Newsletter Setembro 2012

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Edição #15: 5 de Setembro 2012 Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, Jeremias Vunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha Propriedade da JA! Justiça Ambiental Rua Marconi, no 110, 1o andar MaputoTel: 21496668 Email:[email protected], [email protected] Foto:A.Lemos Plantações florestais – Futuros desertos verdes No passado dia 6 de Agosto do corrente ano, a JA! participou num seminário sobre as Plantações Florestais e sua Indústria no Niassa, que teve lugar no Hotel VIP em Maputo, com a presença de um elevado número de individualidades do sector de Agricultura e Florestas. O seminário foi organizado pela Associação Florestal do Niassa em coordenação com a Direcção Nacional de Terras e Florestas e presidido por Sua Excia. o Sr. Ministro da Agricultura. A primeira apresentação do seminário foi “Avaliação das Plantações Florestais na Província do Niassa 20052012”, onde se mencionou que até 2005 a Província do Niassa não tinha ainda investimentos em plantações florestais, a partir de 2005 surgem os investimentos na área de plantações florestais e neste momento a área ocupada é de 165.772.80 hectares e desta, 32.409.00 ha se encontram plantados com pinho e eucalipto. O objectivo neste momento é transformar Moçambique num produtor a nível mundial, o maior de África Austral e os exemplos de sucesso apresentados foram a África do Sul, o Chile e o Uruguai. As empresas Mondi e Sappi foram mencionadas em algumas ocasiões e sempre com imensa admiração pela sua dimensão e trabalho que estas tem feito. Foi reconhecido que existem problemas causados pela actual enorme demanda de terra e a grande onda de investimentos a que temos assistido, entre estes as consultas comunitárias mal conduzidas, casos de usurpação de terra, etc. No entanto todos estes problemas são tratados de forma leviana, como se já tivessem sido resolvidos ou que estão já em processo de resolução, enquanto que a cada dia que passa temos conhecimento de mais e mais casos graves de usurpação de terra, um pouco por todo o País. Já tinha estado em outros encontros em que estava bastante evidente a desesperada e cega vontade do Governo de Moçambique de atrair cada vez mais e mais investimentos na área de plantações florestais. No entanto, por ingenuidade minha ou por achar que a preocupação pelo sector florestal em Moçambique também passaria por um significativo investimento na conservação e uso sustentável das florestas nativas, desta forma a utilização de alguns hectares de terra degradada para plantações florestais poderia não ter grande impacto, não quis acreditar na visão enganosa aqui exposta. Uma das evidências disto foi a rapidez com que foi proposto e aprovado o Regulamento das Plantações Florestais, enquanto que vários outros instrumentos legais ficam à espera anos e anos...entre estes a Lei da Acção Popular, a Lei das Áreas de Conservação, falando apenas na área do ambiente, para não ter que fazer uma lista exaustiva! Cheguei ao seminário curiosa e interessada, saí do mesmo questionando tudo...de que servem os processos de consulta comunitária? Não passa de apenas um processo informativo, a comunidade não tem direito a vetar qualquer projecto, podese manifestar, pode ser contra, mas quem tem a última palavra é o Estado e o Estado já decidiu. De que servem os processos de estudo de impacto ambiental? Não passam de mera formalidade, e de uma imensa fonte de rendimento para muitos, nestes estudos todos os impactos grandes ou pequenos tem medidas de mitigação, algumas fazem sentido e são de facto possíveis de implementar outras estão completamente fora da realidade. Serve então para que seja elaborado o Plano de Gestão Ambiental, que é sim importante, mas é preciso lembrar que há projectos que nunca deveriam ir em frente, pois os seus impactos são demasiado sérios e com imensos custos... PauPreto (Dalbergia melonoxylon) ,uma sobrevivente (2007)

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental.

