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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pedagogia Daile Fajardo Barbosa Sabryna de Andrade Macedo O JORNAL ESCOLAR: a perspectiva de Freinet para o processo de produção escrita LINS SP 2018

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pedagogia

Daile Fajardo Barbosa Sabryna de Andrade Macedo

O JORNAL ESCOLAR: a perspectiva de Freinet para o processo de produção escrita

LINS – SP 2018

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DAILE FAJARDO BARBOSA

SABRYNA DE ANDRADE MACEDO

O JORNAL ESCOLAR: a perspectiva de Freinet para o processo de produção

escrita

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Pedagogia, sob a orientação da Profª Drª Denise Pereira Rocha e orientação técnica da Profª Ma Fatima Eliana Frigatto Bozzo

LINS – SP

2018

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Barbosa, Daile Fajardo; Macedo, Sabryna de Andrade O Jornal escolar: a perspectiva de Freinet para o processo de

produção escrita / Daile Fajardo Barbosa; Sabryna de Andrade Macedo – – Lins, 2018.

65p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Pedagogia, 2018.

Orientadores: Denise Pereira Rocha; Fátima Eliana Frigatto Bozzo

1. Jornal escolar. 2.Método Freinetiano. 3.Ensino fundamental. I Título.

CDU 37

B196j

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a

conclusão e o êxito do mesmo.

Daile Fajardo Barbosa

Dedico este trabalho aos meus pais, Esther e Antônio, que estiveram comigo em todos

os momentos, me motivando a continuar em momentos difíceis, me aconselhando e

apoiando em tudo que precisei e principalmente me entregando um bem maior, o amor,

que me deu e sempre dará forças para continuar.

Sabryna de Andrade Macedo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me ajudar a atravessar todas as etapas desse curso com

êxito, a minha família pelo apoio, a minha amiga e companheira de TCC Sabryna

Macedo, por sua amizade durante o decorrer dos últimos quatro anos e suas

contribuições para este trabalho, e ao fim, agradeço a paciência, ajuda e o apoio do

meu namorado que acreditou nas minhas capacidades como graduanda.

Daile Fajardo Barbosa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me auxiliado em toda a minha jornada, por todas as

bênçãos que me concedeu e as dificuldades permitidas para que eu consiga

crescer.

Agradeço a Ele por mais uma vez estar junto a mim em mais uma conquista.

Agradeço aos meus pais, Antônio e Esther, que são meus alicerces e exemplos de

vida. Assim como meus avôs, alguns não poderão ver essa conquista, mas

torceram por mim até o fim.

Agradeço aos que estiveram comigo em todos os momentos e me ajudaram

apoiando quando eu pensei em desistir. Igor, meu refúgio. Daile, parceira de

trabalho e pesquisa.

Agradeço aos meus amigos, que foram poucos, mas com quem posso

contar.

Por fim, agradeço nossa professora, Denise, que ajudou de todas as formas

possíveis para que o nosso trabalho fosse concluído, foi muito mais que uma

orientadora.

Agradeço aos demais professores, que auxiliaram no nosso trabalho e

formação, a professora e orientadora Fátima, a coordenadora Elaine, grata!

Sabryna de Andrade Macedo

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RESUMO

Num contexto pós-guerra do século XX, o educador Célestin Freinet (1896-1966) inspirado pelos pressupostos da Escola Nova, superou os problemas de ensino enfrentados pela metodologia tradicional e rígida, buscando alternativas que estivessem de acordo com a realidade das crianças, trazendo a leitura e a escrita por meio de textos escritos de maneira livre e independente. No cenário atual do século XXI, em que a tecnologia está muito presente na vida das crianças, se faz necessário a aprendizagem da leitura e da escrita para que a participação cidadã ocorra de forma significativa e coloque o aluno como protagonista do processo. Partindo de uma perspectiva de letramento, em que os alunos são inseridos no mundo escrito de forma contextualizada, o jornal como portador de diferentes tipos de textos, pode ser trabalhado na escola como um grande instrumento para o ensino de leitura e escrita possibilitando o contato com a diversidade textual necessária à vida cotidiana. Neste sentido esta pesquisa tem por objetivo conhecer a pedagogia freinetiana e a possibilidade de desenvolver uma técnica de Freinet no século XXI em uma escola pública, a fim de ampliar a prática social da leitura e escrita dos alunos, além dos objetivos específicos: compreender a dinâmica do processo de leitura e escrita pelo portador do jornal em uma escola freinetiana e desenvolver uma sequência didática com a técnica do jornal escolar em uma classe de 4º ano do Ensino Fundamental do ensino regular. Trata-se de uma pesquisa descritiva, quantitativa com delineamento de estudo de campo e pesquisa qualitativa. As coletas de dados foram realizadas em duas fases, sendo a primeira a observação, análise documental e entrevista em uma escola Freinetiana, em São Carlos - SP e a segunda um estudo quase experimental com aplicação de técnicas de Freinet (jornal escolar), em uma escola pública de ensino fundamental em Lins - SP. Os resultados indicam que a técnica freinetiana do Jornal Escolar com devidas adaptações pode beneficiar os alunos do século XXI de forma significativa, na construção da escrita e leitura de textos para as necessidades do cidadão contemporâneo.

Palavras- chave: Jornal escolar; Método Freinetiano; Ensino fundamental.

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ABSTRACT

In a post war context in the XX century, Celestin Freinet (1896-1966), inspired by the “New School” overcame problems in the teaching system faced by the traditional and inflexible methodology, searching for alternatives that were in consonance with the kids reality, bringing the process of reading and writing by the means of free written texts.In the current scenario of the XXI century, in which technology is really attached in the kids lives, the process of reading and writing is very relevant so that the citizen participation happens naturally but in a significative way and put the student as the protagonist of this process.Starting from a literacy perspective, in which students are inserted in the written world in a contextualized way, the newspaper as a holder of different kinds of texts can be used at school as a big instrument to teach reading and writing, opening the possibilities and providing the contact with the textual diversity needed in everyday life.This work has as its main objective to know the freinetian pedagogy and the possibility to develop a freinet technic in the XXI century in a public school aiming to amplify the social side of reading and writing by the kids as well its specific objectives: to comprehend the dinamics of the reading and writing processes with application of the scholar newspaper in a legit freinetian school and develop a teaching sequence applying the scholar newspaper in a 4º grade class of the regular educational system. The data collection happened in two different moments being the first one the observation, documental analysis and interview in a frenetian school in the city of São Carlos, and the second being the application of the Scholar Newspaper technic in a public school. The results sow that the application of some freinetian technics with the right adaptations can benefit the XXI students in a significant way in terms of reading and writing necessities of the average citizen

Keywords: Scholar newspaper; Freinetian Method; Elementary School

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Biblioteca da Escola ....................................................................... 45

Figura 2 – Arquivo da escola dos materiais elaborados pelas crianças ........... 46

Figura 3 – Playground da área da Educação Infantil ........................................ 46

Figura 4 - Sala de aula do Maternal ................................................................. 47

Figura 5 - Roda de Leitura na Educação Infantil .............................................. 47

Figura 6 – Horta.................................................................... ............................ 48

Figura 7 – Imprensa............... .......................................................................... 48

Figura 8 - Jornal exposto na sala do Ensino Fundamental ............................. 49

Figura 9 – Diferentes edições do “Folhoca”......... ............................................. 50

Figura 10 – Edições de jornais feitos por diversas turmas ............................... 50

Figura 11 – Livro da vida .................... ............................................................. 51

Figura 12 – Livro da vida ilustrado de forma diferenciada ................................ 51

Figura 13 – Linha do Tempo sobre Célestin Freinet realizada com os alunos . 53

Figura 14 – Fotos de Célestin Freinet apresentada aos alunos ....................... 54

Figura 15 – Respostas dos alunos: conteúdos e produção .............................. 55

Figura 16 - Alunos folheando os jornais em dupla ........................................... 56

Figura 17 - Alunos folheando os jornais em dupla ........................................... 56

Figura 18 - Alunos folheando os jornais em dupla ........................................... 56

Figura 19 - Atividade I – estrutura de primeira página ...................................... 57

Figura 20 – Cartaz sobre as principais partes que compõem uma noticia de jornal

......................................................................................................................... 57

Figura 21 – Atividade II – Estrutura de notícia de um jornal ............................. 58

Figura 22 – Roda de conversa para decidir o nome do jornal .......................... 58

Figura 23– Resultado da votação para escolher o nome do jornal .................. 59

Figura 24 – Elaboração dos Grupos para o jornal ............................................ 59

Figura 25 – Grupos e temas feitos pelos os alunos ........................................ 60

Figura 26 – Grupo Esportes – Produção do jornal ........................................... 61

Figura 27 – Grupo Notícias Policiais – Produção do jornal .............................. 61

Figura 28 – Aluno realizando pesquisa sobre o que tema que escreveu ......... 62

Figura 29 – Entrega dos jornais já impressos aos alunos ................................ 62

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipos textuais segundo Werlich (1973) .......................................... 25

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação

BNCC: Base Nacional Comum Curricular

PCN: Parâmetros Nacionais Curriculares

CEL: Cooperativa do Ensino Leigo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

CAPÍTULO I – A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA E DA

ESCRITA............................................................ .............................................. 16

1 O ALUNO COMO LEITOR E ESCRITOR E O PAPEL DA ESCOLA ...16

1.1 A leitura .................................................................................................. 18

1.2 A escrita ................................................................................................. 23

1.3 A escrita do jornal escolar ..................................................................... 26

CAPÍTULO II – CÉLESTIN FREINET ............................................................. 30

1 O EDUCADOR ...................................................................................... 30

1.1 As técnicas freinetianas ......................................................................... 31

1.2 O jornal escolar ...................................................................................... 35

CAPÍTULO III – METODOLOGIA .................................................................... 40

1 PROBLEMA .......................................................................................... 40

2 OBJETIVOS .......................................................................................... 40

2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 40

2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 40

3 ASPECTOS ÉTICOS ............................................................................. 40

4 MÉTODO ............................................................................................... 40

4.1 Fases da pesquisa ................................................................................. 41

5 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES ...................................... 41

6 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA PESQUISA ............................. 41

7 DISCUSSÃO DOS DADOS .................................................................. 42

7.1 Da entrevista com a coordenação ......................................................... 42

8 OBSERVAÇÃO IN LOCUS – CONHECENDO UMA ESCOLA FREINETIANA

......................................................................................................................... 44

8.1 Os ambientes organizados ................................................................... 45

8.2 A técnica do jornal ............................................................................... 48

CAPÍTULO IV – PROJETO “JORNAL DO 4º ANO” ....................................... 53

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1 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE AÇÃO EM UMA ESCOLA

PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL ............................................. 53

CONCLUSÃO................................................................................................... 64

REFERÊNCIAS................................................................................................. 66

ANEXOS........................................................................................................... 69

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INTRODUÇÃO

A leitura e a escrita na atualidade têm um papel fundamental na sociedade.

Através delas é possível expressar ideias e adquirir conhecimentos por diversos

meios de comunicação, como jornais, revistas, livros, sites, entre outros.

O jornal foi o primeiro meio de comunicação impresso destinado as pessoas,

remontando desde a antiguidade, para difundir ideias e transmitir noticias para

informar a sociedade.

A Acta Diurna era uma publicação oficial do Império Romano, criada no ano de 59 a.C. durante o governo imperial de César. Ela trazia notícias diariamente para a população de todos os cantos do Império (e de fora dele) falando principalmente de conquistas militares, ciência e de política.(A HISTÓRIA, 2018, p. 1)

Considerando que a escola de educação básica de ensino fundamental, de

acordo como o art. 32 da LDB, tem como objetivo a formação básica do cidadão e o

dever de possibilitar o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como

objetivos principais o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, torna-se

primordial que seja também responsabilidade da escola trazer para a sala de aula

informações sobre o cotidiano por diferentes meios de comunicação.

Neste sentido, o jornal possibilita aos alunos o acesso à leitura de diferentes

gêneros textuais que circulam socialmente. Além disso, se adotado como

instrumento pedagógico, pode possibilitar a vivência da produção de conteúdo

impresso.

Partindo desses pressupostos a pesquisa, a partir da qual resultou este TCC,

inspirou-se na pedagogia Freinetiana. Por inquietações sobre métodos

rudimentares utilizados nas escolas de sua época, Célestin Freinet (1975) procurava

uma solução diferenciada para a pedagogia, em que o aluno seria atuante no seu

próprio processo de aprendizagem. Por meio de diversos estudos e pesquisas,

Freinet percebe que nenhum dos métodos se coincide em suas aulas.

De acordo com o estudioso, os materiais oferecidos eram elaborados por

indivíduos que não participavam diretamente da educação e não estavam inseridos

no cotidiano de uma sala de aula. Os pedagogos que trabalhavam diretamente com

as crianças e estavam a todo o momento em constante observação pedagógica não

possuíam voz para que ocorressem as mudanças que se faziam necessárias para a

evolução da educação. “Eles não tinham ainda reconhecido que a libertação

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pedagógica só pode ser feita pelos próprios educadores, e que, sem eles, nada

feito.” (FREINET, 1975, p. 19)

Célestin Freinet (1975) buscava, por meio de suas técnicas, trazer a realidade

do dia-a-dia das pessoas e o lugar em que viviam para a sala de aula, pois para o

mesmo, o material que era oferecido nas escolas não fazia parte da vida das

crianças.

