Notas sobre a política internacional do...

288
Notas sobre a política internacional do PT Notas sobre a política internacional do PT Valter Pomar

Transcript of Notas sobre a política internacional do...

Page 1: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

Notas sobrea políticainternacional do PT

Notas sobrea políticainternacional do PT

Valter Pomar

Page 2: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

Publicado pela Secretaria de Relações Internacionaisdo Partido dos Trabalhadores – Brasil – www.pt.org.br

Iriny Lopes – Secretária de Relações Internacionais do PT

Editor: Valter Pomar

Diagramação: Sandra Luiz Alves

Equipe da Secretaria de Relações Internacionais:Edma Valquer ([email protected]); Fábio El-Khouri ([email protected]); Rosana Ramos([email protected]) Wilma dos Reis ([email protected]); Valter Pomar – Miembrode la Dirección Nacional y Secretario Ejecutivo del Foro de São Paulo ([email protected])

Partido dos Trabalhadores – Integrantes da CEN para o biênio 2010/2014Comissão Executiva Nacional (CEN) – (Direito a voto e voz)Rui Falcão – Presidente; José Guimarães – Vice-presidente; Fátima Bezerra –Vice-presidente; Paulo Teixeira – Secretário Geral; João Vaccari Neto – Secretáriode Finanças; Florisvaldo Souza – Secretária de Organização; Paulo Frateschi –Secretário de Comunicação; Renato Simões – Secretário de Movimentos Populares;Jorge Coelho – Secretário de Mobilização; Carlos Henrique Árabe – Secretário deFormação Política; Geraldo Magela Pereira – Secretário de Assuntos Institucionais;Iriny Lopes – Secretária de Relações Internacionais; Wellington Dias – Líder do PTno Senado; José Guimarães – Líder do PT na Câmara; Maria do Carmo Lara –Vogal; Benedita da Silva – Vogal; Mariene Pantoja – Vogal; Arlete Sampaio – Vogal;Maria Aparecida de Jesus – Vogal; Benedita Souza da Silva Sampaio – Vogal

Membros observadores da CEN – (Direito a voz sem direito a voto)Angelo D’Agostini Junior – Secretário Sindical Nacional; Jefferson Lima – SecretárioNacional da Juventude; Edmilson Souza – Secretário Nacional de Cultura; JúlioBarbosa – Secretário Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento; Laisy Moriére– Secretária Nacional de Mulheres; Cida Abreu – Secretária Nacional de Combateao Racismo; Elvino Bohn Gass – Secretário Nacional Agrário

São Paulo – Rua Silveira Martins, no 132, Centro, CEP 01019-000São Paulo-SP, Brasil. E-mail: [email protected] – Tel. (+5511) 3243-1377

Fax (+5511) 3243-1359

Brasília – SCS Quadra 2 – Bloco C – no 256 – Edifício Toufic, CEP 70302-000Brasília-DF, Brasil. Tel. (+5561) 3213-1373/1423

Fax (+5561) 3213-1397

Page 3: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

Índice

Apresentação ............................................................................... 5

A batalha do Chile ...................................................................... 8

Notas sobre a política internacional do PT................................ 11

Informe sobre a reunião de Caracas .......................................... 18

Las diferentes estrategias de las izquierdas latinoamericanas ...... 24

Palestra para jovenes en Chile ................................................... 48

China e Brasil, num mundo de crise & transição ...................... 64

Un nuevo ciclo en la historia del Brasil ..................................... 74

La política externa de Brasil ...................................................... 98

Um PAC latinoamericano ....................................................... 130

Nem devagar, nem pressa ........................................................ 137

Aspectos históricos e organizativos do PT ............................... 149

Mentira ou ignorância? ........................................................... 158

Filmes parecidos, desfecho a definir ........................................ 160

Assunto para o Procon ............................................................ 164

Só os gringos podem? .............................................................. 167

Bons modos e hipocrisia ......................................................... 170

Sobre cordeiros e lobos ............................................................ 173

As armas da política ................................................................ 177

Page 4: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

4

Notas sobre a política internacional do PT

Os infiltrados .......................................................................... 180

A festa da marmota ................................................................. 182

O muro da hora ...................................................................... 185

Debatendo a crise ................................................................... 189

A linha do Equador ................................................................ 194

A ilimitada estupidez de Brickman.......................................... 202

A nota certa ............................................................................ 205

A tumba está em festa ............................................................. 210

Os equívocos do PSDB ........................................................... 213

Compreender e enfrentar ........................................................ 217

Ensayo sobre una ventana abierta ........................................... 226

Entrevista à Welttrends ........................................................... 247

Atilio A. Boron: um balanço equivocado ................................ 255

Polêmica epistolar A los integrantes del Grupo de Trabajo .......... 262

O PT e o Foro de São Paulo ................................................... 267

La Internacional latinoamericana e caribeña ........................... 273

A Pátria Grande e a outra economia ....................................... 283

Page 5: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

5

Valter Pomar

Apresentação

Estamos no meio de uma crise do capitalismo neoliberal, que semanifesta direta ou indiretamente em todos os terrenos: financeiro,comercial, cambial, energético, alimentar, ambiental, ideológico, so-cial, político, militar.

Como outras crises, esta tentará provocar, para sua superação, umaimensa destruição de forças produtivas, destruição da natureza, devidas humanas e de capital acumulado. Sacrifício que tende a se des-dobrar em mais conflitos militares, crises políticas e revoltas sociais.

Não se trata apenas de uma crise econômica, no sentido estrito.Está em curso uma reacomodação geopolítica, resultante do deslo-camento para o Oriente do eixo dinâmico da economia mundial.

O centro da crise está nos Estados Unidos. Não apenas por ser aprincipal economia capitalista, mas também por ser a potência he-gemônica do mundo capitalista desde 1945 e do mundo desde 1991.

A crise amplia o questionamento da hegemonia dos Estados Uni-dos, que já vinha enfrentando: a) o aguçamento das contradiçõesintercapitalistas, crescente após a derrota do bloco soviético; b) ofortalecimento de potências concorrentes, especialmente a China,de quem os EUA haviam se aproximado nos anos 1970; c) as custo-sas obrigações derivadas de uma hegemonia mundial.

Vivemos, portanto, um momento de profunda crise e instabilida-de internacional, que pode resultar em variados desdobramentos,num leque que vai da barbárie ao socialismo, passando por diferen-tes modos de organizar o capitalismo.

Page 6: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

6

Notas sobre a política internacional do PT

Não é possível saber quanto tempo durará este período de insta-bilidade internacional. Isto, bem como o mundo que emergirá de-pois, dependerá de como se articule a luta política, dentro de cadapaís, com a luta entre Estados e blocos regionais.

Diferente do que ocorria antes de 1945, hoje temos uma disputaentre Estados da (quase) antiga periferia e Estados do (quase) antigocentro. E, diferente do que ocorria antes de 1990, a disputa EUA/BRICS se dá nos marcos do capitalismo. Mas na América Latina eCaribenha há uma novidade a ser levada em conta: como resultadode um processo iniciado em 1998, constituiu-se na região uma forteinfluência da esquerda.

Esta influência da esquerda torna factível que a América Latina eCaribenha constitua-se num dos pólos do combate de naturezageopolítica que está em curso no mundo. Assim como torna factívelfazer, da região, um dos espaços de reconstrução de uma alternativasocial-democrata de capitalismo ou, se tivermos êxito, uma alterna-tiva socialista ao capitalismo.

Construir uma América Latina democrática, popular e socialistadependerá de muitas variáveis, entre as quais a criação de uma cul-tura de massas, latinoamericana e caribenha, comprometida comideais de esquerda.

A criação desta cultura socialista de massas supõe, para além dosaparatos materiais (casas editoriais, jornais, revistas, rádios, televisões,provedores de internet, indústria cinematográfica e fonográfica, com-panhias de teatro e dança, orquestas, museus, escolas e universidadesetc.), que tenhamos dezenas de milhões de homens e mulheres envol-vidas na produção e reprodução desta nova visão de mundo.

O que, por sua vez, supõe a construção de novas idéias, forjadas apartir da crítica às idéias e à prática do neoliberalismo, do desenvol-vimentismo conservador e do colonialismo; que faça a crítica e au-

Page 7: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

7

Valter Pomar

tocrítica do nacionalismo, do desenvolvimentismo progressista e dasexperiências socialistas do século XX; e que compreenda a naturezado capitalismo no século XXI, enfrentando o debate clássico sobreos caminhos estratégicos para sua reforma ou para sua revolução.

Os artigos reunidos nesta coletânea, escritos entre 2005 e 2012,são uma contribuição no sentido indicado acima.

Agosto de 2012

Nota à terceira ediçãoO primeiro artigo desta coletânea, intitulado A batalha do Chile,

foi escrito logo depois da vitória de Piñera. Pois bem: a guerra con-tinua. Este ano de 2013, quarenta anos depois do golpe que derru-bou o presidente Salvador Allende, ocorrem novas eleições presiden-ciais no Chile. Que a direita seja derrotada e que o novo governo seafaste do Arco do Pacífico e se aproxime mais da integração sul elatino-americana e caribenha.

Por falar em Arco do Pacífico, este e outros assuntos são tratadosem textos mais recentes, que por razões de economia preferimos nãoincluir nesta coletânea, mas estão dsponíveis no http://www.valterpomar.blogspot.com.br/

Boa leitura.

O autor

Page 8: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

8

Notas sobre a política internacional do PT

A batalha do Chile*

A oposição de direita, no Brasil, está exultante: a recente eleiçãopresidencial chilena seria a demonstração de que é possível derrotaruma candidatura apoiada por um governo bem avaliado por mais de80% da população.

A direita européia também está contente: a eleição de Piñera (e,antes dele, do presidente do Panamá) demonstraria que o modelosarkozy-berlusconiano está fazendo escola. Filhote do pinochetismoe enriquecido pela privataria, Piñera é uma demonstração do que oscapitalistas entendem por “igualdade de oportunidades”.

A direita latina e norte-americana está igualmente feliz: derrota-dos desde 1998 na maioria das eleições do subcontinente e recém-derrotados nas disputas presidenciais ocorridas no Uruguay e Bolí-via, os conservadores podem apresentar o caso chileno como de-monstração de que é possível reverter, nas urnas, “civilizadamente”,sem golpes, a hegemonia da centro-esquerda sulamericana.

Mas felizes mesmo estão os “gorilas” chilenos, que comemoraramruidosamente, inclusive agitando nas ruas fotografias do falecidoditador, a derrota da Concertación. É a primeira vez, desde a décadados 1950, que a direita chilena consegue maioria eleitoral.

Eles têm motivos para felicidade. E a esquerda deve botar as bar-bas de molho.

Em primeiro lugar, porque a vitória de Piñera fortalece o bloco degovernos alinhados com os Estados Unidos e opositores da integraçãocontinental. Colômbia e Peru ganham, assim, um aliado importante.

Page 9: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

9

Valter Pomar

Em segundo lugar, porque está vitória não é um fato isolado. Elafaz parte de uma contra-ofensiva desencadeada pela direita latino-ame-ricana, apoiada pelo governo dos Estados Unidos e pela direita daUnião Européia. Esta contra-ofensiva inclui os ataques contra os “elosfracos” da rede de governos progressistas, como é o caso de Honduras;inclui o fortalecimento e a extensão da presença militar estado-unidensena região, a exemplo das bases na Colômbia e da IV Frota; e incluiuma provocação permanente contra Cuba e Venezuela.

Em terceiro lugar, mas principalmente, porque a derrota chilena foiproduto combinado dos acertos da direita, com os erros da esquerda.

Já se falou muito no mais óbvio destes erros: a esquerda chilenaparticipou do primeiro turno das eleições dividida entre três candi-daturas presidenciais. E, no segundo turno, uma destas candidatu-ras titubeou no apoio a Eduardo Frei.

Também já se falou de outro erro óbvio: ao contrário da eleiçãoanterior, quando percebeu a necessidade de mudança e lançou Bache-let, desta vez a Concertación foi hiper-conservadora. Escolheu comocandidato um democrata-cristão, ex-presidente chileno, com idéiasradicalmente moderadas, abrindo uma imensa brecha para que a cam-panha de Piñera pudesse ter como slogan a palavra: “mudança”.

Os erros acima têm relação, é óbvio, com a estratégia geral segui-da pelos setores majoritários da esquerda chilena. Esta estratégia foieficaz no quesito “governabilidade”, mas ineficaz nas “mudanças es-truturais”. Isso se expressou, por um lado, na incapacidade de alte-rar os parâmetros constitucionais herdados do período Pinochet. E,por outro lado, numa política econômica que não foi capaz de supe-rar a desigualdade social.

A influência desta estratégia moderada explica muito, mas nãoexplica tudo. Afinal, foram 5 eleições e 4 vitórias. Neste sentido, háque considerar os acertos da direita (sempre forte e desta vez unifica-

Page 10: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

10

Notas sobre a política internacional do PT

da), a fadiga de material (quatro governos seguidos) e algumas mu-danças político-sociológicas ocorridas na sociedade chilena.

Há um quarto elemento, contudo, que deve ser estudado comatenção. Em 1973, o golpe não surpreendeu ninguém. Em 2009-2010, a derrota estava visível no horizonte. As situações são profun-damente distintas, mas vale questionar por qual motivo –nos doiscasos- a esquerda chilena, mais exatamente seu setor majoritário, foiincapaz de fazer uma correção de rumo.

Entre os vários motivos, cito um que pode ser encontrado nosmais diferentes países e matizes da esquerda: certa tendência amaximizar os feitos e minimizar os defeitos. Cuja acumulação, comosabemos, transforma quantidade em qualidade.

Para além do balanço acerca da derrota, é preciso preparar a resis-tência contra os vitoriosos. Há alguns dias, uma decisão judicialcassou a atuação legal do Partido Comunista do Chile, colocandoem questão inclusive a posse de três parlamentares recém-eleitos.Isso é um sinal do que vem por aí.

A batalha do Chile continua, lá e em toda a América Latina.Outubro, no Brasil, será um momento absolutamente decisivo.Aprendamos com as derrotas, para saber como evitá-las.

*A versão original deste artigo foi publicada napágina eletrônica da revista Caros Amigos

Page 11: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

11

Valter Pomar

Notas sobre a políticainternacional do PT*

Felizmente, o debate internacional deixou de ser patrimônio deuma minoria e virou tema popular, como vimos na disputa presi-dencial de 2006 e já estamos vendo nas prévias de 2010. Quem nãolembra de Alckmin atacando a Bolívia? Ou, recentemente, Serradando apoio implícito ao golpismo em Honduras?

A política externa do governo Lula ajudou nesta internacionaliza-ção do debate político, à medida que recusamos a postura intimida-da dos tucanos e percebemos que o Brasil pode e deve jogar umpapel destacado nos grandes temas internacionais, inclusive quandose trata de enfrentar os Estados Unidos. A recente visita do Presiden-te do Irã ao Brasil e a postura de nosso governo na conferência deCopenhague constituem uma confirmação disto.

Nossa política externa é potencializada por dois fatores “objeti-vos” e dois fatores “subjetivos”. Os primeiros são: o peso geopolíticodo Brasil e a crise internacional. Os demais são: a tradição naciona-lista existente no Itamaraty e a tradição internacionalista do Partidodos Trabalhadores. A isto se agrega a desenvoltura com que lança-mos mão da diplomacia presidencial.

Desde sua fundação, o PT vem acompanhando, opinando e atu-ando na esfera internacional, diretamente ou através dos petistaspresentes em governos, parlamentos, movimentos sociais e variadasinstituições. Ao longo dos 30 anos de vida do Partido, houve mudan-ças de linha, de ênfase, de métodos e de estilo, cuja análise demandariamais tempo de pesquisa e um artigo maior do que este. Entretanto,há dois traços de nossa atuação que devem ser destacados.

Page 12: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

12

Notas sobre a política internacional do PT

Um deles é a pluralidade que mantemos na interlocução interna-cional. Isto deriva, em parte, da pluralidade política e ideológica doPartido, que reuniu desde sua fundação e até hoje, militantes iden-tificados com as mais variadas famílias da esquerda internacional.

A pluralidade de nossa atuação internacional foi acentuada a par-tir de 2003, quando o PT passou ter influência na política externado governo brasileiro. Desde então e crescentemente, o leque denossas relações enquanto Partido inclui, também, partidos e lide-ranças com as quais nosso governo possui algum grau de identidade.

Portanto, não mantemos relações apenas com os que “pensam comonós”; mas também com os que, apesar de maiores ou menores dife-renças ideológicas, enfrentam na arena internacional problemas polí-ticos similares aos que enfrentamos, enquanto partido e/ou governo.

Esta pluralidade não implica em silêncio acerca de questões espi-nhosas; nem tampouco subordinação das posições partidárias aosinteresses “de Estado”. Pelo contrário, há coisas que nosso governopode fazer (como receber o presidente dos EUA ou o chanceler deIsrael), sem que isto impeça nosso partido de manifestar sua opiniãopolítica sobre tais convidados e suas respectivas administrações. Ouquestões em que o Partido tem posição há tempos e faz pressão sobrenosso governo, como é o caso do Sahara Ocidental e da luta daFrente Polisário. Assim como há temas em que o governo tomou ainiciativa e o Partido não tem conseguido acompanhar adequada-mente, como é o caso do Haiti.

Outra traço de nossa política internacional é a ênfase latino-ame-ricana. Embora tal tradição já estivesse presente antes, o latinoame-ricanismo ganhou mais força e organicidade a partir da fundação,em 1990, do Foro de São Paulo.

Claro que o PT assiste as mais variadas reuniões partidárias, emtodo o mundo, como as convocadas pela Conferência Permanente

Page 13: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

13

Valter Pomar

de Partidos Políticos Progressistas da América Latina (Copppal) epela Internacional Socialista (sendo que não somos membros, nemmesmo observadores oficiais na IS). Mas nossa prioridade regional éa América Latina; e nosso espaço privilegiado de debate e articula-ção é o leque de partidos que integra o Foro de São Paulo, no qualsomos encarregados da Secretaria Executiva.

Além das relações mantidas pelo próprio Partido, o PT tem esti-mulado relações bilaterais e multilaterais através do Foro de São Paulo,como é o caso do intercâmbio com o Partido da Esquerda Européia,o Grupo Parlamentar da Esquerda Européia e os integrantes da Au-toridade Nacional Palestina. Achamos que este método potencializaa região (e não apenas nosso Partido e governo); e acreditamos que oaprofundamento de relações inter-regionais é mais realista e produ-tivo, do que a tentativa de criar novas organizações que sejam ou sepretendam mundiais.

A experiência recente tem demonstrado o potencial da esquerda naAmérica Latina, que de conjunto conseguiu preservar parte impor-tante de suas forças, num momento em que o socialismo declinavanoutras regiões do planeta. A resistência que Cuba oferece, depois dodesmanche do chamado bloco soviético, é um exemplo disto.

O potencial da esquerda latino-americana é confirmado, ao longodos anos 1990 e adiante, com o surgimento do Foro de São Paulo; agestação do Fórum Social Mundial; e a eleição de uma onda de presi-dentes progressistas e de esquerda, desde 1998 (Hugo Chávez) até2009 (Maurício Funes).

Olhando para trás, podemos ver que em nossa região a luta so-cial, a luta eleitoral, a ação de governo e a atuação partidária intera-giram na luta contra o neoliberalismo, de maneira muito mais in-tensa e eficaz do que em outras regiões do mundo. O PT deu impor-tante contribuição para isto, tanto prática quanto teoricamente.

Page 14: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

14

Notas sobre a política internacional do PT

Evidentemente, nada disto ocorreu de maneira linear, uniforme,sem contradições e limitações. Isto fica ainda mais claro agora, em quese trata de coordenar estrategicamente, não apenas partidos e movi-mentos sociais, mas também a ação de governos nacionais e institui-ções regionais. Para dar conta destas novas tarefas, num cenário mar-cado pela crise internacional e por uma contra-ofensiva da direita, oPT está chamado a ampliar sua incidência em pelo menos dois pro-cessos interligados: o debate estratégico e a integração continental.

A onda de governos de esquerda na América Latina e a crise inter-nacional não foram capazes de modificar a natureza do período aberto,ainda nos anos 1980, pela ofensiva neoliberal e pela crise do socialis-mo. O movimento socialista continua, em termos planetários, numperíodo de relativa "defensiva estratégica".

Um sinal disto é o contraste entre a profundidade da crise inter-nacional e capacidade que os grandes Estados capitalistas tiverampara evitar, até agora pelo menos, seu transbordamento político-social. Outro sinal é a existência de uma contra-ofensiva da direitalatino-americana, de que fazem parte as bases militares na Colôm-bia, o golpe de Estado em Honduras, a eleição de Piñera no Chile ea atitude dos militares estadounidenses frente à catástrofe no Haiti.

Neste contexto, a esquerda latino-americana busca não perdernenhum governo para a direita, acelerar o processo de integraçãoregional e ao mesmo tempo persistir no caminho das mudanças es-truturais. A questão está em como fazer isto, evitando dois erros: a)ir além da nossa capacidade de sustentar politicamente os processos;b) ficar aquém do necessário para que sigamos acumulando forças.Ao revés da famosa imagem: não tão devagar que pareça medo, nãotão rápido que pareça provocação.

Evitar estes erros exige debater a estratégia de luta pelo socialismona América Latina, ou seja, discutir como passar: a) da condição de

Page 15: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

15

Valter Pomar

governo, para a condição de poder; b) da situação atual, em queestamos melhorando a vida do povo nos marcos do capitalismo,para uma nova situação, em que possamos melhorar a vida do povonos marcos de uma transição socialista. Um debate que deve levarem conta a experiência do governo da Unidade Popular no Chile de1970-1973; assim como exige compreender o caráter estratégico daintegração continental.

Este debate já está em curso e nele aparecem todas as diferençasprogramáticas, estratégicas, táticas, organizativas, históricas e socio-lógicas existentes na esquerda latino-americana, que algumas vezesse traduzem em táticas ou estratégias distintas por parte dos gover-nos progressistas da região. O PT precisa ampliar sua participação,enquanto partido, neste debate, sempre recusando qualquer tipo deinterpretação reducionista, dicotômica e divisionista.

O reducionismo (dizer que há “duas esquerdas” na América Lati-na) ajuda politicamente a direita, porque traz implícita a seguinteconclusão: o crescimento de “uma esquerda” depende do enfraque-cimento da “outra esquerda”, numa equação perversa que conveni-entemente tira de cena os inimigos comuns.

Fosse homogênea e uniforme, ou expressa somente em duas cor-rentes, a esquerda latino-americana não apresentaria a fortaleza atu-al. A continuidade desta fortaleza dependerá, em boa medida, daarticulação entre as diferentes esquerdas. Tal cooperação não exclui aluta ideológica e política; mas esta luta precisa ocorrer nos marcos deuma máxima cooperação estratégica.

A superação do neoliberalismo e também do capitalismo exigirádiferentes estratégias de resistência, de conquista do poder e de cons-trução do socialismo. Não significa dizer que todas as estratégias sãoválidas, mas significa que o movimento socialista deve recusar a idéiade que exista uma única estratégia válida para todos os locais e tem-

Page 16: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

16

Notas sobre a política internacional do PT

pos. Mas, ao mesmo tempo, os processos nacionais terão fôlego cur-to, se não estiverem articulados numa estratégia continental.

Tanto o PT quanto o governo Lula consideram que a integraçãoregional é um objetivo central de nossa política externa. Neste senti-do, o governo tem buscado acelerar a institucionalização da integra-ção regional, reduzindo a ingerência externa, as desigualdades &assimetrias, seja para atuar internacionalmente como bloco, seja paraaproveitar melhor as potencialidades da América do Sul. Esta com-preensão de uma integração de amplo escopo constitui o pano defundo da criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (2004),cujo nome foi posteriormente alterado para Unasul (2007).

O sucesso na luta contra a ingerência externa e a constituição deum bloco fortemente ativo no cenário internacional dependem, nolimite, de uma política sustentável e continuada de redução das de-sigualdades & assimetrias regionais. O que supõe forte investimentobrasileiro, nos marcos de uma política mais ampla de “desenvolvi-mentismo regional” de tipo democrático-popular.

Para que esta política seja bem sucedida, é necessário afastar o te-mor de que esteja em marcha algum tipo de “sub-imperialismo brasi-leiro” (temor muitas vezes reforçado pela atitude arrogante e predató-ria de grandes empresas brasileiras). Além disso, o crescente protago-nismo global do Brasil deve ser combinado com a reafirmação e am-pliação de seu compromisso com a integração regional.

Devemos assumir, portanto, parte importante dos investimentosnecessários para a integração, especialmente no âmbito da infra-es-trutura. Para isto, é preciso que exista no Brasil uma maioria políticaque perceba as vantagens que o desenvolvimento da América do Sultraz para o desenvolvimento brasileiro. Sem esta maioria, teremosum prejuízo enorme para os processos de integração e uma provávelinterrupção do reformismo democrático-popular que desde 1998ganhou espaço na região.

Page 17: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

17

Valter Pomar

Trata-se de demonstrar, entre outras coisas, que nosso protago-nismo global está fortemente vinculado aos sucessos latino e sul-americano; que a integração regional é importante para o sucesso doprojeto democrático-popular em âmbito nacional; que especialmen-te no presente cenário de instabilidade mundial, os blocos regionaissão essenciais.

Além de incidir no debate estratégico e na prática da integraçãocontinental, o Partido dos Trabalhadores está chamado a ampliarsua presença em outras regiões do mundo, notadamente a Ásia, aÁfrica e os Estados Unidos. Diversas iniciativas já foram adotadasneste sentido e devem ser objeto de debate e aprovação no IV Con-gresso do Partido, chamado a atualizar o documento aprovado porunanimidade no III Congresso e que atualmente orienta a atuaçãoda secretaria de relações internacionais do PT.

*A versão inicial deste texto foi publicada na ediçãode fevereiro de 2010 da revista Teoria e Debate

Page 18: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

18

Notas sobre a política internacional do PT

Noutra oportunidade, apresentei meu informe ao Diretório Na-cional do PT sobre a reunião de Caracas. A seguir, apresento minhaopinião sobre o mérito do “Compromisso de Caracas”. Farei isto demaneira propositadamente sintética, com o objetivo de esclarecer osprincipais motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadores não assi-na o citado documento.

Início sugerindo que se compare o “Compromisso de Caracas”com o texto-base e com a Declaração aprovada recentemente peloXV Encontro do Foro de São Paulo.

No texto-base e na declaração do XV Encontro do Foro, há umaanálise da crise internacional do capitalismo, mostrando seus efeitospolíticos contraditórios. Há, também, uma análise da contra-ofen-siva política da direita latino-americana e de seus aliados nos EUA.Ambos documentos apontam medidas práticas e factíveis para am-pliar a operacionalidade do Foro de SP e suas relações com a esquer-da e setores progressistas em todo o mundo. As reflexões do Foro deSão Paulo ressaltam o papel das organizações e lideranças coletivas(partidos, movimentos sociais, governos) e abordam a situação doconjunto dos governos de esquerda e progressistas, compreendendoque todos são vítimas de ataques.

Realizado em agosto de 2009, o XV Encontro do Foro tratou dotema de Honduras e das bases na Colômbia. Meses depois, o“Compromisso de Caracas” não aprofundou a reflexão política so-bre ambos os temas, algo essencial, uma vez que as bases e a IV

Informe sobre areunião de Caracas

Page 19: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

19

Valter Pomar

Frota são aspectos militares de uma estratégia política; e sua derrotapassa pela luta política, cabendo-nos fazer de tudo (inclusive no ter-reno da retórica e da diplomacia) para derrotar a direita provocadoraque pretende desfechos bélicos.

Quanto aos acordos firmados, achamos nobre o propósito de bus-car uma “plataforma de ação conjunta entre os partidos de esquerdado mundo”. Mas consideramos que a melhor maneira de fazer isto éfortalecer e estimular o diálogo entre os espaços já existentes quereúnem partidos e organizações de esquerda e progressistas.

A experiência histórica das Internacionais, a situação atual daesquerda mundial e a experiência exitosa que construímos na Amé-rica Latina e Caribenha, demonstram que o melhor caminho paraarticular os movimentos sociais e as diferentes correntes de esquerdaexistentes no mundo, não é a criação de uma Internacional, muitomenos através de um calendário de curto prazo. Aliás, a inclusãoimprevista da proposta de criar uma V Internacional, ao invés degerar uma concentração de energia contra os adversários comuns,tende a produzir muita polêmica dispersiva e estéril.

Obviamente, temos acordo com diversas das análises e medidaspropostas no Compromisso de Caracas. Entretanto, os desacordosacima nos levaram a não assinar o documento. Seguiremos concen-trando nossas energias no Foro de São Paulo, que em agosto próxi-mo realizará seu XVI Encontro em Buenos Aires, onde comemora-remos os 20 anos de existência desta iniciativa exitosa, que tem con-seguido reunir num mesmo espaço famílias políticas e ideológicasdistintas, mas que sabem que só através da unidade na diversidadese conseguirá vencer.

A seguir, segue uma síntese da exposição que fiz durante a reu-nião de Caracas:

Page 20: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

20

Notas sobre a política internacional do PT

Bom dia, companheiros e companheiras.

Agradeço, em nome do PT e da ssecretaria executiva do Foro de São Pauloo convite feito pelo PSUV.

Vou começar minha exposição debatendo como enfrentar a contra-ofensi-va da direita.

Esta contra-ofensiva não é uma surpresa.Já no XIV Encontro do FSP percebemos que, em 2009-2010, viveríamos

um ciclo eleitoral principalmente em países governados por nós. Ou seja, adireita poderia derrotar nossos governos; enquanto o contrário seria maisdifícil.

Dois outros fatores contribuem para a contra-ofensiva: a crise econômica,que oferece possibilidades estratégicas, mas que é um risco tático, especial-mente onde somos governo; e a eleição de Obama, que permitiu aos EUArecuperar certa margem de manobra.

A contra-ofensiva da direita é política. A dimensão militar é um aspecto,mas não é o principal. E temos que fazer de tudo para que este aspecto não seconverta no principal, pois neste terreno os EUA levam vantagem.

A contra-ofensiva da direita tem pelo menos cinco componentes:1) fortalecer os três governos de centro-direita (Peru, Colômbia, México);2) atacar os “elos mais fracos da cadeia de governos progressistas” (e sobre isto

devemos falar menos de quão má e desleal e anti-democrática é a direita;e falar mais acerca dos erros que podemos estar cometendo nestes países,que abrem espaço para o ataque da direita);

3) a reciclagem de alguns de seus métodos e candidatos nas campanhas eleito-rais (aqui se destaca o oferecimento de candidaturas de novo tipo, empre-sariais, mistura de Sarkozy com Berlusconi);4) reforçar a presença militar (bases, IV Frota etc.);

5) isolar, dividir, estimular a disputa no interior da esquerda.Temos que dar uma resposta política para esta contra-ofensiva política.

Page 21: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

21

Valter Pomar

Colaborar para que as esquerdas do México, Colômbia e Peru se fortaleçame ganhem as próximas eleições; apoiar os setores populares em Honduras, Gua-temala, Paraguai etc.; não perder nenhum governo para a direita (indepen-dente das opiniões que possamos ter sobre os limites de cada um destes governos,qualquer derrota será uma vitória de nossos inimigos; aprofundar o processo demudanças, mas considerando atentamente a correlação de forças; e acelerar aintegração continental (o que, no limite, é nosso principal trunfo).

É preciso, também, dar uma resposta política ao aspecto militar. Em síntese, trata-se de isolar Uribe. Para isto, precisamos defender a paz

e evitar qualquer retórica ou gesto que permita aos nossos inimigos nos acusardo contrário (neste sentido, não simpatizo com o slogan “bases pela paz”);precisamos deixar claro que as bases militares e a IV Frota não são contra aVenezuela, não são contra Alba, são contra a América do Sul; e precisamoscompreender que, no limite, o que pode interromper a instalação das bases éuma vitória da esquerda nas próximas eleições presidenciais em Colômbia.

A contra-ofensiva da direita é uma decorrência lógica da crise internaci-onal e do declinio da hegemonia estado-unidense; eles precisam recuperar ocontrole de seu “pateo trasero”; e para isso precisam deter e reverter as mudan-ças que estão em curso no continente.

O debate sobre as “tentativas de construção do socialismo no século XXI”será pura retórica, se não detivermos a contra-ofensiva da direita.

O PT tem reflexões acumuladas sobre isto, as mais recentes estão na reso-lução do III Congresso. Para nós, socialismo envolve democracia, internacio-nalismo, propriedade pública, planejamento e desenvolvimento ambiental-mente sustentável.

Nós não utilizamos o termo “socialismo do século XXI”.Ainda estamos num período de “defensiva estratégica” da luta pelo socia-

lismo, no qual se combinam a derrota do chamado "campo socialista", adifícil situação de Cuba, o socialismo de mercado na China e a força docapitalismo. Nunca o capitalismo foi tão forte, historicamente. Sua crise atu-al é profunda, exatamente porque sua hegemonia é profunda.

Page 22: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

22

Notas sobre a política internacional do PT

Nossa luta se dá em condições novas: um déficit teórico, uma situaçãointernacional distinta e uma estratégia cujos marcos foram anunciados pelaexperiência da Unidad Popular chilena (1970-1973). Importante perceberque muitos de nós, embora estejamos operando uma estratégia deste tipo,ainda pensamos com paradigmas teóricos de outro tipo de estratégia.

Por tudo isto, acreditamos que é necessário levar a sério a idéia da unida-de na diversidade. Há uma diversidade de estratégias nacionais e uma diver-sidade de concepções. Precisamos articular isto numa estratégia continentalcomum. Porém o mínimo denominador comum desta estratégia continentalé a integração, não o socialismo.

Gostaríamos que fosse o socialismo, porém ainda não é; e não é, não porfalta de vontade, mas principalmente porque vivemos num momento de tran-sição, em que o velho já está morrendo e o novo ainda não se firmou.

Por tudo isto, o PT valoriza extremamente o Foro de SP, que tem comouma de suas características mais importantes reunir num mesmo espaço fa-mílias políticas e ideológicas que na Europa não conseguem conversar. Osque aqui destacaram o quanto a situação política na América Latina estámelhor do que a Europa, devem compreender que isto se liga a nossa capaci-dade de articular unidade com diversidade.

Devemos, portanto, combinar a necessária luta ideológica em favor dosocialismo, com uma estratégia e uma política organizativa mais amplas.

Consideramos importante, neste sentido: fortalecer os laços bilaterais; for-talecer os organismos que temos (como o Foro de SP); para nós do PT, o Forode São Paulo é prioritário; repudiamos a idéia de que existam “duas esquer-das”, há muitas esquerdas em América Latina; recusamos qualquer tipo dedisputas de protagonismos e liderança entre nós; e estamos convencidos de quenão há futuro para nosso projeto no Brasil, apartado do futuro da Américado Sul e da América Latina.

Claro que há contradições em nossa política interna e externa. Mas nossapolítica internacional demonstra de que lado estamos: lembro aqui a postura

Page 23: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

23

Valter Pomar

do Brasil frente a Cuba, Honduras, Irã, Palestina e nossa oposição à guerrados EUA contra o Iraque.

Em 2010 teremos eleições no Brasil. Haverá um confronto entre direita eesquerda, entre neoliberalismo e desenvolvimentismo.

Decidimos que não buscaríamos um terceiro mandato para Lula; decidi-mos lançar a companheira Dilma Roussef à presidência da República; acre-ditamos que nossa vitória será ainda mais importante, porque ficará claroque não se trata da vitória de uma pessoa, mas sim a vitória de um projeto, deuma aliança, de um Partido.

No governo Dilma Roussef, o Brasil assistirá à disputa entre o desenvolvi-mentismo conservador e o desenvolvimentismo democrático-popular. Acredi-tamos que este desenvolvimentismo com reformas, com mudanças profundas,nos aproxima do socialismo.

Dois comentários finais: 1) não vou polemizar sobre o tema do Haiti, maso PT não concorda que se trate de uma ocupação e estamos dispostos a reunircom os partidos haitianos para debater o tema, de preferência na presença detodos os partidos de todos os governos de esquerda e progressistas que partici-pam da Minustah, pois não é só o Brasil que está lá; 2) sem a volta de Zelaya,não reconheceremos as eleições em Honduras, mas o fundamental é que opovo hondurenho não as reconheça.

Concluo convidando todos os partidos aqui presentes para o IV Congressodo PT e para o XVI Encontro do Foro de SP; e desejando sucesso para ocongresso do PSUV.

Page 24: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

24

Notas sobre a política internacional do PT

Se ha vuelto lugar común decir que hay dos izquierdas en Améri-ca Latina: una sería “vegetariana”, la otra “carnívora”; una sería radi-cal, la otra moderada; una sería revolucionaria, la otra reformista;una sería socialista, la otra capitalista.

Definiciones dicotómicas de este tipo son hechas por los portavoces(oficiales u oficiosos) del Departamento de Estado de los EUA, conel propósito explícito de provocar discordias en la izquierda latinoa-mericana, haciéndola luchar entre sí y no contra los enemigos co-munes.

Evidentemente, no hay manera ni motivo para negar la existenciade diferencias programáticas, estratégicas, tácticas, organizativas, his-tóricas y sociológicas en la izquierda latinoamericana. Hablaremosde estas diferencias más adelante. Pero una interpretación dicotómicade las diferencias realmente existentes, además de servir a los propó-sitos políticos de la derecha, expresa una interpretación teóricaincorrecta.

El reduccionismo (decir que hay dos izquierdas en América Latina)ayuda políticamente a la derecha, porque trae implícita la siguienteconclusión: el crecimiento de una depende del debilitamiento de laotra, en una ecuación que convenientemente quita de escena a losenemigos comunes. El reduccionismo es, por otra parte, una interpre-tación teórica incorrecta, incluso por no lograr explicar el fenóme-no histórico de los últimos once años (1998-2009). A saber: elcrecimiento simultáneo de las varias izquierdas latinoamericanas.

Las diferentes estrategias delas izquierdas latinoamericanas

Page 25: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

25

Valter Pomar

Al contrario de los partidarios de la visión reduccionista, bajocualquiera de sus formas, nosotros defendemos que el fortalecimientoexperimentado, desde 1998 hasta hoy, por parte de las distintascorrientes de la izquierda latinoamericana, se debe en parte a su diver-sidad, que ha permitido expresar la diversidad sociológica, cultural,histórica y política de las clases dominadas de nuestro continente. Sifuera homogénea y uniforme, si fuera tan sólo "una o dos, las izquier-das latinoamericanas no presentarián la fortaleza actual"una o dos, lasizquierdas latinoamericanas no presentarián la fortaleza actual.

Defendemos, también, que la continuidad del fortalecimiento delas izquierdas latinoamericanas dependerá en buena medida de lacooperación entre las distintas corrientes existentes. Tal cooperaciónno excluye la lucha ideológica y política entre las múltiples izquier-das; pero esta lucha necesita darse en los marcos de una máximacooperación estratégica.

Tal cooperación será más difícil mientras más imperfecta seanuestra comprensión acerca del proceso que estamos viviendo.

La base político-material que hace posible la cooperación entre lamayoría de las distintas corrientes de la izquierda latinoamericana esla existencia de una situación estratégica común. Si esta situación vaa continuar existiendo o no, dependerá de la lucha político-socialque está en curso en este exacto momento.

Las corrientes ultra-radicales o híper-moderadas que se niegan apercibir la existencia de una situación estratégica común sonexactamente aquellas que, consciente o inconscientemente, prestanservicio a las clases dominantes locales o al imperialismo.

Trazos de la formación históricaLo que conocemos hoy como América Latina contribuyó a la

llamada “acumulación primitiva” y, desde entonces, está totalmente

Page 26: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

26

Notas sobre a política internacional do PT

integrada al capitalismo mundial. Del debate sobre el carácter de estaintegración derivan las diferentes posiciones existentes acerca de lanaturaleza del desarrollo realmente existente en cada país y en el con-junto de la región, acerca de las posibilidades de la lucha reformista yrevolucionaria, del “capitalismo democrático” y del socialismo.

La resistencia nacional a la invasión y explotación por parte de laspotencias europeas, así como la resistencia de los productores directosa la explotación practicada por las clases dominantes locales y ex-tranjeras, ha asumido variadas formas desde 1492.

El siglo XX –en un ambiente marcado por la creciente industria-lización, por el imperialismo, por las guerras mundiales, por la Re-volución Rusa, por las revoluciones y guerras anti coloniales– lasluchas populares latinoamericanas pasaron a combinar, de distintasformas, las demandas por democracia política, soberanía nacional yreforma agraria, con los objetivos anticapitalistas y socialistas.

Hasta la década de 1950, la combinación predominante enfatizabalas demandas nacional-democráticas: derrotar al imperialismo y alos latifundios, que para algunos constituían “restos feudales”, in-dustrializar la economía, democratizar el Estado y afirmar la soberaníanacional. Esta orientación nacional-democrática era compartida porla mayor parte de los socialistas, incluso por los partidos comunistassurgidos a partir de los años 1920.

Denominada en la variante marxista como “etapismo” (primero larevolución burguesa, después la revolución socialista), la orientaciónnacional-democrática fue criticada, dentro de la propia izquierda, portres motivos principales: a) por subestimar los vínculos orgánicos en-tre latifundio, imperialismo y capitalismo; b) por creer en la viabilidadde una alianza estratégica del proletariado con la “burguesía nacio-nal”; c) por concebir cómo “etapas” relativamente estancadas, lo quesería más adecuado concebir como “flujo”, como “transcrecimiento”.

Page 27: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

27

Valter Pomar

La formulación más consistente del etapismo, así como su defensafrente a las críticas, fue hecha por los partidos comunistas. Aquí no sehace necesario rememorar los detalles del debate, pero es precisoenfatizar dos cosas. Primero, tenían razón los que decían que era nece-sario relativizar los “obstáculos” al desarrollo capitalista en AméricaLatina. El “imperialismo” y el “latifundio”, la dependencia y el merca-do interno limitado, fueron metabolizados e incorporados al desarro-llo capitalista realmente existente. Por lo tanto, deducir de estos “obs-táculos” la posibilidad de una alianza revolucionaria (anti-imperialis-ta, anti-latifundista) entre la burguesía “nacional” y el proletariado,era transformar lo secundario (las contradicciones realmente existen-tes, que llevaron a fracciones de la burguesía a adoptar actitudes másradicales) en una contradicción principal. Llevando al error de extraerde esta contradicción, supuestamente principal, consecuencias (concebiral proletariado como ala izquierda de la revolución democrático-bur-guesa) sin una base material adecuada.

Segundo, tenían razón los que decían que la lucha por el socialis-mo en América Latina no podía minimizar las llamadas “tareaspendientes” de la revolución democrático-burguesa.Temas comosoberanía nacional, industrialización, democratización política, re-forma agraria y políticas públicas de bienestar social constituyen aúnhoy la materia prima de toda y cualquier lucha política implementa-da por los socialistas en América Latina. El hecho de que la burguesíano esté en condiciones de dirigir la lucha por estas reivindicacionesno las retira del horizonte político; el hecho de que el proletariadosea llamado a asumir la vanguardia de estas reivindicaciones no eli-mina su carácter democrático-burgués.

El debate teórico esbozado arriba sólo puede encontrar completasolución en el terreno de la práctica, a saber: la lucha por demandashistóricamente democrático-burguesas puede cumplir uno u otro

Page 28: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

28

Notas sobre a política internacional do PT

papel estratégico, a depender de la correlación de fuerzas en ámbitonacional, continental y mundial. Si el proletariado tiene fuerza yradicalidad suficientes, la lucha por demandas democrático-naciona-les puede sufrir un “transcrecimiento” hacia las transformaciones detipo socialista. En cambio, si el proletariado está débil y subalterno, lalucha por la “revolución democrática” no será ni democrática, ni revo-lucionaria, mucho menos acumulará fuerzas hacia el socialismo.

La discusión sobre el carácter de la revolución (socialista, democráti-ca etc.) latinoamericana fue siempre simultánea al debate sobre la vía dela revolución: violenta o pacífica, guerrilla o insurrección, etc.Nuevamente, diferentes combinaciones fueron establecidas: desde “eta-pistas” adeptos de las formas más radicales de la violencia, hasta socialis-tas imbuidos del más firme compromiso con la “transición pacífica”.

Las distintas variantes del “etapismo” y del “reformismo” fueron du-ramente cuestionadas por la victoria de la revolución cubana en 1959.Para algunos sectores de la izquierda, la discusión estratégica (sobre elcarácter y sobre la vía de la revolución) parecía resuelta en favor de undeterminado “modelo”. Siendo que la revolución cubana realmente exis-tente era una cosa, y los “modelos” que se formularon a partir de ellaeran otra. Divergencia similar se dio en el caso ruso de 1917 y en elcaso chino de 1949: los modelos simplificaban y muchas vecescontradecían enormemente la estrategia realmente implementada.

Observaciones sobre la transición socialista y estrategiaHay tanta confusión acerca de los términos “capitalismo”, “tran-

sición”, “socialismo” y “comunismo”, que se hace necesario explicarlo que se quiere decir, en este texto, con estas palabras.

Por capitalismo entendemos un modo de producción basado enla propiedad privada de los medios de producción, modo de produc-ción donde los productores directos son obligados a vender su fuerza

Page 29: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

29

Valter Pomar

de trabajo a los capitalistas, que se apropian de la “plusvalía” de losasalariados; si contraponemos al capitalismo otro modo de produc-ción, fundado en la propiedad social de los medios de producción,entonces se hace imprescindible trabajar con las categorías de “co-munismo” (aquel otro modo de producción) y de “socialismo” (elperiodo de transición entre uno y otro modo de producción).

Por razones históricas conocidas, el término “comunismo” esrechazado o simplemente dejado de lado por amplios sectores de laizquierda, incluso por algunos que se proclaman revolucionarios.Pero, desde el punto de vista teórico, el uso del término es esencial,una vez que permite distinguir entre lo que es la “transición” y loque es el “objetivo final” (o sea, la forma madura de la sociedad quese pretende construir).

Cuando hablamos de socialismo, hablamos de transición entrecapitalismo y comunismo. Por lo tanto, la transición socialista (o elsocialismo) es, por definición, una formación social que combinacapitalismo con anti-capitalismo. Lo que define si estamos frente auna formación socialista es la existencia de un movimiento orgáni-co, estructural, hacia la produción y la propriedad social (con todaslas complejas consecuencias políticas y sociales de esto). En otraspalabras, lo que define si estamos frente a una transición socialista esla existencia de un movimiento en dirección a la socialización de laproducción, de la propiedad y del poder político.

Esta definición del socialismo como “movimiento en direción a”contiene al menos dos motivos potenciales de confusión. El primerode ellos es el que considera la transición como un proceso lineal, deacumulación progresiva, tomando cualquiera reculo como señal deregreso al capitalismo, como motivo para creer que la transiciónhacia el socialismo fue interrumpida. El segundo de ellos es laconfusión entre:

Page 30: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

30

Notas sobre a política internacional do PT

a) la lucha que trabamos dentro del capitalismo, en favor del socia-lismo;

b) la construcción o transición socialista.En nuestra opinión, una variable fundamental para eliminar la

confusión, en los dos casos, es saber con quién está el poder político.O sea: en esto está la diferencia entre reculo y desbandada; entreconcesión y capitulación; entre “mejorismo” y lucha por reformas.

Por ejemplo: la diferencia entre la lucha por el socialismo y latransición socialista puede no estar en las medidas en sí, pero nece-sariamente tiene que estar presente en la política, en la correlaciónde fuerzas, en el poder del Estado. Esto se debe a que las limitacionesde la base material pueden obligar a un gobierno revolucionario aadoptar medidas pro-capitalistas. Pero estas medidas adquieren dis-tintos sentidos estratégicos, cuando son adoptadas por un gobiernoburgués o por un gobierno socialista.

Para transformar la lucha por el socialismo en efectiva transiciónsocialista, para comenzar la construcción del socialismo, es precisocontrolar el poder del Estado, o sea, tener los medios para incidir enla estructura de la sociedad, en el control de la economía, en losmedios de producción. Claro está que estos medios son determina-dos, en última instancia, por la base material preexistente: toda lavoluntad política del mundo, el más absoluto poder del Estado, noes capaz de transformar una base material pre-capitalista en materiaprima suficiente para la construcción del socialismo. En este caso, loque el poder político puede garantizar, dentro de ciertos límites, esque las políticas de desarrollo capitalista estén al servicio del proyec-to estratégico de construir el socialismo.

Mientras la clase trabajadora no tenga el poder de Estado, ellapuede incidir muy poco en las macro determinantes económicas,que producen y reproducen cotidianamente el capitalismo. Sólo con

Page 31: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

31

Valter Pomar

el poder del Estado, la clase trabajadora puede cambiar el patrón deacumulación existente en la sociedad, haciendo que el polo hegemó-nico deje de ser la propiedad privada y la acumulación de capital,pasando a ser la propiedad colectiva y la acumulación social.

La conquista del poder de Estado es un proceso complejo, cuyopunto de cristalización es el establecimiento del monopolio de laviolencia. No es que no pueda estar presente una contestación a estemonopolio, pero ella no puede ser relevante a punto de poner encuestión el propio poder del Estado. Además del monopolio de laviolencia, la conquista del poder del Estado envuelve otros elemen-tos, tales como la creación de una nueva institucionalidad política yjurídica; la capacidad de gestión de la economía y de la comunicaci-ón social; el reconocimiento de hecho y de derecho por parte deotros Estados etc. Además de eso, como ya sabemos, el poder es unarelación social, que se puede ganar y perder. Lo que ocurre en escalamicro con los gobiernos electos, también puede ocurrir en escalamacro con los Estados originarios de grandes revoluciones sociales.Las revoluciones sólo son “irreversibles” en algunos discursos, no enla historia real.

Ninguna clase social o bloque de clases llegó al poder de Estadoutilizando sólo una vía de acumulación de fuerzas o una única vía detoma del poder. La victoria de la insurrección soviética, de las guer-ras populares china y vietnamita, de la guerra de guerrillas cubana,se harían incomprensibles, si desvinculáramos las formas de luchaque fueron principales en cada caso, de las otras formas de lucha quese hicieron presentes al lado de la forma de lucha principal: luchasde masa o de vanguardia, legales o clandestinas, electorales o deacción directa.

Sin embargo, las condiciones históricas de un país o de una épocaconfieren a una determinada forma de lucha, el papel de catalizador

Page 32: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

32

Notas sobre a política internacional do PT

y de ariete principal en el enfrentamiento con las clases enemigas ysu poder de Estado. Pero esta condición de catalizador, de forma delucha principal, es un producto orgánico de una situación concreta,que no puede ser trasplantada a otra situación histórica.

Hablamos varias veces de la conquista del poder de Estado, siendonecesario recordar lo obvio: si el poder es una relación social, con-quistar el poder de Estado exige construir una correlación de fuerzassocial distinta, un bloque político-social que apunte a concretar undeterminado programa.

¿Qué programa? La respuesta a esta cuestión nos lleva de vuelta aldebate sobre el “carácter de la revolución”.

En una sociedad capitalista, la construcción de una alternativahistórica para las contradicciones existentes en esta sociedad exigedar inicio a la transición socialista. Pero esta conclusión teórica ehistórica, según la cual está en el “orden del día” superar el capitalis-mo, cuando es traducida al terreno de la estrategia política, puedeser entendida al menos de dos maneras diferentes:a) la manera izquierdista defiende construir un bloque político-so-

cial en torno a un programa directamente socialista;b) la manera “democrático-popular & socialista” defiende construir

un bloque político-social en torno a un programa que articule me-didas democráticas con medidas socialistas. En las condicionesactuales de desarrollo del capitalismo, las medidas democráticas noson socialistas, pero pueden asumir un sentido anti-capitalista.Para quien cree que socialismo y anti-capitalismo son sinónimos,

esto no pasa de un juego de palabras. Entendiemos que el socialismoes el anti-capitalismo consecuente, aquel anti-capitalismo que implicala superación del modo de producción capitalista. Pero, en la vidacotidiana, el capitalismo es confrontado de diversas formas: la luchapor mayores salarios, la reforma agraria, la lucha contra los monopo-

Page 33: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

33

Valter Pomar

lios privados, la defensa de las empresas públicas, las políticas públicasde carácter universal, la lucha contra el imperialismo etc.

Esas luchas se traban contra aspectos del capitalismo o, a lo sumo,contra la forma hegemónica del capitalismo en una dada situaciónhistórica, no apuntando en sí a la derrota del capitalismo en general,en tanto modo de producción basado en la propiedad privada y en laextracción de la plusvalía.

O sea: son luchas capitalistas contra el capitalismo. Luchas queen general apuntan a construir sociedades capitalistas más democrá-ticas, política, económica y socialmente. Sin embargo, bajo otrascondiciones, estas luchas capitalistas contra el capitalismo puedenintegrar un movimiento que conduzca a la superación del modo deproducción capitalista.

En estos casos, es como si al lado del anti-capitalismo o socialis-mo proletario, existiera un anti-capitalismo pequeño-propietario, unsocialismo pequeño-burgués.

El bloque político-social capaz de disputar y conquistar el poderde Estado debe organizarse en torno a un programa que combinemedidas (o tareas, o reivindicaciones) socialistas, con medidas anti-capitalistas que no son en sí socialistas. Para usar palabras más pre-cisas, son medidas democráticas, democrático-burguesas, defenso-ras de la pequeña propiedad contra la gran propiedad, defensoras delo público (que es diferente de lo social & colectivo) contra lo priva-do, defensoras de lo nacional contra el imperialismo.

La forma en que los izquierdistas veen la construcción del bloquepolítico-social no es capaz de tener éxito por dos razones. La primerade ellas tiene relación con el debate sobre la revolución en AméricaLatina, revolución que, como ya dijimos antes, necesariamente tendráque hacerse cargo de las tareas democráticas. La segunda razón esestrictamente política: la correlación de fuerzas que precede a la con-

Page 34: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

34

Notas sobre a política internacional do PT

quista del poder de Estado y el nivel de conciencia dominante en la clasetrabajadora y sus aliados hacen imposibles, por definición, constituir unbloque de poder sólo o principalmente en torno a la “lucha directa porel socialismo”. O sea: si existe dominación capitalista, entonces el nivelde conciencia mayoritario en el pueblo no es socialista. Este nivel deconciencia sólo puede hacerse consecuentemente socialista en el cursodel proceso, motivo por el cual el punto de partida programático delnuevo bloque político-social no tiene cómo ser explícita o consecuen-temente socialista. Claro está que el processo de lucha de clases nonecesariamente va a alcanzar la “temperatura” necesaria para producirun nivel de conciencia socialista en sectores mayoritarios del pueblo; yque se espera que los sectores socialistas actúen tanto en el sentido de“aumentar la temperatura” (estimulando el proceso de luchas en sí),como en el sentido de elevar el nivel de conciencia.

Por las razones explicadas antes, el bloque político-social capaz dedisputar y conquistar el poder de Estado necesita organizarse en tornoa las cuestiones de “futuro” (la construcción del socialismo); y princi-palmente en torno a las cuestiones del “pasado & presente” (enfrentarlos problemas derivados del capitalismo realmente existente).

Lo que significa decir que las fuerzas socialistas sólo conquistan ymantienen el poder del Estado siempre y cuando logran construirmayorías políticas en torno a programas de acción para las cuestionesinmediatas (en circunstancias históricas en que las “cuestionesinmediatas” dicen respecto a temas estructurales). El ejemplo clásicode esto sigue siendo la consigna “pan, paz y tierra”.

La revolución cubana de 1959, la revolución rusa de 1917 y larevolución china de 1949, resultaron exactamente de la continuaradicalización democrática, popular y nacional. Fueron “revolucio-nes socialistas” no a priori sino debido al curso que tomaron, alproceso global en el que estaban insertas.

Page 35: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

35

Valter Pomar

En este sentido, sólo tiene sentido hablar de “lucha directa por elsocialismo” si la comprendemos de la siguiente forma: la conquistadel poder de Estado apuntando a ejecutar medidas programáticasdemocrático-populares puede venir a ser parte integrante de la tran-sición socialista, sin que haya necesariamente fases intermedias es-tancadas. La palabra “necesariamente” es fundamental en este análisis:el etapismo es un error porque supone la necesidad de fases intermediasestancadas; pero esto no quiere decir que estas fases intermedias novengan a existir, ni que no puedan parecer “estancadas”, como ocurrióen la Nueva Política Economica (NEP) y ocurre ahora en el “socia-lismo de mercado” chino, que a los ojos de muchos parece ser unperiodo prolongado de abandono de la construcción del socialismo.

La expresión “puede venir a ser” también es fundamental, puesindica que estamos frente a un problema político, que depende de lacorrelación de fuerzas, del nivel de conciencia de las masas, de ladirección general del proceso. Problema político, que puede producirsoluciones que dependerán, en último análisis, del nivel de desarro-llo material y del potencial productivo alcanzado previamente por lasociedad.

Por estos motivos, es necesario combatir dos tipos de izquierdismo:a) por un lado, aquel izquierdismo que se manifiesta en la defensa

de un socialismo abstracto, desvinculado de las luchas anticapita-listas parciales;

b) por otro lado, aquel izquierdismo que confunde medidas anti-capitalistas de sentido estricto, con medidas “socialistas” en el sen-tido amplio.Este segundo tipo de izquierdismo, muy presente en la actual

coyuntura latinoamericana, confunde la radicalización retórica y po-lítica de los procesos, causada en gran medida por la intransigenciade las clases dominantes, con su radicalización económico-social,

Page 36: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

36

Notas sobre a política internacional do PT

olvidando que la superación del capitalismo exige que haya desarro-llo capitalista a ser superado.

A lo que dijimos hasta ahora, debe añadirse otra variable: la líneaneo-etapista de la izquierda moderada latinoamericana, que rompiólos vínculos entre las tareas democráticas y la lucha por el socialis-mo. En algunos casos, por ser una izquierda que abandonó el socia-lismo. En otros casos, por ser una izquierda que, en vez de enfrentary superar, prefiere capitular a la correlación de fuerzas. O aún por seruna izquierda que, incluso cuando mantiene un compromiso genu-inamente socialista, lo hace a partir de una “estrategia proceso” (cuyatraducción musical está en el verso de una canción muy popular enBrasil, que dice así: “Deixa a vida me levar...”).

Así, podemos decir que hay por lo menos tres grandes diseños pro-gramáticos: el izquierdista, el neo-etapista y el democrático-popular.Los izquierdistas no perciben adecuadamente las diferencias; los neo-etapistas ven una muralla de China; y los democrático-populares buscanvincular orgánicamente la lucha contra el neoliberalismo y la luchapor el socialismo. Estas diferencias se cruzan, de distintas formas, cu-ando pasamos de la discusión programática a la discusión sobre la víade acumulación de fuerzas y sobre la vía de toma del poder.

Guerra de guerrillas y vía electoralLa década de 1960 asistió a una radicalización de la lucha de

clases en toda América Latina, reflejando la madurez de las contra-dicciones propias del modelo de desarrollo capitalista predominanteen la región: dependiente y conservador. Esto, en los marcos delrecrudecimiento de la injerencia de los EE.UU. en la región y delconflicto entre “campos”.

En aquel momento, parte de la izquierda latinoamericana, esti-mulada por la experiencia cubana y convocada por la consigna de

Page 37: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

37

Valter Pomar

crear “muchos Vietnam”, adoptó la estrategia de la “guerra de guer-rillas”, la mayoría de las veces bajo la versión “foquista”.

En algunos países, la guerra de guerrillas tenía raíces orgánicas enla situación nacional. En la mayoría de los casos, sin embargo, no latenía o esta organicidad no fue suficiente para que prosperara. Conla excepción de Nicaragua y de la propia Cuba, en ningún otro lugarde América Latina la guerra de guerrillas desembocó en una victoriarevolucionaria. En algunos casos, como El Salvador y Guatemala, laguerrilla adquirió fuerza suficiente para conseguir acuerdos de pazque delimitaran el fin del conflicto armado; pero en la mayoría delos casos, la guerrilla fue completamente destruida. Hoy, en AméricaLatina, Colombia es el único país donde hay grupos expresivos quedefienden la actualidad táctica de la estrategia guerrillera.

