O Desenvolvimento Político em Huntington e Fukuyama

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Lua Nova, São Paulo, 80: 97-125, 2010 O DESENVOLVIMENTO POLíTICO EM HUNTINGTON E FUKUYAMA Natália Nóbrega de Mello Há pouco mais de quarenta anos, Samuel Huntington lan- çou Ordem política nas sociedades em mudança, livro em que continuou a polêmica tratada em seu artigo “Desenvolvi- mento político e decadência política” de 1965. Nestes traba- lhos, ele defendeu, na contramão das teorias sobre desen- volvimento político de então, que uma teoria da decadência era a mais apta para se entender as “sociedades em mudan- ça”. O autor abandonou a crença de que o desenvolvimento político era o destino inevitável dessas sociedades ao afir- mar que a reversão dos avanços já alcançados por elas seria sempre uma possibilidade. Huntington disse ainda que a modernização social, longe de levar ao desenvolvimento político – como defendia a perspectiva clássica 1 –, gerava instabilidade e decadência política. No lugar da moderniza- ção, o objetivo que esses países deveriam perseguir era o da ordem política (Huntington, 1965; 1968). 1 Algumas perspectivas clássicas acerca da relação entre modernização e desen- volvimento político, contra as quais Huntington se contrapõe, são as de Lerner (1964), Almond e Coleman (1969), Shils (1960) e Deutsch (1961).

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    o desenvolvimento poltico em huntington e fukuyAmA

    Natlia Nbrega de Mello

    H pouco mais de quarenta anos, Samuel Huntington lan-ou Ordem poltica nas sociedades em mudana, livro em que continuou a polmica tratada em seu artigo Desenvolvi-mento poltico e decadncia poltica de 1965. Nestes traba-lhos, ele defendeu, na contramo das teorias sobre desen-volvimento poltico de ento, que uma teoria da decadncia era a mais apta para se entender as sociedades em mudan-a. O autor abandonou a crena de que o desenvolvimento poltico era o destino inevitvel dessas sociedades ao afir-mar que a reverso dos avanos j alcanados por elas seria sempre uma possibilidade. Huntington disse ainda que a modernizao social, longe de levar ao desenvolvimento poltico como defendia a perspectiva clssica1 , gerava instabilidade e decadncia poltica. No lugar da moderniza-o, o objetivo que esses pases deveriam perseguir era o da ordem poltica (Huntington, 1965; 1968).

    1 Algumas perspectivas clssicas acerca da relao entre modernizao e desen-volvimento poltico, contra as quais Huntington se contrape, so as de Lerner (1964), Almond e Coleman (1969), Shils (1960) e Deutsch (1961).

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    Se compreendermos como uma ruptura do discurso poltico, conforme define Pocock (2003), aquela mudana de linguagem que altera o eixo do dilogo, ento, pode-mos dizer que, de fato, Huntington rompeu com o dis-curso poltico anterior, uma vez que reorientou o dilogo para o eixo da estabilidade, e no mais o da democracia; para a proposio de fortalecimento das instituies e da ordem poltica, no lugar das propostas de modernizao e desenvolvimento econmico. Ao romper com os clssicos do desenvolvimento poltico de seu tempo, Huntington transformou-se, por sua vez, no cnone dessa nova linha de pesquisas que fez emergir.

    Um survey realizado por Kenski, em 1974, indicou a importncia do livro de Huntington para o estabelecimen-to dessa nova linguagem da cincia poltica. Segundo esse survey, os cientistas apontaram majoritariamente o livro Ordem poltica nas sociedades em mudana como a obra mais importante (57,6%) e tambm a mais til (59,4%) para a teoria do desenvolvimento poltico (Kenksi, 1975). Alm disso, para os entrevistados, o desenrolar da nova linha de pesquisa seria o perodo auge ou a dcada de ouro des-sa teoria. Naquele perodo, a poltica comparada teria se tornado um grande lcus de construo e inovao terica no interior da cincia poltica (Schmitter, 1991), ao indicar caminhos profcuos at para a compreenso da sociedade norte-americana (Wiarda, 1991). Por esses motivos, essa rea temtica teria atrado os melhores alunos e, mais do que isso, tinha grande relevncia para a poltica externa dos Estados Unidos (Wiarda, 1998).

    A questo da relevncia da teoria do desenvolvimen-to poltico para a poltica externa de extrema importn-cia para este artigo. Em primeiro lugar, porque o ano da publicao de Ordem poltica nas sociedades em mudana (1968) marca no s uma inflexo na teoria do desenvol-vimento poltico, mas tambm na prpria poltica externa

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    dos Estados Unidos com sia, frica e Amrica Latina. Em segundo lugar, ambas inflexes apresentam significativas semelhanas entre si: a ascenso da problemtica da ordem e da estabilidade, de um lado, e o quase desaparecimento daquela da modernizao e da transformao social, por outro. Fukuyama defende, em recente prefcio reedio dessa obra de Huntington, que no mera coincidncia o livro ter sido publicado em um ano em que a poltica nor-te-americana guiada por estratgias de desenvolvimen-to como alternativas para os apelos do comunismo , deu sinais de esgotamento. Neste contexto, Huntington

    sugeriu que existia um caminho adiante por meio do autoritarismo modernizante. [] traou, ento, o fundamento para uma estratgia de desenvolvimento que passou a ser chamada de transio autoritria, a qual uma ditadura modernizante fornecia ordem poltica, o primado da lei e condies para o sucesso do desenvolvimento social e econmico (Fukuyama, 2006a, p. xiii).

    Apesar das afinidades entre os fatos polticos e tericos, chama ateno que as inmeras anlises sobre eventos de 1968, seus efeitos naquela conjuntura histrica e a reao poltica quele ano decisivo pouco discutiram sobre a infle-xo ocorrida naquele contexto na relao entre os Estados Unidos e os pases pobres, menos ainda sobre a inflexo na teoria do desenvolvimento poltico e sobre as possveis rela-es entre ambas transformaes.

    O grau de ruptura com a perspectiva clssica anterior e o impacto gerado nas novas geraes configurariam a obra de Huntington como um objeto de estudo privilegiado para o desenvolvimento da linha de pesquisa mencionada aci-ma. No entanto, a despeito dessa importncia, a anlise de Huntington tem sido desconsiderada hoje em dia.

