Mono Graf i a Luiz Henrique
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Luiz Henrique Marques Gonçalves
REALIDADE E EXPERIÊNCIA NA CRIAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
Belo HorizonteEscola de Belas-Artes da UFMG
2011
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Luiz Henrique Marques Gonçalves
REALIDADE E EXPERIÊNCIA NA CRIAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Colegiado de Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais / Cinema de Animação.
Orientador: Dr. Daniel Werneck
Belo HorizonteEscola de Belas-Artes da UFMG
2011
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Agradecimentos
Agradeço aos meus colegas de curso que estiveram presentes e com certeza ajudaram
muito durante a minha formação, especialmente ao pessoal da “lendária” sala 2013.
Agradeço a minha família por toda a criação que recebi e pelo apoio em minhas
escolhas durante o curso e por deixaram eu construir um estúdio para fazer meu filme dentro de
casa.
Agradeço a meu primo Guilherme por todo apoio, inspiração e amizade e por ter
crescido junto comigo, e por tudo que construímos juntos.
Agradeço aos professores da Belas Artes em especial ao Dr. Daniel Werneck pela
orientação e pelas horas de conversa sobre vários ótimos assuntos, que renderam muita inspiração.
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Resumo
Durante o Curso de Animação eu percebi em mim e meus colegas de curso certa
dificuldade tanto na criação de filmes como na compreensão de filmes e obras de arte em geral.
Com o tempo as seguintes questões foram surgindo de acordo com reflexões sobre o assunto:
Porque existia essa dificuldade? Porque muitas vezes obras de arte faziam sentido e
eram compreendidas pelas pessoas em tempos anteriores, e hoje existe uma dificuldade tanto em
compreender essas obras quanto as atuais?
Primeiramente gostaria de ressaltar que essa falta de sentido é perceptível não apenas na
arte, mas na vida da sociedade em geral. A intenção da monografia não é responder essas questões,
mas tentar levantar os possíveis motivos, e realizar uma reflexão sobre eles. Sendo assim uma
tentativa de chamar a atenção para certos pontos que estão adormecidos em nossa cultura.
Para isso eu vou fazer uma analise de um filme que tem como tema principal, motivos
que acredito serem os principais dessa falta de sentido. O filme é: A Origem, de Christopher Nolan
que trata da mentira e do auto engano dentro do personagem principal.
A partir da analise do filme será desenvolvida uma conclusão a respeito das questões
propostas acima. Espero que esse ensaio sirva de ajuda para meus colegas, e que possa se
transformar em uma pesquisa mais profunda no futuro.
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Abstract
During the course of Animation I realize that, me and my fellow students, had some
difficulty both in the creation of such films as the understanding of films and works of art in
general. During the tima passing, the following issues come to me, in accordance with reflections
on the subject:
Why there was such difficulty? Why works of art made sense and were understood by
people in earlier times and, today there is much difficulty in understanding these old art as the
present art?
First I would like to stress that this nonsense is noticeable not only in art but in the life
of actual society in general. The intent of the monograph is not to answer these questions, but to try
to raise the possible reasons, and make a reflection on them. Therefore an attempt to draw attention
to certain points that are dormant in our culture.
For this I will use a film that has in the main theme, the reasons that I believe are the
cause of this nonsense. The film is: Inception, by Chirstopher Nolan that deals with self-deception
within the main character.
From the analysis of the two films will be developed a conclusion about the the
questions posed above. I hope this essay will serve to help my colleagues, and can turn into a
deeper search in the future.
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Sumário
I. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................07
II. A ORIGEM …...............................................................................................................................09
III. OS SONHOS DO NOSSO TEMPO ( ORIGEM ) ......................................................................12
IV. CONCLUSÃO..............................................................................................................................19
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I. INTRODUÇÃO
Desde criança, há algo em mim que me leva em direção às artes. Existe no meu ser uma
vontade criadora que me leva a produzir. Quando menino, brincava com brinquedos de montar,
gostava de desenhar e criar historias. Hoje, mais próximo da vida adulta, e após algumas reflexões
sobre minhas vocações, tenho certeza que meu caminho está nas artes, e principalmente no cinema.