Con el fin del ciclo guerrillero, a finales de los años 1970 e iniciode los años 1980, comenzó a tomar cuerpo otra estrategia, basada enla combinación entre lucha social, disputa de elecciones y ejerciciosde gobiernos en ámbito nacional, sub nacional y local. Esta estrate-gia fue coronada, desde 1998 (Chávez) hasta 2009 (Funes), por unaola de victorias de partidos de izquierda y progresistas, en las elecci-ones para los gobiernos nacionales de varios países de América Lati-na. Esta ola de victorias electorales es producto de diversas circuns-tancias, destacando las siguientes:a) la desatención relativa de Estados Unidos para con su patio trasero;b) los efectos dañinos del neoliberalismo, inclusive sobre los parti-

dos derechistas;c) la acumulación de fuerzas por parte de la izquierda, especialmente

en la combinación entre lucha social y lucha electoral.Actualmente existe una nueva correlación de fuerzas en la región,

que además de impulsar cambios dentro de cada país, limita la inje-rencia imperialista. Esta situación regional convive con otras dos

Page 38: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

38

Notas sobre a política internacional do PT

variables, éstas de carácter mundial: la defensiva estratégica de lalucha por el socialismo y la larga y profunda crisis del capitalismo.

Esta es la base material que hace posible la cooperación entre lasdistintas corrientes de la izquierda latinoamericana: la existencia deuna situación histórica en la cual se cruzan la presencia de la izquierdaen múltiples gobiernos de la región, la defensiva estratégica de la luchapor el socialismo y una larga y profunda crisis del capitalismo.

Estas son las variables fundamentales de la situación estratégicacomún a toda América Latina, que hacen posibles y a la vez exigenun alto nivel de cooperación entre los diferentes sectores de la izqui-erda latino-americana. Sin lo cual no se conseguirá superar la defen-siva estratégica, ni se conseguirá evitar los riesgos derivados de lacrisis del capitalismo.

Desde el punto de vista de una izquierda socialista, las cuestionescentrales a tener en cuenta son: ¿Cómo utilizar la existencia de gobi-ernos de izquierda y progresistas como punto de apoyo en la luchapor el socialismo? ¿Cómo coordinar los diferentes procesos en curso,en cada país, de modo que ellos refuercen los unos a los otros?

Integración y estrategiaAl largo del siglo XX, la izquierda latinoamericana y caribeña

enfrentó dos grandes obstáculos: la fuerza de los adversarios en elplan nacional y la injerencia externa. Esta última siempre estuvopresente, especialmente en aquellos momentos en que la izquierdaintentaba o llegaba efectivamente, ya sea al gobierno central, ya seaal poder. Cuando las clases dominantes locales no podian contenerla izquierda, apelaban a los marines.

Actualmente, el ambiente progresista y de izquierda colabora enlas elecciones y reelecciones, ayuda a evitar golpes (contra Chávez yEvo Morales, por ejemplo) y fue fundamental en la condena de la

Page 39: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

39

Valter Pomar

invasión a Ecuador por tropas de Colombia. Además de inviabilizaro por lo menos minimizar políticas de bloqueo económico, quejugaron un papel importante en la estrategia de la derecha contra elgobierno Allende y continúan afectando a Cuba.

La existencia de una correlación de fuerzas favorable en la regióncrea mejores condiciones para que cada proceso nacional siga supropio curso. Aunque no resuelva de per se la situación (como sepude ver en el caso de Honduras), la actual correlación de fuerzasregional crea posibilidades inmensas y en cierto sentido inéditas,para todos los programas y estrategias de izquierda. En este sentido,la primera tarea de la izquierda latinoamericana es preservar estacorrelación de fuerzas continental.

Ocurre que, cuando fuerzas de izquierda consiguen llegar al gobi-erno central de un determinado país, lo hacen con un programabasado en un trípode: igualdad social, democratización política ysoberanía nacional.

Y la defensa de la soberanía nacional no se hace sólo contra las“metrópolis imperialistas”, envuelve también administrar los con-flictos entre países de la región.

Estos conflictos no fueron “inventados” por los actuales gobiernos,siendo generalmente herencia de periodos anteriores, incluso del de-sarrollo dependiente y desigual ocurrido en la región. En la mayoríade los casos, no podrán ser superados en el corto plazo: por poseercausas estructurales, sólo podrán tener solución en el largo plazo, enlos marcos de un adecuado proceso de integración regional.

La exacerbación de estos conflictos regionales tendría, como sub-producto, disimular las contradicciones mucho más relevantes conlas metrópolis imperialistas.

Por lo tanto, desde el punto de vista estratégico, debemos impedirque estos conflictos se conviertan en contradicción principal pues, si

Page 40: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

40

Notas sobre a política internacional do PT

esto sucede, la correlación de fuerzas latinoamericana se alterará enfavor de la injerencia externa.

Es sabido que los gobiernos progresistas y de izquierda de la re-gión siguen el camino del desarrollo y de la integración, adoptandodiferentes estrategias y con diferentes velocidades. Y ya se ha dichoque la posibilidad mayor o menor de éxito, en el ámbito nacional,está vinculada a la existencia de una correlación latinoamericanafavorable a la posiciones de la izquierda y progresistas.

Por lo tanto, nuestro obstáculo estratégico puede ser resumidoasí: ¿cómo compatibilizar las múltiples estrategias nacionales, con laconstrucción de una estrategia continental común, que preserve launidad con diversidad?

La solución estructural de los conflictos regionales supone unareducción de la desigualdad, no sólo dentro de cada país, sino tam-bién entre las economías de nuestro subcontinente. La instituciona-lidad de la integración, tanto multilateral como las relaciones bilate-rales, tiene que estar sintonizada con este propósito.

La reducción de la desigualdad en cada país supone enfrentar laherencia “maldita” y realizar reformas sociales profundas. Pero estono es suficiente para eliminar las disparidades existentes entre laseconomías, objetivo que exige combinar, en el largo plazo, medidasde solidaridad, intercambio directo y también medidas de mercado.

Hoy coexisten cuatro “modelos” de convivencia:a) el de la subordinación a los EE.UU., expresado en el finado Acu-

erdo de Libre Comercio de las Américas y en los tratados bilatera-les de “Libre Comercio”;

b) los acuerdos subregionales, como el Mercosur (Brasil, Argentina,Uruguay y Paraguay) y el Pacto Andino (Bolivia, Colombia, Ecu-ador y Perú);

c) el Alba, Alternativa Bolivariana para las Américas (integrada porVenezuela, Cuba, Bolivia, Nicaragua, entre otros);

Page 41: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

41

Valter Pomar

d) la Unasur, Unión de Naciones Sudamericanas (integrada por Brasil,Argentina, Uruguay, Paraguay, Bolivia, Colombia, Ecuador, Perú,Chile, Guyana, Suriname y Venezuela).Los gobiernos de izquierda y progresistas obstaculizaran la cons-

titución de un Área de Libre Comercio de las Américas. La experienciadel NAFTA (North America Free Trade Area, entre Canadá, EEUUy México) y sus efectos sobre México, entre los cuales la catastróficaexpansión del crimen organizado, confirman la corrección de la po-lítica da izquierda.

Los acuerdos subregionales, entre los cuales el Mercosur, tienenya una larga historia. Durante la década neoliberal, todos estos acu-erdos y sus instituciones fueron adaptados a los paradigmas vigen-tes, o sea, fueron vistos como pasos intermedios para la futura adhe-sión al Área de Libre Comercio de las Américas.

El fin de la ALCA y la predominancia de un espíritu de conver-gencia de políticas de desarrollo, y de amplia integración cultural ypolítica, puso en la orden del dia la necesidad de crear un espaciomás amplio de integración que fuera distinto:a) a la Organización de los Estados Americanos, o a las cumbres

americanas, euro e iberoamericanas, que cuentan con la presenciade las potencias;

b) al Grupo de Rio, que posee una dimensión latinoamericana ycaribeña.Independientemente de lo que podamos pensar acerca de su soste-

nibilidad interna, de la naturaleza de los acuerdos firmados, de la ma-terialización efectiva y de los efectos en los países receptores, el espíritude solidaridad presente en el Alba es extremadamente meritorio.

Sin embargo, no existe correlación de fuerzas, ni mecanismos ins-titucionales o situación económica que permitan al conjunto de lospaíses de la región adoptar los principios solidarios del Alba y/u

Page 42: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

42

Notas sobre a política internacional do PT

operar de manera similar al gobierno venezolano. En esencia, por-que no es sostenible que países capitalistas mantengan una políticaexterna socialista.

Por ello, aunque toda política progresista y de izquierda deba ne-cesariamente contener un componente de solidaridad e identidadideológica, la dimensión principal de la integración, en la actualetapa de la historia latinoamericana, es la de los acuerdos institucio-nales entre los Estados, acuerdos que no deben limitarse a los aspec-tos comerciales (“fenicios”, para usar una expresión del senadoruruguayo Pepe Mujica).

Esta comprensión de una integración de amplio alcance consti-tuye el paño de fondo de la creación de la Comunidad Sudamericanade Naciones (2004), cuyo nombre se cambió posteriormente a Unasur(2007). El éxito de la Unasur (ahí comprendiendo el Banco del Sury el Consejo de Defensa) supone:a) la cooperación entre gobiernos que son adversarios políticos e

ideológicos, lo que en el presente momento significa evitar rom-pimientos con Colombia y Perú;

b) el compromiso efectivo de las principales economías de la región,uno de los motivos por los cuales es fundamental que el Senadobrasileño apruebe la entrada de Venezuela en el Mercosur;

c) hacer prevalecer el interés de Estado, por sobre la dinámica de lasgrandes empresas privadas brasileñas, que desarrollan una políti-ca internacional propia, que puede poner en riesgo los objetivosestratégicos del desarrollo con integración;

d) la institucionalización cada vez mayor del proceso, incluso con laconstitución de organismos electos directamente por el voto po-pular.Conclusión: en los marcos de una ecuación estratégica común (la de

“ser gobierno como parte de la lucha para ser poder”), debemos operar

Page 43: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

43

Valter Pomar

políticas nacionales distintas, pero combinadas en una estratégica conti-nental común, cuyo ritmo será dado por el sentido y por la velocidad delas transformaciones en los mayores países, a comenzar por Brasil. Aunqueeso haga más lenta la marcha, es mejor mantener la “vanguardia” bienpróxima del “cuerpo principal” de la tropa. Lo que nos lleva a discutircómo utilizar la existencia de gobiernos de izquierda y progresistascomo punto de apoyo en la lucha por el socialismo.

Gobiernos electos y lucha por el socialismoSi excluimos los híper-moderados y los ultra-izquierdistas, pode-

mos decir que hay dos posiciones básicas entre los socialistas latino-americanos, frente a los gobiernos progresistas y de izquierda exis-tentes en la región:a) están lo que ven tales gobiernos sólo como parte del proceso de

acumulación de fuerzas;b) están los que consideran que estos gobiernos constituyen parte

fundamental de la acumulación de fuerzas y también de la vía detoma del poder.Ambas posiciones se basan, en primer lugar, en la observancia de

los vínculos existentes entre reforma y revolución. En la historia dela humanidad, hay periodos de evolución “reformista” y periodos deevolución “revolucionaria”. La diferencia entre unos y otros resideen tres aspectos combinados: la naturaleza de los cambios, la formacon que son impuestos los cambios y la velocidad con que ocurren.Pero la diferencia fundamental es la naturaleza de los cambios. Los“cercamientos”, la difusión de las máquinas y la ofensiva imperialis-ta sobre China, para citar ejemplos de los siglos 18 y 19 y 20, respec-tivamente, fueron revolucionarios en la medida en que alteraron lasrelaciones sociales de producción. Fue esto, y no la velocidad ni laforma violenta, lo que definió el carácter revolucionario de los pro-cesos citados.

Page 44: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

44

Notas sobre a política internacional do PT

Los procesos revolucionarios no surgen de la nada, de un mo-mento a otro, por generación espontánea. Las revoluciones consti-tuyen un momento de la evolución de las contradicciones de unasociedad, el momento en que estas contradicciones alcanzan un puntode ruptura, de transformación hacia algo distinto. Dicho de otraforma, las revoluciones ocurren cuando una sociedad no puede másevolucionar solamente de manera “reformista”. Hay, por lo tanto,continuidad, pero también ruptura, entre los momentos “reformis-tas” y los momentos “revolucionarios” de evolución de una socie-dad. La revolución no existiría sin las reformas; pero la revoluciónexiste exactamente porque las reformas no son ya suficientes.

A todo esto se debe añadir que un componente decisivo en latransformación de las reformas en revolución reside en la combina-ción entre la disposición de lucha de las clases dominadas y deresistencia de las clases dominantes. Cuando los de abajo luchanintensamente por cambios y los de arriba ofrecen brutal resistencia,están siendo creadas las condiciones para transformar la lucha porreformas en revolución.

Pasando del ángulo histórico al estratégico, es obvio que los pro-cesos electorales no son suficientes para iniciar la construcción delsocialismo, una vez que ellos nos permiten llegar al gobierno, no alpoder. Por este motivo, en las sociedades donde la izquierda consiguióllegar al gobierno por la vía electoral, es preciso construir un caminohacia el poder que considere el hecho de estar en el gobierno comovariable muy relevante de una política revolucionaria, como partede las circunstancias históricas, no como un “problema imprevisto”o un “desvío indeseable”.

Curiosamente, la mayor parte de la izquierda no ve dificultad enarticular teóricamente el momento reformista y el momento revolu-cionario de la estrategia, cuando lo que está en cuestión es la lucha

Page 45: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

45

Valter Pomar

sindical o la elección de parlamentarios. Pero enfrenta una enormedificultad, cuando lo que está en cuestión es la relación entre elejercicio de un gobierno nacional y la lucha por el poder.

Uno de los motivos para esta dificultad es que, en la mayor partede los casos en que asumió electoralmente gobiernos nacionales, laizquierda no logró acumular fuerzas en dirección al socialismo: oabandonó su programa, o fue derrotada electoralmente, o fue derri-bada por golpes y/o intervenciones extranjeras. Si las revolucionessocialistas son eventos raros, mucho más raras parecen ser las transi-ciones socialistas a partir de gobiernos electos.

No obstante, la derrota de experiencias como la de la UnidadPopular, así como la derrota de incontables tentativas revolucionari-as “clásicas”, no permite concluir la inviabilidad de un determinadocamino estratégico; permite apenas concluir que, actuando bajo de-terminadas condiciones históricas y actuando en ellas con determi-nadas opciones, la izquierda fue derrotada. Para los que piensan quevictorias electorales de la izquierda constituyen siempre la antesalade la derrota, se hace necesario responder a dos cuestiones:a) ¿cómo acumular fuerzas, en una coyuntura histórica en la que

predomina la “democracia electoral”?b) ¿cómo conferir legitimidad a las vías clásicas de toma del poder,

en un momento en que la izquierda está consiguiendo victoriaselectorales?Ya para los que piensan que, en determinadas condiciones histó-

ricas, adoptando determinadas políticas, es posible transformarvictorias electorales en gobiernos que acumulen fuerzas en direcciónal socialismo, es preciso responder sí:a) ¿tales gobiernos constituyen una especie de “parada” en una ruta

que llevará a un enfrentamiento revolucionario?b) ¿tales gobiernos constituyen parte integrante de una vía de toma

Page 46: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

46

Notas sobre a política internacional do PT

del poder diferente de la insurrección y de la guerra popular?Los que defienden esta segunda posición están llamados a estudiar

otra de las experiencias paradigmáticas de la izquierda latinoameri-cana: el gobierno de la Unidad Popular chilena (1970-1973).

La izquierda híper-moderada considera tener poco que aprendercon la experiencia de la Unidad Popular (UP), una vez que ésta seproponía explícitamente como una vía para el socialismo.

Como mucho, usan la experiencia de la UP para instilar un te-mor reverencial en relación a la derecha, al imperialismo y a las fuer-zas armadas, así como para “comprobar” que no se debe “forzar” lacorrelación de fuerzas.

La izquierda ultra-radical tampoco le da mucha importancia a laUP, que no se encaja en sus paradigmas preferidos: la insurrección,la guerra de guerrillas o, más recientemente, el “movimientismo”.

Como mucho, usan la experiencia de la UP para confirmar sustemores en relación a la derecha, al imperialismo y a las fuerzas ar-madas, así como para “comprobar” que es infructífero intentar unavía electoral al socialismo.

A rigor, híper-moderados y ultra-izquierdistas dudan de la posi-bilidad de utilizar los procesos electorales (y los mandatos de allíresultantes) como punto de apoyo para la lucha por el socialismo.

Cuando discutimos hoy el papel de los gobiernos nacionales electosen la lucha por el socialismo, lo hacemos en una situación históricadistinta de aquella existente en 1970-1973. Pero las cuestiones fun-damentales a estudiar y debatir no se han alterado:a) la composición y el programa de un bloque histórico popular;b) la combinación entre la presencia en el aparato del Estado y la

construcción de un contrapoder, especialmente en el caso de lasfuerzas armadas;

c) como lidiar con la actitud de las clases dominantes, que frente a

Page 47: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

47

Valter Pomar

amenazas a su propiedad y a su poder, quiebran la legalidad yempujan el proceso hacia situaciones de ruptura;

d) la mayor o menor madurez del capitalismo existente en cada for-mación social concreta y la resultante posibilidad de tomar medi-das socialistas.La gran novedad, que incide sobre los términos de la ecuación

arriba resumidos, es la constitución, entre 1998 y 2008, de unacorrelación de fuerzas en América Latina que permite limitar la inje-rencia externa. Mientras exista esta situación, será posible especularteórica y prácticamente acerca de una vía de toma del poder que,aunque también revolucionaria, sea diferente de la insurrección y dela guerra popular.

Este texto es una versión revisada de un artículo publicado en laantología América Latina: Reforma o Revolución,

publicado por Ocean Sul

Page 48: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

48

Notas sobre a política internacional do PT

Yo tengo 43 años, nací el año 1966 y soy militante político por lomenos del año 1978, comencé a hacer política en la secundaria. Militéen el partido comunista, después me ligue al Partido dos Trabalha-dores. Desde 1997 hago parte de la directiva nacional del PT. Desdenoviembre 2005 hasta febrero de 2010 fue secretario de RelacionesInternacionales del Partido de los Trabajadores de Brasil, hoy soy dela directiva nacional y encargado pela secretaria ejecutiva del foro deSan Pablo, que congrega distintos partidos de izquierda latinoameri-canos. Profesionalmente yo soy gráfico y doctor en historia, aunqueno tenga experiencia profesional como maestro.

Soy dirigente del PT, pero todo lo que voy a hablar es mi opiniónpersonal que puede coincidir y en general coincide con la opiniónmediana del partido.

*Nosotros tenemos una historia en el siglo XX de luchas sociales,

políticas y militares, asi como de construcción de grandes partidos yexperimentos socialistas.

Hay una serie de acciones del movimiento socialista y sus distin-tos matices del siglo XX que conforman nuestro patrimonio colectivo,un patrimonio colectivo de la izquierda mundial, aunque nadie sereconozca en todo el patrimonio, el patrimonio existe y es unpatrimonio colectivo, con sus aciertos y también con sus errores. Lomismo no pasa aún en el siglo XXI.

*No existe el socialismo del siglo XX así como no existe el socialis-

Palestra para jovenes en Chile

Page 49: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

49

Valter Pomar

mo del siglo XXI, así como no existe la izquierda en singular. Nuestromovimiento es plural por definición, desde el principio hasta hoy yseguirá siéndolo, la pluralidad histórica, geográfica, sociológica, po-lítica, ideológica es un componente genético de la izquierda y delmovimiento socialista en particular, por tanto, lo cierto es hablar de“socialismos del siglo XX”, “socialismos del siglo XXI” y no se tratasolamente de un juego de palabras, porque lo que está en gestión esque aunque no se puede decir que todas las líneas sean correctas, sepuede decir que ninguna estrategia, ninguna concepción puedepresentarse como un modelo universal la cual sirva para las demás.

*Mi punto de partida, por lo tanto, es que nosotros tenemos que

reconocer primero el carácter inicial, el carácter aun muy sencillo dela izquierda en este principio del siglo XXI, su pluralidad y uninmenso déficit teórico.

Lo que predomina en estos días, más que la pluralidad, es unaconfusión tremenda y un déficit teórico tremendo.

Hay tres grandes temas –el análisis del capitalismo contemporáneo,el análisis de las experiencias socialistas en sus distintas variantes delsiglo XX y el debate sobre la estrategia de la izquierda– sobre las cualesestamos muy lejanos de tener paradigmas comunes, no respuestascomunes pero paradigmas comunes.

*El presidente Rafael Correa dice en su discurso de toma de posesión

que nosotros no vivimos una época de cambios, sino que vivimos uncambio de épocas y muchos de la izquierda hallaron la frese buenísimay pasaron a repetirla, pero yo pienso que hay mucho de optimismo enesta idea y en esta imagen, porque de verdad nosotros estamos inmersosen una crisis tremenda que constituye si una oportunidad para nosotroscambiarmos de época, pero también consiste en una oportunidad paralas fuerzas de derecha aprofundizaren su dominación.

Page 50: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

50

Notas sobre a política internacional do PT

Nosotros tenemos la mirada en America Latina, pero en Europaestamos viendo la derecha aprovechando la crisis para avanzar.

Entonces tenemos que tener claro que más que hablar que yaestamos en una situación de cambio de época, sería más precisohablar que estamos si en una época mundial de crisis y transiciones.En cuatro terrenos:1) Hay una crisis del patrón de acumulación capitalista, pero no esta

claro que patrón de acumulación lo sustituirá.2) Estamos en un momento de crisis de la hegemonía estadouniden-

se, pero tampoco esta claro que tipo de hegemonía será colocadaen su lugar.

3) Estamos en un momento de crisis del patrón de desarrollo con-servador y neoliberal en America Latina, pero no esta claro toda-vía que tipo, que modelo será construido en lugar de este modeloconservador y neoliberal.

4) Estamos en un momento de crisis del pensamiento neoliberal perono está claro que tipo de paradigma será colocada en su lugar.Entonces vivimos una situación de crisis de los patrones que son

hegemónicos, pero sin tener claro sobre qué tipos de patrones seempecerá a hegemonizar el mundo.

La crisis del patrón de acumulación capitalista es clave y envuelvepor lo menos también cuatro dimensiones:1) una crisis clásica de acumulación. Por eso los empresarios y teóri-

cos del capitalismo están haciendo recomendaciones firmes y con-victas de que se deba leer a Marx;

2) una crisis del carácter financiero que el sistema capitalista asumióen este último período.

3) una crisis de un patrón específico vinculado al consumo estadou-nidense.

4) una crisis de la institucionalidad creada después de la segundaguerra mundial.

Page 51: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

51

Valter Pomar

Son cuatro cosas combinadas que conforman esta crisis del patrónde acumulación capitalista, lo que genera la principal característicade este período que estamos viviendo, que es la inestabilidad, unaprofunda inestabilidad en todos los terrenos.

La inestabilidad tiene una dimensión más visible y otra menosvisible, la dimensión más visible de la inestabilidad tiene que vercon esta crisis que yo mencioné, la crisis del patrón de acumulacióncapitalista y la crisis de la hegemonía estadounidense.

Tenemos una situación en que el modelo estadounidense está encrisis y nadie tiene fuerza suficiente para conservar el modelo o paradefinir el modelo sustituto y esto crea inestabilidad.

Pero hay otro elemento de inestabilidad que se vincula a la contra-dicción cada vez más profunda entre lo que se denominó como globa-lización –los problemas son cada vez más globales– y de otra parte elcarácter limitado de la institucionalidad política internacional.

O sea, tenemos problemas cada vez más mundiales, pero la insti-tucionalidad no está a la altura de esos problemas y esto crea inesta-bilidad también.

Vivimos una situación en que “el viejo esta muriendo y el nuevoaún no nace” y es por esto que nosotros tenemos una dificultadtremenda para construir alternativas y es por esto también que hoyabundan las soluciones parciales, las soluciones transitorias y las so-luciones imperfectas para todos los problemas.

Cito una, la moneda internacional: todos saben que no se saldráde esta situación en que estamos si la moneda internacional siguesiendo el dólar, pero nadie tiene fuerza para hacer este cambio, loque hace que se genere una inestabilidad tremenda. En otros perío-dos de la historia eso se resolvió de la manera más cruel, la guerra.

¿Cuáles son los desenlaces para esta situación?, de manera muysencilla, didáctica y esquemática nosotros podemos decir tenemosante nosotros tres desenlaces en hipótesis:

Page 52: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

52

Notas sobre a política internacional do PT

1) Un desenlace conservador. Si los que dominaron ayer logran tomarcontrol de la situación y siguen dominando mañana, o de maneramás simplificada, si los Estados Unidos salen de este proceso decrisis internacional manteniendo su hegemonía sobre el mundo.

2) Otro es el desenlace “progresista”. Significa que los países capita-listas que no hacen parte hoy del comando central del mundologran poner un nuevo modelo internacional que aún siendo ca-pitalista no será hegemonizado por el eje atual.

3) Se puede tener un desenlace de tipo socialista, como ya pasó enotros momentos de crisis profunda, por ejemplo en principios delsiglo XX.Los tres desenlaces van a depender de la lucha que se da hoy

dentro de cada país y de la lucha que se da entre los Estados en elterreno internacional.

En mi opinión lo más probable hoy aun es un desenlace conser-vador, por variados motivos, entre los cuales: a pesar de la crisis, elpoderío de los Estados Unidos y de sus socios es tremendo.

Por eso no comparto la idea de que el neoliberalismo está muerto,que es todo pasado, que estamos en otro período histórico.

Aún no, puede pasar, pero aún no es verdad.De otra parte, el fortalecimiento de la izquierda dentro de cada

país, y el fortalecimiento de la integración regional de los países queno hacen parte del club que dominaba el mundo antes, es funda-mental, para que se pueda hablar de un desenlace progresista o deun desenlace socialista.

O sea, los que quieren que de esta crisis emerja un mundo pro-gresista o socialista, tienen que tener claro que esto depende de cuántonosotros acumulemos de fuerza en cada país, y de cuánto nosotrosacumulemos en términos de integración entre los países, entre losestados, entre los pueblos, que no hacen parte del condominio quegobernaba el mundo.

Page 53: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

53

Valter Pomar

*Que el mundo futuro sea distinto, dependerá de la situación en la

izquierda. La izquierda en todos sus matices, todas, las demócratas,las nacionalistas, los desarrollistas, los socialistas, los comunistas, ytodas las que uds. puedan nombrar, todos sus matices sufrieron unaderrota tremenda a fines del siglo XX, tremenda. Y simultánea, por-que se habló mucho la caída del muro de Berlín, pero al mismotiempo el Welfare Sate, el nacionalismo revolucionario, el desarro-llismo progresista, todos se sometieron a una ofensiva brutal de laderecha y del capital en todo el mundo. Entonces nosotros venimosde una derrota brutal.

La izquierda en escala mundial está hoy en un momento de de-fensiva estratégica.

De 2001 para acá, qué está pasando de nuevo en este escenario dedefensiva estratégica?

La primera, es la asunción del fundamentalismo islámico comoun oponente del american way of life.

Pero al contrario de la izquierda, del socialismo, del comunismodel siglo XX, que constituye una alternativa hegemónica o una al-ternativa contra-hegemónica global al capitalismo, el fundamenta-lismo no es una alternativa global.

No estoy diciendo que no es una alternativa porque a mí no megusta, estoy hablando de que no ofrecen, no tiene capacidad de ofreceruna alternativa de conjunto a la sociedad capitalista moderna, hege-monizada por los Estados Unidos.

Y por tanto, es un enemigo ideal, porque no hay como derrotarlo,pero al mismo tiempo es un enemigo que no constituye una amenazaglobal al sistema.

La segunda novedad, de este último período de defensiva estraté-gica, es la transferencia del polo dinámico de la economía mundialpara Asia, en particular el rol que China está jugando.

Page 54: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

54

Notas sobre a política internacional do PT

Sobre esto, lo importante es verificar si China hoy es una alterna-tiva global al modelo capitalista anglosajón ¿o no? Hay una pelea depolarización y una disputa de hegemonía creciente, entre EstadosUnidos y China, es verdad. Pero la cuestión no es esa, la cuestión essaber si lo que existe hoy en China, lo que China representa, si es ono una alternativa estratégica al capitalismo hegemónico hoy.

La tercera novedad es el surgimiento de una ola de gobiernosprogresistas y de izquierda en América Latina.

¿Cuál es la situación específica de América Latina? Miren, demanera muy simplificada, hasta el 98, la hegemonía en nuestro con-tinente era clara, neoliberal.

Del 98 hasta el 2008 hubo un cambio impresionante. Se puedehablar en el 2008, en la constitución de la hegemonía de nuevo tipo¿cuál exactamente? No se sabe, pero que no era más neoliberal, noera más. Esto se sabe, se sabe lo que no era más. Entonces, en unadécada, en 10 años, del 98, cuando se elige a Chávez, hasta el 2009cuando se elige Funes, en este período tuvimos un cambio en la cor-relación de fuerzas en América Latina.

Este cambio es claro en la política porque hubo un derrocamientode los partidos que aplicaban las políticas neoliberales y hubo unascenso de los partidos que hacían oposición a las políticas neolibe-rales. Pero este cambio no es claro así en el terreno de la economía.

En el terreno de la economía todos los países, todos, los paíseslatinoamericanos aun siguen hoy en los marcos de la economía he-gemónica, del modelo que fue derrotado en las urnas.

Brasil sigue, Venezuela sigue, Bolivia sigue. En esto tenemos que ha-blar claro porque existe una confusión tremenda, en que las personaspiensan que tú eliges el presidente y cambias el modelo. No es verdad esto.

Aún en Brasil, cerca del 40% del presupuesto está comprometidacon deudas que fueron acumuladas en el período neoliberal. Aúnahora Venezuela depende, para su presupuesto, de la venta de petró-

Page 55: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

55

Valter Pomar

leo a los gringos. Aún hoy, Bolivia depende, para hacer las políticassociales, de un modelo primario exportador.

Entonces, si tu miras señales económicos, podemos decir que, hay cambios,pero aún dentro de una situación de hegemonía del modelo anterior.

En algunos países los cambios son muy profundos, en otros muychicos, pero de manera generalizada sigue presente la hegemonia delmodelo anterior en la economía, aunque tengamos avances impresi-onantes en la política.

En algunos casos, como Venezuela, el discurso oficial del gobierno esque se está construyendo el socialismo del siglo XXI. Y eso genera unacerta confusión, porque el tipo sale en la calle y se encuentra todavíacon el capitalismo del siglo XX. Y no siempre funcionando bien.

*Del 98 hasta el 2008, hubo un cambio tremendo en la correlaci-

ón de fuerzas en América Latina, esa es la buena noticia. Pero lamala noticia, es que desde el 2008 para acá, está en curso una con-traofensiva de la derecha latinoamericana.

Esto se traduce, primero en una tentativa de desestabilización delo que voy a denominar acá de eslabones más debiles de la cadena degobiernos progresistas latinoamericanos.

La derecha hizo esto en Panamá, cuando eligió un presidente deultraderecha; hizo esto en Guatemala, donde intentó armar un gol-pe; está haciendo esto permanentemente en Paraguay, e hizo estocon éxito en Honduras.

El segundo aspecto de la ofensiva de la derecha es crear alternati-vas electorales fuertes en los locales donde los gobiernos también sonfuertes. Nosotros tuvimos un tremendo ejemplo aquí en Chile. Seestá estimulando una nueva derecha, con una mix de Sarkozy conBerlusconi, tipos empresariales, con un discurso que se pretiendemoderno, dinámico, empresarial, y que se presentan para disputar elterreno electoral con la izquierda.

Page 56: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

56

Notas sobre a política internacional do PT

Tercero, la derecha está reforzando los gobiernos que son simpá-ticos a los Estados Unidos. Voy a citar dos casos: México y Colom-bia. Hay un esfuerzo tremendo de parte del gobierno norteamerica-no de sustentar, apoyar y mantener la derecha en el gobierno enestos países. Y ahora con Piñera en el gobierno de Chile, van agregarChile o van a intentar agregar Chile a esta red, que lo fundamentalque tiene es su oposición a la idea de integración continental.

Porque se trata en definitiva de mantener los países latinoameri-canos aislados entre sí, para que se sometan a la hegemonía de losEstados Unidos.

El cuarto movimiento, es un movimiento de aislamiento del “ejedel mal”, la Alianza Bolivariana. Independiente de cómo evaluemoslo que pasa en Venezuela, Ecuador y Bolivia, los que eventualmenteno compartan lo que pasa en estos países, no pueden por esto tenerduda alguna de las necesidades de solidaridad con los procesos encurso en estos países.

Porque lo que la derecha busca es estimular una división entrenosotros, entre los buenos y los malos, los carnívoros y los vegetari-anos, los moderados y los radicales, para que primero peguen unos ydespués pegarán los otros.

Y el quinto aspecto de la contraofensiva de la derecha, es militar.Yo digo quinto aspecto, porque la contraofensiva es política, no esmilitar.

*Esta contraofensiva de la derecha fue reforzada el año 2008 por

dos apoyos paradojales:El primero fue la crisis internacional: aunque su epicentro sea los

Estados Unidos, causó daños tremendos para muchos países latino-americanos, incluso para los procesos de Venezuela, Bolivia y Ecua-dor, dado el grado de dependencia de estos países en relación a ven-ta de commodities en el mercado internacional, petróleo, gas etc.

Page 57: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

57

Valter Pomar

Y el segundo aspecto que colaboró con la ofensiva de la derecha, aunquede manera paradoxal, fue la victoria de Obama en Estados Unidos.

Porque si Bush estuviera mandando más tropas para Afganistán osi Bush ordenara desembarcar tropas a Haití, no habría duda algunasobre lo que estaba pasando.

Pero es Obama… De manera muy simplificada, el ascenso deObama creó una expectativa positiva que amplía las posibilidadesde maniobra de Estados Unidos. Y lo que pasa es que para la socie-dad norteamericana, Obama tiene un sentido más progresista que laderecha republicana. No hay duda sobre esto, pero para el mundo,Obama es presidente de los Estados Unidos, y en su discurso detoma de posesión dijo que “los Estados Unidos están listos paravolver a liderar el mundo”.

Hay una dificultad en la operación de la derecha latinoamericanay sus aliados estadounidenses: ¿Cómo tratar con el gobierno brasilero?

Es un tema difícil para ellos. Porque está claro para el Departa-mento de Estado de los Estados Unidos que no pueden asumir unaposición explícita de oposición al gobierno de Lula.

Pero por otra parte, está claro que no le interesa la presencia de laizquierda en la presidencia de Brasil.

¿Por qué? porque el gobierno brasilero, compra armas de Francia;porque el gobierno brasileño negocia con Irán; porque el gobiernobrasileño, tiene una postura muy clara en el tema palestino; porqueBrasil manda un embajador para Corea del Norte; porque el gobier-no brasileño acepta la presencia de Zelaya en su embajada en Hon-duras; o sea, la actitud concreta del gobierno brasileño crea dificul-tades para la política de los Estados Unidos.

En los marcos de la situación de crisis y transición, que mencionéantes, en los marcos de la situación de mucha inestabilidad interna-cional, los Estados Unidos tiene que tener control absoluto de supatio trasero.

Page 58: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

58

Notas sobre a política internacional do PT

Y el gobierno brasileño tiene como aspecto central de su políticaexterna la integración continental. Entonces, iniciativas como laconstitución de la UNASUR, las conferencias América Latina-Áfri-ca, América Latina-Medio Oriente, y otras tantas, constituyen partefundamental de la política externa del gobierno brasilero, tanto conel proposito de aprovechar las potencialidades de la región, comotambién para reducir la ingerencia externa.

*La izquierda latinoamericana, toda vez que vencía en un país, la

derecha perdedora llamaba a sus aliados internacionales. Y así procesoa proceso era saboteado y derrotado.

La excepción parcial fue Cuba. Bloqueo pero sin invasión. Esobvio que si tú tienes un proceso de integración entre gobiernos deizquierda progresista, eso reduce la injerencia, no acaba con ella,pero la reduce. Y permite que la correlación de fuerzas de cada paíssea la que predomine. O sea, cada país seguirá el camino que mayo-ritariamente su pueblo siga, reduciendo la injerencia externa.

Hay una disposición creciente del gobierno brasilero de asumiruna parte importante de los custos de la integración. Porque haydisparidades de crecimiento económico entre los países y estas dis-paridades están en la base de la dificultad de la integración. Enton-ces la única manera para hacer la integración más rápida y más jus-ta, es que el gobierno brasileño, la economía brasileña, se encarguede parte importante de los custos de la integración.

Y no se pierde ni un céntimo con esto. Del punto de vista econó-mico, comercial, capitalista, a Brasil le interesa hacer una inversióna largo plazo, en la ampliación de la integración latinoamericana

El tercer aspecto de la política brasilera que dificulta la actitud dela derecha, es que nosotros no aceptamos que hayan dos izquierdasen América Latina. Es un raciocinio equivocado que nosotros nocompartimos, porque toda derrota afecta a todos nosotros, no im-porta nuestra opinión sobre lo que pasa en cada país.

Page 59: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

59

Valter Pomar

Hay muchas izquierdas en America Latina, lo que pasa en Boliviano es lo mismo que lo que pasa en Venezuela, lo que pasa en Ecua-dor no es lo mismo que pasa en Brasil, lo que pasa en Uruguay no eslo mismo que lo que pasa en Chile, Nicaragua es muy distinto delSalvador, Cuba es muy distinto de todos los otros, son muchas iz-quierdas, muchas historias, muchas estrategias, mucha situacionessociológicas distintas y hoy nosotros trabajamos en los marcos de ladiversidad.

Nuestro rol es construir una estrategia continental unitaria, quelo que quiere es la integración y que en cada país la izquierda siga elcamino y los caminos que quiera. No significa pues que nosotrostengamos que compartir lo que se hace en cada país. Significa quenosotros tenemos que entender que, aún existan muchas diferenci-as, todas las izquierdas latinoamericanas son parte de un movimien-to común. Esta coincidencia tiene que ver con causas profundas queson comunes a todos los países, pero en cada país producen estrate-gias, historias y relaciones distintas; sendo asi, la cooperación entrelas izquierdas es fundamental, la cooperación no exime, no excluyela polémica, por lo contrario, pero tiene que ser una polémica entreorganizaciones, partidos, gobiernos que tengan un punto común desolidaridad, ese es un aspecto importante de nuestra política, comogobierno y como partido.

*Bueno, por todo esto que he hablado consideramos fundamental

mantener la mayoría política que tenemos hoy en Brasil y mantenerpor lo tanto la presidencia brasileña.

Nosotros acreditamos que tenemos condiciones de vencer en se-gunda vuelta la elección presidencial, nosotros acreditamos por losdatos que tenemos, por la fuerza que tenemos, por las dificultadesde la oposición, pero será una campaña muy difícil.

*

Page 60: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

60

Notas sobre a política internacional do PT

Durante los años 80’ había una crisis del modelo desarrollistaconservador y se conformaron dos polos, cada cual presentó unapropuesta se solución: un polo neoliberal y un polo democráticopopular y socialista.

Los grupos intermedios fueron cada cual para los extremos y ladisputa se dio entre estos extremos. Pero la derecha vencio las elecci-ones de 1989 en Brasil.

En los años 90’ cambio la situación, la pelea fue entre los neolibe-rales y los desarrollistas.

Lo curioso es que a la cabeza de los desarrollistas no estaban lospartidos de centro, estábamos nosotros del PT. Es curioso porque elPT nació criticando y combatiendo el desarrollismo en Brasil. Enlos años 90’ por una serie de circunstancias, nosotros encabezábamosla oposición al neoliberalismo que fue hecha cada vez más a partir designos desarrollistas. O sea, los temas propiamente socialistas de iz-quierda de nuestra plataforma programática se colocaran en segun-do plano y cada vez más los temas que se colocaban en primer planoera “volver a crecer”, “tener una economía que funcione contra losneoliberales” y “derrotar la hegemonía del capital financiero”.

Esta fue la polémica de las elecciones de 1994, 1998, 2002, 2006:neoliberales contra desarrollistas. Perdemos las dos primeras, vencimoslas otras dos.

Ahora nosotros vivimos un momento de transición: aún hay eseconflicto entre neoliberales y desarrollistas, pero cada vez más el con-flicto que viene ahora es entre distintos tipos de desarrollismos.

Los neoliberales van a apoyar a Serra, pero lo que está en disputahoy y lo que va a estar en disputa los próximos años en Brasil es quétipo de desarrollismo.

Tendremos de vuelta el desarrollismo conservador centrado en lasempresas privadas, en las ganancias privadas? O tendremos un tipode desarrollismo que combine desarrollo económico con combate ala desigualdad y con ampliación de la democracia?

Ese es el debate de fondo.

Page 61: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

61

Valter Pomar

*En sus gobiernos, los neoliberales hicieron al país regresar a los

años 20’, o sea, volvieron el país a los tiempos agro-exportadores.Los ocho años del gobierno de Lula hicieron que el país volviera decierta manera a su normalidad y su normalidad no es el neoliberalis-mo, su normalidad es el desarrollismo, que en la historia de Brasilfue siempre hegemonizado por la derecha y por tanto el desarrollofue combinado con escasa democracia y mucha dictadura, con muchadesigualdad social, porque nuestro país es uno de los más desigualesdel mundo y con dependencia externa.

El gobierno de Lula hizo que la situación volviera al “normal” yesto significa que las próximas peleas se colocarán cada vez más pa-recidas con las que tuvimos en los años 80’ en que se enfrentaron losneoliberales de un lado, democrático-populares de otro, sino queentonces la izquierda democrático-popular articulaba su proyectocon el proyecto socialista.

Muy bien, esto se traduce en lo concreto en dos posibilidades, endos alternativas programáticas.

Una posibilidad es que los gobiernos de izquierda hagan políticaspúblicas; la otra posibilidad es que los gobiernos de izquierda haganpolíticas públicas y también reformas estructurales.

Esta es la discusión que tenemos en Brasil y que de cierta manerahay en todos los países, cómo hacer políticas públicas, o sea, cómomejorar la vida de las personas comunes en los marcos de la situaci-ón que heredamos; pero también cómo hacer reformas estructura-les, o sea, cómo cambiar la situación heredada.

Entonces, el debate en concreto se trata de cómo combinar políticaspúblicas con reformas estructurales que cambien la situación de fondo.

Se trata de un problema político, no teórico y tampoco económi-co. Miremos el caso de Honduras, el gobierno de Zelaya intentóhacer cambios para los cuales no tenía fuerza suficiente. Por tanto, la

Page 62: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

62

Notas sobre a política internacional do PT

cuestión no es simple, no es apenas una cuestión de voluntad, hayque tener fuerzas para hacer cambios estructurales, quien no tienefuerza puede ser derrotado y hacer que la situación quede peor de loque estaba, pero por otra parte si tu tienes un gobierno que no seesfuerza por hacer cambios estructurales tú puedes cambiar el propiocarácter de la izquierda, de una izquierda transformadora tu puedesproducir una izquierda conformista con la situación.

Nosotros tenemos un problema adicional muy grave en Brasil:durante ocho años nuestro gobierno consiguió hacer que sectoresimportantes de la sociedad brasilera sufrieran un proceso de mejorasocial, que se traduce en la capacidad de tener empleo, tener unsalario mejor, tener una renta, poder consumir y todo lo que tieneque ver con participar de la sociedad de mercado.

Pero nosotros no conseguimos hacer cambios equivalentes en elterreno político institucional y cultural, las instituciones brasilerassiguen en lo fundamental al servicio de otros proyectos, el aparatojudiciario, los cuerpos legislativos, gran parte de la burocracia deestado, los aparatos constitucionales, los aparatos educacionales, losaparatos culturales, siguen al servicio de otros proyectos y esta con-tradicción entre la mejora social de capas importantes que confían ennosotros, porque vinculan su progreso material a los ochos años degobierno de nosotros, la contradicción entre esto y el retraso ideo-lógico, político y cultural institucional puede ser mortal paranosotros.

Si nosotros no enfrentamos este problema político cultural, polí-tico institucional cultural podemos tener muchos sucesos en lo eco-nómico administrativo y aún así perder las elecciones, aún así serderrotados, aún así ver una parte importante de nuestro pueblo aplau-dir nuestro gobierno y votar a la derecha en las próximas eleccionespresidenciales. Este es el tema que más nos preocupa y que tiene untrasfondo cultural.

Page 63: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

63

Valter Pomar

La izquierda en el siglo XX podía tener todos los errores del mun-do, pero tenía una firme convicción de que dependía de nosotrossalvar la humanidad. Pero por todo lo que pasó en el siglo XX laverdad es que muchos de nosotros hoy asumimos un papel confor-mista y no conseguimos enfrentar la derecha en el terreno cultural,conseguimos ganar elecciones pero aún nos movemos dentro de lahegemonía político cultural de la derecha.

Si nosotros no somos capaces de proponer un futuro distinto,realmente distinto para las personas, si las diferencias de horizonteentre nosotros y la derecha fueran milimétricas, la derecha va a ven-cer siempre, a la larga va a vencer siempre. Esto no tiene nada quever con qué vamos a hacer mañana, no tiene que ver con la táctica,tiene que ver con qué visión de mundo nosotros compartimos, quéproyectos estratégicos nosotros tenemos, qué programa de largo plazopara la humanidad nosotros tenemos.

Uma versão editada desta palestra foi publicadapela FES, numa coletânea intitulada América Latina:

nuevos enfoques de desarrollo para el siglo XXI”, que reúnetextos de varios expositores da Escola de Verão 2010 da FES.

Page 64: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

64

Notas sobre a política internacional do PT

A situação mundial pode ser caracterizada como de crise & transição:a) crise do ideário neoliberal, num momento em que o pensamento

crítico ainda se recupera dos efeitos de mais de duas décadas dedefensiva político-ideológica;

b) crise da hegemonia estado-unidense, sem que haja um hegemonsubstituto, o que estimula a formação de blocos regionais e alian-ças transversais;

c) crise do atual padrão de acumulação capitalista, sem que estejavisível qual será a alternativa sistêmica;

d) crise do modelo de desenvolvimento conservador & neoliberal naAmérica Latina e no Brasil, estando em curso uma transição paraum pós-neoliberalismo, cujos traços serão definidos ao longo daprópria caminhada.Noutras palavras, uma situação em que os modelos antes hege-

mônicos estão em crise, sem que tenham emergido claramente osmodelos substitutos.

Um elemento central desta situação mundial é a crise do capita-lismo neoliberal, na qual convergem:a) uma crise clássica de acumulação;b) o esgotamento da “capacidade de governança” das instituições de

Bretton Woods;c) os limites do consumo insustentável da economia estado-unidense;d) a dinâmica da especulação financeira.

Este conjunto de variáveis aponta para um período mais ou me-

China e Brasil, nummundo de crise & transição

Page 65: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

65

Valter Pomar

nos prolongado de instabilidade internacional, bem como para osurgimento de “soluções” intermediárias, temporárias e ineficazes.

No curto e médio prazos, a instabilidade está vinculada:a) à crise do capitalismo neoliberal ...

e ao...b) declínio da hegemonia estado-unidense.

No longo prazo, corresponde à crescente contradição entre a “glo-balização” da sociedade humana versus o caráter limitado das insti-tuições políticas nacionais e internacionais.

Estas três dimensões da instabilidade fazem com que seja mais ur-gente e, ao mesmo tempo mais difícil, a construção de alternativas.

O velho modelo não funciona adequadamente, mas continuaimensamente forte, enquanto os novos modelos econômicos e polí-ticos estão surgindo, mas ainda não conseguem se impor.

A crise evidenciou o alto custo social e ambiental do capitalismo,especialmente em sua versão neoliberal, fortalecendo ideologicamenteos setores que defendem um “capitalismo não-neoliberal”.

Fortaleceu também, em muito menor escala, os que propõemuma alternativa socialista ao capitalismo.

Mas o fortalecimento ideológico dos setores progressistas e de es-querda se dá nos marcos de uma situação estrutural que ainda cons-pira a favor de um desenlace conservador para a crise.

Mesmo fortemente atingidos, os países centrais concentram imensopoder econômico, político e militar.

Isto obriga os demais países do mundo a construir saídas negocia-das, inclusive para evitar um colapso generalizado, que teria efeitoscatastróficos em toda a periferia, até porque os picos de desenvolvi-mento ocorridos a partir de 1990, a começar pelo caso chinês, foramem maior ou menor medida tributários do arranjo produtivo adota-do pelos países centrais, em particular a condição de “consumidorde última instância” assumida pelos Estados Unidos.

Page 66: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

66

Notas sobre a política internacional do PT

Além disso, três décadas de hegemonia neoliberal limitaram ohorizonte intelectual e a força político-social dos setores críticos.

Estas contradições e limites ficam evidentes quando observa-mos o que se apresenta como propostas de mudança nas institui-ções internacionais (sistema ONU, Banco Mundial, Fundo Mo-netário Internacional, BIS).

O desencontro entre o tamanho da crise e a timidez das propos-tas, num ambiente de crescente multipolaridade, enseja a multipli-cação dos “G” e de instituições regionais, como se a proliferação dascúpulas compensasse a modéstia das iniciativas concretas.

São especialmente notórias as dificuldades no debate sobre umanova moeda internacional, bem como a ineficácia das políticas glo-bais de combate à pobreza e a desigualdade.

Neste contexto, há duas dinâmicas que merecem atenção diferen-ciada: o processo de integração latino-americano e caribenho, espe-cialmente entre os países da América do Sul; e o diálogo entre ospaíses integrantes dos BRIC e do Ibas.

O tema central, nos dois processos, é o seguinte: como consolidarlaços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos, que per-mitam aos países integrantes conviver, sem subordinação ou depen-dência, com o espaço geopolítico ainda hegemonizado pelos Esta-dos Unidos e União Européia.

A questão subjacente é a seguinte: será possível, mais do que con-viver, substituir o arranjo econômico internacional que tem nos Es-tados Unidos seu elemento organizador (e desorganizador) central,por um novo arranjo, baseado na combinação entre expansão dosmercados internos e intercâmbio comercial que não seja dependentedas ofertas de crédito, insustentáveis no médio prazo, proporciona-das pela emissão sem lastro de dólares?

Pelos motivos que expusemos antes, estamos diante de disputasde longo curso, que serão travadas num ambiente de acentuada ins-

Page 67: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

67

Valter Pomar

tabilidade, em dois planos distintos porém articulados:a) a disputa no interior de cada país;b) a competição entre os diferentes estados e blocos regionais.

Da complexa articulação entre estes processos podem resultar, gros-so modo, três variantes articuladas:a) a conservadora, no qual os Estados e setores sociais que se benefici-

aram do período neoliberal comandam a distribuição dos custos dacrise e mantém sua hegemonia sobre a ordem internacional;

b) a progressista, no qual os Estados que não integravam o antigo G7reduzem o impacto da crise e estabelecem as bases de um mundocapitalista pós-neoliberal;

c) a socialista, no qual o agravamento da crise e das contradições –eco-nômicas, sociais e políticas– provoca, em determinados países eregiões, rupturas com a ordem capitalista.Quando da crise de 1929, os defensores do desenvolvimento planejado

soviético apresentavam-no como alternativa ao modelo liberal capitalista.Ainda que de maneira muito matizada, alguns defensores do “so-

cialismo de mercado chinês” estão ensaiando fazer o mesmo.Em paralelo a isto, tanto na mídia quanto nos centros formuladores

estratégicos, especula-se abertamente acerca dos conflitos presentese futuros entre China e EUA, ressuscitando um padrão de reflexãosimilar aos da “bipolaridade” que marcou a “Guerra Fria”.

Em que medida este tipo de reflexão possui correspondência comos rumos seguidos pela China, nos últimos 60 anos? Ou ainda: emque medida o modelo chinês se propõe ou pode ser consideradocomo uma alternativa estrutural e estratégica, ao capitalismo anglo-saxão ou ao capitalismo em geral?

A rigor, em se tratando da história da China, há que se consideraro período entre a Guerra do Ópio e 1949 como um longo períodode transição, que em 1911 obtém uma solução provisória e em 1949

Page 68: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

68

Notas sobre a política internacional do PT

uma solução definitiva para o grande dilema da “autodeterminação”do povo chinês.

O curso da milenar civilização, interrompido de maneira violentapelo imperialismo europeu e japonês, é desobstruído com a vitóriado Exército Popular de Libertação dirigido pelo Partido Comunistada China, vitorioso fundamentalmente devido ao seu apoio nas mas-sas camponesas e urbanas.

As reformas chinesas iniciadas em 1978 (de maneira similar à NovaPolítica Econômica soviética implementada nos anos 1920) represen-taram, por sua vez, a reafirmação de um aspecto central da tradiçãomarxista: a idéia de que um modo de produção só desaparece quandodesenvolve todas as forças produtivas que é capaz de conter. Noutraspalavras: só é possível superar o capitalismo, desenvolvendo-o. O que,aliás, corresponde à acepção hegeliana do termo “superação”.

Do ponto de vista teórico, o conceito de socialismo enquantotransição ao comunismo, é totalmente compatível com a existência,mesmo que por um longo período, da propriedade privada, de mer-cado e de relações capitalistas de produção.

Mas é fato que, para os marxistas do século XIX, a transição seriatemporalmente curta, uma vez que teria início nos países capitalistasavançados; ou, pelo menos, contaria com o apoio destes (tal era aexpectativa dos bolcheviques ao tomar o poder em 1917).

A idéia de uma transição “curta” perde sentido, entretanto, quan-do o ponto de partida é uma sociedade essencialmente pré-capitalis-ta, fazendo com que o Estado produto da revolução seja obrigado nãoapenas a controlar, mas destacadamente a estimular a exploraçãocapitalista da força de trabalho, como meio para aumentar a riquezasocial e a produtividade média.

Deste ponto de vista, podemos dizer que os comunistas chinesesrespeitam a tradição marxista clássica, quando sustentam que estão

Page 69: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

69

Valter Pomar

ainda na “fase inicial do socialismo”, que esta fase durará muitasdécadas e que seu objetivo nesta fase é o de construir uma sociedade“modestamente acomodada”.

E são igualmente coerentes quando consideram essencial a pre-servação da paz, pois conhecem por experiência prática e observaçãoo custo econômico-social das guerras e os limites que têm (para umprojeto de orientação socialista) o tipo de desenvolvimento propor-cionado pelo investimento no complexo militar.

Entretanto, a projeção exterior do poderio chinês gera conflitosque podem muito bem ser equiparados aos causados pela expansãoeconômica de países capitalistas. Pois o que está em questão, nesseterreno, é a disputa de mercados e matérias primas, além de hege-monizar e proteger territórios, assim como preservar reservas finan-ceiras. Sendo assim, é necessário analisar em que medida aquela pro-jeção produzirá, não apenas conflitos econômicos, mas também po-líticos e inclusive militares.

O que vemos, ao observar a China moderna? Exatamente a busca dacapacidade militar necessária para defender a soberania nacional, prote-ger o entorno geopolítico e dissuadir ataques. Acompanhada, é bomque se diga, de uma política de relações internacionais ainda maiscautelosa do que a dos soviéticos, exceto no entorno geográfico direto.

A inexistência de uma polarização entre capitalismo e socialismo,associada ao enfraquecimento de todas as famílias ligadas ao movi-mento socialista, faz os comunistas chineses adotarem uma estraté-gia de baixo perfil.

Esta estratégia decorre de uma interpretação muito realista acercado atual período histórico. Já nos anos 1970, setores do PartidoComunista chinês apontavam a existência de um refluxo dos pro-cessos revolucionários (efetivamente, o Vietnã foi a última granderevolução socialista vitoriosa. O caso nicaragüense não foi socialista

Page 70: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

70

Notas sobre a política internacional do PT

e a revolução do Irã em 1979 responde a outro tipo de processohistórico). No início dos anos 1990, com a dissolução da URSS ecom o unilateralismo estado-unidense, é acertado dizer que o movi-mento socialista entrou num período de “defensiva estratégica”.

Um aspecto adicional do problema é o vínculo estreito entre aseconomias estado-unidense e chinesa. Num sentido geral, tambémhouve vinculação entre URSS e EUA: não apenas a existência daprimeira dava ao segundo pretextos para exercer sua hegemonia,como estimulava o complexo industrial-militar. Por isto mesmo, avitória obtida na Guerra Fria colaborou para enfraquecer, no curtoespaço de uma década, a hegemonia dos Estados Unidos. Dobilateralismo fomos ao multilateralismo, após um brevíssimo perío-do de unilateralismo.

Os vínculos entre China e Estados Unidos são de tipo diferente.Desde a diplomacia do ping-pong, na qual os Estados Unidos em-barcou na perspectiva de derrotar a URSS e reorganizar sua presençano sudeste asiático, a China veio assumindo crescente importânciaeconômica, para o capitalismo em geral e para os Estados Unidosem particular.

Embora as razões sejam muitas, destaca-se algo absolutamenteincompreensível para os profetas da “morte do trabalho”: a abun-dância e o baixo valor relativo da força de trabalho chinesa, propor-cionando a um capitalismo ocidental maduro, envolto com o dramados retornos decrescentes, o frescor de altas taxas de mais-valia, asso-ciado a um mercado consumidor reprimido.

Trinta anos depois do início das reformas, a China consolidou acondição de pólo do desenvolvimento econômico mundial. Novamenteao contrário do senso comum vulgar, é pólo exatamente por: a) nãoconcentrar o estoque principal de riquezas acumuladas; b) possuiruma renda per capita baixa; c) indicando uma composição orgânicado capital mais atraente do que nos países de capitalismo maduro.

Page 71: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

71

Valter Pomar

Há, portanto, um vínculo direto entre os sucessos da China e aaceleração recente da expansão capitalista (e de seus elementos decrise). É como se, décadas depois do eixo socialista ter se deslocado aLeste, o mesmo estivesse ocorrendo no âmbito do capitalismo.

A questão é: o que farão, diante deste processo, os Estados capita-listas ocidentais? Assistirão passivamente o declínio de sua hegemo-nia ou buscarão deter e reverter o processo? Que conseqüências po-derá ter esta opção?

Outra questão, combinada com a primeira: frente à crise no capi-talismo central, que medidas compensatórias a China terá que ado-tar no interior do país e no seu entorno asiático? Neste segundocaso, quais as possibilidades de uma aliança e quais as possibilidadesde conflito entre os países da região?

Por fim, uma terceira questão: em que medida o Estado chinêsconseguirá administrar as tensões decorrentes deste espetacular cres-cimento? E quais as chances de rompimento no equilíbrio entre asclasses sociais chinesas, que lance o país em um novo período degrandes conflitos sociais?

Não há respostas definitivas para estas questões, pois no limite oque vai ocorrer depende do balanço mutável entre forças econômi-cas, sociais e políticas que estão em operação neste exato momento.

Feita esta ressalva, podemos dizer que a tendência é de agrava-mento das tensões internacionais, inclusive no plano militar. Frentea isto, a China vai prosseguir reforçando a segurança de seu entor-no, evitando a todo custo qualquer atitude ofensiva. As ameaçasexternas contribuirão para reforçar a hegemonia do Partido Comu-nista sobre a população chinesa. Movimentos contra-hegemônicossó terão importância, se mudar a percepção social segundo a qual opaís está prosperando. A novidade pode surgir a partir dos movi-mentos pela redistribuição das riquezas criadas. Apesar dos enormes

Page 72: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

72

Notas sobre a política internacional do PT

problemas práticos envolvidos, a verdade é que o Estado chinês se-gue dando mostras de enorme capacidade política e gerencial paralidar com tais tensões internas. Noutras palavras, parece haver mar-gem de manobra suficiente para administrar as tensões e evitar aabertura de um período de grandes conflitos sociais, que reduziriaou mesmo ameaçaria a atuação internacional do Estado chinês.

