MONOGRAFIA LUANA MARIN -...

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9 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Luana Marin ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A EDUCAÇÃO DO OLHAR DE MANEIRA LÚDICA CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Luana M arin

ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A EDUCAÇÃO DO

OLHAR DE MANEIRA LÚDICA

CURITIBA

2014

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Luana M arin

ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A EDUCAÇÃO DO

OLHAR DE MANEIRA LÚDICA

Monografia apresentada para o Curso de Pós Graduação em Ensino das Artes Visuais: práticas pedagógicas e linguagens contemporâneas, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Ensino das Artes Visuais. Prof. Orientador: Ms.Camilla Carpanezzi La Pastina

CURITIBA

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2014

AGRADECIMENTOS

Primeiramente eu quero agradecer a Deus por ele estar sempre

presente em minha vida me dando forças para desenvolver a cada desafio que

a viva me propôs.

Quero agradecer aos meus pais pelo apoio e dedicação a mim em toda

a minha vida, e principalmente a confiança que eles têm em mim em vencer os

meus obstáculos.

Aos amigos e companheiro por estarem presentes nas dificuldades

durante a realização desse trabalho.

Agradecer também a minha orientadora Ms.Camilla Carpanezzi La

Pastina,porme ajudar nessa pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Dedico o meu trabalho aos meus pais, e também aos educadores e

pedagogos da Educação Infantil.

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LISTA DE IMAGENS

IMAGEM 1 – OBRA DENISE ROMAN: CINCO PASSEIAM JUNTOS.

Disponível em: http://cwbgaleria.com/denise-roman-1. Acesso em: 7 de junho

de 2014 às 16:40;

IMAGEM 2 – OBRA DENISE ROMAN: BRINCADEIRAS PELO AR. Disponível

em: http://cwbgaleria.com/denise-roman-1. Acesso em: 7 de junho de 2014 às

16:42;

IMAGEM 3 – OBRA DENISE ROMAN: AVENTURAS DO SÉCULO

XX.Disponível em:

http://www.amariniarte.com.br/images/desenhos/denise_roman/denise_roman.

htm. Acesso em: 7 de junho de 2014 às 17:05;

IMAGEM 4 – OBRA DENISE ROMAN: OS QUATRO FILHOS DE UM CASAL

DE ARTISTAS. Disponível em:

www.amariniarte.com.br/images/desenhos/denise_roman/denise_roman.htm.

Acesso em: 7 de junho de 2014 às 17:09;

IMAGEM 5 - MARIN, 2012 – MATERIAIS UTILIZADOS;

IMAGEM 6 - MARIN, 2012 – BRINCADEIRA DE RODA;

IMAGEM 7 - MARIN, 2012 – A RODA SEMPRE PRESENTE;

IMAGEM 8 – DESENHOS FAMILIA (COLORIDA);

IMAGEM 9 – ANDANDO PELO PARQUE;

IMAGEM 10 – VOANDO COM O PASSARO GIGANTE;

IMAGEM 11 – EXPLORANDO OS BRINQUEDOS DE AR;

IMAGEM 12 – RODA DE CONVERSA;

IMAGEM 13 – MATERIAIS DISPONIBILIZADOS PARA A CRIAÇÃO DO

BONECO;

IMAGEM 14 – DESENVOLVENDO A PRÁTICA – BONECO DE AR;

IMAGEM 15 – BONECOS FINALIZADOS;

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................7

1 - ENSINO DA ARTE E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL .....................9

2 - JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ........17

2.1 – JOGO........................................................................................................18

2.2 – BRINQUEDO............................................................................................19

2.3 – BRINCADEIRA.........................................................................................23

3 - DENISE ROMAN: POÉTICAS DE TRABALHO .........................................27

4 – PESQUISA DE CAMPO ..............................................................................30

CONCLUSÃO ...................................................................................................48

REFERÊNCIAS ................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

Esse referente artigo mostra a importância do lúdico, dos jogos, dos

brinquedos e das brincadeiras no ensino das Artes nas escolas de Educação

Infantil.

O trabalho surgiu na busca de aprofundar a brincadeira a uma teoria,

pois mesmo as crianças sendo pequenas, se o professor desenvolve com eles

a brincadeira e ajuda a eles entender o porquê serve e quais as suas

contribuições a eles, a atividade lúdica ganha outra conceito, tanto para os

pequenos quantos aos pais e professores. Com esse trabalho pretendo mostrar

as pessoas que também tem a mesma linha de pesquisa que a minha, uma

aproximação da arte com as brincadeiras lúdicas, e que também é possível

trabalhar isso com referencias em artistas.

As brincadeiras lúdicas são importantes para o desenvolvimento da

criança, sendo ela motora, cognitiva, entre outras. “A educação lúdica contribui

e influência na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um

enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático

enquanto investe em uma produção séria do conhecimento”. (ALMEIDA, 1995.

p. 41).

Fazendo referencial ao ensino do lúdico e das brincadeiras na Educação

Infantil, apresento a artista Denise Roman com suas obras. Nelas a artista

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plástica Curitibana utiliza a figura da imaginação, da brincadeira e dos

brinquedos para desenvolvê-las. Em algumas de suas obras a artista parte

através das brincadeiras lúdicas e brincadeiras de rodas e realiza suas obras,

que são caracterizadas pela delicadeza de seus traços e pelo requinte de

detalhes. A artista é especialista em gravuras, ela reside em Curitiba e

desenvolve atividades de criação com os alunos no Atelier de Gravura do

Museu da Gravura Cidade de Curitiba.

No decorrer do desenvolvimento do trabalho foi dividido em quatro

partes sendo elas, a primeira explicando o ensino da arte e o lúdico na

Educação Infantil; a segunda parte explicando jogo, brinquedo e brincadeira na

Educação Infantil fazendo referencia a Kishimoto; a terceira parte traz a artista

plástica Denise Roman e sua poética através do lúdico; e a quarta e ultima o

estudo de caso e aplicação com duas atividades.

Explicando melhor o lúdico com a arte, busquei atividades com crianças

de 3 a 4 anos de uma rede particular de ensino da cidade de Curitiba,

realizando duas atividades, uma mostrando o jogo e outra o lúdico –

imaginação.

A análise do desenvolvimento da criança no decorrer dessa atividade

possibilitam mostrar a escolas de Educação Infantil, que sim é possível e

importante o lúdico e o ensino da arte para as crianças nessa faixa etária.

ENSINO DA ARTE E O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Os brinquedos e as brincadeiras na Educação Infantil são discutidos por

vários autores como BUORO, 2003; FERRAZ e FUASRI, 1998; WIESS, 1989 ;

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KISHIMOTO, 2003 e WAJSKOP, 1997. De uma maneira em geral eles partem

de Vigotsky sobretudo do livro Formação Social da Mente.

