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O Diário de um Sábio Revista de Jovens e Adultos da Convenção Batista Fluminense Ano 13- n° 50 - Julho / Agosto / Setembro - 2016 Pr. Diego Nunes Araújo Livro de Eclesiastes

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O Diário deum Sábio

Revista de Jovens e Adultos da Convenção Batista Fluminense

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Pr. Diego Nunes AraújoLivro de Eclesiastes

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LIÇÕES

SUMÁRIO

LIÇÕESCOM A PALAVRA, O SÁBIO!

A INUTILIDADE DE CORRER

ATRÁS DO VENTO

“O TEMPO NÃO PARA”

VITÓRIAS E CONQUISTAS

RELIGIOSIDADE X REVERÊNCIA

O DINHEIRO E SEUS PERIGOS

UMA VIDA MODERADA

O SÁBIO, O REI, A VIDA E AS

OBRAS DE DEUS

O DESTINO DE TODOS

MELANCOLIA X SABEDORIA

A TOLICE DOS TOLOS

O PRESENTE E O FUTURO

A CONCLUSÃO DE TUDO

02 FESTA DA PRIMAVERAJUBERJ

03PRIMEIRAS PALAVRASBÊNÇÃOS DA GENEROSIDADE

07 PALAVRA DO REDATORÉ TEMPO DE AVANÇAR!

09108ª ASSEMBLÉIA DACONVENÇÃO BATISTAFLUMINENSE

10IMPACTO EVANGELÍSTICOE NOITE MISSIONÁRIA

11 APRESENTAÇÃOPR. DIEGO NUNES ARAÚJO

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PRIMEIRAS PALAVRAS

BÊNÇÃOS DA GENEROSIDADEMas digo isto:

Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e aquele que

semeia em abundância, em abundância

também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao

que dá com alegria.(2Coríntios 9.6-7)

A GENEROSIDADE ABENÇOA NOSSAS VIDAS.

A “lei da colheita” sempre preva-lece. Por isso, foi usada a figura de linguagem do semear, que lembra proporcionalidade. Quando você semeia pouco, a colheita será es-cassa, mas quando semeia em abundância...

O apóstolo Paulo está sendo ab-solutamente prático e realista ao tratar do assunto, que para alguns é polêmico: recompensa e justiça re-tributiva. Há sim, recompensas es-pontâneas para quem é generoso.

A “lei da colheita” não é autori-zativa para atitudes materialistas,

pois não estimula que esperemos de Deus apenas as bênçãos do mundo material capitalista. Quando você é bondoso, além das recom-pensas materiais, há outras bên-çãos emocionais e espirituais:

Riqueza em amor – Quem não tem essa riqueza, é desnutrido afetivamente e não tem alegria de viver.

Riquezas em amizades – A gra-tidão não faltará, não obstante possam existir exceções, amigos verdadeiramente gratos sempre existirão.

Riqueza no sentimento de que somos perdoados e amados por Deus – Misericórdia gera miseri-córdia. Quando necessitarmos da espontânea reciprocidade, não nos faltará apoio e solidariedade.

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Você será recompensado por Deus – Os ensinos de Jesus esta-belecem que quando servimos ao próximo, estamos servindo a Deus e receberemos de Sua parte a de-claração: “Vinde benditos de meu Pai” (Mateus 25.34).

Geralmente as pessoas ajudam por obrigação, para se gratifica-rem, para receberem prestígio ou impulsionados pelo amor. A Bíblia estabelece o meu dever de praticar a generosidade, pois Deus é generoso para comigo. Ele “é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra” (2Coríntios 9.8).

Quando somos generosos, agra-damos ao nosso próximo, a nós

mesmos e a Deus. Melhoramos nossa auto-estima, libertamo-nos da avareza e do materialismo. “A vida de um homem não consis-te na abundância dos bens que possui... apartai-vos da avare-za” (Lucas 12.15). Há alegria em praticar a generosidade! Quando as pessoas veem nossas obras, glorificam a Deus, a Igreja é pres-tigiada e cai na graça do povo. Deus se revela por nossa genero-sidade e amor.

Servimos a um Deus generoso e amoroso. Precisamos de mais motivos? Sejamos generosos com nossa família, com as demais pes-soas, com a Igreja, com a denomi-nação, pois assim seremos instru-mentos da graça, amor e miseri-córdia do Senhor.

Amilton Ribeiro VargasDiretor Executivo

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PALAVRA DO REDATOR

É TEMPO DE AVANÇAR!

“Disse o SENHOR a Moisés: Por-que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Êx 14.15).

Eclesiastes 3.1 diz que “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito de-baixo do céu”. Também acrescen-to: há tempo de esperar, planejar, mas há um momento em que Deus manda marchar, avançar “dize aos filhos de Israel que marchem”. Em quais áreas da vida cristã precisa-mos avançar?

1 - No compromisso – A pala-vra compromisso, embora não se encontre na Bíblia, quando apli-cada ao Reino de Deus, expressa profundamente o nosso relaciona-mento com o Senhor e Sua obra. Em Mateus 6.33, em seu primeiro sermão, Jesus convidava as pesso-as a buscarem em primeiro lugar o seu Reino e todas as outras coisas seriam acrescentadas. Em Marcos 8.34, Jesus convocou àqueles que desejavam segui-lo a negarem a si mesmo e a levarem sua própria cruz. Em Lucas 9.62, Jesus revela a seriedade do chamado: aquele que colocar a mão no arado e olhar

para trás, não é apto para o Reino de Deus.

Convencidos dessas verdades, resta-nos olhar para o nosso cora-ção, para nossa vida e verificar o quanto de nós está comprometido com o Reino, até onde vai nosso amor pelo Pai, lembrando que Ele nos ensinou a amá-lo com todo o nosso coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso entendi-mento e com toda a nossa força.

2 - Na comunhão – Ter comunhão é comungar, repartir, compartilhar. A comunhão nos leva a desenvolver relacionamentos pessoais amigáveis.

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Trabalhar para que a unidade do Espírito seja experimentada e isso se faz através do amor e do serviço mútuo. Atos 2.42 e 44 diz: “E per-severavam na doutrina dos após-tolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum”. O cristão tem, na comunhão, a marca que o separa do mundo após o seu novo nascimento em Cristo. Essa marca gera frutos na vida da Igreja.

3 - Na intimidade com Deus – O que significa intimidade? É uma ação afetiva de proximidade entre as pessoas. Ter intimidade com alguém é conhecer essa pessoa profundamente, passar tempo com ela, saber o que ela gosta, o que ela quer. Com Deus também é as-sim. Para ter intimidade com Ele, é preciso:

3.1 - Passar tempo orando – Oração é um diálogo com Deus, é uma conversa natural entre você e Deus: você fala e Ele escuta.

“Atualmente estou tão ocupado que não posso passar menos de quatro horas por dia na presença de Deus.” - Martinho Lutero (1483-1546).

“Tenho passado dias e até se-manas prostrado ao chão, orando, silenciosamente ou em voz alta.” George Whitefield (1714-1770).

3.2 - Ler a Sua Palavra, espe-rando para ouvir a Sua voz – É através do conhecimento da Pa-lavra que vamos ter uma vida de intimidade com Deus. “Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29).

Muitos têm brincado com o peca-do, deixando que a vida cristã te-nha “altos e baixos”, ficando enfra-quecidos e desanimados. A Palavra de Deus nos ensina que devemos confessar os nossos pecados, pois o Senhor os perdoará: “Se confes-sarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”. (1Jo 1.9)

Não é tempo de olharmos para trás ou ficarmos parados em nos-sos preceitos humanos, Deus tem grandes coisas para cada um de nós. Deus manda avançar!

“Toda visão sem ação não pas-sa de sonho. Toda ação sem visão é utopia. Mas uma visão de Deus, com ação, pode mudar o mundo” (George Barna).

“Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habita-ção, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas” (Is 54.2).

Pr. Marcos Zumpichiatte MirandaRedator da Revista Palavra & Vida

Diretor do Departamento de Educação Religiosa da CBF

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APRESENTAÇÃOO livro do Eclesiastes é um livro

de sabedoria que retrata a vida de um rei sábio, chamado Salomão. Percebo que ora é o personagem principal, mas ora ele retrata alguma postura que não entende ser a mais prudente, sugerindo até comporta-mentos e atitudes.

As lições pretendem elucidar em forma de reflexões cada capítulo do Eclesiastes, não pretendendo entrar em questões técnicas, de linguística e etc. A proposta é tratar o Eclesiastes como “o diário de um sábio”, analisan-do a nossa vida hoje pelos indicativos do pregador.

O texto do Eclesiastes, em geral, não é um texto tão simples de compreen-

dermos, por isso, estamos diante de um grande desafio. Os contextos histó-rico, geográfico, político e religioso di-ferem do nosso, mas com dependência do Senhor e vontade de aprender, en-contraremos êxito em nosso propósito de estudar este maravilhoso livro.

Convido você, amado leitor e irmão em Cristo, para que durante este novo trimestre, sua mente e coração este-jam disponíveis para refletir a partir de um tema tão central no Eclesiastes que é a sabedoria, pensando, avaliando e, sobretudo, aplicando as verdades des-ta valiosa porção da Palavra de Deus.

Seja bem-vindo às lições do diário do sábio vaidoso, do rei invejável, mas do amigo da sabedoria!

QUEM ESCREVEU

Diego Nunes de Araujo, 27 anos, nascido na cidade de Belford Roxo, Baixada Flumi-nense. É graduado em teologia pelo Seminário Teológico Ba-tista de Belford Roxo, graduado em Liderança Avançada pelo Instituto Haggai; bacharel em Teologia pela Faculdade Batista do Rio de Ja-neiro; pós-graduando em Ciências da Religião pela UCAM – Universidade Cândido Mendes. Tem cursos de ex-tensão universitária nas áreas de Ética e Ciência Política pela USP – Universi-dade de São Paulo e de formação em Psicanálise Clínica pela Escola de Psi-canálise Koinonia.

É autor dos livros «Essa tal felicida-de: a «contraditora» felicidade do Cris-to”, publicado pela Editora Autografia, “As 7 igrejas do apocalipse: mensa-gens modelos às igrejas brasileiras do

século 21”, publicado pela Fonte Editorial e “Guia politicamente incorreto sobre Jesus: por um evangelho so-lidário à condição hu-mana”, publicado pela Think Free Publisher. Escreve para as Re-vistas Diálogo & Ação e Atitude, da Conven-ção Batista Brasileira.

É o editor-chefe da Think Free Publi-sher (www.thinkfreepub.com), um novo conceito editorial.

Exerce o ministério pastoral há 6 anos. Atualmente é pastor titular da Pri-meira Igreja Batista em Parque Suécia, Belford Roxo - RJ (www.pibps.com).

É casado com Gabrielle, pai da prin-cesa Alice e dono do Téo, um shih-tzu bem divertido.

Contatos: E-mail: [email protected]: diegonunesaraujo.blogspot.comFacebook: Diego Nunes Araujo

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LIÇÃO 1DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

COM A PALAVRA, O SÁBIO!Eclesiastes 1.1

O nome Eclesiastes vem da tradução para o grego do nome hebraico que consta no primeiro verso do livro: תלהק (qōheleṯ). O nome qōheleṯ vem da raiz da palavra qahal que significa “aquele que convoca uma as-sembleia” provavelmente com o intuito de pregar para ela. Daí, algumas traduções deste livro para “O Pregador”.

A tradição bíblica cristã, na sua grande maioria, identifica como sendo de Salomão, a autoria dos três livros: Cântico dos Cânticos, Provérbios e Eclesiastes. Alguns já acham que apenas foi o grande inspirador dos mesmos, no entan-to, outra pessoa escreveu. Sendo

uma coisa ou outra, Salomão está em destaque, com sua vida e sua sabedoria.

As lições pretendem elucidar em forma de reflexões os capí-tulos do Eclesiastes, não preten-dendo entrar em questões técni-cas, como linguística, etc. A pro-posta é tratar o Eclesiastes como o diário de um sábio, analisando a nossa vida hoje pelos indicativos do pregador.

Salomão tem, ao longo do seu diário, uma certa oscilação de hu-mor. Alguns capítulos, por exem-plo, quase nos levam a crer que existe uma contradição instaura-da. Não sei por que, mas me iden-tifico por demais com esse diário.

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Vejo que a distância de épocas não consegue suprimir características centrais da humanidade: dias que preferimos não ter acordado, mo-mentos que nunca desejaríamos ter vivido.

1 – O ambiente histórico A linguagem e o aparecimento

de algumas palavras persas situ-am o livro firmemente no período pós-exílico. Alguns comentaristas recentes optam pelo início do perí-odo helênico, entre 300 e 200 a.C., quando os Ptomoleus do Egito in-cluíram a Palestina como parte de seu império.

Esses reis ptolemaicos explora-vam o país com impiedosa eficiên-cia. Deram continuidade ao siste-ma econômico persa anterior de se apossar da riqueza dos povos aos quais governavam, especialmente por meio de seu sistema fiscal, ini-ciado pelos persas e mantido sob o governo desses reis egípcios. O sistema requeria dos pequenos fazendeiros o pagamento de im-postos, não com produtos agrope-cuários – porcentagens da colheita ou dos rebanhos ovinos e bovinos. Em vez disso, esses reis helêni-cos exigiam o pagamento anual de uma soma fixa em moeda corrente, qualquer que fosse o produto da la-voura ou da criação.

A introdução dessa economia monetária na Palestina teve um

efeito devastador sobre a vida e a condição da população judaica. Em períodos de seca, de pestes, ou de redução das chuvas, muitos peque-nos proprietários tinham de hipote-car ou vender sua propriedade. Às vezes, tinham até de vender a si mesmos e a família como escravos, para obter o dinheiro necessário ao pagamento dos impostos exigidos.

Aumentou a distância entre os pequenos proprietários e fazendei-ros e a rica classe aristocrata. Esta minoria abastada se compunha de funcionários estrangeiros que haviam se instalado tanto no país, como fora dele. Também incluía os agentes e os colaboradores desses estrangeiros, judeus de classe alta. Muitos pequenos fazendeiros e suas famílias se viram privados de suas propriedades, enquanto que a elite opulenta acumulava áreas cada vez maiores para si e/ou para os agentes das potências dirigen-tes estrangeiras, primeiro da Pérsia e depois do grupo de reis e nobres ptolemaicos. Os fazendeiros e pas-tores, despossuídos, agora traba-lhavam a terra como meeiros ou diaristas.1

Os antigos valores e relaciona-mentos baseados nos laços fami-liares e de parentesco tinham pro-movido a ajuda e o apoio mútuos. Mas com a nova economia mone-tária em expansão, essas redes de consanguinidade e de apoio come-

1 - CERESKO, Anthony R. A sabedoria do Antigo Testamento: espiritualidade libertadora. São Paulo: Paulus, 2004. p. 101.

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çaram a se desfazer. Membros da mesma família ou do mesmo grupo viram-se separados em estratos econômicos diferentes e opostos.

Os valores e padrões mais an-tigos, fundados na lealdade e na compaixão humana, haviam dado lugar a valores mais materialis-tas de riqueza e influência, com a chegada das forças dirigentes es-trangeiras e de seus representan-tes. Logo, muitas pessoas já não podiam compreender o mundo e a maneira como ele estava agora or-ganizado, uma vez que estava es-tranho ao que estavam educados.

