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O LIVRO QUE LI Livro Virtual Nilson Ferreira de Mello 2ª Edição 2006.

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  • O LIVRO QUE LI Livro Virtual Nilson Ferreira de Mello 2 Edio 2006.

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    PREFCIO Prefaciar, nunca prefaciei, como di-ria o velho amigo Ronildo Maia Leite, mas isso no seria problema, porque Nilson Melo tambm nunca havia escri-to um livro, e escreveu. Em termos de livro, ambos somos castos. Tnhamos, portanto, que iniciar, um dia, porque s rompendo obstculos que poderamos ver cumpridas as trs tarefas fundamen-tais para um homem se considerar gran-de nesta vida: ter um filho, plantar uma rvore, escrever um livro. Para que o fi-lho venha, bvio, l se foi o primeiro rasgo. Deus faz o resto. Para que a rvo-re nasa, rompe-se a terra frtil e colo-ca-se a semente. Tambm neste caso, Deus cuida de transform-la numa rvo-re, e o homem, at a, fez muito pouco.

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    Na hora do parto do livro, no entanto, Deus colabora com a inteligncia maior, privilgio humano. O homem quem faz o resto. Rompe as barreiras, os me-dos, os possveis julgamentos (pr e ps), e vai em frente, como Nilson foi conseguindo transformar letrinhas em palavras e idias. Nesse ponto, ele mais homem que eu. Porque teve a vir-tude de conseguir misturar seu talento com uma imensa coragem de fazer, am-bos em grande dosagem na sua persona-lidade de origem e modus vivendi bastante simples. Nilson o mesmo camarada, desde que o conheci. No es-t, certamente, buscando a glria v, com este livro, porque isto se chocaria com a sua humildade transbordante e no combinaria, por exemplo, com sua casa - a mesma, em mais de 30 anos -

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    ou com seu Fiat Premium verde, reco-nhecido distncia. Seu livro nasceu como uma exploso, simplesmente por-que havia chegado a hora de escrever e passar adiante as experincias que pre-senciou nesta sua fase espiritual. A par-tir de um livro-base (Evoluo para o Terceiro Milnio - Tratado psquico pa-ra o homem moderno, de Carlos Tole-do Rizzini), Nilson acrescentou suas prprias convices, idias e vivncias. Poderia, s com o que vivenciou, escre-ver um livro todo seu, sem se prender ao encaminhamento e exposio de idias do outro autor. Mas, a, entrou em cena - novamente - sua humildade, dando crdito total obra em que se ba-seou. Tal humildade torna seu trabalho mais autntico, sem nenhuma falsidade ou veleidade. Aos 62 anos, pai de dois

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    casais de filhos, ex-auditor da Sanbra, no teria formao espiritual e profis-sional para mentir. Os filhos eu j tinha. Plantar rvores, j o fizera vrias vezes, antes e depois de ser plantador de gra-viola na cidade de Barra de Guabiraba, PE. Experincias e vivncias, de sobra: trabalhou na S.A. White Martins, Shell Brazil Limited, The Sidney Ross Co. Foi contato, gerente e diretor da Rdio Olinda de Pernambuco, diretor do Sis-tema Globo de Rdio (Recife) e da JH FM, em Macei. At tintas vendeu: no Imprio das Tintas e na sua prpria loja, na rua Imperial, o que talvez tenha lhe proporcionado novas cores em sua vida, vez que j tinha experimentado momentos negros. Pretendia seguir a carreira de medicina, mas uma fatalida-de acontecida com seu pai o obrigou a

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    trabalhar, em vez de cursar a Faculdade (na poca, s de manh). E o sonho pin-tado de verde foi para o espao. Poste-riormente, pertenceu primeira turma de Comunicao Social da UFPE. Teria vindo da sua primeira chama, seu pri-meiro mpeto de se comunicar? Quem sabe... Nascido na Vrzea, tranqilo bairro do Recife, deve ter pegado muito bonde para vir estudar no Salesiano, onde concluiu o cientfico. Era uma via-gem longa, onde Nilson deve ter apro-veitado para ler e meditar bastante sobre a vida - a sua, a dos outros, a transcen-dental. E essa meditao fez com que ele procurasse outros caminhos e res-postas. Catlico de formao, Nilson foi levado para o Espiritismo em 1963, pe-lo saudoso mdium Joo Rodrigues (Jo-ozinho da Centelha de Jesus). Naquela

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    poca, conheceu Elias Alverne Sobreira e, junto com outros companheiros, par-ticipou da construo da Casa dos Humildes, em Casa Forte, Recife, vin-do a fazer parte de sua primeira Direto-ria. Posteriormente, participou tambm da construo do Ncleo Esprita Men-sageiro do Bem, no Jordo, Jaboato, Pernambuco. Piloto Privado, brevetado pelo Aeroclube de Pernambuco, conse-guiu sair do cho comum onde as pes-soas vivem e passou a ver as coisas bem mais alm. Do refgio-meditao do bonde s asas libertadoras de seus vos, da tranqilidade da Vrzea aos "agitos" das campanhas de publicidade, da fata-lidade com seu pai alegria de tambm ser pai, da comunicao pioneira construo de centros espritas, Nilson captou e sentiu a mensagem: era preciso

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    fazer e dizer algo mais. E, a, chegamos ao O Livro que Li. Tive o prazer de ler a obra trs vezes, antes de ir pro pre-lo. E confirmo: nela, Nilson mergulhou fundo na anlise do que o outro j disse-ra, extraiu de si os acrscimos indispen-sveis e criou um relato que no se pode deixar de ler e meditar, tal a profundi-dade dos novos conceitos, experincias inseridas no contexto. Quem era ctico - como eu - vai ter que rever suas incre-dulidades vai ter que - no mnimo - no fechar mais suas prprias portas espiri-tuais, se quiser passar pela vida melho-rando-se. Eu escancarei tais portas. E sugiro que o leitor deste trabalho tam-bm faa, pois vai se sentir bem mais grandioso. E vai saber aceitar mais as coisas que acontecem, porque este livro uma grande experincia de vida, uma

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    lio imperdvel. Nilson no se conside-ra um esprita, no que mais abrangente possa ter a conceituao desta palavra. Quis apenas levar suas experincias s pessoas que pensam que no podem meditar, que no podem ser religiosas, e que se afastam... Ele no advoga o caro-lismo, apenas tenta simplificar - sem fantasias nem manuteno de dogmas _ esta iniciao meditao, atravs de suas vivncias. Eu acho que conseguiu. Ernesto Jos de Sousa Ferreira

    Ernesto Redator e Diretor de Criao, atuante, queridssimo nos meios de comunicao de Pernambuco, com passagem por vrias agncias de propaganda de Recife.

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    APRESENTAO

    Este livro foi feito com a inteno de deixar assinalado, parte do que vivenci-ei em minha trajetria terrena: as ajudas que me foram oferecidas, as que aceitei as que no percebi ou no quis ver; par-te da minha vida como militante esprita e como homem, simplesmente. Quero externar minha alegria pelo nascimento do meu primeiro neto, Luiz Fernando Albuquerque Melo e meu re-conhecimento colaborao recebida de meus filhos ngela Dolores, Jorge Jos, Ana Elizabeth, Luiz Denizard, e dos muitos amigos (com A grande), no somente do plano material, como do espiritual, que me ajudaram a iniciar mais este aprendizado. Gostaria de re-

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    gistrar tambm, por escrito e em negri-to, e se me fosse possvel em letras de luz e sons, o auxlio de minha mulher, Carmem Lcia, neste trabalho em que ela, embora no tenha conhecimento disto, a minha grande incentivadora, motivao maior, meu guia espiritual encarnado; com seu exemplo de dedica-o s causas que endossa, frente dos trabalhos espirituais e medinicos, sempre deixando seus prprios interes-ses em segundo plano para atender -queles que a procuram em busca de uma palavra amiga, de um consolo e de esperana. Os anjos bons existem e se encontram entre ns, vestindo pequenos defeitos como disfarce. Ao amigo Orlando Tejo que, com toda sua grandiosidade de homem e es-critor renomado, no poupou esforos

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    para me ajudar, sacrificando seu precio-sssimo tempo e no poupando palavras de incentivo que muito significaram pa-ra mim. Muito Obrigado. Ao Dr. Carlos Toledo Rizzini, a quem no tive o prazer e a honra de co-nhecer pessoalmente, nesta encarnao, dedico o primeiro exemplar deste livro, com todo carinho e admirao, pelo muito que faz ao distribuir a luz do co-nhecimento espiritual, de uma forma extremamente objetiva, nos aspectos fi-losfico, religioso e cientfico. Um pequeno galho verde, arrancado do seu livro Evoluo para o Terceiro Milnio, j comeou a brotar.

    Nilson Ferreira de Mello

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    1 REFLEXO A gente, quando criana, tem nos pensamentos a busca das coisas que contribuem para o nosso bem-estar, nossos prazeres, nossas alegrias, no importando o trabalho que os outros tm para nos proporcionar aqueles mo-mentos. No importa de onde, como, com que sacrifcio a nossa sobrevivn-cia custeada. No temos consciente-mente parmetros que possam definir nossa conduta. Sonhos impossveis de realizar, verdades impossveis de so-nhar. Esta a fantasia da criana em sua bendita irresponsabilidade. Este o mundo psquico do ser encarnado nos primeirssimos dias de vida, no perodo das adaptaes ao Colgio da Vida, no

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    aprendizado eterno. medida que a cri-ana comea a crescer, comea a perce-ber que sua felicidade depende da feli-cidade dos outros, que sua felicidade in-flui na felicidade dos outros. Quando comea a notar, a sentir, a compreender o bem-estar que seus coleguinhas lhe inspiram de modo diferente, comea a agrupar-se, a apegar-se mais a uns, a a-fastar-se de outros. Comea a situar-se no contexto que a sociedade lhe impe. Comea a escolher, a sonhar com a sala de aula ideal para iniciar seu curso de vida. Comea, finalmente, a descobrir a vida, dentro de seus conceitos corpora-tivistas, com suas abrangncias respec-tivas. Est finalmente mostrando parte de sua personalidade, seus gostos, suas ap-tides, seus medos, suas fraquezas, suas

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    inibies. Descobre sua fora, sua cora-gem, suas reservas, suas armas para a batalha que ter de enfrentar. Isto se passa com a criana encarna-da, mesmo sem saber, sem compreen-der, sem notar. Isto se passa conosco, espritos encarnados, nos nossos primei-ros anos na matria, numa seqncia de vida, parte de outras seqncias, adap-taes de outros estgios, do individual para o coletivo e vice-versa nesse con-junto infinito de informaes que cons-tituem o nosso EU interior, resumo de nossas aes milenares. Como crianas-esprito que somos, tambm chega o despertar da nossa per-sonalidade. Somos crianas espirituais, no tenham dvidas, e agimos como pessoas ingnuas, infantis, que somos.

