O Bandeirante - n.220 - Março de 2011

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Viver é Cheio de Surpresas!

Ano XIX - no 220 - mArço de 2011Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O BandeiranteJornal

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica PediatraPresidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012

A infância é uma fase feliz, é o que todos dizem. Sim, mas feliz para quem? Não há responsabili-dade e nem preocupações, é ver-dade. Uma frustraçãozinha aqui e acolá que passa num instante, fei-to um dodói que recebe beijinho.

Período longo na cronologia, rápido nas descobertas. Com o tempo comprimido e sem espa-ço para viver, a criança abandona seus castelos de fantasia para ini-ciar uma rotina incompatível com sua imaturidade. Já não brinca, não cria, não inventa. Como sen-tir felicidade?

Quando chega à adolescência, o corpo muda e com ele mudam também os conceitos e as priori-dades. A urgência é a mola mes-tra de cada dia e as noites são um intervalo indesejado ante tudo o que se pretende viver; o costume de estar longe do lar desde cedo enche de autoridade jovens tira-nos que agora não toleram frus-tração, investidos de uma certeza que lhes confere o direito de ser antes de compreender.

E, de repente, é como se pes-soas com poucas afinidades pas-sassem a habitar o endereço que de hora para outra não é mais reconhecido como o lar acolhe-

dor, anterior sustentáculo de seus membros. O enfado e a intole-rância rugem de todos os lados, tornando sala e cozinha ringues de vale-tudo, arenas de dramas e comédias da vida privada. A casa parece já não ser um bom lugar...

A criança, que experimentava a realidade do adulto com imagi-nação e criava outros cenários, ao crescer cede lugar a um devaneio juvenil arrogante e fantasioso, intolerante com o viver ranzinza dos mais velhos. Estes, por sua vez, invejando os dias de outro-ra, quando podiam usufruir com descompromisso do confortável refúgio, tornam-se menos tole-rantes com os mais jovens; para-doxalmente, ainda mais permis-sivos. Abandonam seus filhos ale-gando não ter tempo, paciência ou conhecimento para o necessá-rio cuidado. Elegem a si mesmos em egoísta individualidade.

Educar requer disponibilida-de de tempo e vontade, é repeti-ção cansativa, mas fundamental. Se assim não for, à criança restará viver institucionalizada desde a mais tenra idade em creches, es-colas de período integral, cursos vários em seu tempo livre, alijada da convivência afetiva que prepa-

ra para a vida. Se der sorte, pas-sará ao largo do CAPS infantil e da Fundação Casa.

Birras, choros, críticas que desafiam e tentam burlar as leis sempre fizeram parte da trans-gressão infantil e adolescente, que inicialmente contesta para testar. No entanto, há necessi-dade da autoridade que ensina, esclarece e orienta, mesmo que o coração fique oprimido. É a poda que vai reflorir o canteiro.

Dentre as experiências neces-sárias ao crescimento saudável e à boa saúde psíquica, a convivência com a família e o brincar são par-te delas. A capacidade criativa, carregada de energia libidinal, não eclodiria de forma contumaz nos atos de violência que aterro-rizam nossa sociedade se os pais reassumissem seu inalienável papel: exercer autoridade com amor, mantendo-se vigilantes ao crescimento de seus filhos.

E as consultas médico-peda-gógicas desta pediatra não ter-minariam em desalento e estu-pefação ao ouvir de uma jovem mãe (depois de um quarto de hora sob orientações) o seguinte: “a senhora não quer, então, criar o meu filho?”

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2 O BANDEIRANTE - Março de 2011

EXPEDIENTE

CUPOM DE ASSINATURAS*

*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO “O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP

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Nasceu Maria quando a foliaperdia a noite, ganhava o dia...

Preocupados com tanta calamidade pública com as enchentes e desmoronamentos, vendo Teresópolis e outras cidades se desmontarem transformando casas, ruas, pontes em entulhos e pessoas desaparecidas em simplesmente números, nem notamos que o Carnaval estava chegando.

E invadiu as avenidas, sambódromos, clubes e pra-ças. Os repórteres trabalharam numa cobertura sem par das principais capitais brasileiras; o consumo de cerveja disparou, oficinas de costura de fantasia fize-

ram milhares de horas extras. Os hotéis ficaram lotados, tudo em nome de uma festa que vem se modificando ao longo dos séculos, tornando-se cada vez mais como evento consumista que, como um trator, passa por cima das diferenças sociais, religiosas, políticas... até chegar a tão enfadonha quarta-feira de cinzas.