É nesse contexto de incerteza que podemos situar Coélet. Diante dessa confusão política e econô-mica sob o tacão de um regente opressor, Coélet e muitos de seus companheiros judeus devem ter tido uma sensação de impotência e incapacidade de melhorar as coisas. É nessas circunstâncias, e com essas limitações, que ele se empenha em sua busca da manei-ra mais “sábia” de levar a vida.

Coélet responde as crises eco-nômica, política e religiosa de seu povo de duas formas. De um lado, volta-se como pastor compassivo para seu povo, moldando para ele uma espiritualidade marcada pelo mais rigoroso ascetismo. Do outro, ataca os fundamentos intelectuais, a chamada “sabedoria” da econo-mia monetária helênica, que estava causando tamanha destruição na vida de seus companheiros judeus.

2 – A estrutura do CoéletOs estudos de Addison Wright

demonstram a unidade do livro e a progressão do pensamento. O livro tem uma estrutura simples e descomplicada, na qual estão em ação dois padrões comple-mentares. As palavras-chave e refrões dividem o livro em seções. Na primeira metade do livro, Co-élet descreve sua investigação da vida. Essa primeira metade se di-vide em oito seções, sendo cada uma delas encerrada com a fugaz “vaidade das vaidades“ e/ou “uma corrida atrás do vento”. Coélet apresenta algumas conclusões das investigações que fez. A se-gunda metade também se divide em oito seções. As quatro primei-ras seções terminam com o verbo “descobrir” (ou equivalente) e as quatro últimas são concluídas com o verbo “saber” (ou equivalente).

Essa estrutura, baseada nos re-frões e na repetição de palavra-cha-ve, é confirmada e complementada pela identificação que Wright fez de padrões numerológicos que contro-lam a extensão do livro. Tal como no Livro dos Provérbios, o valor numérico das letras das palavras--chave parece determinante no que se refere à extensão do livro e de vários de seus segmentos.

O padrão mais óbvio se constrói a partir da palavra hebel, “vaidade”, que ocorre trinta e sete vezes. O valor numérico das consoantes em

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Leitu

ra Di

ária

Segunda-feira: Eclesiastes 1.1-5

Terça-feira: Eclesiastes 1.6-13

Quarta-feira: Eclesiastes 1.14-18

Quinta-feira: Eclesiastes 12.1-5

Sexta-feira: Eclesiastes 12.6-7

Sábado: Eclesiastes 12.8-10

Domingo: Eclesiastes 12.11-14

hebel também é trinta e sete. O nú-mero de versículos de cada meta-de do livro é cento e onze, ou três vezes trinta e sete. Observe que os “refrões” de 1.2 e de 12.8 contém, cada um, três hebels.

Wright identificou outros padrões matemáticos além desses. Porém, basta dizer que esses padrões coincidem com as indicações es-truturais proporcionadas pelos refrões repetidos. Em outras pala-vras, é óbvio que o autor elaborou a obra com extremo cuidado e deu uma forma consciente e proposital ao livro, tanto em termos de exten-são como de organização.2

Para pensar e agir:1 – O diário de um sábio não quer

ser um guia moral para a sua vida. Aqui não é autoajuda, psicologia barata, ou qualquer outra tentativa de moldar sua vida. Apenas acom-panharemos o diário de alguém considerado o mais sábio de sua época. Retire os óculos de sua for-ma de ver as coisas. Tente ver além do que está escrito, enxergue além do jeito como sempre enxergou to-das as coisas.

2 – O diário de um sábio pretende demonstrar a estranheza de ontem e de hoje da nossa vida. Pretende comparar como somos falíveis e, em muitos aspectos, iguais. Como somos fracos, e também sem ação. Como cansamos do faz de conta

da religiosidade. E como desisti-mos até mesmo do que acabamos de falar.

3 – O diário do sábio quer que você se sinta à vontade, se sinta bem à mesa, se sinta em casa, a ponto de refazer e fazer, de ver e não ver, de aprender e desapren-der, de vislumbrar ou não de quem sabe desenvolver a sabedoria, de quem sabe apreender o que ainda não havia, de quem sabe construir novas possibilidades, de quem sabe ser abençoado à luz dos desabafos e discursos do grande pregador e sábio que iniciou o seu diário com as polêmicas palavras: “Vaidade de vaidades, tudo é vai-dade!...”.

As lições que você tem em mãos, deseja sintetizar percepções de um jovem pastor, escritor, esposo, filho, neto, amigo, irmão, cunhado, falho, pobre, simples, pecador, de-sacreditado com algumas coisas, andarilho, discípulo, amante da filosofia, servo do bem. Seja bem--vindo ao diário do sábio vaidoso; do rei invejável, mas do amigo da sabedoria!

2 - Ibid., p. 106

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LIÇÃO 2DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

A INUTILIDADE DE CORRER ATRÁS DO VENTO

Eclesiastes 1.1–2.26

A palavra Eclesiastes vem do termo hebraico תלהק, ou seja, “reunir” ou “juntar”, e a sua for-ma sugere algum tipo de cargo público. Era, possivelmente, um status eclesiástico de alguém que convocava uma assembleia ou falava perante ela. A raiz da pala-vra Eclesiastes é a mesma usada para o termo “igreja” ou “congre-gação” – Eclésia. O título do livro que estamos refletindo pode ter diversas traduções: “o Pregador, o Orador, o Presidente, o Porta--voz, o Filósofo, o Professor”.

O autor do livro é o rei Salomão, defendido pela tradição. Era co-nhecido pela sua sabedoria – “Pa-

lavra do Pregador, Filho de Davi, rei de Jerusalém” (Ec 1.1). A te-mática do livro pode ser resumida assim: “Vaidade de vaidades” diz o Pregador; “vaidades de vaida-des! Tudo é vaidade” (Ec 1.2).

Ao lermos o Eclesiastes, temos a impressão de que Salomão, em um dia que não tinha muita coisa a fazer, sentou em seu trono real e começou a meditar na vida, em tudo o que já havia feito, chegan-do à conclusão de que sua vida era inútil, pois gastou muito tempo com coisas inúteis.

De fato, é um tema interessan-te. Em minha opinião, perece que o autor está sem otimismo, cau-

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sando em nós também certo desâ-nimo diante da vida. Reflitamos um pouco mais adiante.

1. A vaidade do ter (Ec 2.1-11)Salomão foi um homem extrema-

mente rico. Um pouco da sua fortuna está explícita em 1Reis 10.14-29. O capítulo 2 do Livro de Eclesiastes descreve que o mes-mo investiu muito em coisas e em pessoas: casas, jardins, bosques, gado, terras, cantores, escravos, etc. Está registrado: “Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei” (Ec 2.10).

Conta-se a história de certo rei que era muito infeliz. Ele consultou os sábios do seu palácio querendo que o ajudassem a encontrar a felicidade. Os sábios lhe disseram que a única maneira de ser feliz seria usando a camisa de um homem feliz. Então o rei mandou mensageiros por todo o reino, a fim de encontrar um homem feliz e comprar sua camisa a qualquer preço. Eles viajaram por diversas cidades, mas não encontraram ninguém que fosse verdadeiramen-te feliz. Por fim, quando já estavam desistindo da missão, ouviram um homem cantarolando e nadando alegremente num riacho ali perto. Eles pararam e perguntaram: “O senhor é feliz?”. Ele respondeu: “Claro que sou! Acho que sou até o homem mais feliz do mundo! Não tenho quase nada, mas tenho

a liberdade de vir para cá sempre que quero. Aqui posso tocar meu violão, posso cantar à vontade, posso pescar, posso nadar, posso ver o pôr do sol e os pássaros me fazem companhia”. Então, os men-sageiros do rei desceram do cava-lo, pegaram uma grande quantia de dinheiro e disseram ao homem: “O rei precisa da sua camisa e ele quer comprá-la”. Aquele sujeito co-meçou a sorrir e disse: “Diga ao rei que o homem mais feliz do mundo não tem camisa”.

Sobre a temática do conto acima, o Cristo nos ajuda dizendo: “porque a vida de um homem não consis-te na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Salomão chegou também a esta conclusão. Vejamos: “Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para con-seguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento” (Ec 2.11 - NTLH).

2. A vaidade da sabedoria (Ec 2.12-17)

Você saberia me informar quan-tas horas tem um ano? Sabe quantos segundos tem um dia? Sabe quantos dias dura a prima-vera? Sabe qual é o diâmetro da terra? Que perguntas esquisitas a essa hora – você pode pensar – mas se soubesse respondê-las, na ponta da língua, eu diria que

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você é um gênio. Essas informa-ções para Salomão era fácil, pois ele era muito sábio.

A Bíblia relata que “de todos os povos vinha gente a ouvir a sabe-doria de Salomão” (1Rs 4.34). Re-lata também que um dia recebeu uma visita ilustre, a rainha de Sabá. Vejamos o texto: “A rainha de Sabá ouviu falar da fama de Salomão e foi até Jerusalém a fim de pô-lo à prova, com perguntas difíceis... quando se encontrou com Salo-mão, ela lhe fez todas as perguntas mais difíceis que podia. Ele respon-deu a todas; não houve nenhuma que fosse difícil demais para ele responder” (2Cr 9.1-2 – NTLH).

A rainha ficou impressionada, simplesmente encantada com tudo o que ouviu e viu, e declarou: “Eis que não me contaram nem a meta-de da grandeza da tua sabedoria” (2Cr 9.6). Salomão era “o cara” da sua época!

O que devemos perceber de inte-ressante em tudo isso é que apesar de toda sabedoria, ele descobriu que é tolice se esforçar demais para adquirir conhecimento (Ec 2.15-17), pois o final da vida do sábio é o mesmo da vida de quem não sabe nada – ambos caem no esqueci-mento. O sábio teria dito assim: “De que me adiantou gastar anos e anos para descobrir o diâmetro da Terra, se tanto eu como aqueles que nem sabem que a Terra tem diâmetro, vamos todos acabar no

mesmo buraco, debaixo da terra?”. Mas o que fazer diante disso

tudo? Deixar de estudar e buscar a sabedoria? Claro que não devemos agir assim. Salomão desabafa. Assim como todos nós, quando vivemos aqueles dias de crises e muitas reflexões.

Devemos buscar, sim, a sabe-doria e o conhecimento, pois vale a pena adquirir. No entanto, a sa-bedoria que precisamos buscar é a de Deus. A sabedoria do alto é eterna e experiencial. É construída na vida. Não vem pronta ou enla-tada. É processual! É gradual! É existencial!

Sobre a sabedoria, a carta de Tiago registra: “A sabedoria que vem do céu é antes de tudo pura; e é também pacífica, bondosa e amigável. Ela é cheia de misericór-dia, produz uma colheita de boas ações, não trata os outros pela sua aparência e é livre de fingimento” (Tg 3.17 – NTLH).

3. A vaidade do trabalho (Ec 2.18-26)

Chegando à parte final da sua vida, Salomão realmente entendeu o quanto “correu atrás do vento”. Ele “ralou” a vida toda para adqui-rir conhecimento, riqueza e fama, mas percebeu que, enquanto junta-va seus “tesouros”, não tinha tem-po para desfrutá-los e, no fim de tudo, outras pessoas iriam esban-jar o que ele “a duras penas” con-

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Segunda-feira: Eclesiastes 1.1-3

Terça-feira: Eclesiastes 1.4-11

Quarta-feira: Eclesiastes 1.12-18

Quinta-feira: Eclesiastes 2.1-11

Sexta-feira: Eclesiastes 2.12-17

Sábado: Eclesiastes 2.18-23

Domingo: Eclesiastes 2.24-26

quistou. Por isso, exclamou: “Tudo o que eu tinha e que havia conse-guido com o meu trabalho não valia nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar. E ele poderia ser um sábio ou um tolo – quem é que sabe? No entanto, ele seria o dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão” (Ec 2.18-19 – NTLH).

Trabalho não é castigo! O traba-lho é uma dádiva de Deus conce-dida ao homem antes mesmo da rebelião do pecado (Gn 1.28-30 e 2.19-20). No entanto, o traba-lho deve ser um meio para a vida e nunca um meio para a morte. É trabalhar para viver e não viver para trabalhar. O trabalho é o meio pela qual contribuímos para por o mundo em ordem. Precisamos do trabalho, mas o nosso semelhante precisa mais de mim do que qual-quer outra coisa. Com o meu traba-lho, abençoo o meu vizinho e torno o nosso mundo mais habitável!

Para pensar e agir:1 – De que precisamos para ser-

mos felizes? De onde vem a felicida-de? É possível ser feliz? Podemos concluir que o homem não tem ca-pacidade de encontrar a satisfação por seus próprios méritos, por mais que se esforce, pois “tudo é vaida-de; tudo é correr atrás do vento”.

2 – Será que o seu sonho de ri-queza não tem tornado sua vida um pesadelo? Será que hoje, você não se resume apenas ao traba-lho? A maneira para um viver equi-librado está justamente quando as conquistas da criatura não dispen-sam o Criador; quando os alcances de nossos conhecimentos não nos trazem arrogância de uma vida iso-lada, sem darmos o devido valor ao semelhante.

3 – Será que você não está cor-rendo atrás do vento? A vida feliz passa por essas reflexões, mas precisamos parar de correr atrás do vento e encontrarmos os cami-nhos que nos ajudarão a responder o propósito de nossa existência!

4 – A sua sabedoria se resume apenas a conhecimentos e des-cobertas humanas ou materiais? Como é a sabedoria de Deus para você? Você acha que é possível a felicidade pela sabedoria divina? A sabedoria divina é a educação ne-cessária no uso de nossas habilida-des e conhecimentos conquistados!

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LIÇÃO 3DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

“O TEMPO NÃO PARA”Eclesiastes 3.1-22

“O tempo não para” é o título de uma canção da MPB. Revela uma verdade sem fim. De fato, o tem-po não dá trégua para ninguém. O tempo é algo preciso, é algo mi-lagroso, é algo que não pode ser desperdiçado.

O tempo é: 1) Inelástico: não aumenta e nem diminui; 2) In-dispensável: é necessário para que aconteçam todas as demais coisas, e 3) Irreversível: não vol-ta atrás. O tempo é o mesmo para todos, já a sua administra-ção é outra coisa. É pessoal e intransferível!

Cada ano que recebemos de presente para vivermos pos-sui: 1) 31.536.000 segundos; 2) 525.600 minutos; 3) 8.760 horas, e 4) 365 dias. Olha quanto tem-

po recebemos na virada de cada ano! E só de pensar sobre isso, o tempo vai passando.

1 – Tudo tem o seu tempo de-terminado

Deus é a causa incausada, dis-se o filósofo Aristóteles. O motivo pela qual tudo existe e está funda-mentado. Todas as coisas são co-nhecidas previamente pelo Eter-no, estão rigorosamente debaixo do seu controle e há tempo para tudo acontecer.

Tudo tem o tempo próprio, a hora adequada, o momento certo, a situação apropriada. Há tempo para plantar e colher (v. 2), há tempo de derrubar e de edificar (v. 3), há tempo para ajuntar pedras e espalhar pedras (v. 5), há tempo

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de guardar e tempo de jogar fora (v. 6), e há ainda tempo para muitas outras coisas.