Nessa perspectiva, ao olhar de Freinet, tanto seus alunos quanto alunos da

atualidade, necessitavam e necessitam compreender que a função social da escrita

está longe de ser aquela demonstrada em salas de aulas, onde os livros didáticos e

as folhas de atividades predominam. Além disso, precisavam e precisam conhecer

os diversos formatos e impressões de textos escritos que os leitores possam atribuir

sentido.

Segundo Josette Jolibert (1994):

Que elas saibam que os escritos sociais raramente existem sob a forma de folhas soltas ou de cadernos, como elas têm o hábito de encontrá-los na escola, mas, antes, sob formas de escritos complexos: jornais, revistas, livros, coleções de fichas, etc., cada um deles com sua especificidade. (p.21)

Com o jornal escolar, Freinet descobriu uma técnica de trabalhar a leitura e a

escrita de uma forma significativa para os alunos. Encontrou a partir da técnica uma

base norteadora para sua pedagogia: “[...] tínhamos descoberto um processo normal

e natural da cultura: a observação, o pensamento, a expressão natural tornavam-se

texto perfeito.” (1975, p.25).

Durante a época do ensino tradicional, a escola não acreditava na ideia de

que a criança, em seus primeiros anos escolares, pudesse produzir um pensamento

próprio, como a escrita de uma simples frase correta, porém Freinet propiciou que as

crianças pudessem produzir isso e muito mais, através do texto livre.

As crianças necessitam saber, durante toda a sua formação escolar, que a

escrita está presente no mundo em diversas formas e para diferentes necessidades

e utilizações. De acordo com Jolibert "em suma, é preciso que as crianças

encontrem seu lugar no mundo da escrita não mais somente como leitoras e

receptoras, mas como produtoras, como editoras e como difusoras". (1994, p.22)

Delia Lerner (2002) assevera que os alunos podem ser produtores da língua

escrita, conscientes da pertinência e da importância de emitir mensagens em

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determinadas situações sociais, ao contrário de se treinar diversos tipos de textos

sem um propósito e objetivo próprio.

Diante desses pressupostos, este texto resultante de pesquisa tem como

objetivo geral, desenvolver uma técnica da pedagogia freinetiana no século XXI em

uma escola pública, a fim de ampliar a prática social da leitura e escrita dos alunos.

Compreendendo por meio da imprensa escolar proposta por Freinet como

funcionava os gêneros textuais no jornal escolar em uma classe de 4º ano do Ensino

Fundamental.

A questão que norteou o trabalho foi: como o jornal escolar proposto por

Freinet pode auxiliar no processo da escrita e reescrita em textos de autoria do

aluno do século XXI?

A escolha pelo desenvolvimento do jornal escolar no 4º Ano do Ensino

Fundamental tem como propósito vivenciar, parcialmente, o processo de montagem

de textos impressos como base para expansão e aprimoramento da reescrita e

consequentemente o repertório como escritor e leitor.

Por meio da utilização da técnica do jornal escolar, elaborou-se a reescrita

como também as técnicas da autocorreção de textos de autoria do aluno no 4º ano

do Ensino Fundamental.

Realizou-se uma pesquisa descritiva com revisão bibliográfica e abordagem

qualitativa. A pesquisa de campo foi realizada em uma escola estadual com um

professor e 26 alunos em setembro de 2018.

A pesquisa foi desenvolvida por meio da elaboração do Jornal Escolar com

base na técnica de Célestin Freinet, visando o processo de reescrita dos gêneros

textuais inseridos na imprensa. Durante a realização da sequência didática da

técnica, os alunos participaram de todo processo de criação do jornal, sendo feita a

mediação de forma constante.

A escolha pelo método de pesquisa de campo deve-se ao fato de vivenciar a

elaboração da técnica, como também obter resultados por meio da prática com a

realização do jornal escolar.

No primeiro capítulo do trabalho abordou-se a função social da leitura e da

escrita. Traz reflexões necessárias quanto a necessidade da autonomia na escrita

do aluno e a importância da leitura para o mesmo.

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No segundo capítulo explana-se sobre a vida e obra de Célestin Freinet,

resgatando aspectos teóricos, filosóficos e didáticos de seu legado, enfocando

principalmente sua técnica do jornal.

A terceira sessão, redige-se sobre a visita técnica a Oca dos Curumins,

escola freinetiana situada em São Carlos/SP, com o objetivo de conhecer, vivenciar,

e reconhecer aspectos da pedagogia de Freinet em uma escola que segue sua

abordagem e especificamente trazer elementos sobre a técnica pesquisada.

No quarto e último capítulo apresenta-se o desenvolvimento de uma

sequência didática sobre o jornal em uma sala de 4º ano do ensino fundamental, de

uma escola pública situada no município de Lins/SP e as reflexões sobre a

possibilidade do trabalho com a técnica freinetiana.

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CAPÍTULO I

A FUNÇÃO SOCIAL DA LEITURA E ESCRITA

1 O ALUNO COMO LEITOR/ESCRITOR E O PAPEL DA ESCOLA

A leitura e a escrita, na atualidade, têm uma grande função social e cultural:

expressar ideias, adquirir conhecimentos, difundir saberes, comunicar e informar

através de diversos meios de comunicação, como jornais, revistas, livros, sites, entre

outros.

No dia a dia escrevemos em diversas situações de interação comunicativa. Escrevemos para nos lembrar de compromissos, escrevemos cartas, bilhetes, listas de compras, e-mails, entre outras formas de escrita, tomando cuidado de adaptar os textos a diferentes situações. Dessa forma, podemos dizer que escrever textos configura-se em importante modo de interação social. (AURIEMO, 2012, p. 12)

A escola, instituição responsável pela socialização do conhecimento, tem

como objetivo ensinar aos alunos ler e escrever. Com uma abordagem tradicional,

por muito tempo, tinha-se a cartilha como único meio didático para o ensino da

leitura e escrita.

Nos dias atuais, a abordagem tradicional ainda se faz presente, garantida não

somente pelo uso da cartilha, mas quando, a liberdade escritora dos alunos é pouco

estimulada pois as produções escritas desenvolvidas pelos mesmos só são

realizadas mediante orientação do professor, com comandas que devem ser

seguidas para a realização dos textos.

De acordo com Paulo Freire (1987, p. 33):

Em lugar de comunicar-se o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos meras incidências recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária”’ da educação em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fixadores das coisas que arquivam. No fundo, porém, os grandes arquivados são os homens, nesta na melhor das hipóteses equivocada concepção “bancária” da educação.

Este posicionamento de uma abordagem mais tradicional, se retrata também

como uma educação bancária, em que o aluno não é sujeito de sua aprendizagem.

O educador adepto à concepção “bancária” se coloca como sujeito central de todo

conhecimento, onde o aluno serve apenas para guardar e arquivar os

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conhecimentos passados pelo professor, detentor de todas as informações, um ser

indiscutível. Que transmite conteúdos totalmente em desconexão com a realidade.

Ao ministrar suas aulas, na maioria das vezes, cabe ao professor a ação da

fala, ou seja, é o indivíduo detentor de todo o conhecimento, restando assim ao

aluno apenas ouvir, observar e realizar atividades que se julgam importantes para

sua aprendizagem. Em outras palavras, lhe cabe o papel de receptor. A educação

não deve ser abordada como um ensino engessado e mecânico, o conhecimento se

adquire através da reflexão e transformação, uma busca inquietante e incessante

pela verdade e realidade dos fatos.

Contudo, Jolibert (1994) afirma sobre a importância da escrita significativa e

prazerosa aos alunos que ecoem à vida real:

É primordial que cada criança, durante sua escolaridade, como leitora e

produtora de textos vivencie: a utilidade das diferentes funções da escrita; o

poder que dá o domínio suficiente da escrita; o prazer que a produção de

um texto pode proporcionar. Escrever textos em situações reais de uso,

considerando as funções sociais da escrita, faz com que o aluno encontre

um motivo para escrever. Escrever para comunicar, para ser lido não com o

objetivo de ser avaliado (JOLIBERT, 1994, p. 15)

Portanto, cabe à escola além de formar alunos leitores e produtores de textos,

desenvolver a função social da leitura e escrita. Segundo Delia Lerner (2002) “O

desafio que a escola enfrenta hoje é o de incorporar todos os alunos à cultura do

escrito, é o de conseguir que todos seus ex-alunos cheguem a ser membros plenos

da comunidade de leitores e escritores” (p.17). A escola não é apenas responsável

pela alfabetização, mas também por fazer com que a criança aprenda a ler,

compreender, interpretar e utilizar seus conhecimentos em seu cotidiano.

O necessário é fazer da escola uma comunidade de escritores que produzem seus próprios textos para mostrar suas ideias, para informar sobre fatos que os destinatários necessitam ou devem conhecer, para incitar seus leitores a empreender ações que consideram valiosas, para convencê-los da validade dos pontos de vista ou das propostas que tentam promover, para protestar ou reclamar, para compartilhar com os demais uma bela frase ou um bom escrito, para intrigar ou fazer rir [...] (LERNER, 2002, p.18)

Durante a formação do aluno é necessário que este saiba que a escrita está

presente na sociedade de diversas formas e para diferentes necessidades,

compreendendo que a função social da escrita está longe de ser aquela

demonstrada em sala de aula, onde os livros didáticos e as folhas de atividades

predominam. Além disso, elas precisam saber os diversos formatos e impressões de

conteúdos escritos para utilização em seu dia a dia.

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A escola deve interagir com o meio social dos alunos, trazendo a realidade e

o cotidiano para a sala de aula, mesmo que o contexto não seja o esperado pela

comunidade.

Frente a esse panorama, o que fazer para preservar na escola o sentido que a leitura e a escrita tem fora dela? [...] o possível é gerar condições didáticas que permitam por em cena – apesar das dificuldades e contando com elas – uma versão escolar da leitura e da escrita, mas próxima da versão social (não escolar) dessas práticas (LERNER, 2002, p. 21)

O professor deve preparar o aluno para enfrentar situações reais do cotidiano

por meio da leitura e escrita onde, além de ler, o mesmo possa interpretar e usar as

informações obtidas para diversas finalidades. É necessário que saiba interpretar,

selecionar e utilizar diversos textos conforme os seus objetivos, fazendo com que

isso se torne um processo natural e não obrigatório, inerente aos seus hábitos como

indivíduo.

[...] É formar seres humanos críticos, capazes de ler entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à mantida, explícita ou implicitamente, pelos autores dos textos com os quais interagem, em vez de persistir em formar indivíduos dependentes da leitura do texto e da autoridade de outros. (LERNER, 2002, p. 27)

Atualmente nas salas de aulas, a leitura e a escrita tem como finalidade

permitir que o aluno produza textos preestabelecidos pelos professores, mesmo

quando a produção é de autoria, a vivência do aluno é descartada, e suas ideias e

embasamentos devem ser extraídos de escritos previamente selecionados.

Acredita-se que o desenvolvimento do aluno como leitor e escritor, só será

ampliado, se as instituições de ensino promoverem a adesão das decisões do aluno,

permitir que o mesmo possa ter a autonomia de escolha de suas produções e

leituras de textos.

1.1 A leitura

De acordo com Bamberger (1986) antigamente, antes mesmo da invenção da

imprensa, o acesso à leitura era somente para um seleto grupo de pessoas e após o

século do humanismo tornou-se reservada a uma elite culta. Atualmente, a

sociedade, já possui, à sua disposição, diversos conteúdos já escritos, esperando

para serem lidos. Porém, geralmente, esse costume não está inserido na rotina das

pessoas. “É preciso fazer da leitura um hábito determinado por motivos

permanentes, e não por inclinações mutáveis” (p. 20.)

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Jolibert (1994) afirma que o ato de aprender a ler é complexo e depende de

diversos fatores, sendo eles: a) compreensão do funcionamento da leitura; b) o

funcionamento da língua escrita; c) teoria do aprendizado: o que um aluno consegue

aprender; d) Qual a interação do indivíduo com a escrita e e) A interferência da

escola.

O professor deve levar em consideração que os alunos já vivenciam situações

de leitura antes mesmo de ingressarem na escola e possuem curiosidade. Cortar

hipóteses e reflexões por meio de questionamentos é um ato falho. As crianças

aprendem fazendo e questionando, não é possível criar um ambiente para

conhecimento sem essa liberdade.

Segundo Jolibert (1994, p. 12), na escola, o escrito é apenas um elemento de

um complexo meio de vida. Qual a atividade das crianças para com o escrito se elas

não têm questionamento, nem poder de intervenção sobre o restante de seu meio

de vida?

Só é possível aprender a leitura, proporcionando momentos reais em que o

aluno, por meio de situações, questionará sobre determinadas questões, como por

exemplo: apresentando impressões de jornais, folhetos, revistas, panfletos, folders,

promoções de supermercado, entre outros. Levando o aluno a lugares onde a leitura

se faz necessária, como rodoviárias, ruas e também onde existam placas de

sinalização como praças e supermercados. Simples passeios que possam fazer com

que o aluno utilize a leitura para uma finalidade.

O professor cumpre a função de mediador para que o aluno comece a ler

assim como outros indivíduos que fazem parte da vida da criança. “[...] Fazer coisas

comuns do dia a dia depende da leitura de nomes, de sinais, o que mostra a

importância do domínio da escrita” (AIUB, 2015 p. 9). O ato de ensinar deve ser

provocado por questões que os alunos farão, pois a aprendizagem se faz por meio

das dúvidas que surgirão no processo de ensino.

Cada indivíduo possui uma maneira única de aprender, sendo assim, são

fatores únicos e particulares que podem coincidir-se, ou não, mas provém de seu

próprio desenvolvimento, de suas dúvidas e questionamentos que o ajudarão em

seu conhecimento.