Morreu Maria quando a foliana quarta-feira também morria...

Voltamos a procurar embaixo de barro e escombros aqueles números de desaparecidos, que uma vez encontrados, alimentam a estatística dos que perderam suas vidas por causa de uma catástrofe. Nossos irmãos, cidadãos brasileiros optaram por morar em áreas de risco e pagaram caro por este deslize. Áreas de risco com escritura registrada em cartório, contribuintes do imposto predial e territorial, plantas da casa devidamente aprovadas e com “habite-se” da prefeitura, água, esgoto, luz, telefone, internet, tudo instalado e legalizado.

Parece que há inúmeras maneiras de enganar as pessoas e delas se retirar o tempo, o dinheiro, a dignidade, mesmo que isso custe a vida de algumas delas.

Jornal O Bandeirante ANO XIX - no 220 - Março 2011

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: Alitta Guimarães Costa Reis, Evanir da Silva Carvalho, Ligia Terezinha Pezzuto, Roberto Aniche, Sônia Regina Andruskevicius de Castro, Walter Whitton Harris.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Roberto Antonio Aniche

Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. GalvãoRevisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011

Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

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O BANDEIRANTE - Março de 2011 3 SUPLEmENTo LITErÁrIo

O Malho

Notícias

Em fevereiro, que pouca!Pouca gente, poucos trabalhos (belos, é verdade, mas poucos). Parecia a Pizza de uma destas cidades pequenas.Pizza sempre de muito valor literário, mas pequenininha...

Nossa regional irmã de Minas Gerais (SOBRAMES-MG) realizará, com o costumeiro sucesso, a V Jornada Guima-rães Rosa nos dias 19 e 20 de agosto próximo, na Faculdade de Medicina da UFMG, em comemoração ao centenário desta importante e renomada academia de formação médica. Os detalhes estão no edital que pode ser acessado no site www.sobramesmg.org.br

A Pizza Literária do mês de março recebeu, com muita alegria, a visita de nosso confrade das Alterosas, José Carlos Serufo. Sua presença discreta, humilde e agregadora tornou nossa reunião festiva ainda mais distinta e de alto nível lite-rário. Agradecemos a participação deste paulista de coração mineiro, que também é um mineiro de certidão paulista.

Na última Pizza sentimos falta do nosso querido José Rodrigues Louzã, que estava em tratamento domiciliar naquela noite. Desejamos vê-lo forte e restabelecido no encontro de abril.

Saudade também é notícia e uma ausência muito sentida é a que tem nos provocado o Dr. Flerts Nebó, um dos ícones de nossa regional. Estamos todos torcendo por sua melhora, contando com seu breve retorno às nossas reu-niões festivas.

E nossos queridos e queridas que há muito tempo não tem frequentado nossos encontros? Que saudade de seus talentos adornando nossos sonhos, seus amáveis rostos iluminando nosso convívio! Continuamos aguardando esses bandeirantes que tanto ajudaram a SOBRAMES-SP a desbravar os nobres caminhos desta vereda literária.

José Carlos Serufo

Prêmio Bernardo de Oliveira Martins, medalha de 1º lugar para a confreira Márcia Etelli Coelho (dir.)

No dia 26 de março, a Dra. Márcia Etelli Coelho participou do “Sarau dos Poetas da Casa” no Espaço Cultural Haroldo de Campos (Casa das Rosas) com a leitura de sua poesia “São Tantos Franciscos” . É costume do sarau, cada participante ler um texto de algum poeta contemporâneo. E a Dra. Márcia escolheu a poesia “Noite Fria” de autoria da presidente da Sobrames São Paulo, Josyanne Rita de Arruda Franco. Em ambas as declamações, foi muito aplau-dida. A Casa das Rosas localiza-se na Avenida Paulista, 37 e oferece oficinas literárias, encontros temáticos e saraus poéticos mensais. Bem merece uma visita.

Nosso confrade Arary da Cruz Tiriba irá ocupar o cargo de Diretor Cultural na Academia de Medicina de São Paulo, biênio 2011-2012.

