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RAFAELA COBUCI CERQUEIRA O papel das relações sociais e da atenção social durante tarefas cooperativas em Callithrix jacchus Natal 2012 Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

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RAFAELA COBUCI CERQUEIRA

O papel das relações sociais e da atenção social durante tarefas

cooperativas em Callithrix jacchus

Natal

2012

Dissertação apresentada à

Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, para obtenção

do título de Mestre em

Psicobiologia.

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RAFAELA COBUCI CERQUEIRA

O papel das relações sociais e da atenção social durante tarefas

cooperativas em Callithrix jacchus

Natal

2012

Dissertação apresentada à

Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, para obtenção

do título de Mestre em

Psicobiologia.

Orientadora: Renata Gonçalves

Ferreira

O

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de

Biociências

Cerqueira, Rafaela Cobuci.

O papel das relações sociais e da atenção social durante tarefas cooperativas

em Callithrix jacchus / Rafaela Cobuci Cerqueira. - Natal, RN, 2012.

59 f. : Il.

Orientadora: Profa. Renata Gonçalves Ferreira.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Callithrix jacchus – Dissertação 2. Cognição social – Dissertação. 3.

Cooperação – Dissertação. I. Ferreira, Renata Gonçalves. II. Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 599.821

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Título: O papel das relações sociais e da atenção social durante tarefas cooperativas em

Callithrix jacchus

Autora: Rafaela Cobuci Cerqueira

Data da defesa: 30 de março de 2012

Banca Examinadora:

_________________________________

Profa. Briseida Dôgo de Resende

Universidade de São Paulo, SP

__________________________________

Profa. Maria de Fátima Arruda de Miranda

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

__________________________________

Profa. Renata Gonçalves Ferreira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN

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Dedico este trabalho à

memória do meu avô Manoel

Cobucci e à da minha

gatinha Natalina, dois dos

maiores exemplos de força

na minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A primeira pessoa a quem eu quero agradecer é a professora Renata, por ter me dado essa

oportunidade e acreditado em mim. Muito obrigada por toda a paciência, pelos ensinamentos,

e também pelo carinho e compreensão em todos os momentos.

Agradeço imensamente também ao professor John, que me acolheu em Natal, me dando

oportunidade para ficar na cidade e começar tudo.

Agradeço aos professores do programa de Pós Graduação em Psicobiologia pelos

ensinamentos e pelos empréstimos de livros, artigos e teses.

À professora Regina Macedo pelas valiosas observações na minha qualificação.

À banca examinadora pela disponibilidade para contribuir com meu trabalho e pelas críticas e

sugestões para melhorá-lo.

Ao CNPq pela bolsa de mestrado.

Aos funcionários do Núcleo de Primatologia pelo cuidado com os saguis.

Aos colegas de mestrado pelas ótimas aulas, conversas e discussões de livros e artigos.

Ao pessoal do LabCrono, por terem me ajudado quando cheguei em Natal e por não se

importarem com a minha presença nas suas salas.

Aos amigos Dani e Ricardo pelo apoio desde o início.

À Eloysi e Suedja pela indispensável ajuda e ótima companhia durante os experimentos.

Aos amigos Kalina, Denise, Flávia, Rodrigo, Sol, Silvia e Ione por todo apoio e carinho e pela

enorme ajuda com os animais de rua nos inúmeros resgates durante o mestrado.

À minha amiga Clarissa, simplesmente por ser amiga.

Devo agradecer também aos saguis que ficaram comigo até o final do estudo e todos os que

participaram de alguma etapa desse trabalho.

Agradeço ao meu marido Bruno pela imensa ajuda nas análises e por estar comigo sempre,

me incentivando e me ajudando. Por tudo...

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Aos meus pais e irmão que sempre me apoiaram em todas as decisões que eu tomei, não me

contrariando nunca, nem quando eu inventei de fazer mestrado nessa lonjura.

À minha cunhada Juliana que sempre tinha uma receita especial pra mim.

Aos meus tios e primos por torcem por mim sempre.

Um agradecimento especial a todos os bichos que passaram pela minha vida antes e durante o

mestrado, e que me ensinaram tanto, principalmente aqueles que ficaram comigo: Look,

Natalina e Tigrão (agora em pensamento), Miguel, Bela, Princesa, Gabi, Rapunzel e Nala, as

cinco últimas sincronizando seus ritmos circadianos ao meu ritmo de estudo até o fim para me

fazer companhia o tempo todo.

Obrigada a todos os meus amigos e familiares, e a todos que vibram positivo por mim.

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................... 1

ABSTRACT ............................................................................................................................... 2

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3

1. Relações Sociais e Comportamentos cooperativos ........................................................... 5

2. Cognição Social em Callithrix jacchus ........................................................................... 10

Habilidades Cooperativas .................................................................................. 11

Olhares sociais em tarefas cooperativas ............................................................ 14

OBJETIVOS ............................................................................................................................. 17

HIPÓTESES E PREDIÇÕES ................................................................................................... 18

METODOLOGIA ..................................................................................................................... 20

Animais e alojamento ................................................................................................... 21

Materiais ....................................................................................................................... 22

Procedimento experimental dos testes cooperativos .................................................... 24

Teste de cooperação .......................................................................................... 25

Teste de prosocialidade ..................................................................................... 26

Teste controle .................................................................................................... 26

1. Relações Sociais ............................................................................................................. 27

Coleta de dados ................................................................................................. 27

Análise de dados ............................................................................................... 28

2. Atenção Social ............................................................................................................... 30

Coleta de dados ................................................................................................. 30

Análise de dados ............................................................................................... 30

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RESULTADOS ........................................................................................................................ 33

1. Relações Sociais ............................................................................................................. 33

Primeiro set ....................................................................................................... 33

Segundo e terceiro sets ...................................................................................... 34

2. Atenção Social ............................................................................................................... 35

Primeiro set ....................................................................................................... 35

Segundo e terceiro sets ...................................................................................... 37

DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 40

1. Relações Sociais ............................................................................................................. 40

2. Atenção Social ............................................................................................................... 42

CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 49

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RESUMO

Diversos estudos com primatas não humanos mostram que as relações entre os indivíduos têm

forte influência sobre a expressão de comportamentos cooperativos tanto em ambiente natural

como em cativeiro. Trabalhos recentes sugerem que espécies com cuidado cooperativo de

infantes têm desempenho destacado em testes que envolvem cognição social, como testes

cooperativos que utilizam aparatos experimentais. Nas pesquisas experimentais sobre o tema

é fundamental distinguir a cooperação verdadeira (ou comunicativa, mediada por atenção) da

cooperação que ocorre como subproduto de atividades coincidentes. O presente trabalho

avaliou em Callithrix jacchus, uma espécie com cuidado cooperativo da prole, se as relações

sociais e a atenção social entre os indivíduos são importantes elementos durante a realização

de tarefas cooperativas. No procedimento experimental, os animais participaram de três

tarefas cooperativas diferentes: teste de cooperação, teste de prosocialidade e controle.

Diferente do descrito na literatura, os testes de correlação de matrizes não revelaram

correlação significante entre relações afiliativas de catação e proximidade e a execução das

tarefas, e sugere-se que outros fatores podem influenciar a ocorrência das mesmas, como a

idade ou a hierarquia. Também não foi encontrada relação entre a execução das tarefas

cooperativas e olhares sociais, sugerindo, inicialmente, que não houve atenção social na

realização dos testes. Ademais, menores taxas de olhares sociais ocorreram no teste de

cooperação em relação ao controle. Entretanto, o reduzido número de puxadas por indivíduo

no teste de prosocialidade, apontou para a possibilidade dos indivíduos terem percebido a

diferença entre tarefas que beneficiam somente um parceiro e tarefas que geram benefício

próprio, dando preferência à última. Para as tarefas apresentadas neste trabalho não foi

possível detectar a influência das relações sociais nas tarefas cooperativas tampouco foi

possível afirmar que a cooperação e o comportamento prosocial são verdadeiros.

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ABSTRACT

Several studies on nonhuman primates show that the relationships between individuals

strongly influence the expression of cooperative behavior, both in natural environment and in

captivity settings. Recent studies suggest that cooperative breeders present outstanding

performance in tasks involving social cognition, such as cooperative tasks with experimental

apparatuses. In experimental research on this subject it is crucial to differentiate between real

cooperation (or communicative cooperation, mediated by social attention) and by-product

cooperation that results from simultaneous actions of individuals. The present study assessed,

in Callithrix jacchus, a cooperative breeder species, if social relationships and social attention

between subjects are important factors during performance in cooperative tasks. During the

experimental procedure the animals participated in three different cooperative tasks:

cooperation task, prosocial task and control task. Diverging from the literature, matrix

correlation tests revealed no significant relationship between grooming or proximity and the

execution of the tasks, suggesting that other factors such as age or hierarchy may have an

effect on the performance in cooperative tasks in this species. There was also no relationship

between the execution of the cooperative tasks and social glances, suggesting that there was

no social attention during the tasks. Moreover, there were lower rates of social glances in the

cooperative tasks as opposed to the control tasks. However, the small number of pulls in

prosocial tasks suggests that the animals distinguished between tasks that benefited only a

partner and tasks that generated benefits to themselves, choosing the latter. We conclude that,

for the tasks presented in this study, we could neither detect the role of social relationships on

the cooperative tasks nor assert that there were true cooperation and prosocial behavior.

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INTRODUÇÃO

Endêmica do Brasil, a espécie Callithrix jacchus, conhecida como sagui comum, está

entre os menores antropóides (o indivíduo adulto pesando entre 300 e 400 g, Araujo et al.

2000) e faz parte da família Callitrichidae de primatas do Novo Mundo que habitam

principalmente a América Central e a do Sul (Rylands et al. 2009).

São reconhecidos atualmente sete gêneros na família: Saguinus, Leontopithecus,

Callimico, Callithrix, Cebuella, Callibella, e Mico (Cortés-Ortiz 2009). Esses animais são

diurnos, arborícolas (Stevenson & Rylands 1988; Rylands et al. 1993) e alimentam-se

principalmente de frutos, artrópodes, e gomas (Nash 1986), sendo sua ecologia

comportamental fortemente influenciada pela grande variação sazonal na disponibilidade de

recursos na maioria dos habitats neotropicais que eles habitam.

Os membros do gênero Callithrix, assim como os outros calitriquídeos, apresentam

um sistema de criação cooperativa da prole (Stevenson & Rylands 1988). Na grande maioria

das vezes ocorre nascimento de gêmeos e os indivíduos não reprodutores, assim como os pais,

contribuem no cuidado aos infantes do grupo, principalmente transportando os filhotes,

dividindo comida, e protegendo-os contra predadores (Snowdon 1996). O sistema social e

reprodutivo do sagui comum é típico da família: os grupos contêm entre 3 e 15 indivíduos, e

geralmente uma única fêmea dominante se reproduz com um macho específico (Faulkes et al.

