Nome do autor por extenso: Vania Sandeleia Vaz da Silva ... · ONGs); e 3) WSSD (Copenhague ... e...
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Nome do autor por extenso: Vania Sandeleia Vaz da Silva Instituição a qual é vinculado: Doutoranda – DCP/USP Titulação: Mestre em Ciência Política (USP) Título da proposta: A sociedade civil nas relações internacionais: participação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) em três conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) da década de 1990: UNCED (Brasil/1992); ICPD (Egito/1994) e WSSD (Dinamarca/1995). Resumo: As tensões geradas pela complexa interação entre Estado e sociedade civil, em âmbito
internacional, são explicitadas pela participação de ONGs nas conferências da ONU dos anos
1990, que tiveram um caráter global tanto pelo número de ONGs que participaram como pela
distribuição geográfica das participantes. Três eventos são foco desse estudo: 1) UNCED
(Rio/1992) sobre meio ambiente (1432 ONGs); 2) ICPD (Cairo/1994) sobre população (1119
ONGs); e 3) WSSD (Copenhague/1995) sobre desenvolvimento social (1299 ONGs). O
objetivo é avançar na discussão a respeito da existência, composição e características da
sociedade civil global, bem como explicitar as tensões e conflitos que envolvem tal
fenômeno.
Quatro Palavras-chaves: 1) Sociedade Civil Global; 2) Conferências da ONU; 3) Organizações Não-Governamentais; 4) Relações Norte-Sul; Telefone, e-mail e endereço: (41) 3249 3820 [email protected] ou [email protected] Rua Deputado Cunha Bueno, 391, AP 102-C, Curitiba-Paraná
A SOCIEDADE CIVIL NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: participação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) em três conferências da Organização das Nações Unidas (ONU) da década de 1990 – UNCED (Brasil/1992); ICPD (Egito/1994) e WSSD (Dinamarca/1995).
A emergência de uma sociedade civil global, mundial, internacional ou planetária foi
anunciada num tom claramente entusiasta pela literatura que tratava da participação da
sociedade civil nas relações internacionais, na primeira metade da década de 1990.
Atualmente, contudo, o entusiasmo parece ter sido substituído por uma desconfiança
generalizada: os apologistas demonstram certa frustração pelo limitado alcance de suas
previsões; os críticos admitem que subestimaram a abrangência e intensidade das mudanças
que analisavam. Embora o tema tenha sido amplamente debatido, subsistem várias dúvidas.
Se for verdade que a palavra substitui o objeto que denomina, sendo as frases ligações de tais
denominações (WITTGENSTEIN, 1999:27), então: que objeto é substituído pela frase
sociedade civil global?
Embora Kant tenha se referido à possibilidade de uma sociedade civil universal, a
expressão só passou a ter alguma plausibilidade a partir do aumento da interconexão entre
Estados; da criação de sistemas de governança global; e da explosão de movimentos, grupos,
redes e organizações identificadas com a sociedade civil engajadas em debates públicos
globais ou transnacionais (KALDOR, 2003), que passaram a reivindicar o direito de participar
dos fóruns mundiais (além de atuar em eventos paralelos, manifestações e protestos)
colocando em questão a primazia dos Estados por meio de uma mudança discursiva na
abordagem de problemas internacionais. A globalização das sociedades já vinha ocorrendo
em séculos anteriores, mas apenas após o final da Guerra Fria, e especificamente na década de
1990, atingira uma escala propriamente global com duas conseqüências principais: um
relativo declínio dos Estados nacionais, tanto os dominantes quanto os dependentes, que
passaram a ter que negociar seu papel no cenário internacional ao lado de outros atores; e a
articulação das sociedades nacionais numa sociedade global, a despeito das diversidades e
tensões, internas e externas que tal fenômeno provoca (IANNI, 1995:39).
A defesa de que a sociedade civil também deva ser considerada na análise das relações
internacionais – além do sistema de estados e do mercado mundial – está baseada na idéia de
que as transformações ocorridas tanto na esfera global ou internacional quanto na local ou
nacional – em decorrência do efeito conjunto da globalização política, econômica, financeira,
comunicacional e cultural – têm tirado dos governos a exclusividade sobre os mecanismos de
gestão da ordem internacional e ampliado a presença de organizações da sociedade civil em
espaços antes restritos aos Estados. A globalização da política teria implicado, de certo modo,
na expansão da idéia de democracia para o mundo todo: como o melhor regime de governo
dos Estados nacionais e também como o procedimento mais adequado para a tomada de
decisões em âmbito internacional ou, mais propriamente, global, pois não envolveria apenas
atores estatais, mas incluiria atores ligados ao mercado e à sociedade civil.
Nesse contexto, aumentou o número de pessoas que se organizam para influir nas
discussões e decisões cujo alvo são processos que envolvem mais de um Estado ou todo o
planeta: desde então, um conjunto de atores transnacionais heterogêneos, uma série de
organizações civis e redes transnacionais (TEIXEIRA, 1999:139) formadas por cidadãos das
democracias ocidentais (OLIVEIRA, 1999:33) passam a reivindicar participação na discussão
e resolução dos problemas que passam a ser tratados como “globais”, justificando essa
participação através da defesa de que a globalização implicou transformações significativas
no grau de legitimidade dos Estados no que diz respeito a questões cuja resolução ou impactos
ultrapassam suas fronteiras.
A atuação da sociedade civil seria global porque ultrapassaria as fronteiras dos
Estados em que tais entidades têm origem tornando-se trans ou internacional, com
conseqüências que vão da mudança nos procedimentos das organizações multilaterais até
alterações no comportamento dos Estados como fruto da aceitação de novas normas e acordos
(TUSSIE & RIGGIOROZZI, 2003). Essa atuação acontece numa espécie de esfera pública
mundial que contem um componente oficial – constituído pelas organizações internacionais
governamentais, seus fóruns tradicionais, plenárias, conferências; e outro extra-oficial –
composto pelos espaços autônomos, fóruns alternativos, comissões e grupos de trabalho, bem
como campanhas, protestos e manifestações sociais e políticas, realizadas de modo paralelo
ou para impedir ou encontros oficiais.