Cada criança possui seus próprios processos, suas etapas, seus obstáculos a vencer, seus “pulos qualitativos”, seus “Pois é”. A ajuda lhe vem do confronto com as proposições dos colegas com quem ela está trabalhando, porém é ela quem desempenha a parte essencial da atividade do seu aprendizado. (JOLIBERT, 1994, p. 14)

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Nesse sentido, um fator que auxilia o individuo no processo de aquisição da

leitura é a partir de seu próprio interesse. Apresentar primeiramente aos alunos

possíveis leituras que lhe agradam, assuntos que fazem parte do meio em que

vivem, é uma valiosa estratégia para o incentivo à leitura.

De acordo com Bamberger (1986) “Os interesses e motivações do indivíduo

refletem-se em seu modo de vida total. Muitas vezes, o que uma criança aprende,

ou deixa de aprender na escola depende mais dos seus interesses do que da sua

inteligência”.

Dessa forma, o professor deve levar em consideração que os alunos já

vivenciam situações de leitura antes mesmo de ingressarem na escola e possuem

curiosidade. Cortar hipóteses e reflexões, desprezar os questionamentos, a

curiosidade, é um ato falho. As crianças aprendem fazendo e questionando, não é

possível criar um ambiente para conhecimento sem essa liberdade.

Para a criança, é necessário que a leitura esteja contextualizada em relação a

sua vida, deve ter um propósito, uma finalidade e uma função a ser utilizada. De

acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) a escola deve

apresentar aos alunos diversos tipos de gêneros textuais:

Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, quadras, quadrinhas, parlendas, trava-línguas, dentre outros gêneros do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade (BRASIL, 2017 p. 101)

Porém, muitas vezes, o aluno não consegue construir relações de sentido e

compreensão que estejam inseridas em sua realidade, porque, do mesmo modo,

nem sempre a escola utiliza as estratégias mais adequadas. Aiub (2015 p. 47)

apresenta a leitura como uma atividade interativa, ou seja, o leitor, ao entrar em

contato com um texto, deve construir sentidos a partir do que lê, estabelecendo um

diálogo com o texto.

Segundo Paulo Freire (1987) em sua vivência como estudante nas aulas de

Língua Portuguesa na época do ensino tradicional, os únicos momentos válidos

eram aqueles em que os textos sanavam suas inquietações. Atualmente as escolas,

em alguns momentos, ainda privam os alunos de suas escolhas para a leitura.

Geralmente, os textos utilizados em sala de aula, em diversos momentos, fogem da

vivência com a qual a criança está familiarizada.

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A Base Nacional Comum Curricular (2017) propõe objetivos de ensino e

aprendizagem e competências para a educação em nível nacional, ou seja, todos os

alunos e professores, independente do estado em que residirem deverão ter como

principio a Base Nacional, para a construção do currículo escolar e

consequentemente seu planejamento. Indica aos indivíduos ligados ao ensino, um

apoio à formação do currículo, para a fim de alcançar objetivos para a melhoria da

sociedade:

[...] cumpre a atribuição do Ministério da Educação (MEC) de encaminhar ao Conselho Nacional de Educação (CNE) a proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os alunos da Educação Básica, pactuada com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. (p. 5) [...] A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. (p. 7) [...] espera-se que a BNCC ajude a superar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e seja balizadora da qualidade da educação, isto é, da garantia do direito dos alunos a aprender e a se desenvolver, contribuindo para o desenvolvimento pleno da cidadania. (BRASIL p. 8)

Nessa perspectiva, a escola deveria propiciar momentos em que os discentes

pudessem escolher suas próprias leituras, embasados em gêneros textuais com os

quais pudessem desenvolver e aperfeiçoar seu desenvolvimento como leitor, como a

Base Nacional Comum Curricular traz:

[...] um trabalho no ambiente escolar que se organize em torno dos interesses manifestos pelas crianças, de suas vivências mais imediatas para que, com base nessas vivências, elas possam, progressivamente, ampliar essa compreensão, o que se dá pela mobilização de operações cognitivas cada vez mais complexas e pela sensibilidade para apreender o mundo, expressar-se sobre ele e nele atuar. (BRASIL, 2017, p.54)

A BNCC (2017) apresenta as competências necessárias a cada nível de

ensino, expõe conceitos, valores, atitudes e procedimentos que são essenciais a

cada âmbito de ensino. Em suas dez competências gerais retratam, no quarto item,

sobre a utilização das linguagens:

Utilizar conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ou verbo-visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. (BRASIL, 2017, p. 18)

No âmbito do Ensino Fundamental, a BNCC (2017) aborda na área das

linguagens, sobre a leitura e a escrita, determinando as funções que a escola possui

para o desenvolvimento pleno dessa competência, como a reflexão e produção:

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A escolarização das linguagens com base nesse pressuposto significa conscientizar os sujeitos do seu “ser-pensar-fazer” e gerar um “fazer-saber”. O fazer baseado na reflexão é uma transformação que modifica o sujeito, que passa do fazer imediato para um fazer informado, persuasivo e interpretativo. Ao reconhecer as estruturas profundas das linguagens (as formas e os valores implícitos), ele poderá compreender melhor as estruturas de superfície que se manifestam em textos, tornando-se capaz, se quiser, de manipulá-las, aceitá-las, contestá-las e transformá-las. (BRASIL, 2017, p. 58)

Diversos documentos legais embasam a BNCC, como artigo 26 da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, define que:

Os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996)

Vale destacar que, entre as Políticas Nacionais voltadas ao currículo, houve

também os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) que tinha como

objetivo auxiliar o professor na elaboração de suas aulas, porém não possuía

caráter mandatório como a BNCC (2017) mas que trouxe também pontos

importantes para reflexão do ensino de linguagem:

Não se formam bons leitores oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita. As pessoas aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, a qualidade de suas vidas melhora com a leitura. (BRASIL, 1998, p. 29).

Destaca-se ainda que tanto os PCNs do Ensino Fundamental (BRASIL, 1998)

quanto a BNCC (BRASIL, 2017) que se pautaram também na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional de 1996 (Brasil, 1996) que destaca já em seu primeiro

inciso a necessidade do desenvolvimento da leitura e escrita.

Art. 7º De acordo com esses princípios, e em conformidade com o art. 22 e o art. 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB), as propostas curriculares do Ensino Fundamental visarão desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores, mediante os objetivos previstos para esta etapa da escolarização, a saber: I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

A BNCC (Brasil, 2017 p. 121), em um de seus objetivos do quarto ano

destaca a compreensão na leitura de textos jornalísticos, sendo relevante:

“Identificar, em notícias, fatos, participantes, local e momento/tempo da ocorrência

do fato noticiado.” Por fim, fica claro que deve-se ofertar aos alunos diferentes

gêneros textuais, a fim de estimular as crianças para que se tornem leitores e

produzam textos de qualidade.

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1.2 A escrita

Na sociedade pós-moderna o ato de escrever é algo de extrema relevância e

pode significar a interação social entre sujeitos integrantes de culturas próprias,

estes que comunicam-se e expressam ideias através de suas potencialidades

particulares. Também tem como objetivo expressar seus sentimentos e manifestar

suas reflexões.

Saber escrever é muito mais que saber transpor para o papel o código da Língua Portuguesa. É ter a oportunidade de ingressar num mundo infinito de interações e participar de práticas discursivas que tanto constitui o mundo como o próprio sujeito. E mais que isso, é sentir-se parte integrante da sociedade e sujeito de suas próprias ações, expondo pensamentos, comunicando-se com os outros, desenvolvendo, a cada interação, seu potencial de socialização. (ALVES; WATTHIER, 2012, p.1)

Atualmente, nas escolas, a Língua Portuguesa é trabalhada com

embasamento em documentos governamentais, na concepção sociointeracionista

de linguagem, ou seja, acredita-se que a escrita deve estar vinculada a fatores que

façam sentido para aquele que irá produzir o texto escrito, o aluno. Segundo a

BNCC, o discente deve:

Apropriar-se da linguagem escrita, reconhecendo-a como forma de interação nos diferentes campos de atuação da vida social e utilizando-a para ampliar suas possibilidades de participar da cultura letrada, de construir conhecimentos (inclusive escolares) e de se envolver com maior autonomia e protagonismo na vida social. (BRASIL, 2018, p. 85)

Portanto, a escrita na sociedade deve estar diretamente vinculada ao que é

ensinado nas escolas. Para isso é necessário criar condições aos alunos para que

estes possam produzir seus próprios textos.

Sabemos que a escrita está presente na maioria das práticas sociais, influenciando a interação e a comunicação entre os povos. Desse modo é função da escola proporcionar ao aluno condições para essa interação criando condições para fazer uso da linguagem com competência. (AURIEMO, 2012, p. 9)

A execução de uma produção escrita deve estar ligada a uma necessidade, o

aluno precisa saber para que e por que está escrevendo e qual a finalidade para

produzir um determinado texto.

O domínio da língua escrita é extremamente facilitado quando impulsionado pelo desejo de aprender a ler e a escrever. Evidentemente, esse desejo só poderá se manifestar numa criança a partir do momento em que ela saiba da existência e da utilidade da escrita. (SANTOS, 1996, p. 212)

O aluno como escritor competente é o que sabe utilizar a escrita e transformar

o gênero discursivo em textual, utilizando a estrutura necessária de cada gênero

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bem como avaliar, revisar e corrigir o texto produzido, segundo o PCN (BRASIL,

1998), um escritor competente se define como:

Um escritor competente é alguém que planeja o discurso e consequentemente o texto em função do seu objetivo e do leitor a que se destina, sem desconsiderar as características específicas do gênero.[...] Um escritor competente é, também, capaz de olhar para o próprio texto como um objeto e verificar se está confuso, ambíguo, redundante, obscuro ou incompleto. Ou seja: é capaz de revisá-lo e reescrevê-lo até considerá-lo satisfatório para o momento. É, ainda, um leitor competente, capaz de recorrer, com sucesso, a outros textos quando precisa utilizar fontes escritas para a sua própria produção. (BRASIL, 1998, p. 48)

Gerenciar a escrita de diversos tipos de textos e ser considerado um escritor

competente requer um trabalho intenso pois a Língua Portuguesa possui uma

diversidade de escritos que devem ser levados em consideração. O PCN (BRASIL

1998, p. 111), sugere diversos textos a serem trabalhados para produção escrita:

Gêneros adequados para o trabalho com a linguagem escrita:

• Receitas, instruções de uso, listas;

• Textos impressos em embalagens rótulos, calendários;

• Cartas, bilhetes, postais, cartões ( de aniversario, de Natal, etc.)

• Quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis: títulos, lides, noticias, classificados, etc;

• Anúncios,slogans,cartazes, folhetos;

• Parlendas, cações, poemas, quadrinhas, adivinhas,, trava-linguas, piadas;

• Contos(de fadas, de assombração, etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas;

• Textos teatrais;

• Relatos históricos, textos de enciclopédia, verbetes de dicionário, textos expositivos de diferentes fontes (fascículos, revistas, livros de consulta, didáticos, etc.).

Gêneros textuais, segundo Marcuschi (2002) está equivocamente ligada para

alguns indivíduos como “tipos de textos”, e de acordo com o autor a escrita de um

texto está relativamente ligada a um gênero textual e não a um tipo de texto.

Em geral, a expressão "tipo de texto", muito usada nos livros didáticos e no nosso dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, "a carta pessoal é um tipo de texto informa!", ele não está empregando o termo "tipo de texto" de maneira correta e deveria evitar essa forma de falar. Uma carta pessoal que você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, horóscopo/ receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação casual, entrevista jomalística, artigo científlco, resumo de um artigo, prefácio de um livro. É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um texto é em geral tipologicamente variado (heterogêneo). (MARCUSCHI, 2002, p.5)

Marcuschi, (2002) também define que tipos de textos na verdade são como

“um conjunto de traços que formam uma seqüência e não um texto” e que os

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gêneros “são uma espécie de armadura comunicativa geral preenchida por

sequências tipológicas de base que podem ser bastante heterogêneas mas

relacionadas entre si”, ou seja, o termo “tipo de texto” está relacionado a estrutura e

coesão de um gênero textual. Marcuschi apud Werlich (1973) que propõe critérios a

partir de estruturas linguísticas que contemplam um texto, desenvolvendo cinco

bases temáticas textuais que darão origem aos tipos textuais.

Quadro 1 – Tipos textuais segundo Werlich (1973)

Bases temáticas Exemplos Traços linguísticos

1. Descritiva “Sobre a mesa havia milhares de vidros.”

Este tipo de enunciado textual tem uma estrutura simples com um verbo estático no presente ou imperfeito, um complemento e uma indicação circunstancial de lugar

2. Narrativa “”Os passageiros aterrissaram em Nova York no meio da noite.””

Este tipo de enunciado textual tem um verbo de mudança no passado, um circunstancial de tempo e lugar. Por sua referência temporal e local, este enunciado é designado como enunciado indicativo de ação.

3. Expositiva (a) “” Uma parte do cérebro é o _órtex.”” (b) “” O cérebro tem 10 milhões de neurônios””

Em (a) temos uma base textual denominada de exposição sintética pelo processo da composição. Aparece um sujeito, um predicado (no presente) e um complemento com um grupo nominal. Trata-se de um enunciado de identificação de fenômenos. Em (b) temos uma base textual denominada de exposição analítica pelo processo de decomposição. Também é uma estrutura com um sujeito, um verbo da família do verbo ter (ou verbos como: ""contém'''', “”consiste””, “”compreende””) e um complemento que estabelece com o sujeito uma relação parte-todo. Trata-se de um enunciado de ligação de fenômenos.

