NARRATIVAS VISUAIS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS...

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN GRÁFICO MILTON CESAR DE OLIVEIRA MACHADO NARRATIVAS VISUAIS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO ESTRATÉGIA DE AQUISIÇÃO DO SIGNWRITING SISTEMA DE ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL

CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN GRÁFICO

MILTON CESAR DE OLIVEIRA MACHADO

NARRATIVAS VISUAIS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO

ESTRATÉGIA DE AQUISIÇÃO DO SIGNWRITING – SISTEMA DE

ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2017

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MILTON CESAR DE OLIVEIRA MACHADO

NARRATIVAS VISUAIS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO

ESTRATÉGIA DE AQUISIÇÃO DO SIGNWRITING – SISTEMA DE

ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 2, como requisito parcial à obtenção do título Técnico em Design Gráfico, do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial – DADIN – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR.

Orientador: Prof. Dr. Cayley Guimarães

CURITIBA

2017

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TERMO DE APROVAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 056

NARRATIVAS VISUAIS: HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO ESTRATÉGIA DEAQUISIÇÃO DO SIGNWRITING – SISTEMA DE ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS

por

Milton Cesar de Oliveira Machado – 1614380

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no dia 05 de dezembro de 2017 comorequisito parcial para a obtenção do título de TECNÓLOGO EM DESIGN GRÁFICO,do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico, do Departamento Acadêmicode Desenho Industrial, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O aluno foiarguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo, que apósdeliberação, consideraram o trabalho aprovado.

Banca Examinadora: Profa. Ana Cristina Munaro (MSc.)AvaliadoraDADIN – UTFPR

Profa. Rita de Cássia Maestri (Esp.)ConvidadaDEPED – UTFPR

Prof. Cayley Guimarães (Dr.)OrientadorDADIN – UTFPR

Prof. André de Souza Lucca (Dr.)Professor Responsável pelo TCC DADIN – UTFPR

“A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso”.

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

Ministério da EducaçãoUniversidade Tecnológica Federal do ParanáCâmpus CuritibaDiretoria de Graduação e Educação ProfissionalDepartamento Acadêmico de Desenho Industrial

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Dedico este trabalho aos meus pais e irmã, Aline.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente meus pais, por terem ido muito além de apenas me

apoiar. Minha mãe, sempre capaz de transformar viagens que seriam longas e

cansativas numa história incrível; sempre olhando para além da janela do carro e

exercitando nossa criatividade ao tentar adivinhar o que se passava nas montanhas

distantes... Histórias de fadas, bruxas, ogros e cavaleiros. Meu pai, que mesmo após

um cansativo dia no trabalho, sentava ao chão para construir mundos de Lego

comigo, e que, até hoje, é para mim o melhor arquiteto de castelos que conheço.

Agradeço aos dois também, por nunca ter deixado faltar folhas brancas para que eu

pudesse desenhar. Vocês são culpados por eu ter escolhido seguir neste caminho,

mas está tudo bem!

Sou grato pela minha irmã, que mesmo passando pela fase da adolescência

(que eu sei como é chato) me mandava, volte e meia, mensagens fofas que me

faziam ter vontade de embarcar em ônibus por um abraço. Sinto que nos

aproximamos muito nessa reta final e espero que ainda mais após finalizada esta

etapa da minha vida.

Gostaria de agradecer minha avó e familiares pelo apoio que me deram

durante estes anos de faculdade, e um agradecimento especial a tia Hellen e tio

Cezinha, pela forma como me ajudaram em um momento que realmente precisava,

este projeto não teria acontecido caso não tivessem acreditado em mim!

Obrigado também aos amigos maravilhosos que fiz aqui, em especial: Cami,

Pedro, Elana, Filippe, Rique e Matheus. Obrigado pelos cafés que você passou,

Matheus!

Amo muito cada um de vocês e sou extremamente grato por tê-los em minha

vida.

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Queiramos ou não, temos de ser seletivos porque nossos olhos o são.

(GOMBRICH, E.H., 1979)

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RESUMO

MACHADO, Milton, Narrativas visuais: história em quadrinhos como estratégia de aquisição do signwriting – sistema de escrita de língua de sinais. 2017. 58. Trabalho de Conclusão do Curso Tecnologia em Design Gráfico - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

As pessoas Surdas usam a Língua de Sinais (LS) para a comunicação e outras atividades humanas que envolvem o uso de uma língua. Isto inclui, entre outras possibilidades, a aprendizagem da modalidade escrita, cujo uso potencializa as formas de expressão e registro da língua, sobretudo no contexto educacional. A Libras é um sistema linguístico completo de modalidade visual-espacial e requer um sistema de escrita adequado, capaz de mapear as propriedades da LS e o desafio de tentar representar linearmente sua tridimensionalidade. Dentre as especificidades do processo de alfabetização/letramento dos Surdos, está o fato do ensino e aprendizagem de um sistema de escrita de sinais, com base na premissa que a constituição dos sentidos na escrita decorrerá de processos simbólicos visuais, nos quais a mediação da Língua de Sinais assume centralidade, de forma diferenciada dos encaminhamentos adotados nos sistemas de escrita de línguas orais que se pautam nas relações fonema-grafema. O SignWriting é um sistema de escrita adequado para a natureza visual e espacial das LS e tem sido utilizado como importante ferramenta no processo de aquisição de escrita de crianças Surdas. Diante desse cenário, esta pesquisa tem como objetivo apresentar uma proposta de narrativa visual no gênero História em Quadrinhos (HQ), de modo a introduzir o ensino de aspectos do SignWriting, de maneira mais natural e contextual. Os procedimentos metodológicos da pesquisa envolvem o estabelecimento do contexto e situação comunicacional, apresentação do sinal/enunciado em Libras, elementos composicionais do SignWriting e atividades de escrita de sinais. Como resultados, apresentados foram destacadas a importância da HQ como estratégia pedagógica adequada ao ensino da escrita de crianças e jovens surdos, o uso da LS na narrativa visual, a seleção de sinais icônicos nas primeiras lições de SignWriting e as atividades de prática do traçado da escrita em SignWriting adequadas à faixa etária.

Palavras-chave: História em Quadrinhos. Língua de Sinais. SignWriting. Língua de Sinais Escrita. Narrativas visuais.

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ABSTRACT

MACHADO, Milton. Visual Narratives: comic strip as signwriting acquisition strategy - sign language writing system. 2017. 58. Final Year Research Project of Graphic Design Technology - Federal University Technology - Paraná. Curitiba, 2017.