Isso provavelmente eu já sabia quando era criança e ficava maravilhado com as criaturas animadas
pelo Ray Harryhausen, em filmes como Jasão e os Argonautas, de 1963, dirigido por: Don Chaffey.
Algumas duvidas surgiram durante a adolescência, mas, por sorte, não me desviaram da minha
vocação. Em meio a essas certezas, uma grande dúvida que surge é de onde veio essa vocação. O
que percebo é que parece que essa vocação sempre esteve em mim, mas não sei como surgiu ou o
porque de eu a ter. Mas sei que ela é, talvez, a grande força que anima minhas vontades. É a
vontade criadora.
Acredito que esse meu pequeno resumo sobre o que me move para a arte encontra eco
em outros alunos dentro da Escola de Belas Artes. O que levou meus colegas de curso a escolherem
estudar em uma escola de artes, eu não sei especificamente. Mas tenho certeza de que, pelo menos,
uma minima vontade criadora deve estar presente neles.
Essa vontade de criar sempre esteve presente na humanidade. É a força que sempre
move os artistas. Mas não é somente essa vontade que faz a arte existir. Se fosse apenas isso, a
criação de qualquer coisa já traria satisfação ao artista. Existe algo mais. Quando o artista cria, além
dessa força criadora, há outras coisas dentro dele que geram as obras. Essas coisas são as
impressões pessoais, aquelas percepções que temos do mundo em torno de nós e dentro de nós
mesmos. Essas impressões compõem o nosso ser. Mas porque expressar essas impressões?
Poderíamos apenas guardá-las para nós mesmos. Mas não, os artistas estão sempre fazendo suas
obras, externando essas impressões. Portanto podemos dizer que há uma necessidade de que outros
compartilhem dessas impressões. Pois, senão, o artista não faria arte. A arte existe para que outros
também possam ser levados pela obra até a impressão inicial que a gerou. É uma comunhão de
experiências, de vida. Com tudo isso, posso dizer que surgiram para mim grandes dúvidas em
relação a arte na sociedade atual, e também Dificuldades em relação a criação de obras de arte. Eu
percebi essas mesmas duvidas em alguns colegas de curso. Sendo assim, vou colocar essas questões
para analisarmos.
Parece-me que a arte atual está se distanciando desta comunhão de experiencias. Mas o
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problema, acredito eu, não se encontra na arte em si mesma, e sim nos artistas. Somos nós, os
artistas, que estamos passando por uma dificuldade de criação. Não é uma dificuldade em produzir
e fazer obras, mas sim uma dificuldade relacionada com essa comunhão de experiencias. Parece-me
que os artistas estão se fechando dentro de si mesmos, que talvez seja um dos problemas vividos em
nossa sociedade atual. As pessoas na sociedade ocidental parecem estar se fechando cada vez mais
dentro de si mesmas.
Reconheço que minha função aqui não é responder a essas questões, pois não tenho a
minima capacidade filosófica para tanto, e sei que um estudo aprofundado sobre essas questões
poderia levar anos de pesquisa séria, e talvez o trabalho de vários filósofos dedicados. Eu não tenho
tamanha pretensão. Mas o que consigo reconhecer, é que o ser humano pode perceber coisas muito
antes de conseguir expressá-las na forma de um estudo mais completo e filosófico. Na verdade
essas percepções vem muito antes desses estudos. Ao artista, cabe essa função de expressar aquilo
que percebe, muitas vezes antes de existir qualquer estudo filosófico sobre o tema.
A minha forma de tratar essas questões aqui sera baseada em uma obra de arte atual, que
acredito ser uma obra que consegue expressar esse momento atual, no qual o ser humano está se
fechando dentro de si mesmo. Eu escolhi o filme A Origem (Inception), de Christopher Nolan,
lançado em 2010. O motivo de ter escolhido esse filme foi principalmente seu tema, que acredito
ser uma percepção do diretor sobre esse “EU” que se fecha dentro de si mesmo, e que talvez seja
um dos problemas vividos pelos artistas hoje em dia.
