O Papel das Instituições de Ensino Superior na · O mundo está cada dia mais aberto a...
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O Papel das Instituições de Ensino Superior na Formação de Profissionais para O Mercado Internacional
Profa. Luciane Stallivieri*
Resumo
O objetivo do presente artigo é estabelecer algumas considerações sobre o processo de internacionalização das instituições de ensino superior brasileiras e o seu papel no desenvolvimento de competências e de habilidades dos profissionais que necessitam interagir num mercado multicultural. Estabelece-se uma retrospectiva histórica do caráter internacional das universidades desde a sua criação, na Idade Média, até o processo de integração com universidades de outros continentes, característica fortemente evidenciada no Século XXI. Por outro lado, são identificadas algumas características essenciais para a formação do perfil de profissionais que precisam transitar em diferentes ambientes multiculturais, superando barreiras geográficas, culturais e lingüísticas. O documento apóia-se em textos que trazem a posição de organismos internacionais como a UNESCO, em relação ao processo de internacionalização da educação superior, bem como de autores que discutem as tendências dos programas de mobilidade acadêmica para a qualificação da comunidade científica.
Palavras-chave
Internacionalização, instituições de ensino superior, mobilidade acadêmica, formação profissional.
* Docente do Departamento de Letras e Assessora de Relações Internacionais da Universidade de Caxias do Sul – Vice-Presidente do Fórum das Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais – FAUBAI
INTRODUÇÃO
O mundo está cada dia mais aberto a interações, comunicações e
diálogos e exige novas práticas e novos instrumentos capazes de facilitar a
interlocução entre os povos, eliminando as barreiras do desconhecido.
As discussões sobre os temas relacionados à integração e seus
derivados, ou seja, globalização, mundialização tem sido cada vez mais
freqüentes devido à irreversibilidade desse processo.
As populações encontram-se num momento no qual a velocidade das
informações e a sua disponibilidade aceleram as transferências de novas
tecnologias e a criação de novos meios de comunicação que transformam o
grande planeta com suas divisões territoriais numa grande aldeia sem barreiras
geográficas e nem lingüísticas.
Vive-se num momento oportuno para refletir sobre esse processo que
sem dúvidas provoca sensíveis alterações no comportamento e nas atitudes dos
seres que habitam neste planeta.
O processo é irreversível e incontrolável diante da diversidade de níveis
onde ele ocorre. Seja nas comunicações, nas relações entre os povos, na
política internacional, no comportamento dos grandes dirigentes de países
pobres ou ricos, nas transformações econômicas que afetam desde o ocidente
2
ao oriente, na educação e na formação de profissionais, enfim, o processo afeta
todos os níveis e classes sociais que aqui vivem.
O processo de integração e como ele ocorre no âmbito da educação e da
formação de profissionais, especialmente em nível superior, tem sido alvo de
discussões nos grandes fóruns de debate sobre educação superior.
Sabe-se que esses profissionais pertencem a camada mais privilegiada
da sociedade, pois formam a elite intelectual que toma as grandes decisões e
que dá novos rumos ao planeta, como por exemplo, a criação de blocos
econômicos tais como a Comunidade Européia, Nafta, Mercosul, Alca, etc.
Essa elite intelectual é, também, oriunda de centros de investigação,
institutos de pesquisa, instituições de ensino superior e universidades que tem o
compromisso com a formação das competências dos indivíduos e com o
desenvolvimento de suas habilidades como a criação de consciência crítica e a
preparação para a busca de soluções com vistas a melhores condições de vida
e de paz entre as nações.
Torna-se imperativo, diante desse quadro, repensar o papel das
universidades e instituições de ensino superior, nesse momento em que o
processo de internacionalização está tão evidente no seu dia-a-dia.
A análise que será apresentada nesse documento focalizará basicamente
dois grandes temas: primeiramente, será feita uma apreciação do panorama
histórico do processo de internacionalização do ensino superior e do processo
de integração das universidades, e num segundo momento será sinalizada a
fundamental importância e a necessidade do desenvolvimento de diferentes
habilidades e competências para os cidadãos e para os profissionais que
3
buscam ou que precisam interagir num mercado mundial, dominado por
diferentes culturas.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
O caráter internacional das universidades está presente desde a Idade
Média com a criação das primeiras escolas européias. A formação dessas
escolas, chamadas de “universitas”, contava com professores e estudantes de
diferentes regiões e países, apresentando em sua constituição comunidades
internacionais, que se reuniam em busca de um objetivo comum: o
conhecimento.