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    Enquanto alguns de ns, mais preco-ces, se adiantaram nos conhecimentos e no emprego de suas potencialidades po-sitivas, outras ainda se enfeitiam, com-prazem-se nos prazeres de sua eterna in-fantilidade egostica. Pretendem ser fe-lizes de modo anarquista, irresponsa-velmente, passando por cima dos direi-tos dos outros, no cumprindo seus de-veres e at mesmo, em alguns momen-tos, pensam que so felizes. No seu egosmo, na busca incessante de alegrias, de privilgios, de poder, os sonhos em alguns momentos realizam-se, materializam-se e do-lhe pseudofe-licidade, mas logo se dissolvem, desa-parecem, deixando a frustrao, a an-gstia pela perda. E, nessa procura con-tnua de solues, nessa necessidade constante de substituir os sonhos perdi-

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    dos pelas realidades sonhadas, para conviver com o nada que se materiali-zou, ou com o tudo que se fez em nada, o ser vivente condensa em sua mente, desordenadamente, novos sonhos, no-vas buscas, novos problemas, novos fracassos, quase sempre. Isto o nosso curriculum esprito-escolar. _Currculo de antigas crianas que ainda somos. Velhas crianas em busca de conhecimentos. Nessa procura os espritos enfrentam vrias provas; so muitos os estgios de aprendizado. Muitos espritos buscam erradamente a chave que abrir a porta para a evoluo interior. A maioria procurou l fora, no jardim, no encontrou. Catou em flores-tas e oceanos, nas multides, no isola-mento, no encontrou. Procurou longe

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    demais, esqueceu de indagar em si mes-mo. Sou um desses que se esforaram por achar l fora. Calado, escondido, consultando meus pensamentos, testan-do meus desejos, batalhando solitrio e mudo com minha conscincia, aparen-tando ser uma coisa para alguns, de-monstrando-me nu, como sou, para ou-tros. Foram tantas as formas de apre-sentar-me, foram tantas as pessoas para as quais tive de pintar-me, foram tantas as pinturas com as quais quis apresen-tar-me que, no fim de tudo, no soube mais as caractersticas que apresentei a cada uma delas em particular. Confun-di-me, mostrei-me. Misturei-me, fundi-me nisto que sou. Um pouco de tudo. De bom e de mal, de amigo e irmo a

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    feitor e senhor. Sou a amlgama de tudo que criei. Eu, que procurei nos mais comple-xos pensamentos, nas mais diversas fi-losofias, que conceituei sem praticar e pratiquei sem ter conceito, parei para comear a dissecar, a centrifugar, a se-parar parte por parte os componentes desse sistema de irradiaes to com-plicado e to simples ao mesmo tempo, que se chama Esprito; reunio de todas as foras csmicas, vivncias, conse-qncias e reaes registradas. Assim, no joguei fora minhas decepes, no esqueci meus fracassos, no desprezei minhas alegrias. Juntei-os todos. Com-preendi que fazem parte do meu livro de vida, que fazem parte do meu acervo de conhecimentos, da minha experin-cia, de minha personalidade.

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    E, nesse movimento ntimo para al-canar um fim, encontrar as solues para os processos exteriores de minha vida, ainda no compreendidos, procu-rei compreender os processos interiores em andamento. Fenmenos intimamen-te ligados, por extenso, um ao outro. Verifiquei que precisava modificar-me. Mas em qu, como e por qu? Pro-curar tudo isto empiricamente, quando j tanto se escreveu sobre o assunto, quando j h tanto conhecimento arma-zenado nas estantes? Achei muito pro-longado, principalmente para quem j perdeu tanto tempo na jornada espiritu-al. Principalmente tambm para quem j consumiu 60 anos de vida, da atual en-carnao. Quase no fim de mais uma experincia carnal, precisava de algo

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    que me fizesse retomar o tempo perdi-do. Acredito que meus guias espirituais, vendo e sentindo minha vontade firme de modificar-me, puseram ao meu al-cance o livro Evoluo para o Tercei-ro Milnio, com o subttulo Tratado psquico para o homem moderno. Fiquei atrado pelo ttulo e, mais a-inda, pelo subttulo. Era como se a lei-tura daquele livro me projetasse para o universo dos intelectuais, onde deveria haver mais sabedoria, harmonia, pro-gresso e paz. Lendo aquele livro eu me sentiria enquadrado num homem moderno, evo-ludo, instrudo, culto, seguidor dos grandes pensadores. Tratei logo de sa-ber quem era o autor. Tive medo de que fosse um homem do povo. Nomes

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    simples, da massa brasileira, seria gua na fervura do meu orgulho; porm o li-vro tinha como autor Dr. CARLOS TOLEDO RIZZINI (com 2 Zs) e, a-inda mais, membro da Academia Brasi-leira de Cincias. Por certo era um cientista, descen-dente de famlia conceituada, ao que pa-rece, italiana. No era um nome qual-quer, era um homem que sabia o que es-tava dizendo. Meu ego estava bem mas-sageado. Comeava a incluir-me entre os leitores e seguidores de teorias cien-tficas sobre a espiritualidade. Abri o livro, li o sumrio por ci-ma. Habitualmente, nunca leio o pre-fcio. Tenho todos os defeitos do mau leitor. Passo a vista de leve sobre os ca-ptulos, vou at o fim do livro, detenho-me um pouco em alguma coisa que a-

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    trai, algo em que se enquadra a minha maneira de pensar, a minha verdade e, quase sempre, acho que tudo que ali es-t escrito eu j sei de cor e salteado. Concluo que o autor est tentando ex-plicar o que todo mundo j sabe, com palavras novas, difceis, cientficas, s para impressionar. Porm, desta vez, no sei o porqu, li o prefcio, de Dr. Celso Martins, cu-jo curriculum enquadrou-se tambm no meu ego, muito sensvel a ttulos e hon-rarias: Bacharel em Histria Natural pela Faculdade de Filosofia da Univer-sidade do extinto Estado da Guanabara - Curso de Botnica Sistemtica no Herbrio Bradeanum do Jardim Bot-nico do Rio de Janeiro - jornalista e es-critor esprita.

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    Mesmo sem entender o que Bot-nica Sistemtica1 e muito menos Herb-rio2 Bradeanum3, o ttulo me agradou. No prefcio procurei encontrar alguma novidade que j no soubesse e me defrontei com essas palavras: Sabe-se que os tratados, de um modo geral, so livros maudos, pesades, fazendo ad aeternum nas estantes das bibliotecas, sendo consultados por meia dzia de interessados na pesquisa momentnea de um ou outro verbete. Desta vez, embora as palavras bates-sem em cheio com meu pensamento, senti um interesse maior em prosseguir na leitura. 1 BOTNICA SISTEMTICA - parte da Botnica que d nome cientfico s plantas. 2 HERBRIO - local onde so guardadas amostras desi-dratadas de plantas para estudo. 3 BRADEANUM - nome de herbrio do Jardim Botnico do Rio de Janeiro. Nome dado em homenagem a BRA-DE, botnico famoso.

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    Mais adiante, Dr. Celso Martins de-fine que o autor partiu dum ligeiro re-trospecto histrico do pensamento reli-gioso, bem como dos fatos medinicos, mostrou a importncia que teve a Codi-ficao de Kardec para a sua devida in-terpretao, deteve-se cuidadosamente no exame da mediunidade e das vidas sucessivas, terminando num admirvel fecho de ouro _ com o estudo profundo no s dos desequilbrios psquicos, mas tambm da genuna moral de Jesus que h de ser o cdigo normativo do re-lacionamento social do homem renova-do do Terceiro Milnio, j to perto de ns. Isto me bastou para prosseguir na leitura do livro. Iniciei pela explicao do autor que, em resumo, diz ser um cientista profissional com os ttulos ofi-

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    ciais de Pesquisador em Botnica e Chefe de Pesquisas, formado em Medicina e membro da Academia de Cincias. Porm no comparece pre-sena do leitor nessa condio e, sim, na de um irmo amigo que deseja transmitir aos demais o que entendeu ser de grande importncia para a evolu-o espiritual, baseado na prtica de-rivada do trabalho de vrios anos em contato com os nossos semelhantes, muitos deles candidatos a mdiuns. Ainda segundo explicao do autor, atravs da pesquisa, enquadramento de resultados s leis do Universo, (leis fsi-cas e morais) se mostra e oferece no curso e no livro conhecimentos esclare-cedores para conduzir as pessoas a uma maneira elevada de considerar a vida, o mundo, Deus, Jesus e o Prximo. O li-

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    vro simplesmente define algumas no-es fundamentais de vida superior, sob o ponto de vista espiritual e psicolgico. Tomei a resoluo de ir adiante na leitura. Afinal, quem quer e precisa mo-dificar-se tem de comear e meu pri-meiro ato consciente foi seguir o livro, a comear pela introduo. O autor inicia: Aprenderemos em breve que a vida movimento e que o esprito no pode parar numa dada po-sio, sem graves danos. A evoluo veremos, o princpio central da lei de Deus: tudo no Universo modifica-se ao longo do tempo. Deter-se numa dada posio retardar-se e condenar-se ao desajustamento

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    Abre uma chave: _ | Intelectual - Assimilao do conhecimento superior | por meio de estudo. RENOVAO / MENTAL. \ | Afetiva - Desenvolvimento dos sentimentos e plantao |_ De simpatia mediante o servio ao prximo.

    No gostei da chave. No su-porto mtodos didticos, mas prossegui na leitura, como que

    procurando realmente a introduo no assunto. Veio-me mente a seguinte pergunta: ser que estou por fora das leis morais do Universo ou ser que es-tou me punindo injustamente? Nesse instante, meus olhos captavam o item No 2 da introduo: Quem precisa modificar-se interi-ormente? E a resposta _precisa modi-ficar-se interiormente todo aquele que:

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    1 - Se sinta infeliz; 2 - Se julgue pouco estimado ou rejeitado; 3 - No trabalhe bem; 4 - Se afaste dos outros; 5 - Se irrite ou deprima com freqncia; 6 - Pense em prazeres excessivos; 7 - S trabalhe por dinheiro ou projeo social; 8 - Pense primeiro em si mesmo; 9 - Precise falar ou discutir horas seguidas; 10- No suporte ser criticado ou contestado; 11- Se considere superior ou inferior aos outros; 12- Queira mandar sempre; 13- Tema ser dominado; 14- No tolere ficar s; 15- Padea de fobias ou inibies; 16- Use o prximo como objeto para satisfazer desejos

    ou conseguir vantagens. Pessoas desse tipo no so consideradas normais nem pelos psiclogos nem pelos mentores espirituais." O item No3 diz: Mas, isso no tu-do! Em virtude do princpio de evolu-o, tudo muda medida que o tempo passa; os minerais, as plantas, os ani-mais, a Sociedade, as leis, os conheci-

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    mentos e at os mundos da abboda ce-leste! O Esprito precisa renovar-se constantemente... Realmente, verificamos pela leitura do livro que todos os grandes pensado-res e apstolos do bem dizem, repetem das mais variadas formas, os mesmos conceitos, sobre a necessidade de no parar no progresso espiritual. Ningum poder deixar de enfren-tar o problema do auto-aprimoramento, agora ou no futuro, neste ou noutro mundo. a lei do Senhor do Universo. Scrates4, h 2.400 anos, dizia: - Se a alma imortal, precisa do nosso cui-dado o tempo todo. Paulo5, o apstolo, prescrevia especificamente: Renovai-vos, pois, no esprito do vosso entendi- 4 SCRATES, sbio grego, criador da moral, precursor do cristianismo e do Espiritismo 470-399 a.C. 5 PAULO, apstolo dos Gentios - morto no ano 67 d.C.

