O Ministerio Profetico Na Biblia - Esequias Soares
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Todos os direitos reservados. Copyright 2010 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assem blias de Deus. A provado pe lo Conselho de Doutrina.
P ro je to gr fico , ed i o d e a rte e m apas: Paulo Srgio Primati Capa:Fotogra fias: Todos os crditos fotogrficos do Museu do Louvre, Paris, so de Filipe Soares da Silva (pem ao@ uol.com .br) e os dos locais de Israel e Egito de Daniele Soares da Silva (psalterio@gm aiI.com ), sa lvo outras indicaes R ev iso : Daniele Soares da Silva
CDD:ISBN:
Para m aiores in form aes sobre livros, revistas, peridicos e os ltimos lanam entos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com .br
Casa Publicadora das Assem bleias de Deus Caixa Postal 33120001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
I a Edio/2010
RobertoMquina de escreverDigitalizao
RobertoMquina de escrever
RobertoMquina de escreverEdio Geral
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"Torre de Davi" ou "Cidadela de Davi" a fortaleza construda por Herodes, o Grande,
no lado ocidental de Jerusalm. Ela fo i reservada por Tito para servir de quartel da
10a Legio Romana. A Cidadela fo i restaurada pelos cruzados no sculo XII, mas a maior parte de sua estrutura atual de 1540, da poca do sulto Suleiman II, o Magnfico.
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c 4, i c a { r i a
minha esposa, Rute, pela singular compreenso e ao meu casal de filhos, Daniele e Filipe,
pelo constante incentivo e apoio.
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A N T I G O T E S T A M E N T O N O V O T E S T A M E N T O
Gn GnesisX xodoLv LevticoNm NmerosDt DeuteronmioJs JosuJz JuizesRt Rute1 Sm 1 Samuel2 Sm 2 Samuel1 Rs 1 Reis2 Rs 2 Reis1 Cr 1 Crnicas2 Cr 2 CrnicasEd EsdrasNe NeemiasEt EsterJ JSI SalmosPv ProvrbiosEc EclesiastesCt CantaresIs IsaasJr JeremiasLm Lamentaes cEz EzequielDn DanielOs OseiasJ1 JoelAm AmsOb ObadiasJn JonasMq MiqueiasNa NaumHc HabacuqueSf SofoniasAg Ageuzc ZacariasMI Malaquias
Mt MateusMC MarcosLc LucasJo JooAt AtosRm Romanos1 Co 1 Corntios2 Co 2 CorntiosG1 GlatasEf EfsiosFP FilipensesCl Colossenses1 Ts 1 Tessalonicenses2 Ts 2 Tessalonicenses1 Tm 1 Timteo2 Tm 2 TimteoTt TitoFm FilemonHb HebreusTg Tiago1 Pe 1 Pedro2 Pe 2 Pedro1 Jo 1 Joo2 Jo 2 Joo3 Jo 3 JooJd JudasAp Apocalipse
As referncias bblicas citadas nesta obra so da Verso de Joo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida, edio de 1995 da Sociedade Bblica do Brasil, salvo outras indicaes.
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j u tn r i
INTRODUO .................................................................................... 11
CAPTULO 1O Ministrio Proftico no Antigo Testam ento.................................... 15
CAPTULO 2A Natureza da Atividade Proftica........................................................33
CAPTULO 3As Funes Sociais e Polticas da Profecia...........................................49
CAPTULO 4Profecia e M isticismo............................................................................ 67
CAPTULO 5A Autenticidade da Profecia.................................................................. 81
CAPTULO 6Profetas Maiores e M enores.............................................................. 105
CAPTULO 7Os Falsos Profetas no Antigo Testamento........................................ 127
CAPTULO 8Joo Batista - O ltimo Profeta Veterotestamentrio ...................... 141
CAPTULO 9Jesus Cristo - O Cumprimento Proftico do Antigo Testamento...... 163
CAPTULO 10O Ministrio Proftico no Novo Testam ento................................... 201
CONCLUSO....................................................................................219
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 223
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i t t t r - d s U . &
A presente obra O Ministrio Proftico na Bblia - A Voz de Deus
na Terra uma coleo de dez estudos bblicos sobre orculos divinos: pelos profetas do Antigo Testamento, pelo Senhor Jesus Cristo
e seus apstolos no Novo Testamento. O objetivo mostrar que um
Deus sbio e perfeito conduziu a revelao bblica, que esse mesmo Ser dirige o destino humano, por isso nada acontece de maneira
aleatria, pois ele tem o controle do universo. uma resposta ao sistema ps-moderno, a todos os que procuram excluir Deus de suas
vidas e negar a origem divina das Escrituras Sagradas.
O ps-modemismo um movimento marcado pela decepo com
as duas grandes guerras mundiais, campos de extermnios, exploses nucleares e tantas outras mazelas que levaram o homem increduli
dade. Segundo Hobsbawm: "todos os ps-modemismos tinham em comum um ceticismo essencial sobre a existncia de uma realidade
objetiva, e/ou a possibilidade de chegar a uma compreenso aceita
dessa realidade por meios racionais. Todos tendiam a um radical rela- tivismo". a era dos "ismos" com o prefixo "ps": ps-liberalismo,
ps-socialismo, ps-capitalismo, e por que no ps-cristianismo? Trata-se da sociedade do bem-estar do mundo ocidental em que predomina o prazer, tudo aquilo que proporciona satisfao, deleite ou diverso, nisso inclui o consumo. Qualquer esforo ou mnimo de sacrifcio tratado com profundo desgosto. esse o mundo ps-moderno que estamos enfrentando. O principal aspecto negativo dessa
poca a perda da f na cincia, nos progressos e em Deus; a morte dos principais ideais com os quais se constri uma sociedade.
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Don McCurry serviu como missionrio durante vinte anos num
pas muulmano do Oriente Mdio e em sua obra Esperana para os Muulmanos afirma que s entre 90 e 150 anos depois da asceno
do islamismo que seus telogos descobriram srios conflitos entre
o Alcoro e a Bblia. Alguns dos vrios conceitos errneos so: a
Trindade composta de trs Deuses: Al, Jesus e Maria; Jesus no
Deus e nem o Filho de Deus, tambm no foi crucificado e no morreu; Maria, me de Jesus, a mesma Miri, irm de Moiss. Consi
derando que a Bblia contradiz o Alcoro e vice-versa, no podem
ambos se originar da mesma fonte. Em outras palavras, os dois no podem ser simultaneamente a Palavra de Deus. O que fazer diante
de tudo isso? Admitir que Maom errou? Nem pensar! Do contrrio
o que fazer com as placas do cu (segundo os muulmanos a matriz do Alcoro) que Gabriel teria revelado ao fundador da religio?
Foi mais fcil dizer que a Bblia foi modificada e falsificada. Por isso
que todo o mundo islmico acredita hoje nessa falsa ideia.1Os mrmons afirmam acreditar na Bblia, mas com certas restri
es. O artigo 8 de suas Regras de F declara: "Cremos ser a Bblia
a palavra de Deus, o quanto seja correta sua traduo; cremos tambm ser o Livro de Mrmon a palavra de Deus''. O livro Regras de
F, de James E. Talmage, proeminente lder mrmon, explica suas confisses de F, afirmando: "No h e no pode haver uma traduo absolutamente fidedigna desta e de outras Escrituras" (pgina 221). Mais adiante, na mesma pgina, recomenda-se que os mrmons leiam a Bblia distinguindo "entre a verdade e os erros dos homens". Essa parece ser a restrio, quanto seja correta a sua traduo",
sendo nada mais que uma maneira sutil de dizer que no crem na Bblia. Chama, ainda, de nscios os que procuram a Bblia: "Tu, tolo, dirs: Uma Bblia; temos uma Bblia e no necessitamos mais de
12 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
1 Esse assunto discutido no capitulo 8 de Manual deApologtica Crist e no captulo 2 de Heresias e Modismos, ambos da autoria de Esequias Soares.
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In troduo I 13
Bblia! Tereis obtido uma Bblia, se no fosse pelas mos dos ju
deus?" (Livro de Mrmon - 2 Nefi 29.6).
Os ps-modernistas fariam de tudo para se livrar da ira de Deus
sem Jesus. Esto estampados nos outdoors em muitos nibus circu-
lares de Madri e de outras cidades espanholas, como Barcelona a seguinte mensagem: "Provavelmente Deus no existe, no se pre
ocupe e aproveite a vida". Essa ideia veio de Londres. Porm, um
grupo de cristos revidou essa afronta nos mesmos termos: "Deus existe, sim; aproveite a vida com Cristo".
Os muulmanos e os mrmons dariam tudo por uma comprova
o cientfica que viesse desacreditar a Bblia. Muitos estudos aca
dmicos j foram publicados confirmando a autenticidade do texto bblico. A descoberta de Uiaid Qumran, conhecidos como os ma
nuscritos do Mar Morto, em si mesma uma resposta a esses grupos.
O que se apresenta em Profecia -A Voz de Deus na Terra uma descrio de fatos que por si s reduzem a cinzas o pensamento pol
tico, filosfico e religioso contrrio f crist.
Nesta obra, o primeiro captulo explica a origem e o significado do
ministrio dos profetas hebreus em Israel, o segundo trata do modus operandi da transmisso dos orculos divinos a eles e o terceiro uma
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14 I o Ministrio Proftico na Bblia
amostra de como esses mensageiros em sua gerao combatiam a
injustia social imbudos do mesmo mpeto com que atacavam a idolatria, alm de demonstar como Deus se interessa pelo bem-estar
social dos seres humanos. O quarto e o stimo enfocam temas pare
cidos, pois os msticos so uma concorrncia aos verdadeiros profetas e, tambm, uma imitao falsificada da obra de Deus, sendo os
falsos profetas os opositores aos servos do Deus vivo.
Os captulos cinco e nove comprovam na Bblia e na Histria,
principalmente nos dias atuais, que realmente as Escrituras so inspiradas por Deus. O Estado de Israel a principal amostragem nos
tempos modernos da veracidade da Bblia e da autenticidade das
profecias bblicas e do pensamento messinico incrustado no Antigo Testamento, desde o livro de Gnesis, nas profecias, nos smbolos,
tipos e figuras, nas solenidades e instituies de Israel, mostrando ser Jesus Cristo a concluso das Escrituras veterotestamentrias. O oita
vo trata da vida e do ministrio de Joo Batista e sobre a sua impor
tncia no cristianismo; o captulo dez trata do ministrio proftico no
Novo Testamento, a comear pelo Senhor Jesus Cristo, a maior auto
ridade no cu e na terra, o significado dos apstolos e sua autoridade proftica; inclui-se tambm um anlise sobre o dom de profecia e sobre o dom ministerial de profeta.
Resumindo, esses estudos mostram que ningum no universo tem mais interesse no bem-estar dos seres humanos do que o prprio Criador, alm de comprovar a falcia do pensamento desta,
que afirma estar Deus muito longe do homem e da mulher e que Ele no se envolve com os seus assuntos. Essa filosofia era pregada pelos filsofos epicureus, mas o apstolo Paulo deu a eles a resposta divina: Deus "no est longe de cada um de ns (At 17.27), est, sim, interessado no ser humano: ''Ora, sem f impossvel agradar- lhe, porque necessrio que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que galardoador dos que o buscam" (Hb 11.6).
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o mincruhPROFTICO NO
ANTIGO TESTAMENTO
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16 I o Ministrio Proftico na Bblia
A filosofia, a cincia e a religio esto comprometidas na busca
da verdade universal. A filosofia busca a verdade sobre o ser; a ci
ncia, sobre os fenmenos; a religio, sobre Deus e os significados
ltimos. Cada uma dessas reas emprega mtodos e ferramentas adequados e especficos. A religio foi submetida a estudos criteriosos, metdicos e objetivos.
