Moscas_e_miíases

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Bernes Dr. Carmello Liberato Thadei São tanto os bernes quanto as miíases, causadas por larvas de algumas espécies de moscas, que pelo fato de serem carnívoras necessitam penetrar na pele de algum animal, para se nutrirem da sua carne, e assim cumprirem seu ciclo biológico, transformando-se em seguida em insetos adultos. Diferenciam-se os bernes das miíases cutâneas, além do fato de serem as larvas de espécies de moscas diferentes, pela particularidade biológica dos bernes serem encontrados sempre isolados - uma única larva em determinado lugar - nunca mais de uma larva num mesmo loco, a não ser quando pelas suas proximidades, poderem vir a se unirem os locais de ambos pelo desenvolvimento posterior das larvas; Já nas miíases cutâneas,além das larvas serem menores que as das larvas de moscas do berne, são encontradas larvas em número em geral grande, que chega até algumas centenas,todas em comum no mesmo local da penetração, formando verdadeiras crateras na superfície do corpo de suas vítimas. São várias as famílias à que pertencem tais moscas, porém sob o ponto de vista clínico-parasitológico, são as mesmas agrupadas em dois grandes grupos: l - Larvas que se nutrem de tecido vivo - Larvas biontófagas; 2 - Larvas que se nutrem de tecido morto - Larvas necrobiontófagas. B E R N E S Como ressaltado anteriormente, são encontradas as larvas de moscas que constituem a doença com o nome de BERNE, sempre isoladas, em lócus individuais, porisso denominadas também de furunculosas, e pertencentes às seguintes espécies de insetos: Dermatobia hominis - Constitue-se a espécie tipo, que recebe no Brasil o nome de berne, e na região Amazônica o nome de Ura. Mede o inseto quando adulto, de 14 até 17 mm e chama a atenção o colorido metálico

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Bernes

Dr. Carmello Liberato Thadei

São tanto os bernes quanto as miíases, causadas por larvas de algumas espécies de moscas, que pelo fato de serem carnívoras necessitam penetrar na pele de algum animal, para se nutrirem da sua carne, e assim cumprirem seu ciclo biológico, transformando-se em seguida em insetos adultos.

Diferenciam-se os bernes das miíases cutâneas, além do fato de serem as larvas de espécies de moscas diferentes, pela particularidade biológica dos bernes serem encontrados sempre isolados - uma única larva em determinado lugar - nunca mais de uma larva num mesmo loco, a não ser quando pelas suas proximidades, poderem vir a se unirem os locais de ambos pelo desenvolvimento posterior das larvas; Já nas miíases cutâneas,além das larvas serem menores que as das larvas de moscas do berne, são encontradas larvas em número em geral grande, que chega até algumas centenas,todas em comum no mesmo local da penetração, formando verdadeiras crateras na superfície do corpo de suas vítimas.

São várias as famílias à que pertencem tais moscas, porém sob o ponto de vista clínico-parasitológico, são as mesmas agrupadas em dois grandes grupos:

l - Larvas que se nutrem de tecido vivo - Larvas biontófagas;2 - Larvas que se nutrem de tecido morto - Larvas necrobiontófagas.

B E R N E S

Como ressaltado anteriormente, são encontradas as larvas de moscas que constituem a doença com o nome de BERNE, sempre isoladas, em lócus individuais, porisso denominadas também de furunculosas, e pertencentes às seguintes espécies de insetos:  

Dermatobia hominis - Constitue-se a espécie tipo, que recebe no Brasil o nome de berne, e na região Amazônica o nome de Ura. Mede o inseto quando adulto, de 14 até 17 mm e chama a atenção o colorido metálico de cor azulada da sua região abdominal; O tórax castanho escuro com tonalidade azulada manchada de negro, apresentando as bochechas de cor amarelo escura e brilhante. No ano de 1911, Rafael Morales, estudante de medicina na Guatemala, descobriu por observação, que o ovo dessa mosca era transportado por outros mosquitos para os locais em que em seguida sendo depositado, vinham a reproduzir a doença.

Como todo inseto, seu ciclo evolutivo passa por fases: Os insetos adultos alados, acasalando-se entre si dão origem a ovos que são postos pelas fêmeas, e destes em seguida nascem larvas , que no caso por serem carnívoras necessitam se alimentar de tecido vivo de outros animais, vindo então a parasitarem suas vítimas, constituindo-se essa fase propriamente o que é chamado de berne. Completado seu desenvolvimento no local em que se instalaram, essas larvas abandonam o local para continuarem seu desenvolvimento, transformando-se então em

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pupa, para darem em seguida origem ao nascimento de novos insetos adultos. Vinte e quatro horas após a mosca ter abandonado o invólucro pupal, efetua-se a primeira cópula, iniciando-se a postura no sétimo dia; Os ovos são depositados diretamente sobre a parte lateral do abdome de outros dípteros (insetos com duas asas), como moscas silvestres e mesmo a mosca doméstica (Musca doméstica). Daí o fato da Dermatobia procurar animais visitados assiduamente pelas moscas silvestres e por culicíneos (família a que pertencem os pernilongos).