Existe uma defesa de que a melhor forma de gerir os problemas “globais” – meio
ambiente, direitos humanos, desenvolvimento, entre outros – cuja resolução envolveria mais
de um Estado e o compromisso de atores não-estatais (como a sociedade civil), seria uma
democracia cosmopolita e, nesse caso, a importância da sociedade civil residiria em sua
autonomia em relação ao Estado e ao mercado, somada a uma visão normativa a respeito de
suas qualidades democráticas (e potencial democratizante). Estreitamente relacionado com a
globalização da política, o prestígio da “democracia” como a forma mais adequada de gerir
conflitos – tanto no âmbito local como no global – seria um dos fatores a justificar a
participação da sociedade civil nos organismos de coordenação política mundial.
Uma das conseqüências da globalização seria o dilema entre a soberania do Estado-
nacional e a necessidade de governança global, que incluiria, junto com os Estados e suas
organizações internacionais, atores não-estatais (ligados ao Mercado ou à sociedade civil).
Um dos principais mecanismos de governança global seria a realização de conferências
internacionais para discutir temas cuja resolução exige o empenho de mais de um Estado de
modo a construir consensos intergovernamentais, prática, aliás, que se iniciara no século XIX,
quando os Estados europeus dominantes realizavam encontros para negociar crises de
segurança política e territorial e criavam algumas agências multigovernamentais para tratar de
assuntos de saúde, comércio, comunicação e tecnologia (CHATFIELD, 1997:21).
Dentre as muitas formas pelas quais a sociedade civil participa dos processos de
discussão dos problemas internacionais, são as organizações não-governamentais (ONGs) que
podem participar das conferências mundiais realizadas pela Organização das Nações Unidas
(ONU). A expressão organização não-governamental teve origem na nomenclatura do
sistema de representação das Nações Unidas e ainda predomina em seus textos oficiais
cobrindo um amplo espectro de entidades particularmente heterogêneas, “fruto da existência
de critérios diferenciados de definição do termo dentro do sistema das Nações Unidas”
(TAVARES, 1999) que utilizou tal denominação para todas “as organizações internacionais
que, embora não representassem governos” eram consideradas “significativas o bastante para
justificar uma presença formal nas Nações Unidas” (FERNANDES, 1997:26).
A precisão conceitual não é uma das virtudes da literatura sobre o tema, sobretudo
daquela produzida na primeira metade da década de 1990, quando a atuação das ONGs,
principalmente sua presença nos eventos promovidos pelas organizações internacionais,
ampliava-se e ganhava a atenção da mídia internacional. Por isso, as denominações ONGs,
“ongues”, Terceiro Setor, Organizações sem fins lucrativos, Organizações Voluntárias e
Caridades, podem aparecer como sinônimos, para se referir às organizações da sociedade
civil, definidas como agrupamentos coletivos com alguma institucionalidade, distintas do
Estado ou governo, e também do mercado ou empresas, que se constituem como entidades
privadas sem fins lucrativos e contando com alguma participação voluntária (SHERER-
WARREN, 1999:31).Trata-se de organizações auto-identificadas com a sociedade civil, na
maioria dos casos, sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação
voluntária, num âmbito não-governamental, “dando continuidade às práticas tradicionais de
caridade, de filantropia e do mecenato e expandindo seu sentido para outros domínios, graças,
sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na
sociedade civil” (FERNANDES, 1997:27).
As organizações não governamentais possuem uma atuação variada apresentando-se
como: fontes de informação; agenciadores de recursos; encaminhadores de princípios, idéias,
inovações e propostas; mediadores de conflitos; formuladores de estratégias; negociadores de
acordos e alternativas para agendas sociais; representantes de grupos sociais nacionais ou
internacionais; tradução de problemas concretos e locais para configurações simbólicas
universalizáveis, compreensíveis no cenário global; e até mesmo confronto político, pressão e
ação direta (ROQUE,1998; SHERER-WARREN,1999; VILLA,1999). Embora existam
alguns autores que exageram a influência da ONGs defendendo que o papel crescente de
atores não-estatais ligados ao mercado ou à sociedade civil na cena internacional (de
associações de negócios a movimentos sociais) seja “a conseqüência do ímpeto de redes de
ONGs pela democratização da elaboração global de políticas” (WEISS & GORDENKER
apud TUSSIE & RIGGIOROZZI, 2003) é fato que “muitas ONGs têm atacado os
procedimentos operacionais de organizações internacionais, exigindo mais participação em
procedimentos e decisões e maior liberação pública de informações” (SCHOLTE apud
TUSSIE & RIGGIOROZZI, 2003).
Analisar a atuação das ONGs nas conferências é relevante porque é perceptível uma
evolução no número de entidades envolvidas e também na qualidade da intervenção durante
os eventos e seus processos preparatórios: só a presença numa conferência já representa a
possibilidade de estreitamento nos laços com a ONU, com os Estados e com outras ONGs, o
que facilita futuras participações e a criação de redes transnacionais. As conferências
internacionais desempenharam um papel fundamental na orientação do trabalho da ONU, que
surge de uma conferência sobre organização internacional realizada nos Estados Unidos, São
Francisco, em 1945, que contou com a participação de delegados de 50 nações e com
organizações não-governamentais (TAVARES, 1999).
Contudo, é na década de 1990 que tais eventos adquirem uma dimensão global,
sobretudo as conferências do Ciclo Social que possibilitaram a ampliação da presença da
sociedade civil tanto pelos temas tratados quanto pela dinâmica inerente ao processo político
de envolveu a preparação de cada uma delas (PINHEIRO, 2001:16). As conferências do Ciclo
Social contaram com ampla participação de ONGs e representaram uma ampliação
significativa da participação da sociedade civil nesse tipo de evento, daí que sejam apontadas
como evidência empírica do surgimento de uma sociedade civil global. Partindo de uma
interpretação otimista e entusiasta a respeito do papel que a ONU poderia desempenhar no
mundo globalizado e da valorização positiva da presença e participação das ONGs nas
conferências internacionais, diversos autores passam a desenvolver e divulgar a idéia de que
se verificava a emergência de uma sociedade civil global capaz de construir solidariedade
entre os povos, expandir a cidadania para o mundo inteiro e ampliar a democratização da
ordem internacional. De acordo com algumas interpretações, a presença de entidades da
sociedade civil ao lado dos Estados na discussão dos problemas globais apontaria para a
possibilidade de se estabelecer uma democracia cosmopolita em que a sociedade civil global
atuando no espaço público mundial defenderia os interesses de cidadãos globais contra os
abusos dos Estados nacionais, incapazes, no novo cenário, de resolver os problemas que
surgiam da interdependência gerada pela globalização.
