Monografia Sobre uso de Labirintos em arteterapia

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UnP - Universidade Potiguar Alquimy Art Curso de Especialização em Arteterapia O LABIRINTO COMO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Neyla Martins dos Santos Goiânia 2005

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Interessante texto escrito em monografia que fala sobre o uso de labirintos em arteterapia.

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  • UnP - Universidade Potiguar

    Alquimy Art

    Curso de Especializao em Arteterapia

    O LABIRINTO COMO PROCESSO DE INDIVIDUAO

    Neyla Martins dos Santos

    Goinia

    2005

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    NEYLA MARTINS DOS SANTOS

    O LABIRINTO COMO PROCESSO DE INDIVIDUAO

    Monografia apresentada Universidade Potiguar, RN e

    ao Alquimy Art, de So Paulo, como parte dos requisitos

    para obteno do ttulo de Especialista em Arteterapia.

    Orientadora: Prof. Esp. Flora Elisa Fussi

    Goinia

    2005

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    SANTOS, Neyla Martins.

    O Labirinto como processo de individuao /

    Neyla Martins dos Santos. Goinia; [s.n.], 2005. 54 p.

    Monografia (Especializao em Arteterapia) Universidade Potiguar. Pr-Reitoria de Educao Profissional. Alquimy Art.

    1. Arteterapia 2. Labirinto 3.Processo de Individuao

    GO/BGSF CDV.51

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    UnP- Universidade Potiguar

    Alquimy Art Pr-Reitoria de Educao Profissional

    O LABIRINTO COMO PROCESSO DE INDIVIDUAO

    Monografia apresentada pela aluna Neyla Martins dos Santos ao curso de Especializao em

    Arteterapia em ___/___/___ e recebendo a avaliao da Banca Examinadora constituda pelos

    professores:

    __________________________________________________________

    Prof. Esp. Flora Elisa Fussi, Orientadora

    __________________________________________________________

    Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especializao

    __________________________________________________________

    Prof. Msc. Deolinda Florim Fabietti, Coordenadora da Especializao

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    A vida no um corredor reto e tranqilo que ns percorremos livre e sem empecilhos,

    mas um labirinto de passagens,

    pelas quais ns devemos procurar nosso

    caminho, perdidos e confusos, de vez em quando

    presos em um beco sem sada.

    Porem se tivermos f,

    uma porta sempre ser aberta para ns,

    no talvez aquela sobre a qual

    ns mesmos nunca pensamos,

    mas aquela que definitivamente

    se revelar boa para ns.

    A. J.Cronin

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    A todos aqueles que buscam um sentido

    em suas vidas e que em suas experincias se

    deparam com o labirinto; que se encontram na

    jornada de percorrer caminhos que conduzem

    descoberta do si-mesmo.

    Enfim, dedico a todos que passam pelo

    seu Processo de Individuao.

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    Agradecimentos

    Meus mais sinceros agradecimentos a todos professores, amigos, colegas e a minha

    orientadora, que foram presentes ao longo do processo de elaborao desta monografia.

    Agradeo por terem me dado contedo e incentivo que possibilitaram a coragem para

    explorar a descoberta de caminhos neste processo de individuao.

    Agradeo a Deus, que na minha vida, faz parceria e presena constante.

    Aos meus familiares pela compreenso e confiana.

    Ao meu companheiro por ter me ajudado em horas especiais, por seu apoio e tolerncia.

    E a todos que me ouviram, tiveram pacincia e me acolheram ao longo deste processo.

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    RESUMO

    O LABIRINTO COMO PROCESSO DE INDIVIDUAO

    Este trabalho tem por objeto situar a experincia do labirinto como uma possibilidade de

    avano no processo de individuao do sujeito, utilizando teorias aplicadas na Arteterapia e a

    Psicologia Analtica como embasamento terico. Para que transformao, crescimento e

    maturao sejam possveis, fundamental que o ser tenha conscincia das mudanas internas

    que acompanham este processo, e vivencie a experincia de forma positiva. Isto implica na

    aceitao da introverso, crise e ambigidade que envolvem o processo de percorrer o

    caminho pelo labirinto. A experincia abordada sob o aspecto simblico, como um rito de

    passagem no desenvolvimento humano. Assim, o processo de individuao abordado como

    um movimento em direo totalidade, e abertura e visualizao de novas possibilidades.

    Palavras-chaves: Arteterapia; Psicologia Analtica; labirinto e processo de individuao.

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    ABSTRACT

    THE LABYRINTH AS INDIVIDUALITY PROCESS

    The aim of this study is to set the labyrinth experience as a tool toward the individuality

    process development, applying the theoretical basis of Art Therapy and Analitical

    Psychology. It is of primary importance being conscious of internal changes along this

    process, experiencing in a positive way, in order to reach maturity and to make

    transformations and growth possible. This implies introversion, crises and ambiguity

    acceptance which involves the passage through the labyrinth way. The experience is

    approached under a symbolic aspect as a passing rite in human development. As so, the

    individuality process is concerned as a movement toward totality and openness to new

    possibilities.

    Key-words: Art Therapy; Analitical Psychology; Labyrinth and Individuality Process.

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    SUMRIO

    RESUMO.......................................................................................................................

    ABSTRACT..................................................................................................................

    1- INTRODUO.........................................................................................................

    2 O LABIRINTO HISTRIA E SIMBOLO .......................................................... 2.1 Sobre Mitos..................................................................................................... 2.2 Personagens e histrias relacionadas com o labirinto.....................................

    2.2.1 - A lenda de Delado...............................................................................

    2.2.2 - A lenda de caro..................................................................................

    2.2.3 - A lenda de Tesseu...............................................................................

    2.3 - A metfora do Labirinto..................................................................................

    2.3.1 - Antiguidade o uno e o mutiplo......................................................... 2.3.2 - Idade Mdia- Horizontalidade e a verticalidade..................................

    2.3.3 Renascena (sc.XIV a XVI)- o exterior e o interior......................... 2.3.4 - poca Clssica(sc. XVII e XVIII)-a realidade e a aparncia............

    2.3.5 - poca Moderna- o finito e o infinito..................................................

    3 ENTRANDO NO LABIRINTO.............................................................................. 3.1 A Entrada........................................................................................................ 3.2 O Percurso...................................................................................................... 3.3 A Sada........................................................................................................... 4 SOBRE ESTGIO.................................................................................................. CONCLUSO (compromisso)......................................................................................

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..........................................................................

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  • 1 - INTRODUO

    amos a nos observar melhor, reconhecemos certas dificuldades, percebemos

    os

    Ao longo da minha jornada tenho o interesse de me conhecer melhor para conhecer o

    outro. No decorrer do meu repertrio, aparecem questes como: Quem eu sou?.

    Por meio deste trabalho monogrfico, deparei-me a observar que meu principal

    objetivo a busca constante de formao de uma identidade pessoal e profissional. Levanto

    questes relacionadas ao meu processo de crescimento pessoal.

    Este processo de conhecimento e crescimento desenvolve o sentimento de

    descoberta do centro, do equilbrio, do despertar da conscincia. Quando pass erros do

    percurso e assumimos nossos compromissos de acordo com a nossa verdade, dentro do nosso

    contexto cultural. Descobrimos assim, um caminho neste percurso, onde acorre a tomada de

    conscincia.

    O labirinto representa este processo de busca, de conhecimento, de crescimento.

    uma imagem que h muito tempo faz parte da minha vida, desde a infncia. s vezes

    desenhava esta imagem de forma livre nos momento de introspeco. Com o Curso de

    Arteterapia, procurei dar maior ateno ao que esta imagem falava sobre meu processo,

    pesquisando o que ela representa como smbolo e qual seu significado latente. Acho

    fascinante estudar o labirinto. O que antes era uma brincadeira, algo ldico, transformou-se

    em objeto de estudo. Descrevo neste trabalho o meu crescimento pessoal, dentro do processo

    de individuao a partir do contato com o tema do labirinto.

    A arteterapia foi uma grande colaboradora nesta monografia, ajudou no sentido de

    fazer emergir algumas potencialidades que estavam ocultas e desconhecidas at ento. O

    curso permitiu vivenciar teorias, histrias e contedos. O explorar de materiais e recursos

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    dentro das oficinas teraputicas e a prtica do estgio contribuiro de forma significativa para

    o aprendizado.

    Durante o curso, senti muitas vezes vontade de me desligar, de abandonar o curso, de

    deixar para l, com a sensao de encontrar-me no fundo de um poo, sem sada. A resistncia

    estava presente de forma constante, trazendo com ela a insatisfao e o descrdito dentro da

    proposta do curso. A terapia paralela ao curso foi de suma importncia no meu processo de

    conhecimento e crescimento pessoal, porque me permitiu visualizar melhor o que estava

    encoberto, e que eu no queria, ou no conseguia, ver no momento. Trabalhei as sombras at

    ter a conscincia de que, na verdade, no me encontrava no fundo do poo, mas sim

    percorrendo o labirinto de minha identidade pessoal e profissional.

    Na experincia com o Labirinto apareceu uma espcie de estranhamento;

    sensaes e sentimentos surgiram apontando para os labirintos que se encontravam dentro e

    fora do ser. Resolvi ento, caminhar no labirinto, onde vrias vezes, me perdia no percurso e

    me buscava dentro do meu processo de aprendizagem, que trazia desprazer e certa dor

    (ansiedade, angstia, frustrao). s vezes, certo prazer em me conhecer melhor.

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    2 - O LABIRINTO - HISTORIA E SMBOLO

    O labirinto aparece como um mistrio dentro da histria, est representado em

    inmeras civilizaes persas, hindus, maias, astecas, egpcias e outras. As primeiras imagens

    que retratam labirintos (Fig.01) surgiram em uma poca primitiva, antes da escrita. Linhas

    contendo traos que remetem idia de desenhos de labirintos foram representadas em

    amuletos, em moedas, paredes, rochas, templos, vasos e etc. No Egito, no perodo do Antigo

    Imprio os labirintos so encontrados nas entradas de palcios e tumbas. Tm como objetivo

    possibilitar caminhos, oferecendo sempre uma sada. Serviam tambm como defesa,

    dificultando o acesso cmara morturia, ou ao tesouro.