Deaf people use Sign Language (LS) for communication and other human activities involving the use of a language. This includes, among other possibilities, the learning of the written modality, whose use enhances the forms of expression and registration of the language, especially in the educational context. Libras is a complete linguistic system of visual-spatial modality and requires a suitable writing system capable of mapping the properties of LS and the challenge of trying to represent linearly its three-dimensionality. Among the specificities of the literacy / literacy process of the Deaf people is the teaching and learning of a system of writing of signs, based on the premise that the constitution of the senses in writing will be based on visual symbolic processes, in which the mediation of Language of Signals assumes centrality, in a different way from the referrals adopted in the oral language writing systems that are based on phoneme-grapheme relations. SignWriting is a writing system suitable for the visual and spatial nature of LS and has been used as an important tool in the process of writing acquisition of deaf children. Given this scenario, this research aims to present a proposal of visual narrative in the genre History in Comics (HQ), in order to introduce the teaching of SignWriting aspects, in a more natural and contextual way. The methodological procedures of the research involve the establishment of the context and communicational situation, presentation of the signal / statement in Pounds, SignWriting compositional elements and sign writing activities. As results, we highlighted the importance of HQ as a pedagogical strategy appropriate to teaching the writing of deaf children and young people, the use of LS in the visual narrative, the selection of iconic signs in the first lessons of SignWriting and the practice activities of the written in SignWriting appropriate to the age group.

Keywords: Comics. Sign language. SignWriting. Sign Language. Visual narratives.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – VALIDAÇÃO JUNTO AO GRUPO DE SURDOS DA CASA AMARELA.

16

FIGURA 2 – EXEMPLO DE SIGNWRITING: CONFIGURAÇÃO DE MÃO À DIREITA

E O SÍMBOLO CORRESPONDENTE À ESQUERDA. 23

FIGURA 3 – ILUSTRAÇÃO DA HISTÓRIA QUE APRESENTA UM PERSONAGEM

ROBÔ VINDO DO ESPAÇO 25

FIGURA 4 – ILUSTRAÇÃO DA HISTÓRIA QUE APRESENTA UM PERSONAGEM

26

FIGURA 5 - O SANTUÁRIO DAS BORBOLETAS 26

FIGURA 6 – O SIGNWRITING SOBREPOSTO À MÃO; ROBÔ SINALIZANDO

BORBOLETA 27

FIGURA 7 – O MONUMENTO, O SINAL E A ESCRITA DE BORBOLETA EM

LÍNGUA DE SINAIS 23

FIGURA 8 – A BORBOLETA AMARELA É BONITA – EM LIBRAS 28

FIGURA 9 – SKETCH ENVIADO PARA OS PROFESSORES 31

FIGURA 10 – PÁGINA ENVIADA PARA VALIDAÇÃO 32

FIGURA 11 – ALTERAÇÕES 33

FIGURA 12 – ALTERAÇÕES 33

FIGURA 13 – PRIMEIRA CONFIGURAÇÃO (SOL) 34

FIGURA 14 – SEGUNDA CONFIGURAÇÃO (SOL) 34

FIGURA 15 – DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DE MOVIMENTO NOS

QUADRINHOS 35

FIGURA 16 – APLICAÇÃO DOS PARÂMETROS 36

FIGURA 17 – ESTÁTICO 37

FIGURA 18 – MOVIMENTO SIMPLES 37

FIGURA 19 – MUDANÇA DE CONFIGURAÇÃO DE MÃO 38

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

1.1 Objetivo geral ....................................................................................................13

1.2 Objetivo específicos ..........................................................................................13

1.3 Justificativa.........................................................................................................13

1.4 Metodologia de pesquisa....................................................................................14

1.4.1 Classificação da pesquisa...............................................................................14

1.4.2 Procedimentos.................................................................................................15

2 LÍNGUA DE SINAIS, ESCRITA E LEITURA ......................................................17

2.1 Importancia de um sistema de escrita para lingua de s. ..................................19

2.2 Signwriting .........................................................................................................22

3 NARRATIVA VISUAL: A HISTÓRIA EM QUADRINHOS EM LIBRAS ...............24

3.1 Processo de criação do HQ................................................................................30

3.2 Como representar Lingua de Sinais em um quadrinho......................................34

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................39

REFERÊNCIAS .......................................................................................................41

APÊNDICES............................................................................................................ 45

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1 INTRODUÇÃO

As pessoas Surdas1 têm o direito ao acesso às possibilidades humanas: a

comunicação simbólica, as interações sociais, a aprendizagem, entre outras, em

Língua de Sinais (LS). A Língua Brasileira de Sinais (Libras), de modalidade visual-

espacial, é a LS usada pelas comunidades Surdas urbanas, brasileiras, capaz de

prover funcionalidades linguísticas complexas aos seus usuário (FERNANDES,

2012). Mais de 90% das crianças Surdas nascem em famílias de pais ouvintes, e

não tem acesso à língua materna oral e, tampouco, à aquisição da Libras na

infância, o que acarreta sérias consequências: no desenvolvimento linguístico,

intelectual, cultural e na cidadania (SKLIAR, 1999). Um processo educacional

bilíngue (BRASIL, 2008), que viabilizasse o acesso e aquisição da Libras, desde a

educação infantil, possibilitaria um desenvolvimento qualitativo semelhante ao de

qualquer criança da mesma faixa etária.

Adicionalmente, a criança Surda tem dificuldades em adquirir um sistema de

escrita, mesmo da língua oral, considerando-se as metodologias existentes

enfatizarem relações letra-som, para ela inacessíveis. O acesso a um sistema de

escrita em LS representaria um ganho significativo nesse processo, pois envolveria

aprender um processo de registro de uma língua visualmente, sem barreiras de

ordem fisiológica para sua aprendizagem. Ao contrário do que se imagina, o registro

da LS é possível na forma escrita, e não somente na forma de vídeo, como se

costuma veicular. SignWriting, criado por Sutton, é o sistema de escrita mais usado

para registro das Línguas de Sinais no mundo, e tem sido ensinado em experiências

educacionais bilíngues (SUTTON, 2006). Os Sistemas de Escrita (i.e. uma

sequência de caracteres usados para representar simbolicamente uma língua)

servem de suporte e base para a sociedade moderna e são considerados um

avanço para as LS, oferecendo possibilidades de registro de sua literatura,

preservação cultural, armazenamento e recuperação da informação, ciência, criação

e disseminação de conhecimento, comunicação e outras atividades que as

visibilizam como línguas de cultura.

1 Neste texto, a grafia Surdo/os, Surda/as em letra maiúscula segue uma convenção no campo dos Estudos Surdos (Deaf Studies) em Educação que diferencia a surdez audiológica (letra minúscula) da experiência cultural de Ser Surdo como grupo cultural. Do mesmo modo, o uso da letra maiúscula será empregado sempre que se tratar da representação de produtos culturais das comunidades Surdas.