Por isto mesmo, a China constitui um desafio enorme para osestrategistas de longo prazo dos Estados capitalistas centrais. Nãopor constituir um “modelo alternativo” ao capitalismo anglo-saxãoou ao capitalismo em geral, até porque a noção de “modelo alterna-tivo” está muito desmoralizada, por inaplicável. A China constituium desafio por se constituir num pólo autônomo de poder, frenteaos quais os modelos herdados da “Guerra Fria” não são aplicáveis(embora nos ajudem a compreender alguns movimentos de parte aparte, na linha de recriar um certo “bilateralismo” tipo G-2).

A China também se constitui num desafio político e teórico im-portante para os setores progressistas e de esquerda. Independenteda opinião que cada qual tenha sobre as qualidades do “socialismode mercado” para a sociedade chinesa, sua projeção externa é extre-mamente contraditória. A China é uma grande potência, com inte-resses a defender, plano em que todos os gatos são pardos. O queacaba enfatizando mais o “mercado” do que o “socialismo”, o queajuda a explicar por que o “modelo chinês” não é percebido comouma alternativa estrutural e estratégica ao capitalismo em geral.

É verdade é que a posição do Estado brasileiro frente à China nãodepende da orientação ideológica predominante em cada um dos pa-íses. Se não ocorrer nada de extraordinário, durante as próximas déca-das Brasil e China serão essenciais na conformação do “mundo quevem aí”. Uma vez que as contradições bilaterais são menores do que asexistentes entre, por exemplo, Brasil e Estados Unidos ou entre Chinae Estados Unidos, há um enorme espaço de cooperação estratégica.

Page 73: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

73

Valter Pomar

Isto posto, é essencial estudar a fundo o processo em curso na Chi-na e compreender que os setores políticos dominantes naquele paísacreditam firmemente que seu “presente exitoso” começou a ser cons-truído com a vitória comunista na Revolução de 1949. A correta per-cepção disto, bem como das opções estratégicas que daí resultam, po-dem ajudar no aprofundamento das relações entre Brasil e China.

Resumo de palestra apresentada na V ConferênciaNacional de Política Externa e Política Internacional,

realizada nos dias 3 e 4 de dezembro de 2009.

Page 74: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

74

Notas sobre a política internacional do PT

Hay, al interior de los partidos progresistas y de izquierda, distin-tas interpretaciones sobre la crisis internacional y sus impactos sobreBrasil. De estas interpretaciones, articuladas con los programas yestrategias de cada partido, se derivan propuestas políticas tambiéndiferenciadas. Pareciera, sin embargo, que existen algunas ideas fuer-temente hegemónicas, entre las cuales se destaca la siguiente noción:al igual que las crisis internacionales de 1930 y 1970, la presentecrisis puede constituir un punto de inflexión, que marque el iniciode un nuevo ciclo en la historia del país. Evidentemente, dependeráde cómo se articulen la crisis internacional, la economía brasileña ylos bloques de poder en Brasil.

La crisisEl epicentro de la crisis se encuentra en los países centrales, especial-

mente en los Estados Unidos. Su detonante estuvo en el sector financi-ero, pero su causa reside en la dinámica misma de la acumulación capi-talista, motivo por el cual la crisis posee carácter sistémico, expresado enmúltiples dimensiones (ambiental, energética, alimentaria, social, po-lítica), dando lugar incluso a tesis como la de “crisis civilizatoria”.

La crisis tiene una profundidad proporcional al control alcanzadopor el capitalismo, desde principios de los años 1990, en todo elmundo. Durante este período, las políticas neoliberales ampliaronlas contradicciones entre la dinámica de la economía y de la política,entre el predominio de los intereses privados y el carácter cada vez

Un nuevo ciclo enla historia del Brasil

Page 75: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

75

Valter Pomar

más social de la vida cotidiana, entre el desarrollo “globalizado” de lasociedad humana y el carácter limitado de las instituciones políticasnacionales y multilaterales.

La actual crisis repite, en niveles superiores, la crisis que estalló enlos años 1970 y que fue “remediada” precisamente por las políticasneoliberales, en especial por la especulación financiera y el estímuloal llamado capital ficticio.

La crisis confirma y acentúa el declinio de la hegemonía de losEstados Unidos. Como no hay poder equivalente y alternativo, noexiste un “gerente” dotado de los medios necesarios para proponer eimplementar medidas capaces de enfrentar y superar la crisis, inclu-so desde el punto de vista de los que la causaron. Tales medidas sólopodrán surgir de una disputa prolongada, en un ambiente de acen-tuada inestabilidad, y hay dudas incluso sobre si es posible superaruna crisis más importante que la de 1929 sólo con políticas de inspi-ración keynesiana.

La disputa arriba referida se entablará en dos planos, distintospero combinados: por un lado, la disputa al interior de cada país;por otro lado, la competencia entre los distintos Estados y bloquesregionales. De la compleja articulación entre estos procesos puedenresultar, grosso modo, tres escenarios:a) el conservador, en el cual los Estados y sectores sociales que se bene-

ficiaron del período neoliberal comandan la distribución de los costosde la crisis y mantienen su hegemonía sobre el orden internacional;

b) el progresista, en el cual los países que no integran el G7 reducenel impacto de la crisis y establecen las bases de un mundo capita-lista post neoliberal;

c) el socialista, en el cual el agravamiento de la crisis y de las contra-dicciones –económicas, sociales y políticas– posibilita, en deter-minados países y regiones, rupturas con el orden capitalista.

Page 76: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

76

Notas sobre a política internacional do PT

La crisis puso en evidencia el alto costo social y ambiental delcapitalismo, especialmente en su versión neoliberal, fortaleciendoideológicamente a los sectores que defienden un “capitalismo no-neoliberal”. Fortaleció también, pero en mucho menor escala, a losque proponen una alternativa socialista al capitalismo.

Pero el fortalecimiento ideológico de los sectores progresistas y deizquierda se da en el marco de una situación estructural que todavíaconspira a favor de un desenlace conservador para la crisis.

Mismo afectados por la crisis, los países centrales concentran uninmenso poder económico, militar y político. Esto estimula los demáspaíses del mundo a construir salidas negociadas, para evitar los efec-tos de un colapso generalizado, que tendria efectos catastróficos entoda la periferia, incluso porque los picos de desarrollo ocurridos apartir de 1990, empezando por el caso chino, fueron en gran medi-da resultado del arreglo productivo adoptado por los países centra-les, en particular la condición de “consumidor de última instancia”asumida por los Estados Unidos. Además de eso, tres décadas dehegemonía neoliberal limitaron el horizonte intelectual y la fuerzapolítico-social de los sectores críticos.

Estas contradicciones y límites se ponen de manifiesto al observarlas propuestas de cambio en las instituciones internacionales (siste-ma ONU, Banco Mundial, Fondo Monetario Internacional, BID).El desencuentro entre la magnitud de la crisis y la timidez de laspropuestas, en un ambiente de creciente multipolaridad, produce lamultiplicación de los “G” y de instituciones regionales, como si lamultiplicación de las cumbres compensara la modestia de las inicia-tivas concretas. Son especialmente notorias las dificultades en el de-bate sobre una nueva moneda internacional, como también laineficacia de las políticas globales de combate a la pobreza y a ladesigualdad.

Page 77: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

77

Valter Pomar

En este contexto, hay dos dinámicas que merecen atención dife-renciada: el proceso de integración latinoamericano y caribeño, es-pecialmente entre los países de América del Sur; y el diálogo entrelos países integrantes de los BRIC y del Ibas (con destaque paraChina, Rusia, India, Brasil y Sudáfrica).

El tema central, en los dos procesos, es cómo consolidar lazoseconómicos, sociales, políticos, militares e ideológicos, que permitana los países integrantes convivir, sin subordinación o dependencia,con el espacio político todavía hegemonizado por los Estados Uni-dos y la Unión Europea. La cuestión subyacente es la siguiente: ¿seráposible, más que convivir, sustituir el arreglo económico internacio-nal que tiene en los Estados Unidos su elemento organizador (ydesorganizador) central, por otro arreglo, basado en la combinaciónentre expansión de los mercados internos e intercambio comercial queno sea dependiente de las ofertas, insostenibles en el mediano plazo,de crédito proporcionadas por la emisión sin lastro de dólares?

Esto nos remite a precisar mejor los vínculos económicos entrelos países centrales, los llamados emergentes y la periferia, vínculos através de los cuales fluyeron las crisis de 1929, de 1970 y la crisisactual. Es importante recordar que algunos de los países “periféri-cos” o “emergentes” poseen hoy una capacidad de recuperación queno existía en la gran crisis de 1929, ni tampoco en las posteriores.

La economía brasileñaBrasil, y América Latina en general, contribuyeron fuertemente

para la llamada “acumulación primitiva” y, desde entonces, estántotalmente integrados al capitalismo mundial.

En el caso brasileño, la integración realmente existente colaborópara la formación de una sociedad altamente desigual, políticamenteconservadora y dependiente de los centros metropolitanos.

Page 78: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

78

Notas sobre a política internacional do PT

Esta dependencia cambió de carácter en el siglo XX. A partir delos años 1930 y a lo largo de cinco décadas, Brasil se ha convertidode economía agroexportadora en potencia industrial. Al contrariode otros países, que obtuvieron una transformación similar gracias ala revolución y a la guerra, en Brasil no ocurrieron rupturas conaquello que los sectores progresistas y de izquierda identificaban comocausas de nuestro atraso: la dependencia, la desigualdad y elconservadurismo.

El reducido mercado interno y el bajo nivel de ahorro, la influen-cia del latifundio y del imperialismo, variables generalmente señaladascomo causas de nuestro atraso económico, en particular de nuestroinicialmente reducido desarrollo industrial, han sido ecuacionadasde la siguiente forma:a) el ahorro necesario para la inversión fue proporcionado por la

atracción de capitales externos. Ya sea a través de la instalación deempresas extranjeras, ya sea a través del endeudamiento externo;

b) el mercado interno fue proporcionado por la política de desarro-llo industrial impulsada por el Estado;

c) jugó un papel importante, en distinto momentos y formas, lacompresión de los sueldos reales de la gran masa de trabajadores,utilizando para ello incluso las características de una estructuraagraria que favorecía la constitución de un gran ejército de reser-va de fuerza de trabajo.Las condiciones políticas para hacer viables las medidas anterior-

mente expuestas, condiciones que además evitaron que las contra-dicciones sociales resultantes constituyeran un punto de partida paratransformaciones más profundas de la estructura social del país, fue-ron proporcionadas por arreglos que limitaban las condiciones deexpresión independiente de las clases trabajadoras, ya sea por mediodel llamado populismo, ya sea recurriendo a la dictadura militar.

Page 79: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

79

Valter Pomar

Como resultado, Brasil experimentó entre 1930 y 1950 un intensoproceso de industrialización y urbanización. Salvo el sector defensorde una supuesta “vocación agraria” del país, las demás fuerzas políticasy sociales compartían el ideario desarrollista. Los sectores progresistasy de izquierda, que asumían este punto de vista con la expectativa deque generaría las condiciones para más democracia, más soberanía ymás igualdad, descubrieron gradualmente que el desarrollismo real-mente existente en Brasil conservaba, aunque de forma metamorfose-ada, la dependencia, el conservadurismo y la desigualdad.

La causa de esto está en lo que se llamó “pacto de las élites”,“transición por lo alto”, “conciliación”, evolución sin rupturas o re-voluciones. En estas condiciones, cada avance histórico terminabapreservando y proyectando en un nuevo nivel las contradiccionesdel ciclo anterior.

Fue lo que ocurrió durante los años 1980: el mismo canal a travésdel cual fluían los recursos necesarios para completar la industriali-zación nacional, internalizó los elementos que provocaron la crisisde la deuda externa y la interrupción del ciclo desarrollista.

Entre 1980 y 1994, hay una disputa profunda acerca de los rumbosque el país deberia adoptar. El agotamiento de la dictadura militar,las divisiones existentes en el gran empresariado y, sobre todo, laacción política de la nueva clase trabajadora constituida durante losaños 1970, generaron una nueva dinámica en el país, que si resulta-ra victoriosa terminaría en un ciclo de desarrollo democrático-popu-lar, articulado con un proyecto socialista. Como sabemos, no fueesto lo que ocurrió: en las elecciones de 1989 y especialmente en lasde 1994, vencieron fuerzas políticas y sociales articuladas alrededordel llamado proyecto neoliberal.

Si se llevara a las últimas consecuencias, este proyecto neoliberal haríacon que Brasil asumiera un lugar en la división internacional del trabajo

Page 80: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

80

Notas sobre a política internacional do PT

similar al que ocupaba en el período agroexportador. No por otro moti-vo el entonces presidente Fernando Henrique Cardoso hablaba de se-pultar la “Era Vargas”, impulsando la privatización de las estatales, dan-do continuidad a la apertura comercial iniciada en el gobierno Collory luchando por la reducción de los derechos laborales.

Sin embargo, el proyecto neoliberal no se llevó hasta las consecuen-cias, en parte debido a la resistencia popular, en parte debido a lasfricciones causadas por importantes sectores del empresariado, peroademás porque el bloque de poder neoliberal se consolidó, en Brasil,cuando ya empezaba a decaer en el mundo.

La implementación parcial del proyecto neoliberal concentró demanera espectacular el sector financiero, amplió aun más la presen-cia del capital extranjero, debilitó la capacidad dirigente del Estadoy a los sectores de la burguesía más dependientes del mercado inter-no. Por otro lado, amplió el ejército industrial de reserva y provocóuna alteración en el perfil de la clase trabajadora, constituyendo dosfracciones adicionales: por un lado, un inmenso “pobretariado” y, deotro lado, sectores medios de altos ingresos, con implicaciones polí-ticas y sociales ampliamente comentadas en los estudios sobre lascondiciones de vida en las grandes ciudades brasileñas.

El arreglo creado no alteró y, en alguna medida, hasta profundizólas ya mencionadas características fundamentales de la sociedad bra-sileña: dependencia, desigualdad y conservadurismo. Por otra parte,el neoliberalismo se fue inferior al desarrollismo, cuyo elemento dinâ-mico ofreció, a lo largo del siglo XX, una válvula de escape sin la cuallas contradicciones sociales brasileñas podrían haber evolucionado demanera mucho más radical. La difícil convivencia de los neoliberalescon el crecimiento (a tal punto que sostenían una tesis según la cual elpaís no podría crecer más allá de límites muy estrechos) se volvió cadavez más insostenible políticamente; y la combinación entre hegemo-

Page 81: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

81

Valter Pomar

nía del sector financiero y debilitamiento del Estado empezó a servista, por parte importante del empresariado, como dañina para susintereses colectivos y de mediano plazo.

Esto hizo que el desarrollismo volviera a cobrar peso, como alter-nativa ideológica y política al neoliberalismo. De forma paradójica,la conversión neoliberal de los partidos burgueses tradicionales losdebilitó políticamente. Esto dio al Partido de los Trabajadores, espe-cialmente a la candidatura de Lula, un rol histórico relativamenteinesperado: el de volverse un instrumento decisivo para la “retoma-da de la Era Vargas”, para usar al revés la expresión del ex presidenteFernando Henrique Cardoso (FHC).

En las condiciones de 1989, una victoria de la candidatura Lula yun gobierno petista probablemente tendrían otro significado histó-rico. En 2002, por lo tanto trece años después, el programa con elque Lula diputó las elecciones fue de “transición” del neoliberalismohacia un capitalismo “productivo”.

Podemos resumir así las acciones del gobierno Lula, entre 2003 y2008:1) fortalecimiento de la capacidad de gestión del Estado brasileño, al

igual que de empresas estatales como Banco do Brasil, Caixa Eco-nômica Federal, Petrobrás y Banco Nacional de Desarrollo Eco-nómico y Social (BNDES);

2) creación del Ministerio de Desarrollo Social y Combate al Ham-bre, responsable del cadastro de las familias pobres del país, im-plantación del programa “Bolsa Familia” para 11,5 millones defamilias, administración del Programa de Erradicación del Traba-jo Infantil, construcción de cisternas en la región semiárida delNordeste brasileño y construcción de restaurantes populares;

3) las acciones del Ministerio de Desarrollo Agrario, que desde 2003ha actuado en el asentamiento de medio millón da familias, am-

Page 82: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

82

Notas sobre a política internacional do PT

pliación del financiamiento de la agricultura familiar (de R$ 2,4mil millones en 2002 a R$ 13 mil millones en 2008), además dela construcción de 300 mil casas, asistencia técnica, seguro, cons-trucción de carreteras rurales, educación, red eléctrica, salud yabastecimiento de agua;

4) ampliación de las atribuciones del Ministerio de Minas y Energía,que además del petróleo, etanol, gas, energía eléctrica, eólica, so-lar y biocombustibles, implementó el programa “Luz para To-dos”, beneficiando a 2,5 millones de familias hasta entonces ex-cluidas de este derecho;

5) expansión del número de beneficiarios de los programas gerenci-ados por el Ministerio de Previsión Social a 18 millones debeneficiarios que cobran hasta 1 salario mínimo al mes;

6) creación o revitalización del Ministerio de las Ciudades, del Mi-nisterio de los Deportes, del Ministerio de Cultura, del Ministe-rio de Medio Ambiente, del Ministerio de Pesca y Acuicultura, dela Secretaría Especial de Políticas para las Mujeres, de la SecretaríaEspecial de Políticas de Igualdad Racial y de la Secretaría Especialde Derechos Humanos, y de Juventud;

7) acciones de promoción económica, social y cultural de los pueblosindígenas, en un país que tiene 220 naciones indígenas, con másde 180 lenguas y en 654 territorios, abarcando un 12,5% deltotal del país nacional;

8) regularización de las tierras y políticas públicas de saneamiento,atención a la salud, acciones de desarrollo local, apoyo a las mani-festaciones culturales y tradiciones de los quilombolas (poblacio-nes remanentes de los esclavos);

9) implantación del mecanismo de cuotas de discriminación positi-va en 23 universidades federales, 25 universidades estaduales y 3centros de educación tecnológica;

Page 83: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

83

Valter Pomar

10) creación de 12 nuevas universidades y funcionamiento de 61nuevos campi, además de 434 mil estudiantes pobres que recibenbecas totales o parciales para estudiar en universidades privadas,214 escuelas técnicas nuevas y/o en proceso de implantación;

11) realización de 53 conferencias nacionales, con la participaciónde 3,5 millones de personas, que pudieron debatir políticas pú-blicas de derechos humanos, igualdad racial, mujeres, asistenciasocial, salud, medio ambiente, educación, ancianos, personasdiscapacitadas, juventud, seguridad pública, pueblos indígenas,ciencia y tecnología, ciudades, agricultura y pesca, entre otrostemas. Tales acciones, más la política externa, tuvieron un efectosocial y económico favorable a las capas populares, al mismo ti-empo que no afectaron las estructuras de propiedad y de acumu-lación de riquezas existentes en el país, motivo por el cual el propiopresidente Lula llegó a decir que los ricos nunca habían ganadotanto como en su gobierno.En otras palabras, podemos decir que, en la mejor tradición bra-

sileña, la “transición” del neoliberalismo hacia un capitalismo “pro-ductivo” fue concebida (en la Carta a los Brasileños) e implementa-da (en la gestión Pallocci como Ministro de Hacienda) de formaconciliatoria y pactada con los sectores políticos y, especialmente,con los sectores empresariales hegemónicos en el período neoliberal:el capital financiero y el agronegocio. La dimensión más conocidade esta conciliación fue, exactamente, la política de intereses del BancoCentral y el apoyo al agronegocio, volcado a la exportación.

La conciliación fue tal que permitió la interpretación incorrectasegún la cual el gobierno Lula sería una continuación del gobiernoFHC y, por lo tanto, un gobierno neoliberal.

Guardadas las proporciones y los límites de cualquier analogíahistórica, el inicio del gobierno Vargas también estuvo signado por

Page 84: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

84

Notas sobre a política internacional do PT

interpretaciones dispares. La opción por la industrialización fue to-mada en el curso del mandato; y son conocidas las rupturas ocurridasentre el presidente Getúlio Vargas y el ala izquierda del tenentismo(movimiento reformista surgido en el Brasil de los años 1920 cuyonombre se debe al hecho de tener como principales integrantes per-sonas provenientes de la baja oficialidad del ejército).

La consolidación del desarrollismo, como política oficial del go-bierno Lula, ocurre en tres tiempos: la crisis política de 2005, laselecciones de 2006 y el lanzamiento del Plan de Aceleración del Cre-cimiento (PAC) en 2007. Los efectos políticos, sociales y económi-cos de este giro –acumulativos con los efectos de algunas políticasiniciadas en el período 2003-2005– pueden ser vistos en dos indica-dores: los índices de popularidad del presidentes Lula y las tasas decrecimiento del Producto Bruto Interno.

Sin embargo, el desempeño positivo de la economía en el período2006-2008 todavía es beneficiario del arreglo productivo que sederrumba con la crisis internacional.

Una señal de esto es la evolución de nuestras exportaciones, condiversificación de los destinos y récords de volumen y ventas, desta-cándose el crecimiento de las exportaciones brasileñas a Asia (+51%),China (+55%), Europa Oriental (+36%) y Mercosur (+29%). Tam-bién hubo crecimiento, aunque menor, en la relación con socios co-merciales tradicionales: EE.UU. (+17%) y Europa (+11%).

Los intelectuales neoliberales distorsionan la percepción del procesoen un intento de atribuir los éxitos del gobierno Lula a la políticaheredada del gobierno FHC. Levado a su límite, este argumento sebasa en un argumiento interesado y absurdo: el de que cualquieralteración en la política del Banco Central y en los privilegios delagronegocio habría impedido a la economía brasileña beneficiarse delinflujo de capitales externos y ampliar el comercio exterior.

Page 85: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

85

Valter Pomar

Por otra parte, algunos defensores del gobierno Lula intentan sos-tener lo opuesto: que el crecimiento económico verificado en el pe-ríodo anterior a la crisis internacional resulta en su totalidad de loscambios que habrían sido implementados por el gobierno Lula, enrelación a la herencia recibida del gobierno FHC. También conduci-do hacia su límite, este tipo de argumento parte del presupuesto deque ningén crecimiento sería posible bajo condiciones neolibera-les, lo cual es sabidamente falso.

Descartadas las exageraciones y la cliometría, lo que se puede afir-mar con seguridad es lo siguiente: si los neoliberales hubieran venci-do las elecciones de 2002 y de 2006, la economía brasileña se habríarelacionado de forma diferente con la fase final del ciclo neoliberal;habría sido derrumbada por la crisis; y el gobierno federal adoptaríamedidas recesivas para combatir los efectos de la crisis.

Para comprobar las asertivas del párrafo anterior, se recomiendaverificar las declaraciones del propio ex-presidente FernandoHenrique, además de los actos de gobernantes de la actual oposición(Partido de la Social Democracia Brasileña –PSDB y Demócratas –DEM), como el alcalde de la ciudad de São Paulo, Gilberto Kassab(DEM), y de los gobernadores de los estados de São Paulo, JoséSerra (PSDB), y de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), que co-mandan tres de los cinco mayores presupuestos públicos nacionales.En todos los casos, adoptaron con atraso medidas supuestamenteanticrisis de carácter ortodoxo y procíclico.

En términos aun mas concretos: si la oposición neoliberal estuvieraen el comando de Brasil, desde 2003, el gobierno brasileño casi queseguramente habría apoyado el Alca, despreciado los mercados regio-nales y otros polos de comercio mundial, privatizado total o parcial-mente el Banco de Brasil y la Caixa Económica Federal, profundizadola privatización de Petrobrás, desarticulado el BNDES, continuado

Page 86: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

86

Notas sobre a política internacional do PT

el desmantelamiento del Estado; no habría el ascenso del salariomínimo y de las jubilaciones; se profundizaria la desintegración re-gional y social.

Con ello, lo efecto de la crisis sobre Brasil habría sido catastróficoy la recuperación, muy improbable.

La existencia, desde 2003, del gobierno Lula ha generado otradinámica económica y social, motivo por el cual el país fue uno delos últimos en desacelerar, después de septiembre de 2008. Al con-trario de crisis anteriores, no hemos entrado en recesión; la salida decapitales se aceleró, pero sin transformarse en una fuga de capitales;el país no recurrió al FMI, al contrario, se dio el cuestionable lujo deofrecer aportes de capital al Fondo. Pese a todo esto, la crisis causóimpactos inmediatos, que enumeramos a continuación:1) sobre grandes empresas privadas que invirtieron recursos en la

especulación financiera;2) sobre el conjunto de las empresas que dependían de créditos ex-

ternos, cuya retracción impactó el financiamiento de las exporta-ciones, al igual que bancos pequeños y medianos que dependíande créditos externos para financiar sus carteras;

3) sobre inversores extranjeros actuantes en Brasil, que desviaronrecursos para compensar las dificultades de las matrices, fortalecien-do una tendencia que ya se venía manifestando anteriormente: elfuerte crecimiento de las remesas de ganancias hacia fuera del país;

4) retracción de la demanda externa, tanto en volumen como enprecios, implicando un rápido aumento de las importaciones enrelación a las exportaciones, acentuando el déficit en nuestras tran-sacciones corrientes con el exterior, con reflejos (a partir de enerode 2009) en la balanza comercial;

5) cambio en las expectativas del empresariado privado, con retracciónen las inversiones, en la producción y en los empleos. Estos im-

Page 87: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

87

Valter Pomar

pactos no generaron un espiral recesivo, en buena medida graciasa la intervención del gobierno.Emergencialmente, hubo reducción de impuestos en áreas estra-

tégicas: IPI del sector automotor, IOF de las operaciones de de cré-dito e Impuesto a la Renta de Personería Física. Al mismo tiempo,hubo ampliación del crédito, a través de cambios en la política de losbancos públicos, presiones sobre el sector privado y flexibilizacióndel llamado compulsorio (Brasil exige que los bancos privadosretengan en el Banco Central del 25% al 50% de sus depósitos, encontraste con los 10% de EE.UU. y 8% en otros países).

Se mantuvo la política de reajuste del Bolsa Familia y el aumentodel salario mínimo, que creció por encima de la inflación por el séptimoaño consecutivo, remunerando a 18 millones de jubilados rurales y 3millones de ancianos y personas discapacitadas, entre otros.

Se incrementó el Plan de Aceleración del Crecimiento (PAC), quedesde 2007 consolida y da visibilidad al crecimiento de la inversión eninfraestructura, que fue del 0,3% del PBI en 2002 al 1% del PBI en2007. En este terreno, se destaca, de inmediato, la política de cons-trucción de viviendas populares y, a mediano y largo plazos, las inver-siones necesarias para explotar las reservas de pre-sal.

Para sostener estas medidas, el país dispone de US$ 206 mil millonesde reservas; US$ 115 mil millones de los fondos de pensión; US$ 68 milmillones del BNDES (más de lo que disponen el Bird y el BID). Caberegistrar la reciente decisión de aumentar en R$ 100 mil millones losrecursos del BNDES. Este conjunto de medidas ha estimulado el con-sumo y combatido el pánico, además de confirmar la opción desarrollis-ta, con cariz social. Pese a esto, la producción ha caído o se ha desaceleradoen algunos sectores, ocurriendo movimientos negativos en la generaciónde empleos, en el crédito interno y en las ventas minoristas. Veamos losdatos más recientes acerca del mercado de trabajo.

Page 88: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

88

Notas sobre a política internacional do PT

El CAGED mide el saldo entre admisiones y despidos, que lasempresas están obligadas por ley a informar al Ministerio de Trabajoy Empleo. En 2009, hay un saldo de 299.500 empleos formales(crecimiento del 0,94%). En doce meses, el saldo fue de 390.300empleos formales (1,28%). O sea, en los doce meses que incluyen elpico de la crisis, aumentó el stock de empleos formales.

La Encuesta Mensual de Empleo, realizada por el IBGE (InstitutoBrasileño de Geografía y Estadística) hace un muestreo en seis regionesmetropolitanas que representan cerca de la tercera parte del mercadode trabajo brasileño. En doce meses, el número de personas ocupadascayó de 21.171.000 a 21.148.000. El desempleo subió del 7,9% al8,1% (comparando datos de junio/2008 con datos de junio/2009),aunque ha caído en la comparación con Mayo/2009 (8,8% a 8,1%).El empleo formal subió de 9.279.000 a 9.479.000 a lo largo de losúltimos doce meses, datos que son coincidentes con el CAGED. Porlo tanto, lo que ha caído ha sido el empleo o la ocupación informal.

La Encuesta de Empleo y Desempleo es realizada por la FundaciónSeade-Dieese en la Región Metropolitana de São Paulo (RMSP).Ésta informa que la tasas de desempleo total disminuyó del 14,8%en mayo /2009 al 14,2% en junio/2009, tras cinco meses consecu-tivos en reducción.

El contingente de desempleados se estimó en 1.495.000 perso-nas, 69.000 menos en relación a mayo/2009. En un año, el númerode empleados formales estimados por la encuesta subió de 4.129.000a 4.418.000.

En el corto plazo, los datos confirman el éxito de las políticas anti-cíclicas impulsadas por el gobierno federal, que detuvieron la ola de des-pidos en las grandes empresas y ampliaron la oferta de empleos formales,especialmente a causa de las obras del PAC y del empleo público.

En el mediano plazo, confrontando estos datos con el crecimiento dela productividad y de los sueldos, se verifican por lo menos tres riesgos:

Page 89: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

89

Valter Pomar

1) el crecimiento del desempleo en el sector informal afecta, a medi-ano plazo, la situación de los empleos formales;

2) si la productividad crece mucho más que el empleo, resultarámayor concentración de renta;

3) si el crecimiento del total de empleos es bajo, esto no afectará ni elstock de desempleados, ni absorberá a los que entran en el mercadode trabajo cada año. En otras palabras, lo que hizo el gobiernoLula, en el enfrentamiento de la crisis, es condición necesaria eindispensable, pero mucho más tendrá que hacerse para generarun cambio de peso, en el terreno económico y social.

Los bloques de poderLos dos grandes bloques político-sociales existentes en Brasil reaccio-

naron ante la crisis de formas diferentes. Los partidos neoliberales, elgran empresariado y sus portavoces en los medios de comunicacióntardaron en reconocer la caída de su “muro”. Y, pasado el estupor, volvi-eron a presentar su agenda ortodoxa, centrada en la “reducción del costoBrasil” (menos impuestos, “gastos” sociales y “costos” laborales).

El efecto práctico de esta política sería procíclico, o sea, agravaríala crisis, teniendo como consecuencia de mediano plazo crear lascondiciones para una retomada del crecimiento, pero por medio dela destrucción de las riquezas acumuladas en el período anterior, conlos costos sociales conocidos.

Desde el punto de vista teórico, la política propuesta por este bloquede poder tiene dos orígenes distintos: el neoliberalismo y el desarrollis-mo conservador del sector privado.

En cambio, los partidos y fuerzas sociales progresistas y de izqui-erda, que constituyen el núcleo del gobierno Lula, reaccionaron a lacrisis afirmando cuatro directrices:a) si el mercado ha entrado en crisis, más Estado;

Page 90: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

90

Notas sobre a política internacional do PT

b) si ha caído la inversión privada, más inversión pública;c) si el mercado externo ha perdido importancia, más mercado interno;d) si la globalización neoliberal ha entrado en colapso, más integra-

ción regional.Tomadas en conjunto, estas directrices constituyen el puente para el

desarrollismo tout court. Teóricamente hablando, ellas se derivan de lasdos vertientes del desarrollismo estatal: el conservador y el democrático.

Los resultados positivos, pero parciales, de las acciones del gobi-erno Lula se deben, por un lado, al impacto de la crisis; por el otro,a las limitaciones y contradicciones en la acción de propio gobierno,además del comportamiento del empresariado privado monopolis-ta. Ilustremos estos otros aspectos de la ecuación:1) el Banco Central brasileño y el Consejo Monetario Nacional siguen

controlados por sectores vinculados al capital financiero y a las po-líticas de corte neoliberal. Por consiguiente, el Banco Central resistiótodo cuanto pudo a bajar la tasa básica de interés (conocida enBrasil como tasa Selic, aplicada a los préstamos interbancarios, elSistema Especial de Liquidación y Custodia) y, pese a las reduccionesque ha admitido, sigue manteniéndola a niveles extremadamenteelevados, ya sea si se piensa en las necesidades de crédito de la eco-nomía brasileña o en las tasas de interés adoptados en otros países.En julio de 2009, la tasa Selic estaba en 8,75% al año, ocupando elquinto puesto mundial en términos de intereses reales, después deChina (7,1%), Hungría (5,6%), Tailandia (5,5%) y Argentina (4,9).Los principales bancos centrales del mundo practican tasas deintereses reales cercanas a cero o negativas;

2) el sistema financiero privado sigue operando a contramano de losintereses del desarrollo productivo nacional, resistiéndose, porejemplo, a la reducción del spread bancario. En el sector financi-ero público, alteraciones promovidas recientemente por el presi-

Page 91: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

91

Valter Pomar

dente de la República han reducido la influencia de los intereses yde la dinámica antidesarrollo y procíclica;

3) el sistema impositivo es regresivo y subgrava las ganancias financi-eras. Al mismo tiempo, la supuesta legislación de “responsabili-dad fiscal” obliga a los entes públicos a priorizar el servicio de ladeuda financiera, reprimiendo la capacidad de inversión estatal.Asimismo, el andamiaje jurídico y burocrático del país todavíacorresponde al período de absoluta hegemonía neoliberal, ejerciendoun verdadero sabotaje a la estrategia de desarrollo;

4) la política cambiaria y de comercio exterior sigue estando orientadapor una lógica que ya era cuestionable en el período previo a lacrisis y ahora mucho más, cuando se hace necesario un protec-cionismo de nuevo tipo, de naturaleza nacional y regional, atono además con las nuevas alianzas estratégicas que viene im-plementado el país;

5) las políticas agraria, agrícola y ambiental siguen subordinadas alagronegocio, pese a que las nuevas condiciones son más favora-bles al giro hacia la fuerte política de reforma agraria y producci-ón para el mercado interno;

6) la política urbana y todo lo que se refiere a la construcción civilpesada, a pesar de la correcta decisión en favor de las inversiones envivienda, todavía sigue atrapada por la lógica de la alianza público-privado, sin notar que el protagonismo estatal en el sector no sepuede limitar a la financiación, sino que debe haber involucramientodirecto en la construcción de viviendas, hidroeléctricas, ferrocarriles,carreteras, puertos y otras áreas de infraestructura;

7) el éxito de varias políticas de transferencia directa de ingreso (bol-sa familia, salario mínimo, jubilaciones, remuneración de los em-pleados públicos federales) convive con intentos de restringir losrecursos para la salud y para la educación públicas;

Page 92: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

92

Notas sobre a política internacional do PT

8) la política industrial persigue la ampliación del mercado internosobre todo a través del abaratamiento del crédito y de la exenciónfiscal para la compra de bienes de consumo durables, siendo pro-porcionalmente tímidas las medidas que apuntan a empujar elmercado interno por medio del crecimiento del sector de bienesde capital e industrias de alta tecnología;

9) el área externa de gobierno, que ha logrado importantes éxitospolíticos, es todavía muy convencional en el terreno económico.Es necesario que Brasil capitanee algo como un “plan Marshall”de inversiones en América Latina. Medidas positivas, tales comolas negociaciones con Bolivia sobre el gas, con Paraguay sobre laenergía eléctrica de Itaipu, con Venezuela sobre el petróleo y conArgentina sobre las tarifas de comercio exterior, aún no han sidointegradas en un plan articulado y ofensivo para impulsar la eco-nomía continental;

10)la política de generación de empleo es exitosa al contener losefectos de la crisis, pero todavía es tímida frente a las necesidadesestructurales del país y frente a los impactos futuros de la crisis.O sea, observando el conjunto de la economía brasileña, lo que

vemos es la coexistencia de diferentes políticas: el desarrollismo con-servador (tanto privado como estatal) y el desarrollismo democráti-co estatal, éste último tensionado por demandas de naturaleza de-mocrático-popular.

Más allá de la inercia histórica, esta conciliación de orientacionesdistintas y contradictorias puede ser explicada por dos importantesnovedades:a) desde 1989 y hasta hoy, vivimos el más prolongado período de

estabilidad institucional de la historia de Brasil. Teniendo en cuentacómo funciona el arreglo político brasileño, esta estabilidad tienecomo consecuencia un proceso lento de decisión de las políticaspúblicas;

Page 93: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

93

Valter Pomar

b) desde 2003 y hasta hoy, vivimos la primera experiencia de ungobierno nacional donde partidos de izquierda ocupan puestoscentrales de decisión. Una vez que estos partidos no cuentan conmayoría propia en los gobiernos municipales y estaduales, en elCongreso Nacional y demás parlamentos de la Federación, en losmedios de comunicación, en el empresariado y en las fuerzas ar-madas, hay una enorme presión en favor de un comportamientoconciliatorio.Además de ello, es necesario recordar lo que ya hemos dicho ante-

riormente: décadas de hegemonía neoliberal limitaron el horizonteintelectual de los sectores críticos. Esto explica, por ejemplo, la per-manencia de algunos prejuicios ingenuos sobre:a) la duración y profundidad de la crisis, como si ella pudiera ser

superada rápidamente y sin grandes conflictos;b) la baja contaminación de los “emergentes”, como si tuviéramos

alta inmunidad e inmensa capacidad de superación;c) la confianza en el éxito y en la repercusión positiva, en la periferia,

de las medidas anticrisis tomadas por los gobiernos de los paísescentrales, a pesar de que tales medidas estén fundamentalmentepermitiendo una sobrevida del modelo anterior;

d) la creencia de que los mercados y los gobiernos de los países cen-trales “aprendieron la lección” y, por lo tanto, no habrá lugar parala guerra como instrumento de la retomada económica,minimizando el peso actual de la economía de guerra, la dinámi-ca de escalada inconsciente y, principalmente, los efectos colate-rales indeseados, derivados de la restauración de un mundo mul-tipolar en los marcos del capitalismo.

Page 94: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

94

Notas sobre a política internacional do PT

EscenariosEn donde son gobierno, las fuerzas progresistas y de izquierda en-

frentan por lo menos tres riesgos:a) no realizar alteraciones estructurales, volviéndose cómplices

involuntarios del status quo;b) el regreso de la derecha, provocando una desorganización profun-

da en la izquierda y haciendo de estos gobiernos tan sólo un breveintervalo en una historia conservadora;

c) el de que estos gobiernos intenten colaborar en la construcción de unnuevo ciclo histórico, pero sin reunir las condiciones políticas e ideo-lógicas para enfrentar la previsible reacción de las clases dominantes.El gobierno brasileño, al igual que la mayoría de los gobiernos

progresistas y de izquierda de América Latina, trató de evitar dichosriesgos a través de una estrategia, hegemónica entre las fuerzas que locomponen, en el sentido de hacer una transición gradual de modelo.

El éxito de esta estrategia dependía y sigue dependiendo de unadifícil ecuación: la lentitud y lo contradictorio de las acciones tiendea desgastar a las fuerzas progresistas y de izquierda que ocupan elgobierno. Para evitar que este desgaste produzca un retorno de lasfuerzas conservadoras y de derecha, es necesario combinar una estra-tegia económico-social moderada, con una estrategia agresiva de cam-bio en las instituciones políticas.

En el caso de Brasil, sin embargo, hasta ahora no han tenido éxitolos intentos de realizar la reforma política, implantar un verdaderocontrol externo del poder judicial y democratizar la comunicaciónsocial. Por esta razón, la fuerza y la capacidad de sabotaje de la oposi-ción conservadora son mucho mayores que su legitimidad social.

A pesar de esto, el presidente Lula fue reelecto en 2006, probable-mente debido a las “reservas estratégicas” (el capital político acumu-lado en más de 20 años y las conquistas sociales efectivas proporcio-

Page 95: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

95

Valter Pomar

nadas por la presencia de la izquierda en el gobierno federal); lamemoria negativa dejada por los gobiernos neoliberales; los errorespolíticos cometidos por nuestros adversarios, las realizaciones delprimer mandato de Lula, la fuerza de la militancia popular, ademásde la línea de campaña adoptada en la segunda vuelta de las eleccionespresidenciales de 2006, cuando hubo un claro confronto entreproyectos políticos.

No se sabe cuál habría sido el resultado de las elecciones de 2006,en un escenario internacional adverso, que potenciara todos los pro-blemas del modelo heredado y todas las insuficiencias y contradicci-ones de la estrategia de transición lenta, segura y gradual adoptadopor el gobierno Lula. Pero es posible decir que la crisis actual reduceel margen de maniobra conciliatoria del gobierno y obliga a las fuerzasprogresistas y de izquierda a acelerar la implementación de una po-lítica desarrollista.

La crisis tiene un efecto simétrico sobre el bloque conservador: lossectores neoliberales se ven obligados a adoptar un perfil más bajo ylos sectores desarrollistas tienden a ganar más espacio. Aunque sudesarrollismo sea privado y conservador, en las condiciones en lasque se entabla la lucha política en Brasil, esto puede ser disimuladopor la demagogia de la campaña electoral, especialmente si la crisisproduce efectos económicos más severos, por ejemplo, en el empleo,en el crecimiento y en la capacidad de inversión pública. En estecaso, la oposición conservadora intentará culpar al gobierno ypresentarse como la garantía de retomada del crecimiento.

Aunque la situación no se agrave, la actitud de la oposición y lasituación de la economía obliga al gobierno a ser más osado en laopción desarrollista, actitud que transformaría la elección de 2010en una confrontación entre un desarrollismo conservador y un de-sarrollo democrático-popular.

Page 96: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

96

Notas sobre a política internacional do PT

Traducido en términos políticos, el programa de la candidaturade Dilma Rousseff tendrá que combinar la defensa de la continui-dad de los aspectos exitosos del gobierno Lula con propuestas decambio y superación. Sin embargo, la elección de Dilma Rousseffcomo presidenta es condición necesaria pero no suficiente para darinicio a un nuevo ciclo en la historia del país.

Para que esto ocurra, es necesario que el resultado global de laselecciones 2010 sea una derrota para la oposición y que los movimi-entos de la clase trabajadora asuman un mayor protagonismo socialy político, rompiendo los bloqueos institucionales que la oposiciónde derecha y los aliados de centro-derecha plantean frente a loscambios de sentido democrático-popular. Será necesario, también,profundizar la política económica de corte desarrollista. Será necesaria,finalmente, la adopción de políticas de carácter democrático-popu-lar, que apunten a:a) la democratización profunda del Estado y de la Sociedad, incluyen-

do la reforma política y el fin del control monopolista sobre lacomunicación social;

b) ampliar el alcance y la calidad de las políticas públicas para uni-versalizar derechos (salud, educación, seguridad pública, serviciosambientales, vivienda, transporte, cultura, comunicación, igualdadracial y étnica, de género, opción sexual, etc.);

c) realizar reformas estructurales (agraria y urbana, por ejemplo),que alteren la matriz social y económica de nuestra sociedad, com-binadas con la ampliación del control público sobre el sistemafinanciero y sobre las antiguas empresas estatales, que fueron pri-vatizadas en los gobiernos neoliberales;

d) crear un modelo económico alternativo, que combine capacidadde crecimiento, innovación, generación de empleo e ingreso, re-distribución de ingreso y riqueza, uso sustentable y protección de

Page 97: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

97

Valter Pomar

los activos ambientales. Es fundamental, en este sentido, la atenciónestatal para los sectores de alta tecnología, especialmente en losprogramas aeroespacial, de biotecnología y desarrollo de la energíarenovable;

e) combinar la soberanía nacional con la cooperación entre los dis-tintos pueblos y países que abracen nuestro proyecto de integracióncontinental.

ConclusiónEn América Latina, vivimos una situación histórica en la cual se

cruzan la presencia de la izquierda en múltiples gobiernos de la re-gión, la defensiva estratégica de la lucha por el socialismo y unalarga y profunda crisis del capitalismo.

Estas son las variables fundamentales de la situación estratégicacomún a toda América Latina que hacen posible y, al mismo tiem-po, exigen de los distintos sectores de la izquierda latinoamericanaaltas dosis de cooperación y creatividad. Sin lo cual no se conseguirásuperar la defensiva estratégica, ni se logrará evitar los riesgos deri-vados de la crisis del capitalismo.

Este texto foi publicado na coleção Cadernos deDebate da Secretaria de Relações Internacionais do PT.

Page 98: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

98

Notas sobre a política internacional do PT

La política externa del gobierno Lula es un tema acerca del cualexiste aguda controversia política y académica.

La oposición de derecha (representada por los grandes medios decomunicación y por tres partidos, a saber: Partido de la Social De-mocracia Brasileña – PSDB, Demócratas – DEM y Partido PopularSocialista – PPS) considera que se trata de una política ideológica,inadecuada y contraria a las tradiciones diplomáticas de Brasil.

La oposición de izquierda (Partido del Socialismo y de la Libertad– PSOL, Partido Socialista de los Trabajadores Unificado – PSTU,Partido de la Causa Obrera – PCO) considera que se trata de unapolítica subalterna a los intereses estratégicos del imperialismo.

Entre los partidos que apoyan al gobierno (Partido de los Trabaja-dores – PT, Partido Comunista de Brasil – PCdoB, Partido SocialistaBrasileño – PSB, Partido Democrático Laborista – PDT, Partido delMovimiento Democrático Brasileño – PMDB, Partido Verde – PV,Partido Laborista Brasileño – PTB, entre otros), más allá de que existenopiniones diversas, en general predomina una evaluación positiva.

En el caso específico del Partido de los Trabajadores, no es exage-rado decir que la política externa es una de las acciones de la actualadministración federal que goza de mayor apoyo, tanto en la direc-ción como entre la militancia del PT (lo cual no significa unanimidad,habiendo, por ejemplo, críticas sobre la participación de Brasil en laMinustah, o divergencias sobre la línea adoptada por Itamaraty enlos estertores de la Ronda Doha).

La política externa de Brasil

Page 99: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

99

Valter Pomar

Las divergencias sobre la política externa se han puesto de mani-fiesto, una vez más, en el debate sobre el golpe en Honduras, espe-cialmente en lo que se refiere a la decisión de recibir, como huéspedde la embajada brasileña de ese país, al presidente legal y legítimoManuel Zelaya.

Críticos “por izquierda” de la política externa brasileña, como elensayista argentino Atilio Borón, han revelado su total perplejidadal escribir sobre el tema sin mencionar una vez siquiera el papel deBrasil, quizá por no saber explicar cómo puede actuar de manera tanheterodoxa un país supuestamente candidato a ser el “Israel de Amé-rica Latina”.

En cambio, los críticos “por derecha”, como Roberto Freire (pre-sidente del PPS) y los senadores Heráclito Fortes (DEM) y EduardoAzeredo (PSDB), han acusado a Brasil de “injerencia indebida enlos asuntos internos de Honduras”. Una crítica de mayor compleji-dad analítica se pude encontrar en el artículo “Honduras y elapocalipsis diplomático”, del ensayista brasileño Oliveros S. Ferreira.

No pretendemos aquí reseñar la controversia pasada y presenteacerca de la política externa brasileña; nos limitamos a presentar unainterpretació, que puede servir de guía para el debate de la estrategiay de los dilemas de la política del gobierno Lula en el terreno inter-nacional.

Para alcanzar este objetivo, abordaremos los siguientes temas: a)la trayectoria reciente del país (1980-2009); b) la situación interna-cional en este mismo período; c) en particular en América Latina; d)situando en este contexto a la política externa adoptada por el gobi-erno Lula (cuyo mandato se extiende de 2003 a 2010); e) finalizan-do con un análisis de los dilemas de la política externa brasileña parael próximo período.

Page 100: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

100

Notas sobre a política internacional do PT

Trayectoria reciente de BrasilEn 1980 se cerró un ciclo de la historia brasileña, iniciado en

1930 y caracterizado por el rápido crecimiento económico, la indus-trialización y la urbanización. A partir de los años ochenta tuvoinicio un período de doble crisis: del modelo económico y de ladictadura militar (1964-1985).

En este contexto, ocurre un intenso crecimiento de la izquierdapolítica y social, organizada en distintos partidos (Partido de losTrabajadores, Partido Democrático Laborista, Partido SocialistaBrasileño, Partido Comunista de Brasil, Partido Comunista Brasileñoetc.) y movimientos sociales (Central Única de los Trabajadores, Mo-vimiento Sin Tierra, Unión Nacional de los Estudiantes etc.), suma-mente actuante en el Congreso Constituyente (1986-1988), queobtuvo crecientes votaciones en las elecciones municipales, en laselecciones de los estados y principalmente en las elecciones presiden-ciales de 1989, cuando llevó a Luiz Inácio Lula da Silva a la segundavuelta (ballotage).

El crecimiento de la izquierda tuvo su contrapartida en el fortale-cimiento de un polo neoliberal, que venció las elecciones presidenci-ales de 1989 con Fernando Collor de Mello y, de manera más plani-ficada, las elecciones presidenciales de 1994 y 1998, con FernandoHenrique Cardoso.

En Brasil, el neoliberalismo no logró aplicar hasta el fin su programa,debido a la oposición nacional, popular y de izquierda, pero tambiéndebido a resistencias al interior del propio empresariado, oposicionesreforzadas por la inadecuación entre las políticas neoliberales y lascondiciones estructurales del país (que figura entre los primeros delmundo en términos de área, población y Producto Bruto Interno).

A pesar de la oposición, el neoliberalismo introdujo cambios pro-fundos en la sociedad brasileña, entre los cuales podemos destacar:

Page 101: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

101

Valter Pomar

a) la ampliación de la presencia del capital extranjero y de las llamadas“vulnerabilidades externas”;

b) la concentración del sector financiero y bancario;c) el debilitamiento de los sectores empresariales de mediano y

pequeño porte, especialmente los vinculados al mercado interno;d) el fortalecimiento de un sector minoritario, pero muy influyente

políticamente, de asalariados de altos ingresos, vulgarmente co-nocidos como “clase media alta”;

e) el crecimiento de la franja de trabajadores de bajos ingresos yvinculados al sector informal de la economía, que algunos autoresdenominan el “pobretariado”;

f ) la ampliación del desempleo estructural y, en general, del ejércitode reserva de fuerza de trabajo;

g) el debilitamiento de varias dimensiones del Estado brasileño, condestaque para las privatizaciones de empresas estatales y el com-bate sistemático, por parte de los gobiernos neoliberales, a lasdirectrices adoptadas por la Constitución de 1988.Los efectos económicos y sociales de las políticas neoliberales, el

desgaste de ocho años de gobierno Cardoso, las disidencias de unsector del empresariado, sumados a la acumulación de fuerzas ideo-lógica, social y electoral de la izquierda brasileña, especialmentealrededor del Partido de los Trabajadores y de la candidatura de Lula(que disputó y perdió las elecciones presidenciales de 1989, 1994 y1998), crearon las condiciones para que las fuerzas de izquierdavencieran las elecciones presidenciales de octubre de 2002.

Lula se elige presidente de Brasil basado en un programa de “tran-sición” del neoliberalismo hacia un capitalismo “productivo”. Setrataba de superar las causas y efectos de la “década perdida” de losaños 1980 y de la década neoliberal de los años 1990, que habíanprovocado la reducción de la dimensión productiva y planificadora

Page 102: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

102

Notas sobre a política internacional do PT

del Estado y resultado en una inserción subordinada en la llamadaglobalización y en la ampliación de la desigualdad social, profundi-zando las características fundamentales de la sociedad brasileña (de-pendencia, desigualdad y conservadurismo) y bloqueando el dina-mismo económico desarrollista, que durante décadas sirvió de “vál-vula de escape” para las inmensas contradicciones sociales brasileñas.

De 2003 a 2005, el gobierno Lula adoptó una estrategia de tran-sición basada en la conciliación con los presupuestos neoliberales. Acontinuación, adhirió progresivamente al desarrollismo, anunciado enla segunda vuelta de las elecciones presidenciales de 2006, cristalizadoen el Plan de Aceleración del Crecimiento (PAC) lanzado en 2007 yreforzado en el anuncio del marco regulatorio del Pre-Sal, en 2009.

Los resultados obtenidos tras casi siete años de gobierno Lula sonrelevantes y señalan la posibilidad de que Brasil viva un nuevo ciclolargo de crecimiento, similar al de 1930-1980.

La materialización y la naturaleza de este nuevo ciclo dependerán,sin embargo, del resultado de la disputa política, en especial de laselecciones de 2010. En otras palabras: la victoria en las eleccionespresidenciales, aunque no sea condición suficiente, es condiciónnecesaria para que se concrete este nuevo ciclo.

De ser Dilma Rousseff, actual ministra de la Casa Civil de Lula,la próxima presidenta de la República, existen grandes posibilidadesde que Brasil supere la hegemonía neoliberal (que todavía constriñeal gobierno y al conjunto de la sociedad), además de superar el perí-odo de crisis del modelo (iniciado en 1980). Todo ello enmarcadoen una situación internacional completamente distinta de la vigentedurante la mayor parte del siglo XX.

La situación internacionalAlrededor de 1980 tuvo inicio, embanderada por el presidente

Page 103: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

103

Valter Pomar

estadounidense Ronald Reagan y por la primera ministra británicaMargaret Thatcher, la operación económica, política y militarconocida hoy como “neoliberalismo”.

Concebido inicialmente como una protesta contra las tendenciassupuestamente socialistas del Estado de bienestar social, el neolibe-ralismo sólo se hizo hegemónico entre los capitalistas de Europa y delos Estados Unidos después de la gran crisis de los años 1970.

La década de 1980 es de ofensiva neoliberal, simultáneamentecontra cuatro adversarios:a) el desarrollismo latinoamericano;b) los movimientos de descolonización e independencia nacional;c) la socialdemocracia europea;d) el comunismo soviético.

Es importante decir que, en aquel momento, una victoria delneoliberalismo estaba lejos de ser inevitable o fácilmente previsible.

En 1974-1975, la socialdemocracia controlaba los gobiernos deGran Bretaña, Alemania Occidental, Austria, Bélgica, Holanda, No-ruega, Dinamarca, Suecia y Finlandia.

En el mismo bienio, tuvo curso la liberación de las colonias por-tuguesas de África y la Revolución de los Claveles en la metrópoli.En 1975, se concluía la guerra de Vietnam. En 1979, triunfaban lasrevoluciones en Irán y en Nicaragua, al mismo tiempo que la guerrade guerrillas seguía fuerte en varios otros países de América Latina,tales como El Salvador, Guatemala y Colombia. A principios de losaños 1980, la socialdemocracia asumía el control de los gobiernosde Francia, Italia, Grecia, España y Portugal.

Es cierto que datan también de esta época las inmensas contra-dicciones y dificultades del llamado campo socialista. Ejemplos deello son la guerra de Afganistán, los conflictos de frontera entre Viet-nam y Camboya, el enfrentamiento entre China y la Unión Soviéti-

Page 104: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

104

Notas sobre a política internacional do PT

ca, las reformas “de mercado” impulsadas por Deng Xiao Ping y elSolidarnosc en Polonia.

Pero predominaba todavía, en aquel momento, la idea de quetales problemas se solucionarían a través de una auto-reforma delsocialismo. En el caso soviético, el proceso de glasnost y perestroikatuvo inicio justamente a mediados de los años 1980, con la elecciónde Mikhail Gorbachev como secretario general del Partido Comu-nista de la Unión Soviética.

Por lo tanto, en el principio, el neoliberalismo era tan sólo una delas varias tendencias de la coyuntura internacional. Socialdemócra-tas, comunistas, nacionalistas y desarrollistas poseían (o parecíanposeer) la fuerza suficiente para imponer otro camino al mundo.Hoy sabemos que todas aquellas corrientes políticas fracasaron en elenfrentamiento de la “gran crisis” de los años 1970.

Los países libertos de la opresión colonial fueron nuevamente su-bordinados a los intereses metropolitanos (siendo común incluso elempleo del término “recolonización”). Los países que se “desarrolla-ron” tras la Segunda Guerra pasaron a experimentar cierta regresión.Las conquistas obtenidas por la clase trabajadora en los países capi-talistas centrales, materializadas en el llamado Estado de bienestarsocial, fueron atacadas. Y el desmantelamiento del llamado camposocialista abrió una nueva frontera de expansión para el capitalismo,incorporando al mercado mundial una enorme masa de trabajado-res, impactando fuertemente, para peor, las condiciones generales deempleo y salario.

El retroceso generalizado de las posiciones conquistadas por laizquierda estuvo acompañado de transformaciones en el funciona-miento del capitalismo y en las condiciones de vida de las clasestrabajadoras, tales como la reducción del campesinado, la ampliaci-ón de las relaciones asalariadas (“proletarización”) vis a vis la pérdida

Page 105: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

105

Valter Pomar

de peso relativo de la clase operaria industrial strictu sensu. Todosestos fenómenos tuvieron durísimos efectos sobre los partidos deizquierda y sobre otras formas de organización de la clase trabajado-ra, como los sindicatos.

Unos de los efectos más perniciosos se dio en el terreno ideológi-co. En palabras de Beverly Silver: “la creencia de que no había otraalternativa tuvo efecto particularmente desmovilizador en los movi-mientos obreros. (...) la propia ‘idea de poder’ es una fuente impor-tante del poder de los trabajadores. Todas las movilizaciones del siglopasado fueron alimentadas por la creencia de que los obreros tienenpoder y, más que eso, de que su poder puede usarse para efectiva-mente mejorar sus condiciones de trabajo y de vida. Lo que hizo laglobalización, más que cualquier otra cosa (...), ‘fue invalidar esacreencia secular en el poder de los trabajadores’ y crear un ambientediscursivo que desinfló dramáticamente la moral política popular ylas ganas de luchar por los cambios”.

La desmoralización fue aun más profunda porque los primerosintentos de construcción del socialismo parecían haber desmorona-do debido al peso de sus propias contradicciones: la debacle políticaestuvo acompañada de una derrota social, ideológica y teórica deenormes proporciones, teniendo como resultado, además, un cam-bio brutal del equilibrio de fuerzas militar y geopolítico prevalecientedesde 1945.

Antes de 1917, el capitalismo competía con otras formas de orga-nización social; a partir de la Revolución Rusa, el capitalismo pasó aenfrentar la competencia de algunos intentos de construir una soci-edad poscapitalista; tras la Segunda Guerra, el conflicto capitalismoversus socialismo llegó a definir los marcos de la política mundial.Pero el siglo XX termina con el capitalismo triunfante y con elanticapitalismo en su momento de mayor fragilidad.

Page 106: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

106

Notas sobre a política internacional do PT

La ofensiva de los años 1980 obtuvo su principal victoria justa-mente en el período que va desde la caída del Muro de Berlín hastala disolución de la Unión Soviética (1989-1991).

Los años 1990 inauguraron un período de hegemonía capitalistasin parangón en la historia, con tres dimensiones: a) en la ideología, elneoliberalismo; b) en la economía, el peso de la valorización financie-ra del capital; c) en la política, la hegemonía de los Estados Unidos.

Como muchas veces ocurre en la historia, el auge del neoliberalis-mo coincide con las señales de su declinación. Después de la ofensivade los años 1980 y del triunfo de los años 1990, la primera década delsiglo XXI es de agotamiento y crisis: de la ideología neoliberal, de laespeculación financiera y de la hegemonía unipolar.

América Latina, verdadero laboratorio del neoliberalismo, será tam-bién el laboratorio de los primeros experimentos post neoliberales.

Nuestra AméricaEn los años 1980, gran parte de América Latina se encuentra

inmersa en un doble proceso: la crisis de la deuda externa y la crisisde las dictaduras militares.