Como o próprio nome diz, “universitas” a universidade constitui-se em um
universo cultural, que abriga a universalidade e a multiplicidade de visões de
mundo, posições filosóficas, tendências científicas e políticas, enfim, diferentes
modos de pensar dos seres humanos, oriundos de diferentes partes do planeta.
Pode-se afirmar que entre tantas colaborações trazidas no período da
Idade Média, uma das mais importantes foi o surgimento das universidades.
“Universitas”, instituições formadas por comunidades nas quais “magistri”
e estudantes de todas as partes da Europa participavam em condições de
igualdade e usufruíam, praticamente, os mesmos privilégios e direitos.
Constituídas como Comunidades Internacionais, e assim se
consideravam, as universidades, desde aquela época, propunham-se a analisar
4
a universalidade do conhecimento e de todo o saber. Quer dizer, já na sua
constituição, as universidades possuíam o caráter internacional; seus estudantes
deslocavam-se de diferentes nações para tratar das questões do conhecimento,
o que contribuía para a glória e honra da universidade.
Mesmo que, nem sempre o caráter internacional garantisse a harmonia e
a paz, a presença dos estrangeiros, sem discriminação em relação aos nativos,
garantia prestígio às instituições.
Segundo Verger, em História das Universidades,
durante muito tempo, os estudantes deslocaram-se da Europa Central para as universidades italianas (Pádua, Bolonha, Siena), e, em menor escala, para as francesas (Paris, Montpellier, Órleans), desenvolvendo seus estudos, visitando sucessivamente várias universidades e colando grau durante o seu retorno.
O que gerava essa mobilidade durante a Idade Média, primeiramente, era a
busca de novos conhecimentos, de novas descobertas em diferentes partes do
continente. Mas, muito fortemente, surgia ao lado dos estudos visados, a viagem em si
– a experiência existencial, a ocasião de visita de um valor educativo próprio1.
O fenômeno da globalização da economia, característica das últimas
décadas do Século XX, sacudiu as universidades e lançou alguns novos
desafios.
Em especial no Brasil, as primeiras iniciativas datam da década de 60,
quando algumas universidades começaram a criar mecanismos para viabilizar a
qualificação do seu corpo docente, a melhoria dos serviços oferecidos pela
instituição através do aprendizado e da absorção de novas tecnologias de ponta
1 VERGER, 1996, p.48.
5
e da remodelagem dos sistemas educativos, segundo os modelos europeus ou
americanos.
O que ocorria na época, basicamente era a importação de tecnologia
internacional para o fortalecimento do mercado local.
As oportunidades de formação e de treinamento no exterior receberam
um forte impulso na década de 70. As oportunidades e as possibilidades para a
qualificação através de cursos realizados no exterior, em nível de Mestrado e
Doutorado, ainda eram limitadas. No entanto, as possibilidades de financiamento
e de busca de apoio oriundo de fontes de fomento nacionais ou estrangeiras
eram relativamente abundantes. O governo brasileiro estimulava a saída de
professores para qualificação no exterior apoiando-os, especialmente com
recursos destinados para tal fim. O desenvolvimento das qualificações docentes
em nível superior era parte integrante das estratégias de modernização do país.
A crescente importância do conhecimento e a valorização do capital
intelectual dos indivíduos, a revolução da informação e dos meios de
comunicação e a responsabilidade na criação e na manutenção do
entendimento entre os povos e do espírito de solidariedade com os países
menos desenvolvidos passam a ser questões permanentemente discutidas nos
fóruns internacionais e foram claramente apresentadas na Conferência Mundial
sobre Educação Superior realizada pela UNESCO em Paris, no ano de 1998.
Esses desafios impelem a universidade a revisar e atualizar as suas
estratégias, a fim de que os seus estudantes e seus egressos passem a contar
com as competências essenciais, acadêmicas e profissionais que lhes permitam
6
interagir numa sociedade cada vez mais multicultural e internacional, com
rápidas mudanças em seus sistemas.
Neste novo panorama que se apresenta, as universidades, independente
do tipo de instituição, seja ela pública, privada, confessional ou comunitária,
foram obrigadas a reconhecer que a cooperação e a integração internacional
poderia ajudá-las na realização e na viabilização de projetos de pesquisa em
conjunto, no desenvolvimento e no fortalecimento dos programas de ensino e na
criação de novos programas de extensão, de graduação e de pós-graduação.
