MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS...

69
I MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS PROGRAMAS DE BICICLETA PÚBLICA E PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO EM MACAÉ-RJ André Borges Randolpho Paiva Orientador: Profª. Assed Naked Haddad RIO DE JANEIRO Agosto de 2015 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Civil.

Transcript of MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS...

Page 1: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

I

MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS

PROGRAMAS DE BICICLETA PÚBLICA E PROJETO

PARA IMPLANTAÇÃO EM MACAÉ-RJ

André Borges Randolpho Paiva

Orientador: Profª. Assed Naked Haddad

RIO DE JANEIRO

Agosto de 2015

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro Civil.

Page 2: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

II

MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS

PROGRAMAS DE BICICLETA PÚBLICA E PROJETO

PARA IMPLANTAÇÃO EM MACAÉ-RJ

André Borges Randolpho Paiva

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________

Assed Naked Haddad

Prof. Titular, POLI/UFRJ (Orientador)

______________________________

Luís Otávio Cocito de Araújo

Prof. Adjunto, POLI/UFRJ

______________________________

Giovani Manso Ávila

Prof. Adjunto, POLI/UFRJ

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO de 2015

Page 3: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

III

Paiva, André Borges Randolpho

Mobilidade Urbana: Um Estudo Sobre os Programas

de Bicicleta Pública e Projeto para Implantação em Macaé-

RJ / André Borges Randolpho Paiva. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

60p.:il.; 29,7 cm.

Orientador: Assed Naked Haddad.

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 50-51

1. Introdução. 2. Fundamentação teórica. 3. Análise da

qualidade e desempenho do serviço. 4. Projeto para

viabilidade implantação de bicicletas compartilhadas em

Macaé 5. Considerações Finais.

I. Haddad, Assed Naked. II. Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Civil. III. Mobilidade Urbana: Um Estudo Sobre os

Programas de Bicicleta Pública e Projeto para Implantação

em Macaé-RJ.

Page 4: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

IV

Dedicado em memória do grande Pai e

exemplo profissional e pessoal que Foi;

André Luiz de Randolpho Paiva (1952 -2013)

Page 5: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

V

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, Eleonora, por todo amor e apoio para me ajudar a manter o

foco nos estudos e em equilíbrio, em todas as fases de minha vida.

Á minha avó Marilda, por todo carinho e paciência com seu neto dividindo o

lar de forma harmoniosa.

Aos meus irmãos, Camila, Gustavo, Mickael e Pedro, por todo

companheirismo e ajuda no meu crescimento pessoal.

Aos meus tios Ruy e Christina, por sempre me apoiarem em todas as

decisões e por sempre me acolherem como um filho.

Às minhas tias Albinha, Ângela e Aline, por manter a família de parte do meu

pai unida e por sempre me aconselharem.

Ao professor Assed, orientador deste projeto de graduação, pelo seu

empenho em manter o alto nível acadêmico de nossa instituição, procurando sempre

promover o melhor aos alunos da UFRJ.

Aos amigos de Macaé, Lucas Bastos, Marcelo Sancho, Paulo Faria, Pedro Ivo

e Tales Peixoto, por mostrar que a verdadeira amizade não se perde, apesar da

distância e o passar do tempo.

Aos amigos que encontrei no decorrer deste curso, André Mascarenhas,

Andreia Queima, Beatriz Abreu, Bruna Basile, Carlos César Rigueti, Caroline Monteiro,

Eduardo Buys, Gabriel Maia, Gustavo Medina, Laura Barros, Luciana Siqueira e

Thiago Rodrigues, por ajudar a enfrentar os desafios do curso e garantir que esses

longos anos de graduação se passassem de forma mais leve e divertida.

Aos amigos de intercâmbio da Austrália, Derek Cabral, Esdras Villela, Felipe

(Gnão) Ferreira, Gabriela Garcez, Luca Lombris, Lucas Narigoni, Marcello Souza e

Rodrigo Corazzari, por ajudarem a superar momentos difíceis da vida e fazerem parte

de uma vivência harmoniosa enquanto na Austrália.

Obrigado.

Page 6: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

VI

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ

como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro

Civil.

Mobilidade Urbana: Um Estudo Sobre os Programas de Bicicleta

Pública e Projeto para Implantação em Macaé-RJ

André Borges Randolpho Paiva

Agosto / 2015

Orientador: Assed Naked Haddad

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os sistemas de bicicletas

compartilhadas como opção de mobilidade para centros urbanos de forma sustentável

e a buscar um complemento ao transporte coletivo no Brasil. A dissertação conta com

uma revisão bibliográfica onde se apresenta o tema de forma teórica, abordando as

diferentes gerações dos programas de bicicletas compartilhadas com suas respectivas

características, os possíveis modelos de negócios, as variáveis que influenciam o uso

da bicicleta e a análise do desempenho dos sistemas. Através da elaboração de um

projeto de bicicletas compartilhadas para Macaé, no estado do Rio de janeiro, cidade

natal do autor, apresenta-se de forma prática como um sistema de bicicletas

compartilhadas pode ser viabilizado tecnicamente com base em artigos do ITDP e do

Plano de Mobilidade Urbana do município de Macaé.

Palavras-chave: sistema de bicicletas compartilhadas, sistema de bicicleta pública

Page 7: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

VII

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial

fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer.

Urban Mobility: A Study of Public Bicycle Programs and Design for

Implementation in Macaé-RJ

André Borges Randolpho Paiva

August / 2015

Advisor: Assed Naked Haddad

This study aims to present the bicycle share systems as mobility option for

urban centers in a sustainable way and to seek a complement to public

transportation in Brazil. The thesis includes a literature review which presents

the theme theoretically, addressing the different generations of public bicycle

systems with their respective characteristics, potential business models, the

variables that influence the use of bicycles and the analysis of the systems’

performance. Through the development of a bike share program to Macaé, in

the state of Rio de Janeiro, author’s hometown, it presents a practical way as a

shared bicycle system can be made viable technically, based on ITDP items

and the new Urban Mobility Plan for Macae.

Keywords: bike share, public bicycle system

Page 8: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

VIII

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA........................................................ 1

1.2. OBJETIVO ............................................................................................ 4

1.3. JUSTIFICATIVA .................................................................................... 4

1.4. METODOLOGIA EMPREGADA ............................................................ 5

1.5. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ........................................................... 5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 7

2.1. TIPOS DE PROGRAMAS DE BICICLETA PÚBLICA ............................ 7

2.1.1. PRIMEIRA GERAÇÃO ................................................................... 7

2.1.2. SEGUNDA GERAÇÃO ................................................................... 8

2.1.3. TERCEIRA GERAÇÃO ................................................................... 9

2.1.4. QUARTA GERAÇÃO E AS TENDÊNCIAS ................................... 10

2.1.5. MODELOS DE NEGÓCIOS ......................................................... 12

2.2. VÁRIAVEIS QUE INFLUENCIAM O USO DE BICICLETA COMO

OPÇÃO DE MOBILIDADE URBANA ............................................................ 15

2.2.1. PRINCIPAIS MOTIVADORES ...................................................... 15

2.2.2. PRINCIPAIS EMPECILHOS ......................................................... 20

3. OBJETIVOS E ANÁLISE DO DESEMPENHO DE PROGRAMAS DE

BICICLETAS PÚBLICAS .................................................................................. 25

3.1. MOBILIDADE PESSOAL .................................................................... 25

3.1.1. ALCANCE DO TRANSPORTE PÚBLICO .................................... 25

3.1.2. INTEGRAÇÃO COM OUTROS MODOS DE TRANSPORTE....... 26

3.1.3. GARANTIR QUE A BICICLETA PÚBLICA SEJA COMPETITIVA

FINANCEIRAMENTE SE COMPARADO A OUTROS MODOS DE

TRANSPORTES ....................................................................................... 27

3.2. INDICADORES DE PERFORMANCE DOS SISTEMAS ..................... 27

3.2.1. DADOS BÁSICOS DO SISTEMA ................................................. 27

3.2.2. INDICADORES DE DESEMPENHO ............................................ 28

4. PROJETO PARA VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE BICICLETAS

COMPARTILHADAS EM MACAÉ-RJ .............................................................. 35

4.1. CARACTERIZAÇÃO LOCAL .............................................................. 35

4.1.1. DADOS SÓCIOECONÔMICOS.................................................... 35

Page 9: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

IX

4.1.2. ÁREA DE ESTUDO ...................................................................... 37

4.1.3. MOBILIDADE URBANA – CENÁRIO ATUAL ............................... 39

4.2. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA .................................................. 40

4.2.1. QUANTIDADE DE BICICLETAS .................................................. 41

4.2.2. QUANTIDADE DE ESTAÇÕES .................................................... 41

4.2.3. QUANTIDADE E DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS TOTAL NO

SISTEMA .................................................................................................. 42

4.2.4. ESPECIFICAÇÕES DA BICICLETA ............................................. 43

4.2.5. SISTEMA DE CONTROLE DE OPERAÇÕES.............................. 45

4.2.6. ROTINA DE MANUTENÇÃO DAS BICICLETAS .......................... 45

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 49

ANEXO 1 .......................................................................................................... 52

ANEXO 2 .......................................................................................................... 53

ANEXO 3 .......................................................................................................... 55

ANEXO 4 .......................................................................................................... 57

ANEXO 5 .......................................................................................................... 59

Page 10: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O Planejamento de transportes no âmbito urbano é uma das principais

intervenções no desenvolvimento urbano das cidades, tendo como objetivo definir a

infra-estrutura de circulação de pessoas e bens nesse meio, assim como os veículos

utilizados e a definição da oferta de serviços públicos para atendimento da sociedade.

(VASCONCELLOS, 2000)

A partir da Segunda Grande Guerra, em geral, o desenvolvimento dos

métodos de planejamento de transportes nas cidades ganhou força, com a rápida

industrialização mundial e a crescente necessidade de mobilidade pela emergente

classe média. E foi nos Estados Unidos que as técnicas de planejamento foram

desenvolvidas, rapidamente disseminadas para todo o mundo até a década de 1970,

sendo aplicadas por último nos países em desenvolvimento. (VASCONCELLOS, 2000)

Esse processo de crescente importância automobilística aliado à falta de correto

planejamento urbano levou ao cenário que contemplamos atualmente, com cidades

super engarrafadas, imensas frotas e um grande tempo de viagem para mobilidade

dentro das cidades.

Um antigo e conhecido modo de transporte vem se reinventando para tentar

resolver problemas de mobilidade de curta distância: A bicicleta. Conectando-se com

outros modos de transporte, amigável ao meio-ambiente e à saúde dos usuários, o

conceito de bicicleta pública vem ganhando destaque nos últimos anos em grandes

cidades da Europa, Ásia e Estados Unidos, sendo responsável por grandes números

de viagens. (DEMAIO, 2009)

Segundo DeMaio, 2009, Esse conceito vem de Amsterdã, que em 1965

iniciou o primeiro programa de bicicleta pública do mundo chamado de “Bicicletas

Brancas”. O programa logo sucumbiu devido a roubos e vandalismo, e só em meados

da década de 1990 que foram instituídas a segunda e terceira gerações de bicicleta

pública, sendo que na terceira geração a identificação de cada usuário permitiu maior

controle e menos problemas com furtos e vandalismo.