Ao nobre e prestigiado confrade, nossa admiração e aplausos. Parabéns, Dr. Tiriba, por mais esta conquista!

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4 O BANDEIRANTE - Março de 2011 SUPLEmENTo LITErÁrIo

Perfil 2011 Sobrames-SP

Destaque do Mês

Março: Nesta Data Querida, Nossos Parabéns!

Itu nos Espera de Braços Abertos!

Geovah Paulo da Cruz

Atuação: Médico oftalmologistaCidade de nascimento: Patrocínio - MGComida preferida: Gourmet e CozinheiroEsporte (que pratica ou gosta): Assistir futebolLivro de cabeceira atual: Bíblia (para criticar)Filme: os de CarlitosFim de semana (o que prefere fazer): CaminharViagem inesquecível: Sempre que volto aos locais de minha infânciaSonho: Viver bem e muitoIntolerância: Já tive muitas intolerânciasCaracterísticas pessoais: Atualmente velho rebelde Projeto futuro: Escrever novos livrosFilosofia de vida: Não sofrer dor física, moral, emocional. Compartilhar bom humor.

Para a nossa querida Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini, que sempre conduz os pedidos das deliciosas pizzas com atenção, gentileza, cuidado e muita destreza.

Muitíssimo obrigado!

Helio Begliomini 21/03Maria da Glória Moreira Civile: 21/03

Nossa Jornada XI Médico-Literária Paulista terá lugar em Itu. A cidade berço de nossa república acolherá em seu seio nossa SOBRAMES-SP, como um dia acolheu os bandei-

rantes. Estamos organizando uma jornada inesquecível em hotel aconchegante, planejando um roteiro cultural memorável,

sem esquecer da selecionada gastronomia que congregará todos à mesma mesa com histórias, causos e canções.Na edição de abril de “O Bandeirante”, todas as informações, fichas de inscrição e formas de pagamento estarão

inseridas.Programem-se para momentos de alegria, deleite, história e grandes emoções neste congraçamento literário e de

amizade.Participem conosco!

Telefone que fica na praça central de Itu, onde tudo é grande! Na foto está a tia de nossa presidente Josyanne, Ana Lúcia, que foi também à visita dos hotéis

Interior da Igreja de Nossa Senhora da Candelária

O BLOG da SOBRAMES-SP está em plena atividade graças ao incansável apoio de nosso confrade Marcos Salun. Vi-sitem e aproveitem mais este espaço de divulgação e interatividade no endereço http://sobramespaulista.blogspot.com

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O BANDEIRANTE - Março de 2011 5 SUPLEmENTo LITErÁrIo

MistérioAlitta Guimarães Costa Reis

Uma jovem senhora contou-me que sempre teve horror a ratos. E como moram a meio caminho da zona rural, próximo a um brejinho, ratos é que não faltam. A situação complicou-se há semanas com uma das piores enchentes que a região já sofreu. Ela verificou, com horror crescente, que ratos podem nadar. Em sua casa, na porta de seu quarto, colocou papelões dobrados para impedir que passassem por debaixo da porta. O problema é que o estrata-gema não foi suficiente.

Uma noite ela encontrou um rato dormindo placidamente no cobertor, fez um escândalo, deu toda a roupa de cama para outra senhora, que filosoficamente comentou que não se importava tanto assim com ratos, “fazer o quê?”.

Ela comprou tudo novo, lençóis, fronhas, travesseiros, cobertor, camisola, reforçou os papelões na soleira da porta. Teve paz por uns tempos, até que acordou de noite com um rato passeando no seu braço. Acordou todo mundo com o barulho. O irmão descobriu que o intruso estava morando no sofá da sala, pelos excrementos, e o perseguiu por toda a casa madrugada adentro, sem sucesso. Ela não conseguiu dormir, atenta a qualquer barulhinho.

Quando o dia clareou, veio a surpresa: o rato havia corrido para o quarto do pai dela, gerando mais um mistério: se o bicho sabia nadar, como é que ele se afogou no conteúdo do penico? As explicações para o fato (rato exausto, urina venenosa, remédios que o pai tomava) fizeram a família transformá-lo numa lenda semiurbana, e dar boas risadas!

Qual é a Minha Parte?

