No Jardim Das Florestas

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Associao de Preservao do Meio Ambiente do Alto Vale do Itaja

No Jardim das FlorestasOrganizao e Edio Miriam Prochnow

2007

ExpedienteOrganizao e Edio Miriam Prochnow Textos Carlos Augusto Krieck Edegold Schffer Joo de Deus Medeiros Leandro Rosa Casanova Miriam Prochnow Wigold Bertoldo Schffer Artigos Augusto Carneiro Lauro Eduardo Bacca Fotos Carlos Augusto Krieck Edegold Schffer Edilaine Dick Edinho Pedro Schffer Leandro Rosa Casanova Philipp Stumpe Miriam Prochnow Wigold Bertoldo Schffer Ilustraes Jlia Pili Palcios Reviso Eliana Jorge Leite Projeto Grfico, Design e Editorao Fbio Pili Impresso Athalaia Grfica e Editora Ltda.

Catalogao na Fonte do Departamento Nacional do Livro

No Jardim das FlorestasOrganizadora Miriam Prochnow Rio do Sul: APREMAVI, 2007 188p.: il.; 31cm ISBN: 978-85-88733-04-6 1.Mata Atlntica. 2. Florestas Tropicais Conservao I. Prochnow, Miriam

CDD: 333.7

HomenagemEste livro uma homenagem (em memria) a: Carlos Alexandre da Luz (Calinho) Nilto Antnio Barni Nodgi Eneas Pellizzetti Paulo Srgio Dias Paulo Srgio Schaefer (Bilu) Emmy Anny Kirchgatter Irmgard Grimm Jurandir dos Santos

DedicatriaDedicamos este livro a todos aqueles que nos ajudaram a chegar at aqui, que lutam pelos mesmos ideais, que conosco brindam as vitrias em prol do meio ambiente, que nos ajudam a suportar as derrotas e que nos estimulam a continuar a caminhada em busca da conservao da Mata Atlntica e da qualidade de vida.

Dedicatria EspecialA quem sempre apoiou e estimulou o trabalho em prol da natureza Anita Laura Schffer e Daniel Pedro Schffer* Laura Prochnow e Erich Prochnow*

* Em memria

Sumrio1 Prefcio 2 Apresentao 3 Autores dos textos 4 Diretoria e Conselhos 5 Equipe 6 Associados 10 A histria de um jardim 26 A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas 60 Sementes da Mata Atlntica 68 Por que plantar florestas? 104 Arborizao urbana e paisagismo 137 Guia de espcies 178 Referncias bibliogrficas

PrefcioJoo Paulo Ribeiro Capobianco * Um trabalho p no cho. Essa a essncia do trabalho da Apremavi, se fosse para resumi-lo em apenas uma frase. Conheo a Apremavi h mais de 15 anos, quando eu ainda estava na Fundao SOS Mata Atlntica e, durante a Rio-92, juntamente com outras ONGs, participamos da criao da Rede de ONGs da Mata Atlntica. H 10 anos tive a oportunidade de visitar Atalanta e o Vale do Itaja e ver de perto o que vinha sendo feito em busca do desenvolvimento sustentvel naquela regio, onde predominam as pequenas propriedades rurais. Uma organizao que conseguiu aliar teoria e prtica, envolvendo diretamente os pequenos produtores rurais na discusso e soluo concreta dos problemas ambientais. Aliando o conhecimento tcnico, ao conhecimento prtico dos produtores sobre o uso da terra, desenvolveu aes de gesto do territrio agrcola que incluem a conservao e enriquecimento ecolgico dos remanescentes florestais, a recuperao de matas ciliares, a destinao dos resduos e a agricultura orgnica. Um trabalho fortemente apoiado em atividades de capacitao, para o qual a Apremavi editou vdeos, cartilhas e livros, sempre retratando a realidade da regio e apontando solues prticas para os problemas. Como exemplo, vale citar o livro A Mata Atlntica e Voc como preservar, recuperar e se beneficiar da mais ameaada floresta brasileira(2002), que reuniu opinies de especialistas em Mata Atlntica e apresentou orientaes objetivas e concretas para serem seguidas e aplicadas no dia-a-dia de proprietrios rurais. fundamental ressaltar que o trabalho da Apremavi com os proprietrios rurais, em especial os pequenos, desmistifica e viabiliza uma das questes mais difceis, que o envolvimento do produtor rural na agenda ambiental, demonstrando que mesmo na pequena propriedade rural possvel produzir e conservar, observando a legislao ambiental. Dentre os diversos trabalhos da Apremavi, merece especial destaque a produo de mudas de rvores nativas, iniciada h 20 anos, quando muito poucos falavam em plantar rvores nativas no Brasil. Naquela poca existia pouco conhecimento sobre a coleta de sementes, produo de mudas e plantio em campo. Mesmo assim, a Apremavi enfrentou o desafio e este livro: No Jardim das Florestas retrata essa importante trajetria de realizaes. importante que esse trabalho p no cho seja cada vez mais consolidado, e nisto a Apremavi tambm tem inovado, buscando parcerias e cooperao junto a prefeituras, instituies de pesquisa e empresas. Dessa forma, tem conseguido atrair para a agenda ambiental setores que tradicionalmente estiveram omissos das questes ambientais do pas, mas que so vitais quando se fala em recuperao da Mata Atlntica. O sucesso alcanado nestes 20 anos coloca a Apremavi diante de um outro grande desafio. fundamental que os resultados desse trabalho sejam amplamente divulgados e difundidos para outras regies do pas, por diferentes formas e veculos de comunicao e mdia * Secretrio Executivo do Ministrio do Meio Ambiente

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ApresentaoMiriam Prochnow O livro No Jardim das Florestas uma semente. Uma semente que contm o que poderamos chamar de cdigo gentico da Apremavi. A Apremavi, que um dia tambm j foi uma semente, cresceu devagar como quase todas as rvores est em plena fase produtiva e ainda tem muito a contribuir para a preservao da natureza. Essa semente, No Jardim das Florestas, traz um pouco da histria que foi produzida ao longo dos 20 anos de existncia da Apremavi, fala de seus ideais, de sua filosofia e de sua maneira de trabalhar. Pretende ensinar a coletar sementes, a seme-las, a transform-las em mudas de rvores, a plantar essas mudas, a recuperar reas e embelezar paisagens. Mostra caminhos trilhados, desafios assumidos, obstculos superados e lies aprendidas. Mostra que, quando se acredita no objetivo e se est disposto a observar e aprender com os desafios, toda histria tem um final feliz. Essa semente pretende estimular e inspirar aes em prol da natureza, em todos aqueles que tiverem contato com ela. Que ela seja lanada em um terreno frtil, para que possamos, em um futuro muito prximo, ter muitas florestas em nossos jardins e em nossos coraes e, com isso, contribuir de forma fundamental para a conservao da Mata Atlntica e dos outros Biomas brasileiros.

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Autores dos textosCarlos Augusto Krieck Bilogo e Mestre em Ecologia e Conservao pela Universidade Federal do Paran, integrante do Conselho Consultivo da Apremavi. Edegold Schffer Presidente e coordenador de projetos da Apremavi e do Viveiro Jardim das Florestas. Joo de Deus Medeiros Bilogo, Dr. em Botnica, Professor do Departamento de Botnica, do Centro de Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Santa Catarina. Leandro Rosa Casanova Engenheiro Florestal com ps graduao em Gesto de Recursos Hdricos e Tcnico do programa Matas Legais da Apremavi. Miriam Prochnow Pedagoga, especialista em Ecologia Aplicada, scia fundadora e presidente do Conselho Consultivo da Apremavi. Coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlntica e Lder Avina. Wigold Bertoldo Schffer Administrador de Empresas, Coordenador do Ncleo dos Biomas Mata Atlntica e Pampa do Ministrio do Meio Ambiente. Felow Ashoka.

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Diretoria e ConselhosRelao de pessoas que integraram em algum momento, durante o perodo de 1987 a 2007, a Diretoria Executiva e os Conselhos Consultivo e Fiscal da Apremavi.

Diretoria ExecutivaAlmir da Luz Cleusa Maria Boing Edegold Schffer Eliane Stoll Barni Eranilza Marques Maiochi Fabio Roussenq Gilberto Theiss Ieda Maria Tabosi Klug Jane Aparecida Hass Joo de Deus Medeiros Marco Antnio Tomasoni Lcia Sevegnani Milton Pukal Miriam Prochnow Odair Luis Andreani Orival Grahl Paulo Srgio Dias Philipp Stumpe Rainer Prochnow Urbano Schmitt Jr Valburga Schneider Valdecir Branger Werner Alexandre Tkotz Wigold B. Schffer Zeli Terezinha S. Andreani

Conselho ConsultivoAdriana Jarda de Souza Almir da Luz Amauri Vogel Antnio Possamai Augusto Jos Hoffmann Carlos A K dos Santos Csar Luiz Colletti Cludio Silva Cleusa Maria Boing Darcl C. Krunvald Davide Moser Devanir Dellagiustina Edson Fronza

Emmy Anny Kirchgather Eugnio C Stramosk Fbio Roussenq Frank Dieter Kindlen Gabriel Schmitt Ivanor Boing Joo Luiz Simo Jaci Soares Jos Vilson Frutuoso Jurandir dos Santos Ktia Drager Maia Lauro Eduardo Bacca Lothar Schacht Lcia Sevegnani Marcelo Luiz Rossa Maria da Graa T Schmitt Maria Medianeira Possebon Milton Pukall Miriam Prochnow Neide Maria de Souza M. Areco Nilto Antnio Barni Noemia Bohn Odair Luiz Andreani Orival Grahl Osnei Luis Molinari Paulo Czar Schlichting Rainer Prochnow Roberto Hosang Silene Rebelo Urbano Schmitt Jnior Valdomiro Pereira de Lucena Werner Alexandre Tkotz

Conselho FiscalIvanor Boing Mariana Schmitt Thiesen Milton Pukall Odair Luiza Andreani Urbano Schmitt Jr Valmor Chiquetti Werner Alexandre Tkotz

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EquipeEquipe de colaboradores da Apremavi, entre funcionrios, prestadores de servios e estagirios no perodo de 1987 a 2007. Ana B. Barth Carlos Alexandre da Luz Carlos Augusto Krieck dos Santos Celir Cristiane H. Prochnow Cludio Passig Cleiton Cristiano Arnold Daniel Pereira Darcl C. Krunvald Edegold Schffer Edilaine Dick Edinho Pedro Schffer Edith Schaffer Eranilza Marques Maiochi Erlete Voss Geraldine Maiochi Geraldo Sauer Giovanni de Alencastro Grasiela Hoffmann Franciane Cerutti Ivan P. Schaeffer Ivo Knaul Jaime Kirschner Jane Aparecida Haas Jaqueline Pesenti Juliana Laufer Leandro da Rosa Casanova Luiz Esser Marcelo R. Starosky Marcelo Sieves Maria Luiza Schmitt Francisco Mariana Schmitt Mauri da Luz Maurcio Sieves Miriam Prochnow Nadia Cristina da Luz Hadlich Paulo S. Schaeffer Philipp Stumpe Rainer Prochnow Roberto Alberto Kuerten Sidiney Schefer Sidnei Prochnow Sigmar Henkels Silene Rebelo Teobaldo Sieves Valburga Schneider Vilson Barth Vilson Xavier Wigold B. Schffer

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AssociadosAssociados da Apremavi, em ordem de filiao.

