de acesso a serviços fi nanceiros. A discussão conjunta de como en-frentá-los resultou no nascimento, há cinco anos, da Credmalhas, a Cooperativa de Economia e Crédi-tos de Monte Sião.

Aposta na inovaçãoA cooperativa aposta na inovação

e, em 2006, lançou, para a como-didade de seus associados e demais lojistas, o cartão Credmalhas Shop. A iniciativa fez tanto sucesso que já foi até exportada para municípios vizinhos. Segundo o gerente-geral da Credmalhas, Marcos Fernandes de Andrade, o cartão atende basica-mente aos interesses dos associados que reclamavam de difi culdades para fazer compras de insumos a prazo e dos lojistas, insatisfeitos com a alta taxa de inadimplência.

Para se defi nir pelo produto, a cooperativa fez vários estudos de via-bilidade. Um ano depois de lançado, cerca de 90% dos 800 associados já trabalham com o cartão. Além deles, dependentes e funcionários de em-presas associadas podem acessar o

“Com o cartão no bolso, o ci-dadão de Monte Sião entra e faz compra em lojas em que, ante-riormente, não passava nem na porta, por medo de ser mal rece-bido” – informa Marcos Fernan-des. O lojista, por sua vez, tem bons motivos para atender bem. Para começar, sabe que o crédito

é garantido pela Credmalhas. Sabe que se tratar de forma inadequada o comprador, corre o risco de não ter os associados da cooperativa como clientes.

O comerciante que trabalha com o Cartão Credmalhas Shop tem ainda a vantagem de pagar uma taxa admi-nistrativa quase 50% inferior à cobra-da pelas administradoras tradicionais de cartão de crédito. Já para o asso-ciado, o custo é zero. Ele não paga um tostão a mais além do valor da compra. Há ainda a possibilidade de liberação de empréstimos quando há

a necessidade de quitar faturas do cartão, com prazos de pagamento que variam de um mês a sessenta dias, sem encargos ou outras tarifas comuns no mercado tradicional.

O movimento atual do cartão de crédito da Credmalhas é de R$ 100 mil mensais, valor que deve crescer bastante. Está em conclusão convê-nio com um supermercado da cida-de para a ampliação da carteira de clientes. Além disso, o sindicato dos funcionários de malharias pretende que o cartão faça parte do acordo de trabalho da categoria.

“Com o cartão no bolso, o ci-dadão de Monte Sião entra e faz

serviço. Cada dono de cartão tem um limite específi co de crédito, baseado na renda, tamanho da família, capaci-dade de pagamento. Com esses cuida-dos, e como é um crédito planejado, a inadimplência é quase nenhuma”.

Os custos administrativos do car-tão são bastante inferiores aos de ou-tras operações da cooperativa. Ficam eliminados, por exemplo, os gastos com a compensação de cheques. Além disso, eliminam-se constrangi-mentos causados pelo descontrole na emissão de cheques pré-datados.

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serviço. Cada dono de cartão tem um

S A L T O D E Q U A L I D A D ES A L T O D E Q U A L I D A D EConsultorias prestadas pelo Sebrae em Minais Gerais permitiram aos operadores mudanças operacionais e qualificação de pessoal em benefício da clientela

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“O microcrédito nada tem a ver com caridade. Equivale a reconhecer

que as pessoas pobres são a solução, não o problema.”

Kofi Annan, Ex-Secretário-Geral da ONU

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Não há quem não conheça seu Antônio, em São Sebastião do Ua-tumã. Ao chegar à cidade, que fi ca a quatro horas de barco de Itacoa-tiara mais três de carro de Manaus, e perguntar por ele, provavelmente a resposta será: seu Antônio, o mes-tre? É como é chamado, o primeiro carpinteiro naval da cidade dos bar-cos de madeira do Amazonas.

A reverência do título se deve ao seu talento e conhecimento do ofício, adquirido ainda na adoles-cência. Deve-se também à atitude generosa. Ele compartilha e ensi-na a arte de fabricar embarcações a meninos, jovens e adultos de São Sebastião do Uatumã.

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Talento de mestre garante continuidade do ofício

As publicações da Unidade de Acesso deServiços Financeiros são fontes permanentes de consulta.

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