“Tudo tem o tempo determinado” refere-se às estações tanto da na-tureza quanto da vida humana (ze-man, isto é, tempo determinado). É o mesmo termo usado em Nee-mias 2.6. Seja a natureza ou qual-quer outra coisa, todas as coisas estão dispostas diante de Deus e sob seu Senhorio.

A arte da vida não está em sa-ber disso, porque isso é simples. A grande questão da nossa vida está em sabermos lidar com o tem-po, pois requer de nós sabedoria e discernimento. Há muitas pessoas que vivem sem regras e sem leis, pois não acreditam na soberania absoluta do Criador e o Seu rela-cionamento conosco.

Olhar como os mais vividos fize-ram, orar a Deus a fim de encontrar serenidade na alma e buscar orien-tação em Suas palavras podem nos ajudar a trilhar o nosso cami-nho na vida, no tocante à adminis-tração do tempo.

Receita pronta ninguém tem para saber administrar o tempo com per-feição, pois o mesmo é um fenô-meno que passa necessariamente por três exercícios interessantes: paciência, esperança e fé. O tema do tempo é filosófico, subjetivo, no entanto, ninguém pode correr dele. Nossos caminhos serão feli-zes quando desenvolvermos a ha-

bilidade de discernir o tempo para todas as coisas.

2 – O tempo para todo propósi-

to debaixo do céuTempo e propósito não estão

numa batalha. Pensar sobre o tem-po é pensar também sobre a razão, o propósito de todas as coisas. A palavra propósito é a tradução da palavra hebraica cheephetz, que significa desejo, inclinação, desíg-nios, intenções humanas. À medida que correspondemos ao Criador, descobrindo o propósito para a vida, vamos vivendo bem.

Em Eclesiastes 3.11 vemos que “tudo fez Deus no seu devido tem-po”, e acrescenta no versículo 14: “tudo quanto Deus faz durará eter-namente”. Podemos, então, dizer que Deus fez “tudo” certo e da “me-lhor” maneira. Nada ficou para ser feito, melhorado ou acabado.

Precisamos pensar em três prin-cípios para a boa administração do tempo:

1) Alvo: fazer a coisa certa; 2) Prioridades: fazer na hora certa;3) Planejamento: fazer da ma-

neira correta. A maneira como tocamos a nos-

sa vida é influenciada pelos nossos alvos. Os alvos que projetamos são influenciados pelas nossas priori-dades. E, para atingirmos isso, de-vemos ter planejamento.

Quando esses princípios estão em dia, podemos vislumbrar ca-

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minhos seguros e equilibrados. A orientação divina deve ser o nosso alvo. Nossas prioridades serão in-fluenciadas com isso. O nosso pla-nejamento não irá faltar, pois nossa fé não é burra.

O tempo que temos usado com propósito nos ensina a sermos pru-dentes (Ef 5.15), a saber aproveitar as oportunidades (Ef 5.16) e a adminis-trar bem o próprio tempo (Sl 90.12).

3 – O tempo de todas as coisas 1. Tempo de nascer e de morrer –

É comum ouvirmos nas mais diver-sas doutrinas religiosas que o dia do nascimento e da morte de uma pessoa já está determinados. Sa-lomão, que depositava no Criador a sua forma de enxergar todas as coisas, entende que a vida humana está guardada em Deus. Ainda so-bre nascer e morrer, temos a reali-dade do plantio: “tempo de plantar e tempo de arrancar o que plantou”. Na agricultura, obedecer as esta-ções estabelecidas pelo Criador é de vital importância para um bom plantio. Todas as coisas acontecem e Deus previamente conhece. A vontade do Eterno sempre acon-tece! Nascer e morrer, bem como, plantar e arrancar são experiências determinadas por Ele.

2. Tempo de matar e tempo de curar – Todos nós sabemos que as nossas guerras político-religiosas e de outras naturezas preservam esse tempo de matar por toda a parte, mas a realidade do tempo

de curar não pode ser ignorada. Os judeus acreditavam muito na cura divina, sem o uso de medicamen-tos, a cura pela cura, tendo Deus como a causa. Temos também aqui o tempo de derribar e o tempo de edificar. Podemos fazer um parale-lo: há várias construções e edifica-ções (curar), mas também o tem-po de destruir e derribar (matar). Construir e destruir são marcas da humanidade decaída pelo pecado!

3. Tempo de chorar e tempo de rir – Chorar pelas calamidades, tristezas, enfermidades e decep-ções fazem parte da vida, uma vez que são consequências inevitáveis do pecado. Todavia, rir faz parte dos planos divinos para a nossa vida. Quantas e quantas vezes sor-rimos e até choramos de alegria? Aqui também temos o tempo de prantear e tempo de saltar de ale-gria. Nossa vida é ciclo após ciclo repleta dessas experiências!

4. Tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras – Em toda construção é preciso espalhar pedras de um terreno pedregoso e apenas usar as realmente adequa-das ao empreendimento. Não dá para construir uma vida com qual-quer pedra, precisamos selecionar as mais firmes, para não tombar-mos diante dos ventos e tempesta-des. O sábio também percebeu na vida o tempo de abraçar e o tem-po de se afastar do abraço, isto é, de construir relacionamentos e de romper com os mesmos.

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Segunda-feira: Efésios 5.15-21

Terça-feira: Marcos 8.1-10

Quarta-feira: Romanos 14.12

Quinta-feira: Salmos 90.1-12

Sexta-feira: Eclesiastes 11.6-9

Sábado: Colossenses 4.5-6

Domingo: Eclesiastes 12.1

5. Tempo de buscar e tempo de perder – Aqui o sentido é pu-ramente material, ou seja, ganhar ou perder vantagens, aproveitar ou não as oportunidades, perder ou ganhar riquezas. Aqui temos também o tempo de guardar e o tempo de lançar fora. Esses são os períodos que vivemos em nos-sa vida: ora aproveitar o que con-quistamos, ora perder aquilo que suamos para conseguir. Eis as contradições do tempo!

6. Tempo de rasgar e tempo de remendar – Os termos aqui são familiares à prática da costura, no entanto, se aplica a tudo o que na vida podemos começar, por algu-mas razões parar, mas novamente recomeçar. Nossa vida é repleta deste ciclo. Mas também temos o tempo de falar e o tempo de ficar calado. Precisamos desenvolver o equilíbrio entre o momento em que se deve falar, sem nos esquecer do momento que é melhor o silêncio.

7. Tempo de amar e tempo de odiar – É impossível não vivermos o tempo de amar, sobretudo, amar os nossos familiares, os que nos fazem muito bem e estão conosco para o que der e vier. Infelizmente, também vivemos a experiência do aborrecimento, da briga, do ódio, de vivermos dias de lutas. Esse ódio é a causa do tempo de guerra, enquanto o amor é a causa do tem-po de paz. A vida é feita de ciclos de amor, mas também de aborre-

cimentos. Que nunca nos falte o amor e a paz!

Para pensar e agir:1 – Como está o seu tempo?

O tempo é uma medida que não muda. É igual a todos. O que muda não é o tempo, mas o uso que faze-mos dele, a forma como o compre-endemos, a ideia que temos dele. Nós somos os únicos responsáveis pelo nosso tempo.

2 – Como você tem tratado o seu tempo? Tempo é dádiva. É milagre. É oportunidade. É trabalho. Para vi-vermos bem, não podem faltar: pla-nejamento, alvo e prioridade, bus-cando sempre em todas essas coi-sas a orientação do alto. Olhando a vida dos nossos pais na fé, homens fracos e falhos, mas dependentes e experientes, homens e mulheres de batalha e de fé!

3 – Seu tempo hoje é sinônimo de felicidade, apesar das lutas? O tempo que temos precisa ser tra-tado com sabedoria, investindo o máximo possível em construções eternas, onde podemos reclinar a nossa cabeça no travesseiro da fe-licidade!

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LIÇÃO 4DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

VITÓRIAS E CONQUISTASEclesiastes 4.1-16

Em nosso tempo, vitórias são, basicamente, todas as experiên-cias que perpassam pelo suces-so, riquezas e poder. Recebemos sempre a informação de que não podemos perder, mas sim, ganhar. A busca por vitória se dá porque desejamos conforto e segurança para nossa vida como um todo.

Com Salomão, temos algumas informações específicas. Ele era rico, bem sucedido e poderoso. Seu reino foi próspero, mas quan-do estabeleceu contato com reis pagãos, seu coração se envolveu com diversas mulheres e chegou ao fracasso espiritual. Isso quer mostrar que suas vitórias ficaram

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sem sentido, foram vazias, devido seu distanciamento da vontade do Criador.

No texto indicado acima, Salo-mão retrata três conquistas “de-baixo do sol” e nos adverte de que tudo é sem proveito. Nosso olhar precisa estar “acima do sol”. A ideia que devemos perpetuar é que ne-nhum sucesso, seja dinheiro, fama e poder, compensa o fracasso rela-cional com o Criador, pois o homem tem um vazio exatamente possível de ser ocupado por Ele.

1 – Vitórias “debaixo do sol”Alguém já disse: “as pessoas

mais frustradas do mundo são as que querem tudo e não têm nada, e aquelas que querem tudo e con-seguem tudo”. A vida sem a cons-ciência do Criador é insignificante, incerta e vazia de sentido.

1.1 O trabalho que não serve (Ec 4.4-6)

O trabalho para o sábio não deve-ria ser compreendido como oportu-nidade de competição, escondendo muitas vezes ambições egoístas como o acúmulo de riquezas, po-der e status social. Digo isso, pois o mundo antigo também tinha suas problemáticas e tensões, suas lu-tas de classes e demais dilemas. Exatamente por esta razão que o sábio se põe a revelar os anseios escondidos do homem, que era su-perar socialmente uns aos outros.

O trabalho sem Deus é como carregar um fardo inútil. Trabalhar é acordar cedo e dormir tarde para poder ter o que deseja e precisa. É interessante também lembrar que nada desse mundo poderemos le-var (1Tm 6.6-8). É frustrante traba-lhar diante desse perfil. Se é ape-nas para isso o trabalho, ele não serve.

1.2 As riquezas que não valem nada (Ec 4: 7-12)

As riquezas sem Deus não com-pram a felicidade, até porque quan-to mais se tem, mas se deseja ter. Ter é algo que desejamos muito. O mundo que vivemos é marcado pelo poder de compra. O problema é que quanto mais acumulamos, mas vazios nos tornamos. Quem vive para ter, encontra dificulda-des para conviver, uma vez que o dinheiro afasta as pessoas umas das outras, classificando o que tem do que não tem, o que usa do que não usa, quem pode de quem não pode.

Riquezas que não valem nada são as que nos afastam das pes-soas, mas também, as que nos tor-nam vazios de sentido, sem respos-tas diante da finalidade do trabalho, diante da razão de tanto esforço. A vida, se não for compartilhada, é va-zia de sentido e entregue à solidão. O dinheiro, consequência de tanto trabalho, se tornará puramente algo sem nenhuma razão que o justifique.

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1. 3 O poder fracassado (Ec 4.13-16)Quanto mais poder, mais inimigo

se tem, pois quem tem poder dese-ja exercê-lo. Poder sem o Criador é saldo positivo temporário. Ninguém tem poder para a vida toda, até porque não existe vida toda, existe vida hoje, agora. Daqui a um milé-simo de segundo, não sei se conti-nuarei com o poder que conquistei.

O poder fracassado é ambíguo, uma vez que todo explorador — o que exerce o poder — poderá ser explorado por alguém — o que so-fre o poder. Em algum momento da história, o explorado quer ser o ex-plorador, ou simplesmente, deseja romper com aquela estrutura de exploração. Alguém já disse que “o sonho do oprimido é ser o opres-sor”. Enfim, o poder se torna fra-cassado quando quem reina é por ele dominado, desenvolvendo nes-se reinado a satisfação apenas dos seus caprichos, oprimindo cada vez mais com condições desuma-nas quem sofre a sua liderança.

2 – Vitórias “acima do sol”2.1 – O contentamento é mais

importante que o sucessoA prioridade da vida não é vi-

ver para trabalhar. Os que vivem “debaixo do sol” querem sempre mais e mais. Ter pelo simples fato de ter. Conquistar pela vontade de ser reconhecido como o vitorioso. Possuir cada vez mais como o úni-co combustível da existência. Todo

esse diagnóstico faz com que, via de regra, vivamos afastados uns dos outros, permitindo uma enor-me interferência nas relações hu-manas: a riqueza.

Viver “acima do sol” é trabalhar para viver, mesmo que não se te-nha o que deseja ou aquilo que to-dos dizem que devemos ter “custe o que custar”. Contentamento é senso de gratidão pelo lugar que já chegamos; é percepção de que há muitos que ainda não tem o que já conquistamos. A individualidade do nosso tempo não pode nos rou-bar a sensibilidade pelo outro e a consciência de que já estou numa condição melhor que a de ontem.

2.2 – A comunidade é mais im-portante que as riquezas

A ideia do texto é que o calor, consolo, segurança e proteção são frutos da comunhão. Quem vive “debaixo do sol” vive para com-petir e mostrar que uma marca, simplesmente porque é cara, o di-ferencia dos demais. O problema é que as marcas não trazem nobre-za para a alma, pelo contrário, traz cada vez mais o distanciamento do outro. O pensamento é o seguinte: “ele só está se aproximando de mim porque tenho isso ou porque uso a marca x”. Tornamo-nos pior do que imaginamos, quem sabe, coisificados!

A comunhão com o semelhante vale mais que o isolamento das

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Segunda-feira: Lucas 12.20

Terça-feira: Mateus 6.20

Quarta-feira: Salmos 37.25

Quinta-feira: 1Timóteo 6.6-8

Sexta-feira: Provérbios 30.7-9

Sábado: Mateus 6.25-33

Domingo: Marcos 8.36

nossas posses, porque não pode-mos sair e andar com qualquer um, quando temos algumas coisas que nem todos podem ter. Quem vive sob a ótica do “acima do sol” tem para cooperar e não para compe-tir, humilhar ou separar. Tem para usar o que tem e não para ser usa-do pelo que comprou. A marca da nossa sociedade contemporânea é ser possuída pela lógica do consu-mo, que é comprar para ser o que ainda não é.

2.3 - A integridade é mais im-

portante do que o poderA grande preocupação dos que

vivem “debaixo do sol” é com a sua reputação. Quem vive “acima do sol” respeita, mas não teme a nin-guém. A única coisa que devemos temer é uma vida falsa, sem integri-dade, sem autenticidade.

Sucesso, conquistas e vitórias têm um sentido diferente para o sábio. A medida não é regulada pelo que já realizamos, mas pelo que desejamos para a vida. Aon-de já chegamos não mede nosso sucesso e, sim, aonde desejamos chegar. Nossa vida é de sucesso porque sabemos onde queremos repousar. O sucesso é para a con-tinuidade do caminho, para a jorna-da da vida!

A integridade é mais importante do que o poder, pois sem integri-dade o poder será oportunidade de opressão dos menos favorecidos.

Poder sem integridade é oportu-nidade de valorização de uma mi-noria em detrimento da maioria. O poder só é legítimo quando a inte-gridade for a base do reinado.

Para pensar e agir:1 – De quanto você precisa para

ser feliz? É possível ser feliz sem ter o que se quer? Salomão afirma que não existe chave para a felici-dade. Não é o sucesso, a riqueza e nem a fama que ele manda buscar. Há muitos ricos infelizes, famosos infelizes e poderosos infelizes.