É verdade que organizações internacionais governamentais, cientistas e ativistas de
vários matizes político-ideológicos, meios de comunicação de massa, passaram a justificar sua
intervenção na discussão e tomada de decisão a respeito dos temas globais afirmando que a
interdependência gerada pela globalização tornara ineficazes políticas localizadas e restritas a
apenas um Estado (pois as conseqüências poderiam transcender seu território e população,
atingindo pessoas que não participaram do processo decisório, o que seria antidemocrático),
entretanto, o fato desses sujeitos auto identificados com a sociedade civil ampliarem sua
atuação para além das fronteiras dos Estados em que têm origem (e sede) justificaria defender
que exista uma sociedade civil global?
A despeito das ONGs não serem os únicos atores a compor a sociedade civil global,
pode-se dizer que são os mais antigos e numerosos, e, para a ONU, oficialmente, são as
únicas entidades com direito formal a participar das conferências. Sempre foram os Estados
que definiram qual o grau de participação permitido às ONGs nos trabalhos da ONU,
contudo, a ampla presença de ONGs nas conferências teve influência na mudança observada
no tratamento das ONGs por muitos Estados (responsáveis por definir incentivos ou impor
dificuldades para a participação de ONGs interessadas em tomar parte na discussão dos
problemas globais abordados pelas conferências). As tensões geradas pela complexa interação
entre Estado e sociedade civil, em âmbito internacional, são explicitadas pela participação de
ONGs nas conferências da ONU dos anos 1990, que tiveram um caráter global tanto pelo
número de ONGs que participaram como pela distribuição geográfica das participantes. Tais
conferências criaram uma parceria estável entre as ONGs e a ONU que, nos anos seguintes,
tornou-se fonte de legitimidade tanto para a ONU – que passou a se apoiar na sua ligação com
a sociedade civil para defender a implementação das políticas acordadas – bem como, e
principalmente, para as ONGs – que se tornaram parceiras privilegiadas na execução dos
projetos e na monitoração das políticas estatais ligadas ao tema.
Três eventos são foco desse estudo: 1) a Conferência Mundial das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), realizada em 1992, no Rio de Janeiro,
Brasil; 2) a Conferência sobre População e Desenvolvimento (ICPD), realizada em 1994, no
Cairo, Egito; e 3) o Encontro Mundial para o Desenvolvimento Social (WSSD), realizado em
1995, em Copenhague, Dinamarca. Esse recorte se justifica, por um lado, pelo número de
ONGs credenciadas para essas conferências: enquanto as conferências realizadas pela ONU
nas décadas de 1970 e 1980 contavam com menos de duzentas ONGs credenciadas como
observadoras, da UNCED participaram oficialmente 1432 ONGs; a ICPD credenciou 1119
ONGs; e, o WSSD credenciou 1299 ONGs.
As ONGs não encontraram dificuldades em se credenciar tanto para os encontros
preparatórios nem para as conferências: praticamente todas que solicitaram credenciamento
foram aceitas. Mas, será que, diferente das conferências anteriores, podemos afirmar que as
conferencias da década de 1990 tiveram um caráter mais global do que internacional? Ou
seja, será que além do número de ONGs que conquistaram o direito de se credenciar para
“observar” oficialmente os eventos ser maior do que nas décadas anteriores, podemos
comprovar que tais entidades eram originárias das várias partes do planeta? Será que
geograficamente estiveram presentes ONGs com sedes em países de todos os continentes e
regiões? Podemos dizer que a participação foi “global” se pensarmos que isso implicaria
numa presença de ONGs de “todos” ou da “maioria” dos países do planeta?
A pesquisa consistiu em analisar as listas de ONGs recomendadas para
credenciamento para as três conferências que fornecem as seguintes informações: 1) nome da
ONG; 2) ano de fundação; 3) principais atividades; 4) país em que se localiza sua sede; 5)
âmbito de sua atuação (nacional ou internacional).
Analisamos a distribuição geográfica das ONGs credenciadas para as conferências
para discutir em que partes do globo estão concentradas as entidades que se credenciaram
para cada uma das três conferências. Atentamos também para o âmbito de atuação (nacional e
internacional) tendo em vista que existem diferenças significativas entre ONGs de atuação
mais localizada e restrita e aquelas que conseguem expandir sua atuação para além do país em
que estão sediadas, atingindo três ou mais países. Assim, será possível saber em que partes do
mundo estão localizadas as ONGs maiores e mais poderosas (dentre as credenciadas para as
conferências em questão) e quais países possuem apenas ONGs nacionais (locais, pequenas)
participando dos eventos. O objetivo é avançar na discussão a respeito da existência,
composição e características da sociedade civil global, bem como explicitar as tensões e
conflitos que envolvem tal fenômeno.
UNCED – Rio/1992
A Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UNCED) realizada no Rio de Janeiro (3-14/06/1992), credenciou 1432 ONGs e “constituiu
marco singular no sistema de participação das ONGs em tais eventos” pois todas as ONGs
credenciadas para os preparativos da UNCED puderam participar do evento (TAVARES,
1999:61). Essa conferência impulsionou um amplo processo de articulação da sociedade civil,
pois os tratados alternativos enfatizaram seu papel na promoção do desenvolvimento
sustentável e possibilitou “a criação de um espaço público mundial para a discussão dos
destinos do planeta” essencial para a constituição da “sociedade civil global” e para originar
uma certa “cidadania planetária” (MUÇOUÇAH, 1992).
A referência à emergência de uma sociedade civil global é comum quando se trata da
UNCED, porque tanto a conferência, quanto o Fórum paralelos não tiveram “precedentes em
termos de tamanho, ressonância na mídia, impacto sobre idéias e políticas e para a
emergência de uma sociedade civil global envolvida em construir redes, desenvolver
estratégias conjuntas e confrontar estados e instituições internacionais” (PIANTA, 2004). A
Comissão das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS) criada depois da
UNCED passou a acompanhar a aplicação dos acordos e servir de fórum permanente onde
negociar a política mundial nos domínios do ambiente e do desenvolvimento (FALK,
1998:323). Dentre os resultados destacamos a Agenda 21 (plano mundial para o
desenvolvimento sustentável) e o Fórum Internacional de ONGs e Movimentos Sociais. É
importante destacar que “as ONGs que estiveram no Rio de Janeiro não se limitaram apenas a
criticar o processo oficial e o atual modelo de desenvolvimento” ou seja, “mais do que
simples declarações de princípios, esses tratados implicam um compromisso de ação conjunta
entre as ONGs signatárias, que assumem a tarefa de implementá-los por todos os meios de
que dispõem, com ou sem ajuda dos governos dos seus países” (MUÇOUÇAH, 1992).