Em minha analise do filme quero ressaltar os pontos que podem ter sido usados para o
desenvolvimento da historia e dos personagens do filme. Quero tentar elucidar o conflito que gira
por traz de dos vários acontecimentos dessa historia, e colocar alguns pontos que possam ter sido
usados para o desenvolvimento do filme, e que podem tanto servir de guia para o criação de outras
obras, quanto possam ajudar a elucidar, talvez, alguma coisa em relação a esse problema vivido
hoje na arte. Como disse, não tenho pretensão de responder essas questões. A minha intenção é,
apenas, tentar expressar minhas impressões do filme que, talvez, possam servir de ajuda para algum
colega de curso.
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II. A ORIGEM
A Origem, (Inception) é um filme lançado em 2010, produzido nos Estados Unidos. Foi
escrito, dirigido e produzido por Christopher Nolan. O filme é estralado por: Leonardo DiCaprio,
Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Marion Cotillard, Ellen Page, Tom Hardy, Cillian Murphy,
Dileep Rao, Tom Berenger e Michael Caine.
Em 2001, Nolan escreveu uma breve ideia de 80 paginas sobre ladroes de sonhos, e
apresnetou à Warner Bros. Nessa época Nolan não tinha muita experiencia em filmes de grande
orçamento, então deixou a ideia de lado, mas voltou a trabalhar nela depois de fazer filmes como O
Grande Truque de 2006 e dois filmes do Batman: Batman: O Início, 2005, e O Cavaleiro das
Trevas, 2008. Em 2009 a Warner comprou um roteiro bem mais amadurecido do filme que viria a se
chamar Inception. No brasil, o titulo de lançamento do filme foi: A Origem.
O personagem principal do filme é Cobb (Leonardo DiCaprio). Ele é um ladrão de
sonhos, que trabalha junto com Arthur (Joseph Gordon-Levitt). No inicio do filme eles estão
invadindo a mente de um poderoso empresario, Saito (Ken Watanabe), para roubar uma informação
que está escondida em um cofre nos seus sonhos. Mas dentro deste sonho surge Mal (Marion
Cotillard), que é uma projeção da falecida esposa de Cobb, ela surge dentro dos sonhos de Cobb
para atrapalhar seus planos. Neste sonho ela acaba impedindo que Cobb consiga roubar os planos
escondidos na mente de Saito. Mas no fim dessa primeira parte descobrimos que tudo na verdade
era um teste planejado por Saito, que no fim queria que Cobb fizesse um trabalho para ele. Mesmo
com Mal atrapalhando, Cobb ainda conseguiu manter sua reputação.
Cobb estava fugindo de seu país por uma acusação de assassinato, com isso ele esta
distante de sua família. Mas quando Saito o contrata pra este novo trabalho, ele também diz a Cobb
que pode livrá-lo de suas acusações para que ele possa rever seus filhos.
A missão que Cobb vai realizar para Saito não é mais um roubo de informações da
mente de alguém, e sim uma inserção de uma nova ideia. Saito quer que o herdeiro de seu inimigo
empresarial decida dividir seu império. Robert Fischer (Cillian Murphy) é esse herdeiro, e Cobb
tem de implantar uma ideia que o convença a seguir seu próprio caminho e não continuar os passos
do pai na empresa. Para o serviço Cobb contrata Eames (Tom Hardy), que é um falsificador capaz
de mudar sua aparência dentro dos sonhos, Ariadne (Ellen Page), que é uma estudante de
arquitetura capaz de criar os cenários dentro dos sonhos, e Yusuf (Dileep Rao), que é um químico
que formula os sedativos utilizados para fazê-los dormir o tempo necessário para a invasão.