    Figura:1

    No meio: Os labirintos mais primitivos, de 2500 a.C., tinham trs voltas.

    esquerda: Conhecido em todo o mundo, o desenho clssico ganhou mais

    quatro voltas.

    Direita: Labirinto dos ndios hopis, do sudoeste dos EUA, para quem a

    figura um smbolo ligado ao nascimento e criao.

    A origem do labirinto o palcio cretense de Minos, onde estava encerrado

    o Minotauro e de onde Teseu s conseguiu sair com a ajuda do fio de

    Ariadne. Conservou-se, pois, em suma, a complicao de seu plano e a

    dificuldade de seu percurso. Trata-se de um Smbolo: sistema de defesa,

    que anuncia a presena de alguma coisa sagrada. (CHEVALIER &

    GHEERBRANT, 1998, p.530).

    Como sistema de defesa era utilizado nas portas das cidades fortificadas, tendo o

    objetivo de dificultar o acesso do inimigo, do adversrio humano e das influncias malficas,

    funcionando como um filtro ou um bloqueio destas foras. Assim, anunciava a presena de

    alguma coisa especial da ordem de valor material, imanente, ou da ordem do sagrado, o

    espiritual, o transcendente, cuja funo principal de proteo, seja de tesouros ou mistrios.

  • 14

    O signo do labirinto est inserido na mitologia, na histria, no cinema, na msica,

    nas artes plsticas, na arquitetura, nas brincadeiras infantis, etc. Trata-se de um dos smbolos

    que fascina o homem com sua esttica, em sua beleza plstica e riqueza de significados.

    De acordo com o jornal da UFRGS (2002), o primeiro relato sobre a escrita e

    significado da palavra labirinto, se deu quando Sir Arthur Evans, no incio do sculo 20,

    escavando o palcio de Knossos, em Creta, encontrou um smbolo religioso na forma de uma

    dupla machadinha, cuja palavra correspondente em grego era labrys (machadinha). Esta

    descoberta confirmou, no s a existncia do palcio, de onde se originou a lenda de Ddalo,

    mas tambm, a derivao da palavra labirinto, que significa um complexo de salas e

    passagens fceis de serem atingidas, mas quase impossveis de serem deixadas.

    Segundo Sands (2004), as palavras labyrinth e maze, significam em portugus,

    labirinto e ddalo, respectivamente. So sinnimos. Na lngua inglesa assumiram significados

    diferentes: labyrint significa um caminho, um percurso apenas, que leva a uma meta central

    depois de uma srie de curvas e sinuosidades; maze tem o sentido tradicional de construo de

    caminhos variados e becos sem sadas com apenas uma passagem que leva ao centro.

    Figura simblica que permite pensar o conjunto dos postulados contraditrios, o

    labirinto tem a ver com o pensamento mstico.

    O labirinto atravessa o tempo como um desafio imaginao e ao pensamento

    universal. Sua imagem arquitetnica nos leva mitologia grega. O Labirinto de Creta,

    construdo por Ddalo, para encerrar o Minotauro criatura metade touro, metade homem,

    possua uma arquitetura repleta de encruzilhadas e dificuldades. Vem da a noo do labirinto

    como uma construo tortuosa que se destina a desorientar as pessoas. "Um labirinto uma

    casa edificada para confundir os homens; sua arquitetura, prdiga em simetrias, est

    subordinada a esse fim (BORGES, 1998, p. 598).

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    O labirinto assume ser um lugar, tanto do perder-se, quanto um lugar de explorao e

    de investigao. A sua imagem mais mental do que arquitetnica. Sua metfora permite

    explorar suas bifurcaes e caminhos tortuosos, propiciando o conhecimento e tornando-se

    uma inspirao para uma investigao e para uma criao, simultaneamente. Um smbolo que

    aponta para desconhecidas possibilidades e que mostra como se est aberto a outras

    influncias do lado sombra do nosso inconsciente, e como elementos bizarros e estranhos

    podem penetrar (JUNG, 1964, p.170).

    O Labirinto , essencialmente, um entrecruzamento de caminhos, dos quais alguns

    no tm sada e constituem assim impasses. No meio deles mister descobrir a rota que

    conduz ao centro desta bizarra teia de aranha (CHEVALIER& GHEERBRANT, 1998,

    p.530).

    No h necessariamente uma simetria para a construo do labirinto. Num pequeno

    espao pode existir um complexo emaranhado de caminhos com o objetivo de adiar, ou tornar

    mais longa a viagem ao centro que se deseja atingir. Trazendo uma analogia com a mandala,

    na medida em que, ao permitir o acesso ao centro, propicia uma viagem iniciatria.

    O labirinto significa uma representao confusa e intricada do universo da

    conscincia... este universo s pode ser transposto por aqueles que esto prontos para fazer

    uma iniciao especial ao misterioso mundo do inconsciente coletivo (JUNG, 1964, p.125).

    considerado um ponto de partida para o prprio conhecimento, a partir do qual

    pode-se desenvolver o prprio caminho pessoal. um meio de meditao que nos oferece a

    oportunidade de ouvir a ns mesmos. Essa experincia pode ser demorada e contemplativa, ou

    rpida e energizante. Com ela podemos nos livrar de vrios nveis de emoo e deslindar um

    problema, ou podemos estimular a mente e produzir inspirao. O caminho do labirinto nos

    leva por uma jornada interior de cura em direo ao bem-estar pessoal. a renovao

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    espiritual. considerado tambm smbolo de morte e ressurreio espiritual, no que refere o

    seu processo de entrada e sada.

    2.1 - SOBRE MITOS

    De acordo com Chevalier & Gheerbrant (1998), na leitura de Paul Diel, os

    personagens da mitologia representam uma funo da psique, demonstrando a vida psquica

    do homem que se encontra dividida em tendncias opostas, que vo da sublimao

    perverso.

    Os mitos representam a vida passada dos povos, remetem a todo um sistema de

    crenas, dogmas e idias morais. Trazem consigo a dramaturgia da vida social ou da histria

    poetizada do homem. a presena marcante no processo de conhecimento que nos orienta

    reflexo.

    Notase um desenvolvimento psquico e evoluo espiritual no mito. Psiqu

    representa a purificao da alma, que aps uma longa jornada cheia de infortnios e

    sofrimentos, pode gozar da mais pura felicidade e tornar-se imortal.

    Ainda em Chevalier & Gheerbrant, (1998), segundo as idias de Plato, o mito

    discrimina a realidade humana, faz emergir a funo simbolizadora. Micea Eliade v no mito

    o modelo arquetpico para todas as criaes, seja qual for o plano no qual elas se desenrolam:

    biolgico, psicolgico, ou espiritual.

    A funo mestra do mito fixar modelos exemplares de todas as aes humanas

    significativas. O mito permite a representao dramatizada entre as duas realidades, a exterior

    e a interior. Na histria do mito fica condensada uma srie de contedos simblicos, que

    visam auxiliar o homem na conquista de sua personalidade e assim, possibilitar sua evoluo

    ao longo do caminho.

  • 17

    Os gregos inventaram um conjunto de lendas (mitos) sobre a origem da vida e dos

    deuses, semideuses e heris. Criaram cenrios fantsticos que envolveram lutas, conflitos

    psicolgicos e representaes de valores e idias morais.

    Na trajetria do mito verifica-se que em sua estrutura no h um incio, nem um final

    precisos, surgindo antes de Teseu entrar no labirinto e continuando aps Teseu sair dele. O

    mito no uma reflexo abstrata, mas concreta. Ariadne no pede a Teseu que volte, mas lhe

    entrega um fio. Teseu no argumenta com Minos que o sacrifcio injusto, mas se coloca

    entre os sacrificados para tentar matar o Minotauro.

    Na prova imposta a Teseu, onde dentre vrios caminhos, elegeu um para chegar at ao

    Minotauro, e depois com a ajuda do fio de Ariadne, que apontou o nico caminho para a

    sada, vemos que o mito levanta o problema da escolha, ao mesmo tempo que, fornece o

    instrumento para resolv-lo; faz entrever a pluralidade, mas, imediatamente aps, oferece os

    meios de reduzi-la unidade.

    O mito um relato com mais de um clmax. H pontos de virada, peripcias. Na

    histria: Ariadne ajuda Teseu, mas trada por ele; Ddalo projeta o labirinto, mas torna-se

    tambm seu prisioneiro.

    Destaca-se aqui a figura do heri, com a lenda de Ddalo, caro e Teseu, que

    tornaram merecedores de tratamento neste trabalho monogrfico por estarem relacionados de

    forma direta com a figura do labirinto.

    2.2 - PERSONAGENS RELACIONADOS COM O LABIRINTO

    2.2.1 - A lenda de Ddalo o construtor do labirinto

    A Lenda de Ddalo comea com o significado do seu prprio nome, que em grego

    significa engenhoso, hbil ou criador. Ddalo era arquiteto e inventor. Era admirado pela sua

  • 18

    capacidade inata de ajudar, resolvendo os mais difceis problemas ou tarefas, demonstrando

    um engenho mpar. Ddalo era um homem com idias geniais.

    Pelo seu talento, o Rei Minos, senhor da ilha de Creta, resolveu cham-lo para lhe

    encomendar um servio especial. A construo de um labirinto.

    Ddalo, logo aps constru-lo, foi aprisionado em sua obra, mas encontrou uma

    maneira criativa de sair desta situao.

    2.2.2 - A lenda de caro

    Filho de Ddalo e de uma escrava, caro morreu vtima das invenes do pai que ele

    utilizou sem fazer caso das advertncias paternas. Eu te previno, caro, tens de fixar teu

    curso numa altura mdia.