A religiosidade humana um fenmeno universal, est presente na poltica, na imprensa, nos meios de comunicao, na indstria,
no comrcio, no esporte, na arte, na literatura e at na educao.
Aparece em polticos, cientistas, empresrios, financistas, artistas, atores, em toda a parte da terra. Agostinho de Hipona, logo na aber
tura de suas Confisses, declarou: Deus! tu nos fizeste para ti
mesmo, e a nossa alma no achar repouso, at que volte a ti (Livro1.1). Isso pode revelar o anseio e a busca do homem pelo Sagrado.
O salmista expressou esse mesmo sentimento: "Como o cervo bra- ma pelas correntes das guas, assim suspira a minha alma por ti,
Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando en
trarei e me apresentarei ante a face de Deus? (Salmo 42.1,2).
O ser humano religioso por natureza. O homem tem anseio pelas coisas de Deus e sente o desejo de busc-lo. H tribos que nem sequer usam roupas, nem sabem edificar uma casa; h outras, ain-
Julgamento aps a morte segundo a crena egpcia antiga.
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O M in ist rio Pro ftico no An tigo Testamento I 17
Mesquita de Alabastro na Cidade de Saladino - Cairo.
da, que no tm conhecimento suficiente para acender fogo; entre
tanto, nenhuma h que no tenha suas crenas num Ser Supremo.
A religio dos egpcios, dos caldeus, dos assrios e dos demais povos
vizinhos de Israel na antiguidade estava bem organizada quando nasceu a nao escolhida. Essas religies possuam cada um o seu sistema sacerdotal e proftico, porm, nada que possa ser compa
rado com justia ao modelo do Antigo Testamento.O sistema proftico de Israel singular porque teve a sua origem
em Deus e a sua mensagem atravessou os sculos e continua instruindo as naes. Os profetas do Antigo Testamento so reconheci
dos ainda hoje por judeus e cristos. At mesmo os muulmanos, apesar de procurarem negar a autenticidade do texto bblico, reconhecem esses profetas. O prprio Senhor Jesus Cristo e seus apsto
los reconheciam a autoridade deles (Mt 5.17, 18; 2 Tm 3.16).
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18 I o Ministrio Proftico na Bblia
HISTRICO
O desenvolvimento histrico do profetismo no Antigo Testamento
pode ser dividido em dois perodos principais, que Hobart E. Freeman,
em sua obra An Introducton to the Old Testament, chama de Era Pr-
cannica e Era Cannica (pginas 26, 27). A classificao usual de
"profetas no-escritores" e "profetas escritores", ou "no-Iiterrios" e "literrios", mas isso deixa de fora outros profetas, como Moiss, ele escritor tambm, no foi ele afinal quem escreveu o Pentateuco? O que
dizer dos livros de Josu, Juizes, os dois de Samuel e os dois dos Reis
que so considerados profticos no Canon Judaico?1 O primeiro per
odo comea no jardim do den (Gn 3.15) at o sculo 9 a.C., com o
livro do profeta Obadias, por volta de 825 a.C., com as seguintes subdivises: pr-mosaico, mosaico, perodo de Samuel, do reino unido e
do reino dividido. O perodo Cannico ser estudado no captulo 6.
Zacarias, pai de Joo Batista, no seu pronunciamento proftico por ocasio do nascimento de seu filho disse que Deus: "falou pela boca
dos seus santos profetas, desde o princpio do mundo" (Lc 1.70). Jesus
afirmou que os profetas existem desde o princpio do mundo: "para que desta gerao seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundao do mundo, foi derramado; desde o sangue de Abel at ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo;
assim, vos digo, ser requerido desta gerao" (Lc 11.50,51). A Bblia mostra que nesse perodo pr-mosaico Enoque profetizou: "e destes
1 A palavra grega kovgw (kann) "cnon" de origem semita, originalmente significava "vara de medir". Na literatura clssica significa regra, norma, padro". Aparece no Novo Testamento, como "regra", uma vez: "E, a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericrdia sobre eles e sobre o Israel de Deus" (G16.16) e com o sentido de regra moral, trs vezes (2 Co 10.13,14,16), traduzido por "medida". Nos trs primeiros sculos do Cristianismo, referia-se ao contedo normativo doutrinrio e tico da f crist. A partir do quarto sculo da Era Crist os Pais da Igreja aplicaram os termos "cnon" e "cannico" aos livros sagrados, para reconhecer sua autoridade com o inspirados, e, portanto, separados de outras literaturas. Hoje, "Cnon1' a coleo de escritos reconhecidos como os nicos possudos de autoridade normativa para a conduta e a f crist. Essas Escrituras so a nossa medida.
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O M in ist rio Pro ftico no An tigo Testamento I 19
profetizou tambm Enoque, o stimo depois de Ado" (Jd 14) e da
mesma forma No: "pela f, No, divinamente avisado das coisas que
ainda no se viam, temeu, e, para salvao da sua famlia, preparou a arca" (Hb 11.7). As Escruturas Sagradas consideram os patriarcas
Abrao, Isaque e Jac como profetas (Gn 20.7; SI 105.9-15).O perodo mosaico inclui tambm o dos juizes. O ministrio dos
profetas comeou no deserto de Sinai quando Deus ordenou a
Moiss que constitusse uma congregao de 70 ancios para que
o ajudasse na liderana do povo. Esses homens profetizaram quando receberam o Esprito Santo e o grande legislador dos hebreus
explicou que qualquer pessoa poderia profetizar: "tomara que todo
o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu
Esprito!" (Nm 11.29). Moiss disse que a manifestao divina de
pois dele seria diferente daquela vista no Sinai:
Habitao de beduinos no monte Sinai - Egito.
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2 0 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
Cadeia montanhosa do deserto de Sinai - Egito.
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0 M in ist rio Pro ftico no Antigo Testamento I 2 1
15 O SENHOR, teu Deus, te despertar um profeta do meio de ti, de teus irmos, como eu; a ele ouvireis; 16 conforme tudo o que pediste ao SENHOR, teu Deus, em Horebe, no dia da congregao, dizendo: No ouvirei mais a voz do SENHOR, meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que no morra. 17 Ento, o SENHOR me disse: Bem falaram naquilo que disseram. 18 Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falar tudo o que eu lhe ordenar. 19 E ser que qualquer que no ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. 20 Porm o profeta que presumir soberbamente de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe no tenho mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, o tal profeta morrer. 21 E se disseres no teu corao: Como conheceremos a palavra que o SENHOR no falou? 22 Quando o tal profeta falar em nome do SENHOR, e tal palavra se no cumprir, nem suceder assim, esta palavra que o SENHOR no falou; com soberba a falou o tal profeta; no tenhas temor dele (Dt 18.15-22).
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2 2 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
compreensvel o estabelecimento de tal instituio visto que
a Palavra de Deus condena as prticas divinatrias dos cananeus, das quais os israelitas deviam se afastar (Dt 18.9-14), assim, Deus
prometeu suscitar um canal legtimo e verdadeiro de comunicao
com o seu povo, a corporao dos profetas. Israel no precisava das prticas ocultistas enganosas, nem de mdiuns e nem de qual
quer forma de adivinhao. Os profetas seriam os embaixadores e
porta-vozes de Deus para revelar a sua vontade. verdade que as
palavras: Eis que lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falar
tudo o que eu lhe ordenar (Dt 18.18) so uma profecia messinica que se cumpriu na histria dos hebreus e ao mesmo tempo em Jesus (At 3.22, 23).
Deus levantou, preparou e inspirou profetas para ensinar e admoestar os hebreus sobre o perigo da idolatria. Eram instrutores
ungidos e divinamente escolhidos para ensinar a nao a viver na
presena de Jav (Os 12.10). Eles tinham tambm a responsabilidade de tornar conhecida sua revelao e anunciar as coisas futuras (Dt 18.21,2 2).
No somente Moiss mas tambm Aro chamado de profeta ( x 7.1; Dt 18.18). Ainda no perodo mosaico, Miri chamada de profetisa: "ento, Miri, a profetisa, irm de Aro" ( x 15.20); tambm
Dbora assim chamada: "e Dbora, mulher profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo" (Iz 4.4). H no livro de Juizes a meno de um profeta annimo (6.8).
O primeiro grupo de profetas no Antigo Testamento aparece no perodo de Samuel, mas alguns os consideram mais como precursores da instituio proftica em Israel:
5 Ento, virs ao outeiro de Deus, onde est a guarnio dos filisteus; e h de ser que, entrando ali na cidade, encontrars um rancho de profetas que descem do alto e trazem diante de
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0 M in ist rio Pro ftico no An tigo Testamento I 2 3
si saltrios, e tambores, e flautas, e harpas; e profetizaro. 6 E o Esprito do SENHOR se apoderar de ti, e profetizars com eles e te mudars em outro homem. 7 E h de ser que, quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mo, porque Deus contigo. 8 TU, porm, descers diante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ti, para sacrificar holocaustos e para oferecer
ofertas pacficas; ali, sete dias esperars, at que eu venha a ti e te declare o que hs de fazer. 9 Sucedeu, pois, que, virando ele as costas para partir de Samuel, Deus lhe mudou o corao em outro; e todos aqueles sinais aconteceram aquele mesmo dia.10 E, chegando eles ao outeiro, eis que um rancho de profetas lhes saiu ao encontro; e o Esprito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles. 11 E aconteceu que, como todos os que dantes o conheciam viram que eis que com os profetas profetizava, ento disse o povo, cada qual ao seu companheiro:Que o que sucedeu ao filho de Quis? Est tambm Saul entre
os profetas? 12 Ento, um homem dali respondeu e disse: Pois quem o pai deles? Pelo que se tornou em provrbio: Est tambm Saul entre os profetas? 13 E, acabando de profetizar,
veio ao alto (1 Sm 10.5-13).
Nos ltimos dias da judicatura de Eli, Israel passava por uma
crise espiritual, pois "a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; no havia viso manifesta" (1 Sm 3.1). Foi nesse contexto que Deus levantou o profeta Samuel que muito cedo obteve o reconhecimento nacional: "E todo o Israel, desde D at Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR" (1 Sm 3.20). Ele iniciou essa tarefa ainda muito jovem e desenvolveu
o ministrio proftico de maneira rudimentar, pelo que se pode constatar no captulo 9 do primeiro livro que leva o seu nome. Pouco se sabe sobre esse "rancho de profetas, o assunto ser retomado no captulo seguinte. O que aconteceu com Saul foi algo extra
ordinrio e especfico, pois Samuel disse de antemo que tudo isso
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2 4 0 Ministrio Proftico na Bblia
ia ocorrer. O Esprito Santo se apoderou de Saul e este profetizou
ao se juntar ao grupo, mas isso no significava que aconteceria com qualquer um que se juntasse a eles.
Samuel era um lder nacional que exercia os ofcios de sacerdo
te e profeta. Ele aparece diversas vezes nos relatos do primeiro livro de Samuel, oferecendo sacrifcios pelo povo na consagrao dos
reis Saul e Davi e pelo exrcito de Israel (1 Sm 7.9; 9.12, 13; 10.8; 13.8, 9; 16.3, 13). reconhecido naquela gerao como homem
honrado "e tudo quanto diz sucede assim infalivelmente" (1 Sm 9.6);
"e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras
deixou cair em terra'' {1 Sm 3.19). todo-importante que o homem
de Deus tenha tal conceito diante do povo da cidade. dever de todo cristo se comportar com decncia e honestidade, pois o mundo
observa a nossa vida, mas quem ocupa cargo de relevncia precisa
ter uma vida ilibada, deve ser um referencial para o povo, note que a boa fama de Samuel era conhecida por todos.