Segundo Vigotsky, a criança, ao brincar, cria uma satisfação para seus

desejos e isso é realizado através da sua imaginação, por exemplo, quando ela

brinca de carrinho, ela está imitando o que o seu pai faz e o desejo dela de

saber dirigir como o pai é satisfeito através dessa imitação.

[...] A criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo. A imaginação é um processo psicológico novo para a criança; representa uma forma especificamente humana de atividade consciente. (VIGOTSKY, 2007, p. 109).

As crianças criam um espaço/cenário onde a imaginação se torna real

na cabeça deles. Se eles imaginam que estão dentro de um barco em alto mar,

na realidade eles estão dentro de uma caixa de papelão na sala de aula.

Enquanto a criança brinca, ela cria um mundo imaginário, um mundo de

faz de conta, e Vigotsky aponta que:

[...] No brinquedo a criança cria uma satisfação imaginária. Esta não é uma ideia nova, na medida em que situações imaginárias no brinquedo sempre foram reconhecidas; no entanto, sempre foram vistas somente como um tipo de brincadeira. A situação imaginária não era considerada como uma característica definidora do brinquedo em geral, mas era tratada como um atributo de subcategorias especificas do brinquedo. (VIGOTSKY, 2007. p. 109)

Vigotsky (2007.p 110), também aponta que não existe brinquedo sem

regras, e que a situação imaginaria do brinquedo contem regras de

comportamento. “A criança imagina-se como mãe e a boneca como criança e,

dessa forma, deve obedecer as regras do comportamento maternal”

(VIGOTSKY, 2007. p. 110). Não somente na situação imaginaria do brinquedo,

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como também na situação real, como por exemplo, se a criança brinca que ela

é a filha e sua mãe é a mãe na brincadeira, ela está desenvolvendo o

comportamento real na brincadeira. Segundo VIGOTSKY, 2007. p. 111:

[...] Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras – não as regras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas as que têm sua origem na própria situação imaginária. Portanto, a noção de que uma criança pode se comportar em uma situação imaginária sem regras é simplesmente incorreta. Se a criança está representando o papel de mãe, então ela obedece as regras de comportamento maternal. (VIGOTSKY,, 2007. p. 111-112).

No momento da brincadeira a professora deve auxiliar as crianças,

falando a elas o que elas têm que fazer, como por exemplo, na brincadeira de

imaginação, onde cria o cenário e as crianças vão imaginando.

O único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento. A interferência da professora, ao dar ideias, sugestões, organizando o ambiente, propondo alguma brincadeira, cria na criança a zona de desenvolvimento proximal. Ao invés de trabalhar com conceitos e brincadeiras que as crianças já conhecem, a professora abriria o caminho para novas aprendizagens, se adiantaria ao desenvolvimento, por isso é tão importante a sua mediação (VYGOTSKY, 2006. p. 114)

Quando a criança esta no momento da brincadeira, a imaginação

principalmente, ela pode apanhar um objeto e o transformar - dar um

significado a ele, como por exemplo, um cavalo de pau. A esse respeito

ressalta:

O brinquedo fornece um estágio de transição nessa direção sempre que um objeto (um cabo de vassoura, por exemplo) torna-se um pivô dessa separação (no caso, a separação entre o significado “cavalo” de um cavalo real). A criança não consegue, ainda, separar o

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pensamento do objeto real. A debilidade da criança está no fato de que, para imaginar um cavalo, ela precisa definir a sua ação usando um “cavalo-de-pau” como pivô. (VIGOTSKY, 2007. p. 115)

A criança cria em sua brincadeira vários personagens ou animais com

qualquer tipo de objeto, se para ela aquele objeto parecer com o que ela está

pensando para ela aquele objeto será algo real. Como Vigotsky aponta, na

citação acima, a criança queria brincar de cavalo e como no momento não

existia cavalo-de-pau, ela pega um cabo de vassoura e, em sua imaginação, o

transforma em um cavalo-de-pau real.

Wajscop explica que a criança, ao brincar, constrói relações reais. A

brincadeira pode interferir na realidade. Elas criam suas brincadeiras de acordo

com suas necessidades do momento.

[...] Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Concomitantemente a esse processo, ao reiterarem situações de sua realidade, modificam-nas de acordo com suas necessidades. Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la. (WAJSKOP, 1997. p. 33).

Ao mesmo tempo em que brincam, as crianças criam uma zona de

desenvolvimento proximal, que para Vigotsky é o nível que a criança está no

momento do seu potencial para resolver algum problema ou situação. As

crianças têm uma grande facilidade em realizar os seus desejos no momento

das brincadeiras.

A brincadeira cria para as crianças uma "zona de desenvolvimento proximal" que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a

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orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz. (VIGOTSKY, 1984. p. 97).

Wajskop explica a citação acima de Vigotsky em seu livro “Brincar na

pré-escola”, onde afirma que as crianças no momento de sua brincadeira,

agem com autoridade em seus brinquedos:

Ao definir papeis a serem representados, auferindo significados diferentes aos objetos para uso do brinquedo e no processo de administração do tempo e do espaço em que vão definindo os diferentes temas dos jogos, as crianças têm a possibilidade de levantar hipóteses, resolver problemas e ir acedendo, a partir da construção de sistemas de representação, ao mundo mais amplo ao qual não teriam acesso no seu cotidiano infantil. (WAJSKOP, 1997. p.35)

A seguir veremos a brincadeira na visão de outros pesquisadores. A

brincadeira na visão da pesquisadora Wajskop:

A brincadeira, na perspectiva sócio-hitórica e antropologica, é um tipo de atividade cuja base genética é comum à da arte, ou seja, trata-se de uma atividade social, humana, que supõe contextos sociais e culturais, a partir dos quais a criança recria a realidade através da utilização de sistemas simbólicos próprios. (WAJSKOP,1997. p. 28).

Para ela, a brincadeira é uma atividade social e também antropológica,

ou seja, muitas brincadeiras realizadas anteriormente, com os pais, hoje eles

ensinando aos seus filhos terá muito valor, pois passa de geração a geração.

Agora a brincadeira na visão do pesquisador Brougere:

A brincadeira é uma mutação do sentido, da realidade: nele, as coisas se transformam-se em outras. É um espaço à margem da vida cotidiana que obedece a regras criadas pela circunstância. Nela, os objetos podem apresentar-se com significado diferente daquele que possuem normalmente. (WAJSKOP, aput BROUGERE, 1997.p. 29)

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Para Brougere a brincadeira é o momento que a criança realiza os seus

desejos, onde ela pode transformar qualquer objeto em uma coisa real.

Transformar uma boneca em sua filha – imaginação.