Segundo Neiva e Gomes, a Dermatobia fica a espreita de outras moscas e mosquitos e procura agarra-los com as patas anteriores, mesmo sendo eles de pequenas dimensões. Conseguindo apanhar um inseto, cavalga-o rapidamente, e presa à ele,alça o vôo durante o qual deposita seus ovos que ficam solidamente aderentes, graças à uma substância especial que os reveste.

A Dermatobia põe em geral somente 15 a 20 ovos pôr vez, e pôr inseto que apreende, porém pode chegar sua postura até a 400 ovos. Estes outros insetos, e não a própria Dermatóbia são os veículos pelos quais a mesma se serve para levar seus ovos, e com eles, as larvas que vão em seguida, tendo contato com outros animais, e mesmo o homem, penetrar na sua pele, constituindo o que é denominado BÉRNE. No local em que se alojam referidas larvas após a penetração na pele, à custa da própria carne de suas vítimas vão se desenvolvendo, pois é o tecido vivo seu alimento; Ao cabo de 40 dias completado seu desenvolvimento, o que em alguns casos pode chegar a 70 dias, deixam o local em que estavam alojadas, e caindo no solo, transformam-se em pupas, a qual ao cabo de alguns dias dão nascimento ao inseto adulto, para novamente repetirem um novo e idêntico ciclo.

  A larva desta mosca é facilmente identificável peso seu tamanho, por ser das maiores que se conhece, em torno de até 10 mm (veja figura a cima) e outras características só visíveis ao exame com lupa ou microscópio entomológico.

Outras espécies de insetos parecidos com a Dermatobia, como as abaixo nomeadas, determinam

doenças agora no aparelho digestivo de animais, com ciclo próprio de desenvolvimento:

Gastrophilus veterinus e G. intestinalis - Ambos, em suas fases de larvas, têm localização no aparelho digestino de animais da espécie bovina.

Gasterophilus haemorrhoidalis e G. nasalis - Os hospedeiros habituais são cavalos e outros equídeos. Quando adultos não se alimentam e porisso têm vida curta; As fêmeas põem os ovos nos pêlos dos animais e destes, as larvas que eclodem vão ter à boca, vivendo em túneis cavados no tecido sub-epitelial da mucosa bucal e da língua.Seu desenvolvimento larval completa-se no estômago ou nos intestinos, onde penetram na mucosa desses órgãos, provocando escaras que algumas vezes podem inclusive provocar perfurações com complicações graves pela associação com germes patogênicos contidos no interior do aparelho digestivo. Ambas podem provocar no homem,ainda que raramente, miíase do tipo larva migrans (Dermatose linear serpiginosa).

Hypoderma bovis - H.lineatum - As larvas desses insetos muito se assemelham às da Dermatobia, com a diferença de serem parasitas habituais de animais, principalmente bovinos. Causam prejuízos consideráveis ao couro dos animais explorados na produção de carne, pelo

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fato de seus couros ficarem danificados quando não imprestáveis ao aproveitamento na indústria do couro.

Oestrus ovis - Estes insetos têm a particularidade de serem parasitas habituais de animais das espécies ovina e caprina, e com localização nasal em sua fase de larva. Já assinalado como hóspede do homem, porém sem haver chegado a sua fase adulta. Em ovelhas, têm localização sempre nasal, ou nos seios frontais e maxilares, causando forte irritação e excitação em seus hospedeiros, com sintomatologia que pode ser confundida com outras doenças.

Numa próxima oportunidade tratarei das chamadas MIÍASES CUTÂNEAS, vulgarmente chamadas de BICHEIRAS, causadas por larvas de algumas espécies de insetos, que como ressaltei no início tem características próprias, diferentes dos Bernes.

Miíases ou Bicheiras

Dr. Carmello Liberato Thadei

Recebem o nome acima as doenças causadas pela invasão do tecido cutâneo por larvas de insetos dípteros, e em particular pelos chamados dípteros miodários; Conforme a biologia desses insetos, as respectivas afeções que causam são de duas categorias:

1 - BIONTÓFAGAS - Larvas que invadem os tecidos sãos, não necrosados, inclusive a pele íntegra São essas larvas chamadas de biontófagas, pois se desenvolvem a custa do tecido vivo, e por conseguinte, podendo comprometer o estado geral do homem ou do animal por elas parasitado. São essas larvas parasitas obrigatórias. Neste grupo estão agrupadas as seguintes espécies de insetos: Callitroga americana, Dermatobia hominis e Oestrus ovis.

