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SUELEN WILTGEN TOMASINI
A PERCEPÇÃO DO PACIENTE PORTADOR DE DIABETES MELLITUS TIPO 2
SOBRE A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Novo Hamburgo
2009
CENTRO UNIVERSITÁRIO FEEVALE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE FISIOTERAPIA
A PERCEPÇÃO DO PACIENTE PORTADOR DE DIABETES MELLITUS TIPO 2
SOBRE A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
SUELEN WILTGEN TOMASINI
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia.
Orientadora: Prof. Dr. Daiane Bolzan Berlese
Novo Hamburgo, junho de 2009
A Comissão Examinadora, abaixo-assinada, aprova a Monografia
A PERCEPÇÃO DO PACIENTE PORTADOR DE DIABETES MELLITUS TIPO 2
SOBRE A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA
Elaborada por
SUELEN WILTGEN TOMASINI
Requisito parcial para obtenção do grau
de Bacharel em Fisioterapia
no Centro Universitário Feevale
COMISSÃO EXAMINADORA:
Prof. Dr. Daiane Bolzan Berlese(Orientadora)
Prof. Ms. Daiana Picoloto
Prof. Ms. Silvia Regina Piesanti
Novo Hamburgo, junho de 2009
Dedicatória
Esta conquista é dedicada aos meus
pais, Luiz e Rosane e a minha irmã Josiele, por
todo o amor, carinho, confiança e por
acreditarem nesse sonho, junto comigo, em
todos os momentos. Amo vocês....
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, por mais esta etapa, por
iluminar e acompanhar meu caminho.
Aos meus pais, que sempre me deixaram claro, valores
essenciais, pelos quais tenho pautado minha vida. Que me
presentearam com a riqueza do estudo, fazendo de mim não apenas
um profissional, mas, sobretudo, um ser humano. Por não medirem
esforços para que eu alcance minhas metas.
À minha irmã, pelo auxilio constante na elaboração deste
trabalho, por me entender nas horas de desabafo e preocupação, pelas
palavras sábias: “tudo vai dar certo no final”, e também pelos
momentos de descontração.
Hoje, depois de tanta dedicação e ensinamentos, sinto-me
realizada por conquistar um grande sonho para nós.
À minha dinda Lucinéia, agradeço pela amizade e por toda a
ajuda que me deu nestes anos.
À minha orientadora Daiane Bolzan Berlese, pela ajuda com
seu conhecimento e dedicação para a conclusão deste trabalho.
A todas as minhas amigas e colegas por tantos anos
compartilhados e bem vividos dos quais sentirei saudades.
A todos os entrevistados pela colaboração e carinho com que
aceitaram participar e gentilmente responderam a minha pesquisa.
A todos aqueles que, não mencionados aqui, mas que
colaboraram direta ou indiretamente para a concretização deste
projeto.
Obrigada a todos vocês!
Quando estiver em dificuldade. E pensar emdesistir, lembre-se dos obstáculos que já superou. OLHE PARA TRÁS.
Se tropeçar e cair, levante, não fique prostrado, esqueça o passado. OLHE PARA FRENTE.
Ao sentir-se orgulhoso, por alguma realização pessoal, sonde suas motivações. OLHE PARA DENTRO.
Antes que o egoísmo o domine, enquanto seu coração é sensível, socorra aos que o cercam. OLHE PARA OS LADOS.
Na escalada rumo as altas posições. No afâ de concretizar seus sonhos, observe se não esta pisando em alguém. OLHE PARA BAIXO.
Em todos os momentos da vida, seja qual for sua atividade, busque a aprovação de Deus! OLHE PARA CIMA.
“Nunca se afaste de seus sonhos, pois se eles se forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir.”
Charles Chaplin.
7
RESUMO
O Diabetes Mellitus (DM) é uma patologia crônica decorrente da falta de insulina e/ou incapacidade da insulina exercer suas funções. O tratamento fisioterapêutico pode auxiliar na prevenção e recuperação das patologias e complicações associadas ao DM. Assim, este estudo busca identificar a percepção do paciente portador de DM tipo 2 (DM2) sobre a importância da intervenção fisioterapêutica em uma clínica de fisioterapia da região do Vale do Sinos, acerca de verificar qual o entendimento do paciente com Diabetes Mellitus tipo 2 sobre a sua patologia e identificar se os mesmos sentem a necessidade de realizar um tratamento fisioterapêutico. A pesquisa utilizou-se de uma abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. Foram entrevistados 5 indivíduos com DM2 que freqüentaram periodicamente uma Clínica-escola de fisioterapia, durante os meses de março a abril de 2009. Para a coleta de informações realizou-se uma entrevista individual e gravada. Com este estudo identificamos que a maioria dos entrevistados não reconhece e percebe a importância da intervenção da fisioterapia no controle do diabetes mellitus, assim parece ser fundamental um profissional da área da saúde para auxiliar os pacientes neste processo.
Palavras chave: diabetes mellitus, fisioterapia, percepção
ABSTRACT
The Diabetes Mellitus (DM) is a chronic pathology decurrent of the lack of insulin and/or incapacity of the insulin to exert its functions. The physiotherapeutic treatment can assist in the prevention and recovery of the diseases and complications associates to the DM. Thus, this study seeks to identify the perceptions of patients with type 2 diabetes about the importance of physiotherapeutic intervention in a physiotherapy clinic in the region of Vale do Sinos, relating to verify the understanding of the patient with diabetes mellitus type 2 about his pathology and identify whether they feel the need for physiotherapeutic treatment. The research used a qualitative, descriptive and exploratory approach. We interviewed 5 subjects with DM2 who attended regularly at the Clinic-School of Physiotherapy, during the months of March to April 2009. To gather the information a recorded and individual interview was taken place. With this study we can conclude that the majority of the interviewees do not recognize and understand the importance of physiotherapy intervention in the control of diabetes mellitus, therefore it appears to be fundamental that a health professional informs the patients in this process.
Key words: diabetes mellitus, physiotherapy, perception.
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................07
ABSTRACT ...............................................................................................................08
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................131.1 EPIDEMIOLOGIA DA DIABETES MELLITS ..................................................131.2 DOENÇA CRÔNICA ......................................................................................141.3 DIABETES MELLITUS ...................................................................................15
1.3.1 CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES MELLITUS ......................................151.3.2 SINAIS E SINTOMAS ...........................................................................181.3.3 DIAGNÓSTICO .....................................................................................191.3.4 COMPLICAÇÕES .................................................................................201.3.4.1 COPLICAÇÕES MICROVASCULARES ............................................201.3.4.2 COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES........................................211.3.5 TRATAMENTO .....................................................................................23
1.4 FISIOTERAPIA E DIABETES MELLITUS ......................................................261.4.1 FISIOTERAPIA PREVENTIVA..............................................................271.4.2 TÉCNICAS MAIS ADEQUADAS ...........................................................28
1.5 PERCEPÇÃO ................................................................................................30
2 CAMINHO METODOLÓGICO ................................................................................332.1 CENÁRIO DO ESTUDO ................................................................................342.2 SUJEITOS DO ESTUDO ...............................................................................342.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS..........................................................................342.4 COLETA DE INFORMAÇÕES .......................................................................352.5 ANÁLISE DOS DADOS. ................................................................................36
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................373.1 PERFIL DOS COLABORADORES ................................................................373.2 CATEGORIAS ...............................................................................................39
3.2.1 O ENTENDIMENTO DOS PACIENTES COM DM2 SOBRE A PATOLOGIA ........................................................................................................40
3.2.2 O CONHECIMENTO DOS PACIENTES SOBRE A FISIOTERAPIA ....413.2.3 A PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA
FISIOTERAPIA PARA O CONTROLE DO DM ....................................................43
10
CONSIDERACÕES FINAIS ......................................................................................46
REFERÊNCIAS .........................................................................................................48
11
INTRODUÇÃO
O Diabetes Mellitus (DM) é um dos problemas de saúde mais importantes
pela quantidade de indivíduos afetados, pelas taxas elevadas de incapacitação e
mortalidade e pelo alto custo no seu tratamento (SILVA; LIMA, 2002).