Kishimoto comenta sobre a teoria de Piaget em seu livro: “Jogo,

brinquedo, brincadeira e a educação” (2003. p.32):

Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação especifica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, dotada de características metafóricas como espontânea, prazerosa. [...] ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não na estrutura cognitiva, Piaget distingue a construção de estruturas mentais da aquisição de conhecimentos. A brincadeira, enquanto processo assimilativo participa do conteúdo da inteligência, à semelhança da aprendizagem. [...] Piaget adota o uso metafórico vigente na época, da brincadeira como conduta livre, espontânea, que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá. Para o autor, ao manifestar a conduta lúdica, a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos. (KISHIMOTO, 2003. p. 32).

Através das brincadeiras e dos brinquedos as crianças vivenciam

situações ilusórias e lúdicas. As autoras Ferraz e Fusari (1998) em seu livro

Metodologia do Ensino da Arte, estabelecem uma relação entre o lúdico, a arte

e o brinquedo, trazendo Vigotsky como referência aos seus estudos:

As atividades lúdicas são também indispensáveis à criança para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos, pois possibilitam o exercício e o desenvolvimento da percepção, da imaginação, das fantasias e de sentimentos. (FERRAZ; FUSARI, 1998. p. 84)

As autoras colocam que à medida que as crianças vão crescendo elas

evoluem em suas brincadeiras e passam a jogos de imaginação para situações

de regras, mas para elas não existe uma linha divisória entre os jogos e as

brincadeiras.

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O lúdico é uma das possibilidades de ligar á criança ao aprendizado,

pois o envolvimento da criança na brincadeira é uma forma prazerosa e

realizadora.

Buoro (2003) em seu livro “O Olhar em Construção: Uma Experiência de

ensino e aprendizagem da arte na escola” comenta que a criança quando

pequena tem um potencial criativo e imaginário muito forte, por meio dos jogos

e brincadeiras elas podem compreender a si mesmo e as coisas. Para fazer

referencia ao processo criativo e imaginário da criança, a autora cita os teóricos

Vigotsky e Freud, onde comentam que a crianças diferenciam o mundo das

fantasias, das brincadeiras com a realidade, o seu mundo da imaginação com a

sua experiência vivenciada.

O oposto do jogo, brincadeira, não é seriedade e, sim, realidade. As crianças diferenciam muito bem o seu mundo de brincadeiras, apesar de todo o investimento de afeto, da realidade, e gosta de apoiar seus objetos e situações imaginadas em coisas tangíveis do mundo real. É simplesmente esse apoiar que diferencia o “brincar” da criança do “fantasiar do adulto. (FREUD, 1982, apud. BUORO, 2003. p. 83)

Nas Artes Visuais as crianças se expressam, atribuem sentimentos e

sensações através da realização dos seus trabalhos, fazendo parte do

cotidiano da rotina de cada criança. É nas Artes Visuais que as crianças

conseguem uma organização do seu cotidiano, as linhas, as formas bi e

tridimensionais, a cor, entre outros, são fatores que os influenciam para essa

organização.

[...] As Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e as Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização das linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, alem de volume, espaço, cor e luz na pintura, no

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desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. (BRASIL, 1998. p. 85).

Não somente o ensino das Artes Visuais em si, mas também o ensino

das brincadeiras, o imaginário e os jogos na Educação Infantil atribuem para

essa linguagem que os RCNEI trazem – imaginação, as cores, linhas... O

lúdico na arte educação, principalmente na fase da Educação Infantil,

desenvolve a experiência da criança durante a brincadeira e atividades práticas

artes. Segundo Moreira, “torna-se uma possibilidade de conhecer a criança

através de uma outra linguagem: o desenho de seu espaço lúdico” (1993, p.

16). As crianças se envolvem num universo lúdico, de linguagens expressivas e

no mundo da imaginação e criatividade.

Diante da importância que as produções culturais infantis e as atividades lúdicas, narrativas e estéticas assumem na educação de crianças pequenas por envolver uma forma de pensamento simbólico e intuitivo e por articular linguagens que expressem a intensidade do ser criança, alem de constituir elementos de uma cultura infantil, é importante identificar como essas dimensões – que têm como base comum o trabalho com o imaginário, a expressão e a cultura – estão presentes no ensino. (FRITZEN, MOREIRA, 2008. p. 43).

“A criança não brinca numa ilha deserta. Ela brinca com as substâncias

materiais e imateriais que lhe são propostas, ela brinca com o que tem na mão

e com o que tem na cabeça” (BROUGÈRE, 1998, p.105). Os RCNEI (1998. p.

19) também mostram que o lúdico para a Educação Infantil é muito

importante: “Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações da

motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática,

levando em conta as necessidades das crianças”.

Quando se desenvolvem as atividades lúdicas, as crianças passam a

extrair e demonstrar o seu interior, mostrando os sentimentos e emoções.

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Segundo Freire “Tudo no jogo aponta para o mundo interior do sujeito, invisível

aos nossos olhos, e a tradução exterior dessa atividade, no plano da nossa

razão, confunde-se com expressões de qualquer outra atividade” (FREIRE.

2002, p.67).

As Artes Visuais podem ser desenvolvidas de maneira lúdica na

Educação Infantil, segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil afirmam “serem ela, as artes visuais, uma importante forma

de expressão e comunicação humana” (BRASIL, 1997. p. 45).

A experimentação que a atividade propicia ajuda na aprendizagem da

criança, assim, o lúdico e o ensino andam juntos. O professor deve orientar as

crianças e sugerir caminhos durante o processo, seja com jogos, brinquedos ou

brincadeiras em geral.

2 - JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFAN TIL

Os termos jogo, brinquedo e brincadeiras são confundidos e difíceis de

serem identificados no âmbito da escola. Segundo KISHIMOTO (2003. p. 17):

“No Brasil, termos como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados

de forma indistinta, demonstrando um nível baixo de conceituação deste

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campo”. Isso nos prejudica um pouco para conseguir entender e diferenciar

cada um.

As escolas e até mesmo os alguns pais acabam deixando de lado os

jogos e brincadeiras de tradição, como pular corda, pular amarelinha, entre

outros, e dando espaço aos brinquedos industrializados que a mídia divulga.

Isso ocorre com uma frequência cada vez maior com o decorrer dos anos. “Os

jogos da tradição popular para crianças são transmitidos entre as gerações.

Nas escolas atuais, muitas vezes precisamos recuperá-los a partir da memória

dos pais e avós” (IAVELBERG, 2013. p. 99). Weiss também comenta que

essas brincadeiras tradicionais acabaram sendo deixadas de lado:

Uma perda lamentável é que em alguns dos brinquedos tradicionais tinham-se presença da mãe, do pai ou dos avos, que participavam dos jogos ou facilitavam sua organização. Hoje essa ausência é justificada pela famosa falta de tempo, tão comum em nossos dias. (WEISS. 1989. p. 28)

A dança os movimentos e os gestos, segundo os RCNEI também fazem

parte da infância, principalmente as brincadeiras populares e de roda.

