O Bandeirante - n.231 - Fevereiro de 2012

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Disfarces e boas intenções Ano XX - n o 231 - FEVEREIRO de 2012 Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP O Bandeirante Jornal Josyanne Rita de Arruda Franco Médica Pediatra Presidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012 Pessoas há que são um poço de bondade: investidas de supostas altruístas atitudes, vão se fazen- do impor de maneira serena, sem que seus interlocutores, sócios, parentes ou amizades possam se dar conta da ditadura embasada nas boas intenções. A recente moda do politica- mente correto nada mais é do que preconceito às avessas, quando tudo o que se tem como história pessoal ou cultura de um povo - seja nos trejeitos, nos chistes, na postura - transforma-se em agres- são, gratuidade jocosa ou desres- peito. Então, o mundo vai ficando sem graça, as pessoas medrosas, um texto ou fala passível de pro- cessos ambiciosos e os relaciona- mentos pouco sinceros, motivados mais por interesses não explícitos de proveito e mais valia, do que embasados na vontade de desco- brir novas possibilidades e cons- truir outros horizontes. De repente, podemos nos dar conta de estar fazendo o que não queremos, aceitando o que não concordamos ou falando o que não acreditamos por meio de modelos de ser e existir impos- tos por uma parcela inteligente de pessoas que imitam conceitos filosóficos sem conhecimento do humano, ou, ainda pior, replicam saberes que não estão internaliza- dos e pensamentos que não foram sequer elaborados. Até os dicionários, que refle- tem o costume linguístico e os vernáculos em uso ou desuso em um grupo social, estão na mira do politicamente correto, taxados de preconceituosos e defasados. Não demora, haverá quem queira rees- crever a história do mundo, usan- do interpretações tendenciosas sobre ocorrências, personagens e fotos, com finalidade de expor sua verdade dos fatos; obras de arte consagradas há séculos acabarão por sofrer risco de proibição, se acusadas de preconceito. É evidente que o preconceito existe, manifestando-se até no que não parece ser alvo de discrimina- ção. A falta de aceitação do que é diferente ou do que não comunga da onipotência individual parece estar sedimentada na dificuldade de lidar com a alteridade, necessi- dade implícita ao bom relaciona- mento humano. Sem apelos dramáticos ou re- crudescências apaixonadas, abrin- do-se para o novo sem desconsi- derar o passado, é preciso reco- nhecer que tradição e vanguarda sempre serão parâmetros para pensamentos e novos costumes: é a sociedade que faz a história. A recente premiação do Oscar para uma película muda, bem como igual número de estatuetas para uma obra espetacular em efeitos especiais, admite, no uni- verso glamorizado, espaço para tradição e modernidade. As imagens, seus registros li- terários, fatos e história não de- vem ser apagados da memória de uma sociedade sadia. Na esteira do tempo rolam disfarces e boas intenções, mas retiramos a baga- gem com aquilo que nos tem va- lor. Simular a verdade impondo o que acredita é para o falpórria, perito na sedução sem lastro nem conteúdo. Respeito, tolerância e soli- dariedade devem ser ensinados pelo fundamental núcleo da es- pécie humana: a família. Antes de aprender a falar, o bebê apre- ende imagens... e a sordidez que as atitudes disfarçam é percebi- da antes de compreendidas as palavras.

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Disfarces e boas intenções

Ano XX - no 231 - fevereiro de 2012Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O BandeiranteJornal

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica PediatraPresidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012

Pessoas há que são um poço de bondade: investidas de supostas altruístas atitudes, vão se fazen-do impor de maneira serena, sem que seus interlocutores, sócios, parentes ou amizades possam se dar conta da ditadura embasada nas boas intenções.

A recente moda do politica-mente correto nada mais é do que preconceito às avessas, quando tudo o que se tem como história pessoal ou cultura de um povo - seja nos trejeitos, nos chistes, na postura - transforma-se em agres-são, gratuidade jocosa ou desres-peito. Então, o mundo vai ficando sem graça, as pessoas medrosas, um texto ou fala passível de pro-cessos ambiciosos e os relaciona-mentos pouco sinceros, motivados mais por interesses não explícitos de proveito e mais valia, do que embasados na vontade de desco-brir novas possibilidades e cons-truir outros horizontes.

