O Papel de Mn na Toxicidade de Cd em Plantas Jovens de...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO VEGETAL -
PPGPV
JOEDSON PINTO BARROSO
O Papel de Mn na Toxicidade de Cd em Plantas Jovens de Cacau:
Respostas Fisiológicas, Bioquímicas, Moleculares,
Micromorfológicas e Ultraestruturais
ILHÉUS - BA
2018
JOEDSON PINTO BARROSO
O Papel de Mn na Toxicidade de Cd em Plantas Jovens de Cacau:
Respostas Fisiológicas, Bioquímicas, Moleculares,
Micromorfológicas e Ultraestruturais
Tese apresentada à Universidade Estadual de
Santa Cruz, como parte das exigências para
obtenção do título de Doutor em Produção
Vegetal.
Linha de Pesquisa: Cultivos em Ambiente
Tropical Úmido
Orientador: Prof. Alex-Alan Furtado de
Almeida
ILHÉUS – BAHIA
2018
iii
iv
DEDICATÓRIA
À minha família e porto seguro: Lucy e Edvaldo (pais), Júnior e Vinny (irmãos), Ana Luiza
(sobrinha) e à minha esposa, Viviane, por todo amor, compreensão, incentivo e colaboração,
dedico.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Glorioso Deus, pelo dom da vida e por ser sempre meu guia.
À Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC e ao Programa de Pós-Graduação
em Produção Vegetal por ter me dado a oportunidade de realizar esse curso.
Ao professor Dr. Alex-Alan Furtado de Almeida pelo exemplo, incentivo, orientação
recebida, amizade, pelos conhecimentos transmitidos, por estar sempre disposto a ajudar e
pelo empenho em sempre me fazer uma pessoa e um profissional melhor.
Ao professor Dr. José Olímpio de Souza Júnior pela coorientação e pelos
conhecimentos transmitidos.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal pelos
ensinamentos.
À Coordenadoria do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudos.
Aos técnicos: Lucas Ribeiro, Larissa Silveira, Edilane Amaral (CME/UESC) e Horlei
(CBG/UESC), pelo auxílio durante o desenvolvimento do trabalho e a Dona Jaci, por sempre
suportar meus abusos e ser a pessoa maravilhosa que é.
À minha parceira de trabalhos, Junea Leandro, pela ajuda na condução do
experimento e análises, pelas conversas, pelo compartilhamento mútuo na hora das
dificuldades e pela amizade.
Aos eternos irmãos Ivanildes, Romária, Gracielle e Téssio pela ajuda, atenção e por
compartilhar conhecimentos tão importantes em minha jornada.
Aos integrantes do grupo de Fisiologia Vegetal (Tainã, Julian, Márcia, Naiara,
Mayana, Nicolle, Bruna, Nathália, Isabela, D’ávila, Claudia e Jadiel) pela contribuição e
pelas experiências compartilhadas.
Aos amigos: Patrícia Reis, Artur, Giovana, Pedro Henrique e Gonçalo pela amizade,
confiança e momentos de descontração ao longo desses anos.
Aos amigos do Lamep pelos cafezinhos, troca de experiências e momentos de
descontração.
À minha família por sempre acreditar, confiar, apoiar, crer em meu potencial e estar
ao meu lado em todos os momentos e, principalmente, pelo carinho e amor incondicional que
sempre depositaram em mim.
vi
E à minha esposa amada, Viviane, pelo amor incondicional, paciência, amizade e
companheirismo em todos os momentos que precisei, transmitindo tranquilidade e serenidade
com suas palavras de conforto.
Enfim, a todos que me apoiaram e participaram para o desenvolvimento deste
trabalho.
Obrigado!!!
vii
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................................. ix
ABSTRACT............................................................................................................................. xi
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 1
1.1. Objetivo Geral.................................................................................................................... 4
1.2. Objetivos Específicos......................................................................................................... 4
2. REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 6
2.1. Metais Pesados................................................................................................................... 6
2.2. Mn no solo e nas plantas.................................................................................................... 7
2.3. Cd no solo e nas plantas..................................................................................................... 9
2.4. Interação entre Mn + Cd e seus efeitos nas plantas............................................................ 13
2.5. Theobroma cacao, Mn e Cd............................................................................................... 14
3. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................ 17
3.1. Material vegetal e condições de cultivo............................................................................. 17
3.2. Parâmetros fotossintéticos.................................................................................................. 20
3.2.1. Trocas gasosas foliares.................................................................................................... 20
3.2.2. Pigmentos fotossintéticos................................................................................................ 20
3.3. Concentrações de Mn e Cd................................................................................................. 21
3.4. Teor de Prolina................................................................................................................... 21
3.5. Peroxidação lipídica........................................................................................................... 22
3.6. Metabolismo antioxidativo................................................................................................. 22
3.6.1. Obtenção do extrato enzimático bruto............................................................................. 22
3.6.2. Atividade da dismutase do superóxido (SOD, EC. 1.15.1.1).......................................... 23
3.6.3. Atividade da peroxidase do guaiacol (GPX, EC. 1.11.1.7)............................................. 23
3.6.4. Atividade da catalase (CAT, EC. 1.11.1.6)..................................................................... 24
3.7. Expressão gênica................................................................................................................ 24
3.8. Análise micromorfológica e ultraestrutural celular............................................................ 25
3.8.1. Anatomia e micromorfologia foliar................................................................................. 25
3.8.2. Ultraestrutura celular de folhas e raízes.......................................................................... 26
3.9. Análise estatística............................................................................................................... 27
4. RESULTADOS.................................................................................................................... 28
viii
4.1. Parâmetros fotossintéticos.................................................................................................. 28
4.1.1. Trocas gasosas foliares.................................................................................................... 28
4.1.2. Pigmentos fotossintéticos................................................................................................ 32
4.2. Concentrações de Mn e Cd................................................................................................. 33
4.3. Teor de prolina................................................................................................................... 35
4.4. Peroxidação lipídica........................................................................................................... 36
4.5. Metabolismo antioxidativo................................................................................................. 38
4.5.1. Atividade da dismutase do superóxido............................................................................ 38
4.5.2. Atividade da catalase....................................................................................................... 39
4.5.3. Atividade da peroxidase do guaiacol............................................................................... 40
4.6. Expressão gênica................................................................................................................ 41
4.7. Análise micromorfológica e ultraestrutural........................................................................ 43
4.7.1. Anatomia e micromorfologia foliar................................................................................. 43
4.7.2. Ultraestrutura celular de folhas e raízes.......................................................................... 47
5. DISCUSSÃO........................................................................................................................ 51
5.1. Trocas gasosas foliares e pigmentos fotossintéticos.......................................................... 51
5.2. Concentrações de Mn e Cd................................................................................................. 52
5.3. Metabolismo antioxidativo................................................................................................. 54
5.4. Expressão gênica................................................................................................................ 56
5.5. Micromorfologia e ultraestrutura celular ........................................................................... 57
6. CONCLUSÕES.................................................................................................................... 60
7. REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 61
ix
RESUMO
O papel de Mn na Toxicidade de Cd em Plantas Jovens de Cacau: Respostas
Fisiológicas, Bioquímicas, Moleculares, Micromorfológicas e Ultraestruturais
O manganês (Mn) é o micronutriente mais demandado pelo cacaueiro e capaz de ser
acumulado em grandes quantidades sem causar danos ao metabolismo da planta. O cádmio
(Cd), por sua vez, é altamente tóxico para as plantas e, em algumas regiões produtoras de
cacau, há níveis elevados de Cd nas amêndoas associados aos níveis de Cd no solo. O Mn
compete com o Cd pelos mesmos transportadores de membrana e pode atenuar a
fitotoxicidade do metal pesado nas plantas de cacau. O objetivo deste estudo foi avaliar a ação
de Mn no efeito tóxico de Cd em plantas jovens de cacau, genótipo CCN 51, submetidas a
diferentes concentrações de Mn (0; 0,4; 0,8; 1,2 e 1,6 mmol kg-1
solo), Cd (0; 0,2; 0,4; 0,6 e
0,8 mmol kg-1
solo) e suas interações (Mn + Cd) aplicadas no solo, por meio de alterações
morfofisiológicas, bioquímicas, moleculares, ultraestruturais e nutricionais. A taxa
fotossintética (A), a condutância estomática (gs) e a transpiração foliar (E) foram
incrementadas com as aplicações de Mn de forma isolada e associadas com a menor
concentração de Cd no solo. Por outro lado, a introdução de Cd isolado no solo afetou
negativamente A. A interação entre Mn e Cd no solo proporcionou reduções no teor de
clorofilas a e b, principalmente associadas às maiores concentrações de Cd. A absorção de
Mn pelas raízes foi comprometida com a adição de Cd, isolada ou em maiores concentrações,
contudo, houve um grande acúmulo foliar de Mn. Por sua vez, a presença de Cd no solo
contribuiu para maior absorção e acumulo deste metal pesado, principalmente quando
associado às maiores concentrações de Mn. O teor de prolina foi incrementado na presença de
Cd, contudo, o maior teor foi observado no tratamento 1,6 mmol Mn kg-1
soil + 0,8 mmol Cd
kg-1
soil, com as maiores concentrações de Mn e Cd associadas. Os tratamentos com
diferentes concentrações de Mn associadas à menor concentração de Cd apresentaram os
menores danos à membrana. Por sua vez, os tratamentos com 0,6 mmol Cd kg-1
soil e 0,8
mmol Mn kg-1
soil + 0,8 mmol Cd kg-1
soil apresentaram as maiores concentrações de
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), refletindo em maior peroxidação
lipídica das membranas. As concentrações de Mn associados com 0,6 e 0,8 mmol Cd kg-1
soil
influenciaram na atividade da dismutase do superóxido (SOD) reduzindo a atividade dessa
enzima às 3, 6, 12, 24, 48 e 96 h após aplicação dos tratamentos (AAT). Por sua vez, a
atividade da catalase (CAT) foi incrementada nas plantas submetidas ao tratamento com a
concentração de 0,8 mmol Cd kg-1
solo. Já a peroxidase do guaiacol (GPX) apresentou maior
atividade quando o Mn e o Cd foram aplicados associados no solo. O número de transcritos
referentes aos genes envolvidos na biossíntese de proteínas do fotossistema 2 (psbA e psbO),
no metabolismo antioxidativo (sodcyt e sodchl) e na biossíntese da metalotioneína (mt2b)
foram altamente expressos no tratamento com 0,4 mmol Mn kg-1
soil + 0,6 mmol Cd kg-1
soil,
48 h AAT. Por outro lado, às 96 h AAT, os tratamentos com 1,6 mmol Mn kg-1
soil e 0,8
mmol Cd kg-1
soil apresentaram incremento no númer de transcritos dos genes psbA e psbO,
respectivamente. O tratamento com 0,8 mmol Cd kg-1
soil também influenciou a anatomia
foliar aumentando a abertura do poro estomático levando ao aumento de gs e E. Por sua vez,
observou-se que, aparentemente, a ultraestrutura dos cloroplastos não foi alterada com a
submissão das plantas aos metais, isolados ou associados, após aplicação no solo. Entretanto,
na presença do Cd, foi verificado nas células de folhas e raízes, deposição de material
x
eletrodenso aderido à parede celular e nos vacúolos, indicando que houve transporte do Cd
para a parte aérea. Além disso, verificou-se a presença de amido e plastoglóbulos nos
cloroplastos de todos os tratamentos avaliados. Em suma, altas concentrações de Mn no solo
favoreceram a manutenção e o desempenho da maquinaria fotossintética de plantas jovens de
cacau. Porém, altas concentrações de Cd e Mn + Cd no solo promoveram danos à
fotossíntese, alterações no metabolismo oxidativo e favoreceram a absorção e o transporte e
acúmulo de Cd em raízes e folhas, respectivamente. Além disso, alta concentração de Cd nos
tecidos radiculares e foliares causou danos irreversíveis à ultraestrutura celular,
comprometendo o funcionamento das células e levando à morte celular programada. Contudo,
houve mitigação da toxicidade de Cd quando as plantas jovens de cacau foram cultivadas em
solos com baixa concentração de Cd e na presença de Mn. Danos causados nos tecidos
radiculares e foliares de plantas jovens de cacau, provocados pela absorção de Cd em solos
contaminados, podem ser atenuados ou mitigados pela adição de altas concentrações de Mn
no solo.
Palavras-chave: Theobroma cacao, Metais Pesados, Fotossintese; Nutrição Mineral,
xi
ABSTRACT
The Role of Mn in Cd Toxicity in Young Cocoa Plants: Physiological, Biochemical,
Molecular, Micromorphological and Ultrastructural Responses
Manganese (Mn) is the micronutrient most demanded by cacao and capable of being
accumulated in large quantities without causing damage to plant metabolism. Cadmium (Cd),
in turn, is highly toxic to plants and in some cocoa producing regions there are high levels of
Cd in the beans associated with soil Cd levels. Mn competes with Cd for the same membrane
carriers and can attenuate the phytotoxicity of heavy metal in cocoa plants. Objective of this
study was to evaluate the action of Mn on the toxic effect of Cd on young plants of cacao,
genotype CCN 51, submitted to different concentrations of Mn (0, 0.4, 0.8, 1.2 and 1.6 mmol
kg-1
soil), Cd (0, 0.2, 0.4, 0.6 and 0.8 mmol kg-1
soil) and their interactions (Mn + Cd) applied
to the soil by means of morphophysiological changes, biochemical, molecular, ultrastructural
and nutritional. Photosynthetic rate (A), stomatal conductance (gs) and leaf transpiration (E)
were increased with Mn applications in isolation and associated with the lowest concentration
of Cd in the soil. On the other hand, the introduction of Cd isolated in the soil affected
negatively A. Interaction between Mn and Cd in the soil provided reductions in the content of
chlorophyll a and b, mainly associated to the higher concentrations of Cd. Mn uptake by the
roots was compromised with the addition of Cd alone or in higher concentrations, however,
there was a large accumulation of leaf Mn. In turn, the presence of Cd in the soil contributed
to the higher absorption and accumulation of this heavy metal, especially when associated to
the higher concentrations of Mn. Proline content was increased in the presence of Cd,
however, the highest content was observed in the treatment 1.6 mmol Mn kg-1
soil + 0.8 mmol
Cd kg-1
soil, with the highest concentrations of Mn and Cd associated. Treatments with
different concentrations of Mn, associated to the lower concentration of Cd, presented the
smallest damages to the cellular membrane. Treatments with 0.6 mmol Cd kg-1
soil and 0.8
mmol Mn kg-1
soil + 0.8 mmol Cd kg-1
soil presented the highest concentrations of
thiobarbituric acid reactive substances (TBARS), reflecting higher lipid peroxidation of
cellular membranes. Mn concentrations associated with 0.6 and 0.8 mmol Cd kg-1
soil
influenced the activity of superoxide dismutase (SOD), reducing the activity of this enzyme at
3, 6, 12, 24, 48 and 96 h after application of treatments (AAT). Catalase activity (CAT) was
increased in the plants submitted to treatment with the concentration of 0.8 mmol Cd kg-1
soil.
On the other hand, guaiacol peroxidase (GPX) presented higher activity when Mn and Cd
were applied in the soil. Number of transcripts related to the genes involved in photosystem 2
protein biosynthesis (psbA and psbO), antioxidative metabolism (sodcyt and sodchl) and
metallothionein biosynthesis (mt2b) were highly expressed in the treatment with 0.4 Mn + 0.6
Cd, 48 h AAT. On the other hand, at 96 h AAT, treatments with 1.6 mmol Mn kg-1
soil and
0.8 mmol Cd kg-1
soil presented an increase in the number of transcripts of the psbA and psbO
genes, respectively. Treatment with 0.8 mmol Cd kg-1
soil also influenced the leaf anatomy,
increasing the opening of the stomatal pore and leading to the increase of gs and E. In turn, it
was observed that, apparently, the ultrastructure of the chloroplasts was not altered with the
submission of the plants to the metals, isolated or associated, after application to soil.
However, in the presence of the Cd, it was verified, in the cells of leaves and roots, deposition
of electrodense material adhered to the cell wall and in the vacuoles, indicating that there was
transport of the Cd to the aerial part. In addition, the presence of starch and plastoglóbulos in
xii
the chloroplasts of all evaluated treatments was verified. In summary, high concentrations of
Mn in the soil favored the maintenance and performance of the photosynthetic machinery of
young cacao plants. However, high concentrations of Cd and Mn + Cd in the soil promoted
damage to photosynthesis, alterations in oxidative metabolism and favored the absorption and
transport and accumulation of Cd in roots and leaves, respectively. In addition, high
concentration of Cd in the root and leaf tissues caused irreversible damage to the cellular
ultrastructure, compromising the functioning of the cells and leading to cellular death
programed. However, there was mitigation of Cd toxicity when young cacao plants were
grown in soils with low Cd concentration and in the presence of Mn. Damage to root and leaf
tissues of young cacao plants, caused by the uptake of Cd in contaminated soils, can be
attenuated or mitigated by the addition of high concentrations of Mn in the soil.
Keywords: Theobroma cacao, Heavy Metals, Photosysnthesis; Mineral Nutrition
1
1. INTRODUÇÃO
O cacaueiro (Theobroma cacao) é uma espécie lenhosa típica de clima tropical,
diplóide (2n = 20), preferencialmente alógama, perene e, dentre as 22 espécies que compõem
o gênero, é a mais explorada comercialmente no Brasil (MOTAMAYOR et al., 2003;
ALMEIDA; VALLE, 2007). O cacau é cultivado em plantações comerciais por diversas
partes do mundo (RICE; GREENBERG, 2000; STEINBERG, 2002) e as Américas produzem
em torno de 16% da produção global de cacau, com o Brasil entre os principais países
produtores (ICCO, 2017). É considerado uma das culturas perenes mais importantes do
planeta, com uma produção mundial de amêndoas estimada em 4,7 milhões de toneladas na
safra 2016-2017 (ICCO, 2017). A região sul da Bahia é a principal região produtora de cacau
no Brasil, com produção estimada, em janeiro de 2018, de 143 mil toneladas, 70% a mais que
a safra anterior, em uma área total de 530 mil hectares (IBGE, 2018). Com o desenvolvimento
e uso de clones tolerantes à vassoura de bruxa e com características produtivas superiores, o
Brasil, voltou a despontar como um dos principais dentre os países produtores de cacau,
utilizando intensamente novas tecnologias dos sistemas de produção (CHEPOTE et al., 2005).