    Conta a lenda, que aprisionado no labirinto com seu pai, que ajudara Ariana e Teseu

    a matar o Minotauro, ele consegue evadir-se com o auxlio de Pasfae, que fixou com cera

    sobre seus ombros s asas que Ddalo lhe fez. caro voou por cima do mar. E, desprezando

    todos os conselhos de prudncia, elevou-se cada vez mais alto, cada vez mais perto do sol,

    fazendo com que a cera derretesse, levando sua precipitao ao mar (Fig 02 e 03).

    caro caracteriza a exaltao sentimental e vaidosa que traz a tentativa

    insana devido emotividade e mania de grandeza que o transforma em

    smbolo do excesso, do intelecto que se tornou insensato, da imaginao

    pervertida. Representa uma dupla perverso do juzo e da coragem.

    (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1998, p. 499).

    Figuras 02 e 03 Imagens da lenda de caro.

  • 19

    2.2.3 - A lenda de Teseu

    Minos, o rei de Creta, recebe de Poseidon um touro de presente. No entanto, o deus

    dos mares exige que esse animal seja ofertado em sacrifcio. Minos nega-se a devolv-lo.

    Como punio, Poseidon, por meio de Afrodite, faz com que a esposa de Minos, a rainha

    Pasfae, se apaixone pelo touro. Dessa unio nasce um monstro, o Minotauro, metade homem,

    metade touro. Para esconder aquilo que se tornou a vergonha de Minos, o arteso Ddalo cria

    o labirinto. Minos, impondo o seu poder sobre a cidade rival de Atenas, passa a exigir

    anualmente como tributo, quatorze jovens para servirem de alimento para a fera. Teseu, de

    Atenas, se oferece para embarcar no navio que levar o tributo a Creta. Teseu, porm, no vai

    despreparado para tal jornada. Conta com a ajuda de Ariadne, filha de Minos, que se

    apaixonou por ele e obteve de Ddalo o segredo para sair: o fio que tem que ser amarrado na

    entrada do labirinto. O heri grego entra no labirinto com um carretel de linha oferecido por

    Ariadne, consegue matar o Minotauro e escapa com vida (Fig.04).

    Figura 04 - Teseu domina o Minotauro. Vaso grego do Museu do Prado,

    Madri. (BULFINCH, 1976, p. 189).

    Do mito de Teseu, os quatro principais personagens: Ariadne, Ddalo, Minotauro e

    Teseu esto relacionados com o labirinto desta monografia. Respectivamente, eles remetem

    interdisciplinaridade, a no-linearidade, a experincia e ao dilogo ao longo do percurso. O

  • 20

    labirinto remete iniciao existencial e traz consigo a ambigidade em seu processo, sendo

    que a mesma essncia passa por trs estados: dissoluo, durao e criao.

    - Teseu remete figura do heri que vence os obstculos.

    - Ariadne - O fio de Ariadne permite que Teseu penetre nas

    profundezas do labirinto e retorne a luz, representando o auxlio espiritual

    necessrio para vencer o mostro. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1998,

    p.611).

    - Minotauro - Monstro de corpo de homem e cabea de touro (Fig.

    05), para o qual o Rei Minos mandou construir o labirinto (palcio do

    machado de dois gumes), onde o prendeu. Simboliza em seu conjunto o

    combate espiritual contra o recalque.

    - Ddalo - Representa a dominao perversa de Minos e o amor

    culpado de Pasfae, a dominao indevida (CHEVALIER & GHEERBRANT,

    1998, p.611).

    Figura:05 - O Minotauro.

    2.3 - A METFORA DO LABIRINTO

    Como tenso fundamental condio humana, a metfora do labirinto est dividida

    ao longo da histria em cinco perodos.

    2.3.1 - Antigidade - o uno e o mltiplo

    O labirinto permite a visualizao de vrios caminhos e ao mesmo tempo, remete

    escolha de um nico caminho a seguir com o objetivo de encontrar a sada. Aponta para a

    idia da no-linearidade. Na construo e aquisio do conhecimento, como no trao

    labirntico, no h um conhecimento linear e unvoco. No existe uma nica forma de

  • 21

    aprender, de se descobrir, mas um espao de pluralizao, com variao de percursos,

    bifurcaes e encruzilhadas, que permite ao indivduo transformar o conhecimento uno em

    mltiplo. Ao transformar o uno em mltiplo, e o mltiplo em uno, gera a sensao de nunca

    estar pronto. um espao que oferece, diante de quem o percorre e explora, uma gama de

    possibilidades de caminhos. No h um acima e um abaixo, no h hierarquias, no h algo

    que seja mais fundamental do que qualquer outra coisa (CAPRA, 1991, p.124).

    Explorar o labirinto revela que nenhuma forma superior outra. Na sua estrutura

    possibilita uma explorao. A experincia que contempla os nveis cognitivo, o corporal,

    espiritual, etc., aponta para os desejos, emoes, sensaes e percepes ao longo do

    caminho.

    2.3.2 - Idade Mdia - a horizontalidade e a verticalidade

    Durante a Idade Mdia, poca de domnio do teocentrismo, onde Deus o centro

    do universo, desenhos labirnticos surgiram em paredes e assoalhos de igrejas. Os melhores

    remanescentes desta imagem esto nas igrejas da Europa, especialmente na Frana, Chartres

    (Fig.06) e na Itlia, Lucca. Na Idade Mdia, estar em um labirinto remetia idia de

    sofrimento, no sentido de queda, de pecado e inferno. O labirinto era visto como uma

    armadilha para os imprudentes, para atingir a salvao possvel: onde aquele que for at ao

    fim do caminho difcil chegar cidade de Deus.

    Uma das teorias sobre o propsito dos labirintos nas igrejas a de que serviriam para

    lembrar os crentes das provaes e tentaes que fazem o difcil caminho dos cus. Outra a

    de que eram um substituto das peregrinaes a Terra Santa (Fig.07) o fato de serem

    chamados de Caminhos de Jerusalm parece confirmar isso. Em vez de os peregrinos

    fazerem a perigosa viagem como penitncia, andavam de joelhos ao redor do labirinto.

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    Figura: 06 -Desenho do labirinto de

    Chartres: esperana de salvao

    simbolizada na roscea que ocupa o

    centro.

    Figura: 07 - Na Idade Mdia, a

    jornada at Jerusalm, local da morte

    de Jesus, tornou-se o objetivo da

    peregrinao crist.

    2.3.3 Renascena (sc. XIV a XVI) o exterior e o interior

    Neste perodo em que o homem est ligado razo e aos princpios matemticos;

    onde a relao do homem est voltada para a natureza; onde o homem assume ser o centro do

    universo, o labirinto visto como uma armadilha criada pelo prprio homem, divergindo do

    sentido dos ideais gregos. Revela o homem a si mesmo, d figura uma funo simblica,

    fecunda em sua linguagem.

    O labirinto talvez esteja tanto dentro de ns como ns dentro dele; ou,

    ainda, que somos ns que o projetamos para fora. De objetivo ele se faz

    subjetivo, ou vice-versa; entre espao interno e espao externo h

    correspondncia, como entre microcosmo e macrocosmo. Posso escapar a

    esse de fora que tambm o meu de dentro? (PEYRONE, 1998, p. 01).

    No renascimento o homem est mais voltado para a cincia. O labirinto aparece com

    a idia do novo, de um local maravilhoso que permite a descoberta de uma verdade, e sua

    funo , ainda, em boa parte, trazer alegoria da subjetividade renascentista. Traz o discurso

    entre o exterior e o interior, onde a realidade exterior hostil, de que o homem s consegue se

    salvar por misericrdia mgica ou divina. E, cede espao para a realidade interior em que

    necessrio o indivduo encontrar pessoalmente seu caminho, ou sua verdade pessoal. Assim,

  • 23

    poetas, artistas e outros entram no labirinto, pondo-se na pele dos monstros e dos heris,

    figuras simblicas que permite a elaborao de seu processo de individuao.

    2.3.4 poca neo-clssica (sc. XVII e XVIII) a realidade e a aparncia

    O labirinto j no apenas o efeito de um sortilgio momentneo. Ele tende a

    converter-se no prprio mundo, encarado em sua permanncia enganadora. J no tanto a

    tenso entre interior e exterior, que o Labirinto pe em foco, mas sim a problemtica vizinha

    (apreendida como fundamental) da realidade e das aparncias, da experincia do logro e da

    verdade que est em torno do motivo do disfarce. A verdade feita na representao, por

    meio do discurso didtico, depois da experincia inicitica. Na expresso potica, por

    tentativas de representao formal do secreto. Est relacionado, aos labirintos existenciais,

    idia de que o mundo no passa de um mero Teatro de Sombras, ligando questes de

    contedo moral e religioso da Idade Mdia. A figura do labirinto no renascimento, que vista

    como negativa, passa a ser um lugar de perigo, que desenvolve os valores profundos e

    verdadeiros de Deus. Tornase um smbolo de conhecimento.

    2.3.5 - poca moderna - o finito e o infinito

    A tenso que o labirinto permite ser representada com prioridade, nos

    sculos XIX e XX, ser da por diante aquela que ope o finito e o infinito.

    Mas poderamos talvez distinguir trs momentos ou trs aspectos sucessivos

    dessa oposio. Os novos temas que surgem no princpio do sculo XIX

    desembocam, antes de mais nada, na experincia romntica dos limites.

    Descobre-se que o infinito pode ser tambm um assustador confinamento.

    Mais do que a questo de ultrapassar os limites, o que levantado em

    seguida, em termos de finito e de infinito, a questo do sentido do mundo.

    Simbolizado at o sculo XVIII pelo centro do labirinto e sempre

    alcanvel em princpio, o sentido se torna, no final do sculo XIX e ainda

    mais no sculo XX, inteiramente problemtico. (PEYRONE, 1998, p. 02).