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As crianças Surdas, que teoricamente têm todas as possibilidades de se

tornarem leitores e escritores, não possuem ainda estas competências devido às

suas condições sociais, familiares e até mesmo escolares que restringem suas

experiências a processos metodológicos e produtos culturais pensados e

desenvolvidos para crianças que ouvem. Para que possam adquirir a modalidade

escrita da língua, há a necessidade de um desenvolvimento natural da linguagem,

da inteligência e uma imersão de quem aprende nas práticas sociais da língua

escrita (SÁNCHEZ, 1991; HOFFMEISTER, 1999).

São ainda iniciais as experiências e metodologias envolvendo o ensino e a

aprendizagem da escrita de sinais capazes de prover à criança Surda e seus

interlocutores com um suporte educacional adequado (HOFFMEISTER, 1999;

GUIMARÃES et al., 2013). Há um acervo restrito, com poucas publicações

registradas em um sistema de escrita de LS, uma situação que priva a Comunidade

Surda de um grande componente de valorização de sua Cultura (SUTTON, 2006),

por meio da construção de sua identidade em uma comunidade linguística

minoritária (SKLIAR, 1999). Não se deve mais esperar que a criança Surda tenha

sucesso acadêmico no ensino e aprendizagem por meio da língua oral majoritária,

que lhe é inacessível. Um chamado claro para a criação de ferramentas em LS

(JOHNSON, LIDDELL & ERTING, 1989).

O desafio de prover ferramentas para o acesso de SE de sinais para as

pessoas Surdas e seus interlocutores é urgente, e requer uma abordagem

inovadora, sob risco de nos depararmos com uma comunidade inteira sem história

escrita. Entendemos que a base da sociedade moderna é dependente da memória.

Para Vygotsky (1974) a leitura deve conter uma miríade de significados para quem

aprende, senão a palavra é apenas um vazio. Para o autor, a aprendizagem da

escrita equivale à aquisição de uma nova linguagem em toda a sua função social e

individual – um letramento que, mais do que o simples ato de ler e escrever,

pressupõe um entendimento e um uso adequado de tais habilidades na sociedade e

no contexto em que o texto está inserido (LODI, 2002).

Assim, nesse trabalho, propõe-se uma abordagem na qual o letramento é um

processo em que a escrita de sinais ocorre em um contexto de uso, por meio de

uma narrativa visual desenvolvida no gênero de História em Quadrinhos (HQ) que

utiliza SignWriting como sistema de escrita da LS. Adicionalmente, apresenta um HQ

em Libras como ferramenta de ensino e aprendizagem que dá autonomia ao Surdo,

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debatida e avaliada por professores e alunos de um curso de licenciatura em

Letras/Libras.

1.1 Objetivo geral

Desenvolver uma narrativa visual em formato de HQ que evidencie a

necessidade de desenvolvimento de uma nova forma de aquisição de Signwriting

pelos Surdos. E o processo de desenvolvimento de uma narrativa visual como

estratégia de aquisição.

1.2 Objetivos específicos

1. Investigar e descrever a necessidade de uma nova forma de aquisição

de signwriting pelos Surdos.

2. Investigar os parâmetros visuais utilizado em quadrinhos para

representação de movimento e experimentar as possibilidades desses

parâmetros visuais nos movimentos LS dentro da narrativa escolhida;

3. Estudar as ferramentas disponíveis que aperfeiçoam e auxiliam como

plataforma para o desenvolvimento visual do projeto;

4. Compor visualmente a narrativa escolhida, aplicando os parâmetros

visuais.

1.3 Justificativa

Atualmente o nosso sistema de ensino obriga surdos a se adaptarem a

metodologias claramente destinadas a pessoas ouvintes. Esta prática prejudica o

desempenho acadêmico dos surdos e a revisão deste sistema é imprescindível

(JOHNSON, LIDDELL & ERTING, 1989).

Portanto este projeto de pesquisa visa investigar parâmetros visuais existentes

no meio impresso a fim de explorar a viabilidade de criação de uma narrativa visual

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que enfatize a relação de imagem e palavra, contrariando a metodologia de ensino

atual, que se baseia na relação de som e escrita.

1.4 Metodologia da Pesquisa

Este tópico aborda a metodologia utilizada nesta pesquisa empírica, segundo Learn (2014, p.1)

A pesquisa empírica, também chamada de pesquisa de campo, pode ser entendida como aquela em que é necessária comprovação prática de algo, seja através de experimentos ou observação de determinado contexto para coleta de dados em campo. Na relação com a teoria a pesquisa empírica serve para ancorar e comprovar no plano da experiência aquilo apresentado conceitualmente, ou, em outros casos, a observação e experimentação empíricas oferecem dados para sistematizar a teoria.

As práticas e experimentos utilizados estão detalhados nos capítulos seguintes. De acordo com Lakatos e Marconi (2001, p. 221) “a especificação da metodologia da pesquisa é a que abrange maior número de itens pois responde, a um só tempo, às questões como, com quê, onde e quando.

1.4.1 Classificação da Pesquisa

Pode-se classificar uma pesquisa sobre várias formas e sobre vários pontos de vista.

a) Quanto a sua natureza, ela pode ser básica ou aplicada que Almeida (2007, p. 2) define com: “Pesquisa básica: objetiva gerar conhecimentos novos para avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicações práticas dirigidos à solução de problemas específicos”.

b) Quanto ao objetivo, Gil (2002) apresenta três opções: exploratório, descritivo e explicativo. Que são definidas por Almeida (2007, p. 2) da seguinte forma:

- Pesquisa exploratória: objetiva proporcionar maior familiaridade com um problema; envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos; assume

em geral a forma de pesquisas bibliográficas e estudos de caso. ƒ

- Pesquisa descritiva: objetiva descrever as características de certa população ou

fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis; envolvem técnicas de coleta de dados padronizadas (questionário, observação); assume em geral a forma de

levantamento. ƒ

- Pesquisa explicativa: objetiva identificar os fatores que determinam fenômenos,

explica o porquê das coisas; assume em geral as formas de pesquisa experimental e pesquisa ex‐ post‐ facto.

c) Quanto ao tempo Miranda (2007) ressalta que a pesquisa pode ser transversal (dados coletados em um único momento) ou longitudinal (onde os dados são coletados em dois ou mais momentos, e tento um acompanhamento da evolução do fato).

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d) Quanto a abordagem do problema, esta pesquisa busca tornar o ensino da escrita para surdos, algo mais perto das limitações dos mesmos, assim possuindo caráter Qualitativo, pois Longaray (2003) destacam que este tipo de estudo pode descrever a complexidade de um problema, interpretar as diversas variáveis, compreendendo e catalogando e processos dinâmicos de determinados grupos sociais.