2 - NECROBIONTÓFAGAS - Larvas que invadem exclusivamente tecidos já afetados por necrose de outras causas .Estas nutrem-se exclusivamente de tecido morto e porisso classificadas como necrobiontófagas; Algumas delas não são prejudiciais, pois limpam as feridas do material necrosado; Neste grupo estão as moscas do gênero Lucilia, que já foram inclusive utilizadas como meio terapêutico nos primórdios da medicina.

Raríssimamente iniciam uma miíase, e com certa freqüência são encontradas como saprófagas de feridas ou cavidades infestadas por outras espécies do grupo anterior. As principais larvas deste grupo pertencem aos seguintes gêneros de moscas: Sarcophaga, Lucilia, Phaenicia, Calliphora, Musca, Mucina e Fannia.

Sob o ponto de vista médico, no Brasil, as miíases podem ser:

1 - Cutâneas - Miíases Furunculosas, produzidas pela Dermatobia homininis e pela Callitroga americana; Lesões parecidas à de furúnculos, daí o nome acima: Furunculosa.

2 - Cavitárias - a) Miíases das feridas - Callitroga macellaria;b) Nasomiíases - Miíases na região do nariz;c) Otomiíases - Localização na região dos ouvidos:d) Oculomiíases - Localizadas na região orbital;e) Cistomiíases - De localização na bexiga; f) Miíases intestinais - Quando sua localização é nos intestinos.

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As miíases causadas por larvas de moscas necrobiontófagas (que se desenvolvem unicamente em carne pútrida ou em tecidos orgânicos fermentáveis) tornam-se pseudoparasitas de lesões ou tecidos doentes; Determina o que se denomina miíases secundárias, por ser necessária a presença de material necrosado da ferida ou cavidade, para seu desenvolvimento.

Nas ulcerações, os danos em geral carecem de importância, pois as larvas se limitam a devovar os tecidos necrosados (mortos), não invadindo as partes sadias, e por conseguinte não ocasionando hemorragias. Estas foram já em passado recente utilizadas na "limpeza" de feridas, porque alimentando-se do tecido necrosado que existe em toda ferida, aceleravam e facilitavam o processo de cicatrização.

Cabe ser observado que nas regiões onde ocorre a Leishmaniose cutânea, como na região amazônica, principalmente no Território Indígena dos Ianomâmis, são observados com muita freqüência as naso-miíases, que nada mais são que miíases secundárias de larvas de moscas necrobiontófagas, que se instalam na região do nariz, nas lesões causadas primariamente pela Leishmania tegumentar.

As Miíases intestinais são sem sombra de dúvida, causadas pela ingestão de ovos ou larvas, por meio de bebidas ou alimentos por esses ovos ou vermes contaminados, e suas conseqüências carecem em geral de gravidade, produzindo algumas vezes apenas náuseas, vômitos e diarréia. Não obstante, a intensidade desses sintomas dependem da sensibilidade do próprio enfermo, e do número de larvas ingeridas. Segundo alguns autores, as larvas de moscas são resistentes à ação de certas substâncias, inclusive à ação dos sucos digestivos, podendo viver durante algum tempo no tubo digestivo.

Para o tratamento das bicheiras, quando as mesmas são superficiais (cutâneas), basta aplicação local de qualquer substância que seja ativa contra os insetos em geral, e concomitantemente não seja tóxica ao hospedeiro, para que as larvas ou morram ou simplesmente sejam expulsas do local onde se encontram, e a cicatrização subseqüente do ferimento leve a bom termo a cura da enfermidade.

Quando se dá o caso de serem as bicheiras cavitárias, como é o caso das gasterofiloses eqüinas, seu diagnóstico pelas técnicas coprológicas usuais não é possível, a não ser quando encontradas larvas íntegras no bolo fecal desses hospedeiros, o que pode ocorrer porém de forma fortuita, e portanto o simples exame de fezes com resultado negativo não descarta sua ocorrência. A presença de ovos íntegros ou as larvas desses ovos já eclodidas, aderentes aos pêlos dos membros anteriores e nos espaços intermandibulares, é indicativo do parasitismo pelos gasterophilus.

Durante muito tempo, os únicos tratamentos conhecidos para o combate à gasterofilose eqüina, foi com a utilização de bissulfeto de carbono administrado oralmente e contido em cápsulas de gelatina.Devido sua toxidez, caso administrado sem a devida técnica, muitas vezes causava a morte do animal hospedeiro quando do seu tratamento com essa substância farmacêutica.