O pagamento por consulta pessoal era comum no limiar do ministrio proftico em Israel. Uma nota do prprio escritor sagrado
(1 Sm 9.9) mostra ser uma prtica antiga. Saul achava que no seria atendido sem levar presente ao homem de Deus, mas tudo indica ser uma prtica aceitvel (1 Sm 9.8). Esse no um nico caso no Antigo Testamento de algum ofertar algo para o profeta numa
consulta pessoal. Naam levou presente para Eliseu (2 Rs 5.15); Ben-Hadade mandou levar presente ao mesmo profeta (2 Rs 8.8). Nessa poca os profetas eram chamados videntes (1 Sm 9.9).
Quando Davi fugiu de Saul e procurou Samuel, em sua residncia, Ram (1 Sm 7.17), ambos: "ficaram em Naiote" (1 Sm 19.18). Esse relato mostra um pouco da vida nessa regio como a existncia de uma congregao de profetas: "os quais viram uma congregao de profetas profetizando, onde estava Samuel, que presidia sobre eles" (1 Sm 19.20). Segundo a tradio judaica recente, trata-se de uma
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O M in is t rio Proftico no An tigo Testamento I 2 5
escola de profetas na qual o seu lder ensinava. Muitos expositores
bblicos afirmam ser o prprio dirigente dela o seu fundador ou o grande incentivador do ensino teolgico {1 Sm 10.10).
Quando o profeta Ams diz ao seu opositor Amazias: "Eu no era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sic-
moros" (Am 7.14), estava simplesmente expressando que no veio
de uma escola de profeta, pois o termo "filho" indica escola, proce
dncia, "discpulo, aprendiz" (2 Rs 2.12; Pv 3.1), ele no era "scio
do grmio dos profetas", como bem observa o Comentrio Bblico
Beacon. Ele afirma que era campons e no tinha freqentado a escola que preparava os jovens para instruir a nao, portanto, sua
autoridade veio de Deus e no de uma instituio. Esses "filhos" dos
profetas so os seus discpulos (1 Rs 20.35; 2 Rs 2.3, 5, 15). Eliseu era o mestre de uma corporao de profetas (2 Rs 6.1-3).
H uma linha de interpretao que nega a existncia do minist
rio proftico em Israel nos tempos do Antigo Testamento, afirman
do que cada profeta exercia sua atividade de maneira individual e independente. Segundo esse pensamento, no houve tambm a escola de profetas, pois uma coisa liga outra. Os defensores dessa
posio procuram desconstruir a tradio, aproveitando-se de bre
chas exegticas em algumas verses da Bblia. Um dos argumentos para fundamentar tal ideia um problema de ordem exegtica, pois algumas verses traduzem o nome "Naiote", do hebraico nV3 (nyth)
"Naoite", "habitao, moradia", por "casa dos profetas", como na Verso Almeida Atualizada (1 Sm 19.18-20.1). O mesmo ocorre no relato da consulta a profetisa Hulda, em Jerusalm (2 Rs 22.14; 2 Cr 34.22), em que o termo hebraico rtKttt (mishneh), que significa "segundo, cpia, exemplar", tambm nome de um bairro de Jerusalm,
traduzido por "segunda parte", na verso Almeida Corrigida, por "Cidade Baixa", na Almeida Atualizada e por "escola" na King James Version (Verso do Rei Tiago), pela palavra inglesa college, "escola".
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2 6 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
Introduzir uma escola nessa passagem, em Jerusalm, exagero, mas no h por que rejeitar a sua existncia em Ram, pois a ques
to sobre o termo "Naiote" apenas um detalhe.
Os que acreditam no haver o ministrio dos profetas no per
odo do Antigo Testamento afirmam que os filhos dos profetas do
relato de 2 Reis so homens supersticiosos e sem compreenso ministerial e que Elias no teria dado importncia a eles. sensa
to admitir que alguns deles sejam supersticiosos, pois nem todos
os que se juntam ao grupo tm de fato vocao para o ministrio, como acontece ainda hoje, pois nem todos que ingressam num
seminrio teolgico possuem de fato chamada divina. Saul foi
orientado por Samuel a se juntar a uma companhia de profetas,
chegou at a profetizar (1 Sm 10.5-10). A falta de experincia no de surpreender, afinal, no so aprendizes? Moiss tambm ale
gou no estar preparado para a misso que Deus lhe designara (x 4.10-16); da mesma forma, Jeremias afirmou ser inexperiente para
a tarefa que lhe fora confiada (Jr 1.6). O profeta Eliseu parece ter
sido um instrutor (2 Rs 6.1 -7). Nada disso oferece dados consisten
tes para fundamentar a teoria de que no teria havido escola de preparao proftica ou mesmo o ministrio proftico em Israel no perodo veterotestamentrio.
A estrutura proftica de Samuel perdurou at o profeta Malaquias no sculo V a.C. Durante o perodo do reino unido, Saul, Davi e Salomo, os profetas Nat, Gade, Hem e Jedutum foram conselheiros do rei Davi (2 Sm 7.2-5; 12.1, 7, 13; 24.11; 1 Cr 25.5; 2 Cr
35.15), sendo que Nat tambm serviu como profeta na corte de Salomo (1 Rs 1.45). Antes mesmo da morte de Salomo, o profeta Aas anunciou a Jeroboo I, filho de Nebate, a diviso do reino de Israel em dois, o do norte e o do sul (1 Rs 11.29-32). Depois desse cisma, Deus enviou o profeta Semaas ao rei Roboo para impedir uma guerra fraticida (1 Rs 12.22-24). Outros profetas vive
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0 M in is t rio Pro ftico no Antigo Testamento I 2 7
ram nesse perodo, nos duzentos anos que se seguiram aps a
morte de Salomo, como Je e Hanani (1 Rs 16.1; 2 Cr 16.7), Elias
e Eliseu (1 Rs 17.1; 19.19).
O SIGNIFICADO DO TERMO "PROFETA"
Os profetas so identificados na Bblia como algum com o ofcio
de apresentar Deus e a sua vontade ao povo ou a uma pessoa indi
vidual. Os trs termos hebraicos bsicos do ofcio proftico aparece
em 1 Crnicas 29.29: "Os atos, pois, do rei Davi, assim os primeiros como os ltimos, eis que esto escritos nas crnicas de Samuel, o
vidente, e nas crnicas do profeta Nat, e nas crnicas de Gade, o
vidente". Samuel chamado de (r 'eh), "vidente", Nat, de *033 (nbV), "profeta" e Gade, de rTl (hzeh), que tambm significa "vi
dente". O Antigo Testamento hebraico emprega ainda outros termos
para identificar os profetas como: ETXf' ish h elhim)-, "ho
mem de Deus", n iIT (a ^d e i YHWH), "servo de YAHWEH" ernrr (malach YHWH), "mensageiro de YAHWEH".
O mesmo termo hebraico maVch "mensageiro, embaixador,
enviado, representante, anjo" usado para os humanos e para os anjos, como seres espirituais (Hb 1.14). Os profetas, como mensa
geiros, so tambm identificados com essa palavra: "E o SENHOR, Deus de seus pais, lhes enviou a sua palavra pelos seus mensageiros, madrugando e enviando-//ios, porque se compadeceu do seu povo e da sua habitao. Porm zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as suas palavras, e escarneceram dos seus profetas" (2 Cr 36.15, 16). Isaas identifica tambm dessa maneira os profetas
(Is 44.26). Ageu e Joo Batista so chamados de mensageiros de Deus (Ag 1.13; MI 3.1 c f Mt 11.10; Mc 1.2). A verso Almeida Corrigida traduz esse vocbulo, em Malaquias 3.1, por "anjo", mas a Atualizada, por "mensageiro".
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2 8 \ 0 Ministrio Proftico na Bblia
Os profetas so chamados de servos do SENHOR: a qual dissera
pelo ministrio de seu servo Aas, o profeta" (1 Rs 14.18). Deus fala deles no Antigo Testamento usando a expresso "meus servos, os
profetas" (2 Rs 9.7; 17.13; Jr 7.25). Moiss, Samuel, Elias e Eliseu so
chamados nas Escrituras de "homem de Deus" (Dt 33.1; 1 Sm 9.6; 2
Rs 4.9). O termo aplicado a Eliseu 29 vezes, sete vezes a Moiss e seis a Samuel, sem contar o seu emprego aos profetas annimos (1
Sm 2.27; 1 Rs 20.28; 2 Cr 25.7, 9).
O termo roeh, "vidente", aparece 11 vezes no Antigo Testamen
to, sendo que sete se aplicam ao profeta Samuel (1 Sm 9.9, 11, 18, 19; 1 Cr 9.22; 26.28; 29.29), duas, a Hanani (2 Cr 16.7, 10) e uma,
a Zadoque (2 Sm 15.27). Essa palavra vem do verbo T l ^ f r a a h )
"ver", o vidente aquele que v, era assim que o profeta era cha
mado na poca da coroao de Saul (1 Sm 9.9). Mas seu ofcio no
era para soluo de pequenos problemas pessoais, como as jumen
tas perdidas de Quis, pois o profeta Isaas apresenta essa funo no mesmo nvel do hozeh, mensageiros autorizados para comuni
car a verdade divina (Is 30.10).
O hozer tambm um vidente, porm, sabe-se que no existem sinnimos perfeitos, sempre h alguma nuana, pois roeh vem do verbo "ver", isto , com os olhos fsicos, a capacidade de compreender aquilo que v, ao passo que hozeh significa ver introspectivamen- te, ver com o esprito (Os 9.7). Robert R. Wilson, em sua obra Profecia e Sociedade no Antigo Testamento, prefere usar o termo "vision
rio", ou seja, aquele que tem viso (p. 298). Esses dois vocbulos indicam os meios pelos quais Deus se comunicava com seus mensageiros. Note que Samuel chamado de navi e de roeh (1 Sm 3.20; 9.19) e Gade e Ams de hozeh enavi (2 Sm 24.11; Am 7.12-16). Com isso, segundo Freeman, esses termos so aplicados indistintamente aos profetas, sendo que navi diz respeito ao elemento objetivo da profecia e as outras duas palavras, ao subjetivo (p. 40).
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0 M in ist rio Pro ftico no Antigo Testamento I 2 9
A pa lavra hebra ica usada para "p ro fe ta navi e aparece m ais
de 300 v e z e s no A n tigo Testam en to , m as seu s ign ificado in cer
to. um a d e r iva o do ve rb o K2J (n b ), "borbu lhar, ferver,
derram ar , segu ndo o lx ico h ebra ico de G esenius. A ide ia seria
de extravasar pa lavras, fa lar sob in sp irao d iv ina com a m ente
fervorosa . Uns acred itam que a e tim o lo g ia do re ferid o v e rb o
rabe naba 'a , que sign ifica "p roclam ar, anunciar"; outros, que
seja de o r igem acd ica , p o is nabu s ign ifica "cham ar". O certo
que todas essas exp lica es e tim o l g ica s so ace itve is , p o is o
p ro fe ta tudo isso: ex travasa pa lavra , p roc lam a a re ve la o d i
v ina e ch am ado por Deus. Os lx icos tradu zem gera lm en te o
term o por "p o rta -vo z , orador, p ro fe ta ", m as seu s ign ificado eti-
m o l g ic o se perdeu com o passar do tem po e d eve ser en tend ido
luz do con tex to b b lico.
A passagem de xodo 4.10-16 apresenta a prim eira e a m elhor
exp licao do sentido do term o navi.
