Multipla6 - Contém Artigo de DORATIOTO Sobre Brasil e Argentina e Guerra Do Paraguai

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NÚMERO 6 – ANO IV – 1999 EDITORA Mercedes G. Kothe CONSELHO EDITORIAL Arthur Meskell Arlei José Machado de Freitas João Alfredo Leite Miranda José Flávio Sombra Saraiva Alcides Costa Vaz Manoel Moacir C. Macêdo Diretor-Presidente Vicente Nogueira Filho Diretor Administrativo Ruy Montenegro Diretor Financeiro José Rodolpho Montenegro Assenço Diretor de Relações Públicas Ivonel Krebs Montenegro Diretor das Faculdades Integradas José Ronaldo Montalvão Monte Santo

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Revista de história e humanidades

Transcript of Multipla6 - Contém Artigo de DORATIOTO Sobre Brasil e Argentina e Guerra Do Paraguai

  • NMERO 6 ANO IV 1999

    EDITORAMercedes G. Kothe

    CONSELHO EDITORIAL

    Arthur MeskellArlei Jos Machado de Freitas

    Joo Alfredo Leite MirandaJos Flvio Sombra Saraiva

    Alcides Costa VazManoel Moacir C. Macdo

    Diretor-Presidente Vicente Nogueira FilhoDiretor Administrativo Ruy MontenegroDiretor Financeiro Jos Rodolpho Montenegro AssenoDiretor de Relaes Pblicas Ivonel Krebs MontenegroDiretor das Faculdades Integradas Jos Ronaldo Montalvo Monte Santo

  • A Revista Mltipla uma publicao semestral das Faculdades Integradas daUnio Pioneira de Integrao Social UPIS.

    SEP/Sul EQ. 712/912 Conj. ACEP 70.390-125 Braslia DF

    As informaes e opinies expressas nos artigos assinados so de inteiraresponsabilidade dos respectivos autores.

    Revista Mltipla vol. 4 n 6, Julho de 1999.ISSN 1414-6304Braslia, DF, BrasilPublicao semestral

    164 p.

    1- Cincias Sociais Peridico

    Unio Pioneira de Integrao Social UPISCDU301(05)Internet: http://www.upis.br

    Reviso de OriginaisAntonio Carlos Simes

    Capa, Diagramao e Editorao EletrnicaSamuel Tabosa de Castro

    ImpressoLinha Grfica e Editora Ltda.

  • REVISTA MLTIPLA, ANO IV N 6 1999

    SUMRIO

    5 ApresentaoENSAIOS

    9 A sopa quente: breve histrico das teorias sobre a origem da vida e a vidaextraterrestre (1920-1959)Eduardo Dorneles Barcelos

    21 De aliados a rivais: o fracasso da primeira cooperao entre Brasil e Argentina(1865-1876)Francisco Fernando Monteoliva Doratioto

    41 Cotidiano, memria e oralidade: modos de ver uma cidadeFrancisco Jos Lyra Silva

    55 Produo do espao e evoluo urbana na rea central de Uberlndia, MinasGeraisFernando Luiz Arajo Sobrinho e Beatriz Ribeiro Soares

    79 Crnica da Casa Assassinada: uma sobrevivncia de coisas idasMarta Cavalcante de Barros

    OPINIO99 Para onde caminha o Mercosul?

    Janina Onuki

    111 Economia Domstica e as discusses sobre gneroClia Chaves Gurgel do Amaral

    117 A natureza do processo de negociaoJos Luiz Niederauer-Pantoja

    INFORMAO129 Interao dos aquferos fissurais com o Lago Parano

    Luis Cludio Lucas da Silva

    159 Metodologia de planejamento do desenvolvimento sustentvel (resenha)Derival Reis de Almeida e Manoel Moacir Costa Macdo

    162 Normas para colaboradores

  • 4SUMMARY

    5 ForewordESSAYS

    9 A brief history of theories on the origin of life and extraterrestrial life(1920-1959)Eduardo Barcelos Dorneles

    21 From alliance to rivalry: the failure of Brazil-Argentina first cooperation(1865-1876)Francisco Fernando Monteoliva Doratioto

    41 Daily life, memory and oral history: ways for knowing a cityFrancisco Jos Lyra da Silva

    55 Space production and urban evolution in Uberlandia downtown areaFernando Luis Arajo Sobrinho

    79 Chronicle of the murdered house: a survival of gone memoriesMarta Cavalcante de Barros

    OPINION99 What is Mercosurs fate?

    Janina Onuki

    111 Home economics and the debate on genderClia Chaves Gurgel do Amaral

    117 The nature of negotiationJos Luiz Niederauer-Pantoja

    INFORMATION129 The interaction of lower aquifers with the Paranoa Lake

    Luiz Cludio Lucas da Silva

    159 Planning methodology for sustainable development (book review)Derival Reis de Almeida e Manoel Moacir Costa Macdo

    162 Norms for contributors

    REVISTA MLTIPLA, ANO IV N 6 1999

  • 5REVISTA MLTIPLA, ANO IV N 6 1999

    APRESENTAO

    A Revista Mltipla, neste nmero, publica resultados de pesquisas,comunicaes e opinies, enfocando um conjunto diversificado de assuntos, cujaatualidade e relevncia acadmica haver, sem nenhuma dvida, de despertar ointeresse do leitor. Uma vez mais, orgulhamo-nos de contar com a colaborao deprofessores e pesquisadores de renomadas instituies de ensino superior, o queconfirma a ampla aceitao da Revista Mltipla no meio acadmico.

    Os trinta anos da chegada do homem Lua vm reacendendo o debate sobreos benefcios e perspectivas da conquista espacial assim como a origem da vida edo universo. Nesse sentido, torna-se oportuna a leitura do texto em que EduardoBarcelos, Coordenador Executivo da Agncia Espacial Brasileira, aponta para aproduo cientfica relacionada s teorias da origem da vida.

    O processo de integrao no mbito do Mercosul enfocado em doistrabalhos com perspectivas distintas, porm complementares: Francisco FernandoMonteoliva Doratioto analisa o fracasso do primeiro intento de cooperao entreBrasil e Argentina, entre os anos 1865 e 1876, em um enquadramento histricoimportante para a compreenso das dificuldades e crises enfrentadas por ambos ospases em nvel bilateral; Janina Onuki, por sua vez, analisa a atual crise e asperspectivas do Mercosul, em face dos desdobramentos da desvalorizao do Reale das dificuldades que enfrentam as economias brasileira e argentina, em particular.

    A vida urbana, em seus aspectos estruturais, espaciais e sociolgicos, abordada nos trabalhos de Francisco Jos Lyra e Silva, que discute as linhas deinterseo entre o cotidiano, memria e oralidade, e de Fernando Luiz ArajoSobrinho e Beatriz Ribeiro Soares, que analisam os impactos de transformaesespaciais na malha urbana, tomando por referncia a cidade de Uberlndia.

    A questo da disponibilidade de recursos hdricos, de suma importncia emtermos gerais, particularizando o Distrito Federal, tratada no relevante estudo deLuiz Cludio Lucas da Silva tomando como base as relaes entre aquferos fissuraise as guas do Lago Parano.

    A importncia dos estudos sobre o gnero no contexto da EconomiaDomstica, tema do artigo de Clia Chaves Gurgel do Amaral. Jos Luiz NiederauerPantoja trata de aspectos conceituais e tericos da negociao.

    Finalmente, Maria Cavalcante de Barros analisa a obra Crnica da CasaAssassinada, de Lcio Cardoso, colocando em evidncia o tempo e o espao comoelementos fundamentais do estudo literrio em sentido geral.

  • 6Na seo Informao, Metodologia de Planejamento do DesenvolvimentoSustentvel de Srgio C. Buarque resenhada por Derival Reis de Almeida eManoel Moacir da Costa Macdo.

    Esperamos que o presente nmero da Revista Mltipla corresponda sexpectativas e interesses de seus leitores.

    A Editora.

    REVISTA MLTIPLA, ANO IV N 6 1999

  • 7ENSAIOS

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  • 9Eduardo Dorneles Barcelos

    Doutor em Histria Social pelaUSP, Coordenador Executivo doGabinete da Presidncia daAgncia Espacial Brasileira (AEB)e professor da Unio Pioneira deIntegrao Social (UPIS).

    Revista Mltipla, Braslia, 4(6): 9 20, julho 1999

    Introduo

    O objetivo deste artigo delinear uma anlise histrica da produo cientficarelacionada s teorias de origem da vida e a sua vinculao com os estudos cientficosde vida e inteligncia extraterrestres no perodo situado entre as dcadas de 20 e 50.

    A tarefa demonstrar que tais estudos disputaram a ateno cientfica,varivel nessa fase, embora sem configurao de disciplina especfica. Para tanto,examinou-se o aporte de diversos campos cientficos na constituio das concepesexobiolgicas e biogenticas.

    A anlise dessa produo, basicamente de astrnomos e bilogos, buscaperceber as conexes com as avaliaes das possibilidades de surgimento da vida ede vida e inteligncia extraterrestres, bem como as mudanas ocorridas em taisatividades, no perodo focalizado.

    A delimitao histrica da monumental obra de Michael Crowe, TheExtraterrestrial Life Debate 1750-1900, fixada em 1917, fornece o parmetrocronolgico inicial desta pesquisa. A razo disso encontra-se relacionada morte,em 1916, de Percival Lowell, o principal paladino da tese da existncia de umasupercivilizao em Marte (Crowe, 1986: xiii). Aps tal acontecimento, os debatessobre os canais marcianos perderam a intensidade e a popularidade, acabando pordispersar a polmica mantida em algumas dcadas (Dickinson, 1988: 228).

    Na outra extremidade da demarcao, encontramos nossa prpria dissertaode mestrado (Barcelos, 1991a), cuja pesquisa centrou-se na anlise da produoexobiolgica entre 1959 e 1990.

    A exobiologia pode ser entendida como o estudo das possibilidades de vidaextraterrestre (solar ou extra-solar, inteligente ou no). Outras designaes podemser encontradas na literatura, tais como xenobiologia, xenologia, bioastronomia,cosmobiologia e astrobiologia, e derivaes como astrobotnica, exosociologia eexopaleontologia.

    Para melhor compreender os debates e as pesquisas que vm acontecendonessa rea, sugerimos dividir os cientistas em dois grandes grupos: os singularistase os pluralistas (Barcelos, 1991b:82).

    A sopa quente: brevehistrico das teorias sobre a

    origem da vida e a vidaextraterrestre (1920-1959)1

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    Com o termo singularistas, indicamos os cientistas que advogam asingularidade humana no universo prximo, ou seja, que representamos a nicamanifestao de vida inteligente tecnolgica atualmente existente na nossa Galxia.

    Os pluralistas, ao contrrio, defendem a multiplicidade de mundoshabitados por seres inteligentes. Conseqentemente, seriam inmeras as sociedadestcnicas comunicativas, evoludas em planetas pertencentes a estrelas do tipo solar.Detentoras de radiotecnologia, tais ETIs (Extraterrestrial Intelligence) enviariamcontinuamente ao espao mensagens codificadas, em busca de contato com outrascivilizaes.

    Retomando a concluso de trabalho anterior (Barcelos, 1993), no se podenegar que a exobiologia j ingressou na arena cientfica, apesar de sua extremamentediscutvel situao como disciplina plenamente justificvel (cf. tambm Ferris,1993:18). Mas justamente sobre tal ponto que se localiza o maior interesse destapesquisa, ao tentar compreender os mecanismos que conduziram os trabalhos sobrea habitabilidade de outros mundos, na primeira metade do sculo XX.