Alguns programas foram criados pela Europa, mas foi em 2005 que o

programa de bicicletas públicas de Lyon teve destaque maior destaque, com 1,500

Page 11: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

2

bicicletas e 15,000 usuários registrados que andavam pagando muito pouco se o

tempo de viagem não ultrapassasse 30 minutos. (HENLEY, 2005)

Dois anos depois, foi criado o programa Vélib’ de Paris, com 7,000 bicicletas

inicialmente e hoje conta com 23,900 bicicletas. A grandiosidade e o instantâneo

sucesso do programa de Paris geraram grande interesse internacional por esse modo

de transporte e inspirou novos programas entre 2007 e 2008 no Brasil, Chile, China,

Nova Zelândia, Coréia do Sul, Taiwan e Estados Unidos. (DEMAIO, 2009)

Atualmente, existem cerca de 900 programas espalhados pelos cinco

continentes, sendo que algumas cidades têm mais de um programa devido ao seu

tamanho e diferentes modalidades de contratação e prestação de serviços. O mapa

abaixo ilustra a localização dos programas em operação e os programas em

planejamento ou implantação. (BIKE SHARE PHILADELPHIA, 2015)

Figura 1 – Mapa Mundial com a localização de programas de bicicleta pública Fonte: https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=zGPlSU9zZvZw.kmqv_ul1MfkI , 2015.

No Brasil o primeiro sistema de bicicleta pública foi o SAMBA, criado no Rio

de Janeiro em 2008, foi o precursor do atual programa Bike Rio. Uma iniciativa da

Prefeitura do Rio de janeiro executado através de Termo de concessão de Uso da

Serttel em parceria com o Banco Itaú e o sistema de bicicletas SAMBA.

(http://www.mobilicidade.com.br/bikerio.asp, acessado em 2015)

Atualmente existem 15 programas de bicicleta pública no Brasil, sendo o

programa Bike Rio e Bike Sampa os principais, no Rio de Janeiro e em São Paulo,

respectivamente.

Page 12: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

3

O Brasil ainda não teve um grande destaque no cenário internacional em

bicicletas públicas como sistema de mobilidade urbana; como visto na tabela a seguir,

existem sistemas bem maiores do que os nossos com destaque para os Chineses com

dezenas de milhares bicicletas fazendo parte do sistema de transporte das grandes

cidades.

Tabela 1 – Informação Geral dos Principais Sistemas Fonte: ITDP Brasil, 2014.

Macaé, a cidade de estudo, pertence à Região Norte Fluminense no estado

do Rio de Janeiro com uma população aproximada de 206 mil habitantes e uma frota

Page 13: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

4

aproximada de 105 mil veículos. (IBGE, 2014) Seu clima é quente e úmido a maior

parte do ano e a topografia no centro urbano não é muito acidentada.

(http://www.macae.rj.gov.br, acessado em 2015)

O momento para a implantação de um sistema de bicicleta pública em Macaé

não poderia ser mais oportuno devido ao atual desejo da Prefeitura de executar um

novo Plano de Mobilidade urbana na cidade, elaborado neste mesmo ano de 2015. A

chance de se instalar as estações de bicicleta ao mesmo tempo em que o Plano de

Mobilidade Urbana é executado evita que sejam feitas intervenções maiores, uma vez

que obras já serão realizadas e o atual sistema de transporte será modificado.

1.2. OBJETIVO

O presente trabalho pretende apresentar o sistema de bicicleta pública como

uma opção viável de mobilidade urbana, com uma análise mais profunda de sua

instalação no centro urbano de Macaé-RJ. Para contextualização do tema, serão

abordados os tipos existentes de programas de bicicleta pública, seus principais

motivadores, empecilhos e uma análise da qualidade do serviço e seu desempenho

como um modo de transporte não motorizado em centros urbanos.

Uma análise da viabilidade técnica para sua implantação na cidade de

Macaé-RJ será vista como evolução do trabalho, levando em conta as características

da cidade e o novo Plano de Mobilidade Urbana Proposto neste ano de 2015.

1.3. JUSTIFICATIVA

O crescimento do Brasil nos últimos anos permitiu que a frota do país

aumentasse de forma acentuada. De acordo com o IPEA, 2013, de 2008 para 2012, o

percentual de domicílios no Brasil que possui automóvel ou motocicleta aumentou de

45% para 54%. Esse crescimento da frota traz consigo um problema de mobilidade

urbana, uma vez que a infraestrutura de transportes urbanos não acompanha a

demanda e cria congestionamentos de veículos nos centros urbanos.

A cidade de Macaé teve um crescimento extremamente acelerado devido ao

grande interesse da extração de petróleo de seu leito marinho, com a instalação da

Page 14: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

5

Petrobrás e outras empresas prestadoras de serviços de extração. O petróleo trouxe

junto os problemas dos centros urbanos relacionados a transporte, segurança e

outros, ainda intensificados pela rápida expansão da cidade.

A solução de bicicleta pública vem se mostrando uma alternativa viável ao

redor do mundo como complemento dos sistemas de transporte urbano,

principalmente quando bem interligada aos outros modos de transporte e o novo Plano

de Mobilidade Urbana de Macaé traz a oportunidade de que a implantação desse

sistema seja feita de forma paralela às soluções propostas pelo plano, sem

necessidade de retrabalho ou obras desnecessárias. A união desse quadro atual com

o interesse do autor de dar uma contribuição à sociedade e seus centros urbanos e o

fato de ser macaense, justifica a escolha dessa solução de transporte para a cidade de

Macaé como estudo de caso do seu trabalho final de graduação.

1.4. METODOLOGIA EMPREGADA

O tema em questão foi pesquisado por meio de livros, artigos, manuais de

sistemas de transportes, através de consultas a engenheiros de transportes e de

algumas pesquisas realizadas na internet. O trabalho apresenta uma parte teórica,

onde são apresentados os principais conceitos referentes ao tema, com uma

abordagem mais aprofundada, tendo como objetivo principal contextualizar e

esclarecer a respeito dos sistemas de bicicletas públicas. Em seguida, o estudo é

focado para uma análise da cidade de Macaé e a implantação do sistema em conjunto

com o novo Plano de Mobilidade Urbana do município.

O texto foi desenvolvido com supervisão de um orientador acadêmico, com

pesquisas bibliográficas e com a vivência diária do autor na cidade em questão,

durante 18 anos, possibilitando a análise e a compilação das informações a seguir

sobre sistemas de bicicletas públicas e a possibilidade da implantação em Macaé.

1.5. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS

No segundo capítulo, é apresentada uma fundamentação teórica sobre

sistemas de bicicleta pública, desde a primeira geração à atual situação, e uma análise

das variáveis que influenciam o uso de bicicleta em geral, descrevendo os motivadores

e os empecilhos principais.

Page 15: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

6

No terceiro capítulo, é apresentada uma análise da qualidade do serviço

ofertado de programas de bicicleta compartilhada já existentes em alguns países, na

tentativa de fazer alguns cálculos de desempenho para melhor compreensão dos

impactos desses programas no sistema de mobilidade urbana.

O quarto capítulo tem como foco a viabilização de bicicletas públicas em

Macaé, fazendo uma análise nas condições locais atuais e futuras de mobilidade,

considerando-se o novo Plano de Mobilidade Urbana da cidade.

Por fim, o quinto capítulo tem como conteúdo as considerações finais e

conclusões sobre o tema abordado em todo o trabalho, onde o autor demonstra seu

olhar crítico a respeito dos sistemas de bicicletas compartilhadas e sua possível

implantação na cidade de Macaé.

Page 16: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

7

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo será apresentada uma revisão bibliográfica sobre os

programas de bicicleta pública e sua evolução; suas gerações, os modelos de

negócios que atualmente são usados nos principais programas pelo mundo, e se fará

uma apresentação dos fatores que influenciam o uso de bicicleta no meio urbano.

2.1. TIPOS DE PROGRAMAS DE BICICLETA PÚBLICA

2.1.1. PRIMEIRA GERAÇÃO

Em 1965, em Amsterdã, foi criado o primeiro programa de bicicleta pública,

chamado “White Bikes” ou “Bicicletas Brancas”. A ideia original do vereador da cidade

Luud Schimmelpennink era de que 20 mil bicicletas fossem distribuídas pela cidade

para desafogar o transito, mas não foi aprovada pela assembléia municipal. Diante

dessa derrota, alguns grupos levaram a o programa adiante colocando 50 bicicletas

brancas nas ruas de Amsterdã, sem qualquer cadeado ou controle de quem estava

utilizando o serviço. Em alguns dias o programa foi arruinado devido aos furtos e ao

recolhimento das bicicletas pela polícia, alegando que estando soltas elas incitariam

pessoas a roubá-las. (ITDP BRASIL, 2014)

Figura 2 – Bicicletas Brancas de Amsterdã

Fonte: http://www.eventscotland.org/, 2015.

Os programas de primeira geração tinham como principal componente a

bicicleta, por não ter muita tecnologia envolvida. Além disso, as bicicletas geralmente

Page 17: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

8

eram pintadas em cores acentuadas, não eram travadas e eram dispostas ao acaso

para o uso público. Outros dois programas de primeira geração foram criados em La

Rochelle, França, em 1974 e em Cambridge, Grã-Bretanha, em 1993, o Esquema de

Bicicleta Verde, que logo entrou em colapso com 300 bicicletas roubadas. Já o

programa de La Rochelle chamado de Bicicletas Amarelas, está em vigor até os dias

atuais. Criado como medida de proteção ao meio ambiente, a comunidade urbana deu

grande apoio ao programa, se tornando o primeiro bem sucedido na França.

(SHAHEEN et al., 2010)

2.1.2. SEGUNDA GERAÇÃO

Devido aos problemas de roubo das bicicletas experimentado na primeira

geração, foi criada em 1991 na Dinamarca a segunda geração de sistemas de

bicicletas compartilhadas com travamento das bicicletas em estações e liberadas com

o depósito de moedas. Mas foi em 1995 que surgiu a “City Bike” de Copenhagen,

Dinamarca, primeiro serviço de bicicleta pública em larga escala da Europa com 1.100

bicicletas com design especial e que se destravavam dos engates através do depósito

de moedas, equivalente a U$3 na época. Esse sistema ainda funciona hoje com duas

mil bicicletas e 110 estações com travamento para as bicicletas. (SHAHEEN et al.,

2010)

A segunda geração traz consigo alguns melhoramentos em relação à primeira

geração e são eles (a) as bicicletas são personalizadas e têm maior resistência do que

uma bicicleta comum, para agüentar o maior tempo de uso, (b) espaço para

propaganda, gerando a possibilidade de renda com publicidade, (c) travamento e

liberação das bicicletas mediante a um depósito de moedas em lugares estabelecidos

e (d) gerenciamento do programa por Organizações não Governamentais. (DEMAIO,

2009)

De acordo com Shaheen et al., 2010, a segunda geração trouxe mais

dependência ao sistema aos pontos de coleta e entrega de bicicleta com a

implantação das estações e do depósito de moedas e menor margem ao furto, apesar

do baixo valor do depósito na estação. No entanto, o fato de não se ter controle do

tempo utilizado pelo usuário e de furtos continuarem existindo, uma nova geração de

programas de bicicletas compartilhadas surgiria mais adiante, a terceira geração.

Page 18: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

9

2.1.3. TERCEIRA GERAÇÃO

Após experiências positivas e negativas nos programas de primeira e

segunda geração, os sistemas de bicicleta compartilhada entraram na terceira

geração, corrigindo problemas das anteriores, incorporando tecnologia e aproveitando

algumas características que funcionavam anteriormente.

Segundo Shaheen et al., 2010, os programas de terceira geração vêm com

bicicletas personalizadas pela cor, modelo e propagandas, estações mais modernas,

tecnologia de retirada e devolução de bicicleta identificando o usuário e totem de

interface com o usuário.