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    Essa negligncia poderia ser explicada pela distncia que nos separa da fundao de sua linha de pensamento, bem como da poltica externa que foi uma reao ao desenvolvi-mentismo clssico. Em suma, a construo da ordem poltica como questo prioritria em relao luta pela democracia ou modernizao social pode parecer um assunto defasado depois da terceira onda de democratizao ou aps o fim da histria. Segundo essa linha de raciocnio, o prprio Hun-tington ao publicar A terceira onda: a democratizao no final do sculo XX, estaria ciente que a sua obra de 1968 havia sido ultra-passada pelos acontecimentos histricos (Huntington, 1994).

    Parece ponto pacfico entre os pesquisadores que a mais forte rejeio, no campo do pensamento, ao sombrio quadro de decadncia poltica traado por Huntington acerca do pre-sente e do futuro das sociedades em mudana, foi de Francis Fukuyama em seu artigo de 1989, posteriormente transfor-mado em livro, O fim da histria. Se Huntington afirmou que as sociedades em mudana estavam em meio a um processo de decadncia poltica e que o desenvolvimento poltico era incerto, Fukuyama, por sua vez, reafirmou a projeo clssica de que o destino desses pases seria a democracia liberal oci-dental, sistema que sara triunfante da disputa com o comu-nismo e que, a longo prazo, venceria em todos os pases.

    Ser ento que a questo de Ordem poltica nas sociedades em mudana se encontra completamente obsoleta no pensa-mento e na realidade poltica atual? A mera proliferao de estudos sobre os Estados fracassados2, campo de pesquisas que conta com a participao do prprio Fukuyama, indica que no estamos to distantes da preocupao com a deca-

    2 O termo vem da noo failed states que, em portugus, tem sido traduzida pela expresso Estados falidos. Opto aqui pela traduo Estados fracassados, pois os termos falido ou falncia remetem, mais comumente, em nosso idioma, noo de falncia econmica, o que compromete, do meu ponto de vista, o senti-do original do conceito, que trata sobretudo dos aspectos polticos desse fracasso. Sobre essa traduo, ver tambm Monteiro (2006).

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    dncia poltica quanto se poderia irrefletidamente afirmar. Sem pretender, ento, assumir a linha de raciocnio acima desenvolvida, ainda assim este artigo considera uma ques-to de grande relevncia entender e discutir quais foram as transformaes no pensamento norte-americano sobre desenvolvimento poltico entre o seu ano de inflexo ini-cial (1968) e outro ano decisivo (1989), data da queda do muro de Berlim e marco do desmonte da Unio Sovitica. Para fazer isso, este artigo elege como objeto de estudo as obras de Samuel Huntington (1965; 1968) e os textos de Fran-cis Fukuyama (1989; 1992a). Curiosamente, nos dois casos, trata-se de trabalhos que surgiram primeiramente como arti-gos e depois foram desenvolvidos em livro. A escolha dessas obras no pressupe que elas so completamente represen-tativas do seu tempo no no sentido de poderem represen-tar a totalidade dos trabalhos escritos no perodo, nem no de que existiria qualquer consenso no debate. Aqui se enten-de to-somente como justificativa de uma comparao dessa natureza, o carter determinante das duas obras com relao ao problema do desenvolvimento e ao impacto de ambas no pensamento poltico, tal como foram expostos acima.

    Dois pontos principais so objeto de anlise em cada um dos autores: a definio de desenvolvimento poltico e o modo como entendem a diferena entre os pases pobres e ricos. Ao fim, o artigo discute se a obra de Fukuyama repre-senta realmente uma rejeio da nfase na decadncia pol-tica formulada por Samuel Huntington e, para isso, lana mo de algumas obras mais recentes de Fukuyama.

    samuel huntington: o divrcio entre modernizao e institucionalizaoA preocupao de Huntington em distinguir desenvolvimen-to poltico e modernizao o elemento-chave para enten-der a definio que emerge de cada um desses conceitos. Segundo ele, o uso do conceito de desenvolvimento polti-

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    co pela bibliografia clssica, entre a dcada de 1950 e incio da seguinte, ao invs de precisar o seu significado, apenas o confunde com o de modernizao. Ele afirma que, apesar de existir uma multiplicidade de definies para o desenvolvi-mento poltico, possvel identificar duas caractersticas que aparecem nestas diferentes abordagens. Em primeiro lugar, ele geralmente identificado, ou est intimamente conecta-do, com algum aspecto da modernizao da sociedade como um todo. Por consequncia, em segundo lugar, necessrio o uso de uma srie de critrios para medir o desenvolvimen-to poltico, j que a modernizao um processo amplo e complexo. No artigo de 1965, Huntington aponta como esses critrios a racionalizao, a integrao, a democratizao e a participao; mas, j no livro de 1968, apenas a racionaliza-o, a diferenciao e a participao so considerados.

    A diferenciao entre desenvolvimento poltico e modernizao permitiria a obteno de um conceito mais preciso e universal, uma vez que no mais se restringiria anlise de pases em modernizao e, assim, tornaria pos-svel utiliz-lo para a investigao de antigas civilizaes e imprios. Com isso, o conceito de desenvolvimento poltico se libertaria de uma identificao estrita com o Ocidente e, ainda, conseguir-se-ia alcanar clareza a respeito do que especfico atualmente no processo em curso na sia, na fri-ca e na Amrica Latina. Alm disso, se o objetivo entender o desenvolvimento poltico dessas regies do mundo, essa diferenciao necessria, j que nelas a modernizao, em certo sentido, um fato, enquanto o desenvolvimento pol-tico no reflete nem de longe sua realidade, que marca-da por violncias, golpes, corrupo etc. O uso de variveis da modernizao para medir o suposto desenvolvimento poltico desses pases gera uma falsa sensao de que eles esto progredindo e, at mesmo, que isso seria inevitvel; na realidade, as sociedades em mudana esto em meio decadncia poltica.

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    Dois fenmenos definem a marcha da modernizao: a mobilizao social e o desenvolvimento econmico. Hun-tington assume a definio de Deutsch (1961) para mobi-lizao social, isto , o fenmeno por meio do qual anti-gos comprometimentos so destrudos e novos padres de comportamento e socializao emergem. Segundo Hun-tington, a mobilizao social afeta diretamente a poltica porque altera as aspiraes de indivduos, grupos ou socie-dades. J o desenvolvimento econmico relevante porque transforma a capacidade destes mesmos atores. Portanto, a modernizao social um processo que envolve, de um lado, mudanas nas aspiraes dos indivduos e, de outro, nas suas capacidades. A instabilidade seria o resultado da incapacidade de satisfazer os novos desejos criados.