    Para quem inicia o percurso no labirinto, depara-se com a sensao de estranhamento

    mgico; uma busca do conhecimento existencial, por meio de enigmas que, ora so

    reconhecidos, ora secretos e, ora se dissipam. O labirinto estabelece a idia de reversibilidade

  • 24

    do tempo, de desenvolver a capacidade de esperar, de ter tranqilidade para explorar para

    chegar ao espao final. Nesta convico desaparece a idia um caminho que leva a uma meta.

    Sugere que a experincia dentro do labirinto remete idia de retorno, de estar perdido em um

    espao, vagando sem sair do lugar, ou de onde no se consegue sair, indiferentemente sem

    qualquer significao. O desmoronamento da imagem de um centro sem sombra de dvida,

    a razo do desenvolvimento do tema do labirinto neste trabalho.

  • 25

    3 - ENTRANDO NO LABIRINTO

    Ao juntar Psicologia e Arteterapia na construo do meu ser, encontro o labirinto,

    que surge para esconder aquilo que s vezes no quero lidar. A imagem desperta a curiosidade

    em saber o que pode haver dentro do labirinto; evoca um ar de mistrio que pode gerar certa

    ansiedade, insegurana e desejo em descobrir o centro. Acredito que seja muito difcil

    percorrer o caminho sem o auxlio do fio, como na histria de Teseu.

    Como vimos na metfora do labirinto, como conhecimento, os saberes esto

    interligados por meio de uma rede. Existem vrias formas de explorar o labirinto. No entanto,

    nenhuma forma superior outra. Como lugar de pluralizao, possibilita uma explorao e

    experincia interdisciplinar ou transdisciplinar, que contempla no somente o cognitivo, mas

    o corporal, os desejos, as emoes. Ao percorrer o labirinto verifica-se que em sua unicidade,

    o objetivo encontrar uma sada, trazendo alvio e outras sensaes que viro no decorrer

    dessa trajetria. Existe a possibilidade de surgir outros caminhos, ou outras formas de

    alcanar resultados, onde a criatividade a fora motora que abre o caminho para encontrar a

    sada.

    Ao longo da minha experincia pessoal e profissional com o curso de Arteterapia

    surgiram vrios desafios a serem vencidos, que no decorrer do percurso foram expressos por

    intermdio do contato com a arte e da experincia do estgio.

    Nesse trabalho procuro refletir sobre o processo de individuao por meio das imagens

    simblicas do arqutipo do labirinto, utilizando o referencial junguiano. Para Jung (1964), o

    processo de desenvolvimento da personalidade, chamado processo de individuao, se d de

    forma espiralada buscando atingir o self, o centro da personalidade total.

    Quando entramos no labirinto, h a sensao de sentir-se perdido; a falta de orientao

    pode assustar no decorrer do caminho, mas ao mesmo tempo nos permite o encontro com os

  • 26

    medos do novo, do demonaco, de foras adversas, os sentimentos de derrota, de fracasso, de

    no conseguir alcanar o objetivo desejado. Vida e morte, e esperana so como um ciclo.

    A construo deste trabalho s foi possvel a partir do curso de arteterapia e do

    estgio. Com as vivncias, o smbolo veio tona, o qual como idia foi se desenvolvendo.

    Vivenciei a sua riqueza de forma e contedo, que teve como resultado a elaborao desta

    obra, pois medida que se conhece bem o labirinto, se pode sair. A arteterapia o criativo em

    ao dentro desse processo, que trouxe na forma do labirinto o despertar da conscincia

    (fig.08).

    Figura 08 - Trabalhos realizados durante os mdulos do curso de Especializao em Arteterapia.

  • 27

    Ao longo do processo de individuao, percebemos a importncia de reconhecer os

    arqutipos destrutivos e as sombras, onde se constelou o indivduo, impedindo-o dentro de seu

    processo de crescer psicologicamente.

    Desse modo, a sombra ao longo do processo de individuao, trava o conhecimento

    das mais variadas formas e situaes. Traz insegurana, entre o querer ou no, enfrentar a

    crise de uma maneira positiva.

    A sombra o lado que se ope luz; , de outro lado, a prpria imagem das coisas

    fundidas, irreais e mutantes. A sombra o aspecto yin oposto ao aspecto yang

    (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1998, p.842). A sombra revela os contedos positivos e

    negativos da existncia humana.

    Comenta-se que na anlise junguiana, a sombra tudo aquilo que o sujeito recusa

    reconhecer ou admitir e que, entretanto, sempre se impe a ele, como, por exemplo, os traos

    de carter inferiores ou outras tendncias compatveis (JUNG, 1948, p.843). Manifesta-se

    atravs dos sonhos e por palavras, ou atos impulsivos e incontrolados, que revelam tendncias

    ocultas da personalidade do indivduo. A conscincia das sombras, dos contrrios, pode ser

    rica e trazer possibilidades.

    O despertar do criativo dentro do labirinto atravs do processo de individuao cria

    condies psicolgicas para enfrentar a vida, os problemas e as frustraes de uma maneira

    mais positiva. Muitos so os caminhos que podemos fazer nesse mundo, mas o essencial de

    todos ainda o "caminho interior", que s tem sentido se estivermos conscientes dele. Esse

    caminho nunca completo, no sentido que sempre h algum aspecto a ser reconhecido nesse

    processo de busca. Os fios podem nos conduzir. Tal como o fio que nos permite entrar no

    labirinto do Minotauro e dele sairmos, no mais como entramos, mas com a experincia de

    l ter estado, de l ter vivido. Conhecer estar em movimento de ir, de voltar. E, neste

    retorno, sermos outros (as).

  • 28

    O objetivo do fio fazer a ligao com o centro principal, como o sol como centro do

    universo. O fio deve ser seguido. Traz idia de continuidade, de desenvolvimento, de tempo e

    de ritmo vital.

    o agente que liga todos os estados da existncia entre si e ao seu

    princpio. Estabelece o equilbrio dentro do Tao, no sentido da unio entre o

    yin e o yang. O fio (sutra) liga este mundo e o outro mundo a todos os seres.

    Ao mesmo tempo ele Atma (self) e Prana (sopro). (CHEVALIER &

    GHEERBRANT, 1998, p. 431).

    O fio de Ariadne o retorno luz. O fio no labirinto demonstra a busca espiritual em

    ligao com o princpio de todas as coisas. Representa o vnculo entre nveis csmicos:

    infernal, celeste, terrestre, ou psicolgico. Ou entre o inconsciente, consciente e subconsciente

    etc. (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1998, p.432.). No mito o fio liga os mundos da

    fantasia e do real. Os estados psicolgico dos personagens no desenrolar da histria remete

    idia de tempo e destino.

    Encontrarmos o fio o desafio primeiro nesta busca por uma construo terica que

    fundamente nossa prtica. Encontrarmos o fio perceber que temos uma bssola que pode

    nos conduzir em mares revoltos, em pocas de incertezas. Com o fio se faz o tecido. O tecido

    se faz com nossa autoria de pensamento, com nossa autonomia no criar.

    3.1 - A ENTRADA

    Esperar demais das pessoas, deixando as coisas tomarem seu rumo sem que houvesse

    uma entrega suficiente de minha parte; deixando as coisas ao controle do desconhecido, onde

    tudo parecia difcil e incerto. Deparei a observar a falta de compromisso comigo mesma,

    sendo que nossa vida feita por nossas aes. medida que comecei a buscar um significado

    que representasse, ou que auxiliasse o conhecer a mim mesma, deparei-me com meu potencial

    criativo, que me permitiu dar um salto no meu processo de crescimento pessoal e profissional,

    no que obtive um resultado significativo para o meu processo de individuao.

  • 29

    No decorrer do curso de arteterapia, tive a oportunidade de experienciar o processo

    de individuao, de tomada de conscincia. Suportar esse processo no foi nada agradvel,

    pois gerou dor e medo de fracassar. Tive que sair dessa situao. Em uma das vivncias no

    curso, me veio imagem do labirinto como a forma pela qual trago o processo, onde pude

    emergir desta confuso que prejudicava o trabalho prtico, a vida intelectual e o criativo em

    ao. A partir do momento em que me permiti ser mais atuante no curso de arteterapia e a

    tomar conscincia de minhas responsabilidades como profissional, inconscientemente dei

    entrada no meu labirinto pessoal.

    No incio da jornada, o labirinto teve como propsito o sentido de vivenciar o

    processo de individuao. Fazendo uma analogia com o arqutipo da iniciao, o iniciado

    busca uma transformao, muda de nvel, torna-se diferente. Essa passagem refere-se

    aquisio de novos valores, abertura de novas possibilidades. a ampliao da conscincia de

    si mesmo.

    Iniciar de certo modo, fazer morrer, provocar a morte. Mas a morte considerada

    uma sada, a passagem de uma porta que d acesso a outro lugar. A sada, ento corresponde

    sua entrada. Iniciar tambm introduzir (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1998, p.506).

    Ainda em Chevalier & Gheerbrant (1998), iniciar sugere uma transformao. A

    iniciao opera a mudana. Em rituais tribais ocorre a morte inicitica, que um rito de

    passagem que simboliza o renascimento de um novo ser.

    Entrar no labirinto permite sentir a sensao de fascinao pelo desconhecido. As

    encruzilhadas permitem tomar e descobrir novos rumos mesmo quando se est retornando.

    De acordo com Allessandrini (1997), nos portais da iniciao, a iniciao o

    ingresso em nova fase da vida; a capacidade de aprender o novo. Est relacionado com o

    medo e o orgulho, e no reconhecimento deles, dentro do processo para o crescimento.