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Quando o Pai de Fischer morre, o filho vai de avião para o enterro. Dentro do voo, a
equipe de Cobb invade a mente de Fischer para realizar a missão. Dentro do sonho são atacados
pelas projeções treinadas do inconsciente de Fischer, no meio da confusão Saito é ferido
gravemente. Por causa do poderoso sedativo , a morte não fará a pessoa acordar, e sim vai
transportá-la para uma camada mais profunda do subconsciente o limbo, um mundo de sonhos não
construídos, sendo que a pessoa pode ficar vários anos dentro desse lugar, pois o tempo passa muito
devagar dentro dessa camada profunda de sonho. Cobb então, revela a Ariadne que passou anos no
limbo com Mal, onde eles construíram um mundo de acordo com suas ideias mas quando
acordaram, Mal ficou convencida de que eles ainda estavam sonhando e bolou um plano para
cometer suicídio e levar Cobb junto com ela. Foi por causa da acusação da morte da mulher que
Cobb não pode mais voltar para os EUA e reencontrar sua família.
Mesmo com o ferimento de Saito eles tem de continuar com o plano para que ninguém
mais caia no limbo. Para tentar enganar Fischer, Eames muda sua forma para a de Peter Browning
(Tom Berenger), que é padrinho de Fischer, com isso ele já conseguem fazer com Fischer acredite
estar sendo sequestrado e que alguém quer alguma senha de um cofre de seu pai. A equipe entra em
uma van e são sedados para entrar no próximo sonho, um hotel, onde eles acabam convencendo
Fischer de que o sequestrado foi planejado por Browning e que devem entrar na mente dele para
descobrir seus planos. Na verdade eles entram em outro sonho, em um lugar cheio de neve, onde
devem invadir uma fortaleza e levar Fischer para onde será implantada a ideia. Em cada nível dos
sonhos, um membro da equipe fica para fazer com que eles acordem em sincronia e possam sair dos
sonhos sem ficar presos no limbo.
Quando Fischer está prestes a entrar no local onde será implantada a ideia, Mal aparece
e mata ele, fazendo com que ele caísse no limbo. Ariadne e Cobb o seguem para salvá-lo, mas lá,
Mal tenta convencer Cobb a ficar, fazendo com que ele questione sua própria realidade, mas ele está
disposto a lutar contra ela. Cobb revela que na verdade foi ele que implantou a ideia na mente de
Mal que fez ela desacreditar na realidade. Mal então ataca Cobb, porém Ariadne atira nela.
Enquanto Ariadne retorna com Fischer para o nível superior do sonho, Cobb tem que ficar para
salvar Saito, que a essa altura já deveria ter morrido por causa do tiro que levou, e também estaria
no limbo. Quando fischer retorna para a camada superior, ele entra em um cofre gigante e encontra
seu pai. Então a ideia é plantada fazendo com que Fischer acredite que seu pai queria que ele
seguisse seu próprio caminho.
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No fim Cobb consegue localizar Saito que está velho, e o convence de que eles tem que
retornar juntos a realidade. Eles acordam todos juntos no avião e Saito cumpre sua promessa,
conseguindo com que Cobb esteja livre de suas acusações. Cobb então consegue voltar para seus
filhos, mas ainda assim gira o pião para saber se está na realidade ou não. Mas ele não espera o pião
cair e corre para abraçar seus filhos. O filme Termina e não sabemos se o pião cai ou não.
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III. OS SONHOS DO NOSSO TEMPO
Figura01
Ao assistirmos A Origem, podemos perceber que ele se passa como se fosse um sonho,
um sonho acordado dirigido. Em toda obra de cinema, literatura e outros tipos de arte, durante o
mergulho no universo da obra estamos como que sonhando que vivemos aquelas histórias e
“somos” os personagens que habitam nelas. Em A Origem, estamos vivenciando o sonho do
personagem principal, Cobb. Há uma sensação de que todo o filme se passa dentro de Cobb e assim
dentro de nós mesmos. Essa sensação se dá, pois todo o drama do filme gira em torno desse
personagem, e nós como espectadores vivemos esse mesmo drama quando o filme nos toca naquilo
que temos em comum com o personagem.
O que digo agora será melhor compreendido mais à frente na análise do filme, pois
acredito que o conflito principal é uma luta entre duas potências dentro do mesmo personagem: um
lado acredita na realidade e luta por ela, o outro lado criou uma falsa realidade e tenta dominar todo
o personagem.