    Essa compreenso da causa da instabilidade no pro-cesso de modernizao no indita e, na verdade, j apa-recia nos clssicos do desenvolvimento poltico (Lerner, 1964; Deutsch, 1961; Shils, 1960a; 1960b). A originalidade de Huntington est no abandono de qualquer presun-o de uma modernizao que, ao fim, possa ser estvel e benfica; ela deixa de ser vista sequer como desejvel3. A citao abaixo indica como a manuteno de uma estrutu-ra social de indivduos menos conscientes e reivindicado-res compreendida por este cientista poltico como uma

    3 A questo da instabilidade entre os clssicos no tornava indesejvel a mo-dernizao: Tais intervenes no devem ter o objetivo de retardar o desen-volvimento econmico e social. [] Essas polticas [policies] de desacelerao da mobilizao social e do desenvolvimento econmico, essencialmente, apenas reduziram as capacidades do governo, construram o caminho para fracassos domsticos e derrotas internacionais e foram seguidas, ao longo do curso de trs geraes, pelo atraso persistente e pela destruio final do Estado. Uma poltica [policy] mais promissora seria, ao contrrio, uma ao interventora a favor de um crescimento mais rpido e balanceado; uma distribuio de renda de alguma forma mais uniforme, relacionada mais proximamente s recompensas das con-tribuies produtivas que ao status e herana; um investimento mais produtivo dos recursos disponveis; e um crescimento sustentvel das capacidades adminis-trativas e polticas do governo e dos estratos cada vez mais amplos da populao (Deutsch, 1961, p. 505).

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    alternativa possvel frente a uma modernizao essencial-mente desestabilizadora:

    Existe assim um conservadorismo dos desamparados to profundo quanto o dos privilegiados; os primeiros constituem um fator to importante para a perpetuao da ordem social quanto os ltimos. A pobreza em si mesma uma barreira instabilidade. Os que esto preocupados com o objetivo imediato da prxima refeio no esto propensos a se preocuparem com a grande transformao da sociedade (Huntington, 1975, p. 66)4.

    A modernizao entendida como um processo essen-cialmente desestabilizador e at mesmo indesejvel, e o desenvolvimento poltico como o processo de instituciona-lizao de organizaes polticas e procedimentos, isto , o processo por meio do qual organizaes e procedimentos adquirem valor e estabilidade (Huntington, 1965, p. 394; 1975, p. 24)5. Dessa forma, justamente a existncia de pro-cedimentos reconhecveis e estveis capazes de regular a participao poltica e os conflitos que garantiria a estabili-dade das sociedades. A citao abaixo indica esse ponto:

    Tanto a sociedade de massa quanto a sociedade participante possuem elevados nveis de participao poltica. Diferem, porm, na institucionalizao das organizaes e dos procedimentos polticos. Na sociedade de massa, a participao poltica no estruturada, inconstante, anmica e variada. Cada fora social procura atingir seus

    4 Sobre as favelas e a populao rural, ver Huntington (1975, pp. 288, 440). Sob uma perspectiva mais ampla, na mesma obra, o autor ainda explica por que so os pases em modernizao (e no os pobres e tradicionais) os mais instveis (Hun-tington, 1975, pp. 52-60).5 O institucionalismo presente em Huntington , portanto, bastante diferente das questes existentes nas duas vertentes clebres da cincia poltica (a clssica e o neoinstitucionalismo).

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    objetivos atravs dos recursos e das tticas em que mais forte. A apatia e a revolta se sucedem uma a outra, filhas gmeas da ausncia de smbolos e instituies polticas com autoridade. A forma caracterstica de participao poltica o movimento de massa, combinando aes violentas e no violentas, legais e ilegais, coercitivas e persuasivas. A sociedade de massa carece de estruturas organizadas que possam relacionar os desejos e atividades polticas das massas com os objetivos e decises de seus lderes (Huntington, 1975, p. 101).

    Em uma frase: se a modernizao seria responsvel pelos efeitos desestabilizadores, o desenvolvimento poltico aquele que gera a estabilidade. Essa diferenciao aparece claramente na citao a seguir:

    A instabilidade da cidade a instabilidade dos golpes, das insurreies, das demonstraes , at certo ponto, uma caracterstica inevitvel da modernizao. A extenso que essa instabilidade se manifesta depende da eficincia e legitimidade das instituies polticas da sociedade (Huntington, 1975, p. 90).

    Resta ainda analisar como essa nova perspectiva sobre o desenvolvimento poltico transforma o modo de compreen-der as diferenas entre os pases politicamente desenvolvi-dos e aqueles que ainda no chegaram l.

    ncoras versus velasAinda na introduo de Ordem poltica nas sociedades em mudana, Huntington apresenta uma classificao esque-mtica das diferentes sociedades a partir de dois critrios: participao e institucionalizao. As sociedades modernas so aquelas com alta participao, subdivididas entre desen-volvidas (em que alta a participao e a institucionaliza-

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    o) e subdesenvolvidas (em que a institucionalizao baixa). Uma segunda clivagem refere-se apenas ao grau de institucionalizao poltica (deixando, de lado, portanto, a participao). As altamente institucionalizadas so socieda-des cvicas, enquanto as de baixo grau so pretorianas. Ao longo do desenvolvimento do argumento do autor, diver-sas caractersticas aparecem para substancializar o esquema classificatrio inicial.

    A primeira caracterstica atravs da qual Huntington entende a identidade das sociedades em mudana apare-ce simbolicamente na imagem que ele toma emprestado de Thomas Macaulay: sociedades que so toda vela e nenhu-ma ncora. A instabilidade , portanto, a marca dessas sociedades. Mas o que Huntington entende por ncoras? Uma anlise da identidade dos pases desenvolvidos permi-te responder a essa pergunta. As caractersticas principais desses pases so: a existncia de uma comunidade polti-ca definida, legitimidade, uma viso comum do interesse pblico, instituies fortes, adaptveis e coesas e a lealdade dos cidados (Huntington, 1975, p. 13). Essas caractersti-cas podem ser vistas como as ncoras da sociedade, ou seja, aquilo que at hoje mantm a estabilidade quando o siste-ma desafiado por novas questes. So elas que mantm a sociedade estvel frente a novos desafios, como exemplifi-ca em sua anlise da dificuldade do sistema poltico norte-americano em assimilar a minoria negra, tal como apre-sentado abaixo:

    Os problemas do sistema poltico norte-americano na dcada de 1960 de assimilar a minoria negra no diferiam significativamente dos enfrentados por muitos sistemas polticos em pases em modernizao. Entretanto, no passado, o sistema poltico americano e os partidos americanos demonstraram capacidade institucional precisamente para essa assimilao. A absoro bem-

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    sucedida dos karens, dos tamiles, dos curdos ou dos negros nos sistemas polticos da Birmnia, do Ceilo, do Iraque ou do Sudo era muito mais problemtica simplesmente porque as elites polticas desses pases no tinham procedimentos to altamente desenvolvidos e institucionalizados para manejar esses problemas (Huntington, 1975, p. 405).