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    mento. E, vest-vos do homem novo, que foi criado, segundo Deus.... Karen Horney, eminente psicanalista da escola cultural, a despeito da sua orientao materialista, em seu livro Nossos Con-flitos Interiores, declara que a resolu-o desses conflitos depende da modifi-cao das condies que permitiram sua ecloso ou lhe deram origem. A-dianta que, ao invs de procurar trans-formar-se interiormente, o doente ape-ga-se s suas iluses ou pseudo-solues que lhe garantem, muitas ve-zes, uma certa tranqilidade, porm s custas de grandes limitaes em sua vi-da. Ela diz, em seguida, que o indivduo para modificar-se precisa: 1o) Descobrir seus sentimentos e desejos reais; 2o) Criar o seu sistema de valores;

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    3o) Relacionar-se com os outros de acordo com os seus sentimentos e convices;

    4o) Tornar-se produtivo em suas atividades. Parei um pouco para meditar. Rela-cionei na memria os quatro enumera-dos. Joguei para frente e para trs, ten-tando fazer uma comparao com meus sentimentos, objetivos e convices, como tentando casar pontos de refern-cia numa computao grfica e, quando sa da reflexo, li o aparte do Dr. Rizzi-ni, concluindo: Em suma, urge trans-formar o carter do sujeito. Comentei com meus botes _ e co-mo difcil a gente se modificar... Mas, no impossvel, algum logo soprou na minha mente. Realmente, Ka-rem Horney assevera que o homem po-de mudar enquanto viver _embora re-

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    conhecidamente grandes esforos sejam necessrios para tanto. Continuei mais interessado na leitu-ra. Agora, os conceitos j se ajustavam com minha maneira de pensar. As pala-vras eram outras, vinham de homens de cincia, mas, o pensamento, o mesmo. Tudo se casava. Todavia, eu, ao contr-rio do costumeiro, no senti vontade de deixar o livro pra l, encostado, como fiz com tantos outros. Fora da minha maneira de ser, pro-curei como que dialogar com as pala-vras, tentando, quem sabe, descobrir dentro de mim, pela primeira vez, um sentimento e um desejo real, forte, para minha modificao; e fui tentando inge-rir todas as explicaes, numa pressa incontrolvel. Entretanto, uma coisa ler um livro, outra assimilar as suas

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    noes, principalmente em assuntos muito prximos da psicologia, da psica-nlise, das cincias da mente. Para po-der entender, jogar um conceito de um cientista com um filsofo, decorar no-mes, comecei a fazer um rascunho parte, porm notei que eram tantas as anotaes, que terminaria fazendo outro livro. Passei, ento, a grifar no prprio livro os pontos mais importantes (para mim), j em mente, fazer um resumo desses pontos para posterior divulgao com meus amigos pretendentes auto-reforma, como eu. Eram importantes essas anotaes, porque o Dr. Rizzini, na sua introduo, tenta destacar a correlao existente en-tre as leis fsicas universais e as leis mo-rais, assim como mostrar que as verda-

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    des espritas caminham paralelamente s verdades cientficas. O autor comea a preparar-nos para que tenhamos uma viso global sobre a vida espiritual, passemos a adquirir uma compreenso pessoal e criemos nosso prprio cdigo moral para nos dirigir, conscientemente, na jornada. Faz com-preender que o Evangelho e o Espiri-tismo so cdigos de orientao da vida humana, que surgiram em determinada poca, no por acaso, mas que tiveram um campo longamente preparado. Tive-ram, em Moiss6 e Scrates, seus pre-cursores. Moiss, 15 sculos antes j preparava o caminho de Cristo, como outros, prepararam o seu caminho, ao deixar para ele toda uma histria de lu- 6MOISS (o maior vulto do Antigo Testamento; guerrei-ro, estadista, libertador, historiador, poeta, moralista e legislador dos Hebreus).

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    tas, de legados bblicos, de tradio do povo hebreu, desde Abrao. Judeu, cri-ado como prncipe na corte egpcia rompeu com os seus pares e iniciou a longa viagem para tirar seu povo da es-cravatura no Egito e iniciar a caminhada em busca da Terra Prometida. Sob implacvel perseguio dos fa-ras7, perambula por mais de 40 anos pelo deserto. Recebe no Monte Sinai, por via medinica, o Declogo (os Dez Mandamentos) que o primeiro cdigo moral da Humanidade e a primeira psi-cografia8 de que se tem conhecimento. Cria leis, regras de vida; comanda seu povo com punho de ferro. O livro mostra que, j na poca de Moiss, a prtica da comunicao com 7 Fara _ ttulo dos soberanos do antigo Egito. 8 PSICOGRAFIA - escrita dos espritos pela mo do m-dium.

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    os espritos era comum e freqente e nem sempre com bons propsitos, a tal ponto que Moiss baixou uma lei proi-bindo e punindo com a pena de morte quem fosse pegado nesse ato. O pesquisador deteve-se na anlise bblica de Deuteronmio 18:11, onde afirma que Moiss foi to claro que no proibia um engodo, uma mentira, uma simulao e, sim, proibia uma coisa verdadeira, ao declarar no admitir que algum indague dos mortos a verdade (Deuteronmio 18:11). O autor continua mostrando que as manifestaes espritas ocorreram em todos os tempos. Cita, como exemplos, vrios pontos: 1 - Samuel 28:7-20

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    O rei Saul9, aflito por estar acossado por seus inimigos, procura a famosa pi-tonisa10 de En-Dor e pede um trabalho medinico e ela tem medo de entrar em contato com a espiritualidade, pois des-sa forma desobedeceria a uma lei (do prprio rei Saul) que proibia a comuni-cao com os mortos. A Bblia relata que a pitonisa reconheceu Saul disfar-ado, mas ento o rei lhe jurou pelo Se-nhor, dizendo que nenhum mal lhe so-breviria por aquilo. A Bblia declara a-inda que o profeta Samuel, evocado, apareceu e falou com Saul, dizendo que ele iria morrer no dia seguinte, com seus filhos, o que aconteceu. 1 - Samuel 18:10

    9 SAUL - primeiro rei dos israelitas (1.115-1003 a.C.) 10 PITONISA - mulher adivinha que previa o futuro.

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    O esprito maligno... apoderou-se de Saul e profe-tizava no meio da casa. 1 - Isaias 8:19 O profeta Isaias faz uma pergunta, rotineira na po-ca: _ se o povo h de ir falar com os mortos acerca dos vivos. 1 - Corntios 14:1 Segui a caridade, anelai os dons do esprito e, so-bretudo ao da profecia. 1 - Tessalon 5:20-21 e Corntios 14:39 No desprezeis as profecias e Examinai, porm tudo, abraai o que bom e no proibais o uso do dom das lnguas. 1 - So Joo 4:1-2 Carssimos, no creiais em todo esprito, mas provai se os espritos so de Deus, porque so muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo. Recapitulei alguma coisa que sabia sobre Moiss, at pelo cinema. Enqua-drei-o como missionrio, mdium, le-gislador, lder de um povo. Sua maneira

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    de agir, suas leis, suas verdades para a verdade de uma poca. Encontrei no livro a comparao en-tre os ensinamentos de Moiss e de Je-sus Cristo. Vemos que os ensinamentos se modificaram na maneira de encarar os fatos e a dar as solues. Havia uma distncia no tempo de 1.500 anos, o po-vo era outro, tinha mudado, como tudo muda no Universo. O povo para quem Jesus Cristo falava naquela poca j ti-nha uma estrutura mais slida para compreender certas verdades. O que an-tes tinha de ser feito pela imposio, pe-la fora, agora tinha condio de ser a-ceito por acolhimento pacfico. Tambm no me detive muito nessas citaes histricas, j muito ditadas, re-passadas, repetidas. Estava em busca da frmula de como me modificar,

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    compreender-me e compreender como as foras do Universo agem dentro de minha cabea, do meu eu, do meu esp-rito. A leitura continuou, para a minha impacincia, no campo histrico, porm passa ao largo pela vida de Jesus Cristo e vem para o sculo III de nossa era. Enfoca Orgines, distinto sbio e o maior luzeiro daquele sculo (185-254 d.C.) que escreveu o LIVRO DOS PRINCPIOS, no qual declara que Jesus Cristo foi criado por Deus e o esprito preexistente ao corpo. Esse sbio morreu no ano 254, aps dois anos de tormentos num calabouo, somente por ter dito essas verdades, que foram mais verdades por terem sido di-tas por um sbio acatado, o que, com is-to, poderia revolucionar, modificar,

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    volver conceitos propositadamente con-servadores, para atender a muitos inte-resses. Meditei um pouco e apercebi-me de como a humanidade mudou em muitos aspectos em relao poca de Moiss. Dentro da minha maneira de entender, a maior transformao verificada foi li-berdade de pensamento, que nos permi-te imaginar, supor, dar opinio... Ousar mais longe. E, dentro dessa avenida a-berta a nossas aspiraes, podemos hoje aperceber-nos de muitas verdades que naquele perodo nem um louco tentaria sonhar. J pisamos o solo da lua, en-quanto Galileu11, 3.100 anos aps Moi-ss, quase morreu queimado na foguei-ra, condenado pela casta mais intelectu- 11 GALILEU _ Galileu Galilei, cognominado (matemti-co, fsico e astrnomo italiano - 1564-1642).

  • 44

    alizada do planeta, apenas por afirmar que a Terra girava em torno do Sol. Es-tamos hoje convivendo com realidades que eram negadas aos povos de ento, porque eles no dispunham de condi-es, lastro, vivncia espiritual para compreender. Hoje, nascemos lidando com telefo-ne, rdio, televiso, fax, controle remo-to, microondas, computador, raios X, laser, robs, naves espaciais, satlites artificiais... E todos esses avanos tec-nolgicos que seria arriscado tentar e-numerar sem deixar de fora uma boa parcela. Lidamos com imagens, sons, foras, luzes, raios que coabitam conos-co, fazem parte de nosso dia a dia. Seus efeitos so materializados, seleciona-mos, rejeitamos, apreciamos ou no.

  • 45

    Uma criana hoje j nasce dentro deste contexto, que estou firmando, dentro destas palavras sem muita clare-za, um aglomerado de elementos grfi-cos e, mesmo assim, vocs compreen-dem, percebem, acompanham meu ra-ciocnio e vo muito mais alm, desdo-brando at o infinito as opes de assi-milao. Falamos a mesma lnguagem, usamos a mesma simbologia. _ Agora pergunto: se eu dissesse isto, no digo ao povo de Moiss; no pediria tanto, porm aos grandes sbios da idade m-dia (aos mais renomados), eles compre-enderiam? Este raciocnio fez-me refletir e per-guntar-me, irritado, por que eu teria de deter-me na apreciao da poca de Moiss para aceitar a verdade da vida aps a morte, ou para encontrar a fr-

  • 46

    mula para me modificar interiormente, de compreender-me, de entender os me-canismos que regem as nossas condu-tas? Na leitura do livro s tinha achado at aquele momento uma forma de comparar costumes, nunca a comprova-o de uma verdade, o que, para um sa-bicho inveterado como eu, era como algum querer me vender uma laranja comeando por definir terreno, plantio, tratos culturais, mercado, etc...