Internacionalizar passou a significar a abertura das portas das
universidades com o objetivo de torná-las respeitadas, conhecidas e
competentes para responderem às exigências de sua comunidade, do mercado
de trabalho e das ações decorrentes do processo de integração.
As instituições passaram a encontrar nos programas de cooperação
internacional um incremento de competência no desenvolvimento de sua missão
social.
Porém, os questionamentos começaram a surgir e a incomodar os
dirigentes das instituições que quase de imediato tiveram que buscar
alternativas para acalmar as inquietudes geradas.
E foi assim surgindo uma política de cooperação internacional, como um
conjunto de ações e de instrumentos que se articulam em sinergia, com
objetivos de desenvolvimento científico, tecnológico e acadêmico e que deve
colaborar para o processo permanente de atualização científica das
7
universidades através das mais diversas formas e modalidades de intercâmbios
e de programas com os centros mais desenvolvidos.
A cooperação internacional, julgada como um reflexo da realidade em
razão do avanço das comunicações e diante da necessidade de superação das
distâncias e das barreiras agora inaceitáveis aos países, passou a auxiliar as
universidades a serem melhores e mais competitivas através da definição de
políticas claras, apontando objetivos, viabilizando meios, disponibilizando
recursos, tanto humanos como materiais, e atuando com base em uma agenda
positiva para a internacionalização.
Criou-se uma política dotada de criatividade para gerar os meios e os
instrumentos necessários e adequados para atender a uma demanda que conta
com a ousadia das instituições para transformar e aproveitar ao máximo as
oportunidades que podem projetá-las no patamar de instituições mundialmente
reconhecidas.
As razões que conduzem à internacionalização tornam-se cada vez mais
claras e evidentes. Dentre elas está a integração de centros de pesquisa, o que
possibilita o acesso rápido e direto ao conhecimento gerado mundialmente com
o objetivo de estimular o desenvolvimento de regiões que produzem a sua
própria tecnologia, adequando-a a sua própria realidade.
A melhoria da qualidade dos processos produtivos e a modernização
administrativa institucional passaram a ser objetivos ambicionados. A avaliação
da própria universidade comparada às instituições de renome internacional
passa a ser elemento importante no novo panorama, pois demonstra o nível de
8
qualificação e de eficiência das instituições, estimulando-as a partir em busca de
melhorias.
Outro elemento importante é o desenvolvimento do posicionamento crítico
de seus estudantes e de seus professores que após desenvolverem uma
atividade no âmbito internacional, regressam com maior capacidade de
questionar e de avaliar as práticas e os enfoques desenvolvidos na sua própria
instituição, corroborando a idéia dos benefícios da internacionalização.
E, por fim, mas não menos importante o apoio e a ampliação do
entendimento dos governos para a viabilização das ações de cooperação
internacional facilitam e geram novas iniciativas de programas em conjunto,
promovendo a elevação do nível da qualidade dos projetos de investigação e da
busca de ações de colaboração mais ambiciosas.
Com tudo isso, os programas de integração internacional deixaram de ser
mera aquisição de conhecimentos lingüísticos e culturais e passaram a ser
elementos fundamentais para o desenvolvimento e para a qualificação do setor
da educação superior. Deixa de ser um elemento periférico nas políticas de
gestão das universidades e passa a estar no bojo das discussões da
comunidade científica.
Passa-se a concluir então que para que ocorra o processo de
internacionalização de uma instituição de nível superior, algumas etapas devem
ser observadas:
§ Primeiramente, quando a comunidade universitária, liderada por
seus presidentes, reitores e diretores tiverem clareza no
entendimento de que o espaço acadêmico se estende muito mais
9
do que as fronteiras da cidade, do estado ou do país onde está
localizada a instituição;
§ quando a equipe administrativa tiver o entendimento da
importância da internacionalização como vetor de expansão e de
reconhecimento do prestígio institucional;
§ quando o corpo docente passar a conquistar renome internacional
através de suas publicações, participações em congressos
científicos internacionais, e através da interação com
pesquisadores respeitados mundialmente;
§ quando seus estudantes tiverem desenvolvido a cultura da
realização de intercâmbios e de experiências internacionais e
entendido o valor que isso representa como diferencial no seu
currículo, tornando-os mais competitivos;
§ quando seus pesquisadores obtiverem recursos de fontes de
fomento estrangeiras para aplicação em projetos locais;
§ e, por fim, quando toda a comunidade científica e acadêmica de
uma instituição passar a obter excelentes classificações nos
mercados de trabalho internacionais.