Com a descoberta das substâncias organo-fosforadas, os produtos sintéticos triclorfon e diclorvos, mostraram-se eficazes contra todos os estágios da fase larval desses insetos. O primeiro deles tem sido o produto mais utilizado em nosso meio, isola-damente ou em associação, sob a forma de pasta, com benzimidazoles. Sen-do pequena a margem de segurança, no que diz respeito a dose desses produ-tos, que tem sua dose terapêutica fixada em 35/40 mg por quilo de peso vivo do animal, deve tal dose ser fixada e criteriosamente observada quando do tratamento, sob pena de resultados desastrosos, inclusive com possível morte do animal.

Em fins dos anos 70, foram desenvolvidos novos fármacos, obtidos da fermentação de um fungo: (Streptomyces avermitilis), isolado do solo, no Japão. Uma dessas avermectinas, denominada de B1, apresentou ação anti-parasitária contra todas as fases larvárias desses Gasterophilus, tanto nos ecto quanto endoparasitas.

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Recentemente, o anti-helmíntico salicilanilídico closantel, utilizado geralmente associado aos benimidazoles, sob a forma de pasta, mos-trou-se também eficaz como gasterofilicida, inclusive impedindo reinfestações dos eqüinos até cerca de dois meses após o tratamento.

As miíases ocorrendo em praticamente todo território brasileiro devido nossas condições climáticas predominantemente tropicais e equatoriais que muito favorecem o desenvolvimento dos insetos em geral, possibilitam sua multiplicação em ritmo acelerado, e com isso concomitante aparecimentos de bicheiras em nossos rebanhos, quer bovinos, suínos, eqüinos, ovinos ou caprinos.

As perdas decorrentes dessas miasses se traduzem principalmente por menor rendimento dos rebanhos explorados, quer na produção de leite, quer na produção de carne e seus subprodutos como o couro, este último muito depreciado pela bicheira.

Carbúnculo Hemático

Lúcia Helena Salvetti De CiccoEditora Chefe

O carbúnculo é uma doença contagiosa que ataca todos os médios e grandes animais, inclusive o homem e, geralmente é mortal. Entretanto os eqüideos são menos atingidos que os ruminantes. É produzida pelo Bacillus anthracis e, este micróbio encontra-se, principalmente, onde já ocorreu a doença, pois seus esporos permanecem no solo por vários anos. Geralmente estes esporos provêm de animais carbunculosos enterrados no campo, sem o devido cuidado e trazidos à superfície pelas minhocas. As fezes e sangue dos animais que estiverem na pastagem são infectados.

É uma doença comum de animais mantidos em regime de pasto, porém, pode surgir em estábulos por feno contaminado adquirido em áreas onde ela ocorre.

O carbúnculo pode aparecer em qualquer lugar, porém, em certas regiões existem focos onde ele se manigesta com freqüencia. Em terrenos pantanosos e em áreas com muita matéria orgânica em decomposição, os esporos podem viver por tempo prolongado, durante anos. Os bacilos, porém, são pouco resistentes ao calor e à dessecação. Infelizmente o esporo é o elemento responsável pela maioria das infecções.

SINTOMAS - Nos eqüideos, a enfermidade em geral apresenta forma relativamente benigna, com os seguintes sintomas: cólicas fortes; edema do peito, pescoço e da região faringeana. Também podem ocorrer: depressão, febre alta, dispnéia, edemas subcultâneos no tórax e no pescoço, cólicas, faringite, hemorragia nasal e manqueira. A morte, quando ocorre, as vezes é tão rápida que não se percebem os sintomas nos animais a campo. Nos casos fulminantes, a morte pode ocorrer em 24 e 48 horas e, nesses casos, observam-se os edemas (tumefações), diarréia sangüinolentas, cor de chocolate, e os animais se deitam com convulsões e dificuldade respiratória. Os cadáveres incham rapidamente e então observam hemorragias pelas aberturas naturais. O sangue é escuro e de difícil coagulação. Só estes sinais identificam a doença.

Os animais são contaminados através dos intestinos; água; escoriações; picaduras de insetos infectados e inalação do agente infeccioso. Os urubus podem transportar a doença a grandes distâncias. O homem pode ser infectado durante uma necropsia ou manipulação de couros, chifres, lá e cadáveres de animais vitimados pela infermidade.

A necrópsia é perigoso, sendo preferível, em caso de se pretender um diagnóstico de laboratório, enviar um esfregaço de sangue ou um osso de canela, muito bem protegido. O cadáver deve ser incinerado ou enterrado no mesmo local, aplicando na sepultura uma boa quantidade de cal.