Com base no exposto, classifica-se está pesquisa como sendo: Empírica, abrangendo as seguintes classificações.

Classificação Definição

Quanto a sua Natureza Aplicada

Quanto ao Objetivo Exploratória

Quanto ao Tempo Longitudinal

Quanto a Abordagem do Problema

Qualitativo

Quadro 1 – Classificação da Pesquisa

Identificadas às classificações desta pesquisa, cabe elencar os procedimentos realizados para conseguir chegar a um modelo aprovado, de identidade visual, para as histórias em quadrinhos, para surdos; melhor detalhado no capítulo 3 deste trabalho.

1.4.2 Procedimentos

Outra forma de classificar uma pesquisa é identificar os procedimentos utilizados para alcançar o resultado esperado.

Para Rosenfiel (2011, p. 1) a apresentação dos seus procedimentos, pense sobre os seguintes elementos e tente responder às perguntas seguintes: “(...) como será estruturado

o trabalho? (...) Com qual instrumento? (...) Qual é o público-alvo? (...) a partir de que técnicas se obterão os dados? Como o instrumento será distribuído e aplicado?”

Para este estudo Empírico e Exploratório foram usados os seguintes procedimentos, conforme detalhado no cronograma que segue:

CRONOGRAMA E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

DATA PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

DETALHAMENTO DAS REALIZAÇÕES

Integral Pesquisa Bibliográfica Buscou-se na literatura suporte para as fundamentações. (Vide Bibliografia)

De Maio. a Fontes Dados Auxílio do Professor Jeferson e professora

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Set./2017 Rita – no contexto visual da língua de libras.

De Maio. a Set./2017

Criação do Método Criado, por este autor, o método de identificação visual para surdos com base nos quadrinhos de Scott Mcloud conforme

demonstrado nos itens e na Figura 15.

De Maio. A Set./2017

Criação da História Criado, por este autor, a história do robô que cai na terra. Vide roteiro no capítulo 3 deste

trabalho.

Maio/2017 1ª - Validação dos quadrinhos

Junto ao Grupo de surdos da Casa Amarela, representados por um total de sete

participantes, realizou-se a apresentação dos quadrinhos onde foram coletadas as

impressões e as melhorias que deveriam ser realizadas. (colocar o local que está

representado na Monografia) – vide Figura 01 que segue a este quadro.

Maio – Julho/2017

Realização das arrumações

Agosto/2017 2ª - Validação dos quadrinhos

Setembro/2017 Qualificação Submetido à qualificação identificou-se a necessidade de melhorias

Novembro/2017 Melhorias As ilustrações para: esperar, amarelo, bonito e amigo, precisavam ser arrumadas pois o

movimento estava incorreto, não muito claro ou possuía signwriting não condizente com a

ilustração.

Quadro 2 – Cronograma e procedimentos da Pesquisa.

Segue abaixo a foto da primeira validação junto ao grupo de surdos da Casa Amarela.

Figura 1 - Validação junto ao grupo de surdos da Casa Amarela.

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2 LÍNGUA DE SINAIS, ESCRITA E LEITURA

A Falta de aquisição na tenra idade da Libras impede a criança Surda de

aprender conceitos cotidianos (MAcNAMARA, 1982). Consequentemente, a criança

não aprende a fazer perguntas para clarificar dúvidas, e assim não formam relações

que possam alterar suas estruturas cognitivas: combinando, comparando, inferindo,

deduzindo e extrapolando conhecimentos antigos e novos, em um processo mental

que é mediado pelas experiências sociais e linguísticas. A língua é mais do que um

meio de comunicação (SÁNCHEZ,1991). A língua inclui uma função reguladora do

pensamento e é essencial para o desenvolvimento intelectual, Apois permite criar

primeiros conceitos concretos, que depois servirão de bases para a criação de

conceitos abstratos (VYGOTSKY, 1974).

A falta da aquisição da língua materna é uma barreira para o desenvolvimento

intelectual que acarreta consequências severas: a inabilidade de realizar tarefas

cotidianos de ações inteligentes; a inabilidade de aprender e planejar; a

dependência única e exclusiva das situações concretas e visuais; dificuldades de

socialização entre outras. As crianças Surdas crescem em uma realidade em que há

pouco material escrito em língua de sinais (KYLE, 2005).

Johnson, Liddell e Erting (1989) argumentam que não basta apresentar à

criança Surda conceitos na língua oral e esperar que elas possam criar conceitos na

sua própria cultura. Este modelo monolíngue tem privado as crianças Surda de

conquistas mais elevadas quando comparadas com suas colegas não-Surdas. Já

Petito (1994) nos diz que a criança Surda possui em si e a seu dispor todos os

dispositivos, sistemas, capacidades e mecanismos de aquisição de língua,

sobretudo a de sinais. Mas, para que atingir o seu potencial elas devem ser imersas

na LS como língua materna, para que tenham os benefícios do desenvolvimento

intelectual. Temos Cummins (1984) que propõe uma teoria de interdependência –

uma interação entre a língua de instrução e o tipo de competência que a criança

desenvolveu em sua língua antes da educação formal. Os autores Nover e Andrews

(1998) nos dizem que à criança Surda deve ser oferecida a possibilidade de criar

seu próprio conhecimento, e o conhecimento em sua própria língua, o que inclui o

uso de um sistema de escrita em língua de sinais. O processo de letramento é

dependente da constituição de seu sentido na língua de sinais.

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Se a questão da alfabetização segue sendo objeto de pesquisa e reflexão no

campo de aquisição da modalidade escrita da língua oral como segunda língua por

aprendizes surdos (L2), fazemos ideia dos complexos desafios das reflexões

envolvendo a aquisição, ensino e aprendizagem da escrita em língua de sinais

(FERNANDES, 2006). Apesar da temática da aquisição da escrita ser recorrente e

de diversas experiências serem desenvolvidas em decorrência das políticas de

inclusão de Surdos em salas regulares, os níveis de aprendizado e desenvolvimento

continuam aquém do esperado e inferior ao das crianças não-Surdas (ALLEN,

1986). Para a pessoa Surda, a premissa de um ambiente de letramento que

potencialize o contato com os símbolos da escrita não se aplica.

Fernandes (2006) pontua que, ao se discutir práticas de letramento na

educação de Surdos, temos como duplo desafio promover práticas que permitam a

aquisição e desenvolvimento da língua de sinais, como língua materna, além da

vivência de experiências que possibilitem a apropriação de um sistema de escrita

pelas crianças Surdas pela via visual, e não oral-auditiva como ocorre com as

demais crianças. Dito de outra forma, a incursão no mundo da escrita não se dará

pela oralidade, mas por processos visuais de significação que têm na língua de

sinais seu principal elemento fundador.