Estes clones representam algumas seleções em fazendas, bem como seleções das populações-
base melhoradas no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) e os clones equatorianos CCN-
10 e CCN-51 (MONTEIRO; AHNERT, 2012). O clone CCN-51 foi selecionado no Equador,
sendo sugerido como o resultado de um cruzamento do híbrido IMC-67 x ICS-95 com um
cultivar equatoriano conhecido como "Canellos". É uma cultivar que tem sido amplamente
utilizada no Equador e está sendo usado como um pai em muitos programas de melhoramento
e seleção de cacau em outros países. Além disso, é altamente valorizado devido a sua alta
produtividade, resistência a doenças, além de alta concentração de gordura em suas amêndoas
(BOZA et al., 2014).
As amêndoas de cacau são matéria prima para o chocolate, além de serem fontes de
carboidratos, gorduras, proteínas, minerais naturais, flavonóides e vitaminas utilizadas na
produção de cosméticos, bebidas, geléias, cremes e sucos (ALMEIDA; VALLE, 2007).
Entretanto, pesquisas recentes têm revelado que os solos em área de cultivo de cacau, as
amêndoas e produtos derivados como doces e chocolates apresentam contaminação por metais
pesados, especialmente cádmio (Cd), nas principais regiões produtoras e consumidoras de
cacau e chocolates no mundo (CHAVEZ et al., 2015; TAKRAMA et al., 2015; DEVI et al.,
2
2016; BERTOLDI et al., 2016; ARÉVALO-GARDINI et al., 2017), muito acima do
recomendado pela União Européia (CAOBISCO, 2016). As principais vias de contaminação
dos solos por metais pesados são representadas pela rocha de origem do solo e pela ação
antrópica, na deposição de resíduos industriais, aplicação de lodo e fertilizantes fosfatados,
que embora imprescindíveis para atender a necessidade das culturas podem conter metais
pesados, inclusive o Cd, que são incorporados ao solo de forma indiscriminada (KRATZ et
al., 2016).
A possibilidade de detecção de alguns metais pesados, como o Cd, em resíduos em
cacau não podem ser evitadas, devido ao fato de que a maioria dos solos agricultáveis
apresenta estes elementos. Cd é facilmente absorvido pelas raízes e translocados para a parte
aérea das plantas, podendo ser armazenado nos componentes do fruto de cacau. Contudo, o
Mn pode atuar no metabolismo da planta reduzindo e, ou eliminando o efeito tóxico do Cd,
uma vez que o Mn, mesmo sendo um metal pesado, é absorvido em grandes quantidades pelo
cacaueiro sem geralmente lhe causar toxidez. Portanto, faz-se necessário estudo para elucidar
o processo de mitigação da toxicidade de Cd por Mn, em genótipos clonais e seminais de
cacau, de modo a reduzir os riscos à saúde do ser humano devido ao acúmulo de Cd nas
amêndoas e consequente contaminação do chocolate por esse metal.
Mn e Cd são elementos metálicos presentes na natureza e que possuem funções
distintas nas plantas. O Mn, normalmente presente como Mn2+
, é um micronutriente essencial
para todas as culturas (MILLALEO et al., 2010), sendo uma substância tóxica quando em
excesso (PENDIAS; PENDIAS, 1992). Mn é encontrado naturalmente nos solos, sendo a
forma bivalente (Mn2+
) a mais solúvel no solo (GUEST et al., 2002). A absorção de Mn pelas
raízes das plantas ocorre a partir da solução do solo, sendo transportado como cátion divalente
para a parte aérea (MILLALEO et al., 2010), onde geralmente ocorre o maior acúmulo desse
elemento. No entanto, experimentos com várias espécies demonstraram que Mn pode ser
acumulado nas raízes, porém, em menor concentração (PAGE; FELLER, 2005; PAGE et al.,
2006).
Cd é um metal pesado que não possui função biológica conhecida nas plantas, sendo,
provavelmente, o poluente mais significativo para as espécies vegetais, mesmo em baixas
concentrações (PINTO et al., 2004). Na solução do solo, Cd ocorre predominantemente como
Cd2+
, mas também como quelatos de Cd (TUDOREANU; PHILLIPS, 2004). O teor de Cd no
solo tem aumentado com o incremento da atividade humana, por meio de resíduos industriais,
siderúrgicos, adição de fertilizantes fosfatados e pesticidas (CAPDEVILA et al., 2003;
3
MORADI et al., 2005), cuja alta solubilidade em água, faz com que seja facilmente absorvido
e acumulado pelas plantas, afetando fortemente o crescimento e a produtividade
(BENAVIDES et al., 2005; DALCORSO et al., 2008). Em adição, Cd tem sua
biodisponibilidade dependente das condições do solo, temperatura e da concentração de
outros elementos (BENAVIDES et al., 2005; CLEMENS; MA, 2016). Cd é transportado da
raiz para parte aérea pelos mesmos transportadores transmembranas que os nutrientes
essenciais catiônicos, como Fe, Mg, Ca, K, Zn, Cu e Mn (SANITÀ DI TOPPI;
GABBRIELLI, 1999; DALCORSO et al., 2013). Além disso, transportadores de metais
pertencentes às famílias NRAMP (proteína macrofágica associada à resistência natural), e ZIP
(transportador regulado por Zn/proteína regulada por Fe) codificam proteínas integrais de
membrana que podem transportar Mn e Cd entre outros metais (HALL; WILLIAMS, 2003;
PAĽOVE-BALANG et al., 2006).
O excesso de Mn e, ou a presença de Cd nos sistemas vegetais desencadeia uma série
de reações comuns aos dois metais, tais como inibição ou decréscimo na taxa de crescimento
(SCHÜTZENDÜBEL; POLLE, 2002; MILLALEO et al., 2010); redução das taxas
fotossintéticas e transpiração (SANITÁ DI TOPPI; GABBRIELLI, 1999; ZORNOZA et al.,
2010; GILL et al., 2012); redução nos teores e biossíntese de clorofila a, b e carotenóides,
além de interferir no empilhamento de tilacóides (VASSILEV et al., 2002; MILLALEO et al.,
2010). A toxicidade tanto de Mn quanto de Cd também pode desencadear o estresse oxidativo
em células vegetais, ocasionando alterações metabólicas e danos macromoleculares,
interferindo na atividade de enzimas específicas, gerando excesso de espécies reativas de
oxigênio (ERO’s), principalmente OH•-, que perturbam a homeostase celular (HEGEDÜS et
al., 2001; POLLE, 2001; DEMIREVSKA-KEPOVA et al., 2004; LYNCH; ST. CLAIR,
2004). ERO’s são produzidas naturalmente pelas plantas como subprodutos de várias vias
metabólicas localizadas em diferentes compartimentos celulares como mitocôndrios,
cloroplastos e peroxissomos (DEL RÍO et al., 2006; NAVROT et al., 2007). Em condição de
estresse, causado por metais (por exemplo), há aumento na produção de ERO’s, o que causa
desequilíbrio às estruturas celulares, resultando na geração de estresse oxidativo (GILL;
TUTEJA, 2010).
As plantas possuem uma gama de mecanismos potenciais, como indução e ativação de
enzimas antioxidantes de defesa vegetal, como a dismutase do superóxido (SOD), catalase
(CAT) e peroxidase do guaiacol (GPX), que permitem a desintoxicação do excesso de ERO’s
produzidos em resposta à absorção de metais do solo pelas raízes (SCHÜTZENDÜBEL;
4
POLLE, 2002). Em adição, as plantas acumulam uma série de metabólitos para lidar com as
condições estressantes, principalmente a prolina (YANG et al., 2009). Prolina é um
aminoácido multifuncional que atua como osmólito, estabilizante de proteínas e membranas
celulares, elimina radicais livres, equilibra a homeostase celular e age como um sinalizador
em condições estressantes (SZABADOS; SAVOURÉ, 2009). Além disso, a fitotoxicidade de
Cd pode ser minimizada por meio da ação de agentes quelantes, como as fitoquelatinas (PCs)
e metalotioneínas (MTs). PCs pertencem ao grupo de tióis não protéicos (COBBETT;
GOLDSBROUGH, 2002) e formam vários complexos com Cd, que, quelado ao metal,
impede a circulação livre de Cd2+
no citoplasma (GRILL et al., 1985). Por outro lado, MTs,
componentes do mecanismo protéico de eliminação do efeito toxico de Cd em plantas, estão
envolvidas no sequestro celular e no ajuste no transporte de metais (CAPDEVILA; ATRIAM,
2011; GUO et al., 2013). A presença de Cd, mesmo em baixas concentrações, pode provocar
diminuição na absorção e distribuição de nutrientes minerais (SANDALIO et al., 2001) e
promover a indução de corpos apoptóticos e fragmentos de DNA oligonucleossômico e,
consequentemente, induzir à morte celular (SCHÜTZENDÜBEL; POLLE, 2002; SOUZA et
al., 2011).
1.1. Objetivo Geral
Avaliar a ação de Mn na mitigação do efeito tóxico de Cd em plantas jovens do
genótipo de cacau CCN 51, propagadas por sementes e submetidas a concentrações crescentes
de Mn e Cd no solo, por meio de mudanças morfofisiológicas, ultraestruturais, bioquímicas,
moleculares e nutricionais.
1.2. Objetivos Específicos
Medir as trocas gasosas e a concentração de pigmentos cloroplastídicos, em nível
foliar, nos diferentes tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd, para avaliar a influência destes
metais no metabolismo fotossintético;
Determinar a composição de Mn e Cd, em raízes e folhas, nos diferentes tratamentos
de Mn, Cd e Mn + Cd, visando analisar a redistribuição destes metais nas plantas;
5
Determinar a atividade de enzimas relacionadas ao metabolismo antioxidativo em
folhas, dos diferentes tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd, para o controle de ERO’s;
Analisar a expressão de genes envolvidos na biossíntese das proteínas de PS2, no
metabolismo antioxidativo e na biossíntese da metalotioneína em nível foliar, em diferentes
tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd, para avaliar a interferência destes metais na fotossíntese,
na homeostase de ERO’s e na síntese de quelante;
Avaliar a micromorfologia e ultraestrutura celular em folhas e raízes dos diferentes
tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd, utilizando MEV e MET, para avaliar a interferência destes
metais em níveis tissulares e de orgânulos celulares, respectivamente.
6
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Metais pesados
A poluição do solo e da água por metais pesados é um grave problema ambiental. Os
metais pesados são constituintes naturais da litosfera e ocorrem naturalmente no solo como
elementos raros, cujos balanços dos ciclos geoquímicos e bioquímicos foram drasticamente
alterados pela atividade humana, sendo que as práticas agrícolas, deposição de lixo e a
metalurgia contribuem para a sua disseminação no meio ambiente (SEBASTIANI et al., 2004;
DALCORSO et al., 2010; ALMEIDA et al., 2013). Estas e outras atividades promovem um
aumento na concentração desses elementos na biosfera, que, diferentemente da maioria dos
poluentes, não são biodegradáveis e persistem no meio ambiente (BENAVIDES et al., 2005;
PILON-SMITS, 2005). Além disso, são considerados como poluentes inorgânicos e causam
sérios problemas para a vida dos seres vivos, quando presentes na atmosfera, solo e água,
incluindo a diminuição da atividade microbiana, fertilidade do solo e produtividade das
culturas (SANITÀ DI TOPPI; GABBRIELLI, 1999; YANG et al., 2005).
Os metais pesados constituem um grupo de elementos metálicos de densidade superior
a 5 g cm-3
(ADRIANO, 2001). Alguns destes são essenciais para o crescimento e
desenvolvimento normal das plantas (PRASAD; FREITAS, 2003; KRAMER et al., 2007),
como partes integrantes de muitas enzimas e proteínas, a exemplo de Cu, Fe, Zn, Mo, Ni e
Mn (KABATA-PENDIAS; PENDIAS, 2001). Além disso, todas as plantas têm a capacidade
de acumulá-los a partir da solução do solo (MCCUTCHEON; SCHNOOR, 2003). Por outro
lado, os metais pesados não essenciais têm função biológica ou fisiológica desconhecida e,
como resultado, não são importantes para a nutrição e o crescimento da planta (RASKIN et al,
1994). Ademais, podem causar efeitos tóxicos indiretos, pois são absorvidos pelas plantas em
substituição aos nutrientes essenciais na região de troca catiônica na solução do solo (TAIZ et
al., 2017). No entanto, concentrações elevadas tanto dos metais pesados essenciais quanto dos
metais não essenciais conduzem a sintomas de toxicidade, comprometendo o crescimento e
desenvolvimento das plantas (SCHMIDT, 2003).
A exposição das plantas aos níveis tóxicos de metais pesados desencadeia uma série
de alterações fisiológicas e metabólicas. No entanto, como os metais pesados possuem
diferentes sítios de ação na planta, a resposta visual da toxicidade difere entre estes metais. A
7
resposta mais difundida da toxicidade por metais pesados em plantas é a redução no
crescimento, incluindo o surgimento de clorose foliar, necrose, perda de turgescência, redução
na taxa de germinação de sementes e um aparato fotossintético danificado, freqüentemente
correlacionado com processos de senescência (DALCORSO et al., 2010; CARRIER et al.,
2003). Além disso, a fitotoxicidade por metais pesados causa a inativação de enzimas,
bloqueando grupos funcionais de moléculas metabolicamente importantes, deslocando ou
substituindo elementos essenciais, rompendo a integridade da membrana, levando à morte das
plantas (SCHALLER; DIEZ, 1991). Todos esses efeitos estão relacionados a alterações
ultraestruturais, bioquímicas e moleculares em tecidos e células vegetais, provocados pela
presença de metais pesados (GAMALERO et al., 2009).
2.2. Mn no solo e nas plantas
Mn é um elemento químico natural encontrado em muitos tipos de rochas e no solo,
ocorrendo combinado com outros elementos como o oxigênio (O), S e Cl. O teor total de Mn
nos solos é variável, com quantidades oscilando entre 20 a 10000 mg kg-1
solo (SPARKS,
1995). A biogeoquímica de Mn em solos é complexa, uma vez que está presente em vários
estados de oxidação (0, II, III, IV, VI e VII), enquanto que em sistemas biológicos ocorre
preferencialmente como II, III e IV. Mn II é a espécie mais solúvel de Mn no solo, enquanto
que a solubilidade do Mn III e Mn IV são muito baixas (GUEST et al., 2002). Óxidos de Mn
podem formar co-precipitados com óxidos de Fe, exibindo um comportamento anfótero. Além
disso, Mn interage tanto com cátions quanto com ânions em reações de oxidação-redução.
Estas reações são influenciadas por uma variedade de processos físicos, químicos e
microbiológicos (BRADL, 2004).
As condições de pH e redox influenciam a biodisponibilidade de Mn nos solos
(MARSCHNER, 1995; PORTER et al., 2004). Na maioria dos solos ácidos (pH<5,5), a
disponibilidade de Mn é alta, pois, neste tipo de solo, a redução de Mn é favorecida, enquanto
que a oxidação deste metal é restrita (SPARROW; UREN, 1987). O maior poder de redução
sobre a oxidação leva a um aumento na concentração da forma divalente de Mn. Em solos
com pH elevado (até pH 8), a auto-oxidação química de Mn2+
é favorecida sobre MnO2,
Mn2O3, Mn3O4 e mesmo Mn2O7, que não estão normalmente disponíveis para as plantas
(GHERARDI; RENGEL, 2004; HUMPRIES et al., 2007).
8
Em baixas concentrações, normalmente presente como Mn2+
na solução do solo, Mn é
um metal pesado essencial para todas as culturas. Entretanto, quando em excesso, Mn é
considerado uma substância tóxica e classificado como um metal pesado apresentando
densidade de 7,47 g cm-3
. A toxidez de Mn é favorecida em solos ácidos (PENDIAS;
PENDIAS, 1992). Com a diminuição de pH, a quantidade de Mn trocável - principalmente a
forma Mn2+
- aumenta na solução do solo. Esta forma de Mn está disponível para as plantas e
pode ser facilmente transportado para as células das raízes e translocado para a parte aérea,
onde é finalmente acumulado (MARSCHNER, 1995).
Nas plantas, Mn tem um papel fundamental na fotossíntese por meio de sua
participação no sistema de oxidação da molécula de água em nível do fotossistema 2 (PS2),
que fornece os elétrons necessários para a fotossíntese (MILLALEO et al., 2010;
BROADLEY et al., 2012; WHITE, 2012; WHITE; GREENWOOD, 2013), o qual foi
recentemente mostrado ser útil no diagnóstico de deficiência de Mn, por meio dos efeitos
sobre a fluorescência da clorofila (SCHMIDT et al., 2013). No entanto, seu excesso também
pode ser prejudicial ao aparato fotossintético (MUKHOPADHYAY; SHARMA, 1991).
Assim, Mn tem dois papéis nos processos metabólicos em plantas: como um micronutriente
essencial e como um elemento tóxico quando em excesso (KOCHIAN et al, 2004; DUČIĆ;
POLLE, 2005).