No início do filme, vemos Cobb sentado a uma mesa de frente para um velho.
Descobrimos na cena seguinte que esse mesmo velho, agora jovem, é Saito. Ele planejou uma
espécie de teste para Cobb e sua equipe com o intuito de saber se este teria condições de realizar um
serviço. Dentro do sonho, onde acontece o teste, surge Mal, a mulher de Cobb. Ela aparece no
sonho como uma projeção do inconsciente de Cobb e acaba atrapalhando tanto o próprio Cobb
quanto o teste de Saito.
No decorrer do filme descobrimos que Cobb está lutando para voltar para sua família,
mas ele não pode voltar para seu país, onde seus filhos estão, pois acreditam que ele seja culpado da
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morte da mulher. Ele não consegue voltar para sua realidade.
O trabalho que Cobb deve realizar é implantar uma ideia na mente do filho do principal
concorrente de Saito. A empresa desse competidor está quase se tornando um monopólio global. Se
o filho, ao herdar a companhia, decidir continuar os passos do pai, logo não haverá mais lugar para
a empresa de Saito.
Com isso, temos o conflito principal do filme. É como se tudo se passasse dentro do
universo interior de Cobb, como um sonho. “Nós sonhamos que somos ele.” O nome Cobb pode
significar pedaço, torrão, bocado, o personagem está realmente dividido entre duas vidas, duas
realidades. O nome pode ser também uma abreviação de Jacó (Jacob). O personagem de Saito, no
filme, representa o “EU final” de Cobb, aquele que ele será no fim de sua vida, estará consolidado,
depois da morte nada poderá mudar quem ele foi durante a vida. Este “Eu final” é representado pelo
velho Saito que surge na cena inicial do filme, ele é o reflexo do que Cobb se tornará se continuar a
viver esta falsa realidade e fugindo da verdade, “um velho cheio de arrependimentos”. O Saito
jovem é também este “Eu final” que está vivo agora em Cobb, lutando para que ele não se torne
este velho arrependido pelas escolhas que fez. Por isso Saito faz aquele teste no início e depois
contrata Cobb para um serviço. Primeiro ele quer saber se Cobb ainda quer ser salvo; depois, ele
lança o desafio que pode colocá-lo de volta em sua realidade, tudo isto acontecendo dentro de Cobb.
O competidor principal de Saito é Maurice Fischer, que está morrendo e deixará todo o
império para seu filho Robert Fischer. Se o filho seguir os mesmos passos do pai, logo a empresa se
tornará um monopólio global e Saito perderá a competição. Maurice e sua empresa representam a
falsa realidade que se apodera de Cobb. A morte do pai representa uma consolidação que se reflete
no filho. A morte, ao mesmo tempo em que é um fim, também é uma consolidação, o que está
finalizado está como que consolidado em sua forma final. A morte de pai simboliza essa
consolidação de sua pessoa e de sua imposição racional sobre o filho. Se, com a morte do pai, o
filho não aceitar que deve seguir seu próprio caminho, ele adotará esse padrão racional deixado pelo
pai, vivendo não sua própria realidade, mas outra que se revelará espelhada nos erros do pai.
A missão de Cobb é realizar essa reconciliação entre pai e filho, o filho tem que perdoar
os erros do pai, por piores que sejam, para seguir com sua própria vida, seu próprio caminho. O que
simboliza, então, uma reconciliação de Cobb com a realidade.
Mas para essa reconciliação, primeiro temos que saber qual é o erro de Cobb e porque
ele foge dele. No decorrer do filme, vamos descobrindo que sua mulher morreu, e ele ainda não
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consegue conviver com isto, tanto que a projeção de sua mulher está sempre perseguindo Cobb nos
sonhos. Essa projeção de sua mulher, Mal, sempre está atrapalhando suas missões, como se fosse
uma espécie de culpa que sempre volta e fica martelando em sua cabeça.