A inserção social da língua materna inicia o processo de desenvolvimento

intelectual da criança e é, portanto, essencial que cada criança traga para o

letramento a sua própria experiência nas vivências de letramento na infância. Para

fazer uso de tais experiências, o educador deve entender a maneira em que a

criança aprende não somente as matérias de uma determinada disciplina, mas deve

buscar também saber como ela se apropria de seus componentes sociais, culturais

e linguísticos (CAGLIARI, 1989).

O ambiente de aprendizagem deve fazer sentido e apresentar um contexto,

de forma que sirva para a criação coletiva do texto cotidiano, que eventualmente se

tornará simbólico. O letramento ocorre nas interações mediadas, e a compreensão e

o entendimento estão no uso do texto – não são meras fragmentações das palavras,

as quais, fora de contexto, não fazem sentido – o que nos trás as várias

possibilidades de aprendizagem de leitura e escrita. Concordamos com Schneuwly

(2002) quando nos diz da sedimentação no sentido dado por Vygotsky (1974): o

comportamento humano é sedimentado em camadas sucessivas nas quais as novas

são construídas com base nas anteriores. Isto pode ser construído com narrativas

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visuais. Então, antes das letras, o primeiro conhecimento é o da palavra: o texto e o

contexto são pertinentes à cultura em que a criança se encontra. Procede-se então a

uma ampliação de visão de mundo, e a habilidade da criança sentir, pensar e agir

sobre este mundo.

Os Surdos se apropriam do conhecimento prioritariamente pela experiência

visual. Assim, um ambiente de letramento deve oportunizar atividades de leitura,

principalmente na fase inicial, contextualizadas em referências visuais, em que a

Língua de Sinais tem destaque, na compreensão dos sentidos mobilizados pelo

texto. A leitura de imagens conduzirá o processo de reflexão e de inferências sobre

a leitura da palavra, por meio da mediação da língua de sinais como língua materna

(FERNANDES, 2006)

As narrativas visuais são um caminho comum a ser trilhado, seja por crianças

Surdas, ou não. Há, no entanto, diferenças decorrentes da forma de apropriação do

sentido mediado pela palavra. A narrativa visual proposta em HQ não apresenta

texto da língua oral – apresenta o personagem falando em língua de sinais, e o

SignWriting. O sistema de escrita se difere do desenho pela associação simbólica

que a criança Surda faz do sinal com a sua forma grafada. Assim, o desenho é algo

no mundo sobre o qual se podem tecer comentários. Já quando as grafias

representam possibilidades de significados linguísticos, a criança que escreve e lê

desenvolve uma intencionalidade, um ponto crucial no letramento, segundo Ferreiro

e Teberosky (2008). Estes autores nos dizem que a aquisição da leitura e da escrita

são mais relacionadas à cultura, deixando claro que o processo de apropriação da

língua escrita formal ocorre nas práticas sociais com o mundo de leitura e escrita, no

mundo das história lidas, contadas – o que nos leva a propor uma metodologia de

contexto de língua, conforme apresentado mais adiante.

2.1 IMPORTÂNCIA DE UM SISTEMA DE ESCRITA PARA A LÍNGUA DE SINAIS

Sistemas de escrita servem para várias funções: eles reproduzem a fala,

pensamentos e conceitos abstratos. Eles são as ferramentas humanas de

conhecimento, necessários para o desenvolvimento da ciência, disseminação da

informação, permitem a expressão de conceitos abstratos, dos sonhos; eles estão

enraizados na necessidade humana de se comunicar no tempo e no espaço; eles

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ajudam a organizar nossas vidas, registrar pensamentos, sentimentos, descobertas

– a escrita preenche funções humanas e significados específicos que requerem

ações analíticas deliberadas capazes de construir uma estrutura interna. Mais do

que transmitir ideias, a escrita transmite nossa maneira de ver, sentir, interpretar e

pensar o mundo (STUMPF, 2005).

Escrita e leitura são processos inter-relacionados – quem lê deve,

inicialmente, reconhecer o código necessário para a escrita. Uma das habilidades da

leitura é a de poder decodificar o sistema de escrita. A aquisição deste código é

contingente no fato do leitor se considerar escritor, segundo Ferreiro e Teberosky

(2008). Portanto, temos a necessidade de um sistema de escrita para as línguas de

sinais que esteja em relação direta com o processo de pensamento da pessoa

Surda. Tal visão do processo é usualmente associada à alfabetização, que é uma

condição considerada necessária, mas não suficiente para o entendimento do texto,

um passo que não se produz sem instruções explícitas, um processo que tem

implicações positivas na aprendizagem da escrita. Porém, considera-se que não faz

sentido uma alfabetização que não seja também letramento – que venha em forma

de um conhecimento cultural compartilhado, uma das formas que a pessoa Surda

tem de buscar a sua inclusão social e seus direitos básicos de cidadania

(FERNANDES, 2006).

Há um equívoco ao se pensar que as línguas de sinais não possuem um

sistema de escrita, e que pouco se pode ganhar com o seu uso pelas crianças

Surdas que falam Libras. A Libras é um sistema linguístico completo de modalidade

visual-espacial, e requer um sistema de escrita adequado, capaz de mapear as

propriedades da língua de sinais e o desafio de tentar representar linearmente uma

língua tridimensional. Portanto, pode-se pensar que a aquisição de um sistema de

escrita e o letramento são processos interconectados: a alfabetização deve se

desenvolver no contexto de uso e de significados de práticas sociais de leitura e

escrita, ou seja, de atividades de letramento, em um processo e um comportamento

social valorizado. O uso de um sistema de escrita adequado para as línguas de

sinais é um processo que aumenta as habilidades linguísticas e cognitivas,

promovendo assim uma valorização da identidade e da Cultura Surda.

Há alguns sistemas de escrita propostos para as línguas de sinais tais como

Mimographie notation (BÉBIAN, 1825); Stokoe notation (STOKOE, 1960); D’Sign

(JOUISON, 1995); Neve notation (NEVE, 1982); HamNoSys (HANKE, 2004);

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SignWriting (SUTTON, 2006); no Brasil temos a Escrita das Línguas de Sinais - Elis

(BARROS, 2008), o Sistema de Escrita para Libras - SEL (LESSA-DE-OLIVEIRA,

2012) entre outros. Apesar dessas possibilidades de registro, por ser de uso

universal, o SignWriting é o sistema sobre o qual focaremos nossos estudos.