    Embora a exobiologia, naquela fase (e at hoje), no tenha demonstrado aexistncia de seu objeto de estudo, nem por isso deixou de freqentar a literaturatcnica (Barcelos, 1993:38). Concepes filosficas diversas como o princpioda plenitude (Tipler, 1981:133) sustentaram hipteses pluralistas, compondo oarcabouo a partir do qual se extraram concluses sobre a existncia de ETIs.

    Despojada de fundamentos observacionais e experimentais, a idia daexistncia de vida e inteligncia extraterrestres foi alicerada em premissas gerais,cientficas e metafsicas, a partir das quais foram sendo extradas, com doses variadasde preciso e cautela, suas principais concepes.

    Como a histria recente da exobiologia vem a demonstrar, no so tpicasapenas dos sculos passados tais caractersticas, e toda a problemtica a elasassociada. A marca distintiva de referidos estudos a relativa vaguidade e aimpreciso de seus contornos, como disciplina especfica. Situando-se nos limitesentre cincia, filosofia e religio, o pensamento pluralista ser constitudogradativamente, por meio de mltiplas interaes.

    1. A origem da vida

    A insero cientfica terica e experimental das anlises sobre a origemda vida terrestre intensificou-se a partir das primeiras dcadas do sculo XX. Asdiversas hipteses sugeridas acabavam por conduzir a especulaes de cunhoextraterrestre. Pois, se decifrada a gnese estritamente material da vida, era plausvel,para muitos cientistas, extrapolar tais concluses para outros ambientes planetrios.

    Em 1924, na recm criada Unio Sovitica, publicou-se um opsculo queforneceria as linhas mestras, por muitos anos, da abordagem cientfica da origemda vida. Seu autor, o bioqumico Alexander Oparin, acabaria por editar uma

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    verso ampliada daquela obra, A Origem da Vida na Terra, que conheceu umalonga carreira.

    Texto padro na descrio da teoria da sopa pr-bitica, A Origem daVida na Terra sofreu diversas revises e reedies, nas dcadas seguintes (p. ex.,Oparin, 1943). Fundamental no apenas pela abordagem da tese biogentica maisdifundida naquele momento, como tambm pelo apanhado histrico-filosfico dasteorias divergentes.

    Como usualmente acontece nas obras soviticas de divulgao cientfica, acontrovrsia com os cientistas burgueses e idealistas ocupa lugar obrigatrio(cf., tambm, Wetter, 1968:89). Neste caso particular, Oparin tinha aliados de pesono outro lado do Muro. John Desmond Bernal e Jonh Burdon Sanderson Haldane,militantes marxistas na Inglaterra, aderiram a hipteses materialistas da origem davida.

    Em sua introduo, Oparin aponta, ecoando Engels (Engels, s.d.: 195), quelife thus appears as a particular very complicated form of the motion of matter,arising as a new property at a definite stage in the general development of matter(Oparin, 1957: xii).

    Trata-se de, tendo-se obtido tal compreenso, passar-se a uma nova fase dosestudos, quando we must check our knowledge by experiment (Oparin, 1957: xiii).

    A busca de inserir a origem da vida numa abordagem experimental e desustentao emprica constituiu o cerne do trabalho de Oparin. Como veremos, ocientista sovitico, morto em 1980, pde assistir a tais desdobramentos.

    Para o melhor entendimento do problema, traaremos um esboo da chamadateoria da sopa pr-bitica, na verso Oparin Haldane (Shapiro, 1987: 132).

    A Terra primitiva detinha uma composio atmosfrica distinta da atual,possuindo, basicamente, vapor dgua, hidrognio, metano e amnia. Energizadospela radiao ultravioleta dada a inexistncia da camada protetora de oznio edescargas eltricas (entre outras fontes possveis de energia), tais elementos qumicosagregaram-se na forma de compostos orgnicos. Formou-se, gradualmente, nosoceanos primitivos, uma sopa composta por molculas constituintes dos blocosbsicos da vida. Num prazo da ordem dos milhes de anos, constituram-se osprimeiros seres vivos, que passaram a reproduzir-se e, a partir da, a iniciar umprocesso de seleo natural e evoluo.

    Trs dcadas se passaram at que o modelo Oparin-Haldane transitasse paraos laboratrios, buscando, se no a recriao da vida, ao menos a simulao de umade suas etapas.

    Bernal, alm de sua faina de militante poltico, fsico e historiador da cincia,interessou-se pelas pesquisas sobre a origem da vida. Ao relatar uma palestrarealizada por Bernal, na British Interplanetary Society (BIS), em novembro de 1952,e os debates que a sucederam, Slater apresenta uma srie temtica que apontavapara a agenda contempornea da exobiologia. Possibilidade de formas de vida

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    baseadas em outros elementos qumicos, complementaridade entre os estudos debiognese e exobiologia e a universalidade da gua e do carbono, como substratosmateriais da vida, centralizaram as discusses, embora a CETI (Communicationwith Extraterrestrial Intelligence) no tenha sido sugerida.

    Conduzido pelo materialismo dialtico, Bernal afirmava que any planetwith a mean temperature of 0-33 C will have life on it (citado por Slater, 1953:118)e que the biology of the future would not to be confined to our own planet, butwould take on the character of cosmobiology (citado por Slater, 1953:116). Emconsonncia com suas posies ideolgicas, Bernal usa uma das denominaessoviticas para tais estudos, i.e., cosmobiologia.

    Sua concluso poderia servir de mote a qualquer ensaio exobiolgicocontemporneo: The history and origin of life is also written in the sky (citadopor Slater, 1953: 117).

    Como Blum salientou em um ensaio sobre a evoluo, tomar como asseguradoo surgimento da vida em planetas assemelhados, a Terra significa compartilhar daviso segundo a qual life must arise of necessity given the proper conditions, andopposes the view that life arose as a single chance event, because so many thingswould have to occur at the same time to create life in one jump that the chances ofthis happening at many places in the universe should be small (Blum, 1955: 609).

    Desde que ainda no ocorreu a reproduo laboratorial do surgimento davida e que no foi detectada qualquer forma de vida extraterrestre, a questo expostapor Bernal e Blum continua em aberto. Este um dos pontos sobre os quais ospluralistas e os singularistas assentam suas teses (Casti, 1990:409). Para Tipler, osingularismo apoia-se no nmero de complexas e improvveis condiesabsolutamente essenciais para o desenvolvimento de formas superiores de vidaorgnica [traduo do autor] (Tipler, 1981:140). Calvin, pela via contrria, argique the selection amongst the random probable events of a particular sequence isa higly improbable thing and has required the bilion years or so that it took to doit (Calvin, 1956:262).

    Em 1953, Stanley Miller, ento aluno de Harold Urey, realizou umexperimento de reproduo das condies que supostamente existiriam no primitivoambiente terrestre, em consonncia com o modelo de Oparin. Em seu artigo Umaproduo de aminocidos sob possveis condies da Terra primitiva, Miller relataque para testar esta hiptese, construiu-se um aparato para circular CH4, NH3,H2O e H2 atravs de uma descarga eltrica [traduo do autor] (Miller, 1953:528).O resultado da experincia foi a formao de molculas orgnicas complexas: nestabase, glicina, alfa-alanina e beta-alanina foram identificadas [traduo do autor](Miller, 1953:529).

    Dado esse passo, os estudos da origem da vida tomaram maior flegoemprico, alimentando a produo terica com experimentos cada vez maissofisticados (Abelson, 1956: 935). Note-se, contudo, que outras vias experimentais

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    foram tentadas anteriormente, relativas ao surgimento de compostos orgnicoscomplexos partindo-se de unidades mais simples (Calvin, 1956: 250-253).

    A interpenetrao entre os dois assuntos, se implcita em certos momentos,torna-se clara num artigo publicado em 1959 por Miller e Urey. Neste, afirmam quetodos os vos espaciais projetados e os altos custos destes desenvolvimentos seriamtotalmente justificados se fossem capazes de estabelecer a existncia de vida emMarte ou Vnus. Neste caso, a tese de que a vida desenvolve-se espontaneamentequando as condies forem favorveis seria mais firmemente estabelecida, e nossaviso do problema da origem da vida seria confirmada [traduo do autor] (Miller& Urey, 1959:251). O desenvolvimento em paralelo da experimentao biogenticacom a astronutica concorreu exploso da pesquisa exobiolgica, a partir da dcadade 60.

    No apanhado que Wald realiza sobre as teorias da origem da vida, aperspectiva exobiolgica consentnea com estas, pois What it means to bringthe origin of life within the realm of natural phenomena is to imply that in all theseplaces [other planetary systems] life probably exists life as we know it. (...) Life isa cosmic event (Wald, 1954:53).

    O aprimoramento das concepes sobre a biognese trazia cada vez prximaa possibilidade da vida extraterrena, na medida em que reforava a viso de que acincia poderia, num tempo razovel, atingir a compreenso deste fenmeno.Entender os mecanismos envolvidos na gerao do primeiro sistema biolgico eraum passo essencial para proceder sua extenso extraterrestre e, da, prever a suadimenso na Galxia.

    No mesmo ano da publicao do trabalho de S. Miller, Watson e Crickanunciam seus resultados na decifrao da estrutura helicoidal do cidodesoxiribonucleico, pea chave na compreenso do cdigo gentico (Watson &Crick, 1953). Mesmo que as pesquisas exobiolgicas no dependessem de taldescoberta, o trabalho de Watson e Crick foi seminal nos estudos sobre a prprianatureza da vida terrestre.

    Um dos poucos astrnomos a apresentar uma proposta prpria em relao biognese, Fred Hoyle advogava uma teoria pr-planetria. Ainda hoje, Hoylecontinua como um enfant terrible da cincia, com sua polmica concepo da origemcometria da vida terrestre (Hoyle, 1992:33).

    Ao discutir sua teoria magntica da gnese planetria, Hoyle avana umanova hiptese para explicar os eventos iniciais da vida: the physical and chemicalrequirements must, however, have been far more favourable for the building ofcomplex molecules before the Earth was aggregated (Hoyle, 1959:100). Argindopela via da disponibilidade energtica interplanetria e da possibilidade de agregaomolecular nos corpos protoplanetrios, Hoyle conclui com a advertncia de quethere is no suggestion that animals and plants as we know them originated ininterplanetary space. But the vital steps on which life is based may have ocurredthere (Hoyle, 1959:100-101).

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    Entretanto, essa especulao de Hoyle caudatria de hipteses que vinhamsendo esboadas desde o sculo passado (cf. Arrhenius, 1910:232-233). No inciodeste sculo, o qumico sueco Svante Arrhenius props, embora no pela primeiravez na histria das concepes sobre a origem da vida terrestre, que essa teriaocorrido por meio de uma fertilizao externa. Distintamente deste, que supunhaas superfcies planetrias como os locais para o desenvolvimento da vida, Hoylesitua nos corpos protoplanetrios o stio primrio para o surgimento da vida.