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Edição #15: 5 de Setembro 2012

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro, Janice Lemos, JeremiasVunjanhe, Sílvia Dolores e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha

Propriedade da JA! Justiça Ambiental Rua Marconi, no 110, 1o andar ­Maputo­Tel: 21496668 E­mail:[email protected], [email protected] Foto:A.Lemos

Plantações florestais – Futuros desertos verdesNo passado dia 6 de Agosto do corrente ano, a JA! participounum seminário sobre as Plantações Florestais e sua Indústriano Niassa, que teve lugar no Hotel VIP em Maputo, com apresença de um elevado número de individualidades do sectorde Agricultura e Florestas. O seminário foi organizado pelaAssociação Florestal do Niassa em coordenação com aDirecção Nacional de Terras e Florestas e presidido por SuaExcia. o Sr. Ministro da Agricultura. A primeira apresentaçãodo seminário foi “Avaliação das Plantações Florestais naProvíncia do Niassa 2005­2012”, onde se mencionou que até2005 a Província do Niassa não tinha ainda investimentos emplantações florestais, a partir de 2005 surgem osinvestimentos na área de plantações florestais e nestemomento a área ocupada é de 165.772.80 hectares e desta,32.409.00 ha já se encontram plantados com pinho eeucalipto.O objectivo neste momento é transformar Moçambique numprodutor a nível mundial, o maior de África Austral e osexemplos de sucesso apresentados foram a África do Sul, oChile e o Uruguai. As empresas Mondi e Sappi forammencionadas em algumas ocasiões e sempre com imensaadmiração pela sua dimensão e trabalho que estas tem feito.Foi reconhecido que existem problemas causados pela actualenorme demanda de terra e a grande onda de investimentos aque temos assistido, entre estes as consultas comunitáriasmal conduzidas, casos de usurpação de terra, etc. No entantotodos estes problemas são tratados de forma leviana, como sejá tivessem sido resolvidos ou que estão já em processo deresolução, enquanto que a cada dia que passa temosconhecimento de mais e mais casos graves de usurpação deterra, um pouco por todo o País.Já tinha estado em outros encontros em que estava bastanteevidente a desesperada e cega vontade do Governo deMoçambique de atrair cada vez mais e mais investimentos naárea de plantações florestais. No entanto, por ingenuidademinha ou por achar que a preocupação pelo sector florestalem Moçambique também passaria por um significativoinvestimento na conservação e uso sustentável das florestasnativas, desta forma a utilização de alguns hectares de terradegradada para plantações florestais poderia não ter grandeimpacto, não quis acreditar na visão enganosa aqui exposta.Uma das evidências disto foi a rapidez com que foiproposto e aprovado o Regulamento das PlantaçõesFlorestais, enquanto que vários outros instrumentoslegais ficam à espera anos e anos...entre estes a Lei daAcção Popular, a Lei das Áreas de Conservação, falandoapenas na área do ambiente, para não ter que fazer umalista exaustiva!

Cheguei ao seminário curiosa e interessada, saí do mesmoquestionando tudo...de que servem os processos de consultacomunitária? Não passa de apenas um processo informativo,a comunidade não tem direito a vetar qualquer projecto,pode­se manifestar, pode ser contra, mas quem tem a últimapalavra é o Estado e o Estado já decidiu.De que servem os processos de estudo de impactoambiental? Não passam de mera formalidade, e de umaimensa fonte de rendimento para muitos, nestes estudostodos os impactos grandes ou pequenos tem medidas demitigação, algumas fazem sentido e são de factopossíveis de implementar outras estão completamentefora da realidade.Serve então para que seja elaborado o Plano de GestãoAmbiental, que é sim importante, mas é preciso lembrar quehá projectos que nunca deveriam ir em frente, pois os seusimpactos são demasiado sérios e com imensos custos...