No âmbito pedagógico, o debate situa-se nas especificidades do processo de

alfabetização dos surdos, já que a escrita de sinais constituiria um elemento

mediador na apropriação da escrita alfabética, posto que o aprendizado do

português pelos estudantes surdos tem como premissa que a constituição dos

sentidos na escrita decorrerá de processos simbólicos visuais, nos quais a mediação

da língua de sinais assume centralidade. Esse pressuposto demanda um processo

metodológico que difere dos encaminhamentos adotados no ensino de português

como língua materna, os quais se pautam nas relações entre fonema-grafema pelos

falantes nativos.

São significativos os estudos desenvolvidos em diferentes países sobre as

especificidades do processo de letramento dos surdos (SÁNCHEZ, 1991;

HOFFMEISTER, 1999; FERNANDES, 2012), os quais propõem desconsiderar o

domínio das relações letra-som como pressuposto para o acesso à escrita. Para os

pesquisadores, a questão é simples: admitir a língua de sinais como simbolismo

mediador no aprendizado da escrita e adotar encaminhamentos metodológicos

utilizadas no ensino de segundas línguas para estrangeiros possibilitará a inserção

dos surdos em práticas de letramento, nos mesmos moldes dos demais estudantes.

Ler sem estar “alfabetizado” corresponde à realidade de sujeitos que tem uma língua

não-alfabética como língua materna e dominam a escrita de uma segunda língua

alfabética, ainda que não se comuniquem oralmente por meio dela (FERNANDES,

2006).

Nesse sentido, o sistema de escrita visual direta SignWriting representa um

elemento mediador entre a primeira língua, a Língua de Sinais, e a escrita alfabética

do português como segunda língua, contribuindo para a complexificação das

funções psicológicas superiores (memória, abstração, generalização,

metalinguagem etc.) das crianças surdas, bem como potencializando seu

letramento. Em que pesem os inúmeros aspectos positivos relativos à acessibilidade

e inclusão que a sistematização e difusão de um sistema de escrita da língua de

sinais para a comunidade surda brasileira oportunizaria, são ainda precárias as

publicações e suportes informacionais registrados em SignWriting.

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Do ponto de vista dos suportes informacionais que veiculam o SignWriting, há

total carência e precariedade de produtos. Justifica-se, desse modo, a criação de

narrativa visual, do gênero história em quadrinhos que contempla sinais em Libras,

para a aquisição da escrita da língua de sinais, por se tratar de um recurso inovador

como processo intermediário na aquisição da escrita alfabética pelos surdos. A

narrativa visual possibilita o estabelecimento de novas relações para a construção

do conhecimento e novas formas de atividade mental, considerando-se o potencial

dos meios eletrônicos de informação e comunicação, para complementar e

aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem de estudantes surdos.

2.2 SIGNWRITING

O trabalho de Stokoe (1960) foi pioneiro em identificar alguns parâmetros das

línguas de sinais, tais como configuração de mão, contato (locação), orientação da

palma da mão, movimentos locais e globais e expressões não manuais. Por sua vez,

Sutton (2006), em meados dos anos 70, propôs o SignWriting como um sistema de

escrita para as línguas de sinais, que vem sido adotado no mundo inteiro. Esses

elementos constitutivos do sinal, articulados com as mãos, olhos, partes do corpo,

ocupam o espaço tridimensional, de forma simultânea. Assim, o grande desafio do

registro escrito repousa na forma de representação de cada um desses elementos

no espaço, já que não se apresentam de forma linear como os signos acústicos das

línguas orais.

O SignWriting preserva as características tridimensionais das línguas de

sinais ao contemplar várias representações para os diversos parâmetros da

fonologia proposta por Stokoe (1960). A figura 1 nos mostra uma configuração de

mão em três orientações diferentes. Alguns dos símbolos são icônicos, e permitem

uma melhor associo ação com o sinal representado.

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Figura 2 – Exemplo de SignWriting: configuração de mão à direita e o símbolo correspondente à esquerda. Fonte: Sutton (2006)

Conforme vimos na Figura 1, o SignWriting se adequa à representação das

línguas orais, quaisquer que sejam elas. Mas, apesar dos diversos aspectos

relacionados à acessibilidade e inclusão que uma sistematização e disseminação de

um sistema de escritas em língua de sinais possa trazer para a pessoa Surda, há

poucas publicações em escrita de sinal, e menos ainda textos, ferramentas e

metodologias em SignWriting, sendo os mesmos considerados precários (STUMPF,

2005).

Stumpf (2005) nos mostra que o SignWriting é, para o surdo, visualmente

fonético; permite operações metalinguísticas em relação à Libras; permite a

transmissão direta do pensamento para a escrita; é mais espontâneo e coerente;

fortalece a autoestima; ajuda a construir a identidade Surda; é limitado apenas pela

sofisticação da pessoa que vai usar. O desafio de introduzir a escrita na escola é

grande, pois há uma carência de material adequado; e a autora conclui que o uso de

um sistema de escrita em língua de sinais é um marco importante na educação do

Surdo.

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3 NARRATIVA VISUAL: A HISTÓRIA EM QUADRINHOS EM LIBRAS

As HQs fazem parte de nosso cotidiano, e têm sido usadas para divulgar e

produzir cultura e conhecimento. Quando as HQs são usadas como ferramentas

pedagógicas, elas deixam de ser apenas ilustrativa ou um meio de diversão,

tornando-se uma maneira de melhorar a compreensão e de tornar o processo de

ensino e aprendizagem mais prazeroso. Considera-se que uma HQ se caracteriza

pelo uso de balões com texto, mas a maioria contém textos da língua oral (GOMES

e GOMES, 2015). Porém, sendo a língua de sinais de modalidade visual espacial,

ela se adequa ao gênero, uma vez que a sinalização pode ser representada

visualmente – e esta é a base da ferramenta proposta: HQ em Libras para ensino de

SignWriting.

Pensando a Libras em seus aspectos de enunciação e discurso, a

compreendemos como atividade social, histórica e cognitiva, com papel

comunicacional, e escolhemos o gênero HQ para apresentar o sistema de escrita a

ser aprendido (OLIVEIRA e BRANCO, 2015). Toppel, Camargo e Chicória (2015, p.

10581) apontam uma série de vantagens do uso de HQ para o ensino de Física, por

exemplo: “[...] a facilidade de leitura, a forma de disposição quadrinizada, os

desenhos ilustrativos e o enredo tornam as HQs uma leitura divertida e ao mesmo

tempo um estímulo para o conhecimento”. O HQ em nossa proposta poderia ser

classificada pelos autores como sendo Construtivista, uma vez que foi desenvolvida

para levar conhecimento ao aprendiz. Este uso é fundamental para a autonomia da

pessoa Surda, que pode aprender de maneira divertida, criando o seu

conhecimento.