O programa que primeiro chamou atenção com essas características foi o

Velo’v, 2005, na cidade de Lyon. Com 15 mil membros, e 1.500 bicicletas, o programa

foi considerado bem sucedido por fazer 6,5 viagens por dia por bicicleta. Logo a

cidade de Paris se interessou pelo sistema e criou seu próprio em 2007 com sete mil

bicicletas inicialmente e aumentando rapidamente para 23.600 bicicletas em 2009.

(DEMAIO, 2009)

A partir desses programas muitas cidades aderiram pela Europa, criando um

novo modo de transporte urbano em larga escala, requerendo maiores investimentos e

planejamento em sua implantação. Os anos de 2008 e 2009 foram bastante marcantes

com o crescimento acelerado na Ásia e nos Estados Unidos, tornando mundial o

conceito e em larga escala. (Shaheen et al., 2010)

Esse crescimento é ilustrado pela figura 3 a seguir, que mostra a frota em

2010 de 250 mil bicicletas em todo o mundo em 350 sistemas de bicicletas

compartilhadas. Pode-se observar uma curva acentuada após a implantação da

terceira geração, levando às bicicletas grande importância no contexto da mobilidade

urbana de grandes cidades pelo mundo.

Page 19: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

10

Figura 3 – Gráfico mostra crescimento de frota e sistemas entre 2000 e 2010

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

2.1.4. QUARTA GERAÇÃO E AS TENDÊNCIAS

Assim como a terceira geração, a quarta geração obteve ganhos tecnológicos

para o sistema e ainda integração com outros modos de transporte, inclusive com o

uso do mesmo cartão usado para pagamento dos diferentes modos de transporte em

alguns casos. Esses novos sistemas são chamados de “demand-responsive” ou

sistemas multimodais e têm como principais características: estações fixas ou

flexíveis, inovações na redistribuição de bicicletas de acordo com a demanda,

integração por meio de cartões inteligentes com outros modos de transporte e

inovações tecnológicas com uso de GPS, totens com telas sensíveis ao toque e em

alguns casos bicicletas elétricas. (SHAHEEN et al., 2010)

A integração com outros modos de transporte leva a praticidade e incentiva o

uso de bicicletas públicas como mobilidade urbana. Segundo de Melo e Maia, 2013, a

cidade de La Rochelle, anteriormente citada neste trabalho, faz uso de um cartão

inteligente que o usuário pode utilizar tanto para o sistema de bicicleta pública quanto

para o resto do sistema de transporte público. Em Washington, o programa “Capital

BikeShare” permite a integração de bicicletas públicas com o metrô, ônibus e trens,

utilizando-se apenas um cartão do sistema de transportes.

Page 20: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

11

No Brasil, o Rio de Janeiro, por exemplo, conta com um sistema de quarta

geração. No BikeRio utiliza-se o telefone para liberação da bicicleta, seja por meio de

ligação ou pelo aplicativo, e cada estação (abastecida por energia solar) manda

informações ao sistema a respeito da disponibilidade de bicicletas em tempo real.

(http://www.mobilicidade.com.br/bikerio.asp, acessado em 2015)

Uma tendência que já está sendo implantada em alguns lugares é o uso de

bicicletas elétricas que ajudam o usuário a percorrer maiores distâncias, vencem

ladeiras mais facilmente e dá maior conforto em lugares que o clima não favorece o

uso de bicicleta como meio de transporte urbano. De acordo com ITDP BRASIL, 2014,

há um sistema de bicicletas públicas em Stuttgart, Alemanha que tem bicicletas

elétricas com carregadores nas estações e dispositivo de localização GPS.

Para resumir as diferentes gerações de sistemas de bicicletas compartilhadas

e as diversas possibilidades, será mostrado a seguir um quadro comparativo com as

principais características de cada geração.

Tabela 2 – Principais características das quatro gerações de sistemas de bicicletas públicas Fonte: de Melo e Maia, 2013.

Page 21: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

12

2.1.5. MODELOS DE NEGÓCIOS

O modelo de negócios estipula a propriedade dos ativos e o fluxo de receita

entre operadora e o governo, seja a operadora privada ou pública. É importante

pensar em sistemas de bicicletas públicas como qualquer outro modo de transporte

público, pois geralmente eles não são grandes geradores de lucro, e sim uma

alternativa de mobilidade urbana à sociedade. (ITDP BRASIL, 2014)

O governo deve levar em consideração três fatores importantes em relação

ao modelo de contratação: A estrutura organizacional a ser utilizada, a atribuição da

propriedade dos ativos e a estrutura de contratação a ser escolhida. Geralmente, na

fase de planejamento do sistema, o governo define a macroestrutura do negócio.

(ITDP BRASIL, 2014)

Ao longo da história de bicicletas públicas, vários modelos de negócios foram

estabelecidos e experimentados. Por exemplo, operadores variaram de governos

locais a: agências de transportes, companhias de marketing, organizações não

governamentais e companhias visando lucro. E os principais meios de receita são por

meio de propaganda, taxa de cobrança por uso do usuário, parceria público-privada e

subsídios governamentais. (SHAHEEN et al., 2010) A seguir, serão analisados os

principais modelos utilizados.

2.1.5.1. MODELOS GOVERNAMENTAIS E SEM FINS

LUCRATIVOS

No modelo de propriedade e operações públicas, o governo implanta e opera

o sistema, tomando toda a responsabilidade pelo risco financeiro e operacional. Há de

se considerar que entidades públicas têm menor eficiência quando executa uma

atividade pela primeira vez, mas por outro lado, todo o sistema fica responsável por

uma entidade somente, (DEMAIO, 2009; ITDP BRASIL, 2014) e que esta preza pela

harmonia do transporte público e o bem-estar da sociedade, em sua essência.

De acordo com DeMaio, 2009, agências de transportes também podem criar

e operar sistemas de bicicletas públicas, geralmente como complemento de suas

atividades em outros modos de transporte, pelo bem da mobilidade urbana. Por

exemplo, na Alemanha, a “Deutsche Bahn” é o órgão responsável pelo sistema de

Page 22: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

13

trens do país, e opera o sistema de bicicleta pública “Call a bike” para oferecer melhor

mobilidade à sociedade alemã. Assim como no caso do governo, as agências públicas

têm como prioridade o fornecimento de transporte eficiente, e não o lucro advindo do

serviço.

Outro modelo que não visa obtenção de lucros é o de Organizações não

governamentais (ONGs). Neste modelo, o governo faz toda a instalação do sistema

que será operado por uma ONG, que por sua vez recebe as anuidades e receitas do

sistema a fim de mantê-lo operante. Os fatores limitantes do modelo de ONGs são a

falta de recursos (por ter foco no bem estar da sociedade e do transporte urbano) e a

dependência do governo para tomar a iniciativa e até subsídios se necessário.

(DEMAIO, 2009)

2.1.5.2. MODELOS PRIVADOS

O mais comum dos dois modelos privados é o qual o governo tem

propriedade dos ativos e a iniciativa privada opera o sistema. Esse modelo tem como

grande vantagem que a operação logística é feita pela empresa privada, sempre

fiscalizada pelo governo, que pode controlar bem a situação dos contratos com

vigências curtas, a fim de melhorar sempre a infra-estrutura do sistema. (ITDP

BRASIL, 2014)

Segundo DeMaio, 2009, na maioria dos casos, as empresas operadoras têm

como principal fonte de lucro o espaço para propaganda, que é uma autorização feita

pelo governo para a propaganda em locais públicos. O problema desse modelo é que

as empresas não se preocupam tanto com o nível de serviço oferecido, uma vez que a

propaganda já lhes está gerando recursos, geralmente as receitas vão para o

município.

Quando os ativos e a operação são de responsabilidade privada, têm-se

então o modelo para obtenção de lucros. Nestes sistemas o governo local concede o

espaço para a instalação das estações em locais públicos e concede o contrato por

meio de licitação. Essa alternativa tem como principal benefício a não utilização de

recursos públicos, porém, apresenta conflito entre o governo e a iniciativa privada

quanto à localização das estações e a receita gerada. (DEMAIO, 2009; ITDP BRASIL,

2014)

Page 23: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

14

De acordo com DeMaio, 2009, não há como generalizar citando o melhor e

pior modelo dentre os descritos anteriormente, pois cada situação é única e

dependente de várias variáveis em cada cidade. O que a experiência mostra é que em

grandes cidades, o modelo operado por empresas de propaganda são bem populares

por ter grandes populações para a visualização da propaganda.

A seguir é mostrada uma tabela com os principais modelos e suas

características, a fim de melhor resumir os modelos de negócios para sistemas de

bicicletas públicas.

Tabela 3 – Resumo dos principais modelos de negócios Fonte: Shaheen et al., 2010.

Operador Modelo de operação padrão Fonte de Recursos

Governo Local e Autoridade pública

Criado (ou adquirido) e operado pelo governo local visando o bem estar da sociedade e da mobilidade urbana

Fundo municipal; Tarifa sobre o uso; Propaganda em estações e bicicletas

Agência de transporte público

Opera o sistema com suporte do governo local, porém com maior eficiência por ter experiência na área

Subsidio municipal; Tarifa sobre o uso; Propaganda em estações e bicicletas

Empresa de propaganda

Opera o sistema em troca de direito de exibir propagandas em estruturas públicas e outdoors

Arrecadação pela propaganda em locais públicos, bicicletas e estações; Tarifa sobre o uso

Empresa privada Instala e opera o sistema (lucrativo) com a mínima intervenção do governo

Arrecadação pela propaganda em bicicletas e estações; Tarifa sobre o uso

Organização não governamental

Opera o sistema sob o suporte de agências públicas e governo local

Fundo público-privado; Tarifa sobre o uso; Empréstimos bancários; Arrecadação local

Page 24: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

15

2.2. VÁRIAVEIS QUE INFLUENCIAM O USO DE BICICLETA

COMO OPÇÃO DE MOBILIDADE URBANA

Assim como outros modos de transporte, a bicicleta tem seus fatores que

motivam e os fatores que desmotivam o seu uso como meio de transporte em

ambiente urbano. A escolha modal depende das características do usuário de

transporte e dos sistemas de transporte disponíveis no local. (PROVIDELO e

SANCHES, 2010)

A seguir serão discutidos os principais motivadores e desmotivadores em

relação ao uso de bicicleta como opção de transporte urbano. Sejam o ambiente, a

sociedade ou a percepção do usuário, esses fatores têm influência direta no sucesso

de programas de bicicleta pública.

2.2.1. PRINCIPAIS MOTIVADORES

2.2.1.1. SAÚDE DO USUÁRIO

Além de ser uma alternativa ao transporte público, a bicicleta beneficia a

saúde de seus usuários por ser movida pelo esforço físico dos próprios. A atividade

física no uso da bicicleta é comparável à caminhada ou até mesmo à corrida, de

acordo com a comunidade médica.

Pesquisas de percepção sobre o uso da bicicleta apontam o fato de que é

“bom para a saúde”, como principal motivador do uso no Brasil. De acordo com

Silveira e Maia, 2015, cidades em destaque como São Carlos (SP), Rio Claro (SP),

São José do Rio Preto (SP), Aracajú (SE) e Salvador (BA) tiveram a influência à saúde

como principal motivo para se viajar de bicicleta.