Envolvendo o gesto, o movimento, o canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e brincadeiras são expressão da infância. Brincar de roda, ciranda, pular corda, amarelinha etc. são maneiras de estabelecer contato consigo próprio e com o outro, de se sentir único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, e de trabalhar com as estruturas e formas musicais que se apresentam em cada canção e em cada brinquedo. (BRASIL, 1998. p. 71).

2.1- JOGO

Kishimoto pesquisa Brougère, Henriot, e Wittgenstein para entender

melhor o significado do jogo. Para esses autores o jogo pode ser visto como:

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1. O resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de um contexto social; 2. Um sistema de regras; e 3. Um objeto. (KISHIMOTO, 2003.p. 16)

O sistema linguístico do jogo depende da cultura de onde ele está

inserido. O mesmo brinquedo pode ter vários significados em diferentes

contextos sociais.

A noção de jogo não nos remete à língua particular de uma ciência, mas a um uso cotidiano. Assim, o essencial não é obedecer à lógica de uma designação cientifica dos fenômenos e, sim, respeitar o uso cotidiano e social da linguagem, pressupondo interpretações e projeções sociais. (KISHIMOTO, 2003.p. 16).

O jogo também depende de grupos sociais, que pensam e agem do mesmo modo. Se a criança é inserida nesse grupo social desde que nasce, quando entrar em uma escola onde lá pode encontrar crianças de diferentes grupos sociais, ela apreenderá diferentes formas de um mesmo jogo, podem ser elas as mínimas, mas muda a linguística do jogo entre as culturas e também de gerações a gerações. Segundo KISHIMOTO (2003. p. 16):

“Considerar que o jogo tem um sentido dentro de um contexto significa a emissão de uma hipótese, a aplicação de uma experiência ou de uma categoria fornecida pela sociedade, veiculada pela língua enquanto instrumento de cultura dessa sociedade”. (KISHIMOTO, 2003. p. 16)

Como dito anteriormente em cada época ou sociedade o jogo tem um

significado diferente, como por exemplo, um arco e flecha para as crianças é

um brinquedo, mas para a cultura indígena é uns instrumento de trabalho,

nesse sentido a caça. “[...] Dependendo do lugar e da época, os jogos

assumem significações distintas. Se o arco e flecha hoje aparecem como

brinquedos, em certas culturas indígenas representam instrumentos para a arte

da caça e da pesca” (KISHIMOTO, 2003. P. 17).

O jogo de regra tem uma estrutura sequencial, onde os participantes tem

que obedecer as regras para que o jogo se desenvolva corretamente.

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Tais estruturas sequenciais de regras permitem diferenciar cada jogo, permitindo superposição com a situação lúdica, ou seja, quando alguém joga, está executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica. (KISHIMOTO, 2003. p. 17).

O jogo como objeto é quando existe um jogo e ele pode ser

desenvolvido e fabricado com qualquer material, não necessariamente sendo

industrializado. KISHIMOTO (2003. p. 17), da o exemplo do tabuleiro de xadrez

e de um pião:

O xadrez materializa-se no tabuleiro e nas peças que podem ser fabricadas com papelão, madeira, plástico, pedra ou metais. O pião, confeccionado de madeira, casca de fruta ou plástico, representa o objeto empregado na brincadeira de rodar o peão. (KISHIMOTO, 2003. p. 17)

Os três elementos que Kishimoto estudou e citou em seu livro,

representa um pouco do jogo, eles, em cada região têm uma significação,

pelas regras e o contexto social.

2.2 - BRINQUEDO

O brinquedo para Kishimoto é uma relação intima da criança com o

mesmo. Nele não existem regras, a criança estipula o brinquedo e usa o

imaginário no momento. “[...] O brinquedo supõe uma relação intima com a

criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um

sistema de regras que organizam sua utilização” KISHIMOTO, 2003. p.18. No

momento da brincadeira, a criança representa a realidade, o seu dia-a-dia.

O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e a construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los. (KISHIMOTO, 2003. p. 18).

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Os brinquedos, com o desenvolvimento da sociedade, também tem um

grande avanço, as crianças podem imaginar-se em um foguete e estar subindo

em direção a lua, ou também podem ser cientistas, cozinheiros... Os

brinquedos de hoje em dia proporcionam isso às crianças, pois eles trazem a

realidade dos adultos para o mundo imaginário das crianças. Segundo

KISHIMOTO (2003. p. 18): “Hoje os brinquedos reproduzem o mundo técnico e

cientifico e o modo de vida atual, com aparelhos eletrodomésticos, naves

espaciais, bonecos e robôs”.

Kishimoto fala que os fabricantes de brinquedos inserem neles a sua

cultura, pois cada cultura tem uma maneira de ver o mundo e dos pais criarem

os seus filhos. KISHIMOTO (2003. p. 19): “O fabricante ou o sujeito que

constrói brinquedos neles introduz imagens que variam de acordo com sua

cultura. Cada cultura tem maneiras de ver a criança, de tratar e educar”.

O brinquedo está ligado ao passado, de geração a geração. Os pais, na

maioria das vezes, resgatam seus brinquedos de infância aos seus filhos.

Segundo KISHIMOTO (2003.p. 20): “[...] Os jogos infantis despertam em nós o

imaginário, a memória dos tempos passados”. Lembrando e contando aos

filhos como era a sua infância, os pais, trazem de sua memória as

características e até mesmo as sensações que aquele brinquedos traziam a

eles, e também como os manipulavam no momento imaginário/criativo da

brincadeira. KISHIMOTO (2003. p. 20): “[...] O brinquedo contém sempre uma

referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela

memória e imaginação”.

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Mas o brinquedo não pode ser apenas definido como um brinquedo, ou

um jogo, pois ele traz muito mais conhecimento à criança, como cultural

material e técnico, como se refere Kishimoto em seu estudo sobre os

brinquedos.

Os brinquedos são os elementos essenciais na educação das crianças,

pois é com eles que elas desenvolvem aspectos significantes do seu

desenvolvimento. Os brinquedos variam nas formas, cores, texturas e também

podem ser fabricados em casa ou industrializados, que segundo os RCNEI:

Constituem-se, entre outros, em objetos privilegiados da educação das crianças. São objetos que dão suporte ao brincar e podem ser das mais diversas origens materiais, formas, texturas, tamanho e cor. Podem ser comprados ou fabricados pelos professores e pelas próprias crianças; podem também ter vida curta, quando inventados e confeccionados pelas crianças em determinada brincadeira e durar várias gerações, quando transmitidos de pai para filho. (BRASIL, 1998. p. 70)

Com o decorrer dos anos, os brinquedos passaram a ser feitos de

objetos fixos manualmente (artesanalmente) à industrializados, perdendo um

pouco da magia da criação e da fantasia do brinquedo – o criar. Weiss afirma

(1989. p. 22) “Com a industrialização aceleram-se, cada vez mais, os meios de

produção, iniciando-se uma nova era, com novos meios e fins. Uma postura

apenas nostálgica com relação ao passado, evidentemente, não leva a nada”.