Pau­Preto (Dalbergia melonoxylon) ,uma sobrevivente (2007)

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Vetar um projecto? O que é isso? Como é isso possível,num país onde o Estado dá publicamente luz verde aprojectos que ainda não têm os estudos ambientaisexigidos por lei...e vai ser o MICOA a vetar algumprojecto??? Um ministério estrategicamente denominadoMinistério para a Coordenação da Acção Ambiental???Em Moçambique esse conceito não existe, é umaaberração, provavelmente mais uma teoria idiota dos“defensores de minhocas”, aqueles, os próprios, “contrao desenvolvimento”.De que servem todas as palavras politicamente correctas quese colocam nos imensos discursos? Como podemos falarem conservação quando nem sequer sabemos distinguircorrectamente entre florestas nativas e plantaçõesflorestais? Querendo sempre fazer parecer que asplantações são de algum modo florestas...Para os propósitos e objectivo finais do seminário,Moçambique tem potencial para plantar 3 000 000 hectares defloresta plantada, com eucalipto e pinheiro. Segundo ainformação dada no seminário, para isso teremos queconverter parte da floresta de baixa produtividade e jádegradada em plantações florestais que, ainda segundo estes,possa trazer um impacto positivo em termos de sequestro decarbono, acesso a terra para agricultura, desenvolvimentoeconómico e ainda na biodiversidade.Está a decorrer um estudo para determinar como istopoderá ser levado a cabo, não para determinar se poderáser levado a cabo, mas apenas como. E neste contextopoderemos ter que rever a “nossa definição de florestas”estabelecer um critério nacional, definindo o que é“floresta”no contexto Moçambicano...este ponto pode sero detalhe mais importante de todo este seminário, a formacomo será definida a floresta no nosso contexto irádeterminar como vamos usá­la, ou eliminá­la para darespaço a esta nova moda, as plantações florestais.Vale a pena reflectir uns minutinhos sobre estas questões,vamos melhorar o acesso à terra para agricultura complantações? E aumentar a biodiversidade?As plantações florestais constituem verdadeiros desertosalimentares, as poucas espécies que sobrevivem aqui sãoeliminadas por constituirem pragas.

Perante esta completa manipulação da verdade, deturpaçãode conceitos em nome de uma orgulhosa linguagem local,nacional, restrita a interesses particulares, utilizada em nomede um desenvolvimento falso, débil, hipócrita, vamosseguindo em frente com projectos já à partida condenados. Eem nome deste mesmo desenvolvimento, vão­se enterrandoainda mais fundo os pobres deste país. Aqueles queutilizamos nos vários discursos politicamente correctos paraassegurar a contínua “ajuda externa” de que tantodependemos. Resta­nos perguntar se de facto estamos afalar do mesmo? Têm sido estes e outros, os argumentosutilizados para promover as plantações florestais a nívelglobal, e têm sido sucessivamente debatidos por nãocorresponderem à verdade, mas mesmo assim, aqui estãonovamente.

O “desenvolvimento de Moçambique” é planeado combase nas necessidades de fora e não dosmoçambicanos! Segue modas, interesses e visões queclaramente não são a dos moçambicanos, já que estesainda precisam de ser convencidos, formatados... masse nos serve de consolo, podemos sempre nos lembrarque no meio disto tudo “vamos nos afastando mais emais da pobreza absoluta rumo ao desenvolvimentosustentável” ........ de quem?

Plantações não são florestas, ao contrário, do que temsido insistente e vergonhosamente defendido pelasempresas, tentando deste modo aproveitar­se dacrescente preocupação com o actual problema dedesflorestação e desmatamento, criando a ilusão de queestas plantações de algum modo substituem as florestas.A única semelhança entre florestas e plantações é queem ambas predominam árvores.

Marcha dos Povos da SADC em Maputo"Não há Nada sobre Nós sem Nós!"