4. Argumentativo

“” A obsessão com a durabilidade de nas Artes não é permanente.””

Tem-se aqui uma forma verbal com o verbo ser no presente e um complemento (que no caso é um adjetivo). Trata-se de um enunciado de atribuição de qualidade.

5. Injuntiva “” pare!””, “” seja razoável!””

Vem representada por um verbo no imperativo. Estes são os enunciados incitadores à

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ação. Estes textos podem sofrer certas modificações significativas na forma e assumir por exemplo a configuração mais longa onde o imperativo é substituído por um ""deve"". Por exemplo; ""Todos os brasileiros na idade de 18 anos do sexo masculino devem comparecer ao exército para alistarem-se."

Fonte: Marcuschi (2002) apud Werlich (1973, p.6)

Com base nas informações apresentadas o primeiro momento, um escritor

competente deve conhecer os gêneros textuais e sabê-los estruturar de acordo com

o tipo textual, ou seja, saber e elaborar um determinado texto conforme suas

características.

1.3 A escrita do jornal escolar

O jornal escolar que foi a ênfase desta pesquisa, é um recurso já há muito

tempo utilizado pelos docentes para o ensino da produção escrita. Tendo em vista

que o jornal é um meio de comunicação que informa retratando a realidade e os

acontecimentos cotidianos, os professores, executando essa técnica, dão sentido à

criança que preza pelos fatos vivenciados no seu dia a dia.

A atividade do jornal escolar não constitui nenhuma novidade, há muito é usada como um subsídio pelo professor que procura familiarizar a criança com a linguagem escrita, numa busca pelo significado do que se lê e do que se escreve, mantendo um contato maior da criança com o mundo que a rodeia.O jornal é um material impresso no qual se pode procurar informação exata relativa à televisão, aos resultados da loteria, à previsão do tempo, ao que está acontecendo [...]. em outras palavras o jornal é um material escrito que diz respeito à realidade, que é diferente das histórias que apresentam uma narrativa de ficção. (TEBEROSKY e COLOMER, 2003, p. 30)

Para que o aluno saiba fazer uma produção escrita também é necessário que

conheça os diversos gêneros textuais que compõe a linguagem escrita. O gênero

textual partiu da necessidade do ser humano colocar no papel os diferentes

discursos utilizados em seu cotidiano.

Os estudos sobre esses gêneros remontam ao período antes da invenção da escrita, quando a comunicação acontecia, impreterivelmente, por meio da linguagem oral, da fala. Depois da invenção da escrita os gêneros se multiplicaram, além dos orais, então, surgiram aqueles típicos da escrita. Com o crescimento da cultura do impresso, essa ampliação teve proporções grandiosas, afinal, os gêneros não param de surgir e/ou se modificar dando espaço ao novo. (AIUB, 2015, P. 63)

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Segundo Schneuwly & Dolz (2004) apud Bakhtin (1984), gêneros são

compreendidos como “instrumentos que fundam a possibilidade de comunicação”.

Schneuwly & Dolz (2004) afirmam que “O gênero, assim definido, atravessa a

heterogeneidade das práticas de linguagem e faz emergir toda uma série de

regularidades no uso.” Os gêneros na escola são tratados como objetos de ensino-

aprendizagem e os autores citados criticam a maneira como as instituições os usam:

[...] o gênero torna-se uma pura forma linguística, cujo domínio é o objetivo. Em razão dessa inversão, o gênero, instrumento de comunicação, transforma-se em forma de expressão do pensamento da experiência ou da percepção [...] os gêneros tratados são, então, considerados desprovidos de qualquer relação com uma situação de comunicação autêntica. [...] os gêneros escolares são os pontos de referência centrais para a construção por meio dos planos de estudo e dos manuais, da progressão escolar particularmente no âmbito da redação/composição. (SCHNEUWLY ; DOLZ , 2004, p. 65)

Marcuschi (2002) também afirma que os gêneros textuais são textos

materializados para o uso social e que sua quantidade se baseia em inúmeros tipos

de gêneros:

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.[...] os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. (MARCUSCHI, 2002, p.4).

Os gêneros textuais dentro de um jornal são compostos por: classificados,

manchetes, charges, chamadas, notícias, legendas, entrevistas, tabelas,

reportagens, gráficos, cartas dos leitores, editoriais, críticas, artigos e resenhas e

existem ainda os gêneros jornalísticos que são: crônicas, notícias e editoriais

(VILARINHO, 2017)

De acordo com o Programa Ler e Escrever (SÃO PAULO, 2015) que tem

como objetivo auxiliar na aprendizagem dos alunos na leitura e escrita, sendo

utilizado em toda a rede pública estadual de São Paulo, assim como algumas redes

municipais que têm aderido ao Programa. O livro que aborda o 4º Ano do Ensino

Fundamental compreende um projeto sobre o jornal na escola, que possui como

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produto final uma produção da carta ao leitor, porém destaca alguns pontos

relevantes:

Permite que os alunos desenvolvam senso crítico vivenciando situações em que possam tecer opiniões a respeito do que leram, argumentando e verificando a necessidade de compromisso com a veracidade dos fatos, sem a manipulação de informações, participando da produção do jornal por meio da carta de leitor. Comparar, por exemplo, a mesma notícia publicada em jornais diferentes contribui para que se possa “ler nas entrelinhas” dos fatos noticiados. (SÃO PAULO, 2015, p. 243)

É importante ressaltar que a carta ao leitor é uma pequena parte de um todo

que o jornal possui. Produzir um fragmento não é suficiente para que o discente

aprenda a escrever textos de autoria. Da mesma forma o mero manuseio de notícias

descontextualizadas não gera efeitos significativos no aluno de acordo com a

estruturação que imprensa possui na produção escrita.

Ensinar a escrever textos torna-se uma tarefa muito difícil fora do convívio com textos verdadeiros, com leitores e escritores verdadeiros e com situações de comunicação que os tornem necessários. Fora da escola escrevem-se textos dirigidos a interlocutores de fato. Todo texto pertence a um determinado gênero, com uma forma própria, que se pode aprender. Quando entram na escola, os textos que circulam socialmente cumprem um papel modelizador, servindo como fonte de referência, repertório textual, suporte da atividade intertextual. A diversidade textual que existe fora da escola pode e deve estar a serviço da expansão do conhecimento letrado do aluno. (BRASIL, 1998, p. 28)

Trabalhar o jornal dentro da escola deve trazer construções significativas no

processo de aprendizagem escrita, como também a estruturação de cada gênero

textual apresentado em um material impresso. A leitura auxilia a construção do

processo de escrita, mas por si só não é suficiente. É importante que o aluno tenha

a liberdade de testar e produzir diferentes textos sem receio. Em uma de suas

invariantes, Freinet (1974) dizia que o medo de errar inibe a aprendizagem.

O texto livre, que será abordado com ênfase no segundo capítulo, como uma

das técnicas de Freinet pode ser uma opção para incentivar o aluno a colocar suas

próprias ideias no papel, tornar-se independente na produção escrita, produzir textos

sem receio das possíveis criticas e utilizar a escrita no meio social. De acordo com

Santos (1996):

Antes de mais nada, escreve-se para satisfazer uma necessidade de expressão e/ou de comunicação. É dessa necessidade que nasce o desejo de aperfeiçoar a expressão, através da aquisição das técnicas da língua e dos diferentes recursos oferecidos por ela. (p. 29)

Nesse sentido, o discente eventualmente perceberá que a escrita pode ser

uma prática prazerosa e consequentemente descobrir a grande utilidade em sua

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vida. Isso com a ajuda do docente, por meio de uma prática de ensino instigante,

provocadora e significativa. É a partir dessa perspectiva de escrita significativa que

resgata-se os trabalhos de Freinet, como se vê a partir do próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

CÉLESTIN FREINET

1 O EDUCADOR

Célestin Freinet nasceu em 15 de outubro de 1896, na região de Provença,

sul da França chamada de Gars. Teve participação na Primeira Guerra Mundial em

1914, onde os gases tóxicos da guerra lesionaram gravemente seus pulmões

afetando sua saúde para o resto da vida. (SAMPAIO 1989).

Inicia sua profissão como pedagogo, em Bar-Sur-Loup na França, uma escola

rural, onde predominava o método tradicional, os materiais de ensino se baseava em

manuais e cartilhas. Paralelamente havia a evolução tecnológica que se desenvolvia

em ritmo constante e rápido na sociedade da época, porém não refletia dentro das

escolas que haviam estagnado de forma alarmante. (SAMPAIO, 1989)

Neste cenário, Célestin Freinet, precursor da pedagogia libertária

progressista, propõe em sua metodologia, ênfase na compreensão das relações

sociais e de trabalho, partindo do interesse e necessidade dos alunos. (SAMPAIO

1989)

Não se deixando levar pelos problemas de saúde, Freinet (1975) decidiu

lecionar a partir dos conhecimentos que possuía com a metodologia tradicional de

ensino que existia na época, porém o mesmo não possuía experiência pedagógica

devido a não conclusão dos estudos por causa da guerra. Resolveu, então, estudar

sozinho. Observava e anotava o comportamento de cada criança de maneira

individual, fazendo diversas descobertas. A partir destas, Célestin Freinet passou a

se interessar cada vez mais por educação e procurou se aprofundar na área.

Sampaio (1989) afirma que:

Essas descobertas, essencialmente práticas, avivaram sua curiosidade e seu desejo de saber mais sobre educação. Passou a se interessar por Rousseau, Rabelais, Montaigne e, sobretudo, por Pestalozzi, lendo as obras desses autores com vivo interesse. Assim, pôde prestar o exame que o habilitou a exercer a função de professor. (SAMPAIO, 1989, p. 14)

Com o passar do tempo, à medida que conhecia seus alunos, Freinet

começou a se questionar sobre os métodos de ensino utilizados na época, pois os

mesmos não prendiam a atenção das crianças, principalmente as longas exposições

orais e as leituras feitas em sala de aula utilizando livros didáticos.

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O próprio educador foi ensinado por este tipo de metodologia, considerado

pelo mesmo, ultrapassada e exaustiva. Segundo Elias Del Cioppo (1998) “[...] sua

experiência como aluno, o aborrecimento nas escolas que frequentou levam-no a

uma ação contra o que considera uma das maiores aberrações da época – o

enfado”.

De acordo com o escritor, os materiais oferecidos eram elaborados por

indivíduos que não participavam diretamente da educação e não estavam inseridos

no cotidiano de sala de aula. Os pedagogos que trabalhavam diretamente com as

crianças e estavam a todo momento em constante observação pedagógica não

possuíam voz para que ocorressem as mudanças que se faziam de urgência

necessidade para que a educação avançasse. “Eles não tinham ainda reconhecido

que a libertação pedagógica só pode ser feita pelos próprios educadores, e que,

sem eles, nada feito.” (FREINET, 1975, p. 19)

Freinet desejava mudar esse cenário, buscava uma técnica pedagógica que

acompanhasse os avanços da sociedade e que possuísse embasamentos teóricos e

observações atentas para que ocorressem resultados visíveis.

1.1 As técnicas freinetianas

Freinet chegou à conclusão de que as aulas que aconteciam dentro da sala,

não despertavam a atenção das crianças, pois a atenção das mesmas se dividia

com o mundo lá fora. “Dentro da classe não havia nada que realmente motivasse as

crianças, que permaneciam sentadas em suas carteiras, pregadas no chão. Freinet

sabia que alguma coisa teria de ser feita. Era preciso mudar.” (SAMPAIO, 1989,

p.15). Nessa perspectiva, Freinet desenvolve uma série de técnicas, dentre elas: as

aulas-passeio, que constitui em estudos fora da sala de aula; a correspondência

interescolar, em que os alunos se comunicam com estudantes de escolas diferentes;

o fichário de consulta, fichas utilizadas para tirar dúvidas, elaboradas por aluno e

professor; o livro da vida, caderno em que as crianças se expressam de diferentes

formas; e o jornal escolar, textos de autoria dos discentes que eram publicados por

meio da imprensa que trazia uma perspectiva social e de trabalho.

A aula-passeio, uma técnica freinetiana, tem por intuito fazer com que os

alunos se sentissem mais livres. Durante as aulas todos saíam juntos e observavam

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tudo, desde o céu e as árvores, até o manuseio das ferramentas feito pelos

trabalhadores locais.

Se o interesse das crianças estava lá fora, por que ficar dentro da classe, lendo trechos de manuais com frases sobre assuntos desinteressantes para elas? Decidiu então levar os alunos para onde eles se sentiam felizes: lá fora. Diariamente organizava a aula-passeio. Saíam todos juntos, passando pelas ruas estreitas da vila, parando um pouco para admirar o trabalho do marceneiro ou para ver e ouvir as marteladas fortes e firmes do ferreiro. (SAMPAIO, 1989, p. 15)

Após a aula-passeio os alunos chegavam entusiasmados com tudo o que

viram e descobriram pelo caminho. Na sala de aula, produziam um resumo sobre

tudo o que viram. As crianças tinham participação ativa na elaboração do texto,

modificavam o que achavam necessário e ao final as mesmas copiavam em seus

cadernos o resumo desenvolvido. Esta atividade trazia vida às crianças, pois as

aulas feitas da maneira tradicional, com leituras e escritas obrigatórias não faziam

sentido para elas.