Miriam Prochnow, Philipp Stumpe, Wigold Bertoldo Schffer, Ademir Jilson Fink, Alberto Pessati Primo, Amauri Vogel, Eliane Stoll Barni, Frank Dieter Kindlein, Jaci Soares, Joc Czar Pereira, Jos Vilson Frutuoso, Lcia Sevegnani, Nilto Antnio Barni, Nodgi Pellizzetti, Noemia Bohn, Marisa Mello da Silva, Dulio Gehrke, Ieda M Tambosi Klug, Orival Grahl, Ademir Jos Fink, Rogrio Becker, Daniel Dnis Stoll, Jeni Eliza da Silva, Jerson Matias Voigt, Eli Bittelbrunn, Mrcia Jennrich, Carlos Henrique Laun, Maique Theilacker, Nerilia Seemann, Srgio Bernardo Gonalves, Sandro Koepsel, Adrian R. Mohr, Marisa Aparecida Francs, Alessandra David, Andria Ana Dietrich, Sindria Franzi, Clvis Ren Fiedler, Edinho Pedro Schffer, Lilian Sieves, Harold Radloff, Aldoino Voss, Jenner Stoll Barni, Emmy Anny Kirchgatter, Arnaldo Prochnow, Erich Prochnow, Rogrio Grahl, Madjana Stoll Barni, Jonathan Stoll Barni, Marcli T. C. Wilde, Carolina C.C Wilde, Valdeci Branger, Ivo Vanderlinde, Paulo Srgio Schaefer, Jefferson Flores, Mrcio Marcelo Bttner, Marilene Koepsel, Ilaine Bhr, Vilsio Jairo Moretti, Alcio Cani, Therezinha Antonelli, Maike Cristine Kretzschmar, Juliana Koepsel, Nara E.G. Ferrari, Cndido Ernesto Prada, Carlos Guilherme Krummenauer, Lauro Eduardo Bacca, Paulo G.T. de Souza, Honeyde Rohr,Vera Herweg, Movimento Amigos da Natureza, Edela T. W. Bacca, Solange Rohr, Roberto Costa Richard, Antnio Jussi F. Rodrigues, Augusto Jos Hoffmann, Luiz Carlos Wilhem, Curt Krepsky, Marli Branger, Lothar Schacht, Iury Lovell Regueira, Vera Mary Gemballa, Beatriz Marzall, Jucinia de Souza, Lorena Doering, Carolina Ctia Schffer, Pedro Adenir Floriani, Odair Luiz Andreani, Gilberto Theiss, Marco Antnio Tomasoni, Celso Perotto, Rainer Prochnow, Dirceu Jorge Johann, Jos Vilmar Moreira Wolff, Milton Pukall, Csar Luiz Coletti, Jailson Lima da Silva, Paulo Czar Schlichting, Antnio Possamai, Carmela Panini, Joo Luiz Simo, Adriana Jarda de Souza, Zeli T. de S. Andreani, Nadir Laurentino, Maria Heleno Passero, Rosnia Duarte, Jair Francisco Vieira, Edson Luiz Fronza, Urbano Schmitt Jnior, Paulo Srgio Dias, Rene Hobus, Roberto Hoseng, Cleusa M. K. Boing, Rodrigo Antnio Agostinho, Jane Aparecida Haas, Margarete S. Crdova, Andre F. Ferreira, Rubens Gonalves, Nazareno Dias, Constantino Lisieski, Erni Waiss, Joana C. Finardi, Maiqui M. Hoppe, Jos Luiz Rubik, Rosi Raquel Ronchi, Danilo Ledra, Sirlei Neres Hoffmann, Olindia Jos de Borba, Masilha Frehner, Altair Prochnow,Valdemar Dellajustina, Luiz Eduardo G. Grisotto, Maria Luiza K. Moreira, Pedro Verissmo da Silveira, Norma Sieves, Teobaldo Sieves, Rogrio Bardini, Volnei Debacher, Najlgo Koch, Altair Mengarda, Srgio Kneipp, Alexsandra Alves da Silva, Laura Cristiane da Rosa, Marcia Aparecida da Rosa, Michel Francisco Machado, Rosemali Valim, Michael Wilivem, Marcelo Sieves, Adolfo J. Toch, Eranilza Marque Maiochi, Ncleo dos Engenheiros Agrnomos do Alto Vale, E.B. Dr. Waldomiro Colauetti, Gabriela L. Schaffer, Gabriel Schmitt, Aniela Pukall, Fabiano Prochnow, Janine Prochnow, Bruno Neris Hoffmann, Marcelo Neris Hoffmann, Catia Regina da Luz, Carlos Alexandre da Luz, Alexandre Araujo Schlichting, Ndia Cristina da Luz, Tatiana

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Stadmick, Rafael Bohnke, Munique Maite Bohnke, Felipe Stadimick, Pierre Eduardo Vicenzi, Acary Ferreira Vigarani, Gabriel Leal Ayroso, Giovani Alencastro, Paulo Antonio S. Gonalves, Alexandre Valdecir Hogel,Vanderlei Paulo Schmidt, Jlio Cesar Voltolini, Iara L. Amorim, Heinz Lehnhoff, Heike Lehnhoff, Raine Lehnhoff, Ivan Kurtz, Sandra S. Hodge, Leandro da Rosa Casanova, Alexandre Tkotz, Ricardo Pinheiro Meirelles, Sarah Beatriz C. Meirelles, Clovis Horst Lindner, Dbora Lindner, Alexandre Luiz Fernandes, Rita de Cssia Machado, Luiz Carlos Soares, Maurina Bohn, Viliam Oto Boehme, Euclides Maaneiro, Ainor F. Lotrio, Rosa Elisa Villanueva, Dilvo Tadeu Pereira, Joo Paulo Ribeiro Capobianco, Mrio C. Mantovani, Christian Guy Caubet, Antnio Dante Brognoli Neto, Annette Lobgesang, Antonio Padilha, Jean-Marie Farines, Laerte Jorge Grabowski, Hendrik Walter Degger, Yolanda Degger, Edegold Schffer, Vorli Lopes, Beate Frank, Srgio Cleiton Loffi, Luiz Antonio Passos, Valburga Schneider, John Tippett, Alan de Oliveira Andr, Alan Schmitt Mafra, Aldo Nestor Siebert, Alexandre Bohr, Ana Aquini, Arlete Vieira da Silva Genrich, Edilson de Almeida, Elisabete de Almeida, Grasiela Peplau, Ivan P. Schaeffer, Leocarlos Sieves, Lucas Nascimento, Luciana Luiza Schmitt, Luiz Eraldo Gonalves, Luiz Fernando Scheibe, Marcia Salete Witte, Marilene da Silva Peplau, Martin Zimmermann, Rosnitha Alvarez, Scott Desposato, Ursula Kurz,Valmor Chiquetti, Clia Drager,Almir da Luz, Felipe Neri da Silveira, Michel Henrique Grahl, Castilho Odeli, Rui Cesar Heck, Silene Rebelo, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apina, Camelita Chiquetti Scheller, Katia Lemos Costa, Barbara Mayerhofer, Melanie Copit, Rubens dos Santos Zanella, Marcos Aurlio Maggio, Darcio Kieser, Jurandir dos Santos, Srgio Luiz Boeira, Zeni S. Dorpmller, Carlos Alberto Schrner, Daiana Tnia Barth, Darcl C. Kaunvald, Henning Peter, Ivanor Bing, Sidnei Will, Osnei Luis Molinari, Katia Drager Maia, Bibiana Petr, Davide Moser, Erasmo Scharf, Marcelo Luis Rossa, M da Graa T. Schmitt, Maria Luiza Schmitt Francisco, Mariana Schmitt, Perttu Matias Katila, Claudio Marcio Areco, Complexo T. R. guas de Palmas, Denis Cenzi, Fbio Roussenq, Giovana Legnaghi, Gislaine Tedesco, Jnio Anderson Schmitz, Joo de Deus Medeiros, M Medianeira Possebon, Neide M Moreira Areco, Renato Lisba Mller,Valdomiro Pereira de Lucena, Ademir Jos Schmitt, Bernadette Perrenoud, Carlos Augusto Krieck dos Santos, Clodoaldo Cechinel, Eugnio Cesar Stramosk, Gaspar Machado Percolo, Juliana Laufer, Maridelia Liliany Z. Cardoso, Vilberto Jos Vieira, Angela M Krieck dos Santos, Claudio Gonalves, Daniel Nascimento Medeiros, Francisca Souza Carrer, Geonira G. de Oliveira, Hotel Plaza Caldas da Imperatriz S.A, Jaqueline Pesenti, Joo Stramosk, Leandro Geronimo Lyra, Maria Amlia Pelizzetti, Maria Roslia Goedert Costa, Metalrgica Riosulense S.A, Plano Verde - Planej.Agropec.Ambiental Ltda, Srgio Bisaggio, Solange Steinheuser, Rubens Scheller, Grasiela Andrade Hoffmann, Luciano Francisco, Paulo Roberto Trefzger de Mello, Felipe Bonfanti de Barros, Edilaine Dick, Andr Toczeck, Geraldine Marques Maiochi, Thiago Caetano Ferraz Costa, Otto F. Hassler, Vivian do Carmo Loch.

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A histria de um jardim

A histria de um jardimWigold Bertoldo Schffer

Quando nasceu a idia de produzir um livro sobre o viveiro de mudas de rvores nativas da Apremavi, pediram-me para que eu escrevesse um pouco sobre como e por qu surgiu este viveiro. Bom, pra comear, o nome Jardim das Florestas foi idia do ambientalista Augusto J. Hoffmann, um plantador de milhares de rvores e colaborador da Apremavi.Para escrever sobre como se iniciou o viveiro, necessrio voltar um pouco no tempo, relembrar algumas histrias, pessoas e fatos. A comear por mim mesmo, nasci em 1959, na Serra do Pitoco, hoje municpio de Atalanta-SC, numa poca em que a luz eltrica e a televiso ainda no haviam chegado naqueles cantos do mundo. A primeira vez que assisti a um programa de televiso foi na Copa do Mundo de 1970, num dos nicos dois aparelhos de TV que havia no municpio. O sinal da televiso era fraco e vamos mais chuvisco que imagens, ainda em preto e branco, mas o Brasil foi Tri Campeo do Mundo e ns ficamos maravilhados com o futebol e com a TV, que chegaria na casa do meu pai, j a cores, juntamente com a luz eltrica, somente em 1977. Foi um acontecimento comemorado com uma semana de festas na comunidade. Mais tarde tambm aprenderia que a gerao de eletricidade tem l seus problemas ambientais, mas isso j uma outra histria... Em 1964, aos cinco anos, plantei minhas primeiras sementes de araucria. Naquele tempo, a cada ano, os colonos da regio desmatavam em mdia de um a dois hectares para fazer roas de coivara. Assim era chamada a roa feita em rea de floresta virgem recm-desmatada. Meus pais tambm estavam fazendo as ltimas roas de coivara no terreno deles. Eram as ltimas roas, porque os terrenos comprados, em plena mata virgem, no final da dcada de 1930, tinham em mdia 25 hectares e as

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Primeira serraria do municpio de Atalanta. Dcada de 1940.

matas estavam chegando ao fim. No terreno do meu pai havia, em 1970, apenas trs hectares de mata virgem, rea que nunca foi cortada porque protegia duas nascentes dgua. Minha me conta que eu ficava muito impressionado com as derrubadas e perguntava com insistncia porque eles faziam isso. Eu tambm reclamava que se eles continuassem derrubando matas daquele jeito, quando eu crescesse no haveria mais rvores para meus filhos e netos. Diante de minhas reclamaes meu pai resolveu me dar umas sementes de araucria e me ensinou a plant-las. Eu as plantei com uma enxadinha ao longo de uma cerca, uma ao lado de cada palanque, ao todo umas 100 sementes. Lembrome que muitas das sementes germinaram e eu acompanhei, ano a ano, o crescimento dos pinheirinhos. Vrios deles viraram rvores de natal ao longo do tempo. Outros, 30 anos mais tarde, foram cortados e a madeira serviu para construir o galpo do atual viveiro da Apremavi. Hoje ainda existem uns 15 pinheiros daqueles, j bem grandes, produzindo sementes. sempre bom lembrar que na dcada de 1960, para ir escola nos quatro anos do ensino primrio, eu precisava andar a p cerca de 4 km, e nos 4 anos de ginsio (era assim o nome do ensino fundamental na poca) a

Wigold com Miriam e Gabriela ao lado de uma das araucrias plantadas em 1964. Carolina com uma das primeiras mudas do viveiro.