Mn desempenha um papel na síntese de ATP (PFEFFER et al., 1986), nas reações
envolvendo a ribulose-1,5-bisfosfato-carboxilase/oxigenase (Rubisco) durante a assimilação
de carbono (HOUTZ et al., 1988) e nas biossínteses de ácidos graxos, lipídios e proteínas
(NESS; WOOLHOUSE, 1980). Além disso, Mn atua como co-fator, ativando cerca de 35
enzimas diferentes (BURNELL, 1988). A maioria destas enzimas catalisa as reações de
oxidação-redução, descarboxilação e de hidrólise. Mn também é essencial para a biossíntese
da clorofila (por meio da ativação de enzimas específicas), aminoácidos aromáticos (tirosina),
e produtos secundários, como a lignina e os flavonoides (LIDON et al., 2004). Este elemento
metálico também participa da via de biossíntese de isoprenóides e da assimilação de nitrato
(LIDON et al., 2004; DUČIĆ; POLLE, 2005). Portanto, Mn é fundamental para muitos
processos metabólicos, tais como a respiração, fotossíntese, síntese de aminoácidos e ativação
hormonal (BROADLEY et al., 2012; WHITE, 2012; WHITE; GREENWOOD, 2013). No
ciclo do ácido tricarboxílico, atua em reações de descarboxilação oxidativas e não oxidativas,
como, por exemplo, na descarboxilação de desidrogenase do malato NADPH específica,
enzima málica e desidrogenase do isocitrato.
9
Como um micronutriente essencial, os níveis baixos de Mn são absolutamente
necessários para a nutrição normal e desenvolvimento de plantas. De acordo com Clarkson
(1988), os teores normais de Mn nas folhas diferem grandemente entre espécies (30-500 mg
Mn kg-1
MS). No entanto, quando está presente em quantidades excessivas, é extremamente
tóxico para as células vegetais (MIGOCKA; KLOBUS, 2007). A extensão da lesão da
toxicidade de Mn é, aproximadamente, proporcional à concentração do excesso de Mn
acumulado. No entanto, existe uma variação intra e interespecífica considerável entre os
níveis de Mn que induz toxicidade, bem como os sintomas da toxicidade em espécies vegetais
(FOY et al., 1988). Além disso, concentrações excessivas desse nutriente em plantas podem
alterar diversos processos, tais como a atividade enzimática, absorção, translocação e
utilização de outros elementos minerais (Ca, Mg, Fe e P), causando estresse oxidativo
(DUČIĆ; POLLE, 2005;. LEI et al., 2007).
A toxicidade de Mn também pode desencadear o estresse oxidativo em células
vegetais (DEMIREVSKA-KEPOVA et al., 2004). Como metal tóxico, Mn pode causar
alterações metabólicas e danos macromoleculares que perturbam a homeostase celular
(HEGEDÜS et al., 2001; POLLE, 2001). De acordo com Lynch e St. Clair (2004), a
toxicidade de Mn em plantas gera espécies reativas de oxigênio (EROs), principalmente OH•-,
as espécies oxidantes mais reativas e nocivas em células (LIDON; HENRIQUES, 1993).
Também tem sido relatado que tanto o excesso de Mn quanto a intensidade de luz ótima
determinam um aumento no estresse oxidativo, concomitante com a inibição do crescimento
da planta (SHI et al., 2006).
2.3. Cd no solo e nas plantas
Cd é um metal pesado não essencial (densidade 8,65 g cm-3
) e, provavelmente, o
poluente mais significativo devido à sua alta toxicidade para muitas espécies vegetais, mesmo
em uma concentração muito baixa (PINTO et al., 2004). A presença de Cd nos solos é
derivada das rochas de origem e de sedimentos, cuja concentração média na crosta terrestre é
de 0,2 mg kg-1
solo (MASON; MOORE, 1982; ADRIANO, 1986). O teor médio de Cd total
nos solos está entre 0,06 e 1,1 mg kg-1
(ALLOWAY, 1995; KABATA-PENDIAS; PENDIAS,
2001). Além disso, Cd pode ser introduzido no solo e no ambiente por meio de diversos
processos antropogênicos (BOLAN et al., 2010), como rejeitos de mineração, os quais
10
possuem elevados níveis de Cd (LI, 2006); resíduos industriais de diversos processos
(ADRIANO, 2001; CORDERO et al., 2004); lodo de esgoto e biosólidos (MCBRIDE;
CHERNEY, 2004); adubos fosfatados utilizados na agricultura (MORTVEDT; BEATON,
1995), dentre outros.
Na solução do solo, Cd ocorre predominantemente como Cd2+
, mas também como
quelatos de Cd (TUDOREANU; PHILLIPS, 2004). Baixas concentrações de Cd2+
na solução
do solo, combinados com baixos coeficientes de difusão para Cd2+
em soluções aquosas,
sugerem que a transpiração, impulsionada pelo fluxo de massa, vai dominar o fornecimento
de Cd2+
da solução do solo para as raízes das plantas. Isto reforça o que dizem Ingwersen e
Streck (2005) que o acúmulo de Cd pelas plantas cultivadas em solo está diretamente
relacionado à transpiração. Na natureza, as concentrações de Cd na parte aérea variam muito.
Embora muito desta variação possa ser atribuído a fatores ambientais, existe uma variação
filogenética apreciável em concentrações de Cd na parte aérea (BROADLEY et al., 2001;
WATANABE et al., 2007).
Devido à alta solubilidade em água, Cd é facilmente absorvido e acumulado pelas
plantas, afetando fortemente o seu crescimento e a sua produtividade (BENAVIDES et al.,
2005; DALCORSO et al., 2008). A maioria das pesquisas sobre poluição por Cd está focada
nos processos envolvidos no acúmulo de Cd em plantas cultivadas e sobre as conseqüências
desse acúmulo na saúde humana (WAGNER, 1993). As plantas superiores são capazes de
absorver Cd, em função da sua disponibilidade e da concentração, a partir do solo ou da água,
mas muito pouco é absorvido diretamente da atmosfera (CLEMENS, 2006). A fitotoxicidade
por Cd, no entanto, é um problema relevante, especialmente em algumas regiões altamente
poluídas por metais, onde foi observada uma diminuição na produtividade das culturas
agrícolas (VASSILEV; YORDANOV, 1997). Cd é difundido em solos contendo resíduos de
minas de Zn, em água de esgoto usada para irrigação, em solos alterados com lodo de esgoto e
em solos adubados com fertilizantes fosfatados ricos em Cd. Em solos agrícolas, o limite
regulamentar de Cd é de 100 mg kg-1
solo, mas esse limite é continuamente crescente, devido
à correção do solo e o uso intenso de fertilizantes fosfatados e lodo de esgoto e seu teor em
solos não poluídos aumentam com a concentração de argila. (HÜTTERMANN et al., 1999;
SANITÀ DI TOPPI; GABBRIELLI, 1999; DALCORSO et al., 2010).
Embora Cd não seja um elemento metálico essencial para o crescimento e
desenvolvimento das plantas, Cd é absorvido através do sistema radicular e transportado para
parte aérea através do xilema. Nas células radiculares, Cd desequilibra a absorção de água e
11
nutrientes, interferindo na absorção de Ca, Mg, K e P. Além disso, inibe enzimas envolvidas
no metabolismo de nutrientes na raiz, tais como redutase de Fe3+
, redutase de nitrato, redutase
do nitrito, sintetase da glutamina, sintetase do glutamato, que conduz à deficiência de Fe2+
, e
reduz a assimilação e metabolismo de N (sintetase da glutamina e do glutamato são
responsáveis pela incorporação de amônio ao esqueleto de carbono) (BALESTRASSE et al.
2003; DALCORSO et al. 2008). Na parte aérea, Cd pode ser acumulado em altas
concentrações em órgãos vegetativos e reprodutivos, além de afetar a homeostase global
(METWALLY et al., 2005).
Cd pode se acumular em determinadas partes da planta e promover distúrbios como (i)
alterações morfológicas e ultraestruturais em folhas e raízes (SOUZA et al., 2011), (ii)
clorose (CHAFFEI et al., 2004) e epinastia foliar (ZHAO et al., 2006), (iii) lignificação da
parede celular nas raízes e folhas, (iv) redução na fotossíntese líquida, condutância estomática
e transpiração foliar (SOUZA et al., 2011), (v) peroxidação lipídica (LASPINA et al., 2005;
IANNONE et al., 2010), (vi) alteração na absorção de nutrientes, (vii) alterações morfológicas
típicas de apoptose em núcleos de pontas de raízes e células foliares, (viii) indução de morte
celular programada (SOUZA et al., 2011), (ix) perturbação no metabolismo de N e S e na
maquinaria antioxidante da planta (GRATÃO et al., 2008; GILL; TUTEJA, 2011), (x)
mudanças no balanço hídrico e inibição do crescimento, devido à redução na concentração e
inibição da síntese de clorofila e na abertura dos estômatos e escurecimento das raízes
(SOARES et al., 2005; GARNIER et al., 2006; RODRÍGUEZ-SERRANO et al., 2009) e (xi)
alterações no metabolismo germinativo das sementes (RAHOUI et al., 2010; SMIRI et al.,
2010).
Cd gera estresse oxidativo em plantas por meio do excesso de ERO’s e de mecanismos
desconhecidos, dando origem a uma explosão oxidativa, que induz alterações nas funções das
membranas, iniciando a peroxidação dos ácidos graxos poli-insaturados (GILL; TUTEJA,
2010). ERO’s, na ausência de mecanismos de proteção, podem promover a oxidação de
proteínas e lipídios nas membranas celulares, o que leva a um aumento do extravasamento de
eletrólitos, com um aumento concomitante do teor de malondialdeído. ERO’s podem ser
produzidas, indiretamente, por operação ineficiente do ciclo de ASC-GSH, induzida por Cd,
causando acúmulo de H2O2 (CHO; SEO, 2005). Assim, a capacidade das espécies vegetais em
sintetizar GSH parece ser crucial para proteger a célula do estresse oxidativo causado por Cd.
Schützendübel e Polle (2002) sugeriram que Cd induz uma perda transitória da atividade
antioxidante, resultando no acúmulo de H2O2. De acordo com estes autores, H2O2 atua como
12
uma molécula de sinalização desencadeadora do sistema de defesa secundário, que causará
lignificação da parede celular, redução da viabilidade das células e, finalmente, a morte
celular.
Cd pode estimular certas enzimas que limitam o crescimento das células e aceleram a
senescência dos tecidos vegetais. A mediação destes processos ocorre, principalmente, pela
atividade de peroxidases (PODs) ligadas, covalente ou ionicamente, à parede da célula e que
estão envolvidas na polimerização de monômeros de compostos fenólicos de suberina,
metabolismo de distensão e lignificação (SOUZA, 2007). A maior quantidade acumulada de
fenóis insolúveis, como a lignina, na parede celular secundária dos tecidos de plantas expostas
ao Cd, pode estar relacionada com o aumento da atividade de POD (CHAOUI; EL FERJANI,
2005). No entanto, a atividade das PODs também mostra uma estreita relação com as
mudanças em processos tais como, fotossíntese, respiração e transpiração, com o potencial de
servir como um indicador sensível de comprometimento da atividade metabólica
(MACFARLANE; BURCHETT, 2001).
O Cd também pode estimular algumas enzimas que limitam o crescimento da célula e
aceleram o envelhecimento do tecido. Este processo é mediado principalmente pela atividade
de peroxidases (POD), ligadas covalentemente ou ionicamente a parede celular, que estão
envolvidas na polimerização de monômeros de fenólicos de suberina, no metabolismo de
distensão e de lignificação. O acúmulo de fenóis insolúveis, como lignina, na parede
secundária de células vegetais expostas ao Cd, pode estar relacionado ao aumento na
atividade destas peroxidases (CHAOUI; EL FERJANI, 2005). Todavia, a atividade de
peroxidases demonstra, ainda, uma estreita relação com as mudanças nos processos
fisiológicos tais como respiração, fotossíntese e transpiração, assim estas enzimas apresentam
potencialidades para atuar como indicadoras de sensibilidade da atividade metabólica
comprometida (MACFARLANE; BURCHETT, 2001).
Certas espécies vegetais sobrevivem e se reproduzem em solos que contêm altas
concentrações de metais pesados. Estas plantas têm vários mecanismos potenciais, em nível
celular, que podem estar envolvidos na desintoxicação e, por conseguinte, na tolerância a
estresses causados por metais (BENAVIDES et al., 2005; GRATÃO et al., 2005; VAN
BELLEGHEM et al., 2007). Tem-se observado que espécies tolerantes possuem mecanismos
de defesa ligados ao sistema antioxidante celular, que protegem vários processos fisiológicos
vitais contra danos resultantes de formas reativas de oxigênio produzidas pelo estresse por
metais pesados (PANDA; CHOUDHURY, 2005). Além disso, as plantas tolerantes mostram
13
um aumento nos mecanismos homeostáticos, que contribuem para prevenir a translocação de
metais ou mantê-los numa forma estável. Tolerância ou resistência ao estresse por metal nas
plantas podem estar associadas com um ou mais mecanismos, dentre eles: (i) restrição do
movimento do metal para as raízes por micorrizas, (ii) ligação do metal à parede celular
(BENAVIDES et al., 2005; VÁZQUEZ et al., 2006), (iii) redução do fluxo através da
membrana plasmática, que envolve os canais de Ca (RIVETTA et al., 1997), (iv) efluxo ativo
para o apoplasto (VAN BELLEGHEM et al., 2007), (v) transporte e acúmulo de metais no
vacúolo (GRATÃO et al., 2005), (vi) agentes quelantes de metal no citosol (HALL, 2002) e
(vii) transporte do complexo fitoquelatina-Cd para o vacúolo. Como resultado destes
mecanismos de tolerância e, ou resistência (isoladamente ou em combinação), algumas
plantas podem crescer em ambientes contaminados por metais, onde outras espécies não
sobrevivem (HALL, 2002).
A quelação de metais por ligantes de alta afinidade no citosol é um mecanismo
potencial muito importante de tolerância e de desintoxicação de metais pesados em plantas.
Os agentes quelantes incluem nicotinamina, aminoácidos, ácidos orgânicos, proteínas e
peptídeos, em especial dois tipos de peptídeos: fitoquelatinas (PCs) e metalotioneínas (MTs)
(CLEMENS, 2001; DUČIĆ; POLLE, 2005; VERBRUGGEN et al., 2009). Em plantas, MTs
possuem afinidade com muitos metais, incluindo Zn, Cu, As e Cd (YANG; CHU, 2011) e
estão envolvidas com a proteção contra a toxicidade dos metais, por meio de sequestro
celular, homeostase de íons metálicos intracelulares e ajuste no transporte de metais
(MEMON et al., 2001; KOHLER et al., 2004; CAPDEVILA; ATRIAM, 2011; GUO et al.,
2013). Além disso, são agentes participativos na limpeza de ERO’s e na manutenção do nível
redox (WONG et al., 2004; MACOVEI et al., 2010; CAPDEVILA; ATRIAM, 2011), reparo
da membrana plasmática (MISHRA; DUBEY, 2006), proliferação celular, crescimento e
reparo do DNA danificado (GRENNAN, 2011).
2.4. Interação entre Mn + Cd e seus efeitos em plantas
Demonstrou-se que Mn pode interagir com Cd no ambiente, sendo Mn capaz de
atenuar os efeitos tóxicos de Cd em plantas (PAĽOVE-BALANG et al., 2006; PENG et al.,
2008; ZORNOZA et al., 2010). Entretanto, os mecanismos envolvidos nessa atenuação ainda
não estão bem elucidados. A atenuação da toxicidade de Cd por adição de Mn em Phytolacca
14
americana foi acompanhada pela redução significativa das concentrações de Cd em todos os
órgãos da planta (PENG et al., 2008). Também foi encontrado em azevém (Lolium
multiflorum L.) e soja (Glycine Max) que a absorção de Cd pelas raízes das plantas foi
reduzida por Mn (JARVIS et al., 1976; CATALDO et al., 1983). Por outro lado, uma redução
na absorção de Mn também foi observada em plantas estressadas por Cd (HERNANDEZ et
al., 1998; ZORZONA et al., 2002; ZHANG et al., 2003).
O antagonismo entre Cd e Mn tem sido observado em plantas estressadas por Cd.
Relatos mostram reduções na absorção de Mn e acúmulo na parte aérea e raízes, em diferentes
espécies vegetais, quando cultivadas em um meio poluído por Cd (CATALDO et al., 1983;
THYS et al., 1991; JALIL et al., 1994; YANG et al., 1998; WU et al., 2003a). Além disso,
vários trabalhos com espécies vegetais distintas indicam que uma baixa concentração de Cd
aumenta o acúmulo de Mn na parte aérea, embora não nas raízes (HERNÁNDEZ et al., 1998;
RAMOS et al., 2002) e que uma adequada nutrição com Mn pode estar associado com a
redução paralela da absorção de Cd (JARVIS et al., 1976; PAĽOVE-BALANG et al. 2006).
O decréscimo da concentração de Cd na planta, após a adição de Mn, e vice-versa,
pode ser explicado pela competição para os mesmos transportadores de membrana
(PAĽOVE-BALANG et al., 2006). Recentemente, devido ao sequenciamento de todo o
genoma de algumas espécies vegetais, foram identificados e descritos muitos transportadores
de metal multiespecíficos. Os genes NRAMP e IRT1 codificam proteínas de membrana
integrais que podem transportar Mn, bem como entre os outros metais, como por exemplo, o
Cd (ROGERS et al., 2000; THOMINE et al., 2003; COHEN et al., 2004). A alta concentração
de Mn em Lupinus albus, uma espécie hiperacumuladora de Mn, contribuiu para a redução
dos efeitos negativos de Cd, especialmente na fotossíntese (ZORNOZA et al., 2002). Um
acúmulo maior de Mn em cloroplastos, quando o Cd está presente no meio de crescimento, foi
também encontrado em Lactuca sativa (RAMOS et al., 2002). Além disso, a restauração
parcial da estrutura do cloroplasto, danificada pelo tratamento de Cd, foi observada após a
adição de Mn (BASZYŃSKI et al., 1980).