Mas de onde eram as ONGs que estiveram na UNCED? É correto afirmar que
representavam ou constituíam uma “sociedade civil global”? Os documentos pesquisados
contêm as informações oferecidas pelas ONGs que solicitaram e foram recomendadas para o
credenciamento. Baseando-se nesses dados é possível saber qual o país em que cada ONGs
tinha sua sede e se atua em âmbito nacional ou internacional, bem como quando foi fundada e
quais suas principais atividades. Assim, podemos analisar a distribuição de ONGs
credenciadas por continente e país, o que contribui para discutir em que medida se pode
aplicar o adjetivo global a essa participação:
Como se pôde perceber, Europa e América do Norte concentram mais da metade das
ONGs credenciadas para a UNCED e 86.3% das entidades internacionais credenciadas. É
significativo que a América do Sul (em que se localiza o país sede da conferência) conta com
apenas 11,5% das ONGs credenciadas e apenas 2,4% das ONGs internacionais, o que
demonstra que a proximidade com o local de realização da conferencia, nesse caso, não
influiu na quantidade de entidades credenciadas para o evento. A desproporcionalidade fica
mais evidente se consideramos a distribuição por país: a maioria das ONGs credenciadas têm
sede nos Estados Unidos, cujo percentual (22,3%) corresponde ao triplo do segundo colocado,
Índia (7,1) e à soma dos cinco países seguintes Índia, Suíça, Reino Unido, Brasil e Canadá:
Os Estados Unidos ocupam a primeira posição em todos os casos, e, se pensamos
apenas nas ONGs internacionais sua proporção (35,3%) representa o triplo do segundo
colocado, Suíça (10,6%), e, a soma dos cinco países seguintes (37%). Ou seja, se atentamos
para o “âmbito” de atuação da ONG (nacional ou internacional) que indica, em certa medida,
o tamanho e alcance da entidade, a desproporcionalidade fica ainda mais marcante (do que
quando consideramos o total ou o número de ONGs nacionais credencidadas).
O mapa a seguir apresenta visualmente a desproporcionalidade (considerando o total
de ONGs) e podemos ver que a grande maioria dos países (como se pode ver) contaram com
poucas ONGs credenciadas:
ANTARTIDA
RUSSIA
CHINA
CANADA
BRASIL
AUSTRALIA
INDIA
GROELANDIA
IRA
ESTADOS UNIDOS
LIBIA
SUDAO
ARGELIA
ARGENTINA
CAZAQUISTAO
MALI
MEXICO
PERU
MONGOLIA
NIGERCHADE
EGITO
ANGOLA
BOLIVIA
ETIOPIA
CHILE
ARABIA SAUDITA
SUECIA
NIGERIA
NAMIBIA
COLOMBIA
TURQUIA
ZAMBIA
UCRANIA
TANZANIA
FRANCA
AFRICA DO SUL
MAURITANIA
PAQUISTAO
VENEZUELA
QUENIA
MIANMAR
FINLANDIA
SOMALIA
OMA
IEMEN
NORUEGA
IRAQUE
ESPANHA
ZAIRE - REP DEMOCRATICA DO CONGO
MOCAMBIQUE
POLONIA
ITALIA
AFEGANISTAO
BOTSWANA
ALEMANHA
TAILANDIA
INDONESIA
VIETNA
CONGO
LAOS
MADAGASCAR
SIRIA JAPAO
GANA
PARAGUAI
UZBEQUISTAO
CAMAROES
ZIMBABUE
MARROCOS
GUINE
GABAO
ROMENIA
TURCOMENISTAO
UGANDA
REINO UNIDO
GUIANA
ISLANDIA
NEPAL
BIELO RUSSIA
EQUADOR
TUNISIA
URUGUAI
MALASIA
SENEGAL
CUBA
PAPUA NOVA GUINE
BENIN
QUIRGUISTAO
SVALBARD
GRECIA
COSTA DO MARFIM
MALAUI
WESTERN SAHARA
BULGARIA
AUSTRIA
LETONIA
ERITREIA
NOVA ZELANDIA
LIBERIA
FILIPINAS
NICARAGUA
BANGLADESH
PORTUGAL
JORDANIA
HONDURAS
GEORGIA
PANAMA SRI LANKA
COREIA DO NORTE-Pyongyang
HAITI
COREIA DO SUL-SEUL
TAIWAN
DINAMARCA
FIJI
BURUNDI
DIJIBUTI
QATAR
CHIPRE
NEW CALEDONIA
SALOMAO
VANUATU
BAHAMAS
FALKLAND ISLANDS ( ILHAS MALVINAS)FRENCH SOUTHERN AND ANTARTIC LAND...
TRINIDAD E TOBAGO
MAURICIO
SOUTH GEORGIA AND SOUTH SANDWICH ISLAND
GUADALUPE
JAN MAYEN
COMORES
GUAM
SAMOA OCIDENTAL
CABO VERDE
NIUE
FAROE ISLANDS
POLINESIA FRANCESA
KIRIBATI CINGAPURA
BARBADOS
SEICHELES
HEARD ISLAND & MCDONALD ISLANDS
PACIFIC ISLANDS (PALAU)
ST HELENA
SAINT PIERRE AND MIQUELON
CHRUSTMAS ISLAND
BOUVEST ISLAND
COOK ISLANDS
NAURU
NORFOLK ISLAND
BRITISH INDIAN OCEAN TERRITORY
PITCAIM ISLANDS
TUVALU
BERMUDA
WAKE ISLAND
ILHAS MARSHALL
TOKELAU
MACAU
MALDIVAS
SPRATLY ISLANDS
JOHNSTON ATOLL
Distribuição das ONGs credenciadas para a RIO/1992 (UNCED)
N
EW
S
1:155292394
30x30.shp
% de ONGs credenciadas
012 - 5
6 - 1011 - 15
16 - 3031 - 50
51 - 100101 - 316
Paises com maior número de ONGs credenciadas:
1 - Estados Unidos - 3152 - India - 101
Pais sede da conferência:
Brasil - 69 ONGs
Interessante notar que Estados Unidos e Índia tiveram mais ONGs credenciadas do
que o país sede da conferência (Brasil) e que vários países da África e da Ásia não tiveram
nenhuma ONG credenciada para a UNCED, cuja participação de ONGs é apresentada como
uma das principais evidências do surgimento de uma sociedade civil global. Vejamos a seguir,
se o quadro se altera ao analisamos as outras conferências ou se o mesmo padrão se mantém.