Page 25: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

16

2.2.1.2. BAIXO CUSTO

O baixo custo é visto nas pesquisas como o segundo maior motivador à

utilização de bicicletas no Brasil, segundo Silveira e Maia, 2015. Nota-se que em

outros Países mais desenvolvidos, como por exemplo, os Estados Unidos, o baixo

custo da bicicleta em relação a outros tipos de transportes não é tão determinante

quanto no Brasil. (STINSON e BHAT, 2004)

Dentro do contexto brasileiro, nota-se grande diferença de custo de transporte

em diferentes tipos de cidades, podendo chegar a R$7,20 por habitante por dia nas

cidades com mais de um milhão de habitantes e R$2,53 por habitante por dia em

cidades com população de 60 mil a 100 mil habitantes, como mostrado na figura 4.

(ANTP, 2014)

Gráfico 1 – Custos pessoais da mobilidade, por modo e porte de município em 2012 Fonte: ANTP, 2014.

Tendo como base o salário mínimo de R$622,00 por mês em 2012

(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2015) e a média nacional de R$4,88 por habitante por

dia, nota-se que em um mês R$146,40 (23,5% do salário mínimo do trabalhador

brasileiro) é destinado a pagar por sua mobilidade nos centros urbanos. Esse cálculo

Page 26: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

17

ainda desconsidera os gastos públicos para infraestrutura e operação do transporte

urbano, e também os gastos advindos da poluição e acidentes gerados pelos meios de

transporte convencionais. Segundo ANTP, 2014, só os custos estimados de poluição e

acidentes no Brasil é de 21,5 bilhões de reais por ano.

Gráfico 2 – Custos dos impactos (emissão de poluentes e acidentes de trânsito), por modo em 2012

Fonte: ANTP, 2014.

A bicicleta por outro lado tem o custo ambiental zero por ser totalmente não

motorizado. A infraestrutura ciclo viária em São Paulo é estimada em 200 mil reais por

quilômetro (CRUZ, 2015) e os acidentes em ciclovias são geralmente menos graves

do que acidentes de automóveis. Segue abaixo o resumo de custo por modo de

transporte da ANTP de 2012 mostrando os altos custos totais de transportes

motorizados comparados a transporte não motorizado (ciclistas e pedestres).

Figura 4 – Resumo dos dados gerais para 2012 (valores totais)

Fonte: ANTP, 2014.

Page 27: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

18

2.2.1.3. REDUÇÃO DO TEMPO DE VIAGENS CURTAS

A bicicleta pública tem como um dos principais objetivos resolver o problema

da ligação entre a estação de transporte coletivo e a casa do usuário, também

conhecido como problema da primeira milha/última milha. (DEMAIO, 2009)

De acordo com Silveira e Balassiano, 2009, Os grandes centros urbanos no

Brasil estão cada vez mais congestionados e a bicicleta oferece a rapidez e

flexibilidade nos horários de pico nos principais corredores de tráfego, principalmente

como um meio de transporte complementar de uma viagem mais longa.

Em São Paulo uma ação com foco na integração do sistema de bicicleta

pública Bike Sampa com os outros modos de transporte já está sendo tomada.

Usuários do sistema Bike Sampa já podem utilizar o cartão do Bilhete Único para

liberar bicicletas em 149 estações. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014)

Esse empenho em integrar os meios de transporte com a bicicleta mostra-se

válido em um exemplo na Holanda, segundo Ribeiro et al., 2012, uma comparação foi

realizada em 25 links Origem-Destino mostrando que a relação entre o tempo de

viagem do transporte coletivo e do transporte individual (carro) pode cair de 1,43 para

1,25 onde se aplicou a bicicleta como forma integrada ao transporte público.

2.2.1.4. CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

De acordo com Vasconcellos, 2013, a preocupação atual com o meio

ambiente vem do agravamento de algumas condições ambientais negativas

decorrentes da industrialização e intensa urbanização. A partir da década de 90

inúmeros impactos ambientais passaram a ser considerados em transportes, o que

dificulta a seleção dos principais impactos para análise dos especialistas.

No meio urbano os principais impactos são: (VASCONCELLOS, 2013)

- Ocupação do espaço;

- Acidentes de trânsito;

- Poluição do ar e ruído;

- Efeito barreira;

- Vibração nas construções;

- Congestionamento.

Page 28: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

19

O setor de transportes é um dos maiores consumidores de energia no mundo,

sendo responsável por aproximadamente 30% do total de energia comercializada em

todo globo e o maior uso de automóveis nos centros urbanos está criando grandes

congestionamentos ao invés de dar maior liberdade de movimento aos usuários de

transporte. (SILVEIRA E BALASSIANO, 2009)

No Brasil o consumo de energia atrelado ao transporte chega aos 13,5

milhões de TEP (Tonelada Equivalente de Petróleo) por ano. O gráfico a seguir

mostra o consumo de energia anual por modo.

Gráfico 3 – Consumo de energia por modo (milhões de TEP) em 2012

Fonte: ANTP, 2014.

De acordo com Vasconcellos, 2003, a questão ambiental foi incorporada tanto

no Código de Trânsito Brasileiro quanto no Estatuto das Cidades e houve uma grande

mudança na percepção da sociedade a respeito do problema ambiental, levando

maiores envolvimentos de entidades não governamentais e até do Ministério Público

no assunto.

Uma análise no consumo de energia dos modos de transporte mostra que a

bicicleta é o modo que apresenta o menor consumo de energia primária em MJ (Mega

Joule) por passageiro-Km, como pode ser observado na figura 5. (SILVEIRA E

BALASSIANO, 2009)

Page 29: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

20

Figura 5 – Consumo de energia por modo (milhões de TEP) em 2012

Fonte: Silveira e Balassiano, 2009.

Segundo Silveira e Balassiano, 2009, a população, em geral, busca a

melhoria na qualidade de vida, e a questão ambiental está cada vez mais presente na

vida cotidiana da sociedade como parte dessa busca. Há diversas situações típicas

em que na mobilidade urbana é possível perceber o grande potencial que a bicicleta

tem para se utilizar como um modo de transporte amigável ao meio ambiente.

2.2.2. PRINCIPAIS EMPECILHOS

2.2.2.1. INSEGURANÇA NO TRÂNSITO

Acidentes no trânsito são uma grande preocupação para os ciclistas, não só

no brasil, mas no mundo todo. Segundo Shaheen et al., 2012, os Estados Unidos

desenvolveram técnicas de design de vias para a redução dos acidentes. As medidas

incluem a diminuição de velocidade do tráfego (Emprego de redutores de velocidade e

interseções em desnível); pintura de ciclo faixas com tinta refletiva para melhorar a

visibilidade dos motoristas; e criação de sinalização de parada para ciclistas antes de

interseções que geram conflito com outros modos de transporte.

De acordo com Silveira e Maia, 2015, as pesquisas de percepção sobre o uso

de bicicleta apontam que o principal empecilho para o usuário é a insegurança no

trânsito, desde cidades de pequeno porte a cidades de grande porte.

Page 30: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

21

O Código Nacional de Trânsito estabelece que os veículos maiores devam

zelar pelos mais frágeis e os veículos motorizados são sempre responsáveis pela

segurança dos veículos não motorizados. Diversas formas de dirigir um automóvel

motorizado são consideradas infrações de trânsito, como fechar ciclistas; colar na

traseira do ciclista; ultrapassar ciclistas com distância lateral menor que um metro e

meio; entre outras. (SAMPA BIKERS, 2015)

Segundo Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010, o ciclista pode ter a

segurança garantida “por meio da moderação de tráfego (para a qual o próprio uso da

bicicleta contribuiria), sinalização adequada, educação, implantação de ciclofaixas e

rotas cicláveis, além da construção de ciclovias.”, ou seja, com uma política de

mobilidade adequada, os ciclistas teriam maior segurança em suas viagens.

2.2.2.2. FALTA DE INFRAESTRUTURA PARA BICICLETAS

A falta de infraestrutura para bicicletas nos centros urbanos é uma das

principais reclamações das pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte

no Brasil, segundo pesquisas. Enquanto que no exterior, a infraestrutura para ciclistas

é tida como um dos principais motivadores ao uso da bicicleta. (SILVEIRA E MAIA,

2015)

A infraestrutura para bicicleta se divide em: ciclovia (Vias separadas

fisicamente das faixas de automóveis, que segregam o ciclista dos demais veículos);

ciclofaixa (Marcações feitas no chão das vias públicas sem separação física dos

ciclistas com os demais veículos); ciclo-rota (um caminho sinalizado, ou não, que

define a melhor rota para o ciclista chegar a algum destino, e que pode ser toda ou

partes compostas de ciclovias e ciclofaixas); espaço compartilhado (quando o tráfego

de bicicletas é compartilhado com automóveis ou pedestres; pela lei no Brasil, quando

não se tem ciclovia ou ciclofaixa, todas as vias devem ser compartilhadas, com

exceção das vias expressas). (CRUZ, 2014)

Outro importante componente da infraestrutura ciclo viária é o

estacionamento para bicicletas. Segundo Shaheen et al., 2012, uma simples vaga

para carro oferece vaga para muitas bicicletas, e mais estacionamentos para bicicleta

encorajariam as pessoas a utilizar mais esse modo de transporte e até os sistemas de

bicicletas públicas, por tornar possível a opção de se retirar uma bicicleta da estação e

fazer uma parada no meio da viagem principal e retomá-la depois com a mesma

bicicleta.

Page 31: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

22

Figura 6 – Vagas de carro dão lugar a estação de bicicleta pública em Paris

Foto: TC Urbes, 2009.

De acordo com Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010, o Brasil vem

melhorando sua infraestrutura para bicicletas. Em 2001 se registrava 60 cidades com

aproximadamente 250 km de ciclovias no total, já em 2007 havia 279 cidades que

somando tinham cerca de 2.505 km de ciclovias. Apesar dos avanços, muito ainda

deve ser feito para incentivar a inclusão de novos ciclistas.

Tabela 4 – Total de municípios e extensão de quilômetros de ciclovias por dimensão populacional de municípios brasileiros maiores que 60 mil habitantes

Fonte: Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010.

Page 32: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

23

2.2.2.3. TOPOGRAFIA E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS

Difíceis condições topográficas em centros urbanos são geralmente um

motivo para as pessoas não fazerem uso da bicicleta como instrumento de mobilidade

urbana. No entanto, de acordo com Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010, as

aparentes dificuldades não são um empecilho para o planejamento de um sistema de

bicicletas.

Figura 7 – Ato de ciclistas em Pato Branco (RS) em via com rampa

Foto: Movimento ProCiclovia, 2011

Apesar de não determinar a viabilidade do ciclismo no local, indica-se que os

desníveis em uma ciclovia não ultrapassem 10% e que não se tenham rampas longas,

mesmo que com declives suaves. Medidas podem ser tomadas para criar patamares

de descanso e deve-se tentar suavizar o máximo possível as rampas com a escolha

do melhor traçado da ciclovia. (Ribeiro et al., 2014)

Tabela 5 – Rampas aceitáveis para ciclovias

Fonte: Ribeiro et al., 2014.

Page 33: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

24

Pesquisas apontam que as condições meteorológicas podem ser tanto

favoráveis, quanto um empecilho para o ciclismo. Isso se deve ao fato de que

condições extremas não incentivam ao uso da bicicleta, enquanto que condições

amenas é um grande incentivo. E alguns países Europeus sofrem com temperaturas

muito baixas no inverno e nevascas enquanto que outros têm ótima média de

temperatura. (SILVEIRA E MAIA, 2015)

Segundo Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010, no Brasil não se pode

considerar a condição climática como empecilho, salvo os lugares onde a temperatura

passa dos 30º C (Ainda assim, a maior parte dos deslocamentos para o trabalho é em

horários de temperatura mais amena).