2.5. Theobroma cacao, Mn e Cd
Mn é dos micronutrientes essenciais mais exigidos pelas plantas de T. cacao, sendo
absorvido pelas raízes, principalmente, como cátion divalente (Mn2+
). Além disso, é o
15
micronutriente mais acumulado nas folhas (SOUZA JÚNIOR, 1999; DANTAS, 2011) e o
mais exportado para a casca e sementes do fruto de T. cacao (PINTO, 2013). O teor foliar
adequado de Mn em plantas de T. cacao varia entre 50 e 300 mg kg-1
MS (SODRÉ, 2017).
Poucos trabalhos abordam os problemas causados pela deficiência de Mn em T. cacao. Os
principais sintomas observados são clorose em folhas novas, limitada por uma faixa entre as
nervuras (sintomas mais visíveis nas partes marginais da folha), apresentando as nervuras e
adjacências com colorações normais. A deficiência de Mn é comum em solos alcalinos ou em
lançamentos foliares, após a colheita de grande número de frutos na planta de T. cacao
(SODRÉ, 2017). Por outro lado, tem sido observado que o excesso de Mn acumulado nas
folhas de T. cacao não causa distúrbios nas plantas. Muitas pesquisas têm mostrado o elevado
acúmulo de Mn nas folhas de T. cacao, mesmo quando as plantas estão submetidas a estresses
diversos, tais como baixas e altas intensidades de luz (BALIGAR et al., 2005); estresse
hídrico (REHEM et al., 2009; SANTOS et al., 2014) e estresse por metais pesados (SOUZA
et al., 2014; ALMEIDA et al., 2015; CASTRO et al., 2015; REIS et al., 2015; ARAÚJO et al.,
2017).
Atualmente, existe uma grande preocupação com os tipos de solos onde se cultiva T.
cacao, devido, principalmente, à presença de metais pesados, em especial o Cd, que são
absorvidos do solo pelas plantas de T. cacao e acumulados nas sementes de seus frutos
(ARÉVALO-GARDINI et al., 2017; CAOBISCO/ECA/FCC, 2015). Isto, por sua vez, gera
grande preocupação em relação à segurança alimentar, pois tem sido verificada, nos produtos
derivados de amêndoas (sementes fermentadas) de T. cacao, a exemplo do chocolate, maior
concentração de Cd, quando comparado à maioria dos outros alimentos (DAHIYA et al.,
2005, JALBANI et al., 2009). Com base nestas informações, a Codex Alimentarius
Commission (CAC) vem desenvolvendo, desde 2014, trabalhos objetivando fornecer limites
máximos harmonizados deste metal que protejam a saúde dos consumidores e garantam um
comércio internacional de cacau mais justo (CAOBISCO/ECA/FCC, 2015), uma vez que a
contaminação dos produtos a base de cacau por Cd é de grande importância comercial para os
países produtores de cacau, pois influencia diretamente na economia (ICCO, 2012).
No ano de 2014, foram estabelecidos, pela União Européia (UE), limites máximos de
Cd para os produtos a base de cacau, aplicáveis a partir de 1 de janeiro de 2019 (EU, 2014).
Estes limites máximos de Cd foram estabelecidos da seguinte forma: i) chocolate ao leite com
< 30% de sólidos secos totais de cacau - 0,10 mg Cd kg-1
; ii) chocolate com < 50% de sólidos
secos totais de cacau e chocolate ao leite com ≥ 30% de sólidos secos totais de cacau - 0,30
16
mg Cd kg-1
; iii) chocolate com ≥ 50% de sólidos secos totais de cacau - 0,80 mg Cd kg-1
; iv)
cacau em pó vendido ao consumidor final ou como ingrediente em cacau em pó adoçado e
vendido ao consumidor final (chocolate para consumo) - 0,60 mg Cd kg-1
.
O cacau produzido na América Latina é considerado de qualidade superior devido ao
seu potencial na produção de chocolates finos (LOOR et al., 2009). No entanto, estudos têm
revelado que solos de diversos países produtores de cacau, da América Latina, estão
contaminados por metais pesados (CHAVES et al., 2015; TAKRAMA et al., 2015), cujas
amêndoas produzidas, a partir de plantas de T. cacao cultivadas nestes solos, apresentam alto
teor de Cd (1,4 mg kg-1
), quando comparado com as amêndoas produzidas na América
Central (0,5 mg kg-1
), no Leste (0,5 mg kg-1
) e no Oeste africano (0,09 mg kg-1
) e na Ásia (0,3
mg kg-1
) (BERTOLDI et al., 2016). Entretanto, há poucas informações disponíveis sobre a
concentração máxima de Cd em amêndoas de T. cacao, contudo a UE estabeleceu limites
críticos de 0,6 mg de Cd kg-1
em amêndoas (MOUNICOU et al., 2003). Informações
referentes aos teores de Cd em amendoas cruas de cacau ainda são bem limitadas. Contudo,
concentrações elevadas de Cd foram encontradas no cacau em pó do Equador (0,7 e 0,5 mg
kg-1
), Venezuela (1,8 mg kg-1
) e Malásia (0,6 mg kg-1
), quando comparados com os países
produtores na Africa (0,09 e 0,1 mg kg-1
) e no Brasil (0,1 e 0,2 mg kg-1
) (MOUNICOU et al.,
2003).
Uma das principais portas de entrada de metais pesados, especialmente o Cd, nos
sistemas agrícolas, como a cacauicultura, é por meio da utilização de fertilizantes fosfatados
(SILVA et al., 2017), de grande importância para o aumento da produtividade das culturas.
Estes elementos metálicos estão presentes nos fertilizantes como resultados da composição
das matérias-primas utilizadas na sua fabricação e, consequentemente, são transferidos para as
plantas durante a aplicação, causando sérios prejuízos à produção (GUPTA et al., 2014;
SILVA et al., 2017).
A espécie T. cacao tem demonstrado ser bastante exigente em Mn. Este elemento
metálico, assim como o Cd, é absorvido como cátion divalente, competindo pelos mesmos
transportadores de íons. Logo, a maior disponibilidade de Mn para as plantas de T. cacao, em
solos contaminados por Cd, pode reduzir a absorção de Cd, em detrimento da absorção de Mn
pelas raízes, e evitar ou minimizar o transporte de Cd para a parte aérea e, consequentemente,
o seu acúmulo nas amêndoas de T. cacao, mitigando, desta forma, a toxicidade de Cd.
17
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Material vegetal e condições de cultivo
O experimento foi conduzido em casa de vegetação no campus da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia, Brasil (14°47’ S, 39°10’W), utilizando
sementes do genótipo de T. cacao CCN 51, obtidas de frutos maduros, oriundos de plantas
adultas com 3 a 5 anos de idade, cujas flores foram autopolinizadas. As sementes foram pré-
germinadas em pó de serra umedecido com água. Logo após a protrusão da raiz primária, as
sementes pré-germinadas foram transplantadas para vasos plásticos pretos com capacidade de
5 L, contendo solo franco-arenoso (cujas características físicas e químicas são apresentadas na
Tabela 1) corrigido com uma mistura de CaCO3 e MgCO3, necessária para atingir a relação de
2:1 de Ca2+
e Mg2+
e aumentar o valor da saturação de base para 80%, e fertilizado (Tabela 2)
com base na recomendação de adubação feita a partir da análise do solo.
Tabela 1. Características físicas e químicas do solo para o crescimento de plantas seminais do
genótipo de Theobroma cacao CCN 51: P, Na, K, Fe, Zn, Mn e Cu (extraído por Mehlich 1);
Ca, Mg e Al (extraído por KCl, 1 mol L-1
); H + Al (extraído por acetato de cálcio 0,5 M, pH
7,0); B (extraído por água quente); S (extraído por fosfato monocálcico em ácido acético). SB,
soma das bases; t, capacidade efetiva de troca de cátions; T, capacidade de troca catiônica (pH
7,0); V, saturação de base; m, saturação por Al; MO, matéria orgânica; P-rem, fósforo
remanescente.
Análise fisico-química do solo
pH (H2O) 5,11
P (mg dm-3
) 10,4
K (mg dm-3
) 29
Ca2+
(cmolc dm-3
) 1,08
Mg2+
(cmolc dm-3
) 0,37
Al3+
(cmolc dm-3
) 0,5
H + Al (cmolc dm-3
) 3,3
S (mg dm-3
) 10,9
Zn (mg dm-3
) 2,17
SB (cmolc dm-3
) 1,52
(t) (cmolc dm-3
) 2,02
(T) (cmolc dm-3
) 4,82
Fe (mg dm-3
) 165,1
Mn (mg dm-3
) 23,7
Cu (mg dm-3
) 1,05
18
B (mg dm-3
) 0,17
V (%) 31,5
m (%) 24,8
Matéria Orgânica (dag kg-1
) 0,51
P-rem (mg L-1
) 41,0
Areia Grossa (kg kg-1
) 0,32
Areia Fina (kg kg-1
) 0,51
Silte (kg kg-1
) 0,09
Argila (kg kg-1
) 0,08
Tabela 2. Adubação de plantio e de cobertura para plantas jovens do genótipo de Theobroma
cacao CCN 51. *Padrão Analítico (PA).
Adubação de plantio
Nutriente Concentração Fertilizante
P 4,60 (g vaso-1
) MAP Purificado
K 7,63 (g L-1
) KCl PA*
B 0,27 (g L-1
) H3BO3 PA
Cu 0,47 (g L-1
) CuSO4.5H2O PA
Zn 1,41 (g L-1
) ZnSO4.7H2O PA
Mo 0,02 (g L-1
) (NH4)6Mo7O24.4H2O PA
Adubação de cobertura (15 dias após o transplantio e continuamente a cada 15 dias)
Nutriente Concentração Fertilizante
N 8,89 (g L-1
) Uréia
K 1,95 (g L-1
) KCl PA
S 2,17 (g L-1
) K2SO4 PA
Após 120 dias do transplantio das sementes pré-germinadas, foram adicionados ao
solo 50 mL de soluções distintas contendo diferentes concentrações de Mn (0; 0,4; 0,8; 1,2 e
1,6 mmol kg-1
solo) e Cd (0; 0,2, 0,4; 0,6 e 0,8 mmol kg-1
solo), utilizando cloreto de
manganês e cloreto de cádmio (Sigma-Aldrich), respectivamente (Tabela 3). Durante todo o
período experimental (150 dias), as plantas jovens de T. cacao foram regadas com água de
chuva previamente armazenada.
19
Tabela 3. Distribuição dos tratamentos com as concentrações de Mn e Cd aplicados no solo. *Sem adição de Mn e Cd ao solo (controle).
Cd (mmol kg-1
)
0 0,2 0,4 0,6 0,8
Mn
(mmol kg-1
)
0 0 + 0* 0 + 0,2 0 + 0,4 0 + 0,6 0 + 0,8
0,4 0,4 + 0 0,4 + 0,2 0,4 + 0,4 0,4 + 0,6 0,4 + 0,8
0,8 0,8 + 0 0,8 + 0,2 0,8 + 0,4 0,8 + 0,6 0,8 + 0,8
1,2 1,2 + 0 1,2 + 0,2 1,2 + 0,4 1,2 + 0,6 1,2 + 0,8
1,6 1,6 + 0 1,6 + 0,2 1,6 + 0,4 1,6 + 0,6 1,6 + 0,8
O experimento foi conduzido no período compreendido entre setembro de 2015 e
janeiro de 2016. Neste período, a radiação fotossinteticamente ativa (PAR) foi monitorada e
registrada continuamente (Figura 1), utilizando sensores de radiação luminosa S-LIA-M003, e
a temperatura e a umidade relativa do ar foram monitorados utilizando-se sensores
microprocessados Hobo H8 Pro Series (Onset, USA), acoplados a estação climatológica Hobo
Micro Station Data Logger (Onset Computer, Massachusetts, EUA).
Figura 1. Valores diários da radiação fotossinteticamente ativa (PAR), temperatura e umidade relativa
do ar, monitorados e registrados em casa de vegetação, durante o período experimental.
20
3.2. Parâmetros fotossintéticos
3.2.1. Trocas gasosas foliares
Durante o período experimental, a taxa fotossintética líquida por unidade de área foliar
(A), a condutância estomática ao vapor de água (gs) e a transpiração foliar (E) foram medidas
no 1°, 4°, 7°, 14°, 21° e 28° dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT). Essas variáveis
foram avaliadas, entre 8 e 12 h, em folhas completamente expandidas e maduras, utilizando o
sistema portátil de medição da fotossíntese LI-6400XT (LI-COR Biosciences, Lincoln,
Nebraska, USA), equipado com uma fonte de luz artificial 6400-02B RedBlue.
Para as medidas de trocas gasosas foliares, a fonte de luz artificial do sistema foi
ajustada para fornecer uma densidade de fluxo fotossintético de fótons (PPFD) de 800 μmol
m-2
s-1
, isto é, acima da irradiância de saturação de luz para folha de T. cacao, sem provocar
fotoinibição. Os valores de A, gs e E foram estimados a partir dos valores atmosféricos de
CO2 (Ca) e de umidade do ar medidos no interior da câmara e utilizados para calcular as
eficiências intrínsecas (A/gs) e instantâneas (A/E) de uso da água. Além disso, também foi
medida a relação entre as concentrações intracelular (Ci) e atmosférica de CO2 (Ci/Ca). As
medições foram salvas quando o coeficiente de variação (CV) atingiu valor inferior a 0,3%.
Além de PPFD, a temperatura foliar e o fluxo de CO2 atmosférico no interior da câmara foliar
foram mantidos constantes a 26 ± 1 °C e 400 ± 20 μmol (CO2) mol-1
, respectivamente.
3.2.2. Pigmentos fotossintéticos
As concentrações de clorofilas a (Chl a) e b (Chl b) e de carotenoides (Car) foram
obtidas a partir de 100 mg de tecido foliar liofilizado, utilizando 2 mL de acetona a 100%,
seguido de armazenamento em freezer a - 20° C por 24 h (TORRES et al., 2006). Logo após,
os extratos foram centrifugados a 5000 x g por 10 min a 4° C. Em seguida, as absorbâncias
dos extratos centrifugados foram lidas a 470, 645 e 662 nm para Car, Chl b e Chl a,
respectivamente, em espectrofotômetro de luz visível-UV Spectramax Paradigm (Molecular
Devices, CA, USA). As concentrações de Chl a, Chl b e Car foram determinadas seguindo as
equações abaixo (LICHTENTHALER; WELLBURN, 1983):
21
Chl a = (11,75 x A662) - (2,35 x A645)
Chl b = (18,61 x A645) - (5,03 x A662)
Car = [(1000 x A470) - (2,27 x Chl a) - (81,4 x Chl b)]/227
3.3. Concentrações de Mn e Cd
Ao final do experimento (30 DAAT), foram coletadas folhas e raízes das plantas
jovens de cacau dos diferentes tratamentos, em quatro repetições. As raízes foram submetidas
a lavagens com água corrente, solução detergente neutro a 0,1%, água destilada, solução de
HCl a 3% e água destilada (SOUZA JÚNIOR et al., 2011), visando a remoção do excesso de
metais na superfície radicular. Em seguida, o material vegetal foi submetido à secagem em
estufa de circulação forçada de ar a 70 °C ± 5 °C até massa constante. Posteriormente, o
material foliar seco foi moído, usando um moinho de rotor tipo ciclone/Willey (MA1340,
Marconi), enquanto que as raízes secas foram trituradas em moinho de bola com câmara
fechada (MA350, Marconi). Logo após, o material vegetal seco e triturado foi submetido à
digestão nitroperclórica (3:1 v/v) e, posteriormente, analisada quimicamente, utilizando a
técnica de espectrometria de emissão óptica por plasma indutivamente acoplado (ICP OES,
Varian, modelo 710ES).
3.4. Teor de prolina
A determinação do teor de prolina foi realizada de acordo com os procedimentos
metodológicos descritos por Bates et al. (1973), com alterações adaptadas para leitura em
microcubeta de quartzo e nos volumes de tolueno. Amostras foliares secas em estufa (35 mg
para o tratamento controle e 15 mg para os demais tratamentos) foram maceradas em
nitrogênio liquido. Em seguida, foi adicionado em cada tubo 1 mL de ácido sulfossalicílico a
3%. Imediatamente após, os tubos foram agitados vigorosamente em vórtex, seguidos de
centrifugação a 10000 x g durante 10 min. Logo após, coletou-se 0,2 mL do sobrenadante
(extrato bruto) e transferiu para tubos de ensaio de vidro e rosqueados. Em seguida, foram
adicionados em cada tubo de ensaio 0,2 mL de ninhidrina ácida e 0,2 mL de ácido acético
glacial concentrado (Bates et al. 1973). Logo após, os tubos foram fechados hermeticamente,
22
agitados em vórtex e incubados em banho-maria a 100 °C por 1 h. Imediatamente após, a
reação foi interrompida em banho de gelo, adicionou-se 0,4 mL de tolueno e agitou
vigorosamente em vórtex por 20 s. Posteriormente, os tubos foram deixados descansar até
atingir a temperatura ambiente. Em seguida, a fase superior foi recuperada com o auxílio de
uma pipeta Pasteur de vidro e transferida para uma microcubeta de quartzo. A leitura foi
realizada em λ de 520 nm usando tolueno como branco. A curva-padrão foi preparada com L-
prolina (PM: 115,13 g) e o teor de prolina foi calculado de acordo com a fórmula descrita por
Bates et al (1973). Os resultados foram expressos em mg g-1
MS.