2009). Entretanto, sistemas de acasalamento monogâmicos, poligínicos e poliândricos já

foram reportados (para revisão, Yamamoto et al. 2009). O padrão de cuidado dos infantes é

claramente distinto de outros primatas uma vez que os juvenis e os sub-adultos, bem como os

machos adultos, fornecem cuidado significativo. Tal característica faz da espécie um grupo de

grande importância no que diz respeito a estudos sobre comportamentos sociais, como os

comportamentos cooperativos.

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A análise do comportamento cooperativo em primatas tem revelado que dois fatores

são importantes para a execução de tarefas cooperativas: as condições sociais e a cognição

(para revisão, Werdenich & Huber 2002) o que significa que tanto as competências sociais

(quem coopera com quem) quanto a capacidade individual (o entendimento da situação) são

relevantes (Chalmeau & Gallo 1996b). A tolerância social tem sido identificada como um

importante fator que influencia a ocorrência desses comportamentos nos primatas (para

revisão, Anderson 2007) e os indivíduos tendem a formar pares cooperativos com aqueles

animais que eles têm mais afinidade social (Crofoot et al. 2011). Ainda, a formação de pares

cooperativos pode ocorrer em um sistema de trocas, com os indivíduos trocando favores como

catação por suporte em conflitos (Seyfarth & Cheney 1984; Di Bitetti 1997).

Com relação à cognição, apesar de não serem animais muito estudados em trabalhos

sobre o assunto devido à distância filogenética dos humanos, indivíduos da família

Callitrichidae têm ganhado acentuada atenção nesta área, pois estudos experimentais vêm

mostrando que algumas espécies têm destacado desempenho em diferentes contextos que

demandam habilidades cognitivas variadas (Cronin et al. 2005; Halsey et al. 2006; Burkart

2009; Burkart et al. 2009; Burkart & van Schaik 2010; Burkart et al. 2011; Cacchione &

Burkart 2012). De forma mais contundente, Burkart & van Schaik (2010) sugerem que há

uma ligação causal entre cuidado cooperativo da prole e cognição social nesta família.

Segundo os autores, os processos cognitivos e motivacionais necessários para a execução e

coordenação dos comportamentos de ajuda podem favorecer também o desempenho cognitivo

em contextos cooperativos não relacionados diretamente ao cuidado dos filhotes (Burkart &

van Schaik 2010). A alta tolerância social, a atenção a pistas sociais dos membros do grupo, e

a coordenação comportamental características dessa família podem facilitar o desempenho em

tarefas sócio-cognitivas como a resolução de tarefas cooperativas (Snowdon 2001; Snowdon

& Cronin 2007; Burkart & van Schaik 2010).

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Este texto discute resultados de uma pesquisa voltada à análise destes dois fatores em

Callithrix jacchus e está estruturado da seguinte forma. Primeiramente é feita uma descrição

de trabalhos que mostram uma ligação entre relações sociais e comportamentos cooperativos

em primatas (tema 1). Em seguida, é apresentada uma revisão da literatura acerca das

habilidades cognitivas do sagui comum, incluindo trabalhos que mostram suas habilidades

cooperativas e trabalhos que oferecem suporte à idéia de que esses animais apresentam os

elementos de cognição social para engajar em comportamentos cooperativos verdadeiros,

mediados por atenção social (tema 2). Com esta base teórica foram elaborados experimentos

visando explorar a importância das relações sociais e da atenção social para a realização de

tarefas cooperativas em dois grupos familiares cativos de saguis comuns. São apresentados os

objetivos, as hipóteses, a metodologia, os resultados e a discussão também de forma a

identificar esses dois temas. Dois artigos estão sendo elaborados; o primeiro será submetido

para a revista A Primatologia no Brasil e o segundo para a revista Behavioural Processes.

1. Relações Sociais e Comportamentos Cooperativos

Na literatura especializada, diferentes tipos de comportamentos podem ser definidos

como cooperativos, como coalizão em conflitos, caça cooperativa, partilha de alimento,

defesa de território, catação e todos eles podem ser estudados tanto na natureza quanto em

cativeiro. De forma geral, os estudos mostram que a ecologia, a demografia, o grau de

parentesco, as relações de dominância, as relações sociais anteriores, e o status reprodutivo

estão entre os inúmeros fatores que influenciam a ocorrência de comportamentos cooperativos

nos primatas (Seyfarth & Cheney 1984; Silk et al. 2004). Mais especificamente, a tolerância e

a afinidade social são importantes elementos que podem determinar a ocorrência ou não

desses comportamentos (para revisão, Anderson 2007).

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Em uma abordagem sobre o tema, duas espécies do gênero Macaca foram estudadas

em um estudo comparativo. A primeira, Macaca tonkena é uma espécie altamente tolerante

quando comparada com a outra, Macaca mulatta, que vive em relações despóticas (Petit et al.

1992, para revisão Anderson 2007). Os autores utilizaram pedras pesadas sobre itens

alimentares para testar a habilidade dos indivíduos cooperarem em cada uma das espécies,

uma vez que um indivíduo sozinho não era capaz de retirar a pedra, mas precisava da ajuda de

outro co-específico. A retirada da pedra por dois indivíduos foi mais comum na espécie mais

tolerante.

Em seu trabalho com chimpanzés, Melis et al. (2006) mostraram que indivíduos que

se alimentam em proximidade espacial e de forma pacífica são mais propensos a cooperar em

uma tarefa que requer ação simultânea de dois animais para obtenção de recompensas,

concluindo que a tolerância age como uma importante limitação durante a realização dessas

tarefas na espécie. Em outro estudo (Hare et al. 2007), a tendência para cooperar foi

comparada entre bonobos e chimpanzés, os primeiros bem mais tolerantes que vivem em

relações sociais mais pacíficas que os últimos. Foi identificado que os bonobos eram mais

propensos a se alimentarem juntos e pacificamente que seus parentes mais próximos e que

apresentavam maior tendência a cooperar quando a recompensa obtida era facilmente

monopolizável (Hare et al. 2007). Essa diferença não existiu, entretanto, quando a

recompensa podia ser dividida. Os autores concluem que, mesmo quando dois indivíduos são

capazes de entender que é necessária a ajuda de outro animal para a resolução de uma tarefa, a

cooperação pode não ocorrer como resultado de baixa tolerância social (Hare et al. 2007).

De maneira similar, trabalhos com primatas do Novo mundo também já mostraram

relação entre proximidade espacial e comportamento cooperativo. O trabalho de Ferreira et al.

(2006) com macacos prego (Cebus apella) em ambiente semi-natural, correlacionou

proximidade e comportamento de coalizão nesses animais e mostrou que tal comportamento

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cooperativo está diretamente relacionado com a proximidade espacial entre os indivíduos,

sendo o suporte oferecido para o animal com maior índice de proximidade com o interventor.

Estudos com macacos prego revelam também que além de apresentarem

comportamentos cooperativos na natureza, como a coalizão (Ferreira et al. 2006) e

transferência de alimento (Ferreira et al. 2002) esses animais também cooperam em tarefas

que utilizam aparatos (Chalmeau et al. 1997b; Visalberghi et al. 2000; Mendres & de Waal

2000; de Waal & Berger 2000; Hattori et al. 2005).

Os calitriquídeos também se destacam nessas tarefas (Werdenich & Huber 2002;

Hauser et al. 2003, Cronin et al. 2005), e são uma escolha evidente para estudos sobre

cooperação e as relações sociais ligadas a esse comportamento. Eles apresentam um sistema

de cuidado cooperativo dos infantes (Stevenson & Rylands 1988), partilham alimento (Ferrari

1987), incluindo partilha ativa (para revisão, Menezes 2010), são altamente tolerantes uns

com os outros (Ferrari 1987; Kasper et al. 2008) e mantém coesão espacial e comportamental

com seus parceiros sociais (Digby & Barreto 1993). Para Cronin & Snowdon (2008), o

sistema social cooperativo dessa família e o forte vínculo que pode ser formado entre pares de

indivíduos podem contribuir para seu sucesso na realização de tarefas cooperativas,

destacando-os entre outras espécies mais competitivas ou sem fortes relações sociais.

Burkart & van Schaik (2012) utilizaram experimentos com aparatos para testar a

tolerância social e a motivação para prover alimento para um companheiro de grupo em três

diferentes espécies. Uma delas, o sagui (Callithrix jacchus) apresenta cuidado cooperativo dos

infantes, a outra, o macaco japonês (Macaca fuscata) é cuidador independente e a última é

intermediária com relação ao cuidado dos filhotes (Cebus apella). Os autores encontraram que

a tolerância social foi bem maior nos saguis e verificaram que somente esses animais

executaram comportamentos em benefício aos parceiros de grupo. O sistema de cuidado

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cooperativo dos infantes e a alta tolerância da espécie foram identificados como os

responsáveis por tal resultado (Burkart & van Schaik 2012).

Em um estudo sobre os principais fatores que influenciam o comportamento

cooperativo em Callithrix jacchus em uma tarefa instrumental, Werdenich & Huber (2002)

investigaram quais condições sociais poderiam determinar a ocorrência desse comportamento,

e deram ênfase na análise de tolerância inter-individual e distribuição de papéis para cooperar.

As duplas que foram bem sucedidas no teste de cooperação foram aquelas que, em uma fase

anterior de treinamento, o subordinado assumia o papel de ativo puxando uma corda do

aparato para o dominante receber uma recompensa. Os animais dominantes não forçaram os

subordinados a tal atividade e compartilharam a recompensa com seus parceiros, ressaltando a

importância da tolerância dos primeiros em relação aos segundos para a ocorrência de

cooperação. Os autores reconheceram que a cooperação depende, portanto, de fatores sociais

como a classificação na hierarquia, a distribuição específica de papéis na execução da tarefa e

a tolerância de indivíduos dominantes com relação aos subordinados.