    J os pases em mudana no possuem nenhuma des-sas ncoras: a comunidade poltica fragmentada, as insti-tuies so fracas e sem flexibilidade, os regimes polticos esto em constante transformao.

    Huntington reflete sobre a histria dos pases desen-volvidos que possibilitou a gerao dessas ncoras em con-traste com o processo de modernizao dos pases da sia, frica e Amrica Latina. A resposta encontrada basica-mente aquela que outros tericos do desenvolvimento poltico j haviam dado: a Europa e os Estados Unidos sofreram a modernizao e todas as suas consequncias desestabilizadoras de forma muito mais lenta e em uma sucesso que lhes foi benfica (Lapalombara, 1973; Ward e Rustow, 1968; Coleman, 1965; Pye e Verba, 1969; Lapa-lombara e Weiner, 1972).

    No entanto, ao analisar o processo de desenvolvimento poltico norte-americano, Huntington surpreende. Segun-do ele, os Estados Unidos chegaram a um resultado insti-tucional bem diferente do europeu porque no partiram do feudalismo e, portanto, no teria existido nesse pas a mesma necessidade de centralizao poltica que a Euro-pa feudal enfrentou. Alm disso, possuam uma sociedade que j era moderna, o que no teria exigido um grande papel do Estado na mudana dos costumes e da estrutura social. A ideia de que, nos Estados Unidos, todas as pessoas j nasciam iguais no era nenhuma novidade, mas o que causa assombro em Huntington a compreenso de que

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    essas caractersticas produziram nesse pas um desenho ins-titucional antiquado e sem nenhuma inovao. A balana de poderes do sistema norte-americano vista pelo autor como uma relquia, um resqucio da organizao feudal, uma estrutura anacrnica que sobreviveu graas s baixas diferenas entre classes, mas que talvez gerasse os maiores problemas que enfrentavam no presente: desafios raciais, da Guerra Fria e da pobreza (Huntinton, 1975, p. 146). Portanto, a prpria identidade de pas desenvolvido dos Estados Unidos isto , de que possuiria instituies pol-ticas eficientes e fortes questionada por Huntington. Como entender essa suavizao da prpria identidade? O papel que teve a questo da instabilidade/estabilidade na representao das sociedades em mudana e na prpria definio de desenvolvimento poltico indica uma expli-cao plausvel. A anlise concreta da fora e da eficincia das instituies norte-americanas pde ser complexificada e relativizada justamente porque no era mais nesse vetor em que se baseava a diferenciao entre ncoras e velas; a estabilidade versus a instabilidade que forneceu o novo referencial para a construo de uma identidade antit-tica assimtrica6. Ou seja, a complexificao do tema em Huntington entendida aqui como um indcio de que no a veracidade da afirmao de que os pases politica-mente desenvolvidos so aqueles em que h instituies eficientes e fortes o que est em jogo. Na realidade, esse no o ponto-chave da distino que Huntington preten-de realizar. Seu interesse maior est em diferenciar as ins-tituies polticas que so estveis das instveis.

    Antes de prosseguirmos, porm, uma observao necessria. Foi mostrado como Huntington rompe com os tericos clssicos ao diferenciar desenvolvimento pol-

    6 Sobre essa noo, ver Koselleck (2006).

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    tico de modernizao e, alm disso, como compreende a modernizao enquanto fenmeno essencialmente deses-tabilizador. Alm disso, a prpria distino entre pases desenvolvidos e sociedades em mudana realizada com base no binmio estabilidade/instabilidade7. Por esse moti-vo, entende-se aqui que Huntington rompe com a lingua-gem terica anterior, bem como promove um novo eixo em torno do qual o debate se reorganizar. Huntington dissocia o debate da instabilidade nos pases pobres daque-le sobre o progresso ou a modernizao. Se a instabilida-de, na sua abordagem marginal pelo pensamento clssico, estava imbricada em uma discusso sobre a transformao global desses pases, essa associao no mais ser neces-sria. A discusso e a representao dos pases pobres nos termos da segurana e da instabilidade podem seguir seu caminho divorciadas do debate sobre o desenvolvimento econmico e a modernizao.

    A seguir, analisa-se como Fukuyama desmonta o esforo de Huntington em purificar o conceito de desenvolvimento poltico dos processos de participao e democratizao.

    francis fukuyama: a democracia revisitadaO conflito de perspectivas entre Huntington e Fukuyama desponta facilmente primeira vista: se o principal desafio do primeiro foi desvencilhar o processo de modernizao do desenvolvimento poltico, purificando com isso o lti-mo conceito de critrios tais como participao poltica e democratizao, o segundo, por sua vez, ambicionou rein-serir a democracia como ideal normativo a ser perseguido e atingvel. Enquanto o primeiro afirmou que a moderni-

    7 Apesar de no ter sido objeto de investigao deste artigo, deve-se ressaltar que tambm a anlise do hiato entre o campo e a cidade e dos caminhos possveis da construo da ordem poltica realizada com base no eixo estabilidade/instabili-dade (Huntington, 1968).

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    zao era um destino incerto e que a decadncia poltica era uma situao muito mais provvel, o segundo defendeu que o triunfo da democracia liberal ocidental j era uma realidade e que atingiria, a longo prazo, todos os pases. No pensamento de Huntington, os efeitos benficos da moder-nizao desaparecem da reflexo; para o de Fukuyama, o liberalismo representa nada menos que o fim da histria. Meu objetivo aqui verificar em que medida essa oposio preliminar resiste a uma anlise aprofundada.