ICPD – Cairo/1994
A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (ICPD) realizada no
Cairo (5-13/09/1994), contou com a participação de 180 estados e 1119 ONGs. Resultou num
novo “Programa de Ação” com ênfase na relação entre população e desenvolvimento para
guiar as políticas nacionais e internacionais na área nos vinte anos seguintes. A participação
de ONGs na ICPD foi pouco conflituosa, pois as alianças foram construídas com base num
componente “científico”, relativo ao conhecimento das ONGs sobre o tema e tanto o processo
de preparação como a conferência tiveram um amplo envolvimento de ONGs individualmente
e através de redes formadas com o objetivo de influenciar as posições de seus governos.
A distribuição geográfica, por continente, do total de ONGs credenciadas, demonstra
que a África (sede da conferência) apresenta o maior número de ONGs credenciadas
(diferente da UNCED). O segundo continente com maior número de ONGs é a América do
Norte e o terceiro a Ásia (empatados na quarta posição América do Sul e Europa):
Algo a ser observado é que se trata da distribuição do total de ONGs credenciadas em
que a grande maioria (917) se classifica como “nacionais” (o que inclui tanto uma
organização que atue na educação dos filhos do funcionários de alguma pequena fábrica até
outras que se empenhem na difusão de informações para todo um país, ou seja, a diversidade
em termos de tamanho, público e de recursos são marcantes). Ao considerar apenas as
entidades que atuam em âmbito internacional temos outro resultado, e essa diferenciação faz
sentido porque “supostamente” ONGs internacionais teriam melhores condições de
participação devido à sua abrangência, porém, não é possível saber em quantos países as
ONGs que se qualificam como “internacionais” atuam.
Também não se pode afirmar que uma ONGs que se diz “nacional” atue em todo o
território do país em que tem sede, na medida em que isso significa apenas que a sua atuação
se restringe a um único país. Mas a diferença em relação a classificação anterior é bem
visível: a ordem de continentes com o maior número de ONGs “internacionais” credenciadas
passa ser América do Norte (40%), seguido da Europa (23,8%), e a África aparece em terceiro
lugar (16,3%), sendo que os demais possuem menos de 10% do total de ONGs internacionais
credenciadas (Ásia 7,4; América do Sul 5,0%; América Central 5,0% e Oceania 2,5%). Mas é
preciso considerar que essa divisão por continentes obscurecesse o fato de que a participação
de ONGs varia bastante de um país para outro:
Portanto, quando consideramos o número de ONGs credenciadas por país, percebemos
que a distribuição por continentes fornece uma falsa impressão de que entidades sediadas em
praticamente todos os estados estiveram presentes, o que não corresponde à verdade. Como se
verá no mapa seguinte, a desigualdade é marcante, embora, se considerarmos apenas os 10
países com maior número de ONGs credenciadas, podemos notar que no caso da UNCED,
somavam 60 % do total e no caso do ICPD isso diminuiu um pouco (para 44,7%). No caso
das ONGs internacionais, na UNCED, os dez países com mais ONGs credenciadas, somavam
71,5 % do total e nessa conferência somam 53,9 % do total de ONGs internacionais
credenciadas. Isso pode ser interpretado como uma leve melhora na proporcionalidade em
relação à distribuição geográfica das entidades credenciadas.
ANTARTIDA
RUSSIA
CHINA
CANADA
BRASIL
AUSTRALIA
INDIA
GROELANDIA
IRA
ESTADOS UN IDOS
LIBIA
SUDAO
ARGELIA
ARGENTINA
CAZAQUISTAO
MALI
MEXICO
PERU
MONGOLIA
NIGERCHADE
EGITO
ANGOLA
BOLIVIA
ETIOPIA
CHILE
ARABIA SAUDITA
SUECIA
NIGERIA
NAMIBIA
COLOMBIA
TURQUIA
ZAMBIA
UCRANIA
TANZANIA
FRANCA
AFRICA DO SUL
MAURITANIA
PAQUISTAO
VENEZUELA
QUENIA
MIANMAR
FINLANDIA
SOMALIA
OMA
IEMEN
NORUEGA
IRAQUE
ESPANHA
ZAIRE - REP DEMOCRATICA DO CONGO
MOCAMBIQUE
POLONIA
ITALIA
AFEGANISTAO
BOTSWANA
ALEMANHA
TAILANDIA
INDONESIA
VIETNA
CONGO
LAOS
MADAGASCAR
SIRIA JAPAO
GANA
PARAGUAI
UZBEQUISTAO
CAMAROES
ZIMBABUE
MARROCOS
GUINE
GABAO
ROMENIA
TURCOMENISTAO
UGANDA
REINO UNIDO
GUIANA
ISLANDIA
NEPAL
BIELO RUSSIA
EQUADOR
TUNISIA
URUGUAI
MALASIA
SENEGAL
CUBA
PAPUA NOVA GUINE
BENIN
QUIRGUISTAO
SVALBARD
GRECIA
COSTA DO MARFIM
MALAUI
WESTERN SAHARA
BULGARIA
AUSTRIA
LETONIA
ERITREIA
NOVA ZELANDIA
LIBERIA
FILIPINAS
NICARAGUA
BANGLADESH
PORTUGAL
JORDANIA
HONDURAS
GEORGIA
PANAMA SRI LANKA
COREIA DO NORTE-Pyongyang
HAIT I
COREIA DO SUL-SEUL
TAIWAN
DINAMARCA
FIJI
BURUNDI
DIJIBUTI
QATAR
CHIPRE
NEW CALEDONIA
SALOMAO
VANUATU
BAHAMAS
FALKLAND ISLANDS ( ILHAS MALVINAS)FRENCH SOUTHERN AND ANTARTIC LAND...