Outro medidor de afinidade social é a catação. Um exemplo clássico de trabalho que

correlaciona a catação com o comportamento cooperativo de suporte em conflitos é aquele de

Seyfarth & Cheney (1984), onde os autores estudaram fêmeas de macacos vervet

(Chlorocebus aethiops) e testaram, com a ajuda de gravações de vocalizações, se a catação

realizada por um indivíduo A em um indivíduo B antes do teste aumentaria a possibilidade do

indivíduo B atender a solicitação de suporte do animal A. Seus resultados mostraram que,

para indivíduos não aparentados, os animais pareceram mais propensos a dar suporte àqueles

que haviam os catado recentemente. Posteriormente a este trabalho, diversos outros estudos

evidenciam um padrão de troca de catação por favores sociais (Henzi & Barrett 1999; Barrett

et al. 2012). Cheney et al. (2010) utilizaram metodologia semelhante àquela do trabalho

acima descrito e identificou que fêmeas de babuínos (Papio hamadryas ursinus) apresentaram

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comportamento semelhante às fêmeas de macacos vervet. A associação entre catação e

comportamentos cooperativos também foi identificada em bonobos (Legrain et al. 2010) e

chimpanzés (Foster et al. 2009).

Dunbar (1991) sugere que a catação nos primatas do Novo Mundo tem função

principal de higiene, ao contrário do que ocorre nos primatas do Velho Mundo, que, segundo

o autor tem função principalmente social. Contrária à idéia de Dunbar, diversos estudos já

mostraram que a catação é uma importante ferramenta para medir relações em espécies do

Novo Mundo (Ateles geoffroyi: Ahumada 1992; Cebus apella: Di Bitetti 1997; Alouatta

seniculus: Sanchez-Villagra et al. 1998; Callithrix jacchus: Lazaro-Perea et al. 2004). Di

Bitetti (1997) observou uma correlação entre a quantidade de catação trocada por um par de

indivíduos e a probabilidade desse par se apoiar em formação de alianças em macacos prego

(Cebus apella). Em seu trabalho, as díades que foram mais freqüentemente observadas em

sessões de catação foram as que mais colaboraram em alianças contra outros indivíduos.

Lazaro-Perea et al. (2004) observaram, em Callithrix jacchus, que as fêmeas reprodutoras

catavam as subordinadas com maior freqüência que o contrário, e sustentam que a catação é

uma importante ferramenta para manter a estrutura social do grupo, regulando as interações

entre fêmeas dominantes e subordinadas. Estudos com o tamarin também indicam uma

relação entre a catação e o cuidado dos infantes por filhos adultos (Ginther & Snowdon 2009).

Em conjunto, esses estudos mostram que existe ligação entre relações sociais e

comportamento em interações cooperativas, mostrando que a escolha de um parceiro para

essas interações pode ser influenciada pelas relações entre os indivíduos de um grupo

(Snowdon & Cronin 2007; de Waal et al. 2008), ressaltando a importância de se estudar essas

ligações.

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2. Cognição Social em Callithrix jacchus

Muitos primatas vivem em grupos de dois ou mais indivíduos. Esses grupos podem ser

de organização social simples, como em algumas espécies de prosímios que só se agregam

para dormir, ou de organização social complexa como a que ocorre nos grandes símios e em

espécies da família dos calitriquídeos (Smuts et al. 1987). Independente da forma de vida

social, problemas cognitivos no domínio social são constantes e para sobreviver é necessário

saber lidar com eles.

A hipótese da inteligência social sugere que uma maior cognição evoluiu como uma

conseqüência da necessidade de manobras comportamentais para lidar com as complexidades

da vida social (Byrne & Whiten 1988), e propõe que o tamanho do encéfalo (mais

especificamente o neocortex) também evoluiu nesse sentido (para revisão, Shettleworth

2010). Apesar de apresentarem encéfalos relativamente pequenos, tanto em volume absoluto

quanto em tamanho absoluto e relativo do encéfalo funcional, estudos recentes têm destacado

muitas habilidades cognitivas no domínio físico e principalmente no domínio social em

calitriquídeos (para revisão, Huber & Voelkl 2009). Estudos já demonstraram que algumas

espécies são capazes de se beneficiar de influências sociais que ajudam no aprendizado sobre

novos tipos de alimentos (Vitale & Queyras 1997; Caldwell, et al. 1999; Caldwell & Whiten

2003; Yamamoto & Lopes 2004; Voelkl et al. 2006; Schiel & Huber 2006) e aprender novas

técnicas de forrageio por meio da imitação (Bugnyar & Huber 1997; Voelkl & Huber 2000;

Caldwell & Whiten 2004). Alguns destes estudos apresentam evidências de que o aprendizado

social é uma importante forma de aprendizado em saguis (Huber & Voelkl 2009).

Trabalhos com o sagui comum já testaram sua capacidade de discriminação individual

(Jones et al. 1993) e de auto-reconhecimento (Heschl & Burkart 2006), contribuindo para a

crescente literatura acerca das capacidades cognitivas no domínio social desses pequenos

antropóides. A cooperação é outro tema explorado na espécie (Lazaro-Perea 2001; Werdenich

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& Huber 2002; Burkart et al. 2007) e muito do que sabe a respeito de comportamentos

cooperativos depende do conhecimento sobre o sistema de cuidado cooperativo da prole em

Callithrix jacchus (Koenig & Rothe 1991).

Habilidades cooperativas

O sistema de criação cooperativa da prole em Callithrix jacchus constitui, por si só,

um importante exemplo de comportamento cooperativo na espécie. Quando os ajudantes são

parentes dos filhotes, a ajuda pode ser explicada por seleção de parentesco (Hamilton 1964) e

quando não há parentesco com a prole, existem outros potenciais benefícios para os ajudantes

cuidadores, dentre eles o acesso aos recursos do grupo em que vive e o aprimoramento das

habilidades de cuidado à prole que lhes podem ser úteis no futuro (Emlen 1991; Tardif 1997).

Apesar de todos os indivíduos não reprodutores se envolverem no cuidado cooperativo, nem

todos os membros do grupo contribuem da mesma maneira. Sabe-se que os indivíduos mais

velhos transportam os infantes mais freqüentemente (Yamamoto & Box 1997) e partilham

mais alimento com eles (Ferrari 1987).

Além de cuidar, transportar e provisionar alimento aos infantes (Ferrari 1987), os

indivíduos não reprodutores também se envolvem em tarefas como a defesa de território

durante encontros entre grupos (Stevenson & Rylands 1988) ou defesa contra intrusos

(Rylands 1982). Tais comportamentos cooperativos foram analisados por Koenig & Rothe

(1991) que observou considerável participação no transporte dos infantes pelos pais e pelo

filho adulto da família, e a defesa contra intrusos foi feita por somente dois membros da

família: o filho adulto e uma filha sub-adulta. Esses resultados sugerem que existe uma

divisão de trabalho dentro do grupo estabelecendo os comportamentos de transporte dos

filhotes e defesa de território (Koenig & Rothe, 1991). Para Lazaro-Perea (2001), o

comportamento cooperativo dos indivíduos não reprodutores que ocorre durante eventos de

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defesa de território, mesmo tendo custos, fornece benefícios relacionados a decisões de

dispersão, sendo possível aos ajudantes avaliar potenciais parceiros bem como aumentar sua

familiaridade com grupos vizinhos.

Em laboratório, o mesmo estudo que verificou a influencia de fatores sociais na

cooperação em aparatos experimentais, submeteu os animais a uma tarefa cooperativa que

requeria divisão de tarefas e coordenação de atividades: um parceiro deveria puxar a corda do

aparato experimental para que o outro pudesse alcançar a recompensa. As díades formadas

foram capazes de cooperação ao coordenarem seus comportamentos no tempo e no espaço

(Werdenich & Huber 2002).

Sugere-se que a evolução do cuidado cooperativo da prole é acompanhada por

mudanças psicológicas que acentuam a prosocialidade (Burkart 2009; Burkart et al. 2009;

Burkart & van Schaik 2012). De fato, o comportamento prosocial, definido como o

comportamento que produz benefícios a outro indivíduo (ver adiante em Metodologia), tem

sido examinado nos calitriquídeos em estudos experimentais (Hauser et al. 2003; Cronin &

Snowdon 2008; Burkart et al. 2007; Cronin et al. 2009; Stevens 2010; Cronin et al. 2010;

Burkart & van Schaik 2012) e há resultados positivos (Burkart et al. 2007; Cronin et al. 2010;

Burkart & van Schaik 2012). Um trabalho com Saguinus oedipus investigou se a

reciprocidade pode influenciar a ocorrência de comportamento prosocial e testou os animais

em duas condições: com um parceiro que havia fornecido um benefício anteriormente, e com

um parceiro que não havia fornecido nenhum benefício (Cronin et al. 2010). Apesar de terem

encontrado evidências de reciprocidade, os autores encontraram variações no comportamento

dos indivíduos com o tempo, e o resultado final indica que a reciprocidade não era uma

explicação suficiente para a ocorrência de prosocialidade. Eles sustentam, portanto, que a

espécie apresenta comportamento prosocial (Cronin et al. 2010).

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Com relação à Callithrix jacchus, Burkart et al. (2007) sugerem que essa espécie

também apresenta comportamento prosocial, provisionando alimento de maneira espontânea e

altruísta a indivíduos não aparentados (Burkart et al. 2007). Em seu experimento, os animais

foram isolados de seus grupos e confrontados com duas opções de bandeja numa tarefa

cooperativa: uma contendo recompensa somente para o parceiro (0,1) e outra sem nenhuma

recompensa (0.0). Foi observado que os animais puxavam mais a bandeja (0,1) quando um

parceiro estava presente na gaiola adjacente à sua do que na condição controle, quando o

indivíduo ativo estava sozinho e a gaiola adjacente estava vazia. O mesmo grupo de

pesquisadores fez experimentos parecidos, mas dessa vez com todos os sagüis presentes no

mesmo viveiro e os resultados encontrados também sustentam que esses animais doam

alimento para seus parceiros espontaneamente e na ausência de solicitação (Burkart & van

Schaik 2012).

Evidência adicional sobre as habilidades cooperativas no sagüi comum foi reportada

por Kasper et al. (2008) em um trabalho que mostrou a ocorrência de transferência de

alimento entre indivíduos adultos. Os autores observaram transferência boca a boca entre os

animais que, durante a partilha, abriam as bocas uns dos outros para ter acesso à comida e

essa transferência ocorreu tanto quando os indivíduos subordinados eram os possuidores do

alimento quanto na direção contrária.