Figura 8 – Condições atmosféricas que influenciam o uso da bicicleta por usuários diários

Fonte: Cidades para bicicletas, cidades do futuro, Comissão Européia, 1999.

Ainda de acordo com Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010, fatores

climáticos têm maior influência no tempo de viagem dos outros modos de transporte à

bicicleta (desde que o ciclista esteja devidamente preparado para qualquer

adversidade climática).

Page 34: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

25

3. OBJETIVOS E ANÁLISE DO DESEMPENHO DE

PROGRAMAS DE BICICLETAS PÚBLICAS

Este capítulo mostrará os principais objetivos dos programas de bicicleta

pública em relação à mobilidade do usuário e como será analisada a qualidade desses

objetivos em forma de desempenho percebida pelo usuário. E em seguida, serão

apresentados os principais indicadores de performance dos principais sistemas de

bicicletas compartilhadas no mundo.

3.1. MOBILIDADE PESSOAL

Os programas de bicicleta pública buscam melhorar a mobilidade das

pessoas nos centros urbanos, provendo melhor acesso nas cidades, onde o sistema

público de transporte não consegue atuar. São três pontos principais que podem ser

atingidos: aumentar o alcance de destinos do transporte público, criar integração com

a rede de transporte já existente nas cidades e assegurar de que a bicicleta pública

consiga ser competitiva em termos de custo com outros modos de transporte. (TOOLE

DESIGN GROUP et al., 2013)

3.1.1. ALCANCE DO TRANSPORTE PÚBLICO

Uma viagem em um centro urbano começa bem antes de se entrar no ônibus

ou trem, desde o momento que uma pessoa sai da porta de casa o deslocamento se

inicia, e muitas vezes o percurso até uma estação de trem ou ponto de ônibus pode

ser considerado longo para uma caminhada. Do mesmo jeito que para chegar ao seu

destino final, nem sempre os terminais de transportes de massa ficam localizados no

ponto exato que se quer chegar. (KAISER, 2012)

Para se medir o desempenho do programa de bicicleta pública quanto a

questão do alcance, Toole Design Group et al., 2013, sugere fazer a contagem de

população e número de empregos num raio de 400 metros das estações e um

levantamento anual de quantas viagens deixariam de ser feitas se o sistema de

bicicletas não estivesse em funcionamento.

Page 35: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

26

3.1.2. INTEGRAÇÃO COM OUTROS MODOS DE

TRANSPORTE

A integração dos transportes públicos já existe em várias cidades, porém a

integração de bicicletas públicas com os modos convencionais de transporte ainda é

novidade para muitos centros urbanos. A bicicleta nesse caso funcionaria como um

“alimentador” dos modos de maior capacidade, ajudando a diminuir o tempo de

viagem porta a porta. (RIBEIRO et al., 2012)

A quarta geração dos sistemas de bicicleta pública trouxe em alguns

programas essa integração de “smartcards” dos transportes coletivos com a bicicleta,

como dito anteriormente neste mesmo trabalho. De acordo com Shaheen et al., 2010,

essa integração é muito cara e dependente da coordenação de diferentes agentes, o

que a torna desafiadora.

Figura 10 – Ciclista fazendo integração no metrô

Foto: Ciclorgânico, 2011.

O Brasil já dispõe de um exemplo na cidade de São Paulo através da

integração do Bilhete Único ao programa Bike Sampa. Além dessa medida, estão

sendo instalados bicicletários públicos próximos às estações de metrô e terminais de

ônibus, totalizando já 4.505 vagas para estacionar bicicletas. (PREFEITURA DE SÃO

PAULO, 2014)

O desempenho quanto à integração de bicicletas públicas com outros modos

de transportes pode ser medida através de três parâmetros. O primeiro é o percentual

de estações de bicicletas dentro de um raio de 400 metros dos terminais de metrô,

trêm ou VLT, ou um quarteirão de um ponto de ônibus. O segundo é a contagem do

número de viagens de origem ou destino de uma estação de bicicletas próxima aos

terminais de modos convencionais, e o terceiro seria uma pesquisa com os usuários

Page 36: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

27

para se ter um feedback a respeito da integração da bicicleta com o transporte

coletivo. (TOOLE DESIGN GROUP et al., 2013)

3.1.3. GARANTIR QUE A BICICLETA PÚBLICA SEJA

COMPETITIVA FINANCEIRAMENTE SE COMPARADO A

OUTROS MODOS DE TRANSPORTES

O aluguel de bicicletas públicas tem como um dos objetivos encorajar o uso

em viagens curtas, de até meia hora ou uma hora. Para garantir isso, a maioria dos

programas no mundo faz a cobrança de uma taxa por determinado período de tempo

(semanal, mensal ou anual) e não cobra diretamente o uso se a viagem não exceder

meia hora ou uma hora, dependendo do sistema adotado. (SHAHEEN, 2010)

Geralmente, os programas não conseguem lucrar muito com o valor cobrado

aos usuários. Com os ganhos de propaganda e a taxa recebida pelos usuários os

programas normalmente conseguem ganhar o suficiente para fazer a manutenção e

garantir a operação. (SHAHEEN, 2010) O baixo valor cobrado beneficia a sociedade e

muitos programas dependem de subsidio do governo local para se manter em

operação.

Pode-se medir o desempenho de custo ao usuário com a média de custo por

viagem por usuário e o levantamento de economia média que os usuários fazem por

ano ao se utilizar a bicicleta pública. (TOOLE DESIGN GROUP et al., 2013)

3.2. INDICADORES DE PERFORMANCE DOS SISTEMAS

Os indicadores ajudam a planejar um sistema de bicicleta pública a partir de

experiências anteriores e de dados simples, para assim definir o nível de desempenho

desejado. Para primeiro entender os indicadores, serão apresentados os dados que

são utilizados para a análise dos programas. Em seguida serão descritos os

indicadores.

3.2.1. DADOS BÁSICOS DO SISTEMA

Os dados locais a serem analisados são tanto geográficos quanto

demográficos. Segundo ITDP Brasil, 2014, são eles: Área de cobertura do sistema,

população da área de cobertura do sistema, número de bicicletas, número de

posições, número de estações, usuários ocasionais e usuários permanentes.

A área de cobertura do sistema é definida como a área contínua, em

quilômetros quadrados, onde estão localizadas as estações de bicicleta compartilhada.

Page 37: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

28

Para esse cálculo é considerado um raio de 500 metros ao redor de cada estação.

(ITDP BRASIL, 2014)

A população da área de cobertura do sistema é obtida multiplicando-se a área

do sistema pela densidade populacional no local (número de moradores por quilômetro

quadrado). Assim é definido o número de pessoas que vivem na área de cobertura do

sistema.

O número de bicicletas é definido como o número de bicicletas ativas no

sistema, ou seja, travadas nas estações ou em uso no momento. Bicicletas em

manutenção na oficina ou qualquer reserva de bicicleta para frota de contingência não

fazem parte da contagem, estas entram apenas na contagem do número total de

bicicletas do sistema. (ITDP BRASIL, 2014)

Número de posições se entende como número de vagas onde as bicicletas

ficam estacionadas antes ou depois de serem retiradas ou devolvidas. E o número de

estações é definido como o número de locais específicos para retirar ou devolver uma

bicicleta, possuindo diversas vagas. (ITDP BRASIL, 2014)

Os usuários ocasionais compram assinaturas dos programas de bicicletas

compartilhadas temporariamente, por um dia ou até por uma semana, e os usuários

permanentes são os que alugam por um mês ou mais. No caso dos permanentes,

pode ser que seja emitido um cartão ou token para ter acesso ao sistema.

3.2.2. INDICADORES DE DESEMPENHO

3.2.2.1. MÉDIA DE VIAGENS / DIA / BICICLETA E MÉDIA DE

VIAGENS / DIA / MORADOR

Para que um sistema seja considerado eficiente, confiável e de custo-

benefício alto, deve-se manter dois indicadores sempre o mais alto possível: A média

de viagens / dia / bicicleta e a média de viagens / dia / morador.

Para o primeiro indicador, ITDP Brasil, 2014, sugere que os valores ideais são

que cada bicicleta tenha de quatro a oito viagens diárias. Esses valores indicam que a

rotatividade das bicicletas no sistema está satisfatória e, portanto, a eficiência do

sistema é aceitável. Valores inferiores a estes levariam a um alto custo-benefício, e

maiores valores levariam à falta de bicicleta e, consequentemente, à má operação.

O segundo indicador é usado para medir o nível de penetração no mercado

do sistema de bicicletas compartilhadas. Os sistemas ideais são aqueles que têm uma

viagem diária para cada 20 a 40 moradores da área de estudo. Esse indicador,

quando alto, mostra que no local as pessoas estão usando mais as bicicletas públicas

e, portanto, outros modos de transporte convencionais deixam de ser utilizados,

diminuindo assim os congestionamentos e as emissões de poluentes. O que vai de

acordo com os principais objetivos das bicicletas compartilhadas, diminuindo o tempo

Page 38: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

29

de viagem e proporcionando ambientes mais sustentáveis e seguros. (ITDP BRASIL,

2014)

Figura 11 – Comparação de alguns sistemas de bicicleta pública

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

Com esses dois indicadores, os planejadores podem calibrar o sistema

garantindo eficiência sempre que os indicadores estiverem dentro dos níveis

desejáveis. Podem-se verificar na figura 11 alguns sistemas ao redor do mundo e a

relação desses dois indicadores de desempenho.

Na área verde se observa boa penetração e boa taxa de utilização das

bicicletas, o que torna esses programas mais eficientes, o contrário da área vermelha,

que mostra um fraco desempenho dos programas e sistemas com muitas bicicletas e

poucos moradores utilizando.

Na região amarela, pode-se observar que a adesão da população local é

grande, porém o sistema tem muitas bicicletas para o número de viagens, então a

relação custo-benefício não é satisfatória. Já na região laranja a relação custo-

benefício é a desejável, mas a penetração no mercado é baixa, o que leva a crer que

esses sistemas deveriam expandir a área de atuação.

3.2.2.2. ÁREA DE COBERTURA

Assim como o número adequado de estações, a definição da área de

cobertura do sistema é muito importante para o sucesso do mesmo. É importante que

Page 39: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

30

se escolha uma área com um número significativo de pontos de origem e destino dos

usuários para manter o nível de uso alto. (ITDP BRASIL, 2014)

Geralmente os centros urbanos mais densos e com comércios e serviços

tendem a serem os melhores candidatos a receber as bicicletas públicas. Segundo

ITDP Brasil, 2014, um exemplo de sistema que possivelmente tem um baixo nível de

utilização por conta da reduzida área de atuação é o de Melbourne.

Figura 12 – Estações de diferentes sistemas no mundo, em escala

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

3.2.2.3. INDICADORES PARA DIMENSIONAMENTO DO

SISTEMA

O dimensionamento do sistema é determinado com o número total de

bicicletas e de estações. A maior densidade de estações favorece aos usuários a não

ter que se deslocar tanto para utilizar o sistema, e assim o sistema terá maior

conveniência e eficiência. E o número de bicicletas também é importante para que os

usuários não se frustrem.

A seguir, serão apresentados três indicadores que orientam o planejamento

do sistema para garantir a criação de um sistema confiável e eficiente. De acordo com

ITDP Brasil, 2014, esses indicadores servem como diretrizes para o planejamento de

Page 40: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

31

qualquer sistema de bicicletas compartilhadas, e são eles: Coeficiente de Densidade

de Estações, Coeficiente de Bicicletas / População e o Coeficiente de Vagas /

Bicicleta.