Para realizar o trabalho designado por Saito, Cobb vai até Milles, pai de Mal, para que
ele o ajude a encontrar um novo arquiteto que consiga elaborar os sonhos. Então, surge Ariadne
que, como a personagem da mitologia, vai guiar Cobb dentro deste labirinto que ele mesmo criou. É
ela quem vai ajudar Cobb a enfrentar e aceitar a verdade para uma reconciliação com a realidade.
Há uma cena em que Cobb está sonhando sozinho em uma sala. e Ariadne entra em seu
sonho para saber o que se passa por lá. É um dos grandes momentos do filme. Há um elevador que
leva para vários sonhos diferentes que, na verdade, são lembranças de Cobb, nas quais sua mulher
está viva, e estava tudo bem. Ele criou esse mundo para fugir da realidade, onde ele sente alguma
culpa em relação à morte da mulher, e neste lugar, digamos, ele se acha feliz. Mas Ariadne entra
nesse sonho e leva Cobb até onde ele não queria ir, até o momento da morte de sua mulher, e lá ele
é obrigado a enfrentá-la. Mal vai em direção a eles para atacá-los, como se pressentisse que Ariadne
entrou nesse sonho para tentar destruí-lo, e ajudar Cobb a voltar a viver na realidade, não em
sonhos.
Figura02
Quando eles entram no sonho de Fischer, é Ariadne quem ajuda Cobb a enfrentar os
problemas com Mal lá dentro. Primeiro, ela questiona Cobb, quando eles vão entrar nos níveis mais
profundos do sonho, pois quanto mais eles entrarem em níveis profundos da mente de Fischer,
também estarão nas profundezas da mente de Cobb, e é lá que Mal pode aparecer. Então, Cobb
revela que ele e Mal criaram um mundo dentro dos sonhos, onde eles habitaram por muitos anos,
pois dentro dos sonhos o tempo passa mais devagar. Mas quando saíram desse mundo, Mal
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questiona a existência da própria realidade, acreditando que fosse tudo um sonho, e então ela fez um
plano para se matar e obrigar Cobb a ir com ela. Percebemos então que foi a morte de Mal que
levou Cobb a fugir da realidade, ele foi obrigado a fazer isso tanto fisicamente, pois teve que fugir
de seu país para não ser acusado da morte dela, quanto psicologicamente, pois para fugir da culpa
ele criou uma falsa realidade dentro de sua mente onde habita uma projeção de sua mulher, e onde
eles estão juntos.
Figura03
Quando tudo dá errado dentro do sonho Mal aparece e mata Fischer fazendo-o cair nas
profundezas do sonho, onde apenas Cobb havia estado e construído seu mundo junto com Mal.
Como apenas Cobb havia estado lá, com certeza a projeção de Mal estaria com Fischer naquelas
profundezas. Mas naquele momento Saito que estava ferido já havia morrido e caído também nesse
lugar. Então Ariadne vai junto com Cobb para resgatar os dois e lá ela lhe dá forças para enfrentar
seu conflito com Mal.
Figura04
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Quando Cobb vai salvá-los vemos ai a solução para o conflito do filme. Primeiro
Fischer, ele representa o eu presente de Cobb, aquele que deve se reconciliar com o pai para assim
seguir seu próprio caminho. Em segundo lugar temos Saito, que representa o eu final de Cobb. Este
Eu final, como vimos no inicio, está se perdendo e está lutando para não se tornar um velho cheio
de arrependimentos. Para salvá-los Cobb então tem que enfrentar a projeção de Mal. A primeira
coisa que ela faz é tentar convencê-lo de que é melhor continuar vivendo em fuga da realidade e
ficar ali com ela. Mas ele já está disposto a enfrentá-la e para isso ele revela a verdade. A ideia que
fez ela questionar a realidade veio de Cobb. E ele revela para Mal a verdade, como se estivesse se
arrependendo e confessando que foi ele que colocou o pião para girar perpetuamente no ponto mais
profundo de Mal, e foi assim que ela desistiu de acreditar na realidade. Cobb não tem uma culpa
física direta da morte de sua mulher, não foi ele que a empurrou da janela. Mas ele tem que admitir
a responsabilidade de ter feito a questionar a realidade e por isso ter suicidado. Portanto para salvar
Fischer e Saito, ele tem que enfrentar essa culpa, e aceitar a realidade, para se perdoar. Ele então
consegue salvar Fischer, mas tem que ficar ali para buscar Saito.