TRINIDAD E TOBAGO
MAURICIO
SOUTH GEORGIA AND SOUTH SANDWICH ISLAND
GUADALUPE
JAN MAYEN
COMORES
GUAM
SAMOA OCIDENTAL
CABO VERDE
NIUE
FAROE ISLANDS
POLINESIA FRANCESA
KIRIBATI CINGAPURA
BARBADOS
SEICHELES
HEARD ISLAND & MCDONALD ISLANDS
PACIFIC ISLANDS (PALAU)
ST HELENA
SAINT PIERRE AND MIQUELON
CHRUSTMAS ISLAND
BOUVEST ISLAND
COOK ISLANDS
NAURU
NORFOLK ISLAND
BRITISH INDIAN OCEAN TERRITORY
PITCAIM ISLANDS
TUVALU
BERMUDA
WAKE ISLAND
ILHAS MARSHALL
TOKELAU
MACAU
MALDIVAS
SPRATLY ISLANDS
JOHNSTON ATOLL
Distribuição das ONGs credenciadas para a Cairo/1994 (ICPD)
N
EW
S
1:155292394
30x30.shp
% de ONGs credenciadas
012 - 52 - 56 - 1011 - 15
16 - 3031 - 5051 - 100101 - 200
Paises com maior número de ONGs credenciadas:
1 - Estados Unidos - 1942 - Egito - 76
Pais sede da conferência:
Egito - 76
A maioria das ONGs credenciadas tem sede nos Estados Unidos (17,4%); seguido do
Egito (país sede da conferência) com 7% das ONGs; a Índia (6,3%) ocupa o terceiro lugar, e
os nove seguintes têm menos de 3% (a maioria não chega a 1%). A ordem se altera quando
classificamos os países de acordo com o número de ONGs internacionais: os Estados Unidos
continua ocupando a primeira posição (37,1%), mas é seguido pelo Reino Unido (5,4%);
Bélgica, Senegal e Suíça com 3,5% cada e Holanda (3,0%). A diferença entre Estados Unidos
e Reino Unido é marcante: passa-se de 37,1% para 5,4%.
A grande maioria dos países (83) tiveram apenas ONGs de atuação nacional
credenciadas. Isso pode ser interpretado de forma otimista, pois ONGs de âmbito nacional,
muitas delas pequenas e de base, tiveram condições de participar da conferência; mas
podemos discutir qual o impacto desse fato na qualidade da participação, pois as ONGs
internacionais possuem melhores condições de intervir.
No entanto, podemos perceber que existiram poucas diferenças da ICPD em relação à
UNCED: também aqui a concentração das sedes de ONGs credenciadas fica no eixo Europa-
América do Norte. Será que o quadro se altera na conferência seguinte? Vejamos.
WSSD – Copenhague/1995
O Encontro Mundial para o Desenvolvimento Social (WSSD), realizado na Dinamarca
(11-12/03/1995), contou com a presença de 187 Estados e 1299 ONGs, e chamou a atenção
para o aspecto “negativo” da globalização da economia, procurando integrar as decisões das
outras conferências num plano global para satisfazer as necessidades humanas básicas, reduzir
disparidades econômicas e sociais e assegurar meios de subsistência sustentáveis.
De acordo com as informações oferecidas pelas ONGs que solicitaram
credenciamento, a distribuição por continente nessa conferência fica interessante:
curiosamente a África ficou em primeiro lugar, seguida da Europa (sede do encontro) e Ásia,
e, diferente da ICPD e da UNCED, a América do Norte fica na quarta posição. É verdade que
isso muda quando consideramos apenas as entidades que atuam em âmbito internacional: a
maior parte das ONGs internacionais credenciadas têm sede na América do Norte e Europa.
Se distribuímos o total de ONGs credenciadas por país sede, os dez com maior número
de entidades credenciadas, somam apenas 39,3 % do total e 55,5% do total de ONGs
internacionais, diferente das conferências anteriores.
A distribuição geográfica do total de ONGs credenciadas para o WSSD pode ser
interpretada de duas formas: por um lado, demonstra que há uma concentração de ONGs
credenciadas sediadas em alguns países, pois, como se verá, Estados Unidos (10,8%) e Índia
(7,6%) possuem a maior quantidade, sendo que os países seguintes Dinamarca, Canadá e
Bangladesh possuem, cada um, menos da metade do percentual dos EUA.
Existem entidades sediadas em países de todos os continentes e alguns países africanos
concentram um número considerável de ONGs, como se vê no mapa seguinte:
ANTAR TIDA
RUSSIA
CHINA
CANADA
BRASIL
AUSTR ALIA
INDIA
GROELANDIA
IRA
ESTADOS UN IDOS
LIB IA
SUDAO
ARGELIA
ARGENTINA
CAZAQUISTAO
MALI
MEXICO
PERU
MONGOLIA
NIGERCHAD E
EG ITO
ANGOLA
BOLIVIA
ET IOPIA
CHILE
ARABIA SAUDITA
SUECIA
NIGERIA
NAMIBIA
COLOMBIA
TURQUIA
ZAMBIA
UCRANIA
TANZANIA
FRANCA
AFRICA DO SUL
MAURIT ANIA
PAQU ISTAO
VENEZUELA
QUENIA
MIANMAR
FINLANDIA
SOMALIA
OMA
IEMEN
NORUEGA
IRAQUE
ESPAN HA
ZAIRE - REP DEMOCRATICA DO CONGO
MOCAMBIQUE
POLONIA
ITALIA
AFEGANIST AO
BOTSWANA
ALEMANHA
TAILANDIA
INDONESIA
VIETNA
CONGO
LAOS
MADAGASCAR
SIRIA JAPAO
GANA
PARAGUAI
UZBEQUISTAO
CAMAROES
ZIMBABUE
MARROCOS
GUINE
GABAO
ROMENIA
TURCOMENISTAO
UGANDA
REINO UNIDO
GUIANA
ISLANDIA
NEPAL
BIELO R USSIA
EQUADOR
TUNIS IA
URUGU AI
MALASIA
SENEGAL
CUBA
PAPUA NOVA GUINE
BENIN
QUIRGUISTAO
SVALBARD
GRECIA
COSTA DO MARF IM
MALAUI
WESTERN SAHARA
BULGARIA
AUSTR IA
LETONIA
ERIT REIA
NOVA ZELAND IA
LIBERIA
FILIPIN AS
NICAR AGUA
BANGLADESH
PORTUGAL
JORDANIA
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FALKLAND ISLAN DS ( ILHAS MALVIN AS)FRENCH SOUTHERN AND AN TARTIC LAND...