De repente, podemos nos dar conta de estar fazendo o que não queremos, aceitando o que não concordamos ou falando o que não acreditamos por meio de modelos de ser e existir impos-tos por uma parcela inteligente

de pessoas que imitam conceitos filosóficos sem conhecimento do humano, ou, ainda pior, replicam saberes que não estão internaliza-dos e pensamentos que não foram sequer elaborados.

Até os dicionários, que refle-tem o costume linguístico e os vernáculos em uso ou desuso em um grupo social, estão na mira do politicamente correto, taxados de preconceituosos e defasados. Não demora, haverá quem queira rees-crever a história do mundo, usan-do interpretações tendenciosas sobre ocorrências, personagens e fotos, com finalidade de expor sua verdade dos fatos; obras de arte consagradas há séculos acabarão por sofrer risco de proibição, se acusadas de preconceito.

É evidente que o preconceito existe, manifestando-se até no que não parece ser alvo de discrimina-ção. A falta de aceitação do que é diferente ou do que não comunga da onipotência individual parece estar sedimentada na dificuldade de lidar com a alteridade, necessi-dade implícita ao bom relaciona-mento humano.

Sem apelos dramáticos ou re-crudescências apaixonadas, abrin-

do-se para o novo sem desconsi-derar o passado, é preciso reco-nhecer que tradição e vanguarda sempre serão parâmetros para pensamentos e novos costumes: é a sociedade que faz a história.

A recente premiação do Oscar para uma película muda, bem como igual número de estatuetas para uma obra espetacular em efeitos especiais, admite, no uni-verso glamorizado, espaço para tradição e modernidade.

As imagens, seus registros li-terários, fatos e história não de-vem ser apagados da memória de uma sociedade sadia. Na esteira do tempo rolam disfarces e boas intenções, mas retiramos a baga-gem com aquilo que nos tem va-lor. Simular a verdade impondo o que acredita é para o falpórria, perito na sedução sem lastro nem conteúdo.

Respeito, tolerância e soli-dariedade devem ser ensinados pelo fundamental núcleo da es-pécie humana: a família. Antes de aprender a falar, o bebê apre-ende imagens... e a sordidez que as atitudes disfarçam é percebi-da antes de compreendidas as palavras.

2 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012

eXPeDieNTe

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Fevereiro, mês do Carnaval, de Escolas de Samba, desfiles e carros alegóricos. O povo resgata a alegria, fantasiando-se de baianas, guerreiros, odaliscas ou sim-plesmente desprezando roupas e convenções. Depois da folia, torna-se inevitável o retorno para a batalha diária pela sobrevivência.

E eu fico pensando o quanto nós, escritores, somos privilegiados, pois conseguimos conviver com a fan-tasia todos os dias do ano. Através das personagens dos nossos contos e romances, podemos ser heróis ou bandidos, velhos ou crianças, todos podemos expe-rimentar grandes conquistas e até morrer e renascer inúmeras vezes.

Em nossos poemas, vivenciamos a plenitude do amor e nos sentimos mais belos.

Contudo, para não fugirmos do mundo atual, escrevemos crônicas, en-xergando os vários prismas de cada questão.

Sim! Realidade e fantasia se complementam. A vida real sem um pouco de sonho é muito monótona. Por outro lado, o que dizer das fantasias que, quando se realizam, não possuem a graça esperada?

Se neste Carnaval, relaxando ou nos divertindo, conseguirmos recarregar nossas “baterias”, é bem provável que a imaginação se fortaleça e se traduza em textos criativos durante todo o ano. Certamente um privilégio, não é mesmo?

Jornal O Bandeirante ANO XX - no 231 - Fevereiro 2012

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini, Alcione Alcântara Gonçalves, Helio Begliomini, Jacyra da Costa Funfas, Josyanne Rita de Arruda Franco, Luiz Jorge Ferreira, Márcia Etelli Coelho, Roberto Antonio Aniche, Suzana Grunspun.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Márcia Etelli Coelho

Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. GalvãoRevisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011

Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

Josyanne Rita de Arruda Franco - 21/02

Hildette Rangel Enger - 27/02

AniversárioJANEiRO: nesta data

querida, nossos parabéns!

Que coisa chaaaata..! Quem fala demais, perde a audiência. É um blá-blá-blá antes de apresentar o trabalho e depois textos longos demais! São composições lindas que merecem atenção, mas... Que pena: parece que o efeito está sendo o inverso!

O Malho

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 3 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

Notícias

No dia 16 de fevereiro, véspera do Carnaval, tivemos uma Pizza Literária alegre e bem festiva, com máscaras, serpentinas, confetes e ótimos textos com o sugestivo tema “Depois da Folia”. Nesta edição, alguns exemplos do alto nível dos textos apresentados.