3.2.2.3.1. COEFICIENTE DE DENSIDADE DE ESTAÇÕES

Para que a rede do sistema seja confiável e atrativa aos usuários, a

distribuição na área de cobertura deve ser o mais uniforme possível, de forma que

retirar e estacionar uma bicicleta seja conveniente para as pessoas.

O parâmetro ideal para que as distâncias a pé sejam razoáveis é de 10 a 16

estações por quilômetro quadrado e a distância entre as estações de preferência não

deve ultrapassar os 500 metros. Um aumento da densidade de estações permite o

aumento da penetração do sistema, como pode ser visualizado na figura 13.

Figura 13 – Densidade de estações e a penetração de alguns sistemas no mundo

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

Exemplos internacionais de sucesso podem ser verificados em Paris com

estações a cada 300 metros, assim como Londres; a Cidade do México dispõe de

estações a cada 250 metros. Essa distância serve como diretriz do planejamento para

o projeto detalhado e pode ser usada também para definir custos de acordo com o

número de estações. (ITDP BRASIL, 2014)

Page 41: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

32

Figura 14 – Densidade de estações e a eficiência do sistema em algumas cidades no mundo

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

3.2.2.3.2. COEFICIENTE DE BICICLETAS / POPULAÇÃO

Este indicador calcula o número de bicicletas de acordo com o número de

usuários na área do sistema, para que seja garantida a quantidade de bicicletas

suficiente para atender às necessidades dos usuários. Geralmente cidades ou áreas

muito densas devem receber um número entre 10 a 30 bicicletas para cada mil

habitantes. Segundo IDTP Brasil, a taxa deve ser suficiente para atender a demanda,

mas não tão grande a ponto de diminuir o número de viagens por dia por bicicleta em

menos de quatro.

Figura 15 – Penetração dos sistemas em algumas cidades no mundo

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

Page 42: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

33

Como pode se observar na figura 15, quanto maior o número de bicicletas a

cada mil moradores, maior a penetração dos sistemas nas cidades levantadas, porém

na figura 16, observa-se que se a taxa de bicicletas por moradores for muito alta, o

número de viagens por dia por bicicleta se reduz, diminuindo a eficiência do sistema.

Figura 16 – Uso dos sistemas de acordo com o coeficiente de bicicletas por população

Fonte: ITDP Brasil, 2014.

3.2.2.3.3. COEFICIENTE DE VAGAS / BICICLETA

Todo sistema deve ter mais vagas do que bicicletas para que haja garantia

de espaço para estacionamento em locais diferentes. Uma vez que já está

determinada a quantidade de bicicletas do sistema, o número de vagas pode ser

calculado em função do número de vagas disponíveis por bicicleta em serviço.

De acordo com ITDP Brasil, 2014, a maioria dos sistemas de sucesso tem a

relação de duas a 2,5 vagas por bicicleta em serviço. Cidades como Montreal, Londres

e Washington D.C. têm duas vagas por bicicleta em serviço enquanto que Nova York

tem 2,4, a Cidade do México 2,2 e Paris 2,4. Os sistemas de cidades com alto fluxo de

bicicletas em horários de pico funcionam melhor com a taxa de 2,5 e as cidades que

têm uso misto, sem muita demanda de pico, podem utilizar a taxa de duas vagas por

bicicleta.

Page 43: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

34

Figura 17 – Exemplo de estação sem vagas para estacionamento, necessitando redistribuição

Foto: autor, 2015.

Quanto menor a taxa de vagas por bicicleta, mais o operador do sistema terá

que investir em redistribuição de bicicletas para evitar saturação de algumas estações,

principalmente em horários de pico, como visto na figura 17.

Page 44: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

35

4. PROJETO PARA VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE

BICICLETAS COMPARTILHADAS EM MACAÉ-RJ

Este capítulo irá trazer um breve estudo sobre a implantação de um sistema

de bicicleta pública em Macaé, cidade no estado do Rio de Janeiro. Primeiro serão

analisadas as características em termos socioeconômicos; geográficos, topográficos e

climáticos; e de mobilidade urbana local.

Em seguida, será feito um estudo sobre a implantação de um sistema de

bicicletas compartilhadas a partir das características e dos dados disponíveis,

utilizando-se dos conceitos anteriormente mencionados e de exemplos de sistemas

que operam com eficiência para a melhora da mobilidade urbana local.

4.1. CARACTERIZAÇÃO LOCAL

4.1.1. DADOS SÓCIOECONÔMICOS

A cidade de Macaé se situa na região Norte Fluminense do Estado do Rio de

Janeiro e a área do município abrange uma vasta área de serra e litoral. Este estudo

irá se dedicar a implantação de um sistema de bicicleta pública na região urbana de

Macaé, onde fica situada sua sede ao longo de seu litoral.

A cidade se deparou com um grande aumento no interesse de pessoas de

fora advindo da chegada da indústria petroleira e suas oportunidades de trabalho

nesta área e áreas indiretamente impactadas.

Esse interesse no petróleo da Bacia de Campos fez com que o crescimento

da cidade se fizesse de forma extremamente rápida, e a população urbana passou de

100.895 habitantes em 1991 para 206.728 habitantes em 2010, de acordo com o

Censo Demográfico do IBGE, 2010.

É, portanto, visto um crescimento de pouco mais de 100% da população

residente em 20 anos, explicado pela alta atividade migratória advinda de todo país, e

em menor escala, até do exterior.

Page 45: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

36

Figura 18 – Mapa do município de macaé

Fonte: IBGE.

A frota do município também apresentou um grande salto na última década.

De acordo com o IBGE, 2014, a frota total em 2005 era de aproximadamente 42.666

veículos, e passou a ser de aproximadamente: 70 mil automóveis privados, 23 mil

motocicletas, mil ônibus, mil micro-ônibus e 10 mil outros tipos de veículos, totalizando

aproximadamente 105 mil veículos em 2014.

Figura 19 – Crescimento populacional de Macaé entre 1991 e 2010

Fonte: IBGE, 2010.

Page 46: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

37

Para a elaboração de um sistema de bicicletas compartilhadas eficiente, será

considerada uma parcela da população que efetivamente o irá utilizar. Considerando-

se que o sistema será apenas disponível para maiores de 15 anos, a população da

área de estudo será de 158.852, dado obtido do Censo Demográfico do IBGE, 2010.

Quanto aos dados econômicos, a cidade possui um PIB de

R$12.558.285.000,00, uma Renda per Capita Média de R$54.690,00 e Renda Média

Mensal de R$8.669,21 em 2012. (IBGE, 2010)

4.1.2. ÁREA DE ESTUDO

Como visto anteriormente neste trabalho, para que se faça o

dimensionamento do sistema de bicicleta pública, é preciso definir a área de atuação.

Como a área total do município considera, além da zona urbana, também a zona rural,

será feita nesse estudo uma estimativa da área de estudo através do mapa da zona

urbana de Macaé, com ajuda da ferramenta Google Maps.

Para ter uma melhor estimativa, a área total foi dividida em 14 partes.

Tabela 6 – Divisão da área de estudo para obtenção da área total

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2015.

LOCAL ÁREA (km²)

parque de tubos 0,75

mirante da lagoa 1,78

são marcos 0,44

cavaleiros 3,9

costa do sol 2,7

central 2,69

malvinas 0,52

barra 0,85

nova holanda 0,8

piracema 0,53

ajuda de baixo 0,49

aeroporto 3,9

barreto 1,6

lagomar 2,92

ÁREA TOTAL 23,87

Como pode ser observada na tabela 6, a área de estudo a ser considerada

nesse estudo de caso é de 23,87 km², que somando todas as partes que em conjunto

Page 47: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

38

formam a região urbana da sede do Município de Macaé. O Anexo 1 traz o mapa com

as áreas demarcadas.

Pode-se verificar também com a ajuda do Google Maps, na figura 20, que a

topografia da região central da área de estudo é plana, assim como a região próxima a

orla da cidade.

Figura 20 – Visualização da topografia da região central de Macaé

Fonte: Google, 2015.

Também é possível identificar que alguns bairros residenciais se encontram

em locais elevados, em alguns casos com rampas maiores do que as recomendadas

para o conforto dos ciclistas, podendo assim passar a percepção de dificuldade de

pedalada aos usuários de bicicleta e um empecilho nestes locais de se implantar

estações para bicicletas compartilhadas.

O clima na maior parte do ano é quente e úmido e as temperaturas variam

entre 18ºC e 30ºC. Há uma incidência de ventos na maior parte do ano, devido à

relativa curta distância entre o litoral e a serra. (http://www.macae.rj.gov.br, acessado

em 2015) Este cenário é ideal para o incentivo de uso de bicicletas.

Como já foi abordado neste mesmo trabalho, as temperaturas ideais para se

transitar em uma bicicleta são entre 20ºC e 30ºC. Mesmo em dias mais quentes, os

horários de pico são ainda confortáveis em relação ao meio do dia, quando o

desconforto térmico pode ser um empecilho para a viagem de bicicleta.

Page 48: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

39

4.1.3. MOBILIDADE URBANA – CENÁRIO ATUAL

O cenário atual do sistema de transporte de Macaé será resumido neste

trabalho levando-se em conta o recente trabalho realizado pela Prefeitura de Macaé e

a Fundação Coppetec, que realizou o Plano de Mobilidade Urbana detalhado para o

município.

Atualmente, as viagens feitas em Macaé são em sua maioria com veículos

individuais. De acordo com as últimas pesquisas feitas para a elaboração do Plano de

Mobilidade urbana, 79,69% do volume de deslocamentos são de carro, táxi ou picape.

E apenas 2,38% feitos utilizando-se a bicicleta.

Tabela 7 – Volume de movimentos por tipo de veículo

Fonte: Prefeitura de Macaé, 2015.

O transporte coletivo é operado através do Sistema Integrado de Transporte

(SIT), composto basicamente por ônibus, divididos em quatro tipos de linhas de acordo

com suas funções: troncais, alimentadoras, circulares e serranas. Como a região

serrana não está inserida no contexto urbano será considerado nesse estudo um total

de 45 linhas que atuam no município. Os dados operacionais com a extensão de cada

linha e sua frota se encontram no Anexo 2.

Através do estudo realizado para a elaboração do novo Plano de Mobilidade

Urbana de Macaé, pode-se obter a demanda por transporte de cada linha de ônibus

do município. E essa demanda será utilizada para o melhor posicionamento das

estações de bicicletas compartilhadas e para melhor distribuição de bicicletas dentre

as estações.

O Anexo 3 mostra as tabelas com as linhas municipais e a demanda de cada

linha. Pode-se observar que os principais terminais identificados pela demanda são:

Terminal Central, Lagomar, Parque de Tubos, CEHAB e Cavaleiros (Firmas).

Page 49: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

40

Figura 21 – Mapa das linhas de ônibus do SIT

Fonte: Prefeitura de Macaé, 2015.

