O Espelho - PerSe · O homem sentiu um calafrio percorrendo-lhe a espinha. Estremeceu um pouco e...

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1 Carlos N. Marques Narrado pelo espírito de Frederic Dupree O Espelho A Experiência Precisamos acreditar no poder dos nossos pensamentos e deixarmos que a nossa imaginação transcenda os limites do plano material”.

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1 Carlos N. Marques

Narrado pelo espírito de Frederic Dupree

O Espelho A Experiência

“Precisamos acreditar no poder dos nossos pensamentos e

deixarmos que a nossa imaginação transcenda os limites do

plano material”.

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Copyrighr © 2012 Club de Autores

Capa e Projeto Gráfico

Carlos Neves

Duprre, Frederic ( Espírito)

Narrado pelo espírito de Frederic Dupreee (psicografado por)

Carlos Neves Marques

Registrado na Biblioteca Nacional.

ISBN - International Standard Book Number – 978-85-7923-264-0

1. Parapsicologia 2. Ciências ocultas 3. Espiritismo I. Frederic Dupree. II.

Titulo

Publicado pela Editora

Do Club de Autores

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

DIREITOS CONCEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO A EDITORA PERSE

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Memórias de uma alma.

Ao som de uma doce melodia te busquei.

E eu te busquei, amada minha, por toda minha vida! Te procurei nos vales,

Campinas e montes, te busquei.... Te busquei nas estrelas,

No som do vento, Nas aguas silenciosas dos rios, No canto alegre dos pássaros

E, a cada procura, eu tinha certeza De que em algum lugar eu te encontraria.

Meu coração era triste... Vida minha.

Minha alma sombria clamava noite E dia pelo teu amor,

Até que um dia te encontrei. Ao som de uma linda melodia te encontrei

E senti meu coraçao estremecer. Não tive dúvidas, vida minha...

Era você o amor que eu buscava, pois, Quando te vi, minha alma se iluminou, Uma paz imensa tomou conta de mim.

Era como uma brisa morna Que, invadindo todo meu ser,

Tomava conta dos meus pensamentos, dos meus sentimentos. Passei a ver o céu mais azul,

A sentir o sabor do vento e mais perfumes nas flores. O seu toque e o seu perfume eram,

Para mim, recompensa da espera, longa espera. Nosso amor era pleno, nosso gozo, total,

Mas um dia você se foi, vida minha,

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E a minha alma se entristeceu novamente, Todas as cores perderam o tom.

A melodia se calou e até as estrelas perderam seu brilho. Novamente saí à tua procura

E novamente te encontrei, Pois almas gêmeas se buscam,

Se encontram e se amam eternamente.

Helena de Paula.

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Prefácio

É com muita honra que prefacio o romance “O ESPELHO”,

do amigo escritor, poeta, Carlos Neves.

Romance espiritualista de linguagem direta, simples onde

retrata as situações basicamente vividas entre prêmios e

castigos, relatando o que o ser humano vive deixando suas

marcas, diluídas em meio a tantas vidas.

Vemos que o personagem principal viveu plenamente no seu

mundo físico como um homem comum, simples que fez da

sua vida um encantamento acompanhado de beleza e

harmonia.

Os leitores terão oportunidade nesse livro de mergulharem

nos céus humanos que caminha nos labirintos entre o ser e o

sentir, um vôo incolor, leve, livre como o sangue das almas.

Conceição Bentes

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Agradecimentos

Meus agradecimentos à escritora Helena de Paula por esse

belo e emocionante texto de abertura deste romance.

Meus agradecimentos à escritora Conceição Bentes por ter

escrito este emocionante texto do prefácio

Meus agradecimentos a minha amiga Lucineide Pires, que

muito me incentivou a publicar esta obra.

Meus agradecimentos a Deus por ter me iluminado e

permitido a publicação desta obra.

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Prólogo

O espírito transcende à compreensão do homem. Dele, pouco

se conhece, ou quase nada sabemos. Apenas temos

consciência que está presente em nós, que vive em nós como

uma pequenina parte de Deus.

Durante sua existência, o espírito acumula uma quantidade

infinita de informações de sua vida e da vida criada por Deus.

Com ela aprimora sua personalidade, encaminhando-se a cada

conhecimento obtido no avanço gradativo da sua evolução

que o levará de volta ao encontro de Deus.

Na vida, como parte deste aprendizado, o espírito reencarnado

desconhece sua origem e assim, desconhece sua capacidade e

a si mesmo. Contudo, diante dele surgem exemplos de vidas,

verdadeiros espelhos que poderão ajudá-lo no seu

aperfeiçoamento, como também perante as dificuldades que

por esta vida terá que passar.