3.5. Peroxidação lipídica
Os produtos da peroxidação lipídica de membranas celulares foram avaliados como
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), principalmente malondialdeído
(MDA), de acordo os procedimentos metodológicos descritos por Cakmak e Horst (1991),
com algumas modificações. Aos 30 DAAT foram coletadas, em nitrogênio líquido, folhas
maduras de todos os tratamentos, armazenadas em ultrafreezer a - 80°C e, posteriormente,
liofilizadas. No momento da análise, 20 mg de folhas liofilizadas, de cada tratamento, foram
maceradas com 2 mL de ácido tricloroacético (TCA) a 0,1% (p/v). Logo após, o extrato foi
centrifugado a 10.000 xg durante 6 min. Em seguida, uma alíquota de 500 µL do
sobrenadante foi adicionada a 1,5 mL de solução de ácido tiobarbitúrico a 0,5%, preparado
em TCA a 20%. Logo após, as amostras foram incubadas a 90ºC durante 20 min, seguidas de
paralisação da reação em banho de gelo. Imediatamente após, fez-se a centrifugação das
amostras a 10.000 x g por 4 min e realizou-se a leitura da absorbância do sobrenadante em λ
de 532 nm, seguido da correção para turvação não-específica por subtração da absorbância em
λ 600 nm. A concentração de TBARS foi calculada a partir do seu coeficiente de extinção de
155 mM cm-1
.
3.6. Metabolismo antioxidativo
3.6.1. Obtenção do extrato enzimático bruto
23
Para a análise das enzimas relacionadas ao metabolismo antioxidativo, foram
coletadas folhas maduras de todos os tratamentos nos tempos correspondentes a 3, 6, 12, 24,
48 e 96 h após a aplicação dos tratamentos (AAT). Durante as coletas, as folhas foram
congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas em ultrafreezer - 80°C até o momento da
liofilização. Após a liofilização, macerou-se cerca de 100 mg de amostras, foi adicionado
polivinilpirrolidona (PVP) para evitar a oxidação do macerado e, logo após, as amostras
foram pesadas em 20 e, ou 40 mg. O material macerado foi ressuspenso em tampão de
extração 20x (tampão fosfato de sódio, 50 mM, pH 6,0 ou tampão fosfato de potássio 50 mM,
pH 7,0 ou 7,8) de acordo com a enzima analisada. Procedeu-se a ultrasonicação das amostras
(Ultrasonic processor Gex 130, 130 W) em gelo até o rompimento total dos tecidos, com
pulsos de 8 s, a intervalos de 10 s, e amplitude de 70%. Em seguida, as amostras foram
centrifugadas a 4°C por 10 min em 10000 x g. Imediatamente após, coletou-se a fase aquosa
(extrato bruto) e transferiu para tubos de 2 mL, que foi armazenada, temporariamente, em
gelo.
3.6.2. Atividade da dismutase do superóxido (SOD, EC. 1.15.1.1)
A atividade de SOD foi determinada de acordo com a metodologia descrita por
Gianopolitis e Ries (1977), com algumas modificações. Ao extrato bruto, foi adicionado o
tampão de reação (fosfato de potássio a 50 mM, pH 7,8), EDTA a 1 mM e metionina a 130
mM. A atividade enzimática foi iniciada com a adição de riboflavina a 1 mM e NBT a 750
µM. A leitura inicial ocorreu após a placa ter ficado no escuro por 5 min, e a segunda leitura
realizada após a placa ter sido submetida à luz fluorescente de 15 W por mais 20 min. Foram
considerados como brancos os poços que não continham extrato vegetal. Uma unidade de
atividade (UA) foi determinada para medir a capacidade da enzima de inibir 50% da
fotorredução de nitroazul de tetrazólio (NBT) à formazana azul. As leituras foram realizadas a
560 nm em espectrofotômetro de microplacas UV/VIS SpectraMax Paradigm Multi-Mode
Microplate Reader (Molecular Devices).
3.6.3. Atividade da peroxidase do guaiacol (GPX, EC. 1.11.1.7)
A atividade de GPX foi determinada de acordo com Pirovani et al. (2008), medindo o
aumento do consumo de guaiacol em μmol s-1
g-1
de biomassa seca. A mistura reagente
24
consistiu em 140 μL de tampão de reação GPX 2x (guaiacol a 40 mmol L-1
, H2O2 a 30% e
fosfato de sódio a 50 mmol L-1
, pH 6,0), 139 μL de tampão fosfato de sódio a 50 mmol L-1
,
pH 6,0 e 1 μL de extrato enzimático bruto. A atividade da enzima foi calculada utilizando a
equação y = 0,1284x + 0,0189 (R2=0,99), originada a partir de uma curva padrão para POD-
guaiacol (REHEM et al., 2011). A atividade foi realizada 470 nm por 180s em
espectrofotômetro de microplacas UV/VIS SpectraMax Paradigm Multi-Mode Microplate
Reader (Molecular Devices).
3.6.4. Atividade da catalase (CAT, EC. 1.11.1.6)
A atividade de CAT foi determinada de acordo com o método descrito por Havir e
McHale (1987). A atividade foi calculada pela velocidade do consumo de H2O2 na reação,
utilizando-se tampão de reação (tampão fosfato de potássio a 50 mM, pH 7,0) com adição de
20 μL do extrato vegetal. A reação foi iniciada pela adição de H2O2 a 300 mM e as leituras
foram feitas calculando-se o decaimento a 240 nm por 180 s, contra um branco livre de
extrato vegetal e expressa em mmol H2O2 g-1
MS s-1
, usando-se o coeficiente de extinção
molar de 36 M-1
cm-1
. A atividade foi realizada em espectrofotômetro de microplacas UV/VIS
SpectraMax Paradigm Multi-Mode Microplate Reader (Molecular Devices).
3.7. Expressão gênica
Amostras foliares de plantas jovens de T. cacao [tratamentos 0 Mn + 0 Cd mmol kg-1
(controle); 1,6 mmol Mn kg-1
solo; 0,8 mmol Cd kg-1
solo; 1,2 Mn + 0,2 Cd mmol kg-1
solo;
0,8 Mn + 0,4 Cd mmol kg-1
solo; 0,4 Mn + 0,6 Cd mmol kg-1
solo] foram coletadas 48 e 96 h
após aplicação dos tratamentos (AAT), imersas em nitrogênio líquido, armazenadas em
freezer à - 80°C, liofilizadas e, por fim, armazenadas a - 20°C. Para a extração de RNA, as
amostras foram maceradas em nitrogênio líquido e pesadas 20 mg de biomassa seca de cada
tratamento. O RNA foi extraído com a utilização do kit RNAqueous®
(Ambion-Applied
Biosystems), seguindo as instruções do fabricante. Em seguida, as amostras foram tratadas
com DNase I (Thermo Scientific) com incubação a 37°C por 30 min., seguido da inclusão de
EDTA a 50 mM e novamente incubadas a 65°C por 10 min. Após incubação, os RNA’s das
25
amostras foram quantificados em espectrofotômetro (NanoDrop 2000c UV-Vis
Spectrophotometer Thermo Scientific) a 260 e 280 nm e expressos em µg mL-1
.
A síntese de cDNA foi realizada a partir das amostras tratadas com DNase I,
utilizando o High Capacity RNA-to-cDNA kit (Applied Biosystems), de acordo com a
recomendação do fabricante. As reações foram incubadas a 37°C por 60 min., 95°C por 5
min. e 4°C por 1 min. A abundância de transcritos foi analisada utilizando primers específicos
previamente descritos por Araujo et al. (2017), relacionados à biossíntese das proteínas do
fotossistema 2 (PS2) da fase fotoquímica da fotossíntese (psbA e psbO), às enzimas
antioxidativas (Cu–Zn sod cyt e Cu–Zn sod chl) e à biossíntese do polipeptídeo
metalotioneína (Mt2b). A qPCR foi realizado em um sistema "PCR em tempo real" (modelo
ABI 7500, Applied Biosystems), utilizando o kit Power SYBR® Green PCRMaster Mix
(Applied Biosystems) de acordo com as instruções do fabricante. A mistura da reação foi
composta por 50 ng de cDNA como modelo, 5 μM de cada primer e 6,5 μL de Power SYBR®
Green PCR Master Mix, para completar o volume final de 12,5 μL. Os números da expressão
relativa dos genes foram calculados como o número de vezes em relação à planta controle,
utilizando o método 2–ΔΔCt
(LIVAK; SCHMITTGEN, 2001), tendo os genes actina e β-
tubulina como controles endógenos (referencial).
3.8. Análise micromorfológica e ultraestrutural celular
Para as análises micromorfológicas e ultraestruturais foram utilizados os seguintes
tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd aplicados no solo: 0 mmol Mn kg-1
solo + 0 mmol Cd kg-1
solo (controle, sem aplicação de Mn e, ou de Cd no solo); 0,8 mmol Mn kg-1
solo; 1,6 mmol
Mn kg-1
solo; 0,4 mmol Cd kg-1
solo; 0,8 mmol Cd kg-1
solo; 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2
mmol Cd kg-1
solo; 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo; 0,4 mmol Mn kg-1
solo +
0,6 mmol Cd kg-1
solo.
3.8.1. Anatomia e micromorfologia foliar
As análises de anatomia e micromorfologia foliar foram realizadas utilizando
microscopia eletrônica de varredura (MEV). Para isso, fragmentos do terço médio foliar
foram fixados em solução de glutaraldeído a 2,5%, preparada em tampão cacodilato de sódio
26
a 0,1 M, pH 7,2. Em seguida, as amostras foram desidratadas em séries crescentes de acetona
PA (30, 50, 60, 70, 80, 90 e 100% (3x)), submetidas a um ponto crítico modelo CPD 030
(BAL-TEC AG, Liechtenstein) para retirada de toda a água dos tecidos e, logo em seguida, as
amostras foram revestidas com uma fina camada de ouro, utilizando um metalizador
SPUTTER COATER SCD 050 (BAL-TEC AG, Liechtenstein). As observações foram
realizadas utilizando o microscópio QUANTA 250 (FEI Company). As espessuras de
diversos componentes foliares foram medidas: parênquimas paliçádico (PP) e esponjoso (SP),
superfícies adaxial (EAd) e abaxial (EAb) da epiderme, mesofilo total (TM), espessura total
da folha (LT), aberturas transversal (TOS) e longitudinal (LOS) dos estômatos e densidade
estomática (SD).
3.8.2. Ultraestrutura celular de folhas e raízes
O microscópio eletrônico de transmissão (MET) foi utilizado para a realização das
análises ultraestruturais de folhas e raízes. Para isso, foram retirados fragmentos do terço
médio de folhas maduras e da extremidade de raízes primárias das plantas jovens de T. cacao,
genótipo CCN 51, nos tratamentos selecionados. O material foi pré-fixado em glutaraldeído a
2,5%, em solução tampão cacodilato de sódio a 0,1 M, pH 7,2, sob vácuo, seguida, de
lavagens no mesmo tampão (3x por 10 min. cada lavagem). A pós-fixação foi realizada com
tetróxido de ósmio a 1 %, preparado no mesmo tampão, seguido de outras lavagens no mesmo
tampão por 3x. As amostras foram desidratadas em séries etanólicas (30, 50, 70, 90 e 100%
PA) e, logo após, embebidas com o mix entre etanol PA e resina LR White (Sigma-Aldrich)
em diferentes proporções (3:1, 1:1 e 1:3) e, em seguida, com a resina pura (3x). Após esse
processo, houve a inclusão das amostras em cápsulas de gelatina e polimerização a 60ºC, por
24 h. Logo após, foram obtidas as secções ultrafinas (70 nm de espessura), utilizando-se o
ultramicrótomo Leica UC6 (Leica), que, em seguida, foram depositadas em grades de cobre
de 400 mesh. Posteriormente, as secções foram contrastadas com acetato de uranila e citrato
de chumbo (REYNOLDS, 1963). Em seguida, os cortes foram examinados e fotografados em
MET, Morgagni™ modelo 268 D, operando com voltagem de aceleração de 80 kV,
microprocessado e controlado por meio de plataforma Windows, equipado com câmera CCD.
27
3.9. Análise estatística
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em esquema
fatorial, com 25 tratamentos, correspondentes às concentrações de Mn (0,4; 0,8; 1,2 e 1,6
mmol kg-1
solo) e Cd (0,2; 0,4; 0,6 e 0,8 mmol kg-1
solo) e suas interações, as quais foram
adicionadas no solo, mais o tratamento controle (sem adição de Mn e Cd ao solo), com
número variável de repetições por parâmetro avaliado. Para as análises anatômicas,
micromorfológicas e ultraestruturais, foram analisados somente oito tratamentos, conforme
informado anteriormente. Foram realizadas análises de variância (ANOVA) e as médias
foram comparadas utilizando o teste de Scott-Knott (p < 0,05).
28
4. RESULTADOS
4.1. Parâmetros fotossintéticos
4.1.1. Trocas gasosas foliares
A aplicação de diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd no solo causaram
efeitos distintos nas trocas gasosas foliares das plantas de T. cacao. As avaliações, realizadas
em diferentes dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT), revelaram respostas diferentes
das plantas entre os tratamentos, principalmente quando comparados ao tratamento controle
(sem adição de Mn e, ou Cd). A taxa fotossintética líquida (A) das plantas jovens de T. cacao
apresentou diferenças significativas entre os tratamentos avaliados, com valores médios
variando entre 1,4 e 5,9 µmol (CO2) m-2
s-1
(Figura 2). A aplicação isolada de Mn no solo
contribuiu para o incremento nos valores de A, exceto aos 14 DAAT, principalmente na
concentração de 1,6 mmol Mn kg-1
solo, mostrando valores de A iguais ou superiores ao
tratamento controle (Figura 2 A-F). Para a maioria das interações Mn + Cd foi verificado
redução de A, principalmente aos sete DAAT. Por outro lado, em todos os DAAT, as
diferentes concentrações isoladas de Cd influenciaram negativamente, pois as plantas
submetidas a esses tratamentos apresentaram os menores valores de A. Notou-se que, aos 14,
21 e 28 DAAT, a aplicação de Mn, associada com a menor concentração de Cd (0,2 mmol kg-
1 solo), favoreceu ao aumento de A. O mesmo fato foi observado aos 21 DAAT, quando se
aplicou 0,6 mmol Cd kg-1
solo, juntamente com Mn (Figura 2 D-F).
29
Figura 2 - Taxa fotossintética líquida por unidade de área foliar (A) de plantas jovens do genótipo T.
cacao CCN 51, após aplicação de diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd no solo. Valores
médios de três repetições (± SE). As letras minúsculas indicam uma comparação entre os tratamentos,
em cada dia após aplicação dos tratamentos (DAAT), pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). 1 DAAT (A);
4 DAAT (B); 7 DAAT (C); 14 DAAT (D); 21 DAAT (E); 28 DAAT (F). C - Controle.
A condutância estomática (gs) apresentou diferença significativa entre os tratamentos
somente aos 28 DAAT, cujo tratamento controle apresentou valores médios superiores à
maioria dos tratamentos (Figura 3 A). Aplicação isolada no solo da maior concentração de Cd
não resultou em danos em gs, uma vez que as plantas submetidas a esse tratamento
apresentaram valores médios estatisticamente iguais às plantas controle e com maiores
concentrações de Mn aplicado isoladamente no solo. O mesmo foi observado em plantas nas
interações com 0,8 e 1,2 mmol Mn kg-1
solo e na menor concentração de Cd (0,2 mmol kg-1
solo) aplicadas no solo (Figura 3 A). Por outro lado, a transpiração foliar (E) foi afetada
significativamente pelos tratamentos somente em dois períodos de avaliação (4 e 28 DAAT),
sendo que aos 4 DAAT os valores médios de E, em todos os tratamentos, foram superiores ao
tratamento controle. Aos 4 DAAT foi verificado incremento nos valores de E com o aumento
da concentração de Mn isoladamente, com 0,2 e 0,4 mmol Cd kg-1
solo e com aplicação
conjunta de 0,4, 0,8 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo Mn + 0,2 mmol Cd kg-1
solo aplicados no solo
30
(Figura 3 B). Por sua vez, aos 28 DAAT, as plantas controle e com menor concentração de
Mn, isoladamente, apresentaram valores superiores aos demais tratamentos (Figura 3 B e C).
Figura 3 - Condutância estomática ao vapor de água (gs) e transpiração foliar (E) de plantas jovens do
genótipo de T. cacao CCN 51, após aplicação de diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd no
solo. Valores médios de três repetições (± SE). As letras minúsculas indicam comparação entre os
tratamentos nos diferentes dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT), pelo teste de Scott-Knott (p
<0,05). 28 DAAT (A); 4 DAAT (B); 28 DAAT (C). C - Controle.
31
A estimativa da eficiência intrínseca de uso da água (A/gs) mostrou que, em alguns
períodos de avaliação (1 e 14 DAAT), o tratamento controle foi superior à maioria dos
tratamentos (Figura 4 A e C). Em geral, a aplicação conjunta de Mn e Cd no solo (1 e 28
DAAT) e a adição de 0,8 mmol Cd kg-1
solo (1 e 28 DAAT) resultaram em incremento nos
valores de A/gs. Aos sete DAAT, no tratamento correspondente a 0,8 mmol Mn kg-1
solo, os
valores médios de A/gs e A/E foram superiores aos demais tratamentos, cujo incremento foi de
mais de 60% em relação ao controle (Figura 4 B e E).
Figura 4. Eficiência intrínseca (A/gs) e instantânea (A/E) do uso de água de plantas jovens do
genótipo de T. cacao CCN 51, após aplicação de diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd no
solo. Valores médios de três repetições (± SE). As letras minúsculas indicam comparação entre os
tratamentos, nos diferentes dias após a aplicação dos tratamentos (DAAT), pelo teste de Scott-Knott (p
<0,05). 1 DAAT (A); 7 DAAT (B); 14 DAAT (C); 28 DAAT (D); 7 DAAT (E). C - Controle.