O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina
e/ou incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se
por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídios e
proteínas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Segundo Rossi e Barbosa (2003), DM é uma doença crônica que estabelece
limitações às capacidades funcionais do indivíduo, e provoca forte impacto nas
relações social e na vida do portador, acompanhado de muitas mudanças no estilo
de vida.
Vianna et al. (2008), indicam que entre as complicações do diabetes
destacam-se as doenças cardíacas, a hipertensão, a cegueira, doenças renais,
enfermidades associadas ao sistema nervoso central, por exemplo, dores nas mãos
e nos pés, amputações e doenças periodontais.
No tratamento do DM2 a prática diária da atividade física tem sido
considerada necessária para prevenção desta doença, melhorando a tolerância à
glicose e reduzindo a resistência à insulina. A prática de atividade física melhora os
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níveis de obesidade, sensibilidade à insulina e diminui os fatores de riscos
cardiovasculares (RIBEIRO, OLIVEIRA, MELLO, 2007).
De acordo com a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (2007) a
fisioterapia influencia intensivamente a assistência ao paciente com diabetes,
possibilitando a educação destes pacientes com os procedimentos aplicáveis desta
área diante da referida disfunção metabólica. A Fisioterapia elabora ações
organizadas sobre as maiores limitações das complicações agudas e crônicas DM
(CARVALHO, 2003).
O tratamento fisioterapêutico pode ajudar muito o paciente com diabetes, as
dificuldades do dia a dia podem diminuir e até desaparecer. A capacidade de ficar
em pé, ou outras tarefas são devolvidas ao paciente, e conseqüentemente a maior
independência deste indivíduo (OLIVEIRA, MILECH, 2004).
Este estudo teve como objetivo conhecer as percepções dos pacientes com
DM2 em relação à importância da intervenção fisioterapêutica, verificando qual o
significado do termo Diabetes Mellitus no seu entendimento, e como os pacientes
com DM2 percebem a necessidade de realizar um tratamento fisioterapêutico.
13
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Epidemiologia do Diabetes Mellitus
Ferreira et al. (2007) ressaltam que as mudanças no estilo de vida da
população fazem com que a prevalência de diabetes venha crescendo nos últimos
anos. Estima-se que no Brasil haja cinco milhões de pessoas com DM, dos quais
metade não sabe que são portadoras desta doença.
O número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao crescimento
e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de
obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida do paciente com Diabetes
Mellitus (SBD, 2008). Observa-se também uma crescente proporção de pessoas
afetadas em grupos etários mais jovens (OMS, 2006b).
Recentes estimativas indicam que havia 171 milhões de pessoas no mundo
com DM no ano 2000 e isto é projetado para aumentar para 366 milhões em 2030
(OMS, 2006b). No Brasil, no final dos anos 1980, de acordo com as Diretrizes
publicadas pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2008), a prevalência de
Diabetes Mellitus na população adulta foi estimada em 7,6%. Estimou-se que em
2005 existiam em torno de 8 milhões de indivíduos com Diabetes Mellitus.
Conforme o Ministério da saúde (2002) em 2025 pode existir cerca de 11
milhões de diabéticos no país o que caracteriza um aumento de mais de 100% em
14
relação aos atuais cinco milhões de diabéticos, 75% viverá em países em
desenvolvimento, com difícil acesso a centros especializados, a maioria desses
indivíduos apresentará Diabetes Mellitus tipo 2 e faixa etária de 45 a 64 anos.
Para Ferreira et al. (2007) dos indivíduos diabéticos, 5 a 10% têm Diabetes
Mellitus do tipo 1, a maioria possui Diabetes Mellitus do tipo 2, sendo responsável
por aproximadamente 90% de todos os casos, e suas complicações comprometem a
qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos.
1.2 Doença Crônica
Rossi e Barbosa (2003) afirmam que a doença crônica é um problema de
saúde com sintomas e incapacidade, que exige acompanhamento e controle á longo
prazo.
Entre tantos problemas sociais, culturais, psicológicos e de saúde que ainda
não foram resolvidos, um dos desafios no século XXI é buscar maneiras de
tratamento que melhorem a qualidade de vida do ser humano, especialmente em
pacientes portadores de uma doença crônica. A doença crônica por si só não diminui
a qualidade de vida da pessoa que a possui, mas influencia nesta qualidade, pois
interfere nas atividades, relações pessoais e auto-estima (FICK, 2006).
Muitas pessoas portadoras de doença crônica como Diabetes Mellitus (DM)
levam uma vida normal, enfrentando a doença crônica ao apresentarem
complicações decorrentes da patologia, só assim buscando auxílio e ajuda para o
tratamento (SMELTZER, BARE, 2002).
É importante, que a partir do diagnóstico da doença crônica, o paciente
aprenda a conviver com suas limitações e incapacidades para obter um bom
controle e autocuidado adequado (BORGES, 2007).
15
1.3 Diabetes Mellitus
O Diabetes Mellitus é uma doença crônica com alterações bioquímicas e
estruturais, devido a distúrbios no metabolismo dos carboidratos, gordura e
proteínas e de uma ação ineficaz da insulina (hormônio protéico) (STEVENS,
LOWE, 2002).
Para Mclellan et al. (2007) o DM é uma síndrome de etiologia múltipla
causada pela falta de insulina ou da incapacidade desta de exercer corretamente
sua função, acarretando em resistência insulínica, ocorrendo hiperglicemia crônica,
geralmente, acompanhada de dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção
endotelial.
Depois de ocorrida a alimentação, os níveis plasmáticos de glicose
aumentam e estimulam a liberação de insulina. A hiperglicemia acompanhada da
hiperinsulinemia estimula o uso da glicose pelos tecidos, assim como supri a
produção de glicose endógena (MARTINS, SOUZA, 2007).
Segundo Martins e Souza (2007) cerca de 85% da fabricação endógena de
glicose está associada ao fígado, sendo a glicogenólise e a gliconeogênese
responsáveis por essa produção. O tecido adiposo tem um importante papel na
homeostase glicêmica, apesar da maior parte da utilização da glicose periférica
ocorrer no músculo, através da liberação de ácidos graxos a partir dos triglicerídeos
armazenados.
1.3.1 Classificação do Diabetes Mellitus
D iabe t es Me l li t us tipo 1 ( D M1 ) : Atualmente sabe-se que a incidência de DM1
vem aumentando, principalmente na população infantil com menos de 5 anos de
idade e corresponde de 5 a 10% dos casos (SBD, 2008).
16
O DM1, diabetes mellitus insulino dependente ou diabetes juvenil, é definida
como uma doença resultante da destruição das células beta do pâncreas. Isso é
atribuído quer por um processo auto-imune (diabetes mellitus imunomediada), que
tem susceptibilidade genética; quer a uma causa desconhecida (diabetes mellitus
idiopática), conduzindo a uma deficiência absoluta de insulina (DAMIANI, 2000;
PAIVA, 2001; OMS, 1999; SBD, 2008). Sem esta, pode ocorrer o fenômeno da
cetoacidose, causando o mau funcionamento dos rins. Caso não seja tratada, a
cetoacidose pode conduzir ao coma e, em questão de dias ou semanas, pode levar
à morte (SANTOS, ENUMO, 2003).
Góes, Vieira e Liberatore (2007) indicam que trata-se do distúrbio mais
freqüente da infância, verificando-se uma incidência máxima no início da
adolescência. A taxa de destruição das células beta é variável, sendo em geral mais
rápida entre as crianças (SBD, 2008). Paiva (2001) relata que uma forma de DM1
imunomediada surge em dias a semanas, geralmente em indivíduos com menos de
25 anos.
D iabetes Mel l i t us t i p o 2 ( D M 2 ) : O DM2, diabetes mellitus não insulino
dependente ou diabetes do adulto, é definida por defeitos na ação e na secreção da
insulina. Em geral ambos os defeitos estão presentes quando a hiperglicemia se
manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. Varia de resistência a
insulina predominante com deficiência relativa de insulina aos casos em que
predomina o defeito secretório com resistência a insulina. Nesses casos de DM2 não
ocorre destruição de células beta. A cetoacidose raramente desenvolve-se
espontaneamente, ocorrendo apenas quando associada a outras condições como
infecções (DAMIANI, 2000; PAIVA, 2001; OMS, 1999; SBD, 2008).