Em algumas cenas do filme, Ariadne brinca com espelhos, o reflexo. Faz Cobb olhar
para si mesmo, para dentro de si, lembra-o que seu conflito está dentro dele mesmo, e não fora. Ela
sempre está levando Cobb a enfrentar e a ver o que ele não quer aceitar.
Figura05
Quando na primeira cena do filme vemos Cobb de frente para um velho, é como se ele
estivesse diante de um espelho, e vê o seu próprio eu se perder. Esta mesma cena está de forma
espelhada no filme, ela se repete duas vezes. Há uma sensação de lembrança na segunda vez,
ocasionada pela repetição, e percebemos Cobb estava ali para lembrar aquele velho de algo.
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A primeira fala de Saito, o velho, é: “Você está aqui para me matar?”. É realmente isso
que Cobb foi fazer naquele lugar mais profundo de seu subconsciente, ele foi matar aquele velho
cheio de arrependimentos, ele foi para salvar a si mesmo, para lembrá-lo de dar um voto de
confiança. Confiar novamente na realidade.
Durante todo esse caminho de aceitação da realidade, os personagens vão lutando contra
várias defesas que, como as defesas de nossas mentes tentam nos impedir. Criamos dentro de nós
mesmos um mundo ideal, para fugirmos de nossos erros. Um mundo perfeito onde nossos erros são
justificados e ou estão de acordo com a “realidade”, ou como que não significam nada dentro dela,
os erros são como que varridos para debaixo do tapete. Com o tempo nós criamos varias defesas
para sustentá-lo, e as defesas podem se tornar tão complexas que fica cada vez mais difícil sairmos
de lá por conta própria. A única maneira de sair desse mundo irreal é aceitarmos e confiarmos que
apesar de nossos erros, a realidade continuará.
Muitas vezes não conseguimos sair disso por conta própria é necessário um
acontecimento ou alguém para quebrar essa falsa realidade. É preciso haver um choque, onde esse
mundo falso perca sua razão de existência. O ser humano é responsável pelos seus atos quer ele
queira o não, e a realidade sempre nos cobra isso. Criamos essas falsas realidades para não termos
que enfrentar a responsabilidade, como Cobb fez, mas há sempre um momento onde teremos que
enfrentar, mas isso pode se dar apenas no fim da vida quando nos tornamos um velho cheio de
arrependimentos, e perdemos o tempo de nossas vidas. Cobb enfrentou suas responsabilidades e
conseguiu se reconciliar.
Figura06
No fim, quando Cobb consegue chegar até seus filhos, ele ainda joga o pião para ter a
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prova de que está vivenciando realmente a realidade. Mas ele não espera o pião cair, ele confia na
realidade e corre para seus filhos e, no fim, não sabemos se o pião cai ou não.
O pião que continua girando fica então para o espectador. Como durante todo o filme
nós experimentamos essa historia como se fosse a nossa, um sonho acordado e dirigido. Aquele
pião está girando para nós mesmos, não mais para Cobb. A câmera deixa Cobb e vai para o pião. O
questionamento ai é para o espectador, estamos vivendo ou não na realidade? Buscamos uma prova
para a realidade, ou confiamos e seguimos vivendo?
A realidade é assim, não existe algo que possa servir de prova para ela, a própria
realidade é a prova de si mesma, temos apenas de confiar nela.
Figura07
19
IV. CONCLUSÃO
A arte é um apelo a comunhão dos homens, nós nos reconhecemos uns aos outros pelos
ecos que ela acorda em nós. Como disse na introdução, o artista tem essa necessidade de expresão
que se dá atraves da arte. O artista expressa seus momentos interiores através dela. Mas o artista
depende do exterior para criar, o universo comum de experiencias em que vivemos, não está
fechado dentro de cada um. E se o artista pretende alcançar o outro através de sua arte, ele não pode
se fechar para essa universalidade.