2 – O que significa felicidade para você? Ser feliz é encontrar o eixo da vida a partir de seus relaciona-mentos de afeto. É agir pela ótica do “acima do sol” e não estar sem-pre na condição de coitado e de vítima.

3 – Ser feliz tem a ver com con-tentamento? Ser feliz é ser conten-te pelo que Deus já permitiu você construir. É ser grato e solidário. É ser orientado pelo Criador e não pelo poder do ter. É viver um dia de cada vez!

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LIÇÃO 5DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

RELIGIOSIDADE X REVERÊNCIAEclesiastes 5.1-7

Pensar sobre religião ou sobre a religiosidade é algo enigmático e complexo. Há diversas religiões, bem como, inúmeras expressões de religiosidade. Há religiões e religiosidades para todo gosto. Al-gumas até similares, outras nem tanto; algumas ainda completa-mente excludentes e antagônicas.

O que está em questão aqui é a diferença tênue entre a reverên-cia – que é sugerida no texto – e a religiosidade, abordada muitas ve-zes como algo mecanizado e frio. O pregador sinaliza algumas coi-sas interessantes nesse capítulo a respeito da presença do Criador e do nosso relacionamento com Ele.

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1 – Precisamos de reverência diante do Criador (Ec 5.1)

O que significa reverência? Gosto da sugestão de Harold Kushner: “O mundo me afasta de Deus; a reve-rência me aproxima dele”. Reverên-cia é reconhecimento da existência do Criador. É viver sob a ótica de Sua existência.

O culto, no contexto do Antigo Testamento, era algo bem proces-sual, onde a ideia da presença de Deus manifestada era bem nítida e que não poderia ser banalizada. A indicação do verso é: “Guarda o teu pé”, que significa uma reverên-cia na casa de Deus, pois o culto e seus elementos litúrgicos eram sagrados.

A vida é o culto! Jesus Cristo dis-se à mulher samaritana que “Deus é espírito e deve ser adorado em espírito e em verdade” (Jo 4.24). Banalizar a presença de Deus é tratá-lo como qualquer coisa menos importante do que aquilo que me re-tira da ideia da reverência a Ele.

Quando há essa reverência na vida, há uma atenção especial à voz do Criador. Podemos ouvi-la mesmo nas estranhezas da vida, nos contratempos do cotidiano, no desenvolvimento de nossos so-nhos. Reverência ao Criador não pressupõe ausência de lutas. Re-verenciar o Criador é oportunidade única de quem o percebe em todos os momentos.

Como contrário à reverência, temos a religiosidade, que se evi-dencia em fazer as mesmas coisas sempre, sem algum sentido ou ati-tude reflexiva. Reverência é cuidar da vida a tal ponto de conseguir ouvir a cada momento a voz do Criador, que muitas vezes se ma-nifesta contrária à nossa dita reli-giosidade, que inúmeras vezes é vazia e sem vida!

2 – Precisamos pensar em tudo o que falamos ao Criador (Ec 5.2)

O Eclesiastes se preocupa com o que sai da nossa boca e chama de votos ao Senhor. Votar uma coisa e não cumprir é religiosidade fria e sem vida, que não traz respon-sabilidade pela reverência na vida. Nunca se esqueça do que cantou, disse ou fez diante do Criador. Não digas aquilo que não possas cum-prir. Reverencie a Deus a ponto de não banalizá-lo.

Jesus disse que “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12.34) mas às vezes falamos algumas coisas produzidas por uma emoção momentânea que não suportaremos cumprir daqui a al-gum tempo. E se a boca declara do que há no coração, então há muita religiosidade abrigada lá.

As palavras justificam, mas tam-bém condenam; elas têm poder de abençoar e amaldiçoar; elas man-dam matar, mas também fazem o bem; elas ferem, mas curam; elas

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paralisam uma pessoa, mas tam-bém libertam quem desejar; elas trazem o desabafo do peito, mas também a alegria de uma vitória. As palavras precisam ser usadas com cuidado e reverência, para não ser uma prática de corações religiosos diante do Criador e das pessoas.

3 – Precisamos discernir com sa-bedoria os nossos sonhos (Ec 5.3)

A vida repleta de atividades e de muito trabalho provoca uma noite de muitos sonhos. Estes, por sua vez, não passam de uma fuga na-tural para aliviar a mente, devido a ansiedade adquirida durante todo o dia de trabalho.

O discernimento está na habilida-de que devemos ter na administra-ção dos sonhos, entendendo que nem tudo expressa a realidade da vida, que nem todo sonho quer di-zer alguma coisa para o presente, que sonhar faz parte do trabalho da psique humana.

Assim como os muitos sonhos, devemos tomar cuidado com as muitas palavras que advém da multidão. Nem sempre a multidão tem razão, nem sempre a maioria tem razão, nem sempre ouvir os sonhos e então tomar decisões é o mais sensato. Buscar discerni-mento é, antes de tudo, desistir de normatizar a sabedoria, seja por sonho, revelação ou por qualquer outro método.

4 – Precisamos cumprir os nossos votos (Ec 5.4-5)

Fazer um voto a Deus revela questões sérias em nossa espiritu-alidade, assim como dar a palavra a alguém, e pedir que essa pessoa confie nela. Dar a sua palavra e não cumprir revela tolice, eis a afirma-ção do pregador.

A grande questão está no verso anterior (Ec 5.3), quando a adver-tência é não acreditar em tudo o que se ouve e nem oferecer votos mediante a tudo o que se sonha. Quando há prudência aqui, have-rá também na relação com Deus.

Não é errado oferecer algum voto, mas sim, oferecer e não cum-prir (Ec 5.5), uma vez que pode revelar subtração de caráter, bem como, pouca importância ao rela-cionamento com Deus, que pode-mos também chamar de reverência diante do Criador.

5 – Precisamos dominar a nos-sa boca (Ec 5.6)

A nossa boca, digamos também: a nossa língua, pode nos levar a ruínas ou a lugares mais firmes. A ideia é que não permitamos que sejamos dominados e venhamos a passar vergonha devido aos votos não cumpridos.

A vida não leva em conta nos-sos erros, nos dando uma segunda chance. As pessoas a quem damos a nossa palavra, pouco se importa com os nossos contratempos. É me-

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Leitu

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ária

Segunda-feira: Eclesiastes 5.7

Terça-feira: Mateus 12.33-35

Quarta-feira: Mateus 12.36-37

Quinta-feira: Romanos 12.1-2

Sexta-feira: Tiago 1.19-27

Sábado: Tiago 3.1-5

Domingo: Tiago 3.6-12

lhor ficar em silêncio e nada dizer do que dizer e não poder cumprir.

O grande desafio é domar a nos-sa ansiedade, o nosso ímpeto de querer dizer sempre alguma coi-sa – seja a Deus, ao filho ou até mesmo ao cônjuge – e preferir o silêncio muitas vezes. O melhor é não cair na tentação de votar e não cumprir, pecando com a boca, le-vando o sofrimento à própria carne.

6 – Precisamos tomar cuidado com a vaidade das palavras (Ec 5.7)

Tudo o que é humano é contra-ditório, portanto, perigoso. Os so-nhos, como já vimos, podem rele-var nosso distanciamento da sa-bedoria, quando o tomamos como a base de nossas resoluções. O mesmo cuidado com os sonhos de-vemos ter com as nossas palavras, ou melhor, com os nossos votos e promessas.

As nossas palavras revelam su-mariamente a nossa vaidade. Bas-ta que numa roda seja a nossa vez de falar, então, o nosso peito infla e o nosso ego canta, a fim de que to-dos nos ouçam e sejamos o centro das atenções.

O apelo do pregador é: “teme a Deus”. O temor do Senhor é o pa-drão da piedade dos hebreus, a centralidade da espiritualidade do Antigo Testamento. É o temor a Deus que nos fará ponderar acerca dos nossos votos, que nos fará re-fletir antes de fazermos as nossas

promessas, de darmos a nossa pa-lavra. Tema a Deus antes de tudo!

Para pensar e agir:1 – Seja na liturgia, seja na vida,

precisamos vencer a religiosidade incoerente entre a teoria e a prá-tica; entre as palavras e as ações; entre o pensamento e o viver diá-rio. Alguém já disse que: “Se não há culto na vida, não haverá vida no culto”. A vida precisa ser litúrgica, um autêntico culto ao Eterno, ain-da que seja para confessar nossas mazelas.

2 – A nossa reverência não pode estar limitada à prática do culto, com dia e hora marcados, mas pre-cisa extrapolar esses limites, bem como, caminhar na direção oposta aos votos não cumpridos e a irre-verência diante do Criador. Deus precisa fazer parte de todo o nosso conjunto existencial e sua vontade precisa nos afetar!

3 – A pergunta que faço é: o que significa reverência para você? Você reverencia Deus nos seus ne-gócios, relacionamentos, trabalho e estudos? O que essa reverência tem a ver com a sua vida?

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LIÇÃO 6DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

O DINHEIRO E SEUS PERIGOSEclesiastes 5.8–6.12

O dinheiro é a busca de todos a cada manhã. Se não há traba-lho, não há dinheiro. Desde crian-ça, aprendemos a pedir dinheiro. É dinheiro para o lanche, para a roupa nova, para o curso, para sair com os amigos, para o amigo oculto, etc.

Sem dinheiro fazemos poucas coisas. É bem verdade que com

ele podemos investir e trazer certa segurança para os filhos, todavia, podemos nos enforcar em dívidas, devido a uma má ad-ministração.

Paulo, em seu tempo, alertou a todos a respeito do dinheiro, dizendo que: “o amor ao dinhei-ro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.10). Claro que não o di-

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nheiro em si, mas um amor devoto a ele. O Eclesiastes alerta sobre al-guns perigos do dinheiro. Vejamos a seguir.

1 – O perigo da proximidade da injustiça (Ec 5.8-9)

Os versos em destaque retratam a opressão, desigualdade social, in-justiça e exploração das pessoas. Os profetas bíblicos denunciaram essas práticas pecaminosas, enquanto que o Eclesiastes evidencia como se fosse um álbum da vida real.

Entre a utopia e a revolta te-mos a própria realidade, do jeito que se apresenta e se avoluma. O Eclesiastes declara: “Não fi-que admirado quando você notar em algum lugar o governo fazen-do injustiça, perseguindo os po-bres e negando os direitos deles” (Ec 5.8 – NTLH).

Jesus ministrou aos pobres de sua época em seu ministério. Não sentia apenas uma compaixão “platônica”, mas procurava agir em direção ao aflito, oprimido e pobre. Jesus denunciou o não cuidado dos pobres e marginalizados, uma vez que os religiosos apenas sus-tentavam com sua indiferença o status quo vigente.

Quem busca riqueza fácil se tor-na amante da injustiça e explorador do seu próximo. O desejo de se dar bem na vida não pode roubar de nós o senso de justiça e ajuda devi-da ao necessitado. O desejo de vi-

ver para ter riqueza pode nos afas-tar da realidade (1Tm 6.17); pode nos afastar da referência a Deus (1Tm 6.10); e pode nos afastar das palavras do Cristo (Mc 4.19).

Para crescer na vida não é preci-so pisar em ninguém, pular etapas, achar o caminho mais fácil e, quem sabe, contribuindo para a falta de dignidade do semelhante. No que depender nós, precisamos coope-rar para que o maior número de pessoas ao nosso redor não tenha falta de dignidade. Tenha cuidado com a injustiça, se afaste dela, lute contra ela!

2 – O perigo de viver na ilusão (Ec 5.10-12)

A riqueza é uma grande ilusão. Ser rico é um projeto que nunca se acaba, pois sempre se desejará mais, sempre um pouco ou muito mais. Nunca chega ao fim. É contí-nuo e enfadonho. É um ciclo vician-te e sufocante que coloca seus per-seguidores em estado de infinita insatisfação. O Eclesiastes sugere algumas razões do perigo de viver de ilusão:

2.1 – A busca pela riqueza é ilu-são, porque é algo que não tem fim (v.10).

Essa busca é infinita e nos dis-tancia da realidade da vida. Nunca tem fim e nos faz escravos de uma contínua tentativa. É uma fome não saciada que produz pessoas obe-

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sas de um vazio existencial e rela-cional. É uma ilusão que nunca se realiza; um mal moral que adoece até mesmo a alma; um vício, por assim dizer, que manipula quem nessa situação se encontra.

2.2 – A busca pela riqueza é ilusão, porque um grande salário atrai grandes despesas (v.11).

O grande lutador de boxe, o mi-lionário Mike Tyson, declarou falên-cia, quebra total do caixa financei-ro. O homem de fortuna é alguém que atrai gente que deseja ajudar, mas muito mais ainda, aqueles que desejam explorar. Riquezas nos fa-zem reféns de gente mais ambicio-sa que nós mesmos, nos colocan-do em perigos sequer imaginados. O sociólogo polonês Zygmunt Bau-man, afirma que “os laços humanos são bênção e maldição”. Quem vive pela lógica do ter cada vez mais, vive sempre à procura de quem possa usar para alcançar seus so-nhos egoístas e doentios. Isso seria com certeza uma maldição!

2.3 – A busca pela riqueza é ilusão, porque traz medo, inse-gurança e ansiedade (v. 12).

Quanto mais temos, mais pro-pensos à insegurança ficamos, mais medrosos nos tornamos, e a ansiedade aumenta cada dia mais. Todo carro que aparece perto do nosso, é bandido; toda pessoa que

se aproxima de nós, quer o nosso dinheiro; e nossas casas são re-pletas de câmeras. Somos inse-guros, queremos proteger o nosso bem, custe o que custar. Vivemos a era de um medo excessivo do próximo, porque o julgamos sem-pre como concorrente e, por isso, nosso inimigo.

3 – O perigo da destruição pes-soal (Ec 5.13-17)

A bênção da construção da casa, da compra do carro e outras coisas mais refletem esforço e tra-balho, no entanto, o Cristo alerta para o fato de que é melhor “ajun-tar tesouros no céu, onde a traça nem ferrugem corrói, e onde la-drões não escavam, nem roubam” (Mt 6.20).

O Eclesiastes alerta também para o fato de que muitos guardam riquezas para o seu próprio dano (v.13). Até o dinheiro que resulta do trabalho e esforço pode contribuir também para canseira, enfermida-des e revoltas (v.17). A busca pelo dinheiro não pode roubar de nós o que de fato é impagável: as amiza-des, a família e o bem viver.

O dinheiro deve ser sempre o nosso servo e nunca o nosso senhor. Ele precisa estar na con-dição de nos servir e não de nos usar, para nos aprisionar em seus engodos passageiros. O dinheiro é necessário, mas não compra tudo!

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Leitu

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Segunda-feira: Levítico 25.35-38

Terça-feira: Salmos 1.1-5

Quarta-feira: Atos 8.14-20

Quinta-feira: Romanos 12.1-2

Sexta-feira: 1Timóteo 6.6-10

Sábado: 1Timóteo 6.17-19

Domingo: 2Timóteo 4.1-5

4 – O perigo da vaidade e da aflição (Ec 5.18–6.12)

Servir aos bens é o caminho mais curto para a infelicidade. Pas-sar pela vida sem aproveitá-la é vi-ver apenas para ter e acumular. É Deus quem confere a vida (v.18), as riquezas, os bens, a possibilida-de do trabalho (v.19), e até mesmo que enche de alegria o coração hu-mano (v.20). Deus é o grande pro-vedor do que precisamos, mas nem sempre do que queremos!