  • 30

    Iniciar na busca pela essncia de um perfil profissional, fez parte da minha trajetria

    de vida pelas escolhas dos cursos de psicologia e artes. Ao me perceber inserida neste

    labirinto, senti que no curso de especializao, tambm havia outras pessoas caminhando

    juntas em busca dos mesmos objetivos de conquistar uma profisso. A iniciao neste

    processo foi vivenciada como no arqutipo da iniciao: morrer, para ento, reconhecer um

    novo estado.

    O labirinto pode aqui ser expresso como um arqutipo de iniciao, no qual ocorre a

    busca do Self (o si mesmo), que orienta nossa conscincia e fortalece o ego, resultando no

    crescimento do indivduo em sua possibilidade. Como um ritual de iniciao, aponta estados

    de renascimento e morte. um rito de passagem.

    Os arqutipos so princpios, formas sem contedo. Segundo Jung (1989, p. 352),

    eles so vazios em si que sero preenchidos pelas experincias de vida de cada um. Por no

    possurem uma forma, eles manifestam-se atravs de smbolos ou comportamentos;

    constituem possibilidades para o indivduo agir de uma certa forma diante de situaes da

    vida.

    Arqutipos so possibilidades herdadas para representar imagens similares, so

    formas instintivas de imaginar. Resulta do depsito das impresses de vivncias comuns e

    repetidas atravs de milnios (SILVEIRA, 1981, p.77).

    Os arqutipos trazem smbolos que atuam como uma ponte de acesso ao nosso

    inconsciente coletivo. Podem acessar o inconsciente pessoal e ligar-se s emoes,

    sentimentos, vivncias positivas, auxiliando o desenvolvimento psquico, ou ento, a

    contedos reprimidos, formando complexos.

    Silveira (1981), refere-se ao inconsciente pessoal como sendo a camada mais

    superficial do inconsciente que estabelece fronteira com o consciente. Armazena percepes e

    impresses subliminares com carga insuficiente para atingir o ego, contm idias traos,

  • 31

    recordaes perdidas na memria. composto de contedos, cujas existncias decorrem de

    experincias individuais. Inconsciente coletivo a camada profunda do inconsciente; o

    substrato da psique comum a todos os seres; a expresso psquica da identidade da estrutura

    cerebral, independentemente de todas as culturas e etnias. composto de contedos

    impessoais comuns a todos os homens, transmitidos pela hereditariedade.

    Segundo Nordby (1973), o inconsciente pessoal o receptculo que contm todas as

    atividades psquicas e os contedos que no se harmonizaram com a individuao ou funes

    conscientes. J o inconsciente coletivo um reservatrio de imagens latentes, em geral

    denominadas imagens primordiais, onde o homem herda as caractersticas que determinam

    de que maneira uma pessoa reagir s experincias da vida e o tipo de experincias que ter.

    Est relacionado evoluo o homem ligado ao passado alm do da sua infncia, est ligado

    ao passado da espcie.

    Ainda em Nordby (1973), os complexos so uma caracterstica do inconsciente

    pessoal. um aglomerado de contedos ou constelao.

    Para Von Franz e Jung (apud in Jung, 1964), a sombra, por sua vez, como smbolo

    profundo, j uma aquisio individual da psique, sempre ligada a um complexo pessoal. Na

    mulher se faz representar sob forma de figuras femininas, ou outros smbolos femininos, que

    podem ser espaos, objetos, animais, etc. No homem, seriam representados por figuras

    masculinas, podendo ter tanto significados positivos, como negativos. A funo da sombra

    representar o lado contrrio do ego e encarnar, precisamente, os traos de carter que mais

    detestamos nos outros (FRANZ, 1964, p.173).

    A sombra contm todas as emoes positivas e negativas, crenas e desejos que no

    se adaptaram estrutura do ego sua auto-imagem (BELLO, 1996, p.69).

    Relata Nordby (1973), que a sombra o mais poderoso dos arqutipos, e fonte de

    tudo que h de melhor e de pior no homem em suas relaes com o outro. Possui a capacidade

  • 32

    de reter informaes e de afirmar idias ou imagens que podem vir a serem vantajosas para o

    indivduo. Quando a sombra est em harmonia com o ego, traz vida e energia, mas se o

    indivduo passa por uma crise, enfrenta uma situao difcil, ela exerce poder sobre o ego e

    pode vir tona a resistncia que nunca vencida. A individuao (aceitao) confere

    personalidade uma qualidade tridimensional de plenitude, onde os instintos sero responsveis

    pela criatividade e vitalidade do ser. Rejeitar a sombra reduz a personalidade e o indivduo

    no evolui.

    De acordo com Von Franz (1964), a sombra expressa tendncias e impulsos que

    podem ser positivos ou negativos e que negamos em ns mesmos. Reconhecer nossas sobras

    ir em direo a superao do conflito, pois este o impulsiona busca e transcendncia.

    Aceitar a sombra aceitar a incerteza, aceitar que falhamos, que muitas vezes no

    conseguimos, no nos realizamos, nos frustramos, temos defeitos, no ajudamos ou

    compreendemos ou outros, somos maus.

    Para Jung (1964), tanto a anima e o animus, quanto sombra so projees

    inconscientes da psique, chamados de complexo. Eles independem de nosso raciocnio e sua

    elaborao um trabalho longo e doloroso, pois os complexos nada mais so que fontes de

    energia e que, se negativamente direcionados, devem ser re-canalizados, para flurem

    positivamente.

    De acordo com Nordby (1973), anima e animus correspondem face interna da

    psique. O primeiro constitui o lado feminino da psique masculina e o segundo o lado

    masculino da psique feminina. Este arqutipo tanto no homem quanto na mulher, atravs de

    caractersticas biolgicas e psicolgicas adquiridas durante geraes, facilitam a compreenso

    do outro sexo e garante a sobrevivncia da espcie.

    Para Silveira (1981), anima a representao psquica da memria de gens

    femininos no corpo do homem; a feminilidade inconsciente do homem, composta pelas

  • 33

    experincias atravs dos tempos com a mulher. E animus refere-se masculinidade existente

    no psiquismo da mulher, que condensa todas as experincias que a mulher teve com o homem

    ao longo da existncia dos seres.

    Jung (1964), refere-se a anima e ao animus como guias mediadores do mundo

    interior (o primeiro na mulher, e o segundo no homem) das experincias que podem ter uma

    funo positiva ou no, mas que atravs da qual a vida adquire novos sentidos.

    Segundo Jung (1948), a anima tem um aspecto dual: funciona como uma persona

    (so as mscaras, aquilo que queremos impressionar as pessoas, que nos foram a assumir

    como papel). um elo de ligao, entre o inconsciente coletivo e a conscincia, assim como a

    persona faz um elo de ligao entre o real e o mundo externo. Por isso, pode transmitir no

    apenas influncias boas, mas tambm as ms. Este estado de escurido sem dvida a parte

    mais penosa das experincias msticas (JUNG, 1948, p.91).

    O labirinto desperta a busca ao centro. Sua experincia est relacionada com o

    caminhar. Trazendo a metfora da viagem interior, aventurando-se por corredores e

    encruzilhadas, que em sua dimenso, permite a possibilidade do perder-se; conhecer; um

    processo de individuao.

    Quando se inicia o processo de individuao, surgem inmeros obstculos a superar,

    entre os quais, a resistncia, causada pelo medo do desconhecido, terrvel e assustador.

    Psicologicamente podemos dizer que, quando a parte inconsciente da

    personalidade se aproxima do smbolo, ou ncleo interno do Self,

    (representado neste trabalho pelo smbolo do labirinto), ela freqentemente

    (...) mostra uma realizao simultnea de atrao e do terrvel medo, de

    querer e de no querer ali chegar, de ser repelida ao extremo e de no ser

    capaz de recuar ou de prosseguir. (FRANZ, 1985, p. 143).

    Parece que quando acontecem eventos ou situaes caticas h uma tendncia do ego

    de fazer um mergulho at o fundo de sua psique, onde um conjunto de fatos pode trazer tona

    profundos traumas sofridos na infncia e revividos dentro do processo de individuao.

    Vivenciando como algo extremamente doloroso e que parece jamais terminar, em alguns

  • 34

    casos pode produzir uma sensao de morte. Deparamos assim com as sombras, que ao longo

    do curso, esteve presente nos atrasos (da presente autora deste trabalho) aos mdulos e outras

    situaes.

    O Minotauro surge, representando o lado sombra neste processo, apontando o medo,

    como os obstculos que se apresentam ao longo deste percurso. O mostro sua prpria

    energia bloqueada e voltada contra voc. O monstro interior quer que voc seja sua priso de

    medos e pensamentos limitadores. (BELLO, 1996, p. 72.)

    3.2 - O PERCURSO

    H diferentes formas de percorrer um labirinto: buscando o centro, um objetivo pr-

    determinado, ou explorando o espao em busca de novas descobertas; como experincia

    infinita ou com retorno; procurando conhecer cada ponto ou se perdendo e se entregando ao

    imprevisvel.

    No percurso, no temos conscincia da totalidade da dimenso do labirinto. No

    decorrer dos mdulos no fazia a menor idia de que rumo tomar. Estando ou no consciente

    do que permitiu o continuar e concluir o curso. A figura do heri que cada um pode ter

    internamente dentro de si, e que aparece neste trabalho por meio de Teseu, trouxe coragem

    para seguir o caminho. O fio de Ariadne que no decorrer do curso fora lanado por

    professores e colegas, procurando me auxiliar a no perder o curso e, motivando-me a seguir

    o caminho, deu incio a uma mudana de estado emocional.

    As fronteiras do processo de individuao se expandem na mitologia. No mito do

    heri muitos heris enfrentam momentos de tragdia em suas vidas que requer o esforo

    psquico para o percurso simblico do nascimento-morte-renascimento. A jornada do heri

    (ou da individuao) uma jornada mtica-humana, ou um percurso arquetpico. Portanto,

    constitutivo de todo e qualquer ser humano a nvel simblico. O heri evolui de maneira a

    refletir cada estgio de evoluo da personalidade humana (JUNG, 1964, p.112).