    Em artigo publicado num peridico popular alemo, no mesmo ano em querecebeu o Prmio Nobel de Qumica, Arrhenius sugere uma alternativa idia dagerao espontnea dos primeiros organismos terrestres (Arrhenius, 1903).Amparado em Lord Kelvin, advoga a hiptese de que the radiation pressure, whichflings the tiniest particles into space with enormous velocity, must have played animportant part in the transmission of living organisms from one planet to another(Arrhenius, 1903), concluindo que living beings on all planets are related, andthat a planet, as soon as it can shelter organic life, is soon occupied by such organiclife (Arrhenius, 1903).

    Alguns anos aps, Arrhenius calculava que o transporte desses esporos vitais,entre a Terra e Marte, demandaria 84 dias e apenas 12 anos para percorrer o espaoentre as rbitas de Saturno e Urano (Arrhenius, 1910: 243). Conseqentemente,la vie ait t, depuis des temps infinis, transmise d`un systme solaire l`autre,ou de plante dans un mme systeme solaire (Arrhenius, 1910: 244).

    O principal argumento contrrio ao transporte interplanetrio e interestelarde elementos biticos foi fornecido pelo fsico francs Paul Becquerel. Numaconferncia proferida em 1924, o fsico francs analisou detidamente os diferentesfatores envolvidos no cruzeiro espacial de microorganismos (Becquerel, 1924).

    Inicialmente, afasta a possibilidade de uma lithopanspermie interastrale(transporte de germes par les pierres clestes) (Becquerel, 1924:400), pois aucunedes hypothses envisages pour nos expliquer lorigine des mtorites...nadmetdes conditions de formation compatibles avec la conservation de la vie (Becquerel,1924:405). Restaria, assim, o cenrio sugerido por Arrhenius, que Becquerel chamade radiopanspermia.

    Becquerel e sua equipe procuraram reproduzir, no laboratrio de KamerlinghOnnes, em Leiden, as condies a que um esporo estaria sujeito no espao. Emrelao s baixas temperaturas e ao vcuo, conclui que les millions ou le milliardsdannes ncessaires pour aller dun amas dtoiles un autre ne seraient plus unobstacle pour eux [les germes] (Becquerel, 1924:411). No entanto, quanto aoda radiao ultra-violeta, assevera que les germes qui voyageraient dans le videglac des espaces interplantaires seraient tt ou tard dtruits (Becquerel,1924:412).

    Segundo Kamminga (1982:81), como resultado dos trabalhos de Becquerel,concluindo por sua impossibilidade, theories of panspermia disappeared fromthe scientific literature for many decades.

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    Em um dos captulos de sua tese de doutorado Studies in the history of ideason the origin of life, from 1860, Kamminga assevera, ampliando sua conclusoanterior, que after Arrhenius, the idea of panpermia appeared to have died anatural death, although it now turns out to have been a case of suspended animationrather than final demise (Kamminga, 1982: 81). A causa do abandono dapanspermia, segundo o autor, tambm estaria diretamente relacionada aodesenvolvimento de uma alternativa terica, com Oparin e Haldane.

    Embora a concluso geral de Kamminga seja plausvel, a panspermia nodesapareceu de todo da literatura, como comprovam os exemplos de Briggs e Hoyle.

    A panspermia, segundo as recomendaes da segunda reunio do Committeeon Contamination by Extra-Terrestrial Exploration, em 1959, must be rejected(Contamination by Extra-Terrestrial Exploration, 1959: 928), parecer esterepresentativo da opinio ento em vigor entre astrnomos e bilogos.

    Apesar de pouco explorado na dcada em foco, o cenrio pansprmico nodeixou de ser considerado, retornando com fora redobrada, recentemente.

    A idia de que existe uma Evoluo Csmica tem sido utilizada com certafreqncia pelos pluralistas como um de seus sustentculos. Nas concluses de umworkshop exobiolgico realizado pela NASA, em 1977, afirma-se que emboramuitas lacunas, quebra-cabeas e incertezas ainda persistam, este conceitounificador, em que a expanso do Universo, o nascimento e a morte de galxias eestrelas, a formao de planetas, as origens da vida e a ascenso do homem sotodas explicadas por diferentes caractersticas do processo de evoluo csmica,prov um slido fundamento cientfico para um programa de pesquisa deinteligncia extraterrestre [traduo do autor] (Rasool et al., 1979:26).

    Nos anos 50, Calvin trilhava o mesmo caminho, com o objetivo de forneceruma explicao cientfica para a origem da vida. Segundo ele, possvel byextrapolating the idea of evolution to include nonliving systems as well as livingones (Calvin, 1956:248) e definir quatro tipos de evoluo: nuclear, qumica,biolgica e psicossocial (Calvin, 1956:249).

    Carles, em sua anlise das teorias de origem da vida, um dos autores querepudiam tal extenso do conceito de evoluo (Carles, 1984:95), pois que passariaa abranger um domnio de aplicao para o qual no teria sido elaborado. Admitidauma seqncia universal para a matria, torna-se evidentemente mais fcil justificara emergncia da vida em outras superfcies planetrias e sua conseqente busca.Mesmo em autores onde tal extrapolao no examinada, a imagem da evoluocsmica perpassa como um dos fundamentos do otimismo exobiolgico (Oliver,1990: 245-246).

    2. Bioqumicas alternativas e a origem da vida

    Um dos pressupostos das avaliaes exobiolgicas o da universalidade domodelo terrestre de vida. Assim, necessita-se de uma superfcie planetria, de gua

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    no estado lquido e de uma qumica baseada no carbono. Casti, ao avaliar taissuposies, considera-as como expresses de chauvinismo, com destaque para ochauvinismo do carbono (Casti, 1990:363; Sagan, 1975:61). Deve-se assinalar, noentanto, que a ausncia de modelos tericos e fundamentos empricos paraconcepes no-chauvinistas tm restringido as hipteses exobiolgicas a moldar-se pelo modelo bitico conhecido.

    Cleator, nas pginas do Journal of the British Interplanetary Society, adverteque It cannot be over-emphasised the Venusian life cannot be other than venusian,and so with all the planets. We are perfectly free to postulate the existence of a raceof beings on Neptune who breathe a mixture of clorine and mustard gas (Cleator,1935: 4).

    Tal raciocnio traz implicaes claras para a avaliao numrica da vidaextraterrestre, pois a admisso de bioqumicas alternativas ampliaria o espectro deambientes planetrios admissveis (cf. tambm Firsoff, 1965). Deste modo, Cleatorconclui que viewed in this light, it will be evident that the possibilities of therebeing life on any of the planets are infinite (Cleator, 1935:4).

    Aderindo ao mesmo discurso, Shapley observa que la vida a base decompuestos de silicio, en vez de la basada en compuestos de carbono, seraimprobable, pero es una posibilidad que no debe desecharse. O objetivo daadmisso desta possibilidade a defesa do pluralismo fica claro logo a seguir,pois con el supuesto de que pueden prevalecer otras qumicas viables, el nmerode planetas hostiles a la vida orgnica podra reducirse as considerablemente(Shapley, 1974:112).

    A possvel viabilidade de bioqumicas alternativas coloca em relevo otradicional e polmico tema da definio de vida. Afinal, s admissvel a busca deum fenmeno cujas caractersticas essenciais sejam conhecidas. O fato de inexistiruma compreenso consensual sobre os limites entre o bitico e o abitico noimpediu, no entanto, que sua busca fora da Terra fosse perpretada. Geralmentedeixada de lado, nas abordagens astrnomicas da vida extraterrestre, a caracterizaoda vida foi abordada por alguns bilogos, no contexto de sua origem.

    Hermann Joseph Muller, Prmio Nobel de Medicina em 1946 e um dosorientadores de Carl Sagan na pesquisa gentica, acentua que lifes essence lies inthe capability of undergoing such [biological] evolution, and this capability isinherent in the gene (Muller, 1955: 3). Centrando no gene a unidade bsica geradorada vida, Muller assevera que in fact, evolution presents such a curious combinationof arbitrariness and consequentialness as to lead us to infer that on another worldphysically like ours only remotely analogous forms of life would have evolved(Muller, 1955: 6).

    Tikhov, para defender-se das objees ao surgimento e persistncia deorganismos do tipo terrestre nas condies marcianas, afirmava que dialecticalmaterialism teaches that life is a law-governed phenomenon which appears as

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    iron necessity resulting from the development of matter (Tikhov, 1955: 195).Embalado pelo materialismo sovitico, Tikhov convergia com uma perspectiva quealargava amplamente os horizontes do surgimento e evoluo da vida, pois estapoderia e deveria adaptar-se aos mais diversos contextos ambientais.

    Concluses

    Um paralelo entre os estudos de origem da vida e da vida extraterrestre deveser sublinhado. Assim como a segunda carecia de um objeto claramente identificado, primeira cabia o nus de no ter reproduzido seu fenmeno central. Ambas teriamque proceder por aproximaes, embora, evidentemente, de formas distintas. Ahistria recente das teorias biogenticas mostrou que o quadro de explicaespossveis ampliou-se significativamente, alijando o caldo quente da primaziaalcanada na dcada de 50 (Shapiro, 1987).

    A entrada na cena terica e experimental dos estudos sobre biognese foium dos acontecimentos da histria cientfica de maior significao para aexobiologia. As teorias que explicavam a origem da vida terrestre a partir de reaesqumicas comuns forneciam elementos para a sua extrapolao num contextoplanetrio e, conseqentemente, subsidiavam as perspectivas otimistas sobre a vidaextraterrestre.

    A questo exobiolgica, nas dcadas examinadas, constituiu-se a partir daconjugao de fatores de natureza e intensidade diferentes. Emergindo de teorias,observaes e experimentos de campos como a cosmogonia planetria, a astrometria,a astronutica e a biologia, tambm foi conseqncia do desenvolvimento de certastecnologias, como a da radiocomunicao a longas distncias. Por outro lado,princpios filosficos serviram como guia nas formulaes, orientando as conclusessobre a vida extraterrestre.

    Apesar de pouco estruturado, o interesse cientfico pelo exame daspossibilidades de vida e inteligncia extraterrestres expressava-se de diversas formase em diferentes contextos, lanando os fundamentos das perspectivascontemporneas. Essa situao no deve elidir o fato de que a orientao favorvel habitabilidade extraterrestre, por parte de muitos cientistas, conformou a conduode pesquisas em campos como a astronomia e a biologia.

    Notas1 O presente artigo, adaptado e resumido, constitui parte do quarto captulo da tese de doutoramento apresentada ao

    Departamento de Histria da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo, emagosto de 1997.

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    Resumo

    O texto apresenta uma anlise histrica da produo cientfica relacionada s teoriasde origem da vida e a sua relao com os estudos cientficos de vida e intelignciaextraterrestres, no perodo situado entre a dcada de 1920 e a dcada de 1950.Objetiva-se demonstrar que tais estudos disputaram a ateno cientfica, varivelno interior desta fase, embora sem que se configurassem como disciplinas especficas.

    Palavras-chave: histria da cincia, exobiologia, origem da vida.

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    Abstract

    The text presents a historical analysis of the scientific community production thatdeals with the different theories of lifes origin as well as its relationship to thescientific studies of extraterrestrial life and intelligence, studies that were madebetween the 1920s and late 1950s. The text main goal is to show that the scientificcommunity was concerned about studying those subjects, with variable intensity ofinterest along the period, although they never became real and specific for aninstitutional academic study.

    Key words: science history, exobiology, lifes origin.