10 Ento, disse Moiss ao SENHOR: Ah! Senhor! Eu no sou homem eloqente, nem de ontem, nem de anteontem, nem
ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de lngua. 11 E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que v, ou o cego? No sou eu, o SENHOR? 12 Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hs de falar. 13 Ele, porm, disse: Ah! Senhor Envia por mo daquele a quem tu hs de enviar. 14 Ento, se acendeu a ira do SENHOR contra Moiss, e disse: No Aro, o levita, teu irmo? Eu sei que ele falar muito bem; e eis que ele tambm sai ao teu encontro; e, vendo-te, se alegrar em seu corao. 15 E tu lhe falars e pors as palavras na sua boca; e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. 16 E ele falar por ti ao povo; e acontecer que ele te ser por boca, e tu lhe sers por Deus (x 4.10-16).
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3 0 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
Moiss se considera um homem sem eloqncia e declara ser "pesado de boca e pesado de lngua" (v. 10). Isso pode nos parecer
estranho, pois quando estava no Egito "era poderoso em suas pala
vras e obras" (At 7.22). Deve-se considerar que ele estava fora do
convvio palaciano h 40 anos. Sem dvida, teria perdido a habilidade retrica, pois o deserto no local apropriado para oradores.
Outro fator a ser considerado diz respeito a questes de protocolo
e etiqueta, visto que se tratava de outro Fara (2.23; 4.19). Cabe ressaltar que a mensagem dos profetas tem sua origem em Deus (Os
12.10) e no de si mesmo e com Moiss no foi diferente. Quanto
ao contedo do discurso Moiss no devia se preocupar, ele recebeu
a garantia divina: "eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hs de falar (v. 12).
A sua recusa: "Ah! Senhor! Envia por mo daquele a quem tu hs de enviar" (v. 13) no deve ser interpretada como desobedi
ncia, mas como temor pelo peso da responsabilidade. Moiss
no foi o nico a proceder dessa forma (Jr 1.6; Jn 1.3, 10). Nem
sempre os que se oferecem tm vocao ou qualificao espiritu
al ou teolgica para o cargo, quem no se lembra de Aimas, o mensageiro sem mensagem? Ele se ofereceu para anunciar a Davi a morte de Absalo, mas quando chegou diante do rei faltou-lhe coragem (2 Sm 18.19,20,27-29). Isso nos ensina muita coisa, pois o irmo que hesita aceitar um cargo da Igreja ou pede um tempo para pensar, porque se sente incapaz para a tarefa. A explicao disso, muitas vezes, o peso da responsabilidade.
Quanto ao contedo da mensagem, era assunto resolvido, o problema agora era quanto sua apresentao ao Fara. Deus na sua oniscincia sabia que Aro ia se encontrar com Moiss, seu irmo, homem de boa retrica: "ele falar muito bem" (v. 14). Assim, Aro seria o porta-voz de Moiss na seguinte ordem: Deus fala a Moiss, que transmite a Aro e este a Fara (w . 15, 16). claro que
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O M in ist rio Pro ftico no An tigo Testamento I 3 1
Deus na sua soberania e no seu eterno poder teria inmeras alter
nativas para a soluo dos problemas apresentados por Moiss, mas ele escolheu o sistema de porta-voz para ensino nosso. Nisso as
Escrituras Sagradas revelam o significado da palavra navi, "profeta",
e a sua funo o prprio Deus revelou a Moiss; ser profeta aquele que transmite a mensagem de um deus ou de Deus para ser mais
especfico ( x 7.1, 2), algum que fala em nome de Deus, "sers
como a minha boca" (Jr 15.19).Apesar de o sentido bsico de "profeta" ser embaixador, en
viado, porta-voz, representante, o conceito que mais se popula
rizou com o passar do tempo foi o de "prever o futuro", de revelar algo impossvel de se saber por meio de recursos naturais (1 Sm
9.6). A referncia aos profetas hebreus do Antigo Testamento
tambm diz respeito autoridade cannica como legtimo porta-
voz de Deus. o que indica a expresso "assim diz o Senhor" e
fraseologia similar.Curiosamente o termo "profeta" e seus correlatos so usados para
os adivinhos e falsos profetas, para os profetas das divindades pags das naes vizinhas de Israel, sendo identificados como tais pelo
contexto (Dt 13.1; Js 13.22; 1 Rs 22.12; Jr 23.13). Jeremias chama o
seu opositor Hananias de profeta (Jr 28.17). A palavra falso profeta no aparece no Antigo Testamento hebraico, mas na Septuaginta, portanto, o contexto bblico mostra se realmente se trata de um profeta de Deus ou de algum embusteiro. Da mesma forma acontece com verbo hebraico nav, "profetizar". Assim como nem todos os que so chamados "profetas" so autnticos, do mesmo modo a sua ao de profetizar tambm diferente, como aconteceu com
Saul quando estava possesso (1 Sm 18.10) e com o ritual dos profetas de Baal (1 Rs 18.29). O livro de Jeremias est repleto desses
exemplos (2.8; 5.1; 14.14-16; 23.16,21,25, 26, 32; 27.10, 14-16; 29.9, 21; 37.19).
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3 2 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
A verso grega do Antigo Testamento, Septuaginta, identificada
tambm pela sigla LXX, traduziu navi, roeh e hozeh por TTpo4>r|TT|
(prophts), do grego pro, "antes", e da raiz phe do verbo phmi,
"falar" e, algumas vezes, por pAiirov (ho blepn), "aquele que v,
o que v, o vidente" (1 Cr 9.22; 26.28; 29.29; 2 Cr 16.7, 10; Is 30.10),
por ptv (ho horn), de mesmo significado (1 Cr 21.9; 2 Cr 9.29;
12.15; 29.25; 33.18, 19). A Vulgata Latina usa a palavra propheta para traduzir essas trs palavras hebraicas. Porm, o uso do voc
bulo pelos gregos antecede a data em que foi produzida a Verso dos Setenta.
O termo grego profetes estava ligado aos orculos da antiga Gr
cia, entre eles os mais famosos eram o de Zeus, em Dodona e o de
Apoio, em Delfos. Eram santurios onde se proferiam as respostas
s pessoas que consultavam essas divindades mitolgicas da antiguidade. Esses templos aparecem nos poemas homricos Ilada e
Odissia. O orculo era tambm a resposta em si, muitas vezes era
enigmtica e confusa. No caso de Delfos, a profetisa de Apoio, a Ptia, dava a resposta em forma de sons inarticulados e enigmticos
de maneira que o consulente ficava confuso. Diante de uma mensagem incompreensvel, entrava em cena oficiais do santurio como intrprete ou tradutor, eram chamados profetes, sem a ideia de inspirao e nem de vaticinador das coisas futuras. Plato declara o seguinte a respeito deles: "intrpretes de palavras e de vises misteriosas; o nome mais certo, portanto, no ser o de adivinho, mas o de profeta das coisas reveladas pela adivinhao" (Timeu 72b). Em
Pndaro e em Homero eles so chamados de poetas.
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/ \ / u c ttr& z tyDA ATIVIDADE
PROFTICA
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3 4 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
A comunicao divina necessria e muito importante para
manter o povo na direo e na vontade de Deus. A situao espiritual de Israel nos dias da judicatura de Eli era decadente, a Bblia
afirma: "E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias;
no havia viso manifesta" (1 Sm 3.1), e: "no havendo profecia, o
povo se corrompe" (Pv 29.18). O apstolo Pedro ensina que todos devem atentar para esses orculos: "E temos, mui firme, a palavra
dos profetas, qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz
que alumia em lugar escuro, at que o dia esclarea, e a estrela da
alva aparea em vosso corao" (2 Pe 1.19).O Antigo Testamento mostra que a comunicao divina aos pro
fetas acontece pela viso e pela audio, so esses os dois meios
principais de Deus se revelar a eles: "Ouvi agora as minhas palavras;
se entre vs houver profeta, eu, o SENHOR, em viso a ele me farei conhecer ou em sonhos falarei com ele" (Nm 12.6). Trata-se de
imagem e som, dessa forma que Deus mostra e fala a sua vontade
aos seus mensageiros. Isso confirmado nas pginas das Escrituras Sagradas ao longo da histria do povo hebreu. O modus operandi
diversificado, mas os elementos so os mesmos nos profetas pr- cannicos e cannicos, sem distino alguma: "Conforme todas estas palavras e conforme toda esta viso, assim falou Nat a Davi (2 Sm 7.17; 1 Cr 17.15). A palavra e a viso so elementos da comu
nicao de Deus a Jeremias sobre a vara de amendoeira e da panela fervendo (Jr 1.11 -13) e, tambm, a Ams: "palavras que, em viso, vieram a Ams" (Am 1.1 - Almeida Atualizada). De todos os livros profticos, o de Jeremias o que apresenta mais detalhes da vida pessoal do seu autor e essa riqueza de detalhes nos permite conhe
cer as vrias formas de comunicao de Deus com o profeta.
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 3 5
VISO
Os dicionrios consideram viso como experincias extticas,
isso falando de maneira geral, na verdade, trata-se de algo visto fora
da contemplao ou percepo comum e natural, geralmente imagens mentais e incorpreas. Deve-se levar em conta, porm, que os
profetas hebreus falavam em um estado ativo e consciente. Incluem-
se, nessa forma de comunicao divina, os sonhos e as manifestaes teofnicas.
Os sonhos eram os meios mais apropriados para aqueles com
pouco discernimento espiritual, note que pessoas como Abimeleque,
rei de Gerar, Fara, do Egito e Nabucodonosor, na Babilnia, dentre outros de origem pag, nunca receberam viso, Deus se comunica
va com eles por meio de sonhos (Gn 20.3; 41.1 -7; Dn 2.1) e, at hoje,
dessa forma que ele se comunica com os seres humanos, independentemente de sua condio espiritual, o problema que nem
sempre eles se do conta do aviso ou da advertncia vinda do Cria
dor, sequer prestam ateno a tudo aquilo que acontece a sua volta.
Isso o que Eli diz a J (J 33.14-18). Isso tambm no significa que os grandes homens de Deus, nos tempos bblicos, no tivessem
recebido mensagens divinas por esse meio, a exemplo de Jac, Jos do Egito, Daniel, Jos, marido de Maria, me de Jesus (Gn 28.12-15; 37.5; Dn 7.1; Mt 1.20; 2.13, 19).
Teofania a manifestao de Deus de forma visvel ou audvel,
ou ambas juntas. H inmeros relatos teofnicos no Antigo Testamento. Ele apareceu a Abrao na forma de trs vares (Gn 18.2, 3, 13, 14) e a Jac, na forma de um anjo no vau do Jaboque (Gn 32.22- 32). O mesmo aconteceu com Gideo e com os pais de Sanso (Jz
6.11, 12; 13.3, 9-11). A Bblia afirma que Moiss falava com Deus "face a face, como qualquer fala com o seu amigo" (x 33.11). Foi
numa viso teofnica que aconteceu a revelao na sara ardente
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3 6 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
no Sinai: "E Moiss disse: Agora me virarei para l e verei esta gran
de viso, porque a sara se no queima" (x 3.3) e da mesma forma aconteceu com Samuel: "porm Samuel temia relatar esta viso a
Eli" (1 Sm 3.15).Viso a forma de comunicao divina mais comum de Deus
com os profetas cannicos. Note que seis dos 17 livros dos profetas
cannicos comeam dizendo que o seu contedo resultado de
viso ou vises: "Viso de Isaas, filhos de Amoz (Is 1.1);"... estando
eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os cus, e eu vi vises de Deus" (Ez 1.1); "Viso de Obadias" (Ob 1); "Palavra
do SENHOR que em viso veio a Miquias" (Mq 1.1- Almeida Atu
alizada); "Livro da viso de Naum" (Na 1.1); "Peso que viu o profeta Habacuque (Hc 1.1). Isso sem contar os livros repletos de vises,
como o de Zacarias, sem contudo, anunciar isso na introduo.
