O Bandeirante - n.195 - Fevereiro de 2009

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(Continua na última página) IDIOMA PORTUGUÊS: Acordo Ortográfico e seus literatos Ano XVII - nº. 195 - FEVEREIRO de 2009 Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP Redação: [email protected] - (11) 9182-4815 O Bandeirante O Bandeirante O Bandeirante O Bandeirante O Bandeirante Jornal Helio Begliomini Médico urologista Presidente da SOBRAMES-SP “Uma nação, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida.” - Rui Barbosa (1849-1923): jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e grande orador brasileiro. Em termos comparativos, a colo- nização portuguesa no Continente Americano foi mais coesa, mais unitiva do que a espanhola. Apesar de ambos os países da península ibérica, nos primeiros séculos após os descobrimentos, tivessem querido dilapidar de suas colônias as reservas auríferas, argênteas e as riquezas da flora, não restam dúvidas de que foi graças ao empreendedorismo português e ao seu espírito gregário a expansão do território brasileiro numa grande unidade geográfica, tornando o Brasil uma nação-continente, a quinta do mundo em extensão territorial(!), tendo como denominador comum uma única identidade linguística, diferentemente do Continente Europeu ou até mesmo de vários de seus países, tais como a Espanha e a Itália, proporcionalmente, formados por pequenos territórios, mas recheados com multilínguas e/ou dialetos. Em contrapartida, em toda a América Latina espanhola, apesar de possuir o mesmo idioma, foi pulverizada em diversas nações. A fim de visualizar tais dizeres, é significativo constatar que, dentre todos os 14 países e/ou territórios que compõem a América do Sul – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Ilhas Malvinas, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela –, o português é falado por um só país e representa 51% do idioma desse subcontinente. Entretanto, a maioria dos brasileiros desconhece ou pouco valoriza o fato de que seu idioma esteja presente em seis continentes, constituindo-se na quinta língua mais falada do mundo(!), sendo a terceira mais utilizada no Ocidente, muito à frente de nações do primeiro mundo como Itália, Alemanha, França, Suíça, Dinamarca, Suécia, Holanda, Japão... ou, de países com grande extensão territorial, como a Rússia e a somatória dos países de língua árabe! O português é um idioma neolatino surgido do latim vulgar falado pelo exército romano que conquistou a Europa, incluindo a península ibérica onde estão localizados Portugal e Espanha. O latim é uma língua sintética, enquanto o português, uma língua analítica. Assim, o léxico português se compõe em sua grande maioria (80 a 90%) de palavras derivadas do latim. No mundo, atualmente, existem cerca de 850 milhões de pessoas que falam línguas de origem latina, como o espanhol (270 milhões), português, italiano, francês, provençal, galego, sardo, ladino, catalão e romeno. Hoje em dia são 240 milhões de falantes do português, a “última flor do Lácio”, tendo o Brasil destaque e responsabilidade particular, pois somente em seu território residem 190 milhões desse montante. São inerentes em todas as línguas vivas interações, incorporações e mutações ao longo do tempo que, por vezes, podem descaracterizar e mesmo distanciar ou dificultar a comunicação entre povos com um mesmo idioma. E, neste particular, novamente o Brasil tem primazia e merece reverência, pois será a terceira revisão ortográfica que aqui ocorre em apenas 64 anos. Até o início do século XX, o idioma português era expresso graficamente com influências do latim e grego, sendo comuns palavras como “pharmacia”, “estylo”, “catholico” e “prompto”. Em 1943, o Brasil adotou uma ortografia mais condizente com a fonética das palavras. Por sua vez, em 1971, foram abolidos alguns acentos diferenciais. Antônio Houaiss (1915-1999), respeitável filólogo e diplomata brasileiro, liderou com denodo e sucesso um movimento intercontinental de unificação ortográfica com o objetivo de dar maior força e relevância internacional ao idioma português. Tal iniciativa redundou no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, sancionado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP – Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste), cujas modificações deverão ser implementadas, salvo mudança ulterior, no Brasil, em 1 o de janeiro de 2013, com um período de transição que vai de 2009 a 2012, e, em Portugal, em seis anos. O período de transição nada mais é do que a adaptação à nova grafia pela imprensa, órgãos oficiais, universidades, escolas, editoras, etc., quando ambas as formas serão aceitas, e, após esse tempo só se aceitará a grafia contida no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa da CPLP. A mesma ortografia nos países lusófonos propicia as seguintes vantagens: 1. Maior facilidade de intercâmbio cultural. 2. Redução do custo de tradução e edição de livros. 3. Facilitação da difusão bibliográfica e de novas tecnologias. 4. Aproximação das nações de língua portuguesa e o fortalecimento do vernáculo que as une. De acordo com os especialistas, as alterações não são de monta, atingindo 1,42% do vocabulário existente, em Portugal, e 0,43% das palavras do Brasil. Noutros países lusófonos – Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste – as mudanças não serão em maior proporção. Mesmo assim, parlamentares portugueses, particularmente do partido Centro Democrático Social (CDS), criticaram o acordo, dizendo que ele representa uma concessão aos “interesses brasileiros”. Dentre as principais mudanças ortográficas do idioma português têm-se:

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IDIOMA PORTUGUÊS: AcordoOrtográfico e seus literatos

Ano XVII - nº. 195 - FEVEREIRO de 2009Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SPRedação: [email protected] - (11) 9182-4815

O BandeiranteO BandeiranteO BandeiranteO BandeiranteO BandeiranteJornal

Helio BegliominiMédico urologistaPresidente da SOBRAMES-SP

“Uma nação, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma aoestrangeiro, antes de ser por ele absorvida.” - Rui Barbosa (1849-1923): jurista, político, diplomata,

escritor, filólogo, tradutor e grande orador brasileiro.