A histria de um jardim

distncia era de 7,8 km (ida e volta 15,6 km), tambm a p. Raramente se conseguia uma carona com alguma carroa ou uma caamba da prefeitura, que na poca iniciou a pavimentao das estradas do municpio. J no inverno, nos meses de junho, julho e agosto, muitas vezes com frio abaixo de zero, ir escola era uma aventura parte. Quando chovia, o jeito era andar descalo na estrada de terra. Os chinelos havaianas ou as congas (um tipo de tnis de pano bem simples que os agricultores s vezes conseguiam comprar para os filhos) eram levados dentro da bolsa. Tudo enfrentado com alegria por quem tinha vontade de estudar para mais tarde poder cursar uma faculdade, coisa que at ento s uns poucos naquele municpio haviam feito. No faz tanto tempo assim, mas nos meus tempos de menino, computador pessoal, internet, telefone celular eram parte apenas dos filmes de fico mais ousados. Naqueles tempos, era comum os agricultores irem para a roa com a enxada ou machado em um dos ombros e a espingarda no outro. Bicho, fosse pssaro ou mamfero, tinha que ser morto, s vezes para comer e outras porque acreditavam que poderia trazer prejuzos, arrancando milho recmplantado ou pegando algum frango no terreiro. Os meninos desde cedo aprendiam com os pais a lida na roa e tambm a caar passarinhos com estilingue e a correr atrs de borboletas. Como no havia TV, nem campo de futebol para a crianada brincar aos domingos, presente de natal e pscoa, no raro, era um estilingue. Assim os adultos se livravam da algazarra dos

Miriam e Edith cuidando das primeiras mudinhas no viveiro.meninos e, aos domingos, podiam jogar cartas com mais tranquilidade, sem barulho por perto. Na adolescncia, lendo uma revista, descobri que a melhor e mais divertida maneira de caar borboletas e passarinhos era faz-lo com uma mquina fotogrfica. Esse foi certamente o momento em que percebi a importncia da preservao da natureza, mesmo sem saber que existia um movimento mundial em prol do meio ambiente. Aos 16 anos, aps concluir o ginsio, fui estudar em Rio do Sul, cidade a 50 Km de Atalanta, onde havia segundo grau (ensino mdio) e faculdade. Trabalhei alguns anos como garom num bar e numa churrascaria da cidade. Aps economizar durante um ano inteiro consegui comprar a primeira mquina fotogrfica Kodak. Depois disso, medida que conseguia economizar um dinheirinho, fui comprando outras mquinas fotogrficas e tambm filmadoras melhores. Hoje, o resultado disso so milhares de fotos tiradas nas mais diferentes regies do Brasil e centenas de horas de imagens gravadas em vdeo, que servem para ilustrar materiais de divulgao e vdeos educativos da Apremavi, do Ministrio do Meio Ambiente e outras instituies, quase sempre cedidas gratuitamente. Era inverno, ms de julho do ano de 1980. Num domingo pela manh meu pai me convidou para irmos buscar umas mudas de rvores na mata ainda existente no terreno dele. Havia restado cerca de 3 hectares de mata primria do terreno de 25 hectares, localizado ao p da Serra do Pitoco, comunidade de Alto Dona Luiza, municpio de Atalanta, regio central de Santa Catarina. Seu Daniel havia chegado na regio aos cinco anos de idade, em 1938,

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juntamente com seus pais, seis irms e um irmo. No s assistiu, mas tambm ajudou a abrir as matas da regio para agricultura e pastagens. Apesar de pequena, aquela matinha hoje um dos poucos remanescentes de Mata Atlntica da regio onde houve pouca interferncia humana direta. Ainda podemos encontrar exemplares de cedro, ip-roxo, figueira, cabeuda, peroba, gabiroba e muitas outras espcies. Tem tambm as duas marias, dois exemplares gigantes de maria-mole, assim batizados pelo meu pai, por estarem muito prximos um ao outro. Meu pai, alm de agricultor, era marceneiro de profisso, daqueles que conheciam como ningum os nomes populares das rvores da regio, especialmente aquelas que forneciam madeira para construo de casas ou mveis. Naquele domingo aprendi muito sobre a mata e, depois de algumas horas, voltamos para casa com diversas mudas de cedro, ip-roxo, peroba, ara-mulato, guamirim, jacarand, tanheiro e outras. Essa no era a primeira vez que ele ia buscar mudinhas. No mesmo dia plantamos as mudas ao lado da casa. Hoje, quem visita minha me encontra l um pequeno bosque com essas rvores, algumas com mais de 15 metros de altura. Comecei a acompanhar o crescimento das mudinhas plantadas e a verificar que nem todas cresciam da forma esperada. Meu pai dizia que muitas delas, apesar dos cuidados, no cresciam, ou quando cresciam, demoravam uns dois ou trs anos para iniciar um crescimento desejvel. Segundo observaes dele, isso ocorria porque as razes eram danificadas na hora em que eram arrancadas e tambm em funo da mudana de um ambiente com pouca luz no interior da mata para um ambiente com muita luz e sol direto. Alguns anos depois, em 1985, fomos novamente buscar umas mudinhas para replantar algumas que ainda no haviam crescido. Na ocasio eu j estava casado com a Miriam, que participou do trabalho. O meu pai nos explicou que ia pegar mudinhas na mata porque no havia nenhum viveiro naquela regio que as produzisse. Durante a conversa surgiu a idia de comear a produzir mudas de rvores nativas, isto poderia diminuir ou acabar com o problema da mudana brusca de ambiente, uma vez que as mudinhas poderiam, desde logo, crescer em ambientes mais ensolarados e, alm disso, ao serem produzidas numa embalagem, as razes no seriam afetadas no momento do plantio, favorecendo assim o seu crescimento.

Durante o passeio na mata, alm de pegar algumas mudinhas, encontramos tambm algumas sementes. Voltamos para casa com duas dezenas de sementes de cedro, guamirim, gabiroba e ara. Descobrimos, desde logo, que coletar sementes no era uma tarefa muito simples. Cada espcie de rvore tem sua poca de florao e maturao dos frutos, algumas rvores so altas, outras produzem poucas sementes, outras ainda tm frutos que atraem animais que as usam como alimento. Uma vez coletadas, as sementes precisavam ser plantadas. Ns morvamos numa casa de madeira em Ibirama, cidade a 70 km de Atalanta. A casa tinha um quintal minsculo. No mesmo dia, ainda em Atalanta, recolhemos um pouco

Wigold ao lado de rvore centenria e suas mudinhas, germinadas no meio da mata.

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A histria de um jardim

de terra e levamos no fusquinha para Ibirama. Na poca, eu j trabalhava no Banco do Brasil em Ibirama e a Miriam era professora naquela cidade. noite, procuramos garrafas plsticas, saquinhos de leite e outros recipientes e os transformamos em embalagens para as primeiras vinte sementinhas. Acomodamos as embalagens num cantinho do quintal, no fundo de casa, e a cada dia monitoramos a germinao. Das vinte sementes nasceram 18 mudinhas. Com essas primeiras sementinhas foi tambm plantada a semente do Viveiro Jardim das Florestas, que uns sete anos mais tarde seria transferido para Atalanta. Na dcada de 1980, foram devastados, por madeireiros da regio, os 14.000 hectares da Terra Indgena Ibirama, no atual municpio de Jos Boiteux. Acompanhamos de

perto esse crime ambiental, que as autoridades assistiram sem nenhuma providncia efetiva. Pior, diversos prefeitos e vereadores da poca eram madeireiros e participaram desse verdadeiro massacre da floresta. Em meados da dcada de 1980 ainda no era comum encontrar informaes, livros, textos ou matrias na imprensa sobre a problemtica ambiental. Certo dia um amigo me emprestou o livro O Fim do Futuro de Jos A. Lutzenberger. Li o livro no mesmo dia e depois reli diversas vezes. As informaes contidas no livro me impressionaram pela clareza, objetividade e pela dura realidade ambiental brasileira que retratavam. A nossa gerao estava realmente a passos largos, em direo ao fim do futuro das prximas geraes. O livro me impressionou tanto que procurei o endereo do Lutzenberger e escrevi uma carta a ele encomendando 50 exemplares. Dias depois, recebi uma ligao do Augusto Carneiro, parceiro de Lutzenberger, animado com a encomenda e querendo saber se eu era comerciante ou revendedor de livros. Informei que ficara impressionado com o livro e que resolvera dar de presente de natal, um exemplar do livro, a cada um dos prefeitos da regio do Vale do Itaja. Apenas para registrar, nenhum dos prefeitos acusou o recebimento ou agradeceu pelo presente. Quanto ao Dr. Carneiro, tive a oportunidade de rev-lo na Semana da Mata Atlntica de 2007 em Porto Alegre, onde recebeu o prmio Amigo da Mata Atlntica, da Rede de ONGs da Mata Atlntica. sem dvida uma das pessoas que mais contriburam para a conservao do meio ambiente no Brasil. tambm a pessoa que mais adquiriu e distribuiu livros da Apremavi, cerca de 500 exemplares. Indignados com a devastao da Terra Indgena Ibirama, no ano de 1986 iniciamos um movimento para criar uma organizao ambientalista em Ibirama. Primeiro, com a ajuda do Philipp1 e do Orival2, elaboramos um manifesto denunciando a destruio da reserva indgena e depois convidamos amigos e conhecidos, umas 200 pessoas, para fazerem parte dessa empreitada. Finalmente, no dia 09 de

As 18 mudinhas no fundo do quintal. Nascia o Jardim das Florestas.

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Philipp Stumpe Foi funcionrio do Banco do Brasil na dcada de 1980. Scio-fundador e primeiro Secretrio da Apremavi.

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Orival Grahl Tambm funcionrio do Banco do Brasil de Ibirama na poca. Scio-fundador e primeiro Tesoureiro da Apremavi. Ainda hoje trabalha no Banco do Brasil, em Braslia - DF.

Mauri, Calinho e Catia limpam sementes.julho de 1987, um grupo de 20 pessoas se reuniu no Colgio Hamonia em Ibirama e 19 delas aceitaram o desafio de criar uma associao de defesa do meio ambiente, assinando ento a ata de fundao da Apremavi. Atualmente a Apremavi tem mais de 300 scios. Quando a Apremavi foi criada, o viveiro, ainda caseiro, j dava seus primeiros passos. A cada dia, mais e mais mudinhas eram produzidas e j comeava a faltar lugar para acomod-las no quintal de casa. Diversas crianas da vizinhana, curiosas e voluntrias, comearam a ajudar no enchimento das embalagens e no plantio das sementes. Passados uns dois anos, o viveiro j atingia a marca de mil mudinhas produzidas. No dia 05 de junho de 1987, algumas mudinhas foram plantadas na praa em frente ao Banco do Brasil de Ibirama e hoje essas rvores fornecem sombra para quem senta l para descansar. A Apremavi tambm dava seus primeiros passos, sempre procurando fazer educao ambiental, criticando as polticas pblicas inadequadas e denunciando os agressores do meio ambiente e, ao mesmo tempo, demonstrando que era possvel fazer as coisas de forma diferente. Nessa luta para mudar o mundo, ou pelo menos uma partezinha dele, um dia fomos perguntar a um madeireiro se ele no poderia nos fornecer sementes de canela-preta e canela-sassafrs. Para nossa surpresa, a resposta dele veio em forma de outra pergunta: E sassafrs d semente? Nada mal a ignorncia do distinto senhor de uns 70 anos, que passara pelo menos uns 60 cortando rvores de canela sassafrs, canela preta, cedro, peroba, louro, entre outras espcies. Com isso construra sua fortuna particular e ajudara a desenvolver a regio, sem, no entanto, deixar muitas perspectivas para as geraes futuras, inclusive seus prprios filhos e netos! Para quem no sabe, essas espcies de rvores do sementes, muitas sementes, e elas so quase do tamanho de uma azeitona.