La crisis de la deuda fue resultado de la combinación entre: a) laoferta de créditos baratos, pero con intereses flotantes; b) préstamospara financiar un patrón de desarrollo que amplió las vulnerabilidadesexternas; c) la elevación de los intereses, desencadenada por el FED,teniendo como resultado el crecimiento desmesurado del servicio dela deuda externa de los países latinoamericanos.

La incapacidad de generar divisas necesarias para servir tales deudasdesemboca en moratorias (técnicas, parciales, generales), renegociaci-ones con la banca privada, búsqueda de préstamos ante el FMI, con-dicionados a programas de reestructuración de tipo neoliberal (aperturacomercial, privatizaciones, reducción de los “gastos” sociales etc.).

Page 107: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

107

Valter Pomar

La crisis de la deuda deterioró las condiciones económicas y soci-ales de la región, acelerando el proceso de desgaste de las dictadurasmilitares, que en los años 1960 y 1970 fueron la respuesta político-institucional preferente dada por las clases dominantes locales y porlos Estados Unidos a cualquier amenaza a sus intereses.

Las dificultades y desgastes alcanzan también a aquellos paísesque no vivieron golpes ni dictaduras, como es el caso de México(afectando al Partido Revolucionario Institucional, cuya prolongadahegemonía fue denominada por algunos como “la dictaduraperfecta”).

La combinación entre las dos crisis (de las dictaduras y de la deu-da externa) generó movimientos contradictorios: por un lado, la am-pliación de las demandas populares por mejores condiciones de vida;por otro lado, el empeoramiento de las condiciones macroeconómi-cas y de la capacidad de ejecución de políticas públicas por parte delEstado.

De esta doble dinámica resultaron combinaciones variadas, encada país de la región. En el caso de Brasil, por ejemplo, la “décadaperdida” desde el punto de vista económico también fue una déca-da de conquistas parcialmente materializadas en la Constituciónde 1988, cuyas limitaciones fueron denunciadas por el Partido delos Trabajadores, pero cuyos avances dejaban al país “ingoberna-ble”, según expresión del entonces presidente de la República JoséSarney.

Frente a esta doble presión, sumada a las alteraciones conservado-ras en curso en la situación internacional, sectores cada vez másamplios de las clases dominantes locales adhieren al neoliberalismo.Con la victoria de Collor (1989) y Fernando Henrique Cardoso(1994), el proceso de redemocratización es fuertemente constreñidopor las políticas del Consenso de Washington.

Page 108: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

108

Notas sobre a política internacional do PT

El mismo proceso – una redemocratización limitada, “restringi-da” – también ocurre en otros países de la región. En los años 1990,la mayor parte de América Latina se encuentra sometida a gobiernosque, con distintas velocidades e intensidades, implementan progra-mas de orientación neoliberal.

La principal excepción, si no la única, es Cuba, que no obstantees forzada a hacer su propio “ajuste”, a causa del colapso de la UniónSoviética, conocido como “período especial”.

Tomado en conjunto, el resultado fue: a) un retroceso del procesode industrialización ocurrido en la región desde los años 1930; b) laampliación de las ya inmensas vulnerabilidades externas; c) el recru-decimiento de la desigualdad social; d) la agudización de los conflic-tos y la inestabilidad política.

En América Latina, la oposición al neoliberalismo combinó dife-rentes formas de lucha: a) movilización social; b) distintos niveles dearticulación continental, de los que son ejemplos el Foro de SãoPaulo y el Foro Social Mundial; c) la disputa de elecciones y el ejer-cicio de gobiernos a nivel nacional, subnacional y local.

Esta oposición se vio beneficiada por la desatención relativa de losEstados Unidos para con su “patio trasero”; y logró capitalizar losefectos negativos del neoliberalismo, incluso sobre los partidos dederecha. El resultado fue una progresiva acumulación de fuerzas porparte de la izquierda que generó, desde 1998 (Hugo Chávez) hasta2009 (Mauricio Funes), una ola de victorias en las elecciones para elgobierno nacional en varios países de América Latina.

A los gobiernos resultantes de esta ola, se suman, además:a) el gobierno de Cuba, resultante de la revolución de 1959;b) el gobierno de Chile, resultante del proceso de democratización

iniciado con la derrota plebiscitaria de Pinochet;c) gobiernos originalmente dirigidos por presidentes conservadores

Page 109: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

109

Valter Pomar

que decidieron aliarse al bloque progresista y de izquierda hege-mónico en la región (un ejemplo destacado de este caso es el pre-sidente Manuel Zalaya, de Honduras).

Todos estos gobiernos deben enfrentar tres grandes problemas:a) la “herencia maldita” recibida del neoliberalismo, de las dictaduras,

del desarrollismo conservador y hasta del pasado colonial (comoen Bolivia);

b) la oposición de las clases dominantes locales, que cuestionan inclu-so la legitimidad y el carácter democrático de gobiernos que busquenalterar los niveles absurdos de concentración de riqueza e ingreso;

c) la influencia de los intereses metropolitanos, europeos y estadouni-denses, sobre la política, los mercados y las riquezas nacionales.En los dos sentidos, en lo enfrentamiento de los tres problemas,

Brasil juega un papel muy importante.

La política externa del gobierno LulaDiferentemente del gobierno Fernando Henrique Cardoso (1995-

2002), que implementó el neoliberalismo en Brasil y se alió a suspromotores en el mundo, el gobierno Lula nació de la oposición alneoliberalismo y adoptó, progresivamente, una estrategia de supera-ción desarrollista del mismo.

Las diferencias entre los dos gobiernos se vieron obscurecidas, poralgún tiempo, especialmente por la continuidad de una políticamonetaria ortodoxa, personificada por Henrique Meirelles, presi-dente del Banco Central brasileño. Pero, en el ámbito de la políticaexterna, las diferencias siempre fueron muy visibles. A rigor, pode-mos decir que la política externa anticipó el movimiento progresistarealizado por el conjunto del gobierno Lula, estando desde el princi-pio bajo la hegemonía de concepciones fuertemente críticas al neo-liberalismo y a la hegemonía de los Estados Unidos.

Page 110: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

110

Notas sobre a política internacional do PT

Colaboró para esto la existencia, en el Itamaraty, de una corrientenacionalista, desarrollista y pro integración regional, cuyas princi-pales figuras de liderazgo son precisamente el canciller Celso Amorimy el secretario general Samuel Pinheiro Guimarães.

Contribuyó también la militancia internacionalista del Partido delos Trabajadores y del presidente Lula, expresada en la creación de unaasesoría especial del presidente de la República encabezada por MarcoAurélio Garcia, actualmente uno de los vicepresidentes nacionales ydurante muchos años secretario de relaciones internacionales del PT.

Fueron favorables, asimismo, para conformar la política externa,las características geopolíticas del país, el porte de sus grandes empre-sas y ciertas tradiciones de la diplomacia brasileña, incompatibles conel molde estrecho concebido para nosotros por el neoliberalismo.

La política externa del gobierno Lula se desarrolló en los marcosde una situación mundial que podríamos resumir como de crisis &transición: a) crisis del ideario neoliberal, en un momento en que elpensamiento crítico todavía se recupera de los efectos de más de dosdécadas de defensiva político-ideológica; b) crisis de la hegemoníaestadounidense, sin que haya un hegemon sustituto, lo que estimu-la la formación de bloques regionales y alianzas transversales; c) cri-sis del actual patrón de acumulación capitalista, sin que esté visiblecuál será la alternativa sistémica; d) crisis del modelo de desarrolloconservador & neoliberal en América Latina y en Brasil, estando encurso la transición hacia un post-neoliberalismo cuyos trazos sedefinirán a lo largo de la propia marcha.

En otras palabras, una situación en la que los modelos antes he-gemónicos están en crisis, sin que hayan emergido claramente losmodelos sustitutos.

Un elemento central de esta situación mundial es la crisis delcapitalismo neoliberal, en la cual convergen: a) una crisis clásica deacumulación; b) el agotamiento de la “capacidad de gobernanza” de

Page 111: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

111

Valter Pomar

las instituciones de Bretton Woods; c) los límites del consumo in-sostenible de la economía estadounidense; d) la dinámica de la espe-culación financiera.

Estas variables señalan el advenimiento de un período más o me-nos prolongado de inestabilidad internacional, además del surgimi-ento de “soluciones” intermedias, temporales e ineficaces.

En el corto y mediano plazos, la inestabilidad está vinculada a lacrisis del capitalismo neoliberal y a la decadencia de la hegemoníanorteamericana. En el largo plazo, corresponde a la creciente contra-dicción entre la “globalización” de la sociedad humana versus el carác-ter limitado de las instituciones políticas nacionales e internacionales.

Estas tres dimensiones de la inestabilidad hacen que sea más ur-gente y, al mismo tiempo, más difícil construir alternativas. El viejomodelo no funciona adecuadamente, pero sigue inmensamentefuerte, mientras los nuevos modelos económicos y políticos estánsurgiendo, pero todavía no logran imponerse.

En este contexto se desarrolla, por lo tanto, la política externa delgobierno Lula, que respeta, en primer lugar, los parámetros estableci-dos por la Constitución de la República Federativa de Brasil, aprobadaen 1988, cuyo artículo 4o afirma que la “República Federativa de Bra-sil se rige en sus relaciones internacionales por los siguientes principios”:“independencia nacional; prevalencia de los derechos humanos; auto-determinación de los pueblos; no intervención; igualdad entre los Es-tados; defensa de la paz; solución pacífica de los conflictos; repudio alterrorismo y al racismo; cooperación entre los pueblos para el progresode la humanidad; concesión de asilo político”.

El “párrafo único” del mismo artículo 4° afirma además que “laRepública Federativa de Brasil buscará la integración económica,política, social y cultural de los pueblos de América Latina, apuntan-do a la formación de una comunidad latinoamericana de naciones”.

Page 112: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

112

Notas sobre a política internacional do PT

Basado en estos parámetros constitucionales, el gobierno Lula hizode su política externa un importante instrumento para alcanzar,entre otros, los siguientes objetivos: a) desarrollo nacional, integra-ción regional y reducción de las vulnerabilidades externas; b) forta-lecimiento del papel del Estado, incluso en términos de Defensa delas fronteras marítimas y terrestres, con destaque para la Amazoníalegal; c) ampliación del papel internacional del país, por ejemplo,obteniendo la condición de miembro permanente del Consejo deSeguridad de la ONU, incidiendo en la reforma de las institucionesmultilaterales, consolidando relaciones con otros grandes Estadosperiféricos, evitando acuerdos subalternos e apostando fuertementea la integración regional.

Veamos de forma más detallada, aunque sea superficialmente, al-gunas acciones y directrices internacionales de nuestra política ex-terna, señalando dilemas presentes y futuros.

MultilateralismoEn la segunda mitad del siglo pasado, la política externa brasileña

se desarrolló en dos grandes escenarios: la “bipolaridad” y la “unipo-laridad”, ambos imponiendo límites y constreñimientos a un granEstado periférico como Brasil.

En los últimos años, especialmente a partir de la crisis internacio-nal de 2008, la “unipolaridad” fue siendo remplazada por la “multipo-laridad”. Pero, tal como en los dos escenarios anteriores, las grandespotencias siguen concentrando un inmenso poder económico, mili-tar y político.

Un fuerte aspecto de esta concentración de poder es el militar: elpresupuesto de los Estados Unidos responde, solo, por mitad de losgastos militares totales de los principales países del mundo.

Las potencias utilizan su poder para: a) retardar o incluso evitar

Page 113: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

113

Valter Pomar

reformas que democraticen las instituciones; b) crear instituciones eimponer acuerdos que consoliden su propia hegemonía.

Hay, en este sentido, un oligárquico hilo de coherencia entre elvaciamiento de la Asamblea General de la ONU, la violación deciertas garantías del Derecho Internacional, la ampliación del radiode acción de la OTAN, la concentración de poderes en el Consejo deSeguridad y la institucionalización de hecho del G20.

En los tres escenarios mencionados (“bipolaridad”, “unipolari-dad”, “multipolaridad”), predominó en la política externa brasileñael deseo de ampliar el margen de maniobra del país, gran Estadoperiférico (área de 8,5 millones de metros cuadrados, 15 mil kilóme-tros de frontera con diez países, 9 mil kilómetros de costa atlántica,cerca de 200 millones de habitantes, integrante de la lista de mayo-res PBIs etc.).

El gobierno Fernando Henrique Cardoso, al contrario, estuvosignado por una política externa de reducción de nuestro margen demaniobra.

En este sentido, podemos decir que el gobierno Lula recuperóuna de las tradiciones de la diplomacia brasileña, enfatizando:a) la integración regional;b) el diálogo con otros grandes Estados periféricos;c) la ampliación de la presencia y de las relaciones, incluso comerci-

ales, de Brasil en el mundo;d) la reforma de la ONU, del Fondo Monetario Internacional, Ban-

co Mundial y otras instituciones del sistema Bretton Woods;e) la reivindicación de un asiento permanente para Brasil en el Consejo

de Seguridad de las Naciones Unidas;f ) la protección de los intereses nacionales, en las instituciones de

negociaciones multilaterales (por ejemplo, el ALCA, OMC yTNP).

Page 114: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

114

Notas sobre a política internacional do PT

Dichos énfasis dados por el gobierno Lula pueden resumirse en elconcepto “Sur-Sur”.

La crisis internacional de 2008 confirmó el acierto de esta políticay amplió aun más el radio de acción internacional de Brasil, lo quequeda claro por el espacio conquistado en instituciones formales oinformales, como es el caso del G20 (ex G8).

Con respecto a esto, es importante comprender la novedad,impulsada por la crisis, de la sustitución del G8 por el G20, sucomposición y sus auto-atribuciones. Dentro de ello, el rol jugadopor Brasil, que, sin disponer de un asiento permanente en el Consejode Seguridad, viene paulatinamente ganándose un reconocimientointernacional compatible de hecho con este status.

Es importante tener en claro que la política externa brasileña notiene como objetivo sustituir, sino convivir en mejores condicionescon un sistema internacional profundamente inestable, desigual yconcentrador de poder.

Eso se ha buscado a través de dos movimientos: a) por un lado, la“democratización” de las instituciones internacionales; b) por otro lado,el intento de obtener voz activa para Brasil (y, por medio de Brasil, parala región) en todos los espacios formales e informales de poder.

Este segundo movimiento implica, participar, aunque cuestio-nando la desigualdad y concentración de poder, de las institucionesen las que se concentran las decisiones, incluso cuando ello significaasumir compromisos.

Los dos movimientos a veces son contradictorios entre sí, pues losintereses de Brasil no siempre coinciden con los intereses nacionalesde sus aliados (demás Estados periféricos y otros países, incluso losde la región).

Además, la política externa del gobierno Lula también expresa lascontradicciones derivadas de su composición pluriclasista. Esta pro-blemática quedó evidenciada en la etapa final de la Ronda Doha,

Page 115: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

115

Valter Pomar

que se vio agravada, en aquella circunstancia, por la apuesta hechapor los negociadores brasileños, que contra todas las evidencias pa-recían creer que era posible “salvar” la Ronda y que era mejor algúnacuerdo, aunque malo, que ningún acuerdo.

Dicha postura causó estremecimientos al interior del G20 –eneste caso aquél formado en agosto de 2003, que reunía países res-ponsables por el 26% de las exportaciones agrícolas mundiales, talescomo Sudáfrica, Egipto, Nigeria, Tanzania, Zimbabwe, China, Fili-pinas, India, Indonesia, Pakistán, Tailandia, Argentina, Bolivia, Bra-sil, Chile, Cuba, Ecuador, Guatemala, México, Paraguay, Perú, Uru-guay y Venezuela.

De cualquier forma, la crisis internacional de 2008 hizo aun máslegítima y urgente la reforma de las instituciones internacionales.

Muchas regiones del planeta, empezando por los Estados Unidosy Europa, siguen experimentando la retracción del empleo, la caídade la producción, de la renta interna y del comercio internacional.Por otro lado, según el G20, “las condiciones para una recuperaciónde la demanda privada no están totalmente dadas”, lo que significadecir que el endeudamiento público sigue siendo fundamental paramantener el nivel de funcionamiento de la economía, ampliando loscuestionamientos sobre los efectos futuros de estos déficit millonarios.

A pesar de ello y de seguidas declaraciones y comunicados, losorganismos internacionales, el sistema financiero y los gobiernoscentrales retardan o incluso ignoran la necesidad de adoptar medidasestructurales contra las causas de la crisis. El motivo de esta postura esobvio: un combate efectivo a las causas de la crisis tendría como sub-producto el debilitamiento de mecanismos que son tremendamentefuncionales a la condición hegemónica de las potencias.

En gran medida, esto explica la lentitud y la modestia de las me-didas adoptadas desde el estallido de la crisis. Sirven de ejemplo los

Page 116: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

116

Notas sobre a política internacional do PT

compromisos asumidos en la reunión del G20 realizada en Pittsburghen septiembre de 2009 acerca de las cuotas del Banco Mundial y delFondo Monetario Internacional.

Brasil, apoyado por Rusia, India y China, ha pedido la alteraciónde las cuotas en favor de los Estados periféricos, cambiando compo-sición y reglas que todavía corresponden, en lo fundamental, a lacorrelación de fuerzas resultante de la Segunda Guerra.

En general, la diplomacia brasileña ha participado activamentede la discusión de las medidas anticrisis, de reforma de las institucio-nes internacionales y del patrón económico. Tales medidas son reco-nocidamente limitadas y parciales, teniendo como objetivo evitarun colapso generalizado, que tendría efectos catastróficos en la “pe-riferia” del mundo.

Brasil también manifestó opinión sobre la necesidad de una nuevamoneda internacional, al igual que lo hicieron China y otros países.

Claro está que alterar el status del dólar exige, más allá de lascomplejidades técnicas, una profunda subversión de la correlaciónde fuerzas mundial, motivo por el cual no se trata de una cuestiónpara la que haya solución de corto plazo.

Pero el hecho de poner el tema en debate revela, además de lainsatisfacción con la ya declinante hegemonía estadounidense, lacreciente preocupación con la sustentabilidad de los déficit de lapotencia, ampliados por la inyección millonaria hecha para evitar labancarrota.

Además de colaborar con la discusión sobre una nueva “arquitec-tura” política y financiera mundial, Brasil desarrolla una intensa po-lítica de cooperación entre los grandes Estados periféricos, a travésde una diplomacia conocida como “de geometría variable”, especial-mente con China, Rusia y Sudáfrica (BRIC e IBSA), en un intentode crear lazos económicos, sociales, políticos, militares e ideológicos

Page 117: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

117

Valter Pomar

que permitan la convivencia, sin subordinación o dependencia, conla (a mediano plazo) decadente hegemonía de los Estados Unidos yde la Unión Europea.

El IBSA se formalizó en 2003, como “Foro de Diálogo” entre India,Brasil y Sudáfrica. Entre sus objetivos, destacamos los siguientes:a) “respeto a las reglas del Derecho Internacional, del fortalecimiento

de la Organización de las Naciones Unidas y del Consejo de Segu-ridad y prioridad al ejercicio de la diplomacia como medio para elmantenimiento de la paz y de la seguridad internacionales”;

b) “reformar la Organización de las Naciones Unidas, en particular elConsejo de Seguridad, aumentar la eficiencia de la Asamblea Ge-neral y del Consejo Económico y Social de las Naciones Unidas”;

c) “nuevas amenazas a la seguridad deben ser enfrentadas por mediode una cooperación internacional eficaz, articulada y solidaria, enlas organizaciones competentes y sobre la base del respeto a lasoberanía de los Estados y al Derecho Internacional”;

d) “dar mayor impulso a la cooperación” en áreas como biotecnolo-gía, fuentes alternativas de energía, espacio exterior, aeronáutica,informática, agricultura, defensa, transporte, aviación civil, co-municación e información, incluyendo tecnologías digitales;

e) empeño en la agenda ambiental e “implementación efectiva de laConvención sobre Diversidad Biológica, en especial de los dere-chos de los países de origen sobre sus propios recursos genéticos,además de la protección del conocimiento tradicional asociado”;

f ) “que los resultados de la ronda de negociaciones comerciales en cursocontemplen especialmente la reversión de las políticas proteccionistasy prácticas conducentes a distorsiones del comercio, mediante lamejora de la reglas del sistema multilateral de comercio”;

g) “articular sus iniciativas de liberalización comercial”;h) “hacer que la arquitectura financiera internacional sea receptiva

Page 118: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

118

Notas sobre a política internacional do PT

al desarrollo y aumentar su eficiencia para prevenir y lidiar concrisis financieras nacionales y regionales” (www.mre.gov.br).Los BRIC, en cambio, no constituyen un grupo formalizado,

aunque en junio de 2009 ocurrió ya una reunión entre los jefes deEstado de estos cuatro grandes Estados: Brasil, Rusia, India y China.

El gobierno Lula viene ampliando los contactos políticos, comer-ciales y de inversiones, en la región latinoamericana, pero tambiénen Asia, Medio Oriente y África, esta última considerada como unade las prioridades de la política externa brasileña.

En este caso, como en otros, se echó mano activamente de la diplo-macia directa. El presidente Lula visitó personalmente más de quinceEstados africanos (San Tomé y Príncipe, Angola, Mozambique, Na-mibia, Sudáfrica, Egipto, Libia, Gabón, Cabo Verde, Camerún, Ni-geria, Gana, Guinea-Bissau, Senegal, Argelia, Benin y Botsuana) ycreció la representación diplomática brasileña en el continente.

También creció la representación diplomática de países africanosen Brasil. Se realizaron dos cumbres entre América del Sur y África,la más reciente en septiembre de 2009.

También implicando al continente africano, tuvo continuidad laComunidad de los Países de Lengua Portuguesa, creada en 1996,que reúne a Brasil, Portugal, Timor Oriental, Guinea-Bissau, CaboVerde, Santo Tomé y Príncipe, Mozambique y Angola.

Criticado por la oposición por inútil, dispersivo e ideológico, esteesfuerzo multilateral ha colaborado para la ampliación y diversifica-ción del comercio internacional de Brasil.

En esta misma orientación, el país ha incrementado la actuacióny disputado la dirección de varios organismos internacionales y arti-culaciones. Ejemplos recientes de ello son: a) la creación del G20,que actuó en el ámbito de las negociaciones de la OrganizaciónMundial del Comercio; b) la I Conferencia de Jefes de Estado de

Page 119: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

119

Valter Pomar

América del Sur – Países Árabes; c) el IBSA, que reúne a Brasil,India y Sudáfrica.

En todas las oportunidades, el gobierno brasileño viene defen-diendo posiciones afinadas con las orientaciones tradicionales de ladiplomacia brasileña –como el multilateralismo y la paz– cada vezmás reforzadas por la explícita disposición de preservar y ampliar elmargen de maniobra de Brasil.

Cabe destacar la oposición de Brasil a la guerra de los EstadosUnidos contra Iraq; las posiciones defendidas por Brasil en la Comi-sión y ahora Consejo de Derechos Humanos de la ONU, incluso encasos controvertidos como el de Sudán; la defensa del derecho aldesarrollo de tecnología para el uso pacífico de la energía nuclear; lapostura frente a los ataques de Israel contra el territorio palestino; lacontribución para una solución pacífica de las controversias queimplican a Irán y Corea del Norte.

Objetivamente, la política externa del gobierno Lula hace queBrasil compita con los Estados Unidos. Comparada con la de otraspotencias, es una competencia de baja intensidad, incluso porque ladoctrina oficial de Brasil es de convivencia pacífica y respetuosa (“co-operación franca” y “divergencia serena”) con los Estados Unidos.

Pero, justamente por darse en el entorno inmediato de la potencia,la competencia con Brasil cobra una inmensa importancia geopolíticay posee un potencial para, a mediano plazo, constituirse en unaamenaza para los Estados Unidos.

Esto se confirma indirectamente al verificar que, aun tras archivarel Área de Libre Comercio de las Américas y a pesar de la promesa deuna nueva política para América Latina, la administración Obama yel aparato de Estado mantuvieron la política de acuerdos bilateralesy de exhibición de fuerza bruta (IV Flota, bases en Colombia, golpeen Honduras, reafirmación del bloqueo contra Cuba).

Page 120: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

120

Notas sobre a política internacional do PT

En este marco se viene entablando el debate sobre la renovacióndel equipamiento de las Fuerzas Armadas brasileñas, el submarinode propulsión nuclear y la compra de aviones de combate de la in-dustria bélica francesa.

Integración regionalEl gobierno Lula no es sólo parte integrante, sino fuerte protago-

nista de la ola de victorias electorales progresistas y de izquierda ocur-rida en América Latina entre 1998 y 2009.

Además, el gobierno Lula ha adoptado a la integración regionalcomo su principal objetivo de política externa y busca acelerar lainstitucionalización de la integración regional, reducir la injerenciaexterna, las desigualdades y asimetrías, ya sea para actuar internacio-nalmente como bloque, ya sea para aprovechar mejor las potencialida-des de América del Sur.

Coexisten en el continente americano cuatro “patrones” de inte-gración:a) el de la subordinación a los EEUU, expresado en el finado Acuer-

do de Libre Comercio de las Américas y en los tratados bilateralesde “Libre Comercio”;

b) los acuerdos subregionales, como el Mercosur (Brasil, Argentina,Uruguay y Paraguay) y el Pacto Andino (Bolivia, Colombia, Ecua-dor y Perú);

c) el Alba, Alternativa Bolivariana para las Américas (integrada porVenezuela, Cuba, Bolivia, Nicaragua, entre otros);

d) la Unasur, Unión de Naciones Sudamericanas (integrada por Brasil,Argentina, Uruguay, Paraguay, Bolivia, Colombia, Ecuador, Perú,Chile, Guyana, Suriname y Venezuela).El gobierno Lula se opuso de hecho a la constitución de un Área

de Libre Comercio de las Américas, por entender que el acuerdo

Page 121: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

121

Valter Pomar

resultaría en una anexación, en los hechos, de la economía brasileñapor parte de la economía estadounidense.

La experiencia del NAFTA (North America Free Trade Area, en-tre Canadá, EEUU y México) y sus efectos sobre México, entre loscuales la catastrófica expansión del crimen organizado, confirman lacorrección de la política brasileña.

Por motivos similares, el gobierno brasileño ha resistido a laspresiones por firmar un tratado de comercio con la Unión Europea.Y ha defendido la primacía de la asociación regional sobre los acuer-dos bilaterales, incluso porque ésta crea mejores condiciones para lanegociación con otros países y bloques existentes en el mundo.

Los acuerdos subregionales, entre los cuales el Mercosur, tienenya una larga historia. Durante la década neoliberal, todos estos acu-erdos y sus instituciones fueron adaptados a los vigentes, o sea, fue-ron vistos como pasos intermedios para la futura adhesión al Área deLibre Comercio de las Américas.

Parte de las dificultades enfrentadas en el Mercosur, por ejemplo,se relacionan con esta distorsión neoliberal de un proyecto que, ensus orígenes, preveía la convergencia de políticas de desarrollo.

Con este espíritu de convergencia de políticas de desarrollo, y deamplia integración cultural y política, el gobierno Lula ha trabajadopara mantener el Mercosur y cooperar con los demás acuerdossubregionales.

Al mismo tiempo, ha ayudado a poner en el orden del día lanecesidad de crear un espacio más amplio de integración que fueradistinto a) a la Organización de los Estados Americanos, o a lascumbres americanas, euro e iberoamericanas, que cuentan con lapresencia de las potencias; b) al Grupo de Rio, que posee unadimensión latinoamericana y caribeña; c) al Alba, que tiene un cortepolítico-ideológico.

Page 122: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

122

Notas sobre a política internacional do PT

Independientemente de lo que podamos pensar acerca de su sosteni-bilidad interna, de la naturaleza de los acuerdos firmados, de la materi-alización efectiva y de los efectos en los países receptores, el espíritu desolidaridad presente en el Alba es extremadamente meritorio. Sin em-bargo, no existe correlación de fuerzas, ni mecanismos institucionales osituación económica que permitan al conjunto de los países de la regiónadoptar los principios solidarios del Alba y/u operar de manera similaral gobierno venezolano. En esencia, porque no es sostenible que paísescapitalistas mantengan una política externa socialista.

Por ello, aunque toda política progresista y de izquierda deba ne-cesariamente contener un componente de solidaridad e identidadideológica, la dimensión principal de la integración, en la actualetapa de la historia latinoamericana, es la de los acuerdos institucio-nales entre los Estados, acuerdos que no deben limitarse a los aspec-tos comerciales (“fenicios”, para usar una expresión del senadoruruguayo Pepe Mujica).

Esta comprensión de una integración de amplio alcance consti-tuye el paño de fondo de la creación de la Comunidad Sudamericanade Naciones (2004), cuyo nombre se cambió posteriormente a Unasur(2007). El éxito de la Unasur supone:a) la cooperación entre gobiernos que son adversarios políticos e

ideológicos, lo que en el presente momento significa evitar rom-pimientos con Colombia y Perú;

b) el compromiso efectivo de las principales economías de la región,uno de los motivos por los cuales es fundamental que el Senadobrasileño apruebe la entrada de Venezuela en el Mercosur;

c) hacer prevalecer el interés de Estado, por sobre la dinámica de lasgrandes empresas privadas brasileñas, que desarrollan una políti-ca internacional propia, que puede poner en riesgo los objetivosestratégicos del desarrollo con integración;

Page 123: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

123

Valter Pomar

d) la institucionalización cada vez mayor del proceso, incluso con laconstitución de organismos electos directamente por el voto po-pular (lo cual se está tratando de viabilizar, con dificultades, en elcaso del Parlamento del Mercosur).Ya se ha dicho muchas veces, y aquí sólo repetimos, que el ambien-

te progresista y de izquierda, construido en nuestra región desde 1998,ha ofrecido posibilidades inmensas y en cierto sentido inéditas paratodos los programas y estrategias de corte democrático-popular.

En este sentido, la primera tarea del progresismo en general y dela izquierda latinoamericana en particular es preservar esta correlaci-ón de fuerzas continental.

Ocurre que, cuando fuerzas de izquierda logran llegar al gobiernocentral de un determinado país, lo hacen con un programa basado en eltrípode igualdad social, democratización política y soberanía nacional.

Y la defensa de la soberanía nacional no se hace sólo contra las“metrópolis imperialistas”, sino que implica también administrarlos conflictos entre países de la región. Conflictos que, durante variossiglos, opusieron a las regiones colonizadas por los españoles y a laregión colonizada por los portugueses.

Los conflictos no han sido “inventados” por los actuales gobier-nos, sino que son generalmente una herencia de períodos anteriores,incluso del desarrollo dependiente y desigual ocurrido en la región.

En la mayoría de los casos, tales conflictos no podrán ser supera-dos en el corto plazo: por poseer causas estructurales, sólo podránalcanzar una solución a largo plazo, en el marco de un adecuadoproceso de integración regional. Como subproducto, la exacerbaciónde estos conflictos sólo disimularía las contradicciones, mucho másrelevantes, que tienen con las metrópolis.

Por lo tanto, es estratégico impedir que estos conflictos se convi-ertan en contradicción principal. So pena de alterar la correlación defuerzas latinoamericana en favor de la injerencia externa.

Page 124: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

124

Notas sobre a política internacional do PT

Ya se sabe que los gobiernos progresistas y de izquierda de la re-gión trazan el camino del desarrollo y de la integración adoptandodistintas estrategias y con distintas velocidades.

Es necesario respetar y convivir con las múltiples estrategias naci-onales; e implementar una estrategia continental común, de inte-gración, democracia, desarrollo y paz.

Con estos objetivos, el gobierno Lula ha implementado dos di-rectrices:a) políticamente, opera basado en el eje Argentina-Brasil-Venezuela.

Sin desconocer las distintas estrategias de las fuerzas progresistas yde izquierda actuantes en cada uno de estos países, depende de lacooperación entre ellos el éxito del proyecto de integración.La importancia del eje Argentina-Brasil era reconocido por la diplo-macia brasileña desde hace muchos años. Pero fue recién durante elgobierno Lula cuando Venezuela pasó a ser reconocida, en la práctica,como una de las principales protagonistas del proceso de integración.

b) estructuralmente, busca implementar una política de integraciónde amplio espectro, incluyendo proyectos de infraestructura, co-merciales, de coordinación macroeconómica, de políticas cultu-rales, seguridad y defensa, además de la reducción de asimetrías.La solución de los conflictos regionales supone una reducción dela desigualdad, no sólo dentro de cada país, sino también entre laseconomías de nuestro subcontinente. La institucionalidad de laintegración, tanto multilateral como en las relaciones bilaterales,tiene que estar en sintonía con este propósito.La reducción de la desigualdad en cada país supone enfrentar la

“herencia maldita” y realizar reformas sociales profundas. Pero ello no essuficiente para eliminar las disparidades existentes entre las economías.

El éxito en la lucha contra la injerencia externa y la constituciónde un bloque fuertemente activo en el escenario internacional de-

Page 125: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

125

Valter Pomar

pende, en última instancia, de una política sustentable y continuadade reducción de las desigualdades y asimetrías regionales.

Ello exige fuerte inversión de Brasil, país que detenta aproxima-damente mitad del territorio, de la población y del producto brutointerno sudamericanos.

Las negociaciones con Bolivia (gas) y Paraguay (Itaipu), la disposi-ción permanente de negociar con Argentina y con Venezuela, entreotros, deben verse, por lo tanto, como parte de una política más am-plia, que ya fue llamada (inadecuadamente, pues remite al proyectohegemónico estadounidense) Plan Marshall para América del Sur.

Al mismo tiempo, para que la implementación de esta políticasea bien recibida por los países vecinos, es necesario alejar el temorde que esté en marcha algún tipo de “sub-imperialismo brasileño”(temor muchas veces reforzado por la actitud arrogante y predatoriade grandes empresas brasileñas).

Considerando que las asimetrías económicas sólo serán superadasen el mediano plazo, alejar aquel temor exige no sólo que Brasil asumaparte importante de las inversiones necesarias para tal integración,especialmente en el ámbito de la infraestructura, incluso “a fondo per-dido”, sino principalmente que se construya un nivel superior de ins-titucionalidad regional, a través de la Unasur y órganos correlatos,tales como el Consejo de Defensa Sudamericano y el Banco del Sur.

Por otra parte, para que haya condiciones internas para la imple-mentación de esta política, debe existir en cada país una mayoríapolítica que perciba las ventajas que el desarrollo de América del Surtrae al desarrollo nacional, incluso para el desarrollo brasileño.

Esto nos lleva a discutir las relaciones entre la política externa ylas elecciones presidenciales brasileñas, que van a ocurrir en octubrede 2010.

Page 126: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

126

Notas sobre a política internacional do PT

Política externa y eleccionesLa crisis internacional ha generado dificultades para la mayoría

de los gobiernos progresistas y de izquierda existentes en AméricaLatina, reduciendo su margen de maniobra, interrumpiendo proce-sos de crecimiento y revirtiendo la distribución de la renta.

La crisis ha ocurrido en un contexto de contraofensiva de dere-cha, que incluye desde victorias electorales (como en Panamá), ma-nipulación conservadora de los temas de seguridad pública y defensa(México y Colombia), hasta la retomada del golpismo (Honduras).

Aunque ha mantenido directrices fundamentales del gobiernoanterior, la nueva retórica del gobierno Obama y alguna señalizaciónconcreta han permitido al gobierno norteamericano recuperar ciertomargen de maniobra en la región.

La crisis internacional ha venido acompañada de dificultadestácticas, entre las cuales las debilidades del proceso de integración.Pero, a la vez, como en otros momentos de la historia de la región,las grandes crisis internacionales ofrecen oportunidades estratégicas.Lo que equivale a decir que la crisis abre oportunidades para la iz-quierda y la derecha, y puede devenir en la profundización o en lareversión del actual período histórico.

Lo novedoso es que esta crisis ocurre en un momento en que lasfuerzas progresistas y de izquierda forman parte de importantes go-biernos de la región y pueden no sólo denunciar, movilizar y presio-nar, sino también combatir los efectos de la crisis, profundizar loscambios estructurales que requieren nuestras sociedades y acelerar elproceso de integración.

En este escenario, el creciente protagonismo global de Brasil debecombinarse con la reafirmación y ampliación de su compromiso conla integración regional, ya sea porque aquel protagonismo está fuerte-mente vinculado a los éxitos latino y sudamericanos, ya sea porque las

Page 127: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

127

Valter Pomar

características geopolíticas del país y de su política externa brindan aBrasil una posición insustituible en el proceso de integración regional,y también porque la integración regional es importante para el éxitodel proyecto democrático-popular a nivel nacional.

Frente a unos retos gigantescos, la política externa implementadapor el gobierno Lula es una política de Estado. Pero una parte de lasclases dominantes brasileñas rechaza los fundamentos de esta políti-ca, dando reducida importancia a la integración regional, deseandomenor protagonismo multilateral y prefiriendo mayor subordinacióna los intereses de Estados Unidos.

Esto significa que, en el corto plazo, la continuidad de la actualpolítica externa dependerá del resultado de las elecciones presidenci-ales brasileñas, que ocurrirán en octubre de 2010.

Si la oposición de derecha llega a elegir el próximo presidente deBrasil, lo mismo tendrá efectos directos e inmediatos en la correlaciónde fuerzas regional, resultando en la postergación de los procesos deintegración y en la interrupción del reformismo democrático-popu-lar que desde 1989 ganó espacio en América Latina. Aunque conmenor impacto, la misma cuestión está en juego en las eleccionespresidenciales de Uruguay (octubre de 2010), Bolivia y Chile (di-ciembre de 2009).

A pesar de que, en este sentido, no es todavía una política deEstado (no por su concepción, sino por el rechazo de parte impor-tante de las clases dominantes), la política externa del gobierno Lulatampoco es una política de partido.

A rigor, la actual política externa de Brasil corresponde a losintereses estratégicos de una “potencia periférica”, intereses que enlos marcos del gobierno Lula (y de un futuro gobierno Dilma)comportan una doble dimensión: por un lado, empresarial y capita-lista, por otro lado, democrático-popular.

Page 128: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

128

Notas sobre a política internacional do PT

Esta doble dimensión explica diversos aspectos contradictorios dela política externa (y también interna) del gobierno Lula, como sepudo observar en la ya comentada influencia del agronegocio en lasposiciones adoptadas por Brasil en las negociaciones de la Ronda Doha.

Esta constatación exige, de los partidos de izquierda y progresis-tas integrantes del gobierno Lula, la elaboración de una interpretaci-ón autónoma de la situación internacional y un trabajo constante deseguimiento de la política externa:a) defendiéndola de los ataques de la oposición de derecha;b) evitando la predominancia de intereses privados y “sub-imperia-

listas”;c) estimulando una conducta latinoamericana y caribeña;d) reafirmando la caracterización imperialista de la política de las

metrópolis;e) construyendo la dimensión popular y cultural del internacionalis-

mo y de la integración;f ) articulando así esta política externa con el objetivo socialista de la

izquierda.Exige, además, una articulación continental con otros partidos,

movimientos sociales, intelectualidad progresista e instituciones dedistintos tipos, para que el proyecto de integración no sea un proyectoabrazado tan sólo por los gobiernos y burocracias estatales.

Naturalmente, entre los partidos progresistas y de izquierda lati-noamericanos existen diferentes interpretaciones sobre la caracteri-zación de la crisis internacional (financiera, económica, de hegemo-nía, de acumulación), sobre el momento que estamos atravesandode la crisis (fin del principio, principio del fin), sobre la posibilidadde construir una nueva “arquitectura” internacional, en los marcosde la hegemonía declinante de los Estados Unidos, además de lasdistintas opiniones sobre la naturaleza del mundo post-crisis.

Page 129: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

129

Valter Pomar

Pero el principal tema en debate hace referencia a cómo tratar lasdiferencias programáticas, estratégicas, tácticas, organizativas, his-tóricas y sociológicas existentes en la izquierda latinoamericana, quealgunas veces se traducen en tácticas o estrategias distintas por partede los gobiernos progresistas de la región.

Acerca de este debate, lo fundamental es rechazar cualquier tipode interpretación reduccionista y dicotómica. El reduccionismo (decirque hay dos izquierdas en América Latina) ayuda políticamente a laderecha, porque trae implícita la siguiente conclusión: el crecimien-to de “una izquierda” depende del debilitamiento de la “otra izquier-da”, en una ecuación perversa que convenientemente quita de escenaa los enemigos comunes.

El reduccionismo, por otra parte, es una interpretación teóricaincorrecta, incapaz de explicar el fortalecimiento experimentado si-multáneamente, desde 1989 hasta hoy, por las distintas corrientesde la izquierda latinoamericana. Fortalecimiento que se debe, al me-nos en parte, precisamente a su diversidad, que permitió expresar ladiversidad sociológica, cultural, histórica y política de las clases do-minadas de nuestro continente.

Si fuera homogénea e uniforme, o expresada solamente en doscorrientes, la izquierda latinoamericana no presentaría la fortaleza actual.

La continuidad de esta fortaleza dependerá, en buena medida, dela articulación entre las distintas izquierdas. Tal cooperación noexcluye la lucha ideológica y política; pero esta lucha tiene que ocurriren los marcos de una máxima cooperación estratégica. Cooperaciónque fue objetivamente favorecida, en los hechos, por la política ex-terna adoptada por el gobierno Lula.

Este texto foi publicado na coleção Cadernos deDebate da Secretaria de Relações Internacionais do PT.

Page 130: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

130

Notas sobre a política internacional do PT

O foco da nossa discussão é o balanço da atuação do governoLula na área externa, de 2003 até agora. Para fazer essa discussão énecessário contextualizar: qual país, qual governo. Mas o risco é ocontexto virar o principal e o tema da política externa ficar em se-gundo plano. Por isso vou usar uma expressão diplomática que apren-di nesse convívio: “tomarei nota” do que foi dito a respeito do país edo governo e não vou entrar nas duas discussões específicas, sobre asquais eu tenho uma interpretação um pouco distinta daquela que oMarco Aurélio e o Samuel apresentaram.

Só queria fazer um registro: primeiro, o Marco Aurélio e eu, elemuito mais, somos historiadores de profissão, e é sempre um riscoquando dirigentes partidários abordam a história do seu própriopartido. A verdade é que o pensamento petista sofreu um processode empobrecimento, que não iniciou em 2003. Quem lê as resolu-ções do partido, percebe que há um processo de sofisticação, que seinterrompe em um determinado momento, a partir do qual os te-mas mais programáticos, a discussão sobre os grandes caminhos se-guidos pelo país, vai perdendo lugar para uma visão cada vez maistática, na qual a formulação política passa a ser funcional, no mausentido da palavra.

Esse não é um problema que se resolve fazendo contraposiçõesentre o que o partido fez e aquilo que o governo deixou de fazer. Naverdade, vivemos um fenômeno que está presente em todos os pro-cessos latino-americanos: a chegada da esquerda ao governo nacio-

Um PAC latinoamericano

Page 131: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

131

Valter Pomar

nal absorve energias, pensamentos, quadros e empobrece os parti-dos. Na prática o partido, no sentido histórico da palavra, passa a sero governo. A Venezuela é um bom exemplo, noutros países há maiorresistência a isso. No Brasil há uma vida partidária que resiste, maso fenômeno existe.

Eu faço um balanço geral muito positivo da política externa dogoverno Lula. Acho que essa política antecipou a etapa que estamosvivendo, agora, no conjunto do governo. Ou seja, desde o princípioela foi orientada para o objetivo de defender os interesses nacionais,de buscar um caminho de desenvolvimento, fortalecimento do Es-tado e transformar o Brasil num dos pólos, ou parte integrante deum dos pólos de poder em âmbito mundial. Portanto, foi uma polí-tica externa impulsionada por uma visão muito crítica tanto frenteao neoliberalismo, quanto frente ao papel que os Estados Unidosjogam no cenário internacional. Idéias que até 2005 não eram hege-mônicas no conjunto do governo Lula.

Entretanto, acho necessário precisar melhor qual é a natureza dapolítica externa do governo Lula. Nós queremos que seja uma “po-lítica de Estado”, uma política amplamente hegemônica na socieda-de brasileira, mas ainda não é. E ainda não é uma política de Estado,fundamentalmente porque as classes dominantes no Brasil não com-partilham uma parte importante dessa política.

Nossa política externa também não é uma política de partido,inclusive no sentido de ser uma “política de esquerda”. Isto só épossível em momentos muito especiais, quando ocorrem grandescrises e processos revolucionários. Nesses períodos pode-se esperarque um Estado execute uma “política de esquerda”. Porém, nos pe-ríodos normais a política externa expressa “interesses de Estado”,interesses nacionais que são distintos dos interesses dos partidos quegovernam esses Estados, mesmo (ou especialmente) quando eles sãode esquerda.

Page 132: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

132

Notas sobre a política internacional do PT

A política externa do governo Lula é a política externa de um Esta-do periférico com enorme potencial. Se a esquerda hegemonizar esteEstado, esta política externa pode ter duas dimensões. Uma dimensãoé proteger os interesses nacionais do país. Esses interesses nacionaismuitas vezes são os interesses das empresas capitalistas que atuam noexterior ou são interesses do Estado no sentido mais amplo da palavra,um Estado capitalista, que tem um potencial “sub-imperialista” quenão devemos subestimar, mascarar e nem disfarçar.

A outra dimensão da política externa do governo Lula é democrá-tico-popular. Um Estado periférico sob hegemonia de esquerda, quebusca construir uma nova ordem internacional e busca uma integra-ção continental com viés popular e com viés democrático.

Portanto, nossa política externa é contraditória – e devemos recu-perar o valor positivo da palavra contradição – porque ela expressadois impulsos simultâneos, impulsos que têm níveis de cooperação econtradição entre si.

Desta natureza contraditória da política externa decorre que ospartidos de esquerda devem ter uma dupla atitude em relação a ela:têm que defendê-la no seu conjunto contra a direita e, ao mesmotempo, deve ter uma atitude permanente de “vigilância e pressão”para garantir que predomine o viés democrático-popular.

Em dois textos (“As diferentes estratégias das esquerdas latino-americanas” e “A política externa do governo Lula”), desenvolvo osvários aspectos que deveriam compor esse trabalho de acompanha-mento de política externa por parte de um partido como o PT.

Primeiro, a defesa dessa política frente aos ataques da oposição dedireita e segundo, evitar a predominância dos interesses privados“sub-imperialistas”. Às vezes isso significa defender os interesses popu-lares versus os interesses capitalistas. Porém, às vezes se trata tambémde defender os interesses do desenvolvimento do capitalismo no Brasil,

Page 133: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

133

Valter Pomar

contra os capitalistas individuais que buscam o lucro imediato eimpedem uma atuação de longo prazo do Estado, mesmo naquiloque os interessa no longo prazo. Por exemplo, as concessões queforam feitas ao Paraguai e à Bolívia, no médio e longo prazo serãoúteis ao grande capital brasileiro, inclusive para os que reclamaram.

Terceiro, estimular um viés latino americano e caribenho. A nos-sa política externa, do ponto de vista operacional, será por muitotempo uma política de integração da América do Sul, mas ela temque ter um viés amplo na região. Esse episódio de Honduras é umacoisa muito importante, assim como a postura do Brasil frente aostemas de Cuba.

Quarto, reafirmar qual é a natureza da política das metrópoles.Uma coisa é dizer, como fez o Samuel, que temos uma relação histó-rica com os Estados Unidos e continuará sendo assim pelas próxi-mas décadas. Eles não vão desaparecer, não vão colapsar, vão conti-nuar sendo um país importante e um Estado importante para nossasrelações. Uma das decorrências disto é não assumir uma retóricabélica contra os EUA, o que ademais seria uma estupidez, dada acorrelação de forças no terreno militar. Por outro lado, não se podecair no oposto, que é naturalizar essas relações, não perceber e/oudeixar de destacar a dimensão imperialista da política externa norte-americana, bem como da política externa da União Européia.

Quinto, os partidos têm a obrigação de estimular a construção dadimensão cultural e popular de massa do internacionalismo e daintegração.

Sexto, articular a política externa com o desenho estratégico delongo prazo e aí começo a tratar do segundo ponto que eu queriacolocar em discussão – o primeiro foi a natureza da política externa,a saber, os cenários em que nós vamos atuar nos próximos anos edécadas.

Page 134: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

134

Notas sobre a política internacional do PT

Vivemos num período de instabilidade internacional de médiaduração. O ideário neoliberal colapsou, mas não será substituído nocurto prazo por outro pensamento hegemônico, porque o chamadopensamento crítico nas suas variadas dimensões passou 25 anos nadefensiva.

A hegemonia dos Estados Unidos sofreu um golpe, mas não aca-bou. A hegemonia está em declínio, mas isso não significa que te-nha deixado de existir e, por outro lado, não há no horizonte ne-nhuma outra potência hegemônica substituta, o que nos empurrapara um mundo de multipolaridade. Não é porque os Estado Uni-dos queiram, é porque eles não podem evitar isso e não há outro quepossa assumir o lugar dos Estados Unidos. Só que isso não vai serum processo tranqüilo, vai ser um processo extremamente conflituoso.Basta ver a lentidão com que se produzem reformas na arquiteturado sistema econômico e político internacional, porque uma reformarápida significaria perda de poder por parte das potências, que, porisso, retardam esse processo.

Há uma crise no padrão de acumulação capitalista, sem que hajauma alternativa sistêmica clara no horizonte. E, no caso latino-ame-ricano, há uma crise do neoliberalismo e do desenvolvimentismoconservador.

Temos falado muito de crise do neoliberalismo, às vezes deixandode destacar que o Brasil teve, antes do neoliberalismo, 50 anos dedesenvolvimentismo, acerca do qual hoje gostamos de destacar osaspectos progressistas. Porém, nós construímos a esquerda brasileiracontra o padrão dominante de desenvolvimentismo.

A batalha eleitoral de 1989 decidiu para que lado seria a supera-ção do desenvolvimentismo conservador e naquela ocasião foi para adireita. Ocorre que o modelo neoliberal não ofereceu uma saída delongo prazo para o Brasil e agora voltamos, de certa maneira, aospatamares do conflito dos anos 80: se vamos ter outro ciclo de de-

Page 135: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

135

Valter Pomar

senvolvimento e qual é a natureza dele. Se conservadora, progressis-ta ou democrático-popular.

Frente a estes cenários, a política externa brasileira faz três movi-mentos, dois muito claros e um nem tanto.

Primeiro, ela faz um movimento por democratizar a ordem inter-nacional, porque num contexto de crise & transição, quanto menosconcentração de poder, melhor para nós seguirmos o caminho queacharmos mais adequado.

Segundo, um movimento para participar dos centros de poder daordem tal como ela é atualmente, seja com o objetivo de impulsio-nar mudanças, seja com o objetivo de preservar os nossos espaços ouo de buscar os espaços correspondentes à nossa força.

O terceiro movimento, que não considero claro, é a operação emfavor de uma mudança na ordem internacional. Este movimentonão está tão claro, porque quando começamos a discutir o conteúdodesta mudança, nossa reflexão se torna tática novamente.

Falta refletir mais sobre os cenários. Falamos de um processo detransição da atual para outra ordem, que não sabemos qual é, sematentar que será um processo hiper conflituoso. Em certa medida,estamos voltando a um padrão de organização do sistema mundialque lembra o pré-1914.

Por exemplo, o tema da moeda. Foi mais “fácil” tratar desta ques-tão, depois da 2a Guerra Mundial, quando havia uma hegemoniaclara. Hoje estamos na seguinte situação: existe uma moeda interna-cional, que nos causa problemas porque expressa uma hegemonia,mas como substituí-la se esta hegemonia ainda existe mesmo emdeclínio?

Um exemplo de reflexão tática: como enxergamos os Estados Uni-dos. Na esquerda, o grau de conhecimento sobre os Estados Unidos,sobre as tendências de médio e longo prazo naquela sociedade, sobrecomo ela opera, ainda é muito baixo. A hegemonia americana cria

Page 136: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

136

Notas sobre a política internacional do PT

uma espécie de opacidade sobre seu funcionamento. Eles nos ven-dem uma imagem com a qual dialogamos, entretanto, conhecendopouco da real. Por exemplo, o que é que está na base de situaçõescomo Honduras, bases na Colômbia e 4a Frota? É uma luta de po-der dentro do aparato do Estado norte-americano? É a continuidadeda política de Estado tradicional, independentemente de quem estána gestão? É uma sinalização de que os Estados Unidos vão buscarno médio prazo reverter o cenário internacional, utilizando a suaforça militar? As três coisas?

Para concluir: qual deve ser a novidade da política externa dogoverno Dilma em relação ao governo Lula? A chave já está anunci-ada pelo próprio Lula na posse do Ministro Padilha, quando elefalou que um país como o Brasil tem que ajudar os outros – não melembro da expressão exata. A mesma idéia está expressa pelo Samuelno livro “Desafios do Brasil numa era dos gigantes”, quando ele falade um Plano Marshall na América Latina. Não gosto da expressão,mas a idéia de fundo é correta.

É preciso desenvolver uma integração que não seja assimétrica paradeter a vocação “sub-imperialista” que se manifesta nas grandes em-presas brasileiras presentes na região. Para fazer da região um pólo depoder, não apenas do Brasil ou de um pólo de poder que se apóia noseu quintal, precisamos ter uma integração baseada na elevação dacapacidade e da sinergia produtiva da região como um todo.

Embora já tenhamos começado a fazê-lo isso tem que adquirirum caráter sistêmico, tem que ser o eixo organizador da política deintegração no mandato Dilma. Um eixo que não seja o comercial,não seja só a integração política, mas seja uma espécie de PAC lati-no-americano, para usar esta imagem com os defeitos que ela tem.

Este texto foi publicado pela Editora da Fundação Perseu Abramo nacoletânea “2003-2010. O Brasil em transformação”.

Page 137: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

137

Valter Pomar

Os socialistas do século XXI não podem alegar ignorância acerca doquão complexa e demorada é a luta por superar o capitalismo e transitarpara uma sociedade sem classes, sem Estado, sem exploração nem opres-são. A luta pelo poder pode se resolver no prazo de anos, mas a constru-ção de outra sociedade é um projeto de décadas e séculos.

O capitalismo surgiu na Europa Ocidental e de lá se expandiupara o mundo. Talvez influenciados por esta trajetória, os socialistasdo século XIX imaginavam que as primeiras vitórias do socialismoocorreriam na Europa, aonde o capitalismo estivesse mais desenvol-vido, notadamente a Alemanha. Mas a primeira revolução socialistavitoriosa ocorreu na Rússia de 1917, na fronteira entre Europa eÁsia, entre Ocidente e Oriente.

Lênin já havia indicado que a Rússia constituía exatamente o “elomais fraco da cadeia imperialista”. Admitindo ser mais fácil tomar opoder ali do que na Alemanha, Lênin reconhecia, entretanto, que naRússia seria mais difícil construir o socialismo, devido ao atraso po-lítico, social e econômico. A solução viria, supostamente, da solida-riedade da posterior e subseqüente revolução socialista nos paíseseuropeus mais avançados, estimulada exatamente pelo exemplo doproletariado russo. Entretanto, ainda que de lá tenha vindo solidari-edade, desde 1917 até hoje não houve nenhuma revolução socialistavitoriosa nas potências capitalistas ocidentais.

Bloqueada a Oeste, a revolução expandiu-se em direção Leste. Jáem 1918, Stalin diria que “o grande significado mundial da Revolu-

Nem devagar, nem pressa

Page 138: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

138

Notas sobre a política internacional do PT

ção de Outubro consiste principalmente no fato de ter lançado umaponte entre o Ocidente socialista e o Oriente oprimido, constituin-do uma nova frente da revolução que, dos proletários do Ocidente,através da revolução da Rússia, chega até os povos oprimidos doOriente, contra o imperialismo mundial”.

Ao projetar o socialismo no Oriente, o governo soviético e o Par-tido Comunista Russo (bolchevique) provocaram mutações no pro-jeto e na estratégia originárias de Marx. Para este, o socialismo seriauma etapa de transição entre o capitalismo e o comunismo. Levado aoOriente, pouco a pouco o socialismo passou a ser apresentado comouma etapa de transição entre o pré-capitalismo e o comunismo.

Esta novidade era uma heresia à luz do marxismo ocidental doséculo XIX, mas não era uma idéia estranha à tradição socialistarussa: os narodniks se caracterizaram exatamente por tentar cons-truir um caminho que fosse do feudalismo russo ao socialismo, sempassar pelo capitalismo. Lênin iniciou sua trajetória política com-batendo esta teoria, mas o curso dos acontecimentos o levou a capi-tanear um experimento que poderia muito bem ser considerado umavariante do “populismo”, acusação que aliás lhe foi dirigida à épocapor seus adversários no movimento social-democrata.

A guerra de 1939-1945, que começou antes na Ásia, com a ofensi-va japonesa de 1937, é o pano de fundo da segunda grande revoluçãosocialista vitoriosa. Desta vez não mais em território de fronteira, mastotalmente oriental: a revolução chinesa de 1949. A rigor, há que seconsiderar o período entre a Guerra do Ópio e 1949 como um longoperíodo de transição, que em 1911 obtém uma solução provisória eem 1949 uma solução definitiva para o grande dilema da “autodeter-minação” do povo chinês. O curso da milenar civilização, interrompi-do de maneira violenta pelo imperialismo europeu e japonês, édesobstruído com a vitória do Exército Popular de Libertação dirigido

Page 139: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

139

Valter Pomar

pelo Partido Comunista da China, vitorioso fundamentalmente devi-do ao seu apoio nas massas camponesas e urbanas.

Se o Partido Operário Social-Democrata Russo (apelidado debolchevique e, em 1918, renomeado Partido Comunista) soube ser he-terodoxo frente aos seus congêneres europeus, os comunistas chinesessouberam ser heterodoxos diante de muitas das orientações da III Inter-nacional Comunista. Integraram de maneira consistente a teoria doimperialismo, a questão colonial, a autodeterminação dos povos e a lutapelo socialismo. Construíram uma engenhosa fórmula que fazia docampesinato força principal da revolução, mas preservando o “papeldirigente do proletariado”, na prática encarnado no próprio Partido.Inviabilizada a cópia da insurreição urbana de tipo russo, aplicaramuma estratégia de “cerco da cidade pelo campo”, apoiado numa “guerrapopular prolongada”. E através da fórmula da “Nova Democracia”, bus-caram construir uma ponte de longo curso entre o atraso econômicochinês e o projeto comunista que animava a direção revolucionária.

Sessenta anos depois, seguem visíveis os dois pilares desta ponte:por um lado, a inegociável defesa da soberania nacional; por outrolado, a atenta consideração dos interesses do campesinato. Curiosa-mente, será em grande medida a radicalização dos camponeses po-bres (sem os quais a revolução não teria vencido) que explica osziguezagues que marcaram os primeiros trinta anos do poder insta-lado em 1949. O “grande salto adiante” e a “revolução cultural pro-letária” expressavam, em essência, a vontade de ultrapassar o capita-lismo, lançando mão do voluntarismo ideológico e apoiando-se emforças produtivas muito atrasadas. Este socialismo “camponês” fra-cassou em grande medida por não ter sido capaz de oferecer senãoum igualitarismo na pobreza.

As reformas chinesas iniciadas em 1978 (de maneira similar àNova Política Econômica soviética implementada nos anos 1920)

Page 140: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

140

Notas sobre a política internacional do PT

representaram, por sua vez, a reafirmação de um aspecto central datradição marxista: a idéia de que um modo de produção só desapare-ce quando desenvolve todas as forças produtivas que é capaz de con-ter. Noutras palavras: só é possível superar o capitalismo, em algu-ma medida desenvolvendo-o. O que, aliás, corresponde à acepçãohegeliana do termo “superação”.