    Fukuyama restitui o vnculo entre o desenvolvimento poltico e a democracia liberal; o autor chega at mes-mo a afirmar em O fim da histria e o ltimo homem que, mesmo quando instvel, a democracia a nica aspira-o poltica coerente. Segundo ele, haveria um notvel consenso, em todo o mundo, a respeito da legitimidade da democracia liberal e, mais do que isso, ela constitui-ria a forma final do governo humano: seria o estgio final de evoluo ideolgica da humanidade, em suma, o fim da histria. A racionalidade da adeso democracia se explica pelas caractersticas que definem este sistema. Retorna-se aqui a anlise que ele faz dos seres humanos para, nesta perspectiva, entender o apelo da democracia no seu pensamento.

    Fukuyama afirma, a partir de uma leitura kojviana de Hegel, que os seres humanos distinguem-se dos animais porque desejam o desejo dos outros homens, isto , cada um quer o reconhecimento de si prprio como ser humano digno ou de valor (Kojve, 1947). O desejo de reconheci-mento no s uma caracterstica especificamente huma-na, mas tambm o motor do processo histrico. Segun-do essa perspectiva, a relao entre os homens se ordena enquanto uma luta por reconhecimento. O conflito-chave da busca pelo reconhecimento est na possibilidade de se conseguir alcan-lo efetivamente: o reconhecimento s real quando advm dos pares ou de entes em igual con-

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    dio, e tem pouco ou nenhum valor quando provm de um ser cuja humanidade no admitida, por exemplo, os escravos. Dessa forma, relaes de domnio e de servido no atingem o fim perseguido, a saber, a obteno do reco-nhecimento. a insatisfao ou incapacidade de alcanar aquilo que especfico dos seres humanos que constitui a contradio das sociedades desiguais e, por outro lado, a razo do engendramento de novas formas de governo; ou, como postula Fukuyama, da evoluo para etapas mais avanadas da histria.

    Com base nessa perspectiva do ser humano e da evolu-o histrica, a democracia definida como o sistema que permite a satisfao das aspiraes humanas mais profun-das e fundamentais, uma vez que ao efetivar politicamen-te a igualdade entre os homens, realiza simultaneamente a possibilidade da conquista mtua e universal do reco-nhecimento. A satisfao do desejo por reconhecimento justamente o que reinsere a democracia no desenvolvi-mento poltico. Desenvolver-se politicamente alcanar esse sistema livre de contradies internas fundamentais. Mais do que isso, o sistema democrtico constitui o fim da histria; ou seja, a concretizao de um princpio no aperfeiovel, o ltimo estgio possvel para o desenvolvi-mento poltico.

    A satisfao da aspirao humana mais profunda o desejo de reconhecimento a razo pela qual a demo-cracia seria o estgio final do desenvolvimento poltico e o sistema de alcance universal e difuso inevitvel. A condio democrtica livre de contradies internas fundamentais, como nenhum outro sistema poltico conseguiu ou teria qualquer chance de alcanar. Dessa forma, inexistem alter-nativas viveis democracia e o triunfo desta em todos os pases inevitvel a longo prazo.

    A certeza do triunfo da democracia no quer dizer ausncia de problemas e menos ainda falta de preocupao

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    com a questo da estabilidade democrtica; essas questes so recorrentes, ainda que se acredite que elas sero supera-das futuramente, dada a inexistncia de qualquer alternativa melhor e a impossibilidade desse princpio ser aperfeioa-do. O primeiro pargrafo de O fim da histria exemplifica como a questo da democracia aparece o tempo todo no pensamento de Fukuyama acompanhada da preocupao com a estabilidade:

    Entretanto, mais do que isso, eu afirmava [no artigo] que a democracia liberal pode constituir o ponto germinal da evoluo ideolgica da humanidade e a forma final de governo humano e, como tal, constitui o fim da histria. [] No significa que as estveis democracias atuais, como os Estados Unidos, a Frana ou a Sua, estejam isentas de injustia e srios problemas sociais. Porm so problemas de implementao incompleta dos princpios de liberdade e igualdade, nos quais essas democracias se baseiam, e no oriundos de falhas nos prprios princpios. Embora alguns pases contemporneos no chegassem a alcanar uma democracia liberal estvel, e outros revertessem para outras formas mais primitivas de governo, como a teocracia ou a ditadura militar, no seria possvel aperfeioar o ideal da democracia liberal (Fukuyama, 1992b, p. 11).

    A citao acima mostra como a estabilidade uma questo presente na observao dos pases que j possuem democracias consolidadas, assim como daqueles recm- -democratizados.

    Alm disso, no mesmo trecho, Fukuyama reconhece a possibilidade de que, uma vez alcanada a forma final de governo humano, os pases possam regredir8 para

    8 A palavra regresso aparece na edio portuguesa (Fukuyama, 1999). Original-mente, o autor escreve: might lapse back into other, more primitive forms of rule like theocracy or military dictatorship (Fukuyama, 1992a).

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    formas de governo mais primitivas. Assim, apesar de ter reinserido a democracia no desenvolvimento poltico, ele no mantm as demais asseres da perspectiva clssica sobre o desenvolvimento poltico que o concebia como cumulativo e irreversvel9. O progresso est, de fato, com-binado com a possibilidade de regresso. Dessa forma, a democracia aparece o tempo todo articulada questo da instabilidade. com esse vis que ele analisa a transio para a democracia no sul da Europa, na Amrica Latina e nos pases da antiga Unio Sovitica (Fukuyama, 1992b, pp. 40, 41, 65-66).

    Fukuyama reinsere a democracia na definio de desenvolvimento poltico e reafirma esse sistema como o destino final de todos os pases; mas mantm, em certo sentido, parte da argumentao de Huntington, j que esse ltimo, apesar de questionar a viso de que a demo-cracia seria inevitvel, afirma que a decadncia poltica era sempre um resultado possvel. De fato, o sentido da regres-so pensada por Fukuyama se aproxima, em alguns tre-chos, da definio de decadncia poltica de Huntington. O inverso da democracia estvel seria a agitao, a guer-ra civil e a desintegrao (Fukuyama, 1992b, pp. 65-66). No entanto, a citao transcrita anteriormente apresenta um outro sentido para o regresso: o retorno s formas de governo mais primitivas.

    Tambm na anlise dos Estados fortes comunistas ou dos Estados autoritrios est presente uma reflexo a res-peito de como possvel uma transformao do sistema de governo vigente. A instabilidade desses regimes apresenta-da como uma crise das ideias ou crise de legitimidade.