Então, o aprendemos que em nenhum momento estaremos

sós. Sempre haverá alguém que estará disposto a nos ouvir e,

mesmo quando pensarmos não haver ninguém, nunca deverá

esquecer que Deus sempre estará aguardando para nos

consolar e nos fortificar. Precisamos acreditar na bondade

divina, como uma espada de aço afiada que cortará ao meio

toda e qualquer sombra, que de alguma forma impeça a

caminhada evolutiva do espírito. Aprender também que

precisamos acreditar no amor. Acreditar no amor dos homens,

e muito mais no amor do Nosso Eterno Pai. Sem o amor não

seremos nada, e o nada é inerte e estéril. Precisamos acreditar

no poder de nossos pensamentos e deixarmos que a nossa

imaginação transcenda os limites do plano material. O

pensamento nos leva aos lugares mais longínquos, e a nossa

imaginação semeia a capacidade de criação.

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O espelho de nossa vida está em Cristo, que nos mostrará o

verdadeiro caminho para o amanhã de nossa existência. Nele

veremos a imagem verdadeira do perdão. A imagem límpida

da sabedoria e da fé inabalável. A imagem da água cristalina,

que matará a sede do conhecimento espiritual. A imagem do

verdadeiro pão que alimenta a catedral de nosso espírito. A

imagem que reflete a perfeição: O amor.

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Capítulo 1

Salvador-BA, ano de 1965 - Bairro de Santo Antônio.

Suas lembranças eram poucas a respeito de si mesmo,

apesar de viver ali por vários séculos. Nem mesmo sabia o

que era na realidade, apenas tinha consciência de que estava

vivo, podia ver tudo à sua volta, mas em nada podia tocar,

tampouco ir além do lugar em que sempre estivera vivendo.

Lembrava com muita clareza do dia em que despertou

naquele lugar, mas, apesar de todo esforço, não conseguia

saber como havia ido parar ali e onde esteve antes.

Não sentia fome, calor ou frio. Entretanto, sentia uma

necessidade enorme de conversar com as pessoas que

apareciam na sua frente e, apesar das inúmeras tentativas,

nunca havia conseguido ser ouvido por ninguém. Isso o

deixava triste e o fazia sentir-se mais solitário.

O mais interessante é que ele sabia muito sobre a vida

humana, não só no que se referia à vida material, mas também

a respeito da vida espiritual. Contudo, não sabia como possuía

todos esses conhecimentos e isso o deixava bastante intrigado.

Durante o período em que se encontrava ali, esteve

pendurado em paredes de diversas casas. A última foi à

residência de um pianista, Gustavo Loyola, onde continuava

até aquela data.

Gostava muito daquela casa, não só pelas pessoas que

lá haviam morado, mas, principalmente, pelas maravilhosas

melodias que Gustavo fazia ecoar pela sala todas as manhãs,

com seus dedos deslizando sobre as teclas do instrumento até

a hora do almoço e ao final da tarde, quando voltavam a ecoar

mais outras tantas lindas melodias. Ele sentia saudades

daqueles dias.

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A sala onde esteve pendurado abrigava somente

poucos móveis e, ao fundo, ao lado de uma janela, o piano de

cauda era a peça mais importante do ambiente. Quadros

pintados a óleo e vasos de flores, agora vazios, eram bem

distribuídos na decoração do ambiente.

Recordou o passar dos anos e como as pessoas daquela

casa foram envelhecendo para, em seguida, a morte passar a

rondar por lá de vez em quando, arrebatando, um a um, todos

os moradores. Compreendia o sofrimento dos que

permaneciam e sabia com muita convicção que a morte era

somente o início de um renascimento espiritual. Sabia que era

um nascer para outra vida. Mas como poderia saber com

tanta certeza? Via as pessoas nascerem e anos depois

partirem, mas ele continuava ali, como que destinado a viver

para sempre naquele lugar.

Recordou quando Gustavo, mesmo já bastante idoso,

continuava exercitando-se ao piano todos os dias, no ritual

que ele não deixara de realizar. Aproximava-se da janela e,

depois de abri-la completamente, sentava-se diante do piano.

Antes de fazer correr seus dedos sobre as teclas, esfregava-os

bastante, como que querendo amolecer suas juntas. Já não

possuía a mesma agilidade de quando era jovem, mas sempre

conseguia tirar lindas melodias daqueles velhos teclados.

Deliciava-se ouvindo uma melodia após outra e

sempre se admirava com seus belos acordes, para depois

comentar em sua solidão que ninguém podia negar que ali se

encontrava um grande artista.