  • 47

    2a

    REFLEXO Essas divagaes quase me tiraram o interesse que j comeava a existir pela leitura, quando entrara o Dr. Carlos Rizzini a registrar informaes j do s-culo IXX, ao alvorecer da poca mo-derna, surge a Cincia e a ignorncia comea a desfazer-se. As condies de vida entram tambm a melhorar. Os trechos que se seguem, transcri-tos em quase toda sua totalidade do li-vro Evoluo para o Terceiro Mil-nio, so muito interessantes e mostram-nos como as teorias tomam forma e se aproximam das verdades buscadas. A leitura tornou-se agradvel cada vez

  • 48

    mais. Estava saindo da 1a fase histrica e entrando na mais recente. Estava se aproximando da era de Kardec, em que os grandes cientistas, atrados pela fe-nomenologia medinica, que se instala-va como moda na Europa, procuravam estudar, penetrar, entender os processos psquico-espirituais com seus aprofun-damentos, opinies e divergncias que, longe de dificultar o andamento, dava margem a mais debates e concluses sempre mais fortes sobre a verdade es-piritual, suas foras, suas regras, seus efeitos. Dr. Carlos Toledo Rizzini prossegue falando nas pessoas que foram anteces-soras do Espiritismo e que prepararam o terreno para sua instalao. Entre elas, inclui--se o clebre Emmanuel Sweden-borg, sbio sueco que dominava prati-

  • 49

    camente todo o conhecimento do seu tempo (1688-1772), inclusive a teologi-a; sua ocupao habitual era a enge-nharia de minas, trabalhando para a casa real. Era dotado, lem de extensa cultura, de amplssima mediunidade. Podia ver grandes partes da Espiritua-lidade e comunicar-se facilmente com muitos espritos. Com os conhecimentos assim adquiridos em numerosos anos de pesquisas, Swedenborg fundou uma igreja e escreveu muitos volumes gros-sos em latim e ingls. Sua filosofia batia com o Espiritismo quando afirmava que: 1o o homem pode entrar em comunicao com os esp-

    ritos do outro mundo, sendo esse contato regido pelas qualidades e defeitos humanos, donde cada um atrai entidades semelhantes a si mesmo;

    2o no h anjos nem demnios e, sim, espritos bons e maus;

  • 50

    3o o homem leva para o Alm sua personalidade tal co-mo aqui;

    4o o cu conquistado somente pelo amor e pelo bem; 5o no Deus quem determina a ida para o cu ou para

    o inferno, mas o prprio indivduo, que atrado para lugares concordes com seus sentimentos;

    6o o sofrimento deriva das condies do prprio Espri-to e o inferno no passa do fogo das paixes carnais;

    7o o mundo espiritual pleno de atividades, de traba-lho, de progresso, florescendo nele os afetos a Deus e aos semelhantes.

    Isto tudo tem mais de dois sculos de idade. Essa igreja ainda hoje existe na Europa (A Nova Jerusalm), todavia com poucos adeptos. Recapitulei a leitura, reli boa parte novamente e conferi que Emmanuel Swedenborg viveu de 1688 a 1772. Corri para pegar algum escrito que me desse data da 1a edio do Livro dos Espritos, considerada oficialmente o i-ncio do trabalho de Kardec. Constatei:

  • 51

    18.04.1857, 85 anos aps o desencarne de Emmanuel. Como pessoa no muito observadora de pequenos detalhes de interpretao filosfica e que tira con-cluses precipitadas do pouco que v, sente ou escuta, conclui de imediato, sem pestanejar, que a teoria esprita es-tava ali, sem mudar nem uma vrgula. O Espiritismo com outro nome; havia sido lanado um sculo antes de Kardec. Voltei leitura para ver se havia algum comentrio sobre aquela minha inter-pretao. Encontrei: Dr. Rizinni dizia que: O ilustre sbio e vidente no p-de escapar aos preconceitos de sua -poca. Julgava-se um embaixador da corte celeste na Terra para interpretar a palavra de Deus da qual estava certo de possuir a chave; s ele conhecia os

  • 52

    profundos mistrios arquivados na B-blia... Deus inspirava-o diretamente. Para ele a Bblia teria umas palavras simblicas, com dois sentidos e somen-te algum como ele que tinha a percep-o espiritual, podia descobrir. Os ter-mos cavalo, asno, agulha, pedra, etc., simbolizam e correspondem a realida-des espirituais incompreensveis a quem desconhea sua obra (que indica os significados). Da ter criado um com-plexo sistema de smbolos.

    Palavra Sentido Camelo Conhecer e conhecimento

    Fundo da agulha

    Verdade espiritual

    Jardim Inteligncia e sabedoria Celeste

    Peito Caridade Madeira Bem Orelhas Obedincia

  • 53

    Sol Amor Lua F Lgrimas O que falso

    Difere do Espiritismo, entre outros aspectos, quando diz: 1) o Cu e o Inferno so condies definitivas; aps a

    morte, no se arrepende o Esprito nem tampouco pode mudar: sua sorte est selada para todo o sem-pre;

    2) um homem pode passar diretamente a anjo logo de-pois de morrer;

    3) qualquer criana que falea levada para o cu e a feita anjo;

    4) ignora a evoluo espiritual e a reencarnao; logo, a condenao dos decados eterna;

    5) a criana recebe de seus pais, como herana, a incli-nao para todos os males, nascendo, pois, mergu-lhada na maldade inata da espcie humana;

    6) Jesus, Ele prprio, foi agraciado com o mal heredi-trio de sua Me, tal como si acontecer a todas as pessoas;

    7) a alma dos animais morre com o corpo, nenhum de-les tendo inteligncia;

  • 54

    8) o Juzo Final processou-se na poca em que vivia, h mais de dois sculos, e ele, o vidente, foi convidado a assisti-lo.

    Havia outras e outras diferenas ci-tadas, j estava se tornando enfadonha comparao. Comentei comigo mesmo: - puxa, como difcil a gente chegar ao conhecimento. Swedenborg, to adian-tado em umas coisas e to falho na compreenso de outras. Vejam s: ne-gar o intercmbio visual com o mundo espiritual, quando diz: O mundo espi-ritual e o material so invisveis um ao outro, e ele mesmo ter dito que pre-senciou, na qualidade de vidente, o Ju-zo Final... O doutor Carlos Rizzini continua a narrar as realidades histricas sobre Swedenborg. Afirma que ele fez uma profunda reforma na teologia e que o

  • 55

    futuro mostrou que, na poca em que viveu e trouxe as verdades, no poderia ser de outra maneira. Era o sculo das luzes dominado pelo racionalismo, com boa dose de materialismo. Declara que o prprio Emmanuel, como esprito, mais tarde cooperou com as obras de Kardec, na qualidade de instrutor. Uma diferena essencial entre Swedenborg e Kardec. Embora ambos revelassem o mundo dos Espritos aos Espritos do mundo, o primeiro uniu sua revelao teologia, que pretendeu reformar por completo (deixou 30 vo-lumes a respeito) - ao passo que o se-gundo ligou a revelao dada pelos es-pritos Cincia. A diferena foi classi-ficada de essencial porque a nature-za das verdades difere profundamente

  • 56

    nas duas ordens de idias: a verdade teolgica (se for realmente verdade) imutvel e perfeita (est pronta desde sempre para todo o sempre); a verdade cientfica progressiva, perfectvel, a-primora-se ao longo do tempo e sua aquisio gradual.... Fiquei surpreso comigo mesmo. Nunca me havia detido numa leitura a esses pequenos detalhes, a essas min-cias, que passam desapercebidas e que podem mudar totalmente a maneira de a gente encarar o aprendizado. Quanto tempo no teria levado o Dr. Carlos Toledo Rizzini na elaborao deste livro? Quantas pesquisas, quantas horas datilografando, revisando, supri-mindo palavras, para tornar mais claras suas idias, principalmente para pessoas

  • 57

    como eu, que pensa que sabe tudo e quando se submete a uma pequena re-flexo descobre que no sabe nada. Quanto trabalho na compilao do livro, isto sem pensar nos vrios anos de par-ticipao no Espiritismo, como adepto e pesquisador. Ele mesmo diz na explica-o - A verdade que o seu contedo provm da prtica derivada do labor de vrios anos em contato com os nossos semelhantes, muitos deles candidatos a mdium. A essa altura dos acontecimentos eu j tinha verificado no livro Evoluo Para o Terceiro Milnio, 2a edio, as referncias bibliogrficas, com um n-mero de 81 livros pesquisados. O nme-ro, como no podia deixar de ser, exigiu de mim uma rpida meditao que me levou a um estado emocional desani-

  • 58

    mador. Um misto de angstia, vergo-nha, autopiedade. Veio em minha cons-cincia o quanto fui desleixado, pregui-oso, irresponsvel comigo mesmo e para com os meus semelhantes por ex-tenso. _ Tive tempo para ler e instruir-me e deixei o tempo passar. Perdi opor-tunidades e no adquiri conhecimentos literrios psicoespirituais com profun-didade, ao menos para atuar melhor num campo que tanto gosto. Na reali-dade, acostumei-me, como a maioria das pessoas, a pegar a verdade j des-trinada, catalogada, estudada, assimi-lada por outros, simplificada em quatro ou cinco palavras, nunca se aperceben-do da necessidade de ir ao encontro dela em todos seus detalhes, confrontando suas convices com as convices dos seus semelhantes. Eu tinha chegado aos

  • 59

    60 anos de idade recebendo atravs da mediunidade psicogrfica instrues as mais variadas de meus mentores espiri-tuais; participara de tantas e tantas reu-nies como mdium; estivera sempre transitando junto s pessoas espiritualis-tas. Quantas me julgavam entendedor profundo das relaes esprito/matria apenas pelos meus trinta anos de mili-tncia no Espiritismo (comecei em 1974). Uma melancolia, um remorso, uma santa inveja, tomou conta de mim. Por que no olhei isto antes? Tomei fora: Dr. Rizzini comeava a citar Franz An-ton Mesmer. Mdico, rico, nascido em 1734. Foi, portanto, contemporneo de Swedenborg. Chegou a dominar o co-nhecimento de seu tempo. Trabalhador, paciente e calmo. Foi o descobridor do

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    Magnetismo Curativo, a que dava o nome de Magnetismo Animal. Em 1779 reconheceu que podia curar pela imposio das mos e declara: De todos os corpos da Natureza, o pr-prio homem que, com maior eficcia, atua sobre o homem. Afirmava ser a doena uma desarmonia no equilbrio da criatura. O Dr. Carlos Toledo Rizzini conti-nuava falando sobre Mesmer. Afirmava que o sbio submetia os enfermos ao contato com a gua, os pratos, os len-is, os objetos, etc., magnetizados para alcanar a cura. Sofreu muita presso da casta intelectual da poca, por incom-preenso e inveja pelo seu sucesso. Swedenborg, que tambm viveu na mesma poca, no foi to pressionado como Mesmer, que foi expulso de Vie-

  • 61

    na e de Paris e somente depois de cinco tentativas para conseguir junto s aca-demias exame judicioso para sua teoria, publica em 1779 a Dissertao sobre a Descoberta do Magnetismo Animal. Nesse livro, ele afirma que o Magne-tismo uma cincia com princpios e regras, embora ainda pouco conhecida. Mesmer passou toda a sua vida con-centrado em fazer a caridade s pessoas, aliviando as dores dos enfermos atravs de seus mtodos e, por isto, no chegou a perceber a existncia do sonambulis-mo artificial, descoberto pelo seu ilustre discpulo, o conde Maxime Puysgur (inclusive a clarividncia, associada a ele). O sonambulismo artificial desen-volve-se durante o transe magntico em certas pessoas.