Com esses elementos presentes na sua atividade diária, a universidade
passa a ser uma verdadeira fonte de diversidades culturais, vivenciando os
benefícios da verdadeira internacionalização.
2 A MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNACIONAL
10
O fenômeno da globalização da economia, característica das últimas
décadas do Século XX, sacudiu as universidades e lançou novos desafios.
Em especial, a mobilidade de estudantes, professores e de gestores
passaram a intensificar, com muita voracidade, os laços transnacionais,
estabelecendo conexões e criando redes de saber universal. Essas redes
aproximam as comunidades científicas de diferentes partes do planeta,
reforçando a premissa de que é no seio da universidade que devem ocorrer os
grandes avanços científicos e tecnológicos e a efetiva integração. Confere-se
autoridade para tomada de decisões e ouve-se a comunidade científica
universitária, pois está intrínseca na vida acadêmica a dimensão internacional
que ela deve ter.
Passos importantes, como a elaboração da Declaração de Bolonha, do
Plano de Ação de Torino, da Mensagem de Salamanca reforçaram o
posicionamento adquirido pela cooperação acadêmica internacional como uma
estratégia de ação das universidades.
Os documentos citados não só fortaleceram as experiências realizadas
pelas instituições do Velho Continente, em conformidade com o processo de
integração da Comunidade Européia, mas também deflagraram uma nova fase
do ensino superior.
... una fase de cambio estructural dentro de la cual la movilidad y la cooperación deberían facilitarse gracias a reformas que creen mayor compatibilidad entre los sistemas2.
2 HAUG, Guy. Visions of a European Future: Bologna and Beyond. 11 th EAIE Conference. Maastricht, 2 December 1999.Disponível em:http://147.83.8.29/salamanca2001/documents/commen/EUFuture.htm.
11
A proposta da Declaração de Bolonha não surge isoladamente, mas sim
em resposta às profundas transformações pelas quais passa o ensino superior
europeu e que busca acima de tudo resolver problemas europeus,
especialmente o da empregabilidade de jovens graduados; a forte expansão
numérica das universidades, contribuindo a uma acirrada competição por
estudantes, fato que as universidades européias não estavam acostumadas a
lidar, e, não menos importante, o crescimento da oferta de opções,
principalmente de universidades estrangeiras, que passaram a oferecer os seus
serviços acadêmicos e a colocar suas sedes em terras estrangeiras.
Em suma, existe consenso entre os dirigentes europeus de que alguns
objetivos devem estar no âmago das preocupações das tendências do ensino
superior: a mobilidade, a conexão com o mercado de trabalho para a
empregabilidade dos jovens e a competitividade, assegurada através do controle
de qualidade estabelecido pelas agências de credenciamento internacionais.
O que ocorre com as universidades européias pode ser transposto para
as universidades de qualquer continente, pois as instituições de educação
superior precisam se fortalecer para competir melhor nos mercados mundiais.
A competitividade aumenta e o diferencial está fixando-se na
internacionalização das instituições, ou seja, no nível de excelência das
parcerias e na qualidade das oportunidades que as universidades têm a oferecer
aos seus estudantes e professores de adquirirem, durante a sua vida
acadêmica, uma experiência no exterior.
Acesso em: 03 dez. 2001.
12
Um dos campos de atuação mais férteis para a cooperação acadêmica
internacional está, sem dúvidas, no investimento em sua própria comunidade,
tanto docente quanto discente e também administrativa.
Possibilitar aos seus alunos, professores e gestores a possibilidade de
partilharem de uma experiência no exterior faz com que a instituição abra as
suas portas para tornar-se conhecida, apreciada e respeitada, conquistando o
seu espaço diante do panorama nacional e internacional.
Neste novo século, percebe-se que uma tendência ao incremento dos
programas de mobilidade está se fortalecendo, a fim de que o intercâmbio entre
as diferentes comunidades acadêmicas ocorra com mais flexibilidade e com
maior expressividade.
Trechos dos principais documentos que estão norteando a mobilidade
internacional dentro da cooperação interuniversitária comprovam esse
posicionamento.
O Plano de Ação de Torino, já citado anteriormente, enfatiza “el
incremento de la movilidad de estudiantes, jóvenes investigadores, graduados,
personal académico y administradores de educación superior, especialmente
entre Europa y América Latina y el Caribe”.