    Resumen

    El texto nos presenta una anlisis histrica de la produccin cientfica que se basaen las teorias del origen de la vida y su relacin con los estudios cientficos deexistencia de vida y inteligencia extraterrestres, en el perodo entre 1920 y 1950. Eltexto pretende demonstrar que esos temas tuvieron la atencin de la comunidadcientfica, con mayor o menor intensidad a lo largo del perodo, aunque no se hayannunca constitudo en disciplinas de estudio especficas.

    Palabras clave: histria de la ciencia, exobiologa, origen de la vida.

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    (...) que hagamos una alianza perptua, basada en la justiciai en la razn que ha de ser bendecida por nuestros hijos.

    Rufino de Elizalde para Jos Maria da Silva Paranhos,Buenos Aires, 25.2.1866.

    1. A aproximao

    No incio dos anos 1860, aps dcadas de posies contrrias, as polticasdo Imprio do Brasil e da Repblica Argentina encontraram denominador comum,no Prata. De um lado, houve a afinidade ideolgica entre seus governos,1 que desde1862 eram exercidos por polticos liberais. No plano regional, o governo deBartolom Mitre, primeiro Presidente do Estado centralizado argentino, era favorvel livre navegao dos rios platinos e mantinha ligaes como os colorados, noUruguai. Durante a ditadura rosista, Mitre asilara-se junto aos colorados, os quaisretriburam, combatendo a seu lado na vitria militar sobre Justo Jos de Urquiza,em 21 de setembro de 1861. Os colorados, por sua vez, possuam vnculostradicionais com o Imprio.2

    A livre navegao dos rios platinos era vital para a manuteno da unidadedo Brasil, pois a Provncia de Mato Grosso, isolada por terra, mantinha contatocom o Rio de Janeiro, por intermdio da navegao dessas vias fluviais. Juan Manuelde Rosas, lder da Confederao Argentina, dificultou essa navegao, alm deimiscuir-se na guerra civil uruguaia (1839-1851). Esses fatos levaram o GovernoImperial, sob controle do Partido Conservador, desde 1848, a implementar polticade conteno de Buenos Aires e de defesa das independncias dos dois Estadosplatinos menores. A existncia desses, na concepo dos conservadores brasileiros,era a garantia de que os rios Paraguai e Paran permaneceriam internacionais e,ainda, de que a Confederao Argentina no se tornaria uma repblica forte osuficiente para ameaar o Imprio. Enquanto isso, para Buenos Aires, tais

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    Francisco Fernando MonteolivaDoratioto

    Doutor em Histria das RelaesInternacionais, pela Universidade deBraslia. Professor de Histria, noInstituto Rio Branco e na UPIS.Diretor da Casa da Cultura daAmrica Latina da UNB.

    De aliados a rivais:o fracasso da primeira

    cooperao entre Brasil eArgentina (1865-1876)*

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    independncias significavam no s amputao territorial e exemplo perigoso paraas provncias do interior, como tambm criava flancos vulnerveis pelos quaispoderia atuar o expansionismo brasileiro.

    Com o surgimento do Estado argentino centralizado em 1862, a oposiofederal, para contrapor-se a ele, estreitou relaes com os blancos, no Pas oriental,e com o Governo paraguaio. Em abril de 1863, o caudilho colorado Venancio Floresinvadiu o Uruguai, com tropas organizadas em Buenos Aires e com o beneplcitodo Governo argentino, para derrubar o Governo blanco do Presidente BernardoBerro (1860-1864).3

    A situao poltica no Uruguai catalisou as divergncias platinas. Asprovncias de Entre Ros e Corrientes utilizavam o porto de Montevidu, comoalternativa ao de Buenos Aires, para suas exportaes. Desse modo, a Repblicauruguaia estabeleceu relaes com a resistncia federalista a Mitre, encabeadapelo caudilho entrerriano Justo Jos Urquiza, o qual, por sua vez, tambm as mantinhacom o Chefe de Estado paraguaio, Francisco Solano Lpez. O Paraguai passava,ento, pela modernizao de atividades ligadas basicamente defesa, importando,com essa finalidade, tecnologia e tcnicos estrangeiros, principalmente britnicos.Para financiar a continuidade dessa modernizao, era necessrio ampliar asexportaes guaranis, o que contribuiu para o Paraguai romper sua poltica deabsteno dos assuntos platinos e projetar-se cada vez mais para fora de suasfronteiras, a imiscuir-se nas contendas da Bacia do Prata, a buscar seu Lebensraum.4Desse fazia parte uma sada segura para o mar, que parecia ser o porto de Montevidu.

    No Uruguai, por outro lado, o Presidente Berro recusou-se a renovar, em1861, o Tratado de Comrcio e Navegao, assinado em 1851, com o Brasil. OGoverno blanco eliminou, assim, os privilgios comerciais do Imprio e atingiu osinteresses de estancieiros gachos, produtores de charque, ao instituir imposto sobreas exportaes de gado em p para o Rio Grande do Sul.5 Esses pecuaristascontituam-se, h duas dcadas, em grupo de presso sobre a poltica externabrasileira, no Prata.6 Conseguiram que seus interesses especficos fossem adotadospelo Governo Imperial, transformando-os em objetivos da poltica brasileira, emrelao ao Uruguai.

    O Presidente Berro indisps-se, desse modo, tanto com a Argentina quantocom o Brasil. Ciente do risco que corria, o Governo uruguaio buscou apoio doParaguai, cuja poltica externa parecia estruturada no sentido de enfrentar as pressestanto do Rio de Janeiro, quanto de Buenos Aires. O Uruguai preconizou um novosistema de equilbrio de poder no Prata: o eixo Montevidu-Assuno seriarobustecido pela adeso das provncias argentinas dissidentes do Poder Central. 7

    Nessa nova realidade, o Paraguai alertou Argentina que seu respaldo aoscolorados de Flores, na guerra civil uruguaia, teria efeito desastroso sobre osinteresses paraguaios.8 O Governo argentino, contudo, no se preocupou, poisacusado oficialmente pelo Uruguai de ser o instigador da revolta colorada, com o

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    fim de anexar o Pas, deu explicaes tranqilizadoras ao Brasil. Para Rufino deElizalde, Ministro de Relaes Exteriores argentino, essas explicaes garantiam aamizade do Imprio e um entendimento para solucionar a guerra civil oriental.9Sucederam-se os protestos uruguaios contra o apoio de Buenos Aires, sempre negadopor Mitre, aos rebeldes colorados. No incio de 1864, as crescentes tenses nasrelaes bilaterais levaram ao rompimento das relaes diplomticas entre os doispases.

    A essa altura, a poltica externa do Imprio brasileiro estava desarticulada,em virtude da instabilidade ministerial que se seguiu ascenso do Partido Liberalao poder. Em 1863, o Governo brasileiro rompeu relaes diplomticas com a Gr-Bretanha, devido ao bloqueio do porto do Rio de Janeiro, por navios ingleses. Talmedida de fora visava pressionar o Imprio a pagar a indenizao pelo saque donavio Prince of Wales, aps seu naufrgio no sul do Brasil, pagamento esse efetuadosob protesto. O Prata apresentou-se, ento, como uma vlvula de escape, na medidaem que pode lavar-se aqui a honra e a dignidade nacional, comprometidas pelashumilhaes impostas pelos britnicos, dando aos governantes liberais apossibilidade de retificarem, perante a opinio pblica, sua imagem de tibieza emassuntos externos. 10

    Na Cmara brasileira, denunciaram-se supostas violncias contra sditos doImprio, cometidas por autoridades uruguaias. Ao mesmo tempo, os pecuaristasgachos queixavam-se de desordens na fronteira, reclamavam do Governo Berro ebuscavam o apoio do Rio de Janeiro. O Governo Imperial temia perder o controleda situao, o que ocorreria com os estancieiros gachos, iniciando ao militarcontra Montevidu, por se sentirem desamparados pelos governantes brasileiros.11Por outro lado, uma interveno contra os blancos era vista, pelas autoridadesbrasileiras, como forma de contrabalanar a influncia argentina junto a Flores,impedindo que eventual vitria colorada na guerra civil beneficiasseexclusivamente a Buenos Aires.12

    Em abril de 1864, o Governo Imperial enviou Jos Antonio Saraiva emmisso especial ao Uruguai, acompanhado de uma esquadra comandada pelo Vice-Almirante Tamandar. Suas instrues eram exigir do Governo Oriental o respeitoaos direitos dos brasileiros residentes no pas e a punio dos funcionrios pblicoslocais, que teriam abusado de sua autoridade.13 Na realidade, o Rio de Janeirotratava de criar condies que justificassem a interveno na vizinha Repblica eganhar tempo, enquanto organizava e distribua a fora brasileira na fronteira.14Saraiva convenceu-se, porm, de que o Imprio poderia atingir seus objetivos,promovendo a paz interna no Estado Oriental e obtendo a reestruturao do Governouruguaio, com o afastamento daqueles que se opunham aos interesses brasileiros.Autorizado pelo Governo Imperial a promover tal paz, Saraiva entendeu-se, nessesentido, com Buenos Aires.15

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    O Governo uruguaio no se deixou intimidar, e o Presidente Atansio Aguirre,sucessor de Bernardo Berro, buscou ajuda do Paraguai, enviando, em julho de 1864,Antonio Carreras em misso a Assuno. Confiando no respaldo paraguaio, Aguirrerecusou-se a substituir os Ministros blancos por polticos colorados. Acordo nessesentido fora conseguido por Saraiva, juntamente com o Chanceler argentino Rufinode Elizalde e o representante britnico em Buenos Aires, Thornton. O GovernoImperial ordenou, ento, a Saraiva apresentar ao Presidente Aguirre um ultimatum,o que foi feito em 4 de agosto. Deu-se prazo de seis dias para a punio dosfuncionrios uruguaios responsveis por agresses a cidados brasileiros, sob penade tropas imperiais entrarem no Estado Oriental para garantir os direitos dos sditosdo Imprio. Saraiva retirou-se, no dia 11, do mesmo ms de agosto, para BuenosAires, onde se encontrou com Rufino de Elizalde. Ambos assinaram um Protocolo,declarando que seus Governos poderiam agir contra o de Aguirre por meios lcitos,respeitada a integridade e independncia do Estado Oriental.16

    Aguirre rompeu relaes com o Brasil, enquanto o Governo de Assunoprotestou contra qualquer ocupao do territrio uruguaio por foras do Imprio.Esta, afirmava o protesto, atentaria contra o equilbrio entre os Estados do Prata, deinteresse do Paraguai. O Governo paraguaio alertava no assumir a responsabilidadepelas conseqncias de qualquer ato de represlia brasileiro.17 A ameaa implcitanesse protesto no foi levada a srio pelos Governos Imperial e argentino. Em 12de setembro, em decorrncia do ultimatum, tropas brasileiras penetraram emterritrio uruguaio, retornando dias depois ao Rio Grande do Sul. Em 20 de outubro,o Vice-Almirante Tamandar, que substitura Saraiva, como representante polticodo Imprio, no Uruguai, assinou o Acordo de Santa Lcia com Venncio Flores,estabelecendo a cooperao entre aquele caudilho e as foras brasileiras.18

    Em 10 de novembro, o vapor brasileiro Marqus de Olinda foi aprisionadopor canhoneira paraguaia, horas aps ter sado de Assuno rumo a Mato Grosso.O Governo guarani entregou, ento, uma nota, datada do dia anterior, rompendorelaes com o Imprio.19 A gravidade da situao levou o Governo Liberal brasileiroa enviar em misso ao Prata o ex-Chanceler conservador Jos Maria da SilvaParanhos, conhecedor da regio, com instrues de negociar com Buenos Airesuma interveno conjunta no Uruguai, em apoio a Flores.20

    Em 23 de dezembro de 1864, as tropas paraguaias invadiram o Mato Grosso,que Solano Lpez sabia indefeso.21 Informado da fraqueza militar do Brasil,22 oChefe de Estado paraguaio planejava bater as foras brasileiras que estavam operandono Uruguai e obrigar o Imprio a assinar a paz,23 em condies favorveis aAssuno.

