Mini Biografia de Rafael Bordalo Pinheiro

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Rafael Bordalo Pinheiro é uma personalidade peculiar. Foi, sem dúvida, marcado pelo ambiente artístico da casa paterna, sendo que o seu pai Manuel Maria Bordalo Pinheiro, era funcionário do Estado, bastante modesto, e, simultaneamente, pintor sem grande qualidade mas muito entusiasmo. Columbano tem alguns belos desenhos que evocam os serões domésticos com gatos, o animal eleito de Rafael, e muitos desenhos à mesa, à luz de candeeiro. A irmã mais velha, Maria Augusta, foi a mãe de família depois da morte prematura da verdadeira. Era exímia em bordados e rendas que muitas vezes expôs. Foi a grande protectora de Columbano. Foi certamente uma burguesa digna, discreta e aquietada. Columbano pintou-a diversas vezes, nomeadamente na notável Luva cinzenta do Rafael Bordalo Pinheiro é uma personalidade peculiar. Foi, sem dúvida, marcado pelo ambiente artístico da casa paterna, sendo que o seu pai Manuel Maria Bordalo Pinheiro, era funcionário do Estado, bastante modesto, e, simultaneamente, pintor sem grande qualidade mas muito entusiasmo. Columbano tem alguns belos desenhos que evocam os serões domésticos com gatos, o animal eleito de Rafael, e muitos desenhos à mesa, à luz de candeeiro. Museu do Chiado. O mano Columbano, um dos mais novos da vasta prole, é O Pintor do Drama Português como a geração de 70 o traçou: desistente como o Jacinto do Eça de A cidade e as Serras, metáfora da geração que conheceu a civilização (era Paris para todos eles, como para todo o mundo de então), que, quase com raiva, quis que Portugal tivesse o mesmo brilho, e, afinal, acabou a cantar o atraso do campo e a inteireza moral das gentes, os excessos da culinária elementar (a canja e as favas de Tormes! ) e a felicidade de não existir telefone.

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Rafael Bordalo Pinheiro é uma personalidade peculiar. Foi, sem dúvida, marcado pelo ambienteartístico da casa paterna, sendo que o seu pai Manuel Maria Bordalo Pinheiro, era funcionáriodo Estado, bastante modesto, e, simultaneamente, pintor sem grande qualidade mas muitoentusiasmo. Columbano tem alguns belos desenhos que evocam os serões domésticos comgatos, o animal eleito de Rafael, e muitos desenhos à mesa, à luz de candeeiro.

A irmã mais velha, Maria Augusta, foi a mãe de família depois da morte prematura daverdadeira. Era exímia em bordados e rendas que muitas vezes expôs. Foi a grande protectorade Columbano. Foi certamente uma burguesa digna, discreta e aquietada. Columbano pintou-adiversas vezes, nomeadamente na notável Luva cinzenta do Rafael Bordalo Pinheiro é umapersonalidade peculiar. Foi, sem dúvida, marcado pelo ambiente artístico da casa paterna,sendo que o seu pai Manuel Maria Bordalo Pinheiro, era funcionário do Estado, bastantemodesto, e, simultaneamente, pintor sem grande qualidade mas muito entusiasmo. Columbanotem alguns belos desenhos que evocam os serões domésticos com gatos, o animal eleito deRafael, e muitos desenhos à mesa, à luz de candeeiro.

Museu do Chiado.

O mano Columbano, um dos mais novos da vasta prole, é O Pintor do Drama Português comoa geração de 70 o traçou: desistente como o Jacinto do Eça de A cidade e as Serras, metáfora dageração que conheceu a civilização (era Paris para todos eles, como para todo o mundo deentão), que, quase com raiva, quis que Portugal tivesse o mesmo brilho, e, afinal, acabou acantar o atraso do campo e a inteireza moral das gentes, os excessos da culinária elementar (acanja e as favas de Tormes! ) e a felicidade de não existir telefone.

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A irmã mais velha, Maria Augusta, foi a mãe defamília depois da morte prematura da verdadeira.Era exímia em bordados e rendas que muitas vezesexpôs. Foi a grande protectora de Columbano. Foicertamente uma burguesa digna, discreta eaquietada. Columbano pintou-a diversas vezes,nomeadamente na notável Luva cinzenta do Museudo Chiado.