Essa mobilidade dar-se-á através da difusão de informações precisas e
atrativas sobre os cursos, facilidades, bolsas, etc., e através da garantia de que
os graus e créditos obtidos no outro continente sejam reconhecidos. Prevê,
também, ações para a gestão de financiamentos em nível institucional, local,
13
nacional e continental, assim como a eliminação de obstáculos que dificultem a
mobilidade acadêmica e a prática profissional dos estudantes e investigadores.
Já a Mensagem da Convenção de Salamanca traz no item II, Temas
Principais, a questão da mobilidade. Afirma que
La libre circulación de estudiantes, profesores y diplomados constituye un aspecto esencial del Espacio de la Enseñanza Superior. Las universidades europeas quieren fomentar una movilidad tanto ‘horizontal’ cuanto ‘vertical’ y no piensan que la movilidad virtual pueda remplazar la movilidad física. Tienen intención de utilizar de manera flexible y positiva los instrumentos de reconocimiento y movilidad existentes (ECTS, Convención de Lisboa, Suplemento al Diploma, Red NARIC/ENIC). Dada la importancia que se atribuye a que el profesorado adquiera experiencia europea las universidades desean eliminar los requisitos de nacionalidad y demás trabas que desalienten a seguir una carrera académica europea. Pese a todo seguirá necesitándose un enfoque común en materia de movilidad virtual y de educación transnacional.
Da mesma forma, a Declaração de Bolonha traz como conclusão mais
importante a existência de amplo consenso sobre os objetivos centrais do
processo: “movilidad, empleabilidad y competitividad”, sendo que a mobilidade
de estudantes e graduados foi muito bem-vinda de maneira unânime pelos
dirigentes que assinam o documento, juntamente com a adoção do sistema de
transferência de créditos.
A UNESCO3, por sua vez, justifica a questão, afirmando que
A mobilidade de estudantes entre instituições de diferentes nacionalidades é um aspecto da internacionalização crescente entre os países de todo tipo de relações e de populações. Os deslocamentos dos estudantes através das regiões e países são, em parte, um meio para que os jovens possam mostrar sua consciência crescente do mundo, assim como seu interesse em se preparar para viver em um mundo interdependente. Simultaneamente, os governos e
3 CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE O ENSINO SUPERIOR, 1998, Paris. Tendências de Educação Superior para o Século XXI. Paris: UNESCO/CRUB, 1998.
14
os empregadores estão conscientes de que a futura população ativa deve compor-se de especialistas bem formados e atentos ao mundo, se o que se deseja é assegurar a prosperidade nos níveis nacional, regional e individual.
As instituições de ensino superior estão desenvolvendo fortes alianças na
promoção da mobilidade acadêmica internacional como forma de avançar em
direção à sociedade global do conhecimento.
Para tanto, estão envidando esforços para um trabalho conjunto que
prevê o reconhecimento de estudos, habilitações e diplomas em educação
superior, além da ação em grande escala envolvendo uma estrutura para a
transferência de créditos, com ênfase especial na cooperação Sul-Sul e Norte-
Sul.
A Declaração de Bolonha é um forte exemplo desse esforço conjunto, que
está iniciando, primeiramente, nas instituições de ensino superior européias.
Todavia, percebe-se também a iniciativa de diferentes redes de cooperação
acadêmica envolvendo universidades de outras partes do globo, que estão
incluindo na pauta de suas discussões a questão de como harmonizar os seus
currículos de forma que os estudantes possam ter os seus estudos
reconhecidos.
A Declaração de Bolonha, assim parece, servirá de alavanca para que
inúmeras outras instituições possam avaliar as suas práticas acadêmicas em
direção ao incremento da mobilidade estudantil.
A Declaração, discutida pelos Ministros de Educação Europeus de 29
países, foi assinada em 19 de junho de 1999 e surge na seqüência das
discussões provocadas pela Declaração de Sorbonne, assinada um ano antes,
15
em maio de 1998. Ela representa um compromisso livremente assumido por
cada um dos países signatários de analisar uma reformulação de seus sistemas
de educação superior a fim de criar um sistema convergente na Europa.
Interessante observar que ela não se expressa como uma reforma
imposta pelos governos nem visa a uma padronização ou uniformização do
sistema de educação superior, pois o princípio da autonomia e da diversidade é
respeitado.
A Declaração de Bolonha coloca com clareza a preocupação dos
Ministros da Educação diante do momento que estamos testemunhando: a
necessidade de “as universidades européias buscarem respostas comuns para
problemas europeus comuns”; a necessidade de se estabelecer uma amplitude
nas dimensões intelectual, cultural, social, científica e tecnológica para a
formação de cidadãos preparados para enfrentar os desafios do novo milênio.