[...] e quando voltavam, escreviam na lousa um resumo do que ocorrera. O texto era comentado, acrescido e transformado pelas crianças, que ao final o copiavam em seus cadernos. Assim, Freinet conseguia uma aula viva através da qual os alunos estudavam e conheciam mais profundamente o seu meio. Eram aulas animadas em que toda a vivacidade das crianças contribuía para a construção coletiva do conhecimento. (TORNAGHI, p.1)

Os textos produzidos pelas crianças, resultado das aulas passeios eram

escritos em seus cadernos e posteriormente guardados no armário da escola. Tudo

acontecia de maneira esperada, porém Freinet não se contentava com aquilo, pois

depois de guardados, os textos não eram lidos por mais ninguém.

A partir de então surgiu a ideia de imprimir os mesmos para que outras

pessoas pudessem ter acessos a textos tão ricos e importantes para as crianças,

criando-se assim a imprensa escolar.

Apesar do entusiasmo no momento da sua elaboração, os textos depois não eram lidos por mais ninguém. Aqueles acontecimentos tão vivos, que eram gravados profundamente na alma das crianças, acabavam ali, fechados num armário. Freinet não se conformava com isso. Para ele, deveria existir alguma forma de modificar a situação, fazer reviver aquele instante de emoção. (SAMPAIO, 1989, p. 21)

Célestin Freinet falou com diversos tipógrafos da cidade, e mesmo com certa

discordância dos mesmos, seguiu em frente, pois sabia que seus alunos eram

capazes de manusear uma máquina desse tipo. Com o tempo ele conseguiu uma

impressora, que foi bem aceita pelas crianças, que trabalhavam produtivamente,

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uma vez que queriam que seus familiares e amigos pudessem apreciar os seus

textos.

A criança sente necessidade natural de se exprimir pela escrita considerada um trabalho sério [...] Antes de ir para a impressora o texto é trabalhado, relido e enriquecido coletivamente, até chegar à forma perfeita, expressiva, viva e artística. (ELIAS, 1997, p. 64)

Durante diversas aulas, Célestin Freinet (1975) também criou o livro da vida

juntamente com os alunos, um caderno onde as crianças podiam registrar o que

quisessem, desde desenhos, colagens, anotações, o dia a dia, fatos interessantes e,

muitas vezes eram discutidos o que era importante para se escrever. Todos inseriam

um pouco da sua vida através deste livro, até mesmo Freinet.

[...] Freinet também havia começado a fazer, junto com as crianças, um grande caderno onde eram anotados os fatos mais interessantes acontecidos no dia-a-dia. Era o “Livro da Vida”. Nele ficavam gravados os momentos mais vivos e as anotações podiam ser feitas por quem o quisesse, inclusive por Freinet. (SAMPAIO, 1989, p. 23)

No decorrer da época do ensino tradicional, a escola não acreditava na ideia

de que a criança, em seus primeiros anos escolares, pudesse produzir um

pensamento próprio, como a escrita de uma simples frase correta, porém Freinet

propiciou que as crianças pudessem produzir isso e muito mais, através do texto

livre. Para Alonso (1984), Célestin Freinet define o texto livre como ponto de partida

para aprendizagem da leitura e escrita, pois este se trata da primeira manifestação

verdadeiramente cultural da criança, sendo feito o mesmo em diversos lugares: em

cadernos, paredes, lousas entre outros, utilizando-se de diversas ilustrações.

De acordo com Sampaio (1989) “A produção do texto livre parte da vontade

do estudante e se dá no instante em que esta vontade se manifesta e não em

alguma aula ou momento previamente escolhido para isso.”. Entre diversos textos

produzidos, um era escolhido por meio de votação para a impressão e através de

um trabalho coletivo o texto era corrigido e enriquecido pelos alunos, porém a

correção final sempre cabia ao autor do texto. Após todo esse processo o texto iria

para a impressão.

Como as frases para a impressão tinham de ser corretas, pois eram montadas letra por letra, elas organizaram uma forma de realizar a correção: o texto, previamente escolhido por votação, era de um dos alunos, mas a correção ficava aos cuidados de toda a classe. Assim todos trabalhavam para que o texto ficasse o mais correto possível, claro e bonito, mas a última palavra sobre as modificações sugeridas sempre cabia ao autor. Freinet registrava atentamente os problemas de gramática que iam

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surgindo e depois, num outro momento, procurava trabalhá-los. (SAMPAIO, 1989, p. 25).

Os resultados obtidos com essa técnica eram publicados em uma revista de

um amigo de Freinet, assim, a técnica de impressa escolar passou a ser conhecida,

e a pedido de diversos professores sobre como trabalhar e desenvolver essa ideia,

iniciou-se uma troca de correspondências entre alunos de diferentes escolas. Os

alunos de Freinet também começaram a mandar cartas a crianças de diversas

partes da França, surgindo-se assim a correspondência interescolar.

Com a adesão do amigo, os alunos das duas escolas e também os dois professores passaram a se corresponder animados pelo mesmo propósito. As crianças de Freinet mandavam o seu jornal para seus colegas lá no outro extremo da França. Com esse intercâmbio, as crianças começaram a trocar pequenos bilhetes, cartas e até desenhos que eram enviados junto com os jornais. (SAMPAIO, 1989 p. 26).

Devido ao preço e a inviabilidade dos livros da época, a CEL (Cooperativa do

Ensino Leigo) em que os professores adeptos à pedagogia freinetiana discutiam

técnicas para a melhoria de suas práticas educativas, debateram o plano da

elaboração do fichário escolar. Este era produzido pelos próprios alunos. Composto

por ficha de diversos assuntos que abrangem a realidade da criança. Eram

organizados em determinados assuntos pela CEL e distribuídos em diversas escolas

para se fazer o uso em sala de aula. Conforme o desenvolvimento das fichas

acontecia, essas eram ampliadas de acordo com o cotidiano das turmas de alunos.

É composto por fichas de assuntos específicos que são elaboradas pelos próprios alunos. A ideia central é de que estes fichários apresentarão as questões em uma forma mais próxima da realidade das crianças. As fichas apresentam sempre uma proposta de atividade e propõem diversas formas para a utilização de algum material. Estas fichas são reunidas, classificadas por assunto e publicadas pela Cooperativa das Escolas Laicas para uso em sala. Os fichários adquiridos por cada escola são ampliados com as experiências ali desenvolvidas por seus alunos. (TORNAGHI, 2017, p.1)

Um dos aspectos mais significativos no trabalho de Freinet foi à abertura para

que os alunos e os professores tivessem a oportunidade de se expressar de maneira

livre, sendo assim todos tinham algo a contribuir.

Freinet, em sua busca por sempre aprimorar e abranger suas metodologias,

recorreu a diversos métodos de ensino que o auxiliaram a desenvolver diversas

técnicas que contribuíram para a aprendizagem da leitura e escrita para as crianças.

Não somente auxiliando os alunos, graças a Freinet, diversos professores foram

beneficiados com suas ideias. (ELIAS 1998)

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Por mais que as metodologias de Freinet tivessem grandes contribuições a

todos, o mesmo era a favor de que se extraísse tudo o que é bom das diversas

técnicas que se tem conhecimento no mundo.

Que nossos camaradas experimentem o método cousinet, o plano Dalton, os projetos. Que os experimentem, não como adeptos obcecados pelos métodos estáticos, mas como educadores que estão decididos a extrair deles tudo o que contêm de válido, à luz de uma pedagogia nova, que seja essencialmente prática e cooperativa - e que tanto precisa impor finalmente as suas necessidades e os seus direitos, para lá de todas as fronteiras. (FREINET apud SAMPAIO, 1989, p. 49).

A partir de muitas buscas, descobertas e estudos, Freinet desenvolve em

suas aulas diversas técnicas de ensino, gradativamente, conforme a necessidade se

expandia, tanto do professor, quanto dos alunos.

Entre os trabalhos citados, houve diversas outras contribuições que Célestin

Freinet trouxe a alunos e professores, e suas grandes técnicas permanecem vivas

até os dias de hoje.

1.2 O jornal escolar

Célestin estudou diversos métodos e técnicas que estavam surgindo em

decorrência da necessidade de modernização perante os acontecimentos históricos

que abalaram e modificaram a época, como o período entre as duas guerras

mundiais. Cita-se Maria Montessori (1870- 1952), Decroly (1871- 1932), Jean Piaget

(1896- 1980), Pierre Bovet (1878- 1944) entre outros, como grandes percussores

para as mudanças que já estavam ocorrendo.

Segundo Célestin, já não surtia mais efeito os métodos e experimentos

desses pesquisadores, não eram mais modernos e não aparentavam melhoras

significativas. “E bruscamente, tudo parece ter-se desvanecido: o método

Montessori, demasiado fossilizado nas suas normas pretensamente cientificas,

escravo de um material imutável, já não satisfazia os imperativos do nosso século

[...]” (FREINET, 1975, p. 14).

Sem saber ainda por qual caminho trilhar, Freinet buscava amparo no ensino

tradicional, deixando claro que o angustiava. Depois de muita procura, desenvolve

as aulas passeios que estavam dando resultado para outros pedagogos.

Freinet (1975, p. 23) dizia que “A aula-passeio constituía para mim um tábua

salvação. Em vez de me postar, sonolento, diante de um quadro de leitura, no

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começo da aula da tarde, partia com as crianças, pelos campos que circundavam a

aldeia.”.

Após as aulas-passeio, retornavam às aulas do ensino tradicional. Para

encontrar algo que pudesse mudar as aulas de leitura e escrita, Freinet descobre a

tipografia, o jornal escolar, porém, não foi o primeiro a produzir o jornal escolar, mas,

com ele, ganha maior amplitude e desenvolvimento. O intuito da técnica era difundi-

la como um auxílio em sala de aula. (FREINET 1975)

O educador, a partir da imprensa, principia com seus alunos o texto de

autoria, um meio de expressão para que as crianças criem e consequentemente se

sintam inseridas em um movimento que faz parte da sociedade. Segundo o autor, na

época em que inicia seu trabalho com o jornal escolar, não se acreditava em

produção de autoria da criança.

Era este, no ensino, o estado de espírito geral por volta de 1925. Jamais se vira um texto livre e ninguém supunha isso possível. Foi-nos necessário, à custa de experiências temerárias, demonstrar que o impossível poderia converter-se em surpreendente realidade (FREINET, 1975, p. 27)

Freinet acreditava que o jornal escolar trazia vantagens pedagógicas,

psicológicas e sociais. Era a base para uma experiência de vida, para a

comunicação. A criança constrói sua criatividade, trabalho em equipe e

principalmente, sua autonomia. Os textos e os desenhos publicados eram

produzidos em grupos de alunos, o professor fazia apenas o papel do mediador.

A criança sente a necessidade de escrever, exatamente porque sabe que o seu texto, se for escolhido, será publicado no jornal escolar e lido, portanto, pelos seus pais e pelos correspondentes; por isso sente a necessidade de expandir o seu pensamento por meio de uma forma e de uma expressão que constituem a sua exaltação (FREINET, 1974, p. 46)

O jornal escolar representava um objeto vivo e contundente do que era

aprendido em sala de aula, refletido em forma de comunicação impressa:

Por meio da imprensa e do jornal escolar, os "momentos" memoráveis da vida da classe são fixados definitivamente [...] Esquecemos o que abrangia o programa escolar de uma certa segunda-feira, mas lembramo-nos do pedaço de vida que redigimos e imprimimos, do jornal no qual foi incluído, dos desenhos e linos que o realçavam, das impressões trocadas, das interrogações feitas e das respostas obtidas, dos textos lidos e dos poemas saboreados. (FREINET, 1974, p.48)

O ensino tradicional estimula nas crianças o desejo da competição, traz a

busca de tirar sempre as melhores notas nas avaliações, porém, não os faz querer

aprender, apenas os fazendo decorar para conseguir alcançar as melhores

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pontuações em provas. Com a técnica do jornal escolar, os textos de autoria dos

discentes que eram publicados por meio da imprensa, traziam uma perspectiva

social e de trabalho O jornal escolar reflete o trabalho, o social e humano do aluno, a

avaliação é feita pela própria criança, sendo contínua a observação do professor por

meio dos trabalhos realizados pela mesma.

Segundo Freinet (1974), “o jornal escolar é o protótipo deste trabalho novo.

Para se dedicar a ele, a criança deixa de ter necessidade do estimulante das notas,

do lucro material ou da atração do jogo.”.

A imprensa escolar trazia benefícios em diversas áreas de conhecimento:

como português com a ortografia, a redação, a gramática, a matemática com

cálculos, a história e a geografia. Colocava o aluno como ponto principal do objeto

de aprendizagem, fazia que ocorresse a busca por novos conhecimentos:

Vamos explicar, resumindo: - Que o jornal escolar, motivação ideal do nosso método de expressão livre, é o melhor exercício de redação, de ortografia e de gramática vivos. [...] - Pelos vários inquéritos e intercâmbio escolar, estudamos cuidadosamente o meio ambiente, sob o ponto de vista histórico, geográfico, científico e social. Teremos portanto ricos e seguros elementos de base para uma sólida aquisição das noções exigidas pelos programas. - Mas afirmamos sobretudo que a qualidade dos progressos, sejam escolares ou extra-escolares, vem sempre da nossa sede de conhecer e de agir e do interesse que pomos no nosso próprio trabalho. (FREINET, 1974, p.53)

Célestin demonstra por meio de suas técnicas, a criança como um sujeito de

personalidade própria, que possui desejos, vontades e um intelecto capaz de

produzir, fatos que na época eram ignorados por completo.