O DM2 pode ocorrer em qualquer idade, mas mais freqüentemente em
adultos obesos, acima de 35/40 anos (DAMIANI, 2000; PAIVA, 2001; SBD, 2008).
Os pacientes não são dependentes de insulina exógena para sobrevivência,
porém podem necessitar de tratamento com insulina para a obtenção de um controle
17
metabólico adequado, será um diabetes insulino-tratado (DAMIANI, 2000; PAIVA,
2001; OMS, 1999; SBD, 2008).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2006a), os sintomas podem ser
semelhantes ao DM1, mas são menos evidentes. Como resultado, a doença pode
ser diagnosticada vários anos depois de seu começo.
D iabe t es G estacio n a l: O diabetes gestacional continua a ser reconhecida
como um importante diagnóstico clínico, definida como qualquer grau de intolerância
à glicose que se inicie ou se reconheça, pela primeira vez, durante a gravidez
(PAIVA, 2001). Na maioria dos casos há reversão para a tolerância normal após a
gravidez, porém existe um risco de 17% a 63% dos casos de desenvolvimento de
DM2 dentro de 5 a 16 anos após o parto (SBD, 2008).
O u t r o s t i pos de D i a b e tes Mell i t us: Estão incluídos nessa categoria defeitos
genéticos na função das células beta, defeitos genéticos na ação da insulina,
doenças do pâncreas exócrino e por outras etiologias identificáveis. Pertencem a
essa classificação formas menos comuns de Diabetes Mellitus cujos defeitos ou
processos causadores podem ser identificados, como seguem (SBD, 2008; PAIVA,
2001; OMS, 1999):
a) Defeitos genéticos da função das células b: por exemplo, “maturity onset
diabetes in young” (MODY), situação rara de DM2, de inicio em idades
jovens, com hereditariedade autossômica dominante, existindo varias
mutações genéticas que definem diferentes sub-tipos (MODY 1,2,3);
b) Defeitos genéticos da ação da insulina: por exemplo, insulino-resistência
do tipo A, leprechaurismo, síndrome de rabson-mendenhall, diabetes
lipoatrófica e outros;
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c) Doenças do pâncreas exócrino: por exemplo, pancreatite,
trauma/pancreatectomia, neoplasia, hemocromatose, pancreatopatia
fibrocalculosa e outras;
d) Endocrinopatias: por exemplo, acromegalia, Cushing, glucagonoma,
feocromocitoma, hipertiroidismo, somatostatinoma, aldosteronoma e
outras;
e) Induzida por fármacos ou químicos: por exemplo, glucocorticóides, acido
nicotínico, tiazidas, a-interferon e outros;
f) Infecções: por exemplo, rubéola congênita, Coxsackie B, citomegalovirus
e outros;
g) Formas pouco comuns de diabetes imunorrelacionada: por exemplo,
síndrome de Stiff-man, anticorpos anti-receptores de insulina e outros.
1.3.2 Sinais e sintomas
Bortolon (2005) afirma que os sinais e sintomas do DM são:
-Polidipsia (muita sede);
-Poliúria (urinar várias vezes);
-Perda de peso;
-Polifagia (fome exagerada);
-infecções freqüentes (pele, mucosas, genitais, urina);
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-fadiga;
-desânimo;
-cansaço;
-dores nas pernas, devido à ma circulação;
-fraqueza.
1.3.3 Diagnóstico
O diagnóstico do DM baseia-se no exame da glicemia de jejum (8 horas), o
qual verifica as alterações da glicose plasmática, e no teste oral de tolerância à
glicose (TOTG), no qual uma sobrecarga de glicose por via oral informa tanto sobre
a secreção de insulina como sobre sua ação periférica (GROSS et al., 2002;
MCLELLAN et al., 2007).
Segundo a American Diabetes Association (2005) a pessoa será
considerada diabética quando colhidas duas amostras em dias diferentes com
resultado igual ou acima de 126mg/dl ou se a glicemia estiver igual ou acima de
200mg/dl na presença de sintomas.
A secreção de insulina está elevada na obesidade e a captação hepática e a
eficácia periférica da insulina reduzida. O aumento da secreção de insulina está
ligado ao grau de obesidade, já a diminuição na depuração hepática e a resistência
periférica ao hormônio estão ligadas ao tipo de obesidade, os ácidos graxos livres
elevados na circulação inibem a depuração hepática de insulina, favorecendo a
hiperinsulinemia e à resistência periférica (MCLELLAN et al., 2007).
20
1.3.4 Complicações
Conforme Ferreira et al. (2007) o Diabetes Mellitus pode gerar problemas
agudos e crônicos, podendo ser fatais, sendo considerado um dos mais importantes
fatores de risco para problemas macro e microvasculares, que começam a surgir
pelos efeitos da hiperglicemia, acarretando em disfunção, dano e falência de vários
órgãos, principalmente os olhos, rins, nervos e sistema cardiovascular.
1.3.4.1 Complicações microvasculares
Os níveis sangüíneos aumentados de glicose reagem através de uma série
de transformações bioquímicas ao espessar a membrana basal até várias vezes a
sua espessura normal. Essas reações são conhecidas por doença microvascular
diabética ou microangiopatia diabética (SMELTZER, BARE, 2002).
A retinopatia diabética é uma complicação microvascular. São lesões que
aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e, como
conseqüência, a perda da acuidade visual em função das altas taxas de glicose que
o paciente vem apresentando (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008).
A nefropatia, ou doença renal secundária às alterações microvasculares no
rim, constitui uma complicação comum do DM. As pessoas com DM2 não controlado
tendem a desenvolver doença renal, pois quando os níveis sanguíneos de glicose
estão elevados, o mecanismo de filtração renal é estressado, permitido que as
proteínas extravasem para dentro da urina. E, em conseqüência disso, a pressão
nos vasos sangüíneos aumenta. Acredita-se que esse aumento da pressão favoreça
o desenvolvimento de doença renal (SMELTZER, BARE, 2002).
Os pacientes diabéticos podem desenvolver as neuropatias diabéticas.
Trata-se de doenças que afetam todos os tipos de nervos, inclusive nervos
periféricos, autonômicos e espinhais. A etiologia disso se deve à glicemia sangüínea
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elevada ao longo dos anos, propiciando assim o espessamento da membrana basal
capilar e o fechamento capilar. Além disso, pode haver dismielinização dos nervos
responsável pela interrupção das conduções nervosas (SBD, 2008).
Quando os nervos periféricos são afetados, podem aparecer sintomas como:
pontadas, formigamento, sensações de queimação, À medida que a neuropatia
progride, os pés se tornam dormentes, a sensação de dor e temperatura ficam
diminuídas, representando aos pacientes um fator de risco para desenvolver lesão e
infecção devido a essa perda de sensilbilidade (SMELTZER, BARE, 2002).
A neuropatia autonômica compromete o sistema nervoso autonômico, que
gera uma ampla gama de disfunções cardiovasculares, gastrintestinais, urinárias e
disfunção sexual (ROBBINS, CONTRAN, KUMAR, 1996).
1.3.4.2 Complicações macrovasculares
As complicações macrovasculares resultam das alterações nos vasos
sangüíneos de médio e grande calibre. Essas alterações podem estar ligadas à
hiperglicemia e hiperinsulinemia, desencadeando anormalidades nos fatores de
coagulação, diminuição da flexibilidade dos eritrócitos e liberação diminuída de
oxigênio que aceleram o desenvolvimento da aterosclerose (GOLDMAN, BENNETT,
2001).
Pacientes com DM tem maior probabilidade do aparecimento de lesões
ateroscleróticas precocemente em suas artérias. Estas lesões têm distribuição
distinta localizando-se preferencialmente em artérias de pequeno e médio calibres,
nos membros inferiores (poplítea, tibiais e na bifurcação carótida), produzido
sintomatologia de insuficiência vascular periférica ou cerebral (ALMEIDA, 1997).