    9 A partir da obra de Huntington comea-se a criticar essa viso simplista que os clssicos teriam do desenvolvimento. Alguns autores que, de fato, apresentavam uma verso bastante otimista da modernizao eram Lerner (1964); Almond e Coleman (1969) e Shils (1960).

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    Para compreender as verdadeiras fraquezas do Estado sovitico, ento, o problema econmico deve ser situado no contexto de uma crise muito maior, a crise da legitimidade do sistema poltico como um todo (Fukuyama, 1992b, p. 58).

    Ou seja, aquilo que constitui a fraqueza ou a instabi-lidade dos Estados fortes a falta de legitimidade. Dessa forma, a crena na capacidade de perpetuao dos sistemas autoritrios ou de que os Estados fortes seriam mais est-veis que os democrticos desmontou-se assim que a antiga Unio Sovitica teve que lidar com questionamentos legi-timidade do Estado comunista.

    A ausncia de autoridade legtima significou a falta de um princpio mais alto para o qual o governo autoritrio pudesse apelar em caso de fracasso em qualquer rea da sua poltica. Alguns comparam a legitimidade a uma espcie de reserva de dinheiro. Todos os governos, democrticos e autoritrios, tm seus altos e baixos, mas somente os governos legtimos possuem essa reserva para ser utilizada nos tempos de crise (Fukuyama, 1992b, p. 69).

    Em suma, o contraste entre a preocupao de Fukuya-ma com a instabilidade do regime democrtico e suas explicaes para a no perpetuao do Estado forte indi-ca que, ainda que a instabilidade da democracia seja uma questo constante, esse sistema visto como instvel a curto prazo; mas, uma vez que se baseia em um princpio mais nobre e legtimo capaz de lhe garantir resistncia crise, possui maior resilincia a longo prazo (Fukuyama, 2006a).

    A seguir discute-se o efeito da reinsero da democra-cia na compreenso das identidades dos pases pobres e dos pases ricos.

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    histricos versus ps-histricosA questo do reconhecimento crucial para a definio da democracia no pensamento de Fukuyama e tambm por meio dessa noo que ele entende as relaes internacionais. A luta pelo reconhecimento existe igualmente entre pases e os conduz disputa, guerra e ao imperialismo. A demo-cracia a soluo domstica para a consecuo do reconhe-cimento recproco e igualmente a sada para a disputa no nvel internacional. Somente a relao entre democracias liberais viabiliza o reconhecimento mtuo da legitimidade das naes. Dessa forma, Fukuyama entende que a guerra e o imperialismo so fenmenos especficos das relaes entre pases no democrticos e, eventualmente, de um desses pa-ses com um outro que possui um regime democrtico; mas, raras vezes, ocorrem entre duas democracias liberais, j que as sociedades capitalistas democrticas no necessitam da guerra ou do imperialismo para buscar o reconhecimento. Na medida em que no h necessidade de luta por reco-nhecimento, as relaes entre os pases ps-histricos esto baseadas no eixo econmico.

    Se as democracias podem se relacionar sem os proble-mas da disputa, da guerra ou do imperialismo, o mundo ps-queda do Muro de Berlim, mais exatamente, o mun-do aps a terceira onda de democratizao, traria ento a promessa ao menos para um observador que escreve entre 1989 e 1992 de ser um espao cada vez mais livre de crises, conflitos e instabilidades? Infelizmente, se a imagem dos pases ps-histricos permite vislumbrar um futuro mais pacfico, outra a consequncia da representao dos pa-ses que ainda se encontram na histria.

    Quais so as implicaes do fim da histria para as relaes internacionais? Evidentemente, a grande massa do terceiro mundo permanece comprometida com a histria, e ser um terreno de conflito por muitos anos ainda (Fukuyama, 1989).

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    De fato, aqueles pases que Fukuyama chama acima de terceiro mundo aparecem o tempo todo, no artigo e no livro, associados s disputas pelo poder, aos conflitos reli-giosos, nacionais e ideolgicos, s guerras, injustia e pobreza.

    Reafirma-se, com isso, a diviso huntingtoniana entre pases desenvolvidos estveis e sociedades em mudana ins-tveis. Apesar da compreenso do que constitui o desenvol-vimento poltico haver se transformado com a introduo da questo do reconhecimento e a reintroduo da demo-cracia, isso no altera a compreenso daquilo que distingue pases ricos e pases pobres: a estabilidade. Mais do que uma diviso entre histricos e ps-histricos, instveis e estveis, belicosos e pacficos, no qualquer instabilidade, guerra ou imperialismo que Fukuyama est prognosticando para o mundo ps-Guerra Fria, mas justamente um tipo de insegurana que atinge o primeiro mundo. Aquele mun-do ps-histrico que j superou os problemas da histria sofre ainda do mal de ter que conviver com um terceiro mundo, gerador de conflitos que no consegue controlar. Segue abaixo o prognstico do autor sobre o mundo do fim da histria:

    Isso no implica, de forma alguma, o fim do conflito internacional per se. O mundo neste momento estaria dividido entre uma parte que seria histrica e uma parte ps-histrica. Conflito entre Estados ainda na histria, e entre esses Estados e os que esto no fim da histria ainda seria possvel. Ainda haveria um alto, e talvez crescente, nvel de violncia tnica e nacionalista, j que esses impulsos esto incompletamente exauridos, at mesmo em parte do mundo ps-histrico. Palestinos e curdos, sikhs e tameis, catlicos irlandeses e vales, armnios e azeris, continuaro a ter seus ressentimentos no resolvidos. Isso implica que terrorismo e guerras de libertao

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    nacional continuaro a ser um item importante da agenda internacional (Fukuyama, 1989).

    Outros pontos de coliso entre o mundo histrico e o mundo ps-histrico que aparecem no livro so: o petrleo, a imigrao e a proliferao de tecnologia.

    De um lado, Fukuyama reinsere a democracia na defini-o de desenvolvimento poltico, de outro a discusso sobre ela aparece sempre acompanhada da preocupao com a estabilidade. Ao mesmo tempo, a imagem sobre o terceiro mundo que emerge a partir dessa nova compreenso do desenvolvimento poltico continua sendo a da instabilida-de. Ambas proposies indicam que aquilo que Fukuyama entende por desenvolvimento poltico mais do que demo-cratizao. Para a consagrao do progresso poltico outro processo deve estar associado aquisio de democracia: a estabilizao.