32
4.1.2. Pigmentos fotossintéticos
Os teores de pigmentos cloroplastídicos em nível foliar, e suas relações, analisados aos
30 DAAT, apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos avaliados (Figura 5 A-
F). Quanto à concentração de Chl a, os tratamentos com 0,8, 1,2 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo, 0,4
e 0,6 mmol Cd kg-1
solo, 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo, 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo, 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo e 1,6 mmol
Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo foram estatisticamente iguais entre si, e superiores aos
demais tratamentos avaliados. A concentração de 0,8 mmol Mn kg-1
solo resultou no
incremento de 64% no teor de Chl a, quando comparada ao tratamento controle, ao passo que
a aplicação conjunta de 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo resultou em
decréscimo de 38% em Chl a, em relação ao tratamento controle (Figura 5 A). Nos
tratamentos correspondentes às concentrações de 0,8 mmol Cd kg-1
solo e 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo aplicados no solo apresentaram valores médios de 1,8 e 1,7 mg
Chl b g-1
MS e 3,1 e 3,0 mg Chl T g-1
MS, respectivamente, resultando no incremento de mais
de 400 e 200% nos teores de Chl b e Chl T, respectivamente, quando comparados ao controle.
Assim como para o teor de Chl a, o tratamento com 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd
kg-1
solo apresentou a maior redução, tanto para Chl b quanto para Chl T, com decréscimos de
44 e 40%, respectivamente, em relação ao controle (Figura 5 B e C). Por outro lado, o teor de
Car foi similar para os tratamentos controle, 0,2 mmol Cd kg-1
solo e 1,6 mmol Mn kg-1
solo
+ 0,2 mmol Cd kg-1
solo, com a maior média observada no tratamento controle (0,5 mg Car g-
1 MS). Além disso, a aplicação de 0,8 mmol Cd kg
-1 solo no solo resultou no decréscimo de
10%, aproximadamente, no teor de Car em relação ao controle (Figura 5 E).
33
Figura 5 - Teores de pigmentos fotossintéticos em folhas maduras de plantas jovens do genótipo de T.
cacao CCN 51, submetidas às concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, 30 DAAT.
Valores médios de quatro repetições (± SE). As letras minúsculas indicam comparação entre
tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p <0,05). C - Controle.
4.2. Concentrações de Mn e Cd
O acúmulo de Mn nas raízes foi menor nos tratamentos de 0,2; 0,4; 0,6; e 0,8 mmol
Cd kg-1
solo, que corresponderam a 171,2; 150,0; 145,6 e 146,5 mg Mn kg-1
MS,
respectivamente. Nota-se que, nestes mesmos tratamentos de Cd, houve menor acúmulo de
Mn nas raízes quando comparado com o tratamento controle (224,4 mg Mn kg-1
MS), cujas
reduções foram de 24% (0,2 mmol Cd kg-1
solo), 33% (0,4 mmol Cd kg-1
solo) e 35% (0,6 e
0,8 mmol Cd kg-1
solo) (Figura 6 A). Por outro lado, o maior acúmulo de Mn nas raízes foi
observado nos tratamentos correspondentes a 1,6 mmol Mn kg-1
solo e 1,6 mmol Mn kg-1
solo
34
+ 0,2 mmol Cd kg-1
solo, cujos valores foram de 355,1 e 354,7 mg Mn kg-1
MS. Nesses
tratamentos, houve incremento de aproximadamente 58% de Mn em relação ao controle
(Figura 6 A). Além disso, o teor de Mn nas folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao
CCN 51 variou de forma significativa entre os tratamentos avaliados. Verificou-se que os
tratamentos 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo, 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,2
mmol Cd kg-1
solo e 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo foram estatisticamente
superiores aos demais, apresentando incremento no acúmulo de Mn de 105, 115 e 102%,
respectivamente, quando comparados ao tratamento controle (sem adição de Mn e Cd no
solo), o qual apresentou a menor concentração de Mn em nível foliar (Figura 6 B).
Nas raízes, os tratamentos controle, 0,4, 0,8, 1,2 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo
apresentaram acúmulo de Cd semelhante ao verificado para folhas, com os teores de Cd
variando entre 1,5 e 2,3 mg Cd kg-1
MS. O tratamento com 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,8
mmol Cd kg-1
solo apresentou a maior concentração de Cd no sistema radicular, com um
acúmulo de 293 mg Cd kg-1
MS (Figura 6 C). Quanto ao acúmulo de Cd nas folhas, os
tratamentos controle, 0,4, 0,8, 1,2 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo apresentaram os menores teores de
metal, cujos valores foram de 2,0, 2,4, 3,3 e 3,4 mg Cd kg-1
MS, respectivamente. Por outro
lado, o tecido foliar dos tratamentos com 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo e
1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo apresentaram os maiores valores médios
(581,5 e 570,2 mg Cd kg-1
MS, respectivamente), muito superiores ao tratamento controle
(Figura 6 D).
35
Figura 6 - Concentrações de Mn e Cd em raízes (A e C) e folhas (B e D) de plantas jovens do
genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo,
30 DAAT. Valores médios de quatro repetições (± SE). As letras minúsculas indicam comparação
entre tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p <0,05). C - Controle.
4.3. Teor de Prolina
O teor de prolina analisado em folhas coletadas 30 DAAT apresentou variação
significativa (p<0,05) entre os tratamentos avaliados. Observou-se que as folhas maduras de
plantas submetidas aos tratamentos controle, 0,4, 0,8, 1,2 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo Mn, 0,2
mmol Cd kg-1
solo e as interações 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo e 1,6
mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo apresentaram os menores teores de prolina, com
valores médios variando entre 2,3 e 4,1 µmol (prolina) g-1
MS. Os tratamentos 0,4 e 1,2 mmol
Mn kg-1
solo e 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo apresentaram os menores
teores médios de prolina (Figura 7), cujos decréscimos foram de 47, 40 e 22%,
respectivamente, em relação ao tratamento controle. Verificou-se, também, que o incremento
da concentração de Cd no solo contribuiu para o aumento do teor de prolina nas folhas,
quando comparado ao tratamento controle, mesmo quando associado às concentrações de Mn
no solo. O tratamento com a maior concentração de Cd aplicado no solo (0,8 mmol Cd kg-1
de
36
solo) apresentou, quando comparado ao controle, incremento de 280% no teor de prolina
foliar (Figura 7). Por outro lado, o maior teor de prolina foi verificado no tratamento cuja
interação envolveu as maiores concentrações de Mn e Cd aplicadas ao solo (1,6 mmol Mn kg-
1 solo + 0,8 mmol Cd kg
-1 solo), com valor médio de 26,2 µmol (prolina) g
-1 MS,
correspondente a um incremento de 680% em relação ao controle (Figura 7).
Figura 7 - Teor de prolina em folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a
concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, 30 DAAT. Valores médios de quatro
repetições (± SE). As letras minúsculas indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-
Knott (p <0,05). C - Controle.
4.4. Peroxidação Lipídica
A partir da análise da atividade de substâncias que reagem ao ácido tiobarbitúrico
(TBARS), realizadas em folhas maduras coletadas 30 DAAT, verificaram-se diferenças
significativas (p<0,05) entre os tratamentos analisados. Os tratamentos contendo diferentes
concentrações de Mn associados com a menor concentração de Cd (0,4 mmol Mn kg-1
solo +
0,2 mmol Cd kg-1
solo; 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo; 1,2 mmol Mn kg-1
37
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo; e 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo), juntamente
com o tratamento 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo, apresentaram menores
danos às membranas celulares (Figura 8), correspondendo a decréscimos de 33, 32, 28 e 34%,
respectivamente, quando comparados ao tratamento controle. Além disso, a maior
concentração de Cd no solo (0,8 mmol de Cd kg-1
solo) proporcionou um incremento de
aproximadamente 18% na peroxidação lipídica, em relação ao controle (Figura 8). Por outro
lado, os tratamentos com 0,6 mmol Cd kg-1
solo e 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Mn kg-1
solo apresentaram os maiores danos às membranas celulares, com incrementos de 48 e 42%,
respectivamente, em relação ao controle (Figura 8).
Figura 8 - Peroxidação lipídica, definida como concentração de substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico (TBARS), em folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a
concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, 30 DAAT. Valores médios de quatro
repetições (±SE). As letras minúsculas indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-
Knott (p <0,05). C - Controle.
38
4.5. Metabolismo antioxidativo
4.5.1 Atividade da dismutase do superóxido (SOD)
A atividade de SOD em folhas maduras de plantas jovens de T. cacao, submetidas a
diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd no solo, apresentou variação significativa (p
<0,05) entre os tratamentos (Figura 9). Verificou-se maior atividade de SOD para a maioria
dos tratamentos, independente do tempo de exposição das plantas aos metais, incluindo os
tratamentos controle, as duas maiores concentrações de Mn (1,2 e 1,6 mmol kg-1
solo) e de Cd
(0,6 e 0,8 mmol kg-1
solo) e o tratamento com as maiores concentrações de Mn + Cd (1,6
mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo) (Figura 9 A-F). Por outro lado, o tratamento 0,8
mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo apresentou atividades de SOD inferiores às
observadas nos tratamentos com os metais aplicados de forma isolada, principalmente às 6,
24, 48 e 96 h AAT, com reduções de 64, 57, 76 e 55%, respectivamente, quando comparados
ao tratamento controle (Figura 9 B, D, E, F).
39
Figura 9 - Atividade de SOD em folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51,
submetidas a concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, em diferentes períodos após a
aplicação dos tratamentos (AAT). Valores médios de quatro repetições (± SE). As letras minúsculas
indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). 3 h AAT (A); 6 h AAT (B);
12 h AAT (C); 24 h AAT (D); 48 h AAT (E); 96 h AAT (F). C - Controle.
4.5.2. Atividade da catalase (CAT)
As plantas jovens de T cacao submetidas a diferentes concentrações de Mn e Cd e Mn
+ Cd aplicados no solo apresentaram diferenças significativas (p <0,05) quanto à atividade
foliar de CAT (Figura 10). A atividade da CAT aumentou nas folhas das plantas submetidas
ao tratamento 0,8 mmol Cd kg-1
solo, maior concentração de Cd aplicado no solo,
principalmente às 3, 6, 12, 24 e 96 h AAT (Figura 10 A-D e F). Estes aumentos, quando
comparados ao controle, corresponderam a 34, 22, 54, 15 e 68%, respectivamente. Por outro
lado, as menores atividades de CAT foram observadas nos tratamentos 0,4 mmol Mn kg-1
solo
40
+ 0,8 mmol Cd kg-1
solo e 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo (24 h AAT) e 0,4
mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo (96 h AAT), com decréscimos de 67, 70 e 56%,
respectivamente, em relação ao tratamento controle (Figura 10 D e F).
Figura 10 - Atividade de CAT em folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51,
submetidas a concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, em diferentes períodos após a
aplicação dos tratamentos (AAT). Valores médios de quatro repetições (±SE). As letras minúsculas
indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p <0,05). 3 h AAT (A); 6 h AAT
(B); 12 h AAT (C); 24 h AAT (D); 48 h AAT (E); 96 h AAT (F). C - Controle.
4.5.3. Atividade da peroxidase do guaiacol (GPX)
Ao avaliar a atividade de GPX nas folhas de plantas jovens de T. cacao, observaram-
se variações significativas (p<0,05) quanto aos picos de atividade dessa enzima (Figura 11),
em todos os horários de avaliação. Houve maior variação significativa na atividade da enzima
GPX para os tratamentos 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo (3 h AAT) e 1,2
mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo (3 e 6 h AAT), cujos incrementos
41
corresponderam a 275, 283 e 306%, respectivamente, em relação ao tratamento controle
(Figura 11 A e B). Por outro lado, as reduções mais significativas na atividade desta enzima,
quando comparadas ao tratamento controle, foram observadas nos tratamentos 1,2 mmol Mn
kg-1
solo (3 h AAT) e 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo (48 h AAT), com
decréscimos de 51 e 61%, respectivamente (Figura 11 A e E).
Figura 11. Atividade de GPX em folhas de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51,
submetidas a concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicadas no solo, em diferentes períodos após a
aplicação dos tratamentos (AAT). Valores médios de quatro repetições (±SE). As letras minúsculas
indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p <0,05). 3 h AAT (A); 6 h AAT
(B); 12 h AAT (C); 24 h AAT (D); 48 h AAT (E); 96 h AAT (F). C - Controle.
4.6. Expressão gênica
Houve alterações significativas (p<0,05) na expressão relativa de cinco genes
avaliados em folhas de plantas jovens do genótipo T. cacao CCN 51 submetidas aos
diferentes tratamentos de Mn, Cd e Mn + Cd, sendo dois genes relacionados à biossíntese de
42
proteínas de PS2 [uma intrínseca, (psbA) e outra extrínseca (psbO)]; dois relacionados ao
estresse oxidativo (Cu-Zn sodcyt e Cu-Zn sodchl) e um envolvido no seqüestro de metais no
citosol (met2b) (Figura 12). Observou-se, 48 h após da aplicação dos tratamentos, que os
maiores números de transcritos, referentes aos genes avaliados, ocorreram na interação 0,4
mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo, cujas expressões aumentaram cerca de 2 a 4
vezes em relação ao controle (Figura 12 A). Por sua vez, verificou-se, também, às 48 h AAT,
que as maiores repressões na transcrição desses genes ocorreram na maior concentração de
Mn aplicada de forma isolada no solo (6 mmol Mn kg-1
). Por outro lado, as respostas
observadas às 96 h AAT foram bastante discrepantes em relação ao horário anterior. O gene
psbA foi expresso em todos os tratamentos avaliados, entretanto, sua maior expressão relativa
foi verificada no tratamento correspondente a 1,6 mmol Mn kg-1
solo, cerca de 6 vezes maior
que o tratamento controle (Figura 12 B). Por outro lado, a maior expressão relativa do gene
psbO foi observada na maior concentração de Cd aplicado ao solo (0,8 mmol Cd kg-1
solo),
cujo valor foi cerca de 3 vezes maior em relação ao controle. Além disso, os genes sodcyt e
sodchl, envolvidos na biossíntese de SOD, foram superexpressos somente às 96 h AAT, no
tratamento correspondente a 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo, enquanto que
nos demais tratamentos houve repressão destes genes (Figura 12 B). Para o gene da
metalotioneína (met2b), relacionado com o sequestro de metais no citosol, houve repressão na
maioria dos tratamentos às 96 h AAT, exceto para o tratamento com a concentração de 1,6
mmol Mn kg-1
solo, que apresentou expressão semelhante ao controle (Figura 12 B).
43
0
1
2
3
4
5
6
7
psbA psbO sod cyt sod chl met2b
Exp
ress
ão R
elati
va d
os
Gen
esA
a
c
a
aa
a
b
b
b
b
b
cd
cc
c cc
c
f ed
dd
dee
e ff
0
1
2
3
4
5
6
7
psbA psbO sod cyt sod chl met2b
Exp
ress
ão R
elati
va d
os
Gen
es Controle
1,6 Mn + 0,0 Cd
0,0 Mn + 0,8 Cd
1,2 Mn + 0,2 Cd
0,8 Mn + 0,4 Cd
0,4 Mn + 0,6 Cd
Ba
aaa
a
abb
b
b
bbbb
c
c
cd ccccc
cdd
c
e de
Tratamento (mmol kg-1 solo)
Figura 12 - Expressão relativa de genes associados à biossíntese de proteínas de PS2 (psbA e psbO),
do metabolismo antioxidativo (sodcyt e sodchl) e da quelação de metais (met2b) em folhas de plantas
jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a diferentes concentrações de Mn e Cd, e Mn +
Cd aplicadas no solo, às 48 h (A) e 96 h (B) após a aplicação dos tratamentos. Valores médios
intragenes seguidos pelas mesmas letras minúsculas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott
(p<0,05). Valores médios de quatro repetições (± SE).
4.7. Análises micromorfológica e ultraestrutural
4.7.1. Anatomia e micromorfologia foliar
Verificou-se que os maiores valores médios das espessuras do parênquima esponjoso
(PE), mesofilo total (MT) e total da folha (EF) e da abertura transversal do estômato (TOS) e
de TOS*LOS (abertura longitudinal do estômato) foram encontrados no tratamento com
maior concentração de Cd (0,8 mmol Cd kg-1
solo) (Tabela 4). Contudo, o tratamento 0,8
mmol Cd kg-1
solo foi estatisticamente superior aos demais tratamentos apenas para PE e MT,
apresentando incremento aproximado de 53 e 23%, respectivamente, quando comparado ao
44
controle. O mesofilo foliar das plantas de T. cacao submetidas aos tratamentos de Mn, Cd e
Mn + Cd, aplicados no solo em diferentes concentrações, apresentou, em geral, uma única
camada de parênquima paliçádico (PP), e duas ou três camadas de pequenas células de
formato irregular formando PE, distribuídas nos espaços intercelulares formados (Figura 13
A-F).
45
Tabela 4 - Características anatômicas analisadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV) de secções transversais de folhas de plantas
jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a diferentes concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd aplicados ao solo. Valores médios de
quatro repetições (± SE). Letras minúsculas indicam comparação entre tratamentos pelo teste de Scott-Knott (p<0,05). PP: parênquima
paliçádico; PE: parênquima esponjoso; EAd: superfície adaxial da epiderme; EAb: superfície abaxial; MT: mesofilo total; EF: espessura total da
folha; TOS: abertura transversal do estômato; LOS: abertura longitudinal do estômato; DE: densidade estomática.
