O papel social da mãe

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O papel social da mãe mutações do papel maternal Claudia Pinheiro 9.12.2010

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Pretende-se que este texto seja uma resenha histórica acerca das mutações observadas no papel social de mãe, ao longo do processo evolutivo do Ser humano.

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O papel social da mãe mutações do papel maternal

Claudia Pinheiro 9.12.2010

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Pretende-se que este texto seja uma resenha histórica acerca das mutações observadas no papel social de mãe, ao longo do processo evolutivo do Ser humano.

No contexto em que o papel de mãe é analisado, este não se confina à mulher que gera dentro de si um novo ser humano, mas também àquela mulher que assume para si a tarefa de criar e educar uma criança, mesmo não sendo biológicamente seu filho. Como refere Bolen (1995):

“Uma mulher não tem que ser uma mãe biológica para se tornar numa iniciada na faceta maternal (...) A psique reside-lhe no corpo e a sabedoria brota-lhe de um conhecimento instintivo de como usar as mãos e o corpo para mitigar, confortar ou se encarregar de uma situação que o exija.”

Assim, qualquer mulher tem a capacidade de ser mãe se assim o quiser.

1- Nasce uma mãe

As considerações que se apontam neste primeiro capítulo recaiem sobre a mulher, que é mãe biológica, à volta do momento em que dá à luz.

Apesar de sabermos que, como afirma, como por exemplo Kimura (1997) citando Rubin (1984) “a identidade materna é construída durante a gravidez, por meio de uma imagem idealizada que a mulher tem de si como mãe, e do bebé como filho,” em muitas culturas é ao dar à luz que a mulher assume activamente o seu novo papel social de mãe e de mulher adulta. Tanto em sociedades ditas avançadas como nas mais tradicionais o processo do parto e nascimento de um novo ser decorre geralmente com diversas interferências culturais Kitzinger (1996). Segundo esta autora

“o parto é um acto cultural em que, num contexto de costumes, têm lugar processos fisiológicos espontâneos, cuja realização é considerada essencial ou desejável para que tenha êxito.”

Investigadores como Michel Odent (2007) defendem que o processo do parto tem vantagem em ser o menos perturbado possível, para que, para além da necessidade imediata de sucesso

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fisiológico que implica a saúde da mãe e do bebé, seja um momento realmente construtivo para a relação presente e futura entre mãe e filho.

“Quando o parto é normal e decorre de modo ideal, isto é, apoiado por tudo aquilo que a mãe deseja, mãe e bebé experienciam a sua primeira interacção social, enfrentando juntos aqueles momentos tão avassaladores e determinantes para as suas vidas futuras”. (Diederichs, 2009)

A jovem mãe é como um ser em metamorfose (Kimura, 1997). De início a mulher identifica-se com o papel de mãe que ela conhece melhor – a sua própria mãe, ou a imagem maternal representativa do seu grupo social. Mas com o tempo ela “irá ter como principal a tarefa de forjar uma imagem de mãe que lhe seja própria.” (Maldonado,1989)

2 - Ser mãe ao longo dos tempos

2.1- As sociedades pré-literárias Na pré-história, assim como em outras sociedades chamadas pré-literárias pelo facto de o homem não usar a escrita, consideram alguns autores que os clãs humanos eram matriarcais. Fontes arqueológicas (arte rupestre, estatuetas de culto ao corpo feminino e à fertilidade) confirmam a existência de divindades femininas nas sociedades humanas desse período. Essas descobertas parecem indicar que nessas sociedades a mãe seria venerada como a geradora da vida. À mulher cabia a tarefa de permanecer num lugar e cuidar dos filhos, enquanto o homem assumia a actividade da caça deslocando-se pelo território. Nestas sociedades humanas, que tinham a característica de serem pacíficas e viverem em harmonia com os ciclos e as leis da natureza, a mulher teria, segundo alguns autores, um papel de liderança e poder no grupo familiar. O cenário matriarcal, com uma noção própria da origem da vida e do mundo, terá dado origem a uma religião matriarcal, existente até há cerca de 3500 anos atrás, em que a divindade era a Mãe Terra, ou a Deusa Mãe. Esta adoração da Deusa terá depois prevalecido entre as civilizações antigas (egipcia, grega, romana e babilónica) nos vários mitos ao culto da mulher e da feminilidade, como deusas, sacerdotisas, sábias, etc. (Woogler, 2000).