    Uma anlise de obras mais recentes de Fukuyama rea-firma a hiptese que o pensador no entende desenvolvi-mento poltico com base exclusivamente na democracia. A insuficincia da democracia enquanto critrio nico para descrever o desenvolvimento poltico aparece, pri-meiro de tudo, em sua prpria argumentao a respei-to da importncia do legado de Huntington. Segundo ele, Ordem poltica nas sociedades em mudana foi o ltimo esforo srio para elaborar uma grande teoria do desen-volvimento poltico. A literatura sobre a transio para a democracia trata de um aspecto do desenvolvimento pol-tico, mas no faz uma teoria abrangente sobre esse pro-cesso (Fukuyama, 2006a).

    Alm disso, as obras recentes do autor dedicam-se muito menos questo da democratizao dos pases his-tricos, do que estabilizao desses pases (Fukuyama, 2004; 2005; 2006b). Ele afirma que esses pases constituem o mais importante problema para a ordem internacional

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    desde o fim da Guerra Fria, pois so a fonte de abusos de direitos humanos, de ondas de emigrao, de ataques aos vizinhos, de drogas, de aids, de terrorismo e esto por trs de vrias crises do sistema internacional entre 1989 e 2001. Para agravar a situao, desde o 11 de Setembro esses Estados se tornaram prioridade global para seguran-a e assustam muito mais diretamente o mundo desen-volvido. A citao a seguir explica a dimenso do proble-ma atualmente:

    Os ataques mostraram as maneiras pelas quais a violncia havia se democratizado: a possibilidade de combinar o islamismo radical com armas de destruio em massa de repente passou a implicar que eventos ocorridos em partes distantes e caticas podiam ser intensamente importante para os Estados Unidos e outros pases ricos e poderosos (Fukuyama, 2005, p. 124).

    Tal preocupao, reforada pela instabilidade gera-da por esses pases, promoveu a insero do problema da capacidade institucional, isto , a capacidade dos Estados de planejar e de executar polticas. A partir dessa nova abordagem institucional, os Estados at ento compreen-didos como ainda presos histria comeam a ser defini-dos como Estados fracos ou fracassados, sendo a fraque-za entendida como

    falta de capacidade institucional para implementar polticas e forar o respeito a estas, com freqncia causada pela subjacente falta de legitimidade do sistema poltico como um todo (Fukuyama, 2005, p. 128).

    Reinsere-se, portanto, o tema, marcadamente huntingto-niano, da estabilidade das instituies na questo do desen-volvimento poltico. verdade que essa questo no exclui

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    a ausncia de democracia enquanto causa dos problemas desses pases, j que, para Fukuyama, a falta de legitimidade seria a fonte frequente dessa fraqueza institucional10.

    Portanto, percebe-se no pensamento recente do autor de O fim da histria uma preocupao muito mais intensa com a questo da instabilidade somada a uma nova ques-to da capacidade institucional do que com o debate sobre a ausncia de democracia dos Estados histricos. Apesar de ter reinserido a democracia no desenvolvimento polti-co, a instabilidade, tal qual em Huntington, ainda o pon-to que mais interessa na anlise desses pases. Alm disso, Fukuyama intensificou sua preocupao com a regres-so questo anloga noo de decadncia poltica de Huntington ao focar grande parte das pesquisas recentes nesse fenmeno, alm de aprofundar a sua compreenso terica-conceitual do problema a partir da noo de Esta-do fraco ou fracassado.

    Ser que existe uma adoo consciente das ideias do professor pelo aluno? A anlise do prefcio que Fukuyama (2006) fez para a reedio de Ordem poltica nas sociedades em mudana indica que esse ltimo, de fato, ainda considera a obra de Huntington fundamental e tem conscincia de como suas perspectivas se aproximam.

    Fukuyama inicia o prefcio perguntando-se como podemos avaliar os argumentos de Huntington quarenta anos depois. Segundo ele, a experincia histrica neste perodo reafirma diversas asseres expostas em Ordem poltica nas sociedades em mudana: os piores casos de ins-tabilidade continuam ocorrendo nos estgios iniciais da modernizao; a mobilizao social mais acelerada que o processo de institucionalizao poltica continua um

    10 Ele associa a legitimidade ao sistema democrtico do seguinte modo: Embora historicamente tenha havido muitas formas de legitimidade, no mundo de hoje, a nica fonte sria de legitimidade a democracia. (Fukuyama, 2005, p. 45).

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    grande problema atual; o desenvolvimento poltico segue lgica prpria independente do desenvolvimento eco-nmico11 e a ordem poltica e instituies polticas so precondies para o crescimento econmico dos pases pobres. O ponto mais interessante da reviso de Fukuyama que, segundo ele, Huntington revelou-se extremamente perspicaz ao focar na decadncia poltica, fenmeno que tem sido bastante frequente no mundo ps-Guerra Fria, como atestam os casos de colapsos estatais e de Estados em processo de fracasso. A equivalncia entre decadncia e fracasso realizada, portanto, pelo prprio Fukuyama, que afirma ainda que a tese sobre a decadncia poltica no precisa ser corrigida, mas sim estendida de modo a inserir, para alm do descompasso entre modernizao e institucionalizao, dilemas do sistema internacional contemporneo que enfraquecem os Estados, como, por exemplo, a interdio ao recurso violncia, a facilidade com que produtos ilegais e atividades criminais cruzam as fronteiras e o fornecimento direto de servios por doa-dores externos; processos que impediriam, segundo essa perspectiva, a construo do Estado tal como ocorreu em outras partes do mundo.

    consideraes finaisEnquanto Huntington diferencia modernizao e desen-volvimento poltico e exclui o projeto de transformao global da sociedade do programa de obteno de uma ordem poltica, Fukuyama retoma o objetivo de transfor-mao mais ampla, pois reinsere a democracia no escopo

    11 Verifica-se aqui, portanto, que Fukuyama confirma a distino lgica entre de-senvolvimento poltico e desenvolvimento econmico (distino, alis, que j havia sido promovida antes de Huntington), mas no a distino entre desenvolvimento poltico e modernizao em geral e, mais especificamente, democratizao. Para argumentaes anteriores a respeito da distino entre desenvolvimento poltico e econmico, ver LaPalombara (1973) e Ward e Rustow (1968), obras que foram publicadas em 1963 e em 1964, respectivamente.