  • 35

    Allessandrini (1977) em seu texto O mito do heri na psique junguiana descreve

    que a funo do heri desenvolver no indivduo a conscincia da sua prpria fora ou

    fraqueza. Seus smbolos surgem quando o ego precisa se fortalecer. A figura do heri remete-

    nos ao ciclo da vida do nascimento morte. Representa a comunicao entre cu e terra,

    consciente e inconsciente, coletivo e individual. Ajuda o homem a realizar seu processo de

    individuao.

    Nordby (1973, p.27) comenta que para Jung, ego a organizao da mente

    consciente; e que se compe de percepes, pensamentos e sentimentos. A funo do ego

    ser o vigia da conscincia, fornecendo a personalidade identidade e continuidade,

    selecionando o material psquico, que ir auxiliar na qualidade de coerncia na personalidade

    do indivduo.

    Ainda em Nordby (1973), a individuao desempenha um papel essencial no

    desenvolvimento psicolgico, que possui como meta o conhecimento de si mesmo. Ocorre a

    individuao quando o ego permite que as experincias recebidas fiquem conscientes.

    O heri aquele que busca. Est em constante processo de descobrir-se. Traz a idia

    de que aquele que percorre um caminho, transpe obstculos, em direo a uma meta. Em

    seu percurso ora marcado por conflitos (estados psicolgicos) que sero organizados e

    elaborados ao longo da trama.

    No decorrer do percurso deste trabalho, na historia do heri grego Teseu, surge o

    obstculo na figura do Minotauro, que faz uma analogia com as sombras, com o desconhecido

    e assustador. No desenvolver do curso o Minotauro, as sombras, surgiram e puderam ser

    trabalhadas por intermdio do criativo em ao.

    Durante o estgio, o contato com o grupo da terceira idade possibilitou um contexto

    acolhedor da proposta das oficinas de arteterapia. Com a experincia do estgio houve um

  • 36

    movimento de entrega ao processo, em busca de uma nova maneira de ser no mundo,

    enquanto arteterapeuta; a luz que deseja brilhar precisa de sombra. (JUNG, 1948, p.119).

    Jung (1964) comenta que o ego entra em conflito na luta pela libertao. O heri

    arquetpico o meio pelo qual, no decorrer da trama, ocorre o desenvolvimento da

    conscincia e sua conseqentemente libertao.

    Ao conhecer tantos caminhos secretos dentro do labirinto, temos a certeza de que

    novos caminhos podem surgir, na tentativa de alcanar um estgio superior ou mais

    amadurecido de nossa evoluo.

    Segundo Bello (1996), o monstro vive na nossa sombra, influenciando nosso

    comportamento, buscando nossa parte herica para lidar e entend-lo melhor.

    Nesse estgio superior de conscincia, acontece uma unio do consciente com os

    contedos inconscientes da psique. Dessa unio gerada a funo transcendente, a qual leva o

    indivduo plena realizao das potencialidades de seu ser ou self, e que prpria ao processo

    de individuao. A realidade reside em nossa identidade e unidade com a vida total.

    A medida em que nos libertamos de alguns monstros e aceitamos outras

    necessidades emocionais reprimidas, nos libertamos tambm de nossa

    essncia bloqueada. Tornamos indivduos mais tolerantes e passamos a

    reagir de novas maneiras, abrindo possibilidades para um conhecimento

    mais amplo de nosso self. (BELLO, 1996 p. 73).

    3.3 - A SADA

    O mundo todo com seu tumulto e misria est num processo de

    individuao. Mas as pessoas no se do conta disso, e est a nica

    diferena. Se soubessem disso, no estariam em guerra uns com os outros,

    pois quem tem a guerra dentro de si no tem tempo nem prazer de lutar com

    os outros. A individuao no uma coisa rara ou luxo de poucos; mas

    aqueles que sabem que esto neste processo devem ser considerados felizes.

    Eles ganham alguma coisa, estejam conscientes o bastante. Coloca-se

    evidentemente a questo, se podem suportar este procedimento. Mas esta

    tambm a questo quanto vida, insuportvel para milhares de

    pessoas(...)A individuao a vida comum aquilo que temos conscincia.

    (JUNG, 1946, p. 48).

  • 37

    Chega um momento em todo o processo de individuao, que o sujeito entra em uma

    crise decisiva, depois da qual, comea uma lenta melhora a partir deste momento. Comea

    lentamente, uma transformao. Aps esta luta interior procurando o caminho que despertar

    seus defeitos e suas virtudes, vislumbra-se a construo de algo positivo na vida do indivduo.

    Sair do caos e da sensao de estagnao, onde se enfrentava sentimentos muito

    ambguos (estados psicolgicos em que se encontra o indivduo dentro deste processo)

    significa ter de enfrentar e vencer os problemas um a um, o que leva a uma tomada de

    conscincia, que por sua vez indica o caminho a seguir. O processo de individuao s real

    se o indivduo estiver consciente dele e, conseqentemente com ele mantendo ligao.

    (FRANZ, 1964, p.162).

    Jung (1954) aponta que o caminho da individuao passa pelo conhecimento do bem

    e do mal, do eu e da sombra, para que haja conhecimento do si-mesmo.Por isso procure

    conhecer a si mesmo, pois voc a cidade, e a cidade o reino (JUNG, 1949, p.129).

    Para Jung (1986), o psiquismo est em constante transformao, chamando de

    individuao, o processo universal e arquetpico de mudana e crescimento psquico. Nesse

    contexto, a individuao a grande jornada do ego na busca do si mesmo, expresso neste

    trabalho pelo smbolo do labirinto. Tal processo permite voltarmos a olhar para ns mesmos e

    reconhecermos como somos, o que gostamos e o que no, quais so os nossos defeitos, os

    demnios, e nossas qualidades. Possibilita a reconstruo da identidade individual e

    universal por meio do arqutipo do caminho (labirinto).

    Franz (1964) traz a individuao como o deslocamento do centro da nossa

    conscincia do ego em nveis mais profundos do self. A estruturao do ego necessria para

    que este auxilie o desenvolvimento mais amplo do indivduo, tornado-o capaz de tomar

    decises, cooperar e principalmente, escutar atentamente os smbolos (sinais) advindos do

  • 38

    inconsciente, pois eles indicaro a trajetria a seguir dentro do labirinto. Seguir o caminho

    interior nos pe em contato com o Outro.

    Para Silveira (1981, p.88), o conceito de individuao junguiano simples a

    tendncia instintiva a realizar plenamente as potencialidades inatas. O indivduo que

    pretende individuar-se, no visa tornar-se perfeito, e sim, a se completar, aceitando o fardo de

    conviver com tendncias opostas (ambigidades, bem e mal, claro e escuro e outras) inerentes

    sua natureza.

    Silveira (1981) ainda descreve de acordo com Jung, as principais etapas do processo

    de individuao. Na primeira, refere-se persona (as mscaras), que a aparncia artificial

    que o indivduo assume como forma de adaptar-se no meio externo para estabelecer contatos.

    Funciona como um mecanismo de defesa. Na segunda etapa, ocorre a retirada da mscara

    aparecendo a fase desconhecida at ento; est relacionada ao encontro das sombras. E na

    terceira etapa, a fase do olharse no espelho, fase do conhecimento da prpria sombra, que

    possibilita ampliar nossa conscincia e capacidade de observao das coisas que repudiamos,

    que no aceitamos em ns, e que projetamos no outro. Neste processo descobrimos as nossas

    falhas, nossos erros.

    O processo de individuao no algo que se processa linearmente. Trata-se de um

    movimento de circunvoluo que leva o indivduo em direo a um novo centro psquico, ao

    qual Jung chamou de centro self ou Si Mesmo.

    A personalidade do indivduo ser completa quando o consciente e o inconsciente

    ordenarem-se em torno do self, formando a o centro total da personalidade, tal qual o ego

    constitui o campo central do consciente. Self o arqutipo principal do inconsciente coletivo.

    Possui um princpio organizador e unificador que tem como meta harmonizar e chegar a um

    estado de auto-realizao e de conhecimento do prprio self. Tornar consciente o que

  • 39

    inconsciente permite o indivduo viver em tranqilidade com sua natureza e ter sua

    individualidade (NORDBY, 1973, p.43, 44).

    A caracterstica principal da conscincia: ela discriminadora,

    principalmente por meio do intelecto (...) A questo das vitrias sobre a

    escurido (...) O ser humano pode se desviar do caminho, pode desobedecer

    porque tem conscincia. Por um lado, a conscincia um triunfo e uma

    beno; por outro, nosso pior demnio que nos ajuda a inventar todo o

    motivo e meios imaginveis para desobedecer a vontade divina, Oh! Sim, as

    coisas so bem mais difceis do que deveriam ser! Por isso aplaudimos todo

    aquele que diz que as coisas so simples. (JUNG, 1948, p. 90, 93).

    Em essncia, o conceito de individuao de Jung, implica em aceitar os encargos de

    viver conscientemente com todas as suas tendncias opostas, irreconciliveis, concernentes

    natureza do ser humano, sejam elas de conotaes de bem ou de mal, sejam escuras ou claras.

    No devemos confundir individuao com individualismo.

    "Vindo a ser o indivduo que de fato, o homem no se torna egosta no sentido

    ordinrio da palavra, mas meramente est realizando as particularidades de sua natureza, e

    isso enormemente diferente de egosmo ou individualismo". (SILVEIRA, 1981, p. 88).

    O processo de individuao leva em considerao os componentes coletivos da

    psiqu humana, ou seja, os aspectos do inconsciente coletivo, o que podemos imaginar que

    resultar em melhor funcionamento do indivduo no contexto da coletividade.