O problema está justamente quando a vaidade nos coloca na condição de estarmos acima do bem e do mal, com vontade de des-truir quem quer que seja, de aniqui-lar quem não podemos comprar com o nosso dinheiro. A vaidade é consequência de um poder falso adquirido pelas riquezas.

O Eclesiastes vai dizer que todos nós teremos o mesmo fim. Então, devemos lidar com as pessoas pela perspectiva do fim que teremos. So-mos iguais pelo fim de nossos ca-minhos. Daqui a alguns anos, não fará diferença se você andou num trem lotado (Ec 6.3-6), se andou a pé, se sua casa era alugada ou pró-pria, e se comeu nos grandes res-taurantes ou se sobreviveu indo a lugares mais simples (Ec 6.7); se foi mestre, doutor, ou alguém sem mui-to estudo. O que fará diferença é se vivemos no temor do Senhor, com reverência a Ele diante da vida. A razão disso pode ser bem simples: quanto mais temor, mais respeito à

vida e ao próximo; quanto menos temor, mais irresponsabilidade con-sigo e com o semelhante!

Para pensar e agir:1 – A grande questão no Ecle-

siastes é que os bens são passa-geiros. Não lembraremos sequer deles e do desfrute dos mesmos. O lugar para onde iremos após a morte é ausente de bens que cons-truímos aqui na terra. A eternidade é ela por ela mesma, não conse-guiremos levar mais nada, absolu-tamente nada!

2 – Tudo é muito rápido e ligei-ro, portanto, o lugar de desfrutar é aqui, entendendo que a nossa es-perança não está na riqueza dos bens, nem mesmo a nossa segu-rança. Todo cuidado ainda é pouco. Nossa vida é recheada de ilusão!

3 – A pergunta para a nossa reflexão é a seguinte: Você é fe-liz mesmo sabendo da ilusão dos bens? Como podemos desfrutar dos bens sem idolatrá-los? Você se considera iludido com aquilo que já conquistou? Onde está a sua su-ficiência e a sua esperança? Seja honesto nas respostas!

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LIÇÃO 7DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

UMA VIDA MODERADAEclesiastes 7.1-29

Somos incapazes de ter todas as respostas para os questiona-mentos diante da complexidade da vida. A vida e o viver não são tão óbvios como alguns pensam. É necessário, muitas vezes, res-pirar fundo diante dos “engasga gatos” que enfrentamos.

No texto em destaque, há uma série de ponderações que o Ecle-siastes propõe, a fim de que con-sigamos enfrentar a vida de um jeito mais significativo. Vejamos algumas necessidades básicas para vivermos bem, ou simples-mente, moderadamente.

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1 – Caráter (Ec 7.1)A proposta do Pregador é: “Me-

lhor é o bom nome do que o per-fume caro”. A vida com relevância social é a que carrega boa fama, boa visibilidade. O que somos é mais importante do que aquilo que queremos possuir. A boa fama vale mais do que usar grifes e ter o últi-mo modelo de celular. Bens não fa-zem ninguém ser melhor do que já é. Pelo contrário, alguns ficam mais bestializados.

O grande desafio para a vida é desenvolvermos o caráter antes de ter o que tanto desejamos, para que, quando conquistarmos o que tanto sonhamos, não nos tornemos pior do que somos.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, pode nos ajudar na reflexão do tema, quan-do afirmou: “Um caráter bom, mo-derado e brando pode sentir-se sa-tisfeito em circunstâncias adversas; enquanto que um caráter cobiçoso, invejoso e mau não se contenta nem mesmo no meio de todas as riquezas”. Um bom caráter é o ou-tro nome para moderação!

2 – Reflexão (Ec 7.1-3)O Pregador diz que “é melhor o

dia da morte do que o dia do nas-cimento”. A grande maioria das pessoas gosta e prefere o dia do nascimento, no entanto, para os que reverenciam o Criador, pensar sobre a morte é ponderar sobre a

própria vida. É considerar algumas posturas e práticas. É agir com cautela e prudência. É ser mode-rado e equilibrado!

A vida precisa ser preservada sempre, diante de qualquer situa-ção, inesperada ou não, analisada ou não, boa ou não. Pensar sobre a morte é oportunidade de análise da vida e do viver. Quando pensa-mos em algo que nos escapa, que revela a nossa finitude e a nossa incapacidade diante do mistério da vida, ficamos mais contritos, man-sos e sensíveis.

Foi o filósofo Sócrates – reconhe-cido como o pai da filosofia – pela instrumentalidade de Platão, que afirmou: “Uma vida não examinada não é digna de ser vivida”. Refletir é um exercício que revela coragem e caráter!

3 – Ouvir bons conselhos (Ec 7.4-7)

Ser repreendido é algo que nin-guém gosta mesmo, no entanto, não precisamos gostar, mas de-vemos ouvir, porque é necessário à vida. O conselho sábio prepara para a vida, enquanto os insensa-tos são imediatistas e imprudentes.

A grande diferença está na du-rabilidade do conselho de cada grupo. Os sábios desejam oferecer conselhos para a vida. Preparar para o dia mal e indesejado. Ad-moestar quando há erros e exces-sos. Anunciar a necessidade de

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arrependimentos e transformação do coração.

Os insensatos não possuem conteúdo sustentável para a vida. A ideia central é a não reverência ao Criador; a não pergunta sobre o sentido e o propósito da existência, e por extensão, a impossibilidade da resposta. Quem não pergunta, não tem resposta. Isso nos parece bem lógico, mas também revela, apesar da simplicidade, algo muito importante que é característica do insensato: a recusa de ouvir mais do que a recusa de falar!

4 – Sabedoria para descansar

no Criador (Ec 7.8-14)A vida nos surpreende dia a dia,

minuto a minuto, segundo a se-gundo. Achamos, muitas vezes, que tudo vai dar certo, quando, de repente, tudo desaba. Nessas ho-ras não adiantará ficar impaciente, pois não resolve o problema esta-belecido; não adianta ficar irado, porque também não resolve nada; não adianta murmurar, porque só aumenta a indignação.

Resolver o problema não é che-gar à nossa conclusão, mas apren-der um jeito de enfrentar os pro-blemas. O necessário é ser sábio. A sabedoria nos protege e nos dá forças diante das críticas que rece-bemos (Ec 7.19-22).

Não seja orgulhoso querendo fa-zer tudo sozinho. Espere a direção do Criador! A sabedoria faz com

que olhemos sempre para onde vem a resposta. Paciência é im-prescindível diante dos problemas e situações do cotidiano.

5 – Moderação para viver (Ec 7.14-18)

Incoerências e contradições ve-mos a todo instante nos contornos da vida (v.15). Justos morrendo e ímpios vivendo. Gente com estru-tura familiar morrendo e gente sem estrutura familiar, vivendo. (Não es-tou propondo nenhum tipo de mo-delo familiar perfeito e acabado).

Moderação e equilíbrio são as sugestões do Eclesiastes diante da vida e seus contratempos e desen-contros. Diante dos roubos, assal-tos, contrabandos, furtos e mortes sejamos tementes ao Criador – é o que sugere o Pregador.

Salomão foi fazer uma pesqui-sa de campo, investigando ho-mens e mulheres, pessoas de todo tipo e ofereceu suas conclusões (Ec 7.23-27):

5.1 – Não podemos ser sábios por nós mesmos.

Após pesquisar muito para en-contrar pessoas iguais a ele, que se enquadrassem em seus cri-térios, encontrou apenas um ho-mem dentre mil (v.28). Não é algo fácil mesmo agir com moderação e equilíbrio, que são atitudes de alguém sábio.

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O homem sozinho não é sufi-cientemente capaz de encontrar a vontade de Deus. Quebrantamento diante do Criador, busca constan-te e silêncio diante de sua voz são boas sugestões para encontrarmos discernimento diante dos aconteci-mentos, não faltando, em nenhuma hipótese, temor.

5.2 – Nossos problemas não começam ao nosso redor, mas dentro de nós.

O pecado reside em nós, a dificul-dade é inerente a cada um de nós, nossas limitações é que nos acom-panham diuturnamente. Não se esqueça de que Salomão era sim muito sábio, mas ele era humano, finito, limitado diante da amplitude da criação e de todas as demais coisas estabelecidas por Deus.

O que temos proposto no Ecle-siastes é uma compilação de um homem que fez suas análises e, diante do visto, concluiu a partir de sua percepção. O que nos afe-ta hoje como seres humanos foi o que afetou Salomão e os demais sábios da época. A limitação é uma herança humana e não privi-légio nosso.

O problema está em nós. A in-capacidade é nossa. A imprevisibi-lidade é minha e sua. A pequenez é parte de nosso DNA. O pecado é a característica da humanidade caída, distante do Criador. O nosso maior problema somos nós mes-

mos ou, como afirma Carl Jung, psi-quiatra suíço: “Nós precisamos en-tender melhor a natureza humana, porque o único perigo real que re-almente existe é o próprio homem.”

Para pensar e agir:1 – Refletir, trabalhar o caráter,

ouvir bons conselhos e descansar no Criador são sugestões para li-darmos com o contingente da vida. A vida é como ela é; nós precisa-mos vivê-la a partir dos indicativos que fazem sentido para nós, as pis-tas que nos ajudam a encontrar o tesouro: a sabedoria, o equilíbrio e a moderação!

2 – Essa sabedoria nos dará for-ma e discernimento diante das ur-gências da vida, das propostas do dia a dia, dos encontros emergen-tes, das situações alarmantes. Mas também, nos dias bons e alegres, nas festas e bodas, nas aprova-ções e conquistas.

3 – A pergunta que não quer calar: você é moderado em suas ações? Faz parte de sua agenda existencial buscar a prudência e a moderação? Diante disso tudo: há felicidade em você?

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ária

Segunda-feira: Eclesiastes 7.1-9

Terça-feira: Eclesiastes 7.10-18

Quarta-feira: Lucas 12.13-21

Quinta-feira: Apocalipse 14.13

Sexta-feira: Salmos 1.1-6

Sábado: Tiago 1.2-8

Domingo: Romanos 2.1-11

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LIÇÃO 8DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

O SÁBIO, O REI, A VIDA E AS OBRAS DE DEUS

Eclesiastes 8.1-17

Não! Não pense que não tem a ver os temas acima com o livro do Eclesiastes e, sobretudo, com o capítulo que estamos refletin-do. Parecem desconexos, fora de ordem, desalinhados, sem sentido ou coisa parecida. Aliás, o que faz sentido nessa vida? Essa é uma pergunta que revela um tema bastante recorrente em

nosso trimestre. O sentido está em tudo isso que aparentemente não tem sentido.

Sim! O sábio filósofo, ora pes-simista, ora desiludido, ora espe-rançoso, ora cheio de otimismo, deseja abordar a sabedoria ne-cessária para se viver numa mo-narquia. Descreve também a rea-lidade da vida injustiça – para ele,

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é claro –, mas também as insondá-veis proezas divinas, revelando em potencial a segurança que é obser-var o agir do Eterno.

Mesmo que haja um não na vida, ela terminará com sim. Na verdade, para valer a pena, precisa haver não e sim. Precisa haver tensão, mas também esperança; incerte-zas, mas também fé; derrota, mas também vitórias; morte, mas tam-bém vida. Vejamos, a seguir, os temas que o sábio aborda nesta porção do seu diário.

1 – O sábio “Quem é como o sábio?” Essa é

a forma que o filósofo começa sua explanação. Essa pergunta revela, quem sabe, uma estratégia retórica para chamar a atenção do ouvinte, por conseguinte, a nossa atenção também. O homem sábio é o ho-mem que sabe interpretar as coi-sas à sua volta. Não está alheio ao que está acontecendo e nem finge que não está inserido na situação conflitante, seja ela qual for e de que grandeza for.

Diante das múltiplas realidades da sua vida, o sábio é alguém que age com destreza, com habilida-de, com maestria. O sábio enten-de que não é jogando tudo para o alto, enganando a si mesmo que conseguirá resolver seus proble-mas, mas procurando equidade e sensibilidade para a resolução do

problema. É alguém que sempre encontra uma saída!

O sábio revela clareza no seu ros-to. Parece que há firmeza no seu falar, nas suas decisões, nas suas palavras. Talvez até demore para tomar uma decisão, mas quando toma é fruto de reflexões e análi-ses. Mesmo que a vida faça o co-ração endurecer, trazendo acidez e perplexidades, sendo perceptível o entristecer desse coração, o sábio consegue ter o coração amolecido. A sabedoria faz com que sejamos menos duros e mais abertos, flexí-veis diante das reviravoltas que so-mos acometidos. O sábio percebe e sempre encontra uma saída para os conflitos!

2 – O reiUma observação importante é

que a sabedoria do sábio (Ec 8.1) tem tudo a ver com os demais ver-sículos que abordam o conselho do autor para nós (Ec 8.2-5). A presen-ça do rei não pode ser desprezada e tratada como que fosse qualquer coisa. Diante do rei, o sábio age com respeito e prudência, cautela e subserviência, até porque, à época, o rei era a representação divina, ou seja, a personificação de Deus.

O voto de obediência ao rei era em nome de Yahweh (Deus). O Eterno está intimamente represen-tado nessa relação de obediência entre a pessoa e o rei. Intentar al-gum plano contra o rei era neces-

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sariamente agir contrário à vontade de Deus; essa é a grande questão em jogo. Desobedecer ao rei seria, em outras palavras, desobedecer a Deus. O rei era uma das formas de perceber a concretização dos pla-nos divinos na terra.

A palavra do rei, como lemos, não cabe questionamento, nem uma ordem sua, qualquer tipo de ponderação. Quando o rei manda é para ser cumprido, estabelecido. Por isso mesmo que todos os reis da história tinham os seus decre-tos. Não cabe uma errata no decre-to do rei, cabe obediência, somente isso. Mas, e a relação disso com o sábio, onde entra aqui? O sábio é aquele que aprende a conviver com um rei brando, mas também com um tirano, sanguinário e déspota. De um lado a outro, de um extremo a outro, a sabedoria pode nos ad-vertir, nos ensinar.

3 – A vidaO sábio percebeu que a vida é

repleta de desigualdades, de fases, de momentos, de altos e baixos. O próprio texto do sábio é oscilan-te, já pudemos inclusive perceber isso em outras lições. A vida é uma constante interrogação. Não há como sabermos o que nos suce-derá, nem como será exatamente o nosso futuro; se, de fato, aconte-cerá exatamente como planejamos. O controle da vida, diz o sábio com outras palavras, não pertence ao

homem, pois este não tem o domí-nio total de todas as variáveis que compõem a vida.

Há um desabafo por parte do sábio, quando afirma que viu mui-tos ímpios serem sepultados com aplausos. É uma reclamação por parte do sábio, mas podemos ver nos versos 11 a 13, o trabalho do editor tornando o texto mais apre-sentável à comunidade de Judeus mais ortodoxos, que poderiam não concordar com esse desabafo. A questão é que o sábio viu muitos justos sofrendo, enquanto ímpios viviam bem, e ainda morriam sendo aplaudidos. Mas a ideia é que a jus-tiça divina pode até demorar, mas chegará revelando, mais cedo ou mais tarde, as obras dos homens maus.