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Participaram na Oitava Cúpula dos Povos da SADC cerca de500 pessoas provenientes de, pelo menos, oito Países e 10províncias moçambicanas representando movimentos sociaisde camponeses, mulheres rurais e urbanas, ambientalistas,comunidades de pescadores e artesãos, que teve lugar nosdias 13 a 16 de Agosto, numa sala simples de freiras emMumemo, no Distrito de Marracuene, Província de Maputo.Antecedendo a 32ª Cimeira de Chefes de Estados e deGoverno da SADC que decorreu entre 17 e 18 de Agostoúltimo em Maputo.A Oitava Cúpula dos Povos da SADC foi marcada porprofundos debates e reflexão dos povos da SADC, onde sequestionou e contestou as actuais prioridades da agenda epolíticas de desenvolvimento dos países da SADC centradasna atracção de grandes investimentos estrangeiros daindústria extractiva mineira, hidrocarbonetos e construção degrandes infra­estruturas ferro­portuárias e barragens viradaspara o fluxo do grande capital transnacional, facilitando aindao saque dos recursos naturais da região. Destas discussõesabertas, inclusivas e transparentes resultou uma declaração, aOitava Declaração dos Povos da SADC entregue aoSecretário Executivo da SADC.A marcha dos Povos da SADC, que teve lugar no dia 16 deAgosto, foi co­organizada pela União Nacional deCamponeses­UNAC, JA! Justiça Ambiental­JA,Fórum Mulher,Livaningo, ACOORD em parceria com a Via Campesina,Diálogo dos Povos e Rede de Solidariedade dos Povos daÁfrica Austral, foi o momento mais alto de expressão davontade popular articulada na Oitava Cúpula dos Povos daSADC.

Foi transformador e gratificante presenciar este movimento regional unido e com propostas claras de transformaçãoestrutural, o que faz acreditar na luta por uma SADC que os povos querem ora proposta e assumida. “Devemoscontinuar a resistir e a lutar pelos nossos direitos e interesses. Não é uma luta fácil e exige de nós muitos sacrifícios,moderação e maiores responsabilidades para travarmos uma das maiores batalhas da nossa época.

A Oitava Declaração da Cúpula dos Povos da SADC, umimportante documento contendo o resultado das discussões,com recomendações, colocado sobre a forma de proposta deagenda de uma SADC que os povos querem verimplementada. A Declaração da Cúpula dos Povos de Maputofoi entregue, no final da marcha, ao Secretário Executivo daSADC, o moçambicano Tomáz Salomão na tarde de 16 deAgosto último no Centro de Conferências InternacionalJoaquim Chissano, local onde os chefes de Estado e degoverno da região se iriam reunir nessa mesma semana.

Entre outras exigências, o documento reafirma a decisão e ocompromisso dos Povos da SADC de «... reforçar ascampanhas contra os Acordos de Livre Comércio, sobrePrivatizações, Organismos Geneticamente Modificados,ditadura, usurpação de terra, violência de género e todas asformas de discriminação.» alertando aos Chefes de Estado edo Governo da SADC para a necessidade urgente e imediatade «reorientar o desenvolvimento de infra­estruturas parapromoção da integração regional para servir os povos daRegião e não desenhadas para escoar produtos para fora daSADC; garantir a soberania alimentar através da reformaagrária e o estabelecimento de bancos de sementesindígenas; parar com a usurpação de Terra, utilizar a terra eoutros recursos naturais para o desenvolvimento dos pobrese marginalizados; parar com o uso da violência para arepressão dos direitos democráticos das pessoas e satisfazeras necessidades das pessoas, tais como o acesso à àguapotável, serviços de saúde, educação, alimentação eenergia, mais do que investir na mineração, energia baseadaem combustíveis fósseis e megaprojectos que apenasbeneficiam as grandes corporações e as elites».