    Como j foi dito antes, medida que se conhece bem o labirinto, se pode sair. A

    arteterapia possibilitou a construo desse labirinto, o estgio permitiu explorar o caminho e

    traar metas profissionais futuras e, a criatividade permitiu a sada do labirinto por meio do

    encontro com o si-mesmo.

  • 40

    4 - SOBRE O ESTGIO

    Realizei o estgio trabalhando sozinha ao longo deste caminho, trilhando o percurso

    de meu labirinto. O estgio foi desenvolvido com dois grupos da terceira idade: um da

    pastoral da criana e outro do projeto de alfabetizao e motivao do idoso. Entre um estgio

    e outro, foi feita uma proposta de estgio, que no foi possvel de ser realizada por falta de

    interesse dos participantes.

    Fazer o estgio trabalhando com grupos da terceira idade foi muito interessante, pois

    nunca havia vivenciado o trabalhar com grupos. No incio senti medo e insegurana quanto

    tcnica e ao impacto de colocar em prtica a vivncia da teoria. Alm do que, minha auto

    estima tambm estava baixa. No decorrer do curso aconteceram algumas crises, de achar que

    no sou capaz, ou de querer desistir de tudo. Tudo era muito difcil, estava resistente ao curso

    e ao estgio. Por intermdio dos colaboradores ao longo deste percurso, que foram os

    professores do curso, familiares prximos e a terapia, estabeleceu-se um dilogo que permitiu

    a possibilidade de levar adiante o presente trabalho.

    O objetivo do estgio foi o de buscar uma identidade profissional dentro da

    especializao de arteterapia, aprendendo, utilizando e adequando as tcnicas vivenciadas no

    curso dentro dos mdulos. Trabalhou-se com a autoestima dos grupos e com o retorno do

    grupo, surgiu a oportunidade de, tambm, trabalhar a minha auto-estima.

    O primeiro contato no estgio aconteceu com um grupo de senhoras lderes da

    Pastoral da Criana. Tratava-se de cinco pessoas que trabalhavam como voluntrias na

    melhoria da qualidade de vida de pessoas carentes. O trabalho social consistia em oferecer

    orientao s mes sobre a sade de suas crianas nos cuidados bsicos de higiene e de

    alimentao, principalmente daquelas com sobrepeso ou desnutridas, evitando-se assim a

    mortandade de tais crianas.

  • 41

    Algumas das participantes do grupo comentaram sobre o trabalho da pastoral, cujos

    comentrios sero relatados abaixo, sendo seus nomes, por motivo de privacidade, referidos

    apenas pela letra inicial:

    A.: Trata-se da assistncia criana de zero a seis anos de idade e gestante. Esta

    assistncia consiste em coleta de dados referente alimentao, sade e vivncia familiar.

    Procurei a pastoral da criana para servir o prximo.

    V.: A pastoral da criana ajuda em orientao s crianas carentes de 0 a 6 anos e

    s gestantes. Eu me propus a ajudar, pensando em ser til a algum.

    O foco que foi trabalhado neste grupo foi a queixa, trazida pela coordenadora, sobre

    a falta de motivao e a dificuldade de interao entre as lderes da equipe da Pastoral da

    Criana. Desenvolvemos treze oficinas de arteterapia com este grupo.

    Segundo Allessandrini (1996), o trabalho com as oficinas criativas promove a

    experincia com o criador. A arteterapia visa ser norteadora no processo de evoluo

    consciente do ser humano. As vivncias em oficina criativa permitem trazer um novo olhar e

    um redimensionamento das questes situacionais e emocionais da existncia do ser humano.

    Como segunda opo, procurei fazer o estgio com um grupo de secretrias de um

    hospital. Pude observar que por mais que voc se empenhe, que consiga os canais

    competentes, as pessoas, principalmente, dentro de uma empresa, devido ao seu contexto

    social, por morarem longe, geralmente com famlias numerosas, sem tempo disponvel,

    encontram limites e no investem em seu crescimento. S aceitariam participar do grupo se

    recebessem horas extras ou se o grupo fosse realizado no perodo de horrio de trabalho. No

    caso, no houve interesse por parte da empresa em proporcionar ao grupo tais possibilidades.

    Assim o grupo permaneceu alienado, estagnado no seu percurso profissional e pessoal.

    Mesmo com tantas dificuldades neste ambiente de empresa-hospital consegui

    organizar e realizar trs encontros com este grupo; desenvolvemos as oficinas, mas o grupo

  • 42

    foi se esvaziando, at que no quarto e ltimo encontro no foi ningum. Ento, devido a este

    processo e com a decepo, no pude contar as horas deste estgio como requisito para a

    especializao, mas contei como uma experincia dentro do meu processo pessoal de

    aperfeioamento profissional.

    Pelos fatos citados acima tomei conscincia que eu no estava to estagnada ou

    resistente, mas apenas me encontrava em um processo de busca de identidade profissional. No

    campo do estgio surgiram resistncias, ento parti para percorrer outro caminho em busca de

    outro grupo para concluir o estgio.

    Aprendemos quando adquirimos conhecimento. Situaes de aprendizagem

    desafiadoras geram no indivduo a necessidade interna bsica de, talvez, romper com seus

    prprios limites, enquanto movimentos em busca do novo. Por vezes esta experincia vem

    acompanhada de sensaes, sentimentos e emoes, como alegria e prazer, ou dor, incmodo

    e conflitos. As dinmicas da psique atuam constantemente na elaborao e aprendizagem

    decorrentes dessas situaes. (ALLESSANDRINI, 1994, p.23).

    Neste processo, observei a possibilidade de desenvolver o estgio com a terceira

    idade, em um projeto de alfabetizao oferecido por uma parquia. Quando fui fazer a

    proposta a este novo grupo, encontrei muita receptividade. A este grupo foi proposto o

    nmero de catorze encontros dirios, para trabalharmos com a auto-estima. O grupo aceitou

    prontamente a solicitao da estagiria, e as integrantes no s ficaram animadas, como s

    faltavam em caso extremo, como consultas mdicas.

    Notou-se que o perfil dos grupos da terceira idade era praticamente o mesmo.

    Mulheres com idade variando entre 50 a 70 anos, que possuam forte ligao religiosa com a

    igreja catlica, sendo participantes de grupos oferecido pela instituio religiosa. Sendo que

    foi a primeira vez que elas se sujeitavam a esse tipo de trabalho acadmico. Demonstraram

    interesse e curiosidade. No primeiro encontro, em ambos os grupos, houve uma boa recepo.

  • 43

    Procurei acolhlas com muito carinho em todos os encontros. Os grupos mostraram-se no

    todo participativo, houve empatia com a facilitadora.

    Segundo Chiesa & Fabietti, (1997), o envelhecimento um processo que integra

    aspectos sociais, culturais e psicolgicos e est relacionado com o ciclo da vida. A arte surge

    como um instrumento dinmico que lana vrias perspectivas, levando o indivduo a

    reconhecer seu poder criativo de realizao.

    O carter flexvel ou rgido do idoso vai ser determinante na sua

    socializao. Sendo uma pessoa aberta, flexvel em relao velhice, ela

    pode ter uma srie de vantagens. Ela desenvolve em geral uma maior

    responsabilidade, confiabilidade, sensatez e interesse. Ela aprende a ser

    seletiva, a se dirigir para as coisas que realmente so importantes. (CHIESA

    & FABIETTI, 1997, p. 158).

    No viver criativo tanto voc como eu descobrimos que tudo aquilo que fazemos

    fortalece o sentimento de que estamos vivos, de que somos nos mesmos (WINNICOTT,

    1989, p.34).

    As oficinas transcorreram em clima alegre, surgiram amizades e cordialidade. Os

    encontros foram muito produtivos. Acredito que os materiais usados nas oficinas tal como, o

    barro, que tem um poder de envolver e de ser um facilitador no trabalho com os contedos

    internos do sujeito, ajudaram a comunicao do consciente e do inconsciente (Fig. 09 a e b).

    De acordo com Allessandrini (1996), o barro o mais antigo material da terra, onde

    fundem-se o masculino e o feminino. Possui o poder de mobilizar todas as idades. Permite o

    contato e uma viagem interna, em um movimento de dar forma a uma massa amorfa, que vai

    acontecendo e evoca o criativo de cada um, que permite aprender e desaprende, criar e

    descriar.

  • 44

    Figura: 09a - Foto do grupo pastoral da criana trabalhando com o barro.

    Figura 09b - Foto do grupo da terceira idade trabalhando com o barro.

    Chiesa (1999) comenta que o trabalho com o barro facilita o contato com as

    sensaes e clarifica emoes. Tem como base um maior reconhecimento de si atravs da

    restaurao do fluxo energtico, integrando corpo, mente e esprito. Segue o caminho da

    transmutao; um processo de despertar e descongelar. O barro representa os quatro

    elementos da natureza, d sustentao, base, eixo. Expressa emoo, liberdade e

    transformaes dentro da oficina teraputica.

    Figura 10- foto do grupo da terceira idade trabalhando com o elemento fogo.

  • 45

    Em determinadas situaes durante as oficinas houve certas resistncias em relao

    ao material. Como por exemplo, na oficina de fantoche, houve resistncia em relao ao papel

    mach. Na oficina em que realizamos a mscara de gesso, o grupo aceitou depois de

    mudarmos o material. A mscara foi adaptada no dia seguinte para mscara de papel com a

    utilizao da pintura e da colagem para fazer os detalhes.

    Como Arteterapeuta meu objetivo foi o de tentar ajudar as participantes a observar o

    mundo e o trabalho com arte, de um ponto de vista mais flexvel e harmnico. Acredito que

    neste processo o indivduo tem em si tudo que precisa para sair do labirinto, basta buscar,

    explorar bem para alcanar a sada.

    Como resultado no grupo da pastoral da criana verificou-se que o grupo conseguiu

    encontrar uma maior harmonia, melhorar a auto-estima e o relacionamento entre as

    participantes. Elas puderam refletir sobre a importncia de seus trabalhos, o que as motivava e

    o que as desmotivava. Puderam identificar se queriam continuar neste trabalho ou se era o

    momento de deixar.