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Ainda no nosso tempo se observam em algumas sociedades primitivas pré-literárias, como os busquimanos ou os povos das ilhas Trobiands na Nova Guiné comportamentos sociais do tipo matriarcal. Malinowski (1973), que estudou as tribos das Trobiands na década de 1920, observou serem sociedades matriarcais onde o homem, vivendo de um modo pacífico e em harmonia com a natureza, expressava espontaneamente as suas necessidades ao nível emocional, sexual, artístico e filosófico-religioso, gozando de boa saúde, psíco-emocional e física. Nestas sociedades primitivas as pessoas sentem-se plenas, contentam-se com o que têm, vivem no presente e não ambicionam nem o crescimento material nem o intelectual. Segundo Jean Shinoda Bolen (1995), o que mais as define na sua concepção de vida, é que não existe uma separação entre o indivíduo e o todo.

2.2- A revolução neolíticaCom a sedentarização o ser humano passa progressivamente à busca de um maior entendimento do mundo que o rodeia e de si próprio, como ser separado da Natureza. Surgem os instrumentos de trabalho, a agricultura, a pecuária ou domesticação de animais e também a actividade bélica. A organização social transforma-se, aparecem as cidades e, pela primeira vez, surgem desigualdades entre pessoas e tribos.No Egipto e na Mesopotâmia, entre outros lugares do planeta, começa então a consolidar-se a posterior evolução da grande maioria das civilizações humanas – o patriarcado, que se mantém até aos dias de hoje.Em Gonçalves (2007), citando Engels, o surgimento do patriarcado estaria relacionado com a monogamia que veio estabelecer-se por esta altura na sequência da divisão do trabalho entre os sexos e da diferenciação da sociedade em classes:

“No entender de Engels, uma das primeiras ocorrências com impacto na constituição da família monogâmica teria sido o desmoronamento, durante o período da barbárie, do direito materno, no seio da família sindiásmica, aquando do início da escravidão e do surgimento das riquezas privadas. A passagem ao patriarcado seria, então, uma consequência da necessidade de assegurar a paternidade dos filhos, para que estes pudessem herdar a posse dos bens do seu pai. Desta maneira, “ (...) os únicos objectivos da monogamia eram a preponderância do homem na família e a procriação de filhos

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que só pudessem ser seus para deles herdarem” (Engels, 1980: 86).”

Para Odent (2004), é uma estratégia básica da evolução humana, o homem dessa época se tornar mais agressivo e capaz de destruir a vida, para controlar a Natureza e se defender de outros grupos humanos. Limitar a capacidade de amar e enveredar pelo domínio dos princípios masculinos (que são segundo Colegrave (1999) a razão e a ambição de domar, de ordenar e de ser independente da natureza) por oposição aos femininos (assim a mesma autora, a criatividade e inspiração, a paciência e a necessidade de acalentar e cuidar, e o que impele à união e à proximidade humana) foi, segundo estes autores uma necessidade evolutiva.

“Desde a altura em que a estratégia básica da sobrevivência da maior parte dos grupos humanos era dominar a Natureza e dominar outros grupos humanos, foi uma vantagem tornar os seres humanos mais agressivos e capazes de destruir a vida. Por outras palavras, foi uma vantagem moderar a capacidade de amar, incluindo o amor à Natureza, ou seja, o respeito pela Mãe Terra.”(Odent, 2007)

2.3- A subjugação da mulherAo longo da história, com a progressiva implantação da cultura patriarcal, a mulher vai ocupando o lugar de vaso passivo que fornece o alimento. O homem assume-se como gerador da vida quando se apercebe que a semente, que germina no ventre dela, provem dele (Colegrave, 1999). Por princípio dominador e hierarquizador, o homem estabelece uma relação de autoridade e poder, relegando a mulher para um lugar de inferioridade não só física como intelectual, conduzindo-a à exclusão de todos os assuntos públicos. Já Aristóteles afirmava em “Da Geração dos Animais” que “A sua inferioridade física em relação ao macho é manifesta”.O cristianismo, assim como as principais religiões do mundo, baseiam-se num princípio divino masculino. Alguma figura feminina, muitas vezes alicerçada nas figuras mitológicas da época em que a divindade era feminina, é apenas entendida como entidade secundária.Os paradigmas impostos pela religião foram retirando à mulher a sua dignidade, chegando-se a limites impensáveis de repressão da sua alma e do seu corpo. A cultura judaico-cristã tolerava-lhe a

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faceta maternal desde que ela fosse obediente ao marido e prescindisse totalmente de si própria em favor dos filhos.