O mano Columbano, um dos mais novos da vastaprole, é O Pintor do Drama Português como ageração de 70 o traçou: desistente como o Jacinto doEça de A cidade e as Serras, metáfora da geração queconheceu a civilização (era Paris para todos eles,como para todo o mundo de então), que, quase comraiva, quis que Portugal tivesse o mesmo brilho, e,afinal, acabou a cantar o atraso do campo e ainteireza moral das gentes, os excessos da culináriaelementar (a canja e as favas de Tormes!) e afelicidade de não existir telefone.

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Essa foi a geração que depois de ruidosamentepromover as Conferências do Casino, (proibidas pelogoverno por serem revolucionárias e anti-católicas, factoque Rafael Bordalo Pinheiro explorou à exaustão) paratrazer a estética moderna a Lisboa, vinte anos depois, em1890, se auto designou por Vencidos da Vida.

Tendo em conta a personalidade das principais figurasculturais de então, Rafael Bordalo Pinheiro destaca-sepela modernidade militante, pelo optimismo visceral epela tranquilidade com que sempre viveu a sua agitada enada fácil vida.

No entanto, ele é saudavelmente um desiludido com aspessoas – que, para ele, todas são corruptíveis – e,sobretudo, com as instituições que, mesmo depois dasreformas, regressam ao mesmo: arrogância e ignorância.

A História é um palco em que a intriga é sempre amesma. Delineia-a como comédia e farsa, não comotragédia. Usa o riso para provocar e agredir mas nãopara curar o que não tem cura.

Entende o atraso do país, a sua sebastiana megalomania,a sua preguiça e trafulhice e está sinceramenteconvencido que não tem cura. Descrê do Rotativismomonárquico (cujos podres conheceu como ninguém) masnão é grande entusiasta da República. Sabe que Portugalserá sempre um peão, ou uma bola de sabão a desfazer-se nas mãos interesseiras de John Bull ou do Kaiser.

Este é o contexto da criação do Zé Povinho, esperto ematreiro, sem moral nenhuma: se pudesse trepava paraas costas dos que o cavalam a ele. Não gosta de trabalhare prefere resignar-se do que a combater. O manguito é oseu gesto filosófico perante os desacertos do mundo.

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Esta descrença não foi para Rafael Bordalo Pinheiro um estado de alma,antes uma espécie de filosofia social, ancorada na ciência do seu tempodominada pelas teorias de Darwin e a morte de Deus.

Por isso ele foi tão diferente dos seus contemporâneos artistas comoele.

Trabalhando em jornalismo, ele amava as máquinas e as suas novaspossibilidades de edição. Amava trabalhar em conjunto, improvisar,colar-se na cadeia de produção em lugar estratégico, dominando eintervindo em todas as fases.

Usou a arte como sistema complexo e múltiplo de comunicação,misturada e intensificada pelo texto.

Homem do seu tempo, apaixonado pelo progresso técnico deixa-seenvolver pelos projectos do mano empresário e embarca na aventura defazer uma fábrica para renovar as artes populares do barro.

Age, nesta questão, como homem das Arts and Crafts, próximo de JohnRuskin que talvez nem conhecesse.

Saliente-se a modernidade do projecto implantado numa pequenacidade de província, as Caldas da Rainha, e sonhando alimentar-se daalma e das técnicas de oleiros tradicionais. Mas, simultaneamente,propor-lhes outra coisa, mais urbana e mais erudita, a louça por sidesenhada que é um misto de revivalismo romântico (pesado ebarroquizante como a Jarra Bethoven) e de citações Arte Nova que entãose afirmava em toda a Europa.

Não era ele o único artista do seu tempo que amava o povo e o conhecia.Mas talvez tenha sido o único que fez arte com ele (tipógrafos oubarristas), e considerou a arte não uma entidade transcendental mas umtrabalho capaz de intervir social e economicamente.

Por outro lado, o relativo sucesso dos seus empreendimentos permiteconsiderar que, apesar das diatribes, ele conhecia como poucos, eacreditava, nas possibilidades desenvolvimentistas do país.

Quem, vindo do meio artístico, encarou no seu tempo a arte comoinvestimento, gestão e ampla divulgação? Trabalho em série,assumindo que a novidade se inscreve em continuidades profundas?

É aqui que reside a modernidade de Bordalo que o torna um exactocontemporâneo nosso. porque ele sempre olhou e esperou pelo futuroque ajudou grandemente a nascer nas áreas em que trabalhou.

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