    No final dos encontros, uma participante relatou que gostava do que fazia, mas que

    no momento outras coisas na sua vida precisavam de sua ateno. Ento, resolveu deixar o

    grupo. As demais continuaram trabalhando na pastoral.

    A participante, E., que saiu no incio das oficinas relatou que estava passando por

    uma crise. Havia perdido, h dois anos, o marido de forma trgica: ele se suicidou na frente

    dela e das crianas. No acreditou na proposta da oficina, na Arteterapia e nem em seu

    potencial, ou na possibilidade de sair de seu labirinto. No comeo sua aparncia estava

    desprovida de cuidados. Ao longo das oficinas observei que apesar de seu discurso negativo,

    desacreditado, ela passou a se preocupar com a aparncia e a dar mais ateno aos seus

    trabalhos expressivos e no que estes estavam trazendo e apontando para ela. A soluo

    encontrada para seu labirinto foi a de se desligar da atividade da pastoral para cuidar mais de

  • 46

    si e dos filhos. A Figura 11 mostra o trabalho realizado por E. na ltima oficina, onde ela

    aponta que antes ela se via isolada e o grupo separado, e que ao longo do percurso, conseguiu

    se perceber no grupo e ver a unio neste grupo.

    Figura 11 - Trabalho realizado por E. na ltima Oficina.

    Outra integrante do grupo da pastoral trouxe em sua histria de vida a questo de

    ter vivido em funo da famlia e da religio. Deixou vir tona em uma das oficinas o seu

    processo de separao. Depois de anos de separado do ex-marido e de ele ter arrumado outra

    famlia, ele ficou doente. Ela cuidou dele at o seu falecimento. Disse que nossos encontros a

    ajudaram a abrir sua viso e que hoje se sente mais segura de si, e que iria continuar seu

    trabalho na pastoral da criana. Em seu trabalho no nosso ltimo encontro (Fig.12) comenta

    em sua escrita criativa que:

    Eu retratei os encontros que tivemos em um lugar tranqilo que pode ser um

    bosque em que fazamos caminhadas. Este lugar teria um lago, pssaros,

    muito verde, estes encontros foi para mim muito tranqilo, eu voltava para

    casa feliz tranqila, e foi para mim um grande aprendizado. (M.,

    participante do grupo da Pastoral).

    Figura 12 - Trabalho realizado por M. na ltima Oficina.

  • 47

    No dia do fechamento das oficinas com o grupo da pastoral, uma das participantes,

    em seu trabalho expressivo e na sua escrita criativa, proporcionou-me um retorno muito

    positivo. Motivou-me a seguir o percurso dentro do labirinto; senti-me mais segura,

    confirmando que estava caminhando no sentido de ter uma aprovao do meu papel de

    profissional. Fiquei feliz de elas terem me includo em seu grupo como aquela que ajudou na

    unio do grupo (Fig.13).

    Figura 13 - Trabalho realizado por V. na ltima Oficina.

    No meu trabalho de hoje eu quis desenhar uma bela rosa, sendo que cada

    ptala significa uma de ns que participamos da arteterapia. Somos uma

    rosa linda, mas frgil que precisamos de outras pessoas para nos dar fora,

    como o sol, e voc, Neyla, nos d este calor, que nos fez conhecer nosso

    corpo e nossa mente e os nossos problemas, e aprender a caminhar com o

    grupo (V., participante do grupo da Pastoral).

    Como resultado do grupo da alfabetizao verificou-se que as senhoras do grupo

    conseguiram ter bastante entrosamento. Interagiram entre si e com a estagiria. Algumas

    pessoas se conheciam, mas nunca tinham conversado. No final das oficinas contaram que um

    dos aspectos positivos do grupo foi permitir fluir uma amizade entre elas.

    Neste grupo me chamou ateno uma das participantes, A, que no incio mostrou-se

    muito fechada. No se permitia fluir e com muita dificuldade se expressava. Possui uma

    histria de vida de muito retraimento, sempre contida, nunca fez coisas de que gostava: viveu

    em funo da famlia. No decorrer das sesses comeou a se soltar e trouxe sua paixo por

    futebol que nunca havia sido revelada. Pude observar que o trabalho com o corpo fez muito

  • 48

    bem a ela. Possibilitou-lhe, de certa forma, libertar-se e sentirse feliz. A seqncia de fotos

    da Figura14 mostra seu desenvolvimento ao longo das oficinas. No primeiro trabalho (

    esquerda) ela se expressou de forma tmida e acanhada. O segundo foi elaborado aps uma

    sensibilizao com o corpo, em que ela disse que veio a imagem do sol e do arco ris no ritmo

    das tribos de ndio. O terceiro foi uma oficina que teve como objetivo trabalhar a identidade

    por meio da colagem. Quis fazer um mosaico, construindo algo que tivesse ligao com sua

    pessoa, algo que falasse sobre ela, onde o resultado foi a casa. E o quarto, foi feito na ltima

    oficina, onde ela representou a sua rvore: nos galhos seus desejos e o que a oficina de

    arteterapia pde contribuir para ela. Nota-se que desta vez sua rvore tomou conta da folha

    inteira. Foi feita de forma mais elaborada e segura.

    Figura 14 - Trabalhos realizados durante as oficinas de arteterapia por A., participante do grupo da

    terceira idade.

    Fazer o estgio foi uma experincia positiva. Pude perceber que trabalho, dedicao,

    conhecimento e muita boa vontade foram a base para desenvolver um trabalho com o grupo,

    obtendo resultados satisfatrios, frente s propostas desenvolvidas durante as oficinas de

    Arteterapia.

    O aprendizado fluiu na forma de ver o mundo. A arteterapia como trabalho

    profissional orientou-me quanto maneira de me posicionar frente ao grupo e proporcionou o

    agir dentro de um trabalho criativo expressivo e aberto a uma gama de possibilidades. Foi

    muito bom trabalhar em dois grupos, porque no segundo grupo percebi que eu estava mais

    consciente das tcnicas, e de seus objetivos. O retorno dos dois grupos me fez sentir muito

  • 49

    gratificada e confiante de que nesse empenho, o meu processo de individuao ao longo do

    curso, possibilitou trabalhar o meu profissional.

    Fiquei impressionada quando propus ao grupo trabalhar com a mandala, onde

    surgiram imagens e escritas criativas que remeteram questo do labirinto: a viagem at o

    centro. Na escrita criativa de uma das participantes, I., do grupo da terceira idade: o centro

    o ponto de partida para iniciar um determinado trabalho, para representar sua imaginao do

    que a pessoa deseja representar. A cor vermelha representa alegria, o verde representa a

    esperana.

    Outra participante do mesmo grupo, I., em seu trabalho expressivo, fez a imagem de

    crculos, onde em sua escrita criativa relata que: meu trabalho foi feito em crculos com

    cores variadas, preto, vermelho, amarelo, azul e branco. No meu pensamento eu fiz um olho

    mgico (Fig.15).

    No incio o estgio era uma obrigao, depois se transformou em algo agradvel de

    se fazer. Ele forma a base para voc saber se voc d para coisa ou no, e para permitir a voc

    criar o seu jeitinho especial de conduzir, de se posicionar frente o mundo. No decorrer do

    estgio os materiais foram se transformando e se modificando. Cresci muito com isto, gostei

    muito das oficinas, o resultado foi muito positivo e com gosto de quero mais.

    Figura 15 - Trabalho realizado por I. na ltima Oficina, grupo Terceira Idade.

  • 50

    O estgio foi o percurso dentro do labirinto onde ora o percurso flua, ora se fechava,

    e era necessrio que outras propostas surgissem. Assim o caminho teve que tomar outras

    formas para que se obtivesse um resultado positivo. Percorrer o labirinto sempre estar

    buscando ou se permitindo alcanar um objetivo, que neste trabalho foi o de concluir o

    requisito do estgio para concluso do curso de especializao em Arteterapia. Na trama desta

    monografia, no percorrer do meu labirinto, o fio de Ariadne foi lanado por professores,

    orientadores, colegas, familiares e outros que no permitiram que eu desistisse de concluir o

    mesmo. Na histria do labirinto, o heri representado por Teseu enfrenta, persiste em sua

    evoluo, se permiti crescer e vence o Minotauro, que representou os medos, a resistncia a

    mudanas de paradigmas.

    No encontro com a terceira idade pude observar que existe campo para o

    arteterapeuta, e que o grupo trouxe um contexto muito rico, em suas histrias de vida. O

    grupo estava aberto a experincias e novas vivncias. Os integrantes demonstraram

    curiosidade, criatividade e muita fora de vontade de ir em frente, em busca de melhores

    possibilidades de desenvolvimento biopsicosocial, e foi neste aspecto que me encontrei dentro

    deste trabalho.

  • 51

    CONCLUSO

    Toda esta caminhada e busca tornou possvel o desabrochar da conscincia e a

    elaborao de um novo paradigma em minha vida. Assim, a transformao foi possvel por

    meio do encontro e da percepo de meu movimento e de meu comprometimento em relao

    ao outro, a mim mesma e ao mundo. E isso que trago como minha histria na construo do

    meu ser Arteterapeuta.

    O fio foi o elo que ligou a sada do labirinto a entrada, representado por professores,

    colegas, familiares, etc. O heri em seu desfecho, mais uma vez vence o Minotauro que pde

    ser, aqui, representado pelo estgio, pelo curso, o enfretamento das responsabilidades de

    desempenhar o papel profissional.

    Assim, surge o compromisso com o meu papel profissional e com meu ser

    arteterapeuta.

    O presente trabalho se fecha, propondo que o leitor faa um percurso pelo labirinto

    (fig.16) que h em si.

    Figura 16 O Labirinto

  • 52

    Referncias Bibliogrficas

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