No h um padro fixo dessas vises profticas, sendo elas muito diversificadas, Deus se revelou de vrias maneira: "Havendo Deus,
antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, a ns falou-nos, nestes ltimos dias, pelo Filho" (Hb
1.1). Essas vises so diversificadas quanto ao tempo de seu cumprimento e ao seu contedo. O cumprimento delas pode ser logo nos dias do profeta que recebeu a mensagem, como a viso de Mi-
caas sobre o destino de Acabe na guerra contra Ramote-Gileade, registrada em 1 Reis 22 e em 2 Crnicas 18. Outras ocasies so messinicas, como a viso que teve Isaas do trono de Deus (Is 6.1- 10) que se cumpriu em Jesus (Mt 13.14,15; Jo 12.38-41) e no minis
trio do apstolo Paulo (At 28.25-27). H ainda as vises escatol- gicas, como as do templo, registradas a partir de Ezequiel 40.2.
Quanto ao seu contedo, essas vises podem representar seres celestiais, como os anjos; ou seres terrenos, como homens e mulheres, animais e plantas ou frutas. As vises de Micaas mostram os filhos de Israel dispersos pelas montanhas como ovelhas que no
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 3 7
tm pastor (1 Rs 22.17), mas em seguida tem outra viso em que o prprio Deus est conduzindo uma assembleia, que deve ser de
anjos, no cu (1 Rs 22.19-24). A primeira parte do livro de Zacarias apresenta oito vises envolvendo cavalos, chifres, a cidade de Jeru
salm, Satans acusando o sumo sacerdote, o castial de ouro e as
sete lmpadas, o rolo voante, as mulheres com asa de cegonha, os
carros (captulo 1 a 6). O profeta pode relatar a sua revelao me
dida que os acontecimentos vo se desenvolvendo, como aconteceu na viso da corte celeste dada a Micaas, s vezes, o profeta parti
cipa do dilogo com os seres espirituais, como aconteceu com Isa
as (Is 6.1-8). O cenrio da viso pode ser o cu ou a terra, a expe
rincia de Micaas um bom exemplo.Todas essas vises vm de Deus por meio do Esprito Santo, o
que acontece que a terceira Pessoa da Trindade que est implcita
no Antigo Testamento, se torna explcita no Novo Testamento e de
maneira notria no livro de Atos. Essas experincias dos profetas hebreus no so restritas ao perodo veterotestamentrio, pois os
apstolos experimentaram a mesma forma de comunicao divina.
Isso aconteceu com Ananias, em Damasco, a respeito da converso
de Saulo de Tarso (At 9.10), com Pedro em Jope, o qual teve a viso
de um lenol branco com diversos animais impuros (At 10.17, 19) e
Paulo em Trade (At 16.9).
PALAVRA
A maior parte dos livros profticos comeam com o elemento
auditivo, a palavra: "Palavras de Jeremias" Gr 1.1); "Palavra do SENHOR que foi dita a Osias (Os 1.1); "Palavra do SENHOR que foi dirigida a Joel (J1 1.1); "As palavras de Ams, que estava entre os pastores de Tecoa, o que ele viu a respeito de Israel" (Am 1.1), aqui inclui-se tambm o elemento viso; "E veio a palavra do SENHOR a Jonas" (Jn 1.1);
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3 8 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
"Palavra do SENHOR que veio a Miquias, morastita [...] o qual viu
sobre Samaria e Jerusalm" (Mq 1.1), como acontece no livro de Ams, aqui se acrescenta o elemento viso; "Palavra do SENHOR vinda a
Sofonias (Sf 1.1);"[...] veio a palavra do SENHOR, pelo ministrio do profeta Ageu" (Ag 1.1); "[...] veio a palavra do SENHOR ao profeta
Zacarias" (Zc 1.1); "Peso da palavra do SENHOR contra Israel, pelo
ministrio de Malaquias" (Ml 1.1). A expresso hebraica r n r m n i
/ ,,n iPKn D*7! (^varYHWH/ctvarh^lhm), "palavra o SENHOR / palavra de Deus", aparece 241 vezes no Antigo Testamento sendo
que 225 vezes diz respeito ao orculo recebido pelo profeta ou pregado por ele, e mostra a origem divina da mensagem.
A chancela de autoridade aparece nas frmulas: "veio a palavra do SENHOR a [...]", ou "veio a mim a palavra do SENHOR"; "assim
diz SENHOR, "fala o SENHOR". No se trata, pois de ideias humanas,
nem de um pensamento de um profeta, como porta-vozes de Deus recebem dele os orculos e transmitem ao povo tal como lhes foram
confiados. Essas expresses aparecem muitas centenas de vezes no
Antigo Testamento. A autoridade deles no est restrita apenas aos
seus escritos que hoje compem as Escrituras Sagradas, mas em vida, eram homens cheios do poder do Esprito Santo. No perodo pr-cannico os 70 ancios: "Ento, o SENHOR desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Esprito que estava sobre ele, o ps sobre aqueles setenta ancios; e aconteceu que, quando o Esprito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais" (Nm 11.25).
Depois deles encontramos apenas Azarias: "Ento, veio o Esprito de Deus sobre Azarias, filho de Obede. E saiu ao encontro de Asa e disse [...]" e Jaaziel: "Ento, veio o Esprito do SENHOR, no meio da congregao, sobre Jaaziel [...] e Jaaziel disse: Dai ouvidos todo o Jud, e vs, moradores de Jerusalm [...]" (2 Cr 15.1; 20.14, 15).
No perodo cannico, apenas em dois profetas aparecem a manifestao do Esprito, 14 vezes em Ezequiel: "Ento, entrou em mim o
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 3 9
Esprito" (Ez 2.2); "E levantou-me o Esprito, e ouvi por detrs de mim
uma voz de grande estrondo [...] o Esprito me levantou e me levou" (3.12, 14) e uma vez em Miqueias: "eu sou cheio da fora do Esprito
do SENHOR" (Mq 3.8). Isso no significa que apenas eles profetizaram
nos domnios do Esprito. Neemias e Zacarias lembram que Deus repreendeu o seu povo diversas vezes por causa de sua desobedincia,
sendo os profetas tomados pelo Esprito Santo que Deus usou:
Porm estendeste a tua benigrtidade sobre eles por muitos anos e protestaste contra eles pelo teu Esprito, pelo ministrio dos teus profetas; porm eles no deram ouvidos; pelo que os entregaste na mo dos povos das terras (Ne 9.30).
Sim, fizeram o seu corao duro como diamante, para que no ouvissem a lei, nem as palavras que o SENHOR dos Exrcitos enviara pelo seu Esprito, mediante os profetas precedentes; donde veio a grande ira do SENHOR dos Exr
citos (Zc 7.12).
Isso inclui os profetas pr-cannicos e cannicos. Quatro juizes
foram movidos pelo poder do Esprito Santo: Otniel, Gideo, Jeft e
Sanso (Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 14.6, 19; 15.14).
A QUESTO DAS EXPERINCIAS EXTTICAS
Os intrpretes naturalistas dizem que as profecias dos profetas bblicos so mero resultado de um estado emocional e que a caracterstica bsica de sua atividade era um estado de xtase. No podemos aceitar essa interpretao, pois a experincia exttica era
comum entre os msticos e profetas pagos, veja o frenesi dos profetas de Baal "e saltavam sobre o altar [...] clamavam a grandes vozes e se retalhavam com facas e com lancetas" (1 Rs 18.26, 28)
compare com a serenidade de Elias (w 30-38).
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4 0 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
SURREXIT TUAS PROPHETa QUa SI ICNIS ET VERBUH IPSIUS QUASIFACUUARDFBaT lBll, ......
-eOjSyJ) J l5^Lf**'uv.ru-, JsuLJlf
u^ d x'un in*pyopiI I Q T 3 3 3 11311
Representao do Profeta Elias exterminando os profetas de Baal. Monte Carmelo - Israel: "Ento, enviou Acabe os mensageiros a todos os filhos de Israel e a juntou os profetas no monte Carmelo. Ento, Elias se chegou a todo o povo e disse: At quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o. Porm o povo lhe no respondeu nada' (1 Rs 18.20, 21).
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 4 1
O estudo das religies comparadas levou certos pesquisadores
a concluses equivocadas no que diz respeito natureza da ativi
dade proftica. Esses estudiosos pretendem colocar os adivinhos,
os xams e os msticos das diversas crenas antigas dos povos vizinhos de Israel no mesmo nvel dos profetas bblicos, afirmando
que os profetas hebreus profetizaram em estado de xtase ou tran
se. As manifestaes frenticas dos falsos profetas em Israel, dos profetas das divindades pags, dos sonhadores de sonhos, dos
mdiuns, dos adivinhos, dos magos, dos bruxos etc so de fontes
estranhas. Porm, a comunicao divina aos profetas suigeneris
e trat-la como os demais parece ser uma grosseria.Um biblista protestante alemo de nome Johann Friedrich Herman
Gunkel (1862 - 1932) segue a opinio sobre o xtase proftico:
O xtase um estado peculiar do esprito e do corpo que se apodera do homem quando este experimenta uma sensa
o particularmente intensa. Esta toma conta dele a ponto de ter a impresso de ter arrastado por uma corrente d'gua o que seu corao arde com um fogo interior. Perde o domnio de seus membros, tropea e balbucia como um bbado, sua sensibilidade dor fsica diminui ou at desaparece, a ponto de no perceber a dor das feridas. Anima-o uma sensao inesgotvel de fora, pode correr, pular ou realizar aes impossveis a uma pessoa em condies normais. Desaparece nele tudo o que particular e pessoal; o pensamento concreto, a sensao concreta, adquirem um carter absoluto (SICRE, p. 107).
Segundo Gunkel, tal experincia proftica vem de Deus, mas ele nunca pode mostrar evidncias do conceito acima nas Escrituras Sagradas. Outro crtico, Theodore H. Robinson alegou o seguinte sobre a natureza da atividade proftica:
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4 2 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
Podemos imaginar uma cena da atividade pblica do profeta. Est misturado entre a multido, s vezes em dias ordinrios, s vezes em ocasies especiais. De repente acon- tece-se alguma coisa. Seus olhos ficam fixos, assaltado por estranhas convulses, muda sua forma de falar. As pessoas reconhecem que o esprito caiu sobre ele. Quando passar a
sncope, dir aos circunstantes as coisas que viu e ouviu"
(SICRE, pp. 107, 108).
J. Lindblon afirma em sua obra prophecy in Ancient Israel (Profecia
no Antigo Israel) que Israel obteve o fenmeno proftico em Cana.
Na sua opinio, o xtase consiste no que se segue.
O estado anormal de conscincia em que a pessoa est to intensamente absorvida por uma nica ideia ou um nico sentimento, ou por um grupo de ideias ou sentimentos, que mais ou menos fica sustado o curso normal da vida psquica.Os sentidos corporais deixam de funcionar; a pessoa torna-se insensvel s impresses externas; a conscincia exalta-se acima do nvel ordinrio da experincia diria; impresses e ideias inconscientes brotam superfcie em forma de vises e audies (SICRE, p. 108).
H at quem afirme que o orculo de Delfos foi o mais famoso centro exttico e se espalhou pelo mundo mediterrneo onde os profetas hebreus teriam compartilhado tais experincias. O modelo
de Delfos era o seguinte: a Ptia, sacerdotisa de Apoio, entrava em seu santurio, sentava-se numa banqueta de trs ps, bebia gua de uma fonte considerada sagrada, mascava folha de louro, planta de Apoio, e inalando o vapor vindo de um abismo vulcnico caa em estado de transe, provavelmente sob os efeitos do vapor. Assim, ela se contorcia e se despenteava e em frenesi respondia s perguntas
como fazem os mdiuns espritas.