  • 62

    Em 1792, Mesmer expulso de Pa-ris e vai morar em uma pequenina cida-de Sua, onde passa o resto de sua vida dedicado ao atendimento aos enfermos. Morre aos 81 anos (1734-1815), sem que, ali, algum tenha se apercebido de que aquele mdico de aldeia fora outro-ra rico e famoso. Quatro anos antes de sua morte, a Academia de Cincias de Berlim, pretendendo investigar a fundo o magnetismo, faz-lhe um convite para prestar esclarecimentos e o Dr. Mesmer recusa. A Academia encarrega o profes-sor Wohlfart de entrevist-lo. _ Diz o Dr. Wohlfart: Encontrei-o dedicando-se ao hospital por ele mesmo escolhido. Acrescente-se a isso, um tesouro de co-nhecimentos positivos em todos os ra-mos da cincia, tais como dificilmente acumula um sbio, uma bondade imen-

  • 63

    sa de corao que se revela em todo o seu ser, em suas palavras e aes e uma fora maravilhosa de sugesto sobre os enfermos.... Dr. Rizzini discorre enunciando ou-tros precursores espirituais: Jean Rey-naud viveu entre 1808 e 1863. A sua obra Terra e Cu apareceu em 1840. Nela, Jean Reynaud exps os princpios bsicos da doutrina esprita, tais como a reencarnao e o progresso indefinido do esprito. Nada viu nem investigou. Tudo que explanou foi por intuio. Andrew Jackson Davis, mdium a-mericano, (1826 a 1910) escreveu v-rios livros de instruo espiritual. Era um homem justo, caridoso e tranqilo. Seu guia espiritual era Swedenborg. Em 1847, predisse o surgimento do Espiritismo, ao afirmar: uma verda-

  • 64

    de que os espritos se comunicam entre si, enquanto um se acha no corpo e ou-tro nas esferas elevadas... Antes de mui-to tempo, esta verdade ser revelada em forma de demonstrao viva. Narra o autor que Davis no dia 31/3/1848, acordou sentindo um hlito fresco perpassar pelo rosto e ouviu uma voz terna e segura, dizer Irmo, co-meou o bom trabalho; contempla a demonstrao viva que se inicia . O livro vinha aprofundando o passa-do, lentamente, de leve, nos fatos que podiam dar base histrica para o conhe-cimento do Espiritismo. Falava superfi-cialmente em fatos ligados a Scrates, a Moiss, a Saul, pitonisa de Endor, ci-tava o apstolo Paulo, Galileu, Karen Horney, Orgines, Emmanuel Sweden-borg, Franz Anton Mesmer, Maxime

  • 65

    Puysgur, Prof. Wohafart, Jean Rey-naud, Andrew Jackson Davis... E, por incrvel que parea, esses nomes estra-nhos para mim, no comeo da leitura, j iam se incorporando, fazendo parte do meu novo Universo. Imaginei como se-ria engraado o nosso querido esprito irmo Jos Luiz de Frana fazendo uma explanao sobre o assunto, atravs da mdium pernambucana Carmem Lcia Pinto de Melo, tendo de citar todos es-ses nomes. Esprito bom, amigo, inteli-gente, sbio em suas explicaes sobre a vida; carismtico em seus enfoques doutrinrios, em um linguajar sertanejo-nordestino de, no mnimo, cem anos a-trs, ao que parece criando um tipo e uma maneira de expresso que permite o entendimento de suas mensagens em todos os nveis intelectuais.

  • 66

    Essas divagaes no tiraram o meu interesse pela leitura e agora me debru-ava sobre o livro, como um adolescen-te na leitura de um romance. Chegava-se ao momento crucial da histria do es-tudo da mediunidade, com o episdio de Hydesville, com a famlia Fox, em 31/3/1848. Continuava o autor falando com essas palavras: Os Fox eram gran-jeiros e viviam na cidade de Hydesville, no Estado de New York, nos Estados Unidos. Tinham, entre outros, trs fi-lhos: Kate, de onze anos, Margaret, de quatorze anos e Leag, professora de pi-ano na cidade de Rochester, bem pr-xima de Hydesville. Moravam numa ca-sa tida como mal-assombrada. Durante o ms de maro de 1848, ouviram-se batidas, arrastar de mveis, de cama,

  • 67

    etc., o que chamou a ateno de toda a comunidade. No dia 31/3/1848 a menina Kate (11 anos), ao ouvir um forte rudo, desafiou o esprito a repetir os golpes que ela fi-zesse com os dedos, e as batidas foram repetidas sem erro. Iniciou-se, assim, um dilogo, atravs das batidas (tipto-logia) e o esprito declarou que havia se chamado Charles B. Rosma, que havia sido assassinado e que estava enterrado na adega da casa a trs metros de pro-fundidade, o que foi comprovado anos mais tarde. Esses acontecimentos foram descritos em um livro de Robert Dale Owwen, embaixador e membro do Congresso Norte-americano, que entre-vistou a famlia Fox. Firmada a autenticidade do fenme-no, chegou-se concluso de que os e-

  • 68

    feitos fsicos procediam da mediunidade de Kate e Margaret. Houve tentativa de linchamento das crianas por parte das pessoas menos esclarecidas. Indagado a um esprito qual a finali-dade que aqueles tumultos traziam para a sociedade, ele respondeu: Nosso ob-jetivo que a Humanidade inteira viva em harmonia e que os cticos se con-venam da imortalidade da alma. Du-rante muitos anos as trs irms trabalha-ram no campo da mediunidade, de-monstrando a sobrevivncia do esprito e promovendo a experimentao psqui-ca. Tiveram muitas virtudes e algumas fraquezas, que no lhes tira o mrito dos servios prestados causa do bem. bom frisar que Kate foi investiga-da em 1871 por William Crookes, um dos mais eminentes cientistas do mun-

  • 69

    do. Fsico e qumico ingls nascido em Londres e falecido em 17.6.1919. Cha-mou-me a ateno a resposta dada pelo esprito, de que fazia tudo aquilo _ pa-ra provar a imortalidade da alma. Vimos nesse fato comprovao de que tudo na vida tem um sentido e que tudo est dentro do contexto evolutivo. Quantas pessoas foram vtimas de terr-veis obsesses espirituais que lhes cau-saram grandes sofrimentos e hoje agra-decem a Deus as experincias vividas, que lhes facultaram a f, a certeza da vida espiritual. Ao mesmo tempo, pes-soas h que deveriam se considerar pri-vilegiadas por terem sido contempladas em seus lares com problemas aterrori-zantes de fenmenos espirituais de efei-to fsico, condicionados a arrastar de mveis, rudos, quebras de objetos, a-

  • 70

    pedrejamento, tudo isto pela mo invi-svel e, cessadas as comunicaes, ne-nhum proveito tiraram dessas manifes-taes. Permaneceram cticas, incrdu-las, infrigindo os mesmos regulamentos do cdigo de vida universal. Continua-ram mentirosas, enganadoras, desones-tas, perversas, egostas, alheias, sem se aperceber, de que todos os seus atos, bons e maus, so presenciados, no so-mente pela conscincia, para a qual na-da se pode esconder, como tambm por uma coletividade de irmos espirituais, nos mais variados graus de evoluo, ligados por afinidade. comum a esses tipos de mdiuns, quando no tiram proveito das verdades que lhes foram mostradas atravs dos fenmenos de efeitos fsicos, ou de i-gual intensidade, serem atacados pelos

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    irmozinhos sofredores, nas relaes com a famlia, onde convivem em de-sarmonias infundadas, com doenas em si mesmos ou em entes queridos, sem que a medicina encontre uma razo plausvel, enfim, com todo tipo de inter-ferncia espiritual negativa atrada pela afinidade de vibraes e que, de uma forma ou de outra, serve tambm para chamar-lhes a ateno e lhes despertar para a realidade espiritual. Agora o livro abordava a poca em que os fenmenos medinicos viraram moda na Europa e por todo o mundo, chegando a ser o divertimento predileto nos sales elegantes da Frana, onde as classes mais privilegiadas da populao reuniam-se para brincar com os espri-tos.

  • 72

    Eram citadas as mesas girantes, as cestas, as pranchetas. Falava sobre Al-lan Kardec, os motivos que o levaram a pesquisar o Espiritismo, os mdiuns que cooperaram com seu trabalho, os inte-lectuais que se aliaram a ele e seus opo-sitores. Eu no quis me aprofundar no tema, por demais abordado, nos prembulos de quase todas as obras da codificao e em muitos livros espritas kardecistas. Todavia, segui a leitura e o Dr. Rizzini mostrou que Kardec sempre procurou demonstrar que o Espiritismo caminha lado a lado com a cincia. Que as ver-dades espritas esto amparadas pelas verdades cientficas, que a cada dia for-necem mais elementos de comprovao existncia do esprito.

  • 73

    Cita as controvrsias das escolas po-sitivista/materialista, em que Auguste Comte, clebre matemtico e filsofo francs (1768-1857), em seu livro Cour de Philosophie Positive, nega a evolu-o da espcie e Darwin, famoso natu-ralista e filosofista ingls (1809-1882) que, com seu livro Da Origem das Es-pcies por Via da Seleo Natural, em 1859, afirma que a espcie evolui. Faz ver que, em 1868, em A Gnese, Kardec admite as primeiras noes da evoluo orgnica referente ao corpo animal e humano, e do esprito humano, acabando por dizer: Por pouco que se observe a escala dos seres vivos, do ponto de vista do organismo, -se for-ado a reconhecer que desde o lquem at a rvore e desde o zofito at o ho-mem, h uma cadeia que se eleva gra-

  • 74

    dativamente, sem soluo de continui-dade e cujos anis, todos tem um ponto de contato com o anel precedente. A-companhando-se, passo a passo, a srie dos seres, dir-se-ia que cada espcie um aperfeioamento, uma transforma-o da espcie imediatamente inferior. Sobre William Crookes, 1870, ano marco da pesquisa espiritual, diz-nos que Crookes pesquisava com uma m-dium de quinze anos, Florence Cook, franzina e doente. Iniciava-se a fase ex-perimental cientfica do espiritismo. O fsico observava, controlava, me-dia, pesava, etc., etc., quatorze fenme-nos, desde movimentos, rudos, luzes... At a materializao completa de uma mulher. Isto ocorreu durante trs anos. Essa mulher atendia pelo nome de Katia King e exibia belo aspecto fsico. Tor-

  • 75

    nou-se ntima do grupo. Passeava apoi-ada no brao de Crookes, conversava com todos, foi fotografada quarenta e quatro vezes, desaparecia vista de to-dos. Podia ser percebida luz e meter a mo em recipiente com corante, que depois aparecia no corpo da mdium. Perguntada porqu voltava a Terra, respondia: Em parte para convencer o mundo da realidade da vida futura e, em parte, tambm para expiar meus crimes.

    Dr. Rizzini prossegue relatando que, em 1916, o fsico e cientista ingls Oliver Joseph Lodge (1851-1940), que muito fez pelas pesquisas. Psquicas, em um discurso para a classe cientfica, pronunciou estas palavras fi-nais: Mas, a concluso que a sobre-

  • 76

    vivncia est cientificamente provada, por meio da investigao cientfica. No s ele, mas tambm renomados ci-entistas que se agregaram na divulga-o dos princpios do Espiritismo, de-fendendo os argumentos preconiza-dos por Alan Kardec:

    August Morgan, matemtico e lgico ingls (1806-1871).

    Camille Flammarion, astrnomo e escritor fran-cs (1842-1925).

    Csar Lombroso, mdico, antroplogo e crimi-nalista italiano (1835-1909).

    Enrico A. Morselli, neurologista e antroplogo italiano (1874-1929).

    Esnesto Bozzano, metapsiquista e filsofo italia-no.

    Frederico Myers, psiclogo e escritor ingls (1843-1901).

    Gustave Geley, mdico, bilogo e pesquisador francs (1868-1924).

  • 77

    Johan k.F. Zoellner, astrnomo e fsico alemo (1834-1882).

    Julius Ochorowiez, psiclogo polons. Robert Hare, qumico americano(1781-1858). William F. Barrett,professor de fsica do Royal

    College de Science for Psychical Research, da qual um dos fundadores, ingls (1844-1925).