Em termos comparativos, a colo-nização portuguesa no ContinenteAmericano foi mais coesa, mais unitiva doque a espanhola. Apesar de ambos os paísesda península ibérica, nos primeiros séculosapós os descobrimentos, tivessem queridodilapidar de suas colônias as reservasauríferas, argênteas e as riquezas da flora,não restam dúvidas de que foi graças aoempreendedorismo português e ao seuespírito gregário a expansão do territóriobrasileiro numa grande unidade geográfica,tornando o Brasil uma nação-continente, aquinta do mundo em extensão territorial(!),tendo como denominador comum umaúnica identidade linguística, diferentementedo Continente Europeu ou até mesmo devários de seus países, tais como a Espanha ea Itália, proporcionalmente, formados porpequenos territórios, mas recheados commultilínguas e/ou dialetos. Em contrapartida,em toda a América Latina espanhola, apesarde possuir o mesmo idioma, foi pulverizadaem diversas nações. A fim de visualizar taisdizeres, é significativo constatar que, dentretodos os 14 países e/ou territórios quecompõem a América do Sul – Argentina,Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,Guiana, Guiana Francesa, Ilhas Malvinas,Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai eVenezuela –, o português é falado por um sópaís e representa 51% do idioma dessesubcontinente.

Entretanto, a maioria dos brasileirosdesconhece ou pouco valoriza o fato de queseu idioma esteja presente em seiscontinentes, constituindo-se na quintalíngua mais falada do mundo(!), sendo aterceira mais utilizada no Ocidente, muito àfrente de nações do primeiro mundo comoItália, Alemanha, França, Suíça, Dinamarca,Suécia, Holanda, Japão... ou, de países comgrande extensão territorial, como a Rússia ea somatória dos países de língua árabe!

O português é um idioma neolatinosurgido do latim vulgar falado pelo exércitoromano que conquistou a Europa, incluindoa península ibérica onde estão localizadosPortugal e Espanha. O latim é uma línguasintética, enquanto o português, uma língua

analítica. Assim, o léxico português se compõeem sua grande maioria (80 a 90%) de palavrasderivadas do latim. No mundo, atualmente,existem cerca de 850 milhões de pessoas quefalam línguas de origem latina, como oespanhol (270 milhões), português, italiano,francês, provençal, galego, sardo, ladino,catalão e romeno.

Hoje em dia são 240 milhões de falantesdo português, a “última flor do Lácio”, tendoo Brasil destaque e responsabilidadeparticular, pois somente em seu territórioresidem 190 milhões desse montante.

São inerentes em todas as línguas vivasinterações, incorporações e mutações aolongo do tempo que, por vezes, podemdescaracterizar e mesmo distanciar oudificultar a comunicação entre povos comum mesmo idioma. E, neste particular,novamente o Brasil tem primazia e merecereverência, pois será a terceira revisãoortográfica que aqui ocorre em apenas 64anos. Até o início do século XX, o idiomaportuguês era expresso graficamente cominfluências do latim e grego, sendo comunspalavras como “pharmacia”, “estylo”,“catholico” e “prompto”. Em 1943, o Brasiladotou uma ortografia mais condizente coma fonética das palavras. Por sua vez, em 1971,foram abolidos alguns acentos diferenciais.Antônio Houaiss (1915-1999), respeitável

filólogo e diplomata brasileiro, liderou comdenodo e sucesso um movimentointercontinental de unificação ortográficacom o objetivo de dar maior força erelevância internacional ao idiomaportuguês. Tal iniciativa redundou noAcordo Ortográfico da Língua Portuguesa,sancionado pela Comunidade dos Países deLíngua Portuguesa (CPLP – Brasil, Portugal,Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola,Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste),cujas modificações deverão serimplementadas, salvo mudança ulterior, noBrasil, em 1o de janeiro de 2013, com umperíodo de transição que vai de 2009 a 2012,e, em Portugal, em seis anos.

O período de transição nada mais édo que a adaptação à nova grafia pelaimprensa, órgãos oficiais, universidades,escolas, editoras, etc., quando ambas asformas serão aceitas, e, após esse tempo só seaceitará a grafia contida no AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa da CPLP.

A mesma ortografia nos paíseslusófonos propicia as seguintes vantagens:1. Maior facilidade de intercâmbio cultural.2. Redução do custo de tradução e edição delivros. 3. Facilitação da difusão bibliográficae de novas tecnologias. 4. Aproximação dasnações de língua portuguesa e ofortalecimento do vernáculo que as une.

De acordo com os especialistas, asalterações não são de monta, atingindo1,42% do vocabulário existente, em Portugal,e 0,43% das palavras do Brasil. Noutrospaíses lusófonos – Angola, Cabo Verde,Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé ePríncipe e Timor Leste – as mudanças nãoserão em maior proporção. Mesmo assim,parlamentares portugueses, particularmentedo partido Centro Democrático Social(CDS), criticaram o acordo, dizendo que elerepresenta uma concessão aos “interessesbrasileiros”.

Dentre as principais mudançasortográficas do idioma português têm-se:

Jornal O BandeiranteANO XVII - nº. 195 - Fevereiro 2009

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de MédicosEscritores - Regional do Estado de São PauloSOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11)3062-9887 / 3062-3604 Editores: Flerts Nebó eMarcos Gimenes Salun. Redatores: Helio Begliomini,Marcos Gimenes Salun. Jornalista Responsável:Marcos Gimenes Salun - (MTb 20.405 - SP). Revisão:Ligia Terezinha Pezzuto(MTb 17.671 - SP). Redaçãoe Correspondência: Av.Prof. Sylla Mattos, 652 -ap.12 - Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP -CEP-04182-010 E-mail: [email protected]. Tels.: (11)9182-4815 / 2331-1351. Colaboradores destaedição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Aida LúciaP. Dal Sasso Begliomini, Flerts Nebó, Evanil Piresde Campos, Geovah Paulo da Cruz, Rodolpho Civile,Karin Schmidt Rodrigues Massaro.Tiragem destaedição: 250 exemplares (papel) e mais de 1.000exemplares enviados por e-mail.Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: HelioBegliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita deArruda Franco. Primeiro-Secretário: LigiaTerezinha Pezzuto. Segundo-Secretário: Mariado Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro:Marcos Gimenes Salun. Segundo-Tesoureiro:Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Efetivos:Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, LuizJorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes:Geovah Paulo da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut AdolfMataré.Matérias assinadas são de responsabilidade