Como mencionado anteriormente, as brincadeiras tradicionais com

influências dos avos e pais, acabam sendo deixadas de lado para que os

produtos industrializados passem a ser o objeto/ brinquedo principal para as

crianças de hoje em dia.

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Os brinquedos desenvolvidos artesanalmente como o cavalo de pau, a

peteca, a boneca de palha e também as brincadeiras como amarelinha, bola de

gude, são esquecidas e as crianças de agora ignoram a existência e até

mesmo nem sabem as regras desses jogos e brincadeiras. As crianças de hoje

passam o seu tempo brincando com brinquedos industrializados ou até mesmo

em frente de uma televisão. Conforme Weiss:

O ambiente físico urbano é hostil à criança: não há muitos lugares para ela e, dessa maneira, uma series de jogos coletivos tendem a desaparecer, sendo substituídos por outros mais passivos e solidários, como assistir programas, filmes e desenhos na televisão. (WEISS, 1989. p. 28)

Os brinquedos estão presentes em toda a infância das crianças desde o

1º mês de vida, mas não somente das crianças como dos adolescentes e

adultos. Para as crianças recém-nascidas ao seu primeiro ano de vida, o

brinquedo é um estimulo, como afirma Weiss:

Para a criança de 1 mês a 1 ano, o brinquedo é, antes de mais nada, um conjunto de estímulos: visuais, quando percebe formas, cores e movimentos; gustativos, quando conhece os objetos pelo contato com a boca; e tácteis, quando começa a pegar os objetos, se apercebendo dos diferentes materiais e texturas. Ela repete movimentos, chocalha os brinquedos, aprende a bate contra o outro, joga-os, sente-se atraída pelo seu barulho ao joga-los no chão ou na parede. Ela aprimora, portanto, seu aparelho motor. (WEISS, 1989. p. 24)

As crianças, no decorrer do seu desenvolvimento, interagindo com os

brinquedos, passam a ter melhores resultados em seu pensamento criativo e

também ao desenvolvimento social e emocional. Conseguem interagir com os

seus colegas e professores com muita facilidade quando o foco é,

principalmente, a imaginação, por exemplo, quando contam ou inventam

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histórias. “Brincando a criança desenvolve seu lado emocional e afetivo bem

como algumas áreas do domínio cognitivo, tais como a capacidade de síntese”

WEISS (1989. p. 25).

2.3 – BRINCADEIRA

A brincadeira para Kihimoto é o momento lúdico da criança, concretiza

as regras do jogo. “A brincadeira é a ação que a criança desempenha ao

concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica”.

(KISHIMOTO,2003. p. 21). Então a brincadeira e o brinquedo assim

diferenciam-se do jogo segundo ela.

Através das brincadeiras as crianças iniciam a interação social, a criança

“aprende a viver com os que a cercam, situa-se frente ao mundo” MARTINI

(1994. p. 13).

O faz-de-conta, onde é o momento que a criança cria para satisfazer o

que ela deseja no momento, por exemplo, usa sua imaginação e cria cenários

e também histórias. Segundo KISHIMOTO (2003. p. 39):

A brincadeira de faz-de-conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária. Ela surge com o aparecimento da representação e da linguagem, em torno de 2/3 anos, quando a criança começa a alterar o significado dos objetos, dos eventos,a expressar seus sonhos e fantasias e assumir papéis presentes no contexto social. O faz-de-conta permite não só a entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que materializam nos temas das brincadeiras. (KISHIMOTO, 2003.p. 39).

As crianças criam símbolos enquanto brincam, e segundo KISHIMOTO

(2003. p. 40): “[...]Ao brincar de faz-de-conta a criança está aprendendo a criar

símbolos.

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A brincadeira, e também os jogos e os brinquedos são muito importantes

no desenvolvimento da criança na vida escolar. Segundo KISHIMOTO:

[...]A imagem de infância é enriquecida, também, com o auxilio de concepções psicológicas e também pedagógicas, que reconhecem o papel de brinquedos e brincadeiras no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil. (KISHIMOTO, 2003. p. 21).

Segundo Kishimoto, as principais atividades lúdicas realizadas na

Educação Infantil são:

Jogo educativo: Móbile, carrinho com pinos...parlendas, danças....

Brincadeiras tradicionais infantis: Brincadeiras que passam de geração em

geração, são populares, Folclore-amarelinha, pião, soltar pipa..

Faz -de –conta: Onde fica evidente o imaginário

Jogos de construção: Tijolinhos que permitem construir, transformar e

destruir.

Kishimoto discute sobre as brincadeiras, os jogos e o brinquedo na

Educação Infantil como vimos anteriormente, mas também outros autores

afirmam sobre os mesmos assuntos que Kishimoto, como Martini.

Ao observar uma criança dentro da sala de aula e depois em

brincadeiras no parque há uma grande diferença no seu comportamento.

Comparando o comportamento de alunos em sala de aula e durante as atividades recreativas ou no recreio, percebe-se uma grande diferença. Lá estão inquietas, distraídas, contidas, forçadas até. Soltas, livres das quatro paredes da “prisão”, correm, pulam, riem, gritam, o ambiente se transforma, tudo é motivo para diversão. (MARTINI, 1994. p. 11)

As crianças em sala, na maioria das vezes, ficam inquietas, distraídas e

até mesmo desanimadas para a brincadeira, pois elas precisam de espaços

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maiores e mais arejados para brincar, por exemplo, como afirma Martini na

citação anterior, as crianças quando estão no parque ou em um lugar maior,

elas sentem-se livres,brincam, correm, e principalmente interagem melhor com

seus colegas.

Torres estudando e pesquisando sobre o assunto também afirma um

pouco sobre a criança em seu momento do brincar.

Ao analisar uma brincadeira podemos constatar que esta interage com o jogo/brinquedo reproduzindo sensações reais do seu cotidiano e explora todo o seu imaginário, podemos dizer que a criança recria e assimila atitudes do seu meio cultural, aprimorando seu processo de aprendizagem e aquisição de conhecimentos. (TORRES. 2011. p. 12)

Torres também afirma que no momento da brincadeira a criança imita a

vida real e utiliza-se dos objetos para serem transformados em reais a ela.