Segundo Gondim, Oliveira e Grossi (2003), o DM é fator de risco para
doenças cardiovasculares, pois estão presentes alterações do endotélio arterial,
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aumento da agregação plaquetária, modificações lipídicas e lipoprotéicas, com
aumento do colesterol e depósitos dessas substâncias no interior das artérias. Esses
fatores desencadeiam as placas ateroscleróticas, e conseqüentemente, estreitam o
lúmen das artérias e diminuem o transporte de sangue e oxigênio para os órgãos.
Stevens e Lowe (2002) afirmam que existem ainda complicações como
predisposição a infecções, aterosclerose e arteriosclerose. Todas estas
complicações podem levar ao desenvolvimento de cardiopatia isquêmica, doença
cerebrovascular e gangrena periférica de membros inferiores. O diabético tem uma
maior tendência para o desenvolvimento de infecções fúngicas ou bacterianas, os
órgãos mais atingidos são a pele, as mucosas orais e genitais e o trato urinário. As
úlceras de pele são mais freqüentes em diabéticos do tipo 2.
A polineuropatia ocorre como resultado direto da hiperglicemia, que causa
desmielinização segmentar com conseqüente redução na velocidade de condução
neuronal. Alem da redução da sensibilidade cutânea, ocorre perda da arquitetura do
pé, pela perda do tônus da musculatura intrínseca. Estes dois fatores facilitam o
aparecimento das lesões ulceradas nas extremidades inferiores, particularmente nos
pés, em pontos de apoio (ALMEIDA, 1997).
As alterações teciduais locais são responsáveis pela cicatrização precária e
maior suscetibilidade a infecções nos diabéticos, particularmente naqueles com
descontrole na glicemia. Hiperglicemia extracelular e deficiência de glicose
intracelular alteram os estágios iniciais da resposta inflamatória e contribuem para a
deterioração da síntese de colágeno. Disfunção nos neutrófilos com diminuição da
capacidade de quimiotaxia, fagocitose e função bactericida explicam a maior
suscetibilidade a infecções no diabético (ALMEIDA, 1997).
23
1.3.5 Tratamento
Segundo Smeltzer e Bare (2002) são cinco os componentes básicos para o
tratamento do Diabetes Mellitus: dieta, exercícios, monitorização, medicamentos e
educação. O tratamento do paciente com diabete depende muito dele, pois a doença
necessita de cuidado, conhecimento, educação dos pacientes e familiares para que
haja conscientização de que as mudanças no estilo de vida são fundamentais para
manter a doença crônica sob controle e, principalmente, o bem estar. Esses
cuidados permitem aos pacientes manterem uma vida normal e produtiva.
No tratamento de diabetes mellitus não insulino dependente a prática diária
da atividade física tem sido considerada necessária para prevenção desta doença,
melhorando a tolerância à glicose e reduzindo a resistência à insulina. A prática de
atividade física melhora os níveis de obesidade, sensibilidade à insulina e diminui os
fatores de riscos cardiovasculares (RIBEIRO, OLIVEIRA, MELLO, 2007).
A educação em portadores de diabetes é fundamental no tratamento do
paciente, é um processo diário de alteração de hábitos de vida, controle metabólico
adequado, atividade física e dieta. O portador da doença necessita de ter
conhecimento sobre a doença e suas complicações para melhorar a sua qualidade
de vida, pois assim ocorrerá a redução de crises de hipoglicemia e hiperglicemia,
diminuindo os números de internações hospitalares, melhorando o controle
metabólico e tendo maior aceitação da doença (MAIA, ARAÚJO, 2002).
Para Bortolon (2005) além de dieta e atividade física existe o uso adequado
de insulina como tratamento caso necessário conforme prescrição médica. Também
é importante fazer alguns exames, como controle periódico da glicemia (HGT),
hemoglobina glicosilada e glicosúria. O tratamento do Diabetes Mellitus é
direcionado para a manutenção do nível normal de glicose no sangue tanto em jejum
quanto no período pós-prandial.
24
Segundo o Consenso de Diabetes (2006) o tratamento com medicamentos
hipoglicêmicos orais devem ser usadas (a não ser que o paciente esteja
descompensado) apenas quando após 2 ou 3 meses de exercício e dieta não
obtiverem sucesso no controle do DM2. As principais drogas hipoglicêmicas são:
Sulfoniluréias (glibenclamida) e Biguanidas (metformina).
Sulfoniluréias: Constitui-se na primeira escolha de droga hipoglicemiante nos
indivíduos tipo 2 não obesos. As sulfoniluréias podem perder seu efeito terapêutico
na evolução do diabetes (falência secundária). São principalmente indicadas nos
seguintes casos: Pacientes diabéticos tipo 2 que mesmo tendo células β
funcionantes, não conseguem obter controle glicêmico satisfatório apenas com dieta
e prática de exercício físico ou pacientes que apresentam histórico de diagnóstico de
DM2 a menos de 5 anos (com mais de 5 anos de doença geralmente a desnutrição
das células β não permite mais que o pâncreas responda ao estímulo das
sulfoniluréias) (CONSENSO DE DIABETES, 2006).
Biguanidas: Constitui-se na primeira escolha para indivíduos diabéticos
obesos, sobretudo quando apresentam manifestações concomitantes de
dislipidemia, hipertensão e hiperinsulinemia. Entre as biguanidas, apenas a
metformina deve ser usada. A metformina não deve ser usada em indivíduos
diabéticos com probabilidade de desenvolver acidose láctica, insuficiência renal,
hepática, insuficiência cardíaca ou respiratória, presença de infecção, idade
avançada, gravidez ou alcoolismo (CONSENSO DE DIABETES, 2006).
Vários estudos demonstram que indivíduos com DM2 podem ter controle
glicêmico ótimo com insulinoterapia e que a intervenção precoce e adequada com
insulina traz grandes benefícios. A insulinoterapia é o tratamento mais eficaz para
redução de glicemias muito elevadas (MELO, 2006).
A Sociedade Brasileira de Diabetes (2008) refere que o tratamento com
insulinoterapia será empregado caso os níveis de glicemia não se mantenha dentro
dos valores normais no sangue (entre 70 e 110mg/dl). A insulinoterapia é indicada
25
principalmente quando o nível de glicose plasmática estiver muito elevado
especialmente se acompanhado de perda de peso, cetonúria e cetonemia e durante
a gestação, caso não normalize os níveis de glicose com dieta.
Existem vários tipos de insulina, podendo ser diferentes quanto à origem e o
tempo de ação, conforme orientações do Hospital de Clínicas de Porto Alegre: suína
(extraída do pâncreas do porco); mista (extraída do pâncreas do porco e boi sendo
misturadas); humana (a partir da insulina do porco). Algumas insulinas são
totalmente produzidas em laboratórios por engenharia genética (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2008).
Em relação ao tempo de ação podemos considerar, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Diabetes (2008):
- Insulina lenta/ insulina de ação intermediária: insulina de ação lenta, devido
à ação de substância que retardam sua absorção pelo organismo;
- Insulina Lispro ou Asparte (ou ultra-rápidas): insulina de ação rápida e
duração curta, geralmente combinada a outras insulinas de ação lenta;
- Insulina regular (ou rápida): insulina de ação rápida e duração curta, usada
também em situações de emergência;
- Insulina NPH (Neutral Protamine Hagedorm): insulina de ação intermediária
similar em muitos aspectos à insulina lenta;
- Insulina ultra-lenta: insulina de ação longa costuma ser indicada para uso
noturno, aliado à insulina de ação rápida durante o dia;
26
1.4 Fisioterapia e Diabetes Mellitus
O fisioterapeuta é o profissional da área de saúde que presta serviços a
pessoas e populações com a intenção de desenvolver, manter e restaurar o
movimento e a capacidade funcional do indivíduo durante toda a sua vida. Atua na
promoção de saúde, prevenção, cura ou reabilitação de portadores de disfunções
orgânicas, agudas ou crônicas, que podem comprometer a capacidade de realizar
trabalho físico, lazer ou autocuidado. Desta forma, pode também atuar em conjunto
com uma equipe multidisciplinar no tratamento e na prevenção do diabetes melitus
(OLIVEIRA e MILECH, 2004).