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SOUTH GEORG IA AND SOUTH SANDW ICH ISLAND
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SAMOA OCIDEN TAL
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FAROE ISLAND S
PO LINESIA FRANCESA
KIRIBATI CINGAPURA
BARBADOS
SEICHELES
HEARD ISLAND & MC DONALD ISLAN DS
PACIFIC ISLANDS (PALAU)
ST HELENA
SAINT P IERRE AND M IQUELON
CHRUSTMAS ISLAND
BOUVEST ISLAND
COOK ISLANDS
NAURU
NORFOLK ISLAND
BRIT ISH INDIAN OCEAN TERRITORY
PIT CAIM ISLANDS
TUVALU
BERMUDA
WAKE ISLAND
ILH AS MARSH ALL
TOKELAU
MACAU
MALDIVAS
SPRATLY ISLANDS
JOHNSTON ATOLL
Distribuição das ONGs credenciadas para Copenhague/1995
N
EW
S
1:155292394
30x30.shp
% de ONGs c redenciadas
0
12 - 5
6 - 1011 - 15
16 - 3031 - 50
51 - 100100 - 200
Paises com maior número de ONGs credenciadas:
1 - Estados Unidos - 1392 - India - 99
Pais sede da conferência:
Dinamarca - 44
Mas apenas quando somamos ONGs pequenas, de atuação bastante restrita, com
outras bem maiores e mais poderosas e mais antigas temos uma participação global e mais
equilibrada nessa conferência. A seguir, comparo mais diretamente os três eventos.
Comparações – UNCED, ICPD e WSSD
Comparando os dados referentes às três conferências para explorar se é possível
afirmar que existiu algum padrão em relação ao credenciamento de organizações não-
governamentais (ONGs) nas três conferências em estudo quando agrupamos as ONGs por
continente ou país, assim como se existiu algum tipo de progresso no que diz respeito à
proporção do número de entidades de acordo com o país sede e continente em que se
localizam. Em primeiro lugar, podemos comparar a distribuição do total de ONGs
credenciadas, agrupadas por continentes, nas três conferências em estudo, e o total (soma das
quantidades das três conferências) por continente:
Considerando-se o número total de ONGs credenciadas por continente, a Europa e
América do Norte praticamente empatam na primeira posição no caso da UNCED, somando
mais de 56,1% do total, enquanto a África fica na primeira posição na ICPD e no WSSD.
Note-se também que a América do Norte ocupa a segunda posição na ICPD e a terceira no
WSSD, e que, enquanto a proporção de ONGs credenciadas com sede nos países da América
do Norte diminui progressivamente com a Ásia, acontece o contrário. A Europa apresenta o
menor percentual na ICPD, enquanto a América do Sul conta com aproximadamente o mesmo
percentual na UNCED e ICPD, caindo pela metade no WSSD. América do Norte, Europa,
Ásia e África concentram a maioria das ONGs credenciadas nas três conferências (83,5% do
total), enquanto América do Sul, América Central e Oceania não chegam a somar 20% do
total de entidades credenciadas nas três conferências em questão.
O quadro muda quanto aos dados das ONGs nacionais credenciadas: a África passa a
ocupar a primeira posição, seguida da Ásia, Europa e América do Norte (que conta com o
maior número na UNCED mas nos eventos seguintes diminui):
As proporções se alteram de uma conferência para outra, ressaltando-se o aumento de
participação da África e a discreta diminuição da América do Norte e Europa. Oceania e
América Central tem uma pequena participação. No caso da Ásia nota-se um certo equilíbrio
no número de entidades credenciadas para os eventos. A ordem se altera bastante quando
consideramos apenas as ONGs internacionais, como veremos na seqüência:
A distribuição por continente fica mais concentrada no hemisfério norte, cabendo
notar que a soma dos percentuais da América do Norte e Europa chega a 86,3% na UNCED,
diminuindo para 63, 9% na ICPD e para 62,3% no WSSD, como se pode notar a seguir:
Europa e América do Norte apresentam a maior proporção de entidades credenciadas
nos três casos, sendo que a Europa apresenta o maior percentual na UNCED e a segunda
posição nas outras duas conferências, enquanto a América do Norte ocupa a segunda posição
na UNCED e a primeira nas outras duas conferências. A despeito da concentração no eixo
América do Norte – Europa, é notável que os percentuais da África aumenta
consideravelmente na ICPD em relação à UNCED. No caso da Ásia a proporção aumentou
progressivamente (5,1% na UNCED; 7,4% na ICPD e 14,2% no WSSD).
Se utilizarmos uma regionalização diferente do globo, agrupando as ONGs
credenciadas de acordo com a divisão Norte-Sul, ou seja, se somamos as ONGs credenciadas
com sede nos países que pertencem ao “norte” e naqueles considerados do “sul”, e, agrupando
de acordo com o âmbito de atuação, as proporções alteram-se. O Sul passa a contar com o
maior número de ONGs credenciadas se considerarmos o total e as nacionais, sendo que o
Norte apresenta a maioria das ONGs internacionais:
Portanto, o “norte” contou com 45,7% do total de ONGs credenciadas nas três
conferências e 71,5% das entidades com atuação internacional, e o Sul contou com 45,7% do
total e 61,6% das ONGs nacionais. Ou seja, as ONGs com sede nos países considerados do
“sul” conseguiram se credenciar, mas as internacionais estão concentradas no Norte:
Por fim, observamos que o número de países sede de ONGs credenciadas aumentou
progressivamente a cada conferência: 114 no caso da UNCED; 136 no caso da ICPD e 145 no
caso da WSSD. Mesmo que consideremos apenas as ONGs internacionais, houve aumento de
países com ONGs credenciadas: 47 na UNCED; 51 na ICPD; e 81 no WSSD. Dentre os 170
países sede de ONGs credenciadas, 92 tiveram ONGs credenciadas nas três conferências; 40
em, pelo menos, duas conferências; e 38 países em apenas uma das três conferências. Mas
apenas seis países tiveram mais de 100 ONGs credenciadas: Estados Unidos, Índia, Canadá,
Egito (66% na ICPD), Brasil (61% na UNCED) e Reino Unido:
Nota-se que 17,1% do total de ONGs credenciadas e 33,1% das entidades com atuação
internacional possuem sede nos Estados Unidos (mais do que a soma dos próximos quatro
países e do que os 118 últimos colocados). Se consideramos apenas as ONGs de atuação
nacional credenciadas, Estados Unidos (1); Índia (2) e Egito (4) se mantém na mesma
posição, enquanto o Brasil sobe da 5ª para a 3ª posição e o Canadá cai da 3ª para a 5ª posição.