A Pizza foi especial também porque recebemos uma nova filiada: a médica psiquiatra Dra. Suzana Grunspun, a quem desejamos boas-vindas e vivência literária muito rica entre os pares.

No final da Pizza, sor-teamos dois exemplares do livro “Verso em Versos Controversos”, que o querido sobramista de Botucatu, Dr. Evanil Pi-res de Campos, gentilmente doou. O livro conta com bonitos sonetos e caprichadas ilustrações, tendo prefácio do saudoso Dr. Aldo Miletto, patrono do Prêmio de Melhor Desempenho da Sobrames-SP.

Em 8 de março, acontecerá reunião da diretoria, quando haverá apu-ração dos votos para o Prêmio de Poesia Bernardo de Oliveira Martins, encontro administrativo sempre aberto aos interessados. Participe!

A premiação será na Pizza Literária de 15 de março com entrega da medalha e do certificado ao grande vencedor.

Nosso confrade Dr. Carlos Roberto Ferriani fará o lançamento de seu livro “Fragmentos de Uma Vida” na livraria Martins Fontes, Avenida Paulista 509. O estimado colega é ilustre médico, sobramista, residente em Ribeirão Preto.

A Sabatina Literária da Sobrames-SP será realizada no dia 14 de abril, sábado, com a palestra “Dicas de Poesia” no clube de campo da APM, com palestra a ser proferida pela laureada confreira Márcia Etelli Coelho. Em seguida acontecerá confraternização com almoço no restaurante da sede. Vale lembrar que a presença do associado soma pontos para o Prêmio Aldo Miletto de Melhor Desempenho.

A SOBRAMES associa-se à ABRAMES em duas grandes iniciativas: a i Coletânea Sobrames X Abrames Prosa de Excelência 2012, sob coordenação do Dr. Marco Aurélio Baggio, presidente da SOBRAMES (contato através do e-mail [email protected]) e a i Coletânea Abrames X Sobrames Versos de Excelência 2012: Aldravias, Poesias e Trovas, sob coordenação da Dra. Juçara Valverde, presidente da ABRAMES (contato através do e-mail: [email protected]). inscrições até dia 30 de abril de 2012.

A Regional de Pernambuco, Sobrames-PE, lançará edição especial da Revista Oficina de Letras, em comemoração aos 40 anos de fundação da entidade. Eventos de destaque estão programados para as festividades de aniversário da querida regional pernambucana. Parabéns, Sobrames-PE!

O livro “Rotarismo – Fundamentos ilustrados de uma Magnífica instituição Centenária”, do confrade Helio Be-gliomini, lançado em novembro de 2011, foi escolhido dentre as 215 obras de autores solo analisadas pela Câmara do Livro da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, entidade sediada no Rio de Janeiro, como um dos “Livros do Ano - Categoria Ouro” de 2011. Parabéns ao ilustre colega e prestigiado escritor!

LEMBRETE: A anuidade 2012 da SOBRAMES-SP é de R$ 250,00 até 31 de março. A partir do mês de abril, o valor da contribuição anual será de R$ 300,00, podendo ser parcelado em três cheques de R$100,00, nominais à Sobrames-SP.

Em virtude de não podermos identificar a origem dos depósitos, preferimos receber a anuidade por meio de che-ques pré-datados enviados aos nossos tesoureiros José Alberto e Aida Lúcia (contato pelos e-mails [email protected] e [email protected]) ou durante os encontros literários.

A colaboração dos associados é muito importante para as despesas de nossa entidade, que não possui outro meio de captação de recursos financeiros.

4 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

Quem é? Quem é?(resposta na próxima edição)

Diz estar sempre com fomeE, com jeito de menino,Quer a Pizza bem antes,Pra dividir com o amigo.

É escritor inspiradoDe grande cultura, sem par.Confrade por todos querido,

O seu nome é - - - - - - !

Depois da foliaAlcione Alcântara Gonçalves

Carnaval é festa, alegria e descontração;Carnaval é folia, amor e excitação;Carnaval é samba, mulata e inspiração;Carnaval é desfile na Sapucaí e Anhembi. Carnaval e futebol, cachaça e mulher:Futebol é correr com a bola no pé;Carnaval é mulher com samba no pé;Cachaça e mulher te pega pelo pé. A folia de Momo vai até Terça-feira,Depois da Folia, vem a Quarta-feira,Vêm a ressaca, as cinzas e a poeira,Deixadas pelo samba da escola, com sua Porta-Bandeira.