Conforme Deliberato (2002), a prática regular de exercícios aumenta o efeito
da insulina nos casos de DM2, melhora o uso dos alimentos como fonte energética,
melhora o consumo de oxigênio e glicose, diminui a dosagem dos hipogliceminates
orais e diminui a dosagem de insulina em pacientes dependentes. O fisioterapeuta
que acompanha um paciente diabético deve ser extremamente cuidadoso ao aplicar
os exercícios terapêuticos. Os pacientes compensados (com níveis adequados de
glicose sangüínea) podem apresentar sinais de hipoglicemia e até mesmo coma
hipoglicêmico. Nos pacientes descompensados, pode ocorrer perda do controle da
ingestão calórica na dieta e perda da dosagem medicamentosa, aumentando o risco
de cetoacitose e coma diabético.
Recomenda-se que durante a aplicação de alguns métodos fisioterapêutico
deve-se ter como objetivo manter uma melhor postura com melhor equilíbrio. Uma
diversidade de exercícios pode ser criada e orientada para determinados tipos de
pacientes, porém suas limitações físicas devem ser respeitadas. Como exemplo,
podemos citar os exercícios de rolamento, transferências de decúbitos, ponte,
exercícios de equilíbrio sentado utilizando-se atividades com bolas, entre outros
(CARVALHO, 2003).
27
1.4.1 Fisioterapia Preventiva
Segundo Deliberato (2002) a fisioterapia preventiva aplicada ao paciente com
DM tem como objetivo melhorar as condições gerais de vida do paciente,
promovendo o maior grau possível de independência funcional, estimular o
crescimento adequado em crianças com DM tipo I e evitar ou minimizar
complicações agudas e crônicas.
A fisioterapia favorece a queima de glicose pelos músculos e a redução de
triglicérides e colesterol, normalizando ou adequando os níveis de glicose no
sangue, que aumenta a ação da insulina e dos hipoglicemiantes orais, minimizando
o emagrecimento contínuo e a perda da glicose pela urina e também eleva os
encaixes bioquímicos da insulina em músculos, tecidos gorduroso e diversos órgãos,
além de evitar a aterosclerose pelo aumento do fluxo sanguíneo, principalmente dos
membros inferiores, reduzindo o risco de problemas cardiovasculares
(DELIBERATO, 2002).
Pacientes com DM tem insensibilidade, fraqueza muscular e diminuição de
amplitude de movimento apresentando maior risco de desenvolver ulcerações nos
pés. A atrofia muscular observada nos pacientes com neuropatia diabética,
principalmente nos músculos intrínsecos do pé, pode causar deformidades,
diminuição da amplitude de movimento do pé e tornozelo, favorecendo o aumento
de pressões plantares (SCHIE, 2005).
A fisioterapia atua na prevenção do pé diabético através de exercícios
específicos de fortalecimento e alongamento muscular, treino de equilíbrio e
orientações, fazendo com que o paciente tenha a capacidade de ficar em pé,
caminhar com mais velocidade e por mais tempo e realizar outras tarefas que lhe
proporcione maior independência (OLIVEIRA e MILECH, 2004).
28
1.4.2 Técnicas mais adequadas
A Fisioterapia trabalha com pacientes diabéticos na busca da manutenção e
da reabilitação das condições motoras, prevenindo e tratando todos os componentes
do movimento humano necessário à maior funcionalidade do indivíduo. Em vista
disso, a fisioterapia tem a finalidade de avaliar e intervir, preocupando-se com os
diferentes sistemas e subsistemas do organismo tegumentar, sensitivo, de
coordenação, do equilíbrio postural, que podem sofrer devido ao complexo
comprometimento decorrentes do diabetes, que modifica o metabolismo do indivíduo
(ANAD, 2008).
De acordo com a Associação Nacional de Assistência ao Diabético (2008) o
fisioterapeuta possui conhecimento para avaliar funcionalmente os indivíduos
diabéticos, intervir e atuar de forma preventiva às úlceras, amputações, alterações
posturais, encurtamentos musculares e alterações de funcionalidade que podem
ocorrer. É importante não permitir que o diabético se torne inativo, pois as atividades
ajudam a enfrentar as dificuldades e limitações decorrentes e características da
doença.
O nível de atividade física estipulado pelo fisioterapeuta deve considerar: a
idade, o tipo de dieta, a quantidade de ingestão calórica, o horário de alimentação, o
tipo de medicamento, o horário de sua administração e o local de sua aplicação, nos
casos de pacientes insulino-dependentes. Outros cuidados e recomendações para a
aplicação de cinesioterapia em pacientes diabéticos, conforme Deliberato (2002)
estão expostos abaixo:
a) Fazer exercícios (contínuos e baixo esforço), como pedalar, nadar e
caminhar;
b) Fazer exercícios com regularidade (mínimo de quatro vezes por semana
durante trinta minutos);
29
c) Ao aumentar o esforço, fazer complementação alimentar para evitar
hipoglicemia;
d) Variar o tipo de exercício para evitar acomodação e para diminuir
sobrecargas;
e) Evitar os horários inadequados, principalmente os mais quentes, para
evitar a perda hídrica;
f) Orientar o paciente quanto ao uso de roupas pro-transpiracão e calcados
apropriados;
g) Evitar exercícios de fortalecimento, principalmente da musculatura
abdominal, devido à presença de hipertensão arterial;
h) Evitar a realização de exercícios nos momentos de maior ação da
insulina injetada ou dos hipoglicemiantes orais, pois a risco de
hipoglicemia;
i) Não realizar qualquer tipo de exercício em pacientes com glicose
sangüínea superior a 200 mg/dl ou na presença de cetonúria. Nestes
casos, a risco de cetoacidose e coma diabético;
j) Relacionar o tipo de atividade física e o local de aplicação da insulina.
Por exemplo, se o paciente esta aplicando a insulina nos membros
superiores podemos recomendar a realização de exercícios nos
membros inferiores;
k) Orientar o paciente quanto ao prejuízo de atividades físicas esporádicas
ou competitivas. Nesses casos, a descontrole dos níveis de glicose no
sangue e risco de hipoglicemia.
30
A fisioterapia também atua em problemas de retenção de líquidos, através
da drenagem linfática, técnica de massagem manual que auxilia o organismo a
eliminar esses líquidos acumulados por insuficiência do sistema linfático (OLIVEIRA,
MILECH, 2004).
O fisioterapeuta que acompanha um paciente com DM também pode usar os
seguintes procedimentos: exercícios respiratórios; exercícios de reequilíbrio
muscular; exercícios resistidos manuais; hidroterapia; exercícios proprioceptivos;
exercícios de equilíbrio e coordenação motora; estimulação tátil (na presença de
neuropatias associadas); Neuroestimulação elétrica transcutânea - TENS (na
presença de neuropatias associadas); ultra-som, calor úmido e microcorrente (na
presença de miosites insulínicas) (DELIBERATO, 2002).
1.5 Percepção
A percepção das pessoas está ligada as suas emoções e suas ações. As
características de personalidade nas pessoas podem ser percebidas através de
vários fatores e de diferentes maneiras, pode-se ainda concluir que a percepção é
determinada por fatores psicológicos, enquanto que as sensações são por fatores
neurológicos. Logo, entende-se que a essência da percepção não é verdadeira, mas
definida por nós como a verdade, visto que o mundo não é aquilo que pensamos,
mas aquilo que vivemos (MERLEAU – PONTY, 1999).
A percepção tem algo a ver com nossa consciência dos objetos e condições
que nos cercam. É a maneira como os objetos nos aparecem, nos soam,
impressionam em nossos sentidos. A percepção tem a capacidade de abranger e
interpretar a complexidade das situações comportamentais (FICK, 2006; BORGES,
2007).