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REVISÃO

A grande OBRIGAÇÃO do escritorJá não me assombro mais com a verti-

ginosa velocidade com que são desenvolvidasnovas tecnologias, cada qual criando con-dições mais propícias para que os sereshumanos interajam entre si e com o seumundo. Entendo essa evolução comoinstinto e necessidade inata ao homem debuscar e criar cada vez mais e melhorescondições de vida para si e para os demaisseres humanos, na luta pela preservação daespécie. No entanto, ao refletir sobre a desi-gualdade com que os benefícios dessedesenvolvimento são distribuídos e utilizadosentre todos os que têm direito e poderiamse beneficiar dele, acho que ainda estamosmuito longe de ver o homem atingir seumaior objetivo, criando algo realmentepositivo para o bem da humanidade.

Por modismo, necessidade ou apenaspelo simples fato de se entender que seja“politicamente correto”, hoje em dia fala-semuito sobre “inclusão”. Seja ela digital, social,racial, política, econômica ou religiosa, pareceque o termo “inclusão” funciona como umaespécie de vacina que isenta os seus adeptos epretensos usuários de qualquer culpa pelasdesigualdades e conflitos que pululam emcada canto do planeta. A passividade comque o ser humano lida com algumas de suasmazelas é algo surpreendente.

Quem tem como instinto preservar asua espécie não poderia, em tese, ficarindiferente à nocividade com que boa parte

dos seus semelhantes, parceiros de jornada,utiliza a tecnologia colocada a seu dispordiariamente. Muito menos ainda esse instintodeveria permitir o desprezo e a negligênciacom que são tratados os recursos naturaisindispensáveis à sobrevida, indepen-dentemente de qualquer avanço tecnológico.

Vejo no egoísmo, na ganância e nasoberba, dentre outros vícios praticados porboa parte da humanidade, os principaismotivos de existir tanta desigualdade naaplicação dos recursos e benefícios que,teoricamente, deveriam pertencer a todoscomo patrimônio inalienável.

Somente com a participação fraternae despojada de interesses será possível aohomem continuar evoluindo com liberdadee justiça, propiciando maior igualdade entreseus semelhantes.

Por sermos formadores de opiniãoinatos e detentores da mais poderosa detodas as armas, cabe a nós, escritores,participar desse processo evolutivo da formamais consciente possível, utilizando demaneira adequada, justa e equilibrada apalavra, nossa melhor munição. Que, emnossas ações no manuseio das letras,possamos ajudar a repartir a evoluçãohumana da maneira mais justa e perfeitapossível. É nossa obrigação.

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009 3 3 3 3 3SUPLEMENTO LITERÁRIO

A BONDADEuniversal

Carlos Augusto Ferreira GalvãoMédico psiquiatraSão Paulo

Não se trata de carolice, proxi-midade com alguma religião ou exercera prática nefasta do maniqueísmo. Mashá certos ícones na humanidade que, deforma alguma, podem ser menos-prezados.

Imaginem há dois mil anos,quando os homens, já sábios, eramregidos por religiões de deuses temporaise passionais. Imaginem as sociedades queo monstrengo do politeísmo gerava, comsuas incúrias, com suas insensibilidadessociais. Era costume apedrejar nas ruas,até a morte, prostitutas ou adúlteras. Nametrópole dominante, as pessoas sereuniam em estádios, não para atividadeslúdicas, e sim para verem homens lutandoaté se matarem ou seres humanos seremdevorados por feras; a piedade então eraconsiderada fraqueza.

Mesmo a bíblia que era oinstrumento que mais perto de Deuscolocava os homens, naquela época, foicontaminada pela mão do homem eentão, junto com dádivas divinas comoas tábuas dos 10 mandamentos e belashistórias como as de José, que depoissalvaria os judeus dos 7 anos de vacasmagras, vemos também indignidadescomo o incesto, quando filhasembriagavam o pai para deleconceberem, sem uma única linha decensura ou crítica a tal atitude, vemostambém crueldades como a reco-mendação para que fossem assassinadosos varões que cortassem a barba.

É neste contexto que surge JesusCristo, com a mais humanista dasfilosofias e propõe uma nova religião,prometendo a ressurreição da carne e avida eterna, na qual seriam recom-pensados os humildes, os sensíveis, osamantes da humanidade, os piedosos, osjustos, enfim todas as pessoas de boavontade.

Há muito a arqueologia procuraindícios da existência de Jesus Cristo. Háum único documento romano escrito emargila, que é uma carta dos poderosos deJerusalém, que cobravam providênciascontra um profeta de nome Jesus, queandava pelas estradas da Galiléia,dizendo-se filho de Deus, curandoenfermos e ressuscitando mortos. Mesmoa existência de Pôncio Pilatos era postaem dúvida até há mais ou menos três

décadas, quando arqueólogos francesesencontraram, na região, uma pedra deinauguração de um templo que tinha onome do tirano enviado a Jerusalém poruma sociedade dominante e já decadente,afogada pela lascívia, luxúria e corrupção.

De seus seguidores, ignorantespescadores da Galiléia, há fartadocumentação, quando historiadores devários países descrevem estes ex-ignorantes pregando a boa-nova emvárias línguas. Vemos referências nahistória grega, egípcia, romana, etc.