Segundo Burkart et al. (2009) e Burkart & van Schaik (2010), deve existir uma ligação

entre esse cuidado cooperativo da prole e o desempenho cognitivo desses animais,

principalmente no domínio social. A atenção diferencial durante a monitoração dos co-

específicos; a habilidade de coordenar ações no tempo e no espaço; a alta tolerância social; a

alta sensibilidade aos sinais de outros indivíduos e a prosocialidade estão entre os processos

cognitivos e motivacionais que sustentam os comportamentos de ajuda durante o cuidado

cooperativo da prole. Esses processos devem facilitar o desempenho na maioria das tarefas

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sócio cognitivas como o aprendizado social e tarefas que necessitam o entendimento da

comunicação visual; ajustar sistemas de comunicação através da sinalização cooperativa;

favorecer o comportamento prosocial em contextos outros que não o de cuidado da prole, e

por fim, devem aumentar o desempenho em tarefas cooperativas que exigem habilidade para

coordenar ações com outros indivíduos no tempo e no espaço (Burkart & van Schaik 2010).

Os autores sustentam que as três últimas habilidades implicam numa maior capacidade para a

resolução de problemas em tarefas cooperativas, o que se deve principalmente à cognição

social característica e diferencial das espécies que apresentam cuidado cooperativo dos

filhotes (Burkart et al. 2009; Burkart & van Schaik 2010).

Olhares Sociais em Tarefas Cooperativas

Os trabalhos que estudam a habilidade dos primatas de resolver tarefas cooperativas

em cativeiro têm buscado compreender por que mecanismos proximais tais habilidades são

mantidas (para revisão, Werdenich & Huber 2002; Noe 2006). Além das relações entre os

indivíduos que são importantes determinantes para a realização dessas tarefas, como visto

anteriormente, alguns estudos se interessam em conhecer as capacidades cognitivas

subjacentes aos comportamentos realizados. Vários estudos têm demonstrado que os primatas

utilizam diversos mecanismos cognitivos para monitorar os comportamentos de co-

específicos em diferentes interações sociais (Tomasello & Call 1997; Tomasello 2000). Esses

mecanismos cognitivos são considerados adaptações comportamentais de grande valia na

complexa rede de demandas sociais na qual os indivíduos estão inseridos.

No que diz respeito à cognição envolvida, busca-se identificar se os animais entendem

o papel de um parceiro em uma interação social, e se eles trocam informações para resolver

um problema cooperativo. Para Noe (2006) identificar essas capacidades é crucial para se

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distinguir a cooperação verdadeira da cooperação que ocorre como resultado de ações

individuais simultâneas.

Considera-se que, quando ocorre comunicação entre os animais, e quando esses estão

atentos aos seus parceiros identificando a importância do papel desses durante a realização de

uma tarefa, há a compreensão da tarefa cooperativa. Sem a comunicação ou a atenção social,

ao contrário, a resolução de uma tarefa é considerada como um subproduto de atividades

coincidentes (para revisão, Werdenich & Huber 2002). Para Chalmeau & Gallo (1996b) a

troca de informação entre os indivíduos envolvidos na resolução de uma tarefa cooperativa é

de extrema importância para o ajuste de seus comportamentos.

Vários estudos experimentais já identificaram que primatas do Velho Mundo são

capazes de compreender tarefas de cooperação e entender o papel de outros indivíduos na

realização destas (chimpanzés: Boesch & Boesch 1989; Chalmeau 1994; Chalmeau & Gallo

1996a; Chalmeau & Gallo 1996b; Hirata & Fuwa 2007; orangutangos: Chalmeau et al.

1997a). Os primatas do Novo Mundo também têm sido estudados e a cooperação verdadeira

já foi reportada em algumas espécies tais como o macaco prego (Mendres & de Waal 2000;

mas ver Chalmeau et al. 1997b) e o tamarin (Cronin et al. 2005).

Chalmeau et al. (1997b) defendem que a troca de informações entre parceiros a fim de

permitir um ajuste entre seus comportamentos não ocorre em Cebus apella, pois seus

resultados sobre o desempenho desses animais em tarefas cooperativas são consistentes com o

nível de cooperação rotulado similaridade de Boesh & Boesh (1989), quando ocorrem ações

sem coordenação no tempo e no espaço. Por outro lado, Mendres & de Wall (2000) testaram,

por meio de aparatos, a capacidade de dois indivíduos dessa mesma espécie operarem em

conjunto para obtenção de uma recompensa, e observaram que os sujeitos tinham seu sucesso

reduzido quando o contato visual entre eles era eliminado. Além disso, os animais olharam

para seus parceiros em maiores taxas quando era necessária sua ajuda para resolver uma

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tarefa, e puxavam mais a alavanca do aparato quando um parceiro estava presente do outro

lado do que quando estava ausente. Os autores argumentam que esses resultados fornecem

evidências de que os macacos prego entenderam a tarefa cooperativa e foram capazes de levar

em conta a ação de seu parceiro para a realização da mesma.

Aos animais com cuidado cooperativo dos infantes, atribui-se um desempenho

diferencial em tarefas que necessitam o entendimento da comunicação visual (Burkart et al.

2009; Burkart & van Schaik 2010). O trabalho de Cronin et al. (2005) defende que na espécie

Saguinus oedipus da família Callitrichidae, o indivíduo é capaz de entender o papel de um

parceiro durante tarefas cooperativas, modificando seu comportamento de acordo com a

presença ou não de um outro animal em um aparato que requer que dois animais trabalhem

simultaneamente para obter recompensas. Para esses autores, outras espécies de calitriquídeos

devem ter desempenho similar em tarefas cooperativas desse tipo.

O monitoramento visual já foi reportado no sagui comum (Callithrix jacchus) como

tendo importante função para detecção e evitação de predadores (Koenig 1998) e durante a

atenção a algum evento (Range & Huber 2007), sendo esta considerada relevante durante a

realização de testes cooperativos. Em acordo com essa idéia está o experimento controle

realizado por Burkart & van Schaik (2012) que permitiu assegurar que indivíduos dessa

espécie foram capazes de compreender o papel de receptor de seus parceiros durante a

execução de experimentos que beneficiavam esses receptores com um petisco. Entretanto,

Mendes (2009) não conseguiu confirmar tal resultado e concluiu que a atenção social e a

comunicação não ocorrem em fêmeas adultas não aparentadas do sagüi comum e que a

cooperação entre elas é subproduto de atividades coincidentes.

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OBJETIVOS

Este estudo teve como objetivo estudar o comportamento cooperativo do sagui comum

(Callithrix jacchus) em cativeiro durante a manipulação de aparatos em tarefas cooperativas.

Os objetivos específicos foram:

1. Investigar se a tolerância social e a afiliação (medidas por meio da proximidade e do

comportamento de catação) entre os indivíduos no contexto familiar estão relacionados com a

execução de tarefas cooperativas (tarefas de cooperação e de prosocialidade) por eles.

2. Investigar se a realização dessas tarefas é mediada por atenção social (definida como

atenção ao parceiro cooperativo e medida por meio dos olhares sociais).

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HIPÓTESES E PREDIÇÕES

Hipótese 1a: A afiliação entre os indivíduos facilita a cooperação.

Predição 1a: Espera-se que os indivíduos que passem maior tempo em proximidade e em

catação também cooperem mais por meio da coordenação de atividades, ou seja, deve haver

uma correlação positiva entre essas relações e as puxadas no aparato no teste de cooperação.

Hipótese 1b: A afiliação entre os indivíduos favorece o comportamento prosocial.

Predição 1b: Espera-se que relações afiliativas anteriores facilitam o comportamento

prosocial, ou seja, que os animais que realizam catação e ficam próximos com mais

freqüência sejam os que mais doem alimento de forma prosocial aos seus parceiros.

Hipótese 1c: A catação e o comportamento prosocial entre os indivíduos ocorrem em um

sistema de troca de favores.

Predição 1c: Espera-se que os animais que realizam catação com mais freqüência sejam os

que mais recebam alimento de seus parceiros.

Hipótese 2a: A cooperação em saguis é verdadeira, ou seja, mediada por atenção social.

Predição 2a: Espera-se uma correlação positiva entre a execução das tarefas (puxadas no

aparato no teste de cooperação) e os olhares sociais (olhares entre os indivíduos envolvidos

nas tarefas).

Predição 2a´: Esperam-se maiores taxas de olhares sociais nos testes que requerem ação

simultânea de dois animais do que nos testes em que um indivíduo sozinho é capaz de

resolver a tarefa.

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Hipótese 2b: O comportamento prosocial em saguis é verdadeiro, ou seja, mediado por

atenção social.

Predição 2b: Espera-se que os indivíduos com maiores quantidades de olhares sociais

apresentem também mais taxas de comportamentos prosociais (puxadas para o parceiro no

aparato).

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METODOLOGIA

A literatura diverge na definição do termo “cooperação”, e termos amplamente usados

como cooperação, mutualismo, reciprocidade, altruísmo recíproco e simbiose são às vezes

usados como sinônimos e outras vezes como diferentes categorias do comportamento

cooperativo. Ainda, o que alguns autores consideram cooperação é considerado por outros

como um subproduto de ações individuais coincidentes se não há compreensão da tarefa pelos

animais envolvidos na realização da mesma (para revisão Noe 2006). Tais divergências têm

dificultado conclusões acerca do assunto e a troca de informações entre os pesquisadores da

área. Neste trabalho empregamos o termo cooperação fazendo referência a comportamentos

onde os animais operam em conjunto, sendo a cooperação considerada verdadeira quando os

indivíduos estão atentos ao parceiro para coordenar suas atividades para realizar uma tarefa

(Mendres & de Wall 2000; Werdenich & Huber 2002).

A palavra prosocial é outro termo da literatura que possui significados diferentes de

acordo com o autor que a utiliza ou com o campo de estudo em que ela é empregada. A

definição de comportamentos prosociais aqui utilizada é a aquela de Burkart et al. (2009), que

os define como aqueles comportamentos que produzem benefício a outros indivíduos (Burkart

et al. 2009). Uma análise distal pode revelar que esses comportamentos são resultado de

seleção de parentesco, altruísmo recíproco, mutualismo, manipulação, etc. Porém, os meios

evolutivos pelos quais eles são mantidos não são o foco do presente trabalho. Aqui, a análise é

feita em nível próximo, com a investigação do papel das relações sociais e da atenção social

para a ocorrência desses comportamentos, sendo o comportamento prosocial considerado

verdadeiro quando há atenção e compreensão da tarefa pelos animais. Por fim, o termo

atividades/tarefas/habilidades cooperativas será utilizado para fazer alusão a ambos os tipos

de comportamentos (cooperação e comportamentos prosociais).

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Primeiramente será descrita a metodologia do trabalho que foi comum aos estudos

sobre os temas 1 e 2 e depois apresenta-se a metodologia específica para cada um deles.