Do ponto de vista teórico, o conceito de socialismo enquantotransição ao comunismo é totalmente compatível com a existência,mesmo que por um longo período, da propriedade privada, do mer-cado e de relações capitalistas de produção. Mas para os marxistasdo século XIX, a transição socialista seria temporalmente curta, umavez que teria início nos países capitalistas avançados; ou, pelo me-nos, contaria com o apoio destes (tal era a expectativa dos bolchevi-ques ao tomar o poder em 1917). A idéia de uma transição “curta”perde sentido, entretanto, quando o ponto de partida é uma socie-dade essencialmente pré-capitalista, fazendo com que o Estado pro-duto da revolução seja obrigado não apenas a controlar, mas desta-cadamente a estimular a exploração capitalista da força de trabalho,como meio para aumentar a riqueza social e a produtividade média,pressupostos para uma sociedade onde haja o máximo possível deabundância e de tempo livre.

Deste ponto de vista, podemos dizer que os comunistas chinesesrespeitam a tradição marxista clássica, quando sustentam que estãoainda na “fase inicial do socialismo”, que esta fase durará muitasdécadas e que seu objetivo nesta fase é o de construir uma sociedade“modestamente acomodada”. E são igualmente coerentes quandoconsideram essencial a preservação da paz, pois conhecem por expe-riência prática e observação o custo econômico-social das guerras eos limites que têm (para um projeto de orientação socialista) o tipode desenvolvimento proporcionado pelo investimento no complexo

Page 141: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

141

Valter Pomar

militar. Entretanto, a projeção exterior do Estado chinês gera confli-tos que podem muito bem ser equiparados aos causados pela expan-são econômica de países capitalistas. Pois o que está em questão,nesse terreno, é a disputa de mercados e matérias primas, além dehegemonizar e proteger territórios, assim como preservar reservasfinanceiras.

Alguns paralelos com o caso da URSS podem ser traçados. Supe-radas, por volta de 1925, as expectativas numa revolução socialistaimediata nos países ocidentais, a estratégia política e militar soviéti-ca foi se tornando cada vez mais defensiva. Isto foi acompanhadopela criação de um cinturão de proteção, bem como de “cabeças deponte” político-ideológicas no interior dos países capitalistas cen-trais. Mas o “expansionismo soviético” foi essencialmente uma cria-ção da máquina de propaganda dos Estados Unidos. O pacto com aAlemanha nazista e os ataques contra a Finlândia e a Polônia res-pondiam ao mesmo objetivo: operações defensivas, frente ao temorde que Inglaterra e França empurrassem os alemães no sentido debuscar seu “espaço vital” no Leste. E quando a Segunda Guerra ter-mina e começa a divisão de áreas de influência, a postura geral daURSS é bastante contida.

Ao tempo que adotava uma linha defensiva no plano político-militar, o PC soviético construiu uma orientação estratégica de bus-car o socialismo através da coexistência e competição pacífica com ocapitalismo. Coerente com isto, formulou-se também a tese da “tran-sição pacífica” para o socialismo, buscando equacionar (no papel, aomenos) outro paradoxo: as revoluções socialistas podem ocorrer emcondições de guerra, mas as guerras solapam as condições de cons-trução do socialismo. Nos anos 1950, o PC chinês considerou"revisionista" esta formulação soviética de “transição pacífica”, dan-do início a um enfrentamento que resultaria na ruptura entre a China

Page 142: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

142

Notas sobre a política internacional do PT

e a URSS, bem como entre os respectivos partidos. Ironicamente, aorientação atual do PC chinês frente ao mundo capitalista é, exata-mente, buscar equiparar e superar.

Num certo sentido, a estratégia mundial do Partido Comunistachinês é uma versão concentrada e atualizada daquela que foi adota-da pelo PC soviético, especialmente a partir do seu XX congresso(1956). No caso da URSS, esta orientação nem sempre parecia mo-derada, seja por causa do confronto entre campo socialista versuscapitalista (com momentos “frios” e outros “quentes”, como nas guer-ras da Coréia e do Vietnã); seja devido à atuação do movimentosocialista internacional, em suas variadas ramificações; seja devido apropaganda anti-comunista.

Hoje, a inexistência de uma polarização entre “campos” capitalistae socialista, associada ao enfraquecimento de todas as famílias ligadasao movimento socialista, permite constatar com mais clareza o baixoperfil da estratégia chinesa. Esta estratégia decorre, ao menos em par-te, de uma interpretação muito realista acerca do atual período histó-rico. Já nos anos 1970, setores do Partido Comunista chinês aponta-vam a existência de um refluxo dos processos revolucionários (efetiva-mente, o Vietnã foi a última grande revolução socialista vitoriosa. Arevolução nicaragüense não foi socialista e a revolução do Irã em 1979responde a outro tipo de processo histórico).

No início dos anos 1990, com a dissolução da URSS e com ounilateralismo estado-unidense, podemos dizer que o conjunto domovimento socialista entrou num período de “defensiva estratégica”.

A situação começou a mudar entre 1998 e 2008, primeiro om oestabelecimento de vários governos de esquerda na América Latina;e, depois, com a crise internacional. Mas estes acontecimentos nãochegaram a alterar a natureza do período, que segue sendo de “de-fensiva estratégica”.

Page 143: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

143

Valter Pomar

Um sinal disto é o contraste entre a profundidade da crise inter-nacional e a capacidade que os grandes Estados capitalistas tiverampara evitar seu transbordamento político-social.

Outro sinal é a existência de uma contra-ofensiva da direita lati-noamericana, que recebeu o paradoxal reforço da crise internacio-nal, que cria dificuldades econômicas para a maioria dos governosprogressistas; e da vitória de Obama, cuja imagem positiva (cons-truída midiaticamente e facilitada pelo contraste com Bush) permi-tiu aos EUA recuperar parte de sua margem de manobra.

Frente a esta situação, a esquerda latino-americana busca não per-der nenhum governo para a direita, acelerar o processo de integraçãoregional e persistir no caminho das mudanças estruturais.

A questão prática está em como fazer isto, evitando dois erros: a)ir além da nossa capacidade de sustentar politicamente os processos;b) ficar aquém do necessário para que possamos acumular forças emdireção ao socialismo.

É verdade que em vários países, o processo em curso já vem sendochamado de “revolução” ou mesmo de “socialismo”. Isto tem váriosmotivos e no fundo confirma que a América Latina precisa de umarevolução socialista. Mas é preciso lembrar que a retórica é incapaz desolucionar problemas que ainda não conseguimos resolver na prática.

Ao longo do século passado, o movimento socialista fez de tudo umpouco: luta social, ideológica, política e militar; construção de partidose de Internacionais; grandes revoluções vitoriosas e outras derrotadas. Eesteve diretamente envolvido em dois grandes experimentos: o “Estadode bem-estar”, no qual se empenharam os social-democratas; e as ten-tativas de construção do socialismo, dirigidas pelos comunistas.

O movimento socialista do século XX foi derrotado. Mas o reper-tório de experiências é imenso. Em contrapartida, as experiências eas tentativas dos socialistas do nosso século ainda são muito limita-

Page 144: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

144

Notas sobre a política internacional do PT

das Mesmo que aceitemos a tese do “curto século XX” iniciado em1914-1917 e findo em 1989-1991, ainda assim o século XXI come-çou há pouco. Nesse período, não vivemos nenhuma grande revolu-ção. Na América Latina, por exemplo, por mais que nos orgulhemosdos governos que conquistamos a partir de 1998, é preciso reconhe-cer que estamos muito longe da radicalidade política e profundidadesocial alcançadas pela revolução cubana de 1959. A luta pelo socia-lismo no século XXI ainda não protagonizou nenhuma revoluçãodaquele tipo, capaz de destruir o aparato de Estado e expropriar aantiga classe dominante. No plano da teoria, estamos atrasados noque toca a análise do capitalismo contemporâneo, ao balanço dastentativas de construção do socialismo iniciadas no século XX e aelaboração de uma estratégia para a luta pelo poder e a construçãodo socialismo nas condições do século XXI.

Talvez seja mais exato falar de socialismos e de estratégias. Nossomovimento sempre foi plural, geográfica, sociológica, teórica, orga-nizativa e politicamente. Isto não implica em igualar as diferentestradições, mas implica em considerar que todas deram contribuiçõesque, gostemos ou não, formam parte do patrimônio coletivo domovimento socialista.

Um dos motivos da pluralidade socialista é o capitalismo. O modode produção capitalista impulsiona uma tendência à uniformização,mas as formações sócio-econômicas hegemonizadas pelo capitalis-mo, nas distintas regiões do mundo e épocas históricas, apresentamdiferenças importantes. Enquanto for assim, a superação do capita-lismo exigirá diferentes estratégias de resistência, de conquista dopoder e de construção do socialismo. Não significa dizer que todasas estratégias são válidas, mas significa que o movimento socialistadeve recusar a idéia de que exista uma única estratégia válida paratodos os locais e tempos.

Page 145: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

145

Valter Pomar

Outro motivo pelo qual devemos usar o plural, é porque as dife-rentes classes e setores em luta contra o capitalismo, não possuem osmesmos objetivos de longo prazo e por isso sua unidade é sempreconflituosa.

Vale dizer que esta pluralidade vai além da existência de distintospartidos, programas e estratégias, estratégias; incluindo também aquelescujo horizonte máximo é melhorar a vida do povo, nos marcos docapitalismo. É preciso considerar, ainda, os que defendem um tipode socialismo que supõe preservar formas de organização social pré-capitalistas; e outros para quem o socialismo confunde-se com oantiimperialismo. Enfim, a ecologia do movimento socialista mo-derno é tão ampla, que categorias no plural são mais adequadas.

O debate sobre o socialismo na América Latina deste início deséculo XXI deve nos ajudar a responder como passar: a) da condiçãode governo, para a condição de poder; b) da situação atual, em queestamos melhorando a vida do povo nos marcos do capitalismo,para uma nova situação, em que possamos melhorar a vida do povonos marcos de uma transição socialista.

Se tivermos sucesso na combinação entre as diferentes estratégiasnacionais e uma estratégia continental de integração, daremos umacontribuição importante para que o movimento socialista saia daatual situação de “defensiva estratégica” e entre numa situação de“equilíbrio estratégico”, ao menos em nosso continente.

Isto deve ser feito nos marcos de uma crise & transição mundiais,onde se combinam: a) crise do ideário neoliberal, num momentoem que o pensamento crítico ainda se recupera dos efeitos de maisde duas décadas de defensiva político-ideológica; b) crise da hege-monia estado-unidense, sem que haja um hegemon substituto, o queestimula o multilateralismo, a formação de blocos regionais e alian-ças transversais; c) crise do atual padrão de acumulação capitalista,

Page 146: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

146

Notas sobre a política internacional do PT

sem que esteja visível qual será a alternativa sistêmica; d) crise domodelo de desenvolvimento conservador & neoliberal na AméricaLatina e no Brasil, estando em curso uma transição para um pós-neoliberalismo, cujos traços serão definidos ao longo da própria ca-minhada.

Noutras palavras, uma situação em que os modelos antes hege-mônicos estão em crise, sem que tenham emergido claramente osmodelos substitutos.

Um elemento central desta situação mundial é a crise do capitalis-mo neoliberal, na qual convergem: a) uma crise clássica de acumula-ção; b) o esgotamento da “capacidade de governança” das instituiçõesde Bretton Woods; c) os limites do consumo insustentável da econo-mia estado-unidense; d) a dinâmica da especulação financeira.

Este conjunto de variáveis aponta para um período mais ou me-nos prolongado de instabilidade internacional. No curto e médioprazos, a instabilidade está vinculada à crise do capitalismo neoliberale ao declínio da hegemonia estado-unidense. No longo prazo, corres-ponde à crescente contradição entre a “globalização” da sociedadehumana versus o caráter limitado das instituições políticas nacionais einternacionais.

Estas várias dimensões da instabilidade fazem com que seja maisurgente e, ao mesmo tempo mais difícil, a construção de alternati-vas. O velho modelo não funciona adequadamente, mas continuaimensamente forte, enquanto os novos modelos econômicos e polí-ticos estão surgindo, mas ainda não conseguem se impor.

A crise evidenciou o alto custo social e ambiental do capitalismo,especialmente em sua versão neoliberal, fortalecendo ideologicamenteos setores que defendem um “capitalismo não-neoliberal”. Fortale-ceu também, em muito menor escala, os que propõem uma alterna-tiva socialista ao capitalismo.

Page 147: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

147

Valter Pomar

Mas o fortalecimento ideológico dos setores progressistas e de es-querda se dá nos marcos de uma situação estrutural que ainda conspiraa favor de um desenlace conservador para a crise. Mesmo fortementeatingidos, os países centrais concentram imenso poder econômico,político e militar. O tamanho desta hegemonia capitalista pode sermedido, paradoxalmente, pela profundidade da crise de 2008 e, aomesmo tempo, pela capacidade que os grandes Estados capitalistasdemonstraram para evitar o transbordamento político-social da crise,em favor das esquerdas.

Além disso, três décadas de hegemonia neoliberal limitaram o hori-zonte intelectual e a força político-social dos setores críticos. Estas con-tradições e limites ficam evidentes quando observamos o desencontroentre o tamanho da crise e a timidez das propostas e medidas, espe-cialmente sobre uma nova moeda internacional, bem como a inefi-cácia das políticas globais de combate à pobreza e a desigualdade.

É nesse contexto que ganha importância estratégica o processo deintegração latino-americano e caribenho, especialmente entre os pa-íses da América do Sul.

O tema central, neste processo, é o seguinte: como consolidarlaços econômicos, sociais, políticos, militares e ideológicos, que per-mitam aos países integrantes conviver, sem subordinação ou depen-dência, com o espaço geopolítico ainda hegemonizado pelos Esta-dos Unidos e União Européia.

A questão derivada é a seguinte: será possível, mais do que convi-ver, substituir o arranjo econômico internacional que tem nos Esta-dos Unidos seu elemento organizador (e desorganizador) central,por um novo arranjo, baseado em uma combinação entre expansãodos mercados internos e intercâmbio comercial que não seja depen-dente das ofertas de crédito, insustentáveis no médio prazo, propor-cionadas pela “emissão sem lastro” de dólares?

Page 148: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

148

Notas sobre a política internacional do PT

Qualquer que seja a resposta para questões, é preciso ter claro queestamos frente a disputas de longo curso, que serão travadas numambiente de acentuada instabilidade, em dois planos distintos, po-rém articulados: por um lado, a disputa no interior de cada país; poroutro lado, a competição entre os diferentes estados e blocos regio-nais. Dessa disputa podem emergir desenlaces conservadores ou pro-gressistas; mas também podem emergir soluções socialistas, com-prometidas com a mais profunda democratização, o internacionalis-mo, o planejamento democrático e ambientalmente orientado, bemcomo com a propriedade pública dos grandes meios de produção. Épor isto que trabalhamos.

Este texto começou a circular em janeiro de 2010.

Page 149: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

149

Valter Pomar

O Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980. Quatro gran-des setores confluíram na sua criação:a) sindicalistas do chamado “novo sindicalismo”, especialmente os

metalúrgicos, bancários e petroleiros;b) militantes de organizações de esquerda atuantes na oposição con-

tra a ditadura (alguns entraram em caráter individual no PT, ou-tros entraram por decisão de suas respectivas organizações);

c) lideranças populares formadas pelas pastorais e comunidades daIgreja Católica, especialmente do setor progressista;

d) parlamentares e lideranças atuantes no Partido do MovimentoDemocrático Brasileiro, o PMDB (durante muitos anos, o únicopartido de oposição legalizado no país).Também em 1980, foi reorganizado Partido Socialista Brasileiro

(PSB, liderado por Miguel Arraes) e foi criado o Partido Democrá-tico Trabalhista (PDT, liderado por Leonel Brizola).

Seguiram atuando na clandestinidade, até 1986, o Partido Comu-nista do Brasil (PCdoB, liderado por João Amazonas) e o Partido Co-munista Brasileiro (PCB, cuja principal liderança era Roberto Freire).

Outra organização existente na época era o Movimento Revolu-cionário 8 de Outubro, que não se legalizou como partido e atuavano interior do PMDB; só em 2008 o MR-8 decidiu sair do PMDBe criar um partido, cujo nome é Pátria Livre.

Foi em 1989, no segundo turno da campanha presidencial, que oPT adquiriu a condição que mantém até hoje: a de principal partido

Aspectos históricos eorganizativos do PT

Page 150: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

150

Notas sobre a política internacional do PT

da esquerda brasileira. Condição que foi mantida ao longo dos anos1990 e ratificada durante os dois mandatos do governo Lula.

A trajetória do PT pode ser dividida nos seguintes períodos: a)1980-1989, a luta contra a ditadura militar e contra a “transiçãoconservadora para a democracia”; b) 1990-2002, na oposição aosgovernos neoliberais; c) 2003-2009, governando o Brasil.

No período 1980-1989, o PT experimentou três grandes modifi-cações: a) como já dissemos, tornou-se principal partido da esquer-da brasileira; b) de partido-frente, no interior do qual atuavam di-versos “partidos clandestinos”, tornou-se um partido com tendênci-as internas; c) de partido centrado na luta social, tornou-se alterna-tiva eleitoral de governo.

O PT sempre admitiu, no seu interior, a existência de tendênciasinternas. Vale dizer que desde o início e até hoje, a maioria destastendências atua diretamente nos movimentos sociais, sem que hajaqualquer tipo de constrangimento ou impedimento, uma vez que a“autonomia dos movimentos sociais” (reconhecida pelo Partido) setraduz, no mais das vezes, na recusa a centralizar unitariamente aação da militância petista nestes movimentos sociais (pois, em al-guns casos, obrigar os militantes petistas –que são maioria nos mo-vimentos– a ter uma posição única equivaleria a eliminar na práticaa possibilidade de autonomia).

Como nos anos 1980 algumas das tendências eram, de fato, “par-tidos dentro do partido”, houve necessidade de uma regulamenta-ção, que foi feita pelo 5o Encontro Nacional do Partido (realizadoem 1987).

A regulamentação de tendências aprovada no 5º Encontro e rea-firmada pelo 1o Congresso do PT (1991), disciplinou o que seriauma tendência interna (no fundamental, seriam correntes de opi-nião que reconheciam o “caráter estratégico” do PT); definia a ne-

Page 151: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

151

Valter Pomar

cessidade de registro e reconhecimento pela direção (na prática, sem-pre bastou comunicar à direção nacional do PT); definia os parâme-tros de sua atuação (exigindo, por exemplo, que se abstivessem de tersedes próprias e de aparecer publicamente enquanto tendências), proibiafinanças internas concorrentes com as do PT e definia que relaçõesinternacionais eram privativas do Partido enquanto tal.

Posteriormente, garantiu-se a proporcionalidade na composiçãodas instâncias partidárias, ou seja, toda tendência que atingisse omínimo de votos necessário teria as respectivas cadeiras no Diretórioe na Comissão Executiva Nacional do PT.

Do ponto de vista formal, a regulamentação das tendências solu-cionou a questão e é nos seus marcos que o PT funciona até hoje.Entretanto, outras dificuldades surgiram, decorrentes: a) do surgi-mento de outros centros de poder interno, concorrentes com as dire-ções partidárias (bancadas parlamentares, governos e governantes);b) da desigualdade existente, no interior do Partido, no tocante aoacesso à recursos financeiros e materiais.

Outra dificuldade foi o surgimento do auto-denominado “Cam-po majoritário” (1995-2005), agrupamento de várias tendências queconstituía cerca de 70% do Diretório Nacional do PT. Por ter maio-ria absoluta praticamente garantida, este “Campo” começou a ado-tar posições sem consulta, debate e votação prévia na direção. Estecomportamento –que chamávamos de “maioria presumida”– foi umadas razões da crise de 2005.

O XIII Encontro Nacional e o 3o Congresso do PT, no balançoda crise de 2005, reconheceram na ausência de democracia, concen-tração de poder e na falta de funcionamento regular das instânciaspartidárias, especialmente em nível nacional, uma das causas da crise.

No período 1990-2002, o PT experimentou os efeitos combina-dos a) da crise do chamado socialismo real e b) da ofensiva neolibe-

Page 152: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

152

Notas sobre a política internacional do PT

ral no Brasil. De 1990 até 1995, houve uma dura luta interna, acer-ca do que fazer nesta nova situação. Foi só a partir de 1995 que seestabeleceu uma orientação majoritária e hegemônica no Partido,que podemos sintetizar em torno do seguinte: “alianças da esquerdacom o centro, em torno de um programa alternativo ao neoliberalis-mo, visando conquistar o governo federal”.

A eleição de Lula em 2002 evidencia os aspectos positivos daque-la orientação estratégica; ao mesmo tempo, as dificuldades enfrenta-das pelo PT e pelo governo Lula entre 2003-2005 demonstram osaspectos negativos daquela orientação estratégica.

No período 2003-2009, o PT enfrenta uma situação absoluta-mente nova para a esquerda brasileira: compor, na condição de prin-cipal partido, o governo federal. É importante lembrar que o gover-no Lula não é um governo petista; o governo Lula é um governo decoalizão, composto por partidos de esquerda, de centro e até de di-reita (caso do PP, partido criado por iniciativa do setor ideologica-mente mais conservador do antigo partido da ditadura, o PDS).

O governo Lula possui duas fases: a primeira vai de 2003 até 2005e a segunda vem de 2006 até hoje. Na primeira fase, a política hege-mônica no governo é de conciliação com a herança neoliberal. Nasegunda fase, a política hegemônica no governo é desenvolvimentista.

Curiosamente, na primeira fase o PT tinha mais ministros doque hoje, mas a política implementada pelo governo era mais dis-tante das resoluções aprovadas pelo XII Encontro do PT (2001); jána segunda fase, o PT reduziu seu número de ministros, mas a polí-tica implementada tornou-se mais próxima do programa do PT.

Quais as principais reflexões “político-organizativas” que pode-mos fazer ao longo desta trajetória?

A primeira delas: o PT é um partido-lago, não um partido-fonte.Noutras palavras, o PT não é produto de um programa ao redor do

Page 153: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

153

Valter Pomar

qual se nucleiam as pessoas; o PT é produto do movimento de umsetor de vanguarda da classe trabalhadora, que arrasta atrás de sidiferentes setores sociais, políticos e ideológicos. Portanto, influên-cias diferentes que desaguam no “lago” que é o próprio Partido.

Esta característica (partido-lago) ajuda o Partido a manter os seusvínculos com a classe trabalhadora. Mas, ao mesmo tempo, torna oPT extremamente suscetível as mudanças de humor da própria classe.Quanto esta radicaliza, o Partido vai atrás; quanto esta recua, o Parti-do também recua. Num certo sentido, isto explica por qual motivo oPT é um “partido de retaguarda”, não um “partido de vanguarda”.

Sem dispor de uma doutrina teórica oficial, o “petismo” é basica-mente uma corrente política em torno de alguns pontos de referên-cia (socialismo, democracia, classe trabalhadora, mobilização), com-binados e interpretados de diferentes formas ao longo dos trinta anosde vida do Partido.

Assim é que, quando ocorre a crise do socialismo real, enfatiza-seo caráter democrático do Partido. E, quando a direita ataca o PT e ogoverno Lula, em 2005, recorda-se a natureza de classe do Partido,contra as elites que o golpeiam.

A segunda questão é que, fortemente influenciado pela sua pró-pria atuação prática, o Partido sofreu nos anos 1990 e até hoje umaforte guinada “institucional”. Para exemplificar: de 1980 até 2010,em 30 anos de vida, o PT terá participado de 16 eleições nacionais.

Com uma eleição a cada dois anos (ou seja, um ano intermediá-rio para pagar as contas da anterior e preparar a próxima), há umadeformação na vida partidária: “programa” tende a se transformarem “plataforma eleitoral”; estratégia passa a ser pensar as eleiçõesque vão ocorrer daqui há 4 anos; tática passa a ser como ganhar aspróximas eleições; política de alianças se confunde com coligaçãoeleitoral; militância se transforma em “cabos eleitorais”; poder se

Page 154: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

154

Notas sobre a política internacional do PT

converte em governo; e a maior parte das finanças partidárias sãoconseguidas e são gastas em função de campanhas eleitorais.

Da mesma forma que partidos que atuaram em condições de clan-destinidade e de luta armada sofrem deformações por conta disto, oPT também vem sofrendo fortes deformações organizativas por contadesta rotina eleitoral. Há um viés “governamental” no horizonteintelectual, programático e estratégico do Partido; uma transferên-cia de poder, das instâncias partidárias, para os governos e bancadasparlamentares; e uma mudança nas relações internas, se introduzin-do diferenças hierárquicas oriundas do Estado; e uma tendência apolarizar as relações entre os militantes que estão “nos movimentos”,“no parlamento”, “no governo” e “no Partido”, que de centro diretorestratégico da atuação de todos os militantes, corre o risco de seconverter numa agência reguladora voltada a normatizar nossa par-ticipação nos processos eleitorais.

Este tipo de deformação foi experimentada nas cidades e nos esta-dos em que fomos governo; e o enfraquecimento experimentadopelo Partido foi fatal, contribuindo tanto para nossa derrota eleito-ral, quanto para dificultar nosso retorno ao governo nas eleiçõesseguintes.

A terceira questão é: se não adotarmos fortes medidas corretivas,podemos deixar de ser um partido militante socialista; e nos conver-termos num partido eleitoral trabalhista. Noutras palavras: um par-tido que organiza a concorrência eleitoral nos marcos do capitalis-mo, não a disputa pelo poder tendo como objetivo o socialismo.

Com maior ou menor acidez e clareza, o conjunto da direção doPT percebe estes problemas e medidas têm sido discutidas ou adota-das, para enfrentar os seguintes problemas:a) o financiamento da atuação partidária: a maior parte da receita

partidária é proveniente, hoje, da contribuição de empresas pri-

Page 155: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

155

Valter Pomar

vadas. Não se trata apenas das campanhas eleitorais. A atividadecotidiana do Partido depende, em grande medida, da contribui-ção de empresas privadas. Os recursos provenientes do FundoPartidário estatal e das contribuições militantes não dão conta definanciar os gastos correntes do PT. No médio prazo, isto é evi-dentemente insustentável: um partido de trabalhadores sustenta-do por contribuições de grandes empresas;

b) o financiamento das campanhas eleitorais: até hoje, o PT nãoconseguiu viabilizar o financiamento público das campanhas elei-torais, o que a nosso ver reduziria o custo geral dos processoseleitorais, assim como reduziria os níveis de corrupção e deoligarquização do legislativo brasileiro. Da mesma forma, nãoconseguimos introduzir o voto em lista. Por conta disto, mesmono interior do PT as campanhas eleitorais se tornaram empreen-dimentos extremamente custosos, ao mesmo tempo que vão con-solidando “carreiras políticas” e mandatos dedicados prioritaria-mente à sua própria reeleição;

c) a redução da democracia interna, resultado da influência (nasdisputas internas) do poder econômico, do acesso aos meios decomunicação, da manipulação de máquinas externas (governos,mandatos parlamentares, organizações sindicais etc.), tudo istoincidindo sobre uma massa de filiados recentes, que não tiveramacesso nem à experiência de luta de décadas anteriores, tampoucotendo acesso à formação política (pois desde os anos 1990 atéhoje, caiu expressivamente o número de atividades de formação)ou a uma comunicação interna regular (pois o Partido não possuiuma imprensa regular);

d) com a ampliação do número de filiados (ainda pequeno, em relaçãoa população geral do país: 1,3 milhão em 200 milhões) e o enfraque-cimento da vida orgânica (núcleos de base, “setoriais” e diretórios

Page 156: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

156

Notas sobre a política internacional do PT

com funcionamento deficiente), a solução encontrada desde o 1o

Congresso do Partido foi a introdução da eleição direta das direçõespartidárias. O PT realizou eleições diretas em 2001, 2005, 2007 eas realizará novamente nos dias 22 de novembro e 6 de dezembrode 2009. O processo de eleições diretas demonstrou algumas qua-lidades, mas também grandes defeitos. O debate interno prévio àeleição é reduzido, a maioria dos votantes não é militante ativo,estabelece-se uma distância enorme entre bases (que votam) e dire-ções (que são votados e dirigem), entre outras distorções;

e) a ausência de formação política por parte da maioria dos filiados,a qual devemos agregar as deficiências na política de formação,bem como o déficit teórico do próprio Partido frente a questõesprogramáticas e estratégicas;

f ) a transformação de várias tendências internas em grupos de pressão,vinculados a interesses eleitorais de uma ou outra liderança inter-na, ou simplesmente ao controle de cotas de poder nas direções;

g) o surgimento de centros paralelos de poder, que concorrem (e mui-tas vezes suplantam) as instâncias partidárias. Tais centros paralelosde poder (os governos, as bancadas parlamentares, os dirigentes dealguns movimentos sociais, lideranças públicas com forte base elei-toral) dificultam tremendamente os processos decisórios internos;

h) as relações entre Partido e movimentos sociais, bem como as rela-ções entre partido e governo.Os problemas “político-organizativos” acima citados são, como

diz o nome, antes de mais nada políticos. Não se resolvem no terre-no administrativo, nem serão solucionados através de declaração deinteresses. Tampouco decorrem apenas de “opções” feitas por este ouaquele setor que dirige o Partido. Embora as opções, as intenções eos problemas gerenciais possam ter sua influência, os problemaspolítico-organizativos que afetam o PT só podem ser compreendi-

Page 157: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

157

Valter Pomar

dos como parte e decorrência do processo de luta política-social emque estamos envolvidos, na sociedade brasileira concreta.

Neste sentido, é importante não fetichizar o debate organizativo.Como dizia um velho dirigente, a organização tem que estar a servi-ço da política. E, portanto, é na política (no sentido mais amplo dapalavra) que se deve buscar a saída para estes problemas.

Uma das novidades políticas surgidas de nossa experiência de go-verno é, exatamente, o surgimento do “lulismo”, que podemos defi-nir como a identificação direta de setores importantes da classe tra-balhadora com o presidente Lula. As relações entre “lulismo” e“petismo” remetem para um tema enfrentado por outras experiên-cias da esquerda: a entrada em cena de camadas populares, com umtipo diferente de experiência política, e as influências que isto têmsobre a democracia interna do Partido.

Por fim, dois alertas: optamos por uma análise crítica de nossatrajetória, ressaltando mais nossas dificuldades. Acreditamos que istoseria mais útil para a reflexão que o PRD mexicano está fazendo, doque se apresentássemos nossas qualidades. Em segundo lugar, estetexto traduz nossa opinião, não constituindo uma interpretação ofi-cial do Partido, que pode ser encontrada nas resoluções do 3º Con-gresso (2007). Entretanto, arriscamos dizer que parte importantedos problemas que registramos são vistos de forma igual ou muitosemelhante por outros setores e lideranças do Partido.

Este texto foi escrito para subsidiar apresentações feitaspor Rafael Pops e Rubens Alves, entre outros dirigentes

do PT, em diferentes atividades internacionais.

Page 158: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

158

Notas sobre a política internacional do PT

O Cinforme Online publicou, no dia 5 de junho de 2007, textoassinado pelo senhor Rodorval Ramalho, intitulado “O PT, Saddame a ascensão do mal”.

O texto faz inúmeros ataques contra o PT e contra a esquerda.Dentre as muitas besteiras e mentiras, há uma que beira o hilário.

Segundo Rodorval Ramalho, o PT teria assinado um “tratado decooperação com o partido do finado Saddam Hussein”.

Isto é mentira. Não estivemos no Iraque, não assinamos um acor-do de cooperação com o Partido Baath do Iraque.

Uma delegação do PT esteve na Síria e assinou um acordo decooperação com o Partido Baath da Síria.

Quanto às relações entre o Partido Baath da Síria e o PartidoBaath do Iraque, basta dizer que os governos do Iraque e da Síriaromperam relações diplomáticas em 1982.

Durante a guerra entre Irã e Iraque, a Síria apoiou o Irã.No final do governo Sadam Hussein, houve uma retomada de

relações comerciais, mas a normalização das relações diplomáticas sóocorreu em novembro de 2006.

Portanto, o senhor Rodorval Ramalho iniciou o seu texto con-tando uma mentira (há a hipótese dele não conhecer a diferençaentre Síria e Iraque).

É bom dizer que o “sociólogo”Ramalho não está sozinho. O “ci-entista político”Otaviano Nogueira disse, na Folha de S. Paulo, umabesteira semelhante, revelando que há algo mais do que mentira eignorância envolvida.

Mentira ou ignorância?

Page 159: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

159

Valter Pomar

O senhor Ramalho, para quem os sergipanos precisam doar ummapa mundi e uma edição de “Orientalismo”, afirma ainda que “aamizade dos petistas com as viúvas de Saddam é mais uma demons-tração da natureza totalitária do partido dos trabalhadores. O ódiopetista à ação americana contra um dos mais sanguinolentos ditado-res da história da humanidade expressa, na verdade, uma preocupa-ção com a vida e a estabilidade política do ditador iraquiano”.

Pelo visto, o senhor Ramalho é bushista: defende a invasão ame-ricana ao Iraque e acha mesmo que foi uma ação contra um “ditadorsanguinolento”. Não passa pela cabeça do senhor Ramalho que oditador em questão foi, durante muitos anos, financiado pelos Esta-dos Unidos (que, aliás, financiaram também Bin Laden).

Os Estados Unidos apóiam “ditaduras sanguinolentas”toda vezque isto serve aos seus interesses imperialistas. E rompem com elas,quando seus interesses imperialistas assim exigem. Numa e noutrasituação, não há princípios democráticos envolvidos, apenas business.

Claro que isso confunde bushistas desinformados. Alguém temque avisar o senhor Ramalho, por exemplo, que recentemente osEstados Unidos fizeram um acordo com a Líbia.

O protocolo de relações entre o Partido Baath e o PT não implicaconcordância ideológica entre os dois partidos. Mas revela, com cer-teza, que ambos os partidos fazem oposição à ingerência dos EstadosUnidos na região.

11/06/2007

Page 160: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

160

Notas sobre a política internacional do PT

Dizia o filósofo que o concreto é concreto porque é síntese demúltiplas determinações. Só assim para entender adequadamente oepisódio envolvendo Marco Aurélio Garcia e Bruno Gaspar.

Ambos foram filmados, à distância, através da janela de sua salano Palácio do Planalto. Não sabiam que estavam sendo observados.Não autorizaram a divulgação de suas imagens. Não negaram o queestavam fazendo: reagindo ao noticiário da Globo, que revelou emprimeira mão a existência de um problema mecânico no avião daTAM, problema que pode ter sido uma das causas do pavoroso aci-dente que vitimou duas centenas de pessoas.

A descoberta deste problema mecânico foi na contramão da mai-or parte do noticiário sobre o acidente, editorializado para culpabilizaro governo federal. Um articulista chegou a propor a manchete: “go-verno assassina 200 pessoas”. Frente ao problema mecânico e adotadosos mesmos critérios, qual deveria ser a manchete?

Neste contexto, as imagens de Marco Aurélio e Bruno Gasparforam utilizadas para “compensar”a descoberta. Com base nelas, se-ria possível sustentar que, mesmo que não fosse culpado pelo aci-dente, o governo era no mínimo insensível.

Claro que, para embasar esta interpretação, as imagens deveriamser devidamente interpretadas. Como num teatro, foi convocadoum narrador para “explicar”a moral da cena para a platéia: o impolutosenador Pedro Simon, que decretou ser claro que o governo era cul-pado, mas mesmo que não fosse, culpado era o comportamento deMarco Aurélio e Bruno Gaspar.

Filmes parecidos,desfecho a definir

Page 161: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

161

Valter Pomar

Culpado do quê, mesmo? Entre os muitos adjetivos utilizados,um dos mais recorrentes foi “obscenidade”, de obsceno, que umdicionário define assim: “torpe; contrário à decência, ao pudor; im-puro; impudico; lascivo; contrário à moral; desonesto”.

Pouco importa que Marco Aurélio e Bruno Gaspar tenham expli-cado, diversas vezes, que seu gestual (que, como todos sabem, goste-mos ou não, não é nem um pouco raro em conversas privadas) nãodizia respeito às vítimas do acidente. As imagens da Globo, repro-duzidas nos dias seguintes por diversos meios, serviram para quefossem apresentados como dois monstros insensíveis, incapazes dese comover com a tragédia sofrida pelos passageiros, pelos que esta-vam no prédio atingido ou nas proximidades.

Claro que a insensibilidade é obscena. Como é obscena a explora-ção que certos meios de comunicação fazem da dor da perda, senti-mento pessoal e intransferível.

De nossa parte, ficamos abalados com a tragédia, com as vidasceifadas subitamente, com a dor que tomou conta de centenas defamílias, com o temor que freqüenta a vida dos que utilizam o trans-porte aéreo. Assim como ficamos abalados com as tragédias cotidia-nas que não freqüentam as páginas dos jornais, que não ganhamespaço na mídia, mas que tornam infernal a vida diária de parteimportante do povo brasileiro.

Pena que a sensibilidade da maioria dos grandes meios de comu-nicação, bem como de certos impolutos cidadãos, seja seletiva, tantosocial quanto politicamente.

Para ficar num exemplo insuspeito e relativo ao próprio tema: acondecoração que a Força Aérea Brasileira deu a dirigentes da Anac.A homenagem, devida ou indevida, deveria ter sido cancelada. Com-pare-se as críticas que esta homenagem recebeu, com o tratamentodado a Marco Aurélio e Bruno Gaspar, e fica claro que este últimoepisódio está sendo superdimensionado e manipulado.

Page 162: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

162

Notas sobre a política internacional do PT

A tal ponto foi a coisa, que Marco Aurélio, assessor da presidên-cia da República, foi promovido por certa imprensa à condição de“ministro”de Lula. Compreende-se o evidente prazer de certos mei-os: Marco Aurélio é um dos responsáveis por uma das áreas-chavedo governo Lula, a política externa;é vice-presidente nacional do PTe assumiu a presidência durante a etapa final da campanha Lula2006, quando entrou em duro atrito com setores da grande impren-sa; ademais, para os padrões atuais do PT, é o que se convencionachamar de “homem de partido”e um “intelectual de esquerda”.

Claro que a direita quer (mais) esta cabeça. Pode ser que haja umplano operacional (da inteligência deles, é claro) em curso;pode serapenas o bom aproveitamento (pela direita) de oportunidades quenós do PT e do governo Lula oferecemos aos montes.

Seja como for, o fato é que, nos últimos anos, está em curso umprocesso de desmoralização pública de dirigentes do PT. Processoque se encaixa perfeitamente no principal objetivo da direita para ospróximos anos: afastar o partido do governo federal, a partir de 1ºde janeiro de 2011.

Claro, também, que a direita quer utilizar o terrível acidente paraatingir o governo, omitindo que a crise (como tantas outras que seabatem sobre o país) deita raízes no desinvestimento, nadesestruturação do aparato estatal, no controle das empresas priva-das sobre as instituições responsáveis por impor limites à ganância,na privatização de tudo e mais um pouco, na presença militar ondese faz necessário controle civil etc.

Claro, finalmente, que esta situação (como outras) inclui errosadministrativos e principalmente políticos de nossa parte, que facili-tam à oposição difundir, em amplos setores da população, a idéia deque não estávamos nem estaríamos empenhados na solução da cha-mada crise área.

Page 163: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

163

Valter Pomar

Seja como for, o fato é que este episódio vem na seqüência daderrota da reforma política e das vaias a Lula na abertura do PAN.

Não se trata apenas de constatar que a direita e sua mídia não sedeixam abater pela popularidade de Lula e do governo. Se trata deperceber que, se não forem modificados o padrão de gerenciamentopolítico imperante no governo e o modus operandi do partido (es-pecialmente da direção), podemos estar assistindo à continuação deum filme que já vimos em 2004-2005. Com a diferença de que,desta vez, talvez não haja final feliz.

24/07/2007

Page 164: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

164

Notas sobre a política internacional do PT

A Veja desta semana dedicou sua capa ao Che. Intitulada “A farsado herói”, a revista promete “verdades inconvenientes sobre o mitodo guerrilheiro altruísta, quarenta anos depois de sua morte”.

É claro que Che virou um mito e, portanto, há uma distânciaentre o homem e a lenda, que pode ser (e muitas vezes é) exploradapor críticos de esquerda e direita, resultando ou numa destruiçãomais eficaz, ou numa compreensão mais correta do personagem esuas circunstâncias, inclusive daquelas que o transformaram em mito.

Mas Veja não faz nada disto. Cada vez mais parecida com a Sele-ções do Reader’s Digest, o semanário da Abril tenta construir umantimito: alguém cuja vida, “exceto na revolução cubana, foi umaseqüência de fracassos”.

Como são poucos os de quem se pode dizer que fracassaram emtudo, “exceto”numa revolução que marcou a história da AméricaLatina, a interpretação que Veja faz de Che só agradará a direitistasmuito ignorantes.

Pois direitistas medianamente inteligentes não engolirão o antimitoproposto por Veja: um “ser desprezível”, com uma “maníaca neces-sidade de matar pessoas”, uma “crença inabalável na violência polí-tica”, buscando de forma “incessante”uma “morte gloriosa”.

Para Veja, o mito de Che se “sustenta no avesso do que o homemfoi, pensou e realizou durante a sua existência”. Se isto for verdade,trata-se de um caso único na história, pois em geral os mitos têmalgum tipo de contato com a realidade, por menor que seja.

Assunto para o Procon

Page 165: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

165

Valter Pomar

Segundo Veja, o Che real seria “incapaz de compreender a vidaem uma sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros osadversários”ajudou a “estabelecer um sistema de penúria em Cuba”era“aferrado com unhas e dentes à rigidez do marxismo leninismo emsua vertente mais totalitária”um comandante “imprudente, irascí-vel, rápido em ordenar execuções e mais rápido ainda em liderarseus camaradas para a morte”.

Para fazer estas afirmações, Veja toma entre suas “fontes”algunsexilados cubanos, mesmo reconhecendo que o “rancor pode api-mentar suas lembranças”. E para desconsiderar fontes potencialmentefavoráveis, afirma que “o regime policialesco de Fidel Castro nãopermite que aqueles que conviveram com Che e permanecem emCuba possam ir além da cinzenta ladainha oficial”.

Veja nos poupa da “ladainha oficial”e de qualquer opinião favo-rável ao Che, nos submetendo a mais vulgar ladainha anticomunista.Isto tudo para concluir que no rastro das concepções revolucionáriasde Che, “a América Latina foi lançada em um banho de sangue euma onda de destruição ainda não inteiramente avaliada”.

O argumento é conhecido: a luta armada empurrou as acossadaselites latino-americanas a desencadear golpes militares. Na mesmalinha, teria sido a radicalização esquerdista que levou ao golpe con-tra Allende;teria sido a guerra fria que levou as ditaduras a seguirexistindo, muito tempo depois da derrota da luta armada;e, maisrecentemente, seriam os “excessos”dos governos Evo, Correa e Chávezque explicariam o golpismo das elites destes países.

Veja poderia ter nos poupado de besteiras desse tipo, limitando-se ao que está no editorial da revista: “para a juventude que quermudar o mundo, o Che encarna os ideais de justiça e igualdade”.

Esta é a principal fonte do mito: o mundo em que vivemos. Ummundo que precisa de mudança, de socialismo, de revolução. Que

Page 166: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

166

Notas sobre a política internacional do PT

Veja não aceite isto, é compreensível. Mas que seus argumentos se-jam tão toscos, é sinal dos tempos.

02/10/2007

Page 167: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

167

Valter Pomar

O senador José Sarney resolveu fornecer mais um “argumento”(pretexto seria palavra mais adequada) para quem é contra a entradada Venezuela no Mercosul.

Segundo Sarney, “é um perigo para o Brasil e para toda a AméricaLatina que nós tenhamos uma potência militar instaurada dentrodo continente”.

Realmente, é um perigo que exista uma única potência militar nocontinente americano: os Estados Unidos.

Talvez Sarney ache mesmo que, potência militar, por essas ban-das, só ao norte do Rio Grande.

Pelo mesmo motivo, talvez ele considere perigoso (afinal, irrita osEstados Unidos) que algum país da região compre caças de últimageração, armamento para submarinos, foguetes e outras armas de guer-ra, junto a empresas que não possuem bandeira norte-americana.

Seja como for, o senador exagera quando fala da capacidade mili-tar venezuelana. A Venezuela está longe de ser uma “potência mili-tar”. Muito mais poderosa, militarmente falando, é a Colômbia,que recebe fortes investimentos e apoio norte-americano.

Ademais, a nova doutrina militar venezuelana tem os EstadosUnidos como inimigo, não o Brasil ou qualquer outro país latino-americano. Por isto mesmo, o conceito adotado pelas forças arma-das venezuelanas é o de guerra & defesa popular.

Sarney alerta para os riscos de uma “corrida armamentista”. Não setrata de risco, mas de fato: ao contrário do prometido, depois do fimda URSS, os gastos militares em todo o planeta continuaram crescendo.

Só os gringos podem?

Page 168: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

168

Notas sobre a política internacional do PT

Neste contexto, é inescapável que o Brasil também reequipe suasForças Armadas. Pelos critérios de Sarney, isto seria uma ameaça aosvizinhos? Ou a acusação só vale para a Venezuela? Ou se comprar-mos de fornecedores norte-americanos, pode?

Ao contrário do que diz o senador, o Brasil não precisa desviarrecursos destinados a investimentos sociais para a compra de armas.Esta escolha de Sofia só faz sentido para quem esquece dos 600bilhões que, desde 2003, foram consumidos pelo endividamento.Basta reduzir as taxas de juros e o serviço da dívida, que se tornarápossível aumentar os investimentos sociais e em infra-estrutura, in-cluindo reequipar minimamente as forças armadas (ação que precisaser acompanhada de mudanças profundas na instituição).

No afã de atribuir ao presidente venezuelano uma atitude agressi-va, Sarney (segunda a Agência Senado) afirma que “somos, na Amé-rica do Sul, o continente mais pacífico da face da terra. O Brasil éum exemplo porque temos fronteira com dez países e vivemos paci-ficamente com todos eles. Nossos problemas de fronteira foram diri-midos através de árbitros e de meios pacíficos, assim constituímos ogrande país que somos. Não podemos admitir outra fórmula quenão seja a do diálogo para resolver os problemas do continente”.

Quem dera isto fosse verdade. Mas como esquecer os vários con-flitos militares ocorridos no século 19 e 20, conflitos que definiramfronteiras em nossa região e que até hoje ecoam politicamente? Comoesquecer, ainda, os conflitos internos a cada país, que foram interna-cionalizados especialmente nos anos 60 e 70? Como desconsiderar,em especial, o papel que os Estados Unidos jogaram na AméricaLatina, desde 1898 pelo menos?

As críticas de Sarney pretendem servir de “argumento” para ques-tionar a entrada da Venezuela no Mercosul. Segundo a Agência Se-nado, o senador afirmou que o “Congresso tem que examinar se

Page 169: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

169

Valter Pomar

realmente aquele país está cumprindo uma das exigências para en-trar no bloco econômico: ser um estado democrático”.

Sarney pode ter as opiniões que quiser sobre o atual governo ve-nezuelano. Pode até argumentar que as mudanças constitucionaisem curso na Venezuela, embora estejam respaldadas pelo voto popu-lar, têm um sentido antidemocrático.

Nós podemos, por outro lado, achar que as críticas de Sarney nãoprocedem e que o currículo de Sarney não é dos mais apropriadospara falar de democracia. Isto apesar do Lobão (não o compositor,mas o senador maranhense), para quem Sarney “pautou sua vida nadefesa das liberdades”.

Sarney e nós podemos opinar o que quisermos, mas o que está emquestão não é a entrada do governo Chávez no Mercosul. O queestá em questão é a entrada da Venezuela no Mercosul. Quem écontra isto, pretende isolar a Venezuela. Objetivo declarado da úni-ca potência militar do continente americano.

30/10/2007

Page 170: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

170

Notas sobre a política internacional do PT

Segundo a Folha de S. Paulo, o hoje deputado federal Paulo Malufconsidera que Chávez é “um bufão, que precisava, no mínimo, deum psiquiatra. A maneira dele governar é absolutamente reprovável.São certos rompantes de autoritarismo que mostram que é ditador”.

Críticas semelhantes foram feitas pelo senador José Sarney. Ouseja: os dois principais personagens em torno dos quais se dividiu oantigo PDS, partido da ditadura militar no Brasil, agora se dedicama avaliar o grau de democracia que existe na Venezuela.

Ninguém é obrigado a concordar com o estilo de Chávez, com areforma constitucional ou com o “socialismo bolivariano”. Mas éimpossível ouvir calado certa gente posando de democrata, acusan-do o governo da Venezuela de ser ditatorial por estar propondo “re-eleição ilimitada” e por ter “fechado” um canal de comunicação.

Na melhor das hipóteses, é gozado ver o senador Sarney, integranteda ditadura que censurou jornais, prendeu e matou jornalistas, criti-cando a não-renovação de uma concessão pública para uma empresaprivada de televisão. Considerando as relações da família Sarney comdeterminada rede de comunicação, compreendo seus motivos: ele pensae age como proprietário, não como concessionário.

No caso de Maluf, “eleito” prefeito e governador de São Paulopelas regras da ditadura militar, beira o grotesco sua crítica à propos-ta da reeleição ilimitada.

Não tenho dúvida que esta proposta é um sintoma de fraqueza,não de força. Um projeto revolucionário, coletivo por definição, não

Bons modos e hipocrisia

Page 171: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

171

Valter Pomar

deve depender em tão larga medida deste ou daquele indivíduo. Masa possibilidade da reeleição do primeiro mandatário do país estápresente em vários outros países do mundo e não é isto, isoladamen-te, que faz de um país ditadura ou democracia.

Em termos de espetáculo, nada se compara à reação indignadacom que certos meios repercutiram a frase que o rei da Espanhadirigiu ao presidente Chávez, durante a cúpula Ibero-americana,realizada recentemente em Santiago do Chile.

Para quem não lembra, a República espanhola foi esmagada porum levante fascista, que restaurou a monarquia. Depois da morte deFranco, Juan Carlos foi coroado e jogou um papel no mínimo con-troverso no processo de redemocratização.

A altercação entre o rei e Chávez pode ser vista, em várias versões,no www.youtube.com.

O episódio começou quando Chávez, no final da cúpula Ibero-americana, fez um ataque ao ex-primeiro ministro espanhol, JoséMaria Aznar, acusando-o de fascista.

Zapatero reagiu, exigindo que Chávez respeitasse José Maria Aznar,que quando primeiro-ministro foi eleito pelos espanhóis. E pediu queo respeito aos governantes fosse uma norma formal das “cumbres”.

Durante a fala de Zapatero, Chávez interveio algumas vezes. Foinesse contexto que Juan Carlos proferiu a agora célebre frase: “porque não te calas?”

Não se trata de uma frase especialmente profunda, diferentementeda intervenção de Zapatero, que apresentou seu ponto de vista sobrecomo devem se comportar os representantes de países em encontrosmultilaterais. Ponto de vista questionável, mas compreensível.

Já o rei espanhol deu uma bronca, composta por cinco palavras.A imensa repercussão de sua frase só tem um explicação: “calar”Chávez é o sonho de muita gente.

Page 172: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

172

Notas sobre a política internacional do PT

É o caso do jornal O Estado de S. Paulo, que em editorial publi-cado no dia 13 de novembro chama Chávez de “truculento aspiran-te a ditador”, “violento por natureza”, “destituído de senso de medi-da” e “reencarnação mameluca de Mussolini”.

Frente a este tipo de ataque, que Chávez sofre todo santo dia,mesmo quem não concorda com o seu estilo é obrigado a lembrar darelação entre a violência do rio e a violência das margens.

Que tenha sido um rei a mandar calar; que o socialista Zapaterotenha se sentido obrigado a defender um espanhol, mesmo que esteespanhol seja Aznar, um reacionário assumido que dedica grandeparte de seu tempo a viajar pelo mundo em campanha contra aesquerda; que a mídia conservadora tenha feito um carnaval emtorno do assunto; nada disto ajuda quem defende os bons modos,inclusive em eventos internacionais.

Ao mesmo tempo, tudo isto diz muito sobre a hipocrisia de mui-ta gente que se opõe a Chávez e, por tabela, discorda da entrada daVenezuela no Mercosul. De pacífica e educada, esta gente não temnada, nem mesmo os modos.

13/11/2007

Page 173: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

173

Valter Pomar

O jornalista Clóvis Rossi publicou, na Folha de S. Paulo de do-mingo, 18 de maio, um artigo intitulado “O Foro e as Farc”.

Para Rossi, o Foro é um “conglomerado (sic) de grupos e partidosde esquerda e extrema-esquerda criado nos anos 90 por iniciativaprincipalmente do PT”.

O jornalista diz, também, que “a participação das Farc nessa coa-lizão sempre foi utilizada pelos críticos do PT pela direita para tentardemonstrar que o partido não passa de um bando de comunistasque se vestem de cordeiros, mas são lobos”.

Por fim, Rossi afirma que o XIV Encontro do Foro de São Paulo,que ocorre de 22 a 25 de maio em Montevidéu (Uruguai), seria uma“oportunidade de ouro” para um acerto de contas do Foro com asFarc: “se as consideram forças beligerantes, como o venezuelano HugoChávez acha que elas são, fica tudo como está. Se, ao contrário, asvêem como terroristas, como diz o colombiano Álvaro Uribe, que asexpulsem. Só não vale assobiar e olhar para o lado”.

Curioso, este Clóvis Rossi. Muitas vezes, escreve artigos indigna-dos, criticando o PT e o governo Lula num tom que parece de es-querda. Outras vezes, trata como “debilóides” setores do PT. E, noartigo em tela, assume como suas algumas posições do governo dosEstados Unidos e do governo colombiano.

O Foro de São Paulo foi criado em 1990, reunindo um amploarco de partidos de esquerda e progressistas, alguns socialistas, ou-tros não, em torno da crítica e da luta contra as políticas neoliberaise em favor de alternativas.

Sobre cordeiros e lobos

Page 174: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

174

Notas sobre a política internacional do PT

Naquela época, o único governo dirigido por um partido vincu-lado ao Foro de São Paulo era o de Cuba. Hoje, partidos vinculadosao Foro de São Paulo estão presentes em muitos governos latino-americanos. Na América do Sul, a maioria dos países tem governosintegrados por partidos membros do Foro.

O XIV Encontro do Foro vai tratar de muitos assuntos: juventu-de, mulheres, atividade parlamentar, conjuntura mundial e latino-americana, a integração de nosso continente, a atuação dos gover-nos de esquerda e progressistas.

Certamente, o tema da Colômbia terá destaque. Mas a aborda-gem que daremos ao assunto será diferente daquela proposta porClóvis Rossi.

Existe uma guerra na Colômbia há várias décadas. Estão envolvi-dos nesta guerra o governo colombiano, forças paramilitares e guer-rilhas (que resolução da OEA chama de forças insurgentes), assimcomo o governo dos Estados Unidos.

A quem interessa esta guerra? Em primeiro lugar, aos EstadosUnidos, que precisam de pretextos para manter bases militares naAmérica do Sul. Em segundo lugar, à direita colombiana, que sebeneficia politicamente do estado de guerra, seja para conseguir re-cursos nos Estados Unidos, seja para manter a popularidade de Uribe,seja para evitar o crescimento eleitoral da esquerda colombiana, agru-pada no Pólo Democrático Alternativo.

O Foro de São Paulo defende a paz na Colômbia. A paz interessaao povo colombiano, interessa à esquerda colombiana, interessa àmaioria dos governos latino-americanos, interessa a todos os setoresdemocráticos e progressistas do continente e do mundo. A paz inte-ressa, inclusive, às guerrilhas colombianas, que aliás não têm comovencer este conflito armado e se desgastaram profundamente no úl-timo período, não apenas por razões militares, mas também devido

Page 175: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

175

Valter Pomar

à opções profundamente incorretas e politicamente negativas, comoos seqüestros.

O Foro de São Paulo quer uma solução negociada para o conflitona Colômbia. Queremos que os conflitos sociais existentes naquelepaís sejam tratados pela via política, da mobilização social e das dis-putas eleitorais. Por óbvio, queremos uma solução negociada, quenão desemboque no assassinato de quem hoje está na guerrilha, evi-tando o que aconteceu noutro processo de paz, quando milhares demilitantes da União Patriótica, inclusive candidatos à presidência daRepública, foram assassinados.

Já o governo Uribe e os Estados Unidos acreditam que podemvencer a guerra. Por isso, implementam um governo ultra-conserva-dor, estimulam o para-militarismo, violam fronteiras e defendemclassificar as Farc como “terroristas”. Sobre as implicações práticasdesta classificação, vale acompanhar os recentes ataques de Bushcontra Obama e contra a diplomacia francesa.

O Foro de São Paulo seguirá outro caminho. Por exemplo, divul-gar os fatos, mostrando que a guerra na Colômbia tem causas histó-ricas, políticas e sociais profundas que precisam de solução. Denun-ciar a atitude do governo Uribe e do governo dos Estados Unidos,que precisam da guerra. Buscar apoios, nos parlamentos, nos gover-nos e nas sociedades dos Estados Unidos, União Européia e AméricaLatina, para uma solução pacífica e negociada para o conflito co-lombiano. Prestar solidariedade prática às forças de esquerda, demo-cráticas e progressistas da Colômbia, por exemplo, o Pólo Democrá-tico Alternativo, a CUT e a senadora Piedad Córdoba. Exigir a li-berdade imediata dos seqüestrados e o intercâmbio humanitário.Desencadear uma campanha internacional pela paz na região.

São ações como estas que podem acabar com a guerra. É nistoque apostamos. Haverá quem nos ache cordeiros, haverá quem nos

Page 176: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

176

Notas sobre a política internacional do PT

ache lobos. Mas estamos convencidos de que este é o caminho paraa paz na Colômbia, que criará o ambiente político que permitirá,mais cedo ou mais tarde, que aquele país também seja governadopor forças progressistas e de esquerda. Neste caso, vamos assobiarpor último.

Este artigo foi escrito em maio/junho de 2008.

Page 177: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

177

Valter Pomar

A libertação de Ingrid Betancourt e de outros seqüestrados foi saudadacom alegria por pessoas, partidos e governos das mais diferentes orienta-ções políticas. O Partido dos Trabalhadores soltou nota a respeito.

Nunca é demais lembrar: mesmo nas guerras, há leis e costumesque devem ser observados. Seqüestrar civis, não-combatentes, mantê-los presos, sem julgamento, é uma opção profundamente incorreta epoliticamente negativa. Por estas e outras razões, o PT sempre con-denou os seqüestros.

Esperamos que os demais seqüestrados sejam libertados rapida-mente. E que este resgate contribua para uma saída negociada entretodos os envolvidos no conflito político-militar existente na Colôm-bia, há várias décadas.

Ainda não está claro o que de fato ocorreu na operação de resgate,sobre a qual existem várias versões, que vão da operação de inteli-gência militar até a violação do direito humanitário internacional.

De toda maneira, é evidente que o governo Uribe buscará capita-lizar a libertação dos seqüestrados, especialmente de Ingrid Betan-court, apresentando o êxito da operação como prova do acerto daestratégia “linha dura” de combate à “narcoguerrilha”.

O mesmo poderá tentar o governo norte-americano, especialmenteos republicanos (note-se que o resgate ocorreu simultaneamente àvisita de John Mcain à Colômbia).

Paradoxalmente, o governo Uribe retira parte de sua força da exis-tência do conflito militar, que lhe proporciona apoio dos EUA e um

As armas da política

Page 178: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

178

Notas sobre a política internacional do PT

clima de terror contra setores da sociedade colombiana, além do queé sabido acerca dos paramilitares.

Uribe pode insistir numa espécie de “guerra sem fim ao terrorismo”,buscando de imediato um terceiro mandato presidencial. Mas tambémpode buscar algum tipo de negociação, evitando o espectro de Fujimori,que derrotou militarmente o Sendero Luminoso e o MRTA, mas de-pois teve que fugir do Peru, estando hoje sob julgamento.

Quanto às FARC: serão capazes de fazer, com agilidade, aquiloque não quiseram ou não souberam ou não conseguiram fazer quandoRaul Reyes e Marulanda estavam vivos? A guerrilha libertará imedi-ata e incondicionalmente os demais seqüestrados? Dará sinais ine-quívocos de que reconhece a necessidade de encerrar a luta armada eadotar outra estratégia?