Ligia Terezinha Pezzuto

O mar se enfureceucom suas ondas a invadira costa de países,levando vidas e bens.

Sonhos varridose esforços vãosdeixam marcas doídas na alma de irmãos.

Antes em equilíbrio,a natureza hoje geme.Diante dos desafios,o semelhante a teme.

Catástrofes muitasa povoar os jornais.São novas histórias,cada vez mais e mais.

Não seria o momentode ter mais respeitopela casa onde vivemose pensar no que fazemos?

Um simples fechara torneira, ao nos lavar,serviria pra mostrarque não precisamos esbanjar.

Separar materiaisde diferentes naturezasajudaria na proezade nosso solo poupar.

O óleo de cozinhausado nas frituras.Há mercados que orecolhem, isso é seguro.

As famosas sacolinhaspodem ser substituídaspela caixa de papelãoou ecológico bornal.

Pilhas e baterias,embalagens vazias.Empresas fabricantesjá as estão aproveitando.

E assim fica um lembreteque mais parece um alerta.Se não fizermos nossa parte,breve, breve será tarde.

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Como é Belo Viver!

Evanir da Silva Carvalho

Quando eu for emboraApenas feche as portas, e não fale a ninguémSerá que alguém chora, ou só diga amém?Sairei pelas portas dos fundos, Pois sei que pertenço ao submundoE a mais ninguém!Comigo se apagarão histórias fantásticasTristezas vividas e alegrias contidasAmores secretos e promessas não cumpridasAcima de tudo meus passos...Descompassos de todas minhas vidasMas jamais esquecerei o êxtase de sonharE acordar, no melhor lugar do mundo, seus braços...Como foi maravilhoso viver!

Sophia

Sônia Regina Andruskevicius de Castro

ChoramosDe contentesComo choramTodos os avósQuando a notícia chegou.EsperamosPacientesComo esperam Todos os avósQue o sonho encantou.Até que um diaUm santo de barba brancaDesses que andam pelo céuDe bengalaE que dão asasÀs criancinhasEm noite de galaA porta destrancaE diz: vai Sophia.

Quem é, Quem é? *Seu ar fechado, circunspecto

De quem pensa e analisa

Faz falta nestes encontros

Festivos de nossas Pizzas

Ele é ortopedista

Um médico veterano,

Um ícone valoroso

Cujo primeiro nome é _ _ _ _ _ _!

*Resposta na edição de abril.

?

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O BANDEIRANTE - Março de 2011 7 SUPLEmENTo LITErÁrIo

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A Metamorfose do Abacaxi

Walter Whitton Harris

Essa fruta tropical (Ananas comosus) é apreciada por quase todos. Diríamos à exceção daqueles que não toleram sua acidez. Existem também espécies ornamentais, não comestíveis, entre as quais se destaca o abacaxi-vermelho (Ananas bracteatus). Descascar um abacaxi é, por vezes, de execução penosa, devido à sua casca espinhenta. Daí o termo “descascar o abacaxi”, significando resolver um problema difícil ou desagradável.

Lembro-me bem que, na época do curso secundário, foi construída uma piscina em nosso colégio estadual. Desde a inauguração, não pôde ser utiliza-da, porque vazava. Era criticada por todos. O engenheiro responsável esteve lá diversas vezes, prometendo consertá-la, e nós, moleques, íamos atrás dele, atormentando-o com um “Veja só quem é que está chegando...”, pois achá-vamos inconcebível que não se conseguisse reparar os defeitos daquela obra. De nada adiantou. O resultado foi que permaneceu vazia durante meus sete anos de ginásio e científico. Apenas uma vez o diretor do colégio pagou — do próprio bolso — caminhões-pipa para encher a piscina, e passamos agradá-veis dias quentes de verão nadando. Com o tempo, a piscina se esvaziou. O abacaxi era tão grande que a forma que se encontrou para descascá-lo foi a de aterrar aquela estrutura incômoda, erguendo-se, em seu lugar, uma quadra poliesportiva coberta que existe lá até hoje.