A área de pesquisa psicológica pode ser adequadamente considerada como
o conjunto de processos pelos quais o indivíduo mantém contato com o ambiente.
31
Para sobreviver num ambiente de objetos e eventos físicos, as pessoas precisam se
ajustar continuamente às energias em constante mudança que as cercam. Os
processos envolvidos na manutenção do contato com o mundo de energia flutuante
é a percepção (FICK, 2006).
O processo seletivo e construtivo da percepção tem ligação direta entre a
exposição do ser com o mundo externo, o qual designa todas as diferentes maneiras
que temos para conhecer o ambiente no qual estamos inseridos, e a sociedade na
qual estamos vivendo (BORGES, 2007).
Cada pessoa tem uma maneira diferente de perceber a realidade sobre si
mesma, o meio que a cerca e de se integrar. Esse processo passa pelos
sentimentos que, por sua vez, são criados pelas necessidades e expectativas (FICK,
2006).
O organismo não tem somente necessidade de estar em um meio físico
conveniente e de ter uma alimentação equilibrada, mas também precisa de um
aporte de informação suficiente que deve apresentar aspectos qualitativos, os
garantem estabilidade emocional, e numerosas reações adaptativas para que a vida
prossiga normalmente (JEAMMET, REYNAUD e CONSOLI, 2000).
Segundo Jeammet, Reynaud e Consoli (2000), para obter a cura da doença,
é preciso combater o inimigo causador da mesma, rejeitando-o para fora do
organismo. Outra concepção de cura é que o mal está dentro de nós e somente
encontramos a possibilidade de restabelecer nosso equilíbrio em nós mesmos.
Lara (2008) descreve que, para que ocorra o bom controle da doença e,
subseqüentemente, a qualidade de vida, o portador de Diabetes Mellitus depende de
fatores psicológicos, tais como aceitação do diagnóstico, e de habilidades que
necessitam ser desenvolvidas e mantidas.
32
Allgot (2001) enfatiza que conhecer sua condição é uma necessidade
fundamental para que a pessoa com Diabetes Mellitus possa assumir o manejo de
sua vida, tomar decisões relacionadas a sua condição crônica de saúde e
responsabilizar-se por dificuldades e escolhas que venham a surgir.
Percepção são os processos de aquisição, interpretação, seleção e
organização das informações obtidas. Do ponto de vista psicológico, a percepção
envolve também os processos mentais, a memória e outros aspectos que podem
influenciar na interpretação dos dados percebidos. Os métodos de estudo da
percepção vão desde as aproximações essenciais com a biologia ou psicologia,
através de abordagens psicológicas da filosofia da mente e a epistemologia
empírica, tais como de David Hume, George Berkeley ou como a afirmação de
Merleau-Ponty que tem a percepção como a base de todas as ciências e
conhecimento (LIMA, 2008).
33
2 METODOLOGIA
Conforme Prodanov (2006) pesquisar é buscar conhecimento, pois
pesquisamos em todos os momentos da vida, mas não de forma científica.
Para o desenvolvimento desse trabalho foi utilizado a pesquisa qualitativa
descritiva e exploratória. O trabalho buscou conhecer, através de entrevistas semi-
estruturadas, as percepções dos indivíduos com Diabetes Mellitus tipo 2 sobre a
importância da intervenção fisioterapêutica.
A pesquisa qualitativa é utilizada para descrever as experiências humanas,
vivências, o meio natural em que ocorrem, sendo de fundamental importância o
desempenho do pesquisador nessa abordagem para avaliar os significados dos
fatos observados (GOLDIM, 2000).
Para Víctora, Knauth e Hassem (2000), a pesquisa qualitativa permite a
possibilidade de aprender o que não é evidente, o que não é percebido pelo
espectador comum, e através dessa percepção, entender o contexto social das
pessoas com o objetivo de adquirir conhecimento e explicar comportamentos.
Para Minayo (2000) a fase exploratória de uma pesquisa qualitativa
compreende nas etapas de escolha do assunto a ser investigado, de delimitar o
problema, definir o objeto e objetivos do trabalho, a construção do marco teórico, os
instrumentos para coletar os dados e a exploração do campo.
34
Pesquisas que têm como objetivo descrever características da população ou
fenômenos que ocorrem com indivíduos são classificadas como pesquisas
descritivas (GIL, 2002).
2.1 CENÁRIO DO ESTUDO
O estudo foi realizado em uma clínica-escola de fisioterapia, localizada na
região do Vale do Sinos, no período de março a abril de 2009.
2.2 SUJEITOS DO ESTUDO
A amostra foi composta por cinco indivíduos com DM2 que freqüentaram
periodicamente a clínica-escola de fisioterapia, durante os meses de março e abril
de 2009. Embora, exista um número maior de indivíduos com DM atendidos na
clínica-escola de fisioterapia, somente foi autorizada a realização desta pesquisa no
turno da manhã o que limitou o número amostral e também devido à dificuldade dos
indivíduos em permanecerem mais tempo na clínica para participarem da entrevista.
2.3 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
O projeto foi aprovado, processo nº 4.08.03.08.1242, e o estudo foi
desenvolvido de acordo com os cuidados éticos delineados na Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), onde estão descritas as diretrizes e normas de
pesquisa em seres humanos. É fundamental manter os princípios básicos da ética:
beneficência, respeito à pessoa e justiça.
35
A coleta dos dados somente teve início após o recebimento do parecer e
aprovação do CEP (Anexo 1).
Os participantes foram identificados por p1, p2, assim em ordem crescente e
as entrevistas tiveram início somente após os esclarecimentos sobre os objetivos do
trabalho e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi
fornecido pela pesquisadora (Apêndice A). O mesmo é composto de duas vias,
depois de assinado, uma delas ficou de posse do entrevistado e a outra do
pesquisador.
Segundo Víctora, Knauth e Hassem (2000), o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido é a autorização dada voluntariamente por uma pessoa capaz de tomar
decisões, permitindo a realização de uma pesquisa ou procedimentos clínicos ou
cirúrgicos.
2.4 COLETA DE INFORMAÇÕES
A coleta dos dados foi realizada através de uma entrevista utilizando um
roteiro de perguntas semi-estruturadas (Apêndice B). A entrevista semi-estruturada
foi elaborada com cinco questões.
Para Gressler (2003), o principal foco da entrevista semi-estruturada é
buscar do participante as informações para alcançar os objetivos esperados no
decorrer do projeto, através de uma linha de pensamento formulada pelas
prerrogativas norteadoras do projeto, que, desta forma, possibilitarão descobrir, a
partir de uma exploração em profundidade, os fenômenos que se propõe conhecer.
A entrevista semi-estruturada torna-se uma das principais ferramentas que o
investigador possui para coletar dados, visto que valoriza a presença do investigador
36
para oferecer ao informante a liberdade e a espontaneidade, necessários para
enriquecer a pesquisa (FICK, 2006).
O ambiente para a realização da entrevista foi fechado, pois a privacidade
do entrevistado foi respeitada. Entretanto, não foi estipulado tempo para a entrevista
para que possam debater sobre o assunto.
As entrevistas foram gravadas individualmente em fita cassete e
posteriormente transcritas na íntegra. Os participantes foram informados da
gravação e esta ficará guardada por um prazo de cinco anos, sendo, após este
período, destruídas.
2.5 ANÁLISE DOS DADOS
Após as entrevistas os dados foram analisados para uma melhor
compreensão do que foi trabalhado entre o entrevistador e o entrevistado buscando
contemplar os objetivos propostos pelo estudo.
37
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
A partir do conteúdo das entrevistas desenvolveu-se o processo de análise e
interpretação das informações, no qual inicialmente será apresentada a descrição do
perfil dos colaboradores e em seguida serão estruturadas as categorias de análise,
conforme os questionamentos realizados e conteúdo dos discursos.
3.1 PERFIL DOS COLABORADORES
Pereira (2002) explica que existem inúmeras maneiras de classificar as
características da população, porém, é necessária a interpretação considerando as
múltiplas facetas e inter-relações, quanto aos fatores biopsicossociais, variáveis
relativas às pessoas.