    Os planos de Solano Lpez comearam a se inviabilizar quando, ao terminaro mandato presidencial de Anastcio Aguirre, sucedeu-o Toms Villalba. Este,tambm blanco, estava sob influncia dos comerciantes, temerosos dos prejuzosao comrcio que adviriam do bloqueio brasileiro ao porto de Montevidu, declarado

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    por Tamandar, em 2 de fevereiro de 1865.24 Assim, dias depois, com a concordnciaargentina, foi assinado o Protocolo de Paz de Villa Unin, por Paranhos, ManuelHerrera y Obes, representando Villalba, e Venancio Flores, o qual, comoconseqncia, assumiu a Presidncia do Uruguai.25

    Apesar da rendio de Montevidu e a tomada do poder, no Uruguai, peloscolorados, Solano Lpez manteve a deciso de atacar o Rio Grande do Sul. Paratanto, pediu permisso a Buenos Aires para passar por territrio argentino, com astropas que marchariam sobre essa provncia brasileira. Pretextando neutralidade,Mitre negou a autorizao e, como conseqncia, Corrientes foi invadida por tropasparaguaias, em 13 de abril de 1865. No se produziram os efeitos esperados porSolano Lpez no sentido de que, no mais contando com Urquiza, que se aliara aMitre, os inimigos de Buenos Aires veriam uma liderana substituta no Chefe deEstado paraguaio, ao qual se juntariam com seus primeiros xitos militares.26Frustrou-se, assim, o plano do lder paraguaio de isolar o Brasil e, logo, ele quemestaria isolado.

    2. A aliana

    Ao atacar o territrio argentino, Solano Lpez fez o jogo de Mitre, quebuscava, desde o ano anterior, uma aliana com o Imprio.27 Quando partiu para oRio de Janeiro, no comeo de abril de 1865, para assumir a Legao argentina, JosMrmol tinha instrues de Rufino de Elizalde para trabalhar por uma aliana como Brasil. Deveria esse Enviado, aproveitando-se das simpatias e vnculos que secriaram entre os dois pases (na verdade entre seus Governos), buscar ligar con elBrasil nuestros intereses, por meio de tratados. A aliana entre os dois pases foi,conforme Mrmol, fruto da diplomacia de Mitre.28

    Isso significava, na prtica, uma alterao no quadro de relaesinternacionais do subsistema platino, pela qual Argentina e Brasil, em lugar de serivalizarem, passariam a exercer uma hegemonia conjunta na regio. Tal alianano se estabeleceu de imediato, sendo construda gradativamente nos meses seguintescomo resposta aos problemas comuns que se apresentavam ao Rio de Janeiro e aBuenos Aires. O Tratado da Trplice Aliana contra o Paraguai, assinado em BuenosAires em 1 de maio de 1865, entre Argentina, Brasil e Uruguai, somente se viabilizoudevido ao erro poltico-militar de Solano Lpez de invadir Corrientes. Essa agressoprecipitou os acontecimentos, conforme comprova o fato de Francisco Octavianode Almeida Rosa, enviado brasileiro em misso especial ao Prata, ter assinado oTratado, pressionado pelas circunstncias e baseado apenas nas linhas gerais dapoltica do Governo Imperial para o Prata. Almeida Rosa no possua instruessobre tal aliana, mas apenas as de colaborar com o Governo de Flores e, ainda,obter que a Argentina no dificultasse a ao brasileira contra Solano Lpez.29

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    Rufino de Elizalde e Jos Antonio Saraiva haviam atuado, tendo por base ahiptese de um agravamento das tenses platinas, que criaria a necessidade de umaaliana argentino-brasileira.30 A misso Saraiva foi el punto de partida de la poltica[de aliana Argentina-Brasil] que ha de hechar profundas races para bien de nuestrosrespectivos pases y de nuestros vecinos.31 Vencido o Paraguai, pensava Elizalde,negociadores argentinos e brasileiros deveriam estabelecer convnioscomplementares, que desenvolvessem a aliana estabelelecida em 1 de maio de1865. O objetivo maior era que hagamos una alianza perptua, basada en la justiciai en la razn que ha de ser bendecida por nuestros hijos.32

    Para assinar o Tratado da Trplice Aliana, Almeida Rosa teve que quebrara resistncia do Governo argentino em assumir o compromisso de defender aindependncia paraguaia.33 O artigo 9 do Tratado da Trplice Aliana34 determinouque, acabada a guerra, seriam garantidas a independncia, a soberania e a integridadeterritorial paraguaia. A mencionada integridade, porm, referia-se ao que restassede territrio ao pas guarani, aps a aplicao do artigo 16 daquele Tratado, peloqual o Paraguai perdia para os aliados territrios at ento sob sua soberania ou,ainda, litigiosos. Caberia, assim, Argentina todo o Chaco Boreal terras ao nortedo rio Pilcomayo, at a Baa Negra, na fronteira com o Mato Grosso e a margemesquerda do Paran at o rio Iguau, ou seja, a rea das Misses. Ao Imprio caberiao territrio pelo qual h anos mantinha disputa com Assuno, rico em campos deerva-mate, ficando estabelecido no documento da Aliana que a fronteira seriadelimitada pela linha do rio Igurey, Serra do Maracaju e pelos rios Apa e Paraguai.35Os aliados comprometiam-se, conforme o artigo 6, a no deporem as armas senoem comum acordo e depois da derrubada de Solano Lpez, ficando proibida qualqueriniciativa de paz em separado por um dos pases aliados com o lder paraguaio.

    Por iniciativa de Almeida Rosa, os Aliados em notas trocadas entre siressalvaram o direito da Bolvia de discutir sua reivindicao sobre o Chaco Boreal.Tambm, por sua iniciativa, foi assinado um protocolo que determinava a demolioda fortaleza de Humait, que controlava a navegao do rio Paraguai.36 Estabeleceu-se, ainda, a proibio de Assuno construir, no futuro, quaisquer outras fortificaesque pudessem ser obstculo ao livre trnsito dessa via navegvel. Terminado oconflito, o Paraguai deveria, segundo o artigo 14 do Tratado da Trplice Aliana,indenizar todos os gastos de guerra feitos pelos governos aliados, bem como osdanos e prejuzos causados durante o conflito s propriedades pblicas e particularespor suas tropas em territrio dos pases vizinhos.

    Convencido da brevidade da guerra e da vitria aliada, o Governo argentinoapresentou ao Imprio, ainda em 1865, um projeto de tratado de paz a ser assinadocom o Paraguai derrotado. O Governo Imperial encaminhou esse documento, bemcomo o texto do Tratado da Trplice Aliana, ao Conselho de Estado, rgo assessorda Coroa, composto por polticos liberais e conservadores, cujos pareceres eramnormalmente acatados pelo Imperador D. Pedro II. No Conselho, os membros que

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    pertenciam ao Partido Conservador criticaram duramente as estipulaes do Tratadode 1 de maio. Opuseram-se particularmente quelas referentes ao Chaco Boreal,classificadas de contrrias poltica tradicional do Brasil, que fora concebida nosentido de manter no s a independncia do Paraguai, como tambm a parte doterritrio desse pas necessria para evitar o contato de Mato Grosso com territrioargentino. Para o Conselho de Estado, a melhor soluo para o Brasil, dentro dascircunstncias, seria a de que a fronteira argentino-paraguaia fosse o rio Pilcomayo.37De fato, foi o que acabou ocorrendo no ps-guerra.

    O negociador brasileiro do Tratado da Trplice Aliana contestou tais crticas.Francisco Octaviano de Almeida Rosa afirmou que a poltica tradicional do Brasilsomente alimentava discrdias, oriundas da poca colonial, por meio de suspeitas eamesquinhamento da Argentina.38 Esquecendo os temores iniciais, quanto sintenes do Governo de Mitre, em relao ao Paraguai, esse diplomata tornou-seadmirador da Argentina e de seu Presidente, passando a defender a cooperaoentre Buenos Aires e o Rio de Janeiro. Para Almeida Rosa, os portenhos eramdinmicos, empreendedores e queriam verdadeiramente a paz com o Imprio e atuma aliana em grande ponto.39

    Tambm Mitre admirava o Brasil e via com simpatia suas instituies liberais.O Presidente argentino chegou a censurar o escritor chileno Benjamin VicuaMackenna, por utilizar-se este de palabras huecas como las del Imprioesclavcrata. Acrescentou que se a escravido era um mal que existia no Imprio,ainda assim as instituies brasileiras en liberalismo dejan muy atrs muchas denuestras Repblicas. Ao tentar convencer Urquiza de que o Brasil no devia sertemido, Mitre escreveu que cercada a Argentina por dois vizinhos em guerra(brasileiros e paraguaios), o Imprio era o que puede hacernos ms mal, y lo quehasta hoy nos ha hecho ms bienes.40

    3. A aliana abalada

    No Brasil, em julho de 1868, o Partido Conservador reassumiu o GovernoImperial, cuja diplomacia retornou, ento, decididamente, poltica de contenoda Argentina. Os Governantes conservadores desejavam o fim da aliana com aArgentina, mas de forma natural, com o desaparecimento dos motivos que levaram sua constituio. A derrota de Solano Lpez, a instalao de um novo governo noParaguai era uma forma de ratificar a independncia do pas; e a assinatura pelasnovas autoridades paraguaias de tratados de paz com os Aliados significariam arealizao dos objetivos e o fim da Trplice Aliana.41

    Na Argentina, em outubro de 1868, terminou o mandato de Mitre, que foisubstitudo por Domingo Faustino Sarmiento. O novo Presidente resistia alianacom o Brasil, desconfiando de eventuais planos do Imprio para tornar-se potncia

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    continental no ps-guerra, custa de seus vizinhos. Sarmiento esperava contar como apoio dos Estados Unidos, para evitar a expanso da influncia brasileira.42

    Em fevereiro de 1869, o Chanceler brasileiro Jos Maria da Silva Paranhospartiu para o Paraguai com a misso de estabelecer nesse pas um governo provisrio,com o qual se pudesse assinar a paz. Assuno fora ocupada no ms anterior portropas brasileiras, e supunha-se que a guerra estava por terminar. O governoprovisrio, para ser reconhecido pelo Imprio, deveria comprometer-se em apoiaros Aliados na luta contra Lpez, bem como aderir ao Tratado da Trplice Aliana.Este deveria ser cumprido na ntegra, exceto, segundo as instrues recebidas porParanhos em 1o de fevereiro de 1869, qualquer modificao que, no prprio interessedo Paraguai, se estipule no Tratado de paz por mtuo assentimento dos aliados e domesmo Governo Provisrio.43 Com essa ressalva, o Governo Imperial dava osprimeiros passos, no sentido de reduzir as concesses territoriais paraguaias Argentina, evitando que esta tivesse fronteira com o Brasil em Mato Grosso e,ainda, que o territrio argentino ficasse limtrofe com Assuno. Se o EnviadoImperial no tivesse sucesso nesse sentido, o Tratado de Paz que fosse assinadocom o Paraguai significaria, segundo Cotegipe, apenas uma trgua, mais ou menoslonga, seguida de eventual ecloso de uma guerra com a Argentina.44

    O Governo Imperial estava convencido de que o Presidente Sarmiento queriaanexar o Paraguai Argentina. 45 A instalao do Governo Provisrio paraguaio,mesmo com Solano Lpez continuando a combater, era uma forma de reafirmar acontinuidade da existncia do Paraguai como Estado independente. Estimuladospor Paranhos, cidados paraguaios de Assuno solicitaram aos Aliados aconstituio de um tal Governo. Foi com dificuldade que o Enviado brasileiroconseguiu a concordncia do Chanceler argentino Mariano Varela.46 A postura deMariano Varela indicava que o Governo de Sarmiento temia que o Imprio, valendo-se do Tratado de 1865 e das autoridades provisrias, estabelecesse um protetoradosobre o pas guarani.