Utilizando o texto livre e o jornal escolar, alimentamos e exploramos esta necessidade de exteriorização da criança. Tecnicamente, é desta necessidade que partimos para todo o trabalho de instrução e educação que vamos empreender (FREINET, 1974, p. 57)

O autor trabalha em suas técnicas a expressão de sentimentos que cada

criança trazia consigo, desejava que a escola caminhasse em consonância com o

que era vivido também fora dela. “O simples fato de harmonizarmos, pelas nossas

técnicas, a vida escolar e a vida familiar e social é, sem dúvida nenhuma, de grande

alcance na formação, psíquica e psicológica das crianças.” (FREINET,1974, p. 64 )

O texto de autoria possui o benefício da criança se expressar livremente,

colocar de forma escrita seus sentimentos e pensamentos. O autor acreditava na

pedagogia do sucesso: o fracasso inibe a aprendizagem e por meio do jornal escolar

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a criança se torna bem sucedida em um trabalho realizado por ela que poderá ser

lido por diversas pessoas. Para aprender é necessário que se faça: “é a andar que

se experimenta o movimento; é trabalhando na forja que nos tornamos forjadores. É

animando a vida que nos treinamos a viver útil e generosamente.” (FREINET,1974,

p. 68 )

O educador sabia que para as crianças se interessarem pelo conteúdo

ensinado, era necessário que fosse algo que fizesse parte de suas vidas, algo que

elas também podiam opinar e, consequentemente, se expressar e escrever.

Substituímos a rotina dos manuais, dos trabalhos de casa e das lições, impostos autoritariamente pelos adultos por: — O texto livre, que é a expressão natural inicial da vida infantil no seu meio ambiente normal; — A observação e a experiência como fundamentos indispensáveis das aquisições de conhecimentos em ciências e em cálculo, em história e em geografia; — O desenho, a pintura e a música livres, expressão complementar pela via afectiva e artística, de tudo o que a criança tem em si de possibilidades difusas e, não obstante, superiores, de acesso à cultura, não apenas escolar mas cultura social e humana. (FREINET, 1974, p.8)

Toda a composição do jornal escolar era feita pelas crianças, desde a

elaboração, até a venda que era realizada após o produto final, porque trazem aos

alunos a vivência e a responsabilidade do trabalho coletivo: “Em todas as fases do

seu processo, a edição e a difusão do jornal escolar são a melhor das preparações

para as responsabilidades sociais.” (FREINET,1974, p. 69 )

A imprensa também fazia com que a ligação entre os pais e a escola

aumentasse, porque o jornal escolar era uma ferramenta impressa do

desenvolvimento da aprendizagem dos seus filhos. Os pais também podiam

colaborar com uma página destinada a eles, estimulando os seus filhos a escrita. “A

ligação Escola-Pais, mais indispensável do que nunca, é realizada "tecnicamente"

pelo jornal escolar que, todos os meses, leva às famílias o aspecto original da vida

da aldeia, vista pelos olhos das crianças.” (FREINET,1974, p. 73)

O jornal faz com que as pessoas em geral, apenas os leiam sem se

comprometer a entender, criticar e buscar informações do que está impresso, muitas

vezes, julgando que por estar escrito em um jornal é verdadeiro. As técnicas

freinetianas, fazem com que os alunos saibam refletir sobre o que lêem e busquem

respostas e questionamentos sobre os textos:

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Utilizando o texto livre e o jornal, habituamos os nossos alunos a uma crítica da imprensa, a aceitação e procura dessa crítica. [...] Aprendem, por experiência, a julgar as obras que lhe são apresentadas e rapidamente se tornam aptos a descobrir o que se esconde de falso e contraditório nas imponentes rubricas dos jornais. (FREINET, 1974, p. 67)

Em todo o decorrer do processo de ensino tradicional as crianças são levadas

pelos adultos a crerem no que eles falam e escrevem, em manuais, em cartilhas, na

lousa, em livros e jornais, sem se dar conta de que a opinião própria do aluno é

relevante e de suma importância. Nessa perspectiva, o aluno para de questionar e

julgar, sem levar em conta sua própria identidade.

Segundo Freinet (1974, p. 67) “Alunos das nossas aulas criticaram assim

páginas de manuais, esboços de história e de ciências; escreveram as suas

observações aos editores e aos autores que, era certos casos, reconheceram o

fundamento das suas críticas.”.

Freinet, com suas abordagens técnicas, principalmente por meio do texto livre

e do jornal escolar, traz uma nova perspectiva desse ponto e leva os pedagogos a

refletirem com seus alunos e, portanto, fazer com que questionem em todo o

processo de ensino e aprendizagem.

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CAPÍTULO III

METODOLOGIA 1 PROBLEMA

Como as técnicas freinetiana do jornal escolar pode ser desenvolvidas em

escolas do século XXI?

2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral:

Analisar a técnica freinetiana do jornal escolar e suas contribuições para a

escola

2.2 Objetivos específicos:

• Refletir sobre a abordagem freinetiana e suas técnicas;

• Compreender como o jornal escolar é elaborado em uma escola freinetiana;

• Desenvolver em uma escola de ensino fundamental regular a técnica freinetiana

do jornal escolar, realizando flexibilizações necessárias.

3 ASPECTOS ÉTICOS

No âmbito da realização da pesquisa, antes de visitar a escola e observar as

técnicas realizadas, foi assinado um termo de consentimento livre e esclarecido

permitindo futuras publicações cientificas. Foi aplicado um questionário e permitiu-se

o uso de imagens da instituição, assim como as de alunos durante as aulas.

Na escola estadual, foi apresentado um termo de consentimento livre e

esclarecido, assim como a autorização de uso de imagem. (Anexo IV)

4 MÉTODO

Tratou-se de uma pesquisa descritiva, quali-quantitativa com delineamento de

estudo de campo e pesquisa quase experimental. As coletas de dados foram

realizadas em duas fases, sendo a primeira: a observação, levantamentos de dados

e entrevista em uma escola freinetiana em São Carlos; e a segunda fase: um

estudo quase experimental com o desenvolvimento de uma técnica de Freinet

(jornal escolar), em uma escola pública de ensino fundamental.

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4.1 Fases da Pesquisa

Na primeira fase da pesquisa realizou-se um estudo bibliográfico sobre a vida

e as técnicas de Célestin Freinet, assim como livros referentes à leitura e produção

escrita, levando em consideração o 4° ano do Ensino Fundamental e a estruturação

e elaboração do texto de Gênero Jornalístico.

Após os estudos, visitou-se uma escola freinetiana onde foram observados

diversos aspectos relacionados com os estudos já mencionados.

Na segunda fase da presente pesquisa para a realização do jornal em sala de

aula foi realizado uma sequência didática com alunos do ensino regular de uma

escola pública com as seguintes etapas:

1ª ) Apresentação do projeto e a Freinet expondo para os alunos uma breve linha do

tempo, pontuando os aspectos relevantes a sua vida;

2ª) Verificação de hipóteses dos alunos e a exploração de diversos jornais pelos

alunos e organização em duplas. Breve explicação sobre a estrutura do jornal,

listando as observações dos alunos;

3ª) Explanação sobre a composição de uma notícia dentro do jornal, posteriormente

uma roda de conversa escolhendo o nome do jornal e como será realizado a sua

produção;

4º) Organização de cada função dos membros dentro do jornal;

5ª) Visita a um jornal local.

6ª) Na última etapa, a produção da imprensa.

5 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

A primeira fase da pesquisa realizou-se em uma escola da rede particular de

ensino, Oca dos Curumins, localizada em São Carlos, Rua da Imprensa, 392 - Vila

Faria. A coordenadora da escola acompanhou, auxiliou a visita e respondeu um

questionário via email. As salas observadas foram desde o berçário até o quinto ano

do ensino fundamental I.

Na segunda fase, os participantes foram 26 alunos, do quarto ano, de uma

escola pública estadual situada em Lins/SP.

6 INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA A PESQUISA

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Um dos instrumentos da pesquisa foi o questionário (anexo I) elaborado para

a coordenação da escola composto por dez questões sobre o funcionamento da

instituição e técnicas freinetianas utilizadas pelos professores em sala de aula.

O roteiro da sequência didática desenvolvida (anexo II) também configura-se

como instrumento de pesquisa.

7 DISCUSSÃO DOS DADOS

7.1 Da entrevista com a coordenação

A primeira pergunta foi sobre o surgimento da escola – “Como surgiu a ideia

da criação desta escola?”. Obteve-se a resposta de que a escola foi fundada em

1976, por três professoras, com o intuito de criar uma escola que não fosse

tradicional.

“A Oca dos Curumins foi fundada em 1976 por três professoras que inicialmente constituiu-se em uma mantenedora. As mantenedoras pensaram em uma escola diferente da tradicional, em uma escola mais aberta, mais hegemônica. Inicialmente, a escola atendia crianças de 2 a 6 anos de idade. A partir de 1983 inicia o ensino fundamental com o 2º ano e assim progressivamente até o 9º.” (Coordenadora escola OCA)

A segunda questão foi sobre o motivo da escolha de formar uma instituição

freinetiana. – “Por que a escola escolheu adotar a pedagogia freinetiana?”

De acordo com a coordenação, uma das sócias que fundaram a escola, se

interessou pela pedagogia freinetiana e levou as técnicas as outras professoras.

“A escolha da Pedagogia Freinet se deu após uma das sócias participar de uma assembléia na Universidade Federal de São Carlos, quando um professor (filósofo) ter citado, em sua palestra, Célestin Freinet. Esta sócia se interessou em saber mais sobre Freinet e buscou na sua literatura o livro “Para uma escola do povo”. Se encantou e levou para as demais sócias e professores da escola discutirem sobre o assunto. A partir daí a Oca passa a trabalhar nos princípios da Pedagogia Freinet.” (Coordenadora escola OCA) Os princípios Freinetianos são muito atuais, pois continuam em professores

que acreditam em suas técnicas. Não é necessário atuar em uma escola freinetiana

para aplicar suas técnicas e ser um docente adepto.

Na questão três, ao questionar-se sobre como empregar a pedagogia

freinetiana no século XXI – “Como são adaptadas as técnicas Freinet para os

tempos atuais?” respondeu-se que o educador utilizava-se das invariantes

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pedagógicas que auxilia na reflexão do professor em qualquer lugar do mundo e em

qualquer época.

“Freinet usa algumas invariantes pedagógicas sobre o ensinar para reflexão junto aos professores . Porque invariantes? Porque não variam, podem ser utilizadas como referência em qualquer lugar do mundo, para todas as escolas. Ele criou essas técnicas com base no tateamento experimental, na expressão livre e interesses das crianças. As técnicas que Freinet são métodos de ensinar que surgem para enriquecer e facilitar o trabalho em sala de aula.” (Coordenadora escola OCA) As invariantes de Freinet (1974) constituem-se de trinta e duas reflexões

sobre os princípios educativos de suas técnicas. São organizadas em três grupos, o

primeiro sobre a natureza da criança, o segundo sobre as reações da criança e o

terceiro sobre as técnicas educativas e quatro eixos: a cooperação como forma de

construção social do conhecimento; a comunicação como forma de integrar esse

conhecimento; a documentação como registro da história que se constrói

diariamente; e a afetividade como elo de ligação entre as pessoas e o objeto de

conhecimento. Assim como já explanado no primeiro capítulo deste TCC.

Na quarta questão, questionou-se sobre a produção do jornal e quais são os

anos que participam da elaboração – “Como o jornal escolar é produzido? Quais

anos participam do processo de produção?” respondeu-se que todos os alunos

colaboram na edição do jornal que é realizado cooperativamente, quando os

professores revisam o texto, mandam para a impressão.

“O jornal escolar constitui um dos acontecimentos característicos da pedagogia Freinet. Trata de um jornal editado cooperativamente pelos alunos. O jornal escolar é suporte entre a classe, o grupo social onde ela está inserida e a comunidade. É ele que vai ajudar também a verdadeira formação cívica das crianças e dos adolescentes, porque ele oferece a possibilidade de intervir na vida da escola e até mesmo da comunidade, além de fazer com que os adultos tomem consciência de problemas ou atitudes aos quais não davam importância. É realizado por um grupo de alunos que recebem os textos produzidos por todos os setores da escola para publicar, examinam estes textos e decidem da sua publicação. Quando o texto está pronto o professor coordenador faz as correções necessárias e libera para a impressão.” (Coordenadora escola OCA)

Além do roteiro do questionário à coordenadora, empregou-se um esquema

para observação da estrutura da escola, levando em consideração, a biblioteca, as

quadras, o berçário, a sala de Ensino Fundamental I, a horta, os parques, refeitório e

a parte administrativa da escola, assim como eram realizadas as atividades

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cotidianas em salas de aula, como o jornal era produzido e as edições criadas

anteriormente.

8 OBSERVAÇÃO IN LOCUS - CONHECENDO UMA ESCOLA FREINETIANA

No dia vinte e três de maio de 2018 foi realizada uma visita à escola Oca dos

Curumins, localizada na cidade de São Carlos, interior do estado de São Paulo, com

foco direto no ensino freinetiano, e em particular, realizou- se uma investigação

acerca do texto de jornal. O intuito da visita foi observar as técnicas de Freinet

utilizadas atualmente por uma escola contemporânea que propõe aprendizagem

embasada em uma didática diferenciada.