Essa inesperada resposta em forma de pergunta trouxenos uma lio: a nossa tarefa para mudar a forma de utilizar a floresta e tratar o meio ambiente se mostrava muito mais complicada do que havamos imaginado. Naquela poca, assim como hoje, nem tudo o que ambientalmente correto era aceito pelas pessoas, porque muitas vezes o meio de vida delas dependia exatamente da for-

Milton, Gilberto, Miriam e Wigold na Rio-92. 15

A histria de um jardim

ma como utilizavam, insustentavelmente, os recursos naturais e tratavam o meio ambiente. A respeito das sementes, tivemos que iniciar um aprendizado sobre pocas de florao e frutificao, formas de coleta e armazenamento e tambm sobre o processo de semeadura e replantio. A literatura sobre o assunto era muito rara. Isso fez com que eu me aventurasse a escrever um livrinho falando sobre sementes: Quanto Vale uma Semente de rvore Nativa, publicado pela editora da Universidade Regional de Blumenau (FURB), com o apoio da Professora e ambientalista Lucia Sevegnani. O livro Quanto Vale uma Semente de rvore Nativa trouxe muitas perguntas e poucas respostas: Quanto vale uma semente de ip? Uma semente de araucria? Quan-

to vale uma semente de? Ser que o homem tem feito a sua parte para garantir a sobrevivncia e a evoluo das florestas nativas? O homem tem espalhado ou plantado as sementes como fazem os outros seres vivos? Ou o homem s tem se preocupado em derrubar rvores para construir casas, cozinhar feijo, secar fumo, secar tijolos, aquecer caldeiras, assar churrasco,...? Pode-se avaliar o valor da semente de uma araucria de 200 anos ou de uma imbuia de 1.000 anos? Apresentou tambm os primeiros resultados sobre coleta de sementes e plantio de rvores: H alguns anos, eu e minha esposa, estamos por experincia, plantando sementes de rvores nativas, num pequeno viveiro instalado no jardim da nossa casa. J obtivemos alguns excelentes resultados e a partir deles, comeamos a fazer um

Mauri e Paulo Srgio (Bilu) construindo Canteiros em Atalanta.

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Ivo Knaul Foi funcionrio da Apremavi de 1996 a 2004.

controle de tempo e porcentagem de germinao. Eis o resultado de algumas das nossas experincias: de 38 sementes de peroba plantadas, nasceram 37, quase 100% de germinao; de 20 sementes de sassafrs, nasceram 18, 90% de germinao, de 200 sementes de ing-macaco, germinaram 183, tambm mais de 90%; de 1.000 pinhes semente de araucria plantados diretamente no campo, nasceram 800, sendo que hoje, um ano aps, restam 700 pinheirinhos.

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Em 1988, ajudamos a criar a Federao de Entidades Ecologistas Catarinenses, que teve um trio feminino na primeira coordenao: Miriam Prochnow (Apremavi), Noemia Bohn (Acaprena) e Analucia Hartmann (MEL). Em 1991, a Miriam j havia deixado de ser professora para dedicar-se de corpo e alma e em tempo integral luta em defesa do meio ambiente. Participamos do Frum Catarinense de ONGs e Movimentos Sociais e do Frum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, criados para articular a participao das ONGs e promover o debate prvio das questes ambientais que seriam discutidas na Rio-92, a maior conferncia mundial sobre meio ambiente j realizada. As mudas produzidas pela Apremavi fizerem sucesso na exposio do Frum Global realizada no Aterro do Flamengo. A luta ambientalista j havia nos custado diversas ameaas de morte. Nossa casa em Ibirama fora arrombada 4 vezes, minha situao funcional no Banco do Brasil no estava l uma maravilha. Afinal, os principais clientes do Banco eram os madeireiros, os feculeiros e as empresas de fumo e seus fomentados. Em resumo, quase todos os principais destruidores de florestas e agressores ambientais da regio. No incio de 1992, resolvemos nos mudar de mala e cuia para Agrolndia, para ficar um pouco mais longe das presses e ameaas. Aps uma grande briga com o Banco do Brasil, que vetou minha transferncia para a cidade de Agrolndia, acabei fazendo acordo com o Banco e fui trabalhar na agncia de Rio do Sul, cidade plo da regio. Foi nessa poca que a Apremavi tambm mudou sua sede para Rio do Sul e abriu seu primeiro escritrio. E o viveirinho de fundo de quintal? Ah! Este na poca j estava com umas 5 mil mudinhas,

as quais couberam todas no caminho do Ivo3 e foram levadas para um terreninho que ns havamos comprado em Alto Dona Luiza, municpio de Atalanta. Apesar de morarmos em Agrolndia, a 14 km do viveiro, demos um jeito de cuidar das mudas nas primeiras semanas. Depois disso, convidamos o Mauri4, juntamente com a famlia, a ir morar no nosso stio e cuidar do viveiro. Com a chegada do Mauri, que sempre contava com a ajuda do seu filho Calinho5, o viveiro foi crescendo. A cada dia mais sementes, mais mudinhas e um ano depois j havia 18.000 mudas. Importante dizer que o Mauri ainda hoje trabalha na Apremavi e um grande conhecedor de sementes e do processo de produo de mudas. Sabe como ningum a poca da frutificao das principais rvores da regio e sabe tudo sobre preparao de substrato, semeadura de sementes e repicagem de mudinhas nas embalagens.

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Mauri da Luz funcionrio da Apremavi desde 1996, tendo sado e voltado algumas vezes neste perodo. grande conhecedor de sementes e sabe como ningum faz-las germinar.

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Carlos Alexandre da Luz (Calinho) Filho do Mauri. Foi funcionrio da Apremavi. Faleceu num acidente automobilstico em 2002. Paulo Srgio Schaefer (Bilu) Foi o primeiro funcionrio do Viveiro. Faleceu em acidente automobilstico em 1994.

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Urbano, Edegold e Leandro expondo mudas em evento em Braslia. 17

A histria de um jardim

A Equipe da Apremavi ao longo do tempo

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A histria de um jardim

Era incio de 1993. A Apremavi, agora com sede em Rio do Sul e tendo participado ativamente da Rio92, conseguira uma doao de U$ 12.000 da Threshold Foundation para implantar um viveiro de mudas. Esses eram os recursos mais significativos que a Apremavi recebera at ento. Isso aumentava muito a responsabilidade de todos na busca dos melhores resultados. Foram horas de discusso na diretoria, at que finalmente decidiu-se que a Apremavi assumiria aquele que at ento era um viveiro particular nosso. Comeava assim, com 18.000 mudas, o viveiro da Apremavi, tendo o Bilu6 como primeiro funcionrio. O Bilu, um menino de 18 anos, com a ajuda do Mauri, contribuiu muito para que o viveiro entrasse numa nova fase e comeasse a crescer em quantidade de espcies e de mudas produzidas.

A partir de 1995, o viveiro, assim como a Apremavi, comea a se consolidar. Eu, que at ento havia exercido um papel de coordenador e animador das atividades, ajudando principalmente nas horas de folga, finais de semana e feriados, passei a dedicar mais tempo aos trabalhos voluntrios na Apremavi. Naquele ano larguei o emprego de 15 anos no Banco do Brasil, voltando a trabalhar com agricultura orgnica e, sempre que possvel, ajudava na coleta de sementes, preparao de sementeiras e tambm no plantio de mudas em campo. Com a ajuda de novos parceiros, o viveiro passou de 100.000 para 300.000 mudas ao ano e a Apremavi ampliou o trabalho junto comunidade da regio. Foram tambm inmeras palestras e cursos sobre a im-

portncia da proteo e recuperao da Mata Atlntica, sobre matas ciliares, agricultura orgnica e enriquecimento de florestas secundrias, para alunos, professores e agricultores de toda a regio. Para auxiliar nos trabalhos educativos, elaboramos uma srie de vdeos e cartilhas. As mudas produzidas no viveiro tambm sempre foram utilizadas como uma ferramenta de educao ambiental. Em todas as atividades que a Apremavi desenvolvia elas estavam presentes. Outro importante momento para a Apremavi e o viveiro aconteceu em 1999, quando eu a Miriam nos mudamos para Braslia e a coordenao dos trabalhos de campo foi assumida pelo Edegold . Com a nossa sada, houve quem decretasse o fim da Apremavi - e alguns at torceram por isso. Mesmo de longe, a Miriam

Apremavi realizando eventos no viveiro e no Parque Mata Atlntica.

continuou trabalhando e, com a ajuda dos diretores, funcionrios e scios, a instituio foi se consolidando cada vez mais. Em 2001, j tinha capacidade para produzir 500.000 mudas ao ano. Em 2003, a Apremavi adquiriu um terreno de 24 hectares em Alto Dona Luiza, onde foi instalada mais uma estufa, ampliando a capacidade de produo para aproximadamente 1.000.000 de mudas ao ano. Todo esse trabalho da Apremavi s foi possvel graas ao empenho e enorme boa vontade de todos os funcionrios, diretores, conselheiros, scios e amigos. muito importante tambm lembrar que ao longo desses 20 anos a Apremavi contou com o apoio de inmeras pessoas e parceiros. Em-

presas como a Vitakraft (Alemanha), a Van Melle (Holanda), a Malwee, a Klabin, Supermercado Archer e a Metalrgica Riosulense (Brasil), rgos governamentais como o Fundo Nacional do Meio Ambiente, os Projetos Demonstrativos do Ministrio do Meio Ambiente e a Prefeitura Municipal de Atalanta. Importantes apoios foram obtidos de organizaes no governamentais como a Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, The Nature Conservancy, a Fundao Interamericana, a Damien Foundation, a Fundao Francisco, a Threshold Foundation, a Both Ends, a Fundao Oro verde, o Bund de Heidelberg, o Rainforest Action Network, a Tides Foundation, o Global Greengrants Fund, a Fundaci Natura, a Fundao Avina, entres outros.

A histria de um jardim

Caco Barcellos gravando Globo Reprter na Apremavi, 1998.A imprensa tambm tem tido um papel fundamental na divulgao da causa ambiental. As atividades da Apremavi sempre chamaram a ateno e tm circulado nas pginas dos jornais e nos noticirios de rdio e televiso. Intercmbios e apoios na luta por polticas pblicas mais sustentveis foram fundamentais para que, no dia 22 de dezembro de 2006, pudssemos ver no Palcio do

Primeira entrevista da Apremavi, em 1987, sobre a Serra da Abelha.Planalto o Presidente Lula, ao lado da Ministra Marina Silva e do Secretrio de Biodiversidade e Florestas Joo Paulo Capobianco, sancionar a Lei da Mata Atlntica (Lei 11.428), que tramitou por mais de 14 anos no Congresso Nacional. Essa Lei abre uma nova perspectiva para o futuro da Mata Atlntica, rumo ao desmatamento zero e ao incio da recuperao de pelo menos 35% do que havia no ano de 1500.

Miriam entregando muda de Pau-brasil ao presidente Lula, na sano da Lei da Mata atlntica.