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 4 3
Outra forma exttica na antiguidade grega aparece nas soleni-
dades religiosas em homenagem a Demter e a Dionsio, danas rituais desenfreadas e frenticas produziam o xtase, a comunho
com a divindade. Com o passar do tempo essas danas provocavam
uma espcie de embriagues mstica.
Prticas similares existem ainda hoje. O movimento conhecido
como Santo Daime se aproxima do ritual acima. O movimento come
ou com um maranhense Raimundo Irineu Serra (1892-1971), que se transferiu, em 1912, para o Acre, a fim de trabalhar como seringueiro,
tendo contato com a cultura indgena. Ele aprendeu a preparar uma bebida do cip alucingeno ayahuasca, palavra quchua que significa
"cip das almas", e da folha chacrona, mistura que os ndios usavam
para rituais religiosos e, tambm, para fins teraputicos. Sob o efeito
dessa bebida, ele afirma ter recebido uma viso em 1930, na fronteira com o Peru, de uma senhora muito formosa sentada num trono
sobre a lua cheia e interpretou como uma deusa universal, chaman-
do-a de "Rainha da Floresta". Identificou-a com a Senhora da Conceio, cultuada pelos catlicos, que teria comissionado para fundar uma
nova religio em torno da bebida que deveria ser chamada Santo
Daime, do verbo "dar", os adeptos do movimento invocam ao tomar a bebida durante o ritual "Daime amorl Daime luzl Daime fora!".
Essa senhora deu a ele algumas normas, como durante oito dias abster-se de sexo, comer apenas macaxeira (mandioca ou aipim) sem sal e beber apenas gua no meio da floresta.
O fundador do movimento estabeleceu, em 1945, o Centro de Iluminao Crist Luz Universal para ministrar a bebida. Depois de sua morte, o seu discpulo Sebastio Mota Melo assumiu a lideran
a do grupo at 1990, quando faleceu. Alex Polari de Alverga, nove anos preso durante a ditadura, autor das obras O Livro das Miraes, publicado em 1984 e O Guia da Floresta, lanado posteriormente, o atual lder do Santo Daime.
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4 4 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
O preparo da bebida realizado num ritual em que os homens
maceram durante muito tempo, com golpes ritmados, o cip
ayahuasca at se transformar numa massa e as mulheres lavam e
preparam as folhas chacronas. Depois tudo cozido durante muitas horas. As reunies duram a noite inteira e a cada quatro horas
os adeptos tomam a bebida que comea a fazer efeito cerca de meia hora depois. Os cultos so realizados com cnticos, hinos do
Santo Daime, os homens se vestem de branco e da mesma forma
as mulheres, sendo que elas usam faixas verdes cruzadas no peito
e danam e bailam de um lado e os homens do outro.Segundo Alex Polari, essas viagens no so alucingenas, mas
entegenas, ideia de experincia interna com Deus, os adeptos chamam essa experincia de mirao ou estado de desprendimen
to. Trata-se de um estado alterado da conscincia provocado por
uma substncia presente nas folhas de chacronas a Dimetiltrip-
tamina (DMT), que segundo a Associao Brasileira de Psiquiatria um agente alucingeno potente e apesar do uso religioso, pelo
Santo Daime, ter sido autorizado pelo governo em 1987, a utili
zao no deve ser encorajada por pessoas com problemas psi
cticos ou esquizofrenia.Prticas similares j eram conhecidas nos tempos bblicos
entre os povos vizinhos de Israel, que a Bblia chama de feitiaria, 4)ap|iaKeLa {pharmakeia),
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A Natureza da Ativ idade Proftica I 4 5
aqui e ali, com interpretaes foradas, buscam elementos para fundamentar sua tese. Est escrito que o profeta Elias "se inclinou
por terra, e meteu o seu rosto entre os seus joelhos" (1 Rs 18.42);
que Eliseu solicitou um "tangedor" e "sucedeu que, tangendo o
tangedor, veio sobre ele a mo do SENHOR" (2 Rs 3.15) e que o mesmo profeta Eliseu, no seu encontro com Hazael, enviado do rei
da Sria: "afirmou sua vista e fitou os olhos nele, at se envergonhar;
e chorou o homem de Deus" (2 Rs 8.11). Colocar tais experincias
no mesmo nvel das manifestaes frenticas dos msticos ou dos profetas pagos, como no confronto deles com Elias, que "se reta
lhavam com facas e com lancetas, conforme o seu costume, at derramarem sangue sobre si" (1 Rs 18.28) ir longe demais. O
texto sagrado afirma que tais prticas eram costume deles e no
dos profetas hebreus.O relato sobre o "rancho de profetas" (1 Sm 10.5-13) conta que
eles "descem do alto e trazem diante de si saltrios, e tambores, e
flautas, e harpas; e profetizaro" (v. 5) e assim interpretam que
profetizam em estado de transe. Tal ideia parece precipitada porque o texto nada fala das atividades deles e nem o que foram fazer no
monte e o papel da msica na vida religiosa de Israel muito amplo. forar demais o texto para transformar a natureza da ativi
dade proftica dos profetas hebreus numa manifestao exttica. verdade que sempre existiu o emprego da msica para fins extticos, mas no isso que o texto bblico afirma nessa passagem, pois havia muitas razes para a msica, e, sobretudo, tocar caminhando, acompanhado de movimentos rtmicos enquanto desce do monte no apropriado para induzir algum ao xtase. E nada
indica do texto que eles tocavam para profetizar. Eliseu solicitou um "tangedor" (2 Rs 3.15), mas o verbo hebraico (ngn) signi
fica "tanger" um instrumento de corda, que por ser suave, no
adequado para xtase.
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4 6 I o Ministrio Proftico na Bblia
18 Assim, Davi fugiu, e escapou, e veio a Samuel, a Ram, e lhe participou tudo quanto Saul lhe fizera; e foram, ele e Samuel, e ficaram em Naiote. 19 E o anunciaram a Saul, dizendo: Eis que Davi est em Naiote, em Ram. 20 Ento, enviou Saul mensageiros para trazerem a Davi, os quais viram uma
congregao de profetas profetizando, onde estava Samuel, que presidia sobre eles; e o Esprito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e tambm eles profetizaram. 21 E, avisado disso Saul, enviou outros mensageiros, e tambm estes profetizaram; ento, enviou Saul ainda uns terceiros mensageiros, os quais tambm profetizaram. 22 Ento, foi tambm ele mesmo a Ram e chegou ao poo grande que estava em Seco; e, perguntando, disse: Onde esto Samuel e Davi? E disseram-lhe: Eis que esto em Naiote, em Ram.23 Ento, foi para Naiote, em Ram; e o mesmo Esprito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, at chegar a Naiote, em Ram. 24 E ele tambm despiu as suas vestes, e ele tambm profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Est tambm Saul entre os profetas? (1 Sm 19.18-24).
No segundo contato de Saul com os profetas liderados por Samuel, seu estado era de desequilbrio e estava possudo por um esprito mau. H quem afirme que ele ficou endemoninhado, nesse caso, Deus teria dado permisso aos demnios para o atormentarem, assim como permitiu ferir o patriarca J (1.12). Se isso puder ser confirmado, deve-se levar em conta que ele, nessa poca, es
tava desviado, havia sido rejeitado por Deus por causa de sua desobedincia (1 Sm 15.23), seu estado espiritual e psicolgico estava afetado. Porm, o texto bblico no afirma que Saul ficava endemoninhado, dito que o Esprito Santo se retirou dele e que "o assombrava um esprito mau da parte do SENHOR" (1 Sm 16.14). Trata-se de um esprito da parte de Deus e no de Satans.
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A Natureza da A tiv idade Proftica I 4 7
O ponto dessa passagem que mais chama a ateno o v. 24,
pois afirma que Saul "ele tambm despiu as suas vestes, e ele tam
bm profetizou diante de Samuel, e esteve nu por terra todo aquele
dia e toda aquela noite". A expresso "tambm despiu suas vestes" pode indicar que outros estavam desnudos, os seus enviados, mas
o termo hebraico usado aqui, D17 ( rm) ou Dhl? ( arm), segundo Gesenius e Baumgartner, pode significar parcialmente desnudo
(J 22.6; 24.7,10; Is 58.7), ou seja, sem a roupa externa. A descrio parece mostrar um estado de estupor. Essa passagem no ajuda os
crticos que pretendem colocar os profetas de Deus no mesmo nvel dos msticos por duas razes bsicas: a) apenas Saul ficou nesse
estado e no todos os profetas; b) ele no fez esforo algum para
alcanar o transe exttico.O termo "xtase" vem do grego eicaiaoi; (ekstasis), empregado
pela LXX para traduzir oito palavras hebraicas: njjTT (dibh) "murmu-
rao, difamao, calnia" (Nm 13.32 [33]); H17T / H11T (zavh / z? avh) "tremor, temor, medo" (2 Cr 29.8); TSn(hphaz) "correr assus-
tadamente (SI 31.23 [30.23]); r m n (hardh) "tremor, medo" (1 Sm
14.15); rtirt (rrfhmh) "perturbao, sobressalto, pnico, confuso,
tumulto" (2 Cr 15.5; Zc 14.13); II7S (pahad) "tremor, pavor, susto, temor, medo, terror" (1 Sm 11.7; 2 Cr 17.10; 20.29); (tardmh)"sono profundo, letargia" (Gn 2.21; 15.12). Aparece sete vezes no Novo Testamento, sendo que em quatro lugares expressa a ideia de assom
bro, de espanto: "e assombrara-se com grande espanto" (Mc 5.42); "porque estavam possudas de temor e assombro" (Mc 16.8); "e todos ficaram maravilhados" (Lc 5.26); "e ficaram cheios de pasmo e assombro" (At 3.10). As outras trs vezes ocorrem com o significado de arrebatamento dos sentidos "sobreveio-lhe um arrebatamento de
sentidos" (At 10.10); reaparecendo depois quando o apstolo Pedro relata essa experincia aos demais companheiros (At 11.5); isso aconteceu tambm com o apstolo Paulo: "quando orava no templo,
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4 8 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
fui arrebatado para fora de mim" (At 22.17). O verbo mini ou iOTv) (existmi ou existan), "ficar atnito, estar fora de si", apare
ce 17 vezes no Novo Testamento e a LXX, segundo/l Concordance to
the Septuagint and the Other Greek Versions o f the Old Testament (In- cluding theApocryphalBooks), de Edwin Hatch M.A., D.D., e Henry A. Redpath, MA., usado para traduzir 29 verbos hebraicos.
A comunicao divina veio aos profetas de "vrias maneiras" (Hb
1.1) e as suas experincias so diversificadas. O profeta Ezequiel descreve vrias vezes o arrebatamento dos sentidos ao receber suas vises (Ez 3.15; 8.1-4; 11.24), mas se trata do fator ab extra (de fora)
do Esprito Santo. Muitas vezes Deus se revelou a si mesmo ao profeta por meio do Esprito Santo "entrou em mim o Esprito, quando
falava comigo" (Ez 2.2), "entrou em mim o Esprito" (Ez 3.24). Na
verdade, ele est presente em todas as manifestaes divinas e se encarrega da inspirao do profeta para sua transmisso ao povo.