Tratamento
(mmol kg-1
solo)
PP
(µm)
PE
(µm)
EAd
(µm)
EAb
(µm)
MT
(µm)
EF
(µm)
TOS
(µm)
LOS
(µm)
TOS*LOS
(µm²)
DE
(mm²)
Controle 21,6 ± 1,0 ns 25,8 ± 1,8 c 16,9 ± 1,4 ns 9,4 ± 1,1 a 48,1 ± 1,1 c 69,7 ± 1,8 a 2,2 ± 0,2 a 5,2 ± 0,4 a 11,7 ± 1,7 a 551 ± 16,4 c
0,8 Mn + 0 Cd 18,4 ± 1,4 ns 32,2 ± 2,9 b 15,0 ± 1,4 ns 5,6 ± 0,5 b 50,6 ± 2,8 b 71,2 ± 3,7 a 1,3 ± 0,3 b 3,3 ± 0,3 b 4,6 ± 1,4 b 817 ± 22,8 a
1,6 Mn + 0 Cd 18,9 ± 0,6 ns 25,2 ± 2,2 c 15,4 ± 1,2 ns 6,9 ± 0,5 b 44,0 ± 2,6 c 66,8 ± 2,9 b 1,6 ± 0,0 b 4,1 ± 0,2 b 6,8 ± 0,6 b 688 ± 23,4 b
0 Mn + 0,4 Cd 19,0 ± 0,5 ns 26,9 ± 0,9 c 12,2 ± 1,0 ns 7,2 ± 0,3 b 45,9 ± 1,3 c 66,9 ± 1,3 b 1,8 ± 0,2 b 3,9 ± 0,6 b 7,4 ± 2,1 b 686 ± 36,7 b
0 Mn + 0,8 Cd 21,3 ± 0,5 ns 39,4 ± 4,5 a 15,2 ± 0,7 ns 7,2 ± 0,5 b 60,7 ± 4,1 a 85,4 ± 1,9 a 2,9 ± 0,4 a 4,9 ± 0,3 a 14,3 ± 2,9 a 688 ± 17,9 b
1,2 Mn + 0,2 Cd 20,5 ± 1,0 ns 22,8 ± 1,2 c 15,0 ± 0,9 ns 6,1 ± 0,2 b 43,3 ± 0,9 c 66,5 ± 0,9 b 2,2 ± 0,2 a 4,0 ± 0,2 b 8,8 ± 0,9 b 749 ± 4,9 a
0,8 Mn + 0,4 Cd 18,1 ± 1,1 ns 22,8 ± 2,8 c 12,6 ± 0,6 ns 7,1 ± 0,5 b 40,9 ± 3,8 c 64,2 ± 3,2 b 2,0 ± 0,2 b 4,8 ± 0,4 a 10,2 ± 1,8 a 807 ± 20,2 a
0,4 Mn + 0,6 Cd 22,0 ± 1,2 ns 31,1 ± 3,6 b 15,3 ± 1,2 ns 8,8 ± 0,6 a 53,1 ± 3,6 b 78,4 ± 3,2 a 1,9 ± 0,1 b 4,1 ± 0,2 b 7,8 ± 0,4 b 649 ± 66,6 b
46
Figura 13 - Micromorfologia de secções transversais, obtidas com o uso do MEV, do mesofilo foliar
(A-H) de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a concentrações de Mn, Cd e
Mn + Cd aplicados no solo: Controle (A); 0,8 mmol Mn kg-1
solo (B); 1,6 mmol Mn kg-1
solo (C); 0,4
mmol Cd kg-1
solo (D); 0,8 mmol Cd kg-1
solo (H). PP: parênquima paliçádico; PE: parênquima
esponjoso; EAd: superfície adaxial da epiderme; EAb: superfície abaxial; MT: mesofilo total; EF:
espessura total da folha. Barra: 30 µm.
47
4.7.2. Ultraestrutura celular de folhas e raízes
A análise de microscopia eletrônica de transmissão (MET) permitiu observar
alterações na ultraestrutura celular de tecidos foliares e radiculares de plantas jovens do
genótipo de T. cacao CCN 51, causadas após a aplicação de concentrações de Mn, Cd e suas
interações no solo (Figura 14). Nas células do tecido foliar de plantas submetidas aos
tratamentos controle, 0,8 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo, os orgânulos celulares, assim como
núcleo, mitocôndrios, cloroplastos e vacúolos, bem como a parede celular, permaneceram sem
danos (Figura 14 A-C). Os demais tratamentos também apresentaram integridade dos
orgânulos celulares, porém, pode-se observar a presença de vesículas e de material
eletrodenso no vacúolo (0,4 mmol Cd kg-1
solo); a condensação da cromatina com indícios de
morte celular programada (MCP) e rompimento da membrana do cloroplasto e material
eletrodenso no vacúolo (0,8 mmol Cd kg-1
solo); e a deposição de material eletrodenso no
xilema (0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo), indicando possível transporte de
metais para o cloroplasto (Figura 14 E, F e H). Além disso, foi observada a presença de amido
e de uma grande quantidade de plastoglóbulos nos cloroplastos, em todos os tratamentos
avaliados.
48
Figura 14 - Eletromicrografias de secções transversais do mesofilo foliar (A-H), obtidas com o uso do
MET, de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a concentrações de Mn, Cd e
Mn + Cd aplicados no solo aos 30 DAAT. Controle (A); 0,8 mmol Mn kg-1
solo (B); 1,6 mmol Mn kg-
1 solo (C); 0,4 mmol Cd kg
-1 solo (D); 0,8 mmol Cd kg
-1 solo (E); 1,2 mmol Mn kg
-1 solo + 0,2 mmol
Cd kg-1
solo (F); 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo (G); 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6
mmol Cd kg-1
solo (H). Setas pretas: indicam integridade do envoltório nuclear (A); Setas vermelhas:
presença de material eletrodenso (D, E e H); Setas brancas: presença de gotas de lipídeos no vacúolo
(F e G); Estrela amarela: indício de apoptose. n núcleo, mt mitocôndrios, cl cloroplastos, v vacúolos,
RE retículo endoplasmático, pc parede celular, am grãos de amido, pg plastoglóbulos, vs vesículas.
Barras: 1 µm (A); 2 µm (B, C, D, E, F, G, H).
49
Nas células de tecidos radiculares de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51,
nos tratamentos controle, 0,8 mmol Mn kg-1
solo, 1,6 mmol Mn kg-1
solo e 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-1
solo não foram verificadas alterações ultraestruturais, cujos
orgânulos celulares se apresentaram intactos e sem anormalidades (Figura 15 A, B, C e F).
Entretanto, no tratamento correspondente a 0,4 mmol Cd kg-1
solo, foi observado rompimento
de membrana e desintegração do envoltório nuclear, evidenciando a presença de MCP (Figura
15 E). Além disso, verificou-se também a presença de material eletrodenso em células de
xilema, no tratamento 0,8 mmol Cd kg-1
solo, indicando possível transporte desses metais
para a parte aérea (Figura 15 E); em vacúolos, nos tratamentos 0,4 e 0,8 mmol Cd kg-1
solo
(Figura 15 D e E), e aderidos à parede celular em células nos tratamentos 0,8 mmol Mn kg-1
solo + 0,4 mmol Cd kg-1
solo e 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo (Figura 15 G
e H). Evidenciou-se, também, a presença de uma grande quantidade de retículo
endoplasmático (Figura 15 D), que pode estar associada à formação de vesículas; e a retração
do citoplasma em células de tecidos radiculares, da maioria dos tratamentos, com a presença
de Cd nos tecidos.
50
Figura 15 - Eletromicrografias de secções transversais de raízes (A-H), obtidas com o uso do MET, de
plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a concentrações de Mn, Cd e Mn + Cd
aplicados no solo aos 30 DAAT. Controle (A); 0,8 mmol Mn kg-1
solo (B); 1,6 mmol Mn kg-1
solo
(C); 0,4 mmol Cd kg-1
solo (D); 0,8 mmol Cd kg-1
solo (E); 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2 mmol Cd kg-
1 solo (F); 0,8 mmol Mn kg
-1 solo + 0,4 mmol Cd kg
-1 solo (G); 0,4 mmol Mn kg
-1 solo + 0,6 mmol Cd
kg-1
solo (H). Setas pretas: indicam integridade do envoltório nuclear (A, B); Setas vermelhas:
envoltório nuclear se desfazendo, com indícios de núcleo em apoptose (D); Setas brancas: indicam
presença de material eletrodenso (E, G e H). n núcleo, mt mitocôndrios, RE retículo endoplasmático.
Barras: 1 µm (D); 2 µm (A, B, C, F, G e H); 5 µm (E).
51
5. DISCUSSÃO
5.1. Trocas gasosas foliares e pigmentos fotossintéticos
A adição de Mn no solo proporcionou incremento na fotossíntese das plantas jovens
de T. cacao, uma vez que este elemento metálico tem um papel importante no processo
fotossintético, pois está envolvido na oxidação da molécula de água em nível de PS2,
fornecendo uma quantidade de elétrons suficientes para a cadeia transportadora de elétrons da
fotossíntese, além de participar da ativação de várias enzimas envolvidas no metabolismo
celular (PENG et al., 2008; MILLALEO et al., 2010). Entretanto, tem sido relatado que o
excesso de Mn pode resultar na redução da assimilação de CO2, um dos principais efeitos
fitotóxicos de Mn (NABLE et al., 1988; KITAO et al., 1997; LI et al., 2010; MILLALEO et
al., 2013), fato não verificado neste trabalho.
As plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51 tiveram a fotossíntese líquida (A)
inibida após a aplicação de Cd no solo, em todos os tempos de avaliação. Normalmente, em
plantas superiores, o acúmulo de Cd nas folhas causa danos na maquinaria fotossintética, com
redução de A, gs e E (SANITÀ DI TOPPI; GABRIELLI, 1999; CLEMENS, 2006; MORADI;
EHSANZADEH, 2015; ARAÚJO et al., 2017), que pode ser atribuída a uma limitação no
suprimento de CO2 e ao fechamento parcial de estômatos, ocasionado tanto pela presença de
maior quantidade de íons nas células-guarda (DALCORSO et al., 2008; MORADI;
EHSANZADEH, 2015), quanto pela competição do Cd+2
com íons de Ca+2
e K+ (PERFUS-
BARBEOCH et al., 2002; NEDJIMI; DAOUD, 2009; MORADI; EHSANZADEH, 2015).
Entretanto, no presente trabalho, houve incremento de gs e E na presença da maior
concentração de Cd no solo, provavelmente devido à maior abertura transversal (TOS) e
longitudinal (LOS) dos estômatos (Tabela 4). Além disso, a maior absorção de Cd pelas
raízes, e consequente acúmulo na biomassa seca foliar, nos tratamentos contendo altas
concentrações de Cd (Figura 6C-D), pode estar relacionada com o decréscimo observado nos
parâmetros fotossintéticos das plantas jovens de T. cacao, mesmo quando associadas à adição
de Mn no solo. Mesmo assim, a ultraestrutura celular, em nível foliar, das plantas submetidas
ao Cd isoladamente não foram comprometidas, pois os cloroplastos permaneceram, em sua
maioria, íntegros (Figura 14).
No presente trabalho, a ação de Cd isoladamente no solo não comprometeu o teor de
Chl a nas folhas das plantas do genótipo de T. cacao CCN 51, entretanto e o teor de Chl b foi
52
maior no tratamento com maior concentração de Cd no solo (0,8 mmol Cd kg-1
solo) (Figura
5). A determinação dos teores de Chl a e b é um importante índice a cerca dos efeitos tóxicos
da poluição do ar e do estresse por metal pesado em plantas (JOSHI; SWAMI, 2009;
DEZHBAN et al., 2015), principalmente porque alguns metais, tais como Cd, podem
substituir o átomo central de Mg2+
da molécula de Chl, ocasionando diminuição no
rendimento quântico de PS2 (DEZHBAN et al., 2015). Vários estudos foram realizados para
compreender o efeito de Cd na redução dos teores de Chl a e b e carotenoides (Car) em
plantas submetidas ao estresse por Cd (BASZYNSKI et al., 1980; SKÓRZYŃSKA-POLIT;
BASZYŃSKI, 1995; MORADI; EHSANZADEH, 2015). Plantas crescidas em solos contendo
Cd apresentam clorose foliar, cuja principal causa é a degradação de moléculas de clorofila
(Chl a e Chl b), promovendo inibição de sua biossíntese e, consequentemente, redução no teor
de pigmentos (PARMAR et al., 2013; XUE et al., 2013).
Registros na literatura apontam para inexistência de um padrão definido quanto ao teor
de Car em plantas submetidas ao estresse por Cd (PARMAR et al., 2013). No presente
trabalho, houve decréscimo no teor de Car nas plantas submetidas ao tratamento com maior
concentração de Cd no solo (0,8 mmol Cd kg-1
solo). Araújo et al. (2017), trabalhando com
plantas jovens de T. cacao, submetidas a diferentes concentrações de Cd no solo, também
verificaram redução acentuada do teor de Car em nível foliar. O mesmo fato foi verificado em
Pisum sativum (HATTAB et al., 2009). Por outro lado, também há relatos de incremento no
teor de Car em folhas de plantas de Cucumis sativus e Zea mays submetidas a diferentes
concentrações de Cd (BURZYNSKI; ZUREK, 2007; CHANEVA et al., 2010). A ausência de
efeitos deletérios no teor de Chl pode estar relacionada à concentração foliar de Mn, uma vez
que Cd pode não estar afetando a função de Mn na evolução de O2 fotossintético. Além disso,
Mn pode restaurar parcialmente as estruturas dos cloroplastos, revertendo o efeito inibitório
de Cd na atividade de PS2 (BASZYNSKI et al., 1980), conforme observado na ultraestrutura
foliar do presente trabalho, cujos cloroplastos dos tratamentos avaliados se apresentaram, em
sua grande maioria, íntegros (Figura 14).
5.2. Concentrações de Mn e Cd
As plantas do genótipo de T. cacao CCN 51 avaliadas apresentaram altas
concentrações de Mn, principalmente nas folhas, tanto nas plantas controle (sem adição de
53
Mn e Cd no solo) quanto nas plantas submetidas a diferentes concentrações de Cd e Cd + Mn
no solo. Por outro lado, a absorção de Mn pelas raízes foi comprometida devida adição das
diferentes concentrações de Cd no solo. Essa redução está relacionada à competição de Cd2+
com cátions divalentes, a exemplo de Mn2+
(ZORNOZA et al., 2002), uma vez que esses
elementos compartilham sistemas comuns de transporte de minerais em plantas (HART et al.,
1998; CLEMENS, 2006; CLEMENS; MA, 2016). As plantas de T. cacao, mesmo sob
condições estressantes, têm a capacidade de acumular grande quantidade de Mn nas folhas,
sem lhe causar toxicidade (ALMEIDA et al., 2015; CASTRO et al., 2015; REIS et al., 2015;
ARAÚJO et al., 2017). A maior absorção e o acúmulo de Mn nas plantas podem estar
relacionados ao fato de que Mn seja um cofator imprescindível na via de oxidação da
molécula de água em nível de PS2 (BURNELL, 1988; DUCIC; POLLE, 2005), além de atuar
em mecanismos de redução da fitoxicidade de Cd (SARWAR et al, 2010).
A concentração de Cd nos tecidos vegetais analisados foi praticamente inexistente nas
plantas controle e nas plantas que houve somente aplicação de Mn no solo. A interação entre
maiores concentrações de Mn e menores concentrações de Cd (0,2 e 0,4 mmol Cd kg-1
MS)
aplicados no solo também não traduziram em maior absorção e translocação de Cd da raiz
para a parte aérea no genótipo de T. cacao CCN 51. Entretanto, a interação entre as maiores
concentrações de Mn e Cd (1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo) favoreceu a
maior absorção de Cd pelas raízes e acúmulo nas folhas. Cd não possui nenhuma função
específica nas plantas, e sua ação causa interferência negativa nos processos fisiológicos das
plantas, limitando a produtividade das principais culturas em todo o mundo (GILL et al.,
2012). Solos contaminados por Cd tem suas propriedades afetadas, principalmente na região
da rizosfera, a qual influencia a absorção dos nutrientes minerais essenciais para o
crescimento e desenvolvimento das plantas (NAZAR et al., 2012). Além disso, o efeito
fitotóxico de Cd na absorção de nutrientes minerais está relacionado com o nível de
contaminação do solo, tempo de exposição ao metal, características químicas e físicas do solo,
bem como espécie vegetal e sua capacidade de tolerância a metais tóxicos (BHARGAVA et
al., 2012; NAZAR et al., 2012; HE et al., 2015).
54
5.3. Metabolismo antioxidativo
A toxicidade dos metais pesados ocorre de muitas maneiras quando acumulados em
níveis elevados nas células vegetais. O estresse provocado por metais pesados, inclusive o Cd,
desencadeia também o estresse oxidativo, produzindo espécies reativas de oxigênio (ERO's),
que danificam proteínas, membranas e até mesmo as moléculas de DNA, induzindo,
consequentemente, à morte celular programada (MCP) (MITTLER, 2002). Para evitar que as
ERO's prejudiquem o maquinário fotossintético, de forma irreversível, existem metabolismos
enzimáticos e não enzimáticos que atuam na eliminação de ERO's (GILL; TUTEJA, 2010).
Nesse contexto, a prolina, que é um osmólito essencial para as plantas sobre estresse, atua
como um importante agente antioxidante não enzimático capaz de eliminar as ERO's,
produzidas durante a condição estressante, e de inibir MCP (CHEN; DICKMAN, 2005;
GILL; TUTEJA, 2010).
O tratamento 1,6 mmol Mn kg-1
solo + 0,8 mmol Cd kg-1
solo, correspondente às
maiores concentrações de Mn + Cd aplicados no solo, apresentou o maior acúmulo de prolina
no tecido foliar entre os tratamentos avaliados (Figura 7). Esse acúmulo de prolina coincidiu
com o maior acúmulo de Cd, o qual foi verificado para o mesmo tratamento (Figura 6B),
podendo, portanto, a prolina ter contribuído para atenuar um provável efeito danoso causado
pelo excesso de Cd nas folhas desse tratamento. O acúmulo de prolina, em resposta ao
estresse por metal pesado, tem sido relatado por diversos autores (BASSI; SHARMA, 1993
a,b; SHARMA; DIETZ, 2008), inclusive em microalgas, onde foi verificado que o aumento
nas concentrações de prolina fornece proteção aprimorada contra Cd (SIRIPORNADUSIL et
al., 2002). É importante salientar que a prolina reduz o estresse por Cd não pelo sequestro do
metal, mas pela redução do dano causado pelo Cd por meio da formação de ERO’s e pela
manutenção de um ambiente redutor rigoroso no interior da célula (HOSSAIN et al., 2010).