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PROFILAXIA - Emprego da vacinação. No entanto, a escolha do produto deve ser feita por um médico veterinário, pois depende da região e situação que se apresenta. Em toda propriedade onde tenha ocorrido casos de carbúnculo, ou mesmo na vizinhança, os animais devem ser vacinados no mês de agosto, pois geralmente o carbúnculo aparece em outubro. A imunização requer 20 a 30 dias.

Também são recomendadas as seguintes medidas:

1. notificação de qualquer caso às autoridades sanitárias mais próximas; 2. cremação perfeita do cadáver no próprio lugar da morte; 3. isolamento dos pastos contaminados; 4. desinfecção energética ou queima dos objetos e utensílios contaminados; 5. tratamento dos animais doentes com doses adequadas de soro anticarbunculoso; 6. vacinação sistemática de todos os animais sãos na região exposta à doença; 7. drenagem e saneamento das áreas pantanosas.

TRATAMENTO - quando há tempo, o soro anticarbunculosos produz bons resultados. No caso de suspeita chamar o médico veterinário o mais urgente possível.

O LIMIAR DAS ZOONOSES

Quando Louis Pasteur desenvolveu importantes experimentos, em 1882, conquistando inúmeros adeptos, dentre os quais ilustres veterinários da época, o eminente cientista enveredava, em realidade, por um campo que haveria de ganhar foros de notoriedade, e que hoje é conhecido como o das zoonoses. Daqueles estudos, os médicos veterinários extraíram a base para produção de vacinas e soros, que permitiram o controle mais ou menos rápido de uma das mais graves doenças infecto-contagiosas, a Raiva.

A Organização Mundial de Saúde conceitua hoje como zoonoses, as enfermidades transmissíveis dos animais vertebrados ao homem, e as que são comuns ao homem e aos animais. No primeiro grupo, os animais desempenham uma função essencial para que a infecção se mantenha em a natureza, e o homem é apenas um hospedeiro acidental; no segundo grupo, tanto os animais como o homem contrai a infecção das mesmas fontes, tais como o solo, a água, os animais invertebrados e as plantas; os animais, via de regra, não desempenham papel essencial no ciclo vital do agente etiológico, podendo contribuir, contudo, em grau variável, para a distribuição e transmissão das infecções.

A adaptação dos animais às áreas urbanas está associada a simbioses, parasitismos e outros fenômenos ecológicos vinculados à presença do homem; nas grandes cidades, atualmente, o homem e os animais compartilham o mesmo ambiente e os mesmos perigos. As populações que se transferem às cidades levam consigo os seus animais domésticos e, nessas regiões, especialmente em suas periferias, os serviços de coleta e destino de lixo são precários; há carência de água potável, aterros sanitários e drenagens das águas, que dificultam a ocupação do solo pelo homem, além de favorecerem a proliferação de insetos e roedores.

Outros fatores que têm contribuído para a expansão das zoonoses são a penetração do homem em novas áreas geográficas e zonas ecológicas, para colonização ou desmatamento e a disseminação de novas espécies de animais entre as populações humanas. As mutações genéticas podem, igualmente, causar o aparecimento de novas zoonoses; um parasita contaminando o animal pode sofrer mudança genética e se adaptar ao homem. Além do agente infeccioso, dos hospedeiros e do meio ambiente, os fatores sociais, políticos e econômicos, são responsáveis pelo aparecimento ou recrudescimento das zoonoses na comunidade; a má qualidade de vida de uma grande parte da população favorece o desenvolvimento das enfermidades.

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Outro aspecto a analisar, refere-se aos danos provocados pelas zoonoses à economia, principalmente em países subdesenvolvidos, onde a incidência é mais significativa, podendo causar a incapacitação física ou mental de grande número de indivíduos na faixa etária mais produtiva.

A luta contra as zoonoses no Brasil está no começo; as informações disponíveis não mostram a verdadeira situação existente, pois os dados sobre ocorrência, incidência e prevalência da maioria das zoonoses, são raros ou inexistentes. Apesar das zoonoses mais conhecidas serem trabalhadas com certa intensidade, muitas outras não menos importantes para a Saúde Pública, não são notificadas, nem têm programas de controle, para que possam ser avaliadas dentre as 150 zoonoses descritas na América Latina e Caribe, pela Organização Pan-americana de Saúde. Esta foi, está sendo e sempre será, uma triste realidade decorrente de administrações tecnocratas, insípidas e inescrupulosas, que perpetuam seus interesses, no comando da Saúde Pública dos sofridos rincões do nosso enfermo Terceiro Mundo.