Seja como for, a situação exige ampliar a solidariedade internaci-onal, por parte dos movimentos sociais, partidos e governos pro-gressistas e de esquerda, de toda a América Latina e do mundo, quedefendemos uma solução pacífica negociada. É fundamental apoiaros esforços, na Colômbia, de forças como a CUT, a oposição liberale o Pólo Democrático Alternativo.

A paz interessa ao povo colombiano, interessa à esquerda colombi-ana, interessa à maioria dos governos latino-americanos, interessa atodos os setores democráticos e progressistas do continente e do mun-do. A paz criará o ambiente político que tornará possível que a Co-lômbia venha a ser governada por forças progressistas e de esquerda.

Embora tenha crescido a idéia de que o governo Uribe pode der-rotar militarmente a guerrilha, é preciso lembrar que ainda assimnão estariam superadas, nem eliminadas, as causas políticas e sociaisque a originaram.

Como foi dito em outro lugar, é necessário construir uma “saídapacífica negociada para este conflito que dura décadas, com raízes

Page 179: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

179

Valter Pomar

sociais e políticas profundas, negociação que permita a inserção dosguerrilheiros e de seus simpatizantes na vida pública; bem como aconstrução de instituições democráticas profundamente renovadas,livres da contaminação do narcotráfico e do crime organizado”.

É sabido que a guerra dá continuidade à política, através de ou-tros meios. Há quem acredite no contrário disso, superestimando“los fierros”. Mas a força da esquerda está no apoio popular. É pre-ciso fazer valer as armas da política.

Este artigo foi escrito em julho de 2008.

Page 180: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

180

Notas sobre a política internacional do PT

Trata-se de um grande filme (The Departed, 2006), dirigido porMartin Scorsese, com um elenco da pesada: Jack Nicholson, Leo-nardo DiCaprio, Matt Damon, Mark Wahlberg, Martin Sheen eAlec Baldwin.

O roteiro mostra a caçada entre um policial infiltrado no crime, eum criminoso infiltrado na polícia. Ambos e seus pares desconhe-cem suas verdadeiras identidades. No jargão, trata-se de “infiltrados”.

A infiltração é muito comum na espionagem. Outro grande fil-me (A companhia, baseada no livro homônimo de Robert Littell),com Chris O’Donnell, Alfred Molina e Michael Keaton romanceiafatos reais: a KGB infiltrou agentes na cúpula do serviço secretobritânico e também na CIA.

Qual a relação entre isso e a matéria da revista colombiana Cambio?Nenhuma, salvo a mentalidade de guerra fria que persiste nos

editores da grande imprensa brasileira.A matéria publicada pela revista colombiana está claramente a

serviço de um setor da direita colombiana, que se opõe a duas inicia-tivas impulsionadas pelo governo brasileiro: a Unasur e o Conselhode Defesa da América do Sul.

Qual o conteúdo da matéria? Basicamente, uma transcrição, entre-meada de comentários, de correios eletrônicos supostamente intercam-biados por integrantes das FARC, onde se faz referência a brasileiros.

A revista fala que existiriam 85 correios eletrônicos, trocados en-tre 1999 e 2008, mas publica na íntegra e comenta apenas um nú-mero menor.

Os infiltrados

Page 181: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

181

Valter Pomar

Cambio tampouco questiona se as mensagens são autênticas, nemse foram manipuladas. Nem se pergunta por qual motivo dirigentesde uma guerrilha citariam, com tanta abundância de detalhes, resi-dentes em outro país. Seria estupidez, prepotência ou... infiltração?

Apesar disto tudo, o fato é que o governo colombiano não mos-trou um único correio eletrônico (dentro os milhares que teriamsido localizados nos arquivos eletrônicos que estariam no acampa-mento onde o comandante das Farc foi morto), que tenha sido envi-ado por um brasileiro.

Talvez por isso, apesar do tom escandaloso da matéria, a revistaCambio não utilize (ao menos na edição eletrônica) nenhuma vez otermo “infiltração”. Falam de contatos, conexões e termos seme-lhantes. O mais longe que Cambio vai é dizer que os correios eletrô-nicos são “apenas indício de um possível compromisso”.

Mas foi só chegar em solo pátrio, que a coisa muda de figura evira “infiltração”. Ou seja: a imprensa brasileira não apenas compraa versão do setor mais duro da direita colombiana, como ainda adi-ciona seu tempero inconfundível.

Salvo alguma conexão mental obscura entre o termo e a figura doencanador evocada, em campanhas passadas, por uma importanteatriz, a conclusão é que a mentalidade de guerra fria continua ron-dando parte da imprensa brasileira.

O que está em jogo, na verdade, é a política externa, em particulara política de Defesa. Mesmo para jornais que gostam de se considerarprogressistas, como a Folha de S. Paulo, é incabível imaginar um Con-selho de Defesa que exclua os Estados Unidos. O resto é marola.

Este artigo foi escrito em agosto de 2008.

Page 182: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

182

Notas sobre a política internacional do PT

10 DE AGOSTO DE 2008, domingo, Bolívia: a oposição de direitaperde o referendo revocatório. Mas não foi esmagada: além de seguircontando com forte poderio econômico e midiático, obteve maioriaeleitoral em vários estados e um importante percentual nacional.

Diante deste resultado, a oposição poderia escolher entre dois cami-nhos principais. O primeiro deles era reconhecer a legitimidade dogoverno Evo Morales e aceitar o convite, feito por este, para negociar.

O segundo caminho era dar início a um processo de desobediên-cia, provocando o governo para que reprima as manifestações, espe-rando assim criar um pretexto para dividir as forças armadas e iniciaruma guerra civil.

Setores da oposição de direita boliviana parecem ter escolhidoeste segundo caminho. Comenta-se abertamente que têm o respaldoda embaixada norte-americana. Contam até com a torcida de parce-las da mídia brasileira, que denunciou o governo Evo como suposta“ameaça ao fornecimento de gás para o Brasil”, mas que agora tratacom grande parcimônia as ações de setores fascistas.

9 DE SETEMBRO DE 1973, domingo, Chile: o presidente SalvadorAllende comunica ao general Pinochet que convocaria um referendopara o país decidir democraticamente que caminho seguir. O anún-cio seria feito no dia 10, mas foi adiado para o dia 11 de setembro.

O povo não foi convocado para votar, pois no próprio dia 11 umgolpe derruba Allende, coroando o processo de desestabilização ini-

A festa da marmota

Page 183: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

183

Valter Pomar

ciado pela direita civil e militar, no exato momento em que a Unida-de Popular venceu as eleições presidenciais de 1970.

A oposição de direita chilena escolheu o caminho do golpe. Estáfartamente comprovado que o governo norte-americano participoudo início ao fim da empreitada, inclusive financiando a “imprensalivre”, partidos políticos e dirigentes sociais de direita.

4 DE NOVEMBRO DE 2008, terça-feira, Estados Unidos: eleição donovo presidente norte-americano. Sete candidatos disputam o plei-to, mas apenas dois têm chances de vencer: John McCain (republi-cano) e Barack Obama (democrata). A maior parte dos analistasespera uma vitória por margem apertada.

O fato de um republicano poder vencer a eleição, mesmo depoisdo desastroso governo Bush, serve como alerta para quem nutre mui-tas expectativas acerca do confuso e oligárquico processo que esco-lherá o próximo governo norte-americano.

Para além dos imensos interesses imperiais e empresariais envol-vidos, aguçados pelo ambiente de crise interna e instabilidade exter-na, existe o histórico de intervenção norte-americana, tanto por par-te de presidentes democratas, quanto de republicanos.

Este é um dos motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadoresnão apóia nenhum dos candidatos que disputam a presidência dosEstados Unidos. Mas esta atitude não significa desconhecer as dife-renças entre as candidaturas, nem tampouco implica em passividade.

Qualquer que seja o novo presidente dos Estados Unidos, ele jo-gará importante papel na conjuntura internacional e latino-ameri-cana. Ao Partido dos Trabalhadores, interessa manter canais abertose institucionais de contato, com variados setores daquele país, inclu-sive com quem estiver no governo.

Sem confundir diplomacia com identidade ideológica e sem ali-

Page 184: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

184

Notas sobre a política internacional do PT

mentar ilusões, uma das questões fundamentais é trabalhar para im-pedir, ou pelo menos dificultar ao máximo, a interferência dos Esta-dos Unidos na política dos países latino-americanos.

Sem apoio ao Norte, a oposição de direita existente em cada paíslatino-americano fica do seu tamanho real (que está longe de serdesprezível). E fica mais repetir o roteiro golpista, amparado na con-cepção expressa por Henry Kissinger, secretário de Estado do gover-no norte-americano quando Allende foi eleito: “não vejo razão pelaqual se deve permitir o Chile se tornar marxista pela irresponsabili-dade de seu povo”.

Este artigo foi escrito em agosto de 2008.

Page 185: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

185

Valter Pomar

Quem militava em 1989 passou parte de sua vida tentando com-preender e explicar por quais motivos aconteceu o desmanche dochamado campo socialista.Os que militam hoje estão diante da ne-cessidade de compreender, explicar e principalmente intervir na cri-se que tem por epicentro dos Estados Unidos.

Além do interessante debate acerca das causas “micro” da crise esobre a dinâmica da economia estado-unidense, é preciso levar emconta o enquadramento “macro”.

Em primeiro lugar, a crise atual tem origem nos anos 1970: foipara reagir à crise de então, que o grande capital e os governos dosEstados Unidos e Inglaterra desencadearam um movimento ideoló-gico, político, militar e econômico que produziu o que chamamosde hegemonia neoliberal.

Quase quarenta anos depois assistimos a crise e ao esgotamentodaquela “solução” neoliberal.Mas não voltamos ao ponto de partida.O mundo atual é muito mais capitalista do que o mundo dos anos1970, uma vez que foram em grande medida removidas as limita-ções impostas pela existência do “campo socialista” e pela força daesquerda no interior dos países desenvolvidos.

Também por isto, a crise atual será muito mais complexa e muitomais profunda. Até porque não se trata de uma crise meramente“financeira”, entre outros motivos porque o crescimento da especu-lação financeira é em si mesmo uma conseqüência da própria dinâ-mica contraditória da acumulação capitalista.

O muro da hora

Page 186: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

186

Notas sobre a política internacional do PT

Em segundo lugar, o esgotamento do neoliberalismo coincide com odeclínio relativo da hegemonia dos Estados Unidos, sem que haja nohorizonte um substituto e sem que as instituições políticas formadasno pós-Segunda Guerra sejam capazes de “administrar” a situação.

Declínio relativo: os EUA continuam sendo a potência hegemô-nica no terreno ideológico, político, militar e econômico inclusive.Mas esta hegemonia enfrenta crescentes problemas e contestações,parte deles (ironicamente) decorrente da grande vitória que os EUAobtiveram contra os socialistas, social-democratas e nacional-desen-volvimentistas, ao longo dos anos 80.

Evidentemente, não está nos planos dos EUA perder influência.O pano de fundo das eleições presidenciais de novembro deste anonão é como “organizar a retirada”, pelo contrário. Não se deve des-cartar que desta crise surja uma hegemonia renovada, tanto do capi-talismo, quanto até mesmo dos Estados Unidos.

Por tudo isto, muito ao contrário do fim da história, o que vive-mos e seguiremos vivendo pelo próximo período é uma brutalinstabilidade.Inclusive porque o intenso “desenvolvimento” econô-mico da era neoliberal e suas conseqüências (ambientais, sociais,militares, políticas) enfraqueceu e transbordou todas as instituiçõespolíticas.

Qual a duração, qual a profundidade e quais as repercussões dacrise? Não está claro, ainda. Mas é notável que, no lugar docatastrofismo de esquerda, estejamos assistindo ao catastrofismo dedireita: de respeitáveis acadêmicos até especuladores profissionais,cresceu o número e a estridência dos que vaticinam o caos sistêmico,apontando na situação a mistura de traços do pré-Primeira Guerracom a crise dos anos 1930 nos EUA, cujos efeitos –sempre é bomlembrar– não foram totalmente superados pelo New Deal, mas simpela Segunda Guerra.

Page 187: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

187

Valter Pomar

Mesmo que descontemos a ignorância, o oportunismo e o pânicopresentes em algumas destas análises, especialmente as tupiniquins,que no fundo querem é estimular o caos para com base nele fazeroposição a Lula, é preciso lembrar que onde há muita fumaça, al-gum fogo há. Até porque eles sabem, as vezes melhor do que nós, otamanho da lambança feita nos mercados financeiros que, até on-tem, eram prova máxima do “engenho criativo” e do “espírito ani-mal” do capitalismo.

Por isso, um olho no gato e outro no peixe. Estamos em melhorescondições de enfrentar esta crise, em alguma medida porque o atualgoverno (especialmente no segundo mandato) adotou políticas dis-tintas do receituário clássico neoliberal. Mas o tamanho da crise não per-mite discursos ingênuos sobre o “tamanho das reservas”, nem crençastolas nos supostos bons procedimentos das grandes empresas nacionais.

Do que precisamos é dobrar a aposta no mercado interno e na inte-gração continental; estabelecer controles sobre a entrada e saída de capi-tais; alterar a política de juros; fortalecer pesadamente o Estado e a sobe-rania nacional sobre os recursos estratégicos, por exemplo ampliando ocontrole da União sobre as ações da Petrobrás. Estas e outras medidasem defesa das maiorias, o que inclui manter e ampliar as políticassociais e as políticas orientadas ao desenvolvimento econômico.

O sonho nada secreto da direita é realizar, em 2009-2010, aquiloque eles desde 1989 diziam que aconteceria durante o governo Lula:o caos, a crise, o desgoverno. É preciso lembrar que a crise atual foiprovocada pelas políticas que eles sempre defenderam; e que o Brasilestá mais protegido, porque recusou estas políticas. Ou ninguémlembra da Alca?

Não basta, entretanto, provar que estávamos certos nas batalhasideológicas de ontem e seguimos certos nas de hoje. É preciso,também,travar a batalha do futuro, acerca do redesenho da ordem

Page 188: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

188

Notas sobre a política internacional do PT

internacional. E fazê-lo de uma perspectiva socialista, pois afinal decontas o que está aí é uma crise do sistema capitalista. E só nosfaltava, na hora da crise, ajudar o bicho a se levantar de novo.

Este artigo foi escrito em outubro de 2008.

Page 189: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

189

Valter Pomar

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores promoveu,no dia 26 de novembro, um concorrido debate sobre a crise interna-cional e seus efeitos no Brasil, tendo como palestrantes GuidoMantega e Marco Aurélio Garcia.

Dois outros debates estão previstos, o primeiro no dia 2 de de-zembro, em São Paulo, em promoção conjunta com o PCdoB; e osegundo no dia 16 de dezembro, em Salvador, em promoção con-junta com o PSB e com o PCdoB.

O debate realizado em Brasília reafirmou que a crise internacio-nal é produto direto das chamadas políticas neoliberais, em particu-lar da desregulamentação dos mercados financeiros.

Reafirmou, também, que enfrentar a crise exige adotar medidasque reforcem o investimento público, o mercado interno, a integra-ção regional e, de maneira geral, o papel do Estado na economia.

Noutras palavras: tanto a crise quanto a solução apontam para adesmoralização da visão de mundo neoliberal. Este é um aspectoque nunca é demais destacar, até porque os porta-vozes do neolibe-ralismo continuam à solta, especialmente nas empresas de comuni-cação, exigindo do governo brasileiro que corte investimentos e re-duza o papel do Estado.

O debate promovido pelo Diretório Nacional do PT mostrou, tam-bém, que há muitas questões polêmicas, em aberto e a aprofundar.

A primeira delas diz respeito à profundidade e a duração da crise.Existe uma tendência, bastante compreensível, a destacar as vanta-

Debatendo a crise

Page 190: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

190

Notas sobre a política internacional do PT

gens comparativas dos “países em desenvolvimento”, em particularo Brasil, frente aos Estados Unidos e à Europa.

Esta tendência pode conduzir a dois equívocos: por um lado, aminimizar os efeitos da crise na “periferia”; por outro lado, a nãoconsiderar devidamente que os paises centrais vão tentar transferiros custos da crise para o “resto do mundo”. Mesmo quem acreditaque o imperialismo é um “tigre de papel”, deveria levar em conta ese prevenir adequadamente contra esta tentativa.

A diferença de opinião sobre estas questões ajuda a explicar as ati-tudes opostas que existem, em nosso Partido, acerca da rodada Doha:enquanto alguns comemoram seu fracasso, outros defendem aressureição. Explica, ainda, porque alguns se entusiasmaram com areunião do G20, enquanto outros alertaram para seus limites e riscos.

Outra questão em aberto é a natureza da conexão entre a crisefinanceira e a crise econômica no sentido geral da palavra.

Existe uma tendência a considerar o fechamento de empresas e odesemprego como uma decorrência da crise financeira, não perce-bendo ou não considerando em devida conta que, em última análi-se, a crise financeira e a especulação que a precedeu é, em si mesma,uma decorrência da dinâmica contraditória da produção capitalista.

Noutras palavras: o contraditório “sucesso” da expansão capitalis-ta, inclusive no terreno produtivo, é que está na origem da vertigemfinanceira.

O superdimensionamento do aspecto financeiro da crise conduzà adoção de medidas anticíclicas de apoio ao “capital produtivo”,sem considerar (ou sem considerar devidamente) que este próprio“capital produtivo”, e não apenas os mercados financeiros, tambémprecisa ser submetido a fortíssimos controles.

Aliás, o próprio conceito de capital financeiro supõe aquilo queconhecemos na realidade das grandes empresas brasileiras e mundiais:a imbricação entre capital industrial e bancário.

Page 191: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

191

Valter Pomar

A diferença de opinião sobre estas questões está na base das diver-gências acerca de algumas medidas adotadas pelo governo, em bene-fício de segmentos do empresariado. E, por outro lado, nas diferen-tes ênfases que uns e outros concedemos a bandeiras como a reduçãoda jornada de trabalho, a reforma agrária e o fortalecimento radicaldas políticas sociais universais.

Uma terceira questão em aberto diz respeito ao impacto da crisesobre o Brasil.

A este respeito, parece haver alguns consensos: a) a economiabrasileira está menos vulnerável, hoje, do que nos anos 1990; b)estamos mais fortes do que estaríamos, caso estivéssemos aplicandoas políticas tucanas; c) estaríamos ainda melhor se, durante parte doprimeiro mandato de Lula, o Ministério da Fazenda não fosse linhaauxiliar das políticas pró-capital financeiro.

Destas conclusões, aparentemente (uma vez que os liberais exis-tentes na própria esquerda andam meio calados) consensuais, des-dobram-se linhas diferentes de análise e de propostas.

Entre estas linhas, registro a tendência a superestimar a fortalezada economia brasileira e a considerar suficiente a adoção de medidaspreventivas e corretivas.

Claro que algumas destas medidas, como a redução dos juros, sãofundamentais e inadiáveis, sendo incrível ver como Henrique Mei-relles insiste, contra quase tudo e contra quase todos, em retardar oinevitável. Sendo ainda mais incrível que o governo tolere, no seumeio, um sabotador assumido e explícito das políticas anticíclicas.

Mas medidas preventivas e corretivas, por si só, não parecem su-ficientes para enfrentar uma crise internacional desta magnitude,especialmente do ponto de vista de quem tem como objetivo pata-mares de desenvolvimento e igualdade social muito superiores aos jáexperimentados pelo Brasil, nos anos 1980 e antes.

Page 192: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

192

Notas sobre a política internacional do PT

É preciso ir além, revertendo medidas adotadas ao longo dos anos90 e implementando reformas estruturais, a começar pela tributária(não confundir com as medidas parciais e contraditórias que volta emeia entram em discussão no Congresso Nacional). Mas para isto setransformar em realidade, é preciso outro enfoque, que considere anecessidade de medidas extraordinárias, que exigem intensa mobili-zação social e luta político-ideológica.

O maior equívoco, contudo, não reside na ingenuidade de algu-mas análises econômicas, sobre nossa fortaleza e sobre que medidasadotar. O maior perigo está num certo “economicismo”, ou seja, navisão que reduz e confunde a gestão da crise com a gestão adminis-trativa da economia.

Nota bene: enfrentamos as eleições de 2008 num cenário aindafavorável e obtivemos um resultado aquém do necessário. Enfrenta-remos as eleições 2010 num cenário diferente e pior, pois mesmoque tenhamos total êxito na administração da economia, ainda as-sim haverá desaceleração, com todas as conseqüências derivadas.

O que quer dizer que teremos que “compensar”, no terreno dapolítica (debate ideológico, mobilização social e partidária, medidaslegislativas e de governo), os prejuízos decorrentes da crise.

A esse respeito, vivemos uma situação contraditória, que fica maisevidente no terreno ideológico.

A saber: se é verdade que os neoliberais foram desmoralizados (em-bora a Miriam Leitão ainda não tenha percebido isto); e se é verdadeque “todo mundo virou keynesiano”; também é verdade que batalhaspassadas não vencem as guerras do presente nem do futuro.

Desde já e ao longo dos próximos anos, no Brasil, na região lati-no-americana e no mundo, está em questão a natureza do pós-neo-liberalismo. Ou seja: qual mundo será construído depois do quealguns têm chamado de “a queda do muro” deles.

Page 193: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

193

Valter Pomar

Espera-se da esquerda, especialmente de um partido socialista comopretende ser o nosso PT, que consiga oferecer um horizonte maisamplo e uma perspectiva diferente daquela que é oferecida por LordKeynes. Que, vamos lembrar, tinha como propósito salvar o capita-lismo.

Este artigo foi escrito em novembro de 2008.

Page 194: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

194

Notas sobre a política internacional do PT

A polêmica envolvendo a Odebrecht, os empréstimos feitos peloBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a atitudedo governo equatoriano e a resposta do governo brasileiro, permitediferentes ângulos de abordagem.

Por exemplo: qual deve ser a atitude do Estado diante das empre-sas privadas que prestam serviços ao poder público? Como tratarempréstimos públicos internacionais, vinculados a empreendimen-tos privados? Qual a atitude diante da necessidade de auditar o en-dividamento interno e externo ocorrido nos países da região? Quetipo de relações deve prevalecer entre os governos progressistas e deesquerda existentes na América do Sul?

A direita brasileira e sua mídia participam da polêmica com oobjetivo de colocar areia nas relações entre os governos de Lula eRafael Correa. Setores da esquerda e da ultra-esquerda, por sua vez,declaram apoio total ao Equador, criticando a postura supostamente“sub-imperialista” do governo brasileiro e sua “submissão” aos inte-resses de uma empreiteira.

Da direita, nada se espera. Da outra margem do rio, espera-sesolidariedade na luta contra uma empreiteira e contra o endivida-mento externo. Mas espera-se, também, uma mirada um pouco maislarga, que busque tratar e superar os inevitáveis conflitos que exis-tem e vão continuar existindo, entre os movimentos, partidos e go-vernos progressistas e de esquerda, nos marcos de um plano estraté-gico que impeça o fortalecimento dos nossos inimigos.

A linha do Equador

Page 195: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

195

Valter Pomar

Ao longo do século XX, a esquerda latino-americana e caribenhaenfrentou dois grandes obstáculos: a força dos adversários no planonacional e a ingerência externa. Esta sempre esteve presente, espe-cialmente naqueles momentos em que a esquerda chegava ao gover-no ou ao poder. Quando as classes dominantes locais não davamconta de conter a esquerda, apelavam para os marines.

A novidade dos últimos dez anos (1998-2008) é a constituição deuma correlação de forças, na América Latina, que permite limitar aingerência externa.

O ambiente progressista e de esquerda colaborou nas eleições ereeleições, ajudou a evitar golpes (contra Chávez e Evo Morales, porexemplo), sendo ademais fundamental na condenação da invasãodo Equador por tropas da Colômbia. Além de minimizar ou invia-bilizar políticas de bloqueio econômico, que jogaram um papel im-portante na estratégia da direita contra o governo Allende e continu-am afetando Cuba.

Noutras palavras: a existência de uma correlação de forças favorá-vel na região, cria melhores condições para que cada processo nacio-nal siga seu próprio curso. Um símbolo desta nova correlação deforças é a realização, em dezembro de 2008, da cúpula latino-ameri-cana e caribenha. Nem pan, nem ibero.

Ocorre que, quando forças de esquerda e progressistas conseguemchegar ao governo nacional, o fazem com um programa baseado, dealguma forma, no tripé igualdade social, democratização política esoberania nacional.

E a defesa da soberania nacional não se faz apenas contra as “me-trópoles imperialistas”, envolve também administrar os conflitos en-tre países da região.

Estes conflitos não foram “inventados” pelos atuais governos, sendogeralmente herança de períodos anteriores, inclusive do desenvolvi-

Page 196: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

196

Notas sobre a política internacional do PT

mento dependente e desigual ocorrido na região. Na maioria doscasos, não poderão ser superados no curto prazo: por terem causasestruturais, só poderão ter solução no longo prazo, nos marcos deum adequado processo de integração regional.

A exacerbação destes conflitos regionais teria como subprodutodissimular as contradições (muito mais relevantes) com as metrópo-les imperialistas.

Portanto, do ponto de vista estratégico, devemos impedir queestes conflitos se convertam em contradição principal. Pois, se istoacontecer, a correlação de forças latino-americana se alterará em fa-vor da ingerência externa.

É sabido que os governos progressistas e de esquerda da regiãotrilham o caminho do desenvolvimento e da integração, adotandodiferentes estratégias e com diferentes velocidades.

E já foi dito que a possibilidade maior ou menor de sucesso, emâmbito nacional, está vinculada à existência de uma correlação lati-no-americana favorável às posições de esquerda e progressistas.

Logo, nosso imbróglio estratégico pode ser resumido assim: comocompatibilizar as diferentes estratégias nacionais, com a construçãode uma estratégia continental comum (que preserve a unidade comdiversidade). Ou, mais precisamente, como lidar com os conflitosentre os países da região.

Devido ao seu tamanho, força econômica, história pregressa e lar-gas fronteiras, o Brasil é parte efetiva ou potencial em muitos conflitosregionais. Setores da direita brasileira desejam que o Brasil se com-porte, nestes conflitos, ao estilo dos Estados Unidos. Em outros paí-ses, parcelas da direita querem ver o Brasil ocupando, no imagináriodas pessoas, o lugar que atualmente é dos Estados Unidos.

Verdade seja dita, o Brasil tem o physique du role adequado paracumprir papéis distintos e opostos.

Page 197: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

197

Valter Pomar

Por um lado, ao longo dos últimos anos nosso país se converteuem plataforma de operação de grandes empresas, que se beneficiamdos mercados, da mão de obra e das riquezas naturais dos paísesvizinhos. E, ao longo de nossa história, por diversas vezes o governobrasileiro foi advogado dos interesses metropolitanos e da integraçãosubordinada.

Por outro lado, o Brasil tem condições de ser uma das locomoti-vas de outro tipo de desenvolvimento e integração regional, contraas diretrizes impulsionadas historicamente pelos Estados Unidos.Desde 2003, com maior ou com menor êxito, com maiores ou me-nores contradições, esta é “a linha do Brasil”.

Alguns episódios, o mais recente envolvendo a Odebrecht, de-monstram que setores da esquerda latino-americana discordam des-ta linha ou, pelo menos, consideram que o governo brasileiro nãoestá sendo coerente na sua aplicação.

Evidente que dificuldades, incoerências e contradições existem. Se-ria tolice negá-las, mesmo porque o Brasil não se resume ao Estadobrasileiro, o Estado não se resume ao governo atual, o governo atualnão se resume à esquerda, além do que a esquerda também erra.

Mas, o que está em questão não são apenas estas dificuldades,incoerências, contradições e erros. Claro que existem, assim comotambém pesam o estilo pessoal dos governantes e implicações con-junturais. Acima disto tudo, entretanto, transparece uma divergên-cia acerca da linha seguida pelo governo brasileiro.

A rigor, parte da esquerda latino-americana gostaria que o gover-no Lula adotasse o espírito da Alba (Alternativa Bolivariana).

Podemos e devemos debater (em termos de sustentabilidade in-terna, natureza dos acordos firmados, materialização efetiva, efeitosnos países receptores) o que faz o governo da Venezuela, mas é im-possível não reconhecer que sua atitude é extremamente meritória.

Page 198: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

198

Notas sobre a política internacional do PT

Mas será que o governo brasileiro pode e deve adotar este cami-nho?

Podemos e devemos fazer mais do que fazemos, inclusive estabe-lecer parâmetros e controles sobre a atuação internacional das em-presas privadas “brasileiras” (a cratera no Metrô de São Paulo nãopermite dúvidas acerca do que uma empreiteira é capaz de fazer).Mas, por mais que façamos, não existe correlação de forças, meca-nismos institucionais e situação econômica que nos permitam ope-rar de maneira semelhante ao governo venezuelano.

A alternativa realmente disponível para o governo brasileiro en-volve solidariedade; mas sua dimensão principal é a dos acordos co-merciais, econômicos e institucionais (por exemplo, a Unasul), en-volvendo governos, empresas públicas e/ou privadas.

Este caminho contém diversos riscos. De saída, iniciativas como aUnasul supõem compartilhar a mesa com adversários políticos e ideo-lógicos, que seguem governando importantes países da região. Emsegundo lugar, a dinâmica da integração inclui momentos de maiorprotagonismo político dos presidentes, entremeados de períodos ondepredomina o espírito das respectivas chancelarias. Em terceiro lugar,os acordos econômico-comerciais sempre beneficiam, em maior oumenor escala, os interesses do Capital, pelo menos enquanto este modode produção for hegemônico nos países em questão. Em quarto lugar,as empresas envolvidas geralmente colocam em primeiro lugar seulucro imediato e em segundo lugar o sentido estratégico da operação,ou seja, o desenvolvimento e a integração.

O ponto forte da atual posição brasileira é a insistência na cons-trução de uma institucionalidade regional sólida, cuja expressão maispromissora hoje é a Unasul (aí compreendidos o Banco do Sul, oConselho de Defesa etc). O ponto fraco é a ausência de controlesobre o comportamento das empresas que atuam no exterior.

Page 199: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

199

Valter Pomar

No caso das empresas públicas, como se viu na Bolívia, o governobrasileiro tem meios para fazer prevalecer os interesses estratégicosdo país. No caso das empresas privadas, faz-se necessário desenvol-ver mecanismos que garantam o mesmo, inclusive dentro do Brasil.Afinal, como sabemos, empresas que recebem empréstimos doBNDES apostaram contra o Real; e bancos que recebem estímulosdo governo negam crédito barato.

Com todos os seus riscos, o que resumimos nos parágrafos ante-riores parece ter sido o caminho adotado pelo governo brasileiro enão está no horizonte de curto prazo qualquer modificação. Istoaconteceria em duas circunstâncias: caso a direita recuperasse o go-verno, em 2010; ou caso o processo social no país se radicalizasse,alterando significativamente a correlação de forças.

Podemos discutir, discordar e até condenar a “linha do Brasil”.Devemos, com certeza, exigir maior rapidez e maior dedicação naimplementação desta linha, especialmente na conjuntura aberta coma crise internacional. Mas é preciso compreender sua natureza, seuslimites, e as conseqüências geradas, por um possível não-pagamentode empréstimo concedido pelo BNDES, sobre nossas possibilidadesde cooperar economicamente com outros países da região, inclusiveo Equador.

Da mesma forma como nós devemos compreender, por exemplo,que o governo equatoriano siga convivendo com a dolarização desua economia. Gravíssimo atentado à soberania nacional, que per-sistirá enquanto não se criar uma correlação de forças interna e ex-terna que permita sua superação.

Resta tratar de uma questão fundamental. Argumentamos que ogoverno brasileiro, ao menos agora, não pode adotar uma políticadiversa da atual. A pergunta é: devemos trabalhar pela adoção deoutra política?

Page 200: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

200

Notas sobre a política internacional do PT

A resposta é: sim e não. Sim, no sentido de que devemos cons-truir as condições internas para ter uma política externa mais ousa-da. Não, no sentido de que consideramos impossível revogar, pordecreto & vontade, as relações de mercado entre os países de nossocontinente.

Certamente, a solução dos conflitos regionais supõe uma reduçãoda desigualdade, não apenas dentro de cada país, mas também entreas economias de nosso subcontinente. A institucionalidade da inte-gração, tanto multilateral quanto as relações bilaterais, tem que es-tar sintonizada com este propósito.

A redução da desigualdade em cada país supõe enfrentar a “he-rança maldita” e realizar reformas sociais profundas. Mas isto não ésuficiente para eliminar as disparidades existentes entre as economi-as, objetivo que exige combinar, no longo prazo, medidas de solida-riedade, intercâmbio direto e também medidas de mercado.

Por mais que o Brasil consiga ousar na sua política externa, nãotemos como “exportar” apenas a “parte boa” das condições materiaisnecessárias para a superação das desigualdades existentes, tanto in-ternamente a cada país, quanto entre os países da região. Portanto, oapoio do Brasil aos países da região incluirá, em boa medida, fortedose de “exportação do capitalismo”, com suas mazelas incluídas.

O pano de fundo do debate acerca da “linha do Brasil” é a aceita-ção ou não desta limitação, que em nossa opinião existiria mesmoque o governo brasileiro fosse muito mais radical.

Por fim: todo apoio à auditoria da dívida externa do Equador.Mas é preciso diferenciar os tipos de dívida e os credores. Todo apoioao governo do Equador contra uma empreiteira que construiu umaobra com imensos problemas. Mas é preciso agir de maneira a pu-nir a empreiteira, não o BNDES. E todo apoio ao diálogo entre osgovernos de esquerda e progressistas, para que nenhuma das partes

Page 201: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

201

Valter Pomar

seja surpreendida por medidas unilaterais divulgadas pelaimprensa.Aliás, a necessidade de diálogo & aviso prévio é a única“linha” que não pode ser desrespeitada.

Este artigo foi escrito em dezembro de 2008.

Page 202: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

202

Notas sobre a política internacional do PT

No dia em que escreverem uma história do governo Lula, umcapítulo será dedicado ao ódio que a direita nutre pelo Marco Auré-lio Garcia, vice-presidente nacional do PT e assessor especial do pre-sidente da República.

Claro que outros de nós também temos o prazer de ser alvo deofensas, besteiras e quetais. Basta, para isso, ser de esquerda, defen-der publicamente o que pensamos e ter orgulho de militar no PT.

Mas Marco Aurélio, para além destas características, atua numterreno cada vez mais visível e cada vez mais visado, o internacional.

Motivo pelo qual há contra ele um lobby organizado, que visadesgastá-lo na sociedade, para enfraquecer seu papel no governo.

Para isso, vale tudo, desde tentar intrigar Marco Aurélio com o Itamaraty,até apresentar o professor como um radical quase sanguinário.

Este tipo de ataque soa no mínimo ridículo para nós, que conhe-cemos o sujeito em tela. Mas, como sabemos, o veneno da mídiatem efeitos cumulativos junto aos setores que se informam apenasatravés dos grandes meios.

Por isto, mas também em defesa do grande Lima Barreto, é neces-sário contestar o senhor Carlos Brickman, que em artigo publicadono jornal Folha de S. Paulo (8/01/09), “acusou” Marco Aurélio de,entre outras coisas:1) “apoiar a eleição de Evo Morales”; 2) “apoiar a eleição de Rafael

Correa”; 3) “ficar ao lado das FARC”; 4) “fornecer gasolina paraque o presidente venezuelano Hugo Chávez pudesse derrotar os

A ilimitada estupidez de Brickman

Page 203: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

203

Valter Pomar

grevistas da Petroleos de Venezuela”; 5) “apoiar a polêmica deci-são (de Chavez) de fechar a TV oposicionista”; 6) dar “total razãoaos palestinos do Hamas”, tomando partido “numa luta com aqual o Brasil nada tem a ver”, pois “a briga é deles, não nossa”.Deixemos de lado a biografia profissional e política de Carlos

Brickman e vamos direto ao ponto: isto tudo que ele diz é de umasolene estupidez.

De maneira resumida:1) Foi o conjunto do PT que apoiou Evo Morales e Rafael Correa.

Brickman queria que apoiássemos quem, os candidatos da direi-ta? E desde quando conflitos constituem exclusividade de gover-nos progressistas?

2) Foi o presidente em exercício, Fernando Henrique, que decidiuenviar combustível para a Venezuela. Atitude que foi estimuladapelo já eleito presidente Lula.

3) Foi o PT que soltou nota pública, dizendo que o presidente HugoChávez agia dentro da lei venezuelana, ao decidir não renovar a con-cessão de uma empresa de TV. Certamente, trata-se de uma “sutile-za” além da capacidade de entendimento de Brickman, para quemuma concessionária torna-se proprietária daquilo que é público.

4) Acusar Marco Aurélio de “aliado das FARC” e de dar “total ra-zão” ao Hamas é como dizer que Brickman é uma pessoa honestano debate político: uma total estultice.

5) Por fim, mas não menos importante: acusar Marco Aurélio de“tomar partido “numa luta com a qual o Brasil nada tem a ver”,pois “a briga é deles, não nossa”, mostra como certa estupidezpode ser cega.O que está em curso em Gaza pode ser qualquer coisa, menos

uma “briga” inconseqüente, frente a qual o Brasil poderia se manterindiferente.

Page 204: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

204

Notas sobre a política internacional do PT

Pelo contráro, trata-se de um conflito extremamente grave, queincide de maneira dramática na conjuntura internacional. Motivomais do que suficiente para o Brasil atuar enfaticamente, pelo fimimediato das hostilidades e pela paz.

Nada disto é contraditório com opinar, de maneira muito clara,sobre o que está em curso, inclusive sobre o “terrorismo de Estado”praticado pelo governo de Israel.

O Brasil ganhou um lugar especial na cena internacional, exata-mente porque abandonou a postura subalterna que caracteriza otucanato.

Em resumo: tudo, absolutamente tudo, que Carlos Brickman falacontra Marco Aurélio é produto da mais absoluta estupidez. Pode-mos, pelo contrário, afirmar o seguinte: ainda bem que o Brasil, ogoverno e o PT podem contar com o trabalho do professor.

A única coisa positiva no texto de Brickman é Lima Barreto. Mes-mo assim, convenhamos: pobre Lima, sendo utilizado por alguémdeste naipe.

Este artigo foi escrito em janeiro de 2009.

Page 205: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

205

Valter Pomar

Um grupo de 36 militantes petistas divulgou, no dia 16 de janei-ro, uma carta manifestando seu “desacordo” com a nota divulgadano dia 4 de janeiro, intitulada “PT condena ataques criminosos”.

Os signatários declaram-se “profundamente consternados com “atragédia que vem se desenrolando no Oriente Médio e com o núme-ro crescente de vítimas, inclusive de crianças”, mas paradoxalmentesua carta é dedicada a relativizar as críticas que a nota do PT fazcontra o governo de Israel.

Acusando a nota de posicionar “equivocadamente o PT em rela-ção a um conflito de notável complexidade”, os 36 militantes sinte-tizam sua opinião nos seguintes pontos:a) a nota do PT “ignora a posição histórica do Partido, que sempre

se pautou pela defesa da coexistência pacífica dos povos”;b) a nota do PT “banaliza e distorce o fenômeno histórico do nazismo”;c) a nota do PT “não registra a necessária condenação ao terrorismo”;d) a nota do PT “não afirma o reconhecimento do direito de existên-

cia de Israel negado pelo Hamas”;e) a nota do PT “não se coaduna com a posição equilibrada assumi-

da pelo governo brasileiro sobre a questão”;f ) a nota do PT “queima, ao invés de construir, pontes para o enten-

dimento”.Pode-se concluir, portanto, que a carta dos 36 acusa a nota do PT

de desequilíbrio pró-palestinos.Considerando as circunstâncias, isto deve ser tomado como um

A nota certa

Page 206: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

206

Notas sobre a política internacional do PT

elogio, não como uma crítica. Afinal, frente ao massacre perpetradoem Gaza, em aberta violação do direito internacional, é imperativoque um Partido como o nosso tome posição aberta e clara, sem sub-terfúgios nem meias-palavras, em favor dos mais fracos: o povo pa-lestino.

A primeira crítica dos 36 acusa a nota do PT de ignorar “a posi-ção histórica do Partido, que sempre se pautou pela defesa da coexis-tência pacífica dos povos”.

Li e reli a nota divulgada pelo Partido e não consegui entenderem que parágrafo, em que frase, em que vírgula nós ameaçamos a“coexistência pacífica”.

A única interpretação que me ocorre está contida em cartas querecebemos de sionistas: ao convocar a militância para uma mobiliza-ção contra a guerra e pela paz, o PT estaria supostamente ameaçan-do a coexistência pacífica entre “palestinos e judeus” aqui no Brasil,importando um conflito que “não é nosso”. Mas não consigo crerque os signatários da carta pensem isto.

A segunda crítica dos 36 diz que a nota do PT “banaliza e distorceo fenômeno histórico do nazismo”.

O que diz a nota do PT: “atentados não podem ser respondidosatravés de ações contra civis. A retaliação contra civis é uma práticatípica do exército nazista: Lídice e Guernica são dois exemplos disso”.

Ou seja: a nota do PT não afirma uma tese sobre o “fenômenohistórico do nazismo”, nem comete nenhum anacronismo ou sim-plificação histórica. Logo, não podemos ser acusados de “distorcer”algo sobre o qual não pontificamos. A nota do PT limita-se a apon-tar um fato: o exército nazista ficou conhecido por retaliar civis. Ematar civis, mesmo numa guerra, não pode ser considerado algo“banal”. Quem “banaliza” a violência é quem aprova, silencia, outergiversa sobre o que se passa em Gaza.

Page 207: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

207

Valter Pomar

O governo de Israel considerou inaceitável a comparação feitapela nota do PT, mas não considera inaceitável matar e ferir milha-res de civis. Infelizmente, os 36 não denunciam nem criticam expli-citamente o terrorismo de Estado praticado pelo governo de Israelcontra os palestinos, preferindo criticar a nota do PT.

Vale dizer que há muitos textos e manifestos, inclusive patrocina-dos por militantes judeus, que fazem analogia direta entre o Guetode Varsóvia e a Faixa de Gaza.

A terceira e a quarta crítica dos 36 reclamam que a nota do PT“não registra a necessária condenação ao terrorismo” e “não afirma oreconhecimento do direito de existência de Israel negado pelo Hamas”.

Estas duas críticas partem de um pressuposto equivocado. Umanota sobre um caso concreto não precisa, obrigatoriamente, fazerum inventário das posições históricas do PT. E a eventual ausênciadesta ou daquela posição, não significa que o Partido tenha alteradoseu ponto de vista. Aliás, a nota do PT também não cita nossa posi-ção sobre o Estado Palestino.

O fato concreto que provocou a nota foi a agressão do governo deIsrael contra o povo palestino, e não uma inexistente ameaça aodireito dos israelenses em ter seu próprio Estado. Sugerir que o Par-tido desconhece esse direito, por não reafirmá-lo na nota citada, nãopassa de sofisma.

Ocorre que a carta dos 36 parece aceitar que o ataque contra aFaixa de Gaza é um ato de “legítima defesa” por parte do governo deIsrael. A nota do PT rechaça explicitamente esta alegação. Aliás, ocronograma do ataque contra Gaza está diretamente vinculado àtransição nos EUA e às eleições israelenses.

A carta dos 36 assume, mesmo que parcial e implicitamente, al-guma das premissas e justificativas adotadas pelo governo de Israelpara seu ataque contra Gaza. Só isto tornaria imprescindível incluir

Page 208: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

208

Notas sobre a política internacional do PT

na nota do PT o “reconhecimento do direito de existência de Israelnegado pelo Hamas”, quando o que está realmente em jogo é odireito à sobrevivência do povo palestino, bem como as resoluçõesinternacionais violadas pelo Estado de Israel.

Evidentemente, o PT não defende o Hamas, defende o povo pa-lestino. Também é sabido que condenamos o terrorismo, em todasas suas formas. Mas estamos convencidos de que as posições doHamas e seus foguetes foram utilizados, pelo governo de Israel, comoum pretexto para a barbárie perpetrada em Gaza.

A quinta crítica feita pelos 36 diz que a nota do PT “não se coa-duna com a posição equilibrada assumida pelo governo brasileirosobre a questão”.

Ao dizer que a posição do governo é “equilibrada”, os 36 sugeremser desequilibrada a posição do PT.

O PT concorda com a posição do governo brasileiro. Achamosque ela se coaduna (ou seja, se combina, sem que sejam posiçõesiguais) com a posição expressa pelo PT, na nota de 4 de janeiro.

Vale lembrar que declarações do presidente, do ministro das rela-ções exteriores e do assessor especial utilizaram termos como carnifi-cina, chacina, agressão injustificável e terrorismo de Estado.

Seja como for, o PT não precisa copiar a posição do governo.Partido é partido, governo é governo. O que um pode dizer e fazer,o outro nem sempre pode ou deve. E vice-versa.

A última crítica feita pelos 36 beira o grotesco: acusam a nota doPT de queimar, “ao invés de construir, pontes para o entendimento”.

O PT é a favor da paz. E paz implica dialogar, inclusive com inimi-gos. Paz não é esquecimento. Nem se constrói sobre mentiras, meiaspalavras, mal-entendidos. Nem tampouco se faz omitindo a história.

O governo de Israel atacou a Faixa de Gaza. Morreram mais de1.200 palestinos. Milhares foram feridos. A infra-estrutura na re-

Page 209: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

209

Valter Pomar

gião foi ainda mais destruída. São ações deste tipo que queimampontes para o entendimento, ameaçam a coexistência pacífica entreos povos, impedem uma paz duradoura, baseada na coexistênciapacífica de um Estado Palestino “viável e próspero” e de um Estadode Israel “definitivamente seguro”.

Não haverá segurança nem paz, enquanto houver ocupação, des-respeito às resoluções da ONU e enquanto os palestinos foram tra-tados, pelo governo de Israel, como uma sub-raça submetida ao ter-rorismo de Estado.

A nota do PT tem o mérito de dizer as coisas com simplicidade eclareza, inclusive sobre o papel jogado pelos Estados Unidos e sobreo agravamento da tensão mundial. Vale dizer que sem uma fortepressão internacional, o governo de Israel não mudará de atitude enão negociará. Neste sentido, a nota do PT ajuda mais na luta pelapaz, do que as posições no mínimo tíbias adotadas pela carta dos 36,divulgada quase duas semanas depois da nota do Partido e na véspe-ra do encerramento da ofensiva de Israel.

Haveria mais o que dizer, especialmente sobre os antecedenteshistóricos do conflito e sobre o direito de um povo resistir à ocupa-ção estrangeira. Mas, tendo em vista o que está em jogo, é preferívelque nos limitemos a defender os termos adotados pela nota do PT.

Este artigo foi escrito em janeiro de 2009.

Page 210: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

210

Notas sobre a política internacional do PT

Antes de falar da vitória de Maurício Funes e da FMLN, é precisofalar da Aliança Republicana Nacionalista, a Arena.

Fundada em 30 de setembro de 1981, Arena é um partido assu-mida e doutrinariamente de direita, que tem entre seus princípios aluta contra a “penetração ideológica e a agressão permanente do co-munismo internacional”.

Arena venceu as eleições presidenciais de março de 1989 e desdeentão governa El Salvador. Seu candidato às eleições de 15 de marçode 2009 era o engenheiro Rodrigo Ávila, ex-chefe da Polícia Nacio-nal Civil, graduado na Academia do FBI e consultor internacionalem “segurança pública”.

Arena vive e pensa com parâmetros da Guerra Fria, a tal pontoque tem um vice-presidente encarregado de “assuntos ideológicos” eum hino que proclama: “pátria si, comunismo no”. E para que nãorestem dúvidas sobre os métodos, lá também se diz que “El Salvadorserá la tumba donde los rojos terminarán”.

Desde 1994, Arena vem disputando as eleições presidenciais contra aFrente Farabundo Martí pela Libertação Nacional, guerrilha que se con-verteu em partido político após os Acordos de Paz firmados em 1992.

O desempenho da FMLN nas eleições presidenciais foi crescente:em 1994, Ruben Zamora chegou a 26% dos votos; em 1999,Facundo Guardado obteve 29% dos votos; em 2004 Schafk Handalobteve 35% dos votos. Ao mesmo tempo, manteve uma intensavida partidária, forte atuação parlamentar e nas lutas sociais, bemcomo sua atividade internacionalista.

A tumba está em festa

Page 211: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

211

Valter Pomar

Para as eleições de 2009, a FMLN fez um movimento extrema-mente ousado: decidiu lançar a candidatura de Maurício Funes, co-nhecido jornalista da CNN. Este gesto, seguido por outros, no ter-reno programático e na condução da campanha, ajudou a FMLN aganhar o apoio de setores de centro, inclusive empresários.

Noutro cenário, esta flexibilidade talvez não resultasse na vitória.Mas no ano de 2009, a conjuntura não favorecia a direita. A admi-nistração Obama disse formalmente que governaria com quem ven-cesse as eleições, não repetindo a ingerência aberta e declarada prati-cada nas disputas anteriores. A crise econômica internacional e aonda de vitórias eleitorais da esquerda latino-americana também en-fraqueceram a candidatura da Arena.

Esta conjuntura foi essencial para a derrota da direita, apesar dafortuna gasta nas eleições, apesar da campanha suja (implementadapor gente ligada à direita mexicana e chilena) e apesar das fraudescometidas no processo eleitoral.

Todas as pesquisas eleitorais, desde o início da campanha, indica-vam a vitória de Funes. As duas pesquisas de boca-de-urna aponta-vam uma vantagem pró-FMLN que podia chegar a 8 pontos per-centuais. Ao final, a esquerda venceu com 51,2% dos votos ou 68mil votos de vantagem (de um total de 2.630.137 votantes, 1.349.142votaram na FMLN e 1.280.995 votaram na Arena).

A diferença não foi maior por vários motivos, entre os quais afraude, facilitada pelas características peculiares do processo eleitoralsalvadorenho. O “padrão eleitoral” é composto por todos os salva-dorenhos que tenham o documento unificado de identificação (anossa carteira de identidade). Neste universo, havia comprovadamenteum grande número de documentos falsos, duplicados, de pessoasque já haviam morrido, de pessoas sem domicílio conhecido, depessoas que residem no exterior. Em segundo lugar, a votação não é

Page 212: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

212

Notas sobre a política internacional do PT

feita por local de residência, mas sim por ordem alfabética (no caso,a primeira letra do sobrenome paterno), obrigando deslocamentosda população, num país onde não há transporte público e onde ovoto não é obrigatório. Em terceiro lugar, a direita arregimentoueleitores em países vizinhos, a quem foram entregues documentosfalsos ou de pessoas ausentes do país. Em quarto lugar, o TribunalSupremo eleitoral é controlado pela Arena, que indicou 3 de seus 5integrantes, inclusive o presidente.

Encerrada a votação, a direita demorou algumas horas para reco-nhecer a derrota. Ao fazê-lo, pediu “prudência” e “sabedoria” para aesquerda, alertando que o país estava “dividido ao meio”. Esquece-ram de dizer que a polarização foi a tônica da campanha da Arena,que “acusava” Funes de “comunista” e de “chavista”.

Funes não é uma coisa nem outra. Em seu discurso de campanha,na coletiva em que proclamou a vitória e no pronunciamento quefez na festa popular da vitória, deixou claro que fará um governo deesquerda, mas adequado às condições econômicas e políticas de ElSalvador. Nas várias entrevistas concedidas depois da eleição, ele tam-bém repeliu com muita tranqüilidade as seguidas tentativas de colocá-lo em conflito com a FMLN.

Como sabemos por experiência própria, os maiores desafios come-çam agora, especialmente a partir da posse, no dia 1 de junho de 2009.Mas uma coisa é certa: a tumba dos vermelhos, onde estão milhares desalvadorenhos e combatentes internacionalistas que deram sua vida naluta pelo socialismo em El Salvador, está em festa. Merecida festa.

Este artigo foi escrito em março de 2009.

Page 213: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

213

Valter Pomar

Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo, escreveu umartigo criticando a resolução política aprovada pelo Diretório Naci-onal do PT no dia 10 de fevereiro. O artigo de Goldman foi publi-cado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 5 de abril.

Desconheço se existe uma resolução do Diretório Nacional doPSDB acerca da crise internacional, seus desdobramentos no Brasile sua influência nos debates da sucessão presidencial.

Assim, fico sem um parâmetro essencial para saber se a resoluçãodo PT, de cuja redação e aprovação eu participei, é mesmo (comoafirma Goldman) “simplista”; ou se o adjetivo é apenas um cacoetetípico da arrogância com que os tucanos qualificam qualquer coisaque não tenha origem em suas “mentes brilhantes”.

Fiquei com a impressão, entretanto, que Goldman não leu comatenção a resolução que critica. Se tivesse lido, teria percebido queantes da constatação –ademais, óbvia– de que estamos “diante deuma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberalque assumiu nos últimos 30 anos”, há uma descrição e uma análiseque o vice-governador tucano não questiona.

Pior ainda: Goldman critica algo que o texto do PT simplesmen-te não diz, a saber, que esta crise “significa um tiro de morte nosistema de produção capitalista”.

Insisto: a resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT nãoafirma, não insinua, não sugere, em nenhum momento, em nenhu-ma passagem, em nenhum trecho, que esta crise seja “um tiro de

Os equívocos do PSDB

Page 214: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

214

Notas sobre a política internacional do PT

morte” no capitalismo. E, ao contrário do que diz Goldman, o do-cumento do PT apresenta propostas concretas e imediatas para en-frentar a crise, inclusive “reformas radicais e urgentes dos organis-mos econômicos e financeiros multilaterais”.

Seria cômodo acusar Goldman de mentiroso, pura e simplesmente.Mas talvez seja mais útil tentar entender por qual motivo ele criticacom tanta ênfase algo que não está no texto aprovado pelo PT.

Arrisco duas explicações: primeiro, o documento aprovado peloDiretório Nacional do PT reafirma a orientação socialista do Parti-do, orientação que a crise torna ainda mais atual. Segundo, ao nosacusar de estúpidos, Goldman desvia a atenção da estupidez tucana.

A profunda hegemonia do capitalismo, hoje, é exata e somenteisto: um fato. Deste fato não deriva, como pensa Goldman, que ocapitalismo seja eterno, que a sociedade humana seja incapaz deorganizar de outra maneira a produção e a distribuição das riquezas,que o socialismo tenha se tornado inviável.

Se não for pedir demais, recomendamos a Goldman que leia aresolução do 3º Congresso do Partido dos Trabalhadores, especial-mente o capítulo “socialismo petista”, onde está uma síntese do quedefendemos. Um socialismo cujos “principais traços” incluem: a maisprofunda democratização; um compromisso internacionalista; o pla-nejamento democrático e ambientalmente orientado; a propriedadepública dos grandes meios de produção.

O fato de reafirmarmos nossa defesa do socialismo, não significaque acreditemos que esta crise é “um tiro de morte” no capitalismo,nem que ela necessariamente vai “apressar a transição” para umasociedade socialista.

Muito ao contrário de qualquer fatalismo, longe de qualquer oti-mismo de Poliana, a resolução do PT fala o seguinte:a) “assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças con-

Page 215: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

215

Valter Pomar

servadoras, progressistas e socialistas competem para definir o de-senho do mundo pós-crise”;

b) é necessário “impedir que a crise jogue o país na recessão; mais doque isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade paraacelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção aoutro modelo econômico-social”;

c) “a vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, emgrande medida, da articulação do campo democrático-popular eda construção de um programa para o próximo mandato presi-dencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projetodemocrático-popular de horizonte socialista”.Nós não causamos a crise. Nós não comemoramos a crise, que do

ponto de vista imediato causa impactos sociais e econômicos negati-vos para a maior parte do povo, a começar pelo desemprego. Nósnão agimos como os tucanos, que torcem pelo agravamento da cri-se, na perspectiva de colher dividendos eleitorais em 2010. Nós nãonos acovardamos frente à crise, que comprova o acerto das mudan-ças que estamos fazendo no país e que precisamos aprofundar.

É impressionante que o vice-governador, ex-comunista, tenha setornado mentalmente tão conservador, a ponto de criticar inclusiveisto: que uma crise seja, ao mesmo tempo, risco e oportunidade.

Aliás: se esta crise oferece também oportunidades para o Brasil, éexatamente na medida em que o governo Lula não seguiu a “trilhaaberta pelo governo FHC”. Pois esta trilha, falemos com clareza, con-duzia à privatização dos bancos públicos e à implantação da Área deLivre Comércio das Américas, para ficar apenas nestes dois exemplos.

Olhando ao revés: as dificuldades que temos, para enfrentar estacrise, originam-se exatamente da herança maldita do governo ante-rior, daquilo em que ainda não conseguimos romper com a “trilha”seguida por FHC. Por exemplo: o peso da especulação financeira e alegislação que contém os investimentos públicos.

Page 216: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

216

Notas sobre a política internacional do PT

Esta herança ainda é forte, exatamente porque os neoliberais ain-da têm enorme força política. Aliás, que curioso: Goldman atacoucoisas que não estão na resolução do PT. Mas não se deu ao trabalhode negar que os tucanos são neoliberais.

Pelo menos nisto, pensou mais como ex-comunista do que comoanticomunista, figurino que ele veste quando busca desqualificarquem acha, como nós do PT, que é possível e necessário construiroutro tipo de sociedade, que não esteja submetido a crises periódicascausadas por um modo de produção que se organiza em torno dolucro e da exploração.

Este artigo foi escrito em abril de 2009.

Page 217: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

217

Valter Pomar

O texto a seguir foi apresentado na Conferência da Esquerda So-cialista, realizada nos dias 3 e 4 de abril de 2009.

Houve um tempo em que se achava artificial começar uma análi-se de conjuntura falando da situação internacional. Hoje acontece ooposto: no centro da conjuntura internacional e ocupando crescen-temente o centro da conjuntura nacional está uma crise que só podeser compreendida observando a situação de conjunto.

Há um intenso debate ideológico e teórico acerca das causas e dacaracterização da crise. A tese mais popular afirma que estamos di-ante de uma crise financeira, que tem como pano de fundo as polí-ticas neoliberais implementadas nas últimas décadas.

Este tese possui ampla aceitação na esquerda, mas também nadireita. Vide Nicolas Sarkozy, para quem a “crise financeira não é acrise do capitalismo”, mas sim “a crise de um sistema que se afastoudos valores fundamentais do capitalismo”.

Para setores da direita, argumentar que se trata de uma crise fi-nanceira, permite defender o “capitalismo produtivo” e sustentar,como também faz Sarkozy, que “o anticapitalismo não oferece ne-nhuma solução para a crise atual”.

Para setores da esquerda, argumentar que se trata de uma crise doneoliberalismo permite saborear o gosto da vitória, na polêmica quesustentamos contra o monetarismo, o Estado mínimo, a desregula-mentação, a flexibilização e o Consenso de Washington. Permite,também, escapar ou pelo menos colocar em segundo plano o debateacerca do socialismo.

Compreender e enfrentar

Page 218: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

218

Notas sobre a política internacional do PT

Entretanto, comete um equívoco teórico, com conseqüências po-líticas e ideológicas, não perceber que estamos diante de uma clássi-ca crise do capitalismo, que evidentemente atinge este capitalismoreal que temos diante de nós: o “capitalismo neoliberal”.

Quem separa artificialmente neoliberalismo de capitalismo, capi-tal financeiro de capital produtivo, comete equívoco metodologica-mente similar aos que –no início dos anos 90– negavam estar emcurso uma crise do socialismo, que seria (ao menos na teoria e nanossa vontade) algo bastante diferente da sua materialização concre-ta na URSS e em outros países.