Para traçar o perfil dos indivíduos, foram analisadas idade, gênero, etnia e o
tempo de diagnóstico do DM2, que podem ser visualizadas na tabela 1:
Tabela 1 – Características da amostra (n = 5).
Idade 58,6 anos (média)
Gênero 80% Feminino
Etnia 100% branco
Tempo de diagnóstico do DM 15,4 anos (média)
38
Em relação à faixa etária dos colaboradores observou-se que a média de
idade foi de 58,6 anos, sendo a mínima de 48 anos e a máxima, 73 anos. Estando,
assim, de acordo com os estudos de Damiani (2000), Paiva (2001), OMS (1999),
SBD (2008) e Gross e Silveiro (2004), onde relatam que a diabetes tipo 2 ocorre
com maior freqüência nas pessoas com mais de 30 anos de idade. No estudo de
Pinto e Moretto (2004), a faixa etária predominante apresentou uma média de 60
anos, aproximadamente.
Considerando o gênero, verificou-se uma predominância do sexo feminino,
foram quatro mulheres, o que corresponde à 80% da amostra e um do gênero
masculino, 20%. Diversos estudos têm demonstrado que não há correlação entre
sexo e DM, não apresentando diferença estatística entre os sexos (PÉREZ et al.,
2001; ARTEGA, BECERRIL e GENIS, 2000). No entanto, estudos como o de Ortiz e
Zanetti (2001) e Batista et al. (2005) têm relatado que o sexo mais acometido é o
feminino.
De modo geral, as mulheres utilizam mais os serviços de saúde do que os
homens. Este diferencial explica-se em parte pelas variações no perfil de
necessidades de saúde entre os gêneros, outro fator apontado é o maior interesse
das mulheres com relação à sua saúde (PINHEIRO, 2002). Buscando estudar esta
relação, Green & Pope (1999) analisaram uma amostra de indivíduos filiados a uma
organização de saúde sem fins lucrativos dos EUA e encontraram pequenas
diferenças, porém estatisticamente significantes, quando levaram em conta
problemas específicos de cada sexo.
Em relação à etnia foi verificado que todos (100%) eram caucasianos.
Diversos estudos enfatizam uma maior prevalência de DM em negros quando
comparados aos brancos. No estudo de Brito, Lopes e Araújo (2001), observou-se
maior freqüência de DM em mulheres negras. Já Silva, Mazzotti e Weber (2007) e
Goldenberg, Schenkman e Franco (2003) encontraram em seus estudos resultados
semelhantes aos desta pesquisa. Os achados vão de acordo com a população
existente em cada região. A população que compõe a amostra é marcada pela
39
origem germânica, o que explica a prevalência de brancos no estudo e confirma que
as diferenças regionais são fatores importantes para determinar o fator de risco
referente à etnia.
O tempo médio de diagnóstico do diabetes mellitus foi de 15,4 anos. Nos
estudos de Tavares el al. (2007), o tempo de diagnóstico predominante ficou dentro
da faixa de 10 anos, para ambos os sexos, representando 51,3% da amostra
estudada por eles, o que corresponde aos resultados do estudo ora apresentado.
A duração do DM2 é de difícil determinação em vista de que pode se
apresentar como um distúrbio metabólico assintomático ou ainda sub–diagnosticado,
podendo ser detectado somente ao surgimento de complicações da doença. Estima-
se que em pacientes DM2, a doença já esteja presente há cerca de 4 a 7 anos em
relação à época em que é feito o diagnóstico do diabetes (OMS, 2006a).
3.2 CATEGORIAS
Foram realizadas entrevistas de cunho qualitativo, por fornecerem dados
para a compreensão das relações entre os atores sociais e o fenômeno. Após a
coleta de dados, estes foram transcritos. Em seguida, foi realizada uma leitura do
material para verificar trechos significativos.
Para melhor interpretação das informações, obtidas através da entrevista,
foram elaboradas as seguintes categorias: O entendimento dos pacientes com DM2
sobre a patologia; O conhecimento dos pacientes sobre a fisioterapia; A percepção
dos pacientes sobre a importância da fisioterapia para o controle do DM.
40
3.2.1 O ENTENDIMENTO DOS PACIENTES COM DM2 SOBRE A PATOLOGIA
O Diabetes Mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta
de insulina e/ou incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos.
Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos
carboidratos, lipídios e proteínas. As conseqüências do DM, em longo prazo,
incluem disfunção e falência de vários órgãos, especialmente rins, nervos, coração e
vasos sanguíneos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; VIANA et al., 2002).
Essa categoria emergiu quando os sujeitos foram questionados sobre o que
significa Diabetes no seu entendimento.
Frente aos relatos, podemos observar, nas falas abaixo, que as respostas
são bem objetivas, os sujeitos da pesquisa demonstraram ter um conhecimento
superficial sobre a doença Diabetes Mellitus:
“[...] eu sei que é uma doença que atinge mais os idosos e que é uma
alteração dos açúcares no sangue né [...]” P3
“[...] é uma doença silenciosa, que requer muito cuidado, precisa de um
controle na alimentação, fazer atividade física [...]” P4
“[...] diabetes é o aumento de açúcar no sangue, por uma alimentação não
equilibrada [...]” P5
Discutindo isso, Diniz (2001) alega que o paciente diabético, com freqüência,
aprende mal grande parte das orientações realizadas em apenas uma consulta, não
aderindo à medicações nas doses e horários recomendados, isso é a compreensão
inadequada do tratamento interferindo no controle da doença.
Camargo (2007) apontava que o processo educativo é demorado e depende
do próprio desejo do indivíduo de querer mudar e agir, sendo fundamental a
41
educação contínua, pois, assim, sempre terá acompanhamento dos profissionais de
saúde.
3.2.2 O CONHECIMENTO DOS PACIENTES SOBRE A FISIOTERAPIA
Segundo Rebelatto e Boltomé (1999), para haver suficiente clareza sobre o
que constitui o objeto de trabalho de um campo profissional e o que caracteriza a
ação dos profissionais desse campo em relação a esse objeto, é preciso examinar
com cuidado o próprio conceito que existe em relação a ele e as ações que os
profissionais apresentam em relação a ele. Examinar o próprio conceito do que seja
objeto de trabalho dos fisioterapeutas, explicitar as variáveis que se relacionam com
esse “objeto” e propor uma melhor definição do que seja esse objeto de trabalho são
tarefas fundamentais para avançar na direção do esclarecimento do que constitui e
caracteriza essa profissão.
Considerando que fisioterapia é uma profissão relativamente nova e que seu
acesso ainda é limitado a pequena parte da população, o conhecimento do que seja
sua atuação é restrito, principalmente a pessoas que já necessitaram alguma vez do
tratamento fisioterapêutico para si mesmo ou algum familiar (RIBEIRO, 2002;
REICHERT, 2006).
Nesta categoria é abordado o entendimento que os usuários têm sobre a
fisioterapia:
“[...] a fisioterapia pra mim é tudo, eu só agradeço a Deus e a..., porque
cheguei aqui no colo, em cadeira de rodas e hoje venho com as minhas
pernas [...]” P2
Segundo Viana et al. (2003), o fato de muitos pacientes, apesar de já terem
realizado tratamento fisioterapêutico, não serem capazes de definir a profissão ou
explicitar de forma específica a atuação do profissional pode estar ocorrendo em
conseqüência do distanciamento na relação terapeuta/paciente, em um momento
42
em que se discute na área da saúde que a opinião e a percepção do paciente em
relação a sua doença a ao tratamento são fatores importantes para a qualidade do
mesmo.
“[...] a fisioterapia é uma coisa muita boa, muitas pessoas chegam ruim,
como eu, e depois vemos a melhora, progridem muito [...]” P2
“[...] além de diminuir a dor, ela desenvolve os músculos [...]” P3
“[...] é para as pessoas que não tem os movimentos, alguma alteração no
corpo, ou que sentem muita dor [...]” P5
Podemos observar nas falas acima, que os entrevistados possuem um
conhecimento limitado sobre a fisioterapia, respondendo de forma sucinta a esta
pergunta.