Para a visita técnica foi utilizado um roteiro de observação e um questionário

de entrevista para a coordenação (já explicitado neste texto), assim como um termo

de consentimento livre e esclarecido assinado antes do início da visita. Observaram-

se todos os espaços pretendidos e foram respondidas algumas perguntas do

questionário após a visita através de email enviado pela coordenação da escola,

visto que a visita ocorreu em um tempo determinado.

A proposta pedagógica da Oca dos Curumins tem como valor fundamental a

construção de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade, procurando

desenvolver a identidade do aluno e sua capacidade de autogestão, agregando a

vida e a escola, como conjunto, utilizando atividades de integração entre os alunos e

buscando relação de autonomia e autenticidade. Situa-se Rua da Imprensa, 392 –

Vila Nery

Durante a visita, as estudantes de pedagogia foram recebidas pela

coordenadora pedagógica. Esta foi questionada sobre o uso de sistemas ou

materiais. Ela afirmou que não são utilizados livros didáticos ou apostilas e sim um

material próprio embasado nas técnicas freinetianas e na base curricular obrigatória

para todas as escolas do país. Os professores realizam o papel de orientador no

processo de ensino-aprendizagem e o conhecimento é adquirido e construído em

conjunto com os alunos. A escola busca fazer com que os alunos aprendam a

enxergar um mundo de forma dinâmica e abrangente.

Possuem uma metodologia própria freinetiana e fazem parte de uma rede

internacional de escolas de diferentes países seguidores de Freinet as técnicas

freinetianas que utilizam naquele espaço são: regras estabelecidas coletivamente;

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reuniões cooperativas; aulas-passeio; texto livre; jornal escolar; correspondência;

livro da vida; imprensa e trabalho em oficinas didáticas.

8.1 Os ambientes organizados

Em seu espaço a escola possui diversos ambientes: biblioteca, sala de

informática, gibiteca, videoteca, sala de vídeo, laboratório, imprensa e quadra de

esportes. No dia da visita, observou-se a biblioteca, as quadras, salas de aula do

berçário até Ensino Fundamental I, a horta, os parques, refeitório e a parte

administrativa da escola. Segundo Zabalza (1998):

Existem elementos do espaço físico da sala de aula que, dependendo de como estiverem organizados, irão constituir um determinado ambiente de aprendizagem que condicionará necessariamente a dinâmica de trabalho e

as aprendizagens que são possíveis nesse cenário. (p. 237)

Figura 1 – Biblioteca da Escola

Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

Durante a pesquisa na biblioteca foi verificado que a instituição possui um

local que arquiva todos os jornais fabricados, assim como os livros da vida. Ambos

vêm sendo guardados desde o inicio do funcionamento da escola. Os materiais para

ilustração do livro da vida são de livre escolha dos alunos, como glitter, caneta

esferográfica, materiais naturais, como folhas, pedras, pedaços de madeira, tinta,

entre outros. Após a produção ficam à disposição para consulta.

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Figura 2 – Arquivo da escola dos materiais elaborados pelas crianças

Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

Na área externa encontram-se a horta, os playgrounds e áreas de espaço

livre utilização. Os alunos desde a educação infantil até o Ensino Fundamental I e os

professores utilizam livremente.

Figura 3 – Playground da área da Educação Infantil

Foto: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

Segundo Zabalza, as salas de aula devem ter espaços amplos que

possibilitem o desenvolvimento integral das crianças, trabalhando tanto de forma

individual quanto em grupos de alunos.

[...] a educação infantil tem características muito particulares no que se refere à organização dos espaços. O autor sinaliza que a infância precisa de espaços amplos, bem diferenciados, de fácil acesso e especializados, em que as crianças possam movimentar-se, interagir, viver e conviver,

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desenvolvendo-se integralmente. Salienta a necessidade de os espaços oferecerem oportunidades diversas de interação e de aprendizagem, sejam elas coletivas, envolvendo grupos de crianças e adultos, ou mesmo individualizadas, nas quais os objetos dispostos sejam o foco da atenção. (DURLI & BRASIL 2012 apud ZABALZA 1998 p.113)

Percebeu-se que a escola possui amplo espaço para o desenvolvimento,

oferecendo oportunidades para a aprendizagem. Porém, não possuem os cantos

temáticos que Freinet utilizava como técnica em sala de aula. Segundo Martins

(1997):

Tratavam-se de amplos espaços, que iam desde uma oficina gráfica, ou um laboratório de ciências, contíguo à sala de aula, propriamente dita; até os espaços de natureza que poderiam atingir as dimensões de uma fazenda, se as condições o permitissem (p. 289)

Figura 4- Sala de aula do Maternal

Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

Figura 5 – Roda de Leitura na Educação Infantil

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Figura 6 – Horta

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

No dia da visita exploratória, algumas turmas do ensino fundamental estavam

em aula passeio, outras da educação infantil em rodas de leitura ou rodas de

conversa. As salas que estavam na escola realizavam a rotina de inicio de aula,

alguns alunos estavam na biblioteca e outros no laboratório de informática

realizando pesquisa.

8.2 A técnica do Jornal

Os jornais são impressos de duas maneiras, da forma tradicional com a

utilização da imprensa ou por meio da impressora atual utilizando o computador

como recurso para a escrita. “[...] Freinet não queria implantar através de suas

técnicas, um método intocável, que não pudesse ser modificado” (SAMPAIO, 1989,

p. 27)

Figura 7 – Imprensa

Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

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Analisou-se que o jornal escolar é elaborado de três maneiras: um jornal por

sala, uma folha por aluno e exposto na parede da sala de aula da própria classe; o

jornal da Oca dos Curumins denominado “Folhoca” onde há colaboração de todos os

alunos e professores, realizada uma vez por ano com exemplares impressos e

acessíveis a todos da escola; e um jornal único feito por cada turma com titulo criado

pelos alunos.

Figura 8 - Jornal exposto na sala do Ensino Fundamental

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Percebeu-se que os jornais expõem fatos relevantes para os alunos e fatos

do cotidiano de cada um como proposto por Freinet. Os textos são de livre

expressão:

A finalidade maior do ensino de Português baseado na expressão livre do aluno não é somente favorecer-lhe o domínio do código lingüístico, mas é também e principalmente, por meio desse caminho, criar condições favoráveis para que ele – indivíduo e ser social, co-detentor e co-construtor de uma cultura – possa:

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• Desenvolver ao máximo suas potencialidades; ampliar cada vez mais a sua capacidade de criar, de se comunicar e de se expressar;

• Adquirir o hábito de buscar por si só os meios para superar seus bloqueios e dificuldades;

• Ser sempre senhor de si mesmo;

• Aprimorar sua capacidade de reflexão individual e coletiva;

• Decidir pelo caminho a trilhar;

• Desenvolver o senso de responsabilidade;

• Aprimorar sua capacidade de interagir, de participar, de cooperar;

• Avançar o máximo possível na construção do saber;

• Tornar-se cada vez mais independente e capaz de enfrentar, com o máximo de realização, o seu destino de homem e cidadão. (SANTOS, 1996, p. 25)

Figura 9 – Diferentes edições do “Folhoca”

Fonte: Elaborada pelas pesquisadoras - 2018

Assim como os jornais exposto e elaborados por salas, o “Folhoca” possui

fatos importantes aos alunos. Os jornais são impressos anualmente, sendo

elaborado desde a educação infantil ao nono ano do ensino fundamental II.

Figura 10 – Edições de jornais feitos por diversas turmas

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Figura 11 – Livro da vida

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Figura 12 – Livro da vida ilustrado de forma diferenciada

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Como já apontado no segundo capítulo deste TCC, o livro da vida, é uma

técnica de grande relevância, visto que é um caderno de registro do dia a dia das

crianças. Freinet (1975) afirmava que “Não basta, por conseguinte, dar à criança

liberdade para escrever, é preciso inspirar-lhe o desejo de o fazer, despertar-lhe a

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necessidade de exprimir.” Durante a visita foi possível encontrar as produções dos

livros da vida.

A visita foi de grande relevância, porquanto, auxiliou as pesquisadoras a

observarem como são realizadas atualmente as técnicas freinetianas em sua prática

e cotidiano. Assim como ter a oportunidade de compreender de forma mais ampla a

técnica do jornal escolar, sendo o componente essencial da pesquisa para a

produção do jornal em uma escola pública do estado, relatado no quarto capítulo

deste trabalho.

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CAPÍTULO IV

PROJETO “JORNAL DO 4º. ANO” 1 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE AÇÃO EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DO ENSINO FUNDAMENTAL

O desenvolvimento do projeto de ação sobre o jornal escolar foi realizado em

uma escola estadual de Ensino Fundamental I, situado na cidade de Lins. Foi

desenvolvido em uma sala de 4º ano com 26 alunos.

O projeto de ação possuiu seis etapas com aproximadamente duas aulas, a

primeira etapa se constituiu na apresentação do projeto e do Célestin Freinet (quem

era; suas técnicas).

Realizou-se a apresentação com uma foto do Freinet em cartaz, contando sua

história, detalhando sua profissão, a visão que ele possuía sobre seus alunos, vida,

objetivos e como ele iniciou o jornal escolar em suas aulas. Durante a exposição foi

feita uma linha do tempo de forma sucinta, onde se destacou os pontos principais

em relação ao jornal escolar junto com os alunos.

Figura 13 – Linha do Tempo sobre Célestin Freinet realizada com os alunos

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Figura 14 – Fotos de Célestin Freinet apresentada aos alunos

Fonte: Google imagens - 2018

Por meio de uma roda de conversa, elaborou-se um levantamento de

hipóteses junto aos alunos sobre o que é um jornal; como é produzido e para que

serve a fim de descobrir os conhecimentos prévios dos alunos sobre um jornal.

Indagando as seguintes questões: “Vocês já folhearam um jornal?”. “Se sim, o que

contem dentro de um jornal?”. “Qual a finalidade de um jornal”. “Alguém sabe como

é produzido?” “O que mais gostam em um jornal?”.

Durante a execução da primeira etapa, houve diversas respostas dos alunos

acerca das indagações feitas. Os discentes disseram que já estavam trabalhando

com o projeto de jornal escolar com o livro Ler e Escrever, sendo esse, desenvolvido

no segundo semestre do quarto ano. Sendo assim, todas as respostas a respeito da

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imprensa foram afirmativas e o que mais gostam em um jornal, segundo a classe,

são as histórias em quadrinhos.

Figura 15 – Respostas dos alunos: conteúdos e produção

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Os conhecimentos iniciais apontados pelos alunos sobre como é feito um

jornal foram: pesquisa de informações, visitam o local que aconteceu o fato que será

noticiado, tiram foto, gravam áudio e escrevem, usam o computador, entrevistam,

corrigem o texto e fazem a montagem. Os conteúdos que apontaram ser

necessários em um jornal foram história em quadrinho, esportes, previsão do tempo,

informações e caça-palavras.

Com essas informações foi possível perceber que os alunos já tinham uma

noção sobre a produção de jornal, porém nunca haviam produzido um jornal da sala

e ainda que o foco do trabalho sobre o jornal no Projeto Ler e Escrever é a carta ao

leitor, que não foi lembrada pelo aluno como item componente do jornal durante o

levantamento de conhecimentos prévios.

Na segunda etapa, os alunos, em dupla, receberam e manusearam diversos

exemplares de jornais locais e dessa forma foi explicada a estrutura de um jornal.

Durante o manuseio dos jornais, foi elaborado na lousa uma lista com o que

observaram a partir do contato direto com os exemplares. Depois foi apresentado

um cartaz previamente elaborado contendo a estrutura de um jornal, fazendo junto

com os alunos uma comparação entre o que observaram e o que um jornal possui

na íntegra.

Os alunos, no início da execução da atividade, prontamente disseram que

possuíam exemplares de jornais na sala de aula e logo distribuíram aos demais. Em

duplas, folhearam os mesmos e houve troca de ideias sobre os conteúdos dos

jornais vistos.

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Figura 16 - Alunos folheando os jornais em dupla

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Figura 17 - Alunos folheando os jornais em dupla

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Figura 18 - Alunos folheando os jornais em dupla

Fonte: elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Após o manuseio dos jornais, os alunos realizaram uma atividade em dupla

com o auxilio das pesquisadoras sobre o que compõem a estrutura da primeira

página de um jornal.

A atividade consistia em apresentar aos alunos cabeçalho, manchete,

chamada, fotografia ou imagem gráfica, legenda da fotografia e o rodapé do jornal.

As definições foram entregues de modo desorganizado com o objetivo de que os

alunos teriam de encontrar sozinhos a ordem comumente utilizada nos jornais. Após

um tempo, foi realizado a leitura em conjunto sobre a ordem correta e as definições

para correção.

Figura 19 – Atividade I – estrutura de primeira página

Fonte: Elaborado pelos alunos - 2018

Na terceira etapa, por meio de diálogo com os alunos, apresentou-se as

principais partes que compõe uma notícia de jornal, relembrando a aula anterior

sobre a estrutura de uma imprensa e elaborando um cartaz fixado na lousa.

Figura 20 – Cartaz sobre as principais partes que compõem uma noticia de jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Os discentes elaboraram uma atividade de acordo com o cartaz fixado na

lousa sobre estrutura de notícia de um jornal.

Se faz necessário que, além do contato com o material impresso, os alunos

saibam a funcionalidade do gênero informativo em um jornal, que tem como principal

objetivo inteirar dados por meio de texto escrito e imagens.