As instituições de ensino superior têm a importante missão de criar um
espaço para a educação superior, a fim de favorecer as possibilidades de
empregabilidade e a mobilidade dos cidadãos, aumentando a competitividade
internacional da educação superior européia.
Para tanto, a Declaração propõe o desenvolvimento de opções mais
compatíveis e com maior equiparação do sistema de educação superior,
tornando-as tão atrativas quanto as tradições culturais e científicas.
Em suma, para amenizar a preocupação das universidades européias
diante da perda do espaço para a educação transnacional, a forte preocupação
da declaração dos Ministros recai em voltar a conquistar o espaço uma vez
16
adquirido e controlado por aquelas instituições, através da reestruturação e da
promoção de um sistema de educação flexível, atraente e ágil.
Apesar de que os problemas do hemisfério Norte sejam diferentes dos
problemas do hemisfério Sul, podemos fazer a leitura de que as universidades,
especialmente as do Sul, poderão ganhar muito com essa nova realidade. A
mobilidade que em certas épocas era difícil de se realizar, diante do
tradicionalismo europeu, pode se tornar realidade. As universidades européias,
agora, apresentam-se muito mais abertas às propostas de cooperação
internacional, principalmente no que diz respeito à recepção de estudantes
oriundos do hemisfério sul.
Prova disso pode ser verificada através da criação do sistema europeu de
transferência de créditos - ECTS – (European Community Course Credit
Transfer Sistem).
O ECTS faz parte do Programa ERASMUS (European Action Scheme for
the Mobility of University Students) e é um sistema descentralizado baseado no
princípio da confiança mútua entre instituições participantes de ensino superior,
que indica o conteúdo e a atribuição de créditos de cada uma das disciplinas
integradas no seu plano de estudo para que o sistema facilite a conversão de
notas obtidas pelos estudantes nas faculdades anfitriãs nas notas das
faculdades de origem.
De acordo com Chermann4,
4 CHERMANN, Luciane de Paula. Cooperação Internacional e Universidade – Uma Nova Cultura no Contexto da Globalização. São Paulo: EDUC, 1999, p. 49.
17
“A internacionalização de milhões de universitários leva as universidades, atualmente, a melhorarem seus programas de estudo e à convalidação de títulos e carreiras. A universidade passa, cada vez mais, a se preocupar, não com um enfoque individualista da formação, mas com enfoques mais gerais. O fato de estudantes terem a oportunidade de se formarem em outros países também provoca um efeito interativo de culturas, conhecimentos e idiomas, o que é fundamental nos processos de integração.
Ter a chance de vivenciar uma outra cultura ao mesmo tempo em que se
desenvolvem os estudos de graduação, certamente, permanecerá sendo a
forma preponderante de mobilidade estudantil no nível internacional. Espera-se
que, diante dos avanços da educação superior e dos novos enfoques dados à
cooperação acadêmica, novas formas de mobilidade venham a preencher essa
lacuna, possibilitando oportunidades de educação transnacional para números
ainda maiores.
3 REFLEXOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
O século XXI traz entre tantas inovações, o fortalecimento da era do
conhecimento e da informação, de imposições de um mercado tremendamente
exigente, competitivo, no qual vence quem tem o melhor capital intelectual e que
está em constante estado de vigília, sabe o que fazer com a informação e como
socializá-la.
Os profissionais desse século passam a questionar qual é afinal o perfil
que está sendo traçado para os novos profissionais de êxito? Como estar atento
a tantas modificações e incorporar as que realmente vão agir em favor da
projeção profissional no mercado nacional e internacional?
18
Em primeiro lugar, é fundamental entender o que está ocorrendo no plano
da economia mundial e nos planos social e político. Entender, também, o que
significa o fortalecimento da inserção do Brasil no cenário internacional e quem
são os atores que estão construindo essa etapa da história.
A abertura dos mercados, a formação dos blocos econômicos, a livre
concorrência dos produtos, a entrada de novas tecnologias de ponta sinalizam
para interferências da vida dos cidadãos, onde a única opção de sobrevivência é
a adequação a esse novo sistema de organização da sociedade. Se não tiver
um celular e um computador, não souber navegar na Internet e não dominar
pelo menos uma língua estrangeira, é difícil permanecer competitivo.