Animais e alojamento

Foram estudados dois grupos familiares cativos de Callithrix jacchus do Núcleo de

Primatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Cada família estava alojada

em um recinto de alvenaria com portões de ferro e piso de cimento, com 2x1x2 m, equipado

com plataformas e troncos de madeira, comedouros, bebedouro e caixa ninho. Cada recinto

era parcialmente coberto com telhas de cerâmica, permitindo que os sagüis ficassem expostos

à temperatura e ciclo de luz naturais. Os animais mantinham contato visual, auditivo e

olfativo com indivíduos de outras famílias do núcleo. A tabela 1 apresenta a composição das

duas famílias que foram estudadas (F09 e F05/06), bem como o sexo e a classificação etária

dos animais segundo Yamamoto (1993).

Tabela 1: Composição e classificação etária das duas famílias estudadas *.

* Os dados se referem ao primeiro dia de teste experimental de cada set (ver adiante) e mostram que a

composição da família F09 variou durante os testes. Houve saída de um animal (Fiel) após o primeiro set e

nascimento de outro (Fifi), que passou a participar dos experimentos a partir do segundo set. A composição da

família F05/06 não variou durante os testes e a partir do segundo set a família F09 permaneceu a mesma até o

fim dos experimentos.

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Os animais eram identificados pela marcação dos tufos periauriculares, dorso, patas

dianteiras e/ou patas traseiras com solução de ácido pícrico à 5%. Essa substância faz com

que as partes do corpo adquiram coloração amarelada.

Materiais

Dois aparatos experimentais idênticos foram utilizados na realização dos

experimentos. Cada aparato experimental (figuras 1 e 2) consistiu de uma plataforma de

madeira contendo duas alavancas separadas entre si por aproximadamente 40 cm. As duas

alavancas eram presas em trilhos de alumínio, o que permitia que elas se movimentassem

como gavetas, e estavam conectadas uma a outra por uma barra. Em uma das extremidades de

cada alavanca estava conectada uma bandeja e cordas foram dispostas nas outras

extremidades para permitir que os animais puxassem as alavancas e tivessem acesso às

bandejas com as recompensas.

Foram feitos três diferentes testes experimentais. O primeiro teste foi denominado

Teste de cooperação (figura 1), o segundo teste foi chamado Teste de prosocialidade (figura

2a) e o terceiro teste foi o Teste controle (figura 2b).

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Figura 1: Desenho esquemático do aparato experimental utilizado no Teste de cooperação. Neste teste, ambas as

bandejas continham uma recompensa alimentar, de maneira que os dois animais envolvidos na tarefa cooperativa

recebiam alimento.

Figura 2: Desenhos esquemáticos dos aparatos utilizados no Teste de cooperação (A) e Teste controle (B). Em

A, o indivíduo que puxa a cordinha não recebe recompensa, enquanto que em B os dois indivíduos que estão no

aparato recebem o reforço alimentar.

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Os reforços alimentares utilizados foram pedaços de banana com aproximadamente

0,5 cm2. Todos os experimentos foram gravados por meio de câmeras de vídeo que eram

dispostas em tripés na frente dos viveiros durante os experimentos (figura 3). Computadores

foram utilizados para posterior análise dos vídeos e dos dados.

Procedimento experimental dos testes cooperativos

Os experimentos foram feitos após uma fase de treinamento dos animais para operação

dos aparatos. O treinamento foi feito de forma que ações individuais resultavam em obtenção

individual de alimento, isto é, os saguis foram treinados a puxar as alavancas quando a barra

que as conecta havia sido removida. Assim, quando um animal puxava uma alavanca, ele

recebia a recompensa da bandeja e não era necessária a ação simultânea de puxar as alavancas

para obtenção dos reforços alimentares.

Os animais foram treinados por duas semanas em sessões de aproximadamente 10

minutos. Nenhum indivíduo foi manipulado de modo a minimizar o estresse dos animais, por

isso o treinamento de cada sagui ocorreu de forma aleatória, à medida que os animais

estabeleciam contato e manipulação com os aparatos.

Dois aparatos foram colocados na frente de cada viveiro de modo que as extremidades

das alavancas contendo as cordas ficavam dentro dos viveiros e as extremidades contendo as

bandejas com reforço alimentar ficavam fora do alcance dos animais, externas aos viveiros

(figura 3). Para trazer a bandeja ao seu alcance, cada indivíduo precisava puxar a corda, o que

permitia que a alavanca corresse sobre o trilho. Os indivíduos tinham acesso visual e olfativo

às recompensas e, para que estivessem motivados à realização das tarefas eles foram privados

de alimento por duas horas antes dos treinos e também das sessões experimentais. Todos os

experimentos foram realizados no período da tarde, entre 13h e 17h e tanto o treinamento

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como as sessões experimentais foram conduzidos com todos os indivíduos de cada família

presentes nos viveiros.

Figura 3: Disposição dos aparatos experimentais e das câmaras de vídeo na frente do viveiro dos animais.

Testes de cooperação

Após o treinamento, teve início a fase de teste de sincronismo de atividades para

obtenção conjunta de recompensas alimentares (Teste de cooperação). Neste experimento foi

testada a capacidade de cooperar dos animais.

Dois aparatos idênticos (figura 1) foram dispostos ao mesmo tempo na frente dos

viveiros de cada família de maneira semelhante ao treinamento, o que permitiu que duas

díades fossem formadas de modo a reduzir as chances de somente alguns animais

monopolizarem o aparato. Entretanto, ao contrário das condições na fase de treinamento, as

alavancas do aparato foram conectadas por uma barra, o que fazia necessário dois animais

puxarem as duas alavancas simultaneamente para que as bandejas chegassem ao seu alcance.

Se apenas um animal puxasse uma alavanca, ou se os dois puxassem de forma

dessincronizada, as bandejas não deslizavam e não era possível que eles obtivessem as

recompensas.

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Teste de Prosocialidade

Esse teste analisou a ocorrência de comportamento prosocial nos saguis, ou seja, se os

animais eram capazes de executar uma tarefa em benefício de um parceiro. Assim como no

teste de cooperação, dois aparatos (Figura 2a) ficaram disponíveis para os animais durante as

sessões. Ao puxar uma alavanca, as duas bandejas chegavam ao alcance de cada animal no

aparato, mas somente a bandeja do animal que não puxou continha a recompensa. O indivíduo

que puxava e nunca recebia a banana podia ver que seu parceiro era beneficiado com a sua

ação.

Teste Controle

Um terceiro teste experimental foi realizado para comparação e controle dos resultados

obtidos nos dois primeiros testes. Tudo foi feito de modo similar ao teste de prosocialidade,

mas aqui, os dois indivíduos recebiam a fruta a partir da ação de somente um animal que

puxava a corda da alavanca.

Nos três testes, assim como no treinamento, as duplas de indivíduos de cada aparato

(um animal na frente de cada bandeja) também se estabeleceram de maneira espontânea, já

que os animais não foram manipulados e estavam todos juntos nos viveiros.

Os experimentos foram divididos em três sets experimentais, cada set contendo os três

testes (Cooperação, Prosocialidade e Controle). Para cada teste houve uma sessão de dez

minutos por dia, durante cinco dias e, como havia uma câmera para cada dupla formada, foi

possível obter vídeos de boa qualidade para análise dos parâmetros comportamentais de

interesse. Com duas câmeras em cada viveiro (uma para cada aparato), as sessões em cada

família foram registradas em dois vídeos, o que resultou em quatro vídeos de dez minutos

cada por dia (dois para cada família), e sessenta vídeos por teste experimental.

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1. Relações sociais

Coleta de dados

O padrão de relação social de cada indivíduo foi registrado por meio de

comportamentos afiliativos de catação e proximidade e os registros foram obtidos por meio do

método focal instantâneo (Altmann 1974) com intervalos de 30 segundos entre registros,

durante dez minutos. A catação foi definida como a exploração dos pêlos realizada com as

mãos ou com a boca, que podia ocorrer entre dois ou mais indivíduos. Incluiu receber catação,

quando o animal focal recebia catação de algum outro membro do grupo, e fazer catação,

quando o animal focal dirigiu este comportamento a outro animal. A proximidade foi

considerada quando o animal focal encontrava-se a até 15 cm de outro (s) indivíduo (s)

(Lopes 2002). Esses dados das relações sociais foram coletados de duas maneiras:

- durante dez dias antes de ter início os testes cooperativos do primeiro set, e durante

outros dez dias antes de ter início os testes cooperativos do segundo set. A idéia inicial era

fazer um único registro, antes de submeter os animais aos experimentos com os aparatos,

porém, a composição da família F09 variou entre o primeiro e o segundo sets, mas

permaneceu a mesma durante o segundo e o terceiro (ver tabela 1). Além disso, houve um

intervalo nos experimentos entre o primeiro e o segundo set, devido a reformas no Núcleo de

Primatologia, e considerou-se, portanto, que as condições do primeiro set poderiam ser

diferentes daquelas do segundo e do terceiro. Por causa desse intervalo, foram feitas duas

coletas dos dados das relações sociais.

- diariamente, no dia de cada experimento do segundo e do terceiro sets, na hora

anterior a cada sessão experimental. Durante o primeiro set não foram registrados dados

sociais nessas condições.

Nos testes cooperativos, a coleta de dados por meio das filmagens permitiu registrar a

variável puxadas. Essas definiram a realização das tarefas cooperativas, e em termos motores,

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ela foi definida como um animal segurar a corda da alavanca fazendo a bandeja deslizar

trazendo o reforço ao seu alcance. No teste de cooperação elas ocorriam sempre em duplas,

enquanto que nos testes de prosocialidade e controle elas eram exercidas por um indivíduo

somente, o emissor.

Análise de dados

Com relação aos dados coletados por dez dias antes do início dos testes, a análise dos

dados do primeiro set foi feita separadamente daquela do segundo e do terceiro, que foram

analisados juntos. Os motivos para as análises serem organizadas dessa maneira já foram

descritos acima. Com relação aos dados coletados diariamente antes de cada sessão, o

segundo e o terceiro sets também foram analisados juntos.

Para verificar a importância das relações sociais entre os animais para a cooperação e a

prosocialidade, testes de correlação de matrizes foram realizados. Como as díades nos

aparatos foram formadas aleatoriamente, houve muitas possibilidades de formação de duplas,

e durante a análise dos dados isso leva a uma dependência estatística. Foi utilizado então o

teste Tau Kr para correlação de matrizes, uma vez que tal teste leva em consideração a

dependência dos dados (Hemelrijk, 1990a, b).