Diante desses absurdos existen-ciais, a saída do sábio é “exaltar a alegria” (v.15). Nada melhor que viver, gozar a vida, experimentar o que temos para hoje, sentir o vento da lagoa trazer frescor, e com ele, ânimo para o dia seguinte debaixo do sol. Alegrar-se é a solução para as questões aparentemente sem respostas, para as questões difí-ceis de arrumar na nossa cabeça. Alegre-se hoje, viva o agora, per-mita-se ser feliz neste instante. Não prorrogue a vida vivida, absoluti-zando as polêmicas e as dúvidas. Abra a janela, meu irmão, “há tanta vida lá fora”, foi isso que o cantor popular disse.

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ra Di

ária

Segunda-feira: Isaías 5.8-17

Terça-feira: Isaías 5.18-30

Quarta-feira: Mateus 19.16-22

Quinta-feira: Daniel 1.5-8

Sexta-feira: Daniel 2.1-18

Sábado: Daniel 2.46-49

Domingo: 1Timóteo 4.11-16

4 – As obras de DeusQuem pode conhecer a totalida-

de das obras de Deus? Quem pode mensurar o seu alcance e sua von-tade? Quem pode dizer com exati-dão quem é Deus e o que Ele está fazendo? A criatura poderia descre-ver com exatidão o Criador? Para o sábio, não seria possível. As obras do Eterno Deus são insondáveis!

O sábio presenciou injustiças, contradições, ódio, morte, mas também amor, alegria, sabedoria, experimentando a vida para além de uma mera e simples observa-ção. Ele tentou conhecer a totali-dade de tudo que se apresentava diante dele, mas percebeu que to-das as coisas pertencem a Deus, que sonda a todos, mas por nin-guém é sondado.

Qualquer pessoa pode, nesta vida, buscar a sabedoria com todas as suas forças, no entanto, nunca compreenderá a razão de tudo, a natureza das coisas, a verdade total da existência. Tudo pertence Àque-le que permanece acordado quan-do todos dormem; Àquele que sabe de tudo, antes que esse “tudo” seja um fenômeno ainda completamen-te desconhecido. O homem busca construir um futuro que ainda não é, mas Deus tem pleno poder de fa-zer realizar, bem como, de não fa-zer. Tudo é dEle, pois somente Ele é. Nós, mortais, apenas existimos, mas daqui a pouco, deixamos de existir. Deus não morre, nós sim!

Para pensar e agir:1 – Diante da sabedoria que bus-

ca o equilíbrio e destreza para as muitas situações da vida e que está conectada com o mundo à nossa volta, pergunto: você se considera sábio ou, pelo menos, está em sin-tonia com essa sabedoria de vida?

2 – Embora estejamos em um contexto sócio-político-cultural di-ferente do Eclesiastes, pergunto: você respeita as suas autoridades ou, pelo menos, intercede por elas, rogando sabedoria aos mesmos?

3 – Independente das desigual-dades da vida e dos intermináveis questionamentos que podemos fa-zer nesse mundo, pergunto: você, de fato, acredita que não tem o con-trole total da sua vida debaixo do sol, ou ainda briga mesmo e com os outros achando que tem?

4 – Apesar de todo o seu esfor-ço, seus estudos e formação espi-ritual cristã, apesar da sua história na igreja e na fé, pergunto: quem é Deus para você? Será que faz sen-tido tudo isso que você considera ser Deus? Reflita, ore e discuta!

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LIÇÃO 9DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

O DESTINO DE TODOSEclesiastes 9.1-12

A vida e seus caminhos podem diferenciar homens e mulheres, mas o seu fim é exatamente o mesmo. Ler o capítulo 9.1-12 do livro de Eclesiastes parece ser contraditório aos demais capítu-

los, mas, se a vida é contraditó-ria, como que nós não seremos. Se quem faz a vida somos nós, a contradição é inevitável!

As nossas diferenças são res-tritamente biológicas, culturais,

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sociológicas e emocionais, porque no que diz respeito à nossa con-dição humana, finitude e limitação somos todos “farinha do mesmo saco”. A vida revela o espetáculo da humanidade caída!

O pregador aborda algumas coi-sas interessantes que precisamos pensar a partir do que já vimos até aqui, somando com o que veremos no capítulo que estamos refletindo. Permita-se!

1 – O homem debaixo do solEste é o homem natural, isto é, o

homem limitado, um homem entre-gue a si mesmo, seguindo as suas próprias vontades e desejos, como já vimos. Um homem que busca simplesmente atender o seu ego e nada mais. Não existe nenhum ho-mem na face da terra que não bus-que satisfazer seus desejos e por eles se guiar. Eis um dos fenôme-nos inevitáveis de nossa condição.

O homem debaixo do sol, geral-mente, busca três coisas em sua vida: 1) estudar – deseja descobrir algo novo (Ec 1.4-11), quem sabe filosofia ou sociologia (Ec 1.17-18); 2) se divertir (Ec 2.1-2); e 3) traba-lhar para prosperar (Ec 2.4-11).

O homem está sempre à procura dessas coisas e de outras tantas, porque nunca está plenamente contente, satisfeito, completo, farto. Há, por natureza, um vazio enorme que o homem tenta preencher de diversas formas, tentando sempre

se completar. Essa incompletude humana revela a nossa busca por sentido e significado. Quem escre-veu sobre essa questão de forma elucidativa foi Viktor Frankl no livro “Em busca de sentido”, quando afirmou numa frase bem conheci-da: “Quem tem um ‘porque’, enfren-ta qualquer ‘como’”.

A fragilidade existencial não está em buscar o que todos buscam, mas em só buscar o que todos buscam, como se a vida se limitas-se aos nossos desejos e vontades. Viver em torno de desejos é perder a oportunidade de viver as surpre-sas. Há vida além da satisfação dos desejos. Nós não somos só desejo, como diz a canção popu-lar, no entanto, o homem debaixo do sol tende a seguir seus próprios desejos. O que não podemos é nos esquecer também da possibilidade da esperança, e esta como a últi-ma coisa que morrerá, nos propi-ciando a transcendência, ou seja, a procurar sentido a partir do Eterno, ainda que vivendo nas condições existenciais que vivemos. Tente perceber a vida além do que está vendo, procure transcender!

2 – Aproxime-se do Criador e desfrute a vida

Longe do Criador não temos a mesma possibilidade de uma vida sábia, moderada e equilibrada. O sábio chegou à conclusão disso no fim da vida, fazendo uma ressonân-

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cia de sua história. O fim é o mes-mo: caixão e morte. A vida precisa ser bem vivida, vivida com sabedo-ria, para sermos construtores de pontes e não de abismos. A sabe-doria não mudará o nosso fim, mas poderá nos oferecer uma vida com qualidade, ainda que consideran-do todas as nossas contradições. O fim nunca mudará, no entanto, a trajetória poderá ser a partir de ou-tros princípios e valores, o que fará todo sentido para quem escolheu ser sábio.

A vida com temor é uma vida com total condição de ser uma vida com significado, uma vez que é uma vida acompanhada; é uma vida compartilhada; é uma vida de esperança; é uma vida dedicada ao semelhante e próxima do Criador. A vida isolada de tudo e todos re-vela distanciamento do Criador, por isso temos um conselho por parte do sábio que é o de aproveitar a vida ao lado da mulher que ama-mos; dar o nosso melhor para rea-lizar tudo o que chegar às nossas mãos com primazia e excelência. Fazer por fazer revela falta de von-tade de viver, além de ausência de presteza em servir o semelhante. Não dá para vivermos à margem da vida, alheios ao que está acon-tecendo, distante de quem partilha a vida conosco. Dê o seu melhor e não viva preguiçosamente!

A certeza da morte, que é para to-dos, deve nos mover à alegria, seja

nos instantes de lazer, ou até mes-mo nas incertezas e desilusões. O ânimo para desfrutar a vida deve ser encontrado até quando sen-timos o cheiro de morte. Por mais que alguém esteja desanimado e entristecido, com crise de identida-de e problemas emocionais, perto da morte ele quererá ainda viver. A angústia que sentimos não diz tudo o que é a vida, muito menos, do que é a não vida. Por essa razão, ti-rar a vida antes do tempo não é coi-sa para nos ocuparmos. Enquanto há vida, há esperança, alegria e experiências boas. A vida sempre será infinitamente mais rica do que qualquer valor que queiram dar a ela, como tentativa de melhorá-la. A vida é fonte inesgotável de rique-za; viver é um privilégio sem fim.

3 – Tenha em mente o juízo A ideia do juízo traz em nós o

senso da nossa nudez diante do Criador. Diante dEle, não há espa-ço para palavras fingidas, compor-tamentos do tipo “faz de contas”, acordos espúrios, hábitos pecami-nosos, pensamentos impróprios. Tudo se passa diante do Criador, sem barreiras ou cortinas. Ele é Eterno, logo, conhece a nossa hora. É isso mesmo, Ele conhece a hora que deixaremos de ter hora, ou seja, a hora da nossa morte.

Percebo que o sábio demonstra a sua reverência ao Criador quan-do sabe que seus dias de tédio

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Leitu

ra Di

ária

Segunda-feira: Daniel 4.4-27

Terça-feira: Lucas 12.13-21

Quarta-feira: Lucas 16.19-31

Quinta-feira: Tiago 4.6-9

Sexta-feira: Tiago 4.13-17

Sábado: Eclesiastes 12.1-8

Domingo: Eclesiastes 12.9-14

também foram conhecidos diante de Deus. Saber que Deus sabe é confortante para qualquer ser que esteja aflito, ou que esteja vivendo repleto de interrogações dia após dia. A morte revela, é claro, um certo medo. Medo talvez por não dominar a forma como isso aconte-cerá. O conforto para essa aflição está no juízo, por isso, nunca se esqueça do juízo. O juízo revela a soberania do Eterno, até mesmo sobre a morte!

Ao que me parece, a experiência de Deus é mistério para nós. Mes-mo com tanta coisa escrita, Deus ainda é algo a nos inquietar, assim como todo o mistério da vida. Ru-dolf Otto, teólogo alemão, trata so-bre isso no seu livro “O sagrado”, considerando Deus – que ele abor-da como “o numinoso” – como o misterium tremendum et fascinans. Isso quer dizer que Deus é um mis-tério que ativa em mim temor, mas também fascínio. Não podemos do-miná-lo, manipulá-lo, uma vez que é “o totalmente outro” – expressão também do teólogo.

Para pensar e agir:1 – Vemos, neste capítulo, uma

aparente contradição na filosofia do sábio, porque, de fato, a vida é por demais contraditória mesmo (Ec 9.11-12). Coisas boas acon-tecem com todos, inclusive com

pessoas más. Coisas ruins acon-tecem com todos, inclusive com pessoas que fazem o bem. O sábio demonstrou claramente esse as-pecto da vida.

2 – Salomão quer dizer que o destino é o além. Sete palmos abai-xo da terra. Não está discutindo vida após a morte pelos caracte-res do Novo Testamento: céu, vida eterna, etc. Não está contradizendo outros textos bíblicos, apenas che-gou à conclusão de que a vida ama a morte e, em um dado momento, casa-se com ela por tanto amá-la.

3 – Para terminar, pensemos numa coisa: como você acha que pode ser a recompensa do sábio a partir da leitura do Eclesiastes? Talvez essa recompensa seja apro-veitar a vida todos os dias, inclu-sive com a mulher que amamos (Ec 9.9). Uma das formas de apro-veitar a contradição da existência é aproveitar enquanto podemos. O fim está próximo, não necessa-riamente no sentido escatológico, mas no sentido de que ninguém escapará da morte. Portanto, apro-veite, caro amigo!

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LIÇÃO 10DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

MELANCOLIA X SABEDORIAEclesiastes 9.13-18

O sábio é um melancólico. Essa é a grande verdade do seu livro. É alguém marcado pela tristeza, chegando à insanidade muitas ve-zes e ao inferno interior. Aqui, pre-cisamos sublinhar essa questão. Por mais que a tradição rabínica mais conservadora quisesse afir-

mar diferente, o texto de Salomão não esconde sua filosofia ácida com uma perspectiva mau humo-rada, como bem afirma o Rev. Ed René Kivitz em sua obra “O livro mais mau-humorado da Bíblia”.

Na verdade, não sabemos lidar muito bem com aquilo que é con-

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sequência da nossa própria histó-ria, da nossa própria escolha. Lu-tamos tanto por liberdade, mas, no fundo, não queremos os contornos que ela tem. Criamos nossos mun-dos relacionais e depois nós mes-mos não sabemos lidar com eles. Pensamos o que pensamos, claro, devido a tudo o que já experimen-tamos nesta vida.

O sábio é sim alguém ácido. Veja-mos alguns exemplos iniciais:

1. Ec 6.3-6 – Exaltação ao abor-to, da vida interrompida antes que mostrasse suas cores; o desejo das trevas pelas trevas, mesmo an-tes da sensação da luz. Seria uma espécie de apologia?!

2. Ec 7.1-4 – Entre uma festa de 15 anos e um velório numa quinta pela manhã, melhor, é claro, o veló-rio. Que coisa, não?!

3. Ec 7.27-29 – Não achou uma mulher justa. Mas um homem entre mil, sim. Alguém cansado de mu-lher, ao que me parece!

O sábio chegou à conclusão de que o “melhor presente de Deus não era tanta coisa assim”. O que representa para você essa conclu-são? Pensemos a partir de algu-mas afirmações a seguir.

1. O poder é tão frágil!Alguém já disse: “A história é

o cemitério dos impérios”. Hitler chegou a um fim trágico. A grande Babilônia desmoronou. Os gregos e sua cultura idílica, os romanos

e sua ordem, Portugal e suas con-quistas. Lembremo-nos da Espa-nha, porque não dos Britânicos, dos EUA, da Europa de uma forma geral. E o rei Davi? De fato, “o po-der é tão frágil”, foi o que disse o ex-presidente da nossa República, Fernando Collor.

Nos versos 14 e 15, o sábio conta a parábola de uma cidade. A infor-mação básica é que essa cidade era pequena, seu poder bélico bem tímido, no entanto, um grande rei, por demais poderoso, a atacou. Mas nem tudo estava perdido, pois havia um homem humilde (pobre) nesta cidade que era muito sábio. A sua sabedoria livrou aquela peque-na cidade das mãos do inimigo. A sabedoria vale mais, sempre mais, do que qualquer poder humano. A sabedoria demonstra habilidades que o poder, dos mais variados, não consegue sugerir, inclusive, nos ensina a ter poder sem que ele nos tenha.

Não há poder humano que não seja desbancado na história. A história nos dá conta, através de registros sérios, o fim de homens e exércitos, fruto de egos inflados e da malícia volumosa do coração humano. Seu poder, sua fama, sua proeminência não conseguem lhe dar o ânimo do passado, pois che-gou ao fim. As palavras do sábio revelam a finitude do nosso poder e nossas conquistas; revelam a li-mitação de nossas armas, o tama-

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nho da nossa força, a fraqueza dos nossos recursos. O poder só serve enquanto vence, só se perpetua enquanto está na frente, só se es-tabelece quando há oportunidades de vitórias.