Naquela que se tornou a maior mobilização dos últimosoitos anos, os Povos da SADC marcharam durante duashoras, percorrendo cerca de 4 quilómetros até ao CICJC,manifestando solidariedade regional e expressandopublicamente as suas preocupações e indignaçãoperante a prevalência de injustiças sociais eeconómicas, fraca governação democrática, impunidadedas corporações nas indústrias extractivas, usurpaçãode terra em larga escala por corporações e governoscom a conivência das lideranças tradicionais,reassentamento de comunidades pelas corporações comenvolvimento dos governos da SADC, aumento dainsegurança alimentar, danos causados aosecossistemas, declínio de padrões de provisão dosserviços de saúde e educação, crescentesdesigualdades, catástrofes climáticas globais, aumentoda violência contra as mulheres e crianças, e aindadepravação dos meios de vida sustentáveis.Reivindicando uma SADC de e para todos os Povosdesta região, exigindo políticas e agenda dedesenvolvimento que priorizem as necessidades,interesses e direitos das pessoas e não o interesse dogrande capital transnacional das multinacionais.Por volta das 15 horas um representante de Moçambique euma representante da SADC subiram ao camião de som,palco principal da Marcha dos Povos, e leram a OitavaDeclaração da Cúpula dos Povos intercalando entre oportuguês e o inglês.

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Quando tudo parece sob controle e às mil maravilhas no País,há quem dia após dia vai intensificando cada vez mais e seapoderando dos recursos pertencente a um grupo pobre ecarenciado de pessoas, que para a sua sobrevivência,depende básica e exclusivamente daquilo que se calhar paraos outros é só mais um modo de aumentar a sua riqueza.Refiro­me a um grupo vulnerável, aparentemente possuidor derecursos florestais, sem alternativas de vida, que para suaprópria sobrevivência depende da agricultura e dos recursosflorestais que a natureza gratuitamente lhes oferece.O futuro desses recursos está entregue à sua sorte dado queo fluxo de circulação é cada vez maior na medida em que onúmero de madeireiros ilegais neste processo, tanto nacionaiscomo estrangeiros (principalmente chineses), é cada vezmaior, caso para se dizer que se descobriu mais uma mina de“ouro verde” na província da Zambézia.

Só para ter noção da gravidade e dos riscos dessasactividades insustentáveis e oportunistas, na primeira semanade Julho registou­se a ocorrência da morte de um membro dacomunidade de Muzo por sinal pertencente a associaçãocomunitária ACODEMUZO, no exercício da actividade deapoio aos furtivos, quando se encontrava em cima de umcamião após o carregamento, encontrou a morteacidentalmente após a queda de um ramo durante atrajectória e foi abandonado como se tratasse de um animal.Na primeira semana de Agosto, tombou durante a noite, umcamião cavalo no troço Mulevala­Mugeba tendo ocorrido no

A pressão sobre os Recursos Florestais

Para quem conhece minimamente a província, e já passoupela estrada que liga os distritos de Mocuba, Ile e Gilé viaposto administrativo de Mulevala e pela estrada que liga osdistritos da Maganja da Costa e Pebane via postoadministrativo de Mocubela, deve ter uma ideia do que se estáa falar. Refiro­me a dezenas de camiões entre eles camiõescavalos e de seis toneladas carregados de toros de pau­ferro,umbila e chanfuta por vezes, sem o diâmetro de corterecomendado e, sem nenhuma marcação ou registo ou aindacom marcação falsificada e/ou fraudulenta, entram geralmentedurante o período da manhã e saem carregados no períododa noite, explorando brutal e injustamente as comunidadeslocais no processo de carregamento, que devido à suavulnerabilidade, são obrigados a arriscar as suas vidas emcima dos camiões carregados, pela venda unitária de toros narazão de 100 MT incluído o corte e carregamento.