Para cada família, e para os três sets (o primeiro separado, e o segundo e o terceiro

juntos) para o teste de cooperação foi criada uma matriz quadrada simétrica onde cada célula

continha número de vezes que os animais puxaram juntos a corda. Para o teste de

prosocialidade foi criada uma matriz quadrada assimétrica de puxadas, onde as linhas

representavam o número de puxadas do indivíduo emissor (o que puxava a corda) para seu

parceiro receptor em cada díade formada.

Uma matriz de catação quadrada simétrica foi criada para correlação com a matriz

simétrica de puxadas do teste de cooperação. Essa matriz foi feita somando-se os valores

obtidos para cada díade. Outra matriz de catação foi criada para correlação com a matriz de

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puxadas do teste de prosocialidade, e por isso, era assimétrica. Uma matriz de proximidade

quadrada simétrica foi criada para correlação com as puxadas dos dois testes cooperativos.

A matriz de puxadas assimétrica do teste de prosocialidade foi transposta para ser

correlacionada com a matriz de catação para se testar a hipótese sobre a troca de favores entre

catação e doação de alimento (Hipótese 1c).

Como os indivíduos participaram em quantidades diferentes dos testes experimentais,

todas as matrizes foram normalizadas para se retirar o possível efeito de um viés no número

de puxadas que poderia existir se diferentes indivíduos tivessem diferentes motivações para

participar das tarefas. Tanto para as puxadas quanto para as relações sociais, o índice de

Jaccard foi utilizado como um método de normalização nas matrizes simétricas. Para as

matrizes assimétricas a normalização foi feita dividindo-se o número de puxadas/catação do

emissor A para o receptor B pelo número total de puxadas/catação do emissor A para todos os

indivíduos receptores com os quais ele formou dupla. A figura 4 mostra um exemplo de

matriz simétrica e outro de matriz assimétrica antes e depois das normalizações.

Os testes de correlação foram feitos utilizando-se as matrizes normalizadas, o que

significa que foi verificado se os indivíduos que se catam / estão em proximidade acima da

média do grupo também cooperam / são prosociais acima da média do grupo.

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30

Figura 4: Exemplo de uma matriz simétrica antes (a) e depois (b) da normalização e de uma matriz assimétrica

antes (c) e depois (d) da normalização.

2. Atenção social

Coleta de dados

A filmagem dos testes cooperativos permitiu o registro das três variáveis de interesse

para o estudo do papel da atenção social nestes testes. São elas: as puxadas, os olhares sociais

e a presença dos indivíduos em cada bandeja do aparato.

O olhar social foi definido como a movimentação da cabeça de um animal em direção

ao parceiro que estava na outra bandeja no mesmo aparato, e a ele foi atribuída função de

atenção social (Mendres & de Waal, 2000). As puxadas, como já foi dito, definiram a

execução das tarefas e a presença de cada animal na bandeja foi quantificada a cada 30

segundos.

Análise de dados

Assim como para os dados das relações sociais, o primeiro set foi analisado

separadamente do segundo e do terceiro que foram analisados juntos somando-se os valores

de cada set. As matrizes de puxadas foram as mesmas utilizadas na análise das relações

sociais. Para o teste de cooperação, foi criada uma matriz simétrica com o numero de olhares

sociais entre os dois indivíduos de cada dupla que participou da tarefa, e para o teste de

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31

prosocialidade a matriz criada foi assimétrica com o número de olhares dos indivíduos

emissores (os que puxavam a corda) para seus parceiros receptores em cada dupla estabelecia.

As matrizes de presença dos animais nas bandejas eram simétricas para o teste de cooperação

e assimétricas para o teste de prosocialidade. Também aqui as matrizes simétricas e

assimétricas foram normalizadas, da mesma maneira que descrito anteriormente.

Com a finalidade de verificar se a atenção social é um elemento importante para a

ocorrência de cooperação e de comportamentos prosociais, para cada teste foi feita uma

correlação entre a matriz de olhares sociais e a matriz de puxadas, e a matriz de presença na

bandeja foi utilizada como co-variável. Por meio do programa Matrix Tester 2.2.4, foi

aplicado o teste Tau Kr parcial, que mede a associação entre duas matrizes mantendo

constante o efeito de uma terceira matriz (Hemelrijk, 1990a, b).

Foram feitos também testes de comparação entre médias e seus correspondentes não

paramétricos para análise dos dados olhares sociais (para testar a predição 2a´) e de puxadas,

utilizando-se o programa SPSS 16.0. Aplicou-se o teste de Kolmogorov - Smirnov (K-S) e

quando os dados apresentaram distribuição normal, eles foram analisados por meio do teste T

de Student dependente; quando a distribuição dos dados apresentou desvio da curva normal, o

teste dos postos com sinais de Wilcoxon foi utilizado (tabela 2). Para todas as análises, os

testes estatísticos foram unilaterais e o nível de significância adotado foi de 5%.

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32

Tabela 2: Tipo de distribuição (normal ou não normal) dos dados de puxadas e olhares sociais nas duas

famílias no primeiro e no segundo e terceiro sets e os testes estatísticos utilizados nas análises.

P

U

X

A

D

A

S

Valores (K-S) Distribuição Teste estatístico

F09 1º SET D(5) = 0,47, p =

0,001 no teste de

prosocialidade e

D(5) = 0,38, p =

0,02 no teste

controle

Não normal nos

dois testes

experimentais

Teste dos postos

com sinais de

Wilcoxon

2º e 3º SETS D(5) = 0,32, p =

0,11 no teste de

prosocialidade e

D(5) = 0,20, p

=0,2 no teste

controle

Normal nos dois

testes

experimentais

Teste T de

Student

F05/06 1º SET D(6) = 0,16, p =

0,2 no teste de

prosocialidade e

D(6) = 0,14, p =

0,2 no teste

controle

Normal nos dois

testes

experimentais

Teste T de

Student

2º e 3º SETS D(6) = 0,36, p =

0,02 no teste de

prosocialidade e

D(6) = 0,19, p =

0,2 no teste

controle

Não normal no

teste de

prosocialidade e

normal no teste

controle

Teste dos postos

com sinais de

Wilcoxon

O

L

H

A

R

E

S

Valores (K-S) Distribuição Teste estatístico

F09 1º SET D(5) = 0,21, p =

0,2 no teste de

cooperação, e

D(5) = 0,24, p =

0,2 no teste

controle

Normal nos dois

testes

experimentais

Teste T de

Student

2º e 3º SETS D(5) = 0,22, p =

0,2 no teste de

cooperação e

D(5) = 0,29, p =

0,2 no teste

controle

Normal nos dois

testes

experimentais

Teste T de

Student

F05/06 1º SET D(6) = 0,25, p =

0,2 no teste

controle e D(6)

= 0,39, p =

0,004 no teste de

cooperação

Normal no teste

controle e não

normal no teste de

cooperação

Teste dos postos

com sinais de

Wilcoxon

2º e 3º SETS D(6) = 0,20, p =

0,2 no teste

controle e D(6)

= 0,33, p =

0,044 no teste de

cooperação

Normal no teste

controle e não

normal no teste de

cooperação

Teste dos postos

com sinais de

Wilcoxon

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33

RESULTADOS

1. Relações sociais

Primeiro set

No primeiro set os dados de afiliação foram coletados antes de terem início os testes

experimentais, mas não antes do início de cada sessão experimental. Considerando que as

relações sociais entre os primatas são consideradas importantes fatores que influenciam a

ocorrência de comportamentos cooperativos (Hipóteses 1a e 1b), esperava-se que os animais

que mais se catassem ou que passassem mais tempo em proximidade, cooperassem mais nos

aparatos (Predição 1a). Ao contrário do esperado, não foi observado correlação positiva

significante entre catação e puxadas em nenhuma das famílias (F05/06: Tau Kr = - 0,12, pl =

0,32; F09: Tau Kr = - 0,55, pl = 0,1) nem entre proximidade e puxadas (F05/06: Tau Kr =

0,21, pr = 0,16; F09: Tau Kr = - 0,11, pl = 0,42). No teste de prosocialidade, era esperado que

os animais doassem mais alimento àqueles indivíduos que eles mais catavam e também aos

indivíduos com os quais eles passassem mais tempo em proximidade (Predição 1b), mas os

resultados não seguiram essas suposições. Na correlação das matrizes de puxadas e catação,

na F05/06 o valor do Tau Kr foi - 0, 27 com significância pl = 0,13 e na F09, o Tau Kr não

pôde ser calculado, devido ao grande número de células na matriz com valor zero. Na

correlação de puxadas e proximidade, na F05/06 o valor de Tau Kr foi – 0,07 com

significância pr = 0,35 e na F09 os resultados foram: Tau Kr = 0,24, pr = 0,51).

A hipótese 1c sugeria que a catação ocorria em um sistema de troca entre os animais e

sendo assim, esperava-se que os animais que mais catassem seus parceiros seriam os que mais

receberiam alimento desses no teste de prosocialidade (predição 1c). Os resultados mostraram

que não ocorreu esse tipo de troca na F05/06 (Tau Kr = - 0,19, pl = 0,23) e na F09 o Tau Kr

também não pôde ser calculado.

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Segundo e terceiro sets

A análise dos dados de afiliação que foram registrados por dez dias antes de ter início

o segundo set foram correlacionadas com os dados de puxadas do segundo e terceiro sets

somados, e também não oferecem suporte à predição 1a, ou seja, não houve correlação

significante entre puxadas e catação no teste de cooperação (F05/06: Tau Kr = - 0,15, pl =

0,27; F09: Tau Kr = 0,2, pr = 0,22). Para o teste de prosocialidade também não foi encontrada

correlação como esperava-se com a predição 1b (F05/06: Tau Kr = - 0,2, pl = 0,20; F09: Tau

Kr = 0,85, pr = 0,01). A correlação entre puxadas e proximidade também não foi significante

em nenhum dos testes (Cooperação: F05/06: Tau Kr = 0,15, pr = 0,18; F09: Tau Kr = 0,2, pr =

0,33; Prosocialidade: F05/06: Tau Kr = 0,06, pr = 0,44; F09: Tau Kr = 0,31, pr = 0,23).

Também em desacordo com a hipótese 1c que sugeria que os animais poderiam trocar

catação por alimento, a correlação de matrizes não foi significante na F09 (Tau Kr = - 0,22, pl

= 0,23) nem na F05/06 (Tau Kr = 0,05, pr = 0,39).