A maior estupidez – em outras palavras, falta de sabedoria – é acreditar no poder (do poder); é acreditar na força (da força); é se considerar maior (entre os “meno-res”). Nesse particular, a sabedoria está na percepção do potencial que temos de nos tornarmos bestializa-dos por acreditar no poder de nos-sas próprias conquistas, achando que somos, sim, diferentes dos de-mais mortais. A sabedoria está no inverso do que a maioria acredita estar, pelo menos é o que podemos perceber (ou, pelo menos é o que eu percebo).

2. A Sabedoria não é tanta coi-sa assim!

Além de uma melancolia presen-te, há aqui uma ironia. O vitorioso não celebra a vitória, não recebe o crédito, não vê perpetuada sua tese e vida. É triste o final das palavras do sábio. Ele entende que o final é mais importante que o começo. Por isso, o pecador destrói o final. Sa-ber terminar é algo difícil, pois geral-mente há mais pessoas envolvidas na situação e, por mais que você entenda que está terminando bem, talvez a outra pessoa pense diferen-te. A questão é mais complexa do

que imaginamos, uma vez que re-vela ser uma questão de percepção.

O sábio está melancólico, talvez, por ser o homem mais sábio da terra e também o mais entediado. Isso é contraditório, mas a vida é assim. Se a ausência de alguma coisa revela um vazio enorme den-tro da gente, o contrário também é verdadeiro. Basta que consigamos aquilo que buscamos, logo chega o dito tédio a nos perseguir. O filóso-fo Platão, no diálogo chamado “O banquete”, afirmou que “o que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor”. Desejamos tanto algo até conseguirmos. Mas, será que aca-ba o tédio até manipularmos o que tanto queremos? Será que acaba o desejo, quando tomamos posse do objeto da nossa ambição?

A melhor sabedoria para chegar ao fim da vida é não ter sabedoria definida, que não possa ser ressig-nificada ou, porque não dizer, até mesmo desconstruída, reinventada e refeita. Quando nos fechamos em torno de nós mesmos, e em torno da forma como sempre fizemos as coisas que envolvem a nossa vida, perdemos a oportunidade de aprender, de refazer, de repensar. Não existe sabedoria sem equilí-brio, e quando estamos abertos aos ineditismos que surgem, des-frutamos de acertos e aprendemos com os erros. Com ela, aprende-mos a aprender, mesmo que não

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Leitu

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Segunda-feira: 1Reis 3.3-28

Terça-feira: Gênesis 6.1-10

Quarta-feira: Provérbios 2.1-10

Quinta-feira: Provérbios 2.11-22

Sexta-feira: Provérbios 3.1-15

Sábado: Provérbios 3.16-35

Domingo: Salmos 30.1-12

consigamos acertar com tanta re-gularidade. Sem ela, nada apren-demos, porque julgamos já saber tudo o que tínhamos para apren-der. É impossível viver bem com a ideia de que já somos “copo cheio”, prontos, detentores dos absolutos.

A sabedoria se torna aquilo que fazemos com ela, pode ter a im-portância que damos a ela. Quem despreza a sabedoria, anula-a com sua própria vida, por isso, ela pode não ser tanta coisa assim. Quem vai dizer o valor da sabedoria será o quanto ela é perceptível na vivência diária, diante dos inúmeros desa-fios que se agigantam perante nós.

Para pensar e agir:1 – Busque, sim, a sabedoria,

pois é melhor a sabedoria do que a vida sem direção. Como pode-mos ver, o desânimo não se escon-de do sábio; mas, de quem ele se esconde? Penso que de ninguém! Nascemos com um vazio enorme e com uma predisposição ao desâni-mo, devido à contradição da nossa existência. O desânimo é presente no homem, é constante na vida, nunca poderemos esperar isso su-mir “para darmos um norte à nossa vida”.

2 – A tradição bíblica retrata a vida do sábio tendo como pano de fundo três momentos distintos, mas interessantes: 1) Cantares de Salo-mão: retrata o vigor da juventude; 2) Eclesiastes: a crise da meia ida-

de, e 3) Provérbios: a sabedoria da idade avançada. A nossa vida não é diferente no que se refere a altos e baixos, a contratempos e desen-contros. Para todos os momentos, busque sabedoria!

3 – Não dá para descartar nada de quem teve uma produção ou que foi inspiração para uma produ-ção tão significativa como a do Rei Salomão. O sábio tem muito a nos ensinar nesses três momentos da vida. Há acertos, mas também há erros. A nossa vida também revela essa grande verdade, essa gran-de contradição; o que não pode-mos permitir é a negligência com a oportunidade que temos de apren-der com as muitas fases que expe-rimentamos em nossa jornada.

4 – Por isso lhe pergunto, para ter-minar: você tem buscado sabedoria mesmo quando está chateado com a vida? Diante da melancolia, você acha que há espaço para a felici-dade? Qual o sentido de tudo que não faz tanto sentido para você? A nossa vida pode mudar quando, de fato, decidirmos mudar? O que falta em você para acontecer essa mu-dança de sentido?

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LIÇÃO 11DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

A TOLICE DOS TOLOSEclesiastes 10.1-20

Temos agora uma boa notícia: o sábio acordou num dia melhor e deseja refletir sobre a tolice dos tolos, em contraste com o com-portamento dos sábios. Não quer reclamar da vida, não está em

um dia melancólico ou um pouco chateado com tudo e com todos. Mas isso não quer dizer que o sá-bio não esteja disposto a propor suas afirmações agudas e bem temperadas.

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Podemos perceber um capítulo repleto de máximas, dedicadas a revelar a tolice humana, bem como, a sabedoria. Pensando sobre as to-lices, ele cita quatro características dos tolos que passaremos a refletir a seguir.

1. As palavras do tolo O sábio oferece uma informação

a respeito das palavras do tolo, que são autodestrutivas e avassalado-ras. O interessante é que o sábio diz que o efeito maior dessas pa-lavras é para os próprios tolos. Ele pode morrer pela boca (Ec 10.12), assim como o peixe. As nossas pa-lavras sempre poderão destilar a vida ou até mesmo a morte. Não acredito que o que falamos se tor-na o que acontecerá, por exemplo, como a questão da força do pensa-mento. Palavras são apenas pala-vras, mas podem revelar o bem ou o mal, a vida ou a morte.

As palavras dos tolos possuem um padrão regresso: começam mal e terminam pior (v.13). Os to-los também nunca ouvem, sempre dominam a conversa, o tempo todo. O volume das suas palavras revela sua tolice, eis a causa da destrui-ção (v.14). Os tolos perdem amiza-des, destrói sua imagem, seu “bom nome” (Ec 7.1), e nunca chegam à conclusão de que estão errados

em sua tolice. É tolice manter sem-pre a ideia de estar certo em todas as ocasiões.

O nosso maior problema é jul-garmos ter a verdade de tudo em nossas mãos. Particularmente, não quero saber tudo, mas também não posso estar alheio ao que se passa diante de nós e conosco. O que precisamos é usar as palavras de forma equilibrada, afirmando a nossa pequenez, sem desprezar as nossas habilidades. Bom senso nunca estará fora de moda!

2. O futuro do toloO sábio oferece outro dado im-

portante sobre o tolo. Eles não aceitam avisos, ainda que sejam no campo das possibilidades. Eles não permitem receber um alerta, um aviso, uma informação. Preca-ver o tolo sobre um iminente perigo é chamá-lo para a briga, até por-que ele é dono da verdade, e não há nada que tenha a aprender. Se importar com o seu futuro é, com outras palavras, se intrometer em sua vida particular.

As palavras do tolo são loucura cada vez mais acentuada. Tudo pode acontecer com o tolo, des-de um simples acidente até a sua morte. Eles são independentes dos outros e não percebem quando os outros desejam até mesmo o bem de suas vidas. Só quem sabe o bem do tolo é o próprio tolo, o que

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já nos aponta uma tremenda tolice. O tolo detesta que alguém fale do seu futuro, pois está segurado da multidão das suas palavras. Acham que podem prever o que aconte-cerá com suas vidas, contudo, o futuro do tolo será arruinado pelas suas muitas palavras que sufocam a sua audição!

O grande desafio está diante de todos: falar menos, sobretu-do, quando não se tem ciência de uma determinada situação. Mi-nha avó Zilda até hoje afirma algo muito interessante e que tem a ver com isso: “Vamos falar pouco para Deus nos ajudar!”. Quanta riqueza há nesta afirmação! Não está nos versos do Eclesiastes, mas é rico, é bíblico. Quando fala-mos pouco, ou simplesmente me-nos, nosso futuro não será confu-so e atrapalhado. Deus, inúmeras vezes, age no silêncio. Falemos pouco, ouçamos mais!

3. A estupidez do toloO verso 15 retrata o esgotamento

pela estupidez de um tolo. Torna-se tão confuso que perde sua identi-dade, esquece inclusive o endere-ço de sua residência. O tolo pode ser um bom profissional, uma pes-soa inteligente no que faz, alguém próspero, mas pode não ter uma espiritualidade sadia, uma vida relacional e familiar equilibrada. O tolo é tentado facilmente a não criar

raízes, a não manter laços bem fei-tos, não perseverar pelos caminhos que um dia escolheu.

O sábio ilustra a estupidez na pessoa de um grande líder ou go-vernante. Um líder imaturo gera li-derados imaturos; um príncipe que se banqueteia de manhã indica falta de responsabilidade e uma falta de controle de suas paixões e desejos. O líder tolo é alguém impulsionado pelas condições favoráveis que se encontra ao ser injusto, a não go-vernar com equilíbrio, pensando sempre no menos favorecido.

No verso 17, o ilustre sábio faz o contraste com o bom rei, que come na hora certa e não de manhã, an-tes de tudo e de todos. O bom rei senta à mesa na hora adequada com a motivação oportuna, sem escondidas motivações, ou seja, esse é o rei que faz justiça, pen-sando naqueles que não terão a mesma oportunidade, as mesmas regalias. Seja na monarquia ou na democracia, a injustiça não está no modelo, mas sim, nos desejos escondidos que revelam a tolice humana. O tolo é estúpido, pois seu foco é sempre saciar seus pró-prios desejos!

4. A procrastinação do toloO tolo faz muitos planos, mas não

consegue cumprir nenhum. Não sabe o que significa uma promes-sa. Nos versos 18 e 19 lemos sobre

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essa procrastinação do tolo. Para ele, o prazer e o que dá dinheiro são indicadores de prioridades. O resto é sempre o resto, sobretudo, o resto não contribui e pode até atra-palhar as experiências de prazer.

O tolo é um grande desperdiça-dor de tempo, falta prioridade, falta disciplina, pois a vida é permeada de irresponsabilidades. Está sem-pre andando para chegar a lugar nenhum, não porque não tem um alvo, mas se no meio do caminho encontrar algo que lhe dê pura-mente prazer, se dará por satisfeito. É facilmente desviado, seja para uma direção ou outra. Seus alvos são somente para desencargo de consciência, e nada mais.

O tolo é um tolo. É tudo e não é nada. Faz tudo e não faz nada. Realiza tudo e não conclui nada. É de todos e não é de ninguém. Faz e não faz. Diz e não diz. É sempre assim: um tolo. Alguém com uma imagem desgastada perante todos que o conhecem, alguém que can-sa os que com ele convive, alguém sempre em cima do muro, alguém à margem de todos, não economi-camente, mas estrategicamente. É o famoso coitado, pois nunca assu-me seus percalços e erros durante a sua jornada de vida.

Para pensar e agir:1 – A grande questão é: será que

há sinais de tolice em nossa vida?

Responda com honestidade essa pergunta, caro leitor. A tolice pode até trazer vantagens e prazeres, mas eles são temporários e con-sumíveis. Com a mesma facilida-de que chegam, vão embora. Uma proposta para você: desconfie de tudo que chega muito fácil nas suas mãos, geralmente revelam falta de dignidade e verdade.

2 – O caminho da sabedoria é espinhoso no seu processo, mas também, é um manancial de apren-dizado e crescimento. A nossa vida é repleta de paradoxos. O nosso coração é contraditório e enga-noso. Tenha cuidado, mas não se tranque à vida. Só aprendemos er-rando, mas cuidado com o erro.

3 – Quem é você na maioria das vezes? Não se furte a refle-tir sobre isso. Quem reconhece as fragilidades, não foge da aná-lise pessoal. Será mais uma ex-pressão de tolice não ser sincero consigo. Seja honesto e perceba o que precisa reconsiderar na sua vida debaixo do sol!

Leitu

ra Di

ária

Segunda-feira: Jó 5.1-4

Terça-feira: Provérbios 10.8-10

Quarta-feira: Provérbios 10.19-21

Quinta-feira: Provérbios 10.20-23

Sexta-feira: Provérbios 13.1-3

Sábado: Provérbios 14.1-3

Domingo: Provérbios 24.7-10

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LIÇÃO 12DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

O PRESENTE E O FUTUROEclesiastes 11.1-10

Nesses versos, vemos o pre-sente e o futuro nas palavras do sábio. Talvez ele tenha acordado com vontade de escrever sobre a vida de hoje e a possibilidade da construção de um futuro pro-missor. O sábio sugere algumas ações e preocupações, a fim de que nossa vida seja significativa e que valha a pena. Talvez ele es-teja, a essa altura, cada vez mais adulto, maduro e, quem sabe, bem cansado.

O sábio é experiente, vivido e está quase em fim de carreira. Pensando nisso, ele sugere al-gumas atitudes, a fim de admi-nistrarmos nosso presente com boas expectativas de futuro. Nin-guém pode fugir da fase adulta, nem mesmo das suas responsa-bilidades, desafios e realidades. Cada fase de nossas vidas reser-va para nós realidades próprias de cada tempo. Vejamos as su-gestões do sábio.

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1.Trabalhe enquanto pode (Ec 11.1, 2, 6)

O sábio começa dizendo: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias acharás”. Aqui temos uma linguagem comer-cial comum na época, quando os comerciantes exportavam cereais por navio. Os riscos da viagem e a incerteza de que a venda seria bem sucedida eram evidentes e inevitáveis. Mas se quisessem ter alguma esperança de dias melho-res, tinham de se empenhar no presente, arriscando empreendi-mentos diversificados para ver se seriam bem sucedidos.

A nossa condição é de lançar, repartir, semear, sem desanimar. Os resultados serão abençoados pelo Criador, que tudo acompanha e não pode ser injusto. Lembre-se: “Trabalhe como se tudo dependes-se de você, confie como se tudo dependesse de Deus” (Inácio de Loyola). A juventude possibilita a construção de uma velhice me-nos traumática. Não desperdice as oportunidades para um envelheci-mento mais saudável, pois a cada dia que se passa, temos menos um dia de vida.

2. Vá à luta! (Ec 11.3-5) O Eclesiastes exclama: “Quem

fica esperando que o vento mude e que o tempo fique bom nun-ca plantará, nem colherá nada” (v. 4 – NTLH). A ideia é que inde-

pendente do clima, se favorável ou não, precisamos trabalhar. Não po-demos esperar que as coisas mu-dem a nosso favor.

Ir à luta é enfrentar a “falta de sorte”; é vencer as barreiras da sur-presa do amanhã; é vencer “maré baixa”; é superar a ideia do “pé esquerdo”; é vencer o peso e os fardos e deixar de ser coadjuvan-te para ser ator principal da própria história. Ir à luta é trabalhar, mesmo que a situação esteja difícil; é por a mão na massa, fazendo o que depende de nós, contando sempre com a ajuda e a direção do Criador.