No entanto, a maior prova daexistência de Jesus Cristo é que a coleçãode pensamentos revolucionários ehumanistas não pode ter surgido de umgrupo; filosoficamente, é claro queapenas um único cérebro poderia serresponsável por aquele tesouro, quelibertou a humanidade de religiões queadoravam bois, escaravelhos, belezasplásticas e que pregavam o ódio, o olhopor olho, dente por dente, a crueldade.

Claro que seu legado foi tambémdesvirtuado pela mão do homem e asreligiões que seguem seus ensinamentos,todas têm muita sujeira cometidas emSeu nome, varridas para debaixo dostapetes da história, mas sem dúvida, ahumanidade lucrou muito com seupensamento.

O ateíssimo pensador AugustoComte, no seu ensaio “A teoria dasfunções” a base do não menos ateu,positivismo, descreve a BondadeUniversal como sendo o impulso queestimula o homem para melhorar o meioonde vive para as próximas gerações, esem querer nada em troca. É apenas umadas funções altruísticas do cérebro queestavam embotadas nos homens antesd´Ele que em troca de sua bondaderecebeu apenas uma cruz.

Para mim que sou um seguidor,ele foi, é e será a própria bondadeuniversal feito carne, isto é, Deus.Embora muitos não acreditem, mastomam parte em sua mesa, pois podemcriticá-lo, injuriá-lo, ridicularizá-lo semrisco de morrer na mão de terroristasreligiosos.

Tenho certeza: o mundo seguirá tem-perado na piedade e solidariedade cristã emeu Mestre, a seus desafetos, continuaráeternamente oferecendo a outra face.

Do tempo se colhe o ontem,o hoje e o amanhã.O ontem é uma caixa fechada,cuja chave no tempo se perdeu.Nela os caminhos foram traçados,reflexos de ações, reações e soluções.Restando ao finalsimples lembranças de algo vivido,ou, o que é pior, deixado de viver.O hoje é o real.É o que efetivamente vivemos.Para alguns é tão efêmero,para outrosuma verdadeira eternidade,pode ser o início de tudo,o nascimento.Ou o final derradeiro, a morte.É o resultado dos atos do ontem,combinado com o querealizamos no agora.Serão usados no amanhã.O futuro é arrojado,dele tudo se espera,é nele que colocamosas mais altas expectativas.É nele que confiamos nossos sonhos,é para ele que rezamos todos os dias.É dele que esperamos a felicidade.Passado, presente, futuro.Três palavras simples,porém carregam,com a força do seu sentido,a essência da vida.

O TEMPO

Aida Lúcia P.Dal Sasso BegliominiEngenheiraSão Paulo

44444 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009 SUPLEMENTO LITERÁRIO

O CONTO

Dizem que quem contaum conto aumenta um ponto. Noconto que pretendo contar, esperonão aumentar nem um ponto.

Quando se comenta umconto, ponto por ponto, chega-se ao final do conto sem que seacrescente um ponto.

Flerts NebóMédico reumatologistaSão Paulo - SP

A alma humana cheia de mistérios,e plena de sonhos se embevece.Avança, ora recua e ora recusa.

No ciúme todo desejo até reluta,acende e rejeita a ação mundana.No amar toda a volúpia consentesensual no sexo, sonho se deleita.Desperta o desejo na alma retidoNo êxtase vive todo o ser criado.Delira crédulo no ato consumadoinebriado em precioso sexo findoque reflete no olhar calma afável.

Concebe no prazer, só cara afeição.Absorve a dócil e a pura sensação,

dissimula sua visível e terna reação.

Evanil Pires de CamposMédico infectologistaBotucatu - SP

MISTÉRIOSda alma

Na vida esboça sentir mui adorável.Procura ansioso uno e sincero ideal,desvenda no olhar sua lúcida visão,recria na reta e na pia imaginação,afugenta a tola e fútil alucinação.

Dissuade ferina e fecunda intenção.Persuade a pura e a clara carênciaao envolvê-la, só em criativa razão.Alma cordial repousa no conscientee relata à inquieta e à aflita mente

que o tortuoso trajeto da vida brevenela caminha no tempo iluminada.Mostrou que fértil quimera sonhadaserá, na vida, à vontade eternizada.

Esse é um ponto de vistaque se deve ter em conta, quandoalguém nos conta um conto.

Contar-se um conto, sobreuma porção de contas, é fazer-sede conta que se está simplesmentecontando o conto do... “faz-de-conta”.

Num canto de um pontoqualquer, alguém contou-me umconto e eu vou contá-lo agora paravocês, mas não sei se conto ou secanto.

Mas sei que se o cantar, nãoserá um conto, porém umacanção ou uma cantiga.

Também numa canção sepode contar um conto, que serálembrado, ponto por ponto ousem pontuação.

Como não pontuo meuscontos, muitos ficam “por conta”,com aquilo que conto porque nãoencontram um ponto de apoio noque conto ou um ponto final.

Afinal de contas, contarum conto, sem se lhe acrescentarum ponto, de pronto pode deixar

de ser um conto bem contado ouestar mal pontuado.

Contar um conto, sem lheacrescentar um ponto, dependedo ponto de vista do contador.

O bom contador decontos é aquele que sabe contar eaté mesmo recontar o mesmoconto, sem que ninguém sedesaponte, porque, se o conto nãotiver algo contável, será melhornão contá-lo, pois seria umdesaponto e aí todos dariam umdesconto, por ser ele um maucontador.

A verdade, porém,é quenão sou um contador de contos enão passo de um simples médico,que faz-de-conta que quer contarum conto, mas que tampoucosabe contar os contos de reis queperdi, quando me passaram o“conto do vigário”.

Vejam vocês que conteiuma porção de coisas, sem tercontado nada... é porque, nofundo, sou um mau contador decontos e ponto final. Pronto!