O abacaxi tornou-se, portanto, em nosso vernáculo, símbolo das dificul-dades. Quantas vezes não recorremos a essa expressão, quando nos referimos a um caso complicado em nossa profissão médica? Certa ocasião, com outros colegas da minha área de atuação, discutíamos um grande abacaxi (uma lesão extensa no calcanhar, após uma fratura exposta do calcâneo, e que deixara todo o osso descoberto e que, apesar de várias cirurgias plásticas, não se con-seguia cobrir). Pois bem, não é que, no meio daquela conversa séria, chega um amigo não médico e, ouvindo-nos falar do abacaxi que tentávamos descascar, lembrara da deliciosa fruta que tinha saboreado no dia anterior, que passou a nos descrever. O papo mudou de rumo para plantações de abacaxis, sua origem, seus cuidados e nome científico — que eu não sabia na época — e não falamos mais no problema abacaxizesco do paciente.

Há quem considerou liderar a SOBRAMES-SP um enorme abacaxi, pois, ao transmitir o cargo para o novo presidente, deu-lhe um abacaxi de verda-de como presente! Não que me tenha sentido ofendido, mas acho que levar adiante nossa sociedade não era tarefa tão árdua assim e consegui gerir o cargo sem maiores problemas.

Prometi para mim mesmo que, finda minha gestão, procuraria um símbolo melhor para representar a transmissão do cargo. Aproveitando o ditado de “se passar o bastão para diante”, idealizei um bastão de embuia, torneada e polida que é entregue para o próximo Presidente, na cerimônia de transmissão do cargo. Esse bastão permanece com o novo presidente durante toda a sua gestão, como uma lembrança e lembrete de que tem um cargo carregado de dignidade, esperança e boa-fé.

Como seria bom se todo abacaxi assim pudesse transformar-se em sólida madeira de lei.

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Último

Roberto Aniche

Último,

sou o último da minha espécie. Em extinção, tenho por sol apenas uma luz que me olha deitado, por céu tenho paredes brancas. A liber-dade me vem por uma janela que por todos os modos tenta me con-vencer a levantar e a sair por ela.

Não há mais ninguém à minha volta, todos já se foram há muito tempo sem deixar vestígios de suas presenças. Ser o último me dá o pri-vilégio de não sentir ausências. Não há recados a deixar para ninguém; cartas de amor e saudades não têm sentido para os ausentes.

Há muitas coisas desapegadas espalhadas pelos cantos e muito mais coisas que sequer terão alguém para compreendê-las e amá-las como eu amei, não há e nem haverá ninguém para sentir o prazer da conquista ou o gostinho egoísta de se julgar dono de alguma coisa.

Sobrarão muitas coisas, um par de óculos sem receita, livros pela metade que não terminarão de contar suas his-tórias, uma caneta jogada em cima da mesa que alguém certamente irá pegar, roer a ponta e escrever um telefone ou recado num pedaço de papel qualquer para, quem sabe, depois nem se lembrar para que serviria.

Centenas de coisas sem memória, quem irá saber o que eu mais gostava de ouvir, o que cada música significava? A gravata ganha num destes aniversários, mantida com o mesmo nó impossível de se refazer, não servirá para nada, além de ser amontoada com outro enorme monte de roupas. O chapéu de esquiador num país tropical se transformará de alegre lembrança a coisa inútil.

Os retratos terão pessoas sem nome, crianças que de tão velhas e esquecidas terão suas imagens apagadas do papel amarelado até desaparecerem sem deixar vestígio. Apenas os documentos falarão por si, como um epitáfio no fim do espetáculo de circo: ninguém nota, ninguém quer saber, ninguém irá querer ouvir. Todos já se foram e eu sou o último de minha espécie.

E olhando a lâmpada que tomo por sol, paredes que tomo por céu, sozinho, último. A porta não se abrirá com um sorriso adolescente, não haverá barulho de alegria. Não preciso pôr os óculos nem vestir a gravata com o mesmo nó de tantos anos.

A janela continua aberta e eu sinto uma felicidade imensa ao olhar através do seu espaço. Consegui me libertar das roupas, das coisas sem memória, das fotografias em que não mais me reconheço, não preciso mais dos óculos nem da gravata, muito menos de documentos velhos e mofados.

Saio do quarto pelo vão da janela, sorrateiramente, sem que ninguém me note, respiro fundo e ando por aí sem qualquer pressa. Tenho todo o tempo do mundo.

Eu venci, quem se importa com isso? Meu céu é maior, meu sol é maior, fui o último da minha espécie, conquistei o direito de recomeçar tudo de novo!