Apesar destes factos, é preciso reconhecer, encorajar eacarinhar os esforços empreendidos pelos ServiçosProvinciais de Florestas e Fauna bravia da Zambézia(SPFFBZ), que com insuficiência de fiscais e precáriascondições de trabalho estão a todo custo a redobrar esforçospara cobrir toda província a partir de posicionamento debrigadas fixas e móveis nos pontos estratégicos. A título deexemplo, durante o percurso das nossas actividades decampo, no princípio da manhã, foram interpelados emultados por este organismo do governo quatro camiõescarregados de pau­ferro, alguns com documentaçãofalsificada e outros simplesmente sem documentação.Motivo para dizer bem haja a luta contra operadoresilegais, em prol da protecção e conservação de recursosflorestais e faunísticos para o bem estar social eambiental.

local a morte de duas pessoas e outras feridas eencaminhadas para o hospital de Mocuba.Contudo, é notório as dificuldades enfrentadas pelasentidades governamentais da província da Zambéziaresponsáveis pelo sector florestal, que na nossa opiniãonecessitam de apoio do governo e da sociedade civil nogeral, tanto a nível de efectivos como a nível de recursos eincentivos, para fazer face aos operadores furtivos, dado queacabam colocando em risco as suas próprias vidas peladesproporcionalidade de recursos.O Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia no seuNo. 1 do artigo 112, prevê o direito à comparticipação, emque cinquenta por cento dos valores provenientes das multaspor transgressão à Legislação florestal e faunística destinam­se aos fiscais florestais e aos agentes comunitários, quetiverem participado no levantamento do respectivo processode transgressão, bem como às comunidades locais ou aqualquer cidadão que tiver denunciado a infracção.Devido ao descontentamento por não receberem os valoresreferentes à comparticipação, os membros da comunidade,estão sujeitos a estarem em conivência com os furtivos paraobterem benefícios imediatos. O facto curioso é que, chegainformação que desde Julho de 2011 os fiscais não recebemincentivos de fiscalização, supostamente devido aosprocedimentos burocráticos do sector governamental dasfinanças, daí a questão:Como garantir uma exploração racional e sustentável demadeira e uma fiscalização efectiva sem contudo,garantir melhores condições de trabalho e meios paraexecução do mesmo?

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Enfrentando Finanças

As constantes e sucessivas descobertas de grandes e ricasquantidades de recursos naturais tais como o carvão, o gásnatural, o petróleo, ferro e outros podem segundo o professorBoaventura Sousa, trazer alguns riscos de condicionamentoao país, tais como o crescimento do PIB em vez dedesenvolvimento social; corrupção generalizada da classepolítica e do sector público no geral; aumento da pobreza;destruição ambiental e sacrifícios inaceitáveis às populaçõesonde se encontram os tais recursos em nome de um“progresso” que estas nunca conhecerão; supressão dopensamento e das práticas dissidentes das organizações dasociedade civil sob o argumento de serem anti­desenvolvimento pelas várias críticas feitas em relação aomodelo de desenvolvimento implementado, neste caso emMoçambique, podendo desta forma resultar no agravamentoda pobreza económica, social, política e cultural.Pelo seu compromisso e preocupação com a sustentabilidadedo desenvolvimento e justiça social a todos os níveis, desdeMaio de 2011, a Justiça Ambiental tem estado a implementar oprojecto e campanha “Facing Finance”, juntamente com aSolidarity International (SODI), providenciando todo o apoionecessário para a implementação das suas actividades. Sãoparte deste projecto a SODI, FacingFinance, Earthlink,Urgewald (Alemanha), CentrumCSR.PL (Polonia), FairFin(Belgica), e a própria JA!. A implementação deste, cujoobjectivo principal é fazer com que os bancos e instituiçõesfinanceiras parem de investir na violação dos direitoshumanos, danificação do meio ambiente, corrupção eprodução de armas controversas; consiste em uma rigorosainspecção a companhias e instituições financeiras cujosinvestimentos e actividades resultam na violação dos direitoshumanos, severa danificação do meio ambiente e o aumentoda corrupção.No seu primeiro ano de implementação, a JA! dedicou­se apesquisas, identificação e selecção de companhias einstituições financeiras actuando em Moçambique cujasactividades não só infringem os padrões de desempenhoambiental e social do IFC, mas também por violarem osmesmos, assim como violam as directrizes da OECD paramultinacionais, resultando numa contínua violação dos direitoshumanos e drástica danificação do meio ambiente. Sãoalgumas destas a Vale Moçambique, BHP Billiton/Mozal, RioTinto, Anadarko, Eskom, Anglogold, BarrickGold, ArcelorMittal, Tata, Sasol, Statoil, Portucel, Chikweti, Eco­Energia, e aitaliana ENI. .Durante o segundo encontro anual do consórcio ¨FacingFinance¨, que decorreu nos dias 5 e 6 de Junho na capitalBelga ­ Bruxelas, foram abordados vários assuntosrelacionados com o projecto, a destacar a selecção das 20principais companhias a serem envolvidas nesta primeira faseda campanha e as respectivas organizações responsáveis porcada uma destas. Estas encontram­se distribuídas daseguinte forma: SODI (Lockheed, BAE Systems, NorthropGrumman, General Dynamics, Boeing, Textron e CocaCola);Urgewald (Vedanta e Areva); Justiça Ambiental (ValeMoçambique – explorando carvão em Moatize na província deTete, a Mozal – fundição de alumínio na Matola e a Anadarko– exploração de petróleo na bacia do Rovuma, em CaboDelgado); FairFin (Shell, Wilmar e Goldman Sachs); EarthLink(Nestlé); CSR (Flextronics e Foxconn); Glencore e Siemens.