As correlações de matrizes com os dados de relações afiliativas que foram coletados

diariamente, antes do início de cada sessão experimental também vão de encontro às nossas

hipóteses iniciais. A correlação entre puxadas e catação não foi significante no teste de

cooperação em nenhum das famílias (F05/06: Tau Kr = - 0,25, pl = 0,09; F09: Tau Kr = 0,15,

pr = 0,36), nem no teste de prosocialidade (F05/06: Tau Kr = - 0,15, pl = 0,19; F09: Tau Kr = -

0,55, pl = 0,09). As correlações entre puxadas e proximidade também não mostraram

significância estatística no teste de cooperação (F05/06: Tau Kr = - 0,07, pl = 0,42; F09: Tau

Kr = 0,14, pr = 0,37), e no teste de prosocialidade não houve significância na F09 (Tau Kr =

0,18, pr = 0,37) mas houve na F05/06, porém, com correlação negativa, indo de encontro ao

que foi previsto (Tau Kr = - 0,42, pl = 0,02). Sobre a hipótese 1c, também não foi encontrada

correlação significante (F09: Tau Kr = 0,51, pr = 0,15; F05/06: Tau Kr = - 0,07, pl = 0,38).

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2. Atenção social

Primeiro set

De acordo com a hipótese da cooperação verdadeira (Hipótese 2a), era esperado que

em testes em que era necessária a ação simultânea de dois indivíduos ocorresse maior troca de

olhares entre os animais do que em testes onde um indivíduo sozinho poderia resolver a tarefa

(Predição2a´). No entanto, os resultados foram opostos a essa expectativa e a quantidade de

olhares sociais por indivíduo foi maior no teste controle (figura 5). Os resultados

evidenciaram diferença significante na F09 (média = 52,4, EP = 14,63 no teste de cooperação;

média = 116,8, EP = 22,91 no teste controle; t (4) = -5,77, p = 0,002, r = 0,94) e na F05/06

(mediana = 70,5 teste de cooperação e mediana = 84 no controle, T = 0, p = 0,01, r = - 0,64).

Indo de encontro à predição 2a que previa atenção social para comunicação e

coordenação de atividades no teste de cooperação, ou seja, uma correlação positiva entre a

execução das puxadas no aparato e os olhares sociais, o teste de correlação de matrizes não

mostrou significância na família F05/06 (Tau Kr parcial = 0,39; pr = 0,06) nem na família F09

(Tau Kr parcial = 0,12; pr = 0,43).

Se os indivíduos apresentassem comportamento prosocial verdadeiro, ou seja,

mediado por atenção social (Hipótese 2b), a correlação entre puxadas e olhares sociais no

teste de prosocialidade deveria ser positiva (Predição 2b), mas a análise não mostrou

significância em nenhuma das famílias (F05/06: Tau Kr parcial = 0,04; pr = 0,40; F09: Tau Kr

parcial = 0,75; pr = 0,15).

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36

Figura 5: Número de olhares sociais por indivíduo nos testes de cooperação e controle no primeiro set. a.

Mediana e distância interquartílica na F05/06; b. Média e erro padrão na F09.

Uma análise adicional permitiu calcular as taxas de puxadas nos testes de

prosocialidade e controle, sendo o número de puxadas por indivíduo maior no último (média

= 42,3, EP = 12,88) que no primeiro (média = 4,8, EP = 1,66) na F0506 (t (5) = -2,89, p =

0,02, r = 0,79) e na F09 (Teste controle: mediana = 27; teste de prosocialidade: mediana = 0,

T = 0, p = 0,02, r = - 0,64, figura 6).

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Figura 6: Número de puxadas por indivíduo nos testes de prosocialidade e controle no primeiro set. a. Média e

erro padrão na F05/06; b. Mediana e distância interquartílica na F09.

Segundo e terceiro sets

Assim como no primeiro set, a matriz de olhares sociais não mostrou correlação

significativa com a matriz de puxadas no teste de cooperação (F05/06: Tau Kr parcial =

0,004, pr = 0,53; F09: Tau Kr parcial = 0,29, pr = 0,19) nem no teste de prosocialidade

(F05/06: Tau Kr parcial = 0,43, pr = 0,06; F09: Tau Kr parcial = 0,23, pr = 0,22).

Como pode ser observado na figura 7, o número de olhares sociais por indivíduo na

F05/06 foi maior no teste controle que no teste de cooperação, apesar dessa diferença não ter

sido significante (mediana = 199 no teste de cooperação; mediana = 231,5 no controle; T = 6,

p = 0,17, r = - 0, 27). Na F09, os dados seguiram a mesma tendência (média = 162,2, EP =

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28,45 no teste de cooperação; média = 172,8, EP = 42,38 no controle; t(4) = - 0,27, p = 0,40, r

= 0,14).

Figura 7: Número de olhares sociais por indivíduo nos testes de cooperação e controle no segundo e terceiro sets.

a. Mediana e distância interquartílica na F05/06; b. Média e erro padrão na F09.

A figura 8 mostra o número de puxadas por indivíduo nos testes de prosocialidade e

controle. Na F05/06, apesar da diferença não ter sido estatisticamente significante, os animais

puxaram mais no teste controle (mediana = 69,5) que no de prosocialidade (mediana = 1), T =

5, p = 0,12, r = 0,33. Na F09, a diferença foi significante, com média maior no teste controle

(média = 41,6, EP = 15,29) que no teste de prosocialidade (média = 23, EP = 17) t(4) = - 2,14,

p = 0,04, r = 0,73).

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Figura 8: Número de puxadas por indivíduo nos testes de prosocialidade e controle no segundo e terceiro sets. a.

Mediana e distância interquartílica na F05/06; b. Média e erro padrão na F09.

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DISCUSSÃO

1. Relações sociais

A literatura apresenta dados para algumas espécies de calitriquídeos que mostram que

durante a realização de atividades cooperativas esses animais não discriminam parentes e não

parentes nem parceiros reprodutivos e não parceiros (Burkart et al. 2007; Cronin et al. 2009;

Stevens 2010). Não há, entretanto, dados relacionando fatores sociais com prosocialidade ou

cooperação em saguis. O presente trabalho testou se comportamentos afiliativos poderiam

influenciar a ocorrência de comportamentos cooperativos nesses animais, e os resultados

foram negativos. Não houve correlação entre a execução das tarefas cooperativas com a

catação ou a proximidade, nem em dados sociais coletados por dez dias antes dos

experimentos, nem em dados coletados diariamente, imediatamente antes de cada teste.

Sugere-se que as altas taxas de interações afiliativas que normalmente ocorrem no

contexto familiar dos sagüis podem ter reduzido a possibilidade de seu comportamento

durante as tarefas depender de interações de afiliação passadas. Com uma organização social

típica dos calitriquídeos, os sagüis são indivíduos altamente tolerantes, e a catação pode

ocupar mais de 30 por cento da fase ativa desses animais (Azevedo et al. 1997). Pode ser que

relações positivas não tenham efeito sobre a escolha de parceiros cooperativos e outros fatores

como a idade (como sugere o comportamento de um indivíduo chamado Onésio, descrito a

seguir), a hierarquia ou o sexo podem ser mais determinantes. Uma análise post hoc do

trabalho de Burkart et al. (2007) permitiu identificar, por exemplo, que a prosocialidade

encontrada nos animais na análise agrupada não existiu entre as fêmeas.

Durante os experimentos do teste de prosocialidade foi possível notar por meio de

observações pessoais que um indivíduo especial chamado Onésio, da família F05/06,

participava muito mais dos experimentos e apresentava um comportamento singular: ele

puxava a alavanca e corria para o outro lado para buscar a recompensa. Se houvesse outro

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indivíduo na bandeja ele o afastava e monopolizava a bandeja contendo a banana, e isso

ocorria para todos os indivíduos com exceção de seu irmão mais velho, o Opus. Ao Opus era

permitido pegar a recompensa e ao contrário do que ocorria com os outros animais, os quais

eram afastados com mordidas, empurrões e outras agressões, poucos comportamentos

agonísticos foram direcionados a ele (observações pessoais). Observa-se, portanto, que o

comportamento competitivo foi predominantemente mais notável que o comportamento

prosocial. Este último ocorreu somente em benefício de seu irmão mais velho o que pode

revelar que existe um tipo de parceiro preferencial para a prosocialidade que em nossa

amostra estaria sub-representado.

Outra possível explicação para a ausência de correlação entre os comportamentos

afiliativos e a execução das tarefas, é a condição experimental, com todos os animais juntos

no viveiro. Segundo Burkart & van Schaik (2012) vários animais presentes ao redor de um

aparato experimental torna improvável a possibilidade dos animais escolherem parceiros para

a realização de tarefas, e as puxadas podem ocorrer sem o controle de quem está na outra

bandeja, não havendo formação de duplas preferenciais para a ocorrência de comportamentos

cooperativos.

Além disso, os trabalhos com o sagui comum que sugeriram que a alta tolerância

social desses animais pode ter tido importante papel tanto na cooperação (Werdenich & Huber

2002) quanto no comportamento prosocial (Burkart & van Schaik 2012) basearam-se em

dados de hierarquia e em resultados comparativos de outras espécies, respectivamente, e

nenhum dos estudos fez análises específicas das interações afiliativas entre os animais. Ainda,

Lazaro-Perea et al. (2004) sugerem que fêmeas dominantes de Callithrix jacchus devem usar

a catação como um incentivo para as fêmeas subordinadas ficarem no grupo, mas como os

próprios autores disseram, seu trabalho não mostrou que a catação foi trocada por algum

serviço específico. O presente trabalho é o primeiro estudo que correlacionou diretamente a

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catação e a proximidade com os comportamentos cooperativos em Callithrix jacchus, e os

resultados foram negativos, não tendo sido observada maior tendência a comportamentos

cooperativos entre indivíduos com maiores taxas de comportamentos afiliativos, nem troca de

catação por cooperação ou prosocialidade. Entretanto, outras análises precisam ser feitas para

um melhor entendimento sobre o assunto.

A realização dos experimentos com os animais separados em duplas, organizados em

todas as possibilidades de díades, permitiria uma comparação entre duas condições

experimentais, e ainda, um estudo de longo prazo pode ser mais eficiente para identificar as

relações entre os animais. Isso contribuiria para um melhor entendimento sobre a influência

das relações sociais sobre os comportamentos cooperativos dessa espécie em cativeiro.

2. Atenção social

Muitos trabalhos já identificaram que espécies de primatas do Velho Mundo são

capazes de entender o papel de outros indivíduos na realização de tarefas de cooperação

(Chalmeau 1994; Chalmeau & Gallo 1996a, Chalmeau & Gallo 1996b; Chalmeau et al.

1997a; Hirata & Fuwa 2007) e verifica-se uma crescente discussão sobre se a cooperação

entre os primatas do Novo Mundo seria uma cooperação acidental, ou se os indivíduos

envolvidos também levam em conta o papel do parceiro na realização de uma tarefa em

conjunto (Chalmeau et al. 1997b; Mendres & de Waal 2000; Visalberghi et al. 2000; Hattori

et al. 2005; Cronin et al. 2005; Mendes 2009).