4.2. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA

De acordo com o Guia de Planejamento de Sistemas de Bicicletas

compartilhadas, os parâmetros estabelecidos para implantação de um sistema

(anteriormente citados neste trabalho) são:

Área mínima de cobertura do sistema: 10 km²

Densidade de estações do sistema: 10 a 16 estações por km²

Número de bicicletas do sistema: 10 a 30 bicicletas para cada mil

moradores da área de cobertura

Vagas para estacionamento das bicicletas nas estações: 2 a 2,5 vagas

por bicicleta em operação

O primeiro parâmetro a ser mensurado deve ser o número de bicicletas, para

depois se obter o número de vagas e por fim o número de estações e a melhor

distribuição destas. Vale ressaltar que para uma melhor distribuição das vagas do

sistema, deve ser utilizada a matriz Origem-Destino das zonas do município. Com

essa análise mais profunda, as vagas serão melhor distribuídas.

Page 50: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

41

4.2.1. QUANTIDADE DE BICICLETAS

Segundo dados obtidos pelo IBGE, a população da área de estudo será de

aproximadamente160 mil habitantes. (Considerando-se a população total da área

urbana do município a partir de 15 anos de idade)

De acordo com o critério populacional, o número de bicicletas em operação

ficaria entre 1.600 e 4.800 para atender esta população.

Para evitar o superdimensionamento do sistema, pesquisas sugerem que

65% a 75% dos usuários de transporte estariam dispostos a utilizar bicicletas como

complemento do deslocamento diário integradas a outros modais. Deste modo, a

população a ser considerada é de 104 mil habitantes.

É sugerido, portanto, que o sistema opere com 1.040 bicicletas, número que

pode ser revisto de acordo com a demanda e qualquer mudança necessária para

melhor funcionamento do sistema.

4.2.2. QUANTIDADE DE ESTAÇÕES

Utilizando o mapa para melhor visualização de áreas residenciais e com

maiores densidades populacionais, foi possível distribuir as estações do sistema de

acordo com o espaçamento ideal de 300 a 500 metros entre estações. A escolha da

localização também privilegiou lugares com amplos espaços públicos, como praças,

terminais rodoviários, áreas com jardins e ruas com calçadas largas. Onde não se

consegue posicionar as estações em nenhum desses lugares, sugere-se que a

estação seja posicionada no lugar de vagas de carros na rua, seguindo o exemplo de

diversos programas ao redor do mundo.

Além da ajuda visual, foi considerada a distribuição dos principais terminais

de ônibus da cidade: Terminal Central, Terminal Lagomar, Terminal Parque de Tubos

e Terminal CEHAB.

O novo Plano de Mobilidade Urbana do município também foi considerado ao

se posicionar as estações de bicicleta junto às estações do sistema de VLT (Veículo

Leve sobre Trilhos) e do SRT (Sistema Rápido de Transporte – modo rodoviário). E

também foi considerada a futura estrutura cicloviária do Plano de Mobilidade Urbana,

ajudando a guiar o posicionamento das estações. Os mapas com os sistemas

cicloviários atual e o proposto se encontram no Anexo 4.

Deste modo, a cidade terá quatro estações-tronco (ET), ligadas aos principais

terminais existentes e 109 estações capilares (E) distribuídas pela área de estudo.

A densidade do sistema é de 4,7 estações/km². Mesmo sendo baixa, o

sistema pode ser eficiente, como por exemplo, o sistema Bike Rio, que possui uma

Page 51: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

42

densidade de aproximadamente 3 estações/km², e no entanto as taxas de uso são

consideradas altas, mostrando-se um sistema eficiente.

Figura 22 – Mapa com as estações do sistema

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

4.2.3. QUANTIDADE E DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS TOTAL NO

SISTEMA

Para melhor eficiência do sistema e melhor percepção do usuário quanto à

disponibilidade de bicicletas e de vagas para estacionar, a relação Vagas/Bicicleta

deve ficar entre 2 e 2,5.

Considerando que as estações-tronco receberão maior volume por estarem

em terminais rodoviários, elas receberão um maior número de vagas, baseado em um

estudo feito pelo ITDP-BRASIL, 2014, para a Cidade Universitária UFRJ, pode-se

considerar que essas estações-tronco receberão entre 50 a 100 vagas cada uma.

As estações capilares receberá uma distribuição uniforme de 20 vagas cada.

Como o sistema dispõe de 109 estações capilares, o total de vagas considerado para

todo o sistema será de 2.480 vagas, como discriminado na tabela 7.

Page 52: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

43

Tabela 7 – Distribuição de vagas entre as estações

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2015.

ESTAÇÃO NOME POPULAÇÃO VIAGENS NÚMERO DE VAGAS OBS

ET-01 Terminal Central ND ND 100

ET-02 Terminal Lagomar ND ND 100

ET-03 Terminal Parque de Tubos

ND ND 50

ET-04 Terminal CEHAB ND ND 50

E-1 a E-109

Estações Capilares ND ND 2180 20 por estação

TOTAL DE VAGAS DO SISTEMA 2480

A distribuição foi feita com base em trabalhos do ITDP-BRASIL. Dados de

população em cada ponto de interesse e o número de viagens, a partir da matriz

Origem-Destino, poderiam dar ao estudo maior precisão quanto ao número de vagas

para cada estação. Deste modo, a relação vagas/bicicleta fica em 2,38.

Todas as estimativas de vagas foram feitas considerando-se um sistema com

1.040 bicicletas e o número de estações. Caso a sugestão feita não atenda às

necessidades, ou o número de bicicletas aumente de acordo com novos dados

obtidos, deverão ser criadas novas vagas no sistema, ou até inserção de novas

estações.

4.2.4. ESPECIFICAÇÕES DA BICICLETA

A bicicleta é de grande importância para o sistema, devendo ser moderna e

atrativa aos usuários. Além disso, ela deve ter design e cores únicas para se

diferenciarem de bicicletas comuns. A seguir serão feitas as recomendações quanto a

sua especificação.

Bagageiro Frontal: Indispensável para carregar volumes como sacolas ou

bolsas. A opção pelo bagageiro frontal ao invés do traseiro se deve pelo fato de que

muitas vezes o bagageiro traseiro acaba servindo como um assento para caronas, o

que danificaria as bicicletas.

Posição de engate com sistema de rastreamento sem fio: Esse dispositivo

de identificação por radiofrequência possibilita que as bicicletas sejam identificadas

individualmente quando retirada ou devolvida na estação.

Pneus resistentes: Os pneus precisam ser largos e resistentes, para evitar

furos na câmara de ar e aumentar o tempo de vida útil do equipamento.

Freios a tambor: Esse tipo de freio é o mais fácil de fazer manutenção, além

de ser mais barato que outros tipos, como por exemplo, à disco, cantilever e V-breaks.

Page 53: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

44

Proteção contra roubo e vandalismo: As peças e o formato da bicicleta

devem ter, preferencialmente, formato único para evitar furtos. As Porcas e parafusos

devem ter design diferenciado para serem removidas apenas com ferramentas

próprias do sistema.

Quadro de fácil acesso: O quadro deve ser baixo e de fácil acesso para

permitir aos usuários o uso de qualquer roupa e para se deslocarem na bicicleta com

maior conforto.

Selim com altura ajustável: a altura do selim pode ser ajustada facilmente

com uma blocagem de engate rápido, sem a remoção completa do selim da bicicleta.

Marcação de graduação também pode ser mais uma facilidade ao ciclista.

Cobre corrente: Importante para proteger a roupa do usuário da sujeira da

corrente, além de proteger a corrente contra danos mecânicos.

Paralamas e espaço publicitário: em caso de se pedalar em local molhado,

os paralamas protegem o ciclista de se molhar ou sujar com lama. E o espaço interno

das rodas é geralmente usado para publicidade, uma vez que são facilmente

visualizados à distância.

Marchas: São recomendadas bicicletas com três ou seis marchas para

melhor conforto na pedalada para diferentes ciclistas.

Sinalização de segurança automática: Refletores nas rodas, pedais, na

frente e atrás da bicicleta são fundamentais para a segurança do ciclista, assim como

a cor da bicicleta deve ser bem visível e refletiva. Podem-se considerar também piscas

traseiros e dianteiros com luzes de LED alimentados por dínamos nas rodas.

Proteção dos componentes: A marcha deve ser interna, integrada ao cubo

traseiro, evitando-se marchas em cassetes externos, pois são mais vulneráveis a

problemas.

Pedais seguros: Eles devem ser grandes e seguros para que os pés se

mantenham firmes mesmo para ciclistas inexperientes. Sem pontas afiadas para não

machucar o usuário

O sistema Bike Rio conta com especificações similares às desejáveis para

esse sistema, sendo um bom exemplo para fins de comparações.

Page 54: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

45

4.2.5. SISTEMA DE CONTROLE DE OPERAÇÕES

Devido ao tamanho estimado do sistema, sugere-se que o sistema de

liberação e travamento de bicicletas seja automático, utilizando-se um sistema de TI

(Tecnologia da Informação) que reconhece o usuário e habilita o uso da bicicleta sem

necessidade de intervenção humana no sistema.

Os investimentos iniciais nesse tipo de sistema são maiores, porém em longo

prazo o custo de operação é muito reduzido e um maior número de vagas para

travamento automático reduz a necessidade de redistribuição de bicicletas

manualmente.

De novo, o sistema utilizado no Bike Rio é um bom exemplo a ser seguido,

devido ao sucesso do programa e a similaridade do caso.

Deve ser feita uma observação quanto à tecnologia para liberar a bicicleta.

Seria de grande conveniência para o sistema e para a população de Macaé, que se

pudessem liberar as bicicletas com o mesmo cartão utilizado pelo SIT no transporte

coletivo da cidade.

O sistema deve dispor de um centro de controle, com direta comunicação

com as estações, com os diversos serviços de manutenção e operação, e com os

usuários, através de call center e portal online.

4.2.6. ROTINA DE MANUTENÇÃO DAS BICICLETAS

A manutenção das bicicletas é de vital importância para o programa. Com a

manutenção adequada e a conservação das bicicletas, a confiabilidade do sistema

percebida pelos usuários aumenta, aumentando assim a eficiência do sistema.

Deve-se executar manutenção das bicicletas a cada três meses, se a média

de uso for de 100 km/mês. Entre 150 e 250 km/mês a manutenção deve acontecer a

cada dois meses, e se o uso passar dos 300 km/mês, a manutenção mensal é

requerida.

Além do operador do sistema, a população local deve ser estimulada através

de campanhas para que conservem as bicicletas, diminuindo custos e melhorando o

nível de serviço.

O sistema deve contar com duas ou três equipes de manutenção e

redistribuição durante o dia e uma durante a noite. Dados obtidos a partir do programa

Bike Rio, com similares números, o sistema conta com três equipes durante o dia e

uma noturna para esses serviços.

Page 55: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

46

4.2.6.1. PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO DIÁRIA DAS

BICICLETAS

Por possuir partes fixas e móveis, a bicicleta se desgasta diferencialmente em

seus diferentes componentes, e as bicicletas do sistema sofrem maior desgaste que

uma bicicleta particular, por estar sujeita às condições ambientais o tempo todo.

Sugere-se adotar o “teste M” para que o procedimento seja criterioso, que

não demora mais que três minutos para se fazer. O exame se faz começando na roda

dianteira, e depois, simulando uma letra M, continua-se pelo guidão, pedal, selim e por

fim a traseira da bicicleta. Deste modo, pode-se garantir que nenhuma parte da

bicicleta será esquecida na checagem.

O mecânico deve dispor de uma tabela de controle, para a anotação de

possíveis defeitos e manutenções necessárias. A tabela de controle de qualidade das

bicicletas encontra-se no Anexo 5 deste trabalho.

É importante também, que se faça a limpeza das bicicletas diariamente, pois

a higiene do serviço é decisiva para atratividade do sistema.