No Brasil se fala que o ano começa após o Carnaval;É depois da Folia que se começa a trabalhar,inclusive, para preparar o novo CarnavalCom suas alegorias, samba-enredo e seu lindo visual. Depois da Folia, vem a nostalgiaE as doces lembranças do Carnaval da Bahia,Dos Filhos de Gandhi, trios elétricos e afoxés,Da cerveja gelada e um gostoso Acarajé. Depois da Folia, vem a reflexão,Dos prós e contras de toda a ebulição,Do Carnaval da Marquês de Sapucaí e Anhembi,E o resultado da Campeã que virá a seguir.

Superpizza de Carnaval

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 5 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

Paixão

Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini

Das estrelas roubei o brilhoE com ele iluminei o nosso caminho.Fugi das trevas e das noites escurasE me aninhei confiante nos braços teus.Senti o calor quente dos teus sussurros urgentesE da tua boca o beijo ardente.Por inteiro me entreguei.Desprevenida que estava,De ti me tornei refémE em sonhos vivi plenamenteEssa paixão louca.Dentro do meu peito em brasaEsse fogo me consumiu por inteira.

Em uma noite fria e sem lua De forma abrupta, inesperada tu partiste.Meu coração amargurado sem entender Quase parou e minhas lágrimas secaram.Alucinada senti a ausência do chão, desabei.No desespero percebiQue na tua fuga desenfreada,Carregaste sorrateiramente todo o brilhoQue das estrelas eu havia roubado.

Depois da folia

Roberto Antonio Aniche

Loucura... A vida é inebriante, cada cena, cada mo-mento, cada passo é tão cheio de luxúria que os olhos não encontram o horizonte. O prazer, a música, a luz, numa mistura de alegria e sedução tornam-se o caminho único a ser seguido na direção das alturas dos céus. E neste caminho incrível traçado pela juventude extrema e vigorosa haveria que se dividir tudo: luz, prazer, cami-nhos, felicidade. Haveria que se somar sentimentos como carinho, amor, alegria, tempo. Mãos dadas deveriam ser uma só trocando o calor da alma pelos dedos, pelos lábios, pelos sorrisos. Olhos deveriam ser a janela da alma, uma dentro da outra, não trocando, mas doando experiências, sutilezas, momentos, tornando a vida de um a mesma vida do outro até o final da eternidade. Mas egoísmo, competição, poder tornam-se a espada certeira que corta a alma única em dois opostos separados por outra eternidade. Mudam-se os sentimentos comparti-lhados para dor, tristeza, solidão. A angústia transborda dos olhos da alma para além da tristeza suportável. A música entoada suavemente torna-se ruído anacrônico, trazendo a dor das profundezas das almas, afastando o antes inseparável para longe em direção à tristeza. A luz converte-se no temporal antes afrodisíaco no caminho tortuoso e sem destino. E de repente as vidas se separam, como a porta que se fecha, como a tampa que se fecha rompendo todos os acordos, todos os momentos, todo o tempo. A vida de repente segue seu rumo, os passos pela terra, em caminhos que jamais se cruzarão. O céu torna-se cinza, o mar vira um campo imenso com um vazio dentro dele, como um vórtice que devora toda a vontade, toda a ânsia de viver. A música alegre é tornada ladainha triste ecoando ninguém sabe de onde, escorrendo pelas pedras. O silêncio agora é o único som que se ouve, mudo, acusador, tornando a saudade raiva inconsciente e destemida; a eternidade durou somente alguns dias de chuva que ninguém notou. Loucura... deixar acontecer tantas coisas, e de repente deixar escapar tudo, como a areia escapando pelos dedos das mãos separadas. Dei-xar escapar tanto tempo, tantas coisas, tantos perfumes, e nada, nada se somado, se multiplicado irá conseguir cobrir o vazio imenso daquela solidão. É isso, depois da folia, é um vazio imenso...

Ainda Superpizza de Carnaval...

6 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

O verde alerta o homem

Modinha pra elaJacyra da Costa Funfas

Luiz Jorge FerreiraVerde quero sempre ser.

Fui criado pelo altíssimo

Para ser o habitat da humanidade,

Que não está reconhecendo meu valor.