    O Tratado da Trplice Aliana no havia estabelecido nenhuma norma sobrea instalao de um Governo Provisrio no Paraguai. Tal omisso pode ser explicadapor esperar-se que, iniciada a guerra, um movimento de oposio surgisse no pas edepusesse Solano Lpez, fato que no ocorreu. A possibilidade de instalar umGoverno Provisrio em Assuno, com Solano Lpez ainda combatendo, foilevantada pela primeira vez, em 1867, pelo Conselho de Estado brasileiro.47

    Em 2 de junho de 1869, os representantes aliados assinaram dois protocolos,definindo a criao de um Governo Provisrio paraguaio. Tal Governo instalou-sedois meses depois, em 15 de agosto, na forma de um Triunvirato, sem controlar oterritrio nacional e aceito apenas pelos Governos da Trplice Aliana, enquanto osdemais pases continuavam reconhecendo Francisco Solano Lpez como Chefe deEstado. As novas autoridades logo tiveram que enfrentar um problema externo,pois instalara-se no Chaco, para explorar madeira, o aventureiro norte-americano

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    Eduardo Hopkins. Este recusou-se a pagar impostos s novas autoridades paraguaias,sob a alegao de que o Tratado da Trplice Aliana determinava ser argentinoaquele territrio. O General Emlio Mitre, Comandante das Foras argentinas, emdura nota ao Triunvirato, datada de 17 de novembro de 1869, afirmou que o Chacopertencia exclusivamente a seu pas. Pretextando necessidade de uma autoridadeque concedesse licenas s diversas madeireiras instaladas nesse territrio, EmlioMitre comunicou a Paranhos que mandara instalar uma guarnio militar argentinaem Villa Occidental, localizada na margem oposta a Assuno, no rio Paraguai.48

    Esse acontecimento levou o Governo Imperial a explicitar sua posturacontrria posse argentina do Chaco, sendo o marco de uma luta diplomtica quese estendeu pelos anos seguintes.49 O Governo argentino esclareceu que no serecusava a tratar a questo do direito sobre o Chaco com o Governo paraguaio, nemse negava a discutir a reivindicao boliviana do mesmo. s autoridades provisriasde Assuno, que protestaram contra a ocupao de Villa Occidental, Mariano Varelaafirmou que a vitria militar no dava direito s naes aliadas de impor limites aoParaguai. Estes deveriam ser discutidos com o Governo permanente que viesse aconstituir-se.50 Desse modo, a Argentina, ao aceitar negociar territrios que poderiamser seus pela vitria militar, abandonava as vantagens obtidas com a guerra.

    Solano Lpez morreu em combate com as tropas brasileiras em 1 de maiode 1870, e, no ms seguinte, os representantes Aliados assinaram com o GovernoProvisrio um protocolo declarando a paz, no qual o Paraguai aceitava en su fondoo Tratado da Trplice Aliana. Os tratados definitivos de paz seriam assinados pelofuturo governo permanente paraguaio, que poderia, inclusive, propor mudanas aodocumento de 1 de maio de 1865.51 Tanto o Brasil, quanto a Argentina, tinhammotivos de satisfao com esse Protocolo, no qual cada Aliado procurava inutilizara inteno que supunha ser do outro, em relao ao Paraguai. Do lado brasileiro, secriava a possibilidade de fixar no rio Pilcomayo a fronteira do Paraguai com aArgentina. Esta, por sua vez, conseguiu que o Imprio aceitasse que apenas oGoverno permanente paraguaio pudesse assinar o Tratado de Paz, evitando surpresasse a assinatura fosse feita pelas autoridades provisrias, dependentes da diplomaciabrasileira.

    Bartolom Mitre ops-se nova poltica argentina em relao ao Paraguai.Exps ao Presidente Sarmiento que o Governo argentino no poderia manter oprincpio de que a vitria no dava direitos, quando para reafirm-los havia travadouma guerra. Sarmiento resolveu alterar essa poltica, levando Mariano Varela arenunciar ao cargo de Chanceler, em agosto de 1870.52 Seu substituto, Carlos Tejedor,passou a exigir a aplicao do Tratado da Trplice Aliana para definir os limitesargentino-paraguaios.

    A mudana de poltica do Presidente Sarmiento no foi bem-sucedida.Aprofundaram-se, sim, as divergncias aliadas nas negociaes que se deram, emAssuno, com o Governo paraguaio. Os representantes aliados eram Manuel

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    Quintana, pela Argentina, o Chanceler uruguaio Adolfo Rodrgues e, pelo Brasil, oBaro de Cotegipe. As instrues de Cotegipe no reconheciam ser argentino oterritrio chaquenho at Baha Negra e afirmavam que a soluo convenienteseria a de que coubesse Argentina unicamente a rea at o rio Pilcomayo.53 Nasnegociaes de Assuno, os representantes brasileiro e uruguaio no se solidarizamcom as reivindicaes territoriais argentinas apresentadas ao Governo paraguaio.Isolado, Quintana retirou-se do Paraguai, seguindo instrues de Tejedor para ocaso de os outros representantes aliados se recusarem a ser solidrios com a posioargentina nas negociaes e defenderem o direito de o pas guarani apresentardocumentos de sua soberania sobre o Chaco.54

    4. A retomada da rivalidade

    a) Brasil: paz com o Paraguai, tenso com a Argentina

    A diplomacia argentina favorecia, mais uma vez, o Imprio, deixando-lhecampo livre para atingir seus objetivos. O Presidente constitucional paraguaio (em1870, uma Constituinte elaborou a primeira Carta Magna do pas), SalvadorJovellanos, props ao Baro de Cotegipe o incio das negociaes de paz, emseparado. Em fevereiro de 1872, foram assinados os Tratados de Paz, Limites,Extradio, Amizade e de Comrcio e Navegao entre Brasil e Paraguai.55 OImprio brasileiro realizou, ento, seus objetivos histricos em relao ao Paraguai.As fronteiras entre os dois pases foram definidas nos termos perseguidos pelo Riode Janeiro, h duas dcadas restringindo-as, inclusive, ao rio Apa, conformereivindicao tradicional, em lugar de avanar at o Igurey, como estabelecera oTratado da Trplice Aliana e a livre navegao dos rios internacionais nos termosdo Direito Internacional. Esses Tratados permitiram, ainda, a continuidade, portempo indeterminado, da presena de tropas brasileiras em territrio paraguaio.Essas foras militares respaldavam o controle que a diplomacia imperial exerciasobre a poltica interna paraguaia, com a finalidade de impedir que o Governo doParaguai fosse exercido por elementos simpticos Argentina.

    A paz em separado entre um dos pases aliados e o Paraguai era vedadapelo Tratado da Trplice Aliana, motivando em Buenos Aires crticasgeneralizadas.56 Reagindo, o Governo argentino designou, em 31 de janeiro de1872, o General Julio de Vedia como Governador Militar para o Chaco, sediando-o em Villa Occidental. Esse militar chegou a propor que todo o Chaco fosseincorporado Argentina, sem mais discusses.57 O Chanceler brasileiro, FranciscoCorreia, levantou a hiptese de que Villa Occidental, por sua proximidade aAssuno, pudesse tornar-se base de ao argentina para desestabilizar o Governoparaguaio. J o Presidente guarani, Salvador Jovellanos, protestou contra o ato daArgentina, que classificou de arbitrrio, e que no deixava dvidas sobre las idas

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    de absorcin que tiene la Repblica Argentina sobre el Paraguay.58 Tropasbrasileiras, por sua vez, ficaram alerta em Assuno e na ilha de Cerrito, naconfluncia dos rios Paran e Paraguai, ponto estratgico no controle da navegaoda rea.

    Villa Occidental, de fato, era ponto fronteirio e estratgico contra oParaguai.59 Essa rea no sofria inundaes, mesmo durante o inverno, constituindo-se, pois, uma posio vital para a presena militar argentina na regio. Ademais,conforme destacou o Baro de Cotegipe, se essa vila se tornasse argentina e fossefortificada, poderia ser usada para interromper as comunicaes do Imprio comAssuno.60 Nesta hiptese, o Brasil ficaria impotente em relao a qualqueracontecimento na capital paraguaia, facilitando a hegemonia da Argentina sobre oParaguai.

    Em fevereiro de 1872, o Presidente Sarmiento acreditava que a paz emseparado, assinada por Cotegipe em Assuno, nos llevar a la guerrainevitablemente o a dejar al Paraguay provncia brasilea.61 Inferiorizadomilitarmente, o Governo argentino buscou a conciliao, enviando ao Rio de JaneiroBartolom Mitre, figura respeitada nos meios polticos brasileiros. Mitre chegou Capital brasileira em julho de 1872, mas o entendimento entre os dois antigos aliadosera dificultado pelas desconfianas que o Imprio possua das reais intenesargentinas. Ambos os pases armavam-se, realimentando a tenso nas relaesbilaterais. Situao que era agravada por Bolvia e Chile, que buscavam aproveitar-se das divergncias entre os dois aliados para utilizar o Imprio como respaldo, afim de fortalecer suas demandas junto Argentina. O representante da Bolvia que reivindicava parte do Chaco em Buenos Aires, solicitou que o Governobrasileiro no cedesse nas negociaes com Mitre, pois a intransigncia seria anica forma de levar o Governo argentino a desistir de suas pretenses ambiciosase a relacionar-se razovelmente com os Estados vizinhos. 62 O Governo chileno,por sua vez, props ao Imprio uma aliana militar que garantisse reciprocamenteos direitos que cada um reclama contra as Repblicas Argentina e da Bolvia. Estaltima, porm, afirmou Ibaez, aceitas suas reivindicaes sobre o Chaco, se aliariaao Brasil e Chile contra a Argentina.63

    Ciente de que a paz em separado entre Brasil e Paraguai era um fatoconsumado, Bartolom Mitre conseguiu sua aceitao pelo Governo argentino. Emtroca, obteve que o Governo Imperial reafirmasse a vigncia do Tratado de 1 demaio de 1865 e se comprometesse a cooperar com sua fora moral nas negociaesentre os Governos argentino e paraguaio para a assinatura dos tratados de paz.64Mitre foi recebido triunfalmente na volta a Buenos Aires, tornando-se fortssimasua candidatura para as prximas eleies presidenciais.65 Contudo, o acordo nofoi um grande feito para a Argentina, pois continuavam a vigorar os Tratados de1872, assinados por Cotegipe, e permanecia em solo guarani a Diviso de Ocupaodo Exrcito brasileiro, essencial para o controle que o Governo Imperial exercia

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    sobre o Paraguai. Reafirmou-se, tambm, que a posse do Chaco caberia parte quepossusse a documentao mais convincente.