O feedback ao valoroso trabalho de Pasteur, em sendo extremamente negativo, continua, acentuadamente, a inibir o entusiasmo heróico de poucos remanescentes do sanitarismo voltado para o interesse social coletivo.

Este é o nosso quadro! Resta-nos avaliar e refletir sobre a nossa parcela de responsabilidade, como médicos veterinários.

Dr José Brites Neto - Médico VeterinárioCRMV-SP nº 11996

Combate às Moscas

As moscas são uma praga encontrada em todo o mundo, temporária ou permanente, conforme o clima.

Diversas espécies de moscas apresentam grande interesse higiênico porque funcionam como vetores de microorganismos patogênicos para o homem e os animais, como nos seguintes casos:

Raiva; Carbúnculo hemático e sintomático; Febre tifóide; Afecções piogênicas; Tuberculose; Brucelose; Aftosa; Afecções piogênicas; Escarlatina; Tracoma; Poliomielite; Desinterias bacilares parasitárias; tripanossomíases e helmintíases e, etc.

O papel de vetor é desempenhado das seguintes maneiras: por transporte mecânico, pelas patas, por inoculação, pelas dejeções, por regurgitação ou como intermediário na evolução de certos nematóides, como aconteceu na habronemose equina e também como vetores de metazoários, como ocorre com a Dermatobia cyaniventris, que utiliza as moscas domésticas para o transporte de seus ovos, e cujas larvas provocam miíases cutâneas no homem e nos animais. Ainda mais, diversas moscas que freqüentam os lugares habitados pelo homem ou animal doméstico, produzem em estado larvário, uma série de lesões conhecidas com o nome de miíases ou bicheiras. O combate às moscas no meio rural deve ser feito por todos os meios possíveis, veja a seguir como combatê-las:

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Contra as moscas adultas:

1. Proteger os locais de elaboração de produtos alimentares e as residências com portas e janelas teladas; 2. Usar uma iluminação adequada, pois os recintos intensamente iluminados atraem as moscas; 3. Utilizar armadilhas matamoscas de todos os tipos em certos locais;4. Distribuir armadilhas com iscas para atrair moscas;5. Empregar inseticidas químicos eficientes e muito conhecidos no mercado.

Contra as larvas: 1. Remover diariamente o esterco e o lixo dos estábulos e das residências, depositando-os em locais ou recipientes fechados; 2. Colocar as criações de suínos e galinheiros, distantes pelo menos uns 300 metros das residências e das fábricas de queijo ou manteiga. 3. O escoamento das águas servidas deve ser coberto e será evitada a formação de poças ou acúmulo de água em vasilhas abandonadas; 4. Higienizar com desinfecções completas, caiações, etc., pisos e paredes dos locais ocupados por animais, periodicamente; 5. As instalações sanitárias deverão ser higienizadas com desinfetantes.

Zoonoses

As Zoonoses são infecções e doenças que podem ser adquiridas em contato com animais de estimação como cachorro, gato e passarinho, ou ainda, pela ingestão de carne contaminada de animais como o gado ou o porco. Outras doenças podem ser contraídas através do contato não desejado com ratos, moscas e baratas, principalmente através da ingestão de água ou alimentos contaminados.

Larva migrans cutânea (bicho geográfico): A larva migrans cutânea é encontrada por toda parte onde se encontrem cães e/ou gatos infectados com ancilostomídeos, sobretudo A. braziliense e A. ceylanicum. O problema é mais frequente em praias e em terrenos arenosos, onde esses animais poluem e meio com suas fezes. Em muitos lugares, são os gatos as principais fontes de infecção. O hábito de enterrar os excrementos, tão característico desses animais, e a preferência por fazê-lo em lugares com areia, favorecem a eclosão dos ovos e o desenvolvimento das larvas. As crianças contaminam-se ao brincar em depósitos de areia para

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construção, ou nos tanques de areia dos locais destinados à sua recreação. Todos os animais domésticos devem ser tratados sistematicamente e com regularidade para prevenir-se as reinfeções.

Dipilidiose: a infestação por cestódios é extremamente comum em cães e, em menor extensão, em gatos. Os seres humanos podem tornar-se infestados com a forma adulta do cestódio (vermes chatos na sua forma) dipylidium caninum, em seguida à ingestão do hospedeiro intermediário, a pulga. Normalmente a infestação nos seres humanos exibe sintomas clínicos, ocorrendo com maior freqüência em crianças jovens.