2.4- O papel de mãe na família pré-industrialAntes da industrialização o modelo familiar predominante na nossa sociedade era o da família alargada que produzia o seu próprio sustento.

“(...) reportando-nos às sociedades europeias do Antigo Regime, anteriores ao processo de industrialização, as funções de produção e de reprodução não se encontravam separadas, sendo realizadas ao mesmo tempo e no mesmo espaço, com uma importância relativamente reduzida das segundas (Saraceno e Naldini, 2003).” (Gonçalves, 2007)

Actualmente é indiscutível a importância da ligação directa e estreita entre mãe e filho para a segurança e o bem-estar tanto da criança como da mãe, mas nas sociedades pré-industriais, este aspecto da maternidade era partilhado com as outras mulheres da família. À maternidade, como a entendemos hoje, não era dada uma grande importância, assim como as crianças só começavam realmente a ser tidas em conta do ponto de vista afectivo, depois de terem ultrapassado a fase do risco de mortalidade infantil. A mãe era aquela mulher que gerava os filhos e que cuidava deles com o apoio das outras mulheres da família, irmãs, tias, etc. Como refere ainda a mesma autora, a propósito da relação da mãe com os filhos:

“O que é importante relevar é que, para os indivíduos, o papel da comunidade se sobrepunha ao da família, situação que o desenvolvimento do amor materno, nas classes médias, veio modificar, ao implicar uma maior dedicação do tempo dispendido pelas mulheres com os cuidados às crianças e, portanto, o seu afastamento das sociabilidades comunitárias.” (Gonçalves, 2007)

2.5- A revolução industrial Com a Revolução Industrial no Ocidente começou uma grande migração do campo para as cidades onde havia indústria. Esta mudança demográfica deu origem a que as famílias se tornassem mais pequenas, e como é referido pelas teorias da família de Parsons, às famílias nucleares isoladas, “radicalmente diferentes de qualquer outro tipo conhecido nas sociedades não industrializadas”

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(Gonçalves, 2007). Para Parson às mulheres cabia exclusivamente o papel maternal, centrado na família, e submisso ao marido. Profissionalmente a mãe não podia desempenhar nenhum papel na vida pública, para além dos que estavam estritamente ligados ao ambiente doméstico, sob pena de ver o seu bom-nome moralmente corrompido (Nascimento e Oliveira, 2006).Assim na sequência da industrialização dá-se a expansão da ideologia burguesa da família, baseada na fixação da mulher em casa e no trabalho masculino como forma assegurar a subsistência familiar (Gonçalves 2007). O papel da mãe estava então claramente definido por esses paradigmas assumidos e aceites pela sociedade em geral.

2.6- A emancipação da mulherA revista brasileira “O Sexo Feminino”, analisada por Nascimento e Oliveira (2006), é aqui referida como um exemplo do movimento de emancipação que se começou a levantar no mundo Ocidental no final do séc. XIX. Lamentando o estado de ignorância de direitos em que vivia a mulher, já nessa época Francisca Senhorinha, a directora da revista, numa atitude pioneira e progressista, explicava a legitimidade de, como referem os autores, “reaver os direitos femininos e não propriamente de conquistá-los” (Nascimento e Oliveira, 2006: 445):

“O que queremos?- Queremos a nossa emancipação – a regeneração dos costumes;- Queremos reaver nossos direitos perdidos;- Queremos a educação verdadeira que não se nos tem dado a fim de que possamos educar também nossos filhos;- Queremos a instrução pura para conhecermos os nossos direitos, e deles usarmos em ocasião oportuna;- Queremos conhecer os negócios de nosso casal, para bem administrarmo-los quando a isso formos obrigadas;- Queremos enfim saber o que fazemos, o porquê e o pelo quê das coisas;- Queremos ser companheiras de nossos maridos, e não escravas;- Queremos saber o como se fazem os negócios fora de casa;- Só o que não queremos é continuar a viver enganadas”. (25/10/1873:2)

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Com as duas guerras mundiais de 1914 e 1939 a mulher vê-se obrigada a integrar o mundo do trabalho, passando aos poucos a conquistar o seu lugar activo na vida pública.