A integridade das membranas celulares do tecido foliar foi avaliada a partir dos níveis
de peroxidação lipídica. Este é um dos processos mais prejudiciais aos organismos vivos, que
ocorre quando os níveis de ERO’s sobrepujam os limites de eliminação e afeta o
funcionamento normal das células, promovendo o estresse oxidativo e, consequentemente,
produzindo radicais derivados de lipídios (MONTILLET et al., 2005; GILL; TUTEJA, 2010).
As concentrações de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) dos tratamentos
submetidos somente ao Cd foram superiores ao tratamento controle (exceto 0,4 mmol Cd kg-1
solo), principalmente na concentração de 0,6 mmol Cd kg-1
solo, sugerindo que a presença do
55
Cd provocou alterações nas membranas celulares (Figura 8), devido à degradação lipídica.
Entretanto, mesmo com o aumento no teor de TBARS nos tratamentos contendo somente Cd,
a análise ultraestrutural das folhas permitiu observar que a maioria das células permaneceu
com suas membranas intactas (Figura 14 D e E). Embora muitos autores relatasse o aumento
no teor de TBARS após submeter às plantas de várias espécies a diferentes tratamentos com
Cd (CHAOUI et al., 1997; SINGH; TEWARI 2003; WU et al., 2003b). Por outro lado, a
associação entre as diferentes concentrações de Mn (0,4, 0,8, 1,2 e 1,6 mmol Mn kg-1
solo) e a
menor concentração de Cd (0,2 mmol Cd kg-1
solo) demonstrou claramente a redução do teor
de TBARS nesses tratamentos (Figura 8), indicando atenuação nos danos às membranas
celulares causados por peroxidação lipídica.
O acúmulo de Cd nos tecidos vegetais interfere negativamente em diversos processos
metabólicos essenciais, levando à toxicidade pela geração de ERO’s, causando danos
oxidativos (SANITÀ DI TOPPI; GABBRIELLI, 1999; FOYER; NOCTOR, 2005; GILL;
TUTEJA, 2010; GILL et al., 2011). Nesse sentido, o aumento da atividade das enzimas
antioxidativas é considerado como resposta geral ao excesso de metais traços no solo,
resultando em proteção contra perturbações e danos celulares (MITTLER, 2002). A enzima
SOD apresentou alta atividade na maioria dos tratamentos, sendo estatisticamente igual ao
tratamento controle (Figura 9). A SOD constitui a primeira linha de defesa contra ERO’s,
catalisando a dismutação do O2•-
a H2O2 e O2 (GILL; TUTEJA, 2010). A atividade de SOD
tende a aumentar em plantas sob estresses induzidos por Cd (KHAN et al., 2007; GOMES et
al., 2012; ARAÚJO et al., 2017) e a sua resposta aos estresses por metal, incluindo Cd, é
variável e depende da espécie vegetal, de sua fase de desenvolvimento e da concentração e do
tempo de exposição ao metal (GALLEGO et al., 2012; GILL et al., 2015). Por sua vez, Mn,
como metal tóxico, pode provocar, quando em excesso, distúrbios metabólicos e danos em
macromoléculas em consequência da produção em excesso de ERRO’s (HEGEDUS et al.,
2001; POLLE, 2001; DEMIREVSKA-KEPOVA et al., 2004). Alguns autores afirmam que o
excesso de Mn causa desorganização no cloroplasto e que a elevada atividade de SOD
ameniza o dano celular (LINDON; TEIXEIRA, 2000). No presente trabalho, a atividade de
SOD, nos tratamentos com maior concentração de Mn (1,6 mmol Mn kg-1
solo), foi elevada e
não diferenciou dos tratamentos controle e 0,8 mmol Cd kg-1
solo. Entretanto, não foram
verificadas alterações na ultraestrutura dos cloroplastos (Figura 12C).
As atividades de CAT e GPX apresentaram variação em relação à atividade de SOD
(Figuras 10 e 11). A atividade de CAT foi maior no tratamento correspondente a 0,8 mmol Cd
56
kg-1
solo, em todos os tempos de exposição ao metal, exceto às 48 h AAT (Figura 10). Um
aumento na atividade de CAT é considerado uma evidência direta de danos oxidativos
(SAIRAM; SEXENA, 2000; KHAN et al., 2007). Por sua vez, a maior atividade de GPX não
coincidiu com a maior concentração de Cd aplicada isoladamente no solo. Os tratamentos
com Mn + Cd aplicados no solo apresentaram as maiores atividades de GPX, nos diferentes
tempos de exposição aos metais (Figura 11). Além disso, tanto CAT quanto GPX têm
potencial para converter H2O2 em H2O + O2, sendo importantes para a desintoxicação de
ERO’s em plantas sob condições estressantes (MONTILLET et al., 2005, GILL; TUTEJA,
2010). Entretanto, CAT foi mais eficiente do que GPX na eliminação de H2O2 gerado nos
tratamentos contendo somente Cd, principalmente a maior concentração (0,8 mmol Cd kg-1
solo).
5.4. Expressão gênica
As plantas quando submetidas a estresse biótico ou abiótico são acometidas por uma
explosão oxidativa desencadeando uma série de respostas no maquinário antioxidante e na
regulação da expressão gênica (GILL; TUTEJA, 2010). Contudo, mecanismos de proteção
contra ERO’s têm sido desenvolvidos pelas plantas, como um processo evolutivo para
controlar os níveis dessas moléculas e anular a sua toxicidade (LOGAN, 2006).
Observou-se aumento no número de transcritos para todos os genes avaliados às 48 h
AAT, principalmente para os tratamentos com concentrações de 1,2 mmol Mn kg-1
solo + 0,2
mmol Cd kg-1
solo e 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo (Figura 12 A).
Verificou-se aumentos de, aproximadamente, 2,5, 6,5, 3,7, 3,9 e 5,0 vezes para os transcritos
dos genes psbA, psbO, sodcyt, sodchl e met2b, respectivamente, em relação ao controle, para
o tratamento com concentração de 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo. Por outro
lado, às 96 h AAT, os tratamentos com as maiores concentrações de Mn e Cd, aplicados
isoladamente no solo (1,6 mmol Mn kg-1
solo e 0,8 mmol Cd kg-1
solo), foram os que
apresentaram o maior número de transcritos de psbA e psbO, com valores 6,5 e 1,8 vezes
maior do que o controle, respectivamente (Figura 12 B). O acúmulo de transcritos de psbA, às
96 h AAT, observado para o tratamento com concentração de 1,6 mmol Mn kg-1
solo (Figura
12 B), pode estar relacionado com a biossíntese da proteína D1, para manutenção dos níveis
dessa proteína na célula, uma vez que podem ser facilmente danificadas (SANTOS et al.,
57
2014). Pois, o gene psbA participa na codificação da proteína D1, a principal proteína
intrínseca de PS2, envolvida no transporte fotossintético de elétrons, que pode ser facilmente
degradada e sintetizada continuamente sob estresse e afetada pelos mecanismos oxidativos
induzidos por Cd (GIARDI et al., 1996; MØLLER et al., 2007). Por outro lado, a exposição
de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51 aos tratamentos com 0,4 mmol Mn kg-1
solo + 0,6 mmol Cd kg-1
solo e 0,8 mmol Cd kg-1
solo estimulou o aumento na transcrição do
gene psbO às 48 e 96 h AAT, respectivamente, provavelmente para evitar danos ao PS2. A
proteína PsbO, codificada pelo gene psbO, está relacionada com a estabilização do complexo
de evolução do oxigênio de PS2 e tem importância fundamental na fotossíntese
(MURAKAMI et al., 2005) por desempenhar função protetora ao aparato fotossintético sob
condições de estresse (PAWLOWICZ et al., 2012; NICKELSEN; RENGSTL, 2013).
O aumento da expressão dos genes Cu-Zn sodcyt, Cu-Zn sodchl e mt2b sugerem a
existência de um mecanismo de defesa contra o estresse oxidativo e a tolerância à toxicidade
causada após aplicação de Mn e Cd e de Mn + Cd no solo, uma vez que os genes Cu-Zn
sodcyt, Cu-Zn sodchl codificam enzimas antioxidantes (LEE et al., 2007). Por outro lado, as
metalotioneínas são pequenos polipeptídios ricos em cisteína, codificados geneticamente, cuja
expressão é induzida por diversos fatores como senescência, estresse oxidativo e,
principalmente, por metais como Cd, Cu e Zn (ZHOU; GOLDSBROUGH, 1994; GUO et al.,
2003; MIR et al., 2004; WONG et al., 2004, DALCORSO et al., 2013). A metalotioneína,
codificada pelo gene mt2b, atua na imobilização, sequestro e desintoxicação de Cd e de outros
íons metálicos (CAPDEVILA; ATRIAN, 2011), inativando-os e, ou transportando-os para o
vacúolo (SUNITHA et al., 2012).
5.5. Micromorfologia e ultraestrutura celular
As observações em microscopia eletrônica de varredura (MEV), realizadas em tecido
foliar, mostraram variações na anatomia foliar das amostras submetidas à aplicação de
concentrações distintas de Mn, Cd e de Mn + Cd no solo. A maior espessura de SP e,
consequentemente, de TM e TFT no tratamento 0,8 mmol Cd kg-1
solo pode estar relacionada
à ausência ou a pouca destruição das células no tecido foliar. Sandalio et al. (2001),
trabalhando com Pisum sativum, também encontraram aumento na espessura do mesofilo
foliar com o incremento da concentração de Cd. Entretanto, outros trabalhos evidenciam a
58
redução dos parâmetros morfométricos foliares em função de altas concentrações de Cd,
como em Arachis hypogaea (SHI; CAI, 2008), Solanum lycopersicum (DJEBALI et al.,
2010), Zea mays (GOWAYED; ALMAGHRABI, 2013), Glycine max (PÉREZ-CHACA et
al., 2014).
Normalmente, Cd afeta diretamente a expansão foliar (DJEBALI et al., 2005),
reduzindo o tamanho das células, dos parênquimas e dos espaços intercelulares, o que pode
ser explicado pela ação deletéria do metal sobre a turgescência celular e a plasticidade da
parede celular (BARCELÓ et al., 1986). Existem relatos que o estresse por Cd reduz o
tamanho do poro estomático e, ou o fechamento estomático, o que pode ser considerado uma
medida protetora ou um mecanismo para atenuar o efeito tóxico nas plantas (GUPTA;
GHOUSE, 1987; KHUDSAR et al., 2001). Entretanto, foi observado neste trabalho aumento
na abertura tanto transversal quanto longitudinal dos estômatos, após adição de 0,8 mmol Cd
kg-1
solo no solo, o que pode ter levado ao incremento em gs e E aos 28 DAAT, além de um
ligeiro aumento na absorção e transporte deste elemento metálico para as folhas.
As análises ultraestruturais em células de tecidos foliares e radiculares de plantas
jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, submetidas a diferentes concentrações de Mn e Cd e
Mn + Cd aplicados no solo, revelaram alterações, principalmente nos tratamentos contendo
Cd isolado ou associado com Mn (Figura 14 C-F, L, M, O e P). Embora apresentasse elevado
acúmulo de Mn (Figura 6 A), muito acima da faixa de suficiência adotada para T. cacao, de
150-750 mg kg-1
MS (SOUZA JÚNIOR et al., 2012), não foram observadas alterações
ultraestruturais ou danos celulares nos tecidos foliares dos tratamentos com 0,8 e 1,6 mmol
Mn kg-1
solo Mn (Figura 14 B e C). Esse fato sugere a hipótese de que plantas de T. cacao
possuem a capacidade de absorver e acumular grande quantidade de Mn sem causar
toxicidade. Por sua vez, plantas submetidas ao Cd, isolado ou associado com Mn,
apresentaram deposição de material eletrodenso aderido à parede celular, no vacúolo e no
xilema (Figura 14 D, E e H), além de corpos vesiculares, gotas de lipídios no vacúolo (Figura
14 D, F e G) e plastoglóbulos (Figura 14 B-H). No entanto, a maioria das imagens analisadas
mostrou integridade celular e com a estrutura dos cloroplastos inalterada.
A toxicidade de Cd geralmente causa rupturas na membrana plasmática,
desorganização das membranas tilacóides dos cloroplastos, deformação no núcleo,
condensação da cromatina, resultantes do estresse oxidativo devido ao excesso de ERO’s
(DAUD et al., 2009; ANJUM et al., 2015), e material eletrodenso no parênquima xilemático
(SEREGIN; KOZHEVNIKOVA, 2008; CONN; GILLIHAM, 2010; CASTRO et al., 2015),
59
sugerindo que o transporte de Cd pode estar restrito ao xilema, fato também observado no
presente trabalho. A presença de plastoglóbulos no cloroplasto e de vesículas pode estar
relacionada à exposição ao estresse (HAKMAOUI et al., 2007). Os plastoglóbulos atuam na
síntese e reciclagem de compostos lipofílicos produzidos durante o estresse oxidativo causado
por metais (AUSTIN et al., 2006; OLMOS et al., 2006). Além disso, a senescência foliar
também pode ser considerada como um fator para o aumento do número de plastoglóbulos
(SANDALIO et al., 2001; ESPOSITO et al., 2012).
As raízes das plantas submetidas aos tratamentos contendo somente diferentes
concentrações de Mn no solo (Figura 14 J e K) não apresentaram alterações na ultraestrutura
celular, mostrando integridade da estrutura e dos orgânulos celulares. Entretanto, foi
observado rompimento de membranas, desintegração do envoltório celular com indícios de
núcleo em apoptose, deposição de material eletrodenso (possivelmente Cd) no xilema e
aderido à parede celular (Figura 14 L, M, O e P). Além disso, foi verificada a presença de
material eletrodenso, também relatada em outras espécies vegetais submetidas ao Cd (JIANG
et al., 2009; GE et al., 2012; SHI et al., 2016), em plantas jovens de T. cacao submetidas
também ao Cd (CASTRO et al., 2015) e na presença de outros metais, como Al (ALMEIDA
et al., 2015) e Cu em altas concentrações (REIS et al., 2015) em T. cacao, fornecidos via
embebição de sementes, destituídas de polpa e tegumento, em solução por 24 h.
Existem relatos diversos sobre o acúmulo de material eletrodenso na parede celular do
tecido radicular, demonstrando que a parede celular desempenha função na tolerância ao
metal, quando este se encontra adsorvido à parede celular em maior quantidade do que no
citosol ou vacúolo (NEUMANN et al., 1997). Além disso, a deposição de material
eletrodenso tem maior relação com a alta concentração de material absorvido (KÜPPER et al.,
2000), pois o metal pode ser distribuído na parede celular devido à afinidade com proteínas
ricas em cisteína, presentes na parede (LIU; KOTTKE, 2004). Ademais, a parede celular é o
local principal para deposição e acúmulo de material eletrodenso, como Cd nas raízes (KHAN
et al., 1984; VÁSQUEZ et al., 1992; LIU et al., 2007; GE et al., 2012). Pois, a raiz é o
primeiro órgão em contato direto com o metal, quando aplicado diretamente no solo, se
tornando o primeiro mecanismo de defesa contra a toxicidade de Cd (SHI et al., 2016).
Contudo, o acúmulo de material eletrodenso no xilema é um importante indício de que o Cd
foi transportado para a parte aérea, haja vista que as folhas acumularam uma quantidade de
metal bem superior que a absorção pelas raízes (Figura 6 C e D).
60
6. CONCLUSÕES
Plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51 foram tolerantes a altas concentrações
de Mn no solo, ao passo que altas concentrações de Mn favoreceram o funcionamento e o
desempenho da maquinaria fotossintética;
Houve maior absorção e transporte de Cd da raiz para a parte aérea, quando as plantas
jovens do genótipo de T. cacao CCN 51 foram cultivadas no solo contendo Mn + Cd em altas
concentrações;
Altas concentrações de Cd no solo, de forma isolada ou conjuntamente com Mn (Mn +
Cd), promoveram danos à fotossíntese e alterações no metabolismo antioxidativo em plantas
jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, sendo a catalase uma das peroxidases mais
importante na eliminação do excesso de espécies reativas de oxigênio, na presença de altas
concentrações de Cd em nível foliar;
Houve mitigação da toxicidade de Cd, quando as plantas jovens do genótipo de T.
cacao CCN 51 foram cultivadas em solos com baixa concentração de Cd e na presença de
Mn;
A maior absorção de Cd pelas raízes e, consequentemente, o seu transporte e acúmulo
nas folhas, de plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, causou danos irreversíveis na
ultraestrutura celular do tecido foliar, principalmente em nível de cloroplasto, com grande
deposição de material eletrodenso na parede celular e vacúolos, seguido de morte celular
programada.
Danos ultraestruturais irreversíveis em células de tecidos radiculares e foliares de
plantas jovens do genótipo de T. cacao CCN 51, provocados pela absorção de Cd em solos
contaminados, podem ser atenuados ou mitigados pela adição de Mn no solo em altas
concentrações;
Os genes associados à biossíntese de proteínas do fotossistema 2 (PS2) da fase
fotoquímica da fotossíntese (psbA e psbO), do metabolismo antioxidativo (Cu-Zn sodcyt e
Cu-Zn sodchl) e da quelação de metais (mt2b) no citoplasma celular apresentaram expressão
do número de transcritos diferenciados com o tempo de exposição aos metais Mn e Cd e Mn
+ Cd e contribuíram para a reparação dos danos causados às proteínas PsbA e PsbO e para a
redução da produção de espécies reativas de oxigênio.
61
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