O COMPUTADOR É bicicleta para a...

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Revista Linha Direta inovação Danielle Lourenço Pedagoga com especialização em Tecnologias Educacionais [email protected] O COMPUTADOR É uma bicicleta para a mente? B uscando potencializar minhas apresentações, li o livro Apresen- tação zen, ideias simples sobre o design de apresentações e per- formances, de Garr Reynolds. Durante a leitura, percebi que o enfoque não era em questões técnicas de apresentações construídas por softwares, mas no processo de criação que deveria ser desenvol- vido antes do uso das aplicações. O autor recomenda que o processo criativo seja construído longe do computador, pois as telas podem impedir o fluxo criativo. Ele diz: “use papel, caneta e brainstorming.” Li, também, uma entrevista de Steve Jobs, em que ele fala sobre um estudo que media a eficiência de locomoção de várias espécies. Segundo o estudo, o condor usava a menor quantidade de energia para se locomover, e o homem aparecia muito abaixo na lista. Al- guém teve, então, a ideia de medir a eficiência de locomoção de um homem pedalando uma bicicleta, e o resultado foi que esse homem venceu o condor. “É isso que o computador é para mim: a ferramenta mais fantástica que já criamos. É o equivalente da bicicleta para as nossas mentes”, disse Jobs. Ele explica que o computador deve “po- tencializar” as mentes, permitindo a expansão de habilidades, sabe- res e conhecimentos. Deve realizar atividades mecânicas e permitir a expansão do pensar e do criar, e, como uma bicicleta, deve nos tornar livres para que, em velocidade agradável e com vento no rosto, possamos percorrer as estradas do pensamento, a praça das ideias, a rota da criatividade. As tecnologias contemporâneas têm “engessado” o pensar e anes- tesiado as mentes, têm nos limitado a modelos pré-formatados de apresentação e nos tornado dependentes do Google e da agenda te- lefônica do celular. Isso sem mencionar as questões afetivas e sociais que têm nos imposto quando nos conectamos com os distantes e nos afastamos dos próximos. Diante disso, me pergunto o que a escola tem feito, pois entendo que é obrigação social (e moral) dela propi- ciar um espaço para o desenvolvimento do pensamento e da criati- vidade. Não entenda este texto como um pedido de fechamento das salas de informática, tampouco do fim das aulas com apresentações em multimídia. É preciso refletir sobre o uso do computador e dos demais recursos, em especial no âmbito escolar, para que cada coisa assuma seu lugar de direito, e para que haja espaço para o desenvol- vimento das competências e habilidades de que o educando necessi- ta. Que livro e site, papel e computador, analógico e digital, virtual e real coexistam e formem o cidadão que desejamos: um ser pensante , capaz de criar e intervir beneficamente na realidade em que vive.

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Revista Linha Direta

inovação

Danielle LourençoPedagoga com especializaçãoem Tecnologias [email protected]

O COMPUTADOR É uma bicicleta para a mente?

Buscando potencializar minhas apresentações, li o livro Apresen-tação zen, ideias simples sobre o design de apresentações e per-formances, de Garr Reynolds. Durante a leitura, percebi que o

enfoque não era em questões técnicas de apresentações construídas por softwares, mas no processo de criação que deveria ser desenvol-vido antes do uso das aplicações. O autor recomenda que o processo criativo seja construído longe do computador, pois as telas podem impedir o fluxo criativo. Ele diz: “use papel, caneta e brainstorming.”

Li, também, uma entrevista de Steve Jobs, em que ele fala sobre um estudo que media a eficiência de locomoção de várias espécies. Segundo o estudo, o condor usava a menor quantidade de energia para se locomover, e o homem aparecia muito abaixo na lista. Al-guém teve, então, a ideia de medir a eficiência de locomoção de um homem pedalando uma bicicleta, e o resultado foi que esse homem venceu o condor. “É isso que o computador é para mim: a ferramenta mais fantástica que já criamos. É o equivalente da bicicleta para as nossas mentes”, disse Jobs. Ele explica que o computador deve “po-tencializar” as mentes, permitindo a expansão de habilidades, sabe-res e conhecimentos. Deve realizar atividades mecânicas e permitir a expansão do pensar e do criar, e, como uma bicicleta, deve nos tornar livres para que, em velocidade agradável e com vento no rosto, possamos percorrer as estradas do pensamento, a praça das ideias, a rota da criatividade.

As tecnologias contemporâneas têm “engessado” o pensar e anes-tesiado as mentes, têm nos limitado a modelos pré-formatados de apresentação e nos tornado dependentes do Google e da agenda te-lefônica do celular. Isso sem mencionar as questões afetivas e sociais que têm nos imposto quando nos conectamos com os distantes e nos afastamos dos próximos. Diante disso, me pergunto o que a escola tem feito, pois entendo que é obrigação social (e moral) dela propi-ciar um espaço para o desenvolvimento do pensamento e da criati-vidade. Não entenda este texto como um pedido de fechamento das salas de informática, tampouco do fim das aulas com apresentações em multimídia. É preciso refletir sobre o uso do computador e dos demais recursos, em especial no âmbito escolar, para que cada coisa assuma seu lugar de direito, e para que haja espaço para o desenvol-vimento das competências e habilidades de que o educando necessi-ta. Que livro e site, papel e computador, analógico e digital, virtual e real coexistam e formem o cidadão que desejamos: um ser pensante, capaz de criar e intervir beneficamente na realidade em que vive.