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009 55555SUPLEMENTO LITERÁRIO

DECADÊNCIAe humilhação

Geovah Paulo da Cruz

Médico OftalmologistaSão Paulo

Eu estava em Uberaba,Minas Gerais, a terra da pecuáriazebuína. A cidade é muito quente,o ar chega a tremer sobre oasfalto. A rua é larga, antiga, bairroapenas residencial. Às duas datarde não se vê ninguém tran-sitando. Parei o carro e minhamulher desceu para entrar na casada costureira. Em vez de esperarno alpendre, preferi ficar debaixode uma árvore frondosa, umgrande fícus benjamim, onde o arera mais fresco.

Ele chegou e também seabrigou. Puxou prosa.

– Hoje o ar “tá freveno”...Olhei o rosto dele, vi um

dente de ouro, achei-o meioconhecido. Dei corda na prosa,comentando o calor. Enquantoisto a lembrança me veioaflorando. Tenho boa memóriapara certas coisas. Acostumadocom a etiqueta de Minas e olinguajar mineirês, cautelosoindaguei:

– Se mal não pergunto, comoé o seu nome?

– Josias da Silva Moreira, seucriado. “Mais o pessoale” meconhece por Zia, Zia do Aristide.

Neste momento encontrei achave que abriu a caixa preta dasminhas lembranças de menino erapazinho. Só por segurançaperguntei se ele era de SantaJuliana, cidadezinha entreUberaba e Araxá, onde me criei.Ele confirmou. Dei-me aconhecer.

– Te conheço muito. Sou fi-lho do Pedrinho Dentista.

– Fíio Sô Pedrinho?!Dentista bão, ein sô? Esse dentede ôro aqui foi ele qui pôis. Quesatisfação de conhecê o sinhôr. Osinhor é Jorval ou o Lencastro?

– Sou o Geovah, o Alencar éo mais novo. Sabe por que eu melembro muito do senhor?Quando o senhor vinha tratar dedentes, me deixava dar umasvoltas no seu cavalo. A meninadamorria de inveja. O senhor eramoço e eu ainda menino. Nossadiferença deve ser de uns quinzeanos.

– Santa Virge, por onde andao Sinhor? Mudou e sumiu.Adonde que o sinhor mora?

– Moro em São Paulo.Feitos os necessários inter-

rogatórios e colhidas as apro-priadas informações, ficamosconversando, lembrando-nos dostempos antigos. Depois de umbom bate-papo, ele se despediu ese foi rua adiante.

Enquanto aguardava, reme-morei os tempos. Aquele homemtinha sido um dos heróis daminha meninice. Vinha de famíliade peões de comitiva, condutoresde gado. Seu pai, Aristides,sempre passava na rua de trás,conduzindo boiadas. Pruden-temente encarrapitado no nossomuro do fundo, eu olhava o gadopassar. O seu filho Zias era oponteiro, ia na frente, chamandoo gado, aboiando e tocandoberrante. Era um cavaleiro ágil,esguio, imponente. Tinha semprebelos animais, sela campeira deprimeira, peitoral de latão

dourado, pelego, capa gaúcha,trela de cabo de prata com cujatala produzia estalos como se fossechicote de domador. Como umcentauro, montado do amanhecerao escurecer, só apeava paraalguma conveniência. Agora eu oencontrara ali, a pé.

Aculturado com a vida rural,inferi que ele era mais uma dasvítimas da nossa índole pa-ternalista. O demagogo GetúlioVargas copiou a Carta Del Lavorode Mussolini, legislação própriapara a Europa que se in-dustrializava, e mais realista doque o rei, regulou o nosso campopelas incompatíveis leis detrabalho na indústria, que aliásainda nem tínhamos. Aquelehomem tinha sido expulso daroça na leva do êxodo rural.

Mesmo urbanizado ele conti-nuava vestido e ajaezado aindacomo um peão de boiadeiro,talvez a roupa que lhe restara.Usava um surrado chapéu de abalarga, camisa xadrez de mangacomprida, uma remendada calçafolgada própria para montaria,um cinto largo parecido comguaiaca para se colocar coldre derevólver, botas esfoladas edescoradas, um pé furado e ossaltos gastos.

Bronzeado, magro e rijo, masjá um tanto encurvado nos seus55 anos, como um patético DomQuixote vestido de vaqueiro,cavaleiro desmontado de tristefigura lutando pela sobrevivência,nada nele combinava com seunovo trabalho e com um olhartriste e desanimado empurravaum carrinho de picolé barato:água, açúcar e anilina. Em vez deberrante, tocava uma estridentebuzina a ar.

Comovido e condoído, deu-me um nó na garganta e tivevontade de chorar pelo meuherói derrotado.

Karin Schmidt Rodrigues MassaroMédica hematologistaSão Paulo

66666 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009 SUPLEMENTO LITERÁRIO

O MILAGREbrasileiroRodolpho CivileMédicoSão José dos Campos - SP

Efeitos de VINHO

Um fato relevante na vidados brasileiros foi a vinda do PapaBento XVI do Vaticano para ascerimônias da canonização de FreiGalvão, o primeiro santo nacional.Milhares de pessoas compareceram aosagrado evento numa demonstraçãode profunda religiosidade. Muitaslágrimas de emoção, de gratidão, dereconhecimento, de fé, de esperança,advindos dos milagres que o humildefrade distribuiu à comunidade dospobres e necessitados no corpo e noespírito.

Mas... Há sempre um mas navida dos mortais... O dia-a-dia daspessoas no trabalho, no estudo, nasnecessidades mais prementes de ser,de existir. Viver não é fácil. Aconstante procura da felicidade...

Pura ilusão. Uma quimera. Pela suaprópria natureza, como argumentavao famoso criminalista, anatomista emédico italiano, Lombroso, certosindivíduos já nascem determinados aomal. Assim, o forte domina o fraco, orico pisa no pobre, o esperto rouba oinocente, o inteligente usa o ignorante.Admiráveis são aquelas pessoas quefogem desta triste “normalidade” e sededicam de corpo e alma a ajudar oseu próximo num altruísmomaravilhoso de amor e caridade. A elas,a redenção da humanidade. São ossantos, também chamados milagreiros.