    Confiando no apoio moral do Imprio, Bartolom Mitre partiu paraAssuno, no incio de 1873, com instrues de assinar um tratado de limites emque o Governo paraguaio reconhecesse o Chaco como argentino at o Pilcomayo,incluindo Villa Occidental. A regio ao norte desse rio deveria ser submetida arbitragem internacional, e as Misses seriam argentinas. Para a Chancelariaargentina, a posse de Villa Occidental era a base para seu pas colonizar o Chaco,enquanto Mitre no via utilidade em mant-la.66 Nas novas negociaes, Mitre noobteve o apoio prometido do negociador brasileiro, o Baro de Araguaia, pois oGoverno Imperial no alterou sua poltica quanto ao assunto, exceto em aceitar quea ilha de Atajo fosse argentina.67

    Nas negociaes de Assuno, o impasse encontrava-se na recusa do Governoparaguaio, estimulado pelo Baro de Araguaia, para tratar com Mitre a posse doterritrio acima do Pilcomayo. O Governo argentino tinha dificuldade em recuar doerro que, reservadamente, reconhecia haver cometido ao reivindicar esse territrio,o qual se tornara questo de amor-prprio nacional.68 Em 1874, haveria eleiopresidencial no pas vizinho, e Carlos Tejedor, candidato em potencial,69 no podiaaparecer perante a opinio pblica antibrasileira de seu pas como um fraco querecuara frente ao Imprio.

    Fracassando em atingir os objetivos determinados por sua Chancelaria,Bartolom Mitre retirou-se de Assuno. A Argentina era, ento, o nico pas daTrplice Aliana que no havia assinado os tratados de paz com o Paraguai, pois oUruguai o fizera em agosto de 1873.

    No Paraguai, findo o mandato do Presidente Jovellanos, foi eleito para ocargo Juan Bautista Gill, com apoio brasileiro. Na Argentina, por sua vez, NicolsAvellaneda assumiu a Presidncia da Repblica, em outubro de 1874, e retomou asnegociaes com o Brasil e o Paraguai. Para tanto, enviou ao Rio de Janeiro oprprio Carlos Tejedor, que chegou, ento, a um acordo com o Enviado Especialparaguaio Jaime Sosa Escalada. Pelo acordo, as Misses e a ilha de Atajo seriamterritrios argentinos, enquanto o Chaco, ao norte do Pilcomayo, caberia ao Paraguai,exceto Villa Occidental. Esta localidade e mais um pequeno territrio adjacentepertenceriam Argentina que, em troca, cancelaria a dvida de guerra pblicaparaguaia para consigo.70

    O Governo Imperial colocou-se contra tal Tratado e, em ao fulminante,conseguiu que o Congresso paraguaio o rejeitasse. A essa altura, o Presidente Gillindispusera-se com os comerciantes brasileiros residentes em Assuno, em virtudede medidas que tomara frente grave situao econmico-financeira do pas. Essescomerciantes contavam com a solidariedade do representante brasileiro, Jos FelipePereira Leal, que desobedecia instrues do Rio de Janeiro, no sentido de manter-se neutro na poltica interna paraguaia.71

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    b) A paz argentino-paraguaia: termina a Trplice Aliana

    O Presidente Gill executou, ento, o movimento de sair da rbita de influnciado Imprio e de buscar o respaldo da Argentina, graas postura do GovernoAvellaneda de reconhecer os desacertos de seu Pas nas negociaes de paz com oParaguai. A Chancelaria argentina deu garantias de apoio ao Presidente Gill, paraque no temesse afastar-se da influncia do Imprio.72 Avellaneda buscou, ao mesmotempo, distender as relaes com o Brasil. 73

    Embora Dardo Rocha, Enviado argentino, partisse de Assuno, em julhode 1875, sem ter obtido a ratificao do Tratado Sosa-Tejedor, estabeleceu canaissecretos para uma negociao direta entre seu governo e o do Paraguai, sem aparticipao de representante brasileiro. Aldeodato Gondra, comerciante argentinoradicado na capital paraguaia, ficou encarregado de ser o elemento de ligao entreaqueles governos. Gondra, associado com o Cnsul argentino Sinforiano Alcorta,passou a influenciar o Presidente Gill para que se afastasse do Imprio.74

    Em meados de 1875, Bernardo de Irigoyen assumiu a Chancelaria argentina,convencido de que seu Pas deveria agir para retirar o Paraguai da rbita da influnciabrasileira. Para tanto, devia-se obter a retirada das tropas imperiais de Assuno,solucionar a questo de limites argentino-paraguaia e vincular o Paraguai Argentina.75

    Em 3 de fevereiro de 1876, o novo Chanceler argentino Bernardo de Irigoyene o representante paraguaio, Facundo Machan, assinaram em Buenos Aires osTratados de Paz, Limites, Amizade e de Comrcio e Navegao. Determinou-se orio Paraguai como limite entre as duas Repblicas, sendo que os territrios dasMisses e do Chaco Central foram declarados argentinos. O resto do territriochaquenho foi dividido em duas pores, com a Argentina renunciando a qualquerpretenso entre baha Negra e o rio Verde. J a rea entre este rio e o brao principaldo rio Pilcomayo, incluindo Villa Occidental, seria submetida arbitragem doPresidente dos Estados Unidos. As ilhas de Atajo e Apip permaneceram com aArgentina e Yaceret com o Paraguai. Decidiu-se que as foras de ocupao seretirariam do Paraguai at 3 de junho do mesmo ano. Com referncia dvida deguerra, foram reconhecidos como tal os gastos do Governo argentino no conflito,bem como os prejuzos causados a propriedades pblicas e privadas, quando dainvaso de Corrientes em 1865.76

    O incio das negociaes de paz ocorreram revelia do Governo brasileiro,que, no entanto, foi convidado e aceitou enviar um representante. Ainda assim, ostratados assinados entre a Argentina e o Paraguai, nas palavras de Ernesto Quesada,consagraban todas las soluciones de la diplomacia imperial. Isto porque essesdocumentos estabeleceram a desocupao simultnea de tropas brasileiras eargentinas, respectivamente de Assuno e de Villa Occidental; reconheceram advida de guerra; e, ainda, encontraram uma soluo equilibrada para a questo de

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    limites. O prprio representante brasileiro nas negociaes desses Tratados, BaroAguiar de Andrada, analisou-os como a realizao dos objetivos do GovernoImperial, embora a posse pelo Paraguai de Villa Occidental e territrio adjacenteno se desse de imediato, sendo submetida arbitragem.77 Em 1878, o laudo arbitraldo Presidente norte-americano Rutherford Hayes declarou paraguaia essa realitigiosa.

    Terminava, assim, a lenta agonia da cooperao argentino-brasileira, projetoestratgico do Governo Mitre, cuja viabilizao s foi possvel para enfrentar oagressor comum, o ditador paraguaio Francisco Solano Lpez. Tanto na Argentinaquanto no Brasil, a aliana estratgica entre os dois maiores pases sul-americanosfoi encampada por setores polticos minoritrios, desgastando-se aceleradamente apartir do desaparecimento daquele inimigo, em 1870. Desde 1868, os crticos dessaaliana ascenderam ao Poder, tanto em Buenos Aires quanto no Rio de Janeiro,projetando no outro aliado objetivos contrrios soberania do Paraguai. Para aArgentina, o Imprio queria ter o pas guarani como protetorado; para o Brasil, oGoverno Sarmiento buscava sua incorporao. As polticas externas argentina ebrasileira, em dinmica realimentadora entre a imagem que criaram e a realidadeem boa parte resultante dessa criao, rivalizaram-se para impor sua influncia nareconstruo institucional e na definio territorial do pas guarani no ps-guerra.Historicamente precoce, a cooperao estratgica planejada por Mitre constituiu-se, de todo modo, em um precedente, a esperar momento histrico mais favorvelpara sua realizao.

    Notas

    * Trabalho apresentado em 11.9.97, no Seminrio Processos de Integracin y Bloques Regionales, Historia, Economay Poltica, realizado em Buenos Aires, sob os auspcios da Asociacin Argentina de Historia de las RelacionesInternacionales y da Commission of History of International Relations.

    1 As repercusses dessa afinidade ideolgica esto analisadas em TJRKS, German O. E. Nueva Luz sobre el origen de

    la Triple Alianza. In: Revista Histrica, Buenos Aires, Instituto Histrico de Oranizacin Nacional, I: 1, Octubre-Diciembre, 1977, pp. 131-171. Discordamos, porm, de que a articulao entre os governos liberais dos dois pasestenha- se dado sem o pleno conhecimento do Presidente Mitre e do Imperador Pedro II.

    2 Jos Pedro Barrn, Apogeo y Crisis del Uruguay Pastoril y Caudillesco; 1839 1875, Montevido: Ediciones de la

    Banda Oriental, 1982, p. 80 e 84.

    3 Idem, p. 84.

    4 Luis Alberto Moniz Bandeira, O expansionismo brasileiro; o papel do Brasil na Bacia do Prata da colonizao ao

    Imprio. Rio de Janeiro: Philobiblion, 1985, p. 222-225 e 246.

    5 Jos Pedro Barrn, op. cit., p. 70.

    6 Luiz Alberto Moniz Bandeira, op. cit. pp. 231-232 e Amado Luiz Cervo,. O Parlamento Brasileiro e as Relaes

    Exteriores (1826-1889). Braslia: Editora da UnB, 1981, p 98-106.7 Enrique Arocena Oliveira, Evolucin y apogeo de la diplomacia uruguaya, 1828-1948. Montevideo: Divisin Imprenta

    del Palacio Legislativo, 1984, p. 49 e 90-91.

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    8 Nota do Chanceler paraguaio Jos Berges a seu colega argentino Rufino de Elizalde, Assuno, 6.9.1863. Archivo del

    General Mitre [doravante:AGM]. Buenos Aires, La Nacin, 1910, v. II, p. 41.9 Rufino de Elizalde para o Ministro Plenipotencirio em Londres, Mariano Balcarte, Buenos Aires, 9.10.1863. Archivo

    Rufino de Elizalde el doctor Rufino de Elizalde y su epoca vista atraves de su archivo [doravante: ARE]. BuenosAires: Facultad de Filosofia y Letras Universidad de Buenos Aires, 1974, v. IV, p. 100.10

    Amado Luiz Cervo, op. cit., p.16; 88-89.