O momento da brincadeira, na visão de um adulto sem conhecimento

das qualidades de uma brincadeira na Educação Infantil, pode ser apenas uma

diversão da criança ou uma atividade sem conhecimento e aprendizado, que

para eles podem não levar a nada. Mas, que para uma criança e também aos

pesquisadores do assunto, as brincadeiras são coisas sérias e nelas as

crianças adquirem conhecimento e aprendizado.

A brincadeira é o meio em que a criança cria o imaginário e aprende

com todos os momentos da mesma. Para Weiss (1989. p. 20): “As atividades

das crianças são essencialmente lúdicas (e não competitivas) e têm como

função primordial a descoberta do mundo que as rodeia: a criança se

desenvolve brincando”.

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A criança sempre estará aprendendo no momento da brincadeira e

também desenvolvendo importantes capacidades, segundo os RCNEI:

Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998. p. 22).

No momento da brincadeira, a criança está concentrada no que está

fazendo, ao mesmo tempo em que está rindo também está aprendendo, e

segundo KISHIMOTO (2003. p, 23/24): “[...] Quando a criança brinca, ela o faz

de modo bastante compenetrado. A pouca seriedade a que faz referência está

mais relacionada ao cômico, ao riso, que acompanha, na maioria das vezes, o

ato lúdico e se contrapõe ao trabalho, considerado atividade séria”.

Dada a importância dos brinquedos, jogos, brincadeiras, os professores,

principalmente da Educação Infantil, poderiam produzir brinquedos em suas

aulas, resgatando as culturas antecedentes tradicionais. O ensino da arte

também poderia ser trabalhado de maneira lúdica. É o que se pretendeu fazer

neste projeto através da obra da artista Denise Roman.

DENISE ROMAN – LINGUAGEM POÉTICA

Vários artistas representam em suas obras uma poética lúdica e Denise

Roman é uma delas. Denise Roman é uma artista plástica curitibana, nascida

no ano de 1957, que desenhava desde a pré-escola, onde sua professora

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Karini Abdaela deixava-a criar suas próprias fantasias, explorando os materiais,

que naquela época eram o pó xadrez e o jornal (ARAUJO, 2003).

O desenho funcionava como uma deliciosa brincadeira, em que eu podia, por exemplo, construir, mobiliar e povoar minhas casas que ficavam no interior de imensas árvores habitadas por numerosas famílias de coelhos. Hoje continuo desenhando, explorando um mundo mágico onde tudo pode acontecer... Continuo brincando com o papel, mexendo com figuras e texturas. Gosto de dar ao meu trabalho um sabor ilustrativo. Meus amigos me chamam de Denise Romântica”. (TRABA, Apud ARAUJO, 1999, s.p.)

Seu processo de criação é alegre e poético. Em suas obras relata

crianças e adultos em um mundo lúdico, brincando, dançando, deslocando-se

no tempo e espaço, retratando uma fantasia lírica gestada na magia.

Suas obras retratam uma realidade narrativa observada em instantes mágicos comparados a epifanias de contexto gráfico, nos quais a gravadora recria na atmosfera própria da gravura todo um simbolismo proveniente da imaginação. Seus tipos característicos, seus personagens – num primeiro momento – parecem para os observadores figuras saídas dos contos de fadas. Entretanto, no lirismo cativante de sua linguagem estético-artística, Denise Roman trabalha com elementos tipicamente locais. (PROCOPIAK, 2009, s.p)

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IMAGEM 1 – OBRA DENISE ROMAN: CINCO PASSEIAM JUNTOS

Como podemos observar nessa obra a artista representa a brincadeira

das crianças, em um momento de lazer, de brincadeira – andar bicicleta.

Encontra-se no Solar do Barão, na cidade de Curitiba no estado do

Paraná, onde lá desenvolveu grande parte de suas obras, retirando de lá sua

imaginação para os cenários e personagens. As brincadeiras de crianças

estão, na maioria das vezes, presentes nas obras de Denise Roman em uma

arte leve e criativa.

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IMAGEM 2 – OBRA DENISE ROMAN: BRINCADEIRAS PELO AR

Suas obras apresentam bastantes detalhes, podemos observar nas

roupas das crianças e também nos brinquedos que estão juntos às elas.

Denise Roman, na maioria das obras estudadas, descreve as brincadeiras das

crianças e o mundo imaginário e faz-de-conta.

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PESQUISA DE CAMPO

Fazendo-se referencias ao lúdico em sala de aula e as obras da artista

plástica Denise Roman, resultaram em uma pesquisa de campo e aplicação

com uma turma da Educação Infantil – Jardim I, em uma escola da rede

particular de ensino da cidade de Curitiba.

Para nosso estudo utilizamos a classificação de Kishimoto de atividades

lúdicas na Educação Infantil. Das quatro atividades definidas selecionamos

duas, por serem mais relevantes:

1) Brincadeiras tradicionais infantis (lenço atrás)

2) Faz -de –conta (brincadeira de imaginação)

A primeira etapa foi um trabalho que utilizou dois dias da semana

(segunda e sexta-feira). Era um dia com o sol bem forte, podendo perceber as

sombras no chão do parque. No primeiro dia, segunda-feira, trabalhamos o

lúdico com eles, desenvolvendo a brincadeira – lenço atrás.

A brincadeira de lenço atrás, segundo a classificação de Kishimoto se

enquadraria no segundo grupo “Brincadeiras tradicionais infantis”:

Considerada como parte da cultura popular, essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. A cultura não-oficial, desenvolvida especialmente de modo oral, não fica cristalizada. Está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo. Por ser um elemento folclórico, a brincadeira tradicional infantil assume características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade. (KISHIMOTO, 2003.p. 38).

O lenço atrás é um jogo com regras, de autocontrole das crianças e se

encaixa verdadeiramente nessa classificação de Kishimoto. Os pais e até

mesmo os professores da educação infantil tem o conhecimento dessa

brincadeira desde o período deles em sua infância. Segundo KISHIMOTO

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(2003. p. 38) “Tais brincadeiras foram transmitidas de geração a geração

através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil”.

A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. (WAJSKOP, 1997. p. 25).

A brincadeira de lenço atrás foi escolhida porque, como as obras de

Denise Roman são circulares, procurou-se uma brincadeira que fosse feita em

roda, e como a brincadeira de lenço atrás é uma brincadeira preferida pela

turma, optamos por ela.

Deslocamos-nos de nossa sala de aula para irmos até o parque para a

realização da brincadeira. A brincadeira para essa faixa etária (3 a 4 anos) é

muito importante, pois a criança revela seu lado cognitivo, motor, visual e

aprende a lidar com as pessoas ao seu redor, principalmente com seus

colegas. Segundo Gisela Wajskop, em seu livro “Brincar na pré escola”, a

criança se desenvolve pela suas experiências:

A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos. (WAJSKOP, 1997. p. 25)

Como o dia estava bem ensolarado, pedi a eles que durante a

brincadeira de roda, lenço atrás, observassem todos os movimentos que

estavam desenvolvendo no decorrer da atividade, por exemplo, como estava

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sendo distribuídos, como andavam, o que percebiam ao esperar que o amigo

colocasse o lenço atrás de suas costas, e também as sombras deles e de seus

colegas que se formavam no parque. Depois que foi realizada a brincadeira de

lenço atrás, voltamos em sala de aula para desenvolver a atividade de arte.