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Muitos foram os parceiros de jornada, a comear pela Acaprena, a Federao de Entidades Ambientalistas Catarineneses, o Grupo Pau Campeche, o Movimento Ecolgico Tubaronense, a Vida Verde, o Centro Vianei, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, a Ajovacar, a Rede de ONGs da Mata Atlntica, a Fundao SOS Mata Atlntica, o Instituto Socioambiental, o Grupo Ambientalista da Bahia, a Sociedade Nordestina de Ecologia, a SPVS, o Mater Natura, os Amigos da Terra e muitas outras ONGs. Muitos desses parceiros tambm apoiaram os trabalhos do viveiro e foram fundamentais para o fortalecimento institucional da Apremavi nestes seus primeiros 20 anos. Quanto ao futuro da Mata Atlntica e da vida no Planeta Terra, bom ficar atento ao noticirio e arregaar as mangas. Nos primeiros meses de 2007, relatrios de organismos internacionais como a ONU, jornais, revistas e redes de TV, mostraram a comprovao definitiva de que o aquecimento global est em curso e causado pelo ser humano. Parece irnico, mas h 20 anos os loucos que criaram a Apremavi j alertavam que o desmatamento, as queimadas e o uso insustentvel dos recursos naturais iriam afetar o futuro de todos. Agora, ou a sociedade muda radicalmente seu modo de utilizar e se relacionar com o planeta e os recursos naturais ou... Bem, o resto da histria do viveiro vocs vo conhecer ao longo deste livro e, aos que ainda no sabem o que fazer para enfrentar e reverter a catstrofe ambiental anunciada, recomendo uma visita ao Viveiro Jardim das Florestas...

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das FlorestasCarlos Augusto Krieck, Edegold Schffer, Leandro Rosa Casanova e Miriam Prochnow.

Produzir mudas de rvores nativas um processo relativamente simples, mas que exige ateno para uma srie de detalhes, que vo desde a coleta de sementes at a produo das mudas propriamente dita.Neste captulo ser apresentada uma sistematizao dos procedimentos utilizados no viveiro Jardim das Florestas, da Apremavi. O Viveiro Jardim das Florestas est localizado na comunidade de Alto Dona Luiza, em Atalanta (SC), e possui uma estrutura com capacidade para a produo de aproximadamente 1.000.000 de mudas de rvores nativas por ano. O viveiro est equipado com duas estufas grandes, duas estufas mdias, uma estufa pequena, um galpo para movimentao do substrato e atividades de preenchimento de saquinhos e repicagem, vrias sementeiras de cho e suspensas, canteiros externos e um pequeno escritrio.

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Como j foi dito anteriormente, o Viveiro Jardim das Florestas comeou de forma bem rstica, num fundo de quintal, em 1987. Desde ento sua estrutura tem aumentado e se modernizado, na medida em que se conseguem os recursos para isso. Atualmente o viveiro um dos grandes pilares para os projetos e ativi-

dades que a Apremavi desenvolve, buscando cumprir sua misso que : defesa, preservao e recuperao do meio ambiente, dos bens e valores culturais, visando a melhoria da qualidade de vida humana, no mbito do Bioma da Mata Atlntica. O viveiro tambm um grande apoio na busca da sustentabilidade

da prpria instituio e uma esperana para o futuro, porque, assim como as mudas plantadas viram rvores, tambm objetivo da Apremavi que as atividades em prol da natureza sejam cada vez mais slidas e perenes.

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

Escolha e cadastramento de rvores matrizesO primeiro passo, e um dos mais importantes, na produo de mudas de rvores nativas conseguir as sementes que daro origem s mudas.Para que as futuras plantas tenham bom desenvolvimento e qualidade, preciso que as sementes sejam coletadas de rvores que apresentem boas caractersticas, tais como: forma do tronco, vigor, tamanho, forma da portante a ser observado na coleta de sementes verificar como se encontra o estado da floresta onde a colheita realizada: importante que neste local exista fauna diversificada e polinizadores, garantindo, assim, a montagem de um programa anual de coleta de sementes. Quando possvel, importante tambm registrar a coordenada geogrfica do local onde se encontram as rvores, facilitando sua localizao futura e tambm a ela-

copa e boa frutificao. s rvores que possuem essas qualidades damos o nome de rvores matrizes. importante que as rvores matrizes estejam livres de pragas e doenas e que se encontrem distribudas em agrupamentos de indivduos da mesma espcie. A escolha de rvores produtoras de sementes ir refletir nas caractersticas genticas que sero transmitidas s plantas filhas. Outro aspecto im-

troca de material gentico entre as rvores, o que aumenta a variabilidade gentica das sementes coletadas. Uma vez definidas as rvores matrizes, necessrio que se faa o cadastramento das mesmas, registrando sua localizao, estimativa de idade e dados fenolgicos, como poca de florao e principalmente a poca em que os frutos esto prontos para serem colhidos. Saber o perodo de frutificao importante para a

borao de mapas do conjunto das rvores cadastradas. Nesta etapa importante construir boas parcerias com agricultores e proprietrios rurais, pois muitas vezes encontramos espcies florestais importantes apenas dentro de propriedades particulares, necessitando, ento, da autorizao do proprietrio da determinada rea para a realizao da coleta de sementes.

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O viveiro Jardim das Florestas tem sido um importante ponto de apoio para todas as atividades de educao ambiental desenvolvidas pela Apremavi. Pelo viveiro passam anualmente milhares de pessoas do Brasil e tambm do exterior, entre estudantes dos mais variados nveis de ensino, professores, pesquisadores, proprietrios, agricultores, empresrios, prefeitos, vereadores, tcnicos e estagirios.

Poder ter contato direto com sementes, ver como so produzidas as mudinhas das rvores, discutir sobre a importncia de se plantar rvores nativas uma oportunidade mpar para se entender a real necessidade do trabalho pela proteo do meio ambiente. Nestes 20 anos de existncia, a Apremavi teve a satisfao de poder conviver com milhares de pessoas que tambm tm como ideal lutar pela vida do planeta. Isso nos d a certeza de que estes milhares de seres esto de fato fazendo a diferena.

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

Coleta de sementesCom base no cadastramento das rvores matrizes e do monitoramento das mesmas, a coleta das sementes pode ser feita no cho, aps a queda do fruto maduro, ou diretamente da rvore, com o corte de parte dos galhos ou ramos que as contm. Essa coleta de frutos ainda fechados As sementes de rvores de grande porte, com copas altas e cujos frutos ainda no caram no cho, so coletadas com o auxlio de escadas, podes, ou ainda utilizando equipamento de escalada para a subida at sua copa. Algumas pessoas conseguem escalar rvores sem o uso de equipamento algum, agarrando-se ao caule da rvore, mas ressaltamos aqui a necessidade da utilizao de equipamentos de segurana para evitar qualquer tipo de acidente. rvores de pequeno e mdio porte facilitam a coleta de seus frutos e

Um aspecto muito importante e que deve ser respeitado o limite mximo de frutos que se pode colher. Nunca se deve colher mais de 70%, o que ficar nas rvores servir de alimento para a fauna e contribuir para a disperso natural das sementes.e semiverdes , muitas vezes, interessante, uma vez que determinados frutos quando amadurecem so consumidos rapidamente pela fauna, ou ento as sementes so dispersadas pelo vento. sementes, que podem ser retirados diretamente de seus galhos com a mo. Dependendo do formato da copa e da disposio e estgio de maturao dos frutos, pode-se colocar uma lona sob a copa e simplesmente balanar a rvore, fazendo com que seus frutos e sementes caiam sobre a lona, agilizando bastante a coleta. Algumas sementes podem ser adquiridas atravs da compra em locais

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especializados. A parceria com proprietrios rurais tambm importante, porque eles mesmos podem realizar a coleta, repassando-as ao viveiro atravs de doaes, ou, em alguns casos, vendendo as sementes coletadas. Os diferentes mtodos de colheita esto diretamente associados forma de maturao e disperso das sementes. As sementes que tm a disperso pelo vento so leves e possuem mecanismos naturais que permitem que o vento as transporte a distncias considerveis. A colheita dessas sementes deve ser realizada quando os frutos estiverem maduros ou quando comearem a abertura espontnea. Podemos citar, por exemplo, as seguintes espcies: caroba, carvalho-brasileiro, ips, cedro, peroba, louro-pardo, cambar, vassouro-branco, aoita-cavalo, guajuvira. Espcies como camboatvermelho, bagua, canjerana, embora no sejam transportadas pelo vento, devem ser colhidas quando os frutos comearem a abrir ainda na rvore.

J sementes de outras espcies podem ser recolhidas no cho quando iniciarem a queda espontnea dos frutos ou quando a queda for induzida. Dentre estas esto: os aras, canela-sassafrs, canela-preta, canela-imbuia, guabiroba, pitanga, cereja, uvaia, jabuticaba, guabiju, cortia ou araticum, agua, figueira e cabrina. Exemplos de espcies florestais que podem ficar um tempo mais prolongado na rvore e que precisam ser necessariamente colhidas porque no caem e no possuem abertura espontnea so: os ings (macaco, feijo, banana, ano), ripo, timbava, canafstula, guatambu.

Ferramentas de coletaAs ferramentas mais utilizados para coleta de sementes so:

Podo Ferramenta utilizada para cortar pequenos galhos, onde se encontramos frutos.

Escada Auxilia a colheita de sementes em rvores mais altas e retas. Esporas Equipamento que auxilia na escalada de rvores e que requer certo grau de treinamento por parte do colheitador. bastante utilizado na colheita de sementes de araucrias. um mtodo que pode causar ferimento nas rvores. Catao no cho Para alguns frutos mais eficiente realizar a colheitaquando ocorrer a queda espontnea, ou quando o colheitador induzir a queda. Nesse mtodo pode-se estender uma lona embaixo da rvore para facilitar o recolhimento dos frutos.

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

Extrao e tratamento das sementesAps a coleta a maioria das sementes deve ser limpa, ou seja, separada da polpa dos frutos. Esse processo de limpeza varia de acordo com as caractersticas dos frutos, que de forma geral so classificados em carnosos e secos. Frutos carnosos: so frutos que apresentam uma polpa mole que envolve a(s) semente(s). Os frutos devem ficar imersos em gua por um perodo de 24 a 48 horas e a retirada das sementes se d de forma manual, com os frutos sendo esmagados num balde ou sobre uma peneira com gua corrente. Neste processo vale ressaltar que as sementes no precisam estar totalmente livres de pedaos de polpa. Este processo visa apenas tirar o excesso de polpa para que as sementes no sejam atacadas por fungos que inviabilizam sua germinao. Frutos secos deiscentes: so aqueles que se abrem espontaneamente expondo a semente ainda na plantame. Esse tipo de fruto apresenta pouca ou nenhuma polpa, facilitando seu processo de limpeza que, na maioria das vezes, feita esfregando-se os frutos secos contra uma peneira. Esses frutos devem ser colhidos logo que comearem a se abrir, para que as sementes no sejam dispersadas. Frutos secos indeiscentes: so aqueles que no se abrem naturalmente, neste caso os frutos tm a capacidade de permanecer por mais tempo

na rvore e as sementes caem junto com o fruto ainda na sua parte interna, exigindo uma abertura forada. A retirada forada pode ser feita manualmente ou com materiais como facas ou chaves de fenda. Se o fruto for muito duro, pode-se triturar sua casca com um socador artesanal, ou s vezes necessrio o uso de triturador mais potente.