Certo dia, numa bela manhã de muito sol, Gustavo

apareceu na sala aparentando muito cansaço. Mesmo assim,

abriu a janela, como de costume, e sentou-se diante do piano

para, então, começar a executar uma sonata. Seus dedos

pareciam resistir ao comando de seu cérebro e os acordes

surgiam desafinados. Ele balançava negativamente a cabeça a

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cada erro cometido e, com grande esforço, conseguia um ou

outro acorde com harmonia. As lágrimas começaram a

escorregar pela sua face envelhecida. O sofrimento por se

sentir incapaz de continuar ficava estampado em sua face, e

ele limitava-se a olhar com profunda tristeza para as teclas do

instrumento. Certamente não se conformava em estar

derrotado pela idade e lutaria até os últimos instantes Só que o

fim já era chegado.

No canto da sala, por trás do piano, a morte apareceu

de mansinho e sorriu para ele. Parecia relutar em cumprir sua

triste tarefa e ficou ali, a apreciá-lo por alguns segundos.

Depois, deu alguns passos em direção ao pianista e ergueu sua

foice afiada bem alta, para em seguida ceifar a vida diante

dela. O silvar do metal cortando o ar fez-se ouvir. Uma suave

brisa fria entrou pela janela, trazendo com o seu sopro

gelado,milhares de pontinhos brilhantes como se fossem

pequeninas estrelas, envolvendo Gustavo antes que a morte

separasse o espírito do corpo e este, sem vida, tombasse sobre

os teclados do velho piano.

Uma dor invadiu-lhe o ser ao presenciar aquela cena.

Virou-se para não mais testemunhar nada e foi para um

cantinho, onde permaneceu agachado. Não poderia mais ouvir

as melodias como fizera por tantos anos seguidos.

***

Após a morte de Gustavo, a casa foi fechada, ficando

ele novamente só por longos dias sem ver ninguém. Só muito

tempo depois é que apareceram algumas pessoas para retirar

os móveis da casa. Eram, na sua maioria, carregadores que

haviam vindo fazer a mudança. Durante um bom tempo, as

pessoas passavam diante dele sem lhe dar a mínima

importância. Quase todos os móveis já estavam embalados e,

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por causa disso, ficou preocupado, pensando que seria

esquecido naquele lugar, agora ainda mais deserto.

- Será que irão deixar-me aqui? - indagou a um dos

carregadores que passava diante dele.

Como era de se esperar, não fora ouvido. Ficou mais

nervoso quando se deu conta de que quase todos os móveis já

haviam sido levados e ele continuava pendurado na parede da

sala. Mas seu nervosismo não demorou muito. Um homem

gorducho, com um grande bigode que descia pelos lados da

boca, parou repentinamente diante dele e ficou admirando-o.

Trajava terno de linho branco e sapatos igualmente brancos. O

suor descia desde a cabeça até perder-se pelo colarinho já

encharcado. Seus olhos escuros contrastavam com a pele

rosada, como dois botões encravados naquele rosto redondo e

gorduroso.

Enquanto examinava cuidadosamente a madeira da

moldura e os desenhos que a decoravam, era observado de

dentro do espelho. Passou suavemente o lenço sobre a

superfície espelhada, balançou a cabeça afirmativamente e

disse:

- Espelho de cristal de primeira qualidade e uma

moldura bem esculpida em madeira de lei... Uma maravilha,

um verdadeiro tesouro.

- Tire-me daqui, criatura de Deus - gritou o espírito,

fazendo muito esforço para ser ouvido.

O homem sentiu um calafrio percorrendo-lhe a

espinha. Estremeceu um pouco e encarou mais uma vez o

espelho antes de falar a um dos carregadores.

- Ponha este espelho no lote dos móveis que me

pertencem e, por favor, encaixote-o bem. - disse , retirando-se

da frente do espelho.

Mais adiante, ele parou e virou-se para olhar o

espelho, que ainda continuava na parede. Parecia intrigado

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com alguma coisa, balançou a cabeça de forma negativa e,

dando de ombros deixou a sala. Aquela foi a última vez que

ele o vira.

Não demorou muito e uma pessoa retirou-o da parede

para, em seguida, encaixotá-lo. Aquela foi uma sensação

terrível: estava sendo emparedado entre tábuas de pinho. Não

podia acreditar no que estava acontecendo. “Deveriam apenas

ter-me envolvido com um pano ou papel”, pensou aflito.

O som do martelo pregando a madeira soava alto em

sua mente. Sentia-se sufocado, apavorado de ficar ali

emparedado naquele caixote. Nem poderia imaginar que

passaria longos anos na escuridão do interior daquele caixote

de pinho, sem poder ver e ouvir mais nada. Percebeu quando

estava sendo transportado, depois desembarcado e levado para

algum lugar, sem conseguir precisar onde estava.

Os dias se tornaram intermináveis. Nunca havia

sentido tanta solidão como agora e a sensação de estar preso

em um caixote dava-lhe a impressão de que estava sepultado

sob uma tonelada de areia.