Chegamos a sala de aula e apresentei a eles a artista Denise Roman,

falamos sobre a vida e obra da artista plástica Curitibana. Expliquei a eles que

a artista trabalha, na maioria das suas obras, o mundo imaginário, o faz-de-

conta, as brincadeiras infantis e também os jogos. E que a nossa brincadeira

desenvolvida no parque anteriormente fazia uma ligação as suas obras por

elas serem circulares e por representar brincadeiras infantis. No decorrer dessa

brincadeira desenvolvida no parque, ao mesmo tempo em que a criança

brincava, também estava aprendendo, pois como dito anteriormente, orientei a

elas que percebessem seus movimentos e suas sombras. Gisela Wajskop faz

uma ligação da criança que brinca com sua experimentação e seu

conhecimento.

A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via da representação e da experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaço de vida e interação e os materiais fornecidos para as crianças podem ser uma das variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e apropriai-se do conhecimento universal. (WAJSKOP, 1997. p. 27)

A experiência da brincadeira deles no parque também faz ligação com

as obras da artista curitibana. As obras da artista Denise Roman utilizadas em

sala para que eles conhecerem a artista foram: “Aventuras do Século XX” –

litogravura 0,50 x 0,50 cm, e “Os quatro filhos de um casal de artistas” –

litogravura 0.50 x 0,50 cm. Deixei que observassem os detalhes que a artistas

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desenvolvia nas suas obras e pedi que descrevessem o que estavam vendo,

descrição da obra.

IMAGEM 3 – OBRA DENISE ROMAN: AVENTURAS DO SÉCULO XX

Apresentei essa obra aos alunos para eles perceberem a riqueza dos

detalhes da artista em sua obra. Pedi a eles que observassem as roupas das

crianças, e debati com eles como a artista tinha trabalhado em cada pedaço ou

criança na obra.

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IMAGEM 4 – OBRA DENISE ROMAN: OS QUATRO FILHOS DE UM CASAL DE ARTISTAS

Mostrando essa obra eu pedi as crianças que observassem também os

detalhes em especial, como a artista trabalhava a cor na sua obra. Eles ficaram

impressionados com os detalhes. Surgiram diversos comentários em sala

sobre as obras e o que mais chamou a atenção foi o fato de comentarem e até

mesmo contarem as flores e os elementos existente. Os instrumentos musicais

presentes também foram mencionados pelas crianças.

O momento da atividade de artes, a apreciação das obras e a discussão

da mesma fez com que as crianças percebessem que a brincadeira tornou-se

seria, que era parte da aprendizagem deles.

As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito da arte. (BRASIL 1998, p.89)

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Para o desenvolvimento da primeira atividade prática com as crianças,

apresentei os materiais que utilizamos – canson, tinta nanquim e palito de

churrasco. A escolha desses materiais deu-se pelo fato da artista também

desenvolver vários trabalhos com nanquim, que na década de 1970, Fernando

Ikoma o apresentou, e “introduz no universo narrativo das histórias em

quadrinhos, onde teve seus primeiros contatos com nanquim” (ARAÚJO, 2003.

p. 15).

IMAGEM 5 - MARIN, 2012 – Materiais utilizados.

As crianças teriam que representar a atividade que foi desenvolvida no

parque com o máximo de detalhes. O objetivo dessa atividade era com que as

crianças memorizassem e percebessem o que acontece no momento de uma

brincadeira. A atividade prática tinha como objetivo que a criança transferisse

para o papel suas percepções do momento da brincadeira, registrando os

detalhes de suas obras e dos seus movimentos.

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IMAGEM 6 - MARIN, 2012 – brincadeira de roda.

Durante a brincadeira de lenço atrás, as crianças conseguiram perceber

não somente seus movimentos na roda mas também a sua sombra, as formas

que se formavam no chão do parque com as sombras, para depois chegar em

sala e colocar todos os elementos da brincadeira no papel.

O lúdico foi parte do processo de aprendizagem das crianças, foi uma

parte da atividade de arte.

A brincadeira de roda desenvolvida antes da atividade, esteve presente

em todos os trabalhos, e isso é significativo, pois todos conseguiram prestar

atenção na brincadeira, principalmente resgatando e conectando a brincadeira

com a memória da mesma, e depois retratando no papel como aconteceu. A

maioria das crianças conseguiu representar a forma circular da roda, pois essa

turma é bastante avançada no desenho. Eles têm uma boa noção de figuração

humana e de espaço no papel, pois trabalhei isso com eles desde seu primeiro

ano de vida, no maternal I, com atividades de coordenação motora para sua

faixa etária.

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IMAGEM 7 - MARIN, 2012 – a roda sempre presente.

Desenvolvemos mais um trabalho com o mesmo tema, mas agora eles

teriam que representar a sua família, já que Denise Roman retratou seus filhos

em uma de suas obras. No final da realização das atividades práticas deixamos

penduradas para secar.

IMAGEM 8 – DESENHOS FAMILIA (COLORIDA)

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Primeiro as crianças desenharam com lápis e depois distribui a eles tinta

para colorirem, mas não foi uma boa opção de material, pois a maioria das

crianças, como nessa faixa etária adoram cores e tinta, colocaram tinta sobre

todo o papel, deixando os seus desenhos a lápis escondidos por baixo das

tintas, como podemos perceber na imagem acima.

A Arte não se propõe a registrar as sensações da brincadeira, ela é a

sensação, é a própria brincadeira.

Na aula seguinte (sexta-feira) retornamos a atividade da família. Sugeri a

eles que colorissem o seu trabalho, para deixarmos um preto e branco e outro

colorido, seguindo a linhas das duas litogravuras da artista Denise Roman.

Os resultados me surpreenderam, pois o uso do nanquim na educação

infantil não é muito trabalhado, e o cuidado que cada uma das crianças teve

com ele foi impressionante.

Depois de tudo pronto desenvolvemos uma exposição no pátio da escola

com os dois trabalhos feitos em sala a partir da artista Denise Roman.