Ing-feijo

Palmito

Pau Ripa

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ArmazenamentoA maioria das sementes nativas possui viabilidade de germinao curta, o que dificulta o armazenamento. Aps sua coleta, as sementes podem ficar armazenadas nos frutos por 2 a 4 dias, at o fruto entrar em decomposio.Aps esse curto perodo, as sementes devem receber o tratamento adequado de limpeza, para que sejam colocadas na sementeira para sua futura germinao. Em outros casos, como o do tanheiro (Alchornea triplinervia), as sementes so coletadas ainda verdes, pois se amadurecerem as aves comem praticamente todas as sementes restando pouca coisa para a coleta, sendo assim, so coletados ramos de galhos com sementes verdes e deixadas sombra para o amadurecimento. No caso de frutos secos indeiscentes, o seu armazenamento pode ser feito por um perodo um pouco mais longo, de aproximadamente 20 a 30 dias, como o caso da timbava (Enterolobium contortisiliquum). Porm, quanto maior o tempo de armazenamento maiores so as chances dos fungos aparecerem nos frutos e sementes, impossibilitando a sua utilizao. Quanto viabilidade de armazenamento, as sementes podem ser classificadas em dois tipos: Recalcitrantes: so sementes que perdem a capacidade de germinao em pouco tempo, ou seja, exigem um tratamento rpido para que ocorra com sucesso sua germinao. Ex.: cedro (Cedrela fissilis), canjerana (Cabralea canjerana), peroba (Aspidosperma subincanum), canelas em geral, entre outras. Ortodoxas: grupo de sementes que podem ser armazenadas por um perodo de tempo maior. Ex: canafstula (Peltophorum dubium), bracatinga (Mimosa scabrella), guarapuvu (Schizolobium parahyba), entre outras. Para que as sementes possam ser armazenadas por perodos mais longos necessrio montar cmaras e estufas especiais.

Canjerana

Mogno

Timbava

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

DormnciaAlgumas espcies florestais apresentam mecanismos que as permitem germinar ao longo do tempo, quando as condies naturais forem propcias. A esse mecanismo damos o nome de dormncia. Nesses casos, o impedimento da germinao se d por conta de tecidos impermeveis que restringem a entrada de gua ou trocas gasosas da semente com o meio, mesmo na presena abundante de gua e ar a temperatura normal. Para quem trabalha com produo de mudas florestais nativas muito importante saber quais so as espcies florestais que possuem esse mecanismo natural, para que se possa aplicar a tcnica da quebra da dormncia, possibilitando uma germinao mais rpida. A dormncia de sementes pode ser quebrada de diversas formas: fsicas, qumicas ou mecnicas. Existem processos onde utilizado o cido sulfrico para quebrar a dormncia de sementes mais duras, alm de mtodos como o umedecimento de sementes com lcool absoluto durante trs dias, escarificao mecnica, onde a semente raspada com duas lixas mutuamente, entre outras. No Viveiro Jardim das Florestas o mtodo mais utilizado para a quebra de dormncia tem sido o uso de gua fervente. As sementes so colocadas dentro de um recipiente como um balde grande e em seguida acrescenta-se gua fervente, deixando as sementes na gua quente at o seu resfriamento natural. A escarificao mecnica tambm j foi utilizada, mas a gua fervente mostrou

Canafstula

Bracatinga

melhores resultados de forma geral. A gua quente tem sido utilizada com sucesso para as seguintes espcies: bracatinga (Mimosa scabrella), guarapuvu (Schizolobium parahyba), canafstula (Peltophorum dubium) e a aroeira-periquita (Schinus molle).

Tipos de EscarificaoEscarificao qumica: neste mtodo as sementes so banhadas por alguns segundos, ou minutos, em algum tipo de cido, como por exemplo o cido clordrico e o cido sulfrico. Esse banho ir possibilitar que a semente troque gua e/ou gases com o meio. Escarificao mecnica: com alguma espcie de lixa, as sementes so raspadas para facilitar sua absoro de gua. Choque de temperatura: as sementes so submetidas a alternncia de temperaturas, variando em aproximadamente 20C, em perodos de 8 a 12 horas de monitoramento de longo prazo.

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Esquema da Estratificao da erva-mateA erva-mate (Ilex paraguariensis) uma espcie que tambm exige um cuidado especial para que consigamos a sua germinao, mesmo que este processo dure alguns meses.Essa espcie necessita de um processo chamado estratificao, que compreende em enterrar as sementes colhidas bem maduras em camadas alternadas com areia mida, por um perodo de aproximadamente cinco a seis meses. Aps esse processo ela estar apta semeadura, mas mesmo assim a semente levar em torno de trs meses para germinar. Logo, podemos concluir que o tempo total de germinao da erva-mate de aproximadamente nove meses, exigindo um trabalho de monitoramento de longo prazo. Novos testes esto sendo realizados para reduzir o tempo de germinao dessa espcie.

Composio do substrato

Camada de areia Camada de semente Solo

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

SemeaduraA semeadura de espcies que no necessitam quebra de dormncia deve ser feita logo aps sua coleta e limpeza. Esse processo pode ser feito diretamente nos saquinhos ou tubetes plsticos, porm, para espcies nativas e em maiores quantidades, recomenda-se que as sementes sejam distribudas em sementeiras para posterior transplante, tambm chamado de repicagem. em diagonal, ou seja, levemente inclinados para o lado, para facilitar o desenvolvimento do caule e folhas. A peroba outra espcie que se semeia de forma diferente. Nesse caso faz-se uma covinha no substrato, com a ponta de uma colher, onde a semente colocada de p com a parte mais larga para baixo e com 75% da semente para fora do subsde cor branca que as formigas carregam para o ninho, matando todo o formigueiro. Como se trata de um produto biolgico especfico, no causa nenhum tipo de dano s mudas e no polui o meio ambiente. As sementeiras podem variar de tamanho de acordo com a necessidade do produtor, mas a utilizao de sementeiras de 1,00m x 4,00m

As sementeiras devem ter uma boa drenagem e ser irrigadas, no mximo, de dois em dois dias.

O substrato deve ser leve para que as sementes germinem com maior facilidade e o processo de retirada das mudinhas para transplante no futuro seja tambm facilitado, pois caso o substrato seja muito rgido, seco ou pesado pode ocorrer quebra das razes na sua retirada e a conseqente morte das mesmas. O pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) semeado de forma diferente, colocando os pinhes diretamente nos saquinhos j alojados nos canteiros. Os pinhes devem ser colocados com a ponta para baixo e

trato. Se as sementes forem espalhadas aleatoriamente e de forma plana tero problemas de germinao. O mesmo procedimento pode ser utilizado para sementes que tenham caractersticas semelhantes, como o guatambu. Caso haja ataque de formigas s sementes germinadas, recomenda-se o uso de produto biolgico granulado especfico para combater formigas. Consiste em pequenos granulados tem se mostrado prtica e de fcil manuteno. O comprimento pode variar de acordo com o espao disponvel, porm, a largura das sementeiras deve ser de no mximo

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1,00m, pois quando maiores do que isso tornam-se largas demais, dificultando o alcance da sua rea mais central para manuteno. De forma geral, existem dois tipos de sementeiras: Suspensas: so aquelas que apresentam um suporte elevando a sementeira do cho, mais ou menos na altura da cintura. Esse tipo de sementeira facilita o manuseio de

sementes e posteriormente das mudas, porque a pessoa no precisa se abaixar para realizar o trabalho. No cho: so as sementeiras mais utilizadas. Evitam o ressecamento do substrato, pois o mesmo est em contato direto com o solo, e apresentam um custo de implantao mais barato, pois no necessitam de suportes na sua estrutura.

Sementeira de cho

Esquema da construo de sementeirasSubstrato leve Areia Brita Pedra

Em geral, a semeadura feita espalhando-se as sementes de forma aleatria por cima do substrato, cuidando para no colocar muitas sementes em pouco espao e muito prximas umas das outras. Recomenda-se apertar levemente as sementes no substrato a fim de deixlas firmes. Esse procedimento pode ser feito com a prpria mo ou com

a lmina da enxada, mas de forma suave. Em seguida, as sementes so cobertas com substrato, variando a quantidade de cobertura de acordo com o tipo e espessura da semente. Algumas so cobertas apenas com uma fina camada de substrato, enquanto outras necessitam de uma cobertura maior para terem uma boa germinao.

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

Exemplos de semeaduraCada semente tem sua particularidade e isso influencia na maneira de se fazer a semeadura. Araucria Peroba

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Baga de Macaco

Palmito

Ip

Canela Preta

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

Preferencialmente, as sementeiras devem ficar alojadas em uma estufa coberta com sombrite, para que as sementes no tenham o seu processo de germinao prejudicado pela chuva forte e pelo vento. Esse tipo de cobertura permite a passagem normal de luz, que imprescindvel para a germinao das sementes. Alm disso, a estufa mantm uma temperatura relativamente quente, ou pelo menos mais alta que fora dela, fator que de forma geral tambm facilita o processo de germinao.

Outra forma tambm bastante usada para algumas espcies, em geral arbustos utilizados em paisagismo, a reproduo atravs de estacas. Nesse caso, o processo feito preferencialmente no final do inverno, quando as plantas ainda esto em dormncia e no apresentaram nova brotao. A estaquia pode ser feita num canteiro ou ento diretamente nos saquinhos. Quando feita em canteiros, os mesmo devem estar protegidos por sombrite ou ento dentro de estufas, e quando for em saquinhos os mesmos devem ser encanteirados em local protegido at que as estacas comecem a brotar.

importante que as sementeiras e as mudas pequenas sejam protegidas do sol. Normalmente se utiliza o sombrite para isso.

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Composio do substratoO substrato onde a muda vai se desenvolver deve oferecer os nutrientes necessrios para que ela consiga crescer de maneira rpida e sadia. Deve ser elaborado de forma equilibrada para que sua textura e drenagem sejam as ideais para a futura rvore se desenvolver.

O substrato utilizado no Viveiro Jardim das Florestas composto pelas seguintes substncias:

Barro peneirado

Cinza de casca de arroz

30%

70%

Para as sementeiras

Para os saquinhosTodos esses materiais so comprados externamente, sendo necessrio apenas peneirar o barro para a retirada de torres, razes, pedras e pedaos maiores. Essa peneirao feita por uma peneira mecnica que balana em movimentos de vaivm numa grade de 2,20m x 0,62m, disposta em diagonal, que permite a passagem do barro enquanto as sobras aos poucos vo caindo em um carrinho de mo para serem separados e futuramente triturados. Esses materiais devem ser bem misturados, aconselhando-se a utilizao de uma betoneira, e armazenados em lugar onde o sol no o atinja direta-

60%Barro peneirado

30%Cinza de casca de arroz

10%Adubo orgnico simples ou esterco de peru

mente e com pouca ventilao. Isso no significa que o substrato necessite ficar guardado em lugar escuro e fechado, apenas que deve-se ter o cuidado para que o substrato no fique ressecado demais, o que prejudicar o desenvolvimento de algumas espcies.

Detalhe do substrato pronto para saquinhos.

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A produo de mudas de rvores nativas no viveiro Jardim das Florestas

RepicagemRepicagem o nome dado ao processo de transplante das mudas do canteiro para as embalagens plsticas: os saquinhos.A Apremavi utiliza trs tamanhos diferentes de saquinhos, de acordo com as caractersticas das mudas a serem produzidas. Sacos de tamanho 8 x 14 cm so utilizados apenas para a produo de palmito, pois trata-se de uma espcie que produzida em grande escala e exige pouco espao para se desenvolver. As outras mudas so repicadas em sacos de tamanho 10 x 16 cm ou 11 x 18 cm, sendo que este tamanho de embalagem possibilita a produo de mudas com altura de 40 a 50 cm. Os sacos maiores, de tamanho 20 x 26 cm, so utilizados quando se pretende fazer mudas maiores ou quando as mudas que se encontram nos outros sacos j cresceram bastante e necessitam de mais espao para se desenvolverem. Nessas embalagens a muda cresce de 1m a 1,5m de altura. A repicagem um processo aparentemente simples, mas decisivo no desenvolvimento e na adaptao da muda ao substrato contido neste novo recipiente. Este processo deve seguir basicamente os seguintes passos: Retira-se as mudas das sementeiras com cuidado quando elas apresentarem apenas duas folhas pequenas. Corta-se a ponta de razes muito grandes para que caibam dentro do saquinho, com uma certa folga para se desenvolverem. Depois de retiradas, as mudas devem ser mantidas em pequenos recipientes com gua para que no ressequem. Antes do transplante deve-se regar em abundncia o substrato dos saquinhos onde sero acondicionadas as pequenas mudas. Com uma estaquinha de madeira molhada (para o substrato no grudar na estaca) deve-se abrir um pequeno buraco para que seja colocada a plntula. Essa estaquinha deve ser pontiaguda para facilitar sua penetrao no substrato.