- Porque penso isso, se sei que nunca estive sepultado

dessa forma? - indagou a si mesmo com surpresa, ao se dar

conta daquela sensação - E mesmo que eu já tivesse passado

por tal experiência, não poderia sentir o que acabei de sentir,

pois o espírito vai para outra dimensão e o cérebro já não

registra mais nenhuma emoção.

Aqueles foram os piores anos de sua existência. Não

podia ver pessoas, e nem tampouco participar das suas

conversas. Não podia ouvir o canto dos pássaros e o som dos

ventos entre as telhas das casas ou o agitado movimento das

folhas das árvores. Estava preso em um mundo de trevas.

Parecia saber como era estar preso, enjaulado. Parecia já ter

passado por isso numa outra vez, mas não podia lembrar-se de

quando, ou se era só uma impressão aquilo que sentia.

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Ele era assim mesmo, cheio de impressões e

conhecimentos que não sabia como explicar. E, na sua

solidão, falava consigo mesmo na tentativa de passar o tempo

e, assim, aliviar um pouco a sua amarga solidão. Nestas falas,

dizia coisas que pareciam não fazer sentido para si, mas sabia

que o que falava era verdadeiro. Em uma destas ocasiões,

dizia cheio de certezas:

- Eu conheço o mar que as pessoas tanto falam e sei

dos mistérios que se escondem nas suas profundezas,

mistérios que as pessoas nem imaginam existir. Eu conheço

toda a vida que há nele e os animais que se escondem na

escuridão de suas profundezas, sem nunca os ter visto. Eu

conheço os encantamentos das matas e cada espírito que

guarda as plantas, as árvores, os animais e a coisas ocultas das

florestas e toda a sua magia, que as pessoas nem imaginam

existir. Eu conheço as almas das plantas e seus lindos sorrisos.

Eu conheço a energia pura das águas que descem das

montanhas e alimentam toda a vida na terra. Eu conheço a

força vital que está no ar e mantém a vida dos seres. O ar, que

eu não respiro, mas alimenta cada um que aqui vive. Eu

conheço a imensidão do universo e os mundos distantes onde

existem outras vidas, que as pessoas nem imaginam existir.

Vidas bem mais evoluídas do que a existente neste mundo. Eu

conheço uma vida que os homens nem imaginam existir, onde

os seres inteligentes que vivem neste mundo podem

materializar seus desejos e depois lançá-los no universo em

forma de energia para que germinem. São como sementes

lançadas ao espaço e, quando essa energia chega a outros

mundos, ela absorve uma pequenina parte da sua matéria para,

em seguida, se materializar e brotarem as mais lindas formas

de flores. Eu conheço o universo e sei que, guardada as

devidas proporções, ele é plano como uma tábua e conheço

ainda mais vidas que nele habitam. E o homem se julga

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inteligente e poderoso. Como ele se engana. Poderosos são

aqueles seres que, com a força de suas mentes, elevam

toneladas de pedras muito acima de suas cabeças e as

transportam como se fossem penas de aves. E ainda mais

poderoso é o poder de Deus, que criou todas essas coisas. E

sei que Deus olha para o homem quase com desprezo por

causa de suas más ações e injustiças, mas não o despreza

porque sabe bem das suas fraquezas e que vieram aqui para

aprenderem e melhorar suas personalidades. Por isso, Deus

apenas apieda-se de suas almas. E eu sinto pena dos

incrédulos, pois eles se imaginam sábios e negam Deus, e

assim, estão negando a si mesmos. Estou aqui e vivo aqui

mas, na verdade, não sei quem sou. Conheço tudo que

mencionei e não reconheço a mim mesmo.

E, cheio de tormento, disse:

- Mas como eu poderia saber dessas coisas, se toda a

minha vida foi viver dentro deste espelho? Eu conheço os

humanos e suas fraquezas. Conheço suas almas e o sofrimento

por que passam. Como eu posso conhecer tanto sobre coisas

que não me dizem respeito e não saber nada sobre mim? O

que sou na verdade?

Essas dúvidas sempre o atormentavam. Agora, durante

todos esses infindáveis dias, continuava sozinho. Somente

ratos e baratas apareciam diante dele como companhias

indesejáveis. Contudo, conhecia muito bem as necessidades

das existências desses seres.

Usava todo o seu tempo para suas reflexões e

meditações a respeito da vida e do universo. Estava sempre se

recriminando por estar refletindo sobre esses assuntos, pois

sabia que não passava de um espelho e jamais faria parte de

tudo o que existia além da lâmina de cristal à sua frente.

Porém, algo mais forte que a sua vontade sempre o arrastava

de volta a reflexões cada vez mais profundas, levando-o a