Guimarães, Guardezi e Fernandes (2014), apresentam um framework

computacional em que o sinal é associado ao contexto lexical pela iconicidade, e o

contexto semântico por meio de vídeos, em um contexto de aprendizagem. O

sistema proposto aqui segue esta orientação pedagógica, em que o contexto é

apresentado por meio de uma narrativa visual, que acompanha o personagem até

uma situação real de sinalização na Língua de Sinais. É feita uma sobreposição dos

símbolos relacionados do SignWriting no sinal. A narrativa visual é feita sob a forma

de ilustração em HQ desenvolvida em Libras (BONGCO, 2000). Para efeitos deste

artigo, iremos apresentar apenas recortes da narrativa, pontuando aspectos

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significativos para a compreensão dos objetivos do material proposto que apresenta

como procedimentos: o estabelecimento do contexto e situação comunicacional,

apresentação do sinal/enunciação em Libras, elementos composicionais do

SignWriting e atividades de escrita de sinais.

Em nosso material, a narrativa se inicia com um robô (ainda misterioso, pois

não se sabe de onde ele veio, onde ele está, o que está fazendo; seria o robô uma

ameaça? Teria sido enviado por conhecidos? Seria hostil? etc.). Todos estes

elementos da narrativa compõem o que Sutton-Spence e Kaneko (2016) chamariam

de Literatura Surda: uma literatura de efeito estético, em LS, possuidora de uma

estética visual, que possa representar e valorizar aspectos da cultura visual. Na

Figura 2, vemos que o robô vem do espaço (não se sabe se retornando, ou se

enviado por outras civilizações) mas vemos que assim que pousa ele permanece

imóvel.

Figura 3 – Ilustração da História que apresenta um personagem Robô vindo do espaço

Fonte: Os Autores

Devido às circunstâncias externas (a queda de uma pinha), apresentado

parcialmente na figura 3, o robô é ativado, e inicia a sua jornada.

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Figura 4 – Ilustração da História que apresenta um personagem

Fonte: Os Autores

Note-se que até este momento, nenhum texto escrito foi utilizado. Os recursos

são totalmente visuais não-verbais. O robô se reconfigura, e começa a caminhar

(também ainda não se sabe se em busca de algo específico, ou se de forma

aleatória), até que chega ao Santuário das Borboletas, mostrado na Figura 4

(permanece o mistério: o que vem a ser este santuário, quem o construiu, para que

serve?). Este local parece dedicado à preservação das borboletas (mas ainda

persiste o mistério sobre a importância deste local. O próprio monumento do local é

uma representação estática do que seria o sinal em Libras para BORBOLETA2.

Figura 5 - O Santuário das Borboletas Fonte: Os Autores

Neste momento, ao ver a borboleta, o robô reconhece em suas mãos o sinal

representado pelo monumento, sinaliza BORBOLETA em Libras e envia a

mensagem para seus interlocutores (ainda não se sabe para quem o robô está

sinalizando) conforme a figura 5.

2 Seguindo convenção de glosa adotada por Felipe (2007), os sinais em Libras serão grafados em caixa-alta.

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Figura 6 – O SignWriting sobreposto à mão; robô sinalizando BORBOLETA Fonte: Os Autores

A partir daí, o SignWriting é apresentado, conforme a figura 6, e pode-se

então, de forma direcionada, reconhecer a escrita no próprio ato de sinalizar –

considerando que o sinal selecionado tem a característica icônica que permite

associar escrita e imagem sobrepostas. Vemos, na Figura 6, o sinal BORBOLETA e

sua escrita em SignWriting. Em seguida é proposta a atividade de prática do traçado

da configuração de mão na escrita, a partir desse contexto narrativo. Os dois

diacríticos que acompanham a configuração de mão (^^ e +) representam o

movimento das asas da borboleta e o tipo de toque, respectivamente no sistema

SignWriting.

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Figura 7 – O Monumento, o sinal e a escrita de BORBOLETA em língua de sinais

Fonte: Os Autores

À medida que a história vai se desenvolvendo, novos personagens vão

surgindo, bem como novas situações comunicacionais com enunciados mais

extensos, conforme podemos ver na Figura 6, em que o robô vê uma borboleta

amarela no meio das outras borboletas azuis, e sinaliza A BORBOLETA AMARELA

É BONITA para seus interlocutores. Novamente a metodologia apresenta o

SignWriting equivalente, e convida a criança leitora/escritora a fazer sentido do

código usado, aprendendo assim os fundamentos da escrita, praticando a escrita

proposta.

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Figura 8 – A borboleta amarela é bonita – em Libras

Fonte: Os Autores

Nos estudos realizados para a validação desse material, seguimos Dolz e

Schneuwly (2004), a perspectiva multi/interdisciplinar foi efetivada pela participação

de profissionais especialistas em Línguas de Sinais (professor surdo, linguista

bilíngue), tecnólogo em desenho gráfico e pesquisador/professor na área da Ciência

de Computação, cuja abordagem teórico-metodológica fosse consistente do ponto

de vista da interlocução efetiva com a literatura na área, cumprindo o critério de

relevância social e abordagem inovadora do objeto em estudo.Além disso, foram

realizadas reuniões com psicólogas, pedagogas, professores e alunos Surdos, no

âmbito de um curso de Letras Libras, a fim de que o material fosse qualitativamente

analisado , considerando sua importância e aplicabilidade no ensino da Libras no

contexto escolar de crianças surdas.

Como aspectos positivos da avaliação, foram destacadas a HQ como

estratégia pedagógica adequada para o contexto de escolarização de crianças e

jovens surdos, o fato de o personagem robô falar Língua de Sinais, e a estratégia do

uso de sinais icônicos para a representação das primeiras lições de SignWriting,

complementadas com enunciados contextualmente significativos na narrativa visual.

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As atividades de prática do traçado da escrita em SignWriting também foram

consideradas fáceis e adequadas à faixa etária.

A partir dessa validação, as próximas etapas da pesquisa preveem a

validação em diferentes grupos de controle (crianças Surdas, acadêmicos do Letras

Libras, professores de Libras), analisando detalhadamente a aplicabilidade dos

princípios teórico-metodológicos pressupostos na investigação

3.1 Processo de criação do HQ

A pesquisa é de caráter exploratório, com intenção de desenvolver uma

narrativa fictícia, através de elementos fundamentais para a reprodução da lingua de

sinais em uma mídia impressa. O roteiro foi desenvolvido a medida que a história se

desenrolava, visto que o foco da pesquisa se encontrava nos desafios necessários

para uma experiência inserida no que Sutton-Spence e Kaneko (2016) chamariam

de literatura surda. O quadrinho conta a história de um robô enviado por humanos

para explorar este planeta onde habitam criaturas que falam apenas língua de

sinais. Além disso, em alguns pontos são encontradas estátuas de mãos que mais

parecem santuários. Nesta exploração, o robô conhece uma criatura e os dois se

tornam amigos, a ponto do robô desistir de voltar para a nave mãe quando é

chamado.