Devido ao fato de o aluno ter poucas leituras e estar alheio aos acontecimentos corriqueiros e atuais, ou pela própria imaturidade, não percebe, na maioria dos casos, a real intencionalidade da notícia impressa e as estratégias discursivas utilizadas para isso. Normalmente o texto – e em especial o texto impresso em jornal – passa despercebido por eles. (CAREGNATTO; COSTA-HÜBES, 2009, p. 4)

Figura 21 – Atividade II – Estrutura de notícia de um jornal

Fonte: Elaborado pelos alunos - 2018

Os alunos apontaram possíveis títulos para o jornal da sala e a partir disso foi

feito uma votação. Em seguida os alunos decidiram os conteúdos do jornal e como

ele seria dividido anotando as ideias na lousa.

Durante a elaboração de possíveis títulos para o jornal da sala, as seguintes

ideias oram obtidas: “Jornal do 4º Ano”, “Uma escola melhor”, “Tribuna da escola”,

“Jornal escolar” e “Tribuna do 4º Ano”. Após a votação foi decidido que o título do

jornal seria “Jornal do 4º Ano”.

Figura 22 – Roda de conversa para decidir o título do jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Figura 23 – Resultado da votação para escolher o nome do jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

A quarta etapa destinou-se a uma conversa sobre quais profissionais

participam da elaboração do jornal. A partir do que foi decidido sobre a elaboração,

os alunos dividiram-se em grupos por meio de afinidade com os temas levantados

na aula anterior e, ao final da etapa, sorteou-se os responsáveis por cada parte da

execução dos conteúdos sendo estes notícias policiais, esportes, diversão e

desenhos.

Figura 24 – Elaboração dos Grupos para o jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Figura 25 – Grupos e temas feitos pelos os alunos

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Apesar do entusiasmo das crianças em fazer um jornal para a escola, alguns

alunos não se propuseram a participar da elaboração dos grupos, e foram inseridos

em grupos que ainda necessitavam de membros, pois os mesmos não quiseram

fazer parte de nenhum grupo. Segundo Jolibert “é preciso que as crianças que vão à

escola possam trabalhar em um lugar que tenha sentido para elas e possam se

engajar em sua própria aprendizagem (em lugar de serem submetidas a um ensino)”

(1994, p. 33). Contudo, é preciso que haja um planejamento contínuo e uma

frequência desse tipo de atividade para que a criança se sinta motivada e provocada

por essas situações.

A quinta etapa do projeto, que seria a visita a um jornal local, não pode ser

concluída, pois não houve tempo hábil para a execução. Foi determinado um mês

para a produção do jornal.

A sexta etapa foi destinada a produção do jornal reservando-se quatro aulas

para a execução do mesmo.

Antes do início da primeira aula para produção do jornal, as pesquisadoras

foram verificar o laboratório de informática para o uso e constatou-se que os

computadores não possuíam o programa adequado para os alunos digitarem seus

textos e ideias para o jornal. O programa em questão seria o Microsoft Office Word.

Portanto, a forma de produção do jornal teve que ser adaptada para que os alunos

ilustrassem suas notícias e escrevessem à mão suas produções.

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Foram destinadas quatro aulas para a elaboração do jornal. Os alunos

decidiram que entre eles seria escolhida a função de cada um, porém, durante a

produção, observou-se que os alunos trabalharam em equipe e não houve divisão

entre as funções. “Cada grupo sabia de sua responsabilidade e assim um texto

individual se transformava em um produto de toda a classe” (SAMPAIO, 1989 p. 25)

Figura 26 – Grupo Esportes – Produção do jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Figura 27 – Grupo Notícias Policiais – Produção do jornal

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

A partir das pesquisas realizadas com embasamento para a escrita de cada

grupo, os alunos produziram o que cada um decidiu expor. Percebeu-se que os

conteúdos escolhidos pelos alunos foram diferentes daqueles esperados, houve

interesse por assuntos externos à escola, ligados a fatos que para eles eram

relevantes e que faziam parte do meio que estão inseridos.

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Como se sabe, Freinet buscava uma pedagogia que pudesse auxiliar todos os

professores e principalmente os alunos:

O que ele procurava, acima de tudo, era um caminho que satisfizesse todas as crianças, sem exceção, com suas diferenças de inteligência, caráter e posição social. Ele queria encontrar técnicas que pudessem ser utilizadas por todos, numa linha de interesse global da classe, sem causar problemas a nenhuma criança, respeitando o rendimento escolar de cada uma. (SAMPAIO 1989 p. 18)

Figura 28 – Aluno realizando pesquisa sobre o que tema que escreveu

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

Após a produção concluída e o jornal impresso, foi entregue as crianças o

trabalho finalizado.

Figura 29 – Entrega do jornal impresso

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras - 2018

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Os alunos se mostraram animados ao ver o trabalho impresso que foi

produzido por cada um.

A produção do jornal escolar em uma sala de quarto ano de uma escola

pública estadual do século XXI apresenta diferenças em relação à teoria de Freinet.

Como já apontado no TCC a escola participante e outras escolas estaduais e

municipais, seguem o Programa Ler e Escrever, que tem como atividade principal do

trabalho à escrita, a prática do gênero carta - carta ao leitor. Acredita-se que o ponto

marcante e moderno das técnicas de Célestin é a criança ter a liberdade escritora,

descrevendo fatos importantes do seu cotidiano a partir do seu pensamento.

As suas técnicas podem ser estruturadas partindo das tecnologias atuais, a

proposta pedagógica é a mesma, pois o processo de escrita se mantém, assim

como os conteúdos escritos que atualmente estão acessíveis, porém em diversos

formatos digitais.

Enfrentando questões atuais, divergências entre os discentes e com

interesses diversos, contudo, com adaptações, pode ser aplicado com benefícios

futuros aos alunos, levando em consideração a leitura e a escrita.

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CONCLUSÃO

Muitas das principais inquietações de Freinet ainda ocorrem atualmente:

métodos e materiais propostos por indivíduos que não participam diretamente do

processo de ensino e aprendizagem e consequentemente a falta de interesse dos

alunos por atividades que não fazem parte do seu cotidiano. Várias de suas

técnicas não deixaram de ser relevantes, servindo como uma nova perspectiva para

o ensino, como por exemplo, as técnicas apresentadas no primeiro capítulo sendo

aulas-passeio, livro da vida e correspondência interescolar

O jornal escolar, que possuía como função fazer com que o aluno se tornasse

um escritor autônomo, apresentando temas que acreditavam ser relevantes, se

configura ainda como um objetivo essencial para alunos do século XXI.

O jornal é um meio de comunicação utilizado para transmitir notícias atuais e

relevantes para a sociedade. Atualmente, em um mundo globalizado e tecnológico,

manter-se informado é de suma importância para a interação social. A escola,

principal meio de formação, tem como objetivo desenvolver cidadãos críticos, bem

como acompanhar e ser capaz de ler as noticias com criticidade, e notícias que

representem de fato à sua comunidade e ao mundo.

Vive-se um momento histórico em que se popularizou a ideia da disseminação

de notícias falsas, portanto, se faz relevante a necessidade de conhecer, interpretar

e avaliar gêneros jornalísticos.

Tendo em vista esse pressuposto, é necessário que os professores criem

atividades ligadas à atualidade para que os alunos possam compreender a

importância de manter-se informados, a fim de criar criticidade perante diversos

fatores, além de proporcionar aos alunos as matérias inerentes ao currículo.

Desenvolveu-se a técnica do jornal escolar em uma sala de 4º ano do ensino

fundamental em uma escola estadual pública. Pode-se constatar algumas diferenças

na aplicação da técnica em relação a teoria original de Freinet. A escola, a sala e a

professora responsável, por exemplo, necessitaram de adequações, tais como: a

metodologia aplicada para a escrita do jornal, organização da sala, modificação da

postura do professor perante os alunos, bem como permitir que a sala de aula se

torne um lugar de troca de ideias entre todos.

A aceitação dos alunos diante do projeto não foi unanime; nem todos se

interessaram pela produção, mesmo oferecendo-lhes autonomia. Observou-se

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traços de heteronomia em algumas crianças. Por exemplo: durante a escolha do

título do jornal, realizada por votação, muitos alunos não opinaram mediante as

opções e escolheram a primeira escrita na lousa, ou ainda meramente concordaram

com a ideia sugerida pelo primeiro aluno.

Em diversas situações os alunos sentiam mais segurança em não ter que

apresentar suas ideias ao grupo, nem debatidas, muito menos corrigidas. Portanto,

há traços do ensino tradicional nos discentes e para que essa perspectiva se altere

será necessário muito mais tempo para que as técnicas de Freinet possam surtir

efeito.

Durante o processo de produção de conteúdos escritos para o jornal, houve

aceitação para escrever sobre os temas escolhidos em votação, porém ocorreu uma

certa resistência para que cada um corrigisse seu próprio texto. Isso ocorreu por que

os alunos estão acostumados com as anotações e correções do professor e não

realizadas por si próprio e pelo grupo.

Acredita-se que os resultados poderão ser observados futuramente, mesmo

que a técnica não tenha sido ser aplicada em sua totalidade, pois percebe-se que

mesmo com os fatores mencionados, os alunos apresentaram avanços durante o

processo, tanto na escrita quanto no comportamento.

Aplicar uma técnica freinetiana no século XXI é possível e necessária, porém

a mesma deve ser feita com as devidas adequações e de forma constante para que

os alunos construam atitudes autônomas, desenvolvam opinião e escrita próprios,

permitindo uma plena inserção social, a fim de se tornarem mais participativos no

meio em que estão inseridos.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO PARA A CORDENAÇÃO DA ESCOLA OCA DOS CURUMINS

1 – Como surgiu a ideia da criação desta escola?

2 – Por que a escola escolheu adotar a pedagogia freinetiana?

3 – Como são adaptadas as técnicas Freinet para os tempos atuais?

4 – A partir de pesquisas realizadas sobre a escola, descobrimos que a instituição

elabora projetos diferenciados. Quais são eles? Como são realizados? O que a

visão de Freinet contribui para desenvolvimento desses projetos?

5 – Como o jornal escolar é produzido? Quais anos participam do processo de

produção?

5. Porque acreditam que a produção de jornal seja importante?

6. Quais as maiores facilidades e dificuldades para realização do jornal?

7 – A impressão do jornal escolar é feito na escola ou é realizada por terceiros?

8 – A partir dos processos de produção do jornal escolar, como é realizado a

correção dos textos antes de ir para a impressão?

9 – Como é a circulação desse jornal? Qual a área de abrangência?

10 - De quantos em quantos tempos editam um novo jornal?

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ANEXO II

PROJETO DE AÇÃO PARA A PRODUÇÃO DO JORNAL ESCOLAR

Observação: Todas as atividades vão ser realizadas em grupos montados pela

professora em conjunto com as pesquisadoras e alunos.

Etapa 1:

Aula 1: Apresentação: do projeto e do Célestin Freinet (quem era; suas técnicas)

Realiza-se a apresentação com uma foto do Freinet em cartaz, contando sua

história, detalhando sua profissão, a visão que ele possuía sobre seus alunos, vida,

objetivos e como ele iniciou o jornal escolar em suas aulas. Durante a exposição

será feito uma linha do tempo de forma sucinta, destacando os pontos principais em

relação ao jornal escolar junto com os alunos.

Aula 2: Levantamento de hipóteses: o que é um jornal; como é produzido; para que

serve

Será elaborada uma roda de conversa a fim de descobrir os conhecimentos prévios

dos alunos sobre um jornal.

Será indagado as seguintes questões:

1. Vocês já folhearam um jornal?

2. Se sim, o que contem dentro de um jornal?

3. Qual a finalidade de um jornal?

4. Alguém sabe como é produzido?

5. O que mais gostam em um jornal?

Etapa 2

Aula 3: Entrega e manuseio de diversos jornais pelos alunos

Serão montadas duplas para a entrega e manuseio de exemplares de jornais aos

alunos.

Aula 4: Explicação sobre a estrutura do jornal

Durante o manuseio dos jornais, será feito na lousa uma lista com o que observaram

a partir do contato direto com os exemplares, após será apresentado um cartaz

previamente elaborado contendo a estrutura de um jornal, fazendo junto com os

alunos uma comparação entre o que observaram e o que um jornal possui na

integra.

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Etapa 3

Aula 5: Atividade de “desconfiguração” do jornal e montagem de cartaz sobre o que

compõe uma notícia de jornal

Será realizado juntamente com os alunos a explicação das principais partes que

compõe uma notícia de jornal, relembrando a aula anterior sobre a estrutura de uma

imprensa, elaborando um cartaz fixado na lousa.

Aula 6: Roda de conversa para determinar o nome do jornal e como será produzido

Os alunos apontarão possíveis nomes para o jornal da sala e a partir disso será feito

uma votação. Após será decidido pelos alunos os conteúdos do jornal e como ele

será dividido (anotar as ideias na lousa).

Etapa 4

Aula 7: Sorteio sobre quem ficará responsável por cada parte da produção do jornal

Antes do sorteio será realizada uma conversa sobre quais profissionais participam

da elaboração do jornal, a partir do que foi decidido sobre a elaboração, será

divididos grupos por meio de afinidade com os temas levantados na aula anterior.

Após o sorteio, serão decididos quais grupos ficarão responsáveis por cada parte do

jornal.

Etapa 5:

Aula 12: Visita a um jornal local

Etapa 6:

Aula 8: Produção do jornal

Aula 9: Produção do jornal

Aula 10: Produção do jornal

Aula 11: Produção do jornal

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ANEXO III

JORNAL FINALIZADO

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ANEXO IV

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA A ESCOLA OCA DOS CURUMINS

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ANEXO V

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA A ESCOLA ONDE FOI REALIZADO O

PROJETO