Mesmo correndo o risco de chover no molhado, é preciso lembrarque:1) as grandes empresas capitalistas atuam no mercado financeiro e,

aliás, extraem parte expressiva de suas receitas da especulação, dosderivativos, do mercado acionário, dos hedges etc.;

2) o crescimento da “economia real”, ocorrido nos anos 1990, foiazeitado pelo crescimento exuberante dos ativos financeiros e pelaoferta de crédito barato para o consumo;

3) o próprio neoliberalismo, como política de Estado, foi uma respos-ta as baixas taxas de crescimento e a queda nas taxas de lucro, expe-rimentadas pelo capitalismo desde o início dos anos 1970. Portan-to, estamos vivendo “a crise da resposta à crise” dos anos setenta;

4) a especulação financeira que assistimos nos últimos anos, combi-nada com a oferta de crédito barato, foram em última análiserespostas a uma contradição estrutural do capitalismo, a saber:sua tendência a produzir cada vez mais mercadorias, com cadavez menos trabalho vivo, gerando superprodução de mercadoriase superprodução de capitais. Contradição cujo desfecho pode seradiado, mas que ao fim e ao cabo conduz à destruição em largaescala dos capitais;

Page 219: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

219

Valter Pomar

5) a desvalorização dos ativos financeiros, a concentração e centrali-zação de capitais (o que inclui o fechamento de empresas), a am-pliação do desemprego e a transformação de dívida privada emdívida pública são algumas das respostas clássicas, dadas a umacrise de tipo clássico.Por isto, entre outros motivos, é que podemos dizer que estamos

diante de uma crise do capitalismo (não apenas uma crise financeiraou resultante do neoliberalismo).

Aliás, com o perdão do neologismo, o capitalismo é um sistema“crísico”. Para citar um estudo recente, feito pelo IPEA: entre 1970e 2007 ocorreram 127 crises bancárias sistêmicas, 208 crises cambi-ais e 63 episódios de crises de não pagamento de dívida soberana.Ou seja, 3 crises bancárias, 5 crises cambiais e 2 não pagamentospor ano!

A novidade existente na crise atual é dupla: sua profundidade esua duração.

A profundidade deriva de um fato simples: nunca o capitalismofoi tão hegemônico e tão poderoso como é hoje. Logo, sua crisetambém é por definição mais profunda, como se percebe quandoanalisamos outras de suas dimensões (energética, alimentar, ambien-tal, política, civilizacional).

A duração deriva da combinação entre a crise econômica e odeclínio da hegemonia dos Estados Unidos, declínio que começa noexato momento em que a URSS é derrotada, enfraquecendo os mo-tivos que levaram as demais nações capitalistas a aceitar a hegemo-nia dos EUA, a começar pela ONU, OTAN e instituições do cha-mado sistema Bretton Woods.

A caracterização desta crise como capitalista, profunda e de longaduração nos posiciona melhor no debate ideológico e na luta políti-ca que está em curso.

Page 220: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

220

Notas sobre a política internacional do PT

No início dos anos 1990, quando houve a crise geral do socialis-mo, a burguesia jogou-se numa ofensiva ideológica total, que inti-midou e cooptou setores majoritários da esquerda em todo o mun-do, no Brasil e no PT.

Aquela ofensiva foi em favor da alternativa ideologicamente ex-trema (o neoliberalismo), não a favor de um meio-termo social-de-mocrata.

Já agora, quando caiu o “muro de Berlim” deles, o debate ideológi-co é proporcionalmente tímido e se trava, no essencial, entre neolibe-rais e keynesianos, que ideologicamente falando são parentes, pois nolimite trata-se de correntes pró-capitalistas, que defendem o uso dosrecursos públicos em favor do bom funcionamento dos mercados.

A esquerda socialista precisa participar deste debate, oferecendouma crítica e uma alternativa ao capitalismo de conjunto. Evidente-mente, sabendo diferenciar o que é tático (o combate a herança ne-oliberal, especialmente a hegemonia do capital financeiro), o que éestratégico (a defesa das reformas estruturais democrático-popula-res) e o que é programático (a defesa do socialismo).

No debate ideológico, um ponto central é o seguinte: se o capita-lismo produz crises periódicas, se hoje ele vive do “crédito”, se eleprecisa do Estado para voltar a funcionar, então ele não é um “dadoda natureza” e depende da política; logo outra vontade política podeconstruir uma alternativa não-capitalista.

O que nos remete a nossa segunda tarefa diante da crise: além decompreender, enfrentar.

Do ponto de vista tático, a crise constitui no fundamental umaameaça, tanto social quanto política, especialmente onde somos go-verno. Motivos pelos quais não devemos comemorar sua eclosão.

Mas, do ponto de vista estratégico, a crise constitui uma imensaoportunidade, tanto do ponto de vista ideológico, quanto do ponto

Page 221: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

221

Valter Pomar

estratégico, para aqueles que lutam pelo socialismo. Claro que étambém uma oportunidade para as classes dominantes, risco quedevemos sempre levar em conta na análise política.

Do ponto de vista estratégico, o que está em jogo é a construçãodo pós-neoliberalismo, cujo conteúdo será definido pela luta entreas classes, dentro de cada Estado, e pela luta entre Estados, na esferamundial.

Simplificando, podemos dizer que nesta luta há três vertentes:1) a conservadora, a saber, os mesmos que implantaram e lucraram

com o neoliberalismo, buscam definir os parâmetros do pós-neo-liberalismo. Esta é a orientação fundamental do governo Obama,que em seu discurso de posse disse explicitamente que os EUAestão “prontos para voltar a liderar”;

2) a progressista, expressa pelos países desenvolvidos ou em desen-volvimento, que não estiveram no comando do período neolibe-ral. Seu objetivo é um capitalismo mais democrático, o que supõeinclusive que o dólar deixe de ser a moeda mundial. Este capita-lismo mais democrático para os capitalistas pode ou não ser acom-panhado de mais democracia e igualdade social;

3) a socialista, que obviamente luta por um pós-neoliberalismo queseja socialista.A vertente mais poderosa, hoje, é a conservadora. Apesar da crise,

Estados Unidos, União Européia e Japão seguem controlando a maiorparte da economia, das forças armadas e da comunicação mundiais.E, paradoxalmente, a crise produz o medo, na maior parte dos de-mais países, do efeito Titanic, a saber: o colapso catastrófico daseconomias centrais, que puxaria todo o resto para o fundo. Nestecontexto, Obama pode ser o homem certo, na hora certa, dandopara alguns a esperança de que os Estados Unidos seriam capazes deliderar com “suavidade”.

Page 222: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

222

Notas sobre a política internacional do PT

A vertente progressista tem ampliado o seu espaço, que dependeem certa medida do avanço da crise nos países centrais, bem comoda disposição de pressão dos chamados “governos progressistas”.Como eles não têm força suficiente para impor unilateralmente ou-tro desenho, os governos progressistas buscam um acordo com oG7, nos marcos do G20 e noutros espaços; mas, como a crise ésistêmica e profunda, os governos saem de reuniões internacionaiscomo as do G20 preocupados em defender seus interesses uns con-tra os outros; numa dinâmica que não gera estabilidade, nem desfe-cho rápido para a crise. A verdade é que o desenvolvimento econô-mico gerou processos e interconexões mundiais, mas as contradiçõesintercapitalistas impedem que haja um “governo mundial”.

A vertente socialista depende da ocorrência, em alguns países eregiões do mundo, de revoluções anticapitalistas, o que por sua vezestá vinculado não apenas ao aprofundamento da crise, mas princi-palmente a mudança na percepção popular sobre a crise. Isto porqueo aprofundamento da crise não gera, de per si, revoluções socialistas,especialmente neste período histórico em que nos encontramos, queainda é de defensiva estratégica do movimento socialista, que aindaestá lambendo e pensando as feridas da primeira tentativa de cons-trução do socialismo, realizada no século XX. Tanto é assim que,independentemente da avaliação que façamos sobre o tipo de socie-dade que existe nos países governados por partidos comunistas, po-demos dizer que estes países e governos operam no cenário interna-cional em favor da “vertente progressista” citada anteriormente.Quanto ao chamado “socialismo do século XXI”, por enquanto eleé uma mistura de anti-imperialismo com capitalismo de Estadodistributivista e popular.

Apesar dos senões acima listados, não devemos cair num pessimis-mo mecanicista. Até porque, assim como ocorreu no desfecho de ou-

Page 223: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

223

Valter Pomar

tras grandes crises, o mundo pós-neoliberal tende a ser uma combina-ção das três vertentes: conservadora, progressista e socialista.

A preços de hoje, podemos dizer duas coisas:a) ainda é forte o risco de um predomínio da vertente conservadora;b) na América Latina existe uma correlação de forças favorável as

vertentes “progressista” e “socialista”.Em outros momentos da história, a América Latina se beneficiou

de crises nas metrópoles. Assim foi nas décadas finais do século XVIIIe iniciais do século XIX, que em nossa região foi marcado pelasindependências; assim foi, também, na crise dos anos 1920 e 1930,a partir da qual se acelerou o processo de industrialização de impor-tantes países da América Latina.

Nos anos 1970 acontece, na maior parte dos casos, o contrário: acrise vem acompanhada de um ciclo de ditaduras militares, que pre-pararam o terreno para o neoliberalismo.

Agora, a correlação de forças nos favorece. A esquerda faz parte deimportantes governos na região e pode, mais do que denunciar emobilizar e pressionar, agir tanto para combater os efeitos da crise,quanto para aprofundar as mudanças estruturais que nossas socie-dades seguem necessitando.

Evidentemente, como já foi dito antes, o impacto tático imediatoda crise tende a ser negativo, do ponto de vista social, econômico epolítico. Além disso, a crise tem como efeito colateral dificultar asituação econômica dos países mais radicalizados politicamente (Ve-nezuela, Equador, Bolívia); aumentando ainda a pressão, vinda dosdemais países da região, para que o Brasil arque com os custos daintegração continental.

Frente a este quadro, é transcendental manter (e ampliar) o con-trole do governo brasileiro. O que dependerá em grande medida denosso sucesso no enfrentamento da crise aqui e agora. Tal enfrenta-

Page 224: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

224

Notas sobre a política internacional do PT

mento possui pelo menos cinco dimensões distintas, ligadas entre si,a saber: 1) a ação do governo federal, 2) a luta política e social, 3) aoposição aos tucanos e conservadores, 4) o debate ideológico e 5) arearticulação do campo democrático-popular.

A ação do governo federal tem um rumo geral correto (priorizar omercado interno, ampliar o investimento público, fortalecer o Esta-do e acelerar a integração), mas tem também grandes flancos: 1) oBanco Central; 2) a lentidão com que os recursos chegam na ponta;3) incoerências na relação com as grandes empresas; 3) ilusões inter-nacionais que persistem, por exemplo no debate sobre a OMC eacerca do protecionismo.

Na luta política e social, precisamos combinar a mobilização de-fensiva (especialmente contra o desemprego) com uma pauta ofensi-va: redução da jornada de trabalho, ampliação das políticas públicasuniversais, tributação das grandes riquezas, re-estatização das em-presas públicas que foram privatizadas, reforma agrária, reformapolítica e democratização da comunicação social.

Na oposição aos tucanos e conservadores, precisamos mostrar oque teria acontecido ao Brasil, se os bancos públicos tivessem sidoprivatizados e se a Alca estivesse implantada. E precisamos denunci-ar a política da oposição frente à crise (para eles, “quanto pior, me-lhor”), a começar pelo segundo e terceiro orçamentos do Brasil (es-tado e capital de São Paulo, respectivamente).

No debate ideológico, precisamos concentrar fogo sobre o pensa-mento neoliberal (desmoralizado, mas ainda dominante nos meiosde comunicação e na academia), mas ao mesmo tempo apresentarcríticas e propostas superiores às formuladas pelos keynesianos, sin-ceros ou recém-convertidos. Sustentar um desenvolvimentismo de-mocrático-popular, articulado com o objetivo estratégico socialista.

Rearticular o campo democrático-popular, para enfrentar a crise,

Page 225: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

225

Valter Pomar

eleger uma presidente da República em 2010, ampliar nossa presen-ça parlamentar e em governos estaduais. E para construir e conquis-tar o poder para as maiorias, numa equação estratégica que em al-guns aspectos recorda aquela enfrentada pela Unidade Popular chi-lena, num contexto internacional novo e mais favorável, ao mesmotempo mais complexo. O desfecho da crise no Brasil depende emúltima análise desta rearticulação do campo democrático-popular edo PT estar à altura das tarefas.

Page 226: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

226

Notas sobre a política internacional do PT

Ensayo sobreuna ventana abierta

Este ensayo aborda cuatro temas: en qué situación se encontraba laizquierda latinoamericana en su conjunto en el año 1991; qué pasó conesta izquierda desde entonces; cuál es su situación actual; cuáles sonsus perspectivas.

El contexto de 1991 fue escogido debido a la desaparición de laUnión Soviética, sobre el cual hablaremos a continuación.

Pero antes es preciso recordar que la desaparición de la UniónSoviética fue, en sí misma, el punto final de un intento iniciado en1917, intento que consistió inicialmente en tomar el poder y empezarla construcción del socialismo en un país de bajo desarrollo capitalis-ta, con la expectativa de que esto estimularía revoluciónes en lospaíses del capitalismo más desarrollado, revoluciones que a su vezayudarían a la transición socialista en la propia Rusia.

Sucede que en las décadas siguientes a octubre de 1917 no se produjorevolución victoriosa alguna en los países capitalistas desarrollados. Porel contrario, hubo un giro a la derecha, en especial en Alemania. Y,hecho el balance global de la II Guerra Mundial y de sus consecuencias,no estaremos lejos de la verdad al decir que las implicaciones derivadasde la existencia de la Unión Soviética salvaron a la democracia parla-mentaria burguesa, forzaron a la instalación del llamado Estado debienestar social, estimularon la formación de un cártel internacionalbajo el liderazgo de los Estados Unidos y, a fin de cuentas, ayudaron alcapitalismo a vivir «años dorados» de expansión que por su vez resultaronen la emergencia de una nueva etapa capitalista, la que vivimos hoy.

Page 227: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

227

Valter Pomar

El «campo socialista» surgido después de la II Guerra Mundialno cumplió, para la Unión Soviética, el papel que supuestamente lasrevoluciones de los países avanzados cumplirían a favor de la Rusiarevolucionaria de 1917. Básicamente, China y las democracias popu-lares del Este europeo también eran países de bajo desarrollo capita-lista. Por ello, tomado de conjunto, el esfuerzo del llamado camposocialista tuvo como consecuencia generalizar un determinado patrónde desarrollo industrial, que en los países capitalistas ya estaba siendosuperado, en el contexto de un sistema político que ya era cuestionadointerna y externamente por sectores de la propia clase trabajadora.Asimismo, en condiciones normales de temperatura y presión, noera desatinada la idea de que a largo plazo el llamado campo socialis-ta podría competir y derrotar al campo capitalista, pero hoy estáclaro que só seria asi si el proprio capitalismo no sufriera una trans-formación cualitativa.

Sucede que el «campo capitalista» surgido después de la IIGuerra Mundial era un adversario más difícil, entre otros motivosporque la alianza interimperialista contra la URSS y las consecuen-cias macroeconómicas del welfare state, combinadas con la continui-dad del imperialismo, facilitaron un desarrollo intenso de las fuerzasproductivas capitalistas. Desarrollo que la Unión Soviética y sus alia-dos no lograron alcanzar, salvo en segmentos específicos, comparti-mentados y/o con alto costo social, como la industria armamentista.

En este contexto, la crisis de los años setenta cumplió un papeldistinto a aquel de la crisis ocurrida en los años treinta. En los añostreinta se produjo una «crisis de madurez» del capitalismo de tipoimperialista clásico, crisis que desembocó en la II Guerra Mundial,en la ampliación del campo socialista, en el surgimiento del Estadode bienestar social y en la descolonización. Ya la crisis de los añossetenta fue «de crecimiento», detonando la transición del capitalis-

Page 228: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

228

Notas sobre a política internacional do PT

mo imperialista clásico a una etapa distinta del capitalismo, el capi-talismo imperialista neoliberal que vivimos hoy.

La socialdemocracia en Europa Occidental, el comunismo tiposoviético, el nacional desarrollismo latinoamericano, así como losnacionalismos africanos y asiáticos fueron forjados en la lucha y enlas victorias parciales obtenidas contra el capitalismo imperialistaclásico. Pero no tuvieron el mismo éxito al enfrentarse al tipo decapitalismo que emergió de la crisis de los años setenta. Mejor dicho,una variante, el comunismo chino, optó por un cambio estratégico,y exhibe treinta años después resultados impresionantes desde el puntode vista de la potencia económica, pero con complicaciones políticasy geopolíticas muy específicas.

La desaparición de la URSS y de las democracias populares delEste europeo fue, por tanto, resultado de una de las batallas de unproceso más amplio, a saber, la transición entre dos etapas del capi-talismo: la del imperialismo clásico y la del imperialismo neoliberal.Evidentemente, fue una batalla de enorme significado estratégico,aunque algunas de sus implicaciones solo ahora están quedando cla-ras. Pero la verdad es que parte de los fenómenos ocurridos despuésde 1991 ya estaba en curso en los años ochenta, y fueron acelerados,pero no propiamente creados, por el fin de la URSS.

Se observamos la correlación mundial de fuerzas desde el puntode vista de las clases, el período inmediatamente anterior y posteriora 1991 es de derrota para las clases trabajadoras. Esta derrota puedeser medida objetivamente, en término de extensión de las jornadas,valor relativo de los salarios, condiciones de trabajo, oferta de serviciospúblicos y de democracia real.

Desde el punto de vista de las ideas, en el período mencionadovivimos un auge del individualismo, en detrimento de los idealespúblicos, sociales y colectivos, y la simultánea ofensiva de las ideas

Page 229: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

229

Valter Pomar

pro capitalistas, acompañada del retroceso, muchas veces en desban-dada carrera, de las ideas anticapitalistas.

Políticamente, se produjo un fortalecimiento de los partidos dederecha, y la conversión de muchos partidos de izquierda a posicio-nes de centroderecha. Militarmente, se creó un desequilibrio globala favor de la OTAN, y de los Estados Unidos en particular.

Veinte años después, observada globalmente, la situación cambióun poco, pero no tanto. El capitalismo neoliberal entró en un perí-odo de crisis, se agudizaron los conflictos intercapitalistas, algunascreencias neoliberales ya no tienen la credibilidad de antes. Ademásde eso, en algunas regiones del mundo, las ideas anticapitalistas vol-vieron a ganar espacio.

Pero, al observar las condiciones objetivas de vida de la clase tra-bajadora en todo el mundo, veremos que hoy la desigualdad es mayorque en los años setenta, ochenta o que en 1991.

Veremos también una clase trabajadora diferente.Primero, es mayor: existen más proletarios en el mundo hoy que en

1970, 1980 ó 1991. Segundo, la clase trabajadora es hoy más interco-municada, sea por los lazos objetivos entre los procesos productivos,sea por el consumo de productos fabricados en lugares distantes. Terceroy paradójicamente, es una clase trabajadora más fragmentada subjeti-vamente, sea debido a las condiciones materiales de vista (compare-mos, por ejemplo, el personal de limpieza de los grandes centros co-merciales, con las personas que van a ellos a hacer sus compras), seadebido a los cambios ocurridos en los lugares de trabajo. Esto, pese alos avances de las comunicaciones, incluyendo la Internet.

En otras palabras: la ofensiva desencadenada por el capitalismocontra la clase trabajadora, a partir de la crisis de los años setenta,perdió aliento. En algunos lugares, estamos logrando incluso recu-perar parte del espacio perdido. Pero el escenario aun tiene mucho

Page 230: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

230

Notas sobre a política internacional do PT

de tierra arrasada. En el plano ideológico, esto se traduce en unatremenda confusión y déficit teórico.

Desde el punto de vista ideológico y teórico, el movimiento anti-capitalista de hoy también es muy diferente del que existía entre losaños 1970 y 1991.

En aquel momento, a pesar de la existencia de «disidencias» vari-adas, el anticapitalismo todavía estaba hegemonizado por unacorriente específica: el marxismo de tipo soviético.

La idea fundamental de este marxismo era la creencia en la capacidadde construir el socialismo a partir de un capitalismo poco desarrolla-do. A partir de aquella creencia, se desarrolló un conjunto de otrastesis al respecto del proceso de construcción del socialismo, entre lascuales se destacaba la de una «democracia bajo control del partido».

Lo que fué una consecuencia lógica: si las condiciones objetivas nofavorecen la construcción del socialismo, es preciso compensarlo condosis descomunales de «condiciones subjetivas», que al final puedesignificar imponer a la mayoría (de la sociedad) el punto de vista de laminoría (no el punto de vista de la clase trabajadora, sino el punto devista de una parte minoritaria dentro de la propia clase trabajadora).

La disolución de la URSS desmontó el marxismo de tipo soviético.Esto no quiere decir que todo aquello que se hizo en su nombre

haya sido errado, no tenga valor histórico, no deba defenderse o nohaya sido la alternativa realmente existente (o el que podríamos de-nominar de mal menor) en determinadas circunstancias.

Cuando hablamos de desmontaje de marxismo de tipo soviético,queremos decir que fracasó una de sus ideas fundamentales: la de queera posible construir el socialismo a partir de un capitalismo pocodesarrollado, idea que asumió varias formas, como la del «socialismoen un solo país», y que generó una confusión, que sigue existiendohoy, entre lo que és transición socialista y lo que és el comunismo.

Page 231: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

231

Valter Pomar

Esta confusión se basa, entre otras cosas, en el siguiente hecho: enla experiencia soviética, por diversos motivos, hubo una intento máso menos intenso, más o menos exitoso, de buscar eliminar de latransición socialista la existencia de la propiedad privada y del mer-cado capitalistas, algo que de hecho solo podría ocurrir en un mo-mento más avanzado del proceso de transición al comunismo.

En la práctica, fue una tentativa de socializar las relaciones deproducción en un contexto de bajo desarrollo de las fuerzasproductivas, adoptando la forma de un comunismo para el cual aúnno había suficiente contenido económico.

Por este y otros motivos, el marxismo de tipo soviético fue unaescuela teórica que entorpeció -más que ayudó-, al desarrollo del análisismarxista de la realidad y de la estrategia a adoptar, tanto en los paísescapitalistas desarrollados, como en los de bajo desarrollo capitalista.

A pesar de esto, el desmontaje del marxismo de tipo soviético,incluido en esto el desmontaje de sus periódicos, editoriales y escuelas,lejos de ayudar, efectivamente perjudicó al conjunto de las tradicionesmarxistas, socialistas no marxistas y anticapitalistas no socialistas.

Entre otros motivos, porque ayudó a destruir la creencia, quehasta entonces era compartida por centenas de millones de personas,de que el mundo caminaba hacia el socialismo, de que el capitalis-mo es un período histórico que algún día tendrá fin, de que la luchapor una nueva sociedad es la principal tarea de la clase trabajadora yotras ideas similares.

Esta creencia tenía y sigue teniendo una base científica muy sóli-da, pero la ciencia indica cuáles son las tendencias posibles del desar-rollo histórico. Convertir estas tendencias en realidad depende de lalucha política. Y la intensidad de esta lucha política dependia enparte de la motivación militante de centenas de millones, que du-rante décadas identificaban, como si fuesen la misma cosa, la lucha

Page 232: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

232

Notas sobre a política internacional do PT

por el socialismo y lo que existía en la URSS. Y que, ante el fin deuna, concluyeron que el otro también había finalizado.

El desmontaje del marxismo de tipo soviético no desembocó, nifue seguido de un fortalecimiento de las corrientes también inspira-das en el marxismo que se oponían a él.

La más conocida de estas corrientes, el trotskismo, nació de lacrítica contra el socialismo en un solo país, pero como no podíadejar de hacer, terminó concentrando su crítica en las dimensionespolíticas del fenómeno (el denominado estalinismo, la burocracia, lacrisis de dirección etc). Este desarrollo de la crítica trotskista fue enparte una consecuencia lógica: el socialismo de tipo soviético resistióy consolidó una hegemonía en la izquierda, a lo largo de muchasdécadas, desmintiendo en apariencia aquello que, en efecto, era suproblema central, el intento de construir el socialismo a partir delcapitalismo poco desarrollado.

Esto provocó que el trotskismo realmente existente no diese ladebida atención a las debilidades estructurales del socialismo real,concentrando las esperanzas en la posibilidad de éxito de una «revo-lución política» que corregiría el curso de la «verdadera revoluciónsecuestrada por la burocracia estalinista». Al hacer esto, contradecíanlos fundamentos de su propia crítica al «socialismo en un solo país».Y, como se vió, al fin y al cabo las revoluciones políticas realmenteexistentes abrieron el paso al capitalismo en toda la línea.

Como resultado, pese a que un cierto acento trotskista se ha tor-nado hegemónico entre los que critican al marxismo de tipo soviéti-co, la tradición trotskista no logró convertirse en el núcleo teórico apartir del cual se pueda realizar hoy, ni la crítica al socialismo delsiglo XX, ni la discusión sobre la estrategia socialista en el siglo XXI,pues para ello sería y será preciso abordar de manera adecuada larelación entre desarrollo capitalista y transición socialista.

Page 233: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

233

Valter Pomar

El eurocomunismo también fracasó como alternativa. Además detodos los equívocos políticos que puedan haber sido cometidos poraquellos partidos, el intento de transitar pacíficamente del «capita-lismo organizado» europeo de los años 1950 y 1960, en dirección aun «socialismo renovado», enfrentaba un dilema de origen: aquellassociedades expresaban, en sí mismo, un equilibrio inestable, entre el«campo» socialista y el capitalista, entre la burguesía y los trabajado-res de cada país, así como entre el nivel de riqueza producido encada país y el plus que se extraía de la periferia.

El intento de avanzar, del welfare state en dirección a la transiciónsocialista, rompía aquel equilibrio inestable, desestabilizando laslibertades democráticas que eran la premisa de una transición pací-fica. Recuérdese la Operación Gladio.

El desmontaje del marxismo de tipo soviético tampoco provocó elfortalecimiento teórico de las corrientes socialdemócratas, originadasde un tronco común en 1875.

La socialdemocracia posterior a 1914 enfrentó inmensas dificulta-des para sobrevivir, como quedó claro en sus bastiones alemán yaustriaco. Su éxito posterior a la II Guerra Mundial fue, en buenamedida, un efecto colateral de la existencia de la URSS. Sin ella, talvez la democracia burguesa hubiese colapsado ante el nazismo; e igual-mente sin la URSS, el welfare state y el «capitalismo organizado» difí-cilmente hubieran existido. Lo que ocurrió con posterioridad refuerzaesta interpretación; la desaparición de la URSS destruyó las bases eco-nómicas, sociales y políticas de aquella socialdemocracia.

La era de oro de la socialdemocracia fue también la era de oro delcapitalismo, y tanto una como el otro dependían en gran medida de laexistencia de la URSS. Caída ésta, aquella también se vino abajo,aunque a una velocidad más lenta que la del colapso del comunismosoviético.

Page 234: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

234

Notas sobre a política internacional do PT

¿Y los chinos? Ellos parecen haber aprendido de la experienciasoviética y prefirieron hacer ejecutar un retroceso estratégico, haciendograndes concesiones al capitalismo. En parte como resultado de es-tas concesiones (que según algunos no serían apenas concesiones,sino conversiones), el marxismo de tipo chino es internacionalmen-te menos atractivo de lo que fue, en su época de gloria, el marxismode tipo soviético en todas sus variantes, incluso la variante maoísta.

En resumen de todo lo dicho, el desmontaje del marxismo de tiposoviético no fue seguido de la aparición de otra tradición hegemóni-ca en el seno de la izquierda mundial. Lo que ocupó su lugar, masque una pluralidad, fue una inmensa confusión, que a los amantesde las analogías históricas los hace pensar en lo que fue el movimien-to socialista después de la derrota de las revoluciones de 1848.

Conviene recordar que fue exactamente en el intervalo entre 1848y 1895, a través de la combinación entre los procesos objetivos deldesarollo capitalista, con la lucha ideológica dentro y fuera del movi-miento socialista, que se formó el núcleo fundamental de las ideasmarxistas.

Paradójicamente, al mismo tiempo desta confusión ideológica enel movimiento socialista, lo que viene ocurriendo en el mundo des-de la crisis de los años setenta, particularmente después de 1991,confirma el acierto de las ideas fundadoras del marxismo, especial-mente la idea de que el aumento de la productividad humana, au-mento que el capitalismo incentiva, crea al mismo tiempo las basesmateriales y la necesidad de una sociedad de otro tipo, basada en laapropiación colectiva de aquello que es producto del trabajo colectivo.

Por supuesto, esta sociedad de otro tipo, que conviene seguir lla-mando comunista, para diferenciarla de la transición socialista endirección al comunismo, no será, pese a todo, producto espontáneode la sociedad capitalista.

Page 235: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

235

Valter Pomar

La tendencia «espontánea» del capitalismo es generar explotaci-ón, revuelta y crisis, acompañada de guerras. Si la clase trabajadora,la clase de los que producen la riqueza através de su trabajo, no seorganiza para superar al capitalismo, este podrá continuar existiendopor mucho tiempo aún, hasta que alcanze sus propios límites,destruyendo a todos y todo.

La superación del capitalismo como modo de producción dependey supone la existencia de un nivel de desarrollo material que conviertala explotación en algo totalmente anacrónico. Con otras palabras,supone un aumento de la productividad social que «desvalorice» cadavez más los productos del trabajo (o sea, que reduzca casi a cero eltiempo de trabajo socialmente necesario), haciendo posible conjugarel máximo de abundancia con el mínimo de trabajo.

Ya lo que es la superación del capitalismo como fenómeno históricoconcreto depende de la lucha política, o sea, depende de que los trabaja-dores, la clase productora de riquezas, se convierta en clase hegemónicay reorganice la sociedad, lo que implica un proceso politico (revolucion)y una transición político-sócio-economica (socialismo) al final delcual se construirá otro modo de producción (el comunismo).

Luchar por estes objetivos, como es evidente, sigue suponiendocombinar conciencia y organización, táctica y estrategia, reforma yrevolución.

Se trata de luchar para superar la explotación y la opresión típicasdel capitalismo. En este sentido, es una lucha contemporánea al ca-pitalismo. Por otro lado, se trata de luchar por superar la sociedad declases, o sea, superar toda una época histórica en que una parte de lasociedad explota el trabajo de la otra. En este sentido, se trata de unalucha que posee identidad con la lucha de las clases explotadas enmodos de producción anteriores al capitalismo. Y se identifica tam-bién con otras luchas que se libran, en el capitalismo, contra meca-

Page 236: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

236

Notas sobre a política internacional do PT

nismos de opresión y explotación que no son estrictamente econó-micos, tales como el racismo, el machismo y la homofobia.

Debemos hacer el máximo esfuerzo para que una lucha potencie a lasotras y viceversa, pero debemos también recordar que son luchasconectadas, interdependientes, pero no son la misma cosa. Las luchascontra el racismo, contra la homofobia, contra el machismo, los conflic-tos generacionales y otros, tienen sus propias raíces, demandan sus propioscombates y sus soluciones específicas.

Lo que decimos en los párrafos anteriores muchas veces no encu-entra hoy traducción política consistente en Oceanía, África, Euro-pa y los Estados Unidos. Ya en América Latina estamos asistiendo,hoy, a intentos consistentes varios de enfrentar estos temas e iniciarun nuevo ciclo socialista, un debate y una acción práctica que, comoapuntó recientemente el historiador Eric Hobsbawm, se alcanzarecurriendo en gran medida a la gramática del marxismo.

Esto nos remite a las cuestiones planteadas al inicio de este ensayo:a la situación en que se encontraba la izquierda latinoamericana ensu conjunto, en el año 1991; que sucedió con esta izquierda desdeentonces; cuál es su situación actual; y cuáles son sus perspectivas.

La izquierda latinoamericana fue globalmente derrotada en losaños sesenta y principios de los años setenta: la RevoluciónCubana fue bloqueada; otros procesos populares, nacionalistas y re-volucionarios fueron derrotados; las guerrillas latinoamericanas notuvieron éxito; la experiencia de la Unidad Popular terminó de for-ma trágica; y grande parte del continente fue sometido a dictadurasde facto y de derecho.

Entre finales de los años setenta e inicio de los ochenta, hubo unainflexión: las grandes luchas sociales en Brasil y la victoria de laguerrilla sandinista son dos ejemplos de esto. Durante la década de1980, las dictaduras ceden espacio. Pero en su lugar surgen demo-

Page 237: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

237

Valter Pomar

cracias restringidas y cada vez más influenciadas por el neoliberalis-mo. Las victorias de Collor en Brasil (1989) y de Chamorro en Ni-caragua (1990), entre otras, marcaron entonces el princípio de unadécada de hegemonía neoliberal.

Fue exactamente en este contexto que, en 1990, inmediatamenteantes de la disolución de la URSS, una gran parte de la izquierdalatinoamericana decidió encontrarse en un seminario cuyasderivaciones dieron origen al Foro de São Paulo.

La disolución de la URSS tuvo impactos materiales directos so-bre Cuba. Ya sobre los demás países, en especial sobre sus izquierdas,los impactos fueron principalmente ideológicos y políticos. Pero laproximidad amenazadora de los Estados Unidos, la lucha recientecontra las dictaduras y los embates contra el neoliberalismo nacienteparecen haber funcionado como una «vacuna», que limitó los efec-tos desmoralizantes que la crisis del socialismo tuvo sobre vastossectores de la izquierda en otras regiones del mundo.

No es que no haya habido deserciones, traiciones y conversionesideológicas. Pero, visto de conjunto y de manera comparativa, laizquierda latinoamericana salió mejor que su congénere europea.

En esto influyeron por lo menos cuatro factores.Primero: debido al «lugar» ocupado por nuestra región en la

división del trabajo vigente en el período imperialista clásico, notuvimos en nuestro continente una experiencia socialdemócrata equi-valente al Estado de bienestar social, que cristalizase la creencia deque era posible conciliar capitalismo, democracia y bienestar social.Lo que llegó más próximo de esto (el populismo, especialmente elargentino) fue combatido con violencia brutal por las oligarquías ypor el imperialismo. Con otras palabras, incluso donde la izquierdaluchaba por banderas de tipo democrático-capitalista, la burguesíarealmente existente era en general un sólido adversario. Aunque esto

Page 238: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

238

Notas sobre a política internacional do PT

no haya eliminado las ilusiones, dio a las luchas de los años ochentaun sesgo mucho más radical, sin el cual algunos éxitos de la resistenciaal neoliberalismo no habrían sido posibles.

Segundo: a pesar de los equívocos, de las limitaciones y principal-mente a pesar del retroceso causado por la combinación entre el bloqueoestadounidense y el colapso de la URSS, la valiente resistencia cubanaimpidió que asistiésemos, entre nosotros, el espectaculo deprimente ydesmoralizante asistido en muchas paragens del Este europeo y de lapropia URSS. Además de eso, ciertas características de la sociedadcubana seguían y siguen siendo un diferencial positivo, para eltrabajador pobre de la mayoría de los países latinoamericanos; no eraasí en Europa, en gran parte de los casos. Por lo tanto, fue más fácil,para grandes sectores de la izquierda latinoamericana, mantener ladefensa del socialismo, percibir las especificidades nacionales y manteneruna actitud más crítica en cuanto a modelos supuestamente universales,especialmente los venidos de otras regiones.

Tercero: la hegemonía neoliberal, combinada con el predominioestadounidense ocasionado por la desaparición de la URSS, era efec-tivamente y fue percibida inmediatamente como un riesgo, no solopara las izquierdas, sino para la soberanía nacional y para el desarro-llo económico latinoamericano. Para muchas organizaciones de laizquierda regional, esto permitió compensar con nacionalismo y de-sarrollismo lo que se perdía o se diluía en términos de contenidoprogramático socialista y revolucionario.

Cuarto: el fin de la URSS abrió inmensas oportunidades de ex-pansión para las potencias capitalistas, especialmente para los Esta-dos Unidos y para la naciente Unión Europea. De ahí se derivó unaconcentración de esfuerzos en el Este europeo y en el Oriente Me-dio, acompañada de una cierta «despreocupación sistémica» con loque estaba ocurriendo en el denominado patio trasero latinoameri-

Page 239: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

239

Valter Pomar

cano. Esto explica no el hecho en sí, sino la velocidad con que lospartidos críticos del neoliberalismo llegaron al gobierno, a partir de1998, en importantes países de la región.

Paradójicamente, fue a partir destas victórias que se evidenciaronciertas consecuencias del fin de la URSS, así como las derivadas delsurgimiento del capitalismo neoliberal. Implicaciones que pesabansobre las acciones de la izquierda latinoamericana, exactamente en elmomento en que esta izquierda comenzaba a conquistar los gobier-nos nacionales de sus países.

Comencemos por las ideológicas. Las izquierdas que llegan algobierno a partir de 1998, pero también aquellas que se mantuvierondesde entonces en la oposición, en algunos casos contra la derecha,en otros casos incluso contra los gobiernos progresistas y de centroi-zquierda, no lograron superar la confusión ideológica y tampocolograron resolver el déficit teórico que se expresa en tres terrenos fun-damentales: del balance de los intentos de construcción del socialis-mo del siglo XX, de análisis del capitalismo del siglo XXI y de laelaboración de una estrategia adecuada al nuevo período histórico.

Los intentos de elaborar una teoría sobre el «socialismo del sigloXXI» son caleidoscópicos; los análisis del capitalismo imperialistaneoliberal aún son tentativos; y los resultados prácticos muestran loslímites de las distintas estrategias. La confusión se agrava por la in-fluencia de ciertas «escuelas» muy activas en la izquierda, como eldesarrollismo, el etapismo o el movimientismo, sin hablar de ciertoculto al martirio («pocos pero buenos», «cuanto peor, mejor» y otrosdel mismo género) que tiene evidentes raíces cristianas.

Claro que la confusión ideológica y la limitación teórica no consti-tuyen un problema tan grave, cuando el viento está a favor. En ciertosentido, ocurre lo contrario. Una cierta dosis de ignorancia acerca delos límites materiales ayuda, al no saber que «es imposible», a extender

Page 240: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

240

Notas sobre a política internacional do PT

mucho los límites de lo posible. Pero cuando el viento no sopla afavor, la claridad teórica y la consistencia ideológica se tornan activosfundamentales. Y ahora, en 2012, estamos en un momento de vientoscontradictorios.

Hablemos ahora de las implicaciones políticas. La principal deellas es que, salvo raras excepciones, el conjunto de las izquierdaslatinoamericanas incorporó la competencia electoral, la accion par-lamentaria y la gestión gubernamental en su arsenal estratégico. Osea, incorporó un arma típica del arsenal socialdemócrata, en el exactomomento en que en el viejo mundo los aspectos progresistas de lademocracia electoral burguesa y de la socialdemocracia clásica estánen declive.

La incorporación de la competencia electoral, de la accion parla-mentaria y de la gestión gubernamental como armas fue posible pordiversos motivos. De parte de las izquierdas, podemos citar la derro-ta político militar de las experiencias guerrilleras, la reducción de losperjuicios (bien fundados o no) contra la «democracia burguesa», yla dinámica particular que permitió una más o menos exitosa com-binación entre lucha social y electoral en cada país. Pero para queaquellas armas pudiesen ser utilizadas con cierto éxito por las izqui-erdas, desde el final de los años noventa hasta ahora, es preciso con-siderar también el cambio relativo en la actitud de los Estados Uni-dos, de las derechas y de las burguesías locales, que en varios paísesno tuvieron los medios y/o los motivos para bloquear electoralmen-te a las izquierdas.

Pero, pasada cierta euforia inicial, las distintas izquierdas latinoa-mericanas se toparon con los límites derivados del que podemosdenominar camino electoral. De diferentes maneras, hasta porquelas izquierdas, los procesos y las culturas políticas son distintas, sefueron evidenciando las diferencias entre Estado y gobierno; la difí-

Page 241: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

241

Valter Pomar

cil combinación entre democracia representativa y democracia directa;los límites de la participación popular y de los movimientos sociales;las diferencias entre legalidad revolucionaria y legalidad institucio-nal. Además, los mecanismos de defensa del Estado burgués -comola burocracia, la justicia, la corrupción y las fuerzas armadas- siguenoperando con eficiencia, para constreñir a los gobiernos progresistasy de izquierda. Sea como fuere, hoy mas que antes queda en eviden-cia que la izquierda latinoamericana necesita una mayor comprensiónde las experiencias regionales y mundiales en que las armas electora-les, parlamentares y gubernamentales fueron utilizadas como mediopara intentar hacer la transformacion socialista o socialdemocrata dela sociedad.

La ausencia de claridad al respecto, mejor dicho, las diferentesinterpretaciones sobre el tema, vienen produciendo desde 1998 agu-das controversias dentro de la izquierda latinoamericana, entre dospolos y sus variantes intermedias: los que pretenden avanzar másrápido y los que temen avanzar más rápido de lo que la correlaciónde fuerzas supuestamente permite.

Las dos cuestiones anteriores se combinan con una tercera, algomás compleja, referida a la comprensión de la etapa histórica en quevivimos y de los conflictos que están en juego en América Latina.

Como dijimos antes, el fin de la URSS debe ser visto en el contextode una transición entre el capitalismo imperialista clásico y el capita-lismo neoliberal, imperialista también, pero distinto al anterior.

El capitalismo imperialista clásico atravesó por dos momentos:uno marcado por la contradicción interimperialista, otro marcadopor la disputa entre «campo socialista» y «campo imperialista». Enestos dos momentos, junto a las contradicciones citadas, existíantambién las contradicciones internas de cada país, así como las exis-tentes entre las metrópolis y las periferias.

Page 242: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

242

Notas sobre a política internacional do PT

Con el fin de la URSS, desapareció también la disputa entre «cam-pos». Ya la contradicción intercapitalista se acentuó y derivó en unanueva variante: la disputa entre los antiguos centros (Estados Uni-dos, Unión Europea y Japón) y los nuevos centros emergentes (comoChina y sus aliados, los llamados BRICS).

La lucha entre estos centros (viejos y nuevos) y sus respectivasperiferias asume distintas formas, asi como son diversas las disputasinternas de cada país. Lo importante es percebir que se trata, en lofundamental, de disputas intercapitalistas: el socialismo se encuen-tra todavía en un período de defensiva estratégica.

En el caso de América Latina, por ejemplo, hace más de diez añosla izquierda viene ampliando su participación en los gobiernos yenfrentando con mayor o menor decisión el neoliberalismo, peropor todas partes el capitalismo sigue siendo hegemónico.

Esto no impide a algunos sectores de la izquierda de apellidar elproceso político en curso en sus respectivos países con nombrescombativos (diferentes variantes de «revolución»), ni impide a otrossectores de la izquierda «resolver» las dificultades objetivas acusandoa los partidos gobernantes de falta de combatividad y de firmeza depropósitos, lo que sin dudas es verdad en varios casos. Pero, más alláde las traiciones, del voluntarismo y del deseo, la verdad parece ser lasiguiente: incluso donde la izquierda gobernante sigue fiel a los pro-pósitos socialistas y comunistas, las condiciones materiales de la épocaen que vivimos imponen límites objetivos.

Esencialmente, tales límites constriñen a los gobiernos de izqui-erda, incluso a los políticamente más radicales, a recurrir a métodoscapitalistas para producir desarrollo económico, aumentar laproductividad sistémica de las economías, ampliar el control sobrelas riquezas nacionales, reducir la dependencia externa y el poder delcapital transnacional, especialmente el financiero. E, incluso, taleslímites constriñen el financiamiento de las políticas sociales.

Page 243: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

243

Valter Pomar

Cabe recordar que el capitalismo imperialista neoliberal provocó unretroceso en el desarrollo económico latinoamericano. Una de las conse-cuencias políticas de ese retroceso fue la paulatina dislocación, a favor dela oposición de izquierda, de sectores de la burguesía y de las capasmedias. Esa dislocación hizo posible la victoria electoral de los actualesgobiernos progresistas y de izquierda, y generó gobiernos pluriclasistas,vinculados genéticamente a la defensa de economías plurales, con unamplio predominio de la propiedad privada, en sus variadas expresio-nes, incluso las más contradictorias, como la propiedad cooperativa y elcapitalismo de Estado.

Vale decir que esta situación no es contradictoria con una de lasconclusiones que se pueden sacar de las experiencias socialistas delsiglo XX: la socialización de las relaciones de producción depende dela socialización de las fuerzas productivas. Y esta por su vez exigemétodos capitalistas, con una intensidad inversa al nivel prévio dedesarrollo económico.

Al llegar a este punto, podemos resumir lo dicho de la siguienteforma. En el año 1991, la izquierda latinoamericana venía de un dobleproceso de derrotas: primero, la derrota del ciclo guerrillero de losaños sesenta y setenta; después, la derrota del ciclo de redemocratiza-ción de los años ochenta. El fin de la URSS y el ascenso del neolibera-lismo e un primer momento acentuan la derrota, pero al cabodesenbocan en la abertura de un tercer período, cuyo desenlace esdistinto: se inicia en 1998 un ciclo de victorias electorales, que resultaen una correlación de fuerzas regional favorable, que aún se mantiene.

Las condiciones internas y externas que hicieron posible este ciclode victorias permitieron a estos gobiernos, en un primer momento,ampliar los niveles de soberanía nacional, democracia política, bienestarsocial y desarrollo económico de sus países y poblaciones. Pero en lofundamental esto se hizo redistribuyendo la renta de manera distinta,sin alterar la matriz de producción y distribución de la riqueza.

Page 244: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

244

Notas sobre a política internacional do PT

En un segundo momento, las limitaciones de la propia matriz deproducción y distribución de la riqueza, acentuadas por otras variables-políticas, ideológicas, estratégicas, económicas, sociológicas, geo-políticas- hacen que los niveles de soberanía nacional, democraciapolítica, bienestar social y desarrollo económico se mantengan den-tro de límites más estrechos de lo que esperados inicialmente por laizquierda, gobernante u oposicionista.

Estamos hoy en este segundo momento, que coincide con unagravamiento de la situación internacional, que repercute de dos ma-neras fundamentales sobre la región: por un lado, complica sobremanerala situación de las economías que dependen del mercado internacio-nal; por otro lado, aumenta la presión de las metrópolis sobre la re-gión, concluyendo aquel período de cierta «desatención estratégica»que facilitó ciertas victorias electorales.

Las limitaciones internas y el cambio de ambiente externo tiendena agudizar el conflicto, dentro de cada país, no solamente entre izqui-erdas y derechas, sino tambien entre las fuerzas sociales y políticas quecomponen lo que llamamos izquierda(s); pueden, también, exacerbaralgunas diferencias entre los gobiernos de la región.

Dicho esto: ¿cuáles son las perspectivas?Hay que considerar, en primer lugar, la incidencia sobre la región

de macro variables sobre las cuales no tenemos incidencia directa: lavelocidad y la profundidad de la crisis internacional, los conflictosentre las grandes potencias, la extensión e impacto de las guerras.Destacamos, entre las macro variables, aquellas vinculadas al futurode los Estados Unidos: ¿Recuperará su hegemonía global? ¿Concen-trará energías en su hegemonía regional? ¿Agotará sus energías en elconflicto interno de su propio país?

Hay que considerar, en segundo lugar, el comportamiento de laburguesía latinoamericana, en especial, de los sectores transnacionali-

Page 245: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

245

Valter Pomar

zados: ¿Cuál es su conducta frente a los gobiernos progresistas y deizquierda? ¿Cuál es su disposición con respecto a los procesos regiona-les de integración? ¿Cuál es su capacidad de competir con las burguesíasmetropolitanas y aspirar a un papel más sólido en el escenario mundi-al? Del «humor» de la burguesía dependerá la estabilidad de la víaelectoral y la solidez de los gobiernos pluriclasistas. O, invirtiendo elargumento, su «falta de humor» radicalizará las condiciones de la luchade clases en la región y en cada país.

En tercer lugar, está la capacidad y disposición de los sectoreshegemónicos de las izquierdas -partidos políticos, movimientos so-ciales, intelectualidad y gobiernos.

La pregunta es: ¿Hasta dónde estos sectores hegemónicos estándispuestos y conseguirán rebasar los límites del período actual, y conqué velocidad? Dicho de otra manera, cuánto conseguirán aprove-char esta coyuntura política inédita en la historia regional, para pro-fundizar las condiciones de integración regional, soberanía nacio-nal, democratización política, ampliación del bienestar social y deldesarrollo económico. Y principalmente, si van a lograr o no alterarlos patrones estructurales de dependencia externa y concentraciónde la propiedad imperantes en la región hace siglos.

Considerando estas tres grandes dimensiones del problema, po-demos resumir así las perspectivas: potencialidades objetivas, difi-cultades subjetivas y tiempo escaso.

Potencialidades objetivas: sin olvidar las alternativas negativas, elescenario internacional y las condiciones existentes hoy en América La-tina, en especial en América del Sur, hacen posibles dos grandes alterna-tivas positivas, a saber, un ciclo de desarrollo capitalista con trazossocialdemócratas y/o un nuevo ciclo de construcción del socialismo.

En cuanto a esta segunda alternativa, estamos, desde el punto devista material, relativamente mejor que la Rusia de 1917, que Chi-

Page 246: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

246

Notas sobre a política internacional do PT

na de 1949, que Cuba de 1959 y que la Nicaragua de 1979.Dificultades subjetivas: hoy, los que tienen la voluntad no tienen

la fuerza, y los que tienen la fuerza no han demostrado la voluntadde adoptar, a una velocidad y con una intensidad adecuadas, lasmedidas necesarias para aprovechar las posibilidades abiertas por lasituación internacional y por la correlación regional de fuerzas. Undetalle importante: no hay tiempo ni materia prima para formarotra izquierda hegemonica. O bien la izquierda hegemonica quetenemos aprovecha la ventana abierta, o será la pérdida de una opor-tunidad.

El tiempo está escaseando: la evolución de la crisis internacionaltiende a producir una creciente inestabilidad que sabotea las condi-ciones de actuación de la izquierda regional. La posibilidad de utili-zar gobiernos electos para hacer transformaciones significativas enlas sociedades latinoamericanas no va a durar para siempre. La ventanaabierta a final de los años noventa todavía no se cerró. Pero latempestad que se aproxima puede hacerlo.

Concluyo reafirmando que el juego aún no ha terminado, moti-vo por el cual debemos trabajar para que las izquierdas latinoameri-canas, en especial aquellas que estan gobernando, y dentro de ellas laizquierda brasileña, haga lo que debe y puede hacer. Si ello sucede,podremos superar con éxito el actual período de defensiva estratégi-ca de la lucha por el socialismo. En resumen, la ventana sigue abierta.

Contribución para el seminario del PT de México realizadoen marzo de 2012. La versión original de este texto hace parte

de la antologia La izquierda latinoamericanaa 20 años del derrumbe, publicada pela editora Ocean Sul.

Page 247: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

247

Valter Pomar

Entrevista à Welttrends

Os movimentos sociais eram um fator político importante na lutapara que o PT e Lula ganhassem as eleições no ano 2002. Eles foram abase social para começar projetos de mudança no Brasil. Como foramjustificadas as esperanças e lutas dos movimentos durante o governo deLula?

Para responder a esta pergunta, é necessário lembrar que um movi-mento social é sempre um movimento político. Quando um setorsocial se movimenta em luta por suas reivindicações, ele provoca rea-ções políticas nos demais setores sociais. Mesmo que as reivindicaçõesnão incluam nenhuma demanda política, a mobilização em si é umato político, mesmo que seus atores não tenham consciência disto.

Também para responder a esta pergunta, é preciso distinguir doisperíodos. Um período começa no final dos anos 70 e vai até o finaldos anos 80: é um período de fortes lutas sociais. Um segundo perí-odo começa no início dos anos 90 e de certa forma vem até hoje. Éum período de descenso, de refluxos, de perda de intensidade daslutas sociais.

No primeiro período (anos 80), a luta político-eleitoral capitane-ada pelo Partido dos Trabalhadores capitalizou grande parte das lu-tas sociais das classes trabalhadoras e de outros setores (tais comojovens, mulheres e negros, que são majoritariamente trabalhadores).Mesmo quando não havia esta intenção, mesmo quando esta cone-xão era indireta, as lutas sociais alimentaram, convergiram, seconectaram com as lutas político-eleitorais protagonizadas pelo PT.

Page 248: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

248

Notas sobre a política internacional do PT

No segundo período (anos 90), as lutas sociais foram reduzindode intensidade. Mas isto não interrompeu o processo de formaçãode consciência. O que antes seguia um percurso (muita luta social edepois voto no PT), passou a seguir outro percurso (menos lutasocial e mesmo assim voto no PT), mas com o mesmo destino.

A questão é que este percurso era o de grande parte da classetrabalhadora, mas certamente não envolvia toda a classe trabalhado-ra. O que significa dizer que não é ele que explica a vitória eleitoralda candidatura presidencial de Lula em 2002. Para que aquela vitó-ria tenha sido possível, foi necessário um outro processo de consci-ência, este causado não pela luta social, mas sim pela decepção como neoliberalismo.

Este segundo processo fez com que setores importantes da classedos pequenos proprietários urbanos, uma fração importante da clas-se trabalhadora (composta por assalariados de alta renda e mesmosetores minoritários da burguesia) votassem em Lula. Somados aossetores da classe trabalhadora descritos nos parágrafos anteriores,constituiu-se uma maioria em favor de Lula.

Portanto, os setores da classe trabalhadora mobilizados, organiza-dos em entidades de massa como a CUT e o MST, foram parte doprocesso que elegeu Lula em 2002, mas não foram a única parte.

Aqui é necessário deixar claro o que entendemos por “movimen-tos sociais”. Existem algum que confundem movimentos sociais comas organizações de massa. Os que pensam assim confundem o movi-mento dos sem-terra brasileiros com a organização MST; confun-dem o movimento dos estudantes universitários brasileiros com aorganização UNE; confundem o movimento dos trabalhadores bra-sileiros com a CUT.

Esta confusão gera dois equívocos. O primeiro equívoco é con-fundir o ponto de vista da maioria dos integrantes de um setor so-

Page 249: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

249

Valter Pomar

cial, com o ponto de vista da base de uma organização que tentadirigir aquele setor social ou com o ponto de vista dos dirigentesdaquela organização. O segundo equívoco é não perceber que osmovimentos são maiores e mais diversos que as organizações. Porexemplo: há várias centrais sindicais e vários movimentos campone-ses no Brasil. A CUT e o MST não são os únicos e nem sempre sãohegemônicos. Além disso, há uma grande parte, geralmente majori-tária, da base social que não se organiza e muitas vezes não se reco-nhece nas organizações, nem participa dos movimentos de luta.

Podemos dizer, por exemplo, que em 2002 uma parte significati-va da classe trabalhadora brasileira não estava em movimento (emluta), nem estava organizada. Parte importante destas pessoas nãovotou em Lula em 2002. Mas votou em Lula em 2006, compensan-do a perda de votos que tivemos no primeiro turno das eleiçõespresidenciais daquele ano, quando parte dos setores médios e partedos trabalhadores organizados se decepcionaram conosco.

Feitas estas considerações todas, posso responder assim a pergun-ta feita: a base social das organizações de massa melhorou de vidadurante os dez anos em que um petista ocupa a presidência da Re-pública. Ao mesmo tempo, a maioria dos dirigentes das organiza-ções de massa têm uma posição crítica sobre estes dez anos.

Qual foi a participação dos movimentos durante a reeleição de Lulano ano 2006?

O primeiro governo Lula foi um choque para muitos dirigentesde organizações de massa, assim como para muitos dirigentes doPT. Apesar de todos os sinais em contrário, havia gente que imagi-nava que Lula iria dar um “cavalo de pau em transatlântico”. Estagente não percebia, inclusive, a composição do voto que elegeu Lulaem 2003, oriundo em boa parte de setores decepcionados com ogoverno neoliberal; setores que não eram os mesmos que haviam

Page 250: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

250

Notas sobre a política internacional do PT

votado em Lula em 1989, 1994 e 1998. Ao não perceber a compo-sição da votação de Lula, não percebiam adequadamente a correla-ção de forças existente no país em 2003 e 2004. Por outro lado, osque estavam dirigindo o governo percebiam esta correlação de for-ças, mas exageravam nas concessões aos novos aliados e nos agradosaos inimigos. O resultado final foi um governo muito mais modera-do do que o necessário e uma decepção muito maior do que a inevi-tável naquelas circunstâncias.

Em decorrência disto, o que predominou num primeiro momentofoi a expectativa. Depois, a decepção de alguns setores (minoritários noconjunto da classe trabalhadora e, também, minoritários nas organiza-ções de massa) gerou mobilizações contra o governo Lula, especialmen-te por parte dos sindicados de trabalhadores nos serviços públicos.

Estávamos nisto quando o PT foi mal nas eleições municipais de2004, perdeu a presidência da Câmara dos Deputados no início de2005, a partir do que teve início uma campanha de desestabilizaçãopor parte da oposição, com o claro objetivo de derrubar o governoLula.

Neste momento, a maioria dos dirigentes e militantes dos movi-mentos sociais se mobilizaram fortemente em favor do governo. Que,por sua vez, iniciou uma inflexão em direção a uma política maisprogressista, menos neoliberal, com menos concessões do que a pre-dominante em 2003 e 2004.

Nas eleições presidenciais de 2006, finalmente, ocorre um fenô-meno curioso. No primeiro turno, Lula perde os votos de parte dossetores médios e de parte dos trabalhadores que o haviam apoiadoem 2002. Em compensação, recebe o voto de parte dos trabalhado-res mais pobres que não o haviam apoiado em 2002 e que agora,depois de quatro anos de governo, votam nele maciçamente. Nosegundo turno das eleições presidenciais, diretamente contra o can-

Page 251: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

251

Valter Pomar

didato da direita, Lula recupera grande parte dos votos que perderae obtém uma vitória estrondosa.

Quem são os trabalhadores mais pobres? Em parte eram aquelesque não faziam parte das organizações de massa, que não participa-vam dos chamados movimentos sociais. Não foram organizados epolitizados pela luta, mas sim nos processos eleitorais. Podemos di-zer que o movimento social e político deles seguiu um caminhodiferente.

Ocorreram mudanças nas relações dos movimentos no governo deDilma?

Sim. Lula foi dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCno final dos anos 70 e início dos 80, fundador e dirigente do Partidodos Trabalhadores, foi candidato nas eleições de 1982 (governador),1986 (deputado), 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006 (em todos estesanos, à presidência da República). O grau de conhecimento, confian-ça, entrosamento entre Lula e amplos setores da classe trabalhadora émuito maior do que o de Dilma.

Isto impacta de diversas formas na relação entre o governo Dilmae os movimentos. Na minha opinião, o impacto é estrategicamentepositivo, pois reforça a idéia de que governo é governo, partido épartido, movimento é movimento, e que deve haver autonomia en-tre estas diferenças instituições.

Um papel importante jogou o Movimento dos Sem Terra. Foramrealizadas as exigências deste movimento para uma reforma agrária?

Claro que não. O Brasil nunca viveu uma reforma agrária quemereça este nome, ou seja, na qual os latifúndios são expropriados ea terra entregue aos camponeses. O que existe no Brasil é um pro-cesso de compra de terras: o Estado paga aos latifundários e entregaterra aos camponeses. Este processo pode ser mais ou menos rápido,mais ou menos intenso, mas não é reforma agrária, pois ao pagar aos

Page 252: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

252

Notas sobre a política internacional do PT

latifundários você está mantendo a correlação de forças em termosde riqueza e poder, apenas trocando terra por dinheiro.

Além de não ser reforma agrário, em termos quantitativos o pro-cesso de distribuição de terras durante o governo Lula não experi-mentou um salto de qualidade em relação ao que ocorria nos gover-nos neoliberais. Há uma polêmica sobre a quantidade de terra dis-tribuída, mas mesmo se tomarmos os números fornecidos pelo pró-prio governo, maiores do que os números aceitos pelo MST, aindaassim não se trata de um salto de qualidade. No final das contas,como devido ao boom internacional de comodities, o agronegócioviveu um período de vacas gordas durante 2003-2007, o fato é quea concentração de terras aumentou.