Sentamos todos na frente dos trabalhos e discutimos sobre os mesmos. A

importância de falar sobre os trabalhos é colocado no RCNEI:

Permitir que elas falem sobre suas criações e escutem as observações dos colegas sobre seus trabalhos é um aspecto fundamental do trabalho em artes. É assim que elas poderão reformular suas idéias, construindo novos conhecimentos a partir das observações feitas, bem como desenvolver o contato social com os outros. Nesta etapa é possível fortalecer o reconhecimento da singularidade de cada indivíduo na criação, mostrando que não existe um jeito certo ou errado de se produzir um trabalho de arte, mas sim um jeito individualizado, singular. Comentar os resultados dos trabalhos possibilita a descoberta do percurso na criação e a percepção das soluções encontradas no processo de construção. (BRASIL, 1998. p. 105)

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Na roda de conversa em frente a exposição dos trabalhos cada um, em

seu momento, levantou, mostrou seus trabalhos e falou sobre eles. Tinha que

comentar se havia gostado, o que mais o chamou sua atenção, sobre as obras

da artista o que ele tinha achado, e o principal falar sobre o que tinha aprendido

com essas atividades.

Na segunda etapa do trabalho, realizei uma atividade de faz-de-conta –

imaginação e uma atividade prática de artes visuais. Fazendo-se referencia a

outra obra da artista Denise Roman: “Brincadeiras pelo ar”, a atividade foi

dividida em duas partes: momento de história e imaginação, momento da

criação artística.

Fomos ao parque e fui contando a história a eles e explicando o que era

para ser feito (usando a imaginação para criar o ambiente):

“Vamos fazer uma brincadeira de faz de conta. Vamos imaginar que

estamos andando (andamos pela sala devagar, um atrás do outro como se

estivéssemos em uma trilha), estamos fazendo um passeio juntos, vamos

prestar atenção em tudo ao nosso lado”.

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IMAGEM 9 – ANDANDO PELO PARQUE

“Agora estamos entrando em uma floresta com muitas arvores, vamos

cuidar onde pisamos. Olha crianças o que temos em nossa frente! Um lindo

pássaro gigante! Vamos dar saudações a ele. Ela vai nos levar ao um mundo

diferente, quem gostaria de conhecer? Meu Deus, estamos voando! (sentamos

em fila no chão e imaginamos que estivéssemos em cima do corpo do

pássaro), olha que legal! Olhem para baixo crianças, o que podemos observar?

(falei que estávamos sobrevoando sobre a floresta, mas essa floresta era

especial, ela era muito colorida)”.

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IMAGEM 10 – VOANDO COM O PASSARO GIGANTE

“O pássaro pousou que lugar é esse? Parece que estamos todos

voando e flutuando, parece que estamos nas nuvens (nessa hora deitamos

todos ao chão e rolamos, erguemos os pés, os braços – como na obra da

artista). Cuidado crianças, estão ouvindo esse barulho? Está vindo de onde?

parece que são crianças brincando não é? É sim! Olha lá na frente um menino

brincando, ele está empinando uma pipa, mas vejam que roupa engraçada ele

está usando, muito colorida. Será que é um menino ou um palhaço? Vamos

mais perto para observar? Olha crianças temos muitos objetos de ar que

podemos brincar (no canto do parque arrumei um espaço com vários objetos

do ar: bexigas, avião de dobraduras...) podem brincar com os objetos o menino

da roupa colorida quer brincar com vocês! (deixei eles brincarem no parque

com os objetos de dentro da caixa)”.

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IMAGEM 11 – EXPLORANDO OS BRINQUEDOS DE AR

“Agora chega crianças guardem os objetos que temos que retornar a

nossa escola, o nosso amigo pássaro gigante vai nos levar novamente para a

escola (sentamos em fila e imaginamos o caminho da floresta colorida

novamente)”.

Para finalizar sentamos no chão, em roda, e conversamos sobre a nossa

experiência. Comecei o debate com eles: vocês gostaram da história? Como foi

imaginar ela? O que sentiram quando estávamos voando no pássaro gigante?

E se vocês brincassem no ar, como seria? A partir desse questionário, as

crianças formularam varias informações e respostas.

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IMAGEM 12 – RODA DE CONVERSA;

Todas as crianças participaram da brincadeira, e pude perceber, através

do dialogo, que todos imaginaram o cenário e os personagens citados no

momento da história.

Agora que conversamos sobre a nossa brincadeira, apresentei a eles a

obra da artista Denise Roman – Brincadeiras pelo ar (imagem 2 no capitulo

anterior). Pedi a eles que observassem na obra da artista o que as crianças

que a artista representado estavam fazendo. Mais uma vez desenvolvi um

dialogo com eles: o que a artista Denise Roman retratou (na linguagem deles –

desenhou) em sua obra? Conseguem ver os objetos que as crianças estão

brincando? Podem me descrever eles?

Esse momento de dialogo das crianças são sempre importantes no

momento da realização de qualquer atividade. Segundo RYCKEBUSCH,

comenta que a roda de conversa amplia o vocabulário da criança na Educação

Infantil:

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[...] Trabalhar com a linguagem oral na “Roda de Conversa” significa a ampliação do vocabulário das crianças, de suas capacidades comunicativas e de expressão, bem como da sensibilização à escuta do outro para que possam se comunicar de forma eficiente, em contextos diversos (RYCKEBUSCH, 2011. p. 41)

Agora que desenvolvemos a brincadeira de faz-de-conta, ou seja, a de

imaginação, onde contei a história e imaginamo-la, e observamos a obra da

artista Denise Roman, perguntei a eles se nas duas atividades havia alguma

semelhança. As respostas deles foram que sim, havia muita semelhança, pois

eles (as crianças da obra) também estavam, brincando com os brinquedos que

eles (as crianças que trabalhei), também brincaram antes no parque. Nesse

momento percebi que as crianças tinham conseguido alcançar o meu objetivo,

desenvolvido antes da pratica da brincadeira, da aula.

Após os diálogos e a brincadeira de imaginação, desenvolvemos uma

pratica para representar as atividades desenvolvidas. A proposta era fazer uma

cabeça de um boneco com os cabelos (estilo aquele brinquedo que tem as fitas

compridas).

Expliquei a eles que faríamos um boneco que teria somente a cabeça e

com os cabelos bem compridos para voarem no vento, como os objetos que

brincamos no momento da brincadeira e os objetos que as crianças

representadas na obra da artista Denise Roman brincavam.

Disponibilizei uma bola de isopor para cada criança e canetinha preta

permanente no centro da roda. Pedi a eles que criassem seu próprio

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personagem, eles poderiam desenhar-se se quisessem também, a escolha era

critério deles.

IMAGEM 13 – MATERIAIS DISPONIBILIZADOS PARA A CRIAÇÃO DO BONECO;

Depois que criaram o rosto de seus bonecos, fizemos os cabelos. Para

os cabelos colocamos fios de fitilhos (eles escolhiam as cores e recortavam-

nos para fazer os cabelos). Expliquei a eles que os cabelos teriam que ser bem

compridos, porque quando iríamos brincar no parque eles iriam voar.