    11 Nabuco de Arajo, Nabuco de Arajo; Um estadista no Imprio. So Paulo: Progresso, 1946, v. II, p. 163. Luis A.

    Moniz Bandeira, op. cit., pp. 232-233.12

    Blanco del Valle, Ministro Residente espanhol, para Secretaria de Asuntos Exteriores, Ofcio 52, Rio de Janeiro,9.5.1864. Archivo del Ministerio de Asuntos Exteriores Consulado y Legacin en Brasil Espanha, Legajo 1416.13

    Instrues da Misso Confiada em 1864 ao Conselheiro Saraiva, Rio de Janeiro, 20.4.1864 In: LOBO, Hlio. Antesda guerra ( a Misso Saraiva ou os preliminares do conflicto com o Paraguay). Rio de Janeiro: Instituto Histrico eGeogrfico Brasileiro, 1914, p. 292-294.14

    Saraiva para o Ministrio dos Negcios Estrangeiros, Montevidu, 14.5.1864. Idem, p. 305.15

    Idem, p. 299-300.16

    Protocolo firmado por el Seor Ministro de Relaciones Exteriores de la Repblica Argentina y el Seor ConsejeroDon J. Antonio Saraiva, Plenipotencirio de S. M. el Emperador del Brasil en que se consignan las declaraciones quehacen a nombre de sus respectivos Goviernos de que en cualquier enventualidad que pudiese resultar de sus cuestionescon el Brasil, sern mantenidos los tratados que garanten la independencia, soberana e integridad territorial de laRepblica Oriental del Uruguay, Buenos Aires, 22.8.1864. In: Centro de Estudios de Derecho Internacional Pblico,La poltica exterior de la Repblica Argentina., Buenos Aires, Facultad de Derecho y Ciencias Sociales de la Universidadede Buenos Aires, 931, p. 65-66.17

    Nota do Governo paraguaio Legao brasileira em Assuno, 30.8.1864. RRNE, 1865, p. 173-174.18

    Joaquim Nabuco, Um Estadista no Imprio, v. I, p. 48.19

    Nota do Governo paraguaio Legao brasileira, Assuno, 12.11.1864. RRNE, 1865, p. 180.20

    Discurso do Senador Paranhos, Sesso de 5.6.1865. Anais do Senado, 1865, v. II, Apndice, p. 7.21

    Declaracin del ndio brasilero desertor de las fuerzas de Coimbra, Jos Antonio Acosta, Asuncin, 10.10.1864.Archivo Nacional de Asuncin , v. 340, n 11.22

    Jos Brizuela, Agente Comercial paraguaio, para o Chanceler Jos Berges, Montevido, 30.12.1864. Archivo Generalde la Nacin Argentina [doravante: AGNA], Paraguay Vrios, X-1-9-12.23

    Apud. Jos Sagastume, In: Hlio Lobo, op. cit., p. 276.24

    Jos Pedro Barrn, op. cit., p. 88.25

    Protocollo de Negociao da Paz celebrada em Villa de Unio, em 20.2.1865. RRNE,1865, p.157.26

    Pelham Horton Box, Los Orgenes de la Guerra del Paraguay contra la Triple Alianza. Buenos Aires, EditorialNizza, 1958, pp. 304-305.27

    Saraiva para Ellizalde, Rio de Janeiro, 22.9.1864.ARE. IV, p. 394.28

    Rufino de Elizalde para Jos Mrmol, Ofcio Confidencial, Buenos Aires, 21.3.1865. AGNA, VII-2-4-8. Jos Mrmolpara Mitre, Rio de Janeiro, 4.5.1865. Archivo Indito del General Mitre Museo Mitre, doc. 689129

    Almeida Rosa para o Chanceler brasileiro Dias Vieira, Ofcio Confidencial, Buenos Aires, 20.4.1865. Arquivo Histricodo Itamaraty [doravante: AHI], 272-1-21.30

    Elizalde para Saraiva, Carta Particular, Buenos Aires, 11.5.1865. Archivo del Ministerio de Relaciones Exteriores yCulto [doravante:AMREC], Guerra de la Triple Alianza, Caja 1, Folio 4.

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    31 Idem, carta particular, Buenos Aires, 25.8.1865. ibidem, Folio 19-20.

    32 Elizalde para Jos Maria da Silva Paranhos, Buenos Aires, 25.2.1866. Id., Folio 30.

    33 Almeida Rosa para Chanceler Dias Vieira, Ofcio Confidencial, Buenos Aires, 25.4.1865. AHI, 272-1-21.

    34 RRNE, 1872, Anexo 1, pp. 1-28.

    35 Anteriormente a reivindicao brasileira chegava at o rio Apa. A ampliao do territrio destinado Argentina, a

    qual anteriormente reivindicava a parte do Chaco apenas at o rio Bermejo, levou Almeida Rosa, por iniciativa prpria,a ampliar o territrio brasileiro at o rio Igurey.

    36 Almeida Rosa, Sesso do Senado, 13.7.1870. Anais do Senado, 1870, v. III, p. 88.

    37 Parecer da Seo dos Negcios Estrangeiros do Conselho de Estado In Joaquim Nabuco, op. cit., v. IV, p. 229-231;

    ver tambm v. II, p. 207-238.

    38 Almeida Rosa para Saraiva, Buenos Aires, 26.4.1866. In: Wanderley Pinho, Cartas de Francisco Octaviano. Rio de

    Janeiro: Civilizao Brasileira; Braslia: Instituto Nacional do Livro, 1977, p. 160-161.

    39 Idem, Buenos Aires, 8.6.1865, p. 136. A Trplice Aliana estabelecia a base para uma reconciliao e amizade entreas duas raas que tanto se odiaram e a experincia em comum da guerra contra o Paraguai, auxiliada pelo bom sensodos generais Mitre e Flores e dos verdadeiros liberais das duas repblicas, evitariam novos problemas para o Brasil noPrata. Id., Buenos Aires, respectivamente, 27.2 e 12.1.1866, p. 153 e 145.40

    Mitre para Mackenna, Buenos Aires, 22.3.1865. Archivo del General Mitre, v. XXI, p. 43. Mitre para Urquiza,Buenos Aires, 27.1.1865. Idem, v. II, p. 123.41

    Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, As relaes entre o Imprio do Brasil e a Repblica do Paraguay (1822-1889), Dissertao de Mestrado (1989), Departamento de Histria da Universidade de Braslia, mimeografado, v. I, p.274-275.42

    Sarmiento para Emlio Mitre, Buenos Aires, 21.1.1869. In: Jos Campobassi, Sarmiento y su poca. Buenos Aires,Editorial Losada, 1982, v. II, p. 212.

    43 Cotegipe para Paranhos, Instrues, 1.2.1869. AHI, 272-3-3.

    44 Idem, Rio de Janeiro, 15.4.1869. In: Wanderley Pinho, Cartas do Imperador D. Pedro II ao Baro de Cotegipe. So

    Paulo: Cia. Editora Nacional, 1933, p. 80.

    45 Idem, Rio de Janeiro, 22.2 e 15.4.1869. In: id., p. 72 e 79. Paranhos para Cotegipe, Ofcio Reservado, Buenos Aires,

    22.5.1869. AHI, Arquivo do Visconde do Rio Branco, 272-3-12. Com a misso do Chanceler Jos Maria da SilvaParanhos ao Prata, assumiu interinamente a Chancelaria brasileira outro expoente do Partido Conservador: Jos MaurcioWanderley, o Baro de Cotegipe.

    46 Paranhos para Cotegipe, carta particular n 14, Buenos Aires, 26.4.1869. Arquivo do Institu to Histrico e Geogrfico

    Brasileiro, Arquivo do Baro de Cotegipe, Lata 932, Pasta 133.

    47 Sesso de 30.9.1867. AHI, Atas da Seo dos Negcios Estrangeiros do Conselho de Estado (cpia datilografada), p.

    417- 440

    48 RRNE, 1872, Anexo 1, pp. 111 e 116-117.

    49 Paranhos se referiu a Villa Occidental como antiga colnia paraguaia denominada Nova Bordos. Paranhos para

    Emlio Mitre, Assuno, 23.11.1869. Idem, p. 112-113.

    50 Nota do Governo argentino Misso Especial do Brasil no Paraguai, Buenos Aires, 27.12.1869. Id., 1872, Anexo 1, pp.

    120-121. Nota do Governo argentino ao Governo Provisrio, Buenos Aires, 27.12.1869. Id., p. 122.

    51 Nota do Governo argentino Misso Especial do Brasil no Paraguai, Buenos Aires, 27.12.1869. Idem, p. 120-121.

    Nota do Governo argentino ao Governo Provisrio, Buenos Aires, 27.12.1869. Idem, p. 122. Protocolo de 20 de junhode 1870. Idem, p. 173. Nota do Chanceler uruguaio Adolfo Rodrguez para Paranhos, Montevidu, 1.8.1870. Idem,p.174.

  • 37Revista Mltipla, Braslia, 4(6): 21 39, julho 1999

    52 Jos Campobassi, Mitre y su poca. Buenos Aires: Editorial Universitria, 1980, v. II, p. 214-215.

    53 Instrues ao Baro de Cotegipe, sem data. AHI, Misso do Baro de Cotegipe, 272-3-24. Cotegipe substituiu

    Paranhos no Prata, em virtude de este ter sido nomeado para chefiar o Gabinete brasileiro pelo Imperador Pedro II, quetambm o distinguiu com o ttulo de Visconde do Rio Branco.

    54 Tejedor para Quintana, Buenos Aires, 29.11.1871. In: J. Ramn Crcano, Guerra del Paraguay; Accin y Reaccin

    de la Triple Alianza. Buenos Aires, Domingos Vian y Cia., 1941, v. II, pp. 494 e 496..

    55 RRNE, 1872, Anexo 1, p. 226-235.

    56 Editoriais La Poltica del Brasil: Ruptura de la Alianza e Lo que exige la prudencia. In: El Nacional, Buenos Aires,

    18 e 23.1.1872, respectivamente. Biblioteca del Congreso Argentino. Editoriais Las Palabras del Presidente Paraguayo;Nuestras Relaciones con el Brasil; La Cuestin del Brasil e La Poltica del Brasil y el tratado de alianza. In: LaTribuna, Buenos Aires, respectivamente edio nica de 8-9.4.1872; 10.4; 12.4 e edio nica de 15-16.4.1872. Bibliotecadel Congreso Argentino.

    57 Julio De Vedia para Coronel Martn De Gainza, Asuncin, 1.4.1872. AGNA, ex-Museo Histrico Nacional, Legajo

    36, doc. 4434.

    58 Correoa para Cotegipe, Ofcio Reservado, Rio de Janeiro, 8.2.1871. AHI, Misso Cotegipe, 272-3-22. Ap. Luis G.

    Bentez. Historia Diplomtica del Paraguay. Asuncin [s.n], 1972, p. 262-263.59

    Miguel Gallegos, Apuntes sobre algunas personas y cosas del Paraguay, que se relacionan intimamente con interesesargentinos, Asuncin, 20.2.1875. AGNA, Archivo y Coleccin Dardo Rocha, Sala VII, Legajo 242.60

    Gondim para Cotegipe, Ofcio Reservado, Buenos Aires, 8.12.1875. AHI, LBAO, 205-4-3. Cotegipe para o BaroAguiar de Andrada, Carta Particular e Confidencial, Rio de Janeiro, 3.1.1876. AHI, Misso do Baro de Aguiar deAndrada, 271-1-7.

    61 Sarmento a M. R. Garca, Ministro Plenipotencirio argentino nos Estados Unidos, Buenos Aires, 16.2.1872. In:

    ROSA, Jos Maria. La Guerra del Paraguay y las Montoneras Argentinas. Buenos Aires: Pen Lillo, p. 331.

    62 Baro de Araguaia para Correia, Ofcio Confidencial, Buenos Aires, 29.7.1872. AHI, MDBBAOE, 205-3-15.

    63 Aguiar de Andrada, representante brasileiro no Chile, para Correia, Ofcio Reservado, Santiago, 3.6.1872. Idem,

    M