Vários aspectos foram levados em consideração no processo de criação, pois

tomamos a decisão de não utilizar balões de falas; não utilizar textos tornaram o

processo muito mais voltado a semiótica gerada pelos gestos e enquadramentos

que foram testados com o público em questão.

Para realização do projeto, dependente do ponto de vista e das limitações do

observador, é necessária uma aproximação de enquadramento no formato visual.

Portando, durante todo o processo contamos com o auxílio de professores e alunos

surdos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Uma vez que os sketches

fossem desenvolvidos, eram enviados para aprovação, nesta etapa eram apontados

os erros e possíveis mudanças de enquadramento e ou palavras utilizadas.

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Figura 9 – Sketch enviado para os professores

Fonte: Os Autores

A medida que os Sketch eram aprovados e todas as modificações

devidamente feitas, a arte era finalizada e enviada para validação com os surdos.

Figura 10.

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Figura 10 – Página enviada para validação

Fonte: Os Autores

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Figura 11 – Alterações

Fonte: Os Autores

Figura 12 – Alterações

Fonte: Os Autores

As Figura 11 e Figura 12 mostram mudanças feitas nos desenhos após os

surdos apontarem dificuldades no entendimento dos mesmos. As mudanças eram

resultantes desde mal entendimento do que acontecia na cena, como o robô se

abrindo na Figura 10, até problemas decorrentes de um mal enquadramento, como

na Figura 12, onde o movimento anterior tinha mais de uma interpretação de

movimento.

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3.2 Como representar Lingua de Sinais em um quadrinho

Realizar uma história em quadrinhos onde a comunicação ocorre apenas

através de L.S. é de fato um desafio às capacidades técnicas do meio impresso.

Uma vez que não há possibilidade de inserir animações, torna-se moroso a

representação de sinais onde há mudança de configuração de mão. Como por

exemplo o sinal para a palavra “Sol”, demonstrado na Figura 13 e 14.

Figura 13 – Primeira Configuração (Sol)

Fonte: Incluir Tecnologia (2012)

Figura 14 – Segunda Configuração (Sol)

Fonte: Incluir Tecnologia (2012)

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Uma vez estabelecido que não seria utilizado flechas nem balões de texto,

foram levantados conceitos de diferentes parâmetros visuais usados na de

representação de movimento indicados por McCloud (1993).

Figura 15 – Diferentes representações de movimento nos quadrinhos

Fonte: McCloud (1993)

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Seguindo as etapas de McCloud (1993) na organização de quadros, como

mecanismo que potencializa a experiência de percepção visual, foram realizadas

ilustrações para experimentação.

Figura 16 – Aplicação dos parâmetros

Fonte: Os Autores

Nestes estudos, foi possível perceber três diferentes tipos de representar

sinais de libras. O primeiro seria um L.S. estática, sem movimentos ou mudança de

configuração de mão (Figura 17); A L.S. com movimento simples (Figura 87); e o

movimento com mudança de configuração de mão (Figura 19), onde optamos pelo

conceito que McCloud (1993) chamou de “imagens múltiplas” (Figura 15).

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Figura 17 – Estático

Fonte: Os Autores

O tipo de sinal representado pela Figura 17 é o mais fácil de adaptar para o

quadrinho, pois não há movimento. É importante deixar a mão e o rosto destacados

no quadro para não gerar possibilidade alguma de dupla interpretação.

Figura 18 – Movimento simples

Fonte: Os Autores

A Figura 18 mostra um sinal que possui apenas um movimento, neste caso,

utilizando dos ensinamentos de de McLoud (1993), representamos o movimento

com a mão no ponto final e com a trajetória destacada por linhas brancas.

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Figura 19 – Mudança de configuração de mão

Fonte: Os Autores

Neste caso, foi utilizado o que McLoud chamaria de Imagens Mútiplas. A mão

inicial possui tranparencia de 65% enquanto a posição final com 100%. A escolha

deste método se deu pelo fato do leitor ter acesso a todos os movimentos que

compões a ação.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão da alfabetização/letramento de Surdos em Língua de Sinais é uma

temática que ainda se encontra em aberto no campo aplicado. É inegável a

necessidade de um sistema de escrita para as Línguas de Sinais e o SignWriting é o

sistema de escrita com maior difusão e uso, atualmente, no cenário nacional e

internacional da educação de Surdos. Contudo, há uma carência de trabalhos que

pesquisem abordagens metodológicas para o ensino e a aprendizagem pela pessoa

Surda em contextos de letramento bilíngue, ou seja, que levem em consideração a

Libras como língua materna.

Assim, esta pesquisa propõe a criação de um encaminhamento metodológico

que se vale da narrativa visual, por meio da História em Quadrinhos como gênero

para apresentar um sistema de escrita da Língua de Sinais às crianças Surdas. A

Língua de Sinais é apresentada em um contexto (fictício, no exemplo), de forma

visual, com o SignWriting contemplado na ilustração, sobrepondo-se e

acompanhando o sinal/palavra/enunciado da língua, possibilitando associações

simbólicas entre os parâmetros constitutivos da Libras sinalizada (configuração de

mãos, movimento, orientação de mãos...) aos grafemas de sistema de escrita.

Neste novo universo proposto, por meio da criação de uma narrativa visual

que integra a Literatura Surda, Surdos e demais membros da comunidade assumem

a perspectiva de leitores/escritores, contribuindo para a criação coletiva de outros

materiais que valorizem a Língua de Sinais como língua de Cultura.

A narrativa visual, suas formas de apresentar a história e o uso da língua de

sinais, bem como a metodologia pedagógica proposta para o ensino do SignWriting,

planejada e discutida com membros da comunidade surda, conhecedores do

SignWriting, foi abraçada e aprovada como ferramenta que faz avançar o estado da

arte no ensino e na aprendizagem da escrita de sinais.

Certamente, uma proposta como esta deve cumprir as exigências de rigor

técnico-científico e passar por rigorosos testes de validação, por um longo período

de tempo, que permitirão apreender reflexões e possíveis mudanças no produto

final. A incorporação de testagem em participantes que não utilizam Libras como

língua materna e, tampouco, conhecessem o SignWriting, permitirá ampliar o escopo

de variáveis de análise quanto ao processo de aquisição da escrita de sinais que

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permitissem observar aspectos relativos à abstração e generalização da proposta.

Estas e outras questões integram nossa problemática de pesquisa em trabalhos

futuros.

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APÊNDICES

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