Percebemos ainda que todos os colaboradores possuem uma visão
direcionada a fisioterapia curativa e não a preventiva.
O fisioterapeuta é um profissional habilitado a atuar na promoção de saúde,
tratando, reabilitando e prevenindo, individual ou coletivamente (VIANNA et al.,
2003).
A atuação profissional que se insere o fisioterapeuta preventivo, agindo em
programas de promoção de saúde e proteção específica, tendo como princípio
fundamental o conjunto de conhecimentos científicos relativos aos fatores que
possam causar infortúnios ao ser humano, bem como eliminá-los ou minimizá-los
(DELIBERATO, 2002).
43
3.2.3 A PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA
FISIOTERAPIA PARA O CONTROLE DO DM
A fisioterapia favorece a queima de glicose pelos músculos e a redução de
triglicérides e colesterol, normalizando ou adequando os níveis de glicose no
sangue, que aumenta a ação da insulina e dos hipoglicemiantes orais, reduzindo a
tolerância à glicose e também eleva os encaixes bioquímicos da insulina em
músculos, tecidos gorduroso e diversos órgãos, além de evitar a aterosclerose pelo
aumento do fluxo sanguíneo, principalmente dos membros inferiores, reduzindo o
risco de problemas cardiovasculares (DELIBERATO, 2002; RIBEIRO, OLIVEIRA,
MELLO, 2007).
A Fisioterapia atua com pacientes diabéticos na busca da manutenção e da
reabilitação das condições motoras, prevenindo e tratando todos os componentes do
movimento humano necessário à maior funcionalidade do indivíduo. Em vista disso,
a fisioterapia tem a finalidade de avaliar e intervir, preocupando-se com os diferentes
sistemas e subsistemas do organismo tegumentar, sensitivo, de coordenação, do
equilíbrio postural, que podem sofrer devido ao complexo comprometimento
decorrentes do diabetes, que modifica o metabolismo do indivíduo (LEMOS e
CHEQUI, 2008).
Quando questionados sobre como percebem a importância da fisioterapia no
diabetes, alguns pacientes relataram que notam os benefícios que a fisioterapia lhes
proporcionou no Diabetes Mellitus e sentem-se realizados e felizes:
“[...] a fisioterapia ajuda, diminui a diabetes e a pressão alta também, eu
faço exercícios, caminho, consegui baixa a diabetes por causa da fisio
e porque eu me cuido também [...]” P1
“[...] eu acho que ajuda, se ficar parada a tendência é piorar, por isso tem
que se movimentar bastante, eu faço com muita vontade e dedicação
[...]” P2
44
A execução de um programa regular de exercícios, associada à
administração medicamentosa e uma dieta balanceada, mostra-se como um
complemento benéfico ao tratamento de vários tipos de diabetes. Os benefícios
trazidos pela fisioterapia ao paciente que se apresenta com diabetes têm-se
demonstrado benéfica, tanto no combate aos sintomas como na sua prevenção
(BASILE et al., 2008).
Um programa de exercícios bem direcionado, acompanhado de
avaliações médicas periódicas, auxiliam na manutenção da compensação do
paciente, enquanto diminui drasticamente os riscos inerentes do diabetes (BASILE
et al., 2008).
Em contrapartida, outros pacientes relataram que não vêem a relação da
fisioterapia e o controle da DM, nota-se que para eles a fisioterapia estabelece
relação com a mecânica corporal, que compreenderia a função do sistema
musculoesquelético:
“[...] não notei muita diferença na fisioterapia, faço pra dor no joelho, é mais
com aparelhos [...]” P3
“[...] olha, não sei, nunca ouvi falar que ajuda na diabetes, sei que é bom
pra coluna, não sei se esta ajudando, não estou com condições psicológicas
pra cuidar muito da alimentação também [...]” P4
“[...] acho que não tem muito haver, a diabetes tá no organismo, tem que
cuidar da alimentação, tomar os remédios, a fisioterapia é pra dor [...]” P5
Antunes (2008), afirma que é importante conduzir o diabético à
conscientizar-se da importância da fisioterapia: manter uma vida ativa para promover
a saúde; reconhecer e saber avaliar os efeitos das diferentes formas de atividades
físicas sobre a glicemia sangüínea de acordo com variáveis como horário, tipo de
exercício, volume, intensidade; saber realizar os ajustes alimentares e/ou
45
medicamentosos para manutenção da homeostasia metabólica durante e após as
práticas físicas.
Outra participante ressaltou a importância da hidroterapia como coadjuvante
no controle da Diabetes Mellitus:
“[...] não notei muita diferença na fisioterapia, melhorei quando comecei a
fazer hidroterapia, na hidro eu relaxo, faço exercícios, alongamentos, me
ajuda bastante [...]” P3
Com um trabalho desenvolvido junto ao Departamento de Fisioterapia da
Universidade de Potiguar (R.N.) o pesquisador detectou, entre pacientes diabéticos
submetidos a hidroterapia, a melhora do controle glicêmico do perfil lipídico, bem
como sensação de bem-estar psicológico (FERNANDES, 2001).
Estudos realizados nos EUA mostram que os pacientes com diabetes do tipo
2, submetidos à hidroterapia 30 minutos por dia, seis dias por semana, tiveram o
nível de açúcar no sangue reduzidos em até 13%, podendo baixar a dose de insulina
em 18%, em média, apenas três semanas após o início das pesquisas (LEMOS e
CHEQUI, 2008).
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme Sandoval, Neves e Fachinello (2007), o DM é um distúrbio
metabólico crônico degenerativo de múltiplas etiologias associadas à falta ou
deficiência da ação do hormônio insulina, produzido pelo pâncreas a qual realiza o
transporte de glicose até as células, em que é usada como fonte de energia. Quando
a insulina se torna insuficiente para a realização desse processo, há uma elevação
dos níveis de glicose no sangue. O paciente pode viver muito bem ao seguir um
tratamento adequado com cuidados apropriados, pois, assim, manterá os valores
glicêmicos em níveis próximos ao normal, evitando o surgimento de complicações
em decorrência do mau funcionamento orgânico.
O fisioterapeuta possui conhecimento para avaliar funcionalmente os
indivíduos diabéticos, intervir e atuar de forma preventiva às úlceras, amputações,
alterações posturais, encurtamentos musculares e alterações de funcionalidade que
podem ocorrer. É importante não permitir que o diabético se torne inativo, pois as
atividades ajudam a enfrentar as dificuldades e limitações decorrentes e
características da doença (LEMOS e CHEQUI, 2008).
Com a análise das entrevistas foi possível identificar que a maioria dos
entrevistados possui um conhecimento limitado sobre o que é Diabetes Mellitus,
seus sinais, sintomas, complicações e tratamento. Apresentam também pouca
informação sobre a fisioterapia e como esta atua no controle da Diabetes Mellitus
tipo 2.
47
Os pacientes deveriam receber e buscar maiores informações dos
profissionais da área da saúde sobre a sua patologia, podendo assim ter um controle
adequado da glicemia e/ou de suas complicações, apresentando uma melhor
qualidade de vida.
Neste estudo, pode-se observar que a maioria dos pacientes não
compreende a necessidade da fisioterapia, por isso, é de grande importância
fornecer maiores informações sobre a intervenção fisioterapêutica no DM2 para que
os portadores desta procurem um profissional da área.
Com base nos nossos achados, percebemos que a formação profissional do
fisioterapeuta parece estar mais associada a reabilitação do que a prevenção, e
considerando que o DM é uma patologia em que o cuidado e a prevenção de
patologias associadas parece ser fundamental para a qualidade de vida dos
indivíduos, sugere-se rever a formação destes profissionais, no sentido de melhor
orientar e auxiliar os pacientes portadores de doenças crônicas.
Sabe-se que existem poucos estudos que relacionam a intervenção
fisioterapêutica no controle do Diabetes Mellitus tipo 2 e suas possíveis
complicações. Deve-se ampliar esta área através de estudos e especializações
sobre o referido tema, visando um atendimento mais completo e benéfico ao
paciente e assim melhorando a qualidade de vida do portador de DM.
48
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