Todo o mundo é um génio,mas se julgares umpeixe pela sua habilidade em trepar umaárvore, ele irá viver toda a sua vida a acreditarque é um estúpido. Einstein

Ainda como parte do projecto e campanha, de 20 de Maio a07 de Junho do corrente ano, a JA participou com doisrepresentantes, numa actividade denominada ¨SpeakersTour¨ organizada pelas organizações que fazem parte doprojecto em parceria com outras ONGs na Alemanha,Polónia e Bélgica. Neste evento, a JA! fez apresentações eparticipou activamente em debates que tiveram lugar emorganizações e instituições de ensino em diferentes cidadesdos países acima mencionados, onde foram abordadosvários temas de carácter social, económico e ambiental, comenfoque nos investimentos e envolvimento dos bancoseuropeus nos investimentos feitos em Moçambique e seusimpactos sócio­económico e ambientais, enfatizando aactividade mineira do carvão e a exploração do petróleo, oproblema de usurpação de terras, e o impacto dosmegaprojectos no país em geral. No âmbito desta actividade,realizaram­se também encontros e houve oportunidades delobby com individualidades, líderes e influentes em algumasinstituições financeiras e de investimentos cujas acções têmtido impactos negativos em Moçambique e outros países, noque se refere à violação de direitos humanos, degradaçãodo meio ambiente e falta de transparência nos seusprocessos de investimento.Para mais informação do projecto veja no site:WWW.facing­finace.org

Estas são algumas das multinacionais que vêemexercendo as suas actividades no país com quase queinexistente regulação do estado, tendo celebradocontratos que lhes permite uma exploração intensa edesregrada dos recursos dos moçambicanos, comcontribuições insignificantes para o orçamento doestado, violando ainda impunemente os direitoshumanos das populações onde existem recursos, paraalém dos incalculáveis danos causados ao ambiente.Infelizmente a actividade destas multinacionais não estáa produzir a tão esperada prosperidade social eeconómica, e poderá mesmo chegar a elevar as taxas dedesemprego e da pobreza caso determinados cuidadosde política económica não sejam acautelados, entre osquais manter taxas de câmbio baixas e investir emoutros sectores fundamentais para a economia, é o casoda agricultura.