Dirofilariose: acomete principalmente o cão doméstico, o gato e várias espécies de animais silvestres. Referidos vermes são classificados na Ordem Spirurida, superfamília Filaroidea, família Filariidae. Nesse gênero (Dirofilaria), foram já descritas várias espécies, entre as quais: Dirofilaria immitis (Leidy,1856), e a Dirofilaria repens (Railliet y Henry, 1911). Ambas em sua fase adulta localizam-se no coração, especialmente em sua porção direita, na artéria pulmonar, e raramente outros vasos hemáticos e órgãos. A dirofilariose humana é raramente reconhecida, sendo causada por êmbolos de larvas mortas do parasita nos pulmões. os êmbolos larvais são revelados radiograficamente como nódulos e, embora a moléstia seja freqüentemente assintomática, requer biópsia cirúrgica e avaliação histológica, para a confirmação do diagnóstico e eliminação de condições mais sérias.

Toxoplasmose: a infecção com o parasita protozoário toxoplasma gondii ocorre numa série de animais de sangue quente, mas a família dos felídeos parece ser o único hospedeiro definitivo (único hospedeiro onde ocorre o ciclo sexual do parasita). os gatos se tornam infectados após a ingestão de animais caçados, ou de carne crua contendo os trofozoítos. Após a infecção, os gatos excretam oocistos em suas fezes durante uma ou duas semanas. os oocistos se tornam infectantes em dois ou três dias, e podem sobreviver no ambiente por diversos meses. a infecção humana ocorre com a ingestão de trofozoítos na carne crua ou mal cozida, Ingestão de oocistos provenientes das fezes de gato, e pela via transplacentária. A infecção raramente produz moléstia clínica em seres humanos adultos, a menos que estejam imunocomprometidos. A infecção congênita do feto humano através da transmissão placentária representa a maior ameaça aos seres humanos. a infecção congênita pode levar a uma grave moléstia por ocasião do nascimento, e as afecções oculares, mais tarde, durante a vida do indivíduo. alguns cuidados durante a gravidez: ao manusear carnes cruas, verduras ou fezes de animais, convém uso de luvas.

Leptospirose: A lepstospirose e enfermidade endemica, bastante comum em épocas de chuvas. É uma doença causada por bactéria, a LEPTOSPIRA ssp, afetando a maior parte dos animais inclusive o homem. É transmitida através da urina, água e alimentos contaminados pelo microorganismo, pela penetração da pele lesada, e pela ingestão. O cão e outros animais como por exemplo rato, bovino e animais silvestres também podem contrair a doença e transmiti-la.

Campilobacteriose e salmonelose: Cães e gatos podem abrigar campylobacter jejuni e uma série de espécies não-tifóides de salmonella. Infecções com estas bactérias em cães e gatos nem sempre cusam moléstias clínica, e têm sido isoladas das fezes de animais sadios. A maior parte dos casos de enteropatia (problema intestinais) humana causada por estas bactérias não está associada à exposição a animais de companhia. os profissionais devem aconselhar os donos de animais que todas as fezes, e em especial as associadas com diarréia, devem ser manipuladas com cuidado, e eliminadas de modo a impedir a potencial exposição humana.

Dermatomicose: a transmissão direta de microsporum canis de cães e gatos de fato ocorre. até 30% dos casos de "tinha" humana em áreas urbanas foram associados a contato direto com animais. os proprietários dos animais devem ser aconselhados a lavar bem as suas mãos, após a manipulação de cão ou gato infectado, e a não permitir que seus filhos brinquem com os animais, até que o tratamento tenha resolvido a moléstia.

Esporotricose: esporotricose é uma moléstia fúngica cutânea ou linfocutânea crônica causada por sporothrix schenckii, cães, gatos, e seres humanos são suceptíveis à moléstia, que

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geralmente está associada a feridas traumáticas, penetrantes. relatos recentes indicam que os cães infectados podem transmitir diretamente a infecção para os seres humanos. Devido a estes achados, gatos com esporotricose devem ser manipulados com luvas, até à resolução do processo.

Raiva: A raiva é uma doença provocada por vírus, caracterizada por sintomatologia nervosa que acomete animais e seres humanos. Transmitida por cão, gato, rato, bovino, eqüino, suíno, macaco, morcego e animais silvestres, através da mordedura ou lambedura da mucosa ou pele lesionada por animais raivosos. Os animais silvestres são reservatório primário para a raiva na maior parte do mundo, mas os animais domésticos de estimação são as principais fontes de transmissão para os seres humanos.

Teníase & Cisticercose: Verminoses frequentes em nosso meio causadas pela Tênia, ou "solitária", como é popularmente conhecida, são transmitidas através da ingestão de carne e derivados de porco e/ou de vaca, ou outro alimento contaminado.

Dengue e Febre Amarela: A dengue é uma doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Ele é escuro, com listras brancas, menor que um pernilongo. Tem por hábito picar durante o dia e se desenvolve em água PARADA e LIMPA.