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    do conceito de desenvolvimento poltico. Essa divergn-cia tem consequncias no modo com que cada um des-ses cientistas entende a questo da instabilidade. Segundo Huntington, ela resultado da ausncia da ordem polti-ca, ou melhor, de um processo de mobilizao mais acele-rada do que a institucionalizao. Fukuyama, por sua vez, registra mltiplas facetas do que seria a instabilidade. Em todo caso, em mais de um trecho, a instabilidade aparece relacionada ausncia de democracia, sendo vista, ento, enquanto possibilidade de regresso a formas de governo mais primitivas como resultado da crise de legitimida-de ou, ainda, como situao intrnseca dos pases no democrticos ou presos histria.

    Ainda assim, seria apressado afirmar que, do mesmo modo como ocorria at incio da dcada de 1960, qual-quer problematizao da instabilidade desses pases apare-ceria em Fukuyama interligada discusso a respeito das possibilidades de transformao global, ou mais exatamen-te, da mudana do sistema de governo dessas sociedades. O debate sobre a instabilidade encontra uma grande via de vazo no tema da construo de Estados e, como foi visto, a promoo da democracia nesses pases a curto pra-zo no uma problemtica presente em seu pensamento, nem mesmo quando os efeitos instveis desse regime esto em causa.

    Talvez a ausncia da discusso democrtica no presen-te esteja diretamente relacionada certeza de sua vitria a longo prazo. Se o triunfo certo, ainda que em um futu-ro longnquo, possvel reduzir em boa medida a ansieda-de a respeito da construo de uma nova ordem. Alm dis-so, diferentemente dos clssicos do desenvolvimento pol-tico, a aposta na democracia no acompanhada de uma simplificao sobre os obstculos para a instalao desse regime, sobretudo, na promoo externa da democracia nos pases pobres. Segundo Fukuyama, a democratizao

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    s se efetiva caso exista, necessariamente, uma demanda interna por legitimidade. Alm disso, os pases desenvolvi-dos no possuem nenhuma experincia bem-sucedida de construo de Estados a partir de foras exteriores, menos ainda de democracia.

    Em suma, Fukuyama e Huntington se assemelham em relao identificao entre pases pobres e instabilida-de e ao interesse pela decadncia ou regresso/fracasso. Outra afinidade terica a aposta no fortalecimento do Estado como soluo para a instabilidade. Essas semelhan-as colocam questes de primeira ordem para a teoria: por que uma nova definio do desenvolvimento poltico, que assume contornos maiores do que a mera ordem, ou mais diretamente, do que a estabilidade, no foi suficiente para mudar o foco sobre os pases pobres e, mais do que isso, sua identidade predominantemente relacionada questo da instabilidade? Ou seja, por que um novo otimismo sobre o resultado final do processo em curso nesses pases no sig-nificou uma guinada no olhar e na definio do que so os pases no desenvolvidos politicamente?

    Este artigo demonstra como, na realidade, ao invs da questo da democratizao provocar uma guinada analtica e emprica, Fukuyama apresenta preocupaes, ainda mais intensas, com a instabilidade desses pases, j que, segundo ele, esses problemas afetam mais diretamente os pases do primeiro mundo. Ser possvel entender o foco ampliado na instabilidade e a aposta nas instituies como mero efei-to do 11 de Setembro? Mesmo se essas preocupaes j apa-reciam em 1989 e, desde ento no encontraram nenhuma formulao inovadora, to-somente se reforou o rebaixa-mento do interesse democrtico?

    Uma ltima observao vale a pena ser feita nesta an-lise do pensamento desses dois autores: a da reinsero da democracia. Alm de uma argumentao de que os con-flitos dos pases pobres afetam mais diretamente os pases

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    desenvolvidos, Fukuyama se distingue ainda por ampliar o foco da ateno dirigido frica, sia e Amrica Lati-na. Se Huntington afirma que a modernizao no um interesse do cientista ou do policymaker e se restringe ao fenmeno institucional, tambm os clssicos apresentam um foco mais restrito do que importa teoria do desenvol-vimento. Neste ltimo caso, as instituies que estavam ausentes da anlise, em parte por causa da rejeio que o behaviorismo naquela poca tinha em relao ao institu-cionalismo na cincia poltica12. interessante notar, por-tanto, que peculiar a Fukuyama no apenas uma preo-cupao mais intensa com os efeitos da instabilidade, mas tambm um foco de ateno ampliado ao pas pobre: nem Lerner, Almond e Coleman, Deutsch ou Shils, nem Hun-tington se interessaram tanto pela modernizao e pela institucionalizao poltica.

    natlia nbrega de mello mestre em Cincia Poltica pela FFLCH/USP e professora da FMU e do Unibero.

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    SCHMITTER, P. 1991. Comparative politics at the crossroads. Dispo-nvel em: . Acesso em 24 jul. 2010.

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    Resumos / Abstracts

    o desenvolvimento poltico em huntington e fuKuyAmA

    natlia nbRega de melloO artigo contrasta as teses de Huntington e Fukuyama sobre desenvolvimento poltico. As obras analisadas, Ordem poltica nas sociedades em mudana e O fim da histria, ins-crevem-se entre duas conjunturas decisivas 1968 e 1989. Huntington desmontou a equivalncia entre desenvol-vimento poltico e modernizao e Fukuyama reafirmou a democracia como o destino de todos os pases e, des-se modo, como o fim da histria. Nesta comparao, dois eixos se sobressaem: o contexto de produo das obras e a alternncia entre os polos tericos da democracia e da estabilidade. Procura-se demonstrar como, apesar de rein-serir a democracia no desenvolvimento poltico, a instabi-lidade continua a ser um foco privilegiado de anlise no pensamento de Fukuyama.

    palavras-chave: Desenvolvimento poltico; Democracia; Estabi-lidade; Pases pobres.

    huntington and fukuyama on political deVelopmentThe article contrasts the theories of Huntington and Fukuyama on political development. The analyzed works, Political order in changing societies and The end of history, fall between two decisive historical moments in 1968 and 1989. Huntington disassembled the equivalence between political development and modernization; Fukuyama reaffirmed democracy as the destiny of all countries and, as such, it is the end of history. In this comparison, two axes call our attention: the production context of these works and the alternation between the theoreticals poles of democracy and stability. The article shows how, although reenters democracy in the

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    Resumos / Abstracts

    political development theory, instablility remains a prime focus of analysis in Fukuyamas thought.

    Keywords: Political development; Democracy; Stability, Poor countries.

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