    Em 1916, aps essa avalanche de s-bios afirmando a existncia do espri-to, os microbiologistas Rhine e Gibier afirmavam sobre bases diferentes: Ns podemos ter provas materiais da existncia da alma. Um relato importante do livro Evo-luo para o Terceiro Milnio foi sobre Charles Richet, que transcrevemos qua-se na ntegra pelo valor que tem para os que ainda tm dvidas da existncia do esprito. Transcrevemos principalmente por se referir a um cientista que dedicou quase meio sculo de vida tentando

  • 78

    provar que no h mediunidade e no h espritos e que todos os fenmenos espritas em estudo consistiram nos po-deres do inconsciente. Charles Richet, detentor do Prmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1913, pelos seus trabalhos sobre anafi-laxia, que tiveram grande importncia na compreenso dos fenmenos alrgi-cos. Nasceu em 1850 e morreu em 1935. Foi um sbio universal e muito operoso; aos fenmenos supranormais dedicou uns 40 anos de investigaes experimentais. Ao cabo, reuniu todos os fenmenos sob a explicao nica de que sua causa reside nos extraordin-rios poderes do inconsciente. Assim, no h mediunidade; o mdium ou sen-sitivo uma pessoa dotada de capaci-dade de perceber, mover objetos e mo-

  • 79

    delar a matria por meio de foras la-tentes da subconscincia. Espritos no existem simplesmente.... Tudo, portanto, era fenmeno anmi-co. Essa nova cincia, materialista, re-cebeu o nome de Metapsquica, que ele definiu assim; Uma cincia que tem por objeto fenmenos mecnicos ou psicolgicos devidos a foras que pare-cem inteligentes, ou a poderes desco-nhecidos, latentes na inteligncia hu-mana. Todavia so do sbio francs essas palavras; A explicao esprita muito simples, poder-se-ia dizer que ela se impe pela simplicidade. E tambm estas: No hesito em afirmar que esta explicao a mais simples e que todas as outras empalidecem ao lado dela.

  • 80

    Finalmente, antes de sua morte o grande sbio, em carta enviada a Ernes-to Bozzano, confessou sua adeso teo-ria esprita, considerando as demais como as teorias obscuras que entume-cem nossa cincia. Richet deu grande impulso pesqui-sa. Muitas sociedades cientficas foram criadas com o objetivo da pesquisa. Surgiu o Instituto Metapsquico Inter-nacional, dirigido por Gustave Geley, que produziu muitos trabalhos. Todavia, mortos Richet e Geley, a Metapsquica entra em declnio e o Instituto fecha-do. O ltimo dos grandes metapsiquistas foi Ernesto Bozzano, na juventude entu-siasta de Herbert Spencer12 e que termi-nou vigoroso defensor do Espiritismo, 12 HERBERT SPENCER (filsofo ingls - 1820-1903).

  • 81

    segundo o qual os fenmenos so devi-dos interveno de um morto. Chegou a dizer: Pela centsima vez repito, pois, que a teoria esprita uma teoria cientfica. Eram afirmaes histricas cientficas muito importantes, porque, na realidade, no podemos meditar so-bre um fato, sem conhecer parte do seu contedo. E aquelas breves palavras so-bre este ou aquele acontecimento cient-fico por certo eram importantes para a compreenso do restante do livro. Chegamos, finalmente, a 1930, quando Joseph B. Rhine, professor e psiclogo norte-americano, funda, nos Estados Unidos, a Parapsicologia e ini-cia uma nova fase na investigao dos fatos supranormais, com emprego de tcnicas originais. Inicialmente a medi-unidade fora excluda. A Parapsicologia

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    ocupava-se com as faculdades e os fe-nmenos peculiares mente humana (anmicos). 1 -Clarividncia - Percepo distncia de objetos e acontecimen- tos sem o uso dos sentidos. 2o - Telepatia - Recepo do pensamento de outro. 3o - Precognio - Previso de fatos futuros. 4o - Telecinesia - Movimento de objetos distncia sem usar veculo fsico. OBS: clarividncia, telepatia, precogni-o, so chamadas percepo extra-sensorial. Geralmente, reconhece-se que so uma mesma faculdade, cuja distin-o tem apenas valor prtico.

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    Rhine e seus colaboradores opera-vam com um mao de 25 cartas, cada grupo de cinco contendo um smbolo prprio: estrela, crculo, onda; retngulo e cruz. A pessoa que estivesse sendo testada, geralmente um estudante uni-versitrio, teria que ler no pensamento do experimentador que carta ele tirara (telepatia), ou adivinhar qual era a carta sem que o experimentador a tivesse vis-to (clarividncia). O nmero de acertos considerados por ao do acaso, previs-to matematicamente, seria de 5 em cada 25 cartas. Chegou-se a conseguir atra-vs de um estudante de teologia, H.E. Pearc, de uma feita, acertar as 25 cartas do baralho. Noutra modalidade, a pessoa teria que adivinhar a ordem das cartas, antes que elas fossem embaralhadas, isto ,

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    fazer uma previso. Rhine concluiu, desse modo, que o dom da profecia uma realidade (precognio). Finalmente, Rhine procurou de-monstrar que a mente humana capaz de influenciar a matria de longe, sem usar meios fsicos. Nesse teste foram empregados dados que eram jogados e as pessoas testadas orientavam as partes que deveriam cair voltadas para cima. Caso o nmero escolhido, por exemplo, fosse 7, os pares de dados teriam que apresentar para cima 1-6, 2-5 e 3-4. Por esse processo comprovou-se a existn-cia da telecinesia, no caso psicocinesia. Dr. Carlos Rizzini tenta tornar evi-dente que o movimento esprita, instau-rado por uma pliade de pensadores e experimentadores, recebeu variadas contribuies de trabalhadores alheios

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    codificao do Espiritismo. Citou, como exemplo, o caso do mdico Car Wic-kland, psiquiatra com seu livro Trinta Anos Entre os Mortos, em que relata seu trabalho de cura de pessoas men-talmente afetadas por espritos enfermi-os e o esclarecimento destes ltimos atravs da mediunidade de sua esposa que incorporava as entidades envolvi-das. Fala sobre o livro do engenheiro bra-sileiro Hamilton Prado, intitulado, No Limiar do Mistrio da Sobrevivncia, que relata o que viu e sentiu, durante o despreendimento da matria em uma viagem ao baixo mundo espiritual. Lembra tambm o escritor chins Lin Yutang, quando, em seu livro Mo-mento em Pequim, trata do caso da se-nhora Yao, mulher rica e prepotente,

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    perturbada pela influncia vingativa de um esprito de uma criada que levara ao suicdio. E vai por a uma srie de citaes que no achei necessrio catalogar na mente porque hoje em dia existem mi-lhares de livros espritas e esses fatos para mim j so verdades absolutas. Comecei a dar-me conta de que tam-bm no passei minha vida, to afastado da busca espiritualista, como julgava. Comecei a notar que muita coisa dita por intelectuais de diversas nacionali-dades, realmente j tinha tido conheci-mento por outras palavras e tambm no nutria nenhuma dvida ou curiosi-dade sobre o assunto. Comecei a ser menos rigoroso para comigo mesmo. Compreendi que meu esprito, nesta en-carnao, no parara, continuava sua

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    evoluo, franzina e defeituosa, mas continuava. Entendi que eu tinha come-ado pela prtica medinica e despreza-do a teoria no todo. Agora buscava a te-oria, em muitos pontos, que a prtica no pudera me completar. E eram mui-tos. Muitos mesmo, e essa assimilao que eu agora buscava, como um viajor sedento procura gua no deserto, dar-me-ia algum equilbrio. Urgia correr a-trs do prejuzo. Porm, como sempre, as pessoas que perdem alguma coisa procuram uma consolao. Meditei: _ e se eu no tivesse h trinta anos, na flor da idade e das paixes carnal, desperta-do, para essas verdades, como seria a-gora? E situei-me como algum que v uma fila enorme sua frente para che-gar ao caixa do banco; comea a ficar, impaciente, contando os segundos, os

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    minutos e, quando olha para trs, v que a fila muito maior para chegar ao pon-to onde ele j se encontra e que, embora a situao no tenha mudado, um alvio, um conforto lhe invade no por os de-mais terem que passar pelo desconforto pelo qual passou, mas por j ter supera-do alguns obstculos. Quando estava nessas divagaes, assimilei um conselho de meu mentor espiritual: Se o tempo pouco, procu-re administr-lo muito; eliminando o suprfluo de sua busca e se concen-trando no que realmente tem peso em suas necessidades. Isto me bastou para passar ao largo daquelas citaes bibliogrficas, daque-les nomes famosos, daqueles pensado-res que empolgaram o mundo. Afinal, no estava na busca da certeza da exis-

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    tncia do esprito, da comprovao de suas interferncias nos seres encarna-dos. Todas essas certezas eu j possu-a... Estava procurando o que no sabia: _ Como se processam os impulsos no inconsciente das pessoas, gerando todos os desejos e necessidades do nosso dia-a-dia? Como bloquear ou assimilar es-ses desejos? Como entender e perceber essas vibraes? De onde vm, por que vm, por que existem... Era essa minha meta maior. Lembrei-me de ter lido, no prprio livro, no comeo, uma citao do Dr. Rizzini em que Karen Horney diz em seu livro Nossos Conflitos Interiores que, entre outras coisas, o indivduo, para modificar-se, precisa criar o seu sistema de valores. Ora, seguindo a o-rientao do meu guia, estava naquele

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    momento criando um sistema de valores para a meta a alcanar. Estava deixando de lado coisas que considerava supr-fluas (para mim) e concentrando-me num objetivo de busca. O livro j estava me ajudando; o conceito de Karen Horney enquadrava-se por inteiro no meu objetivo, pois, nessa busca, eu iria com todo o empe-nho de minhas foras, passando ao lar-go pelos atropelos da vida, que reco-nhecia serem muitos, mas tinha a certe-za de serem os mais leves, dentro da es-cala de meus merecimentos. Passou-me rpido pela mente quanto tenho sido ajudado pela espiritualidade. Como Deus tem sido generoso para comigo. Por qu? Tenho certeza no ser um bom filho. Sou egosta e orgulhoso acima de tudo. Logo, os dois maiores

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    defeitos que no suporto nos outros. Memorizei a relao dos dezesseis itens dados pelo Dr. Rizzini para quem preci-sa modificar-se e verifiquei, com ver-gonha, angstia e apreenso, que no me enquadrei em apenas cinco: sinta-se infeliz, s trabalhe por dinheiro ou pro-jeo social, no trabalhe bem, no tole-re ficar s e use o prximo como objeto para satisfazer desejos ou conseguir vantagens. Os outros onze me pegaram em cheio. Tenho todos. Vejam s que loucura, eu, com mais de 60 anos, com quase todos os defeitos do mundo, como diria o nosso bom ir-mo Jos Luiz de Frana - J com a cara cheia de cabelo e bigode brancos, como gato velho de hotel, querendo, ainda nesta encarnao, recuperar o tempo perdido.

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    Lembrei-me de quanto j fui ajuda-do, pela graa de Deus, atravs de meus guias espirituais, nas mais difceis tare-fas de minha vida e por certo eles me ajudariam nisto que considero o mais importante empreendimento de minha existncia. Transportei-me aos anos 70, estu-dante de Comunicao Social, diretor de uma emissora de rdio em Pernam-buco, membro da diretoria da Casa dos Humildes, instituio esprita em cons-truo no bairro de Casa Forte, Recife-PE programada para abrigar 100 velhi-nhos de ambos os sexos. Tinha meus poucos minutos dispo-nveis tomados pelos trabalhos dessa obra, sem falar nos compromissos me-dinicos no Centro Esprita Mensageiro do Bem, no bairro do Jordo, Jaboato-

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    PE, com a nossa inesquecvel mdium Joana Norberto do Nascimento, cega, desencarnada em 1991. Na Faculdade, ia me safando como podia nas matrias curriculares, pela experincia que tinha como militante no ramo de comunicao. A maioria das cadeiras do curso exigia trabalhos de que eu participava intensamente, sem grande esforo, todavia, a cadeira de Redao era diferente. Os trabalhos e-ram individuais e exigiam mais dos alu-nos. Treinvamos tcnicas de concentra-o mental em locais abertos. Esses e-xerccios at que me ajudaram muito nos trabalhos medinicos. Normalmen-te, exibia-se um filme, preferencialmen-te um desenho animado, sem mensa-gem, com variados enfoques. Termina-

  • 94

    va a projeo, nos reunamos em grupos de trs pessoas, em mesas triangulares de cores variadas. Dois sistemas sono-ros conflitantes eram ento ligados, com uma intensidade de volume suportvel, mas por certo perturbadora. Normal-mente tocava um roque apressado e um twist, ou coisa parecida. Neste ambiente acolhedor e tranqilo tnhamos de 10 a 15 minutos para cada qual fazer sua redao sobre o filme, dar a sua inter-pretao. Com o passar do tempo, nes-ses exerccios, j conseguamos fazer alguma coisa com pontos criativos. Chega o final do semestre e o pro-fessor Carlos Borromeu, recm-chegado da Europa, Itlia, mais precisamente; amigo ao extremo, companheiro, farris-ta, porm exigente como ele s, definiu

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    o tema para a redao final, para a nota geral da cadeira: Meu Mundo. Como podem perceber, era um tema vasto, abrangente e, ao mesmo tempo, individual sobre todos os aspectos. Te-ma difcil de escrever e mais difcil ain-da de escolher o enfoque a ser aborda-do. Necessitava de muito tempo e con-centrao, coisas de que no dispunha. Todos os alunos, a maioria jovens estu-dantes somente, outros no to jovens, porm com disponibilidade de tempo e condies, entregaram logo seus traba-lhos. Eu fiquei administrando da melhor forma, o prazo. At que um dia Borro-meu me disse: Nilson, amanh, quarta feira, termina o prazo para a entrega dos trabalhos. Aguardarei at as 10:00 horas da manh.