Não existe prosperidade sem trabalho. Não existe sucesso sem suor. Não existe colheita sem plan-tio. Não existe diploma sem sentar--se na cadeira para aprender. Não existe vida plena sem esforço pleno. A nossa juventude atual é vítima de uma característica atual: excesso de preguiça. Lógico que temos que valorizar o descanso, mas a cada dia que se passa temos que vencer os nossos leões diários. Lutar, lutar e lutar compete a nós. Vá à luta!

3. Tenha entusiasmo na vida (Ec 11.9a)

Sem entusiasmo na vida fica im-possível viver. Até mesmo para a luta diária precisamos de entusias-mo. Somente quem é um entusias-ta pode enfrentar os dias de desa-fios, sem perder a alegria da vida. Não existe vitória se não houver

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motivação. A motivação é que nos faz viver com alegria constante. É a chave de um viver com significado.

Chegará um momento em que não teremos mais tanto vigor (Ec 12.1-5). Aproveitar a vida é uma ordem para quem não deseja se acinzentar pela rotina das nos-sas tarefas diárias. A velhice che-gará para todos. Envelhecer com entusiasmo, com o senso de dever cumprido fará com que vivamos bem e melhor.

A acidez tem o seu lugar em nossa vida. Há momentos que fi-camos cansados, pensando em desistir, em jogar tudo para o alto e chutar o “pau da barraca”, como diz o adágio popular. No entanto, a vida sempre terá bons motivos para lhe colocar de pé com entusiasmo. Descubra os seus motivos!

4. Sonhe de olhos abertos, sempre reverenciando o Criador (Ec 11.9b)

Sonhar faz bem para a saúde, traz sorriso ao rosto e vida aos os-sos. Sonhar faz bem, mas quando paramos de sonhar, de certa for-ma, começamos a morrer. Sonhar é ainda mais maravilhoso quando reverenciamos o Criador em todas as etapas.

Sonhar sem reverenciar o Criador é, mais cedo ou mais tarde, viver pesadelos e ter de enfrentar dias de desapontamentos desnecessá-rios e ruína relacional para a nossa

vida. Sim, Deus quer o melhor para nós, no entanto, há muitos sonhos que burlam os projetos divinos para o homem.

Viva com a ideia de que Deus re-quererá o que Ele compartilhou co-nosco: a vida. O que você faz com a vida que Ele lhe deu? Há diversas formas de responder. O sábio su-gere três proposições:

4.1. – Cuide das suas emoções (Ec 11.10a)

“É do coração que procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). É de lá que vem a vontade para vivermos de forma feliz. É de lá que surgem as paixões. É de lá que vem o cho-ro e a alegria. Como está o seu coração? A resposta sincera é de suma importância para um efetivo cuidado das emoções.

4.2. – Cuide do seu corpo (Ec 11.10b)

É a partir do corpo que experi-mentamos os prazeres da vida. O vento, o frio, o calor, a brisa, o to-que, o abraço, o carinho, o aroma, o sabor, as delícias de uma forma em geral e tudo o que nos dá pra-zer. Como está o seu corpo?

O corpo é o ponto central de toda percepção de prazer e dese-jo. Você só é o que é devido a seu corpo. Não existe vida humana fora da matéria. Não existe toque sem corpo. Não existe beleza sem os contornos de um corpo. Não existe

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prazer se não houver a carne (cor-po) e o espírito (mente). Cuide do seu corpo/vida!

4.3. – Cuide do que tem real-mente valor (Ec 11.10c)

Desde a mais tenra idade até a fase adulta o que mais nos marcou foi aquilo que fizemos reconhecen-do a proximidade do Senhor. Tudo o que fizemos reverenciando o Criador, buscando a sua direção e fazendo tudo para a sua glória ja-mais deixará de ter valor inestimá-vel para nós.

Valorize o que tem valor. Lembre--se sempre do que tem valor. Com-partilhe o que tem valor. Ame o que tem valor. Busque o que tem valor. Quando o Eterno é a referência para o viver, damos valor ao que experimentamos da vida, até por-que podemos senti-lo diante dos encontros inéditos com a vida.

Cuidar da juventude é lembrar que tudo é passageiro e breve, inclusive a vida. A juventude é um presente do Criador. Cuide bem dela, pois é dádiva única dEle. Não teremos outra chance para rever o que foi feito. Reveja agora e cuide do presente!

Para pensar e agir:1 – Como você tem cuidado

da sua vida? Cuidar é um verbo que nunca se tornará cansativo. Cuidar da nossa vida nos leva a cuidar dos outros. Somos interde-

pendentes uns dos outros. Somos seres entrelaçados. Cuide de si mesmo, mas não despreze o devi-do valor do semelhante. Há muito de Deus para a sua vida através do cuidado.

2 – Você se considera alguém sá-bio nas escolhas que tem feito? As nossas escolhas descrevem o nos-so caminho. O nosso caminho de-monstrará quem nos tornamos com o passar dos dias. Pensar antes de agir demonstra sensatez na toma-da de atitudes. Quando há análise do que vamos ou não fazer, vive-mos dias com escolhas acertadas.

3 – Você já renunciou algo por concluir que a proposta não era sensata diante do Criador? Os nossos passos precisam ser mar-cados por renúncias, para viver-mos uma vida feliz com o Eterno. Viver a vida sem renúncias será um acúmulo de erros. Há momen-tos em que é melhor renunciar do que insistir numa vida irresponsá-vel diante de Deus e dos outros. Renunciar hoje pode significar avançar muito mais amanhã!

Leitu

ra Di

ária

Segunda-feira: Mateus 7.24-27

Terça-feira: Mateus 10.16-19

Quarta-feira: Mateus 24.23-27

Quinta-feira: Mateus 25.1-4

Sexta-feira: Lucas 16.10-13

Sábado: Tito 2.1-5

Domingo: Tito 2.11-14

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LIÇÃO 13DATA DO ESTUDO

Texto Bíblico:

A CONCLUSÃO DE TUDOEclesiastes 12.1-14

O diário do sábio está chegan-do ao fim, assim como tudo nes-sa vida. Usando a sua própria filosofia: há tempo para todas as coisas, inclusive, tempo de termi-nar. A nossa vida terminará bem quando não nos faltar a lembran-ça do Criador e o temor devido à sua presença.

A experiência do sábio é bem marcante. Existem momentos que queremos resumir tudo, queremos praticidade, queremos objetivida-de, porque a vida se tornou muito complexa, muito teórica, distante do mundo real. Realmente é isso que o Pregador, em seu texto, quer concluir para os seus leitores. Pelo menos, foi o que ele concluiu.

Diante disso, o filósofo Salomão aponta duas coisas importan-tes para caminharmos bem com a vida que temos e possibilite a construção de um futuro com significado. Acho que podemos ter falta de muitas coisas, mas se ouvirmos o seu conselho, teremos o imprescindível para um bom de-senvolvimento da vida.

1 – “Lembra-te do teu Cria-dor…”

O sábio termina o seu diário fa-lando de intensidade, esperança e sabedoria, propriamente dita. “Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade” (Ec 12.1) é outra forma de dizer: “aproveite a

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vida que o Criador lhe deu” ou “viva com intensidade ao lado do Cria-dor, porque com Ele a vida é digna, significativa e feliz”.

A vida humana sofre com a che-gada da idade. Todos nós enfren-tamos, ou ainda, enfrentaremos inúmeras limitações com o avanço da idade. A lembrança do Criador na juventude significa tirarmos van-tagens de nossa idade, de nossa fase, de nossas habilidades, de nossas condições. Ninguém esca-pará da velhice!

Por outro lado, o sábio parece alertar: Cuidado com a juventude! Lembrar-se do Criador na juven-tude é o buscar o equilíbrio diante das múltiplas habilidades. Ser jo-vem é muito bom, ainda mais no tempo atual, onde temos informa-ções e inúmeras ferramentas para ornamentar a nossa existência.

Na fase jovem da vida, somos brilhantes, encantadores, elogia-dos, novos, vigorosos. É exata-mente por isso que devemos ter o cuidado redobrado. A juventude é ótima, mas é por demais traiçoeira, assim como a natureza que muda de tempo aberto para nublado em instantes. A luz da noite engana tanto quanto as oportunidades que surgem na luz da juventude.

O sábio está sugerindo que a lembrança devida ao Criador seja antes que “se escureçam o sol, a lua e as estrelas” e só vejamos um tempo nublado, completamente

escuro, sem nitidez, sem potência para aproveitar a vida. Todos os corpos citados pelo sábio são lumi-nosos e fornecem luz a este mundo tenebroso: o sol, as estrelas e a lua.

A juventude também possui a sua própria luz e até quando chega a noite, pode iluminar o seu próprio caminho. Por isso que o jovem é hábil e esperto, mas quando co-loca as esperanças somente em sua própria condição, escorrega e pode se machucar muito feio. Quando chegar a velhice, com as inúmeras dores e limitações, só haverá noites e tempos nublados. Aproveite a juventude, pois quando chegar a idade diante do espelho, não saberá explicar como foi que isso aconteceu.

O sábio deseja que os melhores anos de nossas vidas sejam de-dicados ao Senhor e às pessoas que Ele nos dá. A única forma de vivermos uma vida sem arrependi-mentos amargos e irremediáveis é vivendo para o Criador, no Criador e pelo Criador.

Óbvio que se o Pregador encer-rasse aqui seu diário seria depri-mente e desanimador. Todavia, lembrar-se do Criador é algo que revigora a alma, abrilhanta o ros-to e tranquiliza o espírito. A doce esperança de que nossa vida é do Criador e que não há maneira de escaparmos de Sua Graça traz um sorriso impagável ao nosso rosto (Ec 12.7).

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2 – O resumo de todas as coisasO valor da sabedoria é ilustrado

com três palavras interessantes: 1) aguilhões – era uma vara comprida que estimulava os bois a andarem mais rápido, a seguirem em fren-te; 2) pregos – naquela época, os pregos eram grandes, chamados de estacas, pois eram usados para prender com mais segurança as tendas no chão. Diante de chuvas e ventos, as tendas e barracas não eram removidas, e 3) livros – signi-ficam a impossibilidade de cessa-rem as pesquisas e adquirir a pró-pria sabedoria da vida. É cansati-vo, mas imprescindível. É penoso, mas valoroso. Requer dedicação, mas vale a pena num futuro perto ou distante. O sábio é um homem que expressou a contradição da vida em sua filosofia. Alguém que viveu intensamente a vida e suas muitas incertezas.

Em Israel, havia muitas escolas de sabedoria e um editor elaborou esses últimos versos, chamado de epílogo (Ec 12.9-14), a fim de tor-nar a mensagem do Pregador, sua-ve, de fácil assimilação e com uma conclusão inteligível à comunidade dos judeus. Alguns comentaristas chamam o editor do Eclesiastes de um judeu ortodoxo. De fato, a sabe-doria do Eclesiastes não era algo muito convencional, todavia, era considerada importante para todos os religiosos da época. Há sabedo-ria até mesmo na contradição, por

vias não muito convencionais, aqui temos a prova disso.

O último verso que realmente traduz o ensino do sábio é o 9: “É ilusão, é ilusão, diz o sábio, tudo é ilusão”. Foi exatamente assim que o sábio começou o seu diário de sabedoria (Ec 1.2). Para ele, a vida é repleta de ilusão. O editor, nesse sentido, concluiu a sua obra de forma coerente com toda a sua sabedoria, redirecionando a aten-ção do leitor de sua filosofia para o Criador.

Diante da vida, dos altos e bai-xos, dos desencontros, dos contra-tempos, de tudo o que é descober-to, vislumbrado, achado, percebi-do, realizado, produzido, construí-do, eleito, preservado, falado, ensi-nado, escrito, pregado, rascunha-do ou desenhado, pintado, enfim, nada ultrapassa a necessidade do homem, no início, no meio ou no final da vida de reconhecer a sua dependência exclusiva do Criador. Por isso, de tudo o que já vimos, o resumo é este: “Teme a Deus e guarde os seus mandamentos; porque este é o propósito do ho-mem” (Ec 12.13).

O sábio termina o seu diário de forma espetacular quando lembra, relembra ou, para alguns, até mes-mo sugere, o sentido e o propósito de todo homem. Em outro momen-to, sugere: “O temor ao Criador é o princípio da sabedoria”. Sem te-mor, a vida é apenas vida. Com te-

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mor, a vida se torna oportunidade de relacionamentos significantes com o Senhor. A vida se torna equi-librada e agraciada. A vida se torna doce, ainda que experimentemos algumas doses de limão. O temor é o termômetro para a sabedoria nossa de cada dia. Agir com sabe-doria é consultar a experiência, e consultar a experiência não exclui reverenciar o Eterno em nossos di-lemas e desafios.

Para pensar e agir:1 – Qual o sentido da sua vida?

Nós não estamos aqui apenas para ver e viver tudo o que o sábio des-creveu. Nós devemos aprender diante de todas as situações, sejam problemas, decepções, desilusões – conforme o próprio Jesus excla-mou: “No mundo tereis aflições...” (João 16.33a) –, mas também vitó-rias, alegrias e festas. A vida precisa encontrar o seu norte, o motivo que a tornará sagrada, o propósito que fará de você alguém insistente pelo prazer de viver. Há sempre um moti-vo mais sublime para tocar a nossa existência, e esse motivo precisa ser a vitória proposta de Jesus: “mas eu venci o mundo” (João 16:33b).

2 – Quem é o Criador para você e o que Ele significa na sua traje-tória “debaixo do sol”? A nossa maturidade nesta vida se constrói aproveitando cada instante e de-senvolvendo um relacionamento com Deus. Vidas vazias são vidas

sem uma nítida ideia da razão pela qual estão aqui. A nossa trajetória nessa vida precisa ser relevante, autêntica e leve!

3 – Em que o diário do sábio con-tribuiu para sua vida? Sem dúvidas, o Eclesiastes tem muito a nos ofe-recer como jovens, adultos e anci-ãos. Salomão é o retrato no Ecle-siastes das muitas experiências que vivemos e ainda viveremos “debaixo do sol”. Nunca se esque-ça: há muito que aprender com ele, mas há muito que aprender com as nossas próprias experiências também. Devemos seguir a cada dia olhando à frente, não retirando o foco do que está proposto a nós, nos esquecendo de nossas falhas e agruras, acatando a sugestão paulina: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, es-quecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que es-tão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vo-cação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13-14). Seja sábio, seja feliz, seja um eterno aprendiz!

Leitu

ra Di

ária

Segunda-feira: 1Corintios 3.18-23

Terça-feira: Salmos 119.9-14

Quarta-feira: Salmos 119.37-50

Quinta-feira: Salmos 119.137-149

Sexta-feira: Colossenses 3.13-23

Sábado: Filipenses 4.8-9

Domingo: Romanos 8.35-39

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Ano 13- n° 50 - Julho / Agosto / Setembro - 2016

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FamíliaPr. Nataniel Sabino

O Diário de um Sábio - Meditações em Eclesiastes Pr. Diego Nunes Araújo

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Algumas Igrejas poderão estar recebendo mais revistas que o número de jovens e adultos matriculados na EBD ou em outro grupo de estudo bíblico. Por favor, avise a Convenção

se for este o seu caso. Queremos investir seu dízimo também em outros projetos.

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