Essa dificuldade de criação de aceitação da realidade, é vivida por Cobb. Ele se fechou
para a realidade, pois não consegue aceitar a morte de sua mulher e não consegue aceitar a culpa
que sente por essa morte. Se o artista vive sua vida da mesma forma que Cobb, se ele vive em fuga
de suas responsabilidades, ele ira criar uma realidade que justifique essa fuga, um mundo como os
sonhos de Cobb, onde tudo está “perfeito” e nada de ruim acontece ou aconteceu. O artista que vive
assim estará fechado dentro de si mesmo, e suas obras vão apenas espelhar essa fuga, e não vão
refletir a realidade pro trás dos fatos. A obra se irá se tornar vazia de sentido, pois foi deixado de
fora seu motivo verdadeiro.
Em nossa cultura onde o eu é o centro, a realidade fica de fora. Se eu “penso logo
existo”, então meu pensamento vem antes da existência, ele seria a base para a existência. E porque
eu deveria prestar contar a realidade então? Se meu eu é o centro, então o que está fora deve se
moldar para concordar com minha vontade. Sou eu que defino o que é certo e errado.
Mas espere ai, há algo de errado nisso. Se meu pensamento, meu “eu” vem primeiro,
então ele teria vindo antes da realidade, ele seria a premissa. Pensem na experienciá de se viver no
tempo. Se o tempo fosse subordinado ao pensamento, dependesse dele. Se o eu viesse antes do
tempo, não conseguimos imaginar o nosso eu fora do tempo, o tempo continua passando enquanto
eu tento imaginar. Seria apenas uma abstração logica, não uma realidade.
A realidade é uma presença grandiosíssima, o que acontece é que apenas deixamos de
prestar atenção nas partes dela que não nos agradam. Podemos nos fechar dentro de nosso
pensamento o quanto quisermos, e a realidade continuará firme e forte em sua presença.
Mas a realidade sempre cobra as contas. Se acontece um acidente a um ente querido e
ele morre, o tempo vai passar e a morte ira ficar no tempo. Não podemos voltar para impedi-la. Se
temos ou não culpa nessa morte, como Cobb em relação a sua mulher, ai sim podemos criar em
nosso pensamento, não uma realidade, mas uma falsa, em que nossos erros e dificuldades deixam de
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existir, ou estão resolvidos. Mas isso funcionará apenas para nós mesmos, e podemos convencer
muitas pessoas a acreditar na nossa mentira ideal. Mas mesmo assim, mesmo que muitos acreditem
em você, e isso faça você se sentir confortável, mesmo que essa mentira pareça muito real com toda
essa confirmação do exterior, mesmo assim, a realidade vai continuar sendo sempre a mesma que
foi. Essa presença total, jamais se sucumbiria a um único pensamento individual.
O artista é aquele que vive o símbolo. Ele vive a realidade, mas com a condição de
tomar aquilo que vive como meio de criação, ele vive para isto, se não, não é artista. Ele vai viver
para tentar revelar através de suas obras, as realidades permanentes de todos os fatos e de cada
pequeno segundo, onde está presente, ao mesmo tempo, a menor particularidade e toda a totalidade
da existência. Um pequeno fato que agora acontece não pode negar toda a sua enorme condição de
existência anterior, e toda a enorme realidade que está ao seu entorno, sem deixar de existir. O
artista está vivo, ou dizendo de outro modo, se ele está vivo, é para essa condição de perceber nos
pequenos detalhes da existência a grande presença total por trás de tudo, e de conseguir criar a partir
das mais singelas e sutis percepções as pontes para essa grandiosa presença.
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Referencias Bibliográficas
NOLAN, Christopher. Inception: The Shooting Script. Insight Editions, 2010, EUA.
FAURE, Élie. História da Arte. Poseidom, 1945, Portugal.
MERTON, Thomas. Sementes da Contemplação. Tavares Martins Porto, 1957,
Portugal.
Figuras
Figuras 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07. A Origem, DVD. Warner, 2010.