No houve, portanto, nos profetas hebreus auto-estimulao. Nenhum deles tomou a iniciativa para obter revelao e nem h
indicao de que algum deles tenha perdido o controle das faculdades mentais e racionais. Havia, sim, de fato, o fator externo razo
humana e superior a ela. Os orculos dos profetas do Deus de Israel sobre o futuro baseiam-se em fatos reais concretos, do dia a dia. O Esprito Santo inspirou Isaas para anunciar de antemo o nasci
mento do Messias de uma virgem a partir de uma realidade histrica que envolvia os reis de Israel, da Sria e de Jud (Is 7.1-14). O mesmo pode ser dito de Ezequiel, que predisse o retorno dos judeus e a restaurao de Israel a partir da primeira dispora (Ez 36.19-29).
Davi fala do sofrimento do Messias a partir de sua experincia pessoal, no Salmo 22. A fonte dessa palavra proftica Deus por meio do Esprito Santo (Os 12.10; 2 Pe 1.19-21). Essa caracterstica sem paralelo e nada h que possa comparar com os profetas dos deuses ou com os msticos.
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z't/ L & e sSOCIAIS E POLTICAS
DA PROFECIA
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5 0 I O Ministrio Proftico na Bblia
Deus o maior interessado no bem-estar de todas as suas criaturas,
por isso suas leis so tambm de carter social e no apenas espiri
tual. A Lei de Moiss no consiste apenas num compndio religioso, trata de profecias, histrias, registros genealgicos e cronolgicos,
regulamentos, ritos, cerimnias, exortaes, leis morais, civis e cerimoniais, sacerdotes, sacrifcios, ofertas, festas e o tabemculo.
A justia social est presente em toda a Bblia e esse assunto
envolve religio, poltica e economia. Assim como os aspectos poltico e social nos profetas revelam a forma como a profecia contri
buiu na formao moral e tica nos perodos que se seguiram
gerao dos profetas de Israel e entre as naes. Temos na Lei de Moiss a base e a estrutura social e poltica do Estado. O papel dos
profetas do Antigo Testamento como porta-voz de Deus e intrpre
te da Lei era o de conscientizar o povo do seu compromisso assumido no Sinai, colocando em prtica a aliana feita com seus pais.
A formao social e cultural de Israel e a sua grande influncia entre
todos os povos da terra devem-se pregao e aos escritos desses profetas que o cristianismo difundiu por todo o mundo.
OS PROFETAS E A QUESTO POLTICA
A monarquia em Israel foi instituda depois de alguns sculos
da morte de Moiss. Mas ele profetizou o surgimento do rei entre os hebreus. H trs pontos bsicos no aspecto poltico da legislao mosaica sobre o rei: ser escolhido pelo SENHOR e no ser estrangeiro (Dt 17.15), no acumular riquezas e mulheres (Dt 17.16, 17) e ter uma cpia da Lei sempre ao seu lado para se lembrar de
cumprir as normas ali contidas (Dt 17.18, 19). O rei no tinha autoridade para modificar o que o grande legislador de Israel escreveu, no era resultado de embates polticos, mas a vontade de Deus para o bem da nao.
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As Funes Socia is e Po lt icas da Pro fec ia 51
Reino Dividido.
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5 2 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
A relao entre profetas e reis foi sempre tensa. s vezes, os profetas serviam como conselheiros na casa real, como Nat, Gade
e Isaas, pois esses monarcas precisavam da aprovao desses vi
dentes por causa de sua popularidade em determinada fase da
histria de Israel. Outras vezes, esses mensageiros de Jav1 representavam ameaas, pois no se dispunham a fazer a vontade de
Deus. O Antigo Testamento apresenta uma lista longa de profetas
censurando pecados dos reis como Aas (1 Rs 14.5-12), Je (1 Rs
16.1-4), Elias (1 Rs 18.17, 18), Micaas (1 Rs 22.8), Eliseu (2 Rs 6.30- 32), Isaas (3.12-15), Jeremias (Jr 22.13-29), Ams (Am 7.9). Isso por
violar os preceitos da lei de Moiss em seu aspecto civil e religioso. A situao se agravou ainda mais depois do grande cisma que divi
diu o pas em dois: Jud e Israel, Reino do Sul e Reino do Norte.
Primeira dinastia. Foi fundada por Jeroboo I, seu filho, Nadabe,
herdou o trono, mas foi assassinado por Baasa: dois reis (1 Rs 12.19,20; 15.27-29).
Segunda dinastia. Fundada por Baasa, apenas dois reis reinaram, seu filho El, que herdou o trono, foi assassinado por Zinri (1 Rs16.6, 12-14).
Terceira dinastia. Foi de apenas um rei, Zinri, que reinou apenas oito dias, at que cometeu suicdio (1 Rs 16.15,16).
Quarta dinastia. Onri e Tibni disputaram o trono do Reino do Norte, pois o povo estava dividido, e Onri venceu. Fundou a quarta
dinastia e reinou 12 anos, reinaram quatro reis. Comprou o mon-
* Jav a forma aportuguesada de Yahweh, pronncia que mais se aproxima do Tetragrama (quatro consoantes hebraicas do nome divino m rP - YHWH). H um estudo acadmico sobre o assunto no livro Testemunhas de Jeov - A Insero de Crenas e Prticas no Texto da Traduo do Novo Mundo, de Esequias Soares (pginas 162-169).
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As Funes Socia is e Po lt icas da Pro fec ia i 5 3
te de Samaria e fez da cidade a capital do seu reino (1 Rs 16.21 -34).
Seus sucessores foram: Acabe, Acazias e Joro. O ltimo foi as
sassinado por Je, o que marcou o fim da casa de Onri, ou de Acabe, seu filho (1 Rs 16.28 ; 22.40; 2 Rs 1.17; 9.24). Quarta dinastia: quatro reis.
Quinta dinastia. Foi fundada por Je, que exterminou toda a casa de Acabe com os seus 70 filhos (2 Rs 10.1, 11, 14). Reinaram cin
co reis e seus sucessores foram: Jeoacaz, Jos, Jeroboo II e Za
carias (2 Rs 13.1, 9, 13; 14.29).
Sexta dinastia. Fundada por Salum ao assassinar o rei Zacarias numa conspirao (2 Rs 15.10), mas reinou apenas um ms e foi assassinado por Menam, que assumiu o poder (2 Rs 15.13, 14).
Stima dinastia. Fundada por Menam, que reinou 10 anos. Seu filho, Pecaias, sucedeu-lhe no trono, mas foi assassinado por Peca:
dois reis (2 Rs 15.22, 25).
Oitava dinastia. Fundada por Peca, assassinado numa conspirao
por Oseias: apenas um rei (2 Rs 15.30).
Nona e ltima dinastia. Fundada por Oseias, que reinou nove anos e foi deposto pelos assrios. o comeo do cativeiro assrio, em que as dez tribos do norte foram levadas para o cativeiro, em 722
a.C. (2 Rs 17.1-3, 6).
Foram nove dinastias e 20 reis em Israel. Nenhum deles "andou
nos caminhos de Davi, sendo que a maioria "andou em todos os caminhos de Jeroboo, filho de Nebate, como tambm nos seus pecados com que tinha feito pecar a Israel" {1 Rs 16.26), esse refro, ou
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5 4 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
fraseologia similar, repetido diversas vezes em 1 e 2 Reis (1 Rs
22.52; 2 Rs 3.3; 10.29; 13.2, 11; 14.24; 15.9, 18, 24). Jud teve seus
problemas, mas apenas uma dinastia reinou em Jerusalm, a de Davi, Deus cumpriu a sua promessa feita a ele por meio do profeta Nat:
"o SENHOR te faz saber que o SENHOR te far casa [...] e estabelecerei o seu reino [...] confirmarei o trono do seu reino para sempre
[...] mas a minha benignidade se no apartar dele, como a tirei de Saul" (2 Sm 7.11-15). Houve reis piedosos em Jerusalm como Asa, Josaf, Uzias, Ezequias, Josias, o que no aconteceu em Samaria.
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As Funes Socia is e Po lt icas da Pro fec ia I 5 5
Samaria veio a ser a sede do governo das dez tribos do norte.
Onri, pai do rei Acabe, comprou um monte de "Semer", de onde vem o nome "Samaria ou "Samria", em hebraico ]"10 {shmrn)
(1 Rs 16.24). Jerusalm continuou como sede do governo da dinas
tia de Davi, capital do Reino do Sui. A situao do Reino do Norte se deteriorou mais depressa, a decadncia caminhava para a anar
quia generalizada medida que o tempo passava. O reinado de Jeroboo II foi prspero, mas corrupto, caracterizado pela violncia
e pelas injustias sociais. Samaria caiu em 722 d.C., conquistada por Salmaneser V (2 Rs 17.3) e foi consumada depois por Sargo
II {Is 20.1). o fim do Reino do Norte. Jud no era diferente nos
seus ltimos anos at que Jerusalm foi destruda em 586 a.C. Foi nesse contexto que Deus levantou os profetas Isaas, Oseias, Ams,
Miqueias, Ezequiel, Jeremias dentre outros. As questes sociais envolviam a administrao da justia, a prtica do comrcio, a
questo da escravido, o latifundiarismo, o salrio e a extravagn
cia na riqueza e no luxo s custas da misria do povo.Os pecados de Samaria eram devastadores, o relato dos livros
dos reis revela a instabilidade poltica por conta da apostasia. Essa
situao confirmada nos orculos do profeta Oseias, combaten
do a idolatria, acompanhada de prostituio, de toda espcie de
vcio e de violncia (Os 4.1-9; 5.1-9; 7.1). A poltica externa era conduzida de forma insensata, o que levou Israel a confiar nessas alianas internacionais e no em Jav, pois eles haviam perdido a
f em Deus (7.11; 8.9). A festa da coroao dos reis tornou-se evento para maquinaes de assassinatos em srie, rei aps rei, juiz aps juiz, uma cadeia de conspiradores (2 Rs 15.10; Os 7.5). Porm, Ams foi o nico profeta do Reino do Norte a bradar com veemncia contra as injustias sociais. Em Jerusalm esse discur
so aparece apenas em Isaas, Miqueias e Sofonias.
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5 6 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
Museu do Louvre -Sargo II, rei da Assria (705-722 a.C).
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As Funes Socia is e Po lt icas da Pro fec ia I 5 7
OS PROFETAS E A QUESTO SOCIAL
Quanto justia social, o assunto muito amplo na Lei. Ela
legisla sobre a necessidade de ser benevolente com os necessitados
(Dt 24.14), estabeleceu que o patro deve cumprir suas obrigaes
com o assalariados (v. 15), entra tambm na questo jurdica sobre aquele que violar a Lei (Dt 24.16), ordena respeitar o direito do
estrangeiro e do rfo e no aceitar como penhor a roupa de algum
e nem emprestar dinheiro com usura ( x 22.22-27; Dt 24.17). Permite o pobre entrar para comer at fartar-se na vinha e em qualquer
plantao do prximo, desde que no leve embora na cesta (Dt
23.24, 25). A servido de hebreus proibida, o que veio a ser comum com o passar do tempo era o fato de a prpria pessoa se
vender como escravo ao seu irmo, mesmo assim, a Lei manda libert-lo no stimo ano (x 21.2; Dt 15.1-18), estabelecendo a
administrao da justia nos tribunais (Dt 16.18-20).