Não deixe que o insano me destrua

Sou verde e quero ser útil.

Estou sentindo os maus tratos.

Meus pulmões estão enfraquecendo

Minha amiga, a Natureza,

Com livre trânsito junto a Deus,

Está perdendo a paciência

Depois de tantos alertas!

E o homem, inquilino deste planeta,

Faz-se de desentendido,

Continua a maltratar-me.

O que será da humanidade

Se algum dia, o alimento colhido na terra

Tiver o veneno da vingança?

Salve-me, para você ser salvo!

Ela morde os lábios.

Defronte ao seu mundo.

Contido e calado.

O silêncio é perturbado.

Pelo barulho dos copos.

E escorre sob o sussurro espantado.

Quando ela engole cerveja e saliva.

Ela talvez aguarde a lua.

Desenhada atrás do mundo.

No contorno da parede.

Ela talvez roa as unhas.

Sonhando com sambas de Caymmi.

Ela nem sabe que quem sabe, longe dorme.

E se encolhe quando sopra um vento frio.

Só menos gelado que esta garrafa solitária.

Em que suas digitais claras, estamparam-se.

Lentamente Fernanda retira a maquiagem borrada pelo suor. Olheiras denunciam as quatro noites sem dormir. Nos pés, bolhas testemunham a audácia de desfilar em duas Escolas de Samba além, é claro, do bloco de rua que não poderia deixar de comparecer.

Dentro de seu coração, ainda escuta o samba-enredo e insiste em cantarolar como se pudesse, assim, conservar a magia daquele último desfile.

Purpurinas deslizam dos seus cabelos compridos e salpicam o chão do banheiro. A água para o banho está fria. Não sobrou nenhum trocado para pagar a conta da luz.Mesmo assim Fernanda acha que valeu a pena.Afinal, qual é o preço de um sonho de menina?Por algum tempo, ela esqueceu as mágoas de um amor desfeito, aliviou a culpa pelo filho que não veio e sorriu para a

Lua como há muito não fazia.Quarta-feira de cinzas. Depressa pega o Metrô. Lotado, como sempre.É meio-dia. E Fernanda entra no prédio amarelo e logo veste seu uniforme.As mãos que antes se agitavam em compassada coreografia, agora batem o ponto de forma mecânica.Na lavanderia, Fernanda prepara-se para alvejar as roupas sujas.Nenhuma fantasia.Somente aventais brancos que, mesmo sem brilho, com toda a certeza irão salvar muitas vidas.

Depois da foliaMárcia Etelli Coelho

O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 7 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

I - Bagagens

Os tempos mudam no devagar depressa dos tempos. Os pés molhados, a cabeça atordoada. Meus pensamentos corriam, eram um só, eu atrás de segurar o tempo. Diante do imponderável, tentava dominar o temporal com a fraca proteção de um guarda-chuva que parecia encolher.

Alguém me disse: sai, procura um abrigo para todas as coisas; perma-neci com as bagagens da vida. Como todo um passado poderia caber num presente tão indefinido, tênue e escorregadio.

Eu agora filha, órfã e aflita para não perder o passado. Esse me dando a sensação de uma existência única no tempo e no mundo.

Na correria, encontrei um lugar no presente. Guardei todos os com-promissos de meu pai; seus arquivos, sua memória, nem viva, nem morta. Aliviei-me nesse espaço; não era meu, não era dele. Dei continuidade.

II- Pai

A sensação de alívio, sabendo de sua continuidade, foi uma experiência propulsora em minha vida. Volto-me para você mais tranquila e escrever esta carta é uma forma de conseguirmos nos tocar; sinto uma alegria na oportunidade que se revela.

Deparo-me com a rapidez como as frases aparecem; espero não pesá-las, será menos dolorosa a sensação da saudade que me toma o espírito. Com serenidade a fluidez prevalecerá; no papel em branco ficará marcado toda a nossa amizade e mútua admiração.

Fui dançar, escrever, rever pinturas nos museus para modular a dureza da vida que muitas vezes nos assola e enrijece as lembranças.O mais engraçado foi entrar nessa intensa atividade e procura; percebendo o quanto de mim ainda se alimente de nós.

Aquelas discussões inflamadas, doídas não turvaram nossa comunicação. Passaram a tonalidades claras e amenas na minha mente. Os dissabores trocaram de gosto, se amargos algumas vezes, agora temperam a minha existência.