2.7- A vida modernaA necessidade de libertação da prisão doméstica, leva a mulher a passar por uma grande transformação do papel maternal. E com as tecnologias da modernidade, os electrodomésticos, os contraceptivos e o leite em pó, ela pode finalmente libertar-se de um grande número de tarefas domésticas e papeis sociais que desde sempre a limitavam na sua liberdade pessoal.

Ao mesmo tempo, com a redução da natalidade aumenta a atenção sobre os filhos, que são agora em menor número.

“O nascimento de menos crianças encontra-se ligado, como vimos, a uma visão diferenciada sobre a infância hoje em dia relativamente ao passado: de investimento permitindo auxiliar no sustento económico da família, as crianças passaram cada vez mais a ser vistas como um bem de consumo afectivo, a quem se deve proporcionar um conjunto de condições necessárias – educação, vestuário, alimentação, amor – a uma vivência feliz.” (Gonçalves 2007).

A par desta evolução na família o bebé torna-se cada vez mais um objecto de estudo científico, e começam a ter cada vez mais impacto na vida das populações os concelhos de pediatras e puericultores. Com indicações como a de não pegar ao colo os bebés, para não os estragar com mimos, as mulheres-mães são cada vez mais apartadas da sua sabedoria interior instintiva de como cuidar dos seus filhos (Kitzinger,1996). Ao reconquistar o seu lugar na vida pública do mundo masculino, a mulher parece ser levada a desligar-se de algumas das suas características, nomeadamente da sua faceta maternal, perdendo a segurança e a espontaniedade do seu conhecimento arcaico e intuitivo de como lidar com a maternidade. E para procurar compensar essas inseguranças ela precisa cada vez mais do apoio das tecnologias e da medicina para a ajudar a criar os seus filhos (Jones, 2008).

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2.8- Mãe na sociedade da informaçãoA tarefa de ser mãe deixou de ser essencialmente física para se tornar muito mais mental, afirma Ellison (2007), e citando esta autora:

“Hoje a maternidade é cada vez mais exigente em termos cognitivos; uma mãe tem que lançar mão de todos os seus recursos mentais, durante uma ou duas décadas, para se interpor entre o filho e um mundo frequentemente perigoso.”

Não obstante a necessidade imperativa de, nas sociedades capitalistas, muitas mulheres ficarem dependentes do trabalho assalariado, isto é terem que trabalhar para assegurar um segundo salário ao lado do do marido para a sobrevivência da família (Gonçalves, 2007), nas últimas décadas do séc. XX, observa-se que a mãe sente necessidade de ter uma carreira profissional para a ajudar à construção da sua identidade pessoal.

“Neste contexto, é importante destacar a importância crescente das famílias de dupla carreira, isto é, das famílias nas quais o homem e a mulher desempenham carreiras profissionais a par da vida familiar. Ainda que se possa distinguir este conceito do de famílias de trabalho duplo, nas quais o trabalho feminino é encarado como necessário para a subsistência familiar mas não como parte integrante da identidade da mulher, as sociedades ocidentais têm assistido a uma participação crescente no sistema de trabalho por parte das mulheres de todos os escalões etários, a não apenas das mais jovens e solteiras, como acontecia predominantemente nas décadas que se seguiram ao pós-guerra.” (Gonçalves, 2007)

A mãe trabalhadora esforça-se por aperfeiçoar ambos os desempenhos de mulher-profissional e mulher-mãe. Muitas publicações têm sugestões para ajudar a encontrar um caminho para ser feliz apesar de tudo: O livro “working Mom's 411”, de Michelle LaRowe, por exemplo, um guia para a mãe que trabalha fora de casa, para a ensinar a equilibrar a sua carreira com a lida da casa e a atenção às crianças, tem uma frase publicitária que diz: “este livro vai mostrar-lhe como fazer tudo, e até ter algum tempo livre para se sentar e pôr os pés para cima!”. Esta tarefa é extremamente extenuante para a mãe, que frequentemente se sente culpada por não ter tempo, não conseguir chegar a todo o