Não são muitos. Entretanto,existem em profusão no Brasil. Sãoaqueles que vivem, ou melhor,sobrevivem do salário mínimo e daaposentadoria e sustentam os seusfamiliares. Verdadeiro milagre. Oaposentado que trabalhou e contribuiuanos a fio e agora recebe uma esmolachamada de “benefício” e não um“direito”, atualmente é muitoprocurado e convidado a ter um“crédito consignado”, uma armadilhaem que ingenuamente cai. Recebe umaquantia que depois não saberá repor.O resultado: de pobre, vira miserável.Enquanto isso, os nababos da sociedadebrasileira se enriquecem de umamaneira escandalosa à custa do suor esangue do povo. E a justiça? Ninguémsabe onde ela anda... Talvez esteja nasabedoria do canto de lamentação dosantigos egípcios no livro dos mortos:“que restou de suas poderosas mansões

e palácios? Abateram-se suas fortesmuralhas e ruíram as casas no pó.Olhe, ninguém levou consigo suascoisas. Olhe, ninguém que foi até hojevoltou.”

Tudo faz crer que são osvelhinhos os responsáveis pelasituação calamitosa do País! Teimamem viver muito, comer e beber o quehá de melhor, ter casa própria e outrosbens materiais, como plano de saúde,que foi criado para as pessoassaudáveis e não para os doentes...Enfim, é difícil de aceitar, mas osvelhinhos são uns egoístas! Só pensamneles! Neles! A solução: dar cicuta aeles, como foi feito com Sócrates. Umavez fora do ambiente terrestre,morando no inferno, os velhinhosnão seriam mais um rombo no INSS eatraso de vida e o País teria um surtode desenvolvimento e progresso...Todos felizes!

“Mondo cane”. Poucos (osmais espertos) têm muito e muitos (osingênuos) não têm nada. Até quando?Até quando, meu Deus? Que desçalogo a Vossa Justiça sobre os maispobres e miseráveis, aqueles que nãotêm o que comer e dormem ao relentoe pedem a Vossa Misericórdia!

Conclusão: é de bom alvitreconvidar de novo o Papa Bento XVI,com urgência, que retorne ao Brasilpara consagrar os milhares e milharesde brasileiros que vivem do saláriomínimo e da aposentadoria. Sãoverdadeiros santos!

Uma taça púrpura que seduz.Sinto as pulsações rítmicasdos micro-vasosdas minhas extremidades.Meus lábios pulsam.Meus lábios intumescem.Eu me sinto sensual.O rosto ganha um blushque normalmente nunca uso,pois sou gótica e pálida.A mente ganha um efeito entorpecido,que cintila cada vez que me chama.

O vazio é preenchido!Estou trôpega, desculpe.Meus lábios pulsam, intumescem,qual um fruto.Quero verter esse sumoem sinal de adoração.Eu o adoro.Leve-me a algum lugar sem teto.Leve-me enquanto pulso,ou o quanto possa.Posso acordar sóbriaa qualquer instante.Pálida e exangue.

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009 77777

FEVEREIRO DE 2009 - Reuniãode diretoria no dia 5; 223ª PizzaLiterária no dia 19.

ABRIL DE 2009 - Reunião dediretoria no dia 2; 225ª. PizzaLiterária no dia 16.

ANOTE E NÃO PERCAPague ainda hoje sua ANUIDADE

Os associados da Sobrames-SP jápodem pagar a anuidade de 2009. Nareunião de diretoria de 8 de janeiro, ovalor foi definido em R$ 180,00 (centoe oitenta reais). Os associados quepagarem até o dia 30.03.2009 terãodesconto e pagarão R$ 150,00 (centoe cinquenta reais).

Para quitar a anuidade 2009, osassociados devem enviar um chequenominal a SOBRAMES-SP para o ende-

São Paulo sediará JORNADA em 2009São Paulo, a maior cidade do

Brasil, será a sede da X JornadaMédico Literária Paulista e da VJornada da Sobrames Nacional, de 17a 19 de setembro de 2009. Os eventostiveram a data antecipada em umasemana em relação ao que já foraanteriormente divulgado, parapossibilitar a inclusão de mais umaedição da Sobramíada, tradicionalcertame literário cearense.

A comissão organizadora presididapelo Dr. Manlio Napoli está finalizandoas providências para a escolha do hotelque hospedará os participantes. Aprogramação, que inclui sessões deapresentação de temas livres,concursos de prosa e poesia, além de

reço da tesouraria: Av. Prof. SyllaMattos, 652 - ap.12 - Jardim Santa Cruz- São Paulo - CEP 04182-010.

Salientamos que são isentos daanuidade os associados que possuemos títulos de emérito, benemérito ouhonorário. Já os acadêmicos deMedicina pagam o equivalente a 50%do valor estabelecido.

A anuidade recebida de seusassociados tem sido a única fonte dereceitas da Sobrames, sendo deextrema importância o seu pagamento.Lembramos que somente sócios em diacom a tesouraria poderão publicar seustextos literários neste jornal ou emoutras publicações da entidade. Ainadimplência também impede oassociado de participar de algumas dasatividades promovidas pela Sobrames.

Nessa hora importante não deixe de consultara RUMO EDITORIAL. Publicaçõescom qualidade impecável, dedicação, cuidadoartesanal e preço justo.

Terminou seu livro? Então publique!

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(11) 9182-4815

THEREZA Freire:prêmios e livros

Com a publi-cação do romance“O menino semnome”, no final de2008, a médicageriatra TherezaFreire Vieira atin-giu a invejávelmarca de 55 títu-

los publicados ao longo de sua carreiraliterária, divididos entre poesias,infanto-juvenis e romances.