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    A Casa dos Humildes estava numa fase de grandes decises e tinha justa-mente uma reunio noturna marcada pa-ra a tera-feira, importantssima e eu no poderia faltar; como na realidade no faltei. Cheguei minha residncia faltando quinze minutos para a meia noite, no cansado, porm sonolento. Tentei ler alguma coisa para me inspi-rar. No tinha nem idia de por onde comear. Peguei o Evangelho, abri a esmo, procurando inspirao para o as-sunto, como sempre fizera nos momen-tos difceis. Todavia agora no estava dando certo. Os temas abordveis eram os mais antagnicos. Orava, abria no-vamente: a mesma coisa. Desisti e, co-mo todas as pessoas que se vem venci-das procuram se enganar, procurei pro-var a mim mesmo, que as razes justifi-

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    cavam meu ato, pois atrasara a tarefa por motivos nobres. Tentava conven-cer-me de que, no outro dia, antes das 10h entregaria o trabalho que levei qua-se trinta dias para iniciar. Porm, uma inquietao comeou a tomar conta de mim. Precisava concluir a cadeira de Redao, seletiva para a matrcula em outras matrias, e estava acuado. Em poucos segundos, as justifi-cativas que dava a mim mesmo j no me convenciam e chegara concluso de que o responsvel por todas aquelas aflies por que estava passando, por aquelas apreenses, por aquelas neces-sidades no atendidas, por aqueles pre-nncios de frustraes, era eu mesmo e no os meus afazeres. Implorei a Deus que me desse, por misericrdia, foras para tentar fazer o

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    trabalho. Pedi ajuda a meus mentores espirituais, mesmo sabendo no ser dig-no dessa ajuda, tantas vezes oferecida e tantas vezes desperdiada. Mesmo as-sim, reconhecendo no ter merecimen-to, reconhecendo minhas imperfeies, minha irresponsabilidade, principal-mente com as coisas que dizem respeito a mim mesmo, a meus interesses pesso-ais, minha sobrevivncia, minha se-gurana e dos meus familiares e saben-do, acima de tudo, que precisava passar por todas essas dificuldades que ora en-frentava para me regenerar, para ser mais cnscio de meus deveres, de mi-nhas responsabilidades. O sono venceu-me. Acordei na quarta-feira e corri para a Rdio. Estacionei o carro, como de cos-tume, cumprimentei o vigia, andei pelo

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    ptio, segui para meu gabinete. Tinha uma idia fixa, uma quase certeza de que iria fazer uma boa redao e entre-gar a tempo. Coloquei a caneta e muitas folhas de papel na mesa redonda que servia para reunies com os funcionrios. Acredito que, no inconsciente, sabia que iria re-ceber uma psicografia de algum amigo espiritual. Deixei tudo pronto e, em se-guida, fui at a varanda da Rdio Olin-da, contemplei a paisagem como sem-pre fazia, enquanto orava. Voltei sala, peguei a caneta e saiu: Naquele dia, procurava definir meu mundo. E, no alheamento mo-mentneo de que fui tomado, apro-ximei-me da velha varanda colonial da Rdio Olinda e olhei para o mar,

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    como j fizera, tantas e tantas ve-zes. Somente que, agora, procura-va vagar sobre as guas, numa grande jangada de iluses, onde os sonhos no pudessem ser pertur-bados. O mar tinha a cor chumbo da saudade. Era o reflexo das nu-vens tempestuosas e ciumentas, que brigavam com o sol, impedindo o beijo da manh em sua intensida-de. Nenhuma vela, nem jangada, nem pescador. Alguns barcos anco-rados junto aos arrecifes, movimen-tavam-se ao sabor do vento, num ritmo ritmado. Pareciam escolares em exerccios de educao fsica. No alto mar, as ondas choca-vam-se nos corais enxeridos que se distanciaram dos companheiros, pa-ra beij-las primeiro. Havia no ven-

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    to, no cantar dos cibitos que esca-param exterminao da espcie, na tonalidade suja e confusa dos te-lhados, nas roupas que comeavam a ser estendidas nos arames, no balanar das rvores, na antena da rdio, que parecia correr em sentido contrrio s nuvens, na prpria Rua do Sol, por onde passo, diariamen-te, muitas vezes, sem olhar, uma beleza, uma alegria, to contagian-te, que eu, confuso em meus pen-samentos, no soube definir se tudo aquilo estava em mim, ou vinha a mim. Pausa, silncio em minha in-dagao. Liguei-me de sbito ao mundo exterior, o locutor anunciava oito horas e cinco minutos. Rodava um comercial de uma aguardente qualquer. O som de uma buzina de

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    carro, gritos alegres de crianas na rua, rudos de patins na calada, vozes, a vida vivendo. Meus pensamentos rpidos en-trelaavam-se, soltavam-se, con-fundiam-se, ajustavam-se nova-mente, como se eu tivesse o direito de perpetuar todas aquelas medita-es, comer o mundo, beber a vida, adoada de felicidade. Rebelei-me, despertei, o telefone tocou. Fora engano. O mar continuava na mesma cor... As nuvens... Os telhados... Somente eu no via todo aquele esplendor, que pude ver, quando quis ver... meu mundo. Assinou, Amaro.

  • 103

    Como as letras, pela velocidade com que foram escritas, eram muito grandes e as palavras chegavam s vezes at a ocupar uma pauta inteira, cuidei logo de traduzir, abaixo de cada uma delas, em letras de forma e pedi secretria para datilografar todo o contedo da mensa-gem, sem tirar ou botar uma vrgula. Enquanto a secretria datilografava, eu entrava num estado de esprito que variava entre alegria e perplexidade, de-leite e gratido. Meu querido mentor Amaro tinha-me ajudado mais uma vez. Assinei o trabalho, com meu nome e en-treguei a tempo ao professor Carlos Borromeu. Afinal fui eu quem escreveu. Pensando tudo isso, comecei a medi-tar na forma como os espritos passam para ns as suas idias, seus conselhos, suas ajudas. Mdium psicgrafo consci-

  • 104

    ente; limitei-me, nesse poema retrato, como que a ouvir um ditado muito rpi-do, sem saber aonde iriam dar aquelas palavras, todas aquelas conjugaes de idias. O esprito Amaro comeou mos-trando tudo que existia ao redor de mim e s depois chegou ao tema; s ele sabia o que ia dizer, como iria fechar o racio-cnio. Quando, no decorrer da psicogra-fia, o telefone tocou, foi registrado na composio, parei a escrita, corri para atender e, ao voltar, a comunicao con-tinuou exatamente com a frase fora en-gano, que iniciaria a complementao da mensagem. Ele usou exatamente o nmero de folhas de papel disponveis. Fechou a composio precisamente no fim do papel. S ficou lugar para assi-nar: Amaro em nome de Deus. Ao mesmo tempo em que me ajudou num

  • 105

    problema de ordem pessoal, no perdeu tempo para reforar minha f na espiri-tualidade e a convico de minha medi-unidade, naquele tempo, muito vacilan-te. Essas divagaes davam-me novas foras, ou melhor, exteriorizavam for-as velhas armazenadas dentro do meu Eu. Compreendi que as experincias vi-vidas so as maiores armas de que o ser vivente dispe, no enfrentamento das si-tuaes adversas. E sabia, por experin-cia prpria, que meus mentores espiri-tuais, mesmo sem eu merecer, estavam sempre comigo, ajudando-me, orientan-do-me na procura do caminho para a modificao interior. Deixei de lado as meditaes gratifi-cantes em que tinha entrado e voltei leitura do livro Evoluo Para o Ter-

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    ceiro Milnio. Precisava compreender todos aqueles ensinamentos. Dr. Rizzini, j no fim do 1o captulo (origens do Espiritismo), diz no ter a-presentado mais que um esboo sobre os aspectos histricos referentes ao de-senvolvimento do Espiritismo. Diz que fatos, fenmenos, pesquisadores, publi-caes, etc., so bastante numerosos e, portanto, somente algumas evidncias mais marcantes puderam ser enumera-das. Diz no ter se aprofundado no as-sunto em virtude de o objetivo do livro ser alcanar um conhecimento doutrin-rio suficiente reforma espiritual. To-davia, d uma relao de alguns livros que transcrevemos abaixo para o leitor que desejar ampliar sua instruo a res-peito de fenmenos e investigao, s-bios e mdiuns.

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    So os seguintes livros, indicados pelo autor Dr. Carlos Rizzini: 1 - G. Delanne O Fenmeno Esprita e o Espiritis-

    mo Perante a Cincia 2 - A. Erny O Psiquismo Experimental 3 - A. Aksakof Animismo e Espiritismo 4 - A. Conan ole O Espiritismo 5 - C. Imbassahy O Espiritismo Luz dos Fatos 6 - P. Granja Afinal, Quem Somos? 7 - N. de Faria O Trabalho dos Mortos 8 - Z. Wantuil As Mesas Girantes e o Espiritismo E diz que: O leitor poder ainda procurar livros assinados por Richet, C. Crookes, Wallace, Crawford, D. Bradley....

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    3a

    REFLEXO

    O ser humano, o ser vivente, habi-tua-se familiaridade com as desordens do dia-a-dia e no se apercebe de que essa convivncia passiva com essa se-qncia de foras, sem que haja reao de sua parte, como que remando a favor da mar das violaes, obriga-o a outra formulao de valores, contraria as leis do Universo (leis espirituais e materi-ais). Sem notar, o indivduo passa a fa-zer parte dessa anarquia espiritual e conivente com ela, fazendo jus tambm s suas conseqncias.