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lado, e não poder viver a maternidade de acordo com o que lhe pede a sua consciência. No artigo incluído no seu site, Maria Teresa Maldonado chama a atenção para o livro de Rosiska Darcy de Oliveira “A reengenharia do tempo” que aborda a necessidade de reduzir o tempo de trabalho, e de encontrar novas alternativas:

“É preciso aumentar o reconhecimento da importância da vida privada, em contraposição ao mundo do trabalho; é preciso que as empresas se preocupem mais com a qualidade de vida de seus empregados e seus familiares, para que se cuide melhor do capital humano. Essa nova postura significa reconhecer que o trabalho não é a única riqueza da sociedade, mas que cuidar de outros, sejam crianças ou idosos, também é. Na proposta da reengenharia do tempo, encontra-se a necessidade de mudar o mundo do trabalho e das relações entre homens e mulheres, para dar conta das mudanças de organização familiar, inclusive desse aumento crescente de mulheres que chefiam famílias.” (Maldonado, 2003)

2.9- Um novo papel de mãe para o séc. XXI“Os delicados inícios da vida são de grande importância. São o fundamento do bem-estar da alma e do corpo. Gostaria de lhes pedir o apoio a esses esforços. Precisamos de paz sobre a terra –paz que começa no ventre da mãe.” (Reich, 1998)

Resgatando o seu papel de mãe em plenitude, o novo modo de olhar a maternidade permite à mulher sentir o prazer de ser mãe com todo o seu ser, sem se culpabilizar por estar a perder em identidade pessoal quando interrompe por um tempo a actividade profissional. (DIEDERICHS, 2006). Ela pode então permitir-se o prazer de ser mãe com tudo o que isso implica: a expressão da emoção, da feminilidade, da fragilidade, da intuição, da sua capacidade criativa, da capacidade empática, a expressão do corpo e da sexualidade, e, com os apoios e recursos necessários (Jones, 2008). Não se quer com isto dizer que a mulher perca o espaço para cuidar da sua carreira profissional, pois ela terá que ser apoiada por infra-estruturas de apoio e redes institucionais e sociais que lhe permitam manter durante o tempo necessário para cuidar dos filhos, a possibilidade de dar depois continuidade à sua vida profissional. O papel do pai torna-se também essencial para que a mãe possa exprimir-se desse modo, pois é ele que tem que garantir

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as condições externas que possibilitem à mãe estar disponível para essa relação da mãe com o bebé. Estamos perante a necessidade de se fazerem alterações a nível laboral, social e das relações entre o homem e a mulher, assim afirma Maldonado (2003) para podermos ir de encontro às mudanças de papeis na organização familiar:

“Portanto, dentre os vários caminhos possíveis, destacam-se: procurar ampliar as bases de apoio, que podem se referir à possibilidade de compartilhar a criação dos filhos com outros membros da família extensa, contar com o apoio de amigas em situação semelhante, e buscar recursos institucionais disponíveis; em âmbito colectivo, como parte da formação de uma nova consciência acerca da vida e da importância dos tempos de trabalho e de convívio familiar e social, ver a possibilidade de negociar acordos de trabalho mais flexíveis e formular acordos de responsabilidade compartilhada entre homens e mulheres, tendo em vista a produtividade no trabalho e o maior bem-estar para trabalhadores e seus familiares.” (Maldonado, 2003)

Michel Odent analisa os efeitos a que a falta de cuidado e amor na fase inicial da vida do ser humano e uma maternidade desprotegida podem levar na evolução da espécie. Defendendo a teoria de que o homem está a fazer uma evolução de “Homo Superpredador para Homo Ecologicus” o autor afirma:

“There are many other obstacles to the evolution towards Homo Ecologicus, and finally towards ecological societies. However the focus should be on the period surrounding birth, which is routinely disturbed. This period is considered critical at a time when scientific advances help us to formulate new questions and to understand how the capacity to love develops. Scientific knowledge can induce awareness. The advent of “Homo Ecologicus” is not utopian. In the age of the Scientification of Love there are reasons for hope and optimism. Humanity has got the keys to invent new strategies for survival. We might be approaching the day anticipated by Teilhard de Chardin as early as 1934. Then he claimed that after mastering space, winds, tides and gravity, humans will learn to master the energies of Love. Then, for the second time in the history of the World, Man will have discovered fire.” (ODENT, www.Wombecology.com)

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Bibliografia

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