Os constantes questionamentos por parte dos indivíduos são estimulados
pela enxurrada de informações que entram nas residências das pessoas através
dos rádios, televisores, parabólicas, Internet, sistemas de TV a cabo, jornais,
mensagens de texto no celular, etc e etc.
O questionamento parece ser reforçado: Qual é o perfil mínimo esperado
dos profissionais que atuam nesse cenário?
Conhecimento, competência e flexibilidade tornam-se palavras de ordem
para quem pretende competir com profissionais do mercado nacional e
internacional.
Segundo Sonia Regina Zorzi, o profissional para atuar no mercado
internacional deve ter duas competências básicas: a competência técnica e a
competência social. A competência técnica refere-se a conhecimentos
específicos que lhe auxiliarão no desenvolvimento de suas atividades, tais como,
19
conhecimento de administração, planejamento, psicologia, comunicação,
liderança, marketing, informática, idiomas, entre outras. A competência social,
por sua vez, refere-se a habilidades que lhe favorecerão para seu crescimento e
conhecimento pessoal, ou seja, capacidade de automotivação, de relacionar-se
com as pessoas, de motivar as pessoas, de resolver conflitos, assumir
responsabilidades, aprender continuamente, ter o entendimento de diferentes
culturas, empatia, cooperativismo, pontualidade e inúmeras outras.
4 LIDERANDO ENTRE DIFERENTES CULTURAS
É inegável que grande parte do mundo está migrando para uma
sociedade cada vez mais global. Impulsionados pelas novas tecnologias da
informação e das comunicações, as empresas multinacionais tem agido de
modo agressivo para oferecer os seus produtos e serviços em todo mundo.
Ser profissional, exercer suas funções nesse clima requer o
desenvolvimento de novas habilidades e de novas idéias que possam melhorar
o desempenho nos ambientes transnacionais.
Atuar num ambiente cruzando fronteiras culturais, lingüísticas e
geográficas é um trabalho árduo. Pesquisas revelam que cerca de 20 a 50 por
cento dos executivos americanos fracassam quando são designados para atuar
fora do seu país de origem. O custo desse fracasso é muito alto para o mercado
e não mede o impacto sobre as famílias e sobre as suas carreiras.
20
Por outro lado, são milhares de pessoas que, todos os dias, vão trabalhar
em países no mundo todo, ou que sonham com essa possibilidade. Cruzam
fronteiras geográficas e lingüísticas com facilidade. Estabelecem novas alianças,
fazem novos amigos e obtém resultados que superam as diferenças culturais
entre eles e com quem estão negociando.
Mas, por que alguns profissionais são tão bem sucedidos, enquanto
outros fracassam? Especialmente, que combinação de habilidade e de
conhecimentos são necessários para o sucesso profissional através de
fronteiras? Como vivem esses profissionais? O que lhes mantém ativos fora de
seus países de origem? Como essas habilidades podem ser identificadas,
aprendidas e transferidas? E como podem contribuir para estabelecer alianças
capazes de responder ao ambiente externo sujeito à mudanças tão rápidas?
Primeiro: faz-se uma rápida observação e percebe-se que o conceito de
liderança está cheio de significados culturais.
Para ser eficaz na globalização emergente, o profissional precisa ter
consciência da imensa diferença existente entre as pessoas e as situações
multiculturais e tem que ser sensível a elas.
Com isso, quer-se dizer que ter consciência além do que às diferenças de
idiomas, costumes e valores, já importantes em si mesmas, trazem. Identifica-se
a capacidade de encontrar a complementaridade e a síntese de pontos de vista
radicalmente diferentes e aceitar as perspectivas e valores de outras pessoas.
Essa habilidade pode ser aplicada universalmente de muitas maneiras.
Ela é necessária em situações em que há reuniões de pessoas de várias
21
culturas, mas também em situações em que pontos de vista divergentes são
geralmente expressos ou realizados no ambiente de negócios, política ou de
governo. É preciso colocar a própria cultura de lado e estar disposto a aceitar
aquilo que vai encontrar, é claro, sem ignorar ou perder as suas raízes culturais.
Em suma, trata-se de não olhar para uma cultura como sendo superior a outra;
elas são apenas diferentes.
Tem-se, por exemplo, o caso de estudantes e intercâmbio que fracassam
em suas experiências internacionais por não terem conseguido sobreviver, por
um período temporário de suas vidas, tendo que substituir hábitos que
mantinham em seus países de origem em favor de outras atividades que lhes
são desconhecidas e, portanto, estranhas.
