O Desejo de Saber
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O desejo de saber: uma teoria freudiana da aprendizagem
Kupfer, Maria Cristina. Freud e a educação : o mestre do impossível. São Paulo: Ed. Scipione,
1989
O livro trás à luz questões como o desejo de aprender, o processo da transferência e o papel
do professor no processo transferencial, sendo que esses temas são abordados em uma
perspectivas freudiana. O desejo de aprender sempre foi um tema que chamou bastante
atenção de Freud, pois este se perguntava o que impulsionava as pessoas que sempre
estavam à procura de respostas, principalmente os cientistas e as crianças. Para Freud há um
momento decisivo na vida do ser humano, é o momento da descoberta ao qual ele chama de
diferença sexual anatômica. Sendo que esta descoberta implica justamente entender que, de
fato alguma coisa falta, ou seja, a angústia provém de uma nova compreensão de antigas
perdas, e para essa angustia de perda Freud chamou de angústia de castração.
Com a passagem do complexo de Édipo a criança descobre diferenças que a
angustiam, e é essa angústia que a faz querer saber, e os instrumentos que a criança usa
Freud chamou de “investigações sexuais infantis”. Para Freud as primeiras investigações são
sempre sexuais e não poderiam deixar de ser, o que realmente está em jogo é a necessidade
que a criança tem de definir seu lugar no mundo. O desejo de saber associa-se com o desejo
de dominar, ver e o sublimar. As crianças deixam de lado a questão sexual deslocando seus
interesses sexuais para os objetos não-sexuais, ou seja, desviam suas energias para objetos
não sexuais. Assim as crianças perguntam sobre outras coisas para poder continuar pensando
sobre as questões fundamentais, isto se associa com a idéia de curiosidade. Neste sentido é
importante que o educador esteja ciente desta dimensão, presente em todo ato de
conhecimento. Freud ao descrever o processo de emergência do desejo de saber diz que a
investigação sexual ao ser sublimada relaciona-se igualmente com o ver. O visual é um
aspecto constante e constitutivo das pulsões sexuais. A pulsão sublimada transforma-se após a
associação com a pulsão de domínio em “pulsão de saber” tendo como derivados o prazer de
pesquisar, o interesse pela observação da natureza, o gosto pela leitura, o prazer de viajar etc.
Assim ,pode-se dizer que a mola propulsora para o desenvolvimento intelectual é a sexual.
Assim, vimos alguns elementos determinantes que levam a uma criança querer aprender.
Contudo podemos também levar em consideração que a criança não aprender sozinha que é
necessário a presença do professor para que este aprendizado se realize. O ato de aprender
sempre pressupõe uma relação com outra pessoa, ou seja, aprender é aprender com alguém.
Neste sentido, a relação professor e aluno tornam-se importante e crucial. Freud mostra
que um professor pode ser ouvido quando está revestido por seu aluno de uma importância
especial. Sendo que o mestre passa a ter em mãos o poder de influencia sobre o aluno. Os
professores são investidos da relação afetiva primitivamente dirigida ao pai, acabam se
beneficiando da influencia que o pai exercia sobre a criança. A ênfase freudiana está
concentrada nas relações afetivas entre professor e aluno, ou seja, ele focaliza o campo que se
estabelece entre o professor e seu aluno, que estabelece as condições para aprender, na
psicanálise este campo é chamado de transferência.
A transferência é uma manifestação inconsciente que se constitui como um excelente
instrumento da analise deste inconsciente.Freud se deu conta da constância com que a
transferência ocorria nas diferentes relações estabelecida pelas pessoas no decorrer de suas
vidas. Afirmando assim, que ele está presente na relação professor-aluno. Para Freud as
transferências são reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes, ou
seja, ganha vida novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual. Assim, o
professor pode torna-se a figura a quem serão endereçadas os interesses do seu aluno, porque
é objeto de uma transferência. Portanto a idéia de que o aprendizado tem como fundamento a
transferência está cada vez mais presente. Pode-se dizer que na relação professor-aluno a
transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se aferra a um elemento particular,
que é a pessoa do professor. Transferir é então atribuir um sentido especial àquela figura
determinada pelo desejo. Oi professor torna-se assim, depositário de algo que pertence ao
aluno, com isso a figura do professor fica carregada de uma importância especial e é dessa
importância que emana o poder que inegavelmente tem sobre o aluno, passando a fazer parte
do cenário do inconsciente do aluno, assim a fala do professor é escutada através desta
especial posição que ocupa no inconsciente do aluno. Ocupar o lugar designado ao professor
pela transferência não deixa de ser um incomodo visto que precisa esvaziar-se como pessoa
para dar lugar a um outro que ele desconhece. Porém, o que ocorre na maioria das vezes é a
tentação de abuso do poder, ou seja muitas vezes o professor usa este poder para subjugar o
aluno, impondo seus próprios valores e idéias, ou seja, o professor impõem ao aluno seu
próprio desejo sobrepondo aquele que movia seu aluno à colocá-lo em destaque. A relação
professor e aluno é complicada, pois só o desejo do professor justifica que ele esteja ali, mas,
estando ali ele precisa renunciar a este desejo.
È necessário que o professor perceba a importância de se levar em consideração a
subjetividade do aluno, percebendo que não poderá exigir do aluno um comportamento
robotizado, fazendo com que este aluno seja apenas protótipo do professor, portanto, deve
deixar que o aluno crie e recrie seu conhecimento e por meio da relações crie seu próprio
caminho.
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