Ao picar uma pessoa, o mosquito inocula sua saliva contaminada com o vírus responsável pelo desenvolvimento da dengue. Na dengue clássica ocorre febre alta com duração de 5 a 7 dias, manchas na pele, dores de cabeça, olhos, articulações e músculos. Na dengue hemorrágica, mais grave e rara que a forma clássica, ocorre febre alta, hemorragia na pele, olhos e órgãos internos. Metade dos casos hemorrágicos evolui para a morte.

A Febre Amarela se origina em regiões de mata, através da picada de mosquitos silvestres. A doença pode ser trazida para as cidades por pessoas que vão para as áreas de mata, a trabalho ou a passeio, e voltam doentes. Na cidade, esta pessoa doente é picada pelo mosquito aedes que transmitirá a doença quando picar uma pessoa sadia.

Os sintomas são febre alta, dor de cabeça, calafrios, prostração, náuseas, vômitos negros, hemorragias e coloração amarelada da pele e mucosas. Metade das pessoas que contraem febre amarela morrem. A prevenção se faz com a vacina contra febre amarela aplicada 10 dias antes de viajar de férias ou a trabalho para áreas de mata fechada.

Doença de Lyme: descoberta nos Estados Unidos há 15 anos, ainda é pouco conhecida no Brasil. Pode se tornar problema de saúde pública em futuro próximo pois já existem casos recentemente confirmados na região da Grande São Paulo.

Baratas: As baratas estão entre os insetos que encontramos a toda hora e que pouco sabemos sobre os riscos que eles acarretam para a nossa saúde. Existem cerca de 3.500 tipos de barata. A mais conhecida e comum no meio urbano é a barata de esgoto, ou francesinha. Transmitem micróbios que causam infecções respiratórias e intestinais. Suas fezes e suas cascas secas podem causar alergias.

Na época das chuvas, elas procuram abrigo em lugares quentes, úmidos e escuros, dentro dos prédios, nos cantos dasparedes das casas, nas frestas de madeira, nos armários, gavetas, fornos, ralos e depósitos. Estão sempre em busca de alimentos em lixos e esgotos. Ao transitar por locais limpos contaminam os alimentos, louças, pratos, talheres e copos.

Deixe sempre o alimento protegido, não guarde comida sem tampa nos armários, principalmente doces e bolachas. Dê preferência aos inseticidas acondicionados em armadilhas que atraem as baratas para dentro delas. Não contaminam o meio ambiente e são eficientes para acabar com elas.

Moscas: O lixo é o principal responsável pelo aparecimento das moscas, devido a grande variedade de resíduos que servem para sua alimentação.

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Depositam bernes e bicheiras nos locais onde posam. Transmitem doenças respiratórias, infecções e alergias. Lave os utensílios de cozinha e da copa antes de usá-los, da mesma forma proteja os alimentos. Lave as frutas antes de comê-las.

Histoplasmose: É provocada por fungos encontrados em fezes secas de passarinhos, pombos e morcegos. A contaminação geralmente ocorre através da inalação ou respiração do ar contaminado com as fezes desse animais, ao fazer limpeza ou ao adentrar locais por eles habitados.A doença é de evolução crônica tanto nas crianças como nos adultos. Se manifesta através de febre, gânglios ou "ínguas" no pescoço, virilha ou debaixo do braço, infecção pulmonar, úlceras na pele, anemia e diminuição do número de células brancas do sangue responsáveis pela defesa contra infecções.

Medidas preventivas:

Ao limpar galinheiros, pombais e outros locais que contenham fezes secas de aves ou morcegos, utilizar máscaras protetoras, ou um pano úmido cobrindo o nariz. Umidecer as fezes antes de removê-las, para evitar a poeira que elas provocam e assim diminuir o risco de contaminação.

Máscara ou pano úmido também devem ser utilizados ao se visitar túneis, cavernas e minas habitadas por morcegos.

Pulgas e ácaros de sarna: a sarna canina e felina, e pulgas têm um grande potencial zoonósico. A dermatose associada a pulgas ou ácaros de sarna em seres humanos é geralmente autolimitante, mas pode voltar se não for curado o animal ou não for feita a higiene adequada do ambiente.

 

Lúcia Helena Salvetti De CiccoDiretora de Conteúdo e Editora chefe

Bibliografia:

Prefeitura Municipal de São PauloSecretaria da Saúde - Centro de Controle de ZoonosesZoonoses, que bicho é esse?, 1995. Ministério da SaúdeFundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia - CENEPIGerência Técnica de Febre Amarela e Dengue, 1995. O Médico da FamíliaNova Cultural, 1994Animais PeçonhentosBruno Soerensen - 1990