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Depois de colocada no substrato, a muda que deve ter sua raiz bem fixada, e no somente a parte de cima, rente ao substrato, pois se ficarem bolsas de ar na raiz as mudas no conseguem fixao adequada, prejudicando a absoro dos nutrientes necessrios ao seu desenvolvimento e sua sustentao, morrendo em poucos dias. Uma vez fixada, basta agora regar mais uma vez a muda para que o substrato que foi remexido assente e hidrate a raiz das mudinhas. Aps este processo, as mudas devem seguir para o canteiro onde devem receber cuidado e monitoramento especial nas duas primeiras semanas, sendo regadas uma vez por dia ou no mximo de dois em dois dias. As espcies no adaptadas a muita luminosidade devem ser cobertas com sombrite, aproximadamente 30 cm acima das mudas, ou ento ser colocadas em estufas. Essa cobertura deve permanecer no mximo duas semanas para que, depois de enraizada, a muda comece a se adaptar ao clima normal do meio ambiente. As outras mudas podem e devem ficar expostas diretamente ao sol, acelerando seu desenvolvimento. Mudas com razes muito tortas devem ser descartadas na repicagem, pois as suas chances de sobreviver a este processo so muito baixas. Plntulas que apresentam mais de um ramo com folhas podem necessitar de uma poda manual, para que a muda cresa mais rapidamente. O transplante para embalagens (sacos) maiores ocorre quando as mudas j esto com cerca de 30 centmetros ou mais e j no h mais espao para suas razes se desenvolverem, comprometendo o seu crescimento. Em mdia acontece aps 8 meses. O processo fcil, onde o saquinho plstico em que a muda est fixada cortado com faca e em seguida o bloco de substrato com a muda colocada dentro do saco maior, que j est preenchido at mais ou menos a sua metade. Antes de colocar a muda dentro desse novo recipiente, acrescentada uma fina camada de adubo orgnico que ir reforar os nutrientes necessrios para o desenvolvimento da planta. Em seguida, coloca-se o bloco de

substrato com a muda no centro do saco maior, preenchendo as laterais com substrato. Esse substrato deve ser levemente compactado para que a muda no fique frouxa. Ao devolver a muda para o canteiro deve-se fazer uma boa irrigao para homogeneizar o substrato.

Tamanho das EmbalagensO tamanho das embalagens definido em funo das caractersticas ou do uso das mudas. Quando as mudas se destinarem aos plantios de recuperao florestal, o ideal que as embalagens no sejam grandes, para facilitar o transporte e plantio. Se o objetivo arborizao, o ideal que as embalagens sejam grandes, para que as mudas possam ter um tamanho maior.

16cm

10cm

O transplante para os sacos maiores acontece quando as mudas tm cerca de 30cm de tamanho.

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Preenchimento dos saquinhosQuando se pensa em produzir mudas em mdia e grande escala alguns pequenos detalhes podem agilizar o processo como um todo, fazendo a diferena no resultado final. Etapas como a semeadura e a repicagem exigem ateno e muito cuidado, enquanto o preenchimento dos saquinhos exige agilidade e prtica para uma grande produo. Objetivando essa agilidade, no Viveiro Jardim das Florestas foi pensada uma maneira de integrar a mistura do substrato com o preenchimento dos saquinhos. Sendo assim, o barro, a cinza e o adubo ficam em montes separados, prximos betoneira. Aps a mistura desses materiais, eles so colocados perto da bancada de preenchimento dos saquinhos. Dessa forma, com uma p o substrato deslocado do monte no cho para a bancada onde sero preenchidos os sacos plsticos. O preenchimento propriamente dito feito com o auxlio de tubos plsticos de PVC, cortados em uma de suas extremidades em diagonal com sua ponta arredondada, formando uma p circular. O dimetro desse tubo varia de acordo com o tamanho do saquinho a ser preenchido. O saco plstico aberto, encaixado na parte reta do tubo de PVC e a p ento utilizada para ajuntar o substrato. Ou seja, o substrato passa pelo tubo de PVC e preenche o saquinho de forma rpida. Aps esse procedimento, o saquinho batido levemente contra a bancada para que o substrato fique firme.

Caixas de acondicionamento das mudasOs saquinhos, depois de preenchidos, so acondicionados em caixas retangulares de madeira ou plstico para o futuro encanteiramento ou ento para o transporte at os locais de plantio. So caixas feitas sob medida, que podem ser empilhadas para que no haja desperdcio de espao, tanto no preenchimento das caixas com os saquinhos quanto no transporte das caixas por camionetas e caminhes.

Altura da Base: 30cm

Altura Total: 30cm

Comprimento Externo: 51,5cm Comprimento Interno: 49,5cm

Largura Externa: 37,5cm Largura Interna: 34cm

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EstufasDa mesma forma que os canteiros, as estufas podem ser construdas de acordo com o espao disponvel ou com as necessidades do viveirista. A planta e materiais listados abaixo so os que foram utilizados para a construo de uma das estufas do Viveiro Jardim das Florestas. Trata-se de uma estufa de 720 m2, que apresenta 66 metros de comprimento por 12 metros de largura, com 90 canteiros para o armazenamento das mudas, sendo 45 canteiros de 4,0m x 1,0m e 45 canteiros de 6,0m x 1,0m. Essa estrutura tem capacidade para armazenar, de uma s vez, 120.000 mudas. Materiais utilizados na construo da estufa: Sombrite: tambm conhecida em algumas regies do Brasil como sombrela, uma tela escura de um material semelhante ao nylon, colocada sobre a estufa para diminuir o impacto da chuva ou eventualmente granizos nas mudas. A estufa em questo teve seu teto e laterais todos cobertos com sombrite. Este material muito recomendado, pois alm de proteger, diminui o impacto do sol sobre as mudas. Plstico transparente: pelo fato de Atalanta ser uma cidade com um inverno rigoroso e umidade relativa do ar alta, faz-se necessria a cobertura da estufa com um plstico espesso transparente que permite a passagem de luz, mantm uma temperatura interna mais alta que a externa, protegendo as mudas da geada, que pode queimar as folhas das mudas e s vezes lev-las morte. O plstico recomendado o que contm proteo contra os raios ultravioleta, com a espessura de 100 micras.

Esta estrutura tem capacidade para armazenar de uma s vez, 120.000 mudas.Madeiras rolias de Eucalipto beneficiado e tratado: 27 troncos, tambm conhecidos como ps-diretos ou colunas, de 4,3 metros de altura (aprox. 30 cm de dimetro) dispostos internamente numa linha central ao viveiro, dando sustentao ao teto da estufa. Esses troncos foram implantados com uma distncia de 2,5 metros entre eles. 66 metros de linhas com cerca de 15 cm de dimetro, colocados em linha reta sobre os 27 troncos centrais. Dispostos um atrs do outro, do a impresso de serem emendados nos 66 metros de comprimento da estufa. 46 troncos de 2,5 metros de altura (aprox. 20 cm de dimetro) sustentando as laterais do viveiro. Sendo assim, foram colocados 23 em cada lateral com uma distncia aproximada de 3,0 metros entre cada tronco.

O sombrite ideal para mudas maiores o que produz 35% de sombra. J para mudas recm-repicadas recomenda-se um sombrite 50%. 46

Sarrafos de madeira: 81 sarrafos de madeira de 20 cm de largura por 5 cm de espessura, envergados, colocados 3 em cada tronco central, dando um formato de arco cobertura. Sarrafos quadrados: 54 sarrafos de 1,5 m de comprimento, distribudos tambm nos troncos centrais, sendo um para cada lado da estufa, apoiando os sarrafos envergados do teto da estufa.

Pedra de ardsia: as laterais dos canteiros foram construdos com pedra de ardsia, de cerca de 25 cm de altura e de 3 a 4 cm de espessura, sendo estas enterradas a uma profundidade de 10 cm. Os canteiros podem ser feitos de madeira, que um material mais econmico, porm, sua durabilidade bem mais baixa quando comparada pedra.

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IrrigaoA gua de extrema importncia para a germinao das sementes e crescimento das mudas.Uma irrigao adequada crucial para o bom desenvolvimento das mudas e conseqentemente do viveiro como um todo. O sistema de irrigao de um viveiro pode ser instalado de vrias maneiras, levando em conta o tipo de fornecimento de gua, o tamanho e necessidades do viveiro e o sistema hidrulico geral da regio onde ele se encontra. No viveiro Jardim das Florestas foi utilizado um sistema subterrneo construdo com tubos de PVC, num sistema interligado entre todas as reas do viveiro e com vlvulas que permitem o controle individual de irrigao entre cada estufa ou grupo de canteiros. Foram utilizados canos de 50 mm para a estrutura subterrnea e para as sadas verticais que liberam a gua para as mudas foram utilizados canos menores, de 25 mm, tendo 1,20 m de altura, com microaspersores em sua extremidade. Os microaspersores utilizados so do tipo sempre verde 360o. Estes microaspersores so peas especficas para irrigao, responsveis pela liberao da gua dos canos para as mudas de forma suave, evitando que a gua danifique as folhas das mudas. Dessa maneira, a irrigao fica mais eficiente pois abrange uma maior rea por ponto de sada de gua sem prejudicar as mudas. Todo esse sistema abastecido por uma bomba com motor de 10 cv com 3510 rpm que bombeia a gua para os canteiros. Em perodos sem chuva natural a irrigao feita de dois em dois dias no vero e de quatro em quatro dias no inverno. A irrigao deve durar em mdia de cinco a dez minutos para cada canteiro. Nos meses mais frios do ano, em regies onde as temperaturas chegam perto ou abaixo de 0 C, a irrigao deve ser feita no meio ou final da manh para que a gua da irrigao no congele e danifique as folhas das mudas.

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Pragas e doenasAlgumas doenas e pragas podem atacar as mudas aps sua alocao nos canteiros. Essas doenas variam de acordo com a espcie e clima da regio e podem ser tratadas sem nenhum tipo de veneno qumico, agrotxico ou produto poluente. Como exemplo podemos citar os fungos e lagartas que, de maneira geral, podem atacar vrias espcies de mudas, danificando suas folhas e prejudicando seu desenvolvimento. Os fungos, como a ferrugem, podem ser combatidos com calda bordaleza, um preparado base de cobre que tambm muito utilizado na agricultura orgnica. As lagartas podem ser combatidas com um produto de controle natural, como por exemplo o dipel. Os pulges tambm so freqentemente detectados em algumas mudas como o ing-feijo. Podem ser controlados com uma calda preparada base de fumo em corda. J para doenas como a broca do cedro, causada por uma mariposa que deposita seus ovos no caule da rvore e que depois de eclodirem se alimentam dos nutrientes deste caule para se desenvolverem, matando a ponta do mesmo; e para bichos serradores, que depositam seus ovos no caule da planta e depois serram este caule como se fossem providos de uma serra, ainda no foram descobertos defensivos naturais. Outro aspecto importante o controle das ervas daninhas nos canteiros de sementeiras e tambm nos saquinhos de mudas j repicadas. Nesse caso o controle feito de forma manual, arrancando as plantas invasoras com as mos.