Eu gostaria de rever todos os nossos bons momentos, até sobrevoar a paisagem de nossa história, para sentir novamente o contínuo diálogo mantido nos longos anos, por algumas vezes calorosos, coloridos; outros beligerantes, opacos.

Nesta experiência de presença, ausência; peculiar de quem se vale de recordações, percebo poder escolher entre estes momentos.

Quem diria, alcançarmos uma transcendência; eu transformo e resumo toda a nossa vida em pequenos instantes passageiros que permanecem eternos.

Baseado no conto: A terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa.

Continuidade

Suzana Grunspun

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8 O BANDEIRANTE - Fevereiro de 2012 SUPLeMeNTo LiTerÁrio

Ele era um jovem simpático, afável, bem-apessoado e no fulgor de sua vida. Pela sua aparência e desenvoltura, ninguém poderia imaginar as peripécias que fizera para estudar, tendo sua mãe – professora primária – como grande fonte motivadora. Pouquíssima recordação tinha de seu pai, visto que morrera quando tinha apenas três anos. Havia realmente “comido o pão que o diabo amassou” para conquistar o sonho de sua vida, acalentado desde sua adolescência. Transferiu-se de sua cidade – no interior de Minas Gerais – para a capital do estado. Enquanto cursava a faculdade, que era de tempo integral, tinha que trabalhar durante a noite como telegrafista. Graduara-se pela Faculdade de Medicina em Belo Horizonte, em 1927.

Nutrido por desejos de maiores conhecimentos, partiu para a Europa em 1930, mercê de uma pequena reserva financeira que amealhara com trabalho nos anos subsequentes à sua formatura. Estagiou na França com o professor Maurice Chevassu, uma das maiores autoridades mundiais em urologia da época, e, após seu regresso, não somente dominou essa especialidade, mas também se tornou um dos primeiros uropediatras brasileiros.

Seu ingresso, em 1931, na Força Pública de Minas Gerais, na condição de capitão médico, levá-lo-ia fatidicamente a atuar nos Hospitais de Sangue contra os soldados paulistas da famigerada Revolução Constitucionalista de 1932.

Entre um atendimento e outro, muito próximo ao teatro de operações, quis o destino fortuito que Benedito, um delegado de então, dias depois da folia, caísse em suas mãos para tratamento de uma uretrite. Embora estivesse numa época desprovida de antibióticos, aquele jovem médico não somente impressionou o delegado pela sua competência profissional, mas, principalmente, pela sua brilhante inteligência adornada por uma personalidade alegre, dinâmica, cativante e envolvente. Era um verdadeiro causeur como se dizia em tempos idos.

influenciado por amigos, três anos após a guerra, aquele jovem médico decidiu experimentar a vida pública e elegeu-se deputado federal por Minas Gerais, experiência que durou apenas dois anos em decorrência do Estado Novo – golpe de estado estabelecido pelo presidente Getúlio Vargas.

Benedito também ingressara na política. Tornara-se, em 1940, governador do estado, prerrogativa que lhe facultou nomear (intimar) como prefeito de Belo Horizonte o seu antigo médico. Este aceitou o cargo com certa relutância e, por aproximadamente dois anos, conseguiu exercer simultaneamente a medicina, sua grande paixão.

Entretanto, seus conhecimentos humanísticos auferidos no lar, com sua mãe, robustecidos no cuidar de enfermos e desvalidos, associados às suas qualidades incontestáveis de liderança, tornaram-no num dos maiores e mais populares homens públicos que o Brasil já viu. Teve uma insólita e meteórica carreira política, desempenhando subsequentemente cargos de governador, presidente da república e senador, quando, juntamente com outros políticos, foi cassado pelo golpe militar de 1964 e exilado na Europa.

“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto de-sencontro pela vida”, asseverou o imortal vate Vinícius de Moraes. Entretanto, a vida é igualmente feita de momentos singelos... despretensiosos... fugazes... irrepetíveis, justapos-tos e fortemente entrelaçados, tais quais os anéis de uma corrente que unem o presente ao passado ao mesmo tempo que com o futuro.

Quem poderia imaginar que uma singela uretrite, depois de uma folia de Benedito Valadares Ribeiro, pudesse servir de estopim ao ingresso como prefeito de Belo Horizonte do inesquecível médico e urologista Juscelino Kubitschek de Oliveira, um dos mais notáveis homens públicos e mais dinâmicos presidentes que o Brasil já teve!

Uma uretrite na história política do Brasil

Helio Begliomini