Mas atenção: se este fato irritou, com razão, a direção dos movi-mentos sem-terra, isto não quer dizer que a base dos sem-terra e ou-tros movimentos camponeses tenha se decepcionado com o governoLula. Pelo contrário. O conjunto das políticas econômicas e sociais dogoverno, mais o apoio creditício aos pequenos proprietários com-ter-ra, mais as políticas sociais direcionadas aos sem-terra assentados, ge-raram um apoio muito forte ao governo Lula na base camponesa.Noutras palavras: a crítica existente nas direções das organizaçõesnão tinha grande respaldo na base social das organizações.

Quais consequências tiveram os programas sociais realizados duranteo governo de Dilma nos movimentos sociais? Como se refletem as polí-ticas assistencialistas na situação social e política das camadas mais po-bres do povo brasileiro?

Para responder a esta pergunta, é preciso primeiro considerar oconjunto dos 10 anos de presidência petista (Lula+Dilma). Nestes dezanos, a vida do povo trabalhador melhorou. Mas isto não foi produtode políticas assistencialistas. A vida do povo melhorou porque houvecrescimento econômico, mais empregos, aumento do salário mínimo

Page 253: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

253

Valter Pomar

e das aposentadorias, mais crédito bancário para o consumo. Feitas ascontas, as políticas assistencialistas contribuíram, mas contribuírampercentualmente menos, para a melhoria da vida do povo.

O efeito prático disto é que a pressão por lutas sociais diminuiu.Claro: se a vida está melhorando, diminui a necessidade de mobili-zações e greves. Isto tem impacto sobre o funcionamento, a motiva-ção e a orientação política das organizações sociais de massa.

No governo Dilma, começa a ocorrer uma mudança. A vida conti-nua melhorando, mas a ritmos mais lentos. Esta redução no ritmotem relação com a crise internacional, com o esgotamento dos recur-sos estatais (sem reforma nos impostos e sem reduzir o serviço dadívida pública, os recursos estatais não são suficientes para os investi-mentos necessários) e também com a reação dos setores conservadores(que mantiveram no geral intacto seu controle dos meios de comuni-cação, da Justiça, maioria no parlamento, nos governos estaduais emunicipais).

Esta nova situação começa a se refletir num crescimento da mobi-lização social e numa atitude mais crítica e ativa por parte das orga-nizações de massa.

Ao lado dos Sem-Terra existem outros movimentos, como o movi-mento dos quilombolas, dos indígenas e outros. Qual é a situação destesmovimentos na fase atual?

É bom lembrar que mais de 80% da população brasileira moranas cidades. O Brasil é um país capitalista, urbano, industrializado.Logo, para que haja mudanças profundas, é preciso que haja movi-mento por parte da classe trabalhadora assalariada urbana. Os mo-vimentos camponeses, os movimentos indígenas e outros movimen-tos de base rural têm importância, mas relativa.

No caso dos indígenas e dos quilombolas, ambos experimenta-ram ganhos durante o governo Lula, especialmente sob a forma de

Page 254: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

254

Notas sobre a política internacional do PT

demarcação de reservas e titulação de terras. Hoje está em cursouma contra-ofensiva da direita. No caso dos quilombolas, por exem-plo, o parlamento quer chamar para si responsabilidades que eramdo governo; e como o setor ruralista é poderoso no parlamento, istosignifica uma ameaça.

Qual é a perspectiva de uma relação progressista, nos próximos anos,entre movimentos e o governo?

Depende. Como disse antes, há movimentos e movimentos. E ogoverno, por sua vez, é uma coligação entre forças de esquerda, cen-tro e até direita. Não há nada garantido. Nós do Partido dos Traba-lhadores trabalhamos para que o governo atenda as reivindicaçõesdos movimentos sociais vinculados a classe trabalhadora e aos pe-quenos proprietários camponeses, com e sem terra, bem como asreivindicações do movimento de mulheres, jovens, negros e LGBT,entre outros.

Este é a primeira versão de uma entrevistaconcedida a revista alemã Welttrends.

Page 255: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

255

Valter Pomar

Atilio A. Boron:um balanço equivocado

Acabo de receber um correio do Servicio Informativo “Alai-amlatina”, contendo artigo de Atílio A. Boron intitulado Foro deSao Paulo: balance desde Caracas.

Boron esteve presente, a convite dos anfitriões venezuelanos, namesa principal do ato de encerramento do XVIII Encontro do Forode São Paulo. Não sei se esteve presente em outros Foros, não sei separticipou de outros momentos do XVIII Foro. O que sei é que seubalanço é equivocado.

Começo pelos equívocos factuais. Boron diz que no se entiende comolas autoridades del FSP le negaron el derecho a la palabra -¡no sólo elingreso de la Marcha Patriótica como una organización política afiliadaal foro, pese a todos los avales presentados por partidos políticos dentro yfuera de Colombia- a la Senadora Piedad Córdoba.

De fato, se fosse verdade, não seria compreensível. Mas o que dizBoron não é verdade.

A Marcha Patriótica solicitou ingresso no Foro de São Paulo atra-vés de correio eletrônico enviado na mesma semana em que reali-zou-se o XVIII Encontro do Foro. As normas do Foro, normas quenos permitiram chegar inteiros até aqui, estabelecem que para umaorganização ingressar, é necessário o consenso de todos os partidosnacionais, depois o consenso do Grupo de Trabalho e depois o con-senso da Assembléia do Foro.

Apesar da boa vontade geral, como o pedido foi feito demasiadotarde, não foi possível a todos os partidos colombianos responder a

Page 256: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

256

Notas sobre a política internacional do PT

tempo se estão de acordo com a entrada da Marcha Patriótica. E semo apoio explícito e formal dos partidos nacionais, onde existem, nãohá como aprovar o ingresso de uma nova organização, seja qual for,tenha que avales tiver.

Boron diz que as autoridades do Foro (quem serão estas autorida-des?) negaram à Piedad Córdoba o direito à palavra. Minha pergun-ta é: a quem ela teria solicitado este direito? E quem teria negado?Aguardo que Boron responda.

Até então, só posso dizer o que sei e o que presenciei, na condição desecretário executivo do Foro e de coordenador de várias das reuniõesocorridas durante o XVIII Encontro. E o que sei e o que presencieié que, se ela tivesse solicitado, teríamos concedido a palavra, como con-cedemos a vários outros convidados.

Boron fala de argucias leguleyas, inadmisibles en una entidad quedice ser de izquierda, nos privaron de escuchar su testimonio, lo que nopasó inadvertido para el presidente Chávez. Mesmo que fosse verdadeo que ele diz, sobre ter sido negada a palavra, é assustador é veralguém de esquerda escrever algo deste naipe, como se Chavez fosseum bedel ou vigia noturno, e Boron seu estafeta. Definitivamente,erudição marxista e comportamento adequado são coisas distintas.

Boron também diz que otro tanto se hizo con los hondureños deLibertad y Refundación (LIBRE), partido que representa mejor queningún otro la resistencia al gobierno de Porfirio Lobo. Simplesmentenão entendo o que Boron quer dizer. De que otro tanto, de queexclusão ele está falando?

Para quem não está informado: durante a reunião do Grupo de Tra-balho do Foro de São Paulo, no dia 3 de julho, foi debatida a relaçãoentre o LIBRE e o Foro de São Paulo. Formalmente, quem faz parte doForo é a Frente de Resistência. Ficou decidido na reunião do GT que,tão logo o LIBRE solicite integração ao Foro, será integrado, mas que

Page 257: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

257

Valter Pomar

este pedido deve ser feito por eles, uma vez que há setores que integramo Libre e não integram a Frente de Resistência. E o fato é que o LIBREnão fez chegar à secretaria executiva do Foro sua solicitação de ingresso.

Portanto, tanto no caso da Colômbia quanto no caso de Hondu-ras, Boron está na melhor das hipóteses mal informado. Nesses doiscasos, seria útil que ele seguisse o conselho que dá ao Foro:uma discusión fraternal pero profunda, sin concesiones, y a salvo decualquier clase de trabas burocráticas o formalistas que la asfixien. Seele tivesse perguntado a alguma das “autoridades do Foro” (ele deveconhecer quem são, já que as cita), teria descoberto que as coisasnão passaram-se como ele diz.

Minha impressão, contudo, é que Boron está mais preocupadoem pontificar, do que em pesquisar. Sem contar que ele parece meiodescontente com o sucesso do Foro, motivo pelo qual se esforça ematribuir o sucesso deste XVIII Encontro a todos, menos ao Foromesmo.

Boron diz que el balance final del cónclave es, en un cierto sentido,positivo, aunque en algunos aspectos que veremos a continuación haymuchas cosas para mejorar. Positivo porque en el multitudinario eventose dieron cita una gran cantidad de partidos y movimientos que tuvieronla posibilidad de intercambiar opiniones, comparar experiencias y rea-lizar un rico y necesario aprendizaje recíproco. Positivo también por-que ante el conocido eclecticismo ideológico del foro -del cual participanpartidos que sólo por un alarde de la imaginación podrían categorizarsecomo de izquierda- el discurso de cierre pronunciado por el Coman-dante Chávez fijó una nueva agenda que los partidos y organizacionesdel FSP deberían considerar muy cuidadosamente en sus próximos en-cuentros.

As frases anteriores contém dois raciocínios encadeados, um in-correto e o outro pior que isto.

Page 258: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

258

Notas sobre a política internacional do PT

O raciocínio incorreto está na crítica que Boron faz ao conocidoeclecticismo ideológico del foro -del cual participan partidos que sólopor un alarde de la imaginación podrían categorizarse como de iz-quierda. Quem diz isto simplesmente não entendeu nada acercados motivos pelos quais o Foro chegou aonde chegou, 22 anosdepois. Se o Foro não fosse “eclético”, política e ideológicamente,ele seria mais uma destas “internacionais” estéreis que rondam poraí. Por outro lado, o fato de ser “eclético” não impediu o Foro demanter uma atitude essencialmente correta ao longo de duas déca-das, o que é tempo suficiente para testar a consistência de certasidéias e iniciativas.

Pior que incorreto é dizer que Chávez teria fixadouna nueva agen-da que los partidos y organizaciones del FSP deberían considerar muycuidadosamente en sus próximos encuentros. Pessoalmente, concordocom algumas coisas e discordo de outras coisas que Chavez disse noseu discurso final. Mas é simplesmente falso dizer que ele colocouuma nueva agenda. Os temas que Chavez tratou fazem parte dodebate do Foro, há muito tempo. Inclusive algo que Boron faz ques-tão de omitir, que é a necessidade de ir além da esquerda.

Por exemplo: Boron diz que más allá de la crítica necesaria al neo-liberalismo y su todavía hoy pesada herencia, el problema es el capitalis-mo, lo que hay que vencer y subvertir es el capitalismo. Verdade. Tantoé verdade, que a Declaração final do XVIII Encontro fala direta-mente de socialismo. E isto num foro “eclético”, onde nem todos osintegrantes são socialistas!!

Portanto, é uma besteira dizer que isto seria uma das principalesdebilidades teóricas de la Declaración de Caracas aprobada por el FSP.Debilidade haveria, isto sim, se a Declaração final gastasse 99% doseu tempo falando do socialismo e apenas 1% apontando como en-frentar o capitalismo neoliberal e o imperialismo. A Declaração in-

Page 259: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

259

Valter Pomar

dica as tarefas políticas fundamentais do período; sem vencê-las, osocialismo, a integração e o combate ao neoliberalismo ficarão ape-nas na retórica.

Acontece que Boron parece ter uma péssima impressão acerca dasorganizações que integram o Foro. Segundo sua caricatura, somospartidos que acreditam que o socialismo cairá del cielo como productode un determinismo económico, sino por la intervención del plural yheterogéneo sujeto revolucionario. Também segundo sua caricatura,somos organizações que não saberiam o que fazer, no dia seguinteao XVIII Encontro.

A caricatura é tão ridícula, que Boron toma o cuidado de atribuí-la a Chavez. Fico simplesmente envergonhado quando vejo alguémde tão larga trajetória como Boron, usar deste tipo de expedienteretórico para tonificar suas posições.

Se Boron fosse menos mal-humorado com o Foro, se tivesse umpingo da tolerância que predica aos outros, se tivesse perguntado aopinião de qualquer um dos integrantes do Grupo de Trabalho, te-ria descoberto que uma de nossas preocupações centrais consiste exa-tamente em aumentar nossa organicidade. O problema é que isto éfácil de dizer, mas muito difícil de fazer.

Não sei qual a experiência prática de Boron, como dirigente polí-tico-partidário. O que sei, a partir da minha experiência no PT e noForo de São Paulo, é que nós não estamos desentendiéndonos alegre-mente de la decisiva problemática de la organización. O que ocorre éque a decisiva problemática da organização, numa instituição inter-nacional e plural como o Foro, é muito mais complexa do que numaorganização nacional. Além do mais, nem sempre os que falam emorganização são os mais bem sucedidos em termos organizativos.

Boron simplica tanto o problema, que chega a confundir as situa-ções do Foro de São Paulo e do Foro Social Mundial. A comparação

Page 260: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

260

Notas sobre a política internacional do PT

entre uma e outra não faz o menor sentido, até porque no FSM ospartidos são recusados e a hegemonia é de grupos que por princípiosão contra a definição de prioridades político-programáticas.

Haveria outras coisas a dizer, acerca do balanço feito por Boron.Vejamos o que ele diz sobre o Haiti, por exemplo:La declaración

aprobada en Caracas condena las tentativas golpistas en contra de EvoMorales, Mel Zelaya, Rafael Correa y la más reciente contra FernandoLugo. Olvida señalar, lamentablemente, el golpe perpetrado contra Jean-Bertrand Aristide en Haití, en el año 2004. Falla grave porque no sepuede disociar este olvido de la desafortunada presencia de tropas devarios países latinoamericanos –Brasil, Chile, Argentina, entre otros-en Haití cuando en realidad lo que hace falta en ese sufrido país sonmédicos, enfermeros, maestros.

Talvez Boron não saiba, mas as Declarações finais são consensuadasnas reuniões do Grupo de Trabalho. Do qual participaram, nesteXVIII Encontro, dirigentes haitianos. Que apresentaram uma reso-lução, aprovada em Plenário, acerca da situação do Haiti. É legíti-mo debater se esta resolução e a Declaração deveriam ou não fazerreferência a derrubada de Aristide. Mas beira a má fé vincular estesuposto olvido a desafortunada presencia de tropas de varios países la-tinoamericanos –Brasil, Chile, Argentina, entre otros, omitindo quemsão estes outros, omissão (mais que olvido) que serve para reforçaruma insinuação que Boron deveria explicitar, para que o debate possaser feito a claras.

Para que não me acusem também de mal humor, reconheço queBoron tem razão quando reclama que poderíamos ter incluido naDeclaração a exigência del cierre de las bases militares que se extiendenpor toda América Latina y el Caribe. De toda forma, o tema (inclusi-ve seus desdobramentos colombianos) foi largamente tratado emvários momentos do Foro, inclusive num taller e num seminário.

Page 261: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

261

Valter Pomar

Reconheço, também, que a frase acerca dos limitados logros dosTLCs permite mesmo dupla interpretação.

Concordo, finalmente, que vivemos um momento em que amoderação, lejos de ser una virtud se convierte en un pecado mortal.Aliás, aprecio muito a recomendação de “audacia, audacia, audacia”.Que tal frase tenha sido dita por Danton comprova, de quebra, quenem todo radicalismo verbal é consequente.

Page 262: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

262

Notas sobre a política internacional do PT

Polêmica epistolarA los integrantes del Grupo de Trabajo

Como creo ser de vuestro conocimiento, estoy en Grecia repre-sentando el Foro de São Paulo enla Universidad de Verano del PIE.

Por este motivo, y también considerando las tareas generadas porlas resoluciones del XVIII Encuentro del Foro, era mi intención darpor cerrada mi participación en la polémica epistolar sobre el balan-ce del Encuentro de Caracas.

Entretanto, por razones institucionales, tengo la obligación deaclarar algunas cuestiones.

En primer lugar: es obvio que la Declaración final del XVIII En-cuentro del Foro, así como todas las otras resoluciones y debates ahírealizados, contiene lacunas.

Pero el esencial es que las deliberaciones del Foro fueron excelentes yapuntan las batallas esenciales del periodo -entre las cuales resalto ladefensa de Venezuela, destacada por Lula en el mensaje enviado al Foro.

El esfuerzo que hacen algunos, en indicar la imperfección de losarbustos, impide ver la belleza del bosque.

En segundo lugar: como es obvio para quien conoce el mínimofuncionamiento del Foro de São Paulo, no está al alcance de la Secre-taría Ejecutiva aceptar o recusar disidencias, divergencias o polémicas.

El Foro puede discutir y revisar todo, a cualquier momento. A laSecretaría Ejecutiva cabe respetar y hacer cumplir las normas y decisio-nes colectivamente adoptadas.

Por ejemplo: el orden del día de la plenaria final del XVIII Encu-entro fue debatido y deliberado en el Grupo de Trabajo; y también

Page 263: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

263

Valter Pomar

fue el Grupo de Trabajo quien deliberó quien sería responsable porla coordinación del acto de inauguración y del acto de clausura delXVIII Encuentro del Foro, inclusive la definición de quien seríainvitado y quien hablaría.

En tercero lugar: referente al tema colombiano, reitero que no huboninguna falta de respeto a absolutamente nadie. Hubo sólo cumpli-miento de las reglas del Foro.

Reitero, también, que en ningún momento fui procurado por cu-alquier portavoz de la Marcha Patriótica, para pedir la palabra y/opresentar una propuesta al Foro. La lectura atenta de lo que está escri-to en la carta enviada por dirigentes de la Marcha lo deja evidente.

Sin embargo, lo que realmente importa es que: 1) la resoluciónaprobada por el Foro de São Paulo acerca de Colombia expresa loque todos pensamos; 2) hace poco el Polo Democrático Alternativonos informó que aprobó por unanimidad la entrada de la Marcha enel Foro.

O sea: exceptuando malentendidos y disputas de protagonismo,no hay divergencias relevantes; talvez sea esto lo que frustre algunos.

En cuarto lugar: cuanto al tema hondureño, reitero que el Frentede Resistencia es parte del Foro de São Paulo y el LIBRE podrá serparte si solicitar, lo que aún no ha hecho.

Es obvio que el GT podría haber incluido en la programación dela plenaria final una exposición sobre el tema hondureño y/o loscamaradas hondureños podrían haber solicitado la palabra al Grupode Trabajo. Pero esto no ocurrió.

Hasta el momento, no recibí ningún mensaje de los camaradashondureños, dirigida al GT o a la Secretaría Ejecutiva, reclamandoo pidiendo aclaración.

De cualquier manera, me parece que la importancia conferida aHonduras y a la Resistencia no se puede medir por el hecho de que

Page 264: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

264

Notas sobre a política internacional do PT

le hemos dado o no el tiempo en la última sesión plenaria de esteXVIII Encuentro.

Además de lo que se dice acerca de Honduras en las resolucionesdel XVIII Encuentro, es bueno recordar el énfasis dado a la situaciónhondureña en los Foros realizados en Buenos Aires y Managua.

Una vez más, como en el caso de Colombia, exceptuando malen-tendidos y disputas de protagonismo, la verdad es que no existe ningunadivergencia política acerca de lo que el Foro deliberó sobre Honduras.

A menos, por supuesto, para aquellos que deseen alentardiferencias que no existen.

En quinto lugar: el XVIII Encuentro dejó evidente la confluenciaentre el Foro y el proceso venezolano, entre el PT y el PSUV, entreChávez y Lula.

Es por eso que, donde algunos ven en el discurso de clausurahecho por Chávez una nuevaagenda, yo veo la misma agenda.Además, como dijo Lula, la victoria de Chávez es nuestra victoria.

Es cierto que hay, tanto en la derecha cuanto en la extrema izqui-erda, personas que nos prefieren enfrentados. Ellos quedarán hablan-do sólos.

En sexto lugar: la polémica es bienvenida y la trabaremos donde ycuando siempre hicimos, en el lugar y en la hora correctas.

Por supuesto, rechazando dos posiciones: 1) la sumisión intelec-tual de los que quieren se presentar como voceros de los liderazgos;2) la actitud irresponsable de los que, en medio de la batalla, hacenataques públicos contra sus compañeros.

Y siempre buscando reafirmar determinadas ideas y profundizar de-terminadas reflexiones, que ya son parte de nuestro patrimonio común.

Por ejemplo: no es responsabilidad de los partidos cobrar del ForoSocial Mundial que organicelas energías canalizadas hacia la conquis-ta del poder.

Page 265: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

265

Valter Pomar

Algunas debilidades del Foro Social Mundial no se refieren ala lucha por poder, sino a algo más simple: transformar la dispersiónde los debates en un programa unificado de movilización.

Otros ejemplos: es un error acusar al Foro de São Paulo deprivilegiar de manera excluyente una sola forma de organización, elpartido político, y una sola estrategia derivada de esa forma organizacio-nal: la electoral; también es un error decir que los grandes avances de-mocráticos de los últimos tiempos fueron resultados de arrolladorasinsurrecciones populares y no del funcionamiento del sistema de parti-dos; igualmente equivocado es decir que el Foro de São Paulo parte dela ingenua creencia de que el socialismo sobrevendrá como la caída deuna fruta madura o, peor aún, la cínica convicción de que el socialismo esun proyecto que ya fracasó.

Quién dice esto no ha leído las resoluciones del Foro de São Pau-lo, no sigue nuestros debates y no ve nuestra acción.

Lo que ha ocurrido desde 1998 en América Latina fue el exito devariadas combinaciones entre lucha social, lucha electoral, acción degobiernos y acción de partidos. Estos partidos, a su vez, también sonmuy heterogéneos.

No hay que confundir estrategia electoral con estrategia que incorpo-ra el electoral. Y no nos iludimos acerca de la crisis del capitalismo y delneoliberalismo: por más profunda que sea la crisis, sólo serán supera-das si la izquierda salir victoriosa en una batalla económica, política ycultural de larga duración. De lo contrario, el capitalismo puedesobrevivir, aunque a un costo social enorme.

También por esto y para esto precisamos de organización, inclusode partidos que, además de principios ideológicos, teóricos y estraté-gicos, tengan inteligencia táctica y organizativa.

Inteligencia, en nuestro caso, incluye la mejora del Foro de SãoPaulo, sin cambiar su naturaleza plural y consensual; sin confundirlo

Page 266: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

266

Notas sobre a política internacional do PT

con una Internacional centralizada; sin imaginar que el Fororeemplaza o se sobrepone a los partidos que lo componen, muchosde los cuales cultivan otros espacios de articulación internacional,con los cuales muchas veces el propio Foro debe mantener un inten-so intercambio.

Este es el espíritu que, en mi opinión, debe servirnos de guía enlas próximas semanas, cuando el Grupo de Trabajo se reunir paradebatir como poner en práctica las resoluciones del XVIII Encuen-tro y como mejorar nuestros métodos de funcionamiento.

Page 267: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

267

Valter Pomar

O PT e o Foro de São Paulo

O XVIII Encontro do Foro de São Paulo foi realizado entre osdias 3 e 6 de julho de 2010, na cidade de Caracas (Venezuela). Par-ticiparam delegados(as) e convidados (as) de mais de cem organiza-ções, em sua maioria latino-americanas e caribenhas, mas tambémeuropeias, africanas e asiáticas.

O PT participou com uma delegação integrada, entre outras pes-soas, pela secretária de Relações Internacionais (SRI), Iole Iliada;pelo secretário de Movimentos Sociais, Renato Simões; pelo secretá-rio nacional de Cultura, Edmilson Souza Santos; pelo secretário na-cional de Juventude, Jefferson de Lima; pela secretária nacional deCombate ao Racismo, Cida Abreu; pela secretária nacional de Mu-lheres, Laisy Moriére; por vários membros do Diretório Nacional,entre os quais Joaquim Soriano, José Dirceu e Luiz Dulci; por inte-grantes da equipe da SRI e da Fundação Perseu Abramo; e tambémpelas senadoras Ana Rita (ES) e Angela Portela (RR).

O partido também contribuiu com a distribuição, a todas as de-legações que assistiram ao XVIII Encontro, de uma revista de 44páginas, com textos em espanhol, sobre o Brasil, os governos Lula eDilma, os diversos aspectos da ação partidária e, ainda, com nossaopinião sobre a conjuntura latino-americana. Por fim, durante aplenária de encerramento, coube a Luiz Dulci apresentar o vídeocom a mensagem do companheiro Lula ao XVIII Encontro do Forode São Paulo. Lula fez um balanço da trajetória da esquerda latino-americana e caribenha agrupada no Foro e declarou, com todas as

Page 268: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

268

Notas sobre a política internacional do PT

letras, que a vitória de Chávez será uma vitória do conjunto da es-querda regional.

A memória do encontro será divulgada, incluindo as atas das reu-niões do Grupo de Trabalho e das três secretarias regionais (ConeSul, Andino-Amazônica e Meso-América e Caribe), a síntese dascatorze oficinas, três encontros (de jovens, de mulheres e de parla-mentares) e dois seminários (um sobre governos e outro sobre des-colonização), além do documento-base, as resoluções e moções, bemcomo a Declaração Final. Toda essa documentação (incluindo vídeos)pode ser acessada nas páginas eletrônicas do Partido dos Trabalha-dores e do Foro de São Paulo.

Ainda no mês de agosto, o Grupo de Trabalho se reúne para dis-cutir como implementar o plano de trabalho aprovado, com desta-que para a solidariedade com o povo, o governo e a esquerda vene-zuelanos, que caminham para vencer a eleição presidencial de 7 deoutubro, mas enfrentam desde já e seguirão enfrentando depois osataques da direita local e do imperialismo estadunidense. A primeiraatividade de solidariedade ocorre no dia 24 de julho, quando espera-mos que em todo o mundo se promovam atividades em torno doaniversário de Simon Bolívar e de apoio à reeleição de Hugo Chávez.

A reunião do Grupo de Trabalho terá grande importância, por-que além das tarefas imediatas discutiremos o próprio funcionamentocotidiano do Foro de São Paulo. Criado no início dos anos 1990,noutra época histórica, o Foro possui debilidades organizativas queprecisam ser urgentemente superadas. Não é fácil fazer isso, entreoutros motivos porque é e deve continuar sendo um espaço plural,do ponto de vista político-ideológico. Portanto, soluções que pode-riam ser cabíveis numa Internacional centralizada não são exequí-veis num espaço com as características do Foro de São Paulo, quefunciona na base do consenso, do respeito e da tolerância.

Page 269: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

269

Valter Pomar

Algumas das ações e medidas necessárias já foram debatidas emreuniões anteriores do Grupo de Trabalho:1. A implementação de campanhas continentais e mundiais (por

exemplo, a campanha de solidariedade a Venezuela, que foi obje-to de uma resolução específica do XVIII Encontro);

2. A solidariedade para com as organizações do Foro em determina-dos países (os casos mais urgentes, nesse momento, são os deHonduras e Paraguai);

3. Sempre e quando solicitado pelas respectivas organizações nacio-nais, participar do debate e ajudar a enfrentar coletivamente osdesafios locais (é o caso do Peru e de El Salvador, onde, por dife-rentes motivos, a presença do Foro pode jogar um papel impor-tante);

4. Ampliar o intercâmbio de ideias, de informações, de experiênciase de militantes entre as organizações integrantes do Foro de SãoPaulo (por exemplo, através de uma escola latino-americana);

5. Organizar de maneira mais sistemática o debate sobre os grandestemas estratégicos, como a natureza do capitalismo do século 21,o balanço das tentativas de construção do socialismo no século20, nossos caminhos para o poder na América Latina etc.;

6. Melhorar o funcionamento do Grupo de Trabalho, das secretariasregionais e da secretaria executiva (o que exigirá, entre outras coi-sas, que alguns partidos encarreguem dirigentes para cuidar espe-cificamente das questões do Foro de São Paulo).Essas e outras medidas com o objetivo de superar nossas debilida-

des organizativas devem respeitar uma cláusula pétrea: manter anatureza original do Foro, ou seja, seu caráter plural e com decisõesconsensuais. A experiência dos últimos vinte anos mostrou que essanatureza não é um obstáculo nem para os avanços práticos, nempara os acertos teóricos. Em contrapartida, há vários exemplos do

Page 270: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

270

Notas sobre a política internacional do PT

fracasso de outras experiências internacionais, mais centralizadas ehomogêneas. Mas, nos últimos cinco anos, a experiência revelouque é preciso buscar mais consensos e fazer maiores esforços paralevar tais consensos à prática.

Também nisso o Partido dos Trabalhadores está chamado a conti-nuar jogando um papel importante no Foro de São Paulo. Hoje, pordecisão do Grupo de Trabalho, o PT indica o secretário executivo doForo. Caso a próxima reunião do GT mantenha essa indicação, opartido precisa responder em dois sentidos: primeiro, ampliando osrecursos humanos disponíveis para a tarefa; segundo, ampliando ointercâmbio entre os países da região e o Brasil. O ideal é que o PT,além do secretário executivo e da secretaria técnica, disponibilizemais três dirigentes, que possam acompanhar de maneira perma-nente as secretarias regionais: Cone Sul, Andino-Amazônica, Meso-América e Caribe. Esse reforço é indispensável para dar conta dastarefas indicadas anteriormente e de outras que certamente serãoaprovadas na reunião do Grupo de Trabalho.

No terreno do intercâmbio, cito algumas iniciativas que podemser adotadas: um plano de publicações, em português, sobre temaslatino-americanos e caribenhos (com destaque para as experiênciasdos governos progressistas e de esquerda); um plano de publicações,em espanhol, das experiências e opiniões políticas do Partido dosTrabalhadores; o intercâmbio sistemático de delegações, especial-mente entre jovens; e um plano de visitas de dirigentes petistas atodos os países da região.

A situação brasileira é pouco conhecida, o que colabora para umaleitura equivocada acerca do papel que nosso país joga na região. Porexemplo: a reativação da IV Frota, o golpe do Paraguai e a tentativade impedir a adesão da Venezuela ao Mercosul têm diversos objeti-vos e alvos. Mas está claro para nós, embora nem sempre esteja claro

Page 271: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

271

Valter Pomar

para todos, o quanto a direita e o imperialismo consideram crucialcercar e recuperar o Brasil para sua órbita de influência.

Até por isso, o empenho do governo brasileiro para o êxito da inte-gração regional (por meio de organismos como a Celac, a Unasul e oMercosul, entre outros) e o do PT para o êxito da esquerda regional(com o fortalecimento do Foro de São Paulo, por exemplo) constitu-em não apenas um ato de solidariedade para com os demais, mastambém atitudes que contribuirão para o êxito do processo brasileiro.

O momento atual torna esse empenho ainda mais urgente. A prin-cipal característica da conjuntura latino-americana continua sendo aforte presença da esquerda, seja hegemonizando governos, seja prota-gonizando a oposição dos principais países da região. Mas também éverdade que, já há alguns anos, está em curso uma contraofensiva dadireita e do imperialismo. Exemplo disso foi o que se passou em Hon-duras, mas também no Panamá, em Costa Rica e no Chile, para ficarapenas nesses casos. O ocorrido no vizinho Paraguai confirmou aqui-lo que, a partir do Foro de São Paulo, temos alertado seguidamente:está em curso uma contraofensiva das forças de direita, que é facilitadapelos efeitos da crise internacional, assim como pelas debilidades econtradições dos governos progressistas e de esquerda.

Sobre esse último aspecto, podemos dizer que a ofensiva iniciadaentre 1998 e 2002, com as eleições de Chávez e Lula, parece estarencontrando seus próprios limites. E as forças de direita, não apesarda crise, mas exatamente por causa da crise internacional, deflagraramdesde a eleição de Obama (!) uma contraofensiva, que por enquantovem nos golpeando nos elos mais fracos, como Honduras e Paraguai.

Quando no Foro de São Paulo começamos, há alguns anos, afalar dessa contraofensiva, não eram poucos os que discordavam,chamando atenção para nossas fortalezas e avanços, assim como paraas contradições no campo inimigo. Tudo verdade. Acontece que,

Page 272: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

272

Notas sobre a política internacional do PT

mesmo nos marcos de uma contraofensiva do inimigo, podemosobter vitórias – ainda que algumas possam reacender velhos proble-mas, como em certa medida está se passando no Peru, após a vitóriade Ollanta Humala. Também é verdade que as dificuldades e con-tradições no campo inimigo são imensas. Mas não se confundam ascoisas: a contraofensiva da direita faz parte do esforço deles exata-mente para enfrentar suas crises e contradições.

Assim é que avançamos mais sob o governo Bush, do que sob ogoverno Obama. Assim é que a crise na Europa produz resultadoscontraditórios, como ocorreu nas eleições francesas e gregas. Assim éque prossegue a escalada militar, com riscos cada vez maiores deSíria e Irã serem convertidos pelo imperialismo no epicentro de umconflito de imensas proporções. Assim é, também, que voltamos aouvir a palavra golpe no Cone Sul.

Esse debate de fundo, acerca da conjuntura internacional e lati-no-americana, tem relação com o que estamos vendo nas eleições2012 no Brasil, tema que evidentemente escapa dos objetivos destetexto. Assim, cabe apenas reiterar o que já dissemos antes: o XVIIIEncontro foi um grande sucesso, mas, para enfrentar a atual con-juntura, precisamos de mais e melhor Foro de São Paulo, e isso serátanto mais fácil de conseguir quanto mais o PT possa contribuir.

Texto para a revista Teoria e Debate.

Page 273: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

273

Valter Pomar

La Internacionallatinoamericana e caribeña

El XVIII Encuentro del Foro de São Paulo fue realizado entre losdías 3 y 6 de julio de 2012, en la ciudad de Caracas, Venezuela.

Participaron más de cien organizaciones, en su mayoría latinoa-mericanas y caribeñas, pero también europeas, africanas y asiáticas.

El Foro coincidió con el golpe en Paraguay y con la entrada deVenezuela al Mercosur, episodios frente a los cuales hubo un altonivel de coordinación entre los partidos del Foro, empezando por elPT de Brasil y el PSUV de Venezuela, vaciando el discurso comúnentre sectores de derecha y de ultra-izquierda, acerca de la existenciade “dos izquierdas” confrontadas y antagónicas en América Latina.

A este respecto, vale citar el mensaje grabado en video y dirigidopor Lula al XVII Encuentro. En dicho mensaje, Lula hace un balan-ce positivo de la trayectoria de la izquierda agrupada en el Foro ydeclara, con todas las letras: Chávez, tu victoria será nuestra victoria.

En la página electrónica www.forosaopaulo.org.br está disponiblela Memoria del XVIII Encuentro, incluidas las actas de las reunio-nes del Grupo de Trabajo, de las secretarías regionales Cono Sur,Andino-Amazónica y Mesoamérica y Caribe, la síntesis de los catorcetalleres, de los encuentros de jóvenes, de mujeres y de parlamentari-os, de los seminarios sobre gobiernos y sobre descolonización, eldocumento-base, las resoluciones y mociones, al igual que la Decla-ración Final.

Posteriormente al XVIII Encuentro, entre los días 17 y 19 deagosto de 2012, el Grupo de Trabajo (instancia equivalente a la co-

Page 274: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

274

Notas sobre a política internacional do PT

ordinación del Foro) se reunió para planificar la implementación delplan aprobado, teniendo como puntos de destaque: el apoyo a laizquierda venezolana, en la elección presidencial de 7 de octubre;Ecuador, donde habrá elecciones presidenciales en 2013; Paraguay,Colombia y Haití; la constitución de secretarías regionales del Foroen los Estados Unidos y en Europa; las relaciones de la izquierdalatinoamericana con sus contrapartes en Medio Oriente y África delNorte, en el África Subsahariana y en Asia.

En la reunión del Grupo de Trabajo, se trabó un debate de fondoacerca de los desafíos presentes y futuros del Foro de São Paulo.

Creado a principios de los años 1990, en otra época histórica, elForo presenta debilidades teóricas, políticas y organizativas que ne-cesitan ser urgentemente superadas.

No es fácil hacerlo, entre otros motivos porque el Foro es y debeseguir siendo un espacio plural, desde el punto de vista político-ideológico. Por lo tanto, soluciones que podrían ser admisibles(aunque no fueran acertadas) en una Internacional centralizada, noson ejecutables en un espacio con las características del Foro.

Sin embargo, la coyuntura internacional y regional, así como losdesafíos que enfrentamos en cada uno de nuestros países, exigencambios urgentes.

La principal característica de la coyuntura latinoamericana siguesiendo la fuerte presencia de la izquierda, ya sea hegemonizandogobiernos, ya sea protagonizando la oposición de los principales paísesde la región.

Pero también es cierto que, desde hace ya algunos años, está encurso una contraofensiva de la derecha y del imperialismo, que esfacilitada por los efectos de la crisis internacional, así como por lasdebilidades y contradicciones de los gobiernos progresistas y de izqui-erda. Un ejemplo de ello es lo sucedido en Paraguay, pero también en

Page 275: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

275

Valter Pomar

Honduras, en Panamá, en Costa Rica y en Chile, por mencionartan solo estos casos.

Dicho de otra manera, la ofensiva iniciada entre 1998 y 2002,con las elecciones de Chávez y Lula, parece estar encontrando suspropios límites. Y las fuerzas de derecha, no a pesar de la crisis, sinoexactamente a causa de la crisis internacional, han deflagrado desdela elección de Obama una contraofensiva, que por ahora solo hatenido éxito en los eslabones más débiles.

Cuando en el Foro de São Paulo, hace algunos años, advertimossobre esta contraofensiva, no fueron pocos los que discordaron, lla-mando la atención hacia nuestras fortalezas y avances, y a las contra-dicciones en el campo enemigo.

Todo eso es cierto, pero ocurre que, incluso en los marcos de unacontraofensiva del enemigo, podemos obtener victorias – aunquealgunas puedan reencender viejos problemas, como en cierta medi-da está pasando en Perú, tras la victoria de Ollanta Humala.

También es cierto que las dificultades y contradicciones en el campoenemigo son inmensas. Pero no hay que confundir las cosas: la con-traofensiva de la derecha forma parte de su esfuerzo exactamentepara enfrentar sus crisis y contradicciones.

Así fue como avanzamos más con el gobierno Bush que con elgobierno Obama. Así es como la crisis en Europa produce resulta-dos contradictorios, como ocurrió en las elecciones francesas y griegas.Así es como prosigue la escalada militar, con riesgos cada vez mayo-res de que Siria e Irán sean convertidos por el imperialismo en elepicentro de un conflicto de inmensas proporciones. Así es, tambi-én, como volvemos a oír la palabra golpe en el Cono Sur.

Pasemos en revista los aspectos principales de la coyuntura y delperíodo histórico en el que estamos.

El elemento principal es la crisis internacional. Se trata de una

Page 276: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

276

Notas sobre a política internacional do PT

crisis del capitalismo neoliberal, una crisis de larga duración, quealterna momentos agudos con períodos de aparente tranquilidad.

Su epicentro hoy está en Europa, pero su impacto es mundial,creando un ambiente de inestabilidad económica, social y política,con repercusiones militares.

Las capas dominantes en Europa y Estados Unidos, hasta el pre-sente momento, consideran que la salida para la crisis es más de lomismo, motivo por el cual están patrocinando tanto el desmonte delWelfare State en Europa, como operaciones militares en la periferia.

De no existir una alternativa políticamente poderosa, la opción de lascapas dominantes conducirá al mundo hacia más capitalismo y barbarie.

Por supuesto, no hay consenso acerca de la naturaleza de las alter-nativas, que van desde un capitalismo de Estado duro, pasando porla socialdemocracia clásica, hasta el socialismo anticapitalista. Y, cabedecir, las alternativas son políticamente más débiles allí donde lacrisis es más fuerte.

Un segundo elemento, directamente conectado con el primero, esel declive de la hegemonía de los Estados Unidos.

Este declive es un fenómeno de prolongada duración y paradóji-camente tiene que ver con el éxito de los EEUU en la “guerra fría”.Pero lo más importante es el comportamiento de la clase dominanteestadounidense frente a esta situación. Sean cavernícolas comoRomney o adeptos del “soft power” como Obama, todas las fraccio-nes de la clase dominante en los EEUU comparten la obsesión devolver a liderar el mundo. Motivo por el cual acentúan el manejo desus factores de poder: los medios, el dólar y especialmente las armas.Lo cual empuja la situación mundial hacia un escenario de aún másinestabilidad, al mismo tiempo que sigue intocada la razón de fondodel declive – la pérdida de participación relativa de los EEUU en elPIB mundial.

Page 277: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

277

Valter Pomar

Un tercer elemento de la situación mundial es un desplazamientogeopolítico, del centro del mundo, hacia el Asia. Este desplazamien-to se confunde con la emergencia de los Brics y la polarización entreellos y el núcleo anglosajón hegemonizado por el neoliberalismo.Tanto el desplazamiento geopolítico como la emergencia de los Bricsson tendencias y por lo tanto no son irreversibles. Incluso porquelas Asias y los Brics son muchos: Brasil, China, India y Rusia tienenintereses y posibilidades contradictorios.

De todos modos, el desplazamiento y la emergencia de la multi-polaridad tienen, como consecuencia política, en este ambiente decrisis económica y de decadencia de la potencia hegemónica, unainestabilidad creciente.

Supuestamente, un contexto de crisis e inestabilidad constituyenuna oportunidad para la emergencia de soluciones antisistémicas.Pero, si lo viejo está mal de salud, lo nuevo aún tiene poca fuerza. Laverdad es que, tomándolo globalmente, las izquierdas socialistassiguen en una situación de defensiva estratégica. Motivo por el cualpueden emerger soluciones reaccionarias.

Si bien el contexto global es éste, en la América Latina y Caribeñaestamos en mejores condiciones, ya sea para manejar los efectos de lacrisis, ya sea para construir una alternativa sistémica al capitalismo,lo que ayudaría la izquierda mundial a salir de esta situación globalde defensiva estratégica.

Pero, y siempre hay un pero, la verdad es que en América Latinay el Caribe hay señales crecientes de agotamiento de las distintasestrategias adoptadas, hasta ahora, por las distintas izquierdas. Y, nopor coincidencia, está en curso una contraofensiva de la derecha.

Para superar los límites de las estrategias y para derrotar la contra-ofensiva de la derecha, hay que profundizar el proceso de cambio;para ello sigue siendo necesario saber manejar el carácter desigual y

Page 278: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

278

Notas sobre a política internacional do PT

combinado de la izquierda latinoamericana, que actúa en escenariosdiferentes, con ritmos, programas y estrategias diferentes.

Las diferencias hacen que la integración regional sea el terrenocomún, el marco dentro del cual podremos articular los diferentesprogramas, estrategias, tipos y ritmos de la izquierda latinoamericana.

En pocas palabras, si no conseguimos éxito en hacer más rápida yprofunda la integración, la contraofensiva de la derecha será victoriosa,total o parcialmente. Y el ritmo y profundidad de la integracióndependen, al menos en parte, de la voluntad política de los pueblosy gobiernos.

En un resumen esquemático: actuamos bajo condiciones objeti-vas que posibilitan y exigen más, pero las condiciones subjetivas quetenemos no están a la altura, no nos permiten aprovechar adecuada-mente las posibilidades existentes. Lo cual le está abriendo espacio ala ultraizquierda y principalmente a la derecha.

Mejorar la inteligencia política y las condiciones orgánicas de fun-cionamiento del Foro de São Paulo es el equivalente partidario de loque necesitamos hacer en términos de integración regional: noresuelve todos los problemas estratégicos/político-organizativos exis-tentes en la región y/o en cada país, pero crea el ambiente en el cualmejor podemos resolver estos problemas.

Cuando hablamos de mejorar el funcionamiento orgánico del Forode São Paulo, estamos por supuesto descartando la necesidad y la po-sibilidad de construir una institución paralela al Foro; y también ne-gando la necesidad y la posibilidad de alterar la naturaleza del Foro.

El Foro de São Paulo debe continuar: articulando partidos políti-cos (manteniendo diálogo con los movimientos sociales, sin que estosmovimientos sean miembros); siendo un Foro (y no un partido cen-tralizado, pero es necesario extraer el máximo posible de unidad deacción); siendo latinoamericano y caribeño (y no mundial, a pesar

Page 279: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

279

Valter Pomar

de que debemos ampliar los contactos internacionales); siendo plu-ral (conteniendo, en su interior, diferentes corrientes ideológicas ypolíticas, lo que no implica en vacilar frente a los conflictos funda-mentales).

Llegamos a las conclusiones arriba expuestas a partir de: un diagnóstico político acerca del rol de los partidos y movimien-tos, de la necesidad de instancias propias y de autonomía entreestos distintos instrumentos de las capas trabajadoras. A ese res-pecto, cabe recordar que los movimientos son fundamentales paraganar y para sostener, pero los partidos son imprescindibles paragobernar y orientar estratégicamente. un análisis histórico de las llamadas Internacionales. Hay muchamitología al respecto, pero la relación entre el accionar prácticode las Internacionales y lo sucedido en los procesos revolucionari-os no es fácil de generalizar. Basta decir que la revolución rusa sehizo contra la opinión mayoritaria en la Segunda Internacional;la revolución china tuvo éxitos cuando siguió un rumbo contra-rio a la opinión mayoritaria en la Tercera Internacional; ypodríamos seguir listando. una mirada sobre los límites objetivos y subjetivos de construirproyectos centralizados supranacionales. La historia de la TerceraInternacional está llena de ejemplos de esto, desde la tentación decopiar modelos, hasta la centralización de facto por un partidohegemónico; la observación de las dificultades objetivas y subjetivas, en la actualcoyuntura, para crear una organización que articule las izquierdasde todo el mundo; y, por otra parte, la constatación de las potencialidades del cuadrolatinoamericano, que torna posible, necesaria y extremamenteeficaz la unidad en la diversidad que conseguimos construir en el

Page 280: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

280

Notas sobre a política internacional do PT

Foro, por razones que ya identifiqué en otro texto (Ensayo sobreuna ventana abierta).No basta, con todo, reafirmar al Foro de São Paulo como la mejor

síntesis posible, en el actual cuadro histórico.Hacerlo sería no percibir que hubo cambios impresionantes en la

realidad objetiva, y que tenemos un déficit teórico y político querellenar; llenar este vacío exige que el Foro se convierta él propio enuno de los espacios para debates políticos y teóricos de fondo.

Hacerlo sería, además, no percibir que, a pesar de estos cambiosimpresionantes en la realidad objetiva, que ampliaron la audiencia,el alcance y la extensión del Foro, seguimos funcionando de manerasimilar a la que funcionábamos hace 10 ó 20 años.

Se hace necesario superar el modo de funcionamiento artesanalcon el que nos seguimos manejando. Y que, es forzoso decir, es elmodo de funcionamiento de casi todos nuestros partidos.

Al mismo tiempo y paradójicamente, hay que reconocer que pro-fundizar el debate de fondo y superar el funcionamiento artesanalpuede generar tensiones de nuevo tipo, que precisarán ser biendimensionadas.

Un ejemplo de esto: necesitamos ampliar el diálogo y la articulaciónentre los partidos-que-hoy-están-en-el-gobierno, pero esto no pue-de implicar desconsiderar el rol de los partidos-que-hoy-están-en-la-oposición.

Desde un punto de vista práctico, mejorar el funcionamiento or-gánico del Foro significa dotarlo de instrumentos, de medios, deherramientas que nos permitan: a) perseguir los objetivos de largoplazo establecidos cuando de su fundación; b) implementar el plande trabajo aprobado en sus encuentros y demás instancias delibera-tivas; c) actualizar permanentemente nuestra acción, especialmenteen vista de la contraofensiva deflagrada por la derecha, lo que incluyela capacidad de anticiparse a los movimientos subversivos.

Page 281: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

281

Valter Pomar

Algunas de las acciones y medidas necesarias ya han sido debati-das en reuniones anteriores del Grupo de Trabajo:1. La implementación de campañas continentales y mundiales (por

ejemplo, la campaña de solidaridad a Venezuela, que fue objetode una resolución específica del XVIII Encuentro);

2. La solidaridad para con las organizaciones del Foro en determina-dos países (los casos más urgentes, en este momento, son los deHonduras y Paraguay);

3. Siempre y cuando sea solicitado por las respectivas organizacionesnacionales, participar del debate y ayudar a enfrentar colectiva-mente los desafíos locales (es el caso de Perú y de El Salvador,donde, por diferentes motivos, la presencia do Foro puede jugarun papel importante);

4. Ampliar el intercambio de ideas, de informaciones, de experienci-as y de militantes entre las organizaciones integrantes del Foro deSão Paulo (por ejemplo, a través de una escuela latinoamericana);

5. Organizar de manera más sistemática el debate sobre los grandestemas estratégicos, como la naturaleza del capitalismo del siglo 21,el balance de las tentativas de construcción del socialismo en elsiglo 20, nuestros caminos hacia el poder en América Latina etc.;

6. Mejorar el funcionamiento del Grupo de Trabajo, de las secretarí-as regionales y de la secretaría ejecutiva (lo cual exigirá, entreotras cosas, que algunos partidos encarguen a dirigentes la tareade cuidar específicamente las cuestiones del Foro de São Paulo).Estas y otras medidas con el objetivo de superar nuestras debili-

dades organizativas deben respetar una cláusula pétrea: mantener lanaturaleza original del Foro, o sea, su carácter plural y con decisio-nes consensuales.

La experiencia de los últimos veinte años mostró que esa natura-leza no es un obstáculo ni para los avances prácticos, ni para losaciertos teóricos. En contrapartida, hay varios ejemplos de fracaso

Page 282: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

282

Notas sobre a política internacional do PT

de otras experiencias internacionales, más centralizadas y homogé-neas. No obstante, en los últimos cinco años, la experiencia ha reve-lado que es necesario buscar más consensos y hacer mayores esfuerzospara llevar a la práctica tales consensos.

Para concluir, una palabra sobre el papel del Partido de los Traba-jadores de Brasil. Nuestras resoluciones establecen un lugar muyespecial para el Foro de São Paulo. Por otra parte, por decisión delGrupo de Trabajo, el PT indica el secretario ejecutivo del Foro.

Pese a esto, aunque el papel de Brasil y del PT son reconocidos, lasituación brasileña es poco conocida, lo cual colabora para una lecturaequivocada acerca del papel geopolítico de Brasil.

Por ejemplo: la reactivación de la IV Flota, el golpe de Paraguay y latentativa de impedir la adhesión de Venezuela al Mercosur tienen di-versos objetivos y blancos. Pero está claro para nosotros, aunque nosiempre está claro para todos, cuánto la derecha y el imperialismo considerancrucial cercar y recuperar a Brasil para su órbita de influencia.

Incluso por eso, el empeño del gobierno brasileño para el éxito dela integración regional (por medio de organismos como la Celac, laUnasur y el Mercosur, entre otros) y el empeño del PT para el éxitode la izquierda regional (con el fortalecimiento del Foro de São Pau-lo, por ejemplo) constituyen no solo un acto de solidaridad para conlos demás, sino también actitudes que contribuirán para el éxito delproceso brasileño.

Este debate de fondo, acerca de la coyuntura internacional y lati-noamericana, guarda relación con lo que estamos viendo en las elec-ciones de 2012 en Brasil, tema que evidentemente escapa a los obje-tivos de este texto. Así, cabe tan solo reiterar lo que hemos dichoantes: el XVIII Encuentro fue un gran éxito, pero, para enfrentar laactual coyuntura, necesitamos más y mejor Foro de São Paulo, y elloserá tanto más fácil de conseguir cuanto más el PT pueda contribuir.

Texto para la revista Nueva Sociedad.

Page 283: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

283

Valter Pomar

A Pátria Grande ea outra economia

Vivemos um momento de crise. Crise econômica, social, política,militar, ideológica, ambiental, energética. Alguns falam em crise civi-lizacional.

A crise não é igual para todos. Pessoas e países experimentam ereagem à crise de maneiras diferentes.

Como serão as coisas depois da crise? Podem ser iguais, piores oumelhores, a depender das soluções que prevaleçam aqui e agora, hojee amanhã.

Da reação que tenhamos frente à crise, pode surgir um mundomelhor.

Nossa América Latina e Caribenha já deu vários exemplos decomo as crises podem ser momentos de mudança.

Quando a Europa entrou em crise, na Era das Revoluções (1750-1850), o Novo Mundo aproveitou para seguir um caminho próprio,através das independências.

Depois, as metrópoles européias e os Estados Unidos converte-ram novamente nosso território em fonte de riquezas, mercado con-sumidor e local para exportação de capitais.

Antes colonialismo, agora imperialismo, as veias seguiam abertas.Quando veio a nova crise, entre 1914 e 1945, com direito a duas

Guerras Mundiais e uma grande depressão econômica, parcelas im-portantes da nossa região conseguiram industrializar-se, buscandosomar independência política com independência econômica.

Na década de 1970, nova crise. Para enfrentá-la, os grandes capi-talistas deflagraram uma campanha ideológica, política e econômica

Page 284: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

284

Notas sobre a política internacional do PT

cujo objetivo era desmontar todos os avanços e conquistas que ostrabalhadores e os povos haviam conseguido, depois de 1945.

A lista de vítimas do neoliberalismo é extensa: os países africanosque haviam conquistado sua independência política, foram recolo-nizados economicamente; os países latinoamericanos envolvidos nacrise da dívida externa tiveram suas economias destruídas, privatiza-das e saqueadas; na Europa, começou o desmonte das políticas debem-estar social; e o socialismo existente na URSS caiu sob o efeitocombinado de seus próprios problemas e dos ataques externos.

Os neoliberais pensaram que este seria o fim da história. Mas des-de 2007 vivemos uma nova grande crise, com três dimensões: a crisedo neoliberalismo (ou seja, da economia controlada por grandes ban-cos e transnacionais); a crise dos Estados Unidos (que como todoImpério, chegou naquela fase em que não consegue mais financiar oscustos de sua própria manutenção); e a crise do Velho Mundo (quedesde 1500 hegemoniza o mundo, mas agora está vendo o poderdeslocar-se em direção à outras regiões do planeta Terra).

Esta crise pode constituir-se numa grande chance para a AméricaLatina e Caribenha construir uma alternativa para si e ajudar a cons-truir uma alternativa para o mundo.

Nossa região possui enorme potencial natural, aqüífero,biogenético, energético, humano, cultural, tecnológico e político.

Este potencial está distribuído por todo o território continental.Este é um dos motivos que tornam necessária a integração regional,através de instituições como a Unasul e a Celac (Comunidade deestados latinoamericanos e caribenhos).

Precisamos de um modelo de integração que esteja à serviço demelhorar a vida da maioria de nossos povos. Isto significa integraçãopolítica e cultural, mas também integração social e econômica.

Precisamos sair da situação atual, onde temos uma economia àserviço de gerar lucros para uma minoria, para uma economia orga-

Page 285: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

285

Valter Pomar

nizada em torno do objetivo de elevar continuamente a qualidadede vida de todos.

Uma economia que coloque a riqueza produzida pela populaçãolatinoamericana, à serviço dos que produziram esta riqueza.

Isto exige três grandes mudanças.A primeira mudança é acabar com a ditadura dos bancos e da

especulação financeira.No curto prazo, reduzir a taxa de juros e empurrar o capital espe-

culativo em direção ao investimento produtivo.No médio prazo, reformar o sistema financeiro, fortalecendo o

setor financeiro público, criando um banco público para financiaros pequenos/médios e democratizando o setor privado.

Democratizar o setor privado significa estabelecer um limite parao tamanho dos bancos privados: o modelo atual, de poucos bancosgigantescos, deve ser substituído por um novo modelo, onde coexis-tirão vários bancos públicos de grande porte e alguns bancos priva-dos de médio porte.

A segunda mudança é acabar com o oligopólio das transnacionais(ou seja: um pequeno número de empresas, que controlam todauma área econômica).

As transnacionais não têm compromisso com os interesses nacio-nais, nem têm compromisso com as necessidades populares.

Nas áreas essenciais para a segurança e o bem-estar da população– tais como a produção e distribuição de alimentos, saúde e produ-ção de remédios, educação e comunicação, fornecimento de água esaneamento, telefonia e energia elétrica, gás e petróleo, entre outras-– é preciso ampliar a presença de empresas públicas, de empresascooperativas, de empresas de médio e pequeno porte.

No médio prazo, precisamos reorganizar o parque produtivo na-cional e regional. Precisamos de autonomia em todos os ramos fun-

Page 286: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

286

Notas sobre a política internacional do PT

damentais da indústria moderna, para não dependermos de outrasregiões do mundo. E precisamos, também, de maior capacidade pro-dutiva, para atender as necessidades quantitativas e qualitativas doconjunto da população latinoamericana e caribenha.

A terceira mudança é realizar quatro grandes reformas estrutu-rais: a reforma tributária, a reforma agrária, a reforma urbana e aConsolidação das Leis Sociais.

A reforma tributária visa adotar um sistema progressivo de im-postos, onde quem tem mais, paga mais. E onde exista um impostosobre grandes riquezas.

A reforma agrária, associada a maior investimento nos peque-nos e médios proprietários rurais, visa ampliar a produção de ali-mentos, barateando o preço da comida para a maioria da popula-ção e garantindo os estoques necessários para que tenhamos segu-rança alimentar.

A reforma urbana visa diminuir o custo e melhorar a qualidadede vida dos que vivem nas cidades (no caso do Brasil, 80% da popu-lação), através do transporte coletivo, da garantia de habitação de-cente e da reconstrução de nossas cidades.

A Consolidação das Leis Sociais permitirá a formação de umapopulação politizada, solidária, profundamente culta e altamenteprodutiva.

De um lado, trata-se de universalizar as políticas sociais de saúdee educação, cultura e esportes, comunicação, ciência e tecnologia.

De outro lado, a Consolidação das Leis Sociais significa ampliaros direitos do Trabalho: menor jornada de trabalho, maiores salá-rios, aposentadoria digna.

Para fazer as mudanças citadas acima, os países mais ricos da re-gião (como Brasil, Argentina e Venezuela) terão que ajudar os paísesmais pobres (como Paraguai e Nicarágua).

Page 287: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.

287

Valter Pomar

A integração é necessária para superar tanto as desigualdades so-ciais, quanto as desigualdades regionais. A integração também é ne-cessária para enfrentar a oposição política das grandes potências (comoos Estados Unidos) e das classes dominantes de cada país da região,que lançam mão de diversos mecanismos para manter a sociedadefuncionando a seu serviço.

Por tudo isto, a integração exige a formação de uma consciêncialatinoamericana, democrática e popular, comprometida com um novomundo.

Hoje, a maioria dos que vivem em nosso continente formam suavisão de mundo com base nas idéias difundidas pela indústria cultu-ral, pelos grandes meios de comunicação, pelas escolas tradicionais epor visões religiosas conservadoras. Além disso, a maioria trabalhasubmetida à uma disciplina concebida exatamente pelos que con-trolam a sociedade que queremos mudar.

Para mudar isto precisamos de investimento público em cultura,democratização da comunicação social, mudança no conteúdo doscurrículos escolares e reforma política.

Se não fizermos isto, se nos contentarmos em reconstruir aquiloque foi destruído pelo neoliberalismo, ao final da operação estare-mos de volta ao ponto de partida, ou seja, a como éramos e vivíamosantes do neoliberalismo, época em que nossos pais e avós lutavampor um mundo melhor, porque aquele também lhes parecia insu-portável.

Nosso desafios são enormes. Há motivos de otimismo? Sim, claro.Nunca os setores populares latinoamericanos tiveram tanta força.

Precisamos aproveitar esta força para realizar as mudanças necessárias.Se tivermos êxito, teremos Pátria Grande.

Texto escrito para a Agenda Latinoamericana 2013.

Page 288: Notas sobre a política internacional do PT5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.… · tes modos de organizar o capitalismo. 6 ... bilidade internacional.