Broca do Cedro

Pulgo

Bicho Serrador

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As intempriesO trabalho com produo de mudas de rvores nativas por si s um trabalho muito dinmico e que pode trazer novidades todos os dias. Mas com certeza as novidades mais impactantes so as que chegam com as mudanas do tempo, mais precisamente as intempries. Tempestades, chuvas intensas, estiagens, ventanias, granizo e geadas, nem sempre podem ser previstos e muitas vezes podem causar grandes danos. A equipe do Jardim das Florestas j teve que enfrentar muitas adversidades advindas do clima. Com muito empenho e sem perder as esperanas, sempre foi possvel resolver os problemas e ir adiante. No ano de 2.000 o inverno rigoroso, com geadas fora do padro, que castigou toda a regio Sul do Brasil, provocou a perda de 70% das mudas existentes no viveiro. Na primavera a produo de mudas praticamente teve que recomear do zero. Outros episdios que podem causar estragos so as tempestades com ventanias, que muitas vezes danificam as estufas e as mudas que esto dentro delas. O caso mais marcante foi o apelidado como pr Catarina, uma tempestade com ventos fortssimos, ocorrida em dezembro de 2003, que destruiu a cobertura da estufa principal e derrubou e danificou vrias rvores do entorno. A mesma tempestade causou estragos em trs propriedades vizinhas, derrubando ranchos e destruindo vrios reflorestamentos.

Em cada caso desses preciso ter muita persistncia e continuar em frente.

Geadas

Vendavais 50

Geadas de 2000

Vendavais 51

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BromliasUma outra atividade realizada no viveiro Jardim das Florestas a produo de mudas de bromlias, em especial espcies endmicas (que s existem num determinado local) e ameaadas de extino, como a bromlia Poo de Jac (Bilbergia alfonsis joannis reitz) e a Dyckia ibiramenses. As mudas, produzidas a partir de sementes coletadas na mata, so utilizadas em projetos paisagsticos urbanos e rurais e tambm re-introduzidas na natureza atravs do enriquecimento de florestas secundrias. A Poo de Jac, endmica do Alto Vale do Itaja, uma bromlia exuberante, que chama muita ateno no meio da mata e que tem tido uma tima adaptao nos plantios em jardins, para embelezamento da paisagem. A Dyckia ibiramenses tambm tem mostrado timos resultados no crescimento das mudas e sua produo muito importante, uma vez que esse gnero de bromlia um dos mais ameaados. A prpria Dyckia ibiramenses ocorre apenas em um pequeno trecho s margens do Rio Itaja do Norte e seu habitat est ameaado pela construo de uma hidreltrica. Apesar de pequena, a produo de mudas de bromlias no Jardim das Florestas, uma atividade importante e que contribui com a conservao da biodiversidade da Mata Atlntica.

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Bromlia Bilbergia alfonsis joannis reitz Poo de Jac

Dyckia ibiramenses

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rvores Smbolorvores grandes e exuberantes sempre exerceram um grande fascnio sobre os seres humanos. Seja de deslumbramento e respeito ou ento de cobia pelo valor de sua madeira. Algumas delas at viraram smbolos, como o caso do Pau-brasil, que emprestou o nome ao nosso pas ou o caso da imbuia, que virou rvore smbolo do Estado de Santa Catarina. O Pau-brasil (Caesalpinia echinata) foi a primeira rvore a ser explorada intensamente, desde que os portugueses chegaram a nossa terra. A explorao foi to avassaladora que hoje ele figura na lista das espcies ameaadas de extino e praticamente no mais encontrado nas matas nativas. Estima-se que cerca de 70 milhes de exemplares tenham sido enviados para a Europa.

ImbuiaCom a rvore smbolo de Santa Catarina, a histria no foi diferente. A Imbuia (Ocotea porosa), considerada uma rvore de madeira nobre, foi explorada tambm quase at o seu final. Tambm consta da lista das espcies ameaadas de extino. Foi considerada a rvore smbolo de Santa Catarina por ser uma espcie que ocorria em todas as formaes florestais do estado, ou seja, de norte a sul e de leste a oeste de Santa Catarina haviam imbuias. Infelizmente esta no mais a realidade e, poder observar uma imbuia no meio da mata, um fato raro. Para resgatar um pouco dessa dvida da sociedade para com a natureza, a Apremavi produz e planta mudas dessas rvores smbolo, com o objetivo de que pelo menos existam alguns espcimes a mais em nossas matas e que se possa contribuir com a sobrevivncia das mesmas.

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Pau-brasil

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Sementes da Mata Atlntica

Sementes da Mata AtlnticaJoo de Deus Medeiros

Na evoluo das plantas terrestres o desenvolvimento das sementes um evento de enorme importncia. Atravs das sementes as plantas criam mecanismos altamente eficientes para a proteo do embrio, o qual representa uma nova gerao da planta, e tambm conseguem viabilizar a disperso ampla das sementes, auxiliando na colonizao de novos stios.A importncia das sementes na disperso das plantas foi to determinante, sendo considerado como um dos fatores responsveis pelo processo de substituio gradativa da flora terrestre. As plantas com sementes, mais eficientes na disperso e colonizao de novas reas, foram suplantando as grandes samambaias (Pteridfitas), das quais na nossa flora temos ainda alguns poucos representantes, como o caso do xaxim-bugio (Dicksonia sellowiana). sementes est estreitamente relacionado com o desenvolvimento dos frutos e da atratividade que esses exercem sobre os animais. Seduzidos pelas cores, aromas e sabores dos frutos, os animais desempenham um servio de grande valia para as plantas: carregam para longe da plantame suas sementes, as quais podero assim germinar e se desenvolver em novos locais, onde as condies para o crescimento da nova planta so mais propcias. As pequenas bagas escuras do jacatiro-a (Miconia cinammomifolia) servem de alimento para inmeras aves, as quais, por sua vez, vo distribuindo suas minsculas sementes por vrios e diversificados locais. Algumas espcies, mesmo produzindo sementes maiores, que no so ingeridas pelos animais, ainda assim se valem deles para a disperso. A baga-de-macaco (Posoqueria latifolia) um exemplo. Seus frutos so carregados pelos macacos e acumulados num determinando local, normalmente onde estes animais se agrupam para a refeio. Abertos os frutos as sementes so ento saboreadas: os animais chupam a pelcula que envolve a semente (arilo), cuspindo o caroo, no caso a semente que, uma vez no solo, se prepara para a germinao da nova planta.

DispersoMuitos mecanismos evolutivos foram incorporados no processo de disperso das sementes, alguns extremamente engenhosos. Delicadas sementes, como as do pente-de-macaco (Pithecoctenium crucigerum), apresentam asas que permitem o seu transporte por longas distncias, usando as correntes de ar. Outras, mais pesadas e duras, como as sementes do garapuvu (Schizolobium parahyba) , tambm conseguem voar, valendo-se do auxlio do fruto. A paineira (Chorisia speciosa), no menos engenhosa, envolve sua semente num tufo de algodo e, mesmo mais pesada que o ar, fica livre para voar. No obstante a engenhosidade das estratgias citadas anteriormente, o grande avano obtido pelas plantas com

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O palmiteiro (Euterpe edulis) tambm tem sua disperso feita de forma similar: aves como os sabis e tucanos, por exemplo, ingerem os frutos e, posteriormente regurgitam as sementes limpas. certo que no processo de disperso das sementes pelos animais (zoocoria), o padro mais freqente nas florestas tropicais, alguns riscos para a planta esto envolvidos. Muitas sementes so digeridas pelos animais, outras sofrem leses propiciando o ataque de microorganismos, algumas so perdidas pelo caminho, abandonadas em locais imprprios ou desfavorveis para a germinao, enfim, o fato que estratgias adotadas pelas plantas devem, necessariamente, associar produo de frutos e sementes em quantidades suficientes para compensar perdas, garantindo assim o sucesso reprodutivo da espcie. O caso do pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia) bastante popular, ainda que vrios outros animais auxiliem na disperso dos pinhes, a gralha-azul recebeu a fama como a responsvel pela disseminao dessas sementes. A gralha-azul atrada pelas reservas nutricionais da semente que lhe fornece rico alimento, contudo difundido na cultura popular do sul do Brasil que ela estoca algumas sementes enterrando-as, como muitas so depois esquecidas no solo, acabam germinando e produzindo novas plantas de pinheiro. Muitas viraram alimento para a gralha-azul, e assim passam as se-

mentes a se constiturem tambm em importante elemento para a manuteno da fauna. Como a zoocoria o processo mais difundido de disperso de sementes nas florestas tropicais, podendo esta associao chegar a 90% das espcies, bastante evidente a importncia da fauna na manuteno e recuperao de uma floresta. Na Mata Atlntica, mesmo que empiricamente, essa associao j h muito reconhecida, tanto que muitas das nossas rvores tm seu nome popular vinculado a seus dispersores: baga-de-macaco, tucaneira, baga-de-morcego so alguns exemplos. Sem a fauna as plantas ficam com suas estratgias reprodutivas comprometidas, e assim populaes inteiras podem ser eliminadas, mesmo que de forma lenta e gradativa. As chamadas florestas vazias ficam assim fadadas degenerao. Na Mata Atlntica, onde a intensa fragmentao e sculos de caa predatria criaram um cenrio duplamente critico para a conservao da biodiversidade, estratgias de recuperao florestal no podem ser idealizadas sem considerar a necessria revitalizao da fauna associada. A canela-preta (Ocotea catharinensis) um exemplo desse comprometimento: em algumas das poucas populaes que restaram dessa espcie, observa-se em alguns anos uma farta produo de frutos e sementes, contudo, sem os animais responsveis pela disperso, as sementes caem e ger-

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Sementes da Mata Atlntica

minam ao redor da planta-me, restando poucas chances para o estabelecimento dessas plntulas. Nem sempre a recompensa aos animais dispersores a regra. Sementes ou frutos pegajosos adotam a estratgia de pegar carona com os animais e no pagar a passagem. Essas sementes associam uma estratgia de disperso pelos animais, porm, na maioria das vezes, elas no atraem o dispersor, pois pouco ou nada em termos nutricionais tm a oferecer a estes. So frutos secos, ou sementes duras e pequenas, normalmente de cores e formatos pouco atrativos. Os populares pegapega e pices so exemplos bem conhecidos, mas mesmo espcies arbreas da floresta tambm podem adotar essa estratgia: o ararib (Centrolobium robustum) tem suas sementes envoltas por um fruto seco, com uma asa que lhe propicia um certo afastamento da planta-me, e como na base existe uma poro bem espinhosa, esses espinhos prendem o fruto no plo de animais que ampliam a capacidade de disperso dos frutos e sementes. Levadas pelo vento, pelas guas ou viajando com os animais, o certo que sementes procuram se deslocar, e quanto mais eficientes se mostrarem as estratgias adotadas maiores sero as chances de perpetuao e de ampliao da rea de distribuio de uma dada planta, e consequentemente maior o sucesso adaptativo da espcie.

Dormncia de SementesUm processo bastante interessante na biologia das sementes a chamada dormncia. Muitas sementes, mesmo depois de liberadas do fruto, demoram perodos mais ou menos longos at que ocorra sua germinao. Essa caracterstica se constitui num importante mecanismo de sobrevivncia para diversas espcies. Os mecanismos ecolgicos associados dormncia das sementes esto diretamente vinculados s condies do meio onde se desenvolve a espcie. Muitas vezes essa dormncia provocada pela dureza e impermeabilidade do tegumento, a casca da semente. O sobraji (Colubrina glandulosa) e o garapuvu (Schizolobium parahyba) so dois exemplos bem conhecidos. Nesses casos a semente s germina aps um longo tempo, depois que o tegumento perde sua resistncia, ficando mais macio e permitindo a entrada de gua na semente. No garapuvu basta raspar uma ponta da semente que a germinao ocorre rapidamente. Na natureza essa estr