O captulo 21 de 1 Reis conta que Acabe confiscou de maneira criminosa o campo de Nabote. Este possua uma propriedade contgua
ao palcio real, em Samaria, e o rei se interessou por ela, mas o pro
prietrio recusou-se a vender por questes familiares e de herana,
conforme prescreve a Lei (Lv 25.23). O monarca ficou profundamente triste, quando a sua esposa Jezabel soube do acontecido, orquestrou um plano abominvel contra o dono da vinha, acusando-o mediante
falsas testemunhas de crime que no praticou e dessa forma Nabote foi condenado morte e o imvel transferido para a famlia real. Temos nesse deplorvel fato uma amostra do desmando j nos dias de Acabe. Deus reagiu e mandou o profeta Elias amaldioar a casa real:
Assim diz o SENHOR: No lugar em que os ces lamberam o sangue de Nabote, os ces lambero o teu sangue, o teu mesmo [...] Eis que trarei mal sobre ti, e arrancarei a tua pos
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5 8 I 0 Ministrio Proftico na Bblia
teridade, e arrancarei de Acabe a todo homem, como tambm
o encerrado e o desamparado em Israel; e farei a tua casa como a casa de Jeroboo, filho de Nebate, e como a casa de Baasa, filho de Aas, por causa da provocao com que me provocas- te e fizeste pecar a Israel. E tambm acerca de Jezabel falou o SENHOR, dizendo: Os ces comero Jezabel junto ao antemu-
ro de Jezreel" (1 Rs 21.19,20-23).
A profecia se cumpriu literalmente {1 Rs 22.37, 38; 2 Rs 9.35-37;
10.10, 11). Porm, a crise permaneceu. Outros profetas continuaram
combatendo as perfdias que haviam entrado em todos os seguimentos na sociedade: religio, poltica, jurdica, empresarial etc.
Ams era judeu, de Tecoa, aldeia nas proximidades de Jerusalm, mas foi enviado para profetizar em Samaria (Am 1.1; 7.12) e ficou
assustado quanto viu o luxo extravagante da moblia, do alimento,
dos perfumes dos ricos s custas da misria do pobre.
Que dormis em camas de marfim, e vos estendeis sobre os vossos leitos, e comeis os cordeiros do rebanho e os bezerros do meio da manada; 5 que cantais ao som do alade e inventais para vs instrumentos msicos, como Davi; 6 que bebeis vinho em taas e vos ungis com o mais excelente leo, mas no vos afligis pela quebra de Jos (Am 6.4-6).
Riqueza no o mesmo que pecado, mas os ricos devem ser prudentes e discretos, evitando ostentao de glria, pois isso no agrada a Deus. Porm, o que Ams denuncia, alm da extravagncia, a forma dessas camas de marfim, dos cordeiros e dos bezerros, dos instrumentos musicais de alto custo da mesma qualidade dos de Davi, das taas em que tomava vinho, dos perfumes de
preo elevado, provenientes da explorao dos miserveis "pela quebra de Jos" (v. 6). Parece que o profeta est dirigindo sua men
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As Funes Socia is e Po lt icas da Pro fec ia I 5 9
sagem aos comerciantes inescrupulosos de Samaria e adverte
sobre o juzo divino (Am 8.4-7). A censura no aos ricos, mas aos avarentos e aproveitadores; nem aos comerciantes, pois so mui
tos os que so uma bno na seara do Senhor, mas aos empre
srios gananciosos e mesquinhos; nem ao rei Davi, pois era um rei justo, msico por excelncia, no explorou o necessitado e o que
possua no era para seu prprio deleito, mas para Deus e para o
seu povo. A censura do profeta baseava-se na origem ignbil des
ses bens, na sua ostentao e na presso sobre os camponeses que no tinham "poder de fogo" para negociar de maneira justa com os poderosos.
A servido de hebreus era proibida na lei, exceto quando algum
fracassava em seus negcios e contraa dvidas impagveis, se isso
ocorresse, essa pessoa se venderia como escravo ao seu irmo e, mesmo assim, seria libertado no stimo ano, no devendo sair de
mos vazias (x 21.2; Dt 15.12-15). Ele no devia receber o trata
mento de escravo: "quando o teu irmo empobrecer, estando ele contigo, e se vender a ti, no o fars servir servio de escravo" (Lv
25.39). Esse direito era violado em Samaria e Ams protesta em favor dos escravos: "porque vendem o justo por dinheiro e o ne
cessitado por um par de sapatos. Suspirando pelo p da terra sobre a cabea dos pobres, eles pervertem o caminho dos mansos" (Am2.6, 7). Havia se tornado prtica comum condenar inocentes em troca de subornos, os pobres eram entregues aos seus credores pelo valor de "um par de sapatos" para servirem como escravos,
sem a mnima compaixo pelos justos. A expresso: "pelo p da terra sobre a cabea dos pobres" mostra a humilhao de como os pobres eram tratados.
A situao em Jerusalm no era diferente nos dias do rei. O profeta Jeremias relata um fato dramtico, Zedequias havia convocado os nobres e poderosos de Jud para rever a situao dos
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escravos e todos concordaram em libert-los, em cumprimento da
Lei: "quando teu irmo hebreu ou irm hebreia se vender a ti, seis anos te servir, mas, no stimo ano, o despedirs forro de ti. E,
quando o despedires de ti forro, no o despedirs vazio" (Dt 15.12,
13). Era o mnimo que deviam fazer, alis, deveriam ter feito isso antes, eles se arrependeram da deciso e voltaram atrs. Deus
descarregou a sua ira sobre eles com uma sentena muito dura,
altura da enormidade do pecado deles. Isso est registrado no captulo 34 de Jeremias.
A lei determina que o credor devolva o penhor ao devedor pobre:
"em se pondo o sol, certamente lhe restituirs o penhor, para que
durma na sua roupa e te abenoe; e isto te ser por justia diante do SENHOR, teu Deus" (Dt 24.13). No havia benevolncia com os
pobres e desrespeitavam a lei do penhor: "e se deitam junto a
qualquer altar sobre roupas empenhadas e na casa de seus deuses bebem o vinho dos que tinham multado" (Am 2.8). Compravam o
vinho com fundos arredados das multas e dormiam ao lado dos altares pagos com as roupas penhoradas que deviam devolver at
ao anoitecer.
7 Vs que converteis o juzo em alosna e deitais por terra a justia, 10 Aborrecem na porta ao que os repreende e abominam o que fala sinceramente. 11 Portanto, visto que pisaiso pobre e dele exigis um tributo de trigo, edificareis casas de pedras lavradas, mas nelas no habitareis; vinhas desejveis plantareis, mas no bebereis do seu vinho. 12 Porque sei que so muitas as vossas transgresses e enormes os vossos pecados; afligis o justo, tomais resgate e rejeitais os necessitados na porta (Am 5.7, 10-12).
Aqui, a censura se dirige s autoridades civis que baixavam leis injustas para oprimir o pobre e o necessitado, exigindo im
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postos elevados, acima da realidade. O profeta Isaas adverte os
legisladores sobre o assunto: "Ai dos que decretam leis injustas e dos escrives que escrevem perversidades, para prejudicarem
os pobres em juzo, e para arrebatarem o direito dos aflitos do
meu povo, e para despojarem as vivas, e para roubarem os rfos!" (Is 10.1, 2). Ams confrontou-se com uma estrutura que havia transformado o juzo em amargura, absinto o que signi
fica o termo "alosna" e os denunciados haviam rasgado a cons
tituio de Israel ao perverter a justia (v. 7). No consideram os cidados de bem que andam corretamente e falam com sinceri
dade (v. 10). At hoje, as pessoas sinceras e honestas no so bem vistas pelos discpulos dessas escrias da sociedade que Deus mandou o profeta repreender. Alguns fingem admirar e apoiar os
puros de corao, mas nos bastidores fazem at chacotas. Os
provimentos que mantinham o alto padro de luxo vinham da
extorso e das atividades ilcitas.
9 Fazei ouvir isto nos palcios de Asdode e nos palcios da terra do Egito e dizei: Ajuntai-vos sobre os montes de Samaria e vede os grandes alvoroos no meio dela e os oprimidos dentro dela. 10 Porque no sabem fazer o que reto, diz o SENHOR, entesourando nos seus palcios a violncia e a des
truio (Ams 3.9, 10).
Todas essas maldades devem ser divulgadas do topo dos palcios
de Asdode e do Egito. Se esses povos que eram idlatras e peritos em matria de opresso condenam a Israel, quanto mais o Deus justo? O alvoroo dentro dos muros de Samaria mostra a anarquia generalizada que a nao estava experimentando. J fazia tanto
tempo que haviam praticado o bem que perderam o bom senso, perderam a capacidade de discernimento entre o certo e o errado
(Jr 4.22), pois "no sabem fazer o que reto" (v. 10).
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A situao em Jerusalm no era diferente e nas demais cidades
de Jud os profetas Isaas, Miqueias e Sofonias denunciaram as injustias sociais.
21 Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retido! A justia habitava nela, mas, agora, homicidas. 22
A tua prata se tornou em escrias, o teu vinho se misturou com gua. 23 Os teus prncipes so rebeldes e companheiros de ladres; cada um deles ama os subornos e corre aps salrios; no fazem justia ao rfo, e no chega perante eles a causa das vivas (Is 1.21-23).
O quadro descreve uma donzela pura que se transformou numa prostituta. Essa a comparao que faz o profeta de Jerusalm,
aquela cidade fiel e cheia de retido dos dias de Davi deteriorou-se
de tal modo que se tornou em antro de homicidas. Seus prncipes,
chefes de escritrios estatais e tambm juizes absorviam ladres por
suborno e eram chamados pelo profeta Isaas de "companheiros de ladres". Eram tiranos que oprimiam os fracos, pervertendo o direi
to dos rfos e das vivas, prticas abominveis que tinham a repulsa divina, por isso so classificados como a escria da prata e vinho
misturado com gua. Escria o lixo do metal, o que sobra depois de sua purificao e depurao, o que no presta para mais nada. O vinho misturado com gua era a cerveja usada pelos filisteus.
1 Mais disse eu: Ouvi agora vs, chefes de Jac, e vs, prncipes da casa de Israel: no a vs que pertence saber o direito? 2 A vs que aborreceis o bem e amais o mal, que ar- rancais a pele de cima deles e a sua carne de cima dos seus ossos, 3 e que comeis a carne do meu povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuais os ossos, e os repartis como para a panela e como carne do meio do caldeiro. 4 Ento, clamaro ao SENHOR, mas no os ouvir, antes esconder deles a sua
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face naquele tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras
(Mq 3.1-4).9 Ouvi agora isto, vs, chefes da casa de Jac, e vs, maio-
rais da casa de Israel, que abominais o juzo e perverteis tudoo que direito, 10 edificando a Sio com sangue e a Jerusalm com injustia. 11 Os seus chefes do as sentenas por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao SENHOR, dizendo: No est o SENHOR no meio de ns? Nenhum
mal nos sobrevir (Mq 3.9-11).
Miqueias foi profeta do Sul, mas profetizou tambm sobre o Nor
te. Duas vezes, no captulo 3, dirige a palavra s autoridades de
Israel: "Ouvi agora vs, chefes de Jac, e vs, prncipes da casa de Israel [...] Ouvi agora isto, vs, chefes da casa de Jac, e vs, maio-
rais da casa de Israel" (Mq 3.1, 9). Eram juizes que conheciam a lei e o direito, pois estavam acostumados a sentar-se nas portas da
cidade para julgar os outros, entretanto, eram os principais perver- tedores da justia, esses prncipes deviam amar o que certo, no
entanto, amavam o mal e aborreciam o bem (Rm 2.1). A responsa
bilidade dos que conhecem a verdade e no a praticam maior e
por isso o juzo divino sobre eles mais severo (Tg 3.1).A Lei de Moiss determina que o julgamento deve ser imparcial,
o juiz no deve defender o pobre e nem o rico, mas fazer cumprir a
lei, aplicar a justia: "no fareis injustia no juzo; no aceitars o pobre, nem respeitars o grande; com justia julg