Além de ser membro titular daSobrames-SP e da Abrames - AcademiaBrasileira de Médicos Escritores,Thereza também participa de váriasacademias de letras em todo o País ede inúmeras entidades culturais eliterárias, mantendo-se em constanteatividade em todos.

Sua profícua produção literáriatem sido reconhecida e premiada emvárias oportunidades. Seu livro “FolhasMortas” recebeu medalha de ouro daAcademia Brasileira de Estudos ePesquisas Literárias, de Brasília-DF.

Outro prêmio recente foi obtidona cidade de Lorena-SP, pela pesquisarealizada em seu documentáriohistórico “Vila Nossa Senhora dasGraças”, livro publicado em 2007.

MANLIO Napoli é membro emérito

Ladeado pelos também ortopedistasRoberto Antonio Aniche e Walter

Whitton Harris, o professor ManlioNapoli discursa e exibe seu diploma de

Membro Emérito da regionalpaulista da Sociedade Brasileira de

Médicos Escritores

No último dia 15 de janeiro,durante a 222ª. Pizza Literária, oprofessor doutor Manlio Mario MarcoNapoli recebeu o diploma de MembroEmérito da SOBRAMES-SP. O título foraconcedido pela diretoria em agosto de2008. Por diversos impedimentos, o Dr.Manlio não pode comparecer antespara receber seu diploma. “É uma dívidade gratidão que a Sobrames-SP reco-nhece tardiamente, mas com muitahonra e satisfação”, ressaltou opresidente da regional SP, HelioBegliomini, destacando alguns pontosda brilhante carreira profissonal deNapoli, além de sua atuação nacomissão organizadora do XVIICongresso Nacional realizado em SãoPaulo em 1998, juntamente com WalterWhitton Harris e Flerts Nebó.

variado roteiro gastronômico ecultural, será divulgado em detalhes apartir da edição de março deste jornal,que passará a ter encarte especial dequatro páginas dedicadas exclusi-vamente ao evento.

As inscrições terão início tambéma partir de março e poderão ser pagasem até 5 parcelas. Prepare-se!

(Continuação da primeira página)

88888 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2009

IDIOMA PORTUGUÊS: AcordoOrtográfico e seus literatos

1. O alfabeto passará a possuir 26letras, sendo incorporadas as letras “k”, “w”e “y”.

2. Não haverá mais o trema. Assim,dentre os vários exemplos têm-se:“tranqüilo” será redigido como “tranquilo”;“conseqüência”, como “consequência”;“freqüência”, como “frequência”; “seqüên-cia”, como “sequência”; “qüinqüênio”, como“quinquênio”; “lingüiça”, como “linguiça”;“seqüestro”, como “sequestro”, etc. Contudo,permanecerá em nomes próprios e suasderivações: Müller, mülleriano.

3. Será suprimido o acento diferencialnas seguintes condições:

A. Palavras paroxítonas como do“pára” (verbo) e “para” (preposição).Entretanto, o verbo “pôr” continuará areceber acento, pois é vocábulo oxítono.

B. “péla” (flexão do verbo “pelar”) e“pela” (combinação da preposição com oartigo).

C. “pélo” (flexão do verbo “pelar”),pêlo (substantivo) e pelo (combinação dapreposição com o artigo).

D. “pólo” (substantivo) de “polo”(combinação antiga e popular de “por” e“lo”).

E. “pêra” (substantivo – fruta), “péra”(substantivo arcaico – pedra) e pera(preposição arcaica).

4. Perderão o acento circunflexo:A. Os verbos “crer”, “dar”, “ver” e

“ler” e seus decorrentes quando conjugadosna terceira pessoa do plural do presente doindicativo ou do subjuntivo. Assim, “crêem”passará a ser redigido como “creem”;“dêem” como “deem”; “vêem” como “veem”e “lêem” como “leem”.

B. As palavras paroxítonas terminadasem “o” duplo, tais como “abençôo”(abençoo); “vôo” (voo), “enjôo” (enjoo), etc.

C. Os verbos “ter” e “vir” continuarãocom acento circunflexo na 3a pessoa dopresente do indicativo: “eles têm” e “elesvêm”.

5. O acento agudo será eliminado nasseguintes circunstâncias:

A. Nos ditongos orais abertos “ei” e“oi” de palavras paroxítonas, como “idéia”(ideia); “assembléia” (assembleia); “jibóia”(jiboia) e “heróica” (heroica).

B. Nas formas paroxítonas com “i” e“u” tônicos, quando precedidos de ditongo,como “feiúra” (feiura) e “baiúca” (baiuca).

C. Nas formas verbais que têm oacento tônico na raiz, com “u” tônicoprecedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou“i”. Exemplos: averiguar – “averigúe” será“averigue”; apaziguar – “apazigúe” será“apazigue”; arg(ü/u)ir – “argúem” será“arguem”.

6. Surgem casos de dupla grafia quese diferenciarão pelo acento agudo na 1a

pessoa do plural do pretérito perfeito dosverbos da primeira conjugação, como“louvámos”, “levámos”, “cantámos” e“amámos”, respectivamente de “louvamos”,“levamos”, “cantamos” e “amamos” dopresente do indicativo.

7. Com relação ao hífen, não se usarámais quando a última letra do prefixo fordiferente da primeira letra da palavraprincipal, ou quando esta começar por vogal.Exemplos: “autoestrada”, “infraestrutura”,“autoajuda”, “extraescrutínio”, “extraes-colar”.

A. Se o segundo elemento começar com“s” ou “r”, duplicar-se-ão essas consoantes.Exemplos: “antirreligioso”, “antissemita”,“ a n t i r r u g a s ” , “ a u t o r r e t r a t o ”“ultrassonografia”, “suprassumo”, “contrar-regra”, “infrassom”, “ultrarrevolucionário”,“suprarrenal”. Exceção será quando osprefixos terminarem com “r” e os vocábulosque começarem com “r”, como em “hiper-requintado”, “inter-resistente”, “super-revista”, “super-revolucionário”.