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"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último riofor poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree

"Há o suficiente no mundo para todas asnecessidades humanas; não há o suficientepara a cobiça humana." ­ Ghandi

Os mochos ou corujas, são aves de rapina noturnas, comuns ouvidos muito aguçados e olhos móveis, capazes deenxergar muito bem no escuro. É um animal de hábitosmarcadamente nocturnos, embora, quando as condições opermitem, seja comum observá­lo durante o dia oucrepúsculo.São muito sensíveis a metais pesados e venenos, por issosão excelentes bioindicadoras da qualidade de umdeterminado ambiente. Se um ecossistema está compopulações estáveis e saudáveis de aves de rapina, significaque está tudo a funcionar bem e que o ecossistema estáequilibrado. A ausência deste grupo gera uma série dedesequilíbrios ecológicos por toda a cadeia atingindo até avegetação, pois como são controladoras, a sua ausênciapermite um aumento descontrolado de outros animais.Além de serem óptimas indicadoras da qualidade do ambientee de controlar a população de presas, algumas espéciespodem ser excelentes veículos propagadores do pensamentoconservacionista, através de acções de educação ambientalcom as crianças e a comunidade em geral, já que essas avesdespertam um certo fascínio na maioria das pessoas, masinfelizmente em Moçambique e em algumas partes de África omocho é temido e rejeitado pelas comunidades pois éconsiderado um aliado da feitiçaria e do mal.Geralmente estas aves constroem o seu ninho em tocas dasárvores ou em rochedos. As fêmeas depositam entre 3 a 5ovos, cujas crias nascem após 28 dias de incubação.Sempre despertaram a admiração do homem, desde temposremotos da antiguidade como símbolos de força, nobreza,agilidade, independência e perfeição. Elas eliminam insectos eanimais nocivos ao homem, e caçam também animais velhos,doentes ou feridos, que não podem sobreviver. Por isso elassão muito úteis ao homem.Fonte: http://www.avesderapinabrasil.com/importancia_avesderapina.htmhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mocho­galego

Introducão de OGMs, OrganismosGeneticamente modificados ou Transgenicos,chumbada em Mocambique por UNAC, Uniao

Nacional de Camponeses.Depois de mais de 30 anos do cultivo e comercialização ostransgénicos, estes demonstram pertencer a um sistema deprodução agroindustrial monopolizado pelas multinacionais,com consequências avassaladoras para a agricultura, saúdepública e para o meio ambiente, principalmente em todos ospaíses onde a agricultura é o principal sector desobrevivência da população, tendo sido inclusivamenteproibidos em vários países europeus.No entanto, o Governo de Moçambique anunciou quepretende rever o Protocolo de Biosegurança de Cartagenaratificado em 2001 e o regulamento de Biosegurançarelacionado com a gestão dos OGM que aprovou em 2007,de modo a poder adoptar/criar uma legislação que rege oscasos de cruzamento de sementes para a melhoria dacapacidade produtiva.Para mais informacao consulte: http://www.verdade.co.mz/ambiente/29318­organismos­geneticamente­modificados­uma­solucao­letal

Japão, o maior caçadorO Japão, atualmente, é o principal defensor da caça debaleias, praticada sob o rótulo de “científica”. A caça ditacientífica é permitida pela comunidade internacional, maspara organizações não­governamentais e ambientalistas,trata­se apenas de uma fachada para o país continuar acaçar os animais.Para Milton Marcondes, o Japão não é movido por interesseseconômicos, já que a matança dos grandes cetáceos não éuma atividade importante na geração de riquezas do país.Mesmo assim, Japão, Rússia e Noruega, também paísescaçadores, conseguiram construir uma coalização de paísesque votam na CIB a favor da matança. Nesse estranho grupoestá até mesmo a Mongólia, que vota na Comissão apesarde ser um país que sequer tem acesso ao mar.Fonte: www.oeco.com.brNo mês de Agosto a JA lançou o seu Blog “JA4change”em “http://JA4change.wordpress.com”, e tambémpodem nos seguir pelo Twitter