Para poder entender a cultura do outro, é fundamental que eu conheça e
entenda bem a cultura de meu próprio país e como ela é vista pelos outros
povos. Um exemplo clássico é a questão da pontualidade, visto que essa não é
uma das virtudes de alguns povos em relação a outros.
Ainda que o profissional não trabalhe diretamente com o ambiente
internacional, é necessário conciliar essas diferenças e assumir uma perspectiva
global que transcenda as fronteiras bairristas.
Os profissionais mais eficazes parecem exibir um maior grau de
versatilidade e de flexibilidade que lhes possibilita adaptar seu comportamento
às demandas inconstantes, inesperadas e contraditórias.
Diante disso, conclui-se que os novos profissionais serão cada vez mais
complexos. Os sinais disso são perceptíveis, pois quanto à dimensão, eles estão
22
se tornando cada vez mais multiculturais e globais. A comunidade científica, por
exemplo, é estimulada a conviver com docentes e pesquisadores de diferentes
partes do mundo. Russos, cubanos, americanos, europeus dividem o mesmo
espaço acadêmico em nome da ciência. Situação que se opõe totalmente ao
conforto do campo de atuação nacional.
O lema é: compreender o novo paradigma dos ambientes
internacionalizados para poder estabelecer pontes entre as culturas a fim de que
as tarefas sejam executadas com sucesso e que se avance nos programas de
integração.
Como conseqüência, os profissionais que atuam nas universidades, nas
instituições de ensino superior ou nas empresas poderão interagir e funcionar
melhor am ambientes multiculturais globais e poderão vencer desafios de um
mundo complexo que passa por constantes inovações.
23
CONCLUSÃO
São várias as conclusões que se pode chegar, após as análises que
foram feitas em relação aos dois grandes eixos aqui tratados: o da importância
do processo de internacionalização para a sobrevivência das instituições de
ensino superior e o da importância da qualificação dos profissionais para
atuarem nesse mercado multicultural.
Do primeiro tema entende-se que as universidades estão cientes da
importância de seu papel para a formação de cidadãos preparados e
competentes para atuarem nos mercados globalizados. Elas só conseguirão
isso, se estiverem dispostas a abrir as suas estruturas, buscar parcerias
adequadas e investir nos projetos de internacionalização de seus currículos, na
sua comunidade científica, oportunizando-lhes experiências transnacionais.
Do segundo tema conclui-se que é o papel dos profissionais do mercado
mundial estarem atentos e em constante busca de qualificação para estarem
preparados para as mudanças da sociedade global; uma sociedade exigente,
que demanda novas competências e novas habilidades desse cidadão que nela
atua.
Após a instalação das novas políticas de cooperação, as instituições
precisam responder aos desafios impostos pela internacionalização e pela
globalização da economia, através do desenvolvimento de ações propícias à
ampliação de oportunidades, de parcerias e de projetos interinstitucionais
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internacionais, da divulgação contínua de possibilidades, bem como de uma
nova leitura dos procedimentos e das rotinas exigidas que muitas vezes se
constituem nos maiores entraves às iniciativas de cooperação internacional.
Porém, mesmo diante de toda essa nova orientação, as universidades
brasileiras ainda continuam a ser mais usuárias da cooperação do que agentes.
Elas possuem estruturas organizadas e definidas, tanto nas grades curriculares
de graduação, como nos programas de pós-graduação e de pesquisa, porém
ainda não reconhecem o seu potencial de interação com as renomadas
instituições estrangeiras.
É fundamental que as universidades ouçam o apelo das suas
comunidades, pois é a elas que os cidadãos recorrem quando vivenciam a
necessidade de atingirem patamares mais levados de qualificação.
Cooperar para poder competir em níveis de igualdade de condições para
o enfrentamento dos mercados transnacionais. É atribuição de todos os setores,
agir em parceria, com políticas e estratégias de internacionalização claras e bem
definidas, com o desenvolvimento de atitudes favoráveis de ambas as partes,
tanto da comunidade como das universidades, em direção a internacionalização
das suas unidades e de seus indivíduos.
Nessa perspectiva, ganha a comunidade, ganham os indivíduos, ganham
as nações, pois os povos que agirem em colaboração estarão visando ao
desenvolvimento mútuo, estarão reconhecendo as diferenças do outro e
aceitando-as com base nos conceitos de tolerância e solidariedade, tão
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necessários para a manutenção da paz mundial, contribuindo de maneira
positiva para a definição dos novos caminhos que percorrerá a humanidade.
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