B. Manter-se-á o hífen quando apalavra começar por “h”: “supra-humano”,“anti-horário”, “ultra-higiênico”, “supra-hepático”, “super-herói”, “multi-hélice”“micro-habitat”.

C. Passa-se a usar hífen quando a últimaletra do prefixo for igual a da palavraprincipal: “micro-ônibus”, “micro-organismo”, “anti-inflamatório”, “contra-ataque”, “arqui-inimigo”.

8. Desaparecerão do portuguêslusitano o “c” e o “p” de palavras em queessas letras não são pronunciadas como “acto”– ato; “acção” – ação; “director” – diretor;“adopção” – adoção; “óptimo” – ótimo e“Egipto” – Egito. Da mesma forma, seráeliminado o “h” de palavras como “herva”,“húmido”, que serão grafadas como noBrasil: “erva” e “úmido”.

Apesar do acordo, ainda continuarãoexistindo algumas diferenças gráficas entreos dois países. Em Portugal, manter-se-áescrevendo “António” e “género” com acentoagudo, enquanto que, no Brasil, manter-se-áo acento circunflexo. Por outro lado, serámantido o “c” em “facto”, visto que, “fato”,em Portugal, significa “roupa”. Da mesmaforma, os portugueses retirarão o “p” dovocábulo “recepção”, uma vez que não opronunciam.

Deve-se frisar que as mudançaspropostas são exclusivamente concernentesà ortografia e não à fonética. Em outraspalavras, as pronúncias dos vocábulos deverãopermanecer incólumes.

Apesar de a unificação ortográfica doidioma português implicar em maiortrabalho e tempo de adaptação pelos seusfalantes, não restam dúvidas de quecontribuirá muitíssimo para manter seudestaque dentre as línguas latinas, poucoaquém do idioma espanhol, além depropiciar uma maior circulação de obrasentre os países lusófonos, favorecendo maioraproximação e intercâmbio cultural.

Ademais, a tendência atual no mundoé a concentração de grandes blocos falantesde uma mesma língua. Ainda que o portuguêsnão corra o risco de extinção, ainternacionalização de uma única grafia naera da globalização será um de seus alicerces,pois tornará mais fácil o seu aprendizado porum estrangeiro. Isso predisporá maiorvalorização e maior expansão de nosso

vernáculo, advindo daí, igualmente, maiordivulgação da cultura dos povos que outilizam.

A ortografia unificada não implica emuniformizar a sintaxe. Essa, aliada à arte decada escritor, é que darão riqueza e coloridoespecial através de iguarias literáriaspertinentes nos diversos países lusófonos oumesmo nos regionalismos existentes nocontinente Brasil. Assim, sempre haverádistintas identidades na arte de escrever deum mesmo idioma. São exemplos: AntónioEmílio Leite Couto ou Mia Couto (1955-),em Moçambique; José Saramago (1922-), emPortugal; Artur Carlos Maurício Pestana dosSantos (1941-) de Angola; Abdulai Silla (1958-) de Guiné-Bissau; Ivone Ramos (1926-) deCabo Verde; Malé Madeçu de São Tomé ePríncipe; Fernando Sylvan (1917-1993) doTimor Leste; e, no Brasil, Machado de Assis(1839-1908), carioca; Castro Alves (1847-1871), baiano; Olavo Brás Martins dosGuimarães Bilac (1865-1918), carioca; Joséde Alencar (1829-1877), cearense; JorgeAmado (1912-2001), baiano; ManoelAntonio de Almeida (1831-1961), carioca;João Guimarães Rosa (1908-1967), mineiro;Euclides da Cunha (1866-1909), carioca;Carlos Drummond de Andrade (1902-1987),mineiro, mas radicado no Rio de Janeiro;Márcio Souza (1946-), amazonense; Jorge deLima (1893-1953), alagoano; José MartinsFontes (1884-1937), paulista; Pedro da SilvaNava (1903-1984), mineiro, mas radicadono Rio de Janeiro; Mário Quintana (1906-1994), gaúcho; Paulo Setúbal de Oliveira,(1893-1937), paulista; Ana Lins doGuimarães Peixoto Bretãs ou Cora Coralina(1889-1995), goiana; Joaquim AurélioBarreto Nabuco de Araújo (1849-1910),pernambucano; José Pereira da GraçaAranha (1868-1931), maranhense; FranciscoMiguel de Moura (1933-), piauiense; EuricoBranco Ribeiro (1902-1978), paranaense,mas radicado em São Paulo; João Cabral deMelo Neto (1920-1999), pernambucano;Mario Aristides Freire (1849-1922), espírito-santense; Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), rio-grandense-do-norte; AntônioCarlos Viana (1946-), sergipano; MárioFaustino (1930-1962), piauiense; RaquelNaveira (1957-), mato-grossense-do-sul;Ariano Villar Suassuna (1927-), paraibano;João da Cruz e Sousa (1861-1898),catarinense, dentre inúmeros outros.

Não restam dúvidas de que o AcordoOrtográfico da Língua Portuguesa évantajoso do ponto de vista político, cultural,didático-pedagógico, além de ser um meiopara elevar a auto-estima de todos os co-irmãos dos países lusófonos. Compete aosprofessores, educadores, instituições deensino, associações culturais, meios decomunicação, entidades literárias dentreoutras, a responsabilidade de implementaras normas do Acordo Ortográfico da LínguaPortuguesa sancionadas pela CPLP,defendendo nosso idioma e nossa soberania.Estejamos certos e conscientes de que aSociedade Brasileira de Médicos Escritores eseus membros têm um papel relevante eimprescindível nesse contexto.