Noe (2006) sustenta que a comunicação facilita a coordenação de atividades, levando à

cooperação e para Chalmeau & Gallo (1996b) a troca de informação entre os indivíduos

envolvidos na resolução de uma tarefa cooperativa é de extrema importância para o ajuste de

seus comportamentos.

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Os calitriquídeos são animais que têm se destacado em alguns estudos que testam suas

habilidades cognitivas, principalmente no domínio social. Seu desempenho em tarefas

cooperativas e de aprendizado social sustenta a idéia de que eles são atenciosos aos

companheiros de grupo, são capazes de coordenar ações no tempo e no espaço para cooperar

e fornecem alimento a co-específicos em diferentes situações.

Eles já se mostraram capazes de aprender (Snowdon 2001), cooperar (Werdenich

& Huber 2002; Cronin et al. 2005), e prover alimento de maneira prosocial (Burkart et al.

2007; Cronin et al. 2010; Brurkart & van Schaik 2012). Algumas dessas características são

semelhantes às que ocorrem nos grandes primatas e têm sido atribuídas à cognição social

diferencial desses pequenos antropóides que deve ter relação com o sistema de cuidado

cooperativo dos filhotes (Burkart et al. 2009; Burkart & van Schaik 2010).

Os resultados aqui apresentados, entretanto, não apontaram para uma conclusão nesse

sentido. Para Mendres & de Wall (2000), mais olhares para o parceiro em tarefas que

requerem cooperação para sua execução que em tarefas onde o indivíduo pode operar sozinho

são um indicativo da compreensão dos animais sobre o papel do parceiro na tarefa. Porém, os

animais aqui estudados não mostraram maiores taxas de olhares quando era necessário que

outro indivíduo puxasse com ele para ele receber a recompensa (Teste de Cooperação) do que

quando ele poderia obter a recompensa sem ajuda do parceiro (Teste Controle). Além disso, a

ausência de correlação significante entre puxadas e olhares sociais na fase de cooperação nas

duas famílias, sugere que não houve atenção entre os indivíduos envolvidos na tarefa. Em

conjunto, esses resultados levam à interpretação de que os sagüis aqui estudados não levam

em conta o papel de outro indivíduo para cooperar, conclusão que vai de encontro ao que já

foi sugerido na literatura para calitriquídeos. Cronin et al. (2005) demonstraram que tamarins

cooperam e que para isso, são capazes de se comunicar. Um estudo com Callithrix jacchus

mesmo não tendo verificado a ocorrência de comunicação entre os animais, mostrou que os

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saguis estudados puderam realizar atividades de cooperação em um nível elaborado com

divisão de tarefas complementares (Werdenich & Huber 2002). Em ambos os trabalhos,

entretanto, as condições experimentais eram diferentes das do presente estudo, o que torna a

comparação delicada, como discutido adiante.

Com relação ao teste de prosocialidade, os resultados não corroboram a nossa predição

de que as díades com maiores quantidades de olhares sociais apresentam também maiores

taxas de comportamentos prosociais, ou seja, maiores números de puxadas para o parceiro

receber a recompensa. Para Chalmeau & Gallo (1996a) os olhares entre os indivíduos são um

importante indicador sobre o que os sujeitos aprendem numa situação social. Baseado nessa

idéia, não se pode inferir aqui que os indivíduos estavam atentos aos seus parceiros e que essa

atenção determinou a ocorrência de comportamento prosocial entre os saguis.

Sugerem-se duas possíveis explicações para esse resultado: 1) não houve

entendimento da tarefa, e os indivíduos não estavam atentos, não compreendendo também o

papel de receptor do parceiro. Isso não excluiria a existência de prosocialidade nos saguis

estudados, o que estaria de acordo com a literatura sobre o assunto em Callithrix jacchus

(Burkart et al. 2007; Burkart & van Schaik 2012), visto que a não ocorrência da

prosocialidade seria devido à não compreensão do experimento e não à falta de tendências

prosociais; 2) houve entendimento da tarefa, os indivíduos estavam atentos aos seus parceiros,

porém, a atenção pode estar menos relacionada com a prosocialidade, e mais com competição.

Assim, ao entender que seus parceiros seriam beneficiados a seu custo, os animais escolheram

por agir de forma não prosocial.

Indo de encontro à primeira possibilidade está o resultado que mostra que o número de

puxadas por indivíduo no teste de prosocialidade foi menor que no teste controle, o que faz

parecer que os animais entenderam a tarefa, mostrando preferência por executar atividades

que geravam benefício próprio. O comportamento do Onésio, descrito acima, também sugere

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que houve entendimento da tarefa, além de mostrar que a competição pode ter tido papel

importante durante sua execução.

De acordo com a segunda explicação está o trabalho de Stevens (2010) com outro

calitriquídeo, o tamarin, utilizando aparatos experimentais. O autor verificou que os animais

sempre puxavam as alavancas quando recebiam alguma recompensa, mas raramente o faziam

quando não recebiam, e na presença de um parceiro, os animais ativos puxavam muito menos

a alavanca quando essa ação não resultava em recompensa para eles mesmos mas somente

para o parceiro. Entretanto, comportamentos agonísticos não foram relatados, uma vez que os

animais estudados estavam separados por uma grade.

O trabalho de Cronin et al. (2009) também com tamarins, está igualmente em acordo

com o presente estudo. Em seu trabalho os animais tiveram a opção de escolher entre duas

opções de bandeja (0,0 ou 0,1), e não demonstraram preferência pela bandeja com a opção

prosocial (0,1) na presença de um parceiro, demonstrando baixa motivação para puxar a

alavanca do aparato quando não obtinham recompensa pelo seu esforço. Os autores ainda

observaram que os animais puxavam a opção prosocial menos ainda se o parceiro

demonstrasse algum sinal de interesse pelo petisco (Cronin et al. 2009), sugerindo que há

competição entre os animais.

Em vista disso, sobre as explicações aventadas acima, sugere-se que pode ter havido

compreensão da tarefa, com ocorrência de atenção social, mas esta estava voltada para a

competição. A competição no contexto alimentar já foi reportada em Callithrix jacchus

(Tardif & Richter 1981; Lopes 2002; Queiroz 2003, citado por Menezes 2010), e neste

trabalho, também foram registrados alguns eventos de roubo e agonismo durante os

experimentos.

A maioria dos trabalhos com calitriquídeos que testaram seu desempenho em

atividades cooperativas e suas capacidades prosociais executaram os testes com os indivíduos

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isolados de seus grupos familiares, em pequenas gaiolas, o que faz com que os animais

encontrem poucas opções comportamentais. Somente um estudo fez experimentos com os

animais todos em grupo no mesmo recinto (Burkart & van Schaik 2012). Apesar desse estudo

não ter identificado diferença no desempenho dos animais quando em grupo ou quando

separados em duplas (Burkart et al. 2007), a literatura sugere que diferentes condições

experimentais podem gerar resultados variados. Neste trabalho os indivíduos estavam todos

juntos no viveiro onde foram realizadas as tarefas, e duplas de parceiros foram formadas

espontaneamente sem categorização de sexo, idade ou status social. Durante os experimentos

alguns indivíduos brincavam, outros se catavam, enquanto alguns participavam das tarefas.

Nessas condições os animais tendem a expressar comportamentos diferentes do que quando

estão isolados. No estudo de Chalmeau et al. (1997b), por exemplo, os autores trabalharam

com Cebus apella nas mesmas condições que o presente trabalho, e seus resultados para esses

animais foram semelhantes aos aqui obtidos. Por outro lado, o trabalho também com macacos

prego, mas com os indivíduos confinados a pequenas gaiolas, obteve resultados opostos,

sustentando que os macacos prego utilizam-se dos olhares sociais para se comunicar com o

parceiro e são capazes de entender o papel deste na realização de uma tarefa cooperativa

(Mendres & de Waal 2000). Halsey et al. (2006) compararam o desempenho, em Callithrix

jacchus, no teste de cordas paralelas em dois ambientes, e encontraram diferenças no

desempenho dos animais em cativeiro e em ambiente natural. Para os autores essa diferença

se deve a dificuldades impostas na natureza (como a atenção a predadores) e que não ocorrem

em cativeiro. A maneira como os animais se encontram durante um experimento pode,

portanto, ter forte influência sobre os resultados obtidos.

Este argumento vale nas duas direções. Se por um lado, a análise em condições

experimentais de família pode desviar a atenção entre indivíduos para outros estímulos do

meio, por outro lado, a análise em situação de isolamento poderia exacerbar a quantidade de

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olhares para um único estímulo presente (nesse caso, o parceiro), podendo a correlação entre

olhares sociais e as atividades cooperativas ser enviesada, sendo ambos dependentes de uma

terceira variável não quantificada (neste caso, a falta de outra atividade ou estímulo). Para

Burkart & van Schaik (2012) diferentes resultados provenientes de diferentes condições

experimentais podem ser considerados como complementares.

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CONCLUSÃO

Os comportamentos cooperativos constituem um assunto controverso e apesar do

crescente número de trabalhos a esse respeito, muito ainda é necessário se estudar para um

melhor conhecimento sobre o tema. Os estudos sobre esse assunto em primatas não humanos

têm como principal objetivo esclarecer sobre esses comportamentos nos humanos e para isso,

há muitos trabalhos com diferentes focos de análise. Pensando nos mecanismos (causas

próximas) que sustentam os comportamentos cooperativos, as relações entre os indivíduos e a

atenção subjacente a esses comportamentos estão entre os focos mais explorados, e os

primatas do Velho Mundo sempre foram considerados mais interessantes para serem

estudados.

Recentemente, entretanto, os primatas do Novo Mundo têm sido reconhecidos como

peças chaves para uma melhor compreensão sobre comportamentos cooperativos e dentre

eles, destacam-se o macaco-prego (devido à grande razão neocortical) e espécies da família

dos calitriquídeos (devido ao cuidado cooperativo). Apesar de alguns resultados aqui

encontrados terem sido obtidos por testes de correlação de matrizes, o que não nos mostra a

direção de causa e efeito entre as variáveis de análise, e apesar da metodologia utilizada

apresentar algumas limitações, impossibilitando análises mais precisas, o padrão encontrado

não oferece suporte às hipóteses sobre comportamento prosocial e cooperação verdadeiros,

sendo os eventos de cooperação ocorridos melhor explicados como subprodutos de ações

individuais coincidentes.

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