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    Urge, portanto, contrariar essa or-dem degenerativa, para que o esprito pouco a pouco v vencendo suas ms tendncias, libertando-se desse crculo de afinidade e percebendo cada vez mais a ordem, a justia, o amor e tor-nando-se consciente de suas reais ne-cessidades. O princpio central da Lei Divina a evoluo do esprito e esse processo de desenvolvimento consiste na renovao constante dos valores espirituais. Para essa modificao, inmeras vidas so necessrias no plano carnal, onde o es-prito inicia ou recapitula experincias anteriores, sempre no sentido do auto-aperfeioamento. No aprendizado; muitos se unem na tarefa, instruindo e aprendendo ao mesmo tempo. So espritos encarnados

  • 110

    ou fora da matria. So antigos compa-nheiros e amigos, como tambm velhos desafetos e novos conhecidos. Gostos e atitudes diversos, maneiras diferentes de pensar, conflitantes em alguns aspec-tos e sintonizadas em muitos outros. Desses antagonismos, dessas formas individualistas de atitudes, nascem as combinaes de perdo, de cobrana e de indiferena tambm. Nascem os fra-cassos, as angstias, as alegrias e as vi-trias; aspectos intrnsecos das verdades conquistadas, somente viveis com essa interao de pensamentos, sempre em direo ao Progresso Maior. Nesses encontros as pessoas gozam do direito de decidir qual a atitude a ser tomada nessa ou naquela questo. o livre arbtrio de cada um. Aps a deci-so, aps o ato praticado, j no cabe

  • 111

    mais ao ser modificar a conseqncia do ato e sim gozar ou sofrer a reao desencadeada. Assim disse Jesus: Cada qual, se-gundo a sua obra. Desta forma est escrito no livro Evoluo Para o Ter-ceiro Milnio: Gozam as pessoas normais de liberdade para decidir e a-gir de acordo com a deciso. Porm, elas no podem suspender o efeito de suas aes: a cada ao corresponde uma reao igual e de sentido contr-rio, que se volta em direo ao autor. A este cabe, pois, enfrentar as ms conse-qncias de seus atos passados, por meio da expiao e da reparao. Tal o princpio de causa e efeito (ou de causalidade). O que pensamos e faze-mos tem influncia sobre os outros. A semeadura livre, mas a colheita o-

  • 112

    brigatria; o prprio agente deve reab-sorver os efeitos do mal e alegrar-se com os do bem praticado. Ficam com este conceito explicados, esses acontecimentos, que escapam a qualquer previso do bom censo, que contrariam todos os planejamentos e precaues, essa faixa de determinismo, referente ao passado culposo, sobre o qual no podemos aplicar a liberdade de escolher. Continua o livro: V-se bem que os problemas decorrentes das situaes in-terpessoais preenchem numerosas vidas de um esprito conforme a atitude pre-dominante dele: ou ele quer para os ou-tros o que deseja para si ou quer mais para si do que para os outros. No pri-meiro caso, o relacionamento de i-gualdade e solidariedade e a atitude de

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    cooperao, constituindo o nico cami-nho do progresso real por deixar o es-prito livre de reaes perturbadoras. No segundo caso, obrigado a prejudi-car o prximo criando laos inferiores que o prendem aos crculos do mal. Vai alm o Dr. Rizzini, ao concluir: de ver que o mal atrai o mal e os espritos imperfeitos punem-se uns aos outros. Da promana o sofrimento, que representa o resultado da violao da Lei... Com este enfoque menos religio-so, o livro apresenta, de maneira mais realista, mais direta, a aplicao do princpio da causalidade, nas relaes espirituais, como fator gerador dos so-frimentos e tambm das alegrias, reser-vados aos espritos na matria ou fora dela.

  • 114

    Meditei em quantas coisas erradas fiz em minha vida e que prejudicaram, de uma forma ou de outra, entes queri-dos, pessoas a quem muito amo, amigos que me auxiliaram em momentos deci-sivos, que sempre ouviram meus pro-blemas, que sempre vibraram com mi-nha felicidade. Quanto me arrependo desses atos que, embora tenham sido analisados e ditados pela minha razo, sem nenhum dolo, no momento da ao no foram enquadrados devidamente nos mnimos detalhes. Faltou o corao. E bem que podiam ter sido gerados sem ferir, sem levar a mgoa aos coraes amigos envolvidos que tanto prezo. Quantas pessoas que me lem neste momento tambm no tiveram atitudes das quais hoje se arrependem, mas que no puderam fugir s conseqncias.

  • 115

    Felizes aqueles cujos males causados foram reparveis, ainda nesta encarna-o. Felizes aqueles que, com um aperto de mo, um abrao, um desculpe-me, perdoe-me, ou mesmo uma cervejinha gelada, puseram fim ao agravo. Houve a reparao ou parte dela. Quantos h, po-rm, que, pela intensidade vibratria da falta, pelos danos causados, tero que sofrer e amargar as conseqncias de seus atos, por longos dias, ainda nesta vida, ou carregaro essas dvidas por outras encarnaes, at que possam anular os seus efeitos, com aes posi-tivas, reparatrias, de igual intensidade. Mostra-nos o Dr. Carlos Toledo Riz-zini quanto necessrio noo de de-ver, para podermos usar nossa liberdade e assumir responsabilidade. Define o Dever como: Dever a necessidade de

  • 116

    fazer ou no fazer determinada ao, segundo deciso da conscincia. De-fine a Responsabilidade como: a ca-pacidade de enfrentar as conseqncias de seus atos, sem calar nem mentir para inculpar o prximo. Dever e Respon-sabilidade caminham juntos com o ho-mem de bem, com o esprito consciente de suas obrigaes para consigo mesmo e para com os seus semelhantes. No existe dever sem responsabilidade. No existe responsabilidade sem dever. So dois preceitos interdependentes um do outro. O no cumprimento de um dever acarreta ao esprito responsabilidade pe-las conseqncias geradas. A noo de dever e responsabilidade est em todos os espritos e pessoas, in-dependente de cultura, religio, cor, na-cionalidade, posio social... Constata-

  • 117

    mos esse dever, essa responsabilidade, at nos animais irracionais, quando na defesa da espcie, na alimentao, na orientao dos primeiros momentos de seus filhotes, etc. A maioria dos conflitos humanos tem origem na falta de responsabilidade para com os deveres assumidos. o pa-tro que no respeita os direitos de seus empregados, o empregado que no cumpre suas obrigaes para com a em-presa que o remunera, o esposo que no cumpre suas obrigaes matrimoniais, o aluno que no estuda, o poltico que no honra seu mandato... E vai por a uma srie de descalabros, prpria dos espri-tos imperfeitos, geradores de cobranas compulsrias, pelas violaes do livre arbtrio.

  • 118

    E, nesse campo, nesse campo mag-ntico, diz o livro: O relacionamento entre espritos regido pela sintonia vibratria que vem a ser o grau de se-melhana das vibraes de dois deles... Por sua vez, a natureza das vibraes depende do estado moral que, afinal, governa a posio e as relaes do Es-prito. Portanto, a sintonia vibratria uma expresso fsica da afinidade mo-ral: os semelhantes atraem os seme-lhantes. Dessa maneira, no podemos fugir companhia espiritual que os nos-sos pensamentos e sentimentos atraem para junto de ns, a no ser que eleve-mos o nosso padro vibratrio: a inteli-gncia e a moralidade. A inteligncia amplia a capacidade de conhecer e ma-nejar as coisas. A moralidade apura os sentimentos.

  • 119

    E prossegue o Dr. Carlos Toledo: Em cada vida, o material adquirido nesses campos de atividade ressurge como aptido ou vocao, tendncia e impulso, dando uma orientao mais ou menos uniforme. Suas bases so a justi-a e o amor. A justia declara que to-das as criaturas so irms e recebem oportunidades equivalentes: as desi-gualdades no derivadas de diferenas de aptido iro desaparecendo com a transformao interior das pessoas no sentido prescrito pela Lei. O sofrimen-to, a dor, a enfermidade, no so fato-res evolutivos propostos pelo Criador, mas apontamos acima, conseqncias de violaes e, ao mesmo tempo, fatores de reajustamento, regenerao; assim, o prprio ser humano faz do sofrimento um fator de evoluo nos planos inferi-

  • 120

    ores... e concluiu sua maneira que, com as mudanas do prprio Eu interi-or, para melhor, todos os males sero substitudos por bens. O amor manifesta-se na tolerncia, na misericrdia, na ajuda que os nossos mentores, os mensageiros da luz, pres-tam a todos ns, espritos carentes, dan-do sempre novas oportunidades, pela graa de Deus, a todos que desejam re-almente se modificar. Estvamos entrando novamente nas mesmas repeties de palavras, as mes-mas que vnhamos ouvindo pela vida toda: para sermos felizes, temos que fa-zer o bem sem olhar a quem. Temos que perdoar sempre; temos que fazer aos nossos semelhantes o que gostara-mos que eles nos fizessem: perdoar 7 vezes 70 aqueles que nos ofenderam...

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    Palavras... To escutadas durante a mi-nha vida, desde pequenino. To repeti-das por mim mesmo, para os outros, at com bastante nfase. Na minha vida h momentos em que pareo ser um anjo, h outros que me igualo a um demnio. Na leitura do li-vro, estava acontecendo o mesmo: h poucos instantes, estava radiante, curio-so, esperanoso, expansivo com a pers-pectiva de conhecer-me a mim mesmo. Conhecer as foras boas e ruins que e-xistem dentro de mim. Saber como do-m-las, como venc-las. Agora... Co-meava a impacientar-me, a entediar-me novamente. Tudo aquilo eu j sabia. Sabia que tinha que amar; sabia que ti-nha que perdoar; sabia que tinha que ser justo; sabia que tinha que ser honesto; sabia que tinha de ser bom, menos orgu-

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    lhoso, menos egosta... Sabia... O livro estava comeando a ficar mudo, no me dizia mais nada. A, algum soprou no meu ouvido: _ Quem sabe sem praticar mais culpado ainda. Aquilo foi uma alfinetada na minha careca. Comecei a voltar a ler o que j tinha lido, recapitular pginas inteiras. No encontrei nada de novo. Nada mu-dou, eu que mudei. Veio-me de novo a pacincia, a esperana de encontrar a senha to procurada. Estava escrito em negrito: Corpo e Perisprito: Fluidos. O corpo o ins-trumento que o esprito usa para atuar nos mundos materiais. Precisa, portan-to, atender s necessidades dele, aos objetivos que ele traz ao encarnar. O corpo considerado um produto ideo-plstico do esprito: logo aps a fecun-

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    dao o esprito reencarnante une-se, por um cordo fludico, ao ovo e, por meio dele, influencia automaticamente a formao do embrio e do feto; por isso, o estado de perturbao ou embo-tamento da conscincia no impede que o esprito imprima suas caractersticas bsicas em o novo ser. Conseqente-mente, o organismo reflete o estado da-quele. Dr. Rizzini explica que as doenas fsicas no passam de distrbios do pe-risprito, transpostos para a carne, que promove o tratamento das imperfeies do esprito em si. Recebemos o nosso corpo ajustado s nossas necessidades evolutivas, tendo os mentores da esfera superior, atuando sobre os cromosso-mos do ovo, produzindo as alteraes indicadas para nossa futura melhoria,

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    inclusive defeitos impostos por necessi-dades expiatrias. Perisprito Nos mundos espirituais, o esprito usa como veculo de manifes-tao um corpo especial que, no Espiri-tismo, se chama perisprito (tambm di-to: corpo astral ou fludico). No encar-nado, ele funciona como intermedirio entre o esprito e o organismo, gover-nando a formao e o funcionamento deste. O perisprito constitudo de mat-ria em outro estado de vibrao. in-destrutvel, porm pode ser lesado e mutilado e at perder substncia, em fa-ce da persistncia no mal. Reage ao es-tado moral do esprito e molda em fun-o disto a sua forma exterior, chegan-

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    do, em alguns casos, a assumir formas animalescas. Se cometermos suicdio com um tiro no peito, o perisprito ficar ferido e en-sangentado por longo tempo, refletin-do esse ferimento no novo corpo mate-rial a ser formado. Se o suicdio for por ingesto de um custico, o corpo poder ter uma leso na faringe e assim por di-ante. Segundo o autor: Pensamentos e sentimentos reagem constantemente so-bre o corpo fludico, tornando-o mais denso e somb