Os primeiros 10 países (11 nesse caso) na classificação somam 47,1% do total de ONGs
nacionais credenciadas e os últimos 85 na classificação não chegam a somar 10,0% do total.
Se consideráramos apenas as ONGs com atuação internacional, a concentração fica mais
evidente: além do fato dos Estados Unidos contarem com 1/3 das ONGs internacionais
credenciadas nas três conferências, a soma dos cinco primeiros países na classificação dá
52,88% do total, e a soma dos percentuais dos países com menos de 10 ONGs internacionais
credenciadas não chega a 25% do total: novamente, percebemos que as ONGs internacionais
credenciadas têm suas sedes concentradas em poucos países.
Evidências do surgimento de uma Sociedade civil global?
A idéia de governança global só faz sentido se aceitamos a caracterização do contexto
consensual nos estudos que defendem a participação da sociedade civil nas relações
internacionais, ou seja, se partimos de uma constatação de que a interdependência gerada pela
globalização colocou em questão que os Estados nacionais fossem os únicos atores legítimos
para discutir e resolver os problemas que dizem respeito a mais do que um país ou a todo o
planeta. Nesse caso, é necessário considerar que as organizações intergovernamentais
adquirem mais poder ao incluir entidades da sociedade civil no processo de discussão dos
problemas globais, pois poderão contar com tais entidades na implementação das políticas
acordadas e as organizações não-governamentais – ONGs – ganham destaque por possuírem
maior experiência em atuar transnacionalmente e nos assuntos em pauta.
As maiores conquistas das conferências situam-se no campo das idéias – por exemplo,
a divulgação do conceito de desenvolvimento sustentável; a interdependência entre os
problemas relacionados à população e desenvolvimento; a difusão da necessidade de
desenvolvimento social, entre outras. Mais do que participação é possível falar em presença
de ONGs, embora se possa admitir que essa presença teve alguns impactos nos documentos
resultantes, pois, além de realizar intervenções orais, as ONGs conseguiram estabelecer
contato com as delegações estatais – buscando influenciar suas posições – e com outras ONGs
– criando redes transnacionais que possuem atuação mais eficaz do que quando atomizadas.
Os resultados da pesquisa ajudam a compreender algumas das objeções feitas pelos
Estados e por alguns pesquisadores a respeito da ampliação do direito das organizações não-
governamentais participarem do processo decisório internacional. Se as ONGs fossem
realmente como o discurso dos seus defensores a descrevem – autônomas em relação ao
Estado e ao Mercado; legítimas do ponto de vista de seus parceiros; e representativas dos que
as criam, de suas clientelas, dos valores que defendem – não existiria qualquer problema no
fato de, no caso das conferências estudadas, estarem concentradas na Europa e América do
Norte. Contudo, e, justamente porque não é possível generalizar suas características é que a
concentração geográfica torna-se problemática.
É preciso ressaltar que ao invés de global a presença das ONGs foi bastante
desproporcional, concentrada no eixo Europa-América do Norte, com total predominância dos
Estados Unidos. Embora o foco da pesquisa tenha sido o aspecto quantitativo da presença das
ONGs nas conferências e, por isso, possua limitações no que diz respeito à qualidade da
participação e intervenção das ONGs, entendemos que os resultados contribuem para
contrabalançar a tendência à generalização encontrada em outros trabalhos, que tratam as
ONGs como sociedade civil e, ao falar em sociedade civil global desconsideram qual o
alcance do adjetivo global e qual sua composição geográfica, pois não está totalmente
comprovado que essa dimensão não importa ou não influi nos resultados dos processos.
Assim, ao se referir à UNCED, por exemplo, a menos que se possua um conhecimento
tão detalhado e profundo o suficiente para afirmar o caráter autônomo, representativo,
legítimo e democrático das ONGs que estiveram presentes e participaram, não faz sentido
dizer que a sociedade civil global esteve presente ou emergiu desse processo, a não ser que se
possa provar que não faz diferença o fato de que 2/3 das ONGs credenciadas possuíam suas
sedes na Europa e América do Norte – caso em que, na expressão sociedade civil global o
adjetivo global não possui qualquer relação com o sentido da palavra; ou se entenda que a
predominância de ONGs desse dois continentes se justifica por sua antiguidade, porque
defende valores universais, ou algo assim. Não parece casual que, quando adotamos a
distribuição por critérios sócio-econômicos Norte-Sul, mais de 88% das ONGs internacionais
tinham sede no Norte, lembrando que, só nos Estados Unidos estavam concentradas mais de
33% dessas ONGs.
Mas não parece adequado criticar a participação das ONGs sem qualificar
apropriadamente os argumentos. É verdade que os Estados Unidos aparecem no topo da lista
dos países com maior número de ONGs credenciadas somando as três conferências, porém,
entre os 10 primeiros aparecem: a Índia, Egito, Brasil, Filipinas, Bangladesh, além, é claro, do
Canadá, Reino Unido, Suíça, Japão e França. É verdade que observamos uma evidente
concentração do total de ONGs internacionais no Norte – 72% somando as três conferências –
mas percebemos um certo equilíbrio quando desconsideramos o âmbito de atuação da
entidade – caso em que o Sul conta com 54% do total somando as três conferências.
Agora é possível incluir nos estudos que tratam o assunto um dado que nos parece
relevante: “de onde” eram as ONGs que estiveram presentes nas conferências, ou seja, “de
quais países” vieram as organizações que fizeram as vezes e foram chamadas de “sociedade
civil” nas conferências, que puderam estar presente, como observadora, mas que também
negociaram posições com delegações estatais, pressionaram decisores, enfim, que fizeram
diferença nas conferências do Ciclo Social. Mais importante: se for verdade que a política não
se faz mas é feita e, nesse sentido, conhecer mais sobre os atores envolvidos ajuda a entender
os resultados dos processos políticos, podemos concluir que essa pesquisa possui alguma
validade, a despeito de suas limitações1.
1 A pesquisa de mestrado (da qual resulta esse trabalho) foi realizada com apoio da CAPES, e a ampliação da pesquisa (em andamento no doutorado) está sendo realizada com apoio do CNPq.
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