Além da checagem diária, outro modo de se ter informações sobre as

bicicletas é através de canais de comunicação aos usuários, como por exemplo, SMS,

página da internet ou formulários nos locais.

Problemas que são identificados como simples podem ser resolvidos no local,

e devem ser eliminados em menos de 12 horas. Já bicicletas com problemas mais

sérios, devem ser bloqueadas e levadas à oficina para reparo.

4.2.6.2. ANÁLISE DOS DADOS E OTIMIZAÇÃO DOS

SERVIÇOS

Os custos de manutenção podem ser reduzidos ao se resolver problemas das

bicicletas antes de se tornarem graves, além de maximizar a disponibilidade da

bicicleta no sistema, melhorando as receitas e satisfazendo os usuários.

A mesma planilha que se utiliza na verificação para manutenção é utilizada

como fonte de dados para o sistema. A planilha registra os dados brutos que serão

analisados e servirão para embasar a tomada de decisões para a melhoria contínua

da qualidade do sistema.

Deste modo, deve-se obter um sistema altamente responsivo quando algum

problema surge e os serviços são otimizados para o melhor do operador e dos

usuários.

Page 56: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente a grande importância da mobilidade no contexto das cidades

atualmente. No Brasil, o desenvolvimento econômico da última década se deu de

forma acelerada, criando nos centros urbanos novas demandas de transporte e assim,

trazendo muitos problemas de mobilidade urbana, principalmente incentivado pelo

grande aumento de veículos privados na rede.

A maioria das medidas tomadas para mitigar esses problemas de mobilidade

urbana é de intervenções nos modos de transporte motorizados convencionais.

Porém, a bicicleta, um velho conhecido modo não-motorizado vem se reinventando

para voltar a conquistar seu espaço. Os programas de bicicleta compartilhada têm

crescido muito pelo mundo todo, visto como sistemas sustentáveis e saudáveis, já são

destaque em cidades como Paris, Londres, Washington, Rio de janeiro e Barcelona.

Observa-se que os programas de bicicleta pública evoluíram de forma que

ganharam status de confiáveis na maioria dos lugares em que atuam. Isso se deve ao

grande avanço tecnológico na última década, possibilitando maior praticidade e

conforto ao usuário, que muitas vezes, passou a utilizar a bike compartilhada como

forma de integração com os transportes coletivos, buscando diminuir o tempo de

viagem porta a porta.

É importante para o sucesso desses programas que o governo incentive tanto

financeiramente, como também com melhorias de alguns aspectos urbanos, como por

exemplo, a infraestrutura cicloviária e a segurança do ciclista. Medidas estas, que

trazem retorno à sociedade em termos de mobilidade urbana e de qualidade de vida.

Foi escolhido o Município de Macaé como local do estudo para implantação

do programa de bicicleta compartilhada pelo fato de que o autor é macaense e tem o

desejo de melhorar a qualidade de vida local. Aliado a isso, Macaé acaba de

desenvolver o Plano de Mobilidade Urbana do município, criando uma oportunidade

única de desenvolver o sistema público de bicicleta totalmente integrado às propostas

futuras de transporte para a cidade, além da infraestrutura já existente.

Seria interessante que o sistema de bicicletas de Macaé fosse implantado em

etapas, ganhando importância e abrangência ao longo do tempo. Isso pode ajudar a

garantir que o sistema seja calibrado em cada nova etapa com a experiência adquirida

das primeiras, além de espaçar o investimento inicial em um maior intervalo de tempo

para ter maior viabilidade inicial. Essa calibração se dá necessária também para a

Page 57: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

48

melhor distribuição de vagas do sistema, que devido à falta de dados de origem-

destino das viagens, pode ser melhorada.

Existem poucos estudiosos na área de engenharia civil que se dediquem a

este tema, porém, o autor buscou apresentar informações relevantes a engenheiros

civis e estudantes da área de transportes.

O autor sugere que trabalhos futuros sejam desenvolvidos com a ajuda de

traçados das isócronas na zona urbana, para melhor localizar as estações. A respeito

do dimensionamento, sugere-se para futuros trabalhos a utilização da teoria das filas e

da simulação, para que o sistema se baseie em maior justificativas matemáticas,

assim como o uso de um horizonte de 10 anos na previsão de demanda.

Por fim, pode-se concluir que o trabalho permitiu ao leitor ter um primeiro

contato com programas de bicicleta compartilhada, através da apresentação de

bibliografias disponíveis sobre o assunto e do estudo de implantação de um sistema

para a cidade de Macaé.

Page 58: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

49

REFERÊNCIAS

Antp, 2014. Sistema de Informações da Mobilidade Urbana - Relatório Geral 2012. , p.118. Disponível em: http://www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/04/11/050FC84C-74EA-4A33-A919-6D2E380FA2C1.pdf [Acessado em 30/06/2015].

Bike Rio, Sem titulo. Disponível em: http://www.mobilicidade.com.br/bikerio.asp [Acessado em 15/06/2015].

Cruz, W., 2014. Ciclovia, ciclofaixa, ciclorrota e espaço compartilhado. Vá de Bike. Disponível em: HTTP://vadebike.org/2011/05/CICLOVIA-CICLOFAIXA-CICLO-ROTA-E-ESPACO-COMPARTILHADO/ [Acessado em 22/06 2015].

Cruz, W., 2015. Sobre a matéria da Veja São Paulo e o custo das ciclovias na cidade. Disponível em: Http://vadebike.org/2015/02/custo-ciclovias-650-mil-veja-sao-paulo/ [Acessado em 01/07/ 2015].

DeMaio, P., 2009. Bike-sharing: History, impacts, models of provision, and future. Journal of Public Transportation, 12(DeMaio 2004), pp.41–56. Disponível em: http://www.transitinformatics.org/test/nctr/wp-content/uploads/2010/03/JPT12-4DeMaio.pdf.

Henley, J., 2005. Rentabike moves up a gear from curiosity to runaway success. The Guardian. Disponível em: http://www.theguardian.com/world/2005/aug/12/france.jonhenley [Acessado em 14/06/2015].

Instituto de Energia e Meio Ambiente, 2010. A bicicleta e as cidades. Como inserir a bicicleta na política de mobilidade urbana. , p.86. Disponível em: http://www.energiaeambiente.org.br/index.php/bibliotecas/download/35?arq=A-bicicleta-e-as-cidades.pdf [Acessado em 30/07/2015].

IPEA, 2013. Indicadores de Mobilidade Urbana da PNAD 2012. Comunicados do IPEA. Disponível em: http://www.ipea.gov.br

ITDP, 2014. Guia de Planejamento de Sistemas de Bicicletas Compartilhadas. Disponível em: http://itdpbrasil.org.br/publicacoes/guias-e-manuais/ [Acessado em 25/07/2015].

ITDP Brasil, 2014. Sistema de bicicletas compartilhadas para a Cidade Universitária da UFRJ. Disponível em: http://itdpbrasil.org.br/publicacoes/relatorios/ [Acessado em 27/07/2015].

Kaiser, K., 2012. Closing the Gap - Bike Shares Help Complete the “Last Mile.” Mass Transit Mag. Disponível em: http://www.masstransitmag.com/article/10724679/closing-the-gap-bike-shares-help-complete-the-last-mile [Acessado em 02/08/ 2015].

Leonor, M. & Maia, A., 2013. SISTEMA DE BICICLETAS PÚBLICAS : UM BALANÇO DE SUA EVOLUÇÃO E SUA INTEGRAÇÃO NA REDE DE TRANSPORTE PÚBLICO. ANPET.

Page 59: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

50

MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2015. EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO 1940 a 2014 Disponível em: http://portal.mte.gov.br/ [Acessado em 05/07/2015].

Oliveira, M., Leonor, M. & Maia, A., 2015. Variáveis que influenciam no uso da bicicleta e as crenças da teoria do comportamento planejado. TRANSPORTES, 1, pp.24–36.

Prefeitura de Macaé, 2015. Dados sobre Macaé. Disponível em: http://www.macae.rj.gov.br/conteudo/leitura/titulo/dados [Acessado em 16/06/2015].

Prefeitura de Macaé & Fundação COPPETEC, 2015. Plano de Mobilidade Urbana de Macaé.

Prefeitura de São paulo, 2014. Integração entre modais de transporte torna viagens mais rápidas. Disponível em: http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/3762 [Acessado em 25/06/2015].

Ribeiro, D.M. da S. et al., 2012. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA INTEGRAÇÃO DA BICICLETA COM O TRANSPORTE PÚBLICO DE PASSAGEIROS NA CIDADE DO SALVADOR-BA.

Ribeiro, D.M. da S., de Freitas, I.M.D.P. & Miranda, S.C.F., 2014. ANÁLISE DAS INTERFERÊNCIAS PROVOCADAS POR INCLINAÇÕES NO TRANSPORTE NÃO MOTORIZADO. ANPET.

Sampa Bikers, 2015. A bicicleta no Código Nacional de Trânsito. Disponível em: http://sampabikers.com.br/a-bicicleta-no-codigo-nacional-de-transito/ [Acessado em 15/07/ 2015].

Shaheen, S. a., Guzman, S. & Zhang, H., 2010. Bikesharing in Europe, the Americas, and Asia: Past, present and Future. Transportation Research Record: Journal of the Transportation Research Board, 2143(-1), pp.159–167.

Shaheen, S.A., Cohen, A.P. & Martin, E.W., 2012. Public Bikesharing in North America: Early Operator Understanding and Emerging Trends. Transportation Research Record: Journal of the Transportation Research Board, 2387(1), pp.83–92. Disponível em: http://trb.metapress.com/openurl.asp?genre=article&id=doi:10.3141/2387-10.

Silveira, M. oliveira da & Balassiano, R., 2009. A bicicleta e a redução de consumo de energia no setor de transportes. , pp.1–10.

Stinson, M. & Bhat, C., 2004. Frequency of Bicycle Commuting: Internet-Based Survey Analysis. Transportation Research Record, 1878(1), pp.122–130.

Toole Design Group, LLC & ITP, F., 2013. Philadelphia Bike Share Business Plan. , p.66.

Vasconcellos, E.A., 2003. Transporte e meio ambiente: Considerações gerais. Revista dos Transportes Públicos, p.200.

Page 60: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

51

Vasconcellos, E.A., 2000. Transporte Urbano nos Países em Desenvolvimento, p. 49-87.

Page 61: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

52

ANEXO 1

Mapa da cidade de Macaé com identificação das áreas de estudo para

dimensionamento do sistema de bicicletas compartilhadas “Pedala Macaé”.

(Fonte: Elaborado pelo autor, 2015)

Page 62: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

53

ANEXO 2

Dados operacionais das linhas do Sistema Integrado de transporte de Macaé.

(Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé e Fundação Coppetec, 2015)

Page 63: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

54

Page 64: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

55

ANEXO 3

Demandas Médias das linhas do Sistema Integrado de transporte de Macaé.

(Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé e Fundação Coppetec, 2015)

Page 65: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

56

Page 66: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

57

ANEXO 4

Plano cicloviário de Macaé.

(Fonte: Prefeitura de Macaé, 2015)

Page 67: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

58

Proposta para o plano cicloviário de Macaé.

(Fonte: Prefeitura de Macaé e Fundação Coppetec, 2015)

Page 68: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

59

ANEXO 5

Tabelas de Controle de Qualidade das bicicletas do sistema.

(Fonte: ITDP – BRASIL, 2014)

Page 69: MOBILIDADE URBANA: UM ESTUDO SOBRE OS …monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10015586.pdf · Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título

60